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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DOS EFEITOS DO DIVÓRCIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEITO ELIOMAR PEDRO Itajaí, junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DOS EFEITOS DO DIVÓRCIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEITO

ELIOMAR PEDRO

Itajaí, junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DOS EFEITOS DO DIVÓRCIO NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO

ELIOMAR PEDRO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. Clovis Demarchi

Itajaí, junho de 2008

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus através de Jesus Cristo, pela força extraordinária obtida nestes últimos cinco

anos e,

Ao meu orientador Clóvis Demarchi,

À minha Esposa, Silvana da Costa Pedro e minha Filha, Annelize da Costa Pedro.

Aos meus amigos, Evaldo, Ronalt, Pepinho, Jorgelino, Fred, Carlos, Rogério, Xuxa, Tonho, Josué, Dorinho, Riva, Pedrinho, Massa, Célio,

Raul etc.

Aos meus irmãos, Wanderlei, Maninha, Célia, Ana Luisa, e Helen Rose Pedro.

Aos meus Pais, Jorge Gregório Pedro e Célia Cavalcanti Pedro. e a todos que direta ou

indiretamente contribuíram para que este objetivo fosse plenamente alcançado.

Destarte, aqui começa uma outra fase...

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DEDICATÓRIA

Dedico esta conquista especialmente à minha esposa e à minha filha, que me apoiaram

integralmente, honrando e aceitando as dificuldades por que passamos, para que este

sonho se tornasse realidade.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, junho de 2008

ELIOMAR PEDRO Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Eliomar Pedro, sob o título Dos

Efeitos do Divórcio no Ordenamento Jurídico Brasileiro, foi submetida em 13 de

junho de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

Clovis Demarchi, orientador e presidente da banca e Emanuela Cristina Andrade

Lacerda (examinadora) , e aprovada com a nota 9,5 (nove vírgula cinco).

Itajaí, 13 dejunho de 2008

Professor MSc. Clovis Demarchi Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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SUMÁRIO

SUMÁRIO.......................................................................................... VI

RESUMO......................................................................................... VIII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3

O CASAMENTO................................................................................. 3 1.1 HISTÓRICO DO CASAMENTO........................................................................3 1.2 ASPECTOS GERAIS DO CASAMENTO .........................................................8 1.3 CONCEITO DE CASAMENTO .......................................................................10 1.4 CASAMENTO NO BRASIL ............................................................................11 1.5 CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO........................................................13 1.6 REQUISITOS PARA O CASAMENTO ...........................................................15 1.7 DOS IMPEDIMENTOS PARA O CASAMENTO.............................................16

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 20

DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO.............................................. 20 2.1 FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL ........................20 2.1.1 PELA MORTE DE UM DOS CÔNJUGES.................................................................21 2.1.2 PELA NULIDADE OU ANULAÇÃO DO CASAMENTO................................................21 2.1.3 PELA SEPARAÇÃO JUDICIAL.............................................................................22 2.1.4 PELO DIVÓRCIO..............................................................................................26 2.2 A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO NA DOUTRINA ....................................26 2.3 DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO NA JURISPRUDÊNCIA...........................32 2.3.1 CONVERSÃO DA SEPARAÇÃO JUDICIAL EM DIVÓRCIO .........................................32 2.3.2 CONVERSÃO LITIGIOSA EM DIVÓRCIO ...............................................................33 2.3.3 AÇÃO DIRETA DE DIVÓRCIO..............................................................................34 2.3.4 A RECONVENÇÃO NA AÇÃO DO DIVÓRCIO DIRETO ..............................................35 2.3.5 DIREITO DE USAR OU NÃO O NOME DO CÔNJUGE DIVORCIADO.............................36

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 38

DO DIVÓRCIO COMO CONSEQUÊNCIA DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO ............................................................................ 38 3.1 HITÓRICO DO DIVÓRCIO..............................................................................38 3.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DO DIVÓRCIO......................................43 3.3 O DIVÓRCIO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 .................................................48

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3.4 MOTIVOS ENSEJADORES DO DIVÓRCIO NO CÓDIGO CIVIL...................51 3.4.1 ESPÉCIES.......................................................................................................51 3.4.1.1 Separação Sanção ..................................................................................51 3.4.1.2 Separação – falência...............................................................................52 3.4.1.3 Separação-remédio.................................................................................52 3.4.2 INFRAÇÕES QUANTO AOS DEVERES DO CASAMENTO ..........................................52 3.4.2.1 Adultério ..................................................................................................52 3.4.2.2 Abandono voluntário do lar conjugal....................................................53 3.4.2.3 Sevícia ou injúria grave ..........................................................................54 3.4.2.4 Abandono material e moral dos filhos ..................................................54 3.5 EFEITOS DO DIVÓRCIO................................................................................55 3.5.1 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR..................................................................................55 3.5.2 DISREGARD – DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA....................................56 3.5.3 DA SEPARAÇÃO DE CORPOS ............................................................................58 3.5.4 DA PARTILHA DE BENS ....................................................................................59 3.5.5 QUANTO AOS FILHOS ......................................................................................61

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 63

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 67

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RESUMO

A presente monografia tem como objeto de estudo Os efeitos do divórcio no

Ordenamento jurídico brasileiro. Para a realização do estudo, o objetivo geral foi

de identificar os efeitos do Divórcio e fazer uma discussão a aprtir da doutrina e

jurisprudência sobre o assunto. Para a realização do trabalho, dividiu-se o estudo

em três capítulos, a saber: no primeiro capítulo se estudou o casamento como

instituto necessário para a possibilidade da existência do divórcio. No segundo

capítulo analisou-se a dissolução do casamento no ordenamento jurídico

brasileiro, para finalmente analisar o Instituto do divórcio e os seus efeitos.

Quanto a metodologia, o Método utilizado na fase de Investigação foi o Indutivo;

na fase de Tratamento dos Dados foi o Cartesiano, e, no Relatório da Pesquisa

foi empregada a base indutiva. Foram acionadas as técnicas do referente, da

categoria, dos conceitos operacionais, da pesquisa bibliográfica e do fichamento.

Palavras chave - 1 Casamento. 2 Dissolução do casamento. 3 Divórcio.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo dos efeitos

do Divórcio no ordenamento jurídico brasileiro.

O seu objetivo geral é de identificar os efeitos do divórcio,

analisando-os na doutrina e jurisprudência.

Foram levantadas as seguintes hipóteses:

1 O casamento vem a ser um contrato solene pelo qual

duas pessoas de sexo diferente se unem para constituir uma família e viver em

plena comunhão de vida. Concretizando assim um vínculo jurídico que visa o

auxílio mútuo material e espiritual, sob promessa recíproca de fidelidade no amor

e da mais estreita comunhão de vida.

2 A separação judicial rompe a sociedade conjugal mas

não rompe o vínculo matrimonial.

3 Os efeitos da dissolução da sociedade conjugal pelo

divórcio não divergem dos efeitos da separação judicial.

4 O vínculo matrimonial somente será rompido pelo divórcio,

mas os efeitos do divórcio mantêm latentes as lembranças do casamento.

Para a análise e discussão das hipóteses, o trabalho foi

dividido em três capítulos.

O primeiro capítulo tratou do casamento. Estudou-se o

histórico do casamento, seu conceito, as suas características, os requisitos para a

sua realização e os impedimentos previstos no ordenamento jurídico brasileiro.

No segundo capítulo, estudou-se o instituto da dissolução do

casamento. Neste capítulo foram identificadas as formas de dissolução da

sociedade conjugal, como a doutrina analisa e interpreta a dissolução e como a

jurisprudência avalia a dissolução do casamento.

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No terceiro capítulo tratou-se do divórcio. Fez-se uma

análise histórica, conceituou-se e observaram-se as características, bem como a

forma como a Constituição da República Federativa do Brasil tratou o Divorcio.

Após analisou-se os motivos apresentados pelo Código Civil quanto a

possibilidade do divórcio e finalmente os seus efeitos.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre os efeitos do Divórcio no ordenamento jurídico brasileiro.

O Método1 a ser utilizado na fase de Investigação será o

Indutivo; na fase de Tratamento dos Dados será o Cartesiano, e, dependendo do

resultado das análises, no Relatório da Pesquisa será empregada a base lógica

indutiva.

Serão acionadas as técnicas do referente2, da categoria3,

dos conceitos operacionais4, da pesquisa bibliográfica5 e do fichamento6.

1 “Método é a forma lógico-comportamental na qual se baseia o Pesquisador para investigar, tratar os dados colhidos e

relatar os resultados”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- idéias e ferramentas úteis para o

pesquisador do Direito. 7 ed. rev.atual.amp.Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002, p.104 .

2 "explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de abordagem para uma

atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa". PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit..

especialmente p. 241.

3 “palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia". PASOLD,Cesar Luiz. Prática da

Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 229.

4 “definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita

para os efeitos das idéias expostas”. PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 229.

5 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”.PASOLD,Cesar Luiz. Prática da

Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 240.

6 “Técnica que tem como principal utilidade otimizar a leitura na Pesquisa Científica, mediante a reunião de elementos

selecionados pelo Pesquisador que registra e/ou resume e/ou reflete e/ou analisa de maneira sucinta, uma Obra, um

Ensaio, uma Tese ou Dissertação, um Artigo ou uma aula, segundo Referente previamente estabelecido”.

PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 233.

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CAPÍTULO 1

O CASAMENTO

1.1 HISTÓRICO DO CASAMENTO

Par a apresentação do histórico do casamento, pautar-se-á

na clássica teoria sociológica da origem e evolução da família apresentada na

obra “A origem da família, da propriedade privada e do estado” de Engels7.

No primeiro estágio, “o selvagem”, predomina a apropriação

de produtos da natureza, prontos para serem utilizados; as produções artificiais

do homem são, sobretudo, destinadas a facilitar essa apropriação8. Neste estágio,

o matrimônio era grupal, e compreendia a era pré-histórica, possuindo quatro

tipos de matrimônios, a saber:

a) Família consangüínea: Nela os grupos conjugais

classificam-se por gerações: todos os avôs e avós, nos limites da família, são

maridos e mulheres entre si9; o mesmo sucede com seus filhos, quer dizer, com

os pais e mães; os filhos destes, por sua vez, constituem o terceiro círculo de

cônjuges comuns; e seus filhos, isto é, os bisnetos dos primeiros, o quarto círculo.

Nessa forma de família, os ascendentes e descendentes, os

pais e filhos, são os únicos que, reciprocamente, estão excluídos dos direitos e

deveres do matrimônio. Irmãos e irmãs, primos e primas, em primeiro, segundo e

restantes graus, são todos entre si, irmãos e irmãs, e por isso mesmo maridos e

mulheres uns dos outros. O vínculo de irmão e irmã pressupõe, por si, nesse

7 ENGELS, Friedrich. A origem da Família da Propriedade Privada do Estado. Tradução:

Leandro Konder.14 ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil 1997. 215 p. 8 ENGELS, Friedrich. A origem da Família da Propriedade Privada do Estado. p. 28. 9 ENGELS, Friedrich. A origem da Família da Propriedade Privada do Estado. p. 37.

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período, a relação carnal mútua10. É vedada a coabitação de ascendentes com

descendentes.

b) Família Punaluana: Se o primeiro progresso na

organização da família consistiu em excluir os pais e filhos das relações sexuais

recíprocas, o segundo foi a exclusão dos irmãos. Esse progresso foi infinitamente

mais importante que o primeiro e, também mais difícil, dada a maior igualdade

nas idades dos participantes. Foi ocorrendo pouco a pouco, provavelmente

começando pela exclusão dos irmãos uterinos (isto é, irmãos por parte de mãe).

Em princípio em casos isolados e depois gradativamente,

como regra geral (no Havaí ainda havia exceções no presente século) e

acabando pela proibição do matrimônio até entre irmãos colaterais ( quer dizer,

segundo nossos atuais nomes de parentesco, entre primos carnais, primos em

segundo e terceiro graus)11. Nas tribos onde esse progresso limitou a reprodução

consangüínea, deve ter havido um progresso mais rápido e mais completo que

naquelas onde o matrimônio entre irmãos e irmãs continuou sendo uma regra e

uma obrigação.12

c) Poligamia: A poligamia de um homem era, evidentemente,

um produto da escravidão e limitava-se a alguns poucos casos excepcionais. Na

família patriarcal semítica, o próprio patriarca e, no máximo, alguns de seus filhos

vivem como polígamos, contentando-se obrigatoriamente os demais com uma só

mulher. Assim sucede, ainda hoje, em todo o oriente: a poligamia é um privilégio

dos ricos e dos poderosos, e as mulheres são recrutadas sobretudo na compra de

escravas13.

d) Poliandria: O estudo da história primitiva revela um

estado de coisas em que os homens praticam a poligamia e suas mulheres a

poliandria, e em que, por conseqüência, os filhos de uns e outros, tinham que ser

10 ENGELS, Friedrich. A origem da Família da Propriedade Privada do Estado. p. 38. 11 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. p.38-40. 12 ENGELS, Friedrich. A origem da Família da Propriedade Privada do Estado. p. 40. 13 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade privada e do Estado.p.65,

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considerados comuns14.[...] existiu uma época primitiva em que imperava, no seio

da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia

igualmente a todos os homens e cada homem a todas as mulheres15.

Neste tipo de matrimônio era a mulher quem escolhia seus

companheiros.

No segundo Estágio, “a barbárie”, apresenta-se a partir da

introdução da cerâmica. É possível demonstrar que, em muitos casos,

provavelmente em todos os lugares, nasceu do costume de cobrir com argila os

cestos ou vasos de madeira, a fim de torná-los refratários ao fogo; logo descobriu-

se que a argila moldada dava o mesmo resultado, sem necessidade do vaso

interior 16 .O traço característico do período da barbárie é a domesticação e

criação de animais e o cultivo de plantas17.

Neste estágio, sucedendo o Estado Selvagem, surge o

Matrimônio Sindiásmico.

A Família Sndiásmica : No regime de matrimônio por grupos,

ou talvez antes, já se formavam uniões por pares, de duração mais ou menos

longa; o homem tinha uma mulher principal( ainda não se pode dizer que fosse

uma favorita) entre suas numerosas esposas, e era para ela o esposo principal

entre todos os outros. Esta circunstância contribuiu bastante para a confusão

produzida na mente dos missionários, que vêem no matrimônio por grupos ora

uma comunidade promíscua das mulheres, ora um adultério arbitrário.

À medida, porém, que evoluíam as gens (tribos) e iam-se

fazendo mais numerosas as classes de irmãos e irmãs entre os quais agora era

impossível o casamento, a união conjugal por pares, baseada no costume, foi-se

14 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade privada e do Estado.p.31. 15 ENGELS, Friedrich. A origem da Família da Propriedade Privada do Estado. p. 31. 16 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade privada e do Estado.p.24. 17 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade privada e do Estado.p.24.

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consolidando. O impulso dado pela gens à proibição do matrimônio entre parentes

consangüíneos levou as coisas ainda mais longe18.

Neste estágio um homem vive com uma mulher, mas de

maneira tal que a poligamia e a infidelidade ocasional continuam a ser um direito

dos homens, embora a poligamia seja raramente observada, por causas

econômicas; ao mesmo tempo, exige-se a mais rigorosa fidelidade das mulheres,

enquanto dure a vida em comum, sendo o adultério destas, cruelmente

castigados 19.

Entre todos os selvagens e em todas as tribos que se

encontram nas fases inferior, média e até (em parte) superior da barbárie, a

mulher não só é livre, como também, muito considerada (...). As mulheres

constituíam a grande força dentro dos clãs (gens) e, mesmo, em todos os lugares.

Elas não vacilavam, quando a ocasião exigia, em destituir um chefe e rebaixá-lo à

condição de mero guerreiro. A economia doméstica comunista, em que a maioria

das mulheres, se não a totalidade, é de uma mesma gens, ao passo que os

homens pertencem a outras gens diferentes, é a base efetiva daquela

preponderância das mulheres que nos tempos primitivos, esteve difundida por

toda parte.20.

O terceiro estágio, “a civilização”, veio apresentado pela

diferença entre ricos e pobres somando-se à diferença entre homens livres e

escravos; a nova divisão do trabalho acarretou uma nova divisão da sociedade

em classes. A diferença de riqueza entre os diversos chefes de família destruiu as

antigas comunidades domésticas comunistas, em toda parte onde estas ainda

subsistiam; acabou-se o trabalho comum da terra por conta daquelas

comunidades.

A terra cultivada foi distribuída entre as famílias particulares,

a princípio por tempo limitado, depois para sempre; a transição à propriedade

18 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade e do Estado.p.48. 19 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade e do Estado.p.49 20 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade e do Estado.p.51

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privada completa foi-se realizando aos poucos, paralelamente à passagem do

matrimônio sindiásmico à monogamia. A família individual principiou a

transformar-se na unidade econômica da sociedade 21.

A família monogâmica nasce, conforme indicamos, da

família sindiásmica, no período de transição entre a fase média e a fase superior

da barbárie; seu triunfo definitivo é um dos sintomas da civilização nascente.

Baseia-se no predomínio do homem; sua finalidade expressa é a de procriar filhos

cuja paternidade seja indiscutível; e exige-se essa paternidade indiscutível porque

os filhos, na qualidade de herdeiros diretos, entrarão, um dia, na posse dos bens

de seu pai. A família monogâmica diferencia-se do matrimônio sindiásmico por

uma solidez muito maior dos laços conjugais, que já não podem ser rompidos por

vontade de qualquer das partes. Agora como regra, só o homem pode rompê-los

e repudiar sua mulher.

Ao homem, igualmente, se concede o direito à infidelidade

conjugal, sancionado ao menos pelo costume (...), e esse direito se exerce cada

vez mais amplamente, à medida que se processa a evolução da sociedade.

Quando a mulher, por acaso, recorda as antigas práticas sexuais e intentas

renová-las, é castigada mais rigorosamente do que em qualquer outra época

anterior.22

Como observado, há três formas principais de matrimônio,

que correspondem aproximadamente aos três estágios fundamentais da evolução

humana. Ao estado selvagem corresponde o matrimônio por grupos, à barbárie, o

matrimônio sindiásmico, e a civilização corresponde a monogamia com seus

complementos: o adultério e a prostituição. Entre o matrimônio sindiásmico e a

monogamia, intercalam-se, na fase superior da barbárie, a sujeição aos homens

das mulheres escravas e a poligamia23

21 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade e do Estado. p.184 22 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade e do Estado. p.66. 23 ENGELS, Friedrich. A origem da família,da propriedade e do Estado. p.81.

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1.2 ASPECTOS GERAIS DO CASAMENTO

Várias são as definições que contemporizam o conceito

material do instituto do casamento, porque, devido às diversas significações,

histórico-axiológicos, inexiste uniformidade na sua caracterização.

Para Pereira24 :” O casamento é um ato solene pelo qual

duas pessoas de diferentes sexos se unem para sempre, sob promessa recíproca

de fidelidade no amor e da mais alta estreita comunhão de vida”.

Para Lima25, “o casamento ou matrimônio possui duplo

sentido: ato através do qual se cria e se estabelece a família legítima, e o vínculo

ou estado conjugal, ou seja, a relação permanente que une os dois cônjuges,

constitutiva da sociedade conjugal”.

De acordo com Oliveira26.

O termo casamento ou matrimônio, designa duas realidades diversas: o negócio jurídico que os nubentes celebram (matrimônio ato) e a relação jurídica que dele se origina (vínculo ou relação matrimonial), por força da qual as pessoas estão casadas e assumem recíprocos direitos e deveres.

A celebração do casamento cria o vínculo conjugal e os

nubentes ficam constituídos no estado de casados, o que reclama a idéia de uma

relação destinada a durar.

No entendimento de Ruggiero 27, o conceito de casamento é:

24 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 11 ed. Rio de Janeiro:

Forense,1998.p. 32. 25 LIMA, Domingos Sávio Brandão. A nova lei do divórcio comentada. São Paulo: O. Dip.

Editores Ltda, ,1978. p.19 26 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira.Curso de direito de

família.Curitiba: Juruá, 2004.p.288. 27 RUGGIERO, Roberto de. Instituições de direito civil. Trad. Paolo Caoitanio. Campinas:

Bookseller, 1999. v. 4. p.96.

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(...) uma união que não é apenas de corpos, mas de espíritos, que tem caráter de permanência e perpetuidade, visto o vínculo durar toda a vida; que se baseia no amor e se consolida pela afeição serena fora de toda a paixão ou excitação dos sentidos; que tem por fim não só a procriação dos filhos e a perpetuação da espécie, mas também a assistência recíproca e a prosperidade econômica; que cria uma comunhão indissolúvel de vida; que gera deveres recíprocos entre os esposos e de ambos para com a prole.

No mesmo sentido, ensina Rodrigues28 .” Casamento é o

contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da

mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais,

cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência”.

Importante também mencionar a definição de Monteiro29 da

qual, o matrimônio é “(...) a união permanente entre o homem e a mulher, de

acordo com a lei, a fim de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de

criarem os seus filhos”.

Todos os entendimentos acima expressos, apresentam a

prior” a satisfação em reconhecer que todos os caminhos levam a um só lugar,ou

seja, a realização de poder dar continuidade à sua geração.

Não obstante, o Estado, através da Constituição30, traz

estampado este desejo:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade , o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

28 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil. 23.ed.. São Paulo : Saraiva, 1998. v. 6. p. 17. 29 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 33. ed. Ver. São Paulo: 1996. v. 2.

p.12. 30 BRASIL. Constituição de República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

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1.3 CONCEITO DE CASAMENTO

Diversos são os conceitos que buscam definir a categoria

“casamento”. Dificuldade esta pelo fato de ser uma instituição jurídica importante

do Direito Privado e o fundamento do alicerce da moral social.

De acordo com Rizzardo31, a origem primeira do casamento

está na atração sexual, ou na concupiscência inata na pessoa. O casamento vem

a ser um contrato solene pelo qual duas pessoas de sexo diferente se unem

para constituir uma família e viver em plena comunhão de vida . Na “celebração

do ato, prometem elas mútua fidelidade, assistência recíproca, e a criação e

educação dos filhos”.

Diniz32 expõe, “O casamento é o vínculo jurídico entre o

homem e a mulher que visa o auxílio mútuo material e espiritual, de modo que

haja uma integração fisiopsiquica e a constituição de uma família”.

Pereira33 afirma que o “casamento é um ato solene pelo

qual duas pessoas de sexo diferente se unem para sempre, sob promessa

recíproca de fidelidade no amor e da mais estreita comunhão de vida”.

Bittar34 afirma que o casamento “é o acordo de vontades

tendente à comunhão espiritual e material de pessoas de sexo oposto, dispostas

a constituir família, nos termos da lei”.

Para Guimarães35, o matrimônio é a “união entre homem e

mulher, lícita e permanente.”

31 RIZZARDO, Arnaldo.Direito de Família. p.17. 32 DINIZ, Maria Helena.Curso de Direito Civil Brasileiro.p. 39. 33 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito de Família. 5.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos.1956.

p. 34. 34 BITTAR, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil. V. 2. Rio de Janeiro: Forense Universitária,

1994. p. 1038. 35 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 6. ed. São Paulo: Rideel

2004.p. 147.

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Os conceitos citados vem contribuir para demonstrar e

reafirmar que o casamento é um vínculo jurídico entre o homem e a mulher que

se unem sob promessa de fidelidade, auxílio e comunhão de vida.

1.4 CASAMENTO NO BRASIL

De acordo com Cahali 36 , “no Brasil, nos primeiros anos da

descoberta, a igreja foi titular quase absoluta dos direitos sobre a instituição

matrimonial, cujos princípios do direito canônico representavam a fonte do direito

positivo, regendo todo e qualquer ato nupcial”.

Com a proclamação da independência e instauração da

monarquia, o direito brasileiro permaneceu sob a influência direta e incisiva do

direito da igreja, em matéria de casamento.

No Brasil império, diz Lima37

Em princípio, se conheceu apenas o casamento católico, que era considerado pela igreja como sacramento instituído por Jesus Cristo. Com o passar do tempo, devido ao crescimento populacional, o número de católicos aumentou, gerando assim um drama de consciência : absterem-se do casamento, ou realizar em contradição com as suas convicções espirituais.

Afirma Pereira38:

Três modalidade de núpcias passaram a ser praticadas: O casamento católico, celebrado segundo as normas do Concílio de Trento, de 1563, e das constituições do Arcebispado da Bahia; o casamento misto, entre católicos e acatólicos, realizado sob a disciplina do direito canônico; e o casamento acatólico que unia

36 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. t.

1. p. 44. 37 LIMA, Domingos Sávio Brandão. A nova lei do divórcio comentada. p. 42-44. 38 PEREIRA, Caio Mário de Silva. Instituições do Direito Civil. 9. ed. Rio de Janeiro:

Forense,1994. v. 4. p.40.

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membros de seitas dissidentes, de acordo com as prescrições religiosas de cada um.

No mesmo sentido conduz Rizzardo39:

No Brasil, quando da colônia e do Império, conheciam-se três modalidades de casamento : o católico, celebrado segundo as normas do concílio de Trento, de 1563, e das constituições do Arcebispo da Bahia ; o casamento misto, entre católicos e não católicos, que seguia a orientação do direito canônico; e o casamento que unia membros de seitas diferentes, obedecendo-se as prescrições respectivas.

Um decreto de 3 de novembro de 1827 oficializou o casamento segundo as diretrizes do Concílio de Trento. Com isso reconheceu e adotou a jurisdição canônica sobre o casamento e sua dissolução, o que significa afirmar que não se admitia a validade do casamento sem a intervenção da igreja.

Assim, entende Cahali40

É através do matrimônio que duas pessoas de sexos diferentes adquirem o estado familiar de cônjuges, que por sua vez é fonte de direitos e obrigações recíprocas, representados principalmente pela comunhão de vida, moral, espiritual, afetiva e material.

Por ser o matrimônio a mais importante das transações

humanas, uma das bases de toda a constituição da sociedade civilizada, é o

casamento uma instituição social. Logo, o casamento é um estado matrimonial,

cujas relações são reguladas por normas jurídicas.

A constituição no art. 226, § 1º estatui que o casamento é

civil e gratuita a celebração, acrescentando, no § 2º, que o religioso tem efeito

civil, nos termos da lei.

39 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família: Lei 10406,de 10.01.2002. 4.ed.. Rio de Janeiro:

Forense, 2006. p. 19. 40 CAHALI,Yussef said. Divórcio e separação.p. 14

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A matéria do registro do casamento religioso para efeitos

civis estava disciplinada nos arts. 71 a 75 da Lei n. 6015, de 31 de dezembro de

1973, regendo-se hoje, pelos arts. 1515 e 1516 do Código Civil.

1.5 CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO

O casamento é cercado de um verdadeiro ritual, com

significativa incidência de normas de ordem pública. Os nubentes munidos da

certidão de habilitação passada pelo oficial do registro, devem peticionar à

autoridade que presidirá o ato, requerendo a designação do dia, hora e local para

a sua realização.

O local em geral é a sede do próprio cartório onde se

processou a habilitação, mas pode ser escolhido outro, público ou particular,

como clubes, salões de festas, templos religiosos, casa de um dos nubentes etc.

É importante que as portas permaneçam abertas , a fim de

possibilitar a oposição de eventuais impedimentos por qualquer pessoa.

A lei exige a presença de duas testemunhas, pelo menos,

que podem ser parentes ou não dos contraentes. Se algum deles não souber ou

não puder escrever, colher-se-á as impressões digitais, e o número de

testemunhas será aumentado para quatro, qualquer que seja o local em que se

realize o ato.

Também será aumentado para quatro se o casamento se

realizar em edifício particular (CC, art. 1534, §§ 1º e 2º). A presença dos nubentes

deve ser simultânea41.

Contribui Rizzardo42 com alguns caracteres que ressalta:

41 GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito de Família. 11 ed. São Paulo: Saraiva,2006. p.23. 42 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. p. 24.

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Trata-se de uma instituição de ordem pública, dada a legislação existente, à qual devem subordinar-se as convenções particulares.

Importa em uma união exclusiva, e isto precipuamente em razão da natureza do próprio ser humano, que não comporta uma tolerância de compartilhamento nessa ordem.

Determina uma comunidade de vida para os cônjuges não somente nos interesses patrimoniais, mas em especial nos sentimentos, desejos e intenções.

Não admite termo ou condição para a contratação. Ninguém celebra um casamento condicional, passível de desconstituição se não cumprida alguma obrigação.

Constitui um ato pessoal, da exclusiva decisão dos nubentes, indo já distantes os tempos quando os pais decidiam sobre o consorte do filho ou da filha. Para ser válido o casamento, é mister pois, que haja acordo de vontades do homem e da mulher.

Reveste-se o ato de solenidade, com a observância de uma série de requisitos e inscrição no registro civil.

Há de se sobrelevar a finalidade da união sexual, pois o casamento representa, para uma concepção mais tradicional e conservadora, uma possibilidade de expansão do sexo, que torna-se convencionalmente permitido com a forma solene do casamento, segundo a consciência religiosa.

Conforme se observa em Rizzardo43 :

O fim principal do casamento é dignificar as relações sexuais, estabilizando-as numa sociedade única e indissolúvel, ostensivamente aprovada e independentemente dos fins da geração para torná-lo compatível com a eminente dignidade da pessoa humana. Juridicamente, o fim essencial do casamento é a constituição de uma família legítima.

Em vista da mentalidade e da descontração moral que hoje

se manifesta na sociedade, pode-se afirmar que os motivos ou finalidades 43 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. p.26.

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principais do casamento são: o amor que une um homem e uma mulher e a

pretensão de manterem um relacionamento comum na vida.

1.6 REQUISITOS PARA O CASAMENTO

Expõe-se a seguir o processo de habilitação para o

casamento, de acordo com o código civil de 2002, fazendo-se um paralelo com o

código civil de 1916 nos moldes de Borges e Mac Laren44.

Código Civil de 2002 Código Civil de 1916 Art. 1525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos: I – certidão de nascimento ou documento equivalente; II – autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; III – declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimentos que os iniba de casar; IV –declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; V – certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.

Art. 180. A habilitação para casamento faz-se perante o oficial do registro civil, apresentando-se os seguintes documentos: I – certidão de idade ou prova equivalente; II – declaração do estado, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; III – autorização das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra (arts. 183, XI, 188 e 196); IV – declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou estranhos, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento, que os iniba de casar; V – certidão de óbito do cônjuge falecido, da anulação do casamento anterior ou do registro da sentença de divórcio. Parágrafo único. Se algum dos contraentes houver residido a maior parte do último ano em outro Estado, apresentará prova de que o deixou sem impedimento para casar, ou de que cessou o existente.

Assim, demonstrado o paralelo entre os artigos acima,

verifica-se que a única mudança efetiva do teor dos artigos foi a supressão do

parágrafo único que deixou de existir no código de 2002.

44 OLIVEIRA, Álvares Borges de; MAC LAREN, Alexandre. Novo Código Civil: Artigos

comparados código 2002 X código 1916. Florianópolis: Momento Atual. p.18-19.

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1.7 DOS IMPEDIMENTOS PARA O CASAMENTO

O Código Civil Brasileiro45 trouxe em seu artigo 1521, sete

incisos que abarcaram os impedimentos para a realização do casamento. São

estes os que não podem se casar :

I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

II – os afins em linha reta;

III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;

IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

V – o adotado com o filho adotante;

VI – as pessoas casadas;

VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio contra o seu consorte.

No entendimento de Venosa46 esses impedimentos, se

transgredidos, tornam nulo o casamento.

Tendo em vista motivos eugênicos, éticos e morais, o parentesco é um obstáculo para o casamento. A noção intuitiva da restrição dispensa maiores digressões. A extensão dessa restrição para os colaterais varia nas legislações, mas está sempre presente. No tocante aos ascendentes e descendentes de qualquer grau, porém, é uma constante na cultura ocidental.

O impedimento relativo ao parentesco decorre da consangüinidade, da afinidade e da adoção. Nesse primeiro dispositivo, o parentesco em linha reta consangüínea persiste ao

45 BRASIL. Código Civil, Comercial,Processo Civil e Constituição Federal.3.ed. São Paulo:

Saraiva, 2007. 46 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.80.

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infinito, independentemente do grau. Desse modo, atinge permanentemente pais e filhas, avôs e netas, netos e bisnetas etc. que não podem casar-se entre si.

O vínculo da afinidade conta-se a partir do esposo ou

esposa, atingindo os sogros. A pessoa que se casa adquire o parentesco por

afinidade com os parentes do outro cônjuge. A afinidade limita-se ao primeiro

grau, pois afinidade não gera afinidade. Assim, são afins em linha reta o sogro e a

nora, a sogra e o genro, o padrasto e a enteada, a madrasta e o enteado.

Falecendo a filha, a sogra não pode casar-se com o genro. Trata-se de

impedimento que só ocorre na linha reta, não existindo na linha colateral. A

dissolução conjugal extingue a afinidade na linha colateral, de modo que os

cunhados não estão impedidos de se casar. Em linha reta, porém, a afinidade

nunca se extingue.47

O parentesco civil é o decorrente da adoção. O casamento

de pessoas ligadas pela adoção desnaturaria completamente esse vínculo que

equivale à família consangüínea. O parentesco natural, por outro lado, é o

derivado da união sem casamento. 48

O inciso III deve ser examinado em conjunto com o V, que

impede o casamento do adotado com o filho do adotante. Na verdade, no sistema

geral, a proibição já consta do inciso II do dispositivo porque se trata de afinidade

em linha reta. Desse modo a presente dicção mostra-se desnecessária. No

entanto a lei procurou enfatizar essa situação. 49

A lei procura preservar o sentido ético e moral da família,

independentemente da natureza do vínculo. A adoção procura imitar a natureza.

As restrições relativas à adoção devem ser idênticas às da família biológica.

Existente a adoção, existe o impedimento. Não havendo adoção, mas mera

convivência de fato da pessoa, como se filho adotivo fosse, não há impedimento

para o casamento.

47 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 80. 48 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 81. 49 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 82.

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O inciso IV cuida dos impedimentos derivados do parentesco

na linha colateral. As razões que os justificam são as mesmas referentes ao

parentesco em linha reta. Da mesma forma, o ambiente familiar ficaria

desestabilizado com a união de colaterais próximos. Assim estão proibidos os

casamentos entre os consangüíneos (irmão e irmã ), entre afins ( cunhado e

cunhada) enquanto perdurar o cunhadio50.

Quanto ao inciso V, entendia a lei anterior que não havia

impedimento de o adotado casar com filho anterior à adoção, pois nesse caso não

haveria vínculos familiares mais profundos. No entanto, considerada a natureza

da adoção decorrente do Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de

2002 consagrou, a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos

direitos e deveres (art. 41 do ECA).51

A restrição imposta a esse filho adotivo é de igual magnitude

imposta a família biológica. Sua falta de legitimação é mais ampla, porque

também persistem para ele as restrições matrimoniais decorrentes da

consangüinidade por expressa menção desse mesmo artigo 41 do ECA. Nesse

mesmo sentido, dispõe o art. 1626 do Código Civil que “a adoção atribui a

situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e

parentes consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento”.

Conforme inciso VI, enquanto persistir válido o casamento

anterior, persiste o impedimento. Trata-se do casamento monogâmico que

domina a civilização cristã. Desaparecido o vínculo por morte, anulação ou

divórcio, desaparece a proibição. O que a lei impede é o casamento enquanto

perdurar o estado de casado dos nubentes52.

50 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 82. 51 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 82. 52 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 82.

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A separação judicial não libera o impedimento, porque não

extingue o vínculo conjugal, como não o fazia o desquite. Somente com a

conversão em divórcio fará desaparecer o vínculo e o impedimento53.

Quanto ao inciso VII, observa-se que é exigida a

condenação criminal, não bastando o mero processo. A proibição atinge,

evidentemente, tanto o autor intelectual, como o autor material do delito.

O impedimento vigora na hipótese de homicídio doloso; não

se aplicando ao homicídio culposo. Irrelevante também a prescrição do crime ou

reabilitação do condenado: persiste o impedimento em ambas as situações.54

53 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 83. 54 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 83.

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CAPÍTULO 2

DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO

2.1 FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

Os antigos já diziam que a morte põe termo a todas as

relações jurídicas – mors omnia solvit . Até certo ponto é verdade, mas não de

todo, pois que, às vezes, os sucessores do defunto prosseguem nelas ou

suportam as que foram constituídas pelo de cujus. O vínculo matrimonial,

entretanto, termina pela morte e, com ele, obviamente, a sociedade conjugal.

Determina o artigo 1571 (caput) que a sociedade conjugal

termina : I – pela morte de um dos cônjuges; II – pela anulação do casamento; III

– pela separação judicial; IV – pelo divórcio.55

Na ótica de Cahali56, A sociedade conjugal é constituída

com visos de perenidade, como consórcio para toda a vida.

Todavia, em virtude de certos vícios ou defeitos que

antecedem à celebração do matrimônio, ou lhe são concomitantes, ou em virtude

de fatos naturais ou voluntários que lhe sejam posteriores, a sociedade conjugal

encontra o seu término pela impossibilidade de sua manutenção.

Segundo os princípios, é taxativa a enumeração das causas

que fazem terminar a sociedade conjugal.

55PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições do Direito civil. 14. Ed. V.5. Rio de Janeiro:

Forense. 2004.p.249. 56 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. 11. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

2005. p. 58..

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2.1.1 Pela morte de um dos cônjuges

Conforme Cahali57: “A morte de um dos cônjuges faz

terminar a sociedade conjugal, como ainda dissolve o vínculo do matrimônio”.

A falta de coordenação entre a parte geral e a parte especial

do Código induziu o legislador a referir-se à dissolução do casamento apenas na

hipótese de morte presumida em razão de declaração judicial de ausência. É a

hipótese prevista no seu art. 6º, que repete literalmente o art. 10 do código

revogado: “A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,

quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão

definitiva”.

Entende-se assim, que, no sistema ora implantado, a

declaração judicial da ausência de um dos cônjuges produz os efeitos de morte

real do mesmo no sentido de tornar irreversível a dissolução da sociedade

conjugal.; o seu retorno a qualquer tempo em nada interfere no novo casamento

do outro cônjuge, que tem preservada, assim, a sua plena validade.

Interessante a informação de Gonçalves58 de que no direito

Italiano, se tal acontecer e o morto presumido aparecer, o segundo casamento

será declarado nulo, mas putativo. No direito brasileiro, porém, deve ser

considerado dissolvido o primeiro casamento em face da longa separação de fato.

2.1.2 Pela nulidade ou anulação do casamento

Conforme Cahali59, como causas comuns de terminação da

sociedade conjugal, os institutos da nulidade, da separação e do divórcio têm

implicações recíprocas, que merecem ser consideradas.

57 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. 2005. p. 58. 58 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família. p. 64. 59 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e separação. 2005. p. 61.

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Assim, a existência de anterior sentença de separação

judicial ou de divórcio não constitui óbice para a propositura da ação de anulação

do casamento.

A nulidade do casamento, em hipótese alguma, seria

reconhecida sem provocação, de ofício pela autoridade judiciária: somente podia

ser reconhecida na sentença a ser proferida em ação especialmente ajuizada

para este fim. Fora desta, mesmo incidentemente no processo de separação

judicial ou divórcio, não se pronunciava nem a nulidade nem a anulação do

casamento: a regra do art. 222 do anterior CC60. (sem correspondente no

CC/2002) tinha caráter absoluto. Sempre se admitiu, contudo, que o pedido de

separação fosse cumulado com o pedido de anulação de casamento.

Conforme Gonçalves61:

A nulidade ou a anulação do casamento rompem o vínculo matrimonial, extinguindo a sociedade conjugal e permitindo que os cônjuges se casem novamente. Nada impede a cumulação da ação anulatória com a de separação judicial, em ordem sucessiva (CPC, art.289).

Assim sendo, não é necessário antes anular ou rescindir a

sentença de separação judicial ou de divórcio, pois tal sentença não decide sobre

a validade do casamento. O casamento válido somente é dissolvido ( o vínculo)

pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio (CC, art. 1571,§ 1º), pois a

separação judicial mantém o vínculo matrimonial, embora dissolva a sociedade

conjugal.

2.1.3 Pela separação judicial

60 A nulidade do casamento processar-se-á por ação ordinária, na qual será nomeado curador

que o defenda, não mais presente no novo código. 61 GONÇALVES, Carlos Roberto.Direito de Família. p. 65.

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23

A separação judicial na obra de Diniz62, é causa de

dissolução da sociedade conjugal (CC, art.1571,III), não rompendo o vínculo

matrimonial, de maneira que nenhum dos consortes poderá contrair novas

núpcias.

Duas são as espécies de separação judicial: a) a consensual

(CC, art. 1574), ou por mútuo consentimento dos cônjuges casados há mais de

um ano ( prazo de experiência, que será retirado do art.1574, com a aprovação do

Projeto de Lei n. 6960/2002), cujo acordo não precisa ser acompanhado de

motivação, mas para ter eficácia jurídica, requer homologação judicial depois de

ouvido o Ministério Público.

b) A litigiosa (CC,art. 1572), ou não consensual, efetivada

por iniciativa da vontade unilateral de qualquer dos consortes, ante as causas

previstas em lei.

Conforme Angieuski63,

A ação de separação consensual é pessoal e intransferível. Questiona-se na doutrina, se há necessidade de envolvimento do poder judiciário na administração de negócios particulares consensuais, entre pessoas maiores e capazes, o que causa ônus para os interesses e acúmulo de serviços para o poder judiciário.

O projeto de lei 4725/04 que visa à possibilidade de os inventários, partilhas, separações consensuais e divórcios consensuais serem realizados por via administrativa foi acolhida pelo Presidente da República que veio a ser transformado na Lei 11.441 de 4 de Janeiro de 2007, e que alterou alguns dispositivos do CPC. , possibilitando a realização de inventários, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via administrativa” .

62 DINIZ, Maria Helena.Curso de Direito Civil Brasileiro.pp. 260, 261. 63 ANGIEUSKI, Plínio Neves. http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=575

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24

Diz o artigo 1124-A, incluso no Código de Processo Civil, (

Lei Nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973).

Art. 1124-A . A Separação consensual e o divórcio consensual, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento.

§ 1º- A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para o registro civil e o registro de imóveis.

§ 2º- O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estiverem assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

§ 3º- A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei.

Com referência a Separação Litigiosa, ensina Ishida64 :

A Lei do divórcio alterou as regras técnicas acerca dos motivos da separação judicial, anteriormente disciplinadas no Código Civil.. Basicamente colocou como motivos a culpa do outro cônjuge ou outras causas que dispensam a prova da culpa do outro cônjuge

Quanto às causas para a separação com culpa, a Lei do

Divórcio, ao contrário do Código Civil, não mais elencou as hipóteses de modo

taxativo.

Hoje as causas da separação judicial estão elencadas de

modo genérico no art. 5º da Lei de Divórcio, abrangendo: a conduta desonrosa; a

64 ISHIDa, Valter kenji. Direito de Família e sua Interpretação Doutrinária e Jurisprudencial.

São Paulo: Saraiva, 2003. p. 43-44.

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25

grave violação dos deveres do casamento; a ruptura da vida conjugal por mais de

um ano e grave doença mental contraída após o matrimônio.

Faz-se necessária a complementação de Carvalho Neto65,

quando manifesta formas taxativas à separação litigiosa no novo Código Civil:

O Código Civil, embora mantendo, no art. 1572, as causas genéricas do art. 5º da Lei do Divórcio, ajunta-lhe causas taxativas no artigo seguinte, com o defeito ainda de dizer caracterizarem elas a impossibilidade da comunhão de vida:

Diz o art. 1573 do Código Civil que:

Pode caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a ocorrência de algum dos seguintes motivos:

I – adultério;

II – tentativa de morte;

III – sevícia ou injúria grave;

IV – abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;

V – condenação por crime infamante;

VI – conduta desonrosa.

Assim, importante destacar que a separação judicial rompe

a sociedade conjugal e não o vínculo matrimonial.

65 CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e Divórcio:Teoria e Prática à Luz do Novo Código

Civil. 6. ed. Curitiba: Juruá, 2005. p. 136-137.

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2.1.4 Pelo Divórcio

Carvalho Neto66 afirma que o divórcio é a única forma (afora

a morte de um dos cônjuges) de se dissolver um vínculo conjugal válido,

conforme dispõe o § 1º do art. 1571 do Código Civil.

O divórcio também põe termo aos efeitos civis do

matrimônio religioso, nos termos do art. 24 da Lei do Divórcio.

A conseqüência do divórcio é tão somente a cessação

destes efeitos civis do matrimônio religioso, não se imiscuindo na esfera

confessional. O casamento religioso persiste, até porque a lei civil não pode

contradizer a lei religiosa.

O divórcio pode se dar de duas formas: por conversão da

anterior separação judicial ou diretamente, após dois anos de separação de fato.

Ambas as hipóteses são consideradas divórcio-remédio, eis

que não se discute em nenhuma delas culpa de qualquer dos cônjuges.

Com efeito, na primeira (conversão da separação judicial),

basta ao autor provar a existência de separação judicial há mais de um ano; não

se precisa demonstrar qualquer culpa do réu. Na segunda (divórcio direto),

bastam dois anos de separação de fato. Também aqui nenhuma culpa é

perquirida.

2.2 A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO NA DOUTRINA

O termo casamento é mais amplo que o termo sociedade

conjugal. O primeiro regula a vida dos cônjuges, as suas relações e obrigações

recíprocas e deveres com a família e com a prole. Já a sociedade conjugal

consiste num conjunto de direitos e obrigações que sustenta a vida em comum

dos cônjuges. Assim pode haver dissolução da sociedade conjugal, mas a

manutenção do vínculo do casamento implica dizer que o vínculo é maior que a 66 CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e divórcio. p. 287.

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sociedade. Portanto, o termo técnico correto aqui tratado é o de dissolução da

sociedade conjugal.

A morte não só acaba com (dissolve) o casamento, como

extermina o vínculo, passando o cônjuge sobrevivente ao estado de viuvez. O CC

de 2002 não impede o casamento da viúva, mas exige o prazo de dez meses, a

menos que tenha dado à luz algum filho neste período. Com o fim da sociedade

conjugal, a viúva tem o direito de suprimir o apelido do falecido.

Ensina Wald67 a respeito do divórcio direto que a

Constituição Federal de 1988 instituiu o divórcio direto em apenas uma única

hipótese, a da separação de fato por mais de dois anos, o que determinou nova

redação ao caput do art. 40 da Lei n. 6515, de 26-12-1977, que passou a ser a

seguinte; Art. 40. No caso de separação de fato, e desde que completados 2

(dois) anos consecutivos, poderá ser promovida ação de divórcio, na qual deverá

ser comprovado o decurso de tempo de separação.

Revogado, também, o § 1º do mesmo art. 40, outra

exigência não se faz senão o da comprovação do decurso de tempo. Dispensável,

pois, em divórcio litigioso, que o pedido seja fundado em qualquer causa, como se

impunha. Parece óbvio, no entanto, que a separação de fato terá decorrido de um

motivo, de uma causa: alguém por ela será responsável, de sorte que a este se

impõe não só o ônus da sucumbência, como as penalidades referentes aos bens,

aos alimentos, à guarda dos filhos e ao uso do nome. A Lei n. 7841, de 17-10-

1989, que alterou tais dispositivos, deveria ter provido a respeito.

Com referência a conversão da separação judicial em

divórcio, continua Wald68 o autor: O divórcio indireto, que era a regra do nosso

direito, exige um prazo de separação judicial prévia. Esse prazo é de mais de um

ano (§6º do art. 226 da CF), e será contado da data da decisão que decretou a

separação judicial, a medida cautelar correspondente ou, ainda, da data em que,

67 WALD, Arnoldo. O Novo Direito de Família. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.181-182. 68 WALD, Arnoldo. O Novo Direito de Família. p. 184.

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por decisão judicial proferida em qualquer processo, mesmo nos de jurisdição

voluntária, for determinada ou presumida a separação dos cônjuges. Três

dispositivos da Lei n. 6515, de 26-12-1977, cuidam do prazo da conversão: são os

artigos 8º, 25 e 44, reduzido o prazo fixado no segundo para mais de um ano.

O dies a quo para a contagem do prazo poderá ser assim,

aquele em que a mulher, alegando abandono do lar pelo marido, ingressou em

juízo com pedido de alimentos, ou, na hipótese inversa, quando o marido deixa o

lar e oferta alimentos à mulher em juízo69.

Poderá o prazo ser contado da data em que um cônjuge

pediu separação de corpos, como medida cautelar, e obteve medida liminar para

sair do lar ou afastar o outro cônjuge, ou, se a liminar não for concedida, poderá o

prazo ser contado da data da sentença proferida na medida. Se a cautelar caduca

pelo não-exercício da ação principal no prazo legal, entendemos ser vedada a

contagem do prazo a partir da concessão da medida 70.

A conversão da separação judicial em divórcio será feita

mediante pedido de qualquer dos cônjuges, o qual será apensado aos autos da

separação judicial. O pedido de conversão poderá ser amigável ou litigioso. Se

amigável, o juiz determinará a remessa dos autos ao Ministério Público, que

deverá exercer a sua função fiscalizadora; se não houver qualquer impedimento,

o juiz decretará o divórcio sem mais delongas, pois não haverá necessidade de

audiência de conciliação ou de ratificação do pedido.71

Caso o pedido seja feito por um só dos cônjuges, o outro

será citado e poderá contestá-lo, mas não poderá oferecer reconvenção72. A

sentença da conversão da separação em divórcio, que não poderá ser negada,

69 WALD, Arnoldo. O Novo Direito de Família. p. 184. 70 WALD, Arnoldo. O Novo Direito de Família. p. 185. 71 WALD, Arnoldo. O Novo Direito de Família. p. 185. 72 Art. 36 da Lei n. 6515, de 26-12-1977.

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salvo se provada qualquer das hipóteses previstas no parágrafo único do artigo

36 da Lei n.6515/77, conforme Carvalho Neto73 :

O descumprimento das obrigações assumidas pelo requerente na separação é impeditivo para a conversão desta em divórcio. Sua finalidade é impedir que o cônjuge que não cumpre os encargos familiares a que se obrigou constitua nova família.

Rizzardo74, enfoca claramente a distinção entre a dissolução

da sociedade conjugal e a dissolução do vínculo matrimonial:

(...) há a dissolução da sociedade conjugal (art. 1571) e do vínculo conjugal (parágrafo primeiro do art.1571). Na primeira, aparecem quatro causas; na segunda apenas duas.

Realce-se que a declaração da ausência, por força da regra do parágrafo único, também constitui causa de dissolução do vínculo, podendo-se considerar a ausência a partir do ato do juiz que a declara. Este fato acontecerá com a sentença do juiz, após receber o pedido para tanto encaminhado, de se procederem as citações necessárias, e de se levar a efeito a instrução, sempre com o acompanhamento do Ministério Publico em todos os atos.

A sociedade conjugal pode deixar de existir, isto é, o

casamento como manifestação real ou concretização da união entre marido e

mulher pode terminar, permanecendo, todavia, o vínculo. E na ordem do art.

1571, fica dissolvida a união ou sociedade conjugal por um daqueles quatro

fatores – morte de um dos cônjuges, nulidade ou anulação do casamento,

separação judicial e divórcio.

Assim, percebe-se que pode haver dissolução da sociedade

conjugal, sem a dissolução do vínculo matrimonial, mas toda a dissolução

acarreta obrigatoriamente, a da sociedade conjugal”. Daí que a morte e o divórcio,

além de dissolverem o vínculo, dissolvem necessariamente a sociedade conjugal.

73 CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e Divórcio. p. 304-305 74 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. p. 222.

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Cahali75, assim, esclarece detalhes acerca das formas das

dissoluções conjugais:

Assim como a separação judicial, o divórcio é causa terminativa da sociedade conjugal; porém este possui efeito mais amplo, pois, dissolvendo o vínculo matrimonial, abre aos divorciados ensejo a novas núpcias.

Como a nulidade absoluta ou relativa do casamento, o divórcio, além de terminar a sociedade conjugal, provoca o desfazimento do vínculo, o que irá permitir um novo matrimônio. O divórcio, a nulidade ou anulação do casamento só se declaram por sentença, através do chamado processo necessário, e sempre no pressuposto de uma causa legal expressa.

Conquanto de efeitos assemelhados, afirma-se que a sentença anulatória tem eficiência ex tunc à data da celebração, sendo sua causa jurídica, fatos, de regra, anteriores ao casamento ou concomitantes à sua celebração: efeitos pretéritos e futuros do casamento viciado se ressalvam em função da boa-fé unilateral ou recíproca dos cônjuges na figura do casamento putativo, ou mesmo sem ela.

Enquanto o divórcio só dissolve o casamento válido (Lei do

Divórcio. art. 2º, parágrafo único; CC/2002, art.1571, § 1º.), e a sentença que o

decreta tem eficácia ex nunc, só para o futuro, a causa jurídica só pode ser

superveniente à celebração, restando incólumes os efeitos produzidos na vigência

da sociedade conjugal.

Duas são as modalidades de divórcio: Como figura típica, e

que na sistemática originária da Lei do Divórcio qualificava-se como o

procedimento ordinário, tem-se em primeiro lugar o divórcio-conversão: os

cônjuges separados judicialmente há mais de um ano (antes três anos) poderão

requerer a conversão da separação em divórcio.76

75 CAHALI Yussef said. Divórcio e Separação. 2005. p. 955. 76 CAHALI Yussef said. Divórcio e Separação. p. 956.

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A dissolução do casamento é deferida sob o argumento de

que a instituição matrimonial, no caso, está irreversivelmente desfeita ou

totalmente falida ante o pressuposto de não se terem reconciliado nesse período

os cônjuges separados judicialmente.

Busca-se com isso, remediar aquela situação, já que não há

interesse maior do Estado na manutenção do status quo, abrindo-se a

possibilidade de constituir o separado uma nova família legítima pelo casamento.

A segunda modalidade a do divórcio remédio (por alguns

denominados divórcio-falência) não se considera, para ser concedido, as causas

que determinaram a separação judicial; aliás, da sentença não constará a causa

que a determinou (art. 1580, §1º, do Código Civil).

Com características até então excepcionais, tinha-se, em

segundo lugar, a ação direta de divórcio, ou o divórcio direto, com fundamento na

separação de fato havida há mais de cinco anos, mas de início anterior a 28-06-

1977.

Com a Constituição de 1988, o divórcio-remédio fundado na

separação de fato dos cônjuges perde o caráter de excepcionalidade, não mais se

qualificando como extraordinário, e passa a ser ordinariamente possível desde

que comprovada a separação de fato por mais de dois anos, eliminada a restrição

temporal para o início da separação77.

Entende-se à maneira mais simples a explicação de Diniz78:

O divórcio-remédio destinava-se a solucionar situações insustentáveis que

sacrificassem, demasiadamente, um dos cônjuges. O divórcio-falência se dava

quando houvesse ruptura da vida em comum, tornando sua reconstituição

impossível. O divórcio-sanção tinha por escopo aplicar ao consorte que violasse

os deveres conjugais a pena da dissolução do enlace matrimonial.

77 CAHALI Yussef said. Divórcio e Separação. p. 957 78 DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro. p. 295.

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2.3 DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO NA JURISPRUDÊNCIA

2.3.1 Conversão da separação judicial em divórcio

Apresenta Carvalho Neto79, que a conversão da separação

judicial em divórcio pode ser obtida, consensual ou litigiosamente, após um ano

da decisão que homologou a separação consensual ou que julgou procedente a

ação de separação litigiosa.

De imediato deve-se observar que não importa, para a

conversão, de que modo ocorreu a separação judicial, se de forma consensual ou

litigiosa, com ou sem culpa de qualquer dos cônjuges. Poderá a conversão ser

consensual ainda que a separação tenha sido litigiosa, e vice-versa.

Sendo o pedido de conversão realizado por um só dos

cônjuges, o outro será citado e poderá contestá-lo, não podendo oferecer

reconvenção. Assim explica Wald80: Na contestação só poderão ser alegados os

motivos que a lei, taxativamente impõe: falta de decurso do prazo de mais de um

ano de separação judicial ou descumprimento das obrigações assumidas pelo

requerente na separação.

Quanto a este último requisito há forte corrente que entende

não constituir tal inadimplemento óbice à conversão da separação em divórcio.

Isto porque, segundo tal tendência pretoriana:

O inciso II do art. 36 da Lei n. 6515, de 1977, não foi recepcionado “pela nova constituição da República, cujo art. 226, § 6º, impõe, como únicas condições para a decretação do divórcio, o decurso de mais de um ano da separação judicial ou mais de dois anos da separação de fato” ( TJSP, 2ª Câm. Cív., Ap. 163.507-1, rel. Dês. Silveira Paulilo, j. 7-4 1992, RJTJESP 138/103) ( pp.185e 186).

79 CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e Divórcio. p. 291. 80 WALD, Arrnoldo. O Novo Direito de Família. p.185

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Para aqueles que assim propugnam, eventuais obrigações

não cumpridas quando da separação judicial deverão ser demandadas por meio

de medidas judiciais pertinentes:

De modo que prejuízo algum advirá ao interessado. Subordinar-se à decretação do divórcio ao prévio adimplemento significa, sem dúvida, alem de impor condição não constante do texto maior, Constituição da República, obstar o desfazimento do elo conjugal, a quem, licitamente, deseje contrair matrimônio com outra pessoa, o que constitui inobjetável direito da pessoa humana81

As obrigações não cumpridas deverão, portanto, ser

solucionadas em sede própria, não impedindo a decretação do divórcio. Foi como

também decidiu a 5ª Câm.de Direito Privado do TJSP, em acórdão unânime de 8-

8-1997 na Ap. Cív. 50.532-4/3, relator o Dês. Boris Kaauffmann:

.Passa-se ao exame da questão acerca dos alimentos. E, neste passo, eventual descumprimento da obrigação pelo requerente da conversão não impede a dissolução do casamento. É certo que o art. 36, parágrafo único, inc. II, da Lei 6515/77, ao arrolar os únicos fundamentos utilizáveis na resistência, acrescentou o descumprimento das obrigações assumidas pelo requerente na separação. Todavia, a doutrina vem se inclinando ao reconhecimento de não ter sido recepcionada a regra pela atual Constituição, cujo art. 226, §6º, alude apenas ao requisito temporal.

2.3.2 Conversão litigiosa em Divórcio

Nesta senda, busca-se a lição de Cahali82 : Em razão do

caráter personalíssimo da ação de divórcio, somente os cônjuges estarão

legitimados para requerê-lo, conforme, aliás, a disposição expressa no art. 1582

do Código Civil.

81 SÃO PAULO. Tribunal de justiça de São Paulo. 3ª Câm. De Dir. Priv., Ap. 54.914-4, rel. Dês.

Ney Almada, 82 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. p. 982

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Assim, nem mesmo o segundo cônjuge do bígamo tem

legitimidade para pedir a conversão, na vã pretensão de ver convalidado o

segundo casamento (nulo): como também não a tem o concubino ou companheiro

de qualquer dos cônjuges, ao qual nem é dado intervir no processo. 83

E, nesta linha, também não se admite a intervenção dos

filhos do casal no processo de conversão, visando preservar vantagens

patrimoniais que lhes teriam sido concedidas na separação consensual.

2.3.3 Ação direta de divórcio

É obvio que quem pede o divórcio direto, quer passar do

estado de casado para o estado de divorciado, ao passo que a conversão da

separação judicial em divórcio mantém o interessado sob a eficácia residual da

sentença anterior que decretou a separação.

Com o divórcio direto deixa definitivamente de representar

uma forma excepcional ou extraordinária de dissolução do casamento, sendo

colocado, ao lado da conversão, como forma alternativa, que “poderá ser

requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada separação

de fato por mais de dois anos”84 .

Divórcio Direto- Ação proposta pela esposa- Cônjuges, desde longa data, não coabitam sob o mesmo teto – Esporádicas visitas do marido ao lar conjugal, onde também permanecem seus filhos, sem o propósito, contudo, de restabelecimento da vida em comum – Circunstância que não descaracteriza a separação do fato hábil, pelo decurso do tempo, para a concessão do divórcio direto”85

Assim, observa-se que a jurisprudência tem enfatizado que,

na vigência da atual Constituição, é pressuposto bastante de dissolução do

83 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. p. 983. 84 Art. 1580, §2º do Código Civil. 85 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Ap.Cível 74.081-4, 4-3-98, Rel. Yussef Cahali.

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casamento a separação de fato do casal por mais de dois anos, descabendo

qualquer indagação sobre culpa.

2.3.4 A reconvenção na ação do divórcio direto

Embora a causa direta do divórcio seja, em muitos casos a

própria falência do casamento, demonstrada pelo decurso do tempo de separação

de fato, não há como impedir-se, em face das conseqüências jurídicas, que a

parte contrária demonstre também que tal falência teve origem em violação dos

deveres do casamento, que tornou insuportável a vida em comum, praticada pelo

outro cônjuge86 .

Afirmou a 6ª Câmara do Tribunal de Justiça de são Paulo

que:

O decreto do divórcio direto, por si só, independe da causa da separação. Não exige qualquer outro fundamento, além da separação fática por mais de dois anos. Resulta daí que a ação proposta pelo varão se mostra procedente. Quanto à reconvenção, tem-se que perfeitamente cabível na espécie, inclusive porque a ação tratada segue o rito ordinário, inexistindo impedimento legal a respeito. E se, em tese, o reconvinte postula apenas o divórcio, sua pretensão, demonstrado o decurso do lapso de lei, também deve ser acolhida. Pode parecer estranho que ação e reconvenção tenham a mesma finalidade. Mas, na realidade, não é bem assim, desde que presente oposição o tocante à verba sucumbencial. De fato, se o acionado deixa de reconvir, acaba responsabilizado pela derrota, como em qualquer feito (art. 20 de CPC). Com a reconvenção, entretanto, essa responsabilidade é neutralizada. Mas o pleito reconvencional é de maior amplitude. Quer a reconvinte alimentos, além do mais. E é aí que entra o exame da culpa pela separação, bem como do binômio possibilidade-necessidade. 87

86 CAHALI, Yussef Said.Divórcio e Separação. p. 1030 87 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 6ª Câmara do TJSP, Agr. Instr.

148.869-1.

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Como o réu pode reconvir ao autor no mesmo processo,

toda vez que a reconvenção seja conexa com a ação principal ou com

fundamento da defesa (art. 315 do CPC). Afirma Cahali88, que faltaria legítimo

interesse ao demandado para reconvir, no caso, na medida em que a

reconvenção implicaria autêntico reconhecimento do fato fundante do pedido

inicial.

A atual redação do art. 40 da Lei do Divórcio não impede que se

discuta, a exemplo do que ocorria anteriormente, as causas do rompimento do

casamento, para que possam ser defendidos seus efeitos.

2.3.5 Direito de usar ou não o nome do cônjuge divorciado

Segundo Venosa89: O código, no afã de equilibrar os direitos

do homem e da mulher, permite que qualquer dos cônjuges acrescente ao seu o

sobrenome do outro cônjuge (art.1565, §1º), embora dificilmente ocorra que o

homem assuma o nome da esposa, por nosso costume.

Hoje há que se falar em questões relativas ao nome dos

cônjuges casados ou divorciados e não unicamente em nome da mulher casada

ou divorciada. No mais, foram mantidos no código, em princípio, as mesmas

situações do direito anterior com relação ao nome dos separados e divorciados.

Assim dispõe o art.1578:

O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar:

I- evidente prejuízo para a sua identificação;

II- manifesta distinção entre o seu nome de família a o dos filhos havidos da união dissolvida;

88 CAHALI, Yussef Said.Divórcio e Separação. p.1031. 89 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. p. 214 .

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III- dano grave reconhecido na decisão judicial.

§ 1º O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro.

§ 2º Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado.

A jurisprudência tem assim se manifestado:

Conversão de separação judicial em divórcio. Nome de mulher. Após quarenta anos de casamento, a supressão do patronímico do ex-marido causará prejuízo à identificação da recorrente em relação a dois de seus filhos (art.25 da Lei n. 6515/77). Ausência de dissenso entre as partes nesse ponto. Permanência do nome de casada. Apelação provida. Sentença reformada90.

Conversão de separação judicial consensual – Conservação do nome de casada- possibilidade- Consentimento do marido- inteligência do parágrafo único do art. 25 da Lei n. 6515/77, com a redação da Lei n.8408/92 – Direito incorporado ao seu patrimônio jurídico – Interesse da prole – Recurso provido91.

Nome da mulher. Não concorrendo motivo que se enquadre nas exceções da lei, quando da conversão da separação judicial em divórcio, a mulher obrigatoriamente volta a usar o nome que tinha antes de contrair o matrimônio. Inteligência do art. 25 da Lei n. 6515/77. Recurso conhecido e provido. 92

Como pode ser observado nas jurisprudências acima

elencadas, os tribunais estão decidindo em conformidade com a inteligência da

lei, isto é, respeitando a individualidade do caso e a qualidade da pessoa

envolvida.

90 BRASÍLIA. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ap. cível 4361597, 26-5-97, Rel. Campos

Amaral 91 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Ap. Civil 21.301-4, 20-12-96, Rel. Cunha Cintra. 92 BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. STJ – Resp. 146549/ GO, 2198.

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CAPÍTULO 3

DO DIVÓRCIO COMO CONSEQUÊNCIA DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO

3.1 HITÓRICO DO DIVÓRCIO

O divórcio acompanha a história da república no Brasil.

conforme Carvalho Neto93, em 1890 o Decreto 181, de 24 de janeiro de 1890,

chamado de Lei do Matrimônio já tratava do divórcio. Nos artigos 80 a 92 cuidou o

Decreto do que chamou de divórcio, que, no entanto, não se identifica com o que

hoje conhecemos por divórcio, já que dispôs, em seu art. 88, que “o divórcio não

dissolve o vínculo conjugal”.

O art. 82 cuidava dos motivos para o divórcio, juntando as

causas de divórcio litigioso (adultério, sevícia ou injúria grave, abandono

voluntário do domicílio conjugal) ao divórcio por mútuo consentimento .

O Decreto tratava da reconciliação no art. 89, permitindo-a a

qualquer tempo. O regime de bens, entretanto, não voltava a vigorar; cada

cônjuge poderia administrar e alienar seus bens anteriormente partilhados sem

dependência de outorga do outro.

Para Pereira94, a indissolubilidade do casamento, não era a

regra, ao contrário, os povos primitivos cultivaram a noção do vínculo conjugal

suscetível de rompimento, salvo algumas poucas exceções.

O Cristianismo combateu-o, embora se mostrasse nos

primeiros tempos pouco seguro, tendo em vista passagens parcialmente

93 CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e Divórcio. p. 552 94 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2006. p. 275-277.

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divergentes dos evangelhos, São Mateus (cap. V, versículo 32, e XIX, versículo 9)

admite-o por adultério, ao passo que São Marcos (cap. X, versículo 2) e São

Lucas (cap. XVI, versículo 18) condenam-no de modo absoluto. São Paulo,

impressionado talvez pela sua freqüência na sociedade romana, que ele

conhecia, revelou-se contrário (Epístola aos Coríntios, VII, versículo 10)

No Concílio de Trento (1545 a 1553), a doutrina da Igreja se

consolidou, repelindo-o em definitivo, e proclamando que o matrimônio é um

sacramento com caráter de indissolubilidade. O que se permite em face da Igreja

Católica é a separação de corpos, denominada divortium quo ad thorum et

habitationem, que deixa intacto o vínculo matrimonial.

No período do Império, prevalecia, em matéria de

casamento, a doutrina da Igreja, segundo os Cânones do Concílio Trentino e a

Constituição Primeira do Arcebispado da Bahia. O casamento era indissolúvel.

Com o nome de Divórcio, os civilistas designavam a separação de corpos, que

era a do direito canônico, abolidas, contudo as causas peculiares ao direito da

igreja.

Proclamada a República, o Decreto nº 181, de 24 de janeiro

de 1890, instituindo o casamento civil, manteve o critério da indissolubilidade, que

sobreviveu como política legislativa na Primeira República .

Receoso o legislador de que o Divórcio viesse a surgir de

voto de maioria eventual no Congresso, fez inserir na Constituição de 1934 o

princípio da indissolubilidade que constou das reformas constitucionais de 1937,

1946, 1967 e da Emenda Constitucional nº. 1, de 1969.

Conforme Pereira95, desta forma, o Brasil inscreveu-se entre

os países antidivorcistas, com a particularidade, porém, de proclamar a

indissolubilidade do casamento como preceito constitucional.

A luta pelo Divórcio no Brasil foi longa e tenaz. Autores e

Parlamentares divorcistas, salientando-se entre estes últimos o Senador Nelson

95 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições do Direito Civil. p. 277-280.

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Carneiro, durante três décadas apresentaram projetos de leis neste sentido,

sempre vencidos pela resistência de opositores sistemáticos, apoiados fortemente

pela Igreja Católica, num combate persistente.

Com a aprovação da Emenda Constitucional nº 9, de 28 de

julho de 1977, foi aberta a porta do divórcio, ao ser alterado o parágrafo 1º, do art.

175, franqueando a dissolução do matrimônio nos casos previstos em lei.

A lei nº. 6515, de 26 de dezembro de 1977, em seguida à

emenda constitucional nº. 9, de 28 de junho de 1977, representou um marco

importante no Direito de Família (...) procurando, solucionar problemas a que a

vida conjugal dá nascimento, e que o excessivo amor à traição impedia de

resolver.

Com efeito, nota-se que a busca dos divorcistas em dar

consistência à dissolubilidade ao vínculo matrimonial, fica mais bem entendido na

explicação de Dias 96:

As uniões extra matrimoniais não eram reconhecidas, e as raras referências legais limitavam-se a negar a essas uniões a possibilidade de lhes ser concedido qualquer benefício. Tais restrições, porém, não impediam que pessoas, mesmo desquitadas ou somente separadas de fato, constituíssem novos vínculos afetivos, os quais passaram a ser chamados de concubinato.

A necessidade de solver os conflitos decorrentes dessas

uniões levou a justiça a reconhecer sua existência e a atribuir-lhes alguns direitos.

Com isso, acabou a jurisprudência abrindo as portas para a instituição do divórcio.

Ainda assim, forte foi a resistência dos segmentos mais

conservadores. Como a indissolubilidade do casamento era consagrada na

Constituição, houve a necessidade de emendá-la. Para isso foi preciso inclusive

mudar o quorum de dois terços dos votos para maioria simples. Só assim foi

possível introduzir a dissolubilidade do vínculo matrimonial no País (EC. 9/1977)

96 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2006. p..253-254.

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Para a aprovação da Lei do Divórcio (L. 6515/1977), não

houve a possibilidade de simplesmente acabar com o desquite. Ocorreu somente

uma singela alteração terminológica. O que o Código Civil chamava de desquite

(ou seja, não “quites”, alguém em débito para com a sociedade) a Lei do Divórcio

determinou de separação, com idênticas características: rompe mas não dissolve

o casamento.

Com o advento do divórcio, surgiram duas modalidades de

“descasamento”. Primeiro, as pessoas precisavam se separar. Só depois é que

podiam converter a separação em divórcio. A dissolução do vínculo conjugal era

autorizada uma única vez (LD 38). O divórcio direto era possível exclusivamente

em caráter emergencial, tanto que previsto nas disposições finais e transitórias

(LD 40)

Era necessário o atendimento cumulativo de três

pressupostos: a) – estarem as partes separadas de fato há cinco anos; b) – ter

esse prazo sido implementado (cumprido) antes da alteração constitucional

(28/06/1977); e, c) – comprovar a causa da separação.

A jurisprudência passou a emprestar interpretação mais

extensiva a esse dispositivo legal. Os avanços acabaram levando a Constituição

de 1988 a institucionalizar o divórcio direto, perdendo o caráter de

excepcionalidade. Houve a redução do prazo de separação para dois anos e foi

afastada a necessidade de identificação de uma causa para a sua concessão (CF

226 § 6º).

Conforme Tucci97: “Após luta também ingente, em que

pontificaram por mais de vinte e cinco anos, a tenacidade e a perseverança do

sen. Nélson Carneiro, contempla o novel instituto,(...) a dissolubilidade do

casamento, pelo divórcio”.

O texto da Emenda Constitucional n. 9 de 28 de junho de

1977 é a seguinte:

97 TUCCI, Rogério Lauria. Da Ação de Divórcio.São Paulo: Saraiva, 1978. p. 83

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Dá nova redação ao § 1º do art. 175 da Constituição

Federal.

As mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do art. 49 da Constituição Federal, promulgam a seguinte emenda ao texto Constitucional:

Art. 1º O § 1º do art. 175 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 175...................................................................................

§ 1º O casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos”,

Art. 2º A separação, de que trata a § 1º do art. 175 da Constituição, poderá ser de fato, devidamente comprovada em juízo, e pelo prazo de cinco anos, se for anterior à data desta emenda.

Conforme Tucci98 “Longa e espinhosa foi a luta pelo divórcio.

Mas ela teria sido ainda mais demorada e difícil se os juízes não houvessem

aberto roteiros nas trevas da indissolubilidade”.

Destarte, fazer-se corolário à regulamentação de uma

conquista tão árdua como foi a luta pelo divórcio, ratifica Tucci99, o projeto de lei

nº 156 à Lei nº 6515/77, de autoria dos Senadores Nélson Carneiro e Accioli

Filho, e por eles subscrito em 25 de agosto onde se destacaram superiores aos

demais projetos, anteriormente apresentados pelos congressistas, quando em

buscas da regulamentação da então EC. Nº 9. (...) e foi, por isso mesmo, tido

como padrão da regulamentação do instituto do divórcio.

98 TUCCI, Rogério Lauria. Da Ação de Divórcio. p. 97. 99 TUCCI, Rogério Lauria. Da Ação de Divórcio. p. 88-89.

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3.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DO DIVÓRCIO

Considerando ser o divórcio, um instituto que segue lado a

lado a tão vetusta instituição do casamento, ou não tão contemporâneo, mas, a

união entre homem e mulher desde os primórdios, e, sendo esta categoria o alvo

deste trabalho acadêmico, far-se-á abaixo algumas considerações na visão de

determinados autores.

Etimologicamente, o termo divórcio deriva do latim

divortium,, de divertere ou divortere (separar-se, apartar-se) e é empregado na

técnica jurídica para indicar um dos processos, por que se dissolve o casamento,

com a ruptura de todos os laços que se haviam formado por ele.

Guimarães100 preleciona que, divórcio é a dissolução

completa da sociedade conjugal, desfazimento absoluto do vínculo jurídico do

matrimônio, ficando os cônjuges, após sua homologação e registro, aptos a

contrair novas núpcias.

No mesmo sentido, assevera Veiga101, que o divórcio é o

rompimento absoluto de vínculo matrimonial e da sociedade extinta, cessando a

eficácia do casamento válido, para habilitar de novo os cônjuges a convolarem

novas núpcias. Em sentido amplo, é a liberdade dada às partes para o casamento

novo.

Para Pontes Miranda102 a palavra divórcio distingue-se em

dois sentidos: No sentido Romano, Divórcio é a dissolução do vínculo

matrimonial, com a conseqüente habilitação dos cônjuges para contrair novas

núpcias; no sentido Canônico, simples separação de corpos, substituindo o

vínculo matrimonial. Neste último sentido, equivale à expressão desquite, peculiar

ao direito brasileiro. 100 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. p. 268 101 VEIGA, Manoel Messias. Do Divórcio e sua Prática Forense. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense,

1983. p.2. 102 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Fontes de. Tratado de Direito Privado. 4. ed. São Paulo:

Revista do Tribunais, 1974. v.9. p. 45

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Na acepção de Cahali103, enquanto a separação judicial é

apenas o estado de dois cônjuges que são dispensados pela justiça dos deveres

de coabitação e fidelidade recíproca (art.3º da Lei 6515/77)(...) pois apenas relaxa

as obrigações do matrimônio, liberando os cônjuges de certos deveres que dele

resultam; mas sem provocar o rompimento do vínculo conjugal, não lhes

possibilitando um novo casamento, o divórcio é tido como ruptura de um

matrimônio válido em vida dos cônjuges, pondo termo ao casamento e aos efeitos

civis do matrimônio religioso (art. 24 da Lei 6515/77), ensejando àqueles a

convolação de novas núpcias.

Visto que, por mais que se defina o conceito da categoria

divórcio, buscando nos autores distinções em suas definições, todas levam a um

só consenso, e, é neste sentido que se busca a perfeição a uma vida melhor,

somando-se ao gênero divórcio, as suas espécies. De acordo com Diniz104, no

ordenamento brasileiro tem-se:

1) divórcio indireto, que pode ser:

a) Consensual, se mediante pedido de conversão da prévia separação judicial consensual ou litigiosa em divórcio, feito por ambos ou por qualquer um dos consortes com o consenso do outro(CF/88. art. 226, § 6º; Lei n. 6515/77, arts. 35, 36, I e II, e 47; Portaria 2/91 do Poder Judiciário de São Paulo; Lei n. 8408/92, art. 1º. etc) desde que tenha decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que a homologou ou decretou ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos

b) Litigioso, se obtido mediante uma sentença judicial proferida em processo de jurisdição contenciosa, onde um dos consortes, judicialmente separados há um ano, havendo dissenso ou recusa do outro em consentir o divórcio, pede ao juiz que converta a separação judicial (consensual ou litigiosa) em divórcio, pondo fim ao matrimônio (Lei n. 6515/77, arts. 31,32,35,47 e 48; Lei n. 7841/89, art. 2º, etc.). A conversão da separação judicial em

103 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

1994. t. 1. p.55 104 DINIZ, Maria Helena.Código Civil Anotado. 11. ed. São Paulo: Saraiva,2005. p. 1286-1287.

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divórcio será decretada por sentença, da qual não constará referência à causa que a determinou.

2)Divórcio direto, que resulta de um estado de fato, autorizando a conversão direta da separação de fato por mais de dois anos consecutivos, desde que comprovada, em divórcio, sem que haja prévia partilha de bens (CC. Art. 1581) e separação judicial, havendo pedido de um (litigioso) ou de ambos os consortes (consensual) (CF/88, art. 226 §6º; Lei n. 6515/77, art.40 e §§, alterados pela Lei n. 7841/89, art. 2º e 3º, etc.).

Admite-se o divórcio direto tanto consensual quanto litigioso, uma vez que o Código Civil estabelece nos arts. 1571, § 2º, 1579, 1581,1584 e 1586, diretrizes e critérios não fundados na culpabilidade das partes para solucionar questões na ausência de acordo sobre partilha, guarda de filhos, direito de visitas, etc.

A Ação Direta de Divórcio nos idos dos anos 77, quando da

promulgação da EC.n.9/77 e da Lei 6515/77, era excepcional.

Conforme Carvalho Neto105: a ação direta de divórcio,

também denominada conversão da separação de fato em divórcio, era tratada na

Lei 6515/77, originariamente, no Capítulo das disposições finais e transitórias:

Art. 40. No caso de separação de fato, com início anterior a 28/06/77, e desde que completados 5 (cinco) anos, poderá ser promovida ação de divórcio, na qual se deverão provar o decurso do tempo da separação e a sua causa.

§ 1º. O divórcio, com base neste artigo, só poderá ser fundado nas mesmas causas previstas nos artigos 4º e 5º e seus §§...

Isto porque era ela excepcional, já que só ocorria se

houvesse separação de fato há mais de cinco anos, iniciada antes da

promulgação da EC. 9/77

105 CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e Divórcio. p. 315-316.

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A regra é o divórcio ser precedido de sentença proferida na

separação judicial ou consensual; a exceção, era a sua concessão direta.

Muito se discutiu quanto à constitucionalidade do art. 40 da Lei do Divórcio, que apenas exigiu que a separação de fato tivesse início anterior a 28/06/77.

A discussão se dava em razão de que o art. 2º da EC 9/77 parecia estabelecer que os cinco anos de separação de fato teriam que se completar (e não apenas ter início) até aquela data. Acabou, no entanto, vitoriosa a tese da constitucionalidade do citado dispositivo (...).

Art. 2º da EC. 9/77- A separação de que trata o § 1º do art. 175 da Constituição poderá ser de fato, devidamente comprovada em juízo, e pelo prazo de 5 (cinco) anos, se for anterior à data desta Emenda” (referência à Constituição Federal de 1969).106

Com o advento da Constituição Federal de 1988 alterou-se

esta situação. O que era excepcional passou a ser ordinário, já que o art. 226,

§6º, previu a possibilidade do divórcio direto após dois anos de separação de fato,

independentemente da data desta. Deixou, portanto, a ação direta de divórcio de

ser excepcional.

Outro aspecto de relevante interesse social é o que faz o

divórcio acerca da prole. Deste assunto, explica Dias107: O fim dos vínculos

afetivos com prole é o principal gerador de Monoparentalidade. Quando da

separação dos pais, normalmente os filhos ficam sob a guarda de um dos

genitores. Na grande maioria das vezes, na companhia da mãe. Ao pai, de forma

confortável, é deferido singelo direito de visita, direito que exerce a seu bel-prazer,

sem maior comprometimento com a criação e desenvolvimento do filho.

De modo geral, ocorre uma transitoriedade entre duas

situações. Num primeiro momento, há família biparental constituída. A separação 106 CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e Divórcio. p. 316 107 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2006. p. 184.

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gera uma família monoparental, por exemplo, a mãe fica com o filho. Num terceiro

momento, essa mãe constitui nova família biparental, ou por um segundo

casamento, ou através de união estável.108

Com a nova união, forma-se a chamada família

reconstituída, infeliz expressão para nominar novo vínculo afetivo. Mas essa

estrutura familiar, ainda que formada por um casal e o filho de um deles, persiste

sendo uma família monoparental. O poder familiar permanece com os pais. Nem

o casamento, nem a constituição de união estável do genitor que está com a

guarda geram qualquer vínculo do filho com o novo cônjuge ou companheiro.

Modo expresso, o poder familiar é exercido sem qualquer interferência do cônjuge

ou companheiro (CC. 1636).

Ainda com referência à proteção dos filhos, ensina

Gonçalves109

O Código Civil não regulamenta a questão da guarda dos filhos nas separações de fato, mas a jurisprudência formada com base na Lei do Divórcio utilizava o critério de art. 13, correspondente ao art. 1586 do novo Código, para solucioná-la em ações de busca e apreensão entre pais separados apenas de fato.

Como nenhum tem mais direito do que o outro, pois o poder

familiar pertence a ambos, a tendência é manter o status quo, deixando-se os

filhos com quem se encontram até que, no procedimento da separação judicial, o

juiz resolva definitivamente a situação, decidindo em favor do que revelar

melhores condições para exercer a guarda.

O juiz só estará autorizado a alterar o Status quo, na

cautelar de busca e apreensão, a bem dos filhos e se o autor comprovar a

existência de motivos graves.

108 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 184 109 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p.

266.

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Também, considera Gonçalves110, mister se faz recordar a

aplicabilidade da Lei n. 11.441/2007, quanto ao procedimento administrativo

quando inexistirem filhos menores ou incapazes do casal, o qual foi inserido no

Código de Processo Civil, representados pelo artigo 1124-A.

Em princípio, pois, a existência de filhos menores ou

incapazes impede a dissolução do casamento mediante escritura pública,

devendo ser observado o procedimento judicial, mais demorado. . Por isso os

interessados no procedimento mais célere devem fazer prova, perante o tabelião,

com a certidão de casamento e as certidões de nascimento dos filhos, de que

estes são maiores ou emancipados.111

Caso o pacto não versar sobre eventuais direitos dos filhos,

que são indisponíveis, o casal poderá deliberar a separação ou o divórcio por

meio de escritura pública. Assim fraciona-se a dissolução do casamento. Em sede

administrativa, por meio de escritura pública, serão ajustados os interesses

recíprocos de caráter disponível do casal, como a partilha de bens e o uso do

nome, extinguindo-se a união conjugal.. E, na via judicial, serão resolvidas as

questões atinentes à guarda e visita dos filhos incapazes, bem como os alimentos

a eles devidos, além de outras eventuais divergências.

3.3 O DIVÓRCIO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Buscando uma maior elucidação das controvertidas análises

referentes às disposições inseridas na Lei 6515/77 em confronto com as

apresentadas pela constituição da República federativa do Brasil de 1988,

destaca Cahali112 :

Uma radical e sistemática recusa à conversão da separação judicial em divórcio no pressuposto de descumprimento das obrigações pelo requerente se desvanece agora quando se tem

110 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 205. 111 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 206. 112 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. p. 998.

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em conta que uma jurisprudência mais atualizada vinha se firmando no sentido de que aquela disposição não teria sido recepcionada pela nova ordem constitucional, afirmando-se que, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a regra contida no inc. II do parágrafo único do art. 36 da Lei 6515/77 perdeu a eficácia.

Realmente, bem examinado o seu teor, podemos dizer que

aquela disposição equivale à seguinte:

O casamento civil não pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, se o requerente da conversão judicial em divórcio tiver descumprido obrigações assumidas na separação. 113

Ora, essa norma é incompatível com a constante do § 6º do

art. 226 da CF, segundo o qual o casamento civil pode ser dissolvido pelo

divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos

em lei. Observe-se que o conjunto vocabular nos casos expressos em lei não

aparece vinculado à dissolução do casamento pelo divórcio, mas à separação

judicial: Sem qualquer vírgula disse a Carta Magna, “após prévia separação

judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei”.

Assim sendo, a Constituição se contenta com o decurso do

tempo para autorizar a conversão da separação judicial em divórcio. Mas a lei

ordinária, indo além, exige, também, o cumprimento das obrigações assumidas na

separação.

Dá-se relevo a interpretação do inciso II do art. 36 da Lei

6515/77, na obra de Nogueira114, que expressa da seguinte forma: “O

cumprimento da obrigação alimentar deve ser requisito indispensável para o

deferimento da conversão, ainda que as partes se componham, porquanto tal

obrigação subsiste com o divórcio”.

113 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. p. 999. 114 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Lei do Divórcio Comentada. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p.

64.

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Para Cahali115 :

A interpretação literal do texto legal não é menos frágil e menos proveitosa do que uma aventurada interpretação segundo a mens

legislatoris, a pretender-se que o legislador constituinte em nenhum momento teria desejado favorecer o devedor-inadimplente das obrigações assumidas ou impostas na separação consensual.

Com efeito, ninguém afirma que, admitida a derrogação do

questionado dispositivo, estarão extintas as obrigações assumidas ou impostas

ao cônjuge que pretende a conversão da separação judicial em divórcio – antes,

pelo contrário, permanecendo incólumes aquelas obrigações, a sua exigibilidade

é sempre ressalvadas pela vias regulares.

Os eventuais percalços de um processo judicial a que se

encontre submetido o cônjuge contra o qual foi requerida a conversão, para haver

do cônjuge inadimplente aquilo que lhe havia sido atribuído quando da separação

judicial, serão sempre os mesmos, com ou sem conversão. 116

Conforme o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução ao Código

Civil, a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando

seja com ela incompatível ou quando regular inteiramente a matéria de que

tratava a lei anterior.

Certamente haverá aqueles que, ao contrário e com

melhores argumentos, identificarão no art. 36, parágrafo único, II, da Lei do

Divórcio uma disposição de natureza processual , como pressuposto de

constituição e desenvolvimento válido e regular do processo; ou uma das

condições da ação, cuja ausência determinaria a extinção do processo, nos

termos do art. 267, incisos IV e VI, do CPC, e nesta circunstância estariam

compreendidas na ressalva do art. 2043 do Código Civil.

115 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. p. 1003-1004. 116 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. p. 1001.

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3.4 MOTIVOS ENSEJADORES DO DIVÓRCIO NO CÓDIGO CIVIL

3.4.1 Espécies

O divórcio, instituto indispensável na vida moderna,

consagrado na legislação brasileira há mais de 30 anos, e recentemente pelo

Código Civil, nos artigos 1571 a 1582, será tratado de forma individualizada

conforme Gonçalves117.

3.4.1.1 Separação Sanção

Preceitua o art. 1572, caput, do Código Civil, que “Qualquer

dos cônjuges poderá propor ação de separação judicial, imputando ao outro

qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne

insuportável a vida em comum”. Trata-se de separação-sanção, que pode ser

pedida a qualquer tempo após a realização do casamento.

A hipótese prevista no art. 1572, caput, é chamada de

separação-sanção porque um dos cônjuges atribui culpa ao outro ( na modalidade

de grave infração dos deveres conjugais), aplicando-se sanções ao culpado.

Estas são: perda do direito a alimentos, exceto os indispensáveis à sobrevivência

(CC. Arts.1694, § 2º, e 1704, parágrafo único) e perda do direito de conservar o

sobrenome do outro ( art.1578). Como é a única hipótese em que se discute a

culpa, é também a única que admite reconvenção. Neste caso, pode a separação

ser decretada por culpa de um só dos cônjuges ou de ambos. Se ambos forem

culpados, nenhum deles fará jus à verba alimentícia, exceto se necessária à

subsistência.

Para que a separação judicial seja decretada por culpa de

ambos os cônjuges, faz-se necessário que o réu ofereça reconvenção ou, tendo

proposto demanda autônoma, ocorra a unificação dos processos pela

conexidade. Em princípio, como observa Gonçalves118, se o réu apenas contestou

117 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p.211 118 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 212

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52

a ação mas não reconveio, só ele poderá ser considerado cônjuge culpado ou

responsável pela separação judicial decretada.

3.4.1.2 Separação – falência

Prossegue Gonçalves119, Aduz o § 1º que “A separação

judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar ruptura da vida em

comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição”. Esta

modalidade é denominada separação-falência.

3.4.1.3 Separação-remédio

Dispõe o §2º que “ O cônjuge pode ainda pedir a separação

judicial quando o outro estiver acometido de doença mental grave, manifestada

após o casamento, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde

que, após uma duração de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de

cura improvável”. A situação é de separação-remédio. A enumeração é taxativa,

não podendo ser estendida a outras situações.

3.4.2 Infrações quanto aos deveres do casamento

3.4.2.1 Adultério

No descrever de Gonçalves120 O primeiro dever cuja

violação constitui causa de separação litigiosa, de acordo com o Código Civil, é o

de fidelidade recíproca (art. 1566). A sua infração caracteriza o adultério, que é

difícil de provar, porque resulta da conjunção carnal entre duas pessoas de sexo

diferente, praticado em geral às escondidas.

Constitui esta a mais grave das faltas, não só por

representar ofensa moral ao consorte, mas também por infringir o regime

monogâmico e colocar em risco a legitimidade dos filhos.

119 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 211. 120 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. pp. 215-216.

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Para haver adultério não é necessária a repetição de fatos

da mesma natureza; basta um só caso. Supõe tal infração, contudo, a presença

de dois elementos essenciais: um puramente material: a cópula; outro, consciente

e intencional: a vontade de faltar ao dever de fidelidade121.

Faltando um desses elementos não haverá adultério. Assim,

não é adúltera uma mulher casada que foi forçada a manter relações sexuais,

mediante violência física ou grave ameaça ou ainda mediante o emprego de

substâncias que lhe retiraram a capacidade de discernimento.

3.4.2.2 Abandono voluntário do lar conjugal

De acordo com Gonçalves122 o segundo dever, de vida em

comum no domicílio conjugal, quando desrespeitado, caracteriza o abandono

voluntário do lar conjugal. O dever de coabitação obriga os cônjuges, com efeito,

a viver sob o mesmo teto e a ter uma comunhão de vidas. Para que o abandono

do lar conjugal possa fundamentar a separação judicial exige-se:

a) saída do domicílio conjugal; b) voluntariedade do ato; c) ausência de consentimento do outro cônjuge; d) intenção de não retornar à vida comum; e) decurso do prazo mínimo de um ano, requisito este que pode ser dispensado se manifestado, de modo inequívoco, desde logo, o intuito de romper a vida conjugal, ou se acompanhado de grave ofensa ao consorte.

A obrigação não deve ser encarada como absoluta, pois

uma impossibilidade física ou mesmo moral pode justificar o seu não-

cumprimento. Assim, um dos cônjuges pode ter necessidade de se ausentar do

lar por longos períodos em razão de sua profissão, ou mesmo de doença, sem

que isso signifique quebra do dever de vida em comum.

Por essa razão, diz o art. 1569 do Código Civil que “o

domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro podem

ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício

de sua profissão ou a interesses particulares relevantes”. Só a ausência do lar 121 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 219 122 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 218-219.

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conjugal durante um ano contínuo, sem essas finalidades, caracteriza o abandono

voluntário, como dispõe o art. 1573, IV..

3.4.2.3 Sevícia ou injúria grave

Dispõe Gonçalves123 que a infração ao terceiro dever, o de

mútua assistência, pode caracterizar a sevícia e a injúria grave. Constitui infração

ao dever de respeito à integridade física do outro cônjuge, com negação do dever

de mútua assistência.

Constituem por outro lado, injúrias graves, não só as

palavras ultrajantes, ofensivas da honra, reputação e dignidade do cônjuge, mas

também, toda a violação dos deveres conjugais. As injúrias podem ser verbais,

faladas ou escritas, ou reais, por atos ou fatos em si mesmo injuriosos. 124

Tanto as sevícias como as injúrias têm dois elementos: um

material e outro intencional. Uma ferida involuntária não é sevícia. Não são

sevicia ou injúrias as que sejam causadas por um alienado ou ébrio. Não podem

considerar-se injúrias palavras ásperas, ditas num momento de rápida exaltação,

sem intenção de injuriar. Não são injúrias os palavrões, usualmente proferidos,

até em trivial conversa, por peixeiras e carroceiros.

A igualdade dos cônjuges no casamento, assegurada em

nível constitucional, não mais permite qualquer distinção baseada na diversidade

de sexos ou em concepção hierarquizada que impute à mulher, como ocorria

outrora. A violação do dever de assistência, tanto material como espiritual, por

qualquer dos consortes, constitui injúria grave, que pode dar origem à ação de

separação judicial (art.1573, III).

3.4.2.4 Abandono material e moral dos filhos

O quarto dever,afirma Gonçalves125 de sustento, guarda e

educação dos filhos, quando descumpridos, além de configurar em tese, os

123 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 221. 124 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 222. 125 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. p. 223.

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crimes de abandono material e de abandono intelectual e poder acarretar a perda

do poder familiar, constitui também causa para a separação judicial, pois o

casamento fica comprometido quando a prole é abandonada material e

espiritualmente. Embora não se trate de agressão direta ao outro cônjuge, é ele

atingido pelo sofrimento dos filhos .

3.5 EFEITOS DO DIVÓRCIO

3.5.1 Obrigação alimentar

A obrigação alimentar, segundo Dias126, em favor do cônjuge

tem por fundamento o dever de mútua assistência. Está prevista na Lei (CC.

1694), sem quaisquer restrições temporais ou limitações com referência ao

estado civil dos obrigados. Logo, solvido o vínculo afetivo e havendo necessidade

de um e possibilidade de outro, é estabelecido o encargo alimentar, que persiste

enquanto permanecer inalterada a condição econômico-financeira de ambos os

cônjuges.

Tanto na separação como no divórcio, é possível

estabelecer a obrigação alimentar., Mais. Fixados os alimentos na separação, ou

na conversão em divórcio, não havendo mudança na situação de vida de qualquer

das partes, persiste o encargo.

Mesmo findo o matrimônio, perdura o dever de mútua

assistência, permanecendo a obrigação alimentar após a dissolução do

casamento. Apesar da Lei não admitir tal expressamente, não se pode chegar a

conclusão diversa, pois o art. 1708 e seu parágrafo não se refere ao divórcio.

Mais um argumento: o dever alimentar cessa somente pelo novo casamento do

beneficiário (CC. 1708). Como só há a possibilidade de novo matrimônio após o

divórcio, está claro que persiste o encargo mesmo estando os cônjuges

divorciados.127

126 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 417. 127 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 418

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Não há como o divórcio produzir verdadeira alquimia e

mudar a natureza jurídica da obrigação de alimentos, remetendo-a para o âmbito

do direito obrigacional. O fato de estar dissolvida a sociedade conjugal não tem

este poder, havendo sim a possibilidade de serem buscados alimentos mesmo

depois do divórcio.

A jurisprudência no entanto, considera que, a partir do

divórcio, os alimentos deixam de ter, num passe de mágica, caráter alimentar,

assumindo feição obrigacional. São retirados da esfera do direito das famílias, e

remetidos ao âmbito contratual, transformando-se em obrigação de distinta

origem. Porém essa metamorfose não dispõe de respaldo legal e não cabe criar

distinções para restringir direitos. Com isso, além de se exigir maior rigorismo

para revisar o valor da obrigação, veta-se, definitiva e desarrazoadamente, a

possibilidade de, o cônjuge, muitas vezes sujeito a situação de miséria absoluta,

ou acometido de mal incurável, buscar alimentos após o divórcio. Só que isso a

Lei não diz128

3.5.2 Disregard – desconsideração da pessoa jurídica

A respeito deste instituto, ensina Dias129 que o Código civil

prevê expressamente a teoria da desconsideração da pessoa jurídica (CC. 50),

instituto que passou a ser utilizado no direito das famílias, com a finalidade de

coibir indevida vantagem patrimonial do consorte empresário em detrimento do

outro, por ocasião da dissolução da sociedade conjugal. Não raro, sentindo o

cônjuge ou companheiro a falência do casamento ou da união estável, aproveita-

se para registrar bens móveis e imóveis utilizados pelo par em nome de empresa

da qual participa.

Por vezes, ocorre até a retirada fictícia do cônjuge da

sociedade, o qual vende sua parte na empresa a um terceiro, em conluio com ele,

a fim de afastar da partilha as quotas sociais ou o patrimônio do casal já revertido

128 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 418 129 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 282.

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ao ente societário. Ainda que a alteração contratual, idealizada para privar o

cônjuge ou convivente do exercício de seus direitos sobre os bens comunicáveis,

seja perfeita quanto ao seu fundo e à sua forma, mesmo assim o ato é ineficaz

com respeito ao consorte lesado. 130

O meio ilícito usado em detrimento dos legítimos direitos de

participação patrimonial é que compromete sua higidez. A sociedade detém

patrimônio próprio, indiferente às dívidas particulares de seus sócios: tem nome,

administração, domicílio e capacidade em razão do seu objeto. Carrega,

entretanto, uma personalidade relativizada, conferida pelo Estado, tendo em conta

somente a função social que se propõe a realizar. Portanto esse mesmo Estado

pode desconsiderar a autonomia e independência concedidas à sociedade,

sempre que seu objetivo estiver sendo desviado ou descumprido.

Verificando o Juiz o engodo engendrado pelo consorte

empresário, é possível declarar, na própria sentença da separação, a ineficácia

do ato fraudulento praticado sob as vestes da pessoa jurídica. Através da

aplicação episódica da disregard não é anulada nem descartada a personalidade

jurídica, mas somente desconsiderada, no caso concreto, a ineficácia do ato

fraudulento perpetrado em nome da pessoa jurídica, mas com o objetivo de

favorecer em geral a pessoa de um sócio, em detrimento do terceiro. Sem discutir

a sua validade, o juiz ignora pura e simplesmente o ato fraudulento executado em

comando contrário à Lei, mas mantém intocados todos aqueles outros atos e

negócios societários não manchados pela fraude ou pelo abuso de direito.131

A prática desses atos lesivos tem por objetivo não só

frustrar a meação do cônjuge ou companheiro – também aquisição de bens

imóveis na constância do casamento ou da união estável em nome de outra

pessoa configura tentativa de esconder o patrimônio, a justificar o reconhecimento

da ineficácia do negócio frente ao cônjuge ou companheiro lesado. Muitas vezes

essas manobras visam mascarar a situação financeira do alienante, para a

130 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p.283. 131 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 283.

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pensão alimentícia ser fixada em patamar inferior às suas reais possibilidades.

Com isso a justiça não pode pactuar .

3.5.3 Da separação de corpos

Argumenta Dias132 que todas as ações que envolvem

vínculos afetivos desfeitos, carregam grande dose de ressentimentos e mágoas.

Sempre a tendência é culpar o outro pelo fim do sonho do amor eterno. Assim,

não é difícil imaginar a possibilidade de conflitos que possam comprometer a vida

ou a integridade física dos cônjuges e também da prole, quando um dos cônjuges

revela a intenção de separar. Esse é o motivo autorizador do pedido de

separação de corpos (CC 1562), mesmo antes de intentada ação para pôr fim ao

casamento.

A necessidade de tutela jurisdicional imediata impõe a

formulação do pedido por meio de procedimento cautelar (CPC 888 VI). Ainda

que as medidas cautelares mantenham eficácia pelo prazo de 30 dias (CPC 806),

a separação de corpos é reconhecida como cautela satisfativa133, não se lhe

aplicando o referido prazo legal. Até porque de todo desarrazoado que, deixando

o cônjuge de promover a ação de separação, seja revogada a medida cautelar e

quem foi coactamente afastado do lar adquira o direito de a ele retornar. No

direito das famílias, o bom senso repele a caducidade. Se o juiz cautelarmente

decretou a separação de corpos, é de evidência meridiana que a ausência de

propositura da ação principal no prazo de 30 dias não pode acarretar a reunião de

corpos que se odeiam.

(...) O simples esfacelamento da afetividade e a intenção de buscar o desenlace do vínculo autorizam decretar o fim do convívio. Não é preciso maiores provas: havendo alegação de violência doméstica, o simples registro de ocorrência policial justifica a concessão do pedido em sede liminar de afastamento

132 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 275. 133 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 275.

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do réu do lar comum. Conquanto seja um documento produzido unilateralmente, não se pode subtrair-lhe valor probante.134

Os cônjuges, de forma consensual, também fazem uso do

procedimento de separação de corpos quando já estão separados de fato,

deferindo o juiz alvará a quem se afastou da residência. Essa prática, ainda que

não disponha de previsão legal, acabou institucionalizada e de largo uso.

Serve para fixar os efeitos patrimoniais da separação de

fato e para impedir a alegação de abandono do lar. Também permite, com mais

agilidade, afastar a presunção de paternidade de que desfruta o filho de homem

casado (CC.1597) .

3.5.4 Da partilha de bens

Dias135 afirma que admite a lei de processo que seja

decretada a separação consensual sem a partilha de bens (CPC 1121 § 1º). Para

a decretação do divórcio, a Constituição exige tão-só o decurso de determinados

prazos (CF. 226 § 6º), sendo que o Código Civil expressamente dispensa a prévia

partilha de bens para a sua concessão (CC.1581). Nem a conversão da

separação em divórcio há exigência outra além do implemento do prazo de um

ano da separação judicial. Porém, em todos os regimes de bens, exceto no

regime da separação convencional de bens (CC. 1687), a dissolução do

casamento gera efeitos econômicos. Existindo patrimônio é necessária sua

partilha.

O ideal é que as partes cheguem a um consenso

relativamente aos bens quando da separação. Assim nas demandas consensuais,

quer de separação, quer de divórcio, já devem as partes arrolar os bens e apontar

a divisão que convencionaram. Nas ações litigiosas, deve o autor indicar os bens

comuns e apresentar o esboço da partilha. Igualmente o réu, na contestação,

deve se manifestar sobre os bens e sua divisão. Dessa forma, na sentença, além

134 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 276. 135 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 277.

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do decreto da separação ou do divórcio, já ficam solvidas as questões

patrimoniais.136

No entanto, vem se generalizando a prática de relegar tanto

a identificação do patrimônio comum, como a sua partilha, para a fase de

liquidação de sentença. A tendência é nociva. A necessidade de procedimento

liquidatório acaba perpetuando o litígio, sendo fonte de sérias desavenças e

generalizado tumulto processual. A liquidação segue-se a partilha, por meio de

nova demanda, desdobramento por mais desgastante, oneroso e tormentoso.

Todavia na maioria das vezes, é isso que ocorre.

Ocorrida a separação de fato, decretada a separação judicial

ou o divórcio, sem a realização da partilha, os bens restam em estado de

mancomunhão, expressão corrente na doutrina que, no entanto não dispõe de

previsão legal. De qualquer sorte, tal quer dizer que os bens pertencem a ambos

os cônjuges em “mão comum”. Todavia, cessada a convivência, é forçoso

reconhecer a permanência de um mero estado condominial.137

Separado o casal, modo freqüente, fica o patrimônio na

posse de somente um dos cônjuges. Sendo dois os titulares e estando somente

um usufruindo o bem, impositiva a divisão de lucros ou o pagamento pelo uso,

posse e gozo. Reconhecer que a mancomunhão gera um comodato gratuito é

chancelar o enriquecimento injustificado. Assim mesmo antes da separação

judicial e independentemente de propositura da ação de partilha, cabe impor o

pagamento pelo uso exclusivo de bem comum. Mas uma distinção necessita ser

feita. Permanecendo no imóvel quem faz jus a alimentos, quer seja o cônjuge,

quer sejam os filhos, não cabe o pagamento, pois o uso configura alimentos in

natura. Porém quando existe encargo alimentar, quem permanece no imóvel

deve pagar pelo uso a título de aluguel. 138

136 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 278. 137 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 279. 138 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 280.

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3.5.5 Quanto aos filhos

Conforme Cahali139 os efeitos da dissolução da sociedade

conjugal pelo divórcio não divergem substancialmente dos efeitos da separação

judicial, observando-se assim o disposto nos arts. 1583 a 1590 do CC/2002 (arts.

9 – 13 e 15 – 16 da Lei do Divórcio).

O divórcio – dizem o CC/2002 e a lei especial – não

modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos; o novo casamento

de qualquer dos pais ou de ambos também não importará restrições a esses

direitos e deveres (arts. 1579 e 27, respectivamente).

Desse modo, o divorciado que contrai novas núpcias não

perde só por isso o direito de ter os filhos sob sua guarda. Eles só poderão ser

retirados de sua guarda por ordem judicial, desde que provado que a nova

situação matrimonial assim constituída se mostre inconveniente ou prejudicial à

prole.

Falecendo o genitor em cuja guarda se encontravam os

filhos, o outro, ainda que se tenha casado novamente, terá direito à sua guarda, o

que só lhe será negado se provada a inconveniência dessa medida. Verificada a

hipótese assim ressalvada, deferirá o juiz a guarda a pessoa notoriamente idônea

da família do divorciado falecido ou do divorciado sobrevivo (art. 10 § 2º) [art.

1584, parágrafo único doCC/2002].

Como em razão de divórcio os poderes inerentes ao pátrio

poder sofrem um natural abrandamento ao se ter de atribuir a um ou a outro dos

genitores a guarda dos filhos, estabelece o art. 186 do CC (na redação dada pelo

art. 50, n. 3, da Lei 6515/77) que, discordando entre si, quanto ao consentimento

para que o filho menor possa contrair matrimônio (CC, art. 185), prevalecerá a

vontade do genitor divorciado, com quem estiver o filho. Advirta-se, porém, que se

trata de simples abrandamento de certos poderes ou faculdades, mas que de

modo algum elimina o pátrio poder de qualquer dos genitores, na sua essência.

139 CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. p. 1190-1191.

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A exemplo do que se verifica na separação judicial, o direito

de alimentos do filho, é indisponível pelo genitor que o tem sob sua guarda, não

se lhe permitindo dispensá-lo em relação ao outro cônjuge.

A obrigação alimentar do genitor divorciado remanesce

íntegra, sem qualquer alteração, relativamente aos filhos, menores (dever de

assistência e socorro) ou não (alimentos do art. 1696 do CC/2002), observando-

se neste último caso, o caráter de reciprocidade140.

A dívida de alimentos em favor dos filhos sujeita-se às

mesmas garantias e aos mesmos princípios do direito comum insertos tanto no

Código Civil como na legislação extravagante.

140 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 279-280.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Monografia teve como objeto o estudo dos

efeitos do Divórcio no ordenamento jurídico brasileiro.

O seu objetivo geral foi o de identificar os efeitos do

divórcio, analisando-os na doutrina e jurisprudência.

O trabalho foi dividido em três capítulos, sendo que no

primeiro capítulo tratou do casamento. Estudou-se o histórico do casamento, seu

conceito, as suas características, os requisitos para a sua realização e os

impedimentos previstos no ordenamento jurídico brasileiro. Destaca-se:

- O termo casamento ou matrimônio, designa duas

realidades diversas: o negócio jurídico que os nubentes celebram (matrimônio

ato) e a relação jurídica que dele se origina (vínculo ou relação matrimonial), por

força da qual as pessoas estão casadas e assumem recíprocos direitos e

deveres.

- A celebração do casamento cria o vínculo conjugal e os

nubentes ficam constituídos no estado de casados, o que reclama a idéia de uma

relação destinada a durar.

- O casamento é cercado de um verdadeiro ritual, com

significativa incidência de normas de ordem pública.

- Em vista da mentalidade e da descontração moral que hoje

se manifesta na sociedade, pode-se afirmar que os motivos ou finalidades

principais do casamento são: o amor que une um homem e uma mulher e a

pretensão de manterem um relacionamento comum na vida.

No segundo capítulo, estudou-se o instituto da dissolução do

casamento. Neste capítulo foram identificadas às formas de dissolução da

sociedade conjugal, como a doutrina analisa e interpreta a dissolução e como a

jurisprudência avalia a dissolução do casamento. Destaca-se:

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- Os antigos já diziam que a morte põe termo a todas as

relações jurídicas – mors omnia solvit . Até certo ponto é verdade, mas não de

todo, pois que, às vezes, os sucessores do defunto prosseguem nelas ou

suportam as que foram constituídas pelo de cujus. O vínculo matrimonial,

entretanto, termina pela morte e, com ele, obviamente, a sociedade conjugal.

- O termo casamento é mais amplo que o termo sociedade

conjugal. O primeiro regula a vida dos cônjuges, as suas relações e obrigações

recíprocas e deveres com a família e com a prole. Já a sociedade conjugal

consiste num conjunto de direitos e obrigações que sustenta a vida em comum

dos cônjuges. Assim pode haver dissolução da sociedade conjugal, mas a

manutenção do vínculo do casamento implica dizer que o vínculo é maior que a

sociedade.

- A sociedade conjugal pode deixar de existir, isto é, o

casamento como manifestação real ou concretização da união entre marido e

mulher pode terminar, permanecendo, todavia, o vínculo. E na ordem do art.

1571, fica dissolvida a união ou sociedade conjugal por um daqueles quatro

fatores – morte de um dos cônjuges, nulidade ou anulação do casamento,

separação judicial e divórcio.

No terceiro capítulo tratou-se do divórcio. Fez-se uma

análise histórica, conceituou-se e observaram-se as características, bem como a

forma como a Constituição da República Federativa do Brasil tratou o Divorcio.

Após analisou-se os motivos apresentados pelo Código Civil quanto a

possibilidade do divórcio e finalmente os seus efeitos. Destaca-se:

- A luta pelo Divórcio no Brasil foi longa e tenaz. Autores e

Parlamentares divorcistas, salientando-se entre estes últimos o Senador Nelson

Carneiro, durante três décadas apresentaram projetos de leis neste sentido,

sempre vencidos pela resistência de opositores sistemáticos, apoiados fortemente

pela Igreja Católica, num combate persistente.

- A lei nº. 6515, de 26 de dezembro de 1977, em seguida à

emenda constitucional nº. 9, de 28 de junho de 1977, representou um marco

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importante no Direito de Família, procurando, solucionar problemas a que a vida

conjugal dá nascimento, e que o excessivo amor à traição impedia de resolver.

- Etimologicamente, o termo divórcio deriva do latim

divortium,, de divertere ou divortere (separar-se, apartar-se) e é empregado na

técnica jurídica para indicar um dos processos, por que se dissolve o casamento,

com a ruptura de todos os laços que se haviam formado por ele.

- Tanto na separação como no divórcio, é possível

estabelecer a obrigação alimentar. Fixados os alimentos na separação, ou na

conversão em divórcio, não havendo mudança na situação de vida de qualquer

das partes, persiste o encargo.

- OCódigo civil prevê expressamente a teoria da

desconsideração da pessoa jurídica (CC. 50), instituto que passou a ser utilizado

no direito das famílias, com a finalidade de coibir indevida vantagem patrimonial

do consorte empresário em detrimento do outro, por ocasião da dissolução da

sociedade conjugal.

Quanto as hipóteses levantadas, observa-se::

Primeira hipótese: O casamento vem a ser um contrato

solene pelo qual duas pessoas de sexo diferente se unem para constituir uma

família e viver em plena comunhão de vida. Concretizando assim um vínculo

jurídico que visa o auxílio mútuo material e espiritual, sob promessa recíproca de

fidelidade no amor e da mais estreita comunhão de vida. Esta hipótese foi

confirmada frente aos conceitos dos vários doutrinadores apresentados.

Segunda hipótese: A separação judicial rompe a sociedade

conjugal mas não rompe o vínculo matrimonial. Esta hipótese também foi

confirmada, pois somente com o Divórcio estará dissolvido o vínculo matrimonial.

Terceira hipótese: Os efeitos da dissolução da sociedade

conjugal pelo divórcio não divergem dos efeitos da separação judicial. Esta

hipótese também foi confirmada, visto que os efeitos permanecem os mesmos de

quando da separação, podendo, serem modificados por solicitação das partes.

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Quarta hipótese: O vínculo matrimonial somente será

rompido pelo divórcio, mas os efeitos do divórcio mantêm latentes as lembranças

do casamento. Esta hipótese também foi confirmada. A latência do casamento

está na continua lembrança frente aos efeitos do divórcio, sejam eles patrimoniais

ou afetivos,

O Método utilizado no relato foi o Indutivo. Foram acionadas

as técnicas do referente, da categoria, dos conceitos operacionais, da pesquisa

bibliográfica e do fichamento.

Com a presente pesquisa não se procurou, e nem se teve a

intenção de esgotar o assunto, mas contribuir na constante busca pelo

aperfeiçoamento do conhecimento jurídico.

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