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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
ANDRÉA TEIXEIRA
PERFIL DAS MULHERES RESIDENTES EM BIGUAÇU, ATENDIDAS NA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA DE SÃO JOSÉ, E SUAS PERCEPÇÕES SOBRE ASSISTÊNCIA HUMANIZADA NO PROCESSO DE NASCIMENTO
Biguaçu (SC) 2006
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ANDRÉA TEIXEIRA
PERFIL DAS MULHERES RESIDENTES EM BIGUAÇU, ATENDIDAS NA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA DE SÃO JOSÉ, E SUAS PERCEPÇÕES SOBRE ASSISTÊNCIA HUMANIZADA NO PROCESSO DE NASCIMENTO
Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. Orientadora: Profª (MSc) Ângela Maria Blatt Ortiga.
Biguaçu (SC) 2006
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ANDRÉA TEIXEIRA
PERFIL DAS MULHERES RESIDENTES EM BIGUAÇU, ATENDIDAS NA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA DE SÃO JOSÉ, E SUAS PERCEPÇÕES SOBRE ASSISTÊNCIA HUMANIZADA NO PROCESSO DE NASCIMENTO
Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em
Enfermagem e aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu.
Área de Concentração: Enfermagem
Biguaçu, 07 de dezembro de 2006.
________________________________________ Profª MSc. Ângela Maria Blatt Ortiga
UNIVALI - CE Biguaçu Orientadora
________________________________________ Profª Drª Maria de Lourdes Campos Hames
UNIVALI - CE Biguaçu Membro
_________________________________________ Profª MSc. Márcia Suely del Castanhel
UNIVALI - CE Biguaçu Membro
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AGRADECIMENTOS
A Deus e aos meus anjos que muitas vezes não me deixaram cair e que, nas vezes em que tombei, me levantaram e me seguraram firmemente; Aos meus pais, Adair e Bernadete, pelo amor, apoio e incentivo; Às minhas irmãs, sempre torcendo por mim e me apoiando; Ao meu marido Alex, que muitas vezes não me deixou parar me incentivando e motivando a seguir a caminhada; À minha orientadora, Ângela, uma mulher e profissional admirável, pelas orientações, pela paciência e persistência, pelos ensinamentos e pelo carinho. Quando eu crescer quero ser como você! À banca examinadora, professoras Lurdinha e Márcia, queridas e excelentes professoras, merecedoras de muito respeito e admiração; À coordenadora do curso, Profª Maria Lígia, uma mulher de fibra e de muita competência, todo o meu carinho, respeito e admiração; A todos os professores do curso, em especial à Profª Janelice, que conheci somente no final dessa caminhada e ainda assim ensinou por toda uma vida; A todas as instituições que serviram de campo de estágio e suas respectivas equipes, pelas oportunidades e por propiciarem as experiências vivenciadas; Ás minhas amigas: Neia, que muito me apoiou e incentivou a concluir o curso e que sempre estará presente em minha vida; e Mani: encontramos-nos, desencontramos e reencontramos, e desta vez para nunca mais nos perdermos. Duas amizades verdadeiras e que só acrescentaram em minha vida; Às minhas amigas Bruna, Darlin e Francine, obrigada por me cederem seus ombros e tempo; A mais uma professora em vida, Jakeline B. Carbonera, que em mais de 4 anos me compreendeu, incentivou, apoiou e também me ensinou muita coisa; À Profª Adélia, a quem não preciso expressar em palavras todo o meu agradecimento, pois ela tem o dom de perceber tudo e todos, um exemplo de vida, meu respeito, minha profunda admiração e meu carinho; Ao Prof. Alceu, um chefe competente que detém o poder de fazer mil coisas ao mesmo tempo e ainda assim ter bom humor, obrigada pelo apoio e compreensão nesses 4 anos; Ao Pedro Jr., mais um chefe (é, tenho vários, socorro), de extrema competência, com quem aprendi muito também, obrigada pelo apoio e compreensão; Aos meus familiares, amigos e colegas de trabalho que torceram por mim.
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RESUMO
TEIXEIRA, Andréa. Perfil das mulheres residentes em Biguaçu, atendidas na maternidade de referência de são José, e suas percepções sobre assistência humanizada no processo de nascimento. Trabalho de Conclusão de Curso - Graduação em Enfermagem - Universidade do Vale do Itajaí, CE Biguaçu. O nascimento é um acontecimento natural e um dos fatos mais marcantes na vida de qualquer pessoa, e por isso merece especial atenção e cuidado. A mulher é a principal personagem desse “universo” que é gerar um outro ser e deve se sentir como tal. Não deve ser o processo de nascimento o fator mais importante. A parturiente deve conscientizar-se de que é a protagonista na história, na cena do parto e também no momento dos cuidados no puerpério não desvalorizando o conhecimento e interesse da equipe de saúde em auxiliar e promover o bem-estar e saúde do binômio mãe e recém-nascido. O objetivo deste estudo consistiu em identificar o perfil das mulheres atendidas na maternidade de referência de São José, residentes em Biguaçu, e sua percepção sobre a assistência humanizada no processo do nascimento. Trata-se de um estudo descritivo realizado no Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes (HRHMG) e nas residências dos sujeitos da pesquisa por amostragem, com base nas informações obtidas através dos prontuários médicos das puérperas admitidas no período de janeiro a junho de 2005 e do Sistema de Informação Hospitalar (SIH). Foram levantados os dados pessoais, individuais e coletivos, de cada puérpera com procedência do município de Biguaçu, SC, região da Grande Florianópolis sendo realizadas quatro visitas domiciliares para levantar suas opiniões sobre a assistência humanizada ao trabalho de parto, parto e puerpério imediato. A análise dos dados secundários do SIH demonstra que a maternidade de referência de São José, no primeiro semestre de 2005, realizou 1937 atendimentos, sendo 66,7% de partos normais e 33,3% de parto cesáreos. Observa-se que a maternidade atende principalmente os municípios da 18ª Regional de Saúde (Grande Florianópolis). Foram realizados 194 atendimentos de mulheres procedentes do município de Biguaçu, 146 partos normais (75%) e 48 partos cesáreos (25%). Do total de mulheres atendidas, 59,3% possui idade entre 15 e 24 anos e 28,8% entre 25 e 34 anos. Concluiu-se que, analisando os vários espaços da instituição pelos quais a mulher passa no processo de nascimento, as respostas obtidas às vezes são contraditórias, pois dependendo da experiência vivenciada em um desses espaços a mulher classifica negativa ou positivamente todo o processo. Os fatores que mais influenciaram as respostas foi o tempo de atendimento e a atitude profissional. A percepção de cada mulher sobre a maneira como foi atendida e o seu entendimento sobre humanização interfere no conceito final do processo de nascimento dificultando a classificação do que seria um atendimento humanizado ou não. Palavras Chaves: humanização, processo de nascimento, enfermagem, percepção.
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ABSTRACT
TEIXEIRA, Andréa. The resident women's profile in Biguaçu, assisted in the maternity of reference of São José, and their perceptions on attendance humanized in the borning process.
Work of conclusion of course – Nursing graduation - Universidade do Vale do Itajaí, CE Biguaçu. The borning is a natural event and one of the most outstanding facts in the life of anybody, and for that it deserves special attention and care. The woman is the main character of that "universe" that is to generate another humambeing and should feels like that. It shouldin´t be the process from borning the most important factor. The pregnant should become aware that she is the protagonist in the history, in the scene of the borning and also in the moment of the cares after the borning not depreciating the knowledge and interest of the team of health in to aid and to promote the well-being and the binomial mother's health and newly born. The objective of this study consisted of identifying the women's profile assisted at the maternity of reference of São José, residents in Biguaçu, and her perception on the attendance humanized in the borning process. It is a descriptive study accomplished at the Regional Hospital Dr. Homero of Miranda Gomes (HRHMG) and in the residences of the subject of the research for sampling, with base in the information obtained through the medical handbooks of the women's admitted in the period of January to June of 2005 and of Information Hospitalar's System (SIH). They were lifted up the data personal, individual and collective, of each woman with origin of the municipal district of Biguaçu, SC, area of Great Florianópolis being accomplished four home visits to lift their opinions on the attendance humanized to the labor, born and immediately after the borning. The analysis of the secondary data of SIH demonstrated that the maternity of reference of São José, in the first semester of 2005, accomplished 1937 services, being 66,7% of normal borning and 33,3% of Cesarean borning. It is observed that the maternity assists mainly the municipal districts of the Regional of Health 18th (Great Florianópolis). 194 services of women coming from the municipal district of Biguaçu were accomplished, 146 normal borning (75%) and 48 Cesarean borning (25%). Of the assisted women's total, 59,3% has age between 15 and 24 years and 28,8% between 25 and 34 years. It was ended that, analyzing the several spaces of the institution from born for the which the woman passes in the process, the answers obtained are sometimes contradictory, because depending on the experience lived in one of those spaces the woman classifies negative or positively the whole process. The factors that more influenced the answers was the time of service and the professional attitude. Each woman's perception on the way as it was assisted and her understanding on humanization interferes in the final concept of the process from born hindering the classification of what would be a humanized service or not. Key words: humanization, borning process, nursing, perception.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ............................................................................12
2 OBJETIVOS...............................................................................................................18
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................18
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................18
3 REVISÃO DE LITERATURA .....................................................................................20
3.1 ACOMPANHANTE ..................................................................................................20
3.2 PROGRAMA DE HUMANIZAÇÃO NO PARTO E NASCIMENTO ..........................21
3.3 LEGISLAÇÃO PARA A HUMANIZAÇÃO ................................................................24
3.4 MÉTODOS E TÉCNICAS PARA A HUMANIZAÇÃO DO PROCESSO
DE NASCIMENTO ........................................................................................................26
3.5 PROGRAMA DE HUMANIZAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE –
HumanizaSUS...............................................................................................................33
4 MARCO TEÓRICO ....................................................................................................35
4.1 TEORIA DO ALCANCE DOS OBJETIVOS DE IMOGENE M. KING ......................36
4.2 CONCEITOS SEGUNDO KING ..............................................................................36
4.3 OUTROS CONCEITOS...........................................................................................38
5 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA..........................................................................41
5.1 ESPAÇO DA PESQUISA ........................................................................................41
5.2 TIPO DE ESTUDO ..................................................................................................42
5.3 SUJEITOS DA PESQUISA E ASPECTOS ÉTICOS ...............................................44
5.4 INSTRUMENTOS DA PESQUISA ..........................................................................44
5.5 ANÁLISE DE DADOS..............................................................................................45
6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS .....................................................48
6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ATENDIMENTOS .........................................................48
6.1.1 População atendida............................................................................................48
6.1.2 Média de permanência.......................................................................................52
6.1.3 Tipo de parto.......................................................................................................54
6.1.4 Idade....................................................................................................................59
6.2 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA...........................................60
6.2.1 Grau de instrução, estado civil e ocupação.....................................................60
6.2.2 Número de filhos ................................................................................................61
6.3 ASSISTÊNCIA NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL...........................................62
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6.3.1 Assistência no pré-natal ....................................................................................62
6.3.1.1 Consultas pré-natais e orientações .................................................................62
6.3.1.2 Presença de acompanhante..............................................................................65
6.3.1.3 Escolha do local ................................................................................................66
6.3.2 Assistência no processo de nascimento .........................................................67
6.3.2.1 Orientações .......................................................................................................67
6.3.2.2 Questionamentos e procedimentos...................................................................68
6.3.2.3 Presença de acompanhante..............................................................................69
6.4 HUMANIZAÇÃO......................................................................................................70
6.4.1 Humanização da assistência.............................................................................73
6.4.2 Humanização do parto .......................................................................................74
6.4.3 Recursos e ações...............................................................................................75
6.5 CLASSIFICAÇÃO DO ATENDIMENTO ..................................................................77
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................81
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................85
APÊNDICES
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Parto natural – um projeto de vida
Foi lá pelo sexto mês da gravidez de Maria que Natureza e eu ouvimos mencionar, pela primeira vez, o nome de Leboyer. Sônia,
amiga nossa de São Paulo e reputada neuro-pediatra, mãe de duas filhas extraordinárias, ambas nascidas de partos domiciliares,
fez a gentileza de nos enviar pelo correio o "nascer sorrindo X nascer sofrendo", cuja leitura, breve e deliciosa, funcionou
para nós como um verdadeiro tapa na cara. Nos demos conta, então, de quantas desvantagens,
para a mãe e para o bebê, representava o parto hospitalar e, ao contrário, do quanto seria saudável para ambas se Maria pudesse
nascer dentro das condições propostas por Leboyer, em nossa própria casa, na pequena aldeia de Caraíva (BA), distante quase cem
quilômetros do hospital mais próximo. Firmemente decididos, partimos para lá no início de dezembro, a fim
de podermos contar com todo o tempo possível para a preparação do parto. As condições de Caraíva para esse propósito
são perfeitas: a vila, com pouco mais de quinhentos habitantes, tem situação geográfica semelhante à de uma ilha, sem eletricidade e sem automóveis, absolutamente rústica. Suas ruas são todas de
areia, o que a torna propícia para o fortalecimento da musculatura das pernas, e o enrijecimento do corpo é conseqüência
natural da sua própria rusticidade. A temperatura é amena durante o verão, pois o vento marítimo naquele trecho da Bahia é constante.
Conta, por sua vez, com uma beleza natural totalmente absorvente e cativante, já que a vila é cercada pelo Rio Caraíva e pelo mar.
As noites enluaradas transformam-na em um jardim de coqueiros prateados e os olhos de seus moradores, e dos veranistas, podem desfrutar de um céu repleto de estrelas, onde a via Láctea é uma
estrada cintilante, completamente nítida. Natureza esforçou-se para se preparar adequadamente e seguindo a
orientação de Sônia, dedicou grande parte de seu tempo a atividades indicadas ao fortalecimento de seu corpo, nadando,
dançando forró quando dava vontade, fazendo canteiros e lavando roupas, sempre de cócoras, e andando muito no areião
de Caraíva. Passamos um verão feliz, em comunhão de espíritos, aprontando-nos, emocionalmente, para a grande ocasião, que já se
avizinhava.Perto de duas a três semanas da data provável do parto, embora já tivéssemos combinado com
dona Maria (parteira de Caraíva), figura honorável da aldeia, que a mesma ajudaria Natureza no momento do parto, acabamos
por ter confirmado a participação de Stella (Wurtz), nossa amiga antiga e também vizinha, com a sua experiência de vinte e dois anos
como enfermeira da Funai no Xingu, e dezenas de partos bem sucedidos, inclusive os de seus próprios filhos.
Nesse ritmo, assistimos à passagem do Carnaval, torcendo intimamente, para que Maria aguardasse o seu final, para que
tivéssemos uma recepção menos ruidosa, ainda que o carnaval de lá não passasse de uma meia dúzia de rojões. Na quarta-
feira de cinzas, oito de março, acordei com Natureza sentada no peitoral da janela, assistindo o sol nascer sobre o horizonte, colorindo
com tons maravilhosos as águas do Atlântico. Ela olhou
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para mim e disse: "será hoje, tenho certeza, eu já estou sentindo algumas sensações diferentes...". Não duvidei nem por um segundo.
Fiz avisar dona Maria e Stella a respeito do acontecido, pedindo que viessem em casa para examiná-la, havendo ambas confirmado a previsão. Observaram, entretanto, que ainda estava muito cedo para o início do trabalho de parto propriamente dito e pediram-me que mandasse novo recado quando as contrações
encurtassem de intervalo. Natureza ainda encontrou tempo para lavar as últimas roupinhas de Maria e passamos o resto do tempo daquela manhã deitados na grama do jardim, debaixo das
sombras dos coqueiros, tentando imaginar como seria o rostinho de Maria. Durante todo esse tempo Natureza esteve tranqüila e
confiante e eu absorvia essa tranqüilidade. Apesar disso, e conforme havíamos combinado, fizemos nossas próprias orações, o
que era parte de nossa preparação espiritual, já que sob o aspecto físico e emocional sentíamo-nos inteiramente prontos.
No correr da tarde, as contrações aumentaram de intensidade e os intervalos começaram a ser mais curtos. Mandei chamar
Dona Maria lá pelas três da tarde e mais uma vez ela veio, observou Natureza e avisou que voltaria por volta das seis, porque,
até essa hora, ela não teria muito que fazer. As contrações aumentavam de ritmo e de intensidade e Natureza até
então não se queixara de qualquer dor. Os movimentos que Sônia havia ensinado, a respiração adequada e um pouco de dança ao
estilo "kundalini" pareciam estar dando ótimo resultado. Com o cair da noite chegaram Stella e Dona Maria, mostrando
satisfação com o estado de Natureza, que já apresentava uma boa dilatação. A partir daí a cena transportou-se para o quarto que viria a ser de Maria, já devidamente preparado. As contrações
passaram a ocorrer com muita intensidade a partir das oito da noite, com sensações perfeitamente suportáveis, que Natureza não
acusava como dor. Ela já havia percebido que andando nos intervalos das contrações o incômodo diminuía, e
quando elas vinham, eu de pé a amparava ao mesmo tempo em que ela me segurava pelo pescoço, com os braços
estendidos para trás. Enquanto isso, do lado de fora, brilhava uma lua intensa e o arder de uma enorme fogueira no
gramado do jardim projetava para dentro do quarto de Maria uma luz fantástica, que somada às velas, acabava por proporcionar um
ambiente mágico, totalmente propício ao acontecimento.(...) A cabecinha de Maria, ainda envolta pela bolsa d'água, mas
perfeitamente visível. Os olhos encheram de lágrimas quando vi, pela primeiríssima vez, os fartos cabelinhos de Maria, bem
escuros. Mais uma ou duas contrações e Stella segredou-me: "se a bolsa não romper na próxima, eu acho que vou
dar um "clik" nela..., fazendo o gesto de quem usa um alfinete. Foi ela dizer isso e a bolsa se rompeu.
Incentivamos Natureza a fazer força, ao mesmo tempo em que eu chamava Maria, docemente, dizendo a ela que nós a estávamos
esperando, que ela podia vir tranqüila... A contração seguinte foi a da expulsão da cabeça, um
momento de intensa e inesquecível emoção, já que Maria veio com os olhinhos já abertos. Mais uma contração e os ombrinhos passaram, e alguns segundos depois ela já tinha nascido.
Recordamos perfeitamente e iremos recordar para sempre esse que
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foi o momento mais bonito e mais importante de nossas vidas. Completamente emocionado, a única coisa que eu
conseguia dizer era: "Como ela é linda, como ela é linda...". De fato, Maria nasceu muito bonita, sem qualquer inchaço ou deformação causada pela passagem. Seus olhinhos fitavam
ao redor, sem qualquer sinal de medo ou de dor. Os bracinhos mexiam de um lado para o outro enquanto ela nos
observava sem fazer qualquer ruído. A primeira impressão que eu tive, fundada na nossa crença espiritualista, foi a de que Maria já tinha estado aqui e que essa,
com certeza, não era a sua primeira encarnação. A tranqüilidade que ela aparentava, somada à falta de surpresa com o ambiente
que a rodeava, nos indicava que essa sua nova chegada já estava sendo preparada, por ela mesma, há muito tempo.
Esperamos algum tempo para cortar o cordão, a fim de possibilitar que ela respirasse pelas duas vias, reduzindo o incômodo da sua
primeira expansão pulmonar. Feito isso, Natureza levantou-se e foi sozinha lavar-se no banheiro, enquanto dona Maria e Stella cuidavam do primeiro banho da nossa neném.
Maria nasceu exatamente às 21 h e 10 min e, mais ou menos uma hora após, terminada a primeira mamada, ela nos presenteou
com seu primeiro sorriso. Nasceu, como havíamos pedido, sob o signo de Peixes. O seu ascendente: Escorpião. Abrimos duas
garrafas de vinho branco italiano e brindamos todos a sua feliz chegada ao planeta Terra.
NASCER SORRINDO OU NASCER SOFRENDO, ESSA É UMA
OPÇÃO QUE PODEMOS OFERECER AOS NOSSOS FILHOS. A ESCOLHA É VOSSA.
Rio de Janeiro, 20 de maio de 2002.
Natureza e Otávio1
1 Carta disponível em: http://www.amigasdoparto.com.br/depoimentos.
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1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
O nascimento é um acontecimento natural e um dos fatos mais marcantes na
vida de qualquer pessoa, e por isso merece especial atenção e cuidado. Mesmo nas
primeiras civilizações era um fenômeno mobilizador, que com o passar dos tempos
sofreu muitas modificações, mas não deixou de ter seu significado especial de
acordo com cada cultura. O que instigou e motivou a comunidade médica a
institucionalizar o parto, que até então era uma experiência compartilhada somente
entre as mulheres e, portanto, um evento de caráter íntimo e privado, foi a grande
mortalidade materna e perinatal, que prejudicava a preservação das grandes
famílias (base econômica, mão-de-obra). A partir daí, a obstetrícia começou a se
fortalecer e disciplinar o nascimento (BRASIL, 2001).
A mulher é a principal personagem desse “universo” que é gerar um outro ser
e deve se sentir como tal. Não deve ser o processo de nascimento, ou melhor, o
procedimento, o fator mais importante. Ela passa por diversas modificações
fisiológicas e emocionais durante o ciclo gravídico-puerperal e necessita de atenção
e cuidados específicos e especiais. Deve sentir-se valorizada, bem assistida,
confiante e segura de que todo esse “acontecimento” lhe trará um novo membro da
família saudável e motivo de muita felicidade. A parturiente deve conscientizar-se de
que é a protagonista na história, na cena do parto e também no momento dos
cuidados no puerpério, cuidados a si mesma e ao seu bebê, não desvalorizando o
conhecimento e interesse da equipe de saúde em auxiliar e promover o bem-estar e
saúde do binômio mãe e recém-nascido (BRASIL, 2001).
Considerando o momento especial na vida da mulher que é o ciclo gravídico-
puerperal, devemos nos lembrar da individualidade e especificidade de cada
gestação e puerpério, pois a assistência de enfermagem não se limita à gestação,
parto e puerpério normal, ou seja, sem complicações. A atenção deve ser dada na
mesma proporção a todas as mulheres diferenciando apenas o tipo de cuidado.
As modificações ocorridas no cuidado à mulher, ao recém-nascido e sua
família, devido ao surgimento de novas tecnologias e descobertas que tinham como
objetivo melhorar as condições de atendimento, acabaram por desumanizar o
cuidado no processo de nascimento. Tornaram a assistência um processo
mecânico, robotizado, preso a protocolos e ações repetitivas e generalizadas.
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Os profissionais da saúde participam diretamente da experiência especial que
é a gravidez e o parto no universo da mulher, de seu parceiro e de sua família. Por
isso, desempenham um papel muito importante devendo colocar seu conhecimento
a serviço do bem-estar da mulher e do bebê assegurando a saúde de ambos
(BRASIL, 2001).
O cuidado humanizado vem tomando grande proporção nas instituições de
saúde. Cada vez mais se percebe a necessidade e importância da humanização não
só no segmento feminino, atenção à mulher, e sim em toda a área da saúde (mulher,
criança, adolescente, adulto e idoso). A partir dessa percepção, passaram a existir
publicações e estudos sobre o assunto, apesar de ainda não ter sido totalmente
absorvido na prática das instituições de saúde. É preciso haver uma maior
mobilização e conscientização em relação ao tema.
Segundo Monticelli (2001 apud OLIVEIRA et al, 2001, p. 14), existe a
esperança de que, aos poucos, “a humanização terá um lugar privilegiado no centro
e na periferia das ações cuidativas em enfermagem e em saúde”.
O verbo humanizar, no Dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 2001,
p.369), significa “dar condição humana a; humanar. Civilizar. Tornar-se humano;
humanar-se”. E isso quer dizer tratar o homem como tal, como ser humano que
merece respeito e, portanto, um cuidado adequado à sua saúde considerando sua
cultura, condição sócio-econômica, espiritualidade, suas crenças, seus valores e
suas vontades.
O Ministério da Saúde (MS), preocupado com a melhoria da assistência
obstétrica, direitos da mulher e humanização do atendimento, vem implantando um
conjunto de ações através de Portarias Ministeriais com o objetivo de melhorar a
assistência à saúde. Exemplos disso são as portarias que instituem o Programa de
Humanização no Pré-Natal e Nascimento e o pagamento de um percentual máximo
de cesarianas.
Segundo a Portaria nº 569, do Ministério da Saúde, que institui o PHPN,
anexo II, parágrafo 1, a humanização da assistência obstétrica e neonatal é
[...] condição para o adequado acompanhamento do parto e puerpério. Receber com dignidade a mulher e o recém-nascido é uma obrigação das unidades. A adoção de práticas humanizadas e seguras implica a organização das rotinas, dos procedimentos e da estrutura física, bem como a incorporação de condutas acolhedoras e não-intervencionistas. (BRASIL, 2000).
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O direito a saúde é um dos direitos fundamentais constitucionais, porém a
história das mulheres na sua busca pelos serviços de saúde é acompanhada de
descriminação, frustrações e violação dos direitos e aparecem como fonte de tensão
e mal estar psíquico-físico. Por esta razão a humanização e a qualidade da atenção
implicam na promoção, reconhecimento e respeito aos seus direitos humanos, em
um marco ético que garanta a saúde integral e o seu bem-estar (BRASIL, 2004a).
Um dos passos mais importantes na tentativa de tornar a assistência mais
humanizada e segura, foi a criação do “alojamento conjunto” (AC). Segundo
Casanova e Ségre (apud DINIZ, 1994), o AC já existia em muitas maternidades do
século XIX, mas demorou a ser implantado nos países americanos. Foi implantado
no Brasil a partir dos anos 70 quando os recém-nascidos normais, a termo (com
idade gestacional igual ou superior a 37 semanas completas, até 42 semanas
incompletas de gestação), passaram a ficar juntos de suas mães logo após o
nascimento (ORLANDI e SABRÁ apud REZENDE, 2002).
Assim, as mães adquiriram o direito de ver, tocar e amamentar livremente
seus filhos. Outra maneira de tornar o processo de nascimento mais humanizado foi
a permissão de uma pessoa escolhida pela parturiente para acompanhar o processo
do nascimento.
Segundo o Ministério da Saúde, a humanização compreende dois aspectos
fundamentais: o primeiro é dever das unidades de saúde receber com dignidade a
mulher, seus familiares e o RN e, segundo, a adoção de medidas e procedimentos
benéficos para o acompanhamento do parto e do nascimento (BRASIL, 2002).
São consideradas como “medidas e procedimentos benéficos”: a não
realização de enteroclisma, tricotomia e episiotomia, a presença de um
acompanhante (companheiro, amiga, mãe ou outro familiar), a permissão e espaço
para deambulação, o acesso às informações e a existência de alojamento conjunto
(PARANÁ, 2002).
O Hospital Regional Homero de Miranda Gomes (HRHMG) criou a
maternidade em 1987 e possui atualmente em sua estrutura enfermarias com
quartos de dois e três leitos que compõem a unidade de Alojamento Conjunto, além
da unidade de gestação de alto risco. O Centro Obstétrico tem capacidade para a
realização de dois partos simultaneamente, ou seja, possui duas salas de parto. O
setor de triagem é constituído por uma recepção, dois consultórios médicos e sala
de observação. O centro obstétrico possui duas salas de cirurgia, uma enfermaria
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para acompanhamento do trabalho de parto com leitos separados como “box”
(divisórias) e um quarto com banheiro para atender as gestações de risco, sendo
que o banheiro é disponibilizado para todas as parturientes, uma sala de descanso
(cozinha)destinada à equipe médica e de enfermagem, um depósito de materiais de
uso imediato (urgentes), sala de descanso médico, dois vestiários, um masculino e
um feminino.
O estudo proposto foi realizado no HRHMG e nas residências dos sujeitos da
pesquisa por amostragem, com base nas informações obtidas através dos
prontuários médicos das puérperas admitidas no período compreendido entre os
meses de janeiro a junho de 2005 e do SIH - sistema de informação hospitalar.
Foram levantados os dados pessoais, individuais e coletivos, de cada puérpera com
procedência do município de Biguaçu, SC, região da Grande Florianópolis. Ainda,
foram realizadas visitas domiciliares com 4 (quatro) puérperas a fim de levantar suas
opiniões sobre a “assistência humanizada ao trabalho de parto, parto e puerpério
imediato”.
Para tanto, foi necessário dispor de instrumentos discriminadores no processo
de recomendar, gerar e fornecer cuidados à saúde, de maneira diferenciada, ou
seja, conhecer a população atendida na maternidade. Devemos aqui salientar a
importância do respeito à cultura e direitos do cliente, não impondo o conhecimento
da enfermagem, e sim, acordando a melhor maneira de cuidar, entrar em consenso,
negociar.
Este estudo teve o intuito de levantar o perfil das mulheres residentes no
município de Biguaçu atendidas na Maternidade do HRHMG e verificar a aplicação
da humanização no processo de nascimento. Pois, saber a procedência da maioria
das mulheres atendidas, o tipo de cultura e família com que a equipe de saúde
trabalha, pode subsidiar uma proposta de abordagem mais adequada. Saber lidar
com as pessoas, ter “jogo de cintura”, é essencial para a promoção da saúde, para
haver maior aceitação do cuidado e orientações. E, além disso, é muito importante
garantir uma assistência humanizada nesse momento muito importante e especial
na vida de uma família, que é gestar, parir e nascer.
Através de uma abordagem adequada, de um cuidado individualizado,
atencioso e humanizado, a probabilidade da equipe de saúde obter um resultado
satisfatório quanto à recuperação no puerpério, primeiros cuidados ao recém-
nascido e continuidade dos cuidados a ambos pela mulher em sua residência será
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maior. Isto favorece a procura precoce das mulheres pelas unidades básicas de
saúde quando percebida alguma anormalidade na sua recuperação no puerpério
e/ou no desenvolvimento do seu bebê (OLIVEIRA, 2001).
A escolha do tema proposto neste trabalho se deve à experiência vivida
durante alguns meses como bolsista do projeto de extensão: Projeto Tocar –
educando em saúde para estimular os vínculos no processo de adolescer, gestar,
parir e nascer. O HRHMG é um dos campos onde o projeto é aplicado, mais
especificamente a unidade de Alojamento Conjunto. Durante o projeto vivenciei
momentos, como mera espectadora, onde a assistência oferecida não condizia com
as expectativas de muitas mães (puérperas), primíparas ou multíparas, e suas
famílias. Em outros momentos percebia-se o contentamento dos clientes com o
atendimento prestado. Agrega-se a este motivo, a experiência nas atividades
assistenciais, do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do
Itajaí, CE Biguaçu, no Centro Obstétrico e Triagem da Maternidade do HRHMG,
locais onde a mulher em trabalho de parto expõe, ou não, seus desejos e vontades
relacionados ao processo de nascimento. Assim, percebeu-se a necessidade de
trabalhar o assunto verificando os motivos pelos quais as mulheres residentes em
Biguaçu escolhem a maternidade do HRHMG para “dar à luz” a seus filhos,
considerando a inexistência de uma maternidade no município onde residem, e
também analisando a percepção dessas mulheres sobre a assistência humanizada
preconizada pelo Ministério da Saúde.
Este estudo tem as seguintes questões norteadoras:
• Quem são as mulheres residentes em Biguaçu atendidas na
Maternidade do HRHMG?
• O que levou essas puérperas a optarem pelo atendimento na
maternidade do HRHMG?
• Qual a opinião das mulheres sobre o atendimento?
• Que ações na assistência e ou materiais/recursos utilizados no
atendimento indicam a humanização do parto na Maternidade do
HRHMG?
17
• Qual o nível de satisfação dessas puérperas e suas famílias em
relação à maternidade do HRHMG?
18
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Identificar o perfil das mulheres atendidas na maternidade de referência de
São José, residentes em Biguaçu, e sua percepção sobre a assistência humanizada
no processo do nascimento.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Caracterizar o perfil das mulheres residentes em Biguaçu atendidas na maternidade
de referência de São José;
Conhecer o motivo da escolha da maternidade procurada;
Identificar ações na assistência e recursos utilizados no atendimento que indicam a
humanização no processo de nascimento do HRHMG;
Avaliar o nível de satisfação dessas mulheres em relação ao atendimento realizado
na maternidade do HRHMG.
19
20
3 REVISÃO DE LITERATURA
Gravidez e Parto são eventos sociais que integram a vivência reprodutiva de
homens e mulheres. Com a evolução dos conhecimentos médicos em obstetrícias e
os avanços tecnológicos hospitalares, observa-se a grande medicalização do parto
normal e altas taxas de parto cesáreo, sob a égide de prestar assistência de
qualidade e reduzir os agravos à saúde da mulher e do concepto. Tal atitude
descaracterizou a normalidade do ato de parir, além de considerar o desejo da
mulher de optar pelo modo de parto que melhor lhe convier (CARVALHO et al,
2005).
Buscando retornar ao conceito de parto humanizado é que o Ministério da
saúde conceitua parto humanizado como aquele que envolve um conjunto de
conhecimentos, práticas e atividades que visam à promoção do parto e do
nascimento saudáveis, além da prevenção da morbimortalidade materna e perinatal
(BRASIL, 2002).
Sendo a gravidez um processo natural envolvendo aspectos biológicos,
psicológicos e sociais, é uma fase de grandes transformações no corpo e na vida
emocional da grávida, onde o grau de adaptação a essas mudanças vai influenciar
no seu nível de ansiedade (DAVIM e MENEZES, 2001).
O parto é considerado como um processo psicossomático, que é vivido como
uma realidade distante que encerra risco, irreversibilidade e imprevisibilidade que
nunca podemos prever se vai transcorrer normalmente ou se vai surgir
complicações. Estas situações podem ser vivenciadas pela mulher de forma
tranqüila ou não, dependendo de sua adaptação.
3.1 ACOMPANHANTE
O parto, para o homem, constitui um momento de intensas emoções,
possibilitando a primeira aproximação direta do pai com o filho sem intermediações
da mulher, condição necessária durante a gestação, onde o feto está incorporado ao
esquema corporal da mãe. Sabemos, no entanto, que poucas são as instituições
21
públicas onde o pai pode acompanhar sua companheira durante o trabalho de parto,
parto e nascimento (ABREU, 1999 apud DAVIM e MENEZES, 2001).
A presença do pai na sala de parto não é uma questão que se resolva
passando-se uma receita simplesmente, mas que essa enfermagem reflita sobre as
vantagens e desvantagens de cada tipo de parto, sobre as condições mais humanas
e seguras para o nascimento de uma criança, analisando a forma de atendimento
que é oferecida à mulher nos serviços de saúde. Sabemos, também, que o parto
pode acontecer em qualquer lugar, como em um táxi, na rua, em uma repartição,
entre outros. Porém, na grande maioria das vezes, o parto fora da maternidade
acontece no domicílio, o que poderá ocorrer por várias razões: pela falta de recursos
econômicos, ausência de hospital ou a distância deste que, em algumas situações,
impedem o seu acesso e realização ou mesmo por opção, pois algumas pessoas
que acreditam ser esta a maneira mais natural de dar à luz.
No Brasil, a importância desse relacionamento tem sido observada em várias
instituições com programas de humanização ao parto, com resultados expressivos
como na Maternidade Darcy Vargas, em Joinville/SC, que conta com um serviço de
humanização ao parto à qual oferece curso pré-parto para o casal, banheira térmica
e banco de leite (DAVIM e MENEZES, 2001).
Outro exemplo é a maternidade do Hospital Universitário, em Florianópolis,
que é beneficiada com um projeto de extensão multidisciplinar da Universidade
Federal de Santa Catarina que mantém, de forma permanente, o grupo de gestantes
e o grupo de casais grávidos, aberto à população que desejar participar.
3.2 PROGRAMA DE HUMANIZAÇÃO NO PRÉ-NATAL E NASCIMENTO
O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento foi instituído no ano
2000 pelo Ministério da Saúde através da Portaria/GM nº 569, subsidiado nas
análises das necessidades de atenção específica à gestante, ao recém-nascido e à
mãe no período pós-parto. Tem como objetivo “promover a integralidade das ações
de saúde (...), favorecer a universalidade do atendimento e o aumento da eqüidade
por meio da utilização de novas tecnologias e especializações, de saberes sem
desvalorizar os processos já instituídos” (BRASIL, 2000a).
22
São considerados como princípios orientadores da humanização: reduzir filas
e espera, ampliar o acesso e atendimento acolhedor, assegurar que o usuário
conheça os profissionais que cuidam de sua saúde, garantir acesso às informações,
o direito a acompanhante e consolidar a gestão participativa e a educação
permanente dos trabalhadores (BRASIL, 2005).
As prioridades do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento são:
• concentrar esforços no sentido de reduzir as altas taxas de
morbimortalidade materna, peri e neonatal registradas no país;
• adotar medidas que assegurem a melhoria do acesso, da cobertura e
da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto,
puerpério e neonatal;
• ampliar as ações já adotadas pelo Ministério da Saúde na área de
atenção à gestante, como os investimentos nas redes estaduais de
assistência à gestação de alto risco, o incremento do custeio de
procedimentos específicos e outras ações como o Maternidade
Segura, o Projeto de Capacitação de Parteiras Tradicionais, além da
destinação de recursos para treinamento e capacitação de
profissionais diretamente ligados a esta área de atenção, e a
realização de investimentos nas unidades hospitalares integrantes
destas redes.
O Ministério da Saúde fundamenta o PHPN nos preceitos de que a
humanização da assistência Obstétrica e Neonatal é condição primeira para o
adequado acompanhamento do parto e do puerpério e afirma que a mesma
compreende os aspectos fundamentais que dizem respeito à convicção de que é
dever das unidades de saúde receber com dignidade a mulher, seus familiares e o
recém-nascido e à adoção de medidas e procedimentos sabidamente benéficos para
o acompanhamento do parto e do nascimento, evitando práticas intervencionistas
desnecessárias que acarretam maiores riscos para a mulher e o RN. Diz ainda que
para as unidades de saúde cumprirem seu dever, deve haver uma atitude ética e
solidária por parte dos profissionais de saúde e uma organização da instituição de
23
modo a criar um ambiente acolhedor e a instituir rotinas hospitalares que rompam
com o tradicional isolamento imposto à mulher (BRASIL, 2002).
Os princípios que estruturam o PHPN são:
• toda gestante tem direito ao acesso a atendimento digno e de qualidade no
decorrer da gestação, parto e puerpério;
• toda gestante tem direito de saber e ter assegurado o acesso à maternidade
em que será atendida no momento do parto;
• toda gestante tem direito à assistência ao parto e ao puerpério e que esta
seja realizada de forma humanizada e segura, de acordo com os princípios
gerais e condições estabelecidas na prática médica;
• todo RN tem direito à assistência neonatal de forma humanizada e segura.
O Programa integra três componentes (BRASIL, 2002):
Componente I – Incentivo à Assistência Pré-natal — objetiva estimular
estados e municípios a realizarem o acompanhamento pré-natal adequado e o
cadastramento das gestantes, de acordo com os princípios e critérios estabelecidos,
instituindo para tanto, incentivos financeiros.
Componente II – Organização, Regulação e Investimentos na Assistência
Obstétrica e Neonatal — objetiva o desenvolvimento de condições técnicas e
operacionais para a organização e regulação da assistência obstétrica e neonatal,
através da estruturação de Centrais de Regulação e de sistemas móveis de
atendimento pré e inter-hospitalares; e ainda financiamento a hospitais públicos e
filantrópicos, integrantes do Sistema Único de Saúde. Estes hospitais devem prestar
assistência obstétrica e neonatal, resultando no incremento da qualidade
assistencial e da capacidade instalada.
Componente III – Nova Sistemática de Pagamento da Assistência ao
Parto — objetiva a melhoria do custeio da assistência ao parto nos hospitais
integrantes do Sistema de Informações Hospitalares – SIH/SUS. Para esse fim eleva
o valor e a forma de remuneração dos procedimentos da tabela relativos ao parto,
além do adicional sobre estes valores para os hospitais que prestarem assistência
às gestantes do Programa e para as quais tenha sido cumprido o acompanhamento
pré-natal completo.
24
O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento é executado, de
forma articulada, pelo Ministério da Saúde com as Secretarias de Saúde dos
Estados, Municípios e Distrito Federal. Os municípios que aderem ao programa são
avaliados anualmente pelo MS e a continuidade do mesmo está vinculada à
apresentação do procedimento “Conclusão da Assistência Pré-natal” (realização e
registro no Sisprenatal de seis consultas de pré-natal, todos os exames obrigatórios,
imunização antitetânica, realização do parto e consulta de puerpério) para, no
mínimo, 30% das gestantes nele cadastradas no primeiro ano de adesão e 50% no
segundo ano (BRASIL, 2002).
3.3 LEGISLAÇÃO SOBRE A HUMANIZAÇÃO
Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento
Portaria GM 569 de 1 de junho de 2000 no seu Art. 1º: Institui o Programa de
Humanização no ré-natal e Nascimento, no âmbito do Sistema Único de Saúde, a
mesma foi republicada (BRASIL, 2000a).
Portaria GM 570 de 1 de junho de 2000, no Art. 1º: Institui o Componente I do
Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento - Incentivo à Assistência Pré-
natal no âmbito do Sistema Único de Saúde, a mesma foi republicada (BRASIL,
2000b).
Portaria GM 571 de 1 de junho de 2000 no Art. 1º: Institui o Componente II do
Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento - Organização, Regulação e
Investimentos na Assistência Obstétrica e Neonatal, no âmbito do Sistema Único de
Saúde (BRASIL, 2000c).
Portaria GM 572, de 1 de junho de 2000 no seu Art. 1º Institui o Componente
III do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento – Nova Sistemática de
Pagamento à Assistência ao Parto (BRASIL, 2000d).
25
Alojamento Conjunto
Torna obrigatória a criação do sistema de Alojamento Conjunto através da
Portaria MS/GM 1.016, de 26 de agosto de 1993 (BRASIL, 1993).
Incentivo ao Parto Normal
Normatizam o pagamento de um percentual máximo de cesarianas:
Portaria MS/GM 2.816, de 29 de maio de 1998: determina que no Programa
de Digitação de Autorizações de Internação Hospitalar, SISAIH01, seja implantada
uma crítica visando o pagamento do percentual máximo de cesarianas, em relação
ao total de partos por hospital (BRASIL, 1998a).
Portaria MS/GM 865, de 03 de julho de 1999: redefine os limites de que trata
o item 01 da Portaria GM 2.816 de 29 de maio de 1998, publicada do Diário Oficial
n° 103, de 02 de junho de 1998 (BRASIL, 1998a; 1999).
A Portaria MS/GM 466, de 14 de junho de 2000 no seu Art. 1º estabelece
como competência dos Estados e do Distrito Federal a definição de limite, por
hospital, de percentual máximo de cesarianas em relação ao número total de partos
realizados e ainda a definição de outras estratégias para a obtenção de redução
destes procedimentos no âmbito do estado (BRASIL, 2000e).
A Portaria MS/GM 426, de 04 de abril de 2001 no seu Art. 1º define, para o
Distrito Federal e os Estados que não aderiram ao pacto na forma proposta na
Portaria GM/MS/Nº 466, de 14 de junho de 2000, os limites totais de cesáreas para o
ano de 2001, abaixo discriminados:
• limite de 30% para o primeiro semestre de 2001;
• limite de 27% para o segundo semestre de 2001 (BRASIL, 2000d; 2001b).
26
3.4 MÉTODOS E TÉCNICAS PARA HUMANIZAÇÃO DO PROCESSO DE
NASCIMENTO
Existem métodos, técnicas e também atitudes que fazem com que o processo
de nascimento aconteça de forma mais adequada atingindo os objetivos do MS para
a humanização da assistência como um todo e atendendo as expectativas das
mulheres protagonistas do evento.
Para tanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou, em 1996, um
grupo de trabalho sobre o Parto Normal que desenvolveu uma classificação
dividindo as práticas no parto normal em 4 categorias: 1ª Práticas no parto normal
demonstradamente úteis e que devem ser estimuladas (descritas a seguir; as
demais trabalharemos oportunamente); 2ª Práticas no parto normal claramente
prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas; 3ª Práticas no parto normal
em que não existem evidências para apoiar sua recomendação e devem ser
utilizadas com cautela até que novas pesquisas esclareçam a questão; e 4ª Práticas
no parto normal freqüentemente utilizadas de modo inadequado (BRASIL, 2001b).
Adotando as recomendações da OMS — Organização Mundial de Saúde
(1996) — o MS cita as ações para humanizar o parto, conforme segue:
No período do pré-natal:
- planejar onde e como o nascimento será assistido;
- avaliação do risco da gestação;
- monitoramento do bem-estar físico e emocional da mulher;
- respeitar a escolha da gestante sobre o local e nascimento;
- prestar informações sempre que necessário.
Na admissão na Unidade de referência (hospitalar):
- respeitar a privacidade da mulher;
- respeitar a escolha do acompanhante.
Durante o trabalho de parto:
- oferecer líquidos via oral;
27
- dar suporte emocional empático;
- prestar informações sempre que necessário;
- uso único de materiais descartáveis;
- respeitar o direito à opinião sobre a episiotomia;
- corte do cordão umbilical tardio com material estéril.
Posição durante o trabalho de parto:
- encorajar a posição não deitada;
- liberdade de posição e movimento.
No controle da dor:
- alívio por meios não invasivos, não farmacológicos (massagens, técnicas de
relaxamento, etc.)
No monitoramento:
- do bem-estar físico e emocional da mulher;
- fetal, por ausculta intermitente;
- do progresso do trabalho de parto por meio do partograma.
Após a dequitação:
- exame de rotina da placenta;
- uso de ocitócitos no terceiro estágio se há risco de hemorragia;
- prevenção de hipotermia no RN;
- amamentação na primeira hora (OMS, 1996).
A classificação utilizada, segundo o MS (2001) deve ser periodicamente
revisada de forma crítica devido ao progresso da ciência médica, pois novas
evidências surgirão e cada um dos membros da equipe de saúde deve buscá-la de
forma ativa e permanente.
Considera-se oportuno descrever aqui os fatores importantes na humanização
do processo de nascimento, conforme segue.
28
Amniotomia e amniorex
Segundo Klaus, Kennell e Klaus (2000) a ruptura induzida da membrana
diminui o tempo total do trabalho de parto em aproximadamente 40 a 120 minutos
fazendo com que muitas mães percam o controle do mesmo, perdendo a sensação
de uma seqüência natural e controlável dos eventos. Assim, elas se sentem mais
desamparadas. Para os autores citados, o melhor é não romper a membrana, a não
ser em uma situação médica especial, pois além do desconforto para as mães, há a
possibilidade de infecção do feto, e da própria mulher, e a ocorrência do “cefalo-
hematoma” (hemorragia entre o couro cabeludo e os ossos da cabeça ocasionada
durante a descida pelo canal de parto) já que a membrana intacta oferece uma
barreira contra as bactérias e protege a cabeça do feto durante o trabalho de parto.
Monitorização do Feto
A monitorização de rotina dos batimentos cardíacos fetais é uma decisão a
ser tomada pelos pais e obstetras, uma vez que os estudos sobre o assunto não
mostram melhora nos resultados para o bebê (em mulheres saudáveis). A
monitorização contínua impede a mãe de caminhar durante a maior parte do
trabalho de parto diminuindo o efeito da gravidade e aumentando o tempo desse
processo. Ou seja, tal procedimento não oferece vantagens (KLAUS, KENNELL e
KLAUS, 2000).
Na verdade, a monitorização fetal contínua é comumente utilizada nos
Estados Unidos (KLAUS, KENNELL e KLAUS, 2000), não sendo aplicada como
rotina em nossas maternidades. Nestas, os batimentos fetais são checados a cada
hora, quando a mãe e o bebê são saudáveis. Cabe utilizar o bom senso, pois os
profissionais precisam avaliar se é necessária uma monitorização em um espaço de
tempo menor ou não, se prevenindo de complicações “legais” no caso de óbito fetal.
29
Oxitocina
A oxitocina é um hormônio natural freqüentemente utilizado para o aumento
da força e da freqüência das contrações. Sua administração é responsabilidade do
médico, pois se trata de uma droga perigosa quando usada antes do parto. Quando
utilizada, as respostas materna e fetal devem ser monitoradas assegurando que a
mulher nunca será deixada sozinha, pois contrações agudas e prolongadas podem
resultar em ruptura uterina, descolamento prematuro da placenta e hipoxia fetal
(ZIEGEL e CRANLEY, 1985).
As mães que foram capazes de suportar o desconforto das contrações do
trabalho de parto normal consideram o aumento das dores tão intenso que podem
ser forçadas a ir contra seu plano inicial de evitar medicação. Com o uso da
oxitocina, algumas mães têm contrações tão fortes que seu uso deve ser
descontinuado e uma medicação com ação contrária deve ser administrada. Muitas
mulheres afirmam não serem capazes de chegar ao topo das contrações devido às
dores fortes e contínuas (KLAUS, KENNELL e KLAUS, 2000).
Analgesia Epidural
A analgesia epidural é um método freqüentemente utilizado para controle da
dor das contrações. O seu uso está relacionado com a incapacidade da mãe sentir o
impulso natural de continuar o segundo estágio do trabalho de parto aumentando
significativamente o número de partos cesáreos. As desvantagens da analgesia
epidural, além da probabilidade de realização de parto por cesariana, são:
dificuldade em iniciar uma amamentação rápida, fácil e calma (em aproximadamente
25% dos bebês) e a presença de febre (de até 39,5 a 40 graus) na mãe e no bebê
que pode ser resultado de uma infecção ou apenas estar relacionada à analgesia
havendo a necessidade de exames e administração de antibióticos. Também ocorre
a sensação por parte das mães de privação da experiência do parto por não
sentirem seu bebê sair e por não controlarem seu trabalho de parto ou terem uma
sensação de realização. As analgesias epidurais podem diminuir a liberação de
oxitocina influenciando a percepção da mãe em relação ao bebê que está nascendo
(KLAUS, KENNELL e KLAUS, 2000).
30
Parto Cesáreo
Um parto por cesariana é uma cirurgia abdominal de grande porte,
extremamente dolorosa, que exige um mês ou mais de recuperação para a mãe.
Obviamente que é necessário em certas situações, entretanto, os médicos
concordam que está associada ao aumento dos índices de doença tanto nas mães
quanto nos bebês, bem como a uma maior mortalidade de ambos. Isso se reflete
principalmente na disponibilidade da mãe para o seu bebê gerando efeitos
prejudiciais ao vínculo entre os mesmos (KLAUS, KENNELL e KLAUS, 2000).
Episiotomia
A episiotomia é uma incisão feita através do corpo do períneo realizada muito
freqüentemente pouco antes da expulsão da cabeça fetal e facilita o parto por
ampliar o orifício vaginal. Suas principais finalidades são: poupar os músculos do
assoalho perineal de distenção e contusão exageradas e prevenir a pressão
prolongada e exercida pela cabeça fetal sobre o períneo. Uma episiotomia prevenirá
também as freqüentes e inevitáveis lacerações do períneo (ZIEGEL e CRANLEY,
1985).
Para Klaus, Kennell e Klaus (2000), uma grávida e seu obstetra devem
conversar sobre a episiotomia devido ao desconforto para a mãe, impedindo-a de
lidar facilmente com o bebê nos primeiros meses de vida. A episiotomia está
associada com o desconforto prolongado e um maior tempo de recuperação da área
do que as fissuras mais naturais que, com freqüência, têm uma recuperação natural
por si só. Uma alternativa é o cuidado na saída da cabeça utilizando compressas
quentes com óleo no períneo, de forma que a mãe sinta pouca dor. Assim, ocorrerá
apenas uma pequena separação ou rachadura na superfície da mucosa que requer
poucos pontos que não incomodará no período pós-natal e cicatrizará rápida e
naturalmente (KLAUS, KENNELL e KLAUS, 2000).
A OMS (1996, apud BRASIL, 2001b) avalia que determinadas situações,
como sinais de sofrimento fetal, progressão insuficiente do parto e ameaça de
laceração de terceiro grau podem ser bons motivos para a indicação da episiotomia
num parto, até então de evolução normal. Salienta que o profissional deve ser
31
habilitado para suturar lacerações e episiotomias de modo adequado, devendo
receber treinamento para isso.
Enteroclisma
O enteroclisma ou enema pode ser prescrito, quando solicitado pela
parturiente, pelo médico e administrado por uma ou várias razões como: auxiliar a
estimular as contrações uterinas; remover do reto o material fecal, que pode,
especialmente quando presente em grandes quantidades, interferir com a descida
da cabeça do feto, e prejudicar a realização de um exame ginecológico adequado;
diminuir a possibilidade de expulsão de material fecal durante o parto, com
subseqüente contaminação do campo (ZIEGEL e CRANLEY, 1985).
Apesar do desconforto à parturiente na realização da lavagem intestinal, o
conforto posterior da mulher e da equipe de saúde deve ser valorizado, pois evacuar
no momento do período expulsivo, com a genitália exposta, pode ser constrangedor
para muitas mulheres. E, além disso, nem sempre a equipe de saúde presente na
sala de parto consegue lidar bem com tal situação, aumentando ainda mais o
constrangimento da mulher. Portanto, a decisão de realizar ou não o enteroclisma
deve considerar essas condições, valorizando principalmente a opinião da
parturiente (BRASIL, 2001a).
Tricotomia
A retirada dos pêlos pubianos foi utilizada rotineiramente nos hospitais,
visando à redução na incidência de infecções de episiotomia, a facilitação da
episiorrafia e uma melhor higiene no pós-parto. Contudo, sua utilização pode gerar
desconfortos e riscos para a parturiente no momento da execução e quando os
pêlos começam a crescer e, ainda, o risco de transmissão de doença, quando
utilizadas lâminas não descartáveis. Soma-se a estes fatos, a não existência de
evidências científicas sobre os benefícios desse procedimento. O MS recomenda
que a tricotomia somente seja realizada por opção da parturiente (BRASIL, 2001a).
32
Deambulação
A posição vertical (parada ou deambulando) parece favorecer o trabalho de
parto, portanto, salvo raras exceções, a parturiente não deve ser obrigada a
permanecer no leito. Deambular, sentar e deitar são condições que a gestante pode
adotar no trabalho de parto de acordo com a sua preferência e, em geral de forma
espontânea, existe uma tendência à alternância de posições. As mulheres devem
ser apoiadas em sua escolha (BRASIL, 2001a).
Acompanhante
O direito ao acompanhante da gestante é reconhecido em diversas instâncias,
incluindo o Ministério da Saúde, porém, não é praticado de forma regular e
sistemática em todo o país. Em alguns locais, apenas as mulheres mais favorecidas
economicamente se utilizam desse direito.
O acompanhamento do trabalho de parto por uma pessoa de sua escolha,
marido, companheiro, mãe, familiar próximo ou amiga, lhe fornece o apoio
emocional necessário para esse período. A presença do acompanhante não envolve
preparo técnico, representa o suporte psíquico e emocional da presença
reconfortante, do contato físico, para dividir o medo e a ansiedade, para somar
forças, para estimular positivamente a parturiente nos momentos mais difíceis. Este
apoio à parturiente não deve ser entendido estritamente como uma forma alternativa
de possível controle da dor, mas sobretudo como um direito seu no processo de
humanização do nascimento representando um fator de grande ajuda (BRASIL,
2001a).
Informações e Orientações
O adequado preparo da gestante para o momento do parto é fundamental
para a humanização e isso envolve não só os aspectos técnicos, mas também uma
abordagem de acolhimento da mulher e seu companheiro no serviço de saúde
incluindo o fornecimento de informações desde as mais simples, de onde e como o
33
nascimento deverá ocorrer, o preparo físico e psíquico da mulher, os procedimentos
rotineiros e sobre as instalações da maternidade. Durante o pré-natal a gestante
deve receber orientações em relação ao processo gestacional, mudanças corporais
e emocionais, trabalho de parto, parto e puerpério, cuidados com o recém-nascido e
amamentação. Orientações sobre anatomia e fisiologia materna, os tipos de parto e
condutas que facilitam a participação ativa no nascimento devem estar incluídas.
3.5 PROGRAMA DE HUMANIZAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE -
HumanizaSUS
Entende-se por humanização a valorização dos diferentes sujeitos implicados
no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Os valores
que norteiam a política de humanização do atendimento no SUS são: autonomia,
protagonismo dos sujeitos, co-responsabilidade entre eles, estabelecimento de
vínculos solidários e a participação coletiva no processo de gestão (BRASIL, 2004a).
No campo da saúde, humanização diz respeito a uma aposta ética-estética-
política; ética porque implica a atitude de usuários, gestores e trabalhadores de
saúde comprometidos e co-responsáveis; estética porque relativa ao processo de
produção de saúde e da subjetividade autônoma e protagonista; política porque se
refere à organização social e institucional das práticas de atenção e gestão da rede
do Sistema Único de Saúde – SUS. O compromisso ético-estético-político da
humanização do SUS se assenta nos valores de autonomia e protagonismo dos
sujeitos, de co-responsabilidades entre eles, de solidariedade dos vínculos
estabelecidos, dos direitos dos usuários e da participação coletiva no processo de
gestão (BRASIL, 2004).
34
35
4 MARCO TEÓRICO
As teorias fornecem apoio a prática de qualquer disciplina profissional
desenvolvendo um corpo de conhecimentos. Segundo George (1993 apud LUZ e
OLIVEIRA, 2003), as teorias constituem uma forma sistematizada de olhar o mundo
para descrevê-lo, explicá-lo ou encontrá-lo e são baseadas em suposições, modelo
e proposições sendo compostas também de conceitos e definições.
As teorias podem inter-relacionar conceitos de modo a criar uma forma
diferente de se encarar determinado fenômeno; devem ser lógicas por natureza;
relativamente simples, contudo, generalizáveis; ser a base para hipóteses que
podem ser testadas; colaboram e ajudam no sentido de aumentar o conjunto geral
de conhecimentos no âmbito da disciplina, através da pesquisa implementada para
validá-las; podem ser utilizadas por profissionais como um guia e algo que aprimore
sua prática; e devem ser compatíveis com outras teorias, leis e princípios
confirmados, embora deixem em aberto questões não solucionadas que precisam
ser investigadas (GEORGE, 1993).
O marco teórico escolhido para direcionar este estudo foi a teoria do alcance
dos objetivos de Imogene M. King por apresentar uma estrutura e conceitos que
atendem as necessidades do estudo e que se adaptam a explicação da política da
humanização instituída no sistema de saúde, objeto de análise da pesquisa, se
enquadrando quase que perfeitamente ao interesse da pesquisa. A mesma envolve
seres humanos que buscam a manutenção de sua saúde, interagindo com a equipe
que presta assistência, fazendo uso da comunicação como instrumento de trabalho
e parceria, considerando o estresse e as ações nos sistemas (pessoal, interpessoal
e social) descritos na teoria e ainda valorizando o papel de cada indivíduo no
processo.
Além da teoria de King, foram abordados os conceitos do Ministério da Saúde
e de Davim e Menezes (2001) sobre humanização, processo de nascimento,
atenção humanizada, humanização do parto e humanização da assistência, muito
relevantes e importantes para o entendimento e análise da pesquisa.
36
4.1 TEORIA DO ALCANCE DOS OBJETIVOS DE IMOGENE M. KING
A teoria do alcance dos objetivos de Imogene M. King deriva-se da estrutura
de sistemas abertos que apresentam várias suposições que são básicas à sua
estrutura conceitual. As suposições são: cuidado de seres humanos como o foco da
enfermagem; saúde dos indivíduos e atendimento à saúde de grupos como meta da
enfermagem; e constituição de sistemas abertos por seres humanos em constante
interação com seu meio ambiente (GEORGE, 1993).
A estrutura conceitual desta teoria compõe-se três sistemas interativos:
sistemas pessoais, sistemas interpessoais e sistemas sociais. Em resumo, entende-
se que: os indivíduos compreendem um tipo de sistema no ambiente, chamado de
sistemas pessoais, que interagem para formar díades, tríades e pequenos e grandes
grupos que compreendem outro tipo de sistema, chamado de sistemas
interpessoais. Grupos com interesses e necessidades especiais formam
organizações que compõem comunidades e sociedades, chamados sistemas sociais
(GEORGE, 1993,).
Segundo George (1993), os elementos principais da teoria do alcance dos
objetivos são vistos nos sistemas interpessoais em que duas pessoas que são
estranhas aproximam-se numa organização de atendimento à saúde para ajudar e
serem ajudadas a manter um estado de saúde que permita o funcionamento em
papéis.
4.2 CONCEITOS SEGUNDO KING
Seres humanos
Segundo GEORGE (1993, p. 182), King identifica várias suposições acerca
de seres humanos. King descreve os seres humanos como “sociais, conscientes,
racionais, perceptivos, controladores, intencionais, voltados à ação e voltados ao
tempo”.
37
Saúde
Experiências dinâmicas de vida de um ser humano que implicam ajustamentos contínuos e estressores, no ambiente interno e externo, através de uso adequado dos recursos próprios para alcançar o máximo potencial para a vida diária” (KING apud GEORGE, 1993, p. 183).
Ambiente/Sociedade
“Porção de sistemas sociais de sua estrutura de sistemas abertos” (KING apud
GEORGE, 1993, p.183).
Enfermagem
De acordo com King (apud GEORGE, 1993, p.183), Enfermagem é definida
como:
um processo de ação, reação e interação, pelo qual enfermeira e cliente partilham informações sobre suas percepções na situação de enfermagem [...] e como [...] um processo de interações humanas entre enfermeira e cliente, através do qual cada um percebe o outro e a situação; e, através da comunicação, fixam metas, exploram meios e concordam acerca dos meios para alcançar as metas.
Interação
Interação é definida como “um processo de percepção e comunicação entre a
pessoa e o ambiente, e entre uma pessoa e outra, representada por
comportamentos verbais e não-verbais voltados para uma meta” (KING apud
GEORGE, 1993, p.180).
38
4.3 OUTROS CONCEITOS
Enfermagem humanística
A enfermagem humanística engloba muito mais do que a competência técnica, engloba um modo de relacionar-se em favor do outro, seja do enfermeiro/cliente, seja do enfermeiro/médico/membros da equipe. O ser e o fazer estão intimamente relacionados. Esta relação possibilita à enfermagem a oportunidade para o desenvolvimento do ser humano, torna a existência uma coexistência humana. O processo de relações de poder dissipa-se através das inter-relações tornadas humanísticas (ZAGONEL, 1996 apud LUZ; OLIVEIRA, 2003, p.19).
Para Luz e Oliveira (2003) uma das atitudes humanísticas é a preparação da
mulher para viver o parto fornecendo conhecimentos sobre a gestação, o parto e o
puerpério, favorecendo o bem-estar bio-psicossocial.
Assim, para agregar o valor da humanização à enfermagem, é preciso que os
profissionais da área entendam e percebam profundamente o seu significado,
tornando uma necessidade a sua vivência.
Processo de Nascimento
O parto é considerado como:
[...] processo psicossomático, onde o comportamento da gestante ou parturiente vai depender, além da própria evolução do trabalho de parto, do nível de informação da mulher, sua história pessoal, contexto sócio-econômico, personalidade, simbolismo. (DAVIM e MENEZES, 2001, p.64).
O processo de nascimento através do parto representa ainda:
[...] uma transição importante na vida da mulher e da família, um momento em que necessita de apoio e compreensão para poder enfrentar o mais naturalmente possível o trabalho de parto e o parto, sabendo que pode e deve dele participar ativamente, obtendo assim, conforto físico e psíquico. (SIMÕES, 1998 apud DAVIM e MENEZES, 2001, p.64).
39
Humanização
“Humanizar é qualificar a atenção à saúde é aprender a compartilhar saberes
e reconhecer direitos” (BRASIL, 2004a, p.16).
Atenção humanizada
A atenção humanizada e de boa qualidade implica no estabelecimento de relações entre sujeito, seres semelhantes, ainda que possam apresentar-se muitos distintos conforme suas condições sociais, raciais, étnicas, culturais e de gênero. Respeita a individualidade de cada mulher, um ser único que deve ser tratado com dignidade e ter a sua saúde e bem-estar assegurados (BRASIL, 2004a, p.8).
Humanização do Parto
“Atenção humanizada ao parto é ampla e envolve um conjunto de
conhecimentos, práticas e atitudes que visam à promoção do parto e do nascimento
saudáveis e a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal” (BRASIL, 2001a,
p.5).
Humanização da assistência
“Humanização é a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo
de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores” (BRASIL, 2004a, p.8).
Humanizar a assistência significa compreender o momento em que o ser
humano necessita ter sua saúde assistida, considerar que a sensibilidade e
segurança do indivíduo estão afetadas e oferecer apoio de profissionais
capacitados. Esses devem ter consciência de que lidam com pessoas e que estas
merecem e têm o direito a uma assistência de qualidade, não só tecnicamente, mas
também de terem sua dignidade, opinião e escolhas respeitadas.
40
41
5 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
5.1 ESPAÇO DA PESQUISA
O estudo foi realizado nos domicílios das puérperas selecionadas e na
Maternidade do Hospital Regional Homero de Miranda Gomes (HRHMG), da
Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES-SC), situado à Rua Adolfo
Donato da Silva, s/n, Praia Comprida, São José.
Apresentaremos a seguir um breve histórico da Unidade. O hospital foi
inaugurado em 25 de fevereiro de 1987 e ativado no dia 02 de março do mesmo
ano. Foram ativados 36 leitos de maternidade em regime de alojamento conjunto na
Unidade de Internação Obstétrica, o Centro Obstétrico, a Unidade de Neonatologia,
o Banco de Leite Humano, a Triagem Obstétrica, a Emergência e o Setor de
Treinamento, sendo que o Centro Cirúrgico funcionava conjuntamente com o Centro
Obstétrico (SANTA CATARINA, 2005).
Em março de 1987 o Hospital Regional de São José contava com 86
funcionários na área de enfermagem e ao final do ano eram 163 funcionários. O
Centro Cirúrgico foi ativado em 02 de novembro de 1987, com a abertura de 03
salas cirúrgicas para atendimento à Ginecologia e Obstetrícia. Em dezembro de
1987 foi inaugurado o Serviço de Emergência, sendo então deslocada a Triagem
Obstétrica para o setor onde funcionaria o ambulatório.
A nova maternidade foi inaugurada em 26 de dezembro de 2002, iniciando
com o atendimento de Emergência Obstétrica e Neonatologia. Em agosto de 2004
foi ativada a sala de recuperação pós-parto propiciando um ambiente mais tranqüilo
e acolhedor às puérperas, acompanhantes e recém-nascidos. O Banco de Leite
Humano, que funcionava no 4º andar do hospital, foi transferido para a nova
maternidade em setembro de 2004, sendo ativada a Sala de Processamento e
Distribuição de Leite Humano, que funcionava junto ao Serviço de Nutrição e
Dietética.
Em março de 2005, a sala de recuperação pós-parto passou a receber
também as pacientes cirúrgicas (parto cesáreo e curetagens), que recebiam
assistência na Sala de Recuperação do Centro Cirúrgico Geral. Em maio do mesmo
42
ano, contando com novos equipamentos, foi ativada também a Sala de Cesariana e
Curetagem, que funcionava no Centro Cirúrgico Geral do hospital.
O hospital possui unidades de internação, emergência, isolamento, Unidade
de Terapia Intensiva (UTI) Geral e Neonatal. A maternidade situa-se dentro do
hospital.
Trata-se de um Hospital-Escola, terciário, de referência, sendo que no ano de
2004 realizou 318 partos, sendo 212 partos normais e 106 cesarianas. As pacientes
atendidas na maternidade do Hospital Homero de Miranda Gomes são, em sua
maioria, provenientes da região da Grande Florianópolis (SANTA CATARINA, 2005).
5.2 TIPO DE ESTUDO
A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das
características da população ou um fenômeno, ou esclarecimento e estabelecimento
de relações entre variáveis. Utiliza técnicas padronizadas de coleta de dados,
questionário e observação sistemática (UNIVALI, 2002).
Trata-se de um estudo descritivo com amostragem não intencional, onde
foram utilizadas as Autorizações de Internação Hospitalar – AIH – de Biguaçu, do
primeiro semestre de 2005.
As AIH foram colocadas por ordem numérica decrescente e foi realizado um
sorteio aleatório da amostra. Após o sorteio foi feito um levantamento nos
prontuários para levantamento de dados mais específicos e identificação do
endereço e dados da internação, sendo que este levantamento foi realizado pela
pesquisadora.
A amostra foi escolhida da seguinte maneira: foram feitos dois quadros com
ordem numérica dos partos normais e cesáreos e, considerando a existência de 198
registros, 137 de parto normal e 61 de cesáreas, e a necessidade de selecionarmos
10 registros de cada quadro, dividimos o total de cada quadro por 10 chegando as
variáveis 13,7 e 6,1 para parto normal e parto cesáreo respectivamente. Assim, para
o parto cesáreo, uma mulher a cada 6 foi escolhida e para o parto normal uma a
cada 13 mulheres. Foram separadas inicialmente 20 mulheres, 10 de cada tipo de
parto, 7 foram excluídas por não atenderem as especificações da amostra, ou seja,
43
eram AIH de 2005, porém o parto havia sido realizado nos últimos dias de 2004.
Desta forma, foram selecionadas 6 mulheres de parto cesáreo e 7 de parto normal.
Participaram deste estudo apenas quatro mulheres, pois uma não aceitou fazer a
entrevista, cinco não foram localizadas por falta de dados no prontuário, como
inexistência de telefone para contato ou número de telefone alterado e endereço
incompleto, e uma não reside mais no município. Não foi possível agendar novas
entrevistas a partir de nova seleção devido ao tempo disponível para realização e
conclusão da pesquisa e, considerando a característica qualitativa do estudo.
Podemos considerar alguns possíveis fatores limitadores na realização da
coleta de dados, como: a distância de tempo entre a coleta dos dados e as datas de
realização dos partos dificultando o interesse dos sujeitos de pesquisa em participar,
o receio de se envolver em pesquisas e de receber pessoas estranhas em sua
residência e a existência de endereços falsos utilizados para possibilitar o acesso ao
serviço de referência.
As mulheres selecionadas, conforme mostra o quadro abaixo, foram
convidadas a participar do estudo através de um contato telefônico e a entrevista
agendada para data posterior. Os sujeitos da pesquisa que participaram do estudo
encontram-se grifadas no quadro tendo sido entrevistadas duas mulheres
submetidas a parto normal e duas a parto cesáreo.
Quadro 1: Mulheres selecionadas como sujeito da pesquisa, por tipo de parto, do município de Biguaçu e que foram atendidas na maternidade de referência de São José no primeiro semestre de 2005.
Seleção Nome (Iniciais) Prontuário Parto Bairro
1 E. M. de L. 027202 PC Boa Vista 2 M. M. do N. 039834 PC Serraria 3 C. S. D. 333740 PC Jardim Carandaí 4 M. T. P. 364448 PC Bom Viver 5 I. S. 373628 PC Fundos 6 S. S. O. 373939 PC Bom Viver 1 R. M. dos S. da R. 099369 PN Jardim Janaína 2 A. R. de A. 144213 PN Jardim Carandaí 3 F. A. M. 244762 PN Rio Caveiras 4 E. N. B. 321815 PN Jardim Anápoles 5 I. da R. C. 362789 PN Jardim Janaína 6 J. R. da S. 364431 PN Fundos 7 A. L. 372189 PN Bom Viver
Fonte: SIH, 2005.
44
5.3 SUJEITOS DA PESQUISA E ASPECTOS ÉTICOS
A coleta de dados ocorreu no período compreendido entre os meses de abril
e outubro de 2006. As mulheres selecionadas receberam visita da pesquisadora
para esclarecer os objetivos da pesquisa, assinatura do termo de consentimento
livre esclarecido e agendamento da entrevista, caso a mesma não pudesse ser
realizada neste mesmo encontro.
Os sujeitos de pesquisa foram selecionados aleatoriamente através da AIH.
Aqueles selecionados que aceitaram realizar a entrevista assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido (Apêndice A), estando este fundamentado nos
direitos das Normas e Diretrizes da Pesquisa com Seres Humanos conforme a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS/MS, e foram submetidos
a uma entrevista semi-estruturada (Apêndice B). O projeto da pesquisa foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí e
aprovado em 8 de dezembro de 2005.
5.4 INSTRUMENTOS DA PESQUISA
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com as mulheres gravadas
com a devida autorização.
A entrevista constou de duas partes. A primeira de identificação que continha
as seguintes informações retiradas do prontuário: nome da mulher, idade, tipo de
parto realizado e data do parto, e complementada com os outros dados durante a
entrevista. A segunda etapa foi composta por algumas perguntas buscando levantar
sua opinião sobre a humanização do atendimento no processo do nascimento na
Maternidade do HRHMG.
Foi utilizado também pela pesquisadora o diário de campo onde foram
anotadas as observações feitas durante as entrevistas e as suas reações como
comunicação não verbal.
45
5.5 ANÁLISE DOS DADOS
Foi realizada uma análise quantitativa dos dados secundários obtidos através
do SIH - Sistema de Informação Hospitalar onde os resultados foram apresentados
em gráficos, tabelas e quadros.
Com relação aos dados qualitativos foi utilizada uma análise de conteúdo.
Segundo Turato (2003), a análise é a mais simples dentre as análises de conteúdo,
pois procura nas expressões verbais ou textuais os temas gerais recorrentes no
interior de conteúdos concretos, ou seja, uma primeira forma de categorização e
subcategorização.
Para análise dos dados qualitativos (dados primários) foram percorridos os
passos descritos a seguir.
O primeiro passo foi a transcrição das entrevistas visando retratar o conteúdo
verbal e não verbal, com anotações e expressões importantes sendo registradas
pela pesquisadora no diário de campo. As entrevistas foram digitadas na íntegra,
corrigindo erros grosseiros da língua portuguesa, porém, tomando o cuidado de não
modificar as características básicas do texto.
O segundo passo consistiu em retirar as informações principais de cada
entrevista grifando na transcrição as principais categorias de análise, procurando
identificar nas falas as idéias centrais, temas, regularidades e singularidades.
No terceiro passo foi criada uma identificação para cada entrevista, visando
preservar o anonimato dos participantes. Ficou definido que não seriam utilizados
nomes fictícios ou outras denominações devido ao número reduzido de sujeitos.
Assim, as entrevistas estão identificadas como E1, E2, E3 e E4, respeitando a
ordem cronológica de realização das entrevistas.
No quarto passo foram verificadas as categorias de análise levantadas,
apresentando as principais falas autorizadas e sua análise com a revisão
bibliográfica.
As respostas das perguntas abertas foram gravadas, transcritas e agrupadas
em planilha do Microsoft Excel para facilitar a classificação das mesmas. Foram
analisadas de forma a desvelar as mensagens implícitas, separadas categorizando
as respostas convergentes e divergentes sobre o tema humanização. Emergiram
desta análise as seguintes categorias: humanização da assistência à saúde;
46
humanização do parto; ações e recursos utilizados para a humanização; e
classificação do atendimento.
As categorias que emergiram dos dados, foram analisadas e discutidas à
luz dos resultados obtidos por outros estudos divulgados na literatura, em especial,
dos que versavam sobre a humanização do parto e a política de humanização do
parto e nascimento e considerando os preceitos da teoria do alcance dos objetivos
de Imogene M. King.
47
48
6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ATENDIMENTOS
Neste capítulo apresentaremos inicialmente a caracterização da população e
do atendimento da Maternidade de Referência de São José. Foi realizada uma
análise quantitativa dos dados secundários obtidos através do Sistema de
Informação Hospitalar – SIH.
6.1.1 População atendida
A figura 1 apresenta os municípios de procedência das mulheres que
utilizaram a maternidade de referência de São José para a realização de parto
normal ou cesáreo, no primeiro semestre de 2005, totalizando 1937 atendimentos.
Figura 1: Municípios de procedência das mulheres atendidas na maternidade de referência do São José, jan-jun 2005.
10,0%
11,0%
31,4%
37,1%
Águas Mornas Alfredo Wagner Antönio Carlos Araranguá Biguaçu
Brusque Campos Novos Criciúma Florianópolis Garopaba
Gaspar Governador Celso Ramos Imbituba Itapema Joinville
Laguna Mafra Palhoça Paulo Lopes Santo Amaro da Imperatriz
São Bento do Sul São Bonifácio São Joáo Batista São José São Pedro de Alcântara
Sombrio Tijucas Gravatal Xanxerê
Fonte: SIH, 2005.
49
Observa-se que a maternidade atende principalmente os municípios
pertencentes à 18ª Regional de Saúde (Grande Florianópolis). Atende, na maioria,
os munícipes de São José correspondendo a 718 atendimentos, seguidos de
Palhoça com 608, Florianópolis com 214 e Biguaçu com 194 atendimentos, além de
atender em menor número os municípios de Santo Amaro da Imperatriz, Governador
Celso Ramos, Águas Mornas, Antonio Carlos, São Pedro de Alcântara e São
Bonifácio, todos os municípios pertencentes a regional de saúde da Grande
Florianópolis.
O Plano Diretor de Regionalização – PDR – elaborado pela Secretaria
Estadual de Saúde de Santa Catarina, em 2005, apresenta a distribuição dos
municípios em oito macrorregiões (Extremo Oeste, Sul, Vale do Itajaí, Nordeste,
Planalto Serrano, Planalto Norte, Meio Oeste e Grande Florianópolis) e em 30
microrregiões que segue a Lei Estadual nº 284 de Janeiro de 2005. Cada
microrregião possui uma estrutura administrativa vinculada a uma Secretaria de
Desenvolvimento Regional – SDR – e uma regional de saúde conforme está
demonstrado nas figuras 2 e 3 (SANTA CATARINA, 2005).
Figura 2: Mapa geográfico demonstrando as macrorregiões de SC.
Fonte: SES/PDR/2005.
50
Figura 3: Mapa geográfico das Regionais de Saúde de Santa Catarina.
Fonte: SES/PDR/2005.
Os municípios atendidos na Maternidade do HRHMG pertencem, em sua
maioria, à macrorregião da Grande Florianópolis que é constituída pelos municípios:
Botuverá, Brusque, Canelinha, Guabiruba, Major Gercindo, Nova Trento, São João
Batista e Tijucas (todos da 16ª SDR); Águas Mornas, Angelina, Anitápolis, Antônio
Carlos, Biguaçu, Florianópolis, Governador Celso Ramos, Palhoça, Rancho
Queimado, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São José e São Pedro de
Alcântara, todos da 18ª SDR (SANTA CATARINA, 2005).
Devido à referência que outros municípios possuem da Maternidade, são
encaminhadas gestações de risco. Dessa forma, a maternidade recebe mulheres
principalmente dos demais municípios que compõem a regional de saúde da Grande
Florianópolis e também da microrregional de Brusque que, pelo PDR do Estado, a
maternidade do HRHMG é referência para esta regional, pois as duas regiões
compõem a macrorregional da Grande Florianópolis. Com relação a regional de
saúde de Brusque (16ª SDR) foi realizado apenas um atendimento proveniente do
próprio município de Brusque e nove atendimentos de mulheres procedentes de
Tijucas.
Outro fato é que alguns municípios desta macrorregião não possuem hospital
e ou maternidade, por isso, todos os partos de baixo e alto risco são encaminhados
para os hospitais de referência em Florianópolis (Hospital Universitário e
51
Maternidade Carmela Dutra) e em São José (HRHMG). Salientamos que apenas a
Maternidade Carmela Dutra é oficialmente referência no estado. O HU e o HRHMG
são referências “informais”. Os municípios que não possuem unidade hospitalar são:
Águas Mornas, Antônio Carlos, Biguaçu, Governador Celso Ramos, Leoberto Leal,
Major Gercindo, Palhoça, Rancho Queimado e São Pedro de Alcântara.
As demais macrorregionais deveriam referenciar internamente, dentro das
suas próprias macrorregiões, as mulheres para este tipo de procedimento, porém, o
que se observa são atendimentos provenientes das mais diferentes micros e
macrorregiões de todo o Estado de Santa Catarina. Os atendimentos de menor
freqüência têm como procedências os municípios de: Alfredo Wagner, Criciúma,
Garopaba, Imbituba, Paulo Lopes, Laguna, Mafra, Campos Novos, Gaspar, São
Bento do Sul, Xanxerê, Araranguá, Joinville, Imbituba e Itapema. Este fato pode
estar ocorrendo por demanda espontânea das pacientes e não se caracteriza como
uma referência estabelecida para este atendimento, pois foram um ou dois casos de
cada município, sendo que destes, alguns municípios apresentaram números mais
expressivos, como: 26 atendimentos provenientes de Paulo Lopes, 18 de Garopaba,
7 de Itapema e 5 de Alfredo Wagner. Tornam-se necessários estudos mais
aprofundados para avaliar este comportamento que não é objetivo deste estudo.
Figura 4: Número de atendimentos realizados por município, jan-jun 2005.
175 12
194
3
214
23 20 7
608
2653
4
718
9 9 15
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Água
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Pedr
o de
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ra
Tiju
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Out
ros
Fonte: SIH, 2005.
52
Os municípios com maior número de atendimento são: São José, com 473
partos normais e 245 partos cesáreos realizados; Palhoça, com 408 partos normais
e 200 partos cesáreos; Florianópolis, com 146 partos normais e 68 partos cesáreos;
e Biguaçu, com 146 partos normais e 48 partos cesáreos. Do total de 1937
atendimentos, 66,7% foram partos normais (1292) e 33,3% partos cesáreos (645).
6.1.2 Média de permanência
A recuperação da mulher que realizou parto normal é mais rápida
comparando com a média de permanência daquelas que realizaram parto cesáreo.
A média de permanência do total de internações por parto normal, no período
estudado, é de 2,5 dias e a média de permanência das cesarianas é de 4,2 dias. A
figura a seguir demonstra graficamente a diferença de permanência existente entre
os dois tipos de parto, por município.
Figura 5: Média de permanência das internações, por tipo de parto, do total de mulheres atendidas na maternidade do HRHMG, jan-jun 2005.
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0
1
2
3
4
5
6
7
8
PN PC
Fonte: SIH, 2005.
53
A figura 6 demonstra que o mesmo acontece quando avaliamos somente as
internações de mulheres provenientes de Biguaçu. O parto normal é responsável
pela menor média de permanência na maternidade após o processo de nascimento,
2,3 dias, e o parto cesáreo acarreta em uma permanência mais prolongada, 4,2 dias.
Figura 6: Média de permanência das mulheres provenientes de Biguaçu atendidas na maternidade do HRHMG, por tipo de parto, no período de janeiro a junho de 2005.
PN; 2,3
PC; 4,2
Fonte: SIH, 2005.
Segundo o MS, algumas portarias apresentam parâmetros para esses
procedimentos. Na Portaria GM/MS nº 572/2000, a média de permanência adequada
para o parto normal é de 2 dias e para o parto cesáreo de 3 dias, salvo necessidade
de permanência prolongada em casos especiais como complicações obstétricas. As
médias de permanência para as gestações de alto risco, com realização de parto
normal ou cirúrgico, obedecem às mesmas determinações, 2 e 3 dias (BRASIL,
2000e).
Já a Portaria 1.101 de 2002 e o manual de parâmetros para programação das
ações básicas de saúde de 2001 definem 3 dias como média de internação
(BRASIL, 2001c; 2002b).
A permanência reduzida no hospital evita a ocorrência de infecções
hospitalares, reduz o desconforto das pessoas envolvidas, mãe, pai, RN e família,
pois possibilita o convívio e cuidados especiais em um ambiente de sua escolha,
54
que lhe é familiar. E ainda, a permanência prolongada acarreta mais custos para o
município/estado.
Segundo Diniz (2001), é sabido que, além das possíveis repercussões sobre
a saúde das mulheres e dos recém-nascidos, o abuso de cesáreas tem um impacto
adicional sobre as contas do setor saúde resultante das complicações infecciosas e
anestésicas, ou da simples ocupação por mais dias de internação dos já reduzidos
leitos obstétricos.
Nos casos de permanência prolongada no hospital/maternidade, as infecções
hospitalares são as que afetam o paciente durante a internação. Um descuido da
equipe de enfermagem, médica e acompanhante no cumprimento das normas
referentes à lavagem das mãos, esterilização, desinfecção e limpeza aliado à
existência de pacientes imunodeprimidos, incapazes de reagir a microorganismos,
ou pacientes sujeitos aos problemas da tecnologia e procedimentos complexos,
podem provocar uma infecção intra-hospitalar ou hospitalar ao entrarem em contato
com germes. As infecções hospitalares podem ser originadas por: flora do próprio
paciente (infecção endógena) e flora de outro paciente; através de contato direto ou
físico de dois indivíduos, vias respiratórias (aerossóis), vetores (insetos e artrópodes)
e inoculação traumática (introdução de microorganismo no paciente através de
técnicas médicas, cirúrgicas ou de enfermagem) (LÓPEZ e CRUZ, 2002).
Para se evitar a ocorrência de infecções hospitalares são tomadas diversas
medidas relacionadas com formação de equipes multidisciplinares especializadas
em normas de higiene e prevenção, discussão sobre os níveis de infecções em cada
unidade, aplicação de normas preventivas, uso de antibióticos, adoção de
tratamentos menos agressivos para o organismo e a resolução precoce de
problemas de saúde reduzindo o tempo de permanência dos usuários no ambiente
hospitalar e incentivando e orientando os cuidados domiciliares quando possível e
seguro (LÓPEZ e CRUZ, 2002).
6.1.3 Tipo de parto
O tipo de parto realizado pode estar relacionado a diversos fatores, como:
grau de instrução, idade, nível sócio-econômico, assistência pré-natal, nível de
55
informação, entre outros aspectos relacionados à gestante. Nos aspectos
relacionados aos profissionais da saúde temos: as rotinas de cada instituição, a
resistência de alguns profissionais médicos em realizar o parto normal, mais
demorado e sem agendamento conveniente, despreparo dos médicos e da equipe,
etc. Alguns estudos associam a maior ocorrência de cesáreas à desinformação das
mulheres, que acreditam ser esse tipo de parto menos complicado, mais rápido e
sem dor. No entanto, ao ser atendida em uma maternidade da rede pública, a
mulher não é questionada quanto à sua vontade e anseios em relação ao tipo de
parto. Durante a internação, nem mesmo tem informado antecipadamente que tipo
de parto será realizado, de acordo com a decisão do médico.
Nos atendimentos realizados na maternidade do estudo, prevaleceu, no
período de janeiro a junho de 2005, a realização de parto normal. Embora não se
use questionar a mulher quanto a sua vontade, a maternidade busca efetivar o
preconizado pelo MS em relação ao tipo de parto. A figura 7 mostra a distribuição
dos tipos de parto realizados na maternidade de referência, de acordo com a
procedência (município) de cada mulher.
Figura 7: Ocorrência dos tipos de parto por município, HRHMG, jan-jun 2005.
12 5 2 3 6 6
146
48
1 2
146
68
176 713 5 2
408
200
1610
3716
1 3
473
245
6 3 3 6 6 9
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São
Joá
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ão J
osé
São
Ped
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lcân
tara
Tiju
cas
Out
ros
PN PC
Fonte: SIH, 2005.
56
Segundo Silveira (2005), “não existe um tipo de parto ideal para todas as
mulheres, e sim variáveis de escolha”. Para o autor, a decisão sobre o tipo de parto
deve ser da mulher e será influenciada pela assistência pré-natal realizada, que
deve tirar todas as dúvidas e orientar sobre a gestação e o parto. No entanto, neste
estudo, a realidade nos mostra que a escolha não parte da parturiente, pois todas as
entrevistadas afirmaram não ter participado da escolha. O médico obstetra é quem
decide sobre o tipo de parto e este deve pensar em todos os aspectos envolvidos,
como: preparo psicológico e expectativas da mulher, do companheiro, da família,
saúde materna e fetal, para tomar uma decisão acertada. Não deveria, porém,
deixar de solicitar à parturiente sua opinião, questionar seu preparo e pelo menos
informar os motivos de sua escolha.
Santos (2002), afirma ser o tipo de parto um dos fatores que contribuem para
a morte materna, pois se sabe que o parto por cesariana expõe a mulher a um maior
risco de complicações e morte.
A falsa associação de causa-efeito entre o aumento da taxa de cesárea e a diminuição da mortalidade perinatal foi responsável por um respaldo pseudocientífico para o aumento indiscriminado da prática de cesarianas em todo o mundo ocidental e particularmente no Brasil. (CECATTI; PIRES; GOLDBERG, 1999 apud SANTOS, 2002, p.89).
No final da década de 1990, o Ministério da Saúde passou a adotar medidas
que visam o controle das taxas hospitalares de cesárea no sistema público de
saúde, como a Portaria 2.815/1998, que limitou a taxa hospitalar para 40%, com
limites decrescentes a cada semestre. Essa foi complementada pela Portaria GM nº
466/2000, que instituiu o Pacto para Redução das Taxas de Cesarianas definindo
para Santa Catarina 30% como limite máximo de cesarianas e definiu o papel
estratégico das Secretarias Estaduais de Saúde no acompanhamento e regulação
das taxas de cesáreas dos hospitais de seus Estados (BRASIL, 1998a; 2000).
A Portaria nº 466, de 14 de junho de 2000, tem como objetivo formalizar o
compromisso dos estados de desenvolver a política de redução de cesarianas,
considerando a existência de portarias que versam sobre os limites percentuais
máximos de cesariana (Portarias GM/MS nº 2.815, de 29 de maio de 1998, e
GM/MS nº 865, de 03 de julho de 1999). Esta portaria estabelece como competência
dos estados e do Distrito Federal definir limites de percentual máximo de cesarianas,
por hospital, em relação ao numero total de partos realizados e, ainda, definir
57
estratégias para reduzir esse tipo de parto em todo o estado. O anexo III da mesma
Portaria consiste no “pacto para redução das taxas de cesariana” que deve ser
assinado por cada Secretaria de Estado da Saúde e pelo Ministério da Saúde
assumindo o compromisso político de, no âmbito de suas áreas de atuação e
competência, envidar todos os esforços para atingir as metas de redução (BRASIL,
1998a; 1999; 2000d).
A qualidade da assistência ao pré-natal e ao parto depende tanto da
instituição de saúde como do profissional que presta o atendimento. Em muitos
hospitais-maternidades, os funcionários estão sobrecarregados, indiferentes,
desmotivados e rotineiros nas suas atitudes e são eles os depositários dos
procedimentos que são transmitidos na prática de uns para os outros. Os novos
profissionais quando chegam à prática, depois de aprender a teoria na escola,
encontram rotinas e procedimentos já estabelecidos que só podem ser questionados
em ambientes onde não há acomodação e indiferença. Muitas vezes essas questões
não são levantadas porque a mulher e a criança não são acompanhadas após sua
saída da maternidade, ou seja, são outros profissionais que acompanham em outras
unidades de saúde. Isso dificulta a avaliação do certo ou errado que ocorreu durante
o parto. Não há interesse em questionar e mudar as rotinas (SANTOS, 2002;
LARGURA, 2005).
Dessa forma, permanece a “vontade” da instituição, não da mulher e sua
família. Não há questionamentos, orientações e nem mesmo informações; a mulher
torna-se objeto, sem direito à escolha.
Segundo D´Orsi e Carvalho (1998 apud RANGEL, 2005), o tipo de parto
reflete a organização da atenção obstétrica, pois permite a programação conforme
conveniência quando parto cesáreo, sem a observação dos critérios e indicações
estabelecidos pelos órgãos representativos, aumentando o risco de
morbimortalidade materna e do recém-nascido. Agrega-se a esse fato, a
capacitação insuficiente dos médicos para realização de parto vaginal. Fatores
socioculturais também influenciam esse acontecimento, o que poderia ser revertido
com uma assistência pré-natal adequada e eficiente.
Tornquist (2004) afirma que, dependendo do hospital e da região, os partos
cirúrgicos são considerados, mesmo que muitas vezes justificados, como uma
maneira natural de uma mulher dar à luz. Diz ainda que, muitos estudos sobre o
tema apontam o parto cesáreo como uma opção quase total em clínicas e
58
maternidades privadas ao mesmo tempo em que em regiões mais pobres a taxa de
cesáreas está associada à realização de laqueadura de trompas. De acordo com
Tornquist, nas últimas décadas vários discursos surgiram sobre as vantagens do
parto cirúrgico, o que resultou na atribuição às próprias mulheres da preferência pela
cesárea.
Para Santos (2002), é importante e necessário destacar que a operação
cesariana é um componente importante de uma prática obstétrica adequada, pois
quando há uma indicação médica estrita, pode ser considerada como um dos
maiores avanços na prática obstétrica, podendo até ser entendida como um dos
fatores de humanização do atendimento.
A partir da análise de dados de países com menores taxas de perimortalidade
no ocidente e da observação de que somente 15% das cesarianas são decorrentes
de indicações médicas, a OMS desenvolveu um valor esperado para as taxas de
cesariana em uma determinada região. Assim, foi adotado o valor-teto de 15% como
referencial para o nosso território nacional (DATASUS, 2000 apud SANTOS, 2002).
Das mulheres atendidas na maternidade de referência, provenientes do
município de Biguaçu, foram realizados no período: 146 partos normais (75%) e 48
partos cesáreos (25%) como mostra a figura 8. Avaliando a população feminina de
Biguaçu, atendida a luz do parâmetro estabelecido pela Portaria MS/GM nº 466, que
para o Estado de Santa Catarina é de (30%), pode-se inferir que o município de
Biguaçu no período estudado, ano de 2005, atendeu os parâmetros preconizados,
sendo a maioria dos partos normal. É necessário avaliar melhor os fatores que
levaram estas mulheres à opção por este tipo de parto, já que a unidade de
referência teve como resultado neste mesmo período, considerando a cobertura total
das mulheres, um parâmetro um pouco acima do preconizado pela Portaria, 33%.
59
Figura 8: Prevalência por tipo de parto de mulheres procedentes do município de Biguaçu, HRHMG, jan-jun 2005.
146
48
0 20 40 60 80 100 120 140 160
PN
PC
Tipo de parto - Biguaçu
Fonte: SIH, 2005.
Da amostra selecionada para a análise qualitativa, todas as mulheres
entrevistadas afirmaram não ter participado da escolha pelo tipo de parto. Todas
foram submetidas à decisão médica. Duas realizaram parto normal e duas parto
cesáreo.
6.1.4 Idade
Com relação à idade das mulheres, observa-se que, do total de 1937
atendimentos (figura 9), 0,1% possui mais de 45 anos, 10,5% entre 35 e 44 anos,
35,6% entre 25-34 anos, 52,9% entre 15-24 anos e 0,9% com idade inferior a 15
anos. No município de Biguaçu (figura 10) estes percentuais ficam muito próximos
ao do total da unidade de referência, sendo 10,3% de mulheres de 35 a 44 anos,
26,7% entre 25 e 34 anos, 61,6% entre 15 e 24 anos e 1,4% abaixo de 15 anos.
Percebe-se que em todas as faixas etárias predominou a realização de parto normal.
25%
75%
60
9 8
705
320
450
240
127771 0
1292
645
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
05-14 15-24 25-34 35-44 45-54 Total
PN PC
2 1
90
25
39
17 15
5 0 0
146
48
0
20
40
60
80
100
120
140
160
05-14 15-24 25-34 35-44 45-54 Total
PN PC
Fonte: SIH, 2005.
6.2 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
Na seqüência apresentaremos os dados qualitativos e as características dos
sujeitos da pesquisa.
Com relação aos sujeitos de pesquisa foram entrevistadas 4 mulheres, duas
residentes no bairro Jardim Janaína, uma no bairro Jardim Carandaí e uma no bairro
Bom Viver sendo que elas possuíam idade entre 18 e 38 anos.
6.2.1 Grau de instrução, estado civil, ocupação e número de filhos
Com relação ao grau de instrução três apresentavam primeiro grau
incompleto e uma primeiro grau completo. Três apresentavam como estado civil
amasiado e apenas uma é casada. Com relação à profissão, três eram do lar e uma
chefe de cozinha, com média salarial de 3 a 5 salários mínimos e nenhuma possuía
plano de saúde particular. Na ocasião das entrevistas, duas mulheres assumiram a
condição “do lar”; uma devido à necessidade de abandonar o emprego de camareira
Figura 9: Idade das mulheres atendidas HRHMG, jan-jun 2005.
Figura 10: Idade das mulheres de Biguaçu, atendidas HRHMG, jan-jun 2005.
61
para cuidar das filhas, pois a babá contratada assumiu outro compromisso,
desconhecia outra pessoa para o trabalho e não possuía condições financeiras para
uma remuneração a contento da categoria prestadora do serviço. A segunda, chefe
de cozinha, estava se afastando do trabalho que tinha há mais de 10 anos,
coincidindo com a necessidade de seu patrão de demitir parte de seu pessoal, com
a necessidade da entrevistada em acompanhar o crescimento de seu segundo filho
considerando também que o mesmo não tinha um cuidador em tempo integral.
Com relação ao número de filhos somente a entrevistada com idade de 18
anos estava vivenciando a experiência da maternidade pela primeira vez. As demais
possuíam outros filhos, como citado anteriormente, uma delas estava na terceira
gestação e as demais na segunda experiência.
Sabemos que o abandono do estudo está diretamente ligado às gestações
não desejadas, mas o que percebemos nesta pesquisa foi a inexistência desse fator
na maioria das entrevistas. Apenas duas das entrevistadas não desejaram as
gestações, uma que vivenciava a maternidade pela 1ª vez e outra que vivenciava
pela 3ª vez a experiência de ser mãe. Na maioria dos casos, os estudos foram
abandonados antes das últimas gestações, pela necessidade de trabalhar para o
próprio sustento e/ou de sua família. Apenas um caso se enquadra na associação
de abandono do estudo com gravidez não planejada. Duas das entrevistadas
desejaram o segundo filho, tendo estes um grande distanciamento de tempo em
relação ao irmão mais velho, diferença de 13 anos em média.
De acordo com Sabroza et al (2004), mesmo nos países ricos, engravidar na
adolescência reduz as chances de sucesso profissional e uma gravidez indesejada
na adolescência é, muitas vezes, um fator facilitador para a permanência em uma
situação de pobreza, freqüentemente levando à interrupção do desenvolvimento
escolar da adolescente e reduzindo as futuras oportunidades no mercado de
trabalho.
Quando questionada sobre o retorno às atividades escolares, a entrevistada
adolescente referiu desejar voltar a estudar quando seu filho estiver “um pouco
maior” e puder deixá-lo com um segundo cuidador, cunhada ou sogra, por exemplo.
As outras mulheres não se preocupam com a escolaridade, se dizem “velhas
demais” para voltar a estudar e afirmam ser suas únicas preocupações a família,
principalmente os filhos.
62
6.3 ASSISTÊNCIA NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL
Considerando as etapas pelas quais a mulher passa, podemos definir o ciclo
gravídico-puerperal como todo o processo vivenciado pela mulher, desde a
concepção até o pós-parto, ou seja, gravidez, trabalho de parto, parto e puerpério. A
mulher deve ser acompanhada em todos esses períodos, pois cada um tem sua
importância e peculiaridades.
Aqui, dividiremos esse processo em duas etapas para melhor entendermos as
análises, são elas: assistência no pré-natal (gravidez) e assistência no processo de
nascimento (trabalho de parto, parto e puerpério).
6.3.1 Assistência no pré-natal
O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento foi instituído no ano
de 2000 pelo Ministério da Saúde através da Portaria/GM nº 569, prevê um Incentivo
à Assistência Pré-natal que objetiva estimular estados e municípios a realizarem o
acompanhamento pré-natal adequado e o cadastramento das gestantes, de acordo
com os princípios e critérios estabelecidos, instituindo para tanto, incentivos
financeiros (BRASIL, 2000a).
6.3.1.1 Consultas pré-natais e orientações
Segundo o Ministério da Saúde, a atenção pré-natal tem como objetivo
principal “acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando, ao fim da
gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno
e neonatal”. Essa atenção deve ser qualificada e humanizada e para tanto devem
ser incorporadas condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias (Brasil,
2005).
63
Através do Manual Técnico de atenção ao pré-natal e puerpério publicado
pelo MS, em 2005, com a finalidade de oferecer referência para a organização da
rede assistencial, a capacitação profissional e a normatização das práticas de
saúde, foram estabelecidos alguns parâmetros para que os estados e municípios,
por meio das unidades integrantes de seu sistema de saúde, garantam atenção pré-
natal e puerperal. Esses parâmetros dizem respeito à: captar precocemente as
gestantes com realização da primeira consulta de pré-natal até 120 dias de
gestação; realizar, no mínimo, seis consultas de pré-natal sendo uma no primeiro
trimestre, duas no segundo e três no terceiro trimestre de gestação; escutar a
mulher e seus acompanhantes, esclarecer dúvidas e informar sobre os
procedimentos da consulta e as condutas adotadas; orientar em grupo ou
individualmente proporcionado respostas às indagações da mulher e sua família;
anamnese e exame clínico-obstétrico; realização de exames laboratoriais (ABO-Rh,
hemoglobina/hematócrito, glicemia de jejum, VDRL, urina, testagem anti-HIV,
sorologia para hepatite B, sorologia para toxoplasmose); imunização antitetânica,
avaliação do estado nutricional com prevenção e tratamento de distúrbios
nutricionais, prevenção e diagnóstico precoce do câncer de colo uterino e de mama;
tratamento das intercorrências da gestação; classificação de risco gestacional;
atendimento às gestantes de risco garantindo vínculo e acesso à unidade de
referência para atendimento ambulatorial e/ou hospitalar especializado; e atenção à
mulher e ao recém-nascido na primeira semana após o parto e realização da
consulta puerperal entre o 30º e 42° dias pós-parto.
A Organização Mundial de Saúde elaborou e divulgou recentemente
recomendações essenciais para a atenção pré-natal, perinatal e puerperal que
indicam ações a serem realizadas no cuidado da gestação e parto normais. Os dez
princípios fundamentais da atenção perinatal são:
� Cuidado não medicalizado, utilizar conjunto mínimo de intervenções
realmente necessárias;
� Uso de tecnologia apropriada, conjunto de ações que inclui métodos,
procedimentos, tecnologia, equipamento e outras ferramentas para
resolver um problema específico;
� Embasamento na melhor evidência científica disponível e em estudos
controlados aleatorizados, quando possível e apropriado;
64
� Regionalização e sistema eficiente de referência de centros de cuidado
primário para centros de cuidado secundário e terciário;
� Cuidado multidisciplinar com participação de parteiras tradicionais,
obstetras, neonatologistas, enfermeiros, educadores para parto e
maternidade e cientistas sociais;
� Cuidado integral considerando necessidades intelectuais, emocionais,
sociais e culturais das mulheres, seus filhos e famílias;
� Dirigir o cuidado para as necessidades da família, casal e filho;
� Cuidado apropriado considerando as diferentes culturas;
Respeitar a tomada de decisão das mulheres;
Respeitar a privacidade, a dignidade e a confidencialidade das
mulheres.
Os sujeitos de pesquisa afirmaram ter realizado pré-natal na rede pública de
saúde do município, sendo que a média foi de 8 consultas. Durante estas consultas
as mesmas receberam informações sobre: importância do pré-natal, amamentação,
tipo de parto, autocuidado e possibilidade de ter acompanhante, dados
apresentados na figura 11. Alguns temas sobre os procedimentos que ocorreriam no
processo de nascer não foram abordados, como: tricotomia, episiotomia,
enteroclisma, analgesia e sobre a política da humanização.
65
Figura 11: Informações recebidas pelos sujeitos de pesquisa durante o pré-natal.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
Importância do pré-natal
Tipo de parto
Procedimentos do parto
Analgesia no parto
Auto-cuidado
Lei do acompanhante
Amamentação
Humanização daassistênciaHumanização do parto
Fonte: Entrevistas realizadas, set-out 2006.
6.3.1.2 Presença de acompanhante
Avaliando a participação do acompanhante nas consultas do pré-natal,
observa-se que houve participação dos companheiros nas consultas, pois três
realizaram este acompanhamento em pelo menos uma consulta, como demonstrado
na figura 12.
De acordo com o MS, o “pai” está participando cada vez mais do pré-natal e
deve ser estimulado a presenciar as atividades de consulta e de grupo para o
preparo do casal para o parto e durante a internação para o parto. Ainda, ressalta a
importância de acolher a mulher grávida integralmente considerando a história
trazida a partir de seu relato e de seu parceiro. A assistência pré-natal é um
momento privilegiado para discutir e esclarecer questões que são únicas para cada
mulher e seu parceiro (BRASIL, 2005).
66
Figura 12: Presença de acompanhante nas consultas pré-natais relatadas pelos sujeitos de pesquisa.
SIM75%
NÃO25%
Fonte: Entrevistas realizadas, set-out 2006.
Segundo Cunha e Goulart (2006), o envolvimento paterno durante a gestação
deve ser compreendido de modo peculiar, pois o vínculo entre pai e filho é mediado
pela mãe. As mudanças que ocorrem com os futuros pais durante a gravidez não
são independentes das mudanças vivenciadas pelas próprias gestantes. Os pais ou
os outros acompanhantes (mãe ou outro familiar) podem e devem participar em
atividades relativas às gestantes e aos preparativos para a chegada do bebê, do
apoio emocional proporcionado à mãe, da busca de contato com o bebê, bem como
das preocupações e ansiedades.
6.3.1.3 Escolha do local
A escolha do local de nascimento se deu em 75% por motivos pessoais,
influenciada por experiências anteriores (50%). Outro fator apontado é o acesso
rodoviário facilitado, motivo de escolha de 25% das entrevistadas. Uma das
mulheres referiu não participar da escolha do local, pois seu transporte foi efetuado
pela Polícia Militar. Esta tem como referência, para os casos de trabalho de parto, a
67
maternidade do HRHMG, conforme evidenciado em um estudo realizado por Lopes
e Seifert (2004) com puérperas atendidas na Clínica de Atenção Básica à Saúde da
UNIVALI, no município de Biguaçu, que apontaram como justificativa da Polícia
Militar a facilidade para transportar estas parturientes.
6.3.2 Assistência no processo de nascimento
Processo de nascimento é um termo amplo que envolve os períodos de
trabalho de parto, parto e puerpério imediato. Valoriza o momento do nascimento
como um todo, oferecendo atenção e assistência em cada período de maneira
especial.
O processo de nascimento através do parto representa ainda
uma transição importante na vida da mulher e da família, um momento em que necessita de apoio e compreensão para poder enfrentar o mais naturalmente possível o trabalho de parto e o parto, sabendo que pode e deve dele participar ativamente, obtendo assim, conforto físico e psíquico. (SIMÕES, 1998 apud DAVIM e MENEZES, 2001, p.64).
6.3.2.1 Orientações
Conforme o preconizado pelo MS para o atendimento humanizado, a mulher
deve ser informada e questionada sobre todos os procedimentos a serem
realizados. Observamos na figura 13 que as mulheres receberam orientações mais
relacionadas à restrição de alimentação sólida, necessidade de deambulação para
melhor andamento do trabalho de parto e sobre os direitos de ter um acompanhante
(companheiro, familiar ou outro de sua escolha) durante todo o processo de
nascimento. Percebe-se a ausência de orientações sobre o tipo de parto, analgesia
e uso de técnicas de relaxamento.
68
Figura 13: Orientações recebidas pelos sujeitos da pesquisa durante o trabalho de parto.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
Orientada sobredeambulação
Orientada sobrealimentação
Orientada sobre tipode parto
Orientada sobreanalgesia
Orientada sobreacompanhante
Orientada sobrerelaxamento
Orientações no processo de nascimento
SIM
NÃO
Fonte: Entrevistas realizadas, set-out 2006.
Quando analisamos a realização de tais atividades (analgesia, técnicas de
relaxamento, participação na escolha do tipo de parto), percebemos que as
mulheres que não foram informadas sobre a existência ou possibilidade de
realização dessas atividades, não as executaram.
Sobre o apoio emocional, a maioria das mulheres entrevistadas refere não ter
recebido nenhum apoio, porém destacam a participação do profissional enfermeiro
como um elemento da equipe preocupado em oferecer este tipo de recurso.
6.3.2.2 Questionamentos e procedimentos
Anteriormente a nova política da humanização do Parto eram normatizados,
na maioria das instituições, durante o processo de nascimento, alguns
procedimentos, entre eles: tricotomia, episiotomia e enteroclisma. Atualmente as
unidades que adotaram a política da humanização somente realizam estes
69
procedimentos se forem realmente necessários, por avaliação profissional ou por
vontade da parturiente. Visando analisar se estão sendo respeitadas estas diretrizes,
na entrevista aos sujeitos da pesquisa levantamos a prática da realização de tais
procedimentos.
A partir das entrevistas realizadas foi constatado, na amostra estudada, que
a mulher não é consultada sobre a sua opinião em relação à necessidade e/ou
desejo desses procedimentos, nem mesmo orientada sobre a rotina, ficando a
decisão sobre a realização ou não nas mãos do profissional de saúde (médico e
enfermeiro), baseados na rotina da instituição. Nenhuma das mulheres foi
questionada ou orientada sobre a realização dos procedimentos (tricotomia,
enteroclisma e episiotomia).
Uma das mulheres referiu que a ausência de informações e questionamentos
contribui para aumentar a ansiedade e preocupação durante o trabalho de parto e
parto, pois sem saber o que está acontecendo e o que vai acontecer, a mesma não
se concentra e não relaxa enquanto todo aquele processo não termina. A
preocupação da mulher na fala a seguir se refere à tricotomia e enema realizados
via de regra até pouco tempo atrás e a exemplo do que ocorreu em sua gestação
anterior.
Pra mim, acho que eles teriam que perguntar: sabe disso? Sabe daquilo? Você já ta informada que o parto é assim? Você ta informada que agora mudou? Que agora não precisa mais fazer depilação, não precisa mais fazer isso? Não há necessidade? [...] Tu ta sentindo a dor preocupada se ela ainda vai fazer ou não. Porque eu fiquei esperando ate a ultima hora [...]. E4
6.3.2.3 Presença de acompanhante
A Organização Mundial de Saúde recomenda o apoio à mulher durante o
trabalho de parto e parto por acompanhante de sua escolha (companheiro, familiar
ou amigo).
Segundo Brüggemann (2005), em relação ao apoio à mulher durante o
nascimento, o aspecto fundamental é “a promessa de que a mulher em nenhum
momento ficará sozinha”. Assim, as necessidades individuais de cada mulher,
70
conforto físico e emocional, que variam de acordo com cada cultura, podem ser
supridas pelo acompanhante escolhido que em todo momento estará presente.
Das quatro entrevistadas, três (75%) tiveram acompanhante durante o
processo, sendo que para uma houve um distanciamento de seu parceiro somente
durante a realização do parto cirúrgico, por determinação da instituição. Dentre os
acompanhantes das quatro mulheres, um era esposo, uma era cunhada e uma era
amiga da parturiente. A ausência dos companheiros no caso das duas últimas
mulheres deve-se aos horários dos acontecimentos coincidirem com a
impossibilidade dos mesmos se ausentarem do trabalho. Uma das mulheres (25%)
não teve a presença de nenhum acompanhante por ter sido levada ao hospital pela
Polícia Militar, em ocasião de trabalho de parto, por encontrar-se sozinha em sua
residência devido ao marido estar trabalhando.
Segundo uma notícia publicada pela Agência Saúde2, há a constatação de
que a participação dos companheiros na assistência ao parto está relacionada com
a redução nos casos de violência familiar. De acordo com especialistas, ao
acompanhar o processo de nascimento, o homem passa a admirar e valorizar mais
a companheira ocorrendo no pós-parto o estabelecimento do vínculo emocional
entre mãe e filho e, tendo o pai participado do nascimento, esse laço na família é
fortalecido e pode desenvolve-se uma relação de respeito entre seus membros.
Ainda, uma especialista do MS explica que raramente é permitido que o
companheiro participe dos partos cirúrgicos fazendo-o perder a chance de viver essa
experiência.
6.4 HUMANIZAÇÃO
A humanização, segundo Puccini e Cecílio (2004), é um movimento crescente
e com disseminada presença, que assume diferentes sentidos segundo a proposta
de intervenção eleita. Surge em distintas frentes de atividades e tem significados
variados representando uma síntese de aspirações genéricas por uma perfeição
moral das ações e relações entre os sujeitos envolvidos. Cada frente relaciona e
2 Notícia divulgada no site http://www.partodoprincípio.com.br. Acessada em 5 dez 2005.
71
classifica um conjunto de questões práticas, teóricas, comportamentais e afetivas
que teriam uma resultante humanizadora. Estes autores citam diversas proposições
utilizadas nos serviços de saúde com a intenção humanizadora; entre elas estão:
melhorar a relação médico-paciente; garantir acompanhante na internação de
crianças; o parto humanizado; e programa da mãe-canguru. Puccini e Cecílio (2004)
afirmam, entre outras considerações sobre os distintos caminhos das proposições
humanizadoras na saúde, que cresce a valorização das inter-relações humanas com
as propostas de humanização.
“Humanização é a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo
de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores” (BRASIL, 2004a, p.8).
A atenção humanizada e de boa qualidade implica no estabelecimento de
relações entre sujeito, seres semelhantes, ainda que possam apresentar-se muitos
distintos conforme suas condições sociais, raciais, étnicas, culturais e de gênero.
Respeita a individualidade de cada indivíduo, um ser único que deve ser tratado com
dignidade e ter a sua saúde e bem-estar assegurados.
Para analisarmos a implementação da humanização a partir da percepção
das mulheres sujeitos deste estudo e a classificação do atendimento torna-se
necessário falar sobre o processo avaliativo.
Segundo Paim (2005, apud HARTZ e SILVA, 2005), existem diversas
iniciativas voltadas para avaliação em saúde no Brasil e ela vem sendo
desenvolvida, de forma progressiva nas últimas três décadas. Na presente década
pode se afirmar que o interesse pela avaliação em saúde não se restringe ao âmbito
acadêmico. O próprio Ministério da Saúde - MS tem encomendado um conjunto de
estudos nesta perspectiva.
Hartz e Silva (2005) consideram que a avaliação de implantação e
implementação tem exatamente como foco da avaliação a relação entre a
intervenção (política , programa, serviço, ações) e seu contexto de inserção na
produção de efeitos, o que se torna particularmente importante quando a
intervenção é complexa e com múltiplos componentes e contingencial.
72
Contrandriopolos et al (1997 apud HARTZ e SILVA, 2005, p.16) definiu
avaliação como um julgamento sobre uma intervenção ou sobre qualquer dos seus
componentes com objetivo de auxiliar a tomada de decisão.
Nesta pesquisa optou-se por avaliar alguns atributos da política de
humanização mais relacionados os recursos disponíveis (número de partos
cirúrgicos e não cirúrgicos realizados), acessibilidade (procedência dos
atendimentos) e buscou-se a percepção das usuárias sobre o atendimento
vivenciado.
Na avaliação sob a perspectiva da humanização da saúde, usa-se o termo
humanização como se houvesse um único significado e uma única dimensão (BOSI
e UCHIMURA, 2006).
Humanizar é por definição, tornar humano, dar condições humanas, a
questão passa a ser, portanto, o que se concebe como humano.
O verbo humanizar, no Dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 2001
p.369), significa “dar condição humana a; humanar. Civilizar. Tornar-se humano;
humanar-se”. E isso quer dizer tratar o homem como tal, como ser humano que
merece respeito e, portanto, um cuidado adequado à sua saúde considerando sua
cultura, condição sócio-econômica, espiritualidade, suas crenças, seus valores e
suas vontades.
Quando falamos de processo avaliativo temos que ter um escopo (estrutura)
que visa contribuir para o modelo avaliativo centrado nesse pressuposto, tornando-
se necessário demarcar, de forma clara o que se entende por humanizar. Humanizar
implica, assim, em acolhimento e, sobretudo, em empatia e diálogo, significa a
possibilidade do (re) encontro, do contato genuíno que não representa a captura do
que se é, mas a revelação do que é preciso expressar (BOSI e UCHIMURA, 2006).
De acordo com o MS (2005), o acolhimento e a humanização podem ser
percebidos na prática de saúde por meio de atitudes e ações demonstradas na
relação diária entre profissionais e usuários, como: atendimento cordial onde os
profissionais se apresentam, chamam o usuário pelo nome, informam as condutas e
procedimentos, escutam e valorizam o que as pessoas dizem, garantem a
privacidade e incentivam a presença do acompanhante.
73
6.4.1 Humanização da assistência
“Humanizar é qualificar a atenção à saúde e aprender a compartilhar saberes
e reconhecer direitos” (BRASIL, 2004a p.16).
Humanizar a assistência significa compreender o momento em que o ser
humano necessita ter sua saúde assistida, considerar que a sensibilidade e
segurança do indivíduo estão afetadas e oferecer apoio de profissionais
capacitados. Estes devem ter consciência de que lidam com pessoas e que estas
merecem e têm o direito a uma assistência de qualidade, não só tecnicamente, mas
também de terem sua dignidade, opinião e escolhas respeitadas.
Sobre o entendimento que os sujeitos selecionados têm sobre a humanização
da assistência à saúde, percebe-se que as opiniões convergem para um mesmo
fator: o atendimento ou acolhimento. Nas falas das mulheres entrevistadas fica
evidenciada a necessidade de um bom atendimento que significa dar atenção ao
indivíduo, questionar suas necessidades, orientar e prestar as informações
pertinentes e ser empático. Diz respeito ainda a não fazer discriminação sócio-
econômica e não diferenciar o tipo de atendimento (particular ou SUS) como forma
de qualificação da assistência. Tais idéias são comprovadas através das falas:
[...] eu acho tem que ter um atendimento assim; ser humano né; porque não é um cachorro, nem um cachorro deve ser maltratado, principalmente com dois seres humanos, nós dois estávamos correndo um risco né, eu acho que eles deviam ter sido mais profissional, sabe [...] tratar melhor, ser humano mesmo. E1 [...] eles deviam tratar a gente melhor, orientar também né. Atender melhor é explicar, não atender com preguiça, porque muitas vezes eles vão atender a gente com preguiça ai eles não atendem direito. Pedem o que a gente quer e fala que se tem vaga tem, se não tem mandam a gente embora. E2 Ser bem atendida, perguntar o que a gente quer, o que a gente precisa. E3
[...] atender bem, sabe assim, humanização é tu fazer pra pessoa como tu tivesse fazendo numa clínica particular, não fazendo a diferença, ou do pobre ou do rico, do que tem do que não tem. No particular eles falam tudo, te informam, faz isso faz aquilo, te orientam. E pelo SUS infelizmente tem médico que tira a vez. Na minha opinião, se eles não tão satisfeitos pelo que ganham pelo SUS,
74
procura outra opção, deixa pra aquele que quer , não sacrificando os mais humildes[...]. E4
6.4.2 Humanização do parto
“Atenção humanizada ao parto é ampla e envolve um conjunto de
conhecimentos, práticas e atitudes que visam à promoção do parto e do nascimento
saudáveis e a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal” (BRASIL, 2001).
De acordo com Siqueira (apud SIMÕES e CONCEIÇÃO, 2005, p.13),
“humanizar o parto é dar razão a tudo que caracteriza a essência do ser humano no
seu modo de vir ao mundo, na condição feminina, num contexto familiar e social”. A
mulher deve ter liberdade na hora do parto, sua individualidade, crenças, valores,
contexto e interioridade devem ser respeitadas sendo vista como um ser pleno de
potencialidades e capaz.
As opiniões sobre a humanização nesta etapa divergem devido aos vários
fatores envolvidos, como: apoio emocional, respeito à cultura e valores, presença de
acompanhante, orientações e informações. Ao mesmo tempo em que as mulheres
têm alguns direitos respeitados, outros são negligenciados, pois não são orientadas
sobre os procedimentos e informadas sobre a evolução do processo de nascimento
e condutas a serem adotadas, ou seja, permanecem isoladas e alheias aos fatos no
decorrer do trabalho de parto aguardando um pronunciamento da equipe de saúde.
[...] dar mais assistência psicológica [...] precisa, sei lá, mais respeito eu acho [...] me deixaram ali, ao léu sabe, foi desumano [...]. E1
[...] as enfermeiras trataram super bem, mas a hora que fui pra sala de cirurgia enquanto eles tavam me dando anestesia eles falavam: ah vamos ver se pára por aqui, você é muito nova, não devia ter engravidado já, xingando a gente [...]. E2 Eu acho assim que o bom mesmo do hospital regional é que pode entrar com acompanhante, a gente se sente mais segura. E3
[...] eles teriam que perguntar sabe disso? Sabe daquilo? [...] Humanizar é informar mais o paciente, perguntar, porque nem todo mundo sabe. E4
75
Em sua tese de doutorado, Diniz (2001, p.217-218), aborda a questão do
“acolhimento e reconhecimento da usuária, sua inclusão no diálogo da assistência e
o fim das humilhações de caráter sexual” como uma mudança muita valorizada
pelas mulheres. Elas desejam e têm o direito de serem chamadas pelo nome,
acolhidas, reconhecidas como pessoa, perguntadas e consultadas para os
procedimentos, participar de um diálogo, enfim, como cita Diniz: “ter alguém que
olha na sua cara”. Segundo a mesma autora, esta é uma mudança que não envolve
custos e sim a sensibilização e treinamento dos profissionais. O abuso verbal do tipo
“na hora de fazer foi bom agora não venha chorar”, usado como recurso disciplinar
para as pacientes, deve ser abolido e substituído por diálogos mais saudáveis e
solidários.
6.4.3 Recursos e ações
As modificações ocorridas no cuidado à mulher, ao recém-nascido e sua
família, devido ao surgimento de novas tecnologias e descobertas que tinham como
objetivo melhorar as condições de atendimento, acabaram por desumanizar o
cuidado no processo de nascimento. Tornaram a assistência um processo
mecânico, robotizado, preso a protocolos e ações repetitivas e generalizadas.
São consideradas como “medidas e procedimentos benéficos”: a não
realização de enteroclisma, tricotomia e episiotomia, a presença de um
acompanhante (companheiro, amiga, mãe ou outro familiar), a permissão e espaço
para deambulação, o acesso às informações e a existência de alojamento conjunto
(PARANÁ, 2002).
Os sujeitos da pesquisa relacionaram como recursos utilizados para
proporcionar um atendimento humanizado e conseqüente conforto e tranqüilidade no
processo de nascimento: equipamentos como o aparelho de cardiotocografia e o uso
de bolas, massagens e banho morno como formas de relaxamento. Ainda,
salientaram que o contato com os profissionais e a socialização do conhecimento,
através da informação dos acontecimentos e evolução do trabalho de parto,
facilitaria o processo de nascer.
76
Salientamos que as mulheres entrevistadas destacaram os recursos citados
como sendo importantes formas de humanização, porém nem todas tiveram a
oportunidade de utilizá-los como demonstram as falas a seguir.
[...] Faltou fazer algumas coisas [...] A minha vizinha que foi ganhar nenê [...] levaram ela debaixo do chuveiro pra passar aquela dor [...] levaram uma coisinha pros maridos fazerem massagem [...] essas coisas de relaxamento [...] E2 Eu não usei nada dessas coisas, bola, massagem, mas o atendimento foi bom, humanizado, a não ser pelo médico que não trata a gente muito bem. E3
Em alguns momentos as mulheres relatam a falta de orientação e a atitude
dos profissionais como elementos importantes para o bom andamento do processo
de nascimento. A maneira como a equipe age diante dos acontecimentos,
percebidos como problema pela parturiente, influencia o estado emocional desta
contribuindo para o seu relaxamento ou preocupação.
[...] Eu acho que tinham que ter sido mais imediatos [...] A primeira cardiotocografia que eu fiz já não tava bom, no segundo tava pior, pra que esperar [...] eles deveriam ser mais decididos [...] ter atitude mesmo [...] até esse medicamento no soro, não dilatou nada, não contraiu nada, então deviam decidir fazer uma cesárea, e não ficar esperando [...] ter mais atitude. De equipamento eu acho que o que eles usaram no meu parto ta dentro do recurso normal, [...] tem coisa que a gente não conhece, não sabe. E1 [...] Eu não sei nem te explicar. O que eu sei te dizer é que eu não fui informada, eles não me falaram nada.[...] Na hora de ta fazendo força pra ganhar eu pedi pra doutora se a enfermeira tinha como levantar minha cabeça, só pra me ajudar um pouquinho e ela disse NÃO! [...] Daí a enfermeira que tava do meu lado disse assim “doutora posso levantar só um pouquinho pra ela?” Daí foi aonde ela disse: tá, uma vez pode, assim, grossamente. Daí ela me levantou. [...] Eu não tinha nem mais força. E a preocupação e o medo pela falta de orientação, pela falta de companheirismo, assim, de atendimento. Ai aquilo ali foi me traumatizando, fui ficando com medo [...]. E4
No momento do parto, a mulher deve ter liberdade de movimento e ser
orientada e assistida da melhor maneira, com atenção, respeito e segurança. Não
apoiá-la neste momento, com atitudes benéficas e informações, implica em
desconforto, preocupação, ansiedade e medo.
77
De acordo com Diniz (2001), a OMS divulgou amplamente, em meados da
década de 90, documentos classificando os procedimentos de rotina em quatro
categorias3: A) condutas claramente úteis e que deveriam ser encorajadas; B)
condutas claramente prejudiciais ou ineficazes que deveriam ser eliminadas; C)
condutas sem evidência suficiente para apoiar a recomendação e que deveriam ser
usadas com precaução; e D) condutas freqüentemente utilizadas de forma
inapropriadas provocando mais danos que benefícios.
Três condutas classificadas no item A do documento citado encontram-se
implícitos nas falas apresentadas, são elas: enfatizar o apoio através dos obstetras
durante o trabalho de parto e parto; oferecer às mulheres muita informação e
explicações sobre o que elas desejarem; e dar liberdade na seleção da posição e
movimento durante o trabalho do parto.
6.5 CLASSIFICAÇÃO DO ATENDIMENTO
Foi perguntado aos sujeitos da pesquisa como eles classificavam o
atendimento nas diferentes etapas do nascimento. A figura 14 demonstra o grau de
satisfação durante o processo do nascimento. Avaliando o atendimento na TO –
Triagem Obstétrica, observou-se que 50% (duas) consideraram o atendimento
ótimo, 25% (uma) bom e 25% (uma) considerou razoável, esta atribuiu a nota ao fato
de ter esperado muito tempo para ser atendida. Aquela que considerou bom e ótimo
atribuiu a classificação ao fato de ter sido atendida imediatamente e encaminhada
para a internação. No Centro Obstétrico - CO, cada sujeito teve uma impressão
sendo o fator que mais influenciou na classificação a atitude profissional. Todas
consideraram o espaço do Centro Obstétrico bom, porém, o atendimento
profissional, principalmente do médico, foi percebido como inadequado por ele não
dar informação sobre o procedimento a ser realizado, sobre a evolução do seu
processo de nascimento e no tratamento pessoal, sendo às vezes grosseiro na
forma de falar.
3 Documento elaborado pela OMS em 1996, Assistência ao Parto Normal – Um Guia Prático (World Health Organization. Care in Normal Birth: A Practical Guide. Maternal and Newborn Health/Safe Motherhood Unit. Geneva: WHO, 1996), no capítulo 6 – Classificação de condutas no nascimento normal.
78
[...] as enfermeiras me trataram super bem, mas a hora que fui pra sala de cirurgia, enquanto eles tavam me dando anestesia eles falavam: vamos ver se pára por aqui [...] xingando a gente [...]. E2 [...] Daí a enfermeira que tava do meu lado disse assim “doutora posso levantar só um pouquinho pra ela?” Daí foi aonde ela disse: tá, uma vez pode, assim, grossamente [...]. E4
Durante a internação no Alojamento Conjunto – AC, a maioria (75%)
considerou ótimo, uma (25%) inicialmente considerou o atendimento razoável, pois
no primeiro contato a enfermeira, segundo sua opinião, não deu a atenção
necessária. Aquelas que classificaram como ótimo, destacaram o atendimento da
enfermagem e do pediatra.
Figura 14: Classificação do atendimento durante o processo de nascimento.
1 1 2
1 1 1 1
1 3
Triagem Obstétrica
Centro Obstétrico
Alojamento Conjunto
péssimo
ruim
razoável
bom
ótimo
Fonte: Entrevistas realizadas, set-out 2006.
Cada mulher, considerando a atual experiência, classificou o atendimento na
maternidade de referência seguindo conceitos próprios, singulares, e que não visam
avaliar a instituição ou os profissionais e sim estabelecer um parâmetro do que é
79
bom ou ruim para ela, de como a mesma analisa o processo de nascimento
vivenciado e com o objetivo de captar sua percepção sobre humanização. Dessa
maneira, obtivemos as seguintes opiniões:
Antes do parto e ali no parto foi terrível. Foi a pressão sabe [...] Da outra parte, após o parto, foi ótimo. É difícil dizer como foi. Olhei pra trás e disse graças a deus vamos embora. E1
Em resumo foi razoável. E2
Foi bom. E3
Tirando o primeiro atendimento, que o médico ali embaixo atendeu rapidamente, o resto foi péssimo. E4
Analisando os vários espaços da instituição pelos quais a mulher passa no
processo de nascimento, as respostas obtidas constantemente são contraditórias,
pois depende da experiência vivenciada em um desses espaços. Quando um fato
desagradável ocorre em um determinado local, leva a mulher a classificar
negativamente todo o processo de nascimento. O mesmo acontece analisando
inversamente, quando em um dos espaços o atendimento é considerado péssimo e
em outro a atenção é adequada e o apoio emocional está presente, a mulher
considera ótima toda a experiência. Um fato ocorrido em um dos espaços influencia
positiva ou negativamente o conceito final de todo o processo de nascimento
dificultando a classificação do que seria um atendimento humanizado ou não.
80
81
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma atenção ao pré-natal e puerpério de qualidade e humanizada é
fundamental para a saúde materna e neonatal. A atenção à mulher na gravidez e
pós-parto deve incluir as ações de prevenção e promoção da saúde, além de
diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que ocorrem neste período. E no
período do parto, na unidade de referência, deve haver uma continuidade desta
assistência através da humanização do processo de nascimento com uma
assistência adequada, humanizada e de qualidade (BRASIL, 2005).
Apesar da ampliação da cobertura do pré-natal, dados estatísticos brasileiros
do Ministério da Saúde demonstram que ainda existem falhas no processo de
atendimento humanizado à mulher, pois possuímos ainda um número muito
pequeno de gestantes inscritas no SISPRENATAL que conseguem realizar o elenco
mínimo de ações preconizadas pelo Programa de Humanização no Pré-natal e
Nascimento. Além do pré-natal, a atenção ao puerpério ainda não está consolidada,
pois acontece das mulheres retornarem ao serviço de saúde no primeiro mês do
parto somente para os cuidados de vacinação do recém-nascido não sendo
encaminhadas para a consulta puerperal (BRASIL, 2005).
Com relação ao atendimento existem muitas unidades que não se habilitaram
ao programa de humanização do parto ou, aquelas que assinaram, ainda têm
problemas para que os profissionais de saúde incorporem na sua prática diária estas
novas práticas da assistência humanizada. Ainda, há também o percentual de
realização de partos normais e partos cesáreos que demonstram certa resistência
principalmente dos médicos de assumirem estas novas práticas.
Talvez todas essas dificuldades estejam diretamente relacionadas ao
entendimento dos próprios profissionais da saúde e da população sobre o termo
humanização.
A discussão sobre a humanização está longe de ser finalizada. Conforme
Puccini e Cecílio (2004) afirmam, há várias frentes de atividades e estas relacionam
e classificam as questões que consideram humanizadoras, de acordo com suas
atividades e seus objetivos. Assim, fica quase impossível definir o que é
humanização. Existem muitos entendimentos e opiniões sobre o assunto. Cabe aqui
salientar que, na tradução exata do termo, humanizar significar “tornar humano”. E,
82
como muitos autores interrogam: como tornar humano o que já o é? Atitudes boas
ou más são atitudes humanas. Acabará por se tornar um termo redundante se não
for tratado e discutido com parcimônia.
O que pudemos perceber foi que a falta de informações predomina nessa
área, de atenção à mulher gestante e parturiente. Não há uma conscientização das
mulheres através de nenhum meio de informação, nem mesmo na maioria da
assistência pré-natal oferecida pela rede pública. As mulheres entrevistadas pouco
sabiam em relação ao termo. Conversando sobre o assunto e expondo as condutas
de humanização na assistência à saúde, as mulheres fazem referência somente ao
atendimento, que deveria ser melhor segundo as mesmas e que, assim, a atenção
dada a elas seria humanizado. Não relacionam a humanização com o que é feito
com seu corpo no momento do trabalho de parto, com as informações e orientações
recebidas na maternidade, com os questionamentos sobre seus desejos, anseios,
dúvidas, preocupações e medos, nem mesmo com os seus direitos de escolha e
decisão.
A conscientização por parte da equipe profissional também é muito
importante. Ela precisa conhecer ou reconhecer que atitudes e procedimentos
proporcionam a humanização da assistência, ou melhor, a atenção e o devido
respeito aos seres humanos envolvidos direta e indiretamente: mãe, pai, recém-
nascido, família, enfim, a sociedade. Afinal, tudo está interligado, todos fazem parte
de um sistema inserido em outro; a mulher, a mulher e os profissionais; e a mulher,
os profissionais e sua família e/ou sociedade. De acordo com a teoria de King
(GEORGE, 1993) há uma interação entre paciente e profissional (aqui consideramos
todos os profissionais, não só enfermeiro) e que deve acontecer de forma
humanizada.
Entende-se que para o nascimento ser humanizado, é necessário
compreendê-lo de forma natural e processual e não eventual, sendo esse momento,
especial para a mulher, o homem e suas famílias (LUZ e OLIVEIRA, 2003).
É quando suas vidas são transformadas, suas atenções desviadas e é onde o profissional atua como uma fonte de ligação e instrumento, para que mais uma vida surja em plenitude. (LUZ e OLIVEIRA, 2003, p. 18).
Os resultados desta pesquisa confirmam que a maternidade do HRHMG é
um serviço vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS) que atende as mulheres
83
durante o processo de nascimento, mulheres residentes em diversos municípios,
principalmente de São José, além de servir de referência para os municípios
circunvizinhos pertencentes à 18ª Regional de Saúde preferencialmente para os que
não possuem unidade hospitalar, como: Águas Mornas, Antônio Carlos, Biguaçu,
Governador Celso Ramos, Leoberto Leal, Major Gercindo, Palhoça, Rancho
Queimado e São Pedro de Alcântara.
Esta unidade está cadastrada pelo Ministério da Saúde como uma unidade
de referência para gestação de alto risco tendo como conseqüência uma maior
demanda de mulheres de outros municípios, mesmo que estes possuam unidade
hospitalar, como: Santo Amaro da Imperatriz e Florianópolis; além de receber
pacientes das oito macrorregiões do Estado de Santa Catarina predominando a
macrorregião da Grande Florianópolis.
Conclui-se que, do total de atendimentos realizados na maternidade,
prevaleceu o parto normal estando próximo do estabelecido na Portaria MS/GM nº
466, de 14 de junho de 2000, que define um percentual máximo de cesarianas em
relação ao número total de partos, sendo esta uma das estratégias para implantação
da humanização no pré-natal e nascimento (BRASIL, 2000).
A maternidade em estudo apresentou um percentual de 33% de partos
cirúrgicos, sendo que o estabelecido pela Portaria MS/GM nº 466, para o Estado de
Santa Catarina é de 30% havendo necessidade de programar ações de
acompanhamento, avaliação e controle visando reduzir ainda mais o número de
cesarianas.
Com relação ao componente avaliativo deste estudo, foram analisados os
vários espaços da instituição pelos quais a mulher passa no processo de nascimento
e constatou-se que as respostas obtidas às vezes são contraditórias, pois
dependendo da experiência vivenciada em um desses espaços a mulher classifica
negativa ou positivamente todo o processo. Os fatores que mais influenciaram as
respostas foram: o tempo de atendimento, que quanto menor melhor é a resposta, e
a atitude profissional.
A percepção de cada mulher sobre a maneira como foi atendida e o seu
entendimento sobre humanização interfere no conceito final do processo de
nascimento dificultando a classificação do que seria um atendimento humanizado ou
não.
84
Este estudo não teve a intenção de avaliar a política da humanização nem
mesmo a instituição onde os sujeitos foram atendidos. E sim, captar a compreensão
das mulheres acerca do termo humanização. Porém, segundo Rugolo et al (2004), a
satisfação materna quanto à assistência recebida deve ser um desfecho a ser
considerado na avaliação da qualidade e no planejamento de um serviço de
assistência materno-infantil.
Como conseqüência, acabamos por perceber o que acontece em relação à
política, se está sendo implementada ou não, e assim, acabam por surgir
inquietações sobre o assunto, como: o que os profissionais de saúde entendem por
humanização? O que a maternidade de referência de São José realiza, quais suas
rotinas, para a implementação da política de humanização ou mais especificamente
do programa de humanização ao parto e nascimento? Por que os profissionais da
maternidade não orientam e questionam as mulheres que ali são admitidas em
trabalho de parto? Dessa forma, sugere-se que sejam feitos novos estudos no
sentido de aprofundar este tema e que sejam utilizados rotineiramente os dados
existentes nos sistemas de informações disponíveis para acompanhar e avaliar o
processo de trabalho e a política e o programa de humanização implantado na
instituição de estudo.
85
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TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa clínica qualitativa. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
UNIVALI. Manual de Metodologia Científica e da pesquisa, Biguaçu, 2002.
89
ZIEGEL, E. E. CRANLEY, M. S. Enfermagem Obstétrica. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1985. 696 p.
90
91
APÊNDICES
92
APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
Andréa Teixeira, acadêmica da Universidade do Vale do Itajaí, Campus Biguaçu, sob
orientação da professora Mestre Enfermeira Ângela Maria Blatt Ortiga, tem a intenção de
obter a sua autorização para participar desta pesquisa que tem como título: PERFIL DAS
MULHERES RESIDENTES EM BIGUAÇU ATENDIDAS NA MATERNIDADE DE
REFERÊNCIA DE SÃO JOSÉ E SUA PERCEPÇÃO SOBRE ASSISTÊNCIA
HUMANIZADA NO PROCESSO DE NASCIMENTO.
A sua contribuição em relatar a sua opinião sobre a “humanização“ e sobre o
atendimento prestado é de suma importância para que se possa melhorar o atendimento
dos que procuram a maternidade do Hospital Regional Homero de Miranda Gomes.
Diante disso, as declarações a seguir contêm os seguintes termos:
Eu, __________________________________________________________, abaixo
assinado, com ____ anos de idade, declaro que participarei desta pesquisa e terei garantido
esclarecimentos, antes e durante o curso deste estudo, bem como deverei estar
resguardado de riscos, associados a essa pesquisa, bem como não haverá qualquer
pagamento de vantagem pela participação neste estudo. Além disto, as pesquisadoras
deixam claro e garantido que: terei qualquer dúvida esclarecida quanto ao estudo do qual
faço parte; poderei desistir de minha participação a qualquer momento, sem que isto tenha
conseqüências negativas ou prejuízos que se volte para mim; todas as informações
fornecidas por mim serão sigilosas e confidenciais; em situações de apresentação ou
publicação cientifica posterior ao estudo, o anonimato será mantido e respeitado. Este
estudo será rigorosamente fundamentado nos direitos enquanto sujeitos que fizerem parte
do estudo nas Normas e Diretrizes da Pesquisa com Seres Humanos (Resolução 196/96 –
CNS/MS), bem como pelo código de ética dos profissionais de enfermagem (COREN,
2001).
Estou permitindo se necessário: ( ) filmar ( ) fotografar ( ) gravar ( ) publicar
Florianópolis, _____de______________de 200__.
____________________________________ Assinatura do participante
93
APÊNDICE B: ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada para as Mulheres que vivenciaram o Processo do Nascimento no primeiro semestre de 2005 na Maternidade do
HRHMG
Data da entrevista: _______/_______/_______
Hora de início: ________________ Hora de término: _______________
IDENTIFICAÇÃO
Nome (fictício): ________________________ Nº AIH: ____________________
Idade: ______________________
Local de nascimento (Cidade/UF): _______________________________________
Local de moradia (Bairro): ______________________________________________
Grau de instrução:
( ) analfabeto ( ) semi-analfabeto
( ) 1º grau completo ( ) 1º grau incompleto
( ) 2º grau completo ( ) 2º grau incompleto
( ) 3º grau completo ( ) 3º grau incompleto
( ) pós-graduação ( ) pós-graduação Incompleta ( ) especialização completa
( ) mestrado completo ( ) mestrado incompleto
Outros________________________________________
Estado Civil: ( ) solteira ( ) casada ( ) amasiado (junto) ( ) viúva
Outros________________________________________________________
Nº de filhos (idade dos filhos):___________________________________________
___________________________________________________________________
OCUPAÇÃO
Profissão: ___________________________________________________________
Horário de trabalho (em horas e turnos): _____________________________
Renda familiar:
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( ) menos de 01 salário mínimo ( ) de 01 a 02 salários mínimos
( ) de 03 a 04 salário mínimo ( ) de 05 a 06 salários mínimos
( ) de 07 a 08 salário mínimo ( ) de 09 a 10 salários mínimos
( ) mais de 10 (quantos): _________________
Plano de saúde: ( ) sim ( ) não qual?
Usou o plano nesta internação? ( ) sim ( ) não
FATORES OBSTÉTRICOS
Gesta: _______ Para: _______ número de PN: _____ número de PC:_____
Número de Abortos: _______ Nº filhos vivos: ______
DADOS DA ÚLTIMA GESTAÇÃO:
Realizou pré-natal: ( ) sim Nº de consultas: ______ ( ) não Por quê? _______
___________________________________________________________________
Participação do companheiro nas consultas: ( ) sim ( ) não Por quê? ________
___________________________________________________________________
Recebeu orientações durante o pré-natal? ( ) não ( ) sim Sobre:
( ) Lei do acompanhante ( ) Tipo de parto
( ) Procedimentos do parto ( ) importância do pré-natal
( ) Amamentação ( ) Auto-cuidado
( ) Analgesia no parto ( ) humanização do parto
( ) humanização da assistência ( ) Outra Citar: ___________________________
Escolheu previamente o local do parto?
( ) sim ( ) não?
Por que escolheu a maternidade do HRHMG?
( ) mais fácil acesso rodoviário
( ) conhece o hospital
( ) indicação de amigo/familiar
( ) internação(ões) anterior(es)
( ) levada por terceiros
( ) levada por companheiro/familiar
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( ) levada pela polícia
( ) outros ___________________________________________________________
PROCESSO DE NASCIMENTO
Hora do parto:_______________ Horário de chegada ao Hospital:_____________
Como foi realizada sua admissão:
Na triagem obstétrica: _________________________________________________
Em resumo, classifica o atendimento na triagem obstétrica como:
( ) ótima ( ) boa ( ) razoável ( ) ruim ( ) péssima
No centro obstétrico: __________________________________________________
Em resumo, classifica o atendimento no centro obstétrico como:
( ) ótima ( ) boa ( ) razoável ( ) ruim ( ) péssima
No alojamento conjunto: ________________________________________________
Em resumo, classifica o atendimento no alojamento conjunto como:
( ) ótima ( ) boa ( ) razoável ( ) ruim ( ) péssima
Recebeu alguma informação/orientação ( ) sim ( ) não
Se recebeu, que setor forneceu a informação (TO, CO ou AC) e quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Foi questionada quanto a necessidade de realização de:
Tricotomia (retirada dos pêlos pubianos ) ( ) sim ( ) não
Episiotomia (corte com pontos na vagina) ( ) sim ( ) não
Enteroclisma (enema/ lavagem intestinal) ( ) sim ( ) não
Foi orientada quanto a:
Deambulação ( ) sim ( ) não
Alimentação ( ) sim ( ) não
Tipo de parto ( ) sim ( ) não
Analgesia ( ) sim ( ) não
Presença de acompanhante ( ) sim ( ) não
Métodos de relaxamento ( ) sim ( ) não
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Deambulou durante o trabalho de parto? ( ) sim ( ) não Por onde? __________
Teve a presença de um acompanhante? ( ) sim ( ) não Quem? ____________
Realizou alguma técnica de relaxamento? ( ) sim ( ) não Qual? _____________
Recebeu apoio emocional de algum profissional de saúde ? ( ) sim ( ) não
De quem? __________________________________________________________
De que maneira? _____________________________________________________
Teve oportunidade de contato (visual/físico) com o RN? ( ) não ( ) sim
Onde e como? _______________________________________________________
O que entende por humanização da assistência de saúde?
O que entende por humanização do parto?
Considera que o seu atendimento no processo de nascimento foi humanizado?
( ) sim ( ) não Em que sentido?
Que ações/recursos utilizados na sua opinião tornaram o seu atendimento
humanizado?