universidade do vale do itajaÍ centro de …siaibib01.univali.br/pdf/patricia madalozzo...

66
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA PATRÍCIA MADALOZZO TEIXEIRA DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS E REPERCUSSÕES EMOCIONAIS: um estudo exploratório Itajaí, (SC) 2006

Upload: trinhbao

Post on 02-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

PATRÍCIA MADALOZZO TEIXEIRA

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS E REPERCUSSÕES

EMOCIONAIS: um estudo exploratório

Itajaí, (SC) 2006

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

1

PATRÍCIA MADALOZZO TEIXEIRA

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS E REPERCUSSÕES

EMOCIONAIS: um estudo exploratório

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profª. Giovana Delvan Stühler

Itajaí (SC), 2006

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a toda minha família por estar presente, me

apoiando em todos os momentos. Em especial meu pai, que teve papel fundamental

na realização desta monografia, o qual esta sempre do meu lado.

A minha orientadora Profª. Giovana Delvan Stühler, por seu conhecimento,

seu profissionalismo e compreensão que foram essências para a conclusão deste

estudo.

As minhas amigas, Karina, Cristiane, Leca e Mariana que mais uma vez foram

muito especiais e me apoiaram em mais essa etapa da minha vida.

As professoras que aceitaram participar da banca, Profª. Maria Celina Ribeiro

Lenzi e Profª. Josiane Aparecida Ferrari de Almeida Prado, por suas contribuições e

disponibilidade para o término deste estudo.

Enfim, gostaria de agradecer a todos que de alguma forma contribuíram

nessa caminhada.

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................05 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................08 2.1 Processo saúde-doença......................................................................................08 2.2 Doença inflamatória intestinal (DII) .....................................................................11 2.2.1 Classificação ....................................................................................................12 2.2.2 Etiopatogenia ...................................................................................................12 2.2.3 Quadro clínico ..................................................................................................12 2.2.4 Tratamento .......................................................................................................14 2.3 Repercussões psico-sociais dos portadores de DII.............................................16 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................21 3.1Trajetória da pesquisadora................................................................................... 21 3.2 Sujeitos da pesquisa ...........................................................................................22 3.3 Instrumento .........................................................................................................23 3.4 Coleta de dados ..................................................................................................23 3.5 Análise e discussão dos dados ...........................................................................24 3.6 Procedimentos éticos ..........................................................................................25 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................26 4.1 Apresentação e interpretação dos dados............................................................31 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................52 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................56 7 ANEXOS ................................................................................................................60 8 APÊNDICES...........................................................................................................61

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

4

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS E REPERCUSSÕES EMOCIONAIS: um estudo exploratório

Acadêmica: Patrícia Madalozzo Teixeira Orientadora: Giovana Delvan Stühler Defesa: novembro de 2006

Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo geral identificar as repercussões emocionais nos pacientes portadores de doenças inflamatórias intestinais (DIIs). Estas dividem-se principalmente em dois grupos: Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI) e Doença de Crohn (DC). Ambas caracterizam-se por processo inflamatório intestinal e têm como peculiaridade a cronicidade e ausência de cura até o presente momento. Sua etiopatogenia ainda é indefinida, embora considerada de caráter multifatorial. Participaram desse estudo, seis pacientes portadores de DIIs, sendo três pacientes diagnosticados com RCUI e outros três pacientes diagnosticados com DC. O instrumento utilizado para coleta de dados foi uma entrevista semi-estruturada. Na análise foram selecionadas noventa unidades de registro distribuídas em seis categorias: Os Sintomas, que contém as manifestações verbalizadas pelo indivíduo de um desconforto, informações essas que auxiliam na constatação da situação orgânica e psíquica; A Doença, que evidencia o conhecimento que os pacientes possuem acerca da DII; Os Antecedentes das Doenças que mostram o estilo de vida, costumes, atividades realizadas pelos pacientes antes do diagnóstico de DII; As Conseqüências das Doenças que demonstra as restrições e mudanças decorrentes dos DII(s) na vida de seus portadores; O Tratamento, que refletem acerca da sensação de impotência dos pacientes frente à doença, dos conhecimentos que possuem sobre medicações, exames, alimentação; Os Sentimentos, que expressam angustia, nervosismo, medo, ansiedade, entre outros, presentes ou não desde o momento que é identificado o diagnóstico de DII. As categorias: Os Sentimentos e As Conseqüências da Doença obtiveram um maior número de unidades de registro. Os resultados demonstraram que as repercussões emocionais podem influenciar o quadro clínico dos pacientes com DIIs; que há uma diversidade de emoções que abalam pacientes de DIIs, sendo a depressão a repercussão emocional que predominou entre os sujeitos entrevistados; assim como a importância da relação médico-paciente para o sucesso do tratamento. Palavras-chaves:doenças inflamatórias intestinais, repercussões emocionais, saúde.

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

5

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é referente à conclusão do Curso de Psicologia da Universidade

do Vale do Itajaí e teve como campo de investigação a análise específica de

pacientes portadores de Doença Inflamatória Intestinal (DII), patologia de relevada

importância na prática médica e cujo problema central reside na cronicidade e na

ausência de tratamento curativo até o presente momento.

Embora se dividam em patologias distintas constituídas em grupos e sub-

grupos, na presente pesquisa optou-se por fixar o estudo nas duas principais

doenças inflamatórias intestinais crônicas: Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI)

e Doença de Crohn (DC). Pois, durante o curso das DII(s), ambas provocam um

estigma semelhante entre seus portadores, devido um grande abalo emocional na

vida dos mesmos.

A realização desta pesquisa surgiu pelo fato de que, além da pesquisadora

pertencer a uma família de médicos, sempre mostrou interesse pela área da saúde.

Assim, de longa data a mesma observa comentários sobre doenças, tratamentos

referentes às Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), suas manifestações e,

principalmente, o sofrimento destes pacientes. Na seqüência, após tomar

conhecimento mais técnico, e ter acesso à literatura médica, passou a desenvolver

curiosidade sobre este inusitado universo do sofrimento humano.

É sabido que as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) têm etiologia ainda

indefinida, considerando-se como possivelmente multifatorial e secundária a causas

genéticas, imunológicas e ambientais. No entanto percebe-se haver, com freqüência,

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

6

influência do estado emocional dos pacientes, na evolução da patologia (DAMIÃO,

2000).

Clinicamente estes pacientes sofrem importantes distúrbios nutricionais,

diarréias freqüentes e persistentes, dores, hipertermia, hemorragias, estenoses,

fístulas, abscessos, fissuras e, ainda mais grave, risco de doença tumoral maligna

(QUILICI, 2002).

Acrescente-se, ao citado, a problemática social e de relacionamentos

interpessoais causada pelo estigma do estado permanente de doença. Há que se

considerar que ao lado de cuidados medicamentosos torna-se de vital importância

uma adequada abordagem dos distúrbios da emocionalidade em toda sua gama de

variáveis. A literatura demonstra de forma clara a importância do contexto

psicológico no agravamento ou recidivas das crises inflamatórias. Trabalhos médicos

evidenciaram que, diante de manifestações ansiosas pode ocorrer aumento da

peristalse intestinal com conseqüente piora sintomática. Há suficientes

comprovações cientificamente demonstradas da relação da psique e o soma. Sabe-

se também que pessoas depressivas podem ter prejudicado seu sistema

imunológico (JEAMMET et al., 2000).

Observa-se que na maioria absoluta dos pacientes tratados há oferta de

cuidados médicos, sejam medicamentosos ou cirúrgicos. Mas, é deficiente a atenção

ao estado emocional dos mesmos. Ora, havendo tantas observações da influência

do psiquismo na evolução da doença, com agravamentos, recidivas ou mesmo

melhoras, justifica-se a proposta deste trabalho pela observação fática de casos

clínicos que, se previamente identificados no âmbito emocional, certamente

poderiam ter evolução clínica mais favorável. No exercício do atendimento médico

observam-se pacientes cuja história emocional coincide com a eclosão da doença ou

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

7

influencia sua evolução.

A realização desta pesquisa teve como objetivo identificar as repercussões

emocionais nos pacientes portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais, a qual

será apresentada da seguinte forma: no capítulo referente à fundamentação teórica

será abordado o processo saúde-doença, aspectos da classificação das DIIs, sua

etiopatogenia, quadro clínico, seu tratamento, assim como as repercussões psico-

sociais dos portadores de DII. Em seguida, serão apresentados os procedimentos

metodológicos, contendo características dos sujeitos, a descrição do instrumento

utilizado, os procedimentos para coleta de dados e para análise e discussão dos

mesmos. No capítulo referente à apresentação e discussão dos resultados,

aparecerão as categorias encontradas e a discussão dos resultados fundamentados

teoricamente. Concluindo então, as considerações finais buscando realizar a

interpretação dos dados analisados.

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

8

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Processo saúde-doença

Inicialmente torna-se importante esclarecermos o conceito de saúde. O

entendimento moderno de saúde engloba valores que extrapolam o plano psíquico e

somático. É óbvia a compreensão dos pensadores gregos antigos de que, para ter-

se um corpo bom é necessário também, e paralelamente, um devido equilíbrio da

emocionalidade. O inverso adequa-se perfeitamente no âmbito deste raciocínio. No

entanto, outros elementos fazem parte de um contexto maior indivisível para atingir-

se verdadeiro e pleno estado de sanidade. Etimologicamente saúde significa são,

inteiro, salvo, palavras derivadas de saluus, solidus e soldus, originadas do latim.

Para REZENDE (1989), a concepção de saúde busca em relação ao físico, a

adaptação do homem ao ambiente, e a doença seria a desadaptação e o mal estar.

Na área mental a adaptabilidade acaba sendo mais freqüentemente empregada,

utilizando as expressões adaptação psíquica e maturidade psíquica, supondo o

ajustamento aos modos desejáveis de vida. Na área social, buscar a saúde como

adaptação é negar a criatividade e a existência de conflitos. Surgiu, por ocasião da

VIII Conferência Nacional de Saúde no ano de 1986 conceito mais ampliado que

passamos a descrever: “Saúde é o resultante das condições de educação, renda,

meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso aos serviços

de saúde” (MINAYO, 1992, p.10).

Para REZENDE (1989, p.87), “saúde é uma postura humana ativa e dialética

frente às permanentes situações conflituosas geradas pelos antagonismos entre o

homem e o meio”.

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

9

Ora, se bem definido o conceito de saúde como estado derivado de múltiplos

valores e necessidades essenciais tais como bem estar físico e emocional, moradia,

emprego e renda justos, liberdade e tantos outros elementos indivisíveis, pode-se

concluir que doença diz respeito ao estado derivado de qualquer contrariedade à

coexistência destas múltiplas variáveis.

O vocábulo doença deriva do latim como dolentia, tendo sentido de processo

mórbido (PACIORNIK, 1969). Com o evoluir do tempo às pressões sociais, de

classes, sociedades profissionais e representações políticas, houve progressiva

inclusão social do homem, respaldada e amparada pelos tratados constitucionais.

Cada ser humano está intimamente relacionado com a doença, quer ela seja

vista como ameaça potencial, como realidade a ser vivida para si ou como

sofrimento de um ser querido. A doença adquire necessariamente sentido na história

da pessoa (JEAMMET et al., 2000).

No âmbito social e cultural há duas grandes correntes: a primeira refere-se a

uma concepção ontológica de doença que confere-lhe uma existência autônoma e a

segunda que considera a doença como uma reação do organismo e do indivíduo na

sua totalidade a uma perturbação de seu equilíbrio (JEAMMET et al., 2000).

Secular é o conhecimento da psique e do soma. O ser humano é o conjunto

de corpo e mente, indivisíveis e interreagentes. É fundamental distinguir alguns

elementos conceituais. As manifestações psíquicas de algumas afecções orgânicas

diferem do conceito restritivo de psicossomático.

Alguns autores consideram alcoolismo, tabagismo, toximania, restrição

alimentar voluntária e outras manifestações, como pertencentes às doenças

tipicamente psicossomáticas, mas entendemos que são nada mais que

conseqüências somáticas de algumas perturbações de condutas instintivas e de

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

10

comportamentos (JEAMMET et al., 2000).

O conceito clássico de psicossomático, no entanto, difere deste entendimento,

ou seja, trata-se de toda perturbação somática que comporta no seu determinismo

um fator psicológico, contribuindo, portanto de forma essencial à gênese da doença

(JEAMMET et al., 2000).

Durante muitos anos a maioria dos autores considerava seriamente a

possibilidade de haver forte influência na gênese da Doença Inflamatória Intestinal

os conflitos da emocionalidade, entendendo, desta maneira, como sendo patologia

caracteristicamente psicossomática.

Modernamente, no entanto, novos estudos sinalizam em direção oposta,

afastando a relação causal direta do psiquismo na gênese da doença, mas apenas,

interferência no aspecto evolutivo deste distúrbio multifatorial. Os conflitos

psicológicos podem, e mesmo costumam agravar sintomas, provocar recidivas ou,

ao contrário, melhorar a situação anterior (ANDRADE, 2002). Todos os indicadores

apontam para a importância do contexto emocional, dos conflitos psicológicos

capazes de interferir na doença em atividade ou mesmo latente, mas nunca como

fatores etiológicos primários.

Finalizando, lembramos à importância dos elementos psicossociais. O

sistema familiar funciona como um conjunto de leis que regem as trocas

interpessoais, problemas e desejos de cada um dos membros que, diante de doença

pode perder o equilíbrio.

O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

diante de alguma modificação, ou seja, frente ao adoecer, se adaptará à nova

situação. Já o segundo sistema terá a nova situação como uma ameaça para seu

equilíbrio tendo dois possíveis comportamentos: a rejeição do doente ou utilizando a

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

11

doença como parte integrante do sistema e necessária à sua manutenção

(JEAMMET et al., 2000).

A expressão da doença e sua aceitação pelo meio socio-profissional está

diretamente ligada à estrutura da sociedade. Situações sociais, profissionais,

econômicas e vida familiar conturbadas são fatores de desencadeamento de

doenças e determinantes de necessidade assistencial médica.

As mesmas relações comentadas no meio familiar podem ser encontradas no

contexto social e profissional.

2.2 Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)

As Doenças Inflamatórias Intestinais há cerca de um século são descritas e

sua patogenia permanece controversa. Embora se dividam em patologias distintas

constituídas em grupos, sabe-se modernamente que apresentam-se em sub-grupos

identificáveis, acometem predominantemente pacientes jovens e atingem todos os

países. Sua principal característica é a cronicidade e ausência de cura com

tratamentos atuais (QUILICI, 2002).

Embora acometam a parede intestinal provocando severo processo

inflamatório e conseqüências graves tais como diarréias severas, hemorragias,

desnutrição, dores, cólicas, dificuldades alimentares, febre, estenoses, fístulas,

ulcerações e outros transtornos desta topografia, podem causar manifestações

extra-intestinais. O organismo pode ser afetado de maneira global, com lesão de

múltiplos órgãos e sistemas (QUILICI, 2002).

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

12

2.2.1 Classificação

Há duas principais doenças inflamatórias intestinais crônicas: Retocolite

Ulcerativa Inespecífica (RCUI) e Doença de Crohn (DC). A RCUI caracteriza-se por

severo processo inflamatório da mucosa do intestino grosso. Entende-se, como

intestino grosso, o cólon, reto e canal anal. Invariavelmente os pacientes acometidos

por esta patologia têm o reto como sede do processo e freqüentemente os

segmentos proximais de extensão variável. Os planos muscular e seroso da parede

do intestino são preservados (DANI et al., 1993).

A DC, por sua vez, traduz grave inflamação do tubo digestivo, podendo

acometer desde a boca até o canal anal. A grande distinção de ambas é que o

Crohn provoca processo inflamatório transmural da parede intestinal, ou seja,

atingindo todas as camadas da parede da víscera (CAMPOS, 2000).

2.2.2 Etiopatogenia

Atualmente persistem dúvidas acerca da etiologia da DII. Contudo há

consenso entre autores e pesquisadores de que o elemento causal é multifatorial:

genético, imunológico e infeccioso (ambiental). Patogenicamente estes elementos

determinantes induzem na mucosa intestinal respostas imunes anormais seja na

ativação ou na regulação (SANTOS, 2004).

2.2.3 Quadro Clínico

As manifestações clínicas da Doença Inflamatória Intestinal são polimorfas e

dependem de múltiplos fatores. Inicialmente a topografia e gravidade do processo

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

13

inflamatório determinam manifestações sintomáticas.

A Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI) sendo caracterizada por processo

inflamatório da mucosa colo-retal, região em que ocorrem ulcerações, friabilidade,

edema e hemorragias, apresenta variáveis clínicas tais como diarréias de difícil

controle, cólicas e dores abdominais, hipertermia, emagrecimento, distúrbios

nutricionais e temeroso aumento do risco de neoplasias malignas (QUILICI, 2002).

Os pacientes apresentam-se aos serviços médicos astênicos, enfraquecidos,

desidratados, com capacidade laborativa prejudicada e freqüentemente impedida. A

diarréia costuma ser abundante muitas vezes sanguinolenta provocando importante

desconforto e não raro necessitando atendimento hospitalar (QUILICI, 2002).

Complicações sérias podem acontecer tais como, hemorragias volumosas

comprometendo gravemente a volemia e precisando transfusões sanguíneas para

manutenção da vida. Outra complicação temível é o Megacolon Tóxico, dilatação

aguda e progressiva do intestino, com risco eminente de necrose e capaz de

provocar toxemia e choque nos pacientes. Outro fator de risco que pode modificar

evolução clínica destes pacientes é o advento de tumores malignos, tanto mais

freqüentes quanto mais antiga a doença (DAMIÃO, 2000).

A Doença de Crohn (DC), por sua vez, caracteriza-se por processo

inflamatório transmural da parede das vísceras ocas, tendo como característica,

lesões associadas, intercaladas por segmentos normais. Desde a cavidade oral até

o canal anal pode haver comprometimento. Os sintomas assemelham-se aqueles da

RCUI com algumas distinções a seguir relatadas: estenoses, ou seja, diminuição do

calibre de forma anelar ou segmentar de partes da víscera, fístulas que são trajetos

anormais de comunicação entre órgãos. Assim, pode haver fenômeno de fecalúria

que é a perda de matéria fecal por via urinária. Se ocorrer uma fistulização do reto

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

14

ou mesmo intestino com o canal vaginal, pode haver o desconforto de perder fezes

pela região genital. Não são raras as fístulas do reto com região glútea ou mesmo

coxas. Pode ainda haver fístulas êntero-enterais1, êntero-cólicas2 ou êntero ou colo-

cutâneas3 (DANI et al.,1993).

Severas e múltiplas ulcerações podem ocorrer na via digestiva provocando

tais como na RCUI. Por outro lado, se ocorrer área de estenose a manifestação

clínica será de sub ou mesmo oclusão intestinal. Neste caso o paciente apresentará

dor abdominal de forte intensidade, cólicas intensas, náuseas e vômitos, distensão

abdominal e parada de flatos e evacuatória (QUILICI, 2002).

Muito importante é a possibilidade de manifestações extra-intestinais das DII.

São muito comuns comprometimentos de outros órgãos, regiões e sistemas.

Tomemos como exemplo, paciente que procura atendimento médico com queixa de

forte dor articular e febre. É possível tratar-se de artrite secundária a uma das

Doenças Inflamatórias Intestinais, ou seja, grave quadro inflamatório de uma

articulação dificultando a mobilização do membro. Doenças oftalmológicas, renais,

hepáticas, cutâneas e outras podem surgir nos doentes deste grupo (DANI et al.,

1993).

2.2.4 Tratamento

Em princípio o tratamento deverá ser clínico. Os objetivos são: diminuir a

atividade inflamatória da doença, compensar os desequilíbrios secundários, tratar

1 Fístula êntero-enteral: comunicação anômala de um segmento de intestino delgado com outro

segmento do mesmo órgão (os líquidos de uma parte do intestino delgado drenam para outra sem conexão anatômica imediata).

2 Fístula Êntero-cólica: comunicação anômala de um segmento de intestino delgado com outro segmento do Colon (os líquidos do intestino delgado drenam para o interior do Colon).

3 Fístula êntero-cutânea: comunicação anômala de um segmento de intestino delgado com a pele (ocorre drenagem de matéria fecal através da pele).

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

15

infecções, melhorar o estado nutricional e buscar alívio dos abalos emocionais.

Idealmente todas as medidas visam determinar remissão dos sintomas e possibilitar

a manutenção desta remissão. O problema fica na dependência de elevado índice

de recidivas em ambas as patologias, chegando a 60% de possibilidade

(GOLIGHER, 1990).

Existem variados esquemas medicamentosos no arsenal terapêutico.

Compostos nutricionais, complexos vitamínicos, derivados salicilados, corticóides,

imunomoduladores, todos indicados segundo critérios de gravidade da doença

(DAMIÃO, 2000).

Em casos específicos pode ser inevitável tratamento operatório. Se um

determinado paciente não desobstruir sua área de estenose poderá submeter-se à

enteroplastia4 ou mesmo ressecção segmentar. Outro exemplo de indicação

cirúrgica diz respeito aos casos de abscessos anais e peri-anais (QUILICI, 2002).

Na verdade há enorme variável de técnicas cirúrgicas para abordar pacientes

com DII. Uma das cirurgias mais comprometedoras e graves é a Procto-Colectomia5

total pelo radicalismo do procedimento. É indicada em casos refratários às medidas

medicamentosas, havendo persistente diarréia ou sangramento, bem como risco

eminente de câncer. A principal conseqüência será a perda da continência

evacuatória e colostomia6 definitiva (KEIGHLEY et al.,1999).

Mais modernamente tem sido realizada técnica de Procto-Colectomia com

Bolsa Ileal7. Esta possibilidade técnica permite confeccionar reservatório que se

4 Enteroplastia: manobra cirúrgica plástica executada no intestino delgado, reconstituindo o trânsito

anteriormente obstruído. 5 Procto-colectomia: operação cirúrgica que remove todo o colon e o reto. 6 Colostomia: técnica operatória que abre na pele um segmento do colon. Indicada para

desfuncionalizar áreas obstruídas ou com suturas intestinais frágeis. A colostomia pode ser temporária ou definitiva.

7 Bola ileal: técnica cirúrgica que possibilita a constituição de um neo reto nas situações em que o paciente é submetido à procto-colectomia total. A bolsa ileal é um reservatório criado com segmento excluso de intestino delgado que substitui o reto amputado.

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

16

assemelha ao reto e manutenção do canal anal e seus esfincteres e, portanto, a

desejada continência evacuatória. (QUILICI, 2002).

2.3 Repercussões psico-sociais dos portadores de DIIs

Abre-se espaço para estudos investigativos em pacientes portadores de DIIs

no universo de sua emocionalidade e meio circundante. Vários estudos buscam

demonstrar as manifestações psicológicas nestes doentes peculiares, tentando

compreender o universo de sua problemática e suas reações diante da dor e

temores (DANI, 1993; COELHO, 1990; FOLKS et al., 2000; ANDRADE e

MESQUITA, 2000).

Durante anos, as Doenças Inflamatórias Intestinais, especialmente a RCUI,

foram consideradas como doenças psicossomáticas, em que as características de

personalidade, distúrbios psiquiátricos e fatores psicossociais teriam um importante

papel etiológico. Mais recentemente, a importância destes fatores na gênese da

doença tem sido muito questionada (ANDRADE E MESQUITA, 2000).

Diante do severo fator de estresse destes pacientes, são freqüentes

manifestações de ansiedade e depressão, inicialmente pelo conhecimento

diagnóstico da patologia e suas repercussões físicas, seguido pelas dificuldades

terapêuticas, bem como a inevitabilidade de gastos, o afastamento social e familiar,

o impedimento laborativo e, finalmente, o considerável índice de recidivas, além da

cronicidade habitual.

De acordo com a teoria cognitivo-comportamental (TCC), as pessoas podem

ser divididas em duas categorias na maneira como enfrentar as doenças: orientadas

para o problema ou orientadas para a emoção. As primeiras, ao lidarem com

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

17

situações de doença, tenderão a buscar informações, procurarão trocar idéias com

os médicos, amigos, grupos de auto-ajuda para alterarem suas concepções, seus

hábitos e as características do ambiente em que vivem. Tudo isso com a finalidade

de reassumirem o controle de suas vidas, tornando as conseqüências da doença

mais toleráveis. As segundas estarão mais preocupadas em lidar com suas

emoções, reduzindo-lhes o impacto. Terão mais dificuldades para se focalizar em

alternativas cognitivas. Tais pacientes responderão mais emocionalmente, usarão

mais mecanismos de defesa, sentirão mais desesperança, desamparo e depressão,

necessitando de estratégias de apoio psicológico vinda da família, de amigos e da

equipe assistencial (LAZARUS, 1976 apud BOTEGA, 2002).

A RCUI tem sido objeto de muitos estudos psicossociais de personalidade,

conflitos intrapsíquicos e de categoria de eventos da vida, possivelmente associados

com o início, agravamento ou remissão da doença (FOLKS et al., 2000).

Observa-se que vários dos processos metodológicos na literatura deixam

dúvida quanto ao significado dos padrões psicológicos de personalidade e

comportamento associados a esta doença.

Muitos estudos têm observado a presença de personalidades compulsivas na

figura dos pais, especialmente da mãe. Muitos pacientes são dependentes, imaturos,

sendo descritos como infantis e regredidos (FOLKS et al., 2000; ANDRADE e

MESQUITA, 2000).

Há distinção nos padrões de manifestação emocional dos pacientes

portadores de RCUI e DC. Os portadores de Retocolite Ulcerativa, embora grave e

multiconsequente, podem ter a doença debelada e resolvida com tratamentos

operatórios radicais, com prognóstco mais favorável. As cirurgias comportam

importante morbidade e de complicações, mas, quando definitivas, eliminam os

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

18

segmentos sede da patologia (FOLKS et al., 2000).

Os doentes acometidos por Doença de Crohn, ao contrário, são agredidos por

doença implacável, recidivante e passível de acometer distintas regiões, jamais

resolvida por qualquer técnica operatória. A remoção de segmentos doentes não

impede recidiva de novos focos em outras regiões do organismo. Ambas têm caráter

de cronicidade, mas procedimentos cirúrgicos múltiplos são mais freqüentes nos

portadores de Doença de Crohn do que naqueles com RCUI. Isto provoca

prevalência mais alta de doenças secundárias (FOLKS et al., 2000).

Dois estudos controlados por Helzer et al; (1982, 1984) apud Folks e Kinney

(2000) compararam ambas as patologias e concluíram que portadores de RCUI não

apresentavam maior incidência de distúrbios graves emocionais do que aqueles do

grupo controle. No entanto, pacientes com Crohn apresentaram expressiva

prevalência de depressão do que os indivíduos-controle. Observaram ainda, não

haver uma seqüência temporal consistente de envolvimento.

Outro estudo desenvolvido por McKegney e colaboradores (1970) apud Folks

e Kinney (2000) também investigou pacientes com DII e conclui-se não haver

diferença significativa dos pontos de vista psicossocial, psicológico e

comportamental. No entanto, foi observado maior índice de depressão naqueles

pacientes com incapacidades físicas mais graves.

Outra pesquisa desenvolvida por Andrews e colaboradores (1987) apud Folks

e Kinney (2000), concluíram que pacientes portadores de Crohn apresentaram maior

índice de distúrbios da emocionalidade do que aqueles com RCUI.

Tarter e colaboradores (1987) apud Folks e Kinney (2000) chegaram às

mesmas impressões do trabalho de Andrews.

O Hospital das Clínicas da UNICAMP desenvolveu estudo com portadores de

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

19

RCUI observando índice de depressão de 29% nos mesmos. Infelizmente não

comparam, neste trabalho, com os portadores de Doença de Crohn.

Addolorato et al. (1997) apud Andrade e Mesquita (2000), estudaram um

grupo de 43 pacientes com Crohn e 36 com RCUI. Concluíram os autores, que havia

índice de ansiedade de 83% e depressão de 55% dos pacientes com doença em

atividade. Naqueles pacientes em fase de remissão da doença, o percentual foi

respectivamente de 21% e 14%. Aventam, estes autores, a possibilidade da

influência dos distúrbios emocionais na patogênese da depressão. Há ainda que se

considerar os efeitos deletérios dos corticóides longamente utilizados por estes

pacientes, resultando em insônia, agitação, labilidade emocional e até psicose.

É fundamental, no manejo deste grupo de pacientes, a compreensão dos

conflitos sociais. Inicialmente o forte estigma da doença pode provocar conflitos no

sistema familiar, havendo absorção saudável e harmônica do universo de seu ente

ou atitudes de rejeição com conseqüente desarmonização da família. O meio social

relaciona de forma semelhante com o núcleo familiar (JEAMMET et al., 2000).

De acordo com a TCC é crucial o apoio social recebido pelo paciente. Apoio

social é um constructo teórico com muitos componentes, diferenciando o apoio de

fato disponível e a percepção que a pessoa faz em relação à adequação desse

apoio. Uma rede do apoio social adequada pode repercutir na redução do estresse

e, consequentemente, nos agravos à saúde (HENDERSON, 1990 apud BOTEGA,

2002).

O aspecto físico por vezes comprometido, associado ao emagrecimento e

odores desagradáveis gera insegurança e temores nestes pacientes. A ocorrência

de abscessos e fístulas provoca dores e odores acentuados (QUILICI, 2002).

A vida sexual deste grupo de pacientes pode ser drasticamente comprometida

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

20

quando houver acometimento ano-genital. Dores, fístulas com drenagem de

secreções purulentas e odores desagradáveis provocam inseguranças e inibição nos

doentes. Muitas vezes a atitude de repulsa, ou simples evitar do olhar, causa

profundo abalo na emocionalidade das pessoas portadoras (DANI, 1993).

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

21

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa está baseada numa perspectiva qualitativa, a qual

possibilita a formação de questões para a pesquisa, usa a comunicação e

observação, busca particularidades.

Os elementos básicos da análise qualitativa são palavras e idéias que visam à

descoberta, descrição compreensão e interpretação partilhada, onde o pesquisador

participa do processo e o todo é mais do que as partes (TURATO, 2003).

A metodologia qualitativa visa identificar o que os sujeitos têm a dizer sobre

determinado assunto, o significado que dão ao mesmo. A descrição é realizada em

termos não numéricos (GREENHALGH e TAYLOR, 1997 apud TURATO, 2003).

Através da pesquisa qualitativa é possível coletar dados subjetivos além dos

objetivos, possibilita investigar sentimentos, reações, crenças sobre assuntos que

exigem uma maior aproximação do pesquisador com o participante (TURATO,

2003).

3.1 Trajetória da pesquisadora

O interesse em investigar esse tema surgiu a partir da convivência da

pesquisadora com familiares profissionais da área de gastroenterologia e

coloproctologia, assim como com psicólogos responsáveis por tais pacientes. Por

isso, a mesma teve a possibilidade de acompanhar esses pacientes portadores de

DIIs e assim obteve interesse pelo assunto, pois percebeu a inquietação dos

mesmos frente a problemática em questão.

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

22

Após, mantidos contatos com a equipe da Clínica Gastromed situada no

município de Foz do Iguaçu, Paraná, obteve-se autorização para a realização do

estudo (APÊNDICE 01). Tal local de coleta de dados justifica-se por ser esta a

cidade de origem da pesquisadora, tendo fácil acesso aos pacientes portadores de

DIIs.

As entrevistas foram agendadas a partir de contato informal com cada

paciente, os quais compareceram na clínica e mostraram-se muito à vontade para

colaborar com o presente trabalho. Alguns participantes se dispuseram a fornecer

maiores esclarecimentos sobre a sua doença e seu estado emocional e, para isso

após as entrevistas, ofereceram seus e-mails e telefones. Porém, não houve

necessidade de realizar nenhum contato posterior à coleta de dados.

3.2 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da presente pesquisa foram seis pacientes portadores de doença

inflamatória intestinal (DII), consistindo em quatro mulheres e dois homens, sendo

três pacientes diagnosticados com retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI) e outros

três pacientes diagnosticados com doença de Crohn (DC), conforme o quadro

abaixo:

Quadro 1- Identificação dos sujeitos da pesquisa

Identificação Sexo Idade Diagnóstico Tempo de diagnóstico

S1 F 30 anos D.C. 13 anos S2 F 37 anos D.C. 2 anos S3 M 39 anos RCUI 10 anos S4 F 76 anos D.C. 7 meses S5 F 37 anos RCUI 10 anos S6 M 40 anos RCUI 12 anos

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

23

3.3 Instrumento

Para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semi-estruturada como

uma técnica onde o entrevistador organiza um conjunto de questões, apoiada em

teorias e hipóteses sobre o tema estudado (APÊNDICE 02). Tal técnica oferece

liberdade e espontaneidade necessárias para o entrevistado falar livremente sobre

assuntos que vão surgindo, enriquecendo a investigação. Assim, o entrevistado

segue espontaneamente sua linha de pensamento e experiências a partir do foco

principal colocado pelo entrevistador e participa da elaboração do conteúdo da

pesquisa (MAZZOTTI, 1998; PÁDIA, 2000; TURATO, 2003; TRIVINOS, 1987).

3.4 Coleta de dados

A pesquisadora teve acesso aos pacientes diagnosticados com DIIs na clínica

Gastromed, através de contato com o médico e psicóloga, responsáveis por estes,

esclarecendo devidamente sobre os objetivos da pesquisa e apresentando o termo

de consentimento livre e esclarecido para que os participantes assinassem

autorizando a entrevista (APÊNDICE 03).

Após autorização foram agendadas as entrevistas, as quais foram realizadas

individualmente em uma sala reservada para grupo de estudos e reuniões na clínica

em questão. O resultado desta análise será encaminhado à psicóloga da clinica que

fará a comunicação do mesmo aos participantes, bem como poderá fazer uso do

material para o trabalho psicoterápico dos mesmos.

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

24

3.5 Análise e discussão dos dados

Os dados obtidos na presente pesquisa foram analisados pelo método de

análise de conteúdo proposto por Bardin (1977) apud Moraes (1999) e discutidos à

luz de alguns pressupostos da Teoria Cognitiva Comportamental (TCC).

A análise de conteúdo é uma metodologia usada para descrever e interpretar

conteúdos de documentos e textos. Tal análise permite uma interpretação e

compreensão das questões em um nível que supera a leitura comum (MORAES,

1999).

Na análise de conteúdo são apresentados as seguintes operações:

- Codificação: processo no qual os dados são transformados em categorias,

possibilitando uma descrição das características gerais do material.

Pode ser realizada a partir de recorte referente à escolha das unidades,

enumeração de acordo às regras de contagem, classificação e agregação em

relação à escolha das categorias (FRANCO, 1986; RODRIGUES e LEOPARDI,

1999).

- Unidade de Registro: seleciona-se o elemento correspondente ao segmento

de conteúdo a ser considerado como unidade de base. Pode ser um tema, uma

palavra ou uma frase desde que exprima pensamento completo (FRANCO, 1986;

RODRIGUES e LEOPARDI, 1999).

- Categorização: refere-se à classificação, agrupamento de dados por

semelhança ou analogia previamente estabelecidos ou definidos. Compreende o

inventário, que consiste em isolar os elementos e a classificação que é a divisão dos

elementos (FRANCO, 1986; RODRIGUES e LEOPARDI, 1999).

A teoria cognitiva comportamental (TCC) que servirá de base para presente

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

25

pesquisa, constitui-se de técnicas comportamentais e cognitivas e fundamenta-se no

pressuposto de que o afeto e o comportamento do indivíduo são determinados modo

como ele estrutura seu mundo em termos cognitivos. Sendo assim, a imagem que o

paciente faz da doença e de seu tratamento deve ser pesquisada em seus

elementos concretos e subjetivos (PETRIE e cols., 1996 apud BOTEGA, 2002).

3.6 Procedimentos éticos

A presente pesquisa está de acordo com a resolução 196/96 do conselho

nacional de saúde, pois exigiu a anuência por escrito dos sujeitos da pesquisa ou

seu representante legal, mediante explicação completa e pormenorizada sobre a

natureza da pesquisa, benefícios previstos, potenciais riscos e incômodos que

podem ocorrer em decorrência do estudo. Tal anuência é o termo de consentimento

livre e esclarecido.

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

26

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

No presente capítulo será apresentado às percepções gerais sobre os

sujeitos participantes da pesquisa, assim como a análise dos relatos apresentados e

fundamentados com embasamento teórico por diversos autores.

As categorias

De posse das entrevistas transcritas e analisadas, selecionou-se noventa

unidades de registro distribuídas em seis categorias.

A seguir serão apresentadas as categorias e as unidades de registro

pertencentes a cada uma delas, assim como a literatura necessária para a análise e

discussão dos dados encontrados.

1ª Categoria – Os Sintomas

Por sintoma entende-se uma forma de expressão manifestada pelo indivíduo

diante de um desequilíbrio orgânico e/ou psíquico. As falas dos pacientes revelaram

o caráter multifatorial referente a etiopatologia das DII(s).

2ª Categoria – A Doença

Nesta categoria, as falas evidenciam o conhecimento que os pacientes

possuem acerca da DII.

Refere-se conhecimento como toda e qualquer informação que se tenha

sobre um assunto em questão, é uma noção adquirida pelo estudo ou experiência

(FERREIRA, 2004).

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

27

3ª Categoria – Os Antecedentes da Doença

Esta categoria inclui as unidades de registro que mostram o estilo de vida,

costumes, atividades realizadas pelos pacientes antes do diagnóstico de DII.

4ª Categoria – As Conseqüências da Doença

Nesta categoria são expostas unidades de registro que evidenciam as

restrições e mudanças decorrentes dos DII(s) na vida de seus portadores, pois estas

complicações têm uma forte repercussão na história de vida das pessoas.

5º Categoria – O Tratamento

As falas nesta categoria refletem acerca da sensação de impotência dos

pacientes frente à doença, assim como demonstram a rigorosidade do tratamento a

que são submetidos, os conhecimentos que possuem sobre medicações, exames,

alimentação.

6ª Categoria – Os Sentimentos

As falas referentes a esta categoria, expressam sentimentos, como angustia,

nervosismo, medo, ansiedade, entre outros, presentes ou não desde o momento que

passa a se conhecer o diagnóstico de DII.

Nesta categoria serão apresentadas unidades de registro que mostram a

relação entre as DII (s) e possíveis repercussões emocionais.

A seguir será demonstrado um quadro referente à distribuição das unidades

de registro nas categorias conforme o diagnóstico, sendo especificado a

porcentagem encontrada em cada categoria a partir das entrevistas realizadas para

presente pesquisa.

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

28

Quadro 2- Distribuição das Unidades de Registro nas Categorias conforme o Diagnóstico

Categorias RCUI DC Porcentagem

Os Sintomas 7 7 15,55%

A Doença 5 5 11,11%

Os Antecedentes da Doença 5 3 8.88%

As Conseqüências da Doença 10 11 23,33%

O Tratamento 10 7 18,88%

Os Sentimentos 10 10 22,22%

Pelo quadro acima podemos observar uma semelhança na distribuição das

unidades de registro. Observa-se que durante o curso das DII(s), tanto a RCUI

quanto a DC provocam um estigma semelhante entre seus portadores, pois ambas

causam um grande abalo emocional na vida dos portadores, devido a todas as

restrições e mudanças decorrentes das mesmas, sendo estas já citadas

anteriormente.

Observa-se que as categorias: As Conseqüências da Doença e Os

Sentimentos foram as que mais se destacaram entre as demais discutidas na

presente pesquisa. Tal fato demonstra o grande impacto emocional que as DII(s)

provocam em seus pacientes.

Os pacientes acometidos da DII(s) apresentam fortes manifestações de

ansiedade e depressão, devido ao grande índice de estresse que os acompanha em

todo o processo. Desde o conhecimento do diagnóstico da doença, seguida pelas

mudanças inevitáveis em suas vidas, tais como: afastamento social, alterações

nutricionais, dificuldades terapêuticas, conseqüências físicas, aumento de gastos,

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

29

seguido pela cronicidade destas patologias, entre outros.

A partir desses dados é possível verificar a relação existente entre as DII(s) e

as repercussões emocionais. Percebe-se que o indivíduo doente precisa mudar sua

maneira de viver, suas relações, assim como seus pensamentos, pois tratando-se de

uma doença crônica, esta acarreta embaraços socias, afetam a qualidade de vida do

seu portador, interfere com seu trabalho, lazer e relacionamentos sociais e sexuais

(ANDRADE E MESQUITA, 2000).

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

30

Quadro 3 - Mapa das categorias encontradas em portadores de DII(S).

DDOOEENNÇÇAASS IINNFFLLAAMMAATTÓÓRRIIAASS

IINNTTEESSTTIINNAAIISS ((DDIIIIss))

O Tratamento Os Sintomas

Os Sentimentos

A Doença

As Conseqüências da Doença

Os Antecedentes da Doença

“Uma doença crônica que

não tem cura”

“Eu passava por vários

períodos de estresse e ansiedade onde priorizava tudo, menos a mim mesma.”

“Hoje vivo assim, com medo do que terei que enfrentar a cada dia.”

“com medicamentos é difícil, sem eles seria

terrível.”

“O que está acontecendo comigo?”

“São muitos sentimentos, uma confusão”

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

31

4.1 Apresentação e interpretação dos dados

1ª Categoria – Os Sintomas “O que está acontecendo comigo?”

Entende-se por sintomas a manifestação verbalizada pelo indivíduo de um

desconforto, assim como manifestação sensitiva de uma disfunção, lesão ou

patologia.

Pelos seus sintomas, sinais e/ou exames diversos pode-se chegar ao

conhecimento ou determinação de uma doença (FERREIRA, 2004).

Nesta categoria, observou-se o caráter multifatorial das DII(s). Conforme as

falas abaixo:

“Descobri que meu pai estava traindo minha mãe...Fiquei muito revoltada, triste e fui direto contar para minha mãe, mas ela não acreditou em mim e pior, ficou brava comigo...Imediatamente eclodiu a Doença de Crohn, muito grave” (S1).

Não se sabe com certeza a causa para essas doenças, mas verifica-se que

fatores genéticos, infecciosos, imunológicos e psicológicos podem ter ligação com o

surgimento dos sintomas.

Na fala relatada acima se observa um caso onde a tensão emocional

desencadeou a doença, pois o sujeito passou por um estresse e em seguida eclodiu

a Doença de Crohn.

Pesquisas revelam que fatores emocionais podem ser considerados

precipitadores da doença, mesmo que não possam ser considerados agentes

causadores. Estes devem ser vistos como fortes elementos contribuidores da melhor

ou pior fase da doença (AIRES, 2006).

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

32

A pessoa cuja tensão acaba causando problemas digestivos é um exemplo

típico de como a ansiedade e o estresse exarcebam problemas clínicos. O estresse

entre tantos órgãos e sistemas que atua, também pode levar a ulceração do trato

gastrintestinal, provocando sintomas como os DII(s) (AIRES, 2006).

Nos relatos a seguir percebe-se um elemento causal diferente das falas

citados anteriormente.

“Comecei a ter crises de vomito e diarréia” (S2). “... Tive diarréia crônica, por mais de um mês, muito aquosa” (S2). “Fiquei internada um tempo no hospital porque as crises não passavam, fiz vários exames até que descobriram que eu tinha Crohn” (S2). “As crises se agravaram com problemas alimentares e infecção generalizada, fiquei muito tempo internada e quase morri” (S4). “Me sentia muito fraca” (S5).

As DIIs apresentam manifestações clínicas dependentes de diferentes

fatores. Os portadores geralmente procuram o médico enfraquecidos, pois a diarréia

costuma ser abundante às vezes sanguinolenta. Fato que causa grande desconforto

e assim pode necessitar de atendimento hospitalar (QUILICI, 2002).

“Percebi um muco estranho nas fezes quando eu ia ao banheiro, depois surgiu pus no reto” (S3). “... depois de exames como colonoscopia, endoscopia e vários outros, foi comprovado o diagnóstico de RCUI” (S3). “Antes da doença em alguns dias sem motivo nenhum começava umas cólicas intermináveis. Pensava que era uma coisa da idade... “(S4). “Senti dores abdominais e anais com forte febre...” (S4). “Procurei um médico gastroenterologia que me pediu um batalhão de exames, entre eles o de colonoscopia e o resultado foi de Retocolite Ulcerativa Inespecífica” (S5).

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

33

“Há doze anos comecei a ter diarréia com sangue, muito grave” (S6). “... Tive uma febre que passou a ser mais constante e um emagrecimento exagerado” (S6). “Enfrentei uma maratona de médicos... Até que o que eu tinha era Retocolite Ulcerativa Inespecífica” (S6).

Sabe-se que a fisiopatologia das DIIs não está estabelecida,

compreendendo provavelmente fatores ambientais como agentes infecciosos e

dietéticos, fatores imunológicos, fatores genéticos e fatores estressantes

(ANDRADE e MESQUITA, 2000).

O organismo pode ser acometido por inteiro nas DIIs, embora causem um

processo inflamatório primário na parede do intestino e assim ter conseqüências

como às citadas, anteriormente, alem de hemorragias, dores, cólicas, dificuldades

alimentares, febre, fístulas, entre outros, podendo provocar, até mesmo,

manifestações extra intestinais. Tais possibilidades dificultam o diagnóstico, pois

muitas vezes são confundidos com problemas de outras áreas médicas (DANI et

al., 1993).

2ª Categoria – A Doença “Uma doença crônica que não tem cura”

As DIIs têm como principal característica a cronicidade e ausência de cura

com tratamentos atuais. Embora acometa a parede intestinal provocando severo

processo inflamatório e conseqüências graves, o organismo pode ser afetado de

forma geral, com manifestações até mesmo extra intestinais (QUILICI, 2002).

Segundo Zozoya apud Santos e Sebastiani (1996), a doença crônica é um

estado que apresenta uma ou mais das características a seguir: que seja

permanente; que deixe incapacidade residual, que produza alterações patológicas

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

34

não reversíveis, que requeira reabilitação ou que necessite períodos longos de

observação, controle e cuidados, assim como quando os recursos terapêuticos

existentes são insuficientes para assegurar a cura.

As doenças crônicas podem dificultar o retorno do paciente ao mercado de

trabalho, gerar problemas financeiros, comprometer a relação do paciente com seus

familiares e diminuir o prazer de diferentes atividades (SMITH, NICASSIO e

TAYLOR apud GUIMARÃES, 1999).

A doença emerge como uma agressão abala a condição do ser humano e

torna o futuro incerto. (SANTOS e SEBASTIAN, 1996).

Ser sujeito de uma doença, de um infortúnio, para quem quer que seja, é um

fato infinitamente injusto e que necessita de sentido, de compreensão a partir de

uma cadeia de causas e efeitos, isto é, precisa ser explicado (SINDZINGRE, 1991,

apud CREPALDI, 1999).

Nesta categoria observa-se o conhecimento que os pacientes entrevistados

possuem acerca da DII. A maioria revela que ao receberem o diagnóstico não

sabiam do que se tratava, mas pesquisaram sobre o tema. Como aparece a seguir:

“Eu não sabia do que se tratava...” (S5). “Comecei a pesquisar na Internet, converso muito com meu médico, procuro sempre outras pessoas que também sofrem dessa doença para trocar idéias e receitas” (S5). “Hoje, sei que é uma doença crônica que não tem cura...” (S5). “Pesquiso muito sobre esta doença” (S1). “Comprei livros, entro sempre na Internet e sou sócia da Associação Brasileira de Crohn” (S1). “Pesquisei bastante sobre essa doença” (S2). “Sempre converso muito com meu médico e junto da minha família procuramos nos informar através da Internet e lendo revistas sobre o assunto” (S2).

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

35

Uma preocupação fundamental do ser humano esta, a na tentativa de

atribuição de sentido para a doença (CREPALDI, 1999).

A partir do conhecimento apropriado sobre a doença, percebe-se uma

melhora significativa no estado de saúde do paciente. Este tem direito irrestrito de

ser informado a respeito da sua patologia, medicações prescritas, procedimentos

necessários, riscos, contra-indicação e prognóstico. Tal direito encontra-se no código

de Ética do Hospital Brasileiro e no Código de Ética Médica (CAMPOS, 1995).

Outros pacientes expressaram certa insegurança quanto ao conhecimento

referente de seu diagnóstico, como:

“Pelo que sei é uma doença que causa infecção nos intestinos, não sei muita coisa” (S6). “Não sei muita coisa, sei que é uma inflamação que destrói todas as camadas do intestino” (S4). “Sei que é uma doença inflamatória do intestino e que não possui cura atualmente, somente um tratamento que faz com que o paciente viva melhor” (S3). “Parece que alguns casos pode melhorar com cirurgia” (S3).

A falta de informações pode desencadear estado de ansiedade, medo,

insegurança e angustia. Ao contrário, o individuo mais informado acaba realizando

de forma mais adequada o tratamento (SANTOS e SEBASTIAN, 1996).

Segundo Ferreira (2004), crônico é tudo aquilo que dura muito tempo. No

caso das doenças são aquelas que têm longa duração.

Sabendo que as DIIs são crônicas, o paciente vivência mudanças radicais em

sua vida e não pode ficar alheio a estas doenças, pois estas apresentam sintomas

que podem debilitar (SGANZERLA, 2003).

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

36

3ª Categoria – Os Antecedentes da Doença “eu passava por vários

períodos de estresse e ansiedade onde priorizava tudo, menos a mim mesma”.

O tipo da doença e a época da vida em que adoece têm muito haver com a

história do individuo. A biologia de cada paciente explica as suas possibilidades de

adoecer (PEREZ, 1992, apud DIAS, 1994).

Nas falas a seguir verifica-se tal fato:

“Minha vida antes da doença, antes de descobrir que tinha Crohn era mais voltada para o trabalho, eu passava por vários períodos de estresse e ansiedade onde priorizava tudo, menos a mim mesma” (S2).

A ansiedade é definida como um estado de humor desconfortável, uma

apreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação interna desagradável.

Repetidos momentos de ansiedade indicam elevados níveis de estresse. Este pode

causar distúrbios em todos os órgãos e sistemas. No trato gastrintestinal, múltiplas

desordens são passíveis de acometimento: anomalias motoras, lesões da mucosa

das vísceras ocas, alterações secretórias, ocorrências estas, capazes de agravar

uma DII(ATKINSON et al., 2000).

“Sempre tive uma vida muito estressante” (S5).

O estresse, segundo Lazarus e Folkman (1984) apud Guimarães (2001), é

uma relação entre a pessoa e o ambiente, avaliada por ela como exigente ou

excedente a seus recursos pessoais de enfrentamento e ameaçadoras de seu bem-

estar.

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

37

“Minha vida antes? Eu podia comer muita coisa, hoje eu não posso, eu tinha menos problemas, apesar do estresse que sempre me acompanhou” (S5). “Antes era muito boa a minha vida, normal como qualquer outra pessoa. Meu estresse era no casamento, brigava muito com minha mulher. Por isso tive até uma relação fora do casamento” (S3).

Percebe-se com os depoimentos anteriores a presença constante de estresse

na vida de tais pacientes.

Os aspectos psicológicos representam um fator importante nas DII(s).

Pesquisas indicam que o estresse exerce efeito adverso diretamente sobre o trato

gastrintestinal. O estresse é desencadeador de 75% dos ataques de RCUI, mas há

fortes componentes emocionais, em outras ocasiões, que não desencadeiam um

ataque da doença. Percebe-se que os fatores emocionais devem ser vistos como

elementos com contribuidores e precipitadores da melhor ou pior fase da doença.

(AIRES, 2006).

Na doença de Crohn é a ansiedade, a emoção com maior influencia nos

indícios científicos. Repetidos momentos de ansiedade indicam altos níveis de

estresse. O estresse pode levar a ulceração do trato gastrintestinal provocando,

como já citado anteriormente, sinais de DII (AIRES, 2006).

O grau em que a pessoa experimenta sofrimento psicológico, ou má saúde

após situação potencialmente estressante, é determinado pelas vulnerabilidades e

virtudes biológicas e psicológicas que elas trazem para estas situações (ATKINSON

et al., 2000).

Um entrevistado relatou ser depressivo há algum tempo, como observamos a

seguir:

“... já sou depressiva há algum tempo” (S4).

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

38

Depressão é um transtorno de humor caracterizado por tristeza e abatimento,

diminuição da motivação e interesse pela vida, pensamentos negativos e sintomas

físicos como perturbação do sono, perda de apetite e fadiga. Sabe-se que a

depressão não resolvida pode resultar em doença e constata-se sua presença em

uma grande parcela de pacientes com doenças gastrintestinais (ATKINSON et al.,

2000).

Em outras entrevistas há relatos de vida aparentemente normal:

“Antes da doença eu era mais otimista, não tinha medo do futuro, mas vivia sem grandes sonhos, expectativas. Eu achava que poderia conseguir tudo o que me depusesse ir atrás” (S1). “Eu nunca havia tido nenhum problema de saúde” (S1). “Trabalhava bastante, comia bem, vivia bem na medida do possível” (S6).

4ª Categoria – As Conseqüências da Doença: “Hoje vivo assim, com medo

do que terei que enfrentar a cada dia”.

As conseqüências da doença referem-se às mudanças ocorridas na vida dos

pacientes decorrentes do DII.

Tais conseqüências incluem desde mudanças nos hábitos de vida cotidiana,

como alterações alimentares, alterações físicas, assim como mudanças na maneira

de pensar e suas repercussões emocionais.

Alguns pacientes relatam insegurança diante do futuro, pois dependem de

como será a evolução de seu problema de saúde.

O paciente passa a viver em função da doença. Tudo fica sem graça, vazio, o

desânimo toma conta e assim inibe suas atividades (LIMA et al., apud SANTOS e

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

39

SEBASTIAN, 1996).

“Com a doença veio à depressão primeiramente, tive anorexia nervosa e não queria mais nem sair de casa” (S1). “Atualmente devido aos medicamentos, as quantidades excessivas de medicações, assim como o excesso de evacuações, dor intensa, não consigo ter uma vida normal” (S3).

É interessante ressaltar que tanto os comportamentos quanto os

sentimentos a esses relacionados, apresentados pelos portadores de alguma

doença, são provenientes do processo psicológico envolvido no adoecer, que

abrange a reconstrução da identidade social desses indivíduos (GUIMARÃES,

1999).

“Estou sempre angustiado, com medo, inseguro diante da possibilidade de piora” (S3). “Com a medicação me sinto muito sonolenta, tonteiras, muitas vezes a memória fica lenta” (S4). “Isso tudo me trouxe uma depressão” (S5).

Ao tratar um paciente deprimido, nunca se deve desconsiderar a gravidade de

sua perda, a limitação de sua capacidade de sentir prazer e a intensidade de sua

tristeza, pois esse experimenta vibrações extremas de emoções desagradáveis.

Sendo assim, os indivíduos deprimidos distorcem suas interpretações dos

acontecimentos, de modo que eles mantêm visões negativas de si próprio, do

ambiente e do futuro (BECK, 1997, BARLOW, 1999).

“Minha vida se tornou uma batalha” (S5). “Eu desabei” (S5). “Hoje vivo assim, com medo do que terei que enfrentar a cada dia” (S3).

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

40

“Sou depressiva, dependente dos meus filhos” (S4). “Fico muito angustiada de ter que tomar remédios meu sonho é me livrar de tudo isso” (S5).

A doença é muitas vezes percebida pelo paciente como sofrimento, limitação

física, ataque à integridade e impedimento a realização das atividades normais,

rotineiras, além de colocar o individuo numa condição de dependência a outras

pessoas (JEAMMET et al., 2000).

Segundo Angerami-Camon (1995), o desenvolvimento do quadro clínico de

uma doença crônica torna seu portador alguém socialmente excluído da competitiva

sociedade atual. Assim, o indivíduo acometido por uma enfermidade crônica,

geralmente entra em desespero frente a sua nova realidade.

O individuo precisa adaptar-se a novas rotinas, mas a experiência de ter que

modificar alguns hábitos é particular, pois cada pessoa percebe e reage de uma

maneira.

Assim, percebe-se na presente pesquisa, que algumas pessoas têm menor

dificuldade para lidar com as mudanças do que outros com o mesmo problema,

como constatamos nas unidades de registro a seguir:

“Hoje por causa ou graças à doença, mudei bastante o meu modo de vida’ (S2)”. “Houve também uma mudança na forma de pensar, passando a ser extremamente a paz de espírito e o equilíbrio” (S2). “Ironicamente tenho uma qualidade de vida que me faltava anteriormente” (S2). “Agora faço terapia. Tenho planos, o que não permitia ter e vivo uma vida normal como qualquer outra pessoa” (S1). “Estou revivendo anos que me restringi e hoje vejo que não precisava ter me poupado tanto” (S1)

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

41

Com base nos relatos acima, verifica-se que embora as DII(s) provoquem

inúmeras restrições e cuidados aos seus portadores, é possível a adaptação dos

mesmos a nova realidade.

Em alguns relatos, os pacientes assumem uma posição de passividade, de

conformismo diante do seu prognóstico como podemos conferir a seguir:

“Esteticamente não estou no meu normal, mas tenho plena consciência que vai passar. Não se tem como fazer omelete sem quebrar os ovos” (S1). “Sei que me faz mal e procuro evitar para meu próprio bem” (S6). Segundo Stedeford apud Fongaro e Sebastiani (1998), a aceitação é uma

avaliação realística da situação clínica, com a determinação de se ajustar da forma

mais adequada possível. Dessa maneira, o indivíduo adquire uma postura ativa no

decorrer do tratamento.

“Agora sei o que tenho e vou me cuidar” (S4). “Hoje, para mim é levar uma vida normal, tive que fazer algumas restrições, mas consegui me adaptar dentro do possível” (S6). “Tive que por na cabeça que não posso cometer exageros com a alimentação” (S6). “Minha vida esta próxima do normal, apenas procuro tomar alguns cuidados” (S6).

A adaptação do paciente ao estado clínico só será possível a partir da

conscientização do mesmo acerca de sua doença, e da necessidade de tratamento

permanente, com mudanças na alimentação e nos comportamentos. Sendo assim, é

interessante que o paciente tivesse apoio psicológico, um clima favorável para falar

de seus medos e perdas. Pois, tende conseqüentemente a ampliar a possibilidade

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

42

de melhoria na qualidade de vida (MACIEL, 2002).

5ª Categoria – O Tratamento “Com medicamentos é difícil, sem eles seria

terrível”.

O tratamento das DIIs tem como objetivo tratar infecções, diminuir a atividade

inflamatória da doença, melhorar o estado nutricional, tentar aliviar os abalos

emocionais, buscando uma melhor qualidade de vida sempre. Isto visando à

remissão dos sintomas e a manutenção da mesma (GOLIGHER, 1990).

A Organização Mundial da Saúde através do Grupo Qualidade de Vida definiu

mesma como a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no contexto do

sistema cultural e de valores em que ele vive e em relação a seus objetivos,

expectativas, padrões e preocupações (FLECK , 2000).

De acordo com a gravidade da doença é indicado um vasto arsenal

terapêutico, como compostos nutricionais e corticóides, entre outros. Em casos

específicos pode ser necessário o tratamento operatório, o qual é composto por

diversas técnicas e cirúrgicas (QUILICI, 2002).

Observa-se que durante o curso das DII(s), tanto a RCUI, quanto a DC

provocam um estigma semelhante entre seus portadores durante o curso das DIIs. A

partir da literatura verifica-se que tal fato se diferencia somente quando as DIIs

evoluem para quadros extremos. Pois, em alguns casos restritos da RCUI, aqueles

muito graves, os quais não respondem ao tratamento ou quando há sangramento ou

diarréia em demasia, ou até mesmo risco de câncer, os pacientes têm a

possibilidade de uma alternativa extrema que é uma operação cirúrgica conhecida

como Procto-colectomia total com bolsa ileal. Esta compreende uma técnica que

remove todo o cólon e o reto e a bolsa ileal realiza o papel de um reservatório que

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

43

possibilita a constituição de um novo reto, permitindo a continência evacuatória.

Mas, esta técnica é indicada somente em situações extremas, pois embora atinja um

bom resultado, é uma intervenção de elevada morbidade (KEIGHLEY et al., 1999).

Porém, mesmo diante do grande risco que acompanha o radicalismo do

procedimento descrito acima, esta é uma alternativa que possibilita certa diminuição

do estigma que afeta os portadores de RCUI, pois estes quando atingem o sucesso

cirúrgico, conseguem ter uma sobrevida melhor. Já em relação aos indivíduos

acometidos por DC, isso não ocorre, pois estes em situações de extrema gravidade

não podem ser beneficiados pela mesma intervenção. Isso se explica pela região

anatômica que tais patologias acometem, sendo que a DC engloba todo o tubo

digestivo, ou seja, da boca até o canal anal. Desta forma fica impossibilitada de

realizar tal procedimento aumentando o estigma diante da imprevisibilidade da

doença.

Por ser um tratamento muito rigoroso o paciente passa por várias restrições,

provocando sensação de impotência diante a doença. Como podemos observar nos

relatos abaixo:

“Sei que vou ter que fazer tratamento sempre” (S2). “Terei que fazer tratamento à vida toda, sempre buscando uma melhor qualidade de vida” (S3).

A avaliação da qualidade de vida valoriza a perspectiva do paciente em

relação a várias dimensões da sua existência, e não só em relação à intensidade

dos sintomas da doença (FLECK, 2000).

“Deve ser tratada, pois não há cura e pode levar a morte” (S4).

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

44

“Tenho que tomar remédios e me cuidar o tempo todo” (S6). “Estou me tratando há alguns anos e penso que se com medicamentos é difícil, sem eles seria terrível, bem pior” (S3).

O problema de adesão ao tratamento é mais evidente nas doenças crônicas,

pois a relação da doença com a possibilidade de tratamento tem forte impacto no

estilo de vida do seu portador (KERBAUY, 2001).

É importante para o paciente fazer o tratamento para que as crises não

voltem, ou se isso acontecer, que os intervalos entre elas sejam mais prolongados.

Pois esses indivíduos estão sempre em estado de alerta contra novas crises o

tempo todo (SGANZERLA, 2003).

Segundo Dattilio e Freeman (1994) apud Miyazaki et al. (1998), aplicação da

terapia cognitiva comportamental é útil para intervenções em crises semelhantes.

Envolvem contexto de apoio, informações sobre a doença, e o tratamento,

desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e relaxamento. Desta maneira é

necessário compreender o impacto da doença crônica sobre o paciente,

desenvolvendo estratégias que procurem aumentar sua qualidade de vida.

A boa relação médico paciente tem provado ser um prenúncio de uma melhor

evolução para os pacientes com DIIs, pois o sucesso do tratamento está diretamente

ligado à qualidade da relação terapêutica.

O portador de uma enfermidade crônica necessita de constantes cuidados

exigidos pelo tratamento. Assim requer contato freqüente com seu médico, por isso,

é fundamental que se estabeleça um bom relacionamento entre o profissional e

paciente para que o tratamento seja realmente eficaz. Pois, faz com que o individuo

sinta-se mais seguro (SANTOS e SEBASTIÃO, 1996).

Segundo Meleiro (1999), a qualidade da relação médico-paciente depende da

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

45

estrutura psicológica de ambos. A relação deve ser adequada a cada paciente,

variando também de acordo com as modificações que a doença provocar na

situação vital do mesmo.

As habilidades do paciente e do médico são importantes para estabelecer

relacionamentos positivos e aliança para o tratamento. Esta aliança implica interação

pós-social entre médico e paciente, acesso do profissional a um conjunto de

informações sobre os modos de lidar com a doença e tomadas de decisão mútua

sobre o manejo de dificuldades encontradas pelo paciente e sua família, para seguir

o tratamento (MELEIRO, 1999).

Nos relatos abaixo os pacientes expressaram essa importância da relação

médico/paciente:

“O meu tratamento é confiar no meu médico” (S1). “Eu confio no meu médico” (S5). “O negocio é fazer o que o médico mandar” (S6). “No meu tratamento tenho que ter paciência, coragem e confiança no meu médico” (S4).

Um outro aspecto a ser observado refere-se aos efeitos psicológicos do uso

de corticóides que vão desde insônia, agitação, habilidade emocional, aumento de

peso entre outros, como fica evidente nas falas abaixo:

“Sei que passei a tomar cortisona e essa medicação me incha muito. Perdi minhas roupas” (S5). “O tratamento que fui submetida é à base de corticóides, mas tive problemas por causa da ulcera” (S4). “Meu tratamento é a base de cortisona, foi bastante chocante” (S1).

Devido à complexidade do tratamento dos DIIs e das possíveis complicações

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

46

clinicas, o paciente acaba demonstrando forte abalo emocional diante das diversas

formas de intervenções, como observação nas falas a seguir:

“Já usei há cinco meses, bolsa de colostemia”. É degradante, enlouquecedor’ (S1). “Sempre procurando um tratamento menos traumatizante e eficaz” (S1). “Faço acompanhamento psicológico também” (S1). De acordo com a teoria cognitiva comportamental, se analisarmos a doença e

a saúde, vemos que existe o evento claro que é o diagnóstico confirmado. Assim

avalia o que é possível fazer em um futuro próximo ou distante, de acordo com as

descobertas científicas disponíveis. Em seguida observa como a pessoa percebe e

descreve sintomas físicos em intensidade e interferência na vida, depois como a

própria pessoa, e o ambiente relacional, reage diante das soluções possíveis, se

reclamam, aceitam, encorajam ou rejeitam. Dessa forma, o psicólogo através de

tarefas, questionamentos e observações, pode favorecer a eficácia de um

tratamento (KERBAUY, 2001).

“Fui submetida a uma cirurgia para retirada de um segmento do intestino delgado” (S2). “Há anos atrás passei por uma cirurgia que remove todo cólon e o reto, eu acho que é isso” (S6).

De um modo geral o clinico deve se conscientizar de que esses pacientes

necessitam de uma relação com seus médicos que valorize os transtornos afetivos

emocionais. O acolhimento, a capacidade de escutar as angústias de tais pacientes,

o esclarecimento e até saber encaminhá-los ao acompanhamento psicológico, no

momento certo, pode facilita uma evolução mais satisfatória para estes enfermos

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

47

(ANDRADE e MESQUITA, 2000).

6ª Categoria- Os Sentimentos “São muitos sentimentos, uma confusão”

Correspondem às repercussões emocionais relacionadas às DIIs.

Sentir não é agir, a ação é resultado de uma escolha. Sentir é a interação do

organismo sujeito com o ambiente. Para que se compreenda essa interação existe

uma palavra chave: a comunicação (ANDRETTA, 2003).

Skinner (1995) apud Andretta (2003) observa que, sensorialmente, sabemos

o que estamos sentindo, pois existem contradições corporais ocorrendo. Sendo o

sentimento um estado corporal, e um privado, ele adverte que não se trata de

estímulos determinantes do comportamento, mas sim subprodutos das

contingências de reforçamento.

De acordo com a análise do comportamento, os sentimentos relatados e

descritos, indicam o que tem ocorrido na história pessoal e o que a pessoa pode

fazer, ou precisa apreender, além de como está à desorganização de seu

comportamento após o diagnóstico. Muitas vezes o paciente se revolta até aceitar

um diagnóstico e entra em processo de combate a doença (KERBAUY, 2001).

“Meus sentimentos se misturam. Sinto insegurança, desconforto, medo, angustia um pouco deprimida, como se estivesse de mãos amarradas diante da própria vida” (S3). “Me sinto muito angustiada” (S4). “O primeiro e mais forte sentimento que surge é o medo” (S2). “A ansiedade também me acompanha” (S2). “Me sinto um pouco perdida e angustiada” (S5). “Fico muito ansiosa” (S5).

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

48

Segundo Folks et al., (2000), a tensão emocional pode influir no curso e na

evolução das DIIs. A ansiedade é uma das manifestações mais freqüentes na

emocionalidade das pessoas.

Segundo Keller e Schoenfeld (1950) apud Kerbauy (2001), em uma situação

de doença diagnosticada, mas nem sempre aceita, e com conseqüências claras para

a programação da vida do indivíduo, este costuma usar uma linguagem carregada

de palavras que descrevem emoção, e não ação.

“São muitos sentimentos, uma confusão” (S5). “Eu sinto um forte estigma que tudo pode voltar” (S6). “Sinto uma certa angustia com cada sinal novo” (S6). “Fiquei muito revoltada, cheguei até não colaborar com o tratamento no inicio” (S5). “Às vezes choro, em outras vezes me conformo” (S5).

Como podemos observar, nos relatos acima, os pacientes da DIIs enfrentam

um índice elevado de estresse, inicialmente pelo diagnóstico da patologia e suas

conseqüências físicas, seguidas pelas dificuldades terapêuticas, o índice de

recidivas e ainda a cronicidade (QUILICI, 2002).

A resposta mais comum a um extressor, é a ansiedade. Por ansiedade,

entende-se a emoção desagradável caracterizada por palavras como preocupação,

apreensão, tensão e medo. É uma das emoções mais perturbadoras que as pessoas

podem sentir (ATKINSON et al, 2000).

Percebe-se que o paciente com DII apresenta medo diante ao estigma da

doença, assim como a ansiedade citada anteriormente. Porém medo e ansiedade

não são sinônimos. O medo é um sentimento de inquietude, um sinal de alerta frente

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

49

uma ameaça conhecida, não conflituosa, A ansiedade é sentido diante de uma

ameaça, tendência de esquiva e fuga, é uma resposta a situações percebidas como

estressantes, ameaçadoras (ARNOLD, EYSENCK e MEILI, 1982, CABRERA e JR,

2002, KAPLAN, 1997, GUIMARÃES, 2001).

A partir do surgimento de uma doença crônica, o paciente sofrerá uma série

de perdas, levando-o a um esfacelamento total de sua vida, tanto física, orgânica,

quanto social. Assim instala-se uma situação traumática na vida do paciente

(MACIEL, 2002).

De acordo com a teoria comportamental e cognitiva, a doença crônica envolve

ameaças e mudança no estilo de vida, criando uma situação de estresse para seus

pacientes. A adaptação à doença, e a forma que o paciente a enfrenta, dependem

de vários fatores, como dor, mudanças na aparência e tipo de tratamento necessário

(SERAFINO, 1994, apud MIYAZAKI et al., 1998).

O sentimento se torna uma pista para a realização da análise funcional,

indicando as condições que o afetaram, o comportamento presente e as condições

que afetarão no futuro (ANDRETTA, 2003).

A angustia é outro sentimento muito presente no paciente de DII. É uma

sensação de mal estar intenso, desespero, diante de um perigo vago. Pelo qual a

pessoa se sente impotente (SILLAMY, 1998).

Os pacientes acometidos por DIIs são submetidos a indesejáveis mudanças,

as quais podem provocar uma ameaça a sua identidade. Assim observa-se o

isolamento social como uma das reações emocionais. A fala a seguir demonstra tal

fato:

“Me sinto limitada” ( S1).

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

50

“No começo eu não conseguia sair de casa, tinha medo de eclodir outra crise” (S1). “No inicio foi bastante chocante” (S1). “Fico com medo de ser surpreendida por uma nova crise” (S4).

A partir de diversos estudos verificamos nas DII(s), que a cronicidade da

doença, e o quadro clínico, acarretam conflitos sociais e freqüentemente afetam a

qualidade de vida destes pacientes interferindo com seu trabalho, lazer e

relacionamento sociais, e sexuais (ANDRADE e MESQUITA, 2000).

As DIIs podem levar seus portadores a distúrbios emocionais e mesmo a

depressão, fato que fica evidente nos relatos a seguir:

“Com a doença veio à depressão primeiramente” (S1). “Sou muito depressiva” (S4). “No começo me deprimiu muito, fiquei mal” (S5).

As queixas gastrintestinais fazem parte da constelação de sintomas

somáticos presentes em grande parte dos pacientes com depressão. A influência

dos distúrbios emocionais, sobre a função gastrintestinal, foi demonstrada

inicialmente através da observação de pacientes com erosões e ulcerações

gástricas e, posteriormente, através de estudos da psicofisiologia gastrintestinal. O

sistema nervoso central, e o trato gastrintestinal, interagem de forma bidirecional. Da

mesma maneira que as informações ambientais, e psicológicas, afetam o

funcionamento do trato gastrintestinal, alterações nas condições gastrintestinais

poderão afetar o SNC influenciando a percepção da dor, o humor e outras funções

mentais (ANDRADE e MESQUITA, 2000).

Observa-se também que é fundamental manter a esperança do paciente, pois

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

51

esse é um fator que favorece a recuperação, possibilitando prognóstico melhor ao

mesmo (ABRÃO, 1987 apud CAMPOS, 1995).

É possível verificar isto nas seguintes falas:

“Mas ao mesmo tempo me sinto com uma enorme vontade de buscar uma nova maneira de conviver essa doença” (S3). “Com o tempo fui me conformando” (S5).

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo procurou identificar as repercussões emocionais nos pacientes

portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais e, ao final do mesmo, constatou-se

que:

• As repercussões emocionais podem influenciar o quadro clínico dos

pacientes com DIIs.

• A maioria das falas demonstrou insegurança diante da imprevisibilidade do

seu prognóstico, pois os pacientes se sentem limitados, apresentam

isolamento social decorrente das crises inesperadas, sendo assim

transformam seu cotidiano numa batalha repleta de sofrimento.

• Há entre os sujeitos estudados, maneiras diferentes de reagir frente às

restrições impostas pelas DIIs. É válido destacar o relato de um paciente que

demonstra, por mais incrível que possa parecer, que sua qualidade de vida

melhorou após o diagnóstico de DII, pois, alterou toda sua forma de ver a

vida, inclusive sua maneira de pensar.

• Fatores emocionais podem ser considerados precipitadores da doença

quando negativos, mas devem ser vistos também como fortes elementos

contribuidores de melhora, quando positivos.

• Cada indivíduo percebe e reage de diferentes maneiras, confirmando que

pensamentos influenciam comportamentos e sentimentos das pessoas e,

embora essas patologias provoquem muitas restrições na vida de seus

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

53

portadores, é possível haver adaptação à nova vida.

• O caráter crônico e as dificuldades terapêuticas relacionadas às DIIs, causam

aos pacientes um constante estresse emocional, pois eles necessitam

adaptar-se a uma nova realidade, uma nova rotina.

• Há uma diversidade de emoções que acometem os pacientes das patologias

em questão. A ansiedade, angustia, medo, insegurança entre outras, estão

presentes no dia a dia destes pacientes.

• A depressão foi à repercussão emocional que predominou entre os sujeitos

entrevistados.

• Considerando que as DIIs têm caráter multifatorial, a análise dos dados

demonstrou que há casos onde os antecedentes podem influenciar na

eclosão da doença, pois a época da vida em que adoece tem muito a ver

com a história do individuo. Um exemplo está no caso de um dos

entrevistados onde a tensão emocional desencadeou a doença, pois o sujeito

passou por um estresse e em seguida eclodiu a Doença de Crohn.

• Os portadores são acometidos por um estigma extremamente elevado que

acompanha todo processo de desenvolvimento da doença, desde o

conhecimento do diagnóstico, seguido pelas modificações e restrições que os

mesmos necessitam realizar em suas vidas, pelas dificuldades terapêuticas,

além da cronicidade destas patologias.

• O curso das DII(s), tanto a RCUI, quanto a DC provocam um estigma

semelhante entre seus portadores durante o curso das DIIs. Neste estudo a

semelhança na distribuição das unidades de registro encontradas, confirma

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

54

este fato.

• O tratamento das DIIs visa uma melhor qualidade de vida dos pacientes

tentando alcançar a remissão dos sintomas e possibilitar a sua manutenção.

Nos relatos dos pacientes entrevistados, os mesmos demonstraram forte

abalo emocional e dificuldades com o tratamento.

• O indivíduo quando ciente do seu diagnóstico e tratamento conseguirá

maiores chances de sucesso em seu quadro clínico, pois realiza de maneira

mais adequada o seu tratamento.

• Pacientes que não possuem as informações corretas demonstram certa

insegurança diante a imprevisibilidade do seu problema.

• A falta de informações pode desencadear estado de ansiedade, medo,

insegurança e angustia e assim acaba atrapalhando o processo do

tratamento.

• A importância da relação médico-paciente é vista como garantia para o

sucesso do tratamento, pois considerando que as DIIs são crônicas é

necessário estar em constante contato com o médico. Dessa forma é

fundamental que o indivíduo confie no seu médico para obter melhores

resultados e sentir-se mais seguro.

Diante dos dados analisados, e considerando que as DIIs apresentam fortes

estigmas médicos e sociais, torna-se fácil concluir o quanto são vastas as

possibilidades de repercussões psicológicas. Assim, arrisca-se concluir que os

pacientes portadores de DIIs apresentam fortes abalos emocionais por seus

aspectos limitantes e caráter incurável, afetando o indivíduo de forma social.

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

55

Negativas reações emocionais e clínicas são ainda habituais nos citados

pacientes. Obvio, portanto, valorar-se o fato da influência maléfica, ou benéfica

dos fatores psicológicos.

Segundo Dattilio e Freeman (1994) apud Miyazaki et al. (1998), a aplicação

da terapia cognitiva comportamental (TCC) é útil para intervenções em casos

semelhantes. Envolvem contexto de apoio, informações sobre a doença, e o

tratamento, desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e relaxamento. Desta

maneira é necessário compreender o impacto da doença crônica sobre o paciente,

desenvolvendo estratégias que procurem aumentar sua qualidade de vida, assim

como auxiliá-lo a identificar seus pensamentos, atitudes, crenças e comportamentos

pouco adaptativos.

Sendo assim, acredita-se na importância do trabalho do psicólogo junto aos

pacientes de DIIs. Pois, um trabalho terapêutico tem como função básica à

promoção de mudanças comportamentais que levam a diminuição do sofrimento, e

ao aumento de contingências reforçadoras (VERMES E MEYER, 2001).

Este profissional pode atuar visando à promoção do bem-estar psicológico da

pessoa que está enfrentando a doença, compreendendo os mecanismos usados

para tratá-la, contribuindo, dessa forma, para maior adesão ao tratamento e

humanização do atendimento aos portadores. Porém, há ainda muitos caminhos a

serem percorridos e, a partir das questões referentes a essa temática, a

necessidade de outros estudos torna-se importante como forma de ampliar ainda

mais o conhecimento que a Psicologia pode dar e também como forma de promover

a troca de experiências com as demais áreas envolvidas.

Page 57: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

56

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIRES, Cristina. O Papel do Psicoterapeuta no Tratamento de Doenças Inflamatórias Intestinais. Disponível em: < http: //sites.uol.com.br/gballone/psicossomática/intestinal.html>. Acesso em 24 de março de 2006. ANDRADE, Carlos Laganá de; MESQUITA, Maria Aparecida. Transtornos Gastrintestinais. In: FRÁGUAS JUNIOR, Renério; FIGUEIRÓ, João A. Bertuol. Depressão em medicina interna e em outras condições medicas: depressão secundarias. SP: Atheneu, 2000. ANDRETA, S. C. Alves. A Terapia Cognitiva Comportamental na Enfermaria de Cirurgia Geral. In: Neves Neto, Armando Ribeiro das, et al (ORG). Psicoterapia cognitivo-comportamental: Possibilidades em clínica e saúde. Santo André, SP: Editores Associados, 2003. ANGERAMI-CAMON, V.A.A. Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 1995. ARNOLD, W; EYSENCK, H. J; MEILI, R. Dicionário de psicologia. São Paulo: Loyola, 1982. ATKINSON, R. L. et al. Introdução á Psicologia. 12 ed. Porto alegre: Artmed, 2000. BARLOW, David H. Manual clínico dos transtornos psicológicos. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. BECK, Aaron t. et al. Terapia cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. BOTEGA, N. J. Reação à doença e a hospitalização. In: BOTEGA, N. J. (org.). Prática psiquiatria no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed, 2002. cap. 3, p.43-59. CABREIRA, C.C. JR; ALCIONS, S. Ansiedade e insônia. In: BOTEGA, N. J. Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed, 2002. CAMPOS, T. C. P. Psicologia hospitalar: a atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo: EPU, 1995. CAMPOS, Fabio Guilherme C. M. de. Doenças Inflamatórias Intestinais. In: COELHO, Julio César Viti et al. A Cirurgia do Aparelho Digestivo Rumo ao Terceiro Milênio. São Paulo: Lemos Editora, 2000. CREPALDI, M. A. Hospitalização na infância: representações sociais da família sobre a doença e a hospitalização de seus filhos. São Paulo: Cabra, 1999.

Page 58: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

57

COELHO, Júlio. Aparelho Digestivo: cínica e cirurgia. Rio de Janeiro: Medsi, 1990. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2000. DAMIÃO, Anderson O. M. Cintra. Tratamento Clinico da Retocolite Ulcerativa Inespecifica, In: ROSA, Heitor et al. Terapêutica em Gastroenterologia. São Paulo: Lemos, 2000. DANI, Renato; Castro, Luiz de Paula. Gastroenterologia Clinica. 3º Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan- vol1, 1993. DIAS, M. A. S. Quem ama não adoece. São Paulo: Best seller, 1994. FOLKS, David G.; Kinney, F. Cleveland. Condições Gastrintestinais. In: STOUDEMIRE, Alan Corg. Fatores Psicológicos Afetando Condições Medicas. Tradutor: Adrianne Sassi et al. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. FRANCO, Maria Laura P. Barbosa. O que é analise de Conteúdo. São Paulo: {s.n}, 1986. FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio: o mini-dicionário da língua portuguesa. Curitiba: Posigraf, 2004. FLECK, M. P. de A. Avaliação de qualidade de vida. In: FRÁGUAS JUNIOR, Renério; FIGUEIRÓ, João A. Bertuol. Depressão em medicina interna e em outras condições médicas: depressão secundarias. SP: Atheneu, 2000. FONGARO, M.L.H. e SEBASTIANI, R. W. Roteiro de avaliação psicológica aplicada ao hospital. In: ANGERAMI-CAMON, V.A.A. (org.). E a Psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneiras, 1998. GUIMARÃES, S.S. Psicologia da Saúde e Doenças Crônicas. In: KERBAUY, R.R. (org). Comportamento e Saúde: explorando alternativas. Santo André: Arbytes, 1999. GUIMARÃES, S. S Técnicas cognitivas e comportamentais. In: RANGÉ Bernard. Psicoterapias cognitivos-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. GOLIGHER, John. Cirurgia do Ânus, Reto e Colo. 5º Ed. São Paulo: Manole Ltda.- vol. 2, 1990. JEAMMET, Philippe et al. Psicologia Medica. Rio de Janeiro: Medsi, 2000. KAPLAN, H. et al. Compêndio de psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. KERBAUY, R. R. As emoções na prevenção de doenças e na manutenção do tratamento. In: Marinho, Maria l; GabalLo, Vicente E (ORG). Psicologia clínica e da saúde. Londrina: Editora UEL, 2001.

Page 59: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

58

KEIGHLEY, Michael R. B. et al. Atlas de Cirurgia Colorretal. Rio de Janeiro: Revinter, 1999. MACIEL, S. C. A importância do Atendimento Psicológico ao Paciente Renal Crônico em Hemodiálise. In: ANGERAMI-CAMON, V. A.; et al. Novos Rumos na psicologia da saúde. São Paulo: Pioneira, 2002, p.55-85. MAZZOTTI, Alda Judith Alves; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sócias: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. MELEIRO, A.M.A.S. O Médico como Paciente. São Paulo: Lemos Editorial, 1999.

MINAYO, Maria Cecília Souza et al. A saúde em estado de choque. Rio de Janeiro: Editora. Espaço e Tempo, 1992. MIYAZAKI, M. C. O. S. et al. Instituições de saúde. In: RANGÉ, B. Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa, prática, aplicações e problemas. Campinas: Psy, 1998. MORAES, Roque. Analise de Conteúdo. Educação. Porto Alegre, nº 37, p. 7-32, março, 1999. PÁDIA, Elisabete Matallo Marches de. Metodologia da Pesquisa: abordagem teórico-prática. Campina, SP: Papirus, 2000. PACIORNIK, Rodolpho. Dicionário Médico. Rio de Janeiro: Guanabara koogam,1969. QUILICI, Flavio Antônio. Retocolite Ulcerativa. São Paulo: Lemos Editorial, 2002. REZENDE, Maria Lucia Magela. Saúde, a dialética do pensar e fazer. São Paulo: Editora Cortez, 1989. RODRIGUES, Maria Socorro P.; LEOPARDI, Maria Tereza. O método de analise de conteúdo: uma versão para enfermeiros. Fortaleza, 1999. SANTOS Amarante, Heda Maria B. das. Doenças inflamatórias intestinais: da avaliação clinica á terapêutica moderna. In: LEITÃO, Olival Ronald et al. Os desafios da gastroenterologia. São Paulo: Attana Pharma Ltda. e a segmento Farma. Editores Ltda., 2004. SANTOS, C. T. S; SEBASTIAN, R. W. Acompanhamento psicológico a pessoas portadoras de doença crônica. In: CAMON, V. A. A. et al. E a psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira, 1996. SGANZERLA, V. Dá para viver longe das crises? ABCD em foco. São Paulo, n.15, p.4-5, 2003. SILLAMY, N. Dicionário de psicologia laurousse. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Page 60: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

59

TRIVIÑOS, Augusto N. S.; Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Editora Atlas, 1987. TURATO, Egberto Ribeiro. Tratado da metodologia da pesquisa clinico- qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada, e aplicada nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. VERMES, J.S; MEYER, S. Relação terapêutica. In: RANGÉ Bernard. Psicoterapias cognitivos-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

Page 61: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

60

7 ANEXOS

Page 62: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

61

8 APÊNDICES

Page 63: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

62

APÊNDICE 01

A Clínica Gastromed situada à Rua Engenheiro Rebouças, número 614 na

cidade de Foz do Iguaçu está ciente de que serão realizadas entrevistas a fim de

identificar as repercussões emocionais em pacientes portadores de doenças

inflamatórias intestinais (DIIs). Os dados coletados poderão ser utilizados tanto para

fins acadêmicos, como para publicação em eventos e/ou revistas científicas por

professores idôneos no ensino de seus alunos do Curso de Psicologia da UNIVALI.

Por serem voluntários não terão direito a nenhuma remuneração, e os dados

referentes a estes profissionais serão mantidos em sigilo.

Local:_______________________________________Data:_________________

Assinatura (de acordo):________________________

Page 64: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

63

APÊNDICE 02

Entrevista n _______________

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

- Sexo:

- Idade:

- Grau de instrução:

- Profissão:

- Estado civil:

- Procedência

- Diagnostico médico:

( ) Retocolite Ulcerativa Inespecifica ( ) Doença de Crohn

ROTEIRO DE ENTREVISTA:

1 Há quanto tempo você possui este diagnóstico?

2 Qual o conhecimento que você possui desta doença?

3 Como é para você ser portador desta doença?

4 Fale a respeito de como era sua vida antes da doença e como é sua vida

atualmente.

5 Qual seu conhecimento sobre o tratamento ao qual será submetido?

6 Quais os sentimentos que surgem frente ao tratamento indicado?

Page 65: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

64

APÊNDICE 03

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa cujo objetivo é

identificar as repercussões emocionais em pacientes portadores de doenças

inflamatórias intestinais (DII).

Sua tarefa consistirá na participação em uma entrevista versando sobre

tempo de diagnóstico, conhecimento sobre a doença e sobre o tratamento e

aspectos da sua vida passada e atual.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:

a) seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido seu anonimato;

b) os resultados da pesquisa serão utilizados somente com finalidade acadêmica

podendo vir a ser publicado em revistas especializadas, porém, como explicitado no

item (a) seus dados pessoais serão mantidos no anonimato;

c) não há respostas certas ou erradas, o que importa é sua opinião;

d) a aceitação não implica que você estará obrigado a participar , podendo

interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado ,

bastando, para tanto, comunicar a pesquisadora;

e) você não terá direito a remuneração por sua participação, ela é voluntária;

f) durante a participação, se tiver alguma reclamação, do ponto de vista ético, você

poderá contar com o responsável por esta pesquisa.

g) os resultados da pesquisa serão repassados à psicóloga responsável pelo

atendimento psicoterápico na clínica que o colocará a par dos mesmos.

Page 66: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Madalozzo Teixeira.pdf · O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro

65

IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO

Eu_________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será realizada e

no que consiste minha participação. Diante dessas informações aceito participar da

pesquisa.

Assinatura:__________________________________________________________

RG:_______________

Pesquisadora responsável: Prof. Giovana Delvan Stühler

Assinatura:_______________________________________

UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia

Rua Uruguai, 438 – bloco 25b – sala 401

F.(047)99284041 E-mail:[email protected]