levantamento de araceas e discoreaceas vale itajaí
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Levantamento de Araceas e Discoreaceas Vale ItajaíTRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGROECOSSISTEMAS - MESTRADO
O VALE DO RIO TAIA-HY-
LEVANTAMENTO DE ARCEAS E DIOSCORECEAS
COMESTVEIS NO LITORAL NORTE CATARINENSE
ANTNIO HENRIQUE DOS SANTOS
FLORIANPOLIS, S.C.- JUNHO DE 2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGROECOSSISTEMAS - MESTRADO
O VALE DO RIO TAIA-HY-
LEVANTAMENTO DE ARCEAS E DIOSCORECEAS
COMESTVEIS NO LITORAL NORTE CATARINENSE
Dissertao apresentada ao Centro de Cincias
Agrrias da Universidade Federal de Santa
Catarina, como requisito para obteno do ttulo de
Mestre em Agroecossistemas
ORIENTADOR: Ph.D. Paul Richard Momsen Miller
CO-ORIENTADOR: Dr. Edson Silva
FLORIANPOLIS, S.C., JUNHO DE 2005
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FICHA CATALOGRFICA
SANTOS, Antnio Henrique dos. O Vale do Rio Taia-Hy- Levantamento de Arceas e Dioscoreceas Comestveis no Litoral Norte Catarinense. Florianpolis, S.C. 2005. 135 f. Prof. Orientador: PhD Paul R.M.Miller. Dissertao (Mestrado em Agroecossistemas) - Centro de Cincias Agrrias, Universidade Federal de Santa Catarina. 1. Imigrao alem 2. Preservao de Sistemas Indgenas 3. Cultivo em Coivara e Quintal Agroflorestal 4. Preparo como Alimento. Bibliografia 135 f.
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TERMO DE APROVAO
ANTNIO HENRIQUE DOS SANTOS O VALE DO RIO TAIA HY- LEVANTAMENTO DE ARCEAS E DIOSCORECEAS COMESTVEIS NO LITORAL NORTE CATARINENSE Dissertao aprovada em 21/06/2005, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre no Programa de Ps-Graduao em Agroecossistemas, Centro de Cincias Agrrias, Universidade Federal de Santa Catarina, pela seguinte banca examinadora. Prof. PhD Paul Richard Momsen Miller Orientador _________________________ ___________________________ Prof. Dr. Jucinei Comin Prof. Dr. Csar Butignol Presidente CCA UFSC Membro CCA UFSC
___________________ _____________________ Prof. Dr. Nivaldo Peroni Eng.Agr.Dr. Edson Silva Membro NEPAM- UNICAMP Membro EPAGRI _____________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho Coordenador do PGAGR Florianpolis, 21 de julho de 2005
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Dedico este trabalho minha famlia, que me apoiou durante os dois longos anos que durou este
curso, especialmente aos meus filhos Tiago e Patrcia, e minha esposa Silvana e aos meus pais
Joo Jayme e Carmen Sylvia, com os quais tive a oportunidade de conviver mais intensivamente,
depois de vinte anos dedicados ao trabalho de extenso rural. Tambm dedico este a colegas que
foram desacreditados, estigmatizados por vivenciarem processos depressivos e que como eu,
deram a volta por cima, mostrando que esse tipo de evento no incapacita ningum. Diz um
ditado: Bendita a crise, pois so as crises que nos levam evoluo como seres humanos.
Seguindo este ditado, procurei melhorar minha sade atravs do ioga, indicao do amigo Dr.
Ajay Singh. O ioga vem fazendo parte de minha vida e de meu filho h seis anos e tem nos
trazido serenidade nos momentos mais difceis. Foram dois anos ao longo dos quais vivenciei
momentos de empolgao e desnimo, pois o processo de erro e acerto penoso; alguns
trabalhos foram refeitos inmeras vezes, e se no estivesse sereno, o desnimo teria me
dominado e teria desistido de tudo. Nestas horas, tcnicas de relaxamento, respiratrias e de
meditao, so essenciais para no deixar o nimo abater.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a colaborao das seguintes pessoas, sem as quais este trabalho teria sido impossvel:
Pedro Paulo Rodrigues, Waldemar Espig, Cacilda Espig, Benito da Silva, Gelsio Havenstein,
Modesto Schmitt, Jos Schmitt, Idlia Schmitt, Zeno Espig, Ethla Espig, Arlindo Kleine,
Urbano Kleine, Geraldo Bressanini, Conrado Litke, Josimar Havenstein, Nelson Muller, Rolf
Muer, Vanildo Schulze, Maria Hattenhauer, Jocelino Schneckemberg, Alinor Baartsch, Adenir
Baartsch, Simone Mller, Rolando Dumke, Vili Artmann, Norberto Artmann, Jonas Neitzel,
Levino Neitzel, Walmir Quandt, Vilson Goudard, Ingo Bachmann, Hilda Hoier, Ernesto Hoier,
Carmen Legal, Artino Stedile, Dosolina Stedile, Adival Friedemann, German Ayala, Troy
Roger, Nivaldo Peroni, Natlia Hanazaki, Fundao XXV de Julho, Dieter Klostermann,
Marco Tlio de Oliveira, Rogrio Rocha, Henry Stucker, Gilmar Zaffari, Edson Silva, Maria
Jos Reis, Jorge Barcelos, Marilda Checcucci Silva, Marli Sheuer, Joo Luis Silva, Joana
MacFadden, Paulo Callegari, Henrique Kreuser, Fbio Zambonin, Eduardo Gonalves, Inno
Onwueme, Leonor Castieras, Marcus Nadruz Coelho, Mrio Puiati, Maria das Dores da
Silveira e Marlene D. da Silveira (Biblioteca do CCA), Zilma Vasco (Biblioteca da EPAGRI) e
especialmente Ana Maria da Silva pela correo final do trabalho.
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SUMRIO
SUMRIO ..................................................................................................................................7
LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................13
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................16
LISTA DE ANEXOS ....................................................................................................................17
RESUMO ................................................................................................................................18
ABSTRACT ................................................................................................................................19
I. INTRODUO ........................................................................................................................20
1. ndios, Colonos Alemes e as Razes ........................................................................................20
2. Problemtica ..............................................................................................................................22
3. Estrutura ................................................................................................................................23
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4. Objetivos ................................................................................................................................23
II. REVISO BIBLIOGRFICA ..............................................................................................24
A. FAMLIA ARCEA ..............................................................................................................24
A.1. PRINCIPAIS GNEROS CULTIVADOS ...........................................................................26
1. Gnero Xanthosoma (tai, mangarito).......................................................................................26
1.1. Tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) .................................................................................26
1.2. Mangarito (Xanthosoma riedelianum Schott) ........................................................................26
2. Gnero Colocasia (inhame do seco e inhame do brejo)............................................................27
2.1. Colocasia esculenta var. esculenta (grupo dasheen) e Colocasia
esculenta var.antiquorum (grupo eddoes) .....................................................................................27
3. MANEJO DAS CULTURAS DE Xanthosoma e Colocasia ....................................................30
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4. Produo Mundial e Utilizao na Alimentao de Xanthosoma e Colocasia .........................33
4.1. Produo Mundial ..................................................................................................................33
5. Partes Comestveis dos Gneros Xanthosoma e Colocasia.......................................................36
5.1. Aproveitamento das folhas de Xanthosoma e Colocasia .......................................................37
5.2. Processamento de Xanthosoma e Colocasia ..........................................................................38
5.3. Utilizao como alimento para animais..................................................................................39
B. FAMLIA DIOSCOREACEAE ............................................................................................40
1. Gnero Dioscorea (car) ...........................................................................................................40
2. Descrio do gnero Dioscorea.................................................................................................42
3. MANEJO DO GNERO Dioscorea (CAR) ..........................................................................47
4. PRODUO MUNDIAL E UTILIZAO NA ALIMENTAO DE Dioscorea................56
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4.1. Produo Mundial ..................................................................................................................56
4.2. Partes comestveis do gnero Dioscorea ................................................................................57
4.3. Outras utilizaes de Dioscorea .............................................................................................58
5. MANEJO TRADICIONAL DE CAR, TAI, INHAME E MANGARITOS-
QUINTAL AGROFLORESTAL E ROA DE COIVARA .........................................................60
5.1. Quintal Agroflorestal..............................................................................................................60
5.2. Roa de Coivara......................................................................................................................63
6. ETNOBOTNICA....................................................................................................................65
III. IDENTIFICAO DOS MUNICPIOS ............................................................................68
1. Caracterizao Scio-Econmica dos Municpios Ilhota e Joinville .......................................68
1.1. Caracterizao do municpio de Ilhota ...................................................................................68
1.2. Caracterizao do Municpio de Joinville ..............................................................................73
IV. MATERIAIS E MTODOS ................................................................................................78
1. Escolha das Comunidades e Propriedades ................................................................................78
2. Escolha dos Informantes-Chave ................................................................................................78
3. Visita e Identificao Popular e Botnica..................................................................................78
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4. Grupo de Discusso ...................................................................................................................79
5. Exposio de Plantas Produtoras de Razes ..............................................................................80
6. Entrevistas Semi-Estruturadas...................................................................................................80
7. Utilizao das Razes.................................................................................................................81
V. RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................................82
1. Identificao Popular e Botnica...............................................................................................82
1.1. Identificao Popular de Xanthosoma e Colocasia ................................................................82
1.2. Identificao Botnica de Xanthosoma e Colocasia ..............................................................83
1.3. Identificao Popular de Dioscorea .......................................................................................85
1.4. Identificao Botnica de Dioscorea......................................................................................86
2. MANEJO DE PLANTAS - RESULTADO DO GRUPO DE DISCUSSO............................88
2.1. Tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) .................................................................................88
2.2. Mangarito branco (Xanthosoma riedelianum Schott) ............................................................90
2.3. Mangarito roxo (Xanthosoma sp.) ..........................................................................................92
2.4. Tai-japo (Colocasia esculenta Schott var. antiquorum) .....................................................95
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2.5. Car-mimoso (Dioscorea trifida L.).......................................................................................96
3. Entrevistas Semi-Estruturadas - Caracterizao das propriedades de Alto Brao do
Ba e de Pirabeiraba ...................................................................................................................101
3.1. Caractersticas das Propriedades de Alto Brao do Ba.......................................................101
3.2. Caractersticas das Propriedades de Pirabeiraba ..................................................................102
4. Utilizao das Razes...............................................................................................................104
VI. CONCLUSO E CONSIDERAES FINAIS ...............................................................106
VII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................108
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01: Distribuio da famlia Araceae no planeta ...........................................................25
FIGURA 02: Planta de Colocasia esculenta var. antiquorum com 1 m de altura .......................29
FIGURA 03: Folhas de Colocasia (esquerda) e Xanthosoma (direita) .......................................29
FIGURA 04: Distribuio geogrfica da famlia Dioscoreae no planeta ....................................40
FIGURA 05: Chave botnica de identificao de 3 Dioscorea ...................................................41
FIGURA 06: Chave botnica de identificao de 5 Dioscorea ...................................................42
FIGURA 07: Inflorescncia de Dioscorea do tipo espiga ...........................................................43
FIGURA 08: Diferentes partes do tubrculo de car que formam as mudas de
cabea, do meio e da cola .............................................................................................................50
FIGURA 09: Diferentes tipos de tutoramento do car ................................................................54
FIGURA 10: Mapa de Santa Catarina destacando o municpio de Ilhota ...................................68
FIGURA 11: Mapa de Santa Catarina destacando o municpio de Joinville...............................73
FIGURA 12: Resultados dos grupos afixados em mural............................................................80
FIGURA 13: Exposio de plantas produtoras de razes.............................................................80
FIGURA 14: Variabilidade intra-especfica em tai ...................................................................83
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FIGURA 15: Folhas e tberos de mangarito branco (Xanthosoma riedelianum
Schott) ................................................................................................................................83
FIGURA 16: Flor e folha de tai (Xanthosoma sagitifolium Schott) ..........................................84
FIGURA 17: Plantas e tberos de mangarito roxo (Xanthosoma sp.).........................................84
FIGURA 18: Folhas e flor de tai-japo (Colocasia esculenta var. antiquorum) .......................85
FIGURA 19: Tberos e folhas de car mimoso (Dioscorea trifida L.).......................................86
FIGURA 20: Tberos e folhas de car de po branco (Dioscorea alata L.) ...............................86
FIGURA 21: Tberos e folhas de car do ar ou da rvore (Dioscorea bulbifera L.) ..................87
FIGURA 22: Consrcio de tai com car e tai com banana ......................................................89
FIGURA 23: Mangarito branco lavado em saco de rfia ............................................................91
FIGURA 24: Lavao de mangarito branco com presso e tberos sem a casca........................91
FIGURA 25: Mudas de mangarito branco armazenadas na sombra............................................92
FIGURA 26: Planta de mangarito roxo atacada por Erwinia ou murchadeira ............................93
FIGURA 27: Mangarito roxo plantado em coivara .....................................................................93
FIGURA 28: Lavao de mangarito roxo .....................................................................................94
FIGURA 29: Armazenamento de mudas de mangarito roxo sob pedras ......................................94
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FIGURA 30: Tai-japo branco e roxo .........................................................................................96
FIGURA 31: Tutoramento piramidal de car mimoso em Joinville .............................................97
FIGURA 32: Consrcio de car mimoso com milho ....................................................................98
FIGURA 33: Bolinhos preparados com uma mistura de tai-japo, batata doce,
aipim e car de po com fub de milho ......................................................................................105
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xii
LISTA DE TABELAS
TABELA 01: Produo mundial, produtividade e rea de tai, inhame eddoes e
dasheen ..................................................................................................................35
TABELA 02: Porcentagem de ingesto diria de calorias provenientes de tai e
inhame eddoes e dasheen e de outros tberos em diversos pases e
continentes .............................................................................................................36
TABELA 03: Produo mundial de car......................................................................................56
TABELA 04: Populao urbana e rural de Ilhota.........................................................................69
TABELA 05: Nmero de propriedades de Ilhota em diferentes estratos de rea.........................69
TABELA 06: Principais culturas plantadas em Ilhota..................................................................70
TABELA 07: Populao urbana e rural de Joinville ....................................................................73
TABELA 08: Nmero de propriedades de Joinville em diferentes estratos de rea ....................74
TABELA 09: Principais culturas plantadas em Joinville .............................................................74
TABELA 10: Principais culturas de Pirabeiraba..........................................................................75
TABELA 11: Manejo etnobotnico de cinco razes ...................................................................100
TABELA 12: Resultado das entrevistas semi-estruturadas ........................................................103
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xiii
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: PERGUNTAS DO QUESTIONRIO SEMI-ESTRUTURADO .......................115
ANEXO 2: QUADROS COM A COMPOSIO DAS RAZES.........................................120
ANEXO 3: CARACTERSTICAS DOS MUNICPIOS DE ILHOTA E
JOINVILLE ..............................................................................................................................123
ANEXO 4: PERGUNTAS DA OFICINA DE RAZES.........................................................125
ANEXO 5: RECEITAS DE PREPARO DE RAZES TUBEROSAS ...................................128
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xiv
RESUMO
Este levantamento descreve etnobotanicamente plantas produtores de razes tuberosas, sendo
quatro espcies nativas e trs espcies introduzidas, originrias da sia e frica. Estas culturas
so mantidas por descendentes de colonizadores alemes, cujos ancestrais colonizaram a parte
norte do litoral catarinense. So consideradas como culturas de colheita oculta, pelo fato destas
no serem includas em estatsticas oficiais publicadas pelo governo, apesar de sua importncia
na alimentao dos produtores. Estes produtores esto inseridos numa economia dualizada,
produzindo bens para o mercado, atravs de uma agricultura modernizada, e ao mesmo tempo,
mantm a produo tradicional, atravs do cultivo destas plantas para sua subsistncia. Foram
determinados os nomes populares e sua classificao botnica, atravs da coleta de folhas, flores
e rgos subterrneos de reserva e tambm por informaes sobre qualidades culinrias e outras
caractersticas, como odor, etc. Especialistas foram consultados quando as chaves botnicas
utilizadas no foram suficientes. Duas espcies de mangarito foram encontradas: o mangarito
branco (Xanthosoma riedelianum Schott) e o mangarito roxo (Xanthosoma sp.). Diferenas
significativas existem entre os dois: o mangarito roxo possui plantas com maior porte, tberos
com uma casca mais aderida e de colorao roxa, e exige o cultivo em condies de coivara, com
sombreamento parcial. Suas folhas com formato peltado, no permitem classific-lo entre as
espcies de Xanthosoma cultivadas. Desta planta foram preparadas exsicatas e estas foram
depositadas em institutos botnicos e aguardam classificao. Outras culturas nativas
identificadas foram: tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) e car-mimoso (Dioscorea trifida L.).
As culturas introduzidas classificadas foram: tai-japo (Colocasia esculenta Schott, var.
antiquorum), car-do-ar (Dioscorea bulbifera L.) e car-de-po (Dioscorea alata L.). Para
conhecer o manejo destas plantas, foram utilizadas vrias metodologias como: oficinas,
exposio de razes e entrevistas com informantes-chave. Roas de coivara e quintais
agroflorestais so utilizados comumente para sua produo. Foram acompanhados cinco
produtores na hora do preparo de pratos, revelando uma variedade de formas de preparo como
alimento. Estas culturas representam um papel importante como segurana alimentar, podendo
ser colhidas ao longo do ano e requerem poucos cuidados, representando um potencial
econmico aos pequenos produtores se houver expanso do mercado.
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xiv
ABSTRACT
This survey describes the ethnobotany of four native American root crops and three root crops
introduced from Africa and Asia. These crops are maintained by german descendant farmers
whose ancestors settled on the North Coast of Santa Catarina State. Theses crops are termed
hidden harvests because they are not included in agricultural statistics gathered by the
government, in spite of their importance at the farm table. This survey was carried out among
farmers of the municipalities of Ilhota and Joinville. These farmers exist in a dual economy, with
modern production practices for farm goods produced for market, and traditional production
practices for subsistence foods, which include these root crops. Common names and botanical
classification were determined by collecting leaves, flowers, underground storage organs, and
information on odor and cooking qualities. Specialists were consulted when botanical keys
proved inconclusive. Two species of mangareto were found: white mangareto (Xanthosoma
riedelianum Schott) and purple mangareto (Xanthosoma sp.). Many differences exist between the
two: purple mangareto has larger plant size, a more purple and firm skin on the corm and a
preference for slash-and-burn soil preparation with tree shade. Peltate leaf shape of the purple
mangareto sets it apart from other cultivated species of Xanthosoma. Herbarium specimens have
been deposited in botanic collections, and await classification. Other native crops identified were:
cocoyam (Xanthosoma sagittifolium Schott), and cush-cush yam (Dioscorea trifida L.).
Introduced crops were: taro (Colocasia esculenta Schott var. antiquorum), aerial yam (Dioscorea
bulbifera L.) and bread yam (Dioscorea alata L.). Workshops, root exhibition and interviews of
key informants were used to collect information on management practices. Slash-and-burn fields
and forest gardens were commonly used to produce these crops. Five farmers were interviewed
for culinary practices, revealing many forms of preparation for meals. These crops play an
important role in food security, can be harvested all year long, do not have to be pulled at any
given time, and require little care. Overall, these crops have economic potential for small farmers
if markets can be maintained and expanded.
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I. INTRODUO
1. ndios, Colonos Alemes e as Razes
Plantas como mangaritos, tais e cars so cultivados no Litoral Norte catarinense (Vale do
Itaja, Joinville), por agricultores de origem alem. Algumas dessas plantas so originrias da
Amrica do Sul (PURSEGLOVE, 1972) e eram cultivadas pelos ndios guaranis. HOEHNE
(1942, p.85), relata:
Os amerndios cultivavam muitas espcies de 1, que, sem dvida, despertaram grande
interesse entre os imigrantes. O tai e a taioba2, a primeira cultivada mais especialmente
para a obteno de estolhos dulos mui saborosos e a segunda para o fornecimento de
caruru-verduras para cozidos e enchimento de bolos, so duas outras arceas que nos
demonstram o elevado tino agrcola do amerndio. Ele conseguiu transformar
tubrculos e estolhos inicialmente ricos de rfides e de substncias fortemente picantes,
em tberas e estolhos dulos.
Uma espcie de car tambm originria da Amrica do Sul descrita pelo mesmo autor que
relata sua existncia e sua variabilidade nas roas indgenas:
Quem j teve o privilgio de apreciar uma roa de brasilndio ainda completamente
afastado da civilizao europia e cabocla deve recordar-se que, todavia, o ncola
continua cultivando, nas suas aparentemente modestssimas roas, escondidas nas
selvas virgens, uma infinidade de cars, mangars entre o precioso milho, que causa
inveja a quem os v e chega a provar. So cars mimosos, roxos, rseos, longos, curtos
lisos, pilosos e barbados que surgem sob as ramas nos montculos de terra raspada
(ibidem, p.86).
A presena de plantas como o tai no Vale do Itaja, citada por HOEHNE (1937, p.45):
Os aborgines em Santa Catarina j haviam consagrado o tai, na denominao de um rio o
Taia-hy, que mais tarde, por corruptelas sucessivas, se passou a denominar Itajahy.
Os colonos de origem alem que se estabeleceram no Vale do Itaja, conheceram estas
plantas e aprenderam suas tcnicas de cultivo atravs da ajuda de nativos, iniciando o plantio do
1 Mangarito, mangar, mangreten, patatun e margoreta so os vrios nomes encontrados na linguagem popular. 2 O autor separa tai como produtor de tubrculos e taioba como destinada produo de folhas, sendo que os colonos destas regies classificam o tai com folhas comestveis, como tai branco.
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milho, arroz, caf, aipim, batata-doce, amendoim, tai, verduras para o consumo domstico
(SILVA, 2002).
KITLER, (1857, p.5) em sua publicao Relatrio anual sobre os acontecimentos e
progresso da colnia alem, relata este momento, onde os colonos alemes, depois de
malogradas tentativas de cultivo da batatinha, erroneamente citada como europia, passaram a
adotar outras razes:
O malogro da colheita das batatas teve, no entanto, a conseqncia benfica de que os
colonos mais velhos e tambm os novos passassem a plantar os quase nunca falhos e
muito produtivos tubrculos nativos. Estes, de diversas qualidades como: aipim, car, tai
e batata-doce, so todos mais ricos em farinceos e mais nutritivos que a batata comum e
de excelente paladar, os ltimos talvez devido sua doura e com diversos preparos, bons
iguais batata europia. Quando necessitam 8 a 10 meses para estarem boas para a
colheita, seu rendimento, no entanto, maior e se contentam com uma terra no muito boa
e frtil. Como agora de acordo com um ditado nrdico, o que o campons no conhece,
no come, e alguns, pelo menos na Alemanha, teriam ficado ofendidos se os contssemos
a classe dos colonos. Aqui tambm foi preciso que a necessidade viesse, para fazer com
que estes tubrculos nutritivos fossem aceitos. Agora, muitos colonos caram no outro
extremo- no querem mais plantar nenhuma batata, pois no tm um gosto melhor e rende
menos que tai, etc.
A presena do tai e do mangarito na Colnia Dona Francisca (ncleo que deu origem
Joinville) descrita por outro autor que visitou o Sul do Brasil em 1858, AV-LALLEMANT,
(1858, p.190), relata que: O tai e o mangarito, pela facilidade de cultivo e abundncia da
produo, tornaram-se o principal alimento vegetal de Dona Francisca e que eu comi com prazer,
pois de fato, em nada ficam a dever a boa batata.
Outras razes cultivadas por agricultores destas regies, so as do gnero Colocasia e
Dioscorea originrios da sia e da frica (PURSEGLOVE, 1972), que chegaram ao Brasil
trazidas pelos escravos africanos e a pela intensificao das navegaes portuguesas no sculo
XVI.
Pelo exposto, os municpios de Ilhota e Joinville foram selecionados para este trabalho, pela
importncia destas culturas para os agricultores de origem germnica, os quais ocuparam as reas
da Mata Atlntica, quando de sua chegada da Alemanha em meados do ano de 1850.
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A floresta representava um trunfo na formao de suas unidades produtivas que por meio da
roa de derrubada e queima da mata, a transformavam em elemento decisivo na fertilidade
natural de suas lavouras (PNUD, 1999). Porm, a partir de 1960, mudanas significativas
ocorreram nas regies do Vale do Itaja e Joinville com a modernizao da agricultura. Como
resultado desta modernizao em Ilhota e Joinville, ocorreu uma tendncia no crescimento de
lavouras de arroz irrigado, banana e gado de corte (IBGE, 2002).
As propriedades de Ilhota e Joinville praticam uma agricultura tradicional no cultivo destas
razes, juntamente com a moderna. TOLEDO et al. (2003), relatam que similar a muitos
agricultores familiares, os povos tradicionais das reas dos trpicos midos contemporneos
esto inseridos numa economia dualizada. Eles produzem bens para o mercado e ao mesmo
tempo produzem para seu prprio consumo, adotando assim uma estratgia que engloba seu
duplo papel como produtor de produtos para subsistncia e ao mesmo tempo de produtos para o
comrcio. Por isso, o principal objetivo desta estratgia, maximizar a diversidade e o nmero de
opes disponveis para garantir sua subsistncia e para minimizar os riscos. Isto obtido atravs
do uso mltiplo do espao, do tempo, das plantas e dos animais.
Os sistemas agrcolas nestas reas so complexos e diversos, localizados em encostas de
morro, baixadas, solos cidos, parcialmente sombreados por rvores remanescentes da Mata
Atlntica, sendo reas menos provveis de serem visitadas por tcnicos, extensionistas e pouco
estudadas em instituies de pesquisa (ILBERY et al., 1998).
2. Problemtica
Plantas tuberosas como mangaritos, tai e cars eram empregados como base alimentar de
povos indgenas. Posteriormente foram utilizadas por colonos de origem alem, com o acrscimo
de tai - japo introduzido pelos escravos africanos. Seu cultivo era praticado em reas de coivara
e em consrcios em quintais agroflorestais, sem emprego de adubos sintticos e em monocultivos
com alguma adubao.
Com a modernizao da agricultura, mudana de hbitos alimentares, xodo rural dos mais
jovens e estreitamento da base alimentar, estas razes e suas prticas de cultivo esto
desaparecendo. A importncia dessas razes como cultivo de subsistncia, alternativa de cultivo
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agroecolgico, potencial para produo de farinhas destinadas panificao e para serem
cultivadas como alternativa de segurana alimentar, preservando um patrimnio gentico,
representam um fator de importncia para o Estado de Santa Catarina.
A falta de estudos que abordem esta temtica levou-nos a elaborar uma metodologia de
investigao que revelou importantes conhecimentos etnobotnicos, at o momento no
sistematizados e organizados, que foram abordados nesse trabalho.
3. Estrutura
O trabalho, uma pesquisa exploratria, foi dividido em seis partes. A primeira resume o
problema e os objetivos deste estudo. Em seguida foi feita uma reviso bibliogrfica sobre as
famlias Araceae e Dioscoreaceae. Nesta reviso foram descritas as principais espcies cultivadas
destas plantas, descrio botnica, manejo convencional e manejo em sistema agroflorestal
(quintal agroflorestal e roa de coivara), forma de preparo das razes e as principais tcnicas de
etnobotnica empregadas neste levantamento.
Na terceira foi feita a caracterizao scio-econmica dos municpios de Ilhota e Joinville,
selecionados para o estudo. Na quarta foi descrita a metodologia empregada para proceder ao
levantamento. Na seqncia foram descritos e discutidos os resultados do levantamento, em
relao botnica, manejo etnobotnico e preparo de pratos, e por ltimo, foram feitas as
concluses e as consideraes finais.
4. Objetivos
Identificao popular e identificao botnica das famlias Araceae e Dioscoreaceae.
Estudo do manejo etnobotnico.
Registrar formas de uso na alimentao.
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II. REVISO BIBLIOGRFICA
A. FAMLIA ARACEAE
Segundo PURSEGLOVE (1972), a famlia Araceae, pertencente subclasse
monocotilednea, ordem Arales, posssui em torno de 100 gneros e 1.500 espcies, distribudas
em diversas regies do planeta, principalmente nos trpicos, em ambientes midos e sombreados
(FIGURA 01). A maioria herbcea com tberos ou rizomas alongados, porm em alguns casos
podem ser trepadeiras ou no, possuir um ramo lenhoso e serem epfitas, com ramos geralmente
simpodiais3, folhas de vrios tipos, hastadas ou sagitadas, podendo ser compostas, pinadas ou
palmadas.
A inflorescncia formada por flores pequenas ou diminutas em forma de brcteas,
geralmente com um odor ftido, massificadas conjuntamente em um espdice cilndrico, contido
numa espata, a qual pode ser vistosa. As flores so hermafroditas ou monicas, com partes
masculinas na parte superior do espdice e femininas na parte inferior, raramente so diicas;
geralmente so protognicas; o perianto est presente nas flores hermafroditas, estando ausente na
maioria das flores unissexuadas. Os estames so hipgenos 4 , tipicamente em nmero de 6, mas
geralmente menos, unidos num sinandrium5; estaminides presentes; gineceu reduzido a um
carpelo; ovrio superior. O fruto uma baga, densamente compacta, as sementes possuem
endosperma (PURSEGLOVE, 1972).
Segundo ONWUEME (1978) a famlia Araceae, contm diversos gneros de plantas que
so cultivadas e utilizadas na alimentao, em vrias partes dos trpicos. So elas:
- Xanthosoma spp. - Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott a mais importante e conhecida como
tnia, cocoyam novo e tai ou taioba no Brasil.
- Colocasia esculenta (L.) Schott. - conhecida como taro, cocoyam velho, eddoes e dasheen. No
sul do Brasil so chamados de inhame ou tai-japo.
- Alocasia spp.-neste gnero, Alocasia macrorhiza a principal espcie cultivada, e conhecida
como taro gigante.
3 Simpdio: Tipo de ramificao que consiste numa srie de gemas concrescentes que se unem num s corpo axial. 4 Hipgenos: Diz-se da flor ou da pea floral que se insere abaixo do ovrio. 5 Sinandrium: Concrescncia dos estames que formam uma pea nica.
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25
- Cyrtosperma chamissonis - taro do banhado.
- Amorphophallus campanulatus - conhecido como inhame elefante.
No Brasil e em Santa Catarina, os gneros mais cultivados so Xanthosoma e Colocasia.
FIGURA 01: Distribuio da famlia Araceae no planeta.
Fonte: APG (2002).
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A.1. PRINCIPAIS GNEROS CULTIVADOS
1. Gnero Xanthosoma (tai, mangarito)
Acredita-se que o cultivo de Xanthosoma seja muito antigo no novo mundo (ONWUEME,
1978), e provavelmente este se originou na parte norte da Amrica do Sul. Os principais gneros
cultivados como alimento so o tai e o mangarito.
1.1.Tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) CORREA (1978) define esta planta como
possuindo um caule crasso, ereto, com cerca de 1m de altura; pecolo com mais ou menos 1m de
comprimento, verde; folha oval-sagitada, com 40 50cm de comprimento, um pouco menor na
largura, com lobo terminal semi-oval, apiculado acuminado, duas vezes mais longo que os basais.
Possui nervuras laterais primrias no lobo terminal em nmero de 8, reunidas em nervura
coletiva; pednculo com cerca de 20cm de comprimento por 1cm de espessura. O tubo da espata
oblongo-ovide, esverdeado, com 6-7cm de comprimento e 3,5-4cm de largura, lmina albo-
esverdeada, acuminada, com 15cm de comprimento e 5-6cm de largura; espdice menor que a
espata, com a poro feminina com 3cm, a poro estril com 3-4cm e a masculina com 5-6cm de
comprimento, ovide; ovrio ovide, albo, coroado por estigma amarelo; estamindios inferiores
levemente clavados, albos, com 4-5cm de comprimento e 1mm de espessura (CORREA, 1978).
Conforme a espcie, os tberos secundrios podem atingir at 15 a 25cm de comprimento,
de forma globular, oval, cilndrica, e elptica e as folhas podem ser hastadas como no mangarito
ou sagitadas. A polinizao do tipo entomfaga (IBPGRI, 1989).
1.2.Mangarito (Xanthosoma riedelianum Schott) CORREA (1978) descreve este mangarito
com caule tuberoso, pecolo liso, com 25cm de comprimento, provido de bainha; lmina
sagitado-panduriforme, com 15cm de comprimento, com lobo superior ovado, constrito na parte
inferior, de pice acuminado, com 10 12cm de comprimento e 8 9cm de largura, na poro
mais larga, com 5 6 nervuras laterais de cada lado, ascendentes reunidas em nervura coletiva
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arqueada afastada da margem; lobos basais oblongos, obtusos, desiguais, com 4cm de
comprimento e 2,5cm de largura, com as nervuras principais formando um sinus desnudo.
Pednculo verde - plido semelhante ao pecolo; espata albo esverdeada, com tubo ovide,
constrito no pice com 5cm de comprimento, lmina oblongo lanceolada, aguda com 7- 8cm de
comprimento e 2cm de largura; espdice estipitado, albo, muito menor que a espata, a parte
feminina com 3cm, a parte dos estamindios com 3,5 4cm de comprimento e a inflorescncia
masculina mais curta. cultivado em Joinville, Rio de Janeiro, So Paulo e Minas Gerais.
(CORREA, 1978).
2. Gnero Colocasia (inhame do seco e inhame do brejo)
2.1. Colocasia esculenta var. esculenta (Grupo dasheen) e Colocasia esculenta var.
antiquorum (Grupo eddoes)
O gnero Colocasia constitudo de numerosas espcies, sendo elas classificadas
geralmente em dois grandes grupos principais: o tipo eddoes, que possui um tbero principal
pequeno e os tberos secundrios grandes, e o tipo dasheen, onde o tbero principal grande e os
secundrios so pequenos. O inhame do seco ou tai-japo, enquadra-se no grupo eddoes e o
inhame da gua ou inhame de porco, enquadra-se no grupo dasheen. Os tberos principal e
secundrio so similares em sua estrutura interna. A parte mais externa formada por uma
periderme espessa e amarronzada na qual se encontra um parnquima rico em amido
(PURSEGLOVE, 1972).
No parnquima os feixes vasculares e lactferos ramificam-se, e tambm apresentam clulas
que contm rfides (feixes de cristais de oxalato de clcio), chamadas idioblastos que esto
distribudas por quase todas as outras partes da planta. Estas rfides so responsveis pelo sabor
acre e urticria. A altura das plantas varia de 1 a 2m (FIGURA 02). Cada folha formada por
um longo e ereto pecolo e uma grande lmina. A conexo do pecolo lmina no feita na
borda da lmina, mas sim na parte mediana da lmina, sendo esta forma de conexo denominada
peltada. Esta uma caracterstica que auxilia no diagnstico para distinguir Xanthosoma de
Colocasia (ONWUEME, 1999). Ver FIGURA 03.
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Para PURSEGLOVE (1972) existem dois principais componentes da inflorescncia: o
espdice e a espata. O espdice uma inflorescncia pontiaguda, formado por um eixo central no
qual inmeras pequenas flores sem pedicelos aderem-se. A espata uma brctea grande
esbranquiada que abraa o espdice a partir da base e o envolve parcialmente, seu comprimento
pode ser de 20cm e enrola-se para dentro na ponta. O espdice possui 6 a 14cm de comprimento.
As flores femininas localizam-se na base da flor e as masculinas prximas ao pice. Na regio
entre as flores masculinas e femininas, existe um grupo de flores estreis, e na extremidade
superior do espdice existe um apndice estril (ver FIGURA 14). O fruto uma baga elipside
de 3 a 5mm e a semente ovide, com 1,2 a 1,5mm, raramente ocorrendo. O florescimento pode
no ocorrer em alguns cultivares. A polinizao entomfila.
As plantas do gnero Colocasia so consideradas pantropicais em relao ao seu cultivo e
sua distribuio geogrfica, sendo intensamente cultivadas e contribuindo em maior porcentagem
na dieta dos povos das Ilhas do Pacfico, frica Ocidental, Caribe e em todas as reas midas e
sub-midas da sia.
Sugere-se que o inhame tipo eddoes, foi desenvolvido e selecionado a partir de inhames
cultivados na China e Japo h sculos atrs e introduzido nas ndias Ocidentais e em outras
partes do mundo (PURSEGLOVE, 1972).
Colocasias so plantas originrias do sul da sia Central, provavelmente da ndia ou
Malsia. As espcies selvagens ocorrem em vrias partes do Sudeste da sia. Dos centros de
origem, espalharam-se para o sudeste asitico, para a China, Japo e Ilhas do Pacfico (alguns
autores tm sugerido a ilha de Nova Guin como centro de origem, bem distinto do centro
asitico). A partir da sia, estas plantas espalharam-se em direo Arbia e regio do
Mediterrneo. Por volta do ano 100 a.C. eram cultivadas no Egito e na China, atingindo a Costa
Africana, por volta de 2000 anos atrs, e levadas por viajantes para a frica Ocidental, e mais
tarde por navios de escravos, para a regio caribenha (PURSEGLOVE, 1972).
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FIGURA 02: Plantas de Colocasia esculenta var. antiquorum com 1 m de altura.
FIGURA 03: Folhas de Colocasia (esquerda) e Xanthosoma (direita).
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3. MANEJO DAS CULTURAS DE Xanthosoma e Colocasia
a) Preparo do Solo
Segundo ONWUEME (1978) o inhame pode ser cultivado sob condies de solo seco
(inhame eddoes) ou mido (inhame dasheen). O preparo do solo para tai, mangaritos e inhame
eddoes, no preparo convencional, implica: limpeza da rea, arao e gradagem, o plantio feito
em sulcos ou em camalhes, este ltimo utilizado quando a colheita for mecanizada. Quando
cultivados de forma tradicional, o plantio feito em sulcos em ou covas preparadas em solo no
arado.
Segundo MONTEIRO (2002) no Estado de So Paulo o preparo do solo consiste de uma
arao e uma gradagem. No Estado de Minas Gerais, o solo preparado atravs de uma arao e
uma gradagem e realizado o sulcamento ou a abertura das covas (CARVALHO, 2002).
Segundo TORRES (2001) recomenda-se uma subsolagem e devem ser preparados camalhes,
pois o tai no cresce bem em solos midos.
b) Material para o Plantio
ONWUEME (1978) relata que o material para o plantio pode ser: pequenos tberos
principais ou tberos secundrios. Para GIACOMETTI & LEN (1994) o material mais
comumente utilizado so as partes dos tberos principais, com 100 a 150g, com trs a quatro
gemas, que produzem mais do que quando so utilizados os tberos secundrios.
TORRES (2001) recomenda o plantio de tberos principais e secundrios, entretanto ambos
devem sofrer tratamento contra doenas e pragas, e estes devem ser provenientes de cultivos
sadios. Devem ser utilizados pedaos de 100g.
c) poca de Plantio
Para ONWUEME (1978) o fator determinante para o cultivo destas plantas nos trpicos a
disponibilidade de umidade. Quando cultivadas em regies temperadas ou subtropicais, o plantio
feito na primavera. No Estado de So Paulo os plantios so mais concentrados nos meses de
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julho a outubro (MONTEIRO, 2002). SANTOS et al. (1983) relatam julho e agosto como os
melhores meses para o plantio
d) Espaamento
Segundo ONWUEME (1978), espaamentos menores aumentam a produtividade de tberos
principais e o nmero de mudas por hectare, porm diminuem a produtividade de tberos por
planta. Num espaamento de 0,30 X 0,30m, a produo de mudas para o plantio enorme, porm
o retorno em tberos comerciais muito pequeno. No geral, um espaamento de 0,60 X 0,60m
para todas as culturas ideal, porm os produtores empregam espaamentos maiores de at 1 X 1
m com menor produtividade. Em muitas reas tradicionais de cultivo, as plantas so cultivadas
em consrcio e o espaamento no fixo, sendo determinado pela densidade das outras culturas.
GIACOMETTI & LEN (1994) relatam que em cultivos comerciais o espaamento
utilizado de 1,30m entre linhas e de 0,40 a 0,50m entre plantas. Em pequenos plantios so
utilizados espaamentos de 1 X 1m ou 1,30 m X 1,30m. Na Nigria, foram obtidos melhores
resultados com espaamentos de 1,60 X 1,60m com a utilizao de tberos secundrios. Nos
municpios prximos Belo Horizonte utiliza-se o espaamento de 0,60 X 0,25m. Em outras
regies do Estado de Minas Gerais, o espaamento varia de 0,80 a 0,90m entre sulcos e de 0,30 a
0,40m entre plantas (CARVALHO, 2002).
e) Profundidade de Plantio
ONWUEME (1978) relata que as mudas devem ser enterradas a uma profundidade de 5 a 7
cm, evitando que os tberos secundrios fiquem expostos ao ataque de pragas, e o sistema
radicular torna-se muito superficial. A aplicao de cobertura morta importante para estas
culturas, pois preserva a umidade e diminui a temperatura do solo. Para o Estado de So Paulo, a
profundidade recomendada por MONTEIRO (2002) de 10cm e GIACOMETTI & LEN
(1994) recomendam uma profundidade de 6 a 7cm.
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f) Manejo da gua:
Segundo ONWUEME (1978) o tai, os mangaritos e o inhame eddoes so plantas que
requerem considerveis quantidades de gua durante seu ciclo. Assim, importante irrigar em
locais onde as chuvas so irregulares. Experimentos comparando o comportamento de Colocasia
esculenta var. antiquorum e Xanthosoma sagittifolium sob diferentes suprimentos de gua e luz,
demonstraram que Xanthosoma mais resistente falta de gua e luz. A melhor produo de
Colocasia acontece quando h condies normais de umidade e luminosidade.
g) Controle de plantas concorrentes
ONWUEME (1978) relata que o controle de ervas deve ser feito nos primeiros trs ou
quatro meses quando a rea foliar for pequena, pois quando esta aumenta, as ervas concorrentes
no mais competem. Os perodos crticos em que as culturas devem ser mantidas no limpo so: 1.
no estgio inicial 2. no estgio de acmulo de amido e 3. maturao. Para o inhame, tai e
mangaritos as capinas devem ser rasas para no afetar o sistema radicular.
Para GIACOMETTI & LEN (1994) os primeiros seis meses so considerados crticos
para o controle de plantas concorrentes. Para isso, podem ser aplicados herbicida pr-emergentes
e ser feito o aterramento das plantas, que auxilia nesse processo.
h) Adubao de Xanthosoma (tai e mangaritos)
Segundo ONWUEME (1978) as necessidades nutricionais destas plantas so menos
conhecidas que a cultura do inhame. Em Porto Rico as doses recomendadas so: 112kg de
nitrognio, 45kg de fsforo e 112kg por hectare de potssio. ENY (1968) apud ONWUEME
(1978) obteve aumentos significativos de produtividade, atravs da aplicao de 336kg de sulfato
de amnio, 280kg de superfosfato e 224kg por ha de sulfato de potssio. Assim como no inhame,
a aplicao parcelada dos adubos mais bem aproveitada. No cultivo tradicional de inhame, tai
e mangaritos na frica e Ilhas do Pacfico, so utilizadas pequenas doses de fertilizantes ou
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nenhum fertilizante. Nas reas recm-desmatadas no sistema de coivara, utilizado esterco nas
covas (GIACOMETTI & LEN, 1994).
i) Adubao de Colocasia (inhame eddoes)
Para ONWUEME (1978) o inhame eddoes responde bem aplicao de fertilizantes. Em
geral, as plantas so exigentes em potssio e clcio. Na ndia, PUREWAL e DARGAN (1957)
apud ONWUEME (1978) encontraram que fertilizaes na proporo de 112kg de nitrognio,
56kg de fsforo e 56kg de potssio por hectare resultaram em maiores produtividades. A
adubao deve ser parcelada em vrias doses, a primeira aplicao feita no plantio o que auxilia
na rpida formao das primeiras folhas. A segunda aplicao feita 3 a 4 meses depois, com o
objetivo de aumentar o tamanho dos tberos.
SANTOS et al. (1983) relatam que o mais comum a utilizao de esterco de curral, porm
quando utilizados adubos qumicos, estes so aplicados nas seguintes propores: sulfato de
amnio: 700 kg/ha; superfosfato simples: 700 kg/ha e cloreto de potssio: 250 kg/ha.
4. Produo Mundial e Utilizao na Alimentao de Xanthosoma e Colocasia
4.1.Produo Mundial:
ONWUEME (1999) citando dados da FAO relata que em 1998, em torno de 6,6 milhes de
toneladas de Xanthosoma e Colocasia foram produzidos no mundo em uma rea de 1,07 milhes
de hectares (as estatsticas incluem tai, e inhame eddoes e dasheen), principalmente como
alimento de subsistncia. Na TABELA 01 percebe-se que a maior parte da produo e da rea
est situada na frica, podendo ser encontrados tambm, na sia e Oceania. Os maiores
produtores na sia so: China, Japo, Filipinas e Tailndia, na Oceania: Papua Nova Guin,
Samoa e Ilhas Salomo, e na frica: Zaire e Camares.
Segundo GIACOMETTI & LEN (1994) duas arceas vm ganhando importncia como
alimento energtico no mundo: a Colocasia esculenta Schott e a Xanthosoma Sagittifolium
Schott, sendo a Xanthosoma considerada tradicionalmente como um cultivo de subsistncia.
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Para TORRES (2001), na Costa Rica, Jamaica e Nicargua onde o tai conhecido como
malanga, este um cultivo importante como fonte de renda, onde so cultivadas duas espcies: a
Xanthosoma sagittifolium, conhecida como malanga branca e Xanthosoma violaceum, conhecida
como malanga roxa.
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TABELA 01: Produo mundial, produtividade a rea de tai, e inhame eddoes e dasheen
REGIO Produo (1.000 t) Produtividade (t/ha) rea (1.000 ha)
Mundo 6586 6,2 1070
frica 4452 5,1 876
sia 1819 12,6 144
China 1387 16,8 82
Japo 255 11,6 22
Filipinas 118 3,4 35
Tailndia 54 11,0 5
Oceania 283 5,2 46
Samoa Ocidental 37 6,2 31
Ilhas Salomo 28 21,9 1
Tonga 27 6,4 4
Fiji 21 14,7 1
Fonte: FAO (1998).
As populaes dos pases da Oceania so as que mais dependem destas plantas como
cultivo de subsistncia, enquanto na Amrica do Sul, a dependncia pequena, apesar de ainda
ter importncia para os agricultores de origem germnica em Santa Catarina.
MLLER (2002) relata que em Santa Catarina, a produo est localizada no Litoral Norte
(Joinville), Litoral Centro (guas Mornas, Alfredo Wagner, Antnio Carlos, Bigua, Santo
Amaro da Imperatriz, So Pedro de Alcntara, Tijucas e Urubici), sendo Joinville, Antnio
Carlos e So Pedro de Alcntara os principais municpios produtores.
Na TABELA 02 demonstrada a porcentagem de ingesto diria de calorias provenientes
de Arceas e de outros tberos e razes como: aipim (Manihot esculenta) batata doce (Ipomea
batatas), batatinha (Solanum tuberosum) por vrios povos, salientando-se a desinformao
referente ao consumo de tai e inhame na Amrica do Sul, que relata que nesta parte do mundo,
no h consumo destas plantas.
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TABELA 02: Porcentagem de ingesto diria de calorias provenientes de tai e inhame
eddoes e dasheen e de outros tberos em diversos pases e continentes
Pases /Continentes Tai/inhame eddoes//dasheen % Outros tberos/razes %
Tonga 18,1 45,0
Samoa 16,0 19,2
Ilhas Salomo 7,7 39,0
Gana 7,1 43,3
Gabo 4,6 36,7
Papua Nova Guin 4,2 32,6
Zaire 0,1 56,8
Camares 0,5 44,5
Oceania 0,7 7,2
sia 0,1 5,2
frica 0,5 15,3
Amricas Central e do Norte 0,0 2,6
Amrica do Sul 0,0 6,4
Europa 0,0 4,7
Mundo 0,1 6,0
Fonte: ONWUEME (1999), adaptado de HORTON (1988).
5. Partes comestveis dos gneros Xanthosoma e Colocasia
Segundo ONWUEME (1978) nas plantas do gnero Xanthosoma, os tberos principais
(soca) e os tberos secundrios (dedos) e s vezes as folhas, so as partes comestveis
importantes. Geralmente os tberos secundrios so mais saborosos e os principais so
desprezados. A soca composta de 77 a 86% de material comestvel e de 14 a 23% de casca. O
carboidrato presente nestas plantas basicamente amido. O amido possui gros grandes, com 17
a 20 de tamanho, sendo menos digestvel que o amido presente nas espcies do gnero
Colocasia. As plantas do gnero Xanthosoma so mais ricas em minerais que as do gnero
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Colocasia, com teor protico semelhante. Os tberos de Xanthosomas devem ser previamente
cozidos antes do consumo.
MONTEIRO & PERESSIN (2002) relatam que as Xanthosomas tm uma carncia em
alguns aminocidos como, por exemplo: isoleucina, lisina, triptofano e metionina. Aps o
cozimento, apresentam 26 a 30% de carboidratos e 1,7 a 2,5 % de protenas. Em relao s
plantas do gnero Colocasia, os tipos eddoes tendem a ter dedos mais numerosos do que os do
tipo dasheen, sendo os dedos e a soca comestveis, porm os dedos menos fibrosos que as socas.
Ambos so consumidos cozidos, tostados ou fritos em leo ou ainda na forma de pes. Na frica
fabricada uma pasta amassada, chamada fufu, sendo consumida em bolas imersas em sopa. No
Hava e Polinsia, os dedos e as socas so cozidos sob presso, depois de lavados, descascados e
amassados at apresentarem uma consistncia semi-flida. O produto submetido a uma srie de
peneiras, sendo a ltima com 0,5mm de dimetro (MONTEIRO & PERESSIN, 2002).
Durante a armazenagem ocorre fermentao do produto por Lactobacillus tornando o mais
cido, com um decrscimo de pH de 5,7 para 3,9, e consumido misturado com derivados do
coco. Este produto fermentado chama-se poi (ONWUEME, 1978). Para VINNING (2003) os
tberos de Colocasia contm mais de 35% de amido e a digestibilidade deste amido de 98%. A
porcentagem protica de 1 a 4,5% e todas as variedades necessitam ser cozidas para eliminar o
oxalato de clcio.
Para MONTEIRO & PERESSIN (2002) as plantas do gnero Colocasia so carentes em
protena (1,5%) e em lipdeos (0,2%) e seu valor nutritivo deve-se aos carboidratos com a
predominncia de amido. Alm de serem um alimento energtico, suas folhas so ricas em
vitamina A, riboflavina, niacina e cido ascrbico. As razes so utilizadas cozidas.
5.1. Aproveitamento das folhas de Xanthosoma e Colocasia:
As folhas das plantas do gnero Xanthosoma apresentam um alto potencial de fornecimento
de minerais, que desconhecido para a maioria de nossa populao. As folhas tambm podem ser
usadas como alimento, cozidas como carur, e as folhas mais novas, recm abertas, so as mais
recomendadas.
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comum a presena do tai em terrenos baldios, prximos a comunidades carentes, as
quais desconhecem a utilizao desta planta. PINTO et al. (1999, p. 61) em seu trabalho
Caracterizao mineral das folhas de taioba, descrevem que:
Trata-se sem sombra de dvidas, de um alimento que poder suprir muitas de nossas
necessidades dirias em minerais; incentivar o seu consumo a forma mais simples de
aumentar o valor nutritivo da dieta das populaes carentes, pois a taioba pode
contribuir devido ao seu total aproveitamento (limbo e pecolos) culinrio, sua rica
composio em minerais, ao seu baixo custo e facilidade de obteno dessa hortalia
em muitas regies de nosso pas.
Para VINNING (2003) as folhas de plantas do gnero Colocasia tm o mesmo valor
nutricional que o espinafre, sendo uma excelente fonte de vitaminas A e C, riboflavina e tiamina.
No preparo como alimento, as folhas devem ser verdes ou rosadas, sendo preparadas fervidas ou
cozidas em leite de coco.
5.2. Processamento de Xanthosoma e Colocasia
OPARA (1999) relata que os pequenos gros de amido do tai-japo (1 a 4 ) comparado
aos maiores gros do tai (17 a 20 ), so adequados para o preparo de vrios alimentos,
especialmente aqueles destinados crianas com potencial alergnico e para pessoas com
desordens gastro-intestinais. Entre as culturas de razes, o tai-japo considerado o mais
utilizado no preparo de produtos e estes, alm do poi, incluem a farinha, como base de cereais,
ps para bebidas, chips, fatias secas ao sol e flocos desidratados.
A farinha pode ser produzida de diversas maneiras, porm a operao principal baseia-se
em descascar os tberos crus ou pr-cozidos, sec-los e mo-los. Os tberos so descascados,
fatiados e lavados em gua para remover a mucilagem aderente; depois so imersos em gua por
uma noite, lavados e imersos em cido sulfrico a 0,25% por 3 horas. Na seqncia do processo,
os pedaos so branqueados em gua fervente por 4 a 5 minutos e secos 60 C e modos at a
consistncia de farinha (OPARA, 1999).
Para MONTEIRO & PERESSIN (2002) as razes de tai-japo podem ser processadas para
fabricao de farinha a qual pode ser utilizada na panificao, adicionada farinha de trigo na
proporo de at 15%. Nas Antilhas produzida uma farinha com pedaos secos dos tberos
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modos de tai sendo essa farinha mais nutritiva e menos fibrosa que a farinha de mandioca.
Segundo VINNING (2003) os tberos de Colocasia so consumidos cozidos ou em forma de
po. Na capital das Ilhas Samoa, Apia, existe uma antiga tradio de cozinhar razes de Colocasia
em fornos cavados no cho e consumi-los aps a missa de domingo, numa espcie de festival.
5.3. Utilizao como alimento para animais
As arceas comestveis tm um potencial considervel de utilizao de seus sub-produtos os
quais podem ser utilizados como uma excelente fonte de alimento animal. A silagem feita da
planta inteira em conjunto com outras plantas tem sido utilizada at certo nvel, por problemas de
acridez. Esta acridez pode ser eliminada atravs da fermentao que ocorre no processo de
ensilagem, pois sabido que esta causa irritao na boca e esfago dos animais (COURSEY et
al., 1975).
Os silos trincheiras foram utilizados para ensilar plantas inteiras de tai-japo e foi
demonstrado que os fatores que causam a acridez foram eliminados. No entanto, o material in
natura causou irritao nos trabalhadores que manipularam este material (WANG et al.,1981).
Outros estudos demonstraram que o valor nutritivo do material fermentado das arceas
equivale a outras espcies utilizadas, e tambm que este produto recomendvel para a
alimentao de sunos.
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B. FAMLIA DIOSCOREACEAE
A famlia Dioscoreaceae formada predominantemente por plantas tropicais,
monocotiledneas, inseridas na ordem Dioscoreales. So plantas trepadeiras herbceas, que
formam tberos ou rizomas. BURKILL (1960) apud PURSEGLOVE (1972) relata que so
conhecidos aproximadamente 6 gneros e 650 espcies. Todas as Dioscoreceas so diicas,
nascendo ocasionalmente as inflorescncias masculina e feminina na mesma planta. O gnero
Dioscorea estava distribudo em eras geolgicas primevas, nos hemisfrios ocidental e oriental,
onde se desenvolveu independentemente em cada regio, o que confirmado, pois nenhuma
espcie ou seo comum a ambas as regies (PURSEGLOVE, 1972). Sua distribuio
geogrfica no planeta demonstrada na FIGURA 04.
FIGURA 04: Distribuio geogrfica da famlia Dioscoreacea no planeta.
Fonte: APG, (2002)
1. Gnero Dioscorea (Car)
Segundo ONWUEME (1978) dentro do gnero Dioscorea, as espcies mais importantes
so: Dioscorea rotundata Poir, Dioscorea alata L., Dioscorea Cayenensis Lam, Dioscorea
esculenta (Lour) Burk, Dioscorea dumetorum (Kunth) Pax, Dioscorea bulbifera L., Dioscorea
trifida L., Dioscorea opposita Thunb, Dioscorea japonica Thunb e Dioscorea hspida Dennst.
Taxonomicamente, Dioscorea subdividido em vrias sees:
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1. Enantiophyllum - Dioscorea. rotundata Poir, Dioscorea alata L, Dioscorea cayenensis Lam,
Dioscorea opposita Thunb e Dioscorea japonica Thunb.
2. Lasiophyton- Dioscorea dumetorum (Kunth) Pax e Dioscorea hspida Dennst.
3. Opsophyton- Dioscorea bulbifera L.
4. Combilium - Dioscorea. esculenta (Lour) Burk.
5. Macrogynodium - Dioscorea trifida L.
Um aspecto morfolgico importante o fato das plantas da seo Enantiophyllum
caracterizarem-se pelo fato das vinhas enrolarem-se no sentido horrio. Todas as outras sees,
caracterizam-se pelas vinhas enrolarem-se no sentido anti-horrio. Esta caracterstica muito
importante para a classificao das plantas, pois um aspecto levado em considerao para a
elaborao de chaves botnicas, conforme as FIGURAS 05 e 06 (WILSON, 1988).
FIGURA 05: Chave botnica de identificao de 3 Dioscorea.
Fonte WILSON (1988).
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FIGURA 06: Chave botnica de identificao de 5 Dioscorea.
Fonte: WILSON (1988).
2. Descrio do Gnero Dioscorea
ONWUEME (1978) descreve Dioscorea como planta diica, com flores masculinas e
femininas produzidas em plantas diferentes. Raros casos de plantas monicas tm sido relatados,
sendo que muitos cultivares no florescem. As flores masculinas nascem em panculas,
produzidas nas axilas das folhas, sendo cada flor masculina, inconspcua e pequena. Nas flores
encontram-se trs spalas, trs ptalas e trs ou seis estames, sendo as ptalas e spalas
esverdeadas ou esbranquiadas. As flores femininas so maiores que as masculinas e nascem em
espigas que saem das axilas das folhas. Possui trs spalas, trs ptalas e um ovrio nfero. O
ovrio possui trs lculos, cada um deles contm dois vulos, com trs estigmas (FIGURA 07).
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O florescimento em condies brasileiras raro e os frutos so cpsulas deiscentes. A
polinizao entomfila (MONTEIRO & PERESSIN, 2002).
FIGURA 07: Inflorescncia de Dioscorea do tipo espiga.
Fonte: ONWUEME (1978).
A seguir so descritas as principais Dioscorea cultivadas no Brasil
a. Dioscorea trifida L: Para CORREA (1978) esta uma planta trepadeira de caules glabros,
alado-estriados na parte inferior e anguloso-comprimidos na parte superior, enrolando-se no
sentido anti-horrio; folhas pecioladas, alternadas, s vezes opostas ou profundamente
cordiforme, com trs a cinco lobos, com forma e tamanho diversos, com at 25cm de
comprimento e de igual largura, 11- 13 nervadas, mais ou menos pilosas nas duas faces, lobos
acuminados ou ovalado-agudos.
As flores podem ser fasciculadas ou solitrias, as flores masculinas dispostas em racimos de
trs a cinco e as flores femininas em espigas simples. O fruto uma cpsula oblonga, pubescente
contendo sementes orbiculares, aladas. Produz tberos subterrneos ovides, cilndricos ou
arredondados com at 15cm de comprimento e atingindo freqentemente at 1,5kg. Duas
variedades so bem conhecidas: uma de tberos compridos e outra de tberos curtos (CORREA,
1978).
Os tberos so revestidos de epiderme verrugosa com poucas razes fibrosas, com polpa
amarela alaranjada ou roxa, de sabor delicado e nutritivo. Na crena popular, acredita-se que esta
planta seja til como antiasmtica, calmante e at contra lepra, propriedades ainda no-
comprovadas. pouco exigente quanto qualidade do solo e a colheita dos tberos
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relativamente fcil. Esta planta era cultivada pelos indgenas antes do descobrimento, sendo
originria da Amrica do Sul (CORREA, 1978).
b. Dioscorea alata L: Segundo CORREA (1978) as plantas so trepadeiras glabras de caule
quadrangular ou 4-alado (o dos indivduos femininos geralmente 2-alado) grosso e com pequenos
bulbilhos axilares; folhas quase sempre opostas, estipuladas, longo-pecioladas, lmina hastada-
ovide, cordiforme, sagitada na base e acuminada no pice, 5-7 nervada, membrana glabra, de
dimenses bastante variveis.
A inflorescncia masculina disposta em espigas compostas, alongadas, flores esverdeadas,
estames frteis em nmero de 6, o fruto uma cpsula coricea de 3cm, as sementes so
orbiculares, circuladas por asas. Geralmente fornece um s tbero, porm s vezes estes so
sublobados de forma e dimenses muito variadas, podendo alcanar at 60cm de comprimento, e
comum encontrar no mercado, tberos com 2 a 5kg. Os tberos so revestidos de epiderme de
cor castanha e tm a polpa branca (CORREA, 1978).
O florescimento em condies brasileiras raro e a florao quando ocorre, produz frutos
como cpsulas deiscentes. A polinizao entomfila. Esta espcie de car considerada
nutritiva e de fcil digesto, por isso a mais recomendvel para a mistura com a farinha de
milho para fabricao do conhecido po-de-car. Originria do sul da sia encontra-se
distribuda pelo globo, e se constitui na base da alimentao humana em numerosas regies,
sobretudo no Extremo Oriente e na Australasia. A introduo no Brasil aconteceu nos tempos
coloniais, provavelmente trazido pelos escravos (CORREA,1978).
c. Dioscorea bulbifera L. Segundo CORREA (1978) so plantas trepadeiras, robustas, de caule
herbceo, cilndrico, estriado enrolando-se no sentido anti-horrio, com folhas alternas, longo-
pecioladas com o limbo muito desenvolvido, perfeitamente cordiformes, com 12 a 18cm de
comprimento e 10 a 15cm de largura. A inflorescncia masculina paniculada, com 12cm ou
mais, composta, e a inflorescncia feminina est contida em longas espigas axilares com 18 a 25
cm de comprimento; as flores so ssseis, solitrias, pequenas, pouco aparentes com perignio
violceo e seis estames frteis.
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O fruto uma cpsula oblonga, sendo que em cada lculo esto contidas duas sementes
aladas na parte inferior. Esta espcie uma das mais importantes da famlia, e distingue-se
facilmente das outras espcies pelos numerosos bulbilhos ou tberos areos, os quais nascem na
axila das folhas e so muito variveis em forma e tamanho. Estes tberos areos so nutritivos e
saborosos, ricos em glten denominado car-glutina e chegam a medir 10cm de comprimento e
pesarem 100g, nos quais encontrado um princpio ativo txico, que em alguns pases acredita-se
que vitime animais e parece desaparecer com uma simples lavagem. Um fato interessante que
este metablito secundrio parece no existir nos tberos produzidos no Brasil e nas Antilhas.
Acredita-se que a planta seja originria da ndia e Australasia e tenha sido introduzida no Brasil
pelos holandeses. Na medicina popular, os bulbilhos e os tberos so utilizados como diurticos e
como cataplasmas em furnculos (CORREA, 1978).
d. Dioscorea cayennensis LAM: CORREA (1978) descreve esta planta como uma trepadeira
glabra de caule cilndrico, liso, provido de acleos pequenos e agudos, sobretudo na parte
inferior; folhas opostas, raramente alternas, longo pecioladas; lmina geralmente hastada
cordiforme, ovada ou suboblonga, abrupta longo acuminada, cordiforme sagitada na base at 14
cm de comprimento e 10cm de largura.
As flores so ssseis, solitrias, globosas, dispostas em espigas axilares simples, o fruto
uma cpsula oblonga elptica, e as sementes so aladas na base. Esta espcie produz tbero nico
ou ramificado, pequeno, ovide, um pouco achatado e revestido com uma pelcula esbranquiada;
a polpa branca e seca, agradvel ao paladar aps a coco. Acredita-se que seja originria da
Guin, frica, e tenha sido introduzida no Brasil pelos escravos, sendo cultivada no nordeste
brasileiro, onde conhecido como car da costa (CORREA, 1978).
e. Dioscoreas nativas de Santa Catarina:
PEDRALLI (2004) descreve quinze espcies nativas de Santa Catarina: Dioscorea altissima
Lamarck, Dioscorea campestris Grisebach, Dioscorea cinnamomifolia Hooker, Dioscorea
demourae R. Knuth, Dioscorea dodecaneura Vellozo, Dioscorea laxiflora Martius, Dioscorea
monadelpha (Kunth) Grisebach, Dioscorea olfersiana Grisebach, Dioscorea ovata Vellozo,
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Dioscorea piperifolia Humboldt et Bonpland in Willdenow, Dioscorea polygonoides Humboldt
et Bonpland in Willdenow, Dioscorea scabra Humboldt et Bonpland in Willdenow, Dioscorea
sinuata Vellozo, Dioscorea spicata (Vell.) Pedralli e Dioscorea subhastata Velloso.
Segundo PEDRALLI (2004) vrias espcies desse gnero ocorrem em outras localidades
do Brasil e esto dispersas em Santa Catarina, porm no so cultivadas comercialmente. Entre as
espcies do gnero, algumas so utilizadas na medicina popular como, por exemplo: D.
campestris usada na medicina popular contra coqueluche e asma na forma de ch; D.
dodecaneura, utilizada como hipoglicemiante, cardiotnico, afeces da pele e contra
reumatismo. Como comestveis so utilizadas as seguintes espcies: D.altissima, D.
cinnamomifolia, D. laxiflora, D. ovata, D. piperifolia, D. polygonoides, D. subhastata.
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3. MANEJO DO GNERO Dioscorea (CAR)
a) Limpeza da rea
Segundo ONWUEME (1978) em reas de florestas tropicais onde o car cultivado por
populaes tradicionais, a limpeza da rea a principal operao. Nestas reas, chamadas de
plantio de coivara, a rea limpa, sendo cultivada por um perodo de um ou dois anos e em
seguida abandonada e permanece descansando, enquanto outra rea preparada. A limpeza na
agricultura tradicional feita com ferramentas manuais como foices e machados, os quais so
utilizados para cortar a mata, mantendo-se as rvores maiores e arvoretas que serviro de suporte
para as plantas de car crescerem. Em seguida, a mata queimada.
A queima uma parte essencial deste tipo de agricultura de coivara, pois dispensa a
utilizao de maquinrio na remoo de restos vegetais (MENDES, 1982). Outro benefcio da
queima a alcalinidade provocada pelas cinzas, que auxiliam na neutralizao da acidez dos
solos tropicais, desta forma, beneficiando a cultura do car. A ltima fase deste tipo de
agricultura tradicional consiste em recolher os restos de troncos que so utilizados como lenha
(ONWUEME, 1978).
Por outro lado, na agricultura convencional, so utilizadas grandes mquinas que provocam
a compactao do solo (MENDES, 1982).
b) Preparo do solo:
Para ONWUEME (1978) e MENDES (1982) razes e tberos em geral requerem um solo
solto, no qual possam desenvolver-se sem obstculos. Esta condio ainda mais crtica em
relao ao car em comparao com outras plantas tuberosas, uma vez que a batatinha e a
mandioca formam pequenas razes ou estoles que penetram no solo e posteriormente engrossam.
O car por sua vez, no apresenta esta propriedade, por isso o solo onde ser cultivado, deve ser
preparado de forma a deix-lo solto.
Em geral existem quatro tipos principais de preparo do solo:
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b.1. Plantio em pequenos montes: ONWUEME (1978) relata que esta forma de plantio a mais
comum na agricultura tradicional, consistindo em se reunir o horizonte A do solo em pequenos
montes. Na frica, para esta prtica so utilizadas largas enxadas. O tamanho de cada monte, a
distncia mdia entre estes e o nmero de plantas de car pode variar, ou seja, quanto maior o
monte, maior a distncia entre estes, e maior a quantidade de mudas a ser plantada em cada
monte. Em algumas partes do sudeste da Nigria, estes montes podem atingir alturas de at 1m,
serem separados por distncias de 3m, com aproximadamente 6 mudas na encosta de cada monte.
Na maioria das regies os montes apresentam 50cm de altura com uma ou duas mudas plantadas
(ONWUEME, 1978).
Plantas como quiabo, milho e melo so cultivadas nos espaos entre os montes, tornando o
espaamento dependente do tipo de policultivo que praticado. Esta forma de cultivo
proporciona uma fcil penetrao dos tberos, tornando-os mais uniformes e com maior
rendimento. Entretanto, um cultivo difcil de mecanizar e requer muita mo-de-obra, sendo
restrito em reas de agricultura tradicional (MENDES, 1982).
Para SANTOS (1996) o plantio pode ser feito em covas altas chamadas matumbos. Esses
matumbos so preparados com enxadas e tm as dimenses de 0,40 X 0,40 X 0,30m. A altura
de 0,30m e os tberos so plantados a uma profundidade de 10cm, sendo utilizado em pequenas
reas.
b.2. Plantio em covas: Segundo ONWUEME (1978), o cultivo em covas tambm comum na
agricultura tradicional, onde se utiliza uma enxada estreita para fazer as covas. Cada cova mede
aproximadamente 0,30 X 0,30 X 0,20m e o espao entre as covas depende do tipo de policultivo
que ser estabelecido. Nas covas apenas uma muda de car plantada. Este tipo de plantio
considerado como cultivo mnimo, pois as reas permanecem sem serem aradas, preservando a
estrutura fsica do solo e economizando mo-de-obra. Uma vez que os tberos devem penetrar no
solo duro abaixo da cova preparada, formam-se tberos irregulares e a colheita trabalhosa. As
baixas produtividades e danos aos tberos so comuns, o que torna este tipo de plantio menos
vantajoso e popular para os agricultores tradicionais.
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b.3. Plantio em Camalhes: Em locais onde a agricultura mecanizada, o car geralmente
plantado em camalhes, ou no solo plano. Neste caso, a limpeza da rea seguida por uma
arao para afrouxar o solo e por uma gradagem para quebrar os torres, e para incorporar restos
culturais no solo. Aps a gradagem, so formados os camalhes, os quais so espaados de 1m a
1,20m. No camalho preparado, so abertas em seu topo as covas e as mudas so a plantadas
numa profundidade de 10cm (MENDES, 1982).
Uma das principais dificuldades deste sistema a tendncia do solo ser lavado pelas chuvas,
expondo os tberos ao sol, tornando-os esverdeados pela presena de clorofila, no palatveis e
suscetveis ao ataque de pragas. Para evitar este tipo de problema, recomenda-se o aterramento
que consiste em se cobrir os camalhes com terra durante as capinas (ONWUEME, 1978).
b.4. Plantio em solo plano: Igualmente ao plantio em camalhes, o solo arado e gradeado, e o
car plantado em linhas. As covas so abertas com enxadas, e as mudas plantadas. Este tipo de
plantio resulta em baixa produtividade, sendo a produtividade menor em comparao aos
sistemas de montes e camalhes. Pelo fato do solo estar solto em apenas alguns centmetros de
profundidade, o car apresenta problemas com m formao dos tberos (ONWUEME, 1978).
Para MENDES (1982) o sistema de cultivo em solo plano feito atravs de uma arao e
uma gradagem da rea, preparando-se as covas onde so plantadas as tberas sementes. Segundo
o autor, a produtividade nesse sistema menor e a colheita mais trabalhosa.
c. Material para plantio: Segundo ONWUEME (1978) o material utilizado para o plantio pode
ser os pequenos tberos inteiros ou pedaos de tberos. A subdiviso dos tberos resulta nas
seguintes partes: mudas de cabea, do meio e da calda do tbero. (FIGURA 08).
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FIGURA 08: Diferentes partes do tbero de car que formam as mudas de cabea, do meio
e da cola.
Fonte: ONWUEME (1978).
Na escolha das mudas, dois importantes fatores devem ser considerados: 1) a pronta
brotao; 2) a propenso ao apodrecimento da muda aps o plantio.
Quando a dormncia dos tberos do car comea a diminuir, as brotaes aparecem apenas
na regio da cabea. Se os tberos foram armazenados por um longo perodo, as mudas
originadas da cabea tero brotos bem formados. Por outro lado, as mudas derivadas de outras
partes, no tero brotos e necessitaro um perodo aps o plantio, para que o processo de
diferenciao dos brotos ocorra. De modo geral, as mudas da cabea e de tberos inteiros so
preferveis s mudas do meio e da cola. Os tberos inteiros de car possuem uma camada
protetora que impede o ataque de agentes causadores de podrides, sendo esta camada rompida
quando so preparadas mudas cortadas (ONWUEME, 1978).
Desse modo, quanto qualidade, o melhor material para o plantio so os pequenos tberos
inteiros uma vez que a presena da regio de cabea propiciar a pronta brotaro, com menor
probabilidade de apodrecimento. Em seguida as mudas oriundas da cabea, que brotam
rapidamente, e por ltimo mudas da cola e do meio. Em relao a estes dois tipos de mudas (cola
e meio), no existe diferena significativa quanto brotao. Quanto ao apodrecimento, as mudas
da cola apresentam uma menor superfcie de exposio e menor ataque de microorganismos em
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relao s mudas do meio e, alm disso, as partes do meio so preferidas para o consumo
(ONWUEME, 1978).
d) Tamanho das mudas: Segundo ONWUEME (1978) quanto mais pesada for a muda utilizada,
maior o peso do tbero e a relao entre peso X produtividade foi confirmada em vrios
experimentos (MIEGE, 1957; ONWUEME, 1972; LYONGA et al., 1973) apud (ONWUEME,
1978). As causas para este fenmeno so descritas abaixo:
1. mudas maiores brotam mais rapidamente que mudas pequenas, estabelecendo-se mais
eficientemente; mudas grandes produzem mais brotos que mudas pequenas, assim, em caso de
uma brotao ser danificada durante a emergncia, outras brotaes podem substitu-la. Como a
porcentagem de mudas sobreviventes por hectare maior, o resultado tambm de maior
produtividade; 2. a muda maior resulta em plantas mais vigorosas que mudas pequenas, uma vez
que o dimetro dos caules, o nmero de folhas e a rea foliar so sempre superiores; 3. mudas
maiores possuem maior teor de reservas que so mobilizadas para o novo tbero, resultando em
plantas mais vigorosas.
Segundo SANTOS (1996) no Estado da Paraba, recomenda-se a utilizao de tberas-
sementes com 200 a 350g o que resulta em alta produtividade. Em solos de fertilidade elevada,
podem ser utilizadas sementes menores, com 100 a 150g. Para MENDES (1982) as tberas-
sementes devem pesar de 150 a 250g, pois o cultivo de tberos acima de 450g produz um retorno
econmico insatisfatrio.
e) pocas de plantio: Como descreve ONWUEME (1978) na frica o plantio do car
realizado na estao seca ou no incio da estao chuvosa, dependendo da localidade, e o
calendrio das operaes pode variar. As mudas geralmente passam por um perodo de
dormncia que pode atingir at 3 meses.
Em climas subtropicais, como no Sul do Brasil, as mudas so plantadas no incio da
primavera, em setembro-outubro. ARAJO (1982) relata que para as condies da Zona da Mata
de Pernambuco, a melhor poca de plantio estende-se de novembro a fevereiro.
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f) Espaamento: Os cars geralmente so plantados num espaamento de 1 X 1m varivel em
funo do tamanho da muda. Tem-se sugerido que, espaamentos maiores devem ser empregados
em solos mais pesados e sem tutoramento; e quanto maior a muda, maior o espaamento. O
espaamento tambm pode variar conforme o tipo de policultivo (ONWUEME, 1978).
MENDES (1982) demonstra que o espaamento est ligado ao sistema de cultivo. Para
cultivos em solos planos e camalhes, o espaamento pode ser de 1,20m entre linhas e de 0,40 a
0,60m entre plantas. Para o cultivo em montculos, o espaamento pode ser de 1,25m X 0,80m.
ARAJO (1982) reporta a escolha do espaamento como um fator dependente do mtodo
de plantio, fertilidade do solo, irrigao, oferta de sementes e variedades. Os espaamentos mais
comuns so: 0,80 X 0,40m; 1,00 X 0,40m; 0,80 X 0,60m; 1,20 X 0,40m; 1,00 X 0,60m; 1,20 X
0,60 m; 1,00 X 0,80m; 1,30 X 0,50m; 1,25 X 0,80m; 1,25 X 0,60m.
g) Profundidade de plantio: ONWUEME (1978) reporta que o car deve ser plantado com a
cabea da muda a uma profundidade de 10cm para que esta alcance a camada mais mida do
solo.
h) Posio das mudas nas covas: Segundo ONWUEME (1978), todavia, ainda no est bem
esclarecido se a posio da muda influencia a emergncia e o crescimento da planta.
i) Cobertura morta: Aps o plantio, importante manter o solo com cobertura para proteo
contra o excesso de calor e a dessecao, podendo ser feita a cobertura imediatamente aps o
plantio (ONWUEME, 1978).
j) Tutoramento: Segundo ONWUEME (1978) e MENDES (1982) ao atingirem 1m de altura as
plantas devem ser tutoradas para estas enroscarem-se, o que ocorre um ms aps a emergncia
das plantas, podendo ser utilizados bambu, galhos ou estacas de madeira.
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k) TIPOS DE TUTORAMENTO
k.1) Tutoramento individual: Neste mtodo, um robusto tutor colocado verticalmente para a
planta de car enroscar-se. Um tutor pode ser usado para uma planta, e tambm servir para duas
ou trs plantas adjacentes. Em sistema de plantio em montes, utilizado um tutor no pice do
monte, servindo a diversas plantas. A utilizao de apenas um tutor feita em funo do tamanho
da muda utilizada no plantio. No caso de mudas pequenas, as plantas sero menos robustas e
podero ser tutoradas por um tutor individual, porm se forem maiores, dever ser construdo um
tutor para cada planta. Para ser eficiente, o tutoramento individual deve ser feito a uma altura de
2m, uma vez que alturas menores resultam em diminuio da produtividade (WAITE