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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO INFANTICÍDIO A RELEVÂNCIA DO ESTADO PUERPERAL NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME SHEILA DA CUNHA GASTARDI ITAJAÍ/ 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

INFANTICÍDIO

A RELEVÂNCIA DO ESTADO PUERPERAL NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME

SHEILA DA CUNHA GASTARDI

ITAJAÍ/ 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

INFANTICÍDIO

A RELEVÂNCIA DO ESTADO PUERPERAL NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME

SHEILA DA CUNHA GASTARDI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Esp. Fabiano Oldoni

ITAJAÍ / 2006

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AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço ao Universo, à Natureza, ao meu anjo protetor Gabriel, enfim a toda esta força maior, força divina, espiritual, invisível aos olhos, mas perceptível à alma, que nos rodeia, que nos guia, nos ensina, nos levanta, nos impulsiona sempre no caminho certo, às vezes cheios de pedras e obstáculos árduos e dolorosos, porém essenciais ao nosso crescimento, aprendizado e evolução, como seres humanos; mortais em carne, porém eternos em alma e coração, a esta força que está envolta em tudo e em todos, basta você apenas sentir, respirar e utilizá-la, sempre para o bem seu e de seus semelhantes.

Impossível passar cinco anos neste esplendoroso mundo que é a Academia, a universidade, a Univali e não agradecer a muitas pessoas que colaboraram para o nosso aprendizado, crescimento e orientação do qual levaremos para toda a nossa vida.

Agradeço com muito amor e carinho meus Avós Paternos, dos quais me criaram e são meus verdadeiros Pais, além de grandes educadores, são também amigos, conselheiros, apaziguadores, enfim são a base, a estrutura e as pessoas que me ensinaram a viver, são eles: Angela Margarida Gastardi e Niwaldo Pedro Gastardi.

Agradeço à minha MÃE, avó paterna, amiga, conselheira, apaziguadora, enfim a minha mãe Ângela Margarida Gastardi, que fazia cafés

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maravilhosos para manter-me acordada enquanto fazia a Monografia, fazia deliciosos almoços e lanchinhos para eu não desmaiar na frente de tantas pesquisas, e com sua paciência, sabedoria e afeto me incentivava à dedicação para término desta pesquisa!!!

Agradeço também meu PAI, avô paterno, amigo, grande mestre, Niwaldo Pedro Gastardi, que sempre me auxiliou com buscas de artigos e assuntos para eu ler acerca do tema desta Monografia, sempre concertou meu computador quando este resolvia tirar férias sem minha permissão, também me incentivava com tranqüilidade, sabedoria e carinho a sempre com muita dedicação terminar com capricho e precisão esta monografia!!!

Obrigada pelo tempo depreendido, atenção empregada, dedicação e principalmente paciência da qual meu Professor, Orientador, e grande mestre Fabiano Oldoni, não mediu esforços ao bom desenvolvimento deste trabalho, mesmo sendo solicitado por mim, de última hora, nos últimos momentos da entrega desta monografia.

Destarte não citarei mais nomes, apenas agradecimentos, para não causar constrangimentos a ninguém, inclusive à minha pessoa!

Agradeço a toda minha família, sempre presente e me apoiando em todos os momentos.

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Agradeço ao meu Namorado, que sempre se mostrou muito compreensivo, carinhoso e me apoiou e incentivou na conclusão deste curso e desta Monografia.

Agradeço também a todos os docentes na Univali, a coordenação da monografia e do curso, que sempre me auxiliaram muito.

Agradeço a muitos amigos e amigas minhas; raras pedras preciosas que encontrei neste tortuoso e difícil caminho, que também me apoiaram, me deram forças, coragem e ânimo para jamais desistir, sendo inúmeros estes!!!

Finalizando, agradeço a todos Pai Niwaldo, Mãe Angela, e demais, dentre estes meus amigos, amigas, familiares, colaboradores, e todos que se mostraram presentes, me apoiaram, me incentivaram e sempre me desejaram sucesso, triunfo e VITÓRIA!!!

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DEDICATÓRIA

Quero dedicar esta Monografia, trabalho de conclusão de curso e todo meu esforço e estudo durante a vida acadêmica, somente a duas pessoas, sendo estas meus avós paternos Angela Margarida Gastardi e Niwaldo Pedro Gastardi, dos quais tanto lutaram para criarem seus filhos e a mim, lhe proporcionando estrutura, estudo e equilíbrio, para que sozinhos enfrentassem com coragem, honestidade e ilibado caráter à Vida!

Niwaldo e Angela, Pai e Mãe: vocês souberam ser grandes e verdadeiros Pais, e ensinaram da melhor forma possível um ser humano a crescer, trilhar seus passos e seguir seu caminho, com honestidade, coragem e audácia!

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“Mais valem as lágrimas por não ter vencido, do que vergonha por não ter lutado!”.

(Autor Desconhecido)

“A imaginação é mais que o conhecimento”.

(Albert Einstein)

“A imaginação aliados ao conhecimento, ética e

bom senso, podem conquistar vitórias e transpor

barreiras inimagináveis”.

(Sheila Da Cunha Gastardi)

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

[Itajaí] , [2006]

[Sheila Da Cunha Gastardi] Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Sheila Da Cunha Gastardi, sob o

título “Infanticídio - a relevância do estado puerperal na caracterização do crime”,

foi submetida em 07 de junho de 2006 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Fabiano Oldoni [Orientador e Presidente da Banca],

Renato Massoni Domingues e Zenildo Bodnar e aprovada com a nota 9,5 (nove e

meio).

[Itajaí] , [2006]

[Professor Fabiano Oldoni] Orientador e Presidente da Banca

[Antônio Augusto Lapa] Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. Artigo

CIT. Obra Citada

CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CP Código Penal Brasileiro

ECA Estatuto Da Criança E Do Adolescente

CPP Código de Processo Penal Brasileiro

RT Revista Dos Tribunais

TJESP Tribunal De Justiça Do Estado Do Espírito Santo

TJSC Tribunal de Justiça do Estado De Santa Catarina

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Abandono

Ato ou efeito de abandonar(-se). [...] Estado ou condição de quem ou do que é ou

está abandonado, largado, desamparado. [...] Atitude, maneiras, de quem vive ou

como que vive abandonado. [...] Relaxamento de tensão; relaxamento [...].1

Crime

A palavra crime comporta vários sentidos. Na linguagem dos teólogos, serve para

designar o pecado. Esse conceito ressalta em demasia o lado ético. Na verdade,

“pecado” e “delito” são termos distintos. O primeiro compreende toda a ética,

enquanto o segundo abarca apenas o mínimo ético necessário à convivência

social. A idéia de delito como sinônimo de pecado é puramente moral, refoge à

órbita jurídica, e, por isso, deve ser desconsiderada. [...] O conceito sociológico,

para o qual crime é o fato que contrasta com valores sociais, também não satisfaz

a exigência do jurista, que deve procurar conceitua-lo dentro da ótica estritamente

normativa. No prisma jurídico, o crime pode ser conceituado sob três aspectos:

formal, material e analítico.[...] Acentue-se , desde logo, que a definição do crime,

sob os aspectos material e analítico, abrange tanto os crimes dolosos como os

crimes culposos, estendendo-se também às contravenções [...].2

Co-Autor

[...] Co-autor é quem executa, juntamente com outras pessoas, a ação ou

omissão que configura o delito.[...]3

Depressão

Ato de deprimir(-se). [...]Abaixamento de nível resultante de pressão ou de peso.

[...] Baixa de terreno. [...] Diminuição, redução. [...] Anat. Achatamento ou 1 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 2 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal – Parte Geral. V.1.São Paulo: Saraiva, 1999. p. 74. 3 SILVA, Ronaldo. Direito Penal – Parte Geral. Florianópolis: Momento Atual, 2002, p. 171.

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cavidade superficial. [...] Econ. Período de declínio acentuado no nível da

atividade produtiva e do emprego. [...] Med. Diminuição de função fisiológica. [...]

Psiq. Distúrbio mental caracterizado por adinamia, desânimo, sensação de

cansaço, e cujo quadro muitas vezes inclui, também, ansiedade, em grau maior

ou menor. [...] Fig. Abatimento moral ou físico; letargia.4

Desprezo

Falta de apreço; desconsideração, desdém.5

Direito

[...] Conjunto das normas gerais e positivas, disciplinadoras da vida social.6

Estado Puerperal

O estado puerperal é uma forma fugaz e transitória de alienação mental, é um

estado psíquico patológico que, durante o parto, leva a gestante à prática de

condutas furiosas e incontroláveis mas, após o puerpério a saúde mental

reaparece.7

Ética

[...] parte da filosofia que trata do bem e do mal, das normas morais, dos juízos de

valor (morais) e opera uma reflexão sobre este conjunto [...].8

Físico

Relativo à física. [...]Referente às leis da Natureza; corpóreo; material; natural. [...]

O conjunto das qualidades exteriores e materiais do homem.9

Gestante

Que contém o embrião. [...] Que está em gestação. [...] Mulher no período de

gestação.10

4 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 5 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 6 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil.40 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 05. 7 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. São Paulo: Pillares, 2004. p. 71. 8 RUSS, Jaqueline. Dicionário de Filosofia.cit. p. 97. 9 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.

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Infanticídio

O Infanticídio é o homicídio da mãe contra o próprio filho, durante o parto ou logo

após, sob influência do estado puerperal. [...]11

Justiça

[...] Justitia – justiça, conformidade ao direito, sentimento de eqüidade.12

Mulher

O ser humano do sexo feminino. [...] Adolescente do sexo feminino que atingiu a

puberdade; moça. [...] Mulher (1) dotada das chamadas qualidades e sentimentos

femininos (carinho, compreensão, dedicação ao lar e à família, intuição): 2 A

mulher (1) considerada como parceira sexual do homem. [...] Cônjuge do sexo

feminino; a mulher (1) em relação ao marido; esposa. [...]Amante, companheira,

concubina.[...]13

Parturiente

Fêmea em trabalho de parto.14

Patologia

Ramo da medicina que se ocupa da natureza e das modificações estruturais e/ou

funcionais produzidas por doença no organismo.15

Patológicos

Relativo a patologia.16

Psicofisiologia

Estudo científico das relações entre a atividade fisiológica e o psiquismo.17

10 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 11 TELES, Ney Moura. Direito Penal – Parte Especial. V. 2. São Paulo: Atlas, 2004, p. 164. 12 RUSS, Jaqueline. Dicionário de Filosofia.São Paulo: Scipione, 1994. p. 160. 13 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 14 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 15 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 16 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 17 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.

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Psicofisiológico

Relativo à psicofisiologia.18

Psicológico

Relativo ou pertencente à psicologia.[...] Concernente aos fatos psíquicos, à

mente.19

Psicopatia

Qualquer doença mental; psicose. [...] Psiq. Estado mental patológico

caracterizado por desvios, sobretudo caracterológicos, que acarretam

comportamentos anti-sociais.20

Psicose

[...] Psicose é o resultado da doença particular da parturiente, culminando por falta

de cuidado e acompanhamento médico, nas chamadas psicoses puerperais que

podem ocasionar a mãe uma total rejeição ao filho.21

Psicose maníaco-depressiva ou distúrbio bipolar

Psicopatia que se manifesta por acessos, que se alternam, de excitação psíquica

e de depressão psíquica.22

Psiquismo

Psic. O conjunto dos fenômenos ou dos processos mentais conscientes ou

inconscientes de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos; psique. [...] Doutrina

filosófica que admite a existência de um fluido universal que anima todos os seres

vivos. 23

18 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 19 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 20 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 21 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 77. 22 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 23 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.

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Puerpério

Período que se segue ao parto até que os órgãos genitais e o estado geral da

mulher retornem à normalidade.24

Tempo de duração do Estado Puerperal

Conforme traz Ribeiro25, o estado puerperal que é a depressão pós-parto, pode

passar em alguns dias, com o devido acompanhamento e afeto proporcionados à

gestante após o parto,.

Porém já o puerpério, conforme traz Ribeiro26, citando Emílio Miranda Filho, Abreu

Lima e Roseny Silva, estes trazem que o puerpério que é o período que se segue

ao parto dura até o retorno da normalidade do corpo da mulher, ou seja, à volta

do funcionamento de seus órgãos e regresso de sua menstruação, podendo este

se estender até aproximadamente 6 semanas.

E Noronha27, citando Nerio Rojas traz que este tempo pode durar até

aproximadamente 2 meses.

Tempo de duração do Puerpério

Tomando como premissa básica a idéia de estado puerperal como conjunto de

reações físicas e psíquicas sofridas pela mulher em face do fenômeno do parto,

este se difere do puerpério, ou melhor, também é composto por ele. [...] O parto

inicia-se com as contrações do órgão genital interno superior feminino e sua

dilatação em sua parte inferior e externa. Esta é caracterizada como a 1ª fase do

parto. Na 2ª fase, tem-se a expulsão do feto e, logo em seguida, a expulsão da

placenta, caracterizando a 3ª fase. [...] Com a expulsão da placenta, inicia-se a

fase denominada post – partum ou puerpério, que tem a duração de

aproximadamente quarenta dias ( seis a oito semanas).28

24 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 25 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 73. 26 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 70. 27 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal.Vol 2. 33 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 46. 28 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 72.

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SUMÁRIO

RESUMO .........................................................................................XVII

INTRODUÇÃO......................................................................................1

CAPÍTULO 1.........................................................................................3

HISTÓRICO E CONCEITO DO CRIME................................................3 1.1 HISTÓRICO ........................................................................................................3 1.2 CONCEITO DE CRIME ......................................................................................4 1.2.1 CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME...............................................................6 1.2.2 CONCEITO FORMAL DE CRIME................................................................ 10 1.2.3 CONCEITO MATERIAL DE CRIME............................................................. 11 1.3 SUJEITOS, OBJETOS E CLASSIFICAÇÕES DO CRIME ............................ 14 1.3.1 SUJEITO ATIVO........................................................................................... 14 1.3.2 SUJEITO PASSIVO...................................................................................... 16 1.4 OBJETOS JURÍDICOS E MATERIAIS DO CRIME........................................ 17 1.4.1 OBJETO JURÍDICO..................................................................................... 17 1.4.2 OBJETO MATERIAL.................................................................................... 18 1.5 CLASSIFICAÇÕES DO CRIME ...................................................................... 19 1.5.1 CRIME DOLOSO.......................................................................................... 19 1.5.2 CRIME CULPOSO........................................................................................ 20 1.5.3 CRIME PRETERDOLOSO ........................................................................... 20 1.5.4 CRIME DE MÃO PRÓPRIA.......................................................................... 21 1.6 PRINCÍPIOS .................................................................................................... 22 1.6.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE..................................................................... 22 1.6.2 PRINCÍPIO DA LEI PENAL NO TEMPO ..................................................... 23

CAPÍTULO 2.......................................................................................27

ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DO ESTADO PUERPERAL 27 2.1 BREVES CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 27 2.2 CONCEITO BASILAR DE ESTADO PUERPERAL ....................................... 27 2.3 CONCEITO PATOLÓGICO DO ESTADO PUEPERAL E SUA INFLUÊNCIA NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME.................................................................... 31 2.3.1 O PUERPÉRIO E O ESTADO PUEPERAL E SEU TEMPO DE DURAÇÃO............................................................................................................................... 38 2.4 ENTENDIMENTO QUE O ESTADO PUERPERAL NÃO INFLUENCIA NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME.......................................................................... 42 2.5 DESCASO E DESPREZO DA SOCIEDADE PARA COM A GESTANTE..... 44

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CAPÍTULO 3.......................................................................................49

HISTÓRICO, CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES SOBRE O CRIME DE INFANTICÍDIO..............................................................................49 3.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O CRIME DE INFANTICÍDIO.......................... 49 3.1.2 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL DO CRIME DE INFANTICÍDIO....................................................................................................... 51 3.2 CONCEITO SEMÂNTICO DO CRIME DE INFANTICÍDIO............................. 53 3.3 CONCEITO E POSICIONAMENTO LEGAL DO CRIME DE INFANTICÍDIO 54 3.4 CONCEITO DOUTRINÁRIO DO CRIME DE INFANTICÍDIO......................... 54 3.5 COMPETÊNCIA E CLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE INFANTICÍDIO ......... 56 3.6 INFANTICIDIO E CO-AUTORIA ..................................................................... 60 3.7 INFANTICIDO EM FOQUE NA MÍDIA EM 2006 ............................................ 62 3.8 O ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA ACERCA DO INFANTICÍDIO................................................................................ 63

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................65

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS............................................69

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RESUMO

A presente Monografia tem como objetivo analisar o crime

de Infanticídio, seu histórico, origem, conceitos semânticos, doutrinários e legais,

porém com ênfase no estado puerperal, focando este como grande influenciador

da consumação do crime, leva-se em conta diversos fatos sociais estes

destacados como: stress, raiva, rancor, vingança, e principalmente o abandono e

descaso do parceiro, da família e da sociedade para com a gestante, que

somados a este proporcionam a absoluta falta de discernimento e percepção da

desta e a leva a cometer tal barbárie com o próprio filho. Traz-se um estudo

aprofundando sobre o que a ciência médica e a doutrina conceituam a respeito do

estado puerperal, puerpério e infanticídio, diferenciando-os e conceituando cada

um deles, de forma clara e objetiva ao entendimento de todos. Em análises

paralelas com a psicologia e psiquiatria forense, almeja-se mostrar uma outra

visão sobre tal delito em questão, com sugestões de mudanças, podendo ser

estas além da ajuda do Estado, à adoção dos recém-nascidos como opção para

as mães que infelizmente não puderem criá-los, a atenção à educação que deve

ser destinada à população brasileira em geral, pois uma nação só evolui com

educação e informação, pois é através desta que o povo pode melhorar sua

condição de vida e crescer profissional e mentalmente, podendo destarte somente

colaborar com a sociedade, diminuindo a criminalidade, sendo estas em todos os

setores (assassinatos, tráfico ilícito de entorpecentes, roubos, etc.), que em sua

grande maioria ocorrem somente por causa da incessante busca pelo dinheiro e

pelo poder, e jamais com a preocupação do bem estar do ser humano.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo do crime

de Infanticídio, seu histórico, aspectos doutrinários e relevância do estado

puerperal na caracterização do crime.

O seu objetivo é mostrar que após longo período de

desinteresse , stress e desprezo do parceiro, da família, e da sociedade, estes

intitulados como fatos sociais importantes, levam à gestante durante o estado

puerperal a cometer tal delito.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, o Histórico e conceito

do Crime, pois não se pode tratar do crime de Infanticídio, sem antes definir o que

é Crime. Suas derivações e diversos conceitos abordados por diversos e

renomados penalistas brasileiros, dentre eles Júlio Fabrini Mirabete, Damásio E.

De Jesus, o Professor da universidade João José Leal, entre outros.

No Capítulo 2, trata-se do Estado Puerperal. Porém o

Código Penal Brasileiro não define explicitamente o que seja o estado puerperal,

apenas o crime de infanticídio e sua pena. O conceito, posicionamento e

interpretação acerca do estado puerperal foram buscados em doutrinas porém

com suas definições médicas detalhadas e as diversas modificações e estágios

que sofre o corpo da gestante.

No Capítulo 3, aborda-se o histórico e conceito do crime de

Infanticídio, sendo neste capítulo conceituado de forma semelhante ao Capítulo

1º, doutrinariamente, semanticamente e legalmente, o posicionamento que os

doutrinadores absorvem e o que o Código Penal prevê como sanção para a

prática do delito, também abordaremos o enfoque da mídia, neste ano de 2006

direcionado ao crime de Infanticídio, depois de um bebê ter sido salvo, após a

mãe, saindo do hospital, depois de ter dado à luz atira-lo num rio, envolto num

saco plástico. Foi resgatado e está bem neste momento sendo cuidado pelos

órgãos competentes.

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2

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o Infanticídio, seu histórico, aspectos doutrinários e relevância do estado

puerperal na caracterização do crime.

Para tanto foram apresentadas as seguintes hipóteses:

1) No crime de Infanticídio o estado puerperal influencia primordialmente na caracterização do crime;

2) Os fatores sociais, estes como stress, desprezo e principalmente abandono do parceiro, família, amigos e sociedade também influenciam para que o estado puerperal se intensifique fazendo com que este determinado grupo de mulheres venha a consumar o crime;

3) O crime de Infanticídio é um crime privilegiado em relação ao crime de homicídio, podendo o estado puerperal ser causa de isenção de pena.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo29 na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

29 PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica - Idéias e Ferramentas Úteis para o Pesquisador de Direito. 9. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2005.

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CAPÍTULO 1

HISTÓRICO E CONCEITO DO CRIME

1.1 HISTÓRICO

Neste capítulo será abordado o histórico do crime, e seus

conceitos analíticos, formal e material, para após estes poder, com clareza e

habilidade, compreender melhor o crime de infanticídio, e a relevância do estado

puerperal na caracterização deste.

Após inúmeras aulas de história em um longo percurso

escolar, e até mesmo nas próprias aulas de introdução ao estudo do direito entre

outras ministradas na Univali pode-se perceber que o crime desde os primórdios

dos tempos existe. Pois o ser humano às vezes obrigado se utiliza dele para sua

autodefesa, porém às vezes também o utiliza de forma errônea para prejudicar

outrem, que crê estar lhe causando algum mal. Por exemplo antigamente na

época “das cavernas” o ser humano para defender seu clã, tinha que matar

invasores, que deturpavam seu alimento, mulheres e moradia, através da

violência do crime este impunha respeito e medo a seus adversários. Com o

decorrer dos anos, e crescimento do ser humano este começou a utilizar-se do

crime para roubar, para se vingar de seus inimigos, até mesmo para “demarcar

seu território”, aqui se refere ao tráfico ilícito de entorpecentes, quadrilhas e

máfias que matam seus oponentes para expandir seu comércio ilegal.

Às vezes o ser humano utiliza o crime a seu favor, porém em

casos excepcionais, conhecidos como excludentes de ilicitude ou antijuridicidade,

sendo estes previstos pelo artigo 2330 do CP, dentre eles estando:

30 Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível.

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Estado de Necessidade;

Legítima Defesa e;

Estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito.

Destarte que tais casos explicitados acima são utilizados

pelo ser humano somente para salvaguardar sua vida, quando esta estiver em

perigo real ou iminente.

Nesse sentido discorre Damásio31:

O legislador, tendo em vista o complexo das atividade do homem em sociedade e o entrechoque de interesses, às vezes permite determinadas condutas que, em regra, são proibidas. Assim, não obstante enquadradas em normas penais incriminadores, tornando-se fatos típicos, não ensejam a aplicação da sanção.

A criação da norma penal, e aplicação desta em alguns

países de forma mais severa, devido a sua alta agilidade e competência tenta

coibir a prática do crime, sancionando penas para este, tentando assim intimidar e

impedir os seres humanos de se agredirem e se matarem, tentando assim

estabelecer uma ordem e um convívio harmônico no planeta. O que infelizmente

não acontece em todos os países, principalmente no Brasil, pois nem todos

dispõem de um sistema rápido, eficaz e de garanta punição aos infratores e seus

crimes.

1.2 CONCEITO DE CRIME

Passa-se agora a conceituação de crime, trazendo diversas

fontes e seus entendimentos acerca do significado de crime.

Aurélio32 discorre sobre o conceito de crime:

Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. [Art. 23, inc. I, II e III do CP.] 31 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 153 e 154. 32 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.

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Segundo o conceito formal, violação culpável da lei penal; delito. Segundo o conceito substancial, ofensa de um bem jurídico tutelado pela lei penal.Segundo o conceito analítico, fato típico, antijurídico e culpável. Qualquer ato que suscita a reação organizada da sociedade. Ato digno de repreensão ou castigo. Ato condenável, de conseqüências funestas ou desagradáveis.

Já Mirabete 33 traz:

Em conseqüência do caráter dogmático do Direito Penal, o conceito de crime é essencialmente jurídico. Entretanto, ao contrário de leis antigas, o Código Penal vigente não contém uma definição de crime, que é deixada à elaboração da doutrina. Nesta, tem-se procurado definir o ilícito penal sob três aspectos diversos. Atendendo-se ao aspecto externo, puramente nominal d fato, obtém-se uma definição formal; observando-se o conteúdo do fato punível, consegue-se uma definição material ou substancial; e examinando-se as características ou aspectos do crime, chega-se a um conceito, também formal, mas analítico da infração penal.

E Leal34, ensina que:

Em latim, de onde se origina (crimen, inis), o termo crime significa queixa, calúnia, injúria, erro. Enfim, tem uma acepção semântica relacionada com a idéia de mal, o que ainda hoje expressa o seu verdadeiro sentido. [...] O crime é conduta humana, podendo ser ação propriamente dita, como também, em alguns casos, omissão. este tipo de comportamento pode ser objeto de estudo da Sociologia , da Filosofia, da Psicologia e de outras disciplinas, principalmente da Criminologia, que o examina como fenômeno humano biológico e/ou sociológico. Assim dependendo da natureza do enfoque, poderemos ter um conceito sociológico, moral, psicológico ou criminológico de infração criminal.

Existem muitas formas de conceituar crime, mas a principal

delas é que é uma conduta humana que não é aceitável na sociedade, uma

conduta que fere outrem em favor próprio sendo este para adquirir de forma ilícita

qualquer objeto material de valor, ou mesmo também por vingança, para eliminar

33 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 95. 34 LEAL, João José. Direito Penal Geral. 3 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2004. p. 180 e 181.

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um inimigo, um oponente no caso de gangues e crime organizado, enfim trata-se

de uma atitude execrável praticada pelo ser humano, passível de sanção.

Porém pode-se ver nitidamente que todos os autores

concordam que existem diversos conceitos de crime, porém os mais utilizados e

soberanos são os conceitos:

Analítico;

Formal e;

Material.

Discorre Noronha35 sobre o conceito de crime que:

O primeiro tem como ponto de referência e lei: crime é o fato individual que viola; é a conduta humana que infringe a lei penal. [...] A ação humana para ser criminosa, há de corresponder objetivamente à conduta descrita pela lei, contrariando a ordem jurídica e incorrendo seu autor no juízo de censura ou reprovação social. Considera-se, então, o delito como a ação típica, antijurídica e culpável. Ele não existe sem uma ação (compreendendo também a omissão), a qual se deve ajustar à figura descrita na lei, opor-se ao direito e ser atribuível ao indivíduo a título de culpa lato sensu (dolo ou culpa).

O conceito específico de crime, nada mais é do que atitude

errada, atitude que venha a ferir ou prejudicar outrem em favor próprio, ou seja

um gesto malévolo, não aceitável pela sociedade atual e passível de sanção pelo

ordenamento vigente.

1.2.1 CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME

O conceito analítico de crime, nada mais é que a análise do

fato, do delito, sua caracterização no ordenamento jurídico vigente da cada país,

porém este se divide em duas correntes, dois entendimentos, o primeiro que será

exposto é o de que o crime é um fato típico, antijurídico e culpável. Já uma

35 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal.cit. p. 96 e 97.

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segunda corrente que será exposta a seguir é de que o crime é um fato típico,

antijurídico e a culpabilidade é pressuposto para a pena.

Leal36 entende que:

A doutrina penal, paulatinamente, construiu um outro conceito, denominado dogmático ou analítico. Trata-se de construção doutrinária que, ainda hoje, não pode ser considerada definitivamente acabada. A infração penal não deixa de ser uma entidade jurídica unitária, mas para fins de estudo ou de análise teórica, justifica-se a decomposição em seus elementos ou requisitos, sem os quais desaparece a figura criminosa. Até o começo do Século XX a doutrina concebia o crime a partir de um critério bipartido, constituído de dois elementos: um objetivo, representado pela ação ou omissão e, outro subjetivo, representado pela culpabilidade. Em 1906, o jurista alemão Ernst Von Beling, reformulou conceito analítico de crime, inserindo um novo elemento: a tipicidade. O crime passou a ser definido, do ponto de vista dogmático, como a conduta humana, (ação propriamente dita ou omissão, típica, antijurídica e culpável). Este conceito passou a ser entendido como o mais adequado para definir o crime do ponto de vista técnico-jurídico. É aceito pela grande maioria dos penalistas. A infração penal é assim decomposta em seus três elementos técnicojurídicos ou doutrinários: ação típica, antijurídica e culpável.

Portanto conforme Leal, crime é uma ação típica, antijurídica

e culpável.

Nesse sentido Mirabete37, traz que:

Por essas razões, passou-se a conceituar o crime como a “ação típica, antijurídica e culpável”.[...] Por isso , no conceito analítico de crime, a conduta abrange o dolo (querer ou assumir o risco de produzir o resultado) e a culpa em sentido estrito. Se a conduta é um dos componentes do fato típico, deve-se definir o crime como “fato típico e antijurídico”.

E ainda nesse sentido traz Teles38 que:

36 LEAL, João José. Direito Penal Geral, cit., p. 183 e 184. 37 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 97.

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[...] O crime, portanto, deve ser, sempre, um fato típico, ilícito e reprovável, censurável, culpável. Em conclusão, crime é um fato típico, ilícito e culpável.

Então dentro do conceito analítico de crime, (acerca da

primeira corrente estudada), pode-se observar que trata de conduta típica,

antijurídica e culpável.

Ou seja, típica por estar enquadrada no ordenamento

jurídico, prevendo uma sanção como castigo para o indivíduo que a praticar.

Antijurídica, que é contrária ao direito, ilegal, passível de repreensão, e culpável

porque é digna de censura, reprovação, de culpa se praticada.

Já a segunda corrente é de que o crime é um fato típico,

antijurídico e a culpabilidade é pressuposto para a pena.

Afirma Damásio39 que a culpabilidade é pressuposto de

pena e não requisito ou elemento do crime.

E ainda René Ariel Dotti apud Damásio40 que:

[...] Instigador da alteração de nosso entendimento a respeito da matéria , em face de seu atual desenvolvimento, a culpabilidade deve ser tratada como um pressuposto da pena, merecendo, por isso, ser analisada dentro deste quadro e não mais em setor da teoria geral do delito. E arremata: “O crime como ação tipicamente antijurídica é causa da resposta penal como efeito. A sanção será imposta somente quando for possível e positivo o juízo de reprovação que é uma decisão sobre um comportamento passado, ou seja, um posterius destacado do fato antecedente”.

Discorrendo sobre uma visão geral, de diversos

posicionamentos traz Teles41 que:

Para alguns doutrinadores, como Giuseppe Bettiol, Muñoz Conde, Francisco de Assis Toledo, Heleno Cláudio Fragosos, José

38 TELES, Ney Moura. Direito Penal – Parte Especial. cit. p. 158. 39 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 396. 40 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. 11 ed. cit. p. 396. 41 TELES, Ney Moura. Direito Penal – Parte Especial. cit. p. 311.

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Henrique Pierangelli e outros, o crime apresenta três notas características, três requisitos, ou três elementos: a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade. Os mais antigos, Nelson Hungria, Magalhães Noronha e Aníbal Bruno, igualmente, acrescem um quarto elemento, a punibilidade, que – hoje é entendimento pacífico – não integra o conceito de crime, pois se situa fora dele, como sua conseqüência jurídica [...]. Entre os brasileiros, entretanto, Damásio E. de Jesus [...], René Ariel Dotti, entre outros, pensam diferente: a culpabilidade não faz parte do crime, não é seu elemento, mas uma condição para a imposição da pena criminal, um pressuposto de aplicação da pena. O crime , para eles, apresenta apenas duas notas essenciais, dois elementos: a tipicidade e a ilicitude. É um fato típico e ilícito.

E também Damásio apud Teles42 que;

A culpabilidade não é elemento ou requisito do crime. Funciona como pressuposto da pena. O juízo de reprovabilidade não incide sobre o fato, mas sim sobre o sujeito. Não se trata de fato culpável, mas de sujeito culpável.

Ou seja, nessa segunda corrente, os doutrinadores

dispostos acima entendem que a culpabilidade é pressuposto de pena e não

elemento do crime.

Por quê?

Porque esta, conforme entende Damásio43, depende da

culpabilidade do agente, esta culpabilidade limita a quantidade da pena, sendo

assim quanto mais culpável o sujeito, maior deverá ser a quantidade da sanção

penal.

Em suma são duas correntes que compõe o conceito

analítico de crime, sendo a primeira composta por Leal, Mirabete e Teles, estes

entende que o crime é:

Um fato típico, antijurídico e culpável;

42 TELES, Ney Moura. Direito Penal – Parte Especial. cit. P. 311. 43 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. 11 ed. cit. p. 397.

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E a segunda corrente composta por Damásio, René Ariel

Dotti citado por Teles, estes entendem que o crime é:

Um fato típico e antijurídico e que a culpabilidade é pressuposto para a pena.

Finalizando acerca da segunda corrente estudada, o crime é

um fato típico e antijurídico, e a culpabilidade é pressuposto para a pena.

1.2.2 CONCEITO FORMAL DE CRIME

Neste item conceituar-se-á o crime no ponto de vista formal,

que traz a doutrina, ao qual este não se distancia muito do analítico.

Segundo Mirabete44 sob o prisma do aspecto formal, ensina

que:

[...]Podem-se citar os seguintes conceitos de crime: “crime é o fato humano contrário à lei” (Carmignani); “crime é qualquer ação legalmente punível”; “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena”; “Crime é uma conduta (ação ou omissão) contrário ao Direito, a que a lei atribui uma pena”. Essas definições, entretanto, alcançam apenas um dos aspectos do fenômeno criminal, o mais aparente, que é a contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como fato contrário à norma penal. Não penetram, contudo, em sua essência, em seu conteúdo, em sua “matéria”.

Já Leal45, traz que:

Segundo a concepção formal, crime é a conduta proibida e sancionada pela lei penal. É exatamente esse caráter de pura contrariedade formal ao Direito, que é acentuado nessa definição: crime é toda ação ou omissão proibida pela lei, sob ameaça de pena. è como se a nocividade, a perversidade, a imoralidade ou o caráter anti-social da conduta ilícita surgisse com a promulgação da norma incriminadora ou fosse pura criação desta.

44 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 95. 45 LEAL, João José. Direito Penal Geral, cit., p. 181.

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O conceito formal não se distancia muito do analítico, pois

enquanto o analítico define o crime como conduta típica, antijurídica e culpável, o

formal o define como ação, ato, atitude; ou omissão, ausência de ação, lacuna

que a partir desta proibida por lei, pelo ordenamento jurídico vigente, cabe uma

sanção, um castigo ou seja uma represália com o intuito de coibir esta.

Nesse sentido traz Damásio46:

Para que haja crime é preciso, em primeiro lugar, uma conduta humana positiva ou negativa (ação ou omissão). Mas nem todo comportamento do homem constitui delito. Em face do princípio da reserva legal, somente os descritos pela lei penal podem assim ser considerados. [...] Dessa forma, somente o fato típico, i. e., o fato que se amolda ao conjunto de elementos descritivos do crime contido na lei, é penalmente relevante. [...] Não basta porém, que o fato seja típico para que exista crime. É preciso que seja contrário ao direito, antijurídico.

Entende-se então conceito formal como aquele típico, ou

seja, previsto em lei, e dependente de ação ou omissão do ser humano,

prejudicando outrem.

1.2.3 CONCEITO MATERIAL DE CRIME

De todos os conceitos empregados e pesquisados sobre o

crime passa-se agora ao último deles, o conceito material.

Em relação ao conceito material, Mirabete47 define este

como sendo:

A melhor orientação para a obtenção de um conceito material de crime, como afirma Noronha, é aquela que tem em vista o bem protegido pela lei penal. tem o Estado a finalidade de obter o bem coletivo, mantendo a ordem, a harmonia e o equilíbrio social, qualquer que seja a finalidade do Estado (bem comum, bem do proletariado, etc) ou seu regime político (democracia, autoritarismo, socialismo, etc). Tem o Estado que velar pela paz

46 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. cit., p. 153. 47 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 96.

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interna, pela segurança e estabilidade coletivas diante dos conflitos inevitáveis entre os interesses dos indivíduos e entre os destes e os do poder constituído. Para isso, é necessário valorar os bens ou interesses individuais ou coletivos, protegendo-se através da lei penal, aqueles que mais são atingidos quando da transgressão do ordenamento jurídico. Essa proteção é efetuada através do estabelecimento e da aplicação da pena, passando esses bens a ser juridicamente tutelados pela lei penal. Chega-se, assim, a conceitos materiais ou substanciais de crime: “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal”. [...] A referência nessas definições, porém, a “valores ou interesses do corpo social”, “condições de existência, de conservação e de desenvolvimento da sociedade” e “Norma de cultura” apresenta problemas; Manoel Pedro Pimentel afirma que resta “ainda dificuldade em se fixar o critério segundo o qual o legislador consideraria a conduta como contrária à norma de cultura”. Não se construiu ainda, assim, um conceito material inatacável de crime.

De acordo com o autor acima mencionado o conceito

material de crime, é simplesmente a matéria o bem juridicamente tutelado e

protegido, salvaguardado pelo indivíduo do qual este lhe é tirado, roubado,

deturpado, o patrimônio, o dinheiro que este carrega consigo, enfim, o material

do qual o agente causador do fato subtraiu da vítima, para que com esta

subtração lhe favorecesse financeira ou materialmente, deixando assim um

prejuízo à vítima, ao cidadão que com muito esforço e trabalho adquiriu tal objeto

material.

Nesse sentido Damásio48, entende que:

O conceito material do crime é de relevância jurídica, uma vez que coloca em destaque o seu conteúdo teleológico, a razão determinante de constituir um conduta humana infração penal e sujeita a uma sanção. [...] Como se nota, sob o ponto de vista material, o conceito de crime visa aos bens protegidos pela lei penal. Dessa forma, nada mais é que a violação de um bem penalmente protegido.

Porém Leal49 , traz que: 48 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. cit., p. 151.

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A concepção material busca apresentar o crime como uma conduta contrária aos valores éticos fundamentais ou aos legítimos interesse do grupo social (o que nem sempre é verdadeiro, pois há interesses de classe protegidos pela ordem jurídica). O conteúdo substancial (= condição de desvalor ético jurídico) do comportamento humano emerge como fundamento do conceito de crime: se determinado tipo de conduta lesa interesses individuais ou coletivos, se fere certos valores, se coloca em risco a segurança de pessoas ou da sociedade, cabe ao legislador determinar a sua proibição e decretar a sua punição, definindo-o como crime. É a natureza do desvalor da conduta e/ou do resultado que determina a opção legislativa no tocante à instituição da figura delituosa.

Verifica-se que não existe um único e específico conceito

material de crime, porém este se resume em ato ou omissão que venha a ferir os

princípios e garantias fundamentais do ser humano, que venha a deturpar seu

patrimônio, seus bens protegidos pelo nosso ordenamento jurídico, pode-se aqui

então citar o artigo 5º, caput, da CRFB/1988, que estipula:

Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, a liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...].

Ou seja, no tocante à legislação brasileira, à CRFB/1988, em

seu artigo 5º, caput, supracitado acima, qualquer indivíduo que violar ou lesionar à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade de outrem, estará

ocorrendo em crime passível de punição, ou seja estará causando um mal, a um

semelhante através de uma conduta reprovável da qual nosso legislador estipulou

uma pena.

49 LEAL, João José. Direito Penal Geral, cit., p. 181 e 182.

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1.3 SUJEITOS, OBJETOS E CLASSIFICAÇÕES DO CRIME

1.3.1 SUJEITO ATIVO

Neste item será feito uma breve definição dos sujeitos,

objetos e classificações do crime.

Quando se refere a sujeitos do crime, estes são o Sujeito

Ativo e o Sujeito Passivo do crime. As pessoas das quais causam a conduta,

dano, etc., estes sendo o sujeito ativo, e as pessoas que sofrem com estas

condutas, sendo estes o sujeito passivo.

O Sujeito Ativo é aquele que pratica o crime, o autor,

causador do delito do fato, em um exemplo bem simples, no crime de Infanticídio,

estipulado no artigo 12350 do CP, seria a gestante que seria o sujeito ativo do

crime, pois foi ela quem praticou o fato delituoso.

Segundo Mirabete51:

Sujeito ativo do crime é aquele que pratica a conduta descrita na lei, ou seja, o fato típico. Só o homem, isoladamente ou associado a outros (co-autoria ou participação) pode ser sujeito ativo do crime, embora na Antiguidade e na Idade Média ocorressem muitos processos contra animais.

Quando Mirabete52 acima se refere a processos contra

animais, traz em sua obra que:

Em Savigny, na França, por volta de 1456, um tribunal condenou à forca, juntamente com os filhotes, uma porca que havia causado a morte de um menino. A sentença, executada em praça pública, foi cumprida apenas em parte, uma vez que os leitõezinhos foram agraciados no último instante, em consideração a sua tenra idade.

50 Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena – detenção, de dois a seis anos. [Art. 123, do CP.] 51 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 122. 52 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 122.

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Não é muito incomum o sujeito ativo de um crime também

ser um animal, pois na mídia, de vez em quando se vêem casos como no Rio De

Janeiro de cães que atacam e matam crianças, entre outros animais que também

atacam seres humanos, tirando-lhes a vida.

Mas para aplicação de uma sanção, no ordenamento

jurídico, sem que esta seja pena de morte, proibida no País, é necessário que o

sujeito ativo do crime em questão seja um ser humano, homem ou mulher, maior

de 18 anos, que é a capacidade penal admitida em nosso CP em seu art. 2753,

pois sendo menor seguirá as normas do ECA54. E claro sem nenhuma deficiência

mental, sendo portanto totalmente imputável55.

Noronha56, define sujeito ativo como sendo:

[...]É quem pratica a figura típica descrita na lei. è o homem, é a criatura humana, isolada ou associada, isto é, por autoria singular ou co-autoria. Só ele pode ser o agente ou autor do crime.

Nesse sentido Damásio57 define:

Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na norma penal incriminadora.[..] Só o homem possui capacidade para delinqüir. São reminiscências as práticas de processos contra animais ou coisas por cometimento de supostas infrações.

Por fim tem-se como sujeito ativo do crime, o ser humano,

plenamente capaz e imputável, sendo este o causador da conduta típica prevista

em nosso ordenamento jurídico passível de sanção.

53 Art. 27. Os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas em legislação especial. [Art. 27 do CP.] 54 ECA. Lei nº:8.069 de 13 de julho de 1990, que dispões sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. 55 Imputável- “Suscetível de se imputar. (...) Responsabilizar, qualificar”. [Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.] 56 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 113. 57 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. cit., p. 165.

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1.3.2 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo do crime é aquele que sofre o dano, o fato,

a vítima.

No caso do crime de Infanticídio seria o bebê que foi o

outrem prejudicado, devido à conduta da mãe.

Discorre Noronha58:

O sujeito passivo. É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. É o homem. Protege-o a lei, mesmo antes de seu nascimento, iniciada que seja apenas a gestação, punindo o crime de abortamento. Não obstante a inexistência, aí, da criatura humana, a lei se antecipa, protegendo a vida no sentido biológico. Bastante expressivo é haver o Código classificado tal crime como contra a vida e, no título dos delitos, contra a pessoa.

Na visão do autor, acima mencionado, ele cita que o homem

já é protegido mesmo antes de nascer, pois o aborto é passível de sanção, a não

ser nos casos de estupro, nos casos de perigo à vida da gestante, e conforme o

entendimento do STF59, pois não existe uma previsão legal para este, em alguns

casos específicos de feto anencefálico60, estando, também, sendo discutido um

projeto que autoriza o aborto até no máximo de 12 semanas, ou seja, três meses

de gestação, tendo esta como uma medida de planejamento familiar, controle e

opção para as mulheres que vierem a ter uma gravidez indesejada, o que deve

ser muito bem analisado pelo legislador.

Voltando à idéia inicial, a vida do homem já é protegida

antes mesmo deste nascer. E se ao nascer for vítima de Infanticídio, o sujeito

ativo, a agente causadora do fato também será processada e julgada.

58 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 114. 59 STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Site: www.stf.gov.br 60 Anencefálico- “Referente à anecefalia.(...) Anecefalia-Monstruosidade em que não há abóbada craniana e os hemisférios cerebrais ou não existem, ou se apresentam como pequenas formações aderidas à base do crânio.” [Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.]

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Já Damásio61 traz que:

Sujeito passivo é o titula do interesse cuja ofensa constitui a essência do crime. Para que seja encontrado é preciso indagar qual o interesse tutelado pela lei penal incriminadora. No crime de homicídio, p. ex., o bem protegido pela norma é o direito à vida, e o homem é seu titular. Dessa forma, o homem é o sujeito passivo. NO auto-aborto também é tutelado o direito à vida, mas o titular desse interesse jurídico é o feto, que, assim, é o sujeito passivo.

Nesse sentido destaca Mirabete62:

Sujeito passivo do crime é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa.

Destarte compreende-se que sujeito passivo é a pessoa

humana, a qual recai tal conduta típica, sendo o sujeito ativo responsabilizado e

sancionado pelo seu ato.

1.4 OBJETOS JURÍDICOS E MATERIAIS DO CRIME

1.4.1 OBJETO JURÍDICO

Entende Leal63 sobre os objetos do crime que estes se

referem a tudo aquilo que se direcione a conduta criminosa e que o objeto jurídico

do crime é o interesse individual ou coletivo ao qual recai a conduta delituosa, ou

seja, objeto jurídico do crime é, assim, o interesse individual ou coletivo ou o valor

(bem jurídico) atingido pela conduta delituosa e protegido pela lei penal.

Já Damásio64 traz que:

Objeto jurídico do crime é o bem ou interesse que a norma penal tutela. É o bem jurídico, que se constitui em tudo o que é capaz de satisfazer as necessidade do homem vivo, a integridade física, a honra, o patrimônio etc.

61 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. cit., p. 171. 62 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 125. 63 LEAL, João José. Direito Penal Geral, cit., p. 189. 64 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. cit., p. 179.

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E por fim Noronha65 entende que:

O objeto jurídico. Não obstante a variedade de opiniões e doutrinas que procuram conceituar o objeto jurídico de um crime que é ele o bem-interesse protegido pela norma penal. Bem é o que satisfaz a uma necessidade do homem, seja de natureza material ou imaterial: vida, honra, etc. Interesse é a relação psicológica em torno desse bem, é sua estimativa, sua valorização.

Ou seja o bem jurídico conforme os autores acima, nada

mais é que o interesse do homem, seu interesse em proteger tudo o que lhe é

valoroso, como sua vida, honra, patrimônio, tudo que ele adquiriu ou construiu ao

longo de sua existência, que é protegido pelo legislado e que sendo atingido

através de uma conduta delituosa lhe fere mormente sendo passível de retaliação

e sanção.

1.4.2 OBJETO MATERIAL

Objeto material do crime como todos os três autores abaixo

mencionados concordam é toda a coisa ou pessoa da qual sofre a conduta

delituosa, ou seja é a vítima que sofreu com a ação do ladrão, o carro que foi

roubado, enfim a matéria, o material do qual sofreu com a ação do sujeito ativo do

crime.

Mirabete66 destaca que:

Objeto material ou substancial do crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa, ou seja, aquilo que a ação delituosa atinge. Está ele direta ou indiretamente indicado na figura penal. Assim, “alguém” (o ser humano) é o objeto material do crime de homicídio.[...]

Nesse sentido Noronha67 traz:

O objeto material.Quase sempre a objetividade jurídica de um crime se corporifica no indivíduo ou numa coisa. São eles que

65 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 115. 66 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 127. 67 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 115.

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suportam a ação do delinqüente. Objeto material do delito é, pois, o homem ou a coisa sobre que incide a conduta do sujeito ativo. Mais adequado seria, talvez, chamá-lo objeto da ação.

E Damásio68 elucida:

Objeto material é a pessoa ou coisa sobre que recai a

conduta do sujeito ativo, como o homem vivo no homicídio, a

coisa no furto, o documento na falsificação etc.

Em suma o objeto material seria a pessoa ou a coisa, objeto

que sofre a conduta delituosa.

1.5 CLASSIFICAÇÕES DO CRIME

Com relação às classificações do crime, existe uma grande

diversidade destas, sendo estas: crimes instantâneos, permanentes, simples,

qualificados, progressivos, omissivos, comissivos, entre outros. Porém as que

utilizaremos serão apenas 3, sendo elas:

Crime Doloso;

Crime Culposo e;

Crime Preterdoloso.

São as dispostas de maior importância para o entendimento

do estudo em questão.

1.5.1 CRIME DOLOSO

Crime doloso, é aquele em que o sujeito ativo praticou o fato

assumindo o risco do resultado, ou seja teve a vontade e assumiu o risco de

consumar o fato praticado. Este está previsto no CP, em seu artigo 18, inciso I:

Art. 18. Diz-se o crime: Crime Doloso I – doloso, quando o

agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

68 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. cit., p. 179.

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1.5.2 CRIME CULPOSO

Crime culposo, é aquele que o agente praticou o fato, porém

por negligência, imprudência ou imperícia este se consumou, ou seja ele não

desejou que o fato fosse concretizado, foi uma ação involuntária que devido aos 3

fatores (negligência, imprudência e imperícia) se consumou. O CP em seu artigo

18, inciso II também estipula o que é crime culposo:

Art. 18. Diz –se o crime: Crime Culposo II – culposo, quando

o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência

ou imperícia.

Porém o que seriam estes 3 fatores? A negligência,

imprudência e imperícia?! Conforme define o Aurélio69 são:

Negligência - 1. Desleixo, descuido, incúria.2.Desatenção, menoscabo, menosprezo.3.Preguiça, indolência.

Imprudência – 1.Qualidade de imprudente; inconveniência. 2. Ato ou dito contrário à prudência.

Imperícia - 1.Qualidade ou ato de imperito; incompetência, inexperiência, inabilidade.

Então se nota que são atos que não examinam ou precisam

que tal conduta ocorra, por outras palavras definem-se em desatenção, descuido,

uma ação que não foi planejada e acabou consumando um fato alheio a vontade

do agente, porém este deriva de sua negligência, imprudência e imperícia.

1.5.3 CRIME PRETERDOLOSO

Sobre o Crime Preterdoloso, é aquele em que se juntam o

dolo e a culpa, ou seja um misto dos dois, de forma bem clara e objetiva Leal70

define crime preterdoloso como sendo:

69 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999. 70 LEAL, João José. Direito Penal Geral, cit., p. 195.

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[...] Um misto de dolo e de culpa, ou seja, o agente quer um resultado e caba dando causa a um outro mais grave, este último involuntário. É o exemplo de quem desfere um golpe com a intenção de ferir (animus laedendi), mas a vítima vem a morrer por traumatismo craniano, causado por sua queda sobre uma pedra. [...].

Porque abordar esta espécie de crime? Pois abordar-se-á

que às vezes a gestante somente desejou se livrar do bebê, porém ao deixá-lo

em uma lata de lixo, como já ocorreu em muitos casos, este vem a falecer, de

fome, de frio, ou até mesmo em um possível acidente. Ou seja é uma atitude que

podemos classificar como crime preterdoloso, ela desejou um resultado, mas este

aconteceu de forma mais grave provocando outro.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em

um julgado seu, traz um caso que exemplifica muito bem o crime abordado acima:

Recurso ex officio. Sentença de Pronúncia. Infanticídio. Ré acometida de psicose puerperal à data do fato. Absolvição liminar fulcrada no artigo 411 do Código de Processo Penal. Confirmação do provimento judicial absolutório. Recurso oficial desprovido. [...]Tendo a criança nascido com vida, a denunciada, logo após o parto, envolveu-a num trapo de lençol e a abandonou no depósito de lixo da cidade, onde foi encontrada morta, dois dias depois.[...].71

O caso acima disposto trata de um exemplo de crime

preterdoloso, ao qual a mulher quis um resultado, porém obteve outro mais grave.

1.5.4 CRIME DE MÃO PRÓPRIA

Acerca do crime de mão própria este á aquele que só pode

ser cometido pela própria pessoa.

71 Apelação criminal n.º: 27.551, Joaçaba- SC, 2ª Vara Criminal, TJSC, Relator: Des. Alberto Costa, Data da Decisão: 28/08/1995.

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Traz Andreuuci72 que “o crime de mão própria: é o que deve

ser praticado pessoalmente pelos agentes. Exemplos: prevaricação (art. 319 do

CP.); falso testemunho (art. 342 do CP.)”.

Assim como também o infanticídio, pois este só pode ser

cometido pela própria mãe, gestante, parturiente.

1.6 PRINCÍPIOS

Indispensável ao estudo de qualquer tema, sem a base

principal, o estudo dos princípios.

Esta categoria foi situada por última, para que após a leitura

dos principais conceitos acima dispostos, possa embasado em seus princípios

ter-se uma opinião sobre o estudo do Crime de Infanticídio, pois cada um de

acordo com sua moral, ética e costumes tem seu próprio posicionamento acerca

de temas relacionados com nossa atualidade, porém importante ressaltar que

sempre, seja como cidadão comum, ou um operador do direito sempre será

necessário analisar “os dois lados da moeda”, e assim publicar sua opinião da

maneira mais justa, prudente e eqüitativa possível.

Na ciência penal, existem inúmeros princípios, porém abaixo

foram selecionados apenas alguns, que foram considerados de maior importância

e ligação com o tema.

1.6.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Mirabete73 traz que o princípio da legalidade, ou também

chamado de princípio da reserva legal é aquele estipulado no art. 1º do CP, do

qual a CRFB/1988, em seu art. 5º, inciso XXXIX, também traz:

Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há

pena sem prévia cominação legal.

72 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de Direito Penal – Parte Geral. 3 ed.. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 38. 73 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 55.

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Mirabete, citado acima, também menciona que é conhecido

em latim também como: “Nullum crimen, nulla poena sine lege”, ou seja não há

crime sem uma pena que o defina. Enfim trata-se de reforçar a idéia que não

existe crime, não existe ilícito penal, sem uma pena, uma estipulação na

legislação do país que condene tal ato, como por exemplo matar alguém, não

está proibido matar em nosso CP, mas lá estipula em seu art 12174, caput, uma

pena para o individuo que vier a matar outrem.

Preceitua Mirabete75, sobre tal princípio que:

Pelo princípio da legalidade alguém só pode ser punido se, anteriormente ao fato por ele praticado, existir uma lei que o considere como crime. Ainda que o fato seja imoral, anti-social ou danoso, não haverá possibilidade de se punir o autor, sendo irrelevante a circunstância de entrar em vigor, posteriormente, uma lei que o preveja como crime.[...]

Já Leal76, ressalta que:

[...] Também conhecido por princípio da reserva legal ou da estrita legalidade, representa pra o indivíduo uma garantia jurídica diante de eventuais arbitrariedades que possam vir a ser praticadas pelo aparelho repressivo do Estado. Ao indivíduo fica assegurada a certeza de somente ser punido se infringir uma lei criminal previamente promulgada ao fato típico por ele cometido.

1.6.2 PRINCÍPIO DA LEI PENAL NO TEMPO

Também conhecido como princípio da anterioridade da lei

penal, este princípio é bastante complexo e tam uma grande abrangência nas

doutrinas, conforme Mirabete77:

Pelo princípio da anterioridade da lei penal (art. 1º), está estabelecido que não há crime ou pena sem lei anterior, o que configura a regra geral da irretroatividade da lei penal. Por um lado, esse princípio, todavia, somente se aplica à lei mais severa

74 Art. 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos.[Art. 121, caput, do CP.] 75 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 55. 76 LEAL, João José. Direito Penal Geral, cit., p. 98. 77 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 58 e 59.

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que a anterior, pois a lei nova mais benigna (lex mitior) vai alcançar o fato praticado antes do início de sua vigência, ocorrendo, assim , a retroatividade da lei mais benigna. Por outro lado, ainda de acordo com o princípio estabelecido na Constituição Federal (art. 5º, XL), entrando em vigor a lei mais severa que a anterior (lex gravior), não vai ela alcançar o fato praticado anteriormente. Nessa hipótese, continua a ser aplicada a lei anterior, mesmo após sua revogação, em decorrência do princípio da ultratividade da lei mais benigna. Nesse sentido pelo Decreto nº 678, de 6-11-1992, foi promulgada a Convenção Americana Sobre Direito Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22-11-1969, que, no art. 9º, prevê tais princípios: “Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor a pena mais grave que aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição da pena mais leve, o delinqüente será por isso beneficiado.

Ou seja, de forma mais simplificada, conforme o autor

acima, sempre que houver um fato delituoso e um indivíduo for condenado este

será pela pena mais branda e favorável, e nunca pela mais severa, pois conforme

estipula o art. 5º, inciso XL da CRFB/1988:

Art. 5º.[...] XL – a lei penal não retroagirá, salvo para

beneficiar o réu]

Porém na doutrina estudada, esta traz os chamados

conflitos de leis penais no tempo, nominados em latim como sendo:

Novatio legis;

Abolitio criminis;

Novatio legis in pejus; e

Novatiu legis em mellius.

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Porém qual a definição de tais expressões latinas? É o que

veremos a seguir, segundo a doutrina pesquisada. Suas definições seguirão as

ordens acima colocadas. Segundo Mirabete78, este define tais expressões como:

A primeira hipótese trata da lei nova que torna típico fato anteriormente não incriminado (novatio legis incriminadora). Evidentemente, a lei nova não pode ser aplicada diante do princípio da anterioridade da lei penal previsto no art. 5º, XXXIX, da CF e no art. 1º do CP. Nessa hipótese, a lei é irretroativa.[...] Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova já não incrimina fato que anteriormente era considerado como ilícito penal.[...]Trata-se neste dispositivo da aplicação do princípio da retroatividade da lei mais benigna. [...] A terceira hipótese refere-se à nova lei mais severa que anterior (novatio legis in pejus). Vige, no caso, o princípio da irretroatividade da lei penal previsto no art. 5º, XL, da CF [...]Permanecendo na lei nova a definição do crime, mas aumentadas suas conseqüências penais, esta norma mais severa não será aplicada.[...]A última hipótese é a da lei nova mais favorável que a anterior (novatiu legis in mellius). Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras.

Porém fala-se muita em retroatividade e irretroatividade da

norma, para melhor se compreender os textos acima, definiremos estas duas

palavras chaves, pois segundo o Aurélio79 estas significam:

Retroatividade - Qualidade ou caráter de retroativo.[...] Retroativo – 1.Relativo ao passado. 2. Que modifica o que está feito. 3. Que afeta o passado; que retroage.[...] Irretroatividade - Qualidade do que não tem efeito retroativo, do que é irretroativo.[...] Irretroativo - Que não retroage; não retroativo.

Resume-se em voltar ao passado, para modificar uma

decisão atual em benefício de algo ou alguém, no caso em tela do réu.

Existem inúmeros outros princípios, dentre eles da

territorialidade, extraterritorialidade, imunidades em geral, extradição, etc. Porém

só foram abordados os basilares para nosso estudo e compreensão do tema, pois

78 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, cit., p. 59, 60 e 62. 79 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.

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os princípios são fundamentais e muito importantes, pois definem-se na base e

estrutura essencial de qualquer área, seja ela jurídica, médica, psicológica, etc.

No Capítulo 2º será tratado acerca do Estado Puerperal, sua

visão médica e legal e como o estado psicológico da gestante pode influenciar

seriamente na consumação do crime de infanticídio.

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CAPÍTULO 2

ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DO ESTADO PUERPERAL

2.1 BREVES CONSIDERAÇÕES

Neste capítulo será discorrido acerca do Estado Puerperal,

seus conceitos, através da medicina forense e também psicologia, na visão de

diversos doutrinadores, especialistas, médicos, etc.

Importante ressaltar que o Estado Puerperal, que será

abordado nesse capítulo, está relacionado também com toda a história de vida e

gestação da parturiente, pois na grande maioria, nos caso da consumação do

crime de Infanticídio, além do sofrimento causado pelo estado puerperal durante

ou logo após o parto, muitas vezes a gestante sofreu tratamentos desumanos

durante sua gravidez, que é um período considerável de 6 (casos de prematuros)

a 9 meses (gravidez completa), dentre estes: desprezo, abandono, preconceito de

seu companheiro/namorado/esposo, de sua família e principalmente da

sociedade.

Atualmente estão na mídia e sendo em muitos locai do país

noticiados casos de Infanticídio devido a depressão pós-parto. Esta atenção

especial, da mídia, a este tipo de crime surgiu com o caso da brasileira que após

retirar seu bebê do hospital, o jogou numa sacola num rio, e este foi resgatado,

estando ela presa neste momento para responder processo.

2.2 CONCEITO BASILAR DE ESTADO PUERPERAL

Estado Puerperal ou depressão pós-parto, é o estado em

que se encontra a mulher durante ou logo após o parto. Mas como defini-lo de

forma clara, objetiva e simplista?! Foi o que se tentou buscar neste item através

de doutrinas, a maneira mais prática para definir este período em que a gestante

atravessa.

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Em princípio segundo Mirabete80:

Em vez de, seguindo a lei anterior, adotar o sistema psicológico, fundado no motivo de honra (honoris causa), que é o temor à vergonha da maternidade ilegítima, optou o legislador pelo sistema fisiopsicológico ou fisiopsíquico, apoiado no estado puerperal.[...] Na jurisprudência, aliás, já se tem entendido que o infanticídio é, inegavelmente, e antes de tudo, um delito social, praticado na quase totalidade dos casos, por mães solteiras ou mulheres abandonadas pelo marido e pelo amásio e que, por isso, “o antigo conceito psicológico – a causa da honra – vai aos poucos, perdendo sua significação limitada e se confundindo com este (conceito fisiopsicológico), por força de reiteradas decisões judiciais.”( TJTJESP 14/391, RT 473/301). [...].

Neste sentido conceitua Gomes81, acerca do puerpério ou

estado puerperal:

Para que possamos entender o que seja estado puerperal é necessário explicar, inicialmente, o puerpério. Com o final do parto, ou seja, após a expulsão do feto e da placenta (dequitação), tem início o puerpério, que se estende até a volta do organismo materno às condições pré-gravídicas. Sua duração é de seis a oito semanas. Temos, pois, puerpério imediato (até dez dias após o parto), tardio (que vai até os quarenta e cinco dias) e o puerpério remoto (de quarenta e cinco dias em diante). Trata-se, portanto, de um quadro fisiológico, comum a todas as mulheres que dão à luz, com começo, meio e fim determinados, capaz, em alguns casos, de causar alterações do psiquismo materno, de duração e gravidade variados, porém de fácil detecção, via diagnóstico médico, clínico e/ou laboratorial (por ex. psicose puerperal; depressão pós-parto.

Nota-se então que estado puerperal, além de ser aquele

período de concepção do feto pela gestante é também o que pode ocorrer

alterações psíquicas, fazendo com que a gestante não tenha discernimento de

seus atos.

80 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal- Parte Especial. 20 ed.São Paulo:Atlas, 2003.p. 88. 81 GOMES, Hélio. Medicina Legal. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2004. p. 499.

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Já segundo França82, estado puerperal é:

O estado puerperal, expressão ambígua e situação contestada pelos médicos, tem merecido, através de todo esse tempo, severas críticas, sendo, inclusive, considerado por alguns como uma simples ficção jurídica no sentido de justificar a benignidade de tratamento penal, quando a causa principal seria a pressão social exercida sobre a mulher cuja gravidez fere sua honra. [...] Sabe-se que no puerpério podem surgir determinadas alterações psíquicas não apenas durante e logo após, mas também algum tempo depois do parto. Entre essas manifestações, a mais comum é a psicose pós-parto, indiferentes ao estado social, afetivo ou moral da mulher. Há no parto um estado de emoção e extenuação, dependendo do estado de ânimo da parturiente e da sua condição primípara ou multípara.[...]

Nota-se então que não se trata de uma simples depressão,

mas que tudo que a parturiente sofre, seja pouco antes, durante ou logo após o

parto, dependendo do que ela tenha passado durante seus nove meses de

gestação (ou seis no caso de prematuros), também influenciam, pois são todos

esses sintomas, essas emoções, extenuações e estado de ânimo como explicita

França acima, somados e explodidos durante o parto, que causam essa confusão

mental, esses aglomerados de sentimentos das mais diversas espécies, amor,

ódio, raiva, nojo, desprezo, que sim podem levar a própria Mãe, parturiente a

gestante, a cometer este ato, de acabar com a vida de seu filho, sua própria

semente.

Nesse sentido traz Noronha83:

Cremos que tal estado se apresenta não apenas depois, mas também durante o parto. Sob sua influência pode desnormalizar-se o psiquismo da mulher. As dores, apreensões, tenores, etc, concorrem para que a parturiente, exausta e esgotada, apresente conturbação da vontade do raciocínio, não estando, pois, em estado normal. É o que numerosos psiquiatras pensam, como Jörg, Krafft, Ebing, Bertherand, Aschaffenburg, König, Gleispach e outros citados por Nélson Hungria, ora falando em confusão

82 FRANÇA. Genival Veloso de. Medicina Legal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.ª, 1995. p. 189. 83 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 46.

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mental, ora em comoção, reflexão suprimida, conturbação de consciência etc.[...]

Explicita Noronha acima que, além de toda a atividade do

parto que a gestante passa, sendo estas contrações, dependendo muitas vezes o

tamanho do bebe em casos de partos normais que acabam causando grande

sofrimento a ela e outras inúmeras adversidades que esta venha a passar, seus

temores, medos, apreensões, desgastes físicos e emocionais que a mulher tenha

sofrido durante toda a sua gravidez, unidos causam uma súbita, violenta e

enorme explosão tanto mental como física na mulher, o que muitas vezes a leva a

matar o próprio filho, abandona-lo ou até mesmo sentir desprezo por este e nem

mesmo querer o bebe ao seu lado.

Também destaca Damásio84:

A mulher, em conseqüência das circunstâncias do parto, referentes à convulsão, emoção causado pelo choque físico, etc., pode sofrer perturbação de sua saúde mental. O Código fala em influência do estado puerperal. Este é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas sofrida pela mulher em face do fenômeno do parto. Não é suficiente que e mulher realize a conduta durante o período do estado puerperal. É necessário que haja uma relação de causalidade entre a morte do nascente ou neonato e o estado puerperal . Essa relação não é meramente objetiva. O CP exige que o fato seja cometido pela mãe “sob a influência do estado puerperal.

Damásio, e outros doutrinadores, destacados acima

concordam que, como já comentado, além do sofrimento causado pelo parto,

outras emoções podem aflorar e confundir o psíquico da gestante, fazendo assim

com que o crime se consume, ou ocorra também o abandono do neonato.

Nesta mesma linha de pensamento traz Maggio85:

Havendo, então, relativa incapacidade de autodeterminação em decorrência do estado puerperal da mãe e a morte do filho

84 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Especial. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 107. 85 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. São Paulo: Millennium, 2004. p. 66.

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nascente ou neonato, estará configurado o crime de infanticídio. Na realidade, pelo entendimento penal, a influência do estado puerperal é um quadro fisiopsicológico próprio de mulheres, em geral desassistidas e decorrente de gravidez indesejada, que acabam, durante o seu curso, gerando relevantes conflitos emocionais. Este quadro de graves repercussões comportamentais conduz a mãe, neste momento de maior fragilização física e psíquica durante o parto, ou logo após, a matar o próprio filho.

E ainda nesse sentido discorre Ribeiro86 que:

Por estado puerperal entende-se o estado fisiológico e psicológico da parturiente iniciado na 2ª fase do parto, mais precisamente, iniciado quando da expulsão do feto. [...] “Puerpério” caracteriza-se pelo período pós-parto, tendo este a duração de aproximadamente quarenta dias (de trinta a cinqüenta dias) ou de seus a oito semanas. É normal a todas as parturientes podendo ou não influir no sentido da mulher sua manifestação.

Em suma trata-se do estado físico-patológico da parturiente,

durante ou logo após o parto, do qual este, após inúmeras variações de emoções,

sentimentos, dores, entre outros provoca o desordenado discernimento e faz com

que ela venha a praticar o crime de Infanticídio.

2.3 CONCEITO PATOLÓGICO DO ESTADO PUEPERAL E SUA INFLUÊNCIA NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME

Neste item será estudado o estado puerperal e suas

conseqüências que atingem abruptamente as parturientes. Também será disposto

o tempo de duração do estado puerperal, para que possamos melhor

compreender até quando os efeitos do parto permanecem na mulher.

Almeida Junior, J. B. O e Costa Júnior apud Maggio87:

[...]Para Almeida Júnior, J.B. O e Costa Júnior, “é a perturbação psíquica em que a mulher, mentalmente sã, mas abalada pela dor

86 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 62. 87 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p. 65

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física do fenômeno obstétrico, fatigada, enervada, sacudida pela emoção, vem a sofrer um colapso do senso moral, uma liberação de impulsos maldosos, chegando por isso a matar o próprio filho”. Sebastián Soler entende que o estado puerperal é considerado somente como um conjuntos de sintomas fisiológicos que se prolonga por um tempo depois do parto.

Ainda neste mesmo intento traz Maggio88:

Neste sentido, afirma Krafft Ebing, que, durante o período do puerpério, a mulher passa por profunda irritação provocada pelos tremores convulsivos, as dores e os suores, a emoção e a fadiga do fenômeno obstétrico. Essas circunstâncias determinam-lhe um colapso do senso moral, uma desordem mental e uma super excitação frenética, que a privam de sua capacidade de querer e entender, quando dela se reabilita a puérpera não tem a menor lembrança do que ocorreu.

Ou seja, a mulher, todo seu corpo, seu sistema nervoso,

psíquico, psicológico e emocional, já estão profundamente abalados, muitas

vezes pelo descaso e desafeto com que vem sendo tratada durante sua gestação,

ainda se depara com enormes dores, contrações, dilatação de seu quadril,

taquicardia, respiração acelerada, entre outras sensações e desconfortos que

infelizmente são ocasionados pelo trabalho de parto, isso além de uma confusão

mental, a torna totalmente inimputável sob seus próprios atos.

Neste sentido traz Mirabete89:

Mesmo no infanticídio, não se exclui a possibilidade da existência de perturbação da saúde mental que leva à diminuição de pena, nos termos do art. 26, parágrafo único, invocando Noronha a compatibilidade entre o estado puerperal e o desenvolvimento mental incompleto.[...].

Também Krafft Ebing90 apud Ribeiro:

88 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p. 68. 89 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal- Parte Especial.cit. p. 89. 90 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 63 e 64.

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Ás vezes, a inconsciência mórbida produz-se em seguida a uma intensa irritação psíquica, devido às dores do parto.Uma constituição neuropática favorece o aparecimento desse estado patológico, cujas causas ocasionais podem ser constituídas por impedimentos mecânicos do parto, do fluxo muito precoce do líquido amniótico, da apresentação transversal do feto, etc. Este estado pode manifestar-se em forma de superexcitação frenética, da qual a parturiente, em desordem mental, se agita, convulsa e maltrata o feto, ou pode apresentar-se (sob forma de uma gênese puramente orgânica, reflexa) como delírio nervoso. A duração desse excepcional estado psíquico, que, por vezes, persiste ainda após a expulsão do feto, vai de um quarto de hora até meia hora, e termina com uma prostração psíquica e quando ela se reabilita, a puérpera não tem a menor lembrança do que ocorreu. Foram, também, muitas vezes, observados acessos de manias de transitória genuína das parturientes (3º e 4º períodos do parto) ou recém-parturientes, sobretudo em mulheres neuropáticas (com sistema vasomotor muito débil, e extenuadas por uma gravidez penosa ou por um parto laborioso e difícil), das quais os sobressaltos e a temperatura externa exerciam uma influência desfavorável. [...] Tais acessos, que, às mais das vezes, decorrem sobre o quadro de uma intensa superexcitação frenética, duram por várias horas. Em alguns raros casos e, sobretudo nas mulheres anêmicas, neuropáticas, extenuadas por precedentes enfermidades, por assíduos engravidamentos, por acidentes do parto em curso (especialmente pela perda de sangue), observam-se puros estados transitórios de raptos melancólicos, com todos os sintomas de espasmo vascular. A vida do neonato corre então, graves perigos, em razão da profunda inconsciência que se segue. O parto pode ainda coincidir com acessos epilépticos e histéricos e com estados delirantes. A nevrose pode remontar aos primeiros períodos da vida ou à época da última gravidez. Nesta categoria entram também os estados eclâmpticos, que podem associar-se ao delírio ou com ele alternar-se. Finalmente, apresentam-se, ainda, estados de inconsciência mórbida em forma de delírio febril, derivados de afecções puerperais, flogísticas, que se manifestam antes, durante e após o parto (peritonite, perimetrite, etc.).

Tornou-se bastante evidente pela citação acima, que são

diversos, complexos e dolorosos os processos antes, durante e logo após o parto,

ou mesmo até durante a gestação, sendo que a maneira como é tratada a

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gestante influencia e se acumula a sua explosão e extenuação de sentimentos e

reações fisiológicas e psicológicas.

Nesse sentido também discorre Antonio Guariento apud

Maggio91:

Antonio Guariento demonstra o resultado de uma pesquisa que aponta os elementos para a caracterização de população sob maior risco de psicose puerperal, quando presente: brigas entre os pais; gravidez fora do casamento; medo de relações sexuais; aversão por relações sexuais, medo do marido; dependência ou submissão ao marido; marido autoritário e medo de morrer no parto. O referido risco da psicose puerperal é muito pequeno ou ausente, quando a parturiente tem: mãe presente e carinhosa; pai carinhoso; bondade do marido; desejo de ter o filho e desejo de cuidar do filho após o parto.

Ou seja, além de todos os sintomas fisiológicos e

psicológicos que a parturiente passa, seu ciclo familiar, seu círculo de amizades,

sociedade e seu relacionamento marital também influenciam muito, ou às vezes

até mais, na prática do crime, pois acrescentam à explosão e extenuação de

sintomas, sentimentos, anseios e medos, entre outros destacados neste item.

Ainda citando Maggio92, porém acerca do estado da

parturiente segundo a ciência médica após o parto, este discorre que:

A puérpera pode apresentar ligeiro aumento da temperatura axilar (de 36,8º a 37,0º) nas primeiras vinte e quatro horas, sem necessariamente ter um quadro infeccioso instalado. Podem ocorrer ainda calafrios, mais freqüentes nas primeiras horas após o parto. Estas alterações podem ocorrer sem traduzir um risco à saúde da mulher, mas exigem do examinador cautela, pois também podem corresponder a processos mórbidos, como a infecção puerperal [...]. O sistema cardiovascular experimenta, nas primeiras horas pós-parto, um aumento do volume circulante, que pode se traduzir pela presença de sopro sistólico de hiperfluxo. Nas puérperas com cardiopatia, em especial naquelas que

91 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.69. 92 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.73, 74 e 75.

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apresentam comprometimento da válvula mitral, o período expulsivo e as primeiras horas após o delivramento representam uma fase crítica e de extrema necessidade de vigilância médica. Porém, neste período, a puérpera tem seu padrão respiratório restabelecido, passando o diafragma a exercer funções que haviam sido limitadas pelo aumento do volume abdominal. [...] A volta das vísceras abdominais à situação original, além da descompressão do estômago, promove um melhor esvaziamento gástrico. Os esforços desprendidos no período expulsivo agravam as condições de hemorróidas já existentes. Esta situação causa desconforto e impede o bom esvaziamento intestinal. Nas mulheres que pariram por cesárea, soma-se ainda o íleo (última parte do intestino delgado) paralisado pela manipulação da cavidade abdominal. [...] Traumas podem ocorrer à uretra, ocasionando desconforto à micção e até mesmo retenção urinária, situação atenuada pelo aumento da capacidade vesical que ocorre normalmente neste período. A puérpera pode experimentar nos primeiros dias pós-parto um aumento do volume urinário pela redistribuição dos líquidos corporais. [...] A leucocitose no puerpério é esperada, podendo atingir 20.000 leucócitos/mm³, contudo sem apresentar formas jovens em demasia (desvio à esquerda) ou granulações tóxicas em percentagem expressiva dos leucócitos. A quantidade de plaquetas está aumentada nas primeiras semanas, assim como o nível de fibrinogênio, razão para se preocupar com a imobilização prolongada no leito, situação que facilita o aparecimento de complicações tromboembólicas.[...] A pele seca e a queda dos cabelos podem ocorrer. As estrias tendem a se tornar mais claras e a diminuírem de tamanho, embora muitas permaneçam para sempre.[...] Alterações de humor, com instabilidade emocional, são comuns no puerpério. Entretanto o estado psicológico da mulher deve ser observado, uma vez que quadros de profunda apatia ou com sintomas de psicose puerperal devem ser identificados precocemente.Nestas situações, um tratamento adequado deve ser instituído rapidamente [...]. Assim, se o estado puerperal pode reduzir a capacidade de autodeterminação, em razão das várias alterações anatômicas e fisiológicas, e a mulher vir a praticar o infanticídio (doloso), somos forçados a admitir que a mãe neste momento de súbita quedo dos níveis hormonais com os conseqüentes sintomas de amnésia, alucinações e transtorno de despersonalização, atue imprudentemente, sem o dever de cuidado objetivo, ou seja, de forma culposa.

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Maggio93 traz a visão médica e os sintomas que a mulher

tem, durante e após o parto. Entre estes está toda a modificação que o corpo dela

sofre expelindo o feto, suas alterações internas, desde o retorno e relaxamento de

seus órgão aos seus lugares e seu funcionamento habitual. Os cuidados da qual

ela necessita após o parto, sendo estes além de alimentação, hidratação,

observação adequada para se necessário como ele mesmo explicita um

tratamento adequado instituído rapidamente, se alterações forem diagnosticadas.

Enfim nota-se através da citação de Maggio acima, que além de ser um processo

humano natural, porém este se revela muito doloroso, árduo e merecedor de

muitos cuidados, atenção e dedicação, pois a mulher precisa se restabelecer

física, psicológica e afetivamente, pois seu corpo também sofre modificações, e

estas podem deixar marcas, pois além das estrias, podem ocorrer também

complicações no parto, a mulher pode vir a ter que retirar os órgãos internos não

podendo engravidar novamente, ou inúmeras outras complicações; que só são

citadas para que se perceba que como dito acima, é um processo natural que faz

parte do nosso ciclo de vida, porém não é um processo fácil, indolor e suave para

a mulher.

Muito importante também ressaltar que o parto, além de

provocar todas estas alterações físicas no corpo da mulher, antes, durante e logo

após, seu psicológico também influencia e muito, pois sua mente em muitos

casos se encontra confusa, dependendo do tipo de relação e círculo do qual a

criança foi concebida, as adversidades e preconceitos que a mulher sofreu

durante sua gestação, enfim uma variedade de motivos para levá-la a uma

depressão, psicose ou até mesmo simplesmente aflorar um distúrbio de

personalidade que ela já possuía porém não sabia!

Almeida Júnior apud Ribeiro94:

Prof. Almeida Júnior [...] que divide em três grupos as psicoses que podem advir do puerpério. No primeiro se inclui as psicopatias ocasionadas por esse estado e as preexistentes que despertam ou se acentuam em conseqüência do choque obstétrico, tais

93 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.73, 74 e 75. 94 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 74.

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como a esquizofrenia, psicose maníaco-depressiva e psicoses histéricas, e é certo que nesse caso está isenta de pena nos termos do art. 22, caput, do CP. (...) O segundo grupo compreende os ‘casos em que a mãe é levada ao delito, não por alienação, mas por semi-alienação mental’ (art. 22, parágrafo único do CP). (...) E o terceiro grupo afinal, compreende os casos em que a mulher, mentalmente sã, mas abalada pela dor física do fenômeno obstétrico, fatigado, enervado, sacudido pela emoção, vem a sofrer um colapso senso moral, uma libertação do senso moral, uma libertação de impulsos maldosos, chegando por isso a matar o próprio filho.

Porém, destaca-se que a citação acima de Ribeiro apud

Almeida Júnior, está desatualizada, pois atualmente o CP prevê em seu artigo

2295 coação irresistível e obediência hierárquica, e trata acerca da

inimputabilidade em seu artigo 2696.

Porém, como se detectam tais anormalidades?

Também traz Hélio Gomes apud Ribeiro97:

(...) O exame mental pode ser necessário nos de psicoses puerperais ou de estados psicopáticos agravados pela gestação, o parto e o puerpério...Além disso, o perito terá de julgar da influência que o estado puerperal possa ter desempenhado na produção do delito, o que será muito difícil, pois o exame se realizará, quase sempre, bastante tempo depois do crime, quando nenhum elemento semiótico existirá mais.

Ou seja, é feita uma “bateria de exames” na mulher, porém

dependendo do tempo em que foi o parto, a distância é grande e os resultados

difíceis de serem concretizados, porém como já mencionado, além de todo o

sofrimento físico e principalmente psicológico há de se levantar sim a

possibilidade de a mulher já sofrer de outras psicoses, ou distúrbios de

95 Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. [Art. 22 do CP.] 96 Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento. [Art. 26, caput do CP.] 97 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 75.

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personalidade que se acentuam com sua situação vivida durante a gestação e a

concepção da criança, vendo ela então que este filho ao invés de lhe trazer

alegrias, lhe trouxe tristezas, mágoas ao seu redor, desprezo e abandono das

pessoas das quais ela mais prezava a companhia (familiares e

companheiro/marido/namorado), criando interiormente uma revolta e um ódio

incontroláveis, achando assim que a melhor solução é se livrar do problema, ou

seja, da criança, consumando assim o crime de infanticídio.

Completamente errado, porém, deve-se ajudá-la,

proporcionando-lhe um tratamento psiquiátrico para que possa superar e se

recuperar desse trauma, pois foi de modo inconsciente, desesperada e

incapacitada mentalmente que cometeu o crime.

Claro que sempre existem exceções à regra, deixa-se bem

lúcido que nesta monografia só está se tratando desta possibilidade, comprovada

clinicamente, sendo esta que a mulher parturiente consume o crime de infanticídio

sob influência do estado puerperal, devido ao abandono e descaso que o

companheiro, família, amigos e sociedade lhe promoveram.

2.3.1 O PUERPÉRIO E O ESTADO PUEPERAL E SEU TEMPO DE DURAÇÃO

Com relação ao estado puerperal e seu tempo de duração,

pode-se avaliar que fica muito confuso analisar, antes, durante ou logo após o

parto. Enfim qual seria este período exato? Já que as situações, sintomas e

concepções variam de mulher para mulher.

Discorre Ribeiro98 acerca do puerpério e estado puerperal

que:

Nessa fase – o puerpério – a mulher passa, em regra, por volta do terceiro dia após o parto, por uma depressão física e psíquica, que dentro de uma normalidade, caracteriza-se por uma ligeira confusão por parte da mulher com relação ao seu corpo (com nova forma após nove meses). Psicologicamente, a mãe

98 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 73.

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confunde-se com relação à sua troca de papéis, de gestante para o de mãe. São causas desta depressão, não só os fatores citados, como também alterações hormonais, metabólicas, orgânicas em geral, pelas quais passa a mãe.[...] Essa depressão, com o devido acompanhamento médico e familiar da recém mãe e de seu marido, cessa em alguns dias. Ressalta, porém, esta devida retaguarda afetiva, unida À disposição individual da parturiente à criança.

Ou seja, o puerpério que o período em que retorna o corpo

da mulher é mais longo, porém suas depressão e estado puerperal que se refere

mais ao psicológico com acompanhamento e afeto de familiares, amigos e

marido, passa em alguns dias.

E ainda conforme traz a Revista Forense99:

O parto, referido no texto legal, é o que começa com o período de expulsão; ou melhor, com o rompimento da membrana amniótica. [...] Quanto à parte final da expressão em tela – logo após -, Nelson Hungria entende que deve a mesma ser subordinada à frase anterior do art. 123 – sob a influência do estado puerperal. A interpretação daquela expressão deve ser suficientemente ampla, de modo a abranger o variável período do choque puerperal. E conclui: ‘O que se faz essencial, porém, do ponto de vista jurídico- penal é que a parturiente ainda não tenha entrado na fase de bonança e quietação, isto é, no período em que já se afirma, predominantemente e exclusivista, o instinto maternal. Trata-se de uma circunstância de fato a ser averiguada pelos peritos médicos e mediante prova indireta’.

A Revista Forense e Nelson Hungria citados acima,

trouxeram que o tempo de duração do estado puerperal é aquele em que a

mulher entra em trabalho de parto, e um pouco após ter dado à luz, até que se

normalizem suas funções, corpo e mente, podendo assim ao invés de querer

acabar com a vida do próprio filho, ter o instinto maternal aflorado em seu corpo

para que possa cuidar e quere proteger seu filho.

Nerio Rojas e Soler apud Noronha:100

99 REVISTA FORENSE. Rio de Janeiro. V. 344. p.159 –160, outubro-dezembro, 1998.

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Nerio Rojas, depois de se dar conta de que é difícil determinar o tempo que duram esses estados, insiste em que a divergência existe mesmo no conceituá-lo: ‘uns chamam estado puerperal à gravidez, ao parto e ao puerpério que o segue; outros somente a este último; outros consideram que esse estado puerperal dura o tempo da involução clínica do útero; alguns o relacionam à involução histológica desse [órgão, que pode durar até dois meses’. [...] Soler acha que o estado puerperal é um conjunto de sintomas fisiológicas que se prolongam depois do parto.

E Mirabete apud Ribeiro101, traz que:

Puerpério é o período que vai da dequitação (isto é, do deslocamento e expulsão da placenta) à volta do organismo materno às condições pré-gravídicas (...) Nele se incluem os casos em que a mulher, mentalmente sã, mas abalada pela dor física do fenômeno obstétrico, fatigada, enervada, sacudida pela emoção, vem a sofrer um colapso do senso moral, uma liberação de impulsos maldosos, chegando isso a matar o próprio filho. (...) podemos dizer até ‘normal’ da mulher que, sob o trauma da parturição e dominada por elementos psicológicos peculiares, se defronta com o produto talvez não desejado, e temido, de suas entranhas.

E agora além de ter explicitado as modificações físicas no

corpo da parturiente, passamos à prática, ou seja em quantos dias se estende o

efeito do estado puerperal?

Traz Gomes102:

[...] Após a expulsão do feto e da placenta (dequitação), tem o início do puerpério, que se estende até a volta do organismo materno às condições pré-gravídicas. Sua duração é de seis a oito semanas. Temos, pois, puerpério imediato (até dez dias após o parto), tardio (que vai até os quarenta e cinco dias) e o puerpério remoto (de quarenta e cinco dias em diante) [...].

Traz Maggio103 também:

100 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 46. 101 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 73. 102 GOMES, Hélio. Medicina Legal. cit. p. 499.

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Assim durante o puerpério imediato (do 1º ao 10º dia) a mulher tem necessidade de atenção física e psíquica.[...]

E ainda Emílio Miranda Filho, Abreu Lima e Roseny Silva

apud Ribeiro104:

[...] Emílio Miranda Filho considera o puerpério como sendo: ‘o período durante o qual os órgãos genitais...se restauram das modificações transitórias provocadas pela gravidez e pelo parto’. [...] Abreu Lima concebe o puerpério como sendo: ‘o período que, iniciando-se após o parto, se prolonga...por espaço de seis semanas até a volta das regras’.[...] Assevera Roseny Silva: ‘o puerpério começa logo depois da expulsão da placenta e termina pela completa regressão dos órgãos genitais, que gasta geralmente o período de cinco a seis semanas’.

Fazendo-se um resumo tem-se os seguintes

posicionamentos:

Maggio entende que o puerpério imediato vai do 1ªº ao 10º dia após o parto;

Ribeiro citando Emilio Miranda filho, traz que este período dura até a restauração das modificações provocadas pelo parto nas genitais da mulher;

Ribeiro citando Abreu Lima traz que o período se prolonga até seis semanas após o parto e a volta da menstruação;

Ribeiro citando Roseny Silva traz que este período compreende a expulsão da placenta, completa regressão dos órgãos genitais da mulher e pode durar de cinco a seis semanas; e

Noronha, citando Nerio Rojas traz que: o tempo pode durar desde o parto até 2 meses.

Então embora confuso, pois nem todos partilham do mesmo

tempo de duração do estado puerperal, porém com as citações, e o breve resumo

103 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.75. 104 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 70.

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acima disposto, pode-se de maneira genérica concluir que o tempo de duração do

estado puerperal é: desde o início do trabalho de parto, expulsão do feto e da

placenta (da qual este muda completamente todo o físico e emocional da

parturiente), e pode se estender até aproximadamente 2 meses após o

nascimento da criança.

Sendo que seu término acontece quando o corpo da

parturiente volta às suas condições normais, sendo estas a volta dos órgãos aos

seus locais normais dentro de seu corpo, à reestruturação de suas genitais e a

volta regular de sua menstruação.

2.4 ENTENDIMENTO QUE O ESTADO PUERPERAL NÃO INFLUENCIA NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME

Neste item serão trazidos alguns posicionamentos opostos,

somente para elucidação, pois não é a meta deste trabalho, porém para

informação geral. Serão abordados diversos aspectos estudados acerca do

assunto inclusive o que alguns autores “pensam”, defendendo que o estado

puerperal e as perturbações sofridas pela parturiente não são motivos para levar

uma mulher a matar o próprio filho recém-nascido.

Claramente traz Maggio105:

Verifica-se que a deflagração da psicose puerperal ainda é motivo de discórdia, estando ainda por esclarecer se os transtornos psíquicos que acompanham o estado puerperal constituem entidade clínica decorrente da gravidez e do parto, ou se estes têm simplesmente uma função circunstancial agravante de um problema psiquiátrico preexistente.

E ainda com opiniões mais fortes, Wanderby Lacerda

Panasco apud Revista Forense106:

Em sua crítica ao estado puerperal, Wanderby Lacerda Panasco afirma que o mesmo deve ser repudiado, porque carece de

105 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.68 e 69. 106 REVISTA FORENSE. Rio de Janeiro. V. 344. p.159 –160, outubro-dezembro, 1998.

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materialidade médico-legal, já que a perícia ocorre muito tempo após a ação delitiva. Para sua caracterização, o perito deve colher os comemorativos do crime, cedidos pelo agente, ou seja, a mãe delinqüente, quando levada à sua presença, muito tempo após a realização do crime. Nestas condições, estará industriada, pois é a maior interessada na própria liberdade, ou antes, na maior atenuante em caso de punição. Por isto, o laudo elaborado pelo perito será incoerente e duvidoso, não contendo qualquer informação precisa. [...].

Neste mesmo diapasão Oswaldo Pataro apud Revista

Forense107:

Estamos convencidos de que o puerpério em si, isoladamente, não é capaz de determinar nenhuma perturbação psíquica e muito menos um transtorno mental elevado à idoneidade de uma mãe à assassina de seu próprio filho. Evento fisiológico, ligado aos imperscrutáveis planos da Biologia, encarregados de assegurar a propagação da espécie, de estranhar seria que a natureza, ´sabia como é, não o cercasse de condições que não fossem as mais propícias e favoráveis. Com efeito, quando assim não ocorre, está presente a doença e, no caso, a doença mental. E se a mãe mata, porque louca, ou semilouca, a solução jurídica é a inimputabilidade ou semi-imputabilidade, mas nunca, a criação de uma nova espécie delituosa, punitiva de um mesmo ato.

Podem existir outros posicionamentos semelhantes, porém

só foram citados estes dois para nível de conhecimento que sempre existirão

opiniões opostas, indiferente do ramo, área o tema discutido.

Porém ressalta-se que não é o objetivo do presente trabalho

de conclusão de curso, partilhar destas opiniões que o estado puerperal e as

condições da gestante durante a gestação,durante o trabalho de parto e logo

após sejam desprezadas e que a mesma tenha cometido homicídio e não

Infanticídio e ainda mais a sangue frio; mas sim que esta se encontrava

totalmente desorientada, perturbada e desnorteada com relação a tudo ao seu

redor, inclusive na sua futura maternidade, questão sim para se levantar a

aplicação da inimputabilidade prevista no artigo 26, caput, do CP, e de tratamento

107 REVISTA FORENSE. Rio de Janeiro. V. 344. p.159 –160, outubro-dezembro, 1998.

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psiquiátrico adequado para sua reestruturação, de seu corpo, de sua mente e seu

retorno à sociedade e convívio normal e em paz e equilíbrio consigo mesma e

com todos à sua volta.

2.5 DESCASO E DESPREZO DA SOCIEDADE PARA COM A GESTANTE

Neste item apenas deseja-se explicitar que o objetivo deste

trabalho, além de trazer informações acerca do:

Conceito e histórico do crime abordados no 1º capítulo;

Conceitos e definições forenses e patológicas do estado puerperal, abordados no 2º capitulo; e

Conceitos e histórico do crime de infanticídio que serão abordados no 3º capítulo.

Tem por sua primordial meta trazer os casos em que mesmo

sendo uma gravidez indesejada, podendo ser esta fruto de: uma gravidez

totalmente imatura pela própria idade do casal, um adultério, um “acidente” por

descuido de ambos, enfim, inúmeros casos, que acabam por perturbar a gestante,

fazer com que devido a esta gravidez seu companheiro, marido, namorado ou

amante, etc., a abandone, seus familiares a desprezem, seus amigos (as) se

afastem, e até mesmo se tiver um emprego corra o risco de perde-lo ou o já tenha

perdido, ou seja, que sua vida, decaia, ela encontre-se totalmente desprezada por

todos, pela sociedade e acabe vendo como problema esta gravidez, passando

inúmeras dificuldades durante a mesma, às vezes até mesmo fome, frio,

necessidades diversas, e isso gere interiormente uma revolta tamanha que a faça

sim querer a toda maneira se livrar de seu próprio filho, por mais cruel, desumano

e bárbaro que seja este ato.

Mas pensaram também na barbárie que foi feita com a

mulher? A sociedade, a mídia, as pessoas pensaram com a visão da mulher

fragilizada? Com a gestante carregando em seu ventre o magnífico dom da vida?

Pensaram por mais indesejada que fosse essa gravidez ao invés de amparar-lhe,

amar-lhe e informar-lhe que existem sim outras opções, opções estas de muitas

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outras famílias querendo adotar crianças, ou até mesmo futuramente depois claro

de muito estudo e minuciosamente disposto em nossa legislação de controlar a

natalidade através do aborto desde que no máximo até o 3º mês de gestação,

como já existe e é permitido em outros países.

Por que antes de acusar, não se pensou em fazer isso? Em

dialogar, em compartilhar informação, amparo, carinho, enfim resolver? Claro que

não! É mais fácil culpar, ferir, magoar uma pobre coitada mulher grávida, perdida,

desamparada, desprezada.Da qual é óbvio, que além de toda explosão de

sentimentos em seu coração, confusões em sua mente, se esta gestante já não

sofre, sem saber, nenhum distúrbio de personalidade, depressão, angústia, agora

com certeza irá sofrer e este, a cada dia crescerá envolto pela raiva, rancor e

indignação, ao qual em um ato de amor, lhe trouxe como conseqüências perda,

abandono e frustrações.

Nesse sentido traz Maggio108:

Certamente, a prenhez, por si só, é uma crise psicológica significante, pois, as parturientes, quando inquiridas, confessam receio do parto de uma disformose do recém-nascido ou de não serem boas mães, levando-se a crer que muitos destes temores são agravados e exagerados na falta de amparo adequado da família ou da comunidade médica.

E ainda Maggio109 citando Antonio Guariento reforça que

através do resultado de uma pesquisa que aponta os elementos para a

caracterização de população sob maior risco de psicose puerperal, quando

presentes: brigas entre os pais; gravidez fora do casamento; medo de relações

sexuais; aversão por relações sexuais, medo do marido; dependência ou

submissão ao marido; marido autoritário e medo de morrer no parto. O referido

risco da psicose puerperal é muito pequeno ou ausente, quando a parturiente

tem: mãe presente e carinhosa; pai carinhoso; bondade do marido; desejo de ter

o filho e desejo de cuidar do filho após o parto.

108 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p. 69. 109 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.69.

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A posição defendida nesta monografia é a de que nos casos

específicos como o acima referido, já sendo resultado de uma história de vida

conturbada, tendo um relacionamento também complicado e ainda mais a mulher

vir a engravidar e ser “abandonada” pelo seu companheiro, familiares e amigos,

que isso lhe resulta sim uma perturbação psicológica, psíquica e física, fazendo

com que o risco de ela cometer infanticídio eleve senão tiver cuidados e

observações especiais.

É também de se levar em consideração que podem ocorrer

estes casos em todas as classes sociais, porém ocorre com mais freqüência nas

mulheres que possuem uma condição de vida mais baixa, pouco ou às vezes até

mesmo nenhum estudo ou alfabetização, que tem que optar entre trabalhar a

estudar para ajudar no sustento da família (quase sempre numerosa), e até

mesmo ter o que comer.

De relevante importância ressaltar o que traz o artigo 6º da

CRFB/1988:

Art. 6º. São direitos sociais a educação,a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social,a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Portanto, a CRFB/1988 prevê assistência de todas as

formas a todas as pessoas, sendo estas o trabalho, lazer, educação, proteção à

maternidade e infância, entre outras citadas acima, porém não se define se é

culpa da quantidade de habitantes no Brasil, da má distribuição de renda ou do

sistema, do Estado porque que os direitos garantidos pela CRBF/1988 não são

prestados de forma homogênea, límpida e correta?!.

Também traz Benda apud Bodnar110 que:

O estado surgiu em razão de fatores históricos, como resultado de lutas e conquistas. Evolui gradativamente com o progresso e com o desenvolvimento cultural dos povos. Inicialmente foi massacrado pelo absolutismo – fase caracterizada pelo excesso de poderes

110 BODNAR, Zenildo. Curso Objetivo de Direito de Propriedade. Curitiba: Juruá, 2005, p.35.

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conferidos ao soberano e da limitação de Direito e liberdade individuais -, depois evoluiu para o Estado constitucional de Direito em razão do qual ocorreu a ampliação das liberdades dos indivíduos e a limitação dos poderes, o qual passou a estar também sujeito à lei.

E Bodnar111 ainda frisa:

A CF/88, ao prescrever no artigo 1º que a República Federativa do Brasil se constitui em um Estado Democrático de Direito, fundamentado na dignidade da pessoa humana e tendo como objetivos, dentre outros, de construir uma sociedade: livre, justa, solidária e fraterna, estabeleceu uma ideologia que deve iluminar todo o ordenamento jurídico constitucional e infraconstitucional [...].

Ou seja, o Estado , assim como previsto na CRFB/1988

deve sim se preocupar com a sociedade de um modo geral, e fornecer-lhe infra-

estrutura necessária a todos os setores, saúde, educação, alimentação,

transportes, etc, para que a partir dessa evolução, uma população mais

consciente, satisfeita e bem estruturada possa crescer, se desenvolver e diminuir

índices de criminalidade, homicídios, entre outros males e violência que assolam

nosso país.

Bodnar112 também traz que todo o direito deve estar voltado

para garantir a dignidade da pessoa humana como valor e não apenas a serviço

da satisfação de interesses individuais e egoístas; e que a tarefa maior do estado

é garantir a todos a existência digna, conforme os preceitos da justiça social, e

para que o ideal seja alcançado, os institutos e direitos também devem exercer

funções relacionadas ao bem-estar da comunidade.

Por fim enfatiza-se que a gestante após consumar o crime

de infanticídio, deve ser direcionado a um tratamento psiquiátrico e psicológico,

para sua reintegração à sociedade e não ser trancafiada em uma prisão.

111 BODNAR, Zenildo. Curso Objetivo de Direito de Propriedade. cit. p. 36. 112 BODNAR, Zenildo. Curso Objetivo de Direito de Propriedade. cit. p. 37.

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Traz Oldoni113 acerca do sistema carcerário que:

[...] O Estado nada está fazendo para mudar o atual quadro encontrado no sistema carcerário brasileiro. Esse sistema encontra-se falido e sua falência faz com que o jus puniendi seja desprezado pela organização informal dor reclusos.[...] O futuro de nossas prisões não pode ficar a mercê dos que nelas vivem. [...] Quanto às penas alternativas, representam elas uma possibilidade a mais de reeducação e de reingresso do preso à sociedade.

Portanto, torna-se claro que além do defasado sistema

carcerário que se encontra no Brasil, este seria inviável para aprisionar uma

mulher após passar por um choque tão forte, e esta necessitaria de outros

cuidados, e o estado puerperal como isenção de pena, é uma idéia, uma

alternativa para a mulher que consumar o crime de infanticídio, pois não existe

previsão legal para o mesmo.

No próximo capítulo serão tratados acerca do crime

Infanticídio, seu histórico, conceitos semânticos, doutrinários e legais, sua

competência, a questão da co-autoria, e também o enfoque e atenções dados

pela mídia neste ano de 2006 a este crime, o qual começou com o caso da

mulher que jogou seu filho num rio, após sair do hospital.

113 OLDONI, Fabiano. As Relações De Poder Entre Os Detentos Do Presídio Público De Itajaí (A Morte Como Exteriorização Maior Deste Poder). Novos estudos Jurídicos.Ano VI – nº: 13 – p. 128, outubro/ 2001.

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CAPÍTULO 3

HISTÓRICO, CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES SOBRE O CRIME DE INFANTICÍDIO

3.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O CRIME DE INFANTICÍDIO

O Infanticídio é antigo, porém sua punição e sanção como

crime é mais recente, conforme Maggio114:

A expressão infanticídio (do latim: infanticidium) sempre teve no decorrer da história, o significado de morte de criança, especialmente do recém-nascido. Sua prática era comum entre os povos primitivos para evitar que crianças fracas e deformadas continuassem a viver, visando, assim, a constituição de uma raça saudável e vigorosa.

No início dos tempos as crianças que nasciam com alguma

deformidade física eram consideradas inaptas de permanecerem nas tribos, por

necessitarem de cuidados especiais e não poderem proporcionar zelo e

segurança ao seu clã, sendo portanto mortas.

Nesse sentido esclarece Gomes115:

Matar ou expor recém-natos, pelos mais variados motivos, entre eles honra, fervor religioso ou deficiência física, foi prática freqüente desde a Antigüidade.[...] Na Grécia e Roma antigas, a criança era propriedade dos pais. Os recém-nascidos normais eram protegidos, porém os defeituosos podiam ser expostos para morrer de fome ou sede; aqueles que pudessem servir de desonra para a família, teriam o mesmo destino.[...]A criança que nascia era levada ao pai que, ao levantá-la nos braços e exibi-la, concedia-lhe o direito à vida; se a colocasse deitada, decretada sua morte (jus vitae et nescis). O Direito Romano somente passou

114 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.23. 115 GOMES, Hélio. Medicina Legal. cit. p. 497.

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a considerar como crime a morte do filho, pelo pai, por influência dos ideais cristãos, a partir de Justiniano. Os concílios preocuparam-se com os recém-nascidos e retiraram dos pais o direito de vida e morte.[...] O infanticídio passou a ser encarado como homicídio comum, pai ou mãe que cometessem o delito, estavam sujeitos a terríveis punições. Sendo a mãe criminosa, era enterrada viva, queimada ou empalada[...]A concepção de punir severamente mães infanticidas perdurou por toda a Idade Média. As idéias humanistas surgidas no século XVIII trouxeram o abrandamento das penas desses criminosos. Desde então, passaram a ser vistos com uma certa boa-vontade, conato que ficasse provado terem agido por alguma causa moral, e não por perversidade ou egoísmo.[...]A tendência de considerar o infanticídio como uma forma especial de homicídio passou a ser aceita na maioria dos países, levando-se em conta tanto os motivos de honra quanto condições psicológicas “sui generes” determinadas pelo parto e puerpério.

Agora visualizando uma evolução histórica acerca do

Infanticídio, também discorre Maggio116 que:

Analisando a evolução do tratamento jurídico do infanticídio, observa-se, nitidamente, três períodos distintos: um período de permissão ou indiferença; um período de reação em favor do filho recém nascido e um período de reação em favor da mulher infanticida. [...] Neste primeiro período [...] (do século VII ªC. ao século V), o pai da família tinha direito de vida ou morte sobre os filhos e demais dependentes, incluindo mulheres e escravos.[...] O segundo período, de feição inteiramente oposta ao anterior (do século V ao século XVIII, destacava-se pela visível reação jurídica em favor do filho recém-nascido, onde as mães [...] eram punidas com penas severíssimas.[...] O terceiro período, o moderno ou atual (a partir do século XVIII, surgiu pela nítida reação jurídica em favor da mulher infanticida, decorrente de idéias humanitárias, o delito passou a ser tratado com certos privilégios.

Nota-se, portanto que o crime existe desde os primórdios

dos tempos, porém com o passar dos anos evoluiu, tanto sua concepção na

sociedade como sanções aplicadas a ele.

116 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p. 40, 41 e 43.

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E ainda discorre Noronha117:

[...] O infanticídio teve, através de épocas, considerações diversas. Em Roma, como se vê das Institutas de Justiniano (Liv. IV, Tít. XVIII, §6º), foi punido com pena atroz, pois o condenado era cosido em um saco com um cão, um galo, uma víbora e uma macaca, e lançado ao mar ou ao rio. No direito medieval, a Carolina (Ordenação de Carlos V), art. 131, impunha o sepultamento em vida, o afogamento, o empalamento ou a dilaceração com tenazes ardentes. Foi no século XVIII, sobretudo, que o delito passou a ser considerado mais brandamente, e hoje, não obstante vozes em contrário, é orientação comum das legislações e também a seguida pelos Códigos pátrios.

Em suma, no princípio o infanticídio era o ato de tirar

violentamente a vida do recém-nascido, sendo que este ato era de livre arbítrio do

pai da criança, sendo consumado se esta fosse de alguma maneira fraca,

debilitada ou deficiente ou o mesmo não a aceitasse como seu filho.

O crime de Infanticídio era punido, antigamente com penas

severíssimas aditadas a crueldade, independente de quem o praticasse seja a

mulher, o homem ou um terceiro,

Porém com a evolução dos tempos, este crime começou a

ter uma visão mais humanitária, ao qual por volta de 1830 já era visto o delito

com uma certa atenuação de pena, e então foi acrescentado às legislações o

estado em que a mulher se encontrava, e que este ficando comprovado não lhe

seriam mais dispostas penas tão severas ou mesmo torturas (como traz Noronha

acima, acerca das Institutas de Justiniano), e sim levado em consideração seu

estado, a motivação pela qual esta consumou o crime e lhe abrandada a pena.

3.1.2 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL DO CRIME DE INFANTICÍDIO

Analisar-se-á agora, de forma breve, a evolução histórica do

crime de infanticídio no Brasil, Damásio118 leciona que:

117 NORNOHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 45. 118 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Geral. cit. p. 105 e 106.

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A legislação penal brasileira, através dos estatutos repressivos de 1830, 1890 e 1940, tem conceituado o crime de infanticídio de formas diversas. O CCrim de 1830, em seu art. 192, determinava: “Se a própria mãe matar o filho recém-nascido para ocultar a sua desonra: Pena – prisão com trabalho por 1 a 3 anos...’. A sanção penal era bem mais branda que a imposta ao homicídio, causando a seguinte contradição: o legislador considerava infanticídio o fato 9homicídio0 cometido por terceiros e sem motivo de honra, impondo a pena de 3 a 12 anos, enquanto o homicídio simples possuía sanção mais severa, atingindo até a pena de morte.[...]O CP de 1890 definia o crime com a proposição seguinte: “Matar recém-nascido, isto é, infante, nos sete primeiro dias de seu nascimento, quer empregando meios diretos e ativos, quer recusando à vítima os cuidados necessário à manutenção da vida e a impedir sua morte” (art. 298, caput). O preceito secundário da norma incriminadora impunha a pena de prisão celular de 6 a 24 anos. O parágrafo único cominava pena mais branda “Se o crime for perpetrado pela mãe, para ocultar a desonra própria”.[...] Alcântara Machado estendia o privilégio a outras pessoas além da mãe da vítima: “Matar infante durante o parto ou logo depois deste para ocultar a desonra própria ou de ascendente, irmã ou mulher”.[...] O CP de 1940 adotou critério diverso, acatando o de natureza psicofisiológica da influência do estado puerperal. A conduta que se encerra no tipo vem contida no preceito primário do art. 123: “Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena – detenção de 2 a 6 anos”. Assim, o infanticídio, em face da legislação penal vigente, não constitui mais forma típica privilegiada de homicídio, mas delito autônomo com denominação jurídica própria.[...]

Conforme Damásio acima citado, este trouxe uma

panorâmica acerca da evolução da legislação penal brasileira, dispondo acerca

dos que estava previsto no CCrim de 1830, em seu art. 192, no CP de 1890, em

seu art. 298 , caput e o CP de 1940, com seu art. 123, que é o utilizado

atualmente pelo Brasil.

Explicitando também de forma bem clara que após toda a

repressão e crueldade com que era tratada a mulher infanticida o legislador

visualizou o sofrimento por qual essa passava, atenuando-lhe a pena.

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E ainda traz França119:

A legislação vigente adotou como atenuante no crime de infanticídio o conceito biopsíquico do estado puerperal, justificado pelo trauma psicológico e pelas condições do processo fisiológico do parto desassistido – angústia, aflição, dores, sangramento e extenuação, cujo resultado traria o estado confusional capaz de levar ao gesto criminoso. [...] A exposição de motivos do Código Penal de 1940 justifica o infanticídio como delictum exceptum, quando praticado pela parturiente sob a influência do estado puerperal, afirmando:” Essa clausula, como é obvio, não quer significar que o puerpério acarrete sempre uma perturbação psíquica: é preciso que fique averiguado ter esta realmente sobrevindo em conseqüência daquele, de modo a diminuir a capacidade de entendimento ou de auto-inibição da parturiente.[...]

Nota-se então que tanto na evolução histórica, quanto na

própria evolução brasileira, e das legislações em vigor, o infanticídio deixou de ser

visto e considerado um crime punível com estrema brutalidade, e passou-se a ver

que quando comprovada que a parturiente praticou o crime sob influência do

estado puerperal merecia uma atenuação por estar totalmente fora de seu juízo

normal e mentalmente abalada.

3.2 CONCEITO SEMÂNTICO DO CRIME DE INFANTICÍDIO

O crime de infanticídio, num conceito semântico, conforme o

Dicionário Aurélio120 é:

Assassínio de recém-nascido. Morte dada voluntariamente a uma criança. Bras. Jur. Morte do próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante o parto ou logo depois.

Por ser uma conceituação prática e simples, não há muito

que acrescentar senão que o infanticídio é a morte do recém-nascido provocada

pela própria mãe, durante, após ou logo depois do parto, mas sob influencia do

estado puerperal.

119 FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. cit. p. 189. 120 Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.

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3.3 CONCEITO E POSICIONAMENTO LEGAL DO CRIME DE INFANTICÍDIO

Já conforme a estipulação legal, prevista no CP, este no

caput de seu art. 123, estipula que:

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:

Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Ou seja, a legislação vigente estipula ser um crime, porém

este cometido sob uma circunstância bastante especial, que primeiramente é a

mulher gestante, e o fato desta consumar o crime durante ou logo após o parto,

ou seja durante ou logo após a concepção de seu filho, porém restando provada a

influência do estado puerperal, que lhe trouxe total desordem mental, lhe

impossibilitando, assim, discernimento sobre seus atos e conseqüências.

3.4 CONCEITO DOUTRINÁRIO DO CRIME DE INFANTICÍDIO

E no conceito de Mirabete121, Infanticídio é:

O infanticídio será na realidade um homicídio privilegiado, cometido pela mãe contra o filho em condições especiais. Entendendo o lesgilador, porém, que é ele fato menos grave que aqueles incluídos no art. 121, §1º , e na linha de pensamento de Beccaria e Feuerbach, definiu-o em dispositivo à parte, como delito autônomo e denominação jurídica própria, cominando-lhe pena sensivelmente menor que a do homicídio privilegiado.

Ou seja, Mirabete traz que é um crime autônomo com

cominação de pena exclusiva, levando-se em conta as condições especiais que

ele se consuma e as condições em que se encontra o sujeito ativo no delito.

Já Damásio122 entende que existem três critérios para a

definição do crime de Infanticídio, sendo estes: 1.Psicológico – revogado CP de

121 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal- Parte Especial.cit. p. 88. 122 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal-Parte Especial. Cit. p. 106.

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1.969; 2. Fisiopsicológico: CP vigente; e Misto: anteprojeto Hungria. Traz então

que:

De acordo com o critério psicológico, o infanticídio é descrito tendo em vista o motivo de honra. Ocorre quando o fato é cometido pela mãe a fim de ocultar desonra própria. Era o critério adotado pelo CP de 1969. [...] Nos termos do critério fisiopsicológico, não é levada em consideração a honoris causa, isto é, motivo de prestação da honra, mas sim a influência do estado puerperal. É o critério de nossa legislação penal vigente.[...] De acordo com o critério misto, também chamado composto, leva-se em consideração, a um tempo, a influência do estado puerperal e o motivo de honra. Era o critério adotado no Anteprojeto de CP de Nélson Hungria.

Damásio acima frisa que o critério fisiopsicológico, é o da

legislação vigente, que é a honoris causa 123 a qual leva em consideração a

preservação da honra, mas sempre sob a influência do estado puerperal.

E conforme Noronha124 o infanticídio é o crime da genitora,

da puérpera. É, portanto, a mãe que se acha sob a influência do estado puerperal.

Ou seja, é o crime cometido pela mãe do recém-nascido,

sob influência do estado puerperal.

Para que não reste dúvidas, é feita a docimasia125

pulmonar no neonato, sendo esta um exame realizado por peritos, no pulmão do

feto, que detectam se este nasceu com vida ou não, para poderem assim concluir

que houve a consumação do crime de infanticídio.

Na parturiente também é feito um exame, conforme traz

Gomes126:

123 Honoris Causa – (Latim) Por motivo honorífico, para render homenagem; título honorífico dado a pessoa ilustre, nacional ou estrangeira. [SIQUEIRA, Luiz Eduardo e Anne Joyce Angher. Dicionário Jurídico. 6 ed. São Paulo: Rideel, 2002. p. 80.] 124 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit., p. 45. 125 “Docimasia: [...]Exame, avaliação, para prova oficial e/ou judicial. [...] Docimasia pulmonar: Méd. leg. Verificação para determinar se um feto chegou a respirar, ou não.[...]”.[Dicionário Aurélio Eletrônico. Cd Room. Versão 3.0 Ano 1999.] 126 GOMES, Hélio. Medicina Legal. cit. p. 508.

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O exame da mulher suspeita de ter praticado infanticídio deverá elucidar sobre a ocorrência de parto, recente ou não. [...] O parecer psiquiátrico se impõe, como exame subsidiário, a fim de se pesquisar doenças ou distúrbios mentais preexistentes, agravados pela gestação, parto ou puerpério.[...] A avaliação de que o estado puerperal possa ter influenciado na produção do delito é, para o perito, de extrema dificuldade, tendo em vista que a perícia, nesses casos, como dissemos anteriormente, é realizada bastante tempo após o fato, não restando, por isso, qualquer vestígio que possa ser detectado.

Ou seja, além da docimasia pulmonar realizada para

comprovar vida extra-uterina do neonato, também são realizados exames na

parturiente, para que possa ser averiguado se esta esteve grávida ou não, deu a

luz recentemente ou não e conforme laudos realizados por psiquiatras como

estão as condições mentais da parturiente, detectando mesmo com muita

dificuldade, sendo às vezes muito tempo após o parto, qualquer resquício de

perturbação ou distúrbio mental, seja este provocado pelo parto e estado

puerperal, ou seja este já existente porém anônimo até então.

3.5 COMPETÊNCIA E CLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE INFANTICÍDIO

O crime de infanticídio, por tratar-se de um crime doloso

contra a vida (dentre estes estão: homicídio; induzimento, instigação ou auxílio a

suicídio; infanticídio e aborto), é de competência do Tribunal do Júri, como prevê

o art. 74127, §1º do Código de Processo Penal, seja em sua forma tentada ou

consumada.

Nesse sentido traz Ribeiro128:

Assim, o crime de Infanticídio, artigo 123, do Código Penal, está inserido no rol dos crimes contra a pessoa, e no capítulo dos crimes contra a vida, devendo ser julgado pelo tribunal do Júri, do local onde os fatos ocorreram, da mesma forma, o crime tentado

127 Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. [Art. 74, caput do CPP.] §1º. Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos artigos 121, §§1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. [Art. 74, §1º do CPP.] 128 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 150.

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na forma do art. 14, inc. II, do Código Penal, também será julgado pelo Tribunal do Júri, que é competente para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, conforme preceitua o artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição Federal.

O art. 5º, inc. XXXVIII, da CRFB/1988, preceitua que:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a)a plenitude da defesa;

b)o sigilo das votações;

c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida;[...].

O art. 74, §1º do CPP, assim como o art 5º, inc. XXXVIII da

CRFB/1988, preceituam que a competência do julgamento para os crimes dolosos

contra a vida é do Tribunal do Júri, que é composto segundo Mirabete129 por um

juiz de direito, que é o seu presidente e pelos vinte e um jurados sorteados entre

os inscritos na lista geral e anual. Sendo que destes vinte e um presentes serão

sorteados sete para presidirem na sessão de julgamento do Tribunal do Júri.

Destarte assim inocentando ou culpando a acusada, conforme provas e

alegações apresentadas pelo representante do Ministério Público, na pessoa do

Promotor (a) de Justiça, assistente de acusação, se houver, e os advogados (a)

de defesa a acusada.

E o art. 14, inc. II do CP, estipula que:

129 MIRABETE, Julio Fabrini. Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 552.

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Art. 14. Diz-se o crime:

Tentativa

II – tentando, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.[...]

Ou seja, dispõe o art. 14, inciso II, do CP acerca da

tentativa, sendo ela aqui no crime de infanticídio.

E ainda reforça Maggio130:

O infanticídio, tentado ou consumado, é um crime de ação penal pública incondicionada, cujo julgamento é de competência do Tribunal do Júri, nos termos do disposto no artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição federal, combinado com o artigo 74, §1º, do Código de Processo Penal. É competente o juízo do local onde se verificou a morte e, no caso de tentativa, do local onde cessou a atividade do agente. A pena em abstrato cominada para o delito é detenção de dois a seis anos – (Código Penal, artigo 123).

Fica bem claro então que é um crime cujo julgamento é de

competência do Tribunal do Júri, conforme disposto acima, que o juízo

competente, a comarca ao qual deve ser indicada para instaurar o Processo

Crime é no local onde se consumou o fato, no local onde foi averiguada a morte

do recém-nascido.

A ação penal utilizada neste crime é a ação penal pública

incondicionada, ou seja, conforme Mirabete131, é em princípio uma ação penal

pública, sendo esta um direito subjetivo perante o Estado-juiz, e incondicionada

por ser promovida pelo Ministério Público sem que haja manifestação da vontade

da vítima ou qualquer pessoa.

Porém é de se destacar que é um dos poucos crimes que a

acusada pode até seu julgamento permanecer em liberdade sob fiança. É o que

estipula o art 322 do CPP, que traz em seu texto legal: 130 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.123. 131 MIRABETE, Julio Fabrini. Processo Penal. cit. p. 119.

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Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração punida com detenção ou prisão simples.

Como o crime de infanticídio, em seu art. 123 do CP, prevê

como pena detenção de dois a seis anos, este pode conforme art 322 co CPP,

como disposto acima, ter o benefício da fiança concedido pela autoridade policial.

A prescrição in abstracto132 do crime de Infanticídio, é

conforme o art. 109133, inciso III, do CP é de doze anos.

Quanto à sua classificação doutrinária, segundo Maggio134 :

[...] Classifica-se: quanto à conduta - como crime de ação livre porque pode ser cometido por qualquer meio comissivo ou omissivo de execução[...] Quanto ao resultado – como: a) crime material porque só se consuma com a produção do resultado morte previsto no tipo penal [...] b)como crime de dano porque para que haja a consumação é exigida uma efetiva lesão ao bem jurídico protegido[...] Quanto ao momento consumativo – como crime instantâneo porque uma vez consumado, está encerrado, a consumação não se prolonga [...] Quanto ao sujeito ativo – como: a)crime próprio porque a lei exige do agente uma qualidade específica, a de mãe [...] b) como crime monossubjetivo (ou de concurso eventual) porque pode ser praticado por uma só pessoa [...]Quanto ao bens jurídicos tutelados – como crime simples porque atinge apenas um bem jurídico, a vida [...] Quanto ao elemento subjetivo – como crime doloso porque o agente tem a vontade livre e consciente de praticar a conduta típica. [...]

Conforme Maggio, o infanticídio na sua classificação

doutrinária é um crime de ação livre, material, de dano, instantâneo, próprio,

monossubjetivo (ou de concurso eventual) simples e doloso.

132 “A PPP abstrata é calculada de acordo com o máximo cominado abstratamente, ou seja, pela maior pena possível.” [CAPEZ, Fernando. Curso De Direito Penal, Vol.1: Parte Geral. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 577.] 133 Art. 109. A prescrição , antes de transitar em julgado a sentença final, salvo disposto nos §§ 1º e 2º do artigo 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: III – em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;[...] [Art. 109, caput e inciso III do CP.] 134 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte culposa do recém-nascido. cit.p.122 e 123.

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E ainda ressalta-se que é um crime de mão própria, pois

somente a própria mãe, parturiente pode cometê-lo.

3.6 INFANTICIDIO E CO-AUTORIA

É possível no crime de Infanticídio a co-autoria, ou seja, a

possibilidade de uma pessoa alheia ao fato, ajudar a consumá-lo, ajudar com que

a mãe mate o próprio filho.

Traz Noronha135, acerca do concurso de agentes que:

[...] O terceiro que auxilia a parturiente, sob influência do estado puerperal, a matar o próprio filho é co-autor de infanticídio ou homicida? [...]Trata-se de questão controvertida. Logos, Gómez e, entre nós, Hungria opinam pelo homicídio.[...] Por co-autor de infanticídio se pronunciam Soler, Maggiore, Manzini e, em nosso meio, Olavo Oliveira. [...] Não há dúvida alguma de que o estado puerperal é circunstância (isto é, estado, condição, particularidade, etc.) pessoal e que, sendo elementar do delito, comunica-se, ex vi do art. 30, aos co-participes. Só mediante texto expresso tal regra poderia ser derrogada.

Já Damásio136, entende que:

[...] O terceiro deveria responder por delito de homicídio. Entretanto, diante da formulação típica desse crime em nossa legislação, não há fugir à regra do art. 30: como a influência do estado puerperal e a relação de parentesco são elementares do tipo, comunicam-se entre os fatos dos participantes. Diante disso, o terceiro responde por delito de infanticídio.Não deveria ser assim. O crime do terceiro deveria ser homicídio.

E ainda, conforme traz Ribeiro137, caso concorra para a

prática do crime de infanticídio, conforme o art. 30 do CP, sendo que este

determina a comunicabilidade das “elementares do crime”, independentemente de

se tratarem de condições ou circunstâncias pessoais.

135 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. cit. p. 52 e 53. 136 DAMÁSIO, E. De Jesus. Direito Penal – Parte Especial. cit. p. 113. 137 RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Infanticídio. cit. p. 128.

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Ambos doutrinadores acima, entendem que o delito

comunica-se com o art. 30138 do CP, portanto o terceiro que participar da

consumação do crime de infanticídio, responde por este, previsto no art. 123 do

CP, e não por homicídio, porém ambos discordam de tal posição, acreditando que

o terceiro que participasse do delito deveria sim ser punido pelo crime de

homicídio, previsto no art 121, caput, do CP.

A posição defendida neste trabalho é de que se deve relevar

o estado puerperal na caracterização do crime, porém a única pessoa que passa

por este estado puerperal é a mulher parturiente, a gestante que está dando à luz,

não um terceiro que participe no crime, portanto concorda-se que o terceiro, o co-

autor ou partícipe deveria sim responder pelo crime de homicídio, por estar

totalmente são do acontecimento, e poder discernir entre certo e errado, devendo

ajudar e iluminar a mulher parturiente de que sua atitude é errônea e não ajudá-la

a consumar o crime de infanticídio.

Contudo, em razão do estado puerperal ser elementar do

delito, conforme discorreu Noronha, responderá então o terceiro, co-autor ou

partícipe, pelo crime de infanticídio, porém, totalmente inadequado à situação,

errôneo e injusto.

Importante também mencionar que o crime de Infanticídio é

um crime privilegiado em relação ao crime de homicídio. Contudo, o estado

puerperal não pode ser causa de isenção de pena, já que existe previsão legal

para tanto, sendo apenas uma sugestão de mudança, de melhora de nosso

ordenamento jurídico, pois é o dever de todos os operadores do Direito, seja em

que área estes atuarem de sempre optar pela melhora, humanização e evolução

do nosso judiciário, seja em suas leis, disposições, etc.

Então após este profundo estudo sobre a relevância do

estado puerperal na caracterização do crime, por que este não poderia

futuramente ser considerado como isenção de pena, e o magistrado optar por ao

invés de aplicar ima pena para a mulher parturiente, determinar-lhe um tratamento

138 Art. 30. Não se comunicam as circunstanciais e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. [Art. 30 do CP.]

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psiquiátrico e psicológico supervisionado para sua recuperação e reintegração à

sociedade?!

São idéias, são opções, são hipóteses trazidas nestes

trabalhos realizados na academia que idealizam melhoras e mudanças sempre

visando à evolução do País e das leis que regem este.

3.7 INFANTICIDO EM FOQUE NA MÍDIA EM 2006

Neste ano de 2006, o crime de infanticídio está em foque na

mídia nacional, sendo a toda momento discutido e reportadas notícias de recém –

nascidos, encontrados muitas vezes com vida e muitas vezes infelizmente mortos,

abandonados pelas mães, logo após o parto.

O crime teve sua primeira repercussão com o caso da

mulher que após dar à luz, quando teve seu filho em seus braços e se ausentou

do hospital, o colocou numa sacola plástica, junto a um pedaço de madeira e o

colocou num rio, tendo sido encontrado por pessoas que achavam ser um animal

qualquer, e se surpreenderam ao ver que era um bebê recém-nascido.

O dom da vida, como já disposto anteriormente na presente

monografia é magnífico, e foi concedido à mulher de forma divina e incomparável,

porém somos todos seres humanos, dotados de imensa imperfeição, dotados de

muitos erros, dos quais com a vida, os obstáculos impostos por ela, e deve-se

através destes obstáculos, destas preciosas lições aprender, crescer-se e evolui-

se.

Deve-se sim, levar em consideração que se uma mulher

grávida, após seis meses (prematuros) ou nove meses (gravidez completa), está

sofrendo desamparo, desprezo e muitos preconceitos, pelo

companheiro/marido/namorado/amásio, etc, familiares, amigos e sociedade em

geral, possa sim correr sérios riscos de infelizmente cometer o crime de

infanticídio, porém ela não se encontrava em seu juízo normal, não se encontrava

apta a discernir certo e errado, apenas além de todo o sofrimento que o parto lhe

causara havia também uma explosão de sentimentos, estes envoltos pela raiva,

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tristeza e rancor, que lhe confundiram totalmente qualquer possibilidade de

equilíbrio.

Deve-se pensar na possibilidade de ao invés de apenar a

mulher que consumou o crime de infanticídio, desde que comprovado que ocorreu

devido ao estado puerperal que esta se encontrava, lhe fornecer tratamento

psiquiátrico, psicológico, atenção, educação, enfim reestruturação, para que ela

possa retornar a sociedade consciente de seu erro, sua perda mas disposta a

reeducar-se e crescer para quem sabe futuramente também ajudar outras

semelhantes que passam pelo mesmo caso que esta já passou.

3.8 O ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA ACERCA DO INFANTICÍDIO

Foram pesquisadas no TJSC·, algumas jurisprudências

acerca do crime de infanticídio, até mesmo para elucidar a presente monografia, e

aliar à prática à teoria pesquisada neste trabalho.

Infanticídio. Acusada que logo após o parto, sob perturbação psíquica que o puerpério provoca, mata o próprio filho. Prova concreta que corrobora confissão da ré. Prova indireta do nascimento com vida. Decisão do Conselho de Sentença com apoio nos autos139.

Júri. Infanticídio. Acusada Que Logo Após O Parto Enterra Feto Com Vida. Absolvição. Condenação Pelo Crime De Ocultação De Cadáver. Decisão Divorciada Da Prova. Provimento Do Recurso Ministerial Para Submeter A Ré A Novo Julgamento. Recurso Defensório Prejudicado140.

Infanticídio - Estado puerperal caracterizado. Matar logo após o parto, o próprio filho, sob a influência do estado puerperal, é crime de infanticídio141.

Apelação Criminal. Infanticídio. Recurso Ministerial Objetivando A Majoração Da Reprimenda. Alegada Desfavorabilidade Das

139 Apelação criminal n. 25.155, de Indaial.Relator: Des. José Roberge. 140 Apelação Criminal N. 26.051, De Canoinhas.Relator: Des. Ernani Ribeiro. 141 Recurso criminal n. 9.287, de Videira. Relator: Des. Souza Varella.

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Circunstâncias Do Art. 59 Do Cp. Inocorrência. Ré Primária E De Bons Antecedentes. Circunstâncias Judiciais Que Favorecem A Acusada. Dosimetria Da Pena Que Não Merece Reparos. Sentença Mantida. Recurso Desprovido142.

Recurso ex officio. Sentença de Pronúncia. Infanticídio. Ré acometida de psicose puerperal à data do fato. Absolvição liminar fulcrada no artigo 411 do Código de Processo Penal. Confirmação do provimento judicial absolutório. Recurso oficial desprovido143.

As jurisprudências acima retiradas do TJSC, trazem 5 casos

de Infanticídio, dentre eles estão absolvições que comprovam a presença do

estado puerperal, sendo este o causador da consumação do crime.

Estas foram dispostas simplesmente ara elucidação do

tema, e comprovação de que o estado puerperal influencia no psiquismo da

mulher e faz com que inconscientemente ela venha a consumar o delito, pois

encontra-se totalmente desnorteada e fora de seu juízo normal, do qual poderia

discernir entre o certo e o errado.

142 Apelação Criminal N. 31.781, De Anchieta.Relator: Des. Jorge Mussi. 143 Apelação criminal n. 27.551, de Joaçaba. Relator: Des. Alberto Costa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Monografia analisou os conceitos do crime, do

estado puerperal e do crime de infanticídio, dando ênfase na relevância do estado

puerperal na caracterização do crime.

O objetivo primordial desta monografia foi o de além de

trazer os conceitos acerca do crime, do estado puerperal, do puerpério e do crime

de infanticídio, possibilitar com que antes de acusar, repudiar e indignar-se com o

delito, que sim é bárbaro, cruel, triste, primeiro visualizar também o modo com

que a gestante durante sua gravidez, mesmo indesejada, o sofrimento físico,

psíquico e psicológico por qual esta tenha passado, foi primordial para a

consumação do crime.

Sendo que esta jamais em seu juízo perfeito o teria

cometido, pois o dom da vida é magnífico, e a natureza concedeu as mulheres

essa preciosa, porém árdua tarefa que é a maternidade. Não se pode apedrejar a

mulher e, sim se deve ajudá-la, lhe mostrar opções, caminhos e lhe acolher neste

momento tão delicado.

Claro que existem exceções, aqui se tratam apenas dos

casos em que alterada pelo descaso, desprezo e abandono da sociedade,

companheiro, amigos e familiares sendo este num período considerável de seis

(casos de prematuros) há nove meses (gravidez completa), que além de toda a

extenuação física durante o parto, estes em conjunto provoquem a falta de

discernimento e responsabilidade, e leve à mulher parturiente, a crer que o

nascimento de seu filho, não é uma coisa boa, a crer que a concepção desta

criança lhe trouxe perdas, frustrações e que infelizmente se livrar dela seria uma

solução, mas claro, não é.

Caso cometa o crime, a mãe necessita mais de tratamento

psiquiátrico, psicológico, apoio, carinho, enfim, amor, informação para que possa

se reintegrar a sociedade, recuperar seu juízo normal e poder enxergar o quão

errônea foi sua atitude, do que uma pena de prisão.

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Notou-se na presente pesquisa, que o crime atinge

normalmente as mulheres que possuem uma condição financeira mais baixa,

possuem pouca ou nenhuma informação, sendo que o desprezo, descaso e perda

de vínculos afetivos, com o marido ou companheiro, amigos, familiares e

sociedade em geral, aliados também às vezes a muitos traumas no decorrer de

suas vidas, como brigas em família e entre os pais, medo e submissão ao

companheiro, falta de carinho e amor seja na infância, relação marital, no lar, etc.,

sendo que todos esses sentimentos acumulados explodem, desordenando

totalmente a mulher, durante e logo após o parto, fazendo com que além também

de todas as modificações que seu organismo passou, somados às dores e

dificuldade durante o nascimento do neonato, provoquem nitidamente a

consumação do crime, vendo a mulher, infelizmente esta como a única saída e

alívio de suas dores, medos e anseios.

A mulher fragilizada tem opções, estas como, por exemplo,

da adoção, informando aos órgãos judiciários competentes que não dispõe de

condições financeiras ou psicológicas de criar este filho, isto não é crime é uma

alternativa. Opção de batalhar, levantar a cabeça e com apoio do Estado ir à luta

para criar seu filho senão quiser que o adotem, porém a sociedade precisa

fornecer este apoio, esta informação quando a mulher desamparada dela

necessitar.

Acerca das hipóteses levantadas, estas restaram

confirmadas, sendo que na primeira hipótese sobre o crime de Infanticídio, este

pode ocorrer com qualquer mulher, porém nesta monografia defende-se que o

estado puerperal influencia na caracterização do crime, tal hipótese é exposta e

confirmada no 2º Capítulo, que através de diversos autores, sendo estes Almeida

Junior, J. B. O , Costa Junior apud Maggio, Mirabete, e principalmente Krafft

Ebing apud Ribeiro e Maggio, trazem em detalhes as modificações físicas,

psíquicas e psicológicas por qual o corpo e a mente da mulher passam, antes,

durante e logo após o parto.

Diante da segunda hipótese levantada, esta se confirma,

pois os fatores sociais, estes como stress, desprezo e principalmente abandono

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do parceiro, família, amigos e sociedade influenciam para que o estado puerperal

se intensifique, no 2º Capítulo desta monografia, confirma-se tal hipótese,

inclusive através de citações de Antonio Guariento apud Maggio, que comprova

através de uma pesquisa que a população sob maior risco de psicose puerperal é

a de mulheres que possuem uma história de vida e de gestação conturbadas.

E na terceira e última hipótese levantada, esta se confirma

em parte, pois o crime de Infanticídio é uma forma privilegiada em relação ao

homicídio. Já quanto à possibilidade do estado puerperal ser considerado como

isenção de pena frisa-se que não existe uma previsão legal para tanto, sendo

apenas uma proposta sugerida, pois a mulher parturiente necessita, caso

consume o crime de infanticídio de tratamento psiquiátrico e psicológico para sua

reintegração junto à sociedade e não de pena. E por que não abordar sugestões,

idéias para sempre melhorar e evoluir nosso País e as leis que o regem. O dever

de todos os operadores do Direito, indiferente da área que atuem, é sempre

buscar por novos pontos de vistas, idéias e humanização para destarte crescer

em todos os sentidos, sempre visando à melhora do nosso Judiciário.

Concluem-se então, após minuciosa pesquisa, que no

estado puerperal, todas estas modificações físicas, psicológicas e psíquicas por

quais a mulher que dá a luz passa, devem ser levadas em consideração, e ao

invés de uma atenuação de pena, ou diferenciação na tipificação do crime, este

deveria quando consumado, não ser sancionada uma pena e sim um tratamento,

aliado à educação para reintegração desta mulher à sociedade.

Finaliza-se esta monografia, concluindo-se que o estado

puerperal influencia na caracterização do crime de infanticídio e de que à

orientação à adoção, à educação e a informação como opções preventivas às

mães que não tiverem condições de criar seus filhos, devido a sua situação

psicológica causada pelo estado puerperal, é obrigação do Estado e está

embasada principalmente no art. 6º, da Carta Magna, que traz que são direitos

sociais à educação, à saúde, à proteção à maternidade e à infância, à assistência

aos desamparados, entre outros.

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Também além do previsto no art. 6º da CRFB/1988, é de

senso comum do ser humano que uma nação só possa evoluir através da

educação, da informação e da assistência que o Estado tem obrigação de prestar

ao seu povo, sendo o mínimo exigível: “educação, saúde, amparo, proteção”, para

que destarte este possa crescer, se fortificar e progredir, sempre em busca de

uma sociedade melhor.

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