artigo cientifico - burnout

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O ESTRESSE DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO: SINDROME DE BURNOUT RESUMO: A Síndrome de Burnout pode ser considerada como uma das conseqüências mais marcantes do stress profissional pós- moderno, e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos serve até, como defesa emocional. É fato que há uma despersonalização, exaustão e desilusão crescente no quadro dos profissionais da área da educação na rede publica estadual de ensino, tanto nos profissionais do sexo feminino quanto do sexo masculino. O presente trabalho teve como objetivo identificar a ocorrência da Síndrome de Burnout em professores da rede pública estadual de ensino de Patrocínio, Minas Gerais. Para a realização da pesquisa foram aplicados 50 questionários à professores de duas escolas públicas estaduais do município, utilizando-se como instrumento o Questionário para Identificação Preliminar de Burnout – inspirado no Maslach Burnout Inventory – MBI. Os resultados obtidos foram tabulados e analisados e utilizando- se a estatística descritiva. Dados da pesquisa apontaram que 82% de professores do sexo feminino tiveram uma maior ocorrência para desenvolver a síndrome, semelhantes aos encontrados no Censo do Magistério da Educação Básica no Brasil, no qual 85% eram também do sexo feminino. A pesquisa também demonstrou que 12% dos professores apresentaram fase considerável da síndrome. Conclui-se que a despersonalização e

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Page 1: Artigo Cientifico - Burnout

O ESTRESSE DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO: SINDROME DE BURNOUT

RESUMO:

A Síndrome de Burnout pode ser considerada como uma das conseqüências

mais marcantes do stress profissional pós-moderno, e se caracteriza por exaustão

emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com

relação a quase tudo e todos serve até, como defesa emocional. É fato que há uma

despersonalização, exaustão e desilusão crescente no quadro dos profissionais da

área da educação na rede publica estadual de ensino, tanto nos profissionais do

sexo feminino quanto do sexo masculino. O presente trabalho teve como objetivo

identificar a ocorrência da Síndrome de Burnout em professores da rede pública

estadual de ensino de Patrocínio, Minas Gerais. Para a realização da pesquisa

foram aplicados 50 questionários à professores de duas escolas públicas estaduais

do município, utilizando-se como instrumento o Questionário para Identificação

Preliminar de Burnout – inspirado no Maslach Burnout Inventory – MBI. Os

resultados obtidos foram tabulados e analisados e utilizando-se a estatística

descritiva. Dados da pesquisa apontaram que 82% de professores do sexo feminino

tiveram uma maior ocorrência para desenvolver a síndrome, semelhantes aos

encontrados no Censo do Magistério da Educação Básica no Brasil, no qual 85%

eram também do sexo feminino. A pesquisa também demonstrou que 12% dos

professores apresentaram fase considerável da síndrome. Conclui-se que a

despersonalização e exaustão emocional e baixa pontuação em realização pessoal,

são indicadores negativos para a rede pública estadual de ensino e que com

melhores condições de trabalho poderão estar menos expostos à incidência do

Burnout.

Palavras - chave: professores, exaustão, Burnout.

Page 2: Artigo Cientifico - Burnout

INTRODUÇÃO

Inevitavelmente, como em qualquer profissão, principalmente a de professor,

o ser humano necessita estar em relacionamento com seus semelhantes, sejam

familiares, colegas de trabalho ou seus alunos. Quando este relacionamento é

harmonioso, contributivo, espontâneo, gera-se satisfação e progresso, ao contrário,

quando é conflituoso, surgem obstáculos aos desenvolvimentos das atividades,

gerando “emperramento” nos propósitos a alcançar e ocasionalmente ate em

síndromes como, síndrome do pânico e síndrome de Burnout.

Assim sendo, estas relações humanas neste ambiente tornam-se tão

informais que os desenvolvimentos éticos e profissionais ficam prejudicados e

conseqüente começam a desenvolver prolongados níveis de estresse

compreendendo um alto nível de exaustão emocional, distanciamento das relações

pessoais e diminuição do sentimento de realização pessoal.

Segundo Perrenound (1993) qualifica a profissão de docente como uma

“profissão impossível”, pois esta sempre dentre aquelas que trabalham com pessoas

de diversas culturas, crenças e etnias e por esta razão, o sucesso do

empreendimento educativo nunca estará assegurado, pois em tal profissão sempre

poderá ocasionar mudanças, ambigüidades, conflitos, opacidades e mecanismos de

defesa.

Neste contexto observa-se que o professor está aos poucos sendo tirado do

meio cultural e social em que era acostumado a viver e como conseqüência sendo

colocado em um meio completamente diferente do seu habitual, sem expectativa de

retornar a um passado não tão distante do que realmente era o seu papel como

professor.

Tais mudanças foram tão significativas na função do professor no seu

cotidiano escolar que se desenvolveu em muitos profissionais da área a mais nova

síndrome da pós-modernidade: a síndrome de Burnout.

A expressão staff burnout foi usada pela primeira vez para descrever uma

síndrome composta por exaustão, desilusão e isolamento em trabalhadores da

saúde mental (Freudenberger, 1974).

Segundo Guimarães, et al, (2008) a partir da década de 90 deu-se início há

uma série de mudanças estruturais na economia brasileira e conseqüentemente o

ambiente escolar sofreu igualmente os impactos da reestruturação produtiva em que

Page 3: Artigo Cientifico - Burnout

o país estava passando. Com isso, os professores tiveram que saber, além de tudo,

lidar com as pressões da sala de aula e com o rígido controle sobre seu trabalho.

Agregando às exaustivas jornadas de trabalho – em média 40 horas/semanais – e a

jornada extraclasse, submeteram os professores a um grave e agudo estresse.

Estudiosos acreditam que tais mudanças podem ter contribuído para que

muitos professores desenvolvessem a síndrome de Burnout.

Sendo a síndrome uma reação causada pela tensão emocional crônica

gerada pelo contato direto, exagerado e estressante com o trabalho, a síndrome

tende a levar o professor a perder o interesse pelo trabalho, de modo que

qualquer esforço seja de cunho pessoal ou social pareça desanimador e

desmotivador. Refere-se a um tipo de estresse ocupacional e institucional

focado principalmente em profissionais que mantêm uma relação diária e direta

com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de

ajuda e ensinamentos. (Vieira et al, 2006).

Segundo ainda Vieira et al (2006) a Burnout é determinada pelo modo de

gestão do trabalho, caracterizado por nenhuma autonomia dos professores,

sobrecarga de tarefas e cobrança em relação a estas, falta de instabilidade no

emprego, má remuneração, sentimento de desmoralização no ambiente de

trabalho, sentimento de injustiça pelo trabalho feito e não reconhecido, a falta de

apoio, muito das vezes por parte da direção e dos colegas, somados à

predisposição própria do professor. Podemos então entender a síndrome como

sendo uma fórmula de organização do trabalho.

Diante dessas considerações, estudar a ocorrência da Síndrome de

Burnout em profissionais da área de educação, especificamente com professores

da rede pública de ensino, representa uma contribuição por conhecer os

mecanismos da síndrome e principalmente difundir o tema abordado.

OBJETIVO DA PESQUISA

A presente pesquisa teve por objetivo identificar a ocorrência da Síndrome de

Burnout em professores da rede pública estadual de ensino no município de

Patrocínio, Minas Gerais.

Page 4: Artigo Cientifico - Burnout

METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada em duas escolas da rede publica estadual

de ensino do município de Patrocínio, Minas Gerais.

Par tal pesquisa foram aplicados 50 questionários a professores das escolas

da rede pública estadual de ensino fundamental e médio, utilizando-se como

instrumento de pesquisa o Questionário para identificação preliminar de Burnout –

elaborado e adaptado por Chafic Jbeili, inspirado no Maslach Burnout Inventory –

MBI.

Os dados obtidos com a pesquisa foram devidamente tabulados e analisados

pelo programa Microsoft Excel, 07, utilizando a estatística descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram aplicados 50 questionários entre os professores, dos quais 82% eram

do sexo feminino e 18% do sexo masculino, com faixa etária entre 29 a 45 anos.

O perfil demográfico desta amostra foi bastante similar ao perfil da categoria

docente de nível fundamental e médio do Brasil. Os resultados são semelhantes aos

achados no censo do magistério da Educação Básica no Brasil (2003), no qual a

maioria dos profissionais era do sexo feminino (85%), e a idade variava a de 18 a

pouco mais de 65 anos, com média de idade da maioria dos professores entre 35 a

44 anos (Censo do Magistério da Educação Básica, 2003).

Conforme ainda resultado da pesquisa, 12% dos professores apresentaram

fase considerável da síndrome de Burnout, enquanto que 10% dos professores

questionados apresentaram a possibilidade de desenvolver a síndrome.

Em Pelotas, Rio Grande do Sul, cerca de um terço dos entrevistados em

pesquisa realizada demonstrou que 31,4% foram classificados como portadores da

síndrome de Burnout (Neves, 2008).

Outra pesquisa realizada com mais de oito mil professores da educação

básica da rede pública na região Centro-Oeste do Brasil revelou que 15,7% dos

entrevistados apresentavam a síndrome de burnout. Os autores também

identificaram a incidência dos três sintomas que caracterizam a síndrome. Com

relação ao primeiro sintoma, 29,8% dos professores pesquisados apresentaram

exaustão emocional em nível considerado crítico (Leite, 2008).

Page 5: Artigo Cientifico - Burnout

Quando analisado o esgotamento emocional em relação ao trabalho exercido

houve 16% do nível de despersonalização dos professores questionados.

Segundo Leite (2008), pesquisa realizada também na região Centro-Oeste do

país 14% evidenciaram altos níveis de despersonalização dos professores.

Resultados também demonstraram que 30% dos professores responderam

que se sentem excessivamente exaustos mentalmente.

As investigações de Codo (1999) sobre a saúde mental dos professores de

1º. e 2º. graus em todo o país, abrangendo 1440 escolas e mais de 50 mil

professores, revelaram que 48% apresentavam algum sintoma da síndrome e

26% da amostra estudada apresentavam exaustão emocional. Essa proporção

variou de 17% em Minas Gerais e Ceará a 39% no Rio Grande do Sul.

Quanto aos resultados das demais fases identificadoras pesquisadas através

das características psicofísicas, em relação ao trabalho do professor podem ser

visualizados na figura 1.

Figura 1 - Resultados das Fases de Identificação da Sindrome de Burnout em

Professores da Rede Pública de Ensino Estadual do Municipio de Patrocínio, Minas

Gerais.

2%

8%

38%40%

12%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Valores (%)

Nenhumindicio daBurnout

Possibilidadede Burnout

Fase Inicial daBurnout

Instalação daBurnout

Fase deBurnout

Fases da Síndrome

Page 6: Artigo Cientifico - Burnout

Conforme demonstrado na figura 1, deve-se destacar que ficou evidente que

40% dos professores da rede pública estadual de ensino já se encontram na fase de

instalação desta síndrome.

Segundo Carvalho (1995, p.63), essa situação transforma o sujeito, muitas

vezes, em um trabalhador alienado de seu desejo, que sempre está em déficit com a

organização do trabalho ou instituição, a qual lhe pede mais sem cessar, o que

determina uma falta do trabalhado r consigo próprio, ou seja, seu desejo não lhe

pertence. O sofrimento no trabalho ou instituição pode ser sufocado, demonstrando

uma resistência no sintoma quando, para poder continuar trabalhando, o trabalhador

faz dele o desejo da organização ou instituição, introjeta o modelo de

processamento do trabalho, tornando-se artífice do seu próprio sofrimento.

CONCLUSÃO

A pesquisa realizada demonstrou que, embora a qualidade de vida do

professor tenha sofrido mudanças substanciais, foi relevante estudá-la para

compreensão dos fatos que envolvem o contexto profissional do trabalho do

professor. E, também, para não se fazer uma avaliação sem embasamento

teórico/cientifico sobre a Síndrome de Burnout na educação.

Conclui-se ainda que a despersonalização e exaustão emocional e baixa

pontuação em realização pessoal, com indicadores negativos para a rede pública

estadual de ensino é fato. Os estudos pesquisados voltados à compreensão entre as

mudanças educacionais propostas e implementadas principalmente pela rede

pública estadual de ensino, e a realidade que os trabalhadores enfrentam nas

escolas tem fator preponderante na alteração comportamental do professor nos dias

atuais.

Sendo assim, as contradições existentes podem estar na origem da

exposição aos fatores de risco para a possibilidade da síndrome se instalar dentro

da categoria dos trabalhadores do ensino. Lembrando-se que, este instrumento de

pesquisa, referente ao questionário aplicado, é de uso informativo apenas e não

deve substituir o diagnóstico realizado por médico psiquiatra ou psicoterapeuta de

preferência de cada professor questionado.

Page 7: Artigo Cientifico - Burnout

REFERÊNCIAS

CARVALHO, R. C. Saúde mental e trabalho um novo (velho) campo para a questão da subjetividade. In: CODO, W, SAMPAIO, J. J. (orgs). Sofrimento Psíquico nas Organizações: Saúde Mental e Trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995, cap. 3.

Censo do Magistério da Educação Básica no Brasil. Rio de Janeiro: MEC, 2003. Disponível em:< www.jornaldaciencia.htm>. Acessado em: 08/07/2008.

CODO, W. & VASQUES-MENEZES, J. (coord). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

FREUDENBERGER, H. Staff burnout. Journal of Social Issues 30: 159-165, 1974.

GUIMARÃES, A; RODRIGUES, B. Remédios para o professor e a educação. In: Nova Escola, edição 211, abr/2008. São Paulo: Abril, 2008.

LEITE, N. M. B. Síndrome de Burnout Atinge 15% dos Professores. Agência UNB, Brasília, 18 jun. 2008. Disponível em: <http://www.andes.or g.br/imprensa/ultimas/default.asp?start=26>. Acesso em: 12 jul. 2008.

NEVES, S. F. Trabalho Docente e Qualidade de Vida na Rede Pública de Ensino de Pelotas. Pelotas, UCPel, 2008, p. 104.

PERRENOUND, P. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. Lisboa: D.Quixote, 1993.

VIEIRA, I. et al. Burnout na clínica psiquiátrica: relato de um caso. In: Revista de Psiquiatria Clínica do Rio Grande do Sul. Vol. 28 (3), set-dez/ 2006. p. 352-356.

Page 8: Artigo Cientifico - Burnout

O ESTRESSE DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO: SINDROME DE

BURNOUT

Wesley Batista da Silva

Graduando do 4º módulo do curso de Gestão em Recursos Humanos –

Cesumar – centro Universitário de Maringá – PR

E. E. Joaquim Dias – Patrocínio, MG – ATB – Assistente Técnico Básico em

Contabilidade.

Rua- Joaquim Otavio de Brito, 474 – Cidade Jardim – Patrocínio, MG

CEP: 38740-000

(34) 9983-7601

[email protected] e ou [email protected]

Marcos Aurélio Belchior Pereira

Graduado em Ciências Biológicas – UNICERP – Centro Universitário do

Cerrado – Patrocínio, MG

Pós-Graduado em .Educação Ambiental - UNIPAM – Centro Universitário de

Patos de Minas – Patos de Minas, MG

Graduando em Pedagogia – 5º módulo – UNIUBE – Universidade de Uberaba

– Araxá, MG

Conselho Tutelar – Patrocínio, MG – Presidente do Conselho.

Rua- Joaquim Otavio de Brito, 474 – Cidade Jardim – Patrocínio, MG

CEP: 38740-000

(34)3831-4444 – (34)9139-0001

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