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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ESCOLA: ESPAÇO DE UM RICO DELINEAR PARA O
TRABALHO
Por: Viviane Machado Santos Pereira da Costa
Orientadora
Professora Mary Sue
Rio de Janeiro
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2014
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ESCOLA: ESPAÇO DE UM RICO DELINEAR PARA O
TRABALHO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Orientação Educacional e
Pedagógica
Por: Viviane Machado Santos Pereira da Costa
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus,
por me inspirar no fazer deste trabalho
de conclusão de curso;
Também agradeço aos meus pais e
irmão, por sempre me incentivarem a
estudar;
Estendo meus agradecimentos aos
meus professores deste curso de Pós-
Graduação, os quais muito me
ensinaram e contribuíram na minha
formação enquanto Orientadora
Educacional e Pedagógica.
Finalizo agradecendo aos meus
colegas de turma deste curso por todo
o incentivo que me concederam a
cada aula.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, aos
meus familiares, amigos, colegas e a
todos os demais que sempre me
deram incentivo para construí-lo,
assegurando-me de que eu
alcançaria a realização deste.
5
RESUMO
Este trabalho propõe uma reflexão acerca da Orientação Profissional,
especialmente quando esta se dá no espaço escolar.
Para que a compreensão da Orientação Profissional que ocorre em
grande parte das escolas nos dias de hoje ocorra de modo mais fácil,
primeiramente, faz-se um estudo da História desta Orientação: seus primeiros
estudiosos reconhecidos, as transformações políticas, econômicas e sociais
vivenciadas pelas nações que contribuíram significativamente para alterações
e manutenções do fazer desta Orientação Profissional com o passar dos
tempos.
Em seguida, são apresentadas formas das mais variadas em que esta
Orientação Vocacional se dá, pois as abordagens exemplificadas se
encontram nos mais distintos contextos, desde o espaço em que se dão,
didática seguida até as personagens envolvidas neste processo.
Finalmente, a partir de uma reflexão sobre as variadas práticas da
Orientação Profissional expostas, possibilidades de trabalho para uma prática
cada vez mais eficaz, conduzidas por um Orientador Profissional em crescente
formação, são sugeridas.
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METODOLOGIA
Para a construção desta monografia, foram lidos e estudados materiais
bibliográficos abordados e sugeridos ao longo das aulas da Disciplina
Orientação Vocacional e Profissional, a qual integrou a grade curricular do
Curso de Pós-Graduação ao qual este trabalho se refere.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A História da Orientação Profissional 11
CAPÍTULO II - A Orientação Profissional comumente encontrada nas escolas
brasileiras 21
CAPÍTULO III – Sugestões para uma Orientação Profissional de maior
qualidade nas escolas brasileiras 29
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
ÍNDICE 44
FOLHA DE AVALIAÇÃO 45
INTRODUÇÃO
8
É comum pensar-se na figura do Orientador Profissional somente ao lado
de jovens que estão a concluir o Ensino Médio e desejam definir um Curso
Superior a seguir.
Entretanto, muitas das sociedades dos diversos continentes se encontram
em uma nova ordem do mundo do trabalho, onde a crise do emprego pode ser
assinalada.
Para exemplificar esta crise e mostrar que o Orientador Profissional – o
qual, em alguns momentos, será encarado como um Reorientador Profissional,
se faz necessário não somente naquele cenário, registra-se situações como:
* existência de carreiras profissionais completa ou praticamente extintas, o que
leva trabalhadores de longa experiência a se perguntarem sobre o que podem
fazer, quais suas possibilidades dentro deste novo contexto. Alguns, inclusive,
aposentados, que procuram nova colocação pela necessidade de
complementar os ganhos, uma vez que os vencimentos da aposentadoria são
insuficientes, ou porque querem nova ocupação, como modo de preencher o
tempo vago. Ressalta-se que muitos destes trabalhadores retornam à escola
com o anseio de se aprimorarem para buscarem uma nova função, um novo
papel no mercado de trabalho;
* indivíduos que não estão satisfeitos com a atual profissão, por diversos
motivos: não escolheram, foram "escolhidos" para uma profissão, abraçaram a
primeira oportunidade que apareceu, dentre outros. Em grande número de
casos, esse, “foram "escolhidos" para uma profissão” ou esse “abraçar a
primeira oportunidade que apareceu” se deu como consequência da
necessidade da própria sobrevivência ou também de seus familiares. Muitas
das vezes, ausentes da escola. Assim, em um momento futuro tido como de
melhores condições, tais indivíduos buscam a escola e, ao passo em que vão
se aperfeiçoando e, consequentemente, (re) conhecendo-se mais, questionam-
se sobre o que são, o que querem, o que não querem, etc. Deste modo,
9
dúvidas relativas aos seus projetos profissionais passam a atormentar a vida
da maioria destes jovens e inclusive dos adultos.
Em meio a contextos tão diversificados e repletos de angústia, incertezas
e todo tipo de conflitos surgidos sobre o que fazer, que opção tomar, qual a
definição ou caminho a seguir, psicólogos e educadores, na teoria e na prática,
têm se debruçado sobre o problema da escolha e da orientação profissional.
Com isso, estes profissionais têm procurado aprofundar-se, cada vez mais,
sore a história da Orientação Profissional, compreender melhor as
transformações pelas quais a Orientação passou e passa, conhecer os mais
variados mecanismos de Orientação Vocacional e aplicar estes mecanismos
considerando cada realidade apresentada, visando os resultados mais eficazes
possíveis.
Destaca-se que a Orientação Profissional trata, essencialmente, de fatos
que evidenciam o conceito de “escolha”. Trata-se, portanto, de um fenômeno
humano específico, qual seja a definição ou redefinição profissional de
sujeitos, com todos os conflitos inerentes a esta situação. Fala-se, assim, do
sujeito em situação de escolha, de definição em relação à carreira ou
possibilidades de trabalho.
Já que a Orientação Profissional trata dos fatores implicados no processo
de orientação frente a uma situação de escolha, ela se refere a atividades que
incluem um enfoque interdisciplinar, fundamentalmente pedagógico e
psicológico (Bohoslavsky, 1998); (Müller, 1998).
Mariita Bertassoni da Silva (1999) concebe a Orientação Profissional como
um campo extenso e interdisciplinar, onde o psicólogo como orientador
trabalha na esfera da APRENDIZAGEM. Aprendizagem do cliente sobre si
mesmo (autoconhecimento); aprendizagem sobre o mundo do trabalho e
aprendizagem na elaboração de um projeto vocacional-ocupacional. Essas
aprendizagens ocorrem a nível do Esquema Conceitual Referencial Operativo
10
(ECRO), conforme conceituado por Pichon – Rivière (1986), permitindo ao
cliente aprender a escolher uma profissão ou ocupação de forma mais
consciente e autônoma.
Ainda segundo Mariita Bertassoni da Silva (1999), cabe ao psicólogo
auxiliar o orientando, facilitando a construção dessa APRENDIZAGEM. Ela
acrescenta que para desempenhar essa tarefa, é necessário que o profissional
também passe por sua própria aprendizagem formativa, estando esta
formação centrada em três eixos principais e dos quais derivam-se todos os
outros. São eles:
1) uma base teórico-técnica sólida, que permita ao orientador articular de
forma segura suas percepções teórico-práticas;
2) clareza em sua definição de homem no mundo. Será essa definição que
orientará a escolha do psicólogo do tipo de intervenção ou modalidade de
trabalho (modelo clínico, modelo estatístico, processual...)
3) resolução dos próprios conflitos quanto à escolha, ou seja, é preciso que o
orientador tenha feito seu próprio “luto” (BOHOSLAVSKY, 1977) em relação a
todas as outras possibilidades de atuação e esteja comprometido totalmente
com sua tarefa de orientador.
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CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
O início dessa história pode começar a ser contada junto com a história
dos grandes pensadores da humanidade, pois bem antes que filósofos,
psicólogos e educadores se detivessem sobre a questão da escolha da
profissão, muitos trabalhadores “comuns”, ao longo do cotidiano laboral,
perante as especificidades oriundas de cada atividade de trabalho, já haviam
percebido que era necessário se encontrar um meio diferente do acaso para
essa escolha.
No entanto, como argumenta Carvalho (1995), a realidade social era tão
segmentada que, na prática, não havia liberdade de escolha, e,
consequentemente, não havia mobilidade social. Para o homem comum, as
ocupações raramente eram escolhidas, e, quando eram, as alternativas eram
poucas (Martins, 1978).
Contudo, a Revolução Industrial, ampliada no século XIX, impôs a
multiplicação de novos e específicos postos de trabalho. E para que os
trabalhadores pudessem exercer essas novas funções, surgiram novos cursos
e especializações, aumentando as possibilidades de escolha ocupacional,
principalmente para os iniciantes nesse mercado de trabalho. Por tudo isso,
além da exigência do aumento da eficiência industrial - a fim de atender à
demanda da sociedade - , foi-se atribuído aos jovens uma complexidade cada
vez mais crescente na hora de escolher sua ocupação.
Rosas (2000) atribui a Edouard Charton a primeira tentativa concreta de
fornecer informação profissional. Esse engenheiro francês, com a finalidade de
ajudar as pessoas a se decidirem quanto à profissão, coletou o depoimento de
vários profissionais e organizou o Dicionário de Profissões (Dictionnaire des
Professions), cuja 1ª edição data de 1842.
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Acrescenta-se que Frank Parsons tem considerável importância na história
aqui registrada. Americano da cidade de Boston, Parsons trabalhou como
engenheiro civil, professor de matemática, de história e francês.
Posteriormente, graduou-se também em direito, e além da função de
advogado, exerceu ainda as de escritor e político. A partir de 1892, passou a
atuar como professor da Boston University. A instabilidade de sua própria
trajetória profissional levou-o a refletir sobre as dificuldades de muitos jovens
em se definir profissionalmente.
A visão de Parsons contribuiu para uma vinculação estreita entre
orientação profissional e educação, que posteriormente mais desenvolvida e
difundida, passou a ser conhecida como orientação educacional, e a fazer
parte dos currículos escolares.
Entre o século XIX e o início do séc. XX, outras obras autobiográficas e de
auto-ajuda foram escritas para pais e jovens tratando da questão da escolha
da profissão. Entretanto, o surgimento da Orientação Profissional, como uma
prática com propostas de fundamentação teórica e técnicas próprias, se deu
no início do século XX. Educadores e psicólogos foram os especialistas que se
incumbiram desta nova ocupação.
Gemelli (1963) afirma que o primeiro centro de orientação profissional foi
criado em 1902 em Mônaco da Baviera, por iniciativa conjunta de
trabalhadores e de autoridades, de indústrias e de professores. Relata ainda o
surgimento de vários centros pela Europa, com as funções de informação e
orientação profissional.
Na visão de Carvalho (1995), a partir de 1909, a orientação profissional foi
se desenvolvendo em duas modalidades: uma vinculada à psicologia do
trabalho e a outra, à orientação educacional. Embora houvesse diferença de
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objetivos nessas duas modalidades, os métodos empregados eram os
mesmos: técnicas psicométricas e informação ocupacional.
No entanto, foi a partir do trabalho do psicólogo Carl Rogers, Couseling
and Psychoterapy: new concepts in practice, publicado em 1942, que se
observou uma transformação nas práticas da orientação profissional. Sua
abordagem não-diretiva e centralizada no cliente influenciou a postura dos
orientadores que passaram a valorizar a participação do orientando no
processo de intervenção. Substituiu-se a posição de encontrar um diagnóstico
e dar conselhos por uma postura de auxílio ao autoconhecimento e a uma
tomada consciente de posições e escolhas.
Com o surgimento, a partir da década de 50, de diversas teorias sobre a
escolha profissional, as mudanças iniciadas com os trabalhos de Rogers
continuaram. O livro Ocupational Choice, de 1951, do economista Ginzberg e
colaboradores, apresentou a primeira Teoria do Desenvolvimento Vocacional,
de acordo com a qual a escolha vocacional é um processo evolutivo que ocorre
entre os últimos anos da infância e os primeiros anos da idade adulta (Sparta,
2003).
Em 1953, Donald Super publica sua Teoria do Desenvolvimento
Vocacional, que define a escolha profissional como um processo que ocorre ao
longo da vida, da infância à velhice, através de diferentes estágios e da
realização de diversas tarefas evolutivas.
O marco da Orientação Profissional no Brasil é a criação do Serviço de
Seleção e Orientação Profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios
de São Paulo, em 1924. A iniciativa foi do engenheiro suíço, naturalizado
brasileiro, Roberto Mange, convidado para lecionar na Escola Politécnica de
São Paulo. Após este importante acontecimento na trajetória da Orientação
Profissional brasileira, muitos outros episódios de elevada importância para a
área também se sucederam também na primeira metade deste século, como:
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* em São Paulo, Lourenço Filho institui o primeiro serviço público de
Orientação Profissional no Serviço de Educação do Estado de São Paulo, que
mais tarde teve prosseguimento no Instituto de Educação da USP;
* em 1947, foi inaugurado, na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, o
Instituto de Seleção e Orientação Profissional, o ISOP. Seus objetivos eram o
desenvolvimento de métodos e técnicas da Psicologia aplicada ao Trabalho e
à Educação, o atendimento ao público, através dos serviços de seleção e
orientação, e a formação de novos especialistas. A partir de 1948, o ISOP
passou a oferecer cursos de formação em Seleção e Orientação Profissional,
e, no ano seguinte, a publicar a Revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica.
Até a década de 60 o modelo psicométrico, internacionalmente
predominante, foi o ponto comum em todas as iniciativas de trabalho de
orientação profissional no Brasil.
A criação dos cursos de graduação em psicologia no Brasil, com a
promulgação da Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962, exerceu importante
influência nos trabalhos de OP que eram desenvolvidos no país,
particularmente por sua vinculação à Psicologia Clínica e por sua transferência
para consultórios particulares.
Reforçando essa tendência de vinculação com a Psicologia Clínica, em
fevereiro de 1975, o Instituto de Psicologia da USP trouxe, na categoria de
professor convidado, o argentino Rodolfo Bohoslavsky. Este psicólogo havia
publicado, em 1971, a obra Orientação Vocacional. A Estratégia Clínica, em
que apresenta uma fundamentação teórica sólida e consistente para a nova
proposta de OP que defendia. A obra de Bohoslavsky é considerada divisor de
águas na Orientação Profissional.
A modalidade clínica desenvolvida em oposição ao que ele chamava de
modalidade estatística encontrou força especialmente no trabalho que vinha
sendo realizado por Maria Margarida de Carvalho na USP. Embora o
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trabalho por ela realizado fosse feito em grupo, o casamento de suas ideias
teóricas com a prática desenvolvida na USP levou ao convite para que
Bohoslavsky passasse a lecionar no Brasil, o que não fora possível devido à
sua morte precoce em 1977.
Há um segundo livro organizado por Bohoslavsky, Orientação Vocacional:
Teoria,Técnica e Ideologia, no qual as questões sociais, políticas e
econômicas, que também sobredeterminam a escolha, são o tema central.
Essa obra teve uma única edição no Brasil, em 1983, e infelizmente não foi
mais reeditada.
Dessa forma, sua mais conhecida e importante obra, a Estratégia Clínica,
tornou-se leitura obrigatória para todos os que se dedicam ao trabalho em OP.
A entrevista clínica passa a ser o principal instrumento do processo de OP, e,
apesar de aceitar a utilização de testes, a modalidade clínica insiste em seu
papel instrumental, e adverte que os mesmos nunca poderão substituir a
função do psicólogo.
Deste modo, vê-se uma mudança radical na forma como a OP passa a ser
concebida e trabalhada no Brasil: do modelo psicométrico para o modelo
clínico. Certamente, nem todos os profissionais aderiram ao novo modelo, mas
o impacto que este causou na prática da grande maioria é inegável.
A Orientação Profissional passou por quatro estágios teórico-práticos,
segundo Oswaldo de Barros Santos – pioneiro na área no Brasil. Conforme
palestra proferida no Simpósio de Orientação Profissional (realizado em maio
de 1987 no Instituto de Psicologia da USP), os estágios foram os seguintes:
1) Informativo - Oferecia informações a respeito das profissões, suas
perspectivas e exigências;
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2) Psicométrico - Não atribuía tanta importância à realidade e à diversificação
do mercado, mas valorizava as características pessoais para o sucesso em
determinado campo profissional. O orientador, a partir da análise das funções
exigidas em cada tipo de trabalho, avaliava inteligência, aptidões motoras e
sensoriais, personalidade, além de definir qual a profissão mais adequada para
o indivíduo.
3) Clínico - Enfatizava o papel ativo do indivíduo, atribuindo-lhe potencial e
recursos para a auto-compreensão e auto-direção. O papel do orientador era
facilitar o reconhecimento e o desenvolvimento do processo.
4) Político e Social - Incluía como fator relevante o contexto sócio-político do
processo de escolha profissional, para o qual convergiam complexas
configurações sociais passadas, presentes e futuras (Lehman, 1988).
Essas quatro etapas apresentavam aspectos afins: em todas elas, a
Orientação Profissional é considerada como “o processo pelo qual o indivíduo
é ajudado a escolher e a se preparar para ingressar e progredir em uma
ocupação” (Super e Bohn Jr., 1976, p. 199).
A produção da década de 80 sobre temas relacionados à Orientação
Profissional foi particularmente pouco significativa no país (Carvalho, 1995;
Soares, 1999). Tal fato não significa que não houvesse trabalhos expressivos
na área, mas a grande maioria era desenvolvida sem compromisso com
a publicação, e consequentemente, sem o desenvolvimento de um modelo, ou
modelos, de OP próprios ao Brasil. Celso Ferretti e Selma Pimenta constituem
exceção nesse período, embora os trabalhos de ambos se restrinjam no
âmbito da educação e se constituam em críticas às teorias psicológicas de
escolha profissional (Sparta, 2003).
Melo-Silva (2001) argumenta que a desproporção dos títulos de
publicações da área de Orientação Profissional em relação a outras áreas da
psicologia pode ser compreendida como uma desvalorização da área.
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A realização, em novembro de 1993, do I Simpósio Brasileiro de
Orientação Vocacional/Ocupacional, em Porto Alegre, marcou a mudança no
rumo tímido que a OP vinha tomando no país. Nesse evento, foi fundada a
Associação Brasileira de Orientadores Profissionais, a ABOP, no intuito de
congregar vários profissionais de diferentes lugares que tinham a mesma
sensação de solidão em relação à Orientação Profissional.
Firmada no compromisso de desenvolver, integrar e valorizar a OP no
Brasil, a ABOP vem se empenhando nessa causa, através de ações como
promoção de simpósios, promovendo simpósios, publicando a Revista
Brasileira de Orientação Profissional, etc.
Reconhecendo que a prática da Orientação Vocacional no Brasil tem se
dado em um contexto multidisciplinar, a ABOP tem como uma de suas
finalidades “gerar e consolidar a discussão e a prática de Orientação num
âmbito interdisciplinar, respeitando as identidades interdisciplinares e
sustentando a mais ampla liberdade de pensamento e expressão, desde que
dentro de paradigmas ideológicos que garantam o engrandecimento individual
e social.” (Melo-Silva et al, 2003).
De forma coerente com o apresentado acima, podem associar-se à ABOP
todos os profissionais, de formação universitária, cujo exercício profissional
esteja ligado a OP. Lisboa (2002), em recente levantamento, afirma que,
apesar de seu caráter inter-disciplinar, a grande maioria dos afiliados à ABOP
é de psicólogos, seguida por pedagogos. Ainda assim, economistas,
sociólogos e administradores de empresa têm participado dos vários eventos
que a ABOP vem realizando em todo o país. Esse fato demonstra que o refletir
e pesquisar sobre o trabalho, seu significado e sua interação com o homem
tem sido tema pertinente a várias e diferentes áreas do conhecimento.
Todavia, frente à demanda pelos serviços de Orientação Profissional no
Brasil, as iniciativas existentes são modestas. A falta de uma política pública de
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OP no país, como as existentes na França, Alemanha e Canadá, deixa a área
à mercê de iniciativas isoladas, e torna a formação de profissionais
competentes, limitada.
Há um movimento no sentido de transformar a Orientação Profissional
em área de especialização, em nível de pós-graduação, para garantir uma
formação teórica e prática mais sólida àqueles que seguem seus caminhos.
Nesse sentido, há alguns cursos de Pós-Graduação acontecendo no país,
alguns deles vinculados às universidades e outros a instituições particulares.
Ainda assim, o exercício da Orientação Profissional não é “fiscalizado” por
nenhum órgão específico.
No intuito de fortalecer seu papel na sociedade brasileira, e de participar
das discussões das questões relativas à Orientação Vocacional/Profissional
que acontecem em todo o mundo, a ABOP participa da IAEVG – Internacional
Association for Educational and Vocational Guidance. Essa associação,
fundada em 1951, é mais conhecida no Brasil por sua nomenclatura francesa,
AIOSP – Association Internationale d’Orientation Scolaire et Professionnelle.
A AIOSP representa indivíduos e associações nacionais e regionais em todos
os continentes e tem objetivos que refletem suas preocupações com a
orientação educacional e vocacional/profissional.
O levantamento mais recente a que se tem acesso sobre os serviços de
Orientação Vocacional/Profissional no Brasil foi feito por Melo-Silva e publicado
em 2001, e aborda os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Observa-se a predominância da psicanálise como referencial teórico, e a
constatação de que as teorias psicológicas ainda sustentam essa prática no
país. As idéias de Bohoslavsky e de alguns outros argentinos de destaque
mostram a importância da psicanálise daquele país em nossa realidade. Os
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serviços desenvolvidos nas faculdades são os que apresentam maiores
possibilidades de divulgação, em contraposição aos de instituições
particulares.
Constata-se ainda que embora o referencial teórico mude, os eixos
temáticos são parecidos: o autoconhecimento; a informação sobre as
profissões e o mundo do trabalho.
O uso de técnicas em processos de OP atualmente varia ampla e
largamente. Há um movimento acentuado de desenvolvimento de novas
técnicas com publicações sobre sua utilização e a edição de seu material.
Exemplo disso foi o VI Simpósio da ABOP, que possibilitou o público conhecer
vários lançamentos de técnicas consequentes do trabalho recente de pesquisa
individual ou de grupos de pesquisadores. Várias outras técnicas foram
apresentadas na qualidade de pesquisas em fase de desenvolvimento e
conclusão. No caso dos testes projetivos, dois deles vêm sendo estudados
mais sistematicamente: o Teste Projetivo Ômega e o BBT-Br, sobre os quais
se pode encontrar no que de mais recente tem sido publicado na área
(Levenfus e Soares, 2002; Melo-Silva et al., 2003).
No âmbito da psicologia, a Orientação Profissional tem encontrado campo
de desenvolvimento na clínica, na educação e na social.
Nas publicações dos últimos anos, encontram-se vários autores que
aproximam o processo de Orientação Profissional ao da psicoterapia breve,
cujo foco é a escolha profissional. Essa posição não é unânime e há quem
considere que essa postura acaba por subestimar o caráter pedagógico da OP,
restringindo sua prática aos psicólogos e limitando seu alcance de intervenção
(Sparta, 2003).
20
No campo da educação e da psicopedagogia, também encontram-se
produções relacionadas à Orientação Profissional, embora em menor número,
ou talvez, menor divulgação.
No entender de Melo-Silva (2001), o aumento do número de publicações
em nosso país, voltadas à questão da escolha da profissão, aponta a
ampliação das possibilidades de atuação neste campo de atividades.
O incentivo à produção de novas técnicas de diagnóstico e intervenção
está em acordo com o objetivo de desenvolvimento e consolidação da
Orientação Profissional como área científica, cuja produção esteja segundo o
contexto brasileiro. Alguns exemplos de serviços de Orientação
Profissional/Vocacional voltados para a pesquisa em OP podem ser citados:
LABOR, – Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Profissional -
, da Universidade de São Paulo, LIOP, – Laboratório de Informação e
Orientação Profissional –, na Universidade Federal de Santa Caarina, NACE, –
Orientação Vocacional e Redação –em São Paulo, entre outros.
21
CAPÍTULO II
A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COMUMENTE ENCONTRADA NAS
ESCOLAS BRASILEIRAS
No Brasil, a Orientação Profissional ainda não se faz presente na vida da
maior parte da população. E, quando o faz, geralmente ocorre de modo
isolado, somente às vésperas do Ensino Médio e/ou do Vestibular,
desvinculado do ciclo de fenômenos vivenciados pelos seres humanos, apesar
do sistema de Ensino Brasileiro ter realizado algumas reformulações para
acompanhar as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, inclusive na Lei de
Diretrizes e Bases de 1997, como será exemplificado no transcorrer deste
capítulo.
Com isso, a Orientação Vocacional segue desconhecida por muitos,
enquanto outros têm dela uma imagem ou visão parcial ou distorcida, como ao
enxergarem ser ela uma área de atuação “menos nobre” da psicologia, por
exemplo. Enquanto isso, a Educação para a Carreira é uma modalidade de
orientação de carreira desenvolvida de forma sistemática, em todos os níveis
de educação, em muitos países.
Apesar da atual realidade nacional quanto à Orientação Vocacional ser a
descrita no parágrafo anterior, no contexto brasileiro, segundo a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei No. 9.394, 1996), a educação
escolar deve estar vinculada ao mundo do trabalho e à prática social; assim, a
orientação para o trabalho deve fazer parte dos conteúdos da Educação
Básica e fornecer os meios para os alunos progredirem no trabalho em
estudos posteriores. Entretanto, a Orientação Vocacional no Brasil ainda está
muito restrita às práticas clínicas, com procedimentos voltados para a escolha
profissional e privilegiando as classes mais ricas.
Diante do exposto e sendo a Educação para a Carreira - Munhoz, I. M. S.,
& Melo-Silva, L. L. (2011); Educação para a carreira, 45 - uma proposta de
22
orientação para a carreira inserida no currículo escolar, que busca relacionar
educação, trabalho e carreira, percebe-se não somente a sua importância,
como também a sua complexidade.
A importância de debater este tema no Brasil é que a Educação para a
Carreira se apresenta como um modelo de intervenção adequado ao contexto
atual da sociedade pós-moderna, tecnológica e globalizada, e contempla, com
seu enfoque educativo, a possibilidade de abranger um número expressivo de
crianças e jovens, atualmente desprovidos de intervenções que ajudem a
articular educação e trabalho, fazer escolhas mais conscientes e se
prepararem para ter empregos e empregabilidade.
O que se concebe, para o contexto brasileiro, é que o trabalho seja
considerado um tema transversal ao currículo desde as séries iniciais do
Ensino Fundamental – tal como Ética, Saúde, dentre outros temas. Por outro
lado, que se amplie/efetive sua importância no Ensino Médio, para além das
escolhas ocupacionais/profissionais. O modelo que se defende para o contexto
escolar brasileiro é de um programa que, de preferência, insira os conceitos
relativos ao desenvolvimento vocacional no currículo, sob a supervisão de um
orientador especializado, com a colaboração de um grupo de apoiadores,
como professores, pais e outras pessoas da comunidade. Desta forma,
pretende-se contribuir para a preparação dos jovens para um engajamento
democrático, ativo e crítico em todos os aspectos da sua vida pessoal, social
e profissional.
A preocupação com a orientação profissional e vocacional esteve presente
desde os primórdios da organização das instituições de ensino. No que se
refere ao fato, Baptista (1984) destaca a promulgação das Leis Orgânicas, em
1942, a partir das quais a Orientação Profissional e Vocacional foi introduzida
oficialmente no Brasil. Todavia, infelizmente, a Orientação Profissional em solo
brasileiro acontece, na quase totalidade dos casos, de modo bastante diferente
do descrito nos últimos três parágrafos anteriores, pois:
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* a temática “emprego” e seus derivados não costumam pertencer aos eixos
temáticos nem às práticas educativas adotados pela maioria das escolas, nem
mesmo entre os grupos do Ensino Médio, cujos alunos se encontram próximos
da decisão de seguir ou não um Curso no Ensino Superior; e, em caso
positivo, qual curso seguir. Entretanto, lá em 1961, foi promulgada a LDB (Lei
de Diretrizes e Bases da Educação), que instituiu a Orientação Educacional
(OE) e a então denominada Orientação Vocacional (OV) no Ensino Médio.
Posteriormente, a Lei de Diretrizes e Bases de 1997 determinou que 25% do
currículo do Ensino Médio deve ser flexível, de modo a incluir disciplinas que
sejam adequadas às necessidades da comunidade. Surge, então, um espaço
para que a Orientação Profissional possa se integrar à grade curricular,
tornando formal a responsabilidade da escola em lidar com o assunto. A
questão do auxílio para a escolha de uma ocupação ou para identificação de
habilidades e talentos, ou ainda para conhecer as ocupações existentes, é
uma ideia que existiu e contou com ações isoladas e parciais ao longo dos
últimos 400 anos, como apontam Bohoslavsky (1980) e outros autores da área.
* a Orientação Profissional/Vocacional se faz pouco presente na vida dos
discentes que se encontram nos últimos anos do Ensino Fundamental,
especialmente no 9º ano, quando estes estão prestes a iniciar o Ensino Médio,
o qual pode ser cursado sob Modalidades de Ensino variadas: Regular,
Técnico, dentre outras;
* a Educação Infantil e o Ensino Fundamental (em especial, o 1º segmento
deste) regularmente não são compreendidos como espaços em que a
Orientação Vocacional pode acontecer, despertando nos discentes seus
gostos, sua preferências, facilidades,.... Claro, respeitando a maturidade
motora, emocional de seus educandos. Essa comum ausência da Orientação
nestes grupos da Educação Básica vai contra ao que Parsons considerava:
que o desempenho de uma ocupação em harmonia com as aptidões,
habilidades e interesses, tornaria o trabalho mais agradável, com uma maior
24
produtividade e eficiência, resultando em uma boa remuneração: “eficiência e
sucesso são extremamente dependentes da adaptação” (Parsons, 1909/2005,
p.4). Registra-se tal contradição, pois, partindo desse pressuposto, ele propôs
três princípios fundamentais para uma orientação vocacional:
(1) uma clara compreensão de si mesmo, de suas aptidões, capacidades,
interesses, ambições, recursos, limites e de suas causas;
(2) um conhecimento dos requisitos e condições de sucesso, vantagens e
desvantagens, remuneração, oportunidades e das perspectivas nos diferentes
tipos de trabalho;
(3) uma resultante verdadeira das relações entre esses dois grupos de fatores.
Assim, lembra-se que o autoconhecimento e o conhecimento do mundo do
trabalho acontecem de modo processual, não com atividades estanques. Por
isso, é possível afirmar que tais conhecimentos teriam uma construção mais
sólida se buscados desde a Educação Infantil ou ainda no início do Ensino
Fundamental.
* as famílias e/ ou responsáveis pelos alunos, raramente, questionam às
instituições de ensino a respeito da Orientação Profissional que é conduzida –
ou não – por elas. E, quando tal Orientação se sucede, sua dinâmica de
aplicação, geralmente, não é transmitida às famílias e/ ou aos responsáveis
dos alunos. Muitos desses nem tomam conhecimento que ela é realizada.
* é mais comum do que se imagina a Orientação Profissional ser guiada por
profissionais não habilitados para exercê-la, o que reforça a prática isolada da
Orientação Vocacional, que é resumida à uma superficial aplicação de testes
e/ou dinâmicas que veiculam em fontes de senso-comum. Contudo, desde os
primeiros anos da prática da Orientação Profissional no Brasil, esta foi indicada
a ser de responsabilidade de profissionais das áreas de Pedagogia, Psicologia,
Filosofia ou Ciências Sociais.
25
* Orientadores Profissionais que trabalham a partir de uma única perspectiva,
tida como padrão: jovens concluintes do Ensino Médio que terão a
oportunidade de traçarem os caminhos da área ou curso sugerido ao longo da
Orientação Vocacional vivenciada. Os novos paradigmas e novos contextos
que se impõem devido à nova realidade de contínua ruptura e imprevisibilidade
fazem com que o campo da Orientação Profissional passa agora por um novo
estágio: como a dinâmica do mundo do trabalho é cada vez menos previsível,
estabelece- se um cenário de transição, o qual exige das pessoas
adaptabilidade e multifuncionalidade e coloca a realização do projeto
profissional em um contexto complexo e mutante. Neste sentido, um trabalho
que se assemelha ao da Orientação Profissional, o da Reorientação
Profissional ocorre, mas somente em alguns espaços escolares. Esta
Reorientação é desenvolvida, através de técnicas específicas, com pessoas
que já realizaram uma primeira escolha profissional.
* a área, apesar do seu crescimento – como fora mostrado no capítulo 1 -,
necessita de investimentos teóricos e metodológicos, além do desenvolvimento
de mais pesquisas sobre temas correlatos, para que sua prática seja ampliada
quantitativa e qualitativamente. Desta forma, acredita-se que as carências do
setor comecem a ser superadas. Para exemplificar estas carências, nota-se
que há uma defasagem, no âmbito nacional, no desenvolvimento e na
atualização dos testes existentes para uso em Orientação Profissional.
Certamente, pois, ao contrário do cenário internacional, onde o uso de
instrumentos psicométricos e projetivos é amplo e há um constante
desenvolvimento de testes voltados para a avaliação vocacional, no Brasil,
pela tradição histórica, é mais comum o uso de dinâmicas nas intervenções em
grupo, sendo os instrumentos mais frequentes na área da pesquisa. Muitos
profissionais estão familiarizados com estes instrumentos disponíveis para, por
exemplo, mensuração de características vocacionais como maturidade de
carreira (Neiva, 2000). No entanto, há uma área ainda pouco explorada pelos
profissionais e pesquisadores em orientação e desenvolvimento vocacional,
26
que é o momento diagnóstico. Neste, o uso de instrumentos é ainda pouco
substancial: busca-se um primeiro entendimento das condições do indivíduo
com o objetivo de estabelecer o contrato de trabalho ou realizar o
encaminhamento para outro tipo de atendimento.
Por tudo isso, muitos indivíduos não conhecem a Orientação Profissional,
pois, como FERRETTI mesmo coloca que há, em nossa sociedade, pessoas
que não têrn as condições básicas de sobrevivência garantidas para poderem
escolher a profissão que desejam. Ainda segundo FERRETI:
“ (...) os fatores mais graves referem-se à própria condição de vida
desses jovens e de suas famílias, que obrigam uma sujeição as
oportunidades profissionais que se oferecem ... Dados recentes
tem destacado o progressivo aumento dos contingentes
populacionais que são instados, em virtude de condições
econômicas adversas, a sujeitarem-se as oportunidades de trabalho
oferecidas pelo subemprego para não caírem no desemprego”
(FERRETI, 1988:40).
Na prática, estes argumentos de FERRETI puderam ser constatados
através de um trabalho que objetivou investigar que fatores, relativos à
trajetória educacional e profissional dos egressos do Ensino Médio Público,
foram determinantes para a efetivação ou não de suas escolhas profissionais.
Para tanto, foram entrevistados dez egressos de duas escolas públicas, que
concluíram o Ensino Médio no ano de 1997. As entrevistas foram submetidas à
Análise de Conteúdo.
As conclusões dessa pesquisa indicam que os determinantes
socioeconômicos representam o principal obstáculo para a concretização das
opções profissionais dos sujeitos. Nesse sentido, é preciso relativizar o termo
“escolha profissional”, visto que os jovens pertencentes às classes subalternas,
dentro de uma sociedade capitalista, possuem graus muito limitados de
27
liberdade de escolha, pois sua condição de classe muitas vezes os leva a
percorrer caminhos em que a necessidade supera a própria vontade.
Coloca-se, então, um desafio para os orientadores profissionais que
trabalham com os alunos do Ensino Médio público: saber quem é esse jovem,
conhecer o mundo do trabalho na atual sociedade capitalista, entender o
significado das reais possibilidades de escolha desse jovem e compreender
que há algo muito maior que permeia e condiciona a efetivação das escolhas:
a realidade socioeconômica.
A Orientação Profissional, historicamente, tem servido mais a alunos
oriundos da escola particular (que possuem maiores possibilidades de escolha)
do que aos da escola pública, visto que, para esses, outros fatores ligados à
sua condição de classe interferem em suas trajetórias educacionais e
profissionais. Esses fatores, muitas vezes, são desconhecidos pelos
orientadores profissionais, que acabam por homogeneizar sua prática.
Conhecer esses fatores se justifica pelo fato de poder oferecer apoio para
que os orientadores repensem sua atuação no atendimento desses alunos,
percebendo os limites da Orientação Profissional e enfrentando os desafios
que são colocados a essa prática.
Os dados analisados nesta pesquisa tornaram possível observar que a
escolha do jovem se dá a partir de um contexto social, econômico e político
específico, de um círculo espacial e temporal determinado, historicamente
construído, de estruturas e conjunturas peculiares. Em determinados contextos
desfavoráveis, aquilo que o orientador profissional interpreta como “escolha” ou
“opção” do indivíduo pode, na realidade, ser uma falta de opção, uma reação
àquilo que é imposto pela conjuntura econômica e pela estrutura sócio-política.
Ainda durante a realização do EM, foram poucas as oportunidades de
escolha, com pouquíssimo espaço para a efetivação de fatores subjetivos,
como o gosto pessoal ou o desejo de realizar determinado curso ou profissão.
28
A escolha profissional dos entrevistados se mostrou drasticamente restrita. A
impossibilidade de participar de um programa de OP que lhes desse
oportunidade de discutir a questão da inserção produtiva numa sociedade
capitalista restringiu as chances de analisar mais criticamente suas “escolhas”
profissionais. Estas foram realizadas, muitas vezes, baseadas numa visão
estereotipada das profissões.
Houve, posteriormente, algumas mudanças de opção, mais no sentido de
uma maior facilidade de ingresso em um curso superior do que no real desejo
de realizar o curso “escolhido”. Revista Brasileira de Orientação Profissional,
2005, 6 (2), pp. 31 – 43; Escolhas profissionais de jovens oriundos do Ensino
Público.
Deve-se apontar que no Brasil ocorre um movimento diferente do de
outros países, nos quais se concebe a Orientação Profissional principalmente
relacionada à orientação escolar. Levanta-se a hipótese de que isso ocorreu
em função da falta de políticas públicas em relação à questão da Orientação
Profissional e em função da extrema cisão ocorrida entre a área de Orientação
Educacional e Orientação Profissional, fazendo com que o espaço desta última
ficasse extremamente restrito à escola e com que apenas recentemente se
abrisse dentro dela um espaço de reflexão para a questão da escolha
profissional. Observa-se que os espaços educacionais que mais aderiram à
Orientação Educacional foram as escolas de ensino profissionalizante, como o
SENAI e o SENAC, os quais também mantinham trabalhos de Orientação
Profissional.
29
CAPÍTULO III
SUGESTÕES PARA UMA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE MAIOR
QUALIDADE NAS ESCOLAS BRASILEIRAS
Na busca por uma atuação da Orientação Profissional de melhor qualidade
– visando-se uma excelência - primeiramente, cita-se que a formação teórico-
técnica dos Orientadores Profissionais necessita estar sob constante
realimentação, a qual pode alcançar-se pela educação continuada em
seminários, fóruns, cursos e literatura especializada e atualizada sobre o tema
e de temas correlatos. Todavia, registra-se que os Sindicatos e Órgãos de
Classe vêm pouco a pouco mudando seus eixos de ação na negociação
salarial e na obtenção de garantias para a qualificação de seus associados por
meio de cursos, de palestras e de outros espaços ainda pouco explorados
pelos orientadores.
Nesse sentido, os profissionais envolvidos no espaço da Orientação
Profissional – a qual deve ser por estes compreendida como contida em um
campo de intermediação entre o indivíduo, o sistema educacional e o mercado
de trabalho – não podem desconsiderar que esta área, como já abordado nos
capítulos anteriores, sofre uma importante transformação, pois passa a
trabalhar com problemáticas mais amplas, os quais não se atêm apenas a um
momento da vida (jovens no final do Ensino Médio). Novamente, registra-se
que, nos dias de hoje, é necessário orientar adultos empregados,
desempregados, aposentados, entre outros.
Para que essas demandas sejam bem atendidas pelo Orientador
Profissional, é de extrema importância que ele conheça e compreenda a
desconstrução do mercado de trabalho que vem se desenrolando, fruto das
grandes mudanças ocorridas nas organizações do trabalho e da mecanização,
o que alterou profundamente a relação do homem com o próprio trabalho e
com seu projeto de vida. Neste contexto, não se pode deixar de citar a
globalização, que trouxe para o homem, para a educação e para a relação
30
homem-trabalho inúmeras questões, o que resultou em novas demandas e
novas ideologias que sustentam tal relação.
Com tantas mudanças ocorridas no mundo do trabalho, foi natural que na
área da Orientação em questão também acontecessem alterações no modo
em que se dava. Nesta, ocorre uma migração do paradigma primordial do
desejo, da realização pessoal e da busca de identidade. Antes, a Orientação
Profissional coincidia com um conjunto de práticas que tinha como perspectiva
o ingresso no mercado de trabalho, ou seja, a transição da escola para o
campo profissional; no entanto, agora, enfatiza-se o encaixe e a elaboração de
projetos, no sentido da sobrevivência.
Com tudo isso, a tarefa do orientador se torna mais complexa, pois ele
deve compreender inúmeros paradoxos: no mundo pós-moderno, a identidade
deve, constantemente, incluir a construção e, ao mesmo tempo, a
desconstrução; e o orientador deve buscar a individualização, assim como a
diversificação. É preciso também combinar e considerar fatores que outrora
eram totalmente diversos e excludentes, mas que, no momento, não são mais.
Para aclarar esta ideia, tem-se exemplos de cursos, como Engenharia
Mecânica, que foram considerados como “acabados” por muitos pela chegada
de novos cursos. Neste caso, cita-se a Eletrônica. Entretanto, viu-se que, a
partir de ambas, surgiu a Mecatrônica.
Assim sendo, a Orientação Profissional deve dar maior ênfase não à teoria
ou à técnica, mas à busca do desenvolvimento de aportes diferenciados,
adequados a populações específicas, revelando modos mais sensíveis de
abordar o problema da escolha profissional, e subordinando-a ao diagnóstico
que aponte qual teoria e qual técnica seriam mais relevantes no trabalho com
essa ou aquela situação.
A Orientação Profissional nesses novos contextos necessita desenvolver
modelos de intervenção conforme cada problemática. Todavia, a consciência
31
cada vez maior de que a inserção no mercado de trabalho depende do
desenvolvimento educacional parece ser verdadeira para determinada camada
da população, mas não para outra, pois os trabalhadores com maior
escolaridade são justamente os mais atingidos pelo desemprego (Pochmann,
2001).
É de enorme importância destacar que um processo de Orientação
Profissional necessita evidenciar que a escolha da profissão deve ser
compatível com a eleição de um ser. Ou seja, o processo de Orientação
Profissional necessita localizar a pessoa do seu Projeto de ser e da função
mediadora da profissão nessa totalidade. Como assinala o próprio
Bohoslavsky, a profissão consiste em quem ser e não apenas no que fazer.
Neste sentido, o processo de Orientação Profissional transcende a escolha
administrativa da profissão e localiza a pessoa em sua Situação e do Projeto
mais amplo, rumo ao qual os diversos aspectos de seu ser se articulam e se
unificam, e da profissão como um meio possível de viabilização desse ser
futuro (Ehrlich, 2002). Assim, localiza a pessoa como sujeito de seu ser, numa
contingência dada, que necessita ser constantemente ultrapassada para um
mundo futuro.
Nesta reflexão acerca de uma Orientação Profissional que avance no
Brasil, recorda-se que, aqui, a perspectiva da avaliação centrada no resultado
e a ênfase na definição da escolha e no papel diretivo do orientador estão
ainda muito presentes, e os inventários de interesse estão entre os
instrumentos privilegiados pelos profissionais da área. No entanto, ao contrário
do cenário internacional, não há aqui a mesma preocupação com a criação ou
adaptação dos instrumentos psicológicos, sendo que grande parte deles não
possui estudos de validação e normas atualizadas para a população brasileira
(Noronha & colaboradores, 2003; Ottati & colaboradores, 2003).
Além das necessidades já apresentadas, a OP brasileira também precisa
considerar o modelo de Orientação Profissional centrado no processo, o qual
32
se preocupa com questões relativas aos processos, internos e externos, que
levam o indivíduo à escolha profissional e à tomada de decisão. Nesta visão, o
Orientador busca compreender o contexto de desenvolvimento do Orientando
e auxiliá-lo na aquisição ou aperfeiçoamento das informações e habilidades
necessárias à tomada de decisão. E para facilitar esta linha de trabalho,
recorda-se que a sistematização da produção do conhecimento sobre
Educação para a Carreira poderá contribuir para viabilizar reflexões que
possam gerar programas de intervenção no contexto brasileiro, por meio de
estratégias curriculares infusivas, aditivas ou mistas. Como apresentados nos
trabalhos de Hoyt (1995, 2005), quem sempre defendeu a ideia de que os
conteúdos escolares deveriam ter como eixo central o trabalho.
Não se pode deixar de aqui registrar que as variadas formas como o
sujeito Orientador - analisado neste trabalho - é chamado, ao longo da história
da Orientação (cuja nomeação varia junto com a do Orientador), refletem o
foco de sua atuação em cada ocasião. Assim, supõe-se que o Orientador
Vocacional é chamado a sinalizar a área de vocação – a partir das aptidões,
gostos e outros pontos observados - de quem está sendo Orientado. Neste
sentido, pensa-se em uma Orientação mais voltada para a indicação de uma
área, de profissões afins. Já a Orientação Profissional é mais objetiva. Como
seu próprio nome diz, o foco maior é indicar uma profissão específica ao
Orientando. Enquanto isso, o Orientador de Carreira – no contemporâneo
Planejamento de Carreira - é visto como aquele que não somente sinaliza uma
profissão a ser escolhida, mas, além disso, uma possível trajetória - esta,
também fruto da interpretação das características do Orientando - a ser
seguida pelo Orientando para que este tenha uma caminhada profissional de
êxito. Ressalta-se que, Segundo Holland (1988), “orientar” se refere a
determinar, adaptar ou ajustar uma posição; dirigir, guiar, reconhecer ou
examinar o lugar, a posição em que se encontra, para poder guiar-se.
Enquanto “planejar” refere-se a fazer planos, projetar, traçar. Daí, pode-se
entender que os vocábulos remetem a dois momentos distintos. “Orientar”
contém a ideia de desorientação, de alguém que necessita de parâmetros para
33
se guiar; e “planejar” implica um conhecimento das variáveis para desenvolver
um projeto. É importante que o OP dos dias de hoje diferencie e tenha
parâmetros para distinguir aqueles que precisam ou desejam traçar algumas
metas em sua carreira, de pessoas que voluntária ou involuntariamente se
sentem desorientados frente às questões de trabalho e mais precisamente
questionam o vínculo com sua profissão.
Contudo, destaca-se que os Orientadores descritos no parágrafo anterior
são um mesmo profissional, o qual se constitui das temáticas inerentes a cada
um deles. O que se vê é que a aplicabilidade da Orientação responde às
demandas de cada época, mas que as variações de tal aplicabilidade se
complementam, interagem entre si. E, por tudo isso, o Orientador deste início
do século XXI deve ser um Orientador Profissional-Vocacional-de Carreira-e do
que mais se torne necessário para que haja um número crescente de
trabalhadores que se identifiquem e se satisfaçam com e a partir do que
fazem.
Ainda segundo essa grande variedade de terminologias utilizadas para a
nomenclatura – considerando que ainda há “Informação Profissional”,
“Aconselhamento de Carreira”, e, em alguns contextos, “Sem nomenclatura
específica”, dentre outras -, apesar do crescimento da OP, coloca-se que esse
dado pode indicar tanto uma baixa concordância entre os profissionais que
realizam pesquisa na área, como uma diversidade de referenciais teóricos
adotados.
Cada vez mais, a Orientação tem que ser cautelosa para que o indivíduo
não “dure” apenas. Deste modo, é importante entender que a busca por
autonomia ou pela possibilidade de exercitar uma “paixão” são alguns dos
indicadores da presença do “espírito” empreendedor. E já que o
empreendedorismo não é uma profissão, a atividade empreendedora não se
sujeita a regras, normas, tais como educação, especialização ou conselhos
profissionais. Assim, a orientação, que usualmente contempla uma fase de
34
informação profissional, torna-se - novamente - mais complexa, pois não há
um curso específico e completo de preparação para estas informações, tanto
teóricas quanto práticas. O que é importante é fazer. Pode-se inclusive dizer
que “somos aquilo que nós fazemos”, mas também refletir sobre o que se faz.
Para isso, é importante que o Orientador Profissional reconheça que cada um
dos elementos de definição pode dar acesso a uma certa realidade, mas
nunca em simultâneo. Em teoria, mas também na prática, nunca se conhecem
todos os elementos de definição de um sistema. Contudo, no centro de ambas
as abordagens, está o indivíduo – sem esquecer a importância dos aspectos
cognitivos, conativos e culturais: um modelo utilizado como um instrumento de
estudo, um modelo utilizado como ferramenta de diagnóstico.
Na sociedade atual, a adequação dos Modelos usados pela Orientação
depende do contexto. Por exemplo, para os trabalhadores-colaboradores que
são habitualmente designados como trabalhadores nucleares, para esses, o
aconselhamento-coaching de carreira terá que incidir na aprendizagem de
investimento pessoal e de desenvolvimento de outras competências para
conseguirem sobreviver num mercado sem fronteiras. Para os que são
habitualmente designados os trabalhadores temporários, a incidência do
aconselhamento-coaching de carreira deverá ser nos ciclos de aprendizagem e
na capacidade de lidar com transições, e ainda na promoção da
empregabilidade (respostas consubstanciadas em novas competências e
assunção de novas responsabilidades). Já para ajudar os mais marginalizados
os que têm trabalho precário, a aposta deverá ser na preparação para a
flexibilidade, para encararem projetos de curto prazo, ou orientá-los no sentido
de encontrarem enquadramentos de natureza social, ou ainda apoiá-los na
reinvenção de outras formas de trabalho, que poderão ser determinadas pela
sua empregabilidade (Duarte, 2009b).
No processo de OP sempre é recomendável observar (especialmente
em intervenções com clientes adolescentes) o nível de maturidade e a
capacidade de escolha, a organização da personalidade, os históricos familiar
35
e escolar, o manejo das situações da adolescência e prognóstico da relação-
orientando. Nesse sentido, vê-se, ao longo do tempo, a ênfase dos
profissionais da área à criação de testes específicos ao contexto vocacional.
Essa preocupação fez surgir uma quantidade expressiva de instrumentos
disponíveis ao psicólogo para uma melhor compreensão da problemática
vocacional dos indivíduos e auxiliou o desenvolvimento de propostas de
intervenção cada vez mais eficazes. No entanto, algumas ressalvas são
necessárias no intuito de estimular o aprimoramento das possibilidades da
avaliação psicológica no âmbito vocacional brasileiro, especificamente. Trata-
se da necessidade iminente de: qualificação dos instrumentos disponíveis;
aumento dos esforços para disponibilizar, no país, instrumentos já existentes e
em uso internacionalmente, desde que devidamente validados e adaptados à
realidade brasileira; preocupação dos cursos de formação em Psicologia em
ensinar as diferentes possibilidades de avaliação em Orientação Profissional;
maior agilidade na divulgação e comercialização dos instrumentos
desenvolvidos em pesquisas universitárias.
Por outro lado, é preciso que os profissionais voltados ao campo aplicado
estejam atentos às transformações teórico-práticas que a Orientação
Profissional vem experimentando nas últimas décadas: a evolução dos
métodos de intervenção e a mudança de perspectiva que se observou em
relação à própria definição do que é escolha profissional e desenvolvimento de
carreira. Somente dessa forma será possível aos profissionais fazer uma auto-
avaliação de sua prática e aproveitar os instrumentos disponíveis naquilo que
eles podem oferecer.
Nesse sentido, reflete-se que a Orientação Profissional em nosso país
valoriza muitas posições teóricas que cristalizam os homens como 'objetos',
com faculdades e aptidões imanentes, e que precisam ser orientados para
ocuparem os lugares certos e mais adequados. Este homem é colocado como
mero "reator', portanto passivo, que necessita ser encaixado no espaço
profissional onde ele mais se enquadra. Contudo, BOHOSLAVSKY defende
36
que o futuro tenha uma importância atual-ativa enquanto projeto. Marca-se que
este "futuro" não é algo abstrato, mas é sempre pensado concretamente, é um
futuro personificado. Ou seja, pensar em ser médico, não é ser um médico
qualquer, uma entidade abstrata, mas é ser médico como o irmão ou como o
pai, por exemplo, é estar trabalhando em tal lugar e não em outro, é querer
estar convivendo com tais pessoas e não com tais outras, fazendo tais
atividades e não outras.
Por tudo isso, afirma-se que a Orientação Profissional no Brasil precisa
incorporar de maneira mais enfática, em suas teorias e práticas, aspectos
relacionados à avaliação psicológica, independentemente da abordagem
utilizada. Em especial, a formação dos Orientadores deve salientar a
importância da avaliação como recurso que permite o planejamento das
intervenções e a verificação do progresso obtido com o trabalho de Orientação.
Obviamente, avaliação psicológica não pode ser entendida apenas sinônimo
de teste vocacional, como foi o caso décadas atrás. O mundo do trabalho e da
formação profissional mudou, assim como os indivíduos e suas necessidades
de orientação. Analisar variáveis atualmente relevantes para a escolha
profissional e o desenvolvimento de carreira deverá ser o papel da avaliação
psicológica em Orientação Profissional, de modo a otimizar a eficácia desta
intervenção. É bom que o Sistema Educacional considere o psicólogo ao longo
da Orientação Profissional, para que este auxilie o Orientando, facilitando essa
construção.
Ainda, para se ter um processo de Orientação Profissional que respeite a
constatação ontológica do homem enquanto um ser temporal, faz-se
necessário considerar que: o passado pode ser verificado e descrito com
recurso a ele próprio; qualquer tentativa de retomar o passado com o intuito de
repará-lo, posto que é imutável em seu ser; mostra-se infrutífera e sem aparo
ontológico; toda e qualquer ação humana é Projeção para um mundo ainda
não existente; evidencia-se que o futuro é inteiramente descritível e
compreensível.
37
A partir de todas essas sugestões, torna-se mais fácil pensar em uma
Educação Continuada quanto ao Trabalho, quanto à Carreira, o que destaca a
relevância dos serviços de Orientação Profissional e Vocacional para a
promoção do desenvolvimento de recursos humanos saudáveis, onde cabe ao
orientador o papel de facilitador desta promoção. Mas, acima de tudo, deve-se
ter em mente que, além do crescimento pessoal, a Orientação Profissional
também deve contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e
inclusiva.
38
CONCLUSÃO
Analisar a trajetória da Orientação Vocacional/Profissional no Brasil – e
também sua história em outros países- ao longo deste trabalho, contribui para
uma melhor compreensão da sua situação na atualidade, sua repercussão e
seu alcance.
Tal compreensão, certamente, terá reflexos em uma perspectiva de
posicionamento crítico no trabalho de orientadores profissionais, os quais
precisam ter consciência da atuação da crise atual, seja porque o trabalho – ou
a noção de trabalho – está se modificando, seja porque o valor do trabalho
hoje não é o mesmo que antes. Hoje em dia, a sociedade está frente a uma
série de ideologias paradoxais, que a mergulham em contradições.
Dessa forma, cada vez mais os Orientadores se confrontam com as
encruzilhadas profissionais e são obrigados a lidar com elas. Este grupo de
profissionais precisa conhecer (e até tentar prever) as condições futuras da
profissão escolhida e ter em mente a realidade da educação e da economia do
Brasil – o que parece ser utópico, pois as condições de trabalho são díspares
em nosso país, tanto em nível técnico quanto educacional.
Nesse momento, em que o aspecto social passa por uma transformação
vertiginosa, a apreensão da realidade torna-se confusa e difusa. O trabalho
dos Orientadores Profissionais/ Vocacionais – e até de carreiras - , muitas
vezes, começa por clarificar, nessa confusão, o que é realmente importante
para o indivíduo que escolhe. Isso faz com que o campo de Orientação
Profissional comece a se ampliar e com que novas situações se delineiem.
Tem crescido o interesse por essa área e ela passou a despertar a atenção de
vários setores. Existem diversos institutos de orientação especializados que
visam a fazer frente a essas novas situações, oferecendo orientação de
carreira e atendimento tanto a profissionais de alto nível quanto àqueles que
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foram dispensados e precisam ser recolocados ou, ainda, àqueles que se
aposentaram.
A Orientação Profissional é hoje um campo que transcende em muito as
teorias e as técnicas de cada orientador, pois nela convergem todos os
conflitos de ordem social, institucional e psicológica que marcam a realidade
dos jovens e dos trabalhadores nesse momento histórico.
A força e o sucesso de qualquer atividade de Orientação residem na
possibilidade de responder a um conjunto de questões diferentes das
formuladas da maneira mais clássica e tradicional de abordar a Orientação; a
grande questão é entender quais os processos de construção de si, ou seja,
como é que as pessoas, cada pessoa, pode construir as suas vidas,
nomeadamente a sua vida de trabalho nesta sociedade de indivíduos em que
cada um de nós atua e se procura desenvolver.
A orientação, na atualidade, deverá ser encarada como se de um texto
dinâmico se tratasse, mas um texto dinâmico, que só por si, mas sem
esquecer a sua relação com o contexto, é gerador e condicionador de outros
textos – porque a história humana, e portanto a narrativa conjunta e solidária
dos indivíduos em diálogo permanente com o tempo e com as circunstâncias,
será sempre uma história interminável, que a cada momento e circunstância
identifica problemas e para eles engendra soluções.
O conjunto das reflexões apresentadas parece sustentar que, para a
construção de modelos, que visem a Orientação enquanto processo de auto-
construção, não se deve perder de vista um conjunto de variáveis. Um possível
desenho de modelo deverá considerar quem são os atores, que estrutura
adotar, que estratégia se há de definir, qual o processo que se desenvolve, e
que resultados se pretendem obter. E nunca perder de vista os contextos, as
estruturas que existem, e as que se podem criar, as culturas locais, e a
estratégia, e o processo.
40
Para que se dê corpo a estes substantivos, há que identificar os
obstáculos, há que formular o acordo de orientação, e há que trabalhar os
detalhes (Duarte, 2009b).
Como fora salientado no relatório do último Simpósio de Orientação
Vocacional & Ocupacional, os estudos e práticas de carreira e orientação
profissional no Brasil têm demonstrado uma maior maturidade científica, bem
como uma maior inserção social e política. Um ponto importante consistiu na
consolidação do intercâmbio com agentes políticos e sociais, como o Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE), enfatizando a relevância social da orientação
profissional como prática importante para todos, não somente grupos
privilegiados da sociedade, em função, também, da maturidade organizativa
dos orientadores profissionais brasileiros.
A partir de todas as novas perspectivas referentes aos Orientadores até
aqui apresentadas, faz-se possível pensar que este Orientador, ora chamado
Orientador Profissional, ora Orientador Vocacional, ou ainda Orientador de
Carreira, precisa ter em sua prática todos os enfoques que geram estes
vocativos diversos, reconhecendo o que se faz mais necessário em cada
contexto, mas sem deixar que cada uma dessas abordagens se desdobre
sobre a(s) outra(s). Assim, pensa-se em uma Orientação mais eficiente, mais
rica, onde o Orientador atua de modo mais completo e menos estanque, sendo
um Orientador para o Trabalho – nesta hipótese, o conceito de “Trabalho” não
é mero sinônimo de “profissão”, nem significa somente “vocação”, mas sim,
corresponde a estas ideias e a outras – como a questão da carreira, por
exemplo – de modo que elas se integrem.
Coloca-se como último ponto central, o estabelecimento de uma agenda
de ações interdisciplinares e de internacionalização, principalmente, dos
pesquisadores brasileiros da orientação profissional, colocará, gradativamente,
o Brasil como componente e interlocutor importante nos grupos e espaços de
pesquisa internacionais.
41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BARDAGI. Marúcia P. e SPARTA, Mônica O Teste Projetivo Ômega como
instrumento diagnóstico em Orientação Profissional. (The Omega test as a
Diagnostic Instrument in the Vocational Guidance Process) Título Abreviado:
Uso do Teste Projetivo Omega em Orientação Profissional. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
BARROS, Delba Teixeira Rodrigues. Histórico da Orientação Profissional.
Departamento de Psicologia – UFMG.
COÊLHO, Ildeu Moreira*, GUIMARÃES, Ged*. Educação, escola e formação.
Artigo recebido em 2/2/2012 e aprovado em 10/4/2012.
* Universidade Federal de Goiás
CONNELL, RAEWYN. Bons professores em um terreno perigoso: rumo a uma
nova visão da qualidade e do profissionalismo. Resumo. Universidade de
Sydney.
ENGLISH, Leona 1, MAYO, Peter 2. A educação de adultos e o mundo do
trabalho 3 (Adult education and the world of work).
1 Doutorado em Educação pela Universidade de Columbia (EUA) e em
Filosofia pela University of Technology (AUS). Professora do Departamento de
Educação de Adultos da Universidade St. Francis Xavier, Canadá. E-mail:
2 Doutorado em Sociologia da Educação pela Universidade de Toronto (CA).
Professor do Departamento de Estudos Educacionais da Universidade de
Malta, Malta. E-mail: <[email protected]>.
3 Texto publicado, originalmente, no livro Learning with Adults: A Critical
pedagogical introduction. Rotterdam: Sense Publishers, 2012. p.77-93.
Tradução de Natália Valadares Lima (CEFETMG/UFMG).
42
LEHMAN, Yvette Piha. Orientação profissional na pós-modernidade. 20ª
edição. LEVENFUS, Soares & Cols.
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Revista Ensino Superior Unicamp. Educar para o ofício ou educar para mudar
de ofício? CASTRO, Claudio de Moura*.
* Assessor especial da presidência do Grupo Positivo, doutor em economia
pela Universidade de Vanderbilt; foi diretor-geral da Capes, chefe da divisão de
políticas de formação da OIT e economista sênior de Recursos Humanos do
Banco Mundial; ensinou nos programas de mestrado da PUC/Rio, FGV,
Universidade de Chicago, UnB, Universidade de Genebra e Universidade da
Borgonha em Dijon.
DA SILVA, Mariita Bertassoni da Silva**. A formação do orientador
profissional*. Curitiba - Pr.
* Trabalho apresentado em mesa-redonda organizada pela ABOP no I FÓRUM
DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, realizado em 25/06/1999, na sede do
CRP08,
** Psicóloga. Mestre em Educação. Professora-Adjunta do Curso de Psicologia
da PUC - PR: Pontifícia Universidade Católica do Paraná
44
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 11
CAPÍTULO II
A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COMUMENTE ENCONTRADA NAS
ESCOLAS BRASILEIRAS
22
CAPÍTULO III
SUGESTÕES PARA UMA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE MAIOR
QUALIDADE NAS ESCOLAS 29
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
ÍNDICE 44