revista literatas edição 11

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Literatas Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 27 de Setembro de 2011 * Ano 01 * Nº 11 * E-Mail: [email protected] Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Literatas agora é no SAPO literatas.blogs.sapo.mz Encontre-nos no facebook Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Sai às Terças-feiras Relançando Noémia de Sousa “Sangue Negro” Pág. 2 PAIXÃO PELA ESCRITA

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Page 1: Revista literatas   edição 11

LiteratasDirector editorial: Eduardo Quive * Maputo * 27 de Setembro de 2011 * Ano 01 * Nº 11 * E-Mail: [email protected] Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona

Literatas agora é no SAPO

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Literatas

Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigoSa

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Relançando Noémia de Sousa “Sangue Negro” Pág. 2

Paixão Pela escrita

Page 2: Revista literatas   edição 11

“Sangue Negro” 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

Em primEiraTerça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2

O PAíS - MAPuTONa data em que a poetisa completaria 85 anos, 20 de Setembro de 2011, a Marimbique reeditou “Sangue Negro” de Noémia de Sousa e proporciona-nos uma leve camin-hada pelos corredores do tempo, ou melhor, da história, da revolta e da emoção.

“NoSSa voz ergue-se consciente e bárbara/ Sobre o branco egoísmo dos homens/ Sobre a indiferença assassina de todos”. Noémia de Sousa não poderia ter um interessante poema para dedicar a José Craveirinha, seu velho compan-heiro dos piqueniques que traçavam as linhas nacionalistas na última metade da década de 1950.

O poema “Nossa Voz”, que abre o livro “Sangue Negro”, lançado

ontem em Maputo, na sua segunda

edição – desta vez pela Marimbique

– prepara-nos para um regresso à história, mas sem abandonar as fundamentais e humanas bases de actualidade que sempre compuseram Noémia

de Sousa. Nelson Saúte, que assina o prefácio do livro, nunca escondeu

esse profundo sentimento pela senhora que uma vez inspirada pelo spiritual ongs dos negros da América brandaria em versos “deixem passar

meu povo”... Escrevíamos que Nelson Saúte nos prepara para esse regresso ao tempo que de que falá-vamos. Primeiro, ele assume-o ao postar a começar um conselho de

José Craveirinha.“NElSoN: ProCura ser um fiel servo da memória de todos os tempos para que a tua voz se faça ouvir no teu tempo. E escuta com atenção o que te dizem as vozes de outras bocas, de outros mensageiros e as melodias de outras xipendonas. Então sentirás sobre os ombros o peso – o verdadeiro peso – de um genuíno legado, o legado do teu amanhã em que dirás com toda a humildade: ‘Sou

um homem de ontem mas não me neguem um lugar de repouso nos céus do vosso Hoje”

BiografiaNoémiA de SousaescritorA moçAmBicANA, Carolina Noémia abranches de Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em lou-renço Marques (hoje Maputo), Moçambique. o seu trabalho poético continua por publicar em livro. Poetiza que, numa espécie de postura predestinada, desembaraçando-se das

normas tradicionais europeias, de 1949 a 1952 escreve dezenas de poemas, estando muitos deles dispersos pela imprensa moçambicana e estrangeira.

com ApeNAs 22 anos de idade, surge na senda literária moçambicana num impulso encantatório, gritando o seu verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado (bem fundo) na alma do seu povo, da sua cultura, da sua consciência social, revelando um talento invulgar e uma coragem impres-sionante.

mestiçA, reveLA ser marcada por uma profunda experiência, em grande parte por via dessa mesma circunstância de ser mestiça.

A suA poesia, desde logo, se mostrou “cheia” da “certeza radiosa” de uma esperança, a esperança dos humilhados, que é sempre a da sua libertação.

todA A sua produção é marcada pela presença constante das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos valores afri-canos, do protesto e da denúncia.

poesiA de forte impacto social, acusatória, a sua linguagem recorre estilisticamente à ressonância verbal, ao encadea-mento de significantes sonoros ásperos, à utilização de pala-vras que transportam o “grito inchado” de esperança.

NoémiA de Sousa, como autêntica pioneira da literatura Moçambicana (como assim sempre foi considerada) pre-coniza - no seu percurso literário - a revolução como único

meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra moçambicana.

sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo avançasse uno, em colectivo, em direcção a um futuro que alterasse os eixos em que se fundamentava a atitude do homem, mas sem nunca fazer a apologia da desumaniza-ção. afirma-se, acima de tudo, africana e aposta fortemente na divulgação dos valores culturais moçambicanos.

As propostAs essenciais da sua expressão literária vão do desencanto quotidiano, de uma certa amargura, de uma certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgulho racial, até ao protesto altivo que contém a pulsão danada contra cinco séculos de humilhação.

a grande base do texto de Noémia de Sousa está centrada na eterna dicotomia “nós/outros” - “nós”, os perfeitamente africanos; os “outros”, as gentes estranhas, os que chegaram a África, os colonizadores. assim, estes são, sem dúvida, os dois grandes temas da poesia de Noémia de Sousa: se por um lado temos a contínua denúncia da total incom-preensão por parte do colonizador, que apenas capta a superficialidade dos rituais, não compreendendo o âmago de África, demonstrando, desta forma, uma visão plena-mente distorcida, por outro lado lança-nos em poemas de elogio aberto à raça negra, gritando bem alto e de forma plenamente perceptível que a presença do colonizador em África é sinónimo de força que apenas veio denegrir a imagem daquela terra.

NoémiA de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por parte dos africanos. E por esse mesmo motivo vem afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África tinha forçosamente que ser entendido por oposição à maneira de cantar do colonizador.

Nos seus poemas, o “eu” de Noémia de Sousa é entendido como um “colectivo”, um povo inteiro que quer ter palavra - o povo moçambicano. desta forma, a poetiza assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à terra-mãe que os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação demonstrada ao longo de tanto tempo, ora (mesmo) lhe promete a rápida e definitiva devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica.

ApesAr de breve, porém prolífera, passagem de Noémia de Sousa pelo panorama da literatura moçambicana, a qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser recon-hecida e admirada.

Ilustre obra da autora moçambicana Noémia de Sousa

Page 3: Revista literatas   edição 11

Carlos Santos lança “Pastor de ondas”

Jornalismo e Línguas

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3

Em primEira

O PAíS - MAPuTO

FOTO: O PAíS E SAPO Mz

dEPoiS dE “Quinta dimensão”, o livro em prosa de Carlos dos Santos, a alcance Editores prepara-se para lançar “o pastor de ondas”. Embora coloca um paralelismo entre as duas obras – uma espécie de “continuidade” – em “o Pastor de ondas” Carlos dos Santos transfigura-se, faz uma profunda penetração à “ficção científica” e expõe as suas crenças.Por falarMoS em “crenças”, dos Santos parece brincar com elas. ou melhor, parece confundir o leitor se o que escreve é simplesmente um alinhamento do narrador - que é participante – ou o autor também se identifica com elas.

Mas, primeiro era preciso perceber se os homens acreditam realmente se podem voar.

“o ESCorPião está agora a andar em minha direcção. Quero fugir dele, mas estou sem forças. Esgotado. deve ser por causa das vertigens do voo. afinal, voar é muito cansa-tivo para quem, como eu, não nasceu ave.”E S ta Co N -Statação do narrador/per-sonagem surge na sua visita ao curandeiro onde se desco-bre a voar com auxílio de uma águia e depois é atacado por um e s c o r p i ã o . aqui surgem

as contradições propositadas do autor ou o baralho próprio de um personagem como o dele, que se encon-tra num espaço sem perceber o que está a acontecer. É como dormir na rua e acordar na cama do rei e depois procurar uma explicação. “o Pastor de ondas” deixa-nos nessa situação controversa principalmente quando nos caracteriza um escorpião com lâminas para riscar “onzes” no corpo de quem visita um curandeiro.a HiStória, em si, começa meio a medo, sem nos dar campo para percebermos se entramos para um espaço pela livre vontade ou por falta de opção.“rESvalEi-ME a medo para o interior da palhota cilín-drica de caniço, coberta com capim seco” – começa o livro dando-nos a imagem do espaço para depois

Carlos dos Santos entrou para as profundezas de uma sociedade e deixou funcionar a sua imaginação entre a realidade e a ficção. “O Pastor de Ondas” mostra essa falta de limites entre esses dois espaços.

caracterizar a forma como o personagem se faz a esse local - Curvei-me até quase cair para a frente e entrei, a custo, quase que gatinhando, como se estivesse a fazer uma vénia, em acto da mais profunda sujeição. a entrada é tão rebaixada que quando acabei de entrar... dei comigo sentado no chão”.

É uM encontro com seres de um outro espaço. É uma ida incompreensível a uma agência de viagem que nos leva para todos os lados, até aos inesperados.

“E dali partiam para onde bem lhes apetecia. uns iam dali encontrarem-se com os seus defuntos, falando-lhes aos espíritos nas mais íntimas línguas. outros, a partir dali encontravam-se com o próprio deus em pess... em espírito. outros iam ter com extraterrestres das mais dis-paras localizações celestiais.”

Na vErdadE, Carlos dos Santos é que nos leva em difer-entes viagens como se ele próprio fosse a agência pela forma simples com que escreve e pelos diferentes temas que recolhe para este “o Pastor de ondes.” Nós, prop-ositadamente, apegamo-nos no ângulo desse estranho curandeiro. Mas podíamos ir muito para além desse ponto e despertarmos a falarmos de um universo que o autor pretende nos oferecer. Ele o faz com simplicidade, como quem nos conta a história com todo o seu entusiasmo, como quem quer passar para os que o ouvem.

- o evento é organizado no âmbito das celeb-rações de mais um aniversário da rádio que se assinala no dia sua criação, 2 de outubro.

a ter lugar nesta quarta e quinta-feira em Maputo, o encontro vai juntar académicos, especialistas da África do Sul, tanzânia, inglaterra, Cabo verde e angola. Serão debatidos temas relacionados com a radiodifusão e linguística, com destaque para as línguas moçambicanas, assim com as experiências dos países convidados no que con-cerne a uso das línguas nacionais nos meios de comunicação social.durante as vii Jornadas de radiodifusão e lin-guística será lançado o livro Serviço Público de radiodifusão: desafios do Presente e do futuro, composto por comunicações das jornadas ante-riores. recordar que as vii jornadas foram antecedi-das de debates organizados mensalmente pelo núcleo de línguas da rádio Moçambique

Page 4: Revista literatas   edição 11

FicHA técNicAPropriedade do Movimento Literário Kuphaluxa

Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: [email protected]

Director Editorial: Eduardo Quive ([email protected])Coordenador: Amosse Mucavele ([email protected]) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane ([email protected])Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.Design e páginação: Eduardo Quive

Nossa Voz

JustificaçãoA MuLHER QuE RI À VIDA E À MORTE

4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 LITERATuRA MOÇAMBICANA 4

NOéMIA DE SOuSAao J. Craveirinha

Nossa voz ergueu-se consciente e bárbarasobre o branco egoísmo dos homenssobre a indiferença assassina de todos.Nossa voz molhada das cacimbadas do sertãonossa voz ardente como o sol das malangasnossa voz atabaque chamandonossa voz lança de Maguiguananossa voz, irmão,nossa voz trespassou a atmosfera conformista da cidadee revolucionou-aarrastou-a como um ciclone de conhecimento.

E acordou remorsos de olhos amarelos de hienae fez escorrer suores frios de condenadose acendeu luzes de esperança em almas sombrias de deses-perados...

Nossa voz, irmão!nossa voz atabaque chamando.

Nossa voz lua cheia em noite escura de desesperançanossa voz farol em mar de tempestadenossa voz limando grades, grades secularesnossa voz, irmão! nossa voz milhares,nossa voz milhões de vozes clamando!

Nossa voz gemendo, sacudindo sacas imundas,nossa voz gorda de miséria,nossa voz arrastando grilhetasnossa voz nostálgica de ímpisnossa voz Áfricanossa voz cansada da masturbação dos batuques da guerranossa voz gritando, gritando, gritando!Nossa voz que descobriu até ao fundo,lá onde coaxam as rãs,a amargura imensa, inexprimível, enorme como o mundo,da simples palavra ESCravidão:

Nossa voz gritando sem cessar,nossa voz apontando caminhosnossa voz xipalapalanossa voz atabaque chamandonossa voz, irmão!nossa voz milhões de vozes clamando, clamando, clamando.

Noémia de SousaescritorA moçAmBicANA, Carolina Noémia abranches de Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em lourenço Marques (hoje Maputo), Moçambique. o seu trabalho poético continua por publicar em livro. Poetiza que, numa espécie de postura predestinada, desemba-raçando-se das normas tradicionais europeias, de 1949 a 1952 escreve dezenas de poemas, estando muitos deles dispersos pela imprensa moçambicana e estrangeira.com ApeNAs 22 anos de idade, surge na senda literária moçambicana num impulso encantatório, gritando o seu verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado (bem fundo) na alma do seu povo, da sua cultura, da sua consciência social, revelando um talento invulgar e uma coragem impressionante.mestiçA, reveLA ser marcada por uma profunda experiên-cia, em grande parte por via dessa mesma circunstância de ser mestiça. a sua poesia, desde logo, se mostrou “cheia” da “certeza radiosa” de uma esperança, a esperança dos humilhados, que é sempre a da sua libertação.todA A sua produção é marcada pela presença constante das raízes profundamente africanas, abrindo os caminhos da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos valores africanos, do protesto e da denúncia.poesiA de forte impacto social, acusatória, a sua lingua-gem recorre estilisticamente à ressonância verbal, ao encadeamento de significantes sonoros ásperos, à uti-lização de palavras que transportam o “grito inchado” de esperança.NoémiA de Sousa, como autêntica pioneira da literatura Moçambicana (como assim sempre foi considerada) pre-coniza - no seu percurso literário - a revolução como único meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra moçambicana.sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo avançasse uno, em colectivo, em direcção a um futuro que alterasse os eixos em que se fundamentava a ati-tude do homem, mas sem nunca fazer a apologia da desumanização. afirma-se, acima de tudo, africana e

NOéMIA DE SOuSAse o nosso canto negro é simultaneamenteBAço e ameaçador como o marem Noites de calmaria;se A nossa voz é rouca e agrestesó se abrindo em gritos de rebeldia;se é ao mesmo tempo amarga e doce a nossa poesiacomo suco de nhantsumas silvestres;se é encovado e profundo o nosso olharrAsgANdo-se impávido à luz do dia;se são disformes e gretados nossos pés espalmadosde triLHAr caminhos ingratos;se A nossa alma se fechou para a alegriae só dá hospedagem ao ódio e à revolta- Não nos culpes a nós, irmão vindo das ruas da cidade.

Que eNtre nós e o sol se interpuseramgrAdes FeiAs de escravidão,grAdes NegrAs e cerradas a impedir-nos de tostarde verdAdeirA felicidade,

mAs Ai, irmão vindo das ruas da cidade!Nosso Firme sentido de justiça, nossa indómita vontade a nascerNossA misériA comum vestida de sacas rotas e imundas,NossA própriA escravidãoserão o calor e o maçarico que fundirãopArA sempre as grossas colunas que nos zebravam a vida inteirae LHe arrancaram todo o jeito doce e inexprimível de vida.

NOéMIA DE SOuSAPara lá daquela curvaos espíritos ancestrais me esperam.

Breve, muito brevetomarei o meu lugar entre os antepassados

À terra deixarei os despojos do meu corpo inútilas unhas córneas de todos os laboreseste invólucro sulcado pela aranha dos dias

Enquanto não falo com a voz do nyangacada aurora é uma vitóriasaúdo-a com o riso irreverente do meu secreto triunfo

oyo, oyo, vida!Para lá daquela curvaos espíritos ancestrais me esperam

aposta fortemente na divulgação dos valores culturais moçambicanos.As propostAs essenciais da sua expressão literária vão do desencanto quotidiano, de uma certa amargura, de uma certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgul-ho racial, até ao protesto altivo que contém a pulsão danada contra cinco séculos de humilhação.a grande base do texto de Noémia de Sousa está cen-trada na eterna dicotomia “nós/outros” - “nós”, os per-feitamente africanos; os “outros”, as gentes estranhas, os que chegaram a África, os colonizadores. assim, estes são, sem dúvida, os dois grandes temas da poesia de Noémia de Sousa: se por um lado temos a contínua denúncia da total incompreensão por parte do coloniza-dor, que apenas capta a superficialidade dos rituais, não compreendendo o âmago de África, demonstrando, desta forma, uma visão plenamente distorcida, por outro lado lança-nos em poemas de elogio aberto à raça negra, gritando bem alto e de forma plenamente perceptível que a presença do colonizador em África é sinónimo de força que apenas veio denegrir a imagem daquela terra.NoémiA de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por parte dos africanos. E por esse mesmo motivo vem afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África tinha forçosamente que ser entendido por oposição à maneira de cantar do colonizador.Nos seus poemas, o “eu” de Noémia de Sousa é enten-dido como um “colectivo”, um povo inteiro que quer ter palavra - o povo moçambicano. desta forma, a poetiza assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à terra-mãe que os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação demonstrada ao longo de tanto tempo, ora (mesmo) lhe promete a rápida e definitiva devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica.ApesAr de breve, porém prolífera, passagem de Noémia de Sousa pelo panorama da literatura moçambicana, a qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser reconhecida e admirada

Page 5: Revista literatas   edição 11

MARCELO SORIANO - BRASIL

[email protected]

Nota preliminar: Antes de prosseguir com este artigo, lembro ao leitor que me dirijo à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), portanto, podemos encontrar gerúndios, futuros do pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011.

[LetrAs Ao veNto]

Escreveu letras no papel. Levantou o papel na altura dos olhos. E soprou contra a janela. As letras são insetos que voam em busca de sol.

[ALmA é pANdorgA]

Ao contrário do que imaginam os desalmados, a alma não dorme oculta no lado de dentro, ela paira muito alto, do lado de fora, como uma pandorga que acena colorido ao olhar inquieto do Menino Deus.

[trAtAdo de poemA]

A poesia vem assim: desescrita... Para que a desapaguem...

As cores primárias de um poema são Leste, Oeste, Norte e Sul.Os pontos cardeais de um poema: Amarelo, Ciano e Magenta.As operações básicas da matemática do poema: Sólido, Líquido, Gasoso e Etéreo.Os quatro estados da matéria do poema: soma, subtração, divisão e multiplicação.Mas eu diria que o poema só aceita quatro sexos: água, terra, fogo e ar.

O vazio de quem poema (do verbo poemar) não é oco.E tudo o que ciranda, ri-ri-rindo, em torno do próprio eixo é versopião... E dá poema...E não há nada mais íntimo, mais próximo, que um poema e seu poeta. Estão tão juntos, tão aglomerados, que ocupam o mesmo lugar no

espaço.

[coNtrA-ceNAs de umA Noite de meiA estAção]

É noite... E os pirilampos chuleiam o passo-a-passo das horas.Nos jardins o descanso é santo.- Vem ver! Vem ver, ó Cema! Olha um bico de lua acesa.A varanda é dos grilos...Pequena árvore... Cadeirinha de balançar noite ventada.O junco... No lago... Espeta o luar...Aranhas velhas babam tricôs...Paixão de lua é coisa de muro

A morte do sexo e o nascimento do amor NELSON LINEu - MAPuTO- amor!- Não me chame assim, nesse mato já não tem Coelho- victor respondeu a esposa.

- Não podemos desistir o último a desistir vence- voltou a atacar a Madalena.- Madalena não achas que nosso amor já está enrugado?- Eu acho que você está com preguiça de amar, esforce-se isso não pode acabar, poderia aceitar mesmo que seja difícil, mas isso depois de um de nós morrer.

o victor foi dizendo que todos os dias se esforçava para tudo voltar ao normal, passaram-se três anos que não sentia aquele frio que só ela matava, o peito já não sentia necessidade de ter a cabeça dela semeada, as pernas dela não convidavam os seus olhos quanto mais olhava indesejável ficava. a mulher chamava-lhe de aquiles porque calcanhar dela era o ponto dele mais fraco, o traseiro dela não mexia ao mesmo rítmo do bater do seu coração como antes, o umbigo dela passou a ser a parte do corpo que ele menos queria ver, outrora ele não podiam camar sem olhar, era para confirmar se estava mesmo com a mulher, porque ele era fielíssimo. ao lado dela sentia-se só hoje ela era a razão da sua inexistência, aquela saia preferida dele passou a ser injusta.a Madalena achava que o amor deles acabou prazo. E devia ser por les casarem-se por desinteresse outros casam por dinheiro, riqueza ,ostentação, exibicionismo e até por amor e não era esse o caso deles.Já não sentia vontade de arranhar as costas dele, a mão dele já não lhe criava arrepios, nem depois de abraçados sentia aquela quentura entre as pernas, ver-lhe descamisado era como ver um tronco , as veias do braço dele não corriam aquela sangue de leão que lha faziam ser domador, os pêlos do peito não passavam de um capim seco, até passou a gostar de lhe ver grosso, porque quando chega-se casa ia direito a cama, era melhor com ele na cama a dormir duque acordado a repararem-se um ao outro como Coelho e a cobra sem ninguém piscar o olho. fez nascer uma boa disposição, segundo o que ela aprendera as mulheres é que salvavam o casamento e os relacionamento só terminavam por incompetência delas, pediu ao meio marido era assim que ela o chamava ultimamente, para falar-lhe na orelha aquelas palavras que ele inventou mas foi ela que deu o aval para ser usada. isso nunca tentaram quem sabe daria certo.- Quais? Eu até me esquece que falava nas tuas orelhas.E ela ordenou para ele procurar se lembrar porque ela também tinha se esquecido. Quem sabe aí voltariam a ser homem e mulher. os filhos nem ninguém sabia o que não estava a acontecer, na cama eram como as madeiras que a constituiam ou lençol que não podiam usar.Quanto mais tempo estivessem longe um do outro sentiam-se bem como antes quando estavam juntos , tinham que ter algo a fazer para não ficarem a pensar no outro.No Segundo ano daquele insólito a Madalena decidiu trabalhar, daí o querer arranjar empregado doméstico para cuidar da casa e dos filhos. antes até poderia haver discução porque na zona norte do país que era da Madalena trabalhavam homens e do victor no Sul trabalhavam mulheres nessa profissão.unanimente chegaram a conclusão que tinha que ser uma mulher. Pós o seu lado feminino ia de acordo com o que se pretendia na casa e havia coisas que ela podia fazer por ter nascido com ela e um homem teria que aprender.Na segunda semana o victor voltou cansado do serviço não estava a sentir-se bem e deu-se de cara com a empregada que estava limpar o quarto. a má disposição se foi , transpirava em toda parte do corpo, revelava-se o homem que estava dentro dele. Pegou nela agressivamente, sem lhe dar tempo para um grito, babava nos lençóis . voltou ao mundo selvagem, domou-lhe, horas iam passando com mais vontade ia ficando e não saia o líquido que até então era desperdícios.a mulher chegou e assistiu sentada e não fizera nada, depois de cinco horas ele caiu no chão como um tronco, pedia água, a mulher concedeu o pedido mesmo depois de ver tudo aquilo acontecer na sua própria cama.a empregada foi ajoelhando e pedindo desculpas contou como aconteceu . a Margarida mesmo com aquela dor entre inveja e ciúme pagou dois meses adiantado e a empregada se foi da casa.Ela questionava-se se o marido ja não vem fazendo isso por aí fora. vestiu-se de preto e sentou-se na sala com os seus três filhos onde iam brincando. o victor estava até então no quarto de um lado triste por ter matado o seu juramento pessoal e feliz por ter voltado a ser homem.Eles queriam ser um casal exemplar, disseram um ao outro que não podiam se divorciar ,queriam ser exemplo para sociedade e principalmente para os seus filhos, que casamento era para sempre e não só porque tinham um passado parecido , ambos viveram com madrasta ou padrasto.a Madalena depois da separação dos seus país que por ser criança não soube o motivo, viveu com a mãe e um padrasto que lhe maltratava e via-lhe como empregada, foi impedida de estudar mas a mãe conseguiu com que ela mesmo com doze anos estudasse de noite. a mãe ajudava-lhe as vezes nas lágrimas. Era dona de casa mas tinha que se submeter aos devaneios do marido porque ela via aquele casamento como salvação, ficou muito tempo solteira vivia do que produzia na sua machamba uma parte era para casa e outra vendiam para matar outras necessidades.a boca pequena voavam relatos falsos dos homens que a desejavam e desconsiguiam levar-lhe a cama, porque ela queria casar e a maioria deles já eram casados. Mentiam que dormiam na casa dela. Quem iria casar com uma mulher que já passará nas mãos de quase todos? Nem com toda beleza dela seria humilhação demais.o padrasto era um comerciante, viajava dependendo da fertilidade e das necessidades de cada zona. daí que não teve tempo de ouvir o que se falava da mãe, e quando soube já estava rendido aos encantos dela. a mãe adoeceu ela estava sozinha a cuidou mas não foi suficiente morrerá nos seus braços. E chega o padrasto depois de uma semana carinhosamente a tratou, parecia outro homem, em menos de uma semana convenceu-lhe a vender a casa, porque lhe traria lembranças da mãe, era isso que acontecia ela não conseguia dormir. ao dormir a mãe sempre ia ao quarto dela para saber como estava e lhe cobria se não estivesse coberta. Era a essa hora que ela sempre acordava e punha-se a chorar lembrando-se dela.Partiu com o padrasto que prometeu, jurando que a cuidaria e pediu-lhe desculpas pelo que aconteceu antes e já mais voltaria a acontecer.arrumaram as malas e foram-se. Chegaram numa casa onde uns meninos vieram a correr e chamavam o padrasto de pai e um beijo de uma senhora que só se ela fosse cega não perceberia que se tratava da esposa dele, mãe daqueles meninos.apresentou a Madalena como uma órfã, ele a levou para cuidar e ela ajudaria com o trabalho de casa e os meninos. a mulher orgulhosa pelo gesto do marido a recebeu e lhe mostrou onde tinha que dormir e os restantes cantos da casa, onde ficava as roupas sujas para ela lavar, como tinha que se apresentar, tudo isso antes dela descansar e perceber o que era essa nova vida. o padrasto a deixou e viajou logo sem lhe despedir. Ela foi pensando quantas mulheres como sua mãe andavam por ai reféns. E indo na linha do que se tem dito: os homens são poucos e essa luta renhida visto que muitos perderam a vida na Guerra e outros vão homo-sexualizando- se.Sempre triste e humilde ia fazendo o seu trabalho diário. ficou amiga dos meninos que a acarinhavam e escondiam aquela comida que era para os da mesa, traziam a noite no quarto dela.o padrasto vinha e voltava. Certo dia ela roubou dinheiro dele e fugiu nunca mais a viram

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 CRÓNICA / CONTO 5

FiLosoFonias rapsódicas

Page 6: Revista literatas   edição 11

6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

- discurso dirEcto

Lurdes Breda: Apaixonada pelas palavras

Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6

os Livros ocupam um papel de extrema importância na minha vida e a leitura é fundamental para a minha evolução e realização, que pessoal quer profissional, enquanto escritora.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa certa vez disse o seguinte “a minha passagem pelo jornalismo foi fun-damental como escritor”. Como porta-voz da sociedade você percebe na literatura ou no jornalismo uma função definida ou mesmo prática?

A LiterAturA e o jornalismo, embora em paradigmas diferentes e cada qual utilizando metodologias próprias podem, por vezes, complementar-se. dependendo do género literário e da forma como é trabalhado o jor-nalismo, pode existir, com certeza, uma função prática, sobretudo, neste último, uma vez que se deve pautar pela objectividade e rigor na informação. a literatura, no meu ponto de vista, tem uma função mais estética e subjectiva, embora mesmo através da literariedade se possa veicular determinadas mensagens mais ou menos práticas.

Quais são os autores imprescindíveis nas sua leituras como escritor e leitor e que nunca o abandonam?

teNHo umA formação literária muito influenciada pelos autores clássicos portugueses, em especial os do século XiX: Eça de Queiroz, Júlio dinis e trindade Coelho. li ainda florbela Espanca, fernando Pessoa e os seus heterónimos, Miguel torga e Sophia de Mello Breyner andersen. Na literatura estrangeira, destaco léon tolstói, alexandre dumas, Gabriel García Márquez e Mia Couto.

Neste mundo cada vez mais globalizado, tão afeito ao imagético, com um nível elevado de analfabetismo e com uma diversidade cultural abrangente, o que te leva a dedicar à arte de escrever numa era onde ler um livro não é a palavra de ordem?

soBretudo, A paixão das e pelas palavras… o acreditar que escrever e ler continuam a ser a base essencial para a formação do ser humano. além disso, consequência da globalização e da evolução das novas tecnologias da informação e da comunicação, é possível aliar a escrita e a leitura a novas ferramentas como enriquecimento e incentivo à sua (re)descoberta. um livro pode ser um alimento para a alma… Escrever é uma arte. uma arte que deve ser cultivada como uma flor delicada. Só assim poderá desabrochar na sua plenitude.

O escritor angolano José Agualusa disse, certa vez, que “o escritor africano deve sair do gueto”, sendo o escritor a voz dos que não têm voz, a sua intervenção social não só deve cingir-se à escrita num país com baixos níveis de leitura, o escritor deve se expor na sociedade, comunga

Lurdes Breda nasceu no concelho de Montemor-o-Velho, onde reside. Frequenta o curso de Línguas e Literaturas Modernas – Variante Estudos Portugueses, da universidade Aberta. Foi premiada em vários certames literários nacionais e internacionais. é autora de treze obras literárias: “O misterioso falcão de jalne”, “Asas de vento e sal”, “zuleida, a princesa moura”, “A outra face do luar”, “A Nuvenzinha Cor-de-Farinha”, “O Duende Barnabé e as Cores Mágicas”, “O Abade João”, “O Piolho zarolho e o Arco-íris da Amizade”, “O Alfabeto Trapalhão”, “Para ti, Pai”, “O Rap do Mar e outros contos de rimar”, “O Duende Barnabé e o Jogo geométrico” e “Para ti, Mãe” e co-autora de outras sete (cinco das quais editadas no Brasil): “Contos com Vinho Madeira – Cultura Madeirense na Forma Líquida”, “Folhas ao Vento”, “Casa lembrada, Casa Perdida”, “Rosa dos Ventos”, “Amo de Ti – Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa”, “Prémio Alquimia das Letras” e “Prémio Valdeck Almeida de Jesus de Poesia – V Edição 2009”. Com o intuito de promover a inclusão das pessoas portadoras de deficiência na sociedade, participa em projectos que englobam a literatura, a música e as artes de palco, em parceria com a APPACDM – unidade Funcional de Montemor-o-Velho. é, com frequência, convidada para actividades que visam a promoção do livro e da leitura, junto das escolas. Colabora em jornais e revistas de âmbito regional e nacional.

Na infância, qual foi o seu primeiro contacto marcante com a escrita?Foi NA escola, com a descoberta dos diversos textos literári-os e respectivos autores, assim como com a elaboração de composições: a aprendizagem do uso e do poder da palavra aliados à imaginação. Que espaço os livros ocupam no seu dia-a-dia? A leitura, de alguma forma, influencia o seu trabalho e o seu quo-tidiano?

da mesma ideia? O ser escritor compensa? E qual é o papel do escritor?

peNso Que a literatura pode ter uma função social e catártica importantes. o escritor tem, por isso, um papel fundamental na sociedade. o carisma do escritor pode, inclusivamente, influir na forma como a sua obra é vista e até na generali-dade da literatura perante o leitor. Pode fazer a diferença na defesa de determinadas causas. Se o escritor ama a sua arte, por mais provações que experimente, se consegue fazer passar, no todo ou em parte, a sua mensagem, então compensa ser escritor.

A língua une-nos, mas continuamos muito distantes uns dos outros, em termos globais, qual é o estado clínico da literatura de expressão portuguesa? E o que a literatura do seu país recebe dos outros quadrantes lusófonos, con-cretamente os africanos, refiro-me à literatura moçambi-cana, angolana, guineense, cabo-verdiana etc.?

peNso Que cada vez mais, possivelmente por influência da globalização e consequente inter e multiculturalidade entre os países de língua Portuguesa, os autores africanos têm um maior reconhecimento, neste caso, em Portugal. talvez também pelo próprio “peso” que o escritor vai tendo no seu país de origem e que perpassa fronteiras.

Se em Moçambique, Angola, Cabo-Verde, São-Tomé, Timor Leste etc. o grande problema que cruza o caminho do escritor é encontrar uma editora onde possa publicar o seu trabalho, e em seguida alguém que compre e leia a mesma, creio que em Portugal e no Brasil acontece o inverso. Ou seja, compreende-se que as possibilidades de publicação nesses dois países são bem maiores do que as nossas, não se corre o risco de se ter muita obra imatura nas prateleiras. Qual a sua opinião sobre isso?

em portugAL, ao contrário do que possa pensar, não é assim tão fácil editar. Por outro lado, há expedientes e editoras que proliferam com a vontade do autor em editar. Muitas vezes a obra não é criteriosamente avaliada ou clivada para edição, o que significa a introdução no mercado de obras paraliterárias a par com as obras literárias.

Que obra de um escritor de qualquer quadrante do mundo que os moçambicanos deviam ler urgentemente? E como formar leitores?

peNso Que Mia Couto é uma excelente escolha e um escritor que todos deveriam ler, independentemente da naciona-lidade. E é um bom exemplo de que um autor africano é reconhecido no exterior. Quanto a formar leitores, acho que se deve sempre passar a mensagem de que ler deve ser um prazer, uma viagem a nós mesmos e a mundos de outra forma inacessíveis. deve alimentar-se a magia

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Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7

LuRDES BREDA

É um rosto de sorriso fácil. um sorriso nascido na sua própria simplicidade e no

amor de todos aqueles que a rodeiam. um sorriso que brota da fertilidade da terra. um sorriso que irradia a luz do sol, que

desabrocha no perfume das flores e se dispersa no abraço do vento até aos confins da fantasia…

Considera-se um ser humano privilegiado pelo afecto que os outros lhe dedicam e pelo dom da escrita. do seio da Natureza flúi a inspiração, que dá vida às palavras, com que inunda a brancura do papel.

a sensibilidade e a criatividade são instrumentos fundamentais, que utiliza na

elaboração dos seus textos, recamando-os depois, com a multiplicidade dos sentimentos e das

emoções experimentadas no quotidiano.

Quando acredita que determinado percurso é o mais certo para os objectivos

a que se propõe, é obstinada em segui-lo. Possui, todavia, uma enorme capacidade de improviso, face às adversidades inerentes a qualquer vivência.

Se tivesse que apontar alguns dos seus defeitos, não hesitaria em dizer que é

teimosa, demasiado perfeccionista e extremamente distraída. ironicamente, ou talvez não, muitas são as pessoas, que após lerem o que ela escreve, lhe dizem ser boa observadora. Pensa então, para consigo mesma, que o que tem é uma imaginação demasiado fértil…

Extraído do blog da autora: http://lurdesbreda.wordpress.com

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PEDRO Du BOIS - BRASIL

Certos jogos gritam resultados

trancados em gargantas

afogadas em líquidos

reaparecem em esbirros

espirros

no acordo

desacordado em regras:

ao vencedor

cabe o barulho

infernal do nada

quantificado no instante.

depois a vida segue o trajeto

previamente decorado: ao vencedor

resta a tênue lembrança

do que esquece.

Resultado

MAuRO BRITO - MAPuTOÉ sempre dito por aí que a sexta-feira é dedicada

ao homem ou seja em palavras autênticas, é o dia do homem; mas a última sexta-feira do mês de Setembro, feliz ou infelizmente foi cem por cento dedicada a poesia, somente a ela, literalmente sem concorrentes. um dia com indiferente frio, a litera-tas não se fez rogado, estava lá, quase rebentando pelas costuras do espaço do café Kultur do iCMa

– como habitual mensalmente. depois de se ter verificado uma paragem por

dois meses, por motivos alheios à vontade dos poetas, mas graças aos mesmos e os demais, a sessão de poesia voltou com a carga fortíssima. Mais de uma razão para juntar no mesmo espaço, apesar de ser dedicado a poesia, artes como a música, a dança, o stand up comedy, o futebol, a escrita, etc, todas as artes conjuntas, no intuito de resumir tudo em forma de poesia.

diria que colheu mais uma rosa no jardim da vida, mas tratando-se de um grupo que faz poesia e declama, como lhe poderíamos felicitar? diríamos que o grupo Pela arte d’alma deu mais um passo ao assinalar sete longos e duradoiros anos a orga-nizar as noites poesia e a recitar os mesmos, desde a primeiríssima noite, onde o número de aderentes era quase ínfimo, sendo que constituíam plateia

JAPONE ARIJuANE - MAPuTO

formas absolutas formar desinformados Peregrinando hostilidades históricas Contemplando o futuro que passa Na ingratidão do tempo a dignidade do presente que não se vê andorinha-mos em lindas teorias Serpenteantes em práticas hostis Queremos ser aquele que passa Estacionados no tempo Barrigas cheias da fome que engolimos Para não morrer dela aqui é Maningue Nice! Não passamos dificuldades vivemo-las. o que fazemos Nem melhor nem pior. Não fazemos! o que somos alguém quis que fossemos Não nós! amarados onde não podemos comer

Pobre de nós.

Veremos

Africanizado

Sobreviver, reviver!

os mesmos declamadores e seus próximos, mesmo assim sem deixar frustração por parte dos organizadores, tampouco dos fazedores de poesia.

de ressaltar que no início quem se encontrava em frente do projecto era o poeta nato amarildo, tempos depois por outros motivos, teve de abandonar a missão de fazer acontecer a poesia na sua forma mais expressiva; assumiu assim o leme o fotojornalista Juma Kapela, mais conhecido por feling Kapela, que com toda sua força segurou-o, escrevendo assim novos caminhos da poesia, como poeta bélico, assim e conhecido.

Mas os tempos mudaram, as escritas amadureceram, os poetas cresceram, a poesia conquistou o seu espaço na mente dos jovens de Moçambique, levando mais adeptos para o seu elenco, é evidente hoje o seu poder e afirmação no terreno da cultura moçambicana, sendo um instrumen-to de intervenção social, de elevação do espírito humano, e exaltação de outros valores. temos como exemplo de alguns que deram a cara as noites de poesia durante os nos que passaram: Professor orlando, Mia Couto, domi Chirongo, Clemente Bata, Jonasse, lucílio Manjate, mano azagaia, Shakal, tira teimas, Jaime Santos, ungulani Ba Ka Khossa, Nataniel Ngomane, Pedro Muimabo, Kululeko, e muito mais figuras de vários sectores da sociedade. Sete anos a fazer poesia e declamar significa muita aprendiza-gem, companhia, humanismo, amor, troca de experiência,

irmandade, significa acima de tudo obter uma nova visão que nos permite compreender os prós e contras da sociedade, enfrentando novos desafios.

Nesta noite que assinala o sétimo aniversário do grupo Pela arte d’alma, foram cabeças de cartaz: Simba- poeta, Pedro Mui-ambo - stand up Comedy, Catarina & lorena Gonzaga - violino e open Mic: 10 poetas em slide e feira do livro e artesanato. Numa autêntica miscelânea entre almas de diferentes cores, poetas da frança, Haiti e alemanha, depois do espaço ter sido purificado pelo som dos violinos, em dose única, ouviu-se também poemas e língua changana, Sena e portuguesa, com a presença de poetas d’alma como anabela Jaime, Polinésio, King e Sérgio, o Movimento literário Kuphaluxa também fez-se presente, representado pelos declamadores francisco Junior & izidine Jaime, os pedaços de poema em língua inglesa na voz de Simba; a comédia veio para aflorar os ânimos, duma forma diferente, tocando cada espectador que ali se encontrava.

o regresso do poeta bélico amarildo a fechar a noite, de forma mais natural que podia nos ter concebido ao sabor do bolo que foi confeccionado para simbolizar a data tão especial

7 anos de sextas de poesia

Poetas

8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

no rEcanto dE apoLo...Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8

LuA E ALMA

o meu mundo aconteceno mais minúsculo cílio do tempo...

E devora-me a certezade reencontrar-mediante do espelho:ahhh esbeltas asas inchadas de vidade belas rosas e aromasbeijando o vento em passagem!

Mãe Niasse

ARSéNIO IMPISSA - LICHINgA

Sou homem África dentroa onde a minha realidade sou.la fora sou nomes que dizem, mon-

stro…Em cada cantinho por onde vou.

Quem sou homem pretoQue na presença da sombra de deusSou um simples esqueletoQue representa os ateus!!?

ai de mim na minha sinaQue crente sou belzebuE o verdadeiro é obra divinaNa minha cor de diabo

Não choro aqui o meu realismoMas sim o vosso egoísmo “o racismo”.

EDuARDO TOCOLOuA - LICHINgA

revanche no sussuro,

dando a vida no duro,

Pelo povo eu juro,

Por um dia tao puro! dizia Kankhomba,

Embriao de Messumba,

do sertao do lago Niassa,

Por onde a espada perpassa. ranger de dentes,

Por entre as gentes,

fica o recado, longe de ser pecado,

Pulando o cercado

Para o outro lado do cenado.

HuMBERTO RODRIguES -LICHINgAoh mãe Niassao teu agasalhoSentimulos oh mãe Niassa

as tuas aguas nascentesQue lubrificam as montanhasEscorem nas nossas mentesoh mãe Niassa.

Procurada pelos estrangeirosContada outremoh mãe Niassa

Niassa nossa mãe

NONIA ISSAC – TETE

Connosco poesia,vigilantes do nosso amor.

Censurados como nãoaqui estamos,resistimos, por aquilo que amamos.

Serenos, murmuramos:dizer, fazer e Sentir a literaturaNavegamos nelaa poesiaNosso amante.

Serenamente palavreamosinesperadamente esculpimos palavras

Essa é a nossa arte

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Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9

canto da poEsia - FacEbookTerça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9

textos do Grupo - Canto da Poesia do facebooK. recolha de raffa inguane.

raffael inguane

a morte morreu mortalmente morrida,

Matando mortos mortais,

Matadores mortíferos da mortalidade e martandade morta.

um morticínio mortiço em morraria

Mortificação do moribundo mortificativo

a mortinatalidade do morto-vivo é um mortório mortuoso

o mortulho da mortualha mortificada

E o morediço morredoiro morremorrer

CELSO AuguSTO FOLEgEPor longas estradas passei longas distâncias percorri Em bravos mares naveguei Minha alma diz: Eu ainda não morri Corpo esmorecido, sistema muscular digestivo e circulatório enfraquecidos apesar do meu débil estado físico em bravos mares naveguei minha alma sussurra: eu ainda não morri continentes, mares bons e maus riam-se de mim, me mantenho firme firme na minha infinita esperança firme no meu caminhar, a vida torna-se um caos de varias ervas, até daninhas e frutos silvestres vivo frutos que outrora não sabia da sua comestibilidade fazem parte do meu improvisado cardápio de dificuldade o que faço eu neste imenso vácuo de sociedade neste local esverdeado e abundado por selvagens animais irracionais, onde só eu trago racionalidade pretendo gozar os direitos humanos na sua plenitude pois na urbe não sorri, mas tanto sofri estrondos de insígnias ouvi, mas reafirmo eu ainda não morri. a minha educação redundou-se em frustração Não tive consideração, apesar da minha formação Chamada superior, culpei a corrupção Por isso para o mato parti isolado vivo, a miséria curiosamente suporto, pois eu ainda não morri…

HuDSON gwAMBE

Naquela manhã pálida deslizava sob o asfalto da cidade das acácias apadrinhado estava de um frio que congelava os meus mar-

fins Naquela manhã pálida expirei o Co2 pálido, naquela manhã

respirei cacimba a minha boca parecia um chaminé de tanto respirar o Co2,

fiquei amarrotado com frio... E naquela manhã pálida vi o Chiquito deitado ao lado de uma lareira de papelão, bem enrolado como uma serpente, cobria ele o próprio

frio

da manhã pálida e de tanto frio que estava recebia dolorosos carinhos do frio

vi o Chiquito, vi o Chiquito rico de fome e rei de palidez a língua estava pálida, vi o Chiquito, não tinha onde ir o lar dele era dia e noite na rua, vi o Chiquito, alimentava-se de fome a cada rodar do dia cobria o frio, o luxo de enganar o estômago era raro vi o Chiquito a sofrer mas, no calcanhar dele há uma família Que não o querem Chiquito de água vive, mas o amanhã nos pés dele se ajo-

elhará E terá o luxo que hoje é um caso notável Chiquito não é mais escravo da manhã pálida Já é escravo da vida luxuosa que o rodeia Chiquito estende a mão para o próximo E com amor ajuda o próximo Chiquito já tem uma família e dá todas as regalias Chiquito hoje é homem rico e estende a mão para o próxi-

mo Chiquito hoje é homem rico e assou todo sofrimento no

luxo E estende a mão para o próximo

Última vontade A manhã pálida

PETER PEDRO PIERRE PETROSSENós gabamo-nos, Porque vivemos na cidade, onde tem água, luz de qualidade, temos tudo por perto. Nós gabamo-nos, Porque vivemos em Maputo city, a cidade das acácias. acácias que viraram balneários públicos. Já nem sei se elas libertam oxigénio ou oximijo. Mesmo assim gabamo-nos, Porque vivemos no prédio, Mas, alguns de nós não conhecem o vizinho do lado. Consumimos poluição sonora de 1 a 365 de cada ano. olhem para o jardim da Estrela vulgo Madjerman’s, Está todo deplorado. Á dias atrás era um autêntico dzudza’s fashion. a praça da juventude, virou um parque de venda de materiais de construção. Nós temos coragem, Conviver com o lixo, como se fosse um membro da família. até contaminamos as crianças. Elas são bem desleixadas, Mas não têm culpa, apenas tiveram a quem puxar. viras daqui, tem papel no chão, viras para ali, tem garrafa no chão, viras acolá, tem plástico no chão, viras mais uma vez, tem preservativo usado no chão. viras mais uma vez e o cenário piora, os vermes deliciam-se de restos de comida podre. respiramos a nauseabundice das nossas acções de ufuta. olhem para os contentores de lixo, Se não estão vazios, transbordam de lixo, Mas o lixo ainda desfila desnorteado pela cidade.

de quem é a culpa? Será do conselho municipal? Que cobra taxas e não cumpre com as suas obrigações? Será dos munícipes? Que não sabem gerir o seu lixo, deitando-o de qualquer maneira, alegando que a gerência do lixo cabe ao município.

de quem é a culpa?Eu, não sei. Só sei que nós gabamo-nos porque vivemos na cidade.

NÓS gABAMO-NOS

Poema da morte

Eu ainda não morri

VICENTE SITOESinto vontade... de deitar-me em cima ... desta cama Cabeça para cima Barriga ao ar Cruzar os braços no peito Cruzar as pernas sobre este leito fechar os olhos Pensar... imaginar... inspirar o último ar Expirar a única vida E me desligar voltar ao desconhecido da inexistência ao esquecimento voltar aonde nunca estive Morrer para o mundo e para os céus... voltar ao vão apenas me desligar

IzIDINE JAIME

Noite calma Corpos dançam o som reina deuses da música Sabem-nos na alma a Paixão é líquida o álcool faz-nos outros Corajosos as vezes Sem juizo Sentimo-nos deuses de nós também somos filhos do além Mas Matamo-nos antes de morrer tudo é uma festa Sorrisos se beijam disfarçados Como os homens dois corações também se abraçam a vida é uma cena também diversão E quem não se “de verde” É azul.

DIVERSÃO, SABE-NOS A MORTE O VALOR DA VIDA

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Em outras paLavras

Carta de Mbie à NikotileXIguIANA DA Luz

Homens desta terra,Chamaram-me para educar seus ouvidos,Surdos e mudos,Cegos e cheios de vozes que não deixam nenhum dizer,Dizem que és tu a culpada meu amor, mas sei que não.Encheram-te de desilusões na cabeça. Na cabeça sim eu sei, porque na alma vice me trancou e não deixa ninguém entrar.Pediram-te sexo, entre a vagina, os seios e lábios amelados, a sua beleza informal, eles levaram tudo isso.Eu sei Kotile.Sei também que você não é deles!Ofereceste-os amizade e amor,Provando a sua lealdade aos vagineiros deste mundo selvagem. Mundo que não sabe amar. Mundo com homens que sem piedade vão fazendo dos seus nesse teu coraçãozinho pequenito. Cheio de pequeneza e pureza.Eu sabia que é isso mesmo Maputo…que é assim mesmo Ka Mpfumo dele.Sabia também que te entregarias demasiadamente à esses nholwenes, viventes desse mundo que não lhes pertence.Disseram-me em jeito de gozo que venceriam esta luta em que senti-me sozinho, a combater leões, tigres e leopardos famintos, dependentes da caça. Caça aos mais sensíveis.E sempre soube das intenções desses recuados do tempo. Mutantes destes dias. Predadores sem objectivo, que na verdade são extermina-dores de virgens deste Nkomane, até do Deus mi livre que Deus há-de levar pelas maldades.Virgens que seriam escolhidas de Cristo para o reino das bruxas e as mãos doutras donzelas que desta vida passaram.Sabia Kotile…eu sabia tudo.Sabia que levariam-te para lá depois de revelarem-se falsosamente, seus amantes e apaixonados, fiéis e venerandos.Na verdade não prestam. São das impurezas…São palavras atormentadoras e sem espírito que ti seduzirão a tombar no palácio da morte.Ha! Nikotile, quem diria va hetile…são os mufanas de uma cidade grande e cheia de maldições. Maldições que agora você também tem!Hoje os espíritos vigam-se das suas decisões de ir a capital, cobrindo-se de sacos, movendo-se à fome e esfregando-se aos homens machos que agressivamente ti fazem.Esperava ti amar e ter-te um dia…mas o que poço fazer depois de tantos que com metical fizeram tudo?

Seu eu Mbié

VENCEDORES: POESIA 1º LugAr - João Justiniano, com a poesia: tarde triste - troféu2º LugAr - Nelsi inês urnau, com a poesia: Entardecer - Medalha 3º LugAr - José Nedel, com a poesia: Conflito distributivo - Medalha 4º LugAr - Mário luís Souza terres, com a poesia: definição - Menção Honrosa

VENCEDORES: CONTOS1º LugAr - Sonia mª d. athayde, com o conto: Muito além do olhar - troféu2º LugAr - adilar Signori, com o conto: a roupa Nº 3 - Medalha3º LugAr – antonio augusto Bandeira, com o conto: o infinito - Medalha4º LugAr - Edson Xavier de Castro, com: Palavras trocadas - Menção Honrosa

VENCEDORES: CRÔNICAS1º LugAr-péroLA Bensabath oiy, com a Crônica: torcedor ou Macho Profano? -troféu2º LugAr Sonia athayde, No Principio,Era a Cor. - Medalha3º LugAr – adilar Signori, com a Crônica: o retrato dos Meus Pais - Medalha4º LugAr – alcione Sortica, com a Crônica: o jovem que chora - Menção Honrosa

VENCEDORES: HISTÓRIAS DO INTER1º LugAr - Edson Xavier de Castro, com vermelho inter-troféu2º LugAr - Márcio Mór Giongo, com Mar vermelho - Medalha3º LugAr-JúLio Mafra, com o Primeiro Jogo - Medalha4º LugAr - Mario l. S. terres, com Colorado o Clube do Povo - Menção Honrosa

MEDALHAS DE MéRITO CuLTuRAL POéTICO PARA:

vALdir Luiz Scariot em Histórias do inter: com a tobata Pioneira. emANueLLe BueNo, com a Crônica: olhar Colorado. mArceLo ALLgAyer Canto, com o poema: inútil transigência, vALter morigi, com o poema: internacional. viviANe BALAu, com o poema: internacional.iArA irigArAy, com o poema: Música.

reALizAção e Coordenação: Cesardo vignochi Presidente, lúcio ignácio regner vice-presideNte, mAriNês Bonacina diretora Cultural, porto ALegre, setembro de 2011.

reALizAção: cApoLAt - Casa do Poeta latino-americano e departamento Cultural da fECi/iNtEr.

RESULTADO DO IV CONCURSO “Sport Club Internacional” de Contos, Crônicas, Poesias e Histórias do Inter.

Noites d ´Álmahttps://noitesdalma.blogspot.com

Page 11: Revista literatas   edição 11

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 11Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 11

agEndado

O Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural, FUNDAC tem a honra de convidar o (a) senhor(a)

para a sessão de lançamento da obra “ESPELHO” da autoria de Emmy Xyx, que terá lugar no dia 27 de Setembro corrente, às 17 horas

no Estúdio Auditório da Rádio Moçambique.A obra será apresentada pelo poeta Filimone Meigos.

A presença de V. Excia muito nos honrará

Agradecemos a sua presença 15 minutos antes.

Convite

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Emmy Xyx

ESPELH

EDIÇÕES

Emmy Xyx é pseudónimo de Manuela Xavier (M.X.). Nasceu no dia 2 de Junho de 1958 em Vila Coutinho, actual Ulógwè no Distrito da Angónia, Província de Tete. Cursou jornalismo em 1974/1975 na então Cida-de de Lourenço Marques, tendo trabalhado no Jornal Notícias e colaborado nos semanários “ Embondeiro” e “Zambeze” com a sua co-luna denominada “ Kunyo-la-nyola”.No dia 12 de Agosto de 1977 ocorreu-lhe uma experiên-cia inolvidável: no Hospital Central de Maputo saiu do seu corpo, naturalmente, o corpo de um indivíduo de sexo masculino. Facto idên-tico viria a ocorrer no dia 21 de Fevereiro de 1980.Em 2008 apresentou a sua primeira exposição indivi-dual como Designer retra-tando trabalhos feitos com base na casca do fruto do embondeiro.É licenciada em Gestão pela Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mon-dlane (1991).“Espelho” é o seu primeiro livro.

“O Espelho, refl ecte uma imagem diferente daquilo que nós somos. Refl ecte uma imagem contrária e que muitas vezes acaba-mos inconscientemente assumindo como se essa imagem fossemos nós de verdade. Acreditamos no que o espelho nos diz. Na imagem falsa que nos transmite, mesmo sabendo que o espelho é o maior mentiroso do mundo. O espelho engana-nos. Ele coloca-nos no além, na irrealidade, transporta-nos para uma mundo imaginá-rio. O macho projecta na fêmea os seus sentimentos, as suas vontades, as suas frustrações, os seus rostos, as suas sombras. A fêmea, que os acolhe em aspira-ções todas essas emoções, junta com as suas vontades os seus anseios, e por efei-to de sublimação, realiza isso tudo. Para mim, Ela não é o espelho do dEle, mas o espelho é mulher de alguns Eles.”

LIVROS PUBLICADOS PELA FUNDAC

1. Da Vontade de Partir Guita Jr.

2. Órfãs Efémeras Marcelino Ngalilo Ding’Ano

3. Metamorfose das Sombras Benjamim P. João

4. No Rosto dos Simbolos Almeida Tomás Culo

5. Sonho de Samoha Emílio Afonso Machado

6. O Caso do Galo Figurão Chiwanga Matavele

7. A Febre dos Deuses Andes Chivangue

8. As Vozes do Kwanma Jorge Dique

9. Diverte-te...

e Aprende um Pouco Ângelo Cruz

10. O Brado da Floresta Jorge Zaqueu Nhassengo

11. O Sentido das Metáforas Manecas Cândido

12. Pátria que me Pariu Celso Manguana

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“O espelho, refl ecte uma imagem diferente daquilo que nós somos. Refl ecte uma fi gura con-trária que muitas vezes acabamos assumindo como se essa imagem fôssemos nós de verdade. Acreditamos no que o espelho nos diz, na reprodução falsa que nos transmite, mesmo sabendo que o espelho é o maior mentiroso do mundo. O espelho enga-na-nos. Ele coloca-nos no além, na irrealidade, transporta-nos para um mundo imaginário. O Ele projecta na Ela os seus sentimentos, as suas vontades, as suas frustrações, os seus ros-tos, as suas sombras. Ela, que os acolhe em aspirações todas essas emoções, junta com as suas vontades, os seus anseios e por efeito de sublimação, realiza isso tudo. Ela é o espelho dEle, mas também o espelho é mulher de alguns Eles”.

ASSOCIAÇÃO DOS ESCRITORES MOÇAMBICANOS

Esta Sexta-feiraHora: 17:00hLocal: Associação dos Escritores Moçambicanos - AEMO - Maputo

Lançamento do Livro “A Cidade Subterrânea” de élio Martins Mudender;

Sarau Cultural Declamadores do kupaluxa & Escritores Moçambicanos