revista literatas edição 16

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Literatas Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 01 de Novembro de 2011 * Ano 01 * Nº 16 * E-Mail: [email protected] Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Literatas agora é no SAPO literatas.blogs.sapo.mz Encontre-nos no facebook Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Sai às Terças-feiras Pág. 2 “Escrevo para extravasar sentimentos” - fátima porto, em discurso directo na literatas O FIM DAS CARTAS Pág. 3 BASTA DE SER GENTE PARTIDA SEM REGRESSO PARA UMA TERRA INCÓGNITA

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Page 1: Revista literatas   edição 16

LiteratasDirector editorial: Eduardo Quive * Maputo * 01 de Novembro de 2011 * Ano 01 * Nº 16 * E-Mail: [email protected] Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona

Literatas agora é no SAPO

literatas.blogs.sapo.mzEncontre-nos no facebook

Literatas

Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigoSa

i às T

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iras

Pág. 2

“Escrevo para extravasar sentimentos” -

fátima porto, em discurso directo na literatas

O FIM DAS cArtAS

Pág. 3

Basta de ser gente

PArtIDA SeM regreSSO PArA uMA terrA IncógnItA

Page 2: Revista literatas   edição 16

Partida sem regresso para uma terra incógnita

2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

Em primEiraTerça-feira, 01 de Novembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2

EDuARDO QuivE - MAPuTOFOTO: FRANciScO JúNiOR

Era para ser uma viagem temporária, com ida e volta. Está-vamos a caminho de uma cidade, cuja chegada estava pre-vista para o mesmo dia e a partida de regresso, para o dia seguinte. Essa cidade chama-se Xai-xai, a capital da provín-cia de Gaza, terras que avizinham-se de Maputo, de onde vinha o Movimento Literário Kuphaluxa.O propósito dessa partida programada era um e único – “dizer, fazer e sentir a literatura” com os irmãos da Associa-ção Cultural Xitende daquela província. E foi cumprido o objectivo. Contudo, ouve imprevistos – tivemos um acolhi-mento acima das nossas expectativas, fomos vítimas de um magnífico atendimento, tivemos ataques cardíacos e ficamos por lá.

No princípio da tarde do dia 29, chegava-mos nas terras que os nativos designam por Ka Ntxai-ntxai (designação em Changana), antes chamadas por João Belo, em hom-enagem a um administrador português, na era colonial. O Sarau Cultural em que íamos participar, intitulado “Versos ensanguentados” tinha o seu início as 18 horas e para além desse intercâmbio Cultural entre a Xitende e Kupha-luxa, era a final de um concurso de poesia entre escolas secundárias locais.Mas antes disso, há algo por relatar. A viagem. Da Junta, terminal de transportes inter-provinciais em Maputo até a cidade de Xai-xai foram vários os momentos marcantes. Durante a viagem, nasceram versos, cresceram amizades, alojaram-se conhecimentos, repousaram os ares da liber-dade e a imensidão logrou os seus intentos: Francisco Júnior tinha saudade do além que vive e a loucura voltou a apoderar-se do seu corpo e pariram-se seus versos.Outros apuros surgiram, gritaram outros versos perversos e dispersos.Era Izidine Jaime, despido de si, para um outro ele. Não evitou dizer palavras, estas que comoveram Amosse Mucavele, o ensaísta do movimento, considerado extra-terrestre pela espontaneidade da sua criatividade. Um autêntico atirador de verdades em chãos ardentes das letras. Comovido, disse poesia “Até então Xai-xai é uma incógnita”.E não eram apenas estes, Japone Arijuane, se expressou de óculos escuros, Nelson Lineu, agora assimilado para secretário-geral deste movimento que ainda se faz bebé e Amélia Matavele também suspiravam ares do destino que se procurava atingir com demasiada ânsia. Eu também estava lá. Eu também Eduardo Quive.Agora sim. Chegamos a Xai-xai. Começamos pelo edifí-cio do Conselho Municipal Local. Tiramos fotos. Depois chegara uma autoridade que nos expulsou do local. Era proibido usar aquela vista para ilustrar fotografias. Isso não sabíamos. Na verdade, chegávamos a uma cidade que em tão-pouco se difere de Maputo. Maputo é cidade de lixo e Xai-xai não e o mais curioso, há latas de lixo em qualquer lugar, as mesmas não tem aderência e a cidade continua limpa. Diferentemente de Maputo onde são contentores tão grandes, cheios e a cidade ainda a levar moscas e cheiro nauseabundo no seu seio. Em fim…

dura realidade, mas que não faz parte deveria fazer parte

deste artigo. Ah! Xai-xai também é tranquila, outra diferença com a cidade que ainda é das acácias (Maputo).E o sarau vai começar. Anuncia-se a nossa presença no local. E volto a repetir, éramos sete: Eu, Amosse Mucavele, Amélia Matavele, Francisco Celestino Júnior, Izidine Jaime Japone Arijuane e Nelson Lineu.Xinyamukwasa e Deusa D´África apresentam o evento e nos glorificam. Acima de tudo glorificam o dom de amizade que os dois combinados têm. Estavam presentes o director da Casa Provincial da Cultura de Gaza e o delegado de Gaza do Arquivo do Património Cultural (ARPAC) e oferecem ao Kuphaluxa uma lembrança – um livro, e o Xitende ofereceu um Diploma de Honra, pelo nosso contributo na promoção e criação de uma identidade própria no ramo das artes e cultura.Mas não se pode oferecer a quem não dá. Por isso demos. Não imitando o gesto, mas incumbindo outras responsabili-dades à aquele grupo que torna Xai-xai representativa a nível nacional. O Movimento Literário Kuphaluxa, retirou do seu acervo bibliográfico, livros e revistas que ofereceu a Associa-ção Cultural Xitende e a Casa Provincial da Cultura de Gaza. Livros de literatura Moçambicana e Brasileira (livros brasileiros oferecidos ao Kuphaluxa pela Ana Rusche e Rubervam Du Nascimento, escritores daquele país latino-americano) e a Revista Proler, carinhosamente fornecida ao Kuphaluxa pela direcção da mesma.Com esta oferta, o propósito era único. Levar a leitura para aquele ponto do País e fazer conhecer as novas tendências literárias.Xai-xai foi muito naquele sábado datado de 29 de Outubro. Descrever tais momentos seria uma missão impossível. Uma noite em que “versos ensanguentados” untaram a todos nós de sangue. O sangue da vida. O sangue de amor as artes. Amor a literatura. O sangue que catalisa corpos celestes que formam o horizonte desconhecido. Algo inatingível. A supremetudo do amor que revelamos a este enigma que se chama leitura e escrita. E tudo isto, devemos ao Calane da Silva que ajudou-nos financeiramente para esta viagem. Xai-xai nos conheceu pelas suas mãos homens. Viva para nós e por nós. Que vivam também os membros do movimento Kuphaluxa que não hesitam em contribuir do seu próprio bolso para o andamento deste grande sonho. Que vivam os membros do Xitende que proporcionaram-nos momentos de glória e fizeram-nos acreditar que Moçambique é pequeno, apesar dos 799.380 quilómetros quadrados que ocupam. Estava previsto que de lá voltássemos, mas três dias depois, nos demos conta ainda lá presentes. E são próximos

desafios manter intercâmbios com outros grupos de outras

províncias e juntos “dizer, fazer e sentir a literatura”

VIAJEM A XAI XAI

O ar misturado de vozes

calava os nossos murmúrios da alma.

Os corpos em seus assentos

viam-se abraçados aos apertos do outro.

Meus olhos apalpavam o mundo fora.

A natureza caia na minha vista em jeito de verde.

Um espaço aberto ao vento

Fingia condicionar o ar daquele ombro que nos carre-gava.

Conversávamos para espantar o silêncio.

Uma voz ecoando ao som da música

Há quem seguia o rítmo num balançar da cabeça.

Sai de mim por um momento.

Meus olhos conversavam com as árvores

Sem muito afecto com o tempo.

Havia gente naquele espaço

Contemplavam o mapa do abandono.

O suor dos campos transbordando as culturas,

casas vestidas de capim

Nos desejavam boa viajem.

Viajávamos a Xai-Xai

Dizeres De Izidine Jaime

Dos Frutos do Amor e Desamores até à Partida de Adelino Timóteo:

Page 3: Revista literatas   edição 16

Hoje já não se escrevem cartas

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3Terça-feira, 01 de Novembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3

Em primEira

MARcELO PANguANA - MAPuTO

Hoje já ninguém escreve cartas como acontecia no an-tigamente. Já ninguém pega uma caneta de tinta per-manente ou uma esferográfica para enfrentar uma folha em branco. Já ninguém faz isso. Nos tempos que correm as cartas deixaram se substituir por meios mais rápidos de comunicação, provavelmente mais eficazes, como os telefones celulares e o famoso correio electrónico. Eu que sou de um outro tempo, lembro-me das cartas que escrevia quando na década de setenta, durante a guerra colonial, cumpria o serviço militar obrigatório. Afastado de tudo e de todos, escrevia cartas para amainar a solidão e sentir-me mais próximo daqueles que mais gostava. Escrevia em longos blocos de papel, tão longos como a minha saudade, ou em aerogramas que nos isentavam de qualquer taxa dos correios, fazia isso durante “a hora maconde“, que é a designação que algures, em Cabo Del-gado, se dava ao espaço de tempo em que os “turras” não atacavam. Escrevíamos à namorada cartas inflamados de amor inspirados nas revistas de Corin Telado, cartas para os amigos, os velhotes, ou para a zelosa madrinha de guerra. Lembro-me das cartas que alguém escrevia e em seguida enviava à si próprio, cansado de esperar por uma correspondência que nunca mais chegava.Naqueles tempos as pessoas gostavam de escrever cartas, mesmo que o domínio da língua portuguesa não fosse lá grande coisa e tivesse alguma semelhança com os dis-cursos do Mestre Tamoda, famosa personagem fictícia buscada nos escritos do meu confrade Uanhenga Xitu. Estou a lembrar-me das cartas que comecei a escrever nos bancos da escola para conquistar o amor e o sorriso da rapariga por quem me apaixonara perdidamente. E das cartas que os nossos pais nos mandavam entregar ao senhor “cantineiro”, a solicitar alguns litros de vinho tinto, algumas latas de sardinha, uns quilos de arroz e petróleo que bastasse. Sobre cartas recordo-me, agora, daquela outra famosa que serviria de pretexto para o escritor co-lombiano Gabriel Garcia Marquez, Prémio Nobel da Lit-eratura, criar em 1958 o famoso conto “Ninguém escreve ao Coronel”, onde numa cidadezinha anónima e desola-da, um velho coronel e antigo combatente da revolução

esperou pacientemente, ao longos de anos, por uma carta do governo que traria

a reforma que ele tinha direito, como recompensa de muitos anos de guerra. Mas todos, naquela cida-dezinha, sabem que essa carta nunca mais chegará, incluindo ele próprio. Mas o velho coronel não se can-sa de esperar. A esperança não é, afinal, a última coisa que morre ? Bonita história, esta do Gabriel!Hoje já não se escrevem cartas como acontecia no antigamente. Ou se quiser-mos, as cartas são agora escritas duma outra forma : através do insubstituível “electronic-mail” e das mensagens por telefones celulares. A linguagem é obviamente clara, sinté-tica, breve. Não há lugar para divagações mais ou menos longas capazes de oferecer àquele que es-creve momentos de partic-ular prazer. As mensagens telefónicas empobreceram a escrita e a própria língua. Com o desaparecimento

do hábito de escrever car-tas quase que também desapareceu uma profissão que noutros tempos teve muito prestígio : a de “carteiro”. Um carteiro era aquele que batia a porta da nossa casa para nos trazer notícias vindas de perto ou de longe. As cartas que depunha em nossas mãos podiam nos tornar muito felizes ou nos deixarem muito tristes. O carteiro era uma espécie de um novo membro da família. Um disfarçado conselheiro. Conversava connosco. Com a nossa mulher. Com os nossos filhos. Escutava as estórias das nossas vidas. Oferecia o seu ombro amigo e deixava ficar a sua opinião à quem precisasse. Como as cartas deixaram de existir, os carteiros agora se contam aos dedos, ou melhor, já não se contam.Sabe-se lá se é pelo facto de não se escreverem cartas como no antiga-mente que os nossos filhos deixaram de escrever bem. Quem sabe se o facto de passarem o tempo a redigir mensagens nos telefones celulares não terá reduzido a sua capacidade discursiva, a imaginação, a criativi-dade e obviamente a escrita ? Não é verdade que todo aquele que tem por hábito escrever cartas se torna um conhecedor de todas as coisas ? Não é verdade que se transforma num poeta ou um pequeno filósofo da vida ?Sei de cartas que ficaram conhecidas na história da cultura universal, desde os tempos do antanho até aos nossos dias. De correspondência entre filóso-fos, escritores, cientistas e outros que tais. Essa correspondência permitiu não apenas a discussão dos proble-mas do seu tempo, como também permitiu a possibilidade de os inter-vientes ensaiarem a sua capacidade especulativa, a sua imaginação, nessa

tentativa de estender o seu pensamento até às proximidades da sabedoria. Recordo-me, por exemplo, das maravilhosas car-tas que o “mestre” David Mestre escreveu para o escritor baiano Jorge Amado, enaltecendo a sua arte, a beleza da sua escrita, falando sobretudo do mundo dos afectos e desafectos em que os dois viviam. Da correspondência entre Goethe e Schiller, cada um actuando para o outro como um tipo de interlocutor, aprumando assim a sua imaginação e a sua escrita. Entre Cas-tilho e Camilo. Ou entre Tchékov e Górki. Todos eles escreventes de cartas que resistem ao tempo e que correm o risco de se tornarem legados eternos da nossa civilização.No bairro onde vivo existe um senhor que vive de fazer cartas. Para isso montou um modesto escritório no mercado do lugar: uma pequena mesa onde ficava instalada uma velha máquina de dactilografia, uma cadeira de jambire que dava costas a um calendário que ostentava a figura de Nelson Mandela. Chegava no seu escritório logo de manhã, sempre de fato escuro, sem-blante carregado, ombros curvados, como se estivesse a carre-gar nos ombros toda a sabedoria do mundo. Trazia os sapatos iguais àqueles que usavam os dançarinos de “twist” na famosa época do Chube Checker, e um desses chapéus escuros que me faziam lembrar os conhecidos chapéus do poeta Fernan-do Pessoa. O senhor Lampião, que é assim que se chamava o fazedor de cartas, escreve muitas todos os dias, encomendadas por gente que de manhã à noite lhe batiam a porta da casa, desde cartas para familiares a viver numa localidade ou alde-ia longíquas, a informar que uma tia qualquer que podemos chamar Maria acabava de trazer mais um filho ao mundo, cartas dizendo, por exemplo, que um tal Ngomane acabara abando-nando as minas da terra do rand e agora estava na cidade de Maputo, o corpo terrivelmente debilitado, uma tosse produtiva a se ouvir constamente no silêncio dos becos. Cartas para pedir emprego ou para acabar com ele. Outras de um amante zeloso a desculpar-se a uma amante pela mesada do mês passado que não chegou de ser enviada. Se tornara enfim o senhor Lampião, por via do seu ofício, uma figura de prestígio. De modo que pas-sando pela rua, toda a gente o cumprimentava com o devido respeito e dizia : “Lá vai o escritor de cartas”. E o senhor Lampião, com o seu passo lento, como se todo o tempo do mundo lhe pertencesse, respondia com um vagaroso e distraído aceno, se calhar a escrever naquele preciso momento mais uma carta. Quem sabe ?

Hoje já não se escrevem cartas como acontecia no antigamente. Ou se quisermos, as cartas são agora escritas duma outra forma : através do insubstituível “electronic-mail” e das mensagens por telefones celulares. A linguagem é obviamente clara, sintética, breve. Não há lugar para divagações mais ou menos longas capazes de oferecer àquele que escreve momentos de particular prazer...

Ao Compadre Adérito Silveira

Page 4: Revista literatas   edição 16

FiCHA TÉCNiCAPropriedade do Movimento Literário Kuphaluxa

Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: [email protected]

Director Editorial: Eduardo Quive ([email protected])Coordenação: Amosse Mucavele, Japone Matias e Mauro BritoRedacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.Design e páginação: Eduardo Quive

4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555Terça-feira, 01 de Novembro de 2011 LiTERATuRA ANgOLANA 4

Basta de ser Gente, vou emigrar para coisalidades, como uma onda no prédio

MAuRO bRiTO - MAPuTOApreseNTAção Do novo inquilino do prédio: Esta é uma onda que responde pelo nome de Carnaval, depois mudaram-lhe o nome para Carnaval da Vitória, isto à propósito da abastada algazarra que causou a presença do animal, quando um dos vizinhos da família criadora do bicho, tratou logo de alertar o fiscal da zona, que havia qualquer coisa de estranho no sétimo andar. Apercebendo-se da ausência dos donos da flat, do mesmo, decidiu ganhar satisfações da razão de ter um porco no prédio só para GENTE sem que os restantes dos moradores tomassem conhecimento do assunto; o Zeca e o Ruca após terem vencido a estonteante batalha de impedir a inspecção ao famoso porco, por unanimidade lhe atribuíram por mérito de nome completo, Carnaval da Vitória. ANTes eLA queria ser um ser vivo, mergulhou na tentati-va de ser pessoa mas viu que os homens ainda não são pessoas, ainda aprisionam-se uns aos outros, matando-se modernamente, olha que nem gente sonhou ser, ser gente requer grandes investimentos, muito dinheiro em jogo, ter família, ter cargo político, contudo nem gente conseguiu ser, que pena dela! Disse novamente, vou tentar ser animal, mas também os animais não, os homens tratam-nos mal e porcamente, vejam os jardins zoológicos por aí, desfilados em porquices e tolices, a própria pobreza da local apodrecida parecem autên-ticas pocilgas; animal não, vale a pena ser algo que

não vale nada, como prego, ferro, papel, palavras, essas coisas, ar, discursos, esse tipo de coisas, sim onda é boa coisa, onda, vou ser onda como nunca, essa ninguém amarra. Ali por cima da água, nem precisa nadar. Pode alguém agarrar uma onda, prende-la?NesTA oBrA, de dimensão física, pequeníssima, mas no sentido real e morfológico da palavra, a obra “ Quem me dera ser Onda” de Manuel Rui , é uma grandíssima viagem aos tempos já idos, da burguesia portuguesa. Tempos de escassez, tempos de poucas condições, de pouco açúcar, pouco arroz, pouca farinha, peixe as vezes, pouca voz e por ai em diante. NesTA oBrA, Manuel Rui, faz-nos mergulhar num uni-verso socialmente habitável, por todos, tanto seres humanos como seres animais. Por outro lado quão fértil o coração dos animais, e de como os animais são mais humanos do que nós (homens), correspondendo amorosamente ao pequeno gesto de carinho e afeição, mostrando o quão forte e intenso é o amor verdadeiro, que cinge-se simplesmente na troca de verdadeiro afecto e protecção, um amigo do outro, todos irmãos no arroz com peixe frito e as sobras do hotel Trópico.(...) - Olha só, ronca que chega - Ruca aproximava-se tentando a familiaridade com o bicho. pág 8.A CHegADA do novo inquilino ao novo lar (o porco), deixava todos os viventes, de bocas secas, de saliva por não ter que lamber os beiços, os miúdos na pressa de seduzir amizades para com o bicho, não esperaram que este se acomodasse devidamente, como que uma

Uma leitura do livro “Quem me dera ser Onda” de Manuel Rui

identidade nunca avistada, fresca de notícias e coisas novas, lhe prendem só que o recebem.... De onde vem, chegou bem, a família lá em casa está de saúde?o CHeFe de família, todo ele realizado nos seus pensamentos, salivava a cada olhar que cruzava com a imagem do animal que virou caseiro, todo ele carrancudo, em gestos de domador de touros, ensaiava perante a hora do peixe frito no arroz, seus planos mortíferos ao pobre bicho.(...) “ - Mas vamos comer leitão, não é? ”- NADA, Zeca. Plano, sempre o plano. Vamos criar. Engordar. Depois é muita carne. Pág. 10. ComeNTAvA Diogo, os seus ensaios na aniquilação daquele grande amigo que se viria a descobrir, do Zeca, Beto e Ruca, os pionei-ros.e DALi para frente educações surgiram para o animal, um novo animal burguês, de modo a que não gritasse ao gesto de Zeca e Ruca, de puxar, em modos de brincadeira, a cauda de Carnaval da Vitória, restos de Hotel, música o dia todo, que vinha dos sons do único rádio que existia na pequena sala daquela flat de um sétimo andar clandestino. “e Com panquê1, nem um porco grita. É lei da vida”- provérbio da dona Liloca Num prÉDio onde vive gente, escriturários, secretários, funcionários de ministérios, um assessor popular, até um segurança, não podem duma forma assumida compartilhar o mesmo espaço com bichos, ainda mais em estado vivo, de saúde e arfaras, animais com animais, pessoas com pessoas. “Pois segundo o responsável da assembleia dos moradores ficou votado por unanimidade, no elevador só pes-soas, coisas no monta-cargas, quanto aos bichos ficou combinado cão, gato ou passarinho, se for galinha ou cabrito, morto, limpo e embrulhado, passa como carne.”os pioNeiros, Zeca e Ruca, com tamanhas espertezas, demon-straram duma forma inteligente as suas habilidades em enganar o camarada Fiscal, de não permitir que o mesmo descobrisse o porco que ali já residia; visto que tinham acabado de se meter numa saia justa. Não podiam deixar de venerar Carnaval da Vitória, antes de se deitarem fizeram questão de deixar alguns cumprimentos; nos seus sonhos, Carnaval da Vitória era a principal figura de cartaz, talvez porque nas aulas sobre os animais, só terem ouvido falar de animais domésticos por estes conhecidos virtualmente, até aquele momento nunca antes tiveram a sorte de trocar intimidades com bichos, servia como que uma aula prática. Os pioneiros, na escola no tempo do intervalo, com os lábios sorvidos de saliva e sorriso brilhante, narravam a cena do dia anterior, com tanta paixão, sem desdém.CArNAvAL DA Vitoria, no seu novo lar, merecia tratamentos carís-simos, que nenhum outro animal antes tivera, era já membro da família, com direito a banho, comida de primeira que vinha das sobras do Hotel trópico, e habituado ao som do rádio, quando assim berrasse, para que a vizinhança não se apercebe-se da pre-sença do novo inquilino. Era comer, dormir e ouvir musica, original exemplo de vida de Lorde.NuNCA mAis os dias foram os mesmos desde o dia em que o pai Diogo, depois de afiar as facas, preparar a fogueira, ter aniquilado Carnaval da Vitória sem escrúpulos, nem pena; na casa os pioneiros assistiam a azafama que anunciava o matadouro de seu amigo. Em todas as estórias existem heróis, Carnaval da Vitória não foi excepção, virou herói da família, e dos pioneiros da comarca. Na fogueira em forma de febras, costeletas, toucinho, gordura, refeição para todos ate serem convidados os anteriores inimigos da família Diogo, Faustino, o camarada Nazario e os membros da comissão dos moradores, viraram todos excelentes amigos por causa de Carnaval da Vitória, e por fim o sonho dos pioneiros, em ter sempre a imagem do porco, em suas mentes, nas correrias do intervalo, no trópico. Se pudessem voltar atrás para mudar o curso da estória, escolheria que Carnaval da Vitória tivesse nascido cão ou gato, mas não, queriam mesmo ser onda.

Page 5: Revista literatas   edição 16

MARcELO SORiANO - [email protected]

Nota preliminar: Antes de prosseguir com este artigo, lembro ao leitor que me dirijo à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), portanto, podemos encontrar gerúndios, futuros do pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011.

[v e r - s Ó i s]

introduçãoNuma noite acordei para o dia. E outro dia. Outro dia. Sol a sol, fui tecendo o manto da vida, enquanto esperava a morte, que não veio...

5º [ver-sÓ]

versiDADevi A CiDADemi’A CiDADevivereivivACiDADevir-Te-vAissAuDADeAversãoAve voAvÊ e voANu ver-sÓ

(CoNTiNuA NA prÓximA eDição...)

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..Homem-mãeO poeta-homem é mãe no poema.É mão pesada a carregar seus filhos,como se a pena fosse brisa.

.....................................................................................

FrAse TAmANHo FAmíLiA soBre A esperAPessoas me esperam no Porto. Também me esperam em Lisboa. São Paulo. Curitiba. Maputo. Porto Alegre. Fortaleza... Pessoas me esperam, inclusive, em Santa Maria, a minha Terra Natal. Esperariam “por” mim, ou esperariam “de” mim? Não sei o que esperam. Não sou quem esperam. Ou sei... Ou sou... Sinto muito, de coração, ter de frustrá-los. E, o que eu esperaria, seria, que não sentissem muito. Que não sentissem falta antecipada. Que não sentissem falta posterior. Queria que fôssemos uma família de irmãos que ainda não se conhecem. Amaríamo-nos mesmo sem sabermo-nos... Família é isso... Família são todos aqueles que sabem a verdade sobre nós e, apesar disso, continuam nos querendo muito bem. Isto é o que eu espero!....................................................................FrAse CAixA ALTA:se ToDo muNDo ACreDiTA, É verDADe. se NiNguÉm ACreDiTA, TAmBÉm

Atxaga e a profecia de Nadeau LuíS cARMELO* - ÉvORA

Num encontro realizado em 1965, sub-ordinado ao tema “Que peut la Littérature?”, Jean-Pierre Faye, na sua comunicação, escrevia: “Foi no fim de um artigo publicado em 1957 que, pela primeira vez, surgiu pela pena de Maurice Nadeau, a expressão legendária ‘Nouveau Roman’. O autor afirmou nesse texto que era a partir de um mundo subitamente ‘lisible’ que as tomadas de consciência tinham lugar e que as revoluções poderiam florescer”*. O tom do encontro era meio épico e carregado de certezas e ideologemas próprios da época (basta ler o início das comunicações de Sartre, Semprun ou Ricardou para que a efígie irónica da actualidade possa desbragadamente sorrir). Ao fim e ao cabo, neste encontro de 1965 debatia-se a (dir-se-ia necessária) irredutibilidade entre a escala do ‘Nouveau Roman’ e a chamada literatura ‘comprometida’ (enfim, comprometida com as fantasias de quem a teorizava com botas de chumbo e tambores exaltados).

No entanto, a alegação de Nadeau, citada por Faye, não deixa de ser interessante, até porque vinca a ideia de uma possível ‘tabula rasa’ como suspensão do mundo que acabaria por convidar ao descomprometimento ficcional (seria essa, afinal, a mais do que sadia “lisibilité”). Creio que Alain Robbe-Grillet deu corpo a esse espírito de renovação e convidou, em muitas outras latitudes, a experiência literária a interrogar-se. No início dos anos noventa, mais de meio século depois do artigo de Maurice Nadeau, ainda me lembro de Fernando Dacosta ter considerado, numa crítica no JL, que o romance Na tua face de Vergílio Ferreira (1993) era um fruto emblemático do ‘Nouveau Roman’.

Esta breve reflexão leva-me a um conto de Bernardo Atxaga que li dois anos após a saída a público do penúltimo romance o autor da Aparição. O conto de Atxaga – editado num volume de narrativas curtas intitulado Relatos Urbanos (Alfaguara Hispânica, 1995) – espelhava com imensa nitidez a atitude ‘lisible’ desencantada por Nadeau. O autor imaginou no seu conto uma “Vuelapluma”, espécie de aparo miraculoso que, na sua forma de artefacto original, sobrevoaria a cidade de Bilbao. O dispositivo (meio físico meio imaginário) evitava locais onde as histórias avolumadas seriam excessivas e evitava também as periferias, isto é, os lugares de mero trânsito ou passagem, sobretudo porque aí as narrativas latentes esfumariam a criatividade da invenção literária.

Ataxaga preferiu conduzir a sua “Vuelapluma” entre a nuvem incerta do puro acidente e da contingência. E foi desse modo que, a dada altura, o olhar narrativo se fixou numa pessoa de idade que, solitária, vagueava através de um parque, embalada pelos encantos do lazer desportivo. É evidente que o personagem em causa não exercitava os músculos para “convertirse en un viking de los que viajaban en la proa de su embarcación desafiando a las olas, al viento y a los cormoranes”. Contudo, este homem com um pouco mais de setenta anos, entre muitos outros dotes, também sabia tocar acordeão (confessou-o, a dada altura, a pluma voadora em diálogo directo com o narrador).

Talvez devido aos muitos dotes do personagem e a outros motivos para os quais a ficção não desejou – e bem – encontrar explicações, o certo é que o ‘jogger’ tinha, há menos de uma hora, colocado um anúncio num jornal onde se candidatava a acompanhar um aventureiro que só já desejava partir no seu barco à vela, de Bilbao para os Açores, passando pela Finisterra e pela costa portuguesa. Terá esse sido, ao fim e ao cabo, o desvendado segredo da pluma voadora.

Nesse dia, o mundo tornou-se branco, nítido, legível. Tudo começou e acabou e a “Vuelapluma” de Atxaga cumpriu como ninguém a profecia aventurosa de Nadeau. Sem que Robbe-Grillet desse por isso.

___________________________________________________________________*Jean-Pierre Faye Que peut la Littérature? em Que peut la Littérature?, L´Inedit, Paris, 1965 (pp. 63-72)

________________________________________exTrAíDo Do portal: PNETLITERATURA. www.pnetliteratura.pt

* Luís Carmelo (Évora, 1954) é autor de uma vasta obra literária e ensaística, de onde se destacam dez romances (com destaque para A Falha, adaptado ao cinema por João Mário Grilo em 2002) e quinze livros de ensaio (incluindo o Prémio A.P.E. de 1988) sobre semiótica, teoria da cultura, literatura e o cruzamento multidisciplinar de expressões contemporâneas.

DouTorADo peLA Universidade de Utreque (Holanda), o autor é professor na Escola Superior de Design (IADE), membro da Associação Portuguesa de Escritores (A.P.E.) e da Associação Internacional de Semiótica (I.A.S.S.-A.I.S.).

pArA ALÉm de autor de diversos manuais de escrita criativa, actividade que coordena em diversas instituições, entre elas o Instituto Camões, é ainda colunista do jornal Expresso (edição online), autor do blogue “Miniscente” e editor do site PNETlitera-tura.

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5Terça-feira, 01 de Novembro de 2011 cRÓNicA / cONTO 5

FiLosoFonias rapsódicas

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- discurso dirEctoEscrever para extravasar sentimentos

Terça-feira, 01 de Novembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6

poesia, podemos encontrar o grito de saudades da mãe África “quem os ler, vê a saudade, a tristeza, a dor, até mesmo a revolta de ter visto os seus filhos partirem… “Mas have-mos de voltar!”, já assim dizia Alda Lara!” é bancária de profissão e Por-tugal a acolhe desde a tenra idade, mas o seu berço, é aquele que é da humanidade – África, mais concre-tamente, em Angola, terra de Pep-etela e Agualusa, exímios escritores dos tempos de hoje. Quem sabe ela também será! … Falo-vos de uma mulher que ostenta o nome de Fáti-ma Porto.

EDuARDO QuivE - MAPuTO

O seu processo de criação não ultra-passa os meios humanos comandados pelos sentimentos, mas o produto final, que é a sua poesia, ultrapassa continentes e forma um horizonte que cujo alcance é sempre o mesmo para o leitor – a insatisfação. Lemos sempre, mas sempre, queremos mais. Na sua poética forma de “extravasar sentimentos”, navega o Atlântico que banha os trópicos da África, ne-gra terra que a viu nascer, mas neste mesmo oceano, embrulha-se um outro continente que a acolhe tem-porariamente, como declara nesta entrevista. Aliás, segundo ela, na sua

eDuArDo Quive: Que espaço ocupa a literatura na sua vida? FáTimA porTo: A literatura tem um espaço muito impor-tante, desde a leitura de obras de autores nacionais e inter-nacionais, como até a minha própria escrita. eDuArDo Quive: O que a leva a escrever? FáTimA porTo:

Extravasar todos os meus

sentimentos, sejam eles de dor,

alegria, até mesmo de Amor. eDuArDo Quive: Quando é que escreve? FáTimA porTo: Sempre que sinto necessidade para tal, o que posso mesmo dizer, que é uma constante diária.

eDuArDo Quive: A quanto tempo escreve? FáTimA porTo: Desde muito cedo que comecei a escrever, desde pensamentos poéticos a pequenos textos poéticos que mais tarde se transformariam na minha grande paixão literária.

eDuArDo Quive: Que passos obedece o seu processo de criação? Fátima Porto: Essencialmente a minha vivência do quotidiano; por vezes uma fotografia pode traduzir em

Por vezes, começo a escrever, e as palavras fluem com tal ligeireza, que quando me apercebo, já estou na parte final.

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mim, a essência “forte” para “entrar” dentro do contexto e transformar em letras tudo aquilo que sinto.

eDuArDo Quive: Escreve só poesia? FáTimA porTo: Sim, apenas poesia.

eDuArDo Quive: Porque razão? FáTimA porTo:

A poesia É o estilo de escrita que mais se

coaduna com o meu “EU”, e por outro lado, eu costumo dizer que “a poesia não se aprende, já

nasce connosco”.eDuArDo Quive: Que influências literárias você tem? FáTimA porTo: Influências, não direi, mas gosto da obra completa de Florbela Espanca, Alda Lara, Fernando Pessoa, António Nobre no seu livro “Só”.

eDuArDo Quive: Estarão (as influências literárias) iminentes no que escreve?FáTimA porTo: Inconscientemente, acredito que estejam, no caso de Alda Lara, pelo facto de ela ter morado em Portugal enquanto estudante, e nessa altura escreveu muito sobre Angola e as suas saudades, por outro lado, quem conhece a obra de Florbela, compara-me um pouco a ela, mas no essencial, é a minha Alma que “fala”, que “grita” a dor nela contida, e de mais ninguém.

eDuArDo Quive: Qual é a sua maior preocupação quando escreve? FáTimA porTo: Conseguir transmitir o que sinto, passar através das letras os sentimentos, por vezes dolorosos, que me vão na alma.

eDuArDo Quive: Que dificuldade tem encarado na criação de um texto? FáTimA porTo: Pouca dificuldade. Sou sincera, por vezes, começo a escrever, e as palavras fluem com tal ligeireza, que quando me apercebo, já estou na parte final.

eDuArDo Quive: E qual é o espaço que tem para gritar os seus sentimentos expostos no que escreve? FáTimA porTo: Neste momento, tenho um blog (http://portodefatima.blogspot.com) onde por vezes dou gritos abafados, choro lágrimas secas, e olho o horizonte vazio de nada!

eDuArDo Quive: Está nos seus planos lançar um livro? Sim, graças a um amigo, também poeta Ângelo Vaz, muito breve-mente iremos editar um livro, em parceria, “CAPAS”.

eDuArDo Quive: Tem publicado os seus textos no Brasil (jornal O REBATE) isso por falta de espaço no seu País? FáTimA porTo: Essa pergunta é pertinente, mas infelizmente, apesar de sermos observados por todos os lados, foi do Brasil, e mais propriamente do Jornal O REBATE, que recebi o convite para ser colunista diária do mesmo, que aceitei, claro.

eDuArDo Quive: Quer comentar sobre a situação em que situação está a Angola em termos de divulgação de novos autores? FáTimA porTo: Angola, como todos os novos Países Lusófonos, está a dar uma grande evolução na divulgação dos novos autores.

eDuArDo Quive: Tem contacto com as literaturas de outros países Lusófonos? FáTimA porTo: Sim, é uma grande preocupação minha ter contacto com a literatura de todos os Países, principalmente Lusófonos.

eDuArDo Quive: E de Moçambique? FáTimA porTo: Também, claro. Mia Couto, por exemplo, esteve recentemente em Portugal, e segui com muita atenção, inclusive, o programa

de TV onde o escritor, na sua intervenção, dissertou, sobre o tema “Ter medo que o medo acabe”.

eDuArDo Quive: Acha que há uma interacção literária entre esses países? FáTimA porTo: Sim, acho que há, mas a meu ver, deveria haver interligação através de Congressos, abrangendo também os que estão a dar os primeiros passos na lit-eratura.

eDuArDo Quive: Quer mencionar a sua lista de escritor

lusófonos?

FáTimA porTo: Milton Gama, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Miranda Quintana (ambos brasil-eiros) Agostinho Neto, Alda Lara, José Eduardo Agualusa, Pepetela, (angolanos) Mia Couto, Ruy Guerra (moçam-bicanos) Yara Tavares, Eugénio Santos (cabo-verdianos) Alda do Espírito Santo, Conceição Lima (São-tomenses), Luís Cardoso de Noronha, Fernando Sylvan (timorenses), Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Luís de Camões, António Nobre (antigos escritores portugueses, mas imortais) Agustina Bessa Luís, José Saramago – Prémio Nobel da Literatura, Miguel Esteves Cardoso, Miguel Torga e tantos outros…

eDuArDo Quive: Sei que está no sector bancário, mas sente que há cultura de leitura no seio de estudantes? FáTimA porTo:

Com as novas tecnolo-gias informáticas, o gosto pela leitura dispersou-se

um pouco, mas cabe aos Pais e aos Professores voltar a incutir esse gosto de LER!

eDuArDo Quive: Que palavras diria a um iniciante da escrita?

FáTimA porTo: Muito simplesmente: “Leiam muito, aprendam

a gostar de ler para serem bons escritores”!

eDuArDo Quive: Angola está presente nos seus escritos?FáTimA porTo:

Claro que sim, Angola minha terra natal, está e estará sempre presente.

eDuArDo Quive: Como? FáTimA porTo: Em vários poemas, desde “Menino””África I”, “África II”, “Para lá do mar”,”Mãe Preta África”… quem os ler, vê a saudade, a tristeza, a dor, até mesmo a revolta de ter visto os seus filhos partirem… “Mas havemos de voltar!”, já assim dizia Alda Lara!

BiogrAFiA:Nome: mAriA de Fátima de Carvalho Oliveira da Cunha PortoDATA De nascimento: 23 de Janeiro de 1959NATurALiDADe: CATumBeLA, Benguela, AngolaACTiviDADe proFissioNAL: BancáriaFez os seus estudos primários na Catumbela, continuando os mesmos em Novo Redondo (Sumbe). Concluiu o 5ºAno do Liceu em Benguela.veio pArA Portugal em 1975 onde continuou os estudos em Coimbra e Oliveira do Bairro. FáTimA porTo, fez parte da Rádio Voz da Bairrada em Oliveira do Bairro.NessA ráDio foi responsável pelos seguintes programas: progrAmA iNFANTiL semanal, “ Bola de Sabão”, (sábados à tarde). revisTA semANAL, Nacional e Internacional incluindo desporto, (programa semanal, aos sábados).voz De África, (programa semanal).peNsAmeNTo Diário (temas generalizados).progrAmA DesporTivo, como pivô (programa semanal aos domingos)muiTo CeDo que a escrita poética é uma busca constante até os dias de hoje. FAz pArTe da redacção poética de jornal O REBATE de Macaé-Rio de Janeiro, Brasil

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NÉLiO NhAMPOSSE - MAPuTOo CHiAr das aves anuncia a nobreza e pureza da alma. A poesia e os versos métricos poluíam o ambiente. As sonori-dades do blues evocam os deuses da morte à vida. Era um dia igual ao dos selenitas. O calor intensificava a cada para-gem brusca de um movimento. O jazz emergia entre a ida e o regresso da morte. Matiangola, pelo mais sagrado que existe, era um homem que vivia entre a vida e a morte; entre as trevas e a angústia; entre a dor e mágoa. E nesse vácuo, encontrava espaço para amar. E não demorou muito para dar o nó.- JuLieTA, a minha vida tem sido incaracterística.

- porQuÊ?

- vivo entre o abismo e a escuridão. Entre a morte e o caixão. Sou uma espécie de cemitério ambulante. Por onde passo, atraio a morte. E as pessoas, quando me vêem, só vêem morte, choros, angústia. Talvez eu seja a própria morte. Sabe, em tempos, até pensei em mudar de nome. Sim, mudar para Morte.

- e por que não mudaste?

- porQue também tenho medo de morrer, apesar de já viver como um falecido.

- Deixe-Te de estórias. Como é que uma pessoa que ama a morte pode ter medo de morrer?

- poDe até parecer estranho, mas mesmo o próprio morto tem medo do seu estado de morto e, pior ainda, da ideia de falecer. Não te engane Julieta, é difícil ser falecido. Não te

O dia do casamento de Matiangolaaconselho. E eu não sou uma excepção. Quero, minha perdição sem eleição, tu que fazes o verbo levitar flores, que provocas vapor e gás mesmo sem perplexia, casar-me contigo. Tu serás o elo entre a vida e a morte; entre o falecido e o morto; entre o caixão e o covil; entre as trevas e a mágoa; entre o sepulcro e o enterro.

- esTrANHo!

- e quem disse que os mortos não se casam. Já combinei com o bispo. Vamos casar no sábado. Casaremos mortos e até já pensei na lua-de-mel. Será no cemitério, claro, num caixão. Vamos fazer, nessa noite, as letras cantarem afro ao brilho das estrelas; as aves cintilarem até ao alvorecer; a álgebra suar até à região central do hemisfério; as águas do oceano fervilharem até encontrarem a nascente. O leito do rio vai nascer.

- voCÊ é um louco.

- Há uma coisa que devias saber, amor. A loucura é para os eleitos. É o estágio mais avançado da sabedoria. Só é louco quem não é com-preendido. E tu me compreendes.

umA semANA depois, a agitação era desusada no cemitério. A algazarra era tal que o casal não precisou de convidados, tudo porque o cemitério estava abarrotado de mortos e, por tabela, dos familiares dos mesmos. Tudo havia sido preparado ao detalhe. às 15h00 de sábado, com a presença dos padrinhos Jonh Mabalend e Suzana Gazetão, falecidos de primeira, o bispo Quim Selex iniciou a cerimónia.

- CAríssimos irmãos, hoje, celebramos a união em Cristo de Matian-gola e Julieta. A partir de hoje, em diante, o que Deus unir ninguém separa. Matiangola é um morto e Julieta uma vivente. Pelo que unimos a morte e a vida; a treva e a paz; a dor e a felicidade; a mágoa e a trégua;

o luto e o amor; a desgraça e a graça. Desta maneira, distintos convidados e excelências, imortalizamos quer a morte quer a vida. Não nos enganemos, clarividentes, a partir de agora viveremos nesse vácuo entre a vida e a morte. Nesse espaço onde teremos, em simultâneo, falecidos e vivos. Por isso, saudosos irmãos, cel-ebramos esta união aqui neste sítio. E meus ente queridos, vos conjuro, a lua-de-mel para os nubentes será num caixão, exacta-mente neste cemitério, onde começou a Matiangola Company, obra-prima que ora e faz os discursos fúnebres para os falecidos. As sementes devem ser lançadas aqui. Hoje, Julieta, o verbo vai perplexar. O mergulho vai carbonizar o parnaso. Os campos vão ficar verdes como as tuas plantações. As aves Maria vão nascer. Senhor de todas as coisas, Deus de Deus, luz da luz, santifique este matrimónio. Que a paz e a morte sejam o dia-a-dia do casal; que as trevas e a felicidade transbordem neste lar; que a dor e a mágoa unam-se ao amor e espalhem o avesso; que os falecidos e os mortos sejam o vosso lar; que Deus vos abençoe. Amen!

NAQueLA NoiTe, de núpcias, ao som do vento, carreguei uma carta de amor, que com a profundeza da secreção esperneou nos óvulos de Julieta e com o cintilar das aves, suspirámos nessa aurora infinita, como se de hipotipose se tratasse. Quase que a mil, suspiramos novamente, numa penetração que dilacerou o nosso ego e, nesse frenesim, amargámos os nossos lábios congelados de saliva, num balbuceamento azedo. E quando a alvorada cessou, com o nascer do covil, Julieta estava grávida.

ps: A Matiangola Company e sua filial de malopa comunicam, com pesar profundo, a não realização de enterros esta semana, em virtude da realização do matrimónio do seu presidente do Conselho de Administração. Pelos transtornos causados, as nossas sinceras desculpas. Paz às vossas almas.

DANy wAMbiRE - bEiRA ArmADos, os polícias tradicionais tomaram, de assalto, a casa do Tapera. Vestiam-se de roupas rotas com a acção do trabalho policial. E entraram de forma abusiva e desrespeitosa, para tirar algum animal sacro, que o Tapera tivesse apanhado, na sua longín-qua viagem a Maropanhe, na caça de todo o tipo de animal, para a sua difícil sobrevivência. e A gente, ante aquela agitação dos polícias, ladeou-os, para junto deles perceber as razões daquele rebuliço e da prisão do velho Tapera. Alguns não compreendiam as motivações daquela tristonha cena. e Não tardou que os interessados desvendassem a causa da prisão de Tapera. Era a Teresinha, de quem se conjecturava que fosse a informante furtiva do régulo. Ela é que tinha assistido dubi-amente ao Tapera a recolher um pangolim, num trilho poeirento, quando ela regressava da labuta na sua modesta machamba. Ao seu lado, ouvia-se um jovem vindo da Beira a dizer as moti-vações daquela peripécia, o que logo ridicularizou: - esTes polícias, não estão bem... Não têm nada que fazer...! Estão a prender alguém, só porque apanhou um animal, um pangolim! esTe Jovem beirense criou, involuntariamente, uma aberra-ção, para um velho, que assistia, apreensivo, à peripécia, e que conhecia bem a real perigosidade do halaca-vuma, os poderes sobrenaturais deste animal. o ANCião retorquiu para o miúdo: ― oH cala-te, ó jovem da cidade. Tu não sabes perfeitamente dos poderes de que o pangolim dispõe. O pangolim atalha a chuva. o Jovem ficou cada vez mais perplexo, e interessado com a declaração. Necessitava de mais detalhes, e perguntou: ― Como é que um animal tão pequeno como o pangolim pode estrangular a chuva? e Do velho veio-lhe a resposta, que o manteve mudo e sem mais querença de perguntar algo. ― DeixA-Te estar, ó jovem da cidade, e deixa o povo do Regulado fazer o que bem sabe. eNQuANTo As pessoas espectadoras se digladiavam em comen-tários diferenciados, o Tapera, lá dentro da palhota, sofria vários golpes de coação, para a outorga do pangolim. Mas continuava a não mostrar o esconderijo do animal sagrado. A sua teima

Halaca-vuma também é sagrado

céptica assustava os polícias e deixava-os assoberbados de dúvida. O Tapera vincava que não tinha apanhado nenhum animal sagrado.CoNFiNADos Com o posicionamento do Tapera, os polícias tradicionais chamaram pelo régulo, para ele os ajudar a achar o procurado. E o régulo apareceu. CHegou e insistiu: ― TAperA, concede-nos o halaca-vuma, que achaste, algures, na mata. Tu apanhaste um animal na mata, tenho a certeza. De CerTezA os polícias e o régulo tinham tido informações de pessoas críveis, que tinham visto o pangolim achado pelo Tapera. E essas mesmas pessoas temiam pela eclosão duma estiagem com causas humanas. por ForçA das palavras assustadoras do régulo, teve o Tapera que desobrigar o pangolim e acompanhá-lo ao Regulado, à sede do mandante da ordem.

e o régulo não demorou a chamar os anciãos do Regulado, para lhes apresentar o animal sagrado, halaca-vuma, que facilita as preces da vinda da chuva ao Regulado, e também as impede.

ToCArAm A trombeta. Os populares dirigiram-se às pressas à sede do Regulado. Queriam ver aquele animal, de que muito se falava na região, o animal do bem e do mal.

mAs sÓ se consegue ver a cabeça do halaca-vuma, em troca de dinheiro, de porcelanas e de cânticos. Halaca-vuma idola-tra dinheiro ou porcelanas acompanhadas de súplicas com cânticos. Mexe a cabeça e a pequena cauda, num movimento extraordinário e espectacular. Mas embrenha-se, quando apare-cem pessoas que não lhe endereçaram súplicas com dinheiro e porcelanas.

o DiNHeiro amealhado à custa do pangolim ultrapassou as expectativas. Foram novecentos meticais. Com este dinheiro, adquiriram os anciãos a utchema, e também fizeram dhoro. Depois mataram o pangolim, para uma pequena festa metafóri-ca, no Regulado. E estiveram lá os mais cotados do Regulado. É que esta festa só admite essas pessoas: os anciãos, os régulos, e os seus súbditos, e outros distintos convidados.

gERALDO LiMA - SãO PAuLO peLAs ruAs De são pAuLo, seguiNDo-A. um Negro em seu eNCALço. AssusTADA? pAssos LÉpiDos, ANCAs eNvoLveNTes: umA priNCesA NAgô, sem DúviDA ALgumA.

— LuízA mAHim. seNHorA LuízA mAHim!

AproveiTou A muLTiDão e esTACou. umA priNCesA NAgô, Não TeNHo DúviDA.

— Que merDA É essA! Não me CHAmo LuízA...

— mAHim... LuízA mAHim, mãe De Luiz gAmA...

perpLexA. QuereNDo eNTeNDer e Não poDeNDo.

— LemBrA-se Dos mALÊs? o reCôNCAvo BAiANo, o QuiNTAL DA suA CAsA...

Já HAviA virADo As CosTAs, ABorreCiDA. Fez Assim Com umA DAs mãos, Como se Dissesse: CADA mALuCo Que me ApAreCe.

Não A segui mAis. Que se Fosse, DesCoNHeCeNDo Quem reALmeNTe erA. HAviA ouTrAs. mAis DiA meNos DiA, umA se ApreseNTAriA DiANTe De NÓs, umA priNCesA NAgô:

— seNHores, É por AQui. eis o meu QuiNTAL... vAmos ComeçAr TuDo De Novo.

Malês

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outras margEnsTerça-feira, 01 de Novembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9

Espaço para divulgação de poetas dos países LUSÓFONOS. Envie os seus textos para: [email protected]

Desfazer

Algo mais

PEDRO DO bOiS - bRASiL

Numero acontecimentosdesordenadamente. Capituloao extremo desgostodas arrumações: a cama os objetos a comida o banhoretiro da estante o livroinstantaneamente convertidoem acompanhante: desarrumo os fatos e os distribuo pela casa: a história forjada de reis e reinos: a desabilitação das fábulas moralizam o animal que teima sua liberdade.

ALDA ESPíRiTO SANTO - SãO TOMÉ

Avó Mariana, lavadeirados brancos lá da Fazendachegou um dia de terras distantescom seu pedaço de pano na cintura e ficou.Ficou a Avó Marianalavando, lavando, lá na roçapitando seu jessu1à porta da sanzalalembrando a viagem dos seus campos de sisal.

Num dia sinistrop’ra ilha distanteonde a faina de trabalhoapagou a lembrançados bois, nos óbitoslá no Cubal distante.

Avó Mariana chegoue sentou-se à porta da sanzala2e pitou seu jessu1lavando, lavandonuma barreira de silêncio.

Os anos escoaramlá na terra calcinante.

- “Avó Mariana, Avó Marianaé a hora de partir.Vai rever teus campos extensosde plantações sem fim”.

- “Onde é terra di gente?Velha vem, não volta mais...Cheguei de muito longe,anos e mais anos aqui no terreiro...Velha tonta, já não tem terraVou ficar aqui, minino tonto”.

Avó Mariana, pitando seu jessu1na soleira do seu beco escuro,conta Avó Velhinhateu fado inglório.Viver, vegetarà sombra dum terreirotu mesmo Avó minhanão contarás a tua história.

Avó Mariana, velhinha minha,pitando seu jessu1na soleira da senzalanada dirás do teu destino...Porque cruzaste mares, avó velhinha,e te quedaste sozinhapitando teu jessu1?

(É nosso o solo sagrado da terra)1 - Jessu: cachimbo de barro;

2 - Sanzala: aldeia.

Avó Mariana ALDA LARA - ANgOLA

E apesar de tudo,ainda sou a mesma!Livre e esguia,filha eterna de quanta rebeldiame sagrou.Mãe-África!Mãe forte da floresta e do deserto,ainda sou,a irmã-mulherde tudo o que em ti vibrapuro e incerto!...

- A dos coqueiros,de cabeleiras verdese corpos arrojadossobre o azul...A do dendémnascendo dos abraçosdas palmeiras...A do sol bom,mordendoo chão das Ingombotas...A das acácias rubras,salpicando de sangue as avenidas,longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.- A do amor transbordandopelos carregadores do caissuados e confusos,pelos bairros imundos e dormentes(Rua 11...Rua 11...)pelos negros meninosde barriga inchadae olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,de tronco nu e musculoso,a raça escreve a prumo,a força destes dias...

E eu revendo aindae sempre, nela,aquelalonga historia inconseqüente...

Terra!Minha, eternamente...Terra das acácias,dos dongos,dos cólios baloiçando,mansamente... mansamente!...Terra!Ainda sou a mesma!Ainda soua que num canto novo,pura e livre,me levanto,ao aceno do teu Povo!...

Presença Africana

cÁSSiO ubiRAJAR -iTAJAíNem é mais tão cedonem há mais tanto amorpor fim é isso que restauma manhã chuvosamal sei se de maio ou abril

Ela já não mais a mesmao encanto já não me encanta maisnão por palavrasnão por atitudesa simples falta é onde o amor se esvai

Hoje só continuo seguindopor entre os dedos deixei escaparah amor!! Continua vivo!!

Lindo era sol da manhãhoje está nubladolindo era teu sorriso sobre meu peitohoje não consigo lembrar

Vem Sol vem iluminar novamentevem trazer teu calorvem acender meu caminhovem Sol astro Reivem reinar pra tua amada Lua

Amor Platônico

MAuRO bRiTO -MAPuTO

Sinto mais que tudoInvadido por marésEntrei e vi uma cidadeem estado de marPés acotovelam-seMilhões de coisasSem ressentimentoAqui nunca houve razão para algoDeliram pórticosE em nada que te sei Quando em suor ganha-se o nada

DORiANA - ANgOLAA vida bordou surpresas em ponto agrilhãoTecias auroras carsidas.Desfiaste o tecido para o crivo; esqueceste chulear as baínhas.Não pudeste atingir a perfeição dos deuses,gostei do passajado feito quando tudo se desmanchouContinuo trajando o vestido da tua oferta.

baloiça o tempo na folha da goiabeirabaloiça oh folha!que o silêncio geométrico multiplica a esfera:a noite aleita o traçado dos morcegossombras mudas enamoram açucenasa memória afaga paralelos idose o corpo se desfaz em loiras labaredas.balança o tempo nas folhas da minha terra,balança oh terra!já o meu corpo se desfaz na geografia da espera.

nômadao adiante veste incógnitas de cristalbalança oh folha!balança oh terraqueria ainda beijar-lhe a era.

costuras

JOFRE ROchA - ANgOLAvem, desesperomata em minhas veias o brilho desta luaa enfeitar com simulacros de prataa miséria de vidas sem destino.

vem, desesperogela nas bocas o murmúrio de conformismoesse ópio de vontadesa sabotar a flor única de esperançana planície dos homens de rastos.

vem, oh! vem desespero,e cria nos homens o ímpeto dos tornados.

vem, desespero

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Em outras paLavras

Outro Olho da CarlaXiguiANA DA LuZ

A dor se espalha pelas veias do meu corpoO seu cheiro se invoca entre os meus pensamentos

A sua imagem se faz na minha face,

Mas apenas se torna realidade na imaginação!

Tenho medo…

Sinto tanto medo.

O sono se esconde,O coração exige,

As ideias se trancam,E nada fica no espaço.

Sinto muita dor…

Misturada com ardor e medo,Angústia e remorsos,

Aterrorizo-me nos passos do silêncio

E o caos se instala no meu corpo.

Tenho medo…

Mas a vida me veda possibilidades,

Me dá a sua voz,

O seu rosto,A sua imagem,

Mas nunca o seu corpoNem o seu amor.

Escrevo…

Alivio a dor,

Mais um dia fiquei historiador,

Mas as forças se acabam,

Nem se quer amanheceu,

Para tiver novamente!

eDição em HomeNAgem A esCriTores BAiANos

1 - O Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus visa estimular novas produções literárias e é dirigido a candidatos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior, desde que seus trabalhos sejam escritos em língua portuguesa.

2 – As inscrições acontecem de 01 de janeiro a até 30 de novembro, através do e-mail [email protected] (CRÔNICAS de até 20 linhas, minibiografia de até cinco, endereço completo, com CEP e fone de contato, com DDD). Os textos devem vir DENTRO do corpo do e-mail. Inscrições incompletas serão desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão aceitas inscrições pelos correios.

3 - A crônica deve ser inédita, versando sobre qualquer tema (exceto apologia ao uso de drogas, conteúdo racista, preconceituoso, propaganda política ou intolerância religiosa ou de culto). Terão preferências os textos sobre escritores baianos da contemporaneidade. Entende-se como escritores contemporâneos aqueles cuja obra ainda não foi lançada por grandes editoras e que não são con-hecidos do grande público. Cada autor responderá perante a lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado ao direito autoral. A inscrição implica concordância com o regulamento e cessão dos direitos autorais apenas para a primeira edição do livro.

4 - Uma equipe de escritores faz a seleção de apenas um texto por autor. A premiação é a publica-ção do texto selecionado em livro, em até seis meses do encerramento das inscrições. Os escritores selecionados devem criar um blog gratuito, após a divulgação do resultado do concurso, para dar visibilidade ao trabalho de todos os participantes. Os casos omissos serão decididos soberanamente pela equipe promotora.

5 - O autor que desejar adquirir exemplares do livro deverá fazê-lo diretamente com a editora ou com o organizador do prêmio. Os primeiros dez classificados receberão um exemplar gratuitamente. Os demais podem receber, a critério da organização do evento e da disponibilidade de recursos financeiros.

moDeLo De FiCHA De iNsCrição:

Paulo Pereira dos SantosRua Santo André, 40 – Edf. Pedra – Apt. 20135985-999 – PortãoBelo Horizonte-MG(31) 3366-9988, 8877-8999

moDeLo De miNiBiogrAFiA:

Paulo Pereira dos Santos é natural de Santana-PB. Escritor, poeta e jornalista, tem dois livros publicados: “Antes de tudo” e “Até amanhã”. Paticipa de cinco antologias de poesias. Graduado em comunicação social. Menção honrosa em diversos concursos de poesia, tem dois livros no prelo e pretende lançá-los em 2012.

proJeTo puBLiCADo No siTe Do pNLL Do miNisTÉrio DA CuLTurA

mAis iNFormAçÕes:

Valdeck Almeida de Jesus Tel: (71) 8805-4708E-mail: [email protected] Site do Organizador: www.galinhapulando.com

NOTA: NESTE cONcuRSO PODEM TAMbÉM PARTiciPAR PESSOAS DE OuTROS PAíSES DE LíNguA PORTuguESA, iNcLuiNDO MOçAMbiQuE, SENDO QuE NA iMPOSSíbiLiDADE DESTES EM FALAR DE EScRiTORES bAiANOS, PODEM FALAR DOS cONTEMPORâNiOS DOS SEuS PAíSES.

VII Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – CRÔNICAS

Noites d ´Álmahttps://noitesdalma.blogspot.com

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agEndado