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FACULDADE SUDOESTE PAULISTA INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO FISIOTERAPIA LUCIMARA DO AMARAL GALDINO EFEITO DA FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA E DO EXERCÍCIO FÍSICO NA FIBROSE CÍSTICA ITAPETININGA - SP 2018

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FACULDADE SUDOESTE PAULISTA

INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO

FISIOTERAPIA

LUCIMARA DO AMARAL GALDINO

EFEITO DA FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA E DO EXERCÍCIO FÍSICO NA

FIBROSE CÍSTICA

ITAPETININGA - SP

2018

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LUCIMARA DO AMARAL GALDINO

EFEITO DA FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA E DO EXERCÍCIO FÍSICO NA

FRIBROSE CÍSTICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade Sudoeste Paulista - FSP - ao curso de graduação em fisioterapia como requisito parcial para o titulo de bacharel em fisioterapia.

Orientadora: Profa. Dra. Larissa Freschi

ITAPETININGA - SP

2018

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GALDINO, Lucimara do Amaral

Efeito da fisioterapia respiratória e do exercício físico na fibrose cística /

Lucimara do Amaral Galdino - Itapetininga, 2018, 37 p.

Monografia ou Trabalho de Curso - FSP - Faculdade Sudoeste Paulista -

Fisioterapia:

Orientadora: Profª. Dr.ª Larissa Freschi

1. Fibrose cística 2. Fisioterapia 3. Fisioterapia respiratória 4. Exercício físico

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A minha família, pelo incentivo e carinho.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho não poderia ter se realizado sem o apoio de algumas pessoas.

Agradeço primeiramente a Deus e a minha família por todo o apoio.

Agradeço particularmente a minha orientadora Profa. Dra. Larissa Freschi,

pelas orientações, pelas contribuições diversas e por toda paciência, sem sua

contribuição esse trabalho não teria se realizado.

Agradeço aos meus amigos, em especial a minha amiga Camila Piloto que foi

minha companheira de estudos e me deu apoio durante o período de faculdade e

também não poderia deixar de agradecer a Jessica Toledo, a Ana Bugov, a Juliane

Momberg e o Guilherme Soares que estiveram presentes em todo momento

tornando esse momento melhor.

Finalmente, agradeço a Profa. Dra. Marina Barusso pelo apoio, aos

integrantes da banca avaliadora e a todos os professores que contribuíram no meu

aprendizado e formação como futura profissional.

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RESUMO

Introdução: Atualmente estima-se que haja 70.000 acometidos por fibrose cística (FC) no mundo. A FC é uma doença genética de herança autossômica recessiva, com evolução crônica e progressiva que acomete as glândulas exócrinas. Devido a patologia os portadores de FC apresentam alterações no funcionamento de vários órgãos e sistemas, principalmente no respiratório, que ocasionam diminuição da função pulmonar e da capacidade funcional para o exercício, interferindo na qualidade de vida dos mesmos. A fisioterapia nesses pacientes tem como função prevenir e minimizar os comprometimentos causados pela FC. Objetivo: Verificar o efeito da fisioterapia respiratória e do exercício físico no tratamento de pacientes com FC. Métodos: Foi realizada uma revisão de literatura, nas bases de dados eletrônicas PubMed, Scielo, Bireme e PEDro. Os artigos foram analisados primeiramente pelo título, os que não competiam com o tema foram descartados e os que tinham o tema apropriado foram lidos os resumos, selecionados os que se adequavam aos critérios de inclusão e exclusão. Resultados: Foram identificados 294 artigos, dos quais 10 artigos foram selecionados que abordaram como forma de tratamento da FC, a fisioterapia respiratória e o exercício físico. Os principais efeitos encontrados foram melhora do mecanismo de expectoração, aumento da força muscular respiratória, melhora da aptidão cardiorrespiratória, aumento da força muscular e melhora da qualidade de vida. Apesar de não observar melhora significativa da função pulmonar e da capacidade de exercício em todos os estudos, ocorreu uma melhora gradativa como consequência do tratamento realizado. Conclusão: A fisioterapia respiratória e o exercício físico geram efeitos benéficos no tratamento da FC, sendo realizados associados ou separadamente. Entre os efeitos benéficos podemos destacar a melhora do mecanismo de expectoração, aumento da força muscular respiratória, melhora da aptidão cardiorrespiratória, aumento da força muscular e melhora da qualidade de vida. Novos estudos precisam ser realizados sobre o tema, para se ter melhores evidências dos efeitos dessas intervenções. Palavras-chave: Fibrose cística. Fisioterapia. Fisioterapia respiratória. Exercício físico.

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ABSTRACT

Introduction: It is currently estimated that there are 70.000 people affected by with cystic fibrosis (CF) in the world. CF is a genetic disease of autosomal recessive in heritance, with chronic and progressive evolution that affects the exocrine glands. Due to the pathology, CF sufferers present alterations in the functioning of various organs and systems, especially in the respiratory system, which cause a decrease in pulmonary function and functional capacity for exercise, interfering with their quality of life. Physiotherapy in these patients has the function of preventing and minimizing the impairments caused by CF. Objective: To verify the effect of respiratory physiotherapy and physical exercise in the treatment of CF patients. Methods: A literature review was performed in the electronic databases PubMed, Scielo, Bireme and PEDro. The articles were first analyzed by the title, those that did not compete with the theme were discarded and those who had the appropriate theme were read the abstracts, selecting those that fit the criteria of inclusion and exclusion. Results: A total of 294 articles were identified, of which 10 articles were selected that addressed the treatment of CF, respiratory physiotherapy and physical exercise. The main effects were improvement of the sputum mechanism, increased respiratory muscle strength, improved cardiorespiratory fitness, increased muscle strength and improved quality of life. Although there was no significant improvement in lung function and exercise capacity in all the studies, a gradual improvement occurred as a consequence of the treatment performed. Conclusion: Respiratory physiotherapy and physical exercise generate beneficial effects in the treatment of CF, being performed associated or separately. Among the beneficial effects we can highlight the improvement of the sputum mechanism, increased respiratory muscle strength, improved cardiorespiratory fitness, increased muscle strength and improved quality of life. New studies need to be carried out on the subject in order to have better evidence of the effects of these interventions. Key words: Cystic fibrosis. Physiotherapy. Respiratory physiotherapy. Physical exercise.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resultado das intervenções fisioterapêuticas nos pacientes com fibrose

cística ........................................................................................................................ 19

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LISTA DE ABREVIATURAS

ATP: adenosina trifosfato

bpm: batimentos por minutos

CFTR: cystic fibrosis transmembrane conductance regulator

FC: fibrose cística

GA: grupo acapella

GC: grupo controle

GI: grupo intervenção

GP: grupo máscara PEP

H: homem

I: idade

Kg: quilograma

M: mulher

min: minutos

mL: mililitro

P: participantes

PC: período controle

PEF: pico de fluxo expiratório

PEMax: pressão expiratória máxima

PI: período intervenção

PIF: pico de fluxo inspiratório

PIMax: pressão inspiratória máxima

VO2: consumo de oxigênio

X: vezes

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

1.1 Fibrose cística ................................................................................................... 10

1.2 Comprometimento pulmonar e físico nos portadores de fibrose cística ..... 13

2 OBJETIVO ............................................................................................................. 16

3 MÉTODOS ............................................................................................................. 17

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 18

4.1 Função pulmonar .............................................................................................. 25

4.2 Capacidade de exercício e aptidão cardiorrespiratória ................................. 25

4.3 Facilidade de expectoração do escarro .......................................................... 26

4.4 Força muscular respiratória ............................................................................. 26

4.5 Qualidade de vida .............................................................................................. 27

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 28

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 33

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 34

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1 Introdução

1.1 Fibrose Cística

A fibrose cística (FC) é uma doença genética de herança autossômica

recessiva, com evolução crônica e progressiva que acomete as glândulas exócrinas.

É frequentemente diagnosticada antes dos dois anos de idade e sua prevalência é

maior em caucasianos, atingindo igualmente homens e mulheres (CHAVES;

CUNHA, 2012; PACKEL et al., 2013; SCHINDEL; DONADIO, 2013; MOTA et al.,

2015).

A FC tornou-se conhecida em 1938 nos Estados Unidos, através de um

estudo de Dorothy Andersen que diferenciava a FC do pâncreas da doença celíaca

(FIRMIDA; MARQUES; COSTA, 2011; CABELLO, 2011), descrevendo os sintomas

e as alterações que ocorriam nos órgãos, relacionando as lesões pancreáticas,

pulmonares e relatou o íleo-meconial como manifestação mais precoce desta

doença através de uma necropsia realizada em 49 casos de crianças e lactantes.

Inicialmente ficou conhecida como FC do pâncreas por verificar as alterações no

tecido pancreático, os achados clínicos observados foram destruição do pâncreas,

mesmo em lactantes, infecção e lesão das vias aéreas inferiores. Através deste

estudo foi descrita como uma doença autônoma, multissistêmica, com incidência

familiar de caráter genético mendeliano recessivo (FIRMIDA; MARQUES; COSTA,

2011).

A partir do ano de 1940 os médicos concluíram que os sistemas de ductos e

outros transportes nos órgãos afetados por esta doença eram obstruídos com

secreções espessas e viscosas (CABELLO, 2011). Em 1944, Farber denominou

esta patologia como mucoviscidose, pela característica espessa e viscosa das

secreções e bloqueio dos ductos pancreáticos e da arvore brônquica. Di'Santagnese

e colaboradores em 1953 descreveram o excesso de sódio e cloro no suor em

crianças admitidas no hospital da Universidade de Columbia apresentando

prostação no calor, com sintomas de vômitos e sinais de choque sem evidência de

infecção e que respondiam rapidamente à reidratação, sendo o precursor para

desenvolver o teste do suor para diagnosticar a FC. Assim Gibson e Cooke em

1959, desenvolveram o teste do suor (FIRMIDA; MARQUES; COSTA, 2011;

CABELLO, 2011).

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Já em 1983, Quinton descreveu em pacientes com FC a impermeabilidade do

epitélio e chegou a conclusão que algum canal transportador deste íon não devia

funcionar corretamente (FIRMIDA; MARQUES; COSTA, 2011). Ao mesmo tempo,

outros cientistas estavam estudando a respeito, até que então identificaram o gene e

seu produto responsável pela FC em 1989, a proteína Cystic Fibrosis

Transmembrane Regulator (CFTR), assim sendo um marco proporcionando o

desenvolvimento de novos tratamentos para FC (FIRMIDA; MARQUES; COSTA,

2011; CABELLO, 2011; FOLESCU, 2008).

Antigamente a FC era considerada uma doença pediátrica, porém atualmente

com melhores tratamentos, houve um aumento da expectativa de vida dos pacientes

(GUIMARÃES et al., 2014; PACKEL et al., 2013). A média de sobrevida em 1970 era

de 16 anos, hoje em dia é de aproximadamente 40 anos (PENAFORTES et al.,

2013) e mais de 48% de pessoas com FC tem mais de 18 anos (PESSOA et al.,

2015), acredita-se que os recém nascidos deste século com FC vivam mais de 50

anos (PENAFORTES et al., 2013; PESSOA et al., 2015), sendo que o número de

pessoas com meia-idade ou mais velhos também está aumentando (PENAFORTES

et al., 2013).

A incidência da FC é de 1 para cada 3000 nascidos vivos (DEBRAY et al.,

2011) e estima-se que haja 70.000 acometidos no mundo (MOTA et al., 2015). Na

Europa e na América do Norte a incidência varia entre 1:2.500 a 1:6.000 nascidos

vivos e no Brasil é de 1:7.576 a 1:10.000 nascidos vivos. No Brasil a incidência

apresenta diferenças regionais, com valores maiores na região Sul e estima-se que

ocorram 60 novos casos de FC por ano no estado de São Paulo (SERVIDONI et al.,

2017; ATHANAZIO et al., 2017).

A FC ocorre devido mutações no gene localizado no cromossomo 7

responsável pela codificação da proteína reguladora da condutância transmembrana

da FC (Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator - CFTR), encontrada na

membrana apical de células do trato respiratório, de glândulas submucosas, do

pâncreas exócrino, do fígado, dos ductos sudoríparos, do trato reprodutivo e do trato

digestório (CASTRO; FIRMIDA, 2011; PESSOA et al., 2015; ATHANAZIO et al.,

2017).

A proteína CFTR age como um canal de cloreto regulando o transporte de

cloro, sódio e água através do epitélio. Com a alteração nesta proteína sua função

ficará diminuída ou ausente, assim causando diminuição de excreção do cloro e

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aumento da eletro negatividade intracelular. Como resposta secundária, irá

aumentar o fluxo de sódio e água para célula, consequentemente com essa

alteração as secreções mucosas ficaram desidratadas e viscosas ocorrendo

obstruções dos ductos, infecções e inflamação (RIBEIRO; RIBEIRO; RIBEIRO,

2002; GOMIDE et al., 2007; PESSOA et al., 2015).

As principais características da FC são a alta concentração de cloreto sódio

no suor e a produção de um muco espesso e pegajoso, ocorrendo a oclusão dos

ductos secretores, intestino e vias aéreas, junto com a inflamação crônica e

infecções dos pulmões levando ao declínio progressivo da função pulmonar (COPIZ;

COLOMA, 2018; PACKEL et al., 2013).

O diagnóstico da FC é feito geralmente na infância principalmente no primeiro

ano de vida em 70% dos casos, porém o diagnóstico durante a adolescência e na

vida adulta tem aumentado pelo avanço e pela disponibilidade de novas técnicas. Os

critérios para confirmar a FC são rastreio neonatal positivo, presença de

manifestações clínicas sugestivas ou histórico familiar, sendo acompanhados de

evidência laboratorial de disfunção da CFTR como o teste do suor positivo ou

diferença de potencial nasal positivo ou pela identificação de duas mutações

conhecidas como causa de FC nos genes da CFTR (SERVIDONI et al., 2017;

PESSOA et al., 2015).

O teste padrão ouro para o diagnóstico ainda é o teste do suor, um teste

simples que foi desenvolvido através das primeiras observações do suor salgado

presente nos pacientes com FC, onde é visto a dosagem de cloro e sódio no suor,

revelando nos pacientes com FC níveis elevados de ambos eletrólitos (SERVIDONI

et al., 2017).

No Brasil atualmente, existe um programa de ampla cobertura para a triagem

neonatal da FC e centros de referência distribuídos em vários estados para o

acompanhamento de pessoas com FC. O número de pessoas diagnosticadas com

FC sendo acompanhadas está aumentando por meio da aplicação da tripsina

imunorreativa no sangue durante a triagem neonatal através de uma punção do

calcanhar (ATHANAZIO et al., 2017; FEITEN et al., 2016; PESSOA et al., 2015).

A FC afeta o funcionamento de vários órgãos e sistemas (GOMIDE et al.,

2007; FLORÊNCIO et al., 2013), desenvolvendo doença pulmonar crônica e

bronquictasias (JAMIESON et al., 2014), insuficiência pancreática exócrina e

endócrina (SCHINDEL; DONADIO, 2013), provocando má digestão e má absorção

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podendo levar a uma desnutrição (CABELLO, 2011), obstrução intestinal que ao

nascimento é conhecida como íleo-meconial e infertilidade masculina (azoospermia)

causada por ausência dos vasos deferentes (CABELLO, 2011; ROVEDDER et al.,

2014).

O tratamento da FC requer uma equipe multidisciplinar e uma gestão diária

envolvendo antibióticos, broncodilatadores, monolíticos, anti-inflamatórios,

suplementos vitamínicos e enzimas pancreáticas, suplementação de oxigênio,

consumo de uma dieta rica em calorias, medicamentos respiratórios inalatórios, uso

de inalador, fisioterapia respiratória e exercício físico (JAMIESON et al., 2014;

FLORES et al., 2013; FEITEN et al., 2016; CASTRO; FIRMIDA, 2011).

1.2 Comprometimento pulmonar e físico nos portadores de fibrose cística

O comprometimento do sistema pulmonar é a maior causa de morbidade e

mortalidade relacionada à FC (FEITEN et al., 2016; ROVEDDER et al., 2014),

levando a uma progressiva diminuição da função pulmonar e da capacidade

funcional para o exercício (SCHINDEL; DONADIO, 2013). Também pode ocorrer

aprisionamento aéreo, hiperinsuflação pulmonar e aumento da resistência das vias

aéreas favorecendo o comprometimento do sistema respiratório e alteração do

equilíbrio tóraco-abdominal (SCHINDEL; DONADIO, 2013). Portanto, os principais

sintomas encontrado em pacientes com FC, são as secreções brônquicas

excessivas, diminuição da tolerância ao exercício e sensação de falta de ar

(ELBASAN et al., 2012).

A doença pulmonar por FC ocorre pela redução da hidratação na superfície

da via aérea e pelo muco espesso e desidratado, levando a obstrução das vias

aéreas e ao comprometimento da remoção de muco através da tosse e da limpeza

mucociliar, gerando uma cascata de inflamação, exacerbações recorrentes, dano

pulmonar progressivo e podendo causar insuficiência respiratória (DWYER et al.,

2017; DENTICE; ELKINS; BYE, 2012; PESSOA et al., 2015).

No pulmão ocorre o fluxo continuo de sódio através de uma bomba

dependente de Adenosina Trifosfato (ATP), passando da superfície luminal através

do canal apical de sódio para o meio intracelular e após para o interstício.

Simultaneamente ocorre entrada de sódio, cloreto e potássio na porção basal da

célula. A concentração de cloro ultrapassa o gradiente eletroquímico intracelular e

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esse íon sai para o lúmen, através do canal de cloreto da membrana apical, assim o

fluxo de água transepitelial é o produto do transporte desses íons. Já no pulmão de

uma pessoa com FC por causa da disfunção da proteína CFTR, a membrana apical

torna-se impermeável ao cloreto dificultando sua passagem. Como a passagem do

cloreto está sempre acompanhado do transporte de água, compromete a hidratação

da superfície celular. Na tentativa de manter a neutralidade elétrica, acontece um

fluxo compensatório de sódio para dentro das células através dos canais de sódio do

epitélio acompanhado de água aumentando ainda mais a desidratação da superfície

celular, assim formando um muco espesso (PESSOA et al., 2015).

Com a progressão do comprometimento pulmonar diminui a capacidade de

participação em atividades físicas do indivíduos, somado com a desnutrição

proteico-energética e as alterações metabólicas causadas pelo processo inflamatório

no pulmão, ocorre a redução da massa muscular e da densidade mineral óssea

(SCHINDEL; DONADIO, 2013; PACKEL et al., 2013).

O comprometimento pulmonar também faz com que ocorra o recrutamento

excessivo dos músculos expiratórios e acessórios inspiratórios levando a uma

hipertrofia adaptativa e com a tensão gerada pelo recrutamento excessivo, os

músculos se encurtam perdendo a flexibilidade, o comprimento e a força muscular

(PENAFORTES et al., 2013). Com o avanço da doença envolvendo os pulmões, a

hiperinsuflação e a diminuição da capacidade ventilatória, podem gerar desequilíbrio

muscular por causa da mecânica respiratória. Esses fatores associados aos

componentes multissistêmicos da FC contribuem para a limitação física e aeróbica

desses indivíduos (PENAFORTES et al., 2013; SCHINDEL; DONADIO, 2013;

PACKEL et al., 2013).

Segundo Schindel e Donadio (2013), os pacientes com FC relatam sintomas

como dispneia, fadiga e limitação ventilatória após realizarem exercícios físicos.

Esses sintomas contribuem para que pessoas com FC se afastem da prática de

exercícios, iniciando um ciclo vicioso com o declínio progressivo do condicionamento

físico junto à inatividade, piorando a dispneia e comprometendo a qualidade de vida

(SCHINDEL; DONADIO, 2013, PACKEL et al., 2013). Outro fator que contribui

negativamente na qualidade de vida são as frequentes exacerbações pulmonares,

levando ao declínio da função pulmonar e agravando os fatores subjacentes à

disfunção muscular, incluindo inatividade física, inflamação sistêmica e estado

anabólico (BURTIN et al., 2013).

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O exercício físico na FC tem o objetivo de manter a função pulmonar,

aumentar a nutrição, prevenir doenças relacionadas como a diabetes, doença óssea

e metabólica, infecções pulmonares, o menor fluxo pulmonar, intolerância ao

exercício, descondicionamento aeróbico, déficits de força e perda da densidade

mineral óssea assim proporcionando mais qualidade e maior expectativa de vida

(PACKEL et al., 2013). Segundo Kuys et al. (2011), é importante aumentar a adesão

de treinamento físico ao tratamento, já que a falta de treinamento físico leva ao

aumento da gravidade da doença pulmonar e reduz a capacidade de realizar suas

atividades cotidianas.

A fisioterapia, além de atuar por meio de exercícios aeróbicos e fortalecimento

muscular nas disfunções decorrentes da FC, também utiliza técnicas de limpeza das

vias aéreas como percussão, vibração, drenagem postural, técnica de expiração

forçada, ventilação mecânica não invasiva, o flutter®, a drenagem autógena, o ciclo

ativo da respiração e o método reequilíbrio toraco-abdominal (PACKEL et al., 2013;

ZANCHET et al., 2006; CASTRO; FIRMIDA, 2011).

Diante do exposto, nota-se que a FC é uma patologia de grande impacto na

vida dos indivíduos que a possuem e a fisioterapia tem um papel primordial no

tratamento desta patologia, contribuindo de diversas maneiras para a melhoria da

qualidade de vida desses pacientes.

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2 Objetivo

Verificar o efeito da fisioterapia respiratória e do exercício físico no

tratamento de pacientes com fibrose cística.

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3 Métodos

Para a elaboração desta revisão de literatura foram realizadas buscas de

artigos nas bases de dados eletrônicas PubMed, Scielo, Bireme e PEDro, no período

de julho de 2018 a setembro de 2018.

Para a estruturação do trabalho foram utilizadas as seguintes estratégias de

busca na língua portuguesa: 1) fibrose cística E fisioterapia, 2) fibrose cística E

fisioterapia respiratória E exercício físico. Na língua inglesa as estratégias de busca

inseridas foram: 1) cystic fibrosis AND physiotherapy, 2) cystic fibrosis AND

respiratory physiotherapy AND physical exercise.

Foram selecionados apenas os artigos que tinham interesse para o objetivo

proposto. Os critérios de inclusão para o estudo foram os artigos serem ensaios

clínicos e terem data de publicação de até 10 anos atrás. Os critérios de exclusão

foram ser revisões de literatura e estudos de caso.

Os textos escolhidos foram analisados e sintetizados de forma crítica, a fim de

discutir as informações obtidas.

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4 Resultados

Foram identificados 249 artigos, estes artigos foram analisados primeiramente

pelo título, os que não competiam com o tema foram descartados e os que tinham o

tema apropriado foram lidos os resumos, depois da leitura um total de 23 artigos

foram selecionados, entre critérios de inclusão e exclusão restaram 10 artigos

apropriados ao tema que estão sintetizados no Quadro 1.

↓ ↓ ↓ ↓

PubMed

N = 166

Scielo

N = 0

Bireme

N = 77

PEDro

N = 6

Artigos encontrados e

analisados pelos títulos

N = 249

Artigos selecionados pelo

titulo e analisados os

resumos

N = 23

Artigos apropriados ao tema

N = 10

Artigos encontrados e analisados pelos títulos

N = 249

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Quadro 1- Resultado das intervenções fisioterapêuticas nos pacientes com fibrose cística.

Autor/ ano Estudo Título Participantes Intervenções Avaliação/ desfechos Resultados

BIELI et al., 2017.

Ensaio clínico Respiratory muscle training improves respiratory muscle endurance but not exercise tolerance in children with cystic fibrosis.

P: 22 I: 9 a 18 anos.

Os participantes foram divididos em 2 períodos (período intervenção e controle e após trocaram para período controle e intervenção), com o intervalo de 1 semana para cada. PI: Treinamento de resistência muscular respiratória (Spirotiger) 2x ao dia por 5 min. e após 2 semanas por 10 min. e 5x por semana no período de 8 semanas. PC: Fisioterapia respiratória padrão por 8 semanas. - Exercícios de expansão torácica - Percussão - Saltos no trampolim - Drenagem autógena - Dispositivos oscilatórios.

Inicial e após cada período. Resistência muscular respiratória. Teste de exercício (cicloergômetro). Função pulmonar (espirômetro). Qualidade de vida (questionário de fibrose cística (CFQ)) e gravidade dos sintomas (escore clínico da FC (CFCS)).

Aumentou a resistência muscular respiratória em 7,03 min. (P<0.001). Não alterou a resistência ao exercício realizando treinamento de resistência muscular respiratória. Função pulmonar, qualidade de vida e escore clínico da FC não melhorou.

DWYER et al., 2011.

Ensaio clínico Effects of exercise on respiratory flow and sputum properties in patients with cystic fibrosis.

P: 14 M: 4 H: 10 I: 20 a 34 anos.

3 visitas em 2 semanas. PC (1ª): Respiração em repouso por 20 min. PI (2ª e 3ª): Esteira com carga constante por 20 min. Cicloergômetro com carga constante por 20 min. Os exercícios foram realizados em 60% do consumo máximo de oxigênio.

Facilidade de expectoração (escala analógica). Propriedades do escarro (conteúdo de sólidos e impedância mecânica). Função pulmonar (espirometria e pletismografia). Capacidade de exercício (teste no cicloergômetro).

Esteira e cicloergômetro (P=0.034) melhorou a facilidade de expectoração (P=0.096 e P=0.034 respectivamente), aumentou a ventilação e o fluxo respiratório (P<0.001). Exercício em esteira diminuiu (P=0.026) a impedância mecânica do escarro, porém no cicloergômetro não ocorreu diminuição. Não ocorreu diferença no conteúdo de sólidos na expectoração.

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DWYER et al., 2017.

Ensaio clínico Effects of treadmill exercise versus Flutter® on respiratory flow and sputum properties in adults with cystic fibrosis: a randomised, controlled, cross-over trial.

P: 24 M: 9 H: 15 I: 22 a 38 anos.

Respiração em repouso por 20 min. GI: Esteira com carga constante em (60% do pico de consumo de oxigênio). Flutter® mais técnica de expiração forçada (TEF) 6 séries de 15 repetições. GC: Sentavam-se em silencio por 20 min.

A cada 20 min. Fluxo respiratório (pneumotacógrafo aquecido). Propriedades do escarro (conteúdo de sólidos e impedância mecânica). Questionário sobre a sensação subjetiva de congestão no peito (escala analógica visual de 10 cm).

Aumentou pico de fluxo expiratório comparado ao controle (P=0.01). Houve viés de fluxo de ar expiratório (PEF: PIF> 1,10) realizando Flutter® . Diminuiu a impedância mecânica do escarro (P<0.03). Exercício em esteira melhorou hidratação do escarro e facilidade de expectoração (P<0.05). Flutter® melhorou a sensação congestão no peito (P<0.02).

FRANCO et al., 2014.

Ensaio clínico Effects of Pilates mat exercises on muscle strength and on pulmonary function in patients with cystic fibrosis.

P: 19 M: 12 H: 7 I: 6 a 20 anos

Método pilates 1h por dia, 1x por semana, por 16 semanas. - Exercícios respiratórios - Exercícios posturais - Exercícios para abdominais, tronco, membros superiores e membros inferiores.

Inicial e no 16º dia. Força muscular respiratória (manovacuômetro). Função pulmonar (espirômetro).

Aumentou PImáx em homens (P=0.017). Aumentou PImáx e PEmáx em mulheres (P=0.005 e P=0.007, respectivamente). Não ocorreu diferença na função pulmonar.

KRIEMLER et al., 2016.

Ensaio clínico Short-term effect of different physical exercises and physiotherapy combinations on sputum expectoration, oxygen saturation, and lung function in young patients with cystic fibrosis.

P: 12 M: 7 H: 5 I: 16 a 29 anos.

Os participantes foram divididos em 3 grupos: - Exercício no trampolim - Exercício no cicloergômetro - Bilhar (simulação de treinamento) Ambos por 30 min. em frequência cárdica de 140-160 bpm. e combinado com fisioterapia padronizada por 30 min. - Respiração utilizando o Flutter® por 10 min. - Fisioterapia das vias aéreas (inspiração máxima, respiração e expiração lenta

Peso do escarro expectorado (balança eletrônica). Função pulmonar (espirômetro). Saturação de oxigênio (oxímetro).

Expectoração foi maior durante e após o exercício no trampolim comparado com o bilhar (P=0.021) e também foi maior no ciclismo comparado com o bilhar (P=0.074). Peso do escarro foi igual entre as combinações de exercício e fisioterapia (P>0.05). Saturação foi maior no trampolim (P=0.011) e ciclismo (P=0.007) comparado com o bilhar. Não houve efeito sobre a função pulmonar.

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em volume residual) por 20 min. Descanso de 30 min. 3x por semana.

REIX et al., 2012.

Ensaio clínico Exercise with incorporated expiratory manoeuvres was as effective as breathing techniques for airway clearance in children with cystic fibrosis: a randomised crossover trial.

P: 32 GI: 17 GC: 15 I: 7 a 18 anos.

GI: 3 períodos. 1º: Jogging indoor por 2 min., subida de escada por 1 min., cicloergômetro 2 min. e manobras expiratórias (AFE e TEF) por 1,5 min. 2º: Alongamento (5 repetições) por 1 min. e manobras expiratórias por 1,5 min. 3º: Saltos no trampolim arremessando bola por 5 min. e manobras expiratórias por 1,5 min. Descanso de 40 min. GC: Técnicas de desobstrução das vias aéreas ciclo ativo da respiração (4 repetições) por 5 min. 2 dias por 20 min.

Após cada intervenção. Peso do escarro (balança). Função pulmonar (espirômetro). Questionário sobre o tratamento.

O peso do escarro foi 0,6 g mais alto no grupo intervenção, porém não significativo. Melhorou a função pulmonar e a satisfação com o tratamento (P<0.05). A cooperação e a qualidade do tratamento foram igualmente altas em ambos os grupos sem diferença significativa.

SOSA et al., 2012.

Ensaio clínico Intrahospital weight and aerobic training in children with cystic fibrosis: a randomized controlled trial.

P: 22 GC: 11 GI: 11 I: 8 a 14 anos.

GC: Fisioterapia respiratória: - Drenagem postural - Percussão torácica - Vibração manual 2x ao dia. GI: Fisioterapia respiratória como ao GC. Aquecimento: - Cicloergômetro por 10 min. Treinamento aeróbico: - Bicicleta ergométrica por 20 a 40 min. 3 circuitos com 11 exercícios

Inicial, após 8 semanas e após destreinamento. Aptidão cardiorrespiratória (esteira). Função pulmonar (espirômetro). PImax (manômetro). Saturação (oxímetro). Força muscular (teste de 5RM). Mobilidade funcional (TUG e TUDS). Medidas antropométricas

VO2 pico inicial foi maior no GC comparado ao GI (P = 0.023). VO2 pico aumentou após treino 3,9 ml kg min. (P=0.002) e após destreinamento para 3,4 ml kg min. (P=0.001) no GI e GC não houve mudança. Houve aumento de desempenho em todos os testes de resistência (P<0.001) no GI comparado ao GC e não diminuíram com o destreinamento (P>0.1). Não

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de resistência (12 a 15 repetições) em 40% 5RM no inicio e 60% no final. 3x por semana por 8 semanas. Destreinamento: Fisioterapia respiratória 2x ao dia por 4 semanas.

(altura, IMC, dobras cutâneas e porcentagem de gordura corporal). Qualidade de vida (questionário de fibrose cística revisado (CFQ-R)).

houve diferença na função pulmonar, PImax, mobilidade funcional, variáveis antropométricas e no questionário de qualidade de vida.

SOSA et al., 2013.

Ensaio clínico Benefits of combining inspiratory muscle with ‘whole muscle’ training in children with cystic fibrosis: a randomised controlled trial.

P:20 GC: 10 GI: 10 I: 9 a 12 anos.

GC: Fisioterapia respiratória 2x ao dia. - Drenagem postural - Percussão torácica - Vibração manual. - Treinamento muscular inspiratório à 10% da pressão inspiratória máxima (PImax). GI: A intervenção era feita 3x na semana por 8 semanas. Fisioterapia respiratória igual ao GC Treinamento muscular inspiratório no dispositivo (Power breathe) 30 inspirações, em carga correspondente a 40% (1ª e 2ª semana), 50% (3ª e 4ª semana) da PImax e após avaliação de PImax 40% (5ª a 8ª semana). Exercício de resistência em máquinas de musculação. Aquecimento: - Cicloergômetro por 10 min. Exercício aeróbico: - Cicloergômetro 20 a 40 min. - Jogo ativo como futebol ou corrida por 15 min. por 8 semanas. Destreinamento: Fisioterapia

Inicial, após treinamento e após o destreinamento. Volume pulmonar (espirômetro). Força muscular inspiratória (manômetro). Aptidão cardiorrespiratória. Força muscular (teste de 5RM). Medidas antropométricas (altura, IMC, dobras cutâneas e porcentagem de gordura corporal). Qualidade de vida (Questionário de fibrose cística revisado (CFQ-R)).

PImax aumentou após a intervenção (36,5%, P<0,001) e não se alterou após o destreinamento (-4,1%, P=0.171). VO2 pico aumentou 6,9 ml / kg / min. (P=0.002) com o treinamento e diminuiu 1,5 ml / kg / min. durante o destreinamento (P=0.014). Força muscular aumentou no grupo intervenção (P<0.001). Porcentagem de massa livre de gordura aumentou em 1,0% (P= 0.033) e diminuiu após destreinamento (P=0.036). Percentual de gordura diminuiu com a intervenção (P=0.095 pós-treinamento e P=0.078 pós-treinamento versus destreinamento). Escore total do questionário foi maior no grupo intervenção (688 pontos) comparado com o controle (638 pontos).

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respiratória 2x ao dia por 4 semanas.

VIVODTZEV et al., 2013.

Ensaio clínico Benefits of neuromuscular electrical stimulation prior to endurance training in patients with cystic fibrosis and severe pulmonary dysfunction.

P: 14 GC: 7 GI: 7 I: 22 a 43 anos.

GC:Cicloergômetro por 6 semanas. GI: Estimulação elétrica neuromuscular com o eletroestimulador (Cefar Rehab4-Pro; Acessórios Cefar Compex) no músculo quadríceps por 30 min., 4x por semana durante 6 semanas. Ambos: Cicloergômetro realizando 30 a 40 min., 3 a 5x por semana durante 8 semanas.

Inicial, após 6 semanas e após 8 semanas. Função pulmonar (espirômetro). Circunferência do meio da coxa. Força muscular de quadríceps. Distância do teste de caminhada de 6 min. Capacidade máxima de exercício (cicloergômetro). Medidas antropométricas. Marcadores inflamatórios e metabólicos do plasma. Resistência à insulina (índice de avaliação do modelo de homeostase). Qualidade de vida (questionário de FC para adultos e adolescentes>14 anos de idade). Índice de transição de dispneia basal (questionário Baecke).

Aumentou circunferência da metade da coxa (P=0.003) e na força do quadríceps (P=0.03) no GI comparado ao GC. Com correlação significativamente entre esses resultados (P=0.02). Ocorreu uma melhora significativa no grupo intervenção da Melhorou no GI a dispneia no final do teste de caminhada de 6 min. (P=0.02), IMC (P=0.01), relação glicose e insulina (P=0.02) e no questionário de qualidade de vida para função física e percepção de saúde (P=0.02) comparados ao GC. Não ocorreu diferença em ambos os grupos na função pulmonar e no teste de caminhada de 6 min. Não houve diferença entre os grupos no teste de capacidade máxima, apesar de melhorar a carga de trabalho máxima, frequência cardíaca, capacidade máxima aeróbica, dispneia e fadiga muscular. Ventilação por minuto foi menor no GI comparado ao GC, porém não foi significativo. Não houve diferença nos parâmetros, exceto para procalcitonina no GI (P=0.02).

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WEST; WALLEN; FOLLETT, 2010.

Ensaio clínico Acapella vs. PEP mask therapy: a randomised trial in children with cystic fibrosis during respiratory exacerbation.

P: 23 GA: 11 GP: 12 I: 7 a 18 anos.

2 grupos: Grupo dispositivo Acapella Grupo máscara PEP (10 series de 10 repetições) Ambos com 15 a 20 cm H2O de pressão positiva. 1 ou 2 huffs e tosse. 2x ao dia por 10 dias.

Inicial e após 10 dias. Função pulmonar (espirômetro), incluindo expiração forçada fluxo entre 25 e 75% da capacidade vital forçada (FEF25-75) e pico de fluxo expiratório (PEF). Desempenho de exercício (teste de agilidade shuttle de 10 metros). Peso do escarro (balança eletrônica). Questionário de satisfação (CPT).

Não houve diferença na função pulmonar e no desempenho de exercício, no peso do escarro e no questionário de satisfação entre os grupos.

bpm: batimentos por minutos, FC: fibrose cística, GA: grupo acapella, GC: grupo controle, GI: grupo intervenção, GP: grupo máscara PEP, H: homem, I: idade, Kg: quilograma, M: mulher, min: minutos, mL: mililitro, P: participantes, PC: período controle, PEF: pico de fluxo expiratório, PEMax: pressão expiratória máxima, PI: período intervenção, PIF: pico de fluxo inspiratório, PIMax: pressão inspiratória máxima, VO2: consumo de oxigênio e X: vezes.

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Os principais efeitos da fisioterapia respiratória e do exercício físico no

tratamento da FC abordados nesta revisão foram na função pulmonar, na

capacidade de exercício, na aptidão cardiorrespiratória, na facilidade de

expectoração do escarro, na força muscular respiratória e na qualidade de vida.

4.1 Função pulmonar

A função pulmonar foi avaliada em todos os estudos, porém apenas nos

estudos dos autores Reix et al. (2012) e Dwyer et al. (2011), houve uma melhora

significativa na função pulmonar avaliada.

4.2 Capacidade de exercício e aptidão cardiorrespiratória

Os autores Bieli et al. (2017), West; Wallen e Follett (2010), Vivodtzev et al.

(2013), avaliaram a capacidade de exercício e os autores Sosa et al. (2013) e Sosa

et al. (2012), avaliaram a aptidão cardiorrespiratória.

Entre as pesquisas que avaliaram a capacidade de exercício West; Wallen e

Follett (2010), observaram que não houve diferença no desempenho de exercício

entre os grupos Acapella e o grupo máscara PEP avaliado no teste shutter de 10

metros.

Já no estudo de Bieli et al. (2017), não houve melhora na resistência ao

exercício por meio do treino de resistência muscular respiratória e no estudo dos

autores Vivodtzev et al. (2013), não houve diferença significativa no teste de

capacidade máxima realizado no cicloergômetro e no teste de caminhada de 6

minutos. Apesar de não ocorrer diferença significativa nos testes, o teste de

capacidade máxima melhorou a carga de trabalho máxima, frequência cardíaca,

capacidade máxima aeróbica, dispneia e fadiga muscular e no teste de caminhada

de 6 minutos melhorou a dispneia indicando que os pacientes tiveram ganhos.

Já na avaliação da aptidão cardiorrespiratória, no qual é avaliado a

capacidade de realizar exercícios, foi observada melhora nos estudos de Sosa et al.

(2013) e Sosa et al. (2012).

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4.3 Facilidade de expectoração do escarro

Os autores Dwyer et al. (2011) observaram que a realização de exercícios,

utilizando a esteira ou o cicloergômetro, melhorou a facilidade de expectoração e

aumento da ventilação e do fluxo respiratório.

O estudo de Dwyer et al. (2017) demonstraram que o exercício em esteira

associado ao uso do dispositivo Flutter® é eficaz para melhorar os mecanismos de

remoção de muco, o que ocorreu também na realização apenas do exercício físico

como apresentado em seu estudo de 2011. Os autores Kriemler et al. (2016)

também avaliaram o efeito dos exercícios associados a fisioterapia respiratória e uso

do dispositivo Flutter®, observaram que essa associação se mostrou eficaz para

melhorar a expectoração do escarro e a saturação de oxigênio, apesar de não

melhorar significativamente a função pulmonar.

Os autores West; Wallen e Follett (2010) que compararam a utilização do

dispositivo Acapella e da máscara PEP, avaliaram a expectoração do escarro e

observaram que não houve diferença no peso do escarro entre as respectivas

comparações.

Já o estudo de Reix et al. (2012), demonstrou que houve aumento da

expectoração do escarro, porém não foi significativo. Neste estudo a intervenção

consistia em realizar exercícios aeróbicos associado a manobras expiratórias.

4.4 Força muscular respiratória

O treinamento muscular respiratório foi alvo de avaliação em alguns estudos

encontrados. Bieli et al. (2017), relataram aumento da resistência respiratória em

seu estudo que foi dividido em dois períodos, sendo que no período intervenção foi

realizado treinamento de resistência muscular respiratória e no período controle

fisioterapia respiratória.

Franco et al. (2014) relataram melhora da PIMax em homens e melhora da

PIMax e PEMax em mulheres que realizaram o método pilates.

Os autores Sosa et al. (2013) e Sosa et al. (2012) avaliaram apenas a PIMax.

Sosa et al. (2013) relataram o aumento da PIMax após a realização da intervenção

composta de fisioterapia respiratória, treinamento muscular inspiratório, exercícios

de resistência e exercícios aeróbicos e observou que esse aumento não se alterou

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após o período de destreinamento, que consistia em realizar apenas fisioterapia

respiratória.

Sosa et al. (2012), relataram que não ocorreu diferença nos valores de PIMax

em seu estudo, no qual a intervenção consistia em um grupo realizar fisioterapia

respiratória, exercícios aeróbicos e resistidos, e no outro apenas fisioterapia

respiratória.

4.5 Qualidade de vida

A qualidade vida foi avaliada em quatro estudos através de questionários, no

qual os estudos de Sosa et al. (2013) e Vivodtzev et al. (2013) relataram melhora da

qualidade de vida, já nos estudos de Sosa et al. (2012) e de Bieli et al. (2017) não

ocorreu melhora significativa da mesma.

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5 Discussão

A fisioterapia respiratória é uma forma de tratamento comumente realizada

em pacientes com FC, pois contribui para o aumento da sobrevida e bom

prognóstico dos mesmos, por meio da realização de técnicas para desobstrução das

vias aéreas, que auxiliam no clearance mucociliar e melhoram a ventilação

pulmonar, assim reduzindo o impacto das infecções pulmonares e melhorando a

função pulmonar (GUIMARÃES et al., 2014; DWYER et al., 2017; BUTTON et al.,

2016; CASTRO; FIRMIDA, 2011; HORTAL; HJELTE, 2014).

Entre os estudos que abordaram só a fisioterapia respiratória, apenas os

autores Bieli et al. (2017) e West; Wallen e Follett (2010) abordaram a fisioterapia

respiratória padrão em suas intervenções, que consistia em técnicas de higiene

brônquica, reexpansão pulmonar e utilização de dispositivos para melhorar a

capacidade pulmonar. Porém, essa abordagem não era o tratamento principal

desses estudos e sim um complemento da intervenção, notando-se que precisam

ser realizadas mais pesquisas que abordem a fisioterapia respiratória padrão como

intervenção principal na FC.

Nos estudos de Sosa et al. (2012) e Sosa et al. (2013) a fisioterapia

respiratória também foi utilizado no período de destreinamento, que ocorria após a

intervenção. A intervenção era composta por fisioterapia respiratória, treinamento

muscular inspiratório, exercícios aeróbicos e resistidos, com exceção do estudo de

Sosa et al. (2012) que não realizou treinamento muscular inspiratório. Vale ressaltar

que no estudo de Sosa et al. (2013) os participantes durante o período de

destreinamento mantinham os valores adquiridos de PIMax e o no de Sosa et al.

(2012) mantinham o desempenho ganho nos testes de resistência e se diminuíssem

era de forma menor do que poderiam diminuir se não realizassem o destreinamento.

A fisioterapia respiratória tem como objetivo principal melhorar a função

pulmonar como já citado anteriormente. Nessa revisão, o principal desfecho avaliado

nos estudos foi a função pulmonar, no entanto, apenas Reix et al. (2012),

observaram uma melhora significativa da função pulmonar e Dwyer et al. (2011),

relataram aumento da ventilação e o do fluxo respiratório significativamente.

Observando esse fato, fica clara a necessidade de se investigar mais o tema, para

poder se ter evidências mais robustas.

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Geralmente outro objetivo que os fisioterapeutas pretendem alcançar

realizando fisioterapia respiratória é proporcionar a melhora da força muscular

respiratória, pois é algo importante para os pacientes com FC. Esse desfecho foi

avaliado em alguns estudos dessa revisão. Bieli et al. (2017) relataram aumento da

resistência respiratória realizando treinamento de resistência muscular respiratória

no período intervenção e fisioterapia respiratória no período controle e Franco et al.

(2014) relataram melhora da PIMax em homens e melhora da PIMax e PEMax em

mulheres, realizando o método pilates. Já Sosa et al. (2013), relataram aumento da

PIMax dos participantes do estudo realizando fisioterapia respiratória associada ao

exercício físico.

Como forma de intervenção na fisioterapia respiratória, comumente são

utilizados dispositivos que auxiliam nos tratamentos. Entre os estudos dessa revisão,

os autores Bieli et al. (2017), West; Wallen e Follett (2010), Dwyer et al. (2017) e

Kriemler et al. (2016) relataram o uso de dispositivos em suas intervenções.

Em relação ao dispositivo de treinamento muscular respiratório Spirotiger,

Bieli et al. (2017) observaram que o dispositivo se mostrou eficaz no treinamento

muscular respiratório, porém não melhorou a função pulmonar. Assim notou-se que

o dispositivo é um importante aliado no treinamento muscular respiratório, porém é

importante saber configurar da maneira correta para se ter bons resultados

(GAMBAZZA et al., 2014).

O dispositivo Acapella e a máscara PEP foram alvo de comparação do estudo

de West; Wallen e Follett (2010), no qual mostra que não há diferença na função

pulmonar, no desempenho de exercício, no peso do escarro e no questionário de

satisfação usando esses dispositivos no tratamento dos pacientes. Esse foi o único

trabalho que tinha como população estudada crianças com FC exacerbada.

Outro dispositivo comumente utilizado são os dispositivos oscilatórios, que

auxiliam no aumento da depuração de secreções e foram utilizados em alguns

estudos. Dwyer et al. (2017), associaram o exercício em esteira ao uso do

dispositivo Flutter®, relatando aumento do pico de fluxo expiratório, viés de fluxo de

ar expiratório (PEF: PIF> 1,10) e diminuição da impedância mecânica do escarro. Já

Kriemler et al. (2016) associaram exercícios no trampolim, cicloergômetro e bilhar

com a fisioterapia respiratória e uso do dispositivo Flutter®, relatando melhora da

expectoração nos exercícios utilizando trampolim e cicloergômetro, porém não

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podemos isolar somente o efeito do dispositivo Flutter®, pois ambos foram

realizados combinados com fisioterapia respiratória e exercício.

Além da fisioterapia respiratória, o exercício físico tem sido um aliado no

tratamento da FC, pois pessoas portadoras dessa doença comumente apresentam

limitação progressiva ao exercício físico e redução de suas atividades de vida diária

(ROVEDDER et al., 2014).

As formas de exercício físico mais encontrados nos estudos dessa revisão

foram o aeróbico e o resistido. Ambos geraram efeitos positivos no tratamento da

FC, pois atuaram na função pulmonar e na depuração de secreções, por meio da

hiperventilação, vibração mecânica e tosse que são geradas pelos exercícios

(RADTKE et al., 2017). Outra explicação é que o exercício físico inibe a

sensibilidade ao sódio nos canais do epitélio respiratório, gerando uma menor

absorção de sódio e água no epitélio das vias aéreas, deixando o escarro mais

líquido (KRIEMLER et al., 2016). Sendo assim, irá ocorrer maior expectoração e

ventilação e eventualmente treinamento dos músculos respiratórios (RADTKE et al.,

2017; KRIEMLER et al., 2016).

Esses efeitos foram condizentes com os resultados dos estudos selecionados

nessa revisão que abordaram o exercício físico no tratamento da FC. Dwyer et al.

(2011) observaram que houve melhora da facilidade de expectoração, aumento da

ventilação e do fluxo respiratório e Vivodtzev et al. (2013) notaram que além de

ganhar força muscular através da realização de exercícios de resistência houve

melhorada dispneia.

A realização do exercício físico tem como objetivo melhorar a capacidade de

exercício e aptidão cardiorrespiratória. Os autores Bieli et al. (2017), West; Wallen e

Follett (2010) e Vivodtzev et al. (2013), avaliaram a capacidade de exercício

enquanto os autores Sosa et al. (2013) e Sosa et al. (2012) avaliaram a aptidão

cardiorrespiratória.

Entre os estudos que avaliaram a capacidade de exercício os estudos de Bieli

et al. (2017) e de Vivodtzev et al. (2013), não obtiveram resultados significativos nos

testes realizados. Talvez pelo fato de que o foco do estudo de Bieli et al. (2017) era

ganhar resistência muscular respiratória e o de Vivodtzev et al. (2013) era avaliar o

efeito da estimulação elétrica neuromuscular. Porém, no estudo de Vivodtzev et al.

(2013) apesar de não se obter melhora significativa na capacidade máxima de

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exercício, houve melhora na carga de trabalho máxima, frequência cardíaca,

capacidade máxima aeróbica, dispneia e fadiga muscular.

O fato da maioria dos estudos que avaliaram a capacidade de exercício e

aptidão cardiorrespiratória obter melhora significativa das mesmas ou então obter

ganhos em outras variáveis, nos mostra a importância de se realizar exercício físico

como forma de tratamento da FC.

O exercício físico além da fisioterapia respiratória, se tornou uma importante

forma de tratamento para melhorar a facilidade de expectoração do escarro pelos

mecanismos já descritos acima. Esse desfecho foi avaliado por Dwyer et al. (2011),

Dwyer et al. (2017), Kriemler et al. (2016), West; Wallen e Follett (2010) e Reix et al.

(2012) mostrando resultados positivos com exceção apenas do estudo de Reix et al.

(2012) que não obteve uma melhora significativa na expectoração do escarro. Os

estudos que abordavam exercício físico isolado ou associado a fisioterapia

respiratória tiveram melhores desfechos nesse quesito.

Como descrito nessa discussão, a fisioterapia respiratória e o exercício físico

são formas de tratamento que proporcionam efeitos benéficos no tratamento da FC,

portanto a associação de ambos é uma eficaz forma de intervenção, que foi

estudada pelos autores Franco et al. (2014), Dwyer et al. (2017), Reix et al. (2012),

Kriemler et al. (2016), Sosa et al. (2013) e Sosa et al. (2012).

Essa associação melhora a capacidade funcional, aumenta a depuração

mucociliar, restaura a diferença do potencial transmembrana das células epiteliais,

aumenta a densidade mineral óssea e estimula a liberação de mediadores

anabólicos, assim melhorando o prognóstico e a qualidade de vida desses pacientes

(SCHINDEL; DONADIO, 2013).

A associação do exercício físico e da fisioterapia respiratória pode ocorrer de

diversas maneiras. Franco et al. (2014), avaliaram os benefícios do método pilates,

que aborda o exercício associado ao controle da respiração. Neste estudo, este

método gerou efeitos benéficos na força muscular respiratória e condicionamento

físico, mostrando-se ser uma boa opção a ser utilizado por fisioterapeutas no

tratamento de pacientes com FC.

No estudo de Reix et al. (2012) os autores compararam se a realização de

exercícios como jogging, subida de escada, cicloergômetro e saltos no trampolim

arremessando bola associado as manobras expiratórias é tão eficaz quanto as

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técnicas de respiração para a desobstrução das vias aéreas, observando que essa

combinação é uma forma eficaz de tratamento para pacientes com FC.

Os autores Sosa et al. (2012) compararam um grupo que só realizava

fisioterapia respiratória ao grupo que realizava fisioterapia respiratória combinado ao

exercício aeróbico e circuito de exercícios de resistência e observaram que o grupo

que realizava o treinamento combinado teve benefícios na aptidão

cardiorrespiratória e fortalecimento muscular. Já em 2013, fizeram a mesma

comparação, porém acrescentaram o treinamento muscular inspiratório, mostrando

novamente que o treinamento combinado é benéfico e melhora a força muscular

inspiratória e global (SOSA et al., 2013).

Entre todas as formas de tratamento de pacientes com FC, uma das

finalidades é melhorar a qualidade de vida dos mesmos. Nos estudos de Sosa et al.

(2013) e Vivodtzev et al. (2013) houve melhora da qualidade de vida, já nos estudos

de Sosa et al. (2012) e de Bieli et al. (2017) não houve melhora significativa da

mesma, talvez pelo fato das intervenções serem diferentes.

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6 Conclusão

A fisioterapia respiratória e o exercício físico geram efeitos benéficos no

tratamento da FC, sendo realizados associados ou separadamente. Entre os efeitos

benéficos podemos destacar a melhora do mecanismo de expectoração, aumento

da força muscular respiratória, melhora da aptidão cardiorrespiratória, aumento da

força muscular e melhora da qualidade de vida. Apesar de não observar melhora

significativa da função pulmonar e da capacidade de exercício em todos os estudos,

ocorreu uma melhora gradativa como consequência do tratamento realizado. Essa

divergência de resultados enfatiza a importância de novos estudos a serem

realizados sobre o tema.

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