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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS. CURSO DE DIREITO A GUARDA COMPARTILHADA JERUSA COMELLI HENRIQUE Itajaí, novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS. CURSO DE DIREITO

A GUARDA COMPARTILHADA

JERUSA COMELLI HENRIQUE

Itajaí, novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS JURÍDICAS. CURSO DE DIREITO

A GUARDA COMPARTILHADA

JERUSA COMELLI HENRIQUE

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Dra. Claudia R. A. Figueiredo

Itajaí, novembro de 2008.

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AGRADECIMENTO

Á DEUS, meu refúgio. Á minha família, um dos motivos pelo qual estou aqui hoje. Aos ilustres professores da Univali, pelos ensinamentos deixados e pela amizade entabulada no decorrer desses cinco anos. E especialmente a profª. Drª Claudia R. A. Figueiredo, pelo auxílio na realização deste trabalho. Muito Obrigada.

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DEDICATÓRIA

Ao meu Pai, meu grande professor da vida, a esta pessoa que me ensinou tantas coisas.

A minha mãe, exemplo de afeto e de perseverança, por acreditar na minha capacidade.

Ao meu marido, meu companheiro e amigo.

E minha família, por estarem sempre comigo.

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“O ideal de uma plena comunidade de vida, como

certamente seria de desejar-se, exige também

certamente a duração eterna do matrimonio, a se

sobreporem os cônjuges com altivez aos

contratempos circunstanciais que o mundo lhes

prepara; essa comunidade de vida deveria ser

preservada a todo custo, particularmente quando

dela tivesse resultado prole, cuja inocência,

educação e criação acabaram sendo prejudicadas

pelo desfazimento do lar paterno”.

( Yussef Said Cahali)

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vi

TERMO DE INSENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale de Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, novembro de 2008.

Jerusa Comelli Henrique Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

de Itajaí - UNIVALI, elaborada pela graduada Jerusa Comelli Henrique, sob o

título: Guarda Compartilhada, foi submetido em [data á banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Nome dos Professores ] ([Função]), e

aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]).

Itajaí (SC), novembro de 2008.

Professora: Drª Claudia R. A . Figueiredo

Orientadora e Presidente da Banca

Professor Msc. Antônio Augusto Lapa

Coordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que [o] Autor[a] considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Guarda compartilhada1:

“A guarda compartilhada tem como objetivo a continuidade do exercício comum

da autoridade parental. Dito e outra forma, a guarda compartilhada tem como

premissa a continuidade da relação das crianças com os genitores, tal como era

operada na constância do casamento, ou da união fática, conservando os laços

de afetividade, direitos e obrigações recíprocas, não prevalecendo contra eles a

desunião dos pais,pois, mesmo descomposta, a família continua biparental”.

Guarda na legislação brasileira2:

“O interesse do menor serve, primeiramente, de critério de controle, isto é, de

instrumento que permite vigiar o exercício da autoridade parental sem questionar

a existência dos direitos dos pais. Assim, na família unida, o interesse presumido

da criança é de ser educado por seus dois pais; mas se um deles abusa ou usa

indevidamente suas prerrogativas, o mesmo critério permitirá lhe retirar, ou

controlar mais de perto, o exercício daquele direito. O interesse do menor é

utilizado, de outro lado, como critério de solução, no sentido de que, em caso de

divórcio, por exemplo, a atribuição da autoridade parental e do exercício de suas

prerrogativas pelos pais depende da apreciação feita pelo juiz do interesse do

menor”.

Guarda3:

“Guarda de menor é o conjunto de relações jurídicas que existem entre uma

1 CRISARD FILHO, Valdir, Direito Civil. p. 67. 2 OLIVEIRA, Eduardo de. Famílias Monoparentais. p. 195. 3 FRANÇA, Rubens Limongi. Manual de Direito Civil.

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pessoa e o mesmo, dimanados do fato de estar este sob o poder ou a companhia

daquela, e da responsabilidade daquela em relação a este, quanto a vigilância,

direção e educação”.

Poder Familiar4:

“[...] o pátrio poder pode ser definido como um conjunto de direitos e obrigações,

quanto à pessoa e os bens do filho menor, não emancipado, exercido em

igualdade de condições, por ambos os pais, para que possam desempenhar os

encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a

proteção do filho”.

Responsabilidade Civil5:

“È a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou

patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por

pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente de simples

imposição legal”.

4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 301. 5 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 36.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................1

CAPITULO 1 .........................................................................................................1

O PODER FAMILIAR..............................................................................................3

1.1 CONCEITO....................................................................................................3

1.2 O PÁTRIO PODER E A IGUALDADE ENTRE OS PAÍSES NA

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA...................................................................................6

1.3 OS DIREITO E OS DEVERES DO PODER FAMILIAR...............................7

1.4 A EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR.........................................................9

CAPITULO 2 .........................................................................................................13

A GUARDA............................................................................................................13

2.1 O CONCEITO..................................................................................................13

2.2 A GUARDA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA................................................15

2.3 O DIREITO DECORRENTE DA GUARDA......................................................21

2.4 OS EFEITOS DO VÍNCULO FAMILIAR SOBRE A GUARDA........................27

CAPITULO 3 .........................................................................................................33

A GUARDA COMPARTILHADA...........................................................................33

3.1 A ORIGEM.......................................................................................................33

3.2 A ANÁLISE DA GUARDA COMPARTILHADA..............................................37

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3.3 A GUARDA COMPARTILHADA NA PRÁTICA..............................................43

3.4 A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS....................................................50

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................58

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...............................................................64

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a guarda

compartilhada no Brasil.

Logo, a presente Monografia divide-se em duas

objetivos: o institucional e o investigatória. O primeiro esta voltado à produção da

Monografia com o fim de obter o titulo de Bacharel em Direito, pela Universidade

do Vale de Itajaí – UNIVALI. Já os objetivos investigatórios, subdividem-se em

duas espécies: a) - objetivo investigatório geral, que é mostrar os direitos,

deveres, quais os benefícios que a guarda compartilhada vem trazer para os

filhos, e como ela realmente funciona na prática; b) – objetivos específicos,

verificar quais os benefícios da guarda compartilhada para os filhos; investigar

quais os tipos de guarda; pesquisar sobre a relação da guarda e o princípio da

isonomia; demonstrar se a guarda compartilhada é um meio que realmente ajuda

os filhos, apontando ainda a responsabilidade dos pais quanto a educação dos

seus filhos; e analisar através de pesquisa como fica a guarda compartilhada na

prática.

Para a presente monografia foram levantadas as

seguintes formulações de problemas:

a) – Quais os benefícios para os filhos na guarda

compartilhada?

b) – Qual é a responsabilidade dos pais?

c) - Quais os tipos de guardas?

d) – Em que a guarda compartilhada e o principio da

isonomia estão ligados?

e) – Quais os direitos e deveres do poder familiar?

f) – Como fica a guarda compartilhada na pratica?

A atualidade do tema resta evidenciada pela grande

incidência de situações que ensejam a guarda dos filhos, inclusive nos tribunais,

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cuja demanda teve início há um passado recente. E também pelas lamentáveis

conseqüências de inúmeras intervenções judiciais, incluindo a retirada da criança

do seio familiar.

A presente monografia divide-se em três capítulos.

No primeiro capítulo, serão abordados os principais

conceitos e aspectos pertinentes ao poder familiar, os direitos e deveres do poder

familiar e a extinção do poder familiar.

No segundo, será apresentado o conceito de guarda,

a guarda na legislação brasileira, os direitos decorrentes da guarda e seus efeitos

em relação ao vínculo familiar.

Finalmente, no terceiro capitulo, abordaremos sobre a

guarda compartilhada em si, sua origem, fazendo uma análise e abordando

opiniões de doutrinadores, juristas com relação a sua prática, e por fim um

apanhado sobre a responsabilidade civil dos pais.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a

guarda compartilhada.

Quanto à Metodologia empregada, utilizou-se na Fase

de Investigação o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o método

Cartesiano, e o Relatório dos Resultados expressos na presente Monografia é

composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

O PODER FAMILIAR

O presente trabalho tem por objetivo demonstrar a

possibilidade jurídica da guarda compartilhada no direito brasileiro, suas

conseqüências e vantagens, além de desmistificar os possíveis mitos que lhe são

atribuídos para a sua concessão, tendo, portanto uma relevância social,

representada pela Lei 11.698/2008.

O primeiro capítulo tem como escopo tratar do poder

familiar, o pátrio poder, seus direitos deveres e a sua extinção, para tanto foi

dividido em 4 partes. Inicialmente, será abordado o conceito de poder familiar, na

seqüência será abordado o pátrio poder e a igualdade entre os pais na legislação

brasileira os direitos e deveres do poder familiar e a extinção do poder familiar.

Considerado como um ramo do direito civil, o direito de

família está ligado a todos os cidadãos, uma vez que todos vêm de alguma forma

de agrupamento familiar.

Portanto a oportuna monografia vem com o intuito de

manifestar o anseio de um grande número de cidadãos que vêem em

desvantagem na relação entre pai e filho e que se declaram a favor de uma

revisão da guarda.

1.1 CONCEITO

Contudo, antes de adentrar no próximo assunto será

necessário um breve estudo sobre o Pátrio Poder.

O pátrio poder encontra sua origem em épocas muito

remotas, ultrapassando as fronteiras culturais e sociais, com o desenvolvimento

da história do ser humano, apresentou inúmeras e profundas modificações.

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Inicialmente só o pai exercia o domínio total sobre a família e

o patrimônio da família, no Direito Romano, a características fundamentais da

família é o fato da mesma fundar – se sobre relações de poder. Em Roma,

quando o instituto da família começou a evoluir, consubstanciando-se numa

estrutura jurídica, econômica e religiosa, a partir da figura do pater, o Pátrio Poder

era exercido somente pelo pai. [Ana Maria Milano Silva, Guarda Compartilhada,

2006, p. 18].

Esse direito não tinha limites, dava ao pai o poder de expor,

vender ou entregar a vítima de danos causados ou até mesmo matá-lo. A mulher

também era considerada como propriedade do homem, era usada para gerar

filhos e suprir as necessidades do homem. [Ana Maria Milano, Guarda

Compartilhada, 2006, p. 19].

Essa modificação e transformação foram evoluindo nos

países, dentre eles o Brasil e apresentando em sua legislação as inovações, a

figura da mãe vai se igualando ao do pai.

É importante mencionar que é perfeitamente possível

encontrar várias definições acerca de a expressão pátrio poder.

Sílvio Rodrigues define pátrio poder como sendo um

conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação a pessoa e bens

dos filhos não emancipados tendo em vista a proteção deste.

Para Washington de Barros Monteiro:

O pátrio poder pode ser conceituado como o conjunto de obrigações, a cargo dos pais, no tocante a pessoa e bens dos filhos menores.

Considerado como um ramo do direito civil, o direito de

família está ligado a todos os cidadãos, uma vez que todos vêm de alguma forma

de agrupamento familiar.

Portanto a oportuna monografia vem com o intuito de

manifestar o anseio de um grande número de cidadãos que vêem em

desvantagem na relação entre pai e filho e que se declaram a favor de uma

revisão da guarda.

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É a de José Antonio Paula Santos Neto, que define melhor o

instituto como:

Complexo de direitos e deveres concernentes ao pai e a mãe,

fundado no direito natural, confirmado pelo direito positivo e

direcionado ao interesse da família e do filho e serve como meio

para manter, proteger e educar.

Para esta uma definição verifica-se que a necessidade de

proteção e direcionamento de todo ser humano, enquanto menor ou incapaz.

Hoje o pátrio poder é denominado como poder familiar,

conforme nos mostra a lei 10.406/02, que introduziu no nosso ordenamento

jurídico o novo Código Civil.

Com o término de a expressão pátrio poder, também se

extinguira o requisito de que só o pai (pátrio) obtinha mais ênfase em relação a

figura da materna.

Para melhor entendimento, deve-se salientar que o poder

familiar está sempre direcionado ao sentido de assegurar plenamente a igualdade

do homem e da mulher em seu exercício, também deve prevalecer diante dos

direitos e deveres que ambos têm em relação aos filhos, dando aos filhos o direito

que estes têm, de manter relações com os pais, estejam eles unidos ou não.

1.2 O PÁTRIO PODER E A IGUALDADE ENTRE OS PAIS NA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA

Em nosso ordenamento jurídico e titularidade do pátrio poder

não gera mais dúvida, uma vez que o artigo 5, §I e 226, parágrafo 5 da

Constituição Federal nos traz:

Art. 5 - [...]

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta constituição.

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[...]

Art. 226 [...]

§ 5º – Os direitos e deveres referentes á sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

[...]

Art. 21 – O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, [...]

Portanto, os artigos mencionados procuram esclarecer é a

condição de igualdade do pai e da mãe. O código civil, atento á igualdade entre

os cônjuges, atribui o poder familiar durante o casamento, ou ate mesmo na

Constância da união estável, a ambos os pais.

Ambos devem exercer o pátrio poder, em ambiente de

compreensão e atendimento.

Segundo afirma Washington de Barros Monteiro [2007, p.

349], “[...] nenhuma distinção ou preferência existe entre os genitores no exercício

do poder familiar, cabendo a eles, em igualdade de condições, os respectivos

direitos e deveres [...]“.

Aos pais incumbe a educação, o sustento a guarda dos

filhos, mesmo em caso de separação judicial, assim como o divórcio, não altera

as relações entre pais e filhos.

Será preservado o exercício conjunto do poder familiar. É o

que se verifica na lei nº 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente –

também deixa clara a redação de igualdade entre os pais, em seu artigo 2:

Art. 2º - O Pátrio Poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a Legislação Civil, deles o direito de, em caso de discordância, recorrer á autoridade judiciária competente para a solução da divergência.

Todos os filhos, enquanto menores, estão sujeitos ao poder

familiar, o poder familiar decorre da paternidade e da filiação e não do casamento.

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Em sentido de não haver preferência com quem fica o filho,

sendo que os pais têm o direito e dever de educar e cuidar de seu filho.

Pode-se então concluir, que o poder familiar traz hoje o

amplo significado da igualdade entre os pais em seu exercício. Assim, não há

mais que se falar em privilégio do pai, nem da mãe, devendo sim todos os direitos

e obrigações correspondentes a partir do momento em que colocarem no mundo

ou adotarem um ser humano, serem exercidos de forma igualitária, responsável e

sob a égide da dignidade da pessoa humana.

1.3 DIREITOS E DEVERES DECORRENTES DO PODER FAMILIAR

O Estado tem a competência de fiscalizar e controlar as

relações entre os sujeitos pai e filhos para que os direitos e deveres sejam

cumpridos com o respeito devido à lei nos limites por ela permitidos.

O dispositivo ora em exame é a síntese do pensamento do

legislador, expresso na consagração do preceito de que “os direitos de todas as

crianças e adolescentes devem ser universalmente reconhecidos. São direitos

especiais e específicos, pela condição de pessoas em desenvolvimento”.(João

Gilberto Lucas Coelhos, Criança e Adolescente: a Convenção da ONU

(Organização das Nações Unidas) e a Constituição Brasileira, UNICEF(

................................., p.3).

O artigo 1634 novo Código Civil traz explicito esses direitos

e deveres dos pais, relativamente á pessoa dos filhos menores, quais sejam:

Art. 1634 - Compete aos pais quanto a pessoa dos filhos menores:

[...]

I – dirigir- lhes a criação e educação

Cabe aos pais, dirigir a criação e educação dos filhos,

compete a eles emoldar o caráter do filho para torná-lo útil á sociedade, sob o

ponto de vista moral.

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Para Laurent, [...] o poder do pai e da mãe não é outra coisa

se não proteção e direção. O poder familiar é conceituado, cada vez mais, como

um poder educativo de caráter social.

Assiste, pois, aos genitores o encargo de zelar pela

formação dos filhos, a fim de torná-los úteis a si á família e á sociedade [...]

O lar é o ambiente mais recomendável para a iniciação e

fiscalização da correta formação do filho. É onde o filho começa a desenvolver as

suas atividades intelectuais e morais em todos os níveis.

No mesmo sentido o referido artigo diz: “II – tê-los em sua

companhia e guarda”.

O direito de guarda e de companhia cabe tanto ao pai

quanto a mãe, mesmo separados os dois tem a obrigação e direito perante o filho.

É dever dos pais supervisioná-los e orientá-los.

E ainda o inciso III – conceder-lhes ou negar-lhes

consentimento para casarem.

O comportamento destes adultos deverá, portanto, ser

avaliado, política, mas também juridicamente, por sua conformidade aos

verdadeiros interesses da criança, por sua adequação à função de representar

aquela categoria especial de cidadãos.

Esse consentimento não pode ser deferido em termos

gerais, mas deve ser específico, é o que descreve o inciso IV:

IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento

autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder

exercer o poder familiar.

É de pouca utilização prática, mas cabe aos pais escolher a

pessoa a quem confiar à tutela do filho menor, inciso V do mesmo artigo:

V – representá-los ate os dezesseis anos, nos atos da vida

civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o

consentimento.

Neste caso cabe aos pais representá-los, é o que esclarece

o inciso VI:

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VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

Deste caso a medida judicial aplicada é a busca para que

essa reclamação seja deferida, contudo o inciso VII é taxativo:

VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os

serviços próprios de sua idade e condições.

Os valores transmitidos pelos pais serão conseqüências da

obediência dos filhos. Neste inciso está implícito o direito dos pais em aplicar

corretivos nos filhos menores, mas sem exageros.

Neste artigo deixa-se bem claro todos os direitos e deveres

dos pais e dos filhos.

1.4 EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR

O poder familiar deve ser exercido fundamentalmente no

interesse dos filhos, assim sendo o Estado pode interferir nessa relação a fim de

defender os menores que ai vivem.

Quando um ou ambos os genitores não cumprirem com os

deveres decorrentes do poder familiar, mantendo um comportamento que venha a

prejudicar o filho, o estado deve intervir.

A lei mostra casos em que o titular deve ser privado de seu

exercício, temporariamente ou definitivamente.

Segundo disposto no artigo 1635 do Código Civil de 2002,

extingue-se o poder familiar:

I – pela morte dos pais;

II – pela emancipação, nos termos do artigo 5º, parágrafo

único;

III – pela maioridade;

IV – pela adoção;

V - pela decisão judicial, na forma do artigo 1638.

Como já referido, a morte de um dos pais não faz cessar o

pode familiar, visto que o outro exercera sozinho; cessa-se esse direito apenas

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quando ambos os genitores falecerem, colocando-se os filhos menores não

emancipados sob tutela e na hipótese de morte dos filhos cessa também o poder

familiar.

Com a emancipação, ou seja, a aquisição da capacidade

civil antes da idade legal deixa este de submeter-se ao poder familiar.

Na maioridade o filho faz cessar a dependência paterna,

uma vez que o indivíduo ao atingir 18 anos não, mas necessita de proteção.

Já na adoção extingue o poder familiar do pai ou da mãe de

sangue e passa os pais de adoção. Neste caso não se extingue o poder familiar e

sim é transferido.

Em todo caso, para uma relação de causa e efeito deve ficar

acentuado que a modificação da guarda depende da superveniência de motivos

graves, como consta da lição de Washington de Barros Monteiro, nos seguintes

dizeres:

“[...] somente razões muito sérias ou considerações morais

importantes autorizam o julgador a retirar as filhos da companhia

do pai, ou da mãe, para confia-los a terceiras pessoas ou para

interná-los em estabelecimentos de educação pública ou

particular”.

A decisão judicial decretada a perda do poder familiar esta

descrito no artigo 1638 do Código Civil:

“Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:

I - castigar imoderadamente o filho;

II – deixar o filho em abandono;

III – praticar atos contrários á moral dos bons

costumes;

IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no

artigo antecedente”.

Cada fato relatado acima deve ser analisado caso a caso.

Sendo assim não é possível confundir perda com

suspensão, pois a primeira é permanente e a segunda é temporária.

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Conforme a lei 8.069/90 artigo 155 á 163 do Estatuto da

Criança e do Adolescente, a denuncia poderá ser feita por qualquer pessoa que

demonstre legítimo interesse devendo ser observado o procedimento desta lei.

Há que se observar também que além dos maus tratos e

abusos sexuais a também os maus tratos que são de natureza psicológica e

muito difícil de detectar.

A confirmação, na maioria dos casos, é feita por exame

especial hospitalar ou médico privado. Psicólogos e até sacerdotes podem

colaborar.

Porém todos os atos causados pelos pais serão condenados

de forma severa.

Para Ana Maria Milano Silva, [...] o poder familiar resulta de

uma necessidade natural. O ente humano precisa, principalmente durante sua

infância, de cuidados essenciais à sua criação e educação.

As pessoas naturalmente indicadas para o exercício dessas

funções são os pais, conforme é destacado no artigo 229 da Constituição Federal:

“Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos

maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência e

enfermidade”.

É devido a constatações de desigualdade entre os genitores

na atribuição da guarda única, tradicional, geralmente conferida à mãe, em

detrimento e discriminação à figura do pai, que se fazem necessários os

aprofundamentos de estudos de novos modelos de guarda, como a

compartilhada, que privilegia a igualdade dos pais, pregada não só

constitucionalmente, como em outros diplomas legais, quanto aos seus direitos e

deveres em relação aos filhos, mesmo após o rompimento da união familiar,

tendo como pólo norteador os interesses da prole para que todos esses direitos e

deveres sejam efetivamente preservados.

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CAPITULO 2

A GUARDA

2.1 O CONCEITO

Como seguimento à matéria analisada no capítulo anterior,

trazemos a definição de guarda, condensada por Guilherme Gonçalves Strenger

(2006. DPJ Editora. p. 43), nos seguintes termos:

Guarda de filhos é o poder-dever submetido a um regime jurídico legal, de modo a facilitar a quem de direito, prerrogativas para o exercício da proteção e amparo daquele que a lei considerar nessa condição. Leva-nos à crença de que a guarda não só é um poder pela similitude que contém com a autoridade parental, com todas as vertentes jurídicas, como é um dever, visto que decorre de impositivos legais, inclusive com natureza de ordem pública, razão pela qual se pode conceber esse exercício como um poder-dever.

Antônio César Peluso [Revista de Jurisprudência do tribunal

de Justiça do Estado de São Paulo, v.80.p.16], traz amplo leque de situações que

estão englobadas na guarda de filhos, assim descrevendo quando ainda havia a

nomenclatura “pátrio poder”:

Ora, a guarda, enquanto manifestação operativa do pátrio poder, compreende, em princípio, a convivência no mesmo local, desdobrando-se nas faculdades de autorização para sair de casa, de se comunicar com o menor e sua regulamentação (direito de visita), de vigilância, o qual, em tema de responsabilidade civil, tem sérias implicações, consistindo na necessidade de evitar que os filhos estejam a perigo de ordem pessoal e que ofereçam perigo a terceiros... Abrange ainda a faculdade de controle de comunicações postais, telefônicas, de acesso a leitura, espetáculos, companhias etc., de correção moderada, educação, formação física e mental, espiritual, segundo as aptidões e capacidades, de exigência de respeito, obediência e até de

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prestação de serviço apropriados á idade, e dever de assistência material e moral.

A lei cuida da guarda dos filhos em oportunidades distintas:

quando do reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento (CC 1.611 e

1.612) e quando da separação dos pais (CC 1.583 e 1.589). Vejamos:

Art. 1.611 - O filho havido fora do casamento, reconhecido por um

dos cônjuges, não poderá residir no lar conjugal sem o

consentimento do outro.

Segundo Maria Berenice Dias, em sua obra Manual de Direito

das Famílias, 4º edição, o critério norteador na definição da guarda é a vontade

dos genitores, é o que relata o artigo 1.612 do Código Civil Brasileiro:

Art. 1.612 - O filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a

guarda do genitor que o reconheceu, e, se ambos o reconheceram

e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses

do menor.

Quando registrado o infante somente no nome de um dos

genitores, passa ele a exercer a guarda uniparental, constituído uma família

monoparental, é deste assunto que trata o art. 1.583 do Código Civil, alterado

com a Nova Lei da Guarda Compartilhada:

Art. 1.583 – A guarda será unilateral ou compartilhada;

§ 1º - compreende por guarda unilateral a atribuída a um só dos

genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, parágrafo 5º) e,

por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o

exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam

sobre o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos

comuns.

Está exclusivamente na esfera familiar à definição de quem

fica com os filhos em sua companhia. Ainda que se deva respeitar a deliberação

dos genitores, não se pode deixar de atender para o momento de absoluta

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fragilidade emocional em que eles se encontram, quando definem a guarda ou

restabelecem a visitação. Maria Berenice Dias [2007, p. 394], diz a respeito:

O estado de beligerância, que se instala com a separação, acaba, muitas vezes, refletindo-se nos próprios filhos, que são usados como instrumento de vingança pelas mágoas acumuladas durante o período da vida em comum. Passa a haver verdadeira disputa pelos filhos, além de excessiva regulamentação das visitas, com a previsão de um calendário minucioso, exauriente e inflexível de dias, horários, datas e acontecimentos.

Art. 1.589 - O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os

filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o

que acordar como outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem

como fiscalizar sua manutenção e educação.

Haverá necessidade de cuidar-se da guarda, em face de

uma disputa ou de situações exigentes de suprimir dualidades pela escolha, ou

ainda quando essa atribuição tenha de ser feita como dever do Estado. Esse

panorama gera para as sociedades a obrigação de resolver os problemas

colocados por efeito da separação dos pais e, em decorrência, organizar as

relações entre pais e filhos no seio da família desunida.

2.2 A GUARDA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

O Direito de Família Brasileiro sofreu grande influência do

Direito Romano e do Cristianismo, principalmente as concepções da Igreja

Católica e com o advento do Código Civil de 1916, afirmava-se que o matrimônio

era o assento básico para a formação da família, sendo assim, o direito deveria

ocupar-se basicamente das relações familiares que compreendiam o casamento e

o pátrio poder, posto que era sobre o casamento que repousava a própria

sociedade civil, pois devemos ressaltar que o matrimônio era indissolúvel.

As modificações no direito de família, diante das

transformações econômicas e sociais, de vida e do progresso técnico, têm sido

realizadas menos por uma elaboração legislativa abrangendo todos os institutos

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jurídicos do que por conquistas jurisprudenciais, que geralmente transparecem

nas sentenças de primeira instância e nos votos vencidos dos acórdãos dos

tribunais superiores, e por leis esparsas, que discrepam do sistema dominante

sem, todavia, atender cabalmente às novas reivindicações, tentando conciliar as

tradições do nosso Direito com as novas aspirações, comentário técnico feito por

Aroldo Waldi, O Novo Direito de Família [ 2004].

A primeira alusão e mais significativa tem inquestionável

referibilidade com a Constituição Brasileira de 05 de outubro de 1988,

especialmente o capítulo VII, que trata, “De família, da criança, do adolescente e

do idoso”, havendo algumas diretrizes que alcançam paradigmas universais da

maior validade, entre os quais deve assinalar-se o § 6º do inciso VII do art. 227,

com a seguinte redação:

Art. 227 - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento ou

por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas

quaisquer designações discriminatórias.

Aponta Leoni Lopes de Oliveira [1999. p 37] que o Estatuto

da Criança e do Adolescente disciplina três modalidades de guarda:

a) – A Provisória: aquela que pode ser concedida liminar ou

incidentalmente nos processos de adoção, com exceção nas adoções por

estrangeiros, que a lei veda expressamente;

b) – A Permanente: aquela que é destinada a atender a

situações nas quais, por qualquer razão, não se logrou a adoção ou tutela,

objetivando, também, regularizar a guarda de fato;

c) – A Peculiar: é a destinada a atender a situações

excepcionais ou eventuais, permitindo ao juiz outorgar representação ao guardião

para a prática de determinados atos em benefício do menor.

A legislação brasileira é bastante rica em matéria de direito

positivo visando à proteção do menor, cuja rubrica abrange toda a gama

casuística, desde a filiação até o item do menor abandonado.

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A primeira regra que regulou o destino dos filhos de pais

separados foi o Decreto nº. 181 de 1890 que, em seu artigo 90 estipulava:

Art. 90 - A sentença do divórcio mandará entregar os filhos comuns

e menores ao cônjuge inocente e fixará a cota com que o culpado

deverá concorrer para a educação deles [...].

Ana Maria Milano Silva em seu livro Guarda Compartilhada

de 2005 relata que em 1917 entrou em vigor o anterior Código Civil que, em seu

artigo 325, mandava que na ocorrência de dissolução amigável de um casamento

se respeitasse “o que os cônjuges acordarem sobre a guarda dos filhos” e, no

artigo 326, estipulava que fosse observado, com rigor, se a ruptura fora gerada

“por culpa de um ou de ambos os cônjuges e a idade e sexo dos filhos”.

Para o direito civil, a família é baseada no casamento, ato

jurídico por excelência. Para o direito social, a família se caracteriza por uma

situação de dependência econômica. Em certas ocasiões, as normas de direito

civil e de direito social entram em choque; em outras, funcionam como vasos

comunicantes, exercendo importante influência umas sobre as outras. O Novo

Direito de Família, de Arnoldo Waldi, 2004.

Por muito tempo o interesse do menor foi com base em

decisões judiciais. Com o surgimento da Lei 4.121/62 – Estatuto da Mulher

Casada – motivou, em relação à guarda, alterações no desquite litigioso, mas não

no desquite amigável, podendo assim o magistrado definir a guarda a pessoa

idônea da família de qualquer dos cônjuges, assegurando aos pais o direito de

visita, ou seja, tirando assim a guarda dos próprios progenitores.

As disposições constantes no Código Civil de 1916 foram

revogadas com a entrada em vigor da lei nº 6.515/77 – Lei do Divórcio – com isso

ocorreu à absorção das regras a serem seguidas quanto a guarda dos filhos

menores na ocorrência de dissolução de sociedade conjugal. Vejamos o art. 9º:

Art. 9º - No caso de dissolução da sociedade conjugal pela

separação judicial consensual, observar-se-á o que os cônjuges

adotarem sobre a guarda dos filhos.

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Conforme coloca Waldir Grisard Filho [São Paulo,

2000.p.51]:

[...] todos esses critérios são gerais e abstratos. O legislador partiu do principio de que seriam os mais adequados para atender os interesses dos filhos menores. Tais interesses, e não a autoridade paterna são os eixos de todo o problema. Eles limitam até a livre avença dos pais em uma separação consensual, podendo o juiz recusar sua homologação se restar comprovado que a convenção não preserva suficientemente os interesses dos filhos, na dicção do artigo 34, § 2º. O direito de visita, e o de ter os filhos em sua companhia e de fiscalizar-lhes sua manutenção e educação foram ampliados pelo artigo 15, como foram estendidas, através do artigo 16, todas as disposições referentes a guarda de filhos menores aos maiores inválidos.

Com o surgimento do atual Código Civil estabeleceram-se as

determinações sobre a guarda de filhos nos artigos 1.583 a 1.590, abolindo, no

artigo 1.583, o critério da culpa pela separação, que impedia o genitor que deu

causa a separação, de ficar com a guarda dos filhos, assim era o que dizia o

artigo 1.583 do Código Civil antes de sofrer as alterações dadas pela Lei

11.698/2008:

Art. 1.583 - No caso de dissolução da sociedade ou do vínculo

conjugal pela separação judicial por mútuo consentimento ou pelo

divórcio direto consensual, observar-se-á que os cônjuges

acordarem sobre a guarda dos filhos.

Mesmo que definição da guarda e da visitação esteja a

cargo dos pais, o que for acordado depende da chancela judicial, o que só ocorre

a ouvida do Ministério Público. Na ação de separação é indispensável que tais

questões fiquem definidas, não só quando de separação consensual se tratar, nas

demandas litigiosas com muito mais razão. Evidenciando que o acordado não

atende os interesses dos filhos, o juiz pode deliberar de forma diversa, tendo até a

faculdade de não homologar a separação, é o que se refere o artigo 1.574

parágrafo único do Código Civil.

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É de suma importância se ressaltar que o artigo 1.583 não

faz referencia explicita a guarda compartilhada, mas diz que será observado o

que os cônjuges acordarem sobre a guarda dos filhos e, sendo assim, deveria

haver sua aceitação pelo juiz da causa quando as partes a escolhessem como

modelo de guarda a ser aplicado.

Como descreve Guilherme Gonçalves Strenger, em sua obra

Guarda de Filhos, em qualquer hipótese os pais assim identificados, têm o dever

irrenunciável de criar e educar os filhos menores. A perfilhação, ou seja, o

reconhecimento do filho ilegítimo pode evidentemente ser feita por ambos os

progenitores, de comum acordo, ou por qualquer deles separadamente, conforme

dispõe o Código Civil no artigo 1.607:

Art. 1.607 – O filho havido fora do casamento pode ser

reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente.

Podendo esse reconhecimento preceder ao nascimento do

filho ou suceder ao falecimento, segundo artigo 1.609 do Código Civil:

Art. 1.609 – O reconhecimento dos filhos havidos fora do

casamento é irrevogável [...].

[...].

Aliás, Yussef Said Cahali, manifestando-se a respeito

adverte:

Lamenta-se apenas sobre estes aspectos a ausência de conscientização de nossa sociedade para um amplo programa de famílias substitutas, seja pela falta de divulgação dos regulamentos quanto as garantias da família substituta e do menor recolhido, seja igualmente pela ausência do controle da natalidade que evitasse a falência por antecipação de qualquer programa de colocação familiar.

E, continuando, acrescenta:

Como também se lamenta que decorrido um ano de vigência do novo Estatuto (a conferência foi pronunciada em 1991, mas se

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aplica ao momento atual), não se tem notícia de qualquer iniciativa governamental, no sentido de tornar efetivo o disposto no artigo 34, segundo o qual, o Poder Público estimulará, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sobre a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; subsistem assim apenas os benefícios sociais, tributários e previdenciários do direito anterior, que não se revelaram estímulos suficientes.

Não se pode olvidar também que a sentença que estabelece

a guarda está sempre sujeita à revisão, se as respectivas regras deixarem de

preservar os interesses do menor. Desse modo, pelo motivo da guarda

compartilhada privilegiar os filhos e diante do acordo entre os pais sobre o seu

estabelecimento, não caberia ao juiz recusar a estipulação.

Se os pais não estão acordes, o artigo 1.584 do Código Civil

diz:

Art. 1.584 – [...] quando as partes não estiverem de acordo

quanto à guarda elas será atribuídas a quem revelar maior

condições para exercê-la.

Este dispositivo não poderá ser aplicado sobre a ótica

prioritária da capacidade econômica dos genitores, pelo perigo de se beneficiar o

pai ou a mãe em melhor condição financeira, em detrimento do outro, mais pobre.

No parágrafo único do artigo mencionado o Código traz as

exigências que uma terceira pessoa deverá possuir para ter a guarda de menores

não sendo suficiente a notória idoneidade, mas terá também de revelar

compatibilidade com a natureza da medida, preferencialmente levando-se em

conta o grau de parentesco, relação de afinidade. Na verdade estas condições

estampam o escopo maior da lei que é privilegiar o melhor interesse da criança.

Sendo que independentemente da guarda estar com terceiros, continua

permanecendo o direito dos genitores de fiscalizar a manutenção e a educação

dos filhos.

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Caio Mario da Silva Pereira (2004, p.421) define o poder

familiar como complexo de direitos e deveres quanto à pessoa e bens do filho,

exercidos pelos pais na mais estreita colaboração em igualdade de condições.

Neste mesmo sentido ratifica o artigo 1.632 do Código Civil:

Art. 1.632 – A separação judicial, o divórcio e a dissolução da

união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão

quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua

companhia os segundos.

Historicamente os filhos sempre ficavam sobre a guarda

materna, por absoluta incompetência dos homens de desempenharem as funções

de maternagem. Sempre foi proibido aos meninos brincar de boneca, entrar na

cozinha. Claro que em face disso nunca tiveram qualquer habilidade para cuidar

dos filhos. Assim, mais do que natural que estas tarefas fossem desempenhadas

exclusivamente pelas mães: quem pariu que embale! Quando da separação, os

filhos só podiam ficar com a mãe. Até a Lei dizia isso. É o que discorre Claudete

Carvalho Ganezim, Da Guarda Compartilhada em Oposição a Guarda Unilateral,

[2007 p. 24].

2.3 DIREITO DECORRENTE DA GUARDA

A questão da guarda evoluiu conforme as novas realidades

civis foram surgindo e foi sendo regulada através de várias legislações

específicas como a Lei 11.698/2008, o Código dos Menores, Lei do Divórcio,

Estatuto da Criança e do Adolescente, pela especial circunstancia de ter de

colocar como prioridade os interesses do menor em consonância aos seus

direitos fundamentais destacados no artigo 227 da Constituição Federal de 1988,

onde diz:

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e a convivência

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familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade, e opressão.

Diante do melhor interesse dos filhos menores, da

extremada proteção da criança outorgada pela Constituição (art.227, dentre

outros) da igualdade entre genitores no exercício do pátrio poder e da evolução

natural dos valores sociais, chegou-se a questionar a vigência dos artigos 10 e 11

da Lei de Divórcio, nos quais se decide a guarda com base na responsabilidade

pela separação. Observem:

Art. 10 – Na separação judicial fundada no caput do art. 5º, os filhos menores ficarão com o cônjuge que a ela não houver dado causa.

[...]

Art. 11 – Quando a separação judicial ocorrer com fundamento no § 1º do art. 5º, os filhos ficarão em poder do cônjuge em cuja companhia estavam durante o tempo de ruptura da vida em comum.

Em nossos tribunais, acertadamente a questão da guarda

passou a ser enfocada exclusivamente sobre a ótica do bem estar dos filhos,

independentemente das causas do rompimento do casamento.

A nova lei determina, ainda, como já se fazia anteriormente,

que as regras referentes à guarda e sustento dos filhos, em caso de separação

litigiosa aplicam-se, por igual, à hipótese de invalidade do casamento. Também o

direito anterior denominava posse dos filhos, que o Código preferiu chamar

guarda por correção do Senador Ruy Barbosa.

Conforme Rodrigues, os cônjuges, após a Constituição

Brasileira de 1988, passaram a deterem direitos e deveres em igualdade de

condições, ousando o legislador constituinte um quarto de século após a

elaboração do Código Civil Brasileiro de 1916.

Ana Maria Milano Silva, [2006, p.51], descreve em sua obra:

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É nesse sentido que a prioridade conferida ao interesse do menor

emerge como ponto central, a questão maior, que deve ser

analisada pelo juiz na disputa entre os pais pela guarda dos

filhos.

A palavra “interesse” engloba uma gama variada,

absolvendo os interesses materiais, morais, emocionais e espirituais, do filho

menor, não se podendo esquecer de que cada caso é um caso e deve seguir o

critério da decisão do juiz. Esse princípio em nosso Direito positivo é afirmado

pelo artigo 13 da Lei do Divórcio, vejamos:

Art. 13 – Se houver motivos graves, poderá o juiz, em qualquer caso, a bem dos filhos, regular por maneira diferente da estabelecida nos artigos anteriores a situação deles com os pais.

O caráter de sujeito de direito que tem o menor, é o

fundamento deste critério, senão uma pessoa que tem direito à proteção, à

assistência e à educação.

Observa Flávio Guimarães Lauria quanto ao artigo 6º do

Estatuto da Criança e do Adolescente, cuja redação é a seguinte:

Art. 6º - Na interpretação dessa lei, levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento.

O artigo do Estatuto representa a abertura de portas para

que a jurisprudência possa romper as amarras do formalismo ligado aos

paradigmas ultrapassados.

Maria Berenice Dias, em seu Manual de Direito das Famílias

[4.ed.2007.p. 377], comenta que ainda que o ECA seja anterior ao Código Civil

constitui-se em um microssistema. Dispondo de um centro de gravidade

autônomo, suas regras têm prevalência. As codificações pelo seu grau de

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generalidade, não possuem qualquer capacidade de influência normativa sobre os

estatutos.

Paulo Luiz Netto Lôbo, [p.183], lembra que não se vislumbra

contradição (cronológica ou de especialidade) entre o ECA e o Código Civil, não

se podendo alvitrar sua derrogação, salvo quando a denominação pátrio poder,

substituir por poder familiar.

Na maioria das vezes, a decisão sobre o destino dos filhos,

pede e compreende uma interação e harmonia mínima entre os parentes; no mais

das vezes, seja pela natureza do povo brasileiro, seja pela forma como o instituto

do casamento sempre foi mantida em nossa legislação, esta interação e esta

harmonia não encontram campo para desenvolverem-se.

O Código Civil, em seus artigos 1.630 a 1.634, trata do Poder

Familiar (antigo Pátrio Poder) e de seu exercício. Pouco se pode verificar como

relevante em termos de modificação, que não a inclusão da figura jurídica da

união estável, da igualdade entre ambos os sexos (parentes) e a disposição de

exercício conjunto deste poder que doravante é reconhecido como familiar e não

apenas pátrio, dando um dimensionamento mais abrangente e mais propício ao

compartilhamento de decisões sobre como exercer o Poder Familiar, entre os

cônjuges.

A Constituição vigente colocou em igualdade o exercício do

poder familiar por ambos os cônjuges. Sob essa matéria, dispõe o presente

Código Civil no artigo 1.588:

Art. 1588 – O pai ou a mãe que contrair novas núpcias não perde o

direito de ter consigo os filhos, que só lhe poderão ser retirados por

mandado judicial, provado que não são tratados convenientemente.

Como se nota, a regra nada mais faz do que chancelar a

orientação geral de proeminência permanente do interesse dos menores em

qualquer situação.

É importante frisar que tanto a tutela quanto a guarda são

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institutos temporários, enquanto a adoção de menores, nos moldes atuais, é

permanente, definitiva e irrevogável.

A guarda poderá ser definida aos avós, tios ou quaisquer

outros parentes da criança ou adolescente, ou até mesmo a outra pessoa, desde

que haja ambiente familiar compatível. É o que dispõe o artigo 29 do Estatuto da

Criança e do Adolescente:

Art. 29 – Não se deferirá colocação em família substituta a

pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a

natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.

Hoje, já é sabido que inexiste qualquer razão, seja de cunho

biológico, seja psicológico, ou mesmo jurídico que justifique referido privilégio.

A ciência tem evoluído no sentido de que ambos os

referenciais, materno e paterno, tem igual importância para o saudável

desenvolvimento do menor, salvo em situações excepcionalíssimas, como, por

exemplo, na fase da amamentação, por óbvio.

A Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e Adolescente traz, por

sua vez, uma série de dispositivos aptos a fundamentar a concessão da guarda

compartilhada por um magistrado nacional, a saber:

Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em

geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a

efetivação dos direitos referentes [...].

Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de

qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer

atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Art. 6º - Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins

sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os

direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar da

criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

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Art. 16 - O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos

[...].

V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação

[...].

Art. 19 - Toda criança ou adolescente tem direito de ser criado e

educado no seio de sua família [...].

Por sua vez, o art. 27 transmite:

Art. 27 - O reconhecimento do estado de filiação é direito

personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser

exercido contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer

restrição, observando o segredo de justiça.

Lançadas sobre estas disposições as luzes dos princípios

da proteção integral e do melhor interesse da criança, iluminar-se-á um panorama

favorável à instituição da guarda compartilhada no Brasil.

Conforme leciona Maria do Rosário Leite Cintra, a família, “é

o lugar normal e natural de se efetuar a educação, de se aprender o uso

adequado da liberdade, e onde há iniciação gradativa no mundo do trabalho. É

onde o ser humano em desenvolvimento se sente protegido e de conde ele é

lançado para a sociedade e para o universo”.

A Convivência familiar é um dos mais importantes direitos

das crianças e dos adolescentes, mas nem sempre foi assim, e é um direito que

se encontra em franca evolução e ainda se depara contra muitos obstáculos à sua

plena aceitação, e com uma longa trajetória de rejeição de tal direito.

A vida em família, seja ela natural ou substituta, é direito

garantido constitucionalmente e regulado pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente e diz respeito não só à mãe e ao pai, mas a irmãos, tios, avós e

demais membros da família, vetada a permanência de crianças e adolescentes

em orfanatos, hoje instituídos como uma deturpação legal dos abrigos.

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2.4 EFEITOS DO VINCULO FAMILIAR SOBRE A GUARDA.

O problema da guarda tem como primeiro escopo a

consideração das situações em que o modelo principal é o da família constituída,

na qual o casal divide os direitos e obrigações relativamente aos filhos.

[Guilherme Gonçalves Strenger, Guarda de Filhos, São Paulo, 2006.p.47].

Trata-se da chamada guarda comum, que é manifestada pela

autoridade, decorrente do poder familiar.

Sendo que, nem sempre se pode encontrar tal normalidade

em condições inabaláveis, visto que a convivência conjugal está sujeita a várias

perturbações, que tanto podem ser a discórdia como o efeito da morte.

Obviamente caberá ao juiz fazer a fixação da guarda, com

substrato axiológico, a avaliação das circunstâncias que envolvem o filho menor

como objeto da pretensão dos pais, mesmo que entre eles não haja qualquer

dissonância. Vale lembrar que guarda não é uma medida perene, mas sujeita a

alteração, porquanto toda a convivência é insujeita aos percalços da vida e muitos

são os reflexos que podem ocasionar desvios de variegada ordem por parte de

quem tem essa habilitação deferida, é o que destaca Guilherme Gonçalves

Strenger [2006.p.144 ].

Edgar de Moura Bittencourt, Guarda de Filhos [p.43] aponta

três circunstâncias que geram a cisão da guarda comum dos pais, a saber:

1) – separação de fato;

2) – separação de direito ou anulação do casamento; e

3) - Morte de um dos cônjuges.

A cisão nesses casos não significa que os pais percam a

titularidade do poder familiar, pois o rompimento do casal não atinge os limites

jurídicos e naturais existentes entre o filho e um de seus pais.

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27

Neste sentido observa-se na lição de Washington de Barros

Monteiro, nos seguintes dizeres:

[...] somente razões muito sérias ou condições morais

importantes autorizam o julgador a retirar os filhos da companhia

do pai, ou da mãe, para confiá-los a terceiras pessoas ou para

interná-los em estabelecimentos de educação pública ou

particular.

Outro ponto em destaque é o lado psicológico do menor que

deve ser avaliado. “De acordo com vários estudos realizados entre psicólogos e

terapeutas familiares, a criança necessita da figura paterna desde o nascimento, é

o que ressalta a psicóloga e terapeuta familiar Maria Rita D” Ângelo Seixas da

Unifesp (Universidade Federal do Espírito Santo):

O pai deve entrar no cotidiano quando ele é bebê, pois, do contrário ficará mais difícil fazer isso à medida que o pequeno cresce, explica. Com a ausência dele nesta primeira fase da vida, a criança cria um vínculo muito forte com a mãe e, depois, pode ter dificuldades e aceitar a figura paterna, nessa altura praticamente um desconhecido para ela completa.

Segundo a teoria psicanalítica de Freud, a uma triangulação

inconsciente entre pais e filhos. É essa necessária para que a criança receba os

papéis masculino e feminino, necessários à formação da própria identidade.

A triangulação inconsciente pais-filho pode conduzir a efeitos

aparentemente contraditórios. Assim a criança criada por apenas uma única

pessoa e que é obrigada a se identificar com ela é levada a buscar saídas para

suas pulsões ativas e passivas nessa mesma pessoa, que encarna sozinha os

dois pólos da triangulação. O pai cumpre um papel muito importante ao construir

a auto-estima da criança. Ele é importante, também, de maneira que não se pode

explicar, para desenvolver na criança limites internos e controle. Pesquisas

mostram que o pai é crítico para estabelecer a sexualidade nas crianças. De

modo interessante, o envolvimento paterno produz uma identidade e caráter

sexual mais forte, tanto em meninos quanto em meninas. Parágrafo extraído de

um excelente artigo escrito pelo professor Karl Zinsmeister da American

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Enterprise Institute.

Todavia é comum essa alienação nas famílias pela absoluta

incompreensão dos próprios genitores, que não conseguem estabelecer uma

comunicação entre si, após o rompimento dos laços familiares.

Na verdade a falta de comunicação não tem início somente

após a dissolução da vida em comum.

Esse afastamento quando ocorre é lento, porém progressivo.

Rodrigo da Cunha Pereira, Direito de Família e psicanálise –

Uma prática interdisciplinar [2001.p.53] sintetiza a transição pela qual passa a

figura paterna e as conseqüências que sua ausência trás aos filhos:

[...] assim podemos falar hoje de uma crise da paternidade,

diante das novas representações sociais da família, frente ao

rompimento dos modelos e padrões tradicionais. Sua função

básica (do pai) está passando por um momento histórico de

transição, de difícil compreensão, onde os varões não assumem

ou reconhecem para si o direito/dever de participar da formação,

convivência afetiva e desenvolvimento de seus filhos. Por

exemplo: o pai solteiro, ou separado, que só é pai nos fins de

semana, ou nem isso; o pai, mesmo casado, que não tem tempo

para seus filhos; o pai que não paga, ou boicota a pensão

alimentícia e nem se preocupa ou deseja ocupar-se com isto; o

pai que não reconhece seu filho e não lhe dá o seu sobrenome

na certidão de nascimento. Enfim, a ausência do pai e dessa

imagem paterna, em decorrência de um abandono material

psíquico, tem gerado graves conseqüências na estruturação

psíquica dos filhos e que repercute, obviamente, nas relações

sociais (...) O mais grave é o abandono psíquico e afetivo, a não

presença dos pais no exercício de suas funções paternas, como

aquele que representa a lei, o limite, segurança e proteção.

A Constituição Federal como já citado assegura, com

prioridade absoluta, a convivência familiar.

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Nada justifica a necessidade da vênia marital.

A guarda unilateral, sem dúvida, é o laço de paternidade da

criança com o pai não guardião, pois a este é estipulado o dia de visita, sendo

que nem sempre este dia é um bom dia, isto porque é previamente marcado e o

guardião normalmente impõe regras.

Neste sentido discorre Maria Berenice Dias em seu livro

Manual de Direito da Família [2007.p.406 ]:

Estas disposições do Código Civil deixam de atender as

profundas transformações introduzidas pela Constituição (CF

227) e pelo ECA, que acolheram a doutrina da proteção integral.

Modo expresso criança e adolescentes foram colocados a salvo

de toda forma de negligência. Transformaram-se em sujeitos de

direito e foram contemplados com enorme número de garantias e

prerrogativas. Mas direitos de uns significam obrigações de

outros, e por isso a Constituição enumera quem são os

responsáveis a dar efetividade a esse leque de garantias: a

família, a sociedade e o Estado.

O conceito atual da família, centrada no afeto como elemento

agregador, exige dos pais o dever de criar e educar os filhos sem lhes omitir o

carinho necessário para a formação plena de sua personalidade, com atribuição

no exercício do poder familiar. Não mais podendo ignorar essa realidade, passou-

se a falar de paternidade responsável.

Invocando ainda a lição de André Michel, para assinalar

que:

[...] a família é um subsistema social, que em função do

desenvolvimento histórico e social, da classe social e da

conjuntura econômica, preenche certas funções e adota certa

estrutura. A família pode estudar-se a partir de diferentes níveis de

realidade social: morfologia, demografia, estrutura econômica e

jurídica, estruturas dos desempenhos, atitudes e modelos, valores

e idéias coletivos (...). Um modelo sociológico é uma construção

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que se esforça, a partir da abstração d elementos emprestados ao

concreto, por reconstituir um conjunto de comportamentos, de

papéis, de atitudes e de normas, que caracterizam uma totalidade,

como no caso o grupo familiar.

Na verdade, o direito da família é o menos persistente e

duradouro, exatamente porque está sempre e necessariamente submetido às

flexibilidades sociais, que são conduzidas pelas constantes mutações do

processo histórico e cultural.

Assim, o reconhecimento deste direito à felicidade individual,

o princípio da dignidade da pessoa humana e da afirmação dos direitos e

garantias fundamentais do infante vem inspirando o legislador e orientando a

interpretação dos mais variados aspectos da regulamentação, no aspecto jurídico,

da vida familiar.

A criança e o adolescente independente de qual seja a

família em que estão inseridas, tem o direito de se sentir protegidos, confortados,

respeitados e gozar de todos os direitos fundamentais e essenciais à sua

formação como ser humano.

O interesse do menor pode dizer-se sem receio, é hoje

verdadeira instituição no tratamento da matéria que ponha em questão esse

direito.

O Código Civil refere-se ao interesse do menor, com o

princípio básico determinante de todas as avaliações que refletem as relações de

filiação. É o que se verifica das disposições constantes dos artigos 1.574,

parágrafo único e 1.586, vejamos:

Art. 1.574 – O juiz pode recusar a homologação e não decretar a

separação judicial se apurar que a convenção não preserva

suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges.

Art. 1.586 – Havendo motivos graves, poderá o juiz, em qualquer

caso, a bem dos filhos, regular de maneira de maneira diferente da

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estabelecida nos artigos antecedentes a situação deles para com

os pais.

A propósito, assinala Silvio Rodrigues, Direito Civil – Direito

de família [v.6, p.274], que:

[...] se aquele dos pais, que ficou com os filhos menores, entre-se

a uma vida dissoluta, de deboches e orgia, deve o juiz acolher o

pedido formulado pelo outro e ordenar que a guarda lhe seja

transferida, ou transferida para terceira pessoa, que pode ser um

avô paterno, ou materno, ou outro parente, ou mesmo pessoa

estranha, conforme melhor convenha às crianças.

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe no artigo 1º,

“sobre a proteção integral a criança e ao adolescente”, indicando que é “dever da

família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público, assegurar

com absoluta prioridade” dentre outros direitos expressamente mencionados, os

referentes a “ “convivência familiar”, demonstrando a importância que o aludido

diploma confere ao convívio dos infantes com seus pais e sua repercussão sobre

o seu desenvolvimento. Carlos Roberto Gonçalves, [2005, p. 260] .

Há assim, um novo modelo, que aos poucos vem sendo

utilizado nas Varas de Família, com base na ideologia da cooperação mútua entre

os separados, com vistas a um acordo pragmático e realístico, na busca do

comprometimento de ambos os pais no cuidado aos filhos havidos em comum,

para encontrar, juntos, uma solução boa para ambos, e, consequentemente, para

seus filhos.

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CAPITULO 3

A GUARDA COMPARTILHADA

3.1 A ORIGEM

A noção de guarda conjunta ou compartilhada surgiu na

Common Law, no Direito Inglês na década de sessenta, quando houve a primeira

decisão sobre guarda compartilhada (joint custody).

Como noticia Eduardo de Oliveira Leite, Famílias

Monoparentais [1997.p.266]:

[...] na Inglaterra o pai sempre foi considerado proprietário de seus filhos, logo, em caso de conflito, a guarda lhe era necessariamente concedida. Somente no século XIX, o Parlamento inglês modificou o princípio e atribuiu à mãe a prerrogativa de obter a guarda de seus filhos e, a partir de então, a prerrogativa exclusiva do pai passou a ser atenuada pelo poder discricionário dos Tribunais.

A guarda compartilhada surgiu com a árdua tarefa de

reequilibrar os papéis parentais, uma vez que a sociedade encontra-se insatisfeita

com o modo como esta sendo desferido a guarda nos tribunais.

Mas a manifestação inequívoca dessa possibilidade por um

Tribunal inglês, como relata Eduardo de Oliveira Leite, só ocorreu em 1964, no

Caso Clissold, quando aplicou a guarda compartilhada demarcando o início de

uma tendência que faria escola na jurisprudência inglesa. Em 1972, a Court

Dappel da Inglaterra, na decisão Jussa x Jussa, reconheceu o valor da guarda

conjunta, quando os pais estão dispostos a cooperar e, em 1980, a Court dÀppel

da Inglaterra denunciou, rigorosamente, a teoria da concentração da autoridade

parental nas mãos de um só guardião da criança. No célebre caso Dipper x

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Dipper, o juiz Ormond daquela Corte promulgou uma sentença que, praticamente,

encerrou a atribuição da guarda isolada na história jurídica inglesa.

Eduardo de Oliveira conclui afirmando:

[...] que as decisões têm imenso valor histórico e jurídico porque

revelam a quebra de uma tradição secular e a salvaguarda do

interesse da criança. Adquirida a noção de guarda conjunta e

inserida na prática judiciária cotidiana, os Tribunais podem melhor

equilibrar os direitos da mãe e do pai.

No Brasil o Código Civil de 1.916 no seu artigo 325, dizia;

Artigo 325 – No caso de dissolução da sociedade conjugal por

desquite amigável, observar-se-á o que os cônjuges acordarem

sobre a guarda dos filhos [...].

Comentando este artigo, no início do século passado Clóvis

Bevillaqua, Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado, [1.917. p.287]

dizia:

[...] O direito anterior denominava posse dos filhos, o que o

Código preferiu chamar guarda, por correção do Senador Ruy

Barbosa. Pareceu grosseiro e inadequado o vocábulo posse

aplicado a pessoa do filho. Era um caso de resíduo verbal,

porque o pater familias entre os romanos tinha um poder quase

absoluto sobre os filhos, que a analogia contribuía para manter,

como procurei mostrar em meu livro Em Defesa, lembrando que,

em nosso direito, se dava, muitas vezes, à ação do pai para

retirar filho do poder de quem o detinha, o nome de reivindicação,

como se tratasse de coisa injustamente possuída. (...) Mas em

última análise, foi bem que se desse voz mais adequada, para

designar a relação existente entre os progenitores e a prole. (...).

Verifica-se que a vontade dos cônjuges sobrepujava a

disposição jurisdicional e legal acerca da guarda e clarifica-se que esta tem e

tinha (pelo que explica Clóvis) conotação de posse, de guarda, de ter para si e

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sob sua influência o menor. Daí justificarmos e explanarmos Guarda como posse

física do menor.

Continuando neste mesmo pensamento Ana Maria Milano

Silva, Guarda Compartilhada [2006.p.196] sobrepõe:

A guarda compartilhada nasceu devido à busca da igualdade

entre homens e mulheres nos papéis de pai e mãe, a luta pela

dignidade da pessoa e da Justiça, como caminho indispensável

para que esse ideal seja alcançado a par dos conceitos

constitucionais correlatos.

Quando a fundo e tecnicamente, tratava-se do exercício do

direito-dever de ter em companhia a prole, seja por motivo de fato, seja por

decisão judicial.

Isto era o que versava nossa lei até então.

Seguindo a indicação da Convenção Internacional dos

Direitos da Criança (1.989) de que os menores de idade devem ser educados

pelos dois pais e de acordo com o princípio de igualdade jurídica entre homens e

mulheres, diversos países, inclusive o Brasil já adotam atribuições da guarda ou

autoridade parental conjunta.

Neste mesmo sentido traz a excelente e reconhecida jurista

Maria Helena Diniz em sua obra Pátrio Poder:

O pátrio poder consiste num conjunto de direitos e obrigações,

quanto a pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido

em igualdade de condições por ambos os pais, para que possam

desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõem,

tendo em vista o interesse e proteção dos filhos [...].

A guarda compartilhada é modalidade de grande significação

no exercício do poder familiar, nos casos de separação, divórcio, e dissolução de

união estável.

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A importância da guarda compartilhada reside no fato de se

permitir ao menor o desfrute de uma convivência subordinada, mas consentânea

com a situação anterior de normalidade conjugal.

De modo geral o exercício conjunto depois da separação ou

divórcio, esta calçado sobre o modelo que normalmente se aplica a família

legítima, estendendo-se a todos a aqueles que podem ser considerados como

entidade familiar.

Waldyr Grisard Filho define a guarda compartilhada como

sendo:

[...] um dos meios de exercício da autoridade parental, que os pais

desejam continuar exercendo em comum, quando fragmentada a

família. Decerto modo, é um chamamento dos pais que vivem

separados para exercerem conjuntamente a autoridade parental,

como faziam na constância da união conjugal.

A guarda compartilhada é uma modalidade de guarda jurídica

atribuída a ambos os genitores que busca atenuar o impacto negativo da

separação dos pais no relacionamento com seus filhos.

A guarda compartilhada autoriza legalmente os pais a

tomarem decisões conjuntas importantes quanto à vida, educação e sustento da

prole, permanecendo presentes no cotidiano dos seus filhos.

Segundo Maria Cláudia Crespo Bauner [São Leopoldo.2001],

a guarda compartilhada elege os interesses do menor de idade como fator

norteador para reduzir os efeitos do impacto da separação dos pais nas relações

parentais

Conforme Silvio Rodrigues os cônjuges, após a Constituição

Brasileira de 1.988, passaram a deterem direitos e deveres em igualdade de

condições, ousando o legislador constituinte um quarto de século após a

elaboração do Código Civil Brasileiro de 1.916.

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Na guarda compartilhada um dos pais pode deter a guarda

material ou física do filho, ressalvando sempre o fato de dividirem os direitos e

deveres emergentes do poder familiar. O pai ou a mãe que não tem a guarda

física não se limita a supervisionar a educação dos filhos, mas sim participa

efetivamente dela como detentor do poder como e autoridade parental.

A advogada Graça Conde, ex-diretora da Escola Superior de

Advocacia (ESA) e com o trabalho voltado para o Direito de Família, surge como

uma das mais ferrenhas defensoras do compartilhamento da guarda: “essa já

deveria ser uma prática de nossos tribunais, em obediência ao dever do pátrio

poder e do preceito constitucional entre homem e mulher”, argumenta em artigo

publicado na Tribuna do Advogado.

Finalmente, a guarda compartilhada ou conjunta refere-se a

um tipo de guarda onde os pais e mães dividem a responsabilidade legal sobre os

filhos e compartilham as obrigações pelas decisões importantes relativas a

crianças. É um conceito que deveria ser a regra de todas as guardas,

respeitando-se evidentemente os casos especiais.

Trata-se de um cuidado dos filhos concedidos aos pais

comprometidos com o respeito e igualdade.

3.2 A ANÁLISE DA GUARDA COMPARTILHADA

Críticas ao sistema jurídico estimulam estudiosos a buscar

soluções antes sequer imaginadas, contribuindo, porém para o aperfeiçoamento

do direito e sua adequação aos novos paradigmas de família.

Analisando a guarda compartilhada verifica-se que sua

importância, conforme Guilherme Gonçalves Strentenger, Guarda Compartilhada

[2006.p.67] reside no fato de se permitir ao menor o desfrute de uma convivência

subordinada mais consentânea com a situação anterior de normalidade conjugal.

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Obviamente os pais podem de comum acordo, designar qual

dentre eles assumirá unilateralmente a guarda, mas eventualmente podem

preferir exerce-la em comum, a fim de tomarem as decisões importantes quanto

ao bem estar dos filhos.

Ainda o mesmo autor, ressalta:

[...] não se desconsidere, porém, que existe um aspecto particular capital, qual seja o paralelismo das vocações parentais que se rompem. No caso de exercício comum da guarda, o juiz indica qual dos pais terá o filho em sua companhia e residência habitual, portanto, seu domicílio. Essa escolha é imperativa do juiz. [...] A estabilidade que o direito deseja para o filho não exclui que sua vida cotidiana seja vinculada a um ponto fixo, mas todas as fórmulas de guarda alternada ficam dissipadas, e mesmo assim não se pode descartar o problema da reserva de visita e fiscalização. É evidente, porém, que o direito de visita contém o direito de moradia, as modalidades de exercício desses direito e mais amplamente a participação no exercício da guarda.

Frisa-se ainda que a guarda compartilhada embora salutar,

impõe comportamento equilibrado por parte dos pais, que deverão estabelecer

diálogo, no que concerne às decisões importantes relativas aos filhos. Guilherme

Gonçalves, Guarda de Filhos [2006. p. 69].

Há, entretanto, aqueles que apontam desvantagens na

fixação da guarda compartilhada.

Evidentemente, não há como a guarda compartilhada

produzir efeitos positivos se os pais viverem em constante conflito, sem qualquer

diálogo.

É fundamental que os pais compartilhem decisões, de modo

equilibrado, a fim de que os filhos possam ficar emocionalmente bem ajustados.

Waldir Grisald Filho, em sua obra A Guarda conjunta de

menores no direito brasileiro [1986. p. 148] relata:

A guarda compartilhada tem como objetivo a continuidade do exercício comum da autoridade parental. Dito de outra forma, a

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guarda compartilhada tem como premissa a continuidade da relação da criança com os dois genitores, tal como era operado na constância do casamento, ou da união fática, conservando os laços de afetividade, direitos e obrigações recíprocas, não prevalecendo contra eles a desunião dos pais, pois, mesmo descomposta, a família continua biparental.

Embora a lei se apresente insuficiente para demonstrar a

importância do compartilhamento da vida e criação dos filhos após dissolvido o

vínculo afetivo conjugal dos pais, a guarda compartilhada valoriza o convívio dos

filhos com seus pais.

No mesmo sentido, porém em ótica mais moderna, temos

Maria Helena Diniz:

Na constância do casamento, sendo os consortes plenamente

capazes, pátrio poder será exercido em igualdade de condições,

simultaneamente por ambos os pais, exercendo o marido com a

colaboração de sua mulher.

A desembargadora Maria Raimunda Teixeira de Azevedo, em

seu artigo publicado, define a guarda compartilhada como:

A possibilidade de que os filhos de pais separados continuem assistidos por ambos os pais, após a separação devendo ter efetiva e equivalente autoridade legal para tomarem decisões importantes quanto ao bem estar de seus filhos, e frequentemente, ter uma paridade maior no cuidado a eles.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Vicente Barreto,

define o instituto como sendo “a possibilidade dos filhos de pais separados serem

assistidos por ambos os pais”.

A guarda compartilhada pode proporcionar aos pais a tomada

de decisões em conjunto com divisão de responsabilidades, mantendo a

intimidade efetiva e o equilíbrio permanente na convivência dos pais com seus

filhos.

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A guarda compartilhada trás aos pais uma tarefa

multidisciplinar, exigindo de ambos a missão de cuidar dos filhos assumindo todas

as responsabilidades para com sua conduta e exigindo alguns requisitos básicos

para sua concessão, quais sejam: respeito mútuo, capacidade colaborativa,

flexibilidade, disponibilidade física e afetiva, e, se possível, proximidade

residencial.

A guarda compartilhada é possível quando os genitores

residem na mesma cidade, possui uma relação de respeito e cordialidade e estão

emocionalmente maduros e resolvidos na questão da separação conjugal.

A guarda compartilhada eleva a satisfação de pais e filhos,

eliminando os conflitos de lealdade.

Maria Antonieta Pisano Motta assim discorre sobre como a

guarda compartilhada em sua obra Guarda Compartilhada: uma solução possível

[1996. p. 19] deve ser vista e aceita:

A guarda conjunta deve ser vista como uma solução que incentiva ambos os genitores a participar igualitariamente da convivência, da educação, da responsabilidade pela prole. Deve ser compreendida como aquela forma de custódia em que as crianças tem uma residência principal e que define ambos os genitores do ponto de vista legal como detentores do mesmo dever de guardar seus filhos. Não se refere a uma caricata divisão pela metade, em que os ex-parceiros são obrigados por lei a dividir em partes iguais o tempo passado com seus filhos. Tampouco é preciso que estes desloquem-se da casa de um genitor para a de outro em períodos alternados, pois na guarda conjunta os pais podem planejar como quiser a guarda física, que passa a ser de menor importância, desde que haja respeito pela rotina da criança.

Ao conferir aos pais essa igualdade no exercício de suas

funções, essa modalidade de guarda valida o papel parental permanente de pai e

mãe e incentiva ambos a um envolvimento ativo e continuo com a vida dos filhos.

Os filhos têm o direito a continuar a manter um estreito

relacionamento com os dois genitores, mesmo após a separação conjugal.

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A criança e o adolescente devem continuar a ser educada por

ambos os pais mesmo separados.

Considera-se que nos últimos dez anos houve uma grande

mudança, quando se passou a compreender que a criança pode e deve conviver

com o pai e a mãe, mesmo que estes não formem mais um casal, o que, por hora,

se denomina de autoridade parental conjunta.

Ainda que ocorram diferenças no método educativo dos

genitores, não constitui um problema, na medida em que a constatação de

diversidade faz parte da socialização infanto juvenil.

Em nossa sociedade, a grande maioria das famílias pós-

divórcio revela a mãe como à detentora mais freqüente da guarda e o pai como

detentor do direito a visita.

Evidentemente, não como a guarda compartilhada produzir

efeitos positivos se os pais viverem em constante conflito, sem qualquer diálogo.

È fundamental que os pais compartilhem suas decisões, de

modo equilibrado, afim de que os filhos possam ficar emocionalmente bem

ajustados.

Foi com a intenção de dirimir estes conflitos que o legislador

elaborou o artigo 1.632 do novo Código Civil, vejamos:

Art. 1.632 – A separação judicial, o divórcio e a dissolução da

união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão

quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua

companhia os segundos.

Portanto, fica claro que o legislador quis demonstrar que um

rompimento conjugal o não guardião continuará a exercer na totalidade todos os

direitos inerentes à guarda jurídica, devendo acompanhar a criança ou

adolescente no seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social,

através de seu poder de fiscalização, como é demonstrado no artigo 1.589 do

Código Civil:

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Art. 1.589 – O pai ou a mãe, em cuja a guarda não esteja os filhos,

poderá visita-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar

com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua

manutenção e educação.

O dualismo, e principalmente a saúde mental da criança

merece e necessita de evidente preservação por isto temos em muitos casos

ferrenha resistência de juizes e setores da sociedade contra a adoção de um

regime do Poder Familiar amplo e livre, como encontrado no seio do matrimonio.

Por este motivo acreditam que é prejudicial ao menor na

formação da sua personalidade, valores e padrões.

A guarda conjunta ou compartilhada significa mais

prerrogativas aos pais, fazendo com que estejam presentes de forma mais

intensa na vida dos filhos.

A proposta é manter os laços de afetividade, minorando os

efeitos que a separação sempre acarreta nos filhos e conferindo aos pais o

exercício da função parental de forma igualitária.

Para isso, é necessária a mudança de alguns paradigmas,

levando em conta a necessidade de compartilhamento entre os genitores da

responsabilidade parental e das atividades cotidianas de cuidado, afeto e normas

que ela implica.

A tendência é não acreditar que o compartilhamento da

guarda gere efeitos positivos se decorrerem de determinação judicial, sobre a

justificativa de que só é possível de fruto do consenso entre as partes.

Guarda compartilhada significa dois lares, dupla residência,

mais de um domicilio, o que é, aliás, admitido pela nossa legislação no Código

Civil em seu artigo 71:

Art. 71 – Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências,

onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer

delas.

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Ou seja, fica o filho livre para transitar de uma residência para

outra ao seu bel prazer, sendo fundamental que ambos os pais estejam presentes

na vida de seu filho para que ele tenha um desenvolvimento físico, intelectual e

espiritual correto.

Desde muito cedo a criança percebe a relação que existe

entre ela e seus pais.

Dessa forma, pode-se dizer que é importante a introdução da

guarda compartilhada em nosso ordenamento jurídico, contudo é necessário que

seja de um forma planejada e bem elaborada, para não prejudicar ainda mais a

relação paterno/materna e filial.

3.3 – A GUARDA COMPARTILHADA NA PRÁTICA

Como manter o casal parental é, certamente, a questão a ser

mais difícil a ser encarada, porque o exercício do poder familiar, por ambos os

genitores enquanto a família permanece unida, não cria qualquer dificuldade. Ana

Maria Milano Silva, Guarda Compartilhada [2006. p.113].

A presunção é de que toda a decisão necessária tomada por

um, foi também aceita pelo outro.

Assim, não há nenhuma divisão no poder de decisão que se

exerça conjuntamente. Em caso de desacordo o genitor pode sempre recorrer ao

juiz para reexaminar a situação.

As características especiais que envolvem as naturezas

jurídicas da guarda de filhos ou menores têm extensão abrangente e atinge em

sua dilatação os mecanismos processuais que tutelam os direitos inerentes a

esse instituto.

Questão que desde logo ressalta é a circunstância urgencial

de praticamente todos os problemas que se delineiam no plano contencioso da

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guarda, em que os litigantes normalmente devem ter menos importância do que

seu objetivo, o menor.

Essa particularidade é justificada pela existência da

celeridade que as partes interessadas demandam, pois na prática floresce

observa-se que todas as conseqüências a mais nociva é aquela que se impõem

pela morosidade processual. É lapidar nesse sentido conforme Edgar de Moura

Bitencourt:

A sentença justa não é justa porque os autos estiveram um ano ou mais nas mãos do juiz, pois ele não levou esse tempo todo estudando o processo, nem meditando no direito das partes. Demorou por descaso ou por acúmulo de serviço. Na primeira hipótese, desmerece a função social que merece; na segunda, caberia de proceder a uma seleção nos feitos que mereciam prioridade de dedicação e então despontariam aqueles que envolvem o destino de pequenas criaturas humanas.

Quando emerge o conflito, através do vínculo da convivência,

a situação é completamente diversa e a guarda conjunta vem para minorar os

efeitos do conflito instaurado sobre a pessoa dos filhos.

Segundo explica Eduardo de Oliveira Leite:

[...] o pressuposto da guarda conjunta (embora a guarda suponha a presença física da criança no domicílio de um dos genitores) é o de que, apesar da ruptura dos pais e das diferenças pessoais que daí possam decorrer, os mesmo continuam a exercer comum a autoridade parental, como eles exerciam quando a família permanecia unida. Porque, como já se repetiu inúmeras vezes a ruptura separa os pais, mas nunca os filhos (mesmo que alguns pais pensem e ajam dentro desse espírito).

Efetivamente o fator primordial que viabiliza, de plano,a

aplicação da guarda compartilhada é a maneira como os genitores se relacionam

após a ruptura da união conjugal.

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Assim, mais tranqüilamente assumirão em conjunto a tarefa

de permanecerem como pai e mãe, no pleno exercício do poder familiar, tomando

as decisões a respeito da vida de seus filhos.

Segundo explica Eduardo de Oliveira Leite, Famílias

Monoparentais [1997. p. 271]:

[...] o pressuposto da guarda conjunta (embora a guarda suponha a presença física da criança no domicílio de um dos genitores) é o de que, apesar da ruptura dos pais e das diferenças pessoais que daí possa decorrer, os mesmos continuam a exercer em comum a autoridade parental, como eles a exerciam quando a família permanecia unida. Porque, como já se repetiu inúmeras vezes, a ruptura separa os pais, mas nunca os filhos (mesmo que alguns pais pensem e ajam dentro deste espírito).

A falta de convivência sob o mesmo teto não limita nem

exclui o poder-dever dos pais, que permanece íntegro, exceto quanto ao direito de

terem os filhos em sua companhia. (CC 1.632).

Como o poder familiar é um complexo de direitos e deveres,

a convivência dos pais não é requisito para a sua titularidade.

De acordo com Claudete Carvalho Canezin, Da guarda

compartilhada em oposição à guarda unilateral [p.15], esse poder de vigilância

não deverá transformar-se em direito de ingerência: não dispõe o genitor não

guardião de direito de ação, nem de direito de veto em relação às decisões

tomadas pelo detentor da guarda.

Na falta ou impedimento de um dos pais, o outro exerce o

poder familiar com exclusividade, é o que consta no Código Civil artigo 1.631. No

entanto, sempre que é exigida a concordância de ambos os genitores (para

autorizar o casamento ou conceder emancipação, por exemplo), não basta a

manifestação isolada de apenas um, ainda que o filho esteja sobre sua guarda. É

necessário ou o suprimento judicial do consentimento, ou a suspensão, ou a

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exclusão do poder familiar do outro genitor. João Teodoro da Silva, Poder

Familiar: Emancipação de menor pelos pais [p.157.].

Quando emerge o conflito, através do rompimento do vínculo

da convivência, a situação é completamente diversa e a guarda conjunta vem

para minorar os efeitos do conflito instaurado sobre a pessoa dos filhos.

O melhor interesse da criança persiste como norteador da

decisão dos genitores, é o que concretiza Waldir Grisald Filho, Guarda

Compartilhada: Um Novo Modelo de Responsabilidade Parental [2000.p.146].

Segundo Eduardo de Oliveira Leite, em sua obra Familias

Monoparentais [1997.p.271] é que uma das primeiras decisões a merecer a

atenção é a determinação da residência, pois é essencial para a estabilidade da

criança, que terá assim um ponto de referência “um centro de apoio de onde

irradiam todos os seus contatos com o mundo exterior”.

A residência deve ser única, porque é na residência desse

genitor que a criança se encontra juridicamente domiciliada. É aí que a criança

tem, materialmente suas raízes.

Conforme Ana Maria Milano Silva, Guarda Compartilhada

[2006. p.115], deve ela, a criança, ter consciência de que existe “um canto seu”

em cada um dos lares dos seus genitores, onde ela sentirá que é sua casa

também. Não se trata aqui da exigência de quartos para cada filho, mas

certamente um local especial que será variável segundo o estilo de vida dos

genitores bem como do potencial financeiro deles.

Tais condições são necessárias principalmente no momento

da separação dos pais.

Essa determinação do local de residência do menor gera “a

estabilidade de que o direito deseja para o filho e não exclui que sua vida

cotidiana seja vinculada a um ponto fixo”, como enfatiza Guilherme Gonçalves

Strenger, em sua obra Guarda de Filhos [1998.p.71].

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A finalidade é consagrar o direito da criança e de seus dois

genitores, colocando um freio na irresponsabilidade provocada pela guarda

individual.

Para isso, é necessária a mudança de alguns paradigmas

levando em conta a necessidade de compartilhamento entre os genitores da

responsabilidade parental e das atividades cotidianas de cuidado, afeto, normas

que ela implica. Denise Duarte Bruno, Direito de Visita: Direito de Convivência

[p.319]

Para bem fixar Waldir Grisald Filho, Guarda Compartilhada:

O novo Modelo de Responsabilidade Parental, [2000.p.146] por sua vez cita

Eduardo de Oliveira Leite:

[...] pretendendo a guarda compartilhada reequilibrar os papeis parentais (co-responsabilidade) na tomada de decisões importantes relativas aos filhos e incentivar o contato freqüente e contínuo destes com seus dois genitores, não significa uma divisão pela metade, os filhos nem a guarda se dividem. Na guarda compartilhada podem (e devem) os filhos passar um período com o pai e outro com a mãe, sem que se fixe prévia e rigorosamente tais períodos de deslocamento [...].

A proposta é manter os laços de afetividade, minorando os

efeitos que a separação sempre acarreta nos filhos e conferindo aos pais o

exercício da função parental de forma igualitária.

Outro ponto fundamental é em relação a educação dos filhos.

O inciso primeiro do artigo 1.634 do Código Civil, preceitua:

Art. 1.634 – Compete aos pais, quanto a pessoa dos filhos

menores:

I – dirigir-lhes a criação e educação;

[...].

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Sendo que este artigo trabalha em consonância com o artigo

229 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, bem como com o

artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente, vejamos:

Art. 229 – Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos

menores, e os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os

pais na velhice, carência ou enfermidade.

Art. 33 – A guarda à prestação de assistência material, moral e

educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor

o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.

É, pois, aspecto importante, e a educação dos filhos

também deverá ser discutida em comum acordo pelos pais. Ou seja, tipo de

escola, escolha de período a ser freqüentado, evidentemente, levando-se em

conta a idade dos menores, escola que ministra valores religiosos ou não. Ana

Maria Milano Silva [2006 p. 119].

Com muita propriedade nos diz Eduardo de Oliveira Leite

[1997. p.273]:

Educar não é como se tem irresponsavelmente propagado no Brasil – “pagar a escola”, “pagar” um professor particular, “pagar”, um curso de línguas etc. O pai (geralmente) que paga os estudos do filho, que paga um professor particular, ou que paga um curso de línguas, pode estar participando pecuniariamente do sustento de uma criança, sem, portanto, educá-la. É bom que se distinga bem o sustento (manutenção material) da educação (manutenção moral), já que a tendência nacional tem, maliciosamente, se direcionando no sentido de visualizar no pagamento, a forma, por excelência, de se desvincular da educação dos filhos.

Concluindo esse pensamento, Eduardo de Oliveira Leite

esclarece:

Já um pai que visita frequentemente a escola de seu filho, que procura saber junto ao corpo docente qual é o aproveitamento escolar da criança, que mantém dialogo permanente com o filho, que se faz presente e necessário nos momentos de lazer, enfim, que é tão indispensável à criança quanto a figura da mãe, no

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cotidiano, este pai pode estar educando, mesmo que não financie o acesso do filho à cultura, à arte, à religião, ao esporte e ao lazer.

Logo, pagar uma pensão alimentar não corresponde, a

educar um filho.

Essa dissolução é relevante pois, mesmo após a ruptura da

união dos genitores, a educação da criança para ser completa precisa do

exercício conjunto do poder familiar. Ana Maria Milano Silva, [2006.p.121].

Como o ensino é conhecido como um direito subjetivo

público é dever do Estado, e da família promove-lo e incentivá-lo dilatando-se o

poder familiar, é o que revela o artigo 205 e 208 parágrafo 1º da Constituição

Federal:

Art. 205 – A educação, direito de todos e dever do Estado e da

família será promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o

trabalho.

Portanto, mais um dever é atribuído aos pais, qual seja o de

manter os filhos na escola.

Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivado com

a garantia de:

I – ensino fundamental, obrigatório gratuito, assegurada, inclusive,

sua oferta gratuita para todos que a ele não tiveram acesso na

idade própria;

[...].

A omissão dos genitores, deixando de garantir a

sobrevivência dos filhos, como, por exemplo, deixando imotivadamente de pagar

os alimentos, configura o delito de abandono material (CP 244).

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Art. 244 – Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do

cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o

trabalho [...];

O inadimplemento da obrigação de prover a educação dos

filhos, além do delito de abandono intelectual (CP 246) também constitui infração

administrativa (ECA 249).

Art. 246 – Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária

de filhos em idade escolar;

[...].

Art. 249 – Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres

inerentes ao pátrio poder ou decorrentes de tutela ou guarda,

bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho

Tutelar. [...].

Ora, na verdade, é exatamente o oposto que se espera e o

que deve ocorrer na realidade. Isto é, embora a criança viva com a mãe, as

opções educacionais dessa criança não dependem só da mãe, mas de uma ação

comum. Antônio Junqueira de Azevedo, Saraiva [1998.p. 59].

3.4 - A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS

A responsabilidade civil, assunto dos mais importantes não

só na esfera do Direito Civil, mais do direito como um todo, possui diversas

conceituações conforme a seguir.

Segundo Silvio Rodrigues, [Saraiva, 2002. p.06] Savatier,

conceituava a responsabilidade civil como sendo a obrigação que pode incumbir

uma pessoa reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de

pessoas ou coisas que dela dependam.

Seguindo este mesmo raciocínio tem Maria Helena Diniz

[2003.p.38-39]:

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[...] a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

Definição desta natureza é também a de Miguel Maria

de Serpa Lopes[1995.p.160]:

[...] é a obrigação de reparar um dano, seja por decorrer de um

culpa ou de uma outra circunstância legal que a justifique, como a

culpa presumida, ou por uma circunstância meramente objetiva.

Questão relevante e que provoca opiniões bastante

divergentes entre os doutrinadores é a que diz respeito à responsabilização civil

dos pais quanto aos danos causados a terceiros pelos filhos menores. Ana Maria

Milano Silva, [2006. p.122].

Pelos atos praticados pelos filhos, enquanto menores, são

responsáveis os pais, segundo o artigo 932, I, do Código Civil, vejamos:

Art. 932 – São também responsáveis pela reparação civil:

I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua

autoridade e em sua companhia;

[...].

Infere-se daí serem pressuposto da incapacidade que o

filho seja menor de idade e que viva em companhia do pai responsável.

No que concerne a menoridade e a maioridade, seus

efeitos deverão ser extraídos da lei.

Maria Helena Diniz [7º v., Saraiva, pp.450-451] em análise

sobre o tema, entende que:

“Quem exerce poder familiar responderá objetivamente pelos atos do filho menor que estiver sob sua autoridade e sua companhia (arts. 932,I e 933 do CC), pois, como tem a obrigação de dirigir sua educação, deverá sobre ele exercer vigilância (RJTJSP, 41:121).

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Assim sendo, para que se configure tal responsabilidade será mister que:

O filho seja menor de 18 anos. Limita, assim, a lei a responsabilidade paterna. A responsabilidade dos pais será subsidiária e solidária (arts. 928 e 942, parágrafo únicodo CC). A responsabilidade paterna, decorrente que é dos deveres do poder familiar, não depende de ser ou não imputável o filho, pelo menos em face dos princípios comuns dos arts. 186.927,I e 933).

O filho esteja sob a autoridade e em companhia de seus pais, pois, se estiver em companhia de outrem (p. ex., é internado em colégio), a responsabilidade civil objetiva será daquele a quem incumbe o dever de vigilância (arts. 932, IV e 933 do CC). Não é suficiente que o menor esteja sob o poder familiar do pais, é preciso que viva em sua companhia para haja responsabilidade materna ou paterna. Se o menor estava sob a guarda e companhia da mãe, em razão de separação judicial, ou de divórcio, esta responderá pelo ato ilícito do filho e não o pai (RJTJ SP, 54:182), tendo-se em vista que esta no exercício do poder familiar; já se a guarda for compartilhada ambos terão o exercício do poder familiar e, consequentemente, a responsabilidade civil objetiva pelos danos causados a terceiros por seus filhos menores. Não responderão os pais pelos atos lesivos do filho emancipado, porque a emancipação equivale a maioridade e com ela cessa o poder familiar. Todavia, há decisões no sentido de ampliar a responsabilidade dos pais, mesmo neste caso,estendendo-a mesmo que o filho seja emancipado (RTJ,62:180;RT, 494:92).Contudo, entendemos que só se poderia admitir a responsabilidade solidária do pai se se tratasse de emancipação voluntária (art. 5º, parágrafo único, I, do CC); logo, o genitor não responde por ato ilícito de filho emancipado pelo casamento ou por outras causas arolados pelo art. 5º, parágrafo único, II a V, do Código Civil.

Os pais estejam no exercício do poder familiar, que lhes impõem obrigações especiais principalmente a de vigilância.

A de se reconhecer que a responsabilidade parental

decorre do poder familiar, que é exercido por ambos os genitores. Dentre eles

encontra-se o de ter o filho em sua companhia e guarda, isto com base no artigo

1.634, II do CC:

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Art. 1.634 – Compete aos pais quanto a pessoa dos filhos

menores:

[...];

II – te-los em sua companhia e guarda.

[...].

Nada justifica exclusiva responsabilidade ao genitor

guardião pelos atos praticados pelo seu filho, pelo simples fato de ele não estar

na companhia do outro genitor. Este persiste no exercício do poder familiar, e

entre os deveres dele decorrente está no responder pelos atos praticados pelo

seu filho, é que descreve José Carlos Zebulum, [Responsabilidade Civil Indireta.

p. 49].

Neste mesmo sentido temos o artigo 933 do Código Civil

com a seguinte redação;

Art. 933 – As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo

antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão

pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Para Conrado Paulino da Rosa, [Danos Causados por Filhos

Menores, p.54] a responsabilidade dos pais é indireta, presumindo-se a culpa dos

deveres de educação “vigilância ativa”, que compreende a formação de hábitos e

comportamentos adequados a convivência social do filho, especialmente na rua,

onde se acha ausente a natural proteção dos genitores. Quando os atos danosos

praticados pelos filhos decorrem da falta da estruturação familiar, cabe

responsabilizar os pais. Esse novo viés da responsabilidade parental consagrado

na Argentina tem despertado a adoção da doutrina pátria.

Quando se cogita sobre responsabilidade paterna, tem-se

em vista a inexecução dos deveres paternos em relação ao filho, seja esse

inadimplemento irreal ou presumido.

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Em outras palavras, segundo Ana Maria Milano Silva

[Guarda Compartilhada. 2006.p.122] basicamente são dois os deveres paternos:

de assistência e de vigilância. Vejamos:

O dever de assistência engloba a prestação material

(alimentos e satisfação das necessidades econômicas) e a prestação moral

(compreendendo a instrução e a educação).

O dever de vigilância é complemento da educação e será

mais ou menos necessário conforme o desempenho dos pais na prestação do

primeiro dever: a assistência material, e principalmente a moral.

A dois temas de suma importância a serem analisados, no

que concerne à responsabilidade dos pais, que são apontados por Antonio

Junqueira de Azevedo [Responsabilidade Civil,2 ed.1998. p.59]:

[...] a responsabilidade civil dos pais, por atos próprios na criação e

educação dos filhos; e na seqüência, a responsabilidade civil dos

pais pelos atos dos seus filhos menores.

Esta responsabilização advém face à conjunção dos artigos

1.566, IV e 1.634, I e II do Novo Código Civil.

Art. 1.566 – São deveres de ambos os cônjuges:

[...]

IV – sustento, guarda e educação dos filhos;

[...].

Art. 1.634 – Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos

menores:

I – dirigir-lhes a criação e educação;

II – tê-los em sua companhia e guarda;

[...].

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Especificamente no tema da responsabilidade civil, se os

pais infringem esses deveres, devem se submeter ao disposto no inciso I do

artigo 932 do Código Civil, artigo este já citado.

O dever de vigilância do pai é complemento da obra

educativa, de onde deriva a presunção da responsabilidade paterna.

Destaca neste sentido Eduardo de Oliveira Leite [Famílias

Monoparentais. 1.997.p.218], que a coabitação dos pais é fundamental, porque

daí decorre a idéia da vida em comum, vida familiar, garantidoras da fiscalização

dos atos dos filhos pelos pais. Nesse caso, são os pais solidariamente

responsáveis pelos atos dos filhos em decorrência do casamento ou da união

estável.

Neste sentido é a lição de Mario Aguiar Moura [v.273, 1.996,

p.323]:

[...] se a guarda de filhos está confiada a um dos genitores, a responsabilidade patrimonial decorrente da prática de atos ilícitos contra terceiros é imputável tão somente ao detentor da guarda, ainda que o outro continue com o pátrio poder. O fundamento jurídico é este: falta de vigilância cria a culpa in vigilando. E a vigilância é conseqüência jurídica da guarda e não do pátrio poder.

Guarda e vigilância são pressupostos da responsabilidade

dos pais, ou de um deles, pelos danos causados pelo filho menor, não há,

portanto, no entendimento de Mario Aguiar Moura, responsabilidade sem o dever

de vigilância, que não existe sem a guarda.

Essa posição é também compartilhada por Waldir Grisald

Filho [2000.p.92], que conclui:

[...] ao genitor guardião, entretanto, são facultadas todas as provas à exoneração de sua responsabilidade como a inexistência de sua independência material, não ter cometido falta da educação ou vigilância do menor, além das causas gerais: força maior, caso fortuito, culpa de terceiro.

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A decisão de responsabilizar os pais em decorrência do

pátrio poder, ou do poder familiar, em virtude da guarda, é direcionada para uma

efetiva reparação do dano causado à vítima para que não reste assim

irressarcida.

Nesta questão de responsabilidade civil dos pais pelos atos

de seus filhos que causem danos a terceiro resta ainda discorrer sobre a

emancipação.

Pelo caput do artigo 5º do Código Civil, vemos que a

menoridade cessa aos dezoito anos completo, quando a pessoa fica habilitada a

pratica a todos os atos da vida civil. Porém, o mesmo artigo em seu inciso I,

faculta que, antes da maioridade legal, tendo o menor atingido a idade de

dezesseis anos, haja a emancipação voluntária ou expressa pela outorga de

capacidade civil por concessão dos pais, através de instrumento público,

independentemente de homologação judicial; ou emancipação por sentença

judicial se o menor estiver sob tutela.

Com o fundamento neste artigo Ana Maria Milano Silva

[2006.p.128] discorre:

Se a emancipação voluntária foi decorrente de leviandade ou outros interesses, e se tudo indicava que faltava, na verdade, maturidade ao menos e sua pouca responsabilidade não aconselhava sua emancipação essa não produz efeitos perante ao dever do pai em reparar os danos causados a terceiros pelos filhos.

Tal afirmação defluiu da constatação de que a emancipação

voluntária tem a finalidade de liberar o filho para á prática de atos da vida civil,

bem como atos jurídicos.

Carlos Roberto Gonçalves [Responsabilidade Civil, 1.995,

p.109], defende a responsabilidade solidária dos pais pelos atos ilícitos de seu

filho somente quando se trata de emancipação voluntária, cessando totalmente

quando deriva do casamento e das outras hipóteses de emancipação tácita ou

legal, porque não se pode, por um ato de vontade, afastar a responsabilidade

proveniente da lei.

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Já para o doutrinador Orlando Gomes [Obrigações.

1.970.p.347] entende afastada a responsabilidade solidária dos pais quando o

menor estiver emancipado:

[...] mais estranhável ainda a opinião de que o pai responde pelos atos ilícitos do filho emancipado. Para todos os efeitos, a emancipação equivale à maioridade. É apenas o processo de antecipá-la. Não é possível, assim, sustentar que persiste a responsabilidade do pai. Até porque tal opinião esbarra com obstáculo intransponível que é a lei. Segundo o disposto no artigo 1.521, I o pai responde pelo filho menor que estiver sob seu poder e emancipação é precisamente, a libertação antecipada desse poder.

A responsabilidade, portanto, dos pais pelo fato de seus

filhos menores, tem como fundamento sua própria culpa, sendo imprescindível o

descumprimento de dever e vigilância e o exercício efetivo da guarda.

Para Caetano Lagrasta Neto [Tribuna da Magistratura, out.

1.998, p.100] deve haver a responsabilização no caso da guarda conjunta,

fazendo a seguinte diferenciação: “Há que se discutir da situação em que o menor

é autorizado e, muitas vezes, incentivado, por um dos genitores à prática de atos

abusivos ou proibidos pela legislação: aqui sim, cabe-lhe assumir integralmente a

reparação civil”.

Então Maria Helena Diniz [7º v.pp 450-451] concluí, que os

pais serão responsáveis pelo fato dos filhos quando: tratar-se de filhos submetido

ao poder familiar; estar este habitando em sua companhia e verificar-se a

concorrência de dois ilícitos, um do menor autor do dano e outro do pai, o qual se

presume.

Desta forma, fica evidenciado que, no que diz respeito a

guarda compartilhada, os danos sofridos pelas crianças e adolescente serão bem

menor, pois a convivência pacifica entre os genitores, será mais benéfica e

saudável no desenvolvimento psicológico e emocional do menor.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo demonstrar, à

luz da legislação nacional e da doutrina nacional, a possibilidade jurídica da

guarda compartilhada no direito brasileiro, suas conseqüências e vantagens, além

de desmistificar os possíveis mitos que lhe são atribuídos para a sua concessão,

tendo portanto uma relevância social.

O interesse pelo tema abordado deu-se em razão de sua

atualidade e pela repercussão no contexto social como um todo, visto o grande

interesse de pais que estão cada vez mais buscando a satisfação do menor, e

não o lado financeiros, que sempre causou grande discussão em torno da guarda

dos filhos.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi desenvolvido

em três capítulos.

O primeiro tratou de abordar em relação ao Poder Familiar.

Conforme menciona no primeiro capitulo, o pátrio poder

encontra sua origem em épocas muito remotas, ultrapassando as fronteiras

culturais e sociais, com o desenvolvimento da história do ser humano, apresentou

inúmeras e profundas modificações.

Ficou evidenciado, igualmente, que o poder familiar está

sempre direcionado ao sentido de assegurar plenamente a igualdade do homem e

da mulher em seu exercício, também deve prevalecer diante dos direitos e

deveres que ambos têm em relação aos filhos, dando aos filhos o direito que

estes têm, de manter relações com os pais, estejam eles unidos ou não.

No mesmo capítulo, restou caracterizado que, em se

tratando de Poder Familiar, todos os filhos, enquanto menores, estão sujeitos ao

poder familiar, o poder familiar decorre da paternidade e da filiação e não do

casamento. Aos pais incumbe a educação, o sustento a guarda dos filhos, mesmo

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em caso de separação judicial, assim como o divórcio, não altera as relações

entre pais e filhos.

No segundo capitulo foi destinado a tratar do conceito de

guarda, da guarda na legislação brasileira, os direitos decorrentes da guarda e

por fim os efeitos do vínculo familiar sobre a guarda, onde foi constatado que,

trata-se de um atributo do poder familiar.

A guarda dos filhos é o poder-dever de mantê-los no recesso

do lar, sendo que a qualquer momento o juiz poderá modificá-la. Já na sentença

do divórcio mandará o juiz entregar os filhos comuns e menores ao cônjuge

inocente e fixará a cota que o culpado deverá concorrer para a educação deles,

sempre visando o lado mais benéfico do menor.

E quando houver acordo entre os pais a eles pertencem a

decisão sobre a guarda dos filhos.

O genitor que não estiver com a guarda dos filhos poderá

visitá-los e tê-los em sua companhia segundo o que acordar com o outro genitor,

ou da maneira como o juiz determinar, mesmo assim não perderá o direito de

fiscalizar a manutenção e a educação dos filhos. Sendo que mesmo que a

definição da guarda e da visitação esteja a cargo dos pais, o que for acordado

depende da chancela judicial, o que só ocorre à ouvida do Ministério Público.

Verificou-se que a competência do Estado é direcionada

para fiscalizar e controlar as relações entre os sujeitos Pais/Filhos para que os

direitos e deveres sejam cumpridos com o respeito devido à lei e nos limites por

ela permitidos.

Portanto, é assertivo dizer que para o Direito de Família, os

princípios constitucionais, fortaleceram e protegem os vínculos familiares,

garantindo assim, o pleno desenvolvimento e crescimento dos filhos criados e

educados em por pais separados.

E surge desta forma, a necessidade de demonstração da

vida em família, trazendo uma nova modalidade de guarda na legislação

brasileira, pois é um direito que a criança tem, sendo garantido

constitucionalmente e regulado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e diz

respeito não só à mãe e ao pai, mas a irmãos, tios, avós e demais membros da

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família, vetada a permanência de crianças e adolescentes em orfanatos, hoje

instituídos como uma deturpação legal dos abrigos.

Ainda sobre a critério dos efeitos do vínculo familiar,

concluiu-se, que nem sempre se pode encontrar tal normalidade em condições

inabaláveis, visto que a convivência conjugal está sujeita a várias perturbações,

que tanto podem ser a discórdia como o efeito da morte, ou seja em qualquer

lugar a criança/adolescente estará sujeita a maus tratos.

A opção acima mencionada, dependerá da interpretação do

julgador sobre o assunto; visto tratar-se de matéria divergente no âmbito

doutrinário.

Neste raciocínio trilhou o presente trabalho de conclusão de

curso, analisando o conceito atual de família, centrada no afeto como elemento

agregador, onde exige-se dos pais o dever de criar e educar os filhos sem lhes

omitir o carinho necessário para a formação plena de sua personalidade, com

atribuição no exercício do poder familiar.

No terceiro e último capitulo, foi pesquisado e analisado a

respeito da guarda compartilhada na prática, sendo abordado a respeito de uma

modalidade de obrigação por parte dos genitores, qual seja: a responsabilidade

civil dos pais.

O fato de ser visto perante todos como uma problemática, na

verdade, o direito de família é o menos persistente e duradouro, exatamente

porque está sempre e necessariamente submetido às flexibilidades sociais, que

são conduzidas pelas constantes mutações do processo histórico e cultural, ou

seja, esta sempre se modificando, com base na necessidade de se obter um

resultado cada vez mais favorável.

Inúmeros são os danos causados a criança e ao

adolescente, que por motivo diverso perde o contato com um de seus genitores,

independente de qual seja a família em que estão inseridas.

Agora, a natureza jurídica traz dupla finalidade em relação a

guarda de filhos, ou seja, ao mesmo tempo em que ira solucionar um conflito

antes havido por conseqüência da tão disputada guarda, também irá beneficiar a

pessoa que sempre deveria ter sido o foco da lide: o filho.

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Pois o menor tem o direito de se sentir protegido, confortado,

respeitado e gozar de todos os direitos fundamentais e essenciais à sua formação

como ser humano.

O interesse do menor pode dizer-se sem receio, é hoje

verdadeira instituição no tratamento da matéria que ponha em questão esse

direito.

Com base nesta problemática, surgiu a guarda

compartilhada, com a árdua tarefa de reequilibrar os papéis parentais, uma vez

que a sociedade encontra-se insatisfeita com o modo como esta sendo desferida

a guarda dos tribunais.

A primeira satisfação em relação a guarda compartilhada, é

que antes a vontade dos cônjuges sobrepujava a disposição jurisdicional e legal

acerca da guarda e tinha a conotação de posse, de guarda, de ter para si e sob

sua influência o menor, e com esta nova possibilidade o filho passou a ser o

centro das atenções, trazendo para si a segurança, o bem estar, e a convivência

junto e de maneira harmônica com seus genitores.

E com isso concluiu-se que a guarda compartilhada autoriza

legalmente os pais a tomarem decisões conjuntas importantes quanto à vida,

educação e sustento da prole, permanecendo presentes no cotidiano dos seus

filhos.

Diversa são as hipóteses em que o vínculo pode ser

abalado, evidentemente, não há como a guarda compartilhada produzir efeitos

positivos se os pais viverem em constante conflito, sem qualquer diálogo.

Sendo que é de fundamental importância que os pais

compartilhem decisões, de modo equilibrado, a fim de que os filhos possam ficar

emocionalmente bem ajustados.

A guarda compartilhada na pratica, tem como objetivo a

continuidade do exercício comum da autoridade parental. Dito de outra forma, a

guarda compartilhada tem como premissa a continuidade da relação da criança

com os dois genitores, mantendo-se assim a convivência entre todos.

Por derradeiro foi analisado que entre doutrinadores, a

conclusão chegada, é que embora a lei se apresente insuficiente para

demonstrar a importância do compartilhamento da vida e criação dos filhos após

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dissolvido o vínculo afetivo conjugal dos pais, a guarda compartilhada valoriza o

convívio dos filhos com seus pais.

Neste sentido quando emerge o conflito, através do vínculo

da convivência, a situação é completamente diversa e a guarda conjunta vem

para minorar os efeitos do conflito instaurado sobre a pessoa dos filhos, e

conferindo aos pais o exercício da função parental de forma igualitária.

Outro ponto abordado na pesquisa realizada foi, a

responsabilidade civil dos pais aos danos causados por terceiros, assunto

bastante divergente entre os doutrinadores.

Assim desta forma quem exercer o poder familiar

responderá objetivamente pelos atos do filho menor que estiver sob sua

autoridade e sua companhia, pois, como tem a obrigação de dirigir sua educação,

deverá sobre ele exercer vigilância.

Vale esclarecer que nada justifica exclusiva

responsabilidade ao genitor guardião pelos atos praticados pelo seu filho, pelo

simples fato de ele não estar na companhia do outro genitor.

Duas formas de responsabilidade civil dos pais foram

abordadas na pesquisa realizada, uma por atos próprios na criação e educação

dos filhos; e outra na responsabilidade civil dos pais pelos atos dos seus filhos

menores.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa, foram

também utilizadas duas hipóteses, a saber: a guarda compartilhada realmente é

benéfica aos filhos por permitir o convívio simultâneo com o pai e a mãe; e a

guarda compartilhada apresenta-se como uma possibilidade e uma solução para

muitos casos, como forma de eliminar as intermináveis disputas judiciais entre os

pais pela guarda dos filhos, que muitas vezes acontecem.

A primeira hipótese restou comprovada, de modo que ficou

esclarecido que tal obrigação é de ambos os pais, permitindo assim a convivência

entre Pais/Filhos, sendo que praticamente todos os problemas que se delineiam

no plano contencioso da guarda, em que os litigantes normalmente devem ter

menos importância do que seu objetivo, o menor.

No tocante à segunda hipótese, também foi comprovada.

Restou evidenciada a possibilidade de dirimir a maioria dos conflitos que sempre

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envolveram esta matéria. Efetivamente o fator primordial que viabiliza, de plano, a

aplicação da guarda compartilhada é a maneira como os genitores se relacionam

após a ruptura da união conjugal. O melhor interesse da criança persiste como

norteador da decisão dos genitores.

Foi neste sentido que foi apresentado o presente trabalho de

conclusão de curso, analisando a guarda compartilhada, como um novo

mecanismo a ser adotado por pais separados, mais filhos em comum.

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