hoje macau 1 jun 2012 #2622

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h TEMPO MUITO NUBLADO MIN 24 MAX 30 HUMIDADE 60-90% • CÂMBIOS EURO 9.7 BAHT 0.2 YUAN 1.2 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB PUB MOP$10 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ SEXTA-FEIRA 1 DE JUNHO DE 2012 ANO XI Nº 2622 PUB Ter para ler Günter DIRECTORA DE ASSOCIAÇÃO Abusos infantis são subavaliados no território PÁGINA 5 “NÃO SOMOS INIMIGOS” EUA procuram cooperação militar com a China PÁGINA 8 O veredicto do Tribunal de Última Instância prolongou a estadia na cadeia do ex-secretário das obras públicas em mais seis meses, a juntar aos 28 anos e meio que já estava a cumprir. Mas, ao haver prova de corrupção, este julgamento só puniu o corrompido. Ou seja, falta tratar dos corruptores. PÁGINAS 2-3 Ao Man Long culpado de nove crimes. Provada corrupção nos lotes do La Scala Quem é o próximo? ENTREVISTA A MARK MORRIS “Obra-prima” do bailado encerra Festival de Artes PÁGINAS 14-15 CONVENÇÃO MUNDIAL Guias turísticos vêm cá reunir pela primeira vez PÁGINA 7

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Edição do Hoje Macau de 1 de Junho de 2012 • Ano X • N.º 2622

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Page 1: Hoje Macau 1 JUN 2012 #2622

hTEMPO MUITO NUBLADO MIN 24 MAX 30 HUMIDADE 60-90% • CÂMBIOS EURO 9.7 BAHT 0.2 YUAN 1.2

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

PUB

MOP$10 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 1 DE JUNHO DE 2012 • ANO XI • Nº 2622

PUB

Ter para ler

• Günter

DIRECTORA DE ASSOCIAÇÃO

Abusos infantis são subavaliados no território

PÁGINA 5

“NÃO SOMOS INIMIGOS”

EUA procuram cooperação militar com a China

PÁGINA 8

O veredicto do Tribunal de Última Instância prolongou a estadia na cadeia do ex-secretário das obras públicas em mais seis meses, a juntar aos 28 anos e meio que já estava a cumprir. Mas, ao haver prova de corrupção, este julgamento só puniu o corrompido. Ou seja, falta tratar dos corruptores. PÁGINAS 2-3

Ao Man Long culpado de nove crimes.Provada corrupção nos lotes do La Scala

Quem é o próximo?

ENTREVISTA A MARK MORRIS

“Obra-prima”do bailado encerra Festival de Artes

PÁGINAS 14-15

CONVENÇÃO MUNDIAL

Guias turísticos vêm cá reunirpela primeira vez

PÁGINA 7

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O QUE DIZ O TUI SOBRE O CASO

2 política sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

Joana [email protected]

AO Man Long viu ontem ser-lhe agravada pelo Tribunal de Última Instância (TUI) a pena

de prisão que cumpre por um total de 90 crimes. O ex-secretário para as Obras Públicas e Transportes vai ficar 29 anos atrás das grades – mais meio ano do que aquilo a que foi sujeito em 2008 – e está ainda condenado a pagar 240 mil patacas. No caso de não conseguir fazê-lo –disse estar com problemas financeiros – terá de cumprir mais seis meses.

Foram nove os crimes que levaram Ao Man Long ao banco dos réus pela terceira vez. O ex--secretário manteve-se imóvel e em silêncio, como foi característico ao longo do julgamento, e ouviu da boca de Sam Hou Fai a conde-nação, com direito a repreensão moral. “O número de ilícitos de corrupção e de branqueamento de capitais revela o carácter pre-datório da conduta do arguido, verdadeiramente insaciável.”

Ao Man Long ia acusado de seis crimes de corrupção passiva e três de branqueamento de capitais. Não fosse o cúmulo jurídico que limita a privação da liberdade até 30 anos e o ex-secretário seria condenado neste terceiro processo a mais 49 anos de prisão – 417 anos atrás das grades contabilizando com as pe-nas dos dois processos anteriores.

Envolvidos neste julgamento estavam projectos de obras públi-cas. São eles a construção e con-cepção de um Edifício Industrial no

• “Sem paralelo com outros casos de governantes cor-ruptos acusados na Ásia ou noutros continentes”

• “A corrupção do arguido é tanto mais chocante por ele estar num dos mais altos

cargos públicos da RAEM e por as verbas envolvidas repre-sentarem valores elevados”

• “Os factos praticados revela-ram-se fortemente negativos para a imagem exterior da RAEM e dos seus titulares

de cargos públicos”

• “Desde data não apurada, decidiu utilizar os seus poderes de secretário para interferir nos procedimentos administrativos do concurso público para a venda dos terrenos da empresa

privada de capitais públicos do Governo, a avaliação de propos-tas e a venda dos respectivos terrenos, deixando determina-das pessoas ou empresas destas adquirir os referidos terrenos, no intuito de receber dessas pessoas interesse pecuniário

ou interesse de outra reforma como retribuição”

• “O arguido agiu de forma livre, voluntária e consciente”

• “Actuava contra os deveresinerentes ao seu cargo”

• “Sendo funcionário público, o arguido sabia bem que não devia mas ainda exigiu por sua iniciativa ou aceitou vantagem patrimonial”

• “Sabia que as aludidas condutas eram proibidas e punidas por lei”

Mais meio ano. Ao Man Long viu ontem a sua pena de 28 anos e meio de prisão ser aumentada para 29 anos. O ex-secretário foi ainda condenado pelo TUI a pagar 240 mil patacas de multa. Caso não consiga, fica mais seis meses atrás das grades

Caso Ao Man Long Ex-secretário considerado culpado de nove crimes. RAEM ganha 32 milhões de patacas

Arguido de “carácter insaciável” RU

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QUIN

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3políticasexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

A tese de que os 20 mi-lhões de patacas entre-

gues a Ao Man Long foram pagamento antecipado por trabalhos de consultadoria não convenceu o colectivo de juízes do Tribunal de Última Instância (TUI). O dinheiro que o ex--secretário terá recebido dos dois empresários de Hong Kong responsáveis pelo empreendimento La Scala, ficou provado ontem, era de subornos para a concessão dos cinco lotes de terrenos em frente ao aeroporto. “Não tem qualquer credibi-lidade a tese de que foi para pagar trabalhos. Para além da quantia coincidir até ao cêntimo com a recebida pelo arguido, a mesma foi paga em 2005.”

A empresa de Ho Meng Fai, controlada por Ao Man Long, só fez trabalhos para a Moon Ocean em 2006, se-gundo testemunhas. “Tem toda a lógica considerar pro-vado que a mesma quantia foi um pagamento a Ao.”

Parque Industrial Transfronteiriço, a concepção, construção, operação e manutenção da ETAR e da segun-da fase desta nesse mesmo parque, a concessão de cinco terrenos em frente ao Aeroporto Internacional de Macau e a concepção, constru-ção, operação e manutenção da ETAR de Coloane.

Ao Man Long foi punido com cinco anos por cada um dos três crimes de branqueamento de capi-tais. Já dois de corrupção passiva atribuíram ao arguido seis anos cada, outros três fizeram com que fosse punido com cinco anos cada e o mais grave – relacionado com a concessão dos cinco terrenos onde está projectado o La Scala – merecia a punição com sete anos de cadeia.

“AJUDA PRECIOSA”Apesar de admitir que alguns factos não foram comprovados, Sam Hou Fai considerou que a maioria das acusações foram da-das como certas e suficientes para a condenação de Ao Man Long, como se lê no acordão. “Em todos os casos o arguido determinou que os seus subordinados viciassem a escolha livre e lhe propusessem a empresa que o arguido queria que ganhasse o concurso. Foi o que aconteceu no caso do parque industrial transfronteiriço, das ETAR de Macau e Coloane e com os cinco lotes de terreno em frente ao aeroporto. Provou-se que o arguido aceitou ou solicitou vantagens patrimoniais para actos que lhe cabiam praticar enquanto secretário do Governo.”

O que não ficou provado pa-rece ter sido irrelevante para a condenação e estava relacionado com funções executivas que o ex--secretário teria, delegadas na Lei Pou Fat e nas outras cinco empresas do Governo, e com contactos que terá feito.

O presidente do colectivo de juízes do TUI afirmou que Ao recebeu dinheiro e que todo o trajecto dos montantes foi seguido até às contas bancárias. Neste caso, diz o juiz, ele ajudou mesmo de forma inconsciente. “Só faltava fazer a correspondência entre os montantes em dinheiro comprova-damente recebidos pelo arguido e as adjudicações de obras e vendas de terrenos que ele viciou e esco-lheu à revelia da lei. Nesta parte, o tribunal teve a ajuda preciosa, embora involuntária, do arguido, que nos seus cadernos de amizade registou com grande detalhe os montantes em dinheiro acordados com os mencionados empresários e sinalizado nos cadernos se já havia ou não recebido aqueles montantes.”

Os cadernos de amizade eram as agendas onde Ao costumava anotar dados sobre os seus negó-cios e que foram encontradas pelo Comissariado contra a Corrupção em 2006, numa busca à sua casa

e gabinete. À parte disso, o ex--secretário ainda actualizava periodicamente os seus registos patrimoniais.

Os 20 milhões de patacas que Ao terá recebido dos dois empresários de Hong Kong res-ponsáveis pelo empreendimento

La Scala ficaram provados como sendo subornos. (ver texto em baixo).

Sam Hou Fai não poupou nas palavras e frisou que Ao Man Long não admitiu quaisquer actos nem mostrou arrependimentos.

Termina assim a terceira e úl-

tima condenação do ex-secretário para as Obras Públicas e Trans-portes, condenado a um total de 90 crimes e 29 anos de prisão, que podem subir para 29 anos e meio. Ao terá beneficiado de 252.836.883,20 patacas por todos os crimes de corrupção. Mas Sam

Hou Fai vai mais longe. “Há outros benefícios de que não foi possível apurar a origem e que indiciam que o arguido praticou muitos mais crimes de corrupção.”

Para a RAEM, com o final deste processo, revertem 20% da Water-leou e cerca de 32 milhões de patacas.

Deputados pedem justificações, Lau Si Io diz ter de analisar decisão do TUI

Provada corrupção nos lotes do La Scala

Carta anónimaespoleta investigação O Comissariado contra a Corrupção (CCAC) emitiu ontem um comunicado onde revela que o gabinete do secretário para os transportes e obras públicas reenviou, em 2009, uma queixa apresentada por um cidadão. Pelo que se sabe agora, terá sido uma carta anónima a revelar suspeitas de corrupção na concessão dos terrenos onde se vai erguer o La Scala. “A Administração não podia suspender ou indeferir o pedido de uma concessionária simplesmente com base numa carta anónima ou rumores”, justifica o comunicado de Lau Si Io. O CCAC admite que o gabinete do secretário pediu informações posteriormente ao envio da carta. Lau Si Io assegura que não foi determinado qualquer acto de criminoso.

A Moon Ocean – re-presentada pela Jones Lang LaSalle de Joseph Lau – foi a única vence-dora do concurso privado para a aquisição dos lotes em frente ao aeroporto. O tribunal acusa Ao de ter beneficiado, com informa-ções detalhadas a empresa, o que ficou provado.

Enquanto Ao Man Long ouvia da boca de Sam Hou Fai a sentença,

o actual secretário para as obras públicas e transpor-tes comentava as acusa-ções dos deputados sobre a concessão dos terrenos.

Esta semana, a polémi-ca foi levantada pela Asso-ciação Novo Macau, que acusava Lau Si Io de ter mentido ao dizer que não sabia do caso de corrupção na concessão dos terrenos. Os democratas afirmam que o secretário garantiu

ter pedido informações sobre a investigação ao Ministério Público, mas o organismo recorreu à Rádio Macau chinesa para negar ter recebido qualquer pedido de escla-recimento.

ATAQUES E IRONIASOntem, na Assembleia Legislativa, Ng Kuok Cheong e Au Kam San voltaram a tocar no as-sunto, apoiados por José Pereira Coutinho. “O Che-fe do Executivo afirmou que se fossem provadas as suspeitas de corrupção na concessão dos terrenos, o Governo iria proceder à sua reivindicação”, su-blinha Ng Kuok Cheong. O deputado diz, contudo, que o “modelo de conces-são de terrenos actual” é igual ao da época de Ao Man Long. E atira-se a Lau Si Io. “A única diferença é que aquele foi acusado de corrupção, enquanto o actual secretário e os

restantes dirigentes ainda não foram apanhados.”

Au Kam San também se mostrou irónico, dizendo que mais nenhum titular de cargos foi acusado, excepto Ao Man Long. “Podemos dizer que a Administração da RAEM é a mais íntegra do mundo, porque ninguém foi con-taminado pelo ambiente de corrupção.” Relembra ainda que, apesar das sus-peitas, a mesma empresa envolvida na concessão dos cinco lotes obteve em Março um outro terreno.

Pereira Coutinho e os democratas questionam se Lau Si Io terá afinal pe-dido informações sobre a concessão de terrenos, mas o secretário foi de parcas palavras. “Vamos proce-der à análise aprofundada do acórdão e vamos dar acompanhamento ao caso, cumprindo a decisão do tribunal. Divulgamos mais informações em momento oportuno.” - J.F.

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4 política sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

A proposta para legislar a venda de prédios em construção passa agora à discussão na especialidade. Deputados dizem que direitos de quem compra não estão protegidos e ainda receiam construções estagnadas sem fim à vista

Andreia Sofia [email protected]

LAU Si Io, secretá-rio para os Trans-portes e Obras Públicas, admitiu

na Assembleia Legislativa (AL) que a proposta de lei sobre a promessa de transmissão de edifícios em construção é apenas “um primeiro passo”. E a verdade é que, apesar de aprovada na generalidade com 25 votos a

Joana [email protected]

KWAN Tsui Hang garante que vai votar contra a

proposta de Lei de Mediação Imobiliária. Ao jornal Ponto Final, a deputada disse que “se o Governo insistir em não rever a proposta” veta o diploma. E a ela juntam--se mais dois deputados. Ng Kuok Cheong e José Pereira Coutinho também concordam com a presidente da comissão

Doar com responsabilidadeO deputado da Assembleia Legislativa (AL) José Chui Sai Peng interpelou o Governo da RAEM no sentido de se ter mais atenção à doação de órgãos humanos. Para o deputado, Macau tem de aprender com a China continental e Hong Kong, “que já dominam essas técnicas”. É preciso “criar uma rede de colheita e transplantação de órgãos”, até porque “a doação pode salvar uma vida”. Mesmo assim, salientou que a comunidade ainda se rege segundo os conceitos tradicionais. “Não podemos destruir o nosso corpo, que nos foi concedido pelos nossos pais,” O deputado assume que é premente “melhorar o regime jurídico e as medidas necessárias à sua viabilidade”. “O Governo deve enfrentar a situação e tomar a iniciativa de estudar e analisar as dificuldades existentes”, sugere. José Chui Sai Peng acha mesmo “indispensável proceder a uma arrumação especializada de diversas normas”. “É preciso clarificar o conceito de morte cerebral (...) e a localização de pessoal médico e tecnicamente especializado.”

Regime sobre acidentes aeronáuticos em avaliaçãoJá está aprovada na generalidade a proposta de lei sobre a investigação de acidentes aeronáuticos e da protecção de informação de segurança aérea. O diploma pretende colmatar uma falha jurídica existente, indo de encontro à Convenção sobre Aviação Civil Internacional, assinada em 1944. Tal documento é aplicável na RAEM e exige que haja investigação e prevenção sobre acidentes envolvendo meios aéreos. Segundo a proposta de lei, cabe à Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) a investigação sobre os acidentes ocorridos, sendo também da sua responsabilidade a escolha dos investigadores. Foi este o ponto que mais questões levantou no hemiciclo. “Há pessoas para esta finalidade em Macau ou teremos de contratar lá fora?”, perguntou Chan Chak Mo. O responsável pela AACM, presente na AL, disse que a entidade nomeia o coordenador, mas que “não é apenas ele que trabalha, há vários membros na investigação”, e que “a lei diz que podem ser contratados peritos do estrangeiro para prestar apoio”. Pereira Coutinho não esqueceu os casos ocorridos com a Air Macau e questionou o Governo se, com base na proposta, pretende “dar mais segurança ao espaço aéreo”, através do “alargamento e competitividade das empresas, para que as pessoas tenham mais escolha”. Mas do lado do Executivo não houve resposta. – A.S.S.

Regime sobre edifícios em construção aprovado na generalidade

Direitos dos proprietários em dúvida

Deputados afirmam votar contra proposta de lei de mediação imobiliária

Governo revê ou leva veto

favor e uma abstenção de Pe-reira Coutinho, houve mais dúvidas do que certezas.

A possibilidade do mer-cado continuar a assistir a uma dupla venda da mesma casa é uma das dúvidas, assim como, aos olhos dos deputados, os direitos dos pequenos proprietários não estarem devidamente pro-tegidos. Receia-se ainda o risco da construção das casas ficar estagnada depois de concluídas as obras de fundação.

“Este diploma não tem condições para resolver a questão dos prédios ina-cabados”, disse Leonel Alves. “Que garantias tem o comprador de receber o dobro do sinal que já pagou, em caso de incumprimento do contrato? A questão da venda dos bens futuros não se esgota num só diploma.”

Pereira Coutinho quis saber se o Conselho dos Consumidores já tinha sido ouvido antes da proposta ser elaborada. O Governo confirmou. Ainda assim, o deputado considera que quem compra continua sem ser favorecido. “Esta pro-posta não protege os direitos

dos consumidores, não faz sentido existir.”

Na prática, qualquer acto de compra de uma casa tem de ter autorização prévia por parte da Direcção dos Servi-ços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Só pode ser emitida mediante apresentação da licença da obra e do título de edifício em regime de propriedade horizontal. As obras de fundação do edifício terão de estar concluídas. Depois, o contrato terá de passar por advogado, notário e Registo Predial.

CONSTRUÇÃO ETERNAJaime Carrion, director da DSSOPT, explicou que aná-lise e aprovação das licenças para os projectos são feitas por partes. “Enquanto a res-tante parte do projecto está por aprovar, o empresário pode ir construindo as fun-dações do edifício.”

Tal desagrada aos de-putados. “Mesmo com as fundações feitas, as obras podem parar por aí”, disse Au Kam San. “Como se pode salvaguardar os direitos dos proprietários que estão a pagar por um bem de futuro?

Há um favoritismo, estão a proteger os interesses dos empresários.” Ho Ion Sang acrescentou outra crítica. “Tenho dúvidas se depois das obras de fundação feitas a obra fique parada.”

Fong Chi Cheong tam-bém falou neste ponto. “É muito fácil ter a fundação feita numa casa. Qual é o problema em aprovar um projecto de arquitectura? O problema reside nos promo-tores e agentes imobiliários.

Se se verificarem casas que não correspondem ao mo-delo, isso tem a ver com as agências. As fracções não têm um preço fixo. Por que é que o Governo não está a fiscalizar mais a situação?”

PESO DA BUROCRACIAO facto do projecto de lei não mostrar prazos para a DSSOPT também mereceu críticas. “Não vejo qual é o prazo para a autorização prévia estar pronta”, afir-

mou Ung Choi Kun. “Para aprovar não há prazos, qual é o critério?” Jaime Carrion garantiu que tudo será feito o mais rapidamente possí-vel. “Não vai levar quatro ou cinco meses a conceder uma autorização prévia. Não vai agravar a apreciação dos projectos, tudo levará o seu timing.”

O hemiciclo mostrou--se ainda preocupado com o peso burocrático que a questão representa. “Tenho dúvidas sobre a operacio-nalidade da proposta, que envolve tantas entidades”, disse Ung Choi Kun. Tam-bém Lam Veng Seng referiu que “não existe um prazo fixado para essas forma-lidades e sabemos que os serviços públicos têm um grande volume de trabalho”.

Carrion não só garantiu que tudo será cumprido como será feita criada uma entidade para estabelecer as ligações devidas. “Compete à DSSOPT a manutenção dos processos, mas será criada uma plataforma de in-terligação entre os diversos serviços, isso é necessário.”

Lau Si Io garantiu que no futuro haverá espaço para a inclusão de mais normas in-ternas e que “o trabalho não fica por aqui”. Mas Ung Choi Kun foi peremptório ao dizer que há muitas questões no ar. “Se tudo tiver de ser alterado na especialidade é ridículo e vai ser uma anedota.”

encarregue de analisar a pro-posta na especialidade.

Esta semana, um braço de ferro de quase três horas entre deputados e Governo não foi suficiente para demover Lau Si Io e a assessoria da Adminis-tração. Decidiram que da Lei de Mediação Imobiliária (a ser analisada há um ano) não vão constar as sanções para quem cometer infracções administra-tivas. Kwan Tsui Hang diz que esta ausência de sanções vai contra a lei. “Isto viola o regime jurídico de enquadramento das fontes normativas internas e a AL não deve aprovar uma lei que viole outra lei”.

Para o Governo, isso não acontece e insiste em manter o que agora apresentou: a de-finição das punições fica para regulamento administrativo.

Kwan diz que a decisão não afecta directamente os direitos dos compradores, mas ainda assim mostra-se preocupada, até porque os regulamentos administra-tivos só precisam do aval do Chefe do Executivo. “É uma questão de princípio. As sanções ficarão reguladas em regulamentos, mas se houver alterações aos valores, não precisam de passar pela AL e os deputados não participam. Além de que não permite dar uma ideia [aos intervenien-tes] das sanções em caso de infracção.”

Segundo o Ponto Final, estes três deputados concor-dam em votar contra a lei, mas há nomeados que parece não terem ainda decidido. A lei sobe este mês a plenário.

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5sociedadesexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

Cecília [email protected]

HOJE é o Dia da Criança. Comparando com os territórios vizinhos, o trabalho de protecção

do direito das crianças na RAEM está ainda muito atrasado, sem lei de protecção das crianças ou mecanismos padronizados de coordenação entre sectores. Tudo junto, é muito difícil zelar pela protecção integral dos direitos e bem-estar das crianças. Um qua-dro desanimador, lembrado pela directora do Centro da Protecção das Crianças da Associação Contra o Abuso Infantil, Choi Kio Kei.

Porém, ela não se fica por apontar o dedo ao que está errado. Propõe soluções para o Governo executar, como estabelecer um banco de dados do abuso infantil e criar a lei adequada de protecção das crianças, assim como estabe-lecer directrizes e procedimentos padronizados para os casos.

De acordo com Choi Kio Kei, a

“NÃO importa o quanto demorou, nunca nos

arrependamos de ter adoptado a Brielle.” O casal Lei, que já tinha uma criança, adoptou a sua filha mais nova após dois anos de espera. Brielle é uma vítima do sismo de Sichuan e foi viver com os novos pais, em Macau, quando tinha dois e meio. Am-bos salientam a importância de acelerar os processos de adop-ção. “É melhorar simplificar o procedimento administrativo e encurtar o período de espera”, diz a mãe. “Uma criança de dois anos já tem capacidade cognitiva, a Brielle perguntou-me uma vez por que não a tínhamos levado mais cedo.”

A Associação Berço da Espe-rança foi oficialmente formada em 2000, com o propósito de gerir dois lares residenciais. É uma organização privada, sem fins lucrativos, registada em Macau. O casal Jorge e Marjory Vendra-mini, naturais do território, estão à frente da instituição. Ajudar os mais novos é algo que fazem há bastante tempo.

Marjory já tinha trabalhado com crianças de rua no Brasil. No ano de 1993, depois de con-sultarem o Governo de Macau, ela e o marido mudaram-se para cá. Tinham sabido do caso de um bebé abandonado, o que os fez dar esse passo. Criaram a Associação Berço da Esperança com o suporte do Departamento de Assistência Social de Macau em 1994, onde então só recebiam bebés abandonados até três anos.

Em 1998 avançaram com a residência “Fonte da Esperança”, apoiados pela Fundação Oriente, preparada para receber crianças e jovens em risco dos seis aos 18 anos. A outra residência recebe agora todas as crianças com menos de seis anos, cuidando ac-tualmente de cerca de 80 miúdos.

ACÇÃO NO TERRENOSharon é uma das assistentes sociais que trabalha na Associa-ção Berço da Esperança. O Hoje

Macau pergunta-lhe primeiro sobre as razões que levam as crianças à instituição. Doença, prisão e divórcio são algumas, violência doméstica, abuso e abandono são outras. A sepa-ração dos pais é uma realidade devastadora, seja qual for a idade das crianças. “Quando chegam cá, estão acossadas pela insegu-rança e a falta de explicação para o que lhes aconteceu. A maioria dos bebés não vai comer nem dormir, o que ainda por cima lhes piora a saúde. Os mais cres-cidos vão roubar e envolver-se em brigas, outros aparecerem automutilados. Por isso, arran-jamos ocupações diferentes para cada caso, procurando que a sua adaptação à vida seja o melhor sucedida possível.”

O lado emocional de quem faz este trabalho é posto à prova todos os dias, mas não deve haver confusões. “Nunca podemos ficar os pais deles, porque não somos. Embora os ensine a tocar piano, a apren-der as línguas estrangeiras, a resolver os problemas do dia-a--dia, o crescimento das crianças precisa da participação dos pais, especialmente o amor único que lhe podem dar. Por isso é funda-mental que sejam adoptados, os cuidados paternais são insubsti-tuíveis. Uma criança disse-me uma vez que não se importava de ser espancada pelos pais se pudesse viver com eles.”

QUANDO A IDADE AVANÇA“Quando têm mais de cinco anos, começa a ser difícil que as crian-ças sejam adoptadas”, explica Sharon. “Proponho ao Governo que simplifique o procedimento, encurtando o período de espera. Normalmente o melhor período para os pais criarem relação com as crianças é até aos três ano. Ora como o período médio em Macau para adoptar é de dois anos, esse objectivo complica-se. Conheço o caso de um processo que está em análise há mais de quatro anos.” – C.L.

Directora de associação afirmaque abusos infantis são subavaliados

“Há mais casos na sociedade”

Lentidão dos processosé o maior entrave ao seu êxito

As complicadas adopções de Macau

RAEM carece de dados acerca ca-sos do abuso infantil “Normalmen-te os dados oficiais só aparecem quando relacionados com casos muito graves. Acredito que há mais casos furtivos na sociedade.”

VAZIO LEGALA directora avança depois com outro ponto fulcral. “Desde a cria-ção da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, os nosso vizinhos, como Hong Kong e Taiwan, já têm lei para a protecção

de crianças, mas a RAEM não. Espero que o Governo faça a lei com todos os detalhes e alvos, para proteger crianças e adolescentes. Com a falta da lei, os educadores de infância e os assistentes sociais não conseguem intervir e proteger as crianças abusadas de reincidências dos agressores.”

A prevenção é outro aspecto que Choi Kio Kei quer ver melho-rado. “O Governo tem que dedicar mais recursos para chamar a aten-ção da sociedade ao problema.”

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7sociedadesexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

Rita Marques [email protected]

À quarta foi de vez. De-pois de a Associação de Guias Turísticos de Macau (AGTM) estar

presente em quatro convenções, finalmente conseguiu, há dois anos na Ucrânia, garantir a organização da Convenção Mundial de Guias Turísticos.

O evento está já marcado para dia 13 de Janeiro de 2013 e vai contar com delegações de guias e representantes do turismo de 36 países.

A convenção de cinco dias pretende debater os problemas com que os guias turísticos são confrontados diariamente em diferentes pontos do globo, além de dar a conhecer o trabalho das diferentes associações presentes, expondo em particular o funcio-namento da AGTM. E, como a reunião tem lugar no território,

O Produto Interno Bruto (PIB) da RAEM não

pára de registar valores positivos. Prova disso é o aumento de 18,4% nos pri-meiros três meses do ano, por comparação com igual período de 2011.

Segundo dados avan-çados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o aumento explica-se pela exportação de serviços ligados ao jogo, que registaram um crescimento de 19,6%. Já o investimento global tam-bém cresceu 43,8%. Nos primeiros três meses deste ano o deflactor implícito do PIB, que mede a inflação em termos globais, subiu 7,7%.

Os números da DSEC mostram que o mercado de trabalho do território continua de boa saúde, com o crescimento de 5,4% nas despesas de consumo pri-vado, algo que deriva do aumento do emprego e do rendimento do trabalho. O consumo final por parte das famílias, no que ao mercado

Menos canaisde televisãoA partir de agora, 70% dos assinantes de TV na RAEM irão deixar de receber cerca de uma dúzia dos canais de TV por cabo, que têm código de bloqueio, a fim de satisfazer a alteração ao regime do direito de autor e direitos conexos que entra em vigor hoje. O canal de desporto do Continente é um dos que vai desaparecer, para pena dos fãs de futebol, porque normalmente é mais popular do que o canal desportivo local. - C.L.

Números da economia da RAEM imparáveis

Crescer, crescer, crescer

São cerca de 36 os países que se vão fazer representar, através de profissionais do turismo, em Janeiro do próximo ano. Será a primeira convenção organizada pela Associação de Guias Turísticos de Macau

Macau organiza pela primeira vez a Convenção Mundial de Guias Turísticos

Turismo e lazer em apresentação global

O papel da associaçãoHoje a AGTM conta com um número inferior a 400 membros, de entre os cerca de 650 guias turísticos que operam no território. Recebe 100 mil patacas do Governo anualmente, que dão para cobrir a renda do escritório da AGTM - atrás do hotel Rio -, os custos das reuniões e conferências dos guias e os salários de quem está no escritório diariamente. “É um valor irrisório e inexplicável” analisa o ex-vice-presidente, Mário Rocha. “Não dá nem para dar de comer a pobres. Não estou aqui para atirar culpas ao Governo mas as coisas são como são”. Os membros pagam 100 patacas de inscrição. A associação é única entidade que lhes permite discutir os seus problemas com o Governo. Ou seja, defender os seus direitos, já que funciona como ponte de ligação entre o profissional e a Direcção de Serviços de Turismo.

apresentar os pontos de maior interesse da cidade.

“Macau vai aprender com os representantes dos outros países as informações mais recentes no mundo do turismo”, conta a pre-sidente da AGTM, Angelina Wu. “Esperamos que se possa destacar como nova plataforma de turismo no Mundo e na China Continental. Para isso, vamos apresentar Macau como cidade de turismo e lazer.”

No ano passado, Angelina Wu conseguiu mostrar uma associação suficientemente sólida ao ponto de ter sido eleita para organizadora do evento seguinte, o que a deixou naturalmente orgulhosa. Quando se realizar, em Janeiro, irão decorrer visitas turísticas por diferentes pontos de Macau, antes e depois das reuniões nos dias de convenção, pelo que as delegações dos diferentes países ficarão no território por 10 dias.

A primeira vez que a AGTM (e, por consequência, Macau) participou nas Convenções Mun-diais de Guias Turísticos, que têm lugar de dois em dois anos, foi em 2005, no Cairo, três anos após a sua fundação. Na altura, estiveram também no Egipto representantes da Direcção de Turismo de Macau.

local diz respeito, aumento 5,8%, enquanto lá fora au-mentou 8,7%. O consumo final do Governo também aumentou 11,6% até Março.

Quanto ao comércio de bens, as exportações au-mentaram 23,8%, enquanto as importações subiram 27,3%.

INVESTIMENTO PÚBLICOQuanto à formação brutal de capital fixo, que mostra

o investimento feito, aumen-tou 43,8% por comparação a 2011. Entre Outubro, Novembro e Dezembro de 2011, o crescimento deste factor tinha sido de 15,8%.

O aumento dos projec-tos na área da construção e equipamento originou uma subida dos investimentos no sector privado de 21,2%.

Na área dos investi-mentos públicos deu-se um aumento acentuado de

450%, sendo que o capital aplicado em construção cresceu 524%. A construção do novo campus da Univer-sidade de Macau (UMAC) na Ilha da Montanha e a construção de habitações públicas foram os projectos que mais contribuíram para estes números.

TROCAS MAIS RECENTESNo mês de Abril, Macau exportou 643 milhões de

patacas, o que equivale a uma subida de 12,6% face a igual mês de 2011. Os flu-xos de reexportação subi-ram 15,2%, enquanto a ex-portação domestica cresceu 7,1%. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que as importações tam-bém aumentaram 20,5%, tendo-se situado em 5,78 mil milhões de patacas, comparando com igual mês do ano passado. O défice da balança comercial alcançou 5,14 mil milhões de pata-cas. Nos primeiros quatro meses do ano, as exporta-ções situaram-se nas 2,62 mil milhões de patacas, um aumento de 19,6% face ao mesmo período de 2011. A venda de mercadorias para continente e Hong Kong aumentou 25,5% e 34,6%, respectivamente.

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8 nacional sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

AS armas nucleares da China não colo-cam uma “ameaça directa” aos Estados

Unidos, afirmou ontem o chefe do Comando Estratégico (STRA-TCOM) norte-americano, que controla o arsenal nuclear do país, general Robert Kehler, noticia a AFP.

Este dirigente militar, que pronunciou um discurso no Conselho de Relações Exterio-res, apelou ao diálogo com os responsáveis de Pequim “Gos-taria que houvesse contactos e conversações de rotina com os militares chineses.”

Demitido responsável da província onde esteve detido Chen GuangchengO responsável pela justiça e pela polícia da província chinesa de Shandong, onde foi mantido em prisão domiciliária o activista cego Chen Guangcheng, foi demitido, anunciaram quarta-feira a imprensa oficial. Bai Jimin foi afastado na terça-feira do comité local do Partido Comunista Chinês (PCC) da província de Shandong, de acordo com a agência oficial China News Service. A demissão do responsável surge após Chen ter estado na origem de um contencioso diplomático entre Pequim e Washington. Chen conseguiu refugiar-se na embaixada norte-americana em finais de Abril após escapar da prisão domiciliária na localidade de Dongshigu, onde estava sob vigilância desde 2010, quando foi libertado da prisão. As autoridades não forneceram uma explicação oficial para a demissão de Bai, de 58 anos, de acordo com a agência noticiosa AFP.

Economista chinês prevê crescimento de 8% De acordo com as previsões do economista chinês Fan Gang, o crescimento económico do país em 2012 deve ser de 8% e o ritmo deve manter-se estável nos próximos anos. A afirmação foi feita na reunião da Associação de Estudo sobre Reestruturação Económica da China, realizada esta quarta-feira. Para Fan Gang, 8% é um índice normal, visto que a China está a entrar numa fase de crescimento regular. Caso esta tendência se mantenha, a economia chinesa deve subir para um novo nível, o que favorece as pequenas e médias empresas. Quanto ao futuro da situação económica, o economista afirmou que é possível manter o ritmo de 8% nos próximos cinco ou dez anos.

O euro voltou a cair ontem face à moeda

chinesa, pelo terceiro segundo dia consecutivo, atingindo um dos mais baixos valores de sempre.

Pelas cotações do banco central chinês, ontem de manhã um euro valia 7,8351 yuan, menos 0,0571 yuan do que na quarta-feira e apenas mais 0,6904 yuan do que o mínimo histórico, registado em Fevereiro de 2002.

Em Dezembro de 2004, pelo contrário, um euro chegou a valer 11,284 yuan.

Desde então, e sobre-tudo nos últimos três anos e meio, o euro desvalori-zou-se mais de 30% face à moeda chinesa.

O yuan ainda não é inteiramente convertí-vel, mas a sua cotação pode variar um ponto percentual por dia face a um pacote de moedas internacionais que inclui o dólar norte-americano, o iene japonês, o euro e a libra britânica.

A acentuada desva-lorização do euro face ao yuan começou em 2011, coincidindo com o agravamento da crise

da dívida soberana na Europa. “O Euro fraco fortalece a atracção de turistas”, proclamava na quarta-feira o jornal China Daily.

U m e c o n o m i s t a europeu ouvido pela agência Lusa atribuiu a queda do euro às “indecisões políticas” da UE, afirmando que “se houvesse mesmo uma união monetária, com efectiva solida-riedade entre os países membros, não haveria qualquer problema de dívida. É isso que torna os mercados inseguros.”

A China reiterou esta quar-ta-feira que se opõe a

qualquer intervenção militar na Síria, enquanto a Rús-sia considerou “prematura”

Euro volta a cair pelo terceiro dia consecutivo

Um dos mais baixos valores de sempre

Pequim ainda contra a intervenção militar na Síria

Resposta a Oriente nada trouxe de novo

Armas chinesas não são ameaça, segundo general dos EUA

“Não somos inimigos”Evitar mal-entendidos seria

uma das vantagens que identi-ficou no diálogo recomendado. “Traria benefícios tremendos para a China e os Estados Uni-dos, em particular ajudar-nos-ia a evitar alguns mal-entendidos ou alguma tensão no futuro.”

O comandante do STRAT-COM disse que apesar de os EUA e a Rússia terem cerca de 90% do arsenal nuclear do mundo, as conversas com a China sobre este assunto iriam tornar-se cada vez mais importantes. “Não vejo o dissuasor estratégico chinês como uma ameaça directa aos Estados Unidos. Não somos inimigos.

Pode ser uma ameaça? Suponho que se fossemos inimigos, poderia ser, pelo que, pelo menos, temos de estar cientes disso.”

CORTES PREOCUPAMKehler admitiu estar preocupado com o orçamento do Pentágono para 2013, em particular com os investimentos nas armas nucle-ares e não nos seus sistemas de lançamento. “Há dinheiro para investimento em aviões de ataque de longo alcance e para continuar com a classe Ohio de mísseis balísticos para submarinos. Es-tou preocupado principalmente com a garantia de que temos o

investimento necessário para os sistemas de armas.”

A pressão orçamental forçou os chefes militares dos Estados Unidos a anularem despesas de cerca de 3,8 biliões de patacas ao longo da próxima década, uma tarefa que descreveram como difícil, mas alcançável.

Mas no horizonte político mantêm-se ameaças de cortes orçamentais ainda mais fortes.

Se o Congresso não chegar a um acordo até Janeiro de 2013 sobre como reduzir o défice orçamental, automaticamente ocorrerão cortes na área da De-fesa de cerca de MOP 4 biliões.

qualquer nova actuação do Conselho de Segurança.

“A China opõe-se a qual-quer intervenção militar na Síria e a qualquer mudança de regime pela força”, reiterou quarta-feira o porta-voz do Ministério dos Negócios Es-trangeiros chinês, Liu Weimin.

Liu Weimin disse ainda que a China insta todas as partes envolvidas na crise síria a aplicar o plano de paz de Kofi Annan, enviado da ONU e da Liga Árabe para a Síria, e a encetar negociações.

Com o apoio da Rússia e da China, o Conselho de Segurança da ONU condenou fortemente no domingo o Go-

verno sírio por utilizar artilharia num massacre na cidade de Houla, no centro da Síria, do qual resultaram 108 mortos.

O porta-voz chinês falava depois de numerosos estados ocidentais, incluindo EUA, Reino Unido e França, terem expulsado diplomatas sírios como retaliação contra o massacre de Houla na última sexta-feira.

Liu Weimin reiterou que Pequim já apelou esta se-mana para uma investigação do massacre de Houla e para que os autores deste sejam descobertos, mas recusou dizer se Pequim vai expulsar diplomatas sírios da China.

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9regiãosexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

O Japão planeia reactivar os primeiros reactores nucleares na próxima semana, depois de ter

suspendido todas as centrais atómicas do país a 5 de Maio, na sequência da crise de Fukushima, informou ontem o diário Nikkei.

O primeiro-ministro, Yoshihiko Noda, dará luz verde à reactivação dos reactores 3 e 4 da fábrica de Oi, na província de Fukui (centro), numa decisão apoiada pela União dos Go-vernos de Kansai, região onde está localizada aquela central nuclear.

DOIS terços da população timorense é fumadora, aler-

tou ontem a secretária-geral da Cruz Vermelha de Timor-Leste, Isabel Guterres, a propósito do Dia Mundial Contra o Tabaco, tendo considerado o número alarmante.

“Um estudo realizado entre 2009 e 2010 demonstra que 66% da população (cerca de 1.066 milhões de pessoas) é

fumadora”, afirmou à agência Lusa Isabel Guterres.

A secretária-geral da Cruz Vermelha de Timor-Leste fez a afrimação no final de uma marcha realizada em Díli para assinalar o Dia Mundial Contra o Tabaco, que se celebrou ontem, na qual participaram dezenas de pessoas.

Considerando o número “alarmante”, Isabel Guterres ex-

plicou que além dos malefícios que o tabaco provoca na saúde, em Timor-Leste o consumo de tabaco tem também impacto em termos económicos. “No nosso país há pessoas a viver com menos de um dólar por dia e o consumo de tabaco, além de prejudicar a saúde, prejudica a economia familiar, porque ao fumar estão a queimar dinheiro.”

A marcha teve início junto ao

Palácio Presidencial e terminou no centro comercial Timor Pla-za, onde é proibido fumar. Das autoridades timorenses, Isabel Guterres disse esperar mais empenho para haver no país espaços livres de fumo.

Cerca de seis milhões de pessoas morrem anualmente devido a doenças cancerígenas, cardíacas e respiratórias provo-cadas pelo tabaco.

O director geral da Or-ganização Mundial do

Comércio (OMC), Pascal Lamy, disse ontem que as economias asiáticas não es-tão imunes à crise na Zona Euro e que esse risco acar-reta a adopção de medidas proteccionistas.

“A Ásia está ligada ao res-to do mundo e não creio que esta relativa imunidade dure sempre”, disse Pascal Lamy durante uma intervenção no Fórum Económico sobre a Ásia Oriental, que decorre em Banguecoque.

No seu discurso, o direc-tor geral da OMC apontou que, uma vez que a Ásia é

a principal potência expor-tadora do mundo, existe um risco de que perante a quebra das exportações dos países da região regressem ao proteccionismo do passado. “O maior risco é o proteccio-nismo e como vocês sabem é grande e crescente.”

Segundo Pascal Lamy, nos últimos seis meses foram registados sinais de proteccionismo em algumas economias da Ásia, embora não tenha precisado quais. “O mais preocupante é que se intensificaram as acções pro-teccionistas e mais governos cedem perante a pressão.”

A advertência de Lamy

segue a realizada esta se-mana pelo presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yuhoyono, que declarou à imprensa local que a crise económica na Europa afec-tará os países exportadores do grupo da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

As exportações são o mo-tor económico de Singapura, Malásia, Tailândia, Vietname e Indonésia, países que junta-mente com Camboja, Brunei, Birmânia, Laos e Filipinas integram a ASEAN.

O conjunto destes países é habitado por 600 milhões de pessoas.

A União Europeia (UE) expressou ontem pre-

ocupação sobre a liberda-de de expressão na Tai-lândia, depois da editora de uma publicação online ter sido condenada por comentários colocados por outras pessoas e con-siderados insultuosos para com a monarquia.

Chiranuch Premchai-porn foi declarada culpada na quarta-feira por não ter suprimido rapidamente os comentários colocados num fórum do seu sítio de internet, Prachatai, em 2008.

A UE saudou em co-

municado o facto de Chiranuch Premchaiporn não ter sido presa - foi condenada a oito meses de prisão com pena suspensa - mas exprimiu “profun-das preocupações sobre os efeitos devastadores do veredicto de culpa e da condenação sobre a liberdade de expressão na Tailândia”.

O Comité Americano de Protecção dos Jornalis-tas (CPJ) também reagiu ao veredicto, referindo que ataca a liberdade de imprensa no país e “tor-na os sites de notícias vulneráveis a acusações

injustificadas e politica-mente motivadas”.

O organismo está pre-ocupado pelo facto de res-ponsáveis pelos sítios de internet poderem ser pro-cessados por declarações “que não escreveram, não editaram, nem apoiaram”.

Na quarta-feira, a Google qualificou a con-denação de Chiranuch Premchaiporn como uma “ameaça séria para o futuro da internet”.

O caso de Chiranuch Premchaiporn é o último de uma longa lista de pro-cessos de crimes de lesa majestade na Tailândia.

Japão vai voltar a activar primeiros reactores após apagão nuclear

A bem da nação

Dois em cada três timorenses são fumadores, diz Cruz Vermelha

Um país a queimar dinheiro

OMC alerta que economias asiáticas não são imunes à situação na Europa

“O maior riscoé o proteccionismo”

UE preocupada com liberdade de expressão na Tailândia

“Ameaça séria para o futuro da internet”

“A bem da prosperidade da economia japonesa e da socieda-de, a geração de energia nuclear continua a ser importante”, asse-gurou Noda na noite de quarta--feira, durante uma reunião com o seu gabinete para analisar a situação das centrais nucleares no arquipélago.

A 5 de Maio, centenas de japo-neses marcharam nas ruas contra a energia nuclear, celebrando a suspensão da actividade do últi-mo dos 54 reactores que tinha em funcionamento antes do desastre

em Fukushima Daiichi, a 11 de Março de 2011.

Desde que o maremoto de 11 de Março destruiu o noroeste do Ja-pão, as autoridades têm procedido à paragem progressiva, para revisão ou por questões de segurança, de todos os reactores nucleares.

RESPONDER À PROCURACom esta crise, o Japão, que antes do acidente dependia em cerca de 30% da energia nuclear, impôs novos testes de resistência aos reactores para determinar as condições de segurança em caso de uma catástro-fe natural semelhante à de Março.

O principal objectivo do gover-no é poder reiniciar os reactores nucleares que passaram nos testes, para responder às preocupações de dificuldades no abastecimento de energia, especialmente durante o intenso verão nipónico, quando a procura aumenta.

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10 sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.moentrevista

Helder [email protected]

RENEGANDO o “amor nato” pela História e pela Filosofia, a entrada de João Pires em Sociologia

na Universidade nova de Lisboa, deve-se a outra característica: gostar do contacto pessoal, mata-borrão das histórias ouvidas e contadas. Como universitário, foi leccionando num centro de apoio escolar, em discipli-nas de Geografia, História e Inglês, trabalhando também junto de “miúdos com dificuldades de aprendizagem”, inclusivamente nos subúrbios de Lisboa, concelho de Oeiras.

“Foram três anos muito compensa-dores, até que, na ânsia de diversificar, tive conhecimento do projecto do hostel “Travellers House”, num prédio pombalino em plena Rua Augusta em Lisboa, então muito recentemente nascido. Seria por uns meses, mas a verdade é que um trabalho que eu julgava temporário, se transformou em permanente, até passar a gerente.

Fotografia rápida e falada deste hostel na baixa lisboeta: “É um hostel com os objectivos naturais deste tipo de estabelecimentos, mas somando o facto de ser concebido por viajantes, pessoas que sempre andaram em viagem, e para viajantes, criando condições para que os hóspedes se apaixonem por Lisboa”.

Paixão por Lisboa, aqui está um tema a explorar nesta conversa, mesmo com os condicionalismos do espaço: “Sim, sou lisboeta e sempre apaixonado por Lisboa que é uma cidade extraordinária, diferente, tendo o que outras capitais têm, mas acrescentando outras cores, outras belezas, outro povo, outras vivên-cias, outros sentimentos. Partilhar esta realidade com os hóspedes, com os que se cruzam no caminho com o meu trabalho, é o meu e o nosso objectivo no “Travellers House”.

De que modo é essa transmissão de mensagens sobre Lisboa? João Pires fala de convívios, de jantares a programas de fado, de passeios por alguns bairros, designadamente Alfama, colocar os viajantes em contacto estreito com os residentes, tal como, obviamente, com conceito gastronómico lisboeta e português”. Mesmo entre acomodados mais jo-vens? “Sem dúvida, há muita gente jovem que vê a gastronomia como uma boa entrada num país, uma excelente referência cultural”.

João Pires, 31 anos, emociona-

João Pires, sociólogo e viageiro world stroll

“Macau é uma overdose cultural”Formado em sociologia, 31 anos, decide viajar para se encontrar mais perto de outras culturas e colher histórias de vida que misturará com as suas. Caminhadas por vários continentes. Em Macau pela primeira vez, já deu para comentar a sobredose cultural aqui vivida

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11sexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo entrevista

João Pires, sociólogo e viageiro world stroll

“Macau é uma overdose cultural”Formado em sociologia, 31 anos, decide viajar para se encontrar mais perto de outras culturas e colher histórias de vida que misturará com as suas. Caminhadas por vários continentes. Em Macau pela primeira vez, já deu para comentar a sobredose cultural aqui vivida

-se ao contar vários episódios, inclusivamente relacionando-os com a sua formação académica: “Este meu trabalho tem muito a ver comigo, com aquilo que estudei, com a comunicação, com a abertu-ra de mente, a tolerância cultural. Gosto muito de receber pessoas, acho importante, sinto ter vocação, apaixona-me partilhar histórias e ver os outros partilhá-las comigo, quase diariamente”. Há cinco anos que assim é, este afirmado projecto de sucesso. Inclusivamente, esta viagem intercontinental é também ao serviço do hostel aqui mencionado.

Sem esquecer todos os que o rodeiam no hostel, este viageiro--viajante lembra que “é uma equipa excepcional, todos gostando muito daquilo que fazem, com grande abertura de espírito para os viajantes. Temos sido reconhecidos com alguns prémios internacionais desde 2008 por anos consecutivos”.

DAS AMÉRICAS PARA A ÁSIAJoão fala das viagens que sempre fez, pela Europa, à boleia ou em transportes públicos. Depois, mais longe, nos últimos 7 meses, sempre viajando sozinho, começou pelo continente americano, Nova Iorque, escapando para a costa leste, voando para leste, mês e meio pelos “States”, até seguir América central, entrando pelo México, descendo para atraves-sar por terra a América do Sul.

Do Panamá para Colômbia, fron-teira que por terra “não se consegue fazer, fui de barco à vela, outra expe-riência incrível. Da Colômbia para o Equador, Perú, Bolívia e Brasil. Depois, sempre por terra, Argentina, Chile. Daqui, João Pires voou para a Austrália.

Transportes colectivos e boleias. Para este viajante, “em geral, o mundo ainda é um lugar seguro, o que não podemos é ser ingénuos, mas devemos ser optimistas. É bom abordarmos as pessoas de maneira desinteressada, aberta, normalmente isso faz a diferença; em determinadas situações das minhas viagens, isso fez bastante a diferença”.

“O continente americano é, todo ele, repleto de contrastes absolutos em todos os aspectos. Só nos Estados Uni-dos, a disparidade de experiências que vivi foi incrível. Por exemplo, logo no início da viagem, estar no topo de um arranha-céus nova-iorquino, andando numa horta urbana, a apanhar pimen-tos, tomates, a olhar para o skyline de Nova Iorque, um espanto!”.

Outra recordação das muitas que têm, algumas delas publicadas no sítio worldstroll.wordpress.com, foi no Brasil: “Um dia resolvi afastar-me das praias magníficas, caminhando para os subúrbios do Rio de Janeiro, encontrando o Gramacho, chamado ironicamente o Jardim Gramacho, a maior lixeira da América Latina, com milhares de toneladas de lixo ali depositadas diariamente. Tentei fazer uma história, sabendo das dificulda-des uma vez que não tinha contactos, não estava credenciado, ora isso me dificultava a entrada no lixão. Mes-mo ao lado, há uma favela onde as condições de vida da população são inenarráveis. Numa tasca feita de ti-jolo e pau consegui aproximar-me das pessoas que em princípio me achavam meio estranho, com sotaque esquisito. Mas depois, com normalidade e a tal abertura de espírito, lá ganhei a simpatia e confiança deles, até que um se ofereceu para me mostrar os lugares onde viviam, o que eles fa-ziam, contando-me imensas histórias. Foi extremamente entusiasmante. Na linha do que estou fazendo neste projecto de viagens pelo mundo, as pessoas são a prioridade”.

Na Austrália, outros fascínios. “Gosto muito dos australianos, em geral possuem grande abertura de espírito, são descontraídas, a vida corre-lhes bem. Para mim, vindo da América do Sul e chegando à Austrália, foi um choque cultural ao contrário. Ali foi tudo muito con-fortável, nos diferentes lugares onde estive. O país é muito desenvolvido, organizado. Para quem busca coisas

mais bizarras, etc., etc., é diferente, não existe em cada esquina, como na América do Sul ou no Oriente. mas acabei por encontrar exotismos, dado que a Austrália, sendo um país de grande dimensão, é também muito diverso. tem um dinamismo cultural importantíssimo e tem certas carac-terísticas que, não estando visíveis num primeiro olhar, procurando elas lá estão para nos surpreender. Tenha--se em consideração a bela relação dos australianos com a Natureza.”

JACARTA IMPRESSIONANTENestes 7 meses de viagens, da Aus-trália seguiu-se a Indonésia: “Jacarta, a minha primeira experiência numa cidade asiática, impressionou-me muitíssimo. Tinha ouvido várias opiniões sobre a insegurança. Não tive absolutamente problema algum. Andei de transportes colectivos, conheci locais num restaurante que prontamente, apesar de quase não falarem inglês, me levaram, sim-patiquíssimos, a conhecer muitos pormenores da capital. Achei as pessoas genuinamente amigáveis. A barreira linguística acabou por ser um belo desafio. Afinal, eu não tenho como objectivo desta grande viagem, buscar tão somente o conforto, mas sim os paradoxos possíveis de um estranho em terras estranhas, tendo de relacionar-se com o outro”.

Ainda na Indonésia, subindo um pouco, João Pires entrou no Sul de Sumatra, considerada a sexta maior ilha do mundo, exactamente no dia do terramoto, que atingiu o norte da ilha em Abril passado. Esteve em

Palembang, a maior cidade do sul da ilha, a cerca de 2 mil quilómetros do abalo sísmico. “mesmo assim, foi um susto, principalmente para a população, traumatizada por anterior tragédia, como se sabe”.

Pelo sul de Sumatra, “caminhei horas e horas seguidas sem ver qualquer turista caucasiano. O que vi foram pessoas muito curiosas, mais tímidas ou mais faladoras. Senti ali uma solidão positiva, que nos leva a dar mais de nós próprios, a transpor-mos certos obstáculos, exactamente dentro do espírito da minha viagem”.

Da Indonésia para Kuala Lum-pur, de avião. Conheceu Penang, ao norte, antes de se meter num comboio e rumar mais para cima, até Banguecoque. “Foram 22 horas óptimas, não apenas por eu gostar muito de viajar de comboio, é o meu transporte de eleição, é inspirador”.

Cambodja, onde João se fascinou, entre outras coisas, com o templo

Comenta singelamente: “É o que é, paciência. Vou de comboio até Shangai. Por vezes, numa viagem, não importa a duração, o importante é a intensidade. Existem viagens curtas que acabam por ser incríveis”.

Do continente chinês viajará até à Índia, já no dia 20, onde passará cerca de 2 meses “porque se justi-fica perfeitamente”. Da Índia para a África do Sul, tentando ainda ter condições para ir a Moçambique, ao Quénia e, se chegar à Etiópia já sou um homem feliz!”

Em Macau há alguns dias, o viajante comenta: “Para quem saiu de Lisboa há 7 meses, atravessando tanta experiência diferente, a minha primeira impressão de Macau foi como estar numa antecâmara antes de chegar a casa. Pisar calçada portuguesa, falar a nossa língua, comer a nossa comida, ver a final da Taça e discutir a bola com o vizinho do lado, enfim”.

Outras vistas em Macau: “Sim, tenho andado pela zona do Fai Chi Kei, experiência muito boa, muito genuína. Macau, não sendo muito grande em área, acaba por ter uma confluência de culturas e contrastes extraordinário. Não vou esquecer a experiência que tive em ir treinar juntamente com mais duas dezenas de remadores chineses, nos barcos dragão. Estar ali, no meio deles, ultra--sincronizados, que foram simpatica-mente tolerantes e amigos, apesar da minha inexperiência, na prática duma cultura milenar, num lago artificial, com um cenário de casinos profu-samente iluminados, lojas de Louis Vuitton e outras marcas de luxo, acaba por ser uma inesquecível overdose sensorial. Macau é uma terra única”

Aguarda com boa expectativa an-tes de regressar à sua amada Lisboa e ao hostel “Travellers House”, na Rua Au-gusta onde partilhará tantas histórias com outros viajantes ali acomodados. Algumas dessas histórias pensa um dia publicá-las em livro. para já, elas têm imagens e curtos relatos neste sítio: worldstroll.wordpress.com.

A propósito, cidades conhecidas nesta viagem e depois escolhidas, todas elas por razões diferentes: Mel-bourne, movimento cultural e dis-tractivo enorme, Buenos Aires, Rio de Janeiro, energia única, Jacarta. No meio de todos estes sentimentos de admiração por cidades, Lisboa é um caso à parte: “Absolutamente! Em Lisboa eu adoro morar, sou um incondicional fã da minha cidade, ela pode proporcionar uma boa qualidade de vida, não tem um ritmo que nos consome, é relativamente pequena, onde o principal é mais ou menos acessível. Ao mesmo tempo, Lisboa é grande o suficiente para dela termos o que numa qualquer grande cidade podemos obter, ou melhor”.

Para este viajante, a formação em sociologia, ajudou bastante: “ajudou até no sentido da fuga ao egocen-trismo, ao preparar-me melhor de maneira a não ter a minha cultura como a principal ou como o único ponto de referência para julgarmos todas as outras”.

Não vou esquecer a experiência que tive em ir treinar juntamente com mais duas dezenas de remadores chineses, nos barcos dragão

de de Angkor Wat, ou melhor: “um conjunto de vários templos, com vida própria, com pessoas que vivem e que se organizam de forma singular”. Da-qui para o Vietname, região sudeste, na antiga Saigão: “Infelizmente só em Ho Chi Minh, após um percalço de viagem quando me roubaram a carteira com pouco dinheiro, mas ficando sem alguma documentação, nomeadamente o cartão de crédito”. Coisas que acontecem.

Regresso à Tailândia, uma vez que a viagem dali até Macau fica mais em conta financeiramente. Nesta região, sabe que obterá apenas escassos dias de autorização oficial para viajar no continente chinês, o que não facilita algum conhecimento mais atento.

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12 publicidade sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

NOTIFICAÇÃO EDITAL N.º 81/2012(Solicitação de Comparência do Empregador)

Nos termos das alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 6.º do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se o Sr. LAW HAU HIN, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do primeiro dia útil seguinte à da publicação do presente édito, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, nºs. 221-279, Edifício “Advance Plaza”, em Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º 6922/2010, relativa à Fábrica de Uniformes Chang Wah.

Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 28 de Maio de 2012.

O Chefe do Departamento,

Raimundo Vizeu Bento

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13vidasexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

Macau Sã Assado

Sabia que...

O artigo científi-co “O Impacto do Cigarro na Saúde dos Des-

cendentes”, publicado re-centemente na revista Expert Reviews of Obstetrics and Gynecology e assinado por, entre outros, Sérgio Soares, ginecologista especialista em reprodução e director da Clínica IVI Lisboa, sublinha que o fumo do cigarro é a principal causa de morbidez e mortalidade evitável, con-tribuindo para deficiências congénitas no nascimento e problemas cardiovascula-res, avança comunicado de imprensa.

A exposição pré-natal ao tabaco, substância tóxica mais usada durante a gravi-dez, associa-se a problemas neurológicos e comporta-mentais, que afectam di-versas áreas cognitivas, tais

O americano Jack An-draka foi o grande ven-

cedor da Intel ISEF 2012, evento realizado nos EUA para promover as invenções de jovens cientistas espa-lhados pelo mundo. Jack, de apenas 15 anos, venceu o concurso após criar um método para detectar o cancro do pâncreas que é até 28 vezes mais rápido, 28 vezes menos caro e 100 vezes mais sensível que os recursos actuais.

O adolescente elaborou

COMO PEDIR UMA EMERGÊNCIA?• Se estiver em apuros já não sei muito bem como faça. Se peço uma “emdrgenda” ou uma “emergenda”. Alguém me pode elucidar?Porque Macau sã assi mas também sã assado

Foto: Ana Croce

... se nada se fizer para protegê-las, metade de todas as espécies da Terra vão estar extintas dentro de 100 anos?

Estudo sublinha que o fumo do cigarro é a principal causa de morbidez

Tabaco prejudica saúde dos descendentesVitamina C reduz efeitos do tabagismo materno sobre a saúde pulmonar do fetoMulheres que são incapazes de parar de fumar durante a gravidez podem melhorar a função pulmonar dos seus bebés ingerindo vitamina C diariamente, de acordo com investigadores dos EUA, avança o portal ISaúde. O estudo revela que a vitamina pode alterar as origens fetais de doenças respiratórias, bloqueando alguns dos efeitos do fumo no desenvolvimento pulmonar. “Fumar durante a gravidez é conhecido por afectar negativamente o desenvolvimento pulmonar do bebé, reduzindo a função pulmonar ao longo da vida e aumentando o risco de asma. Nós descobrimos que os bebés nascidos de grávidas fumadoras que tomaram 500 miligramas de vitamina C diariamente durante a gravidez tinha melhores testes de função pulmonar cerca de 48 horas após o parto”, afirma a investigadora Cindy McEvoy, da Oregon Health & Science University.

como a verbal, a memória e a capacidade de execução.

Filhos de mães fuma-doras durante a gestação apresentam um maior risco de sofrer de obesidade na infância, seja por razões or-gânicas, como consequência de condições intra-uterinas adversas, ou por motivos familiares, como padrões genéticos desconhecidos ou ambientais.

No caso das mulheres que fumam mais de 10 cigarros por dia durante a gravidez, estabeleceu-se também uma correlação positiva com a redução da concentração e qualidade do esperma dos descendentes, sendo que no caso das meni-nas descendentes a idade da menarca pode ser acelerada.

A relação entre o con-sumo de tabaco por parte do pai e o cancro infantil

reprodução medicamente assistida, líder e pioneira na área da infertilidade, “as implicações da nicotina são inúmeras e muito negativas para os descendentes. Neste contexto, as deficiências de

nascimento relacionadas com o consumo de tabaco durante a gravidez deveriam ser incluídas nos materiais educativos de saúde pú-blica para encorajar mais mulheres a abandonarem o tabaco durante o período da concepção e da gestação”.

Sérgio Soares alertou, ainda, que “no campo da procriação medicamente assistida, o consumo de mais de dez cigarros por dia, reduz a probabilidade de sucesso na transferência de embriões de óptima qualidade, mesmo quando se trata de ovócitos doados por dadoras não fumadoras”.

O artigo, que analisou 172 trabalhos científicos, contou também com o con-tributo de Marco Melo, da Clínica Vilara, Brasil, e de José Bellver, da Clínica IVI Valência, Espanha.

sugere que mutações no esperma podem ser trans-mitidas ao feto de modo permanente, passando a fazer parte da composição genética da futura geração. Não obstante, mais estudos

são necessários para avaliar esta correlação.

OS EFEITOS DA NICOTINASegundo o Director da Clínica IVI Lisboa, em-presa especializada em

Jovem americano foi o grande vencedor da Intel ISEF 2012

Método rápido na luta contra o cancro

um sensor que identifica, através de um exame feito por uma pequena quanti-dade de sangue ou urina,

se o paciente tem ou não cancro pancreático, ainda na sua fase inicial. O estudo resultou em mais de 90% de precisão. Pela invenção, Jack ganhou 75 mil dólares e recebeu o prémio mundial de Ino-vação Jovem Cientista da Fundação Intel das mãos de Gordon E. Moore, co--fundador e presidente aposentado da empresa.

O segundo lugar do concurso ficou com Ni-cholas Schiefer. O cana-diano de 17 anos estudou o que ele chama de «mi-crosearch», e analisou

pequenas quantidades de conteúdo, como tweets e actualizações de status do Facebook. Com isso, Ni-cholas espera melhorar os mecanismos de motores de busca e, assim, aperfeiçoar o acesso à informação.

Já o americano Ari Dyckvosky, de 18 anos, levou o terceiro lugar ao investigar a ciência do teletransporte quântico. O estudante descobriu que os átomos estão ligados através de um processo chamado «entrelaçamen-to», um método em que a informação de um átomo só vai aparecer noutro átomo quando o estado quântico do primeiro áto-mo é destruído. Apesar de parecer complicado, as or-ganizações que requerem altos níveis de segurança de dados poderiam utilizar o recurso para enviar uma mensagem encriptada, sem correr o risco de intercep-ção, por exemplo.

Nicholas e Ari levaram 50 mil dólares pelas suas invenções. Os jovens e as suas criações foram seleccionados entre os destaques de 446 feiras afiliadas, em cerca de 70 países. Além deles, outros 400 finalistas receberam prémios por contribuírem com trabalhos inovadores.

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14 cultura sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

José C. [email protected]

O seu grupo de dança tem um vasto reportório. Por que escolheu “Mozart Dances” para trazer até Macau?Como esta é a primeira vez que vimos cá, por um lado queríamos mostrar a diversidade do nosso traba-lho e por outro trouxemos uma orquestra de câmara, porque é muito dispen-dioso viajar com muitas pessoas. Este pareceu-me o melhor espectáculo para trazer, por não necessitar

Mark Morris Coreógrafo

“A música não precisa de dança, mas eu imponho-a”O Grupo de Dança Mark Morris encerra este fim-de-semana o Festival de Artes de Macau, no Centro Cultural, com o espectáculo “Mozart Dances”. A prestigiada companhia de dança norte-americana, fundada em 1980, com mais de 130 obras já apresentadas um pouco por todo o mundo, traz um espectáculo considerado “uma obra-prima” pelo New York Times

de grande orquestra ou grandes cenários.

Quantos espectáculos cons-tam do vosso reportório?Temos neste momento cerca de 20 bailados que podemos apresentar em qualquer altura.

Como é que constrói os seus espectáculos? A mú-sica vem primeiro?Primeiro faço coreografias por causa da música. Adoro música. Há outras maneiras de coreografar, mas ouço sempre imensa música. Depois escolho algo que seja

suficientemente bom para se ouvir vezes sem fim, estudo a partitura e finalmente decido.

Como? Tem de haver na música algo que possa ser surpreendente ou que gere tensões ou rit-mos que permitam fazer um bom espectáculo de dança. A música não precisa de dança, mas eu imponho-a.

E impor a coreografia como é?Depois de estudar a música profundamente durante mui-to tempo, nascem algumas

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15culturasexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

AMANHÃ, às 15h00, Martin Zeller e Sou

Vai Keng apresentam um livro sobre a sua obra con-junta “The Back Side of the Eye”, onde o papel de arroz ocupa um lugar central, no Albergue SCM.

De 2010 até este ano, os dois artistas – ele alemão a residir em Hong Kong, ela de Macau – trabalharam na exposição “The Back Side of the Eye”, inaugurada no passado dia 13 na Galeria Júlia Philippi, em Heidel-berg (Alemanha).

Usando a árvore como tema, combinaram a tra-dicional pintura em tinta da China com fotografia digital. “Um passo decisi-vo para uma explosão de criatividade, inspirando-se

António CaeiroLUSA

TIMORENSE, português e “cida-dão do mundo”, o maestro Simão

Barreto assume-se como “um grande defensor da lusofonia” e orgulha--se de conhecer os oito países da Comunidade de Língua Portuguesa (CPLP). “Só temos a ganhar com a promoção da lusofonia”, diz o músi-co à agência Lusa em Pequim, onde tocou na quarta-feira, pela primeira vez, num concerto comemorativo do 10.º aniversário da independência de Timor-Leste.

ideias... se tiver sorte, então vou para a sala de ensaios e o trabalho arranca. É uma espécie de trabalho de im-provisação, mas nasce das ideias que já tenho. Quando faço uma nova coreografia todos os bailarinos da com-panhia participam. Apren-dem todos os movimentos. Depois mudo as coisas, misturo-as, tiro uns movi-mentos, introduzo outros...

Portanto não tem à partida uma ideia clara?Não. Não tenho um produ-to acabado à partida. Vou descobrindo à medida que o trabalho avança. Mas é sempre baseado no estudo que faço da música.

A música dos seus espectá-culos, desde 1996, é sempre tocada por músicos ao vivo. Porquê?Porque isso é que é música. Antes de se chamar música ao vivo, chamava-se apenas mú-sica. Quero que esteja tudo vivo. Os bailarinos, a música, o público. Um espectáculo é sempre diferente. Não há dois iguais. É muito triste ouvir a música gravada. Quando me perguntam por que é que os meus espectáculos têm sempre músicos, é como se me perguntassem porque é que os bailados têm de ter bailarinos.

E nos ensaios?Também nunca uso música gravada. Trabalho com um pianista. Mesmo na nossa escola de dança, em todas as aulas, ainda que os alu-

Colaboração entre artistas de Macau e Alemanha

Munch inspira arte com papel de arroz

nos tenham cinco anos, há sempre um músico presente.

Como é que descreve a sua longa viagem na dança, des-de o tempo em que quis ser um dançarino de flamenco até aos dias de hoje?(risos) Era novo, mas fiz durante muito tempo dança espanhola. Quando decidi que queria dançar flamenco e fui para Espanha, o país estava uma desgraça. Foi no fim do regime de Franco. Não queria viver lá. E não acredito que se possa ser um dançarino genuíno de flamenco se não se passar muito tempo no país... mas a própria dança espanhola estava, ao contrário de hoje, em muito mau estado.

O flamenco foi muito im-portante para a sua for-mação como coreógrafo?A estética e os métodos de trabalho que aprendi com o flamenco ainda hoje fazem parte da minha “máquina” coreográfica. Embora não pareça é uma parte muito profunda daquilo que faço.

Que expectativas tem para o espectáculo em Macau?Expectativas? Bem, quero que todos se apaixonem por nós e adorem o nosso tra-balho... Mas quero apenas que as pessoas apareçam e vejam e oiçam. E que não digam que isto é assim ou assado, isto é americano, isto é moderno, isto é clás-sico... não têm de ligar a nada disso. Só têm de ver e ouvir.

Simão Barreto, timorense, português e “cidadão do mundo”

A promoção da lusofonia

nas pinturas de Munch, onde se podem encon-trar árvores na paisagem, isoladas ou em grupo, ou uma floresta aparecendo como uma forma de ver-de escuro achatada com contornos definidos e limitados”, segundo se lê no comunicado enviado à imprensa. “Para Munch [pintor norueguês famoso pelo quadro ‘O Grito’] a árvore não era tanto um

elemento representativo da paisagem, mas sim um espelho para o estado de espírito interior.”

Martin Zeller, na fo-tografia, e Sou Vai Keng, na pintura, trabalharam na mesma folha de papel de arroz utilizando diferentes técnicas, sendo as “comple-xas montagens finalmente concluídas após variadas experiências.

O artista alemão nasceu

em Manheim e estudou Design de Comunicações na Faculdade de Design de Darmstad, tendo recebido vários prémios ao longo da carreira. Sou Vai Keng, nascida em Macau, tem estado envolvida na indús-tria criativa local. Além de pintar em acrílico e tinta da China, trabalhos com os quais já fez várias expo-sições, também publicou romances e poesia.

O programa - executado por um quarteto de cordas e uma soprano - incluiu a primeira audição absoluta da canção “Aqui, Dizeis”, composta há cerca de três anos por Simão Barreto para um poema de Ricardo Reis, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. “É o maior poeta português e um po-eta universal. Camões é limitado pelo tempo, Pessoa é intemporal. Pessoa, quando entra dentro de nós, já não sai. É como a música de Mozart.”

Simão Barreto nasceu em Timor--Leste em 1940. Aos 18 anos foi estudar para Macau, onde viveu até 1968, altura em que uma bolsa da

Fundação Calouste Gulbenkian lhe permitiu frequentar o curso de com-posição musical em Lisboa. Aprendeu também a tocar violino, viola e piano, acabando por ingressar na Orquestra Sinfónica da RDP. Em 1986, foi con-vidado pela Administração de Macau para dirigir o Conservatório local, e aí trabalhou até se reformar, em 2005, e regressar a Portugal.

Foi também em Macau que saíram três discos com as suas músicas. “Agora tenho mais tempo para compor, sobretu-do peças corais”, conta Simão Barreto, que continua a ouvir Mozart todos os dias. “É a minha grande referência.”

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16 desporto sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

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Marco [email protected]

O onze do Sporting Clube de Ma-cau celebrou ao fim da noite de

quarta-feira a ascenção ao Campeonato de Futebol da II Divisão com uma goleada rotunda sobre a formação da Roma. Os leões do terri-tório já tinham garantido a título matemático a subida ao segundo escalão do desporto-rei do território no fim-de-semana passado, mercê da derrota da Roma frente ao Chuac Lun.

O desaire do principal adversário do Sporting na demanda pela segunda di-visão ofereceu de bandeja a primeira posição da Série B do terceiro escalão aos leões, facilitando a tarefa do grupo de trabalho orientado por Agostinho Caetano, por Mandinho e por Rui Brás para o encontro que colo-cou um ponto-final na fase regular da prova. Frente à arqui-rival Roma, o onze verde e branco não deixou créditos por mãos alheias e tomou em mãos as rédeas da partida desde os minu-tos iniciais do desafio. O primeiro golo do encontro materializou-se com natura-lidade à passagem do minuto oito, num lance em que Le-andro Fernandes aproveitou a falta de sincronia da dupla

Sérgio FonsecaCheong Chi [email protected]

O Campeonato de Carros de Tu-rismo de Macau (MTCS) teve a

sua segunda e derradeira jornada no passado fim-de-semana no Circuito Internacional de Guangdong, situado na cidade chinesa de Zhaoqing. As seis corridas realizadas tiveram o condão de decidir os campeões 2012 das três categorias da competição de viaturas de Turismo sancionada pela Associação Geral Automóvel de Ma-cau – China (AAMC), além de terem praticamente definido quais os pilotos de Macau que terão a honra de enver-gar as cores do território nas corridas “Interport MAC/HKG – Hotel Fortu-na”, “ Macau Road Sport Challenge – Suncity Group” e “Taça de Carros de Turismo de Macau – CTM” da 59º edição do Grande Prémio de Macau.

Foram corridas bem disputadas, com os seus momentos de espectacu-laridade em pista e em que os favori-tos confirmaram, na generalidade, o seu estatuto. Dezasseis concorrentes preencheram as grelhas de partida da categoria “AAMC Challenge”, a classe rainha dos campeonatos da RAEM, onde se destacou a ausência do veterano Belmiro Aguiar.

Tal como tinha acontecido nos finais de Abril, os Honda Accord CL7 amarelos da Son Veng Racing Team, preparados em Itália pelas mãos da equipa favorita da Honda Europa, voltaram a colocar no asfalto a sua hegemonia, com Leong Ian Veng a

conseguir o seu terceiro triunfo con-secutivo em 2012 na primeira corrida, e o seu companheiro de equipa, Jeró-nimo Badaraco, segundo na primeira contenda, a vencer na segunda.

Felipe Clemente de Souza, cada vez mais adaptado ao Chevrolet Lacetti entregue a uma experiente formação de Hong Kong, foi o terceiro classificado em ambas as corridas. Já o veterano nestas andanças Eurico de Jesus, aos comandos de um Honda DC5 da Five Auto, conseguiu um precioso segundo lugar na segunda corrida do fim-de-semana de Cantão. Realce à presença de Célio Alves Dias ao volante pela primeira vez de um Chevrolet Lacetti igual ao de Souza, tendo o piloto da Leng Fung Racing obtido um oitavo e um sétimo lugar. Hélder Brito Rosa e Hélder Assunção ficaram ambos de fora dos dez primei-ros em ambas as corridas.

HONDA A COMANDARNa classe N2000, para viaturas que seguem a regulamentação Super--Produção e onde os Honda DC5 ainda ditam quem vai à frente, Álvaro Mourato partiu com o objectivo de quebrar o domínio exercido por Chou Keng Kuan na ronda de abertura no mês passado. E o piloto lusófono da Techdeco Racing Team até começou melhor, vencendo a primeira manga de quinze voltas em piso molhado, com quatro segundos de avanço sobre o seu grande rival das últimas temporadas.

Contudo, na corrida de domingo, Chou voltou a impor-se, tendo Mou-

rato sido apenas terceiro classificado, prejudicado por uma penalização na qualificação que o fez partir do sexto lugar, acabando ainda assim apenas atrás de Leung Lok Choi e do vito-rioso campeão da classe. Em destaque também esteve a dupla portuguesa da 24-32 Racing Team composta por Rui Valente e Sérgio Lacerda. Com uma corrida de trás para a frente, Valente ficou às portas do pódio na primeira corrida, conseguindo um espectacu-lar quarto lugar da geral, o melhor resultado desde do seu regresso às competições automóveis do território em 2009. Com o apuramento conso-lidado na primeira jornada, Lacerda não desiludiu, somando um sexto e um nono lugar, enquanto o veterano Ricardo Lopes ficou em ambas as corridas fora do “Top-10”, mas ainda subiu ao pódio na primeira corrida para com Mourato receber o troféu de equipas.

Por fim, nas corridas pontuáveis para a categoria Macau Road Sport Challenge, Un Wei, em Mitsubishi Evo9, foi a surpresa, aproveitando ao máximo a ausência de Kevin Tse, vencedor das duas primeiras corridas do ano, e dos problemas pontuais no carro idêntico do sempre candidato à vitórias Sun Tit Fan, para obter a sua primeira “dobradinha” no campeo-nato. Finalizado que está o MTCS, o AAMC deverá tornar público a lista dos pilotos do território apurados para o Grande Prémio de Macau, tendo estes ainda que confirmar a sua inscri-ção nas corridas para as quais foram apurados.

Sporting festeja subida com goleada

Leões de mão cheiade centrais da Roma para inaugurar o marcador. O avançado brasileiro rouba a bola aos adversários e re-mata colocado para o fundo das redes da formação de matriz chinesa, para gáudio dos muitos adeptos leoni-nos que fizeram questão de acompanhar nas bancadas do Campo da Universidade de Ciência e Tecnologia o encontro de consagração do Sporting de Macau.

SEMPRE A SOMARO dianteiro “canarinho” marca o segundo tento da partida e da conta pessoal pouco depois. Fernandes retém a posse de bola no lado direito do ataque do conjunto de matriz portuguesa, flan-queia para o coração da área adversária, leva três defesas atrás e bate pela segunda vez o guarda-redes da Roma com um disparo indefensável.

O terceiro golo dos leões do território materializa-se à passagem da meia hora, com João Godinho a concluir uma boa jogada de ataque do conjunto verde e branco. O mesmo jogador marcou o quarto golo pouco depois, ao

cabecear com sucesso para o fundo das redes da Roma na sequência de um pontapé de canto.

O quinto e último golo do desafio surge em cima dos

45 minutos, nos segundos finais da primeira parte. João Carochas é responsável por meio tento, ao conduzir de forma inexcedível uma joga-da de ataque em que deixa

para trás dois adversários. Na hora do remate, Pascoal Júnior antecipa-se ao com-panheiro de equipa e fulmina o guardião da Roma com um remate indefensável.

A vantagem de cinco golos com que o Sporting Clube de Macau encerrou a primeira metade do desafio acabou por se alterar nos segundos quarenta e cinco minutos e a falta de capacidade de res-posta da Roma acabou por dar

oportunidade à equipa técnica dos leões de fazer rodar joga-dores menos utilizados. Com o triunfo ontem alcançado, o Sporting encerrou a fase de grupos do Campeonato de Futebol da III Divisão da RAEM apenas com vitórias. O onze verde e branco vai tentar manter o percurso imaculado a 8 de Junho, dia em que se disputa o encontro que vai definir o nome do vencedor da edição de 2012 da prova.

MTCS teve a sua segunda e derradeira etapa no passado fim-de-semana

Jornada final de poucas surpresas

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17futilidadessexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

[Tele]visão

Aqui há gato

Sudoku [ ] Cruzadas

REGRAS |Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição

SOLUÇÃO DO PROBLEMADO DIA ANTERIOR

SOLUÇÕES DO PROBLEMA

HORIZONTAIS: A língua dos antigos Romanos. Malucas. 2-Prato (Ant.). Existe. 3-Série de vasos que encaixam uns nos outros formando tubo. Taberna. 4-Proximidade. Tornar solitário ou incomunicável. 5-Outorge. Nomear abade para. 6-Ouvido (Pref.). Acrescento 7-Má sorte, infelicidade (Pop.). Chumbo (s.q.). 8-Gergelim. Aquele lugar. 9-Irmã da mãe. Mestiço de índio e branco (Bras.). 10-Saliência. Osso par que ocupa as partes laterais da bacia. 11-Objecto de grande paixão (Fig.). Asas.

VERTICAIS: 1-Long-Play (abrev.). Agreguem. O m. q. tris (Pref.). 2-Da Arábia. Agarrei. 3-Acção de talar os campos. Extensão de água salgada que cobre a maior parte da Terra. 4-Pau-fero. Apertas com atilho. Uso (Suf.). 5-Avaliei. Escavam. 6-Contunde, fere. Adorai. 7-Tumor que se forma no peito do cavalo. Margem. 8-Admiração (Interj.). Ilharga, direcção. Departamento de França. 9-Sujo de baba. Protecção. 10-Lavra, suica. Lápide, chapa. 11-Ente. Mestre da lei entre os Judeus. Osmio (s.q.).

HORIZONTAIS: 1-LATIM. BOBAS. 2-PRATEL. HA. E. 3-ALUDEL. BAR. 4-ABA. ISOLAR. 5- DE. A. ABADAR. 6-A. OTO. ADO. A. 7-MACACA. O. PB. 8-SESAMO. ALI. 9-TIA. MARABA. 10-R. NO. ILIACO. 11-IDOLO. ANSAS.VERTICAIS: 1-LP. ADAM. TRI. 2-ARABE. ASI. D. 3-TALA. OCEANO. 4-ITU. ATAS OL. 5-MEDI. OCAM. O. 6-LESA. AMAI. 7-B. LOBA. ORLA. 8-OH. LADO AIN. 9-BABADO. ABAS. 10-.A ARA. PLACA. 11-SER. RABI. OS.

SOMOS TODOS CAIXA DE ÓCULOSEu bem sabia que andava a ver os amiguinhos aqui da redacção com os olhos trocados. Bom, trocados não, mas míopes que baste. Talvez não tivessem conhecimento de tal coisa, mas consultei um oftalmologista para animais domésticos. Sim, é verdade. Hoje em dia já se sabe, inventam tudo. E eu agradeço. Só assim é que comecei a ver melhor ao longe. Mas percebi que, azar o meu, nasci num território que me dá falta de horizonte. Há uns meses atrás comecei a ver pior de dia para dia. A verdade é que, como estou todos os dias por aqui fechado na redacção, e acabo por ficar entretido com o computador e televisão, por contágio aqui dos redactores deixam estragar a vista. E chegou uma altura, que daqui da sala, já não conseguia reconhecer quem de lá vinha a entrar na redacção. Comecei a ficar receoso. E não é que ao consultar o senhor doutor. Ele disse: “Rapaz, não és caso único. Isso mais tarde ou mais cedo estaria para acontecer. Estás com miopia”. E, isto porque, percebi depois, está relacionado com a vida que eu e os meus amiguinhos humanos levam nesta terra. Além de passarem demasiado tempo em frente aos “gadjets” informáticos - os piores inimigos da vista - ainda se enclausuram entre as quatro paredes e quando olham pela janela não vêem horizonte. Vêm o vizinho a vestir-se ou a parede do prédio ao lado colada ao nariz. Não têm assim oportunidades de relaxar o olho, porque fazem um esforço para que a lente foque a imagem junto à retina.Enquanto que olhando ao longe, a imagem é naturalmente projectada na retina. Disse-me o senhor doutor: “Estás a precisar de uma viagem prolongada ao estrangeiro.” Sabem porquê? Porque quem fica lá fora por uns tempos estabiliza a visão. “Vais ter uma mudança de estilo de vida”, disse ele, “vai-te fazer bem”. Mas ainda me dizem que sou pequenino para me aventurar sozinho lá fora. Então cá ando eu de óculos pela redacção. Mas não me importo porque já percebi que o nosso destino aqui em Macau é sermos todos “caixa de óculos”.

Pu Yi

TDM13:00 TDM News - Repetição13:30 Jornal das 24h14:45 RTPi DIRECTO17:10 57º Festival Eurovisão da Canção (Semi-Final)19:00 TDM Talk Show (Repetição)19:30 Resistirei20:30 Telejornal21:00 Ásia Global21:30 Regresso a Sizalinda22:15 Aquarela do Brasil23:00 TDM News23:30 Six Days, Seven Nights (Seis Dias, Sete Noites)01:00 Telejornal (Repetição)01:30 RTPi DIRECTO

INFORMAÇÃO TDM

RTPi 8214:00 Telejornal Madeira14:30 Pedras que Falam15:00 Escape.tv - SIC15:15 Sexta às 916:00 Bom Dia Portugal17:00 Portugal Negócios – Com: Carlos Melo Ribeiro17:30 TEC@net18:00 Com Amor se Paga 19:00 Estado de Graça20:00 Jornal da Tarde 21:15 O Preço Certo 22:15 A Hora de Baco22:45 Praça da Alegria – Especial Dia da Criança

ESPN 3012:30 IAAF World Challenge League 15:00 FIA World Touring Car Championship 2012 - Highlights15:30 MLB Regular Season 2012 Detroit Tigers vs. Boston Red Sox18:30 (Delay) Baseball Tonight International 2012 19:30 (LIVE) Sportscenter Asia 2012 20:00 Football Asia 2012/13 20:30 Spirit Of London 21:00 The Contenders Spain vs. 21:30 The Contenders Portugal vs. 22:00 Sportscenter Asia 2012 22:30 Football Asia 2012/13 23:00 Spirit Of London 23:30 Los Angeles 1984

STAR SPORTS 3113:00 Total Rugby 13:30 2 Wheels 14:00 Meydan FEI Nations Cup 2012 15:00 Hot Water 2012/13 16:00 FIM Mx1 & Mx2 Motorcross W C 2012 - Highlights Grand Prix of Brazil 17:00 GP3 Series 2012 19:00 HSBC Asian 5 Nations Rugby 2012 Hong Kong vs. Kazakhstan21:00 2 Wheels 21:30 (LIVE) Score Tonight 2012 22:00 Laureus Spirit Of Sport 22:30 Game 2012 23:00 Engine Block 2012 23:30 FIA World Touring Car Championship 2012 - Highlights

FOX MOVIES 4011:40 Lincoln Lawyer13:40 Unstoppable15:20 The Joneses17:00 Far From Home18:25 Big Mommas20:15 Once Upon A Time21:00 Homeland22:00 The Resident23:35 Lincoln Lawyer

HBO 4111:45 Jumping The Broom13:50 The Mummy15:55 Hbo Central16:25 The Sum Of All Fears18:40 Godzilla21:00 Game Of Thrones22:00 Van Helsing00:10 The Craigslist Killer

CINEMAX 4212:55 El Mariachi14:20 Gunfighter’S Moon16:00 Coogan’S Bluff17:25 Little Nikita19:00 The Goods20:20 Supershark21:45 Epad On Max22:00 Spartacus: Gods Of The Arena23:40 Strike Back

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

CARLOS DO CARMO & BERNARDO SASSETTINão é um disco de fado. Não é um disco de jazz. É uma fusão entre as personalidades musicais de Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti, recentemente desaparecido. Um reportório único traçado entre clássicos da música portuguesa e temas eternos do cancioneiro internacional. A engenharia de som ficou a cargo de Tó Pinheiro da Silva num disco gravado sem “rede”. A escolha de Carlos do Carmo, debatida com Bernardo Sassetti, fez sentido para ambos. Músicas nunca antes cantadas, tocadas ou gravadas por nenhum dos intervenientes. José Afonso, Sérgio Godinho, Fausto e Rui Veloso foram os compositores nacionais escolhidos. Violeta Parra, Léo Ferré e Jacques Brel surgem revisitados neste encontro inédito.

CARLOS PAREDES • Antologia: Uma Guitarra com Gente DentroA guitarra, as pessoas, a vida - eis aquilo que verdadeiramente contou para Carlos Paredes. A sua paixão pela guitarra era tanta que certa vez, a sua guitarra se perdeu numa viagem de avião e ele confessou a um amigo que «pensou em se suicidar». São lendárias as histórias da sua distracção congénita, da sua simplicidade comovente, episódios de alegrias, emoções e ternuras contados sem maldade em serões de amigos comuns.

[ ] Cinema Cineteatro | PUB

SALA 1SNOW WHITEAND THE HUNTSMAN [C]Um filme de: Rupert SandersCom: Kristen Stewart, Charlize Theron, Chris Hemsworth14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 2MEN IN BLACK III [3D] [B]Um filme de: Barry SonnenfeldCom: Will Smith, Tommy Lee Jones, Josh Brolin14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 3THE WOMAN IN BLACK [C]Um filme de: James WatkinsCom: Daniel Radcliffe, Ciarán Hinds, Janet McTeer14.30, 19.30

DARK SHADOWS [C]Um filme de: Tim BurtonCom: Johny Deep, Michelle Pfeiffer16.30, 21.30

SNOW WHITE AND THE HUNTSMAN

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18 opinião sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

exploração, transporte e concen-tração dos recursos renováveis e não renováveis do planeta e os danos causados pela poluição, bem como as alterações dos ecos-sistemas, constituem as maiores

causas de impacto ambiental. A perturbação dos ecossistemas, é em termos ecológicos, a característica comum de maior relevo, que permite a sua sujeição contínua a mudanças provenientes do exterior.

Os ecossistemas de substrato conso-lidado aprenderam a reduzir, quando não a impedir as perturbações naturais que se repetem constantemente, dado que os seus efeitos são assimilados em parte pela capa-cidade de regulação homeostática. Assim, por exemplo, a selecção de estratégias de adaptação de muitos vegetais aos incêndios ocorridos nos ecossistemas das regiões bio-climáticos mediterrânicas, manifesta-se na sua capacidade de germinação a partir da cepa ou pela resistência das sementes das plantas à acção do fogo.

A recuperação do ecossistema, após a ocorrência de um incêndio, é possível, e inicia-se uma sucessão ecológica secundária, que conduz a uma fase muito semelhante à existente antes do distúrbio. As alterações provocadas pela actividade humana apre-sentam múltiplas manifestações e algumas provêm de actos sobre outros ecossistemas, com o qual os primeiros mantêm ligação, como por exemplo sobre exploração dos aquíferos, o que cria mudanças na regu-laridade do volume das águas dos rios, do ecossistema fluvial e da vegetação ribeirinha dos rios pela descida do nível freático.

A plantação de variedade de espécies vegetais estranhas destinadas a uma maior produção florestal constitui uma alteração do ecossistema primitivo, tendo efeitos de diferente natureza. A actividade humana de exploração dos recursos, de criação de poluição e de outras alterações de carácter diverso no meio ambiente, tem como resul-tado a regressão dos ecossistemas.

A regressão manifesta-se por meio de um conjunto de mudanças de sentido oposto às que se produzem na sucessão ecológica na sua concepção holística. Algumas dessas modificações nos ecossistemas manifestam--se por aumentos exteriorizados na produti-vidade, no incremento da taxa de renovação substancial de espécies (e a diminuição do tempo de renovação), no aumento do número de relações de competição entre as populações que partilham algum recurso, e pela diminuição da diversidade de espécies, bem como pela dinâmica das populações e da evolução das estratégias no aumento da

perspect ivasJorge Rodrigues Simão

A cidade como sistema aberto A heterogeneidade da cidade

reconhece-se pela distinção de diferentes zonas ecológicas, que se manifestam pela mudança de estrutura e de factores ambientais e sociais, e que pode ser plasmada num mapa ecológico e pela existência no sistema urbano de circulação de informação que regula os fluxos internos, o desenho e função das estruturas e os intercâmbios com o território próximo ou remoto

“As the distribution of economic activity has gone global, the city-system has also become global - meaning that cities compete now on global terrain.”

Planning in Divided Cities Frank Gaffikin and Mike Morrissey

proporção de estrategas do “r” (adultos de ciclo de vida curta), face aos estrategas “K” (adultos grandes de ciclo de vida larga), e redução da complexidade e da estrutura do sistema.

Os resultados da regressão manifestam--se com o rejuvenescimento do ecossistema. Este fenómeno têm-se observado igualmente nos ecossistemas que não estiveram sujeitos à intervenção humana. Em determinados ecossistemas, os níveis tróficos superio-res, por exemplo, os herbívoros da savana africana, exploram continuamente o nível trófico dos produtores primários, pelo que se mantém num fase prematura, e dessa forma obtém-se o máximo alimento, dado que a simplificação conduz a um aumento da produtividade e a uma diminuição do tempo de renovação da sua biomassa, o que é benéfico para os herbívoros.

Num segundo modelo, em que o ser humano faz parte do ecossistema, figura como um nível trófico superior, que explo-ra os níveis inferiores, produzindo a sua simplificação. Esta perspectiva não pode conduzir a propostas erróneas, segundo as quais a regulação mútua entre os diferentes níveis tróficos actuaria no final por regular as relações do homem sobre o ecossistema.

Numa óptica ecológica o comportamento humano é insólito na natureza, uma vez que as suas inovações apresentam características estranhas aos ecossistemas. A existência de mecanismos de auto-regulação entre os níveis tróficos não significa a impossi-bilidade de se dar o colapso do sistema. A realidade do estado da biosfera demonstra-

-nos com incontáveis exemplos. No sentido termodinâmico, a acção humana sobre os ecossistemas traduz-se numa aceleração dos fluxos de matéria e energia, que produzem uma maior desordem (entropia) e incerteza no meio ambiente.

O efeito é a simplificação dos ecossiste-mas, quer dos explorados, quer dos recep-tores dos resíduos da actividade humana. A ecologia, assente na teoria ecológica, tem evidenciado verdadeiros paralelismos entre os processos e leis dos ecossistemas naturais e os sistemas urbanos. Esta constatação é o resultado da natureza da ecologia como ciência de síntese, que pode reunir um con-junto de factos e conceitos característicos da teoria ecológica, que são aplicáveis nos outros contextos, como são as cidades ou

A

em outros sistemas humanos de diferentes momentos da história ecológica.

É necessário reconhecer, no entanto, que o objectivo é incompleto e aberto, e que não pode abarcar toda a complexidade da realidade urbana. Diversas disciplinas têm a função de entender o fenómeno urbano como um sistema de relações. Esta visão concebe a cidade como um sistema aberto, que apre-senta intercâmbios e uma dependência do exterior, no que toca à matéria e energia, com uma estrutura complexa, uma comunidade biológica conformada pelas populações de animais e vegetais, incluindo a humana, e que se exterioriza com astúcia construindo edifícios, vias, infra-estruturas de abasteci-mento e de saneamento e um metabolismo interno que renova as estruturas e dinamiza o sistema no seu conjunto.

Numa forma muito simplificada podem--se enunciar alguns princípios sobre o siste-ma urbano, em concreto, tais como a cidade apresentar um meio fisiográfico definido (que se refere à fisiografia ou geografia física, entendida como a explicação da natureza, do planeta e dos fenómenos naturais), que condiciona a sua extensão e estrutura (clima, solos, orografia e hidrologia); mostrar uma biocenose ou comunidade de organismos, entre os quais o homem que se situa como controlador das diversas espécies, através das suas actividades; ser na sua estrutura (ou forma) complexa e mutante dependendo das condições físicas e biológicas e das decisões humanas, o que condiciona em parte a sua forma e extensão, bem como a vida dos seus habitantes; deter um metabolismo similar ao de um organismo vivo, pois importa matéria e energia, em forma de alimentos, materiais de construção, energia de diferentes tipos, água e informação, e exporta resíduos sóli-dos, águas residuais, produtos e informação.

A cidade é um sistema aberto e muito he-terotrófico, pois depende, para sobreviver, dos recursos exteriores ao seu território, como são os derivados de agricultura, pecuária, pesca, recursos minerais, produtos de outras cidades, informação científica, tecnológica, cultural, financeira, situados em locais mais afastados; serem produzidos no seu interior fluxos hetero-géneos de matéria e energia, variáveis segundo as zonas, devido a condicionantes físicas, deci-sões políticas e actividades humanas (industrial, comercial, serviços). Naturalmente, o sistema urbano não é homogéneo na sua extensão como resultado deste fluxo heterogéneo.

A heterogeneidade da cidade reconhece--se pela distinção de diferentes zonas ecoló-gicas, que se manifestam pela mudança de estrutura e de factores ambientais e sociais, e que pode ser plasmada num mapa ecológico e pela existência no sistema urbano de cir-culação de informação que regula os fluxos internos, o desenho e função das estruturas e os intercâmbios com o território próximo ou remoto. É necessário acrescentar que os factores de tipo ambiental condicionam a qualidade ambiental da população urbana. Sem cair num determinismo, é evidente que, além de outros factores de tipo psicológico, social, cultural e económico, as característi-cas ecológicas do meio urbano condicionam a qualidade de vida dos seus habitantes.

cartoon MASSACREpor Steff

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19opiniãosexta-feira 1.6.2012 www.hojemacau.com.mo

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E que têm mais medo os jogadores de futebol ? De uma má arbitra-gem feita por um árbitro compra-do. Se o árbitro for injusto pode marcar uma grande penalidade se um jogador da equipa adversária

cair dentro da tua área. Por outro lado, o golo que a tua equipa marcou pode ser considerado inválido e até pode acontecer que um jogador seja expulso apesar de ter cometido apenas uma falta menor. De que vale competir num jogo de futebol assim?

A Associação Novo Macau realizou uma sondagem de opinião acerca da construção de um edifício gigantesco na Taipa Pequena. Das cerca de 1.700 opiniões recolhidas e assinadas, apenas uma pequena parte era a favor do projecto, sendo a grande maioria contra. A DSSOPT aceitou a sondagem como válida, mas, quando as autoridades finalmente anunciaram os resultados, foi declarado que a maioria das opiniões era a favor da construção do prédio gigantesco na Taipa Pequena.

Assistimos recentemente à consulta pú-blica sobre o desenvolvimento do sistema político. As 100.000 opiniões enviadas em cartas abertas pelas diversas associações a favor da opção “2+2+100”, se estivessem assinadas contavam como uma carta indi-vidual, sem necessidade de confirmação da identidade da pessoa que as rubricava. O resultado da falta de verificação de iden-tidade levou a que estas cartas exprimindo opiniões fossem consideradas como a voz da maioria. Ao usar o mesmo método de recolha de opinião , mas aplicando regras diferentes ao jogo, o único objectivo do Governo foi avançar com resultados pré--fabricados. Será que podemos considerar isto uma má arbitragem?

Não nego completamente os resultados das opiniões recolhidas pelas associações tradicionais, uma vez que a Associação Novo Macau delegou a recolha de opinião

um gr i to no desertoPaul Chan Wai Chi*

Uma má arbitragem faz com que um jogo de futebol não seja imparcial e justo. E quem é que está disposto a continuar a jogar um jogo de futebol sem imparcialidade e sem justiça, sob um sol escaldante?

Arbitragem injustano Centro de Sondagem de Opinião da Universidade de Hong Kong. Os resultados foram de 43% de opiniões a favor de “2+2” para eleição directa e indirecta, o que é mais 1% de ambas as opiniões que defendiam “aumento de assentos de eleição directa apenas” e “aumento de assentos de eleição directa e redução de assentos de eleição di-recta”. Mas o Governo de Macau anunciou que 86.49% das opiniões eram a favor de “2+2”. No entanto, devido à amostragem duvidosa do Governo, a percentagem anun-ciada está decididamente longe da situação actual. Como pode a população aceitar tal resultado?

Considero que as cartas que não neces-sitavam de confirmação de identidade de quem as assinava, apenas como um dado de referência, apesar do seu elevado número. Isto porque houve falta de rigor científico no processo de recolha de opinião.

Reconheço que os serviços administrati-vos se dedicaram exaustivamente para lidar com o processo de consultas, sobretudo ao ver como tantos funcionários públicos em-penharam tantos esforços e perderam tanto tempo para compilar dados estatísticos das opiniões contidas nas milhares de cartas abertas. E embora o Secretário para a Ad-ministração e Justiça dissesse repetidamente que o processo de recolha foi rigoroso, eu não estou convencido. Cabe aos leitores decidir se aquilo que disse o Secretário pode ser considerado mentira.

Em Macau é permitido por lei apostar em jogos de futebol. Tenho um amigo fute-bolista que gosta muito de apostar, embora perca sempre. No futebol, muitas vezes as equipas mais fracas ganham e as mais fortes perdem. Por vezes as equipas mais fortes perdem sem razão aparente. Os jogadores experientes sabem obviamente que não podem empurrar os adversários dentro da grande área, nem pontapeá-los em frente ao árbitro. Mas isto já aconteceu, e houve

jogadores expulsos e penáltis sofridos. Assim como não se percebem as regras controversas aplicadas pelos árbitros, como o imenso tempo de desconto que por ve-zes é dado sem ninguém perceber porquê. Será que há jogos combinados? Será que há arbitragens injustas? Talvez apenas com uma investigação judicial se possa desvendar estes mistérios. Um exemplo disto foi o jogo entre a França e o Brasil no Campeonato do Mundo.

Quanto ao meu amigo que gosta de apostar, avisei-o para não se meter nisso. Pensa que por ser jogador de futebol tem mais conhecimentos do jogo. Antigamente os atletas que jogavam futebol eram conhe-cidos como jogadores. Agora são estrelas de futebol. Estrelas que praticam futebol. É difícil de perceber quando é que estão a jogar e quando é que estão a representar.

Quanto aos funcionários públicos res-ponsáveis pela consulta pública sobre o de-senvolvimento do sistema político, embora tenham trabalhado imenso tanto no palco, como em bastidores, não consigo acreditar nos resultados finais da consulta.

Uma má arbitragem faz com que um jogo de futebol não seja imparcial e justo. E quem é que está disposto a continuar a jogar um jogo de futebol sem imparcialidade e sem justiça, sob um sol escaldante?

*Deputado e presidenteda Associação Novo Macau Democrático

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sexta-feira 1.6.2012www.hojemacau.com.mo

AS autoridades cana-dianas estão à pro-cura de um homem suspeito de ter des-

membrado pelo menos uma pessoa e de ter enviado, por correio, pacotes com um pé, uma mão e um tronco, em Otawa e Montreal.

O indivíduo já foi identifi-cado pela polícia como Luka Rocco Magnotta, um actor pornográfico homossexual, de 29 anos. A identificação surgiu depois de uma investigação policial a um apartamento, em Montreal, perto do local onde o tronco humano foi encontrado, dentro de uma mala junto a um monte de lixo.

Durante as buscas, foram encontrados elementos na cena do crime que permitiram ligar os pacotes com restos mortais àquele suspeito. Entre os objectos estava um colchão ensanguentado.

Dados iniciais da investiga-ção indicam que as três partes

Telescópio caça buracos negrosA NASA anunciou esta quarta-feira que vai lançar no espaço um telescópio cujas capacidades permitem analisar em profundidade buracos negros. O NuSTAR é um telescópio de raios-x que permite a captação de imagens com a maior definição já obtida. Fiona Harrison, que lidera a equipa de investigadores por detrás do projecto, disse esta quarta-feira em Washington, durante a apresentação da missão do NuSTAR, que o equipamento permite “analisar os maiores fenómenos do universo”, dando como exemplos os buracos negros e as explosões de estrelas. “Será o primeiro telescópio a funcionar com raios-x. Dessa forma, vai conseguir imagens com uma resolução 100 vezes superior a tudo o que existe actualmente. Pensava-se que os buracos negros eram raros, há 20 anos. Hoje sabemos que todas as grandes galáxias, como a Via Láctea, tem um buraco negro no centro.” O telescópio tem o lançamento marcado para dia 13 de Junho.

Portugal corta relações com SíriaPortugal cortou relações diplomáticas com a Síria e declarou o estatuto de “persona non grata” à embaixadora síria acreditada em Portugal. A informação é avançada pela TSF, que cita fontes diplomáticas que revelaram que a decisão do Ministério dos Negócios Estrangeiros, concertada com o Presidente da República, já foi comunicada a Damasco. A embaixadora síria não poderá entrar ou permanecer em Portugal, deixará de ter acesso a informação diplomática via Lisboa, estará proibida de tratar de quaisquer assuntos em Portugal e vê o seu passaporte diplomático de entrada no país bloqueado. Lamia Chakkour é embaixadora da Síria em Paris mas também está acreditada junto das autoridades portuguesas e junto da UNESCO. Na base desta decisão esteve o massacre de Houla, que matou 108 pessoas.

Homem enviou pacotes com pedaços humanos

Canadá em choque

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de corpo humano encontradas pertencem à mesma pessoa, mas aguarda-se ainda a realização dos testes de ADN. Para já, as autoridades disseram que o tron-co é de um homem caucasiano e suspeitam que o predador e a vítima se conheciam.

Na terça-feira, um pacote contendo um pé foi entregue na sede do Partido Conservador,

do primeiro-ministro Stephen Harper, em Montreal; algum tempo depois, um segundo pacote, com uma mão e tendo como destinatário o edifício do Partido Liberal em Otawa, terá sido detectado pela polícia.

O suspeito, também conhe-cido por Eric Clinton e Vladimir Romanov, não tem cadastro criminal.