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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A CIÊNCIA E O DIREITO AMBIENTAL: A NECESSIDADE DE AMBOS TRABALHAREM JUNTOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Cláudia Lucas Corrêa de Melo Orientador Prof. Francisco Carrera Rio de Janeiro 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CIÊNCIA E O DIREITO AMBIENTAL:

A NECESSIDADE DE AMBOS TRABALHAREM JUNTOS

PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Cláudia Lucas Corrêa de Melo

Orientador

Prof. Francisco Carrera

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CIÊNCIA E O DIREITO AMBIENTAL:

A NECESSIDADE DE AMBOS TRABALHAREM JUNTOS

PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito Ambiental.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me guia nas minhas decisões, que

me indica o caminho que eu devo seguir e me abençoa com mais do que

aquilo que eu peço e muito mais do que aquilo que eu sonho.

Obrigada aos meus pais e irmão, que sempre investiram as minhas

ideias e me permitiram trilhar o caminho que eu me propus.

Obrigada a todos os profissionais que responderam o questionário

desse estudo. Todos os pesquisadores e funcionários de órgãos ambientais

que me dedicaram parte do seu tempo, que me receberam em seus empregos

para me auxiliar, e apostaram no meu trabalho divulgado o questionário para

seus colegas de serviço. Obrigada àqueles que me enviaram comentários

construtivos e àqueles que fizeram questão de ler esse trabalho depois de

terminado.

Às minhas amigas mais fiéis, presentes mesmo quando distantes: Érika

Costa, Roberta Cardozo e Ana Cristina Matos.

Obrigada aos meninos(as) da casa de dança Carlinhos de Jesus, pois

receber o carinho de vocês faz a vida parecer mais fácil de ser vivida.

E por fim... obrigada ao meu amigo e mestre Ricardo Kubrusly, por ter

acreditado em mim de tal forma que me fez superar todas as minhas barreiras,

me encorajando a desenvolver um tema que viesse inteiramente da minha

própria reflexão e me fazendo descobrir uma forma inteiramente nova de

ciência e pensamento. Dedico essa monografia a esse poeta matemático,

porque ele apostou em mim quando eu tinha apenas uma folha em branco.

Muitíssimo obrigada !!!

Cláudia Lucas

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A inspiração pode ter diversas formas.

A minha tem exatamente 1,70 m de altura

e se chama Ricardo Silva Kubrusly.

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RESUMO

Muitos setores estão envolvidos no direito ambiental, pois este envolve

desde a criação da legislação e das políticas ambientais até sua execução e

fiscalização, somada ao papel imprescindível da ciência e da sociedade.

O conjunto de normas jurídicas, além de impor direitos e deveres,

descreve as diretrizes para a gestão ambiental brasileira, o que significa decidir

em nível nacional como as atividades econômicas e sociais devem atuar para

que o uso dos recursos naturais seja racional. Esse sistema objetiva que o

crescimento econômico seja ecologicamente equilibrado, de forma a garantir

que as futuras gerações também tenham acesso aos recursos naturais que

utilizamos hoje, o que chamamos de “desenvolvimento sustentável”.

A legislação brasileira é bastante completa e bem elaborada, o

problema é que não é colocada em prática. Muitas decisões importantes a

cerca das políticas ambientas têm sido pautadas em reuniões de comitês, cuja

participação voluntária dos diversos setores é muito escassa, de modo que o

sistema atual de gestão participativa não tem dado conta de ordenar o

crescimento econômico de forma sustentável.

Os órgãos ambientais precisam de informações técnicas-científicas

como subsídio para diversas tarefas, como por exemplo, para analisar pedidos

de licenciamento ambiental, e essas informações científicas nem sempre estão

disponíveis ou de fácil acesso ao órgão. Por outro lado, as ciências também

carecem de serem aplicadas onde foram produzidas, pois muitas tecnologias

que surgiram de pesquisas não são levadas para o setor produtivo, nem são

regularizadas via aplicação legislativa.

As ciências por sua vez têm gerado informações sobre diversas áreas

da natureza e seus fenômenos, mas muitos estudos biológicos, por exemplo,

ficam obsoletos pelo simples fato das populações de espécies estarem sendo

extintas. Se a ciência quiser contribuir para um planeta equilibrado será preciso

“reinventar” a nossa própria compreensão do que significava “produzir ciência”.

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Como o país não possui um corpo de cientistas com dedicação

exclusiva para a gestão ambiental, acaba que os pesquisadores, que deveriam

ser o corpo principal dos comitês na área ambiental, ficam aquém da tomada

de decisão e do processo legislativo, e por outro lado, os órgãos ambientais

também ficam carentes de informações técnico-científicas necessárias às suas

atividades.

Então o que deveríamos mudar para alcançar o desenvolvimento

sustentável?

Alguns projetos já foram realizados no Brasil integrando o corpo

cientifico com a administração pública (e.g. REVIZEE e HABITATS) e geraram

bons resultados. Com a integração, ambos os lado saíram ganhando, isto é, os

pesquisadores receberam financiamento para a realização de estudos nunca

antes feitos, e diversos aprimoramentos foram realizados na área legislativa,

além de um enorme ganho com a divulgação científica dos resultados.

Dessa forma, o primeiro passo para uma boa gestão ambiental é a

conscientização de que a comunidade científica e os órgãos ambientais têm a

necessidade de trabalhar em conjunto e ter um alvo em comum: levar o Brasil

ao desenvolvimento sustentável.

Neste trabalho, uma pesquisa de opinião foi enviada para diversas

pessoas que trabalham na área ambiental, com o objetivo de conhecer a

percepção de quem atua nesse sistema a fim de saber o que poderia melhorar

na gestão ambiental no Brasil e quais seriam as necessidades de cada setor.

Os principais pontos apontados nos resultados indicam que: 1)O

sistema de gestão participativa pode e deve mudar, 2) os órgãos ambientais

devem investir em mais fiscalização, 3) as pesquisas científicas podem atuar

de forma direcionada a temas relevantes para o órgão ambiental, e 4) a

participação dos pesquisadores na gestão ambiental é muito importante e

desejada pelos próprios pesquisadores.

A integração entre o órgão ambiental e a pesquisa deve ser feita com o

cuidado de não criar mais uma instância descentralizada e falida de gestão

ambiental. Nesse contexto, este trabalho indica algumas mudanças possíveis

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no sistema de gestão e traz uma nova proposta baseada nas experiências

vivenciadas de projetos integrados já existentes.

Para isso, a proposta desse trabalho traz a criação de Unidades de

Gestão Ambiental Integrada (UGAI), onde cada UGAI pode representar um

ecossistema, ou um conjunto deles. Cada unidade teria Fóruns de Gestão

Ambiental Integrada realizados periodicamente ou de maneira pontual, cujos

produtos somariam uma serie de documentos, dentre eles duas grandes

publicações: o Plano de Ação da UGAI e o Caderno de Pesquisas da

mesma.

Os Fóruns de Gestão da UGAI, e suas respectivas publicações, teriam

muitas funções, dentre elas: definir as áreas e espécies de investimento

prioritário; identificar falhas e casos omissos da legislação ambiental aplicável

a UGAI; estabelecer os padrões sustentáveis de captura e utilização dos

recursos da UGAI, e promover a divulgação da informação técnico-científica

disponível para aquela área.

A integração da ciência e do direito ambiental traria desenvolvimento

econômico (aumentando o potencial de exploração), geraria a conservação

das espécies, melhoraria o processo de licenciamento ambiental, pois traria

embasamento técnico para as políticas ambientais, garantiria a aplicação das

pesquisas científicas produzidas e geraria maior educação ambiental em várias

escalas.

Esse estudo visa ratificar a importância de pensarmos de forma crítica o

que temos feito enquanto sociedade, tendo em mente que o sistema atual não

será capaz de gerenciar o constante crescimento econômico do país em

equilíbrio com a conservação ambiental. A única forma de garantirmos um

ambiente equilibrado para as futuras gerações é a integração de diversos

setores, de forma que suas tarefas e resultados somem um alvo comum: levar

o Brasil ao desenvolvimento sustentável.

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO ...................................................................................... 10

METODOLOGIA .................................................................................... 12

CAPÍTULO I – A Integração .................................................................. 13

1.1 – Porque Trabalhar em Conjunto? ............................................... 13

1.2 – O Órgão Ambiental Sem a Ciência. .......................................... 17

1.3 – A Ciência Sem o Órgão Ambiental. .......................................... 23

1.3.1. A Ciência na Baía de Guanabara no séc. XX. ..................... 24

1.3.2. A Ciência na Baía de Guanabara no séc. XXI. .................... 29

1.3.3. Reinventando a Ciência. ...................................................... 31

1.4 – O Que Já Foi Feito? .................................................................. 34

Exemplos de Integração na Área Marinha. ........................................ 34

1.4.1. O Ordenamento Pesqueiro .................................................. 36

1.4.2. Projetos Integrados .............................................................. 38

1.4.2.1. O REVIZEE, o REVIMAR e o LEPLAC ............................. 38

1.4.2.2.O projeto HABITAT ............................................................ 41

1.4.2.3. O projeto GloBallast. ......................................................... 43

1.4.2.4. Outras considerações ....................................................... 44

CAPÍTULO II – Pesquisa de Opinião dos Atores .................................. 47

1.1 – Pesquisa de Opinião dos Atores ............................................... 47

1.2 – Resultados ................................................................................ 48

CAPÍTULO III – Proposta de Integração ............................................... 60

1.1 – Integração Sem Descentralização ............................................ 60

1.2 – Modelo proposto de integração: Unidades de Gestão Ambiental

Integrada – UGAI.......................................................................................... 61

1.2.1. UGAI Baía de Guanabara: com fóruns anuais. .................... 65

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1.2.2. UGAI Energia hidráulica: com fóruns anuais. ....................... 66

1.2.3. UGAI Região costeira: com fóruns anuais. .......................... 66

1.2.4. UGAI Região oceânica: com fóruns anuais.......................... 67

CONCLUSÃO .................................................................................... 69

ANEXO 1 ............................................................................................... 73

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 76

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INTRODUÇÃO

Muitos setores estão envolvidos no direito ambiental, pois este vai desde

a criação da legislação e das políticas ambientais até sua execução e

fiscalização, somada ao papel imprescindível da ciência e da sociedade.

A gestão ambiental significa pensar como as atividades econômicas e

sociais devem se dar, utilizando de maneira racional os recursos naturais,

renováveis ou não, para que as futuras gerações também tenham acesso aos

recursos naturais que utilizamos hoje. Esse crescimento ecologicamente

equilibrado é chamado de “desenvolvimento sustentável”.

Embora a legislação ambiental brasileira seja uma das mais completas,

muito de seu conteúdo ainda não saiu do papel. As políticas ambientais

descritas na lei são bastante equilibradas, mas como suas medidas não são

postas em prática, estamos muito aquém do esperado no que diz respeito a

desenvolvimento sustentável. Então o que deveríamos mudar para garantirmos

um ambiente equilibrado para as futuras gerações?

Desde a Constituição Federal, o meio ambiente ecologicamente

equilibrado é visto como um direito de todos, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se tanto ao Poder Público,

quanto à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações (BRASIL, Constituição 1988; Art. 225).

De acordo com o artigo 23, da Constituição Federal, a defesa do meio

ambiente é obrigação comum dos entes federativos (União, Estados, Distrito

Federal e Municípios), sendo suas competências reguladas pela Lei

Complementar n.º140 (BRASIL, LC n.º140, 2011).

Dentre os princípios abordados na legislação ambiental brasileira, está

incluído proteger a natureza tanto pelo seu potencial de uso pelo homem,

quanto pelo seu valor intrínseco. Neste contexto, a legislação distingue a

necessidade de preservar, que significa proteger integramente as espécies, e a

de conservar, que visa o manejo para uso sustentável da natureza (BRASIL,

Lei n.º 9985, 2000).

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Para conservar a natureza precisamos conhecê-la, o que mostra que

estudos científicos são imprescindíveis, e têm assumido como propósito

principal de suas pesquisas a preservação ou conservação do meio ambiente.

As ciências mudam de acordo com o contexto histórico, visto que a

visão que o homem tem do mundo muda, e isso influencia as ciências que são

produzidas. As pesquisas hoje têm construído gigantescos catálogos de

informações sobre diversas espécies e ecossistemas, mas têm contribuído

pouco para conservação das mesmas.

A ciência pela ciência sem dúvida dá ao pesquisador uma liberdade de

descobertas que é um valor primordial da pesquisa, em outras palavras, nem

toda pesquisa precisa ter aplicação prática, gerar conhecimento e divulgá-lo

por si só já cumpre o papel do cientista, todavia, se o objetivo é a conservação

das espécies, a escolha de pesquisas estratégicas é exigida pelo acelerado

processo de degradação ambiental em que vivemos.

A pesquisa científica pode e deve assumir um papel mais ativo nesse

sistema para alcançarmos o desenvolvimento sustentável, mas pra isso, deve-

se trabalhar em conjunto como o órgão ambiental, tendo em vista que ações

de conservação ambiental são executadas pelos órgãos ambientais, na forma

da legislação e da fiscalização.

Além disso, os órgãos ambientais precisam basear suas decisões em

estudos técnicos, como por exemplo, licenciar ou não um empreendimento,

liberar ou não a captura de uma determinada espécie, e o cientista é aquele

que melhor sabe quais são as ameaças em sua área de estudo, e o que

precisa ser feito para conservação das espécies que são alvo de suas

pesquisas.

Desta forma, a integração entre a ciência e o direito ambiental é

imprescindível, e a única via de alcançarmos o desenvolvimento sustentável é

uma mudança radical de perspectivas, a fim de pensarmos hoje no Brasil de

amanhã.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesse trabalho foi primeiramente o levantamento

bibliográfico da legislação ambiental brasileira, com ênfase nas áreas mais

dependentes de estudos técnico-científicos e nos casos omissos da mesma.

Posteriormente foi feita uma analise do desempenho atual da ciência e

dos órgãos ambientais executores, e do papel de cada um deles tem exercido

para o desenvolvimento sustentável.

Foi feia uma análise do atual modelo de gestão participativa,

exemplificando os pontos positivos e negativos do mesmo, indicando a

necessidade do trabalho integrado da ciência com os órgãos executores,

mostrando exemplos de projetos que já tem sido feitos com esse propósito.

Para embasar essa análise, foram realizadas entrevistas com

pesquisadores e funcionários de órgãos ambientais, a fim de saber o parecer

desses profissionais sobre a conservação ambiental no Brasil, o direito

ambiental e as políticas de gestão, posteriormente foram feitas análises das

respostas e opiniões críticas dos participantes da pesquisa sobre o que poderia

melhorar as necessidades de cada setor.

Por fim, este estudo apresenta um novo modelo de gestão ambiental,

onde a ciência e os órgãos executores trabalhariam de maneira integrada,

utilizando como base uma compilação das melhores características da gestão

ambiental atual e criando “Unidades de Gestão Ambiental Integrada”, que

visem o cumprimento da Política Nacional do Meio Ambiente e uma maior

integração dos diversos setores contemplados nessa política.

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CAPÍTULO I – A Integração

1.1 – Porque Trabalhar em Conjunto?

A economia brasileira e o desenvolvimento do setor industrial e

comercial têm crescido a olhos vistos nos últimos 10 anos, e esse

desenvolvimento trouxe benefícios indiscutíveis à qualidade de vida da nação.

Todavia, o consumismo e o impacto ambiental que vem como consequência

de grande parte do crescimento econômico é um assunto amplamente

debatido em diversas convenções internacionais sobre o meio ambiente.

O Clube de Roma foi pioneiro em trazer essa questão à tona,

publicando "The Limits to Growth" (Os limites do crescimento) em 1972,

mostrando uma possível incompatibilidade entre o desenvolvimento e a

preservação dos recursos ambientais. Tal conflito, em última instância traria

limites à continuidade do próprio crescimento econômico, de forma que a única

solução encontrada por esse grupo foi o “crescimento econômico zero", ou

seja, substituir totalmente a produção de bens pela reciclagem de produtos.

A proposta de crescimento econômico zero não foi bem aceita por

motivos óbvios: ela não se encaixa no modelo atual de mundo capitalista que

temos hoje. Os debates ambientais internacionais prosseguiram, e ao longo

dos anos muitas ideias forem incorporadas, até que se chegou ao conceito de

“desenvolvimento sustentável”, que adquiriu uma forma mais consolidada no

Relatório Brundtland em 1987 (Our Common Future), segundo o qual o

desenvolvimento deve ser alcançado através da eficiência econômica,

equilíbrio ambiental e pela justiça social.

Propôs-se então que o desenvolvimento sustentável seria aquele capaz

de suprir as necessidades do presente, sem impedir as gerações futuras de

suprirem suas próprias necessidades.

Trazendo esse conceito para sua aplicação, isso só é possível se ao

utilizarmos qualquer população de animais ou de plantas, mantivermos as

saídas (ex: mortes e emigração) de indivíduos na população igual às entradas

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(ex: nascimentos e imigração), de forma que elas se compensem em longo

prazo. O mesmo pode ser dito para empreendimentos de grande porte e maior

complexidade: quando a instalação de tais empreendimentos exige por

princípio uma degradação ambiental, mecanismos de compensação são

previsto em lei, gerando a preservação de alguns ecossistemas em detrimento

de outros.

Para saber se estamos cumprindo a premissa do desenvolvimento

sustentável é necessário estudar a população/ecossistema em questão,

conforme disse o biólogo Fernandez:

“Se uma dada exploração é sustentável ou não, isso é

uma questão técnico-científica, fundamentalmente

demográfica, que precisa ser respondida com a aplicação

de boa ciência” (...) “Seria desejável ter estudos a priori,

ou seja, testar se a exploração de um dado recurso

natural é de fato sustentável antes de autorizá-la. Onde

estão os estudos a priori? Pode até haver alguns, mas

são raríssimos. Noventa e seis por cento das reservas

extrativistas brasileiras não têm sequer plano de manejo,

quanto mais avaliação de sustentabilidade. Ora, então, a

pergunta que não quer calar é: se quase não há estudos

a priori, por que a gente ouve falar que tantas atividades

são sustentáveis?” (FERNANDEZ, 2008).

Contudo, não é possível crescer economicamente sem utilizar os

recursos naturais e é inútil achar que o acelerado processo de crescimento

econômico será interrompido pelas questões ambientais de conservação.

Alguns produtos não apresentam um processo de reciclagem viável, mas nem

por isso a sociedade vai deixar de consumi-los, como, por exemplo, o petróleo.

A economia vigente vai buscar tecnologias para retirar e vender todo

petróleo do planeta até a última gota, e cabe ao corpo técnico científico

desenvolver técnicas para mitigar os efeitos desse processo.

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Para melhor as condições ambientais é preciso aceitarmos a realidade

desse cenário de consumo, e pensarmos hoje como mitigar os impactos que

só virão amanhã.

Todos os moradores do Rio de Janeiro, até os políticos, empresários, e

as classes mais altas, desejariam ter uma Baía de Guanabara limpa e

saudável, não apenas pela conscientização ecológica, mas também pelo lucro

e crescimento econômico que ela ofereceria, através do turismo, pesca, e

outras formas de exploração. Mas qualquer mudança custa dinheiro, e a

iniciativa privada não vai abrir mão do seu lucro de hoje para investir no

crescimento econômico em longo prazo, somente a União pode interferir nesse

processo para agindo pelo interesse público.

E se garantir um ambiente equilibrado pra os próximos 50 anos já é uma

tarefa difícil, quiçá para as futuras gerações ad eternum. Essa tarefa

primeiramente nasce na criação da legislação ambiental, que vai ditar as

regras de utilização da natureza. Nesse ponto a legislação brasileira é bastante

completa e bem elaborada, o problema é que não é colocada em prática.

A Lei 6.938/81 (regulamentada pelo decreto 99.274/90) dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente e seus mecanismos de aplicação, que

incluem a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA),

constituído pelos órgãos:

● Órgão Superior: O Conselho de Governo

● Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho Nacional do Meio Ambiente -

CONAMA

● Órgão Central: O Ministério do Meio Ambiente - MMA

● Órgão Executor: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis - IBAMA

● Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela

execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades

capazes de provocar a degradação ambiental;

● Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo

controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições;

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O SISNAMA como um todo, e principalmente o órgão ambiental

executor, é responsável pelas ações de conservação e tem um papel

fiscalizador e coercitivo, além disso, é aquele que autoriza o desenvolvimento

de atividades potencialmente poluidoras. Entretanto, para que o órgão

ambiental autorize uma determinada atividade que use recursos naturais são

necessários estudos ambientais. E tendo em vista a necessidade de tais

estudos, é fácil perceber que qualquer medida política ambiental é dependente

de ter estudos técnico-científicos como base, e a recíproca também é

verdadeira, a pesquisa científica só vai gerar conservação ambiental se

incorporada à legislação vigente.

O modelo desejado de desenvolvimento sustentável só pode ser

elaborado e implantado no Brasil com a cooperação conjunta de diversos

setores. E o primeiro passo é a conscientização de que a comunidade

científica e os órgãos ambientais têm a necessidade de trabalhar em conjunto

e ter um alvo em comum: levar o Brasil ao desenvolvimento sustentável.

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1.2 – O Órgão Ambiental Sem a Ciência.

As ferramentas de conservação e preservação criadas pela legislação

brasileira têm a necessidade de embasar suas aplicações em informações

técnicas que descrevam as características do meio ambiente e identifiquem

suas fragilidades, mas essas muitas vezes são escassas ou inexistentes,

levando à diminuição da eficiência dessas ferramentas.

Os órgãos ambientais precisam de informações técnicas-científicas

como subsídio para diversas tarefas, como:

● Análise de pedidos de licenciamento;

● Analise de relatórios de monitoramento ambiental;

● Criação de exigências condicionantes ao licenciamento e medidas

mitigadoras obrigatórias para empreendimentos poluidores;

● Emissão de pareceres sobre situações ambientais;

● Normatização de potenciais de captura/uso de recursos ambientais,

etc...

A fim de neutralizar o declínio de espécies de peixes, o IBAMA designou

períodos durante o ano em que a extração de um determinado recurso é ilegal.

Estes períodos de tempo são chamados de defeso. O defeso compreende a

época de desova das espécies, garantindo a reprodução das mesmas, para

que seja possível continuar a pescar essas espécies no próximo ano. Todavia,

para normatização desses períodos, é necessário informações sobre o ciclo de

vida das espécies.

Se uma espécie é considerada sobre-explorada, em extinção, ou em

declínio, o órgão ambiental é encarregado por diminuir ou caçar as licenças de

pesca destas espécies. Da mesma forma, para que o órgão ambiental possa

incentivar a pesca de espécies populosas, é preciso ter o conhecimento da

atual situação das populações de peixes, para identificar aquelas com maior

potencial de captura. Mas para saber a situação demográfica dos peixes (se

em crescimento ou declínio), dependemos de estudos científicos, que gerem

um levantamento dos estoques pesqueiros.

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As listas vermelhas, que indicam espécies ameaçadas de extinção,

também funcionam como uma ferramenta legal essencial para a preservação

das espécies. Elas possibilitam o estabelecimento de programas prioritários

para a aplicação de recursos técnicos, científicos, humanos e financeiros, além

de fornecer subsídios para a formulação de políticas de fiscalização e para

criação de unidades de conservação (FAERPJ & SEBRAE, 2009). Nesse

sentido, é necessário que um corpo técnico especializado, identifique na sua

área de atuação as espécies e áreas prioritárias de investimento, bem como

estabeleçam os potenciais sustentáveis de captura e utilização desses

recursos vivos.

Outra área onde é notada a carência de estudos científicos para o órgão

ambiental está no processo de licenciamento ambiental.

A primeira etapa do licenciamento está na elaboração de estudos

ambientais, que variam de relatórios simplificados, até estudos mais profundos

e abrangentes. No caso de empreendimentos com grau de impacto

significativo são exigidos estudos mais elaborados, como o EIA (Estudo de

Impacto Ambiental), que na maioria das vezes são entregues logo na fase de

licenciamento prévio (Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EPIA), visando

dar subsídio ao órgão licenciador para decidir se concede a licença ou não.

Com esse intuito, os estudos ambientais devem conter informações

técnicas que demonstrem a viabilidade ambiental, justificando-a sob os

aspectos técnico-científicos, jurídicos e logísticos de um empreendimento.

A avaliação do licenciamento via a análise do EIA fica um pouco

prejudicada visto que quem é responsável por elaborar tal estudo é o próprio

empreendedor, o mais interessado em construir o empreendimento, de forma

que o EIA muitas vezes acaba por gerar uma visão parcial da situação,

favorável à construção do empreendimento. Apesar desses problemas o EIA é

uma das ferramentas mais importantes da gestão ambiental, e tem sido muito

útil no processo de licenciamento, além de contribuir para a ciência a medida

que a iniciativa privada financia estudos ambientais em áreas onde as

universidades não estudaram ainda, ou não tiveram recursos financeiros pra

tal.

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Mas a decisão de final de licenciar não é um processo simples, pois

envolve muitas questões além das ambientais. Imagine que uma equipe

multidisciplinar adotasse um posicionamento restritivo a um determinado

empreendimento muito importante para o país, nesse caso a decisão final do

poder executivo, poderia ainda sim aprovar sua construção, ignorando o

posicionamento técnico, mas tendo como base outros critérios igualmente

legítimos, como critérios econômicos, geração de empregos, segurança

energética, etc.

Tomando como exemplo a expansão do comercio marítimo no Brasil e

no mundo, existe uma crescente necessidade da construção de portos maiores

e mais equipados. A força econômica que a área naval tem gerado é

promissora a olhos vistos, mas a costa brasileira é finita, e apresenta um

número limitado de enseadas possíveis de abrigarem portos.

Se cada órgão estadual licenciar um empreendimento portuário (portos,

estaleiros, piers, etc..) sem pensar no Brasil como um todo, em breve teremos

transformado toda costa brasileira, e extinguido a maior parte dos estuários e

manguezais (locais de águas calmas propício para abrigar embarcações).

O que se espera das políticas ambientais brasileiras? Não apenas

legislar com qualidade e rigor a respeito da zona costeira, como já tem sido

feito, mas também pensar a longo prazo, analisando o zona costeira a fim de

distinguir os locais a serem preservados daqueles possíveis de utilização

econômica.

Em segunda instância, espera-se que os empreendimentos possíveis de

aprovação, sejam avaliados por uma equipe capacitada dos órgãos

ambientais, que possam contar com especialistas de todas as áreas e

ecossistemas que tangem o empreendimento.

Por mais capacitados que sejam os funcionários do setor de

licenciamento, cujo trabalho tem mostrado grande seriedade, o licenciamento

ainda conta com poucos funcionários e uma infraestrutura de trabalho precária.

As informações científicas nem sempre estão disponíveis aos

funcionários do licenciamento, nem são de fácil acesso aos órgãos ambientais.

Mesmo que já tenham sido publicadas em revistas científicas, boa parte não

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está disponível online, e muitas vezes os trabalhos científicos ficam

armazenados apenas nas bibliotecas das suas instituições de origem. Ou seja,

para reunir um número razoável de informações sobre um determinado

ecossistema, demandaria muitas horas de pesquisa, incluindo visitas a

diversas bibliotecas espalhadas em vários estados.

Uma das medidas que ajudaria o órgão ambiental a ter bases científicas

em sua tomada de decisão, seria ter acesso prioritário a um acervo completo

de publicações ambientais, com exemplares de todos os estudos científicos já

produzidos no país. Todavia, construção dessa imensa biblioteca ambiental

unificada parece bastante utópico.

Tendo em vista a urgência do processo de licenciamento, esse gasto de

tempo com um levantamento bibliográfico massivo é inviável para os dias de

hoje, e não pode, nem deve ser tarefa dos funcionários dos órgãos ambientais,

pois esses deveriam ter ao seu dispor toda informação técnica necessária à

sua tomada de decisão.

Quando se trata de capacitar os funcionários para o licenciamento é

eminente a importância de documentos que concentrem a informação de

determinado ecossistema. Trabalhos integrados, como as publicações do

REVIZEE, da FAO e séries de livros publicadas pelo Governo Estadual, que

compilam as publicações científicas locais, com os estudos desenvolvidos pelo

próprio poder público, acelerariam o processo de licenciamento, ajudariam a

melhorar qualidade da tomada de decisão, além de servirem para educação

ambiental e divulgação científica (vide o item 1.4.2. Projetos Integrados para

maiores informações).

Em alguns casos, mesmo o acesso à informação não solucionaria esse

problema, pois existem ecossistemas muito carentes de estudos científicos,

para os quais não existe material publicado. Nesse caso, se a informação for

imprescindível à tomada de decisão e se houver tempo hábil para tal, o órgão

ambiental pode contratar serviços de pesquisa que supram suas carências de

informações, por meio da abertura de editais licitatórios. Outra medida possível

do Poder Executivo é criação de uma Fundação de apoio técnico-científico às

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atividades do órgão ambiental, como previsto na Política Nacional do Meio

Ambiente (BRASIL, Lei n.°6938, 1981).

Mas se de um lado é visto a carência de conhecimento técnico na

legislação, por outro lado também existe carência de legislação para aplicação

do conhecimento gerado. Essa necessidade já foi prevista no Decreto n.º 6099

(2007), quando trata das atribuições do IBAMA e inclui em sua atuação a

articulação com a sociedade civil organizada, bem como prevê a criação de

comitês e câmaras técnicas temáticas, com o objetivo de integrar e apoiar os

processos internos de gestão ambiental com a participação da sociedade civil

(BRASIL, Decreto n.º6099, 2007; Artigos 28 e 29). Entretanto, embora a

participação dos pesquisadores com seu conhecimento técnico esteja prevista

na legislação, na prática, são raros os profissionais da ciência que de fato

puderam contribuir com seu conhecimento para a legislação ambiental. Além

disso, não há uma via onde o pesquisador possa requisitar alguma coisa ao

órgão ambiental, como por exemplo, propor projetos de sua iniciativa, ou

participar do processo de criação de atos normativos ambientais com poder de

voto, sem estar depende de ser previamente convidado a integrar comitês

consultivos.

A atual discussão sobre a reformulação do código florestal é um

exemplo da distância entre os profissionais da área ambiental e os

profissionais que de fato vão escrever as leis. O código florestal deveria ser

pensando e escrito baseado em estudos técnicos imparciais, e não apenas

pelos legisladores, ainda que eleitos democraticamente, menos ainda poderia

ser debatido sob a ótica dos interesses de alguns setores influentes. O

tamanho exigido por lei para a APP (Área de Proteção Permanente, BRASIL,

Lei nº4477, 1965) nas margens dos rios, seja ele grande ou pequeno, não

pode ser um valor arbitrário. O tamanho da APP deve ser debatido entre

ecólogos e botânicos especialistas nesse assunto no Brasil, de preferência

especificado diferenciadamente segundo as características dos biomas em que

se encontram.

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Se os órgãos ambientais precisam tanto da ciência em suas atividades,

por que não estar mais próximo dos centros de pesquisa, e trabalhar em

conjunto com os projetos das universidades?

A integração entre o órgão ambiental e a pesquisa no Brasil ajudaria a

resolver a falta de embasamento técnico das políticas ambientais brasileiras e

também a falta de aplicação das pesquisas científicas produzidas visando à

conservação de espécies.

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1.3 – A Ciência Sem o Órgão Ambiental.

Assim como analisamos a falta do conhecimento científico na execução

de políticas ambientais, também devemos olhar o quanto as ciências carecem

de mais contato com o órgão executor.

Quando a ciência se propõe a gerar conhecimento para à conservação,

essa distância do órgão ambiental executor se torna ainda mais sentida,

gerando uma impressão de impotência, que afasta mais ainda o pesquisador

da gestão ambiental, frente à impossibilidade de pôr em prática a pesquisa

realizada.

Analisando o Rio de Janeiro, é notório que a pesquisa na capital sempre

esteve muito ligada à Baía de Guanabara, assim como essa também foi alvo

de intensa degradação com o crescimento da cidade.

Muito do que foi feito, durante o processo de expansão demográfica, tais

como aterros na Baía de Guanabara, retificação dos rios de sua bacia

hidrográfica, desmatamento de encostas, e etc. é hoje sabido que prejudicou

imensamente esses ecossistemas, e na época em que se deu esse

crescimento os pesquisadores no estado não tiveram voz ativa para evitar

alguns impactos ambientais, cujas consequências sofremos hoje.

Hoje seria inviável voltar atrás, como implodir os aterros efetuados na

Baía de Guanabara, ou retirar a população que vive na favela da maré a fim de

melhorar a circulação da mesma. Também não há como trazer de volta as

curvas sinuosas dos rios que deságuam na baía, ou reflorestar a mata ciliar de

suas margens, pois muitos desses rios passam por áreas urbanas densamente

povoadas, como Caxias, Maracanã, etc.

Além da degradação marinha, os ecossistemas terrestres do estado

também não apresentam um cenário equilibrado. O Rio de Janeiro que antes

abrigava em sua maior parte a Mata Atlântica, hoje apresenta apenas 18,37%

dessa cobertura vegetal, e no que diz respeito à Mata Atlântica em todo

território brasileiro, essa se encontra reduzida a 6,98% do seu tamanho original

(INPE, 2010).

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Ao ler esses dados de impacto ambiental, muitos de nós, brasileiros, já

estamos anestesiados, e saber que resta apenas 6,98% da nossa Mata

Atlântica no país já não soa tão absurdo, mas com certeza ainda é um número

significante, e por maior que seja o Brasil e por mais rico em ecossistemas,

temos que assumir que a capacidade do homem em modificá-lo também é

assustadoramente grande.

O uso dos recursos naturais finitos de forma indiscriminada não é uma

característica apenas do antigo Brasil colônia de Portugal, nem é um aspecto

de um passado longínquo, ao contrário, continua acontecendo até hoje bem

perto de nós.

Apesar das grandes mudanças feitas pelo homem no estado, ainda

existe muita coisa que pode ser evitada se pensarmos na melhor maneira de

utilizar o que ainda nos resta de recursos naturais, de forma que o crescimento

econômico se dê com o menor impacto possível.

Para melhor entendermos o papel da ciência frente aos impactos

ambientais tomemos como exemplo a história da ciência na Baía de

Guanabara, que segue detalhadamente analisada nos próximos itens.

1.3.1. A Ciência na Baía de Guanabara no séc. XX.

A Baía de Guanabara abriga hoje diversos municípios em seu entorno,

inclusive alguns densamente povoados, dentre os quais está a capital do

estado, município do Rio de Janeiro, que por si só já serve de moradia para um

grande número de habitantes (6.320.446 hab., censo 2010 IBGE). A

colonização do entorno da baía, e sua consequente poluição ocorreu de

maneira bastante rápida, sem que especialistas (geógrafos, biólogos,

assistentes sociais, etc..) pudessem planejar a melhor maneira de esse

crescimento ocorrer, e em menos de 100 anos o cenário principal do Rio de

Janeiro foi completamente alterado devido à intensa poluição da baía e seus

rios.

A antiga Ilha do Pinheiro, desaparecida no início dos anos 80 ao ser

anexada ao continente, também recordada como Ilha dos Macacos, localizava-

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se na margem direita da Baía de Guanabara, na altura da foz do canal do

Cunha, onde hoje se localiza o Complexo da Maré (Figura 1.3.1-1). Possuidora

de vegetação exuberante, foi utilizada no início do século XX como laboratório

a céu aberto pelo Instituto Oswaldo Cruz, através dos pesquisadores Lejeune

de Oliveira e sua esposa Luiza Krau, que trabalharam na estação de

Hidrobiologia da ilha por 40 anos (LISE, 2011).

Os artigos de Lejeune e Krau de 1937 a 1950 descreviam a enseada de

Inhaúma como contendo uma saudável floresta de mangues vermelhos

(árvores Rhizophoras) próxima ao mar. Os pescadores de caranguejo

carregavam caminhões de Samanguaí vivos, capturados na praia da Ilha do

Pinheiro em 1946, e vendiam nos mercados do Rio de Janeiro. O fundo da

praia era coberto de algas verdes, e os cientistas capturavam cavalos

marinhos logo atrás da ilha (LISE, 2011).

Figura 1.3.1-1 – A Ilha do Pinheiro em 1953. (Fonte: foto retirada do trabalho

de Oliveira e Krau, 1953).

Em 1945 houve a fusão desse arquipélago para a criação da Ilha do

Fundão, o que alterou pra sempre o regime de circulação de águas do fundo

da Baía de Guanabara, como é ilustrado no mapa desenhado por Lejeune de

Oliveira (1958) (Figura 1.3.1-2).

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Figura 1.3.1-2 – Mapa esquemático da circulação de águas no canal do Cunha

antes e depois do aterro da Ilha do Fundão (Oliveira, 1958).

A crescente poluição e as transformações da baía e seus ecossistemas

estão registradas cronologicamente nas publicações de Lejeune e Krau, onde

é possível perceber diminuição da diversidade de organismos com bases

numéricas, e onde também é visto o desafio que esses cientistas tiveram ao

vivenciar a degradação de seu objeto de estudo.

Em suas descrições ficou registrado o desaparecimento de espécies de

diversas classes e filos:

“as duas últimas tamburutacas, crustáceos (Squilla

rubrolineata), que foram pescadas vivas datam de 2 de

outubro de 1948, depois às vezes encontramos umas

poucas mortas atiradas na praia até 1950. A população

de Enoplapatiria emarginata, que cremos que seja a mais

resistente estrela do mar da Baía de Guanabara, ia-se

pouco a pouco diminuindo, até que desapareceu em

1950” (OLIVEIRA, 1958).

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Na década de 1960 a transformação na Ilha do Pinheiro era completa.

Em vez de água fresca, a ilha recebia poluição industrial dos três rios da

enseada, e a água mal circulava. Em 1960 Lejeune já alertava seus

supervisores do Instituto Oswaldo Cruz que para cumprir a função de estação

de hidrobiologia seria necessário realocar a estação para fora da Baía de

Guanabara (LISE, 2011).

Desta forma a estação começou a torna-se irrelevante para alguns

departamentos da instituição, que já não podiam contar com o material

biológico da Ilha do Pinheiro. Mas Leujeune e Krau ao invés de mudar a

localização da estação, procurando fauna e flora saudáveis para suas

pesquisas, queriam ser úteis ali onde estavam.

Diante dessa situação esses pesquisadores encontraram-se em um

impasse: como produzir ciência quando as condições políticas, naturais e

socais necessárias para esse trabalho mudavam a tal ponto que suas práticas

científicas anteriores já não se podiam aplicar? Eles responderam a esta

pergunta reinventando sua própria compreensão do que significava “produzir

ciência”, e propuseram novos termos de legitimidade pra sua Estação de

Hidrobiologia (LISE, 2011).

Ao invés de laboratório de pesquisa e ciência, a estação tornou-se um

centro de monitoramento da poluição da água. Estudar a poluição ofereceria

visibilidade internacional e teria um impacto sobre a saúde pública, na

esperança de chamar atenção para a grande perda ecológica e econômica que

se dava na Baía de Guanabara.

Os artigos publicados por Lejeine e Krau mostram nitidamente que com

o passar dos anos já não mais estudavam a biologia das espécies da enseada,

e sim a situação de poluição da mesma. Eles categorizaram graus de poluição,

evidenciando as mudanças ocorridas em cada estágio. No quinto grau de

poluição não havia mais pesca, as águas eram opacas, e o fundo era

visivelmente sem oxigênio, sem nenhum animal, apenas uma grande

quantidade de bactérias e protozoários indicadores de poluição (Lise, 2011).

Ao registrar suas dúvidas, suas soluções criativas para cada desafio,

seus planos e frustrações, Lejeune e Luiza oferecem uma fonte inestimável de

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informações para gestão ambiental no Brasil, mostrando o tamanho da

responsabilidade que tinham frente aos desafios de quem fazia ciência no

Brasil do século XX (LISE, 2011).

Como aponta o trabalho de Lise (2011), que aborda a história da ciência

na Baía de Guanabara:

“O monitoramento da poluição é uma parte essencial da

gestão ambiental. Ao monitorar as mudanças ambientais

causadas pela poluição e compartilhar seus

conhecimentos com as agências governamentais,

Lejeune de Oliveira e Luiza Krau se tornaram agentes

importante da gestão ambiental da Baía de Guanabara

durante o século XX”.

A Ilha do Pinheiro foi a última ilha do arquipélago original a desaparecer.

Após sua desativação em 1977, a ilha foi englobada por aterros onde hoje fica

a Favela da Maré (Figura 1.3.1-3).

Figura 1.3.1-3 – Imagem área da favela da maré e a Ilha do Fundão com

destaque para a antiga Ilha do Pinheiro (Fonte: Google Maps).

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A bibliografia de Lejeune e Krau se encontra publicada na revista

“Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”, e pode ser encontrada facilmente online

pela internet.

1.3.2. A Ciência na Baía de Guanabara no séc. XXI.

Assim como o caso de Lejeune e Krau, existem muitos outros exemplos

de trabalhos científicos em ambientes que posteriormente foram modificados

ou extinguidos. Na Baía de Guanabara até hoje alguns estudos correm o risco

de serem “engavetados” pela extinção completa de seus objetos de estudo.

O trabalho de Melo (2010) registra aspectos alimentares da população

do boto-cinza na Baía de Guanabara, no entanto, apesar da importância de tal

estudo, tendo em vista que essa população já se encontra em um estado

crítico de sobrevivência, os pesquisadores especializados em mamíferos

aquáticos juntamente com os órgãos ambientais, deveriam estar se

mobilizando para que os próximos estudos sobre os botos na Baía de

Guanabara fossem voltados para uma tentativa de preservação dos mesmos.

O trabalho realizado por Azevedo et al. (2008), entre os anos de 1995 e

2005, estimou a população de botos da Baía de Guanabara em 70 indivíduos.

Hoje, estima-se que desses apenas 50 tenha sobrevivido, o que é um número

muito pequeno para uma população de mamíferos de grande porte com

reprodução lenta. A taxa de mortalidade é muito alta devido à captura acidental

em redes de pesca (AZEVEDO et al., 2008), de forma que mesmo com o

nascimento de novos botos a cada ano, a população da Baía de Guanabara

não tem como se manter com essas taxas de mortalidade (GOTELLI, 2007).

A poluição da Baía de Guanabara foi um processo bastante rápido, que

em menos de 50 anos modificou completamente ecossistemas inteiros

(OLIVEIRA, 1958). Na época dos estudos de Oliveira e Krau, provavelmente a

população de botos da Baía era significativamente superior ao número

encontrado hoje.

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A Baía de Sepetiba, no entanto, apresenta uma população estimada em

1.269 botos (analise realizada em 2002/2003, por FLACH, 2008). Esse número

pode ser considerado bastante alto, mas tendo em vista o atual processo de

poluição da mesma, e o número crescente de capturas acidentais em redes de

pesca, não é difícil se repetir nessa população a mesma degradação vista na

Baía de Guanabara.

Com relação aos ecossistemas terrestres e estuarinos, a mesma história

se repete: hoje quase não temos estudos dos mangues da Baía de Guanabara

(excetuando-se na APA de Guapimirim), mas existem muitos estudos sobre os

mangues sadios da Baía de Sepetiba. Se continuarmos a fazer ciência como

sempre foi feita vamos ver mais um mangue se extinguir a mercê de nossa

passividade.

A maior parte da pesquisa em biologia no Brasil trata-se de

levantamento de dados biológicos, que geram mais resultados quando

aplicados em áreas saudáveis, porém, por mais importantes que sejam esses

estudos para melhor conhecermos os ecossistemas saudáveis, os

ecossistemas em degradação são os que mais necessitam de serem

estudados, não apenas para registrar as proporções da degradação, mas sim

estudar os impactos com o objetivo de descobrir como mitigá-los. Entretanto,

muitos cientistas têm realocado suas estações de trabalho para áreas

promissoras, se preocupando mais em engordar seus currículos do que em

contribuir para ciência e para conservação.

O contexto de Lejeune e Krau não mudou no século XXI, ao contrário,

só aumentou de proporções, mas ainda existem muitas outras áreas que

precisam da atenção dos cientistas para não cometermos no futuro os mesmos

erros cometidos no passado.

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1.3.3. Reinventando a Ciência.

É preciso repensar as ciências de maneira integrada, de forma que os

estudos de biologia possam também contribuir com as demais ciências, assim

como as ciências também devem agir em conjunto com o contexto econômico

e social.

Estudar o meio ambiente natural somado à influência antrópica é

também incluir o homem na natureza, mudando completamente a visão de

mundo que temos hoje. Não é verdade que toda influência antrópica é

negativa, como se o homem fosse um ser externo à natureza, e que

desequilibrasse todos os ecossistemas que se propõe a habitar, mas também

não podemos utilizar os recursos naturais com a velocidade desta sociedade

de consumo, pois dessa forma não vamos garantir a perpetuidade dos

recursos naturais para as futuras gerações.

O papel do cientista deve estar além de um “repórter da natureza”, pois

aquela visão romântica do naturalista de 1800, que escolhia de maneira

arbitrária um determinado tema e estudava a natureza pelo simples prazer de

entendê-la, não vai dar conta do acelerado processo de crescimento humano e

do uso dos recursos ambientais.

Se não pararmos para refletir se aquilo que fazemos é mesmo a melhor

opção, corremos o risco de estar fazendo “ciência póstuma”, isto é, estudando

ecossistemas que em breve não existirão mais, como aconteceu com Lejeune

e Krau, que estudaram uma Baía de Guanabara que já não existe. Todas as

informações científicas publicadas por esses autores ficaram engavetadas

apenas como um registro histórico da influência do homem na Baía de

Guanabara, e se a degradação ambiental continuar nesse mesmo ritmo no

séc. XXI, o mesmo vai acontecer com toda ciência produzida hoje, ou seja,

corremos o risco de em 2050 olharmos para os estudos de 2012 apenas como

registros de ecossistemas que não existem mais.

Então assim como Lejeune e Krau reinventaram um novo papel para

estação de hidrobiologia, já esta na hora de reinventarmos um papel para as

ciências, e.g. estudar o Rio de Janeiro com toda sua área urbana e natural, a

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fim de propor uma melhor gestão ambiental para Baía de Guanabara, já seria

uma mudança de paradigma.

O que devemos fazer para não assistir de “olhos abertos” à mesma

história se repetir? Fazer ciência também é refletir sobre o comportamento do

homem enquanto sociedade. Somos nós quem vai escolher o que implementar

como gestão ambiental hoje, para que se cumpra a premissa básica da

constituição: garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as

presentes e futuras gerações.

Uma reformulação da ciência traria como responsabilidade do cientista

cuidar daquela espécie que é seu foco de estudo, dando lugar a publicações

que tragam ações de gestão ambiental formuladas por esses profissionais em

conjunto com o órgão ambiental competente.

Mas área de atuação da ciência não é o único problema. Mesmo

quando a pesquisa se volta para desenvolver soluções para os problemas

ambientais, essas não são aplicadas. Produzir novas formas de tecnologia

limpa de nada adianta se os projetos das universidades não forem levados até

o setor produtivo.

Muitas pesquisas do setor pesqueiro servem de exemplo da falta que o

órgão ambiental faz quando distante das universidades. A análise tecnológica

da frota e de petrechos de pesca fluminense mostra que a atividade está

baseada em materiais e tecnologias antigas. Não houve no estado um

programa de transferência de conhecimentos das universidades e centros de

pesquisa para o setor produtivo. A tecnologia presente na pesca hoje, em

grande parte, ainda é a que os imigrantes portugueses e espanhóis trouxeram.

As embarcações são predominantemente de madeira não certificada e usam o

mesmo projeto básico, independente da arte de pesca ou distância da costa

que operem (FAERPJ & SEBRAE, 2009).

Embora já existam novas tecnologias de pesca, que reduzem a

mortandade de espécies sem valor comercial que são carregadas na rede

junto com as espécies de interesse, muitos desses dispositivos tecnológicos de

redução de fauna acompanhante “bycatch” (BRD- Bycatch Reduction Device)

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não são utilizados pela frota pesqueira por puro desconhecimento dos

pescadores.

As informações produzidas devem chegar a quem tem competência

para implementar as ações, para que o processo de pesquisa não termine

apenas com a publicação dos dados, mas que as pesquisas possam ser

aplicadas onde foram produzidas.

É nesse contexto que entra o papel imprescindível do direito ambiental,

como ferramenta para essa mudança, pois ele é a grande diretriz,também em

nível internacional, para a tomada de decisão a cerca de como usar os

recursos naturais do planeta, que são finitos.

Sem dúvida, esse capítulo trata apenas dos aspectos negativos da

história da ciência na Baía de Guanabara, negligenciando o muito que foi feito

para a melhoria da mesma, porém, faz parte do objetivo desse estudo ressaltar

os pontos críticos, para percebermos o que deve ser mudado.

Quando a pesquisa científica fica distante dos tomadores de decisão

perdemos muito em qualidade ambiental, assim como em produção

econômica, pois não utilizamos os recursos ambientais de maneira inteligente.

O atual modelo de separação entre os papeis dos pesquisadores e executores

das políticas ambientais, torna ambos os setores impotentes para ordenar a

expansão demográfica e o uso dos recursos naturais.

Em suma, a melhoria do uso dos recursos naturais por nossa sociedade

traria benefícios econômicos, aumentando o potencial de exploração, bem

como garantiria a conservação das espécies para o equilíbrio do planeta.

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1.4 – O Que Já Foi Feito?

Exemplos de Integração na Área Marinha.

A necessidade de uma nova perspectiva para a ciência e o direito

ambiental não é uma novidade. Alguns projetos integrados já surgiram fruto de

uma demanda que o antigo modelo não dava conta, onde por um momento os

atos administrativos trabalharam em conjunto com a ciência, fazendo surgir

alguns projetos como os abordados a seguir.

A área pesqueira é um grande exemplo da necessidade de gestão

participativa, nesse caso pode-se dizer que essa já foi muito mais

desenvolvida, do que a gestão ambiental de outras espécies sem valor

comercial. A gestão pesqueira também é muito mais complexa do que a

gestão de outras espécies, pois inclui o envolvimento de setores como o

comercial, o empresarial e o social.

A portaria interministerial MPA e MMA nº 2 (13 de novembro de 2009)

regulamenta o Sistema de Gestão Compartilhada para o uso sustentável

dos recursos pesqueiros, gestão essa instituída pelo Decreto nº 6.981. Essa

portaria prevê a necessidade de um plano de gestão específico para uma

unidade de gestão, e a formação de comitês de discussão para elaborar tal

plano.

O plano de gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros trata-se

de um documento que estabelece as diretrizes, compreendendo o diagnóstico,

objetivos, pontos de referência e medidas de gestão, para uso dos recursos

pesqueiros, em uma unidade de gestão, podendo ser revisado periodicamente.

A unidade de gestão compreende a espécie a ser gerida ou grupo de

espécies, ou até mesmo o ecossistema, a área geográfica, a bacia

hidrográfica, o sistema de produção ou a pescaria. Dessa forma, o Sistema de

Gestão Compartilhada é composto por comitês, câmaras técnicas e grupos

de trabalho, onde os subcomitês científicos podem contar com a participação

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de pesquisadores e técnicos de notório saber na área afim (Portaria

Interministerial nº 2, 2009).

A gestão dos Recursos Hídricos também apresenta um modelo parecido

com este, onde os comitês de bacia hidrográfica têm função inclusive

deliberativa, sendo esses os são responsáveis por aprovar o Plano de

Recursos Hídricos da bacia em questão (Lei nº 9.433, 1997).

Por mais bem intencionado e democrático que seja esse modelo de

gestão participativa em teoria, na prática, as reuniões muitas vezes não

apresentam o quórum esperado, os representantes do poder executivo não se

mostram interessados em contribuir com políticas de longo prazo, pois seus

mandatos são de apenas 4 anos, e apenas os representantes dos órgãos

ambientais costumam mostrar participação e competência pra tal gestão.

A baixa participação voluntária dos pesquisadores e técnicos de notório

saber, muitas vezes é devido ao fato de não serem convidados para participar

de tais comitês, ou outras vezes se abstêm de participar por não terem tempo,

já que possuem como prioridade outras tarefas igualmente legítimas como:

seus deveres e compromissos vinculados à instituição de pesquisa a que são

filiados.

É inviável apoiar decisões importantes das políticas ambientas em

reuniões cuja participação é voluntária. O país não possui um corpo cientistas

com dedicação exclusiva para a gestão ambiental, de maneira que esses

profissionais estão vinculados à instituições de pesquisa e universidades, cuja

jornada de trabalho já ocupada todo seu tempo.

Acaba que os pesquisadores, que deveriam ser o corpo principal das

tomadas de decisões na área ambiental, ficam aquém da tomada de decisão e

do processo legislativo, e por outro lado, os órgãos ambientais também ficam

carentes de informações técnico-científicas necessárias às suas atividades.

A remuneração extra para participação de tais profissionais na gestão

seria uma medida justa com aqueles que de forma altruísta colaboram com a

gestão participativa em favor do ambiente, todavia, traria outro problema: a

participação oportunista daqueles que só visam à remuneração. Outra opção

seria incluir na carga horária dos pesquisadores horas de trabalho mensais

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destinadas a esse tipo de participação em comitês gestor, ou mesmo

beneficiar esses participante com uma pontuação especial no sistema CAPES

de avaliação do profissional cientista.

Todavia, melhor do remendar o sistema de comitês que temos hoje com

medidas paliativas, melhor seria substituí-lo por um sistema de gestão mais

eficiente, que desse conta das necessidade de nossa atual sociedade no

século XXI.

Uma nova proposta de modelo de gestão será melhor apresentada no

item “1.5. Integração sem descentralização” e no Capítulo III.

1.4.1. O Ordenamento Pesqueiro

O trabalho de FAERPJ & SEBRAE (2009) mostra que a legislação

ambiental constitui uma ferramenta fundamental na gestão pesqueira, contudo,

para que essa possa cumprir esse papel, é necessário haver um rápido

amadurecimento dos usuários dos recursos e a urgente revisão do conjunto de

normas de que trata o tema, de modo a torná-la mais enxuta, objetiva, fácil de

ser cumprida e fiscalizada, além de investimentos para levá-las ao

conhecimento do público.

Nesse mesmo documento de FAERPJ & SEBRAE (2009), é possível

perceber a necessidade de medidas integradas, pois os autores sugerem no

ordenamento pesqueiro medidas tanto técnicas e legislativas quanto sociais,

mostrando que na gestão ambiental pesqueira, não baste se preocupar com a

biologia dos peixes e sua legislação, mas também com a questão social e

econômica do pescador, propondo para o ordenamento pesqueiro medidas

como: a qualificação e valorização do profissional de pesca, onde o pescador

deve ser mais bem capacitado e ter a Carteira de Trabalho assinada, e o

fortalecimento das instituições estaduais que atuam junto ao setor pesqueiro.

O Fórum da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, criado em 1996,

pode ser visto como um exemplo de gestão pesqueira que surgiu da

necessidade de juntar diversos setores para a tomada de decisões frente a

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urgentes necessidades ambientais. A ideia surgiu devido à exploração

excessiva da área estuarina da Lagoa dos Patos pela pesca indiscriminada, e

à necessidade de estabelecer padrões de uso compatível com as

características dos recursos e com a sobrevivência das comunidades de pesca

artesanal, de maneira que esse fórum é uma parceria colaborativa entre as

comunidades, organizações governamentais e não-governamentais, criado

para promover a gestão da pesca através de negociação (KALIKOSKIA &

SATTERFIELDB, 2004).

A transição para uma abordagem de gestão participativa não é

um processo rápido. Entretanto, segundo Kalikoskia e Satterfieldb (2004), o

fórum tem alcançado importantes resultados positivos

e ganhou legitimidade ao longo do tempo, mostrando que, pela primeira vez,

a pesca de pequena escala foi reconhecida e está ganhando poder de

barganha no processo de tomada de decisão da Lagoa dos Patos.

No Rio de Janeiro, o estudo de Moore analisou as percepções dos

pescadores artesanais sobre o Governo na Região Metropolitana, abordando a

opinião dos pescadores com relação ao resultado da fragmentação

organizacional no setor de pesca do Brasil. Esse estudo aborda questões

importantes, como por exemplo: a descentralização do poder institucional

trazer conflitos de competências administrativas, a necessidade de reforço

institucional para o IBAMA e outras instancias que regulam a pesca, e

finalmente, o investimento do Estado em programas para incentivar as

universidades a trabalhar em projetos que melhorem a governança pública e

as comunidades carentes (MOORE, 2009).

Moore (2009) ressalta que a falta de comunicação entre cada grupo de

participantes é um tema que surge frequentemente:

“Os acadêmicos falam na linguagem da ciência, os

pescadores artesanais possuem conhecimento

naturalista, e os funcionários do governo têm um fundo

em questões de política relacionadas. No Brasil, tem sido

difícil para esses grupos olharem uns aos outros como

iguais e cooperar através da partilha das capacidades

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únicas que possuem. Talvez, capacitar os órgãos

estaduais e associações de pescadores, e incentivar as

instituições acadêmicas e universidades para se tornarem

mais políticos relevantes, poderia fazer muito para

melhorar a deliberação entre esses grupos, melhorando

assim a qualidade da co-gestão no Brasil” (MOORE,

2009).

Esse último ponto abordado por Moore (2009), no que tange ao conflito

pesqueiro, é o mesmo apontado nesse estudo aplicado a políticas de

desenvolvimento sustentável: o reforço esperado para os órgãos ambientais

pode e deve ser apoiado pelo corpo científico das universidades. À medida que

esses dois grupos estiverem mais integrados, será possível construir as

políticas ambientais mais sólidas e por em prática os resultados da pesquisa

científica.

1.4.2. Projetos Integrados

1.4.2.1. O REVIZEE, o REVIMAR e o LEPLAC

Em 1988, o Brasil assinou a Convenção das Nações Unidas sobre o

Direito do Mar (CNUDM) (BRASIL, 1995), assumindo assim uma série de

direitos e deveres, dentre os quais estava inventariar e estimar o potencial

sustentável de captura dos recursos vivos, com o propósito de oficializar a

Zona Econômica Exclusiva brasileira de 200 milhas marítimas (CNUDM, art.

57). Para atender essa exigência, a Comissão Interministerial para os

Recursos do Mar (CIRM) aprovou, em 1994, o Programa REVIZEE (Avaliação

do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva),

destinado a fornecer dados técnico-científicos consistentes e atualizados,

essenciais para subsidiar o ordenamento do setor pesqueiro nacional.

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Iniciado em 1995, o Programa adotou como estratégia básica o

envolvimento da comunidade científica nacional, especializada em pesquisa

oceanográfica e pesqueira, atuando de forma multidisciplinar e integrada, por

meio de Subcomitês Regionais de Pesquisa (SCOREs).

Em razão dessas características, o REVIZEE pode ser visto como um

dos programas mais amplos e com objetivos mais complexos já desenvolvidos

no País, determinando um esforço sem precedentes, em termos da provisão

de recursos materiais e da contribuição de pessoal especializado (COSTA et

al., 2007).

O Programa REVIZEE foi um grande exemplo de um projeto integrado,

pois tal levantamento não poderia ser feito pelas universidades via sistema

convencional de financiamento do CNPq, nem poderia ser feito pelo órgão

ambiental sozinho, através da abertura de editais e licitações. Um projeto com

objetivos desse porte, só poderia ser feito de maneira integrada em nível

nacional, pois nasceu de uma exigência legislativa, e foi executado pelos

órgãos ambientais, em conjunto com a Marinha do Brasil e diversos

pesquisadores de várias universidades.

Esse projeto direcionou a pesquisa científica para objetivos concretos, a

fim de fornecer dados técnico-científicos consistentes e atualizados, essenciais

para subsidiar o ordenamento do setor pesqueiro nacional, de forma que

ambos os lado saíram ganhando, isto é, os pesquisadores tiveram

financiamento para realiza estudos nunca antes feitos, e diversos

aprimoramentos foram feitos na área legislativa no que diz respeito à

legislação costeira e ao mar territorial brasileiro, além de um enorme ganho

com a divulgação científica dos resultados (Lei Nº 8.617, BRASIL, 1993).

Apesar de alguns problemas em sua execução, tanto nos métodos de

pesquisa empregados, quanto nos resultados obtidos, o material coletado pelo

REVIZEE é amplamente utilizado até hoje, e suas publicações são uma fonte

de consulta riquíssima e fortemente difundida pela comunidade científica no

Brasil.

Depois do REVIZEE, o REVIMAR surgiu com a finalidade de avaliar

continuamente o potencial de captura sustentável dos recursos do mar e

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monitorar de forma sistemática as populações de peixes e outros estoques

presentes nas áreas marítimas sob jurisdição nacional, com vistas a subsidiar

políticas pesqueiras que garantam a sustentabilidade e a rentabilidade da

atividade (SERAFIM, 2007).

O REVIMAR é um projeto coordenado pela Comissão Interministerial

para os Recursos do Mar (CIRM), cujas atividades são conduzidas por um

Comitê Executivo em escala nacional, criado pela Portaria interministerial nº

233/MB (BRASIL, 2005). Também foram criados para esse projeto os

Subcomitês Científicos, formados por especialistas em recursos pesqueiros,

associados ao gerenciamento das Unidades de Gestão (espécies ou grupo de

espécies pesqueiras), ainda que algumas dessas unidades já se encontrem

contempladas por outros comitês, como o Comitê de Gestão do Uso

Sustentável (CGS), coordenado pelo IBAMA, ou o Comitê Permanente de

Gestão (CPG), coordenado pelo MPA.

Ambos os programas, REVIZEE e REVIMAR, expressam a necessidade

de uma gestão integrada dos recursos ambientais, onde a União financie

pesquisas direcionadas às áreas carentes do conhecimento científico que

sejam úteis para as políticas ambientais e ao poder legislativo com o

conhecimento científico, além de trazerem o benefício de incluir os

pesquisadores na gestão ambiental.

Outro exemplo de projeto integrado está no Plano de Levantamento da

Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), um programa do Governo

Brasileiro, que surgiu com o objetivo de determinar o limite da plataforma

continental além das 200 m.m., para sua inclusão na ZEE nos termos em que

a mesma é definida no artigo 76 da CNUDM (BRASIL, 1995).

Em novembro de 1996, foi concluída a etapa de aquisição de dados de

sísmica, com a participação de diversos navios hidrográficos e oceanográficos

da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN – Marinha do Brasil), de

especialistas da Petrobras e de pesquisadores das Universidades, mostrando

o engajamento da União juntamente com a iniciativa privada e também dos

especialistas universitários, cuja contribuição gera frutos em diversas áreas do

conhecimento.

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Esse projeto envolveu ao todo o mapeamento de cerca de 150.000 km

de perfis distribuídos ao longo da margem continental, do Oiapoque ao Chuí,

até uma distância do litoral de aproximadamente 350 milhas. Desde o seu

início, em 1987, já foram investidos recursos superiores a US$ 40 milhões no

LEPLAC, tendo a Petrobras arcado com pelo menos metade desse valor, para

a aquisição e processamento dos dados geofísicos, cabendo a outra metade à

Marinha do Brasil, através do emprego dos navios e execução do projeto

(DHN, 2012).

O LEPLAC também foi coordenado através de gestão participativa, cujo

comitê apresentou representantes das seguintes instituições e segmentos da

sociedade: SECIRM, DHN, Petrobrás, Departamento Nacional de Produção

Mineral (DNPM), Comunidade Científica e o Coordenador do Programa de

Geologia e Geofísica Marinha (PGGM) (DHN, 2012).

1.4.2.2.O projeto HABITAT

A Bacia de Campos (região Sudeste do Brasil) tem sido amplamente

pesquisada, pois se situa em área de interesse econômico e ecológico,

possuindo reservas petrolíferas onde pode ser observada a transição entre a

fauna e flora tropicais e temperadas, bem como fenômenos oceanográficos de

ressurgência de águas frias (Cabo Frio), com consequências na produtividade

pesqueira de toda a região (FUJB, 2010).

O Projeto de Caracterização Ambiental Regional da Bacia de Campos

(PCR-BC) surgiu a partir de demanda do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente

(IBAMA) para gerar e consolidar conhecimento dessa região, tendo em vista a

grande utilização econômica dessa região pelo setor de petróleo e gás. O

projeto abordou aspectos físicos, químicos, geológicos, biológicos e

socioeconômicos da região, englobando uma área de 100 mil km².

O projeto possui duas vertentes, sendo uma referente ao entendimento

socioeconômico da atividade pesqueira e outra referente ao meio natural:

denominado Projeto HABITATS – Heterogeneidade Ambiental da Bacia de

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Campos. As informações serão transformadas em uma base de dados,

pioneira no país, a fim de que possam ser úteis para a melhoria da tomada de

decisão e gestão ambiental na região, além de serem transformadas em uma

coleção de publicações científicas (PETROBRAS, 2011).

Projetos como esse veem preencher exatamente a necessidade de

integração de que trata esse trabalho. O licenciamento ambiental gera uma

demanda de conhecimentos científicos, e ninguém melhor que os

pesquisadores universitários (e outros centros de pesquisa) para ajudar a

suprir essa demanda, em conjunto com a iniciativa privada que também é

interessada nas pesquisas dessa área.

Os dados foram coletados entre a costa e três mil metros de

profundidade do mar, sendo possível obter uma caracterização bastante

completa da Bacia de Campos. Ao todo, 250 pesquisadores, técnicos,

professores e estudantes foram envolvidos no projeto (PETROBRAS, 2011).

A caracterização das comunidades bentônicas da plataforma continental

e do talude da Bacia de Campos fornecerá subsídios para o planejamento e

gestão ambiental da região, e está sendo desenvolvido por um grupo do

Instituto de Biologia da UFRJ e financiado pela PETROBRAS (FUJB, 2010).

A caracterização física, química e biológica dos diferentes ambientes

sobre a plataforma continental e o talude da Bacia de Campos e a construção

do modelo ecológico conceitual para compreensão da dinâmica ecológica

desta região, visa melhorar a qualidade das decisões sobre o desenvolvimento

das atividades de petróleo e gás na região, e está também sendo desenvolvido

por um grupo do Instituto de Biologia da UFRJ (FUJB, 2010).

A Petrobras já entregou o relatório final das pesquisas ao IBAMA, e a

previsão é de que, até julho 2012, as publicações e a base de dados estejam

disponíveis para todos os interessados (PETROBRAS, 2011).

Além da divulgação científica promovida pelas publicações resultantes

desse estudo, outros estudos paralelos são beneficiados com esse tipo de

projeto, gerando monografias, teses e publicações em diversas áreas da

ciência (e.g.: OLIVEIRA et al., 2011 e MACIEL et al., 2011).

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1.4.2.3. O projeto GloBallast.

A Organização Marítima Internacional (IMO), com recursos oriundos do

Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF) através do Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), uniu-se aos Estados Membros e a

indústria do transporte marítimo com o propósito de apoiar países em

desenvolvimento no trato do problema de água de lastro, dando início, assim,

ao Programa Global de Gerenciamento de Água de Lastro - GloBallast. O

orçamento total para o projeto foi de US$10.192.000 (incluindo os custos de

administração da agência executora (GEF) e a contribuição dos governos

envolvidos: US$2,8 milhões do um fundo comum entre os seis países pilotos)

(LEAL-NETO, 2007).

O GloBallast é um projeto de âmbito internacional, que objetiva buscar

regras adequadas para evitar a disseminação de organismos aquáticos não

nativos e conscientizar os governos dos países membros a respeito das

introduções de espécies exóticas por água de lastro (SILVA et al., 2007),

auxiliando os países em desenvolvimento a cumprir as medidas previstas na

Resolução A.868 (20) – IMO (Organização Marítima Internacional).

No Brasil, o GloBallast foi coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente

e auxiliado pela Organização Marítima Internacional (IMO). O Programa foi

iniciado em 2000 estendendo-se até 2004, formado por uma equipe

multidisciplinar de especialistas de várias universidades do Brasil, além de

representantes dos setores envolvidos como Agência Nacional de Vigilância

Sanitária, Companhia Docas do Rio de Janeiro, FEEMA, IBAMA, e

PETROBRAS, Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira e do

Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

A integração desses diversos setores para a realização do GloBallast foi

assim chamada de "Força-Tarefa Nacional", mostrando que o Brasil é capaz

de realizar projetos de grande escala, produzindo pesquisa em nível

internacional e colocando em práticas as políticas públicas ambientais tão

desejadas.

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A sensibilidade ambiental da região, a proximidade com a cidade do Rio

de Janeiro, e o porto de Itaguaí fizeram com que a Baía de Sepetiba fosse

selecionada para o projeto piloto do GloBallast. Os resultados obtidos nesse

estudo de caso deverão fundamentar o “Plano Nacional de Controle e

Gerenciamento da Transferência Indesejável de Organismos Aquáticos e

Patogênicos por Água de Lastro de Navios”, e servirá para o estabelecimento

de diretrizes para a proteção da biodiversidade costeiro-marinha associadas

aos mecanismos de controle ambiental. (INEA, 2012)

A partir da análise dos dados das coletas efetuadas pelo GloBallast em

2001, foram identificadas 272 espécies, sendo que 226 são novas citações

para a Baía de Sepetiba, tendo o total de espécies registradas para a região

passado de 135 para 363 (SILVA et al., 2007).

O material produzido por tal projeto tem sido útil em diversas áreas. O

levantamento massivo de dados na Baía de Sepetiba tem servido de fonte

bibliográfica para muitos estudos científicos e também para o processo de

licenciamento ambiental de empreendimentos nessa baía. Todo material

científico produzido pelo GloBallast está disponível para consulta no site do

projeto (http://globallast.imo.org/), além disso, as coletas e o material biológico

tombado como acervo biológico tem gerado diversos estudos internamente no

Brasil, como artigos, teses e outras publicações (e.g.: SZÉCHY, et al., 2005).

1.4.2.4. Outras considerações

A importância de projetos integrados vai desde a participação de

diversos setores até a publicação dos resultados: o poder executivo

(administração direta e indireta) ganha subsídios para a tomada de decisão, a

ciência ganha com o financiamento de mais pesquisas, e, a medida que o

poder público se compromete em divulgar os resultados, como parte do

cumprimento do principio da publicidade, toda população ganha com a

divulgação científica.

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Os projetos citados acima geraram séries de livros que, em sua maioria,

são de fácil acesso para todos, e estão nas bibliotecas de todo país e também

online. Essa grande divulgação é uma das vantagens de projetos integrados,

pois só as publicações do poder público possuem tal nível de publicidade e

acessibilidade.

Além, desses, outros projetos de divulgação ambiental do poder público

também podem ser citados como de grande valia. A série de livros da

Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável foi um

excelente projeto, que juntou informações científicas de diversos ecossistemas

do estado, cujo conteúdo é útil pra alunos, professores, pesquisadores e

funcionários de órgãos ambientais, além de divulgar dados ambientais da

administração pública, que não teríamos acesso de outra maneira, se não

fosse a iniciativa dessas publicações.

Esses livros foram produzidos como parte do Projeto Planágua

SEMADS/GTZ, iniciativa que atende fundamentalmente o objetivo de

disseminar novos conhecimentos ambientais entre técnicos e especialistas do

setor e o público em geral:

“Pela primeira vez na história do Estado do Rio de

Janeiro, o Governo estadual põe em prática uma política

de meio ambiente que contempla real e concretamente,

entre outras prioridades, a educação ambiental, como

princípio, meio e fim do processo que busca a melhoria

da qualidade de vida, mediante promoção do

desenvolvimento sustentável” (SEMADS, 2001).

Haja vista os projetos exemplificados nesse item, é nítido que quando há

uma demanda legislativa (como no caso do projeto REVIZEE, LEPLAC, ...),

internacional (como no projeto GloBallast), ou uma demanda do órgão

ambiental para licenciamento (como no caso do projeto HABITATS), muitos

bons resultados podem ser produzidos pela corpo de pesquisadores em

conjunto com o poder público. Essas demandas, sem dúvida podem ser

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utilizadas como uma importante ferramenta para a produção científica no país,

além de suprir a necessidade de informações técnicas para os órgãos

ambientais.

Esse trabalho propõe que outros programas como os citados acima

sejam elaborados para a gestão ambiental no Brasil, atuando também em

áreas sem interesse econômico, para isso, o presente estudo traz no Capítulo

III uma nova proposta de gestão, como base os sucessos dos projetos

integrados já realizados e nos problemas do atual sistema de gestão

participativa, formalizando um espaço e orçamento fixo para projetos

integrados.

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CAPÍTULO II – Pesquisa de Opinião dos Atores

1.1 – Pesquisa de Opinião dos Atores

Tendo em vista que os pontos abordados nesse trabalho trazem uma

análise do direito ambiental aplicado, e também do papel da pesquisa científica

para tornar essa análise mais embasada, foram realizadas entrevistas com

pesquisadores e funcionários de órgãos ambientais, a fim de saber o parecer

desses profissionais sobre a conservação ambiental no Brasil.

A análise da opinião crítica dos atores envolvidos nesse processo é a

melhor fonte de consulta para saber o que poderia melhorar e quais são as

necessidades de cada setor.

O questionário, presente no Anexo I, foi enviado para diversas pessoas

que trabalham na área ambiental, incluindo órgãos ambientais e pesquisadores

de todo Brasil. Dentre as respostas obtidas somou-se um total de 15

participantes, dentre eles funcionários de órgãos ambientais como o IBAMA e

o INEA, e também contribuições de professores e pesquisadores das

seguintes universidades: UFRJ, UFF, UNISINOS e UFRGS.

O questionários não apresentava respostas excludentes, ou seja, não

era preciso escolher apenas uma resposta, mas sim classificá-las de acordo

com o quanto o participante concordava com elas, utilizando para isso uma

escala de concordância que variava de 0 a 5. E, além disso, o participante

poderia ainda optar pelo item “outra resposta”, contribuindo com temas não

abordados nas respostas dadas, o que também gerou grandes contribuições

para esse trabalho.

As perguntas tratavam basicamente de identificar onde estão as falhas

da gestão ambiental, e consequentemente quais seriam as áreas prioritárias

de investimento, isto é, na opinião dos pesquisadores e funcionários de órgãos

ambientais, o que deve ser mudado no Brasil na área ambiental.

A seguir será feita uma análise de cada uma das perguntas mostrando

qual das respostas foi mais pontuada e verificando também possíveis

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diferenças entre as respostas dos pesquisadores e dos funcionários de órgãos

ambientais.

1.2 – Resultados

A primeira pergunta aborda de maneira genérica qual seria o primeiro

passo para melhorar a conservação ambiental:

A) O que poderia melhorar a conservação ambiental no Brasil?

( ) Maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais.

( ) Melhoria da legislação ambiental.

( ) Maior financiamento de pesquisas científicas.

( ) Maior participação dos pesquisadores na elaboração de políticas

ambientais.

( ) Outro:______________________________________________________

No geral, a resposta mais votada foi “Maior fiscalização por parte dos

órgãos ambientais” e “Maior participação dos pesquisadores na elaboração de

políticas ambientais”, indicando que na opinião dos profissionais de meio

ambiente a maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais seria o ponto

mais fraco da gestão ambiental brasileira, e seria a prioridade de investimento

para melhor a qualidade ambiental e o uso dos recursos naturais no Brasil

(Figura 1.2-1).

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Figura 1.2-1 – Gráfico dos pontos acumulados para cada resposta da

pergunta A.

Quando analisado somente as respostas dos pesquisadores, as duas

respostas mais votadas continuam sendo as mesmas, mas as prioridades se

inverteram. Para os cientistas, a prioridade de mudanças seria “Maior

participação dos pesquisadores na elaboração de políticas ambientais”

(Pontos= 49) e depois “Maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais”

(Pontos= 45), exprimindo um forte desejo de participação dos cientistas na

gestão e classificando como prioridade para a conservação ambiental a

integração dos órgãos ambientais como a pesquisa, reforçando o tema desse

trabalho.

Quando nenhuma das respostas exposta expressava a opinião do

participante, o questionário contava com um item discursivo chamado “outra

resposta”, onde o participante poderia preencher com seus argumentos.

Nessa pergunta o item outras respostas foi bastante pontuado, o que

indica que os participantes incluem outras tarefas a serem feitas para melhorar

a questão ambiental, principalmente funcionários de órgãos ambientais. Foram

sugeridas mudanças no que tange questões sociais, como a participação da

população de forma qualificada na gestão ambiental e maior participação de

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comunidades do entorno de unidades de conservação e populações

tradicionais, que dependem desses recursos naturais.

Outras pessoas sugeriram que pra melhorar a conservação ambiental

deveria haver mudanças no poder público, como maior efetividade da divisão

de responsabilidade nas decisões ligadas aos temas ambientais, e mais

atenção a questões ecológicas em nível nacional, alegando uma falta de

autonomia na gestão ambiental, comparativamente à outras áreas de

interesse, como por exemplo, geração de energia e transportes.

A segunda pergunta visa identificar se a problemática do meio ambiente

é fruto de uma legislação fraca ou incompleta:

B) Como você classificaria a legislação de proteção ambiental no Brasil?

( ) Fraca. Pouco rígida.

( ) Incompleta.

( ) Razoável.

( ) Boa.

( )

Outro:_______________________________________________________

No geral, a resposta mais votada classificou a legislação como “Boa”

indicando claramente que os problemas ambientais no Brasil não provem de

falhas na legislação, tampouco da falta de rigidez da mesma (Figura 1.2-2).

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Figura 1.2-2 – Gráfico dos pontos acumulados para cada

resposta da pergunta B.

Esse padrão de respostas foi compartilhado por ambos os grupos, visto

que tanto os pesquisadores, quanto os funcionários de órgãos ambientais,

apresentaram como respostas mais pontuadas: “Boa”, “Razoável” e

“Incompleta” nesta ordem.

Nessa pergunta outras respostas foram sugeridas, indicando novamente

que o problema não está na legislação em si, mas no fato de ser

propositadamente desmontada pela representação política do setor produtivo,

além de apresentar problemas envolvendo o poder judiciário, que tenderia a

achar os crimes ambientais menos importantes que os outros crimes,

isentando ou atenuando as penas de infratores que são detidos por agentes

ambientais, segundo a opinião do participante.

Apenas poucas respostas indicaram falhas na legislação, dentre as

quais estava a falta de proteção para as descobertas brasileiras, mostrando

uma necessidade ampliação da política de patentes, e áreas afins.

A terceira pergunta é uma avaliação do papel das ciências e dos

cientistas na conservação ambiental, visando identificar qual seria a

contribuição dos pesquisadores e profissionais técnicos para a aplicação das

políticas ambientais.

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Muitas pesquisas cientificas são realizadas sem uma intenção prévia de

utilidade para o homem, ou sem uma aplicação imediata, e nem por isso são

menos importantes que as outras que possuem aplicação. Essa questão foi de

suma importância por abordar uma reflexão sobre o papel da ciência,

avaliando se a pesquisa científica seria útil na política ambiental, e mais, se a

ciência teria como função esse tipo de atividade.

Antes de qualquer proposta de participação das ciências no direito

ambiental é preciso definir se os atores do processo entendem a ciência como

uma ferramenta de gestão, ou se preferem que sua atuação seja mantida

longe dos tomadores de decisão, isenta de responsabilidade política.

C) O que os pesquisadores (cientistas) podem fazer para preservar o

meio ambiente?

( ) Nada. A ciência é uma ferramenta de estudo e não de gestão ambiental.

( ) Mais pesquisas, pois qualquer pesquisa gera preservação ambiental.

( ) Maior direcionamento das pesquisas para áreas carentes do conhecimento

(visando as demandas dos órgãos ambientais, ou programas com metas

específicas como REVIZEE, GloBallast, ...).

( )Maior participação dos pesquisadores na elaboração de políticas

ambientais.

( ) Outro:_______________________________________________________

No geral, a resposta mais votada foi “Maior direcionamento das

pesquisas para áreas carentes do conhecimento (visando as demandas dos

órgãos ambientais, ou programas com metas específicas como REVIZEE,

GLOBALLAST, ...)” e “Maior participação dos pesquisadores na elaboração de

políticas ambientais” (Figura 1.2-3).

Esse resultado corrobora com a temática apontada nesse estudo,

mostrando que sobre tudo os órgãos ambientais sentem falta de informações

técnicas, e creem que a ciência pode suprir essa necessidade, aprovando a

iniciativa de projetos integrados como o REVIZEE, GloBallast, etc..

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Figura 1.2-3 – Gráfico dos pontos acumulados para cada

resposta da pergunta C.

Quando analisado somente as respostas dos pesquisadores, as duas

respostas mais votadas continuam sendo as mesmas, mas as prioridades se

invertem. Para os cientistas, a prioridade de mudanças seria “Maior

participação dos pesquisadores na elaboração de políticas ambientais”

(pontos=44), ratificando o desejo de participação já expresso na pergunta A e

depois “Maior direcionamento das pesquisas para áreas carentes do

conhecimento” (pontos= 38), enquanto que os funcionários pontuaram essa

última como prioridade (pontos=20).

É notório que comunidade científica se preocupa com o direcionamento

excessivo das pesquisas, temendo que os financiamentos científicos fiquem

atrelados à política e à corrupção, mas ainda sim, os pesquisadores

classificam como importante o direcionamento das pesquisas visando às

demandas dos órgãos ambientais, e aprovam programas integrados como os

citados acima.

Nessa pergunta outras respostas foram sugeridas, abordando ampliar a

visão técnica da ciência, integrando essa com a abordagem social em suas

pesquisas conservacionistas, e outra resposta dada pelos participantes trata da

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falta de divulgação da ciência para a sociedade, que traz um grande problema

à ciência para cumprir o seu papel no país.

A quarta pergunta é uma avaliação do papel dos órgãos ambientais na

conservação ambiental, incluindo uma análise de qual seria a prioridade de

melhoria nesse quesito:

D) O que você gostaria que os órgãos ambientais melhorassem para a

conservação ambiental?

( ) Maior fiscalização ambiental.

( ) Mais rigidez no licenciamento de empreendimentos potencialmente

poluidores.

( ) Melhoria da legislação ambiental.

( ) Aumento e melhoria interna da infraestrutura do órgão.

( )

Outro:_______________________________________________________

No geral, a resposta mais votada foi “Maior fiscalização ambiental”, e em

segundo lugar as seguintes respostas empataram: “Aumento e melhoria

interna da infraestrutura do órgão” e “Mais rigidez no licenciamento de

empreendimentos potencialmente poluidores”. O mesmo perfil de respostas foi

visto em ambos os grupos quando analisados separadamente (Figura 1.2-4).

As respostas desse perguntam mostram que há um consenso quanto às

necessidades do órgão ambiental. Ambos os grupos pensam que a

fiscalização é muito importante para a conservação, e que devido a sua

deficiência, seria a prioridade de investimento hoje na área de meio ambiente.

O pedido de aumento da infraestrutura do órgão mostra, entre outras

palavras, que os participantes aprovam a atuação dos órgãos ambientais, e

desejam um aumento dessa atuação através da melhoria das suas condições

de trabalho.

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Figura 1.2-4 – Gráfico dos pontos acumulados para cada

resposta da pergunta D.

Nesta pergunta, novamente a questão social foi abordada como uma

possível resposta no espaço discursivo, indicando que uma maior participação

da população dentre as atividades dos órgãos ambientais, bem como

mecanismos mais eficazes de controle social dos empreendimentos

poluidores, seriam áreas que necessitam melhorias. Também foi abordada a

valorização da qualificação profissional daqueles que trabalham com meio

ambiente no poder publico, sendo que essa resposta pode ser vista como um

complemento à resposta “Aumento e melhoria interna da infraestrutura do

órgão”.

A quinta pergunta avalia o sistema de gestão participativa que temos

hoje, baseado em comitês, câmaras técnicas e grupos de trabalho,

questionando sobre o nível de participação dos pesquisadores e funcionários

de órgão ambientais, bem como a credibilidade e eficiência desse sistema:

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E) Você já participou de reuniões entre os pesquisadores e órgãos do

governo (comitês, câmaras técnicas, grupos de trabalho, etc...) que

envolvam sua área de atuação profissional?

( ) Sim, várias vezes, e já dei várias contribuições.

( ) Sim, porém poucas ou pude contribuir pouco.

( ) Não. Nunca ouvi falar disso ou nunca tive oportunidade de ir.

( ) Não. Recuso-me a ir porque acho o sistema ineficiente.

( )

Outro:_______________________________________________________

No geral, as respostas mais votadas quanto à participação mostraram

um empate entre “Sim, porém poucas ou pude contribuir pouco” e “Sim, várias

vezes, e já dei várias contribuições”, o que indica fortemente que a maioria dos

participantes já teve algum acesso à reuniões de gestão ambiental participativa

(Figura 1.2-5).

Figura 1.2-5 – Gráfico dos pontos acumulados para cada

resposta da pergunta E.

Essas duas respostas empatadas, diferem, no entanto, quanto à

eficiência do sistema, e nesse ponto as respostas foram bastante divergentes

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entre os grupos: enquanto os pesquisadores mostraram que embora já tenham

participado das reuniões contribuíram pouco (pontos=38), os funcionários de

órgãos ambientais mostraram que costumam ir às reuniões e contribuir

bastante para a tomada de decisão (pontos=19).

Essa pergunta mostra que a maioria dos pesquisadores foi convidada

poucas vezes para participar de reuniões de gestão, e mesmo aqueles que

participaram, não tiveram muito espaço para contribuir com seus

conhecimentos na gestão ambiental de áreas ou espécies foco de sua atuação

profissional. Lembrando que nas perguntas A e C os pesquisadores

expressaram um forte desejo de participação nas políticas ambientais, mas de

acordo com a pergunta E, parece que vontade de participar não tem sido posta

em prática através do atual sistema de gestão participativa.

Por outro lado, os funcionários de órgãos ambientais se sentem muito

mais próximos a essa política, incluídos de maneira produtiva no processo de

gestão ambiental democrática.

A sexta e última pergunta, é um complemento da anterior, visando

classificar a eficiência das reuniões de gestão em si, pontuando a qualidade

das mesmas dentre aqueles que já participaram, e identificando o motivo da

ausência daqueles que não costumam participar.

F) Se já participou das reuniões acima, o que achou delas?

( ) Muito interessantes e construtivas.

( ) A intenção foi boa, mas a reunião pouco produtiva.

( ) O sistema de gestão participativa é ineficiente.

( ) O sistema de gestão participativa é a única opção.

( )

Outro:_______________________________________________________

No geral, a resposta mais votada foi “A intenção foi boa, mas a reunião

pouco produtiva” e em segundo lugar “O sistema de gestão participativa é

ineficiente” (Figura 1.2-6).

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Figura 1.2-6 – Gráfico dos pontos acumulados para cada

resposta da pergunta F.

A resposta mais negativa (O sistema de gestão participativa é

ineficiente) foi mais pontuada pelos pesquisadores (Pontos=42), e ao contrário

desses, os funcionários de órgãos ambientais contribuíram mais com a opinião

de que as reuniões de gestão são “Muito interessantes e construtivas”

(Pontos=8).

Apensar de alguns pontos positivos, o quadro final dessa pesquisa

mostra uma forte crítica ao sistema de gestão ambiental participativa no Brasil.

Infelizmente, a maioria dos participantes assume que as reuniões têm ótimas

propostas em teoria, mas que muito pouco é levado à prática.

Ambos os grupos mostram baixa pontuação na resposta “O sistema de

gestão participativa é a única opção”, indicando que apostam na possibilidade

de mudanças estruturais na gestão para melhoria da conservação.

No espaço destinado a outras respostas, os participantes resaltaram

que essas reuniões são produtivas, mas suas decisões encontram barreiras

nas instâncias políticas, que muitas vezes ignoram os posicionamentos

técnicos tirados dessas reuniões, em prol de questões econômicas ou sociais.

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Em suma a pesquisa de opinião mostra que, embora as opiniões dos

pesquisadores e dos funcionários de órgãos ambientais possam divergir em

alguns aspectos, no geral: 1) O sistema de gestão participativa pode e deve

mudar, 2) os órgãos ambientais devem investir em mais fiscalização, 3) as

pesquisas científicas podem atuar de forma direcionada a temas relevantes

para o órgão ambiental, e 4) a participação dos pesquisadores na gestão é

imprescindível.

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CAPÍTULO III – Proposta de Integração

1.1 – Integração Sem Descentralização

O desenvolvimento sustentável é uma meta abrangente, que exige uma

reformulação no modo como a ciência e direito ambiental são feitos hoje. Mas

qual seria a melhor maneira de alcançarmos essa meta?

Até hoje, grande parte da gestão participativa no Brasil tem sido feita

através da formação de comitês, câmeras técnicas e grupos de trabalho, como

foi visto nos itens anteriores. Mas muitas dessas reuniões não se mostram

plenamente eficientes.

A integração entre o órgão ambiental e a pesquisa visa que ambas as

instituições tenham uma missão em comum “gerar conservação ambiental e

alcançar o desenvolvimento sustentável”. Contudo, deve ter-se muito cuidado

para que não seja criada mais uma instância descentralizada e falida de

gestão ambiental.

Devido à baixa participação dos profissionais de meio ambiente, e ao

arranjo burocrático das competências, os comitês acabam por criar debates

infindos que não levam a ações práticas para a área/espécie em questão. No

atual contexto, melhor do remendar o sistema atual seria incluir outro canal

mais eficiente de gestão e ir substituindo o sistema antigo gradualmente,

conforme as mudanças se mostrarem positivas.

Este trabalho indica algumas mudanças possíveis no sistema de gestão

e traz uma nova proposta baseada nas experiências já vivenciadas de projetos

integrados, tentando corrigir os problemas encontrados no atual modelo de

gestão participativa.

A integração abordada nesse estudo não prevê a formação de mais um

comitê, menos ainda a descentralização das competências, e sim uma

mudança geral no conceito de fazer ciência e executar políticas ambientais. A

proposta tem como base os sucessos dos projetos integrados vistos no

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Capítulo I, que inclua as áreas sem potencial de exploração imediata, através

da formalização de um espaço e orçamento fixo para projetos integrados.

A formulação de leis ambientais deve ser feita com um apoio técnico,

em um espaço democrático reservado para os pesquisadores e especialistas

das áreas afins discutirem sua formulação junto ao poder legislativo, de forma

que os pesquisadores não dependessem de serem convidados para reuniões

de comitês. Nesse espaço os especialistas também poderiam contribuir para

as políticas ambientais executadas pelo órgão ambiental no que tange as

espécies alvo de suas pesquisas.

Eventos de integração como esses podem ser periódicos ou não, mas

importa que sejam reservados para tal fim, de forma que os pesquisadores

pudessem se preparar com antecedência, formular propostas e levar suas

contribuições para a legislação ambiental de um determinado tema, ou para a

gestão ambiental de uma determinada área. Além disso, é importante de tais

reuniões gerem documentos oficiais, que consolidem o plano de gestão para a

área, junto com a publicação de todo acervo científico já existente sobre o

tema compilado.

Nesse espaço, os funcionários responsáveis pelo licenciamento

ambiental também poderiam tirar suas dúvidas e recolher as informações

técnicas necessárias para a melhor tomada de decisão, assim como os demais

profissionais do poder executivo que se interessassem em participar poderiam

se inteirar de informações técnicas para melhor legislar e/ou votar sobre

questões ambientais.

1.2 – Modelo proposto de integração: Unidades de Gestão

Ambiental Integrada – UGAI.

Muitas mudanças se fazem necessárias para uma reformulação do

processo de gestão, inclusive a conscientização da necessidade de mudanças

pelos atores envolvidos no processo.

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Primeiramente seria importante criar um demanda adicional à ciência

para o atendimento das necessidades dos órgãos ambientais, o que não exclui

a necessidade de continuar as linhas de pesquisa já existentes. Isso é, seria

importante a criação de documentos oficiais que criem novas linhas de

pesquisa em áreas prioritárias, onde haja carência do conhecimento e também

seja de utilidade para o órgão executor. Essas novas linhas de pesquisa teriam

seu financiamento via CNPq (como têm sido feitas as pesquisas científicas

hoje), só que com um processo de seleção diferenciado das demais, visto que,

teria subsídios em um capital já destinado para as demandas de estudos da

UGAI, e seus resultados seriam entregues periodicamente ao órgão ambiental

para sua utilização e publicação.

As novas linhas de pesquisa seriam debatidas em uma reunião

temáticas compostas por pesquisadores e representantes de órgãos

ambientais, de forma que esse espaço também dê à comunidade científica

acesso e participação nos atos normativos ambientais que dizem respeito

àquela área/ecossistema.

Para isso, a proposta trata da criação de Unidades de Gestão

Ambiental Integrada (UGAI), onde cada UGAI pode representar um

ecossistema, ou um conjunto deles. No Rio de Janeiro, por exemplo, a primeira

UGAI a ser criada poderia contemplar a Baía de Guanabara, pois essa além de

ser foco de grande parte das pesquisas no estado, é um ambiente central para

execução de políticas públicas, tanto sociais e ambientais quanto econômicas.

Adicionalmente a Baía de Guanabara é um ambiente que sustenta uma

importante produção pesqueira (não apenas pelas quantidades

desembarcadas, como pelo numero de pescadores envolvidos (IBAMA 2002)),

e a despeito da poluição, serve de habitat e fonte de recursos alimentares para

muitas espécies.

Cada UGAI teria seus respectivos Fóruns de Gestão Ambiental

Integrada que podem ser periódicos ou não. No caso da UGAI Baía de

Guanabara, seria importante que essas reuniões fossem anuais, mas no caso

de reuniões para formulação de leis ambientais específicas, as reuniões

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poderiam ser pontuais, cuja UGAI se extinguiria no ato de sanção e publicação

da lei tema da reunião.

Os Fóruns de Gestão da UGAI teriam como objetivo:

• Definir quais são as áreas e espécies de investimento prioritário para

conservação e recuperação ambiental da unidade;

• Gerar documentos oficiais que criem as novas pesquisas para as áreas

e/ou espécies prioritárias, bem como para pesquisa de novas tecnologias

de uso sustentável;

• Identificar falhas e casos omissos da legislação ambiental aplicável a

UGAI, propondo novos projetos de lei;

• Identificar falhas e casos omissos da normatização ambiental do órgão

executor, confeccionando novas formas de executar as políticas

ambientais;

• Inventariar os recursos vivos da UGAI e estabelecer os padrões

sustentáveis de captura e utilização desses recursos;

• Promover a divulgação da informação técnica/científica disponível para

aquela área ou tema;

A cada Fórum de Gestão geraria uma serie de documentos importantes

como produtos, nos quais constam as diretrizes de gestão da UGAI.

Um órgão ambiental deve presidir a reunião, dependendo se a UGAI é

local ou região esse órgão pode ser estadual ou federal, sendo que aquele que

presidir a reunião ficará responsável por publicar dois documentos principais: o

Plano de Ação da UGAI e o Caderno de Pesquisas.

O Plano de Ação deve incluir: 1) as áreas geográficas e/ou espécies de

estudo prioritário, cuja pesquisa será financiada pelos fundos destinados à

UGAI, sendo que os resultados deverão conter, não só os dados técnicos mais

também uma proposta de plano de manejo para aquela área ou espécie, além

dos temas foco de investimento em novas tecnologias de uso sustentável,

onde também atuará a linha de financiamento específica para esse fim; 2) as

ações e planos de fiscalização do órgão ambiental competente para aquela

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UGAI; e 3) a proposta de legislação pertinente à UGAI, baseado nos potenciais

sustentáveis de captura e utilização dos recursos vivos. E para servir de

subsídio ao Plano de Ação, um Caderno de Pesquisa também deve ser

publicado contendo o levantamento atualizado de todas as informações

técnico-científicas disponíveis sobre a UGAI.

Para a viabilização desta proposta e confecção de tais documento como

produto, é necessária a participação conjunta de vários setores, como os

órgãos e secretarias ambientais que dizem respeito à unidade, pesquisadores

e cientistas que estejam trabalhando com os fatores bióticos e abióticos da

região, representantes das unidades de conservação que a UGAI apresente

em seu território ou adjacências e representantes dos órgãos financiadores de

estudos, como a FAPERJ e o CNPQ.

O novo modelo de gestão proposto nesse estudo trata de uma

reformulação necessária da gestão ambiental brasileira, trazendo uma forma

mais eficiente de cumprir aquilo que a legislação brasileira já aponta como

meta há muito tempo. A UGAI cumpriria em nível local ou regional a Política

Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, Lei n.°6938, 1981), cujos objetivos foram

muito bem elaborados, mas pouco tem sido colocado em prática, são eles:

“I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a

preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à

qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União,

dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de

normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais

orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de

dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública

sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do

equilíbrio ecológico;

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VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua

utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a

manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar

e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela

utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.

Para finalizar, esse estudo propõe uma lista de temas, que seriam

exemplos de demandas onde o modelo de UGAI poderia ser aplicado:

1.2.1. UGAI Baía de Guanabara: com fóruns anuais.

A UGAI Baía de Guanabara seria uma instancia de gestão de uma

determinada área, abrangendo todos os ecossistemas que nela estão

incluídos.

Atividades propostas:

• Definir quais são as áreas/espécies de investimento prioritário na Baía de

Guanabara, visando conservação e recuperação;

• Definir quais são as áreas/espécies que necessitam mais pesquisas

científicas e criar suas linhas pesquisa e financiamento;

• Criação de legislação ambiental (portarias, instruções normativas, etc.) de

que a Baía de Guanabara esteja carecendo, baseado nos padrões

sustentáveis de pesca, e uso dos recursos naturais;

• Investigação de áreas degradadas, onde aqueles que utilizam recursos da

Baía de Guabanara poderiam investir como meio de compensação ambiental;

• através das publicações dos documentos fruto dos fóruns;

• Reunir todos os estudos já publicados na Baía de Guanabara para publicação

de um livro pelo órgão executor, a fim de promover a divulgação da informação

técnica/científica disponível;

• Dentre outras, etc.

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1.2.2. UGAI Energia hidráulica: com fóruns anuais.

Tendo em vista a constante necessidade de construções de hidrelétricas

no Brasil, essa UGAI seria voltada para gestão desse tipo de ecossistema, no

caso rios com certo volume hídrico e potencial hidrelétrico, não

necessariamente restrito a uma determinada área, mas podendo abranger todo

Brasil. Essa atividade pode fazer parte do Plano Nacional de Recursos

Hídricos previsto na lei 9.433 (BRASIL, 1997).

Atividades propostas:

• Categorizar os principais rios com potencial hidrelétrico cuja conservação

ambiental seja compatível com tal atividade;

• Definir quais são os rios ou as espécies que necessitam mais pesquisas

científicas criando seu respectivo financiamento;

• Investigação de áreas degradadas, ou sem potencial econômico, onde os

empreendedores poderiam investir como meio de compensação ambiental;

• Criar linhas de pesquisa de longo prazo para avaliação de impactos

ambientais de hidrelétricas, que incluam a pesquisa da melhor forma de

monitoramento ambiental e melhores medidas mitigadoras, avaliando também

os EIAs e as condicionantes das licenças de operação utilizadas até então;

• Reunir todos os estudos já publicados nesses rios para publicação do

caderno de pesquisas pelo órgão executor;

• Dentre outras, etc.

1.2.3. UGAI Região costeira: com fóruns anuais.

Devido a grande utilização da região costeira para atividades que não

podem ser feitas em outros locais (como portos, estaleiros, etc.), é importante

que o gerenciamento da costa brasileira seja feito de forma integrada.

Atividades propostas:

• Estudo costeiro integrado de todo Brasil, avaliando melhores locais para

incentivo da atividade portuária e naval, e identificando também os locais de

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ambiente sensível, que exigem proteção, onde as atividades portuárias e

navais serão restritas;

• Investigação de áreas degradadas, sem potencial econômico, onde as

atividades portuárias e navais poderiam investir como meio de compensação

ambiental;

• Criar linhas de pesquisa para avaliação de impactos ambientais da atividade

portuária e naval e investigação das melhores medidas mitigadoras, avaliando

também os EIAs e as condicionantes das licenças de operação emitidas até o

momento;

• Criar linhas de pesquisa para levantamento de espécies indicadoras de

poluição marinha, cujos estudos e identificação possam auxiliar no

licenciamento;

• Criar linhas de pesquisa para investigação dos melhores métodos e

equipamentos de monitoramento ambiental, que possam ser utilizados dentre

as exigências condicionantes à licença de operação;

• Elaborar as diretrizes para os Planos de Contingência Regionais e para o

Plano de Continência Nacional;

• Reunir todos os estudos já publicados sobre zonas costeiras e portuárias

para publicação do caderno de pesquisas pelo órgão executor;

• Dentre outras, etc.

1.2.4. UGAI Região oceânica: com fóruns anuais.

A UGAI Região oceânica seria voltada para a gestão das atividades

econômicas que utilizam essa área, como exploração de petróleo, gás e

pescas oceânicas de grande porte.

Atividades propostas:

• Criar linhas de pesquisa para avaliação de impactos ambientais da

exploração econômica oceânica e investigação das melhores medidas

mitigadoras, visto que a fauna e flora presente nessa região ainda são muito

pouco conhecidas e o dinamismo desse ambiente dificulta a avaliação de

possíveis impactos;

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• Estabelecimento de padrões de “diversidade esperado” ou outros índices

ecológicos similares que gerem uma base para comparação com ambientes

controle;

• Criar linhas de pesquisa para levantamento de espécies indicadoras de

poluição marinha, cujos estudos e identificação possam auxiliar o

licenciamento;

• Criar linhas de pesquisa para investigação dos melhores métodos e

equipamentos de monitoramento ambiental, que possam ser utilizados dentre

as exigências condicionantes à licença de operação;

• Elaborar as diretrizes para os Planos de Contingência Regionais e para o

Plano de Continência Nacional;

• Dentre outras, etc.

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CONCLUSÃO

É importante fazer uma avaliação do que queremos como nação para o

meio ambiente brasileiro, revendo os objetivos e metas das ciências hoje,

tendo em vista que a conservação das espécies se faz executar através dos

direitos e deveres impostos pela legislação, e que a conservação só será

possível via adequação da pesquisa científica às ferramentas legislativas

vigentes e vice-versa.

Nesse estudo, a análise da ciência e do direito ambiental levou as

seguintes conclusões:

● O crescimento econômico utiliza-se de recursos ambientais e apesar dos

impactos ambientais decorrentes dessas atividades, seu processo não será

interrompido em prol de questões ecológicas;

● Para alcançar o desenvolvimento sustentável é preciso repensar nossa

compreensão do que significava “produzir ciência” e do papel do “direito

ambiental” no Brasil;

● Os órgãos ambientais precisam de informações técnicas-científicas como

subsídio para diversas tarefas, e essas informações nem sempre estão

disponíveis ou de fácil acesso ao órgão;

● A ciência é quem deve identificar na sua respectiva área de atuação as

espécies e áreas prioritárias de investimento pelo órgão ambiental, bem como

estabeleçam os potenciais sustentáveis de captura e utilização dos recursos

naturais, que serão regulamentadas via legislação normativa;

● As pesquisas científicas carecem de ser aplicadas onde foram produzidas,

assim como novas descobertas devem ser levadas até o setor produtivo por

meio do órgão ambiental como divulgador e regulamentador do uso de novas

tecnologias;

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● O sistema atual de gestão participativa não tem dado conta de ordenar o

crescimento econômico de forma sustentável. Muitas decisões importantes a

cerca das políticas ambientas tem sido pautadas em reuniões de comitês, cuja

participação voluntária dos diversos setores é muito escassa. Como o país não

possui um corpo cientistas com dedicação exclusiva para a gestão ambiental,

acaba que os pesquisadores, que deveriam ser o corpo principal das tomadas

de decisões na área ambiental, ficam aquém da tomada de decisão e do

processo legislativo.

● Os projetos integrados já realizados no Brasil, como o REVIZEE, GloBallast,

etc. mostraram-se muito eficientes pois direcionam a pesquisa científica para

objetivos concretos, a fim de fornecer dados técnico-científicos atualizados

para subsidiar a tomada de decisão. Os pesquisadores tiveram financiamento

para realiza estudos nunca antes feitos, e diversos aprimoramentos foram

feitos na área legislativa no que diz respeito à legislação costeira e ao mar

territorial brasileiro, além de um enorme ganho com a divulgação científica dos

resultados.

● O projeto HABITAT também foi realizado de maneira integrada com vários

setores, para suprir uma carência de conhecimentos científicos do

licenciamento ambiental, de maneira que os pesquisadores universitários

ajudaram a suprir essa necessidade, realizando ciência de alta qualidade em

conjunto com a iniciativa privada, que também é interessada nas pesquisas

ambientais para sua exploração econômica.

● A integração entre o órgão ambiental e a pesquisa no Brasil ajudaria a

resolver a falta de embasamento técnico das políticas ambientais brasileiras e

também a falta de aplicação das pesquisas ambientais produzidas visando à

conservação de espécies.

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A pesquisa de opinião, dentre os pesquisadores e funcionários de

órgãos ambientais, mostrou que:

● O primeiro passo para melhorar a conservação ambiental seria “Maior

fiscalização por parte dos órgãos ambientais” e “Maior participação dos

pesquisadores na elaboração de políticas ambientais”;

● A legislação ambiental brasileira pode ser considerada como “Boa”;

● As ciências devem apresentar “Maior direcionamento das pesquisas para

áreas carentes do conhecimento” e “Maior participação dos pesquisadores na

elaboração de políticas ambientais”;

● Os órgãos ambientais devem investir prioritariamente em fiscalização

ambiental, em melhorias de sua infraestrutura e no aumento da rigidez do

licenciamento de empreendimentos poluidores;

● Quanto à gestão participativa atual, os pesquisadores mostraram que já

participaram de reuniões de gestão, mas foram poucas ou puderam contribuir

pouco, já os funcionários de órgãos ambientais mostraram que costumam ir às

reuniões e contribuir bastante para a tomada de decisão;

● O sistema de gestão participativa foi classificado como: “A intenção foi boa,

mas a reunião pouco produtiva” e “O sistema de gestão participativa é

ineficiente”, apontando para um desejo de mudanças estruturais no sistema.

A nova proposta de gestão ambiental desse estudo mostra que:

● É possível melhorar a gestão ambiental com o trabalho conjunto de alguns

setores, usando como base os sucessos dos projetos integrados já existentes;

● É importante criar um demanda adicional à ciência para o atendimento das

necessidades dos órgãos ambientais, com um orçamento especificamente

destinado para esse fim;

● A comunidade científica deve ter acesso e participação nos atos normativos

e de gestão ambiental que dizem respeito a sua área de atuação;

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● A criação de Unidades de Gestão Ambiental Integrada (UGAI) cumpriria os

objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente;

● Os Fóruns de Gestão Ambiental Integrada da UGAI, e suas respectivas

publicações, teriam muitas funções importantes para a gestão ambiental

brasileira, dentre elas: definir as áreas e espécies de investimento prioritário;

identificar falhas e casos omissos da legislação ambiental aplicável a UGAI;

estabelecer os padrões sustentáveis de captura e utilização dos recursos da

UGAI, e promover a divulgação da informação técnica/científica disponível para

aquela área ou tema.

O presente estudo aponta diversas razões que subsidiam o fato de que

para melhorar a conservação ambiental no Brasil a comunidade científica e os

órgãos ambientais têm a necessidade de trabalhar em conjunto.

Esse tema abre espaço para muitos outros estudos que analisem o

papel das ciências e do direito ambiental sob diversas óticas, assim como

aponta para a necessidade de se desenvolver um novo modelo de gestão,

incluindo o aprimoramento do sistema de gestão proposto nesse estudo.

A integração da ciência e do direito ambiental traria desenvolvimento

econômico (aumentando o potencial de exploração), garantiria a conservação

das espécies, melhoraria o processo de licenciamento ambiental, traria

embasamento técnico para as políticas ambientais, garantiria a aplicação das

pesquisas científicas produzidas e geraria maior educação ambiental em várias

escalas.

Todavia, mais importante do que obter conclusões taxativas, esse

estudo visa ratificar a importância de pensarmos de forma crítica o que temos

feito enquanto sociedade, tendo em mente que o sistema atual de divisão dos

papeis não dará conta de gerenciar o constante crescimento econômico do

país em equilíbrio com a conservação ambiental, e que a única forma de

garantirmos um ambiente equilibrado para as futuras gerações é a integração

de diversos setores através de um alvo em comum: levar o Brasil ao

desenvolvimento sustentável.

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ANEXO 1

Anexo 1 – Questionário da pesquisa de opinião enviado aos participantes

Contextualização

Esse trabalho faz parte da monografia de Pós-graduação em Direito

Ambiental da aluna bióloga Cláudia Lucas. Nele serão realizadas entrevistas

com pesquisadores e funcionários de órgãos ambientais, a fim de saber o

parecer desses profissionais sobre a conservação ambiental no Brasil,

envolvendo o papel da ciência e do direito ambiental, além disso, coletar e

analisar as importantes opiniões e contribuições desses atores para a melhoria

da conservação ambiental.

A pesquisa de opinião será somada a um estudo sobre o direito

ambiental brasileiro, propondo mudanças práticas para alcançarmos o

desenvolvimento sustentável e a melhoria da conservação ambiental,

utilizando como base as respostas da pesquisa de opinião, que indicam as

necessidades dos pesquisadores e dos funcionários dos órgãos ambientais.

Embora a legislação ambiental brasileira seja bastante completa e

abrangente, muito de seu conteúdo não é posto em prática por diversos

problemas de gestão e execução das políticas ambientais. Além disso, é

impossível proteger aquilo que não se conhece, o que mostra que estudos

científicos são imprescindíveis, tanto para formulação de políticas públicas,

quanto para legislação e execução das mesmas.

É importante fazer uma avaliação da ciência e do direito ambiental hoje,

tendo em vista que a conservação das espécies se faz executar através dos

direitos e deveres impostos pela legislação, mas que essa deve ser elaborada

tendo como base conhecimentos científicos. Para tal, esse trabalho visa

estudar a integração entre a ciência e o direito ambiental, partindo da premissa

que a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável só serão

possíveis via o trabalho conjunto dessas duas áreas.

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Questionário Nome:__________________________________________________________ Profissão:_______________________________________________________ Departamento:___________________________________________________

Dê sua opinião sobre a conservação ambiental no Brasil. Todas as respostas devem ser classificadas de acordo com o quanto você concorda com elas, utilizando para isso uma escala de concordância que varia de 0 a 5. Zero expressa nenhuma concordância com a resposta e 5 total concordância. Mesmo que prefira preencher a opção “outro”, ainda sim deve classificar TODAS as respostas de 0 a 5. A) O que poderia melhorar a conservação ambiental no Brasil? ( ) Maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais. ( ) Melhoria da legislação ambiental. ( ) Maior financiamento de pesquisas científicas. ( ) Maior participação dos pesquisadores na elaboração de políticas ambientais. ( ) Outro:_______________________________________________________ B) Como você classificaria a legislação de proteção ambiental no Brasil? ( ) Fraca. Pouco rígida. ( ) Incompleta. ( ) Razoável. ( ) Boa. ( ) Outro:_______________________________________________________ C) O que os pesquisadores (cientistas) podem fazer para preservar o meio ambiente? ( ) Nada. A ciência é uma ferramenta de estudo e não de gestão ambiental.

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( ) Mais pesquisas, pois qualquer pesquisa gera preservação ambiental. ( ) Maior direcionamento das pesquisas para áreas carentes do conhecimento (visando as demandas dos órgãos ambientais, ou programas com metas específicas como REVIZEE, GLOBALLAST, ...). ( ) Maior participação dos pesquisadores na elaboração de políticas ambientais. ( ) Outro:_______________________________________________________ D) O que você gostaria que os órgãos ambientais melhorassem para a conservação ambiental? ( ) Maior fiscalização ambiental. ( ) Mais rigidez no licenciamento de empreendimentos potencialmente poluidores. ( ) Melhoria da legislação ambiental. ( ) Aumento e melhoria interna da infraestrutura do órgão. ( ) Outro:_______________________________________________________ E) Você já participou de reuniões entre os pesquisadores e órgãos do governo (comitês, câmaras técnicas, grupos de trabalho, etc...) que envolvam sua área de atuação profissional? ( ) Sim, várias vezes, e já dei várias contribuições. ( ) Sim, porém poucas ou pude contribuir pouco. ( ) Não. Nunca ouvi falar disso ou nunca tive oportunidade de ir. ( ) Não. Recuso-me a ir porque acho o sistema ineficiente. ( ) Outro:_______________________________________________________ F) Se já participou das reuniões acima, o que achou delas? ( ) Muito interessantes e construtivas. ( ) A intenção foi boa, mas a reunião pouco produtiva. ( ) O sistema de gestão participativa é ineficiente. ( ) O sistema de gestão participativa é a única opção. ( ) Outro:_______________________________________________________

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