trabalho de portugues- artigo cientifico

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1- REDUÇÃO DA MAIORIDADE NO BRASIL Hoje no Brasil, é cada vez mais comum falar da participação de menores de idade na pratica de condutas contrárias a lei. Essa crescente participação vem gerando várias discussões no meio da sociedade. Tal controvérsia gira em torno da tentativa de redução da maioridade do Código Penal Brasileiro de 18 (dezoito) anos para 16 (dezesseis) anos de idade. Porque sempre que nos deparamos em crimes com requintes de crueldade, com grande repercussão na mídia, em que menores de idade estão envolvidos, a redução da maioridade penal aparece para a sociedade como uma “válvula de escape” para solucionar o problema de violência no Brasil, como se a diminuição desta idade fosse um espécie de mágica para resolver os problemas sociais que sempre fizeram parte de nossa história. O código Penal Brasileiro define que o menor de idade é aquele com menos de 18 (dezoito) anos de idade e que este não tem capacidade de responder criminalmente por seus atos conforme o artigo 27 do Código Penal: “os menores 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos as normas estabelecidas na legislação especial”. Esta também é a definição da Carta da Republica que expressamente define em seu artigo 228, “são penalmente inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, sujeitos as normas de legislação especial”, ou seja, especificamente ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Entretanto, este artigo, é considerado um direito individual mesmo não estando no rol do artigo 5º da Lei maior, tendo

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Artigo Cientifico

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Page 1: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

1- REDUÇÃO DA MAIORIDADE NO BRASIL

Hoje no Brasil, é cada vez mais comum falar da participação de menores de

idade na pratica de condutas contrárias a lei. Essa crescente participação vem

gerando várias discussões no meio da sociedade. Tal controvérsia gira em torno da

tentativa de redução da maioridade do Código Penal Brasileiro de 18 (dezoito) anos

para 16 (dezesseis) anos de idade. Porque sempre que nos deparamos em crimes

com requintes de crueldade, com grande repercussão na mídia, em que menores de

idade estão envolvidos, a redução da maioridade penal aparece para a sociedade

como uma “válvula de escape” para solucionar o problema de violência no Brasil,

como se a diminuição desta idade fosse um espécie de mágica para resolver os

problemas sociais que sempre fizeram parte de nossa história.

O código Penal Brasileiro define que o menor de idade é aquele com menos

de 18 (dezoito) anos de idade e que este não tem capacidade de responder

criminalmente por seus atos conforme o artigo 27 do Código Penal: “os menores 18

(dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos as normas

estabelecidas na legislação especial”. Esta também é a definição da Carta da

Republica que expressamente define em seu artigo 228, “são penalmente

inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, sujeitos as normas de legislação

especial”, ou seja, especificamente ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Entretanto, este artigo, é considerado um direito individual mesmo não estando no

rol do artigo 5º da Lei maior, tendo consequência jurídica à proteção pela

imutabilidade que rege o artigo 60, § 4º, IV da Constituição Federal, as chamadas

clausulas pétreas, sendo assim, poderá ser suscetível de alteração por proposta de

Emenda Constitucional. Nesse caso ainda que fosse admitida a mudança da norma

do artigo 228 da Carta Magna de 1988, diminuindo a idade mínima de

responsabilização penal de 18 (dezoito) anos para 16 (dezesseis) anos de idade não

teríamos como afirmar se realmente aconteceria a diminuição das infrações penais

praticadas por menores de idade.

Se a criminalidade no Brasil fosse realmente diminuída com o aumento da

severidade da pena, com a entrada em vigor das leis dos crimes hediondos, onde

ocorreram algumas restrições de benefícios, o preso sendo tratado de forma mais

Page 2: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

rigorosa, os estupros, homicídios qualificados, etc., teriam ao menos, seus índices

diminuídos, o que na verdade não ocorreu. Nada adiantaria reduzir para 15 (quinze),

16 (dezesseis) anos ou qualquer outra idade a maioridade penal, tendo em vista

que, o crime continuaria existindo. Ás vezes chega a ser comparado a idade da

imputabilidade do Brasil com a dos Estados Unidos da América ou algum outro País

desenvolvido, no sentido da nossa ser alta em relação aos demais Países. O

problema é que na hora da comparação, não é levado em consideração à estrutura

que esses Países oferecem aos Seus jovens, proporcionando uma sadia qualidade

de vida. Não entram na discussão os altos investimentos que foram feitos nesses

Países em saúde, moradia, esporte, lazer e principalmente em educação,

investimentos estes, que ainda não tivemos com eficácia.

Desta maneira, um jovem que cresce num País desenvolvido, com condições

totalmente favoráveis para seu desenvolvimento, devido ao seu amadurecimento,

tem sim, capacidade de assumir seus atos, de ser responsabilizado por uma

conduta contraria a lei, diferente de nossos jovens, que não tem estrutura nenhuma

para ajudar no seu desenvolvimento. Assim, sem a participação conjunta do Estado,

da sociedade e da família, sem investimentos em políticas públicas, como educação,

melhor distribuição de rendas, jamais serão solucionados os problemas de

criminalidade entre os jovens.

Não tem como falarmos da “Redução da Maioridade Penal”, sem falar em

umas das varias vertentes deste assunto que é a violência urbana nas nossas

cidades. As decisões da sociedade, em todos os âmbitos, não devem jamais desviar

a atenção, daqueles que nela vivem, das causas reais de seus problemas. Uma das

causas da violência está na imensa desigualdade social e, consequentemente, nas

péssimas condições de vida a que estão submetidos alguns cidadãos.

A violência não é solucionada pela culpa e pela punição de alguém, antes

pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a produzem.

Agir punindo e sem se preocupar em revelar os mecanismos produtores e

mantedores de violência tem como um de seus efeitos principais aumentarem a

violência.

Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não à causa. É encarcerar mais cedo à

população pobre jovem, apostando que ela não tem outro destino ou possibilidade,

Page 3: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

quando que na verdade o problema não é reduzir a maioridade penal, é isentar o

Estado do compromisso com a construção de políticas educativas e de atenção para

com a juventude.

Mencionando o estado como o principal compromisso de construção de

politicas educativas e de atenção para a juventude é falar que a adolescência é uma

das fases do desenvolvimento dos indivíduos e, por ser um período de grandes

transformações, deve ser pensada pela perspectiva educativa, o desafio da

sociedade é educar seus jovens, permitindo um desenvolvimento adequado tanto do

ponto de vista emocional e social quanto físico. É urgente garantir o tempo social de

infância e juventude, com escola de qualidade, visando condições aos jovens para o

exercício e vivência de cidadania, que permitirão a construção dos papéis sociais

para a constituição da própria sociedade.

A adolescência é momento de encaminhar e mostrar a que caminho

adequado o jovem deverá seguir, mas isso de forma alguma significa que ele irá

fazer. O maior exemplo disso é a juventude que vemos hoje em dia, muitos recebem

a melhor educação, princípios familiares, possuem condições financeiras favoráveis,

mas nada disso adianta se ele resolver que não quer seguir o caminho que desde

pequeno foi instruído a prosseguir, se nesse caso eles optam pela criminalidade

causando prejuízos e desastres aos outros, cabe ao Estado assegurar que ele não

vai cometer novamente outros delitos. Então aplica-se uma punição, que se adequa

ao caso de cada um.

2 - A MAIORIDADE PENAL À LIDE DA SOCIEDADE

ATOS E A RESPONSABILIDADE DO AGRESSOR

A difusão do medo, a repressão nos dias atuais vem crescendo assustadoramente e

atos assim como a responsabilização do agressor, focado na reeducação e a

restauração do individuo que comete um ato ilícito parece ser ineficaz. Alguns dos

crimes cometidos por esses adolescentes ganham ênfase nos meios de

comunicação em massa, casos como do menino João Hélio de seis anos, arrastado

Page 4: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

durante um assalto brutalmente em sua cadeirinha por mais de 7 km na Rua

Oswaldo Cruz – Zona Norte do Rio de Janeiro em 2007, o caso ganhou repercussão

nacional e os acusados encontrados. Porém Ezequiel Toledo de Lima - acusado na

época era menor de idade tão logo “posto em liberdade”. Outro exemplo é o caso

Eliza Samudio, julgado pelo Tribunal do Júri de Minas Gerais, onde Jorge Luiz Rosa,

primo do então goleiro Bruno, foi liberado da medida socioeducativa que cumpria por

participar de atos infracionais análogos a homicídio triplamente qualificado e

sequestro em cárcere privado. O mesmo posto em liberdade em setembro de 2012,

pois em agosto de 2010 o adolescente tinha completado 17 anos de idade.

Casos que intrigam e revoltam a sociedade, mas a justiça vale-se do direito e a onda

conservadora de defesa da lei e da ordem utilizando instrumentos como o Estatuto

da Criança e do Adolescente exalta a responsabilidade ao jovem de doze aos

dezoito anos autor de atos infracionais, com a adoção de medidas socioeducativas.

Mesmo que o menor venha causar algum dano a outrem será considerado como

equiparado ou análogo em consonância à realidade implícita na lei. O máximo que

se pode chegar é a prestação de serviços comunitários em hospitais, asilos onde

nem sempre segue a rigor por falta de agentes públicos para fiscalizar essa

obrigação; a liberdade assistida, inserção em regime semiaberto; internação em

estabelecimento educacional é outra medida, porém complexa e o cumprimento

dessa demanda segue a capacidade do Estado. Mesmo o jovem incluído em

programas comunitários oficiais de auxilio à família, requisição de tratamento

médico, psicológico e psiquiátrico. Na prática torna-se possível a soltura ou a chance

desse menor ser posto em liberdade.

Quando deparamos com aspectos que englobam a maioridade penal, acalorados

debates e opiniões. A quem diga que o sistema da redução da maioridade penal é

ineficaz quanto ao combate às ilicitudes cometidas por esses jovens, outros tratam o

assunto como polêmico no que tange aos direitos humanos e que o mesmo seria

uma decisão radical, onde o encaminhamento da criança ou adolescente a seus pais

ou responsáveis ou mesmo a adoção de medidas chamadas protetivas com o

amparo do Estado deixará o jovem a margem da vulnerabilidade social.

Considerando a opinião pública em análise no campo jurisdicional chegou-se a

conclusão que a redução da maioridade penal no Brasil, somente poderá ser

Page 5: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

realizada mediante a criação de uma nova constituição poderia ser instalado essa

alteração, nem mesmo com uma simples emenda, pode ser feito. Se ocorrer o

mesmo perderá a sua validade, estabilidade e segurança jurídica necessária à

existência do Estado Democrático de Direito.

3- A OPNIÃO DOS DOUTRINADORES EM RELAÇÃO Á REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL

O aumento dos delitos praticados por menores de idade criou uma pressão social

para que a questão da imputabilidade penal pelo critério etário fosse revisto, o que

acabou gerando discussões no mundo jurídico, sendo a principal delas a

possibilidade de uma emenda constitucional alterando a idade para que a pessoa

possa ser considerada imputável.

Nos termos do art. 60, § 4º, IV, não poderá ser votada qualquer emenda que possa

diminuir a eficácia ou até mesmo abolir qualquer direito ou garantia individual.

Justamente nessa questão os juristas divergem: A questão da imputabilidade penal

aos dezoito anos previstos no art. 228 pode ou não ser considerada um direito

fundamental?

Guilherme de Souza Nucci (2012) entende que a emenda é possível, pois o

legislador constitucional originário inseriu esta previsão não por acaso no capítulo

“Da família, da criança, do adolescente e do idoso”, pois entendia não ser um direito

fundamental, deixando, topograficamente claro sua intenção.

O doutrinador ainda explica que muito embora existam espalhados pelo texto

constitucional diversas disposições que, muito embora não estejam inseridas no

capítulo que enumera os direitos fundamentais pela matéria regulada devem assim

ser considerados, não sendo este o caso da questão da imputabilidade penal, que

não pode ser considerado um direito fundamental material.

Nucci ainda fundamenta sua posição afirmando que

Page 6: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

Não é mais crível que menores com 16 ou 17 anos, por exemplo, não tenha condições de entender o caráter ilícito do que praticam, tendo em vista que o desenvolvimento mental acompanha como é natural, a evolução dos tempos, tornando a pessoa mais precocemente preparada para a compreensão integral dos fatos da vida. O menor de 18 anos já não é o mesmo do início do século, não merecendo continuar sendo tratado como uma pessoa que não tem noção do caráter ilícito do que faz ou deixa de fazer. (2012, p. 295/296).

Nucci ainda diz que a não diminuição da maioridade penal foge totalmente da técnica jurídica ou da discussão acerca da adequabilidade da medida, sendo unicamente medida de política criminal, pois com a diminuição da maioridade penal, um grande contingente de pessoas teria de ser conduzido ao sistema penitenciário, que já se encontra sobrecarregado, o que aumentaria ainda mais o colapso do sistema, exigindo uma readequação do sistema prisional, com a construção de novos presídios, gerando um aumento nas despesas do Estado. (2012, p. 297)

Entretanto, muito embora defenda a diminuição da maioridade penal como forma de

adequar a legislação repressiva à nova realidade social, Nucci entende que esta

medida não resolveria o aumento da criminalidade entre os menores de idade.

Assim, propõe que a retomada do critério bi psicológico utilizado no Código do

Império e no de 1890, no qual além da idade do agente deve ser analisado um

elemento subjetivo, qual seja a capacidade de entendimento do caráter ilícito da sua

conduta, mencionando o Anteprojeto de Código Penal apresentado por Nelson

Hungria em 1963, atendendo a solicitação do então Presidente da República Jânio

Quadros, que retomava este sistema ao prever que o maior de 16 anos e menor de

18, que fosse considerado capaz de entender a ilicitude de suas ações receberia a

mesma sanção do adulto, apenas com uma redução variável entre 1/3 a 2/3.

Já Júlio Fabbrini Mirabete, muito embora afirme que.

“o jovem de 16 a 17 anos, de qualquer meio social, tem hoje amplo conhecimento do mundo e condições de discernimento sobre a ilicitude de seus atos”, entende que a diminuição da maioridade penal representaria um retrocesso na política penal e penitenciária brasileira e criaria a promiscuidade dos jovens com delinquentes contumazes, muito em razão da total ineficiência do sistema penitenciário, que nem de perto consegue atingir o principal de seus objetivos, que é a ressocialização do detento. Muito pelo contrário, em razão das condições degradantes em que passa alguns anos de sua vida, o infrator acaba tornando-se ainda mais rancoroso, endurecido, sem qualquer sentimento de piedade. (2001, p. 217)

4- A CRIMINALIDADE NOS DIAS DE HOJE

Page 7: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

Hoje em dia, a violência faz parte do nosso cotidiano. Certamente vivenciamos

expectativas e frustrações no tocante à fragilidade da vida pública e social com

relação à violência. Não são poucas as notícias e imagens que nos chegam,

expondo o sério problema da violência no mundo e em nosso país. Contudo, não é

somente através dos noticiários de TV que a violência chega ao universo de nossos

lares.

Na verdade, estamos expostos com muita frequência aos fatores geradores da

violência. Podemos falar em violência urbana, em violência no trânsito, em violência

doméstica, em violência nos esportes, em violência televisiva e, até mesmo, em

violência virtual.

Desde muito cedo, nossos filhos estão entrando em contato com cenas violentas na

programação infantil de TV ou nos jogos de videogames. Sabemos que o ser

humano é fruto de relações sociais: a personalidade violenta decorre, em regra, do

ambiente social - marcado pela violência - no qual o ser humano foi socializado.

No passado, era possível afirmar com certeza que a violência estava associada,

quase que exclusivamente, ao mundo da pobreza. Se você habitasse o espaço

social da violência, teria que conviver com ela ou com seus efeitos. Eram os reflexos

da vida marcada pela miséria e pela exclusão que impulsionavam o comportamento

violento. A violência ocorria nas famílias socialmente desestruturadas e localizava-se

nas áreas urbanas que espelhavam a pobreza: as periferias e as favelas.

Sobre este tema, Abreu e Ferrari (2009) destacam que os indicadores do

DEPEN demonstram que o crime no Brasil é praticado por homens na faixa etária de

14 a 26 anos de idade; da cor parda ou preta; residentes nas periferias e favelas dos

grandes centros urbanos; com escolaridade que não ultrapassa o ensino

fundamental; com renda por pessoa inferior a um salário mínimo e com um ambiente

familiar marcado por um histórico de ausências e violência.

Este perfil social da violência no Brasil vem provocando uma série de confusões que

acabam se convertendo em abusos da parte das autoridades estatais incumbidas de

reprimir a criminalidade. De acordo com Zaffaroni (1991), o que ocorre geralmente

nestes casos de violência às camadas mais baixas da população é a aplicação da

Page 8: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

teoria da vulnerabilidade. Vulnerável aos abusos dos agentes do aparelho repressivo

do Estado, as pessoas pobres que vivem ou atuam em lugares marginalizados, são

o estereótipo para a prática do crime e, por isso, tornam-se as vítimas mais

vulneráveis à violência de um modelo de segurança pública que ainda direciona sua

atenção quase que exclusivamente para os pobres.

5- A NOVA FACE DA CRIMINALIDADE

Atualmente vem ocorrendo significativas mudanças no perfil social da violência.

Pessoas, sobretudo jovens, que não fazem parte do mundo da pobreza e da

discriminação racial, têm tido participação constante nas ações de violência. No

Brasil, são cada vez mais frequentes as informações que nos chegam sobre atos de

violência envolvendo jovens da alta classe média que agridem, por diversão ou

intolerância, homossexuais, profissionais do sexo, negros, nordestinos e indígenas,

entre outros seguimentos que integram um extenso leque de minorias sociais.

Há muitos questionamentos sobre os elementos que motivam os jovens que

receberam carinho dos pais, educação escolar de qualidade e acesso ativo ao

mercado de consumo, a praticar ações de violência.

Para tentar responder este questionamento, uma coisa é certa, não podemos deixar

de levar em consideração os novos elementos que passaram a atuar no nosso

processo de socialização dos anos 80 do século passado para cá. Há pelo menos

três décadas, crianças e jovens do Brasil estão em contato diário com uma série de

informações que incentivam e banalizam a violência.

De modo geral, a violência, traduz-se na época atual por um evento cujas

implicações e desdobramentos atingem, sem distinção, todos os segmentos sociais.

Conforme relata Moser (1991), a violência é, conceitualmente, um comportamento

social, já que pressupõe uma relação que envolve pelo menos duas pessoas, como

a maioria das condutas humanas. É uma interação, na medida em que se origina e

se efetiva na relação com o outro, o que condiciona e modela nosso comportamento.

Existem, pelo menos, duas pessoas que participam dessa interação: o agressor e a

vítima.

Page 9: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

De fato, é inconcebível uma conduta violenta sem a presença do outro. Não há

violência sem vítima. Ela encontra sua origem imediata e se explica com referência à

palavra e aos atos de outrem. Mas, também não existe violência sem um contexto.

Um comportamento social não é um ato de indivíduos isolados, porém de pessoas

que têm os mesmo valores, expectativas, papéis e regras que definem as relações

entre si.

Hoje em dia, somos capazes de viver dez, quinze ou vinte anos no mesmo edifício

de apartamentos e, ainda assim, não sabermos o nome do nosso vizinho de porta.

Tudo o que sabemos sobre o mundo e as pessoas nos chega através da TV, da

Rede mundial de computadores ou do telefone. Este processo social que nos torna

próximos do ponto de vista físico e distantes do ponto de vista dos relacionamentos

sociais, faz com que não esbocemos mais nenhuma reação emocional quando nos

deparamos com a violência praticada contra pessoas que não conhecemos.

Somente nos chocamos com a violência sofrida por seres humanos que

compartilham do nosso, cada vez mais restrito, rol de relacionamentos pessoais.

Sobre este enfoque, torna-se interessante investigar os atos de violência associados

a pessoas ou grupos sociais que não habitam o espaço social violento, mas que

estão frequentemente expostos aos seus efeitos através dos instrumentos de mídia.

Inúmeras pesquisas no campo da psicologia têm mostrado, de maneira repetida,

que há correlação positiva em a assistência a filmes violentos e o comportamento

agressivo dos pacientes. Na realidade, a carga de violência a que as crianças estão

expostas na televisão está positivamente correlacionada com certos

comportamentos agressivos como discutir, entrar em conflitos com os pais, ou,

mesmo, cometer atos delituosos. (MOSER, 1991).

Não resta dúvida que o resultado de tanta exposição aos cenários de violência

influencia diretamente o nosso comportamento social. Se no passado a violência

estava presente no ambiente sócio-cultural das populações marginalizadas pela

pobreza e, por isso, não era passível de escolha; hoje, os jogos virtuais tornaram a

violência, inclusive, opcional: compra-se um DVD com jogos violentos, e a violência

– virtual – vai até você. Você pode levar a violência para casa e oferecê-la para seus

filhos, parentes e amigos.

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6- A DIMENSÃO DA CRIMINALIDADE NO BRASIL

Do lado da criminalidade, as estatísticas demonstram que a taxa de homicídios, por

exemplo, praticamente triplicou em pouco mais de vinte anos. E, esse quadro é

ainda mais assustador se forem observados outros detalhes estatísticos. Nos

últimos 25 anos ocorreram 794 mil assassinatos no Brasil. Nesse período, houve um

crescimento médio anual de 5,6% do número de homicídios, o que posicionou o país

entre os mais violentos do planeta, com uma taxa de 28 homicídios para cada 100

mil habitantes.

Segundo afirma Soares (1996), na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, apenas

8% dos homicídios cometidos chegam a se transformar em processos devidamente

instruídos e encaminhados ao Judiciário, de maneira que uma média de 82% desses

crimes fica absolutamente impune.

Conforme informações da Revista Super Interessante de março de 2008, o Brasil

tem hoje mais de 400 mil presos. Oliveira (2002) afirma que entre 1995 e 2001, o

percentual de presos para cada cem mil habitantes passou de 95,5 para 141,5. Para

abrigar esta verdadeira nação paralela, o país soma algo em torno de 300 mil vagas

nas prisões. Entre 1995 e 2007, esta quantidade praticamente quadruplicou.

Atualmente, o déficit de vagas nos presídios brasileiros é de quase 40%.

CONCLUSÃO

Page 11: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

Se a criminalidade no Brasil fosse realmente diminuída com o aumento da

severidade da pena, com a entrada em vigor das leis dos crimes hediondos, onde

ocorreram algumas restrições de benefícios, o preso sendo tratado de forma mais

rigorosa, os estupros, homicídios qualificados, etc., teriam ao menos, seus índices

diminuídos, o que na verdade não ocorreu. Nada adiantaria reduzir para 15 (quinze),

16 (dezesseis) anos ou qualquer outra idade a maioridade penal, tendo em vista

que, o crime continuaria existindo.

Desta maneira, um jovem que cresce num País desenvolvido, com condições

totalmente favoráveis para seu desenvolvimento, devido ao seu amadurecimento,

tem sim, capacidade de assumir seus atos, de ser responsabilizado por uma

conduta contraria a lei, diferente de nossos jovens, que não tem estrutura nenhuma

para ajudar no seu desenvolvimento. Assim, sem a participação conjunta do Estado,

da sociedade e da família, sem investimentos em políticas públicas, como educação,

melhor distribuição de rendas, jamais serão solucionados os problemas de

criminalidade entre os jovens.

Sendo assim num pais em que sempre ocorreram complicações sociais, onde

jovens nunca tiveram uma didática adequada para enfrentar com sensatez os

desafios que a vida concede. Surge a redução da maioridade como partida de

emergência para sociedade visto que um menor de idade pratica um ato infracional

com abuso de crueldade.

Todavia, com a nossa atual norma constitucional de 1988, juridicamente é

improvável a redução da maioridade penal como almeja parte da sociedade para

imputar os jovens frente ao código penal e não mais o ECA como vem acontecendo.

Isso, devido à própria Carta Magna, firmar em seu artigo 228 que “são penalmente

imputáveis os menores de dezoito anos e estes, estão sujeitos à legislação

especial”, norma esta considerada uma clausula pétrea (insuscetível de modificação,

mesmo fora do rol do artigo 5º da CF.

Assim, a investida de mudança na norma constitucional do artigo 228 através de

emenda constitucional será declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal

Federal, tendo em vista que, durante o tempo que viger nossa atual Constituição,

Page 12: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

essa mudança não poderá a acontecer pelo poder reformador, apenas uma

revolução constitucional poderia mudar essa lei.

REFERENCIAS

Page 13: Trabalho de Portugues- Artigo Cientifico

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal. 17. Ed., rev. e atual. Até julho

de 2000 São Paulo: Atlas, 2001.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 11. Ed., rev., atual. e

ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012 

Disponível em: >http://jus.com.br/artigos/28496/a-possibilidade-juridica-da-

diminuicao-da-maioridade-penal-no-brasil#ixzz3a7pjViDq – Acesso em: 12 de maio

de 2015.

Disponível em: >http://www.amb.com.br/?secao=mostranoticia&mat_id=6358& -

Acesso em: 14 de maio de 2015.

Disponível em: >http://poderonline.ig.com.br/index.php/2013/08/22/presidente-do-tj-sp-adere-a-campanha-por-reducao-da-maioridade-penal/ - Acesso em: 10 de maio de 2015.

Disponível em: > http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000082005000200051&script=sci_arttext – Acesso em: 14 de maio de 2015

Disponível em: >http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7319 – Acesso em: 14 de maio de 2015