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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DO PRESO EM FACE DA SITUAÇÃO PRISIONAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO AMAURY ALTINO DE LIMA Itajaí, Novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DO PRESO EM FACE DA SITUAÇÃO PRISIONAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

AMAURY ALTINO DE LIMA

Itajaí, Novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DO PRESO EM FACE DA SITUAÇÃO PRISIONAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

AMAURI ALTINO DE LIMA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientadora Professora Msc.Adriana Maria Gomes de Souza Spengler

Itajaí, Novembro de 2008

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AGRADECIMENTO

No processo evolutivo chamado Vida desejo agradecer a todas as pessoas que cruzaram

em meu caminho e mostraram, de uma maneira ou outra, que viver, ainda que custem lágrimas e sorrisos, vale à pena. No processo

universitário agradeço a todas as serviçais que deixaram com denodo todas as

instalações limpas e higiênicas, e com tímidos sorrisos, pensando talvez, que a condição de

serviçal não tenha uma importância neste contexto, ledo engano. Não há como olvidar

aos fiéis amigos do Grupo de Escoteiro Imaruí, que me deram a oportunidade de aprender

junto a todo clã apesar de um presidente aquém. Espiritualmente agradecer a Deus, Rei

Maior, e a todos os Espíritos de Luz que seguraram a “barra” quando as forças

pareciam esvair nos momentos inglórios que vivi nestes anos de faculdade. Um “oi” para Drª Carmem (Ponta Grossa), Kika (Brasília), Elaine (Marechal Candido Rondon) e Dodó

Botarelli (Curitiba) Um agradecimento mais que merecido vai ao meu irmão, Neuly – Lico –

que esteve ao meu lado, solidário a todos os momentos que não nos foram fáceis. Ao dileto

amigo Pedro Carlos de Araújo que sempre se fez um bom companheiro. Um frescor de

novas energias e vontade de, no apagar das luzes, viver com a chegada de Ana Julia Farias

de Lima, anjo que com seus sorrisos me injetou de vida. Aos amigos Montanha, Marcos Pita e João Augusto pelas palavras de apoio e

incentivo, todos, pois, importantes para merecerem meu muito obrigado.

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HOMENAGEM A TODOS OS PROFESSORES QUE SE FIZERAM

JUNTOS NESTA CAMINHADA.

No inicio

À mão tremula,

Um lápis,

Uma folha em branco,

Recheada de sonhos.

Nas linhas retas,

Letras tortas

A seguido do B

C seguido do D

E lá se vai o alfabeto todo.

Determinação: objeto direito.

Estudar: verbo intransitivo.

Nota final: 10

E assim

A criança amadureceu,

Se esforçou, cresceu

Estudou, leu,

E hoje a vida nos deu o que aprendeu:

Um mestre.

E, nas carteiras

Novos alunos,

Alunos nem tão novos,

Mas todos te parabenizando por ser

PROFESSOR.

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DEDICAÇÃO ESPECIAL

Profª MSc. ADRIANA SPENGLER

Eis que novo dia amanhece, Em cantos do mundo

Sonhos serão realizados, Outros sem sorte irão morrer, mas,

Entre risos e lagrimas, verás: Mister que a vida continue.

E nessa caminhada Ponho-me ao seu lado,

Quero saber que és feliz. Quero que seu interior expresse alegria,

Que sua vida seja vida, Que seus olhos

Vejam o azul do amanha. Que nesta longa jornada

Leve como bagagem, A dedicação, a confiança, a oração,

O carinho, a vontade, a fé, O desejo de conseguir no coração

Coloca o desanimo no acostamento, E, vai...

Em passos firmes e seguros Coloca seus pés na estrada.

Não busque atalhos, Tão pouco evite obstáculos, Estes todos te farão grande,

E, vai... Segue sem medo. Se te surgir o sol,

Serei a sombra. Se te surgir rios e mares,

Serei a ponte. Se te surgir à sede,

Serei a água. Se te surgir à noite,

Serei a luz, Assim, confiante vai.

Perceberás que Ao Seu lado Estarei,

Pode não te ser tudo, mas, É o tudo que quero ser.

Sou Teu Deus a te abençoar.

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v

PEDIDO DE DESCULPAS

De todo o meu coração peço desculpas aos

meus filhos Alan Sergio, Renan, Caroline,

Enaiê e Ana Julia, dizendo-lhes que, ainda

que tenha errado, no intuito de acertar, fiz à

minha maneira o que esteve ao meu

alcance para vê-los felizes, e que terminar

esta faculdade ao menos sirva como simples

prova de alguém que lutou até o fim. Aos

meus colegas de sala que muitas vezes

tiveram de suportar minha cara feia, mesmo

antipático, contudo sempre leal e

respeitador. Aos meus professores que se

desapontaram com minhas notas baixas.

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vi

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí, Novembro de 2008

AMAURY ALTINO DE LIMA Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Amauri Altino de

Lima sob o título [Titulo da Monografia], foi submetida em 18 de novembro

de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Profª

Msc. Adriana Maria Gomes de Souza Spengler e Profº Manoel Roberto da

Silva, e aprovada com a nota _______________.

Itajaí, Novembro de 2008

Profª Msc.Adriana Maria Gomes de Souza Spengler Orientador e Presidente da Banca

Profº Msc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CP Código Penal

CPP Código Processo Penal

LEP Lei de Execução Penal

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos

operacionais.

Pena

“Pena é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao

autor de infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente

na restrição ou privação de um bem jurídico.” TPF

1FPT

Pena Privativa de Liberdade

T“É a medida de ordem legal, aplicável ao autor de uma infração penal,

consistente na perda de sua liberdade física de locomoção e que se

efetiva mediante seu internamento em estabelecimento prisional.” TTPF

2F

Penitenciária

“Presídio especial ao qual se recolhem os condenados às penas de

detenção e reclusão e onde o Estado, ao mesmo tempo que os submete

à sanção das suas leis punitivas, presta-lhes assistência e ministra instrução

primária, educação, moral e cívica e conhecimentos necessários a uma

arte ou ofício à sua escolha, fim de que possam regenerar-se ou reabilitar-

se para o convívio da sociedade.” TPF

3FPT

Apenado

TP

1PT MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal. Parte Geral. Ed. Millennium.

Campinas-Sp. p.316 TP

2PT LEAL, João José. Direito Penal Geral. Florianópolis: OAB Editora, 2004, p. 391.

TP

3PT FELIPPE, Donaldo J. Dicionário de expressões latinas: termos e expressões em latim, com a versão para o português. 5.ed. Campinas: Julex, 1991, p. 121

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x

T“Indiciado condenado em processo penal e que cumpre regularmente a

sanção aflitiva em estabelecimento penal.” TTPF

4FPT

Reincidência

“È a situação de quem pratica um fato criminoso, após ter sido

condenado por crime anterior, em sentença transitado em julgado.” TPF

5FPT

Ressocialização ou Reinserção social

“É um instituto do Direito Penal, que se insere no espaço próprio da Política

Criminal (pós-cárcere), voltada a reintrodução do ex-convicto no

contexto social visando criar o modus vivendi entre este e a sociedade.” TPF

6FPT

TP

4PT SOIBELMAN, Leib. Dicionário Geral de Direito. São Paulo: J. Bushatsky. 1973, v.2, p.526.

TP

5PT CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.

434.

TP

6PT FALCONI, Romeu. Sistema Presidial: reinserção Social? São Paulo: Ícone,1998, p. 122.

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SUMÁRIO

Resumo................................................................................................................xii Introdução..............................................................................................................1 CAPÍTULO 1 .........................................................................................................13 1.1ORIGEM DA PENA ...........................................................................................3 O SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA PENA........................................................13 1.2 TEMPOS PRIMITIVOS ........................................................................................5 1.3 PERÍODO DA VINGANÇA PRIVADA: “Olho por olho, dente por dente”. .12 1.4 PERÍODO DA VINGANÇA DIVINA: “A repressão ao crime é satisfação dos deuses”.........................................................................................................15 1.5. PERÍODO DA VINGANÇA PÚBLICA: “Crimes ao Estado, à Sociedade”.16 1.7 A PENA NA ATUALIDADE...............................................................................21 1.8 A PENA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO..............................25 1.8.1 Do Princípio da individualização .............................................................25 1.8.2 Do Princípio da proporcionalidade...........................................................28 1.8.3 DO PRINCÍPIO DA HUMANIDADE ..............................................................30 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................ DO SISTEMA PRISIONAL E OS REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA PREVISTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.............................40 2.1 INTRODUÇÃO................................................................................................33 2.2. A HISTÓRIA DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL ..................................34 2.3 REGIMES DE EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ...........35 2.5. A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.........................................................36 2.6. DO REGIME FECHADO..................................................................................39 2.8 DO REGIME SEMI-ABERTO .............................................................................43 2.9. DO REGIME ABERTO...................................................................................45 2.10 DOS MODELOS PRISIONAIS......................................................................48 2.11 DADOS ATUAIS...........................................................................................50 CAPÍTULO 3..........................................................................................................56 3.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................57 3.2 DIREITOS E GARANTIAS PREVISTOS NOS TRATADOS E CONVENÇÕES RATIFICADOS PELO BRASIL.............................................................................54 3.3 A LEI PENAL IMPOSTA E AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PRESO................................................................................................................... 3.4 AS GARANTIAS DO PRESO NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL ...................72 3.4.1 Alimentação suficiente e vestuário...........................................................75 3.4.2 Atribuição ao trabalho e sua remuneração..............................................76 3.4.3 Proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação......................................................................................78 3.4.4 Assistência material à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa79 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................77 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS..............................................................88

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RESUMO

A presente monografia trata da

efetivação dos direitos e garantias do preso em face do sistema prisional

que vigora no ordenamento jurídico brasileiro e o não cumprimento da

Lei de Execução Penal. Será analisada neste trabalho toda a evolução da

pena ao longo da história da humanidade, bem como os princípios que a

norteiam. Serão analisados os regimes de cumprimento da pena privativa

de liberdade e, por fim, a situação atual dos estabelecimentos penais, nos

quais os presos não conseguem por parte do Estado a efetivação dos seus

direitos e garantias assegurados, deixando de haver, por conseqüência

uma real ressocialização do apenado ou o reingresso do preso no convívio

social, burlando uma das principais finalidades da pena.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem

como objeto a análise dos direitos e garantias do preso

no ordenamento jurídico brasileiro.

O seu objetivo é analisar

que no ordenamento jurídico brasileiro, em especial na

Lei de Execução Penal há a previsão de uma série de

direitos ao preso, representando as garantias inerentes

ao cidadão previstas na Constituição Federal, o

trabalho pretende abordar que, infelizmente, na

maioria dos casos não são aplicados tais como

dispostos na referida lei.

Para tanto, principia–se, no

Capítulo 1, tratando do sistema penal e sua evolução,

abordando para tal, as fases do Direito punitivo ao

longo da história da humanidade, finalizando com a

abordagem da pena na atualidade.

No Capítulo 2, serão analisados os sistemas

prisionais e sua evolução no ordenamento jurídico brasileiro. Serão

também analisados todos os regimes de cumprimento de pena previstos

no Código Penal

Por fim, no Capítulo 3, o

abordagem se dará sobre os direitos do preso

constantes na Lei de Execução Penal que vigora no

Brasil aos que cumprem pena e a falta de condições

para se efetivar a necessária ressocialização, uma das

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finalidades da pena, quando de seu retorno ao

convívio social.

O presente Relatório de

Pesquisa se encerra com as Considerações Finais,

nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade

dos estudos e das reflexões.

Para a presente monografia foram levantadas as

seguintes hipóteses:

a) A pena passou, ao longo da história da humanidade, por diversas fases.

b) Para cada regime de cumprimento de pena, a lei prescreve um determinado tipo de estabelecimento prisional.

c) O ordenamento jurídico brasileiro dispõe de uma série de direitos e garantias ao preso

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que,

na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de

Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados

expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da

Pesquisa Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DA PENA

1.1 ORIGEM DA PENA

A origem da pena não é algo consensual, e mesmo

atualmente ainda existem divergências, tendo na opinião dos

historiadores e doutrinadores apenas a unanimidade que a origem se

perde no próprio tempo, afinal, sabido é que onde existia grupo de

homens haviam disciplinas a serem seguidas, e caso não fossem

cumpridas sanções eram aplicadas aos que cometessem infrações. As

disciplinas eram conhecidas como tabus que de acordo com DOTTITPF

7FPT:

Tabu designa a superstição que, atribuindo a certos objetos ou TlugaresT o caráter de sagrados, impedem que sejam por

TP

7PT DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p.18

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qualquer forma tocada. A transgressão importa em lançar sobre a pessoa uma terrível maldição, que a levará a toda sorte de desgraça, quando não aniquilada pelos próprios adeptos desta exótica religião. Figuradamente, é a expressão empregada para designar toda pessoa ou coisa que é tida como um mito, ou se transforma em coisa inatacável, quando na realidade não passa de pessoa ou coisa comum, sem atributos de que a crendice a investiu. Os tabus, assim são figurões de todos os tempos, acomodados em posições e ostentando saber que, em realidade é simplesmente imaginativo, isto é, mantido por uma espécie de superstição coletiva ou lenda, cuja origem se desconhece.

Por sua vez, MIRABETE TPF

8FPT em sua visão comenta e

elucida:

A pena tem o seu surgimento juntamente com a vida humana, desde os registros das primeiras civilizações que eram organizadas nos estuários dos rios Tigres e Eufrates, na antiga Mesopotâmia, quando se descobriu a utilização dos metais, das primeiras técnicas de agricultura, gênese da civilização caldéia que criou a primeira lei penal, a de TaliãoTPF

9FPT.

LEALTPF

10FPT, após lembrar que a reação do grupo primitivo

contra o infrator visava fundamentalmente à busca do restabelecimento

da proteção sacral, perdida com a ofensa causada pela infração às

normas do tabu, concluiu era preciso castigar o individuo que não

TP

8PT MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 78.

TP

9PT TALIÃO. Do latim talis = tal qual. Pena antiga, típica do direito vindicativo, da legislação mosaica, que consistia em aplicar ao delinqüente pena proporcional ao dano que causou: “olho por olho, dente por dente”. Estava presente no Código de Hamurabi, rei babilônico e também na Lei das Doze Tábuas. Maomé incluiu a lei de Talião em seu Alcorão, e ela persistiu em vigor até a idade Média. (Êxodo, Cap. XXI, versículos 22 a 25). Dicionário Técnico Jurídico. Deocleciano Torrieri Guimarães: 6. ed.rev. amp. atual. São Paulo: Rideel,2004.

TP

10PT LEAL, João José. Direito penal geral. São Paulo: Atlas, 1998. p. 213.

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soubera manter-se de acordo com os padrões de comportamento

exigidos com base em uma concepção cósmica essencialmente mística.

Observa-se, assim, na Antiguidade, uma

transformação, ao longo dos tempos, do instituto da Pena, ou seja, de

castigo privado, fundado no sentimento de vingança pessoal ou familiar,

a castigo público, assumido pelo poder público, responsável pela

harmonia e coesão social.

Dá-se deste ponto, inicio aos explicativos das fases

distintas dentro da historia do processo evolutivo das penas, tendo como

primeiro ponto, espaço ao chamado tempo primitivo.

1.2 TEMPOS PRIMITIVOSTPF

11FPT

A pena, em sua origem remota, nada mais significava

Senão a vingança, revide à agressão sofrida, desproporcionada com a

ofensa e aplicada sem preocupação de justiça.

Várias foram as fases de evolução da vingança

penal, etapas essas que não se sucederam sistematicamente, com

épocas de transição e adoção de princípios diversos, normalmente

envolvidos em sentido religioso.

Para facilitar a exposição, é aceita a divisão

estabelecida por Beccaria, apud DOTTITPF

12FPT que distingue as fases de

TP

11PT Nos tempos primitivos não havia documentos escritos sobre a vida nem sobre o homem. Esse período é chamado de pré-história e o que se conhece a seu respeito baseia-se nos objetos que restam dessa época.. Anita Leocádia. HTProfessora de História e GeografiaTH. Disponível em: <http://anitaleocadia.blogspot.com/2008/02/pr-histria-tr-integrada-1-ano.html>. Acessado em 27 de agosto de 2008.

TP

12PT DOTTI. Op. cit. p. 74-78

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vingança privada, vingança divina e vingança pública nos diversos povos,

tempos e lugares, observando que o Direito penal Hebreu, que em seus

estudos tal período esta compreendido nos anos de 1.029/1.915 a 975/960

antes de Cristo, após a etapa da Legislação mosaica, evoluiu o Direito

Penal do povo hebreu com o TalmudTPF

13FPT , dando conta que a pena de

talião fora substituída pela multa, prisão e imposição de gravames físicos.

Explica que:

O Talmud, foi um formidável suavizador dos rigores da lei mosaica. Estabeleciam-se, inclusive, garantias rudimentares em favor do réu, contra os perigos da denunciação caluniosa e do falso testemunho, de conseqüências gravíssimas e tantas vezes irreparáveis para o condenado inocente, máxime num sistema repressivo em que a palavra das testemunhas assumia excepcional importância na pesquisa da verdade.

Quanto ao Direito Romano, que segundo seus estudos

deu-se entre os anos de 449 a.C a 530 d.C, em Roma, evoluiu das fases de

vingança, por meio do talião e da composição, bem como da vingança

divina na época da realeza, Direito e Religião separam-se. Expõe que

dividem-se os delitos em crimina pública (segurança da cidade,

parricidium) (ou crimes majestatis e delicta privata) infrações

consideradas menos graves, reprimidas por particulares). Seguiu-se a eles

a criação dos crimina extraordinária (entre as outras duas categorias).

Finalmente, a pena torna-se, em regra, pública. As sanções são mitigadas,

e é praticamente abolida a pena de morte, substituída pelo exílio e pela

deportação (interdictio acquae et igni). Contribuiu o Direito Romano

decisivamente para a evolução do Direito Penal com a criação de

princípios penais sobre o erro, culpa (leve e lata), dolo (bônus e malus),

TP

13PT Registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, à ética, costumes e historias judaísmo. A History of the Jews, Penguin Books, 1984 . trad. SILVA, Américo Luís Martins da . p. 193.

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imputabilidade, coação irresistível, agravantes atenuantes legitima

defesa, etc

Alude o autor que o Direito Germânico TPF

14FPT primitivo, sem

precisar datas, não era composto de leis escritas, mas constituído apenas

pelo costume. Ditado por características acentuadamente de vingança

privada, estava ele sujeito à reação indiscriminada e à composição. Só

muito mais tarde foi aplicado o talião por influência do Direito Romano e

do cristianismo.

Explica que outra característica do direito bárbaro foi a

ausência de distinção entre dolo, culpa e caso fortuito, determinando-se a

punição do autor do fato sempre em relação ao dano por ele causado e

não de acordo com o aspecto subjetivo do seu ato.. no processo,

vigoravam as “ordálias” ou “juízos de Deus”TPF

15FPT e os duelos judiciários, com

os quais se decidiam os litígios, “pessoalmente ou através de lutadores

profissionais”.

Complementa em sua cronologia histórica, que o

Direito Canônico ocorreu na segunda metade do século XVII e princípios

do XVIII, e que aquele assimilou o Direito Romano e adaptando este às

novas condições sociais, a Igreja contribuiu de maneira relevante para a

humanização do Direito Penal, embora politicamente sua luta metódica

visasse obter o predomínio do Papado sobre o poder temporal para

proteger os interesses religiosos de dominação, aduzindo que:

TP

14PT O sistema germânico é o sistema jurídico mais disseminado no mundo, baseado no direito romano, tal como interpretado pelos glosadores a partir do século XI e sistematizado pelo fenômeno da codificação do direito, a partir do século XVIII.

TP

15PT As Ordálias ou juízos de Deus consistiam na sujeição do acuado a determinado tipo de prova da qual ele somente resistiria com a vida se fosse inocente. SACCONI. Dicionário Essencial da Língua Portuguesa. São Paulo: Atual, 2001.

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Proclamou-se a igualdade entre os homens, acentuou-se o aspecto subjetivo do crime e da responsabilidade penal e tentou banir as ordálias e os duelos judiciários. Promoveu-se a mitigação das penas que passaram a ter como fim não só a expiação, mas também a regeneração do criminoso pelo arrependimento e purgação da culpa, o que levou, paradoxalmente, aos excessos da InquisiçãoTPF

16FPT.

Já no Direito Medieval, que segundo o autor insta ao

período compreendido entre 476 a 1453 d.C, o Direito Penal, pródigo na

cominação da pena de morte, executada pelas formas mais cruéis

(fogueira, afogamento, soterramento, enforcamento, etc), visava

especificamente à intimidação e que as sanções penais eram desiguais,

dependendo da condição social e política do réu, sendo comuns o

confisco, a mutilação, os açoites, a tortura e as penas infamantes.

Discorrendo pelo período humanitário, que segundo

suas observações deu-se entre os séculos 14 aos 18, observa que é no

decorrer do Iluminismo que se iniciou o denominado Período Humanitário

do Direito Penal, movimento que pregou a reforma das leis e da

administração da justiça penal no fim do século XVIII. Em 1764, César

Bonesana demonstrando a necessidade de reforma das leis penais.

Beccaria, inspirado na concepção do Contrato Social de Rosseau, propõe

novo fundamento à justiça penal: um fim utilitário e político que deve,

porém, ser sempre limitado pela lei moral.

Enfatiza ser, pois, quase impossível promover consenso

da origem a respeito das praticas punitivas haja vista que historiadores e

TP

16PT Tribunal Eclesiástico da Idade Média, conhecido também pelo nome de Santo Oficio, criado no séc. XII, para combater e punir as heresias, a bruxaria e todas as manifestações contrarias ao catolicismo e à fé cristã. SACCONI. op. cit.

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doutrinadores TPF

17FPT seguem caminhos distintos, conforme a linha de pesquisa

de cada qual, mas não se pode deixar de citar os sistemas de punição

nas culturas havidas em varias regiões.

Apesar de não precisar a época histórica, Dotti expõe

como funcionava a aplicação da pena em diversas regiões:

CHINA ANTIGA: A primitiva legislação é identificada pelo Livro das Cinco Penas que consistiam na amputação do nariz, das orelhas, na obturação dos orifícios do corpo, na perfuração dos olhos e na morte. A pena capital era executada através da forca, decapitação, esquartejamento e enterro com vida. As cerimônias eram públicas visando ao escarnamento e à purificação. O Imperador Wu-WangsivelTPF

18FPT dizia que sendo bárbaro o delito

cometido, os seus autores eram também merecedores da mesma sorte.

NA PÉRSIA: (atual Irã) é possível estabelecer uma divisão histórica entre uma época remota e outra que se estende até o advento do IslamismoTPF

19FPT. No primeiro período, a justiça

criminal estava impregnada pela vingança e se regulava pelo talião. No segundo, passou-se a considerar que todo crime ofendia a majestade do soberano e como as penas eram aplicadas em seu nome, com caráter vindicativo, tornavam-se muito cruéis e bem mais graves que os modelos daquele tempo. Entre as modalidades da pena capital se destacavam a lapidaçãoTPF

20FPT, o esquartejamentoTPF

21FPT,

TP

17PT Na obra guia deste estudo, Curso de Direito Penal de René Ariel Dotti, op. já citada, o autor não cita os doutrinadores e historiadores..

TP

18PT Fundador da dinastia Wu Ocidental. Governou de HT200TH a HT222TH como Wu Wang (Rei/Príncipe de Wu) e de HT222TH a HT252TH como HTimperadorTH da HTdinastia Wu TH. Destacou-se na HTBatalha de Chi Bi TH quando ele e HTLiu BeiTH aliaram-se para derrotar HTCao CaoTH. Disponível em: < HTwww.wapedia.com.br/povos_antigachinaTH>. Acesso em: 14 abr. 2008.

TP

19PT Religião muçulmana, baseada nos ensinamentos de Maomé e contidos no Alcorão; religião maometana. Islã e islame. SACCONI. op. cit.

TP

20PT Meio de execução muito antigo, consistente em que os assistentes lancem pedras contra o réu, até matá-lo. Como uma pessoa pode suportar golpes fortes sem perder a

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a crucificação, a decapitação e o scaffismo TPF

22FPT. Também se

aplicava a pena de mutilação.

NA ASSÍRIA O volume de informações a respeito das práticas assírias vem da Bíblia. Era uma legislação cruel, que prodigalizava a pena de morte pela crucificação, pela entrega do condenado às feras e pela forca. O interesse na exemplaridade fazia com que a execução dos filhos fosse assistida pelos pais. Uma das modalidades freqüentes de punição coletiva era a aplicação da pena de morte aos culpados em massa. O Rei Sardanápalo instituiu a pena de arrasamento da casa do infrator. Conforme. lembra Zaffaroni, a Bíblia relata a historia de Daniel, lançado ao poço dos leões porque se recusou a adorar o Rei Dario (Tratado, vol. I, p. 325). Além da pena capital, proliferavam as modalidades de multa e penas corporais, com destaque para as mutilações.

NO JAPÃO no Japão havia duas classes de pena. a) aplicada no sul para os condenados que poderiam ser libertados algum dia; b) imposta no norte para aqueles que jamais recuperariam a liberdade. Os homens e as mulheres condenados podiam casar-se entre si e os filhos eram vendidos como escravos quando completassem oito anos de idade. Eram atenuantes: o parentesco com o Imperador, o título de nobreza, à religião e à ciência. (Tratado, vol. I. p.

consciência, a lapidação pode produzir uma morte muito lenta. Aparece na HTBíbliaTH em várias passagens, como na narração da intervenção de Jesus salvando da lapidação uma adúltera e a morte de Santo Estêvão, por dar testemunho de Jesus.Ainda hoje, tal forma de execução ainda é utilizada em vários países muçulmanos. Apesar do HTCorãoTH não mencionar a lapidação como pena, a HTLei islâmicaTH aplicada em certos países justifica essa prática por relatos da vida de HTMaoméTH. Brian Weiss Leslie. Mistérios Antigos. Trad. Clara Carvalho. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. p. 137

TP

21PT Esquartejamento. Esse suplicio consistia em prender um cavalo a cada um dos pés e a cada um dos braços do condenado, obrigando em seguida os animais a puxar em direções opostas até separarem-se do tronco os membros do supliciado. Weiss. op. cit. p. 141

TP

22PT Scaffismo. morte lenta através de procedimentos de extrema cureldade. Cf. relatos de Heródoto, Xenofonte, Plutarco e outros, executava-se a pena amarrando-se o condenado desnudo e após ter os seus olhos vazados passava-se mel em seu corpo para atrair moscas. Os vermes que nasciam dos excrementos acabavam roendo os seus intestinos. Weiss. op. cit. p. 144

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323). A conhecida pena do haraquiri TPF

23F

·PT foi introduzido no

final do século VII

NA INDIA o dever de punir emanava de BrahmaTPF

24FPT e o rei era

o seu delegado. A idéia em torno dos fins da pena era muito elevada para o referido código: o réu que houvesse cumprido a pena poderia chegar ao céu tão limpo de culpa como se tivesse praticado uma boa ação. A imprudência era um fenômeno considerado distintamente do caso fortuito e da natureza dos motivos que levaram o sujeito a delinqüir, no entanto, aquele aprimoramento de institutos e propósitos de justiça se frustravam pela divisão em castas e pelos preconceitos religiosos. Adotava-se o principio judicial da individualização da pena, embora com privilégios quanto às pessoas de classe superior às quais não se aplicavam as penas corporais, mas tinham as penas pecuniárias ampliadas.

NO EGITO o Estado egípcio foi uma organização teocrática, razão pela qual as condutas que atentavam contra a religião ou o Faraó eram punidas com a morte simples ou qualificada pela tortura, crucificação, forca, decapitação, etc. a pena poderia alcançar os parentes do réu. Entre as modalidades de sanção havia a mutilação, desterro, escravidão e confisco de bens. Era também previsto o trabalho forçado nas minas e quanto às penas corporais aplicavam-se a amputação das mãos do falsificador, a castração para o estuprador e a morte para o injuriador. Aquela forma de talião simbólico alcançava o espião cortando-se-lhe a língua e a mulher adúltera o nariz.

TP

23PT Modalidade de suicídio que consiste em rasgar o próprio ventre a faca ou sabre. SACCONI. op. cit

TP

24PT Este grande Buda Vairocana é chamado de: “o Bhagavat [ = O Abençoado], Mestre do Dharma, o Sábio, que é completamente perfeito, que a tudo permeia, que abrange todos os sistemas de mundos, que tudo sabe, o Senhor Vairocana”. O mundo das religiões. Enciclopédia Jurídica. CD-Rom – ed. 125

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EM ISRAEL no sistema penal dos HebreusTPF

25FPT também

dominava a idéia do castigo penal em função da raiz religiosa. No PentateucoTPF

26FPT esta claramente estabelecida a

matriz divina das normas punitivas. Deus mesmo é que teria ditado a Moises, com as formulas habituais: “Eu sou o Senhor teu Deus”; “Eis aqui as leis judiciais que tu proporás ao teu povo” TPF

27FPT. Os Dez Mandamentos constituem o mais antigo

referencial de um sistema normativo-penal e que passou a ser conhecido como o direito penal mosaico, por alusão a Moisés. A pena capital era aplicada de diversas maneiras: fogo, forca, serra, crucificação, lapidação, espada, afogamento, rodaTPF

28FPT, esquartejamento, exposição às feras,

flechas, etc.

Tendo sido abordado pormenores das várias fases do

direito dentro do período denominado primitivo, doravante se abordara o

período da chamada vingança privada.

1.3 PERÍODO DA VINGANÇA PRIVADA: “OLHO POR OLHO, DENTE POR

DENTE”.

Na denominada fase da vingança privada, onde o

autor situa ser do século XI ao século XIII cometido um crime, ocorria a

TP

25PT Povo semita da Antiguidade, do qual descendem os atuais judeus. SACCONI. op. cit.

TP

26PT Pentateuco é o conjunto dos cinco primeiros livros do Velho Testamento, atribuídos a Moisés: o Gênese, o Exôdo, o Levítico, o Números e o Deuteronômio. Dicionário Sacconi. op.cit.

TP

27PT Bíblia Sagrada. Exôdo, Cap. XXI.

TP

28PT Morte pela roda. Essa forma de martírio consistia em despedaçar o corpo do condenado que ficava desnudo, com as costas no solo ou em um patíbulo e tendo os membros estendidos ao máximo e amarrados a estacas ou anéis de ferro. Sob os punhos, os cotovelos e outras regiões do corpo eram colocados, em forma atravessada, pedaços de madeira. O verdugo utilizando-se de uma roda quebrava as articulações da vitima, tomando o cuidado de não desferir golpe mortal. Posteriormente ela era desamarrada e introduzida entre os raios de uma enorme roda que ficava em posição horizontal no extremo de um poste que depois era levantado. Logo os corpos vazavam os olhos e arrancavam pedaços de carne até chegar a morte. Depois da forca, a roda para despedaçar foi o instrumento de execução mais comum na Europa germânica, desde a Baixa Idade Media até princípios do século XVII. Weiss.op.cit 15

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reação da vitima, dos parentes e até do grupo social (tribo), que agiam

sem proporção à ofensa, atingindo não só o ofensor, como todo o seu

grupo.

GUIDONIS TPF

29FPT preleciona que:

Tendo inicio nos tempos primitivos, nas origens da humanidade, o Período da Vingança Privada prolonga-se até o século XIII. Nos tempos primitivos não se pode admitir a existência de um sistema orgânico de princípios gerais, já que grupos sociais dessa época eram envoltos em ambiente mágico e religioso.

Já nas palavras de Beccaria a inexistência de um limite

no revide à agressão, bem como a vingança de sangue, foi um dos

períodos em que a vingança privada constitui-se a mais freqüente forma

de punição, adotada pelos povos primitivos. Logo, conclui-se que a

vingança privada constituía uma reação natural e instintiva, por isso, foi

apenas uma realidade sociológica, não uma instituição jurídica, na

acepção da palavra.

GUIDONIS TPF

30FPT completa o pensamento dizendo que

duas grandes regulamentações estavam estabelecidas nesta época: o

talião e a composição.

Apesar de se dizer comumente pena de talião,

conclui-se que não se tratava propriamente de uma pena, mas de um

instrumento moderador da pena, consistia sim em aplicar no ofensor o mal

que ele causou ao ofendido, na mesma proporção.

TP

29PT GUIDONIS, Bernardus. Das Sentenças da Inquisição. pp. 1261 a 1331 apud Jaques Heers. História Medieval. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1991. p.86

TP

30PT GUIDONIS. op.cit. p. 91

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Beccaria exemplifica através de artigos do código de

Hamurabi, algumas citações aplicadas à sistemática de revide nos casos

de agressões:

Art. 209 – Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez ciclos pelo feto.

Art. 210 – Se essa mulher morre, então deverá matar o filho dele.

O mesmo autor encontra na Bíblia Sagrada:

Levítico 24, 17 – Todo aquele que ferir mortalmente um homem será morto.

Como também nos mostra que na Lei das XII TábuasTPF

31FPT

havia explicitamente determinantes que autorizavam a vingança através

de reprimenda disposta em forma de lei:

Tábua VII, 11 – Se alguém fere outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se houver acordo.

TETnsina por fim o mesmo autor que posteriormente

surge a composição, através da qual o ofensor comprava sua liberdade

com dinheiro, gado, armas, etc.

TP

31PT Período do Principado. Com inicio do dominato por Diocleciano. Roma, entre os anos 303 e 304. Disponível em HTwww.historiadomundo.com.br/artigosTH. acessado em 22/03/ 2008, ás 22:18

TP

31PT JESCHEK apud LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. 2ª ed. ver. e aum. Porto Alegre.

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Tendo sido comentado até aqui o período da

vingança privada, será abordado o período denominado como da

vingança Divina.

1.4 PERÍODO DA VINGANÇA DIVINA: “A REPRESSÃO AO CRIME É

SATISFAÇÃO DOS DEUSES”.

Segundo historiadores não citados por DOTTITPF

32FPT neste

ponto da historia, fins do Tséculo T XVII, o direito penal é imposto pelos

sacerdotes, fundamentalmente teocrático, explicando que:

O Direito se confunde com a religião. O crime era visto

como um pecado e cada pecado atingiam a certo deus. A pena era um

castigo divino para a purificação e salvação da alma do infrator. Era

comum neste período o uso de penas cruéis e bastante severas. A religião

atinge influência decisiva na vida dos povos antigos.

SARLETTPF

33FPT em poucas palavras completa as do autor

citado dizendo:

A repressão ao delinqüente nesta fase tinha por fim

aplacar a “ira” da divindade ofendida pelo crime, bem como castigar ao

infrator, e que a administração da sanção penal ficava a cargo dos

sacerdotes que, como mandatários dos deuses, encarregava-se da

justiça.

TP

32PT DOTTI. Op. cit. p. 113-116

TP

33PTSARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e direitos fundamentais da Constituição Federal de 1988. 4ª ed. rev.amp. Porto Alegre-Rs; Livraria do Advogado, 2006, p.30.

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16

Nas palavras de JESCHEKTPF

34FPT é possível se ter uma idéia

do quão sofridas eram as penas impostas, pois eram aplicadas penas

cruéis, severas, desumanas. A vis corpolisTPF

35FPT era usada como meio de

intimidação.

DOTTITPF

36FPT por sua vez diz que no Antigo Oriente, pode-se

afirmar que a religião confundia-se com o Direito, e, assim, os preceitos de

cunho meramente religioso ou moral, tornavam-se leis em vigor.

Constata-se que a legislação dessa fase foi o Código

de Manu, e que os princípios deste código foram adotados na Babilônia,

no Egito (Cinco Livros), na China (Livro das Cinco Penas), na Pérsia

(Avesta) TPF

37FPTe pelo povo de Israel.

Findo os breves comentários sobre o período da

vingança divina, será abordado no próximo item o período da vingança

publica.

1.5. PERÍODO DA VINGANÇA PÚBLICA: “CRIMES AO ESTADO, À SOCIEDADE”.

Trazendo do conhecimento de BOSCHITPF

38FPT, temos da

mesma forma que DOTTI sem citar época especifica comentários que a

pena pública constitui o último estágio no desenvolvimento da história das

sanções criminais, as penas.

TP

34PTJESCHEK apud LUISI, Luiz. Os Princípios Constitucionais Penais. 2 ed. ver e aum. Porto Alegre. Sergio Antonio, 2003. p. 118

TP

35PT A “Tvis corpolisT” era usada como meio de intimidação. Canto, 2000, p.12.

TP

36PT DOTTI. op.cit. p. 108

TP

37PT Avesta é o nome das mais antigas escrituras do zoroastrismo, da Pérsia que datam de 500 a.C. SACCONI, op. cit.

TP

38PT BOSCHI, José Antonio Paganella. Das penas e seus critérios de aplicação. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000. p. 118

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Faz entender que com uma maior organização social,

especialmente com o desenvolvimento do poder político, surge, no meio

das comunidades, a figura do chefe ou da assembléia. Completa, a

pena, portanto, perde sua índole sacra para transformar-se em uma

sanção imposta em nome de uma autoridade pública, representativa dos

interesses da comunidade.

Segundo DOTTITPF

39FPT os escritores TPF

40FPT consideram alguns

marcos bem característicos desta evolução:

a) o crime representava um atentado contra os deuses e a pena era a resposta para aplacar a ira da divindade ofendida;

b) o crime era uma violenta agressão de uma tribo contra outra;

c) o crime era a transgressão da ordem jurídica estabelecida pelo poder do Estado e a pena era a reação contra essa vontade antagônica.

Observa OLIVEIRA TPF

41FPT que:

O Estado limita o poder individual ou familiar de castigar e que restringe a vingança para regular as composições, em determinado período de seu desenvolvimento, acaba substituindo-as por um novo sistema repressivo surge então a pena de natureza aflitiva e com caráter de expiação visando à exemplaridade.

Por sua vez explica CORRÊA Jr.TPF

42FPT

TP

39PT DOTTI. op.cit. p.125.

TP

40PT Não nominados pelo autor

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[...] era o tempo em que o poder público assume a titularidade exclusiva da reação contra o delito e passa a exercer o chamado ius puniendi, o direito subjetivo de punir com as mais variadas formas de sanção. Não era mais o ofendido ou mesmo os sacerdotes os agentes responsáveis pela punição, mas o soberano, que podia ser rei, príncipe ou regente. Estes exerciam a autoridade em nome de Deus e cometiam inúmeras arbitrariedades.

MIRABETETPF

43FPT por fim complementa dizendo que

a pena de morte era uma sanção largamente difundida e aplicada por motivos que hoje são considerados insignificantes. Finaliza, dizendo que usava-se mutilar o condenado, confiscar seus bens e extrapolar a pena até os familiares do infrator.

Expostos os breves comentários sobre o período da

vingança pública, se bordará no próximo item o período humanitário.

T1.6 PERÍODO HUMANITÁRIO:“ O HOMEM DEVE CONHECER A JUSTIÇAT”

Os séculos XVII e XVIII foram marcados pela crescente

importância da burguesia, classe social que comandava o

desenvolvimento do capitalismo. Mas nem tudo era belo e tranqüilo: havia

um grave conflito de interesse entre os burgueses e a nobreza.

TP

41PT OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: paradoxo social. 2 ed. Florianópolis: UFSC, 1996. p. 49

TP

42PT CORRÊA JUNIOR, Alceu. Pena e Constituição: SP, RT, 1985 co-autoria Dotti. p. 218

TP

43PT MIRABETE. op. cit. p. 314

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Surgiu, então, um sistema de idéias que deu origem ao

liberalismo burguês. Essas idéias ganharam destaque através do

movimento cultural conhecido como Iluminismo, onde, segundo DOTTITPF

44FPT :

Os pensadores iluministas, em geral, defendiam uma Ampla reforma do ensino, criticavam duramente a intervenção do Estado na economia e achincalhavam a Igreja e os poderosos. Nem mesmo Deus escapou às discussões da época. O Deus iluminista, racional, era o “grande relojoeiro” nas palavras de VoltaireTPF

45FPT. Deus foi encarado como

expressão máxima da razão, legislador do Universo, respeitador dos direitos universais do homem, da liberdade de pensar e se exprimir. Era também criador da “lei”, e lei no sentido expresso pelo filósofo iluminista Montesquieu TPF

46FPT:

“relação necessária que decorre da natureza das coisas”.

O mesmo autor, demonstrando a necessidade de

reforma das leis penais e, inspirado na Concepção do Contrato Social de

Rosseau, propõe novo fundamento à justiça penal, e MIRABETETPF

47FPT traz à

mostra os objetivos nucleares que formaram os princípios básicos

pregados na obra de BECCARIA, Dos delitos e das penas, sendo:

1. os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam direitos não cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções cruéis;

TP

44PT DOTTI. op. cit. p. 174

TP

45PT O autor (1694-1778) nasceu em Paris. Seu nome verdadeiro era François Marie Arouet. O Mundo da Filosofia. Editora Europa. CD-Rom – Edição 125.

TP

46PT TCTharles-Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu, nasceu em 18 de janeiro de 1689 no castelo de La Brède, perto de Bordéus, França, membro de uma família da aristocracia provincial. Fez sólidos estudos humanísticos e jurídicos, mas também freqüentou em Paris os círculos da boêmia literária. morreu em Paris, em 10 de fevereiro de 1755. O Mundo da Filosofia. Editora Europa. CD-Rom - Edição 125

TP

47PT MIRABETE. op. cit. p. 117

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2. só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanções arbitrariamente;

3. as leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza para que possam ser compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos;

4. a prisão preventiva somente se justifica diante de prova da existência do crime e de sua autoria;

5. devem ser admitidas em Juízo todas as provas, inclusive a palavra dos condenados (mortos civis);

6. não se justificam as penas de confisco, que atingem os herdeiros do condenado, e as infamantes, que recaem sobre toda a família do criminoso;

7. não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para o interrogatório e os juízos de Deus, que não levam à descoberta da verdade;

8. a pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão, mas também para recuperar o delinqüente.

Como acentuou ABBAGNANOTPF

48FPT

O Iluminismo não foi somente um compromisso critico

da razão, ele foi, ainda, o compromisso de servir-se da razão e dos

resultados que ela pode conseguir nos vários campos de pesquisa para

melhorar a vida particular e associativa de cada homem.

TP

48PT apud Dotti op.cit. p. 27

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Terminadas aqui, a exposição das épocas pertinentes

às fases de cada período, oportuna-se daqui em diante uma abordagem

prévia sobre a pena na contemporaneidade.

1.7 A PENA NA ATUALIDADE

Em breve retrospectiva introdutória não se olvide que

no início do século XX, a prisões brasileiras já apresentavam precariedade

de condições, superlotação e o problema da não-separação entre presos

condenados e aqueles que eram mantidos sob custódia durante a

instrução criminal.

BITENCOURTTPF

49FPT alude que em 1940, foi publicado através

de Decreto-lei o atual Código Penal, o qual trazia várias inovações e tinha

por princípio a moderação por parte do poder punitivo do Estado. No

entanto, a situação prisional já era tratada com descaso pelo Poder

Público e já era observado àquela época o problema das superlotações

das prisões, da promiscuidade entre os detentos, do desrespeito aos

princípios de relacionamento humano e da falta de aconselhamento e

orientação do preso visando sua regeneração.

No temporal, do recente pretérito ao hoje, as

mudanças ocorreram de maneira que tornou a situação mais

emblemática.

TP

49PT BITENCOURT, Cézar Roberto. Falência da pena de prisão. 3. ed. Revista dos Tribunais. São Paulo, 1993.

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Na observação de CAPEZTPF

50FPT pode-se entender

facilmente a problemática do status quo prisional no Brasil, quando o

expõe:

A idealização do nosso sistema penal se mostra inteligente, eficiente e humano. No entanto, essas qualidades não passam da teoria. A realidade do sistema penal na prática é bastante precária e não consegue atingir o ideal de sua concepção. Frente a esse dilema, o que precisamos não de uma reforma drástica no sistema, como diminuição da maior idade penal, agravamento das penas, etc., mas sim de medidas que venham a fazer se cumprir o que propõem o referido sistema. A princípio, diante do caos que nos encontramos essas medidas de diminuição da maior idade penal, agravamento das penas, etc., parecem ser as que resolverão o problema, porém é tudo uma ilusão. Uma das medidas para resolver esses problemas seria o investimento em empresas que passassem a administrar o sistema carcerário, assim como estudar e seguir modelos estrangeiros que obtêm sucesso. Criar e aplicar, de forma intensiva, programas de profissionalização, escolares e culturais, também impactariam positiva e eficientemente para o progresso do sistema. Atualmente, o papel carcerário é apenas o de remover o infrator do meio da sociedade, pelo menos enquanto durar a pena. Pois após o cumprimento da pena, o infrator muitas vezes retorna a sociedade e realiza os mesmos crimes ou até mais graves dos que foram cometidos antes.

Em reportagem editada no Jornal do BrasilTPF

51FPT, pela

colunista Elizângela Claro encontram-se as palavras do Deputado Federal

Domingos Dutra, encarregado da CPI das prisões esclarecendo:

TP

50PT CAPEZ, Fernando. T Curso de Direito Penal: Parte Geral - Vol. 1 p.189T

TP

51PT Edição 117.358.. 04 de julho de 2008.

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Estima-se que até 9.000 pessoas estejam atrás das grades apesar de já terem cumprido pena condenatória.Na maior parte dos casos, a soltura só não ocorreu ainda porque muitos não têm defensores que comuniquem ao juiz o cumprimento da pena.Se forem levados em conta os que aguardam julgamento em prisão preventiva o abismo é ainda maior. O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça estima que o país tenha hoje cerca de 133 mil pessoas em preventiva, ou seja, 30% da população carcerária. Em vistorias que fiz durante oito meses, 62 estabelecimentos penais em 18 Estados em nome da CPI do Sistema Carcerário, diz que a situação do banqueiro Dantas contrasta com a realidade carcerária do país."Não encontramos nenhum colarinho-branco, só "colarinho-preto". Muitos jovens, pobres e negros. Ao contrário de Dantas, que tem uma carrada de advogados, são pessoas sem nenhuma assistência jurídica", diz Dutra. O número de defensores públicos é pequeno. Sem advogado e com um sistema de dados caótico, não existe progressão de regime. Há ainda os que dizem já terem cumprido pena, mas que não têm ninguém que verifique isso na Justiça",

Para o advogado da Pastoral CarceráriaTPF

52FPT, Pedro

Yamaguchi Ferreira, a situação do sistema prisional seria menos injusta se o

Judiciário aplicasse a mesma celeridade do caso Daniel Dantas ao preso

pobre. Complementa o pensamento justificando que a Justiça deveria ter

uma atuação similar para casos não midiáticos, afirma Ferreira.

Para o juiz federal Fausto Martin de SanctisTPF

53FPT, que

decretou as duas prisões de Dantas, a diferença de tratamento entre os

réus é um reflexo do sentimento da própria sociedade. "Não há uma

consciência de reprovação acentuada com o crime de colarinho-branco.

TP

52PT Entrevista a Lilian Christofoletti na Folha de São Paulo de 03/09/08

TP

53PT Fausto Martin De Sanctis é HTUjuiz federalUTH que responde pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. declaração inserida na entrevista a Lilian Chirstofoletti op. Cit.

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24

Um homicídio é visto como mais grave, apesar de o crime financeiro

atingir muitas vezes milhares de pessoas e até o Estado.

“Vergonha” ! Vociferou o presidente do Supremo e

presidente do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Gilmar Mendes, ao

afirmar que o índice de 30% de prisões preventivas é "vergonhoso". Sobre a

existência de dois pesos e duas medidas para ricos e pobres, diz que

sempre defendeu a execução de mutirões carcerários para "dar uma

resposta a essa questão".

Airton Michels, diretor-geral do Depen TPF

54FPT, diz que

também considera muito alto o número de prisões preventivas, mas

entende que isso reflete a realidade do país, que é um dos campeões em

violência urbana.

A juíza Nídea Sorsi, 38, da 2ª Vara de Execução Criminal

do Estado de São Paulo, é responsável por cerca de 4.000 presas. Todo

mês ele visita as penitenciárias. "Não tenho nenhuma presa que já tenha

cumprido pena. Tenho prisões preventivas. E, para esses casos, aplico o

princípio da razoabilidade. Tomo o cuidado de analisar a gravidade do

crime. Dependendo do caso, mantenho a prisão."

Segue-se à explicação, os princípios constitucionais

que norteiam o instituto da pena.

TP

54PT Departamento Penitenciário Nacional. Declaração inserida na entrevista a Lilian Crhistofoletti. op.cit.

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25

1.8 A PENA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Todo apenado é um ser humano, e como tal merece

a consideração necessária por parte do Estado, e isso se dá não em

virtude da sua prática delituosa, mas sim em virtude da sua condição

enquanto ser humano.

CORRÊA Jr.TPF

55FPT elucida que

Os princípios jurídicos cumprem a função estruturante, constitutiva de idéias diretivas básicas, sendo estes princípios uma orientação básica para quem for interpretar o texto legal possa aplicar a norma buscando o Maximo de justiça social e individual, tudo dentro de um sistema que hoje vem recebendo criticas e tem demonstrado não ser mais eficiente, segundo o que se poderia esperar dele.

Dentre os princípios que são aplicáveis aos

apenados, entre outros, e que serão objeto de estudo, estão: 1.princípio

da individualização; 2. princípio da proporcionalidade, 3. princípio da

humanidade.

1.8.1 DO PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO

O principio da individualização expressa que cada

acusado é um e que cada fato possuí características próprias, fazendo

com que não se ignorem as diferenças entre as pessoas.

A busca da individualização da pena perante o texto

legal, nada mais é do que aplicar a penalidade de acordo com a

culpabilidade do autor do delito, verificando-se as particularidades desta

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26

circunstancia, desprezando-se a atitude de qualquer outra pessoa ou

ainda com outros fatos cometidos no passado, inicialmente.

A Constituição Federal de 1988 faz em claras letras a

expressão exata deste princípio através do inciso XLVI do art. 5°, conforme:

Art. 5° [...]

XLVI. a lei regulará a individualização da pena e adotará [...]

BOSCHITPF

56FPT explica dizendo que a individualização da

pena é:

uma atividade que se inaugura e se desenvolve judicialmente, com base em regras legais especificas, própria de um direito penal democrático e moderno de sorte a permitir o acompanhamento do procedimento pelo acusado e seu acusador e eventual impugnação pela via do recurso

Também a Lei de Execuções Penais (LEP)TPF

57FPT,

especificamente no seu artigo 5°, determina:

Art. 5° Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.

TEste mesmo princípio, também está inserido na

Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecido T mundialmente

TP

55PT CORRÊA Jr. op. cit p. 221

TP

56PT BOSCHI, op. cit. p.73

TP

57PT Lei 7.210/84. wade mecum Rideel. op. cit.

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27

como Pacto de San José da Costa Rica TPF

58FPT, no artigo 5° em seu número 3,

ambos agora transcritos:

Artigo 5º - Direito à integridade pessoal

[...]

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

O mesmo mandamental é encontrado no Art 5°, inciso

II, § 1°, letra “b”, primeira parte, do Código de Processo Penal, conforme:

[...]

b) a individualização do indiciado...razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor

BOSCHITPF

59FPT explica que:

A busca da individualização da pena perante o texto legal, nada mais é que aplicar a penalidade de acordo com a culpabilidade do autor do delito, verificando-se as particularidades desta circunstancia, desprezando-se a atitude de qualquer outra pessoa ou ainda outros fatos cometidos no passado, inicialmente.

Entre os princípios a ser expostos, expõe-se doravante o

da proporcionalidade.

TP

58PT A Convenção Americana sobre Direitos Humana, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, entrou em vigor internacionalmente em 18/07/78, tendo sido ratificada pelo Brasil em 25/09/92. O Congresso Nacional a aprovou pelo Decreto Legislativo 27, de 26/05/92. Pelo Decreto do Poder Legislativo 678, de 06/11/92 determinou-se o seu cumprimento no País. À Guisa de Prólogo. O Processo Penal à luz do Pacto de São José da Costa Rica. J. S. Fagundes Cunha e José Jairo Baluta. Curitiba: Juruá, 1997. p. 36

T59 BOSCHI, op. cit.T

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28

1.8.2 Do Princípio da proporcionalidade

Também chamado de princípio da proibição de

excesso, o princípio da proporcionalidade da pena determina que esta

não deverá ser superior ao grau de responsabilidade do delinqüente pela

prática do fato, ou seja, a pena dever ser na medida pela culpa do autor,

daí dizer que a culpabilidade é a medida da pena.

MULLERTPF

60FPT destaca que o principio da

proporcionalidade é regra fundamental a quem deve obedecer tanto os

que exercem quanto aos que padecem do poder.

BECCARIA TPF

61FPT, por sua vez afirma que:

o castigo produza o efeito que deve se esperar, basta que o mal que causa ultrapasse o bem que o culpado retirou do crime, e, ainda mais, que toda a severidade que ultrapasse os limites se torne supérflua e, por conseguinte, tirânica.

Nas palavras de GOULARTTPF

62FPT esta proporcionalidade,

na execução da pena aplicada, será estabelecida através da

classificação do condenado, de maneira a estabelecer correspondência

entre este e o modo pelo qual a pena lhe foi imposta, para que se possa

ser adequadamente executada.

TP

60PT MULLER, Pierre apud Bonavides, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 357.

TP

61PT BECCARIA. op. cit. p. 16

TP

62PT GOULART, José Eduardo. Princípios informadores do direito da execução penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.

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29

REALE Jr.TPF

63FPT et alli TPF

64FPT repisam a lição do mestre Militello ao

lecionarem que:

Enquanto a pena não seja muito severa, reduzirá a possibilidade de vinganças privativas e as formas de autojustiça. Enquanto não seja excessivamente elevada e desproporcional ao fato, evitará a punibilidade de formas de simpatia pública para o condenado, o que enfraquece a legitimidade do ordenamento jurídico.

GUERRA TPF

65FPT por sua vez ensina:

A aplicação do princípio da proporcionalidade...traz como conseqüência que o juiz ao examinar a situação correta que lhe foi submetida, observe as seguintes diretivas:a) segundo o principio da adequação, exige-se que haja a real possibilidade de que o uso da medida coercitiva leve ao cumprimento especifico [...] b) em razão ao principio da exigibilidade, a medida coercitiva deve ser aplicada dentro do estritamente necessário para a consecução de seu fim, devendo-se sempre optar por medida da qual possa resultar menos prejuízo para o devedor. C) a proporcionalidade em sentido estrito, por sua vez, impõe ao juiz que leve em consideração a possibilidade da medida implicar, concretamente, uma limitação excessiva do direito fundamental do devedor e faça um sopesamento das vantagens decorrentes da aplicação da medida e daquelas que podem advir da sua não aplicação.

TP

63PT REALE JUNIOR , Miguel, DOTTI, René Ariel, ANDREUCI, Ricardo Antunes, PITOMBO, Sergio de Moraes. Penas e medidas de segurança no novo código. Rio de Janeiro: Forense, 1985. p.165

TP

64PT Conforme o manual “Como fazer pesquisas e monografias”, da autora, administradora, contabilista, advogada, mestre e doutora em Direito das Relações Sociais pela PUC, Ester da Revista jurídica FEOB, a expressão latina é cabível quando há vários autores em uma mesma obra, utiliza-se a expressão em seguida ao nome do primeiro autor. p. 131

TP

65PT GUERRA, Marcelo Lima. Execução indireta. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1998. p.176

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30

Assim, certo é que todo excesso de punição viola a

proporção entre o crime e a pena a ser aplicada.

O principio a ser comentado a seguir é o da

humanidade.

1.8.3 Do princípio da humanidade

Dentro de um conceito de humanidade, o tratamento

dispensado a todo apenado deve merecer um cuidado mais humanitário,

mesmo porque ao final do cumprimento da sua pena frente ao Estado,

ele deverá retornar ao convívio social.

A Constituição da República Federativa do Brasil de

1988 assegura, de forma clara e explícita, a forma humanitária de

tratamento aos apenados, quando no artigo 5°, inciso XLVI, prescreve que

é assegurado ao preso o respeito à integridade física e moral.

Segundo BOSCHITPF

66FPT

O princípio da humanidade das penas tem a sua origem em toda a inspiração iluminista, uma vez que existe o direito penal da ira que vai em busca da vingança de forma cega e desordenada e o direito penal da humanidade, sendo este último o que persegue a realização da justiça, caracterizando-se por uma atitude magnânima, buscando por fim às penas cruéis e de morte, provas ilegais, acusações sem qualquer fundamento, embora este princípio seja constantemente desrespeitado em todos dos cantos do planeta. Claro e materializado que o princípio da humanidade evidencia o progresso cultural das civilizações relativamente aos direitos humanos sustentando que o

TP

66PT BOSCHI. op. cit. p.39

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31

Poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesione a constituição físico-psiquica do condenado.

Beccaria TPF

67FPT critica os excessos e a desnecessidade de

pena cruéis afirmando:

Como pode um corpo político, que, longe de se entregar às paixões, deve ocupar-se exclusivamente por um freio nos particulares, exercer crueldades inúteis e impregnar o instrumento do furor, do fanatismo e da covardia dos tiranos? Poderão os gritos de um infeliz nos tormentos retirar do seio do passado, que não volta mais, uma ação cometida? Não. Os castigos têm por fim único impedir o culpado de ser nocivo futuramente à sociedade e desviar seus concidadãos da senda do crime.

A atual Constituição da República proíbe

expressamente as penas cruéis. Em seu artigo 5°, XLVII, alínea “e” :

Art. 5° [...]

XLVI - não haverá penas:

[...]

cruéis.

A Lei de Execução Penal em seu artigo 40, expõe de

forma clara a presença deste principio, como se verifica:

TP

67PT BECCARIA. op. cit. p.42-43

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32

Art. 40 - Impõem-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios.

Da mesma forma, o Pacto de São José da Costa Rica

no item 2 do artigo 5° cita faz determinante:

Art. 5° - Direito à Integridade Pessoal

1. [...]

2. ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com respeito à dignidade inerente ao ser humano.

Por fim, mesmo estando as penas cruéis banidas da

nossa legislação, a realidade mostra que vários castigos ilegais são

impostos aos presos, ainda que com a aquiescência indireta do Estado.

No capítulo seguinte desta monografia abordar-se-á os

sistemas prisionais no Brasil, e seus respectivos regimes de cumprimento de

pena dispostos no Código Penal.

CAPÍTULO 2

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DO SISTEMA PRISIONAL E DOS REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA PREVISTOS NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO

2.1 INTRODUÇÃO

O sistema prisional do Brasil tem se deteriorado com o

passar dos anos e nos últimos tempos chegou a um ponto insustentável.

Com número de presos muito maior do que o de

vagas, não existindo no país nenhuma penitenciária, cadeia pública,

centro de detenção provisória e distritos ou delegacias, sob os cuidados

dos governos, que tivesse em suas instalações um número de presos menor

do que o de vagas e nem sequer uma cadeia onde o número de presos

fosse igual ao de vagas: todos superlotados.TPF

68FPT. Os dados também

mostram que o sistema não conseguiu atingir seu objetivo que é o de

recuperar e reintegrar o detento à sociedade. continua o deputado

expondo que:

O sistema prisional Brasileiro é o quarto do mundo em número de presos (437.596) e só perde para os HTEstados UnidosTH (primeiro lugar com 2,2 milhões de pessoas em cadeias), China (que tem 1,5 milhão) e Rússia (com 870 mil). Por causa da superlotação carcerária também há presos em delegacias e distritos que ficam sob os cuidados de delegados e investigadores.

TP

68PT Relatório da CPI. Deputado Domingos Dutra. Jornal do Brasil, edição de 20 de abril de 2002.

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34

Começa no item seguinte a exposição histórica do

sistema prisional havido no Brasil.

2.2. A HISTÓRIA DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL

Foi em 1769 que a Carta Régia do Brasil determinou a

construção da primeira prisão brasileira, a Casa de Correção do Rio de

Janeiro. Só alguns anos depois, a Constituição de 1824 determinou que as

cadeias tivessem os réus separados por tipo de crime e penas e que se

adaptassem as cadeias para que os detentos pudessem trabalhar. No

início do século 19 começou a surgir um problema que hoje conhecemos

muito bem nas cadeias: a superlotação, quando a Cadeia da Relação,

no Rio de Janeiro, já tinha um número muito maior de presos do que o de

vagasTPF

69FPT.

Em entrevista ao Jornal Folha de São PauloTPF

70FPT comenta

VARELLATPF

71FPT

As prisões de antigamente serviam para trancar escravos e prisioneiros de guerra. Fora dessas categorias albergavam apenas criminosos à espera de julgamento ou a serem torturados, prática legal naqueles dias. A partir do século 18, no entanto, a finalidade do encarceramento passou a ser isolar e recuperar o infrator. Houve um direcionamento novo da arte de fazer sofrer, como disse Foucault.

TP

69PT HTwww.prisaobr.gov.brTH. Acessado em março de 2008. ás 16:47h

TP

70PT Edição de 20 de abril de 2002.

1. TP

71PT VARELLA, TDráuzio T (São Paulo, 1 de janeiro de 1943), é médico

oncologista e escritor brasileiro, autor de Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das Letras. 1999.

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35

Nos idos de 1850, em São Paulo e Rio de Janeiro como

não havia prédios específicos para serem utilizadas como cadeia, estas

eram localizadas no andar térreo das Câmaras municipais, sem muros,

com grades que davam para a rua, através das quais os presos pediam

esmolas aos transeuntes, até a construção das primeiras Casas de

CorreçãoTPF

72FPT

SALLA TPF

73FPT, em sua publicação, complementa que:

Os presos eram condenados ao trabalho forçado, à prisão perpétua, ao açoite nos calabouços, e, numa demonstração clara de arejamento do sistema, os escravos não podiam mais ser condenados à morte nem a receber mais do que 50 chibatadas por dia.

Terminada a breve exposição da historia do sistema de

penas no Brasil, começa-se ora diante, comentários acerca dos regimes

de execução.

2.3 REGIMES DE EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

O regime é um modo de ser da execução da pena e

se promove através de estágios bem demarcados e de obediência

obrigatória pelo juiz, sob pena de violação do principio devido processo

legal.TPF

74FPT

TP

72PT A PRISÃO - coleção Folha Explica. Autor: Luís Francisco Carvalho Filho. Editora: Publifolha. Edição já citada

TP

73PT "As Prisões em São Paulo: 1822 - 1940" - Annablume, 1999. p. 89

TP

74PT DOTTI. op. cit. p. 562.

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36

Na síntese de PITOMBO TPF

75FPT o regime, com o advento da

Reforma de 1984, caracteriza “o estado de cumprimento da pena em que

se coloca o condenado, no tocante à intensidade modulada de redução

da liberdade”.

O primeiro item a ser considerado, é a pena privativa

de liberdade, adora detalhado.

2.5. A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Conforme até então observado, a prisão tinha por

objetivo purificar o homem buscando a expiação do seu pecado,

marcando profundamente a história da justiça penal, pois se caracterizou

como um duro golpe à manutenção da pena de morte, passando a

conservar a vida do condenado.

Também se observou que com o desenvolvimento da

humanidade, porém, as diferenças sociais acentuaram-se, e houve uma

conseqüente falência do sistema carcerário, motivando, desta forma, o

surgimento de estudos para a busca pelo estabelecimento de uma nova

medida de execução penal.

A Constituição do Brasil de 1988TPF

76FPT, em seu artigo 5°,

inciso XLVI, prevê as penas que podem ser cominadas aos que infringem a

legislação penal, as quais se dividem em três espécies, segundo o Código

Penal brasileiroTPF

77FPT.

TP

75PT apud DOTTI. op. cit. p. 562.

TP

76PT Publicada no Diário Oficial da União n° 191-A, em 5/10/88. Vade Mecum de Direito/Anne Joyce Angher, organização. 4 ed. São Paulo: Rideel, 2007. (Coleção de Leis Brasileiras).

TP

77PT Decreto Lei n° 3.914 de 9 de dezembro de 1941. op. cit.

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37

Art 32. – As penas são:

I – privativas de liberdade;

II – restritivas de direitos;

III – de multa.

A pena privativa de liberdade, por evidência, é

cumprida em estabelecimentos prisionais, por conseguinte, suas funções

deverão ser concretizadas naqueles ambientes.

Por esta exposição, THOMPSONTPF

78FPT resume que a prisão

é:

Uma instituição totalitária, que envolve o individuo a ela submetido em toda a extensão da sua personalidade, sendo seu objetivo, a ressocialização deste individuo, segundo as suas regras próprias e não as do próprio sentenciado.

GOFFMANTPF

79FPT define a instituição total como:

Um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos, com situações semelhantes, separadas da sociedade mais ampla, por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada. [...] Desta forma, as instituições totais se caracterizam pelo seu fechamento, simbolizado pela barreira que se ergue obstaculizando a relação social.

TP

78PT THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. Rio de Janeiro: Forense, 1993. p.22.

TP

79PT GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. 6 ed. Tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo: Perspectiva, 1999. p.11

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38

TAs penas privativas de liberdade, além da exposição

na constituição, estão capituladas no artigoT 33 e seus respectivos

parágrafos, do Código Penal,como se vê:

TArt 33T. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção em regime semi-aberto ou aberto, salvo necessidades de transferência a regime fechado.

§ 1° Considera-se:

a- regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;

b- regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;

c- regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

§ 2° As penas privativas de liberdade deverão ser executadas de forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:

a- o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;

b- o condenado não-reincidente cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o principio, cumpri-la em regime semi-aberto;

c- o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o inicio, cumprí-la em regime aberto.

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39

§3° [...]

A pena privativa de liberdade, por evidência, deve

ser cumprida em estabelecimentos prisionais, por conseguinte, suas

funções deverão ser concretizadas naqueles ambientes

Por fim, NOGUEIRATPF

80FPT conclui que a pena privativa de

liberdade consistente em reclusão, deve ser atribuída aos crimes de maior

gravidade [...]

A seguir se faz em comentários as regras do regime

fechado.

2.6. DO REGIME FECHADO.

Considera-se regime fechado, aquele em que o

acusado cumpre a execução da pena em estabelecimento de

segurança máxima.

De acordo com o Código penal, o regime fechado

possuí algumas regras, estando estas previstas no art 34, como segue:

Art. 34 O condenado será submetido, no inicio do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução.

§ 1°. O condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento no repouso noturno.

TP

80PT NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários á Lei de Execução Penal. São Paulo; Saraiva, 1996. p. 125.

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40

§ 2°. O trabalho será em comum, dentro do estabelecimento, na conformidade das aptidões ou ocupação anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução da pena.

§ 3°. O trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços ou obras públicas.

Sobre o regime fechado BarrosTPF

81FPT expõe que

neste o condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a

isolamento durante o repouso noturno.

MARCÃOTPF

82FPT, por sua vez, alega que muitos passaram a

sustentar que o regime fechado choca-se com o principio constitucional

da individualização da pena, estabelecido no art 5°, XLVI-CF/88.

Contudo, o mesmo autor em sucinta frase diz:

Filiamo-nos ao entendimento contrário, apontando para constitucionalidade do regime fechado, que não foi revogado pelo art 7° do Pacto Internacional de Direitos Civis e PolíticosTPF

83FPT, ratificado pelo Brasil em 24 de novembro de

1992.

Adiante comentários sobre o regime fechado.

TP

81PT BARROS, Flávio Augusto Monteiro. Direito Penal parte geral. Volume I. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p.444

TP

82PT MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 3ª ed. ver. São Paulo: Saraiva, 2006. p.129

TP

83PT Artigo 7º - Ninguém poderá ser submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas. Editora Europa. CD-Rom – Edição 125.

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41

Em síntese, o regime fechado é aplicado àqueles que

segregam o apenado do convívio no meio social.implicando no

afastamento do seio da sociedade.

SILVATPF

84FPT leciona que o regime fechado, facultativo

para as penas de prisão inferiores a oito anos, é obrigatório para as penas

superiores a oito anos de prisão com a inexistência de trabalho externo..

Com o advento da Lei n. 11.464/07 TPF

85FPT, o regime

integralmente fechado, outrora imposto aos condenados pela prática de

crimes hediondos e equiparados, foi definitivamente decotado do nosso

ordenamento jurídico. Na nova disciplina legal, independentemente do

quantum de pena fixado pelo Julgador quando da graduação da pena

privativa de liberdade nos casos de hediondez, o regime carcerário

deverá ser sempre fixado como o inicial fechado, conforme a nova

redação do art. 2º, p. 1º, da Lei n. 8.072/90 TPF

86FPT.

Conforme a exposição do artigo 33 do Código Penal:

Art. 33. A pena de reclusão dever ser cumprida em regime fechado [...]

§ 1°. Considera-se:

Regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou media;

TP

84PT SILVA, Antonio Julião da. Bacharel em direito pela UFSC. Foi diretor da Penitenciária de Florianópolis e, atualmente, exerce o cargo de Escrivão Judicial do Fórum Distrital do Norte da Ilha em Florianópolis/SC. HTwww.apriori.com.br/cgi/for/reforma-do-codigo-penal-antonio-juliao-da-silva-TTH acessado em 05 de novembro de 2008.T

TP

85PT Dispõe sobre crimes hediondos.

TP

86PT Dispõe sobre crimes hediondos

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42

No ensinamento de DOTTITPF

87FPT o regime em foco é

previsto àqueles que: foram condenados à pena superior a oito anos;

forem condenados nos crimes previstos na Lei n° 8.072/90TPF

88FPT; na Lei

9.034/95 TPF

89FPT, e Lei 9.455/97TPF

90FPT, forem reincidentesTPF

91FPT

Nos comentários de DOTTITPF

92FPT,

A mais relevante característica do regime fechado é a reprovabilidade da conduta do autor da infração cuja gravidade é declarada nos limites da pena privativa de liberdade. Nas mais variadas manifestações sobre a manutenção da perda de liberdade, como contragolpe à lesão provocada pelo crime, o argumento central é o de que a prisão, além de retribuir a culpa, deve cumprir um fim preventivo de caráter geral e que consiste na segregação do condenado para não cometer novos ilícitos.

A esse fim de caráter geral se junta o objetivo de

prevenção especial, declarado expressamente no artigo 1° da Lei de

Execução Penal que dispõe:

TArt. 1°.T A execução penal tem por objetivo efetivar as

disposições de sentença ou decisão criminal e

proporcionar condições para a harmônica integração

social do condenado e do internado.

TP

87PT DOTTI, op. cit. p. 566

TP

88PT Lei 8.072/90. Dispõe sob os Crimes Hediondos. art 2°, § 1°.

TP

89PT Lei do Crime Organizado. art. 10.

TP

90PT Lei 9.455/97. dispõe sobre os Crimes de Tortura). art 1°, § 7° - salvo o condenado à pena de detenção de um a quatro anos;

TP

91PT Decreto Lei 2.848/40. Código Penal. art 33, § 2°.

TP

92PT DOTTI. op. cit. p. 567

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43

Os comentários a seguir se darão às regras do regime

semi-aberto.

2.8 DO REGIME SEMI-ABERTO

No Código Penal brasileiro, o regime semi-aberto se

encontra no art. 35 e seus dois parágrafos, bem como na Lei de Execução

Penal em seu art. 8° agora expostos:

Código Penal.

Art. 35. Aplica-se a norma do artigo 34 deste Código, caput, ao condenado que inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto.

§ 1°. O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.

§ 2°. O trabalho externo é admissível, bem como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.

Lei de Execução Penal.

Art. 8º - O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução.

Parágrafo único - Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da

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44

pena privativa de liberdade em regime semi-aberto. (grifo nosso)

Como a própria designação sugere, o regime semi-

aberto constitui uma etapa intermediária entre os demais regimes de

execução da pena privativa de liberdade. É aquela em que a execução

da pena é cumprida em colônia agrícola, industrial ou em

estabelecimento similar.

O regime em comento está previsto no art. 35 do

Código Penal c/c o art 91 da Lei de Execução Penal que determinam a

sua aplicabilidade.

Art. 35. aplica-se a norma do art 34 deste Código, caput ao condenado que inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto.

Art 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou similar destina-se ao cumprimento da pena em regime semi-aberto.

COSTA Jr.TPF

93FPT Preceitua que:

No regime semi-aberto o trabalho poderá ser desenvolvido no próprio estabelecimento prisional ou fora dele, sem nenhuma restrição de serviço ou local. Ademais, o trabalho externo realizar-se-á com fiscalização e precaução menos rigorosas.

Adiante se apreciara as regras do regime semi-aberto.

TP

93PT COSTA Junior, Paulo José. Do Direito Penal objetivo. 3 ed. São Paulo: Editora Forense Universitária, 2003.p. 88

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45

2.9. DO REGIME ABERTO

O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso

de responsabilidade do condenado, que deverá permanecer recolhido

durante a noite e nos dias de folga. Essa orientação legislativa visa não

afastar o sentenciado do universo de suas atividades rotineiras licitas.

Adiante exposição das características.

A execução da pena em regime aberto tem como

ponto de partida a aceitação pelo condenado, do programa inerente a

tal espécie de regime e das condições estabelecidas.

MIRABETETPF

94FPT estabelece que se trata de um processo

de adesão, caracterizando o sentido voluntário em oposição ao caráter

compulsivo do procedimento de execução em regime fechado ou semi-

aberto.

DOTTITPF

95FPT explica que o condenado deixa de ser objeto

de medidas terapêuticas para, mantendo os valores de sua personalidade

e o seu estilo comum de vida, aceitar ou rejeitar o regime imposto.

A previsão legal do regime ora comentado está no art.

36, §§ 1 e 2 do Código Penal.

Art. 36. o regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado.

TP

94PT MIRABETE. op. cit. p. 31

TP

95PT DOTTI. op. cit. p.572

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§ 1°. O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.

§ 2°. O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins de execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada.

Na LEP a previsão se encontra nos arts. 113 a 119.

Art. 113 O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação do seu programa e das condições impostas pelo juiz.

Art. 114 somente poderá entrar no regime aberto o condenado que:

I – estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;

II – apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames de que ira ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade ao novo regime;

Parágrafo único. Poderão ser dispensados do trabalho as pessoas referidas no artigo 117 desta lei.

Art. 115. O juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:

I – permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;

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II – sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;

III – não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;

IV – comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.

Art. 116. o juiz poderá modificar as condições estabelecidas, de oficio, a requerimento do Ministério Público, da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as circunstancias assim o recomendem.

Art. 117. somente se admitira o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:

I – condenado maior de setenta anos;

II – condenado acometido de doença grave;

III – condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;

IV – condenada gestante.

Art. 118. a execução da pena privativa de liberdade ficara sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:

I – praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;

II – sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime. (artigo 111).

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§ 1°. O condenado será transferido do regime aberto se, alem das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.

§ 2° nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, devera ser ouvido, previamente, o condenado.

Art. 119. a legislação local poderá estabelecer normas complementares para o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime aberto. (artigo 36, § 1°, do Código Penal).

Contudo, MARCÃOTPF

96FPT lembra que

Para o ingresso no regime aberto não são suficientes, entretanto, o cumprimento da fração percentual de um sexto da pena no regime atual (requisito objetivo) e o atestado de conduta carcerária firmado pelo diretor do estabelecimento (requisito subjetivo), mas que o ingresso poderá se dar no inicio ou durante a execução.

Deste ponto passasse a abordar os modelos prisionais

no Brasil.

2.10 DOS MODELOS PRISIONAIS

O sistema carcerário no Brasil se divide em algumas

categorias: penitenciárias, presídios, cadeias públicas, cadeiões, casas de

detenção e distritos ou delegacias policiais, colônias agrícolas entre

outras.

TP

96PT MARCÃO. op. cit. p. 133

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49

BITTENCOURTTPF

97FPT faz breve apresentação dos modelos

prisionais no Brasil.

a) UCadeias Públicas U: destinam-se ao recolhimento de

presos provisórios; Penitenciárias: destinam-se ao condenado à pena de

reclusão, em regime fechado;

b) UPenitenciárias de Segurança Máxima EspecialU:

estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas com

condenação em regime fechado, dotados exclusivamente de celas

individuais;

c)UPenitenciárias de Segurança Média ou MáximaU:

estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas com

condenação em regime fechado, dotados de celas individuais e

coletivas;

d) UColônias Agrícolas, Industriais ou SimilaresU: destinam-

se ao cumprimento da pena em regime semi-aberto;

e) UCasas do AlbergadoU: destinam-se ao cumprimento

de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de

limitação de fim de semana;

f) UCentros de Observação Criminológica (COP)U:

destinam-se a realização de exames gerais e criminológicos, cujos

resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de Classificação, ou

seja, tem por objetivo a análise dos aspectos de saúde física, psicológica,

TP

97PT BITTENCOURT, op.cit. p. 207

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50

psiquiátrica, realização de exame criminológico para a determinação do

tratamento individualizado, tendo como base levantamentos dos

aspectos sociais, econômicos e suas vocações profissionais, além da

situação jurídica do detento;

g) UHospitais de Custódia e Tratamento PsiquiátricoU:

destinam-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no artigo 26 e seu

parágrafo único do Código Penal, onde serão realizados os exames

psiquiátricos e os demais exames necessários ao tratamento para todos os

internados; (Também são chamados de Manicômios Judiciários)

h) UDelegacia ou Distrito Policial U: uma unidade policial

fixa para o atendimento ao público, base e administração de operações

policiais, investigações criminais e detenção temporária;

Ui) Cadeiões U: unidades de segurança máxima onde os

internos passam o dia inteiro preso, destinado aos jovens infratores.

Estas divisões em categorias de estabelecimentos

servem para que cada preso seja identificado por características e

encaminhado para o local adequado. No entanto, na prática, essas

categorias não funcionam a risca, uma vez que muitos dos presos são

deslocados de um estabelecimento para outro.

2.11 DADOS ATUAIS

Em junho de 2007TPF

98FPT, de acordo com levantamento do

Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça TPF

99FPT, havia no

Brasil 437.596 presos em 1.115 estabelecimentos penais:

TP

98PT Os últimos dados colhidos do Depen foram os feitos sobre a situação prisional no Brasil,

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- 514 penitenciárias e presídios (281 masculinas, 47 femininas e 186 que

abrigam ambos os sexos, em alas separadas);

- 474 cadeias públicas (282 masculinas, nenhuma feminina e 192 que

abrigam ambos os sexos);

- 48 casas do albergado (26 masculinas, 6 femininas e 16 ambos os sexos);

- 37 colônias agrícolas ou industriais (26 masculinas, 2 femininas, 9 ambos os

sexos);

- 31 hospitais de custódia e tratamento (11 masculinos, 1 feminino, 19

ambos os sexos);

- 09 centros de observação (7 masculinos e 2 ambos os sexos);

- 02 penitenciárias federais.

No capitulo seguinte, finalizando a presente pesquisa,

a abordagem se aterá aos direitos dos presos no ordenamento jurídico

brasileiro e à luz dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

visto que a CPI sobre os dados atuais no comando do Dep. Federal Domingos Dutra ainda não foram concluídas.

TP

99PT HTUwww.mj.gov.brUTH. Acessado em data de 22 de agosto de 2008.

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52

CAPÍTULO 3

DOS DIREITOS E GARANTIAS DO PRESO

3.1 INTRODUÇÃO

Como ensina a doutrina, os "TdireitosT" são disposições

declaratórias, já as "TgarantiasT" são disposições assecuratórias, dispostas a

fim de evitar arbitrariedades por parte Tdo T Estado, no entanto ambas

convivem de forma harmônica.

MORAES TPF

100FPT contribui explicando

A distinção entre TdireitosT Te T TgarantiasT fundamentais, no

direito brasileiro, remonta a Rui Barbosa, ao separar as

disposições meramente declaratórias, que são as que

imprimem existência legal aos TdireitosT reconhecidos, Te T as

disposições assecuratórias, que são as que, em defesa Tdos T

TdireitosT, limitam o poder. Aquelas instituem os TdireitosT; estas,

as TgarantiasT; ocorrendo não raro juntar-se, TnaT mesma

disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia

com a declaração Tdo T direito.

Pode-se verificar como sendo TdireitosT TeT TgarantiasT Tdo T

Tcondenado,T diversos incisos Tdo T art. 5º da Constituição Federal, os quais

visam sua proteção tanto Tna T condição de investigado como Tna T de

TcondenadoT por sentença transitada em julgado.

GOULARTTPF

101FPT comenta

TP

100PT MORAES, , 2005, p. 28

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53

Não poderá haver julgamento senão por órgão

constitucional previamente determinado (inciso XXXVII);

somente a lei pode estabelecer tipos penais, ou seja, só ela

pode definir crimes, sendo vedada sua aplicação

retroativa (XXXIX, XL); "nenhuma pena passará da pessoa

Tdo T Tcondenado T, podendo a obrigação de reparar o dano

Te T a decretação Tdo T perdimento de bens ser, nos termos da

lei, estendidas aos sucessores Te T contra eles executadas, até

o limite Tdo T valor Tdo T patrimônio transferido" (XLV) etc. Além

dessas estipulações que atingem o âmbito penal, outras

aplicadas a segmentos diversos também podem ser

elencadas, tais como: a ampla defesa (LV); o devido

processo legal (LIV); a inviolabilidade da honra Te T da

imagem (X) etc.

Quanto ao cidadão, pode-se dizer que todos os

incisos Tdo T art. 5º estão dirigidos a ele, pois cidadão em sentido amplo Té T

aquele que está preso ou não, TéT o homem ou a mulher, TéT o que possui

bom ou mau caráter.

É como ensina Silva NetoTPF

102FPT, ao explicar o sentido

amplo Tdo T termo que

"[...] comporta desdobramentos que se afinam

propriamente ao Estado Democrático de Direito. Consagrar

o fundamento referente à cidadania em sentido amplo Té T

vincular o Estado à obrigação de destinar aos indivíduos

TdireitosT Te T TgarantiasT fundamentais, mui especialmente

aqueles relacionados a TdireitosT sociais."

KUEHNETPF

103FPT complementa os comentários do autor:

T101GOULART, José Eduardo, Princípios Informadores do Direito de Execução Penal, editora RT, 1994.

T102 SILVA NETO, 2005, p. 22

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Não se pode negar as TgarantiasT Te T os TdireitosT TprevistosT TnaT

Constituição Te T nas leis esparsas àqueles que cumprem, por

certo motivo, uma condenação, seja em que regime for

ou, se não privativa de liberdade, qualquer que seja a

restrição imposta.

3.2 DIREITOS E GARANTIAS PREVISTOS NOS TRATADOS E CONVENÇÕES

RATIFICADOS PELO BRASIL

Para uma visão mais abrangente do alcance da art 5°

da Constituição Federal do Brasil, ele se faz repetido:

Art. 5° todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros [...]

Com este determinante fica expresso que aos

nacionais,sejam estes ius solis ou ius sanguinis os direitos são equânimes

lhes protegendo de toda forma em todo o território nacional.

TRINDADETPF

104FPT adiante esmiúça em detalhes a especial

situação de quem não seja nacional do Brasil, trazendo vastas notas

explicativas sobre a existência, ou não, de norma legal que proíba

expressamente as mesmas benesses da LEP concedidas aos nacionais,

T103 KUEHNE, Maurício, Doutrina e Prática da Execução Penal, 2º edição, editora Juruá,

1995. p. 12

TP

104PT TRINDADE, Antônio Augusto Cançado Tratado de Direito Internacional dos Direitos

Humanos. V. I Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1999, p. 17.

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55

contudo há que se lembrar que o art. 4° da Lei 6.815/80 permite a entrada

legal em território brasileiro daqueles que sejam:

Art. 4° [...]

I – de trânsito;

II – de turista;

III – temporário;

IV – permanente;

V – de cortesia;

VI – oficial, e

VII - diplomático

Aos acima elencados o autor afirma desconhecer no

ordenamento jurídico brasileiro qualquer lei determinando expressamente

que os benefícios da LEP não possam ser outorgados a estrangeiros.

Elucida que o Código Penal não proíbe, o mesmo

acontece com a Lei nº 6.815180 (Estatuto do Estrangeiro), e com a Lei nº

7.210 (Lei de Execução Penal).

Aduz que

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Ainda que houvesse qualquer proibição nesse sentido, entende que, a partir de 06 de novembro de 1992, data em que, através do Decreto no 678 o Governo Brasileiro Promulgou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de São José da Costa Rica -, de 22.11.69, a mesma não mais teria aplicação, sob pena de configurar-se em discriminação, o que é expressamente vedado pelo art. 24 da referida convenção, que consagrou o princípio da igualdade jurídica, sem restrições.

No preâmbulo da Convenção Americana sobre

Direitos Humanos está expressamente consignado:

Reconhecendo que os direitos essenciais dos do homem não derivam da fato de ser ele nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção Internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos.

Neste diapasão, como não poderia deixar de ser, está

expressamente previsto no art. 24 da Convenção, o princípio da

igualdade jurídica, para pessoas que se encontrem na mesma situação

jurídica, assim entendida a situação fática determinada de acordo com o

direito tutelado pela norma legal aplicável à espécie.

Art. 24 – igualdade perante a lei.

Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte,

tem direito, sem discriminação, a igual proteção da lei.

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O constitucionalista LENZA TPF

105FPT explica que

Por força do § 2º do art. 50 da Constituição Federal, que os

direitos e garantias individuais previstos em tratados de que

o Brasil seja parte têm natureza constitucional, pois foram

ou são integrados ao ordenamento jurídico constitucional,

face ao mandamento previsto na referida norma, verbis:

Art. 51 - Omissis;

§2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição

não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios

por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a

República Federativa do Brasil seja parte.

Há, pois, em conclusão, que não há, assim, em tese,

impedimento à concessão das benesses da LEP a estrangeiro, que igual

ao nacional, seu pedido deve ser submetido à análise e decidido pelo Juiz

competente, de acordo com as normas legais que regem a segregação

dos apenados, ou seja: de acordo com o Código Penal e a Lei de

Execução penal.

SILVATPF

106FPT observa que na interpretação da norma

jurídica, deve-se fazer uma interpretação sistemática, de modo que cada

norma não seja interpretada e aplicada isoladamente, mas dentro de um

contexto maior, que é o ordenamento jurídico vigente.

TP

105PT LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 7. ed. Ver. Atual. E ampl. São

Paulo: Editora Malheiro, 2004. p. 316

TP

106PT SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16 ed. São Paulo:

Malheiros Editores, 1999, p. 169-169.

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Assim sendo, ao estrangeiro preso e condenado, não

se aplica o Estatuto do Estrangeiro. Este é aplicado ao estrangeiro que

esteja numa das situações definidas no mesmo e para o fim a que a

norma se destina.

Na posição de TRINDADETPF

107FPT, o entendimento é que:

O estrangeiro cumprindo pena no Brasil, a sua

permanência em nosso país é de excepcionalidade, não

estando disciplinada tal permanência no Estatuto do

Estrangeiro. Embora isto, ele permanece no Brasil, numa

situação de excepcionalidade. Tal permanência dá-se

única e exclusivamente em decorrência da sentença

condenatória. Deste modo a sua situação jurídica de

permanência no país não é regida pelo Estatuto do

Estrangeiro, que não prevê tal situação e sim pela Lei de

Execução Penal.

Finaliza: qualquer que seja a nacionalidade do preso,

a prisão, além de sua natureza expiativa também tem a função sócio-

educativa, sendo esta a mais importante, pois a pena não pode ser

encarada como vingança legal.

CUNHATPF

108FPT ilustra que

Com a promulgação do Pacto de São José da Costa Rica,

em 06.11.92, o princípio da igualdade jurídica perante a lei,

de acordo com o preâmbulo da Convenção e o art. 24 da

mesma, passou a vigorar sem qualquer restrição a

estrangeiros, razão pela qual, por ter natureza

TP

107PTTRINDADE. op. cit. p. 26-45

TP

108PTCUNHA. op. cit.. p.46

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59

constitucional e ser posterior à norma originária prevista no

caput do art. 50 da Constituição Federal, prevalece sobre

esta, pois é ampliativa de direitos fundamentais.

TRINDADE,TPF

109FPT enfim posiciona em termos finais

Em relação ao art. 40 do Decreto 98.961, embora

expressamente não haja proibição ao Juiz da vara de

Execução Criminal de conceder progressão, há uma

ameaça velada, indevida, que se constitui numa

violação ao princípio da independência e harmonia

entre os poderes, que não se coaduna com os

princípios do Estado Democrático de Direito, previstos

respectivamente no arts. 20 e 10 da Constituição

Federal.De acordo com a LEI DE EXECUÇÕES PENAIS,

somente ao Juiz da Execução cabe decidir sobre

progressão de regime e livramento condicional (art.

66, III, "b" e "e"). Mesmo, porém, que não fosse

permitido ao Juiz de Execuções deferir progressão ou

livramento condicional a estrangeiro, ainda assim a

norma seria atentatória ao principio da harmonia e

independência entre os poderes, consagrado no art.

211 da Constituição Federal, face à ameaça e

coação veladas que nela se contém. Qual, assim, a

conseqüência dessa determinação? Em decorrência

da autoridade da coisa julgada, referido regime de

cumprimento de pena não poderá ser alterado por

qualquer decisão judicial ou administrativa, a não ser

que, por ocasião da execução da pena, o apenado

dê motivo a regressão de regime. Ora, se o

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60

estrangeiro, de acordo com a gravidade do crime

pode iniciar o cumprimento de pena no regime

aberto, qual a razão lógico-jurídica para que não

possa progredir do fechado até o regime aberto, na

hipótese da prática de crimes cuja proibição também

não fosse imposta aos nacionais? E se é possível

outorgar-lhe o regime aberto, é preciso que tenhamos

a coragem e a grandeza de deixar a hipocrisia de

lado e reconhecer que no Brasil, salvo raríssimas

exceções, regime aberto e livramento condicional são

praticamente a mesma coisa, na medida em que não

há casas de albergados.

3.3 A LEI PENAL IMPOSTA E AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PRESO

O direito penal está intrinsecamente relacionado com

o artigo 5° caput da Constituição Federal de 1988, já que é sua função

ética/social, estabelecer normas jurídicas de caráter punitivo, á todos que

tentarem contra esses principio. Essas normas possuem como finalidade

manter a estabilidade do Estado Democrático de Direito, art.1º da mesma

Carta, direito esse que deve ser concedido todos, sem qualquer tipo de

distinção, pois a lei é igual para todos

TELLES JR, em seus apontamentos traz em comento:

Em 1824, a Constituição Federal Brasileira (CFB) nos art.179, incisos XIX, X,XXII, aboliram as penas infamantes, tais como: açoites, a tortura, a marca de ferro quente e as demais “penas cruéis”, assim prosperaram o princípio da personalidade da pena, eu a partir de então passou a não poder passar da pessoa do delinqüente. Essa foi a primeira garantia explicita na Constituição e o demais direitos ao longo do tempo foram progredindo.

TP

109PT TRINDADE. op. cit. p. 60-62

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61

Esses preceitos são denominados bens jurídicos, ou

seja, bens que protegem a vida, a saúde, a integridade física moral, os

bens patrimoniais e outros valores. Contudo, fácil concluir que a

severidade do direito penal ao longo dos anos, faz com que a função de

reeducar não tenha aplicabilidade, apenas o torna um poder punitivo e é

essa a proposta que se quer se aborda, o desenvolvimento das garantias

penais dos direitos fundamentais, inerentes ao preso

CAPEZTPF

110FPT refere-se à norma penal não como uma

simples discriminadora de normas, que não tem referência colidindo com

a CFB, mas sim, como um conjunto de normas que delimitam o

comportamento humano que realmente possam lesividade social.

Logo, conclui-se que o Estado deve respeitar os

direitos do individuo, mas precisa também limitá-lo, em nome da

democracia, pois manter o equilíbrio entre o direito isolado e um cidadão

e o direito á segurança da sociedade, é preciso um sistema e garantias e

limitações.

O Garantismo Penal opera como uma doutrina

jurídica de legitimação e perda da legitimação interna do direito penal,

dando uma visão crítica aos juízes e juristas sobre as leis vigentes.

ARAGÃOTPF

111FPT esclarece:

O Garantismo Penal opera como uma doutrina jurídica de legitimação e perda da legitimação interna do direito penal, dando uma visão crítica aos juízes e juristas sobre as leis vigentes.

TP

110PTCAPEZ, Fernando. Curso de Direto Penal. Parte geral, V.1.6ª ed. São Paulo. Saraiva,

2003.p.247 TP

111PT ARAGÃO, Eugenio José Guilherme. Painel II- A incorporação ao Direito Interno de

instrumentos jurídicos de Direito Internacional Humanitário e Direito Internacional dos Direitos Humanos. Disponível na Internet via HTwww.URLTH: HThttp://www.cjf.gov.br/numero 11/painel II-3.htm. Acessado em 23/11/2008 TH.

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62

A obra de Luigi Ferrazoli “Direto e a Razão”, onde ele estabelece um Estado Democrático, a fim de resolver um modelo normativo e pratico e operativo. Seu inicio se deu no Direto Penal Italiano, tendo em vista o fato de que naquele modelo penal havia uma grande divergência entre normativismo e o modelo prescritivo. Diante dessa grande discordância surge o garantismo como uma solução das diferenças culturais e jurídicas, em defesa do Estado Democrático de Direito, requerendo as garantias e as justificações para uma sociedade com bem e direitos em comum. O garantismo penal é uma das teorias mais consistentes nesse sentido, pois seu foco é o individuo e violação de seus direitos, esses tutelados não só pela CFB, mas também pelos Direitos Humanos e Legislação Complementar.

O direito penal se tornou segregado, pois grande

parte da massa carcerária se faz de pobres, negros e homens com baixa

escolaridade, o censo presidiárioTPF

112FPT nos revela que 6% dos presos são

analfabetos, sendo que o art. 18 da LEP 7.210/84 garante que o ensino de

primeiro grau deveria ser obrigatório, integrando-se no sistema escolar da

unidade federativa, quando na realidade 75% possuem o ensino

fundamental incompleto, somente 7% tem fundamental completo, 7%

realizam o ensino médio incompleto, apenas 4% completaram o ensino

médio completo, 1% possui superior incompleto. Todas essas informações

são dados de uma estatística realizada para se ter á exata noção do

quadro penitenciário no Brasil.

O direito penitenciário é o complemento necessário e

natural da lei penal, no que respeita á execução das penas. A

recuperação dos condenados e a sua reinserção social são ou deve ser

um dos objetivos das penas privativas de liberdade.

Então, por essa razão fica proibido usar na execução

das penas quaisquer processos de rigor desumano ou inútil, devendo os

presos serem tratados com justiça e humanidade, de forma a que não

tenham seus direitos desrespeitados.

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63

3.4 DIREITOS E GARANTIAS PREVISTOS NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

O ordenamento jurídico brasileiro dispões através da Lei

de Execuções Penais quais são os direitos do preso, concretizando, ainda

que de forma apenas literal, as garantias constitucionais do cidadão.

GOULARTTPF

113FPT reflete o espírito da Lei de Execução

Penal ao objetivar humanizar os institutos penalizadores no Brasil: à medida

que o tempo passa e a sociedade evolui menos cruéis vão se tornando as

penas infligidas pela sociedade ao delinqüente, e maiores garantias se lhe

vão acrescentando.

Por outro lado ALVIMTPF

114FPT, em tom de criticas a situação

caótica que se encontra a questão prisional no país opina:

Apesar de a legislação vigente preconizar o tratamento

humanitário e a igualdade de direitos, curiosamente, as

estatísticas apontam que a maior parte da massa

carcerária é proveniente das camadas mais pobres da

sociedade. Como sistema, a prisão é uma instituição quase

falida. Sua manutenção somente se justifica diante da

impossibilidade do convívio social de criminosos de alta

periculosidade. O alto custo de manutenção dos presídios

afeta um Estado que tende a ser mínimo, vivendo ás voltas

com um déficit público contínuo. Prédios imensos

demandam vultosas quantias para construção e

conservação, pessoal especializado para guarda, controle

e reeducação dos presos. Difícil imaginar-se um gasto

público nesse setor, quando se encontra sucatado o

ensino, a rede hospitalar e a segurança da sociedade.

TP

112PT Citado no capitulo 2

TP

113PT GOULART, José Eduardo, Princípios Informadores do Direito de Execução Penal, editora

RT, 1994

TP

114PT ALVIM, Rui Carlos Machado, O trabalho penitenciário e os direitos sociais, São Paulo:

Atlas, 1991. p 179

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64

Na mesma corrente de indignação D’Urso,TPF

115FPT em seu

artigo publicado no jornal O Estado de São PauloTPF

116FPT teceu sérias

considerações sobre o mesmo assunto, concluindo por chamar a atenção

das autoridades responsáveis, quando diz com propriedade que os

governantes meditem, pois a trajetória obrigatória desse Titanic nacional é

o encontro fatal com o iceberg da situação insustentável revelando o

caos [...]

No que se refira a materialidade dos direitos e

garantais do preso, a Lei de Execução Penal – LEP – no Titulo II, Capítulos I

e II dispõe das prerrogativas protetivas daquele que sofreu as sanções

punitivas do Estado.

NOGUEIRATPF

117FPT expõe no Titulo I, o mandamental do

artigo 1° da Lei 7.210/84, que norteia toda a aplicação da lei que visa a

proteção daqueles que sofreram as sanções que limitam a liberdade:

Art. 1° A execução penal tem por objetivo efetivar as

disposições de sentença ou decisão criminal e

proporcionar condições para a harmônica integração

social do condenado e do internado.

Na concepção de MIRABETETPF

118FPT, na execução penal

deve ser observado o princípio da reserva legal, que põe termo à

insegurança e incerteza do apenado que fica submetido a sistema de

regras disciplinar variável conforme a conveniência do diretor de cada

estabelecimento prisional.

TP

115PT D’Urso apud Nogueira Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal: Lei n°

7.210/84. 3 ed.rev. ampl.-São Paulo,: Saraiva, 1996. p. 13 TP

116PT Superpopulação de prisões se agrava em todo o País. 31, out, 1990

TP

117PT NOGUEIRA, op. cit. p.3.

TP

118PT MIRABETE, Julio Fabbrini. Das faltas disciplinares, das sanções e das recompensas.

Execução Penal. 6. ed. Atlas, 1996. p. 136-151.

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65

Os direitos dos presos estão elencados no art. 41 da Lei de

Execução Penal.

Menciona o referido artigo da LEP TPF

119FPT.

Art. 41 - Constituem direitos do preso:

I - alimentação suficiente e vestuário;

II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

III - Previdência Social;

IV - constituição de pecúlio;

V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho,

o descanso e a recreação;

VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas

e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução

da pena;

VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e

religiosa;

VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em

dias determinados;

XI - chamamento nominal;

XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da

individualização da pena;

XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;

XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa

de direito;

XV - contato com o mundo exterior por meio de

correspondência escrita, da leitura e de outros meios de

informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob

pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.

(Incluído pela Lei nº 10.713, de 13.8.2003).

TP

119PT Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984

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66

Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV

poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do

diretor do estabelecimento.

Não obstante, apesar de a LEP estabelecer vários direitos

ao preso, a situação fática é bastante dramática, sendo que o panorama atual

reflete o descaso que as autoridades e a sociedade tratam as pessoas

provenientes das camadas inferiores e estas, são as que estão em maiores

números no presídio. TPF

120FPT

3.4.1 Alimentação suficiente e vestuário

A alimentação e o vestuário, também são um direito do

preso e estão presentes na Lei de Execuções Penais.

O art. 12, da LEP menciona:

Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá

no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações

higiênicas.

Nesse sentido, JÚNIORTPF

121FPT menciona:

A alimentação balanceada e de boa qualidade é importante não

só porque é direito do preso, mas também porque possibilita a

preservação da disciplina interna do estabelecimento

penitenciário. São freqüentes as rebeliões decorrentes da

insatisfação dos presos com a alimentação que lhes é oferecida.

O inciso I, do art. 41, da Lei de Execução Penal, também

trata sobre a alimentação e vestuário.

TP

120PT JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 115

TP

121PT JÚNIOR, op. cit p. 79

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67

Art. 41 - Constituem direitos do preso

I - alimentação suficiente e vestuário;

Nesse sentido, MIRABETE TPF

122FPTmenciona:

Deve a administração, assim, de um lado, proporcionar ao preso

alimentação controlada, convenientemente preparada e que

corresponda em quantidade e qualidade às normas dietéticas e

de higiene, tendo em conta o seu estado de saúde e, de outro,

vestuário apropriado ao clima, para que não lhe seja disposto nas

Regras Mínimas da ONU (nºs 20.1 e 20.2) e é regulado no

artigo 12, que dispõe sobre a assistência material (item

2.15).

Apesar de ser fornecida a alimentação aos presos, permite-

se a entrada de pequenas quantidades de produtos alimentícios nos

estabelecimentos penais trazidas por familiares nos dias de visitas. O fato de ser

permitida a entrada de alimentação, não deve ser entendida como uma

desobrigação do Estado e fornecer alimentação aos presos, pois não deve ser

transferida, essa obrigação, aos familiares. TPF

123FPT

3.4.2 Atribuição de trabalho e sua remuneração

A Constituição Federal, em seu art. 6º, define o trabalho

como um dos “direitos sociais”:

Dispõe o referido artigo:

Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na

forma desta Constituição.

TP

122PT MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 117.

TP

123PT JÚNIOR, op. cit. p. 79.

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68

O objetivo da instituição prisional de aplicar as atividades

que desenvolva a habilidade dos presos através do trabalho é em relação a

responsabilidade à vida deles, uma obrigação constitucional. TPF

124FPT

COSTATPF

125FPT menciona ainda:

Desenvolver significa também ajudar a capacidade natural de

cada um a crescer, remover obstáculos para permitir que o

indivíduo leve sua capacidade ao limite máximo. Desenvolver

significa elevar a capacidade dos presos e promover sua

automotivação.

Há três métodos diferentes de se iniciar este processo. O

primeiro é examinar os níveis de capacidade dos presos em suas posições atuais

e acrescentar novas tarefas aos seus serviços, antes que se tornem rotineiros ou

sem desafios. O segundo é levantar o nível de habilidade, colocando-o em

posições diferentes. E o terceiro é ao colocá-los em novas posições, dar-lhe a

oportunidade de crescimento profissional.

MIRABETETPF

126FPT ensina que:

Como o preso, por seu status de condenado em cumprimento de

pena privativa de liberdade, não pode exercer a atividade

laborativa em decorrência da limitação imposta pela sanção,

incube ao Estado o dever de atribuir-lhe o trabalho que deve

realizar no estabelecimento prisional.

SÁTPF

127FPT também menciona sobre o assunto:

TP

124PT COSTA, Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração do detento. p. 71.

TP

125PT COSTA, op. cit. p. 71.

TP

126PT MIRABETE, op. cit p. 117

TP

127PT SÁ. Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos. p. 26.

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69

A difusão da pena privativa de liberdade e a conseqüente

proliferação das prisões fazem surgir, simultaneamente, políticas

e práticas penais para reeducar vadios, infratores e delinqüentes.

E entre as técnicas disciplinares inclui-se o trabalho prisional.

O ponto principal no desenvolvimento do preso é confiar-lhe

responsabilidade. As pessoas aprendem através da tentativa de erro, e ampliam a

sua habilidade. TPF

128FPT

3.4.3 Proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o

descanso e a recreação.

Os momentos de repouso são necessários, pois depois da

atividade laborativa, no caso do trabalho, exige esforço, e a intensidade ou a

duração dele produz um estado físico ou psíquico de tensão e fadiga. TPF

129FPT

A recreação entra quando o preso não ocupa seu tempo

como deveria, nesse caso MIRABETETPF

130FPT explica:

Mesmo provendo uma jornada normal de trabalho entre seis

horas e considerando também os períodos de descanso, o preso

dispõe de bastante tempo livre nas prisões, normalmente

destinado ao ódio. Este, considerado a “mãe de todos os vício”

produz efeitos deletérios (indolência, preguiça, egoísmo,

desocupação, jogo, contágio moral, desequilíbrio), num conteúdo

antiético que pode lançar por terra as esperanças do

reajustamento social do condenado. Deve-se portanto, ocupar o

tempo livre do preso, impedindo o ócio, através da recreação.

A recreação é o lazer-distração, atividade que repousa ou

que proporciona salutar fadiga propícia para o repouso. Ela é recomendada para

o bem-estar físico e mental dos presos.TPF

131FPT

TP

128PT COSTA, Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração social do dentento.. p. 69.

TP

129PT MIRABETE, op. cit. p. 119.

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70

Entre os meios de recreação destaca-se o esporte, a

ginástica, pois contribui também para a disciplina e a elevação moral do preso,

para o desenvolvimento de virtudes individuais e sociais, tais como lealdade,

serenidade, espírito de equipe ou colaboração, etcTPF

132FPT.

3.4.4 Assistência material, à saúde , jurídica, educacional, social e religiosa

O condenado ou qualquer pessoa é passível de contrair

doenças.

A prisão vista como instituição de execução da pena

privativa de liberdade ou da medida de segurança pretende cercar os

sentenciados dos cuidados necessários à satisfação das mínimas exigências,

requeridos pelos padrões de vida de um cidadão comum.TPF

133FPT

Nesse sentido, MIRABETETPF

134FPT menciona que “É possível,

também, que uma doença esteja latente e venha manifestar-se após a prisão,

seja pela sua natural evolução, seja o ambiente do estabelecimento penal influi,

no todo ou em parte, para a sua eclosão ou desencadeamento”.

NOGUEIRATPF

135FPT também menciona:

Atualmente, com a incidência da AIDS, a situação nos presídios

tem-se agravado, pois além de não haver estabelecimento

adequado a esse tipo grave de doença, não existe também

pessoal especializado para cuidar dos doentes.

TP

130PT MIRABETE, op. cit. p. 119

TP

131PT MIRABETE,op. cit. p 119

TP

132PT MIRABETE, op. cit. p. 119

TP

133PT SÁ.op. cit. .p 120.

TP

134PT MIRABETE,op. cit.. p.70

TP

135PT NOGUEIRA. op. cit p. 21.

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71

É conhecida como psicose carcerária, constituída de

sintomas, síndromes e estados patológicos provocados ou desencadeados pela

própria natureza da situação carcerária da qual fazem parte: atmosfera opressiva,

resultante dos sentimentos negativos como rancor, raiva, vingança tristeza, como

também, as más condições de higiene, alimentação, vestuário, etc.TPF

136FPT

A assistência médica prevê dois aspectos: um preventivo e

outro curativo. O primeiro relaciona-se com as medidas de higiene, dietas

alimentícias e controle dos presos submetidos aos regimes disciplinares. O

segundo refere-se à assistência médica diária para o diagnóstico e tratamento

dos enfermos da prisão ou hospital psiquiátrico. TPF

137FPT

Já sobre a assistência jurídica, MIRABETETPF

138FPT ensina que:

Nos casos em que a ação penal em andamento, o advogado

poderá interferir diretamente no andamento do processo e

contribuir para uma sentença absolutória e, em havendo

sentença condenatória, poderá propor e encaminhar devidamente

a apelação.

Nesse sentido, dispõe os arts. 15 e 16 da LEPTPF

139FPT:

Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos

internados sem recursos financeiros para constituir advogado.

Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de

assistência jurídica nos estabelecimentos penais.

A assistência jurídica deve ser prestada não só aos presos

e aos internados, mas principalmente aos acusados, na fase probatória ou

instrutória de processo-crimes. A grande maioria da população carcerária não

TP

136PT MIRABETE, op. cit. p.70

TP

137PT MIRABETE, op. cit. p.71

TP

138PT MIRABETE, op. cit. p.73-74.

TP

139PT LEP

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72

possui advogado particular e fica esquecida nos estabelecimentos

penitenciários. TPF

140FPT

A assistência educacional compreenderá a instrução

escolar e a formação profissional, com o ensino de primeiro grau sendo

obrigatório.

Assim, dispõem os artigos 17, 18, 19, 20 e 21 da LEP:

Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução

escolar e a formação profissional do preso e do internado.

Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no

sistema escolar da Unidade Federativa.

Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de

iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional

adequado à sua condição.

Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de

convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem

escolas ou ofereçam cursos especializados.

Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada

estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as

categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e

didáticos.

Já a assistência social é disciplinada nos artigos 22 e 23 da

Lei de Execução Penal:

Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e

o internado e prepará-los para o retorno à liberdade.

TP

140PT NOGUEIRA. op. cit. P. 22.

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73

Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;

II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os

problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das

saídas temporárias;

IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a

recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do

cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu

retorno à liberdade;

VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da

Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso,

do internado e da vítima.

A aplicação do serviço social no campo penitenciário tem

por fins paliativo, curativo, preventivo e construtivo. O paliativo é quando procura

aliviar os sofrimentos advindos do status de condenado. Já o curativo busca

propiciar condições para que o preso viva equilibradamente e, quando recuperada

a liberdade, não volte a delinqüir. O preventivo visa esclarecer os obstáculos para

a reinserção dos egressos no meio social e por fim, o construtivo visa melhorar as

condições de vida dentro e fora da prisão. TPF

141FPT

A LEP preceitua:

Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será

prestada aos presos e aos internados, permitindo-se-lhes a

participação nos serviços organizados no estabelecimento penal,

bem como a posse de livros de instrução religiosa.

§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos

religiosos.

§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar

de atividade religiosa.

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74

Sobre a assistência religiosa, JÚNIORTPF

142FPT comenta:

A religião exerce uma significativa influência no presídio,

contribuindo para a reintegração de muitos condenados.

Outrossim, em face da esperança de que haverá um futuro feliz e

eterno, a disciplina do condenado que se torna seguidor de

alguma religião é significamente melhor. Não bastasse, há uma

proteção dos membros dos grupos religiosos àqueles que se

unem ao grupo. Tal proteção faz com que o ambiente interno do

estabelecimento prisional se torne melhor, mais pacífico.

MIRABETETPF

143FPT também menciona:

Como o homem é um ser ético, tem necessidade espirituais das

quais pode ou não ter consciência. Se tiver essa consciência,

deverá satisfazê-la e o Estado deverá atendê-lo; se não tiver,

podem ser-lhe oferecidos os socorros espirituais ou da religião,

permitindo-se que os aceite ou recuse.

A tentativa de reformar o preso através da religião é antiga,

pois foi encontrada desde a época do Império Romano. A idéia de que clérigos ou

monges fossem recolhidos às suas celas nos mosteiros da Idade Média para se

dedicarem à meditação e a se arrependerem da falta cometida.

Ainda sobre o assunto MIRABETE TPF

144FPT menciona:

Em pesquisa efetuada nos diversos institutos penais

subordinados à Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo por

um grupo de trabalho instituído pelo então secretário Manoel

Pedro Pimentel, concluiu-se que a religião tem,

comprovadamente, influência altamente benéfica no

comportamento do homem encarcerado e é a única variável que

TP

141PT JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 91-92.

TP

142PT JÚNIOR, Sidio op. cit.. p. 93.

TP

143PT MIRABETE, op. cit. p. 85.

TP

144PT MIRABETE, op. cit. p. 86.

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75

contém em si mesma, em potencial a faculdade de transformar o

homem encarcerado ou livre.

Para que as finalidades do serviço de assistência religiosa

alcance os seus objetivos, é preciso que se integrem na organização de todos os

serviços penitenciários, razão pela qual devem ser eles organizados pelo próprio

estabelecimento penal, impedindo assim, que o trabalho penitenciário seja

pertubado. TPF

145FPT

Com a presente pesquisa pode-se observar que as

garantias legais previstas durante a execução da pena, assim como os

direitos humanos do preso estão previstos em diversos estatutos legais.

Em nível mundial existem várias convenções como a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Americana de

Direitos e Deveres do Homem e a Resolução da ONU que prevê as Regras

Mínimas para o Tratamento do Preso.

Em nível nacional, nossa Carta Magna reservou 32

incisos do artigo 5º, que trata das garantias fundamentais do cidadão,

destinados à proteção das garantias do homem preso.

Existe ainda em legislação específica - a Lei de

Execução Penal - os incisos de I a XV do artigo 41, que dispõe sobre os

direitos infraconstitucionais garantidos ao sentenciado no decorrer na

execução penal.

D’URSO TPF

146FPT em voz de critica sintetiza:

O que tem ocorrido na prática é a constante violação dos

direitos e a total inobserváncia das garantias legais

previstas na execução das penas privativas de liberdade. A

partir do momento em que o preso passa à tutela do

Estado ele não perde apenas o seu direito de liberdade, mas

TP

145PT MIRABETE, op. cit.p. 87.

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também todos os outros direitos fundamentais que não foram

atingidos pela sentença, passando a ter um tratamento

execrável e a sofrer os mais variados tipos de castigos que

acarretam a degradação de sua personalidade e a perda

de sua dignidade, num processo que não oferece

quaisquer condições de preparar o seu retorno útil à

sociedade.

BITENCOURT TPF

147FPT complementa:

Cabe ressaltar que o que se pretende com a efetivação e

aplicação das garantias legais e constitucionais na execução da

pena, assim como o respeito aos direitos do preso, é que seja

respeitado e cumprido o princípio da legalidade, corolário do

nosso Estado Democrático de Direito, tendo como objetivo maior

o de se instrumentalizar a função ressocializadora da pena

privativa de liberdade, no intuito de reintegrar o recluso ao meio

social, visando assim obter a pacificação social, premissa maior

do Direito Penal.

O que se pretende do Estado é garantir que sejam

asseguradas aos presos as garantias previstas em lei durante o

cumprimento de sua pena privativa de liberdade não é o de tornar a

prisão num ambiente agradável e cômodo ao seu convívio, tirando dessa

forma até mesmo o caráter retributivo da pena de prisão.

No entanto, enquanto o Estado e a própria sociedade

continuarem negligenciando a situação do preso, não apenas a situação

carcerária, mas o problema de segurança pública e da criminalidade

como um todo tende apenas a agravar-se.

TP

146PT D’URSO, Luiz Flávio Borges. Privatização de Presídios. Revista Consulex. Ano III, n. 31, p.

44-46, Jul. 1999. TP

147PT BITENCOURT, Cézar Roberto. Falência da pena de prisão. 3. ed. Revista dos Tribunais.

São Paulo, 1993.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa abordou a questão dos direitos e

garantias do preso no ordenamento jurídico brasileiro

No 1º capítulo abordou-se sobre o sistema penal e sua

evolução, as fases do Direito punitivo ao longo da história da humanidade

e seus princípios norteadores.

No 2º capítulo abordaram-se o sistema prisional e os

regimes de cumprimento de pena em vigor no ordenamento jurídico

brasileiro.

No 3º e último capítulo abordou-se sobre os direitos dos

presos constantes nos Tratados e Convenções ratificados pelo Brasil, as

garantias constitucionais e infraconstitucionalmente os direitos dispostos na

Lei de Execução Penal que vigora no Brasil aos que cumprem pena e a

falta de condições para se efetivar os direitos estabelecidos que

culminariam na verdadeira e almejada ressocialização.

Por fim, retomam-se as hipóteses elencadas na

introdução:

1ª Hipótese: Restou confirmada, tendo em vista que,

segundo os estudos doutrinários, a pena passou por

várias fases em sua evolução, da mais drástica forma

de punição à menos severa que vigora nos dias atuais.

2ª Hipótese: Restou confirmada, tendo em vista que a

Lei de Execução Penal juntamente com o Código

Penal, para cada regime de cumprimento de pena

(fechado, semi-aberto e aberto) indica um

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determinado estabelecimento prisional adequado às

suas peculiaridades.

3ª Hipótese: Restou confirmada diante da pesquisa

doutrinária realizada, pois há unanimidade no sentido

de que, apesar das disposições sobre os direitos e

garantias do preso, desde Tratados e Convenções

ratificados pelo Brasil, as disposições na Constituição

Federal e na norma infra constitucional, não se vê

efetividade na prática.

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