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FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE UNIÃO DA VITÓRIA - PR HENRIQUE CRISTIANO THOMAS DE SOUZA OS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA: ANÁLISE DE UMA ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR UNIÃO DA VITÓRIA - PR 2011

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FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE UNIÃO

DA VITÓRIA - PR

HENRIQUE CRISTIANO THOMAS DE SOUZA

OS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA: ANÁLISE DE UMA

ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR

UNIÃO DA VITÓRIA - PR

2011

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FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE UNIÃO

DA VITÓRIA - PR

HENRIQUE CRISTIANO THOMAS DE SOUZA

OS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA: ANÁLISE DE UMA

ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial para

obtenção do título de licenciado em

Matemática; orientado pelo Prof. Dr. João

Alberto Valcanover e coorientado pela

Prof.ª Ms. Michele Regiane Dias

Veronez.

UNIÃO DA VITÓRIA - PR

2011

3

AGRADECIMENTOS

Após um ano de dedicação e muita luta, o TCC (Trabalho de Conclusão de

Curso) está pronto, e chega a hora de agradecer todos aqueles que me apoiaram nessa

fase, pois, muitos foram os dias que nem eu mesmo me aguentaria, mas estas pessoas

tão especiais para mim estiveram ao meu lado prontas para me ajudar sem pestanejar.

Primeiramente agradeço aos meus orientadores, Prof. Dr. João Alberto

Valcanover e Prof. Mr. Michele Regiane Dias Veronez. A última um agradecimento

muito especial, pois, mesma atribulada de tarefas se dispôs a orientar meu trabalho e

certamente teve grande contribuição no desenvolvimento do mesmo.

Agradeço muito a minha família, aos meus pais Antonio e Nelci, e irmãos

Cristian e Nayara, por me apoiar e me dar suporte.

Agradeço a minha namorada Andréia, que com toda certeza foi meu suporte

emocional durante a realização desse trabalho. Muitas e muitas vezes foi ela quem me

ajudou em momentos de cansaço, desilusão e desânimo, confortando-me.

Agradeço a todos os meus amigos, que escutaram muitas vezes meus discursos

sobre assuntos desse trabalho sem reclamar, agradeço-os pela compreensão e apoio.

4

RESUMO

Este trabalho analisa a aprendizagem de conhecimentos específicos de alunos de

um curso superior de Licenciatura em Matemática, em uma atividade de Modelagem

Matemática, usando para tal a teoria dos Registros de Representação Semiótica

desenvolvida por Raymond Duval. Busca-se inferir se a aplicação de atividades de

Modelagem Matemática como alternativa de ensino, no Ensino Superior, pode levar à

aprendizagem de conteúdos específicos, levando em consideração a teoria dos Registros

de Representação Semiótica de Duval, que de modo geral afirma que o aprendizado de

um objeto matemático se dá no momento em que o sujeito consegue representá-lo ao

menos em dois registros semióticos distintos, realizando para tal conversões entre estes

registros semióticos.

Palavras chave: Registros de Representação Semiótica, Modelagem Matemática, Ensino

Superior.

ABSTRACT

This work examine the learning skills of a student's of university Degree in

Mathematics, applying a mathematical modeling activity, using for that the theory

Records Semiotics of Representation developed by Raymond Duval. It attempts to infer

whether the application of mathematical modeling activities, as an alternative in higher

education, can lead to learning of specific content of mathematics, considering Duval’s

theory Records Semiotics of Representation which.

Keywords: Records Semiotics of Representation, Mathematical Modeling, Higher

Education Degree.

5

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Processo de Modelação .................................................................................. 9

Figura 2: A Tríade Semiótica de Pierce ....................................................................... 16

Figura 3: Atividade desenvolvida pelo grupo 3 - tratamento do registro algébrico ....... 23

Figura 4: Atividade desenvolvida pelo grupo 3 - registro gráfico ............................... 344

Figura 5: Atividade desenvolvida pelo grupo 3 - Obtenção do modelo matemático. ... 25

Figura 6: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - registro semiótico tabular ................ 26

Figura 7: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - registro semiótico gráfico ................. 27

Figura 8: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - obtenção do modelo matemático .... 348

Figura 9: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - Observação ...................................... 28

6

SUMÁRIO

1 Introdução .............................................................................................................. 07

2 Modelagem Matemática ......................................................................................... 09

2.1 Modelagem Matemática na Educação Matemática ............................................ 09

2.2 Inclusão da Modelagem Matemática em contexto de ensino ............................. 13

3 Representação Semiótica ....................................................................................... 15

3.1 Algumas considerações sobre semiótica. ........................................................... 15

3.2 Os Registros de Representação Semiótica ......................................................... 17

4 Uma atividade de Modelagem Matemática no Ensino Superior .......................... 21

4.1 Aspectos metodológicos da pesquisa................................................................. 21

4.1.1 O contexto analisado ............................................................................... 21

4.1.2 O desenvolvimento da pesquisa .............................................................. 21

4.2 Análise da atividade desenvolvida .................................................................... 23

4.2.1 Um olhar sobre a atividade à luz dos referenciais teóricos ....................... 23

5 Considerações Finais .............................................................................................. 29

Referências ................................................................................................................ 30

Anexos ....................................................................................................................... 33

Anexo I - Plano de aula ............................................................................................... 34

Anexo II - Perguntas entrevista ................................................................................... 44

7

1 INTRODUÇÃO

Resultados referentes ao ensino trazem a tona uma realidade que é alarmante e

preocupante, principalmente para aqueles que estão diretamente ligados a essa

realidade: os educadores. O ensino da Matemática é um dos mais afetados nesse

sentido, e a busca por uma melhora nesse quadro vem fazendo com que a área da

Educação Matemática juntamente com as alternativas de ensino de Matemática ganhem

força nas últimas décadas. Cada vez mais professores preocupados com o ensino

procuram por uma formação continuada, como Pós-Graduações especializadas nessa

área.

Um efeito imediato disso é o aumento significativo de trabalhos científicos e

pesquisas realizadas com fundamento teórico nas alternativas de ensino de

Matemática. Nota-se que em sua maioria estuda-se a utilização dessas no Ensino

Básico: Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além da temática dessas pesquisas

abordarem as alternativas de ensino, algumas se preocupam em trazer à tona algumas

teorias de aprendizagem, como é o caso de Colombo, Flores e Moretti (2008) que

analisaram dissertações de mestrado que envolvem a teoria do Registro de

Representação Semiótica.

Nesse trabalho buscamos abarcar uma alternativa de ensino (Modelagem

Matemática) e analisar se os registros de representação semiótica utilizados pelos alunos

nos permitem inferir algo sobre a sua aprendizagem.

A realização de atividades com base nos referenciais teóricos das alternativas de

ensino da Matemática nos leva a alguns questionamentos: Será que os acadêmicos e

pesquisadores, conhecendo essas alternativas apenas a nível teórico, estão preparados

para desenvolver, em sua prática docente, atividades que envolvam tais alternativas? Os

acadêmicos teriam maior familiarização com as alternativas de ensino se os mesmos

tivessem contato, enquanto alunos, com atividades desse cunho durante a sua formação

na graduação? É possível que aconteça o aprendizado matemático em cursos de

graduação se forem realizadas atividades que sejam baseadas nas alternativas de ensino

da Matemática?

8

Não nos cabe querer responder a esses questionamentos, mas verificar como os

acadêmicos do 3º ano de Matemática – Licenciatura desenvolvem uma atividade de

modelagem e quais registros de representação utilizam, a fim de inferir à luz da Teoria

dos Registros de Representação Semiótica se ocorreu a aprendizagem dos conceitos

abordados nessa atividade.

9

2 MODELAGEM MATEMÁTICA

2.1 Modelagem Matemática na Educação Matemática

A Modelagem Matemática tem seu surgimento na Matemática aplicada, nessa

área os matemáticos seguiam esquemas bem definidos com o objetivo de responder

certo problema.

De forma geral, o processo de Modelagem Matemática, realizado por

profissionais diversos, consiste em analisar uma situação real a partir de informações

obtidas. Em seguida o caminho é matematizar a situação usando para isso as mais

diversas ferramentas Matemáticas. O principal objetivo com a Modelagem Matemática

na Matemática Aplicada é a obtenção de um resultado, logo, todo o processo envolvido

fica em segundo plano, pois se pretende que o modelo desenvolvido consiga traduzir de

alguma forma um resultado para a situação modelada, espera-se que este seja o mais

satisfatório possível.

Figura 1: Processo de Modelação. (Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1806-

58212009000300010&script=sci_arttext)

10

Bean (2001) afirma que “Para melhor entender o atual papel da modelagem

Matemática na Educação é importante examinar suas raízes nas aplicações de

Matemáticas praticadas por matemáticos, engenheiros, biólogos, etc...”, ou seja é

preciso compreender de que maneira a modelagem Matemática é entendida por esses

profissionais.

Com avanços nos estudos sobre as formas diferenciadas de se ensinar Matemática

a Modelagem Matemática foi apontada como uma alternativa de ensino, Sant’Ana

(2007) enfatiza em seu trabalho a importância da Modelagem Matemática tanto para a

aprendizagem da Matemática quanto para o desenvolvimento do aluno enquanto

cidadão, favorecendo a crítica e a análise do papel da Matemática nas práticas sociais.

Segundo D’Ambrosio (apud Almeida, 2004), de forma geral, a origem das ideias

Matemáticas é resultado de um processo que procura explicar e entender fatos e

fenômenos observados na realidade. Nesse contexto, a Modelagem Matemática como

alternativa de ensino, aparece como uma das ferramentas para organizar essas ideias,

criando formas de representá-las na linguagem Matemática, descrevendo, muitas vezes

de forma parcial, as situações da “realidade”1. Fazendo uso adequado da “necessidade”

existente no ser humano de saber “o porquê” e como os fenômenos da nossa realidade

acontecem, podem-se ensinar conceitos matemáticos, pois, é nesse entusiasmo de

conhecer, que o aluno estará mais propício a pensar matematicamente e construir seu

próprio conhecimento, visto que fará uso do mesmo imediatamente.

Sobre o uso da Modelagem Matemática como alternativa de ensino fica

evidenciada a sua importância no ensino de conceitos matemáticos, visto que quando o

aluno estiver “modelando” uma situação real, ele sentirá necessidade de um novo

conceito matemático para resolver certa situação, e ainda, verificará que esse novo

conceito está diretamente ligado aos “antigos” conceitos que vinha utilizando, fazendo

assim uma ligação entre os conteúdos matemáticos. Essa conectividade de

conhecimentos matemáticos pode facilitar a aprendizagem do aluno, ponto esse

observado por Bassanezi (apud Barbosa, 2004), como um dos argumentos para se

utilizar Modelagem Matemática em sala de aula.

1 Entendemos realidade como tudo aquilo que envolve o mundo onde o sujeito está inserido.

11

Bean (2001) entende a Modelagem Matemática como alternativa de ensino sendo

um processo no qual as características pertinentes de um objeto ou sistemas são

extraídas, com a ajuda de hipóteses e aproximações simplificadoras, representadas em

termos matemáticos. Esse autor também fala sobre o processo de “Modelação”2, como

um processo de desenvolvimento de habilidades de trabalhar com problemas

diretamente ligados aos temas do curso, usando os conteúdos das disciplinas

tradicionais.

Segundo Tavares (1996), “Podemos considerar que o processo de modelação

Matemática tem início num fenômeno real, a partir do qual é constituído um modelo

matemático”, muitas vezes esse processo é denominado ciclo de modelação, que tem

variâncias de acordo com a linha de pesquisa que se trabalha.

Nesse contexto é valido uma discussão sobre o modelo matemático a fim de

compreendermos melhor o seu papel como elemento da Modelagem Matemática. De

acordo com Bassanezi (2002, p.174, apud Veronez 2007) “um modelo matemático é um

conjunto consistente de equações ou estruturas Matemáticas, elaborado para

corresponder a algum fenômeno”.

Nesse sentido podemos pensar o modelo matemático como uma ferramenta da

Modelagem Matemática, usada para representar as situações da "realidade" que estão

envolvidas no processo de Modelação. O modelo é um objeto matemático, que, por sua

vez, representa a situação analisada, logo o modelo é um representante do objeto "real",

isto é, um símbolo, figura, equação, gráfico, tabela, etc...

Em se tratando da Modelagem Matemática como alternativa de ensino, o modelo

matemático ganha papel fundamental, pois por meio dele pode-se ensinar conceitos e

conteúdos matemáticos. É no interesse em conseguir resolver o problema que o modelo

matemático fica evidenciado e com isso leva o sujeito a buscar formas para resolvê-lo

(conhecimentos anteriormente estudados) ou viabiliza ao professor a introdução de

novos conceitos.

2 A diferenciação entre Modelagem e Modelação foi fruto de pesquisas quando se começou a estudar

Modelagem Matemática como alternativa de ensino, onde a modelagem estava ligada ao ensino básico e a

modelação ao ensino superior, mas com o decorrer do tempo essa diferenciação passou a ser

desconsiderada.

12

Tavares (1996), quando fala de modelagem, aborda três linhas de pesquisa, o

ponto de vista de Niss, que entende a modelação Matemática como um processo pelo

qual um fragmento da realidade é traduzido por um modelo matemático, a visão de

Edwards e Hamson, que descrevem a modelação Matemática como uma atividade

cíclica que tem como objetivo a transposição de uma situação real para a Matemática, e

ainda o ponto de vista de Kerr e Maki que sugerem uma formulação para o processo de

modelação Matemática e evidenciam especiais preocupações com o cenário pedagógico

onde se desenvolve a construção e exploração dos modelos. Para Kerr e Maki o

processo de modelação não exige o seguimento ordenado de etapas, tudo depende da

situação e da Matemática envolvida. Analisando as etapas desenvolvidas pelos

pesquisadores citados, verificam-se e identificam-se pontos em comum, podendo, de

forma simples serem traduzidos dessa maneira:

i) identificação de um problema que envolva a “realidade”;

ii) identificação dos dados do problema e sua representação na forma

Matemática;

iii) desenvolvimento do modelo matemático;

iv) confrontação do modelo matemático com a situação real;

v) adequações do modelo matemático, visando um aprimoramento do mesmo

com a realidade envolvida;

vi) validação do modelo.

Assim como abordado por Kerr e Maki, essas etapas não precisam ser seguidas de

forma integral, pois, são processos que podem variar de acordo com os aspectos,

matemáticos e da realidade, envolvidos na situação. Em contexto de ensino, as etapas

devem ser desenvolvidas de acordo com as necessidades encontradas pelo aluno,

orientado pelo professor, que tem um papel de mediador entre o sujeito e os

conhecimentos envolvidos.

Quando da utilização da Modelagem Matemática como alternativa de ensino, é

comum destacar importância à elaboração de um relatório. Neste os alunos devem

descrever todo o processo realizado por eles durante seu envolvimento com a atividade

de modelagem Matemática. Segundo Tavares (1996) [...] A elaboração de um relatório

final poderá ter uma função formativa importante [...] (p.59), pois, é no relatório final

que estarão registrados todos os processos realizados pelos alunos durante a atividade

13

de modelagem Matemática, podendo assim ser utilizado para verificação de tais

processos e resultados desenvolvidos por eles, e ainda, é uma importante fonte de coleta

de dados sobre o processo de “Modelação”.

2.2 Inclusão da Modelagem Matemática em contexto de ensino

O ensino da Matemática na escola regular vem se tornando nas últimas décadas

foco de estudos de vários pesquisadores da área da Educação Matemática, como

Ubiratan D'Ambrósio, Rodney Carlos Bassanezi, entre outros. Como uma maneira de

contribuir para as problemáticas inerentes ao contexto escolar, esses autores sugerem a

inserção da Modelagem Matemática e a sustentam por acreditarem que ela pode tornar o

ensino da Matemática mais prazeroso, chamando a atenção dos alunos e os inserindo

nas discussões sobre os conhecimentos matemáticos.

A inserção da Modelagem Matemática no ensino, em sala de aula regular, pode

ocorrer de várias maneiras, dependendo dos objetivos do professor. Almeida (2004)

considera que em um ambiente de ensino e aprendizagem de cursos regulares, as

atividades de modelagem ponderem três momentos:

1º - O professor propõe uma situação e desenvolve juntamente com os alunos

todas as etapas do processo de modelagem, que se fizerem necessárias;

2º - O professor propõe uma situação, mas quem a desenvolve são os alunos;

3º - Os alunos propõem uma situação a ser estudada, obtém informações e dados

que envolvam tal situação e desenvolvem o modelo que a descreve.

No trabalho realizado nos propomos a desenvolver uma atividade de modelagem

no Ensino Superior, conforme o segundo momento proposto por Almeida. Sendo assim,

é importante entendermos de forma mais aprofundada quais suas características.

Esse segundo momento apontado por Almeida (2004), nos leva a uma situação de

quebra de paradigmas, pois, como evidencia a própria autora, “De forma geral, o

ambiente a que nossos estudantes estão habituados é característico de aulas discursivas e

expositivas, reservando um espaço menor para a interação”(p.4), logo, uma atividade

14

que é proposta pelo professor, mas, que deve ser desenvolvida pelos estudantes “sai”

um pouco desse ambiente e causa um diferencial na aula, trazendo o estudante para

pensar matematicamente, associar conceitos e estreitar ligações entre esses conceitos.

O aluno, sujeito encarregado de desenvolver certa atividade que envolva uma

situação "real", nesse segundo momento, muitas vezes sem ter ciência , é retirado de um

estado de passividade e incentivado a usar suas ferramentas Matemáticas. Quando se

deparar com uma situação que não consiga resolver, sentirá necessidade de uma nova

ferramenta, então, compete ao professor ensinar novos conceitos matemáticos. Assim, o

aluno compreenderá que para o desenvolvimento do modelo e resolução do problema se

faz relevante aprender outras ferramentas Matemáticas.

Na Modelagem Matemática como alternativa de ensino, fica evidenciado que o

que se deseja é que os alunos tenham capacidade de identificar conhecimentos

matemáticos em situações reais, tornando-os construtores do seu conhecimento. A

utilização desse segundo momento, proposto por Almeida (2004), mesmo que não

oportunize ao aluno a indicação de uma situação "real" para ser estudada, viabiliza que

ele utilize conhecimentos matemáticos, descreva situações "reais" em linguagem

Matemática e aprenda novos conceitos.

Como para representar essas situações os alunos utilizam-se de estruturas

Matemáticas, no capítulo a seguir, discutiremos sobre os registros de representação

semiótica e suas influências para a aprendizagem dos alunos.

15

3 REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

3.1 Algumas considerações sobre semiótica

A teoria de Semiótica, ciência que estuda os signos, teve sua concepção na

linguística, no entanto, com seu avanço e aprimoramento foi ganhando outros campos

de conhecimento.

De acordo com Fidalgo (1999) "Apesar da semiótica ser ainda uma muito jovem

ciência, a reflexão sobre o signo e a significação é tão antiga quanto o pensamento

filosófico". Em seu trabalho esse autor retrata toda a evolução histórica da Semiótica,

evidenciando que o pensamento que envolve o estudo dos signos esteve durante muito

tempo intrigando pensadores e pesquisadores.

O estudo que mais nos interessa nesse momento sobre a Semiótica é o

desenvolvido por Charles Percie, pois segundo Fidalgo e Gradim (2005) a Semiótica de

Peirce é provavelmente o aspecto do seu pensamento mais intensamente estudado nos

últimos tempos, e ainda, Percie juntamente com Saussure3, são apontados como os

fundadores da Semiótica Moderna.

Considerando que a Matemática é assim como outras uma ciência formal, que

possui uma linguagem própria e que pode-se utilizar diversas formas para se representar

um objeto matemático, se torna primordial o entendimento do significado de signo

matemático.

Para Peirce (2005), de forma geral, um signo [...] é aquilo que, sob certo aspecto

ou modo, representa algo para alguém (p.46). Claro que esse entendimento de signo não

está diretamente ligado a Matemática, mas, se analisarmos de forma sucinta quando

representamos um objeto matemático, aquela representação tem significado aos olhos

de quem a fez, logo pode ser considerada um signo.

3 Ferdinand de Saussure (Genebra, 26 de novembro de 1857 - Morges, 22 de fevereiro de 1913) foi um

lingüista suíço cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da lingüística enquanto ciência.

Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/1770495-biografia-ferdinand-saussure/#ixzz1Wtt1FJxy

16

Segundo Ladrière (1977, p.20-21, apud Flores, 2006):

O termo signo toma aqui uma significação extremamente limitada: os

signos de que nos ocuparemos são simplesmente símbolos, no sentido

restrito do termo. (...), são aqueles da lógica e das Matemáticas, isto é,

símbolos formais. Um símbolo formal é uma unidade elementar pertencente ao vocabulário de uma linguagem artificial

completamente formalizada [...].

Podemos verificar que signo é algo usado para representar um objeto, nesse caso

matemático, podendo ser esse signo uma palavra, figura, símbolo, etc.

A teoria desenvolvida por Peirce baseada nos signos tem como fundamento o

conceito Tríade, que de forma resumida, está relacionado com as formas de interagir os

signos com os seus objetos, pois, de acordo com Fidalgo e Gradim (2005):

Em carta a Lady Welby, Peirce explica que “um signo é algo que

medeia entre um signo interpretante e o seu objecto”, algo que, sendo um Terceiro, “traz um Primeiro à relação com um Segundo”, e que

esta relação triádica que o signo materializa constitui a mais genuína

forma de terceiridade. Define pois signo como “algo que ao ser conhecido por nós, faz com que conheçamos algo mais”, ou seja, “um

objecto que está em relação com o seu objecto por um lado, e com um

interpretante por outro, de tal modo que põe o interpretante em relação

com o objecto, correspondendo à sua própria relação com o objecto”. Trata-se então de “algo que é de tal modo determinado por alguma

outra coisa, o seu objecto, e assim determina um efeito sobre uma

pessoa, efeito esse a que chamo o seu interpretante, que o último é mediatamente determinado pelo primeiro” (p.146).

Podemos perceber que quando estamos tratando de Tríade, falamos de algo que

envolve três conceitos diferentes, o signo que representa um certo objeto, o signo

interpretante do objeto, este que se refere ao "entender" a que o signo se refere e o

terceiro que é o objeto em si, como mostra a Figura 2.

Figura 2: A Tríade Semiótica de Peirce (Fonte:http://psico-pictografia.blogspot.com/2007/08/escola-do-

pensamento-cientfico-semitica.html)

17

Se pensarmos numa xícara de café, como sendo um objeto a representar o

interpretante pode ser o objeto criado na mente de quem o pensa, criando o terceiro

elemento: o signo, que nesse caso é uma figura que representa o nosso objeto, a xícara

de café.

Analisando a tríade, podemos relacioná-la com a representação dos objetos

matemáticos através dos signos, pois, é importante no ensino da Matemática que o

Signo Interpretante do indivíduo esteja o mais próximo possível do objeto que está

sendo estudado.

3.2 Os Registros de Representação Semiótica

Nessa seção abordaremos os aspectos relacionados a teoria dos Registros de

Representação Semiótica, teoria esta baseada nos conceitos desenvolvidos na ciência

dos signos, a Semiótica.

Na Matemática, o pesquisador que começou os estudos nesse campo de

pesquisa foi Raymond Duval, filósofo e psicólogo de formação que desenvolve

atualmente seus estudos relativos a psicologia cognitiva no Instituto de Pesquisa em

Educação Matemática (IREM) de Estrasburgo (França) (Souza, 2011). Seu interesse é

estudar o papel dos registros de representação semiótica na aprendizagem dos alunos.

Segundo Colombo, Flores e Moretti (2008)

A noção dos registros de representação semiótica na aprendizagem da Matemática chegou ao Brasil no início da década de 1990, e as

primeiras pesquisas realizadas aqui que utilizam a noção dos registros

de representação semiótica como principal referencial teórico, começaram a ser publicadas e difundidas na segunda metade da

década de 1990 (p.47).

Em relação as pesquisas realizadas no Brasil na década de 90 e principalmente

entre os anos de 2000 e 2005, como aponta a pesquisa de Colombo, Flores e

Moretti(2008), Duval acabou sendo o maior influenciador.

Neto (2010) afirma que "É importante frisar que é próprio da atividade

Matemática mobilizar simultânea ou alternadamente vários registros de representação

semiótica" (p.46), deixando evidenciado o porquê da teoria de representação semiótica

ter se difundido de forma significativa nos estudos da educação Matemática.

18

Analisando o uso da teoria de representação semiótica Duval (2003) afirma que

um objeto matemático necessita de diversas representações devido ao fato de que esses

objetos não possuem existência física e não são perceptíveis diretamente. Isso influencia

diretamente a maneira de se pensar nos objetos matemáticos, pois, um indivíduo terá

domínio sobre um objeto matemático quando conseguir realizar processos que o

envolvam, mas sem modificar seu significado original.

Essa teoria de aprendizagem, baseada nas várias maneiras que um objeto pode

ser representado, tem como hipótese fundamental que é possível inferir que um aluno

compreendeu determinado conceito quando há: 1ª - economia de tratamento; 2ª –

complementaridade do registro; 3ª - a conceitualização implica em uma coordenação de

diferentes registros de representação (BRANDT, 2005).

Outros conceitos envolvidos na Semiótica proposta por Peirce, e estudada por

Duval, servindo de referência em sua teoria dos Registros de Representação Semiótica,

são os conceitos de "noésis" e "semióse".

Segundo Neto (2010):

"Em busca de compreender a confusão existente entre objeto e

representação Duval evoca duas operações cognitivas. A primeira delas a “semióse” que significa produção e a apreensão de uma

representação. A segunda a “noésis” que é a apreensão conceitual do

objeto" (p.50).

De acordo com Duval (1995, apud Burak e Brandt, 2010), a “semiose” volta-se

para a produção e a apreensão de uma representação e a “noésis” volta-se para a

apreensão conceitual do objeto.

Podemos refletir que a atividade de "semióse" está ligada diretamente a

capacidade de se conseguir representar o objeto através do uso dos signos, enquanto a

atividade de "noésis" está ligada diretamente a capacidade de compreensão do objeto

através de sua representação utilizando-se os signos.

Em Souza (2010), temos: [...] noésis são “os atos cognitivos como a apreensão conceitual de um objeto, a discriminação de uma diferença ou a compreensão de uma

inferência” (DUVAL, 2009, p. 15) e que semiósis é “a apreensão ou a

produção de uma representação semiótica” (ibidem), e possível pensar, admitindo que “é a semiósis que determina as condições de

possibilidade e de exercício da noésis”[...](p.16).

19

Souza (2010) coloca que quando realiza-se o processo de representação de um

objeto de forma correta, uma atividade de "semiósis", facilita em muito a possibilidade

de se realizar uma atividade de "noésis" que leva a uma compreensão com exatidão do

objeto que se está representando pelos signos.

Duval (2004, apud Neto, 2010) afirma que um sistema semiótico é composto de

signos que possuem convenções e regras próprias de formação. Ainda em relação aos

sistemas semióticos Duval (1995, apud Burak e Brandt, 2010) afirma que é o trabalho

com registros que contempla três operações cognitivas: a formação, o tratamento e a

conversão.

A formação é um processo cognitivo que está relacionado com a capacidade do

indivíduo conseguir representar certo objeto (matemático ou não), usando palavras,

figuras, símbolos, signos, etc... Formação, nesse sentido está diretamente ligada a

representação, e a mesma é definida por Godoy (apud Neto 2010) como “alguma coisa

que se tem, (para alguém), no lugar de alguma outra coisa”. Tal definição para Duval

(1999, apud Neto, 2010) é suficiente para diferenciar a representação do objeto que ela

representa.

O tratamento é um processo cognitivo que está relacionado à capacidade que o

indivíduo tem de transformar certa representação de um objeto, dentro de um mesmo

registro semiótico. Duval (2008, apud Souza, 2010) afirma:

Os tratamentos são transformações de representações dentro de um

mesmo registro: por exemplo, efetuar um cálculo ficando estritamente no mesmo sistema de escrita ou de representação dos números;

resolver uma equação ou um sistema de equações; completar uma

figura segundo critérios de conexidade e de simetria.

O número representado pela fração ½, por exemplo, pode sofrer um tratamento e

ser representado pelo número 0,5. E este pode ser tratado e ser representado por 50%.

Neste caso, foi efetuado um tratamento no numeral representativo de um número

expresso através de uma fração, apresentando-o na forma decimal ou percentual. O

sistema semiótico é o mesmo, independentemente de estarem ou não sendo colocadas

em jogo especificidades de cada uma das formas do número (Burak e Brandt, 2010).

A conversão é um processo onde o indivíduo terá de representar um mesmo

objeto, mudando uma primeira representação para uma nova que não seja no mesmo

registro semiótico. Segundo Duval (2003, apud Neto, 2010) a conversão é necessária

20

para a compreensão de um conceito e pode enfrentar o fenômeno de congruência ou de

não-congruência entre as representações de um mesmo objeto que se originam de

sistemas semióticos diferente.

A compreensão (integral) de um conteúdo conceitual repousa sobre a

coordenação de ao menos dois registros de representação, e esta coordenação se

manifesta pela rapidez e a espontaneidade da atividade cognitiva de conversão

(DUVAL, 1993 apud Colombo, Flores e Moretti, 2008). Nesse sentido para inferirmos

sobre a aprendizagem do aluno é preciso realizar uma observação e uma análise dos

registros e representações que o mesmo faz do objeto que lhe foi apresentado.

Para Colombo, Flores e Moretti (2008):

[...]é no trânsito entre esses diversos registros de representação que se encontra a chave para a aprendizagem em Matemática. Ainda,

escolher o registro mais apropriado para aplicar os tratamentos

implica uma desenvoltura do raciocínio e, conseqüentemente, leva à resolução dos problemas matemáticos e, por fim, à aprendizagem.

Nesse sentido, busca-se identificar, quando o aluno desenvolve atividades, quais

foram os procedimentos realizados pelo mesmo para resolver certo problema,

observando se ele realizou conversões de registro semiótico durante seu

desenvolvimento.

21

4 UMA ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO

SUPERIOR

4.1 Aspectos metodológicos da pesquisa

Nesse capítulo abordaremos os aspectos da pesquisa, deixando exposto o

contexto da "realidade" em que os sujeitos participantes estavam alocados, e também

descrevendo as atividades propostas e a forma como os dados foram coletados.

4.1.1 O contexto analisado

A pesquisa foi realizada com a turma da 3ª série do curso de Licenciatura em

Matemática4, na disciplina de Física Geral e Experimental

5 e teve duração de oito horas

aula. A turma contava com um total de vinte e três (23) acadêmicos e todos participaram

da pesquisa. Para garantir a confiabilidade dos dados e assegurar os sujeitos da

pesquisa, eles assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),

ficando então cientes dos procedimentos da mesma.

4.1.2 O desenvolvimento da pesquisa

Durante a realização da pesquisa foram realizadas algumas atividades, pré

definidas e descritas em plano de aula (Anexo I), sendo as mesmas aprovadas pelo

orientador e pela co-orientadora desse trabalho. A seguir segue o relato das atividades

realizadas.

4 da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória (FAFIUV) no estado do

Paraná.

5 Ministrada pelo Prof. Dr. João Alberto Valcanover, orientador desse trabalho.

22

Num primeiro momento, nas duas primeiras aulas, foram introduzidos alguns

conceitos novos de forma mais expositiva, e entregue material de apoio em forma de

apostila, sobre os conceitos trabalhados.

No segundo momento da realização da pesquisa, a turma foi dividida em cinco

grupos, três deles com três acadêmicos cada e dois deles com quatro acadêmicos cada.

Para a realização da atividade proposta (uma atividade de modelagem) os grupos

receberam, cada um, uma folha impressa contendo um problema que deveria ser

resolvido pelo grupo. O problema recebido pelos grupos 1, 3 e 5 tinha o mesmo

enunciado, porém os dados eram diferentes. Os grupos 2 e 4 receberam um outro

enunciado, também contendo dados distintos.

Os grupos tiveram um tempo de duas aulas para resolverem o problema e

escreverem um relatório contendo a descrição dos procedimentos tomados para a

realização da atividade, conforme sugere o referencial teórico sobre Modelagem

Matemática. Esses relatórios desenvolvidos pelos grupos foram recolhidos e são

materiais de análise dessa pesquisa.

Em um terceiro momento da aplicação dessa pesquisa foi realizada uma

atividade avaliativa referente aos conceitos trabalhados nas aulas anteriores. Para a

realização dessa atividade avaliativa a turma foi dividida em dez duplas. As duplas

receberam, cada uma, uma folha impressa contendo três questões com referência aos

conceitos trabalhados anteriormente. As duplas tiveram um tempo de duas aulas para

responderem as três questões, e o material produzido por elas foi recolhido com o

intuito de servirem como fonte de dados na análise dessa pesquisa.

No quarto e último momento da realização dessa pesquisa, foram realizadas

entrevistas6 com nove acadêmicos da turma pesquisada. Nessas entrevistas os

acadêmicos responderam a oito perguntas referentes a aplicação da pesquisa (Anexo II)

tais entrevistas foram gravadas em arquivos de áudio.

6 As entrevistas não foram utilizadas na análise dos dados, porque os registros escritos foram suficientes

para a realização da mesma.

23

4.2 Análise da atividade desenvolvida

Para a análise dos dados recolhidos durante a aplicação dessa pesquisa, faremos

uso somente dos registros escritos, em forma de relatório, de dois grupos que

participaram da atividade de Modelagem Matemática desenvolvida no segundo

momento da aplicação dessa pesquisa.

Essa escolha foi feita, visto o fato de que o desenvolvimento da atividade por

parte dos cinco grupos que à realizaram, tiveram resoluções semelhantes, por esse

motivo os grupos escolhidos foram aqueles que mais se diferenciaram nas resoluções.

4.2.1 Um olhar sobre a atividade à luz dos referenciais teóricos

Para iniciar a análise dos dados que foram coletados durante a aplicação dessa

pesquisa vamos observar o desenvolvimento da atividade de modelagem Matemática

realizada pelo grupo 3, que era composto por quatro alunos. Esse grupo desenvolveu a

atividade a partir do seguinte problema:

Grupo 3: A força exercida por um objeto é =(

.

Determine o trabalho realizado por essa força para mover o objeto do espaço x=(

)m até

o espaço x=9m.

Figura 3: Atividade desenvolvida pelo grupo 3 - tratamento do registro algébrico.

24

O grupo faz um primeiro comentário (ver Figura 3): "Podemos ver que não é uma

força constante"; mas, mesmo com esse raciocínio eles utilizaram a equação do trabalho

de força constante. Fazendo a resolução por esse caminho o grupo se deparou com uma

função que dependia da posição do objeto, porém que não levava ao cálculo do trabalho

realizado por essa força, considerando o deslocamento sofrido pelo corpo, mas ao

cálculo do trabalho para cada ponto desse deslocamento. Nessa fase do

desenvolvimento da atividade o grupo realizou um tratamento do registro semiótico.

Eles utilizaram a equação do trabalho de força constante, que é um registro semiótico

algébrico, substituíram dados que acharam pertinentes naquele momento e

desenvolveram alguns cálculos.

No trecho onde o grupo relata (ver Figura 3): "Nessa resolução não conseguimos

obter um resultado, pensamos em uma outra forma"; fica evidenciado, conforme

abordamos no capítulo 2, a importância de se confeccionar um relatório das atividades

desenvolvidas, pois, os comentários dos alunos nos levam a entender os raciocínios que

os conduziram a essa conclusão.

No momento em que o grupo relata a mudança de raciocínio, eles partem para

uma próxima atitude. Representaram em um diagrama a Força em função do espaço;

função que lhes foi fornecida no problema ( =(

.), com isso o

grupo mudou a sua forma de representar o objeto dado, pois, no momento em que

desistiram de realizar tratamento no registro algébrico, utilizaram um registro gráfico

(Figura 4) realizando uma conversão de registros.

Figura 4: Atividade desenvolvida pelo grupo 3 - registro gráfico.

25

Sobre essa atitude pode-se ressaltar dois grandes momentos no raciocínio do

grupo. O primeiro, que não está explícito no relatório, foi a criação de uma tabela, onde

foram aplicados valores x da posição do objeto na função F(x) que representa a força.

Quando fizeram isso o grupo realizou uma primeira conversão de registro semiótico,

pois, mesmo que a tabela não esteja no relatório, a mesma representa o objeto só que em

outro registro semiótico, não mais na forma algébrica, mas em um registro semiótico

tabular. O segundo momento está na representação dos dados obtidos na tabela em um

diagrama (força pelo espaço), fazendo assim uma nova conversão de registro semiótico,

desta vez, a partir de uma representação em um registro tabular houve a conversão para

uma representação em um registro gráfico, sendo que ambos representam o mesmo

objeto matemático.

Encerrando o desenvolvimento da atividade esse grupo notou que formava-se

abaixo da curva do gráfico uma área. Usando conhecimentos prévios, que lhes

garantiam que o trabalho de uma força é numericamente igual a área abaixo da curva do

gráfico e entre os espaços do deslocamento do corpo, os mesmos se utilizaram de uma

ferramenta Matemática para calcular essa área, a integral definida da função entre dois

pontos. Dessa maneira o grupo conseguiu encontrar, mesmo que inconscientemente, o

modelo que descreve o trabalho realizado por uma força variável, com isso tiveram

apenas o trabalho de aplicá-lo no caso específico do problema proposto ao grupo

(Figura 5).

Figura 5: Atividade desenvolvida pelo grupo 3 - Obtenção do modelo matemático.

26

Quando fizeram isso o grupo realizou mais uma conversão de registro,

transformando o registro semiótico gráfico em um registro semiótico algébrico.

Ressaltando que esse registro semiótico algébrico é diferente do primeiro registro

semiótico algébrico da equação do trabalho de força constante.

Analisemos agora o desenvolvimento da atividade de modelagem Matemática do

grupo 1, que também continha quatro alunos, onde o desenvolvimento da atividade foi

baseado no seguinte problema:

Problema proposto para o grupo 1: A força exercida por um objeto é =(

. Determine o trabalho realizado por essa força para mover o objeto do

espaço x=1m até o espaço x=10m.

Esse grupo, ao contrário do grupo três representou a tabela de pontos que

obtiveram aplicando valores (x) para o deslocamento na função F(x) que representava a

força. Quando o fizeram, realizaram uma conversão de registro semiótico, pois,

transformaram a equação da força que lhes foi fornecido (registro semiótico algébrico),

em uma tabela de pontos (registro semiótico tabular), caracterizando assim essa

conversão.

Figura 6: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - registro semiótico tabular.

Na Figura 6 o grupo escreve: "Para observarmos o comportamento desta força

utilizamos uma tabela, a qual atribuímos valores para x no intervalo dado". Depois de

representados os valores em forma de tabela (registro semiótico tabular) o grupo fez a

representação na forma gráfica (F (força) por x (espaço)): (Figura 7)

27

Figura 7: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - registro semiótico gráfico.

Nesse momento o grupo realizou a segunda conversão de registro semiótico,

transformando o registro semiótico tabular para um registro semiótico gráfico.

Quando o grupo analisou a representação gráfica da situação verificaram que se

utilizasem a integral definida da função que descreve a força entre os espaços inicial e

final do objeto, estariam calculando o trabalho realizado por essa força, pois, haviam

visto anteriormente que a área formada na representação gráfica do movimento de um

corpo entre a curva da função e os espaços, é numericamente igual ao trabalho realizado

pela força, e a integral definida é utilizada para calcular áreas desse tipo. Com isso, o

grupo conseguiu obter um modelo que descrevesse o trabalho realizado por uma força

variável, e ainda realizou uma última conversão de registro semiótico, onde transformou

uma representação gráfica em uma expressão algébrica (registro semiótico algébrico)

oriunda do Cálculo Diferencial e Integral (Figura 8).

28

Figura 8: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - obtenção do modelo matemático.

No relátório o grupo ainda fez a seguinte observação:

Figura 9: Atividade desenvolvida pelo grupo 1 - Observação.

Evidencia-se a importância da confecção de relatórios sobre as atividades

desenvolvidas, pois, neles se relata os raciocínios que foram utilizados para realizá-las,

ficando clara a compreensão que o grupo teve em relação as atividades e a compreensão

do desenvolvimento realizado.

Podemos observar que os alunos dos dois grupos transitaram durante a atividade

em diferentes registros semióticos para representar o objeto que lhes foi proposto. De

acordo com o exposto no referencial teórico desse trabalho, a teoria desenvolvida por

Raymond Duval, podemos inferir que houve aprendizado dos conhecimentos

envolvidos na atividade, pois os sujeitos realizaram a conversão de um ou mais registros

semióticos diferentes.

29

5 Considerações Finais

Ao desenvolver esta pesquisa tivemos oportunidade de verificar que durante a

realização da mesma, os sujeitos participantes, visando a resolução do problema

proposto, trabalharam com os dados em diferentes registros semióticos, realizando

conversões entre esses registros a fim de buscar uma melhor solução para o problema.

De acordo com a teoria do Registro de Representação Semiótica desenvolvida

por Duval e abordada nesse trabalho, o sujeito consegue compreender certo objeto

matemático quando é capaz de transitar, no mínimo entre dois registros semióticos

distintos, realizando conversões que não descaracterizem o mesmo. Ainda Colombo,

Flores e Moretti (2008), ressaltam que escolher o registro mais apropriado para aplicar

os tratamentos implica uma desenvoltura do raciocínio.

Podemos afirmar que durante a aplicação da atividade de Modelagem

Matemática proposta nessa pesquisa, quando os sujeitos transitaram de um registro

semiótico a outro para representar o objeto matemático envolvido, realizaram algumas

escolhas e deixaram transparecer que utilizaram uma linha de raciocínio contínua.

Sendo assim, acreditamos que houve compreensão dos conhecimentos envolvidos na

atividade e que, consequentemente, também pode ter ocorrido a aprendizagem a

respeito do assunto trabalhado.

Dessa maneira, podemos dizer que aplicações de atividades embasadas nos

referenciais teóricos das alternativas de ensino de Matemática, nesse caso a Modelagem

Matemática, no Ensino Superior, pode privilegiar o conhecimento específico ao mesmo

tempo em que o sujeito está sendo preparado para tornar-se professor, possibilitando

construção de uma visão diferenciada do conhecimento.

30

REFERÊNCIAS

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES. VII Encontro Nacional de Educação Matemática,

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Revista, n. 9, ano 8, p. 49-57, abril, 2001.

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Unicamp – v. 18, n. 33 – jan/jun – 2010.

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32

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VERONEZ, Michele Regiane Dias. UM OLHAR SOBRE A FORMULAÇÃO DE

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Modelagem na Educação Matemática, 2007, Ouro Preto. Anais...v.1, p. 1004-1017.

33

ANEXOS

34

ANEXO I - PLANO DE AULA

Acadêmico: Henrique Cristiano Thomas de Souza

Local: Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória

Turma: 3ª série do curso de Matemática

Número de aulas: 6 h/a

Tema: Trabalho de Força.

OBJETIVOS:

Compreender o conceito de Trabalho de Força constante, através do conceito de

Produto Escalar;

Identificar Trabalho de Força em sua representação gráfica;

Construir o conceito de Trabalho de Força, para qualquer modalidade de Força;

Resolver situações problemas que envolvam Trabalho de Força;

METODOLOGIA: Aula Expositiva, Modelagem Matemática.

RECURSOS DIDÁTICOS:

Material Impresso;

Quadro Negro e Giz;

DESENVOLVIMENTO:

No primeiro momento da aula será desenvolvido de forma expositiva o conceito

de produto escalar, para tal, tomarei como base o livro de Leithold (1990).

Definição 1: Produto Escalar é a multiplicação entre dois vetores, que resulta em

um número real, e não em um vetor, denominado também produto interno:

Se A = < a1, a2> e B = <b1, b2> forem dois vetores em V2, então o produto escalar

de A e B, denotado por A . B será dado por:

A . B = < a1, a2 >

. < b1, b2 >

A . B = a1b1 + a2b2

Exemplificando: Dados os vetores A = < 4, 2> e B = < -2, 5>, então:

= < 4, 2 > . < -2, 5 >

A . B = (4)(-2) + (2)(5)

A . B = (-8) + (10) = 2

35

Definido o conceito de produto escalar, o próximo passo é demonstrar teoremas e

propriedades que constituem tal conceito.

Teorema 1: Se A, B e C são vetores quaisquer em V2, então:

(i) A . B = B

. A (lei comutativa)

(ii) A . ( B + C ) = A

. B + A

. C (lei distributiva)

Demonstração:

(i) Sejam A = < a1, a2> e B = <b1, b2>, por definição temos que A . B = a1b1 +

a2b2, pela comutatividade da multiplicação a1b1= b1a1 e a2b2= b2a2, logo

A . B = b1a1+ b2a2 → A

. B = < b1, b2 >

. < a1, a2 >, portanto A

. B = B

. A

(ii) Sejam A = < a1, a2>, B = <b1, b2> e C = <c1, c2>, temos:

A . ( B + C ) = A

. (<b1, b2> + <c1, c2>)

A . ( B + C ) = < a1, a2>

. <b1+c1, b2+c2>

A . ( B + C ) = a1(b1+c1) + a2(b2+c2)

A . ( B + C ) = a1b1+ a1c1+ a2b2+ a2c2

A . ( B + C ) = (a1b1+ a2b2) + (a1c1+ a2c2)

A . ( B + C ) = < a1, a2 >

. < b1, b2 > + < a1, a2 >

. < c1, c2 >

A . ( B + C ) = A

. B + A

. C

Teorema 2: Se A e B forem vetores quaisquer em V2 e c um escalar qualquer,

então:

(i) c(A . B) = (cA)

. B

(ii) 0 . A = 0

(iii) A . A = 2

Demonstração:

(i) Sejam A = < a1, a2> e B = <b1, b2>, temos:

c(A . B) = c(a1b1+ a2b2) → c(A

. B) = c(a1b1+ a2b2) → c (< a1, a2 >

. < b1, b2

>) → (c< a1, a2 >) . < b1, b2 > → (cA)

. B

(ii) Sejam 0 = <0,0> e A = < a1, a2>, temos:

0 . A = <0,0>

. < a1, a2 > → 0

. A = 0. a1 + 0. a2 → 0

. A = 0 + 0 = 0

36

(iii) Por definição

, elevando ambos os membros da

igualdade ao quadrado temos

→ → < a1, a2>

. < a1, a2 > → =

A . A

Introduzir-se-á nesse momento o conceito de ângulo entre dois vetores.

Definição 2: Sejam A e B dois vetores não-nulos, tais que A não seja um múltiplo

escalar de B. Se for a representação posicional de A e for a representação

posicional de B, então a ângulo entre os vetores A e B será definido como o ângulo de

medida positiva entre e , interior ao triângulo determinado pelos pontos O, P e

Q. O símbolo utilizado para representar um ângulo entre dois vetores , também

representa a medida daquele ângulo.

Observação: Se o vetor A for múltiplo escalar do vetor B, o ângulo formado entre

eles será de 0 radianos.

Teorema 3: Se α for o ângulo entre os vetores A e B, então A .

B =

Demonstração: Sejam A = a1i + a2j e B = b1i + b2j, à representação posicional

de A e à representação posicional de B, e α o ângulo na origem O do triângulo

POQ, onde P= (a1, a2) e Q = (b1, b2) (figura 1). O comprimento de

que é igual ao módulo de A ( ), conseqüentemente o comprimento de

que é igual ao módulo de B ( ), pela lei dos cossenos temos:

37

Definição 3: Dois vetores são paralelos se e somente se um dos vetores for um

múltiplo escalar do outro.

Exemplificação: Os vetores < 3, -4> e <

> são paralelos pois, < 3, -4 > = 4<

> .

Definição 4: Dois vetores A e B são ortogonais (perpendiculares) se e somente se

A . B = 0.

38

Justificativa: De acordo com o teorema 3 A . B = , logo se temos

os vetores A e B não-nulos, só teremos A . B = 0 quando , isso ocorre quando

α=90º, condição suficiente para mostrar que os vetores A e B são ortogonais.

A segunda atividade da aula consiste em definir o conceito de Trabalho de Força,

fazendo uma analogia com o conhecimento de produto escalar. Lembrando que nesse

primeiro contato da turma com esse conceito, abordarei o trabalho de forças constantes.

A grandeza física que está relacionada com a atuação de forças sobre corpos, que

como conseqüência sofrem deslocamentos, é o Trabalho (W). Em Resnick, Halliday e

Krane (2008) o trabalho de força (como também pode ser denominado) é definido como

uma grandeza escalar, portanto está perfeitamente definida com um valor e sua

respectiva unidade de medida (no Sistema Internacional de medidas é o newton - metro

chamado de Joule e representado pela letra J), no entanto o seu valor é obtido do

produto de dois vetores, força e deslocamento, por isso, o trabalho pode ser calculado

através do produto escalar entre os vetores Força (F) e Deslocamento (d):

, logo:

Exemplificando: Uma criança puxa um trenó de 5,6 kg por uma distância s=12 m

ao longo de uma superfície horizontal, com uma velocidade constante. Qual o trabalho

que a criança realiza sobre o trenó se o coeficiente de atrito cinético é 0,2 e a corda

faz um ângulo de 45º com a horizontal?

Solução: Para calcularmos o trabalho realizado pela criança usaremos a definição

, pois o vetor Deslocamento nos foi dado em intensidade. Nessa

situação temos α = 45°, e d = s = 12 m, nos falta achar a intensidade de F, para tal,

consideraremos o diagrama de corpo livre abaixo que representa a situação:

39

O trenó possui ay= 0 e ax=0, logo pela segunda lei de Newton:

Fry = 0 → Fry = Fy + N – P = 0 → F ; e

Frx = 0 → Frx = Fx – f = 0 → F , portanto

F=

, substituindo os dados do problema obtemos:

F=

= 13 N

Aplicando F e s na equação do trabalho temos:

W = (13 N)(12 m)( ) 110 J

Resolvido o exemplo a próxima parte da aula consiste em mostrar a

representação gráfica do trabalho de força, pois, quando um movimento é representado

graficamente, o deslocamento s é representado no eixo das abscissas e a força

F(constante e na direção do deslocamento) representada no eixo das ordenadas. Logo, o

trabalho realizado pela força que atua no corpo é numericamente igual à área do gráfico

abaixo da reta e delimitada na abscissa pelo espaço inicial e final do movimento. Usarei

o exemplo já resolvido para trabalhar com esse conceito.

Se representarmos o caso do exemplo anterior em um diagrama do tipo Fxs,

teríamos:

40

Se calcularmos a área do gráfico formada abaixo da reta que representa a

componente da força F no sentido do deslocamento s, e entre os pontos que representam

o deslocamento s sofrido pelo corpo obtemos:

A= bh → A= (12 - 0)(9,19 - 0) → A= (12)(9,19) 110, logo podemos dizer que:

O trabalho realizado por uma força é numericamente igual( ), a área do diagrama

Fxs.

Em seguida, dividirei a turma em seis grupos com quatro alunos cada, onde cada

grupo receberá um problema envolvendo o conceito de trabalho de força, mas, agora

usando uma força variável, como segue abaixo:

Grupo 1: A força exercida por um objeto é =(

.

Determine o trabalho realizado por essa força para mover o objeto do espaço x=1m até

o espaço x=10m.

Grupo 2: Um corpo se movimenta com velocidade constante até passar pela

origem de uma trajetória, nesse instante força =( ) , começa agir sobre esse

corpo. Determine o trabalho realizado por essa força para mover esse objeto do espaço

x=1m até o espaço x=4m.

A

d

41

Grupo 3: A força exercida por um objeto é =(

.

Determine o trabalho realizado por essa força para mover o objeto do espaço x=(

)m até

o espaço x=9m.

Grupo 4: Um corpo se movimenta com velocidade constante até passar pela

origem de uma trajetória, nesse instante força =( ) , começa agir sobre esse

corpo. Determine o trabalho realizado por essa força para mover esse objeto do espaço

x=1m até o espaço x=4m.

Grupo 5: A força exercida por um objeto é =(

.

Determine o trabalho realizado por essa força para mover o objeto do espaço x=2m até

o espaço x=8,5m.

Grupo 6: Um corpo se movimenta com velocidade constante até passar pela

origem de uma trajetória, nesse instante força =( ) , começa agir sobre esse

corpo. Determine o trabalho realizado por essa força para mover esse objeto do espaço

x=1m até o espaço x=4m.

Todos os problemas propostos têm as mesmas características, um corpo se

deslocando de um espaço a outro da trajetória, sobre a ação de uma força F= f(x)

variável, pois, a intenção dessa atividade é que os alunos identifiquem os dados contidos

nos problemas e representem-nos na forma gráfica, pois, o trabalho realizado por uma

força é numericamente igual à área da figura formada abaixo da curva determinada pela

força e entre os espaços iniciais e finais do movimento de um corpo. Feita essa

representação gráfica do movimento do corpo envolvido no problema o próximo passo

que eu espero que os alunos realizem, é o calculo da área formada graficamente, para

isso eles deverão utilizar conceitos pré-adquiridos em calculo diferencial e integral,

como, limites e integral.

Durante a realização da atividade de Modelagem Matemática será pedido aos

alunos que confeccionem um relatório, que deverá conter todos os processos

desenvolvidos pelo grupo para realizar a atividades, tais como, a formulação de

hipóteses, a escolha das variáveis, os procedimentos matemáticos utilizados, etc...

Para finalizar essa atividade os grupos farão uma breve apresentação dos

problemas desenvolvidos, explicando de forma sucinta os processos desenvolvidos na

42

resolução do problema. Tendo os grupos apresentados os problemas, faremos o

fechamento da atividade com uma discussão sobre os conceitos abordados na atividade,

visando uma generalização para o conceito de trabalho de força, pois o que é esperado é

que os grupos consigam desenvolver os problemas reconhecendo que o trabalho de

força é numericamente igual à área da figura formada na representação gráfica (Fxs) do

movimento, que pode ser apresentado na forma Matemática de uma integral definida

entre os espaços x=a e x=b de uma função f(x):

Para encerrar a aplicação do meu projeto os alunos serão divididos em grupos de

três alunos cada, para realizarem uma avaliação, como segue abaixo:

Avaliação:

1) Um bloco de 5 kg se move em linha reta sobre uma superfície horizontal sem atrito

sob a influência de uma força que varia com a posição, como mostra a figura abaixo.

Que trabalho é realizado pela força quando ele se desloca da origem até x=8m?

2) Uma lata de sardinha é movida ao longo do eixo x, de x=0,25m até x=1,25m, por

uma força cujo módulo é dado por F= , com x em metros e F em newtons. Qual o

trabalho realizado pela força sobre a lata?

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

0 2 4 6 8 10

Força (N)

Força (N)

43

3) A figura abaixo fornece a aceleração de uma partícula de 2 kg sob a ação de uma

força F, a qual desloca a partícula inicialmente em repouso ao longo de um eixo x, de

x=0 a x= 9m. Qual o trabalho realizado pela força sobre uma partícula quando está

atinge as posições:

a) x=4m;

b) x=7m;

c) x=9m.

FORMA DE AVALIAÇÃO

Durante a aplicação desse projeto a avaliação será constante, realizando-se através

de: observações durante a realização a atividade de modelagem Matemática realizada,

em relação ao empenho, comprometimento e desempenho; questionamentos durante a

realização da atividade, com o intuito de verificar quão envolvido na mesma está; e

ainda de acordo com relatório a ser entregue sobre o desenvolvimento e raciocínios da

atividade de modelagem executada na aula, servindo como uma forma de verificar se a

atividade de modelagem atingiu o objetivo. E ainda, através da avaliação que será

realizada no encerramento da aplicação, tornando assim essa avaliação a mais completa

possível para verificar se os objetivos foram cumpridos.

REFERÊNCIAS

HALLIDAY, David. Fundamentos de Física: Mecânica. Volume I, 6º Ed.

Editora LTC. Rio de Janeiro, 2006.

LEITHOLD, Louis. O Cálculo com Geometria Analítica. Volume 2, 3ª Ed.

Editora Harbra ltda. São Paulo – SP, 1994.

RESNICK, R., HALLIDAY, D., KRANE, K. S. Física 1, 5º Ed. Editora LTC.

Rio de Janeiro, 2008.

-10

-5

0

5

10

0 5 10

aceleração

aceleração

44

ANEXO II - PERGUNTAS ENTREVISTA

1) Você notou alguma diferença na aplicação desse projeto em relação a uma aula

tradicional dessa disciplina?

2) No segundo dia de aplicação desse projeto foi realizada uma atividade (Modelagem

Matemática), o que você achou dessa atividade?

3) Essa atividade te fez olhar de forma diferente os conceitos envolvidos na mesma?

4) Você conseguiu construir algum conhecimento com essa atividade?

5) Você achou valida para o seu conhecimento a aplicação dessa atividade?

6) Você futuramente formado como professor, usaria atividades semelhantes para

ensinar Matemática?

7) Pelos conhecimentos prévios que tem sobre as alternativas de ensino de Matemática,

em qual delas você classificaria essa atividade que realizou?

8) Você gostou de trabalhar com essa atividade?