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Se quiser ir de automóvel até à Ilha da Montanha tem de ter duas, e não uma, apólices de seguro. Quem o diz é o administrador da AMCM em resposta a Melinda Chan. A culpa é da lei... BODAS DE SANGUE TIANANMEN PÁGINAS 2 E 3 Governo recua na apólice única para veículos AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB Sands Tribunal dá voz a Steve Jacobs. Mais um capítulo no conflito com Sheldon Adelson HENGQIN DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUARTA-FEIRA 4 DE JUNHO DE 2014 ANO XIII Nº 3102 hojemacau PUB PUB POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 6 MORAL, MORALISMOS E MORALÕES A PEDRA NO SAPATO MANTÉM-SE AO FIM DE 25 ANOS. ASSOCIAÇÕES JUNTAM-SE NO LEAL SENADO EM NOME DA MEMÓRIA h

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Hoje Macau N.º3102 de 4 de Junho de 2014

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Page 1: Hoje Macau 4 JUN 2014 #3102

Se quiser ir de automóvel até à Ilha da Montanha tem de ter duas, e não uma, apólices de seguro. Quem o diz é o administrador da AMCMem resposta a Melinda Chan. A culpa é da lei...

BODASDE SANGUE

TIANANMEN PÁGINAS 2 E 3

Governo recuana apólice únicapara veículos

AGÊNCIA COMERCIAL PICO28721006

PUB

SandsTribunal dá voza Steve Jacobs. Mais um capítulo no conflito com Sheldon Adelson

HENGQIN

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q UA R TA - F E I R A 4 D E J U N H O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 0 2hojemacauPU

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POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 6

MORAL,MORALISMOSE MORALÕES

A PEDRA NO SAPATOMANTÉM-SE AO FIMDE 25 ANOS.ASSOCIAÇÕES JUNTAM-SENO LEAL SENADOEM NOME DA MEMÓRIA

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Page 2: Hoje Macau 4 JUN 2014 #3102

2 hoje macau quarta-feira 4.6.2014TIANANMEN

JOANA [email protected]

LEONOR SÁ MACHADO [email protected]

N A China continental, é sabido que aquilo que ficou conhecido como o ‘Massacre de Tianan-

men” é uma história que nunca deve ser repetida. Que não aconte-ceu e que foi apenas uma mera re-volução “contra-revolucionária”. Especialistas contactados pelo HM defendem que a China até está a conseguir manter reprimido o 4 de Junho – o dia em que, há 25 anos, estudantes chineses se manifesta-

D EPOIS de quase 20 anos de interreg-no, a vigília anual de homenagem ao massacre de Tiananmen – que faz 25

anos – vai acontecer hoje na praça do Leal Senado. O evento, que costuma ter lugar no largo de São Domingos, vai ser levado a cabo pelas associações União para o De-senvolvimento Democrático (UDD) e Open Macau Society (OMS). Em comunicado, Jason Chao, presidente da Associação Novo Macau e membro da OMS, apelou ontem para que todos os cidadãos de Macau se

juntem na emblemática praça do território para participar em mais uma vigília, inicia-tiva que tem vindo a ser organizada pela UDD desde a data do incidente.

O ano de 2014 passa assim a marcar o primeiro ano, desde a transferência de poderes para a China, em que a vigília tem novamente lugar no Leal Senado. Desde então, a praça central tem estado reservada – a pedido do IACM – para a realização de iniciativas referentes ao Dia da Criança. - L.S.M.

O massacre de Tiananmen completa hoje um quarto de século. Grande parte dos especialistas chineses – professores de história e sociedade da China e de Macau – contactados pelo HM recusaram prestar declarações sobre o tema. Houve mesmo quem dissesse que não tinha “opinião sobre o assunto”. Quem falou, diz que o evento deve ser relembrado sempre, mesmo se surgirem dificuldades

4 DE JUNHO AINDA É QUESTÃO SENSÍVEL, MAS ACADÉMICOS DEFENDEM INSISTÊNCIA PARA RELEMBRAR MASSACRE

De má memória

ram pacificamente pedindo mais democracia. Por Macau, as vigílias habituais vão-se manter, ainda que haja quem considere que existem tentativas de complicar a vida a quem quer relembrar um pedaço negro na história da China.

Glenn Timmermans é especia-lizado em estudos sobre o Holo-causto e História de Macau na Uni-versidade de Macau (UM). Ao HM, o professor disse que o Governo da RAEM tem sido “muito inteligente em nunca ter proibido [a vigília no Senado]”, mas acredita que o Executivo “faz com que esta seja verdadeiramente complicada de realizar”. O académico argumenta que a organização dos concertos e eventos do Dia da Criança – que acontecem anualmente nesta data no Leal Senado - apenas têm ser-vido para “desviar a atenção da população relativamente ao 4 de Junho”. Timmermans considera, contudo, que o 4 de Junho “é um evento que deve ser relembrado até ao momento em que a China

reconheça [o massacre]” e diz mesmo que o Governo Central continua a “fazer de conta que nunca aconteceu”.

TABU PARA SEMPRESó ontem à noite é que um dos activistas que vai participar na vigília de hoje disse ao HM que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) vai permitir

que o Leal Senado seja utilizado para este evento – é a primeira vez desde 1995 que isto acontece.

No entanto, especula-se que a autorização possa ter acontecido apenas porque a única justificação dada pelo instituto incluía o facto de o local estar ocupado com as actividades habituais do dia da criança. Estas foram, contudo, canceladas, na sequência da morte de Ma Man Kei – empresário e vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chi-nês. Sem eventos planeados, o Leal Senado – que tinha sido pedido por associações anteriormente – fica vago. O espaço vai ser, então, ocu-pado para relembrar o massacre.

Larry So, professor no Insti-tuto Politécnico de Macau (IPM), prefere não caracterizar o habitual impedimento da vigília no Leal Senado como um acto de repres-são por parte do Governo local. Diz, antes, que se trata de uma outra forma de tornar mais subtil o acontecimento, algo que, refere, tem vindo a ser praticado desde a transição do território para a China. De acordo com o politólogo, isto

LEAL SENADO ACOLHE VIGÍLIA AO FIM DE DUAS DÉCADAS

Aliados na praça

“Acho que há 10 anos atrás, os alunos do continente estavam mais interessados em saber mais sobre Tiananmen do que actualmente. Acho que a China tem sido muito eficaz em manter a questão suprimida”

“...devia ser obrigatório que toda a gente – mas principalmente os chineses – tomasse consciência e conhecimento sobre aquilo que aconteceu”GLENN TIMMERMANS Professor na Universidade de Macau

acontece “para fazer com que toda a comunidade esqueça o aconte-cimento” e, de certo modo, para conter os mais “entusiásticos”, de forma a evitar que desobedeçam às autoridades.

IMPORTANTE PARA SEMPRE?Larry So considera as homenagens anuais do 4 de Junho de 1989 “im-portantes para Macau, mas também para toda a China”, caracterizando o massacre de Tiananmen como um dos acontecimentos mais marcantes na história da China. “Os estudantes estavam a exigir a democratização do sistema e não lhes estava a ser permitido. Aí sim, foram efectivamente reprimidos. Julgo que todos os chineses deve-riam ter este tipo de sentimento”, diz, referindo-se à homenagem a um evento tão marcante.

Enquanto a importância do

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3 tiananmenhoje macau quarta-feira 4.6.2014

O Governo chinês disse ontem que mantém o veredicto acerca do movimento pró-

-democracia da Praça Tiananmen, esmagado pelo exército há 25 anos e classificado pelas autoridades com uma rebelião contra-revolucionária.

“A posição da China é clara e já tirámos as pertinentes conclusões acerca do incidente que refere”, disse Hong Lei, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangei-ros chinês, ao ser questionado sobre os acontecimentos ocorridos em Pequim no dia 4 de Junho de 1989.

Foi nesta data – há exactamente 25 anos – que as autoridades chine-

sas abriram fogo sobre centenas de estudantes. A história não é, no geral, desconhecida. Praça de Tiananmen, 15 de Abril de 1989. Cerca de cem mil estudantes da China lideram uma sé-rie de manifestações pacíficas contra a forma como o comunismo liderava. Os manifestantes eram oriundos de diferentes partes do país, mas luta-vam contra o que consideravam um sistema opressor. A morte de um dos líderes chineses – Hu Yaobang – foi um dos motivos que levou às mani-festações. Apesar de pacíficos, os manifestantes não acataram as ordens de retirada do Governo chinês. A ordem foi então dada: a 4 de Junho, o

exército chegaria à Praça Tiananmen para acabar com os protestos. À força e com tanques. Nunca se soube ao certo quantas pessoas morreram ou quantas foram presas. Ainda hoje, algumas delas pertencem à lista negra das autoridades de Pequim.

SEM MEMÓRIAO acontecimento – que ficou conhecido como o Massacre de Tiananmen - foi condenado pela comunidade internacional. Para a China, não existe. E esta amnésia, há quem diga, está a ser implemen-tada à força na população.

Ontem, por exemplo, o porta-

-voz do MNE chinês fez questão de realçar que na China não há dissidentes. Questionado quanto às recentes detenções que têm sido feitas ao longo do mês passado – de activistas ligados ou apoiantes do 4 de Junho -, Hong Lei foi claro. “Na China há apenas pessoas que violam a lei, não há dissidentes.”

O porta-voz disse mesmo que a China alcançou progressos notá-veis no desenvolvimento social e económico e que o seu sistema legal “continua a melhorar”, com vanta-gens cada vez mais evidentes. “Isto mostra que a via que escolhemos está de acordo com as condições

nacionais da China e os interesses fundamentais do povo chinês.”

Um quarto de século depois, o 4 de Junho - o “Liu Si” (“4 do 6”), como dizem os chineses, em segredo - continua a ser uma data tabu. Vários jornalistas acreditados em Pequim foram advertidos pela polícia de que necessitavam de autorização especial para fazer entrevistas na Praça Tiananmen. Em Macau, o HM sabe que muitos jornalistas foram impedidos de sair em viagem para a China, por causa do incidente – o que para alguns são comemorações, ainda é negado por outros. - J.F. com Lusa

“O Governo Central não tem a intenção de incluir este tipo de conhecimentos e informações nos currículos escolares. Em termos gerais, diria que os estudantes mais novos não têm este tipo de conhecimento porque não é fácil”LARRY SO Professor no Instituto Politécnico de Macau

CHINA MANTÉM POSIÇÃO DE QUE 4 DE JUNHO MARCA REBELIÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA

“Na China não há dissidentes, há violadores da lei”

evento não for tida em conta, há, na opinião de alguns, uma obriga-ção em relembrar o que não pode ser esquecido. “Enquanto não se confrontarem com isso [o facto de Tiananmen ter efectivamente acontecido] e não se resolverem, acho que as pessoas são moral-mente obrigadas a organizar e a participar nas comemorações”, defendeu Glenn Timmermans.

Ambos os académicos estão de acordo relativamente ao nível de conhecimento dos jovens sobre o que realmente aconteceu numa das maiores e mais emblemáticas praças da capital chinesa. “Acho que há 10 anos atrás, os alunos do continente estavam mais interessados em saber

mais sobre Tiananmen do que actu-almente. Acho que a China tem sido muito eficaz em manter a questão suprimida”, afirmou Timmermans. Confessa-se, ainda, “surpreendido” quando se apercebe da quantidade de alunos da China continental que não sabem nada sobre o massacre. “É uma coisa sobre a qual toda a gente devia saber alguma coisa, mas muita gente na China desco-nhece qualquer facto sobre isso”, explicou.

Também Larry So concorda. “O Governo Central não tem a intenção de incluir este tipo de conhecimentos e informações nos currículos escolares. Em termos gerais, diria que os estudantes

mais novos não têm este tipo de conhecimento porque não é fácil”. O académico lamenta que apenas um pequeno número de pessoas saiba o que realmente aconteceu no dia 4 de Junho de 1989.

ENCARAR O PASSADOE OLHAR EM FRENTE“Se não se consegue encarar o passado, como vai ser possível enfrentar o futuro?”. A questão foi colocada pelo também politólogo Larry So, que defende ser “neces-sário encarar a história [da China] de forma racional e objectiva”. Tal como outros académicos, acredita que não é possível ter um bom futu-ro “fingindo que nada aconteceu”.

Para Timmermans, desconhe-cer os factores que desencadearam o incidente de Tiananmen é um acto de “cobardia moral”, sendo que o académico considera mesmo que “devia ser obrigatório que toda a gente – mas principalmente os chineses – tomasse consciência e conhecimento sobre aquilo que aconteceu”.

Muitos dos académicos e es-pecialistas contactados pelo HM recusaram-se a prestar declarações sobre o tema. A justificação foi de que a questão “é bastante sensível” e houve mesmo quem dissesse que não tinha qualquer “opinião sobre o assunto”.

Alguns destes especialistas lec-cionam nas instituições superiores do território, em cadeiras como História da China.

Se esta decisão pode reflectir o que defendem So e Timmermans – de que há um grande desconhe-cimento sobre o 4 de Junho devido à falta de acesso a informação –, há quem ainda tenha esperança. É o caso de Ng Kuok Cheong,

um dos organizadores da vigília de hoje, que defende que eventos deste género são muito importantes para a geração mais nova, mas adianta mais: cada vez um número maior de jovens tem insistido em saber mais sobre o que realmente se passou na praça de Pequim. “Alguns chineses estão a tentar juntar informações sobre quantas mortes houve e sobre como é que as partes radicais agiram contra o Governo”, diz o também deputado.

Há quem diga que nunca se soube, ao certo, quantas pessoas foram mortas pelas forças pró-go-vernamentais e como se processou, exactamente, o acontecimento em si. Na opinião de Ng, “é necessário insistir para saber o que se passou”. Contudo, diz que “o Governo está preparado para conter essa informação [sobre o incidente] e a mitigar”, ainda que defenda que deve haver um maior combate a essa tendência.

Em Macau, apesar de todas as dificuldades, as redes sociais e a imprensa – pelo menos a portugue-sa e a inglesa - enchem-se todos os anos com referências ao 4 de Junho. Os ajuntamentos acontecem todos os anos, mas, ainda assim, não num grande escala.

Agnes Lam, professora da UM, prefere não apelidar a constante recusa do IACM como um acto repressivo, apesar de admitir que o Governo não aprova a sua reali-zação “em grande escala” - facto que justifica que o Largo de São Domingos seja o local escolhido pelo IACM para a vigília do 4 de Junho nos últimos anos. Hoje, a académica vai para Hong Kong participar em eventos que celebram a data. “Há mais pessoas, algumas vêm de Pequim e tem uma grande cobertura jornalística. É diferente.”

Para quem ficar por cá, às 20h30, o Leal Senado vai ser tomado de ‘assalto’ para, à luz das velas, re-lembrar os que pereceram na Praça Celestial, há exactamente 25 anos.

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hoje macau quarta-feira 4.6.20144 POLÍTICA

O Governo fixou on-tem novos tectos para a compra de

habitação económica, deter-minando novos rendimentos mensais para as famílias in-teressadas em adquirir casas.

Ao abrigo de um des-pacho do Chefe do Execu-tivo, publicado em Boletim Oficial, o limite mínimo de rendimento mensal de um agregado composto por ape-nas um elemento sobe para 8490 patacas e o máximo para 31.750 patacas. No caso de um agregado familiar com duas ou mais pessoas, o tecto mínimo passa para 13.210 patacas e o máximo para 63.500 patacas.

O despacho define ainda o limite máximo de património líquido dos candidatos à com-pra de fracções de habitação económica: a um agregado composto por apenas uma pessoa corresponde um tecto de 959.600 patacas, enquanto no caso de um núcleo com número igual ou superior a dois membros o património líquido não pode exceder 1,91 milhões de patacas.

O secretário de Estado das Comunidades, José Ce-sário, vai estar em Macau

para as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comu-nidades Portuguesas, disse ontem fonte diplomática à agência Lusa.

José Cesário, que também repre-sentou Portugal no 10 de Junho em 2012, chega na próxima segunda--feira, ficando apenas 24 horas no território, indicou a mesma fonte.

Melinda Chan tinha proposto que os veículos de Macau a entrar na Ilha da Montanha pudessem ter apenas um seguro para casos de acidente. O Governo Central até aceitou a proposta, mas, agora, a AMCM recuou por causa de diferenças na lei

JOANA [email protected]

Q UEM quiser ir de automóvel para a jurisdição de Macau na Ilha da Montanha

tem de ter duas apólices de seguro, para caso algo aconteça. Isso mes-mo afirmou António Félix Pontes,

A campanha para as eleições para a Comis-

são Eleitoral do Chefe do Executivo começa a 14 de Junho, sendo os candidatos escolhidos no dia 29. Isso mesmo anunciou ontem Song Man Lei, presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE). A campanha dura 14 dias.

Os candidatos para o colégio que decide quem é o próximo líder do Governo da RAEM vão ocupar, este

ano, 400 lugares. Destes, 344 são provenientes de sete sectores e subsecto-res – trabalho, financeiro, desportivo, etc.

Diferindo das votações à Assembleia Legislativa, cada votante pode escolher mais do que um candidato de cada sector, sendo que há casos em que apenas uma pessoa pode escolher 120 candidatos.

Devido ao tempo que a contagem de votos implica devido a esta especificidade,

Song Man Lei já tinha anun-ciado que vai ser utilizada a contagem por meio electró-nico. Ou seja, “serão adopta-dos, pela primeira vez, meios electrónicos para reduzir o tempo de escrutínio”.

Com a contagem elec-trónica, a CAECE acredita que vai diminuir em um terço ou até para metade o tempo normalmente gasto. Esta contagem será feita através da técnica OMR (reconhecimento óptico de marca), que faz o scann

de todas as escolhas do boletim de voto e calcula automaticamente os votos adquiridos por cada candi-dato. Por isso mesmo, a vo-tação terá de ser feita com uma caneta preta especial, cedida no local do voto.

A campanha eleitoral também será diferente das dos deputados, sendo que será feito um evento único para os candidatos de cada sector, a ter lugar no Centro de Actividades Turísticas. - J.F.

HENGQIN GOVERNO RECUA NA APÓLICE ÚNICA PARA VEÍCULOS

Marcha atrásnuma resposta a uma interpelação de Melinda Chan. O facto de a legislação ser diferente entre o território e a China é a causa para algo que faz recuar uma promessa do Governo Central.

“Na realidade, confirmamos que o projecto ‘uma única apólice a cobrir os dois locais’ foi equacio-nado na fase inicial do estudo de um mecanismo de seguro para a entrada e saída de veículos de Ma-cau”, começa por admitir o admi-nistrador da Autoridade Monetária de Macau (AMCM). No entanto, explica, “as diferenças substan-ciais, principalmente no capítulo da legislação/regulamentação e práticas operacionais” fizeram com que a delegação de Guangdong da Comissão Reguladora de Seguros da China (CIRC, na sigla inglesa) e a AMCM voltassem atrás.

Melinda Chan questionou o Governo, em Março deste ano sobre o assunto. Numa interpela-ção, a deputada explica que, em

2013, apresentou uma proposta na Conferência Política do Povo Chinês, em Guangdong, da qual faz parte, para que fosse promovida uma resolução sobre as apólices de seguros para carros que queiram entrar de Macau em Hengqin. A deputada afirma que o que lhe foi dito pelo Governo Central difere o que vem, agora, ser dito pelo Executivo local.

“A resposta dada, em Setembro de 2013, indica que os veículos que tenham uma apólice de seguro válida podem já circular na Ilha da Montanha, sem que tenham de comprar duas. Entretanto, (...) a CIRC manifestou também a sua concordância sobre a possibi-lidade da proposta ‘uma única apólice de seguro permite circular na China e em Macau. (...) No

entanto, a posição manifestada pelo presidente da AMCM parece excluir essa possibilidade”, acusa Melinda Chan.

A deputada fez questão de realçar que a Ilha da Montanha vai ser parte do quotidiano dos residentes de Macau e quis saber se o recuo nesta promessa é apenas da responsabilidade do Governo da RAEM. António Félix Pontes nega.

“Após uma análise conjunta, a CIRC e a AMCM consideraram que, a curto-prazo, a via mais fácil e rápida de resolver a temática em apreço consiste na emissão de duas apólices independentes”, escreve o administrador na resposta a Melinda Chan.

António Félix Pontes diz que a ideia é que as seguradoras em Ma-cau apoie os clientes na participação de sinistros na Ilha da Montanha e “vice-versa” e diz mesmo que segu-radoras de cá e de lá já concordaram com “o mecanismo”.

A AMCM diz mesmo que a proposta que define este sistema já foi enviada à sede da CIRC em Pequim, que já a aceitou, ainda que informalmente. “Aguarda-se a sua aprovação expressa para se proceder à divulgação pública e à emissão de directivas específicas para as seguradoras.”

HABITAÇÃO ECONÓMICA GOVERNO AUMENTA LIMITES PARA AQUISIÇÃO

Só para os novos10 DE JUNHO SECRETÁRIO DE ESTADO DAS COMUNIDADES EM MACAU

Visita relâmpago

Eleições Campanha para Colégio Eleitoral a 14 de Junho

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é assi-nalado em Macau com vários eventos culturais e recreativos organizados pelo Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Instituto Por-tuguês do Oriente, Fundação Oriente e Casa de Portugal, em actividades que se iniciaram a 30 de Maio e se prolongam até ao final de Junho.

No dia das celebrações, as ce-rimónias começam com o hastear

da bandeira no consulado geral, seguindo-se a tradicional romagem à gruta de Camões, no jardim com o nome do poeta português.

Ao final da tarde decorre uma recepção à comunidade, na Resi-dência de Portugal, cerimónia que contará com a participação do Chefe do Executivo, Chui Sai On.

Além das cerimónias oficiais, José Cesário aproveita a sua deslo-cação a Macau para alguns contac-tos, com a Associação dos Aposen-tados, Reformados e Pensionistas, Associação dos Trabalhadores da Função Pública e Associação dos Macaenses.

O secretário de Estado tem ainda um encontro com os Conselheiros das Comunidades Portuguesas.

O constante no despacho, que entra em vigor a partir de hoje, não é aplicável, porém, às candidaturas aos concur- candidaturas aos concur-sos gerais para aquisição de habitação económica, cujos anúncios foram publicados no Boletim Oficial a 20 de Março e a 18 de Dezembro de 2013, continuando a ser-lhes aplicável o disposto nos anteriores despachos do Chefe do Executivo.

Em Março, cerca de 42 mil residentes permanentes apre-sentaram uma candidatura à compra das apenas 1900 fra-ções de habitação económica disponibilizadas.

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5 políticahoje macau quarta-feira 4.6.2014

PEREIRA COUTINHO QUESTIONA GOVERNO SOBRE ENSINO NO SECUNDÁRIO

O fundamental da natureza humana

“...Macau é designado como um ‘centro de encontro de culturas’ justificaria que os jovens de Macau estudassem quer a Filosofia ocidental, quer a Filosofia chinesa”

JOANA [email protected]

J OSÉ Pereira Coutinho não está satisfeito com a forma como os jovens de Macau estão a ser

ensinados nas escolas. A questão principal deve-se ao que o deputado considera ser uma fraca transmissão de conhecimentos ao nível da polí-tica e da filosofia.

Numa interpelação escrita ao Governo, Coutinho afirma mesmo que os alunos do território deveriam ter uma disciplina de Introdução à Política a partir do ensino secundário.

“Uma boa formação dos jovens justificaria a criação de uma discipli-na de Introdução à Política no ensino secundário complementar”, salienta o deputado. “Na generalidade dos currículos das escolas de Macau não consta a disciplina de Filosofia, cujo estudo abrange questões fun-damentais da natureza humana. Por outro lado, como Macau é designado como um ‘centro de encontro de culturas’ justificaria que os jovens de Macau estudassem quer a Filosofia ocidental, quer a Filosofia chinesa.”

Governo aumenta subsídios e pensões Um despacho do Chefe do Executivo de Macau, publicado ontem em Boletim Oficial, actualiza os montantes de um pacote de subsídios, incluindo de desemprego, doença, casamento, nascimento e funeral. As actualizações, que já estão em vigor, têm efeitos retroactivos a 1 de Janeiro. Ao abrigo do despacho, as pensões para idosos e de invalidez passam para 3180 patacas, enquanto o subsídio de desemprego passa para 127 patacas por dia. O subsídio de doença aumenta para 96 patacas diárias e para 127, caso haja lugar a internamento hospitalar. Nesta área, os aumentos situam-se entre as seis e sete patacas. Já os montantes dos subsídios de nascimento e casamento são actualizados para 1800 patacas e o de funeral para 2330 patacas, mais 100 e 130 patacas do que o ano passado. O montante da pensão social também é revisto em alta para 2083 patacas. Os valores foram fixados após ouvido o Conselho Permanente de Concertação Social, diz o mesmo despacho. Em comunicado, o Fundo de Segurança Social (FSS) indica que a diferença do valor resultante do aumento das pensões e subsídios do Regime de Segurança Social vai ser atribuída a partir de meados de Junho.

Mas, Pereira Coutinho refere mais. Em questões entregues ao Executivo, o deputado fiz mesmo que deveria ser dada mais atenção à história de Macau e da China e de política.

“Vão os jovens do ensino secundário [aprender] noções dos diferentes sistemas políticos exis-tentes nos vários países em termos comparativos entre si e com a Lei Básica de Macau?”, questiona.

O deputado pergunta ainda se há intenção de que os jovens estu-dantes aprendam sobre princípios de cidadania e de direitos humanos que estão já previstos na Lei Básica e no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e no Pac-to Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais, que se aplicam em Macau.

“Que medidas educativas serão implementadas no futuro para que o estudo da Filosofia e Introdução à Política seja implementado, de forma generalizada, no ensino secundário e complementar nas escolas de Macau?”, remata Pereira Coutinho.

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hoje macau quarta-feira 4.6.20146 SOCIEDADE

JOANA [email protected]

U M tribunal do Ne-vada decidiu abrir novamente um pro-cesso interposto

por Steve Jacobs contra o magnata do jogo Sheldon Adelson. O processo – por difamação – tinha sido recu-sado em primeira instância, mas esta semana, uma maio-ria de juízes decidiu reabri--lo, num tribunal superior.

Segundo a Associated Press e diversos jornais nor-te-americanos, num parecer do colectivo foi decidido que o processo interposto por difamação contra o patrão da Las Vegas Sands seria novamente analisado.

Jacobs fez uma queixa contra Adelson quando

A esquadra policial da Taipa vai ser re-

construída e a PAL Ásia Consultores, Lda. vai ser a empresa respon-sável pela elaboração do novo projecto. O anúncio foi feito ontem em Boletim Oficial.

Num despacho as-sinado pelo próprio Chefe do Executivo, Chui Sai On, fica a saber-se que foi dada autorização para a ce-

lebração do contrato com a empresa, sendo que a PAL Asia ficará a cargo de desenhar o novo edifício. Ain-da não se sabe nem quando, nem qual o valor da reconstrução da esquadra, situada na Rua de Tai Lin, mas a elaboração do projecto vai ser de mais de dez milhões de patacas.

De acordo com o despacho ontem

publicado no Boletim Oficial, a empresa vai receber 13,9 milhões de patacas pelo traba-lho, em pagamentos que começam este ano e se estendem até 2018.

A Pal Asia tem estado envolvida em grandes projectos em Macau, como é o caso do metro ligeiro e da nova torre de controlo do Grande Prémio. - J.F.

OS casinos de Macau encerraram Maio com receitas brutas de

32.354 milhões de patacas, mais 9,3% do que no mesmo mês de 2013, revelou a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

De acordo com as informações disponíveis na página electrónica do organismo, o mês de Maio foi, em termos de crescimento homólo-

go, o segundo mais baixo de 2014 ao registar apenas uma subida de 9,3% e depois de um crescimento homólogo de 7% em Janeiro.

Já no acumulado dos primeiros cinco meses, os casinos locais já registaram receitas brutas de 165.871 milhões de patacas, mais 15,8% do que no mesmo período do ano passado.

A INDA não há interessa-dos em operar as rotas marítimas feitas pela

companhia Macao Dragon. Isso mesmo confirmou ao HM uma porta-voz da Direcção dos Serviços Marítimos e das Águas (DSAMA), ontem.

Mais de dois anos depois da operadora de ferries Macao Dragon ter declarado falência, a DSAMA assegura que não há informações sobre interessados. “Não recebemos ainda nenhum pedido para operação das rotas

CASO SANDS JACOBS VAI SER OUVIDO EM PROCESSO ANTERIORMENTE RECUSADO PELO TRIBUNAL

Vira o caso e volta ao mesmo

FERRIES MACAO DRAGON CONTINUA SEM SUBSTITUTO

O trajecto que ninguém quer

este o despediu, em 2010, de director-executivo da Sands China. Entre outras acusações, o ex-director executivo da Sands acusou o magnata da Venetian de estar alegadamente a autorizar um esquema de prostituição nos casinos do território e de ter pago valores elevados a Leonel Alves, advogado e deputado em Macau, por causa de benefícios que a posição de Alves – como membro do Conselho Exe-cutivo e da Conferência Política do Povo Chinês -, teria dado à empresa. Jacobs dizia ainda ter sido despedi-do por não querer pactuar com ilegalidades.

Mais tarde, e depois deste primeiro processo, Jacobs anexou mais uma queixa de difamação contra

Adelson, por este ter dito ao Wall Street Journal que o seu ex-funcionário era “um mentiroso e um maluco”. O artigo do jornal citava um email de Adelson, que indicava que o magnata do jogo tinha uma extensa lista de razões para ter despedido Jacobs – algo que Sheldon Adelson sempre defendeu: o despedimento com justa causa. No email, Adelson dizia que “curiosamente, Ja-cobs nunca refutou qualquer uma das razões apresenta-das” e que o ex-director--executivo apenas tentou explicar o seu despedimento com mentiras e fabricações baseadas na sua loucura.

REVIRAVOLTADepois de terem decidido que o que vinha no jornal

não podia ter sido em con-ta, por estar protegido pelo sigilo judicial, um tribunal superior do Nevada decidiu voltar atrás, por considerar que poderia haver excep-ções.

“O tribunal considerou que esse privilégio não é absoluto, quando há o caso de estas declarações serem feitas aos media quando os próprios media não têm mais interesses no resultado de um caso do que o público em geral”, indica a imprensa norte-americana. ““Assim, podemos concluir que o Wall Street Journal não tem qualquer interesse jurídico ou financeiro no litígio”, escreveu o presidente do colectivo, James Hardesty, citado na imprensa.

Pelo contrário, se tanto os media, como a população têm interesse igual no caso, então os juízes consideram que o interesse público só seria respeitado se se ouvisse os dois lados da história. Jacobs terá agora essa oportunidade.

Pal Asia desenha Esquadra da Taipa

Casinos fecham Maio com mais de 32 mil milhões

dessa empresa [Macau Dra-gon]”, referiu ao HM a porta-voz do organismo.

Em Setembro de 2011, a Ma-cao Dragon declarou falência, entrando com um processo no Tribunal de Hong Kong para esse efeito. A empresa fez o anúncio do dia para a noite, decidindo suspender todas as ligações entre a Taipa e a região vizinha. Na altura, a companhia acusava o Executivo da RAEM de nada fazer para reverter a baixa aflu-ência de passageiros, alegando

que o Governo se comprometeu a dar autorização para transpor-tar 1100 passageiros por cada viagem, mas tendo estabelecido um máximo 750 pessoas entre Hong Kong e Macau e 600 na rota inversa. A companhia alegou não dispor de meios para pagar a tempo as taxas portuárias.

O Governo, contudo, sempre negou ser culpado, até porque, disse na altura, Susana Wong da ex-Capitania dos Portos, o limi-te a cumprir sobre a lotação das embarcações já estava expres-samente previsto na licença da exploração atribuída à empresa.

Com bilhetes a partir das 68 patacas, a Macao Dragon era a ligação mais barata entre Macau e Hong Kong. Tinham passado apenas 14 meses dos inícios das operações quando a empresa – que recebeu o contrato de ad-judicação da operação das rotas por ajuste directo – suspendeu os serviços. - J.F.

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7CHINAhoje macau quarta-feira 4.6.2014

S EJA por via diplomática, pelo investimento ou pela força, a China está em-penhada ao máximo para

suprir a sua crescente procura de energia.

O governo chinês mostrou as suas intenções quando fechou um acordo de gás natural de 30 anos com a Rússia e no intenso embate com o Vietname motivado por uma plataforma chinesa de extracção de petróleo no disputado mar do Sul da China.

Ambos os acontecimentos de-monstram a actuação vigorosa de Pequim na procura de energia, uma estratégia política e económica com implicações importantes para o resto do mundo.

“O crescimento dinâmico da economia chinesa está a reformu-lar o mercado global de fontes de energia. As implicações econó-micas e estratégicas subsequentes ainda estão a ser delineadas”, disse Mark J. Finley, director geral da BP para mercados de energia globais e economia dos Estados Unidos.

A única opção da China é suprir as suas necessidades de energia indo além das suas fronteiras. Se-gundo a Opep, a China consumiu 10,1 milhões de barris de petróleo por dia no ano passado – um nono do total mundial–, mas só produziu 4,2 milhões de barris por dia.

A China tem obtido resultados variáveis com a extracção em plataformas marítimas e tem sido lenta ao explorar os supostamente vastos recursos de gás de xisto domésticos.

Estes depósitos no subsolo são bem mais profundos que os dos EUA e ficam em formações geológicas ainda pouco estudadas.

Actualmente o gigante asiático tem operações, investimentos ou projectos de energia em África, no Médio Oriente e na América do Sul e do Norte.

Esta procura deu também um novo alento aos produtores de car-vão seriamente afectados pela que-da da procura nos Estados Unidos e noutros países industrializados.

A dependência da China pe-las importações implica grandes desafios de política externa. Ou seja, o país precisa recorrer a áreas instáveis do mundo para suprir as suas necessidades.

A China importa grande parte de seu petróleo da região do golfo Pérsico e pelo estreito de Ormuz, onde a segurança está a cargo da Marinha dos Estados Unidos. O país conta também com cerca de 500 mil barris por dia do Irão.

No entanto, as sanções america-nas ao Irão tornaram este país uma fonte menos confiável de petróleo. Ao mesmo tempo, a China tem recebido remessas menores de petróleo bruto da Líbia, do Sudão e

O desenvolvimento económico obriga os chineses a procurar fontes de energia um pouco por todo o mundo alterando cada vez mais o actual panorama do mercado global. O recente acordo de gás natural firmado com a Rússia deverá reforçar as posições dos dois países em termos económicos e políticos

ENERGIA PEQUIM À PROCURA DE GARANTIR O FUTURO

Gigante marca o ritmo 10,1milhões de barris de petróleo por dia em 2013

CLIFFORD KRAUSS KEITH BRADSHERNew York Times

do Sudão do Sul. O Departamento de Energia dos EUA relatou recen-temente que a China substituiu com destreza estas fontes em declínio por importações de Omã, Emirados Árabes Unidos, Angola, Venezue-la, Rússia e Iraque.

NOVAS ESTRATÉGIAS As relações da China com países ricos em energia variam muito. A situação no Vietname parece extrema, com navios de ambos os países a atacarem-se, e as forças navais chinesas s usar canhões de água contra as vietnamitas. As

reivindicações da China por águas asiáticas sob disputa despertaram os protestos dos seus vizinhos, assim como do governo de Obama.

Mas no Iraque, onde a China é o maior cliente de petróleo e as petroleiras chinesas investem pe-sadamente em alguns dos maiores campos petrolíferos, os chineses preferem não se envolver nos conflitos sectários do país. Nem parecem ansiosos por desafiar a influência dos EUA na região.

A China tornou-se também um actor importante na América La-tina, área tradicionalmente muito influenciada pelos EUA. Está a estreitar laços com os governos de ideologia socialista do Equador e da Venezuela, os quais são finan-ciados pelo petróleo e procuram distanciar-se dos EUA.

No Equador, a China tornou--se numa espécie de banco para o governo, concedendo empréstimos que chegam a 60% das necessida-des da administração, em troca de remessas de petróleo. Empresas chinesas vendem petróleo equato-riano para todo o mundo, incluindo para os EUA.

A petroleira estatal da Vene-zuela está a saldar uma dívida para com a China, de cerca de 280 mil

A partir de 2018, a Rússia poderá fornecer 38 mil milhões de metros cúbicos de gás natural anualmente -ou seja, mais de 15% da procura actual - para a China

milhões de patacas em emprésti-mos feitos nos últimos seis anos, com uma grande parcela dos seus 600 mil barris de petróleo expor-tados por dia.

A África é um lugar mais difícil para investir e mostra os limites da influência chinesa.

No ano passado, o Chade sus-pendeu por tempo indeterminado as actividades da estatal Empresa Nacional de Petróleo da China devido a derramamentos de petró-leo no sul da capital, N’Djamena. Funcionários do governo do Chade

afirmaram que os chineses obri-garam os trabalhadores locais a limpar as águas sem a protecção adequada.

A Sinopec, subsidiária de outra petroleira chinesa, foi forçada a pagar cerca de 2.8 mil milhões de patacas Gabão em Janeiro para resolver o que o governo disse ser uma violação de contrato num campo petrolífero na sua costa. O primeiro-ministro Li Keqiang destacou o interesse duradouro da China por África ao visitar quatro países em Maio, incluindo Angola e Nigéria, que são ricos em petróleo.

RÚSSIA ENTRA EM JOGOO novo acordo de gás com Mos-covo deverá reforçar a posição da Rússia e da China em termos económicos e políticos. Isto ajudará Pequim a diminuir a sua dependência de rotas de trânsito inseguras e de países instáveis. E também garantirá um mercado de energia para a Rússia se a Europa quiser substituir a energia russa por importações de outros países.

A partir de 2018, a Rússia poderá fornecer 38 mil milhões de metros cúbicos de gás natural anualmente -ou seja, mais de 15% da procura actual - para a China. Talvez o as-pecto mais importante do acordo seja possibilitar que a China use menos carvão e gere mais energia eléctrica com gás natural.

“A população chinesa vai apre-ciar a capacidade de se industria-lizar sem ondas de névoa tóxica”, disse Jim Krane, especialista em energia na Universidade Rice em Houston.

“E o mundo aplaudirá a redução das emissões de gás carbono se o gás mais limpo puder diminuir drasticamente o consumo de carvão na matriz energética da China.”

“O crescimento dinâmico da economia chinesa está a reformular o mercado global de fontes de energia. As implicações económicas e estratégicas subsequentes ainda estão a ser delineadas”MARK J. FINLEYDirector geral da BP

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PROGRAMA

OS INCRÍVEIS DE MACAU E HONG KONG

8 hoje macau quarta-feira 4.6.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

CIÊNCIA PARA MENINOS EM POEMAS PEQUENINOS • Regina GouveiaCiência e poesia existem nas coisas que nos cercam, à espera de mentes curiosas como as das crianças, que vivem intensamente cada momento. Qual a criança que não se encanta com o arco-íris, com as folhas que dançam ao sabor do vento ou as bolas de sabão que flutuam no ar? Qual a criança que não levanta questões ao ver-se “reproduzida” num espelho, ao ver que o Sol se esconde de noite, a Lua se esconde de dia e que há corpos que flutuam e outros não? Neste livro, de uma maneira simples e divertida, a autora alia a imaginação poética ao rigor científico, sem esquecer a sensibilização para os problemas ambientais.

PARA FÉRIAS - 4 AOS 5 ANOS • Vários AutoresA nova coleção Para Férias foi pensada para o seu filho se divertir durante as férias. As atividades propostas respeitam as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar e as crianças poderão praticar e rever as noções desenvolvidas ao longo do ano. Proporcione aos seus filhos atividades educativas e lúdicas durante as férias, preparando--o para a etapa seguinte. Divirtam-se e partilhem momentos especiais!

JOANA [email protected]

E LE está de volta e só falta mesmo escolher o oponente. Manny ‘Pacman’ Pacquiao

está de regresso à arena do Cotai, a 23 de Novembro deste ano. O anúncio foi feito por Bob Arum, dono da famosa promotora de boxe Top Rank.

Responsável pelos recen-tes e intensos combates que se têm protagonizado no Ve-netian, Bob Arum assegurou que o lutador Filipino – oito vezes campeão mundial em categorias diferentes – está de regresso.

Depois de ter vencido ain-da há poucos meses Timothy Bradley – e ter conseguido de volta o seu título de campeão mundial da World Boxing Organization (WBO) -, ‘Pa-cman’ pode vir a enfrentar Juan Manuel Marquez. Este é, pelo menos, um dos nomes na “extensa” lista que Bob Arum assegura ter para o filipino. É o favorito, diz o dono da Top Rank, mas não o único.

É já a partir da próxima quinta-feira, que as salas de cinema do

casino Galaxy vão exibir vários filmes realizados em vários países da Ásia ou por cineastas asiáticos. A Mostra de Verão de Filmes Asiáticos, a ter lugar em várias salas de cinema do casino do Cotai, entre os dias 5 e 21 de Junho, vai servir para lançar várias estreias em Macau, como ‘The Memories’, realizado pelo cineasta de Macau, Fei Ho, e apoiado pelo Instituto Cultural.

O festival de cinema vai englobar filmes japo-neses, chineses, coreanos, indianos e de outros locais da Ásia e cada película terá a sua hora de estreia, pelo que os interessados poderão

• Ng Kuok Kun (à esquerda), o lutador local que participou pela segunda vez como lutador profissional num evento da Top Rank, venceu no sábado Muhammad Imam, da Indonésia. O ‘Macau Kid’ conseguiu derrotar o oponente com um KO às costelas, passavam apenas 0,56 segundos do primeiro assalto do combate. Também na Arena do Venetian, ainda que com um pouco mais de dificuldade, Rex Tso, de Hong Kong conseguiu vencer Ratchasak Kokietgym da Tailândia. O ‘Wonder Kid’ ainda foi duas vezes ao chão, mas mostrou-se seguro e com uma técnica muito boa, que lhe valeu uma vitória por decisão unânime ao fim de dez assaltos. Os lutadores das RAE’s têm feito as delícias do público, que tem vindo constantemente apoiá-los ao Venetian. Ambos continuam sem somar qualquer derrota.

FILMES ORIGEM DIA

Findind Mr. Right China 6 de Junho

Shield of Straw Japão 7 de Junho

Bekas Curdistão 7 de Junho

Ilo Ilo China 8 de Junho

The Kiyosu Conference Japão 8 de Junho

A complicated story China 9 de Junho

Pieta Coreia 10 de Junho

Commitment Coreia 11 de Junho

The lunchbox Índia 12 de Junho

Touch of the Light China 13 de Junho

Barfi! Índia 14 de Junho

The great passage Japão 15 de Junho

The Memories Macau 15 de Junho

Up in the wind China 16 de Junho

Like father like son Japão 17 de Junho

The Berlin file Coreia 18 de Junho

CINEMA FESTIVAL ASIÁTICO NO GALAXY

Sétima arte invade Macau

consultar os horários na página oficial do cinema Galaxy. Todos os bilhetes custam 80 patacas e a hora de cada sessão varia con-soante o filme, havendo exibições a todas as horas e que cobrem tardes e noites.

No final do mês passado, o mesmo casino foi o local escolhido para acolher parte do festival FrenchMay, que continua a acontecer na re-gião vizinha de Hong Kong. A mostra compreendeu a exibição de oito filmes com influência francesa ou chi-nesa, quer fosse o realiza-dor, o local das filmagens ou o próprio enredo. Para quem não conseguiu assistir, ainda é possível consultar as especificidades de cada um no website oficial dos cinemas do Galaxy.

BOXE MANNY PACQUIAO REGRESSA AO COTAI EM NOVEMBRO. MAIS COMBATES JÁ EM JULHO

‘Pacman’ está de voltaAmir Khan e Ruslan

Provodnikov são outros dos nomes na calha. Falta apenas a confirmação que deverá chegar esta semana,

de acordo com o que disse Arum numa conferência de imprensa no Venetian no sábado passado.

A realizar-se, este comba-

te com Juan Manuel Marquez será o quinto entre os dois lutadores, sendo que, em 2012, um KO de Marquez levou ‘Pacman’ à derrota.

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hoje macau quarta-feira 4.6.2014 9 eventos

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E STA semana e até dia 8 de Junho, o teatro do Centro Cívico de Sheung Wan vai apresentar a peça “The Fire of Desire”,

que acontece em diferentes horas, entre as 14.30 e as 20.15 horas.

A obra a ser apresentada em Hong Kong é baseada no original alemão “Reigen”, de Arthur Schnitzler. Criada em 1897 e impressa em papel em 1900, acabou por ser oficialmente encenada apenas 20 anos depois, valendo duras críticas e desaprovação por parte dos espectadores, que consideravam o tema inapropriado. A peça versa sobre moralismos sexuais e a ideologia de classes da época de Schnitzler. Embora tenha sido censurada no seu tempo, “Reigen” tem servido, desde 1950, como inspiração para várias obras cinematográficas francesas, alemãs e norte-americanas, o último sendo “30 Beats”, que aborda as relações amorosas e sexuais entre diferentes personagens e passa-se na cidade de Nova Iorque.

“The Fire of Desire” vai estar em palco até ao próximo domingo e os bilhetes custam entre 150 e 220 dólares de Hong Kong, havendo a possibilidade de desconto para crianças, seniores e pessoas com deficiência.

O S espaços Loulan Junior Ballroom e Belinni, localiza-

dos nos casinos Sands e Venetian, vão disponibilizar ecrãs gigantes para que os fãs do boxe possam assistir, já no próximo domingo, às 21 horas, ao combate de Miguel Cotto contra Sergio Martinez. O combate de peso médio vai acontecer no Madison Square

Garden em Nova Iorque, o local considerado como “a Meca do boxe”. Os bilhetes para a entrada no Loulan e no Belinni custam 100 e 180 pa-tacas respectivamente, sendo que os locais compreendem ainda uma vasta selecção de comes e bebes para saciar os mais entusiastas.

O porto-riquenho Cotto é campeão mundial em três

divisões diferentes e é conhe-cido como sendo “o orgulho” do seu país. O confronto do próximo domingo vai servir para saber quem fica com o título mundial do campeonato World Boxing Council, actu-almente detido pelo argentino Martinez. Os combates estão agendados para o próximo domingo, dia 8 de Junho, às 9h30 da manhã.

TEATRO EROTISMO E DESEJO EM HONG KONG

Sem barreiras

BOXE MANNY PACQUIAO REGRESSA AO COTAI EM NOVEMBRO. MAIS COMBATES JÁ EM JULHO

‘Pacman’ está de volta

COTTO VS MARTINEZ EM ECRÃS GIGANTES NO SANDS E VENETIAN

A polegadas da realidade

campeão olímpico que pas-sou recentemente de amador para profissional.

O “Champions of Gold” tem ainda Guillermo ‘El Chacal’ Rigondeaux no car-taz principal e traz de novo o filipino Brian Villoria, que combateu já em Macau. Ain-da não se sabe o oponente de

Zou Shiming, naquele que será o primeiro com-bate de dez assaltos do campeão chinês. Já Rigondeaux defende o título que detém da World Boxing Associa-tion (WBA) e da World Boxing Organization (WBO) contra o tailan-dês Sod Looknongyan-toy. Brian Villoria, três vezes campeão mundial que perdeu recentemente em Macau, regressa ao ringue da Arena do Cotai, ao lado de Rex Tso, de Hong Kong, e de Ng Kuok Kun, o ‘Macau Kid’, ainda que não se saibam ainda quem são os oponentes destes.

Foi este combate que deu início aos rumores de uma reforma para Manny Pac-quiao, algo que o filipino já desmentiu ao HM que possa vir a acontecer, pelo menos para breve.

JULHO ESTÁ MARCADOAntes do evento de Novembro, a Top Rank vai trazer mais combates ao terri-tório, desta vez já no próximo mês de Julho. No dia 19 está marcado mais um cartaz de boxe, com a presença de Zou Shiming, o lutador chinês

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10 hoje macau quarta-feira 4.6.2014

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Pedro BaPtista

ÉTICA, MORAL, MORALISMOS E MORALÕES

DIMENSÕES DO HOMEM UNIDIMENSIONAL

Immanuel Kant

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11 artes, letras e ideiashoje macau quarta-feira 4.6.2014

A LÉM das lamentações sobre a travessia no deserto da auto-proclamada classe política, sobre que já falámos, outra

piação caraterística das gerações de re-publicanos e democratas que surgiram nas últimas décadas nos poderes globa-lizados, expressando doutrinas políti-cas pretensamente amoralistas e algumas mesmo imoralistas, manifesta-se incisiva nas exclamações:- Eh, Pá, a única coisa que eu pretendo é que não me venham com moral. Mo-ralismo não! - Eh, Pá, não confundamos moral com política!- Eh, Pá, deixa-te de morais, a lei é a moral da república!- Olha, olha, o moralão, quer ser um Santo!

Confunde-se deliberadamente mo-ral, moralidade, moralismo, como se confunde intencionalmente o homem moral com o moralão...

Quando numa noção, pela rama mas consensual, de moral, temos o normati-vo dos usos e costumes, das noções de bem e de mal aplicadas às diversas ati-vidades, pretensamente universal, e aos diversos comportamentos, numa socie-dade em determinado período; na de moralidade o estado factual ou a prática da moral em determinada situação; no moralismo a prevalência ou autonomia do fator moral na análise e na avaliação dos fenómenos, redundando, quando exagerado e estereotipado no moralão, uma figura pejorativa, do indivíduo excessivamente moralista, geralmente conotado com a hipocrisia, no velho adágio do Bem prega Frei Tomás!

Ora sendo moral, moralidade, mo-ralismo e moralões conceitos bem di-ferentes, não é o facto de os segundos tenderem para a depreciação que arras-ta os primeiros, os de raiz, no mesmo lodaçal.

Porque a moral continua a ser a dis-tinção aplicada do bem e do mal, do justo e do injusto, às diversas atividades e comportamentos sociais... Que pode ser tida no sentido de um normativo conservador, a chamada moral social, a moral corrente, geralmente aceite por mimetismo, sem reflexão crítica, ou, ao contrário, pode ser tida e encarada como aberta, discutível, carente de re-flexão, em geral ou em cada caso, uma moral reflexiva, construída individual, dialógica ou coletivamente, no senti-do de se renovar e reaplicar conforme o aparecimento das novas situações e dos novos valores no lugar dos velhos que sucumbem à roda da história, tudo se articulando e interagindo em sede da consciência moral. Eleva-se assim à filosofia moral ou ética, refletindo sobre a moral,

em abstracto, ou em situações concre-tas, em princípios gerais ou casuisti-camente, imprimindo-lhe um caráter crítico e buscando necessariamente os seus fundamentos valorativos, que as-sentam, se situam ou dispõem de uma disciplina para estudo mais aprofun-dado que poderemos considerar já no hemisfério da metafísica: a axiologia, o estudo dos valores ou dos axes ou eixos basilares que devem guiar, através da éti-ca e da consciência moral, os compor-tamentos humanos, sendo concomi-tantemente questionados pelos efeitos práticos da experiência moral.

Portanto as depreciações de alguns derivados da moral não põem em causa este critério para distinguir o bem do mal, o justo do injusto, na vida indi-vidual, familiar, grupal ou societária; e quando se pretende pregar contra a moral confundindo-a com o moralis-mo dos moralões é porque se preten-de estar liberto de qualquer orientação moral no seu comportamento, deseja exercer-se uma atividade livre, sem o peso da consciência moral, procura-se a prática da imoralidade sem peias psi-cológicas...

Entra aqui a lei no sentido jurídico. Porque leis, há também as do universo, as dos deuses, as científicas, as ditas da natureza, as ditas da vida, e também as leis morais... Não se trata já de um nor-

mativo guia da sociedade que provoca na consciência, mais ou menos reflexi-va e mais estática ou mais dinâmica, a reprovação ou aprovação dos cidadãos, como a orientação moral ou mesmo a lei moral, para usar linguagem kantiana, mas um conjunto de imposições coer-civas assumidas pelo estado enquanto detentor único e total do poder impo-sitivo sobre os cidadãos na sociedade, desde a tomada das suas propriedades, à privação da liberdade física individu-al, em muitos casos, à disposição sobre a sua própria sobrevivência.

É esta atribuição do caráter coerci-tivo do estado que constitui a diferença específica que permite a definição da lei jurídica, passe a redundância etimo-lógica...

A produção legal do estado per-tence inteiramente ao poder político legislativo, por vezes assumido pelos executivos, sendo que, para a sua exe-cução, é empregue uma vasta legião de funcionários, juízes, advogados, polí-cias e forças armadas que constituem e concretizam o poder judicial, interpre-tando-o e impondo-o.

Toda a lei se considera fundamenta-da na melhor moral tal como se assume como imposição efetiva da moralidade, todavia a relação da lei jurídica com a moral é complexa, difusa e esgúvia... Alguns, mesmo os elevados ao estatuto de doutrinadores, consideram a pri-meira como objetiva, ao contrário da segunda que seria subjetiva.

No entanto, diria diferente... A avaliação moral através da cons-

ciência reflexiva debruçada sobre situ-ações concretas particulares ou mais ou menos generalizadas, ou seja a re-flexão ética, individual e solitária, ou dialógica e coletiva, ou em ambas as extensões, dispõe de uma grande plas-ticidade e capacidade de intuição para a apreensão da situação concreta e de todos os seus contornos mais definidos ou esbatidos, mais ou menos invisíveis, não de todas, mas seguramente de mui-tas, das suas relações...

Sendo verdade que a moral social ou comum se pretende universal, pelo seu dogmatismo ingénuo e subsequente conservadorismo, parece-me que, di-ferentemente, a reflexão moral, a ética, sobretudo no sentido de uma ética prá-tica, de uma maneira geral, procurara relativizar a sua universalidade contex-tualizando-se tanto no espaço como no tempo histórico.

Não pomos em causa a universalidade dos princípios morais, tal como Kant os foi construindo e denominando-os leis morais, mas, como ele próprio também o fez, sempre que nos situamos fora da consciência pura não podemos deixar

de assinalar a necessidade de a con-textualizar na relatividade da situação concreta, seja para lhe extrair, ou re-ex-trair, na generalidade e na multiplicida-de, o abstrato universal que lhes constitui o nódulo racional enquanto princípio ou lei, seja para as aplicar...

Por isso, a lei moral universal de Kant não responde diretamente à solução particular concreta, ou mesmo casuís-tica, que se coloca na experiência mo-ral específica do cidadão, sendo que o pensador de Konigsberg pretendeu es-tabelecer princípios universais muito basi-lares com incidência sobretudo metódi-ca, que, pelo menos conscientemente, não foi buscar a qualquer lei de deus mas à evidência da racionalidade... Que todo o cidadão será, por aí, capaz de identificar como sua e, portanto, im-por-se na sua universalidade nodular...

Já a avaliação das situações e a sua regulação normativa e coerciva atra-vés da força do estado, por intermédio de uma lei abstracta e pretensamente universal, fixada em linguagem verbal, oral ou escrita, por vezes divulgada em sinalética figurativa, pela própria debi-lidade da capacidade descritiva da si-tuação fenoménica por parte do verbo,

Sendo moral, moralidade, moralismo e moralões conceitos bem diferentes, não é o facto de os segundos tenderem para a depreciação que arrasta os primeiros, os de raiz, no mesmo lodaçal

Quando se pretende pregar contra a moral, confundindo-a com o moralismo dos moralões, é porque se pretende estar liberto de qualquer orientação moral no seu comportamento, deseja exercer-se uma atividade livre, sem o peso da consciência moral

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12 h hoje macau quarta-feira 4.6.2014

fica muito mais longe da realidade atin-gível através de outras formas menos positivas, mas mais plásticas e intui-tivas, embora também, se necessário, de expressão discursiva... Porém, o ato moral, mesmo que silencioso, já é por si uma resposta à problemática moral... E por vezes até só se mantém moral na medida em que se queda silencioso...

Aliás, a moral tem também uma ca-pacidade coercitiva do cidadão para acatar as decisões da sua consciência para consigo próprio que depende da vontade e da determinação para se im-por aos instintos básicos que subjazem à consciência humana, sendo que, nes-se caso, por naturalidade psicológica, o indivíduo procurará falsear a sua cons-ciência. E se essa consciência tender para ocorrer mais tarde sob a forma de culpa, poderá assumi-la se quiser ouvir a sua voz, branqueá-la alegando banca profissional ou necessidade de defesa do interesse próprio, ou falseá-la na memória através do esquecimento ou de uma imagética convenientemente distorsora do registo das ocorrências...

Há quem diga que não é o melhor para a saúde mental... não estará prova-do... mas que há uns casos, há...

A grande diferença entre os dois conceitos está na coercividade que no caso moral é uma força interna de auto--coercividade voluntária, de obedi-ência psicológica, um imperativo que poderá impor a si mesmo de forma ab-soluta e radical pela responsabilidade que lhe impõe a liberdade, enquanto no caso legal se trata de uma força ex-terna que surge pela falta de determi-nação com que o cidadão obedece à consciência moral, ou seja do falhanço da primeira e da necessidade de impor do exterior, especificamente do estado, uma obediência física como ato, como ameaça ou como pressão educacional para uma interiorização da regulação comportamental...

O estado intervém, quando o indi-víduo falha, dir-se-ia. Mas claro que a novela não é tão cor-de-rosa... Quando há uns milhares de anos, surgiu a lei do estado foi não só porque era preciso es-tabelecer uma ordem (necessariamente de classe e estabelecendo a dominação de uns sobre outros) mas sobretudo porque foi necessário estabelecer a or-dem unida nas expansões e nos impé-rios. A lei romana é a lei do império tanto na sua imposição universalista/ imperialista como na sua moderação regional...

A avaliar pela força da lei ativa onde a lei moral soçobrou, o estado não será tanto, como gosta de assumir, a forma superior de organização social... Pelo contrário, a avaliar pelos factos, o esta-

do parece mais o resultado do falhanço do homem. Nada garante, todavia, que signifique a sua derrota definitiva...

Até porque o criminoso que consegue escapar à condenação judicial não deixa por isso de ser criminoso... Pode pensar que não é grave porque o pai também já o era, que é apenas mais um entre a esmaga-

dora maioria, ou que já tendo sido vítima tem garantidos os cem anos de perdão... Mas sabe que o é... Pode até absolver-se na crença sentidíssima de que tudo o que fez foi para bem da sua famiglia, o valor osmótico mais elevado para todo o tipo de gangues criminosos branquearem e des-viarem a culpa...

Moralismo? Moralidade? Que há afinal a objetar à virtude? E que há de mais político do que a sua exigência? Principalmente em relação aos que se dizem dela campeões?

Não pomos em causa a universalidade dos princípios morais, (...) mas sempre que nos situamos fora da consciência pura não podemos deixar de assinalar a necessidade de a contextualizar na relatividade da situação concreta

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DOU Mas na luta falhada contra a cul-

pa, porque a má consciência é uma questão de mais ou menos tempo, de mais ou menos encapotamento, saberá sempre que os outros, prova-velmente, sabê-lo-ão tanto como ele, mesmo quando lhe dão a presunção de inocência.

Talvez daqui decorra a surpreendente capacidade de alastramento da per-ceção social da imoralidade na gestão dos bens públicos entre os cidadãos, tal onda telepática, com consequências políticas imprevistas, mesmo quando ainda não há condenações judiciais, que se vêm todavia a mostrar, também elas, surpreendentes, sobretudo para o prevaricador que, do altibaixo da sua esperteza saloia, se sonhava imune, im-pune e inexpugnável, no desprezo pela moralidade e na servência estrita ao di-reito positivo cujos covis e ardis pensa controlar...

Porque enquanto a consciência mo-ral consegue aferir da moralidade de uma atuação, mesmo não tendo os con-trolos inteiramente definidos, a letra da lei ao descrever os universais parece fi-car, em muitos casos, bastante longe da complexidade e multimodalidade do real concreto das situações que formal e nominalmente abarca. A essência do real, na sua dinâmica explosiva e para-doxal, na sua minudência inalcançável, na sua plástica disforme e muitas vezes informe, está muito distante da hierar-quia uniforme dos seus artigos e pará-grafos...

Não nos deprimamos, porém; tão pouco desistamos.

Talvez, afinal, o homem caminhe para se afirmar livremente, assumindo cada vez mais a dignidade da sua responsa-bilidade, pugnando por valorizar o ato livre da vontade, olhando como bárbaro e arcaico o tempo em que precisou de obedecer à coação física de entidades exteriores para seguir o caminho reto que já lhe estava indicado pela consci-ência moral...

E que é o único onde se vislumbra um caminho vital com sentido, numa espécie caraterizada precisamente pela liberdade.

Percebendo então quão fácil é ser homem... sem peias técnicas, nem obri-gações externas... só na dimensão do homem moral... de um pessoa decente em lugar de um espertalhão... de um homem simplesmente homem...

Moralismo? Moralidade? Que há afinal a objetar à virtude? E que há de mais político do que a sua exigência? Principalmente em relação aos que se dizem dela campeões?

De Memórias II (no prelo)

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13DESPORTOhoje macau quarta-feira 4.6.2014

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SÉRGIO [email protected]

O Campeonato do Mundo FIA de Carros de Tu-rismo (WTCC)

terá três provas na República Popular da China ainda este ano. Antes de Yvan Muller, Tiago Monteiro, Sébastian Loeb e companhia se aventu-rarem na RAEM, a caravana do WTCC vai visitar pela primeira vez o Circuito In-ternacional de Guangdong, no fim-de-semana de 4 e 5 de Outubro. Devido a limitações no transporte marítimo das viaturas do Estados Unidos da América para Xangai, a organização do campeonato, a Eurosport Events, viu-se obrigada a cancelar a prova de Sonoma, na Califórnia. Como alterna-tiva e como a prova seguinte a Sonoma era e é na China, no circuito de Xangai, no fim-de-semana de 10 e 11 de Outubro, o Eurosport Events resolveu agendar uma segunda corrida em território continental chinês.

RECADO PARA CONSTRUTORESEm declarações à revista inglesa Autosport, o francês François Ribeiro, o agora número um na gestão dos destinos do WTCC, explicou assim a escolha: “Nós olha-mos para as nossas opções. Para 2015 já estávamos a planear três eventos na China: Macau, Xangai e uma

CIRCUITO DE GUANGDONG SUBSTITUI SONOMA EM OUTUBRO

WTCC também vai a Cantão

“Somos o único campeonato do mundo da FIA que pode oferecer aos construtores automóveis três provas naquele que é o número um e com maior crescimento mercado automóvel.”FRANÇOIS RIBEIRO

outra prova. Somos o único campeonato do mundo da FIA que pode oferecer aos construtores automóveis três provas naquele que é o número um e com maior crescimento mercado au-tomóvel. Tendo agora uma corrida em Guangdong, isso significa que estamos um ano à frente da nossa estratégia e envia um sinal forte para o possível ingres-so de novos construtores”. Esta decisão é do agrado dos construtores, principal-mente da francesa Citroën. “Nós obtivemos 26% de

crescimento na China em 2013. As encomendas do C-Elysée (o carro utilizado no WTCC), que é produzido na nossa fábrica em Wuhan, já excederam os nossos ob-jectivos. Para 2014, a nossa ambição é vender mais de 100,000 unidades deste carro no mercado chinês. Por estas razões, e com o apoio da Dongfeng Citroën, nós quisemos ter um quarto carro a correr para um piloto chinês (Ma Qing Hua)”, disse Arnaud de Lamothe, Director de Marketing, Comunicações e Desporto

da Citroën. Localizado em Zhaoqing, a duas horas de distância de carro da RAEM, o Circuito Internacional de Guangdong foi inaugurado em 2009 e tem sido nos úl-timos anos o palco favorito para acolher as corridas do Campeonato de Macau de Carros de Turismo (MTCS), assim como do campeonato homólogo de Hong Kong. Em 2011 o sinuoso circui-to de Cantão fez parte do calendário do WTCC mas, no último momento, o pro-motor do Campeonato de Carros de Turismo da China, que também tem os direitos de promoção do WTCC na China, decidiu trocar o local da prova. Na altura, não foi publicamente revelada uma razão para o súbito cancela-mento. Há muito que Macau deixou de ter a exclusividade do mundial de turismos na China, tendo Xangai entrado no calendário em 2011. Pri-meiro no atarracado circuito de Tianma, depois, a partir de 2012, no circuito de Fór-mula 1 de Xangai. O WTCC correu pela primeira vez em Macau em 2005 e comemora no próximo mês de Novem-bro o décimo aniversário no Circuito da Guia.

Apostas Três jogos da II Liga de futebolcom resultados combinados, diz estudo

OS resultados de três jogos da segunda liga foram manipulados para obter

proveitos juntos das casas de apostas, segundo a conclusão de um relatório que foi apresentado esta terça-feira no Parlamento Europeu. O estudo da Federbet, organismo que representa as casas de apostas europeias, concluiu que os resultados dos jogos Oliveirense--Benfica B (1-2), Trofense-Oliveirense (3-0) e Portimonense-Oliveirense (1-0) foram previamente combinados. A orga-nização sublinhou que «há outros casos» suspeitos verificados na recta final da II Liga portuguesa. O relatório analisou vários jogos e as respectivas apostas e de-monstra que houve resultados «viciados» em partidas de 15 campeonatos, com destaque para o Reino Unido, com 13 (nenhum na Premier League), e a Itália, com 9, inclusive o Catania-Atalanta, da Serie A. Também vários jogos amigá-veis (entre clubes e selecções) tiveram os resultados combinados, assim como nove encontros das pré-eliminatórias das competições europeias.

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14 (F)UTILIDADES hoje macau quarta-feira 4.6.2014

TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 27 MAX 32 HUM 65-95% • EURO 10.8 BAHT 0.2 YUAN 1.2

ACONTECEU HOJE 4 DE JUNHO

João Corvofonte da inveja

Ela corou. É melhor chamares a polícia.

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

Aos magotesÉ numas alturas, mais do que noutras, que nos apercebemos de como Macau é pequeno. Minúsculo que nem uma ervilha, até. Não sou propriamente fã de água – como verdadeiro gato que sou – mas gosto muito de sol e não há nada melhor do que chegar ao fim de semana e ir para a piscina ou para a praia. Bem, a última opção é um pouco utópica, tendo em conta o estado de poluição em que muitas vezes a água do mar se encontra, a piscina continuando a ser a melhor das hipóteses.Mas de repente, quando chegamos a Cheoc Van – uma das poucas piscinas públicas ao ar livre – ficamos assustados com a quantidade de gente confinada entre os gradeamentos que circundam o local. A vista é agradável e o restaurante ali ao lado serve uma bela selecção de comida italiana (já para não falar da belíssima sangria branca fresquinha), mas ao vislumbrarmos o magote de pessoas ali enfiadas, toda a vontade de refrescar e apanhar uns raios de sol cai por terra. São as espreguiçadeiras, as cadeiras de plástico e o chão. Até a borda da piscina tem toalhas estendidas. Domingo tem, mais do que qualquer outro dia da semana, o pior cenário de sempre. Milhares de crianças e pais dentro de água, a gritarem a plenos pulmões sem saberem muito bem porquê. Todos falam alto, todos espalham água para cima de terceiros, há gente conhecida a cada virar de cara, a cada pousar de toalha, a cada mergulho. Não é que eu seja anti-social, mas quando digo que há gente conhecida, falo num universo bastante vasto e que engloba grande parte da comunidade macaense e portuguesa. Parece quase que estamos num qualquer tipo de reunião, excluindo o facto de todos se passearem de bikini e calções. Ou, na verdade, se calhar sou só eu que não gosto assim tanto de apanhar sol e a piscina de Cheoc Van é tão normal como qualquer outra.

Nasce Angelina Jolie, a actriz que promove causas humanitárias• Hoje é dia de homenagear Angelina Jolie, actriz norte--americana que se dedica a uma causa: a defesa dos refugiados. E o Óscar de actriz com maior coração do Mundo vai para Angelina, mãe de seis crianças, três das quais adoptivas. Angelina Jolie nasceu em Los Angeles, a 4 de Junho de 1975, e tornou-se figura pública pelo talento como actriz, de cinema e televisão e também como modelo. Passou a ser mundialmente célebre no papel de Lara Croft, em Tomb Raider (2001). A partir de então, coleccionou prémios, entre os quais um Óscar, dois ‘Screen Actors Guild Awards’ e ainda três Globos de Ouro. Em 2009 e 2011, a revista Forbes elege Angelina Jolie como a actriz mais bem paga de Hollywood. Mas esta norte-americana destaca-se não como actriz, mas, acima de tudo, como mulher que colocou o seu poder mediático ao serviço de uma causa humanitária. Angelina deixou de ser conhecida apenas pela beleza e talento no grande ecrã e passou a ser olhada como pessoa de causas. Promove uma persistente luta humanitária e é conhecida por trabalho que desenvolve junto dos refugiados, como embaixadora do ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Uma das mulheres mais bonitas do mundo é, acima de tudo, uma das embaixadoras na defesa dos refugiados. Já adoptou três crianças e tem outros três filhos biológicos. É uma super-mãe, com uma carreira profissional de sucesso e que encontra espaço para uma causa humanitária. Trata-se de uma mulher exemplar, que deve ser homenageada, no dia em que assinala mais um aniversário, neste dia 4 de Junho. Com um historial familiar de cancro, Angelina trava uma luta contra um inimigo invisível, que a atormentava: cancro na mama. A actriz foi submetida a uma dupla mastectomia, para prevenir as altas probabilidades de padecer da doença.

C I N E M ACineteatro

SALA 1X-MEN: DAYSOF FUTURE PAST [B]Um filme de: Bryan SingerCom: Patrick Stewart, Ian McKellen, Hugh Jackman, James McAvoy14.30, 16.45, 21.30

X-MEN: DAYSOF FUTURE PAST [3D] [B]Um filme de: Bryan SingerCom: Patrick Stewart, Ian McKellen, Hugh Jackman, James McAvoy19.15

SALA 2 EDGE OF TOMORROW [C]Um filme de: Doug LimanCom: Tom Cruise, Emily Blunt, Bill Paxton, Kick Gurry14.30, 16.30, 21.30

EDGE OF TOMORROW [3D] [C]Um filme de: Doug LimanCom: Tom Cruise, Emily Blunt, Bill Paxton, Kick Gurry19.30

SALA 3MALEFICENT [B]Um filme de: Robert StrombergCom: Angelina Jolie, Sharlto Copley, Elle Fanning, Sam Riley14.15, 16.00, 19.30

MALEFICENT [3D] [B]Um filme de: Robert StrombergCom: Angelina Jolie, Sharlto Copley, Elle Fanning, Sam Riley17.45

GODZILLA [B]Um filme de: Gareth EdwardsCom: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen21.30

EDGE OF TOMORROW

Já tem alguns anos, mas não deixa de ser um dos meus filmes policiais preferidos. Com Sharon Stone e Michael Douglas nos papéis principais, “Instinto Fatal” deixa qualquer um agarrado ao sofá, independentemente da quantidade de vezes que já se tenha visto o filme. A transbordar de sensualidade e erotismo, é uma película cheia de acção disfarçada, que nunca acontece mas está constantemente presente. Enquanto Douglas é o detective encarregado de investigar e resolver um homicídio brutal cometido com um picador de gelo, Sharon Stone – aparentemente en-volvida no caso – encarna uma das suas mais provocantes, sedutoras e mais misteriosas personagens de sempre. Todas as provas indicam para o seu envolvimento no terrível crime, mas a sua figura de mulher fatal faz com que Michael Douglas a considere inocente em grande parte do filme. Contudo, “Instinto Fatal” está carregado de suspense até ao último minuto, até à última cena. Só vendo para compreender o talento e a arte que está por detrás desta peça cinematográfica, fortemente aclamada aquando do seu lançamento e que continua, 22 anos depois, a ser considerado um dos melhores thrillers policiais do século XXI. - Leonor Sá Machado

H O J E H Á F I L M EINSTINTO FATAL

PAUL VERHOEVEN (1992)

Page 15: Hoje Macau 4 JUN 2014 #3102

hoje macau quarta-feira 4.6.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

15OPINIÃO

A fartura ao pé da fome,Raramente se dá bem:Quase sempre quem tem comeÀ custa de quem não tem!

António Aleixo (1899-1949), poeta popular português

C ONTRARIAMENTE ao que aconteceu em alguns países europeus em que a extrema--direita (p.ex. França e Gré-cia) teve avanços eleitorais preocupantes, os resultados em Portugal das últimas eleições para o Parlamento Europeu demonstram uma clara e notória derrota da di-

reita (PSD e CDS coligados, 27,71%) e uma sugestiva e largamente maioritária votação em partidos de esquerda, a rondar os 56% (PS- 31, 46%; PCP-PEV, 12, 68%; MPT – Marinho Pinto, 7, 14% e B. E- 4, 56%).

Assim, como disse na Assembleia da República o deputado do PCP António Filipe

Portugal, sociologicamente de esquerdaa pal içadaCORREIA MARQUES

E, só depois de definido o rumo, se deve eleger o líder que irá corporizar o projecto político previamente definido. A democracia e o futuro do PS exigem que assim seja

(um dos melhores deputados do Parlamento, pela sua competência, sagacidade, tolerância e fineza de trato): «os resultados eleitorais, “em que o PS chora a vitória e a maioria canta a derrota” mostraram o fim da alternância e que uma alternativa à esquerda não dispensa o PCP. As eleições para o Parlamento Euro-peu traduzem o colapso político do actual Governo e da sua maioria mas representam também o colapso da alternância sem alter-nativa. A dança das cadeiras entre o PS, o PSD e o CDS-PP, em que os protagonistas alternam no exercício do poder para que tudo fique mais ou menos na mesma, sofreu uma clara condenação nas urnas».

Pela nossa parte já várias vezes escreve-mos neste sentido, designadamente quando defendemos que sempre que os partidos socialistas levam a cabo políticas de direita são (a seguir) penalizados nas urnas.

Por isso, o que está em causa e deve ser discutido na actual luta pela liderança no Partido Socialista não se deve centrar numa luta fulanizada, entre pessoas, mas sim de escolha de uma linha programática e de definição de alianças para o futuro. Da

parte de António José Seguro já sabemos (por declarações públicas) que não enjeita alianças ou acordos pós-eleitorais com o PSD para a formação de um governo mais rosa umas vezes e outras mais laranja e vice-versa, como a história nos demonstrou com as antigas alianças de governo do PS com a direita.

Clarificando a minha posição, sou de opinião que as anunciadas primárias para a escolha do candidato a Primeiro-Ministro, não resolvem a questão política mais impor-tante dentro do Partido Socialista, porquanto

a eventual realização de primárias (nesta conjuntura) apenas leva à «fulanização», ao jogo de influências dos aparelhos de apoio às candidaturas e à divisão do partido. Urge, isso sim, na modesta opinião de um militante de base, a convocação de um Congresso Extraordinário onde, através da apresentação e discussão de moções políticas, se defina um programa político e (no meu desejo) uma política de alianças futuras que dê sentido ao voto popular maioritariamente de esquerda e inverta o ciclo de empobrecimento do povo português. E, só depois de definido o rumo, se deve eleger o líder que irá corporizar o projecto político previamente definido.

A democracia e o futuro do PS exigem que assim seja. Isto porque, como diz o poeta:

Esta mascarada enormecom que o mundo nos aldraba,dura enquanto o povo dorme,quando ele acordar, acaba.

Este artigo é escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

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OS 23 ESCOLHIDOS DE JOSÉ PEKERMAN

• GUARDA-REDES: David Ospina (Nice/França), Farid

Mondragón (Deportivo Cali/Colômbia) e Camilo Vargas

(Independiente Santa Fé/Colômbia).

• DEFESAS: Camilo Zúñiga (Nápoles/Itália), Pablo Armero

(West Ham/Inglaterra), Cristian Zapata (Milan/Itália),

Mario Yepes (Atalanta/Itália), Carlos Valdés (San Lorenzo/

Argentina), Santiago Arias (PSV/Holanda), Eder Álvarez

Balanta (River Plate/Argentina);

• MÉDIOS: James Rodríguez (Monaco/França), Abel Aguilar

(Toulouse/França), Carlos Sánchez (Elche/Espanha), Fredy

Guarín (Inter/Itália), Juan Fernando Quintero (FC Porto/

Portugal), Aldo Ramírez (Morelia/México), Alex Mejía (Atlético

Nacional/Colômbia), Víctor Ibarbo (Cagliari/Itália) e Juan

Guillermo Cuadrado (Fiorentina/Itália).

• AVANÇADOS: Jackson Martínez (FC Porto/Portugal), Teófilo

Gutiérrez (River Plate/Argentina), Carlos Bacca (Sevilha/

Espanha) e Adrián Ramos (Borussia Dortmund/Alemanha).

A COLÔMBIA NO CAMPEONATO DO MUNDO

• COLÔMBIA – GRÉCIA

15 de Junho, Estádio Mineirão, Belo Horizonte – 00:00*

• COLÔMBIA – COSTA DO MARFIM

20 de Junho, Estádio Nacional, Brasília – 00:00*

• JAPÃO – COLÔMBIA

25 de Junho, Arena Pantanal, Cuiabá – 04:00*

*horário de Macau

hoje macau quarta-feira 4.6.2014

MARCO [email protected]

M ESMO sem Radamel Fal-cao, a Colôm-bia tem garras

para protagonizar um bom Mundial de futebol. A se-lecção colombiana vai estar pela quinta vez presente na fase final de um Campeonato do Mundo e mesmo sem po-der contar com uma das suas principais referências, os colombianos têm esperança de que los cafeteros possam chegar longe na competição.

Radamel Falcao não re-cuperou a tempo de poder dar o seu contributo à selecção orientada pelo argentino José Pekerman, mas os adeptos colombianos que residem em Macau estão convictos que a selecção tricolor pode deixar a sua marca no Mundial do Brasil. Julian Ortiz, Hérnan Castillo e Raul Noriega ac-tuam quase todas as noites no bar de um dos hóteis--casino do território e nutrem pelo futebol um entusiasmo quase tão grande como o que nutrem pela música. Os três esperam ver a Colômbia pelo menos nos quartos-de-final do Campeonato do Mundo, ainda que se manifestem cau-telosos quanto ao que dizem ser o entusiasmo excessivo que rodeia os jogadores às ordens de José Pekerman: “A selecção da Colômbia é uma selecção com uma forte reputação e um futebol

COLOMBIANOS DE MACAU ACREDITAM EM BRILHARETE DA COLÔMBIA

Sem Falcao mas com féou a Grécia, por não terem um background histórico de selecções vencedoras, são equipa fáceis é errado. Não devemos de todo subestimá--las”, avisa o baixista.

A Colômbia estreia-se no Mundial do Brasil a 15 de Junho frente à Grécia e no onze de José Pekerman para o encontro não estarão nem Luis Perea, nem Radamel Falcao. O dianteiro do Mó-naco não recuperou da lesão grave que o apoquentou ao longo dos últimos meses, mas a afficción colombia-na acredita que a ausência de Falcao não vai afectar o rendimento da equipa: “Se olharmos para o que Pekerman faz, creio que com Falcao ou sem Falcao, a estratégia será a mesma”, defende Raul Noriega.

Já Julian Ortiz aplaude a decisão do avançado do Mónaco de ceder o seu lugar na selecção colombiana a um atleta em melhor forma física: “É uma selecção que felizmente não depende de um só jogador. Sei que o Falcao é muito bom jogador, que é conhecidíssimo a nível internacional, mas a selec-ção tem outros jogadores com os quais pode enfrentar as outras equipas. Se não é possível contar com ele e se ele não está em condições de jogar, é preferível que o seu lugar seja ocupado por outro jogador”, sustenta.

Depois da Grécia, a Colômbia enfrenta a Costa do Marfim em Brasília, a 19 de Junho. O último encontro dos colombianos na fase de grupos está agendado para 24 de Junho, em Cuiabá, frente à selecção do Japão.

muito atractivo e eu penso que com a equipa que temos para o Mundial poderemos passar à segunda fase e pelo menos até aos quartos de final, penso que poderemos chegar”, diz com convicção Julian Ortiz.

Já Hérnan Castillo abor-da a participação no Campe-onato do Mundo de Futebol com maior cautela. Antes de sonharem com grandes voos, os jogadores colom-bianos têm de mostrar o que valem dentro das quatro linhas e pagar com golos e vitórias a devoção que os adeptos colombianos nu-trem pela selecção tricolor: “

Seria imprudente pro-curar adivinhar até onde a selecção poderá chegar, porque partindo da expe-riência angariada noutros Campeonatos do Mundo, começamos por nos sentir campeões e acabou por não ser assim. Acredito que todas as equipas têm hipótese de brilhar. Temos simplesmen-te de partir para o Brasil com o objectivo de ganhar”, remata o músico.

MEMÓRIAS (IN)FELIZESA última vez que a selec-ção colombiana marcou

presença na fase final de um Campeonato do Mundo de Futebol foi há 16 anos em França, mas o Mundial que todos os colombia-nos guardam na memória teve os Estados Unidos da América como palco em 1994. Com uma selecção onde alinhavam jogadores como Faustino Asprilla, Carlos Valderrama ou René Higuita, a Colômbia acabou por superar a fase de grupos. No Brasil, a Tricolor integra as contas do Grupo C com a Grécia, a Costa do Marfim e o Japão. Os adversários são à partida acessíveis, mas o fantasma do que sucedeu há vinte anos nos Estados Uni-dos continua a assombrar os adeptos colombianos: “O último Mundial em que a Colômbia esteve presente com expectativas elevadas, não sei se se recorda, foi nos

PALHAÇADAScartoonpor Stephff

Estados Unidos em 1994. A Colômbia entrou em jogo com demasiada fé e depois, infelizmente as coisas não correram da melhor forma. Penso que, tendo em conta o que aconteceu, devemos

não esperar demasiado, mas também não podemos pensar que a Colômbia não tem hipóteses”, justifica Raul Noriega. Hérnan Castillo complementa: “Pensar que o Japão ou a Costa do Marfim