literatas nº 20 - 2012

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Literatas Director: Nelson Lineu | Editor: Eduardo Quive | Maputo, 02 de Março de 2012 | Ano II | N°20 | E-mail: [email protected] PROPRIEDADE DO Rita Dahl “Escrevo textos Híbridos” EntrevistaPáginas 8 e 9 Acordo Ortográfico entre o aceitar e o ignorar Portugal Lançado nesta sexta-feira em Luanda

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Leia-nos na pg 10. "Conto Poético da Loucura Infantil" e "Sobre o Fim do Mundo em 12-12-12".

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Page 1: Literatas Nº 20 - 2012

Literatas Director: Nelson Lineu | Editor: Eduardo Quive | Maputo, 02 de Março de 2012 | Ano II | N°20 | E-mail: [email protected]

PROPRIEDADE DO

Rita Dahl

“Escrevo

textos

Híbridos” Entrevista—Páginas 8 e 9

Acordo Ortográfico entre o aceitar e o ignorar Portugal

Lançado nesta sexta-feira em Luanda

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Depois duma incursão pela objectiva…

H á uma coisa que sempre nos preocupou entre nós – cá entre nós - (se

assim pode-se dizer): Afinal, o que se passa com a Literatura Brasilei-

ra?

Antes que entremos em saturantes linhas de reflexão, não se trata de “um pro-

blema” que a literatura daquele país enfrenta, mas é a sua grandeza que nos faz

questionar. Agora pode-se reformular a questão: que segredos norteiam a bem-

feição da literatura Brasileira?

É que esses brasileiros são bons para receber prémios. Agora foi a vez do Madala (velho) Rubem

Fonseca que arrancou (e diz-se em Changana, barrabatissou) dos outros escritores de língua por-

tuguesa, o Prémio Casino da Póvoa, inserido no Correntes d’Escrita, edição 2012. Estamos a falar

de um prémio que vale 20 mil euros que eram cobiçados por outros grandes cérebros da escrita,

como Teolinda Gersão, Maria Teresa Horta e Hélia Correia.

Perante os factos, resta-nos dizer como eles: “só falta o Prémio Nobel para o Brasil”. Uns recla-

mam-no para Manuel Bandeira e Carlos Drumond de Andrade, outros para Jorge Amado, este

último a ser digno de uma homenagem pelo seu centenário, iniciativa para qual a nossa revista

também contribui. Quanto a isso, só nos vale dizer que tudo tem hora certa para acontecer. Um

prémio não se reclama, ele nos é dado por merecer.

Já em Angola, Roderick Nehone, lança para as ruas de Luanda ou até dos Musseques (favelas), “O

Catador de Bufunfa”, uma necessidade imediata de se evacuar da terra a preguiça e ir-se atrás

duma via para se ter dinheiro. Pena que Maputo só precisa de Catadores de Lixo!

Contudo Nehone, que é jurista de profissão e exercendo actualmente o cargo de Vice-presidente

da União dos Escritores Angolanos (UEA), está decidido a enriquecer a literatura do seu país, mas

sem substituir “O Ano de Cão” obra que lançara em 1998 e que será posta novamente em circula-

ção.

Mas o grande assunto mesmo, nesta edição vigésima, é a “perturbadora” conversa com Rita Dahl.

De Maputo, galgamos até Finlândia e com os depoimentos desta escritora, passamos a desmistifi-

car os rótulos literários desse país onde a lusofonia se faz sentir. Uma entrevista inspiradora. É

caso para dizer que a lusofonia é diversidade na plenitude. Na altitude. Na literacia e na tertúlia.

Assim celebramos o retorno às edições mistas, depois duma incursão pela objectiva.

Vem mais novidades por aí, mas vender peixe a barato não é de bom feitio, por isso, deixemos

para as próximas páginas tais novidades. Até lá.

Eduardo Quive

[email protected]

Editori@l

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Destaque S E X T A - F E I R A , 0 2 D E M A R Ç O D E 2 0 1 2 | L I T E R A T A S | L I T E R A T A S . B L O G S . S A P O . M Z | 3

Notícias

Rubem Fonseca vence Prémio Literário Casino da Póvoa

O brasileiro Rubem Fonseca foi distinguido com o Prémio

Literário Correntes D’Escritas | Casino da Póvoa pelo seu

livro Bufo & Spallanzani, uma edição Sextante. O prémio foi

entregue no sábado, 25 de Fevereiro, na Sessão de Encerramento do

evento, às 18h30. Bufo e Spallanzani é, segundo a editora, «um livro

de perfil policial com muita literatura dentro: uma mulher da alta

sociedade aparece morta, tem uma relação com um escritor que está

escrever um livro, o detective é uma espécie de Columbo e o marido

um rico mafioso. Vários suspeitos, uma história complexa, lírica e

dura».

José Rubem Fonseca nasceu a 11 de Maio de 1925 em Juiz de Fora, em

Minas Gerais.

É formado em Direito, tendo exercido várias actividades antes de dedicar-

se inteiramente à literatura. Em 2003 venceu o Prémio Camões, o mais

prestigiado galardão literário para a língua portuguesa, uma espécie

de Prémio Nobel para escritores lusófonos.

As obras de Rubem Fonseca geralmente retratam, em estilo seco e direc-

to, a luxúria e a violência urbana, em um mundo onde marginais, assassi-

nos, prostitutas, miseráveis e delegados se misturam. A história através da

ficção é também uma marca de Rubem Fonseca, como nos roman-

ces Agosto (seu livro mais famoso) em que retratou as conspirações que

resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, e em O Selvagem da Ópera em

que retrata a vida de Carlos Gomes, ou ainda A Cavalaria Vermelha, livro

de Isaac Babel retratado em Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos.

Criou, para protagonizar alguns de seus contos e romances, um persona-

gem antológico: o advogado Mandrake, mulherengo, cínico e imoral,

além de profundo conhecedor do submundo carioca. Mandrake foi trans-

formado em série para a rede de televisão HBO, com roteiros de José

Henrique Fonseca, filho de Rubem, e o actor Marcos Palmeira no papel-

título.

Outros vencedores

1.º – “O sonho do professor Jorge”, da turma SP do 4º. Ano da Séction

Portugaise du Lycée de Saint-Germain-en-Laye – França

2.º – “Martinho descobre que as mãos que falam”, da turma E da EB

Bairro Duarte Pacheco, S. Victor, Braga

3.º - “No Reino da Alfabetária”, da Turma B da EB1/JI Condes da Lou-

sã/Damaia – Amadora

Menções Honrosas

Texto: ―Um Feiticeiro Infeliz‖, da Turma 4B da Escola Comendador

Ângelo Azevedo, de S. Roque – Oliveira de Azeméis

Ilustração: ―Futebol Planetário‖, da Turma 4D da EB1 n.º 1 de Sines

Roderick Nehone lança “O Catador de Bufunfa”

O livro a ser apresentado por Sílvia Ochôa Arez e João Melo, este

último jornalista, escritor e ensaísta, retrata a história, contada em

primeira mão, de Nazaré dos Relâmpagos de Abril, um estafeta e

autodidacta, que pede uma licença sem vencimento no órgão público em

que trabalha, para tentar a sua sorte como trabalhador por conta própria.

Semanas depois,

sem conseguir um

novo emprego

regular, quando

começou a faltar

até o pouco a que

já se habituara, o

homem se desespe-

ra e vê não chegar

luz alguma no fun-

do do túnel em que

se aventurara.

Decide então

tomar de assalto a

rua em busca de

ideias, já que quase

nada tinha para vender e muito menos para comprar. Quando lhe parecia

não poder agarrar sequer a última esperança ambulante na multidão, um

vendedor de rua mostra-lhe um lugar onde poderia encontrar as ideias que

procurava.

Apesar de estupefacto,

incrédulo, Nazaré entra, e

o que lá acontece faz com

que a sua vida mude para

sempre. Deixando-se

levar pelo sensível farejo

do seu nariz, o homem

começa a intermediar sem

pruridos morais os mais

esquisitos negócios até

finalmente converter-se

numa pessoa que conse-

gue sustentar-se, com

confiança, sobre os seus

próprios dois pés, os de

carne e ossos e os dos

negócios.

RODERICK NEHO-

NE, pseudónimo de Fre-

derico Manuel dos Santos

e Silva Cardoso, nasceu

em Luanda, Angola, a 26 de Março de 1965. Em 1989 concluiu a

Licenciatura em Direito na Universidad Central de Las Villas, Cuba, e

foi docente da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, de 1991 a

2004. É membro da Ordem dos Advogados de Angola e Vice-

Presidente da União dos Escritores Angolanos.

Livro lançado Hoje as 18:30 minutos na União dos Escritores Angolanos, em Luanda. Na ocasião será posta em circulação a nova edição de O Ano do Cão (romance de consagração, 1998), do mesmo autor.

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Destaque Notícias

D epois de ―Escritos no Ônibus‖ livro lançado em 2010, o escritor Jairo Cézar trás para a Literatura Brasileira o seu mais recente trabalho intitu-

lado ―Rapunzel e outros poemas da infância.

Programado para estar nas mãos do público a partir do dia 17 de Março, o livro a

ser lançado na última hora da tarde, na Livraria Leitura, no Manaíra Shopping, em João Pessoa, é composto por 25 poemas escritos para o público infantil e,

aliando a alma aos interesses dos bons olhos, a obra conta com ilustrações colori-

das de Tônio e João Baptista, por sinal, o pai do poeta. Assim, Jairo Cézar, reafirma o seu compromisso com a arte de escrita, trazendo a

sua criação poética ―fingida‖ para o imaginário mundo infantil, com a apresenta-

ção, no acto de lançamento, da professora e Crítica literária da Fundação Nacio-nal do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba, Neide Medeiros.

A poesia de Jairo Cézar em ―Rapunzel e outros poemas da infância‖ vai desde a

releitura de grandes clássicos infantis até aos animais que povoam o mundo fan-

tasioso dos pequenos e pequenas. Rapunzel tem prefácio do professor Fábio Viei-ra e conta ainda, com depoimentos de Sérgio de Castro Pinto, Águia Mendes,

Rinaldo de Fernandes, Linaldo Guedes, Fábio Cardoso, Roberto Denser, entre outros.

Segundo o autor, o livro foi concebido para ser uma ponte para outras leituras,

pois provoca o leitor com poemas curtos que descrevem cenas recortadas de

histórias como Rapunzel, os Três Porquinhos, Pinóquio, A Bela e a Fera etc.

Biografia

Jairo Cézar é escritor e professor. Nasceu em João Pessoa em 1977, mas é

radicado em Sapé desde os primeiros dias de vida. Lançou, em 2010, Escritos no Ônibus, livro de poemas que levou o prémio Novos Escritos da Fundação

Cultural de João Pessoa – FUNJOPE. Em 2011, foi um dos vencedores do

Prémio Nacional Canon de poesia, pelo poema O Maestro, e integra antologia com mais 49 poetas de todo país. Foi o primeiro director do Memorial Augus-

to dos Anjos em Sapé, realizando trabalhos voltados à formação de leitores.

Edita o blog literário http://escritosnoonibus.blogspot.com/ e mantém forte

actividade cultural através do Núcleo Literário CAIXA BAIXA, grupo de jovens escritores paraibanos, do qual é membro fundador.

“Rapunzel e outros poemas da infância”

Com um desagrado

pessoal ontem confes-

sado durante um pro-

grama da TVI face ao novo acordo ortográfico e

à forma como foi conduzida a sua implementa-

ção, o secretário de Estado da Cultura admite

que até 2015 cada um use o português escrito

como muito bem entender, dentro das possibili-

dades abertas entre a velha ortografia e o novo

acordo.

―Gosto de algumas regras, outras não. O proces-

so não foi bem encaminhado. O acordo ortográ-

fico está em discussão há 20 anos. Discutiram-

se as coisas à última da hora‖, lamentava o

governante.

Depois, defende Viegas que, sendo ―do ponto de

vista teórico (…) uma coisa artificial‖, a orto-

grafia pode ser alvo de trabalho: ―Portanto, podemos mudá-la. Até 2015

podemos corrigi-la, temos essa possibilidade e vamos usá-la. Nós temos que

aperfeiçoar o que há para aperfeiçoar. Temos três anos para o fazer‖.―O que

é bom considerar é o seguinte: do ponto de vista teórico, a ortografia é uma

coisa artificial, provavelmente, e portanto, se é artificial, nós podemos mudá

-la. Mas temos uma vantagem. É que até 2015, podemos corrigi-la. Temos

essa possibilidade e eu acho que vamos usá-la‖.

―Temos de aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar. Temos algum tempo,

temos três anos para o fazer‖

Um dos casos que nos últimos tempos voltou a colocar o acordo ortográfico

nas páginas da atualidade foi a decisão do recentemente nomeado presidente

do CCB (Centro Cultural de Belém), Vasco Graça Moura, de mandar retirar

o corretor ortográfico dos computadores da Fundação CCB.

Já se sabia a posição de Vasco Graça Moura em relação ao acordo. Agora, o

presidente do CCB conta com o apoio oficial do Governo: ―Os materiais ofi-

ciais do CCB obedecem à norma geral que vigora desde 1 de Janeiro em

todos os organismo do Estado. Vasco Graça Moura, um dos grandes autores

da nossa Língua, escreverá como lhe apetecer‖, sublinhou Francisco

José Viegas.

―Vasco Graça Moura é uma das pessoas que mais refletiu sobre a ques-

tão do acordo ortográfico. É uma das pessoas que mais se empenhou no

combate contra o acordo, em termos pessoais. Vasco Graça Moura é um

grande criador da nossa língua‖, acrescentou, para considerar

―absolutamente ridículo que várias pessoas que não têm qualquer inti-

midade nem com a escrita, nem ortografia, nem com a nova, nem com a

velha, terem vindo criticar e pedir sanções‖.

Fazendo uso da ironia, o secretário de Estado da tutela lembrou que

―todos os portugueses têm a possibilidade de escolher a sua ortografia.

Não há uma polícia da língua, há um acordo que não implica sanções

graves para ninguém‖.

Dava Viegas o exemplo do seu próprio caso, que, enquanto escritor,

tem dúvidas e fará assim ―uso dessa possibilidade, como todos os portu-

gueses podem fazer uso dessa possibilidade, isto é, a competência que

têm para escolher a sua ortografia‖.

Governo admite rever Acordo Ortográfico

Em Portugal

Depois da decisão de Vasco Graça Moura de ignorar o Acordo Ortográfico nas comunicações do CCB, foi ontem a vez de o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, vir olhar com cautelas para os imperativos da nova escrita do Português. A três anos da implementação definitiva da nova ortografia unificada às nações da Língua, Viegas diz que há trabalho a fazer para afinar as palavras.

Fonte: RTP

Foto: Lusa

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Livros & Leitores

Géssica Cardoso, estudante de II ano do curso de tradu-ção em Francês na Universidade Eduardo Mondlane, 21 anos, residente da cidade de Maputo

Géssica Carsoso, está a ler Niketche de Paulina Chiziane, gostou da união das mulheres, mas não da relação da família do homem, com a nora. Sublinha que o que acontece muito entre nós ao morrer o chefe da família os seus familiares virem levar todos pertences do falecido. “As pessoas deve ler Niketche de Paulina Chiziane por trazer coisas

vividas no nosso dia-a-dia, principalmente as mulheres, porque

podem aprender a conviver com estas situações”, diz Géssica.

AUTOR: Nelson Saúte -

Moçambique

“Maputo Blues é uma notícia sem

dúvida importante no cenário da

poesia moçambicana (…)

A proposta de Nelson Saúte corre

noutra direcção, perseguindo notas

capazes de combinar a marrabenta

de Fanny Mpfumo com o jazz de

Billie Holiday , fazendo da escrita

literária a travessia entre os muitos

pontos do planeta. E é nesse compasso que ele investe na sua

relação com as matrizes que compõem o que para o autor é a

sua tradição literária‖

Rita Chaves

Maputo Blues

AUTOR: Sangare Okapi —

Moçambique ―Da leitura que fiz dos poemas, reparei que,

á semelhança de um Rui Knopfil, Okapi insiste numa determinada

identidade e / ou naturalidade (…) A estratégia poética com que Oka-

pi aborda a matéria do seu livro lembra a provocação com que Fili-

mone Meigos celebra o absurdo ate a exaustão. A filosofia de que

assuntos deprimentes poderão também ser cantados, marca que carac-

teriza Eduardo White, por exemplo, parece ser a filosofia adoptada

por Okapi. Neste contexto, pode-se afirmar que Sangare Okapi pode

ser inscrito na mesma temática e estratégia de escrita dos três autores

a que me referi, ou seja, os outros <<Prometeus>> do nosso Moçam-

bique (…).‖

Sara Jonas

AUTOR: Conceição

Lima – São Tomé e

Príncipe (…) «O Útero da Casa é um livro

diferente. Obra de análise íntima,

traz-nos por vezes a meia voz, atra-

vés da saudade e da mistificação

das coisas amadas, a cor e a alma da

ilha mãe de São Tomé, a sua den-

gue beleza, sua viuvez, seus palma-

res, o cantar dos búzios, a casa (o

útero) centro do mundo, presente e

futuro. Alta, perpétua claridade,

pedra de reunião.

Nestes versos em que se confrontam criaturas e lugares do outrora, que o

tempo magnifica, com a nitidez do hoje, ouvimos a brisa nos canaviais,

sentimos o odor do café e do cacau, vemos os ibiscos e o barro verme-

lho, o perfil da mesquita, a cidade morta, o mar.

Lê-se a mátria na terra sensual, até na luz da fruta, no sangue da lua, nas

mãos de húmus e basalto.

Conceição Lima escreve-se, em ideia e corpo, na carne viva da ilha.»

(Urbano Tavares Rodrigues)

Inventário das

Angústias ou

Apoteose do Nada

O Útero da Casa

Hérlio da Conceição Manjate Estudante: I ano do curso Física UEM 19 anos, residente na cidade Matola

Actualmente lê José Craveirinha (Xigubo), o poema que

mais o interessou foi “Quero ser Tambor”, para ele o livro é

viajar no tempo e ver o mundo como era. Ao ler cada poe-

ma sente uma coisa a tocar-lhe em relação a o que lê. Esse

leitor, chama-se Hérlio Manjate.

Nome: Chico Carneiro

Profissão: Cineasta

Está a ler: Marcha Para Oeste

Da autoria dos irmãos Cláudio e Leonardo Villas Boas

Estou a ler dois livros em simultâneo um de dia e um de noite. Um é moçambi-

cano, João Paulo Borges Coelho - sobre a Guerra em Moçambique -O Olho de

Hertzog, um livro diferente mais denso em relação a primeira obra do mesmo

autor que já li, refiro-me à As Visitas do Dr Valdez, comprei recentemente e

estou nas primeiras 20 páginas.

Em relação a outra obra (brasileira), que na verdade estou a reler é o livro da

epopeia para quem conhece o Brasil. Foi na década de 40 quando o Brasil foi

desestranhado ou seja foi feita uma expedição para entrar Brasil adentro para

realmente se conhecer, pois nessa altura era pouco conhecido, e esses irmãos

Villas Boas que estavam a frente dessa expedição que era uma expedição feita

ou financiada pelo governo brasileiro com o objectivo principal de ocupar o bra-

sileiro das terras brasileiras, e também conhecer o que tinha dentro das mesmas.

Estou a falar da floresta Amazónica que na altura era completamente desconhe-

cida, e as tribos indígenas que viviam naquela região, a expedição demorou

vários anos, a chamada expedição Muka do xingu, e foi registada num livro

pelos dois irmãos (…)

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Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa

Direcção e Redacção

Centro Cultural Brasil - Mocambique

Av. 25 de Setembro, N°1728,

C. Postal: 1167, Maputo

Tel: +258 82 27 17 645 / +258 84 07 46

603

Fax: +258 21 02 05 84

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Blogue: literatas.blogs.sapo.mz

DIRECTOR GERAL

Nelson Lineu

([email protected])

Cel: +258 82 27 61 184

DIRECTOR COMERCIAL

Japone Arijuane

([email protected])

Cel: +258 82 35 63 201

EDITOR

Eduardo Quive

([email protected])

Cel: +258 82 27 17 645

CHEFE DA REDACÇÃO Amosse Mucavele

([email protected])

Cel: +258 82 57 03 750

REPRESENTANTES PROVINCIAIS

Dany Wambire—Sofala

Lino Sousa Mucuruza—Niassa

COLABORADORES FIXOS

Izidine Jaime, Pedro Do Bois (Saranta Cata-rina-Brasil) , Victor Eustáquio (Lisboa —

Portugal), Mauro Brito.

COLUNISTA

Marcelo Soriano (Brasil)

FOTOGRAFIA

Arquivo — Kuphaluxa

PARCEIROS

Centro Cultural Brasil—Mocambique

Portal Cronopios

www.cronopios.com.br

Revista Blecaute

Revista Culturas & Afectos Lusofonos

culturaseafectoslusofonos.blogspot.com

FICHA TÉCNICA

Cartas

Ei Amosse, adorei receber novamente a revis-

ta. Está muito bonita e informativa, como sem-

pre. Espero que em breve eu possa contribuir

com escrita, fazendo um paralelo entre a

escrita de Conceição Evaristo e Paulina Chi-

ziane. Nesse momento estou bastante apertada,

escrevendo a tese, mas espero um momento de

intervalo quem sabe até abril?

Um forte abraço, meu e do Brasil.

Rosália Diogo/ Belo Horizonte

Prezados amigos moçambicanos,

fiquei muito satisfeito com a homena-

gem ao Madala José Craveirinha. Mais

que merecida e sempre um nome a ser

reverenciado. Foi uma ótima escolha o

texto da Rita Chaves, um dos melhores

de nossas ensaístas. Parabéns! Aproveito

para congratular o prestidigitador eméri-

to Eduardo Quive, que fez um belo poe-

ma para o Velho Zé, assim como dignos

de notas os textos produzidos por Amos-

se Mucavele e Japone Arijuane (valeu

arriscar a espacialidade da palavra na

folha em branco).

Meu grande abraço para todos e um bom

final de semana.

Ricardo Riso/ Rio de Janeiro

Queiram receber antes meu abraço. Com letras.

Andei um tempo sem cabeça para os outros, e sei que isso não é bom. Hoje abro meu email e

vejo a vossa revista, vinda de um gesto ao qual agradeço.

Provavelmente não poderei tecer um comentário sólido sobre o que li, mas posso avançar

que este desafio tem alma, uma alma que não é pequena e, quando a alma não é pequena,

concretiza, tudo vale a pena.

Resido agora em Inhambane, que tal uma colaboração minha! Uma coluna! Algumas coisas

sobre os poetas que andam por aqui!

De grão a grão enche a galinha o papo.

Dou-vos a maior força.

Abraço. Com letras.

Alexandre Chaúque / Inhambane

Espaço aberto para debate e comentários sobre assun-tos literários. Mande-nos uma carta pelo e-mail:

[email protected]

Projecto LITERABRINCANDO do KUPHALUXA leva o escritor e contador de estórias Rafo Diaz para a Escola Comunitária Imaculada Conceição, aredores da cidade de

Maputo.

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Poesia

Naquela noite...

Participei de um banquete dos deuses...

O espírito grego romano preparou a mesa onde

os mais diversos paladares estavam presentes,

quando do Olímpio ouvi aos ecos o som dos

meus poemas.

Dionísio pessoalmente bebeu vinho do saber,

quando repetia seguidas vezes os meus versos,

poemas e letras como cânticos líricos...

Sarcasticamente as musas brincavam com as

rimas.

Na terra os homens invocam os deuses.

A paz, a igualdade social avassaladoramente

invadia as ruas, cidades e guetos.

Os versos pairam no ar e se tornam insufladores

dos excessos através da história.

Vejo a luz de um novo mundo, que se inspira

nos versos de libertação, amor e igualdade entre

os irmãos.

Aquele momento era tão real, tão concreto...

Mas tudo se findou em um simples desperta...

À eterna memória da Celina Sousa Mucuruza

… almoço, e colho o nojo

Dopado pelo V

E

N

T

O, em poesia

Na divina tatuagem

Tatuada no tempo que (colho),

No longo mar da divina

Esperança!

Desesperada, oh! … … … … … … V

E

N

T

O, que

rubra,

Incasável ao sopro eterno!

Kha tembe-Moçambique

No meio da confusão

Ouviu-se Quincas dizer:

“- Me enterro como entender

Na hora que resolver.

Podem guardar seu caixão

Pra melhor ocasião.

Não vou deixar me prender

Em cova rasa no chão.”

E foi impossível saber

O resto de sua oração.

Senhora dos Sois

no meu país a fome

cai oblíqua

como um sol de dentes

desnutridos

que faz muita sombra

mas o meu país de boca aberta

tem aves na garganta

e o céu mais limpo do mundo

Um Sonho Poético

Sou

chama

lama

magna moldado

endurecido

Sou

naturalidade

vento esfriamento dos tempos

Esquecer

meu rosto

gosto Não posso!

Sangro

emvermelho

empreto

o choro de todos os dias

a dor

Esquecer?

Não posso!

Sou

o azul infinito

onde o grito Arroboboi risca um Arco-Íris

Sois me guiam

Sou luz

aura da incandescência rubra negra

Sou pedra

bruta gema diamante engastada na

rocha sólida

Ergui voz, cabeça, espada

A palavra basta ressoou

estourou as paredes

divisórias

18 (Dezoito)

Miriam Alves-Brasil

Dhiogo Caetano-Brasil

Mukurruza—Lichinga

Tempo houve

quando ainda havia tempo

em que a morte estava perto

porque esta longe

podia sabê-la

no desconhecido

dos corpos que eu fosse

para não serem meus

no sabor a mar

dos ventres pulsando

no sangue e no mostro

de qundo o deserto

que quase já sou

na sombra que seja

do que não serei

nos colava em rios

a fonte e a foge

sem morte e sem tempo

sem perto e nem longe

sem mim e sem ti

de me para ti

de ti para me

a dar a morte ao tempo

a dar tempo à morte

no tempo que sobra

do nada que é tudo

Hélder Macedo-Portugal

I Zanzi bar de bar em bar

cheiras no ar imensas noites ao luar

teu sublime aspecto lunar

embriaga minhas contas de somar Zanzibar de intensos copos ou eterna

maneira de amar!

J.A.S. Lopito feijóo K.-Angola

DEDICAÇÕES

Não há reajuste

Senão hipóteses do Faustino

A vida de metralha na África

O destino de negro milenar

Voando com o pedaço de

panos Um autêntico escândalo de presos

Uma pedagogia semanal

Mas dizem: produzimos,

Algodão e citrinos

Leite e sumo

Mal nutridos são as nossas

mangueiras

Nudez de palha vão vestindo

A roupa usada de cheiro

característico

Hipóteses de Faustino

É uma vergonha

De quem produz algodão Se beneficiar de roupa usada.

Zeferino Massingue

HIPÓTESES

Na escuridão

duas aves

partilham segredos

concentram-se

partem

sem destino.

Segredos do voo

Eliseu Armando

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Entrevista por Eduardo Quive

Literatas: Como é o seu processo de criação? Como surgem os textos? Rita Dahl (R.D) - Não há nenhuma resposta digamos ―regular‖ nessa pergunta. Os textos surgem como surgem. As vezes estou inspirada pelos lugares que visi-

tei ao todo mundo da Europa até América Latina, outras vezes me fascina escre-

ver ensaios sobre coisas bem mais vastas como poesia/política.

Literatas: E como define a sua literatura? R.D - A minha escrita varia. Escrevo poesia, ensaios, livros de viagem, contos,

não - ficção, e as vezes especialmente a minha poesia poderia ser definida

como textos híbridos, que atravessam as fronteiras da poesia, prosa e ensaios. Por alguma razão textos híbridos, que vem bem facilmente de mim. Acho que

textos híbridos se relacionam também com a escrita africana.

Literatas: Quais são as questões que mais procura levantar nas suas

obras? R.D - Não há só uma única resposta nessa questão. Quero em primeiro lugar

Uma Poesia Híbrida

E screver poesia é ser mais do que si própria, é ser muitas vezes algo que

desconhece. Mas da sua palavra acredita que o mundo sobrevive, tal como a semente

que gera os frutos que saciam barrigas vazias. E é mesmo assim “escrevo textos

híbridos que atravessam as fronteiras da poesia”, talvez porque “acho que textos

híbridos se relacionam também com a escri-ta africana”. Estamos no meio duma viagem

literária para fora. Fora de Moçambique e dos países da CPLP. Transgredimos a regra editorial? Não. Estamos fora dos países de

expressão portuguesa, mas estamos dentro da lusofonia, estamos dentro do horizonte de falantes do português. Uma entrevista a

escritora finlandesa Rita Dahl. Poetisa, ensaísta, contista e descrevista de embarca-

ções. Uma viajante de múltiplas falácias. Fala e escreve em sete línguas e tem maior influência nos países de expressão portu-

guesa. Rita Dahl é uma proposta para inspi-

rar gentes.

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Entrevista por Eduardo Quive

levantar muitas questões variadas na minha obra. Até agora tem sido por exemplo paí-ses lusófonos, a justiça e responsabilidade social, a liberdade da palavra, poesia/s em

línguas lusófonas (e outras línguas também, explorando principalmente as sete línguas

que falo), questões sobre a minha própria poética/política e poética/politica/s pelos

outros poetas lusófonos (exemplos do poeta brasileiro Wilmar Silva que escreve usan-do na sua linguagem de amor, e poeta português Alberto Pimenta).

Literatas: Será a poesia o género que mais gosta de escrever? Porquê? R.D - Não só. Eu procuro sempre ser ―múltipla‖ como disse Walt Whitman. Vou ain-

da escrever prosa, gostaria de escrever também romance/s, publicar livro/s de ensaio/s

e mais livros sobre temas sociais. Vejo se um dia chego lá.

Literatas: Embora finlandesa, tem procurado se evidenciar nos países falantes de

língua portuguesa, no caso concreto de Portugal e

Brasil. O que a leva a pautar por esses caminhos? R.D - Não só Brasil e Portugal. Tenho traduzido dois

poetas de Angola e Cabo Verde também. Bom, curto

dito, eu fiz a segunda licenciatura (Master's Thesis) sobre heterónimos de Fernando Pessoa e por isso che-

guei a Universidade Clássica de Lisboa para estudar

linguística por um ano. A primeira licenciatura fiz sobre Ciências Politicas. Depois tirei ainda mais alguns cur-

sos de verão, comecei a traduzir a poesia escrita na lín-

gua portuguesa, embora que tenha traduzido poesia

escrita em outros idiomas. Também organizo antologia da poesia finlandesa em português (será lançada no

Brasil ainda este ano) e em espanhol (espero que seja

lançada pelo menos em México, talvez em Argentina também).

Literatas: O que tem feito concretamente nesses paí-

ses? R.D - Para além do que já tinha me referido anterior-

mente, tenho participado aos encontros (Encontro Inter-

nacional dos Poetas na Universidade de Coimbra, onde encontrei com poeta-performer brasileiro Márcio

André, António Jacinto Pascoal, João Rasteiro e José

Luís Tavares de Cabo Verde e leituras dedicados a minha poesia – ultimamente cantei Sibelius, Faure, em

Coimbra, uma vez que sou soprano clássica. Participei

no evento PORTUGUESIA ambos em Belo Horizonte,

Brasil, e Vila Nova de Famalicão, Portugal, neste ano.

Literatas: Entende que o que escreve carrega a universalidade? Depende do leitor. Espero que carregue, mas também somos criadores das nossas pró-prias culturas: isso é inevitável. Nem podemos, nem temos que nos adoptar completa-

mente às outras culturas.

Literatas: Tem livros traduzidos para português? R.D - Ainda não. Espero de o tiver ainda no ano próximo. Será lançado pelo Anome

Livros de Wilmar Silva. Tenho alguns poemas publicados nas revistas brasileiras,

como antiga revista de Confraria do Vento.

Literatas: Dentre vários livros seus, qual você considera o mais importante da

sua carreira? Porquê? R.D - Gosto muito do meu livro de viagem sobre Portugal e o último sobre Brasil, por-

que ambos, são bem ambiciosos, muito mais do que guias, querem entender um pouco

da mentalidade da gente e levantar questões críticas sobre temas como a justiça e res-

ponsabilidade social (especialmente quanto aos povos originais).

Literatas: Quais são os autores de língua portuguesa que conhece? Com quem

tem mais contacto? R.D - Teria que mencionar uma lista demasiado longa. Basta dizer que conheço mui-

tos. Tenho mais contacto com alguns poetas brasileiros e alguns portugueses. Já men-

cionei alguns deles.

Literatas: Quais foram os seus melhores momentos na vida como escritora? R.D - Ainda não posso responder essa questão. Ainda estou a espera do momento melhor. O momento último.

Literatas: O que é um escritor? O que o diferencia de outros na sociedade? O que

é essencial para se ser bom escritor? R.D - Para mim, o escritor é alguém que escreve de obrigação interna numa maneira

mais ambiciosa e variada do que o possível, e quer sempre encontrar mais escritores

ambiciosos que pertençam ou não ao cânon literário.

Literatas: No início da sua carreira, terá escrito algo que achou não

ter qualidade? R.D - Bom, eu comecei a ler a literatura (Dostojevcki, T.S. Eliot) e escre-

ver aos 11 anos. Com certeza escrevi – e ainda escrevo – algo sem tanta qualidade, mas eu fui desde início, ambiciosa quanto a escrita e estudos:

quero exprimir em primeiro lugar minhas facetas várias numa maneira

literária.

Literatas: Qual é a sua maior preocupação antes e depois de lançar

um livro? R.D - Eu queria que o meu livro fosse lido por profissionais e que o criti-

cassem e pelos júris, podendo o nomear como candidato de diversos pré-

mios (preferivelmente com prémios de dinheiro) e finalmente pelos leito-

res digamos ―inferiores‖. Para o livro (da poesia) chegar às mãos deles é

preciso se obter boa crítica.

Literatas: Quando se fala de literatura no mundo, pouco tem se des-

tacado a Finlândia. O que acha sobre isso? O que origina o anonima-

to da Literatura desse país? R.D - Finlândia é um país com 5 milhões de habitantes. O facto do país

ser tão pequeno pode constituir um dos motivos. Por outro lado, não

temos muitos faladores da língua portuguesa que poderiam transmitir a informação e seu tempo para esta causa.

Literatas: Que referências literárias tem de Moçambique?

R.D - Mia Couto, no primeiro lugar. Não conheço mais referências. Infe-lizmente.

A literatura moçambicana é conhecida, em primeiro lugar, pelos roman-

ces e contos de Mia Couto, que – quanto a mim – é um dos melhores, senão o melhor, na língua portuguesa em África.

Literatas: Tem contacto com a Literatura Africana? O que sabe

dela? R.D - Claro que tenho contacto com a literatura africana pela leitura e

pelas visitas a Nigéria (em Book and Art – festival no ano 2006 e na con-

ferência entre escritoras de Saudi-Arabia e escandinavas no ano 2008). Organizei também um projecto com escritores africanos dos vários países

anglófonos e escritores finlandeses. Como vice-presidente de PEN Clube

da Finlândia e presidente do comité das escritoras (2006-2009, 2005-2009) organizei um evento internacional para escritoras de Ásia Central e

duas antologias, uma das quais bilingue.

Literatas: O que podemos esperar da Rita nos próximos tempos? R.D - Espero que um livro de poesia. A antologia da poesia portuguesa

editada e traduzida por mim com 10 poetas. O livro de ensaios sobre poe-

sia e política. Perfil dum poeta conhecido finlandês. E quem sabe mais coisas!

Continuação

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Colunistas Filosofonias

Marcelo Soriano — Brasil [email protected]

(Foto: Berkeley T. Compton, from http://bit.ly/yOBy53 )

Conto Poético da Loucura Infantil

Horizonte... Lá onde as aventuras nadam nuas... Aos olhos do peixe vermelho,

as pessoas vão e vêm, mergulhadas na prisão de paredes transparentes, do lado

de fora do aquário. É amando que se sabe. Se não sei, talvez não ame. As

nuvens... Garças brancas a debandar sonhos... Passarinhos não choram.

Passarinhos cantam no desespero das próprias penas. Vejam! Eu posso voar!

Fui criança!■

.........................................................................................................................................

Sobre o Fim do Mundo em 12-12-12

Quando menino, aos sete ou oito de idade, escondia-me atrás da barra da saia da minha mãe

sempre que uma cigana batia à porta para pedir um copo d'água que, na verdade, acabava em

uma moeda de pagamento para que fosse embora, de volta ao mundo que a criou como, ao que

diziam as más línguas, ladrona de meninos para transformá-los em sabão. Volto àquela idade

em que eu era um reles alvo de bruxas e ciganas raptoras de crianças, porque, naquela época

(pelos idos de 1973), também houve este rumor de que o mundo acabaria em um prazo de sete

dias. Esperei escondido dentro de um roupeiro a data anunciada por nossos vizinhos que eram

fervorosos freqüentadores da Igreja Testemunhas de Jeová. O mundo não acabou conforme o

anúncio da apocalíptica vizinhança. Depois daquilo, várias vezes, no transcorrer desta minha

existência, o fim do mundo foi anunciado e, já, quase um incrédulo, aguardei com um certo

risinho debochado no semblante. Nunca veio o tal "Fim do Mundo". Desta vez, desculpem-me

os céticos, eu creio. Pia e cegamente, acredito que o mundo será levado a cabo em 12/12/12,

aliás, vou mais longe... Será às doze horas, doze minutos e doze segundos. Não, não será nada

fantástico, apoteótico, cinematográfico... Será simples e corriqueiro. Um evento tão habitual e

sem graça que a humanidade adormecerá e, simplesmente, apagar-se-á da Face da Terra. O que

virá depois? Nada. Assim como aconteceu aos dinossauros, os homens estarão extintos e só

sobrarão os ossos que, num futuro incerto, contarão de modo fragmentado a história biológica

deste ser que julgava-se "O Centro do Universo", mesmo depois de saber cientificamente que

ele, o Universo, não girava em torno de si, digo, o Universo sequer percebia a sua existência

em meio aos bilhões de galáxias perdidas no espaço sideral. O que faremos depois que o

mundo acabar? Esta é a resposta a ser sanada. Eu, por exemplo, por via das dúvidas, já tracei

meu Plano B para o caso de, como nas oportunidades anteriores, ele nos trair e, de novo, não

acabar. Vejam três mensagens que estarão escritas na minha agenda no dia 13/12/12:

1. É. O mundo não acabou, logo, levanta e vai trabalhar, vagabundo!

2. Postar nas redes sociais alguma piadinha infame sobre "O Mundo não Acabou, e agora?!"

Ligar para a Agência Bancária pedindo, "pelo amor de Deus!", ao gerente para que aumente o

meu crédito, pois todos os cheques emitidos ontem, em meio à embriaguez da festa de

"saideira" do Planeta Terra precisarão ser compensados e, infelizmente, não têm fundos.

Sobre o meu Plano A, caso o mundo realmente acabe em 12/12/12? Não há que se fazer

planejamento algum sobre isso, pois, como diz a sabedoria popular, "o que não tem solução,

solucionado está". Ou, então, como diz o Ditado Popular: " Quando o estupro é inevitável, o

jeito é relaxar e aproveitar!".

....................................................................

E TENHO DITO!

HÁ O TRIDIMENSIONAL E O TRISTEMENSIONAL.

O passo certo

no caminho errado

Nelson Lineu - Maputo

H abitualmente prende-se pessoas são para prote-

ger a sociedade, e o Fernando Paulo encontra-se

naquele local para se proteger daquela socieda-

de. Também não era para menos, tanta gente a fazer baru-

lho na sua casa, panfletos pendurados, assobios, insultos, a

população queria acabar a pobreza com as suas próprias

mãos, o que não devia ser, como o fazer justiça tinha pes-

soas capacitadas para tal assim também devia ser com a

pobreza, era isso que defendia o chefe da polícia quando

conversava com a população enfurecida.

Fernando Paulo que chegara no bairro há um mês, com a

sua chegada a população local sentia que o nada que justi-

ficava a existência deles tinha dias contados.

Fazia-se transportar por um Mercedes que multiplicando o

salário da população daquela zona durante um ano não

compraria, por isso comentário como esses: - a nossa histó-

ria começará a ser escrita por uma outra cor.

Os dias foram passando a mesmice continuava, as dificul-

dades nadavam a mesma velocidade, as necessidades e as

faltas brigavam para mais um espaço. As pessoas continua-

vam a fazer barulho só que desta vez no posto policial. O

homem da lei, pediu silêncio para resolver o problema

depois de ouvir ambas partes, cada por sua vez, e foi sen-

tenciando já com todos juntos, dizendo que o novo vizinho

era um motorista, o casaco e gravata que usava sempre era

como ele devia apresentar-se no trabalho, a careca era

natural, o mesmo acontecia com a barriga, aquele senhor

não tem nada a ver com aqueles eles.

Pelos nossos políticos que é quase impossível distinguir

com empresários, apresentarem-se com casaco e gravata

não obstante a elevada temperatura que se faz nesse canto

do mundo, terem carecas e barrigas grande, as pessoas

quando viram o Paulo naquela zona em que pessoas com

os seus aspectos físicos e aparências só passavam de cinco

em cinco anos, os populares pensaram que as promessas

teriam saltado das gavetas.

[email protected]

A careca e a

barriga

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Personagem Guiné-Bissau

N os primeiros momentos da independência da Guiné-Bissau, a

cultura apresentava-se com contornos de autêntico suporte da

Nação a construir. Casa da Cultura, Instituto do Livro e do

Disco, Escola de Musica, Ateliers de pintura, tudo acontecia numa agenda

recheada de frenesim nacionalista que tinha por meta a incontornável

reconstrução nacional.

É neste contexto que pela vez primeira, um grupo de jovens (14) identifi-

cados com o movimento de libertação nacional, viu os seus textos poéti-

cos editados pelo Conselho Nacional de Cultura, sob o titulo ―mantenhas

para quem luta‖. Numa terra sem tradição editorial e pouco habituada a

ver os seus filhos a tratar dos seus assuntos sob forma literária, a dimensão

e o impacto do evento foram enormes e sem dúvidas marcou para sempre

a literatura do país das bolanhas e dos poilões sagrados .

Uma obra colectiva dos ―Meninos da Hora de Pindjiguiti‖ (assim chamou

Mário Pinto de Andrade aos jovens poetas autores do Mantenhas para

quem Luta).

Tony Tcheka, natural de Bissau, poeta e jornalista, considerado por alguns

especialistas da literatura guineense como um dos nomes que tem marca-

do a poesia que faz no seu país, era um dos meninos... e pode ser lido em

todas as antologias produzidas na Guiné-Bissau.

Autor de ―Noites de Insónia na Terra Adormecida‖ (1987), foi coordena-

dor de três antologias poéticas editadas na Guiné-Bissau (Mantenhas para

quem Luta; Antologia da Poesia Moderna Guineense; Eco do Pranto) inte-

gra diferentes antologias publicadas em várias partes do mundo:

―Anthologie Littéraire de l´Afrique de l´Ouest‖ Paris-França); Antologia

Brasileira ―No Ritmo dos Tantãs‖; ―Na Liberdade (Lisboa Portugal);

―Rumos dos Ventos‖ (Fundão-Portugal); ―Anna‖ (Alemanha); Poesia da

Guiné – Bissau (Grã Bretanha) e é citado no ―Dicionário temático da

Lusofonia‖ (Lisboa-Portugal) e no ―Além-Mar‖ (Lisboa-Portugal)

Entre prémios e distinções que lhe foram atribuídos destaca-se: Diploma

de Honra concedido pelo ISCE – Instituto Superior das Ciências da Edu-

cação de Lisboa, pelo conjunto das suas obras; ―Diploma de Mérito Grau

de Engenheiro de Almas atribuído pela Sociedade de Autores Guineenses

(SGA) pela contribuição dada à literatura guineense; Ainda do “SGA”

recebeu mais três Diplomas na área de Jornalismo (televisão, rádio e

imprensa escrita).

Enquanto jornalista fez parte do primeiro grupo de jornalistas que traba-

lhou e lançou os alicerces da Rádio nacional (RDN) como Redactor-

Produtor e mais tarde seu director. Foi Chefe de Redacção e Director do

Jornal Nô Pintcha. Foi durante muitos anos correspondente da BBC de

Londres, da TSF de Lisboa; Analista e comentador da Voz da América,

BBC, Voz da Alemanha e RDP África. Na área da imprensa escrita, foi

correspondente do Público; LUSA, Tanjug; ANOP, NP… Em Lisboa

durante três anos foi editor da Revista África Lusófona. Na Televisão foi

produtor e apresentador do programa Fórum-RTP.

Tony Tcheka (António Soares Lopes)

Durante três anos foi funcionário da UNICEF para Comunicação Social e Advo-

cacy. Na Swedish Save The Children – Radda Barnen, trabalhou como respon-

sável de Programas e Projectos e Representante Nacional. Foi ―Focal Point‖ da

IRIN (ONU) na Guiné Bissau e pertenceu à Comissão Nacional da UNESCO.

Hoje é colunista da revista LUSOGRAFIAS, comentador da RTP, Freelancer,

funções que acumula com as de consultor para projectos de desenvolvimento e

formador de jornalistas.

POVO ADORMECIDO Há chuvas

que o meu povo não canta

Há chuvas

que o meu povo não ri Perdeu a alma

na parede alta do macaréu Fala calado

e canta magoado Vinga-se no tambor na palma e no caju

mas o ritmo não sai Dobra-se sob o sikó

como o guerreiro vergado

cala o sofrimento no peito O meu povo

chora no canto

canta no choro

e fala na garganta do bombolon Grei silêncio

quebrado

nas gargalhadas de Kussilintra

em quedas de água

moldando pedras

esfriando corpos

esculpidos

no corpo do bissilão

CANTO À GUINÉ Guiné sou eu até depois da esperança Guiné és tu camponês de Bedanda teimosa-mente procurando a bianda na bolanha que só encontra água na mágoa da tua lágrima Guiné és tu criança sem tempo de ser menino Guiné és tu mulher-bidera em filas de insónia noites di kumpra pon (mafé di aos) Guiné é um grito saído de mil ais que se acolhe n calcanhar da terra adormecida Mas Guiné somos todos mesmo depois da esperança

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Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco - UFRJ Ensaio

M aria da Conceição Costa de Deus Lima nasceu na Ilha de São Tomé em 1961, trinta e cinco anos depois de D. Alda que poderia ser sua mãe.

Pertence, portanto, a uma geração poética bem mais jovem, tendo

escrito e publicado após a independência. Estudou jornalismo em Portugal e

licenciou-se em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros pelo King´s College de Londres. É mestre em Estudos Africanos pela School of Oriental and African

Studies. Atualmente, trabalha na BBC de Londres em programas que dizem

respeito à Língua Portuguesa. Tem muitos poemas em antologias, jornais e revistas. Até o presente momento, possui apenas dois livros de poesia publicados

pela Editora Caminho de Lisboa: O Útero da casa (2004) e A Dolorosa raiz do

micondó ( 2006). Nossa análise privilegiará O Útero da casa, cujo lirismo intimista não impede,

contudo, um olhar vigilante sobre o passado e o presente do país. Nesse livro, a

voz lírica enunciadora dos poemas, situada na encruzilhada de esgarçadas

lembranças pessoais e coletivas, tem plena consciência tanto do outrora histórico, como do atual contexto político-social de São Tomé, onde os antigos sonhos se

encontram desfigurados. Após o ardor da independência, Conceição Lima procura

reabitar, com lucidez, não só a casa, metáfora da mátria e da nação3, mas também o poema, espaço discursivo sobredeterminado, onde a linguagem se faz

morada do ser e reflexão sobre a História.

Após o ardor da reconquista

não caíram manás sobre os nossos campos

E na dura travessia do deserto

aprendemos que a terra prometida era aqui

Ainda aqui e sempre aqui.

Duas ilhas indómitas a desbravar.

O padrão a ser erguido

pela nudez insepulta dos nossos punhos.

(Apud: Sonha Mamana África, p.227-228)

Depois da euforia provocada logo a seguir à libertação de São Tomé e Príncipe do jugo

colonial, a poética de Conceição Lima emerge com forte singularidade, apresentando um

olhar vigilante, cujo compromisso se estabelece, em primeiro plano, com a reescrita da

terra natal, "duas ilhas indómitas a desbravar", segundo versos da própria autora. Para que a capacidade de sonhar não se perca totalmente, a poetisa usa a consciência crítica. Sabe

que, no litoral da aurora da liberdade de seu país, há ainda muitas pedras amargas. Por

isso, um clima de melancolia envolve seus poemas. A transitoriedade percorre a obra da

autora, onde, em vários de seus textos, os sujeitos líricos se assumem peregrinos, buscando

a transparência dos tempos ancestrais, anteriores ao colonialismo e à luta armada. Esses

sujeitos poéticos exorcizam a memória da violência vivenciada por São Tomé e Príncipe

através dos séculos. Procuram livrar-se, dessa forma, do sangue das palavras para que o

país e os poemas possam ser reabitados.

Emergiremos do canto

como do chão emerge o milho jovem e nús, inteiros, recuperaremos

a transparência do tempo inicial

Puros reabitaremos o poema e a claridade

Para que a palavra amanheça e o sonho não se perca.

(Apud: Sonha Mamana África, p.227-228)

Memória e linguagem se instituem como instâncias privilegiadas em O Útero da casa.

Segundo Ecléa Bosi, a linguagem é o elemento socializador da memória; é ela que

"unifica, reduz e aproxima o sonho, a imagem lembrada, as imagens da vigília

atual" (BOSI, Eclea. Memória e sociedade, p.18). Ora, é, desse modo, por seu intermédio, que o reabitar da casa, na poesia de Conceição Lima, ganha corpo. É pelo intercâmbio

criativo entre o discurso poético e o processo evocativo que se erige a construção da casa-

nação e da casa-poema, ambas intimamente relacionadas ao útero das Ilhas, local

placentário das origens identitárias.

Quero-me desperta

Se ao útero da casa retorno

Para tactear a diurna penumbra

Das paredes

Na pele dos dedos reviver a maciez

Dos dias subterrâneos

Os momentos idos

( O Útero da casa, p. 17)

Logo de saída, a voz lírica, no feminino, se quer desperta, optando por um estado de

vigília da linguagem, por meio da qual vai, acordada, reocupando as entranhas da casa

para traçar uma nova geografia das Ilhas. Seu intento é passar a limpo o que se encontra

submerso na memória histórica. É um ser cindido, que se debate entre as

reminiscências do outrora e a fratura do presente. Nos primeiros poemas, conforme

palavras de Inocência Mata no prefácio ao livro, há a procura "de um lugar matricial

em que assenta a busca da utopia e do sonho" ( O Útero da casa, p. 12). No entanto,

a utopia e o sonho, no universo poético de Conceição Lima, não mais apresentam as conotações encontradas nos poemas de Alda do Espírito Santo. Na poiesis de

Conceição, há o pleno conhecimento de que o templo mátrio se transformou num

castelo melancólico (O Útero da casa, p.18), de que as quimeras sociais foram

interrompidas e se encontram soterradas, sob as ruínas da História. Há, portanto,

absoluta consciência de que tudo, atualmente, é fugaz, transitório, não havendo mais

crenças proféticas no futuro, nem certezas em relação a projetos acabados. Como

tecelã do precário, a voz enunciadora vai tecendo o poema e a reescrita da casa,

permeada por forte sentimento de inconclusão.

Sobre os escombros da cidade morta

Projectei a minha casa

Recortada contra o mar. Aqui.

Sonho ainda o pilar

Uma rectidão de torre, de altar.

Ouço murmúrios de barcos

Na varanda azul.

E reinvento em cada rosto fio

A fio

As linhas inacabadas do projecto.

( O Útero da casa, p. 20).

Em A Dolorosa raiz do micondó, publicado em 2006, Conceição Lima continua na

senda de revisitar criticamente a história de São Tomé e Príncipe. Contudo, como

"uma aracne4 dos tempos atuais", conhece a própria limitação de sua tecelagem:

Eu e a minha tábua de conjugações lentas

Este avaro, inconstruído agora

Eu e a constante inconclusão do meu porvir

(A Dolorosa raiz do micondó, p. 13)

A proposta de um olhar corrosivo em relação à História5, presente desde O Útero da

casa, se mantém e é aprofundada no segundo livro de Conceição Lima, onde um dos poemas reescreve poeticamente o massacre ocorrido, em 1953, nas Ilhas de São

Tomé e Príncipe, quando o governador Carlos de Sousa Gorgulho reprimiu

violentamente as populações rebeldes, tendo provocado muitas mortes. A dolorosa

raiz do micondó é uma alegoria das dores vividas pelos habitantes das Ilhas em

decorrência da opressão colonial; alude a uma árvore da flora local que viu chegarem

ao Arquipélago, em 1470, João de Santarém e Pedro Escobar, mas que resistiu

através dos séculos.

Em O Útero da casa, a par da corrosiva vigília na reescrita da História, há um

profundo lirismo na captação de lembranças e paisagens do presente e do outrora das Ilhas. Um forte erotismo sinestésico domina a memória que vai evocando ruídos e

odores característicos do Arquipélago: a beleza das praias e a limpidez das águas do

mar, o canto dos pássaros (mesmo que, atualmente, em pânico, atormentados), a cor

vermelha do barro e dos ibiscos, o marulho das ondas, o aroma desprendido das

plantações de café e cacau, o zunido da brisa fazendo farfalhar as folhas das

palmeiras e das canas-de-açúcar. Uma profunda sensualidade impulsiona os sujeitos

líricos dos poemas em direção ao útero das Ilhas, metáfora, por excelência, do centro

das raízes culturais santomenses. Há um intenso desejo de reabitar a terra, a cultura, a

História. Porém, a voz lírica enunciadora pressente que, para tal, é preciso,

primeiramente, reabitar o poema. Não aquele que se revestiu de euforia e alimentou o

sonho libertário de jovens inocentes (cf. O Útero da casa, p. 24), mas o que é agora tecido, na fratura dos sonhos, no entrelugar da paixão e da vigília das palavras.

Depreende-se, então, nos poemas um percurso rumo ao seio da linguagem, a um

espaço metapoético que, uterinamente, repensa o antigo ethos umbilical com as Ilhas,

reavaliando, de dentro, as estereotipadas visões exóticas e/ou paradisíacas que a

colonização sempre imputou a São Tomé e Príncipe.

Sempre desperto, insone, em permanente vigília, o sujeito lírico de O Útero da casa

efetua um profundo e consciente mergulho no passado, revendo "a herança saquea-

da", "o sangue da lua e as línguas decepadas", as figuras heróicas forjadas pelo colo-

nialismo. Questiona esses vultos históricos e denuncia São Tomé como uma nação

ainda sedenta de heróis (O Útero da casa, p. 31). Poeticamente rasura as memórias

dolorosas das roças - dos cacauzais, canaviais e cafezais -, onde o sangue de escravos e contratados deixou nódoas que impregnaram o solo das Ilhas. Surreais imagens de

raízes e pétalas de cacaueiros sangrando das unhas dos mortos (O Útero da casa, p.

30) se apresentam como alegorias de releitura crítica e corrosiva da história de São

Tomé. Fantasmas do outrora assombram a memória poética que faz a catarse das

dores sofridas por seu povo durante mais de quatro séculos.

Conceição Lima: a Vigília e um outro Olhar sobre a História

Page 14: Literatas Nº 20 - 2012

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Concursos

E stão abertas, até o dia 30 de

maio de 2012, as inscrições

para a oitava edição do

―Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus‖, o qual faz homenagem ao

escritor Jorge Amado, que completaria 100 anos em 10 de agosto de 2012.

Autor de dezenas de obras traduzidas pelo mundo todo, Amado é o autor

baiano mais famoso e lido por pessoas de todas as idades. O Núcleo Baiano

da União Brasileira de Escritores (UBE), na pessoa do coordenador Carlos

Souza, se junta a esta ação, com o objetivo de fortalecer a literatura do esta-

do da Bahia e prestar um tributo a Jorge Amado, um dos fundadores da

União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro.

Neste ano, serão aceitos textos inéditos (artigos, crônicas ou resenhas) ou já

publicadas sobre a vida e/ou obra de Jorge Amado ou de escritores e poetas

de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portu-

gal, São

Tomé e

Príncipe

e Timor-

Leste.

Outros

temas

serão

aceitos

como:

redações

sobre

assuntos

africa-

nos,

Copa do

Mundo

de Fute-

Prêmio Literário Valdeck será em homenagem a Jorge Amado

bol de 2014 e sobre escritores de outras partes do mundo, desde que os

textos sejam escritos em língua portuguesa.

O concurso literário promovido pelo jornalista Valdeck Almeida de

Jesus é uma iniciativa divulgada no Eixo 4 do Plano Nacional do Livro

e Leitura, do Ministério da Cultura e já publicou quase 1100 poetas do

mundo todo, desde 2005.

As inscrições - Para participar, os interessados deverão enviar seus tex-

tos de até 50 linhas; minibiografia de no máximo cinco linhas; endere-

ço completo, com CEP e telefone de contato e DDD para o e-

mail [email protected]. Os trabalhos devem vir dentro do cor-

po do e-mail e anexados em formato Word. Inscrições incompletas

serão desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão

aceitas inscrições pelos correios.

FONTE: Radar Notícias

FO

TO

: Am

pliar

Regulamento

Prazo para envio dos textos: 03 de abril de 2012

DA PARTICIPAÇÃO

1.1. A presente antologia é promovida pela Literarte- Associação Internacio-

nal de escritores e artistas .

1.2. Poderão participar da antologia todas as pessoas físicas maiores de 18

anos, ou menores com permissão do responsável, residentes legais no Brasil,

bem como brasileiros residentes no exterior. Também poderão participar da

Antologia escritores de outras nacionalidades, desde que a língua mantida

seja a língua portuguesa.

1.3. Das características da antologia: A Antologia , receberá única e exclusi-

vamente contos, poesias, trovas, haikais,sonetos e crônicas, sendo que a

criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho. 1.4.

Poderão participar da antologia autores com menos de vinte e um

anos,mediante autorização por escrito de um responsável legal, acompanha-

da de fotocópia do original de documento de identidade do mesmo para con-

ferência e registro de inscrição.

1.5. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá

proceder ao pagamento da seguinte forma:

Cada autor pagará o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) que podem ser

pagos em duas parcelas, por cota de publicação com o primeiro pagamento

até 10 de abril e o segundo até 10 de maio.·

(Caso receba notificação que seu texto foi aprovado)·

1.6 Os participantes receberão um total de 12 exemplares da Antologia por

participação.

Título;

Formato: 230 X 160 mm (fechado)

Paper: OFF SET

1.7. A presente antologia será confeccionada pela Editora Literarte, será

registrada , receberá ISBN , mas cada autor é responsável por registrar

suas obras, a antologia tem como finalidade estimular a produção de

contos, formação e divulgação de novos autores.

2)DA ACEITAÇÃO DOS CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS

2.1. Serão aceitos apenas contos , crônicas e poesias em língua portu-

guesa, de temática pertinente a antologia, com limite de cinco mil

caracteres por texto com espaços, em formato A4, espaços de 1,5 entre

linhas, fontes times ou arial tamanho 12, acompanhados dos dados de

inscrição que constam no parágrafo 5.5 desse regulamento.

2.2. Não serão aceitos fanfics nem contos que pertençam ao universo de

personagens já existentes criados por outro autor.

2.3. Os contos devidamente formatados deverão ser enviados para o

email:[email protected] ou [email protected]

om.br ou enviados diretamente pelo

site: www.grupoliterarte.com.br Assunto: Antologia New York , junto

com os dados de inscrição e demais documentos de autorização.

2.4. Os contos inscritos deverão contemplar, obrigatoriamente, os

seguintes elementos: (a) narrativa em primeira pessoa ou terceira pes-

soa; (b) O tratamento dado ao tema será de exclusividade de cada autor.

2.5. Caso o autor deseje que seu conto tenha mais do que o espaço

reservado de ele terá a opção de adquirir o valor de duas cotas, assim

podendo ampliar seu espaço na antologia. Os procedimentos são os

mesmo citados no item 1.5 desse regulamento, caso haja espaço na

antologia liberaremos alguns autores que excedam sem custo extra.

5.2. Sobre este concurso pode-se obter informacoes no site

www.grupoliterarte.com.br .

Antologia:Brazilians Days

Divulgado e lançado na Expo-America em New York – EUA

Em 2012, comemora-se o centenário do nascimento de Jorge

Amado e passam 110 anos do nascimento de Drummond de

Andrade. No Brasil, prepara-se um filme, exposições e novas edições

Page 15: Literatas Nº 20 - 2012

S E X T A - F E I R A , 0 2 D E M A R Ç O D E 2 0 1 2 | L I T E R A T A S | L I T E R A T A S . B L O G S . S A P O . M Z | 1 5

Concursos PRÉMIO LITERÁRIO KARINGANA WA KARINGANA UNIVERSIDADE DO MINHO

O "Prémio Literário Karingana Wa Karingana -

Universidade do Minho" tem por objectivo

incentivar a escrita criativa em língua portugue-

sa em Moçambique e destina-se a galardoar uma obra

inédita sob a forma de conto, de novela ou de um conjun-

to de contos.

Podem candidatar-se ao Prémio os estudantes nacionais

finalistas da 12ª Classe do Ensino Pré Universitário nos

anos 2010 e 2011, e que comprovadamente tenham fre-

quentado este ciclo de estudos em Moçambique.

Regulamento:

Artigo 1º (Promotores)

A KARINGANA WA KARINGANA Associação, com sede em Lisboa, e a UNIVERSIDADE DO MINHO, com sede em Braga, com o apoio do Ministério da Educação de Moçambique e da Fundação Carlos Lloyd Braga, promovem o ―Prémio Literário Karingana Wa Karingana - Uni-versidade do Minho‖.

Artigo 2º (Objectivo)

O ―Prémio Literário Karingana Wa Karingana - Universidade do Minho‖, tem por objectivo incentivar a escrita criativa em língua portuguesa em Moçambique e destina-se a galardoar uma obra inédita sob a forma de conto, de novela ou de um conjunto de contos.

Artigo 3º (Candidatos)

Podem candidatar-se ao Prémio os estudantes nacionais finalistas da 12ª Classe do Ensino Pré

Universitário nos anos 2010 e 2011, e que comprovadamente tenham frequentado este ciclo de estudos em Moçambique.

Artigo 4º (Publicitação)

O Prémio será publicitado e divulgado pelo Ministério da Educação de Moçambique, junto de todas as Escolas Secundárias de Moçambique, pelos meios que tiver por convenientes, até final

de Novembro de 2011.

Artigo 5º (Valor do prémio)

O prémio a atribuir será constituído por: a) Uma bolsa de estudos para a realização de estudos de licenciatura em Portugal, na Univer-sidade do Minho, por um período de 3 (três) anos;

b) A edição conjunta das 3 (três) melhores obras a concurso e de um conto escrito por Mia Couto.

Artigo 6º (Objecto)

1) Cada concorrente elaborará o seu texto tendo como linhas iniciais as escritas por Mia Couto tal como transcrito no ponto 3) deste artigo; 2) A obra terá de ser individual, original e redigida em português, podendo conter expressões

em outras línguas (devidamente explicadas em glossário); 3) Texto de Mia Couto em itálico e entre aspas: ―O livro que fechou a menina Marília fechou o livro escolar como quem encerra as duas partes do mundo. As mãos pequenas alisaram a capa com tristeza de despedida. A menina sabia que, junto com o livro, se cerravam as portas do tempo. - Mas, pai, não dá para prosseguir mais um ano? - Está a ver o que dá a escola? Agora, já pensa que tem escolha…

- Mas o professor pediu… O pai ergueu a mão como se as palavras não bastassem para exprimir a sua indignação. O que mão dele dizia era simples: Marília que ficasse calada, no lugar de silêncio que lhe competia. Depois, ainda azedou: - Esse professor pediu para falar comigo? Que abusos são esses, o que quer este homem da minha filha? - Ele não quer de mim, ele quer de si, pai. O professor acha que eu devia continuar os estudos. Quer pedir que o senhor não me mande interromper a escola.

- Pois esse professor vai ver. Vou denunciá-lo na administração. E você é muito burra, não vê as intenções que este homem tem consigo? Marília contemplou o livro pousada na mesa. E de repente, lhe pareceu que as mãos do livro é que a tinham fechado a ela. Para sempre.‖

Artigo 7º (Características da obra)

a) Os textos deverão ser apresentados por escrito, sob pseudónimo, deverão ter um mínimo de 30 folhas e um máximo de 60 folhas formato A4 (210 x 297mm), apenas frente, espaço 1 ½ entrelinhas e letra Times New Roman, tamanho 12; b) Deverão ser enviados 6 (seis) exemplares em papel, assim como uma cópia em suporte

Artigo 8º

(Processo de envio)

Forma de apresentação:

a) As obras a concurso – trabalho dactilografado – devem ser encerradas em envelope

opaco e fechado, no rosto do qual deve ser escrita a palavra «Obra»;

b) Em envelope com as características indicadas na alínea anterior, no rosto do qual

deve constar a identificação, morada e pseudónimo do concorrente, devem ser incluídos

documentos que contenham os seguintes elementos:

1. Fotocópia do Bilhete de Identidade;

2. Indicação de morada, nº. de telefone e e-mail;

3. Indicação do Estabelecimento de Ensino e número de aluno;

4. Declaração de renúncia a qualquer pagamento a título de direitos de autor, no caso de

a obra vir a ser publicada pela ―Karingana Wa Karingana‖ ou por a quem esta ceda os

direitos de publicação;

c) No caso de se tratar de concorrente menor é obrigatória a apresentação de uma

declaração assinada pelos pais ou por quem detenha a tutela do participante, autorizando a

sua participação no concurso e expressando o seu acordo com o presente regulamento.

Esta declaração deverá ser acompanhada por cópia bem legível dos pais ou tutor(es) do participante;

d) Os envelopes a que se referem as alíneas anteriores são encerrados num terceiro,

igualmente opaco e fechado, que se denominará «Invólucro exterior», para ser remetido

sob registo ou entregue pessoalmente, contra recibo.

e) Os trabalhos deverão ser enviados, até 31 de Maio de 2012 (inclusive) – a compro-

var pela data no carimbo do correio e/ou do correio electrónico – para:

1. ‖Prémio Literário Karingana Wa Karingana – Universidade do Minho‖ Rua Patrice

Lumbumba nº 899, Maputo, Moçambique

2. e em suporte digital, para: [email protected]

f) Os exemplares dos trabalhos apresentados não serão devolvidos aos concorrentes.

g) Serão excluídos todos os trabalhos que não respeitem as disposições deste regula-

mento.

Artigo 9º (Composição do Júri)

A atribuição do Prémio será decidida por um Júri composto por:

a) Presidente do Júri – Mia Couto.

b) Representante da Karingana Wa Karingana Associação.

c) Representante da Universidade do Minho.

d) Representante da Sociedade de Língua Portuguesa.

e) Três personalidades Moçambicanas a designar pelos promotores.

Existirá um Júri de Selecção, caso o número de trabalhos apresentados o justifique, que

será indicado pelos promotores do prémio referidos no artigo 1º.

Artigo 10º

(Deliberação do Júri)

O Prémio será atribuído por unanimidade ou, em caso de impossibilidade, por maioria de

votos; O Júri poderá não atribuir o Prémio, caso entenda que nenhuma das obras a con-

curso o justifica. A decisão do Júri é definitiva e, da mesma, não haverá recurso.

Artigo 11º

(Divulgação do premiado)

O resultado do concurso será anunciado pelo Júri na primeira quinzena de Setembro de 2012. A entrega solene do “Prémio Literário Karingana Wa Karingana – Universidade do

Minho‖ ocorrerá na Universidade do Minho no dia 17 de Novembro de 2012 (dia mundial

do estudante).

Artigo 12º

(Direitos de Autor)

a) Os participantes no concurso cedem os direitos de autor das obras a concurso, para

todo o Mundo, à ―Karingana Wa Karingana Associação‖ ou a quem esta os ceda, compro-

metendo-se o autor, ou os seus representantes legais, a assinar contratos de edição, de

acordo com legislação de propriedade intelectual, bem como os demais documentos que se revelem necessários para esse fim. No caso de publicação, a obra deve indicar ―Prémio

Literário Karingana Wa Karingana - Universidade do Minho‖.

b) Os vencedores autorizam expressamente a utilização do seu nome e da sua imagem,

com fins publicitários, em quaisquer actos de apresentação e/ou material de promoção,

que os promotores considerem pertinentes com vista à difusão do Prémio.

Artigo 13º

(Disposições Finais)

A participação neste concurso implica, de forma automática, a aceitação plena dos pre-

sentes termos deste regulamento.