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 I - INTRODUÇÃO O pr ob le ma da ex pl or ão do tr ab al ho in fa nt il é an te ri or a Re vo lu çã o Ind us tria l, ma s foi a pa rtir daí qu e sur gira m as prim eiras leg isl ões que viera m a re gul amen tar o tra bal ho inf ant il ten do si do ini cia da s na Fra a e Gr ã-B re tan ha . Atualmente todos os países do mundo possuem legislações que visam proteger e coibir a ex pl or ão do tr ab al ho da s cr ia as , mas a pr in ci pa l di fi cu ld ad e es na su a aplicabilidade. A exploração do trabalho infantil é fruto da ligação existente entre o abuso do labor das crianças e o endividamento dos países subdesenvolvidos, que devi·do aos planos de rigi dez econ ômic a atri buíd os pelos banc os mult ilat erai s e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) geraram desemprego, afetando diretamente a educação e a saúde, o que fez com que as famílias mais pobres reforçassem o orçamento com o auxílio monetário do trabalho dos filhos. A utilização da mão-de-obra no Brasil tem como origem diversas causas, dentre elas, a desigualdade econômica, o desemprego, a diminuição dos programas sociais, a  precariedade do sistema educacional brasileiro, tais como, falta de escola e professores, e ainda, o custo elevado para as famílias, que mesmo mantendo os filhos em escolas cujo ensino é gratuito, a qualidade dispensada à educação é precária e não é suficiente para garantir à juventude melhores condições na vida adulta. Além dessas tão conhecidas justificat ivas para a exploração do labor infantil, há que 1

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I - INTRODUÇÃO

O problema da exploração do trabalho infantil é anterior a Revolução

Industrial, mas foi a partir daí que surgiram as primeiras legislações que vieram a

regulamentar o trabalho infantil tendo sido iniciadas na França e Grã-Bretanha.

Atualmente todos os países do mundo possuem legislações que visam proteger e coibir a

exploração do trabalho das crianças, mas a principal dificuldade está na sua

aplicabilidade.

A exploração do trabalho infantil é fruto da ligação existente entre o abuso do labor 

das crianças e o endividamento dos países subdesenvolvidos, que devi·do aos planos de

rigidez econômica atribuídos pelos bancos multilaterais e pelo FMI (Fundo Monetário

Internacional) geraram desemprego, afetando diretamente a educação e a saúde, o que fez

com que as famílias mais pobres reforçassem o orçamento com o auxílio monetário dotrabalho dos filhos.

A utilização da mão-de-obra no Brasil tem como origem diversas causas, dentre

elas, a desigualdade econômica, o desemprego, a diminuição dos programas sociais, a

 precariedade do sistema educacional brasileiro, tais como, falta de escola e professores, e

ainda, o custo elevado para as famílias, que mesmo mantendo os filhos em escolas cujo

ensino é gratuito, a qualidade dispensada à educação é precária e não é suficiente para

garantir à juventude melhores condições na vida adulta.

Além dessas tão conhecidas justificativas para a exploração do labor infantil, há que

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se ressaltar: as dificuldades existentes para uma efetiva aplicação da norma, a

ausência de policiamento na aplicação da lei, além das lacunas existentes na legislação em

vigor.

De acordo com Faleiros, existe uma grande estratégia que avalia a valorização ou não da

criança como mão-de-obra para o trabalho, essa tática fundamenta-se na intenção do

encaminhamento de crianças pobres ao trabalho, como se ISSO, a desigualdade social, fosse

natural. Analisando dessa forma, caberia aos pobres, dominados, o trabalho e aos ricos e

dominantes a direção da sociedade. Para ele, é evidente que os discursos e práticas referentes

às crianças diferenciam os abastados daqueles menos favorecidos, tanto econômica como

social e politicamente Os primeiros "são valorizados enquanto força de trabalho cuja

 sobrevivência e preparação escolar ou profissional deve estar ao nível da subsistência”

(FALEIROS,  1995, p. 50),   já os últimos, contraditoriamente, são beneficiados com o

comando da sociedade e a possibilidade de vida intelectual. Para Faleiros, as mínimas

condições exigidas aos empregadores parecem exorbitantes. De um lado busca-se proteção às

crianças que realizam trabalhos perigosos, promulgam-se leis que impedem determinados

trabalhos, mas por outro lado, a prática está em ignorar a lei, "de manter e encaminhar as

crianças desvalidas ao trabalho precoce e ao futuro subalterno, numa clara política de

 separação de classes ou de exclusão de vastos grupos sociais do exercício da cidadania" 

(FALEIROS, 1995, p. 51).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8069/90, displ)e detalhadamente a

respeito dos direitos dos menores, norma que surgiu para minimizar, e posteriormente coibir 

definitivamente a exploração da atividade infantil buscando eficaz aplicação das disposições

do referido estatuto, além de defender e buscar os direitos da criança e do adolescente. O

ECA procura extirpar da sociedade as discriminações sociais existentes entre as crianças

 pobres e ricas.

Ante esses esclarecimentos, cumpre ressaltar que' o presente trabalho tem o escopo de

demonstrar o problema da exploração do trabalho infantil desde o período da Revolução

Industrial aos dias atuais salientando quais foram as evoluções legislativas bem como a

evolução dos procedimentos realizados pelos órgãos responsáveis para erradicar a exploração

da mão-de-obra infantil.

O alvo preeminente dessa monografia é analisar a evolução histórica da exploração do labor 

infantil no Brasil e no mundo; relacionar as causas e as conseqüências do trabalho de crianças

e adolescentes; elencar quais as legislações aplicáveis e destinadas a erradicar o trabalho de

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meninos e meninas e finalmente prever 

os programas sociais destinados a desarraigar qualquer tipo de trabalho de crianças e

adolescentes que não sejam permitidos por lei. Nesse liame, cumpre ressaltar que toda a pesquisa foi realizada com base em pesquisa bibliográfica - fundamentação teórica interdisciplinar (Sociologia/História). E finalmente emuma análise mais intensa buscou-se verificar de que forma os programas sociaisdesenvolvidos para combater a utilização da mão-de-obra infantil e destinados a afastar crianças e adolescentes do trabalho proibido são eficientes para garantir às crianças

 beneficiadas o desenvolvimento escolar e se houver trabalho somente seja exercido nacondição de aprendiz.

2. - JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA SOCIAL

A exploração do trabalho infantil não se data de hoje, mas com certeza de décadas

atrás. Desta forma, torna-se de suma importância que buscamos através da investigação

dialética informações que nos coloque a par de como se encontra o trabalho infantil em nosso

 país e ao longo da história.

Sabemos que o trabalho infantil implica diretamente na escolaridade de nossas

crianças, assim acreditamos que a realização desse trabalho será de grande relevância para

que possamos tomar nota de como está organizado a defesa dos direitos das crianças, assim

corno os órgãos que se mobilizam a prestar esta defesa.

3. - OBJETIVOS

3.1- OBJETIVO GERAL

Temos com objetivos analisar a evolução histórica da exploração do labor infantil no

Brasil e no mundo; relacionar as causas e as conseqüências do trabalho de crianças e

adolescentes; elencar quais as legislações aplicáveis e destinadas a erradicar o trabalho de

meninos e meninas e finalmente prever os programas sociais destinados a desarraigar 

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qualquer tipo de trabalho de crianças e adolescentes que não sejam permitidos por lei.

3.2 - OBJETIVOS ESPECIFICOS

Buscar informações sobre o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como

PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

4. - HIPÓTESES

• O trabalho infantil se dá por motivos econômicos de nosso país, afetando

diretamente a renda familiar;

• O trabalho infantil afeta diretamente a saúde e educação dessas crianças;

• Embora as leis de nosso país tenham avançado muito sobre o trabalho infantil,

encontra-se grandes dificuldades na aplicabilidade dessas leis;

• Através de projetos assistencialistas é oportunizado as crianças e adolescentes a

oportunidade de freqüentar a escola;

• A erradicação do trabalho infantil é um fato que torna-se realidade dia após dia.

5. - METODOLOGIA

O mundo encontra-se em constantes transformações, sejam elas no meio econômico, político,

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religioso ou social; desta forma acreditamos que através do estudo dialético possamos levantar dados sobre

o trabalho infantil ao longo da história, assim como os projetos assistencialistas em prol da criança e

adolescente.

CAPITULO I

2. - HISTÓRICO

2.1 - O Trabalho Infantil Pós-Revolução Industrial

Entre os séculos V e XV, Idade Média, predominava o regime de servidão; pode-se

dizer que houve nesse período um meio-termo entre o trabalho escravo e () trabalho livre, e

não há evidência de grande atenção ao trabalho ou de preocupação com o produtivismo por  parte dos nobres. O clero e a nobreza, camadas que dirigiam a sociedade, até então levavam

uma vida de costumes requintados e muitos deles evitavam qualquer atividade ligada ao

trabalho.

Após a Revolução Industrial, com o surgimento do capitalismo viu-se uma grande

mudança com relação às posturas medievais, passou a imperar o então produtivismo. Tornaram-

se revoltantes para a elite burguesa a indolência e o ócio. Recorreu-se, quando necessário,

inclusive, ao uso da força para obrigar as pessoas a trabalhar. Surgem por toda a parte filósofos

e economistas exaltando o trabalho como a única fonte de riqueza. Novos discursos surgiam,

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com a liberdade do homem da servidão aparecia a opção pelo trabalho assalariado. No entanto,

a multidão de mendigos que infestava as cidades era atribuída tanto ao crescimento

desordenado da população quanto à incapacidade de o homem comum obter sua subsistência

aproveitando as oportunidades oferecidas pelo novo sistema econômico. O capitalismo se difundiu

 pelo mundo todo através das colônias de exploração, principalmente na África, Ásia, América

Latina e conseqüentemente no Brasil.

Para pôr em funcionamento a crescente atividade produtiva a exploração da mão-de-

obra não ficou restrita apenas aos adultos, Além do trabalho de homens c mulheres, recorreu-

se sistematicamente ao trabalho de crianças como uma forma de auxílio.

Segundo PAUL MANTOUX, estudioso da manufatura do século XVIII, na Revolução

Industrial "que () trabalho da criança era mais apreciado porque supunha maior docilidade e

obediência em virtude de sua fragilidade. Além disso, era mais barato, bastava um

insignificante salário ou, muitas vezes, alojamento e uma ração em pão". (MANTOUX, s.d.,

p. 31). Mantoux afirma que as crianças eram freqüentemente chicoteadas e punidas para fazer 

seus duros trabalhos e manter-se acordadas. Acompanhemos o comovente relato que o autor 

faz do trabalho infantil:

 Entrar para uma fábrica era, diziam, como ir para um quartel ou parauma prisão. (...)   A maioria desses infelizes seres eram criançasassistidas, fornecidas -- poderíamos dizer vendidas pelas paróquias

 por elas responsáveis. Os manufatureiros, principalmente durante o primeiro período do maquinismo, quando as fábricas eram construídas  fora das cidades, e, em   geral, longe delas, teriam tido grandedificuldade para obter a mão de obra de que necessitavam em suavizinhança imediata, por seu lado, as paróquias só queriam sedesembaraçar de suas crianças. Aconteciam verdadeiros negóciosvantajosos para ambas as partes, embora não para as crianças, queeram tratadas como mercadorias, entre os fabricantes e osadministradores do imposto dos pobres. Cinqüenta, oitenta, cemcrianças eram cedidas em blocos e enviadas, como gado, com destino á

  fábrica onde deveriam ficar fechadas durante longos anos. (...) Osoperários se recusavam, e com razão, a mandar as suas. Sua

resistência, infelizmente, não durou muito tempo: levados pelanecessidade resignaram-se àquilo que, a princípio, tanto os haviahorrorizado. (...) Longe de se indignarem, os contemporâneos achavamisso admirável. Yarranton recomendava a abertura de escolas deindústria, como vira na Alemanha, onde duzentas meninas fiavam semdescanso, sob a ameaça da palmatória de uma mestra, submetidas aum silêncio absoluto, e chicoteadas se não fiassem bem ou rápido oubastante. (...)  De Fõe, ao visitar Halifax, ficou maravilhado ao ver crianças de quatro anos ganharem a vida como pessoas adultas...(...)  Abandonados ao arbítrio dos patrões, que os mantinha fechadosem seus edifícios isolados, longe de qualquer testemunha que pudessecomover-se com o   seu sofrimento, padeciam de uma escravidãodesumana. () único limite para o seu dia de trabalho era oesgotamento completo de suas forças: durava quatorze, dezesseis e até dezoito horas... Freqüentemente, para não paralisar o funcionamento dasmáquinas, o trabalho continuava sem interrupção, dia e noite. Nesse caso,

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eram formadas equipes que se revezavam: "as camas não esfriavam nunca".Os acidentes eram freqüentes, sobre tudo nos dias de trabalho muito longos,quando as crianças, exaustas, ficavam trabalhando meio adormecidas: foramincontáveis os dedos arrancados, os membros esmagados pelas engrenagens.(...)  As fábricas eram, geralmente, insalubres: seus arquitetos pouco se

 preocupavam com a higiene e com a estética. Os tetos eram baixos, de formaa se perder o menos possível de espaço, as janelas eram estreitas e, quase sempre ficavam fechadas...”, (MANTOUX, s.d., p. 32).

2.2 - O Trabalho Infantil no Brasil

 No Brasil, fatos históricos dão mostras de como se difundiu o preconceito contra a

imagem de um povo que não gostava de trabalhar, a começar pelos índios, vistos como

 preguiçosos e incapazes para o trabalho disciplinado. Com a necessidade de braços para a

lavoura, apresentou-se a alternativa do trabalho escravo, já que o homem livre e pobre recusa

deixar-se explorar, pois a abundância de terras e de recursos naturais permitia-lhe levar umavida modesta, sem a necessidade de trabalhar para os senhores das fazendas de cana-de-

açúcar e de café. Para os senhores fazendeiros não passavam de uma "corja de inúteis", assim

eles justificaram sua substituição pelos escravos e, mais tarde, pelos imigrantes.

Ao entrar no século XX, o Brasil conta com lima ainda incipiente classe operária. A

 partir da década de 20, o operariado cresce, luta, organiza-se e conquista alguns direitos

inerentes à economia capitalista. De 1930 em diante, o Estado interfere de forma mais

decisiva nas relações trabalhistas com o objetivo de controlar as entidades sindicais. Variamas concepções ideológicas sobre o trabalhador brasileiro: ora ele é considerado preguiçoso,

ora habilidoso e diligente, quando treinado, igualando-se a seus pares dos países mais

adiantados.

Mesmo diante dessas considerações iniciais, antes de adentrarmos especificamente na

 problemática do trabalho infantil com maior profundidade, é importante que se analise a

situação da criança e do adolescente no transcorrer da história do nosso país. Desse modo, há

que se observar alguns fatos que ocasionaram mudanças ocorridas tanto no aspecto político

como no social."  No Brasil, a exploração da mão-de-obra infanto-juvenil remonta à época da

escravidão. A situação das crianças e adolescentes neste período da nossa história era caótica,

aos escravos de maior ou menor idade, não era assegurada proteção legal, e seus senhores

empregavam os jovens e crianças não somente em atividades domésticas, como nas

indústrias rudimentares então existentes, ou então em olarias, sendo habitual o trabalho no

campo desde pouca idade. Vendidos a outros senhores, logo que seu desenvolvimento físico

lhes permitia trabalhar muito, eram transportados para regiões distantes perdendo totalmenteo amparo da família.

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A Constituição federal de1988, também chamada de "A Constituição Cidadã", lançou ampla

 proteção sobre a criança e o adolescente. Nesse mesmo 2no, a "Carta Magna" retornou à tradição

 brasileira de fixar a idade mínima para o trabalho em 14 anos, salvo na condição de aprendiz, que

havia sido rompida pela Emenda Constitucional nº1 ,de 1969, ao fixar a menoridade trabalhista entre

12 e 18 anos.

Finalmente, os adolescentes alcançaram novas conquistas com a edição da Lei nº8.069, de 1 990,

que dispõe sobre a proteção integralà criança e ao adolescente. Odireito à profissionalização e à

 proteção do trabalho acha-se regulado no Capítulo V , do Título II, do diploma legal,

abrangendo os arts. 60 a 69.

O fato de o trabalho infantil ser tão antigo, não nos permite aceitá-lo como UI1l dado

imutável, é preciso combatê-lo irremediavelmente. Diante dessa constatação os princípios e

regras devem ser rigorosamente seguidos na busca do combate à exploração e de formas

mais eficazes na proteção à infância.

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CAPITULO II

As causas e as características da exploração da mão-de-obra infantil

Para relacionar e identificar as causas da exploração da mão-de-obra infantil não se

  pode deixar de salientar as dificuldades enfrentadas pelas crianças e adolescentes, que

trabalham não por opção, mas por necessidade, chegando a assumir quase que a metade da

renda familiar, substituindo muitas vezes a figura paterna ausente. As característicasdemográficas e econômicas dos chefes de família indicam que nos domicílios onde crianças

dos 5 aos 9 anos trabalhavam, 92% dos chefes eram homens; 57,8% eram pardos e 37%

 brancos; 35,4% ganhavam até R$ 100,00 mensais; )6% sabiam ler e escrever. Ainda, 91% das

crianças que trabalhavam vinham de domicílios onde o pai e a mãe estavam presentes. Os

dados, portanto, demonstram que, no grupo dos 5 aos C )anos, o trabalho infantil não é muito

significativo na sua intensidade e jornada, caracterizando-se por ser uma atividade rural,

localizada, em sua maior parte, no Nordeste, e predominantemente por conta própria, sendo

típica ele famílias pobres e de baixo nível educacional.

Além dessa conjuntura, há ainda uma porcentagem vastíssima de menores economicamente

ativos e sem vínculo empregatício, valores muito grandes quando comparados a outros países

em desenvolvimento. O percentual de crianças trabalhadoras eleva-se, substancialmente, na

faixa etária dos 10 aos 14. O contingente dos que trabalhavam representou 18,7% (3,3

milhões) das crianças do grupo como um todo (cerca de 17,6 milhões). O trabalho infantil

nessa faixa etária é predominantemente masculino (87,4%). Cerca de 52% são de pardos,

41,7% de brancos e apenas 5,3% de negros. Cerca de 54,6% dessas crianças tinham comodomicílio a área rural.

Sem estimativa confiável sobre números certos, há também um contingente enorme

de crianças trabalhando nas ruas, sobretudo nas médias e grandes cidades brasileiras,

desenvolvendo atividades como vendedores ambulantes, engraxates, lavadores de carros, e,

lamentavelmente, como traficantes de drogas ou entregues à prostituição. Nessa situação, não

se pode esquecer do trabalho doméstico, urbano ou rural, sobretudo do adolescente, seja no

  próprio âmbito familiar, seja atendendo a terceiros, o que se torna fator importante na

exclusão da maioria dos jovens do sistema escolar.

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Ainda que a legislação brasileira proíba o trabalho de crianças e adolescentes, a

Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio do IBGE (PNAD), que é a principal pesquisa

sócio-econômica do país, mostrou a existência de cerca de 2.815.484 de crianças e

adolescentes na faixa de 10 a 14 anos economicamente ativos no ano de 1998. Dados da

PNAD de 1999, "apontavam no sentido de um crescimento de 1,9% da participação deste

 grupo etário na atividade econômica, alcançando um  total de 2.817.889 de crianças e

adolescentes economicamente ativos inseridos no trabalho precoce". (HAMU, 2000, p. 48).

Esses números são preocupantes, não só pela proibição legal do trabalho infanto-juvenil, mas

também pelo que pode significar em termos de prejuízo para as condições de

desenvolvimento físico e emocional dos jovens Verifica-se que, se por um lado, estão

ocorrendo ações de retirada das crianças do trabalho, há um outro movimento no sentidoinverso provocando a sua re-inserção.

A exploração da mão-de-obra precoce no Brasil é um fenômeno que pouco se reduz,

 pois a utilização indevida do trabalho infantil continua sendo detectada pela mídia, pela

fiscalização do trabalho e por outras organizações sociais, notadamente em função do

crescente desemprego e da informalidade do trabalho, do aumento da precarização das

relações de trabalho e das dificuldades de acesso aos bens e serviços sociais públicos por 

 parte das populações mais pobres.

Sabe-se, contudo, que o problema do trabalho infantil possui uma relação de causa e

efeito muito forte com as situações de pobreza, desigualdade e exclusão social, embora

outros fatores, como os de natureza cultural, decorrentes de formas tradicionais e familiares

da organização econômica, também são razões importantes que fazem com que as crianças

se encaminhem desde cedo ao trabalho.

As principais características que determinam a participação de crianças na força de

trabalho indicam cinco evidências principais: a participação das crianças na força de trabalho,

entendida como a proporção de menores de uma certa idade que estão ocupados ou procurando trabalho em relação ao total das crianças daquela mesma faixa etária, cresce com

a idade e é maior entre os meninos do que entre as meninas, essa participação é maior entre

aqueles de cor negra ou parda; a participação das crianças decresce com o nível de renda das

famílias onde estão inseridas; a taxa de participação de menores é mais elevada na área rural

do que na urbana; finalmente, no caso do Brasil urbano-metropolitano, as taxas de

 participação são mais elevadas no Sul e no Sudeste do que no Norte e no Nordeste.

Um levantamento realizado no período de 1997 a 1999 envolvendo todos os estados brasileiros verificou-se que na região sul, o mapa do Ministério do Trabalho registrou os

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mesmo problemas apontados nas demais regiões do Brasil.

A opinião de Milano Lopes em relação ao mapa que denuncia a exploração do

trabalho infantil em todas as regiões brasileiras, é que o labor infantil Se verifica através de

diversas formas que vão desde a cata de objetos nos lixões até a venda de bebidas alcoólicas

em casas noturnas.

Esses fatos são evidenciados pelas taxas de participação de crianças na força de

trabalho, distribuídos por idade, sexo, cor, domicílio rural/urbano e nível de renda. Convém,

todavia, fazer uma descrição mais ampla das características do trabalho infantil. A análise

será feita, separadamente, para os grupos etários dos 5 aos 9 anos e dos 10 aos 14 anos. Os

dados, processados pela Fundação Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), têm origem na

Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios (PNAD).Ante a análise dos dados apresentados por essas instituições, da situação atual e da

 perspectiva de eliminação do trabalho infantil verifica-se que a maior incidência de trabalho

infantil, conforme os dados da pesquisa censitária realizada no ano 2000 provamque o

ingresso de crianças e adolescentes é maior na área rural, a taxa de crianças de 10 a 14 anos

no meio rural era de 16,3% e de 7% nas cidades em 2001, outro grande número de crianças

trabalham também no setor informal urbano e em residências como empregadas domésticas.

 No setor formal de trabalho a participação de crianças encontra-se em declínio há algum

tempo e é pouco significativa. Nas indústrias, o trabalho infantil é requisitado por pequenas

empresas familiares que prestam serviços à indústria. Determinadas tarefas da produção são

encomendadas a terceiros, que executam o trabalho nos próprios domicílios, é o caso da

fabricação de calçados, que detém um grande o número de crianças que trabalham

manejando cola tóxica comprometendo a saúde.

 Na agricultura, as condições de trabalho são mais precárias e envolvem desde o

trabalho não remunerado ao pagamento em espécie e mercadoria, manejo de ferramentas

cortantes e produtos tóxicos, carregamento de fardos pesados, exposição contínua aagrotóxicos, uso de equipamento inadequado, longas jornadas de trabalho e impossibilidade

de freqüência à escola.

Trabalho e educação são atividades que, no curto prazo, são competitivas. As crianças,

de forma geral, deveriam estar na escola e não no trabalho. Para melhor compreender essa

questão, é preciso analisar a relação entre trabalho infantil e educação, incluída a associação

do trabalho precoce com a evasão escolar. É necessário compreender, também, como o

trabalho das crianças pode constituir o principal mecanismo de transmissão da pobreza por 

gerações.

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A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), organismo da ONU

(Organização das Nações Unidas) acredita que se os governos cumprissem seus

compromissos legais com relação à educação, a ocorrência da exploração da mão-de-obra

infantil seria significativamente limitada, pois essas crianças são comprovadamente

exploradas em razão também das condições sociais enfrentadas pelo Brasil, sem perspectiva

de melhoras. A exploração do trabalho dessas crianças apresenta-se, no contexto nacional,

como decorrência da miséria do povo e do descaso da sociedade, constituindo-se ponto de

vergonha para um país que se diz em desenvolvimento e se quer democrático. É chegada a

hora de a ocupação laboral infantil merecer atenção legislativa e política, no caminho das

alterações estruturais necessárias, que possam reverter esse quadro e solucionar o abandono e

a marginalização do crescente contingente de crianças e adolescentes nos grandes centrosurbanos nacionais, proporcionando a todas as classes sociais a esperança de um futuro

melhor.

  No que tange aos procedimentos tomados pelo governo brasileiro, aparece a política

institucional voltada para a erradicação do trabalho infantil que tem gerado a assinatura de

Termos de Ajuste de Conduta - trata-se de um comprometimento realizado pelos

empregadores que utilizam mão-de-obra infantil com o Ministério Público do Trabalho que

se empenham. em não contratar crianças e adolescentes para o trabalho que estejam com

idade inferior ao permitido legalmente - com diversas empresas urbanas e empregadores

rurais retirando a criança do trabalho, sobretudo aquele agravado pelo ambiente insalubre,

 perigoso e penoso, expressamente proibido pelo ECA, enviando essas crianças a programas

sociais, os quais serão tratados especificadamente mais adiante.

CAPITULO III

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4. - LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE

4.1 - A Constituição Federal

A questão da criança encontra respaldo sem precedentes no tratamento dado à temática

infanto-juvenil na Constituição Federal de 1988.

Vários dispositivos enunciam a obrigatoriedade de proteger os direitos da criança e doadolescente, destacando-se o artigo 227, que define:

 É   dever da família, da sociedade e do Estado assegurar àcriança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito àvida, à saúde. à alimentação, à educação, ao lazer, à  profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, àliberdade e à convivência familiar e comunitária, além decolocá-los a salvo de toda forma de negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A expressão concreta do compromisso do Estado, como promotor dos direitos infanto-

  juvenis, está prevista no artigo 227, ao dispor que "o Estado promoverá programas de

assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida à participação de

entidades não-governamentais...”. Esta assistência é reafirmada no artigo 203, que prevê a

sua prestação a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social,

com ênfase no amparo às crianças e adolescentes carentes.O mesmo dispositivo acima mencionado determina a idade mínima de 14 anos para a

admissão ao trabalho, observado o disposto no artigo 7°, XXXIII, que proíbe “ o trabalho

noturno, per igoso ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze

 salvo na condição d e aprendiz.

Como a educação constitui um ponto nodal de toda e qualquer política infanto-juvenil,

a Constituição Federal detalha, no artigo 228, os deveres próprios do Estado:

 I  – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que aele não tiveram acesso na idade própria;

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 II - atendimento educacional especializado aos portadores dedeficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; III - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seisanos de idade; IV - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

V  - atendimento ao educando, no ensino fundamental através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,alimentação e assistência à saúde.

4.2 - Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

Promulgado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do

Adolescente regula as conquistas consubstanciadas na Constituição Federal em favor   da

infância e da juventude e além de promover a defesa jurídica e social de crianças e

adolescentes. No campo do atendimento a crianças e adolescentes em condição de risco pessoal e

social, o Estatuto rejeita as práticas subjetivas e discricionárias do direito tutelar tradicional e

introduz salvaguardas jurídicas. Consegue-se, dessa forma, conferir à criança e ao adolescente

a condição de sujeito de direitos frente ao sistema administrador da justiça para a infância e a

 juventude.

Institucionalmente, o ECA criou e previu em seu artigo 131 os Conselhos Tutelares

 para garantir a aplicação eficaz das propostas estatutárias. Esses conselhos são órgãos

 permanentes e autônomos, não jurisdicionais, são encarregados pela sociedade de zelar pelo

cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes. Sempre que direitos forem

violados, por ação ou omissão do Estado ou da sociedade, caberá aos Conselhos Tutelares

adotar as medidas de proteção cabíveis, ajuizando, quando necessário, uma representação

 junto à autoridade judiciária competente.

Ao determinar que "a política de atendimento dos direitos da crianças e ' do

adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-

 governamentais da União dos Estados. do Distrito Federal e dos Municípios" (artigo 86), oECA, no bojo de uma política de atendimento descentralizada, cria os conselhos municipais,

estaduais e nacionais de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Esses Conselhos de

Direitos, constituídos de forma paritária por Governo e sociedade, atuam como órgãos

deliberativos e controladores das ações atinentes à esfera infanto-juvenil, em todos os níveis

de governo. Embora lhes sejam atribuídas funções normatizadoras e formuladoras de

 políticas, os Conselhos de Direitos não possuem função executiva: esta fica restrita à

competência governamental.

O Estatuto pauta-se, portanto, pelos princípios da descentralização político-

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administrativa e pela participação de organizações da sociedade. Amplia, sobremaneira, as

atribuições do Município e da comunidade e restringe as responsabilidades da União e dos

Estados. À   primeira devem caber, exclusivamente, a emissão de normas gerais c a

coordenação geral da política Destaca-se, nesse sentido, o papel do Conselho Nacional de

Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), colegiado deliberativo de composição

 paritária e função controladora das políticas públicas.

Além de constituir um marco legal inédito sobre a temática em apreço, o ECA busca

assegurar às crianças e aos adolescentes o pleno desenvolvimento físico, mental, moral,

espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade Permeia, ainda, o Estatuto, a

concepção de que as crianças e adolescentes devem ter resguardados a primazia na prestação

de socorros, a precedência de atendimento nos serviços públicos, a preferência naformulação e execução de políticas sociais e, por fim, o privilégio da destinação de recursos

  públicos para a proteção infanto-juvenil. Essas prioridades reiteram os preceitos

constitucionais mencionados na seção anterior.

De par com os direitos fundamentais, ' o direito à convivência familiar e comunitária, o

direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, vale destacar que o ECA também regula o

direito à profissionalização e à proteção ao trabalho. O capítulo V, reiterando dispositivo

 previsto na Constituição Federal, proíbe qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade,

"salvo na condição de aprendiz" O estímulo à aprendizagem, em termos de formação técnico-

 profissional, subordina-se à garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular por 

 parte do adolescente. Ademais, o Congresso Nacional está avaliando a regulamentação do

instituto do trabalho educativo previsto no ECA e destinado ao adolescente entre 14 e 18

anos, de modo que se conciliem as atividades educativas com a inserção desse grupo no

mercado de trabalho.

4.3 - Lei Orgânica de Assistência Social

Com a aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), promulgada em 7

de dezembro de 1993 (Lei nº 8 742), ficou regulamentado no Brasil a concepção inscrita na

Constituição de que a Assistência Social é uma política pública, dever do Estado e direito dos

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cidadãos que objetiva a garantia dos "mínimos sociais" para toda a população. Para que

cumpra seu papel a assistência social deve ser implementada de forma articulada com as

demais políticas sociais. Ela é caracterizada pelas ações de resgate daqueles que não tenham

seus mínimos sociais garantidos, como é o caso daqueles submetidos precocemente ao

trabalho.

O principal elemento para que a política de assistência social cumpra seu papel é a

articulação as demais políticas setoriais para integrar seus usuários no sistema universal. É

indispensável que a intervenção atinja os diferentes aspectos da vida da pessoa em seu

contexto familiar e comunitário para que se possa superar a situação de vulnerabilidade

encontrada e gerar a autonomia do cidadão que conforme regulamenta os artigos 203 e 204

da Constituição estabelece o sistema de proteção social para os grupos mais vulneráveis da população, por meio de benefícios, serviços, programas e projetos.

Em seu art. 2°, estabelece que a assistência social tem por objetivos dentre outros: a

 proteção à família, à infância e à adolescência; o amparo às crianças c adolescentes carentes.

Vale salientar que as ações de assistência social não se dirigem ao universo da

 população infanto-juvenil, mas a um segmento específico que dela necessita por se encontrar 

em estado de carência, exclusão ou risco pessoal e social.

4.4 - Acordos e Convenções Internacionais

Os documentos internacionais que constituem o embasamento para a promoção e proteção

dos direitos da criança e do adolescente no âmbito do sistema de direitos humanos da

Organização das Nações Unidas inspiraram, em grande m edida, o aparato jurídico-institucional

que,nos dias de hoje, assegura a implementação do direito da criança e do adolescente brasileiros.

O documento básico e primeiro a ser lembrado é a Declaração de Genebra sobre os D ireitosda Criança, de 1924, consubstanciada, mais tarde, na Declaração dos Direitos da Criança, adotada

 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1059. A convicção de que seria fundamental propiciar 

à criança uma proteção especial foi, inicialmente, enunciada em 1924, alcançando posterior,

reconhecimento na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), no Pacto Internacional de

Direitos Civise Políticos e no Pacto 1nternacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,

assinados e ratificados pelo G overno brasileiro.

Três décadas foram necessárias para que a comunidade internacional viesse a adotar, em

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novembro de 1989, a Convenção das Nações U nidas sobre os Direitos da Criança, que consagrou, por 

um lado, a doutrina de proteção integral e de prioridade absoluta aos direitos da c riança, e, por outro,

o respeito aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais da criança. Firmado pelo

Governo brasileiro na ocasião em que foi abertoà assinatura dos Estados-membros da ONU, esse

instrumento foi ratificado pelo Decreto Legislativo n° 28, de 14 de setembro de 1990. Ainda em

setembro daquele mesmo ano, o Brasil esteve representado no Encontro Mundial dc Cúpula pela

Criança, realizado na sede das Nações Unidas. Naquela ocasião, 71 Presidentes e Chefes de Estado,

além de representantes de 80 países, assinaram a D eclaração Mundial sobre Sobrevivência, Proteção e

Desenvolvimento da Criança, e adotaram o Plano de Ação para a década de 90, assumindo o

compromisso de implementar, de imediato, a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da

Criança. Noutro quadrante, o direito positivo brasileiro 'abriga, em linhas gerais, as no rmas das convenções da

Organização Internacional do Trabalho, a despeito de nem todas terem sido ratificadas. As

convenções e recomendações resultantes da participação do Brasil como Estado-membro da 0IT

desde a sua criação, em 1919, somente passam a incorporar o ordenamento jurídico nacional na

mesma hierarquia das leis ordinárias depois de submetidasà aprovação do Congresso Nacional.

 No âmbito do trabalho infantil, o Brasil ratificou: I) Convenção nº 5 referente à idade mínima na

indústria (1919); II) Convenção n° 7, relativaà idade mínima no trabalho marítimo (1920); III)

Convenção nº 58 (revista), também atinenteà idade mínima no trabalho marítimo (1936). Vale

ressaltar que, embora o Brasil ainda não tenha ratificado a Convenção nº 138 (1973), que

restringe a atividade laboral para menores de 15 anos, o parâmetro de uma idade mínima para

ingresso no mercado de trabalho, conforme mencionado anteriormente, foi adotado pela

Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Além do mais, convém

destacar que o Programa Nacional de Direitos Humanos (1996) tem como uma das suas

metas de curto prazo, não só ratificar essa Convenção, mas implementar a Recomendação

l46 da OIT, que também se refere à idade mínima para admissão no emprego.Integrado ao combate de erradicar o trabalho infantil, o Governo brasileiro tem

 participado, de forma intensa, de conferencias internacionais que abordam a temática sobre

as mais diversas perspectivas. Recentemente, o Ministério do Trabalho esteve presente na

Conferência de Amsterdã (fevereiro 1997), quando discutiu com mais de 30 países,

representantes de empregadores e empregados e organizações não-governamentais, medidas

de combate às mais intoleráveis formas de trabalho infantil Embora o trabalho infantil seja

um dado nacional, em alguns ramos de atividades assume uma dimensão internacional Nessalinha, a Conferência foi um marco fundamental para fortalecer a cooperação internacional e

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regional em torno da temática.

Por ocasião da Primeira Reunião Ibero-Americana Tripartite de Nível Ministerial

sobre Erradicação do Trabalho Infantil (Cartagena das índias, maio de 1997), o Governo

 brasileiro, representado pelo Ministério do Trabalho, assinou a Declaração de Cartagena que

reitera o compromisso dos países signatários de reconhecer que os direitos da infância são

fundamentos dos direitos humanos. Para implementar as políticas, todos concordaram em se

empenhar em: I) promover o crescimento econômico que resulte na mitigação da pobreza; II)

redobrar os esforços para erradicar o trabalho infantil, através de estratégias que agreguem e

comprometam os diversos atores sociais; III) criar comitês nacionais para desenhar e

implementar um Plano Nacional de Ação para Erradicação do Trabalho Infantil; IV)

estabelecer um acompanhamento sistemático desses comitês, bem como um sistema regionalde informações

  No caso de crianças que realizam atividades penosas, insalubres OLl perigosas

mesmo trabalhando em regime familiar, essas vedações são extensíveis, conforme determina

o art 67, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente, diante dessa previsão, resta

claramente revogado o parágrafo único do art. 402 da CLT, que flexibilizava as vedações

quando a criança ou adolescente trabalhasse exclusivamente com pessoas da família, sob

direção de seu representante legal.

Diante dessas previsões não se pode deixar de citar a impol1ância do Conselho

Tutelar, que ele acordo com os artigos 131 e 132 do ECA deve existir em cada município no

mínimo um, composto de cinco membros, eleitos pelos cidadãos locais para mandato de três

anos, sendo a eles permitida a reeleição.

Conforme a diretriz constitucional, foi editado o Estatuto da Criança e do Adolescente

(Lei n. 8.069, de 13/7/1990), que dedicou um capítulo específico ao direito à

 profissionalização e à proteção ao trabalho infantil. Alguns de seus artigos superpõem se aos

dispositivos 402 a 443 da CLT e outros os revogam.O referido Estatuto prevê algumas garantias às crianças e adolescentes, tais como,

freqüentar escola, desenvolvimento cio adolescente e horário especial para o trabalho;

confirma a garantia das crianças e adolescentes aos direitos trabalhistas c previdenciários,

conforme disposição prevista no ar! 6\ defende a proteção ao adolescente deficiente disposta

no art. 66 do ECA .

As proibições previstas na CF/88e na CLT também estão dispostas como garantias no

art. 67 do Estatuto, quais sejam, não trabalhar em locais prejudiciaisà

saúde e que prejudiquem a escola; o impedimento do trabalho noturno compreendido entre 22h e 5h; etc;

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acrescentando a proibição do trabalho penoso; há previsão no art.68 referente ao trabalho

educativo do adolescente, sob responsabilidade de entidade governamental ou não-

governamental sem fins lucrativos, assegurando aos menores aprendizes remuneração.

 No que tange a remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a

 participação na venda dos produtos do seu trabalho não desfigura o caráter educativo

conforme prevê o art. 68 § 2° do Estatuto da Criança e do Adolescente e, por conseguinte,

não caracteriza o vínculo de emprego. Existe ainda, disposição expressa no ali. 69, quanto ao

respeito a sua condição de desenvolvimento e sua capacitação adequada ao mercado de

trabalho.

4.5 - A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT

A CLT, Consolidação das Leis do Trabalho, previu em seu artigo 402 que era

considerado criança e adolescente aquele indivíduo com idade entre 12 e 18 anos, mas com a

 busca de proteger a atividade laboral infantil, esse dispositivo foi revogado pela Emenda

Constitucional nº 20/98, elevando a idade mínima para 14 anos de idade, o que fez constar no

artigo 7°, XXXIII,da Constituição Federal atual que é permitido o trabalho de crianças e/ou

adolescentes a partir dos 16 anos de idade e a partir dos 14 anos somente na condição de

aprendiz.

Com o propósito de sacramentar definitivamente a proteção da criança e do

adolescente previu-se no art. 227 ela CF/88a atribuição da obrigação da família, da sociedade

e do Estado, em assegurar a meninos e meninas, com inquestionável prioridade, o direito à

vida, à saúde, à alimentação, à educação, etc., no sentido de proteger e formá-lo, impedindo,

dessa forma, que sofra qualquer tipo de exploração e violência. Frisando, que o seu ingresso

no mercado de trabalho iniciar-se-á aos 14 anos, garantindo-lhe os direitos trabalhistas e previdenciários.

É expressa a proibição prevista na CLT no que tange às atividades insalubres, que por sua natureza, condição ou métodos de trabalho exponham os empregados a agentes nocivos àsaúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade doagente e do tempo de exposição aos seus efeitos (art. 189, CLT), às atividades perigosas, que

 por sua natureza, condição ou método de trabalho, impliquem em contato permanente cominflamáveis ou explosivos em condições acentuadas (art 193, CLT) e às atividades penosas.

Veda ainda o trabalho noturno, considerando como tal a atividade laboral

desenvolvida entre as 22 horas de um dia e às 5 horas do dia seguinte (art. 73 § 2°, CLT).

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Proibido ao adolescente em face da Constituição Federal (art. 7°, XXXIII)

A CLT e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) são convergentes em relação

à proibição em locais ou serviços prejudiciais ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e

social (art. 405, CLT e art. 67, 11 do ECA), e a compatibilização escola-trabalho, o art. 424

da CLT estabelece como dever dos empregadores conceder tempo ao adolescente para

freqüentar as aulas e o art. 67, IV, do ECA proíbe o trabalho realizado em horários e locais

que não permitam a freqüência à escola.

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CAPITULO IV

5. - OS PROGRAMAS SOCIAIS CRIADOS PARA ERRADICAR O

TRABALHO INFANTIL

Tradicionalmente, o combate à exploração do trabalho infantil no Inundo vem sendo

conduzido pela utilização de dois instrumentos básicos, as leis trabalhistas e a educação. O

Brasil encontra-se particularmente adiantado em relação aos demais países no que se refere à

existência de legislação proibitiva ao trabalho infantil e de proteção aos direitos da criança e

do adolescente.O governo brasileiro em parceria com alguns segmentos da sociedade civil encontra-se

empenhado na tarefa de erradicação do trabalho infantil em âmbito nacional. Na busca de

eliminar definitivamente a exploração do labor de crianças e adolescentes, estão sendo

utilizados diversos mecanismos e instrumentos disponíveis, que vão desde a fiscalização

realizada no local de trabalho à implantação c desenvolvimento de projetos que visam dar 

orientação aos pais e às crianças que trabalham, fornecendo-lhes também capacitação para

alternativas de geração de renda familiar.

5.1 - Fórum para Erradicação do Trabalho Infantil: Campo-Grande-MS

O Fórum é um espaço de articulação social de várias entidades governamentais e não-

governamentais.

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Os objetivos do Fórum estão direcionados em lutar pela erradicação do trabalho

infantil e em regularizar o trabalho do adolescente e mais ainda, em contribuir para a

implementação de políticas públicas que impeçam o ingresso no mercado de trabalho de

qualquer adolescente que não tenha concluído o ensino fundamental.

O Fórum é composto por uma Coordenação Colegiada a quem cabe, sensibilizar,

mobilizar e articular diferentes setores sociais para a erradicação do trabalho infantil e de

 proteção do adolescente no trabalho; formular e apresentar propostas e subsídios para as

 políticas públicas, programas e projetos sociais que contribuam direta ou indiretamente com

a causa; elaborar estratégias coletivas de intervenção da sociedade civil organizada nos

espaços de formulação e controle das políticas públicas relacionadas ao tema; denunciar 

situações de abuso da mão-de-obra inC1nto-juvenil em condições ilegais e inaceitáveisencaminhá-las aos órgãos competentes e acompanhar a apuração e solução das mesmas pelos

responsáveis; promover, assessorar e/ou apoiar ações de formação, estudos, pesquisas,

diagnóstico e avaliação; estabelecer um elo de permanente articulação com o Fórum

 Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e demais organismos afins.

5.2 - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil- PETI

A Política Nacional de Assistência Social tem como uma de suas diretrizes a

efetivação de um amplo pacto entre o Estado e a sociedade, que garantam o atendimento da

criança/adolescentes e suas famílias na condição de vulnerabilidade c exclusão social. Nesta

 perspectiva em atendimento a Resolução nº 07 de 17/12/1999, da Comissão Intergestora

Tripartite e a Resolução nº 05 de fevereiro de 2000 do Conselho Nacional de Assistência

Social estabelecem, diretrizes e normas reguladoras do Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil (PETI), que tem por objetivo o resgate da criança e do adolescente na faixa etária de

7 a 14  anos do trabalho precoce, reintegrando-os à Rede Formal de Ensino e a Jornada

Ampliada, que se trata de um incentivo à jornada escolar em tempo integral que divide o

 período escolar em dois turnos, no primeiro turno a criança vai à escola e cumpre as

atividades curriculares obrigatórias e no segundo turno desenvolve atividades de oficio no

 próprio estabelecimento escolar que vão desde a prática de esportes como acesso a aula de

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informática.

Desta forma a Secretaria de Estado de Assistência Social do Ministério da Previdência e

Assistência Social (M P AS) propõe a operacionalização do Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil (PETI), nos Estados do território Nacional.

O Mato Grosso do Sul vem operacionalizando o PETI desde junho de 2000, inicialmente

atingiu 5.753 crianças/adolescentes, que estavam desenvolvendo atividades consideradas

como as piores formas de trabalho, quais sejam, plantio e colheita de algodão; agricultura;

olarias; vendedor ambulante; bóias-frias, catadores de lixo, carvoaria e outros.

O valor da Bolsa na área rural é de R$ 25,00 (vinte e cinco reais) por criança e na área

urbana de R$ 40,00 (quarenta reais), sendo que são considerados áreas urbanas as Capitais,

as Regiões Metropolitanas e os Municípios com mais de 250.000 habitantes. Para amanutenção da Jornada Ampliada, o programa repassou às prefeituras R$ 20,00 (vinte reais)

 por criança e adolescente na área rural e R$ 10,00 (dez reais) na área urbana. A condição

 para recebimento da bolsa pela família é a de que os filhos abandonem o trabalho e tenham

uma freqüência mensal mínima de 75% na escola e na Jornada Ampliada.

Quando o Município não está habilitado como Gestor Municipal é o Estado quem

gerencia os recursos do PETI. A Bolsa Criança Cidadã é creditada pelo MPAS diretamente

ao Órgão Gestor Estadual/Secretaria de Estado da Criança e Assuntos da Família (SECR), a

qual repassa diretamente às famílias inscritas no PETI, através de conta/cartão.

Quanto ao Recurso da Jornada Ampliada, a SECR repassa para os Municípios que

operacionalizam o PETI, estes por sua vez creditam em benefício das entidades executoras

da Jornada Ampliada.

Considerando que o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil está passando para

serviços de Ação Continuada, os novos municípios a ingressarem no PETI, poderão indicar 

as entidades que compõem a rede ela Jornada Ampliada para receberem os recursos

diretamente do Órgão Gestor Estadual ou União.Quando implantado crianças e adolescentes começaram a deixar o trabalho c voltaram aos

 bancos escolares com a Ação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

Destinado prioritariamente ao atendimento de famílias com filhos na faixa de 7 a 14 anos,

submetidos ao trabalho em atividades consideradas perigosas, insalubres, penosas ou

degradantes, o PETI tem-se revelado uma estratégia consistente na eliminação do trabalho

infantil tanto na área rural quanto na área urbana, mas embora eficiente em alguns casos, o

 problema está no fato de que não é op0l1unilado a todas as crianças necessitadas e aquelas

 beneficiadas precisam comprovar a situação econômica da qual fazem parte. Essa estratégia

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consiste na concessão da Bolsa Criança Cidadã às famílias e na manutenção da Jornada

Ampliada, onde são desenvolvidas atividades de reforço escolar, esportivas, artísticas,

culturais e lúdicas. O PETI tem sempre como ponto de referência a família, à qual são

oferecidas ações sócio-educativas e de geração de trabalho em renda, o que contribui para a

sua promoção e inclusão social e para o seu processo emancipatório, tornando-as

 protagonistas de seu próprio desenvolvimento social, visando estimular uma melhoria na sua

qualidade de vida.

O PETI estabeleceu ainda critérios de focalização nas áreas com grande concentração

de mão-de-obra infantil, nas atividades laborais classificadas entre as que maiores prejuízos

causam ao pleno desenvolvimento infanto-juvenil, nas áreas em que são identificados índices

de desenvolvimento social abaixo da média nacional e nos locais onde já exista um bom nível

de mobilização social.

Para operacionalização do PETI é necessário que haja uma mobilização social capaz

de provocar ações multisetoriais, tanto no âmbito dos Estados quanto dos municípios. Nesse

sentido, as comissões estaduais e municipais de Erradicação do Trabalho Infantil têm

desempenhado papel relevante, já que se caracterizam como instâncias articuladoras e

integradoras de esforços em prol dos direitos da infância, expressando, assim, uma maior 

 participação social na missão de erradicar o trabalho infantil.

"Inicialmente o contingente de crianças e adolescentes, dos 7 aos 14anos trabalhando em lixões na cidade de Curitiba era de 828menores. Hoje já são 1923 os meninos protegidos pelo PETI, 90%

 filhos de catadores de lixo .. " atividade insalubre que por ter o nomede "clean" de "coleta informal de material reciclável''', tangida pela

  forma do programa, já não apresenta entre os seus quadros,trabalhadores com menos de 14 anos de idade, segundo revela o

 IBGE”

Os programas sociais que se realizam pela transferência de dinheiro para as famílias,

representam uma forma de garantir um mínimo socialmente aceitável para o atendimento das

necessidades básicas.

Para a criança e para o adolescente o reforço de renda à família constitui uma estratégia para

melhorar o acesso, a permanência e o sucesso na escola, principalmente pelo efeito da

elevação das condições gerais de vida das famílias e mais ainda pela possível redução de

condicionantes negativos da escolaridade, como a desnutrição, a baixa freqüência escolar e o

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trabalho infantil. Nesse sentido, todo o programa de renda mínima deve garantir a conclusão

do ensino fundamental obrigatório, além da necessidade concreta de ter acesso universal

todas as crianças e adolescentes pobres descaracterizando o caráter emergencial, mas um

direito a ser defendido.“Em face do contexto mundial e rumos por que caminha a legislaçãoconstitucional brasileira, deveria ser possibilitado o acesso à escola de menorescarentes até 14 anos em período integral. Como segunda alternativa, sugere-se aadoção de escolas de oficio. A   capacitação profissional dos menores carentesacima dos 14 anos se faz imprescindível para que possam competir em igualdadede condições no mercado de trabalho. Necessário preocupar-se com a melhoriade sua qualidade de vida, coibindo-se a exploração.Mister que a legislação ao versar sobre o trabalho dos menores entre 14 e 18anos o   faça com um todo, disciplinando a questão do aprendizado,trabalhoeducativo, emprego, estágio, face as normas internacionais e constitucionais,adaptadas à realidade brasileira”.( JOSVIAK, 1999, p.5).

Em suma, esse reforço à renda das famílias atendidas pelo PETI, constitui uma

estratégia positiva, que visa melhorar o acesso, a permanência e o sucesso na escola, tanto

 pelo fato de elevar as condições gerais dessas famílias quanto pela possível redução de outros

fatores negativos como a desnutrição, a baixa freqüência escolar e principalmente o trabalho

infantil. Todos os programas de renda mínima deveriam garantir a conclusão do ensino

fundamental obrigatório, além da necessidade concreta de ter seu acesso universalizado a

todas as crianças e adolescentes pobres descaracterizando seu caráter emergencial e

 paternalista, mas um direito a ser defendido.

5.3 - Programa Internacional – IPEC

O referido programa é mantido pela OIT - Organização Internacional do Trabalho e tem

como principal objetivo combater a exploração sexual e comercial de crianças e adolescentes

na fronteira do Brasil e Paraguai especificamente entre as cidades de Foz do Iguaçu e Cidade

de Leste, O projeto tem apoio de diversas entidades governamentais e não-governamentais

quais sejam, Ministério do Trabalho, Ministério da Educação, Secretaria da Saúde, Conselhos

Tutelares, ONGs, Polícia Militar, entre outras.

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6. - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho infantil é um problema que para ser combatido de forma eficaz, deve ser 

abordado a partir de uma perspectiva interdisciplinar ressaltando o processo da evolução dos

valores sociais e dos sistemas de produção. Certas formas de trabalho infantil familiar, por 

exemplo, que foram ou ainda são toleráveis em alguns contextos socioeconômicos, deixarão

de ser, na medida em que as sociedades passarem a dar maior prioridade à educação comoinstrumento fundamental para o desenvolvimento humano. Algumas formas de trabalho

infantil antes defensáveis ou simplesmente aceitáveis são atualmente intoleráveis devido ao

conhecimento gerado sobre os danos físicos e psíquicos que causam às crianças. No contexto

da mudança de valores sociais vê-se emergir cada vez mais um compromisso de governos e

da sociedade com os direitos e princípios fundamentais garantidos pela Magna Carta. O

desemprego crescente de jovens e adultos é outro fator que também deveria provocar a

inutilização da mão de obra infanto-juvenil.

Em toda parte, a erradicação do trabalho infantil tende a ocorrer através de um

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 processo gradual ancorado em parte na formulação e aplicação da legislação sobre a idade

mínima de trabalho e apoiada em programas de expansão e melhoria da educação e renda

familiar.

Para extirpar essa situação seria necessário em um primeiro momento destacar a

importância da convivência das crianças e adolescentes no seio de suas famílias e da

comunidade.

"O   papel da família na condução de seus filhos é  o ponto de partida para a

consideração da criança e do adolescente como sujeitos de direito. Não é   sem razão que ela

vem relacionada em primeiro lugar, tanto na constituição Federal quanto na Lei 8069/90 ".

(TONIN, 2000, p. 53), e num segundo momento a importância da atuação das entidades

governamentais e não governamentais que além de fiscalizar deverão monitorar osatendimentos dispensados às crianças e adolescentes através das entidades criadas para esse

fim, quais sejam, os Conselhos Tutelares, Secretaria Municipal da Criança e do Adolescente,

Delegacias Regionais do Trabalho, Ministério Público do Trabalho.

O Brasil, embora prematuro quando comparado às potências mundiais, “  já deu

exemplo na superação de obstáculos raciais e de combate à escravidão"  (TONIN, 2000, p.

53), e atualmente encontra-se mais avançado em relação a outros países em termos de

legislação que tutela os direitos das crianças e adolescentes, mas não se pode dizer o mesmo

no que tange às condições de vida oferecidas aos seus habitantes, foi o que demonstrou o

Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) publicado em 23 de julho de 2002,

"compreende-se que o Brasil é melhor em produzir riqueza do que em dar condições de vida

aos seus habitantes". Noutro quadrante, o País melhorou sua posição no ranking do Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH), passando de 75º em 2001 para 73° em 2002, mas

 permanece no grupo de países COI11 desenvolvimento humano médio. entre 173 países

Essa melhora do IDH brasileiro é fruto crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)

 per capita. O Brasil ocupa a 60" maior renda média por habitante do mundo, todavia no quediz respeito à educação cai para 83° no ranking das Nações Unidas, e em longevidade sua

classificação é em 102° lugar. "Isso é um sinal de que o bem estar da população não

corresponde, na mesma pr o porção, à renda média por habitante" (CORDIOLl, 2002, p. 5),

destacou a jornalista Carolina Cordioli em artigo que analisa a situação brasileira no IDH

2002.

Disso infere-se que na educação está a centralidade da política de erradicação do

trabalho infantil, isto é, qualquer ação que tenha como objetivo o combate e a eliminação do

trabalho infantil deve ter inscrito seus objetivos permanentes o ingresso, o reingresso, a

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 permanência e o sucesso de todas as crianças e adolescentes na escola, pois o treinamento

técnico profissionalizante de qualidade é o instrumento mais importante contra o trabalho

infantil.

A educação é o principal mecanismo na luta pela prevenção e erradicação do trabalho

infantil, devendo estar associada a oferta de outros subsídios diretamente vinculados à

 permanência e ao sucesso escolar das crianças através da complementação da renda familiar 

 por meio da implantação e do desenvolvimento de programas sociais tais como Bolsa Escola

ou Jornada Ampliada.

Esse último constitui em um incentivo à   jornada escolar em tempo integral, pela

complementação do ensino regular por meio de um segundo turno de atividades, na qual as

unidades escolares ou de apoio comunitário, reforçadas com recursos humanos e materiaisdidáticos, asseguram a alimentação, orientação nos estudos, saúde, esportes e lazer, bem

como acesso às novas tecnologias de ensino e aos meio de comunicação modernos. Já o

Bolsa Escola, como já esclarecido anteriormente, constitui um mecanismo de valorização da

escola pela família, além de melhorar o desempenho escolar da criança e evitar a evasão,

como também representa uma estratégia para que as famílias possam prover necessidades

 básicas e melhorar, em tese, a qualidade de vida, especialmente por estar vinculada à

manutenção das crianças na escola. Nesse sentido, a qualidade da educação requer, sem dúvida alguma, a adequação da

escola às realidades locais, que exige investimentos maciços dos diversos níveis de governo,

 para que não se desvie a criança e o adolescente das oportunidades de se realizar como

 pessoas, como profissionais e como cidadãos.

A educação, nessa perspectiva, tem um papel fundamental na prevenção e erradicação

do trabalho infantil, na medida em que uma criança ou adolescente mais consciente de seus

direitos e melhor organizada contribuirá para que não ocorram violações contra ela, e se

ocorrerem, não fiquem impunes seus transgressores.

É necessário deixar claro que a legislação por si só não pode impedir o trabalho

infantil, não pode ser considerados um fim, mas o começo da aplicação de 11m conjunto de

medidas a fim de controlar e erradicar o trabalho infantil, ela constitui a segregação dos

valores e dos compromissos da sociedade e por isso não tem valor se não for aplicada no que

se refere à legislação do trabalho, a fiscalização do cumprimento das leis é um instrumento

importante na erradicação do trabalho infantil e na proteção do trabalho do adolescente, mas

só a fiscalização não é o bastante, ela precisa se abrangente e eficaz, precisa que a legislação

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seja respeitada e aplicada por todos, especialmente em contextos econômicos, sociais e

culturais desfavoráveis, que induzem a que se relegue a um segundo plano melhorias nas

condições de trabalho e o próprio cumprimento das normas sociais.

As ações de fiscalização e de controle em geral do trabalho infantil, por óbvio, não podem ser 

isoladas. É necessário que sejam integradas e realizadas por todas as entidades

governamentais e não-governamentais que podem se comprometer com a proteção e a defesa

dos direitos da criança e do adolescente, promovendo, aplicação de sanções administrativas

com valor elevado e imputação per capita sem limitações; excluir de qualquer possibilidade

ele anistia as multas impostas por infração as disposições protecionistas; melhoria dos canais

de denúncia; maior transparência e visibilidade nas ações de fiscalização, informando à

 população o que é feito, como é feito e onde é feito esse controle e identificar em nível local,as atividades econômicas que utilizam o trabalho infantil como fator produtivo e o imediato

afastamento das crianças desses locais com o objetivo de eliminá-lo.

Finalmente, a erradicação do trabalho infanto-juvenil está vinculada à existência de

desemprego ou subemprego entre os membros da família e à necessidade da geração de renda

e a criação de mecanismos legais e de longo alcance para a proteção das crianças e

adolescentes constitui um passo fundamental desse processo. Os demais passos a serem

dados dependem de um conjunto de fatores que envolvem a atuação dos governos federais,

estaduais e municipais e da sociedade civil, pois a partir dos mecanismos já existentes, das

  parcerias estabelecidas em torno da decisão de erradicar o trabalho infantil e das

  possibilidades de desdobramentos que eles propiciam, pode-se prever um quadro mais

 positivo no futuro, pois tanto a sociedade quanto as entidades governamentais, desempenham

 papel fundamental nesse processo.

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7. - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Saraiva, 1999. __ Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá

outras providências. 

Lei n° 8.742/93. Dispõe sobre a Lei Orgânica de Assistência Social e dá outras providências. 

Anais do Seminário Criança e Adolescente em Situação de Risco: Uma compreensão necessária.

Curitiba: Anais Eventos, 1996.

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programa de erradicação do trabalho infantil no período 1996-1997. São Paulo IEE/PUC-SP;

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MORAES, Antônio Carlos Flores de. Trabalho do adolescente. Proteção e

profissionalização. Belo Horizonte: Del Rey, 1995 .

 NOGUEIRA, Maria Alice. Educação, saber, produção em Marx e Engels. São Paulo:

Cortez, 1993 .

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universitários. Curitiba, 2002.

QUEIROZ, Onofre Soares de. Estudo histórico/sociológico da exploração elo trabalho da

criança e do adolescente. Curitiba, 2002.

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7.1 - Endereços Eletrônicos Consultados

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<http://www.andi.org.br/midia_edu/artigos/trabalhoinfantil.htm acessado em 20/08/2003

  http://www.abmp.org.br/ em 15/07/2011

<http://www.curitiba.pr.org.br/pmc/editorias/mostra _noticias.asp, acessado em 20/08/2003

 

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Anexos

Anexo 1 -Crianças chefes de famílias

Reportagem da Revista Isto É de 01/07/2011

Mais de 130 mil brasileiros com menos de 14 anos trabalham o dia inteiro para sustentar suascasas

SACRIFÍCIO

Luciana e Moisés (com Peterson no colo): 11 horasde trabalho diárias e uma renda familiar de R$ 450,00.A maioria trabalha nas ruas – vende produtos de pequenovalor, separa material reciclável, é “flanelinha” ou engraxate.

As costas doem e os pés descalços latejam de frio. Mesmo assim, Luciana, 13 anos, e Moisés,

8, andam entre os carros de uma movimentada avenida na zona sul de São Paulo. Nas mãosenrijecidas pelo vento gelado, os irmãos carregam caixas com gomas de mascar, que vendema R$ 0,10 cada. Por trás dos vidros fechados, a maioria dos motoristas ignora a presença dasduas crianças, que migram para as calçadas do Largo 13, região popular do bairro de SantoAmaro. Ali oferecem sua mercadoria aos passantes que transitam entre lojas, bares erestaurantes, também sem sucesso. O trabalho na rua, apesar de difícil e ilegal, pois é vetado

 para menores de 16 anos, é a única alternativa para Luciana e Moisés. Com o pai e a avómaterna encarcerados e a mãe desempregada, a dupla é responsável pela renda da família,cerca de R$ 450 mensais. Sua lida diária é o retrato da dura realidade de 662 mil jovens entre15 e 19 anos e de outras 132 mil crianças entre 10 e 14 anos que são arrimo de família,

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segundo dados preliminares do Censo 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE).

 No ano em que se comemora a maioridade do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),

criado em 1990, o brasileiro tem poucas conquistas para celebrar. “O trabalho infantil deexploração ou trabalho escravo tem diminuído com o crescimento das denúncias e a atuaçãoda Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, diz o advogado Ariel de Castro Alves,vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogadosdo Brasil (OAB). “Porém, o trabalho infantil doméstico ou em situação de rua temaumentado.” De acordo com pesquisa realizada em 2010 pelo Conselho Nacional dos Direitosda Criança e do Adolescente (Conanda) e pelo Instituto do Desenvolvimento Sustentável(Idest), a maioria das crianças em situação de rua vive com os pais. Do total de 23.973 jovensentrevistados em 75 cidades brasileiras, 59,1% moram com a família e 65% exercem algumaatividade remunerada nas ruas – 4,1% atuam como engraxates, 16,6% separam materialreciclável, 19,7% se definem como “flanelinhas” e 39,4% vendem produtos de pequeno valor,como Luciana e Moisés. Os dois começaram a trabalhar há quatro anos. Na época, a mãedeles, Patrícia, aconselhada por uma vizinha, levou os filhos para pedir esmolas e vender chicletes numa feira livre. Voltou para casa com R$ 40 no bolso. “No começo senti muitavergonha de pedir dinheiro, mas depois me acostumei”, conta Luciana. “Só que, se vejoalguém conhecido na rua, saio correndo para me esconder”, diz a menina, revelando quantosua condição ainda a constrange.

Luciana e Moisés são moradores do Jardim Aracati, bairro no extremo sul de São Paulo. Faltatudo no barraco onde vivem com a mãe e o irmão, Paulo Peterson, de seis meses. Luz, esgoto,água encanada e até comida parecem luxos inacessíveis. Não há nenhum brinquedo na casa. Adiversão é restrita a brincadeiras nas ruas do bairro ou na hora do trabalho, quando elesencontram outros colegas que também vendem doces na rua. Geralmente, Luciana, Moisés,Patrícia e Peterson ficam nas ruas das nove horas da manhã às oito da noite. Às vezes, alguémse sensibiliza e oferece uma refeição. “Nunca digo não, mesmo que já tenha comido antes,

 porque a comida que sobra a gente leva pra mãe e pro Peterson”, conta Moisés, que não estáestudando neste ano. Luciana está matriculada no ensino fundamental, mas pode perder avaga, pois não comparece às aulas desde março. “Não tenho mais vontade de ir pra escola”,diz. Na sétima série, a menina não sabe ler. No horário em que deveria estudar, cuida da casa,

dá banho no irmão caçula, dança funk com as amigas e assiste tevê na casa de uma vizinha. A pior lembrança de sua vida remonta à morte do irmão mais velho, Paulo, há três anos.Voltando de mais um dia de trabalho nas ruas, o garoto, com 13 anos na época, morreu ao ser atropelado por um ônibus.

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EXEMPLOWallace estuda, trabalha e sustenta a mãe doente e os irmãos com seu salário

“A falta de integração entre as políticas públicas é um dos motivos que levam esses meninos atrabalhar nas ruas”, diz Marcelo Caran, coordenador da Fundação Projeto Travessia,organização que atua com jovens em situação de risco. Para diminuir o contingente demenores de idade arrimos de família, Ariel Alves, da OAB, defende duas medidas. “Em

 primeiro lugar, planejamento familiar. E, em segundo, a criação de programas que orientem eapoiem famílias carentes, incentivando o desenvolvimento de cooperativas e a busca por umemprego formal”, diz.

A trajetória do jovem Wallace Santos é uma prova disso. Aos 17 anos, ele enfrenta uma

responsabilidade de gente grande. Às quatro horas da madrugada já está de pé. Da sua casa,um cômodo que divide com a mãe e quatro irmãos em Ferraz de Vasconcelos, município da

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região metropolitana da capital paulista, pega trem, metrô e ônibus para chegar até o colégioestadual onde cursa o primeiro ano do ensino médio. De lá corre para o Sindicato dosBancários de São Paulo, onde é, desde 2009, um dos contratados através da Lei do Aprendiz,que oferece estágio para estudantes matriculados na escola e em cursos profissionalizantes.Com o salário mínimo de R$ 545 que recebe, o tímido rapaz, fã de quadrinhos japoneses,desempenha o papel de principal provedor da sua família.

A mãe, Rita Dias de Matos, é uma ex-doméstica diabética, cardíaca e com pressão alta, que seviu obrigada a largar o batente há sete anos por motivos de saúde. O irmão mais velho,Wesley, 19 anos, vive de bicos e os mais novos, Bianca, 13, Washington, 11, que tem

 problemas de aprendizado, e Daiane, 3, passam o dia em casa com a mãe. Mas a rotina dafamília já foi pior. Wallace viveu dos 2 aos 8 anos de idade em abrigos, apenas na companhiado irmão Wesley. Em 2002, voltou a morar com a mãe e os outros irmãos, mas, assim comoos pequenos Luciana e Moisés, teve de vender balas e fazer malabares nas ruas parasobreviver. Nas vezes em que a fome apertava, chegou a furtar alimentos. “Hoje me sinto bem

  por ter um emprego e ajudar minha mãe”, diz.

Apesar de comovente e exemplar, seria melhor que a história de Wallace não fosse necessária.O ingresso precoce no mercado de trabalho pode impedir uma carreira ascendente no futuro.“O jovem que hoje trabalha para sustentar sua família muitas vezes não terá emprego amanhã,

 pois não pôde se qualificar devidamente”, diz o advogado Alves. “Uma formação com apenaso ensino médio ou um curso técnico estará aquém das exigências do mercado.” A solução

 para erradicar o trabalho infantil e amenizar a carga de responsabilidade dos adolescentes que

têm de sustentar suas famílias permanece longe de ser encontrada. Até lá, Luciana, Moisés eWallace continuarão levando suas lutas diárias em busca de uma vida mais digna, mas sem planos claros para o porvir. Nenhum deles sabe o que “quer ser quando crescer”. Eles não têmdesejos de consumo nem planos para o futuro próximo. As preocupações de chefes de famíliaofuscam os sonhos dessas crianças.

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Anexo 2 - Mato Grosso do Sul afasta 332 crianças do trabalho infantil.

Jornal “O Progresso”

Estado é referência nacional pelo número de crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil

A necessidade do combate ganhou força quando foram identificados criançastrabalhando em carvoarias, no interior do estado.

Foto: Agência BrasilDOURADOS –  Quando o assunto é trabalho infantil, Mato Grosso do Sul ganha lugar dedestaque no cenário nacional. É o terceiro no Brasil que mais consegue afastar crianças eadolescentes do trabalho infantil, conforme dados de 2010.Segundo o superintendente regional do Trabalho e Emprego em Mato Grosso do Sul, Anizio

Pereira Tiago, a fiscalização retirou, até maio deste ano, 332 crianças e adolescentes dotrabalho infantil durante as ações de combate. Deste número, 285 é do sexo masculino e 47 dosexo feminino. A faixa etária entre os dez aos 15 anos concentra o maior número de afastados.

Em Dourados, a auditoria fiscal identificou 25 crianças e adolescentes trabalhando das quais,10 para empregadores e 15 em regime de economia familiar. Até maio deste ano 19 criançasforam afastadas do trabalho infantil no município. De janeiro a maio de 2011 foram lavrados154 autos de infração, contra 140 empregadores de mão de obra infantil, no Mato Grosso doSul.

Estes dados foram lembrados ontem, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, duranteum ato público promovido na Praça Antônio João, onde participaram diversas autoridades,

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incluindo o prefeito Murilo Zauith, e do Ministério do Trabalho e Emprego e MinistérioPúblico do Trabalho.

Para a auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego, Maurita Sartori Gomes Ferreira,

afastar crianças do trabalho infantil é um dos grandes desafios. O objetivo é resgatar aeducação e dar o direto da criança brincar. “O problema é que o trabalho infantil não é vistocomo algo prejudicial por uma camada da população, por considerar que é melhor a criançater um trabalho ao ficar na rua”, pontuou a auditora.

 No entanto, para ela, existe a necessidade de conscientizar a população, já que visto destaforma, a educação acaba ficando em plano secundário. “Nosso desafio é resgatar o papel daeducação na vida desta crianças, para que no futuro sejam cidadãos respeitados e comtrabalho digno”, destacou. A procuradora do Ministério Público do Trabalho, CândiceGabriela Arosio, lembra que a necessidade do combate à exploração de mão-de-obra infantil

ganhou força no início da década de 90 quando foram identificados focos de crianças eadolescentes trabalhando em carvoarias, no interior do estado.

“A inspeção do trabalho nasceu da necessidade de combater o trabalho infantil, coibindotodas as formas de exploração”, destacou. Ela lembra que o Estado deve assegurar que, àépoca certa, com qualificação profissional e proteção devida, o jovem assuma sua posição nomundo do trabalho de forma a poder manter a si e à sua família com dignidade.

Ela enfatiza que o Ministério Público do Trabalho atua no sentido de incentivar contratos deaprendizagem nas empresas; no desenvolvimento de leis orçamentárias para banir os menores

da lista dos piores trabalhos infantis. Outro alvo é a conscientização da população, através de palestras, audiências públicas, conscientizando sobre o malefício do trabalho precoce.

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Anexo 3 - Ações especiais combatem o trabalho infantil no MSDourados News 09/07/2011

Para lembrar o dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, celebrado no próximo dia 12 de junho, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Mato Grosso do Sul(SRTE/MS) realiza ações especiais de fiscalização e orientação sobre o tema. A data foiinstituída pela Organização Internacional do Trabalho e objetiva promover a sensibilização da

sociedade para resolver este problema social.As atividades especiais de fiscalização começaram no sábado, dia 04, quando se iniciaramações em feiras livres do Estado. Apenas no último final de semana, em Campo Grande,foram fiscalizadas dezoito feiras livres, localizadas nos mais diversos bairros da cidade. Aotodo, foram encontradas 57 crianças e adolescentes trabalhando em atividades proibidas parasua faixa etária. Dessas, 38 estavam acompanhados com familiares e 19 trabalhando paraterceiros, inclusive na venda de DVDs piratas. Em Dourados, a auditoria fiscal identificou 25crianças e adolescentes trabalhando das quais, 10 para empregadores e 15 em regime deeconomia familiar 

Aos auditores-fiscais do trabalho, cabe autuar administrativamente aqueles empregadores que

utilizam o trabalho infantil e fazer os encaminhamentos pertinentes quando esgotadas as providências de sua competência, de forma a colaborar para com o efetivo afastamento dascrianças, da atividade laboral. Assim, a inspeção do trabalho não só afasta crianças eadolescentes de situação de trabalho irregular, como também aciona a rede de proteção à

 

criança e ao adolescente para incluí-los em programas de transferência de renda, como, por exemplo, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

De janeiro a maio de 2011 foram lavrados 154 autos de infração, contra 140 empregadores demão de obra infantil, no Mato Grosso do Sul.

“A inspeção do trabalho nasceu da necessidade de combater o trabalho infantil, no século

XIX. Cabe ao auditor do trabalho, proteger os mais frágeis na relação laboral, coibindo todasas formas de exploração, especialmente de crianças O papel do Estado deve assegurar que, àépoca certa, com qualificação profissional e proteção devida, o jovem assuma sua posição nomundo do trabalho de forma a poder manter a si e à sua família com dignidade”, afirma a

 

auditora-fiscal do trabalho e coordenadora do Projeto de Combate ao Trabalho Infantil daSRTE/MS, Regina Rupp.

Quando identificado o trabalho em regime de economia familiar a ação fiscal se restringe aorientações à família quanto às atividades que comprometem a saúde e desenvolvimento dacriança ou adolescente e a importância da freqüência e sucesso escolar. Se for identificada

 

alguma forma de exploração ou comprometimento à saúde da criança ou adolescente, é feito oencaminhamento a parceiros, conforme cada caso ( conselho tutelar / secretarias deassistência).

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Para a auditora-fiscal do trabalho, “a criança tem que viver as experiências próprias dainfância, incluindo freqüentar e ter sucesso na escola para depois, na adolescência, sequalificar para o exercício da atividade laboral de forma legal e protegida”.

Danos à saúde, abandono escolar e perpetuação do ciclo da pobreza são apenas algumas dasconseqüências do trabalho infantil. “O trabalho infantil repercute também na vida do adulto

 

que trabalhou enquanto criança. Temos muitos relatos de danos à saúde só diagnosticados aolongo da vida, além de falta de qualificação, resultando em subempregos ou até mesmo emdesemprego”, complementa Rupp.

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