levantamento de araceas e discoreaceas vale itajaí

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS - MESTRADO O VALE DO RIO TAIA-HY- LEVANTAMENTO DE ARÁCEAS E DIOSCOREÁCEAS COMESTÍVEIS NO LITORAL NORTE CATARINENSE ANTÔNIO HENRIQUE DOS SANTOS FLORIANÓPOLIS, S.C.- JUNHO DE 2005

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Levantamento de Araceas e Discoreaceas Vale Itajaí

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGROECOSSISTEMAS - MESTRADO

    O VALE DO RIO TAIA-HY-

    LEVANTAMENTO DE ARCEAS E DIOSCORECEAS

    COMESTVEIS NO LITORAL NORTE CATARINENSE

    ANTNIO HENRIQUE DOS SANTOS

    FLORIANPOLIS, S.C.- JUNHO DE 2005

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGROECOSSISTEMAS - MESTRADO

    O VALE DO RIO TAIA-HY-

    LEVANTAMENTO DE ARCEAS E DIOSCORECEAS

    COMESTVEIS NO LITORAL NORTE CATARINENSE

    Dissertao apresentada ao Centro de Cincias

    Agrrias da Universidade Federal de Santa

    Catarina, como requisito para obteno do ttulo de

    Mestre em Agroecossistemas

    ORIENTADOR: Ph.D. Paul Richard Momsen Miller

    CO-ORIENTADOR: Dr. Edson Silva

    FLORIANPOLIS, S.C., JUNHO DE 2005

  • FICHA CATALOGRFICA

    SANTOS, Antnio Henrique dos. O Vale do Rio Taia-Hy- Levantamento de Arceas e Dioscoreceas Comestveis no Litoral Norte Catarinense. Florianpolis, S.C. 2005. 135 f. Prof. Orientador: PhD Paul R.M.Miller. Dissertao (Mestrado em Agroecossistemas) - Centro de Cincias Agrrias, Universidade Federal de Santa Catarina. 1. Imigrao alem 2. Preservao de Sistemas Indgenas 3. Cultivo em Coivara e Quintal Agroflorestal 4. Preparo como Alimento. Bibliografia 135 f.

  • TERMO DE APROVAO

    ANTNIO HENRIQUE DOS SANTOS O VALE DO RIO TAIA HY- LEVANTAMENTO DE ARCEAS E DIOSCORECEAS COMESTVEIS NO LITORAL NORTE CATARINENSE Dissertao aprovada em 21/06/2005, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre no Programa de Ps-Graduao em Agroecossistemas, Centro de Cincias Agrrias, Universidade Federal de Santa Catarina, pela seguinte banca examinadora. Prof. PhD Paul Richard Momsen Miller Orientador _________________________ ___________________________ Prof. Dr. Jucinei Comin Prof. Dr. Csar Butignol Presidente CCA UFSC Membro CCA UFSC

    ___________________ _____________________ Prof. Dr. Nivaldo Peroni Eng.Agr.Dr. Edson Silva Membro NEPAM- UNICAMP Membro EPAGRI _____________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho Coordenador do PGAGR Florianpolis, 21 de julho de 2005

  • Dedico este trabalho minha famlia, que me apoiou durante os dois longos anos que durou este

    curso, especialmente aos meus filhos Tiago e Patrcia, e minha esposa Silvana e aos meus pais

    Joo Jayme e Carmen Sylvia, com os quais tive a oportunidade de conviver mais intensivamente,

    depois de vinte anos dedicados ao trabalho de extenso rural. Tambm dedico este a colegas que

    foram desacreditados, estigmatizados por vivenciarem processos depressivos e que como eu,

    deram a volta por cima, mostrando que esse tipo de evento no incapacita ningum. Diz um

    ditado: Bendita a crise, pois so as crises que nos levam evoluo como seres humanos.

    Seguindo este ditado, procurei melhorar minha sade atravs do ioga, indicao do amigo Dr.

    Ajay Singh. O ioga vem fazendo parte de minha vida e de meu filho h seis anos e tem nos

    trazido serenidade nos momentos mais difceis. Foram dois anos ao longo dos quais vivenciei

    momentos de empolgao e desnimo, pois o processo de erro e acerto penoso; alguns

    trabalhos foram refeitos inmeras vezes, e se no estivesse sereno, o desnimo teria me

    dominado e teria desistido de tudo. Nestas horas, tcnicas de relaxamento, respiratrias e de

    meditao, so essenciais para no deixar o nimo abater.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a colaborao das seguintes pessoas, sem as quais este trabalho teria sido impossvel:

    Pedro Paulo Rodrigues, Waldemar Espig, Cacilda Espig, Benito da Silva, Gelsio Havenstein,

    Modesto Schmitt, Jos Schmitt, Idlia Schmitt, Zeno Espig, Ethla Espig, Arlindo Kleine,

    Urbano Kleine, Geraldo Bressanini, Conrado Litke, Josimar Havenstein, Nelson Muller, Rolf

    Muer, Vanildo Schulze, Maria Hattenhauer, Jocelino Schneckemberg, Alinor Baartsch, Adenir

    Baartsch, Simone Mller, Rolando Dumke, Vili Artmann, Norberto Artmann, Jonas Neitzel,

    Levino Neitzel, Walmir Quandt, Vilson Goudard, Ingo Bachmann, Hilda Hoier, Ernesto Hoier,

    Carmen Legal, Artino Stedile, Dosolina Stedile, Adival Friedemann, German Ayala, Troy

    Roger, Nivaldo Peroni, Natlia Hanazaki, Fundao XXV de Julho, Dieter Klostermann,

    Marco Tlio de Oliveira, Rogrio Rocha, Henry Stucker, Gilmar Zaffari, Edson Silva, Maria

    Jos Reis, Jorge Barcelos, Marilda Checcucci Silva, Marli Sheuer, Joo Luis Silva, Joana

    MacFadden, Paulo Callegari, Henrique Kreuser, Fbio Zambonin, Eduardo Gonalves, Inno

    Onwueme, Leonor Castieras, Marcus Nadruz Coelho, Mrio Puiati, Maria das Dores da

    Silveira e Marlene D. da Silveira (Biblioteca do CCA), Zilma Vasco (Biblioteca da EPAGRI) e

    especialmente Ana Maria da Silva pela correo final do trabalho.

  • SUMRIO

    SUMRIO ..................................................................................................................................7

    LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................13

    LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................16

    LISTA DE ANEXOS ....................................................................................................................17

    RESUMO ................................................................................................................................18

    ABSTRACT ................................................................................................................................19

    I. INTRODUO ........................................................................................................................20

    1. ndios, Colonos Alemes e as Razes ........................................................................................20

    2. Problemtica ..............................................................................................................................22

    3. Estrutura ................................................................................................................................23

  • 4. Objetivos ................................................................................................................................23

    II. REVISO BIBLIOGRFICA ..............................................................................................24

    A. FAMLIA ARCEA ..............................................................................................................24

    A.1. PRINCIPAIS GNEROS CULTIVADOS ...........................................................................26

    1. Gnero Xanthosoma (tai, mangarito).......................................................................................26

    1.1. Tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) .................................................................................26

    1.2. Mangarito (Xanthosoma riedelianum Schott) ........................................................................26

    2. Gnero Colocasia (inhame do seco e inhame do brejo)............................................................27

    2.1. Colocasia esculenta var. esculenta (grupo dasheen) e Colocasia

    esculenta var.antiquorum (grupo eddoes) .....................................................................................27

    3. MANEJO DAS CULTURAS DE Xanthosoma e Colocasia ....................................................30

  • 4. Produo Mundial e Utilizao na Alimentao de Xanthosoma e Colocasia .........................33

    4.1. Produo Mundial ..................................................................................................................33

    5. Partes Comestveis dos Gneros Xanthosoma e Colocasia.......................................................36

    5.1. Aproveitamento das folhas de Xanthosoma e Colocasia .......................................................37

    5.2. Processamento de Xanthosoma e Colocasia ..........................................................................38

    5.3. Utilizao como alimento para animais..................................................................................39

    B. FAMLIA DIOSCOREACEAE ............................................................................................40

    1. Gnero Dioscorea (car) ...........................................................................................................40

    2. Descrio do gnero Dioscorea.................................................................................................42

    3. MANEJO DO GNERO Dioscorea (CAR) ..........................................................................47

    4. PRODUO MUNDIAL E UTILIZAO NA ALIMENTAO DE Dioscorea................56

  • 4.1. Produo Mundial ..................................................................................................................56

    4.2. Partes comestveis do gnero Dioscorea ................................................................................57

    4.3. Outras utilizaes de Dioscorea .............................................................................................58

    5. MANEJO TRADICIONAL DE CAR, TAI, INHAME E MANGARITOS-

    QUINTAL AGROFLORESTAL E ROA DE COIVARA .........................................................60

    5.1. Quintal Agroflorestal..............................................................................................................60

    5.2. Roa de Coivara......................................................................................................................63

    6. ETNOBOTNICA....................................................................................................................65

    III. IDENTIFICAO DOS MUNICPIOS ............................................................................68

    1. Caracterizao Scio-Econmica dos Municpios Ilhota e Joinville .......................................68

    1.1. Caracterizao do municpio de Ilhota ...................................................................................68

    1.2. Caracterizao do Municpio de Joinville ..............................................................................73

    IV. MATERIAIS E MTODOS ................................................................................................78

    1. Escolha das Comunidades e Propriedades ................................................................................78

    2. Escolha dos Informantes-Chave ................................................................................................78

    3. Visita e Identificao Popular e Botnica..................................................................................78

  • 4. Grupo de Discusso ...................................................................................................................79

    5. Exposio de Plantas Produtoras de Razes ..............................................................................80

    6. Entrevistas Semi-Estruturadas...................................................................................................80

    7. Utilizao das Razes.................................................................................................................81

    V. RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................................82

    1. Identificao Popular e Botnica...............................................................................................82

    1.1. Identificao Popular de Xanthosoma e Colocasia ................................................................82

    1.2. Identificao Botnica de Xanthosoma e Colocasia ..............................................................83

    1.3. Identificao Popular de Dioscorea .......................................................................................85

    1.4. Identificao Botnica de Dioscorea......................................................................................86

    2. MANEJO DE PLANTAS - RESULTADO DO GRUPO DE DISCUSSO............................88

    2.1. Tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) .................................................................................88

    2.2. Mangarito branco (Xanthosoma riedelianum Schott) ............................................................90

    2.3. Mangarito roxo (Xanthosoma sp.) ..........................................................................................92

    2.4. Tai-japo (Colocasia esculenta Schott var. antiquorum) .....................................................95

  • 2.5. Car-mimoso (Dioscorea trifida L.).......................................................................................96

    3. Entrevistas Semi-Estruturadas - Caracterizao das propriedades de Alto Brao do

    Ba e de Pirabeiraba ...................................................................................................................101

    3.1. Caractersticas das Propriedades de Alto Brao do Ba.......................................................101

    3.2. Caractersticas das Propriedades de Pirabeiraba ..................................................................102

    4. Utilizao das Razes...............................................................................................................104

    VI. CONCLUSO E CONSIDERAES FINAIS ...............................................................106

    VII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................108

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 01: Distribuio da famlia Araceae no planeta ...........................................................25

    FIGURA 02: Planta de Colocasia esculenta var. antiquorum com 1 m de altura .......................29

    FIGURA 03: Folhas de Colocasia (esquerda) e Xanthosoma (direita) .......................................29

    FIGURA 04: Distribuio geogrfica da famlia Dioscoreae no planeta ....................................40

    FIGURA 05: Chave botnica de identificao de 3 Dioscorea ...................................................41

    FIGURA 06: Chave botnica de identificao de 5 Dioscorea ...................................................42

    FIGURA 07: Inflorescncia de Dioscorea do tipo espiga ...........................................................43

    FIGURA 08: Diferentes partes do tubrculo de car que formam as mudas de

    cabea, do meio e da cola .............................................................................................................50

    FIGURA 09: Diferentes tipos de tutoramento do car ................................................................54

    FIGURA 10: Mapa de Santa Catarina destacando o municpio de Ilhota ...................................68

    FIGURA 11: Mapa de Santa Catarina destacando o municpio de Joinville...............................73

    FIGURA 12: Resultados dos grupos afixados em mural............................................................80

    FIGURA 13: Exposio de plantas produtoras de razes.............................................................80

    FIGURA 14: Variabilidade intra-especfica em tai ...................................................................83

  • FIGURA 15: Folhas e tberos de mangarito branco (Xanthosoma riedelianum

    Schott) ................................................................................................................................83

    FIGURA 16: Flor e folha de tai (Xanthosoma sagitifolium Schott) ..........................................84

    FIGURA 17: Plantas e tberos de mangarito roxo (Xanthosoma sp.).........................................84

    FIGURA 18: Folhas e flor de tai-japo (Colocasia esculenta var. antiquorum) .......................85

    FIGURA 19: Tberos e folhas de car mimoso (Dioscorea trifida L.).......................................86

    FIGURA 20: Tberos e folhas de car de po branco (Dioscorea alata L.) ...............................86

    FIGURA 21: Tberos e folhas de car do ar ou da rvore (Dioscorea bulbifera L.) ..................87

    FIGURA 22: Consrcio de tai com car e tai com banana ......................................................89

    FIGURA 23: Mangarito branco lavado em saco de rfia ............................................................91

    FIGURA 24: Lavao de mangarito branco com presso e tberos sem a casca........................91

    FIGURA 25: Mudas de mangarito branco armazenadas na sombra............................................92

    FIGURA 26: Planta de mangarito roxo atacada por Erwinia ou murchadeira ............................93

    FIGURA 27: Mangarito roxo plantado em coivara .....................................................................93

    FIGURA 28: Lavao de mangarito roxo .....................................................................................94

    FIGURA 29: Armazenamento de mudas de mangarito roxo sob pedras ......................................94

  • FIGURA 30: Tai-japo branco e roxo .........................................................................................96

    FIGURA 31: Tutoramento piramidal de car mimoso em Joinville .............................................97

    FIGURA 32: Consrcio de car mimoso com milho ....................................................................98

    FIGURA 33: Bolinhos preparados com uma mistura de tai-japo, batata doce,

    aipim e car de po com fub de milho ......................................................................................105

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 01: Produo mundial, produtividade e rea de tai, inhame eddoes e

    dasheen ..................................................................................................................35

    TABELA 02: Porcentagem de ingesto diria de calorias provenientes de tai e

    inhame eddoes e dasheen e de outros tberos em diversos pases e

    continentes .............................................................................................................36

    TABELA 03: Produo mundial de car......................................................................................56

    TABELA 04: Populao urbana e rural de Ilhota.........................................................................69

    TABELA 05: Nmero de propriedades de Ilhota em diferentes estratos de rea.........................69

    TABELA 06: Principais culturas plantadas em Ilhota..................................................................70

    TABELA 07: Populao urbana e rural de Joinville ....................................................................73

    TABELA 08: Nmero de propriedades de Joinville em diferentes estratos de rea ....................74

    TABELA 09: Principais culturas plantadas em Joinville .............................................................74

    TABELA 10: Principais culturas de Pirabeiraba..........................................................................75

    TABELA 11: Manejo etnobotnico de cinco razes ...................................................................100

    TABELA 12: Resultado das entrevistas semi-estruturadas ........................................................103

  • xiii

    LISTA DE ANEXOS

    ANEXO 1: PERGUNTAS DO QUESTIONRIO SEMI-ESTRUTURADO .......................115

    ANEXO 2: QUADROS COM A COMPOSIO DAS RAZES.........................................120

    ANEXO 3: CARACTERSTICAS DOS MUNICPIOS DE ILHOTA E

    JOINVILLE ..............................................................................................................................123

    ANEXO 4: PERGUNTAS DA OFICINA DE RAZES.........................................................125

    ANEXO 5: RECEITAS DE PREPARO DE RAZES TUBEROSAS ...................................128

  • xiv

    RESUMO

    Este levantamento descreve etnobotanicamente plantas produtores de razes tuberosas, sendo

    quatro espcies nativas e trs espcies introduzidas, originrias da sia e frica. Estas culturas

    so mantidas por descendentes de colonizadores alemes, cujos ancestrais colonizaram a parte

    norte do litoral catarinense. So consideradas como culturas de colheita oculta, pelo fato destas

    no serem includas em estatsticas oficiais publicadas pelo governo, apesar de sua importncia

    na alimentao dos produtores. Estes produtores esto inseridos numa economia dualizada,

    produzindo bens para o mercado, atravs de uma agricultura modernizada, e ao mesmo tempo,

    mantm a produo tradicional, atravs do cultivo destas plantas para sua subsistncia. Foram

    determinados os nomes populares e sua classificao botnica, atravs da coleta de folhas, flores

    e rgos subterrneos de reserva e tambm por informaes sobre qualidades culinrias e outras

    caractersticas, como odor, etc. Especialistas foram consultados quando as chaves botnicas

    utilizadas no foram suficientes. Duas espcies de mangarito foram encontradas: o mangarito

    branco (Xanthosoma riedelianum Schott) e o mangarito roxo (Xanthosoma sp.). Diferenas

    significativas existem entre os dois: o mangarito roxo possui plantas com maior porte, tberos

    com uma casca mais aderida e de colorao roxa, e exige o cultivo em condies de coivara, com

    sombreamento parcial. Suas folhas com formato peltado, no permitem classific-lo entre as

    espcies de Xanthosoma cultivadas. Desta planta foram preparadas exsicatas e estas foram

    depositadas em institutos botnicos e aguardam classificao. Outras culturas nativas

    identificadas foram: tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) e car-mimoso (Dioscorea trifida L.).

    As culturas introduzidas classificadas foram: tai-japo (Colocasia esculenta Schott, var.

    antiquorum), car-do-ar (Dioscorea bulbifera L.) e car-de-po (Dioscorea alata L.). Para

    conhecer o manejo destas plantas, foram utilizadas vrias metodologias como: oficinas,

    exposio de razes e entrevistas com informantes-chave. Roas de coivara e quintais

    agroflorestais so utilizados comumente para sua produo. Foram acompanhados cinco

    produtores na hora do preparo de pratos, revelando uma variedade de formas de preparo como

    alimento. Estas culturas representam um papel importante como segurana alimentar, podendo

    ser colhidas ao longo do ano e requerem poucos cuidados, representando um potencial

    econmico aos pequenos produtores se houver expanso do mercado.

  • xiv

    ABSTRACT

    This survey describes the ethnobotany of four native American root crops and three root crops

    introduced from Africa and Asia. These crops are maintained by german descendant farmers

    whose ancestors settled on the North Coast of Santa Catarina State. Theses crops are termed

    hidden harvests because they are not included in agricultural statistics gathered by the

    government, in spite of their importance at the farm table. This survey was carried out among

    farmers of the municipalities of Ilhota and Joinville. These farmers exist in a dual economy, with

    modern production practices for farm goods produced for market, and traditional production

    practices for subsistence foods, which include these root crops. Common names and botanical

    classification were determined by collecting leaves, flowers, underground storage organs, and

    information on odor and cooking qualities. Specialists were consulted when botanical keys

    proved inconclusive. Two species of mangareto were found: white mangareto (Xanthosoma

    riedelianum Schott) and purple mangareto (Xanthosoma sp.). Many differences exist between the

    two: purple mangareto has larger plant size, a more purple and firm skin on the corm and a

    preference for slash-and-burn soil preparation with tree shade. Peltate leaf shape of the purple

    mangareto sets it apart from other cultivated species of Xanthosoma. Herbarium specimens have

    been deposited in botanic collections, and await classification. Other native crops identified were:

    cocoyam (Xanthosoma sagittifolium Schott), and cush-cush yam (Dioscorea trifida L.).

    Introduced crops were: taro (Colocasia esculenta Schott var. antiquorum), aerial yam (Dioscorea

    bulbifera L.) and bread yam (Dioscorea alata L.). Workshops, root exhibition and interviews of

    key informants were used to collect information on management practices. Slash-and-burn fields

    and forest gardens were commonly used to produce these crops. Five farmers were interviewed

    for culinary practices, revealing many forms of preparation for meals. These crops play an

    important role in food security, can be harvested all year long, do not have to be pulled at any

    given time, and require little care. Overall, these crops have economic potential for small farmers

    if markets can be maintained and expanded.

  • 20

    I. INTRODUO

    1. ndios, Colonos Alemes e as Razes

    Plantas como mangaritos, tais e cars so cultivados no Litoral Norte catarinense (Vale do

    Itaja, Joinville), por agricultores de origem alem. Algumas dessas plantas so originrias da

    Amrica do Sul (PURSEGLOVE, 1972) e eram cultivadas pelos ndios guaranis. HOEHNE

    (1942, p.85), relata:

    Os amerndios cultivavam muitas espcies de 1, que, sem dvida, despertaram grande

    interesse entre os imigrantes. O tai e a taioba2, a primeira cultivada mais especialmente

    para a obteno de estolhos dulos mui saborosos e a segunda para o fornecimento de

    caruru-verduras para cozidos e enchimento de bolos, so duas outras arceas que nos

    demonstram o elevado tino agrcola do amerndio. Ele conseguiu transformar

    tubrculos e estolhos inicialmente ricos de rfides e de substncias fortemente picantes,

    em tberas e estolhos dulos.

    Uma espcie de car tambm originria da Amrica do Sul descrita pelo mesmo autor que

    relata sua existncia e sua variabilidade nas roas indgenas:

    Quem j teve o privilgio de apreciar uma roa de brasilndio ainda completamente

    afastado da civilizao europia e cabocla deve recordar-se que, todavia, o ncola

    continua cultivando, nas suas aparentemente modestssimas roas, escondidas nas

    selvas virgens, uma infinidade de cars, mangars entre o precioso milho, que causa

    inveja a quem os v e chega a provar. So cars mimosos, roxos, rseos, longos, curtos

    lisos, pilosos e barbados que surgem sob as ramas nos montculos de terra raspada

    (ibidem, p.86).

    A presena de plantas como o tai no Vale do Itaja, citada por HOEHNE (1937, p.45):

    Os aborgines em Santa Catarina j haviam consagrado o tai, na denominao de um rio o

    Taia-hy, que mais tarde, por corruptelas sucessivas, se passou a denominar Itajahy.

    Os colonos de origem alem que se estabeleceram no Vale do Itaja, conheceram estas

    plantas e aprenderam suas tcnicas de cultivo atravs da ajuda de nativos, iniciando o plantio do

    1 Mangarito, mangar, mangreten, patatun e margoreta so os vrios nomes encontrados na linguagem popular. 2 O autor separa tai como produtor de tubrculos e taioba como destinada produo de folhas, sendo que os colonos destas regies classificam o tai com folhas comestveis, como tai branco.

  • 21

    milho, arroz, caf, aipim, batata-doce, amendoim, tai, verduras para o consumo domstico

    (SILVA, 2002).

    KITLER, (1857, p.5) em sua publicao Relatrio anual sobre os acontecimentos e

    progresso da colnia alem, relata este momento, onde os colonos alemes, depois de

    malogradas tentativas de cultivo da batatinha, erroneamente citada como europia, passaram a

    adotar outras razes:

    O malogro da colheita das batatas teve, no entanto, a conseqncia benfica de que os

    colonos mais velhos e tambm os novos passassem a plantar os quase nunca falhos e

    muito produtivos tubrculos nativos. Estes, de diversas qualidades como: aipim, car, tai

    e batata-doce, so todos mais ricos em farinceos e mais nutritivos que a batata comum e

    de excelente paladar, os ltimos talvez devido sua doura e com diversos preparos, bons

    iguais batata europia. Quando necessitam 8 a 10 meses para estarem boas para a

    colheita, seu rendimento, no entanto, maior e se contentam com uma terra no muito boa

    e frtil. Como agora de acordo com um ditado nrdico, o que o campons no conhece,

    no come, e alguns, pelo menos na Alemanha, teriam ficado ofendidos se os contssemos

    a classe dos colonos. Aqui tambm foi preciso que a necessidade viesse, para fazer com

    que estes tubrculos nutritivos fossem aceitos. Agora, muitos colonos caram no outro

    extremo- no querem mais plantar nenhuma batata, pois no tm um gosto melhor e rende

    menos que tai, etc.

    A presena do tai e do mangarito na Colnia Dona Francisca (ncleo que deu origem

    Joinville) descrita por outro autor que visitou o Sul do Brasil em 1858, AV-LALLEMANT,

    (1858, p.190), relata que: O tai e o mangarito, pela facilidade de cultivo e abundncia da

    produo, tornaram-se o principal alimento vegetal de Dona Francisca e que eu comi com prazer,

    pois de fato, em nada ficam a dever a boa batata.

    Outras razes cultivadas por agricultores destas regies, so as do gnero Colocasia e

    Dioscorea originrios da sia e da frica (PURSEGLOVE, 1972), que chegaram ao Brasil

    trazidas pelos escravos africanos e a pela intensificao das navegaes portuguesas no sculo

    XVI.

    Pelo exposto, os municpios de Ilhota e Joinville foram selecionados para este trabalho, pela

    importncia destas culturas para os agricultores de origem germnica, os quais ocuparam as reas

    da Mata Atlntica, quando de sua chegada da Alemanha em meados do ano de 1850.

  • 22

    A floresta representava um trunfo na formao de suas unidades produtivas que por meio da

    roa de derrubada e queima da mata, a transformavam em elemento decisivo na fertilidade

    natural de suas lavouras (PNUD, 1999). Porm, a partir de 1960, mudanas significativas

    ocorreram nas regies do Vale do Itaja e Joinville com a modernizao da agricultura. Como

    resultado desta modernizao em Ilhota e Joinville, ocorreu uma tendncia no crescimento de

    lavouras de arroz irrigado, banana e gado de corte (IBGE, 2002).

    As propriedades de Ilhota e Joinville praticam uma agricultura tradicional no cultivo destas

    razes, juntamente com a moderna. TOLEDO et al. (2003), relatam que similar a muitos

    agricultores familiares, os povos tradicionais das reas dos trpicos midos contemporneos

    esto inseridos numa economia dualizada. Eles produzem bens para o mercado e ao mesmo

    tempo produzem para seu prprio consumo, adotando assim uma estratgia que engloba seu

    duplo papel como produtor de produtos para subsistncia e ao mesmo tempo de produtos para o

    comrcio. Por isso, o principal objetivo desta estratgia, maximizar a diversidade e o nmero de

    opes disponveis para garantir sua subsistncia e para minimizar os riscos. Isto obtido atravs

    do uso mltiplo do espao, do tempo, das plantas e dos animais.

    Os sistemas agrcolas nestas reas so complexos e diversos, localizados em encostas de

    morro, baixadas, solos cidos, parcialmente sombreados por rvores remanescentes da Mata

    Atlntica, sendo reas menos provveis de serem visitadas por tcnicos, extensionistas e pouco

    estudadas em instituies de pesquisa (ILBERY et al., 1998).

    2. Problemtica

    Plantas tuberosas como mangaritos, tai e cars eram empregados como base alimentar de

    povos indgenas. Posteriormente foram utilizadas por colonos de origem alem, com o acrscimo

    de tai - japo introduzido pelos escravos africanos. Seu cultivo era praticado em reas de coivara

    e em consrcios em quintais agroflorestais, sem emprego de adubos sintticos e em monocultivos

    com alguma adubao.

    Com a modernizao da agricultura, mudana de hbitos alimentares, xodo rural dos mais

    jovens e estreitamento da base alimentar, estas razes e suas prticas de cultivo esto

    desaparecendo. A importncia dessas razes como cultivo de subsistncia, alternativa de cultivo

  • 23

    agroecolgico, potencial para produo de farinhas destinadas panificao e para serem

    cultivadas como alternativa de segurana alimentar, preservando um patrimnio gentico,

    representam um fator de importncia para o Estado de Santa Catarina.

    A falta de estudos que abordem esta temtica levou-nos a elaborar uma metodologia de

    investigao que revelou importantes conhecimentos etnobotnicos, at o momento no

    sistematizados e organizados, que foram abordados nesse trabalho.

    3. Estrutura

    O trabalho, uma pesquisa exploratria, foi dividido em seis partes. A primeira resume o

    problema e os objetivos deste estudo. Em seguida foi feita uma reviso bibliogrfica sobre as

    famlias Araceae e Dioscoreaceae. Nesta reviso foram descritas as principais espcies cultivadas

    destas plantas, descrio botnica, manejo convencional e manejo em sistema agroflorestal

    (quintal agroflorestal e roa de coivara), forma de preparo das razes e as principais tcnicas de

    etnobotnica empregadas neste levantamento.

    Na terceira foi feita a caracterizao scio-econmica dos municpios de Ilhota e Joinville,

    selecionados para o estudo. Na quarta foi descrita a metodologia empregada para proceder ao

    levantamento. Na seqncia foram descritos e discutidos os resultados do levantamento, em

    relao botnica, manejo etnobotnico e preparo de pratos, e por ltimo, foram feitas as

    concluses e as consideraes finais.

    4. Objetivos

    Identificao popular e identificao botnica das famlias Araceae e Dioscoreaceae.

    Estudo do manejo etnobotnico.

    Registrar formas de uso na alimentao.

  • 24

    II. REVISO BIBLIOGRFICA

    A. FAMLIA ARACEAE

    Segundo PURSEGLOVE (1972), a famlia Araceae, pertencente subclasse

    monocotilednea, ordem Arales, posssui em torno de 100 gneros e 1.500 espcies, distribudas

    em diversas regies do planeta, principalmente nos trpicos, em ambientes midos e sombreados

    (FIGURA 01). A maioria herbcea com tberos ou rizomas alongados, porm em alguns casos

    podem ser trepadeiras ou no, possuir um ramo lenhoso e serem epfitas, com ramos geralmente

    simpodiais3, folhas de vrios tipos, hastadas ou sagitadas, podendo ser compostas, pinadas ou

    palmadas.

    A inflorescncia formada por flores pequenas ou diminutas em forma de brcteas,

    geralmente com um odor ftido, massificadas conjuntamente em um espdice cilndrico, contido

    numa espata, a qual pode ser vistosa. As flores so hermafroditas ou monicas, com partes

    masculinas na parte superior do espdice e femininas na parte inferior, raramente so diicas;

    geralmente so protognicas; o perianto est presente nas flores hermafroditas, estando ausente na

    maioria das flores unissexuadas. Os estames so hipgenos 4 , tipicamente em nmero de 6, mas

    geralmente menos, unidos num sinandrium5; estaminides presentes; gineceu reduzido a um

    carpelo; ovrio superior. O fruto uma baga, densamente compacta, as sementes possuem

    endosperma (PURSEGLOVE, 1972).

    Segundo ONWUEME (1978) a famlia Araceae, contm diversos gneros de plantas que

    so cultivadas e utilizadas na alimentao, em vrias partes dos trpicos. So elas:

    - Xanthosoma spp. - Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott a mais importante e conhecida como

    tnia, cocoyam novo e tai ou taioba no Brasil.

    - Colocasia esculenta (L.) Schott. - conhecida como taro, cocoyam velho, eddoes e dasheen. No

    sul do Brasil so chamados de inhame ou tai-japo.

    - Alocasia spp.-neste gnero, Alocasia macrorhiza a principal espcie cultivada, e conhecida

    como taro gigante.

    3 Simpdio: Tipo de ramificao que consiste numa srie de gemas concrescentes que se unem num s corpo axial. 4 Hipgenos: Diz-se da flor ou da pea floral que se insere abaixo do ovrio. 5 Sinandrium: Concrescncia dos estames que formam uma pea nica.

  • 25

    - Cyrtosperma chamissonis - taro do banhado.

    - Amorphophallus campanulatus - conhecido como inhame elefante.

    No Brasil e em Santa Catarina, os gneros mais cultivados so Xanthosoma e Colocasia.

    FIGURA 01: Distribuio da famlia Araceae no planeta.

    Fonte: APG (2002).

  • 26

    A.1. PRINCIPAIS GNEROS CULTIVADOS

    1. Gnero Xanthosoma (tai, mangarito)

    Acredita-se que o cultivo de Xanthosoma seja muito antigo no novo mundo (ONWUEME,

    1978), e provavelmente este se originou na parte norte da Amrica do Sul. Os principais gneros

    cultivados como alimento so o tai e o mangarito.

    1.1.Tai (Xanthosoma sagittifolium Schott) CORREA (1978) define esta planta como

    possuindo um caule crasso, ereto, com cerca de 1m de altura; pecolo com mais ou menos 1m de

    comprimento, verde; folha oval-sagitada, com 40 50cm de comprimento, um pouco menor na

    largura, com lobo terminal semi-oval, apiculado acuminado, duas vezes mais longo que os basais.

    Possui nervuras laterais primrias no lobo terminal em nmero de 8, reunidas em nervura

    coletiva; pednculo com cerca de 20cm de comprimento por 1cm de espessura. O tubo da espata

    oblongo-ovide, esverdeado, com 6-7cm de comprimento e 3,5-4cm de largura, lmina albo-

    esverdeada, acuminada, com 15cm de comprimento e 5-6cm de largura; espdice menor que a

    espata, com a poro feminina com 3cm, a poro estril com 3-4cm e a masculina com 5-6cm de

    comprimento, ovide; ovrio ovide, albo, coroado por estigma amarelo; estamindios inferiores

    levemente clavados, albos, com 4-5cm de comprimento e 1mm de espessura (CORREA, 1978).

    Conforme a espcie, os tberos secundrios podem atingir at 15 a 25cm de comprimento,

    de forma globular, oval, cilndrica, e elptica e as folhas podem ser hastadas como no mangarito

    ou sagitadas. A polinizao do tipo entomfaga (IBPGRI, 1989).

    1.2.Mangarito (Xanthosoma riedelianum Schott) CORREA (1978) descreve este mangarito

    com caule tuberoso, pecolo liso, com 25cm de comprimento, provido de bainha; lmina

    sagitado-panduriforme, com 15cm de comprimento, com lobo superior ovado, constrito na parte

    inferior, de pice acuminado, com 10 12cm de comprimento e 8 9cm de largura, na poro

    mais larga, com 5 6 nervuras laterais de cada lado, ascendentes reunidas em nervura coletiva

  • 27

    arqueada afastada da margem; lobos basais oblongos, obtusos, desiguais, com 4cm de

    comprimento e 2,5cm de largura, com as nervuras principais formando um sinus desnudo.

    Pednculo verde - plido semelhante ao pecolo; espata albo esverdeada, com tubo ovide,

    constrito no pice com 5cm de comprimento, lmina oblongo lanceolada, aguda com 7- 8cm de

    comprimento e 2cm de largura; espdice estipitado, albo, muito menor que a espata, a parte

    feminina com 3cm, a parte dos estamindios com 3,5 4cm de comprimento e a inflorescncia

    masculina mais curta. cultivado em Joinville, Rio de Janeiro, So Paulo e Minas Gerais.

    (CORREA, 1978).

    2. Gnero Colocasia (inhame do seco e inhame do brejo)

    2.1. Colocasia esculenta var. esculenta (Grupo dasheen) e Colocasia esculenta var.

    antiquorum (Grupo eddoes)

    O gnero Colocasia constitudo de numerosas espcies, sendo elas classificadas

    geralmente em dois grandes grupos principais: o tipo eddoes, que possui um tbero principal

    pequeno e os tberos secundrios grandes, e o tipo dasheen, onde o tbero principal grande e os

    secundrios so pequenos. O inhame do seco ou tai-japo, enquadra-se no grupo eddoes e o

    inhame da gua ou inhame de porco, enquadra-se no grupo dasheen. Os tberos principal e

    secundrio so similares em sua estrutura interna. A parte mais externa formada por uma

    periderme espessa e amarronzada na qual se encontra um parnquima rico em amido

    (PURSEGLOVE, 1972).

    No parnquima os feixes vasculares e lactferos ramificam-se, e tambm apresentam clulas

    que contm rfides (feixes de cristais de oxalato de clcio), chamadas idioblastos que esto

    distribudas por quase todas as outras partes da planta. Estas rfides so responsveis pelo sabor

    acre e urticria. A altura das plantas varia de 1 a 2m (FIGURA 02). Cada folha formada por

    um longo e ereto pecolo e uma grande lmina. A conexo do pecolo lmina no feita na

    borda da lmina, mas sim na parte mediana da lmina, sendo esta forma de conexo denominada

    peltada. Esta uma caracterstica que auxilia no diagnstico para distinguir Xanthosoma de

    Colocasia (ONWUEME, 1999). Ver FIGURA 03.

  • 28

    Para PURSEGLOVE (1972) existem dois principais componentes da inflorescncia: o

    espdice e a espata. O espdice uma inflorescncia pontiaguda, formado por um eixo central no

    qual inmeras pequenas flores sem pedicelos aderem-se. A espata uma brctea grande

    esbranquiada que abraa o espdice a partir da base e o envolve parcialmente, seu comprimento

    pode ser de 20cm e enrola-se para dentro na ponta. O espdice possui 6 a 14cm de comprimento.

    As flores femininas localizam-se na base da flor e as masculinas prximas ao pice. Na regio

    entre as flores masculinas e femininas, existe um grupo de flores estreis, e na extremidade

    superior do espdice existe um apndice estril (ver FIGURA 14). O fruto uma baga elipside

    de 3 a 5mm e a semente ovide, com 1,2 a 1,5mm, raramente ocorrendo. O florescimento pode

    no ocorrer em alguns cultivares. A polinizao entomfila.

    As plantas do gnero Colocasia so consideradas pantropicais em relao ao seu cultivo e

    sua distribuio geogrfica, sendo intensamente cultivadas e contribuindo em maior porcentagem

    na dieta dos povos das Ilhas do Pacfico, frica Ocidental, Caribe e em todas as reas midas e

    sub-midas da sia.

    Sugere-se que o inhame tipo eddoes, foi desenvolvido e selecionado a partir de inhames

    cultivados na China e Japo h sculos atrs e introduzido nas ndias Ocidentais e em outras

    partes do mundo (PURSEGLOVE, 1972).

    Colocasias so plantas originrias do sul da sia Central, provavelmente da ndia ou

    Malsia. As espcies selvagens ocorrem em vrias partes do Sudeste da sia. Dos centros de

    origem, espalharam-se para o sudeste asitico, para a China, Japo e Ilhas do Pacfico (alguns

    autores tm sugerido a ilha de Nova Guin como centro de origem, bem distinto do centro

    asitico). A partir da sia, estas plantas espalharam-se em direo Arbia e regio do

    Mediterrneo. Por volta do ano 100 a.C. eram cultivadas no Egito e na China, atingindo a Costa

    Africana, por volta de 2000 anos atrs, e levadas por viajantes para a frica Ocidental, e mais

    tarde por navios de escravos, para a regio caribenha (PURSEGLOVE, 1972).

  • 29

    FIGURA 02: Plantas de Colocasia esculenta var. antiquorum com 1 m de altura.

    FIGURA 03: Folhas de Colocasia (esquerda) e Xanthosoma (direita).

  • 30

    3. MANEJO DAS CULTURAS DE Xanthosoma e Colocasia

    a) Preparo do Solo

    Segundo ONWUEME (1978) o inhame pode ser cultivado sob condies de solo seco

    (inhame eddoes) ou mido (inhame dasheen). O preparo do solo para tai, mangaritos e inhame

    eddoes, no preparo convencional, implica: limpeza da rea, arao e gradagem, o plantio feito

    em sulcos ou em camalhes, este ltimo utilizado quando a colheita for mecanizada. Quando

    cultivados de forma tradicional, o plantio feito em sulcos em ou covas preparadas em solo no

    arado.

    Segundo MONTEIRO (2002) no Estado de So Paulo o preparo do solo consiste de uma

    arao e uma gradagem. No Estado de Minas Gerais, o solo preparado atravs de uma arao e

    uma gradagem e realizado o sulcamento ou a abertura das covas (CARVALHO, 2002).

    Segundo TORRES (2001) recomenda-se uma subsolagem e devem ser preparados camalhes,

    pois o tai no cresce bem em solos midos.

    b) Material para o Plantio

    ONWUEME (1978) relata que o material para o plantio pode ser: pequenos tberos

    principais ou tberos secundrios. Para GIACOMETTI & LEN (1994) o material mais

    comumente utilizado so as partes dos tberos principais, com 100 a 150g, com trs a quatro

    gemas, que produzem mais do que quando so utilizados os tberos secundrios.

    TORRES (2001) recomenda o plantio de tberos principais e secundrios, entretanto ambos

    devem sofrer tratamento contra doenas e pragas, e estes devem ser provenientes de cultivos

    sadios. Devem ser utilizados pedaos de 100g.

    c) poca de Plantio

    Para ONWUEME (1978) o fator determinante para o cultivo destas plantas nos trpicos a

    disponibilidade de umidade. Quando cultivadas em regies temperadas ou subtropicais, o plantio

    feito na primavera. No Estado de So Paulo os plantios so mais concentrados nos meses de

  • 31

    julho a outubro (MONTEIRO, 2002). SANTOS et al. (1983) relatam julho e agosto como os

    melhores meses para o plantio

    d) Espaamento

    Segundo ONWUEME (1978), espaamentos menores aumentam a produtividade de tberos

    principais e o nmero de mudas por hectare, porm diminuem a produtividade de tberos por

    planta. Num espaamento de 0,30 X 0,30m, a produo de mudas para o plantio enorme, porm

    o retorno em tberos comerciais muito pequeno. No geral, um espaamento de 0,60 X 0,60m

    para todas as culturas ideal, porm os produtores empregam espaamentos maiores de at 1 X 1

    m com menor produtividade. Em muitas reas tradicionais de cultivo, as plantas so cultivadas

    em consrcio e o espaamento no fixo, sendo determinado pela densidade das outras culturas.

    GIACOMETTI & LEN (1994) relatam que em cultivos comerciais o espaamento

    utilizado de 1,30m entre linhas e de 0,40 a 0,50m entre plantas. Em pequenos plantios so

    utilizados espaamentos de 1 X 1m ou 1,30 m X 1,30m. Na Nigria, foram obtidos melhores

    resultados com espaamentos de 1,60 X 1,60m com a utilizao de tberos secundrios. Nos

    municpios prximos Belo Horizonte utiliza-se o espaamento de 0,60 X 0,25m. Em outras

    regies do Estado de Minas Gerais, o espaamento varia de 0,80 a 0,90m entre sulcos e de 0,30 a

    0,40m entre plantas (CARVALHO, 2002).

    e) Profundidade de Plantio

    ONWUEME (1978) relata que as mudas devem ser enterradas a uma profundidade de 5 a 7

    cm, evitando que os tberos secundrios fiquem expostos ao ataque de pragas, e o sistema

    radicular torna-se muito superficial. A aplicao de cobertura morta importante para estas

    culturas, pois preserva a umidade e diminui a temperatura do solo. Para o Estado de So Paulo, a

    profundidade recomendada por MONTEIRO (2002) de 10cm e GIACOMETTI & LEN

    (1994) recomendam uma profundidade de 6 a 7cm.

  • 32

    f) Manejo da gua:

    Segundo ONWUEME (1978) o tai, os mangaritos e o inhame eddoes so plantas que

    requerem considerveis quantidades de gua durante seu ciclo. Assim, importante irrigar em

    locais onde as chuvas so irregulares. Experimentos comparando o comportamento de Colocasia

    esculenta var. antiquorum e Xanthosoma sagittifolium sob diferentes suprimentos de gua e luz,

    demonstraram que Xanthosoma mais resistente falta de gua e luz. A melhor produo de

    Colocasia acontece quando h condies normais de umidade e luminosidade.

    g) Controle de plantas concorrentes

    ONWUEME (1978) relata que o controle de ervas deve ser feito nos primeiros trs ou

    quatro meses quando a rea foliar for pequena, pois quando esta aumenta, as ervas concorrentes

    no mais competem. Os perodos crticos em que as culturas devem ser mantidas no limpo so: 1.

    no estgio inicial 2. no estgio de acmulo de amido e 3. maturao. Para o inhame, tai e

    mangaritos as capinas devem ser rasas para no afetar o sistema radicular.

    Para GIACOMETTI & LEN (1994) os primeiros seis meses so considerados crticos

    para o controle de plantas concorrentes. Para isso, podem ser aplicados herbicida pr-emergentes

    e ser feito o aterramento das plantas, que auxilia nesse processo.

    h) Adubao de Xanthosoma (tai e mangaritos)

    Segundo ONWUEME (1978) as necessidades nutricionais destas plantas so menos

    conhecidas que a cultura do inhame. Em Porto Rico as doses recomendadas so: 112kg de

    nitrognio, 45kg de fsforo e 112kg por hectare de potssio. ENY (1968) apud ONWUEME

    (1978) obteve aumentos significativos de produtividade, atravs da aplicao de 336kg de sulfato

    de amnio, 280kg de superfosfato e 224kg por ha de sulfato de potssio. Assim como no inhame,

    a aplicao parcelada dos adubos mais bem aproveitada. No cultivo tradicional de inhame, tai

    e mangaritos na frica e Ilhas do Pacfico, so utilizadas pequenas doses de fertilizantes ou

  • 33

    nenhum fertilizante. Nas reas recm-desmatadas no sistema de coivara, utilizado esterco nas

    covas (GIACOMETTI & LEN, 1994).

    i) Adubao de Colocasia (inhame eddoes)

    Para ONWUEME (1978) o inhame eddoes responde bem aplicao de fertilizantes. Em

    geral, as plantas so exigentes em potssio e clcio. Na ndia, PUREWAL e DARGAN (1957)

    apud ONWUEME (1978) encontraram que fertilizaes na proporo de 112kg de nitrognio,

    56kg de fsforo e 56kg de potssio por hectare resultaram em maiores produtividades. A

    adubao deve ser parcelada em vrias doses, a primeira aplicao feita no plantio o que auxilia

    na rpida formao das primeiras folhas. A segunda aplicao feita 3 a 4 meses depois, com o

    objetivo de aumentar o tamanho dos tberos.

    SANTOS et al. (1983) relatam que o mais comum a utilizao de esterco de curral, porm

    quando utilizados adubos qumicos, estes so aplicados nas seguintes propores: sulfato de

    amnio: 700 kg/ha; superfosfato simples: 700 kg/ha e cloreto de potssio: 250 kg/ha.

    4. Produo Mundial e Utilizao na Alimentao de Xanthosoma e Colocasia

    4.1.Produo Mundial:

    ONWUEME (1999) citando dados da FAO relata que em 1998, em torno de 6,6 milhes de

    toneladas de Xanthosoma e Colocasia foram produzidos no mundo em uma rea de 1,07 milhes

    de hectares (as estatsticas incluem tai, e inhame eddoes e dasheen), principalmente como

    alimento de subsistncia. Na TABELA 01 percebe-se que a maior parte da produo e da rea

    est situada na frica, podendo ser encontrados tambm, na sia e Oceania. Os maiores

    produtores na sia so: China, Japo, Filipinas e Tailndia, na Oceania: Papua Nova Guin,

    Samoa e Ilhas Salomo, e na frica: Zaire e Camares.

    Segundo GIACOMETTI & LEN (1994) duas arceas vm ganhando importncia como

    alimento energtico no mundo: a Colocasia esculenta Schott e a Xanthosoma Sagittifolium

    Schott, sendo a Xanthosoma considerada tradicionalmente como um cultivo de subsistncia.

  • 34

    Para TORRES (2001), na Costa Rica, Jamaica e Nicargua onde o tai conhecido como

    malanga, este um cultivo importante como fonte de renda, onde so cultivadas duas espcies: a

    Xanthosoma sagittifolium, conhecida como malanga branca e Xanthosoma violaceum, conhecida

    como malanga roxa.

  • 35

    TABELA 01: Produo mundial, produtividade a rea de tai, e inhame eddoes e dasheen

    REGIO Produo (1.000 t) Produtividade (t/ha) rea (1.000 ha)

    Mundo 6586 6,2 1070

    frica 4452 5,1 876

    sia 1819 12,6 144

    China 1387 16,8 82

    Japo 255 11,6 22

    Filipinas 118 3,4 35

    Tailndia 54 11,0 5

    Oceania 283 5,2 46

    Samoa Ocidental 37 6,2 31

    Ilhas Salomo 28 21,9 1

    Tonga 27 6,4 4

    Fiji 21 14,7 1

    Fonte: FAO (1998).

    As populaes dos pases da Oceania so as que mais dependem destas plantas como

    cultivo de subsistncia, enquanto na Amrica do Sul, a dependncia pequena, apesar de ainda

    ter importncia para os agricultores de origem germnica em Santa Catarina.

    MLLER (2002) relata que em Santa Catarina, a produo est localizada no Litoral Norte

    (Joinville), Litoral Centro (guas Mornas, Alfredo Wagner, Antnio Carlos, Bigua, Santo

    Amaro da Imperatriz, So Pedro de Alcntara, Tijucas e Urubici), sendo Joinville, Antnio

    Carlos e So Pedro de Alcntara os principais municpios produtores.

    Na TABELA 02 demonstrada a porcentagem de ingesto diria de calorias provenientes

    de Arceas e de outros tberos e razes como: aipim (Manihot esculenta) batata doce (Ipomea

    batatas), batatinha (Solanum tuberosum) por vrios povos, salientando-se a desinformao

    referente ao consumo de tai e inhame na Amrica do Sul, que relata que nesta parte do mundo,

    no h consumo destas plantas.

  • 36

    TABELA 02: Porcentagem de ingesto diria de calorias provenientes de tai e inhame

    eddoes e dasheen e de outros tberos em diversos pases e continentes

    Pases /Continentes Tai/inhame eddoes//dasheen % Outros tberos/razes %

    Tonga 18,1 45,0

    Samoa 16,0 19,2

    Ilhas Salomo 7,7 39,0

    Gana 7,1 43,3

    Gabo 4,6 36,7

    Papua Nova Guin 4,2 32,6

    Zaire 0,1 56,8

    Camares 0,5 44,5

    Oceania 0,7 7,2

    sia 0,1 5,2

    frica 0,5 15,3

    Amricas Central e do Norte 0,0 2,6

    Amrica do Sul 0,0 6,4

    Europa 0,0 4,7

    Mundo 0,1 6,0

    Fonte: ONWUEME (1999), adaptado de HORTON (1988).

    5. Partes comestveis dos gneros Xanthosoma e Colocasia

    Segundo ONWUEME (1978) nas plantas do gnero Xanthosoma, os tberos principais

    (soca) e os tberos secundrios (dedos) e s vezes as folhas, so as partes comestveis

    importantes. Geralmente os tberos secundrios so mais saborosos e os principais so

    desprezados. A soca composta de 77 a 86% de material comestvel e de 14 a 23% de casca. O

    carboidrato presente nestas plantas basicamente amido. O amido possui gros grandes, com 17

    a 20 de tamanho, sendo menos digestvel que o amido presente nas espcies do gnero

    Colocasia. As plantas do gnero Xanthosoma so mais ricas em minerais que as do gnero

  • 37

    Colocasia, com teor protico semelhante. Os tberos de Xanthosomas devem ser previamente

    cozidos antes do consumo.

    MONTEIRO & PERESSIN (2002) relatam que as Xanthosomas tm uma carncia em

    alguns aminocidos como, por exemplo: isoleucina, lisina, triptofano e metionina. Aps o

    cozimento, apresentam 26 a 30% de carboidratos e 1,7 a 2,5 % de protenas. Em relao s

    plantas do gnero Colocasia, os tipos eddoes tendem a ter dedos mais numerosos do que os do

    tipo dasheen, sendo os dedos e a soca comestveis, porm os dedos menos fibrosos que as socas.

    Ambos so consumidos cozidos, tostados ou fritos em leo ou ainda na forma de pes. Na frica

    fabricada uma pasta amassada, chamada fufu, sendo consumida em bolas imersas em sopa. No

    Hava e Polinsia, os dedos e as socas so cozidos sob presso, depois de lavados, descascados e

    amassados at apresentarem uma consistncia semi-flida. O produto submetido a uma srie de

    peneiras, sendo a ltima com 0,5mm de dimetro (MONTEIRO & PERESSIN, 2002).

    Durante a armazenagem ocorre fermentao do produto por Lactobacillus tornando o mais

    cido, com um decrscimo de pH de 5,7 para 3,9, e consumido misturado com derivados do

    coco. Este produto fermentado chama-se poi (ONWUEME, 1978). Para VINNING (2003) os

    tberos de Colocasia contm mais de 35% de amido e a digestibilidade deste amido de 98%. A

    porcentagem protica de 1 a 4,5% e todas as variedades necessitam ser cozidas para eliminar o

    oxalato de clcio.

    Para MONTEIRO & PERESSIN (2002) as plantas do gnero Colocasia so carentes em

    protena (1,5%) e em lipdeos (0,2%) e seu valor nutritivo deve-se aos carboidratos com a

    predominncia de amido. Alm de serem um alimento energtico, suas folhas so ricas em

    vitamina A, riboflavina, niacina e cido ascrbico. As razes so utilizadas cozidas.

    5.1. Aproveitamento das folhas de Xanthosoma e Colocasia:

    As folhas das plantas do gnero Xanthosoma apresentam um alto potencial de fornecimento

    de minerais, que desconhecido para a maioria de nossa populao. As folhas tambm podem ser

    usadas como alimento, cozidas como carur, e as folhas mais novas, recm abertas, so as mais

    recomendadas.

  • 38

    comum a presena do tai em terrenos baldios, prximos a comunidades carentes, as

    quais desconhecem a utilizao desta planta. PINTO et al. (1999, p. 61) em seu trabalho

    Caracterizao mineral das folhas de taioba, descrevem que:

    Trata-se sem sombra de dvidas, de um alimento que poder suprir muitas de nossas

    necessidades dirias em minerais; incentivar o seu consumo a forma mais simples de

    aumentar o valor nutritivo da dieta das populaes carentes, pois a taioba pode

    contribuir devido ao seu total aproveitamento (limbo e pecolos) culinrio, sua rica

    composio em minerais, ao seu baixo custo e facilidade de obteno dessa hortalia

    em muitas regies de nosso pas.

    Para VINNING (2003) as folhas de plantas do gnero Colocasia tm o mesmo valor

    nutricional que o espinafre, sendo uma excelente fonte de vitaminas A e C, riboflavina e tiamina.

    No preparo como alimento, as folhas devem ser verdes ou rosadas, sendo preparadas fervidas ou

    cozidas em leite de coco.

    5.2. Processamento de Xanthosoma e Colocasia

    OPARA (1999) relata que os pequenos gros de amido do tai-japo (1 a 4 ) comparado

    aos maiores gros do tai (17 a 20 ), so adequados para o preparo de vrios alimentos,

    especialmente aqueles destinados crianas com potencial alergnico e para pessoas com

    desordens gastro-intestinais. Entre as culturas de razes, o tai-japo considerado o mais

    utilizado no preparo de produtos e estes, alm do poi, incluem a farinha, como base de cereais,

    ps para bebidas, chips, fatias secas ao sol e flocos desidratados.

    A farinha pode ser produzida de diversas maneiras, porm a operao principal baseia-se

    em descascar os tberos crus ou pr-cozidos, sec-los e mo-los. Os tberos so descascados,

    fatiados e lavados em gua para remover a mucilagem aderente; depois so imersos em gua por

    uma noite, lavados e imersos em cido sulfrico a 0,25% por 3 horas. Na seqncia do processo,

    os pedaos so branqueados em gua fervente por 4 a 5 minutos e secos 60 C e modos at a

    consistncia de farinha (OPARA, 1999).

    Para MONTEIRO & PERESSIN (2002) as razes de tai-japo podem ser processadas para

    fabricao de farinha a qual pode ser utilizada na panificao, adicionada farinha de trigo na

    proporo de at 15%. Nas Antilhas produzida uma farinha com pedaos secos dos tberos

  • 39

    modos de tai sendo essa farinha mais nutritiva e menos fibrosa que a farinha de mandioca.

    Segundo VINNING (2003) os tberos de Colocasia so consumidos cozidos ou em forma de

    po. Na capital das Ilhas Samoa, Apia, existe uma antiga tradio de cozinhar razes de Colocasia

    em fornos cavados no cho e consumi-los aps a missa de domingo, numa espcie de festival.

    5.3. Utilizao como alimento para animais

    As arceas comestveis tm um potencial considervel de utilizao de seus sub-produtos os

    quais podem ser utilizados como uma excelente fonte de alimento animal. A silagem feita da

    planta inteira em conjunto com outras plantas tem sido utilizada at certo nvel, por problemas de

    acridez. Esta acridez pode ser eliminada atravs da fermentao que ocorre no processo de

    ensilagem, pois sabido que esta causa irritao na boca e esfago dos animais (COURSEY et

    al., 1975).

    Os silos trincheiras foram utilizados para ensilar plantas inteiras de tai-japo e foi

    demonstrado que os fatores que causam a acridez foram eliminados. No entanto, o material in

    natura causou irritao nos trabalhadores que manipularam este material (WANG et al.,1981).

    Outros estudos demonstraram que o valor nutritivo do material fermentado das arceas

    equivale a outras espcies utilizadas, e tambm que este produto recomendvel para a

    alimentao de sunos.

  • 40

    B. FAMLIA DIOSCOREACEAE

    A famlia Dioscoreaceae formada predominantemente por plantas tropicais,

    monocotiledneas, inseridas na ordem Dioscoreales. So plantas trepadeiras herbceas, que

    formam tberos ou rizomas. BURKILL (1960) apud PURSEGLOVE (1972) relata que so

    conhecidos aproximadamente 6 gneros e 650 espcies. Todas as Dioscoreceas so diicas,

    nascendo ocasionalmente as inflorescncias masculina e feminina na mesma planta. O gnero

    Dioscorea estava distribudo em eras geolgicas primevas, nos hemisfrios ocidental e oriental,

    onde se desenvolveu independentemente em cada regio, o que confirmado, pois nenhuma

    espcie ou seo comum a ambas as regies (PURSEGLOVE, 1972). Sua distribuio

    geogrfica no planeta demonstrada na FIGURA 04.

    FIGURA 04: Distribuio geogrfica da famlia Dioscoreacea no planeta.

    Fonte: APG, (2002)

    1. Gnero Dioscorea (Car)

    Segundo ONWUEME (1978) dentro do gnero Dioscorea, as espcies mais importantes

    so: Dioscorea rotundata Poir, Dioscorea alata L., Dioscorea Cayenensis Lam, Dioscorea

    esculenta (Lour) Burk, Dioscorea dumetorum (Kunth) Pax, Dioscorea bulbifera L., Dioscorea

    trifida L., Dioscorea opposita Thunb, Dioscorea japonica Thunb e Dioscorea hspida Dennst.

    Taxonomicamente, Dioscorea subdividido em vrias sees:

  • 41

    1. Enantiophyllum - Dioscorea. rotundata Poir, Dioscorea alata L, Dioscorea cayenensis Lam,

    Dioscorea opposita Thunb e Dioscorea japonica Thunb.

    2. Lasiophyton- Dioscorea dumetorum (Kunth) Pax e Dioscorea hspida Dennst.

    3. Opsophyton- Dioscorea bulbifera L.

    4. Combilium - Dioscorea. esculenta (Lour) Burk.

    5. Macrogynodium - Dioscorea trifida L.

    Um aspecto morfolgico importante o fato das plantas da seo Enantiophyllum

    caracterizarem-se pelo fato das vinhas enrolarem-se no sentido horrio. Todas as outras sees,

    caracterizam-se pelas vinhas enrolarem-se no sentido anti-horrio. Esta caracterstica muito

    importante para a classificao das plantas, pois um aspecto levado em considerao para a

    elaborao de chaves botnicas, conforme as FIGURAS 05 e 06 (WILSON, 1988).

    FIGURA 05: Chave botnica de identificao de 3 Dioscorea.

    Fonte WILSON (1988).

  • 42

    FIGURA 06: Chave botnica de identificao de 5 Dioscorea.

    Fonte: WILSON (1988).

    2. Descrio do Gnero Dioscorea

    ONWUEME (1978) descreve Dioscorea como planta diica, com flores masculinas e

    femininas produzidas em plantas diferentes. Raros casos de plantas monicas tm sido relatados,

    sendo que muitos cultivares no florescem. As flores masculinas nascem em panculas,

    produzidas nas axilas das folhas, sendo cada flor masculina, inconspcua e pequena. Nas flores

    encontram-se trs spalas, trs ptalas e trs ou seis estames, sendo as ptalas e spalas

    esverdeadas ou esbranquiadas. As flores femininas so maiores que as masculinas e nascem em

    espigas que saem das axilas das folhas. Possui trs spalas, trs ptalas e um ovrio nfero. O

    ovrio possui trs lculos, cada um deles contm dois vulos, com trs estigmas (FIGURA 07).

  • 43

    O florescimento em condies brasileiras raro e os frutos so cpsulas deiscentes. A

    polinizao entomfila (MONTEIRO & PERESSIN, 2002).

    FIGURA 07: Inflorescncia de Dioscorea do tipo espiga.

    Fonte: ONWUEME (1978).

    A seguir so descritas as principais Dioscorea cultivadas no Brasil

    a. Dioscorea trifida L: Para CORREA (1978) esta uma planta trepadeira de caules glabros,

    alado-estriados na parte inferior e anguloso-comprimidos na parte superior, enrolando-se no

    sentido anti-horrio; folhas pecioladas, alternadas, s vezes opostas ou profundamente

    cordiforme, com trs a cinco lobos, com forma e tamanho diversos, com at 25cm de

    comprimento e de igual largura, 11- 13 nervadas, mais ou menos pilosas nas duas faces, lobos

    acuminados ou ovalado-agudos.

    As flores podem ser fasciculadas ou solitrias, as flores masculinas dispostas em racimos de

    trs a cinco e as flores femininas em espigas simples. O fruto uma cpsula oblonga, pubescente

    contendo sementes orbiculares, aladas. Produz tberos subterrneos ovides, cilndricos ou

    arredondados com at 15cm de comprimento e atingindo freqentemente at 1,5kg. Duas

    variedades so bem conhecidas: uma de tberos compridos e outra de tberos curtos (CORREA,

    1978).

    Os tberos so revestidos de epiderme verrugosa com poucas razes fibrosas, com polpa

    amarela alaranjada ou roxa, de sabor delicado e nutritivo. Na crena popular, acredita-se que esta

    planta seja til como antiasmtica, calmante e at contra lepra, propriedades ainda no-

    comprovadas. pouco exigente quanto qualidade do solo e a colheita dos tberos

  • 44

    relativamente fcil. Esta planta era cultivada pelos indgenas antes do descobrimento, sendo

    originria da Amrica do Sul (CORREA, 1978).

    b. Dioscorea alata L: Segundo CORREA (1978) as plantas so trepadeiras glabras de caule

    quadrangular ou 4-alado (o dos indivduos femininos geralmente 2-alado) grosso e com pequenos

    bulbilhos axilares; folhas quase sempre opostas, estipuladas, longo-pecioladas, lmina hastada-

    ovide, cordiforme, sagitada na base e acuminada no pice, 5-7 nervada, membrana glabra, de

    dimenses bastante variveis.

    A inflorescncia masculina disposta em espigas compostas, alongadas, flores esverdeadas,

    estames frteis em nmero de 6, o fruto uma cpsula coricea de 3cm, as sementes so

    orbiculares, circuladas por asas. Geralmente fornece um s tbero, porm s vezes estes so

    sublobados de forma e dimenses muito variadas, podendo alcanar at 60cm de comprimento, e

    comum encontrar no mercado, tberos com 2 a 5kg. Os tberos so revestidos de epiderme de

    cor castanha e tm a polpa branca (CORREA, 1978).

    O florescimento em condies brasileiras raro e a florao quando ocorre, produz frutos

    como cpsulas deiscentes. A polinizao entomfila. Esta espcie de car considerada

    nutritiva e de fcil digesto, por isso a mais recomendvel para a mistura com a farinha de

    milho para fabricao do conhecido po-de-car. Originria do sul da sia encontra-se

    distribuda pelo globo, e se constitui na base da alimentao humana em numerosas regies,

    sobretudo no Extremo Oriente e na Australasia. A introduo no Brasil aconteceu nos tempos

    coloniais, provavelmente trazido pelos escravos (CORREA,1978).

    c. Dioscorea bulbifera L. Segundo CORREA (1978) so plantas trepadeiras, robustas, de caule

    herbceo, cilndrico, estriado enrolando-se no sentido anti-horrio, com folhas alternas, longo-

    pecioladas com o limbo muito desenvolvido, perfeitamente cordiformes, com 12 a 18cm de

    comprimento e 10 a 15cm de largura. A inflorescncia masculina paniculada, com 12cm ou

    mais, composta, e a inflorescncia feminina est contida em longas espigas axilares com 18 a 25

    cm de comprimento; as flores so ssseis, solitrias, pequenas, pouco aparentes com perignio

    violceo e seis estames frteis.

  • 45

    O fruto uma cpsula oblonga, sendo que em cada lculo esto contidas duas sementes

    aladas na parte inferior. Esta espcie uma das mais importantes da famlia, e distingue-se

    facilmente das outras espcies pelos numerosos bulbilhos ou tberos areos, os quais nascem na

    axila das folhas e so muito variveis em forma e tamanho. Estes tberos areos so nutritivos e

    saborosos, ricos em glten denominado car-glutina e chegam a medir 10cm de comprimento e

    pesarem 100g, nos quais encontrado um princpio ativo txico, que em alguns pases acredita-se

    que vitime animais e parece desaparecer com uma simples lavagem. Um fato interessante que

    este metablito secundrio parece no existir nos tberos produzidos no Brasil e nas Antilhas.

    Acredita-se que a planta seja originria da ndia e Australasia e tenha sido introduzida no Brasil

    pelos holandeses. Na medicina popular, os bulbilhos e os tberos so utilizados como diurticos e

    como cataplasmas em furnculos (CORREA, 1978).

    d. Dioscorea cayennensis LAM: CORREA (1978) descreve esta planta como uma trepadeira

    glabra de caule cilndrico, liso, provido de acleos pequenos e agudos, sobretudo na parte

    inferior; folhas opostas, raramente alternas, longo pecioladas; lmina geralmente hastada

    cordiforme, ovada ou suboblonga, abrupta longo acuminada, cordiforme sagitada na base at 14

    cm de comprimento e 10cm de largura.

    As flores so ssseis, solitrias, globosas, dispostas em espigas axilares simples, o fruto

    uma cpsula oblonga elptica, e as sementes so aladas na base. Esta espcie produz tbero nico

    ou ramificado, pequeno, ovide, um pouco achatado e revestido com uma pelcula esbranquiada;

    a polpa branca e seca, agradvel ao paladar aps a coco. Acredita-se que seja originria da

    Guin, frica, e tenha sido introduzida no Brasil pelos escravos, sendo cultivada no nordeste

    brasileiro, onde conhecido como car da costa (CORREA, 1978).

    e. Dioscoreas nativas de Santa Catarina:

    PEDRALLI (2004) descreve quinze espcies nativas de Santa Catarina: Dioscorea altissima

    Lamarck, Dioscorea campestris Grisebach, Dioscorea cinnamomifolia Hooker, Dioscorea

    demourae R. Knuth, Dioscorea dodecaneura Vellozo, Dioscorea laxiflora Martius, Dioscorea

    monadelpha (Kunth) Grisebach, Dioscorea olfersiana Grisebach, Dioscorea ovata Vellozo,

  • 46

    Dioscorea piperifolia Humboldt et Bonpland in Willdenow, Dioscorea polygonoides Humboldt

    et Bonpland in Willdenow, Dioscorea scabra Humboldt et Bonpland in Willdenow, Dioscorea

    sinuata Vellozo, Dioscorea spicata (Vell.) Pedralli e Dioscorea subhastata Velloso.

    Segundo PEDRALLI (2004) vrias espcies desse gnero ocorrem em outras localidades

    do Brasil e esto dispersas em Santa Catarina, porm no so cultivadas comercialmente. Entre as

    espcies do gnero, algumas so utilizadas na medicina popular como, por exemplo: D.

    campestris usada na medicina popular contra coqueluche e asma na forma de ch; D.

    dodecaneura, utilizada como hipoglicemiante, cardiotnico, afeces da pele e contra

    reumatismo. Como comestveis so utilizadas as seguintes espcies: D.altissima, D.

    cinnamomifolia, D. laxiflora, D. ovata, D. piperifolia, D. polygonoides, D. subhastata.

  • 47

    3. MANEJO DO GNERO Dioscorea (CAR)

    a) Limpeza da rea

    Segundo ONWUEME (1978) em reas de florestas tropicais onde o car cultivado por

    populaes tradicionais, a limpeza da rea a principal operao. Nestas reas, chamadas de

    plantio de coivara, a rea limpa, sendo cultivada por um perodo de um ou dois anos e em

    seguida abandonada e permanece descansando, enquanto outra rea preparada. A limpeza na

    agricultura tradicional feita com ferramentas manuais como foices e machados, os quais so

    utilizados para cortar a mata, mantendo-se as rvores maiores e arvoretas que serviro de suporte

    para as plantas de car crescerem. Em seguida, a mata queimada.

    A queima uma parte essencial deste tipo de agricultura de coivara, pois dispensa a

    utilizao de maquinrio na remoo de restos vegetais (MENDES, 1982). Outro benefcio da

    queima a alcalinidade provocada pelas cinzas, que auxiliam na neutralizao da acidez dos

    solos tropicais, desta forma, beneficiando a cultura do car. A ltima fase deste tipo de

    agricultura tradicional consiste em recolher os restos de troncos que so utilizados como lenha

    (ONWUEME, 1978).

    Por outro lado, na agricultura convencional, so utilizadas grandes mquinas que provocam

    a compactao do solo (MENDES, 1982).

    b) Preparo do solo:

    Para ONWUEME (1978) e MENDES (1982) razes e tberos em geral requerem um solo

    solto, no qual possam desenvolver-se sem obstculos. Esta condio ainda mais crtica em

    relao ao car em comparao com outras plantas tuberosas, uma vez que a batatinha e a

    mandioca formam pequenas razes ou estoles que penetram no solo e posteriormente engrossam.

    O car por sua vez, no apresenta esta propriedade, por isso o solo onde ser cultivado, deve ser

    preparado de forma a deix-lo solto.

    Em geral existem quatro tipos principais de preparo do solo:

  • 48

    b.1. Plantio em pequenos montes: ONWUEME (1978) relata que esta forma de plantio a mais

    comum na agricultura tradicional, consistindo em se reunir o horizonte A do solo em pequenos

    montes. Na frica, para esta prtica so utilizadas largas enxadas. O tamanho de cada monte, a

    distncia mdia entre estes e o nmero de plantas de car pode variar, ou seja, quanto maior o

    monte, maior a distncia entre estes, e maior a quantidade de mudas a ser plantada em cada

    monte. Em algumas partes do sudeste da Nigria, estes montes podem atingir alturas de at 1m,

    serem separados por distncias de 3m, com aproximadamente 6 mudas na encosta de cada monte.

    Na maioria das regies os montes apresentam 50cm de altura com uma ou duas mudas plantadas

    (ONWUEME, 1978).

    Plantas como quiabo, milho e melo so cultivadas nos espaos entre os montes, tornando o

    espaamento dependente do tipo de policultivo que praticado. Esta forma de cultivo

    proporciona uma fcil penetrao dos tberos, tornando-os mais uniformes e com maior

    rendimento. Entretanto, um cultivo difcil de mecanizar e requer muita mo-de-obra, sendo

    restrito em reas de agricultura tradicional (MENDES, 1982).

    Para SANTOS (1996) o plantio pode ser feito em covas altas chamadas matumbos. Esses

    matumbos so preparados com enxadas e tm as dimenses de 0,40 X 0,40 X 0,30m. A altura

    de 0,30m e os tberos so plantados a uma profundidade de 10cm, sendo utilizado em pequenas

    reas.

    b.2. Plantio em covas: Segundo ONWUEME (1978), o cultivo em covas tambm comum na

    agricultura tradicional, onde se utiliza uma enxada estreita para fazer as covas. Cada cova mede

    aproximadamente 0,30 X 0,30 X 0,20m e o espao entre as covas depende do tipo de policultivo

    que ser estabelecido. Nas covas apenas uma muda de car plantada. Este tipo de plantio

    considerado como cultivo mnimo, pois as reas permanecem sem serem aradas, preservando a

    estrutura fsica do solo e economizando mo-de-obra. Uma vez que os tberos devem penetrar no

    solo duro abaixo da cova preparada, formam-se tberos irregulares e a colheita trabalhosa. As

    baixas produtividades e danos aos tberos so comuns, o que torna este tipo de plantio menos

    vantajoso e popular para os agricultores tradicionais.

  • 49

    b.3. Plantio em Camalhes: Em locais onde a agricultura mecanizada, o car geralmente

    plantado em camalhes, ou no solo plano. Neste caso, a limpeza da rea seguida por uma

    arao para afrouxar o solo e por uma gradagem para quebrar os torres, e para incorporar restos

    culturais no solo. Aps a gradagem, so formados os camalhes, os quais so espaados de 1m a

    1,20m. No camalho preparado, so abertas em seu topo as covas e as mudas so a plantadas

    numa profundidade de 10cm (MENDES, 1982).

    Uma das principais dificuldades deste sistema a tendncia do solo ser lavado pelas chuvas,

    expondo os tberos ao sol, tornando-os esverdeados pela presena de clorofila, no palatveis e

    suscetveis ao ataque de pragas. Para evitar este tipo de problema, recomenda-se o aterramento

    que consiste em se cobrir os camalhes com terra durante as capinas (ONWUEME, 1978).

    b.4. Plantio em solo plano: Igualmente ao plantio em camalhes, o solo arado e gradeado, e o

    car plantado em linhas. As covas so abertas com enxadas, e as mudas plantadas. Este tipo de

    plantio resulta em baixa produtividade, sendo a produtividade menor em comparao aos

    sistemas de montes e camalhes. Pelo fato do solo estar solto em apenas alguns centmetros de

    profundidade, o car apresenta problemas com m formao dos tberos (ONWUEME, 1978).

    Para MENDES (1982) o sistema de cultivo em solo plano feito atravs de uma arao e

    uma gradagem da rea, preparando-se as covas onde so plantadas as tberas sementes. Segundo

    o autor, a produtividade nesse sistema menor e a colheita mais trabalhosa.

    c. Material para plantio: Segundo ONWUEME (1978) o material utilizado para o plantio pode

    ser os pequenos tberos inteiros ou pedaos de tberos. A subdiviso dos tberos resulta nas

    seguintes partes: mudas de cabea, do meio e da calda do tbero. (FIGURA 08).

  • 50

    FIGURA 08: Diferentes partes do tbero de car que formam as mudas de cabea, do meio

    e da cola.

    Fonte: ONWUEME (1978).

    Na escolha das mudas, dois importantes fatores devem ser considerados: 1) a pronta

    brotao; 2) a propenso ao apodrecimento da muda aps o plantio.

    Quando a dormncia dos tberos do car comea a diminuir, as brotaes aparecem apenas

    na regio da cabea. Se os tberos foram armazenados por um longo perodo, as mudas

    originadas da cabea tero brotos bem formados. Por outro lado, as mudas derivadas de outras

    partes, no tero brotos e necessitaro um perodo aps o plantio, para que o processo de

    diferenciao dos brotos ocorra. De modo geral, as mudas da cabea e de tberos inteiros so

    preferveis s mudas do meio e da cola. Os tberos inteiros de car possuem uma camada

    protetora que impede o ataque de agentes causadores de podrides, sendo esta camada rompida

    quando so preparadas mudas cortadas (ONWUEME, 1978).

    Desse modo, quanto qualidade, o melhor material para o plantio so os pequenos tberos

    inteiros uma vez que a presena da regio de cabea propiciar a pronta brotaro, com menor

    probabilidade de apodrecimento. Em seguida as mudas oriundas da cabea, que brotam

    rapidamente, e por ltimo mudas da cola e do meio. Em relao a estes dois tipos de mudas (cola

    e meio), no existe diferena significativa quanto brotao. Quanto ao apodrecimento, as mudas

    da cola apresentam uma menor superfcie de exposio e menor ataque de microorganismos em

  • 51

    relao s mudas do meio e, alm disso, as partes do meio so preferidas para o consumo

    (ONWUEME, 1978).

    d) Tamanho das mudas: Segundo ONWUEME (1978) quanto mais pesada for a muda utilizada,

    maior o peso do tbero e a relao entre peso X produtividade foi confirmada em vrios

    experimentos (MIEGE, 1957; ONWUEME, 1972; LYONGA et al., 1973) apud (ONWUEME,

    1978). As causas para este fenmeno so descritas abaixo:

    1. mudas maiores brotam mais rapidamente que mudas pequenas, estabelecendo-se mais

    eficientemente; mudas grandes produzem mais brotos que mudas pequenas, assim, em caso de

    uma brotao ser danificada durante a emergncia, outras brotaes podem substitu-la. Como a

    porcentagem de mudas sobreviventes por hectare maior, o resultado tambm de maior

    produtividade; 2. a muda maior resulta em plantas mais vigorosas que mudas pequenas, uma vez

    que o dimetro dos caules, o nmero de folhas e a rea foliar so sempre superiores; 3. mudas

    maiores possuem maior teor de reservas que so mobilizadas para o novo tbero, resultando em

    plantas mais vigorosas.

    Segundo SANTOS (1996) no Estado da Paraba, recomenda-se a utilizao de tberas-

    sementes com 200 a 350g o que resulta em alta produtividade. Em solos de fertilidade elevada,

    podem ser utilizadas sementes menores, com 100 a 150g. Para MENDES (1982) as tberas-

    sementes devem pesar de 150 a 250g, pois o cultivo de tberos acima de 450g produz um retorno

    econmico insatisfatrio.

    e) pocas de plantio: Como descreve ONWUEME (1978) na frica o plantio do car

    realizado na estao seca ou no incio da estao chuvosa, dependendo da localidade, e o

    calendrio das operaes pode variar. As mudas geralmente passam por um perodo de

    dormncia que pode atingir at 3 meses.

    Em climas subtropicais, como no Sul do Brasil, as mudas so plantadas no incio da

    primavera, em setembro-outubro. ARAJO (1982) relata que para as condies da Zona da Mata

    de Pernambuco, a melhor poca de plantio estende-se de novembro a fevereiro.

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    f) Espaamento: Os cars geralmente so plantados num espaamento de 1 X 1m varivel em

    funo do tamanho da muda. Tem-se sugerido que, espaamentos maiores devem ser empregados

    em solos mais pesados e sem tutoramento; e quanto maior a muda, maior o espaamento. O

    espaamento tambm pode variar conforme o tipo de policultivo (ONWUEME, 1978).

    MENDES (1982) demonstra que o espaamento est ligado ao sistema de cultivo. Para

    cultivos em solos planos e camalhes, o espaamento pode ser de 1,20m entre linhas e de 0,40 a

    0,60m entre plantas. Para o cultivo em montculos, o espaamento pode ser de 1,25m X 0,80m.

    ARAJO (1982) reporta a escolha do espaamento como um fator dependente do mtodo

    de plantio, fertilidade do solo, irrigao, oferta de sementes e variedades. Os espaamentos mais

    comuns so: 0,80 X 0,40m; 1,00 X 0,40m; 0,80 X 0,60m; 1,20 X 0,40m; 1,00 X 0,60m; 1,20 X

    0,60 m; 1,00 X 0,80m; 1,30 X 0,50m; 1,25 X 0,80m; 1,25 X 0,60m.

    g) Profundidade de plantio: ONWUEME (1978) reporta que o car deve ser plantado com a

    cabea da muda a uma profundidade de 10cm para que esta alcance a camada mais mida do

    solo.

    h) Posio das mudas nas covas: Segundo ONWUEME (1978), todavia, ainda no est bem

    esclarecido se a posio da muda influencia a emergncia e o crescimento da planta.

    i) Cobertura morta: Aps o plantio, importante manter o solo com cobertura para proteo

    contra o excesso de calor e a dessecao, podendo ser feita a cobertura imediatamente aps o

    plantio (ONWUEME, 1978).

    j) Tutoramento: Segundo ONWUEME (1978) e MENDES (1982) ao atingirem 1m de altura as

    plantas devem ser tutoradas para estas enroscarem-se, o que ocorre um ms aps a emergncia

    das plantas, podendo ser utilizados bambu, galhos ou estacas de madeira.

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    k) TIPOS DE TUTORAMENTO

    k.1) Tutoramento individual: Neste mtodo, um robusto tutor colocado verticalmente para a

    planta de car enroscar-se. Um tutor pode ser usado para uma planta, e tambm servir para duas

    ou trs plantas adjacentes. Em sistema de plantio em montes, utilizado um tutor no pice do

    monte, servindo a diversas plantas. A utilizao de apenas um tutor feita em funo do tamanho

    da muda utilizada no plantio. No caso de mudas pequenas, as plantas sero menos robustas e

    podero ser tutoradas por um tutor individual, porm se forem maiores, dever ser construdo um

    tutor para cada planta. Para ser eficiente, o tutoramento individual deve ser feito a uma altura de

    2m, uma vez que alturas menores resultam em diminuio da produtividade (WAITE