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Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil Centro de Pesquisa de Pós-Graduação em Administração CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial Pauline Maria de Azevedo Buonafina Efeitos da diversidade cultural sobre o clima organizacional na percepção dos funcionários Um estudo de caso na indústria naval - Suape - PE Recife, 2013

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa de Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

Pauline Maria de Azevedo Buonafina

Efeitos da diversidade cultural sobre o clima organizacional na percepção dos

funcionários – Um estudo de caso na indústria naval - Suape - PE

Recife, 2013

Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração- CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas

fontes, o acesso a monografias do Mestrado de Administração do Centro de Pesquisa

e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem é definido em três

graus:

- "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e

indiretas);

- "Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência,

restrita a consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;

- "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso,

o texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob

chave ou custódia.

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se

preservem as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de

Administração.

_________________________________________________________________

Título da dissertação:

Nome do Autor: Pauline Maria de Azevedo Buonafina

Data da aprovação: 21/03/2013

Classificação, conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2

Grau 3

Local e data:

---------------------------------------

Assinatura do autor

X

Pauline Maria de Azevedo Buonafina

Efeitos da diversidade cultural sobre o clima organizacional na percepção dos

funcionários – Um estudo de caso na indústria naval - Suape - PE

Dissertação apresentada como requisito

complementar para obtenção do grau de Mestre

em Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e

Pós-Graduação em Administração – CPPA da

Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil, sob a

orientação da Prof. Lúcia Maria Barbosa de

Oliveira, Ph.D.

Recife, 2013

Ao amor de toda a vida – André Buonafina...

Aos meus pais, minhas referências...

Aos irmãos Wedja, Cristiane, André e a toda a família Azevedo e Buonafina que estiveram

presentes durante essa conquista...

À Gabriel Buonafina (filho de coração)....

A todos que fazem parte, de algum modo, dos grupos de diversidade presentes nas

organizações...

AGRADECIMENTOS

A André Buonafina, quem mais incentivou na busca desse título....

Aos meus pais, irmãos e toda a família que foram capazes de entender as ausências

necessárias para conquista de um sonho....

A Lúcia Barbosa que, com toda sua paciência, dedicação e atenção, orientou essa busca pelo

conhecimento científico....

Aos professores e amigos do mestrado, em especial, Ana Claudia, Neilce, Janaina e Malu

que compartilharam as angústias e contribuíram com as conquistas dessa pesquisa...

A Mariângela Shoenacker e Rejane Penteado pelo apoio na pesquisa e confiança no trabalho

que estava sendo desenvolvido, e que, a partir dele, me deram grandes desafios voltados

para esse tema na organização...

Por fim, a todos que se dispuseram a ser entrevistados e contribuíram para a riqueza do

aprendizado no decorrer da pesquisa.

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.....

(Caetano Veloso)

Visão de alteridade é a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho.

(Mario Sergio Cortella)

RESUMO

Nas organizações tornou-se natural a convivência de pessoas das mais variadas culturas em

razão das mudanças do ambiente corporativo. O seguimento naval, por exemplo, em especial

no nordeste do Brasil, vem sendo estruturado pela diversidade cultural na formação de sua

mão de obra, fator esse que tem como objetivo desenvolver a expertise do negócio do estado

de Pernambuco. As relações entre pessoas diversas no contexto organizacional vêm mudando

ao longo do tempo, e a necessidade de entender os efeitos dessa diversidade no ambiente

corporativo, tornou-se uma necessidade nas companhias. As teorias que suportam o tema

diversidade nas organizações ainda são poucas e bastante recentes. Normalmente estão

relacionadas aos grupos mais evidentes de minorias tais como negros, mulheres ou pessoas

com deficiência. Na perspectiva de ampliar o conhecimento dos efeitos da diversidade

cultural, pouco encontrada na teoria, é que a presente pesquisa foi construída, cujo objetivo

maior foi analisar os efeitos dessa diversidade sobre o clima organizacional na percepção dos

funcionários do nordeste e sudeste do país, utilizando como base o modelo interacional de

impacto da diversidade cultural de Cox Jr. (1994), através dos fatores de nível organizacional

propostos no referido modelo. A metodologia utilizada foi qualitativa através de estudo de

caso, balizada por entrevistas por pautas e observação abordando os cargos de alta gestão,

média gestão, técnicos e administrativos da mão de obra indireta de uma indústria naval,

situada em Suape, Pernambuco. Através da análise de conteúdo foi identificada a percepção

desses funcionários acerca da diversidade cultural e identificado os seus efeitos no clima

organizacional através de variáveis propostas por Coda (1997). Como resultados dessa

pesquisa, observou-se, que a diversidade exerce influência na organização e no clima

organizacional em razão da sua cultura não estar consolidada, está ainda em formação. Por

fim, foi identificado que a organização ainda não detém conhecimento sobre o tema e como

ele pode influenciar de forma positiva ou negativa nos resultados do negócio. Isso corrobora

a necessidade da busca pelo entendimento dos seus efeitos e a valorização do tema no âmbito

corporativo.

Palavras chave: Diversidade. Diversidade cultural. Cultura organizacional. Clima

organizacional.

ABSTRACT

In organizations became natural coexistence of people from different cultures because of

changes in the corporate environment. The following naval, for example, especially in

northeastern Brazil, has been structured for cultural training of its workforce, a factor that

aims to develop the expertise of the business of the state of Pernambuco. Relations between

people in different organizational contexts have changed over time, and need to understand

the effects of diversity in the corporate environment has become a necessity in companies.

Theories that support the theme of diversity in organizations are still few and quite recent.

Are usually related to the most obvious of minorities such as blacks, women or people with

disabilities. In order to expand the knowledge of the effects of cultural diversity, found little

in the theory, is that this study was constructed, whose mains objective was to analyze the

effects of diversity on organizational climate as perceived by employees of the northeast and

southeast of the country using as a basis the interactional model of the impact of cultural

diversity Cox Jr. (1994), through the organizational level factors proposed in the model. The

methodology used was qualitative case study through interviews and observations by

supported guidelines for addressing the positions of senior management, middle

management, technical and administrate manpower indirectly from a shipbuilding industry

locates in Suape, Pernambuco. Through content analysis we identified the perception of these

employees about cultural diversity and indentified its effects on organizational climate

variables through proposals for Coda (1997). As a result of this study it was observed that

diversity influences the organization and the organizational climate because of their culture

not be consolidated, is still in building however, their results will be negative if the culture is

not consolidated. Finally, it was identified that the organization still does not have knowledge

about the subject and how it can impact positively or negatively on business results. This

corroborates the need to search for understanding and appreciation their effects on the

corporate theme.

Keywords: Diversity. Cultural diversity. Oragnizational culture. Organizational climate.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Diversidade e Diversidade Cultural ................................................................. .... 27

Figura 2- Modelo Interacional de Impacto da Diversidade Cultural ............................... .... 35

Figura 3- Modelo da dinâmica da diversidade nas equipes de trabalho .......................... .... 39

Figura 4- Modelo para análise de clima organizacional .................................................. .... 43

Figura 5- Desenho metodológico da pesquisa ................................................................. .... 47

Figura 6- Diagramação da pesquisa ................................................................................ .... 55

Figura 7- Quantidade de entrevistados por nível de cargo............... ............................... .... 58

Figura 8- Distribuição percentual de entrevistas por região ............................................ .... 59

Figura 9- Tempo de permanência na empresa ................................................................. .... 59

Figura 10- Relação entre fatores de nível organizacional IMDC e variáveis de clima

organizacional ................................................................................................................... .... 78

Figura 11- Estratégia de trabalho para desenvolvimento da gestão da diversidade ........ .... 81

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Distribuição de posição por região .................................................................. .... 49

Tabela 2- Distribuição quantitativa de posição por estado .............................................. .... 50

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Força da cultura – Percepção dos funcionários.............................................. .... 61

Quadro 2- Distribuição de poder – Percepção dos funcionários ..................................... .... 70

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IMDC - Modelo de Impacto Interacional da Diversidade Cultural

MOI – Mão de Obra Indireta

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PCD – Pessoa com Deficiência

PROMEF – Programa de Modernização e Expansão da Frota

SUMÁRIO

1 Introdução .................................................................................................................... 15

1.1Formulação do Problema de Pesquisa .................................................................... 15

1.2 Objetivo Geral ........................................................................................................ 19

1.3 Objetivos Específicos ............................................................................................. 19

1.4 Justificativas Teóricas ............................................................................................ 20

1.5 Justificativas Práticas ............................................................................................. 21

2 Fundamentação Teórica.............................................................................................. 22

2.1 Diversidade ............................................................................................................ 22

2.2 Diversidade Cultural nas Organizações ................................................................. 25

2.3 Cultura Organizacional e Aculturação ................................................................... 29

2.3.1 Aculturação ......................................................................................................... 31

2.4 Modelo Interacional do Impacto da Diversidade .............................................. .....33

2.4.1Fatores de Nível Organizacional ........................................................................ 36

2.4.1.1 Cultura e Aculturação de Processos ................................................................. 36

2.4.2.2 Integração Estrutural ........................................................................................ 37

2.5 Modelos Teóricos ................................................................................................... 38

2.6 Clima Organizacional ............................................................................................ 40

3 Metodologia .................................................................................................................. 45

3.1 Natureza da pesquisa .............................................................................................. 45

3.2 Desenho metodológico da pesquisa ....................................................................... 46

3.3 Locus da Investigação ............................................................................................ 48

3.4 Sujeitos da Pesquisa ............................................................................................... 48

3.5 Método de Coleta de dados .................................................................................... 51

3.6 Análise de dados .................................................................................................... 54

3.7 Limites .................................................................................................................... 56

3.8 Limitações .............................................................................................................. 56

4 Análise e discussão dos resultados ............................................................................. 58

4.1 Análise do primeiro objetivo específico ................................................................ 60

4.2 Análise do segundo objetivo específico ................................................................. 66

4.3 Análise do terceiro objetivo especifico .................................................................. 69

4.4 Análise do quarto objetivo específico .................................................................... 73

5 Conclusões .................................................................................................................... 79

5.1 Recomendação para trabalhos futuros ................................................................... 82

Referências ....................................................................................................................... 83

Apêndices ......................................................................................................................... 86

15

1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, serão abordados o problema da pesquisa acerca do tema diversidade

cultural nas organizações, objetivos geral e específicos e justificativas teórica e prática.

1.1 Formulação do problema da pesquisa

A influência do mercado em que as empresas estão inseridas, cujas forças exigem

mudança no ambiente corporativo vem ampliando, ao longo dos anos, o foco estratégico das

organizações para garantir a vantagem competitiva e sustentável. Essa demanda requer maior

flexibilidade e eficiência pautadas na participação e comprometimento das pessoas na

organização que vão além das fronteiras culturais. Dessa forma, a ideia de um mercado global

faz com que as empresas, cada vez mais, transformem a sua força de trabalho, pois precisam

de pessoas com conhecimentos e habilidades capazes de enriquecer e transformar

criativamente o seu processo produtivo.

As transformações ocorridas no mundo também têm alterado a demografia no

mercado de trabalho e o entendimento da dinâmica populacional humana se configura como

um fator determinante para o sucesso do negócio. Essa mudança impacta, sobremaneira, no

comportamento organizacional e interfere no modelo de gestão das empresas no que tange aos

processos de recursos humanos existentes. Nesse cenário, tornou-se comum encontrar, nas

empresas, profissionais cada vez mais heterogêneos, o que proporciona, ao ambiente

corporativo, a convivência com a diversidade nos seus mais variados contextos, sejam eles

étnicos, culturais, de sexo, gênero, raça ou idade (HANASHIRO, 2008).

Essa perspectiva de mercado, tornou-se o catalisador e motor principal das empresas

para entender os indivíduos diferentes e, dessa forma, as corporações modernas passaram,

então, a preocupar-se mais estrategicamente com a formação do seu quadro de funcionários,

buscando, cada vez mais, estruturar suas expectativas utilizando todo o seu potencial e

procurando adequar sua gestão a essa realidade corporativa (BOHLANDER; SNELL, 2010).

No Brasil, os estudos sobre a diversidade nas organizações ainda são recentes. Embora

o País tenha se formado basicamente pela variedade de povos e a formação da sociedade

16

tenha partido da miscigenação, o tema é pouco discutido. Freyre (2004) fez uma análise da

formação da população brasileira a partir da influência de vários povos, entretanto, explorou

forma mais detalhada a miscigenação racial entre os europeus colonizadores, os nativos

(índios) e os negros trazidos da África; começava no Brasil a diversidade cultural que se

perpetua ao longo dos tempos. Para o autor ―... a miscigenação que largamente se praticou

aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-

grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala...‖ (FREYRE, 2004: p. 33).

A Ação Afirmativa foi um dos primeiros movimentos com o intuito de garantir

igualdade de oportunidade e tratamento através de medidas jurídicas iniciados no governo do

então presidente Fernando Henrique Cardoso, porém as discussões limitavam-se às questões

da inclusão das minorias girando em torno da raça e do gênero (HANASHIRO, 2008). Outras

abordagens sobre a diversidade relacionam-se às habilidades físicas, em razão da lei nº

8.213/91, que prevê um percentual do quadro de funcionários composto por pessoas com

deficiência a fim de garantir maior socialização e mudar a referência do individuo com

deficiência como incapaz profissionalmente (BAHIA, 2006).

Outro fenômeno que tem chamado a atenção nos últimos anos trata da diversidade

relacionada à homofobia, tendo em vista o aumento dos movimentos em defesa dos direitos

referentes à opção sexual. No entanto, mesmo com focos de estudos distintos sobre a

diversidade, percebe-se que as discussões sobre o tema partem sempre da ideia de

preconceitos relacionados aos grupos de minoria (NKOMO; COX Jr., 2010).

Ainda nessa linha de formação da diversidade nas organizações, nota-se cada vez mais

que a constituição de mão de obra nas empresas torna-se bastante diversificada. Um fator que

contribui para essa heterogeneidade e que, aos poucos, vem sendo abordado por alguns

autores, como Cox Jr. (1994), Hofstede (1984), Marquardt e Horvath (2001), trata-se da

diversidade cultural, que pode ser constituída da mobilidade humana a partir da migração de

profissionais de outros estados ou países para novos desafios profissionais.

Essa mobilidade humana que ocorre em busca de oportunidades de emprego,

desenvolvimento de carreira ou até pela questão econômica, de certo modo, vem exercendo

influência na demografia da força de trabalho e pode trazer impactos relacionados à

17

diversidade no contexto individual, nas relações grupais e organizacionais. Ainda nesse

pensamento, Mazza e Simson (2011) apontam que, nesse processo migratório, vários fatores

são envolvidos, tais como políticas públicas, negociações empresariais, projetos de vida e o

convívio cotidiano.

Uma possível constatação, nesse sentido da diversidade cultural presente nas

corporações modernas, é que trata-se de uma variável que pode exercer influência no

comportamento organizacional, pois a empresa como um sistema social em que as pessoas

passam a conviver com valores, habilidades, competências, ideias e culturas diferentes

eventualmente podem gerar divergência de ideias e comportamentos que podem ser

traduzidos das mais variadas formas na organização, como, por exemplo, na formação do

clima organizacional. Em seus estudos, Cox Jr. (2001) defende que a necessidade de

identificar se essa diversidade interfere no clima empresarial, que o autor denomina clima da

diversidade, é importante para que a organização possa desenvolver a capacidade de utilizá-la

para o seu melhor desempenho, criando um ambiente que produza bem-estar e qualidade para

todos.

Nessa análise da diversidade cultural presente nas organizações, no estado de

Pernambuco, com sua expansão industrial, em especial o complexo industrial e portuário de

Suape, percebe-se essa heterogeneidade em sua mão de obra uma vez que tem atraído

profissionais das várias regiões do Brasil na busca de oportunidade de emprego e crescimento

profissional, dando vazão à grande mobilidade humana em virtude da implantação de grandes

empresas no complexo. A região vem atraindo grande variedade de indústrias de metal

pesado, entre elas algumas do segmento naval por ser um dos maiores portos no transporte

marítimo brasileiro. O porto de Suape tornou-se um marco no estado, suportando o

ressurgimento da indústria naval e atraindo mão de obra através do investimento na

construção de estaleiros, que se deu através do Programa de Modernização e Expansão da

Frota da Transpetro (Promef), dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do

Governo Federal do então Presidente Lula (RUIZ et al., 2008).

O histórico da indústria naval no Brasil data das navegações portuguesas e espanholas,

vivenciou conquistas, declínios e vem ressurgindo nos últimos anos (RUIZ at al., 2008). Tais

indústrias situadas no estado de Pernambuco são constituídas de grande diversidade cultural

18

na formação de sua mão de obra, que é composta de profissionais de vários estados do Brasil

em razão da busca pela expertise do negócio, uma vez que o Estado não dispunha de empresas

nesse segmento nem de mão de obra qualificada para implantação desse nicho de mercado.

Na perspectiva de explicar a influência da diversidade em algumas configurações

culturais, Cox Jr. (1994) desenvolveu o modelo interacional de impacto da diversidade

cultural (IMDC) para identificar seus efeitos na organização. Com esse modelo, o autor

explica, através de pesquisas empíricas, os seus efeitos na organização, a partir da interação

dos indivíduos com o ambiente, que refletem no clima, nos resultados de carreira e na eficácia

organizacional. No modelo desenvolvido pelo autor, os efeitos relacionados ao clima

organizacional constituem-se de fatores do nível individual, intergrupal e organizacional. Para

efeitos desse estudo, serão abordados os fatores de nível organizacional considerados como

cultura organizacional e aculturação de processos e integração estrutural.

Cada um dos fatores propostos interage para identificar a influência da diversidade no

clima e foi estruturado a partir dos fenômenos sociopsicológicos aplicando-se as identidades

dos grupos de maioria ou minoria (NKOMO e COX JR., 2010).

Destarte, baseando-se nos argumentos expostos sobre a diversidade nas organizações,

formulou-se a seguinte pergunta de pesquisa: quais os efeitos da diversidade cultural sobre o

clima organizacional na percepção dos funcionários do nordeste e sudeste da indústria naval

de Suape, com base nos fatores de nível organizacional do Modelo interacional de impacto da

diversidade cultural de Cox Jr. (1994)?

19

1.2 Objetivo geral

Identificar os efeitos da diversidade cultural sobre o clima organizacional na percepção dos

funcionários do nordeste e sudeste da indústria naval de Suape com base nos fatores de nível

organizacional do Modelo interacional de impacto da diversidade cultural de Cox Jr. (1994).

1.3 Objetivos específicos

1. Investigar a força da cultura na percepção dos funcionários do Nordeste (NE) e do Sudeste

(SE) em termos de clareza, extensão das normas e valores organizacionais, de acordo com o

Modelo interacional de impacto da diversidade cultural de Cox Jr. (1994).

2. Identificar, através da percepção dos funcionários do Nordeste (NE) e do Sudeste (SE),

como ocorre a aculturação em termos de adaptação cultural entre culturas diferentes, com

base no Modelo interacional de impacto da diversidade cultural de Cox Jr. (1994).

3. Identificar a percepção dos funcionários do Nordeste (NE) e do Sudeste (SE) em relação à

distribuição de poder e potencial de promoção na empresa, com base no Modelo

interacional de impacto da diversidade cultural de Cox Jr (1994).

4. Verificar o clima organizacional através do sentido no trabalho, da identificação com a

empresa, da colaboração entre as áreas e da valorização profissional, de acordo com o modelo

de Coda (1997).

20

1.4 Justificativas teóricas

Poucas são as pesquisas que abordam o tema diversidade nas organizações e as

existentes normalmente tratam da inclusão dos grupos de minoria, tais como negros, mulheres

e pessoas com deficiência; a abordagem do tema, no entanto, é muito mais ampla (NIKOMO

e COX JR, 2010). Nesse contexto, pela carência de análises de como a diversidade interfere

na organização, alguns autores, como Thomas (1991), Jakson et al (1995), Nkomo e Cox Jr.

(2010), Fleury (2000) e Bahia (2006), passaram a explorar o tema ao longo dos anos,

entretanto, no Brasil, poucos ainda são os estudos que abordam esse assunto.

De acordo com uma pesquisa bibliográfica realizada, percebe-se que a diversidade nas

organizações favorece a vantagem competitiva uma vez que estimula a cooperação e a troca

de experiências, fornece adaptação e flexibilidade, entretanto ainda há uma carência de

pesquisas científicas que corroborem tal afirmação.

Nos estudos referentes a clima organizacional, uma série de variáveis é elencada por

alguns autores, como Sbragia (1983), Mussack (2010), Luz (2012), tais como recompensas

proporcionais, sentimentos de identidades, adequação à estrutura, liderança, colaboração entre

áreas etc., que normalmente têm em comum a análise da satisfação, percepção e do

comprometimento dos funcionários. Nenhum dos autores citados, entretanto, refere-se, em

suas pesquisas, à possibilidade de relação que essa análise do clima organizacional pode ter

com a diversidade cultural em termos de benefícios ou problemas.

Dessa forma, pela lacuna existente entre a relação dos dois temas (diversidade cultural

e clima organizacional), esse estudo tem como propósito investigar se de fato os efeitos dessas

diferenças podem influenciar no clima organizacional das empresas e contribuir com a ciência

quanto à necessidade de um maior aprofundamento nos estudos relacionados ao tema,

buscando novas discussões acerca do mesmo no Brasil, já que ainda são escassas. Desse

modo, espera-se que a presente pesquisa possa estimular outras sobre diversidade cultural nas

organizações e diminuir as lacunas existentes sobre os seus estudos no âmbito corporativo.

21

1.5 Justificativa prática

As abordagens de temas ainda pouco estudados, como a diversidade cultural nas

organizações, tornam-se relevantes já que proporcionam maior aprofundamento sobre o

assunto e suas ramificações nos mais variados contextos, bem como a construção de outras

abordagens científicas sobre o assunto estudado.

Outro fator que merece especial atenção é o fato de o estudo ser estruturado em

Pernambuco, que surge como um polo industrial que atrai profissionais de vários estados com

a perspectiva de oportunidades de trabalho e com a expectativa de desenvolvimento

profissional. Nesse contexto de mercado no qual está inserida a indústria naval estudada, a

importância do trabalho reside na perspectiva de auxiliar a empresa a desenvolver ações

estratégicas que contemplem a diversidade cultural existente na sua força de trabalho e ações

que permitam, a partir do entendimento dos seus efeitos no clima organizacional, refletir na

melhoria dos seus resultados.

Sendo assim, desenvolver uma pesquisa no âmbito da diversidade cultural nas

empresas com foco na indústria naval pode ampliar a visão e a compreensão desse fenômeno

para o desenvolvimento organizacional, sua influência na estruturação do clima da empresa e

para o entendimento de sua contribuição na proposta estratégica da companhia.

Na indústria estudada em Suape, ainda são desconhecidas pesquisas que entendam

essa diversidade que compõe a sua força de trabalho desde o início de suas operações, logo, a

importância deste estudo pode elucidar sua influência nesse ambiente corporativo a fim de

proporcionar a compreensão do tema e demonstrar a contribuição estratégica que sua gestão

pode oferecer para a empresa.

22

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O tema da diversidade, por ser novo nos estudos acadêmicos, tem levantado interesse

por parte de alguns pesquisadores, como Thomas, (1991), Cox Jr. (1994), Jackson at al.

(1995), Hanashiro (2008), Bulgarelli (2008), Nkomo e Cox (2010), Fleury (2000), e, com

isso, conceitos, pesquisas e fundamentações teóricas vêm sendo desenvolvidos. Trata-se de

um tema contemporâneo e que, segundo esses autores, tem apresentado impactos diretos nas

organizações. Em razão disso, este capítulo versará inicialmente sobre os conceitos atuais da

diversidade, a diversidade cultural nas organizações, alguns modelos teóricos que foram

desenvolvidos e, em seguida, abordará a temática da cultura e do clima organizacional para

melhor entendimento desse fenômeno no âmbito corporativo.

2.1 Diversidade

Estudos sobre a diversidade são recentes e tem-se dado mais atenção ao assunto em

função das mudanças ocorridas no cenário de competitividade entre as empresas que estão

inseridas em mercados globais. A diversidade vem se tornando um fenômeno comum e cada

vez mais presente no ambiente corporativo, o que tem levado as organizações a perceberem

que o tema perpassa a questão social, como sempre foi tratado e vem se transformando em

uma estratégia de negócio.

Ao longo dos tempos, alguns autores, como Hofstede (1984), Harrison e Klein (2007),

Fleury (2000), Thomas (1991), Cox Jr. (1994), vêm desenvolvendo pesquisas e aprofundando

seus estudos sobre o tema e é possível encontrarmos algumas teorias e modelos científicos

existentes na literatura, porém trata-se de um campo ainda bastante carente, especialmente no

que tange ao contexto organizacional.

Os primeiros estudos sobre a diversidade surgiram em torno de vinte anos atrás, nos

Estados Unidos, a partir de pesquisas e publicações que já consideravam um aumento da

diversificação da sua força de trabalho em razão da mudança sofrida no perfil demográfico

dos trabalhadores. Essas mudanças foram até então apontadas como raça, idade e

nacionalidade (HANASHIRO, 2008).

23

Com a evolução dos estudos sobre o tema e com o entendimento dos elementos que a

compõem, a discussão defendida por alguns autores, como Bulgarelli (2008), Bahia (2006),

não é ainda muito diferente dos estudos iniciais; as abordagens giram em torno da promoção

da equidade entre todas as pessoas. A proposta de uma ideia inclusiva visa garantir ambientes

de convivência pautados na ética, na igualdade de oportunidades e no tratamento específico,

de acordo com as necessidades e características dos indivíduos e grupos ao qual pertencem

(BULGARELLI, 2008).

Harrison e Klein (2007) dizem, em suas pesquisas, que a construção da diversidade

precisa ser mais detalhada. Afirmam que as definições existentes ainda são genéricas; para

eles, o termo ainda é um constructo. Os autores apresentam uma tipologia da diversidade

baseada em três tipos definidos, como separação, variedade e disparidade, em que a análise do

conjunto formará um conceito real do tema. Nesse conceito, a separação descreve as

diferenças entre os membros, reflete a posição deles em um grupo em relação a valores,

crenças, orientação e atitudes; a variedade envolve as fontes de conhecimento e educação e a

disparidade trata-se das posses de cada indivíduo no conjunto. Para os autores, essas três

perspectivas de diversidade também diferem na sua relevância, portanto, são associadas a

resultados diferentes no contexto em que são sendo estudadas.

Abordagens mais amplas definem a diversidade como todas as diferenças existentes

entre os indivíduos. Sendo assim, em uma ideia mais contemporânea do tema, a diversidade

engloba as mais variadas questões relacionadas à diferença. Fleury (2000, p. 20) a conceitua

como ―um misto de pessoas que possuem suas identidades grupais diferentes, mas que

constantemente interagem em um mesmo sistema social‖.

Nas argumentações de Thomas (1991), a diversidade é formada através de um prisma

de vários elementos e não apenas pelos atributos que são facilmente observáveis pelos

indivíduos, mas também pela formação de seus modelos mentais desenvolvidos a partir de

suas vivências nas relações em qualquer ambiente. Para ele, a contextualização da diversidade

[...] inclui todos, não é algo que seja definido apenas por raça ou gênero. É

um conceito que engloba a idade, história pessoal e corporativa, formação

educacional, função e personalidade. Inclui, também, estilo de vida,

preferência sexual, origem geográfica, tempo de serviço na organização.

(THOMAS, 1991, p.10).

24

Nesta ótica, Hanashiro (2008), observa a existência de fontes que formam essas

diferenças nas pessoas. Elas são divididas em dimensões primária e secundária, consideradas

importantes porque determinam as identidades diferentes dos grupos. Na primária, incluem-se

as características que são biologicamente determinadas, como raça, gênero, idade, estrutura

física familiar e sociedade em que o indivíduo nasceu. Nessa dimensão, as questões que

formam a diferença, em sua grande maioria, não sofrem mudanças ao longo do tempo. Já na

dimensão secundária, os indivíduos passam a ter maior controle das diferenças uma vez que

podem escolher ou modificar conscientemente suas características, tais como experiência de

trabalho, estado civil, crenças políticas ou religiosas, renda percebida e até mesmo nível de

educação desejado.

Fleury (2000) comenta que a diversidade nas organizações relaciona-se à

individualidade; ou seja, as diferenças que tornam as pessoas únicas e o reconhecimento delas

dentro desse âmbito de constantes negócios torna a diversidade como um compromisso com

todos os empregados sem exceção.

Complementando os autores supracitados e com o propósito de melhor conceituar e

entender a diversidade no contexto organizacional, Cox Jr. (2001, p. 03) a define como ―uma

variação de identidades sociais e culturais entre pessoas existindo juntas em um mercado de

trabalho ou ambiente definido‖. Para o autor, as identidades sociais e culturais referem-se à

influência das pessoas nas experiências de vida, a raça, gênero, religião, origem nacional, etc.

O mercado de trabalho ou ambiente definido inclui igrejas, grupos de trabalho em

determinada organização, escolas e outros mais. Por fim, ele menciona que o mercado de

trabalho também inclui um escopo geográfico que pode ser entendido como local, regional,

nacional e ainda global.

Desta forma, a diversidade é constituída por uma grande variedade de diferenças entre

os indivíduos e todas elas certamente estão presentes no ambiente corporativo; ou seja, ela é

um fato nas organizações modernas. O importante no contexto da força de trabalho é a

necessidade de especificá-la e entendê-la para perceber sua influência na companhia.

Sendo assim, compreender os efeitos e como a diversidade é representada no meio

corporativo corrobora o entendimento da sua dimensão estratégica na sobrevivência do

25

negócio, pois, como abordam França e Lourenço (2010), diante da contemporaneidade, a

preocupação das organizações deve residir em entender quais são os processos do contexto

organizacional que sofrem o seu impacto e como transformá-los em vantagem competitiva

para eliminar conflitos e reduzir custos. Esta é uma visão moderna que requer uma nova

lógica de pensamento sobre diversidade, cuja preocupação deve ser em torno de quais

recursos e ações serão necessários para utilizar esse fenômeno como benefício para

organização.

Para especificar melhor essa diversidade e sua influência no contexto empresarial, na

próxima seção, será abordado o tema referente à diversidade cultural nas organizações tendo

em vista a importância do seu entendimento para a estruturação do estudo.

2.2 Diversidade cultural nas organizações

Em razão das realidades históricas, culturais e sociais a que os indivíduos foram e são

submetidos ao longo da vida, a diversidade cultural também tem grande importância na

formação do conceito da diversidade, portanto, cabe o entendimento das identidades

pertencentes a esses grupos de indivíduos e como suas vivências afetam as relações sociais

em qualquer ambiente.

Hofstede (1984), um dos autores a estudar a diversidade cultural no ambiente

corporativo, propôs, em seus estudos, identificar a cultura organizacional de uma empresa nos

diferentes países em que ela é sediada a partir das diferenças culturais de cada um deles. Foi

uma análise comparativa cujo objetivo era verificar a importância da cultura nacional no

contexto organizacional. Em seus estudos, o autor identificou diferenças relacionadas ao

comportamento e a atitudes dos empregados estudados em relação ao trabalho e desenvolveu

quatro dimensões para análise dessas diferenças.

A primeira é denominada de individualismo versus coletivismo e descreve o embate

existente em algumas sociedades em relação à prevalência do interesse do grupo sobre o

indivíduo ou do indivíduo sobre o grupo; a segunda é a distância do poder que expressa o

quanto membros que tenham menos poder em uma cultura convivem com a desigualdade de

poder em uma sociedade; a terceira trata-se de evitar incertezas, pois reflete o grau de

26

insegurança percebido por membros de culturas diferentes aos riscos, incertezas ou situações

desconhecidas; a última é a feminilidade versus masculinidade, que se refere às características

femininas que podem ser compartilhadas pelos homens de uma sociedade. Na pesquisa, o

autor considera que culturas masculinas e femininas criam gestores diferentes. No contexto

organizacional, homens tomam decisões isoladamente e sem apoio do grupo, enquanto, para

mulheres, a intuição e o consenso são mais importantes.

Marquardt e Horvath (2001) definem a diversidade cultural como algo formado pelo

grande multiculturalismo existente nas organizações e que cabe a estas desenvolver propostas

comuns e práticas operacionais que permitam essas diferenças culturais. Para os autores, um

dos primeiros passos das empresas, nesse contexto, é criar valores corporativos que ensejem

que todas as culturas sejam tratadas de forma igual. Eles afirmam, ainda, a importância da

diversidade na criação de poder nas empresas e a necessidade de aproveitá-la de acordo com o

exposto abaixo:

[...] É capaz de criar poder para a organização devido ao seu potencial de

trazer novas ideias e perspectivas necessárias para resolver problemas

relacionados aos produtos ou pensar novos processos. Mas a diversidade

cultural também tem o potencial de criar o caos, desarmonia e desintegração

— a qual, não sendo aproveitada, pode danificar as organizações, a equipe e

seus membros. (MARQUARDT e HORVATH, 2001, p. 102).

Morgan (2007), nesse sentido, afirma que diferentes grupos sociais podem

desenvolver diferentes normas e padrões de comportamento e isso pode impactar no

funcionamento da empresa, o que corrobora a necessidade das organizações entenderem a

diversidade cultural presente em sua estrutura para desenvolver políticas e práticas que visam

à melhoria das interações, bem como uma visão uniforme da natureza do negócio.

A diversidade cultural de acordo com os estudos de Cox, Jr. (1994) compõe um

sistema social com pessoas pertencentes a grupos com significados culturais diferentes. O

autor ainda menciona que as bases da diversidade são de extrema importância para o

entendimento das transações humanas. Dessa forma, a diversidade cultural está contida no

conceito maior de diversidade, como mostra a Figura 1.

27

Figura 1 – Diversidade e Diversidade Cultural

Fonte: (HANASHIRO, 2008 p. 59)

A diversidade cultural nas organizações forma-se em razão das mudanças vivenciadas

pelas corporações em virtude das exigências do mercado. Ela está relacionada às mais

variadas identidades culturais dos indivíduos. Por vezes, ela se dá pela mobilidade, que,

embora seja um fenômeno antigo na sociedade, vem se tornando cada vez mais presente no

mundo moderno. A mobilidade é definida, por Freitas, como:

[...] a capacidade, a disposição e o desejo que um indivíduo tem de mudar

geograficamente e de interagir com diferenças em relação à sua cultura, à

sua profissão, à sua empresa, ao seu cargo e aos seus saberes, fazendo

ajustes que favorecem o seu melhor desempenho profissional e enriquecem a

sua vida pessoal; ou seja, um indivíduo aberto a experiências novas, que

confrontem e alarguem os limites dos seus conhecimentos, de suas

experiências pessoais e profissionais, bem como as suas certezas culturais.

(FREITAS, 2009, p. 249).

A diversidade cultural formada pela mobilidade pode ser considerada internacional

(entre países) ou intranacional (dentro do mesmo país). Freitas (2009), sob a perspectiva do

indivíduo, considera que essa capacidade de mudança ocorre, muitas vezes, em função da

busca de melhores oportunidades profissionais; em contrapartida, existe a perspectiva

organizacional, que busca, nessa mobilidade, a oportunidade de atrair profissionais

qualificados, seja por interesse estratégico ou mesmo pela necessidade de mão de obra.

Sob a ótica de Mazza e Simson (2011), a mobilidade apresenta características que

devem ser compreendidas nas suas múltiplas dimensões, sendo considerada, portanto, como

28

um fato social no sentido econômico, cultural, político e social. Assim, a organização como

um ambiente de constante interação social deve atentar-se a essas questões na medida em que

se dispõe a contratar profissionais de culturas diferentes.

Cox Jr. (1994), um dos primeiros autores a defender as vantagens da diversidade no

desempenho organizacional, ressalta que as organizações devem promover a ideia de

oportunidades iguais para todos respeitando suas diferenças culturais. Para ele, a atenção às

políticas e ações devem ser direcionadas às necessidades específicas de cada grupo para que

se possa investir em iniciativas de cunho ético e moral, o que inclui, entre os muitos objetivos

da organização, ações de responsabilidade social, promoção da equidade e da melhoria das

oportunidades econômicas para os grupos sociais.

Nesse cenário, a constituição da mão de obra diversa independente de ser por

estratégia ou necessidade, entretanto, pode ter impacto significativo no ambiente corporativo.

Um deles é o choque cultural que pode gerar, entre os grupos, uma resistência que, por sua

vez, pode influenciar na interação entre essas culturas, no clima organizacional e nos

resultados corporativos (TANURE, 2007). Desta forma, a importância de entender como essa

diversidade se comporta permite à organização extrair dela os melhores resultados.

Esse fenômeno da diversidade no ambiente corporativo também tem como referência a

cultura da empresa tendo em vista que esta balizará o comportamento organizacional desejado

e o choque entre elas pode ser um contraponto capaz de interferir nesse comportamento.

Nesse contexto, Thomas (1991) afirma que o caminho para essa relação tornar-se sadia é

necessário à identificação dos elementos da cultura corporativa que influenciam a filosofia

sobre a diversidade. Assim, é possível as organizações não só apoiá-la, mas identificar quais

as mudanças necessárias. Para o autor, o conceito de diversidade e sua gestão estão

completamente ligadas à cultura.

Após contextualização da diversidade, a próxima seção abordará a temática cultura

organizacional e sua formação como forma de melhor esclarecer essa relação.

29

2.3 Cultura organizacional e Aculturação

A cultura organizacional é a base para o direcionamento de ações que devem ser

instituídas na empresa. Cox Jr. (1994) descreve cultura como valores e normas que são

compartilhadas e que distinguem um grupo de outro. Ele afirma que a cultura de um grupo é

manifestada na forma como os membros desse grupo pensam, acreditam, entendem e agem.

Para Morgan (2007), cultura refere-se ao processo de construção da realidade que norteia as

pessoas porque permite que elas possam ver e compreender os eventos, ações, objetos,

expressões e situações particulares de maneira distinta.

Thomas (1991) faz uma analogia ao entendimento da cultura em que conceitua a

organização como uma árvore e que suas raízes são a cultura, pois estão abaixo da superfície,

logo, não são visíveis. O tronco e os ramos são as partes visíveis, e atribui a eles os valores,

sistema organizacional, tradições políticas, etc. Para que os ramos se sustentem, naturalmente,

precisam ser congruentes com suas raízes. Ou seja, os esforços da organização para suportar a

abordagem da diversidade precisam ser fortes desde as raízes, caso contrário, serão como os

ramos que não se sustentam naturalmente, qualquer eventualidade pode deslocá-los.

Schein (2009) se refere à cultura representando-a por pressupostos básicos que foram

inventados, descobertos ou mesmo desenvolvidos por um grupo específico como adaptação

aos problemas externos e para a integração interna. No contexto do autor, esses pressupostos

formam as normas não escritas de um sistema social que permitem a convivência em grupos.

Quando contextualiza a cultura, o autor a divide em três níveis: os artefatos que

incluem os fenômenos visíveis ou que causem sensações em determinado grupo,

exemplificados pela linguagem, arquitetura, pelo vestuário ou por produtos que, embora

ensejem facilidade de observação, são difíceis de decifrar; o segundo nível reflete as

estratégias, metas e filosofias da empresa; e o terceiro são os pressupostos básicos, que são as

crenças, percepções, os valores, símbolos e pensamentos assumidos como verdadeiros.

A cultura corporativa, para Denison at al (2012), é construída dos hábitos e rotinas

interligadas em uma organização. De acordo com os autores, para que essa venha se

desenvolver, é necessário constantemente repensar o passado se desprendendo de práticas e

30

princípios que podem estar obsoletos a fim de reinventar a organização que vai conduzir esses

princípios de acordo com o contexto atual e futuro. Ou seja, a construção parte dos princípios

acumulados e vivenciados por determinados grupos ao longo do tempo o que permite que a

cultura seja sempre aprendida.

A fim de complementar a abordagem anterior, Fleury (2011) advoga que a construção

da cultura se dá através dos elementos simbólicos que, imbuídos de significados, transforma-a

na identidade organizacional. A dimensão de poder intrínseca a esses elementos simbólicos

expressa-se no cotidiano das organizações de acordo com as situações vivenciadas.

Normalmente, essa construção da cultura vem dos fundadores da empresa e seu

desenvolvimento acontece através do processo de socialização que se dá pela integração do

indivíduo à organização e reflete na inclusão ou mesmo exclusão dele no grupo.

Trompenaars e Hampden-Turner (1998) destacam que cultura organizacional é

formada por tecnologias e mercados além das preferências culturais dos líderes e empregados

que nela atuam. Os autores afirmam, ainda, que a estrutura organizacional é de grande

importância para a formação da cultura da empresa e elencam três fatores que consideram

mais importantes dessa estrutura na formação da cultura organizacional, a saber:

1. O relacionamento entre empregados e a organização.

2. O sistema de autoridade hierárquico ou vertical que define superiores e

subordinados.

3. A visão geral que os empregados possuem acerca do futuro da organização, suas

propostas e objetivos.

Ainda nessa visão, Morgan (2007) afirma que as organizações são vistas como um

espaço para a coletividade em que os empregados convivem com ênfase na interdependência,

no compartilhamento e na ajuda mútua, estabelecendo compromissos com essa organização.

Para ele, a cultura não é algo imposto é uma atmosfera que se desenvolve no curso da

interação social. Dessa forma, uma vez construída essa cultura, ela deve ser fortalecida. Nesse

sentido, Schein (2009) afirma que a força de uma cultura dependerá da extensão da sua

existência, da estabilidade dos membros nos seus grupos e da intensidade emocional que esses

31

membros vivenciam em suas experiências compartilhadas. O propósito da cultura é permitir

que os membros da organização vivenciem os mesmos objetivos e o mesmo modo de agir.

Em concordância com essa conceituação, Cox Jr. (1994) afirma que as ―culturas

organizacionais são incorporadas em grandes culturas nacionais e são influenciadas pelas

culturas regionais, classes sociais, racioetnia e culturas de gêneros de seus membros‖ (COX,

1994, p. 162).

A cultura organizacional não é estática, ela vai evoluindo com o tempo em razão dos

pequenos grupos que formam a organização. Shein (2009) afirma que, o entendimento da

formação cultural desses pequenos grupos, se torna necessário para evolução dessa cultura

maior na organização e para garantir a devida interação entre essas subculturas e a cultura

organizacional evitando possíveis ilhas culturais que influenciem de forma sistêmica.

Desta forma, entender a cultura vai além dos símbolos visíveis, pois envolve mais que

entender os comportamentos superficiais dos indivíduos em um sistema social, o importante

em um ambiente diverso é entender os valores intrínsecos aos grupos e permitir que se

adaptem a cultura maior da organização, pois culturas fortes possuem uniformidades e

concordâncias e desta forma ela se torna compartilhada e condicionam as respostas dos

indivíduos ao ambiente (THOMAS; INKSON, 2004). Nesse mesmo contexto, o

comportamento compartilhado para Shein (2009), é que todos de um grupo testemunham o

mesmo comportamento de acordo com as normas e regras por ele estipulada, para ele o

compartilhamento é definido pelo plano emocional, a resposta emocional compartilhada de

fazer parte de um grupo.

2.3.1 Aculturação

A aculturação tem o propósito de desenvolver o comportamento compartilhado em um

sistema cultural seja ele corporativo ou não. Ela é definida como uma mudança resultante da

fusão de elementos culturais a partir da interação de várias culturas que convivem no mesmo

sistema social. É um processo de aceitação de valores em ambientes de grande diversidade

cultural.

32

No Brasil o processo de aculturação é antigo e é visto a partir da colonização, Freyre

(2004) em Casa grande e Senzala aborda um pouco do tema quando classifica de forma

antropológica o Nordeste açucareiro através da formação sociocultural brasileira, da

versatilidade e tendência a mestiçagens. Numa visão mais crítica, Bosi (1992) alerta que no

processo de adaptação cultural atenção deve ser dada a forma como a aculturação é

estabelecida em um sistema. Na sua visão, pode ocorrer dos grupos mais fortalecidos

adotarem determinadas culturas para explorar os benefícios da cultura de acolhimento, isso

pode se tornar um abuso tanto no nível do sistema econômico quanto nos hábitos

comportamentais. Para o autor a transposição para um novo mundo de padrões de

comportamento e linguagem pode desenvolver resultados díspares.

Berry (1990) no que tange ao processo de aculturação, a conceitua como uma estratégia

correspondendo a dois processos distintos que se desenvolvem separadamente como a

identificação com a cultura de origem e com a cultura de acolhimento. Para o autor existem

estratégias de são trabalhadas pelos grupos e indivíduos que convivem em ambientes

multiculturais: são a manutenção cultural, em que identidade cultural e características

importantes são mantidas e o contato e participação que corresponde ao envolvimento entre os

grupos culturais. O autor define ainda que o processo de aculturação ocorre de quatro

maneiras distintas; a assimilação quando o indivíduo não deseja manter sua identidade

cultural buscando interação com outras culturas; a separação quando um grupo deseja evitar a

interação entre outras culturas, ocorrendo mínima mudança; a integração quando há interesse

em manter a cultura original e integrar à ela outras culturas e a marginalização em que existe

pouca possibilidade de interesse em manutenção cultural como também se manter pouca

relações com outros.

Ainda nesse contexto, Cox Jr. (1994) a define como processos de transformação e

adaptação de um grupo através da assimilação das diferenças culturais de outros grupos. Ele

se refere a quatro tipos de modelos alternativos no processo de aculturação dos grupos, a

saber: assimilação, separação, deculturação e pluralismo que serão explicados mais a frente.

Quando falamos do ambiente corporativo, em especial nas organizações modernas em

que se convive com grande diversidade cultural o processo de aculturação deve ser

essencialmente discutido e acompanhado, pois de acordo com Cox Jr. (1994) essa

33

preocupação apresenta alternativas estratégicas na movimentação dos relacionamentos

interculturais para produzir resultados para a organização e indivíduos. E sendo esse processo

estruturado, maior a possibilidade dos resultados serem benéficos para a empresa, de modo a

evitar a ideia de dominação ou imposição cultural por parte dos grupos de maioria ou de mais

poder, como discutido por Bossi (1992).

Com o objetivo de entender as relações da cultura e aculturação no ambiente

corporativo, Cox Jr. (1994) desenvolveu um Modelo de impacto da diversidade cultural

(IMDC) a partir de pesquisas empíricas em que ele analisa a interação da diversidade com o

ambiente e sua cultura. Para entender essa abordagem do autor, a próxima seção conceituará

as bases desse modelo.

2.4 Modelo Interacional do Impacto da Diversidade de Cox Jr. (1994)

O Modelo interacional de impacto da diversidade foi desenvolvido por Cox Jr. (1994)

com base em anos de pesquisas científicas e consultorias organizacionais. Este modelo,

adaptado na figura 2, tem o propósito de explicar como a diversidade cultural interfere em

todo o contexto organizacional. Ele analisa o clima, os resultados individuais de carreira e sua

interação, influenciando na eficácia organizacional. No que tange à análise do clima, o autor

postula, no IMDC, que os fatores de nível individual, intergrupais e organizacionais compõem

os aspectos que podem influenciá-lo.

Os fatores do nível organizacional dividem-se em quatro dimensões denominadas:

cultura organizacional e aculturação de processos, integração estrutural, integração informal e

influência nos sistemas de recursos humanos. A ideia do autor de analisar o conjunto desses

fatores resulta no entendimento da relação entre empregados e organização dentro de um

amplo contexto social, que, por sua vez, levanta subsídios para o entendimento e a

consequente gestão da diversidade nas organizações.

No entanto, para efeitos desse estudo, O IMDC foi escolhido como base em razão de

ser o único modelo a apresentar uma relação entre diversidade e clima organizacional através

de um conjunto de níveis individual, intergrupal e organizacional. O nível organizacional é

composto por variáveis tais como cultura e aculturação de processos, integração estrutural e

34

informal e influência dos sistemas de recursos humanos relacionadas ao tema estudado,

porém, optou-se por estudar apenas dois desses fatores (cultura organizacional e aculturação

de processos e a integração estrutural) para identificar a relação entre essas dimensões e o

clima organizacional, pois, de acordo com o autor, ―apesar de todos os itens serem

importantes, não é necessário incluir todos os catorze a fim de ter um diagnóstico utilizável do

clima organizacional‖ (Cox Jr. 2001, p. 66). Os aspectos que serão estudados nesta pesquisa

estão marcados no tracejado em vermelho do modelo citado, estruturado na Figura 2.

Nesse contexto, para análise do clima organizacional, será explorado o fator de nível

organizacional, dois dos seus componentes e alguns de seus subfatores, como a força da

cultura, a aculturação dos processos e a distribuição de poder. Na seção a seguir, serão

especificados esses fatores que foram elencados para este estudo.

35

Figura 2 – Modelo de impacto da diversidade nos resultados organizacionais

Fonte: Adaptado de COX JR. (1994)

36

2.4.1 Fatores de Nível Organizacional

O ambiente organizacional possui suas particularidades quando nos referimos à

diversidade cultural; nesse sentido, é indispensável o entendimento da cultura influenciando o

clima organizacional. Aqui, será analisado o comportamento dessa cultura sob a ótica da

cultura e aculturação de processos e da integração estrutural.

2.4.1.1 Cultura e Aculturação de Processos

O autor propõe analisar alguns processos relacionados à cultura que, no contexto da

diversidade cultural, podem influenciar no clima. A saber:

1. Força da cultura – A força de uma cultura organizacional, para ser bem definida e

vivenciada, precisa apresentar, de forma clara, suas normas e seus valores e sua

aplicação, já que orientam o comportamento das pessoas, o modo de agir de forma

certa e quais as penalidades na sua recusa. Ela promove o direcionamento, portanto,

deve ser forte em um ambiente de grande multiculturalidade, evitando que as pessoas

se comportem de acordo com suas próprias identidades e deixando de compartilhar

atitudes para o bem comum. O autor explica que, quando uma cultura organizacional é

fraca, menor é a apropriação dos comportamentos que são corretos e, assim, as

pessoas invocam suas próprias identidades, já que possuem perspectivas diferentes.

Essa relação de uma cultura fraca não compartilhada entre os membros pode deixar a

organização vulnerável, chegando ao caos.

2. Aculturação – Se refere aos processos de transformação e adaptação de um grupo

através da assimilação das diferenças culturais de outros grupos. Nesse sentido, Cox

Jr. (1994) traz quatro tipos de modelos alternativos no processo de aculturação dos

grupos, a saber: a assimilação que é a adaptação à cultura organizacional, tornando-a

padrão do comportamento das outras culturas; a separação que se traduz na capacidade

dos membros que adentram determinada cultura serem capazes ou quererem se adaptar

à cultura organizacional, ocorrendo, assim, uma mínima mudança cultural, podendo

até segregar alguns membros influenciando negativamente o clima da diversidade; a

deculturação que ocorre quando a cultura dos membros e da organização não possui

37

influência significativa sobre novos membros; e, por fim, o pluralismo que se refere ao

aprendizado e à adaptação dos processos entre a organização e os membros que

entram com várias experiências, mudando alguns graus de reflexão das normas e

valores culturais dos outros, o que enfatiza a interdependência, a apreciação mútua

entre culturas, preservando as microculturas dos grupos.

2.4.1.2 Integração Estrutural

A integração estrutural contextualiza o nível da heterogeneidade encontrada na

estrutura formal da organização, ou seja, é um diagnóstico da diversidade existente na

empresa como um todo.

1. Distribuição do poder – Trata do acesso à distribuição do poder de forma

significativa para o desenvolvimento organizacional, sua relação no trabalho sobre a

diversidade e a importância de seus efeitos nos desequilíbrios entre grupos no contexto

do negócio. Dessa forma, é importante a análise da estrutura hierárquica para

identificar a representação percentual das várias culturas na gestão da organização.

Também são identificadas as lacunas entre os níveis, no que tange à diferença entre a

representação percentual de um determinado grupo na força de trabalho geral da

organização e sua representação percentual nos vários níveis de autoridade existente.

Nessa distribuição de poder, também deve ser analisado o potencial de promoção, os

programas de desenvolvimento de carreiras e as avaliações para promoções imediatas

que contemplam os grupos diversos. Nesse sentido, a distribuição do poder é

importante, uma vez que as lideranças definem quem serão os futuros líderes da

organização. Outro fator que pode ter relevância é o ponto de vista da organização no

qual persiste a homogeneidade de regionalidade na estrutura de poder, logo, o

propósito do entendimento desse fator é evitar que a diversidade afete a avaliação de

promoção e a valorização profissional.

O fator descrito traz uma visão geral da estrutura de poder no contexto da diversidade,

trata-se de um fator que pode gerar conflitos quando não há equilíbrio dessa diversidade em

sua estrutura. Cox Jr. (1994) afirma que, a forma como o acesso ao poder é distribuído na

organização significa o desenvolvimento da diversidade na empresa, por essa razão a

38

importância do entendimento dos efeitos do desequilíbrio devem ser considerados. Desta

forma, cabe uma análise precisa desse movimento no contexto empresarial, pois a

organização como um sistema social precisa, cada vez mais, desenvolver a ideia de que a

diferença nos grupos de trabalho pode ser sadia e essencial para o alcance da eficácia.

Sendo assim, o estudo aqui apresentado tem como objetivo central identificar os

efeitos da diversidade formada por profissionais das regiões Nordeste e Sudeste no clima de

uma indústria do segmento naval. Para essa análise, o modelo de Cox Jr. (1994) foi escolhido

por apresentar, na sua estrutura, um modo mais completo e integrado entre as variáveis que

permeiam clima organizacional e diversidade cultural nas organizações. Dessa forma, serão

analisados os efeitos que algumas variáveis da diversidade no nível organizacional podem

exercer no clima organizacional através da análise de quatro variáveis do clima (sentido no

trabalho, identificação com a empresa, colaboração entre as áreas e valorização profissional),

conforme estudos de Coda (1997).

Na seção seguinte, serão abordados alguns outros modelos teóricos desenhados para o

estudo da diversidade nas organizações.

2.5 Modelos teóricos da diversidade

Nos estudos à luz diversidade nas organizações, alguns pesquisadores dedicaram-se ao

tema na busca de seu maior entendimento, como Cox Jr. (1994), Jackson et al. (1995).

Nessas análises, modelos teóricos foram desenhados e, de acordo com a complexidade do

tema, procuraram explicar a influência dessa diversidade no comportamento e nos resultados

organizacionais (NKOMO e COX JR, 2010). Destes, serão descritos dois que traduzem

algumas dessas pesquisas acerca do tema.

O modelo teórico para o estudo da diversidade desenhado por Triands et al. (1994) é

um modelo abrangente cujo propósito é definir e especificar os inter-relacionamentos entre

variáveis que incluem as similaridades percebidas, o grau de interação e as recompensas.

Nesse modelo, as atitudes intergrupais positivas são a principal variável e os autores

defendem que o aumento da diversidade pode dificultar o grupo de trabalho e o desempenho

organizacional (NKOMO e COX JR, 2010).

39

Jackson at al. (1995) desenvolveram o modelo para o entendimento da dinâmica da

diversidade nas equipes de trabalho com variáveis que, segundo elas, impactam nos resultados

organizacionais. Três elementos principais compõem esse modelo. São eles: os aspectos da

diversidade, os estados de mediação e processos e as manifestações comportamentais. Eles

são analisados nos âmbitos individual, interpessoal e do grupo. A estrutura desse modelo é

apresentada na Figura 3.

Figura 3 – Modelo da dinâmica da diversidade nas equipes de trabalho

Fonte: Adaptado de Jackson at al. (1995)

40

Com esse modelo, é possível analisar a diversidade como uma característica dos

indivíduos, das diferenças que o distinguem de seu grupo de trabalho e como uma

característica do próprio grupo de trabalho. Além disso, as dimensões da diversidade são

listadas como relacionadas à tarefa (tempo de trabalho, formação educacional, etc.) ou

orientadas para as relações (de gênero, raça, etc.) de modo que a combinação entre elas possa

afetar os resultados organizacionais (JACKSON at al, 1995).

O modelo, embora contemple inúmeras variáveis referentes ao tema, tanto no contexto

individual quanto nas relações de equipe traz uma proposta bastante complexa para análise da

diversidade e suas variáveis não contemplam diretamente a diversidade cultural e sua relação

com o clima, que é proposta deste estudo.

Desta forma, os modelos desenhados para análise e diagnóstico da diversidade nas

organizações trazem, cada um com suas peculiaridades, propostas para o entendimento desta

no ambiente corporativo. Entretanto, o IMDC foi o modelo estudado nesta pesquisa em razão

de apresentar variáveis relacionadas à diversidade cultural que, segundo Cox Jr. (1994),

exercem influência na empresa como um todo e, em especial, no clima organizacional e por

ser uma referência de modelo nos estudos sobre a diversidade, já que é citado em várias

pesquisas científicas.

2.6 Clima organizacional

O clima organizacional está relacionado ao sentimento de bem-estar das pessoas nas

organizações de modo que essas precisam sentir-se satisfeitas para conduzirem, de forma

sadia, seu trabalho, o que nos leva a considerar que essas organizações são concebidas como

sistemas vivos, que existem em um ambiente mais amplo do qual dependem suas variáveis de

satisfação das suas várias necessidades (MORGAN, 1997, p.43). Ou seja, segundo o autor, a

organização é um sistema aberto, formado por um conjunto de subsistemas, em que aqueles

que a compõem vivem em contínua troca com o ambiente.

Nesse contexto, de que as organizações são sistemas que interagem para o bom

funcionamento do todo, podermos considerar o clima organizacional como um feedback desse

processo, uma vez que ele se reproduz a partir dos sentimentos e emoções das pessoas, ou

41

seja, ele é uma resposta ao comportamento organizacional relacionado aos aspectos internos

ou externos que podem influenciar positivamente ou negativamente na percepção das pessoas

sobre o ambiente (LUCK, 2011).

De acordo com Luz (2012), o clima é algo abstrato; no entanto, ele é percebido ou

concretizado a partir dos sinais sobre a qualidade do ambiente. Para ele, o que define esse

clima são as variáveis internas ou externas às organizações e se elas afetam de forma positiva

ou negativa o ânimo dos funcionários. Dessa forma, o clima poderá ser favorável,

desfavorável ou neutro em relação às organizações e às pessoas. Para Bergamini e Coda

(1997) citado por Mussack, o clima organizacional é um indicador do nível de satisfação (ou

de insatisfação) vivenciado pelos empregados no trabalho.

Com a perspectiva de diagnosticar o clima nas organizações, alguns autores Souza

(1978), Sbragia (1983), Mussack, (2010), Luz (2012) desenvolveram estudos para identificar

essas relações existentes relacionadas aos subsistemas das organizações e da interação das

pessoas com o ambiente. Trabalhos sobre clima organizacional procuram identificar,

normalmente, quais os fatores internos ou externos que podem afetar a organização,

entretanto, nenhum aborda diretamente a diversidade cultural como defende Cox Jr. (1994)

em seus estudos sobre esse tema no contexto organizacional. Souza (1978, p.38), citado por

Mussack (2010), define o clima afirmando:

O clima é uma resultante das variáveis culturais. Quando essas são alteradas,

ocasionam alterações no clima. Curiosamente, o clima é mais perceptível

que suas fontes causais. É comparável a um perfume: percebe-se o efeito,

sem conhecer os ingredientes, embora, às vezes, seja possível identificar

alguns deles.

Complementando essa visão, Sbragia (1983) cita que o clima também propicia, além

de caracterizar o comportamento das organizações, identificar as percepções das pessoas em

relação aos grupos ou equipes com que trabalham. O autor, de acordo com pesquisas feitas em

instituições de pesquisa, propôs vinte fatores relacionados ao clima, conforme alguns

elencados abaixo:

Estado de tensão - grau das ações das pessoas denominadas por lógica e

racionalidade.

42

Conformidade exigida - grau de flexibilidade das ações das pessoas no

contexto organizacional.

Consideração humana - descreve como as pessoas são tratadas como humanas.

Adequação da estrutura - como a estrutura organizacional influencia nas ações

das pessoas em suas práticas relacionadas a normas, procedimentos e

comunicação.

Sentimento de identidade - sentimento de pertença à organização.

Reconhecimento proporcionado - refere-se à valorização dos desempenhos ou

à atuação excelente no nível individual e dos membros.

Outra abordagem referente a fatores que influenciam no clima é definida por Coda

(1997), que, como premissa essencial no que tange às pessoas na organização, busca descobrir

suas necessidades ou carências; pois, para o autor, além dessas carências fazerem parte

integrante do todo organizacional, precisam, em algum grau, ser atendidas.

Dessa forma, o autor desenhou um modelo para análise do clima composto de dez

fatores que o influenciam. Os mesmos estão descritos Figura 4.

43

Figura 4 – Modelo para análise de clima organizacional

Fonte: Adaptado de Coda (1997)

44

Para fins desta pesquisa o modelo de Coda (1997) foi escolhido em razão de ser amplo,

por analisar variáveis relacionada a cultura organizacional e em seu escopo apresentar

propostas que podem apresentam relação com os fatores estudados no IMDC de Cox Jr.

(1994). Dos dez fatores serão abordados quatro (colaboração entre as áreas funcionais,

valorização profissional, identificação com a empresa e sentido no trabalho) em razão de

serem variáveis que podem ser influenciadas pelas variáveis do IMDC de Cox Jr (1994)

escolhidos para esse estudo.

Sendo assim, o clima retrata o estado de espírito coletivo vivenciado em determinada

organização, ele representa a satisfação e o bem-estar a partir das circunstâncias vividas. O

mapeamento do que pode gerar essa sensação de motivação no ambiente corporativo é a base

para evitar que problemas se cristalizem, evitando a formação de um ambiente pesado ou

negativo (LUCK, 2011).

A próxima seção tratará da metodologia utilizada no trabalho, da natureza da pesquisa,

do desenho metodológico, do locus da investigação e, por fim, dos sujeitos da pesquisa.

45

3 METODOLOGIA

Este capítulo tem por objetivo apresentar uma visão geral dos procedimentos

metodológicos utilizados na pesquisa, que é voltada para a análise dos efeitos da diversidade

cultural sobre o clima em uma indústria do segmento naval em Suape utilizando, como base, o

modelo desenvolvido por Cox Jr (1994), o IMDC.

Para o entendimento do estudo, será, inicialmente, apresentado o delineamento da

pesquisa, em seguida, será explanado o desenho metodológico da mesma. Na seção seguinte,

será exposto o locus da investigação e as características dos sujeitos estudados. Por fim, será

apresentado o instrumento de pesquisa que será utilizado para levantamento dos dados.

3.1 Natureza da pesquisa

Os procedimentos metodológicos utilizados na investigação da pergunta de pesquisa

relacionaram-se ao entendimento dos efeitos da diversidade sobre o clima à luz do modelo

interativo de impacto da diversidade nos resultados organizacionais desenhado por Cox Jr.

(1994). Através do levantamento desses dados, foi feita uma análise com os fatores elencados

no modelo em relação à diversidade existente na empresa estudada.

Na revisão de literatura realizada que aborda temas pouco estudados, a metodologia

mais comumente encontrada é a qualitativa, cujo método abrange várias formas de pesquisa e

permite compreender e explicar o fenômeno social com menor distanciamento da realidade

estudada (GODOI e MATTOS, 2006).

Segundo a classificação dos tipos de pesquisa proposta por Godoy et al. (2006), este foi

um estudo de caso, cujo propósito é focar em situação específica; neste caso, a diversidade

cultural, para analisar problemas decorrentes de situações sociais e individuais vivenciadas

pelas interações cotidianas. De acordo com definições de Gil (2009), o estudo de caso

permite a aproximação entre resultados abstratos e o concreto na prática social.

O tipo de pesquisa aqui apresentado foi exploratório, sendo assim caracterizado de

acordo com a definição de Vergara (1998), posto que aborda um tema ainda pouco explorado

46

no contexto da diversidade. Oliveira (2008), também nesse contexto, conceitua que a natureza

do estudo exploratório é propícia ao estudo de temas pouco trabalhados e que, normalmente, é

antecedida de um levantamento bibliográfico, observações do fenômeno estudado e análises

de estudos de casos.

O estudo aqui presente também tem caráter exploratório por ser amplo, por permitir

aprofundamento das análises do problema de pesquisa levantado com relação a aspectos

sociais, percepções de diferentes grupos e por proporcionar a identificação dos fenômenos e

sua relação de causa e efeito (OLIVEIRA, 2008).

O levantamento qualitativo interpreta dados sociais de acordo com definição de Bauer

e Gaskell (2002). Para tanto, na pesquisa, serão utilizados estudos relacionados às ciências

sociais para o melhor entendimento das teorias citadas e para melhor interpretação dos

resultados que serão levantados através de técnicas de coleta de dados. A pesquisa aqui

apresentada, por tratar-se de uma pesquisa social e sendo o tema aqui exposto um objeto das

ciências sociais, segundo Minayo et al. (1994), é essencialmente qualitativa.

A análise qualitativa visa entender e trabalhar determinado tema sem o interesse de

quantificá-lo, mas, acima de qualquer coisa, entender seus significados, crenças e valores, que

constituem fenômenos que podem ser definidos em razão de inúmeras variáveis (MINAYO et

al., 1994).

Na próxima seção, será apresentado o desenho metodológico da pesquisa para análise

e o estudo do tema proposto.

3.2 Desenho metodológico da pesquisa

O desenho metodológico da pesquisa (Figura 5) apresentado propõe uma visão global

de todo o planejamento da pesquisa e as etapas de execução definidas para o estudo.

47

Figura 5 – Desenho Metodológico da Pesquisa

Fonte: Adaptado por Gil (2002, p. 21)

48

3.3 Locus da investigação

A pesquisa teve como locus uma indústria do segmento naval sediada no Porto de

Suape, em Pernambuco, que iniciou suas operações nesse mercado, em 2008, na construção

de navios-petroleiros, navios-sondas e plataformas offshore. A empresa foi escolhida pela sua

expressiva participação no desenvolvimento de Pernambuco, pela acessibilidade da

pesquisadora, pelo estímulo da organização ao incentivo educacional e por haver, por parte da

direção de Recursos Humanos, o interesse quanto aos resultados práticos da pesquisa que

podem contribuir para o entendimento da diversidade cultural e sua interação com o ambiente

organizacional.

Na organização, existem os mais variados tipos de diversidade, no entanto, a proposta

é estudar a diversidade cultural já que a empresa possui, em sua mão de obra, funcionários de

vários estados do Brasil, porém com predominância nos estados que compõe as regiões

nordeste (NE) e sudeste (SE). Nesse contexto, para o presente estudo, foi analisada a

diversidade existente na mão de obra indireta (MOI), que corresponde aos mais variados

cargos, cujo escopo de trabalho não está diretamente ligado à produção.

Na próxima seção do trabalho, serão detalhados, para maior análise, as características

dos sujeitos da pesquisa.

3.4 Sujeitos da pesquisa

Foram escolhidos, para esta pesquisa, de acordo com a estrutura organizacional da

indústria estudada, os cargos considerados como mão de obra indireta (MOI) em razão de

suas atividades não estarem diretamente ligadas à produção de navios e plataformas. Esses

cargos, para melhor entendimento da pesquisa, foram agrupados nas seguintes posições:

Alta Gestão – composto do cargo de gerente.

Média Gestão – composto dos cargos de coordenadores e supervisores.

Técnicos – composto dos cargos de engenheiros e inspetores.

Administrativo – composto dos cargos de analistas.

49

De acordo com os documentos internos fornecidos pela empresa, a mesma possui

aproximadamente 4.700 (dados do mês de agosto, 2012) funcionários que estão distribuídos

em todos os cargos e trabalham nas mais diversas áreas da produção e administrativa. Em

relação a mão de obra indireta referente aos cargos estudados, o quadro de funcionários é

composto de trezentos e vinte e um (321) profissionais, o que corresponde a um percentual de

seis vírgula oito por cento (6,8%) da mão de obra total da empresa. Essa amostra compõe

cargos da alta gestão, média gestão, cargos técnicos e administrativos. Esses foram estudados

por apresentarem uma maior diversidade de estado de origem dentro do Brasil.

A escolha do grupo se deu em razão da facilidade dos profissionais dos cargos acima

citados deixarem seus postos de trabalho para participarem da pesquisa, de modo que sua

ausência durante as entrevistas não teria impacto na produtividade organizacional. A

distribuição da origem nacional do grupo escolhido é apresentada nas tabelas 1 e 2.

Foram considerados, para esta pesquisa, os funcionários que apresentam no mínimo

seis meses de atuação na empresa estudada a fim de melhor buscar dados relacionados ao

modelo teórico escolhido para este estudo. Para a pesquisa, por ser qualitativa, não foi

definido um número da amostra, pois a mesma se deu por saturação a partir das respostas

percebidas pela pesquisadora.

Alta Gestão Média Gestão Técnicos Administrativos Total

N. % N. % N. % N. % N. %

NORDESTE 11 28,2 45 48,38 46 49,46 81 84,37 183 57,01

SUDESTE 28 71,8 48 51,62 47 50,54 15 15,63 138 42,99

TOTAL POSIÇÃO 39 100 93 100 93 100 96 100 321 100

Tabela 1 – Distribuição de posições por região

Fonte: Dados da pesquisa. Agosto de 2012

50

Cargos Alta

Gestão Média Gestão Técnicos Administrativos

Total por

região

UF N°

UF

% por

região N° UF

% por

região

UF

% por

região N° UF

% por

região

N° UF % por

região

BA 1 9,09 7 15,56 5 10,87 4 4,95 17 9,29

CE 0 0 2 4,45 1 2,17 0 0 3 1,64

PI 0 0 0 0 1 2,17 1 1,23 2 1,09

PB 0 0 1 2,22 1 2,17 2 2,47 4 2,19

PE 9 81,82 33 73,33 37 80,43 71 87,65 150 81,97

RN 0 0 1 2,22 1 2,18 3 3,7 5 2,73

SE 1 9,09 1 2,22 0 0 0 0 2 1,09

TOTAL REGIÃO 11 100 45 100 46 100 81 100 183 100

ES 0 0 3 6,25 0 0 0 0 3 2,17

MG 5 17,86 7 14,58 6 6,4 4 26,67 22 15,94

RJ 17 60,71 38 79,17 35 37,6 9 60 99 71,74

SP 6 21,43 0 0 6 6,4 2 13,33 14 10,14

TOTAL REGIÃO 28 100 48 100 47 100 15 100 138 100

Tabela 2 – Distribuição quantitativa de posição por estado

Fonte: Dados da pesquisa. Agosto de 2012

Como se pode observar, do quantitativo de funcionários da empresa, a mão de obra

indireta que compõe os sujeitos estudados corresponde a uma média de 6,82% dos

colaboradores. Destes, percebe-se que os estados que possuem maior número de funcionários

na empresa são Pernambuco e Rio de Janeiro, seguidos de Minas Gerais, Bahia, São Paulo,

Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e, por fim, Sergipe e Piauí.

Da região Nordeste, o estado que mais tem concentração de funcionários é

Pernambuco, com 81,97% do total de mão de obra da região. Do Sudeste, o estado que possui

maior representação de funcionários é o Rio de Janeiro, com 71,74% da mão de obra da

região. Essa distribuição de mão de obra nos dois estados se dá, no primeiro, pelo estaleiro ser

51

genuinamente pernambucano e, no Rio, por apresentar estaleiros de grande porte em

funcionamento, tais como Wilson Sons, Keppel Fels Brasil, etc.

Em outro levantamento mais detalhado em relação ao quantitativo de funcionários

para cada uma das posições estudadas, têm-se as seguintes situações:

a. Dos cargos posicionados na alta gestão (gerentes), 71,8% correspondem à região

Sudeste e 28,2% ao Nordeste.

b. Na média gestão (coordenadores), a mão de obra apresenta-se equilibrada, tendo em

vista que 48,38% são da região Nordeste e 51,62% da região Sudeste.

c. Nos cargos técnicos, que incluem engenheiros e inspetores, também se percebe certo

equilíbrio na empresa, sendo 49,46% e 50,54% das regiões Nordeste e Sudeste

respectivamente.

d. Nos cargos administrativos (analistas), a grande maioria é representada pela região

Nordeste, com 84,37%, sendo apenas 15,63% do quadro da região Sudeste.

De acordo com as informações supracitadas, corrobora-se a diversidade cultural

regional existente na empresa, uma variação grande na estrutura da alta gestão e dos cargos

administrativos entre as duas regiões estudadas e um certo equilíbrio nos cargos de média

gestão e técnicos. Dessa forma, torna-e importante elucidar a necessidade de estudar a

diversidade sob a ótica do clima organizacional.

A seção a seguir tratará da descrição do método escolhido para coleta de dados deste

trabalho.

3.5 Método de coleta de dados

Para a coleta de dados, foram formadas 3 etapas para garantir maior levantamento de

dados, a saber:

I. Análise Documental – Levantamento de documentos internos para análise de dados

referentes à diversidade cultural da empresa e às práticas atuais referentes ao clima.

II. Entrevista por Pautas – Método que, segundo Bauer e Gaskell (2010), permite mapear

e compreender o contexto da vida dos respondentes e que fornece dados para o

52

desenvolvimento e compreensão detalhada em relação aos comportamentos e perdas

pessoais em contextos sociais específicos. Para Richardson (1999), a entrevista

permite interação, elemento essencial em pesquisas sociais, e desenvolvimento da

relação entre as pessoas (Apêndice A).

Ainda nessa contextualização das entrevistas, especialmente por ser indicada para

pesquisas sociais, Gil (2009, p. 63) a define:

A entrevista é uma técnica eficiente para a obtenção de dados acerca dos

mais diversos aspectos da vida social. [...] Quando bem conduzida,

possibilita o esclarecimento até mesmo de fatores inconscientes que

determinam o comportamento humano. É também uma técnica muito

flexível, já que possibilita esclarecer o significado das perguntas e adaptar-se

mais facilmente às pessoas e às circunstâncias em que é realizada.

A entrevista é conduzida por pautas que, de acordo com Gil (2009), apresentam uma

relação de interesse do entrevistador que deve ser explorado através de pontos de interesse,

com poucas perguntas diretas, de forma que o entrevistado expresse suas respostas de forma

espontânea; no entanto, cabe ao pesquisador, de forma sutil, intervir caso o entrevistado se

afaste da pauta.

Os pontos de interesse direcionadores da entrevista foram estruturados de acordo com

os fatores de nível organizacional propostos no modelo teórico estudado, em que serão

abordados questionamentos voltados para os fatores relacionados à cultura e à aculturação de

processos e integração estrutural.

As entrevistas foram gravadas de acordo com a autorização dos funcionários e, para

aqueles que não permitiram gravação, foram anotadas todas as respostas em diário como

também as observações acerca dos comportamentos e atitudes dos respondentes.

No que tange ao número de pessoas entrevistadas, foi baseado no critério definido por

Flick (2009), por saturação, onde se faz necessário a partir da repetição excessiva das

respostas a interrupção da coleta de dados uma vez que já não estão mais sendo encontrados

dados que adicionem maior informação à pesquisa.

53

Um fator bastante relevante identificado na pesquisa é problemática existente entre os

funcionários do estado de Pernambuco e do Rio de Janeiro, os dois grupos manifestaram de

forma indireta uma possível barreira de interação em razão de estereótipos criados, pois para

os primeiros o carioca é visto na figura do ―malandro‖, que trabalha pouco, enquanto para os

cariocas os pernambucanos ainda são considerados como o ―homem sertanejo, cortadores de

cana e donas de casa‖.

Após inúmeras tentativas de entrevistas e agendamentos que não se concretizaram

foram entrevistados trinta profissionais que correspondem a 9,3% da amostra, dessas apenas

cinco entrevistas foram gravadas e no geral, tiveram duração de 15 minutos no mínimo e 58

minutos no máximo, para todas elas foram anotadas as respostas tal qual eram faladas bem

como as expressões dos respondentes, esse fator tornou as entrevistas mais extensas em razão

de estarem sendo transcritas em tempo real junto ao entrevistado.

Para controle das entrevistas e confidencialidade da identidade dos entrevistados,

foram denominados as seguintes nomenclaturas para os mesmos:

G1 – Para gerentes – seguido das numerações subsequentes.

C1 – Para coordenadores – seguido das numerações subsequentes.

A1 – Para analistas – seguido das numerações subsequentes.

E1 – Para engenheiros – seguido das numerações subsequentes.

I1 – Para inspetores – seguido das numerações subsequentes.

III Observação – A observação ocorre durante as entrevistas, cuja proposta éi estratégica

e, como afirma Gil (2009), permite entrar em contato maior o fenômeno que está

sendo estudado através da utilização dos sentidos.

A observação utilizada para esse estudo foi sistemática que, segundo abordagem de Gil

(2009), o pesquisador estabelece previamente os itens de interesse a observar para em seguida

serem analisados de acordo com os objetivos do trabalho. Neste sentido, a observação foi

balisada no contexto envolvendo sinais físicos exteriores, tais como aparência física e

vestuário e movimentos expressivos como toques, risos e expressões corporais (GIL, 2009).

54

Os fatores observados no contexto das entrevistas foram descritos ao longo da análise

dos dados coletados que serão apresentados na seção seguinte bem como a diagramação da

pesquisa para melhor entendimento da mesma.

3.6 Análise de dados

Para a análise do material que foi coletado através da entrevista por pautas (Apêndice

A), foi utilizado o método de análise de conteúdo em razão de ser um procedimento analítico

aplicável a qualquer comunicação escrita (GIL, 2009).

O método de análise do conteúdo foi escolhido em virtude do rigor atribuído ao

mesmo e, de acordo com Bardin (2011), divide-se em três fases, a saber:

a. Pré-análise – Tem o propósito de sistematizar, com precisão, o desenvolvimento do

trabalho. Nesta etapa, é possível eliminação, substituição e introdução de elementos

que visem melhor explicação do fenômeno estudado. Para a autora, nesta etapa, é

importante uma leitura superficial do material para se ter primeiras orientações e

impressões sobre os documentos. Em seguida, após escolha dos documentos a serem

analisados, para garantir maior rigor das análises, a autora sugere seguir os princípios

de exaustividade, representatividade, homogeneidade e adequação desses documentos

para cumprir os objetivos da pesquisa.

b. Análise do Material – Trata-se da análise de fato através da categorização e das

inferências para registro dos dados. A categorização tem o propósito de classificar

elementos que constituem um conjunto por diferenciação e, em seguida, por

reagrupamentos do gênero e critérios que foram definidos previamente de modo que

reúnam um grupo de elementos sob um título genérico (BARDIN, 2011). Para esse

estudo foi escolhido o critério semântico por tratar-se categorias temáticas abordadas

nos modelos de Cox Jr. (1994) e Coda (1997). As inferências, ainda de acordo com

Bardin (2011), como parte da análise de conteúdos se propõe a investigar as causas ou

variáveis inferidas a partir dos efeitos que são as variáveis de inferência ou referências

na fundamentação teórica.

c. Tratamento dos resultados – Serão as comparações feitas entre os resultados

encontrados e os objetivos desenhados de acordo com as dimensões estudadas no

IMDC de Cox Jr. (1994).

55

A diagramação da análise dos dados de acordo com as etapas sugeridas por Bardin

(2011) encontram-se na Figura 6.

Figura 6 – Diagramação da Pesquisa (autoria própria)

56

3.7 Limites da pesquisa

A pesquisa teve como propósito identificar os efeitos da diversidade cultural presente

na indústria naval em Suape na percepção dos funcionários. Para isso, foi limitado o grupo

composto de mão de obra indireta correspondente aos cargos de analistas, coordenadores,

gerentes, engenheiros e inspetores, em razão, de nesse grupo, serem encontrados profissionais

de várias regiões do Brasil, porém limitados as regiões nordeste e sudeste. Também foram

limitadas as entrevistas aos funcionários contidos nesse grupo que tivessem no mínimo seis

meses de permanência na empresa.

Outro limite imposto nessa configuração foi a análise de dois dos fatores do nível

organizacional (cultura e aculturação e integração estrutural) e alguns subitens de cada um

desses fatores (Força da cultura, Aculturação e distribuição de poder) em razão de estarem

relacionados às dimensões de clima organizacional que foram estudas, que, por sua vez,

também foram limitadas ao estudo de quatro (sentido no trabalho, identificação com a

empresa, colaboração ente as áreas e valorização profissional) das dez dimensões propostas

por Coda (1997) em virtude de serem as dimensões mais relacionadas à abordagem das

questões pesquisadas no IMDC de Cox Jr (1994).

3.8 Limitações da pesquisa

A pesquisa de caráter qualitativo teve o objetivo de investigar a percepção dos

funcionários em relação à diversidade cultural e, a partir daí, entender seus efeitos no clima

organizacional; entretanto, essa percepção dos respondentes é de caráter pessoal, o que

impede a pesquisadora controlar seus efeitos.

Outra limitação desta pesquisa é que a empresa estudada estava passando por um

processo de reestruturação organizacional com consultoria externa a fim de estruturar o seu

modelo de gestão. Esse fator pode ter interferido nas entrevistas, uma vez que muitos dos

respondentes não permitiram a gravação, variável também que pode ter influenciado nas

respostas dos mesmos.

57

Também foi identificado, no decorrer da pesquisa, que a empresa estava

desenvolvendo um programa voltado para o alinhamento intercultural entre brasileiros e

estrangeiros, o que, de certo modo, também pode ter influenciado nas percepções dos

respondentes referentes à gestão e, consequentemente, em suas respostas já a ação da empresa

também refere-se a diversidade cultural.

Importante ressaltar que mesmo com os fatores citados que envolvem os limites e

limitações dessa pesquisa, foi possível analisar os efeitos da diversidade cultural no clima

organizacional na empresa estudada.

Outro fator que pode ter influenciado a resposta dos entrevistados é o fato da

pesquisadora pertencer a área de Recursos Humanos, porém, foi esclarecido a todos no início

das entrevistas a confidencialidade das respostas de todos e o cunho científico da pesquisa.

Após as observações acerca das variáveis que limitaram o estudo o próximo capítulo

descreve a análise dos dados, iniciando pelo contexto organizacional seguido apresentação da

análise dos dados que foram coletados na pesquisa.

58

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este capítulo abordará toda a análise e discussões dos dados coletados de acordo com

os conceitos de Bardin (2011), o qual inicia através de uma primeira leitura seguida da

categorização e inferências a fim de permitir melhor discussão e entendimento dos dados

levantados.

a) Distribuição Percentual de níveis entrevistados

A proposta das entrevistas foi saturar todas as repostas conforme abordagem de Flick

(2009), entretanto, observou-se que essa saturação houve um equilíbrio de entrevistas entre os

cargos definidos para o estudo. A Figura 7 a seguir apresenta a quantidade de entrevistados

por nível de cargo e o número correspondente a cada um deles.

Figura 7 – Quantidade de entrevistado por nível de cargo

Fonte: Dados da pesquisa, Jan. 2013

b) Distribuição de entrevistados por região

Da população entrevistada, a grande maioria pertence ao Nordeste, porém, no nível da

alta gestão, apenas dois gerentes entrevistados são dessa região. Nos demais níveis, a

pesquisadora buscou colaboradores das duas regiões limitadas para o estudo, entretanto, ainda

assim, a maior predominância foi do Nordeste em razão da distribuição da mão de obra. A

Figura 8 apresenta o percentual de colaboradores entrevistados por região e número que

corresponde a esse percentual.

59

Figura 8 – Distribuição percentual de entrevistados por região

Fonte: Dados da pesquisa, Jan. 2013

c) Tempo de permanência na empresa

Em relação ao tempo de permanência que os entrevistados possuem na organização

percebeu-se que a grande maioria está entre dois e três anos na empresa, ou seja, são

profissionais relativamente novos constituindo essa mão de obra indireta. Em relação aos mais

antigos, apenas quatro dos entrevistados estão na companhia desde o início de suas operações,

há pouco mais de cinco anos. A Figura 9 apresenta essa distribuição percentual e os números

correspondentes a ela no que tange ao tempo de permanência atual dos entrevistados.

Figura 9 – Tempo de permanência na empresa

Fonte: Dados da pesquisa, Jan. 2013

60

Nas entrevistas, foi percebido que, dos trinta entrevistados, apenas dois funcionários

da alta gestão e um funcionário da média gestão possuíam experiência consolidada no

segmento naval, os demais possuíam experiência apenas na sua área de atuação. Logo, pode-

se observar que esse aspecto não se caracteriza como um critério para contratação de

profissionais de outras regiões do Brasil como sinalizado por alguns profissionais da região

sudeste.

Após as análises das características dos pesquisados, a seção seguinte apresentará as

análises e discussões acerca dos objetivos específicos definidos para o estudo de acordo com

os dados coletados nas entrevistas e na teoria estudada.

4.1 Análise do primeiro objetivo específico

O primeiro objetivo teve como premissa entender a percepção dos funcionários no que

tange à força da cultura organizacional, sua extensão na organização e sua vivência com base

nos fatores de análise do IMDC de Cox Jr. (1994).

A força da cultura foi analisada através da percepção do grupo estudado conforme

abordagem dos fatores de nível organizacional definido como cultura e aculturação de

processos do IMDC de Cox Jr (1994), no qual o autor aborda que essa força se concretiza

através do conhecimento dos valores organizacionais, sua extensão e abrangência na

organização, sua vivência, a influência da diversidade cultural nos mesmos e as penalidades

geradas por não conformidades em relação a eles. Dentro dessa visão, os valores são

considerados importantes por contribuírem na formação da identidade organizacional e

porque ―consistem em programas compartilhados, que condicionam as respostas dos

indivíduos ao seu ambiente (INKSON e THOMAS, 2004)‖.

Investigar a Força da cultura na percepção dos funcionários do nordeste (NE)

e sudeste (SE) em termos de clareza, extensão das normas e valores

organizacionais, de acordo com o Modelo de impacto da diversidade cultural

de Cox Jr. (1994).

61

Os dados das variáveis dessa dimensão e as posições ocupadas pelos entrevistados

foram separados em colunas para melhor clareza das respostas. O Quadro 1 apresenta a

percepção do grupo entrevistado, que, em sua maioria, apresentou consenso nas respostas,

variando apenas com relação à resposta sobre a influência da diversidade cultural entre as

duas regiões estudadas onde os grupos apresentaram opinião divergentes.

Força da cultura- Percepção dos Funcionários

Dimensões NE SE

Valores e normas da

organização

Na grande maioria, os

colaboradores não lembram dos

valores e normas, desconhecem

ações que os divulguem entre os

funcionários. Alguns lembram que

já viram em algum momento, mas

não sabem dizer quais são.

Na grande maioria, não os

conhecem ou não lembram,

embora saibam da existência

deles. Não lembram de

abordagens sobre os valores e

não sabem onde encontrá-los,

onde visualizar suas

definições.

Valores e normas vivenciados

Não percebem que os valores são

vivenciados, embora não lembrem

deles, acreditam que as atitudes

dos funcionários da empresa, hoje,

não se aplicam à normas

organizacionais e são contrárias ao

que entendem como certo.

Percebem um movimento de

mudança em razão do modelo de

gestão que está sendo implantado

pela nova presidência.

Percebem que os valores são

apenas declarados, que, na

prática, ainda faltam ações

para maior divulgação dos

mesmos na organização.

Percebem que a organização

vem passando por mudanças

com a nova presidência.

Influência da diversidade

cultural na vivência dos valores

Percebem que o fato dos valores

não serem vivenciados pode ter

influência da grande diversidade

cultural existente na organização.

Acreditam que a empresa não

possui uma cultura consolidada e

as pessoas acabam trazendo seus

"vícios" e atitudes que, na sua

percepção, são corretas.

Percebem que existiu no início

da empresa. Atualmente,

acreditam que a diversidade

não tenha influência, que esse

fato independe dela, e, sim, das

pessoas, do caráter de cada

um.

Penalidades diante de

comportamentos contrários aos

valores e normas

organizacionais

A percepção dos funcionários é

que não existem penalidades que

podem estar relacionadas a algum

valor, acham que se possui não

tem critério definido.

Percebem que não existem

penalidades, pois as pessoas

não são orientadas quanto ao

direcionamento. Que é algo

necessário a empresa a partir

de critérios bem definidos

Quadro 1 – Força da cultura

Fonte: Dados da pesquisa, Jan. 2013

No que tange a força da cultura organizacional, às normas e valores, grande maioria dos

entrevistados os desconhecem, fator esse que independe de região e da posição ocupada na empresa.

62

Apenas dois funcionários do grupo administrativo disseram conhecer a missão, a visão e os valores

organizacionais.

Nas falas relacionadas a esse tema, observou-se que as pessoas hesitavam um pouco por

responderem que não conheciam os valores, muitos tentavam justificar o tempo muito corrido, a

quantidade de atividades no decorrer do dia e, de forma generalizada, a falta da abordagem da empresa

neste ponto. Alguns procuravam encontrar os valores em algum documento que tivessem em mãos

para listá-los a entrevistadora. É Importante observar que, na entrada da organização, existe um

outdoor com os cinco valores existentes na organização, entretanto, a grande maioria dos

entrevistados, quando abordada essa questão, informava que não lembrava dessa informação.

Foi percebido, também, que algumas pessoas ficavam bastante confusas para responder, fator

esse atribuído ao fato de a empresa estar fazendo um trabalho referente a um novo modelo de gestão

com uma consultoria externa. Foi apresentado, para a gestão, um novo propósito que, ao que parece,

substituirá os valores atuais. O que se identifica, através da percepção dos entrevistados, é que a

cultura da empresa ainda está em processo de construção, o que permite que existam várias

subculturas com seus valores e suas normas. Por não se apresentar consolidada, pois ainda encontra-se

em formação em razão da empresa ser ainda muito nova, a cultura institucional não se revela capaz de

nortear todo o estilo de gestão e processos da empresa.

Percebeu-se a falta de uma identidade organizacional, pois a empresa, no início de

suas operações, formou grande parte da sua mão de obra indireta por profissionais de outros

estados que já possuíam experiência no segmento naval e já vieram com seus valores e

culturas formadas e que sobressaem à cultura organizacional. Esse fator torna-se preocupante,

pois, de acordo com Denison at al (2012), normalmente, são partes da cultura que não se pode

ver que levam as organizações as dificuldades.

Abaixo, alguns exemplos das falas dessa abordagem:

C2: “... Não sei se ainda são os mesmos que vi logo que entrei, há dois anos e meio, mas não

lembro deles.... a missão não me lembro, não sei onde encontrar essa informação. Deixa eu

ver se tem aqui no crachá...”[SIC]

G2: “... Sei que existem alguns valores, mas não lembro deles... são ainda muito confusos. Houve um

estudo e veio uma proposta de valores que fogem do tradicional, são propósitos que estão sendo

63

trabalhados pela nova gestão. Mas se for falar dos que hoje são oficiais realmente não lembro... acho

que muitos não lembram...”[SIC]

T1: “... Já vi, mas não lembro... Nunca prestei atenção àquele outdoor, não lembrava que ele

falava dos valores organizacionais...”[SIC]

Para os funcionários estudados, os valores (na sua percepção) não se apresentam claramente

definidos na empresa, eles existem apenas de forma declarada e não há, ao menos nesse momento,

cobrança dos mesmos. Questionados sobre a abordagem da vivência desses valores no ambiente

corporativo a grande maioria dos respondentes concorda que são apenas declarados, que eles,

de fato não são vivenciados, o que corrobora a fraqueza da cultura como afirma Cox Jr.

(1994), entretanto nesse caso da indústria estudada a fraqueza da cultura existe em razão da

mesma ainda está em construção, tendo em vista que a empresa e o segmento serem novos no

estado.

Observou-se, nessa análise, que os entrevistados no nível de gestão, embora

concordassem que as atitudes muitas vezes estão em desacordo com os valores, ficavam

pensativos quanto à resposta e foram melindrosos e objetivos a fim de não gerar maiores

questionamentos sobre o tema.

Abaixo alguns recortes das entrevistas relacionadas a essa abordagem:

C5: “... Como falei não conheço, li quando entrei, mas tenho de cabeça... nem eu nem os

outros funcionários, isso não tá fixado nas paredes, nos quadros de aviso (....) Posso falar

que ainda muitos não agem de acordo com os valores... cada um aqui age como acha que é

certo...”[SIC]

G3 “... São formalizados, mas não acontecem na prática, acho que é um processo que vai

demorar ainda para acontecer....Porque ainda falta fortalecer a cultura da

organização...”[SIC]

Em relação à possibilidade da diversidade cultural influenciar na vivência dos valores

na empresa, percebeu-se que, entre as regiões estudadas, existe certa divergência de

percepção. Os funcionários do nordeste afirmam que influencia porque percebem que os

64

colaboradores de outra região acabam se comportando segundo seus valores culturais; já os do

sudeste não acreditam que existe influência hoje, que houve no passado, no início da

organização, mas que, atualmente, isso não acontece.

Seguem alguns exemplos dessa percepção dos funcionários do nordeste:

A2: “...Acho que tem influência, sim, porque ouço, sempre, que estaleiro é assim mesmo e,

como temos muita gente do Rio, que era onde os estaleiros sempre funcionaram, eles acabam

vindo com essa cultura e não a cultura do estaleiro...”[SIC]

T1: “...Acho que influencia, sim, porque não se seguem normas, aqui tem muito

„apadrinhamento‟. Na minha área, por exemplo, tem cinco coordenadores, acho que só um é

daqui...Então acho que não há critério nesse sentido, é cada um quem cria suas

normas...”[SIC]

Exemplos dos funcionários do sudeste em relação ao mesmo tema:

A4: “...Não vejo dessa forma, acho que a diversidade não chega a influenciar dessa forma,

acredito que as pessoas que chegam se adaptam aos valores que a empresa prega.... Se não

se adaptar devem ir embora...”[SIC]

C6: “...Acredito que, no início, teve alguma influência, pode ter gerado conflito porque cada

grupo que chega coloca seus valores, seu ponto de vista, seus procedimentos, mas o que vale

são os valores da empresa..... Acho que, agora, não tem mais isso até porque o problema

cultural já passou...”[SIC]

Em relação às penalidades que podem existir em virtude de comportamentos

contrários, os entrevistados abordaram dúvidas em relação à existência ou não das punições

referentes à vivência ou não dos valores. Não houve, nessas respostas, divergências de

opiniões em relação às regiões estudadas.

65

A3: “...Acho que penalidades é algo ainda a ser estruturado, não vejo critério, uma política

para atitudes que sejam mais simples ou que tragam problemas maiores para

empresa...”[SIC]

G1 ―...Não existem. Melhor: acho que existem para alguns, mas não se tem um critério claro.

Lógico que no fundo em alguns casos as pessoas sabem porque estão sendo penalizados, mas

podem ter casos que as pessoas fazem sem ter uma noção se vai prejudicar ou não...” [SIC]

Na abordagem das penalidades, novamente se identifica que a cultura da organização

ainda não está consolidada e, pelo fato de a organização ser formada por várias subculturas, os

critérios podem ser variados, pois cada grupo vai utilizar o seu uma vez que não existe um

padrão para todo o sistema social. Esse fato configura, mais uma, vez a fraqueza da cultura

perante os membros que dela fazem parte.

Nesse contexto, as normas e valores são o direcionamento dos comportamentos

esperados em um sistema social já que formam uma ideologia organizacional e servem como

guia para a validação social. Como propõe Shein (2009), eles permitem que se reduzam as

incertezas existentes até se transformarem em suposições indiscutíveis, entretanto, no discurso

e na percepção dos profissionais estudados, percebe-se falta de direcionamento e incerteza nos

processos e na organização.

Schein (2009) afirma, ainda, que a força de uma cultura depende da extensão da sua

existência, da estabilidade dos membros nos seus grupos e da intensidade emocional que esses

membros vivenciam nas suas experiências compartilhadas. Entretanto, se percebe, na

organização estudada, a falta da identidade em razão da pouca dos extensão dos valores, bem

como a falta da estabilidade dos membros nesse sistema cultural, pois, dos entrevistados, a

grande maioria tem entre dois e três anos de permanência na organização e muitos afirmaram

que gostariam de ficar, em média, um ano e meio a dois anos na empresa, tempo que

acreditam que podem aprender mais do segmento ou que terminam alguma meta pessoal para

buscar novas oportunidades profissionais.

Ainda nesse contexto, Trompennars e Turner (1998) definem que estabilidade de uma

cultura é refletida quando as normas e valores refletem o comportamento de um grupo diante

66

do que é certo e errado, como se aspira e se deseja comportar-se. Quando isso não acontece,

na visão dos autores, o estado de tensão se torna um desestabilizador no sistema social.

Após análise da força da cultura, passa-se para o segundo objetivo específico, que

aborda o processo de aculturação da empresa em termos de adaptação cultural entre as

diferentes culturas existentes num sistema social.

4.2 Análise do segundo objetivo específico

O segundo objetivo relata a percepção dos funcionários em relação aos processos de

adaptação cultural e valorização da diversidade na organização através de processos

corporativos de aculturação.

Na análise desse objetivo observou-se uma questão importante acerca da abordagem

da diversidade cultural, pois, no caso de todos os entrevistados, notou-se que o tema, embora

seja uma realidade, não é devidamente discutido. O resultado foi um consenso de que seria

trabalhar um misto de várias culturas sendo complementado por uma variedade de

significados, tais como língua diferente, pensamentos diferentes e etc. Percebeu-se que, em

relação a ações voltadas para esse tema, a abordagem de diversidade está, ainda, relacionada

aos profissionais com deficiência - PCDs e ao grupo de japoneses que, atualmente, fazem

parte da organização.

Seguem exemplos das entrevistas dos funcionários das duas regiões estudadas, posto

que não houve divergência das informações nesse aspecto, quando abordados sobre

significado da diversidade cultural:

C3: “ Talvez tenha a questão da região, do segmento do trabalho, das pessoas, cultura do

segmento em regiões distintas, acho que é algo muito complexo que ainda estamos

aprendendo a conhecer...”[SIC]

Identificar, através da percepção dos funcionários do nordeste (NE) e sudeste

(SE) como ocorre a aculturação em termos de adaptação cultural entre as

culturas diferentes de acordo com o IMDC de Cox Jr. (1994).

67

G6: “...Mistura de opiniões populares, uma mistura cultural... A diversidade de Pernambuco,

por exemplo é muito maior que a do Rio de Janeiro, talvez por conta da colonização...”[SIC]

Percebe-se, nesses recortes, que a organização não possui essa abordagem como algo

essencial nas suas ações ou como forma de resolver problemas relacionados às diferenças

culturais que podem gerar conflitos e resultar na falta de integração entre as áreas da empresa.

Quando perguntados sobre essa integração entre os setores, os entrevistados pareceram mais

convictos de suas respostas e, segundo a percepção dos funcionários, esse é um problema na

organização. Percebeu-se, também, que o processo de aculturação não ocorre por vias formais

da organização, mas por processos informais entre alguns grupos que vão se adaptando pelas

afinidades entre eles. Nessa abordagem também não foram identificadas divergências nas

respostas entre as duas regiões estudadas.

Para os colaboradores do Nordeste a diversidade cultural tem influência no processo

de aculturação porque, para eles, os funcionários do Sudeste normalmente trabalham como

uma empresa nos moldes da indústria naval dessa região, especialmente com a cultura das

empresas desse segmento no Rio de Janeiro.

Seguem recortes das entrevistas que abordam tal sentimento:

C3: “São várias empresas dentro de uma só. Acredito que a premissa deveria ser que todos

deviam trabalhar para todos. Acho que isso tem a ver com a diversidade cultural porque aqui

existem áreas que praticamente foram criadas por uma região e isso contribui para a

empresa ser assim. Ex a engenharia...”[SIC]

Em relação aos profissionais do Sudeste existe a concordância com os do Nordeste no

que tange a integração dos setores, onde cada um deles trabalha como uma empresa diferente,

entretanto, na sua percepção, esse fator não está relacionado à diversidade e sim a falta de

critério e padrão dos processos organizacionais.

T2: ―... Não acho que sejam muito integradas, as áreas trabalham cada uma querendo fazer a

sua parte, parece que é comum trabalhar assim.... Cada um faz sua parte... E se tiver um

problema, ele é da área e não da empresa, cada área que resolva o seu...”[SIC]

68

G2: “...Existe um esforço, mas ainda não é uma dinâmica. Acho que tem um conflito, cada

um quer impor o seu jeito. Se percebe na fala a busca pela mudança, a intenção, mas é uma

herança de um tempo e um trabalho desses não se tem uma mudança tão rápida...”[SIC]

Em relação ao processo de aculturação percebido na empresa, pode-se notar que,

atualmente, não há uma preocupação referente a trabalhar as diferenças culturais regionais e

se essas poderiam refletir algum problema no contexto organizacional. Sabe-se que,

inicialmente, a mão de obra da organização, especialmente nos cargos estratégicos, foi

formada por profissionais de outros estados e especialmente do Rio de Janeiro, por ser o berço

da indústria naval no país. Entretanto, após cinco anos de operações da indústria estudada,

esse fator persiste, ainda que em menor escala, o que sugere, de acordo com as entrevistas,

conflitos de entendimento de metas compartilhadas.

Esse fator, também é reflexo da cultura organizacional ainda em formação vista

anteriormente na força da cultura, pois, como afirma Cox Jr. (1994) esse processo de

aculturação é estratégico porque aproxima os relacionamentos interculturais que promovem

os resultados organizacionais a partir do consenso sobre os objetivos e metas que devem ser

atingidas; no entanto, quando não há essa preocupação, as metas tornam-se individuais.

Dentro do contexto percebido nas entrevistas, esse processo pode ser entendido como

uma ―deculturação‖ onde nem a cultura dos membros nem da organização, segundo Cox Jr.

(1994), têm influência nos valores organizacionais. Segundo o autor, isso pode ocorrer entre

os grupos que possuem vários laços com seu grupo sociocultural original, tornando-se

inconsistente em relação à força de uma cultura. Cox Jr. (1994) afirma, ainda, que o grau de

valorização com que a organização tem para com a diversidade é refletido através do modelo

de aculturação que a organização possui, fator esse que, na organização estudada vem sendo

pouco valorizado. De acordo com a literatura pesquisada (Cox Jr 1994), (Tomas e Inkson,

2004), a falta de abordagem da organização em relação ao tema, provoca sentimentos muitas

vezes estereotipados em relação aos grupos diferentes.

Visto como ocorre processo de aculturação na percepção dos funcionários das regiões

nordeste e sudeste e com base na teoria estudada, a seguir serão tratadas a percepção desses

em relação a distribuição de poder e potencial de promoção na indústria naval.

69

4.3 Análise do terceiro objetivo específico

O terceiro objetivo aborda a percepção dos funcionários em relação à distribuição de

poder e sua influência no potencial de promoção e sucessão na estrutura de poder da

organização.

O poder reflete a capacidade de induzir ou influenciar o comportamento das pessoas

em um sistema social, por essa razão surge à preocupação da análise dessa estrutura no

âmbito corporativo. Em relação à estrutura organizacional Morgam (2007), defende que as

organizações se comportam como sistemas políticos, e que nesse contexto se manifestam as

relações entre interesses, conflitos e poder. Para o autor, a estrutura de poder, por vezes,

ocupa o centro das atenções, podendo gerar problemas interpessoais que influenciam no fluxo

da atividade organizacional.

Cox Jr. (2004) discute a ideia de que atenção deve ser dada a essa estrutura em

organizações de grande diversidade cultural, pois, para ele, a discrepância dessa fonte de

poder pode gerar vários conflitos organizacionais já que nas companhias há presença de

múltiplos grupos dominantes com interesses diferentes. Nesse sentido o autor sugere que haja

equilíbrio nas representações dos grupos diversos na estrutura organizacional.

Em relação à distribuição de poder, é bem claro, na percepção dos entrevistados, que,

para todos os cargos estudados na gestão, não se tem um equilíbrio entre regiões; entretanto,

de acordo com os dados reais da empresa, a alta gestão constitui 71,28% de profissionais do

sudeste e apenas 28,3% do nordeste, mas, para a média gestão o número é mais equilibrado,

sendo 51,62% e 48,38%, respectivamente.

De acordo com a percepção dos funcionários entrevistados, a média de profissionais

que compõem a gestão está entre 60% e 100%, conforme Quadro 2, fator esse que gera

Identificar a percepção dos funcionários do nordeste (NE) e sudeste (SE) em

relação à distribuição de poder e potencial de promoção da industria naval de

Suape de acordo com o Modelo de impacto da diversidade cultural de Cox

Jr. (1994).

70

insatisfação para os funcionários do nordeste, especialmente nos critérios de formação dessa

mão de obra e quanto ao processo de promoção/ sucessão desses cargos. Para os funcionários

da região sudeste, aparentemente é normal a empresa trazer, sempre que necessário, mão de

obra de fora, pois, no seu entendimento o nordeste ainda não possui profissionais preparados

para esse segmento industrial.

DISTRIBUIÇÃO DE PODER - PERCEPÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS

Alta gestão Média gestão Técnicos Administrativos

NE Em média 65% a

70% do Rio de

Janeiro e São Paulo

Percebem um

percentual entre 60%

a 70% de fora

Imaginam que entre

95% a 100% é do

Rio de Janeiro

Basicamente 100% é

de São Paulo e rio de

Janeiro

SE Em média 70% é

oriundo de São Paulo

e Rio de Janeiro

praticamente 100% é

oriundo de São Paulo

e Rio de Janeiro

Em média 60% desse

público é de São

Paulo e Rio de

Janeiro

Quadro 2 – Distribuição de poder na percepção dos funcionários

Fonte: Dados da pesquisa, Jan. 2013

É importante observar que, para os funcionários do nordeste, é claro que, inicialmente,

foi necessário grande parte dessa mão de obra ser de fora já que o segmento industrial era

novo na região e no estado de Pernambuco, especificamente, e que ainda é necessário para

algumas funções mais técnicas; entretanto, acham que, após cinco anos de operações, não

necessariamente a gestão deve ser composta dessa forma. Esse grupo também observa que,

atualmente, a competência técnica não é um diferencial para aqueles que são oriundos do

sudeste, para eles, o discurso é que tornou-se natural dentro da organização o sentimento de

que quem é de fora é bom.

Percebem-se também os estereótipos criados acerca dos públicos em função dessa

estrutura de poder. Esses não se apresentaram declarados nas entrevistas, mas sugerido nas

entrelinhas das respostas quando afirmavam que a empresa, normalmente, traz a gestão de

fora porque são pessoas mais preparadas. Os funcionários da região nordeste quando

entrevistados mostraram-se, em sua maioria, desmotivados em relação ao tema e ao tempo

que passariam na empresa, a resposta da maioria em média era de continuar no máximo dois

anos na organização.

71

No que tange aos funcionários da região sudeste, a maioria não se mostrou confortável

nessa abordagem. Ficavam bastante pensativos para responder e tentavam justificar a

necessidade de a gestão basicamente ser composta de fora por conta da competência técnica,

ainda que a grande maioria dos entrevistados não tenha experiência no segmento, com

exceção de três pessoas do grupo entrevistado. No entanto, quando abordados sobre o

potencial de promoção e sucessão, os colaboradores do sudeste, em sua maioria, sinalizaram

que não existe essa perspectiva porque ainda não se tem um plano de cargos e salários

definido na empresa.

Foi colocado, pelos respondentes, algo interessante que é defendido pela presidência

atual sempre que oportuno: a necessidade de formação de mão de obra local para todos os

cargos, inclusive os de MOI pesquisados nesse estudo. Porém, na prática, na percepção dos

funcionários do nordeste, isso ainda não acontece. Seguem alguns recortes das suas

entrevistas em relação a percepção desses funcionários quanto a essa distribuição de poder e

perspectiva de sucessão:

A2: “... Enxergo que a gestão é por indicação, pra mim todo mundo é de fora. A empresa

muito política nesse sentido...porém, não se dá oportunidade para as pessoas mostrarem seu

trabalho... parece que é cultural do negócio, estaleiro é assim mesmo....O critério de

promoção é pessoal, quem vem de fora traz os seus e quem é daqui tem que se

adaptar...”[SIC]

C3: “... Acho que, na liderança, 70% é do Rio de Janeiro e do sul por conta da cultura da

indústria naval, mas acho que não é mais necessário, já teve tempo para as pessoas

aprenderem, para criar uma cultura nova, com pessoas novas que não tem vícios.... Acho que

em relação a essa coisa de competência é um problema cultural se acha sempre que o

nordeste é subdesenvolvido, cortador de cana, sertanejo... Acho[...] parece que já é cultura

da empresa „só é bom quem é de fora..‟.”[SIC]

Na percepção dos funcionários do sudeste essa ideia muda conforme exemplos abaixo:

C6: “...Bom... Acho que na gestão uma grande maioria é do Rio de Janeiro e São Paulo, acho

que isso acontece porque (nós..)esses profissionais possuem experiência em indústria naval....

72

Em relação a sucessão e promoção acho que ainda é um processo que está se construindo...É

até natural as pessoas que vem de qualquer lugar querer montar sua equipe com aquele

grupo que já conhece... Que... Trabalha a tempo... É isso...”[SIC]

G4: “...Não sei, mas acho que na gestão a maioria é de fora. São os pontos chaves da

empresa, mas o choque cultural já teve... No início isso era necessário e acabou se tendo um

a valorização distorcida dos profissionais...Em relação a sucessão queria acreditar que

existe um processo formal para todos, mas existem exemplos contrários, preferências ainda

de quem é de fora...na minha área por exemplo tenho dezessete coordenadores, todos são de

fora...”[SIC]

De acordo com as entrevistas, percebe-se que essa estrutura de gestão é um ponto que

tem trazido certo desconforto para os profissionais do nordeste, especificamente. No

entendimento de Cox Jr. (1994), em um contexto social com grupos de minoria, aparecem

manifestações de comportamentos voltados para estereótipos que chegam a se tornar uma

discriminação sutil e que começam a ser percebidos quando o grupo de menor representação

constitui uma massa critica de apenas 20% a 25% do grupo dominante, caso da estrutura de

gestão da organização estudada. É importante observar que os maiores questionamentos estão

entre os cargos técnicos, administrativos e de média gestão, pois são subordinados à alta

gestão, que é basicamente do sudeste.

As análises das entrevistas corroboram a que a discrepância de poder pode tornar-se

uma fonte de conflitos já que algumas pessoas não se sentem importantes na organização por

conta da sua regionalidade. De acordo com o Cox Jr. (1994), a distribuição do poder apresenta

o significado da importância da diversidade cultural na empresa. Esse fator, por sua vez,

complementa a percepção da falta de valorização da diversidade cultural destacada

anteriormente no processo de aculturação.

Outra percepção do autor é que a estrutura de poder significa o desenvolvimento da

organização para a diversidade; ele aborda também, que os conflitos referentes a esse

desequilíbrio devem ser considerados pela organização. O que se observa é que profissionais

da região nordeste têm baixa perspectiva de promoção que os profissionais do sudeste, ou

seja, as evidências coletadas sugerem que, para ocupar cargos de alta gestão, as identidades

73

dos grupos afetam o potencial de promoção, posto que não se tem uma valorização da

diversidade na estrutura organizacional conforme afirma Cox Jr. (1994).

De acordo com as análises dos objetivos anteriores será abordado o último objetivo

específico que se trata de uma verificação do clima organizacional através de alguns fatores

do modelo de Coda (1997).

4.4 Análise do quarto objetivo específico

O quarto objetivo tem como abordagem a verificação do clima organizacional através

da percepção dos entrevistados a fim de se entender a relação dos funcionários com a

organização.

Em relação à variável sentido no trabalho, percebeu-se que a maioria dos

entrevistados, sem diferença de região, conceituou a organização como uma empresa de

grande porte no mercado, composta de alta tecnologia no seguimento e como sendo uma

referência na retomada da indústria naval do país. Entretanto, nas respostas, não se percebia o

sentimento de pertencer e fazer parte da história. É importante ressaltar que, para os

funcionários mais antigos do Nordeste, que estão na empresa desde o seu início, a companhia

já teve um significado especial em suas vidas; e se mostraram emocionados ao falar da

empresa, especialmente quando questionados sobre a representação da entrega de um navio.

Porém, também demonstraram algum tipo de ressentimento pela situação atual da

organização. De acordo com a abordagem de Coda (1997), citado por Mussack (2010), o

sentido do trabalho demonstra o sentimento de pertencer, de fazer parte. Percebe-se que esse

sentimento de pertença permite criar laços emocionais com a organização e reproduz a

permanência dos funcionários em uma empresa.

Verificar o clima organizacional através do sentido no trabalho, identificação

com a empresa, colaboração entre as áreas e valorização profissional de

acordo com o Modelo de Coda (1997).

74

Nas entrevistas, observou-se que, de acordo com a maioria das respostas em relação à

identificação com o trabalho, a região a qual o colaborador pertence não altera sobremaneira

nas respostas, pois, no que tange a atitudes e comportamentos, como citado anteriormente,

trata-se da falta de direcionamento da corporação balizados pela cultura organizacional.

Foi percebido, também que, a organização, ao menos, na estrutura dos cargos

estudados, em média 70% dos entrevistados estão na empresa há um período de dois a três

anos, o que sugere que a empresa pode ter um turnover alto, o que pode estar relacionado às

variáveis do clima do modelo de Coda (1997), elencadas para esse estudo que são reflexos da

cultura organizacional.

As percepções relacionadas a essa variável encontram-se nos recortes abaixo:

A1: “Já tive muito orgulho de trabalhar aqui, logo no início... Hoje, o único diferencial hoje

e o salário, por isso ainda estou aqui... Existe uma falta de continuidade, estamos sempre

recomeçando... A entrega do navio foi cheia de emoção, vem o sentimento de ter contribuído

de alguma forma, de saber que fiz parte dessa história, mas logo isso passa porque tudo volta

ao normal...”[SIC]

A6: “... Acho que realmente é uma grande empresa, com alta tecnologia, mas que não tem

uma „vibe‟ boa.... Você nunca consegue terminar alguma coisa, mudam as pessoas e tudo se

perde, você tem sempre que recomeçar... Você não sabe, se de fato, pertence porque pode ser

mudado a qualquer momento cada vez que tem uma mudança de gestão...”[SIC]

Em relação identificação com a empresa, as respostas também não foram divergentes

entre as regiões estudadas. O sentimento de não se identificar com valores com a filosofia da

empresa é um determinante de alguns dos entrevistados informarem que pretendem ficar no

máximo dois anos na organização.

Seguem alguns recortes dessas entrevistas:

75

A2: ―...Estou na empresa para não sair do mercado. Não faço parte desse grupo, as atitudes

das pessoas daqui divergem da minha filosofia pessoal e profissional... Tenho pouco mais de

dois anos aqui, mas não penso mais em ficar...”[SIC]

C6: “...Trabalhar aqui é um desafio porque muitas vezes você discorda de muita coisa... isso

te deixa meio desmotivado... É uma filosofia que diverge um pouco da minha....”[SIC]

Na abordagem sobre a colaboração entre as áreas, todos os entrevistados foram

práticos nas respostas, informando a falta de integração e o quanto isso prejudica a

organização porque os processos parecem estar sempre partidos. Não se percebe, por parte

dos entrevistados, uma busca das áreas para essa integração; a maioria citou que essa é uma

proposta no novo modelo de gestão que está sendo implantado, entretanto, percebem que, na

prática, ainda não houve muita mudança. Luz (2012) afirma que os conflitos

interdepartamentais é uma das formas mais aparentes do clima na empresa e pode determinar

que este seja favorável ou tenso na organização.

Nesse contexto a diversidade também apresenta influência posto que se sobressaem às

subculturas presentes na organização evidenciando cada uma suas próprias identidades, assim

aquelas que são mais fortes exercem maior influência no sistema todo. No caso da

organização estudada, essa influência parte, basicamente, da estrutura de poder que compõe

72,8% da região sudeste, região esta que, inicialmente, formou grande parte da mão de obra

especialmente nos cargos estratégicos pela experiência no seguimento naval tendo em vista

que essa região, especialmente o Rio de janeiro, foi o berço desse segmento. Nesse sentido,

Cox Jr. (1991), afirma que, a força de trabalho diversa pode experienciar baixos níveis de

atração social e demonstrar baixos compromissos com os grupos.

Abaixo alguns exemplos de respostas dos colaboradores:

T6: “...Infelizmente as área trabalham independentes, cada uma faz o seu.... Algumas acham

que são mais importantes que outras....isso é muito ruim porque parece que cada um tem um

objetivo, mas todas juntas fazem um navio, todas são importantes....”[SIC]

76

G3: “...Não são integrados, existe o empenho para integrar... Mas, existem conflitos não

declarados...”[SIC]

Na abordagem sobre valorização profissional, a maioria dos colaboradores da região

nordeste demonstrou insatisfação, pois não se sentem valorizados por não visualizarem

possibilidades de promoção em razão da gestão ser, basicamente, de outras regiões. Para eles,

outros profissionais poderão vim de fora ou os que já estão na organização trazem suas

equipes. Em relação aos funcionários da região sudeste, dizem que a valorização precisa

melhorar. Estes não entendem que tenha alguma relação com a gestão, mas com a falta de um

plano de carreira na empresa que suporte o processo de promoções. Importante ressaltar que,

embora a maioria dos entrevistados concordasse quanto a falta de valorização, ainda que por

motivos diferentes, essa insatisfação foi maior percebida nos níveis técnicos e administrativos.

Independente de região vários dos entrevistados pontuaram que a empresa investe pouco em

desenvolvimento e que esse fator também tem influência no processo de promoção.

Ainda na análise da valorização profissional, existe uma relação com a diversidade em

razão da empresa não apresentar processos de reconhecimento e promoção estruturados, o

que, de certo modo, também é um reflexo da cultura e do direcionamento, porém, como

pontuado por Thomas (1991), a cultura é considerada como a raiz de uma árvore, logo,

precisa ser firme para que todos os ramos, ou processos organizacionais, se sustentem. Por

essa razão, precisam ser congruentes com essas raízes. Como os processos estão em

formação, os grupos acabam agindo conforme seus preceitos e valores.

Abaixo alguns recortes desse tema:

T5: “...Não vejo valorização profissional, eu mesma não me sinto valorizada na minha

função, mesmo como engenheira. Acho que seria importante um programa de movimentação

interna e que as competências, as habilidades e conhecimentos fossem os critérios desse

programa..também acho que é preciso investir mais nos profissionais porque senão nunca

vamos ter gente preparada...”[SIC]

C2: “...Se existe algum programa de valorização não é claro. Normalmente quando existem

vagas para gerente, engenheiro e coordenador vem alguém de fora e é natural pela

77

experiência, mas falta um plano de cargos e salários para valorizar todas as pessoas de

forma igual independente de região...”[SIC]

O clima organizacional como afirma Mussack (2010), se manifesta de maneira

diferente nas organizações, ele pode ser sentido através de atos, expressões dos funcionários e

na forma como o trabalho é desenvolvido. A forma de se observar esse clima pode, também,

ser variada: tempo médio de permanência, o nível de cooperação entre os indivíduos e grupos,

a participação dos funcionários em eventos da organização. As respostas dos entrevistados

apontam que o clima organizacional não se apresenta satisfatório para os funcionários. De

acordo com Luz (2012), o clima é prejudicado por variáveis organizacionais que evidenciam

tensões, conflitos, desuniões, ruídos na comunicação, desinteresse pelas tarefas e pela

organização se tornando desfavorável aos objetivos organizacionais e as pessoas que dela

fazem parte.

Luck (2010) aponta que o clima expressa a satisfação de expressão variável segundo

as conjunturas e circunstâncias do momento da organização e, de acordo com respostas dos

entrevistados, o momento atual aponta para uma atmosfera de tensão em razão de elementos

internos que necessitam ser ajustados. Observando, desta forma, a organização como um ser

vivo como afirma Morgan (2007) é possível reconhecer como o clima pode afetar e

determinar a qualidade dos serviços e relações na organização estudada.

Para maior entendimento das variáveis de clima organizacional do modelo de Coda

(1997) e sua relação com os fatores do nível organizacional do IMDC de Cox Jr. (2004) foi

elaborada a Figura 10 que representa que resume graficamente os dados encontrados nesse

objetivo que também é reflexo da cultura organizacional influenciada pela diversidade

cultural.

78

Clima organizacional Cultura e Aculturação de

Processos Integração Estrutural

• Sentido do Trabalho

• Identificação com a

empresa

Valorização

Profissional

Força da Cultura

• Normas e valores

organizacionais

• Sentido da empresa

• Influência da

diversidade nesses

valores

Distribuição de Poder

• Estrutura

Organizacional

• Oportunidades de

carreira

• Processo de sucessão

• Estereótipos Criados

• Colaboração entre as

áreas

Aculturação

• Abordagens sobre a

diversidade cultural

• Permanência do

funcionário na empresa

• Relacionamento e

cooperação entre

departamentos e

culturas diferentes

Figura 10 – Relação entre fatores de nível organizacional do IMDC e variáveis de clima

organizacional (Autoria própria)

Após a análise e discussão dos quatro objetivos desenhados para esse estudo, o

próximo capítulo são descritas as conclusões encontradas nesse trabalho.

79

5. CONCLUSÕES

Esse estudo teve como objetivo geral analisar os efeitos da diversidade cultural na

percepção dos funcionários do nordeste e sudeste sobre o clima organizacional com base na

análise dos fatores de nível organizacional do Modelo interacional da diversidade cultural de

Cox Jr (1994). A proposta foi identificar os dados da cultura organizacional e da estrutura de

poder para se entender os efeitos dessa diversidade e suas relações existentes entre a

diversidade cultural e o clima organizacional de uma indústria naval de Suape.

Na análise proposta sobre o tema, identificou-se, na organização estudada, que o tema

diversidade cultural regional ainda não é uma prioridade porque não se tem entendimento

dele no contexto organizacional. Foi identificado na organização que existe um Programa de

Gerenciamento da Diversidade, cuja responsabilidade de sua gestão pertence à área de

Responsabilidade Social, porém, o programa é específico para tratar dos portadores de

deficiência e não estava em vigor no momento da pesquisa. O que ficou claro, nas análises, é

que a falta de valorização do tema, não é em razão não se querer priorizá-lo, mas por

desconhecimento dos efeitos que essa diversidade cultural pode exercer na organização como

um todo. No caso específico da indústria naval estudada, identificou-se que de diversidade

não é o fator determinante dos problemas por ela vivenciados, mas a falta da consolidação de

uma cultura organizacional que norteie todos os seus processos, bem como as atitudes das

pessoas que a constitui.

A partir da análise da cultura organizacional, detectou-se que sua cultura não está

ainda consolidada, está em formação, entretanto, a empresa, por ser constituída de mão de

obra bastante diversa, possui várias subculturas que apresentam-se em conflito, o que também

gera a falta de identidade organizacional.

Esse fator também fica claro quando analisado o processo de aculturação, pois como

foi percebido é algo que ainda não acontece de forma estruturada na empresa, o que configura

um processo de deculturação.

Em relação à distribuição de poder atual da organização, apenas os colaboradores do

nível de gestão apresentaram divergência de percepção sobre a formação dessa estrutura.

Percebeu-se que a identidade cultural de origem, que foi, em sua grande maioria, da região

80

sudeste, em razão da indústria naval já está consolidada, tem forte influência na formação da

estrutura de poder atual, pois 71,8% da gestão é dessa região e, por vezes, foi destacado pelos

gestores do sudeste que a justificativa dessa formação da mão de obra se dá em razão dos

profissionais serem mais capacitados que os da região nordeste.

Identificou-se, também, nesse estudo, que o momento vivenciado pela organização, de

certo modo, apresenta-se tenso por estar em processo de reestruturação. Entretanto, a relação

dos efeitos da diversidade sobre o clima é algo um pouco mais antigo, pois, como pontuado

pelos pesquisados a mão de obra estratégica basicamente foi formada de profissionais do

sudeste e não houve uma proposta de trabalho voltado para o tema. Esse fator tem gerado

formação de estereótipos sutis, não explícitos declaradamente, mas que ficam claros na

estrutura de gestão. É importante ressaltar que, alguns dos entrevistados, sinalizaram que a

proposta da nova gestão executiva é de mudança desse conceito criado dentro da empresa.

Ficou também evidente nesse estudo, que a relação entre diversidade cultural e clima,

existe pela falta de uma gestão da diversidade. Thomas (1991), nesse contexto, afirma que as

corporações precisam ter visão de futuro para entender as mudanças da demografia da força

de trabalho e dessa forma entender as atitudes dos funcionários nos processos organizacionais.

Cox Jr. (1991), nessa abordagem, afirma que, a qualidade de resolução de possíveis

problemas gerados pela diversidade depende, grandemente, da forma como essa é

proativamente gerida. O autor afirma, ainda que, a gestão da diversidade significa entender os

seus efeitos e implementar comportamentos, práticas de trabalho e políticas que respondam de

forma eficaz.

Por fim, conclui-se de acordo com a observação das relações estudadas, que a cultura,

de fato, é a base para todo o comportamento organizacional e a diversidade cultural exerce

influência no clima e nos resultados organizacionais como um todo caso não seja fortalecida

na organização. Considerando a organização como um organismo vivo, podemos fazer a

analogia de que a cultura são os anticorpos e a diversidade cultural, o corpo estranho que,

diante da imunidade abalada, abre espaço para demais hospedeiros que contaminam o ser

vivo.

81

Sendo assim, sugere-se, para a indústria naval de Suape, escolhida para esse estudo,

iniciar um trabalho referente a consolidação da cultura organizacional através da definição de

valores, objetivos e metas organizacionais que norteiem os processos e comportamento do

negócio. É importante, também, que, a partir dessa estratégia de fortalecimento da cultura,

seja desenhado um modelo de gerenciamento da diversidade, congruente com a cultura, como

um valor importante na estratégia do negócio, tendo em vista sua formação de mão de obra.

Sugere-se, também, que, após o processo de fortalecimento da cultura e do modelo de

gestão da diversidade, continue o desenvolvimento da liderança quanto a esse tema, porém

incluindo todos os grupos diversos encontrados na empresa e por fim divulgar o tema dentro

da organização. A proposta estratégia de trabalho para desenvolvimento da gestão da

diversidade na organização apresenta-se na Figura 11.

Figura 11 – Estratégia de trabalho para desenvolvimento da gestão da diversidade (Autoria

própria)

Importante ressaltar que, a diversidade na força de trabalho é bastante benéfica para a

organização. Ela proporciona maior criatividade e promove adaptação e flexibilidade no

82

âmbito corporativo. Cabe à organização aproveitá-la para atrair, reter e usar os talentos

diversos para torná-los uma vantagem competitiva.

Esse estudo, portanto, teve o propósito de contribuir com o campo de pesquisa acerca

do tema diversidade cultural nas organizações em razão da carência encontrada no mesmo,

trazendo uma ótica sobre a sua influência no comportamento organizacional. Entretanto,

outras contribuições à ciência ainda são necessárias, pois o tema é contemporâneo e pouco se

sabe sobre ele, especialmente no Brasil, logo, ressalta-se a necessidade de reforço do mesmo

no contexto organizacional, conforme sugere a seção seguinte.

5.1 Recomendações para trabalhos futuros

De acordo com as abordagens da diversidade cultural vários são os estudos que podem

ser abordados a partir desse tema, por exemplo:

a) Uma abordagem da transversalidade dos conceitos da diversidade em relação a

cultura organizacional, com pesquisas aplicadas para que se tenha maior precisão das suas

implicações sobre as organizações, identificando quais elementos da cultura são fundamentais

e se elas suportam ou são obstáculos para uma gestão da diversidade.

b) Investigar com maior profundidade os efeitos da diversidade no comportamento

organizacional e sua influência nos resultados organizacionais, como sugere Cox Jr, (1994) no

modelo interacional de impacto da diversidade cultural, tendo em vista que o modelo foi

baseado em pesquisas empíricas, fato esse que pode contribuir sobremaneira para a ciência.

83

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86

APÊNDICES

87

APÊNDICE A – PROTOCOLO DO ESTUDO DE CASO

Parte 1 - Questões confirmatórias das características dos pesquisados

1. Tempo que trabalha na empresa

2. Qual o seu cargo na empresa

3. Experiência no segmento Naval

4. Original de qual estado do País

5. Significado da Diversidade Cultural no na empresa

Fatores de Nível Organizacional

Cultura e Aculturação de Processos (Força da cultura/ Conteúdo da cultura

organizacional/ Socialização)

Integração Estrutural (Distribuição do poder)

Força da cultura/ conteúdos da cultura – Combinação e extensão de quais valores e normas

são claramente definidos e quais são rigorosamente reforçados. Fornece padrões de

comportamentos, o que e certo fazer quais podem ser as penalidades. Baixa aplicação dos

valores essências, não compartilhados cada grupo convive de acordo com suas diferentes

perspectivas.

Significado do da empresa na vida

Identificação com a filosofia e com a cultura organizacional

Missão, Normas e valores

Valores claramente definidos

Normas e valores são vivenciados

Influência da diversidade cultural nesses valores

Existência de penalidades para não conformidades

Significado da construção e entrega de um navio

Percepção da relação existente entre setores

Aculturação (processo desenvolvido para descrever relacionamentos entre culturas de dois

grupos que fundiram-se)– Processo para resolver diferenças culturais da mudança cultural e

adaptação entre grupos. Determina o ponto de referência do grupo dominante e o que é

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problemático. (assimilação- cultura organizacional torna-se base para todas as culturas;

separação- refere-se a fusões de grupos. Membros são relutantes ou incapazes de adaptar a

organização. Mudança cultural mínima. Isolação de membros da estrutura de poder;

Abordagem da empresa sobre a diversidade cultural

Integração entre os setores/ grupos

Como é trabalhar em um ambiente tão diverso

Adaptação a proposta de trabalho com pessoas diferentes (convivência)

Coisas da diversidade cultural que facilitam e dificultam as atividades

Requisitos essenciais para alguém ser contratado

Distribuição de poder – Representação da diversidade na estrutura de poder. Nível

organizacional, gap entre níveis, potencial de promoções, analise do corpo de decisões,

equilíbrio de poder e performance.

Estrutura organizacional

Culturalmente, como são compostos os cargos de gestão

Motivo pelo qual a gestão é constituída dessa forma

Processo de sucessão para os cargos de gestão

Processo de desenvolvimento de potencial dos funcionários

Valorização profissional

Requisitos para sucessão

Convivência com gestores de lugares diferentes

Estereótipos criados em razão dessa diversidade cultural

Clima organizacional

Sentido do trabalho

Importância dos acontecimentos da organização

Continuidade das ações

Firmeza das decisões por parte da gestão

Identificação com a empresa

Sentimento de pertencer

Significado da entrega de algum produto

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Identificação com os valores organizacionais

Identificação com a filosofia/cultura da empresa

Colaboração entre as áreas funcionais

Integração entre as áreas

Trabalhos compartilhados

Atingimento de metas pelas equipes

Respeito entre as áreas

Valorização profissional

Desenvolvimento de pessoas

Oportunidades de crescimento profissional

Qualidade dos critérios de promoção

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APÊNDICE B – CATEGORIZAÇÃO DA PESQUISA