hoje macau 8 nov 2013 #2970

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PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB MOP$10 PUB Ter para ler DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 8 DE NOVEMBRO DE 2013 • ANO XIII • Nº 2970 WUSHU JIA RUI RENOVA TÍTULO MUNDIAL. CHONG KA SENG, CAMPEÃO AOS 16 ANOS PÁGINA 16 • 60.º GRANDE PRÉMIO DE MACAU Primeiro fim-de-semana com Loeb, Ávila e Couto SUPLEMENTO ESPECIAL • ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Deputados querem fiscalizar orçamentos várias vezes ao ano PÁGINA 4 • MÃO-DE-OBRA IMPORTADA David Chow e outros empresários das PME contra proibições PÁGINA 6 AL Projecto de deputado sobre violência doméstica reprovado PUB Governo inibido Os deputados decidiram, pela segunda vez, repro- var o projecto de lei sobre a violência doméstica apresentado por José Pereira Coutinho. Agora, de acordo com o Regimento da AL, o Governo - ou outro deputado - não pode apresentar uma proposta sobre a mesma matéria até nova sessão legislativa, ou seja, apenas em 2014. Nem crime público, nem semi-público. Um valente nada. A sessão de ontem, a primeira transmitida, em directo, pela TV Cabo, ficou ainda marcada pela discussão da falta de medidas do Governo no sector imobiliário. PÁGINAS 2 E 3 ANA PAULA CLETO “MACAU PRECISA DE UMA FACULDADE DE BELAS ARTES” PÁGINAS 12 E 13 ENTREVISTA

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Edição do jornal Hoje Macau N.º2970 de 8 de Novembro de 2013.

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Page 1: Hoje Macau 8 NOV 2013 #2970

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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MOP$10

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Ter para lerDIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FE IRA 8 DE NOVEMBRO DE 2013 • ANO X I I I • Nº 2970

WUSHU JIA RUI RENOVA TÍTULO MUNDIAL. CHONG KA SENG, CAMPEÃO AOS 16 ANOS PÁGINA 16

• 60.º GRANDE PRÉMIO DE MACAU

Primeiro fim-de-semana com Loeb, Ávila e Couto

SUPLEMENTO ESPECIAL

• ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Deputados querem fiscalizar orçamentosvárias vezes ao ano

PÁGINA 4

• MÃO-DE-OBRA IMPORTADA

David Chow e outros empresários das PME contra proibições

PÁGINA 6

AL Projecto de deputado sobre violência doméstica reprovado

PUB

Governo inibidoOs deputados decidiram, pela segunda vez, repro-var o projecto de lei sobre a violência doméstica apresentado por José Pereira Coutinho. Agora, de acordo com o Regimento da AL, o Governo - ou outro deputado - não pode apresentar uma proposta sobre a mesma matéria até nova sessão legislativa, ou seja, apenas em 2014. Nem crime público, nem semi-público. Um valente nada. A sessão de ontem, a primeira transmitida, em directo, pela TV Cabo, ficou ainda marcada pela discussão da falta de medidas do Governo no sector imobiliário. PÁGINAS 2 E 3

• ANA PAULA CLETO

“MACAU PRECISADE UMA FACULDADE DE BELAS ARTES”

PÁGINAS 12 E 13

ENTREVISTA

Page 2: Hoje Macau 8 NOV 2013 #2970

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As recentes políticas para arrefecer o mercado imobi-liário e controlar a especulação - isto, porque o preço das casas por metro quadrado aumentou 1077% em nove anos - não estão a ser úteis, segundo os deputados.

O ESSENCIAL

hoje macau sexta-feira 8.11.2013POLÍTICAAs rendas são altas, a especulação imobiliária continua e a habitação pública não resolve os problemas. Os deputados apontam o dedo ao Executivo, mais uma vez, sobre a falta de medidas no sector da habitação

JOANA [email protected]

O sector da habi-tação continua a deixar os depu-tados preocupa-

dos. Ontem, no período antes da ordem do dia no plenário da Assembleia Legislativa (AL), as interpelações da maioria dos deputados debruçaram-se sobre a questão, com fortes críticas a serem tecidas ao Executivo. “A política imple-mentada pelo Governo para o controlo do mercado imobi-liário não consegue resolver o problema entre a oferta e a procura”, começou por dizer Si Ka Lon, número dois de Chan Meng Kam.

C HAN Meng Kam está de-siludido com o sistema de recrutamento centralizado

para a Função Pública. Numa intervenção na Assembleia Le-gislativa (AL), ontem, o deputado criticou a demora do processo. “O concurso centralizado devia ter tido lugar em finais de 2011, mas foi adiado oito meses. A publicação da lista classificati-va, a realização de provas e a divulgação da classificação final demoraram um ano e dois meses e há ainda que fazer uma entre-vista, cujo horário será divulgo apenas no dia 13 deste mês”,

AL DEPUTADOS CRITICAM FALTA DE MEDIDAS DO GOVERNO NO SECTOR IMOBILIÁRIO

O reino por um tecto

CHAN MENG KAM CRITICA RECRUTAMENTO CENTRALIZADO PARA FUNÇÃO PÚBLICA

“A passo de caracol”

deputado considera que o Executivo não procede a um avaliação do mercado imo-biliário, nem a capacidade da população em suportar os encargos de uma habitação e que, por isso, não conse-gue lançar medidas para o controlo eficaz dos preços dos imóveis.

Segundo dados apresen-tados ontem pelos deputa-dos, o rendimento mediano dos residentes de Macau apenas duplicou em dez anos, enquanto os preços das casas sofreram um au-mento de mais de 1000%. Uma diferença abismal, dizem, que demonstra que o preço dos imóveis está muito aquém da capacidade aquisitiva da maioria dos residentes.

HABITAÇÃO PÚBLICA NÃO RESOLVE Além do problema da de-masiada procura e pouca oferta – que eleva os preços das habitações privadas -, os membros do hemiciclo voltam a colocar o dedo na ferida no que diz res-peito à habitação pública. “Encontram-se escondidos problemas nas actuais polí-ticas de habitação pública. Muitos dos agregados que se candidataram incluíram filhos pequenos, mas entre-tanto, passados vários anos [de espera], os filhos estão em idade de casar. Como já foram beneficiados como elementos desses agrega-dos, não podem candidatar--se novamente”, acusou Si Ka Lon.

A escassez de habitações do Governo e a morosidade no processo para as obter é criticada pelos deputados, sendo que Kwan Tsui Hang

aponta mesmo que a solução não é assim tão complicada. “No tempo da administração portuguesa, o Governo não tinha tantas receitas quanto tem agora, mas tinha terras disponíveis e soube negociar com os promotores, trocan-do as terras pela construção de habitações sociais e económicas para resolver o problema da habitação. Actualmente, as receitas do Governo são avultadas (...), a resolução do problema não depende da suficiência de re-cursos, mas sim da actuação do Governo.”

Zheng Anting, que se estreia como deputado na AL, sugere mesmo ao Executivo que pondere a viabilidade de arrendar ou adquirir terrenos na ilha da montanha para construção de habitações públicas.

Para Si Ka Lon, é “la-mentável que a agilização da autorização de plantas de edifícios privados e que a aceleração da construção de habitação pública nunca tenham sido concretizadas” - não se registando, por isso, um aumento “evidente” quanto à oferta habitacional. Kwan Tsui Hang fala ainda nas rendas. “O valor dos preços das habitações e das rendas está fora do alcance dos trabalhadores e, mesmo que ambos os cônjuges tra-balhem, têm dificuldades no pagamento das rendas e não têm capacidade financeira para adquirir casa.”

Os deputados instam o Executivo a criar uma legislação relativa ao ar-rendamento, “para que as rendas das habitações e dos estabelecimentos comer-ciais possam manter-se a nível razoável”.

começa por explicar. “Acredito que, depois da entrevista se tenha de esperar algum tempo até que os candidatos escolhidos possam iniciar as suas funções.”

O deputado diz não entende como é que o sistema - implemen-tado para evitar que os serviços públicos escolham os funcionários de forma independente e para acabar com “o compadrio” - de-mora mais de um ano. Em causa, está o recrutamento centralizado de 128 técnicos auxiliares. “Se este concurso dura há mais de um ano, então quem é que, durante este tempo, tem assegurado as

funções previstas para os novos funcionários?”

Chan Meng Kam questiona se os trabalhadores são mesmo necessários, uma vez que, se o con-curso demora tanto tempo, alguém estará a efectuar as suas funções, mas aponta, por outro lado, que, se realmente são precisos, então a Administração está a pecar por ineficácia. “Passado mais de um ano ainda é necessário preencher estas vagas?”

O deputado deixou o exemplo da China - onde, diz, o concurso para entrar na Função Pública demora dois meses e tem mais de um milhão de concorrentes - para acusar o recrutamento centrali-zado de Macau andar “a passo de caracol”. Para as 128 vagas concorreram cerca de 15.700 pessoas. - J.F.

Recorde-se que Lau Si Io, secretário para as Obras Públicas e Transportes, anunciou o ano passado 18 medidas, que passam, por exemplo, pela cobrança de uma taxa adicional de 10% aplicada a investimento es-trangeiro. Mas, essas recentes políticas para arrefecer o mer-cado imobiliário e controlar a especulação - isto, porque o preço das casas por metro quadrado aumentou 1077% em nove anos - não estão a ser úteis, segundo os deputados.

Para Ho Ion Sang, por exemplo, o Executivo está a dar demasiada liberdade ao mercado da habitação. “O Governo ainda não pen-sa implementar qualquer medida específica para o

arrefecimento dos preços do imobiliário, dando antes liberdade ao mercado. Por-tanto, é bastante preocupan-te a sua atitude demasiado optimista face ao problema da habitação em Macau.” O

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TIAG

O AL

CÂNT

ARA

COMO VOTARAM OS DEPUTADOS

3 políticahoje macau sexta-feira 8.11.2013

JOANA [email protected]

O Governo não poderá apresentar a proposta de lei sobre a vio-lência doméstica até

Agosto do próximo ano. Isto, porque a reprovação de ontem do projecto de lei dos deputados José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai sobre a mesma matéria vem inibir que uma nova proposta sobre tema semelhante possa ser apre-sentada. “Eu não tenho dúvidas, porque o artigo 109 do Regimento da Assembleia Legislativa é claro”, reiterou José Pereira Coutinho à margem do plenário de ontem da AL. O artigo diz que tanto os projectos – apresentados pelos deputados - , como as propostas de lei – estas da responsabilidade do Governo – “não aprovados ou definitivamente rejeitados não podem ser renovados na mesma sessão legislativa”.

A sessão de ontem ficou mar-cada pela segunda reprovação do projecto de lei sobre a violência doméstica dos dois deputados da Nova Esperança. Esta é a segunda vez que o projecto – que previa a criminalização pública da violên-cia doméstica, ao invés do que o Governo propõe (semi-público) – é apresentado para aprovação do hemiciclo e a segunda vez que reprova.

Na legislatura anterior, o chum-bo teve como justificação a falta de tempo para analisar o projecto. Nesta, foram problemas técnicos encontrados pelos deputados que ditaram 10 abstenções, 12 votos

RITA MARQUES [email protected]

D EPOIS de anunciado esta semana pelo Executivo que a proposta de violên-

cia doméstica, enquanto crime semi-público, ia entrar em breve em processo legislativo, Juliana Devoy lembrou que o Governo disse à “Convenção sobre a Eli-minação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher” (CEDAW, na sigla inglesa), em 2010, que era necessário torná-la crime público. “O Governo disse à CEDAW que, embora a código penal seja adequado, em resposta aos pedidos do IAS e de ONG’s, que têm programas para vítimas

de violência doméstica, estava a preparar a lei de violência do-méstica. Razão dada: a natureza do crime. Isto porque, ao não ser crime público, a vítima necessita de iniciar um processo criminal”, lembra a directora do Centro Bom Pastor, uma das organizações que lida com vítimas de violência doméstica.

“Quão irónico é que a única razão que foi dada para fazer esta legislação específica tenha sido descartada em prol de um status quo, isto é, a violência doméstica mantém-se como crime semi--público, não há punição para os perpetradores a não ser que a vítima faça queixa”, frisa.

Ainda sem saber que depois

de entregue um projecto-lei sobre violência doméstica não será pos-sível admitir na AL outro sobre o mesmo tema - mesmo tratando-se de uma legislação do Governo -, Juliana Devoy pede aos deputados um voto “inteligente”. “Quero apenas chamar a atenção de que Macau, sob comando da China, que tem obrigações para com a assinatura da CEDAW”, explica a directora do Centro Bom Pastor, evidenciando uma das directivas - “que os perpetradores sejam pro-cessados e punidos”. “Em 2014, o Governo de Macau vai ter de submeter um relatório à CEDAW. Como vai explicar esta falha para cumprir um compromisso que fez?”, questionou.

• VOTOS A FAVOR

Melinda Chan

Leong Veng Chai

José Pereira Coutinho

Ella Lei

Kwan Tsui Hang

Ng Kuok Cheong

Au Kam San

• ABSTENÇÕES

Mak Soi Kun

Song Pei Kei

Wong Kit Cheng

Si Ka Lon

Chan Hong

Ho Ion Sang

Lam Heong Sang

Leonel Alves

Chan Meng Kam

Cheang Chi Keong

Foi a segunda vez. Pereira Coutinho viu ir por água abaixo a tentativa de criar uma lei que previsse a violência doméstica como crime público. Os deputados reprovaram o projecto de lei por consideraram que seria melhor esperar pela proposta do Governo – que anunciou o processo legislativo para breve, na terça-feira. Mas, há uma questão: segundo o Regimento da AL, mais ninguém pode apresentar uma proposta sobre a mesma matéria até uma nova sessão legislativa

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA REPROVAÇÃO DE PROJECTO DE DEPUTADO INIBE GOVERNO DE APRESENTAR NOVA PROPOSTA

Adeus e até para o ano?

JULIANA DEVOY LEMBRA QUE GOVERNO DISSE À CEDAW SER NECESSÁRIO CRIAR UM CRIME PÚBLICO PARA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

“Como vai explicar esta falha?”

contra e apenas sete a favor, a par de um outro factor: o Governo anunciou há dias que tinha a pro-posta de lei pronta. “O Governo já anunciou que ia apresentar a lei, é melhor esperar”, sugeriu Tsui Wai Kwan, sendo imediatamente apoiado por alguns deputados, como Gabriel Tong, Vong Hin Fai, Angela Leong e Leonel Alves. “Mais vale esperar pela proposta do Governo, porque também podemos continuar a insistir no crime públi-co. Se aceitarmos este projecto de lei, vamos estragar a proposta que o Governo fez”, declarou Gabriel Tong. Também Leonel Alves falou pela primeira vez desde que come-çou esta legislatura. “O Governo já vai dar início ao processo legis-lativo. Concordo com o que foi dito, que é mais prudente esperar. Aprovar a lei sem que o Governo se pronuncie é entrar num conflito desnecessário.”

SÓ PARA O ANO Antes do resultado da aprovação – e em resposta às discordâncias dos colegas do hemiciclo – Melinda Chan foi uma das que mais inter-veio. À insistência dos colegas de que a actual lei penal já prevê que a violência dentro de portas seja crime público “quando em casos de ofensa grave à integridade física”, a deputada ripostou duramente. “O que é que é considerado ofensa grave? As mulheres vão ter de ficar sem pernas e braços para que se faça algo?”

Do lados dos democratas – Ng Kuok Cheong e Au Kam San -, o apoio foi frisado, com o segundo a dizer mesmo que seria mais fácil, caso necessário, alterar o projecto de Coutinho do que analisar o do Governo. Pereira Coutinho e Le-ong Veng Chai disseram também estar disponíveis para mudanças técnicas na lei, caso esta passasse para aprovação na especialidade.

Recorde-se que só cerca da meia-noite de terça feira – depois de ter sido admitido e de ter sido

agendado o plenário de ontem, onde se discutiria este projecto – é que o Governo anunciou que tinha condições para que o processo le-gislativo começasse. Até esta data,

as últimas informações prestadas sobre a proposta do Governo foram em Julho, ao HM, onde o Instituto de Acção Social dizia não saber se esta ia ser entregue este ou no

próximo ano. Isto, depois de terem sido feitas duas auscultações em 2011 e 2012.

A espera desejada pelos co-legas do hemiciclo fez Pereira Coutinho disparar: foi precisa-mente pelo tempo que o Governo demorou a apresentar a lei, que o deputado decidiu voltar a apre-sentar o projecto. “Não sabemos o que andou o Governo a fazer estes dois anos. Se não fosse agendada esta sessão de apro-vação se calhar nem enviavam o comunicado de imprensa [a dizer que a lei estava quase pronta]”.

A questão da espera, contudo, também já não pode estar mais em cima da mesa, pelo menos até que comece a nova sessão legislativa, segundo Pereira Coutinho. “O artigo 109 é para evitar que haja pessoas a apresentar a mesma lei, nomeadamente deputados, mas isto é extensível ao Governo. Essa norma é clara, a matéria é que está em causa. Portanto, não interessa se é crime público ou semi-público, falamos em matéria de violência doméstica.” No plenário, Leonel Alves discordou, afirmando que “se o objecto” da lei for outro, “o facto de não ter sido aprovado, não significa que não possa haver outro projecto”. Mas, Pereira Coutinho diz não ter dúvidas. “O facto é que a matéria não pode ser a mesma, uma vez não aprovada pela AL. Quer seja proposta do Governo, quer seja projecto do deputado, se for rejeitado como foi a de agora, o Governo não pode apresentar na mesma sessão legislativa.”

O deputado assegura que quem votou contra ou se absteve é que poderá ter inibido o Governo a apresentar a proposta e assegura que este ano não podemos esperar uma lei de violência doméstica este ano.

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4 política hoje macau sexta-feira 8.11.2013

RITA MARQUES [email protected]

H Á 26 projectos, no âmbito do PIDDA - Plano de Investimentos e Despe-sas de Desenvolvimento

da Administração que deixam os deputados de pé atrás no relatório sobre a execução do Orçamento de

CECÍLIA L [email protected]

D OIS grupos tiveram ontem reuniões com o Chefe do Executivo, para mostrar o

que pretendem que seja incluído nas Linhas de Acção Governativa (LAG), a ser apresentadas na pró-xima terça-feira. A União Geral das Associações dos Moradores de Ma-cau (UGAMM) e a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) pediram mais casas públicas e o aumento do valor dos cheques do plano de comparticipação pecuniária a distribuir pelo Governo aos residentes de Macau.

Chui Sai On admitiu que ia estu-dar o aumento do limite do rendimen-to para os candidatos da habitação pública. A presidente dos Kai Fong,

Regime de segurança ocupacional “não é polémico” mas redacção não é clara sobre multas, diz Kwan Tsui Hang

Os deputados que estudam a execução orçamental pedem relatórios mais do que uma vez por ano, semestralmente ou trimestralmente. Quanto aos 26 projectos plurianuais, acima de 100 milhões de patacas, referentes ao Orçamento de 2012, está a ser estudada na especialidade a possibilidade de o Governo avançar os valores dos anos seguintes para evitar derrapagens

DEPUTADOS QUEREM ANALISAR ORÇAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO MAIS DO QUE UMA VEZ POR ANO

Projectos plurianuais, despesas estimadasa longo-prazo2012. A 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que estudou ontem pela primeira vez o diploma, entende que os gastos destas despesas plurianuais, acima das 100 milhões de patacas, têm de ser estimados a longo-prazo nos gastos em análise. A ideia é, sobretudo, evitar derrapagens. “De acordo com o relatório apresentado só constam as despesas do ano de 2012. O problema é que normal-mente os projectos de grande dimensão envolvem despesas plurianuais e, por conseguinte, alguns deputados entende-ram que o Governo deve dar informações em relação às despesas estimadas para cada ano”, expli-ca Chan Chak Mo.

O assessor eco-nómico do Gover-no, que esteve a analisar o relatório, ontem apetrechado com elementos adicionais entregues pelo Governo, diz que “é bastante

LAG 2014 ENCONTROS COM O CHEFE DO EXECUTIVO

Mais casas e mais cheques“TAL como aconteceu no

plenário, a proposta de lei não é polémica. Garante a segurança nos estaleiros de cons-trução civil”, salienta a presidente da presidente da 1ª Comissão Permanente da AL, que estuda o Regime do Cartão de Segurança Ocupacional na Construção Ci-vil. Mas, tal como na aprovação da proposta na especialidade, os deputados que a estudam na especialidade levantaram dúvidas quanto aos trabalhadores não--residentes (TNR), que mesmo com permanência legalizada terão de obter o título para tra-balhar no estaleiro. “Falou-se do aperfeiçoamento de sanções, algumas dúvidas sobre a aplica-ção das multas mas tratam-se de questões no âmbito técnico e jurí-dico. Não há grandes problemas,

só questões técnicas que têm de ser limadas”, explica Kwan Tsui Hang. Até serem aperfeiçoados estes aspectos, não haverá mais nenhuma reunião. O novo diplo-ma obriga a que os trabalhadores locais e não-residentes - bem como empregadores, dirigentes e engenheiros - obtenham este título, válido por cinco anos, para poderem trabalhar. O título pode ser obtido depois de feito um exame público (acessível online), ao qual estarão mais facilmente aptos a passar aque-les que frequentem um curso de seis horas. Caso não obtenham o cartão, tanto a parte laboral como a patronal estarão sujeitas a multas, no valor de 500 patacas para trabalhadores e entre 1000 a 7000 patacas a empresas por cada empregado. - R.M.R.

Ng Siu Lai, revelou que o Chefe do Executivo prometeu estudar retirar as terras abandonadas para a construção de habitação do Governo.

Ng Siu Lai disse ainda que o Chefe do Executivo disse ter ouvido as opiniões da sociedade sobre o valor do cheque pecuniário para o próximo ano: os residentes querem dez mil patacas, mas Chui Sai On não disse se vai distribuir este valor. Já Pereira

Coutinho recomenda que o aumento seja antes para as 12 mil patacas e o subsídio para os idosos de dez mil patacas. O presidente da UGAMM disse que o Chefe do Executivo “concorda” com as recomendações, mas que tem de as estudar cuidado-samente. O deputado descreveu que Chui Sai On mostrou “abertura” às recomendações, por isso disse estar “satisfeito” com a reunião.

detalhado”, no entanto, levantou algumas questões: “Os critérios adoptados para o aumento das despesas será que têm a ver com a taxa de crescimento do PIB?”, re-produziu o presidente da comissão.

O assessor deixou a sugestão de que, por exemplo, a “possibilidade de o Governo facultar à Assembleia no primeiro semestre [de seis em seis meses] essas contas ou até de forma trimestral”, disse Chan Chak Mo, sobre uma questão que pretendem colocar ao Governo.

O entrave, explica, prende-se com a possível “confidencialidade” dos montantes. “É uma questão que vamos colocar ao Governo, se achar viável é possível que todos concordem. Mas depois de nos apre-sentar as contas podemos entregar à comissão de acompanhamento das contas públicas. Mas chegámos a pensar, poderá isto envolver a confidencialidade? Porque uma vez com as contas já divulgadas, embora provisórias, pode posteriormente sofrer alterações”, lembra.

A comissão liderada por Chan Chak Mo entende que o Governo deve fornecer dados durante o ano em que o Orçamento é aplicado. Por isso, a Assembleia vai sondar junto do Executivo a possibilidade de serem enviados relatórios a cada três meses ou, então, de meio em meio ano.

Ontem, esteve na discussão da especialidade do relatório do Orçamento 2012 o secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, e para a semana está já agendada nova reunião também com o Go-verno. A baixa execução do Plano de Investimentos, que recebe mais dinheiro do que gasta efectivamen-te, deverá ser uma das perguntas colocadas, tal como em todos os anos, avança Chan Chak Mo.

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5 políticahoje macau sexta-feira 8.11.2013

60º Grande Prémio de Macau - Concurso de Fotografia Organizado pela Comissão do Grande Prémio de Macau

com a co-organização de:Associação Fotográfica de Macau,

Associação de Salão de Fotografia de Macau,Foto Nice, Foto Princesa

(a ordem é aleatória)

Regulamento1. Objectivos: Promoção as actividades do Grande Prémio de Macau dirigidas ao

público Concurso de Fotografia dos Carros e Motas de Corridas durante 60º Grande Prémio de Macau, a fim de criar estabilidade e alegria da comunidade. Todas as obras seleccionadas e premiadas, para além de serem exibidas publicamente, poderão ser ainda utilizadas na promoção do Grande Prémio.

2. Locais, data e hora : Local: Praça Tap Seac (Carros) Data e hora : 17:00 a 20:00, 8 de Novembro de 2013

10:00 a 20:00, 9 de Novembro de 2013 10:00 a 17:00, 10 de Novembro de 2013 Local: Praça de Amizade (Motas) Data e hora : 17:00 a 20:00, 8 de Novembro de 2013

10:00 a 20:00, 9 de Novembro de 2013 10:00 a 17:00, 10 de Novembro de 2013 Local: A Macao Convention e Exhibition Center Venetian - E Salão (Carros clássicos)

Data e hora : 10:00 a 20:00, 8 a 9 de Novembro de 2013 10:00 a 20:00, 11 a 16 de Novembro de 2013 Local: parada dos Carros clássicos Data e hora : 10 de Novembro de 2013 17 de Novembro de 20133. Formato: Fotografias a cores de 8R que terão de ser entregues conjuntamente com um CDR de alta resolução ou em filme.4. Requisitos dos candidatos: Todos os residentes de Macau, com interesse em fotografia.5. Número de obras: 1 fotografia cada candidato.6. Identificação da obra: Os candidatos devem inscrever no verso da obra, todos os dados inerentes à mesma. (Ver verso do boletim de inscrição) 7. Local de entrega: As fotografias devem ser entregues, pessoalmente, nos locais seguintes. Não são aceites envio por correios:

Comissão do Grande Prémio de Macau N.º 207, Av da Amizade, Edif. do Grande Prémio de Macau

Associação Fotográfica de Macau Rua Almirante Costa Cabral, N.º 36, Edif. Veng Cheong, “C” Associação de Salão de Fotografia de Macau Avenida da Praia Grande 702, 2.º andarFoto Nice Avenida da Praia Grande n.º 616, Edf. Milionário, MacauFoto Princesa Avenida Infante D.Henrique, N.os 55-60

8. Data para entrega dos trabalhos: 18 de Novembro a 31 de Dezembro de 2013.9. Data de selecção dos trabalhos: a anunciar. 10. Júri: Comissão do Grande Prémio de Macau e representantes das entidades co-

organizadoras.11. Prémios: 1.º classificado: Prémio Monetário de MOP9.000,00 e taça 2.º classificado: Prémio Monetário de MOP6.000,00 e taça 3.º classificado: Prémio Monetário de MOP3.000,00 e taça 3 menções honrosas: Placa e Prémio monetário no valor de MOP1.000,0012. Publicação dos resultados do concurso: a anunciar 13. Data da Exposição e atribuição dos prémios: a anunciar 14. Outras disposições regulamentares:

1 - Os participantes obrigam-se a aceitar o presente Regulamento e as decisões do Júri.2 - Se as obras não corresponderem ao exigido pelo Regulamento, a entidade

organizadora tem o direito de desqualificar o participante.3 - A organização terá o direito de usar as obras seleccionadas para fins de publicação,

introdução na página electrónica e promoção, não sendo necessária a autorização do participante, nem havendo pela utilização referida, direito a qualquer pagamento de compensação pecuniária.

4 - Em caso de omissão do presente Regulamento, compete à entidade organizadora a sua interpretação e decisão.

5 - Todos os problemas relacionados com direitos de autor, de imagem e ao bom nome são da inteira responsabilidade do autor da obra.

6 - Os trabalhos concorridos vão ficar em arquivo da Comissão do Grande Prémio de Macau. E a Comissão do Grande Prémio de Macau tem o direito de pôr em exposição ou outros fins esses trabalhos em qualquer local ou tempo, mas é necessário a publicação dos nomes dos classificados.

7 - Os trabalhos não classifcados, não são devolvidos.* Todo o pessoal da Comissão do Grande Prémio de Macau e dos serviços envolventes está

interdito de participar no concurso.** Os dados dentro do formulário são apenas para o concurso. O prazo de arquivo desses

dados é de 2 anos

O s Governos de Macau e de Cabo Verde assinaram

ontem um acordo-quadro de cooperação jurídica e judiciária, que poderá vir a abrir caminho à troca de pessoas condenadas entre as duas jurisdições.

Trata-se de um “acordo importante” que “demons-tra claramente o nível das relações” entre Cabo Verde e Macau, mas também entre Cabo Verde e a República Popular da China”, disse o ministro do Turismo, Indústria e Energia cabo--verdiano, Humberto de Brito, no final da cerimónia de assinatura do acordo firmado, do lado de Ma-cau, pela secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan.

O acordo versa sobre diversas áreas no âmbito da cooperação jurídica, nomeadamente em matéria de formação profissional, registos, notariado e identi-ficação civil, bases de dados e informática jurídica, bem como na dispensa de lega-lização de actos públicos judiciais e extrajudiciais, podendo abrir caminho à transferência de pessoas condenadas. “Teremos de, no âmbito deste acordo--quadro, encetar negocia-ções para concretizar nos acordos mais específicos, como é o caso das pessoas condenadas”, explicou Florinda Chan.

Além da questão da transferência de pessoas condenadas, vai ser também

dada continuidade às nego-ciações em matéria de coo-peração na captura e entrega de infractores em fuga, de reconhecimento e execução de sentenças, notificação de actos judiciais em matéria penal e civil, investigação de obtenção de provas, de decisões arbitrais e notifica-ção de actos extrajudiciais e reconhecimento da sua validade, entre outros, de maneira a implementar o acordo. “Obviamente que temos um sistema jurídico idêntico ao da República de Cabo Verde - o sistema continental -, [pelo que] tenho certeza que haverá muitas partes em comum”, afirmou Florinda Chan, ressalvando, porém, que tal terá de ser feito “dentro do âmbito e das subdele-gações das autorizações aprovadas pelo Governo Central no caso de acordo internacional”, tal como sucedeu ontem, dado que o acordo-quadro foi firmado ao abrigo do artigo 94.º da Lei Básica, que prevê a delegação de poderes por parte de Pequim na RAEM.

O terceirO acOrdOMacau assinou, até ontem, dois acordos de transferên-cia de pessoas condenadas: um com Portugal - que remonta ao início do es-tabelecimento da Região Administrativa Especial -, de cariz internacional e um outro com Hong Kong, regional.

O ministro cabo-verdia-no destacou, por outro lado,

que o “abrangente” acordo vem também complemen-tar um outro firmado ante-riormente. “Assinámos, em 2010, um acordo de elimi-nação de dupla tributação e também de protecção de investimentos - um acordo fundamental para o apro-fundamento das relações económico-empresariais, que facilita investimentos entre Cabo Verde e Macau e a circulação de pessoas, de bens e de capitais”.

Isto mostra “claramen-te” que a República de Cabo Verde e Macau “estão a trabalhar juntos no sentido de cada vez mais haver con-fiança”, considerou ainda Humberto Brito. “Quando a justiça, a assistência judiciária, a formação, a troca de informações se relaciona também com a parte económica e finan-ceira, mas acompanha o nível de excelência que nós temos a nível político, diplomático e institucional, demonstra-se que estamos a trabalhar verdadeiramente para a consolidação de uma relação secular e que tem, do nosso ponto de vista, pernas para andar, para se aprofundar e para que todos possamos tirar parti-do das relações históricas, linguísticas, mas também económicas e de protecção mútua”, complementou.

Cumpridas as forma-lidades internas, o acordo entrará em vigor 30 dias após a data da recepção da última notificação por qualquer das partes. - Lusa

Macau e cabo Verde assinaM acordo de cooperação jurídica e judiciária

Protecção mútua

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6 hoje macau sexta-feira 8.11.2013SOCIEDADE

ANDREIA SOFIA [email protected]

S ÃO de ramos de actividade muito diferentes, mas os problemas são comuns: não conseguem recrutar

funcionários. E mesmo que o consigam, eles deixam a empresa ao fim de uns meses em busca de

O Comissariado Contra a Corrup-ção de Macau

(CCAC) anunciou ontem ter enviado para o Mi-nistério Público um caso suspeito de falsificação de documento e fraude por funcionários da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Trans-portes.

O caso envolve três trabalhadores, incluindo um elemento da chefia, que, a par de outro colega, é suspeita de ter ajudado “permanentemente” um outro colega a “picar o ponto”, encobrindo a sua ausência, “de modo a fugir à responsabilidade prove-niente da falta injustifica-da” e a “receber, de forma fraudulenta, o vencimento de montante superior a 50 mil patacas”, explica o CCAC em comunicado.

Após a investigação, o CCAC detectou que o funcionário em causa saiu habitualmente de Macau dentro do seu horário de serviço, desde 2010, para se deslocar ao interior da China, durante um perí-

As Pequenas e Médias Empresas estão contra a criação de leis que proíbam contratação de estrangeiros, porque é-lhes quase impossível recrutar locais. Da reunião de ontem vão sair propostas para as LAG de 2014

MÃO-DE-OBRA DAVID CHOW REUNIU 30 REPRESENTANTES DE VÁRIOS SECTORES

PME imploram por importação

DETECTADO CASO SUSPEITO DE FALSIFICAÇÃO E FRAUDE POR FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Fugir às responsabilidades

um trabalho mais atractivo. É este o drama vivido actualmente pelas Pequenas e Médias Empresas (PME) locais, e que foi ontem ex-posto numa reunião da Associação Comercial Federal Geral das PME de Macau, criada pelo empresário David Chow.

Do encontro saíram um con-junto de propostas para entregar ao Chefe do Executivo para a elaboração das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2014. “Espero que haja uma legislação que permita contratar mais pessoal que não seja só de Macau. Sou a favor do recrutamento ao exterior, e podemos treinar esse pessoal”,

disse Li Ji Fung, em representação do ramo das ourivesarias.

Chui Heng Teng, colega do sec-tor dos relógios, disse ser “muito difícil recrutar pessoal porque os jovens só querem trabalhar em empresas grandes. E há um proble-ma sério de falta de pessoal. Não concordo com uma legislação que diga que só pode ser contratado pessoal local”.

David Chow, dono dos empre-endimentos Doca dos Pescadores e Landmark Macau, disse que o Executivo “devia criar leis de pro-moção à diversificação económica” ao invés de equacionar a hipótese de mexer na lei de contratação de

croupiers. “Esta conferência é para dizer ao Governo que os comercian-tes se esforçam por desenvolver a diversificação das actividades económicas. Mas é preciso haver condições para desenvolvê-las. Macau tem mais de 300 mil tra-balhadores e mais de 100 mil são estrangeiros. Com estes números as PME não conseguem desenvolver os seus negócios. As PME mantém os velhos e os jovens foram todos para os casinos o que quebrou a continuidade dos negócios.”

QUOTAS PARA TODOSPara além de ter sido levantada a questão das rendas elevadas,

muitos empresários pediram ao Governo para que haja dados mais concretos sobre a taxa de desem-prego, que actualmente ronda os 1,9%. Pedem que haja uma clari-ficação por sectores de actividade, para terem maior conhecimento do panorama do sector.

Muitos exigem ainda que o Executivo abra o grupo de quotas de importação a todos os ramos de actividade. “É preciso muito dinheiro para recrutar pessoas para podermos funcionar como deve ser e actualmente precisamos de mui-tos estrangeiros. O Governo deve criar condições para recrutarmos o número de pessoas suficiente para responder a tantas obras. Devia ser criada uma quota para a área de consultoria de engenharia”, disse Chan Mun Fung, representante do sector.

Representantes de associações de condutores profissionais falam de um sector com salários que rondam as 18 a 20 mil patacas, com prémios anuais, mas que mesmo assim não consegue man-ter os funcionários mais do que breves meses. “O nosso negócio funciona 24 horas por dia e há muitos residentes que não querem trabalhar neste ramo. Dependemos do recrutamento do exterior para manter o serviço. Se houver uma legislação que proíba o recruta-mento vamos ter mais problemas no futuro”, frisou Leong Chen Ip, em representação das casas de penhores.

odo de tempo superior a 140 dias, “suspeitando-se que o mesmo terá, em 96 dias do referido período, feito os seus registos de assiduidade com a ajuda de terceiros.

Nos termos do Códi-go Penal de Macau, os crimes de falsificação de documento e fraude praticados por um fun-cionário, no exercício das suas funções, po-dem ser punidos com pena de prisão de até cinco anos.

Em paralelo, no de-curso da investigação, foi detectado ainda “o depósito de uma grande quantidade de objectos pessoais no local de tra-balho, na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, incluindo mais de 40 gaiolas para aves e mais de dez pássaros, o que levou o CCAC a solicitar “um reforço da gestão do pessoal, bem como a adopção de medidas eficazes para evitar situa-ções idênticas”, refere-se no comunicado. - Lusa

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AS 16 SALAS DE JOGO PUNIDAS

7 sociedadehoje macau sexta-feira 8.11.2013

GONÇALO LOBO [email protected]

O S Serviços de Saúde (SS) decidiram casti-gar 16 salas de jogo por não respeitarem

os parâmetros de qualidade de ar exigidos. Por isso, as salas de jogo punidas serão obrigadas a reduzir a área de fumadores em 10%.

A punição terá efeito a partir de Janeiro do próximo ano. No entan-to, as empresas têm de apresentar uma nova planta de distribuição das áreas bem como nova medidas contra o excesso de fumo no espaço de 30 dias. “Exigimos aos casinos a apresentação de uma planta de redução das áreas em dez por cento e também um plano das medidas de aperfeiçoamento da qualidade do ar na área para fumadores, e também a respectiva calendarização”, referiu, ontem, aos jornalistas o director dos SS, Lei Chin Ion, em conferência de imprensa convocada de urgência.

As novas medidas e as plantas com redução serão apreciadas, posteriormente, por vários depar-tamentos do Governo. As salas de jogo castigadas [ver caixa] já foram informadas da decisão governa-mental em Setembro passado e al-gumas até já se manifestaram contra a decisão. Outras ainda o poderão

CECÍLIA L [email protected]

A conclusão da cons-trução do novo Es-tabelecimento Pri-

sional de Macau (EPM) já está atrasada há mais de um ano, mas ainda não há qualquer calendário concre-to para que o novo edifício veja a luz do dia. Contudo, o chefe de divisão de segu-rança e vigilância do EPM garantiu ontem que a obra de

GOVERNO OBRIGA À REDUÇÃO DE 10% DE ESPAÇO PARA FUMADORES

Castigo para 16 salas de jogo

EPM APENAS A ALA FEMININA DEVE ESTAR CONCLUÍDA NO PRÓXIMO MÊS

Nova prisão sem calendário

• SOCIEDADE DE JOGOS DE MACAU: Casino Jimei, Casino Emperor Palace,

Casino Lan Kwai Fong, Club Vip Legend, Casino Kam Pek, Casino Diamond,

Casino Grandview (Macau Jockey Club), Casino Golden Dragon

• GALAXY: Casino StarWorld

• MELCO CROWN: Mocha Hotel Royal, Mocha Hotel Taipa Square, Mocha

Marina Plaza, Mocha Golden Dragon, Mocha Hotel Sintra, Mocha Lan Kwai

Fong, Mocha Hotel Taipa Square.

um máximo de 50% do total da área destinada ao público. Os SS já concluíram os trabalhos de medição do ar das áreas para fumadores localizadas em 44 casinos. Agora, depois de nova medição do ar nos 28 casinos cuja qualidade do ar não satisfazia as exigências na primeira medição, acabaram por sair punidos apenas 16 casas de jogo.

disse não haver resultados pois é preciso fazer muitas análises. “Existe uma grande quantidade de salas VIP, por isso ainda esta-mos na fase de medição”, referiu, deixando a promessa de divulgar conclusões mal os resultados das análises estejam prontos.

Seja como for, os SS deixam claro que “a redução da área para fumadores não é uma sanção mas sim uma medida de controlo do tabagismo”. “O êxito dos traba-lhos de controlo do tabagismo

depende essencialmente da participação e dos esforços do sector do jogo, gestores dos es-tabelecimentos, não fumadores, fumadores e órgãos competentes do Governo”, complementou Lei Chin Ion.

De recordar que, desde Janei-ro de 2013, em todos os casinos em Macau, foi admitida a cria-ção de áreas para fumadores até

fazer. O director dos SS espera que no início de 2014, os trabalhos de redução de espaço para fumadores estejam já totalmente realizados. Até essa data tudo ficará na mes-ma e, no futuro, apesar da medida respeitar “o princípio de redução progressiva” existe a possibilidade dessas salas de jogo conseguirem reaver o espaço perdido.

SALAS VIP DE FORAQuestionado sobre a qualidade do ar nas salas VIP, Lei Chin Ion

alargamento da ala feminina deverá estar concluída no final deste ano.

Lei Cheong Wang disse que desde Junho que já não existe nenhuma prisioneira a dormir no chão, uma vez que a capacidade da ala feminina aumentou de 184 para 315 mulheres. “Este aumento dá para responder às necessi-dades até que a nova prisão esteja construída. Mas neste momento não posso garantir até quando esse aumento

consegue responder às ne-cessidades.”

“No final deste ano vão estar concluídas as obras da primeira fase, mas as obras da segunda fase ainda estão sob concurso público pelas Obras Públicas. De facto houve um atraso de cerca de um ano devido ao sol e chuva”, disse Lei Ka Nang, engenheiro do projecto.

As obras começaram em Novembro do ano passado e já estão orçamentadas em 30 milhões de patacas. Entretanto o número de mulheres detidas tem vindo a aumentar, de 158 em finais de 2011 até 198 até Outubro último. Três das reclusas vivem com os seus filhos com menos de quatro meses, sendo que uma está grávida.

Com as obras, a ala fe-minina passa a contar com mais camas e sobretudo celas individuais – nove, face às ac-tuais quatro. Vão ainda surgir celas para reclusas portadoras de deficiência e para jovens entre os 16 e 18 anos.

A nova ala feminina promete ainda ser amiga do ambiente, uma vez que a iluminação utilizada vai per-mitir a poupança de 50% de energia. Há um novo sistema de aquecimento de água através do calor recolhido através do ar condicionado.

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8 hoje macau sexta-feira 8.11.2013CHINA

O vice-presidente do Brasil, Mi-chel Temer, e o seu homó-

logo chinês, Li Yuanchao, destacaram ontem o estado positivo das relações bilate-rais num encontro mantido no Grande Palácio do Povo, na capital chinesa.

No início do encontro, Michel Temer, que está em

A agência oficial chinesa, Xinhua, publicou on-tem um editorial contra

a Google onde sublinha que a empresa “não está em posição moral de dar lições sobre a liberdade na Internet” depois do presidente da empresa instar Pequim a levantar a censura à Rede.

A Xinhua acusa a Google e o seu presidente, Eric Sch-midt, de ter “duas faces” e de atirar a “moralidade” fora ao colaborar com o Governo norte-americano em actos de espionagem dos seus utilizado-res e ceder informações.

“Na realidade a Google tem duas faces: a aparência comercial e a cara política e de acordo com as necessidades mudam a sua actuação” refere o texto ao enfatizar que se a “Google com duas faces não volta à China, é melhor”.

Em Hong Kong depois de ter estado em Pequim onde se reuniu com o Presidente Xi Jin-

ping e com o primeiro-ministro Li Keqiang, Eric Schmidt concedeu uma entrevista ao diário South China Morning Post onde sublinha que a liberdade de informação na Internet é “chave” para o êxito de reformas a aplicar na China.

Noutras declarações ao “The Wall Street Journal”, o presidente da Google disse que o “regime de censura na China piorou desde que a empresa saiu do país, pelo que alguma coisa tem de mudar para que regresse”.

Em 2010 a Google mudou o seu servidor da China conti-nental para Hong Kong depois de fracassarem as negociações com o Governo chinês sobre a regulação da actividade do motor de busca.

A Xinhua pergunta ainda se a Google pode assumir o papel de colaborador do Governo norte-americano em actos de espionagem, qual a razão para não cumprir a lei noutros países.

T AIWAN assinou on-tem um acordo de co-operação económica

bilateral com Singapura depois de três anos de negociações e do fim da oposição da China o que consolida a campanha da ilha em selar outros pactos com países não aliados.

O acordo segue-se a outro já rubricado com a Nova Zelândia e con-tribuirá para reduzir as taxas aduaneiras para os produtos de Singapura em Taiwan e para os da ilha Formosa em Singapura, revelaram representantes do Ministério dos Ne-gócios Estrangeiros de Taiwan em conferência de imprensa.

Sob a designação ofi-cial de Acordo de Coo-peração Económica entre Singapura e o território Aduaneiro Separado de Taiwan, Pescadores, Kin-men e Matsu, o pacto foi

assinado em Singapura pelo representante de Taiwan na cidade Estado, Hsieh Fadah, e pelo repre-sentante de Singapura em Taiwan, Calvin Eu.

O pacto ontem as-sinado é o primeiro de Taiwan com um país da Associação de Nações do Sudeste Asiático e é um marco na vontade da ilha participar na integração regional e reforçar laços com os países do Pacífico asiático, refere uma nota do Ministério dos Negó-cios Estrangeiros.

Singapura é o quinto parceiro comercial de Taiwan e o seu quarto maior mercado de expor-tações e oitava fonte de importações com um co-mércio bilateral em 2012 de 28.200 milhões de dólares cerca de 200.000 milhões de patacas, 5% do comércio externo de Taiwan.

VICE-PRESIDENTE BRASILEIRO PARA DESTACAR RELAÇÕES BILATERAIS

Emergentes com interesses comunsPequim no âmbito de uma visita de cinco dias à China, agradeceu aos anfitriões a “calorosa recepção” rece-bida no país e destacou a importância das relações entre as duas economias emergentes.

Por sua vez, Li Yuan-chao destacou o papel que o vice-presidente brasileiro teve nas relações sino-

-brasileiras e indicou que durante a estada de Temer na China será analisada a relação bilateral e assuntos de interesse comum.

A reunião, que se prolon-gou por uma hora, aconteceu depois de uma cerimónia de boas-vindas no Grande Palácio que incluiu o hino dos dois países e uma revista à guarda de honra.

Ainda ontem Michel Temer teve um encontro com o Presidente chinês, Xi Jinping onde também foram discutidas as relações bilaterais e temas globais de interesse comum.

Na quarta-feira, o vice--presidente brasileiro lide-rou a delegação do seu país que participou na III sessão da Comissão China-Brasil

XINHUA GOOGLE “NÃO ESTÁ EM POSIÇÃO MORAL” PARA DAR LIÇÕES DE LIBERDADE

As duas facesTAIWAN ASSINOU PACTO DE COOPERAÇÃO ECONÓMICA COM SINGAPURA

Após três anos de negociações

de Alto Nível de Concer-tação e Cooperação que decorreu em Cantão, capital da província de Guangdong, adjacente a Macau e Hong Kong.

Entre os acordos que os dois países assinaram está um protocolo para a compra de milho brasilei-ro por parte da China que supõe uma troca comercial

de cerca de 4.000 milhões de dólares.

Assinaram ainda um compromisso que prolonga por mais dez anos a coopera-ção espacial que inclui o lan-çamento de satélites a partir da China e Michel Temer recebeu ainda notícia que será posto fim à proibição de entrada de carne bovina brasileira no país.

Michel Temer está na China depois de ter partici-pado em Macau na reunião ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Por-tuguesa.

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9 chinahoje macau sexta-feira 8.11.2013

A cidade chinesa de Pe-quim vai reduzir nos próximos cinco anos

quase 40% das emissões de licenças de novos veículos e exigirá que mais de um quarto dos novos carros sejam auto-móveis eléctricos, híbridos ou movidos a hidrogénio.

A medida agora anun-

ciada visam combater a crescente poluição na capital chinesa, um problema que afecta muitas outras cidades do país.

Segundo a agência Xi-nhua, que ontem explicou o plano de acção contra o “smog” a decorrer até 2017 o número de novas licenças

emitidas anualmente vai cair das actuais 240.000 para 150.000, número que irá vigorar entre 2014 e 2017.

Dos 600.000 novos carros que irão circular na capi-tal chinesa nesse período, 170.000 terão de utilizar as “novas energias” como combustível.

As autoridades de Pe-quim consideram que uma das principais causas da elevada poluição na cidade, frequentemente envolta em neblina, é o elevado número de automóveis a circular nas ruas que subiu de dois milhões em 2003 para 5,4 milhões na actualidade.

Fundo Petrolífero de Timor-Leste ultrapassa os 14,5 mil milhões de dólaresO Fundo Petrolífero de Timor-Leste atingiu no terceiro trimestre deste ano 14,6 mil milhões de dólares, segundo um relatório ontem divulgado pelo Banco Central timorense. O relatório, referente ao período entre Julho e Setembro, refere que as entradas brutas de capital durante o terceiro trimestre foram de 703,30 milhões de dólares, dos quais 269,31 milhões em contribuições e 433,9 milhões em pagamentos de ‘royalties’ provenientes da Autoridade Nacional de Petróleo. “As saídas de dinheiro foram de 181,97 milhões de dólares, dos quais 180 milhões foram transferidos para o Orçamento do Estado e 1,97 milhões foram pagos pelo Banco Central de Timor-Leste para cobrir os custos de gestão operacional”, acrescenta o documento.

Filipinas preparam chegada de tufão com ventos de 330 km/hSobreviventes do terramoto de Outubro nas Filipinas abandonaram hoje os seus abrigos temporários integrando as deslocações em massa no país devido à aproximação do super tufão Haiyan com ventos de cerca de 330 quilómetros por hora. As autoridades do país estão receosas com a força da tempestade que deverá atingir a costa na sexta-feira influenciando o estado do tempo no centro e no sul das Filipinas, áreas ainda em recuperação do sismo de Outubro que atingiu uma magnitude de 7,1. “Esta tempestade é muito perigosa, as autoridades locais sabem disso e estão a deslocar as pessoas, a dar indicações para que possam estar em maior segurança”, explicou Glaiza Escullar, dos serviços de meteorologia locais, em declarações à agência AFP.

A Guiné-Bissau vai receber “já” da China um “acordo de assistência” no valor de 140 milhões de dólares em alimentos. Ao HM, Malam Becker Camara diz que projectos de infra-estruturas também foram aprovados

REPRESENTANTE DO PAÍS AFRICANO NO FÓRUM MACAU CONFIRMA

China envia “solução de emergência” à Guiné-Bissau

ANDREIA SOFIA [email protected]

A presença da de-legação governa-mental da Guiné--Bissau no Fórum

Macau correu tão bem que Rui Duarte Barros, primeiro--ministro, decidiu realizar o balanço do evento no próprio país ao invés de Macau, como estava agendado. A garantia foi dada ao HM por Malam

Becker Camara, represen-tante do país no Fórum Macau, que diz ainda que todos os objectivos pro-postos inicialmente foram conseguidos.

Foi selado “um acordo de emergência e de assis-tência da China à Guiné--Bissau no valor de 140 milhões de dólares, que se comprometeu a enviar já uma ajuda em cereais e ou-tros produtos alimentares”. Ficou ainda prometida a análise e apoio financeiro “de alguns projectos de energia para uma barragem hidroeléctrica, de portos de águas profundas. Tudo o que tínhamos projectado teve uma receptividade óptima pelas autoridades chinesas, por isso consideramos que valeu muito a pena a vinda do primeiro-ministro”. Tudo poderá ser realizado “num futuro breve”.

Com isto, “foi demons-trada a pretensão da Guiné

em relançar a nossa coopera-ção e tornar esta relação com a China sendo um parceiro estratégico”.

INCIDENTE SERÁ “ULTRAPASSADO”A conferência de imprensa que estava agendada para ontem em nada teve a ver com a agressão de que foi vítima o ministro guineen-se Orlando Viegas, com a pasta dos transportes, e que é ainda dirigente do Partido de Renovação Social.

“A delegação teve ou-tra agenda e preferiu-a. A situação do país está na normalidade. Do que tenho seguido, foram tomadas as devidas medidas pelas autoridades e não há nada demais. Acredito que vai ser ultrapassado.”

Malam Becker Camara concorda que a instabilida-de política que o país vive neste momento não ajuda ao fomento económico. As eleições voltaram a ser adiadas para o próximo ano, por falta de fundos. “Tudo está a encaminhar--se para a realização das eleições. Em termos de estabilidade política temos consciência de que afecta em certa medida o desen-volvimento e estamos a fazer por isso. Estamos a tentar resolver o problema dessa variável.”

PEQUIM VAI REDUZIR EM 40% NOVAS LICENÇAS PARA CARROS

Exigidos mais veículos verdesREGIÃO

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10 hoje macau sexta-feira 8.11.2013

N UM leilão nocturno da casa China Guardian, em Maio de 2011, “Eagle Standing on a Pine Tree”

(Águia sobre um pinheiro), pintura a nanquim feita em 1946 por Qi Baishi, um dos mestres da arte chinesa do século XX, foi arrematada por um preço surpreendente: 65,4 milhões de dólares norte-americanos (512,5 milhões de patacas). Nunca antes uma pintura chinesa tinha atingido um valor tão alto em leilão. No final do ano, a venda da tela teve implicações globais, ajudando a China a superar os Estados Unidos como o maior mercado mundial de arte e leilões.

Dois anos depois, porém, a obra--prima de Qi Baishi ainda está parada num depósito em Pequim.

O autor da licitação vencedora negou-se a pagar pela tela porque a autenticidade da mesma foi questio-nada. “O mercado encontra-se numa fase muito dúbia”, disse Alexander Zacke, especialista em arte asiáti-ca que comanda a casa de leilões internacionais on-line Auctionata. “Ninguém leva muito a sério os resultados na China.”

De facto, ao mesmo tempo que o mundo da arte reage com assombro ao ‘boom’ do mercado chinês, uma revisão feita pelo “New York Times” ao longo de seis meses constatou que muitas das vendas não chegaram a concretizar-se. São transacções que teriam gerado até um terço da receita chinesa de leilões nos últimos anos.

Facto igualmente problemático é que o mercado está inundado de obras falsificadas, com frequência produzi-das em massa, e tornou-se campo fértil para a corrupção, na medida em que executivos de empresas subornam autoridades com obras de arte.

A explosão de compradores de arte foi alimentada pelo consumismo antes reprimido dos novos-ricos. Há duas décadas, a China praticamente não tinha nenhum mercado para esse sector. Apesar disso, no ano passa-do, a receita divulgada dos leilões no país subiu 900% em relação a 2003, chegando a 8,9 mil milhões de dólares norte-americanos (69,7 mil milhões de patacas) - embora tenha caído 24% em relação a 2011. Já nos EUA, a receita do mercado de leilões em 2012 foi de 8,1 mil milhões (63,4 mil milhões de patacas).

Os compradores chineses geral-mente interessam-se por trabalhos chineses tradicionais, alguns de mestres do século XV e outros de artistas modernos que optaram por trabalhar no estilo antigo.

Essa própria reverência ao passado cultural contribui para o aumento das obras falsificadas. Os artistas na China são ensinados a imitar os velhos mestres chineses, produzindo cópias de alta qualidade. Essa tradição coincidiu com a de-manda do mercado de arte, no qual reproduções - que muitos artistas possuem a habilidade necessária para criar - frequentemente são oferecidas como se fossem artigos genuínos. “Esse é o desafio do momento”, disse

ARTE

FALSIFICAÇÕES INUNDAM MERCADO CHINÊS

Uma questão de autenticidadeWang Yannan, presidente e director da China Guardian, a segunda maior casa de leilões do país. “A primeira pergunta que cada chinês se faz é se a obra é falsificada.”

Escândalos que vieram a público expõem a extensão das falsificações e semeiam dúvidas quanto ao mercado mais amplo. Em 2010, veio à tona que uma pintura a óleo atribuída ao artista do século XX Xu Beihong e vendida por mais de 10 milhões de dólares norte-americanos (78,3 milhões de patacas) tinha sido re-produzida 30 anos após a morte do artista por um estudante, durante um exercício de sala de aula numa das principais academias de arte da China.

Ainda mais constrangedora foi a decisão tomada pelo Governo chinês, em Julho passado, de fechar um mu-seu particular em Hebei por suspeitas de que quase tudo no seu acervo fosse falsificado - 40 mil artefactos, incluindo um vaso de porcelana da dinastia Tang. “Sempre existiram falsificadores no mercado, mas é uma questão de proporção”, comentou Robert D. Mowry, ex-curador de arte asiática na Universidade Harvard e hoje consultor da Christie’s.

O sector de leilões e o Governo dizem que estão esforçando-se para combater os abusos, mas enfrentam

a dificuldade de uma brecha na lei, que exime as casas de leilões de responsabilidade quando uma obra leiloada é falsificada.

O problema da falsificação ajuda a explicar o número crescente de casos em que pagamentos não são realizados. Nos últimos três anos, um estudo feito pela Associação de Leiloeiros da China sobre as casas de leilão chinesas constatou que mais ou menos metade das vendas de obras de arte de valor superior a 1,5 milhão de dólares norte-americanos (11,7 milhões de patacas) - que re-presentam uma parte importante do

mercado - não ficou completa porque o comprador deixou de pagar o pre-ço acordado. (No caso das grandes casas de leilão americanas, segundo vários especialistas, o índice de não pagamento por obras de valor equi-valente é mínimo). “Isso tem algo a ver com o ambiente geral”, disse a presidente da associação, Zhang Yanhua. “Como sabem, a China ainda está a esforçar-se para construir a obediência às leis.”

De acordo com especialistas, ou-tras explicações possíveis para a onda de inadimplência e de pagamentos feitos com atraso incluem casos em

que pessoas arrependeram-se das li-citações que fizeram ou simplesmente fizeram licitações altas para elevar o valor de obras de um artista particular que elas coleccionam.

Mesmo levando em conta que os relatórios de receita nem sempre reflectem a realidade, a alta nas aqui-sições de arte nos últimos dez anos foi meteórica. Bancos chineses, estatais e grandes empresários continuam a investir no ‘boom’. Obras de arte são uma espécie de nova moeda na China, e tantas pessoas coleccionam arte que os leilões com frequência recebem multidões. Mais de 20 programas de

Os compradores chineses geralmente interessam-se por trabalhos chineses tradicionais, alguns de mestres do século XV e outros de artistas modernos que optaram por trabalhar no estilo antigo

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11 artehoje macau sexta-feira 8.11.2013

televisão na China oferecem dicas para quem colecciona arte e quer identificar relíquias culturais.

Diante desse interesse, os mar-chands chineses estão a deslocar-se para a Europa e Estados Unidos no sentido de recomprar relíquias chi-nesas que estão fora do país.

Houve também uma série de furtos de antiguidades chinesas em museus. Surgiu um mercado negro de artefactos, com chamados ladrões de túmulos a escavar tesouros enter-rados que possam vender.

O interesse em reparar os pontos fracos do mercado pode ter contribu-ído para a decisão recente da China de afrouxar as regras que dificultam o acesso das casas de leilão ocidentais ao mercado chinês.

Agora a Sotheby’s tem uma ‘joint venture’ com uma empresa estatal, e a Christie’s ganhou uma licença este ano para se tornar a primeira

casa internacional de leilões a ope-rar independentemente na China. São novidades que podem ajudar a fomentar a competição e a elevação dos padrões no mercado.

PREÇO EM ALTAA manipulação de preços é frequente no mercado chinês de arte. Coleccio-nadores e investidores, possivelmente um fundo de investimento em arte que tenha investido muito num artista es-pecífico, fazem licitações altas sobre uma obra, com o objectivo de em-purrar para cima o valor de seu stock inteiro. De acordo com especialistas, às vezes, as próprias casas de leilão fazem licitações falsas. Os chineses têm um nome para esse processo de empurrar preços para cima: “refogar”.

Enquanto alguns coleccionado-res importam-se profundamente com as suas obras de arte, muitos com-pradores, segundo especialistas, são investidores interessados em lucrar com a revenda de uma obra de arte. Uma pintura de Qi Baishi, “Fish and Shrimp” (Peixe e camarão), foi vendida quatro vezes em leilões ao longo de dez anos até Dezembro passado. O seu preço subiu de 30 mil dólares norte-americanos (235,1 mil patacas) em 2002 para 794 mil (6,2 milhões), caindo no ano passado para 552 mil dólares norte-americanos (4,3 milhões de patacas).

As oportunidades de revenda são uma prioridade para muitos compra-dores. Num leilão em Pequim em Setembro, quatro homens de Cantão compraram várias pinturas no valor de dezenas de milhares de dólares. Um deles comentou: “A maioria das pessoas que vi não tem um emprego de verdade. É o nosso caso, somos revendedores. Compramos as obras e as revendemos a pessoas instruídas e ricas”.

Analistas dizem que a revenda de obras de arte contribui para o problema de inadimplência do mercado. Antes de um leilão, um comprador pode encontrar um coleccionador interes-sado numa obra. Pode fazer licitações e arrematar o trabalho, mas negar-se a pagar por ele se o seu acordo com o coleccionador não se concretizar.

E há os problemas de pagamento que surgem porque o mercado de arte chinês é jovem, economicamente falando, e os seus compradores adqui-riram o seu dinheiro recentemente. “Ainda existe uma grande diferença entre Oriente e Ocidente no entendi-mento dos leilões - sobre se elevar uma placa de oferta num leilão constitui ou não um contrato legalmente válido”, disse Philip Tinari, do Centro Ullens de Arte Contemporânea, em Pequim. “Alguma jovem actriz compra um lote de pinturas num leilão, sai do local e fala ‘não quero os números 13, 11, 7, 6 e 5’. Acontece quase sempre.”

Mesmo com as fraudes e falsi-ficações, muitos coleccionadores e investidores dizem que o mercado vale a pena. Mas o artista, crítico e curador Jiang Yinfeng referiu que as pessoas que têm pouca experiên-cia podem sofrer num mercado tão super-aquecido. “Alguns dos meus

amigos usam as suas próprias casas como garantia para comprar obras de arte”, contou. “Outros contraem empréstimos com juros altos.”

Um dos factores que tem movido o mercado de arte na China é o costu-me de dar presentes, algo que leva as autoridades provinciais a chegarem em massa a Pequim durante o Festival de Meados de Outono, em Setembro, levando obras de arte, bebidas e outros objectos como presentes para dar a altos funcionários governamentais.

A arte pode ser usada também em esquemas de suborno mais complexos. Em alguns casos, um funcionário governamental recebe uma obra de arte com instruções para oferecê-la em leilão. Depois, um empresário a utilizará como moeda de pagamento de luvas, comprando a obra a um preço inflacionado.

Em muitos casos, a autenticidade da obra dada de presente não vem ao caso, porque o comprador pretende

gastar muito de qualquer maneira. E, se o esquema fosse descoberto, o valor mínimo da obra falsificada sig-nificaria que o castigo seria menor.

O uso de arte para pagar luvas a funcionários governamentais é algo tão corriqueiro que os chineses cunharam um termo para descrever esse tipo de corrupção estética: é o “yahui”, ou “suborno elegante”.

Em 2009, quando as autoridades detiveram Wen Qiang, o vice-chefe de polícia da cidade de Congqing, por proteger uma quadrilha crimi-nosa, descobriram que ele tinha uma colecção de arte surpreendentemente grande e cara. Wen teria recebido mais de cem obras como presente. Foi executado pelos seus crimes no ano seguinte. “Quem está presente no mercado de leilões?” perguntou Li Yanjun, especialista e autenticador de obras de arte na Universidade Oriental de Pequim. “Funcionários do Go-verno. Eles escondem-se e mandam

outras pessoas fazer licitações por eles ou então compram todas as obras.”

ANTIGUIDADE NOVA EM FOLHAO rasto dos bronzes, pinturas e anti-guidades falsificados percorre a China inteira. Em Jingdezhen, no sudeste do país, oficinas produzem belíssimas re-produções de porcelanas das dinastias Ming e Qing. Em Yanjian, na região central da província de Yenan, elas aplicam amónia sobre bronze para in-duzir a corrosão, de modo que um sino ou recipiente usado em rituais com vinho possa fazer-se passar por um artefacto encontrado num túmulo. Em Pequim, Tianjin, Suzhou e Nanjing, pintores e calígrafos reproduzem as pinceladas de mestres reverenciados.

Em todo o país, pintores copiam obras de mestres como Qi Baishi e Fu Baoshi. “Já vi 700 a 800 pessoas numa oficina de pintura, com uma divisão de trabalho muito clara, re-produzindo as obras de Qi Baishi”, diz Zhang Jinfa, autenticador pro-fissional de obras de arte.

Um estudo feito no ano passado estimou que 250 mil pessoas em 20 cidades chinesas podem estar a produzir falsificações.

Milhares de pessoas em Jingde-zhen, centro de produção de porcela-na na antiguidade, trabalham criando obras de argila segundo moldes antigos. Mais adiante na linha de produção, pintores mergulham os seus pincéis em tinta e copiam sobre as cerâmicas os contornos de flores ou desenhos chineses tradicionais.

A tradição da cópia na China re-flecte mais que uma simples atitude de reverência diante do passado: é o reconhecimento de que a beleza foi captada de uma forma que merece ser emulada. Diferentemente do Ocidente, onde se admira o chamado “choque do novo”, a China valoriza a tradição. As suas obras mais ven-didas com frequência homenageiam obras criadas centenas de anos atrás e se parecem com elas.

Nas escolas de arte, alunos prati-cam o “lin mo”, ou imitação dos gran-des mestres. A falsificação e a fraude não fazem necessariamente parte da tradição, embora pintores famosos como Zhang Daqian, falecido há 30 anos, se tenham divertido ludibriando os especialistas. “Zhang Daqian acha-va que estava no mesmo nível que os velhos mestres”, explicou Maxwell K. Hearn, diretor do departamento de arte asiática do Museu Metropolitano de Arte de Nova York. “Assim, a verdadeira prova dos nove era ver se seria capaz de copiar as obras deles.”

Uma história que ilustra a abor-dagem irreverente de Zhang à cópia diz respeito a uma viagem que ele fez em 1967 para ver uma exposição das obras de Shitao, pintor do século XVII, no Museu de Arte da Universidade de Michigan. Os guias mostraram-lhe, orgulhosos, os trabalhos do pintor célebre, morto mais de dois séculos antes. Espantaram-se quando Zhang começou a rir e apontou para várias obras na parede, dizendo: “Fiz esse! E também aquele!”. - in New York Times

Facto problemático é que o mercado está inundado de obras falsificadas, com frequência produzidas em massa, e tornou-se campo fértil para a corrupção, na medida em que executivos de empresas subornam autoridades com obras de arte

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12 hoje macau sexta-feira 8.11.2013ENTREVISTAJOSÉ C. [email protected]

A abertura hoje, na Casa Garden, pe-las 18h30, da 4.ª edição do Salão

de Outono foi o pretexto para uma conversa com a respon-sável da Fundação Oriente (FO) em Macau, Ana Paula Cleto. Ao HM, a investi-gadora, há quatro anos à frente do destino da FO no território, fez um balanço positivo do que têm sido as últimas edições do evento e do trabalho desenvolvido por aquela instituição em prol da actividade cultural na RAEM. Embora optimista, deixa no entanto no ar a ideia de que ainda há muito por fazer a bem das artes.

Que balanço faz das últimas edições do Salão de Outono e que expectativas tem para a mostra deste ano?O Salão de Outono teve início em 2010. Esta é, portanto, a quarta edição e o balanço que faço é bastante positivo, uma vez que temos vindo a assistir a uma adesão enorme dos artistas locais ao concurso.

SALÃO DE OUTONO COM APOSTA DIVERSIFICADA EM JOVENS ARTISTAS

“Que a Casa Garden seja uma casa não serem apoiados, têm tendência a enveredar por outras carreiras. O Salão de Outono pretende precisa-mente incentivar os artistas e o seu trabalho.

Como correu a adesão dos jovens, este ano?Foi boa, embora o número não seja muito diferente de anos anteriores. O facto é que este ano foram selec-cionados muito mais jovens artistas.

A exposição deste ano é nos mesmos moldes das ante-riores ou podemos esperar algumas diferenças?As mostras são sempre dife-rentes. Umas vezes aparece mais um determinado tipo de obras. Este ano não va-mos ter tanta instalação, por exemplo. A aposta é maior na fotografia e na pintura, e também há alguma escultura.

AGENDA CHEIA NA FO

Falando agora um pouco das actividades da FO, que iniciativas estão marcadas até ao final do ano?Vamos terminar o ano com uma grande exposição da fotógrafa Carmo Correia e o seu projecto Ponto de Luz que está a ser desenvolvido há mais de um ano. Segundo creio, engloba uma série de fotografias das diversas zonas do Oriente, nomeada-mente Macau, Goa, Damão, Diu, Coxim, Malaca, Timor, Japão, etc.. São as zonas por onde os portugueses passaram. Este projecto, que vai ser inaugurado na Casa Garden no dia 10 de Dezem-bro, vai também resultar na apresentação de um livro.

Essa é a última iniciativa do ano. E até lá?Até lá ainda vamos ter a colaboração com o Jazz Club de Macau, com um concerto hoje (ontem), de um quarteto holandês, e um outro no dia 4 de Dezembro. Entretanto, estamos também a progra-mar com a Casa de Portugal, realizar na próxima semana, no dia 13 de Novembro, um concerto no jardim da Casa Garden, se não chover, senão será dentro da Casa, dividido em duas partes. A primeira será com o guitarrista clássi-co Pedro Luís, que faz parte

Embora pretendamos sempre que haja um leque de mais consagrados, o Salão de Outono aposta nos novos talentos

Que critérios é que regem a selecção dos concorrentes?Os concorrentes são muitos e fazemos uma selecção tendo em conta padrões de qualidade e de inovação, pensando sempre em atrair a camada de jovens artistas, embora tenhamos também uma série de artistas mais conceituados. No primeira exposição fizemos um con-vite aos artistas, mas a partir dessa altura passou a haver candidaturas e embora pre-tendamos sempre que haja um leque de mais consagra-dos, o Salão de Outono aposta nos novos talentos. O nosso princípio é que este evento deve ser um incentivo aos artistas para continuarem as suas carreiras.

O que nem sempre acontece.Pois, infelizmente, muitas vezes os jovens artistas, por

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13 entrevistahoje macau sexta-feira 8.11.2013

de cultura”do grupo Microduo - que já tocou na Casa Garden - com o mestre Pinheiro Nagi, que se encontra no território. A segunda parte vai ser feita por um grupo de músicos que trabalharam no Hard Rock Café e que vai inter-pretar música portuguesa.

Esta é uma das apostas da FO, a parceria com outras associações da cidade. Como é que está a correr esse trabalho?Está a correr bem. Nós apos-tamos muito no trabalho de co-organização de eventos, por duas razões. Primeiro, porque estes eventos envol-vem custos e no panorama das actuais contenções, e tendo a FO a sua sede em Portugal - que atravessa uma situação difícil -, procuramos trabalhar com outras insti-tuições. Temos um espaço privilegiado na cidade o que facilita estas colaborações.

Por outro lado, esta é também uma forma de manter a Casa com uma actividade cultural regular. Esse é o nosso objec-tivo, que a Casa Garden seja uma casa de cultura.

A FO, à semelhança do que acontecia no passado, tem, ou pensa desenvolver iniciativas de cariz social?Sim. A FO mantém tam-bém um trabalho mais direccionado para a área social, só que essas inicia-tivas são menos visíveis. Não as divulgamos como acontece com os eventos

culturais. Para citar al-guns exemplos, damos um apoio mensal ao orfanato “Berço da Esperança”. Temos também uma outra contribuição mensal para os “Special Olympics” e ainda apoiamos pontual-mente pedidos que nos são dirigidos dentro desta área. Continuamos, portanto, a investir nesse trabalho de índole social, fazendo-o in-clusive para a China, onde ajudamos na construção ou recuperação de escolas, por exemplo. Só que esse é o lado menos visível da FO.

Como é que vê o estado actu-al da cultura no território?Há quatro anos que estou na FO. Estou mais atenta e vejo que nos últimos anos tem havido um grande de-senvolvimento e um grande

incentivo na área cultural. Hoje em dia acontece uma coisa que se calhar há dois anos atrás não acontecia, que é existirem vários eventos ao mesmo tempo. Antigamente tínhamos um evento num dia, ou dois acontecimen-tos por semana. Agora há vários eventos no mesmo dia e as pessoas não podem ir a todos.

As instituições estão mais activas, mas será suficiente?Nota-se realmente que existem muitas instituições em Macau, particularmente instituições privadas, que estão a desenvolver um tra-balho cada vez mais activo na área da cultura. O Gover-no também tem apostado na cultura, através do Instituto Cultural, do Museu de Arte de Macau, do próprio Insti-tuto de Assuntos Cívicos de Macau. Agora... claro que não é suficiente. Do ponto de vista do apoio aos artis-tas, não restam dúvidas de que ainda é necessário fazer muita coisa. O Governo da RAEM precisa de ter um papel preponderante, até porque penso que é possível fazê-lo aqui.

Ainda há um caminho longo a percorrer?Tudo o que ainda está num processo de desenvolvimen-to tem um caminho longo a percorrer. Tenho esperança de que se vá fazendo cada vez mais, de modo a que daqui a alguns anos, a acti-

vidade cultural em Macau e os artistas sejam totalmente apoiados.

E o que pensa que seja necessário fazer para que isso venha a acontecer?Penso que isso passa muito por algo que já foi várias vezes dito que é a formação. Se não existir formação e não criarmos de base o interesse pela arte e pela cultura, as pessoas não se vão interes-sar por isso. As bases têm de começar nas escolas. É preciso criar cursos de arte. Não existe em Macau uma Faculdade de Belas-Artes, por exemplo. Isso é absolu-tamente necessário criar-se. Não é só o gosto e o saber fazer, como o próprio espírito crítico. Sem estes instru-mentos não conseguimos fazer milagres. Mas penso que há interesse da parte do Governo, até com este novo campus universitário na Ilha da Montanha, bastante alargado. Espero que haja espaço para que estas coisas venham a acontecer.

Está optimista?Sim. É preciso ter um espí-rito optimista!

Continuamos, portanto, a investir nesse trabalho de índole social, fazendo-o inclusive para a China, onde ajudamos na construção ou recuperação de escolas, por exemplo. Só que esse é o lado menos visível da FO

As bases têm de começar nas escolas. É preciso criar cursos de arte. Não existe em Macau uma Faculdade de Belas-Artes, por exemplo. Isso é absolutamente necessário criar-se. Não é só o gosto e o saber fazer, como o próprio espírito crítico

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TIAG

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CÂNT

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14 hoje macau sexta-feira 8.11.2013CULTURA

A um mês de completar 105 anos, o realizador Manoel de Oliveira afirmou à revista fran-

cesa Cahiers du Cinéma que está pronto para rodar um novo filme, “O velho do Restelo”, mas falta-lhe financiamento. “Fazer este filme é como ganhar uma batalha: É difícil. A conjuntura económica trava e fragiliza a montagem financeira do filme”, afirmou o realizador português.

Na entrevista, feita pelo inves-tigador António Preto e publicada na edição de Novembro da revista, Manoel de Oliveira deixou ainda um lamento: “Penso que no país há uma grande indiferença pelo que já realizei. Tanto faz que o

O Museu de Arte de Macau (MAM), sob a tutela do

Instituto para os Assun-tos Cívicos e Municipais (IACM), vai abrir as ins-crições para a Montra de Artes de Macau 2014. Todos os artistas locais, desde que possuidores de BI de Residente, podem apresentar as suas pro-postas individualmente, devendo os trabalhos poder ser exibidos sob a forma de uma peça (conjunto), ou uma série de obras. O prazo limite para a apre-sentação das propostas é

N ÃO, não se trata de um escândalo envol-vendo a cantora. É

outra coisa: o álbum de Katy Perry é mau, pelo menos para o ambiente. É o que as au-toridades australianas invo-cam. Paradoxos: o álbum da cantora americana, intitulado Prism, ocupa o 1.º lugar do top de vendas no país, mas o pacote de sementes de flores que o acompanha está sob investigação das autoridades agro-pecuárias e a sua impor-tação foi proibida.

Isso mesmo. Ao que parece o problema é que o álbum é acompanhado por um pequeno pacote de sementes de flores, pondo em causa a rígida regula-mentação do que pode ou não entrar no país. Diz a lei inflexível que “sementes ou material orgânico alheio ao ecossistema da Austrália constituem um risco para o meio ambiente e para a bio--segurança.”

Parece apenas uma his-tória divertida. Bem, é um

CINEMA MANOEL DE OLIVEIRA SEM VERBAS PARA RODAR UM NOVO FILME

“Velho do Restelo” não escapa à crise

MAM ABRE INSCRIÇÕES PARA MONTRA DE ARTES

Só para artistas locaisMÚSICA ÁLBUM DE KATY PERRY CONFISCADO NA AUSTRÁLIA

Risco de contaminação

meu cinema exista ou não exista”. Manoel de Oliveira está há mais de um ano a trabalhar no argumento de “O velho do Restelo”, a partir de textos de Camões, Teixeira de Pascoaes, Camilo Castelo Branco ou Cervantes, que se debruçam de alguma forma sobre esta per-sonagem.

O filme será uma média metra-gem, com actores portugueses, e com um orçamento de cerca de 3,5 milhões de patacas que o produtor Luís Urbano conta conseguir em breve, para arrancar com a rodagem no começo de 2014, como explicou à agência Lusa. A propósito da personagem pessimista e derrotista do “Velho do Restelo”, Manoel de Oliveira opina, na entrevista,

sobre a actualidade - “vivemos um presente suspenso da realidade” -, sobre a crise económica - “um mal que se abateu sobre nós” - sobre a derrota e a “esperança da vitória”.

O realizador explicou ainda que pretende fazer “O Velho do Restelo”, porque quer reflectir novamente sobre a História de Portugal, em particular sobre “a Invencível Armada e o presen-te”. Fazendo jus à vitalidade e à capacidade de trabalho, que de-safiam os seus 104 anos, Manoel de Oliveira revelou ainda que já concluiu o argumento para um outro filme centrado nas mulheres que fazem as vindimas, ainda que esta prática tenha já sido retratada anteriormente pelo autor.

31 de Dezembro de 2013, informa o comunicado de imprensa da organização.

O programa Montra de Artes de Macau foi lançado em 2012, com o objectivo de encorajar no-vas criações e promover o desenvolvimento das artes contemporâneas em Ma-cau ao providenciar uma plataforma aberta para os artistas locais exporem, e também fomentar a di-versidade. Este ano, oito artistas já apresentaram as suas últimas criações na Montra, acrescenta a nota de imprensa.

Em 2014, a Montra de Artes de Macau continuará a ser organizada em duas modalidades, por convite e através de inscrições aber-tas. Todos os artistas locais (possuidores de BIR) estão convidados a apresentar as suas propostas, sob a forma de uma peça (con-junto), ou uma série de obras, no médium criativo à sua escolha e de formato livre, incluindo pintura, fotografia, cerâmica, insta-lação, gravura e vídeo. Os trabalhos a exibir terão de ser originais, nunca antes publicados ou expostos publicamente em Macau. O orçamento a atribuir ao trabalho seleccionado para exposição está limitado a um máximo de 70.000 patacas. Através do pro-grama, os participantes podem aproveitar as ins-talações de exposição do MAM, bem como outros recursos disponíveis, para prosseguirem o seu traba-lho criativo, finaliza a nota.

pouco. Mas no país o assunto é sério, porque as espécies invasoras são uma grande preocupação no contexto de ecossistemas isolados, precisamente porque a Aus-trália foi acolhendo ao longo de décadas imensas plantas e animais, artificialmente introduzidas, que acabaram por criar diversos problemas ambientais.

No caso do CD de Katy Perry, face ao que a lei impõe, um organismo do Governo ex-pediu de imediato um auto de interdição que barra o ingresso de exemplares de Prism pro-duzidos no exterior. Diga-se que a proibição não atinge os CDs feitos na Austrália. É que aí podem ser produzidos com recurso à semente conhecida como margarida australiana.

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15hoje macau sexta-feira 8.11.2013 DESPORTOJOÃO [email protected]

“Carlsen é o maior talento que eu jamais vi, mas a mi-nha tarefa é a de estar pre-parado e dar o meu melhor. É isso o que eu vou fazer” - Vishwanathan Anand

“Penso que vai ser realmen-te algo de especial, algo de invulgar, para mim e espero que para toda a comunida-de xadrezista” - Magnus Carlsen

C OMEÇA amanhã e vai até 28 de Novembro, o an-siado ‘match’ para

o campeonato mundial de xadrez, que colocará frente a frente o actual campeão do mundo, o indiano Vishwa-nathan Anand e o jovem prodígio, Magnus Carlsen, da Noruega. O campeonato será disputado em Chennai, Índia, cidade-natal do cam-peão do mundo e consta de doze partidas clássicas.

Vai ser um ‘match’ aguardado desde há muito, onde o favoritismo vai para o ‘challenger’, apesar da vantagem que o actual campeão tem pelo facto de ir jogar em casa. A razão pela qual existe uma expectativa mais no sentido de que o ceptro mundial do xadrez vá finalmente mudar de mãos, relaciona-se essencialmen-te com o facto de Magnus Carlsen haver recentemente quebrado o recorde do mais alto ‘rating’ da história do xadrez, que pertencia an-teriormente e há quase 20 anos a Garri Kasparov. Na verdade, Carlsen é soberano enquanto número um do ranking mundial de xadrez desde os seus 19 anos. Anand, por seu turno, é apenas o número oito deste mesmo ranking. De acordo com a lista de Novembro de 2013 da Federação Interna-cional de Xadrez (FIDE), o campeão tem 2775 pontos ELO enquanto Calsen tem 2870. Além do mais, Anand já tem 44 anos, contra os 22 de Magnus Carlsen. Talvez por isso, as bolsas de apostas apenas concedam a Anand uma probabilidade contra três, de conservar o seu título. Mas atenção, a experiência também tem uma palavra a dizer.

UM POUCO DE HISTÓRIAAnand nasceu em 11 de De-zembro de 1969, em Chen-nai, cidade que anteriormen-te se chamava Madras, na costa de Coromandel, baía

CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ ESTÁ À PORTA COM JOGO ENTRE ANAND E CARLSEN

O Tigre e o Crocodilode Bengala, habitat do quase extinto tigre de Bengala. Por isso, tem por cognome no xadrez “O Tigre de Madras”. Os primeiros ocidentais a chegar a Madras foram os portugueses, em 1522, onde construíram um porto (Porto de São Tomé) e cerca de 120 anos mais tarde foi a vez dos ingleses.

Mas também o próprio estilo xadrezista de Anand tem algo de felino, sendo muito táctico e criativo, rápido a atacar, fazendo jus à terra das especiarias.

Anand aprendeu a jogar com seis anos de idade, ensinado pela mãe, tendo-se sagrado campeão da Índia aos 14 anos. Disputou pela primeira vez um ‘match’ para o campeonato do mundo, contra o mítico Anatoly Karpov, em 1995, que acabou por perder mas sob autêntica protecção da FIDE ao seu adversário, que suscitou viva polémica na altura e de que ainda hoje se fala. Mas sagrou-se campeão mundial em 2000, tendo mantido o título até hoje. Tem o estatuto de

herói nacional na Índia e é extremamente desportista - não havendo um xadrezista que não simpatize com ele -, participando ainda em diversas iniciativas de so-lidariedade social. O seu hobby é a astronomia, mas agora é tempo de exclusiva dedicação à preparação do ‘match’. Segundo ele pró-prio, nas últimas semanas faz duas horas de exercício físico após acordar e dedica o resto do dia ao xadrez, com intervalos para o al-moço e o jantar.

O outro cognome de Anand é Lucky Luke, porque

é considerado “o xadrezista mais rápido do que a própria sombra”, tendo batido ao longo da sua carreira todos os recordes de troféus em competições Blitz (partidas de xadrez com apenas cinco minutos de tempo para cada jogador).

É visto como um talento colossal e o mais versátil de sempre no xadrez, que ganhou muitos torneios, mas que podia ter ganho muitos mais, se não fosse algo mais relaxado na vida do que os outros xadrezistas de topo, apenas concentrando-se a 100% nos ‘matches’ de um

contra um, precisamente, para o campeonato do mundo.

Carlsen nasceu em Tons-berg na Noruega, em 30 de Novembro de 1990 e apren-deu xadrez aos oito anos, apenas porque o pai gostava que a irmã mais velha tivesse alguém com quem jogar lá em casa. O que aconteceu em seguida foi a descoberta de um talento sem precedentes e aos 13 anos, Carlsen tinha ganho torneio após torneio, incluindo o campeonato da Noruega e chegava a Gran-de-Mestre. Pelo caminho, tinha empatado com aquele que muitos consideram o melhor jogador de todos os tempos, na altura um cam-peão do mundo em topo de forma, Garri Kasparov. Diz--se que o seu QI é de 186, apenas um ponto abaixo do de Albert Einstein.

Carlsen é um fenómeno de popularidade, não só no xadrez como globalmente, que também faz ocasionais passagens de modelos e tem contratos multimilionários com marcas de renome mas que tem conseguido até ao momento manter-se como uma pessoa normal, quase simples, que até há bem pouco continuava a andar na escola e que gosta de jogar futebol e estar com a famí-lia nos tempos livres. Mas é implacável no tabuleiro das 64 casas e nunca desiste enquanto não esgotar todas as possibilidades, por mais

microscópicas que sejam, de liquidar o adversário.

Numa entrevista re-cente à televisão russa perguntaram-lhe que animal escolheria ser, se isso fosse possível. A resposta dele foi: “Talvez um crocodilo. O crocodilo parece ter uma boa vida, ali deitado, a rela-xar... pode matar qualquer outro animal... sim, sim, um crocodilo, definitivamente.”

Quando adolescente, o seu estilo era muito seme-lhante ao de Anand mas pouco a pouco foi-o modi-ficando para um tipo de jogo posicional sem paralelo, onde combina um fortís-simo meio-jogo com uma mestria nos finais de parti-da. Dá menos importância às aberturas, conseguindo uma maximização ímpar de pequenas vantagens e surpreendendo pela forma aparentemente simples e harmoniosa como acaba por ganhar as suas partidas. Carlsen é capaz de encontrar o elemento subtil que faz a diferença melhor do que ninguém. Daí o cognome, “O Mozart do Xadrez”, com que os meios de comunica-ção social o baptizaram.

Se ganhar o campeonato do mundo, Magnus Carlsen será o mais jovem campeão de sempre na história do xa-drez, o primeiro europeu oci-dental a consegui-lo desde 1937 e o primeiro ocidental desde Bobby Fisher (1975).

ONDE VER E LERResta-me acrescentar que podem acompanhar as partidas ao vivo e em tempo real através de vários websites, desde o website oficial em http://chennai2013.fide.com ou o www.chessdom.com, e ainda nas várias redes sociais, nomeadamente: Twitter: https://twitter.com/FWCM2013, Facebook: https://www.facebook.com/pages/FIDE-World-ChampionshipMatch-FWCM-2013/438596976250550 e Flickr: http://www.flickr.com/photos/anand-carlsen/.Aqui, no HM, podem ir encontrando diariamente, a partir de segunda-feira, os resultados das partidas, e espero também poder conseguir relatar-vos mais desenvolvidamente as vicissitudes do campeonato do mundo, eventualmente com a análise de alguns bons momentos deste histórico embate xadrezista, terça e sexta-feira.

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hoje macau sexta-feira 8.11.2013

MARCO [email protected]

É a modalidade que mais vezes levou as cores de Macau ao mais alto

patamar do pódio em grandes competições internacionais e em Kuala Lumpur a tradição manteve-se. A capital malaia acolheu durante os últimos dias a 12.ª segunda edição do Campeonato do Mundo de Wushu e a delegação que representou o território no evento não defraudou. Um mês depois de terem dado nas vistas na edição de 2014 dos Jogos da Ásia Oriental, os atletas do território voltaram a competir ao mais alto nível e a garantir boas prestações, numa prova disputada por mais de mil e quinhentos atletas oriundos de oitenta países e territórios dos quatro cantos do mundo.

A competição foi domi-nada quase de forma incon-testada pelos representantes da República Popular da China. Os atletas chineses conquistaram um total de 18 medalhas (17 das quais de ouro) e deixaram o Irão e a anfitriã Malásia a uma distância constrangedora.

WUSHU MACAU SETE VEZES NO PÓDIO EM KUALA LUMPUR

Em maré de medalhas

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A representação da Re-gião Administrativa Espe-cial de Macau não assinou uma performance suficien-temente forte para lutar

pelos lugares cimeiros do ranking das nações e ter-ritórios mais medalhados, mas também não desiludiu. A selecção do território

Ás três medalhas de ouro, a delegação da RAEM juntou ainda duas medalhas de prata e dois galardões de bronze. Huang Jun Hua perdeu para o chinês Wu Jielong o título mundial de wushu nandao, roubando ainda assim o segundo lugar ao iraniano Farshad Arabi. Chu Chi Wai e Wu Nok In regressaram a Macau com uma medalha de bronze, ao concluírem respectivamente as provas de qiangshu e de changquan (os exercícios obrigatórios) na terceira posição.

Longe das prestações obtidas em outras edições do Campeonato do Mundo de Wushu, as representantes de Macau ficaram aquém das expectativas e conquistaram uma única medalha, ao ter-minarem a prova colectiva feminina de wushu duilian na segunda posição em ex-aequo com Hong Kong. A formação do território que disputou o evento era constituída por Li Yi, Tan Dong Mei e Ho Si Hang e não conseguiu evitar que as ucranianas Myroslava mala, Anna Derbenyova e Tetyana Kondratyeva garan-tissem o primeiro lugar e o patamar mais alto do pódio.

encerrou a participação na prova com sete medalhas conquistadas, três das quais de ouro. Um mês depois de ter chamado a si o primeiro

lugar nos torneios de wushu gunshu e de wushu chan-gquan dos Jogos da Ásia Oriental, Jia Rui voltou a celebrar novo grande triun-fo a nível internacional, ao levar a melhor sobre o japonês Daisuke Ichikizaki e sobre o sul-coreano Cho Seung-jae na corrida pelo título mundial na categoria de gunshu.

Jia Rui não defraudou e juntou mais um título de campeão do mundo a um já extenso palmarés, mas o maior feito da selecção que representou Macau na Ma-lásia foi assinado por Chong Ka Seng. O jovem atleta do território tornou-se, aos 16 anos, um dos mais jovens campeões do mundo de todos os tempos, ao bater o singapurenho Samuel Tan e o francês Pierre Rouviére nos exercícios obrigatórios de taijiquan. Iao Chon In também levou as cores de Macau ao degrau cimeiro do pódio no Campeonato do Mundo de Kuala Lumpur. O atleta triunfou no evento de taijijian, superiorizando-se ao sul-coreano Kim Dong--Yeong e ao malaio Loh Jack Chang.

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RTPi 8215:00 Telejornal Madeira15:35 Ligados à Terra16:05 Sal na Língua16:30 Consigo17:00 Bom Dia Portugal18:00 Decisão Final 19:00 Vingança19:40 Best of Portugal20:10 Voo Direto21:00 Jornal da Tarde 22:15 O Preço Certo23:10 Portugal no Coração

30 - FOX Sports13:00 Liga Bbva 2013/14 Rayo Vallecano vs. Real Madrid CF14:30 Dutch Eredivisie 2013/14 Ajax Amsterdam vs. Vitesse Arnhem16:00 River Rat Race Stockton16:30 World Archery Championships 2013 17:00 NASCAR Nationwide Series 2013 - Highlights 18:00 Liga Bbva 2013/14 La Liga World18:30 Football Asia 2013/1419:00 (LIVE) FOX SPORTS Central 19:30 Liga Bbva 2013/14 Weekly Preview20:00 Liga Bbva 2013/14 La Liga World20:30 FOX SPORTS Central21:00 The Ultimate Fighter22:00 UFC 167 Primetime 22:30 Classic Boxing

31 - STAR Sports 10:00 (LIVE) Australian PGA Championship Day 215:00 Asian Festival Of Speed 201315:30 Total Rugby16:00 Hot Water 2013/1417:00 2 Wheels17:30 Liga Bbva 2013/14 Getafe CF vs. Valencia CF19:00 2 Wheels19:30 Football Asia 2013/1420:00 V8 Supercars C’ship Series 2013 - Highlights21:00 FIA World Touring Car Championship 2013 - Highlights21:30 (LIVE) Score Tonight 201322:00 Football Asia 2013/1422:30 Motorsports@ Petronas23:00 La Liga 2013/14 Rayo Vallecano vs. Real Madrid CF

40 - FOX Movies12:25 Enough 14:20 Homeland15:10 The Walking Dead16:00 Fat Albert 17:35 Upside Down 19:25 Tooth Fairy 2 21:00 Lost World: The Jurassic Park23:10 Jurassic Park Iii 00:45 Ghost Rider

41 - HBO11:50 Rush Hour13:25 Solo15:00 The Borrowers 16:30 Showtime 18:10 Contraband 20:00 Serangoon Road21:00 Journey 2: The Mysterious Island 22:35 Ocean’S Twelve 00:50 The Sweetest Thing

42 - Cinemax12:50 Loose Cannons 14:25 Valentine 16:00 The Counterfeit Traitor 18:25 Kung Fu: The Legend Continues 20:00 Abduction 21:45 Epad On Max22:00 Strike Back23:00 Thor00:55 Hunted

SALA 1ENDER’S GAME [B]Um filme de: Gavin HoodCom: Hailee Steinfeld, Ben Kingsley,

Viola Davis, Abigail Breslin14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 2 THOR: THE DARK WORLD [B]Um filme de: Alan TaylorCom: Natalie Portman, Anthony Hopkins14.30, 16.30, 21.30

THOR: THE DARK WORLD [3D] [B]Um filme de: Alan TaylorCom: Natalie Portman, Anthony Hopkins19.30

SALA 3A PERFECT MAN [C]Um filme de: Kees van Oostrum

Com: Jeanne Tripplehorn, Liev Schreiber14.30, 16.15, 18.00, 19.45

LIBRARY WARS [C](FALADO EM JAPONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Shinsuke SatoCom: Junichi Okada, Fukushi Sota, Eikura Nana21.30

M A C A U [ S Ã ] A S S A D OLER E ESCREVER Foto: Joana Freitas

• Que maravilhoso, ter um livro para ler e, aparentemente, não o fazer. Esta fantástica actividade para incitar crianças a ler é realmente um “paráissonum” conto de “historias”. E é tão bom que os “destinaterios” sejam crianças pequeninas!

COZINHA TRADICIONAL DE MOCAMBIQUE • Paola RolletaMoçambique oferece o manjar típico com uma fusão de valores culturais que dão sabor especial a uma cozinha mestiça, curiosa, apetecida. Produtos da terra, como mandioca, batata-doce, mapira, amendoim, castanha de caju, mangas, papaias e coco… Produtos do mar, como garoupas, carapaus, amêijoas, e os famosos camarões… Enfim, uma variedade infinita que faz da culinária moçambicana um mosaico de sabores e cores, agora num livro em que Paola Rolletta lembra que a culinária deste país africano é tão quente quanto a nação.

COZINHA TRADICIONAL DE ANGOLA • Ana da Costa Cabral Cozinha Tradicional de Angola, da autoria de Ana da Costa Cabral, é mais um título que cria água na boca. Angola - uma terra de fascínio, cor e alegria, com uma natureza vibrante, um povo afável e um clima único. Entre as suas muitas riquezas encontramos uma gastronomia deliciosa e muito variada. Aqui poderá encontrar, entre muitas outras, as seguintes receitas: Funje de Mandioca, Feijão com Óleo de Palma, Muamba de Galinha, Quizaca com Camarão e Jinguba, Muzongue, Quifufutila, Cocada.

A mim custa-me quando me retiram de repente os lugares que fazem parte do quotidiano. Não gosto de rotinas e tento fugir sempre dos lugares comuns, mas se há coisa que eu gosto é deste ou daquele café. Porque é calmo, porque tem sofás confortáveis para ler enquanto a chuva bate lá fora, porque não vai quase ninguém.Contudo, aqui em Macau esses lugares são-nos retirados frequentemente, sem dó nem piedade, só porque os senhorios querem. Aquele café-restaurante na Rua do Campo que fechou ontem, cheio de estudantes de uniforme escolar, era um exemplo. Uma pessoa chegava lá, não via caras conhecidas e só pagava 40 patacas por um bom prato de comida. Ou aquele Starbucks encantador no Largo do Senado: quando se apanhava um sofá vago lá em cima, era óptimo para passar uma tarde chuvosa. Poderia falar do Lvsitanvs, que alberga noites de fado em sextas-feiras livres e é óptimo para se visitar depois de um dia cheio de passeios a pé. Mas também esse sítio nos vai ser retirado como se de uma machadada se tratasse.Macau é uma terra de sonho para muitos mas depois os pequenos sonhos do nosso quotidiano são-nos roubados assim, de repente, num ápice, e não respiramos. Depois tentamos encontrar os mesmos espaços noutros lugares, mas é difícil: nunca mais voltei a ler no Starbucks numa tarde de chuva. O autismo deste Governo é uma coisa que me revolta um bocadinho todos os dias. É ele que tira as lojas mais porreiras da nossa vida de Macau, de forma despercebida. O mercado é livre, mas ele está lá, como um fantasma de lençol branco.

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contramão

hoje macau sexta-feira 8.11.2013OPINIÃO

cartoonpor Stephff

NUNCA gostei de política – da política dos congressos, dos jogos de bastidores, dos negócios, das negociatas, dos esquemas, das mentiras e dos compadrios. Nunca gostei desta política de comícios encenados, a política sem espontaneidade, as conversas nos corredores, a postura dos

assessores, a política dos jotinhas vindos das associações académicas transformadas em partidos de meninos que sonham em ser gente, gente importante. A verdade é que, no início da profissão, ainda em Portugal, levei com muitos congressos, comícios e afins. Da esquerda clássica à direita burguesa, passando pelo então recém-nascido Bloco de Esquerda. E, sem ainda saber ler nem escre-ver, apanhei com o congresso em que Paulo Portas passou a liderar o irrevogável centro.

Nunca gostei desta política – eu queria mesmo era escrever sobre as coisas das pessoas e não sobre os engravatados extra-ordinariamente iguais uns aos outros –, mas aprendi a gostar de outra política quando vim para Macau. Não que morra de amores pela política de Macau – que de política tem pouco – mas, por força das circunstâncias, acabei por me interessar pelo exercício que os homens fazem quando se organizam uns aos outros. Passei a gostar, portanto, da política que vem nos livros, da política das ideias, da política que é sobre as coisas das pessoas.

CONTA DA AMNISTIA NA TAILÂNDIA

Política de pele bronzeada

ISABEL [email protected]

De cada vez que vem cá uma delegação de Portugal sinto-me num regresso ao passado – um passado com 15 anos, porque Macau não detém o exclusivo da monotonia dos rostos políticos. Nos meus primeiros anos fora de Portugal, os políticos portugueses vinham cá pouco: a transferência tinha acabado de acontecer e Macau era assunto do passado que não interessava sequer ao menino jesus. Confesso que gostei desses anos, longe do estilo politiqueiro português, longe dos nós de gravata dos políticos de quem não gosto, da esquerda à direita, passando pelo centro.

Quando Portugal voltou a perceber que a China valia as horas de viagem (a primeira vez

foi há 500 anos), que a China afinal valia o esforço, ei-los a chegar com frequência. Vêm em nome das relações cordatas, em nome da cooperação, em nome – isso sim – dos negó-cios que (sem caírem em graça, nem serem engraçados) dizem eles serem da China. Ei-los a chegar com irrevogáveis promessas, irre-vogáveis atrasos, irrevogáveis pancadinhas nas costas, irrevogável desconhecimento do protocolo da terra, irrevogáveis piadinhas em momentos sérios e solenes. Uma irrevogável superioridade e uma irrevogável falta de hu-mildade. Do ministro que passou a irrevogável e dos outros também, a começar por quem escreve os discursos cheios de vento.

É nestes momentos que me lembro que não gosto mesmo de política. Não gosto da política portuguesa, da política do disse--mas-não-disse, da política da inversão de marcha, da política que acha que 10 milhões + 5 milhões de portugueses servem para fazer papel de embrulho. Não gosto da política da mentira, do engano, das irrevogáveis negociatas, das revogáveis convicções. Não gosto da política de pele bronzeada.

Também não gosto da política das via-gens para auscultação das preocupações da diáspora. A política das passeatas para ouvir as comunidades, os políticos que dizem sempre que está tudo bem, quando toda a gente sabe que não está tudo bem, quando a gente queria que alguém dissesse alguma coisa, que não andassem com o rabinho entre as pernas, que fossem gente, que fossem os políticos dos livros e das ideias, não os políticos dos negócios e dos bolsos de fora, os bolsos que se querem levar cheios daqui.

Não gosto da política portuguesa, da política do disse-mas-não-disse, da política da inversão de marcha, da política que acha que 10 milhões + cinco milhões de portugueses servem para fazer papel de embrulho. Não gosto da política da mentira, do engano, das irrevogáveis negociatas, das revogáveis convicções. Não gosto da política de pele bronzeada

Nunca gostei de política porque não acre-dito nos políticos um bocadinho mais velhos do que eu. Não tenho tempo de vida para me lembrar dos outros políticos, daqueles que pensaram o mundo, que organizaram ideias e escreveram livros a sério. Daque-les que sabiam os sinónimos das palavras. Daqueles que sabiam ir ao dicionário ver os significados das palavras. É que irrevogável é a imagem que se deixa quando olhamos para pessoas que não são o nosso espelho. Irrevogável é a perda das pessoas que partem, as reformas que se tiram, a miséria que se cria nas casas dos que já não têm idade nem força para darem a volta ao texto e baterem com a porta.

Irrevogável é o tempo que se perde. Os minutos que nos fazem perder. Irrevogável é o tempo que se queima, o tempo que nos mata, as horas que nos fazem lembrar que assim não se vai lá. Nunca gostei de política.

WAS

SILY

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19 opinião

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos; Zhou Xuefei [estagiária] Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Arnaldo Gonçalves; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Gonçalo Alvim; Helder Fernando; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; Tiago Alcântara; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau sexta-feira 8.11.2013

perspect ivasJORGE RODRIGUES SIMÃO

João Corvo

Se queres viver em Coloane, arranja um cabane.

fonte da inveja

O famoso jurista, economista e antropólogo húngaro Karl Po-lanyi, na sua obra “A Grande Transformação”, publicada em 1944, faz uma dura e acu-tilante crítica ao carácter evo-lucionista e eurocêntrico do pensamento clássico, numa óptica comparativa e tendo em conta as investigações poste-

riores, põe em evidência o carácter excepcional da mudança operada na sociedade ocidental pelo progresso do comércio de longo curso.

Todavia, esses trabalhos não esclarecem as condições que possibilitaram o desenvolvimen-to desse comércio e a formação do capitalismo mercantil na Europa a partir do século XI. A excepção europeia, com efeito, não tem a ver como o seu grau de avanço tecnológico, nem com a existência de uma classe de comerciantes.

Tal como afirmou de forma assaz brilhante, o historiador e sinólogo inglês, Joseph Ne-edham, no seu livro “Within the Four Seas: The Dialogue of East and West”, publicado em 1969, de que o progresso dos conhecimentos técnicos pode desenvolver-se independente-mente de qualquer problemática mercantil. Durante mais de quinze séculos, a China esteve mais avançada no plano tecnológico que a Europa, sem que daí resultasse a emergência de um capitalismo mercantil ou industrial.

A constituição no século XIII do Império Mongol, que unificou provisoriamente o imen-so espaço que vai da China ao litoral russo do Mar Negro e à Hungria, permitiu aos merca-dores italianos prescindir dos intermediários árabes para ter acesso às riquezas do Oriente. Estabeleceram-se assim as rotas comerciais terrestres com a Índia e a China, como relatou o veneziano Marco Pólo.

No período de mais de um século, ou seja, entre 1430 e 1540, os negociantes, navegado-res e conquistadores europeus exploraram as costas da África, que finalmente conseguiram contornar, apoderando-se do comércio árabe e indiano no Oceano Índico, chegam à China e ao Japão, descobrem o continente america-no e completam a sua conquista. Embora os marinheiros sejam muitas vezes italianos, os iniciadores destas aventuras comerciais são, curiosamente, os monarcas de nações que até então se contentavam com um estatuto marginal no cenário europeu.

Primeiro Portugal, com um milhão de habitantes e apenas 89,000 km2 no princípio do século XVI, tornou-se em poucas décadas a alma de um império comercial que se estendeu

A cidade Lisboa substituiu Veneza como centro do comércio das especiarias, mas é Antuérpia que se afirma como principal porto europeu na primeira metade do século XVI, mas foi perdendo progressivamente a sua importância em benefício de Amesterdão que passou a primeira praça económica e financeira da Europa e a conservou até ao final do século XVII

A ascensão do Japão

“The Meiji government discovered the developmental trick encapsulated in Michael Lipton’s dictum as: ‘If you wish for industrialization, prepare to develop agriculture.”

Joe Studwell How Asia Works: Success and Failure in the World’s

Most Dynamic Region

do Brasil a Macau, abrangendo as duas costas de África e o caminho marítimo para a Índia.

Os historiadores são unânimes em colocar na origem desta expansão alucinante a sede de ouro, cuja escassez colocou dificuldades aos comerciantes. Desde a Antiguidade, o mundo ocidental era deficitário nas suas trocas co-merciais com o Oriente. O continente europeu era pobre em metais preciosos e dependia do comércio com os muçulmanos para financiar as suas compras de especiarias, pérolas e tecidos preciosos orientais.

O progresso da navegação e o recuo do Islão ao longo de todo o século XV fizeram prever a possibilidade do acesso directo às minas africanas. Na época, de facto, o ouro era um produto africano, cujo circuito comercial era controlado pelos muçulmanos. A cidade de

Génova, a grande rival de Veneza, apoiou-se em Lisboa, fase cómoda na rota da Europa do Norte, mas também posição privilegiada dominando as costas noroeste de África, para tentar encontrar um caminho marítimo para o ouro do Sudão.

Os primeiros êxitos no Norte de África e a descoberta das riquezas da África Ociden-tal, como o ouro, marfim e escravos, dão um novo ânimo ao Reino de Portugal, cujo maior impulsionador foi o Infante D. Henrique, que rapidamente se distancia dos genoveses, que rumam a Sevilha, outra paragem entre os dois Mediterrâneos, convertida pelos italianos em praça comercial e financeira.

A partir de 1490 existia a possibilidade dos Portugueses fazerem a circum-navegação de África e nos últimos anos do século XV, Vasco da Gama dobra o Cabo da Boa Esperança e che-ga à Índia. É quebrado o monopólio veneziano do comércio das especiarias enfraquecido pela queda de Constantinopla em 1453. A descoberta desta última rota explica sem dúvida a recusa da coroa portuguesa em financiar a expedição

do genovês Cristóvão Colombo, que também se propõe atingir a Índia navegando para Oeste, e que receberia por fim o apoio da rainha de Castela, desejosa de celebrar deste modo a conquista de Granada aos mouros, em 1492.

Segundo a Espanha, no período de quatro anos, completa a descoberta do “Novo Mun-do” que se propôs colonizar e que se estendia do Chile à Califórnia, da Argentina à Florida, contornando o Brasil, mas destruindo na sua passagem, qual terramoto, as civilizações asteca e inca e aniquilando a população indígena, que no México antes da chegada do temível e cruel conquistador Hernan Cortez foi de 25 milhões de pessoas. É de considerar que deste empreendimento de alcance mundial, a Europa extraiu uma riqueza fabulosa.

Ao afluxo de ouro e prata juntaram-se a

grande quantidade de produtos desconhecidos que revolucionaram a alimentação, como o café, cacau, açúcar, batata, tomate, milho e arroz e frutos tropicais, entre muitos outros, e as manufacturas, como o algodão, anil, pau-brasil e o marfim, proporcionando lucros fabulosos aos comerciantes que conseguiram controlar os novos circuitos comerciais.

O valor dos metais preciosos e especiarias importados pela Europa representou cinco vezes o valor do comércio intra-europeu do trigo que no século XVI, constituiu a corrente de trocas marítimas mais considerável em volume. A Itália, privada do monopólio do comércio de especiarias, minada por lutas internas e devastada por invasões estrangeiras deixou de dominar a economia europeia.

A cidade Lisboa substituiu Veneza como centro do comércio das especiarias, mas é Antuérpia que se afirma como principal porto europeu na primeira metade do século XVI, mas foi perdendo progressivamente a sua importância em benefício de Amesterdão que passou a pri-

meira praça económica e financeira da Europa e a conservou até ao final do século XVII.

O surgimento da economia-mundo euro-peia entre a metade do século XV e a metade do século XVII não foi marcado por inovações técnicas apreciáveis. O pluralismo político, característico do espaço europeu, é o que distinguiu a economia-mundo do império. A característica das economias-mundo que precederam a da Europa como a da Mesopotâ-mia, Mediterrâneo Antigo, Roma, é acabarem sempre por se transformarem em impérios no dizer do famoso sociólogo americano, Imma-nuel Wallerstein.

O Japão é o país onde o nacionalismo econó-mico obtém os resultados mais espectaculares. O Japão é único país não europeu que passou pela Revolução Industrial do século XIX. O Japão é o único Estado não europeu que não sofreu a dominação colonial. O historiador belga, Paul Bairoch, defende a tese de que tal particularidade deve-se à distância geográfica, ao clima temperado, que excluía qualquer produção de tipo colonial capaz de interessar os ocidentais, assim como ao atraso técnico em comparação com a China e Índia, o que limitava a sua oferta de artigos manufacturados de luxo, somando uma política de isolamento praticada de forma deliberada durante quase dois séculos, ou seja, entre os períodos de 1639 a 1859, que praticamente interrompeu todos os contactos com os comerciantes europeus.

O Japão não sofreu o traumatismo da aliena-ção de soberania, não viu a sua indústria minada pela invasão de produtos ocidentais, nem o seu regime demográfico perturbado pela intrusão europeia. O atraso técnico era relativo na medida, na medida em que, ao iniciar-se a era Meiji, o Japão era uma sociedade altamente alfabetizada e urbanizada, com uma indústria muito próximo da Europa no limiar da industrialização.

A partir de 1894, com a intervenção na Coreia e a derrota da China, o Japão afirma os seus intuitos expansionistas. Obtém a revisão dos tratados comerciais firmados em meados do século XIX, pondo termo à sua inferioridade diplomática. A vitória espectacular contra a Rússia, em 1905, deu-lhe acesso aos recursos da Manchúria e transforma-o numa potência internacional de primeiro plano.

O traço específico da economia-mundo europeia moderna é o seu carácter capitalista. O termo capitalista para Immanuel Wallerstein, não se refere a certo nível de desenvolvimento das forças produtivas, nem ao predomínio da relação salarial, nem à existência de empresas com fins lucrativos, nem mesmo à presença simultânea de todos estes elementos. Designa um sistema estruturalmente orientado para a acumulação ilimitada de capital. Esta carac-terística única só podia surgir no Ocidente.

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