hoje macau 14 nov 2013 #2974

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PUB • ABUSO SEXUAL INFANTIL Homem condenado por molestar filhas vê recursos negados PÁGINA 6 CHINA SECTOR PRIVADO Reforma “abrangente e profunda” dá peso decisivo ao mercado PÁGINA 8 O G.P. ESTÁ DE VOLTA Numa galáxia distante AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB Segundo dia do Chefe do Executivo na Assembleia Legislativa e pouco de novo. Confrangedora a forma como o líder do Executivo mostra pouco à vontade em matérias cruciais para a sociedade. Se em relação à habitação tudo será explicado pelo secretário das Obras Públicas, Lau Si Io, em relação à saúde, Chui Sai On revelou ingenuidade: “Será que o serviço de saúde é assim tão mau?” Académicos da UMAC criticam obsessão com talentos. PÁGINAS 4 E 5 • CLARA BRITO “Temos uma relação óptima com o Governo” PÁGINAS 2 E 3 Chui Sai On pouco adiantou sobre saúde e habitação DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 QUINTA-FEIRA 14 DE NOVEMBRO DE 2013 ANO XIII Nº 2974 hojemacau LAG 2014 GONÇALO LOBO PINHEIRO

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Edição do jornal Hoje Macau N.º2974 de 14 de Novembro de 2013.

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Page 1: Hoje Macau 14 NOV 2013 #2974

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• ABUSO SEXUAL INFANTIL

Homem condenado por molestar filhasvê recursos negados

PÁGINA 6

• CHINA SECTOR PRIVADO

Reforma “abrangente e profunda” dá peso decisivo ao mercado

PÁGINA 8

O G.P. ESTÁDE VOLTA

Numagaláxia distante

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

Segundo dia do Chefe do Executivo na Assembleia Legislativa e poucode novo. Confrangedora a forma como o líder do Executivo mostra pouco à vontade em matérias cruciais para a sociedade. Se em relação à habitação tudo será explicado pelo secretário das Obras Públicas, Lau Si Io, em relação à saúde, Chui Sai On revelou ingenuidade: “Será que o serviço de saúde é assim tão mau?” Académicos da UMAC criticam obsessão com talentos. PÁGINAS 4 E 5

• CLARA BRITO “Temos uma relação óptima com o Governo” PÁGINAS 2 E 3

Chui Sai Onpouco adiantou sobre saúdee habitação

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 1 4 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 3 • A N O X I I I • N º 2 9 7 4

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hoje macau quinta-feira 14.11.20132 ENTREVISTA

JOSÉ C. [email protected]

A directora criativa da Lines Lab, Clara Brito, está em Macau há cerca de dez anos. A marca,

fundada em parceria com Manuel Correia da Silva, funciona no ter-ritório desde 2006, e apesar de já estar bem implantada no mercado enfrenta diariamente o desafio de trabalhar numa cidade com uma oferta limitada de recursos humanos ligados à produção de moda. Ao HM, falou da qualidade do traba-lho que por cá se desenvolve e das ligações com a China, mas também

CLARA BRITO, DA LINES LAB, ASSUME QUE HÁ UM LONGO CAMINHO A PERCORRER

“Quem quiser ser sustentável tem de se internacionalizar”

do longo caminho que ainda há pela frente, bem como da necessidade da criação de estruturas que permitam às pequenas empresas e aos desig-ners serem sustentáveis e viverem dos seus produtos.

Como está a correr a exposição da Galeria de Moda de Macau?A abertura correu muito bem. As reacções foram muito positivas, tanto do público em geral, como daqueles que nos conhecem melhor e têm acompanhado o nosso trabalho. Ainda tivemos um pequeno seminário, em que o Nuno Baltazar e o representante da Lines Lab, o Manuel Correia da

Silva, apresentaram os processos de trabalho nos ateliers, de como se desenvolvem as colecções e de como nos organizamos. Foi bom, sobretudo para os jovens

Quais são actualmente as maio-res dificuldades que uma marca como a Lines Lab encontra para desenvolver o seu trabalho em Macau?Tudo isto continua a ser um grande desafio, apesar de já estarmos há bastante tempo em Macau. A mar-ca Lines Lab foi criada em 2006, mas nós já estamos no território há cerca de dez anos e portanto já temos alguma experiência do que é estar em Macau e do que é fazer a ligação com a indústria na China.

E como é que se faz essa ligação?Não é muito fácil, porque a China tem estado a mudar muito e o cenário industrial também tem registado muitas alterações para acompanhar o crescimento económico. Uma das coisas que tem acontecido é que muitas das fábricas têm fechado os seus departamentos de prototipagem, onde recebiam as amostras, porque se estão a virar para uma indústria muito massificada. Por isso, criar algo de novo traz várias dificuldades.

estudantes que estão interessados nestas áreas ligadas às indústrias criativas. Foi interessante poder ver lado a lado dois panoramas de duas entidades diferentes.

Uma das coisas que tem acontecido [na China] é que muitas das fábricas têm fechado os seus departamentos de prototipagem, onde recebiam as amostras, porque se estão a virar para uma indústria muito massificada. Por isso, criar algo de novo apresenta várias dificuldades

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hoje macau quinta-feira 14.11.2013 3 entrevista

E em Macau?Em Macau é muito difícil conse-guir a parte mais ligada à produção. Actualmente, existem muito pou-cas pessoas com disponibilidade e com conhecimento para estarem ligadas à concepção. Portanto, isto é um desafio, não só para nós, mas também para todas as pessoas que estão ligadas à área da moda. O mercado até está a crescer, a abrir e a mostrar-se cada vez mais dispo-nível, mas os desafios da produção são grandes. É curioso que quando comparamos o trabalho da Lines Lab com o trabalho do Nuno Balta-zar e verificamos que em Portugal ainda é possível ter um atelier com costureiras e modelistas próprias com um alto nível de qualidade, o que não obriga a uma produção massiva. Esta é uma das grandes dificuldades que estamos a tentar ultrapassar, nomeadamente crian-do pontes de ligação com outros sítios onde possamos produzir as nossas peças.

Quem são os maiores consumi-dores de moda em Macau? E o que procuram?São acima de tudo chineses... ou melhor, asiáticos, desde pessoas de Taiwan, do Japão, da Coreia, etc., mais do que europeus. Nos imensos turistas que recebemos do continen-te podemos constatar que começa a existir um gosto mais apurado para conhecer não só aquilo que são as altas marcas, as altas gamas e as altas linhas que agora estão repre-sentadas em Macau, mas também uma maior procura por aquilo que é original e único.

Os gostos estão a mudar?Penso que sim. Acho que começa a existir uma sensibilidade diferente para marcas alternativas indepen-dentes. Esse é o espaço em que a Lines Lab se posiciona. A Lines Lab e outras marcas que neste momento se estão a desenvolver em Macau.

O Executivo ultimamente tem dado vários sinais de apoio ao de-senvolvimento do sector. Como é que são as relações da Lines Lab com o Governo?São óptimas. Acho que temos uma relação óptima com o Governo. Em Macau também não é muito difícil, porque a escala é muito pequena e é possível identificar muito bem quem é que está a desenvolver tra-balho. A nossa marca já existe no território desde 2006, numa altura em que não havia muito trabalho desenvolvido nesta área, o que ajuda a que nos demos bem. Eles têm acompanhado o nosso trabalho e por vezes até somos consultados para algumas iniciativas em que nos podemos ajudar mutuamente. Mas também penso que há ainda um longo caminho a percorrer, desde a organização dos criativos até à relação entre os criativos e o Governo, para que seja tudo mais produtivo e próspero.

Que passos é que necessitam de ser dados nesse sentido?Acima de tudo, penso que é preciso identificar muito bem, e não é difícil, quem são os criativos, ou quais são as marcas e as empresas que estão a desenvolver trabalho a este nível em Macau. Que tipo de trabalho é que está a ser feito, uma vez que podem existir duas marcas distintas a trabalhar na área da moda, e uma ser mais de pronto-a-vestir e outra com uma linha mais sofisticada, mais cara, o que muda completa-mente a abordagem, ou mesmo o tipo de feiras ou de certames onde as marcas vão estar representadas. Por

isso acho que é muito importante identificar bem o mercado onde se trabalha. Agora, a produção e a mão--de-obra são grandes problemas. É muito difícil neste momento em Macau conseguir ter uma equipa, para manter qualquer atelier ou qualquer empresa. Estamos a falar de pequenas empresas. Esta seria uma ajuda importante. É preciso criar estruturas para que as marcas e os designers possam responder aos desafios que se lhes colocam.

As ajudas económicas não são suficientes? São importantes, mas também é

importante criar as estruturas a todos os níveis. Promoção, pro-dução, comunicação, para que seja tudo mais orquestrado e para que trabalhemos todos juntos numa direcção mais assertiva.

Macau tem capacidade para competir com Hong Kong e com a China?Acho que há designers com quali-dade, com um trabalho contempo-râneo e que estão informados sobre o que se passa a nível internacional. Em Macau temos sempre de nos virar para o mercado exterior, o nosso mercado ainda é muito

particular e pequeno para a sobre-vivência de qualquer marca. Quem quiser ser sustentável e viver dos seus produtos tem necessariamente de se internacionalizar. Acho que ainda temos um longo caminho para percorrer, quanto mais não seja porque eles já têm mais tempo de trabalho. Hong Kong é muito maior e tem outro tipo de produtos que lhes permitem ser mais agres-sivos e enfrentar o mercado de uma maneira mais forte. Aqui, estamos a dar os primeiros passos, o que não quer dizer que não haja uma ou outra marca que não consiga estar ao nível. E não estou a falar de qualidade, não é isso, mas já deu para perceber que esta indústria exige muito dinheiro para poder crescer e vingar. A competição é muito agressiva, por isso para ha-ver visibilidade tem de haver mais investimento para poder competir esses mercados.

O mercado [em Macau] até está a crescer, a abrir e a mostrar-se cada vez mais disponível, mas os desafios da produção são grandes

Que projectos tem a Lines Lab para o futuro?Vamos continuar o nosso per-curso. Tentamos desenvolver sempre duas colecções por ano, embora não sejam colecções no sentido mais completo da palavra. Dedicamo-nos a produtos muito específicos, precisamente para tentar contornar aquilo que são as dificuldades de produção. Lança-mos duas vezes ao ano produtos novos e vamos continuar a manter uma relação muito próxima com aqueles que são os nossos com-pradores internacionais.

Já alguma vez se falou na hipóte-se da Lines Lab vir a participar na Moda Lisboa?Já fomos abordados e sabemos que eles estão a par da essência daquilo que tem sido o nosso tra-balho, nomeadamente ao nível do Macau Fashion Week. Tivemos o Dino Alves na primeira edição... sei que eles estão atentos. Neste momento penso que até existe o interesse de Portugal em estar aqui representado e usar Macau como uma plataforma de entrada para a China. Essas possibilidades estão a ser alinhavadas. Estamos todos atentos uns aos outros e penso que existe grande disponibilidade da parte de Portugal. Acho que isso pode ser uma boa possibilidade de estabelecer uma plataforma de mostra dos produtos.

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4 hoje macau quinta-feira 14.11.2013LAG

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ANDREIA SOFIA [email protected]

L AU Si Io, secretário das Obras Públicas e Trans-portes, mostrou ao Chefe do Executivo um “estudo

feito por uma instituição acadé-mica” que revela que 80% dos residentes têm casa própria, e que os restantes 20% arrendam um apartamento. Chui Sai On levou ontem estes dados ao hemiciclo, no âmbito do debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG), mas os números estive-ram longe de convencer os de-putados. “Não concordo com os dados estatísticos. É impossível ter esse número porque estamos a enfrentar uma situação de mui-tos pedidos que o Governo está a receber. A oferta é pouca e as pessoas não conseguem comprar uma casa nem pagar uma renda”, disse Kwan Tsui Hang.

Au Kam San disse mesmo que se os números fossem reais, o Governo “já não precisava de re-solver o problema da habitação”.

Confrontado com o deslize estatístico, Chui Sai On passou a bola. “Vou pedir ao secretário Lau Si Io para elaborar um relatório com mais dados para apresentar aos deputados, e depois podemos

Lei sobre direitos dos consumidores vai ser revista mas não tem calendárioO deputado Leonel Alves perguntou ao Chefe do Executivo se havia possibilidade de revisão das actuais leis sobre direitos dos consumidores, apontando que o “poder de compra aumentou” e que é necessário um “regime jurídico que reflicta a realidade local”. A resposta de Chui Sai On foi positiva, mas não apresentou qualquer calendário. “O Governo concorda e vai rever a respectiva legislação. Devemos actualizar os diplomas por forma a acompanhar a evolução.”

Faculdade de medicina em discussãoO indirecto Chan Iek Lap, médico, questionou o Chefe do Executivo quanto à possibilidade de ser criada uma faculdade de ciências médicas. Chui Sai On disse que esse assunto vai ser debatido. “Troquei umas impressões com reitores da Universidade de Macau e esse problema vai ser debatido com universidades de medicina do exterior para estudar a criação de uma faculdade, mas não tenho mais informações.”

Cultura FIC “vai ser transparente”Chan Chak Mo quis saber quais as políticas culturais do Executivo para os próximos tempos e questionou a eficácia do recém-criado Fundo das Indústrias Culturais (FIC). “O FIC, conjugado com o conselho para as indústrias culturais, cria um sistema para o desenvolvimento do sector cultural. Vai ser um apoio para que essas empresas se possam desenvolver. O FIC vai trabalhar com transparência.”

Song Peng Kei pediu regime de qualificação profissional

A deputada Song Peng Kei questionou o Governo quanto à criação de um regime de qualificações,

dando o exemplo do curso de Direito da Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST) que não é reconhecido pela Associação dos Advogados de Macau (AAM). “Muitos jovens vêm-se impedidos de progredir na carreira devido ao fraco regime de qualificações. Por exemplo, o curso de Direito da MUST não é reconhecido pela AAM. Os jovens têm de dispor de um regime de qualificação profissional justo e cientifico.”

Chui Sai On disse que o “o caso concreto já foi anali-sado para servir de exemplo no futuro”, e que “todos os cursos do ensino superior foram analisados pelo Governo, que reconhece todos eles. Os diplomas são admitidos”. “Criar um regime é o rumo que vamos seguir. Se calhar os trabalhos que foram desenvolvidos até aqui ainda não correspondem às expectativas da população. Mas em termos do ensino superior o Governo tem vindo a dar o seu apoio, e em breve o Governo vai apresentar mais propostas de lei para outras profissões. Os profissionais têm de se preparar para que as suas habilitações sejam re-conhecidas em função das profissões”, disse ainda. - A.S.S.

IMOBILIÁRIO DEPUTADOS QUESTIONAM DADOS SOBRE COMPRA DE CASA

Chui Sai On passou a bola a Lau Si Io

Chui Sai On contesta CoutinhoJosé Pereira Coutinho mostrou-se preocupado quanto à actualização dos vencimentos na Função Pública, frisando que a classe médica ganha uma média de dez a 11 mil patacas mensais. “É isto que o Governo entende por atrair pessoal qualificado?”, questionou. Mas Chui Sai On não concordou com os números. “Parece-me que na carreira de médicos e enfermeiros as remunerações são mais elevadas. Posso facultar alguns dados, essas remunerações são mais baixas do que aquilo que conheço. O senhor deputado preocupa-se com a Função Pública tanto como o Governo.”

Mak Soi Kun quer formar secretáriosO deputado Mak Soi Kun questionou o Chefe do Executivo quanto à possibilidade de se criar um grupo de formação para futuros secretários do Governo. Chui Sai On negou e explicou como funciona o processo de nomeação. “A indigitação de um grupo de pessoas para serem formadas para serem secretários é difícil. Os secretários são nomeados pelo Chefe do Executivo e aprovados pelo Governo Central. Devem cumprir os princípios da RAEM e ter experiência e habilitações académicas, esses são os factores. Mas muitas vezes os secretários são solitários, porque têm de tomar decisões e depois assumir as responsabilidades.”

ter uma maior discussão. É im-possível chegar a um consenso porque as várias partes têm dados estatísticos diferentes. Essas percentagens que adiantei foram-me facultadas pelo secre-tário. O importante é clarificar a precisão desses elementos e depois de termos esse relatório podemos discutir.”

O Chefe do Executivo lem-brou ainda que “provavelmente estas habitações já foram adqui-ridas há 20 anos e são fracções pequenas, mas depois de termos dados mais concretos e podere-mos discutir e pedir mais dados ao secretário”.

43 MIL CASAS NOS NOVOS ATERROSA habitação foi um dos temas quentes e que marcou a sessão de perguntas dos deputados ao Chefe do Executivo. Este admi-tiu que os cinco novos aterros poderão dar 43 mil casas para a população e reforçou a ideia que a garantia de casa aos cida-dãos é a prioridade. “Os aterros estão a ser desenvolvidos e vão ser reservados terrenos para a habitação pública. O Governo está preparado para reaver ter-renos e o secretário Lau Si Io já está em negociações com os empreendedores, mas ainda há

aspectos jurídicos que têm de ser clarificados. O facto de não termos medidas não quer dizer que deixámos de nos preocupar com o mercado imobiliário.”

Neste sentido, Chui Sai On alertou a população para a con-juntura económica externa. “Um estudo efectuado em 2012 mostra que 90% dos compradores de casa são residentes, o que quer dizer que ainda confiam no nosso mercado e investem. Mas quanto trata-se de uma opção pessoal e apelo à população para que avalie a sua própria capacidade financeira, se é ou não a melhor época e se acarreta riscos.”

NEGADA PROPOSTA DE CHAN MENG KAM Chui Sai On negou ainda, para já, criar um fundo de previdência para a habitação, ideia defendida por Chan Meng Kam, o primeiro deputado a falar. “A longo prazo a criação desse sistema de previ-dência faz sentido e é uma ideia pertinente, mas para já a popu-lação não está psicologicamente preparada para descontar para este fundo e não sei se vai aceitar. Temos verificado que quando se aumentam as contribuições há controvérsias, mas a ideia em si é boa.”

O Chefe do Executivo foi ontem à Assembleia Legislativa dizer que cerca de 80% dos residentes têm casa própria e que apenas os restantes arrendam. Deputados dizem que números não espelham a realidade. Chui Sai On disse que foi o secretário da tutela que lhe forneceu os dados

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5 lag 2014hoje macau quinta-feira 14.11.2013

CECÍLIA L [email protected]

A Universidade de Macau (UMAC) realizou, ontem, um simpósio

onde professores apresen-taram as suas opiniões sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano. Os aca-démicos debruçaram-se, principalmente, sobre o cheque para os residentes e os talentos que o Governo pretende formar e atrair.

Agnes Lam, docente da área da Comunicação, frisa que o facto de o Go-verno atribuir cheques aos cidadãos causa desvios de valores. “Quando o Governo fala em mecanismos a longo--prazo, os cidadãos apenas dão atenção ao valor do che-que. Se a situação continuar assim, não vai acontecer o que o Governo quer ver.”

A professora diz que este é um problema que o Governo tem enfrentado ao longo dos anos. “Vi um discurso no Facebook de um jovem de 17 anos, que

EDUCAÇÃO ACADÉMICOS DA UMAC CRITICAM A OBSESSÃO DO GOVERNO COM TALENTOS

“Porque é que hão-de escolher Macau?”

CHUI SAI ON QUER MAIS CONSULTAS DE URGÊNCIA E MOSTRA-SE INOCENTE

“Será que o serviço de saúde é assim tão mau?”

VELHO CAMPUSSERÁ PARA CULTURADurante a discussão das LAG para o próximo ano, na Assembleia Legislativa, e quando questionado pela deputada Angela Leong, o Chefe do Executivo disse que ainda não há planos concretos para a utilização do actual campus da Universidade de Macau (UMAC). Contudo, a área cultural e profissional será tida em conta. “Vai servir para a realização de acções de formação ou de actividades culturais e só depois é que vamos decidir o futuro a dar às instalações. Temos que dar tempo ao tempo para decidir o destino das actuais instalações.”

ANDREIA SOFIA [email protected]

T RÊS a seis meses é o tempo médio de espera para quem quer ter uma consulta de

especialidade no hospital públi-co. Os números foram levados à Assembleia Legislativa (AL) pela deputada Wong Kit Cheng, que quis saber da boca de Chui Sai On como é que o Governo vai

REACÇÕES DA POPULAÇÃO (JORNAL OU MUN)

• “Estou satisfeito pela

continuação das políticas

de benefício e o aumento do

valor dos cheques. O Chefe do

Executivo é generoso, o dinheiro

dá uma ajuda”

SENHORA LO

• “Há falta de surpresa nas LAG,

e a única inovação é o centro

do ensino técnico-profissional

em Seac Pai Van. Ter o cheque é

melhor do que não ter, mas não

tem utilidade prática”

SENHOR CHOW

• “O cheque pode ajudar os

residentes das camadas mais

baixas, mas a longo prazo não

ajuda na inflação”

ESTUDANTE CHEONG

• “Espero que o Governo só dê

dinheiro aos pobres, porque

aumentar sempre o valor dos

cheques só aumenta a inflação”

SENHORA LOK

• “Podia ter aumentado o valor

de outros subsídios, para os

que têm mais necessidade”

SENHOR KU, REFORMADO

“Dar cheques significa piorar

a inflação, o que mostra que o

Governo tem falta de medidas

para resolver os problemas dos

cidadãos”

PAUL PUN, SECRETÁRIO-GERAL DA CÁRITAS

perguntou porque é que o Governo não dá casas em vez de cheques”, frisou uma outra académica, Teresa Vong, da área da Educação.

“Estou assustada porque sei que agora o Governo está numa de dar tudo o que os residentes precisam. Mas a realidade não é assim.

Além de dar dinheiro, o Governo já não tem mais medidas para acabar com as queixas dos cidadãos. Estes já consideram uma

política de benefício como algo natural.”

Segundo Teresa Vong, ainda não há talentos em Macau porque falta for-mação. “Onde estão os talentos? Apenas 53% dos jovens entram nas escolas secundárias. Estes jovens podem considerados os futuros talentos? Duvido.”

Para a académica, os jovens de Macau têm dema-siadas políticas beneficiárias e não sabem nada de com-petição. “Estou preocupada. Entendo que os croupiers não querem ver o seu em-prego roubado e, por isso, pedem que seja proibida a importação de pessoas para

estes cargos. Acho que o Governo tem que fazer um calendário para a promoção do emprego dos cidadãos. Os jovens de Macau têm que saber, um dia, que não precisam apenas de competir com os residentes das cida-des vizinhas, mas sim com as pessoas de todo mundo.”

Agnes Lam concorda e acrescenta que, para atrair os talentos para Macau, o Governo tem que criar um ambiente justo para a com-petição. “Se as políticas de habitação, serviços de saúde e educação são piores que os outros países, porque é que os talentos hão-de escolher Macau?”

resolver o assunto. “As pessoas que se deparam com problemas graves e que não têm dinheiro para o privado sujeitam-se à espera no hospital público”, lembrou.

Chui Sai On disse estar “a con-jugar esforços para prestar serviços em várias áreas”, tendo considerado que “a consulta de especialidade é sempre alvo de espera, à seme-lhança de outras regiões”. “Como se pode reduzir o tempo de espera?

Precisamos que os residentes admi-tam o nível de qualidade dos nossos serviços. Para alargar os serviços de saúde pública temos de ponderar o grau desse alargamento, mas a melhor forma é alargar os serviços de consulta nas urgências. Será que o serviço de saúde é assim tão mau e péssimo?”

“Entendo que muitos residentes recorrem aos serviços de saúde do exterior e em alguns casos são en-

caminhados para Hong Kong, mas as pessoas que não têm hipótese de pagar recebem subsídios. Dentro das nossas possibilidades vamos alargar este tipo de serviço e vamos contratar mais médicos”, disse ainda.

SERVIÇO DE SEGUROS NÃO Wong Kit Cheng disse ainda se seria possível a criação de um regime de seguros de saúde, mas o Chefe do Executivo não se mos-

trou receptivo à idade. E lembrou que as despesas com o serviço de saúde rondam as 5,2 mil milhões de patacas, enquanto as receitas são apenas de 50 milhões. “Se tivermos de recorrer a esse tipo de seguro, se for para particulares tudo bem, mas se tivermos de pedir aos resi-dentes para pagarem o seguro não é assim tão ideal. Quando falamos do pagamento do prémio peço a todos para reflectirem.”

Os jovens de Macau têm que saber, um dia, que não precisam apenas de competir com os residentes das cidades vizinhas, mas sim com as pessoas de todo mundo

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6 hoje macau quinta-feira 14.11.2013SOCIEDADE

JOANA [email protected]

U M homem tentou interpor um recurso em tribunal depois de ter sido conde-nado por cinco crimes de

maus tratos a menores, três crimes de abuso sexual de crianças, um crime de coação sexual e um crime de violação. O pedido de recurso chegou até ao Tribunal de Última Instância (TUI), depois de ter sido negado anteriormente e voltou a não ser deferido. Num acórdão on-tem tornado público – e analisado pelo HM - o TUI explica que o homem era pai das vítimas.

Em 2003 deu-se o primeiro crime. Uma das meninas, então com nove anos, foi obrigada a tirar a roupa no quarto do arguido e, por ter resistido, foi agredida “com um cabide”. O acórdão torna--se explícito e frisa, entre outros pormenores, que o homem teve relações sexuais com a criança “até à ejaculação”. Até Abril de 2007, “todas as semanas e da mesma forma”, o homem manteve relações sexuais com a ofendida contra a sua vontade. De 2007 a 2011, “três vezes por semana”, os abusos continuaram. Só em Novembro de 2011, e depois de “todos os dias ser obrigada a ter relações sexuais” é que a jovem, então com 17 anos, fez queixa à PSP.

Mas, os casos não ficam por aqui. Desde 2004, que o homem ba-tia nos cinco filhos – de cinco, seis, sete, 10 e 11 anos -, provocando-lhes equimoses e contusões. Em 2006, as agressões continuaram. Uma

O TUI refere que o homem ofendeu “por muito tempo” a integridade física dos filhos menores, sendo que os actos afectaram mesmo o desenvolvimento das crianças a nível físico e mental

Depois de ter sido anunciado um aumento consecutivo nos casos de abusos sexuais infantis, um acórdão do TUI dá conta da condenação de um pai que abusou sexualmente das filhas por mais de oito anos. O homem ainda tentou recurso, mas foi-lhe negado duas vezes. Responsáveis e deputados pedem criminalização pública destes crimes

TRIBUNAL HOMEM TENTA RECURSOS DEPOIS DE CONDENADO POR MOLESTAR FILHAS

Pesadelo dentro de portas

das crianças foi agredida de forma tão violenta no mesmo mês, que acabou por demorar mais de 20 dias a recompor-se. Em Junho de 2011, a mesma criança “viu-se obrigada a internar-se num lar da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude”.

Em 2005, começaram outros dos crimes. O homem, desta vez com a segunda filha mais nova – na altura, com dez anos -, ordenou à menina que recebesse “castigos físicos” no seu quarto, devido aos maus resultados escolares. Aqui “ele metia a mão no interior da roupa da ofendida, para apalpar o seu corpo”. Estes abusos continu-aram até meados de 2011, tendo havido, contudo, muitas cenas semelhantes em anos anteriores. “A partir de meados de 2007, o arguido exigia a todos os filhos que entrassem sozinhos no seu quarto para receber treino físico após se terem levantado de manhã (...)”, explica o acórdão, revelando deta-lhes de como era feitos os abusos. Em 2004, outra das meninas, então com 12 anos, recebeu o mesmo tipo de agressões sexuais.

O TUI refere que o homem ofen-deu “por muito tempo” a integridade física dos filhos menores, sendo que os actos afectaram mesmo o de-senvolvimento das crianças a nível físico e mental. O tribunal continua ainda, frisando que o homem se “aproveitava do seu prestígio em casa”. O arguido era desempregado e tinha a seu cargo os cinco filhos. A mãe das crianças morreu em 2008, vítima de doença.

TENTATIVAS Foi a filha mais velha, agora com 19 anos, que se constituiu assistente do caso para levar o pai a tribunal, uma vez que estes actos não podem ser denunciados por pessoas alheias aos crimes. O

homem, por duas vezes, tentou interpor recurso, explicando que deveria ser condenado apenas por um crime de violação por ter tido apenas “uma intenção criminosa”.

Tentou ainda justificar que o “grau de culpa diminui gradual-mente” por ser pai da vítima e, o facto de viver com ela, “podia facilitar-lhe a prática do crime”, fazendo com que ele cometesse os actos “mais vezes de seguida”. Na interposição do recurso, o homem diz ainda que o tribunal violou a lei “porque não considerou as circuns-tâncias favoráveis ao arguido”. O TUI não voltou atrás.

O colectivo de juízes afirma que o homem não praticou apenas um, mas “largas centenas de crimes”,

tendo “transformado a sua filha em escrava sexual durante oito anos”. O tribunal descreve a jovem como anti-social e medrosa e como alguém “cuja vida pessoal e social foi afectada, provavelmente, para sempre”.

O homem foi condenado em Março deste ano a 24 anos de prisão e ao pagamento de uma indemnização de 900 mil patacas apenas à primeira vítima.

A questão dos abusos sexuais infantis foi trazida à lupa este ano, quando Wong Man Wai, presidente da Associação de Luta Contra os Maus-Tratos às Crianças de Ma-cau, referiu um aumento de 3,5% nos casos do ano passado, face a 2011, numa tendência que tem vindo a aumentar. O responsável disse que ainda há muitos casos por descobrir e pedia que fossem tor-nados crimes públicos as situações em que os filhos ficam sozinhos em casa, os abusos sexuais ou casos de negligência dos pais para com os filhos. Também Mak Soi Kun, deputado, pediu que as autoridades analisassem esta hipótese.

Page 7: Hoje Macau 14 NOV 2013 #2974

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CÂNT

ARA

7 sociedadehoje macau quinta-feira 14.11.2013

RITA MARQUES [email protected]

H Á falta de transportes para deficientes mas o Gover-no parece ter a solução e o desenvolvimento dos

serviços de reabilitação vai ser equacionado a partir do próximo mês.

Uma sociedade da região vizi-nha, The Hong Kong Society for Rehabilitation, está encarregue de fazer um estudo, dividido em seis fases, que ajudará a definir o Plano Decenal do Desenvolvimento dos Serviços de Reabilitação de 2016 a 2025 ao dar a conhecer a procura de autocarros por pessoas com mobi-lidade reduzida até 2019. “Temos falado de um projecto específico para estudar a situação relativa aos autocarros. Esta é uma das partes do Plano Decenal. Futuramente vamos introduzir mais autocarros que prestam vários tipos de servi-ços e esperamos que possam vir não só a transportar as pessoas para consultas médicas e centros de re-abilitação como também a levá-las ao trabalho e a outras actividades recreativas”, explicou Choi Sio Un, chefe do departamento de Solidariedade Social, do Instituto de Acção Social (IAS).

O responsável adiantou ainda que “nos últimos três anos foi re-gistado um número total de 32840

JOANA [email protected]

J AIME Carion vai ser chamado a depor como testemunha no julga-

mento do chamado caso La Scala, a decorrer no Tribunal Judicial de Base (TJB). O di-rector dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transpor-tes (DSSOPT) foi requerido ontem como testemunha pela defesa de Steven Lo, um dos empresários de Hong Kong que vem acusado de ter subornado Ao Man Long para ficar com os terrenos em frente ao aeroporto.

O ex-secretário para as Obras Públicas e Transportes, condenado a 29 anos e meio por corrupção, foi declarado culpado por ter recebido subornos dos empresários,

LA SCALA JAIME CARION SERÁ OUVIDO COMO TESTEMUNHA POR PEDIDO DA DEFESA

Inquirição nas mãos do tribunal

MAIS APOIO A DEFICIENTES COM CARTÃO DE REGISTO Há hoje 10 mil pessoas com Cartão de Registo de Avaliação da Deficiência e 8900 pessoas a receberem o respectivo subsídio. O título - que garante a diminuição de taxas cobradas, a prioridade no atendimento de serviços e apoios específicos em 30 entidades públicas - pode vir a assegurar outras ajudas no 1º trimestre do próximo ano, depois de serem recolhidas todas as opiniões junto das organizações não-governamentais e clínicas privadas. Ontem o Chefe do Departamento de Solidariedade Social do IAS, Choi Sio Un, disse ainda que há 7300 pessoas que beneficiam de passes especiais de autocarros e 7900 pessoas que gozam de seguro médico gratuito.

Uma sociedade da região vizinha, The Hong Kong Society for Rehabilitation, está encarregue de fazer um estudo, dividido em seis fases, que ajudará a definir o Plano Decenal do Desenvolvimento dos Serviços de Reabilitação de 2016 a 2025 ao dar a conhecer a procura de autocarros por pessoas com mobilidade reduzida até 2019

GOVERNO QUER PRIORIZAR AUTOCARROS PARA PESSOAS COM MOBILIDADE REDUZIDA

Falta transporte para deficientesExistem nove autocarros, utilizados pela Caritas e pela Cruz Vermelha, para transporte de pessoas portadoras de deficiência, meios que não são suficientes para a procura. A conclusão é feita pela Comissão para os Assuntos de Reabilitação, ao avançar que esta problemática está a ser equacionada no Plano Decenal do Desenvolvimento dos Serviços de Reabilitação entre 2016 e 2025

pessoas transportadas” pelos nove veículos dos serviços de reabilita-ção usados pela Cáritas e pela Cruz Vermelha mas “este número não consegue satisfazer a necessidade real deste serviço”.

Choi falou ainda da falta de adequação destes transportes - com mais de 10 anos de vida -, que transportam em média 10 mil utentes por ano e são regu-larmente alvo de manutenção e reparação porque “rapidamente ficam avariados”.

Por essa razão, o estudo feito para os próximos cinco anos dará conta da “procura concreta” destes serviços e concretizar a implemen-tação da política de forma “mais adequada e apropriada”.

Ontem, a Comissão para os Assuntos de Reabilitação, na se-gunda sessão plenária deste ano, avançou que foi criado um Grupo de Acompanhamento do Estudo Interdepartamental do Plano Dece-

que estavam a construir o empreendimento La Scala. Mas, a defesa aponta que esse facto não é verdadeiro e alega que se realmente hou-vesse mão de Ao Man Long no concurso por convite que concedeu os terrenos à Moon Ocean – a empresa de Steven Lo -, então o secretário nunca teria indeferido outros pedidos da companhia relacionados com os mesmos lotes. Esse, provou a defesa com despa-chos do Boletim Oficial, foi o caso: Ao Man Long negou requerimentos à Moon Ocean sobre alterações nas alturas dos edifícios, por exemplo.

Na altura dos factos, em 2006, Jaime Carion era presidente da Comissão de Terras e é por isso que Rui Sousa e Jorge Neto Valente, advogados de Steven Lo, querem trazê-lo a tribunal. “É relevante ouvi-lo por ser alguém que contactava directamente com o secre-tário Ao Man Long e cujas decisões passavam por ele”, começou por apontar Rui Sousa.

Mário Silvestre, presi-dente do colectivo de juízes do TJB, ainda disse discor-dar com o requerimento, uma vez que a presença

de Jaime Carion poderia dar azo a que se tivesse de chamar mais testemunhas – engenheiros e técnicos – das Obras Públicas, mas Rui Sousa defendeu o seu

pedido. “Não preciso de mais ninguém. Para falar, falamos com alguém que saiba exactamente o que se passou e o senhor director das Obras Públicas falava

nal que contará com 14 membros, entre os quais representantes de diferentes instituições afectas a deficientes mentais, visuais e auditivos. “Vai ter uma comuni-

cação muito estreita com a nossa comissão. Dará opiniões e apelará à sociedade para o desenvolvimento dos serviços de reabilitação”, re-velou Choi Sio Un.

semanalmente com o secre-tário Ao Man Long.”

Os juízes acabaram por deferir o pedido, mas com a condição de que será o tribunal a inquirir a testemunha. Mário Silves-tre explicou que a defesa poderá sugerir perguntas, mas que estas serão limita-das. “Se entendermos que são pertinentes poderemos aceitar.”

Esta não é a primeira vez que Jaime Carion é ouvido no âmbito do escândalo de corrupção Ao Man Long, sendo que o director tes-temunhou, por exemplo, no ano passado, aquando do novo julgamento de Ao Man Long no Tribunal de Última Instância. O director da DSSOPT será ouvido na segunda-feira.

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8 hoje macau quinta-feira 14.11.2013CHINA

V INTE anos depois de lançar o mo-delo de “econo-mia socialista de

mercado”, a China anunciou uma “reforma abrangente e profunda”, dando maior peso ao mercado, no comunicado emitido esta terça-feira, no fim da Terceira Sessão Plenária do Comité Central do Partido Comunista, um encontro com 204 represen-tantes que durou quatro dias em Pequim. No texto, o papel do mercado foi elevado a uma relevância sem precedentes desde as reformas de 1993. Pela primeira vez, o mercado ganhou o estatuto de “deci-sivo”, em vez de “básico” - termo usado reiteradamente pelo Governo nos últimos 20 anos - na colocação de recursos na economia.

Publicado pela agência oficial Xinhua, o comunica-do final da Terceira Sessão

O porta-voz do Comissariado do Mi-nistério das Relações Exteriores da

China na Região Administrativa Espe-cial de Hong Kong afirmou ontem que o desenvolvimento do sistema político de Hong Kong é um assunto interno da China, realçando a oposição contra a inter-ferências estrangeiras. O ex-governador de Hong Kong, Christopher Francis Patten, citou numa entrevista que falta a Hong Kong o direito de escolher o seu próprio governo. Patten disse que mais

cedo ou mais tarde, os cidadãos terão esse direito. Em resposta às palavras de Patten, o porta-voz do Comissariado do Ministério dos Negócios da China em Hong Kong respondeu que a adopção de políticas como “um país, dois sistemas”, “elevado nível de autonomia” e “Hong Kong administrado pela gente de Hong Kong” têm alcançado grande sucesso e desde que a região foi devolvida à China, os cidadãos do território obtiveram direi-tos e liberdades que nunca antes tiveram.

PEQUIM ELEVA O PAPEL DO SECTOR PRIVADO DE ‘BÁSICO’ PARA ‘DECISIVO’

Porta entreabertaPlenária também determina a criação de um grupo de trabalho de alto nível que vai coordenar as reformas na economia, noticiadas como a “grande revolução”. Estas reformas devem ser detalhadas nos próximos meses. Além de direccionar as mudanças na economia, este grupo terá a atribuição de modernizar a adminis-tração pública. “A reforma económica é essencial, e a solução que se procura é a relação adequada entre o Governo e o mercado, deixando para este um papel decisivo na colocação de recursos e permitindo ao

Estado desempenhar melhor as suas funções”, pode ler-se no comunicado final.

“As informações por enquanto são gerais, mas apontam que o socialismo do tipo chinês está a tornar--se num capitalismo do tipo chinês. É um sinal de que a China está a entrar com tudo no sistema económico internacional”, afirma a pro-fessora de Relações Inter-nacionais da Universidade de Brasília (UnB) Danielly Silva Ramos Becard.

A Terceira Sessão Ple-nária também definiu o ano de 2020 como o horizonte para “resultados decisivos”

nas reformas em campos im-portantes, com as mudanças económicas a desempenha-rem um papel central. Entre as iniciativas, o Partido Comunista afirma que vai aprofundar a reforma fiscal e tributária, estabelecer um mercado unificado para terras no campo e na cidade, criar um sistema de segu-rança social “sustentável” e dar aos camponeses mais direitos de propriedade.

O comunicado apontou para a necessidade de ace-lerar a transição do modelo de crescimento - hoje muito baseado nas exportações, mas que, na visão do Gover-

no, precisa depender mais do consumo doméstico - e promover a inovação para tornar o desenvolvimento da China “mais eficiente, menos desigual e mais sustentável”.

Especialistas acreditam que o detalhe das medidas poderá incluir políticas para lidar com os enormes desa-fios ambientais do país. É esperada ainda uma flexibi-lização na política de filho único, adoptada na China há 30 anos.

O texto, porém, ressalva que o Estado continuará “dominante” na economia, indicando alguma limita-ção das reformas. As 112 empresas controladas pelo Governo central, através da Comissão de Administração e Supervisão de Activos do Estado (Sasac), respondem por 43% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país ao longo de um ano) chinês. Na segunda--feira, uma autoridade do país anunciou que o sector privado poderá comprar até 15% de empresas estatais.

PROCURA DE MAIOR EFICIÊNCIA NAS ESTATAISNa avaliação de Danielly Becard, da UnB, a maneira de o Governo lidar com as empresas estatais será uma das mudanças importantes: “Se antes tudo se fazia em nome das empresas estatais, até financiamentos com risco de retorno, agora cada vez mais o financiamento vai para empresas capazes de competir no mercado internacional.”

No comunicado final da Terceira Sessão Plenária, com cinco mil caracteres, a palavra “reforma” é usada 59 vezes, o termo “desen-volvimento”, 37, e “socia-lismo”, 28. Mas “finanças” só tem uma citação. O sector financeiro é um dos mais fechados da China.

A sinalização para as reformas que teriam aval na Terceira Sessão Plenária foi dada no mês passado, quan-do o presidente Xi Jinping fez um discurso no qual afir-mou que o país iria “permitir ao mercado que o seu papel na colocação de recursos alcançasse um grau maior e um espaço mais amplo”. Antes, em Março, ao tomar posse, o primeiro-ministro Li Keqiang comprometeu-se com a abertura económica às forças do mercado.

Após registar taxas de crescimento próximas de dois dígitos nos últimos 20 anos, a China deve ter uma expansão pouco acima de 7% este ano. O país enfrenta o desafio de depender menos de exportações e de investi-mentos públicos para contar mais com o mercado interno e fazer a economia crescer.

O Partido Comunista afirma que vai aprofundar a reforma fiscal e tributária, estabelecer um mercado unificado para terras no campo e na cidade, criar um sistema de segurança social “sustentável” e dar aos camponeses mais direitos de propriedade

Governo chinês opõe-se à interferência alheia em assuntos internos de Hong Kong

Christopher Francis Patten

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9 chinahoje macau quinta-feira 14.11.2013

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A eleição de 14 novos Estados--membros das Nações Unidas

para integraram o Conselho dos Direitos Humanos deste organismo está a gerar grande polémica, com críticas em especial à escolha da China, Cuba, Rússia e Arábia Saudi-ta. Contudo, há quem junte a estes quatro nomes a Argélia e o Vietname, lamentando que nesta matéria estejam países considerados “abusadores”.

Os defensores dos di-reitos humanos consideram que, com a eleição destes

C AUSEWAY Bay, em Hong Kong, continua a ser a zona comercial mais cara do

mundo, seguindo-se a 5.ª Avenida, em Nova Iorque, e os Champs--Élysées, em Paris, de acordo com um estudo da Cushman & Wakefield ontem divulgado.

Causeway Bay, que ultra-passou a 5.ª Avenida em 2012, tornando-se na zona com o arren-damento de espaços comerciais mais caro do mundo, registou já este ano um aumento do valor das rendas comerciais de 14,7%, segundo os dados do estudo.

A renda de espaços comer-

Terminou ontem o exercício militar conjunto anti-terrorismo, entre a China e a Índia na montanha E’mei, na província de Sichuan. O General da Divisão de Chengdu, Zhou Xiao zhou, apontou que a manobra serviu para aprofundar o intercâmbio e a cooperação entre as tropas dos dois países, e revela a determinação das duas partes para manter a paz e a estabilidade regional e criar em conjunto um ambiente de harmonia para o desenvolvimento regional. Antes da cerimónia de encerramento, as duas tropas realizaram um exercício de combate ao terrorismo, na região montanhosa, que se dividiu por quatro partes: detecção, controlo e bloqueio, golpe tridimensional e eliminação zona a zona. Durante a acção foram utilizados helicópteros, morteiros e foguetes anti-tanque.

CONSELHO DOS DIREITOS HUMANOS DA ONU ALARGADO

Polémica à vista

CAUSEWAY BAY EM HONG KONG MANTÉM-SE COMO ZONA COMERCIAL MAIS CARA DO MUNDO

À frente da 5.ª Avenida e dos Champs-Élysées

ciais atinge, em média, as cerca 250.000 patacas anuais por metro quadrado nesta área da Região Administrativa Espe-cial chinesa.

O aumento do valor das rendas de espaços comer-ciais em Causeway Bay está relacionado com a “uma forte procura por parte das marcas de luxo” para se instalarem nessa zona, concluiu o mesmo estudo, salientando que na antiga colónia britânica as rendas registaram um aumen-to anual de 21,8%.

A 5.ª Avenida continua a

ser a segunda área comercial mais cara do mundo, onde as rendas de espaços comerciais ascendem a cerca de 207.000 patacas por metro quadrado.

Nos Estados Unidos, as ren-das subiram este ano 3,7% face a 10,9% no ano passado devido a um “ambiente económico menos favorável e ao aumento da oferta disponível em alguns países, como o Brasil”, refere a Cushman & Wakefield.

Os Champs-Élysées, em Paris, registaram a maior subida dos preços das rendas este ano, de 38,5% para cerca de 150.000 patacas por metro quadrado, depois de uma subida de 30% em 2012.

Se a renda anual por metro quadrado da avenida parisiense continua longe dos valores pra-ticados em Hong Kong e Nova Iorque, “os mais belos locais dos Champs-Élysées continuam a arrendar-se a valores recorde”, constatou o director-geral da Cushman & Wakefield França, Christian Dubois, citado pela agência AFP.

Para 2014, a Cushman & Wakefield tem a expectativa de que, à excepção de alguns paí-ses afectados pela crise, como Grécia e Irlanda, os valores das rendas de estabelecimen-tos comerciais se mantenham “estáveis ou continuem a au-mentar”.

países, as medidas e tomadas de posição que as Nações Unidas queiram vir a tomar ficam em causa, explica o Los Angeles Times, já que a liberdade é um direito que é permanentemente desres-peitado por eles próprios, acusam. O cargo tem a dura-ção de três anos e o conselho tem sede em Genebra.

França, Macedónia, Maldivas, México, Mar-rocos, Namíbia, África do Sul e Reino Unido foram os restantes Estados escolhidos para representar as dife-rentes regiões geográficas

durante a votação por voto directo e secreto que decor-reu na terça-feira à noite em Nova Iorque, diz a Reuters. Ao todo, o órgão tem 47 Estados. A eleição anual de um terço dos membros do conselho acontece na assembleia-geral da ONU, que reúne os 193 países da organização.

No exterior, os resulta-dos eram aguardados com expectativa por organiza-ções como a UN Watch e a Human Rights Watch, que protestavam contra a escolha de países que têm

um histórico relacionado com o desrespeito das li-berdades fundamentais que as próprias Nações Unidas defendem.

Peggy Hicks, da Hu-man Rights Watch, citado pela Reuters, dizia que “os defensores dos direitos hu-manos terão o seu trabalho obstruído” com a escolha destes países, destacando, ainda assim, que “feliz-mente nenhum Estado tem poder de veto em Genebra, pelo que uma maioria em-penhada ainda pode obter resultados concretos”. Irão e Síria chegaram a ponde-rar candidatar-se às vagas regionais disponíveis mas, perante as críticas prévias à situação nos países e pe-rante algumas medidas que a própria ONU tem tomado, preferiram recuar.

Terminam manobras militares conjuntas anti-terrorismo entre Pequim e Nova Deli

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10 hoje macau quinta-feira 14.11.2013GALERIA

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11 galeriahoje macau quinta-feira 14.11.2013

Joaquim Franco é há mais de duas décadas residente de Macau. O seu trabalho na área da pintura e como mestre de gravura tem sido internacionalmente reconhecido. É com ele que o Hoje Macau tem o desmedido prazer de inaugurar este novo espaço de galeria de arte.

Joaquim Franco

Obrasrecentes

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12 EVENTOS hoje macau quinta-feira 14.11.2013

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

PERSÉPOLIS • Marjane Satrapi

Com esta memória inteligente, divertida e comovente de uma rapariga que cresce no Irão durante a Revolução Islâmica, Marjane Satrapi consegue transmitir uma mensagem universal de liberdade e tolerância. Persépolis desenha um retrato inesquecível do dia-a-dia no Irão, as desconcertantes contradições entre a vida familiar liberal e a repressiva vida pública com um regime pedagógico que atentam contra toda liberdade individual. Intensamente pessoal, profundamente político e totalmente original, Persépolis é ao mesmo tempo uma autobiografia e um chamamento perturbador sobre o custo humano da guerra e da repressão política.

SILÊNCIO • Susan Cain

Pelo menos um terço das pessoas que conhecemos é introvertido. Estas pessoas são as que preferem ouvir a falar, ler a socializar; que inovam e criam, mas não gostam de se autopromover; que privilegiam o trabalho solitário às sessões de brainstorming coletivo. Embora seja habitual rotulá-los de «silenciosos», é aos introvertidos que devemos muitos dos grandes contributos para a sociedade - dos girassóis de Van Gogh à invenção do computador pessoal. Esta investigação notável e recheada de histórias pessoais inesquecíveis demonstra até que ponto se subestima a introversão, e como essa atitude conduz ao menosprezo de enormes talentos.

O Instituto Cultural (IC) e o Armazém do Boi apresentam a partir do próximo

dia 30 de Novembro, e até 31 de Dezembro, a exposição “Pos-sibilidades – Apresentação de Poesia Polaca em Macau”, no Edifício do Antigo Tribunal e nas instalações do Armazém do Boi.

Segundo Ung Vai Meng, presidente do IC, a literatura po-laca é uma parte importante da literatura mundial e a sua poesia contemporânea, em particular, é ainda mais fulgurante, com uma plêiade de poetas brilhantes com ampla influência em todo o mundo. Entre os poetas polacos internacionalmente mais conhe-cidos, a laureada com o Prémio Nobel da Literatura, Wisława Szymborska, e o vencedor do Prémio da União Europeia para

a Literatura, Tadeusz Różewicz, são os que tiveram mais impacto na literatura contemporânea. Inspirando-se no quotidiano criam uma poesia que é directa e concisa sem deixar de ser comovente, e ao mesmo tempo são exímios no emprego de diversas técnicas para realçar o encanto das artes literárias, lê-se na mensagem de apresentação da exposição.

A mostra apresenta trabalhos de distintos poetas polacos con-temporâneos, onde se incluem antologias, documentários e gravações de declamação de poemas pelos próprios, com destaque para as 25 colagens originais de autoria de Wisława Szymborska, expostas pela pri-meira vez na Ásia.

Através de palestras temáti-cas e récitas de poesia, o evento

pretende oferecer ao público uma compreensão mais aprofundada da literatura da Polónia, em espe-cial da sua poesia contemporânea, no quadro dos contextos histórico e cultural que a marcaram, contri-buindo assim para alargar a visão literária e artística dos cidadãos, bem como promover salutares hábitos de leitura, acrescenta a nota de apresentação.

Paralelamente à exposição, foram convidados vários poetas, músicos, dançarinos e designers locais para criarem trabalhos em diversos media, a partir da poesia da Polónia e de Macau, numa ten-tativa de expandir as fronteiras criativas, explorar novos espaços da imaginação e uma criativi-dade fora do habitual. Segundo o presidente do IC, o evento constitui uma oportunidade para facilitar o diálogo e o intercâm-

bio entre os círculos artísticos de Macau e artistas internacionais de nomeada, contribuindo para tornar o público mais interessado na criação literária.

Tal como Wisława Szym-borska afirmou no seu discurso de recepção do Prémio Nobel da Literatura: “Na linguagem poética, cuidadosamente ela-borada, não há nada de normal ou habitual”. Os poetas locais também descrevem Macau como um local extraordiná-rio, com uma cultura única e encantadora, fruto de vários séculos de integração, choques e cumplicidades entre as cultu-ras chinesa e portuguesa. Esta peculiaridade tem inspirado os autores de Macau a produzir muitas obras literárias, que se tornaram um tesouro cultural da pequena cidade. - J.C.M.

O Museu de Arte de Macau (MAM), apresenta a partir de hoje, e até 16 de

Fevereiro de 2014, a exposição “Yue Minjun: Neo-Idolatria”, utilizando o estúdio do artista como conceito de curadoria para expor 52 trabalhos seus, incluindo pinturas, esculturas e obras em técnica mista, exibindo também esboços, fontes materiais de inspiração, artigos de críticos de arte, mesa de trabalho e uten-

INSTITUTO CULTURAL E ARMAZÉM DO BOI APRESENTAM “POESIA POLACA EM MACAU”

Novos espaços da criatividade

“YUE MINJUN: NEO-IDOLATRIA” A PARTIR DE HOJE NO MAM

A vida através do absurdosílios de pintura. Para além das obras no interior do Museu, são também apresentadas no exterior esculturas de grande escala da autoria de Yue MinJun, informa o comunicado de imprensa da organização.

Yue Minjun é um dos artistas mais representativos da arte con-temporânea chinesa. Começou, desde a década de 1990, a criar a série ‘sorrisos’, baseada na sua imagem, que se tornou um ícone distintivo da China con-

temporânea junto da comunidade internacional.

O curador da exposição, Feng Boyi, é um dos curadores e críticos de arte mais activos, indepen-dentes, actualmente, a operar na China. Feng é, ainda, Director do

Museu de Arte He Xiangning e do Museu de Arte Suzhou Jingji Lake, informa a nota de imprensa.

Feng Boyi interpreta assim os ‘homens a rir’ de Yue: “Embora seja uma espécie de riso indeco-roso, revela o prazer e o humor de quem quebra tabus. A criação artística de Yue é uma narrativa hiperbólica, que se delicia com a imaginação e a experimentação permanente e realça o fundamental da vida através do absurdo”.

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próximo oriente Hugo Pinto

D E ACORDO com os dita-mes da nossa contempo-raneidade, era difícil um enredo mais “avant-gar-

de”: violoncelista coreana grava disco na Noruega com artista local, nome cimeiro da cena “noise”, no papel de produtor que usou um gravador de cas-setes de 1976, comprado em segunda mão, para registar as sessões realiza-das em locais pouco ortodoxos, como uma cabana na floresta, uma antiga barragem nas montanhas ou um beco no centro de Oslo. Foi assim que, na Primavera de 2012, nasceu “Ghil”, de Okkyung Lee, com produção de Lasse Marhaug.

Desengane-se quem, no entan-to, esperar alguma ode ao idílico que as florestas, as montanhas ou mesmo os becos noruegueses possam encer-

rar: depois de escutar “Ghill”, pare-ce absolutamente indiferente que as composições tenham sido gravadas com Okkyung Lee com vista sobre a natureza ou na sombra de um prédio – no raio de visão da artista coreana, que tocou de improviso as nove peças do disco, presume-se que tenha esta-do somente o imponente instrumento com silhueta de mulher, perscrutado de perto enquanto é atacado, esven-

O QUE NÃO ÉUM VIOLONCELO

trado, violentado, afagado, abusado e explorado para soar como nunca antes. Mesmo no bizarro universo da música experimental, “Ghill” revela-se um ob-jecto estranho, com um violoncelo que parece tudo menos um violoncelo, as composições inventadas no momento, atonais, sem estrutura ou organização que se percebam, sobressaindo ape-nas das entranhas do instrumento um sentido de urgência visceral e brutal com que vão sendo forjadas texturas e dinâmicas que não apagam a auste-ridade e a aspereza da forma de tocar de Okkyung Lee, comparada no New York Times ao fabrico de uma grande e sofisticada faca.

Em “Noisy Love Songs” (Tzadik, 2011), o anterior disco da composito-ra coreana, residente em Nova Iorque desde 2000, onde tem colaborado com

a trupe de elite – Laurie Anderson, David Behrman, Jim O’Rourke, John Zorn, entre outros –, ficou demonstra-do um virtuosismo em registo “free”, improvisado ao sabor da companhia, livre de espartilhos, mas ainda assim “convencional” comparado com o que se ouve em “Ghill”.

O violoncelo continua a ser uma (enorme) caixa de ressonância, mas agora é serrado como se fosse esse o

antepassado primitivo do acto de tocar o instrumento. Toda a energia da cria-ção vem desse movimento primordial, desse estado liberto que se assume pre-sente no início de uma descoberta.

A intensidade do que ouvimos em “Ghill” avoluma-se em crescendos que se desfazem com os sons distendendo--se, tornando-se mais espaçosos – per-mitindo-nos respirar –, depois progres-sivamente mais curtos e secos, como acontece no primeiro tema, “The Crow Flew After Yi Sang”. Ou então, como em “Two To Your Right, Five To Your Left”, onde o som do “cello” metamor-foseia-se e fica totalmente electrizante. No delírio, ouvimos a guitarra flame-jante de Jimi Hendrix e imaginamos o crepitar da madeira entre as chamas. Mais aproximação ao “psych rock” em “The Space Beneath My Grey Heart”,

onde a distorção e os “riffs” rebentam em “noise”.

A confusão das parecenças, o jogo de espelhos distorcidos em que Okkyung Lee nos obriga a reflectir leva-nos, num dos últimos temas, “Meolly Ganeun”, a escutar um longo solo cósmico de gui-tarra. Somos também levados a pensar que os sons que ouvimos são, de algum modo, processados em estúdio, mas, a acreditar na Editions Mego, nada disso

aconteceu: todos os sons foram grava-dos “ao vivo”, de improviso e de uma assentada, sem recurso a “overdubs”, ou seja, sem que fossem adicionados novos sons a uma gravação, nem quaisquer outras manipulações senão a “masteri-zação”, que consiste na transferência do áudio gravado de uma fonte (“master”) para o dispositivo de armazenamento a partir da qual todas as cópias serão pro-duzidas. Podia estar tudo na nossa cabe-ça, mas, na verdade, está tudo na forma de tocar de Okkyung Lee.

Paul Hegarty, autor de “Noise/Mu-sic: A History”, define “noise” como “negativo”: algo que é “indesejado, que não foi pedido”, algo que se define ne-gativamente, ou seja, “pelo que não é”. Noutras palavras, “algo que não existe independentemente, que existe apenas em relação com o que não é.”

É discutível que “Ghill” seja um disco de “noise” no estrito (se é que se pode...) sentido do termo, mas a músi-ca de Okkyung Lee assenta na perfei-ção à descrição de Hegarty: é o negati-vo de um filme chamado “violoncelo”, onde vemos na contraluz o esquisso fantasmagórico que vagamente nos sugere uma realidade familiar, mas que não reconhecemos imediatamente. Os sentidos enganam, a música não.

OUVIMOS A GUITARRA FLAMEJANTE DE JIMI HENDRIX E IMAGINAMOS O CREPITAR DA MADEIRA ENTRE AS CHAMAS

hoje macau quinta-feira 14.11.2013

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14 hoje macau quinta-feira 14.11.2013h

Gustavo Cardoso*

HABERMASNO PAÍS DASDESIGUALDADESESTRUTURAIS

resses nacionais e não do interesse nacional enquanto partilha de interesses comuns.

“O Estado é necessário para assegurar a possibilidade de todos viverem uma vida decente e em dignidade, mesmo se não puderem ter muito sucesso no mercado, e também a possibilidade de os cidadãos ge-rirem com sucesso as tarefas partilhadas e colectivas que entenderem.”

Porque não se conhece a si mesma, a Europa também continua a acreditar, estra-nhamente, mas não em contradição com uma visão auto-centrada, que todos os pa-íses são parecidos e que as singularidades são desprezíveis. Daí que não se aperceba de como há países extremamente desiguais e países extremamente menos desiguais.

E que em muitos desses países, como em Portugal, o que os caracteriza, são de-sigualdades estruturais (que em dado mo-mento a Europa havia decidido ajudar a corrigir) e cujas actuais propostas de refor-mas estruturais estão a acentuar. Isto por-que a ordem é para manter as desigualda-des, porque as políticas que guiam a acção estão assentes numa normatividade neoli-beral na qual a desigualdade é a norma, e a norma resulta da ideia de que apenas os que tiverem sucesso no mercado merecem melhorar a sua vida.

Resumindo, estamos hoje neste lo-cal incerto porque a ideia de um modelo social europeu se perdeu algures quando muitos acharam que deveríamos, de algum

modo, assumir comportamentos ou expres-sar valores neoliberais no nosso dia a dia e   quanto ao nosso futuro.

A ideia de que nos podemos todos ter tornado neoliberais é poderosa e não é da autoria de Habermas, mas sim de Colin Crouch no seu livro Making Capitalism Fit for Society. Mas porque acha Crouch que mesmo os que votam à esquerda sem ter partido, ou que se consideram socialistas no sul da Europa, ou sociais-democratas no norte da Europa, ou são verdes ou mesmo comunistas, se podem ter tornado, sem o perceber, neoliberais? E, se tal aconteceu, de que modo tal explica o porquê da Euro-pa estar hoje como se encontra? E o que fa-zer se não gostamos da imagem que surge quando nos olhamos ao espelho?

Como sugere Crouch, embora a Ter-ceira Via, protagonizada pelos trabalhistas de Blair, possua claras limitações, também possuirá pelo menos uma virtude: a de nos alertar para a exaustão e impossibilidade de regressar aos velhos projectos.

Mas a mais importante limitação, pre-sente nas diferentes terceiras vias experi-mentadas, reside em ter-se aceite, durante largos períodos governativos, o capitalismo de forma acrítica. E, ao fazê-lo, termos ig-norado os problemas criados aos cidadãos pela acumulação desmesurada de poder por parte de empresas globais, na tentativa de remunerar sempre cada vez mais os seus

O TÍTULO deste artigo tem al-gumas semelhanças com o tí-tulo da obra de Hergé, Tintin no país dos sovietes, mas a se-

melhança termina aí. Jurgen Habermas não é um repórter personagem de banda dese-nhada, mas sim um filósofo e sociólogo, e ao contrário de Hergé, que não esteve na Rússia quando desenhou essa primeira obra do seu herói Tintin, Habermas esteve na passada semana em Lisboa e conhece bem o nosso país, a Alemanha e a Europa.

Portugal é hoje tão conhecido na Eu-ropa, como destino turístico, como o é por ser um país onde as reformas estruturais, guiadas por Bruxelas, Frankfurt e Washing-ton (embora aqui com menor peso e von-tade), devem ser aplicadas para reduzir o déficit do Estado e reequilibrar o sistema bancário.

No entanto, apesar das cimeiras, das coberturas televisivas e artigos de jornal, a Europa não se conhece bem a si mesma. Não se conhecendo a si mesma, a Europa vive o presente omitindo o seu passado longínquo – isto é a última guerra mun-dial e o motivo porque nos juntámos nesta União. Continua a olhar o presente a partir de um passado mais recente – o dos anos noventa quando acreditava poder ser rele-vante a nível global. E olha para o futuro de uma forma auto-centrada, isto é, pensa o que será amanhã em função dos seus inte-

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15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 14.11.2013

PORQUE NÃO SE CONHECE A

SI MESMA, A EUROPA TAMBÉM

CONTINUA A ACREDITAR,

ESTRANHAMENTE, MAS NÃO EM

CONTRADIÇÃO COM UMA VISÃO

AUTO-CENTRADA, QUE TODOS

OS PAÍSES SÃO PARECIDOS E

QUE AS SINGULARIDADES SÃO

DESPREZÍVEIS. DAÍ QUE NÃO SE

APERCEBA DE COMO HÁ PAÍSES

EXTREMAMENTE DESIGUAIS E

PAÍSES EXTREMAMENTE MENOS

DESIGUAIS

HABERMASNO PAÍS DASDESIGUALDADESESTRUTURAIS

accionistas e conselhos de administração – basicamente, dando corpo à receita para a criação de crises como aquela em que nos encontramos hoje.

Segundo Crouch tornámos-nos “todos” neoliberais quando acreditámos que algo que em teoria parecia fazer sentido, isto é, que podemos ter estados fortes com um papel limitado na garantia da operacionali-dade dos mercados, podia ser aplicado na prática. E que, apenas por via da aplicação política de uma teoria, se garantiria que a esperança, que faz com que a vida valha a pena ser vivida, continuasse a guiar as so-ciedades europeias.

Tornámos-nos neoliberais, sem o esco-lher, quando assumimos que tínhamos de aceitar alguma forma de capitalismo neo-liberal; mas errámos quando confundimos esta aceitação com a sua transposição para a esfera da governação e enquanto valor de governo das sociedades.

No entanto, o “neoliberalismo” presen-te na governação de uma parte substancial dos países europeus é muito mais um neoli-beralismo de favores, em que tanto as elites económicas quanto as políticas estão em concertação para proteger interesses por si definidos, do que um puro neoliberalismo promotor de um  contexto de liberdade de escolha e de acesso aos produtos dos mer-cado à maioria das populações.

Os pensamentos de Habermas ou Crouch mostram-nos que as ideias e a sua ligação com a actuação política na eco-nomia, sociedade e fiscalidade não desa-pareceram. Estão activas e em combate com outras formas de pensar. Por outras palavras, a tecnocracia, no contexto da governação europeia, surgida como forma de fazer política, fazendo de conta que as ideias políticas estão ausentes e que há ape-nas teorias de gestão e de relações públicas, a serem aplicadas por pessoas que as sabem

aplicar, não se tornou ainda na única forma de fazer política.

De alguma forma as propostas tecno-cráticas, mesmo quando legitimados nas urnas europeias sob a forma de programas de reestruturação e austeridade, estão es-sencialmente imbuídas de uma lógica pro-gramática neoliberal. O neoliberalismo político não é sobre dar aos consumidores maiores escolhas em mercados competiti-vos, mas sim sobre como aumentar o poder dos mais poderosos no mercado e também da concentração de privilégios em poucos indivíduos. Daí que, em vez de ser a apli-cação à realidade de um conjunto de ferra-mentas baseadas em uma pura teoria eco-nómica, seja efectivamente um movimento político.

Um capitalismo sem um Estado para o salvaguardar dos seus excessos, cria as con-dições para o seu próprio falhanço e crises duradouras, as quais, por sua vez, minam

a própria credibilidade dos estados e dos sistemas políticos e económicos.

O capitalismo viciou-se no neolibe-ralismo mas, como em todos os vícios, a euforia do momento acaba sempre por comprometer a sustentabilidade do médio prazo.

Daí, que Crouch sugira que devemos lutar por uma versão de capitalismo de co-ordenação económica de mercado em vez de uma ortodoxia incapaz de reduzir as de-sigualdades e promover crescimento eco-nómico. Essa é a forma de capitalismo que melhor serve os cidadãos e, se quisermos ir mais longe, também é aquela que vai ao en-contro do interesse da maioria dos actores económicos porque sustém a viabilidade do próprio capitalismo.

Um capitalismo de coordenação eco-nómica de mercado que, aceitando o valor e a prioridade dos mercados na economia, aceite também as suas limitações e defici-ências. O que implica igualmente fazer a pergunta: quando e como se torna o Esta-do necessário? E, consequentemente, uma tentativa de resposta: o Estado é necessário para assegurar a possibilidade de todos vi-verem uma vida decente e em dignidade, mesmo se não puderem ter muito sucesso no mercado, e também a possibilidade de os cidadãos gerirem com sucesso as tarefas partilhadas e colectivas que entenderem. No fim de contas, o que Crouch sustenta é a necessidade de um reactivar dos mo-vimentos políticos existentes perante a necessidade de serem capazes de represen-tar a parte da sociedade com menor distri-buição de rendimento e riqueza, ou seja, a maioria da população europeia.

É essa a escolha política que os gover-nos precisam de encarar e responder: estar do lado dos interesses individuais de pesso-as e de algumas organizações ou dos inte-resses dos indivíduos e da sua liberdade de organizar o seu futuro? É também essa a es-colha dos governos Europeus a que Haber-mas se refere quando diz que precisamos de sair da lógica de interesse próprio de curto prazo que marca o comportamento de quase todos os governos.

No geral, o que podemos concluir so-bre a Europa e o seu futuro é que a voz popular talvez tenha alguma razão, ou seja, a culpa é mesmo dos políticos. Como sugere Habermas, a culpa é dos que hoje, ocupando lugares de poder, não apelam à mudança usando o melhor de nós; e apenas buscam manter-se no poder apelando ao que de pior há em cada um de nós.

*O autor é docente do ISCTE-IUL em Lisboa e Investigador do Centre d’Analyse et Intervention Sociologiques (CADIS) em Paris.

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16 DESPORTO hoje macau quinta-feira 14.11.2013

O formato da zona europeia de apuramento para Mun-diais e Europeus tem so-

frido alterações ao longo dos anos, mas se há coisa que praticamente não muda é esta: a necessidade de disputar um ‘play-off’ para garantir a presença na fase final raramente deixa adivinhar uma participação bem-sucedida. Na esmagadora maioria dos casos, as selecções caem logo na fase de grupos. Mas há excepções, claro: a Alemanha chegou à final do Mundial 2002 depois de só ter garantido bilhete para o torneio do Japão e Coreia do Sul no ‘play-off’.

A experiência recente de Portu-gal – que disputa com a Suécia um lugar no Mundial 2014, enfrentando um ‘play-off’ pela terceira ocasião consecutiva (foi assim que a se-lecção nacional se apurou para o Euro 2012 e Mundial 2010, contra a Bósnia-Herzegovina em ambos os casos) – até contraria a tendên-cia, porque a equipa das “quinas” conseguiu, nas duas competições, ultrapassar a fase de grupos. Na África do Sul, a equipa de Carlos Queiroz seria eliminada pela futura

SELECÇÃO PORTUGUESA ENFRENTA, PELA TERCEIRA OCASIÃO CONSECUTIVA, UM ‘PLAY-OFF’

Raramente é sinal de participação bem-sucedida

campeã Espanha, nos oitavos-de--final. Mas a prestação de Portugal foi a melhor de entre as selecções europeias apuradas no ‘play-off’: França, Grécia e Eslovénia não sobreviveram à fase de grupos.

Já sob o comando de Paulo Bento, a equipa nacional voltou a destacar-se no Europeu organizado pela Polónia e Ucrânia. Depois de bater a Bósnia-Herzegovina no ‘play-off’, o percurso da selecção

prolongou-se até às meias-finais, quando, após prolongamento e penáltis, caiu mais uma vez diante da futura campeã Espanha. Pelo caminho, Portugal afastou, nos quartos-de-final, uma das outras se-lecções provenientes do ‘play-off’, a República Checa. E o final da fase de grupos marcou o regresso a casa de Croácia e Irlanda.

O Mundial 2002 foi um caso de sucesso para as selecções europeias

apuradas via ‘play-off’. Segunda classificada no grupo, com os mesmos pontos da Inglaterra, a Alemanha de Rudi Völler viu-se obrigada a disputar uma eliminató-ria extra. A Mannschaft superou a Ucrânia e rumou ao Japão e Coreia do Sul, só parando na final. No jogo decisivo, o Brasil de Scolari aba-teu os alemães com dois golos de Ronaldo “Fenómeno”. Para além da Alemanha, a Turquia também

deixou marca em 2002: afastou a Áustria no ‘play-off’ e atingiu as meias-finais do Mundial, quando foi derrotada pelo Brasil. No jogo de atribuição dos terceiro e quarto lugares, os turcos bateram os anfi-triões sul-coreanos por 3-2.

Há selecções europeias que são clientes habituais dos ‘play-off’ de acesso às grandes competições. É, precisamente, o caso da Turquia, que desde a qualificação para o Euro 2000 disputou a eliminató-ria extra em cinco ocasiões. Nem sempre com grandes resultados (registou três eliminações): per-deu com a Croácia na caminhada para o Euro 2012, com a Suíça no apuramento para o Mundial 2006 e com a Letónia na luta por uma vaga no Euro 2004.

Até a Espanha, antes de assumir o estatuto actual, teve de andar pelos ‘play-off’. Foi assim que a Roja acedeu ao Mundial 2006 (afastou a Eslováquia) e ao Euro 2004 (à custa da Noruega). Em ambos os casos, a participação deixou a desejar: a Espanha caiu nos “oitavos” e na fase de grupos, respectivamente.

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Faz-se saber que em relação ao concurso público n.º 22/P/2013 para a execução da “Obra de Remodelação do Centro de Saúde de Nossa Senhora do Carmo na Taipa”, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 42, II Série, de 16 de Outubro de 2013, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.º do programa do concurso, e foi feita uma clarificação complementar conforme as necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos e clarificação complementar encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício Administração dos Serviços de Saúde, 1.º andar.

Serviços de Saúde, aos 7 de Novembro de 2013.

O Director dos Serviços

Lei Chin Ion

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C I N E M ACineteatro

hoje macau quinta-feira 14.11.2013 FUTILIDADES 17

TEMPO CHUVA FRACA MIN 17 MAX 22 HUM 70-95% • EURO 10 .7 BAHT 0 .2 YUAN 1 .3

João Corvo

Depois da casa roubada, tranque-se o Portas.

fonte da inveja

SALA 1ENDER’S GAME [B]Um filme de: Gavin HoodCom: Hailee Steinfeld, Ben Kingsley, Viola Davis, Abigail Breslin14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 2 LIBRARY WARS [C](FALADO EM JAPONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Shinsuke SatoCom: Junichi Okada, Fukushi Sota, Eikura Nana14.30, 19.15

SALA 3INSIDIOUS CHAPTER 2 [C]Um filme de: Kees van OostrumCom: Patrick Wilson, Rose Byrne, Barbara Hershey, Lin Shaye16.45, 21.30

Pu YiPOR MIM FALO

Casar ou competir, eis a questão

M A C A U [ S Ã ] A S S A D OOBRAS ONDE? Foto: Facebook

• O IACM diz que existem “obras em cu”. Já se sabe que o dito serve para obrar, mas parece que os serviços municipais promovem o contrário. Vai na volta até pode ter sido um engraçadinho que se lembro de apagar “rso”. Fica o mistério...

CORPO E CÉREBRO

Chamam-lhe “o melhor que a Grã-Bretanha tem”. David Gandy tem 33 anos e, desde 2001, é o menino prodígio da dupla Dolce & Gabbana. Foi o motivo por que os estilistas e fashion designers quiseram começar a trabalhar com modelos mais “masculinos” e teve inclusive direito a um livro em sua homenagem. Gandy queria ser veterinário, mas em vez disso enveredou por uma carreira que o levou ao top10 dos mais bem pagos modelos do mundo. É licenciado em computação e multimédia e escreve para a revista Vogue, GQ e para o jornal Daily Telegraph.

Os que acompanham com regularidade as questões da Assembleia Legislativa (AL) já perceberam que o novo deputado nomeado, Ma Chi Seng, vai continuar a seguir a mesma bitola com a qual começou no hemiciclo e, aparentemente, pela qual foi nomeado: os jovens. É que vai ser juventude do principio ao fim. No segundo dia de apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) Ma Chi Seng perguntou se Chui Sai On vai ter políticas para os jovens. Eis que o Chefe do Executivo debitou longas opiniões sobre o assunto, e até referiu um texto que leu de um académico lá de fora que agora vive em Hong Kong. Então para a juventude de Macau o Governo pensa o seguinte: ou tiram o seu curso

e casam, ou então apostam em ser competitivos na sua carreira profissional. Quanto a mim acho de extrema importância discutir-se isto num hemiciclo: assim parece que na vida de uma pessoa só há duas linhas a seguir. Quem tiver dúvidas quanto ao futuro, e quando temos vinte anos temos muitas dúvidas, poderemos sempre consultar o Governo do sítio onde vivemos. Caro Governo da RAEM: deixe de falar para os seus cidadãos como se fossem uns idiotas. Crie boas universidades públicas, contrate os melhores docentes e, sobretudo, flexibilize os sistemas. Dê liberdade para que se crie e para que se faça. Os jovens podem casar e competir ao mesmo tempo, só precisam de isso mesmo: de flexibilidade e abertura de espírito.

Bala disparada durante um assalto travada por telemóvel• Um homem escapou ileso a um disparo, durante um assalto na Florida (EUA), graças ao seu telemóvel. O ladrão puxou do gatilho, mas acertou em cheio no aparelho, que estava no bolso da vítima. O assalto ocorreu numa bomba de gasolina de Winter Garden, no estado norte-americano da Florida, na passada segunda-feira. O ladrão pediu a um funcionário que abrisse o cofre onde era guardado o dinheiro. No entanto, apesar de tentar cumprir as ordens do assaltante, não conseguiu. Até que o larápio ordena a outro funcionário que fizesse o mesmo. Também sem sucesso. Irritado com a situação, o assaltante dispara uma bala, que poderia ter sido fatal. A sorte da vítima estava no telemóvel, que estava no bolso. A bala atingiu em cheio o aparelho, salvando a vida do funcionário. O impacto da bala, no entanto, fê-lo acreditar que tinha sido atingido. Só momentos mais tarde se apercebeu de que a bala ficou alojada no telemóvel.

Comprou secretária em segunda mão e descobriu uma fortuna• Apesar de crente, um rabino americano nem queria acre-ditar naquilo que lhe tinha calhado em sorte, ao comprar uma mesa em segunda mão. Quando Noah Muroff e a mulher chegaram a casa com a secretária usada, deram-se conta de que não cabia no escritório por uma unha negra e resolveram desmontá-la. Então, repararam num envelope por trás das gavetas. A secretária que custou menos de 150 euros escondia mais de 98 mil dólares, cerca de 72 mil euros. O casal de New Haven não ficou, todavia, com o dinheiro e devolveu-o. Noah Muroff explicou que o mais importante na vida é ser honesto, conta a WTNH.

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18 OPINIÃO hoje macau quinta-feira 14.11.2013

José António sArAivAin Sol

SE Mário Soares tivesse ven-cido as eleições presidenciais de 2006, teria sido certamente reeleito em 2011 e estaria hoje no Palácio de Belém.

Se José Sócrates tivesse con-seguido aguentar um pouco mais o pedido de Resgate, talvez ga-nhasse as legislativas (recorde-se que chegou a estar à frente nas

sondagens) e seria hoje primeiro-ministro.Se Sócrates fosse hoje primeiro-ministro

e Soares fosse Presidente da República, António Pinto Monteiro teria sido certa-mente reconduzido na Procuradoria-Geral da República.

E Noronha do Nascimento permaneceria possivelmente na presidência do Supremo Tribunal de Justiça.

Quanto ao Parlamento, teria talvez a chefiá-lo não Assunção Esteves mas Maria de Belém ou Edite Estrela.

O cargo de ministro da Presidência, com o pelouro da comunicação social, poderia ser ocupado por um homem como Daniel Proença de Carvalho.

Pedro Silva Pereira era um bom nome para ministro da Administração Interna, com a responsabilidade sobre as polícias.

E o ministro dos Negócios Estrangeiros seria, por exemplo, Augusto Santos Silva.

Na presidência do BES estaria – como está – Ricardo Salgado.

Armando Vara continuaria no BCP (que não teria sido vendido a angolanos), mas eventualmente já seria presidente do banco.

Carlos Santos Ferreira poderia ter regres-sado à Caixa Geral de Depósitos.

No BPN, que também não teria sido

Mas, dizia eu, a maioria daquelas mil pessoas que foram ao Museu da Electricidade não tinha por objectivo assistir ao lançamento de um livro – mas sim participar num acto político. Esse acto político foi o regresso de Sócrates à política

Sevendido, permaneceria Francisco Bandeira.

E na PT continuaria Henrique Grana-deiro, talvez com uma influência alargada.

Na EDP, onde os chineses não teriam entrado, continuaria igualmente António Mexia, com mais poderes.

Na RTP, Emídio Rangel (que já conhecia a casa como director de programas e de informação) poderia ser agora presidente do Conselho de Administração.

O negócio da compra da TVI pela PT teria finalmente avançado, e Rui Pedro So-ares seria uma hipótese para a presidência.

A Controlinvest continuaria nas mãos de Joaquim Oliveira, sendo as suas dívidas à banca mais uma vez esquecidas.

O Sol teria provavelmente fechado.Por que falo de todas estas hipóteses e

de todas estas pessoas?Porque, na sua grande maioria, estiveram

na apresentação do livro de Sócrates sobre a tortura.

Tema, diga-se, que é um tanto insólito escolhido por um primeiro-ministro – para não dizer deslocado.

Seria natural que Sócrates aproveitasse a sua experiência do cargo para a elaboração da tese.

É sempre uma mais-valia juntar, a uma investigação teórica, o conhecimento con-creto da realidade em análise.

Sócrates poderia fazer um trabalho, por hipótese, sobre a evolução da política euro-peia na última década, ou sobre as relações Norte-Sul, ou sobre austeridade e cresci-mento económico, ou sobre a estabilidade

política, ou sobre o mar, ou sobre as relações lusófonas, enfim, havia tantos temas sobre os quais Sócrates poderia falar com um mínimo de experiência e conhecimento directo dos problemas – e vai falar sobre um tema que não conhece directamente...

E, ainda por cima, vai meter-se com os americanos - numa altura em que Europa e América têm de juntar esforços para com-bater a crise que ameaça o Ocidente.

A escolha do assunto, insisto, é dificilmente compreensível, a menos que o tema da tortura fascine Sócrates – vá lá saber-se porquê...

Mas, dizia eu, a maioria daquelas mil pessoas que foram ao Museu da Electri-cidade não tinha por objectivo assistir ao lançamento de um livro – mas sim participar num acto político.

Esse acto político foi o regresso de Só-crates à política.

Os presentes foram dizer directamente a Sócrates: «Nós apoiamos-te!». E foram dizer-lhe indirectamente: «No essencial, apoiamos a tua acção como primeiro-minis-tro, discordamos deste Governo e não nos identificamos com a actual direcção do PS».

Não foi por acaso que António José Seguro primou pela ausência.

Ele quis demarcar-se de Sócrates; os outros, pelo contrário, quiseram mostrar que estão com este.

Nunca fui um anti-socrático.Elogiei-o mesmo, de início, porque era a

única hipótese de Portugal ter um Governo estável.

E enalteci-lhe as qualidades de liderança.Claro que, a partir do momento em que

vim a saber que se empenhava pessoalmente em tentar fechar este jornal, era-me impos-sível continuar a ter simpatia por ele.

Mas sempre separei as águas.Um dia, na RTP, em pleno ‘caso Free-

port’, Maria Flor Pedroso perguntou-me se eu achava que Sócrates devia demitir-se ou ser demitido, e eu respondi mais ou menos o seguinte: «Uma coisa é a Justiça, outra a política. Se a Justiça descobrir algo de in-criminatório, logo se verá. Mas não devem misturar-se as duas coisas…».

A maior parte das pessoas que foram ao lançamento do livro de Sócrates queriam mostrar que não o esqueceram – e tinham todo o direito de o fazer.

Mas há duas que não deviam ter ido: Noronha do Nascimento e Fernando Pinto Monteiro.

Primeiro, porque, tendo em conta a se-paração de poderes entre Justiça e política, deveriam ter evitado participar num acto de indiscutível significado político neste momento.

Depois, porque eles foram os dois gran-des responsáveis pela ilibação de Sócrates nos casos Freeport, Face Oculta e Tagus Parque.

Eram todos processos complicados, onde o nome do então primeiro-ministro aparecia envolvido – e, em todos, Sócrates passou entre os pingos da chuva, beneficiando, segundo se disse, da protecção de Noronha do Nascimento e de Pinto Monteiro.

Noronha ordenou a destruição das escu-tas telefónicas afirmando que eram inócuas e que, se as pessoas as ouvissem, até perce-beriam o ridículo de pensarem o contrário.

Mas, então, porque não deixou as pes-soas ouvi-las, afastando definitivamente as suspeitas em relação a Sócrates? É que, mandando-as destruir, fez com que essas suspeitas perdurem para sempre.

E sobra outra dúvida: se as suspeitas eram objectivamente ridículas, como entender que o juiz de Aveiro as tenha validado no processo?

Sabendo-se tudo isto, as presenças de Pinto Monteiro e Noronha até pareceram uma provocação.

Foi como se dissessem: «Andaram a in-sinuar que éramos amiguinhos do Sócrates, pois tomem lá, somos mesmo!».

Lula exprimiu o sentimento geral ao dizer a Sócrates: «Você tem de voltar a politicar».

E dada a sua enorme vaidade e megalo-mania doentia, Sócrates é capaz de querer mesmo voltar.

E, se isso acontecer, o universo de pessoas que o rodearam pode juntar-se outra vez, nos mesmos cargos ou noutros.

A bem dizer, só Mário Soares já não está em situação de voltar a Belém.

Mas se Sócrates voltasse à política, dada a sua ânsia de vingar o passado, esse regresso teria todos os ingredientes para redundar em tragédia.

AJUDAcartoonpor Stephff

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19 opinião

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau quinta-feira 14.11.2013

IQuando em finais dos anos 70 o líder do PC chinês Deng Xiaoping operou as reformas económicas que tiraram a o país do marasmo em que se encontrava, deram-se de imediato algumas transformações no tecido social. A ala dura do partido único criticou-o, dando como exemplo o aparecimento de alguns vícios do decadente sistema capitalista, como os cosméticos e os desfiles de moda. Deng respondeu aos críticos com uma citação que entrou para a galeria das mais célebres: “são moscas que entram quando se deixa janela aberta”. Em Macau assistimos também a significativas mudanças nos últimos dez anos, especialmente desde que a China im-plementou a política dos vistos individuais, que multiplicou o número de visitantes do continente. Entre os gastadores e os bem intencionados que passam para este lado pela fronteira das Portas do Cerco, que são ainda a grande maioria, felizmente, misturam-se alguns menos escrupulosos que vêm a Ma-cau facturar em vez de gastar: carteiristas, assaltantes, agiotas, traficantes, especialistas no conto do vigário, toda a espécie de escu-malha. O resultado foi o aumento da pequena criminalidade, desde roubos em plena luz do dia, furtos ao domicílio, residentes e turistas honestos enganados pelos artistas da fraude e os mestres da decepção. Se no caso dos roubos simples não nos resta senão depositar a nossa confiança nas autoridades, no que toca aos tais contos do vigário podemos fazer um pouco mais para evitar que esses espertalhões riam por último. Nem todos somos tão ingénuos ao ponto de cair em

Não vou dramatizar a questão dizendo que o Porto de Macau era o melhor restaurante português do território, mas pelo menos em termos de oferta era sem dúvida um dos mais originais, e vai deixar saudades

bairro do or ienteLEOCARDO

Unidos venceremosalguns truques, e mesmo os mais elaborados levam-nos a desconfiar que trazem água no bico. Se somos abordados pelos “artistas” e não caímos na ratoeira, tanto melhor, que bom para nós, mas temos o dever de os de-nunciar para que outros mais crédulos não sejam vítimas dos inúmeros esquemas, desde a rábula do filho sequestrado, até à do amigo detido em Zhuhai por se ter envolvido com

prostitutas, passando pelo dinheiro e outros valores a serem abençoados pelo mestre de “fong-soi” para “evitar uma grande desgra-ça”. Como bons cidadãos e cumpridores da lei, não chega virar as costas e pensar que não é nada connosco, e que o problema é dos outros.

IIFui no domingo almoçar ao restaurante Porto de Macau, na ilha da Taipa, que serviu nesse dia as suas últimas refeições. Não preciso

sequer de acrescentar “passo a publicidade” quando falo do Porto de Macau, pois não é publicidade nenhuma falar de um sítio que já não existe. O restaurante encerrou por não conseguir suportar o aumento absurdo da renda proposto pelo proprietário do espaço para a renovação do contrato. Este é um truque que vem sendo cada vez mais utilizado em Macau: querem correr com os

arrendatários, propõem-lhes um aumento da renda descabido, por vezes dez vezes superior ao actual, e eles são obrigados a sair, de braços caídos e cabeça baixa. Era mais sincero enxotá-los com uma vassoura. Não vou dramatizar a questão dizendo que o Porto de Macau era o melhor restaurante português do território, mas pelo menos em termos de oferta era sem dúvida um dos mais originais, e vai deixar saudades. Era um local agradável onde se estava bem, onde se comia melhor, e era-se recebido

sempre com simpatia. Este açambarcamento dos espaços comerciais por parte de quem tem milhões para investir está a destruir o pequeno e médio comércio, e a desca-racterizar a matriz original da cidade, a de casinha pequenina, de lar acolhedor onde o patrão está sempre à porta para nos receber. Em vez disso vamos sendo transformados num enorme “shopping”, onde loja-sim--loja-não se vende exactamente a mesma coisa. A Macau do futuro ameaça tornar-se num entreposto comercial para turista ver. É esta a tal cidade internacional e centro de entretenimento e lazer de que tanto falam?

IIIMudando de assunto ou talvez não, assisti no outro dia a um dos serviços noticiosos de Portugal que temos o privilégio de assistir através das transmissões da RTPi, onde se perguntava aos portugueses o que esperavam do Natal que agora se aproxima. Entre as lamentações da praxe e o habitual queixume de quem todos os anos diz que “este vai ser o pior Natal de sempre”, vi algo que me deixou orgulhoso. Quando perguntam aos austeros cidadãos o que mais desejam para si e para os seus nesta quadra festiva, dizem “saúde”, em vez de dinheiro, que é provavelmente o que lhes faz mais falta agora, durante este enorme aperto provocado pela crescente austeridade que sufoca o país. Podemos ser pequeninos, pobrezinhos, e já perdemos a conta das vezes em que damos tiros no próprio pé, mas ainda temos dignidade. E isso é algo que não tem preço, e não cabe em qualquer sapatinho ou meia pendurada na chaminé.

LEONARDO DA VINCI, A ÚLTIMA CEIA

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hoje macau quinta-feira 14.11.2013

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CECÍLIA L [email protected]

P OUCO mais de cin-co dias depois de a TV Cabo ter anun-ciado a transmissão

em directo dos plenários da Assembleia Legislativa (AL), é a vez da Teledifusão de Macau seguir exemplo. A TDM anunciou ontem que, a partir do dia 19 de Novembro, vai realizar a transmissão directa das reuniões do hemiciclo.

Leong Kam Chun, pre-sidente do Conselho Execu-tivo da televisão pública, revelou que esta decisão vai trazer custos de mais de 300 mil patacas só em material. A par disso, vão ser recrutados mais seis técnicos e o orçamento do salário para esses funcioná-rios vai custar mais de um milhão de patacas. Um total de 1,3 milhões de patacas que sairão dos cofres do Governo, uma vez que as despesas da cadeia televi-siva são do Executivo.

A TV Cabo já começou

TDM COMEÇA TRANSMISSÃO DIRECTA DOS PLENÁRIOS A PARTIR DE DIA 19 DE NOVEMBRO

Mais de um milhão de dinheiro público A TV Cabo deu início à transmissão em directo dos plenários da AL e, agora, a TDM vai fazer o mesmo. O presidente do Conselho de Administração assegura que não é por se sentir pressionado com a concorrência, mas apenas porque foram resolvidos problemas ao nível de recursos humanos, que se resolveram com 1,3 milhões de patacas provenientes dos cofres do Governo

a emissão em directo na semana passada e, para jus-tificar, Leong Kam Chun explicou que a TDM preci-sava de resolver problemas de recursos humanos e equipamentos e nega que a decisão esteja relacio-nada com pressões pelo facto de a TV Cabo estar a transmitir. “Estávamos a pensar como evitar destruir completamente as reuniões da AL, porque às vezes as reuniões só acabam às oito da noite e temos de emitir o telejornal às sete da noite. Era uma questão de respeito pelos deputados.”

Leong Kam Chun re-velou que já há dois anos tem tido contactos com o ex-presidente da AL para as transmissão directas, mas que Lau Chok Va disse não haver condições para que fosse feita esta trans-missão. Desde que o novo presidente tomou posse, contudo, a TDM continuou a comunicar com a AL, até obter uma resposta afirma-tiva. O problema parece ter desaparecido, já que o presi-

dente garante que a emissão em directo vai transmitida tanto em língua chinesa, como em portuguesa. Ao mesmo tempo, o site oficial da TDM também vai fazer esta emissão e a televisão ainda vai incluir os discursos dos deputados no site, a fim de facilitar a consulta dos mesmos pelos cidadãos.

Leong Kam Kun adian-tou ainda que, se fosse a AL a responsável pela transmissão directa, os en-cargos financeiros ficariam mais caros, cerca de três milhões de patacas.

Sobre a questão de di-reito autoral, Leong Kam Chun disse que a TDM não tem direito exclusivo à emissão em directo e que, por isso, se as outras televisões quiser usar o sinal da TDM, irá entrar em negociações sobre o assunto de boa-fé. “Se há mais televisões que quei-ram fazer esta transmissão directa, são bem-vindas, até as televisões de Hong Kong podem transmitir as reuni-ões da AL da RAEM.”