hoje macau 5 jun 2014 #3103

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HOJE MACAU Primeiro foi o Regime de Garantias, agora Tiananmen: nunca Macau assistiu a tanta participação popular em manifestações consecutivas. Em ano de eleições, surgirão uma terceira e uma quarta causas e correspondentes manifestações? Afinal, o que causa tudo isto? A SEGUNDA CAUSA DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 5 DE JUNHO DE 2014 ANO XIII Nº 3103 hojemacau PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB MUNDIAL 2014 RONALDO VAI JOGAR. ESPECIALISTA ASSEGURA RECUPERAÇÃO A TEMPO ÚLTIMA Erro médico Os prós e contras POLÍTICA PÁGINA 3 REOLIAN O GRANDE MISTÉRIO SOCIEDADE PÁGINA 4 TIANANMEN JUNTOU MILHARES NA PRAÇA DO SENADO PÁGINA 2 E EDITORIAL Nem Transmac nem TCM. A “nova operadora” vai ser local e para já é tudo o que se sabe

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Hoje Macau N.º3103 de 5 de Junho de 2014

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Page 1: Hoje Macau 5 JUN 2014 #3103

HOJE

MAC

AU

Primeiro foi o Regime de Garantias, agora Tiananmen: nunca Macau assistiu a tanta participação popular em manifestações consecutivas. Em ano de eleições, surgirão uma terceira e uma quarta

causas e correspondentes manifestações? Afinal, o que causa tudo isto?

A SEGUNDA CAUSA

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 5 D E J U N H O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 0 3

hojemacau

PUB

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

MUNDIAL 2014RONALDO VAI JOGAR.ESPECIALISTA ASSEGURA RECUPERAÇÃO A TEMPO

ÚLTIMA

Erro médicoOs próse contras

POLÍTICA PÁGINA 3

REOLIANO GRANDE MISTÉRIO

SOCIEDADE PÁGINA 4

TIANANMEN JUNTOU MILHARES NA PRAÇA DO SENADO

PÁGINA 2 E EDITORIAL

Nem Transmac nem TCM.A “nova operadora” vai ser locale para já é tudo o que se sabe

Page 2: Hoje Macau 5 JUN 2014 #3103

HOJE

MAC

AU

hoje macau quinta-feira 5.6.20142 TIANANMENLEONOR MACHADO [email protected]

D E orgulho e emo-ção estampadas na cara, vários ho-mens e mulheres

andavam ontem atarefados, a distribuir folhetos sobre o massacre que teve lugar na Praça Tiananmen, em Pequim, a 4 de Junho de 1989. Depois de quase duas décadas, a vigília que marca os 25 anos de um dos mais trágicos eventos da história contemporânea da China aconteceu em Macau, na praça do Leal Senado.

O HM foi até ao local. Uma hora e meia depois de ter início, às 21h30, vários presentes estimavam que eram “para lá de mil pessoas” as que se juntavam no local. Talvez fosse a emoção a falar mais alto, talvez não. Mas eram certamente centenas. Dois holofotes apontavam e iluminavam o enorme grupo de pessoas que surgiam, ora sentadas, ora de pé, a aplaudir a cada discurso de microfone em punho, a cada homenagem em prol das vítimas do massa-cre que marcou o ano de 1989.

Susana Leong nasceu e cresceu em Macau, mas passou grande parte da sua vida em França, onde aprendeu francês e inglês. “É preciso nunca esquecer o que aconteceu em Tiananmen”, disse Leong, visivelmente entusiasmada com a pos-sibilidade de, ao fim de 19 anos, ser possível recordar o evento na maior praça pública de Macau. “Como chineses, temos que falar por todos aqueles que não podem. Em Macau, em par-ticular a geração mais nova, está muito mais disposta a falar do que na China”, diz.

4 DE JUNHO VIGÍLIA ATRAI MILHARES AO LEAL SENADO

“É preciso nunca esquecer”“Penso que é um começo de um novo movimento social, principalmente em Macau. Há 10 ou 20 anos, as pessoas não mostravam as suas opiniões.ALLAN LOU

VIGÍLIA TRIBUNAL DÁ RAZÃO A ACTIVISTAS E RECUSA LIMITAÇÕES

Homenagem sem limites

Aplaudindo entre pala-vras, Leong exclama que “quem organiza este tipo de eventos são pessoas muito boas”. Considera ainda que a possibilidade da vigília acontecer no Leal Senado é, para a residente local, um bom sinal de mudança.

Questionada sobre a apa-rente falta de informação do povo chinês relativamente a Tiananmen, a cidadã tem uma opinião muito pessoal: “Acho que toda a gente na China sabe perfeitamente o que aconteceu, mas fingem desconhecer”, confessa.

Allan Lou tem apenas 21 anos e viveu toda a sua vida em Macau. O jovem, que esteve presente e atento du-rante a cerimónia, sente-se “integrado” na comunidade. “Penso que é um começo de um novo movimento social, principalmente em Macau. Há 10 ou 20 anos, as pessoas não mostravam as suas opiniões. Acho que é um evento muito importante para a sociedade chinesa e [Tiananmen] é uma tragédia que não pode ser esquecida.”

Entre papéis e papeli-nhos, por entre o incandes-cente das luzes, surgiu Bill Chou no meio do mar de

gente. O professor univer-sitário apresentou-se ao HM como voluntário, porque considera que um evento de grande envergadura como o de ontem precisa de uma organização maior.

Chou era apenas um jovem quando se deu o mas-sacre na praça de Pequim. Frequentava o primeiro ano da universidade em Hong Kong e recorda-se bem do acontecimento. Esteve ontem presente no Leal Senado por-que, de certo modo, sente que é preciso dar voz àqueles que não estar aqui presentes. “To-dos os seres humanos têm o dever moral de recordar o 4 de

Junho de 1989”, frisa Chou, enquanto os cidadãos batem palmas e cantam em uníssono, por e para Tiananmen.

Aquando do trágico acontecimento, Chou tinha a mesma idade da grande maioria dos estudantes que encabeçaram o movimento social e político na capital. Sente-se “identificado” com os jovens de Pequim. “O sentimento é o mesmo”, con-fessa. “Definitivamente, isto [centenas de pessoas no Leal Senado] mostra que alguma coisa tem que mudar na Chi-na. Os locais estão a tornar-se cada vez mais conscientes”, explica. “Antes de Tianan-men, a atmosfera política na China era mais liberal, mas depois o Governo passou a controlar a sociedade de forma mais restritiva, usando censura e formas de controlo ideológico, por exemplo”.

Ao HM, Bill Chou afir-mou que a sua presença enquanto participante e voluntário passava mais por uma “escolha racional” do que pela emoção do mo-mento. “Consigo sentir-me parte do grupo de pessoas que não querem esquecer o que aconteceu”, confessou.

JOANA [email protected]

O Tribunal de Última Instân-cia (TUI) deu razão a Jason Chao e Lee Kin Yun, dois

activistas a quem, recentemente, foi recusada a utilização do Leal Senado para a realização da vigília pelo 4 de Junho. Apesar de se ter acabado por realizar a reunião no local, o tribunal realçou que a decisão da PSP que restringia a vigília ao Largo de São Domingos, não tinha fundamentos.

Dois acórdãos ontem publica-dos pelo TUI davam conta de que as associações não só tinham direito a utilizar o espaço do Leal Senado, como não precisavam de se limitar à faixa que a PSP inicialmente lhes atribuiu, em frente à igreja de São Domingos.

“O despacho [da PSP] restringiu o pedido a uma parte deste largo, sem que tenha explicado razões que mo-tivaram tal decisão, como é devido”, começa por dizer o acórdão do TUI referente ao recurso de Jason Chao em nome da OMS.

Apesar de mencionar nas duas decisões, que a PSP não violou a lei ao restringir o espaço para a vigília, o TUI refere em ambas as decisões que não há o “mínimo fundamento” para mandar quem quer prestar homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen para outro local que não o Leal Senado.

A Associação Activismo para a Democracia, de Lee Kin Yun, referiu inclusive que nunca tinha percebido a intenção da PSP em escolher espe-cificamente apenas aquele pedaço para a vigília, algo acompanhado por Jason Chao, que considera, no entanto, que a justificação se deve ao facto do 4 de Junho ainda ser uma “questão sensível”. O tribunal concorda quando se diz que não se percebem as razões.

“Não fundamenta (...) e é certo que devia fazê-lo, porque há uma restrição ao pedido já que o promo-tor pretendia a utilização de todo o

Largo do Senado para a reunião e [a decisão da PSP] acantona o grupo numa pequena parte deste largo. E porque está em causa a utilização de poderes discricionários e é nestes actos que a fundamentação

dos actos administrativos é mais necessária”, frisa o acórdão.

Ambos os recursos tiveram, então, a concordância do TUI, que anulou a decisão da PSP. “Podem utilizar o espaço público no Lar-go do Senado, sem se limitarem à faixa fixada pelo despacho [do comandante] da PSP.”

Jason Chao saudou a decisão do tribunal, mas lamenta que não tenha “escrutinado” mais o poder discricionário da polícia. Num co-municado enviado às redacções, o presidente da OMS diz ter percebido que a decisão do tribunal indica que a PSP só precisa de fundamentar a sua decisão para recusas, para que a sua vontade siga avante. “Desde que a polícia ofereça uma justificação, o espaço de reunião pode ser restrito legalmente.”

“Como chineses, temos que falar por todos aqueles que não podem. Em Macau, em particular a geração mais nova, está muito mais disposta a falar do que na China”SUSANA LEONG

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3POLÍTICAhoje macau quinta-feira 5.6.2014

LEONOR SÁ [email protected]

P ERMANECE a falta de con-senso em relação ao Regime Jurídico de Tratamento de Litígios Decorrentes do Erro

Médico no seio da 3ª Comissão Per-manente da Assembleia Legislativa (AL), responsável pela discussão deste diploma na especialidade.

De acordo com o presidente da comissão, Cheang Chi Keong, “fo-ram apresentadas várias opiniões diferentes”, sendo que “nem todos os deputados se pronunciaram” por considerarem que ainda não tinham reunido informação suficiente para o fazerem. Em cima da mesa estiveram, mais uma vez – como nos últimos seis meses – questões relacionadas com o sistema de res-ponsabilidade civil. De acordo com Cheang, este contém “normas de alma da proposta de lei” e que são “nucleares” para a sua aprovação.

Segundo o presidente da 3ª Co-missão, que se reuniu ontem, as mais recentes consultas públicas ditaram que uma grande parte da população prefere que seja implementado o sistema extracontratual, mecanismo que é utilizado em vários países, nomeadamente na China continental.

Também este é o regime que o Governo gostaria de ver uniformi-zado, em detrimento do contratual. Recorde-se que, actualmente, o primeiro é aplicado nos sistemas de saúde privados – como o hospital Kiang Wu e clínicas – enquanto o segundo vigora nos serviços públicos, como o hospital Conde São Januário. Para o presidente da comissão, a uniformização é

A actual política sobre “os filhos maiores” implementada pelo

Governo funciona na perfei-ção. Quem o diz é Lai Ieng Kit, director dos Serviços de Identificação (DSI) que, numa resposta a uma interpelação de Ng Kuok Cheong, assegura que o esquema – que permitiu que alguns dos filhos de resi-dentes de Macau que vivem no interior da China possam fixar residência cá – “é adequada e satisfatória”.

Ng Kuok Cheong interpe-lou o Governo sobre a situa-ção, que leva alguns residentes de Macau a manifestarem-se anualmente. O problema diz respeito a idosos que querem reunir-se com os filhos, maio-

O sistema de responsabilidade civil ainda permanece a principal questão entre os deputados que analisam na especialidade a Lei do Erro Médico. Para Cheang Chi Keong, os utentes estão sempre em primeiro lugar, mas há deputados que nem se pronunciam devido às dúvidas sobre o ónus da culpa

ERRO MÉDICO FALTA DE CONSENSO ATRASA UNIFORMIZAÇÃO DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL

Entre prós e contras

DSI POLÍTICA SOBRE ‘FILHOS MAIORES’ É ADEQUADA. DEPUTADO DISCORDA

Em nome da harmonia

necessária porque “não faz sentido haver dois regimes em prática”.

A principal problemática desta questão reside no ónus da prova. Ou seja, na entidade sobre quem a culpa – em caso de acção judicial por erro médico – recai. No sistema extracontratual, é o utente quem tem de prestar as provas que corroborem a existência de erro médico e no regime em vigor no serviço público é a instituição que fica responsável por comprovar a sua inocência. Am-bos os sistemas têm prós e contras, sendo essa a principal justificação da Comissão para o atraso na resolução da proposta de lei.

CORROBORAR CULPAOU PROVAR INOCÊNCIA?Por um lado, explica Cheang Chi Keong, o regime extracontratual parece “enfraquecer” os interesses dos utentes, que necessitam de en-contrar provas por si próprios para comprovar a culpabilidade da ins-tituição de tratamento. O presidente da Comissão acredita que “não há pressa” na resolução deste assunto,

sendo necessário analisar informação referente ao sistema que vigora nou-tras regiões do mundo e realizar mais auscultações públicas para esclarecer alguns pontos desta matéria. Ainda assim, explica que, no entanto, o sistema contratual comporta um grande risco de medicina excessiva por parte dos profissionais de saúde, que marcam exames hospitalares sem que haja verdadeira necessidade para o utente, por exemplo. No fundo, acaba por provocar um agravamento dos encargos e um eventual atraso no tratamento dos doentes.

Para já, a Comissão vai precisar de “mais tempo para ponderar” os aspectos positivos e negativos de cada um dos sistemas.

Cheang Chi Keong aproveitou ontem para referir que a discussão sobre os artigos respeitantes às ques-tões da responsabilidade civil é “muito importante”, sendo essa a razão que tem atrasado as decisões. O assunto tem sido debatido no seio da 3ª comis-são desde Dezembro de 2013, após a aprovação do regime na generalidade, em Outubro do mesmo ano.

res de 18 anos, que vivem no interior da China e não podem pedir residência em Macau. Os idosos, residentes do território, pediram ao Go-verno Central que resolvesse a questão.

As autoridades chinesas chegaram a implementar uma política de reunião familiar, em 2009, onde os filhos destes idosos poderiam pedir resi-dência. Contudo, nem todos foram abrangidos.

“Alguns deles até pediram ajuda a deputados “, relem-bra Ng Kuok Cheong. “O Governo concorda que ainda existam casos por resolver? Vai apresentar opiniões ao Governo Central para resol-ver tais casos?”, questionou o deputado.

A DSI explica a Ng Kuok Cheong que a solicitação dos idosos para a reunião com os filhos não está de acordo com as regras e “se se adoptassem tratamentos específicos para cada caso iriam haver mais reivindi-cações”, o que, diz, poderia destruir a estabilidade de regimes em vigor.

Para a DSI, as normas foram claras. Primeiro, não é a RAEM quem tem competên-cia para autorizar esta fixação de residência, até porque a Lei

Básica estipula que é Pequim que tem o poder de autorizar quem seja de regiões do conti-nente a entrar em Macau e há um limite para isso. Segundo, porque quem tem direito a pe-dir residência tem de obedecer a determinados critérios.

“O Governo Central já definiu de forma clara os princípios e o âmbito de aplicação para resolver o problema dos ‘filhos maio-res’”, escreve Lai Ieng Kit. “Todos aqueles que não se tratarem de ‘filhos maiores’

abrangidos pelas directrizes [estipuladas para a reunião], devem requerer a fixação de residência em conformidade com as normas da PSP. Disto não existe qualquer dúvida.”

Ng Kuok Cheong ainda recorda que os filhos que não se encaixam nos requisitos, não respeitam as regras para a obtenção de autorização “por-que já tinham 14 anos quando os pais tiveram o BIR”.

Seja como for, o Governo da RAEM assegura que tem vindo a resolver o problema em conjunto com o Governo Central desde 2009 e a so-lução encontrada, diz Lei, é satisfatória. Até agora, 8609 pessoas foram autorizadas a reunir-se com os pais. - J.F.

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4 hoje macau quinta-feira 5.6.2014SOCIEDADEJOANA [email protected]

V AI ser uma opera-dora local a ficar com os serviços da Reolian, mas o

Governo continua a recusar responder quem é a empresa. Wong Wan, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) assegurou ontem que não é a TCM nem a Transmac quem vai ficar a cargo das rotas dos autocar-ros da operadora que faliu o ano passado - pelo menos individualmente.

Numa conferência de imprensa ontem convocada, que convidava os jornalistas a assistir a uma “apresenta-ção sobre a tomada do ser-viço de autocarros operado originalmente pela Reolian e o respectivo contrato de concessão”, foram poucos os detalhes sobre o tema do encontro.

O Governo garantiu que vai ser “uma nova operadora” a ficar com os serviços anteriormente prestados pela Reolian e que esta é “local”, mas não responde se está ligada às duas actuais companhias de autocarros de Macau – a Transmac e a TCM. Con-forme avançado pelo HM o mês passado, a Transmac assegurou estar em nego-ciações com o Governo mas, ao jornal inglês Busi-ness Daily, a TCM confir-mou o mesmo. A recusa do Executivo em dizer quem é

O Governo ainda está “em negociações” com a Trans-mac e com a TCM sobre a

mudança contratual que tem com as operadoras de autocarros. A nova empresa que ficar com os serviços da Reolian já terá de respeitar um contrato no âmbito do Regime de Concessão de Serviços Públicos, mas as duas empresas em funciona-mento vão manter-se com o actual contrato que prevê apenas a explo-ração de serviços de autocarros.

Depois de o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ter considerado não só ilegal, como a “violação à lei mais grave de sempre”, o modelo contratual dos autocarros escolhido pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), o Governo corrige o problema com a nova operadora,

mas não com a TCM e a Transmac. Pelo menos, durante algum tempo. “A curto prazo faremos o ajustamen-to do contrato, mas agora estão em vigor e não podem ser mudados”, defendeu André Cheong, director dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ).

As três operadoras de autocar-ros foram autorizadas a fornecer serviços através da celebração de contratos administrativos, sendo que a DSAT optou por um con-trato de aquisição de serviços. O CCAC considerou que estes con-tratos “violassem manifestamente o disposto na legislação” e fez com que as três operadoras esti-vessem a “explorar a actividade ilegalmente”, uma vez que nunca obtiveram a concessão desses ser-viços pelo Governo. O facto de a DSAT ter optado por um Regime de Prestação de Serviços, ao invés

do contrato de concessão, leva a que o Governo perca o poder de exercer fiscalização sobre as operadoras de autocarros. Estas, sendo prestadoras de serviço ao Executivo, “estão em pé de igualdade” com ele, o que não aconteceria se fosse o concedente.

Na altura, o CCAC sugeriu a rescisão dos contratos, mas a DSAT evocou existirem diferentes inter-pretações da lei. O organismo não quebrou os contratos com as ope-radoras, nem o vai fazer, sendo que assim que a nova operadora entrar em funcionamento vai funcionar com o contrato correcto, ao passo que a TCM e a Transmac se vão manter com o contrato considerado ilegal por mais algum tempo. “Se a mudança for muito radical vai ser muito difícil para as empresas”, defendeu Wong Wan.

Com o novo contrato, a nova

operadora deve suportar os riscos da exploração, sendo que as tarifas de bilhetes cobradas são receitas da companhia de autocarros. O Governo, contudo, vai prestar apoio financeiro à empresa, uma vez é o Governo quem decide as tarifas - nor-malmente baixas – e se vão manter os planos de benefícios de tarifas para idosos, estudantes e deficien-tes. “É impossível à companhia de autocarros manter a sua exploração apenas com as tarifas de bilhetes cobradas, pelo que o Governo irá prestar assistência financeira.”

O montante vai ser indexado directamente à quilometragem percorrida pelos autocarros e só o Governo pode aumentar ou diminuir o número de carreiras. O apoio finan-ceiro terá um limite máximo e vai ser calculado com base na diferença entre as despesas e as receitas tidas pela empresa. - J.F.

A má gestão da Reolian, que se guiava por padrões internacionais, levou o Governo a optar por uma empresa local para ficar com os serviços da Reolian. As negociações estão na fase final, mas o Executivo recusa dizer quem é a “nova operadora” – que, sabe-se, não é nem a TCM nem a Transmac. Talvez só depois de celebrado o contrato é que o público pode saber o nome da misteriosa empresa

REOLIAN “NOVA OPERADORA” É LOCAL. GOVERNO RECUSA DIZER O NOME

O autocarro misterioso

AUTOCARROS CONTRATOS COM OPERADORAS VÃO SER DIFERENTES

Governo dá uma ajuda

a futura companhia a operar no território tem levado a muita especulação, sendo que se fala agora numa eventual parceria entre as duas transportadoras. An-dré Cheong, director dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) não dá pormenores. “Nesta altura,

não vamos responder sim, nem não, ok?”, disse ontem aos jornalistas.

Para já, uma coisa é certa: a nova operadora é de Macau e é “uma das

cinco” interessadas em fi-car com os serviços. Wong Wan explicou ontem que o facto da Reolian ter optado

por normas internacionais na sua gestão dificultou em muito “a comunicação com o pessoal da linha da frente”,

pelo que, agora, a escolha tem de ser local. “Causou os problemas financeiros, de gestão... daí que salientamos que a experiência local é importante, pelo que será uma empresa local a gerir [os novos serviços].”

A Reolian, recorde-se, era fruto de uma joint-ven-ture entre a francesa Veolia e uma empresa chinesa.

SEGREDO É A ALMADO NEGÓCIODentro de “uma semana ou duas”, o Governo garante que poderá dar a conhecer quem é a sucessora da Reolian, mas André Cheong não explica se isso vai acontecer antes ou depois da celebração do contrato com a nova empresa. “Estamos na fase final, em duas semanas vamos cele-brar o contrato de concessão. Esperamos que, depois de reunir condições para celebrar o contrato possamos anunciar [quem é a nova operadora].”

O director da DSAJ salienta que, enquanto o contrato não for celebrado “tudo pode mudar” e esta é a principal justificação para que o público continue sem saber quem vai ficar a cargo dos autocarros verdes. Tudo, porque há que salvaguardar o segredo do contrato. “Não nos podemos pronunciar, se não o Governo perde uma posição vantajosa.”

EXPERIÊNCIA VALE MUITOLau Si Io, Secretário para as Obras Públicas e Trans-portes, tinha dito que ha-via apenas uma empresa interessada em ficar com o serviço da Reolian, mas ontem Wong Wan assegu-rou que cinco empresas estiveram em negociações. Um número que o director da DSAT diz ser baixo, mas que é facilmente justificável. “Tínhamos limitações e re-quisitos específicos, como a experiência no serviço de transportes públicos, a capacidade financeira e a aquisição de todos os bens e trabalhadores da Reolian”, explicou, acrescentando que, em Macau, “só cinco eram capazes disto”.

A Reolian, recorde-se, pediu falência o ano passado e, até agora, tem sido o Go-verno a gerir os serviços da empresa. A companhia que ficar com o que era da Re-olian, tem de adquirir todos os bens da empresa e manter os salários dos funcionários iguais. O Governo tem até ao final de Junho para fazer a transferência dos serviços para a nova operadora.

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TIAG

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CÂNT

ARA

5 sociedadehoje macau quinta-feira 5.6.2014

LEONOR SÁ [email protected]

A S regras para a criação e manu-tenção das salas de fumo nos casi-

nos estão já estipuladas e um novo despacho, conhecido ontem, dá a conhecer novas alíneas para a Lei de proibi-ção de fumo nos casinos, a ser aprovada no próximo dia 6 de Outubro.

JOANA [email protected]

A construção do novo edi-fício da Direcção dos Serviços para os Assuntos

Marítimos e da Água (DSAMA) terá em conta o património. Num comunicado ontem tornado públi-co, o organismo explica que oito empresas concorreram ao concurso para a empreitada de construção, ao lado do Quartel dos Mouros, e que se vai ter em conta o ambiente envolvente do local.

“Para que este edifício de expressivo valor histórico, que é o Quartel dos Mouros, possa ter as suas portas abertas ao público e para responder às prementes ne-cessidades da DSAMA em termos de espaço físico, no terreno situ-ado junto do Quartel dos Mouros e do local onde actualmente se encontram os vestígios do antigo reservatório serão construídas as

AMCM alerta para falsas informações sobre troca de notasA Autoridade Monetária de Macau (AMCM) alertou ontem que há informações falsas a circular na internet sobre a troca de notas do ano lunar do Cavalo. Num comunicado, o organismo explica que têm sido divulgadas na internet algumas notícias sobre a subscrição para esta troca de notas, mas a AMCM ainda não decidiu nada sobre o assunto, sendo que informação não partiu do organismo. “A AMCM ainda não divulgou junto do público os detalhes e procedimentos a adoptar relativamente à subscrição e à troca das notas dos anos lunares, sendo os mesmos objecto de publicação em breve”, começa por dizer. “As informações divulgadas constituem dados falsos e, com o objectivo de salvaguardar o regular funcionamento do mercado monetário, a AMCM irá responsabilizar, nos termos da lei, qualquer acto irregular que possa pôr em causa a ordem monetária da RAEM.”

CASINOS ESTIPULADAS REGRAS PARA SALAS DE FUMO. ÁREAS VIP POR DEFINIR

Artigos definidos e outros esquecidos

NOVO EDIFÍCIO DA DSAMA QUER LIGAR ARQUITECTURA COM PATRIMÓNIO

Jogar a favor da história

Sobre a mais recente obrigatoriedade dos casinos criarem salas específicas para fumadores, o subdirector dos Serviços de Saúde referiu que há certas regras a cumprir. Terão que ser totalmente seladas, devidamente assinaladas e livres de qualquer tipo de mecanismo de jogo. A qualidade do ar nestes locais vai ser monitorizada com regularidade

Sem referir números, o subdirector dos Serviços de Saúde (SS), Cheang Seng Ip, disse que “a maioria dos casinos” já entregou as plantas para as salas de fumo. Se a construção dos espaços não estiver conclu-ída até Outubro, os casinos são obrigados a impedir os visitantes de fumar em todos os seus espaços. Contudo, podem continuar as obras das salas até que estas este-

jam prontas, altura em que passarão a poder usufruir de uma proibição apenas a título parcial.

As normas de regu-lamentação para as salas VIP continuam por definir, mas a hipótese mais viável para estas zonas é a criação

de zonas para fumadores, exactamente como existe actualmente nas salas co-muns de jogo.

“O problema é que as salas VIP não são como o resto do casino, porque são considerados clubes priva-dos geridos por diferentes

entidades”, explica Cheang. Assim, parece que a aplica-bilidade da lei vai ter dife-rentes contornos nas zonas abertas ao público – salas comuns – e nas áreas VIP. Para já, apenas se sabem as regras a aplicar nas zonas públicas. O resto continua por definir.

A notícia foi ouvida ontem, durante uma con-ferencia de imprensa que serviu para explicar os principais aspectos técnicos respeitantes à construção de salas de fumo.

De acordo com o do-cumento, “as áreas para fumadores não podem ser superiores a 50% do total da área destinada ao pú-blico” e a existência de máquinas e mesas de jogo é completamente proibida no seu interior. Estes espaços deverão ainda compreender um “sistema de ventilação que evite que o fumo se propague” para as restantes áreas do casino. Além dis-so, deverão ser totalmente seladas e ter dísticos de sinalização visivelmente afixados. A qualidade do ar é, para Cheang Seng Ip, uma das maiores preocu-

pações dos SS, juntamente com a saúde e o bem estar dos trabalhadores do sector, mais do que dos jogadores. Assim, a qualidade do ar das salas de fumo será fre-quentemente monitorizado, analisando-se os níveis de vários compostos químicos, entre os quais o monóxido e dióxido de carbono.

A ideia da criação de es-paços específicos para fuma-dores no interior dos recintos comuns de jogo chegou por parte de seis concessionárias deste ramo de negócio. A proposta surgiu como alter-nativa à já ponderada lógica governamental de proibição total de fumo nos casinos a partir de 2015. A solução não agradou às operadoras de jogo, que perderiam um grande número de adeptos ao exigir que não se fumas-se no interior dos espaços, tendo enviado uma carta ao Governo de Macau no mês passado.

A proposta dos casinos foi aceite pelo Executivo, assim antecipando – e evi-tando – a revisão do Regime de Controlo e Prevenção de Tabagismo, marcada para o início do próximo ano.

novas instalações da DSAMA, me-lhorado o seu ambiente envolvente e construído ao longo da colina um trilho e elevador independente, criando-se assim um acesso mais rápido e confortável para os pontos

turísticos como a Colina da Penha”, frisa o comunicado.

A DSAMA garante que vai-se embelezar o ambiente envolvente, de forma a ligar-se o edifício a di-versos pontos turísticos do Centro

Histórico de Macau que existem nas suas imediações, como o Tem-plo de A-Má, a Casa do Mandarim, o Largo do Lilau e a Colina da Penha. A ideia, diz o organismo, “é reconstruir o antigo ambiente calmo e de lazer” do local. “Esteti-camente serão adoptadas soluções arquitectónicas que permitam conjugar harmoniosamente por um lado o espaço aberto ao público e o jardim com o Quartel dos Mou-ros, mas também por outro lado realçar a singularidade do estilo arquitectónico e do valor histórico do edifício.”

Em termos de soluções am-bientais, está prevista a instalação de um sistema de recolha da água pluvial para a rega da área verde en-volvente e será instalado no jardim placas para a recolha da energia solar para fornecer parte da energia para a iluminação nocturna.

A obra terá início no 4.º tri-mestre deste ano e deverá demorar pouco mais de dois anos a estar concluída. O preço deverá rondar os 160 mil milhões de patacas e os 230 mil milhões. O novo edi-fício poderá criar 250 postos de trabalho.

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6 sociedade hoje macau quinta-feira 5.6.2014

N G Peng In, antigo admi-nistrador do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), vai

voltar a testemunhar no âmbito do julgamento de Raymond Tam, ex--presidente do organismo. De acordo com a Rádio Macau, Ng Peng In vai voltar ao banco das testemunhas, depois de ter sido ouvido já em mais do que três sessões.

O caso, que senta Tam e outros três funcionários do IACM no banco dos réus, diz respeito ao chamado ‘Caso das Campas’, a atribuição supostamente ilegal de dez seputuras perpétuas no Cemitério de São Mi-guel Arcanjo. Os três arguidos estão acusados de prevaricação pela demo-ra na entrega ao Ministério Público (MP) de documentos relacionados com essas campas.

Segundo a rádio, Ng Peng In deverá ser ouvido já esta sexta-feira. Ung Sau Hong, que sucedeu ao anti-go administrador no cargo, também vai ser notificada para testemunhar.

Na sessão de ontem, Lídia San-tos e António Monteiro, do IACM, foram ouvidos como testemunhas, tendo analisado uma pasta de Ng Peng In. O juiz Lam Peng Fai en-tendeu haver dúvidas que precisam de ser esclarecidas.

O pedido para ouvir de novo o an-tigo administrador do IACM foi feito logo ao início da manhã pelo MP. Na altura, a assistente do processo, Paulina Alves dos Santos, levantou

A S celebrações oficiais em Macau do Dia de Portugal e do aniversário da rainha

Isabel II vão ter lugar no mesmo dia e à mesma hora, situação já lamentada pelo consulado britânico em Hong Kong.

“Nós não sabíamos que [a 10 de Junho] se comemorava o dia de Portugal e agora, com os convites impressos, não podemos alterar” explicou Louisa Ng, uma funcio-nária do consulado britânico em Hong Kong, em declarações por telefone à agência Lusa.

A coincidência das comemora-ções foi ontem um dos títulos de primeira página do diário Macau Daily Times.

No dia 10 de Junho, em Macau, as cerimónias oficiais coincidem a pouco mais de dois

quilómetros de distância já que os portugueses assinalam a data na Residência de Portugal, no antigo Hotel Bela Vista, enquanto os britânicos se juntam no Museu do Grande Prémio.

Desde 1933 que o Dia de Portugal se celebra a 10 de Junho e, em forma de comemoração, o Consulado de Portugal em Ma-cau e Hong Kong organiza um programa de actividades durante o mês, incluindo uma recepção para a comunidade. Tal como nos anos anteriores, as cerimónias do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas come-çam com o hastear da bandeira no Consulado-geral, seguindo-se a tradicional romagem à gruta de Camões, no jardim com o nome do poeta épico português

e terminarão com a recepção à comunidade agendada para o final da tarde.

À mesma hora, no Centro de Actividades Turísticas, em Macau, decorrerão as comemorações do aniversário oficial da rainha Isabel II que se festeja duas vezes por ano: a 21 de Abril, data oficial do seu nascimento, e de forma aleatória num sábado de Junho, agendado este ano, no Reino Unido, para dia 14.

Como habitualmente, o con-sulado britânico em Hong Kong efectua à margem do dia oficial do aniversário da rainha uma cerimó-nia em Macau.

Contactado o cônsul geral de Portugal em Macau, Vítor Sereno escusou-se comentar a coincidên-cia das comemorações.

Depósitos de residentes aumentam 17,3%

CASO IACM NG PENG IN VOLTA A TRIBUNAL NA SEXTA-FEIRA

A hora da verdadeMais uma sessão para o antigo administrador do IACM, ordenada pelo juiz Lam Peng Fai, depois de ouvir os testemunhos de Lídia Santos e António Monteiro sobrepasta descoberta no mês passado

10 DE JUNHO COMEMORAÇÕES COINCIDEM COM ANIVERSÁRIO DE ISABEL II

Celebração em dose dupla OS depósitos dos residentes de Macau atingiram 455,3

mil milhões de patacas em Abril, traduzindo uma subida de 17,3% face ao período homólogo do ano passado, indicam dados oficiais ontem divulgados.

De acordo com as estatísticas publicadas pela Autoridade Mo-netária de Macau (AMCM), em termos mensais, os depósitos dos residentes aumentaram 2,1%.

Em termos anuais os depó-sitos de poupança aumentaram 8,1% e os depósitos a prazo 24,4%, para um total de 118, 6 mil milhões de patacas e 289,6 mil milhões de patacas, respec-tivamente.

Os depósitos dos não-resi-dentes também cresceram face a Março (3%), destacando-se em relação ao período homólo-go (Abril) do ano passado um aumento de 43,6% para 202,5 mil milhões de patacas.

Já os depósitos do sector pú-blico, por sua vez, aumentaram 28% em termos anuais e 4% em termos mensais para 280 mil milhões de patacas, dos quais 194,2 mil milhões de patacas - ou mais 17,7% -, na AMCM e 86 mil milhões de patacas - ou mais 60% - nos bancos.

Os empréstimos internos ao sector privado subiram 34,8% face a Abril de 2013 e 2,9% em relação a Março deste ano, atingindo 292 mil milhões de patacas.

Já os empréstimos ao ex-terior totalizaram 306 mil milhões de patacas no final de Abril, reflectindo aumentos de 17,7% em termos anuais e de 3,5% face a Março, destacando-se os denominados em patacas com um aumento 138,9% comparativamente a 2013, mas menos 1,9% que no mês anterior. - Lusa

ainda a questão da veracidade dos documentos da pasta agora analisada e que foi descoberta no mês passado num armário fechado à chave, no gabinete que era de Ng Peng In e é actualmente de Ung Sau Hong. Essa pasta detém os documentos das dez campas.

ONDE PÁRA A VERDADEPaulina Alves dos Santos questiona a possibilidade de a pasta ter sido agora colocada no gabinete, tendo a assistente afirmado mesmo “não confiar nas pastas”.

Sobre a veracidade dos docu-mentos, o juiz Lam Peng Fai res-pondeu à assistente, dizendo que o tribunal vai analisar a veracidades das provas e que se alguém des-confia da prática de um crime pode fazer uma denúncia.

Segundo o canal português da rádio, a defesa opôs-se ao regresso de Ng Peng In. O advogado Álvaro Rodrigues informou o tribunal que, entende a defesa, “Ng Peng In faltou à verdade” em sessões anteriores e, se voltar a testemunhar, “não vai seguramente falar a verdade”.

A advogada de defesa Icília Berenguel acrescentou ainda que “Ng Peng In não vai trazer nada de novo” e uma nova inquirição “vem atrasar mais este julgamento”.

Mas o juiz, depois de ouvir Lídia Santos e António Monteiro, enten-deu que Ng Peng In deve voltar a testemunhar.

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7CHINAhoje macau quinta-feira 5.6.2014

Num raro editorial, o Global Times diz que o incidente não foi esquecido mas que o povo não se deixa influenciar pelos sermões ocidentais e prefere confiar no progresso do país

U M jornal de Pequim que-brou ontem o silêncio da imprensa oficial acerca do 25.º aniversário da

repressão militar do movimen-to pró-democracia da Praça Tiananmen, acusando “forças anti-China” ocidentais de utili-zarem a efeméride para tentar “desestabilizar” o país.

22 mortos em acidente numa mina de carvãoVinte e duas pessoas morreram esta terça-feira num acidente numa mina de carvão na cidade chinesa de Chongqing, no sudoeste da China, segundo fontes estatais. O acidente, que se deu na mina de carvão Yanshitai, no município de Chongqing, distrito de Wansheng, no centro da China, ocorreu por volta das 17:40 e foi identificado pelas autoridades locais como um “incidente com gás”, afirma a agência de notícias Xinhua. Os socorristas conseguiram recuperar os corpos de todos os mineiros desaparecidos, reportou a agência, citando as autoridades locais. Seis dos vinte e oito mineiros que estavam no momento do acidente a trabalhar na mina, pertencente à empresa estadual Nantong Mining Company, conseguiram escapar a tempo, segundo a Xinhua. Acidentes em minas são comuns na China, o maior consumidor mundial de carvão, onde os mineiros não seguem habitualmente as regras de segurança. No ano passado, o governo chinês registou 589 acidentes relacionados com a indústria mineira, que deixaram 1049 pessoas mortas ou desaparecidas. Mas tanto os números de acidentes como os de mortes desceram em 24% comparativamente a 2012.

Tribunal pede defesa chinesa em disputa territorial O Tribunal Permanente de Arbitragem, sediado em Haia, na Holanda, pediu que a China apresente os seus argumentos nos próximos seis meses para sustentar a defesa na disputa territorial no Mar do Sul da China. Os chineses recusaram-se a comparecer num desafio legal apresentado pelas Filipinas sobre as queixas. No ano passado, a China também se recusou a juntar-se ao processo de arbitragem iniciado pelo governo filipino. Esta quarta-feira, as Filipinas reiteraram o pedido para que a China se junte ao processo como uma solução pacífica e duradoura para resolver a longa disputa territorial. O tribunal estabeleceu o prazo de 15 de Dezembro para a China enviar os argumentos e provas contra a reclamação das Filipinas.

TIANANMEN/25 ANOS JORNAL CHINÊS ACUSA “FORÇAS ANTI-CHINA” DE TENTAREM “DESESTABILIZAR” O PAÍS

Outros ritmos, outras danças “A sociedade chinesa ainda se lembra como era pobre há 25 anos (…) o que está a acontecer na Ucrânia e na Tailândia afectou-nos mais do que os sermões e apelos do Ocidente (…) Nunca seguiremos os passos do Ocidente”GLOBAL TIMES

“A sociedade chinesa não es-queceu o incidente de há 25 anos, mas o facto de não falar sobre isso mostra a atitude da sociedade”, diz o Global Times, uma publicação em inglês do grupo Diário do Povo, órgão central do Partido Comunista Chinês (PCC).

Num raro editorial sobre os dramáticos acontecimentos de 04 de Junho de 1989, o dia em que o exército chinês esmagou um movi-mento de contestação iniciado por estudantes, o Global Times afirma que “as novas gerações têm evitado ser manipuladas por forças contrárias ao actual sistema político da China”.

“A maioria dos chineses confia no progresso da China e na vontade de mudar o país através de um processo geral de reformas. Não está interessada nos apelos revo-lucionários vindos do estrangeiro”, afirma o jornal.

“Só um pequeno número de chineses quer dançar ao ritmo do Ocidente”, acrescenta.

Centenas de pessoas morreram naquele 04 de Junho - o “Liu Si”

(“4 do 6”), como dizem os chineses - mas o número exacto de mortos continua a ser segredo de Estado.

“A China bloqueou informação relevante para impedir que isso influenciasse o bom desenvol-vimento da política de reforma económica e abertura ao exterior”, justifica o Global Times.

Segundo realça o jornal, a China, entretanto, “transformou-se na segunda economia mundial”,

logo a seguir aos Estados Unidos da América, enquanto a “União Soviética se dissolveu” e “o co-munismo caiu na Europa de leste”.

“A sociedade chinesa ainda se lembra como era pobre há 25 anos (…) o que está a acontecer na Ucrânia e na Tailândia afectou-nos mais do que os sermões e apelos do Ocidente (…) Nunca seguiremos os passos do Ocidente”, proclama o jornal.

Oficialmente, o movimento pró-democracia de 1989 é con-siderado “uma rebelião contra--revolucionária”.

As Mães de Tiananmen, grupo fundado por mulheres que perde-ram os filhos no “Liu Si” (04 de Junho), e que reclama a reavaliação do veredicto oficial sobre aquele dia, já identificaram 202 mortos.

Milhares de outros foram pre-sos ou exilaram-se.

Open Tender Notice

Request for Proposal – Design and Build of Passenger Terminal Building North Extension at Macau International Airport (RFQ-198)

1. Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)2. Tendering method: Open tendering3. Objective: To select a suitable Contractor to undertake design and

construction works (design and build) for the passenger terminal building north extension in Macau International Airport

4. Request for tender documents: Tender Notice and Tender Document can be downloaded from MIA’s website www.macau-airport.com and www.camacau.com until 7 days prior to the deadline for submission of Bidders’ tenders. Please regularly check the website for any clarification or changes/modification/amendment in the Tender Document.

5. Location and deadline for submission of Bidders’ tenders:Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, MacauBefore 12:00 pm (noon) on 30 Jul 2014 (Macau Time).The addressee of the tender shall be Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee. The tenders received after the stipulated date and time will not be accepted.

6. CAM reserves the right to reject any tender in full or in part without stating any reasons.

-END-

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8 hoje macau quinta-feira 5.6.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

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A Fundação Rui Cunha apresenta este fim--de-semana uma sé-

rie de ventos na sua galeria. Assim, na próxima sexta--feira, pelas 18:00, terá ligar mais uma das suas sessões Noite com Piano, com rea-lização da Elite- Associação para a Criatividade e Cultural Musical.

No dia seguinte, a partir das cinco da tarde, o ritmo clássico cede lugar ao Jazz com o Grupo de Jazz Mo-derno WVC Trio.

Inspirando-se nas muitas facetas da vida moderna, influenciados pelas cultu-ras da Malásia e de outros países asiáticos, a música do Grupo de Jazz Moderno WVC TRIO atravessa muitos géneros musicais e desafia qualquer tipo de classificação, informa a nota de imprensa. Liderado pelo pianista icónico

O Teatro Dom Pedro V vai acolher o concerto “Quartetos de cordas de Beethoven Série IV”, realizado

pela Orquestra de Macau (OM), na próxi-ma sexta-feira, às 20 horas. A performance encontra-se integrada no ciclo de concertos de câmara da OM e é apoiada pelo Instituto Cultural (IC).

O programa musical passa por quartetos de cordas que vão do estilo clássico ao român-tico, incluindo uma das obras mais conheci-das de Beethoven, a nº5 em Lá Maior, Op. 18. A peça, escrita quando o compositor era ainda jovem, compreende fortes influências de outros mestres da música clássica, como Haydn ou Mozart.

O concerto vai ainda compreender a inter-pretação de peças escritas por Mendelssohn e a obra incompleta de Schubert. Os bilhetes deverão custar 60 e 80 patacas. - L.S.M

ATENEU COMERCIAL DO PORTO PONDERA VENDER 1.ª EDIÇÃO DE OS LUSÍADAS

Veio a crise, vão-se os anéis

FUNDAÇÃO RUI CUNHA COM PROGRAMA VARIADO

Música em vários tons

ORQUESTRA DE MACAU BEETHOVEN NO TEATRO D. PEDRO V

Classicismo diversificado

arrastar um défice de ex-ploração considerável, de 50 mil euros por ano. Além disso, existe um passivo de 50 mil euros [pelo que] no exercício deste ano teríamos a necessidade, para terminar com uma situação financeira equilibrada, de 110 mil eu-ros”, explicou à Lusa Paulo Lopes, presidente da direcção desta instituição portuense, em funções há três meses.

Perante a “necessidade de

financiamento”, a direcção entendeu que “seria sensato levar aos associados um amplo leque de opções, para que possam ter uma palavra na medida a ser tomada”, acrescentou. Nesse sentido, e segundo avançou o jornal online Porto24, foi convocada para a noite de quinta-feira uma assembleia-geral extra-ordinária em cuja Ordem de Trabalhos consta a “aprecia-ção, discussão e votação de

Tay Cher Siang, da Malásia, esta mesma formação 3 +1 lançou já três álbuns. O grupo está em tournée desde 2006, e o concerto MJPA constituirá o encerrar da primeira viagem à China, em 2011. Desta vez Tay e a nova formação (saxofonista Julian Chan, o baixista AJ Popshuvit e o baterista KJ Wong) vêm apresentar em Macau a música do seu quarto álbum “Espe-rando por esse Dia” contando as inquietações de Tay, um pai recente, e outras histórias, acrescenta o comunicado da organização.

LITERATURA E ÓPERA Na segunda-feira, o médi-co Shee Wa e o advoga-do Frederico Rato voltam à Galeria da Fundação para falar de Literatura e Ópera.

Na sequência do ciclo “A Literatura e a Ópera”, a

Fundação vai apresentar a ópera “Eugene Onegin”, de Tchaikovsky, inspirada no romance em poesia com o mesmo nome, um clássico da literatura russa, da autoria de Alexandre Pushkin, porventu-ra o maior vulto da cultura lite-rária russa, que abre caminho a Tolstoi, Dostoievsy, Gogol, Tchecov e outros.

Eugene Onegin, que em-presta o nome às duas obras, a literária e a operática, é um jovem aristocrata filho-famí-lia de São Petersburgo, que herda uma grande fortuna, conhece Lensky, um poeta de quem se torna amigo, e a namorada deste, Olga. Tatia-na, irmã de Olga, escreve-lhe uma carta declarando o seu amor, que Onegin fria e paternalisticamente rejeita. Onegin corteja por desfastio Olga, noiva de Lensky, que enciumado o desafia para um duelo, em que Onegin o mata a tiro. Anos passados, Onegin encontra Tatiana casada com um príncipe e cai profundamente apaixonado por ela, que lhe devolve a rejeição.

É esta trama de senti-mentos e comportamentos próprios da cultura e do pen-samento russo à época que Tchaikovsky transpôs para a ópera que Frederico Rato e Shee Wa vão comentar e ilustrar no próximo dia 9 de Junho, às 18:30, na FRC.

A entrada é livre para todos os eventos.

O S sócios do Ate-neu Comercial do Porto vão de-cidir esta quinta-

-feira, em assembleia-geral extraordinária, se pedem um empréstimo sobre o edifício--sede, ou se vendem peças do seu espólio, como a primeira edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões, avaliada em 225 mil euros, para colmatar uma dívida de 110 mil euros.

“O Ateneu tem vindo a

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hoje macau quinta-feira 5.6.2014

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

ADULTÉRIO • Paulo CoelhoUma mulher, casada, mãe de dois filhos, e jornalista de carreira, começa a questionar a rotina e a previsibilidade dos seus dias. Ao olhos de todos, tem uma vida perfeita: um casamento sólido e estável, um marido dedicado, filhos alegres e felizes, um trabalho que a faz sentir-se realizada. Contudo, já não é capaz de suportar o esforço necessário para fingir que é feliz, quando a única coisa que sente pela vida é uma enorme apatia. Tudo muda quanto reencontra, acidentalmente, um antigo namorado da sua adolescência. Quando se reencontram, desperta nela uma inesperada e violenta paixão, e fará tudo o que seja preciso para conquistar esse amor impossível.

9 eventos

Estátuas de arte Khmer regressam ao Camboja 40 anos depois Três estátuas com cerca de mil anos e representativas da arte Khmer regressaram ao Camboja depois de um longo processo legal nos Estados Unidos, revelou ontem a imprensa local. As peças de arte, que representam os guerreiros “Duryodhana” e “bhima” e um ‘espectador’ chamado “Balarama”, foram roubadas nos anos de 1970 do templo Koh Ker, localizado na selva a cerca de 80 quilómetros a noroeste de Angkor Wat, o expoente máximo da arte Khmer e considerado uma das maravilhas arquitectónicas do mundo. Sok Na, vice-primeiro-ministro do Camboja recorda que após um “longo percurso” de 40 anos, as estatuas regressam a casa em liberdade. Segundo as autoridades, a estátua “Duryodhana” foi roubada em 1972 e leiloada três anos mais tarde, pela primeira vez, em Londres. Em 2011, as autoridades do Camboja pediram ajuda à UNESCO e conseguiram suspender um novo leilão em Nova Iorque, iniciando uma batalha legal que terminou agora com o regresso das peças de arte ao seu local de origem.

O artista local, Alan Wong Soi Lon vai expor a sua colecção indivi-dual de pinturas já esta sexta-

-feira, às 18 horas na Livraria Portuguesa. Soi Lon completou a sua licenciatura

em Educação Artística em 2002 e o seu mestrado de Arte Contemporânea em 2008, na Universidade Normal do Sul da China. Esta não é a primeira mostra do pintor a título singular, tendo já exposto em Portugal – na galeria Vantag da cidade do Porto e na galeria de arte do Casino Estoril –, França e Macau, nos espaços Art For All, Fundação Rui Cunha e Ar-mazém do Boi.

Além destas, também já expôs colec-tivamente, realçando-se a 2ª Colectiva de Arte Coreia•Hong Kong•Macau e a Exposição de obras de jovens membros da Sociedade de Artistas de Macau, em 2010 e 2011, respectivamente. - L.S.M

ATENEU COMERCIAL DO PORTO PONDERA VENDER 1.ª EDIÇÃO DE OS LUSÍADAS

Veio a crise, vão-se os anéis

PINTURA ALLEN WONG SOI LON NA LIVRARIA PORTUGUESA

Macau tem talento

do Ateneu, avaliadas por uma leiloeira, nomeadamente um quadro de José Malhoa de valor estimado em 75 mil euros, um contador indo-português do século XVII avaliado em 45 mil euros, um quadro de Henrique

...o Ateneu tem vindo a proceder ao “esvaziamento” do seu espólio para enfrentar dívidas, tendo já, “nos últimos quatro anos, vendido 300 mil euros em património”, o que é “complicado” uma vez que a instituição “também existe como guardião da História”PAULO LOPES Presidente da direcção do Ateneu

uma das seguintes medidas de obtenção de receita extra-ordinária”.

A direcção do Ateneu apre-senta, assim, duas hipóteses aos associados, a primeira das quais passa pela contracção de um empréstimo bancário “num valor máximo de 200 mil euros, com um período de 10 anos (...) assegurado pela constituição de hipoteca sobre o edifício social”. A segunda hipótese é a alienação de peças do espólio

Pousão estimado em 90 mil euros e a primeira edição de Os Lusíadas de 1572, estimada em 225 mil euros.

Segundo Paulo Lopes, o Ateneu tem vindo a proceder ao “esvaziamento” do seu espólio para enfrentar dívi-das, tendo já, “nos últimos quatro anos, vendido 300 mil euros em património”, o que é “complicado” uma vez que a instituição “também existe como guardião da História”.

Para contrariar a tendên-cia de venda de património, a actual direcção entendeu “dar aos associados a opção de recorrer a financiamento bancário, em vez de alienar as peças”, considerando ser “uma violência” a “venda pura e simples” dos artigos.

“A nossa previsão é a de que as peças, pelo seu carácter emblemático, não sejam alie-nadas”, afirmou o presidente, lembrando, porém, que “não deve ser a direcção a decidir”.

A decisão final caberá aos associados, que se pronuncia-rão quinta-feira em assem-bleia-geral extraordinária, agendada para as 21h no salão nobre do histórico edifício na Rua de Passos Manuel e onde também será apreciada a hipó-tese de a direcção contrair junto de associados empréstimos no valor total de 100 mil euros.

É já hoje, às 18.30 horas no Café Oriente, que o Instituto Português do

Oriente (IPOR) vai organi-zar uma conversa informal

PSIQUIATRA JOSÉ GAMEIRO CONVERSA NO IPOR

Família em discussãocom o psiquiatra português, José Gameiro. Em jeito de apresentação de “Até que a morte nos separe”, o mais recente livro do médico, o diálogo vai contar a par-ticipação da audiência e deverá focar-se em questão de sociabilidade em família.

A mais recente obra de Gameiro constituiu um conjunto de várias crónicas publicadas pelo autor no jornal Expresso em 2008, nas quais se conta a história amorosa de Manel e Maria, com todas as vantagens e dissabores pelas quais qualquer relação passa. Os críticos viram a colecção de

crónicas como uma série de importantes reflexões acerca do compromisso e da concórdia no seio familiar.

José Gameiro é douto-rado em Psicologia e Saúde Mental pela Universidade do Porto e já publicou várias ou-tras obras e textos publicados em periódicos portugueses. A grande maioria foca-se na família e nas relações entre pais e filhos e casais.

“Até que o amor nos separe” foi publicado em 2011 e estará disponível para venda durante a conversa pública. A iniciativa tem o apoio do Consulado-geral de Portugal em Macau. - L.S.M

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hoje macau quinta-feira 5.6.2014

HUAI NAN ZI 淮南子 O LIVRO DOS MESTRES DE HUAINAN

Da Paz – 93

Aqueles que vão primeiro dificilmente sabem aquilo em que se estão a meter; aqueles que vêm depois acham fácil atacá-los. Quando os que vão primeiro ascendem às alturas, os que vêm depois a eles se agarram. Quando aqueles que vão primeiro mergulham nas profundezas, aqueles que vêm depois os pisam. Quando aqueles que vão primeiro caem, aqueles que vêm depois disso fazem uso para os seus planos. Quando aqueles que vão primeiro falham nas suas realizações, aqueles que vêm depois os evitam. Deste ponto de vista, aqueles que vão primeiro são o alvo das flechas daqueles que vêm depois.

* * *

As oportunidades mudam sem cessar. Aqueles que chegam demasiado cedo já foram demasiado longe, enquanto aqueles que chegam tarde não conseguem recuperar. Tal como o sol e a lua nos seus cursos, o tempo não acompanha os homens. Como tal, os sábios não dão tanto a valor a enormes jóias como a um pouco de tempo. O tempo é difícil de encontrar e fácil de perder.

* * *

Gostos e desgostos são excessos da mente. Os desejos habituais são um fardo da natureza humana.

* * *

Tristeza, felicidade e má disposição fazem acumular a doença. Quando os gostos e desgostos são muitos, a calamidade nos acompanha.

Da Paz – 94

Quanto o antigo rei-sábio Yu visitou um país onde toda a gente andava nua, despiu-se ao nele entrar e tornou a vestir-se ao dele sair.

* * *

Os bons nadadores se afogam; os bons cavaleiros caem – ambos transformam aquilo de que gostam na sua má fortuna.

* * *

Aqueles que atingem o Tao não temem a dificuldade nem a glória do sucesso.

* * *

O “Clássico da Canções” fala de “seguir a lei de Deus sem consciência e sem conhecimento”. Ter conhecimento sem criatividade é partilhar a estrada com os ignorantes; ter capacidade sem se esforçar é partilhar o poder dos incapazes.Tal conhecimento só é apercebido em acção quando há alguém para o dar a conhecer; o que tal capacidade faz só é apercebido quando há alguém que a utilize.Em princípio, é correcto ter conhecimento e portar-se como se nenhum se tivesse, ou ter capacidade e portar-se como se nenhuma se tivesse. Desse modo, é possível que o teu sucesso venha a coroar uma época sem que isso te traga glória, e os teus feitos poderão beneficiar as gerações futuras sem que por eles sejas conhecido.

* * *

Quando há competição entre a Via e a personalidade, aquilo que faz proeminente a personalidade inibe a Via. Quando a personalidade é proeminente, a Via permanece adormecida, de tal modo que o perigo nunca está longe. Assim, quando uma sociedade se enche de grandes nomes, terá chegado o dia da decadência.

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Huai Nan Zi (淮南子), O Livro dos Mestres de Huainan foi composto por um conjunto de sábios taoistas na corte de Huainan (actual Província de Anhui), no século II a.C., no decorrer da Dinastia Han do Oeste (206 a.C. a 9 d.C.). Conhecidos como “Os Oito Imortais”, estes sábios destilaram e refinaram o corpo de ensinamentos taoistas já existente (ou seja, o Tao Te Qing e o Chuang Tzu) num só volume, sob o patrocínio e coordenação do lendário Príncipe Liu An de Huainan. A versão portuguesa que aqui se apresenta segue uma selecção de extractos fundamentais, efectuada a partir do texto canónico completo pelo Professor Thomas Cleary e por si traduzida em Taoist Classics, Volume I, Shambhala: Boston, 2003. Estes extractos encontram-se organizados em quatro grupos: “Da Sociedade e do Estado”; “Da Guerra”; “Da Paz” e “Da Sabedoria”. O texto original chinês pode ser consultado na íntegra em www.ctext.org, na secção intitulada “Miscellaneous Schools”.

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11 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 5.6.2014

Gostos e desgostos são excessos da mente.

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12 DESPORTO hoje macau quinta-feira 5.6.2014

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MARCO [email protected]

O Sporting Clube de Macau re-gressou ontem à liderança do

principal Campeonato de Futebol do território, ainda que em igualdade pontual com o onze do Sport Lis-boa e Benfica de Macau. A formação orientada por João Maria Pegado derrotou o Kei Lun por seis bolas a zero, em partida em atraso a contar para a décima terceira jornada da edição de 2014 da Liga de Elite. Frente ao lan-terna- vermelha do Campeo-nato, os leões não deixaram créditos por mãos alheias e preparam-se para discutir com o Macau e Benfica o triunfo na mais conceituada prova do desporto-rei do território. A formação orien-tada por Mandinho e João Maria Pegado precisou de 23

México quer apresentar melhor onze frente a Portugal

Messi vale quase o dobro de RonaldoO argentino Lionel Messi terá quase o dobro do valor de mercado de Cristiano Ronaldo, revelou o estudo do Observatório de Futebol, um centro de estudos do desporto. O avançado do Barcelona valerá 216 milhões de euros, enquanto o português do Real Madrid estará nos 114 milhões. O estudo revela que Ronado apenas valorizou na última temporada cerca de quatro milhões de euros, enquanto Messi perdeu 19 milhões de valor de mercado. Segundo o relatório, o fosso entre ambos verifica-se principalmente pela idade, face aos 29 anos de Cristiano Ronaldo e aos 27 de Messi. O estudo garante ainda que o Real Madrid realizou a pior contratação da época, já que comprou o galês Gareth Bale por 100 milhões de euros e hoje o avançado vale 63.

LIGA DE ELITE LEÕES GOLEARAM KEI LUN POR 6-0

Sporting apanha Benficaminutos para reclamar para si a liderança do marcador. Gaspard Laplaine foi quem inaugurou o placard, a passe de Rodrigo Veloso.

O extremo brasileiro

esteve na origem do segun-do tento dos leões aos 41 minutos. Veloso desmarcou Bruno Brito na frente de ata-que e o capitão do Sporting cumpriu com o que lhe era

exigido e duplicou a vanta-gem do conjunto leonino.

No primeiro minuto da etapa complementar, Rodri-go Veloso coroou uma noite em cheio com um tento em nome pessoal.

O quatro-zero materiali-zou-se aos 63 minutos, com o moçambicano Pascoal Ju-nior a dar a melhor conclusão a um bom ataque dos leões.

O Sporting Clube do Macau só voltou aos golos a oito minutos dos noventa, numa jogada concluída pelo macaense Francisco Cunha. Os leões encerraram a mar-cha do marcador no último minuto do tempo regulamen-tar, numa iniciativa concluída por Waldo Noronha. Na outra partida em atraso da décima terceira jornada, o Grupo Desportivo da Polícia de Segurança Pública derrotou a Selecção de Sub-23 da Asso-ciação de Futebol de Macau por cinco bolas a zero.

O seleccionador do Mé-xico Miguel Herrera

anunciou na madrugada de ontem que vai defrontar Por-tugal na próxima sexta-feira, em Boston, com o mesmo onze com que tenciona estrear-se no Campeonato do Mundo frente aos Cama-rões. Declarações realizadas depois da derrota diante da Bósnia-Herzegovina (0-1), em Chicago, em mais um ensaio para o Mundial.

«Queremos aproximar--nos da equipa que poderá começar o jogo contra os Ca-

marões para lhe dar o maior número de minutos frente a Portugal. Vamos definir nos próximos dias a equipa que vai defrontar Portugal», destacou o seleccionador mexicano logo após a derrota com a Bósnia.

Quanto a este último teste, Herrera destacou um jogo equilibrado e diz que o México até podia ter marcado primeiro. «Também tivemos uma oportunidade clara, po-díamos ter feito golo antes. Eles também tiveram oportu-nidades e aproveitaram uma

delas muito bem», destacou em alusão ao remate de Javier Hernández ao poste quando o resultado estava ainda em branco.

No segundo tempo, Herre-ra promoveu seis alterações e a selecção azteca subiu de ren-dimento. «A equipa melhorou bastante. Tirámos-lhes a bola, começámos a pressionar e a grande figura deles foi o guarda-redes [Asmir Beovic] que fez três defesas impres-sionantes. Isto demonstra que estamos no bom caminho», referiu ainda.

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hoje macau quinta-feira 5.6.2014 (F)UTILIDADES 13

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

João Corvo fonte da inveja

TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 27 MAX 33 HUM 65-95% • EURO 10.8 BAHT 0.2 YUAN 1.2

ACONTECEU HOJE 5 DE JUNHO

É apresentado o ‘Plano Marshall’, de ajuda dos EUA à Europa• A 5 de Junho de 1947, na Universidade de Harvard, George Marshall apresenta o ‘Plano Marshall’, de ajuda dos EUA aos países europeus, que renasciam das cinzas, na ressaca da II Guerra Mundial. O ‘Plano Marshall’ foi um programa de recuperação europeia, levado a cabo pelo EUA, com a finalidade de apoiar os Aliados no pós-guerra, depois da devastação na maioria dos países provocada pela II Guerra Mundial.O projecto recebeu o nome do secretário do Estado norte-americano, George Marshall, e resultou de um encontro entre EUA e representantes de Estados europeus, em Julho de 1947, um mês depois de ser apresentado em Harvard.A União Soviética e os países de leste europeu foram convidados a participar no projecto de reconstrução europeia, mas Estaline temeu o plano, considerando--o uma ameaça. Nesse sentido, impediu que todos os países sob o controlo soviético integrassem o projecto.Durante quatro anos, a partir de 1947, os EUA en-tregaram aos países europeus que se juntaram à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) cerca de 13 mil milhões de dólares (o correspondente a 140 mil milhões de dólares, à taxa de inflação actual).Portugal foi um dos países que beneficiaram deste apoio dos EUA, recebendo 70 milhões de dólares, em 1950. Depois de aplicado o ‘Plano Marshal’, os países europeus prosperaram. A produção industrial cresceu 35 por cento e a produção agrícola superou os níveis que se assinalaram antes da II Guerra Mundial.Neste dia, em 1919, dá-se a fundação do Partido dos Trabalhadores Alemães, que daria origem ao Partido Nazi. E em 1944, na II Guerra Mundial, mais de mil bombardeiros britânicos largam 5000 toneladas de bombas nas baterias costeiras alemãs na Normandia, na preparação para o ‘Dia D.

Os turistas Hong Kong já está a pensar na sua população. Está já a pensar no facto que as suas pessoas, os seus animais - os seus residentes – não têm espaço. Espaço para andar, para respirar, para caminhar para o trabalho. Sei que os turistas têm um peso importante na nossa economia e agradeço pelo facto de eles cá virem gastar o dinheirinho. Mas, uma coisa é termos turistas... outra coisa é termos enchentes de turistas todos os dias, todas as horas, sem qualquer regra.Hong Kong está a pensar implementar medidas para limitar a entrada de turistas. Em Macau, já foi dito mais que uma vez que isso não vai acontecer. Eu sou gato, mas percebo que a liberdade de escolha é algo independente e que deve ser respeitado. Percebo perfeitamente que impedirmos pessoas de entrar onde elas bem querem – neste caso, Macau – não faz parte do respeito pela liberdade. Mas, um grande sábio sempre me disse – e diz – que a nossa liberdade acaba quando começa a do outro. Neste caso, a liberdade deles acaba quando a nossa, enquanto residentes, começa. É lindo ver que Macau é tão acarinhado pelos turistas... mas eu pergunto-me: temos de ser nós, quem cá mora, a fugir cada vez que sabemos que vem aí mais uma enchente de turistas? Não conseguimos dar um passo fora da nossa porta de casa, sem esbarrarmos com turistas de chapéus de chuva mesmo quando está sol. Arriscamos todos os dias ficar cegos de um olho com a quantidade de varetas que andam aí no ar. Não conseguimos apanhar um autocarro sem darmos joelhadas nos saquinhos das bolachas e pisarmos os joelhos. Por agora, em Macau, é fácil reconhecer um residente e um turista: o primeiro anda sempre no meio da rua para chegar ao trabalho, porque o segundo – ao quadrado – ocupa todos os passeios quando pára para ver montras ou ler o mapa. E não precisamos de limitar os turistas por cá?

C I N E M ACineteatro

SALA 1MALEFICENT [B]Um filme de: Robert StrombergCom: Angelina Jolie, Sharlto Copley, Elle Fanning, Sam Riley14.30, 16.30, 21.30

MALEFICENT [3D] [B]Um filme de: Robert StrombergCom: Angelina Jolie, Sharlto Copley, Elle Fanning, Sam Riley19.30

SALA 2 X-MEN: DAYSOF FUTURE PAST [B]Um filme de: Bryan SingerCom: Patrick Stewart, Ian McKellen, Hugh Jackman, James McAvoy14.15, 16.30, 21.30

THE ETERNAL ZERO [C](FALADO EM JAPONÊS, LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Takashi YamazakiCom: Junichi Okada, Haruma Miura, Mao Inoue19.00

SALA 3EDGE OF TOMORROW [C]Um filme de: Doug LimanCom: Tom Cruise, Emily Blunt, Bill Paxton, Kick Gurry14.30, 16.30, 21.30

EDGE OF TOMORROW [3D] [C]Um filme de: Doug LimanCom: Tom Cruise, Emily Blunt, Bill Paxton, Kick Gurry19.30

MALEFICENT

Nada é o que parece. Habituem-se.

Uma história real, que traz uma visão interna do submun-do de Hong Kong. Escrita e vivida por Chris Thrall, a história narra a experiência do ex-militar da Marinha Real britânica em Hong Kong, para onde parte em busca de uma vida melhor. Em vez de encontrar riqueza, contudo, Chris entra numa viagem ao mundo de “uma das piores drogas existentes”, a metanfetamina - o ‘cristal’ como é comummente conhecido. A trabalhar como porteiro num bar em Wan Chai, o autor é rapidamente arrastado

para o seio do ramo da 14K em Hong Kong, dando por si a viver cená-rios violentos, psicoses e um vício maior do que o que normalmente se consegue suportar. “Eating Smoke” é uma história verdadeira, quase uma auto-biografia, escrita na primeira pessoa e sem rodeios, que leva a quem vive deste lado do mundo a revisitar locais tão conhecidos. - Joana Freitas

EATING SMOKE: ONE MAN’S DESCENT INTO DRUG PSYCHOSIS IN HONG KONG’S TRIAD HEARTLAND (CHRIS THRALL, 2011)

U M L I V R O H O J E

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14 OPINIÃO hoje macau quinta-feira 5.6.2014

António SArAivA

MACAU A CRESCERHá dias somos confrontados com uma no-tícia – o Serviço de Solos e Obras Públicas pensa construir habitação económica numa pequena zona junto à piscina olímpica da Taipa, numa zona actualmente ocupada por um pequeno Parque de Estacionamento e 2 campos de jogos.

Ficamos embasbacados diante de tal no-tícia. Fazer habitação económica numa zona tão acanhada (12 mil metros quadrados) e enquadrada numa zona desportiva?

Nos últimos dez anos o problema da habitação foi piorando em Macau. Durante esse período foi ocupada (ou pelo menos con-cessionada) toda a zona do Cotai a qual tem cerca de 520 hectares. A zona foi destinada a empresas de jogo, além de uma Universidade e um Hospital. E essas empresas proporcio-naram numerosos empregos a residentes e não-residentes, e fartos rendimentos para os cofres públicos.

Mas o problema da habitação foi completamente esquecido. Zero foi a área destinada a habitações. E onde iriam morar todos esses novos empregados – na casa das dezenas de milhar – dos casinos/hotéis/lojas/restaurantes ?

Assim, face ao aumento de procura num mercado com pouca oferta, os preços das habitações e dos comércios começaram a atingir valores incomportáveis para a ge-neralidade dos cidadãos - nomeadamente

Será que é a descobrir “cantinhos” que se resolve o problema da habitação em Macau? Será que esta área é dispensável?E será que habitação e equipamentos são valores opostos?

Desporto - actividade desnecessária?

para quem não teve a inteligência, ou a possibilidade, de comprar a sua habitação/comércio.

Mas há mais – se neste processo apenas fossem actores os residentes da cidade os valores da habitação não subiriam como estão subindo, pois estes não poderiam suportar tais custos. O facto é que Macau é hoje uma região da China – um país em expansão económica, onde sobra muito dinheiro, vindo parte dele ser investido(1)

na habitação em Macau.Assim estamos a assistir ao paradoxo de

termos uma sociedade cada vez mais rica – onde parte dos habitantes estão a viver pior (2).

AS CASAS ECONÓMICASDiante dessa situação o governo não se atreveu a regular o mercado. Mas, com-pelido a agir, optou pela construção de habitações sociais – o que já não fazia à dez anos. Uma medida não muito social - de facto os preços são o custo das cons-truções, ou mesmo um tanto superiores – e limitada, pois a “classe média” fica excluída do acesso a essas habitações - mas enfim, é uma medida.

Em todo o caso as escolhas dos locais para essas habitações mostram a pequenez de vistas com que o assunto é encarado. Sendo a maioria dos terrenos de Macau pertença do Governo, e podendo além disso este fazer (como fez) aterros – é necessário procurar “cantinhos” para fazer habitação social? E para conseguir esses cantinhos é necessário

destruir infra-estruturas desportivas, como foi o caso do Pavilhão Gimno-Desportivo de Mong-Ha? Ou agora – se essa infeliz ideia for avante - o estacionamento e campos de jogos na zona desportiva da Taipa?

ZONAMENTOUma teoria cara aos urbanistas nos anos 60 a 90 era a do “zonamento” – sendo difícil compatibilizar habitações com fábricas ou com zonas de divertimento nocturno a so-lução era “arrumar” ou dividir a cidade em zonas –desportiva, universitária, industrial, habitacional, de comércio e serviços...

O zonamento veio ainda preencher uma necessidade – as antigas fábricas, universida-des e hospitais, tinham uma escala reduzida para os novos tempos, e as cidades estavam demasiado comprometidas para que uma expansão desses equipamentos fosse pos-

sível. Assim foram-lhes destinadas novas áreas, descomprometidas, com bons acessos e baixos custos de terreno.

Actualmente essa teoria foi em parte abandonada - dado que, levada ao extre-mo, se traduziu em áreas monofuncionais de grandes dimensões que ficam “mortas” durante parte do dia. Mas continua a ser um elemento importante, se quisermos que a cidade tenha certa legibilidade e não se torne num caos (p. ex. uma airosa vivenda só tem sentido numa zona de vivendas; rodeada por edifícios de grande volumetria fica transformada num saguão).

Ora a zona desportiva da Taipa era (é) precisamente uma zona desse tipo. Arru-mada, com variados equipamentos, espaços com semelhante volumetria e cores; e a sua dimensão era proporcionada, não muito pe-quena nem muito grande. O “incrustar-lhe” um ou mais prédios de habitação económica será reduzi-la e desfeá-la.

AS ÁREAS DE RESERVAMas há mais.

Ensinou-me o meu antigo chefe de Repartição da Divisão de Urbanismo da Câmara de Lisboa, arqtº Nicolau Tudela, que um dos segredos do Urbanismo era dispor de algumas áreas de reserva. De facto, por muito estudiosos e aplicados que sejamos, não podemos prever tudo, e se uma nova necessidade surgir – onde a iremos localizar? Aliás esta ideia é a aplicação ao urbanismo de uma simples regra de bom-senso: devemos sempre sair de casa com alguns trocos a mais na carteira (mesmo com cartão de crédito há quem queira receber em cash). Assim a área em causa (ainda que se considerasse estar sub-ocupada, o que não é o caso), devia ser mantida livre.

Aliás a falta de equipamentos desporti-vos na cidade é evidente se repararmos no Parque Central da Taipa – este mais parece uma zona onde se “empurrou” uma série de equipamentos (campos desportivos, parques infantis, biblioteca, piscina) do que um Par-que com relvados e amplas vistas.

Assim finalizaremos com as seguintes questões: Será que é a descobrir “cantinhos” que se resolve o problema da habitação em Macau?

Será que esta área é dispensável?E será que habitação e equipamentos são

valores opostos?

(1) A estes “investidores” com mais propriedade se devia chamar “especuladores”, pois de facto, diferentemente de quem monta um negócio ou uma fábrica – para o que é preciso descobrir o “nicho do mercado”, obter terrenos, licenças e trabalhadores, instruí-los e tentar conquistar “público” - estes “investidores/especuladores” jogam numa gigantesca roleta, apostando em companhias que muitas vezes nem conhecem, conforme as “inside informations” e as “tendências dos mercados”.(2) Chegando a viver 12 pessoas em apartamentos de 2 quartos, ou mais de 20 em casas um pouco maiores.

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15 opiniãohoje macau quinta-feira 5.6.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

E STA é uma obra de fricção. Isso mesmo, “fricção”, e não “ficção”. É uma paródia a um incidente e a um acidente – mais a um acidente. Qualquer seme-lhança com factos, pessoas ou acontecimentos reais é puramen-te e descaradamente intencional.

A acção decorre num museu “da moda”, de uma cidade “da

moda” de um país “da moda”. Os personagens são A., um artista plástico que se prepara para exibir o seu mais recente trabalho numa ex-posição colectiva no tal museu, B., o curador da exposição, e C., o conservador do museu.C: - Portanto o meu amigo é um artista. Adoro arte...essa busca incessante pela imortalida-de, essa expressão que requer génio, bem como um pouco de loucura. Creio que foi Picasso que disse: “A única diferença entre mim e um louco, é que eu não sou louco”. Ah, ah, ah! Muito boa essa!A: - De facto, mas foi Dali.C: - Peço desculpa?A: - Essa frase é atribuída a Salvador Dali.C: - Não conheço, mas tenho a certeza que foi Picasso, sim, foi ele. Sabe, o avô da Paloma Picasso, o francês.A: - Eu...B: - (Interrompendo) Aham, vejo que já se conhecem, muito bem. Sr. C., este é o artista de que lhe falei.C: - Sim, sim, muito interessante. Diz que se chama A., é assim?A: - Isso mesmo.C: - Sabe uma coisa, temos um problema com o seu nome. Soa demasiado banal, importava-se de mudar para O., só para esta exposição?A: - O quê?C: - É que discutimos isto no lançamento da exposição, e pensámos que O. ficava-lhe melhor que A.. É só uma sugestão.A: - Agradeço a sugestão, mas...B: - O que o meu amigo A., ou melhor O., quer dizer é que acha a ideia sensacional, e concorda.A: - (chamando B. à parte) Estás maluco ou quê? Mudar de nome?B: - Epá não ouviste? É só para esta expo-sição, e depois pode ser que pegue, e ficas com um “alias”, ‘tás a ver.A: - Não pensei nisso, ok, vamos ver se dá certo. B: - O meu amigo A. concorda com a sua sugestão, sr. C. E agradece a atenção.C: - Muito bem. E tenho outra questão, o meu amigo é casado, ou...A: - Porquê?C: - Bem, gostava de saber se prefere a companhia das senhoras, ou...A: - Desculpe, mas o que tem a minha orientação sexual a ver com a exposição?C: - Nada, nada, é que sabe, alguns dos nossos

Censura-me, mas com jeitinho...bairro do or ienteLEOCARDO

“Vieste para a exposição ou vieste para mudar o mundo? Os gajos vão insistir, e se tu não colaboras podem encerrar a exposição e vamos todos para casa. É isso que tu queres?”

visitantes mais ilustres têm uma impressão do mundo artístico muito particular. Esperam alguma irreverência, extravagância, e falta--nos esse ingrediente, entendeu?A: - Entendi mas não percebi. Peça a outro, eu dispenso esse tipo de etiqueta.C: - Não precisava de fazer nada de espe-cial, nem nós vamos fazer qualquer tipo de publicidade, é só no caso de alguém lhe perguntar se é casado, ou se tem namorada, respondia que não. Para deixar isto aberto a interpretações, compreende?B: - (dando um toque com o cotovelo) Ouve lá, qual é o problema? Não sabia que tinhas esse pudor.

A: - (sussurrando) Estás maluco ou quê? Sou casado, lembras-te? E não entendo o que é que isto tem a ver com a exposição, com arte, ou seja com o que for.B: - Epá estes gajos dão muita importância a estas coisas da estética, pá. E além do mais ele disse que não precisas de fazer nada, portanto importas-te com uma pequena concessão, só para ver se a gente anda com isto para a frente?A: - (dirigindo-se a C.) Pronto, não se fala mais nisso. Pensem lá o que quiserem. C: - Peço desculpa se me entendeu mal, é apenas uma questão de manter as aparências. E já que falamos disso, quanto à sua obra...

A: - O que tem a minha obra?C: - Nada de mais, é soberba, mas sabe aquele detalhe no canto superior esquerdo, com um fundo a lilás? Estávamos a pensar se não seria melhor retocar numa cor me-nos...agressiva? Sugiro um verde pálido, ou mesmo um bege?A: - Bege? Mas...eu pensei que as obras tinha sido previamente revistas e aprovadas, o que é isto de bege? C: - Sei, mas repare, podem existir sempre alterações de última hora. Achamos que o tom que escolheu é um pouco agressivo, pode causar algum desconforto entre os nossos visitantes. E no fundo é apenas um

detalhe, não altera a essência da obra.A: - Estou a ver, muito bem, só que a obra é o que é, e se eu a alterar passa a ser outra coisa. E além do mais tenho a minha inte-gridade artística.C: - Compreendo...mas saiba que assim me deixa numa posição muito delicada. É que eu dei a minha palavra de honra que não ia haver qualquer problema, e que podia con-tar consigo. É uma pena que se mantenha assim, irredutível, apenas por um pequeno pormenor.A: - Eu também tenho pena, mas...B: - (puxando A. bruscamente pelo ombro) Qual é a tua, pá? Que merda é essa, “inte-

gridade artística”. É só um detalhe, ninguém vai reparar, e resolves o problema em dez minutos, para quê complicar?A: - Olha lá, que me mudem de nome ou insinuem que eu gosto de gajos é uma coisa, agora isto...quer dizer, desculpa lá.B: - Já sabias que estes gajos eram assim, queres o quê? Vieste para a exposição ou vieste para mudar o mundo? Os gajos vão insistir, e se tu não colaboras podem encer-rar a exposição e vamos todos para casa. É isso que tu queres? Então guarda as tuas “desculpas” para os outros, que aquilo a que tu chamas “integridade artística”, eles vão chamar de teimosia.A: - (engolindo em seco) Posto nesses termos...B: - (em voz alta) Ora bem, sr. C., parece que temos o nosso problema resolvido. O meu amigo A. concorda que é apenas um detalhe sem importância, e tal como eu e você só quer o melhor para a exposição e para o museu.

C: - Excelente, fico muito feliz! Posto isto encontramo-nos aqui amanhã uma hora antes da exposição para ver se está tudo conforme o combinado. Tenham um bom dia! B: - Pronto, estás a ver, A.? Já nos livrámos do gajo. Foi assim tão difícil? A: - Para a dizer a verdade, foi.B: - Deixa-te de tretas que esta fantochada deu-me fome. Anda daí, vamos almoçar.A: - Vai tu à frente, que eu fico aqui, afinal tenho trabalho para fazer.B: - Acho bem, mas o que foi, está sem apetite?A: - Também, mas é que com de tanto con-cordar, colaborar e fazer concessões, não sei se me vou conseguir sentar.

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hoje macau quinta-feira 5.6.2014

cartoonpor Stephff

A ARMA

O médico Domingos Gomes disse ontem estar convencido de que Cristiano Ro-

naldo, lesionado no joelho esquer-do, estará apto para o primeiro jogo da selecção portuguesa de futebol no Mundial2014, a 16 de Junho frente à Alemanha.

“Se não houver outros con-dicionalismos que ainda sejam desconhecidos, como por exem-plo não se tratar de uma tendi-nose simples, creio que não há nenhuma dúvida de que estará apto para jogar daqui a 12 dias”, disse o médico em declarações à agência Lusa.

Domingos Gomes considerou que o facto de o jogador - que tem uma lesão muscular da região posterior da coxa esquerda e a uma tendinose rotuliana esquerda - ter corrido no treino de terça-feira, o primeiro em que participou desde de que se juntou à selecção a 29 de Maio, “é um bom indício” de que a recuperação está a correr bem.

“O facto de ter corrido no treino e brincado lateralmente com a bola indicia que a recuperação está numa fase agradável e ainda temos mais 12 dias até ao jogo”, disse o antigo médico do FC Porto.

Domingos Gomes explicou que a tendinose “é uma alteração do tecido constituinte do tendão, que é o colagénio” e é normalmen-te classificada como uma “lesão

Hong Kong Mais de 180 mil pessoas participam em vigília Mais de 180 mil pessoas participaram ontem em Hong Kong numa vigília de homenagem às vítimas do massacre de há 25 anos na praça de Tiananmen, segundo números da organização. Milhares de pessoas permaneceram cerca de duas horas sentadas no chão com uma vela acesa na mão, numa cerimónia em que se ouviram gritos de protesto contra o Partido Comunista Chinês e outras mensagens como ‘You cannot kill us all’ (‘Não nos podem matar a todos’). A organização da vigília, que se realiza anualmente no Parque Vitória de Hong Kong, sublinhou a adesão recorde deste ano, numa data redonda, atendendo a que, além das 180 mil pessoas que se encontravam no interior do parque, havia muitas outras do lado de fora que não puderam ou não quiseram entrar. Entre os participantes da homenagem encontravam-se alguns dirigentes de partidos políticos da antiga colónia britânica de Hong Kong, assim como muitos jovens e muitos chineses do interior da China, que viajaram especificamente para a vigília, e também algumas dezenas de expatriados.

Coreia do Norte Escritório da ONU em Seul é “provocação intolerável”A Coreia do Norte classificou ontem de “provocação intolerável” que a Coreia do Sul tenha aceitado abrir no seu território um gabinete das Nações Unidas dedicado a supervisionar a as questões de Direitos Humanos no país liderado por Kim Jong-un. Ao aprovar a abertura do gabinete, a Coreia do Sul cometeu uma “provocação política intolerável” que tem como objectivo “aprofundar o confronto entre os dois países irmãos e concretizar a sua ambição de reunificação pela força”, escreve o diário Rodong Sinmun, do partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte. O jornal acrescenta que a medida “conduzirá à catástrofe as relações entre as duas Coreias e projectará uma sombra de perigo de que estale uma guerra na península coreana”. “A reacção de Pyonyang chega depois de quinta-feira o Governo da Coreia do Sul ter confirmado que um gabinete do Alto Comissário dos Direitos Humanos da ONU vai abrir escritório em Seul. No seu último relatório apresentado em Março, a ONU associou o Governo da Coreia do Norte a “crimes contra a humanidade” equiparados aos cometidos pelos nazis alemães ou pelo “apartheid” na África do Sul.

“Ele não precisade estar a trabalhar com bola, porque ele já faz da bolao que quer”

de supra-esforço que pode estar associada a micro-traumatismos”.

O médico, que já integrou a comissão anti-doping da UEFA, admitiu que na origem da lesão po-derá estar “todo o esforço a que um atleta excepcional como Ronaldo é sujeito ao longo da época”, mas acrescentou que a mesma também pode ser provocada pela mudança de pavimento, pelo equipamento ou pelos adversários.

Domingos Gomes, que elo-giou o trabalho que está a ser feito pela equipa médica, afirmou que “Ronaldo tem feito repouso activo, porque um atleta não pode parar, e ele não parou. O que aconteceu é que aquele membro não foi utilizado nas mesmas condições em que vinha sendo utilizado até então”.

O médico desvalorizou o facto de o capitão da selecção ter estado vários dias sem trabalhar com bola e referiu que neste momento os 23 convocados para o Mundial, que estagiam nos Estados Unidos, estão todos a recuperar.

“Ele não precisa de estar a trabalhar com bola, porque ele já faz da bola o que quer”, disse, acrescentando: “Eles neste mo-mento estão todos a recuperar condições, porque já vêm com a preparação de trás”.

Cristiano Ronaldo, cujo úl-timo jogo disputado foi com o Real Madrid, a final da Liga dos Campeões, a 24 de Maio, juntou--se à selecção em Óbidos, cinco dias depois.

Até terça-feira, o jogador não participou em qualquer treino, tendo realizado tratamentos, e não foi utilizado no encontro particular com a Grécia (0-0).

No boletim clínico divulgado na terça-feira, dia do primeiro treino nos Estados Unidos, a Federação Portuguesa de Futebol anunciou a lesão do jogador.

Durante o estágio nos Esta-dos Unidos, que termina a 10 de Junho, a equipa orientada por Paulo Bento vai ainda esta-giar nos Estados Unidos, onde defrontará, dia 06 Junho, o Mé-xico, em Boston, e, quatro dias depois, a República da Irlanda, em New Jersey.

Portugal, que está integra-do no grupo G, estreia-se no Mundial2014 a 16 de Junho, em Salvador, frente à Alemanha, defrontando depois os Estados Unidos (22), em Manaus, e o Gana (26), em Brasília.

MUNDIAL 2014 DOMINGOS GOMES DIZ QUE RONALDO VAI ESTAR APTO

Palavra de médico

AgostoNum curto espaço de tempo de-correram em Macau as maiores manifestações de que há memó-ria (ou assim se diz). O Regime de Garantias trazia a si atrelado um ror de insatisfações e de sentimentos de injustiça. No protesto, pensava-se na habita-ção, no trânsito, na inflação, na poluição, na governação e, em geral, na aflição que atormenta a vida de muito boa gente. As frases eram violentas e dirigi-das ao Chefe do Executivo. 25 anos depois, Tiananmen encheu a Praça do Senado como nunca antes conseguira. É certo que a data é redonda, mas 20 anos também era e nada desta dimensão se pas-sou. Não ler nesta manifesta-ção uma continuação da que a precedeu, seria tapar o sol com uma peneira demasiado gasta e em grande parte culpada pelo estado do sítio. Existe uma disponibilidade cívica e social na RAEM que não só nunca foi vista, como provoca uma sensação de ab-surdo: como pode num espaço de 500 mil pessoas, afogado em dinheiro, emergir este tipo de descontentamento? Está visto: o dinheiro não traz felicidade. Sobretudo quando a sua gestão não é convincente. Estamos em tempo de contas. Para uns ajustes, para outros mera aritmética. Passaram 15 anos e a situação parece não agradar às gentes de Macau, sobretudo aos mais jovens, cujo olhar para cima está cheio de desconfiança e desrespeito. De um ponto de vista confucio-nista, dir-se-ia que a virtude do príncipe não surge ao povo como exemplar. E, nesses períodos, como se sabe, reina a confusão, a desarmonia.A questão é saber se surgirão outras causas, até Agosto, que incitem outras manifestações. Saber se uma terceira e quarta causas trarão para a rua milha-res ou dezenas de milhares de pessoas. É preciso perceber se, para além dos jovens, existem realmente forças políticas que entendem ter já chegado o tem-po de processar uma mudança de poder na RAEM, optando talvez por uma administração mais distante dos interesses tradicionais. Agosto o dirá.Lutas de bastidores à parte, o despertar de uma alargada consciência cívica, também fruto da educação obrigatória, não pode deixar de ser saudada como algo que nos permite sonhar com uma cidade outra (sendo tanto a mesma) a haver no futuro.

edi tor ia lCARLOS MORAIS JOSÉ