jornal brasil atual - barretos 06

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Jornal Regional de Barretos www.redebrasilatual.com.br BARRETOS nº 6 Outubro de 2011 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Na Mesquita de Barretos não há ódio nem rancor, nela só se prega o bem ISLÃ Exposição de carros antigos pode resultar em Feira da Barganha Pág. 7 LATA VELHA AS CHARANGAS A fabulosa história de Silvestre de Lima, um homem de dar inveja Pág. 3 MEMóRIA CORONEL E POETA Todo domingo tem show da moçada que cantando chega lá Pág. 2 CHORA VIOLA BELA CANTORIA A Fé MUçULMANA PERFIL Dom Paulo Evaristo Arns, 90 anos, uma vida dedicada ao povo brasileiro Pág. 4-5 O DESCANSO DE UM GUERREIRO DA PAZ

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as charangas mEmórIA bela cantoria coronel e poeta PErfIL Distribuiçã o ISLÃ nº 6 Outubro de 2011 Pág. 4-5 Pág. 7 Pág. 2 Pág. 3 www.redebrasilatual.com.br Todo domingo tem show da moçada que cantando chega lá Jornal Regional de Barretos Exposição de carros antigos pode resultar em Feira da Barganha A fabulosa história de Silvestre de Lima, um homem de dar inveja

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Jornal Regional de Barretos

www.redebrasilatual.com.br barretos

nº 6 Outubro de 2011

DistribuiçãoGratuita

Na Mesquita de Barretos não há ódio nem rancor, nela só se prega o bem

ISLÃ

Exposição de carros antigos pode resultar em Feira da Barganha

Pág. 7

LATA VELHA

as charangas

A fabulosa história de Silvestre de Lima, um homem de dar inveja

Pág. 3

mEmórIA

coronel e poeta

Todo domingo tem show da moçada que cantando chega lá

Pág. 2

CHOrA VIOLA

bela cantoria

A fé muçuLmAnA

PErfIL

Dom Paulo Evaristo Arns, 90 anos, uma vida dedicada ao povo brasileiro

Pág. 4-5

O dESCAnSO dE um GuErrEIrO dA PAz

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expediente rede brasil atual – barretoseditora gráfica atitude ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador editor João de Barros redação Leonardo Brito (estagiário) e Aquino José revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman telefone (11) 3241-0008 tiragem: 6 mil exemplares Distribuição gratuita

EdITOrIAL

O jornal Brasil Atual é laico e republicano. Mas esta edição homenageia um homem que fez 90 anos no mês passado, com a mesma crença que tinha quando colocou sua fé a serviço da solidariedade, da justiça e da paz. Durante os anos de chumbo da ditadura militar, quando se prendia e arrebentava, se tortura-va e matava em nome de uma ideologia que não aceitava vozes dissonantes, muitos tinham em dom Paulo Evaristo Arns – e somente nele – o homem que desafiava os poderes constituí-dos. Na resistência firme mas serena, ele mexeu com a história do Brasil e da América, mudando-nos a todos para melhor.

Da mesma forma, a gente tira o chapéu para os muçulmanos de Barretos, que têm na cidade a segunda mesquita edificada no Brasil. Essa religião, identificada por parte da grande mídia com os atos terroristas de setembro de 2001, resiste pregando o amor e o bem, daí porque o número de adeptos só cresce. Isso, mais a saborosa história de Silvestre Lima, o rumor alegre das charangas da cidade e um dia de cantoria no Mercadão comple-tam esta edição. É isso. Boa leitura.

Leia on-line todas as edições do jornal Brasil Atual. Clique www.redebrasilatual.com.br/jornais e escolha a cidade. Críticas e sugestões [email protected]

jOrnAL On-LInE

fórum POPuLAr

Pela saúde pública na regiãoIdeia é saber exatamente como está a situação

A organização de um fórum popular para debater e organi-zar a defesa da saúde pública na região é pauta de reunião mar-cada para 5 de novembro, às 14 horas, na subsede do Sindicato dos Previdenciários, na ave-nida 13 número 570, Centro, em Barretos. Segundo Cláudio Machado, da comissão organi-

zadora, a ideia é organizar um Fórum Regional da Saúde com atividades permanentes, que visem discutir e buscar melho-rias para o setor. Representan-tes do Fórum Popular de Saúde do Estado de São Paulo confir-maram presença no encontro e vão explicar o funcionamento de uma representação regional.

CHOrA VIOLA

dia de cantoria no mercadãoDomingo tem projeto Viola & Cantoria da Prefeitura

Músicos sertanejos atraem um bom público nas manhãs de domingo no Mercado Mu-nicipal. Os violeiros apre-sentam música raiz em sho-ws que duram mais de uma hora. As apresentações, das 10 h às 13 h, são regadas a aperitivos e tira-gostos. Os amantes do estilo musical não perdem a oportunidade de curtir a moda de viola com os talentos barretenses e regionais.

Entre os apreciadores dos shows está o carioca Ronaldo Peres, de 60 anos. “Fiquei encantado” – con-fessa. Ronaldo faz tratamen-to no Hospital de Câncer de Barretos e foi convidado a dar uma voltinha cultural no Mercadão. Mesmo moran-do no Rio de Janeiro, terra do samba, do funk, bossa nova, entre tantos estilos,

ele afirma que sempre gostou de moda de viola e que a re-cente descoberta na terra do rodeio lhe fez muito bem.

A dupla Marcos Canela e Alex Santana é uma das atra-ções do projeto. Eles gostam de interpretar o estilo serta-nejo raiz, espelhando-se em Tião Carreiro e em Ronaldo Viola, entre tantos bons can-tadores. Com cinco anos de carreira, eles já venceram o Festival de Música Raiz Rose

Abrão, conhecido como Violeira. Também gravaram um CD independente, que é vendido durante as apre-sentações. “O disco é para divulgar nosso trabalho” – diz Marcos Canela. A dupla barretense acalenta o sonho do sucesso. Enquanto não chega a projeção na grande mídia, eles fazem pequenos shows pela região e partici-pam de festivais.

O Projeto Viola & Can-toria tem a coordenação de Netinho Scavaccini. O apre-sentador oficial é Carlos Borges. Cada dupla ganha um cachê de 100 reais pela apresentação. Os interessa-dos em mostrar o talento na viola podem se inscrever no local ou conseguir mais in-formações no Departamen-to de Cultura da Prefeitura Municipal.marcos Canela e Alex

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mEmórIA

um coronel diferente, engajado nas lutas sociaisPor Sueli de Cássia Tosta Fernandes*

O que vem à mente da gente quando se fala em coronelismo são as aulas de história, quando a professora dizia que o início do período republicano foi marcado por práticas autoritárias. Os co-ronéis eram chefes políticos de determinados lugares, geralmen-te donos de terras ou comercian-tes, e usavam a força física para fazer outras pessoas, de grau de instrução mais baixo, agirem segundo a sua vontade. A falta de informação na área rural era grande aliada deles, que usavam de favores e de violência para garantir a eleição do seu grupo político. Porém, em Barretos, a história do coronel Silvestre de Lima, nascido em 31 de dezem-bro de 1859, em Ventania, Minas Gerais (atual Altinópolis), difere dessa imagem.

Em 1877, Silvestre é leva-do pelo pai, Vicente Gomes de Lima, a estudar Farmácia no Rio

de Janeiro, onde o jovem conhe-ce Machado de Assis, Fillinto d’Almeida e tantos ilustres poe-tas e escritores da época. Rapaz culto, eloquente e sensível à dor dos escravizados, ele abraça de alma arrebatada a causa do mo-vimento abolicionista liderado por José do Patrocínio, que se tornou um grande amigo. Sil-vestre combate a escravidão e o preconceito racial por meio das palavras. Ele escreve nos jornais Gazeta da Tarde, O Binóculo e O Mequetrefe – mas é através de suas poesias que registra o seu repúdio aos fazendeiros e pro-prietários de escravos.

Em 1891, Silvestre vem a Barretos. Aqui, ele exerce im-portantes funções, como pre-sidente do Legislativo, chefe do Executivo – foi duas vezes prefeito da cidade (1894-1896 e 1909-1914) – e deputado es-tadual, função a que renuncia

em 1903. Silvestre também foi o fundador do primeiro jornal de Barretos e região – O Serta-nejo, em 31 de março de 1900 –, responsável pela divulgação das ideias republicanas e pela mudança no pensamento dos barretenses. Mais tarde, ele funda também o Correio de Barretos e a Folha de Barretos, jornais de grande aceitação. Aqui recebeu a patente de Co-ronel da Guarda Nacional.

Em 1918, Silvestre muda-se para São Paulo, onde funda o Colégio Minerva, que recebe vários barretenses para estudar. Na mesma ocasião, ele passa a escrever em O Estado de São Paulo, jornal de propriedade de Júlio de Mesquita, seu amigo. A sua produção literária, imen-sa, está dispersa e ainda não foi totalmente catalogada. Sabe-se que Silvestre contribuiu com vá-rios jornais, escrevendo poesias para periódicos de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, sem-pre movido por suas duas gran-des causas, uma moral e outra social: a abolição e a república. O coronel morre na capital em 15 de setembro de 1949, pouco antes de completar 90 anos.

*Sueli de Cássia Tosta Fernandes é mestranda em Análise do Discurso – UFSCar – e Coordenadora Regional de Museus da 13ª R.A.

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Versos quase inéditos

Um dos primeiros poemas de autoria do coronel Silves-tre chama-se A escravidão, de 1880. Perdido por mais de um século – e citado por vários historiadores barretenses, como Osório Rocha e Ruy Menezes, como uma das gran-des lacunas na nossa história –, recentemente, após muita procura, encontraram-se alguns versos desse poema na an-tologia poética de Sacramento Blake, do início do século XX, na Biblioteca Nacional, que apresentamos aos nossos leitores. São os seguintes versos:

O lar é o paraísoPara aquelles que teem o grande sol do amor

Dourando eternamente o val do coração.Que desgosto, ou trabalho, ou magua, ou pena, ou dor

Poderá resistir a douda tentaçãoDe uma criança ideal, angelica, serena

Que nos beija ao chegar, com fervida effusão?E ao filhinho juntae a uma mulher morena.

Doce como o luar,Que nos falle de amor tão mansa como Christo

E eu vos perguntarei si depois de tudo isso,Por acaso haverá crueis, pezar por mais profundo

Que num peito viril possam inda restar!

uma cena contra a qual se indispunha o coronel

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Coronel Silvestre de Lima

Silvestre de Lima entra para a história como um coronel diferente, que se distingue da imagem do fazendeiro violento e autoritário. Ele foi um coronel das letras, das ideias, da sensibilidade, da poesia e das lutas sociais!

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PErfIL

Igreja Católica, com o Concílio Vaticano II, reinseria a realida-de das mazelas do mundo na vida clerical. Emergia a Teolo-gia da Libertação e, com ela, a opção preferencial pelos pobres – ensinar a pescar – para reagir à opressão. No Cone Sul, a força das armas produzia ditaduras.

Ao assumir a Arquidiocese de São Paulo, em 1970, o fran-ciscano deu recados. Vendeu o Palácio Pio XII, residência oficial do arcebispo, para fi-nanciar terrenos e construir casas na periferia. Fortaleceu as Comunidades Eclesiais de Base, que até hoje dissemi-nam as discussões sobre po-lítica, cidadania e religião, e incentivou as pastorais. “O papa Paulo VI disse a dom Paulo que tivesse uma bela equipe de bispos auxiliares perto do povo” – conta dom Angélico Sândalo Bernardino.

Eram quatro bispos auxiliares, um em cada região da cida-de. Dom Angélico cuidaria da Pastoral Operária. E se torna-ria o “bispo dos operários”.

O metalúrgico Waldemar Rossi, fundador da Pastoral Ope-rária e líder da oposição do sin-dicato dos metalúrgicos de São Paulo, há anos submisso aos pa-trões, lembra-se de que foi cha-mado por dom Paulo, que queria saber se na Pastoral havia gente a favor da luta armada. “Temos o direito de nos organizar e nos de-fender?” – perguntou-lhe Rossi. “Na hora em que a gente ganha força, vem a ditadura e mata” – prosseguiu. O cardeal encerrou a conversa: “Vocês têm o direito da legítima defesa”. Rossi virou amigo do arcebispo. Três anos depois, ele é preso pelo Depar-tamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo. O crime foi denunciado nas paró-

Clamor pela América LatinaO pastor presbiteriano Ja-

mes Wright, pai do ex-prefeito de Barretos Nelson James, des-pertou para a luta contra a di-tadura após a morte do irmão, Paulo, em 1973, e virou amigo de Arns. “Eles brincavam que um parecia presbiteriano dis-farçado de católico e o outro católico disfarçado de presbite-riano” – lembra Anita Wright, acostumada a ver o pai James hospedar refugiados que ba-tiam à porta do Clamor – grupo de defesa dos direitos humanos de São Paulo com olhos na

justiça e pazDom Paulo articulou a

Comissão Justiça e Paz, que denunciava as prisões ilegais, a tortura e pressionava os mi-litares. “Comecei atendendo um dia por semana. No fim, atendia todos os dias, de ma-nhã e de tarde” – conta Mar-garida Genevois, que integrou a comissão por 25 anos e che-gou a presidi-la. “Os militares

queriam parecer bonzinhos e ficavam furiosos quando al-guma coisa transpirava para o exterior” – lembra ela. A fama da arquidiocese atraiu perse-guidos do Paraguai, da Argen-tina, do Uruguai e do Chile. Os militares reclamavam da intro-missão da Igreja brasileira, e dom Paulo rebatia: “A solida-riedade não tem fronteiras”.

América Latina, sob a proteção do cardeal e do pastor.

O Clamor arquiteta uma missão para resgatar duas crianças – Anatole e Vicky, de pais uruguaios, mortos em Buenos Aires – sequestradas pela ditadura argentina (1976-1983), que viviam sob a dita-dura chilena e acabaram sen-do descobertas pelas Avós da Praça de Maio – mulheres que se reúnem na Praça de Maio, Buenos Aires, para exigir no-tícias dos entes desaparecidos na ditadura militar argentina.

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se transformaria em pedra no sapato da ditadura. A fé da mãe, Helena, e o espírito con-ciliador do pai, Gabriel, são os pilares de sua formação. Quando ingressou no seminá-rio, seu pai lhe disse: “Papai é colono, e você sempre será filho de colono e de seu povo”. Dom Paulo levou isso na cabe-ça. Após a ordenação e a pós-graduação na Universidade de Sorbonne, na França, na Euro-pa pós-guerra, a desigualdade social se alastrava. Dom Paulo deparou-se com as cicatrizes da intolerância nazista. As marcas do conflito arraigaram de vez a conduta humanista que o guiaria pela vida.

De volta ao Brasil, trabalhou em comunidades carentes de Pe-trópolis (RJ). Em 1966, chegou a São Paulo, metrópole acin-zentada, que empurrava para as bordas a massa de migrantes. A

Dom Paulo Eva-risto Arns fez 90 anos

com a certeza que tinha aos 20: a solidariedade e a busca da justiça e da paz como razão de viver. A morada dele, numa congregação em Taboão da Serra, São Paulo, emana se-renidade. A mesma com que o franciscano enfrentou tiranos e lutou pelos desfavorecidos.

Irmã Devanir de Jesus, ami-ga de convivência diária, conta que ele descansa com a sensação de dever cumprido. “É uma pes-soa iluminada, muito gentil.” O cardeal não dá mais entrevistas, não vai a debates nem a eventos – o que inclui celebrações dos 90 anos, completados em 14 de setembro. “Ele é despojado, tem vida simples e inteligência pri-vilegiada” – conta dom Pedro Stringhini, bispo de Franca.

A infância em Forquilhi-nha (SC) forjou o homem que

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Dom Paulo, 90, simboliza resistência e esperança. Ele transcendeu a Igreja, salvou vidas e mexeu com a história do país no século 20 Por João Peres e Virginia Toledo

Guerreiro de batina. Ou o cardeal dos trabalhadores

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Dom Paulo, 90, simboliza resistência e esperança. Ele transcendeu a Igreja, salvou vidas e mexeu com a história do país no século 20 Por João Peres e Virginia Toledo

Guerreiro de batina. Ou o cardeal dos trabalhadores

Brasil nunca maisEntre 1979 e

1985, um grupo de advogados valeu-se do direito de retirar processos do Supe-rior Tribunal Mili-tar, em Brasília, e montou um quadro da repressão. Seis anos depois, surgia o livro Brasil Nun-ca Mais, com relatos dos mé-todos de tortura, as acusações ilegais e os crimes promovidos pelo regime – informação que, saída de seus arquivos, nunca pôde ser contestada pelos re-

pressores. Dom Paulo, aliás, jamais acreditou na versão de que o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, cometera suicídio na cela em que estava detido, em 1975, no DOI-Codi, outro apare-lho da ditadura. A

missa de sétimo dia de Vlado – ato ecumênico que atraiu milha-res de pessoas à Catedral da Sé – transformou-se em momento simbólico, no início do fim dos anos de chumbo.

Sob o viadutoPadre Júlio, da Pastoral

do Povo da Rua, relembra um episódio em que um grupo de moradores de rua estava na iminência de passar mais

Ao papa

Em 1980, Waldemar Rossi foi encarregado por dom Paulo de ler ao papa João Paulo II uma carta com denúncias de trabalhadores. O Exército levantou a ficha dele e decretou que “o comunista” não participaria da celebração. Mas dom Paulo o pôs para dentro. Como o papa se atrasara, Rossi leu apenas o primeiro e o último parágrafo. Assim foi adiante a denúncia da morte de Santo Dias e de Raimundo Ferreira Lima – trabalhadores mortos pela re-pressão. Quando 130 mil pessoas bradavam “liberdade!”, o papa precisou da ajuda do cardeal para entender o que se passava.

Esperança no sangueCinco dos 13 filhos do

casal Gabriel e Helena se-guiram carreira religiosa. Além de Paulo Evaristo, Zilda Arns, nascida em 1934, tornou-se referência com a Pastoral da Criança

e a luta contra a desnutri-ção infantil e por planeja-mento familiar. Zilda foi vítima do terremoto no Haiti, em janeiro de 2010, onde estava em missão hu-manitária.

quias de São Paulo e no exterior. No 25º dia da prisão, Dom Pau-lo entrou no prédio e foi à sala do delegado. “Vocês torturaram esse homem. Ele não consegue andar direito” – acusou, depois de ver o prisioneiro.

Essa não foi a primeira nem a última vez que ele bateu de frente com o inimigo. Em outu-bro de 1979, dom Paulo foi ao Instituto Médico Legal (IML), onde estava o corpo do operário Santo Dias da Silva, cujo desa-parecimento só não aconteceu porque sua mulher, Ana Dias, entrou à força no carro dos po-liciais que o transportaram – Santo fora baleado nas costas diante de uma fábrica na zona sul paulistana, depois de discu-tir com a PM para que libertasse as pessoas presas por organizar uma greve. “Dom Paulo saiu de casa com os trajes episcopais e chegou dizendo: ‘Abram a por-

ta. É o arcebispo de São Paulo’” – relembra o padre Júlio Lan-celotti. Anos depois, Ana soube que o cardeal encomendara um caixão resistente para que os companheiros transportassem o corpo de Santo pelas ruas de São Paulo.

Quando algum religioso corria riscos, dom Paulo ia ao Vaticano, pois era ouvido aqui e lá fora. Na década de 1970,

bispos da corrente conservadora Tradição, Família e Propriedade (TFP) pediram ao governo que expulsasse dom Pedro Casaldá-liga, bispo espanhol, da Prelazia de São Félix do Araguaia. O cardeal viajou a Roma, e Pau-lo VI mandou o recado: “Me-xer com Pedro é mexer com o papa” – versão confirmada por Casaldáliga.

Depois de 28 anos à frente da Arquidiocese de São Pau-lo, dom Paulo renunciou por questão de idade em 1998, aos 77 anos. Recebeu da Igreja o título de arcebispo emérito e, dos operários, o de cardeal dos trabalhadores. Dom Paulo viveu alguns anos no Jaçanã, Zona Norte, até retirar-se para Taboão da Serra. Ao acordar, lê jornais e faz uma celebração diária aos moradores da co-munidade religiosa onde vive. Depois, apoiado numa ben-

uma noite fria de inverno sob um viaduto. O então prefeito, Paulo Maluf, fechara o abrigo, mas dom Paulo disse que dormi-ria no local enquanto não fosse

reaberto. “Ele foi ao Viaduto do Glicério, onde os morado-res de rua estavam. E aí foi um esparramo. Imagine o arcebis-po embaixo de um viaduto!”

dom Paulo na luta operária

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gala, caminha pelo jardim e segue para o almoço. Ele diz não assistir televisão, mas a carne é fraca diante da paixão: dar uma espia-dela na TV quando joga o Corinthians. Claro, ele não assume e atribui o “vacilo” às freiras – corintianas por obra e graça do próprio.

No começo deste ano, ele foi internado e convocou ao hospital dom Angélico: que-ria uma missa. Ao final da celebração, na cama da Uni-dade de Terapia Intensiva, aproveitou a hora do abraço e sussurrou: “Confiança. Va-mos avante. De esperança em esperança. Na esperan-ça sempre”. Para o cardeal, pode-se desanimar, sofrer, esmorecer, mas desistir ja-mais. “A esperança não é o ópio do povo, mas o motor que modifica o mundo.”

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ISLÃ

mesquita age para acabar com preconceito religioso

Barretos pode ter cemitério islâmico

Sexta-feira é dia sagrado para os muçulmanos

Religião não prega o ódio nem o rancor, mas a paz e o bem; número de adeptos só cresceA Mesquita de Barretos, a

segunda edificada no Brasil, age para acabar com o pre-conceito religioso. Interessa-dos podem agendar visita ao templo. No local, são escla-recidas dúvidas sobre o Islã, desmistificando a religião. Para o presidente da Mesquita, Girrad Mahmoud Sammour, a maioria dos brasileiros não tem preconceito, pois o país é receptivo aos estrangeiros, independentemente da reli-gião. Contudo, o problema existe. Em sua opinião, as in-verdades são estimuladas pela grande mídia, que relaciona o islamismo a algum fato ruim, como por exemplo atos terro-ristas. “A religião não prega o ódio nem o rancor, mas a paz

A Prefeitura doou área de 5 mil m² para a construção de um cemitério islâmico em Barretos, atendendo à soli-citação dos muçulmanos da cidade. A área, atrás do cemi-tério municipal, vai atender

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A fachada da mesquita muçulmana de Barretos onde prega o Sheik Abdul Hamid

fiel lê o Alcorão

e o bem” – afirma. Ele lembra que, após o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos, o número de adeptos do isla-mismo cresceu, por causa da busca de informações sobre a crença. A curiosidade aumen-tou por causa da associação

que a mídia fez do atentado às ‘torres gêmeas' aos muçulma-nos. Muitos descobriram que a religião não era aquilo que apregoavam e se converteram.

A Mesquita de Barretos é frequentada por cerca de 250 muçulmanos, a maioria de ori-

gem árabe, revela Girrad. Ele ressalta que há brasileiros se-guidores do islamismo na cida-de e na região. Afirma que, ao contrário do que se pensa, os árabes representam apenas 15% dos adeptos do Islã no mundo. A comunidade islâmica local tam-

bém apoia o reconhecimento de um estado palestino no Oriente Médio. “Defendemos a auto-determinação da Palestina, do Iraque e de qualquer povo que tenha seu território invadido” – frisa Girrad. E exemplifica, in-dagando: “Já imaginou se a Ar-gentina invadisse o Brasil como seria a atitude dos brasileiros?”.

A Mesquita Muçulmana de Barretos mantém uma es-cola de línguas, que ensina árabe, inglês e francês. As aulas são ministradas por um professor tunisiano. A men-salidade varia entre R$ 50 e R$ 75. Informações são ob-tidas no local no horário co-mercial. Qualquer pessoa, in-dependentemente de religião, pode frequentar o curso.

Sexta-feira é o dia sagrado dos muçulmanos, dia em que o Sheik egípcio Abdul Hamid comanda a oração coletiva na Mesquita de Barretos. De um púlpito, ele profere um sermão na língua árabe e aborda temas variados. Descalços e sobre um conjunto de tapetes, os ho-mens cumprem seus preceitos religiosos. Separadas, num me-zanino, as mulheres acompa-nham as orações. No horário de

verão, o culto maometano vai das 13h30 às 14h30. Para um aspirante chegar ao posto de lí-der religioso, a formação dura de 10 a 12 anos. Ele estuda teologia islâmica, jurisprudên-cia islâmica, prática, memori-zação do Alcorão Sagrado.

Ao ingressar na religião, uma pessoa, diante de dois muçulmanos, testemunha a unicidade de Deus, reconhece que Muhammad e Jesus são

seus últimos mensageiros e que os profetas que os antece-deram tinham a mesma men-sagem. “O Islã é um código de vida completo e não apenas uma religião” – afirma o advo-gado Girrad. Para os seguido-res do islamismo, Jesus não é filho de Deus, mas um profeta enviado por Deus. Creem que Deus não gerou nem foi gera-do e nada é comparado a Ele.

O Islã se alicerça em cinco

pilares: testemunho, cinco orações diárias, carida-de, jejum e peregrinação a Meca. O islamita acredita na unicidade de Deus, nos anjos como criaturas de luz, nos profetas, nos livros sa-grados revelados, no desti-no e no juízo final. O Alco-rão – livro sagrado – não é vendido, mas dado. Os que se encontram em livrarias são traduções do Alcorão.

à demanda regional, já que o cemitério islâmico mais pró-ximo fica em Guarulhos, na grande São Paulo.

A comunidade islamita aguarda a aprovação do legis-lativo para a estruturação do

local. A implantação do cemi-tério islâmico abrirá vagas nos dois cemitérios da cidade, cuja ocupação está saturada.

Os islamitas vão construir um velório e um local para que o corpo do morto seja

lavado pelos familiares, con-forme rezam os seus preceitos religiosos. O terreno onde os muçulmanos são sepultados é simples, gramado e arboriza-do. Não há construção sobre os túmulos. O morto é sepul-

tado envolto numa mortalha sem costura, simbolizando que ele veio à terra sem nada e retorna da mesma maneira. O caixão utilizado no velório é doado para instituições de caridade.

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LATA VELHA

Exposição mostra relíquias de carros antigos

Colecionador tem ford Bigode de 1926

Feira da Barganha pode virar realidade em frente ao RecintoNo segundo domingo de

cada mês, das 8 h às 12 h, em frente ao Recinto Paulo de Lima Corrêa, colecionadores de carros antigos exibem suas relíquias e trocam experiên-cias sobre o assunto. “Em Bar-retos, há cerca de 50 antigo-mobilistas que guardam mais de 150 veículos restaurados e em boas condições” – diz o delegado Antônio Alício Si-mões, apaixonado por esses

carros e dono de três Volkswa-gen: um modelo Agnes con-versível de 1973, um Fusca 68 e um TL de 1972.

O preço de carros anti-gos entre os colecionadores varia muito. Depende do es-tado de conservação e ano do veículo. Um Fusca 68 a 70, bem cuidado, varia entre R$ 12 mil e R$ 15 mil. Já houve quem oferecesse R$ 40 mil pelo Agnes do delega-

do, mas ele recusou. Implan-tar uma Feira da Barganha e Antiguidades é o sonho de Alício Simões e outros co-lecionadores. A feira funcio-naria junto com a exposição dominical de carros antigos. Segundo Simões, os fre-quentadores poderiam trocar antiguidades variadas, como LPs, rádios, máquinas de es-crever, álbuns de figurinhas, gibis, peças de carros, etc.

Muita gente ficou sur-presa ao deparar na cidade com o bancário aposenta-do Jaime Sarri Mateus, 61 anos, dirigindo um Ford Bigode-1926. Apaixona-do por carros antigos, sua coleção possui 25 veículos completos, dos quais 10 ele leva aos encontros dos amantes de carros antigos. Ele herdou o gosto do pai, que tinha loja de autopeças. Aos 24 anos, o bancário já tinha dez carros. E exibia as raridades nos desfiles de carnaval de rua na Barretos de outrora. Jaime também é

dono de outros veículos des-montados, dos quais aproveita as peças para a recuperação de carros – ele também mantém um almoxarifado com peças de veículos antigos. Quando vai aos encontros dos aficio-nados de carros antigos, leva peças para venda e troca.

Mas restaurar um carro é complicado e demorado. Além da escassez de peças de reposi-ção, quase não há mão de obra especializada. “Achar funileiro é difícil” – sustenta. Por isso, ele se liga na internet, visitan-do lojas de peças de automó-veis antigos. Em sua garagem

há cinco Fuscas quatro portas, de 1970, conhecidos como Zé do Caixão. Num barracão, ele guarda um caminhão Chevro-let-1954, apelidado Marta Ro-cha – diz o pessoal que a mulher de deslumbrante beleza perdeu o título de Miss Universo por causa de duas polegadas a mais, “saliências” que lembravam os detalhes da cabine do veículo. Jaime agora tenta recuperar um Ford Modelo T, ano 1923. Há 12 anos tenta concluí-lo. A parte mecânica está completa. O motor retificado. As peças prontas. Falta acabar a lataria, a tapeçaria e a parte elétrica. A

pretensão é concluir o serviço até dezembro, pois um amigo vai usar o carro para levar a

filha à igreja onde vai se ca-sar. O carro está avaliado em R$ 100 mil.

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Exposição de carros antigos em frente ao recinto

ESPOrTE

Campeonato movimenta a garotadaOnze times participam da competição com idade limite até 17 anos

O Campeonato Integração Plínio dos Santos reúne onze ti-mes, de 20 atletas, nascidos até 1994, que não atuam na Liga Bar-retense de Futebol. Os jogos são aos sábados à tarde, em campos

varzeanos. Disputam o torneio: CSU, Aeroporto, BRCON/En-genharia, Camarões, São Bento, Dom Bosco, Pró-Família, São Francisco, Flay Play/Exposição, Paissandu e Meninos da Vila.

O presidente da Liga, Osmir Duarte Peixoto, o Titão, conta que no passado havia brigas nas partidas e pensou-se até em para-lisar o certame, mas que agora o torneio tem bom nível técnico e

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boa disciplina. O patrono Plínio dos Santos também está satisfei-to com a competição, que realiza pela 42ª vez. A partida final do torneio está prevista para início de dezembro.

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jaime mateus desfila em seu ford Bigode: raridade

Page 8: Jornal Brasil Atual - Barretos 06

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fOTO SínTESE – IGrEjA PrESBITErIAnA

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As mensagens podem ser enviadas para [email protected] ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

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Palavras cruzadas

acomEtEraPPaLESratEovotmotELSIrIoIataamDELnoroararPtLrEgoaarIPIoSIacgoa

LEaPonoaomaLIaoL

Horizontal – 1. Lançar-se com ímpeto; Sigla do amapá 2. conversa; Letra que, no alfabeto, vem após o esse 3. célula reprodutora feminina das aves; Hotel para encontros amorosos 4. natural da Síria 5. Forma sincopada de está; Sigla do amazonas; contração antiga da preposição de com o artigo El 6. rezo; cultivar; Sigla do Partido dos trabalhadores 7. abertura ou sulco num terreno, natural ou artificial, para conduzir água; amarrar 8. Imposto sobre Produtos Industrializados; Quem dá guarida a político 9. Privado da visão 10. grito de incentivo dos torcedores, em arenas de touradas e estádios de futebol; Sinal gráfico que se coloca sobre o i e sobre o j 11. País localizado no chifre da África; Provedor brasileiro da internet.

Vertical – 1. Que provém dos apóstolos 2. conserva de ovas de esturjão; Filamento que nasce em certas partes da pele do corpo do homem 3. odor; começo, princípio 4. (voc. onom.) voz da cabra; Seguia 5. Órgão responsável por parte da digestão dos alimentos 6. (abrev.) tomada de tempo; Sigla de rondônia 7. Pequena igreja, capela; Utensílio usado em trabalhos agrícolas8. nome artístico do músico português João maria centeno gorjão Jorge; Prenome do grande parceiro de roberto carlos 9. Que tem esta ou aquela qualidade; variação do pronome pessoal tu, regida de preposição; Despido 10. Preposição que indica a distância limite; céu da boca 11. Pessoa pobre ou mal trajada, mas pretensiosa; terminação característica dos álcoois.