revista literatas edição 4

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Literatas Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 02 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 04 * E-Mail: [email protected] pg. 2 Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Literatas agora é no SAPO literatas.blogs. sapo.mz Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Ana Rusche em contacto com literatura moçambicana Sai às Terças-feiras COMO É QUE SE ESCREVE CHORIRO? “A Décima Primeira Campa” pg. 10 Em Lichinga Gincana a volta da fogueira

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Page 1: Revista literatas   edição 4

LiteratasDirector Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 02 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 04 * E-Mail: [email protected]

pg. 2

Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona

Literatas agora é no SAPO

literatas.blogs.sapo.mz

Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo

Ana Rusche em contacto com literatura moçambicana

Sai à

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as

COMO É QUE

SE ESCREVE

CHORIRO?

“A Décima Primeira Campa”pg. 10

Em LichingaGincana a volta da fogueira

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- Do Brasil para estar em contacto com literatura moçambicana

kuphaluxa recebe Ana Rusche

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Em primEiraTerça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2

Já se encontra na capital moçambicana, Maputo, a escritora brasileira, Ana Rusche, que vem ao País com o propósito de conhecer o Movimento Literário Kuphaluxa bem como capacitar jovens escritores e amantes da literatura no geral, sobre as técnicas de escrita na literatura contemporânea.ontem, Ana Rusche, iniciou as suas actividades de trabalho literário em Maputo, com uma entrevista que à escritora Sónia Sultuane, de Moçambique, as no Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde pela primeira vez conheceu os precursores deste movimento, criado para promover e divulgar novos aspirantes da literatura.Ainda ontem, iniciou a Oficina Literária com jovens amantes da literatura e estudantes no auditório do CCBM, realizado sob o tema “Nós que adoramos um documentário.”Ana Rusche, vem a Moçambique com a missão de interagir com vários pro-tagonistas da literatura Moçambicana, estando já, em diálogo com vários escritores do País.Na tarde de hoje, a escritora vai proferir uma palestra, sobre o tema “Porquê Ler”, na Escola Industrial 1º de Maio em Maputo, no âmbito do projecto “Lit-eratura na Escola”, que desenvolvido pelo Kuphaluxa, desde o ano passado, já levou os escritores, Ungulani Ba Kha Khosa, Paulina Chiziane, Marcelo Panguana, Juvenal Bucuane, em várias escolas das cidades de Maputo e Matola.Amanhã, Ana Rusche, vai participar de um Sarau Cultural, a ser realizado no CCBM as 18 horas. Na quinta-feira, as 09:00h, Ana visitará a Casa do poeta-mor, José Craveirinha e no mesmo dia, a escritora vai ministrar uma palestra na AEMO, num painel em que estará acompanhada pelo secretário geral da AEMO, Jorge de Oliveira, onde oferecerá vários livros à instituição. Na sua bagagem, Ana Rusche traz, igualmente, livros da sua autoria e de outros autores do Brasil, para doar ao Kuphaluxa e a Escola Industrial 1º de Maio.Refira-se que durante os cinco dias, Ana Rusche, vai entrevistas escritores moçambicanos, que culminará na publicação de um livro com as entrevistas, já no Brasil

culturais tais como, teatro, música, cinema, poesia e outras formas de expressão cultural, a nível provincial. No ABC, actuaram, igualmente, vários grupos culturais reconheci-dos no País, como a Companhia de Teatro Gungu da capital moçambicana.MAs, outrAs forças tomaram o espaço que pertencia a arte e os artistas. A infra-estrutura foi concessionada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).Vendo-se o silêncio, jovens uniram-se para criar a Gincana de Arte, espaço que reúne várias artes desde a poesia, teatro danças tradicionais, música artes plásticas, contado-res de estórias e histórias, tudo a volta da fogueira.eM entreVistA concedida a revista Literatas os artistas revelaram a sua satisfação com a iniciativa, uma vez estar a revitalizar o desenvolvimento da arte a nível da província.Pedro FABião Pedro, poeta da província do Niassa com residência na cidade de Lichinga considera ser louvável, o projecto Gincana de Arte, e disse que vai trazer muitos benefícios não só para os artistas mais também para a província como também o País. de Acordo com Pedro, o País precisa de iniciativas do género para fortalecer a cultura moçambicana com par-ticularidade na província do Niassa, por isso apoia a con-tinuidade do espaço uma vez ser o único lugar já existente para os artistas.“tereM nos tirado, no ano passado, o Cine ABC, aquele que era o maior espaço da província, para dar lugar o funcio-namento da igreja, é lamentável. O governo, simplesmente não entreviu. Mas os artistas apesar de ficarem sem pai não

arregaçaram as mangas e agora com o espaço Gincana de Artes veremos se pelo menos substitui o Cine ABC e possam fluir vários talentos, porque esse é um dos objectivos.”Por suA vez, Eduardo Tocolowa, um dos mentores da ini-ciativa, para a Literatas, não escondeu a sua satisfação pelo espaço Gincana de Artes.“este esPAço demorou chegar, mas como o chegou é só louva-lo e enveredar esforços para que esta iniciativa não termine por aqui. Para a criação deste programa, não custou – nos algum dinheiro. Vimos que a Direcção Provincial de Educação e Cultura não aposta nas nossas iniciativas e nos decidimos fazer as coisas da nossa maneira.”se contArAM com apoios para a concretização da inicia-tiva, Tocolowa disse que “ já tivemos alguns apoios com pessoas singulares que nos deram uma viola e um piano, instrumentos que estão em uso no nossos espaços e temos também o apoio do proprietário do lugar onde a nossa arte funciona.”PArA terMinAr, o nosso entrevistado, teceu críticas à atitude dos responsáveis pela área da cultura a nível da província do Niassa.“se A Direcção Provincial da Educação e Cultura tivesse este espírito os nossos espaços teriam outra credibilidade no que concerne a valorização das nossas artes. Mas tristemente só existe esta instância, quando se trata de um festival e outros eventos de âmbito nacional e é por isso que as actividades culturais, muitas vezes, fracassam por falta de preparação e assim facto que nos deixa agastados.” Concluiu

Ana Rusche, escritora brasileira, em Maputo para um diálogo com a literatura moçambicana

GincAnA de Artes é um projecto literário idealizado pelo artista plástico, músico e jornalista da Rádio Moçambique – Emissor Provincial do Niassa, Eduardo Tocolowa, e o poeta declamador, igualmente, jornalista da província do Niassa, Mukurruza. O projecto, reflecte-se na realização semanal de saraus culturais aos sábados, num dos maiores bairros da província nortenha de Moçambique, denominado Chuaula, e a missão do mesmo, é a revitalização dos espaços cul-turais na cidade de Lichinga,nuMA ALturA em que a cidade de Lichinga vivia um silêncio cultural, com o encerramento do Cine ABC, outrora, o maior espaço que deu parte para a realização de muitos eventos

- Gincana de ArteViver a arte de escrita a volta da fogueira LiNO SOuSA MucuRuzA - [email protected]

O espaço “Gincana de Arte” reúne todos os sábados vários artistas em sarau cultural a volta da fogueira, num dos maiores bairros da cidade de Lichinga. Em Chuaula, a tertúlia literária, faz-se sentir num movimento artisticamente diferente.

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- Centro Lusófono Camões

Adelto Gonçalves é indicado assessor em São Petersburgo

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Em primEiraTerça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3

de Gente Pobre, primeiro livro do maior romancista russo de todos os tempos.Fundado em 1999, o Centro Lusófono Camões começa o ano, em média, com 15 estudantes russos de Português. Os estudantes entram no nível 0, passando para o nível médio, chegando ao nível superior. Em média, formam-se de sete a oito alunos por ano. O Centro já obteve a introdução do Português como língua facultativa numa escola secundária de São Petersburgo, o que significa um potencial alarga-mento da lista de frequentadores da instituição em futuro próximo. Seus professores têm participado de conferências internacionais na Europa.Desde a sua fundação, o Centro já publicou outros livros, como o Guia de Conversação Russo-Portuguesa Contem-porânea, Poesia Portuguesa Contemporânea(2004), que reúne poemas de 26 poetas portugueses, e Vou-me embora de mim (2007), do poeta português Joaquim Pessoa. A Universidade de Coimbra, a Biblioteca Nacional de Lisboa, o Instituto Camões e a Fundação Calouste Gulbenkian são algumas das instituições culturais portuguesas que também têm cooperado com o trabalho dos lusistas russos

Lusófono Camões no mundo de expressão portuguesa”, disse.Ao Centro Lusófono Camões, o professor brasileiro entre-gou um exemplar de seu livro Bocage: o Perfil Perdido, publicado em 2003 pela Editorial Caminho, de Lisboa, seu trabalho de pós-doutorado desenvolvido em Portugal em 1999-2000 com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), além de repassar quatro exemplares de Gente Pobre (Biédnie Liúdi), de Fiodor Dostoievski (1821-1881), publicado em Março de 2011 pela Associação Cultural Letra Selvagem, de Taubaté-SP, tradução de Luís Avelima, oferecidos pelo editor Nico-demos Sena.Durante sua visita a São Petersburgo, o professor Adelto Gonçalves foi também recebido no apartamento-museu de Dostoievski pelo vice-director e responsável pelo setor científico do Museu, Boris Tikhomirov, ocasião em que fez a entrega à instituição de dois exemplares dos livros de Machado de Assis publicados pelo Centro Lusófono Camões e de um exemplar da mais recente edição brasileira

O jornalista e escritor Adelto Gonçalves, professor de Língua Portuguesa do curso de Direito da Universidade Paulista (Unip) e de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comu-nicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos-SP, foi indicado assessor de imprensa e cultural do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Ped-agógica Hertzen, de São Petersburgo, na Rússia. A indica-ção foi feita pelo director do Centro, Prof. Dr. Vadim Kopyl, durante visita, no começo de Julho, do professor brasileiro a São Petersburgo.As relações do professor Adelto Gonçalves com o Centro Lusófono Camões datam de 2005, quando, por indicação do ex-embaixador do Brasil em Portugal, Dário Moreira de Castro Alves (1927-2010), escreveu prefácio para o livro Contos, de Machado de Assis (1839-1908), publicado em 2006 em edição russo-portuguesa por aquela instituição com o apoio da Embaixada do Brasil em Moscou.Doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Uni-versidade de São Paulo (USP), Adelto Gonçalves também escreveu, em 2007, prefácio para o livro Contos Escolhidos, de Machado de Assis, publicado igualmente em edição bilíngüe pelo Centro Lusófono Camões e Editora Alex-andria, de São Petersburgo, com apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e da Embaixada brasileira em Moscou. Os dois livros foram vertidos para o russo por tradutores do Centro Lusófono Camões aos cuidados do professor Kopyl.“Senti muito interesse pelo Brasil por parte dos estudantes russos de Português e pretendo aproveitar essa oportu-nidade para tornar o trabalho desenvolvido pelo Centro Lusófono Camões mais conhecido não só em nosso país como em Portugal e nos demais países de língua oficial portuguesa”, disse o professor, que é colaborador do quin-zenário As Artes Entre as Letras, do Porto, da revista Vértice, de Lisboa, da Revista Forma Breve, da Universidade de Aveiro, do Jornal Opção, de Goiânia, A Tarde, de Salvador, e outros jornais, revistas e sites brasileiros e portugueses. “Quero aproveitar também minhas ligações com o mundo cultural de Moçambique, Angola e demais países de língua portuguesa para levar notícias sobre as actividades do Centro Lusófono Camões, intensificando as nossas relações culturais com a Rússia”, disse.Para o director do Centro, professor Vadim Kopyl, o pro-fessor Adelto Gonçalves é a pessoa certa para fazer esse trabalho. “Temos certeza que o professor Gonçalves dará continuidade ao trabalho que o embaixador Dário Mor-eira de Castro Alves, nosso antigo sócio-honorário, vinha fazendo em favor da divulgação das actividades do Centro

o escritor gaúcho Eucajus Eugênio, autor do livro “Ordem dos Fantasmas”, realizou uma leitura dos símbolos esoté-ricos inseridos nas pinturas de Leonardo da Vinci, e revela que a postura e a localização dos apóstolos na Ultima Ceia correspondem com as Esferas da Cabala. “MAis do que revelar segredos ou códigos, é preciso entender o significado de um símbolo, entender o que ele representa. Quando Da Vinci pintou o apóstolo João, não pintou uma mulher, e sim, um ser andrógino, porque João representa a esfera “Hod” da Cabala. Vou dar um exemplo prático: Na ceia, as mãos de Jesus representam o Princípio Hermético de Correspondência (O que esta em cima é igual ao que esta em baixo), basta observar que uma mão está com a palma virada para cima e a outra para baixo. Na Cabala, Jesus representa a esfera “Daat”, conhecida no meio místico como a Esfera Invisível da Árvore da Vida. Aí você pergunta: Jesus a esfera invisível? O personagem principal da ceia? Isso nos faz compreender porque Leonardo da Vinci permanecia por horas no refeitório Maria delle Grazie

olhando para a pintura. Ele meditava sobre uma questão: Como destacar o personagem principal e ao mesmo tempo torna-lo invisível? A resposta seria torná-lo o menos expres-sivo de toda a pintura! Criei uma experiência que prova essa teoria e esta divertindo os leitores do livro e do blog. Trata-se de uma imagem da ceia sem Jesus. Acredite, 98% das pessoas não percebem a ausência dele. Quando essa ausência é revelada, eles dizem ter confundido Jesus com

Tiago Maior, e isso é incrível! Thiago. Maior, é justamente aquele que representa a esfera “Tiferet”, confirmando um principio da cabala que define: Daat é a imagem de Tiferet”. A LeiturA dos símbolos realizada por Eucajus é surpreen-dente porque mostra algo que sempre esteve diante de nós. Você viu a enorme letra “S”, de Salai na Mona Lisa? Não! Então olhe ao lado do ombro direito, não esqueça, Da Vinci escrevia da direita para esquerda. Veja também a ponte acima do ombro esquerdo. Segundo Eucajus, a ponte é um símbolo místico que representa a ligação entre aquilo que pode ser percebido e aquilo que esta além da percepção. síMBoLos MAçons na Mona Lisa, o verdadeiro significado do pote de sal na ceia e outras revelações sobre as obras de Leonardo da Vinci você pode conferir no blog do livro repleto de imagens ilustrativas

A Cabala na Ceia de Leonardo da Vinci

Professor fará trabalho de divulgação das atividades da instituição universitária russa em todos os países de língua oficial portuguesa.

Page 4: Revista literatas   edição 4

FicHA tÉcnicAPropriedade do Movimento Literário Kuphaluxa

Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: [email protected]

Director Editorial: Eduardo Quive ([email protected])Coordenador: Amosse Mucavele ([email protected]) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane ([email protected])Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.Design e páginação: Eduardo Quive

NOSSO LAR DA MAFALALA DEScOLONizÁMOS O LAND-ROVER

4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 4

JESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLAos estudAntes Da 12ª classe, grupo A (comunicação e ciências sociais) da escola secundária 12 de Outubro em Nampula, realizaram no dia 23 de Julho uma visita de estudo ao local memorial de Kupula-Munu, um líder de resistência anti – ocupação efectiva da zona de Mogovolas, distrito do mesmo nome na província de Nampula.KHuPuLA Munu surgiu das redondezas do monte Namuli, na província da Zambézia, local que segundo a tradição surgiu o primeiro homem Macua tendo se dirigido as montanhas de Mphotto, um local onde vivia um rei de nome Naweya que cobrava impostos, por isso o nome de Mphotto, resultado da má pronúncia do termo imposto.APós AFixAr-se no local Khupula Munu dirigiu uma ofensiva contra os portugueses em 1910, nesta morreram muitas pessoas por isso se chama Batalha de Malavi, que em língua local significa tabu.seGundo trAnquiLo Emílio, descendente de Khupula – Munu, o seu antecessor utilizava uma arma de fabrico caseiro, com munições de feijão macaco que com sua arte mágica embriagava os portugueses para depois mata-los a faca.KHuPuLA Munu combateu contra os Portugueses até em 1930 ano da sua morte e da tomada das suas terras pelos portugueses. Hoje é uma figura venerada e tornou-se ídolo para todos os nativos do Distrito de Mogovolas, que em todos anos vão visitar a sua campa, que virou um santuário para os que acreditam na sua eternidade

ALbiNO MAgAiA

Ao mestre Craveirinha

Lá mais para o Sul

Mandela

continua a sonhar com uma estrela

Violas electrónicas do Soweto

vomitam notas de sangue

sobre os céus de Johannesburg

enquanto Miriam Makeba

curte o exílio na Guiné

Há joverns que morrem

suicidando-se em Smadje-Mandje

num contraste de preto e branco

com a sumptuosidade multinacional

nos lupanares do Transkey

Mama Winnie

essa grávida de coerência

continua a sonhar com o gesto íntimo de Nelson

depois de séculos de separação

como se fosse brincadeira

a interposição de Vorster e Botha

entre ela e os beijos do seu herói

Em Robben

há um militante não racista que morre

e os sobreviventes entoam Nkosi Sekelela

enquanto a noite da África Austral

ganha mais uma estrela

que não é ainda

a estrela com que Mandela sonha

Ouvi dizer

pelos jornais e pela rádio

que os filhos de Ghandi e outros deserdados

ganharam direito a voto lá no Sul

Só que os guerreiros de Tchaka

estão a morrer baleados ou enforcados

num ensaio geral organizado e eficiente

da nova edição modernado Dingana´s Day

ALbiNO MAgAiAJá não é carro cobrador de impostos

Nós descolonizámo-lo.

Já não é terror quando entra na povoação

Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.

É velho e conhece todas as picadas que pisa.

É experiente este carro britânico

Seguro aliado do chicote explorador.

Mas nós descolonizámo-lo.

No matope e no areal

Sua tracção às quatro rodas

Garante chegada às machambas mais distantes

Às cooperativas dos camponeses.

Entra na aldeia e no centro piloto

Ruge militante nas mãos seguras do condutor

Obedece fiel a todas as manobras

Mesmo incompleto por falta de peças.

- Descolonizámos o Land-Rover

Com nossos produtos

Comprámos combustível que consome

Com nossa inteligência

Consertámos avarias que surgem

Com nossa luta

Transformámos em amigo este inimigo.

Nós, descolonizadores

Libertámos o Land-Rover

Porque também ficou independente, afinal

Transformaram-se os objectivos que servia

E hoje é militante mecânico

Um desviado reeducado

Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.

Descolonizámo-la e com ela casámos

E não haverá divórcio.

De Tete a Cabo Delgado

Do Niassa a Gaza

Da sede provincial ao círculo

Este jeep saúda quando passa

O caterpillar, seu irmão

Outro descolonizado fazedor de estradas

E cruza-se com o Berliet atarefado

Ex-pisador de minas

Eles aprenderam com a G-3

Menina vanguardista na mudança de rumo

A primeira a saber e a gostar

A diferença antagónica

Entre a carícia libertadora das nossas mãos

e o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.

As mãos dos operários que o fabricam

são iguais às mãos dos operários da nossa terra.

Essas mãos inglesas que o criam

Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução

e vão levantar o punho fechado da solidariedade.

Ruge este militante nas picadas da Zambézia

Galga as difíceis estradas de Sofala

Passa pelos pomares de Manica

Pelo milho de Gaza

Pelas palmeiras de Inhambane

Na cidade do Maputo descansa.

Transporta pelo país os olhos dos estrangeiros amigos

que querem conhecer de perto a nossa Revolução

- Descolonizámos uma arma do inimigo

Descolonizámos o Land-Rover!

Aquelas quatro rodas de um motor potente

Aquela cabine dos mecanismos de comando

Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo

Já não afugentam o povo:

Homens, Mulheres e Crianças do campo

fazendo sinal ao condutor, pedem boleia.

Nós descolonizámos o Land-Rover

Por isso o povo já não foge.

ALBino FrAGoso Francisco Magaia (Lourenço Marques, 27 de Fevereiro de 1947-27 de Março de 2010) foi um jornalista, poeta e escritormoçambicano.nA suA juventude, foi membro do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM).Foi director do semanário Tempo e secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos. oBrAs PuBLicAdAs

AssiM no tempo derrubado. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1982. (poesia)[1]Yô MABALAne!. Maputo, Cadernos Tempo, 1983. (novela)PreFácio de Gilberto Matusse.MALunGAte. MAPuto, Associação dos Escritores Moçam-bicanos, 1987. Colecção Karingana. (novela)

Um pouco sobre Albino Magaia

Estudantes recordam Kuphula Munu

Page 5: Revista literatas   edição 4

MARcELO SORiANO - [email protected]

Nota preliminar: Antes de prosseguir com este artigo, lembro ao leitor que me dirijo à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), portanto, podemos encontrar gerúndios, futuros do pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011.

1. 1. Monsieur FLAnêur - o etíLico Entrei num café ontem à tarde e lá fiquei, a beber e observar os outros... Deixei a caneta fluir em guardanapos limpos... Eis o resumo da ópera de minha ronda investido com a máscara veneziana de Monsieur Flanêur, o etílico! Guardanapo 1: A multidão... O meu alter-ego... Guardanapo 2: Finge que não vê. Finjo que não vejo. Mas não conseguimos parar de nos perceber... Guardanapo 3: Os melhores amigos dos poetas de bar são os guardanapos com batom. Guardanapo 4: Quanto mais eu bebo, mais a assombração me apetece. Guardanapo 5: As aparências encantam. Guardanapo 6: Os gestos simulam o que os olhos não conseguem esconder. Guardanapo 7: As pérolas em tuas pulseiras não te deixam não sorrir... Guardanapo 8: A vítima perfeita - não te enganes, barman! - é sempre um predador. Guardanapo 9: Jazz em um pub lotado... Todo mundo ali... Ninguém nem aí... Guardanapo 10: Caramujo de bêbado é o barril. Bem, foi isso o que deu tempo de anotar. Eu estava louco para voltar para casa e apreciar sozinho estes canapés roubados desta festa pública intimista.

2. LetrAs VisuAis 2.1 - Frase paródia à expressão do célebre Descartes - “Penso, logo existo”.

2.2 - Frase em Código QR : “ Corações puros são pedras preciosas beijadas por Deus”. 3. MonóLoGos PóstuMos coM quintAnA - PArte iii

“O silêncio é um espião.”Mário Quintana[Silêncio-Nós]

Eu a ele:Silêncio de café quente.Silêncio de solitude em alto mar.Silêncio de altar perfumado.Silêncio de contemplação.Parece tão fácil fechar os olhossó para poder alcançar.

[A expressão favorita]

Ele a mim:- Ora bolas!

(3.) continuA nA PróxiMA edição...___________________ Código QR é um código de barras em 2D que pode ser facilmente lido usando qualquer celular moderno. Esse código vai ser convertido em uma pedaço de texto (interativo) e/ou um link que o celular os identifica.

VOVó zuMbiLuANA MccAiN – bRASiLEra hora de dormir. Eu e meus irmãos tivemos um dia muuuuuito agitado. Primeiro, vovó levou a gente no parquede diversões. Depois, no cinema. Assistimos Um dia com a vovó zumbi. Por mais que o titulo fosse aaaaaaaassustador, o filme era de aventura. - Meus amores, já está na hora de dormir. - Vovó, a gente vai embora amanhã... não queria... foi legal passar as férias aqui – disse meu irmão do meio, com aquela vozinha de sempre.

- Eu também – os olhos da minha irmãzinha se encheram de lágrimas. Revirei os olhos. - Vovó, antes de dormir, eu posso comer aquele bolo de nozes que cê fez hoje de manhã? Ela fez uma cara pensativa. Segundos depois, falou com aquela calmaria de sempre: - Hmmm não, não pode. Você acabou de escovar os dentes. - Mas... - Na na ni na não. - Vovó, quero água – disse meu irmão do meio. - E eu tô com sede – falou minha irmãzinha. - Venham. Eu levo vocês. E eles foram. Só eu fiquei no quarto. Dez minutos depois. E a casa estava um puro silêncio. Senti uma intensa vontade de descer na cozinha e ver o que os três estavam fazendo. Era sempre assim: vovó realizava os desejos daquelas malinhas e eu sempre ficava de fora. Fui pra cozinha, quietinho da silva. Eu queria pegar eles de surpresa. Um passo. Dois passos. Três... e na porta da cozinha estava minha irmãzinha de cócoras e cabeça baixa. Eu cutuquei ela e nenhuma resposta. Peguei ela pelos cabelos e enoooooooooooooorme foi o meu susto, eu vi ela sem os olhos e a sua língua caiu nos meus pés. Dei um pulo pra trás. Eu queria chorar, mas não conseguia. Virei pra cozinha e meu irmão estava diante da pia comendo o bolo de nozes, mas atrás dele estava a vovó, com uns dentes-monstros, super afiados, pronto pra abocanhar a cabeça dele

FLOR DA guAViRAVANESSA MARANhA

O sol duro da tarde seca batendo nas cabeças em fila. Era sertão no Mato-Grosso. Homens com suas mulheres e meninos seguiam montados em jegues, vindos do coração da Bahia, uma comitiva pardacenta em busca de mais do que a coisa nenhuma que os cercava naqueles agrestes. Maria com um lenço vermelho de brilho berrante sob o chapéu desbeiçado, era vaidosa, linhas grossas e ossudas de cabocla, o tupi correndo evidente no sangue, empunhou o 38 e estourou as seis balas no céu para dar fé de parada. Que aqui ela mais Pedro ficavam, que os outros seguissem rumo, se quisessem, os olhos vivos ameaçadores e à tocaia, símios, a brabeza acossada dos babuínos transparente em seus movimentos. Gestos decididos num chacoalhar de pulseiras coloridas ela apeou, Pedro atrás, o cuidado com a craviola. Debandaram os dois em busca de tocos e estacas para o acampamento, as ancas doloridas, as facas enferrujadas, o fumo mascado e cuspido no chão fazendo a trilha. Já decidida: ficamos por esses dias aqui perto do arroio, a represa deixada em paz lá adiante. Depois é buscar assento num povoado. Caçar a zona, pensou ele, perguntando, na sequência, do menino. Aqui nasce, não passa de hoje. Pedro, submisso, anuiu, jogando o encerado sobre as estacas já de pé. Frases econômicas, viviam o correr dos dias, nas tocaias da lida, ele violeiro, ela cortesã. E o mais que diziam era: estou com fome, me dá a craviola, vou banhar no riacho, vem deitar comigo, me passa a farinha. Sabiam e se riam de quem não entendia o claro de que a vida se dá por todas as vias, menos as das facilidades. Ilusões, só mesmo as dos dedilhados e a da fome pega.A lua já flutuava a meio-céu, caducando o dia, anunciando noite clara e desespero: livres dos jacarés podiam estar, já que a boas braçadas da represa, mas havia as jararacas, as jacutingas, os tiús, as ratazanas silvestres, os seres da escuridão que poderiam se atrair pelo sangue do parto que se aproximava. E era o fim, ponderava Pedro, misturando tudo na mesma lata em que punha o pequi amarelo e o preá para ensopar: a gravidez refreara ao menos um pouco essa mulher no seu jeito arregalado. E agora?, perguntava-se, terror sobreposto, sem, entretanto se falsear na intimidade: pudesse, não padecesse de tamanha debilidade de decisões, traria a fanchona no miudinho da vergasta. Mas sabia que não. Erguesse a ela uma sobrancelha para ver só o que é bom pra tosse. O que lhe restava mesmo era o descampante.Maria Tomé, que passara a tarde em incômodos, entrou na cabana suprida de bacias com água. Vou me deitar. Já mastiguei muito capim, acho, pelo toque, que agora mesmo o bichinho chega, a cabeçona dura me congestionando por baixo. -Não quer uma parteira? Diga e busco uma agorinha já.-E eu lá vou permitir mulher olhando nas minhas vergonhas? Sou parteira de mim mesma, como de outros dez que por aqui vieram. Campeie aí que o último, você lembra, foi mordido ainda ensanguentado, tadinho, por gato do mato.E então foi parir em solo seco coberto por lençol, os urros sufocados, a dignidade da solidão reclamada e atendida, os espasmos de coisa se revirando dentro de si, a natureza primitiva em sua ode triunfal: nascia um menino.-É seu, Pedro, venha cá!, tentou gritar, a voz num fiapo, agastada, arfante. A mosquitada num alvoroço, ele acudiu nervoso com uma toalha branca para aquecer a criança. Mas nem abraçaria esse, que, sabia, seria dado também a família direita e ao que ele se calaria e consentiria, sem, diante de Maria, brandir intenção qualquer, um desuso nesse casal. Bastava ela querer ou não para ele segui-la: às rodas de viola, às rinhas, à cachaça inveterada, a tantos outros homens, o oco onde nem parecia mais haver coração em angústia, corpo sacudido por um arrepio de ciúme calado. Então ele, terno, analisava, ao bruxuleio da luz amarelada de lamparina: era bonita, ela. Bruta e extenuada, a mulher derreada, sem resgate. E o menino chorava

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 cRóNicA / cONTO 5

FiLosoFonias rapsódicas

Page 6: Revista literatas   edição 4

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- discurso dirEcto

Como é que se escreve Choriro?

Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6

Assim se entende por que, em Choriro, os afectos em rela-ção aos objectos observados são potenciados num jogo de racionalidades que se negam, alegorizando formas variadas de conhecer e teorizar o próprio conhecimento. Veja-se o exemplo:

“Em geral, os indígenas, nas frequentes e animadas con-versas em volta da fogueira, de tanto acharem natural a beleza circundante, não se extasiavam com o intermitente luzir dos pirilampos, a miríade de estrelas abarrotando o céu, o sussurro das folhas das árvores, ou o longícuo rugir de um leão na savana dos predadores da noite. Eles pasmavam-se com o encantamento de Chicuacha [o padre branco] ante o nascimento, na entrada abrupta da noite, das ilhas de fogo com que os canoeiros e carregadores pintavam as noites ao longo do leito do Zambeze. Na escuridão das águas, era-lhe possível observar os intrigantes olhos dos crocodilos que à direita e à esquerda perscrutavam os movimentos huma-

1. do projecto do autor...

uma, entre outras questões que se colocam ao ler-se o último romance de ungulani ba Ka Khosa, choriro, é sobre o conhecimento. Trata-se de um apelo a uma discussão epistemológica sobre os desafios que se colocam, num primeiro plano, à ciência histórica, essa narração metódica de passados, na produção do conhecimento a partir de um olhar local, de dentro. Esta proposta pode ler-se na nota que Khosa faz questão de colocar no livro:

“Este retrato de um espaço identitário, de uma utopia que se fez verbo, assentou na rica e impressionante História do vale do Zambeze no chamado período mercantil. A intenção do livro foi a de resgatar a alma de um tempo, a voz que não se grudou aos discursos dos saberes. O fundamento histórico valeu-me como porta de entrada ao mundo de sonhos e angústias por que o vale do Zambeze passou durante mais de quatro séculos…”

Choriro, um lamento, uma espécie de exorcismo ao “epistemicídio” africano; um discurso que procura resgatar essas vozes abafadas, silenciadas ao longo do processo de produção desse conhecimento que temos sobre nós próprios e sobre outros.

Subjaz neste projecto um fundamento existencialista, a ideia de que o facto dessas vozes vincularem-se ao universo da oralidade não lhes permite afirmarem-se como um discurso válido e promotor de um conhecimento produzido a partir de dentro. Isto significa, ironicamente, que “os discursos dos saberes”, a que Khosa se refere em alusão à epistemologia promovida pelo Ocidente, produziram e promoveram um conhecimento sobre a “nossa” realidade a partir de fora, portanto, não intercambiando os afectos, não ouvindo essas outras vozes, exactamente pela sua natureza ágrafa, imprecisa e dúbia.

2. ...ao testemunho do narrador

nos. Seguros nos pequenos e confortantes pedaços de terra, os canoeiros pouca atenção prestavam aos reptéis das águas. Estes, silenciosos, reluziam os olhos enquanto as línguas de fogo iam, aos poucos, fenecendo com a madrugada que ia abatendo as estrelas.” – p. 20.

A naturalidade com que os indígenas observam a realidade circundante, a ponto de se imiscuirem nela como um todo har-monioso – repare-se que canoeiros e carregadores deixam-se estar serenos no leito do rio, partilhando as mesmas águas com os crocodilos – é antítese da artificialidade estampada no olhar de Chicuacha, para quem essa aliança não só não faz sentido como é perigosa. Mas é exactamente a essa aliança a que Etounga-Manguelle (1991) se refere ao tentar caracterizar os valores de África, os quais, exactamente por serem consubstanciais a tudo a que a África diz respeito, caracterizarão a forma como o continente deverá (re)produzir um conhecimento localizado. Essa epistemo-logia, entre outros valores, será caracterizada por uma inserção

LucíLiO MANJATE - MAPuTOAo Aurélio Furdela

A epistemologia que conferiu à ciência a exclusividade do conhecimento válido traduziu-se num vasto aparato institucional – universidades, centros de investigação, sistema de peritos, pareceres técnicos – e foi ele que tornou mais difícil ou mesmo impossível o diálogo entre a ciência e os outros saberes.

Boaventura de sousa santos e Maria Paula Menesesin epistemologias do sul, 2009

O problema é que o grosso dos países africanos têm cultura ágrafa, e eu pergunto: antes da chegada dos colonialistas, não curávamos a malária ou ela não existia? Havia dentistas no século treze? O preto não sofria de dentes? Só começou a sofrer de dentes depois da colonização? Mas como nós não tínhamos escrita, isso trouxe o problema da aculturação, da rejeição da cultura. Diz-se ser um mundo supersticioso e eu digo não, esse mundo supersticioso tem o seu quê de racionalidade, para sustentá-la, vi que a literatura é um caminho, e quem abriu esse caminho foram os latino-americanos, eles tomaram aquilo que os ocidentais consideraram irracionalidade como uma base para

racionalidade própria.ungulani Ba Ka Khosa,

in Proler, n.0 3 Março/Abril 2002, “somos um país promíscuo” – entrevista

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- discurso dirEcto Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7

pacífica com o meio ambiente” . Mas o que se entenderá por tal inserção?

3. outras vozes

Wellek e Warren (1948), na busca de uma ciência literária, fun-

damentam a sua existência no que entendem como “fruição em

estado de simpatia” em relação aos objectos observados. Parece

estar aqui reforçado, de certa forma mais extensivamente, o pres-

suposto de Etounga-Manguelle. Ora uma inserção pacífica com

o meio é o desejável, mas poucas vezes é conseguida, sobretudo

quando o investigador é “estranho” à realidade observável e vice-

versa. A inserção torna-se, então, não raras vezes, conflituosa, e essa

conflitualidade determina o tipo de conhecimento que se produz,

um conhecimento pouco emancipador, que

castra o diferente. É prestando a devida atenção

a este “delírio uniformizador” que Matusse (1998)

repensa a teoria sobre o Fantástico, de Todorov.

Esta teoria é repensada por Matusse em função

de determinados objectos, com os quais segura-

mente o teórico russo não contactou.

A caracterização do fantástico, segundo Todo-

rov, baseia-se na intervenção de fenómenos sobre-

naturais em condições tais que provocam na(s)

personagem(s) e no leitor implícito a hesitação

sobre a sua natureza real ou ilusória. Assim, o fan-

tástico situa-se entre o maravilhoso e o estranho .

Entretanto, referindo-se à prosa de Couto e Khosa,

Matusse adverte para a necessidade de se

“considerar a noção de fantástico numa per-

spectiva histórica, como uma noção relativa.

Com efeito, o fantástico resulta da ocorrência

de fenómenos que a experiência humana julga

como transgressores da ordem natural, tal como

essa experiência permite concebê-la. Não há,

por conseguinte, um padrão válido para todas as

sociedades e civilizações a partir do qual se possa traçar uma fronteira

entre o que é e o que não é fantástico. As nossas reflexões partem

de uma visão do mundo assente no modelo racionalista ocidental,

mas os universos retratados nas obras pertencem a civilizações onde

imperam outros modelos de pensamento, outras crenças, enfim,

outras concepções do que é a ordem natural.” – 171

A reserva de Matusse em relação à aplicação da teoria do fantástico

sobre o objecto em estudo é explicável à luz da afectividade e recon-

hecimento culturalmente estabelecida e que se desencadeia quando

o crítico entra em contacto com o objecto, o que lhe permitiu tomar

parcialmente aquela teoria, ou seja, produzir esse conhecimento

outro, localizado.

4. nhabezi, uma metáfora possívelEsse é, como dissemos, o desafio que Khosa coloca no seu Choriro.

Esta é a questão primacial, uma questão metaforicamente sugerida

pela “burla referencial”, para usar a noção de Matusse em “As poses

idescritíveis”. Com efeito, ao fim das 145 páginas do romance de

Khosa, depois de levados, por esse mundo de sabedoria a resga-

tar, pelos olhares, pensamentos e racionalidades que se cruzam e

muitas vezes se negam – porque esse o projecto – perguntamo-nos

se Nhabezi ou o branco Luís António Gregódio, depois de morto,

chegou, de facto, a transmudar-se num espírito mpondoro, nesse

“espírito de leão como outros soberanos das terras à margem sul do

Zambeze se haviam transformado e governado espiritualmente os

seus homens. Mas muitos duvidavam da real capacidade de o espírito

de Nhabezi em coabitar com outros no selecto reino das divindades

africanas.” – p.39

“ – No fundo não acreditas na mudança.

– A questão não está em acreditar. É necessário que a alma seja

aceite.

– Por quem?

– Não perguntes a mim.

– É a cor?

– Nunca um branco se transformou em mpondoro.” – p.38

Se Luís António Gregódio assimilou os valores culturais, a cos-

movisão das gentes locais com quem contactou, a ponto de mudar

o nome para Nhabezi, podia esperar-se que a tão desejada trans-

mudação ocorresse. Entretanto, a narrativa é aberta. Abre-se, pois,

entre o curso dessa aculturação e o desejo dos indígenas, de que

a transmudação de Nhabezi num espírito mpondoro se desse – e

assim veríamos concretizados, metaforicamente, alguns dos valores

de África apontados por Etounga-Manguelle: o apagamento do

indivíduo, face à comunidade; a aceitação e a canalização das paixões

(principalmente pela ritualização); uma inserção pacífica com o meio

ambiente – um espaço virtual para todas as possibilidades, pois

se o branco não permanece o mesmo, o mesmo acontece com o

indígena.

Uma dessas possibilidades seria considerar, numa perspectiva

contemporânea, que Nhabezi personifica o projecto político do Oci-

dente que vem a África “reparar os danos e impactos historicamente

causados pelo capitalismo na sua relação colonial com o mundo” . Do

ponto de vista estritamente epistemológico, a metáfora aponta para

determina antecipadamente a natureza dos problemas científicos e os tipos

de procedimentos que levam às respectivas soluções . Ora sabe-se que tais

soluções muitas vezes não respondem aos problemas colocados. Por isso

Khosa sugere-nos, por outro lado, e ainda na esteira de Granger (1955), essa

concepção romântica do conhecimento, a qual faz predominar os valores

vitais sobre os valores intelectuais , onde a acção, a emoção, a paixão,

desempenham os principais papéis. Contra a imagem duma invetigação

paciente, controlada, discutida, oferece-se o modelo de um saber directo,

indecomponível, intraduzível, onde signos como símbolo, mito, imaginação

constituirão a porta de entrada para um universo de conhecimentos que

o mundo da oralidade encerra e cuja validade deve ser potenciada. Não

há, portanto, na recusa de Tyago, um pretenso monopólio científico, quiçá

determinado pelo carácter mitológico ou pelo secretismo a que se refere o

narrador, como se poderia pensar. Pelo contrário, a epistemologia africana

há-de homogeneizar porque tudo deve estar na “nossa mente”, tornando

possível a comunhão. O acesso ao conhecimento pressupõe sempre

uma espécie de iniciação, seja qual for o paradigma e as leis que

gerem o conhecimento. Assim se entende que o monopólio científico

aqui é evocado como referência à epistemologia ocidental, de base

escrita, exclusiva, selectiva e que cria a noção de Poder. É a esta

imagem caótica, do Poder, a que o autor nos pode arrastar discor-

rendo sobre o fim último da espistemologia ocidental.

7. A imagem do Poder

A escrita, aqui entendida como metonímia de epistemologia oci-

dental, criou e vai perpetuando o Poder, a subordinação de uns, que

não sabem ler e escrever em Português, aos que detêm esse poder

e assim o conhecimento que ele mesmo produz e veicula. De facto,

a palavra grafada reclama a sua individualidade e subjectividade, e

subjuga outros tons na cadeia sintagmática. Aqui está metaforizado

o fundamento, a génese e a natureza das nações africanas, que

não se acautelaram perante estas questões de modo a potenciar

outros saberes e outras formas de os produzir, de modo a salva-

guardar o equilíbrio que a educação trazida pela colonização não

consegue. Importa destacar, entretanto, que esforços há no sentido

de empoderar o cidadão analfabeto do ponto de vista da gramática

das línguas não locais. Basta pensar-se em desafios como o Ensino Bilingue

ou em iniciativas de organizações que têm pedido proficiência em línguas

bantu a candidatos a emprego. Estes exemplos devem aguçar a nossa

atenção de modo que aprofundemos os argumentos ai subjacentes.

8. em jeito de conclusão

Ora as reflexões sobre as realidades dos países africanos saídos da dominação colonial têm sido produzidas a partir do modelo racionalista ocidental.

Os níves de desenvolvimento político e económico não lhes permitem ou quase não lhes permitem potenciar e disponibilizar as suas formas de produção de conhecimento. Pelo contrário, condicionam que estes, como referem Santos e Meneses (2009), sirvam de matéria-prima para o avanço do conhecimento científico que vem do Norte. Para estes autores, continua adiada a negação a este epistemicídio, esta supressão dos conhecimentos locais perpetrada por um conhecimento alienígena que vem do Norte, cujo projecto é homogeneizar o mundo, obliterando as diferenças culturais. Ora não parece que essas diferenças adiem a utopia do diálogo, de um diálogo emancipador. Isto é o que se pode dizer do carácter aberto da narrativa de Khosa, já atrás referido. O espaço virtual, que na última página se abre, terá de ser híbrido, o que significa que o futuro de países como Moçambique depende do intercâmbio dessas duas formas de conhecer e disponibilizar o conhecimento. Fundar o conhecimento a partir de uma visão de dentro e relacioná-lo com outras visões é emancipar o próprio conhecimento e o seu agente de produção, o Homem.

Bibliografia

GRANGER, Gilles-Gaston. a Razão. Lisboa: Edições 70, 1955.KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro. Maputo: Alcance, 2009.LOPES, José de Souza M. “Poderá ainda o Ocidente escutar a voz

que vem da África?”. In AMÂNCIO, Iris Maria da Costa (org.). África Brasil África – Matrizes Heranças e Diálogos Contemporâneos. Belo Horizonte: PUC Minas; Nandyala, 2008.

MATUSSE, Gilberto. “As poses indescritíveis - Notas sobre as Burla Referencial em Ungulani Ba Ka Khosa”. In Lua Nova - Letras Artes e Ideias. Maputo: AEMO, 2001.

MATUSSE, Gilberto. A construção da imagem de Moçambicani-dade em José Craveirinha, Mia Couto e Ungulani Ba Ka Khosa. Maputo: Livraria Universitária, UEM, 1998.

ROCHA, Aurélio. “Posfácio”. In KHOSA, Ungulani ba ka. Choriro. Maputo: Alcance, 2009.

SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009

o facto de o Ocidente estar disposto a ajudar a África a resgatar as suas

formas de conhecimento e a potenciá-las para o avanço da humanidade.

Abre-se, entretanto, a segunda possibilidade. Sugere-se então que, não

se dando a transmudação de Luís António Gregódio, apesar da suposta

inserção no meio ambiente, há uma negação ou pelo menos reserva e

estranhamento em relação à primeira possibilidade. Mas por que Khosa

colocaria possibilidades aparentemente antagónicas, a segunda tornando

inviável a primeira?

5. Para dasafiar os utópicos

Os espaços virtuais, como o que se abre na última página do romance,

serão formas de projecção de futuros? Ora Khosa sugere, ao buscar essa

História não escrita sobre o Zambeze, que o futuro não é exactamente

uma incógnita porque é feito de passados. Isto significa colocar o Homem

africano – como aliás ele próprio é a metonímia – no centro da questão

e acreditar que, afinal, África pode escrever o seu futuro a partir dessas

vozes que, não estando grudadas aos discursos dos saberes produzidos a

partir de fora, estão grudadas na mémória local. Esta ideia faz de Choriro

um discurso alegórico sobre todas as formas de produção e reprodução

do conhecimento válidas em função de contextos diversos e desiguais.

Neste sentido, parafraseando Aurélio Rocha no posfácio à obra, diríamos

que todo o conhecimento válido precisa, para a suposta validade, de algo

que não foi ou não é possível afirmar-se a partir de um certo número de

hipóteses e dados. É com esta tese que em Choriro a escrita e a oralidade

colocam-se no centro de ambivalências, hesitações e preconceitos muitas

vezes difíceis de resolver. E o grande preconceito que Choriro nos obriga

a questionar é o das “autoridades científicas”, preconceito (re)produzido

sob o influxo ideológico segundo o qual o conhecimento científico é a

única forma de conhecimento válida e que fundamenta, de forma radical,

a emergência de qualquer forma de conhecimento na escrita que aos

países africanos chega com a nau colonial, no século XIV. Sabe-se que

uma visão eurocêntrica acreditará que África passa a existir desde então.

Entretanto, Khosa desafia-nos a pensar na

6. escrita e oralidade como imagens...

O autor sugere-nos, por um lado, a escrita, o grafema, como o espectro

de uma racionalidade fixa, inflexível no que diz respeito à abertura a

outras experiências, outras esferas do conhecimento. Por isso se esfuma

no tempo, ou seja, é a imagem escatológica da epistemologia ocidental.

Sugere o autor, por outro lado, que a racionalidade africana há-de ser

deveras eclética, flexível e ritual. Por isso se renova ao longo do tempo,

numa visão mais humanista e até pragmática:

“A princípio a relação [entre Tyago e Alfai] tendeu a azedar-se por Alfai

querer registar em letra os procedimentos do fabrico da pólvora e das

gogodas, facto que irritou Tyago, pois só a ele e poucos outros, cabia

passar o testemunho, dizia o messiri. E esses testemunhos não se fixam

em letras que tremem ao vento. Tudo deve estar na nossa mente. Papéis

aqui não, Alfai, sentenciou Tyago.” – p.37

Atente-se ainda no excerto seguinte:

“A relação entre Tyago e Alfai estreitara-se tanto com o tempo que Chic-

uacha deixara gradualmente de ser o confidente próximo no momento em

que se deslumbraram com as técnicas de fabrico de pólvora e armas de

fogo. Fora lá, nas resguardadas oficinas de fogo e a mando de Gregódio,

que Chicuacha e Alfai se deram conta de outras capacidades que não

divisavam nos pretos. Rodeadas de secretismo e rituais, as oficinas de

armas e utensílios de ferro encontravam-se interditas aos não iniciados. A

elas só os iniciados por Nhabezi, Makula, Tyago e alguns mais podiam se

iniciar nas artes de fabrico de pólvora, armas de fogo e outros artefactos

letais e não letais. Tal como os que se dedicavam à caça, canoagem ou ao

comércio a actividade ferreira tinha os seus rituais” – p. 37

Depreende-se que Khosa evoca, por um lado, e na linha de Granger

(1955), aquela concepção fixista da razão científica, que rompeu com

os quadros habituais da percepção, como é o caso da “apreensão das

qualidades sensíveis individuais” dos objectos. É obliterando esta “fruição

em estado de simpatia”, ou seja, a especificidade e o contexto em que os

objectos em análise se inserem, que este tipo de pensamento científico

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JAPONE ARiJuANE - MAPuTO

Há vezes que a tristeza faz me muito feliz

Quando triste lembro a felicidade vivida

Nunca da tristeza que vivo.

Felicidade é bem compreendida

quando se esta triste

Minha vida é o lado feliz da tristeza

Auto-quotidianoPEDRO Du bOiS - bRASiL

Tê-la ao meu lado ter-me prisioneirotê-la como consolo ter-me desconsoladotê-la entre tantas ter-me sozinhotê-la no anoitecer ter-me na escuridãotê-la no que inicia ter-me sem origemtê-la como estrela ter-me sob as nuvenstê-la no esplendor do vento ter-me como calmariatê-la na amplidão do horizonte ter-me em linha traçada.

TerEDuARDO QuiVELevai a minha amada para os homens,Os meus filhos que fiquem com o

além.Levai os meus escritos para o povo,O que sobrar que seja para quem

quiser.

Na minha morte…Na minha transferência vital,Na minha derrota sob a vida,Nos meus passos pelo horizonte,Na tragédia contra a vida…Mandam-me para avenida.

Chamem a todos,Partilhem o meu corpo com os ladrões do Lhanguene,Entreguem-me aos assassinos do Cardoso,Partilhem os meus escombros com o além que levou Craveirinha,Com a desgraça que engoliu as palavras do Amim,

O resto…O resto fica com o inferno.

Na minha morte,Poupem-me das omelias do padre João,Poupem-me das lágrimas que a mim não estarão a chorar,Não quero honras de ninguém,Nem nada…

Quero apenas morrer.

Metam-me com urgência na terra faminta que me vai comer com gosto.Entreguem-me de imediato a justiça divina.Bem longe de mimDistante do colo da minha mãe,Abandonado pela poesiaE Engolido pelo silêncio profundo.

Quando eu morrer…

cELSO FOLEgE - MAPuTO

Involuntariamente o título causou susto!Será alguma guerra?É mais uma de “ n “ batalhasEm que flechas são poderosas armas?

Não!Hoje são poderosas estrofes, rimasNão! Aqui as vitimas não são físicasOs alvos não são específicosAqui as vitimas são aleatórias Os danos, nem sempre catastróficosdependem do grau de cogniçãodos destinatáriosos alvos são todos racionaisMeus com-planetários

Aqui não há cessar – fogoPorém, há um contágio de fogoPara atingir até os mais carenciadosAqui as tácticas de combatesSão excertos de todos poetas citadosTodos poemas publicados Todas obras – floresOnde outros poetas sugam polémComo se abelhas fossem A poesia, arco e flechasArco permanece na alma do poetaFlechas são versos – balas perdidasA elas todos somos potenciais vulneráveisPois temos uma infinidade de inarráveis anomalias psíquicas, fendas comportamentaisAqui não há excepções, em becos ou avenidas Minguamos desses golpes, como mendigos da gorjeta

E então! O que quer o poeta?Conseguirá ele moldar o planeta?Se essa for a sua utópica meta?

Não, o poeta não irá moldar o planetaSeus escritos são delegados dessa missãoO poeta é apenas a canetaInstrumento sólido e variávelImporta mais o conteúdoQue é a força motrizPara arrancar cada anomaliaPela sua basilar raiz.

Arco - FlechasEricson Maque - Lichinga

Somos dois…Existo para…Não existo sem…

Nascemos alguresNem antes nos conhecíamosJuntos lá vamos

Nas escuras da incomensurável ambiguidadeDas nossas vidas, vão os nossos desabafos.

recolha do texto: Mukurruza

Tu e eu…

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no rEcanto dE apoLo...Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8

AMéLiA MATAVELE - MAPuTO

Nos em que nós não existíamosMinha terra já estava aquiVieram brancos, amarelosCor-de-rosaMas meu avô pretoJá existia aqui!

Naqueles tempos não andava-se de chapaMas caminhava-seNão tinham as exploradoras tecnologiasQue hoje chegam aos nossos cabelos Eram vivos e saudáveisTenha certeza, senão não existíamosViviam sem sofrer os quinze meticais do chapaEram escravos de alguémMas, sim eram felizes.

Não como nósSomos escravos da tecnologiaQue nos explora sem motivo Somos esmagados por raios de tristezaE ares de insatisfaçãoAh! Nos dias em que nós não existíamosAté o mar estava aliviadoAgora até ele diz ao sol, a lua e as estrelas“ Quem me dera se regressássemos ao tempo em que eles não existiam”!

Nos dias em que nós não existiamos

MuKuRRuzA - LichiNgA

(A um povo humilde por aí…)

IMaldito tempo difícil,Soam balas encravadas nas paredes,Acordam banhadas de sangue no rosto.É terrível sacrificar se pela humanidade escolhida!

IINo irreparável cuspo da guerra,Há um denomino que lhes encheDe tristezas e lágrimasDe caras secas e pálidas!

IIIDe suor nudezDeita (se) milhares pelo avermelhado chão.E tudo em volta fica encarnado!

IVPátria se atormentaE de baixo de sol escaldanteVai o povo sonhando liberdade!

Que culpa temos nós?

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gRuPO DO FAcEbOOK: hTTP://www.FAcEbOOK.cOM/hOME.PhP?SK=gROuP_185846178099556&AP=1

“canto da poEsia” Terça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9

Aconchego DAViD gAbRiEL NhASSENgO

O meu aconchegoSeria agora em teus braços,Onde em infinitos abraçosSe perpetuava o meu sossego. Mas não, o teu abandono foi integralDeixando-me aqui sem norteE sem o amaldiçoado oriente.uma desgraça total. busco agora o meu confortoNestes galhos do alémQue maldosamente penetram-meE fazem de mim mais um corno. Privado do todo,órfão de afeição,carente de paixãoE dono deste, amor desgraçado Sinto até o universo a fechar,A esperança a abrandar,O horizonte a desaparecer,E o destino a morrer. Tudo, mas tudo mesmoPor conta deste momento,cuja carência é de sossegoQue me obste o desespero. Necessito, poisSe não mais de um abraçoQue me traga hojeA paz. A paz, e o amor.Meu aconchego!

Labirintos por entre pensamentos ALMA DESALMADA E gRADíNiO ESPiNhO

Nos misteriosos bairros da minha mente Murmuram vozes estranhas Vozes dessa alma desalmada que nos mesmos vive Manda-me escrever tudo quanto ela me diz Sem medo de escândalos dizer. Nem sequer mentes humanas desfazer.

Algo envolve-me na sapiência de mil silêncios Fala as falas que falo na dança do papel e a caneta Sou eu? Me desconheço nos reflexos da minha alma Quem fala? Meu olhar se esconde nos labirintos, alguém me empresta versos Sim! há quem me desenha palavras na s0mbra da consciência.

Esses versos que te são emprestados Me são também emprestados Por uma alma sem alma uma alma que nem sabe a origem da sua existência Que às vezes sabe nem sequer se existe come-me os dedos essa misteriosa alma Nas noites quando se torna o silêncio mais silencioso Possui-me e grita vozes assustadoras nos bairros na minha mente. Essa alma que me desata as vestes do pensamento Me prende na loucura de não ser, talvez! Faz-me cativo dentro em mim, assombrando-me suas vozes sem melodia Ai se eu soubesse... Talvez me alça verdade de outros ventos ocultos Está em mim, sou eu, me procuro, não estou em mim, quem sou? há labirintos em meu pensamento onde um silencio passa e deixa um poema.

Poema do parvo

EDgAR bAROSO

A aurora desenha-se na projecção ortogonal do meu dia e os meus pensamentos se assentam num disco qualquer dessa memória vespertina. Deslizo um lápis vazio de sorrisos na infinitude desse momento tentando conceber um plano estratégico funcional que te traga para as minhas noites inférteis, do mesmo modo que eu roubava nacos de frango na panela da minha infância e ninguém descobria... Não o consigo. Tu és muito leite para estas manhãs de austeridade uma espécie de mel para a escuridão desse futuro sem ti e isso ainda me assusta. A tua vida é uma ferida perita em construir nós de frustrações na garganta da minha ânsia de felicidade e eu sempre fujo para ti.

heresiasANDERSON FERREiRA

Santificai o poder dos fracos Santificai a fortaleza dos fracos Santificai a criatura, que com olhos turvos Espreita por trás das pedras de argamassa e cimento São os olhos do fraco São os olhos do rei A coroa é a sua virtude A obediência é o seu escabelo Santificai o poder dos fracos Dos gladiadores franzinos Dos que governam a multidão Santificai o poder dos fracos Dos coroados Dos eleitos Dos predestinados. Santificai a tua covardia e serás eternamente santo, escravo, santo, escravo!!

ironia da vida VicENTE SiTOE

Primeiro nascemos com muita pressa, ao mundo viemos Provamos a doçura do pecado gostamos. Passamos a pecar sempre como se tivéssemos vindo para pecar Depois vamos à escola Decoramos fórmulas e uma teoria “...lutar até à vitória” Ensinam-nos o sentido da vida Trilhamos os passos dos outros Nos refugiamos na igreja Repetimos versículos “Amai-vos uns aos outros...” porque o amor vale a pena Este é o caminho certo da vida cada qual segue a sua vida Mas a do um depende da do outro Não somos independentes Somos apenas livres Mais livres para morrer do que para viver Primeiro cavamos a terra para enterrar a semente que produz comida Depois cavamos para o nosso próprio enterro E quem nos enterra, depois lhe enterram também - Esta é a ironia engraçada da vida

NicO hiLTON TEMbE

Nascera do primeiro olhar destemido A mais linda esperança de a conhecer crescera do mais belo sorrir recolhido há trilhas de suas palavras tecer inspirara meu sentimento adormecido Algures num tempo esquecido há milhas do seu perecer Me enchera de emoção E me deixara encarnado numa paixão Rubricada na face do meu olhar cronicada em cada cruzar do seu andar incitará em chamegos meu coração Ao longo do meu sólido caminhar Musa moçambicana de estilo natural inconsequente jeito de furtar meu delírio emocional Que brusca busca a verdade em minhas palavras ubíqua se faz parecer em pensamentos indescritível ausência semântica em seus tormentos Da dádiva e incontestável certeza dos seus sentimentos Antecedidas de escravas insinuações de juramentos Da sóbria e enlutada paixão que se fez banal

é com mero prazer que lhe sirvo meu juízo final

Nadira …ARThuR DELLARubiA

és tuA tal pessoa que completa a metade da minha laranjaO espírito que revive a minha a almaés tu, o caminho que me conduz a casaDa minha crença és a santa

és tu, minha doce amadaA areia que brilha em minha praiaA flor que de paixão em pétalas rosadasés tu, o muito do meu pouco que completa o meu nada

és tuMeu amor incondicionalA coisa mais certa e lógica que me põem irracionalA verdade que nunca será mentiraés tu nadira…

coração em LeilãoJESSEMuSSE cAciNDA - NAMPuLA

Quero dispir verdades com a minha caneta Quero este poema recitar em todo planeta Eis que sabereis vós que é a procura de perfeição Que vou mesmo leiloar o meu coração

Mereço ser completamente amado Como os Deuses altamente adorado Sem limites considerado Como qualquer, um respeitado

Vou pô-lo em leilão O meu espiritualista coração Não me num simples louvor Mas este coração vai para quem me der mais amor

Em vossas mãos entrego este coração Dêm muito amor porque está em leilão Procura duma moça amadora Que neste circuito de leilões será sem dúvidas a vencedora

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colocar sua mão à testa e no fim de beija-lo a testa, eu, só peguei-lhe os

pés para sentir seu frio pela última vez, senti uma energia.

Liguei ao meu primo, o Nhacila.

« Posso imaginar. Amanhã estaremos ai para prestar a última e merecida

homenagem a um homem que marcou, ao seu estilo, a passagem pela

terra. E, foi primeiro irmão de minha mãe, depois grande amigo do meu

pai e, finalmente, meu tio e amigo também. Que Deus ilume-ne seu último

caminho. Paz a sua alma.»

Mas a noite não passava, puxei da chavena cheia de uisque que levei na

capital para tirar o frio nos meus muscúlos e puxei uma pergunta familiar

ao meu tio-SISE, Paulino, primo legitimo e grande amigo do morto, não

esquece nada esse. Começou elogiando o morto, recordando o período

que os dois enfileiraram o serviço militar e tiveram distínos diferentes

depois da independência, recorda a data de 1977 quando o governo novo

o mandou para organizar a secção dos recursos humanos e financeiros

dos CFM, região Norte e Centro até o momento em que eu nasci em 81, e,

mas não ouvi porque os olhos estavam fechados. Era uma noite lugrube

como a planície deserta.

O burro zurra, as vacas não mungem, às cinco da manhã, os galos já

procuravam as vitaminas na areia fria, do nosso espaço residencial, as

mulheres já preparavam a cozinha, os homens variam o quintal, mas

pessoas chegavam de vários cantos com lenha a mão, as mulheres, os

homens com a cara triste.

A viúva da mas um suspiro de tristeza, as companheiras auxiliam no

choro, o tio-avó Zé, já falei quem é, chamou o velho Costa, lider comuni-

tário do povoado, este sim está nas últimas, o velho-morto é que fazia os

relatórios políticos, escrevia as preocupações da população e os verbos

da ordem para usar nas reuniões municipais, nas reuniões com a classe

politica chibutense, este sim estava incauto e com raiva da morte céptica

que o velho levou, veio ao centro do povoado ordenou ao pastor que

pronuncia-se o Salmo 8 em tempo de angustia. Choros, grito, angustias,

incertezas. Espanto tive, a minha irmã-prima Albertina, filha da minha tia

Ana, irmã do velho-morto, mais velha, irmão do meu primo Nhacila, os

dois subreviventes da família Zunguza, ela já não é porque casara, não

mostrou-nos aqueles choros insurdecedores que demostrava sempre

nos vários velórios próximos que a família já teve, aprendeu a chorar, por

vezes quando vinhamos, atirava-se ao chão só de ver as pessoas sentadas

tristes e sempre a tia Marta, irmã do velho-morto, adotiva do meu avó

André Dimande, era a única que a consolava.

Dentro da cubata, descansava o velho-morto. Entrei eu, meu tio o Rhifo,

o mais novo do clã, o que sobrou, o meu tio-avo Zé, o meu tio-SISE e mais

dois velhos sem recordação na minha mente. Queria tanto carregar a

campa do velho-morto para lhe pestar a última homenagem, mas o tio-

SISE, pronunciou na sua voz que há procedimentos que eu e o meu tio,

os mas próximos que ali estávamos não deviamos. Raiva. Fúria. Foi o que

abalou a minha mente e a do meu tio-padrinho, o mineiro da família, pai

do Mufundise Derick, Tamara, Júnior e Jennifa, é meu tio-padrinho porque

quando fiz o baptismo em 97, no dia fatídico da princensa Diana de gales,

ele e a esposa foram os que mim apadrinharam, e orgulhosos estão até

hoje, porque fui o único sobrinho baptizado no clã Dimande.

E assistimos os quatro homens carregando o velho-morto para fora,

os que nós os dois fizemos, foi colocar quatro cadeiras junto a multidão

que o via no quintal em frente a cubata. Abri o caixão. Vi outras vez o

velho-morto naquele fato, tinha no meu bolço castanho, aquele que levo

sempre quando vou a boa vida nocturna da capital, aquele meu casaco

de algodão, castanho e um azul escuro nos braços, tinha um frasco de

perfume para o morto-velho de marca Sandra. O cheiro era forte. O

líquido era muito castanho, quase escuro. A dureza da garrafa era forte.

Tirei do bolço e passei ao meu tio-SISE. O pastor leu o Mateus e pediu que

se entoa-se um cântico enquanto os mas próximos vissem pela última

vez o velho-morto e joga-sem o perfume de morte. Primeiro foi a minha

irmã, depois o tio-SISE, depois a minha mãe, não a viúva, a minha mãe

foi casada com o velho antes de eu vir ao mundo, quando eu vim não

durou muito e já estavam separados. Por azar ficamos na província do

centro entregues a ela só ou ao velho já não sei quem, porque quando o

meu tio-aviador, porque trabalha nas Linhas Aéreas de Moçambique e era

piloto militar, o Feliciano, disse-me no domingo terceiro que o velho jazia

na cova, que quando os meus pais separaram-se ele como levava-nos a

passear no ar, levou-nos de volta a capital. Esta parte da história já não

me interessa saber, o que sei é que o tio-aviador trouxe-me a custo zero

no voo das LAM ou da força aérea. De seguida minha tia Filomena, minha

prima Mariazinha, filha da tia Filomena, duas mulheres cujo nomes não

conheço, quatro outras pessoas com o mesmo problema de nomeclatura,

minha prima-irmã de verdade, foi durante vinte dois anos minha prima e

frequentávamos o mesmo cenário familiar tanto pela parte materna assim

como paterna, a mãe é irmã do meio da minha mãe, até ao dia em que a

minha prima Sónia ou mana Sónia com a boca cheia de raiva do convívio

usando os temas novelescos, pronuncio diante de mim e da minha irmã

que ela a Tina era, não é minha nossa irmã, filha do velho-morto

CONTINUA

precisas de força e coragem, nos torcemos para superar tudo é duro mas é a realidade.

(Mãe da Flávia)12.47h

Quando será o inteiro. Estas bem.

Sinto muito e nem sei como consola-lo

neste momento. Beijo

(Nucha) 19.34h

O meu sentimento pelo ocorrido.

Deus é que sabe quando e como.

(Dr. António Saíde)

Que as portas da vasta planície se abram

a mente que deixou raízes férteis

e vigorosas nestas terras em muito adustra.

(Ungulani Ba Ka Khossa) 06.23h, 17-06-11

Livanine pregava no seu tempo que o homem

veio de pó e de pó ele voltara.

Paz a sua alma

e que Deus lhe de um eterno descanso na terra que o viu nascer.

(B. Rungo) 07.14h,17.06.11

A viajem até a planície fértil de Chibuto era triste, no rosto dos pas-

sageiros familiares via-se tristeza, conversávamos de tudo, recordávamos

algo do morto.

A palavra morto, será usada ao longo da escrita no seu devido sentido,

nada de pai, talvez velho, e nada de sobrenome que carregava, porque

a palavra deve assim ser sentida.

É noite. Os cânticos cristãos evocavam tristezas, o Salmo inteiro em

tempo de angústia acompanhavam a missa nocturna, as palavras de São

Mateus em seus versículos fúnebres substituíam o Salmos, as mulheres

mas choravam, os homens mas roncos ficavam e nós em volta da fogueira

aquecíamo-nos do frio bebendo do uísque que trouxemos da capital.

O morto descansa no seu quarto, na sua campa, na sua cubata, vestido,

trazia um dos seus fatos castanhos claro, camisa rosa clara, gravata as

riscas castanhas e um preto ao fundo, as cores combinavam, nos pés

um par de meias ou peúgas, os calçados da civilização ficaram. Tive a

oportunidade de o ver na noite em que chegamos, eu, minha tia, meu tio-

padrinho, meu tio-avo Zé, fomos convidados a entrar na sua cubata para

ver o estado do morto e dar sua última despedida sem aquele agregado

populacional a lutar para o despedir.

Coberto de um lençol branco que minha tia Luisa Dimande ou Lulu

como carinhosamente a chamo, comprara no mercado central do Chibuto.

E a elegância foi-lhe imposta por um sobrinho dele, filho de um tio meu

de nome António. Foi ele que o recebeu após chegar do hospital. Veio

numa carrinha toyota Hilux branca, de um tal professor local chamado

Eduardo, cujo valor do serviço foi de duas notas de duzentos e pagas pelo

meu tio-padrinho no sábado em que fomos a vila comprar mantimentos

e a Estrela, esposa do meu meio-irmão, o tomador Ofélio que tanto quer

ser mais velho em relação a minha pessoa, apresentara-nos quando se

saudaram. Ela como mulher foi na nossa companhia para escolher os

melhores trazes pretos para a viúva do velho. Compramos uma blusa

de mangas compridas, por ser inverno, uma saia e meia-saia preta de

tecido fino, uma capulana e lenço do mesmo tecido. Para terminar umas

sapatinhas pretas de atacadores, as sem atacadores não encontramos.

Então foi ai que conhecemos quem transportou o velho e transportou-

nos de volta a aldeia depois do copofônico entre eu e meu tio-padrinho.

O velho-morto antes de ser transportado passou as últimas noites de

suspiro antes de ir ao hospital em casa do meu avo-tio Zé, já falei do

meu tio-avo? É irmão de um tio meu que o conheço bem, o tio André

que trabalhava na Interfranca, aquela loja que localiza-se na Av. 24 de

Julho, em frente as bombas da Total, aquela loja onde na era colonial só a

classe branca entrava, nós só depois do Samora é que passamos a comer

o alimento dali, essa que hoje tem outro nome, o capitalismo vendeu, e

vinha sempre aos domingos visitar-nos, quando eu ia a casa dele, lá nas

bandas do muro da Universidade Eduardo Mondlane, sempre servia-me

maçã da cooperativa e refresco em lata, filhos de um irmão do meu avó,

pai do morto, que a muito está sentado ao lado do seu pai Noa Dimande

e sua mãe Marta, nós a chamava-mos vovó Marita, sem se esquecer da

sua querida esposa Nocitina Dimande. É de mim orgulhar que todos se

casaram oficialmente com direito a uma missa na igreja União Baptista

de Moçambique, inclusive o morto.

O meu tio-avó, este sim é quem deveria ter a face inchada de lágrimas,

viveu os últimos três dias de delírio com o morto, preparou sua papelada

de morto e levou-o as terrras onde jazem os outros.

A noite está fria, os escorpiões não se atreveram a sair das suas tocas e

invenenarem-nos. O morto descansa, quando cheguei a Vacanhecanhe

fizemos uma reza ao morto, abri o caixão, autorizado, vi a face branca do

preto do velho-morto, um fio de lagrima molhou a minha face em orbita

quando vi minha irmã contorcendo-se de choros. Ela teve a coragem de

Em outras paLavrasTerça-feira, 02 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 10

A Décima Primeira CampaDJOKANhANE *- MAPuTO

A voz era trémula, gritava em voz morta de auxílio, as lágrimas desliza-

vam no seu rosto negro, os braços tremiam, o roncar vindo do telemóvel

anunciava tristeza.

« O pai faleceu...»

Foi a última parte da frase complexa que memorizei naquela manhã

fatídica.

Discerni a mente, recordei de tudo com o velho, balbucieie, chorei dois

minutos depois, rebentei a parede na inocência da raiva.

Caminhei quarteirões, três, ao encontro da minha irmã, abracei-a,

segurei as lágrimas para poder conter o cenário.

Veio uma mulher, um homem, um jovem, e todos traziam caras tristes

e carregadas de raiva da palavra morte.

Ao fim da tarde juntamo-nos para fazer o plano fúnebre em casa da

minha irmã.

A notícia espalhou-se como aves em tempo de reprodução na estação

certa.

«Livanine morreu na manhã lusco-fria da quarta-feira, as 6h35minutos,

na sua terra natal, deitado na cama de um hospital local aos cuidados

médicos, depois de três dias de internamento. Morreu, num dia quinze

do sexto mês do ano, como morrem todos os heróis, de olhos fechados,

sem dor, sem raiva da planície que o vi-o nascer e guerrear as vicitudes

da vida, morreu como ordenam as leis da natureza para dar lugar a outra

espécie, morreu e ocupou um lugar no cemitério familiar, onde jazem os

seus descendentes.»

Morreu depois do seu aniversário número cinquenta e oito, um mês

depois.

Palavras sobre a sua morte

Dinis/Mãe/Izidro. Sejam fortes neste triste momento!

Estou convosco. Abraço-vos.

(Salvador Ganhane)11.49h - 15.06.11

Meus pêsames Izidro.

A vida tem de continuar.

(Ungulani) 12.28h 15.06.11

Meu caro amigo e sócio, as minhas sentidas condolências

a família enlutada. Paz a sua alma que descance em paz

(Cândido Mahalambe)12-16h - 15.06.11

Meus pêsames.

(Dr. Carlos Quembo) 12.07h

Meus pêsames. Abraços. Estamos juntos.

(Da Costa) 12.05h

Meus pêsames a família enlutada. Vais ao enterro?

(Justino Fumo) 12.10h

Deus dá, Deus leva!

Meus sentimentos

(Imaculada) 11.24h

Os meus sentimentos amigo.

Muita força, saiba que pode contar comigo.

(Zacarias Mabote)11.16h

Meus sentimentos e muita força ai.

(Aires Mabote)11.14h

Os meus profundos sentimentos pelo sucedido,

muita força meu camarada,

quando e onde serão as ezequias fúnebres.

(Júlio Mulate) 11.13h

Tomamos conhecimento do acontecimento,

seja forte e corajoso.

Os nossos profundos sentimentos. Sinta a nossa presença.(Estagiária Bia) 8.04h

Bom dia padrinho, meus pêsames.

(Nunucha) 8.01h

Flávia e família, apresentam as sentidas condolências. Neste momento

À mim mesmo que as lágrimas derramei

na manhã da 4ª feira, às 7.20h

À minha irmã, que conversou com o morto

no dia último da sua visita, e, teve

a ousadia de noticiar-me às 7.18h

À viúva que o cuidou em vida até a morte...