revista literatas edição 1

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Literatas Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 12 de Julho de 2011 * Ano 01 * Nº 01 * E-Mail: [email protected] Showesia na Colômbia e Brasil NO DISCURSO DIRECTO , LíLIA MOMPLé DIZ pg. 3 Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona O Veneno de Sócrates pg. 8 Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista à um amigo “Vivemos uma sociedade de negócios o ´Busness Society´, onde o que vale é o medíocre e não desenvolvimento.” Joana Ruas revela os mistérios das“Crónicas Timorenses” pg. 6 Sai às Terças-feiras

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Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona

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Page 1: Revista literatas   edição 1

LiteratasDirector Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 12 de Julho de 2011 * Ano 01 * Nº 01 * E-Mail: [email protected]

Showesia naColômbia e Brasil

No Discurso DirEcto , LíLiA MoMpLé Diz

pg. 3

revista de Literatura Moçambicana e Lusófona

o Veneno de sócrates

pg. 8

Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista à um amigo

“Vivemos uma sociedade de negócios o ´Busness society´, onde o que vale é o medíocre e não desenvolvimento.”

Joana Ruas revela os mistérios das“Crónicas Timorenses”

pg. 6

sai à

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Tánia Tomé: Leva Showesia à Colômbia e Brasil

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A cantora e poetisa tânia tomé volta a levar a Bandeira de Moçambique para fora do país.

Desta vez, levou com sigo o showesia, que é uma forma criativa de dizer a poesia, ao Fes-tival de Medellin XXI entre os dias 1 e 9 Julho, na Colômbia.

O festival, é considerado um dos maiores eventos de poesia no mundo, com mais de 170 mil pessoas a aderir anualmente.

No Medellin, vários músicos consagrados, nóbeis de literatura, actores mundiais já des-filaram, dando a imagem de grandeza.

A moçambicana Tânia Tomé, foi convidada como cantora e poetisa, levando seus temas inéditos de música como Estoy Enamorada, Amar é bom, que irá cantar em acústico com seus dedos ao piano.

Nas suas actuações n este festival, a artista, terá o palco compartilhado com a cantora Chi-woniso Maraire do Zimbabwe, Madosini Latozi Mpahleni cantora tradicional, e do cantor Pedro Espia - Sanchis do South África - Spain.

Tânia também apresentou poesia ao lado de outros poetas, entre os quais se destacou-se a presença da actriz do filme “Hotel Ruanda” sobejamente conhecido, o prémio Nobel de literatura 1994, Derek Walcott, entre outros

vários poetas, que ultrapassam os 160, provenientes de vários destinos do mundo.

Depois desta participação, a artista moçambicana internacional ruma ao Brasil, onde juntamente com vários artistas, será homenageada no Teatro do Sesi no Rio de Janeiro. A história, conta que no rol destas hom-enagens e nesta sala, artistas conceituados, passearam a sua classe, como Adriana calcanhoto, augusto Mar-tins, Gilberto Gil, Maria entre outros.

Os eventos na terra do samba, terão lugar nos dias 14 e 15 deste mês, com a declamação de poemas do seu mais recente livro, para além de uma sessão de música acústica, cantando vários temas inéditos do seu álbum, acompanhada dos seus dedos ao piano.

Já na Kitabu, Livraria Nandyala, onde foi recente-mente lançado o livro sobre Fela Kuti, da autoria de Carlos Moore e prefaciado por Glberto GIL, músico e ministro brasileiro.

Tânia prepara seu mais recente álbum de música e irá, ainda estar com músico moçambicano Guilherme Silva, a radicado no Brasil e outros músicos como Grecco Buratto e Fernando, com os quais, estabeleceu contacto recentemente, para estudar a possibilidade de gravar alguns temas de música.

Refira-se que a dias, Tânia Tomé lançou sua música e vídeo mais recente intitulada Cimbalaia.

BiogrAfiATânia Tomé, de 29 anos e de Moçambique é

cantora, compositora, actriz, poetisa, declamadora e apresentadora de espectáculos e televisão.

Conta já com vários prémios internacionais entre os quais se destacam prémio académico da Funda-ção Mário Soares, Prémio Festival da Canção, Porto,

Portugal, Prémio Soundcity Music Award (África),

Em primEira

terça-feira, 12 de Julho de 2011 https://revistaliteratas.blogspot.com 2

Prémio de música da Organização mundial de Saúde, Premio de Poesia Millenium Bim, no seu desempenho literário e musical.

Licenciada em Economia, e Pós – graduada em Auditoria e Controlo Gestão.

Tânia Tome produziu e realizou o primeiro DVD de poesia em Moçambique. Criou e fundou o con-ceito e movimento denominado Showesia – espe-ctáculo de poesia

É presidente da Associação Showesia com objec-tivos culturais e de carácter sócio-humanitário e directora do Festival internacional showesia.

Lançou em Maio de 2010 em Moçambique seu livro de poesia “Agarra-me o Sol por trás” que é uma das referências bibliográficas da Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Finais de 2010 a editora brasileira escrituras lançou o livro “Agarra-me o Sol por tras, outros escritos e melodias” com prefácio do Brasil-eiro Floriano Martins e pintura de Eduardo Eloy. O livro foi seleccionado para o prémio Portugal telecom 2011 no Brasil.

Faz parte da Antologia World Poetry Almanac 2009 (Com 190 poetas do mundo oriundos de 100 países do mundo), representando Moçambique e os Palop , e faz parte da Antologia THE BILINGUAL ANTHOLOGY ON AFRICAN POETRY EM CHINES, lançada em Shangai, China.

Participa do primeiro ano de comemoração de Celebração da língua e Cultura Portuguesa da CPLP em Moçambique, ao lado do Mia Couto e Calane da Silva.

É membro da Associação dos escritores Moçambi-canos, da Associação dos músicos moçambicanos, da Associação dos Poetas del mundo e membro correspondente da Academia Rio-Grandina de Letras do BrasilpágiNA oficiAL: www.tANiAtoME.coM

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Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3

JoANA ruAs – LisBoA

crónicas timorenses — estas crónicas abrangem um período que vai de 1910 a 1965.Dada a interferência no território de vários protagonismos quer antes quer depois da 2ª guerra Mundial, a autora deu à

progressão dessa realidade complexa a forma de contos por se basearem em documentação escrita e oral.

São eStAS as crónicas: D. Manuel dos Remédios — breve texto sobre o exílio e morte na serra de Lavater deste lib-eral timorense perseguido pelas autoridades militares e religiosas em 1878; O Cofre e a Espada — a autora desen-volve e aprofunda, a partir de personagens timorenses, a trama que leva à guerra de Manufahi quando em Portugal vigorava o novo regime — a República. A autora segue o desenrolar deste conflito baseando-se na obra do oficial da Armada, Jaime do Inso, intitulada Timor-1912 ;Folhas soltas no bosque — a acção deste conto que se baseia nas informações contidas no livro Funo-A Guerra em Timor de Carlos Cal Brandão, decorre no rescaldo da reti-rada nipónica de Timor, em Agosto de 1945; Funan-Mutin (Branca- Flor) — a chegada dos oficiais milicianos e suas esposas a Timor-Leste, as consequências do golpe contra Sukarno e também sobre os ventos de mudança que se anunciavam em Portugal e nas colónias.

AprEsENtAção DA oBrA pELA AutorAABordei eSte segundo volume da trilogia A Pedra e a Folha, ainda antes de ter iniciado a investigação que me levaria ao primeiro volume, A Batalha das Lágrimas. Tinha entre mãos

as fontes escritas e tinha ainda as que me haviam sido fornecidas e que pertenciam à tradição oral. A análise desse material levou-me à conclusão de que uma vez concretizada a unificação administrativa do território, em finais do século XIX, este, embora tenha continu-ado a estar administrativamente dividido em reinos, esses reinos eram assim chamados formalmente pois os seus reis haviam deixado de ser vassalos do rei de Portugal, para serem apenas súbditos, não sendo os seus reinos nem já independentes nem mesmo autónomos. Apenas um, Manufhai, ousava ainda proc-lamar a sua independência face ao poder central.Constatei, pois, que a construção erguida durante sécu-los pela política de casados de Afonso de Albuquerque e mais tarde reforçada pela luta contra os Holandeses levada a cabo sobretudo pelos governadores per-nambucanos, ruíra com as guerras de pacificação do território. Para um observador externo, a existência colectiva do povo timorense tinha sofrido uma des-continuidade, pois uma vez vencido na guerra de Manufhai, os episódios novos que viria a sofrer já não eram um prolongamento dos antigos.

PerAnte eSteS novos dados da reali-dade, olhei para o material que tinha entre mãos. Fixar a história destes povos na sua longa e perigosa marcha é extremamente difícil. Uma das razões pode ser aduzida do facto da sua vida colectiva não possuir a característica ocidental da circu-laridade imutável em que mesmo com retrocessos se processa uma continuidade na vivência histórica. Na verdade, havia já factores de coesão que se viriam a manifestar na Resistência ao invasor indonésio e que paradoxalmente surgiu no território com uma corrente nacio-nalista que estava sintonizada com os nacionalistas indonésios lidera-dos por Sukarno na sequência da invasão nipónica.

Em A Batalha das Lágrimas a intriga, de facto, perde-se na linearidade fac-

tual dos sucessivos episódios da guerra. A intriga perde-se

porque estas histórias são histórias da resistência e dos

vencidos e não as dos vence-dores.

noS vencidoS, à excepção dos que possuem uma arte, a arte da resistência que Dante, na Divina Comédia , define como a capacidade de resistência às adversi-dades e aos inimigos políticos, tudo se dissolve no ina-cabado porque a espoliação de que foram vítimas lhes rouba os fios da própria existência. Havia ainda que ponderar que na nossa cultura há uma oposição entre o oral e o escrito. Nas culturas orientais essa oposição não existe. Mesmo na cultura chinesa, a oposição que existe é entre o gesto e o discurso. Lembremos a Questão dos Ritos Chineses, essa controvérsia que se travou nos séculos XVII e XVIII, isto é de 1631 a 1743, quando se iniciava a evangelização da China. ASSim, nA medida em que a escrita muda a natureza da narrativa oral, pois pelo facto de passar para a forma escrita, o texto corta as amarras que o ligavam à oralidade, chamei-lhes crónicas e não contos . Crónicas no sentido dado às Crónicas Italianas de Stendhal, pela diversidade das fontes, escritas e orais e pela liberdade de invenção no tocante aos personagens mas não aos factos que se erguem sobre fundo histórico.

Todas estas crónicas têm as suas fontes históricas assinaladas nas notas finais de cada uma delas. Entre as fontes portuguesas não se verifica já a dispersão das fontes e dos documentos que estão na base do

primeiro volume, A Batalha das Lágrimas. Ora esta con-centração resulta da racionalidade imposta pela mudança de estatuto da colónia. Na documentação que esteve na base do 1º volume, à medida que li todos aqueles livros, relatórios militares, documentação avulsa e notícias dos jornais, os personagens foram-se-me impondo, quer porque os autores desses documentos os consideravam heróis nacionais, fossem portugueses, goeses ou timorenses, quer porque sendo gente obscura acedeu à História por infracção, isto é, as suas vidas cruzaram-se com o Poder, passando a fazer parte dessa pluralidade de vozes que se perdem no tempo, os infames como os descreveu Michel Foucault em La Vie des Hommes Infâmes : «Vidas breves, achadas a esmo em livros e documentos».orA dePoiS da pacificação do território como lhe chamou Celestino da Silva, tudo passou a ser diferente aos olhares dos observadores, militares e administrativos que relataram os acontecimentos havidos no século XX, em vésperas da 1ª Guerra Mundial: à excepção de D. Boaventura de Manufhai, não foi registado nome algum de timorense, todos passaram à categoria dos vastos e anónimos, fenómeno registado por Rilke e mais tarde por Canetti como os «sem nome».É minha convicção que o povo de Timor-Leste rasgou a noite de um longo sofrimento e de uma deriva histórica perigosa para a sua sobrevivência como povo até nos surpreender a todos nós Portugueses e ao mundo inteiro tornando-se a primeira nação do século XXI, Timor Loro Sae.A sua coragem, determinação e capacidade de sofrimento foram por assim dizer a minha veste de luz, e acolhi a inspiração que deles recebi nesses duros tempos de horror e de esperança. Indo a mais de meio do meu trabalho, apenas espero ter con-tribuído para a definitiva reconciliação da família timorense. Sobre tantos personagens colhidos aqui e ali apenas vos digo como Saint-Exupéry em O Principezinho :«Só se vê com o coração; o essencial é invisível aos olhos».

BiogrAfiA JoAnA ruAS nasceu em 1945 na Quinta do Pinheiro em Freches, no distrito da Guarda. Por volta dos anos 50 do século XX , a sua família estabeleceu-se em Angola onde Joana Ruas viveu e estudou até aos quinze anos, idade em que, segundo o costume da burguesia colonial , regressou a Portugal para completar os seus estudos em Coimbra. A guerra colonial levou o seu ex-marido para Timor-Leste para onde Joana Ruas o acompanhou . trABALhou como jornalista cultural e tradutora na Radiodi-fusão Portuguesa e no jornal Nô Pintcha da República da Guiné –Bissau. A convite de Natália Correia, traduziu prosa e poesia para diversas editoras. PArticiPou nA causa da Libertação do Povo de Timor-Leste, tendo feito várias conferências sobre a Língua Portuguesa em Timor –Leste, sua história e cultura. .Em 1975, o poeta Herberto Helder editou um poema seu e, desde então, con-sagrou-se à sua obra literária, tendo publicado romances, ensaios e poemas. Trabalha há anos na escrita de uma obra em três volumes (um romance, um livro de contos e uma novela), sobre cem anos de Resistência Timorense — de finais do século XIX até à Independência

Em primEira

“Crónicas Timorenses”

terça-feira, 12 de Julho de 2011 https://revistaliteratas.blogspot.com 3

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Quinta D´Poesia: em “Noite de Revelação” mAPuto - Nos habituais encontros das primeiras quintas-feiras de cada mês, o grupo cultural Nkarin-gana Arte, proporciona verdadeiros momentos de recitação de poesia de novas revelações na poesia moçambicana.neStA quintA-feirA, não se foge a regra, o evento como sempre, teve lugar no Café – Bar Gil Vicente em Maputo, a partir as 18 e 30, e contou com ilus-tres figuras de cartaz na arte de declamar, tocar, e desta vez, em especial, acompanhado de um debate sobre um grupo de poesia, denominado “Canto da Poesia”, idealizado pelo já conhecido jovem poeta, Rafael Iguane, para além da presença de Eduardo Quive, quem falarou da revista digital, Literatas, um palco onde convergem várias formas de “Dizer, fazer

Escritora brasileira a caminho de Maputo”Das terras brasileiras, concretamente de São Paulo, a escritora Ana Rusche, ruma para Moçambique, onde efectuará uma visita de cinco dias. Ana Rusche, vem a Maputo, para desenvolver várias actividades de índole artístico - literárias, com o Movimento Literário Kuphaluxa. Dentre várias componentes, destaca-se a realização de uma oficina literárias, participação em saraus culturais do movimento e outros eventos artísticos da cidade, e vai entrevistas escritores moçambicanos, para além de orientar palestras com jovens amantes da literatura da capital moçambicana. Ana Rusche publicou Rasgada (Ed. Quinze & Trinta, 2005) e Sarabanda – Um caderno de Estudos (Selo Demônio Negro, 2007). Estreará em prosa com o romance Acordados (Ed. Amauta, no prelo), premiado pelo PAC – Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo. Posui poemas publicados em diversas revistas literárias, participou da Antologia Oitavas, org. Vanderley Mendonça (Selo Demonio Negro, 2006) e 8 Femmes, org. Virna Teixeira. (http://peixedeaquario.zip.net)

fichA tÉcnicAPropriedade do Movimento Literário Kuphaluxa

Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: [email protected]

Director Editorial: Eduardo Quive ([email protected])Coordenador: Amosse Mucavele ([email protected]) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane ([email protected])Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin. * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.Design e páginação: Eduardo Quive

MukurruzA - LichiNgA

Gentil nossa alma,Nossa esperança, dores, mágoas, enfim, roubadas.Penúrias penduradas n’angústiasDesfeitas de graças. Estas vaidades traduzidas nas danças de batuques marimba, enfim.

Oh! danças de ekuetthe danças desconhecidas!-Será que não lembram destas danças?-Isto é mesmo que não lembrar do filho desta terra esquecida ah! Que esperança falhada nesta terra de moldes, desfeita de estragar tijolos de adobe! Tristeza é a palavra que só se vos diz.Nestes gritos esquecidos;Gritos sem referentes, sem donos.

Ah! que tristeza nos acolhe nestes abrigos sem reflexos!Que pena nos impedem de sonhar!Esperança desfeita de mistérios dos magnos xicuembos

Que culpa temos nós?ruth BoANE - tEtE

Quero ser uma estrelapara o teu mundo iluminarQuero ser uma florpara o teu jardim embelezar.

Quero ser o marPara as tristezas comigo levare as alegrias contigo deixar.

Quero ser borboletaQuero borboleta serPara um sorriso no rosto do teu jardim colocar.

Quero ser poetisapara palavras de amor te dizere seus ouvidos enlouquecer.

Quero ser a rainha do teu coraçãoe contigo para sempre ficar.

Amo-te Sansão!

Quero serpEDro Du Bois - BrAsiL

Feito ao avesso: da cabeçaaos pés transitam ordens desconexaso primeiro limite estabelece o sisoo último rearranja as forçascom que chuto as pedras

desconheço a determinaçãoda placa: disparoao encontro do corpocontrário e o choquedesintegra o mito

da cordialidade.

fazer

e sentir a literatura” Os jovens Dudas Aled e Rãs Soto, dedilharam as guitarras acompanhando os recitais com a especial presença do grupo Nkaringana Poetry, Voka, Yacy Lurdes, Bimazonda.noS hABituAiS encontros das primeiras quintas-feiras de cada mês, o grupo cultural Nkaringana Arte, proporciona verdadeiros momentos de recitação de poesia de novas revelações na poesia moçambicana (Literatas)

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E m p o u c a s p a L a v r a s / p o E s i a

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EscrEViVêNciAs EM DosEs crôNicAsMArcELo soriANo - BrAsiL

1ª dose - Prólogo Recebi com muito gosto o convite para escrever uma crônica para a Revista Literatas. Fico feliz e grato ao irmão Amosse Mucavele que disse-me: “Sabes, conquistaste o coração dos moçambicanos.”, referindo-se ao artigo publicado na Tempo Nº Zero (http://www.revista-tempo.com/) que foi relançada em Maio, recentemente. Mantenho firme, com este tipo de intercâmbio, o sonho de ver/ler a riqueza cultural dos países da CPLP transitando livremente, sem fronteiras, de lá para cá, daqui para lá. 2ª dose - A microliteratura nas redes sociais Desde pequeno tendo a escrever com o mínimo de caracteres. Aquilo que seria uma mania estranha de um garoto que pensava demais e falava (e escrevia) de menos, hoje transformou-se em modismo cultural, propagado amplamente pelo Twitter, Facebook, Blogues em geral, enfim, pelas chamadas Redes de Relacionamentos Sócio-Virtuais. Bem, o que poderia dizer aquele garoto de antigamente, de poucas letras com grande significado (ao menos para si)?! O garoto se encontrou, não apenas consigo mesmo, mas com uma proposta de literatura (e, por conseqüência, literatos jovens de todas as idades), tão espontânea, quanto fluente pelos países da CPLP. Críticas, estudos, discussões sobre o teor e a pertinência cultural das expressões literárias deste “novo” estilo de escrever... Bom, deixemos isto aos acadêmicos! 3ª dose - Aforismos sobre Literatura A literatura é um mar de rosas de cabeças baixas.Lembre-se: neste mundo, uma palavra vale muito mais que mil idéias.Nada de falar a verdade. Um poeta verdadeiro deve sempre escrever a verdade.Um grande escritor não é aquele que se libera ao ímpeto do escrever. Um grande escritor resiste ao ímpeto de não escrever.A poesia vem do nada, logo, poesia é tudo!O escrever é superior ao redigir.Todo o poema pode ser melhorado. Todo o poema deve ser melhorado. Não fosse assim, não seria poema.O universo uniu os versos... E esquartejou os poetas...Nunca duvide da Arte de dormir operário e acordar poeta.A poesia funciona quando o leitor sorri.O livro é uma gaiola de pássaros que canta para ser aberta.Os menos preparados sempre sucumbem ao afã da palavra final.O bom poema é o que nos lê.A verdade está situada em algum lugar ilegível entre as metáforas e as parábolas.O óbvio, às vezes, surpreende.Quem passa a maior parte do tempo tentando ser genial, acaba se tornando um gênio muito chato.Nós que escrevemos tanto sobre amor, não é que o saibamos ao ponto de ensinar, é porque precisamos escrever; escrever ao ponto de aprender. Por isso eu digo, sem ser douto no assunto... Escrever também é amar.Poetas são árvores frutíferas que acharam mais produtivo perambular.Escrever é pura falta do que fazer quando se está com a agenda lotada.Já observaram? O livro aberto tem formato de pássaro.O autor é o Deus do livro, mas é comum deuses serem engolidos pela vaidade da própria criação.Há poemas que são auto-exorcistas.Apelo aos escritores: deixem de definir o amor e comecem a amar!Para o poeta ser amado é ser lido. Um livro de papel comestível venderia mais (porque mataria, também, a fome do corpo).Por mais enfadonha que seja a nossa história de vida, largar o livro nem pensar!Escrevo primeiro; penso depois. Se pensasse antes, jamais escreveria. Escrever não é um caso pensado.A minha grande certeza é a incerteza das letras de um poema não escrito.Poesia de verdade não é a leitura do mesmo, é a releitura do novo.O Poeta se faz digno pelo strip-tease de suas palavras.Ler com o lápis; escrever com os olhos.A vida é uma luta diária. Em todos os amanheceres reiniciamos do nada. Escrever é semelhante.A cisma da Ordem dos Poetas Alucinados é jamais saber precisamente o lugar correto e derradeiro do ponto final

uMA prosA pArA ArséNiADAViD BAMo - MAputo

Dezembro de 2008, fim de um espetáculo alusivo ao Dia Mundial Contra a Sida. Uma jovem magra, quase com minha altura, bonita cabelos cumpridas se aproxima de mim e diz:Oi, gostei do show, apresentas muito bem!

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prosa

Muito obrigado! Disse eu. Curioso, porque durante o evento vi uma jovem atenta a todos os meus movimentos, pois estivera sentada num plano que a permitia controlar todos os meus passos. A sua saudação quase que precipitava as minhas. Moça que multiplicada por qualquer coisa seria igual a simpatia! Com uma beleza mais por interior que do lado de fora do seu fisico. Esta jovem chamava se Arsénia.- Eu sou David. Me introduzi!- Não precisavas me dizer já te conheço!Fiquei boqueaberto, tanta beleza e bondande feminina a minha disposição, só podia se tratar de um sonho! Mas como um sonho? Se eu sentia na pele e na alma o carinho daquela criatura que Deus trouxera do Eden para dar brilho ao meu dia, naquela data!- Vivo no Singathela, e tu?- Também!- Então vamos juntos para casa!?!- Sim vamos!Começava assim uma grande viagem de amizade entre duas almas, dois corpos, duas gentes que apesar das suas vivência diferentes partilhavam o mesmo sonho, fazer radio ou televisão um dia.A vontade de construir com betão e prata uma amizade entre nós, foi mais galopante que as nossas próprias vontades! Arsénia e David consiguiram em tempo curto mais que o sentido da própria palavra, aproximar os seus seres e traçar a mesma história. Uma amizade do tamanho da obra de José Craverinha.Ao longo destes quatro anos de amizade fui aprendendo que os encantos de uma mulher, não residem apenas nas curvas que compoem o seu corpo, muito menos no cruzamento entre as suas pernas, mas sim na personalidade! Conceito muito pouco conhecido nos dias que correm.A nossa intimidade significou o fim do que nunca tive em mim, a poesia, se não um conjunto de frases, versos e palavras gastas em almas satánicas que me fizeram sugar o veneno da Jiboa.Procurei todas explicações possíveis para conhecer o verdadeiro sentido dos nossos sentimentos, nenhuma resposta achei se não um tesouro chamado Amizade, possível de encontrar em terras onde abunda leite e mel.Todos cobiçavam indisfarçadamente o nosso relaccionamento! Lambusavam se de vontade, queriam de ser um de nós. Se contorciam para sentir a doçura de uma amizade pura como o grito de uma criança saindo do ventre da mãe.O nosso ninho chamou outros e juntamos o útil ao agradável! Não fomos, nem somos e nunca serenos só nós, porque sempre viajámos em outras vidas, buscando novos e melhores sabores para apimentar o lar que aos poucos iamos formando em nossas vidas!Descobri igualmente que a mulher da minha vida não foi aquela a quem devo a minha existência, muito menos a que me fezera descobrir os apetites carnais, mas sim foi a Arsénia! Não sou, porque não quis aprender, todavia, a Arsénia ensinou me a ser verdadeiro.

Pena que as palavras nunca dizem tudo o que sentimos, mas fica esta prosa, que leva consigo o ritimo do Detalhes de Nós Dois, cantado pelo rei Roberto Carlos, pintada pelo mestre Malangatana. Esta carta de reconhecimento ultapassa a dimensão da obra do Dan Brown, o marximo resgatado por Lenin não chega aos calcanháres desta mensagem, feita por este pobre homem abanonado pela única mulher a quem ele não consiguiu satisfazer todos os seus desejos. Mulher que as exigências da vida a levaram para as outras terras de Moçambique. Mulher que se as forças do além quiserem voltaremos a cruzar o mesmo caminho!

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EDuArDo QuiVE - MAputoIda dos remotos tempos da dominação colonial

portuguesa nas terras moçambicanas e voltada dos horizontes do mundo fora, a escritora moçam-bicana Lília Momplé, encontrou-se com aman-tes da literatura para falar de si, da sua obra e do protagonismo em que expende a sua escrita nos leitores. Lília Momplé fora voz do nacionalismo, mas hoje, aos 76 anos de vida, é a palavra que se exalta na nova consciência e inspira as novas gerações. Mas não abandonou o seu nacional-ismo literário. Na conversa promovida pelo Movi-mento Literário Kuphaluxa, na última quarta-feira em Maputo, a escritora brincou com as palavras e educou os literatos novatos, afinal de contas Lília, fora também professora.

De nome completo Lília Maria Clara Carriére Momplé, natural da Ilha de Moçambique, esta mulher que escreve o que lhe vai na alma, inspira os jovens e nas suas obras, revela os mistérios da sua força nacionalista e pela justiça social.

Há quem diga que cada escrito da Lília Momplé, é uma denúncia, mas a escritora prefere dizer que é um momento de desabafo, revelação, confidências e só o faz quando não aguenta mais se calar.

“Há uma necessitada de se fazer valer a litera-tura oral. Esta forma literária é riquíssima e corre o risco de se esquecer. Com a literatura, há opor-tunidade de se criar riqueza. A literatura é a base para o conhecimento e criação, e num país onde há criação, já sabemos que se pode alcançar o desenvolvimento.

como é que surge a vontade de escrever?

- Quanto ao ser escritora, sempre sobe que um dia ia escrever, só não sabia quando. O gosto pela literatura herdei da minha avó. Ela era Macua e habitualmente contava-nos estórias lindas da tradição em volta da fogueira. Nesse momento eu dia para mim, «um dia vou escrever estas estórias».

E ouve um outro acontecimento que significou muito para mim: aos 13 anos, estudei no Liceu Luís Salazar, uma escola que era apenas para brancos e pessoas com as melhores condições. Eu era a única negra e minha mãe teve que fazer muito sacrifício para que eu estudasse lá. Ela passava noites a cos-turar para poder pagar a minha escola, foi uma fase muito difícil. Foi mesmo um acto heróico estudar lá. Tive um professor de que o nome não posso me esquecer: o seu nome é Rodrigues Pinto, era professor de língua portuguesa. Mandou-nos fazer uma redacção sobre o último de dia de férias.

Feita a redacção e chegada a hora de entrega dos trabalhos depois de avaliadas, ele foi chaman-do cada aluno para buscar o seu trabalho e o meu foi último. Confesso que fiquei com medo quando não chamaram-me. Quando terminou a entrega aos outros ele disse chamou-me e disse que o meu trabalho foi magnífico. E dali, ele passou a ler a redacção em, toda escola. Fiquei muito orgul-hosa. Toda escola apontava no pátio por ter feito o melhor trabalho. Isso marcou-me muito e cada vez mais acreditava que um dia ia escrever.

E porque escreve?

Escrevo porque me sinto honrada!Escrevo pelo desejo de contar e de descarregar

os meus segredos.

E o primeiro livro… “Ninguém Matou suhura”, como é que surge?

Escrevi o primeiro livro porque tinha uma carga muito grande

sobre o colonialismo em Moçambique. Eu tinha raiva do

colonialismo. Muita raiva. Tinha a raiva da injustiça. Eu nunca me

conformava por tudo que via: massacres sofrimento, oPreSSão. iSSo

incomoda-me.Mesmo quando casei-me, embora com um

branco, ele porque também não suportava ver a injustiça disse que tínhamos que sair do país. Foi assim que acabei vivendo no Brasil por muito tempo. Escrevi o Ninguém Matou Suhura porque eu queria conversar com alguém sobre o que vi e vivi durante aquele tempo. Tinha que me revelar.

As outras obras «os olhos da cobra Verde» e um romance, intitulado «Neighbours» não fogem muito do quem caracterizou a

primeira…?

- O segundo livro também se baseou em factos reais. Da morte de uma amiga que era muito boa gente. Ela tinha muita vida, se não mesmo ela era a própria vida. Isso foi muito doloroso e marcou-me. Eu tinha que escrever. O terceiro também foi mais uma revelação.

Vivemos uma sociedade de negócios o “Busness Society”, onde o que

vALe É o medíocre e não deSenvoLvimento.

tem em vista mais uma obra?

- Estou a preparar mais um livro, talvez seja o último. Ele vai retrar o que chamo de “Busniss Society” (sociedade de negócios). O título poderá ser “Fantoches de Aços”.

Nesta obra vai sair muitas verdades. É mais uma revelação de algo que me vai na alma, sobre os dias que vivemos. Onde as pessoas são insensíveis pelos negócios. Tudo eles fazem pelo dinheiro. Pobres que sofrem e só discursos políticos vazios. Só para fazer negócios. É o Busness Society a que me refiro. Essa sociedade não é a verdadeira moçambicanidade, isso nos tira a identidade e aconselho-vos a sair dela.

São Fantoches porque são; e são de Aço porque não tem piedade. No Busness Society o que vale é o medíocre e não o desenvolvimento.

como é que se define Lília Momplé?

- Essa é uma pergunta muito difícil. Acho que não sei me definir, mas vou tentar. Penso que sou uma pessoa coerente, que, por exemplo, não se pode adaptar ao Busness Society. Porque não suporto injustiça. Sou coerente.

A caminho dos 80 e com percursos brilhantes na sua vida literária, pensa ainda em fazer alguma coisa na

literatura, para além do livro que vai lançar em breve?

- Essa também é muito difícil de responder. Engraçado que nunca pensei nisso. Sinceramente que não.

Mas é assim…Não escrevo porque quer fazer alguma coisa na literatura, aliás eu nunca quis fazer nada na literatura.

Quando não tenho nada para dizer não escrevo. Então não quero fazer nada na literatura, por isso não falta nada para fazer. Eu escrevo porque tenho que escrever.

Qual é o segredo que quer deixar para uma nova gera-ção de escritores?

- Que amem a literatura antes de querer ser escritor, porque só assim poderão ser os verdadeiros escritores. Eu não acred-ito em quem quer ser escritor, pois escrever tem que ser por força de alguma coisa. Uma emoção forte. Você é um enviado especial de algum sentimento. Mas se os jovens amarem a literatura, farão algo por ela e nessa convivência, podem ser escritores e bons escritores. Que sinceramente o nosso Moçambique precisa.

tem mais alguma coisa a dizer?

- Discurso DirEcto

- Quero agradecer a oportunidade que o vosso movimento (Movimento Literário Kuphaluxa) me deu de estar aqui em conversa com os jovens e devo dizer que vos admiro. Realmente vocês são amantes da literatura e esta conversa que aqui tive-mos é muito significativa para mim. Já passei por mais de 20

países para falar da literatura de mim e das minhas obras, mas a emoção que estar a falar com os verdadeiros mensageiros da literatura e que são jovens muito novos do meu país, que mostram o verdadeiro interesse pelas artes, isso me deixa muito feliz. Obrigado Kuphaluxa.

E mais… se querem realmente crescer nesta área, leiam. Leiam muito. Assim o podem ser de facto uma nova geração de escritores e eu tenho fé, que daqui a mais quatro anos ou menos. Um de vocês vai aparecer no sucesso e lembrar-se das minhas palavras. Continuem assim. Convidem mais escritores para estes encontros, que não seja apenas a Lília Momplé, os jovens precisam destes momentos e eu sempre estarei ao vosso dispor, para qualquer momento destes e outros.

BrEVE BiogrAfiALília Maria Clara Carriére Momplé, nascida a 19 de Março de

1935 na Ilha de Moçambique, província de Nampula, a norte de Moçambique, é Assistente Social de profissão, com licenciatura em Serviços Sociais.

Lília Momplé, foi professora de Inglês e Língua Portuguesa na Escola Secundária de Ilha de Moçambique e directora da mesma escola entre 1970 e 1981. Em outras missões, Lília Momplé foi, de 1992 a 1998, directora do Fundo para o Desen-volvimento Artístico e Cultural de Moçambique (FUNDAC) e de 2001 a 2005, membro do Conselho Executivo da UNESCO (Orga-nização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura. No seu percurso literário, dirigiu a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) de 1991 a 2001, como secretária geral, de seguida ficou presidente da Mesa da Assembleia-geral da mesma agremiação.

O seu primeiro livro veio ao público em 1988, editado pela AEMO, com o título «Ninguém Matou Suhura», uma colectânea de Contos; «Neighbours» romance publicado em 1995 e «Os Olhos da Cobra Verde» obra de contos publicada em 1997, também sob a chancela da AEMO.

Ainda na arte, a escritora publicou o «Muhipiti-Alima» um vídeo de drama, editado pela PROMARTE em 1997.

As obras da Lília Momplé, já foram editadas em Inglês, Ital-iano, Francês e Alemão.

Neste momento, a escritora faz parte do «Internacional Who´s Who of Authores and Writeres» e desde 1997 é membro de «Honorary Fellow in Literature» da universidade IOWA dos Estados Unidos da América (EUA).

Em termos de prémios, Lília Momplé, conquistou o primeiro prémio do concurso literário comemorativo da cidade Maputo, intitulado Prémio 10 de Novembro com o conto «Caniço» em 1987. Melhor vídeo-drama moçambicano em 1998, com o vídeo «Muhipiti-Alima».

Foi nomeada o Caine Prize for Africaan Writing, edição de 2001. fez parte dos cinco nomeados entre 120 escritores de 28 países.

Contadora de estórias que ilustram a história

terça-feira, 12 de Julho de 2011 https://revistaliteratas.blogspot.com 6

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Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7

NoMis EruDAMsinto que bem recebidoE na voraz necessidade de me proclamarEm algum verso bem teso,porque me confundo:Despir o meu veste? E ficar como?Assim me desidentifico,corro o risco.ou logra-se que me dispasomente para que o mundo me veja? sem entrelinhas?De novo me confundoE adestro: os poetas não se despem.Mas é-nos consentido partilhar,cada pedaço de palavraQue germina em cada orgasmo,uma orgia com cada um de nós isolado.

grupo Do fAcEBook: http://www.fAcEBook.coM/hoME.php?sk=group_185846178099556&Ap=1

rEspoNsáVEL: rAfAEL iNguANE

“canto Da poEsia” terça-feira, 12 de Julho de 2011 https://revistaliteratas.blogspot.com 7

sou um dessidente VicENtE sitoE

tenho um grande favor por pedirprimeiramente peço emprestado ouvidossegundamente rogo ser deixado pedirpor fim imploro para ser entendido

Não quero ser julgado porque não sei julgarNão quero ser desprezado porque não sei desprezarNa minha vida aceito críticas sem negarporque depois delas ajoelho e começo a rezar

sou um cidadão comumsou um indivíduo como qualquer umtentei ser cientistae terminei como um idiota

Mergulhei em muitas teoriasMarxismo, capitalismo, africanismosocialismo, idealismo, sanguissuguismoAté naveguei sobre todos dogmas

Não sou um cãoé a convivência que me faz parecidoNão estou a tentar me justificarEstou a seguir os meus instintos

fizeram da minha vida uma desgraçaDeram-me pão quando precisava de amorNa minha vida há muitos que veêm à caçaprocuram matar os meus sentimentos

sou activista da paz, por isso não lutotive um percurso muito brutopor isso sou assim tão estranhoAté não sou estranho, sou diferente

canto para não chorarfinjo que sou feliz para não perder pesopara espantar inimizades mantenho o sorrisocontinuo vivo para cumprir a missão evolutiva

Não sou nenhum revolucionárioporque sequer consegui mudar a minha vidaNão sou nem sequer reaccionárioporque não tenho nada em contrapartida

sou um cidadão comumnão um idiota como qualquer umsou um candidato ao novo mundoQuero sentir o sabor da nova geração

Aliás, quero ser o próprio saborcom uma dose eloquente de poesiasQuero ser desfrutado a garfo e facapor isso sou um candidato

Ao novo mundo da literaturaidiota que escreva poesias idiotascidadão comum que todos gostemQuero ser activista da paz e do amor

tenho um grande favor por pedirprimeiramente peço emprestado ideiassegundamente rogo para não ser julgadopor fim... imploro para ser entendido

Lua cheiaNico tEMBE

Vadiando pelo percurso do anoitecerindo e vindo vejo as nuvens desvanecertrapaceando, se jogando ao porém do alémAo compasso descompassado de outremLinda moça contra-curvada se faz verinvejada, cortejada lua aparecerNesta noite de lua cheiaA encontrei

Andando, desfilando entre os oásisrolando, espalhando a sua classeLivre feito um pássaro voando ao marintocável, depreciável feito frasesNorteando alvoradas, iluminado palavrasDescobrindo sonhos e concretizando-osondulando, harpeando prazeres

Nessa noite a encontreihá momentos a procureiAndei, naveguei e cheguei ate a voarNua, despida, em teus braços me laveioh meu céu, minha LuaMeu abrigo é em cada curva suaBela e redundante se faz comparar ao seus seiosEspero voltar a vela, embaciada de estrelas

Eu respeito Manhiça DAViD gABriEL NhAssENgo

pelas suas terras...Verdes de esperançaQue se incorporam à maravilha dos solosNutrindo de simpatia o semblante do seu povoE expondo o sorriso contagiante das suas crianças

pelo seu povo...Único e muito especialBrioso sobremaneira e sensacional.Maravilhoso e esperançosoQue em desafios sociais, sempre vitoriosotransfigura-se em povo heróicoMiticamente glorioso

pelas estradas...Locais onde capotam as divergênciasE correm as semelhanças.Asfaltos harmónicos de estradas calmas

pelo seu poderio vocal...Que ressoa admiravelmente no canto coral

pela produção...colossal da bananaE da batata-doce de polpa alaranjadaVendida à beira da estrada.

pela beleza...Da variedade e significância das capulanasE do grito comovente das nossas mamanas.

por temor...Que me deixa com tremorpois o mal ainda habita nas curvas do alvorE nas das nossas belíssimas meninasEntendidas em feitiçarias.

Baza lixa*Ando de incoluane a MaluanaE de calanga a Mirronasempre, respeitando Manhiça

LEgENDA:

*Ao raiar do sol

fazendo amor de joelhos rAffAEL iNguANE

Nossos corpos desnudos na noite friaMeu olhar dividiatodas partes do teu corpo fatia por fatiaMeus lábios bebiam o néctar da tua boca vadiatua pele crua minha língua lambiaEm nossa cama eras o meu prato do diaNo teu ouvido minha voz sussurava a poesiaDizendo “amo-te” de formas diferentes, usando a melodiafiz de ti uma gostosa iguariatemperada com piri-piri, meu talher genital ardiaA cada toque teu, meu apetite cresciaEra bom o sabor que em minha boca perecia

Lá estavas tu implorando-megemendo suavementeDizendo, ama-me e coma-meMas de repente,passei meu dedo, estavas molhada, lubrificada e quenteMesmo no escuro eu te via deitada de cócorasNão podia ver, não queria e nem sabia as horasMinhas mãos serenamente apalpavam teus seiosEu de joelhosum som afro-reggae invadia meus ouvidosAventurei-me na maravilhosa vista do teu corpoE fui beijando carinhosamente tuas costaspele doce, lisa e cheirosa como as rosas

penetrei,Ao som da música eu coreografava as penetraçõesNum passo de dança alternavamos as posiçõessentia o aumento dos teus batimentos cardíacosEm nossa dança eu ia acelerando os passosDomado pelo prazer, eu puxava teus cabelosouviam-se gritos, rugidos e latidosAlguns nomes atractivos e gemidosE ah, ah ,ah, ahLá estavamos em ritmos sincronizadossimultaneamente atingindo orgasmos sucessivos.

ser poetaANA DE sousA BAptistA

ser poeta é ser mais alto, é ser maiorDo que os homens! Morder como quem beija!é ser mendigo e dar como quem sejarei do reino de Aquém e de Além Dor!

é ter de mil desejos o esplendorE não saber sequer que se deseja!é ter cá dentro um astro que flameja,é ter garras e asas de condor!

é ter fome, é ter sede de infinito!por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...é condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...é seres alma, e sangue, e vida em mimE dizê-lo cantando a toda a gente!

Noites da Minha cidade JEssEMussE cAciNDA - NAMpuLA

são longas noites Que passo aos sonos moribundos Me desespero no açoite Daqueles que têm fundos passo! Versos de amor Escrevendo E versos de dor No papel pintando utopias metafísicas Acompanham as veias poéticas Que me levam a não dar ouvidos As críticas platónicas

Muikhwiris¹ rondando a minha palhota Voando na peneira para qualquer frota prostitutas sem medo circundam o matador² e de carro em caro saltitam

é tempo de fazer dinheiro Que é o bem supremo pelo mundo inteiro outros roubam, outros agridem E sobre o corpo de outrem, outros se estendem

E eu, rico de tanta pobreza confesso os pecados que cometi durante o dia com coragem e frieza Escrevo esta poesia

gLossrio

(1) feticeirio em Emakhuwa, língua a de Nampula (2) Nome do meu bairro

pEtEr pEDro piErrE

Maravilhada pela beleza impar e indescritível da virgem Deusa brancaMinhas palavras transbordam de tesão líricaEntrelaçam-se e chocam-se de forma abruptaE vão de encontro a aquela DeusaEnlaçam e acariciam delicadamente os contornos curvilíneos do seu corpo

Exaltação osório chEMBENE

Menino preto, o que fazes tu ai?procuro a minha pessoa,o eu que se esconde de mim.

Mas preto, o que fazes tu ai?Busco por minha alma,A única escrava de mim.

Mas preto escravo, de que falas tu afinal?Eu também tenho alma patrãosou humano, não animal

preto, olha para cor da tua peleé preta patrãoé a raiva de quem me ferre

Mas preto, tu és homem de corAah… então é por isso…por isso é que não me das valor

tu és um bicho, não tens coraçãofique sabendo brancoQue eu me orgulho de ser preto, preto carvão.

Deliciando a com beijos ardentes e cheios de desejocompletando o pequeno e destemido verso.

o verso sem pudor arranca-lhe as vestesDeita-se no seu leito e Lambuza os pontiagudos e duros mamilos dos seus seios pomposospercorre em seguida todo seu corpo nusatisfazendo com doçura os seus desejos.Abrasado de tesão penetra as suas genitálias na estrofe ansiada.

Endurecidas genitálias cantam odes ofegantes numa dança frenéticaE num estugado balançar de rimassedentas debruçam os versos lascivosperspectivando a penetração nas outras duas deliciosas estrofesE um orgasmo múltiplo para concluir o poemasobre o subtil e enlaces corpo da virgem Deusa branca.

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8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

rosa, como sucedia com os judeus. É sabido que os nazis não resistiam a dar umas boas gargalhadas sempre que abriam as câmaras de gás. E compreende-se. Corpos e mais corpos, todos amontoados, todos rosados. Não é por acaso que a diáspora judaica escolheu o azul para o centro da sua bandeira nacional, a estrela de David, que traduz a primeira territorialização soberana sionista: o Estado de Israel. Pelo menos é a tese defendida por alguns especialistas que, melhor do que ninguém, sabem explicar estas coisas, embora não esteja ainda muito claro o porquê do azul em prejuízo de outra cor primária como o amarelo ou o ver-melho. É certo que o azul é a cor da espiritualidade, da abóboda celeste (ou a ilusão da mesma, que no espaço a imensidão de negritude bem que poderia ser o paraíso cosmológico das mais variadas diásporas subsarianas, faltava aqui Isaac Newton para o sugerir); a cor de um céu limpo e imaculado, o que faz supor uma predisposição para uma maior proximidade com as divindades que erram pelo universo; mas remete também o pensamento e, já agora, para um grupo de artistas de inspiração expressionista, curiosamente germânico, o Der BlaueReiter, ou O Cavaleiro Azul. Poder-se-á aduzir o argumento de que o azul simboliza a lealdade, a fidelidade, a personalidade e subtileza. Trata-se, com efeito, de uma cor romântica, talvez porque lembre a cor do mar, mas está igualmente associada à falta de coragem ou monotonia.

Por seu lado, o amarelo transmite calor, luz, descontracção; é uma cor cheia de energia, activa, associada à prosperidade e que transmite optimismo. Tal como o vermelho, a cor da paixão e do sentimento, do amor e do desejo, do orgulho e da violência, da agressividade e do poder. Mas os hebreus assim decidiram, e está decidido. Para acabar de vez com a humilhação da morte cor-de-rosa, e a fragilidade, delicadeza e o pendor feminino que lhes são inerentes. Até nisso o nacional-socialismo alemão foi cruel: chacinou a praga judaica sob o jugo da efeminação.

De certo modo, também foi este o destino de Carlos Antunes: nu, de rabo para o ar, com a língua enfiada na vagina ardente e possessa da mulher, com o corpo inerte e sem vida. Um homem desvirilizado na hora definitiva e irreversível da partida. Por efeito do seu desejo mais primitivo e animalesco atacado selvatica-mente por um clítoris venenoso. O doce veneno do escorpião, esse temível aracnídeo que nem no Zodíaco escapa de ter fama de má rês. Um invertebrado artrópode cujo móbil gravitacional é tão-só o prazer e a posse na sua relação com o outro; o sexo e a paixão possessiva; o amor e o ódio; sempre pronto a atacar. Não foi este o animal enviado por Apolo para matar Órion, enciumado com a relação entre este e a sua irmã Ártemis? Não está cienti-ficamente demonstrado que as estrelas de Órion desaparecem do Ocidente quando as do escorpião nascem no Oriente? O sexo oral sempre teve destes problemas. Foi justamente através de um pequeno vídeo caseiro, no qual se via uma mulher a lamber à força os baixios vaginais de uma adolescente – à força é como quem diz, porque a menor estava inconsciente – que Karla Leanne Homolka (a retratada no filme) e o marido Paul Bernardo, um casal de serial killers canadiano, foram apanhados pela polícia.

Após dezenas de casos de abusos sexuais e assassinatos vio-lentos de mulheres adolescentes que se arrastaram durante três longos anos. Aliás, esta onda de produção de vídeos ditos caseiros com imagens de natureza sexual mais ou menos explícitas tem muito que se lhe diga. Sobretudo quando caem na rede. Não supomos, apesar de tudo, que valha a pena perder muito tempo com o assunto. Tanto mais que o mesmo está devidamente docu-mentado e até se transformou numa prática comum com intuitos nem sempre muito claros. Os visados tendem a queixar-se, com ameaças várias em conformidade com a natureza e a dimensão da publicidade dada às imagens, mas o protagonismo mediático que decorre destes já célebres vídeos leva a crer que o fenómeno digital, que enferma de contornos claramente neuróticos – dize-mos nós, embora se remeta a questão para quem melhor seja capaz de a avaliar – será bem mais objectivo, nos efeitos que visa produzir, do que um mero e subjectivo fetiche, posicionado a montante, como alguns defendem. Tudo somado, a verdade é que, a jusante, o resultado é o mesmo. Para delícia dos cibernau-tas adeptos deste voyeurismo pastoral.O que parece dramático é o crescente apetite pela inocência roubada, uma liberdade eufemística a que nos damos ao luxo de recorrer para sublinhar a problemática da devassa da intimidade por meios ilegítimos (ou quase, porque nestas coisas da legitimidade a zona cinzenta é extensa e pantanosa). Devassa, pois não se trata de gente adulta, ou no limite legalmente emancipada, a sopesar, lamber, sugar, tilintar, penetrar ou deixar penetrar as protuberâncias e os orifícios erógenos e ejaculadores dos seus corpos suados e tensos, no

Em outras paLavrasterça-feira, 12 de Julho de 2011 https://revistaliteratas.blogspot.com 8

precipício do prazer supremo; mas de menores, seres humanos ainda a caminho da consciência plena da sua sexualidade.

No Chile, o caso «Wena Naty» é paradigmático. A história começou com as imagens amplamente divulgadas, sobretudo na Internet, de uma jovem de 14 anos, estudante de um colégio católico, a abocanhar o falo erecto de um rapaz num dos parques mais frequentados de Santiago, à luz do dia, enquanto um amigo da dupla, ou amigos – há várias versões – registava às escondidas o famigerado felaccio juvenil. As provas materiais da degustativa felação levaram milhares de visitantes ao sítio que as publicou online e as autoridades locais a investigar o assunto depois de considerarem que havia fortes indícios da existência de um grupo organizado de adolescentes que se dedicava à produção de material pornográfico. Wena Naty, a rapariga da garganta prematuramente funda, ficou conhecida em todo o Mundo, tal como o nome dela, que entrou inclusive para o património lexical daquele País sul-americano. «Dicese de la mujer ke le gusta lamer una y otra vez el miembro inferior masculino, sin importarle de kien es», «cabra culia q le chupa el pico a todos los compañeros» ou «pequeña prostituta que le gusta hacer mamadas en plazas y ser exhibida en youtube» são algumas das definições que podem ser encontradas para a expressão «Wena Naty».

De resto, foi justamente com este nome que se popularizou o sítio que divulgou os três vídeos malditos da perversa filha da blasfémia, entretanto removidos pela Justiça. Sublinhe-se, todavia, que a perfilhação demoníaca nunca chegou a ser

estendida ao co-protagonista masculino, uma vez que, cremos nós, em terrenos da Igreja e da fé – a Católica Apostólica Romana, que as outras não são para aqui chamadas – quem manda são os homens. É que, apesar de todos os encantos do misterioso feminino tão exaltados pelos vários movimentos intelectuais fruto do romantismo europeu, as mulheres servem para pouco. Basta lembrar o que o Senhor Deus disse no acto da criação: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe um ajudante em conformidade”. Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e trouxe-os ao homem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. E o homem deu nome a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens. Mas entre todos eles não havia para o homem um ajudante em con-formidade. Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre o homem e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o buraco com carne. Depois da costela tirada ao homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Chamar-se-á mulher porque foi tirada do homem”. Está tudo escrito no Antigo Testamento. Quem somos nós para contrariar os desígnios do Senhor Deus, nosso pai? Primeiro, há o homem. Depois há os animais e as mulheres, cada uma das espécies com os seus respectivos deveres e obrigações para com o homem, em nome da vontade divina.

Após o felaccio da jovem chilena, Wena Naty, o sítio da web, mostrou mais. Ainda chegou a aventurar-se pela libidinosa adren-alina do bullying, mas os falos erectos e robustos abocanhados por pequenas e pueris bocas femininas é que faziam sensação. Daí que se seguiu mais um caso, de novo num colégio, agora franciscano, um pouco mais distante do centro nevrálgico da capital, mas ainda situado nos limites da região metropolitana de Santiago. Desta vez, o protagonista central foi um estudante de 14 anos, um aluno problemático e, por conseguinte, repetente, que conseguiu derramar as sementes líquidas das suas glândulas reprodutoras sobre as línguas e os lábios de pelo menos de três raparigas de 12 anos. A diferença é que o fez, entre ruidosos gemidos, em plena sala de aulas à frente de toda a turma. Uma, duas, talvez três ou mais vezes. Por estranho que pareça, ninguém sabe ao certo quantas foram nem as condições em que foi pos-sível que os supostos factos ocorressem e de forma tão reiterada. Mas há imagens que o provam, captadas com telemóveis. As alegadas vítimas acusaram o rebelde de as ter forçado a tão ignóbil prova oral perante o olhar impassível e complacente dos restantes alunos, tanto rapazes como raparigas.

Em contrapartida, o presumível autor dos desenfreados crimes sexuais alegou que as bocas das meninas abriram-se milagrosa-mente, com o devido consentimento, para receber a jeito e com prumo o seu membro viril, determinado a distribuir esperma pelas demais, que se infiltrava pelas narinas e corria em longos fios gelatinosos pela boca e o queixo de cada uma das raparigas. por terra o anonimato das filhas amadas; e, por fim, ouviram igualmente o presumível coleccionador exibicionista de felaccios. Ouviram, condenaram, mas ninguém foi sentenciado

O veneno de Sócrates… Foi pois sob o «veneno de Sócrates» que Carlos Antunes sucumbiu entre as pernas da mulher, com os lábios ainda molhados de sucos vaginais …

Victor EustAQuio - LisBoAI.Carlos Antunes foi vítima de homicídio por envenenamento. Com

diligências várias, e após uma investigação exaustiva mas secreta sobre o verdejante mundo dos alcalóides venenosos extraídos de plantas facilmente acessíveis a um olhar botânico mais atento, Maria Clara, uma mulher fogosa e apetrechada, que nunca se opôs aos criativos desejos carnais do marido, que incluíam práticas sexuais um tanto ao quanto invulgares, decidiu untar a vagina com cicutina, uma substância tóxica mortal insípida com a aparência de um óleo amarelado.

Extraída da cicuta, uma planta apiácea também conhecida como abioto, a cicutina, ou em rigor, a cicutoxina – que ficou inscrita na História como o «veneno de Sócrates» – provoca o colapso do sistema nervoso central e, por conseguinte, a morte, que, por sinal, não é coisa bonita de se ver. Pelo menos desta forma (já que a mors, no sentido da mitologia greco-romana, até pode assomar de modo exuberante, como uma bela e flamejante imolação por fogo). Mas não é o caso. Que o diga o filósofo grego, se ainda falasse, ou escrevesse, após a famigerada ingestão do chá de cicuta que lhe arrefeceu e enrijou o corpo. É certo que o ataque tóxico não foi imediato. Sócrates ainda teve tempo de andar às voltas pelo quarto, mergulhado nos seus profundos e derradeiros pensamentos até que começou a sentir as pernas pesadas. E aí sim, depressa passou das voltas pelo quarto ao quarto às voltas, desaire locomotor que obrigou o pensador ateísta, um malévolo instigador da corrupção moral dos jovens gregos, a deitar-se de costas. Os seus carrascos examinaram-lhe os pés e as pernas até se certificarem de que o filósofo havia deixado finalmente de as sentir. Seguiram-se as carícias mitigativas da toxina no coração e o princípio do fim da existência cartesiana, ontológica e epistemológica do enigmático pai da filosofia ocidental.

“E agora chegou a hora de nós irmos, eu para morrer, vós para viver; quem de nós fica com a melhor parte ninguém sabe, excepto Deus”, ter-se-á despedido Sócrates, o ateu, que aparentemente acreditava no Senhor, como relata o seu discípulo Platão, lançando a dúvida sacrossanta dos filósofos, que pouco tem de sagrada para o venerável e sacro conhecimento daqueles que condenaram o pensador à morte em nome da santidade. E provavelmente de alguma, ou muita, necessidade de sanidade religiosa para tempos tão adversos.Foi pois sob o «veneno de Sócrates» que Carlos Antunes sucumbiu entre as pernas da mulher, com os lábios ainda molhados de sucos vaginais. E de uma dose letal de cicutoxina. Uma mise-en-scène clitoriana indigna para um homem de tão alta posição na sociedade, condenado, também ele, a ser imortalizado, pelo menos ao olhar de Maria Clara, com a boca caída sobre a púbis aloirada da mulher e o corpo retesado, nu, de rabo para o ar. Quem deles ficou com a melhor parte ninguém sabe, ele que partiu para morrer, ela para viver; porém, Maria Clara pouco se importava com o assunto pelas razões de que estava convencida ter, razões que, do seu ponto de vista, legitimavam em absoluto a prática daquele nefasto gesto assassino.

Não deixa de ser curioso, contudo, no quadro deste bizarro crime vaginal, que alguns investigadores forenses tenham perdido imenso tempo, na fase das entrevistas periciais, a tentar descobrir se a expedita companheira marital de Carlos Antunes, que acreditava ser tanto a esposa de Cristo como a esposa do Senhor (o que vai dar ao mesmo, embora a Igreja diga que não), terá chegado a atingir o orgasmo de tão excitada que estava em atentar de forma definitiva e irremediável contra a integridade física do seu esposo. A avaliar pelos fulgores a que costumava dar-se no acto do amor, como várias fontes próximas da homicida corroboram, é bem provável que tenha chegado a sentir as tão populares contracções reflexas ritmadas dos músculos perivaginais e perineais que circundam a vagina, a intervalos de 0,8 segundos. Para isso, e não obstante estar consciente de que o seu centro gravitacional de prazer ocultava um alcalóide altamente venenoso, Maria Clara terá de ter sentido uma vasocongestão e o início da lubrificação vaginal, com os pequenos lábios ingurgitados a assumir uma coloração intensa arroxeada ou cor de vinho e uma retração do clitóris em posição protuberante a colocar-se por trás da sínfise pubiana. São meras suposições fisiológicas, mas a ciência forense a tal se vê obrigada em busca da validação das suas descobertas, tantos mais que é delas que depende, em parte considerável, uma boa acusação judicial e a deseja condenação da ré.

Quanto a Carlos Antunes, apesar de não ter sido tarefa fácil remover-lhe da boca e da língua os restos de pêlos púbicos da mulher, pelo menos o seu corpo não apresentava um tom cor-de- continua