documento protegido pela lei de direito autoral · uma forma de obtenção de renda, dado o...

67
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INFLUENCIADORES DIGITAIS – Referências de comportamento dentro e fora da rede YouTube Erica Monteiro Dias Bezerra ORIENTADOR: Prof. (Nelsom Magalhães) Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: vanphuc

Post on 06-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INFLUENCIADORES DIGITAIS – Referências de

comportamento dentro e fora da rede YouTube

Erica Monteiro Dias Bezerra

ORIENTADOR: Prof. (Nelsom Magalhães)

Rio de Janeiro 2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Transmídia – Gestão de Midias Digitais. Por: Erica Monteiro Dias Bezerra

INFLUENCIADORES DIGITAIS – Referências de

comportamento dentro e fora da rede YouTube

Rio de Janeiro 2016

Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

3

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer ao orientador profº Nelsom Magalhães, pela paciência e orientação. Ao meu marido Gilberto Junior pelo seu apoio incondicional em minhas escolhas. Aos amigos e familiares em especial minha mãe Verônica Monteiro que esteve e sempre está ao meu lado me auxiliando e apoiando.

Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

4

DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a profª Cristina Barbosa pelo

auxilio em acharmos um tema para este trabalho.

Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

5

RESUMO

Existe hoje um crescente número de publicações regulares de

conteúdos em canais do YouTube por internautas brasileiros. A rede YouTube,

popularmente conhecida pela sua alta capacidade de armazenamento de mídia

audiovisual, começa a receber cada vez mais conteúdos produzidos

especificamente para sua plataforma online, apresentando: aumento na

qualidade de produção, periodicidade e conteúdos cada vez mais variados. A

relação entre a audiência e os canais possibilita um controle de impacto muito

próximo da realidade além da adaptação das pautas que guiam a programação

dos canais de acordo com o interesse da audiência.

Essa nova forma de consumir vídeos no YouTube vem

representando diversas mudanças tanto na expectativa da audiência com

relação aos produtos audiovisuais de entretenimento no meio digital. Essas

produções de vídeos na plataforma YouTube começa a configurar também

uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns

de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se dá a relação entre

audiência e vlogueiro do YouTube, de que formas esse formato vem ganhando

espaço no meio digital e quais as possíveis oportunidades nesse cenário.

Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

6

METODOLOGIA

Analisar e embasar minha pesquisa resgatando a fundo o histórico

da internet, sua evolução ao longo dos anos associada às redes sociais,

chegando na influência exercida sobre os jovens, principalmente através das

redes sociais. Entrarei no estudo de caso do canal #ADEMAFIA, embasando a

conclusão do trabalho de pesquisa a partir de datas, dados, números,

entrevista com os fundadores do canal, planejamento de conteúdo dos vídeos,

objetivo para o canal, novos conteúdos, maior interação com os internautas,

além de analisar a convergência de outras redes sociais ligadas ao canal,

como Facebook e Instagram.

Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I -

Ciberespaço, surgimento da internet, Web 2.0 e Redes sociais 10

CAPÍTULO II

YouTube: surgimento e interação 22

CAPÍTULO III

Vlogs no YouTube, conceito e análise do canal #ADEMAFIA 43

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA 59

ÍNDICE 62

ÍNDICE DE FIGURAS 63

ANEXOS 64

Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

8

INTRODUÇÃO

O cenário midiático da década de 1980 é marcado pela multiplicação

do número de mídias. Essa diversificação das plataformas midiáticas

transformou o comportamento dos seus espectadores. Na década de 1990

esse cenário modifica-se novamente, agora devido ao surgimento da internet.

Os anos que vieram a seguir deram início à era da “convergência midiática”,

onde ocorrem alterações nas relações entre os meios de comunicação e entre

os produtores e os espectadores da mídia. A audiência passa a participar

ativamente dentro desse cenário – seja produzindo, seja consumindo – ela não

está mais sujeita a uma única fonte de informação e entretenimento.

No primeiro capítulo deste trabalho serão abordadas as teorias que

cercam esse novo universo das mídias. A “cultura da convergência”, a “cultura

participativa” e a “inteligência coletiva” foram os três pilares teóricos que

conduziram o entendimento a respeito das consequências sociais das

transformações tecnológicas e midiáticas. Além disso, a partir do momento em

que a internet passa a fazer parte do cotidiano das pessoas, possibilitando

acesso quase que ilimitado aos conteúdos de diversas espécies e gostos, se

fez necessária a reflexão a respeito das novas relações entre a mídia de massa

e os nichos. A internet, ao se somar à popularização dos aparatos técnicos de

produção de conteúdo, amplifica as mudanças no cenário midiático, pois cria

um ambiente propício para democratização das formas de produção e

distribuição de conteúdo. Por isso, ao final do primeiro capítulo, ainda há uma

discussão a respeito das produções amadoras e a profissionais.

A velocidade das transformações midiáticas causadas pela internet

supera as causadas pelos seus antecessores. Nesse contexto, surge uma das

plataformas digitais mais utilizadas atualmente: o YouTube. O YouTube é

considerado uma das principais redes sociais on-line capaz de distribuir em

grande escala as produções de conteúdo audiovisual feitas pelos seus usuários.

As relações forjadas nesse ambiente configuram o surgimento de uma

Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

9

verdadeira comunidade virtual. O YouTube, enquanto plataforma on-line de

conteúdo audiovisual produzido por seus usuários, apresenta diversas formas

de divulgação para as marcas. Por esse motivo, será discutido no segundo

capítulo profundamente seu surgimento e sua intensa interação com os

usuários.

Em um terceiro momento, será analisado um fenômeno da cultura

contemporânea: o vlog, que se tornou popular dentro da plataforma YouTube.

Os vlogs, por demandarem de recursos relativamente simples, tais como uma

câmera de vídeo ou uma webcam e um computador com acesso à internet,

podem ser considerados a expressão da produção independente e amadora,

apesar de alguns vlogueiros estarem se profissionalizando. Desta forma, serão

decupadas algumas de suas principais características a fim de compreender

melhor o formato dentro do meio digital e, principalmente, dentro do YouTube.

O vlog #ADEMAFIA do YouTube foi escolhido a fim de ilustrar como

ocorre a popularização do formato e como a publicidade se insere dentro desse

novo contexto. A partir da sua análise será possível tirar conclusões a respeito

das adaptações nessa uma nova era na qual a audiência tem voz ativa.

Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

10

CAPÍTULO I

Ciberespaço, surgimento da internet, Web 2.0 e Redes

sociais

Há vinte anos atrás, a humanidade não imaginaria a proporção das

mudanças que a internet traria para as relações de trabalho e produção,

instituições, práticas sociais, culturais, processos formativos. A existências e

constantes presença da tecnologia de informação e comunicação na sociedade

moderna vem gerando revoluções. Citando Castells (CASTELLS, 2003, p.34)

se refere a “gênese de um novo mundo”, transformada pelo modo que as

pessoas atravessam desde os valores pessoais a forma como se comportam

no mercado em geral.

O ciberespaço, termo que, de acordo com Lemos, pode ser

interpretado como “o lugar onde, estamos quando entramos num ambiente

simulado (realidade virtual) e como conjunto de redes de computadores,

interligados ou não em todo o planeta, a internet” (LEMOS, 2002, p.137), se fez

parte indispensável da cultura contemporânea e está presente em um espaço

entre a realidade física e a realidade virtual, que poderíamos também chamar

de espaço imaginário.

Com maior alcance e consequentemente maior utilização das novas

mídias pela massa nos últimos anos, o que vem se apresentando é o

surgimento complexo de uma rede de agrupamentos sociais rápidos e ávidos

por interações como jogos, criações de personagens e identidades, fóruns para

debates e com isso a incessante luta das marcas para alcançar dentro deste

emaranhado de visitantes virtuais, de diversas tribos, em um imenso acervo de

dados valiosos para as empresas. A prática desta nova cultura traça um perfil

de sociedade on-line, onde a desmaterialização do espaço é o trunfo para

grandes organizações, após séculos de industrialização moderna que insistia

na dominação física. O processo se dá em uma instantaneidade temporal em

um espaço “sem fronteiras”.

Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

11

Este capítulo abordará temas importantes sobre o ciberespaço e a

exclusão de fronteiras, o surgimento da internet, relacionamento nas novas

mídias, as mídias sociais a criação de uma nova cultura altamente interativa e

conectada; a web 2.0, plataforma que possibilitou esta grande mudança no

cenário da comunicação, uma transformação no mundo.

1.1. Ciberespaço – o Real e o Virtual

Antes de definir o que é ciberespaço, é imprescindível que deixemos

claro o que é virtual de acordo com Pierre Levy (LEVY, 1996, p.16). De acordo

do Levy, uma nova forma de ser, cuja a compreensão é mais fácil se levarmos

em consideração o processo que leva a ele a virtualização. Pelo conceito da

filosofia, os opostos potências/ato servem para refletir os estados possíveis de

ser, enquanto para Levy, o possível se aproxima do real e o virtual ao atual, na

tentativa de se fazer uma ligação direta com o processo filosófico de devir, ou

seja, às mudanças constantes do ser decorrentes da interação entre o atual e o

virtual.

O virtual é defendido pelo autor como o que está em potência no

real. E nesse contexto teórico, que Pierre Levy chega às suas conclusões

sobre ciberespaço, sendo considerado um espaço de interação e comunicação

entre pessoas, intermediado pela ligação das redes de computadores, no qual

as informações passadas são de natureza digital e as relações chegam ao

âmbito virtual. “O real assemelha-se ao possível; em troca o atual em nada se

assemelha ao virtual: responde-lhe. ” (LEVY, 1996. p.17)

Portanto, o ciberespaço pode ser considerado como uma

virtualização do real, uma ponte entre o mundo real e o mundo de interação

virtual. Essa relação em direção à um novo espaço-temporal estabelecendo

uma realidade social virtual, que, aparentemente, mantendo as mesmas

estruturas de uma sociedade real, não possui de fato, relação total com esta,

produzindo seus próprios códigos e estrutura.

Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

12

Em resumo, o ciberespaço representa um espaço em que não se faz

necessária a presença física para construção de comunicação como fonte de

um relacionamento. Através de uma de online é que se estrutura um espaço

virtual, podendo ser acessado de diversas plataformas e tecnologia, como

smartphones, tablets, notebooks etc. Sendo um território de interação entre

pessoas, ele é mais do que um ambiente de comunicação no sentido da

palavra, pois de acordo com Guimarães Jr. (GUIMARÃES JR., 1999, p.113), da

abertura a um espaço simbólico que desencadeia repertórios de atividades de

caráter societário, tornando-se palco de práticas e representações dos

diferentes grupos que o habitam.

Segundo Levy, o ciberespaço tornou a “geografia móvel da

informação”, normalmente de difícil percepção, em algo perceptível.

Conceituado como rede pelo autor, este é um novo espaço de comunicação

proporcionado pelo suporte tecnológico.

O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ele abriga. (LEVY, 1999, p.13)

O surgimento da internet como uma rede mundial de computadores

veio para confirmar essas expectativas ao abrir um novo espaço para novas

formas de expressão, o conhecimento e a comunicação humana. O

ciberespaço diz respeito a uma forma de virtualização da informação em rede.

Através da tecnologia, os homens, mediados pela tecnologia passam a criar

conexões e relacionamentos capazes de fundar um espaço de sociabilidade

virtual. Um dos precursores da teoria da comunicação, Marshall McLuhan (MC

LUHAN, 1967, p.78), formulou, há mais de trinta anos, o conceito de aldeia

global. Ao notar agilidade e rapidez com que os meios de comunicação

desenvolviam novas tecnologias, McLuhan previu um novo conceito de

sociedade: completamente interconectada e tomada pelas mídias eletrônicas.

Essas mídias, aproximam pessoas por toda parte, permitem elas a conhecer e

se comunicar, como em uma aldeia.

Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

13

Nesse contexto, se fala em queda de fronteiras, relativização de

distâncias e dinamização da comunicação em função do surgimento da web.

Além da consolidação da existência do ciberespaço acabou por impulsionar

várias mudanças na cultura e na economia. A emergência da cibercultura

transforma uma mudança radical no imaginário humano, influenciando de

forma legítima, na medida em que referenciais se modelam na forma de

representar e interagir com o mundo. Através do conceito de “tecnologia

intelectual”, Levy discorre sobre como a tecnologia afeta o registro da memória

coletiva. As noções de tempo e espaço da sociedade são afetadas pelas

diferentes formas de registro.

Quanto ao neologismo ‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LEVY,1999, p.13)

A rapidez com que o ciberespaço se desenvolve, sendo acessível e

democrática, torna-se possível uma verdadeira revolução social, com

desdobramentos variados que tendem a exercer uma mudança cada vez maior

na vida dos indivíduos.

1.2 Surgimento da Internet

A internet, mundialmente conhecida rede de computadores, surgiu

em meio a Guerra Fria, década de 60, com objetivos militares uma maneira de

as forças armadas americanas pudesse se comunicar caso os meios

tradicionais de comunicação, fossem destruídos pelo inimigo. Dessa forma, os

Estados Unidos passariam a frente em relação à União Soviética, que já

estavam em vantagem por conta do lançamento do primeiro satélite, em 1957.

Era uma época que qualquer triunfo era considerado um passo à frente onde a

maior arma era provocar medo no inimigo.

Naquele tempo, a Arpa (Advanced Research Project Agency, ou

Agência de Pesquisas em Projetos Avançados, em tradução literal) era o órgão

Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

14

americano responsável pelos avanços tecnológicos no país. A Arpa

desenvolveu a Arpanet, uma rede que armazenava dados que inicialmente

conectou alguns centros de pesquisa e universidades. Em 1969, a Arpanet teve

seu primeiro sucesso ao transmitir uma mensagem através de sua rede, da

Universidade de Los Angeles até o instituto em Stanford, em uma distância de

quase 650 quilômetros. Na década de 70, o termo “internet” nasceu por Vinton

Cerf e sua equipe de cientistas (reconhecidos como “os pais da internet”). Eles

concetaram três redes diferentes em um processo descrito em inglês como

interneting, o termo foi abreviado e, aos poucos, utilizado como sinônimo de

toda a rede. Em 1973, foi realizada a primeira conexão entre dois continentes:

a NORSAR (Norwegian Seismic Array) ligou-se à Arpanet. Pouco depois, a

University College of London recebeu a integração.

Em 1983, o governo americano criou uma rede própria destinada

apenas para fins militares e a Arpanet passou a ser utilizada para pesquisas.

Com o passar do tempo e novas tecnologias, esta plataforma passou a ser

vista como obsoleta e na virada da década, físicos e engenheiros do CERN

(Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), liderados por Tim Berners-Lee,

desenvolveram a World Wide Web como proposta de gerenciamento de

informações na internet através do hipertexto.

A ideia de hipertexto, porém, não nasce com a internet. O termo

nasceu ainda na década de 60 por Theodor Nelson.

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira. (LEVY, 1993, p. 33)

Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

15

O formato padrão das informações do World Wide Web é o

hipertexto, o que permite a interligação entre diferentes documentos,

possivelmente localizados em diferentes servidores, em diferentes partes do

mundo. O hipertexto é codificado com a linguagem HTML (Hypertext Markup

Language), que possui um conjunto de marcas de codificação que são

interpretadas pelos navegadores em diferentes plataformas.

No Brasil, a internet se desenvolveu junto ao meio acadêmico e

científico, quando o acesso era restrito a professores e funcionários de

universidades e instituições de pesquisa. Apenas em 1992, durante a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento –

Eco-92, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Comunicações (Ibase)

estabeleceu um convênio com a Associação para o Progresso das

Comunicações (APC) liberando o acesso à internet para o grande público.

Desde então, o número de usuários cresce a cada ano. De acordo

com o Ibope Nielsen Online1, o acesso à internet no Brasil chegou a 120,3

milhões de pessoas em julho de 2014.

A expansão e popularização da internet fez com que as ferramentas

disponíveis passassem a não corresponder a todas as necessidades dos

usuários. A web 1.0, como é definida esta primeira fase descrita anteriormente,

passou a ser considerada uma ferramenta pouco interativa, onde o usuário

ficava apenas com o papel de espectador. A necessidade, neste contexto, é de

ir além dos serviços de correio eletrônico e sites de bate-papo. Surge então a

web 2.0, definida por Torres (TORRES, 2009, p.349) como “a mudança para

uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter

sucesso nessa plataforma”.

1.3 Web 2.0

São muitas as definições que tem atualmente a web 2.0. O termo é

utilizado para descrever a segunda geração da World Wide Web, iniciando uma

1 http://www.nielsen.com/br/pt/press-room/2014/Numero-de-pessoas-com-acesso-a-internet-no-Brasil-supera-120-milhoes.html

Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

16

tendência que reforça o conceito de troca de informações e colaboração dos

internautas com sites e serviços virtuais. A ideia é de um ambiente on-line mais

dinâmico, se guiando na interatividade e na participação, que hoje alcança

inúmeras linguagens e motivações, como, exemplos, blogs, redes sociais,

índices de navegação e indexação coletiva (tags), páginas de edição coletiva

(wiki) e compartilhamento de conteúdo.

Tim O'Reilly e John Musser (O’REILLY e MUSSER, 2007, p.5)

definem a web 2.0 como um “conjunto de tendências econômicas, sociais e

tecnológicas que coletivamente fundam a próxima geração da Internet – uma

mídia mais madura e distintiva, caracterizada pela participação dos usuários,

abertura, e efeitos de rede. ”

O termo web 2.0 também serve para classificar sites que seguem

tendências de design mais 'limpo' e 'leve', utilizam tecnologias recentes e

adotam um ciclo de produto intitulado 'beta perpétuo', ou seja, estão sempre

em fase de testes e introduzindo novas funções.

Como muitos conceitos importantes, o de web 2.0 não tem fronteiras rígidas mas, pelo contrário, um centro gravitacional. Pode-se visualizar a Web 2.0 como um conjunto de princípios e práticas que interligam um verdadeiro sistema solar de sites que demonstram alguns ou todos esses princípios e que estão a distâncias variadas do centro. (O’REILLY, 2005, p.25)

A web se caracteriza como uma imprescindível plataforma

exatamente pelo seu alcance e por sua capacidade de propagar-se e difundir-

se. A nascimento do conceito de plataforma envolve alcance geográfico,

diversidades tecnológicas e padronização da comunicação.

A “inteligência coletiva” ou “inteligência das multidões”

(SUROWIECKI, 2005, p.43) é cada vez mais utilizada na web, nos mostrando

uma determinante fase da internet, a participação, na qual a colaboração do

usuário agrega valor e importância. Tal valor pode ser criado de modo direto e

explícito, como ocorre nas comunidades virtuais. Nelas, o conteúdo é fornecido

pelos usuários, que descarregam arquivos em áreas compartilhadas,

Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

17

comentam, filtram, recomendam, fazem buscas e conversam on-line. Mas

também pode ser gerado de forma indireta e implícita, sem necessariamente

envolver uma comunidade virtual. Um exemplo é a utilização do algoritmo

Pagerank nos mecanismos de busca, que gerou uma melhoria considerável na

precisão das páginas recuperadas nas posições do topo da lista (o que é

importante na web, onde usuários dificilmente examinam além dos dez

primeiros documentos recuperados). Para se tornar possível esse avanço, o

Pagerank utiliza a estrutura de apontadores das páginas web, criado pelos

usuários em atividades diárias e naturais na rede.

A mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva. (O’REILLY, 2005, p.37)

Aproveitando o fato desta interação do usuário na web, e a mesma

crescer consideravelmente, empresas vêm procurando melhorar ainda mais a

interação oferecendo contextos e formas bastante significativos para a criação

de conteúdo (ferramentas adequadas, personalização, agregação, filtros de

recomendação, etc), confiando no usuário, fornecendo-lhes vantagens iniciais

(e-mails gratuitos, por exemplo) e facilitando a emergência de funcionalidades

ao permitir, dentro de limites, usos não previstos de suas aplicações.

A questão das tecnologias da informação e da comunicação

favorecerem novos formatos de acesso aos conteúdos, novos estilos da forma

de aprendizagem, que são compartilhados e ampliam o potencial de

inteligência coletiva dos grupos humanos. O modelo de conhecimento aberto e

evolutivo destrói a suposição de que possam existir um conhecimento pronto e

determinado. Os atuais estudos possibilitam enxergar o potencial dos

dispositivos e interfaces da web 2.0, à construção colaborativa de

conhecimento reiteram as ideias anunciadas por Levy há mais de uma década.

1.4 Mídias Sociais

Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

18

As práticas mais recentes ligadas às tecnologias da cibercultura vem

caracterizando a cultura atual como modelo de sociedades imersas no

processo de desterritorialização, práticas em grupo e altamente tecnológica.

Lemos (LEMOS, 1999, p.229) sugere que:

[...] toda a cibercultura está imersa no processo de desterritorialização /virtualização, principalmente com a valorização da informação e do conhecimento, e completa: “a informação e o conhecimento são desterritorializados” (LEMOS, 1999, p.229).

As mídias sociais são ferramentas na internet que permitem a

criação e o compartilhamento de conteúdo, onde o usuário é simultaneamente

produtor e consumidor de informações, elas referem-se aos meios de interação

entre pessoas pelos quais elas criam, compartilham, trocam e comentam

conteúdos em comunidades e redes virtuais.

De acordo com Recuero (RECUERO, 2011, p.15), as mídias sociais

provocaram grande transformação na forma de distribuir informação:

A mudança está na horizontalização do processo de constituição das mídias que, ao contrário da chamada mídia de massa, distribuiu o poder de distribuição da mensagem. Essa revolução, que ensaia os passos mais significativos com o surgimento de blogs (e a consequente popularização da produção e publicação de conteúdo na web, instituindo o que O’Relly vai chamar de Web 2.0), vai atingir mais gente de forma mais rápida com sites de rede social (que vão publicizar as redes sociais e manter conexões que funcionam como canais de informação entre os atores) e com apropriações destes sites. (RECUERO, 2011, p.15)

As mídias sociais são definidas de maneira diferente, portanto, das

mídias tradicionais ao permitir que o usuário dialogue com o emissor da

mensagem, seja fortalecendo-a, discordando ou compartilhando. Além disso,

uma característica importante dentro das mídias sociais, é que os papéis de

emissor e receptor das mensagens estão em constante troca, nada é

Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

19

permanente e imutável, e novos pontos de vista e opiniões nascem a todo

momento.

1.5 Redes sociais

Enquanto ser social, o ser humano sempre conviveu em um

ambiente de comunicação e colaboração, utilizando as tecnologias disponíveis

em cada fase histórica para esse contato. As redes sociais precedem a

existência da internet. Estar em rede significa poder fazer uso da capacidade

de ser sujeito (ativo e responsável), sugerir mudanças, administrar

complexidades e incentivar a articulação, o fortalecimento e, se necessário, a

(re)construção contínua das redes. (ROCHA, 2005, p.3). Através delas,

informações circulam de forma desterritorializada e atemporal devido a

interação livre de pessoas que a formam.

Enquanto os atores representam os nós (ou nodos) da rede em questão, as conexões de uma rede social podem ser percebidas de diversas maneiras. Em termos gerais, as conexões em uma rede são construídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores. (RECUERO, 2009, p.29)

Raquel Recuero (RECUERO, 2009, p.25) deixa claro que as

pessoas interagem tanto pelo aspecto social, quanto pelo lazer. Portanto, as

ferramentas de comunicação oferecidas e mediadas pelo computador não

criam redes sociais desconectadas, distantes do mundo concreto de uma

determinada pessoa. Ao contrário, expressam e se tornam ainda mais

complexas as relações sociais que já existiam, a partir do pensamento em que

parte dos espaços sociais vai desaparecendo do mundo contemporâneo.

Uma rede social na Internet tem um potencial imenso para colaborar, para mobilizar e para transformar a sociedade. São pessoas que estão utilizando a Internet para ampliar suas conexões e construir um espaço mais democrático, mais

Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

20

amplo, mais plural e com isso, gerando valores como reputação, suporte social, acesso às informações e etc. (RECUERO, 2009, p.25)

Manuel Castells faz uma análise do processo de transformação que

a sociedade vem passando desde os anos 60, levando em conta às mudanças

nas tecnologias da informação e comunicação. “A história da Internet fornece-

nos amplas evidências de que os utilizadores, particularmente os primeiros

milhares, foram, em grande medida, os produtores dessa tecnologia.”

(CASTELLS, 2005, p.17) Ele enfatiza que a as redes de comunicação digital é

a base da sociedade em rede, assim como a energia elétrica era base para a

sociedade industrial. Mas estas redes manifestam-se de formas diversas, de

acordo com a cultura local, estrutura e trajetória histórica determinante

daquelas pessoas, mas ainda assim vai muito além das fronteiras e se baseia

em redes globais.

A sociedade em rede, em termos simples, é uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microelectrónica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes. (CASTELLS, 2005, p.19)

De fato, para Recuero (RECUERO, 2009, p.20), as conexões são o

principal foco dos estudos das redes sociais. Elas são as relações sociais que

são formados pela interação entre as pessoas/atores. Interação, laços sociais e

relações são elementos das conexões. A interação é aquela ação que tem um

reflexo comunicativo entre o indivíduo e seus pares, como reflexo social.

Estudar a interação é estudar a comunicação entre as pessoas/autores.

Segundo Wellman (WELLMAN, 2001, p.7), as relações sociais

atuam na construção dos laços sociais, que são definidos da seguinte maneira:

Laços consistem em uma ou mais relações específicas, tais como proximidade, contato frequente, fluxos de informação, conflito ou suporte emocional. A interconexão destes laços canaliza recursos para localizações específicas na estrutura dos sistemas sociais. Os padrões destas relações – a estrutura

Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

21

da rede social – organiza os sistemas de troca, controle, dependência, cooperação e conflito. (WELLMAN, 2001, p.7)

As redes sociais na internet possuem conexões constituídas através

de diferentes, complexas e diversas formas de interação e trocas sociais. É

possível, por exemplo, “assinar” uma lista de discussão, ou seja, participar de

um grupo social sem interagir diretamente com seus membros, mas

unicamente usufruindo das informações que essas mesmas listas

disponibilizam. Também é possível interagir com um grupo de blogueiros

através dos comentários e, com eles, formar uma rede social (RECUERO,

2003, p.23). Portanto, percebemos que para compreender essas redes é

preciso também compreender como se formam e diferenciam as conexões

sociais que elas possuem.

ClassMates.com é considerada a primeira rede social on-line da

história. Criada em 1995 e com um layout bem simples, ela foi muito utilizado

nos Estados Unidos e no Canadá. Seu objetivo era possibilitar reencontros

entre amigos que estudaram juntos, seja no colégio ou na faculdade. Mas o Six

Degrees foi quem inaugurou o modelo de rede social como conhecemos

atualmente, com perfis em “murais” que podem adicionar contatos, em 1997.

Junto com estes, seguem o Friendster, MySpace, LinkedIn, entre outros.

Apesar de populares e bem sucedidas, estas redes não chegaram nem perto

do sucesso que estava por vir com a partir de 2004 com o Orkut. Com a web

2.0 em alta, as redes de relacionamento mais famosas hoje são; Facebook,

Youtube, Instagram e Twitter essas se tornaram de extrema necessidade e

importância. E mais recentemente a febre que tomou conta dos usuários o

Snapchat.

CAPÍTULO II

Youtube: surgimento e interação

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

22

2.1 – Mudanças na estrutura da mídia

Para melhor entendermos as mudanças das mídias e seus

contextos, é imprescindível analisar e reconhecer as transformações pelos

quais ela vem passando. O início das novas tecnologias de comunicação vem

modificou modelos de negócios e estilos de vida, causando impactos profundos

na sociedade, na cultura, na economia, em todas as esferas ocorrem

mudanças diante do desenvolvimento tecnológico da comunicação e da

informação. Entretanto apesar das novas tecnologias serem formas de

influenciar mudanças comportamentais, e novos hábitos sociais, para Wolton

(2010), o progresso tecnológico depende do progresso da comunicação

humana e social. “A crítica aqui diz respeito a ideologia tecnicista, que consiste

em atribuir um poder normativo, e excessivo às tecnologias de comunicação,

transformadas em principal fator de organização e de sentido na sociedade”

(WOLTON, 2010, p.30)

De fato, existem mudanças culturais diretamente ligadas a evolução

da tecnologia que trouxe novas formas de aprendizagem, de expressão, de

comunicação, e de entretenimento. Lipovetsky defende que com o surgimento

do cinema, vieram transformações culturais que alcançou todo o planeta. Os

filmes produzidos e exportados principalmente pelos americanos, se tornaram

um produto de cultura mundial, consumidos pela massa (LIPOVETSKY,2011,

p.55). Os desenvolvimentos tecnológicos que vieram em seguida, que junto

com o cinema ampliaram e se tornaram grandes indústrias de cultura em

massa: o rádio, como meio de ampla difusão sonora, onde a música, sendo

uma linguagem universal que consegue transcender fronteiras, torna cantores,

antes desconhecidos pela dificuldade geográfica, em ídolos em escala

planetária; e a televisão, que em 1950 entra na vida e nos lares, sendo

transmitidas em tempo real por redes de transmissão ampliadas criando uma

nova forma de linguagem, assim se impondo o reino da imagem

(LIPOVETSKY, 2011 p.57).

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

23

Nos anos 90, surgiu uma nova tela: o computador. O que havia sido

de início pensado para ser uma máquina exclusiva de grandes empresas, ao

se tornar individual e portátil, e ainda com a popularização da internet,

estabeleceu um novo formato de ser fazer cultura. Levando-se em conta que

existem relações estreitas entre desenvolvimento tecnológico e correntes

culturais, para Pierre Levy (LEVY,1999, p.100) o advento da internet mudou a

maneira de pensar o papel do conhecimento, da informação e da tecnologia,

sendo a internet como instrumento de extrema relevância para o

desenvolvimento social, se posicionando de forma positiva sobre o futuro e os

ganhos para a sociedade a partir desse desenvolvimento tecnológico. “A

infraestrutura de comunicação pode ser investida por uma corrente cultural,

que vai, no mesmo movimento, transformar seu significado social e estimular

sua evolução técnica e organizacional” (LEVY, 1999, p. 125). E, ao contrário de

enxergar essas transformações como somente técnicas ou somente culturais, é

possível repensá-las como verdadeiras relações entre as pessoas, que fazem

interpretações e são inventivas e produtivas, e o desenvolvimento das

tecnologias (LEVY, 1999, p.12).

[...] a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural. (LEVY, 1999, p. 12).

O constante uso da tecnologia interfere diretamente na transformação

da sociedade, pois “as pessoas moldam a tecnologia para adaptá-las a suas

necessidades” (CASTELLS, 1999, p. 386). Por isso, se pode afirmar que a

sociedade vive em constante evolução tecnológica.

O computador ao possibilitar uma comunicação interativa e

produzida pelos próprios indivíduos transforma a comunicação, que antes era

unilateral e centralizada, em uma comunicação baseada em trocas

comunitárias, interpessoais e descentralizadas. Passou-se das mídias

emissoras às mídias que permitem a interação e a produção conteúdo. Surge

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

24

um mundo conectado e colaborativo, onde há uma mudança de poder

acontecendo (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007).

Logo, o momento em que se vive hoje é o que Castells (CASTELLS,

1999, p.65) chama de “Sociedade em Rede”, onde as tecnologias da

informação adentraram todas as esferas da atividade humana e promovem uma

transformação histórica. Entretanto, mesmo com diversos meios de

comunicação estando à disposição da sociedade, nenhum novo meio é capaz

de eliminar o antigo: o que acontece é que, à medida em que mais meios de

comunicação entram no mercado, eles tendem a diluir audiências, pois

ninguém consegue dispor de tempo para assistir a todos (CAPPO, 2003, p.21).

Ocorre que novos tipos de mídia forçam mudanças radicais nos tipos antigos,

para que estes não desapareçam, pois aqueles que se recusam a se reinventar

podem estar ameaçados (CAPPO, 2003, p.40). Desta forma, não há uma

substituição dos antigos pelos novos meios – são suas funções e status que se

transformam com a introdução de novas tecnologias.

O conteúdo de um meio pode mudar, seu público pode mudar [...] seu status social pode subir ou cair [...], mas uma vez que um meio se estabelece, ao satisfazer alguma demanda humana essencial, ele continua a funcionar dentro do sistema maior de opções de comunicação. (JENKINS, 2009, p.41).

O autor Jenkins propõe o conceito “cultura da convergência” para

identificar as mudanças tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais

percebidas no cenário atual dos meios de comunicação. “O cenário dessa

cultura da convergência é onde velhas e novas mídias colidem, onde a mídia

corporativa e a mídia alternativa se cruzam e onde o poder do produtor e

consumidor interagem de maneiras imprevisíveis” (JENKINS, 2009, p. 29).

Para Jenkins, a grande verdade sobre o ambiente midiático atual está no meio-

termo. “Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias

substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência presume que

novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas”

(JENKINS, 2009, p. 33). Conforme citado anteriormente, não se pode reduzir

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

25

as mudanças dos meios de comunicação a uma transformação tecnológica,

pois acima de tudo o que ocorrem são mudanças culturais. Logo, a mudança

do papel das mídias ocorre em meio a “Era da Convergência”, que o autor

conceitua como:

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através das múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que desejam. (JENKINS, 2009, p. 29).

Portanto, a convergência não ocorre somente quando um canal de

televisão, por exemplo, começa a alimentar um canal na internet com conteúdo

próprio, mas também quando as pessoas assumem o controle das mídias. Com

a popularização e barateamento das tecnologias de comunicação um maior

número de pessoas está no controle, e a partir deste comportamento um novo

modelo de mídia começa a crescer, principalmente no ciberespaço, no qual as

pessoas criam e consomem notícias e informações (BURGESS; GREEN, 2009,

p.134).

2.2 – Cultura Participativa

Refletindo sobre o campo dos estudos relacionados aos aspectos

culturais da sociedade atual, os estudos culturais se preocupam com a relação

entre a cultura e a comunicação massiva com foco nos produtos da cultura

popular e nas suas audiências (ESCOSTEGUY, 2006, p.85). Os estudos

culturais, tentando da melhor maneira compreender a ação dos meios

massivos de comunicação, despertam a atenção para a produção de sentido a

partir da audiência acentuando a importância das estruturas sociais e do

contexto histórico (ESCOSTEGUY, 2006, p.87). Há, portanto, um rompimento

com as abordagens behavioristas, que viam a influência dos meios de

comunicação de massa como um processo unidimensional, nos termos de

estímulo-resposta, havendo um reconhecimento do papel ativo da audiência na

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

26

interpretação das mensagens. Logo, os estudos culturais acreditam no

consumidor como um produtor cultural, não apenas como um receptor passivo.

“A expressão cultura participativa contrasta com noções mais

antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação”

(JENKINS, 2009, p. 30). Em meio a um novo sistema de mídia, no qual os

consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer novas

conexões entre os conteúdos dispersos, a cultura participativa compreende as

realizações desses espectadores como participantes que interagem

consumindo e produzindo ao mesmo tempo (JENKINS, 2009, p.33). Ou seja,

consumir informações dispersas em diferentes meios midiáticos incentiva a

participação ativa do consumidor e esse comportamento representa uma

transformação cultural. Considerando que a quantidade de informação

disponível é muito superior a capacidade de absorção do indivíduo, os

fragmentos que são extraídos do fluxo midiático são transformados por cada

indivíduo e, ao serem compartilhados, resultam em uma produção coletiva

capaz de criar novos valores culturais (JENKINS, 2009, p.43). A capacidade, o

potencial e o alcance das redes, somados ao crescente acesso às ferramentas

de produção, traduzem esse novo momento que significa, sobretudo,

participação em vez de recepção passiva das informações (TAPSCOTT;

WILLIAMS, 2007, p.99).

Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos. Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandavam que ficassem, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou a meios de comunicação. Se os antigos consumidores eram indivíduos isolados, os novos consumidores são conectados socialmente. Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos. (JENKINS, 2009, p. 47).

A conexão entre pessoas nunca antes esteve tão ampliada, e é a

evolução da internet que está impulsionando esse novo momento (TAPSCOTT;

WILLIAMS, 2007, p.110). Para Levy, há um novo horizonte para a civilização,

Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

27

que é o “Espaço do Saber”, que se caracteriza, primeiramente, pela velocidade

de evolução dos saberes devido à rápida evolução da ciência e das técnicas

que influenciam diretamente na vida cotidiana; em segundo lugar, pela massa

convocada a aprender e produzir novos conhecimentos e, por fim, pelo

surgimento de novas ferramentas do ciberespaço. O conceito de “inteligência

coletiva”, desenvolvido por Levy, diz respeito a um princípio de inteligências

individuais somadas e compartilhadas por toda a sociedade, a partir do

surgimento de novas tecnologias, que configuram uma nova forma de consumo

a ser considerada como uma nova fonte de poder. O autor caracteriza o

ciberespaço como mediador essencial da inteligência coletiva, onde a

sociedade encontra-se condicionada, mas não determinada pela técnica. O

conhecimento compartilhado é condição elementar da inteligência coletiva, e

são as comunidades virtuais capazes de extrair o conhecimento individual para

o coletivo que é subordinado a objetivos e fins comuns. O papel da informática

e das técnicas comunicacionais serviria de base digital capaz de promover a

construção de coletivos inteligentes (LEVY, 1999, p.27).

O ciberespaço como suporte da inteligência coletiva é uma das principais condições de seu próprio desenvolvimento. Toda a história da cibercultura testemunha largamente sobre esse processo de retroação positiva, ou seja, sobre a auto- manutenção da revolução das redes digitais. (LEVY, 1999, p. 29)

“Ninguém sabe tudo. Todo o conhecimento reside na humanidade”

(LEVY, 1998, p. 20). Toda a diversidade dos saberes individuais deve ser

valorizada. As tecnologias digitais servem apenas como agentes de

comunicação que ajudam a coordenar as interações e trocas de conhecimento

desses indivíduos dentro do contexto do ciberespaço, no qual ocorrem as

“interações” entre conhecimento e conhecedores dos coletivos inteligentes

(LEVY, 1999, p. 40). Portanto, os termos “cultura participativa” e “inteligência

coletiva” negam a noção de passividade do espectador, que antes ocupava um

papel separado do papel do produtor de mídia, e revela um comportamento do

consumidor midiático contemporâneo muito mais ativo, que interage com um

sistema complexo de regras, criado para ser dominado de forma coletiva.

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

28

2.3 – Democratização da produção e produção amadora

Se antes as pessoas que tinham talento, mas não produziam por

falta de acesso às ferramentas de produção, hoje o panorama é outro. Nos

tempos atuais, milhões de pessoas comuns tem acesso às ferramentas e aos

modelos mais básicos para se tornarem produtores de conteúdo, ainda que

amadores. Com a democratização dessas ferramentas de produção se

promoveu um grande aumento na quantidade de produtores, e muitos deles

começaram a ganhar a vida dessa forma. “Como os meios de produção se

difundiram com tamanha amplitude, entre tantas pessoas, os talentosos e

visionários, ainda que representem uma pequena fração do total, já são uma

força a ser levada em conta” (ANDERSON, 2006, p. 62).

A abertura de códigos-fonte para o desenvolvimento colaborativo de

programas de computador é um exemplo de democratização da produção.

Softwares tradicionais, protegidos por direitos autorais, que não permitem ao

usuário acesso aos dados que o permitiria entender como os softwares

funcionam, impedem de encontrar soluções de problemas e criação de

melhorias a partir do processo colaborativo (LIPOVETSKY, 2011, p.86). Ou

seja, mesmo a mais fácil e aparentemente simples das tecnologias pode

oferecer possibilidades criativas que se estendem muito além de seus usos

mais óbvios.

Essas possibilidades são frequentemente usadas e em grande

partes aperfeiçoadas por usuários, o que, às vezes, surpreende os próprios

criadores dessas tecnologias (BURGESS; GREEN, 2009, p.145). Outra

crescente característica da cibercultura tem sido a prática do remix, técnica de

criação que reconfigura trechos de obras já existentes. Para Jenkins, a

participação do consumidor na web envolve maneiras não autorizadas e não

previstas de participação no novo modelo de mídia. Para Castells, diante das

oportunidades de colaboração em massa, uma web programável por usuários

seria muito mais rica e poderosa. Apesar das contradições entre a abertura e a

Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

29

propriedade privada, a inovação no campo produtivo da comunicação não

depende mais de um único indivíduo, pelo contrário, impor uma autoridade

única desarticularia a comunicação e a livre troca entre os indivíduos. A

inovação hoje requer recursos comuns, acesso aberto e livre interação

(HARDT; NEGRI, 2012, p.66). A abertura do patrimônio eletrônico no início da

revolução da informação foi o fator principal que permitiu grande inovação no

campo, e o mesmo se aplica aos diferentes campos de produção (HARDT;

NEGRI, 2012, p. 135).

A internet está proporcionando a todos uma base estrutural para

realizações criativas, participativas, auto organizadas e compartilhadas. O

Flickr, site bastante popular de fotografia, é um exemplo de plataforma

tecnológica que hospeda produções fotográficas individuais, compartilhadas

por seus usuários. Esse site é basicamente uma enorme comunidade auto-

organizada de amantes de fotografia que se reúnem em uma plataforma aberta

para compartilhar e trocar seus trabalhos (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007,

p.188). Juntar pessoas que dividem o mesmo interesse comum, a fim de

trabalhar coletivamente para criar algo novo, é uma das grandes virtudes da

plataforma.

Por conta dessa facilidade de acesso às ferramentas de produção,

como câmeras de vídeo digitais e programas de edição, que antes eram de

exclusividade de profissionais do ramo cinematográfico e televisivo, se dá

início, principalmente, ao processo de democratização das produções de

entretenimento (ANDERSON, 2006, p.74). As ferramentas necessárias para

colaborar, criar valor e competir se tornaram cada vez mais disponíveis para

todos, viabilizando que milhares de indivíduos criem conjuntamente produtos e

conteúdo, o que antes era privilégio somente de grandes empresas. Tudo o

que uma pessoa precisa é de um computador, uma conexão de rede e uma

faísca de iniciativa e criatividade (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007, p.200). Logo,

as relações estão cada vez mais complexas entre produtores e consumidores,

as pessoas não só consomem conteúdos como produzem ao mesmo tempo.

Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

30

Segundo Bruns (2007, apud BURGESS; GREEN, 2009, p.56) o

consumo não é mais visto necessariamente como o ponto final na cadeia de

produção, e sim como um espaço dinâmico de inovação e crescimento em si.

Com o domínio da técnica, os consumidores adquiriram maior controle sobre o

fluxo da mídia e ampliaram sua interação com os outros consumidores. Diante

da expectativa de um ambiente midiático mais livre, os consumidores estão

lutando pelo direito de participação mais plena na sua cultura (JENKINS, 2009,

p.44). Nas gerações anteriores, por exemplo, haviam produtores de cinema

independentes que viam a produção amadora como uma forma de diversificar o

mercado, contudo, esses produtores tinham poucas ou nenhuma chance de

distribuição – a nova geração de produtores agora tem a chance de multiplicar

o campo do entretenimento com suas produções (BURGESS; GREEN, 2009,

p.78).

Contudo, existem autores com uma visão pessimista a respeito do

“Faça Você Mesmo”, pois essa suposta “democratização” pode representar

apenas uma “popularização” da mídia, onde não existirão de fato alternativas

paralelas à mídia de massa e sim a replicação dos padrões já produzidos na

mídia tradicional (BURGESS; GREEN, 2009, p. 165). Green reflete a respeito

da internet e das redes sociais como sendo um santuário dedicado para o culto

da “autotransmissão”, onde a propaganda de si mesmo superaria a intenção de

se relacionar socialmente com o outro. Constantemente, nas discussões

envolvendo conteúdo criado por usuários, a promoção pessoal é supostamente

a motivação principal (BURGESS; GREEN, 2009, p. 178). Os amadores,

muitas vezes, são representados como produtores individualistas mais

interessados em “se transmitirem” do que se envolverem no meio de

participação em rede. No ciberespaço, lotado de informações dispersas e não

hierarquizadas, é possível projetar-se livremente onde e como quiser, trilhando

seu caminho pessoal. No entanto, o problema está em saber exercer essa

liberdade (LIPOVETSKY, 2011, p.134). Jenkins (JENKINS, 2009, p. 30) ao se

apropriar do conceito inteligência desenvolvido por Pierre Levy, explica que:

Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

31

A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder mediático. Estamos aprendendo a usar esse poder em nossas interações diárias dentro da cultura da convergência. Neste momento, estamos usando esse poder coletivo principalmente para fins recreativos, mas em breve estaremos aplicando essas habilidades a propósitos mais sérios.(JENKINS, 2009, p.30)

A figura da “celebridade”, produto imposto das indústrias culturais,

sucesso entre as massas, surgido de início com o cinema, disseminado para

todos os domínios além do espetáculo (LIPOVETSKY, 2011, p.132). Nada mais

consegue escapar ao sistema do estrelato, todo o domínio da cultura se tornou

uma economia do estrelato, mesmo estas podendo ser efêmeras

(LIPOVETSKY, 2011, p.156). Quando as pessoas são a própria mensagem,

quando se é permitido a cada um ser a própria mídia, celebridade do cotidiano,

o fascínio pela imagem atinge seu ápice (BURGESS; GREEN, 2009, p.89). Se

por um lado existe uma dimensão narcísica nas trocas individuais na rede, que

só falam de si e, por vezes, exibem aspectos íntimos da vida privada, por outro

lado há também desejos de partilha, de expressão e participação oferecendo

uma imagem menos redutora do indivíduo (LIPOVETSKY, 2011, p.199). Cabe

a nós, portanto, como reflete Juhasz (em Jenkins, 2008a; apud BURGESS;

GREEN, 2009, p.150), saber o que se quer diante da possibilidade de

transmitir-se:

Se queremos uma cultura mais “democrática”, afirma Juhasz, precisamos descobrir quais mecanismos deveriam encorajar maior diversidade entre os que participam, quais trabalhos são vistos e quais trabalhos são valorizados [...] Neste momento, as pessoas estão aprendendo a produzir, fazer upload e circular seu conteúdo. O que vem depois só depende de nós. (JENKINS, 2008, p.178)

Como categorizar, ou identificar, quem está produzindo conteúdo

para a internet? As contribuições vêm de diversas fontes, sejam elas

profissionais, semiprofissionais, amadoras, assim havendo uma dificuldade em

categorizá-las como produções da mídia tradicional ou criadas por usuários. Em

um mundo onde todos podem produzir conteúdo, seja fotografia, vídeo ou texto,

as fronteiras entre informação profissional e informação amadora tornam-se

cada vez mais tênues (LIPOVETSKY, 2011 p.90). O conteúdo criado para

Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

32

internet é orgânico, e, às vezes, somente a qualidade profissional e o tamanho

corporativo de quem disponibiliza pode indicar se o conteúdo é ou não amador

(BURGESS; GREEN, 2009, p.155).

Seguindo uma tendência, a televisão está disponibilizando seus

conteúdos na internet. No entanto, é simples replicação de conteúdo nega a

lógica interna da web, trazendo o mesmo modelo de participação de mão única

característica da radiofusão. Para conhecer a ecologia comunicativa da

internet, para entender a cultura popular que lá se estabelece, não basta tentar

criar distinções entre produção profissional e a amadora – é preciso

compreender como as pessoas usam a mídia em suas vidas cotidianas,

entender a internet como um sistema cultural (BURGESS; GREEN, 2009,

p.159). Não há como negar que as produções amadoras são valorizadas e

geram envolvimento entre os participantes da rede. Ou seja, todos são

participantes em potencial, pouco importando a origem da produção,

profissional ou amadora. O que se sabe é que aqueles que insistem em tratar a

internet como se fosse uma plataforma de radiofusão tem menos probabilidade

de atingir os objetivos (BURGESS; GREEN, 2009 p.85).

Desta maneira, a produção e criação coletiva de conteúdo através

de vídeos amadores é subestimada em detrimento de narrativas individualistas

e narcisistas. Ou seja, a visão predominante de que as novas tecnologias de

produção e de distribuição de conteúdo de acesso público são mais usadas

para a promoção individual acaba ignorando o fato de que a manifestação

amadora busca, muitas vezes, a integração com lógica da produção coletiva

(BURGESS; GREEN, 2009, p122).

2.4 – O YouTube

O YouTube, dentro desse universo recente da cultura participativa e

da democratização de produções, disponibiliza uma plataforma de vasta

distribuição e conveniente para o compartilhamento de vídeos no ambiente on-

line. Os usuários dessa plataforma são os fornecedores de conteúdo, sejam

Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

33

eles pessoas sejam eles grandes corporações. Atendendo a um grande número

de visitantes e uma gama enorme de diferentes audiências, o YouTube oferece

ampla exposição para seus participantes. A “cultura participativa”, explícito a

partir de fenômenos como tecnologias digitais mais acessíveis, conteúdo

gerado por usuários e alterações de poder no mercado da mídia, está presente

no DNA da plataforma, pois ela convida seus usuários a participarem

ativamente da criação e circulação de conteúdo (BURGESS; GREEN, 2009

p.137). O YouTube representa claramente uma ruptura com os modelos de

negócios da mídia existentes e está surgindo como um novo ambiente do

poder midiático (BURGESS; GREEN, 2009, p.140).

O YouTube é uma plataforma digital fundada por Chad Hurley, Steve

Chen e Jawed Karim em fevereiro de 2005 e oficialmente lançada para os

usuários em junho do mesmo ano. Idealizada inicialmente para ser um

repositório de vídeos on-line, com o principal propósito de ser um site capaz de

hospedar os vídeos de seus usuários, com interface simples e didática a

plataforma nunca exigiu conhecimentos técnicos para sua utilização. Sua grande

aceitação entre os usuários chamou atenção e seu apogeu ocorreu em outubro de

2006 ao ser comprado pelo Google. A partir de então grandes transformações

começaram a marcar a história dessa iniciativa, cuja primeira funcionalidade

era o upload de vídeos (BURGESS; GREEN, 2009, p.159).

Por mais que o YouTube não tenha sido pioneiro, o site atualmente

tem mais de um bilhão de usuários, quase um terço dos usuários da internet, e mais

de seis bilhões de horas de vídeo são assistidas por mês, ou seja, quase uma

hora para cada pessoa do planeta2. Uma das mais recentes pesquisas

realizadas pela Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, durante todo o ano de 2014,

revelou que o YouTube é a terceira rede social mais acessada pelos

brasileiros, sendo que o tempo médio de duração da visita é um pouco maior

do que a rede social que ocupa o primeiro lugar do ranking3. Para compreender

o melhor tamanha popularidade do YouTube, Burgess e Green levantam três

versões diferentes: a primeira é referente à uma postagem falando sobre a

2 https://www.youtube.com/yt/about/pt-BR/ 3 http://www.proxxima.com.br/proxxima

Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

34

usabilidade do YouTube que ganhou destaque dentro de uma comunidade

tecnológica na internet; a segunda é uma suposição de um dos fundadores,

Jawed Karim, que afirma que o sucesso do site deve- se aos recursos

fundamentais do site como as recomendações de vídeos por meio da lista de

“Vídeos Relacionados” e as possibilidades de compartilhamento dos vídeos, de

comentários e de incorporação dos links dos vídeos em outros sites como

blogs, por exemplo; e, por último, outro que pode ser considerado o motivo do

sucesso do YouTube é o alcance que certos vídeos publicados obtém atingindo

bilhões de visualizações e que despertam a atenção da mídia tradicional.

Figura 01 – YouTube: a segunda rede social mais acessada pelos brasileiros

Fonte: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-

e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf

O nome YouTube pode ser traduzido para português como “você no

tubo” – o tubo, nesse caso, seria um sinônimo para a palavra televisão

(BURGESS; GREEN, 2009). Portanto, embora a escalada do YouTube tenha

ocorrido em meio às incertezas sobre aquilo para que ele realmente servia, o

nome do site desde sempre quis colocar o usuário como protagonista desta

plataforma (BURGESS; GREEN, 2009, p.88). O slogan declarado em 2005

junto com seu lançamento, “Your Digital Video Repository” (“Seu Repositório de

Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

35

Vídeos Digitais”) sofreu alterações momentos depois e hoje é, o já consagrado,

“Broadcast Yourself” (algo como “Transmita-se”). Essa mudança demonstra

que na realidade o negócio do YouTube é mais precisamente a

disponibilização de uma plataforma conveniente e funcional de expressão

pessoal para seus usuários, que compartilham seus vídeos on-line e atraem

novos participantes e novas audiências (BURGESS; GREEN, 2009, p.92). No

próprio YouTube é possível encontrar uma breve descrição de como ele se

descreve:

O YouTube foi lançado em maio de 2005 para que bilhões de pessoas possam descobrir, assistir e compartilhar os vídeos mais originais já criados. O YouTube oferece um fórum para as pessoas se conectarem, se informarem e inspirarem umas às outras por todo o mundo, bem como atua como plataforma de distribuição para criadores de conteúdo original e anunciantes grandes e pequenos. (YOUTUBE, 2016)4

Considerado um site de cultura participativa, onde grandes

produtoras de mídia, empresas, anunciantes, artistas, fãs, produtores

amadores e leigos postam diferentes conteúdos no formato de vídeo, o

YouTube, embora não seja uma produtora de conteúdo, combina funções de

distribuição e conexão entre seus usuários que resultam diretamente no seu

valor cultural e mercadológico (BURGESS; GREEN, 2009, p.110). O YouTube,

por ser um site de grande tráfego, que serve como plataforma de veiculação e

de hospedagem de arquivos de mídia, ao possibilitar a participação ativa de

seus usuários, que consomem, avaliam e empreendem constante e

coletivamente, tem na cultura participativa o principal negócio e não somente

um adereço secundário (BURGESS; GREEN, 2009, p.114).

Compreender o YouTube é uma tarefa um tanto quanto complexa.

As transformações da plataforma são marcadas por mudanças rápidas e

dinâmicas, conteúdos difíceis de se classificar e um crescimento

demasiadamente rápido. Além disso, há uma complicação adicional que é o

conflito entre os conteúdos comerciais e os de origem popular – produzidos por

4 Fonte: https://www.youtube.com/yt/about/pt-BR/

Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

36

usuários – que dividem o mesmo espaço e compartilham interesses diversos

(BURGESS; GREEN, 2009, p.99). Contudo, o mais importante é que ele pode

ser compreendido como um sistema cultural, o que possibilita enxergar o site

muito além de suas métricas e dados quantitativos, reconhecendo a existência

dos conflitos sociais entre os participantes da comunidade. “O YouTube tem

seu lugar dentro da longa história e do futuro incerto das mudanças da mídia,

das políticas de participação cultural e no crescimento do conhecimento”

(BURGESS; GREEN, 2009, p.32).

Os debates a respeito das transformações midiáticas

frequentemente enquadram o YouTube como um repositório sem lei de uma

enxurrada de conteúdo amador (BURGESS; GREEN, 2009, p.65). Os

discursos dos tradicionais meios de comunicação, que antes compartilhavam

dessa opinião a respeito do YouTube, foram alterando conforme a plataforma

foi evoluindo. Muito acusada de ser antiética e danosa para a sociedade, hoje

ela é reconhecida como uma realidade entre as novidades da nova mídia e

também como um ambiente potencial para a expressão individual (BURGESS;

GREEN, 2009, p.167). Não é raro acusações referentes aos prejuízos que a

mídia exerce sobre a sociedade. Muitos são os discursos que levantam críticas

a respeito da mídia de massa e, inclusive, da nova mídia. As forças

desestabilizadoras como a internet e as novas tecnologias, associadas

diretamente ao YouTube, por serem acessíveis à população, espalham medos

que rondam a popularização em massa (BURGESS; GREEN, 2009, p.85).

2.4.1 – Dinâmica da plataforma

Para Levy (LEVY, 1999, p.55), as qualidades dos suportes de

exibição de informação são determinantes para o sucesso prático e comercial.

As interfaces digitais evoluem de acordo com as necessidades dos usuários. Os

programas on-line, que prestam serviço aos seus usuários, devem dispor de

funções facilmente executáveis por uma pessoa. Um dos grandes diferenciais

do YouTube é a sua acessibilidade – desde o início ele não exigia

conhecimentos técnicos dos seus usuários, e esse foi um fator que contribuiu

Page 37: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

37

para o seu sucesso. Além disso, apesar do design do YouTube não ser

elegante, ele é famoso pela sua usabilidade, desde o início apresentou

facilidade de navegação disponibilizando uma plataforma conveniente e

funcional para o compartilhamento de vídeos (BURGESS; GREEN, 2009,

p.176).

Os vídeos do YouTube podem ser vistos por qualquer pessoa que

esteja on-line, ou seja, não é necessário ter um login para acessar o seu

conteúdo. Porém, navegar logado no YouTube pode se tornar uma atividade

mais vantajosa para o internauta, pois as chances de se encontrar conteúdos

de seu interesse aumentam. Isso porque, ao analisar o histórico de navegação

e o comportamento do usuário dentro da plataforma, o YouTube faz sugestões

de vídeos para se assistir e de canais para se inscrever. Já para quem navega

deslogado os vídeos sugeridos são os mais vistos pelo mundo inteiro. Ou seja,

em um contexto onde as pessoas também procuram conteúdos de nicho, não

comerciais, fora da lógica dos hits (ANDERSON, 2006, p.38), ter uma conta no

YouTube seria interessante, pois, além do site realizar funções de top- down,

ou seja, oferecer conteúdo altamente populares, o site também exerce a função

bottom- up, que, ao contrário, destaca conteúdos relevantes para o usuário,

podendo ser, inclusive, de um nicho muito específico. Para se tornar membro

do YouTube basta criar uma conta no Google, quem a possuí passa a ter o

direito de hospedar dentro da plataforma suas produções audiovisuais, de

forma pública ou privada, podendo ser profissionais ou não. Além disso,

funções como se inscrever em canais, comentar vídeos, montar listas para se

assistir mais tarde e criar um canal próprio e público também são recursos

disponíveis.

Os canais no YouTube são as páginas de perfil de determinados

colaboradores. É no canal onde ficam disponíveis todos os vídeos já

publicados pelo usuário, seja ele um indivíduo ou uma grande corporação. Os

perfis públicos estão abertos para a inscrição e para se inscrever basta clicar no

botão no topo do canal. Ao realizar essa ação, o usuário demonstra que tem

interesse em manter-se atualizado a respeito do conteúdo postado por aquele

canal, pois a cada novo vídeo postado ele receberá uma notificação. Os

Page 38: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

38

conteúdos postados podem ser dos mais variados tipos: desde registros de

festas de aniversário até curtas-metragens.

Existem canais que publicam vídeos regularmente, com um

conteúdo que pode interessar centenas, milhares e até milhões de pessoas.

Embora o YouTube seja um site de cultura participativa, sua arquitetura não

convida abertamente os usuários ao desenvolvimento de comunidades e

colaboração em vídeos (BURGESS; GREEN, 2009, p.170). O design visual do

site é dominado de maneira consistente por miniaturas de vídeos (thumbnails)

e não por perfis de usuários, grupos ou trocas de mensagens (BURGESS;

GREEN, 2009, p.37). Segundo O’Reilly (2005; apud PRIMO, 2006, p.176) mais

do que o aperfeiçoamento da “usabilidade”, o desenvolvimento de uma

plataforma na web deve ter uma “arquitetura de participação”, no qual o sistema

de informações incorpora recursos de interconexão e compartilhamento. “A

maioria das pessoas é muito mais propensa a assistir aos vídeos hospedados

no YouTube do que a fazer login regularmente no site, e menos ainda a criar e

fazer upload de vídeos” (MADDEN, 2007; apud BURGESS; GREEN, 2009, p.

86). A assinatura de canais, portanto, promove um fluxo de opções de

entretenimento escolhidas individualmente, talvez desprovido de mensagens

comerciais. “Os usuários veem um retrato atualizado de quem está dizendo o

que sobre questões de seu interesse” (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007, p. 56).

Os usuários que participam ativamente em comunidades e canais do

YouTube podem ser chamados de YouTubers (BURGESS; GREEN, 2009,

p.43). Essa participação mais ativa altera o comportamento, individual e

coletivo, de consumo de entretenimento. Selecionar playlists para assistir aos

vídeos em momentos que sejam mais apropriados é um exemplo da

alteração de comportamento. Além disso, outras são as opções de participação

do usuário: avaliação do vídeo em “gostei” e “não gostei”, discussão através de

comentários, inscrições em canais, produção de conteúdo e assistir aos vídeos.

Essa interatividade proposta no YouTube faz com que as reações do

espectador ao conteúdo sejam as medidas mais importantes para calcular a

popularidade ou relevância de um vídeo. Ela gera dados quantitativos, que

servem de termômetros da audiência, como: número de visualizações de cada

Page 39: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

39

vídeo postado; quantas pessoas gostaram, ou não, do vídeo; quantas pessoas

assinam o canal e número de comentários. Logo, a possibilidade de interação e

avaliação direta da audiência com relação ao conteúdo disponibilizado já

caracteriza um avanço técnico e cultural se comparado à mídia tradicional,

como a televisão, por exemplo. Desta forma é preciso compreender não

somente a atividade dos produtores de conteúdo, como também a da audiência

com suas práticas de participação – inscrevendo-se, comentando, avaliando,

compartilhando – que deixam rastros e impactam na cultura do YouTube

(BURGESS; GREEN, 2009, p.188).

Portanto, os usos que as pessoas fazem do site ajudam a

compreender alguns padrões de comportamento dominantes no YouTube, por

isso existem algumas categorias de popularidade como: Mais Vistos, Mais

Adicionado aos Favoritos, Mais Comentados, Mais Ativos, Avaliação

(BURGESS; GREEN, 2009, p.190). As comparações entre esses dados podem

gerar complexas interpretações, como por exemplo, um canal com maior

número e inscritos e poucas visualizações nos vídeos não, necessariamente,

pode considerado mais popular que um canal que tem menos inscritos, mas

alto índice de visualização de seus vídeos.

2.4.2 – Rede social

Existem práticas dentro do YouTube que vão além da criação de

conteúdo. A audiência exerce um papel importante na compreensão da cultura

da plataforma através de suas práticas de participação: adicionando aos

favoritos, comentando, respondendo, compartilhando, assistindo e avaliando.

Apesar de a grande maioria das pessoas não fazer login regularmente no site e

não ser produtora de conteúdo, para uma parcela de usuários o YouTube é um

site de relacionamento social (BURGESS; GREEN, 2009, p.50).

Diante das adaptações da internet à vida cotidiana feita pelas

pessoas, ocorre uma alteração na forma de sociabilidade, onde o suporte

tecnológico altera formas anteriores de interação (CASTELLS, 2003).

Diferentes são os usos e os objetivos das apropriações da tecnologia da

Page 40: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

40

informação pelas pessoas. O desenvolvimento tecnológico concretizou um

novo estilo de produção, comunicação e gerenciamento da vida devido a suas

consequências sociais involuntárias (CASTELLS, 1999). “A comunicação

mediada pelo computador permitiu que redes fossem criadas, ampliando a

conexão entre as pessoas, criando espaços que podem ser chamados de

‘redes sociais mediadas pelo computador’” (RECUERO, 2009, p.56).

Por definição uma rede social é um conjunto de dois elementos:

atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões. Os atores tratam-se

das pessoas envolvidas em uma rede, que atuam no sistema moldando as

estruturas sociais, interagindo e construindo laços sociais. Hoje é possível

manter lanços sociais à distância graças à tecnologia. Na internet, no entanto,

os atores são representações, construções identitárias, devido ao

distanciamento entre eles (RECUERO, 2009, p.66). Assim, um canal no

YouTube, por exemplo, pode ser uma representação desses atores. Já a

conexão entre os atores se dá através dos laços sociais construídos através

das interações sociais (RECUERO, 2009, p.89). As conexões na internet

podem ser identificadas através dos rastros deixados por meio de comentários

e uploads, por exemplo. No entanto, Primo (PRIMO, 2013) questiona a

generalização dos discursos referentes as mídias sociais, ele acredita que o

“social” das mídias não se limita somente a humanos, como se a mídia fosse

apenas o suporte que conduz a mensagem – a mídia também atuaria nas

ações que ali acontecem.

Em meio a tantas semelhanças e diferenças compartilhadas por

diversas redes sociais on-line, é possível categorizá-las de duas formas: redes

sociais de conteúdo e redes sociais de contatos. Diferentemente de sites mais

óbvios de relacionamento, como o Facebook, por exemplo, onde se tem perfis

pessoais e se adicionam amigos, no YouTube os usuários investem seu tempo

na construção de conteúdos de forma colaborativa. Ele proporciona um

agrupamento social onde surgem discussões entre seus participantes para

aprimorar o modo de funcionamento do site e agregar valor a ele (BURGESS;

GREEN, 2009, P.189). Ou seja, o YouTube é um canal típico de conteúdo. Ele

funciona como meio de transmissão de criações, uploads e audiência. No

Page 41: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

41

entanto, ele caminha para se tornar uma rede contatos, à medida que os

assinantes dos diversos canais da plataforma acabam formando comunidades

através de ações como os comentários em vídeos, por exemplo.

As ferramentas de interação do YouTube utilizadas pela sua

audiência deixam rastros que permitem a identificação de comportamentos na

cultura do site à medida que ele evolui. A interação através do like, por

exemplo, apesar de não ser uma interação mútua entre usuários, pois ocorre

entre o usuário e o sistema da plataforma, também tem um impacto social, pois

tem reflexo nos dois lados da relação (RECUERO, 2009). “Os indivíduos

participam de práticas e grupos que se formam ao redor de assuntos de

interesse, identidade ou preocupações compartilhadas” (BURGESS; GREEN,

2009, p. 108). A internet favorece a ampliação de vínculos sociais entre as

pessoas. As comunidades virtuais se formam ao redor de interesses comuns e

existem indícios substanciais de solidariedade recíproca dentro delas

(CASTELLS, 1999). As mensagens que correm dentro da plataforma não são

apenas difundidas mediante estratégias do YouTube, elas são cada vez mais

transformadas pelos usuários de acordo com seus interesses, por intermédio

da exploração das capacidades interativas da plataforma.

“O YouTube é projetado para viabilizar a participação cultural dos

cidadãos comuns” (BURGESS; GREEN, 2009, p. 105). Os usuários mais

engajados da plataforma, os YouTubers, participam ativamente, modelando,

contestando e negociando a cultura emergente da rede social. Apesar de ser

nebulosa a intenção da empresa YouTube referente à valorização das práticas

sociais e do interesse público, pois ela segue princípios de responsabilidade

corporativa, o futuro e o presente da cultura participativa não está sob o

controle de nenhum grupo de interesse. Para os autores Burgess e Green

(2009), é por meio de cada ato de participação ou tentativa de influência, seja

no YouTube ou em outros lugares, que a cultura participativa está sendo

cocriada dia após dia, seja por profissionais de marketing, amadores,

empreendedores ou audiências. Para Primo (PRIMO, 2013, p. 17), “a

colaboração em redes sociais na internet pode servir tanto a propósitos que

vão desde a ação política a sedutoras campanhas de marketing”.

Page 42: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

42

CAPÍTULO III

Vlogs no Youtube, conceito e análise do Canal

#ADEMAFIA

Dentro do contexto cultural digital, dos discursos otimistas a respeito

da mídia amadora e comunitária, uma suposição comum é a de que “o talento

puro e simples combinado à distribuição digital pode se converter em sucesso

legítimo na mídia” (BURGESS; GREEN, 2009, p.43). Tapscott e Williams

(TAPSCOTT e WILLIAMS, 2007, p. 267) caracterizam o YouTube como um

exemplo de colaboração em massa que possibilita que milhares de indivíduos

criem produtos e acessem mercados antes só alcançados por grandes

empresas. Dentro dessa cultura emergente, consequência da colaboração em

massa, onde produtores e consumidores ocupam o mesmo papel, o domínio da

técnica, as habilidades, a criatividade e a inciativa não são expressas da

mesma maneira por todos os indivíduos. O trabalho e os experimentos que os

espectadores realizam no novo sistema de mídia, mais especificamente no

YouTube, por mais que possam ser imprevisíveis, podem resultar em

realizações incrivelmente criativas.

Como todas as mídias, o YouTube só adquire sentido real quando

compreendido como algo que as pessoas usam no seu cotidiano. Criar

conteúdo completamente novo e disponibilizá-los nele para que outros usuários

possam assistir e opinar expressa uma mudança cultural que vai muito além da

técnica. Seja qual for a forma específica, dentre as várias tendências estéticas

observáveis ao longo da variedade de conteúdos criados por usuários, elas

indicam tipos de práticas e valores associados a uma mídia emergente

(BURGESS; GREEN, 2009, p. 47). Na busca por novas formas de

entretenimento, o YouTube pode ser uma boa alternativa, pois há uma grande

variedade de conteúdos na plataforma e que aumentam a cada dia. O site pode

ser considerado como um dos principais meios onde ocorre a multiplicação de

conteúdo destinados a nichos.

Page 43: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

43

A audiência dos canais do YouTube, mesmo sendo inferior a

audiência das mídias tradicionais de massa, em alguns casos, consegue suprir

necessidades consideradas de nichos diante dos diversos conteúdos

disponibilizados na plataforma. No entanto, alguns tipos de vídeos que circulam

no YouTube podem ser identificados, dentro da cultura popular do site, como

padrões dominantes. Em pesquisa realizada no livro “YouTube e a Revolução

Digital” foi concluído que, dentre os conteúdos produzidos por usuário, ou seja,

não produzidos pela mídia tradicional, a maioria dos vídeos (quase 40%)

enquadra-se no formato vlog, que é o formato mais emblemático quando se

refere aos conteúdos produzidos por usuários (BURGESS; GREEN, 2009, p.

189). Os autores Burgess e Green definem o vlog como:

O vlog (abreviação para ‘videolog’) é uma forma predominante do vídeo “amador” no Youtube, tipicamente estruturada sobre o conceito do monólogo feito diretamente para a câmera, cujos vídeos são caracteristicamente produzidos com pouco mais que uma webcam e pouca habilidade em edição. Os assuntos abordados vão de debates políticos racionais a arroubos exacerbados sobre o próprio Youtube e detalhes triviais da vida cotidiana. (BURGESS e GREEN, 2009, p.192)

Isto é, “o formato vlog tem seus antecedentes na cultura do webcam,

nos blogs pessoais e na mais difundida ‘cultura confessional’” (BURGESS;

GREEN, 2009, p. 78). O formato explora as capacidades criativas dos usuários.

Uma de suas principais características do formato, além do caráter amador, é a

narrativa do vídeo, pois ela geralmente é expressa por um monólogo do

vlogueiro que fala diretamente para a câmera. O vlog, ainda, pode explorar a

“cultura do quarto” dos jovens, como espaços que remetem ao “privado” e ao

“cotidiano”. As edições, por exemplo, podem ser pouco, ou nada refinadas, o

que dão um caráter de autenticidade ao vídeo. Para Burgess e Green (2009)

essas características fazem lembrar a comunicação cara a cara, o que tornaria

mais fluída a conversação entre a audiência e quem está produzindo o vídeo.

Recuero (RECUERO, 2009 p.48) alega que os atores sociais expressam

personalidade e individualidade, ao mesmo tempo que proporcionam um

espaço para interação com outros usuários. Por possuir tais características, o

Page 44: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

44

vlog, pode ser considerado um ator social no meio digital. Esse tipo de formato

faz parte das formas de participação dentro do YouTube e pode ser

considerado tanto uma forma de promoção pessoal quanto uma forma de

atividade de interação social. Contudo, eles não são exclusivos do YouTube, a

produção de vídeos dentro desse formato cresce em toda web (FIG. 2). Uma

pesquisa realizada pelo site MeFeedia5 em 2010 sobre os vlogosfera identificou

que o YouTube hospeda 36% desse tipo de conteúdo.

Figura 2 - O formato vlog na internet

Fonte: http://blogue.mefeedia.com/vlog-2010

É preciso, no entanto, refletir sobre a produção de conteúdo

audiovisual que expõe o indivíduo para outras pessoas, a sua intimidade e

suas ideias, como acontece nos vlogs. Atividades que parecem triviais, mas

que conseguem atrair a atenção do público, são capazes de criar espaços de

envolvimento e formação de uma comunidade, por isso é importante dispor de

atenção no que será exposto e qual o tipo de envolvimento irá se construir. “Se

a fama era tradicionalmente relacionada ao reconhecimento de grandes

méritos alcançados por alguém excepcional, hoje tal conexão é quebrada”

(PRIMO, 2009, p. 164). O acesso público aos momentos íntimos dos

5 Fonte: http://blogue.mefeedia.com/vlog-2010

Page 45: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

45

produtores de vlogs podem servir como abertura para um debate público a

respeito de questionamentos em comum entre o vlogueiro e a audiência. Lange

(2007; apud BURGESS; GREEN, 2009, p. 111):

[...] vê esperança de um enriquecimento do discurso público nesses momentos tranquilos de comunicação facilitados pelo - mas não restrito aos – videoblog em forma de “texto”: “ao ser vulnerável e compartilhar escolhas e momentos íntimos, é possível promover um discurso público crescente sobre tópicos anteriormente desconfortáveis, desagradáveis ou delicados de maneira que as outras mídias e métodos não podem”. (BURGESS e GREEN, 2009, p.111)

Dessa forma, percebe-se a importância dos vlogs no cenário

midiático contemporâneo enquanto formato de comunicação emergente. Eles

despertam na audiência sensações de proximidade, vivacidade, imediatismo

que são específicas desse formato e do meio onde ele se insere. A exposição

pessoal é o que marca a presença dos vlogs no ciberespaço, a sociabilidade

entre o vlogueiro e a sua audiência depende dessa construção do “eu” mais

verdadeira.

3.1 PROFISSIONALIZAÇÃO DO VLOGUEIRO

O que é sucesso no YouTube? Uma ampla variedade de fontes, com

diferentes finalidades, disponibiliza diversos conteúdos em vídeo na plataforma.

O YouTube é um espaço onde coexistem vídeos banais da vida cotidiana e

vídeos de engajamento identitário que formam verdadeiras comunidades.

Alguns jogadores de games, por exemplo, se engajam em atividade criativas

de produção para o YouTube motivados ou pela sua paixão por jogos, ou pelo

status social dentro da comunidade, ou, ainda, pelas oportunidades comerciais.

O site se tornou um porto seguro para dubladores, cantores de karaokê,

feministas, fãs de hip-hop, jogadores de games, igreja, colecionadores

(BURGESS; GREEN, 2009, p 169.). No entanto, a obtenção de sucesso no

YouTube depende do conhecimento fundamentado na ecologia comunicativa

Page 46: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

46

do site por parte do usuário produtor de conteúdo. Compreender o ambiente

participativo, as formas e as práticas de produção dentro da plataforma é

essencial para aumentar a audiência e começar a lucrar.

Inicialmente, o YouTube apenas hospedava vídeos de qualquer tipo

de conteúdo amador. Em seguida, a plataforma cresceu e uma nova geração

de talentos surgiu para dominar os canais e capturar a atenção dos internautas.

Em um mundo em que a gratuidade é muito valorizada, como o da internet,

ganhar dinheiro com ela parece uma tarefa complicada. Desde que a

publicação on-line começou, no final da década de 1990, um dos temas mais

repetidos era que, apesar de todos estarem na internet, ninguém ganhava

dinheiro com ela (CAPPO, 2003, p.62). No entanto, muitos vlogueiros estão se

tornando verdadeiros astros no YouTube, por atingirem uma grande e fiel

audiência. Muitos deles, inclusive, estão ganhando a vida por meio da

participação na venda de anúncios.

Atualmente, cerca de um milhão de criadores de mais de trinta países

em todo o mundo geram receita com vídeos para o YouTube6 . Contudo, em um

cenário onde os indivíduos podem participar e agregar valor a sistemas

econômicos em grande escala, o vlogueiro, para se tornar um profissional,

precisa inovar e ser estratégico, ou seja, abusar da criatividade e ter um

espírito empreendedor (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007). Milhares de canais no

YouTube estão gerando valores de seis dígitos ao ano7. Logo, o vlog pode ser

considerado um novo modelo de negócio que, apesar de exigir um

conhecimento técnico relativamente simples, exige comprometimento e

profissionalismo.

Alguns vlogs brasileiros, que possuem notoriedade e credibilidade

no YouTube, estão conquistando audiências e atraindo anunciantes. Ao refletir

sobre a cultura da convergência, Jenkins (2009) mostra que as audiências

estão envolvidas ativamente na produção e circulação dos produtos culturais

que consomem. Dentro do YouTube, destacam-se os que produzem vídeos e

os que consomem. Quem produz, após a publicação na plataforma, já não tem

6 Fonte: https://www.youtube.com/yt/creators/pt-BR/index.html?noapp=1

Page 47: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

47

mais o controle sobre o conteúdo. O vlog, caraterizado por desenvolver um

diálogo com a audiência, quando se propõe a fazer anúncios e parcerias com

marcas em seu canal, precisa lidar com as expectativas de seus visitantes, pois

são eles, através dos cliques em anúncios e visualizações, que geram o

faturamento do canal. O maior desafio dos criadores de conteúdo,

independentemente do meio utilizado, é ser comercial sem perder a identidade

e atrair o anunciante sem afastar a audiência. Portanto, é preciso habilidade,

por parte do vlogueiro, em saber manejar todos esses fatores em conjunto. A

interação da audiência possibilita o refinamento do conteúdo postado. Se o

vlogueiro compreender a cultura participativa do YouTube, e respeitar a

dinâmica da plataforma, é possível que a marca seja exposta no canal de

forma que esteja de acordo com o interesse do público que o acompanha.

No Brasil, o formato vlog tem se popularizado e muitos vlogueiros

estão se profissionalizando.

3.2 - CANAL #ADEMAFIA

O canal #ADEMAFIA é um vlog no YouTube criado em meados de

julho de 2014 pelo skatista carioca Ademar Lucas. Sentindo a algum tempo

dificuldade de conteúdos especializados, onde as maiores e mais conhecidas

mídias se encontram fora do Rio de Janeiro, uma forma de mostrar seu

trabalho e trajetória e com isso ajudar aos skatistas da cidade a ter uma

notoriedade, fundou-se o coletivo Ademafia. Desde de então já foram

publicados cento e noventa e quatro vídeos no canal, com um total de cinco

milhões e seiscentos e oitenta e seis mil e trezentas e vinte e quatro

visualizações até o dia 20 de abril de 2016, o canal possui mais de setenta e

quatro mil e seiscentos e setenta e sete de inscritos e tem em média, quinze

publicações por mês.

7 Fonte: https://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/

Page 48: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

48

Figura 3 - Página inicial do canal com inscritos

Fonte: https://www.youtube.com/channel/UC63S58vWTVXO_t5D8y4wx8Q

O vlogueiro é skatista a 15 anos e a ideia de fazer o primeiro vídeo

para o canal surgiu de uma viagem onde eles iriam gravar as manobras para

postar em seu canal pessoal do YouTube, no início da viagem Ademar resolveu

gravar imagens do trajeto até a chegada ao destino. Durante o trajeto

aconteceram fatores engraçados que foram gravados, e a partir disso veio a

sacada, ”nossa isso precisa entrar no vídeo”, percebendo que como em outros

canais, assim como também nas mídias especializadas as imagens são muito

técnicas e específicas. Você conhece aquele atleta mas não sabe quem ele

realmente é, e o que realmente se passou até aquele vídeo ou imagem estarem

prontos. Ademar viu aí um nicho a ser explorado carente de um conteúdo para

skatistas que querem entender e acompanhar todos os passos daquele

profissional, também percebeu a extrema carência dentro deste esporte não tão

conhecido. Assim nasceu a ideia de criar o canal #ADEMAFIA reconhecendo que

a internet é uma porta de entrada muito grande para quem quer divulgar seu

trabalho.

Page 49: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

49

Figura 4 – Primeiro Adelife – Dia de Cota

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=FNyOlsSetUg

O canal é conhecido pela maneira bem-humorada e descontraída

nas suas gravações, explorando bastante o estereótipo carioca da

descontração e da simpatia. Ademar é conhecido por ser uma pessoa

descontraída e engraçada que gosta de brincar com as pessoas, ele satiriza

coisas que acontecem no cotidiano dele e todos os que estão a caminho do

local onde irão andar de skate e gravar suas manobras. Ele expõe todo tipo de

coisas que acontecem durante o trajeto, seja erros de manobras a quedas dos

skatistas.

Os vídeos são bem produzidos, contam com uma edição elaborada

com músicas e imagens que ajudam a ilustrar o universo em que eles vivem.

Hoje o canal conta com quatro pessoas essenciais para o funcionamento o

responsável pela arte e ilustrações usadas nos vídeos, o responsável pela

música usada como trilha sonora para as imagens, o responsável pela edição e

organização do conteúdo que vai ao ar, e claro o Ademar Lucas que filma e

apresenta os vídeos.

O canal é dividido por seguimentos, Adelife que são os principais

vídeos do canal, o Dá o Papo que são entrevistas com os responsáveis do

Page 50: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

50

canal e convidados onde eles abrem espaço para perguntas dos usuários do

canal e o Adenews que são vídeos informativos de campeonatos, movimentos

e festas relacionadas ao mundo do skate.

Figura 5 – Seção Adelife

Fonte: https://www.youtube.com/playlist?list=PLDzJf2NanOyi0CVtt6x-

2V5ZbfEoD8neM

Figura 6 – Seção Adenews

Fonte:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLDzJf2NanOyj91IDlRNCAsIPBZ_gP5ptL

Page 51: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

51

Figura 7 – Seção Dá o Papo

Fonte: https://www.youtube.com/playlist?list=PLDzJf2NanOyh-

Z2zsnRiEatrMEwQxzBgs

O canal e o movimento #ADEMAFIA, provocou na cidade de Rio de

Janeiro uma imensa interação com os usuários do Youtube juntamente com os

skatistas locais. Em entrevista com o fundador Ademar Lucas, percebemos que

ainda que o YouTube tenha uma força considerável em seu trabalho como

atleta, este na verdade veio a somar um trabalho que já era realizado fora do

âmbito online. Tanto os que já vivem o dia a dia do skateboard quanto aos que

aspiravam essa ideia, diante do canal puderam enfim acompanhar de maneira

cotidiana o que é realmente o estilo de vida que esse esporte proporciona, e

pode se inteirar vídeo a vídeo do que acontece na cidade e também fora dela.

Ademar se representa como um jovem empreendedor nesse

seguimento e com toda sua capacidade de influência vem se tornando

referência e com isso criando novos e inusitados formatos de interação, ele cria

gírias e expressões que são cada vez mais identificadas e usadas nesse

seguimento. O esforço em mostrar não só ele, mas também a todos os atletas

que queiram e consigam viver do esporte.

Page 52: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

52

3.3 - Profissionalização do canal

Não foi com nenhum interesse monetário que o mesmo criou o

canal, mesmo em entrevista ele acreditando que esse é um mercado

promissor. Foi realmente uma necessidade profissional e a partir disso uma

ideia de se projetar e com isso ajudar outros skatistas.

Figura 8 – Total de visualizações do primeiro vídeo

Fonte: https://www.youtube.com/analytics?o=U#dt=lt,fe=16909,fr=lw-001,fs=16380;fcr=0,fi=v-

FNyOlsSetUg,r=views,rpg=7

Conforme se foi construindo o conteúdo do canal, fica claro que a

possibilidade de interação com a audiência, proporcionada pelo YouTube,

facilita a aproximação com o público e, desta forma, fica mais fácil descobrir

com qual tipo de assunto eles vão mais se identificando.

A profissionalização do canal aconteceu conforme o aumento no

número de visualizações, e isso começou a render algum dinheiro. O lucro

mensal do canal não é ainda nem perto do que se precisa para manter-se só

disso, mas já é inicialmente algum retorno, essa monetização vem através dos

Page 53: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

53

anúncios do Google, varia entre um mês e outro. Isso também contando com

outros tipos de retorno obtido das parcerias com as marcas e lojas do

seguimento. Nem sempre há um retorno financeiro, mas existem formas de

lucratividade em vestimenta e peças para os atletas. Junto com toda a

notoriedade do canal também surgiram alguns contratos de publicidade, que

incluem propaganda de alguns produtos inseridos ao longo dos vídeos

postados.

Além do canal do YouTube a #ADEMAFIA também converge com

outras redes sociais, por exemplo, em sua página no facebook sempre são

divulgados os links dos novos vídeos postados no canal para lembrar aos

internautas e grande parte do fluxo do canal vem das postagens na página,

além dela também utilizam o instagram para fotos e pequenos vídeos que

mostram aonde estão gravando e qual o tema do próximo vídeo, fazendo com

que se haja interesse constante para acompanhar as novidades postadas.

Figura 9 – Funpage #ADEMAFIA

Fonte: https://www.facebook.com/Ademafia-300038730179220/?fref=ts

Page 54: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

54

Figura 10 – página Instagram #ADEMAFIA

Fonte: https://www.instagram.com/ademafia/

Essa convergência se faz necessária e auxilia exponencialmente em

suas divulgações e com isso aumento o número cada vez maior de usuários

alcançados.

No entanto, o canal é só mais uma ferramenta de extrema

importância para um trabalho que também é feito off-line, Ademar deixa claro

que seu interesse é muito maior que se manter ativo e vivo no YouTube, sua

principal intenção é criar uma marca notável que possa mostrar a todos o

propósito do skateboard. É fato que todo esse alcance não seria possível, ou

até seria só que bem mais lentamente, todo sucesso obtido até agora pelas

redes sociais só vem a fortalecer todo potencial de inclusão e informação que a

internet nos proporciona.

Page 55: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

55

CONCLUSÃO

Este trabalho buscou, primeiramente, compreender o cenário da

mídia atual, através de uma profunda retomada de suas transformações no

decorrer do tempo. Nessa retomada se reconheceu que as transformações

tecnológicas foram consequências das necessidades de comunicação e de

expressões da sociedade. Logo dada as transformações dos meios de

comunicação e a emergência do ciberespaço, quem sempre ditou as regras foi

a audiência. A produção de conteúdo original e independente transformou a

internet em um ambiente favorável para essa nova audiência que decide o que

lhe é interessante. Por mais que os discursos proféticos a respeito da produção

digital independente não tenham se realizado plenamente, a popularização das

mídias digitais transformou o cenário midiático atual.

Para oferecer uma visão mais abrangente dos desafios e

oportunidades de empreendimentos como o YouTube, o livro “Cultura da

Convergência” (JENKINS, 2009), por expressar um fluxo de conteúdos que

perpassam diversos suportes e mídias, possibilita um embasamento teórico

ideal para compreender o YouTube em meio às transformações da mídia. A

mudança na relação entre a indústria da mídia e os consumidores, discutida

por Jenkins em seu livro ajuda a compreender, na qual o consumidor não só

necessita consumir como também interagir com a mídia, isso ocorre de forma

clara no YouTube, pois os objetivos e propósitos de cada usuário na plataforma

acabam criando um sistema de cultura dinâmico. Ou seja, a partir do momento

que o YouTube apresenta uma audiência participativa, ele ganha importância

em termos culturais. Ao contrário do que defende Keen em seu livro “O Culto

do amador” (KEEN 2009), o YouTube, enquanto plataforma de diversidade

cultural, por proporcionar a expressão individual dos usuários contribui para o

surgimento de uma esfera pública mais inclusiva. O YouTube propiciou a

democratização da distribuição de conteúdo e tornou-se uma plataforma

referência para produtores amadores e profissionais. Por mais que exista um

desconforto mútuo entre os interesses corporativos e dos participantes da

Page 56: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

56

comunidade, a relevância dentro da plataforma parte de conteúdos que

respeitam a dinâmica do ambiente.

Atualmente, o consumidor oscila entre diversos canais em busca de

novas experiências de entretenimento. Quando discutimos sobre a facilidade de

acesso às ferramentas de produção, acreditando ser o início do processo de

democratização das produções, é possível refletir sobre a profissionalização

daqueles que estão produzindo conteúdos de forma independente. A

profissionalização do vlogueiro, por exemplo, apesar de apresentar tensões

entre interesses comerciais, pessoais e comunitários, representa o resgate

de talentos individuais, através de um formato completamente diferente da

mídia tradicional, e que, mesmo assim, consegue atingir milhões de pessoas.

Logo, o vlog é expressão de uma democracia digital, consequência de um

aumento do acesso às ferramentas de produção e distribuição de conteúdo, o

que possibilitou a exposição de opiniões individuais para uma audiência

amplificada e participativa. Além disso, conforme foi discutido no início deste

trabalho, a respeito da oferta e demanda, o surgimento do vlog atende uma

demanda por entretenimento que a televisão, por exemplo, não consegue

atender.

A descrição e pesquisa feitas neste trabalho levantaram diversas

questões pertinentes em relação à inserção de conteúdo de interesses públicos

e de nichos específicos carentes de entretenimento e informação que são

abastecidos através do YouTube. Ao reconhecer que há uma nova geração de

audiência, que não se preocupa tanto com a origem do conteúdo, se possui ou

não publicidade, desde que ele esteja de acordo com o contexto das relações

ali estabelecidas, as pessoas que desejam se posicionar dentro da comunidade

social do YouTube de forma mais ativa e participativa precisam romper com os

padrões da mídia tradicional. Ou seja, o canal da marca, para se tornar

relevante dentro do site, deve se portar como um agente social que agrega na

sua cultura participativa.

São as ações, o envolvimento e as contribuições de quem

disponibiliza conteúdos que as tornam realmente presentes dentro da rede

Page 57: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

57

social YouTube. Os vlogueiros do YouTube são exemplos de atores sociais que

agem e interagem com os usuários, formando amplas conexões. Ocorre em

alguns casos a falta de entendimento sobre o objetivo principal das mídias

sociais por parte das corporações, que insistem em considerar o YouTube

como uma simples plataforma de distribuição. Os dados fornecidos pelo

YouTube auxiliam na compreensão das preferências da audiência da

plataforma. Ou seja, os youtubers podem analisar esses dados, descobrir o

que está despertando o interesse e envolvimento dos usuários e, assim,

produzir conteúdo que satisfaçam a audiência e revertam em retornos

comerciais positivos.

Enfim, a realização deste trabalho proporcionou uma maior

compreensão das estratégias de comunicação possíveis dentro do YouTube,

apesar de ainda existir incertezas associadas aos significados e aos usos do

YouTube, os vlogs mantêm seus canais com números crescentes de

visualizações, produzindo conteúdos com periodicidade de postagem e

mantendo uma audiência crescente e fiel. A análise do vlog #ADEMAFIA ajudou

a entender quais são os caminhos que se pode trilhar quando se participa

ativamente de uma rede social, tanto em termos de alcance quanto de

remuneração dentro de um vlog. Diante de uma audiência crescente e de nicho

no YouTube, surgem oportunidades para pessoas que desejam conversar com

públicos específicos na internet. No entanto, a relevância do conteúdo no

YouTube depende da forma que este se insere na plataforma, pois ele deverá

respeitar as suas lógicas e a sua cultura. Essa pesquisa, portanto, se torna

relevante para estudos que desejam compreender as formas de se fazer algum

tipo de conteúdo no YouTube. Por se tratar de um fenômeno recente a

pesquisa realizada apenas abre a discussão sobre o tema. Houveram algumas

limitações referentes à pesquisa de bibliografias que abordassem

especificamente o tema “vlog” e por isso ainda se faz necessário um trabalho

mais profundo sobre o assunto.

Page 58: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

58

BIBLIOGRAFIA ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de

nicho. Rio de Janeiro: Campus, 2006.

BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube e a Revolução Digital: como o

maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade.

Trad. de Ricardo Giassetti. São Paulo: Aleph, 2009. Título original: Youtube:

digital media and society series.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

_______________. A galáxia da Internet. Trad. Maria Luiza X. A. de Borges.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Estudos Culturais: uma introdução. In:

ESCOSTEGUY, Ana Carolina; JOHNSON, Richard; SCHULMAN, Norma. O

que é, afinal, Estudos Culturais? 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

HARDT, Michael; NEGRI, Antônio. Multidão. Guerra e democracia na era do

Império.Trad. de Clóvis Marques. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. Título

original: Multitude.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Trad. de Susana Alexandria. 2.ed.

São Paulo: Aleph, 2009. Título original: Convergence Culture.

LEMOS, Andre. Cibercultura Tecnologia e vida social na cultura

contemporânea. Porto Alegre: editora Sulina, 2002.

LEVY, Pierre. Cibercultura. Trad. de Carlos Irineu da Costa. São Paulo:

Editora 34, 1999.Título Original: Cyberculture.

Page 59: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

59

_____________. O que é o virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996.

_____________. A inteligência coletiva: por uma antropologia do

ciberespaço. São Paulo: Loyola. 1998.

_____________. As Tecnologias da Inteligência: O futuro do pensamento na

era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

LIPOVETSKY, Gilles. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade

desorientada. Tradução Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia da

letras 2011. Título original: Responsé à une société désonrientée.

McLUHAN, Marshall. Os Meios de comunicação como extensões do

homem. São Paulo: Cultrix, 1969.

O'REILLY, Tim. What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the

Next

Generation of Software.O'Reilly Publishing, 2005.

PRIMO, Alex. Existem celebridades da e na blogosfera? Reputação e

renome em blogs. Líbero, São Paulo, v. 12, n. 24, p. 107-116, dez. 2009.

RECUERO,Raquel, Redes sociais na internet. 2ª ed– Porto Alegre:

Sulina, 2011

_________________. Rede social. In: SPYER, Juliano (Org.). Para entender a

internet: noções, práticas e desafios da comunicação em rede. São Paulo:

NãoZero, 2009. p. 25-26.

Disponível em:

<http://www.openinnovatio.org/wpcontent/Para%20entender%20a%20Internet.p

df>.

Page 60: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

60

________________. Weblogs, Webrings e Comunidades Virtuais. Trabalho

apresentado no GT de Comunicação e Cultura do VII Seminário Internacional

de Comunicação, em setembro de 2002. Trabalho publicado na revista

404notFound, v1. número 31, 2003.

TAPSCOTT, Don; WILLIAMS, Antony D. Wikinomics: como a colaboração em

massa pode mudar o seu negócio. Trad. De Marcello Lino. São Paulo: Nova

Fronteira, 2007. Título original: Wikinomics: How Mass Collaboration Changes

Everything

TORRES. Redes sociais: do público-alvo ao público-alcançável. Disponível

em :

<http://imasters.com.br/artigo/21890/redes-sociais/redes-sociais-do-publico-

alvo-ao-publicoalcancavel/

> 24 de março de 2016

WOLTON, Dominique. Informar não é comunicar. Tradução de Juremir

Machado. Porto Alegre: Sulina, 2010.

WEBGRAFIA

. Sobre o Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/yt/about/pt-BR/>. Acesso em: 20 de Abril 2016

. Primeiros passos. Disponível em: <https://www.youtube.com/yt/about/pt- BR/getting-started.html>. Acesso em: 20 de Abril 2016.

. YouTube Spotlight. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/YouTube/about>. Acesso em: 20 Abril 2016. . Canal #ADEMAFIA. Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UC63S58vWTVXO_t5D8y4wx8Q >. Acesso em: 20 Abril 2016.

. Homepage. Disponível em: <https://www.youtube.com/>. Acesso em: 20 Abril 2016.

Page 61: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

61

. Canal #ADEMAFIA – Dia de Cota . Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FNyOlsSetUgyoutube.com/watch?v=ROoS96pktV0>. Acesso em: 20 Abril 2016.

. Trabalhando Juntos. Disponível em: <https://www.youtube.com/yt/creators/pt- BR/creator-benefits.html> Acesso em: 20 Abril 2016.

Page 62: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

62

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I Ciberespaço, surgimento da internet, Web 2.0 e Redes sociais 10 1.1. Ciberespaço – o Real e o Virtual 11 1.2. Surgimento da Internet 13 1.3. Web 2.0 15 1.4. Mídias Sociais 18 1.5. Redes Sociais 19 CAPÍTULO II YouTube: surgimento e interação 22

2.1. Mudanças na estrutura da mídia 22

2.2. Cultura Participativa 25 2.3. Democratização da produção e produção amadora 28 2.4. O YouTube 33 2.4.1. Dinâmica da plataforma 37 2.4.2. Rede social 40 CAPÍTULO III Vlogs no YouTube, conceito e análise do canal #ADEMAFIA 43 3.1. Profissionalização do Vlogueiro 46 3.2. Canal #ADEMAFIA 48 3.3. Profissionalização do canal 53 CONCLUSÃO 56 BIBLIOGRAFIA 59 ÍNDICE 62 ÍNDICE DE FIGURAS 63 ANEXOS 64

Page 63: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

63

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – YouTube: a segunda rede social mais acessada pelos brasileiros 34

Figura 2 – O formato vlog na internet 45

Figura 3 – Página inicial do canal com inscritos 49

Figura 4 – Primeiro Adelife – Dia de Cota 50

Figura 5 – Seção Adelife 51

Figura 6 – Seção Adenews 51

Figura 7 – Seção Dá o Papo 52

Figura 8 – Total de visualizações do primeiro vídeo 53

Figura 9 – Funpage #ADEMAFIA 54

Figura 10 – Página Instagram #ADEMAFIA 55

Page 64: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

64

ANEXO 1

Anexo 1 - Entrevista Ademar Lucas – fundador do Canal #ADEMAFIA .

1 – Sobre o entrevistado Ademar Lucas, 24 anos, morador da cidade do Rio de janeiro, skatista a 15 anos, tem um canal no youtube chamado #ADEMAFIA a mais ou menos 1 ano e meio. 2 - Qual era o objetivo quando você criou o vlog? Começou com uma necessidade profissional, sendo skatista usava a plataforma youtube para postar lugares na cidade para andar de skate e filmar manobras. Como já era conhecido pelo público, tinha um número considerável de seguidores, e vários amigos skatistas, nasceu a necessidade de criar o canal para disseminar os locais onde eu vivo e ando de skate pela cidade. 3 – O que é a #ADEMAFIA? É um movimento/coletivo onde eu quero mostrar o que eu vivo, sendo skatista tenho vários amigos skatistas relacionados ao meio da música, da arte, em tudo que o skate está relacionado. Tenho acesso a essas pessoas, vivo com elas, aqui no Rio tenho uma festa que ajuda a mostrar a cena carioca no âmbito do skate. O objetivo é a valorização do skate como um todo, em todas as suas formas. 4 – Quantas pessoas movimentam o canal? Temos hoje 4 pessoas essenciais colaborando para o canal. Temos o Jean responsável pela arte do canal, o Dreebeetmaker responsável pela música que colocamos, o Francisco responsável pela edição do conteúdo postado e organização de algumas coisas para o canal. E eu que filmo e apresento os vídeos. Além disso também fazemos bastantes parcerias com outros profissionais de música e com outros canais, que somam para melhorar o conteúdo dos vídeos. 5 – Quando você se deu conta da profissionalização do canal #ADEMAFIA? Desde o primeiro vídeo postado tivemos uma grande aceitação. Nós gravamos esse primeiro vídeo em São Paulo, em uma viagem com um amigo e meu sobrinho, pensei e falei com eles vou levar a câmera para gravarmos nossas manobras lá..., mas não só gravamos as manobras, gravamos nossa ida, aonde estávamos, nossas zoações e brincadeiras. Como o jeito carioca de ser “vende” uma imagem que todos “compram” de lifestyle, descontração e simpatia. Na edição além disso já está impresso no nosso jeito de falar e agir, adicionamos no vídeo não só as manobras, mais todo o trajeto até lá e nossa volta para casa... percebemos que o que agregou valor ao vídeo foi mais o que se passa nos bastidores e que isso tem mais relevância para o público do que só as manobras em si. E a partir daí nos baseamos para fazer os próximos vídeos. 6 – A interatividade da audiência do canal influência na hora de produzir os vídeos? De que forma? Como as métricas geradas pelo youtube lhe ajudam a entender a preferência da audiência? Sim, dá para ter uma ideia. Vários fãs do nosso canal, também acompanham outros canais e quase sempre eles pedem conexões com esses canais. Esse feedback é bacana porque nós vemos que o público se identifica com o conteúdo. Exemplo semana passada estive em São Paulo, assim que pisei lá recebi uma ligação de um amigo pedindo para fazermos uma conexão com o canal dele que o pessoal estava

Page 65: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

65

pedindo muito, e fizemos. Também tem a galera que pede para irmos até a sua cidade conhecer algum evento e filmar lá. Não usamos as métricas para produção de conteúdo, nosso objetivo é sempre ver quais pilares precisam ser firmados e vamos nos baseando nisso, por exemplo; algum evento de arte ou música relacionada a cena do skate ou alguma mídia, algum atleta (skatista) importante ou que precisa de ajuda é lá que estaremos trocando e refletindo sobre o conteúdo. 7 - Qual é a maior dificuldade em manter um canal ativo e com um número crescente de seguidores? Percebemos que quando colocamos um conteúdo no ar, temos que sempre está igualando ou sendo melhor do que o anterior, melhorar a qualidade do vídeo, tipo de conteúdo, e para isso precisamos estar indo cada vez mais longe, com um equipamento cada vez melhor. Com o que nós temos precisamos cada vez mais estar nos reinventando, porque nossas métricas crescem, mais nossa realidade financeira não. É literalmente tirar leite de pedra. 8 – Qual a maior dificuldade em se fazer um vídeo com publicidade? Depende do produto que vai ser inserido no vídeo. Se for um produto que já está relacionada a gente ou alguma coisa que já estamos acostumados a usar aí é mais fácil inserir de uma forma natural, como nossos vídeos não tem roteiro ele vai acontecendo, estamos lá na rua acontece alguma coisa a gente filma e muitas vezes usa aquela oportunidade para falar alguma coisa e sim dependo do produto vamos ter uma dificuldade de como inserir, agora se sendo algo já acostumado a usar como por exemplo vestuário, tênis ou uma peça de skate, como nossos vídeos tem bastante humor a melhor maneira que encontramos de inserir publicidade é brincando um pouco e sendo direto... 9 – Fazer vídeos com conteúdo publicitário altera de alguma forma a receptividade da audiência? Depende de como você vai abordar, e que tipo de produto você vai oferecer ali. Nós não temos muita experiência e ainda não fizemos muita publicidade, não na verdade a gente fez, mas todas as publicidades feitas foram tipo naturais. E como nós temos o propósito de mostrar a “cena” e as coisas que agregam a ela, quando chegávamos para mostrar uma loja era bem natural, exemplo estamos aqui na loja do amigo tal..., que fortalece a “cena” e ajuda nos campeonatos, e a marca X que patrocina o amigo. E assim segue a linha de publicidade que tentamos levar para o canal. 10 – É possível viver apenas de vlogs no Brasil? Está crescendo muito os números de pessoas na internet consumindo vídeo e os conteúdos relacionados as redes sociais e tudo mais. E com isso as pessoas estão cada vez menos na televisão, ainda mais o jovem que está mais no youtube e nas redes sociais. Na minha opinião a demanda só cresce e daqui a pouco terão mais anunciantes. Bom, hoje para nós do canal estamos ainda muito longe de receber um retorno financeiro que nos de suporte aos tipos de vídeos que geramos, sim recebemos algum retorno mais ainda bem distante do que seria para viver de vlog. Mas eu acredito que quem já está a bastante tempo e tem um bom número de seguidores e para quem começou e insistir, sim é um mercado promissor que vai gerar renda para viver desse seguimento. 11 - Já pensou em desistir do seu vlog para se dedicar apenas a outra carreira? Por quê? É como eu digo, nós não esperamos necessariamente um retorno financeiro sobre o canal, nosso real retorno é visibilidade sem depender das mídias especializadas do

Page 66: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

66

mercado. Esse trabalho que nós fazemos online é um complemento de um trabalho que nós fazemos off-line. Ajudando o movimento que nós estamos lutando para fortalecer na “cena” do skate carioca. 12 – Quais são os vlogs que você mais admira no youtube? Acompanho alguns: Meu mundo minha vida, Black Media, Guilherme Abe (que é um pioneiro nesse seguimento do skate) e Diego Cueca.

Page 67: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · uma forma de obtenção de renda, dado o crescimento de audiência de alguns de seus canais, este trabalho visa pesquisar como se

67

ANEXO 2

Anexo 2 – SIGLAS

APC - Associação para o Progresso das Comunicações

ARPA (Advanced Research Project Agency

CERN (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear)

IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Comunicações

HTML (Hypertext Markup Language)

NORSAR (Norwegian Seismic Array)