documento protegido pela lei de direito autoral · objeto de estudo é a pessoa em desenvolvimento...

38
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A RELEVÂNCIA DO PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL NO PROCESSO EDUCATIVO MANOEL BRILHANTE DA SILVA Orientadora: Profa. Fabiane Muniz da Silva MANAUS MARÇO / 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: ngokiet

Post on 02-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELEVÂNCIA DO PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL NO PROCESSO EDUCATIVO

MANOEL BRILHANTE DA SILVA

Orientadora: Profa. Fabiane Muniz da Silva

MANAUS MARÇO / 2008

DOCU

MENTO

PRO

TEGID

O PEL

A LE

I DE D

IREIT

O AUTO

RAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELEVÂNCIA DO PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL NO PROCESSO EDUCATIVO

MANOEL BRILHANTE DA SILVA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Psicopedagogia Institucional.

MANAUS

MARÇO / 2008

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Profa. Fabiane Muniz da Silva pela segurança, paciência e crítica objetiva com que me orientou;

Àqueles amigos que me ajudaram e incentivaram ao longo deste trabalho de pesquisa.

4

DEDICATÓRIA

Para Francisco Cláudio da Silva.

5

RESUMO Diante das constantes discussões sobre as dificuldades de

aprendizagem nas escolas, surgiu a preocupação de estudar as causas

relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, nasceu a

Psicopedagogia Institucional que tem se apresentado multifacetada, tendo

como identidade própria área do conhecimento, onde o psicopedagogo,

exercendo atividade preventiva, pode intervir nas dificuldades de

aprendizagem. Assim sendo, a Psicopedagogia contribui significamente com

todos os elementos envolvidos no processo de aprendizagem, pois exerce seu

trabalho de forma multidisciplinar, numa visão sistêmica. Por isso, a ação

psicopedagógica deve exercer uma prática em parceria, em equipe, onde todos

deverão voltar seu “olhar” e sua “escuta” para o sujeito da aprendizagem.

Dessa forma, a intervenção psicopedagógica preventiva possibilita ao

psicopedagogo desenvolver seu trabalho de maneira eficiente e eficaz,

contribuindo assim para melhorar a qualidade de ensino, desenvolvendo sua

atuação na instituição escolar, onde o seu enfoque de trabalho seja preventivo,

no sentido de intervir nas dificuldades de aprendizagem, já apresentadas pela

criança ou no sentido de prevenir a instalação de problemas nos educandos.

6

METODOLOGIA Procura-se esclarecer os procedimentos escolhidos no estudo em

relação à investigação. Neste caso, a natureza da pesquisa é básica, visando à

atualização de conhecimentos.

Convém, ainda, explicar que o tipo de delineamento escolhido na

pesquisa foi de forma indireta, ou seja, Teórica Bibliográfica.

Assim, para análise desse estudo, tomam-se os referenciais teóricos

mostrados por BOSSA (2007), SISTO (2008), BASSEDAS (1996), SCOZ

(2007) e nos pressupostos de PAIN (1985). Ainda temos os artigos de

OLIVEIRA (2008), ANDERIE, SOUZA e VEIT (2008), BARBOSA (2008),

BENZONI (2008), OLIVEIRA (2008) e as apostilas de PEREIRA (2008) e

POPPE (2008).

A coleta dos dados foi feita de forma individual através de livros, sites e

apostilas pelo próprio pesquisador no período de Dezembro/2008 a

Fevereiro/2009 na cidade de Manaus, Estado do Amazonas.

O tratamento e análise dos dados coletados serão analisados de acordo

com o referencial teórico ou conceitual adotado na pesquisa.

7

S U M Á R I O Introdução............................................................................ 08 Capítulo 1 Psicopedagogia ................................................ 11

1.1 Psicopedagogia Institucional............................. 14 1.2 Dificuldade de Aprendizagem .......................... 18

Capítulo 2 Análise da intervenção psicopedagógica diante da dificuldade de aprendizagem............................................... 22 Capítulo 3 O fazer psicopedagógico no processo educativo 28 Conclusão ............................................................................ 35 Bibliografia ........................................................................... 38

8

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho foi averiguar as possibilidades do

psicopedagogo, por meio de compreensão dos fundamentos e da prática

psicopedagógica, que viabilizem a ação preventiva das dificuldades de

aprendizagem no nível institucional.

Pode-se dizer que a linguagem é um conjunto de códigos através dos

quais expressamos nossas idéias, nossos pensamentos e nos comunicamos

com o mundo que nos cerca. O homem, como todos os outros animais, se

comunica utilizando sua linguagem própria, seu conjunto de códigos: uma

dança, um som, uma pintura, um desenho – enfim, tudo o que possibilita a

troca de mensagens.

A criança, ao chegar à escola, traz seus valores, sua linguagem e sua

maneira de ser e agir. Dessa forma, deve-se valorizar o universo de cada

aluno, respeitando seus interesses e, ao mesmo tempo, dando-lhe a

oportunidade de tentar novas experiências que resultem em aprendizagem.

Aprendizagem é a aquisição de conhecimentos e habilidades usados na

solução dos problemas da vida. O aluno que desenvolve seus conhecimentos,

que questiona, que se integra socialmente, descobrirá respostas e participará

ativamente das soluções que modificarão e melhorarão o contexto social em

que vive.

A Psicopedagogia é uma área do conhecimento que se ocupa do sujeito

da aprendizagem, buscando compreender como ele se situa frente aos

processos de construção da aprendizagem e do conhecimento, através de uma

9

abordagem interdisciplinar. Seu objetivo é favorecer o desenvolvimento da

autonomia dos sujeitos frente aos desafios que lhes são postos durante esses

processos, buscando identificar os obstáculos que aprisionam a inteligência e

que se revelam através do fracasso escolar e das dificuldades de

aprendizagem. O trabalho de prevenção e tratamento dos problemas de

aprendizagem é fundamental. Porém, pressupõe uma determinada

competência técnica que, em geral, não faz parte da formação básica dos

professores da área de educação e da saúde.

É o caso da Psicopedagogia Institucional que acontece em

organizações, com exemplo a escola, e está mais voltada para a prevenção

dos insucessos interpessoais e de aprendizagem e à manutenção de um

ambiente harmonioso, se bem que muitas vezes, deve-se considerar a prática

terapêutica nas organizações como necessária. O psicopedagogo institucional

deve ser um profissional que tem conhecimentos multidisciplinares, pois em um

processo de avaliação diagnóstica, é necessário estabelecer e interpretar

dados em várias áreas, dentre elas: auditiva e visual, motora, intelectual,

cognitiva, acadêmica e emocional. O conhecimento dessas áreas fará com que

o profissional compreenda o quadro diagnóstico do educando e favorecerá a

escolha da metodologia mais adequada, ou seja, o processo corretor, com

vistas à superação das inadequações do educando.

Diante desses pressupostos, procurou-se analisar a psicopedagogia,

mais precisamente como o psicopedagogo pode intervir na dificuldade de

aprendizagem.

Assim, neste estudo, visa-se identificar a importância do psicopedagogo

institucional na prevenção da dificuldade no processo ensino e aprendizagem,

verificando: primeiro, os recursos utilizados por esse profissional na diminuição

da dificuldade no aprendizado escolar; segundo, o fazer psicopedagógico no

processo educativo.

10

A hipótese deste trabalho é de que o psicopedagogo pode contribuir na

intervenção dos obstáculos encontrados na aquisição do conhecimento.

Para responder tais questões, o presente trabalho apresenta-se dividido

em três capítulos, tendo a introdução, onde estão expostos os propósitos do

trabalho. No primeiro capítulo, encontra-se o referencial teórico. No segundo, a

análise da intervenção psicopedagógica na dificuldade de aprendizagem. No

terceiro, o fazer psicopedagógico no processo educativo. Por último, mostra-se

a conclusão.

11

Capítulo I

PSICOPEDAGOGIA

Neste capítulo, apresenta-se a fundamentação teórica para o estudo da

intervenção psicopedagógica na dificuldade de aprendizagem, sendo a mesma

utilizada como referencial na análise da intervenção.

Psicopedagogia é a área do conhecimento que estuda a aprendizagem

humana, objetivando facilitar o processo de aprendizagem não apenas no

ambiente escolar, mas em todos os âmbitos: cognitivo, afetivo, social e durante

toda a vida. A Psicopedagogia cuida do ser que aprende, pois deve evitar o

fracasso e facilitar os processos de aprendizagem, como explica BOSSA:

a Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana,

que adveio de uma demanda – o problema de

aprendizagem, colocado num território pouco explorado,

situado além dos limites da Psicologia e da própria

Pedagogia – e evoluiu devido à existência de recursos,

ainda que embrionários para atender essa demanda,

constituindo-se, assim, numa prática. (Bossa, 2007, p.24)

Dessa forma, a Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor

compreensão do processo de aprendizagem e se tornou uma área de estudo

específica que busca conhecimento em outros campos e cria seu próprio objeto

de estudo.

O objeto de estudo deste campo do conhecimento é a aprendizagem

humana e seus padrões evolutivos normais e patológicos.

Para SCOZ apud BOSSA (2007,p.22), a Psicopedagogia estuda o

processo de aprendizagem e suas dificuldades e em uma ação profissional

12

deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-

os.

Conforme exposto acima, é necessário comentar que a Psicopedogogia

é comumente conhecida como aquela que atende crianças com dificuldades de

aprendizagem. É notório o fato de que as dificuldades, distúrbios, ou patologias

podem aparecer em qualquer momento da vida, e portanto, a Psicopedagogia

não faz distinção de idade ou sexo para o atendimento.

O trabalho psicopedagógico pode ser classificado em dois níveis, ou

seja, clínico e preventivo. De acordo com BOSSA:

o trabalho clínico se dá na relação entre o sujeito com

sua história pessoal e sua modalidade de aprendizagem,

buscando compreender a mensagem de outro sujeito,

implícita no não-aprender e no trabalho preventivo, a

instituição, enquanto espaço físico e psíquico da

aprendizagem, é objeto de estudo da psicopedagogia,

uma vez que são avaliados os processos didático-

metodológicos e a dinâmica institucional que interferem

no processo de aprendizagem. (Bossa, 2007, p.24)

Assim sendo, a distinção entre o trabalho clínico e o preventivo é

fundamental. O primeiro, visa buscar os obstáculos e as causas para a

dificuldade de aprendizagem já instalada; e o segundo, estudar as condições

evolutivas da aprendizagem apontando caminhos para um aprender mais

eficiente.

No campo de atuação, a Psicopedagogia está se ampliando, pois o que

inicialmente caracterizava-se somente no aspecto clínico, hoje pode ser

aplicado no segmento escolar, conhecida como Institucional, em segmentos

hospitalares, empresariais e em organizações que aconteçam a gestão de

pessoas, conforme a visão de BOSSA:

13

O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só

ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas também

e em especial ao espaço epistemológico que lhe cabe,

ou seja, ao lugar deste campo de atividade e ao modo de

abordar o seu objeto de estudo. (Bossa, 2007, p.32)

Assim sendo, a Psicopedagogia Clínica tem como missão, retirar as

pessoas da sua condição inadequada de aprendizagem, dotando-as de

sentimentos de auto-estima, fazendo-as perceber suas potencialidades,

recuperando desta forma, seus processos internos nos aspectos: cognitivo,

afetivo e emocional. Já na Psicopedagogia Institucional, considerando-se que o

objeto de estudo é a pessoa em desenvolvimento e as alterações de tais

processos, buscar-se-á desenvolver competências e habilidades no aluno para

que este seja capaz de focalizar as possibilidades do aprender.

Dentre os campos de atuação da Psicopedagogia, tornou-se como

objeto de estudo, a Psicopedagogia Institucional, que será exposta a seguir.

14

1.1 Psicopedagogia Institucional

A Psicopedagogia Institucional é uma área de atuação que permite aos

profissionais a análise do processo de aprendizagem do ponto de vista da

instituição que ensina, no que diz respeito a seu decurso normal ou com

dificuldades, conforme diz BOSSA:

a respeito da psicopedagogia institucional, vale dizer que

já existem experiências de atuação psicopedagógica em

empresas, hospitais, creches e organizações

assistenciais. Enquanto psicopedagogos institucionais,

conforme já dissemos, estamos dialogando com este

complexo que se manifesta como um sistema particular.

Podemos dizer que nosso sujeito é a instituição, com sua

complexa rede de relações. (Bossa, 2007, p.87)

Dessa forma, pode-se dizer que contribuir para o crescimento dos

processos da aprendizagem e auxiliar no que diz respeito a qualquer

dificuldade em relação ao rendimento escolar são atribuições do

psicopedagogo institucional. Ter conhecimento de como o aluno constrói seu

conhecimento, compreender as dimensões das relações com a escola, com os

professores, com o conteúdo e relacioná-los aos aspectos afetivos e cognitivos,

permite uma atuação mais segura e eficiente.

A atuação do psicopedagogo na instituição visa a fortalecer-lhe a

identidade, bem com buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao mesmo

tempo em que procura sintonizá-la com a realidade que está sendo vivenciada

no momento histórico atual, buscando adequar essa escola às reais demandas

da sociedade, como explica BOSSA:

15

o trabalho psicopedagógico, portanto, pelo visto, pode e

deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual

cumpre uma importante função social: a de socializar os

conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento

cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de

um projeto social mais amplo. A escola, afinal, é

responsável por grande parte da aprendizagem do ser

humano. (Bossa, 2007, p.88)

Para que isto aconteça, o psicopedagogo institucional estará mobilizado

na construção de um espaço concreto de ensino-aprendizagem, espaço este

orientado pela visão de processo, através do qual todos os participantes se

articulam e mobilizam na identificação dos pontos principais a serem

intensificados e hierarquizados, para que não haja ruptura da ação, e sim

continuidade crítica que impulsione a todos em direção ao saber que definem e

lutam por alcançar. De acordo com OLIVEIRA:

o Psicopedagogo Institucional faz sua intervenção

partindo da história da organização e características

próprias. [...] Nesta perspectiva, a contribuição da

Psicpedagogia é empenhar-se em levar a instituição à

vivencia que permita aos personagens desse cotidiano

dar-se conta da importância de seu trabalho, para a

manutenção da saúde e sobrevivência organizacional,

atuando diretamente nas relações de aprendizagem.

(Oliveira, 2008)

Considerando a escola responsável por parte significativa da formação

do ser humano, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar, que pode

ser chamada de psicopedagogia preventiva, cumpre a importante função de

socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo

e a construção de normas de condutas inseridas num mais amplo projeto

social, procurando afastar, contrabalançar a necessidade de repressão.

16

Assim, a escola, como mediadora no processo de socialização, vem a

ser produto da sociedade em que o indivíduo vive e participa. Nela, o professor

não apenas ensina, mas também aprende. Aprende conteúdos, aprende a

ensinar, a dialogar e liderar; aprende a ser cada vez mais um cidadão no

mundo. Agindo assim, a maioria das questões poderão ser tratadas de forma

preventiva, antes que se tornem verdadeiros problemas.

Para BOSSA (2007,p.24), o termo prevenção foi registrado como

referência à atitude profissional no sentido de adequar as condições de

aprendizagem de forma a evitar comprometimentos nesse processo. Partindo

da criteriosa análise dos fatores que podem promover, como dos que têm

possibilidade de comprometer o processo de aprendizagem, a Psicopedagogia

Institucional elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de

facilitar e/ou desobstruir tal processo, o que vem a ser sua função principal,

colaborando, assim, na preparação das gerações para viver plenamente a

complexidade característica da época.

Ao tomar como referencial os níveis de prevenção, propõe-se três níveis

de prevenção no trabalho psicopedagógico institucional,

no primeiro nível, o psicopedagogo atua nos processos

educativos com o objetivo de diminuir a freqüência dos

problemas de aprendizagem. [...] No segundo nível, o

objetivo é diminuir e tratar problemas de aprendizagem já

instalados.[...] No terceiro nível, o objetivo é eliminar os

transtornos já instalados, num procedimento clínico com

todas as implicações. (Oliveira apud Bossa, 2008, p.18)

Conforme a citação acima, deduz que no primeiro, propõe um trabalho

junto aos processos educativos visando evitar os possíveis problemas de

aprendizagem. No segundo, a proposta reside na elaboração de um

diagnóstico da realidade institucional, a partir daí se iniciaria a elaboração dos

planos de intervenção. No terceiro, o caráter preventivo estaria em prevenir o

17

aparecimento de outros problemas, decorrentes ou mesmo diferentes dos já

eliminados. Para isto, a proposta de intervenção deverá ser a de propor

alternativas para minimizar as decorrências dos problemas, além de atuar para

prevenir o surgimento de outras conseqüências.

Na escola, a psicopedagogia tem âmbito na prevenção das dificuldades

de aprendizagem. Esse tema será relatado no capítulo a seguir.

18

1.2 Dificuldade de aprendizagem

Partindo do princípio de que o ser global está perante um movimento de

aprendizagem, deve-se considerar que o desenvolvimento deste ser se dá

harmoniosamente e equilibradamente nas diferentes condições orgânica,

emocional, cognitiva e social. A dificuldade de aprendizagem pode surgir

quando um ou mais aspectos citados encontram-se alterados e tendem a

agravar-se na mediada em que não são diagnosticados precocemente,

conforme diz BARBOSA em seu artigo:

quando falamos sobre dificuldades de aprendizagem,

estamos falando, principalmente, do de aprender.

Aprender é uma ação que supõe dificuldade; quando não

se sabe, sendo o não-saber condição necessária para

aprender, é esperado que as dificuldades apareçam.

Temos, portanto dificuldades que nos desequilibram e na

busca do equilíbrio, aprendemos. (Barbosa, 2008)

Uma criança que, em seu processo encontra dificuldades em ¨crescer¨,

em lidar com as novas propostas pode estar transformando suas má-relações

familiares para o espaço escolar. É importante que o professor tenha

consciência de que a criança traz consigo a bagagem natural, cultural e

também traz todas as referências afetivas. No aspecto social, destacam-se o

ambiente, a quantidade e a qualidade de estímulos recebidos e o valor dado à

aprendizagem pela família e/ ou meio social comunitário, como diz SCOZ &

KIQUEL apud OLIVEIRA:

19

é importante ressaltar a psicopedagogia como

complemento, que é a ciência nova que estuda o

processo de aprendizagem e dificuldades, muito tem

contribuído para explicar a causa das dificuldades de

aprendizagem, pois tem como objetivo central de estudo

o processo humano do conhecimento: seus padrões

evolutivos normais e patologias bem como a influência

(família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento.

(Scoz & Kiquel apud Oliveira, 2008)

Dessa forma, a atuação da Psicopedagogia tem como base o pensar, a

forma como a criança pensa e não propriamente o que aprende. Ter um olhar

psicopedagógico de um processo de aprendizagem é buscar compreender

como eles utilizam os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para

aprender. È também buscar compreender a relação do aluno com o

conhecimento, a qual é permeada pela figura do professor e pela escola.

Assim, a Psicopedagogia preocupa-se como a criança aprende.

Nesse sentido, SCOZ coloca que:

[...] os problemas de aprendizagem não são restringíveis

nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análise das

conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de

um enfoque multidimensional, que amalgame fatores

orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos,

percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto

a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem

devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela

transformação da sociedade. (Scoz, 2007, p.22)

20

Assim, a ação psicopedagógica consiste numa leitura e releitura do

processo de aprendizagem, bem como da aplicabilidade de conceitos teóricos

que lhe dêem novos contornos e significados, gerando práticas mais

consistentes, que respeitem a singularidade de cada um e consigam lidar com

resistências. A ação desse profissional jamais pode ser isolada, mas integrada

à ação da equipe escolar, buscando, em conjunto, vivenciar a escola, não só

como espaço de aprendizagem de conteúdos educacionais, mas de convívio,

de cultura, de valores, de pesquisa e experimentação, que possibilitem a

flexibilização de atividades docentes e discentes, como diz BOSSA:

na escola, o psicopedagogo institucional vai atuar junto

aos professores e outros profissionais para melhoria das

condições do processo ensino-aprendizagem, bem como

para prevenção dos problemas de aprendizagem. Por

isso, é importante que a escola tenha um psicopedagogo

institucional.(Bossa, 2000, p.12)

Quando é preciso fazer um diagnóstico de dificuldade de aprendizagem

devem-se levar em considerações alguns fatores. Para tanto, PAIN apud

POPPE (2008,p.6-9), indica como essencial à observação dos seguintes

fatores: fatores orgânicos, fatores específicos, fatores psicogênicos e fatores

ambientais. Diante da ótica desses elementos, percebe-se a necessidade de

considerá-los no sentido de minimizar nas possíveis dificuldades de

aprendizagem. Isto se justifica em função da multicausalidade dos fatores e

dos objetivos que devem contemplar, os programas de prevenção, em função

das necessidades pessoais ou dos grupos. Assim, os trabalhos preventivos

deverão considerar objetivos múltiplos, dentre eles os de: evitar o aparecimento

de problemas; evitar que os problemas já existentes se agravem, reduzir a

gravidade de novos problemas ou mesmo, retardar o desenvolvimento do

problema.

21

Com isto, pode-se observar que o nível de maior abrangência para o

desenvolvimento das ações psicopedagógicas preventivas é o que vai atuar

junto aos processos educativos no sentido de evitar ou diminuir os problemas

de aprendizagem. Sendo este, o assunto a ser discutido no capítulo 2 dessa

pesquisa.

22

Capítulo II

ANÁLISE DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DIANTE DA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

A intervenção psicopedagógica toma como referencial a ação curricular

e os aspectos afetivos-cognitivos dos aprendizes. No que se refere à questão

curricular, se torna evidente a necessidade do desenvolvimento de práticas que

sensibilizem os docentes sobre a importância da reflexão crítica e possível

revisão de concepções de educação, organização e seleção dos conteúdos de

ensino, metodologia e avaliação. Aliado a isto se destaca a importância de se

considerar a existência de vínculos afetivo-emocionais, como possíveis

elementos facilitadores do processo de ensino e aprendizagem, como diz

SISTO:

[...] hoje em dia são denominadas intervenções

psicopedagógicas: 1. estratégias que visam à

recuperação, por parte das crianças, de conteúdos

escolares avaliados com deficitários; 2. procedimentos de

orientação de estudos(organização, disciplina, etc.); 3.

atividades com brincadeiras, jogos de regras e

dramatizações realizadas na escola ou fora dela, com o

objetivo de promover a plena expressão dos afetos e o

desenvolvimento da personalidade de crianças com e

sem dificuldades de aprendizagem; 4. atendimentos em

consultórios de crianças com dificuldades de

aprendizagem na escola (encaminhamentos feitos pela

própria escola) e 5. pesquisa de instrumentos que podem

ser utilizados para auxiliar o processo de aprendizagem

de crianças, bem como o seu desenvolvimento, no que

se refere à inteligência e afetividade. (Sisto, 2008, p.123)

23

Assim, devem-se ampliar essas idéias e enfatizar concretamente a

elaboração de ações para o desenvolvimento de propostas de intervenção em

nível preventivo, com o objetivo de aprimorar o processo de construção do

conhecimento.

Para isto, a proposta de intervenção deverá ser a de propor alternativas

para minimizar as decorrências dos problemas, alem de atuar para prevenir o

surgimento de outras conseqüências.

PAIN (1985) em seu livro “Diagnóstico e tratamento dos problemas de

aprendizagem” discute sobre intervenção juntamente com o do diagnóstico.

Quanto ao tratamento, devem-se considerar alguns aspectos mais importantes:

1. É sintomático. 2. É situacional. 3. É operativo. No primeiro, diz que a criança

não consegue incorporar os objetos de conhecimento. No segundo, está

fundamentado no que acontece na sessão, contudo o destaque não é na

transferência. No terceiro, a relação é feita em torno de uma tarefa prática e

concreta. Os objetivos do tratamento (p.80) são: a desaparição do sintoma e a

possibilidade para o sujeito de aprender normalmente ou, ao menos, no nível

mais alto que suas condições orgânicas, constitucionais e pessoais lhe

permitam. Junto com essa intervenção, a autora propõe algumas técnicas que

assegurariam o seu desempenho (p.83-87): 1. organização prévia da tarefa; 2.

graduação;3. auto-avaliação; 4. historicidade; 5. informação; 6. indicação.

De acordo com a autora, o atendimento psicopedagógico é realizado de

forma a identificar os obstáculos que impedem os educandos de crescerem na

aprendizagem segundo a modalidade de aprendizagem de cada um. O

diagnóstico permite ao psicopedagogo conhecer a interação entre o cognitivo e

o afetivo de onde resulta o funcionamento do sujeito, investigando, levantando

hipóteses, recorrendo para tal, a conhecimentos práticos e teóricos. Busca

identificar a modalidade aprendizagem de cada criança, realizando

intervenções que a leve a descobrir que é capaz de aprender e recupere sua

auto-estima.

24

Cabe ao psicopedagogo, estabelecer um vínculo positivo com o

aprendiz, a fim de proporcionar o resgate do prazer de aprender. É um trabalho

terapêutico centrado na aprendizagem, mas levando em consideração o

indivíduo como um todo, seu meio e suas relações. O psicopedagogo elabora

diagnósticos e realiza intervenções durante o trabalho com foco na

aprendizagem, porém sem perder de vista o ser humano com sua

individualidade, capacidade e ambiente no qual está inserido, ou seja, um olhar

amplo, imparcial e sem preconceito, uma escuta atenta que vai além das

evidências, como explica BENZONI em seu artigo:

sempre que vamos fazer um diagnóstico temos que nos

propor a conhecer a pessoa por inteiro, temos que verificar

com ela aprende e não verificar o que ela já sabe ou aquilo

que ela não sabe; isto a escola, ou a família já sabe, nós

temos que questionar o como e não só o que ela

aprende.(Benzoni, 2008)

Ao abordar a importância da prevenção e da intervenção

psicopedagógica, não se pode ignorar a fase que precede a essas ações. A

etapa de avaliar, ou seja, a avaliação psicopedagógica que deverá anteceder a

toda e qualquer proposta de intervenção, seja ela clínica ou institucional. A

avaliação psicopedagógica é iniciada a partir da primeira entrevista com os

pais, quando é conhecido o motivo da consulta, o desenvolvimento da criança

e o histórico familiar. O trabalho psicopedagógico também é realizado junto aos

pais e à escola. O suporte dirigido à família é recomendado, pois pode haver

um desgaste entre os membros. O problema deve ser visto como familiar e não

apenas de um indivíduo. Quanto à escola, o psicopedagogo atua junto aos

coordenadores e professores com o objetivo de levantar dados na rotina

escolar do aluno.

Assim, diante das diversas possibilidades de intervenção

psicopedagógica, pode-se constatar que os recursos mais utilizados para a

25

avaliação têm sido as entrevistas, as observações, as pesquisas, as dinâmicas

grupais, os jogos pedagógicos e todo tipo de recursos que facilitem o

desenvolvimento da capacidade de aprender com autonomia e prazer.

Propiciar um espaço de confiança, criatividade onde possa dar um sentido

criativo e lúdico ao trabalho. Contudo, a importância da ação psicopedagógica

preventiva deverá sempre considerar a subjetividade do aluno, bem como as

particularidades de cada situação, além da complexidade dos fatores que a

permeiam.

O diagnóstico psicopedagógico atinge plenamente seus objetivos

quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de

aprendizagem daquele aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos

para atender as necessidades de aprendizagem, como dizem ANDERIE,

SOUZA e VEIT no artigo:

um diagnóstico psicopedagógico pode diferenciar-se de

outros diagnósticos escolares de maneira pela qual

fundamentamos nossa prática. Esta prática engloba o

professor, o aluno, e o conhecimento contextualizado na

escola, especificamente na sala de aula, lugar onde se

constatam e se priorizam as aprendizagens sistemáticas

tendo como pano de fundo a instituição escolar. (Anderie,

Souza e Veit, 2008)

Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma, podendo se tornar

uma ferramenta poderosa no projeto terapêutico.

Assim, o professor deixa de ser aquele que transmite conhecimento e

vive o fazer psicopedagógico como espaço para estimulação da aprendizagem.

E, é no desdobramento desta nova condição do professor, que o diagnóstico

psicopedagógico pode adquirir um novo recorte, ampliando sua função, que

não se fixa mais no aluno. Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção

26

junto ao professor, num projeto de parceria, possibilita uma aprendizagem

muito importante e enriquecedora.

Paralelamente ao trabalho de orientação, a intervenção psicopedagógica

também se propõe a incluir os pais no processo, através de reuniões,

possibilitando o acompanhamento junto aos professores. Assegurada uma

nova compreensão, os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho.

Abandonando o papel de espectadores, assumiram a posição de parceiros,

participando, opinando e cobrando. Incorporados ao trabalho de equipe, eles

também têm função e responsabilidades bem definidas.

Quanto à escola, que é parceira no processo de aprendizagem, precisa

analisar a dificuldade de aprender que inclui necessariamente o projeto

pedagógico da escola, nas suas propostas de ensino, no que é valorizado

como aprendizagem. A ampliação dessa leitura através do aluno permite ao

psicopedagogo abrir espaços para que se disponibilizem recursos que façam

frente aos desafios, isto é, na direção da efetivação da aprendizagem.

BASSEDAS dentro de uma perspectiva psicopedagógica coloca que:

[...] o trabalho com as famílias pode ser considerado

fundamental e indispensável para modificar as atitudes de

alguns alunos, mas, mesmo assim, esse trabalho somente

se constituirá em uma das partes do diagnóstico, já que ele

estará centralizado, principalmente, no conhecimento e na

modificação da situação escolar. [...] o papel solicitado ao

professor na situação de ensino-aprendizagem é o de uma

atuação constante, com intervenções para todo o grupo de

aula e para cada um dos alunos em particular, visando a

observação sistemática do processo de cada aluno durante

a aprendizagem, para poder intervir no mesmo com uma

ajuda educativa adequada. (Bassedas, 1996, p.25-30)

27

O que se ver em muitas escolas é a dificuldade de aprendizagem sendo

vista como um distúrbio, um fenômeno de causa única. O aluno que apresenta

um ritmo mais lento para aprender ou que aprende de forma diferente dos

demais é logo colocado de lado. Os alunos devem ser encorajados a adquirir

conceitos científicos através das atividades propostas pela escola e assim

modificar sua relação cognitiva, ou seja, aprender. Esses alunos que

apresentam ritmos diferentes e comportamentos tidos como problemas no

aprendizado escolar, fazem parte do grupo da escola e não devem ser

estigmatizados e muito menos isolados.

Trata-se de olhar para esse aluno muito mais para identificar suas

capacidades potenciais, do que classificá-lo dentro de algum distúrbio ou

doença. O papel do educador é o de fazer intervenções a fim de possibilitar

que esse educando aprenda. Cabe ao educador olhar o processo educativo

como um todo em oposição à rotulação do aluno; dar aos pais incentivo e

passar a confiança aos mesmos de que a escola desenvolve um bom trabalho

com seus filhos, afinal é papel da escola lidar com a formação do

conhecimento. Cabe a escola, a família e o professor, ampliar a visão sobre

dificuldades de aprendizagem, aprimorando sua competência e atuação.

Para desenvolver o projeto terapêutico, o psicopedagogo deve recorrer

às práticas psicopedagógicas, ou seja, “o fazer psicopedagógico”, o qual será

discutido no capítulo 3 dessa pesquisa.

28

Capítulo III O FAZER PSICOPEDAGÓGICO NO PROCESSO

EDUCATIVO

A Psicopedagogia, como área de estudo e atuação que se preocupa

com o processo de aprendizagem e os transtornos que podem aparecer neste

processo, não só pode, como deve se apropriar de tais conhecimentos, tendo

em vista que sua ação estará ligada tanto à prevenção quanto ao tratamento

de dificuldades de aprendizagem. Dessa forma, ela trabalha e estuda a

aprendizagem, o sujeito que aprende, aquilo que ele está apontando como a

escola em seu conteúdo sociocultural. É uma área das Ciências Humanas que

se dedica ao estudo dos processos de aprendizagem. Pode-se afirmar que a

Psicopedagogia é um espaço transdisciplinar, pois se constitui a partir de uma

nova compreensão acerca da complexidade dos processos de aprendizagem

e, dentro desta perspectiva, das suas deficiências.

Surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de

aprendizagem, comprometida com a transformação da realidade escolar, na

medida em que possibilita, mediante exercício, análise e ação reflexivas,

superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas

necessárias à leitura do mundo e atuação coerente com a evolução e

progresso da humanidade, colaborando, assim, para transformar a escola

extemporânea, que não está conseguindo acompanhar o aluno que chega a

ela, em escola contemporânea, capaz de lidar com os padrões que os alunos

trazem e de se contrapor à cultura de massas predominante, dialogando com

essa cultura.

Educação e Psicologia, como também Psicanálise, Lingüística e

Filosofia, dentre outras, se unem para participar na solução de problemas que

possam surgir no contexto educativo; todas passam a levar em conta esse

contexto, os fins da educação e a problemática dos meios para realizá-la,

elevando o aluno à categoria de sujeito do conhecimento, envolvendo na

29

solução as estratégias pedagógicas adequadas, considerando liderança,

diálogo, visão, pensamento e ação como pilares de sustentação de uma

organização dinâmica, situada, responsável e humana, como explica BOSSA:

as reflexões acerca do fazer psicopedagógico nos

remetem aos fatores sociais que determinam a

necessidade de produzir conhecimento no campo da

intervenção psicopedagógica. (Bossa, 2007, p.121)

Dessa forma, a práxis psicopedagógica é entendida como o

conhecimento dos processos de aprendizagem nos seus aspectos cognitivos,

emocionais e corporais. Pressupõe também a atuação tanto no processo

formal do aprendizado como na percepção de dificuldades e na interferência no

planejamento das instituições e no trabalho de re-educação. Podem ser muitas

as razões que determinam o sucesso ou o fracasso escolar de uma criança,

como: fatores fisiológicos, fatores psicológicos, mais precisamente de

mobilização, condições pedagógicas e principalmente o meio sócio-cultural em

que vive a criança.

A Psicopedagogia vem atuando com muito sucesso nas diversas

instituições.

Seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervém ou

prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e ajuda o

desenvolvimento dos projetos favoráveis a mudanças.

A aprendizagem deve ser olhada como a atividade de indivíduos ou

grupos humanos, que mediante a incorporação de informações e o

desenvolvimento de experiências, promovem modificações estáveis na

personalidade e na dinâmica grupal as quais revertem no manejo instrumental

da realidade.

30

A aprendizagem não só objetiva a criança ou adolescente, mas o adulto

e profissionais na integração e reintegração grupal.

O trabalho do psicopedagogo se dá numa situação de relação entre

pessoas. Não é uma relação qualquer, mas um encontro entre educador e

educando, em que o psicopedagogo precisa assumir sua função de educador,

numa postura que se traduz em interesse pessoal e humano, que permite o

desabrochar das energias criadoras, trazendo de dentro do educando

capacidades e possibilidades muitas vezes desconhecidas dele mesmo e

incentivando-o a procurar seu próprio caminho e a caminhar com seus próprios

pés. O objetivo do psicopedagogo é o de conduzir a criança ou adolescente, o

adulto ou a instituição a reinserir-se, reciclar-se numa escolaridade normal e

saudável, de acordo com as possibilidades e interesses dela, conforme diz

COLL apud BOSSA sobre a questão da intervenção psicopedagógica a partir

de diferentes perspectivas:

alguns autores descrevem práticas psicopedagógicas

que se centram no processo de ensino-aprendizagem;

outros, na intervenção dos aspectos prejudicados e

preservados do processo de aprendizagem, com

modelos de intervenção dirigidos tanto ao sujeito

individual como ao grupo. (Coll apud Bossa, 2007, p.121)

Assim sendo, o trabalho psicopedagógico busca resgatar o processo de

ensino da aprendizagem, bloqueado ou perdido, através do tempo, por

diversos fatores, sejam eles orgânico ou emocional.

Dessa forma, na atuação institucional, junto com educadores, o

psicopedagogo, através de discussões e atividades lúdicas, contribui para o

esclarecimento das dificuldades escolares, que podem ser decorrentes da

organização administrativas do sistema escolar e familiar, das relações

truncadas entre professor e aluno, das exigências pedagógicas inadequadas,

31

das expectativas familiares, das formas de circulação do conhecimento do

professor e da família e das modalidades de aprendizagem.

É um trabalho de assessoria a pedagogos, orientadores, professores,

gestores, profissionais que têm o objetivo trabalhar as questões pertinentes às

relações vinculares entre sujeito em situação de aprendizagem e a construção

desse processo, considerando os diferentes níveis de implicações que

decorrem da interação permanente do educando com o meio que o cerca, mais

especificamente, com figuras significativas que se fazem mediadores dessa

relação sujeito e aprendizagem.

È fundamental também que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o

que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os

problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de

aprendizagem e no processo escolar.

Nesse sentido, a Psicopedagogia Institucional considera-se um modelo

teórico-prático que permite um questionamento, um diagnóstico e uma

elaboração de recursos para a solução de problemas em situações de

carência, conflito, crise em instituições educacionais, como explica COLL apud

BOSSA:

os âmbitos da intervenção são múltiplos e diversos; temos

modelos de intervenção no sistema educativo (desde a

aula até a instituição), em clinicas, hospitais, centros de

saúde, organizações empresariais, centros comunitários.

Quanto às estratégias de intervenção, nas práticas

psicopedagógicas verifica-se amplo espectro de técnicas:

entrevistas, trabalho interdisciplinar, grupos terapêuticos,

técnicas de recolocação de informação diagnóstica,

estratégias terapêuticas, entre outras.(Coll apud Bossa,

2007,p.121-122)

32

Dessa forma, visa estabelecer um delineamento teórico-conceitual para

o embasamento de ações concretas de diagnóstico e intervenção

psicopedagógicas, a fim de direcionar o trabalho com grupos, no contexto

organizacional de escolas, espaços em que o processo de aprendizagem se

desenvolve em atendimento a públicos diferenciados, independente de

segmentos de ensino, faixa etária ou objetivos educacionais.

A prática psicopedagógica tem contribuído para a flexibilização da

atuação docente na medida em que coloca questões que estimulam a reflexão

e a confrontação com temáticas ainda insuficientemente discutidas, de manejo

delicado, que, na maioria das vezes, podem produzir conflito. Isto se deve, em

geral, ao quadro de comprometimento do aluno e da instituição, que apresenta

dificuldades múltiplas, envolvendo as competências cognitivas, emocionais,

atitudinais, relacionais e comunicativas almejadas e necessárias à sociedade.

Em decorrência, ações especificas, integradas e complementares de diferentes

profissionais devem compor um projeto de escola coerente e impulsionador de

valores e relações humanas vividos no ambiente escolar. Projeto que envolva o

recurso humano: professores, alunos, comunidade para, através dele,

transformar não só a cultura que se vive na escola, mas na sociedade.

Durante todo o processo educativo, a atuação do psicopedagogo

procura investir numa concepção de ensino-aprendizagem que: fomente

interações interpessoais; estimule a postura transformadora de toda a

comunicade educativa para, de fato, inovar a prática escolar; contextualizando-

a; reforce a parceria entre escola e família; atue junto ao corpo docente para

que se conscientize de sua posição de “eterno aprendiz”, de sua importância e

envolvimento no processo de aprendizagem, com ênfase na avaliação do

aluno, evitando mecanismos menores de seleção, que dirigem apenas ao

vestibular e não à vida.

33

Todo o diagnóstico psicopedagógico é, em si uma investigação, do que

não vai bem com o sujeito em relação a sua conduta esperada. Esta

investigação parte de uma queixa, que pode ser da escola ou da família.

O atendimento psicopedagógico consiste, primeiramente, em uma

avaliação global do aluno ( através da utilização de instrumentos específicos

para avaliar a matemática, a linguagem, o raciocínio lógico, a psicomotricidade,

etc. ). Ao finalizar o diagnóstico, após em trono de cinco sessões, faz-se a

devolução para a família, com objetivo de encaminhar o aluno para o

atendimento que necessita, podendo iniciar a intervenção psicopedagógica

semanalmente ou ser encaminhado para atendimento em outra área, conforme

a sua necessidade.

O psicopedagogo poderá, também, auxiliar o professor a investir numa

prática pedagógica que seja respaldada na visão psicopedagógica de educar.

Para cumprir com o papel de mediador na aquisição do conhecimento,

apresentando o elenco de informações de forma adequada ao grau de

compreensão que seu aluno é capaz, estruturalmente, de ter, o professor

precisa agir “psicopedagogicamente”.

Observar, educar o seu olhar na perspectiva do outro, adotar a escuta

como meio de conhecer mais o seu aluno, refletir sobre a sua “práxis”, buscar

nas pesquisas e em outros profissionais a resposta para suas questões,

resgatar o seu aluno, conduzindo-o ao prazer de conhecer e aprender – são

ações que poderão ser implementadas pelos professores.

Na interação com o aluno, o professor poderá observar se há alguma

alteração visual, auditiva, motora que modificariam a forma de perceber as

coisas. Através de uma relação dialógica, é possível entender como se

estrutura o pensamento do sujeito que está aprendendo ou não, bem como

quais as suas habilidades, interesses, valores e vínculos; que medos, conflitos,

34

defesas, ansiedade está vivenciando; como se relaciona com o saber anterior e

o novo e qual o seu modelo de aprendizagem, seu método. O significado, a

razão de aprender para ele e para a sua família, como cada um valoriza a

escola e que expectativas têm em relação ao trabalho desenvolvido na

instituição, também são dados que o professor poderia obter para organizar

seu trabalho visando a favorecer a aprendizagem.

Leituras e debates entre professores e profissionais da área da saúde

poderão ser oportunidades importantes para que o professor conheça mais

como acontece e como poderá contribuir para o desenvolvimento cognitivo e

afetivo de seus alunos.

Neste sentido, o material didático adotado, após criteriosa análise, deve

ser utilizado como orientador do trabalho do professor e nunca como o único

recurso de sua atuação docente.

35

CONCLUSÃO

Entendendo a linguagem como produto das relações sociais, a sua

aquisição só pode se dar por meio da mediação daqueles que já se

apropriaram desse conhecimento. Para isso, é preciso fazer o levantamento

dos conhecimentos que os alunos têm sobre o mundo em que vivem e, a partir

daí, problematizá-los, de forma que aquilo que eles já sabem seja o ponto de

partida para as discussões e reflexões em sala de aula. Mas não basta

trabalhar apenas o que eles já sabem; é necessário fazer as intervenções no

momento adequado, a fim de que ampliem tal conhecimento. É preciso

compreender como os alunos aprendem, aproximando-se dos conhecimentos

que eles têm, para poder ajudá-los a se aproximarem dos objetivos propostos.

Dar condições para que isso aconteça é a função do professor e o

objetivo principal da escola. A esta cabe proporcionar ao aluno o

desenvolvimento das capacidades de observação, reflexão, discriminação,

julgamento, decisão, criação, comunicação e cooperação. Quanto mais ricas e

variadas forem as experiências vividas pela criança na escola, maior será sua

aprendizagem. O professor tem papel relevante nesse processo e precisa ter

consciência disso. Por isso, deve conhecer as aptidões e deficiências da cada

aluno e estar atento para aproveitar os momentos favoráveis para

aprendizagem.

A Psicopedagogia Institucional pode auxiliar no processo educativo. Ela

atua no campo dos processos de aprendizagem e das dificuldades decorrentes

deste processo. Ela não está ligada somente a Psicologia e a Pedagogia, tendo

em vista que a mesma é uma especialidade multidisciplinar que integra

diversos conhecimentos nas áreas que envolvem a aprendizagem, objetivando

pesquisar e resolver os seus problemas. Ainda deve-se ressaltar que uma das

36

áreas do conhecimento não seria suficiente para abranger a amplitude de um

processo de aprendizagem, pois cada pessoa tem suas particularidades

quando o assunto é aprender.

Pode-se considerar que o impedimento para aprender não está

associado somente aos fatores orgânicos. O estado emocional determina e

permeia todo tipo de relação, sendo esta uma proposta educacional formal ou

não. O processo de construção do conhecimento se dá em base sólida de

acordo com a afetividade que se tem perante o objeto de estudo e o

desconhecido, pressupondo-se que todo desconhecido é novo e o novo tem

que associar-se ao já aprendido, modificando-o e aumentando-o.

Dessa forma, o acompanhamento psicopedagógico na escola tem como

objetivo abordar o processo da aprendizagem, como esse se desenvolve e de

que forma o indivíduo se relaciona com o aprender; nos aspectos cognitivos,

emocionais e sociais. Quando são identificadas dificuldades neste processo, o

psicopedagogo busca as origens, os possíveis distúrbios; as habilidades e as

limitações do ser que aprende.

Neste caso, a intervenção psicopedagógica é preventiva, ou seja, deve-

se considerar a subjetividade do aluno, bem como as particularidades de cada

situação, alem das complexidades dos fatores que a permeiam. Dessa forma,

as propostas de intervenção, de modo geral, se iniciam a partir de entrevistas

com os pais, com a escola e com o aluno. Com os pais, buscando conhecer a

historia da vida da criança e suas relações. Com a escola, obtendo

informações sobre a estrutura escolar. Com o aluno, tendo o objetivo de

levantar suposições sobre o dia-a-dia do educando.

Há necessidade de não apenas conhecer a ação psicopedagógica, mas

orientá-la, integrando o trabalho de acompanhamento de procedimentos

didáticos à resolução de problemas de adaptação escolar, que podem ser

caracterizados como aqueles que surgem da relação, da interação entre as

37

pessoas e entre elas e o meio, surgindo em função de desarmonias entre o

sujeito e as circunstâncias do ambiente. Essas desarmonias requerem

encaminhamentos específicos que podem extrapolar o espaço escolar.

Portanto, o psicopedagogo, utilizando a situação especifica de

incorporação de novas dinâmicas em sala de aula, contemplando a

interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da escola, estimula o

desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a

utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes

concepções a respeito desse processo. Ele procura envolver a equipe escolar,

ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de

produção do conhecimento.

38

BIBLIOGRAFIA

ANDERIE, Salete Santos; SOUZA, Dorotéia Murcia; VEIT, Maria C. Aspectos básicos do diagnóstico psicopedagógico na escola. www.psicopedagogia.com.br. 1-7 p., acessado em 17 dezembro 2008. BARBOSA, Laura Monte Serrat. Reflexões sobre as dificuldades de aprendizagem no mundo contemporâneo. www.abpp.com.br. 1-4 p., acessado em 17 dezembro 2008. BASSEDAS, Eulália. Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 1996. BENZONI, Selma Aparecida Geraldo. Reflexões sobre o diagnóstico psicopedagógico. www.abpp.com.br. 1-5 p., acessado em 17 dezembro 2008. BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. ___________. Dificuldades de aprendizagem: o que são? Como tratá-las?. Porto Alegre: Artmed, 2000. OLIVEIRA, Eliane Ferreira de. O psicopedagogo na instituição: sua atuação otimizando o espaço organizacional por meio de novos pensamentos. www. psicopedagogia.com.br. 1-3 p., acessado em 15 dezembro 2008. OLIVEIRA, Silvia Suely Sillos de. A importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem. www.abpp.com.br. 1-8 p., acessado em 17 dezembro 2008. PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1985. PEREIRA, Mary Sue Carvalho. Teorias e intervenções psicopedagógicas. Mód. I. psicopedagogia: funções e espaços de atuação. 2008. 24 f. Universidade Candido Mendes. A vez do mestre, Manaus, 2008. POPPE, Maria da Conceição Maggioni. Psicologia do desenvolvimento e dificuldades de apendizagem. Mód. VI. Introdução ao fracasso escolar. 21 f. Universidade Candido Mendes. A vez do mestre, Manaus, 2008. SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. 14.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. SISTO... [et al.]. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. 11.ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 2008.