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Curso de Jornalismo Artigo de Revisão A CONSTRUÇÃO DO SABER INFANTIL: A RECEPÇÃO DO PROGRAMA TELEVISIVO QUINTAL DA CULTURA POR CRIANÇAS DE CINCO ANOS THE CHILDREN KNOW CONSTRUCTION: THE TELEVISION PROGRAM QUINTAL DA CULTURA RECEPTION BY FIVE YEARS OLD CHILDREN Jéssica de Oliveira Valença 1 , Dácio Renault 2 1 Aluna do Curso de Jornalismo 2 Professor do Curso de Jornalismo - orientador Resumo O presente artigo foi realizado por meio de uma pesquisa a respeito da influência do programa televisivo Quintal da Cultura na educação formal de crianças de cinco anos, da Escola Maxwell, no Guará-DF. Neste artigo conceituei, após realizar ampla revisão bibliográfica, os principais assuntos que envolvem o tema, tais como crianças, televisão, programas televisivos infantis, influência da televisão na educação e estudos de recepção. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também foram usados como referência. Como proposta metodológica, adoto a pesquisa bibliográfica, estudo documental e de caso, aplicação de questionários, observação participante e estudos de recepção. Palavras-Chave: Crianças; Recepção; Televisão; Educação. Abstract This article was developed by a research on the influence of television program “Quintal da Cultura” in formal education of children of five years, of Maxwell School, in Guara-DF. In this article, I conceptualized, after conducting extensive literature review, the main issues surrounding the subject, such as children, television, children's television programs, influence of television in education and reception studies. The Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) and the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) were also used as reference. As a methodological proposal, I adopt the literature, documentary and case study, questionnaires, participant observation and reception studies. Keywords: Children; Reception; Television; Education. Contato: [email protected] Introdução As crianças, que são telespectadores em potencial, precisam de um cuidado atento por parte de quem faz televisão. A formação dos pequenos começa, muitas vezes, pelo que vê na televisão e nos programas que lhes são destinados. Por isso, o conteúdo e a forma de transmitir uma informação ou ensinar um comando deve ser feito pensado no melhor jeito de atingi- los. O programa Quintal da Cultura, exibido diariamente pela TV Cultura, se preocupa com isso e exibe um programa educativo para as crianças. Com personagens marcantes, sua proposta é incentivar a criança a pensar sozinha e a começar a formar a sua própria opinião. Mesmo com o avanço da Internet, a influência que a televisão exerce na vida das pessoas na atualidade ainda é muito forte. Dados da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República mostram que ela ainda é o meio predominante nas casas brasileiras e que tem forte influência na vida das pessoas. Os dados são da Pesquisa Brasileira de Mídia, divulgada em fevereiro deste ano para revelar os hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. A pesquisa mostrou que quase todos os entrevistados (97%) afirmaram ver televisão. Uma ação que independe de gênero, idade, renda, nível educacional ou localização geográfica. É neste cenário que as crianças crescem. O hábito de assistir televisão é passado entre as gerações, por isso que o cuidado com o tipo de informação veiculada neste meio deve ser estudado. O papel que a mídia exerce na construção da subjetividade, principalmente das crianças e jovens, é muito importante. Os estudos de recepção já publicados mostram exatamente essa influência, de diferentes formas. Segundo Silva (2010), as formas que a mídia exerce algum tipo de influência são no comportamento e no cotidiano dos envolvidos, já que, por causa da pouca idade, estão em processo de formação de valores e da própria personalidade. Ele ainda afirma que, desde os primeiros dias da infância, os meios de

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Curso de Jornalismo Artigo de Revisão

A CONSTRUÇÃO DO SABER INFANTIL: A RECEPÇÃO DO PROGRAMA TELEVISIVO QUINTAL DACULTURA POR CRIANÇAS DE CINCO ANOSTHE CHILDREN KNOW CONSTRUCTION: THE TELEVISION PROGRAM QUINTAL DA CULTURARECEPTION BY FIVE YEARS OLD CHILDREN

Jéssica de Oliveira Valença1, Dácio Renault2

1 Aluna do Curso de Jornalismo2 Professor do Curso de Jornalismo - orientador

Resumo

O presente artigo foi realizado por meio de uma pesquisa a respeito da influência do programa televisivo Quintal da Cultura na

educação formal de crianças de cinco anos, da Escola Maxwell, no Guará-DF. Neste artigo conceituei, após realizar ampla revisão

bibliográfica, os principais assuntos que envolvem o tema, tais como crianças, televisão, programas televisivos infantis, influência da

televisão na educação e estudos de recepção. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) também foram usados como referência. Como proposta metodológica, adoto a pesquisa bibliográfica, estudo

documental e de caso, aplicação de questionários, observação participante e estudos de recepção.

Palavras-Chave: Crianças; Recepção; Televisão; Educação.

Abstract

This article was developed by a research on the influence of television program “Quintal da Cultura” in formal education of children of

five years, of Maxwell School, in Guara-DF. In this article, I conceptualized, after conducting extensive literature review, the main issues

surrounding the subject, such as children, television, children's television programs, influence of television in education and reception

studies. The Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) and the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) were also used

as reference. As a methodological proposal, I adopt the literature, documentary and case study, questionnaires, participant observation

and reception studies.

Keywords: Children; Reception; Television; Education.

Contato: [email protected]

Introdução

As crianças, que são telespectadores empotencial, precisam de um cuidado atento porparte de quem faz televisão. A formação dospequenos começa, muitas vezes, pelo que vê natelevisão e nos programas que lhes sãodestinados. Por isso, o conteúdo e a forma detransmitir uma informação ou ensinar um comandodeve ser feito pensado no melhor jeito de atingi-los.

O programa Quintal da Cultura, exibidodiariamente pela TV Cultura, se preocupa comisso e exibe um programa educativo para ascrianças. Com personagens marcantes, suaproposta é incentivar a criança a pensar sozinha ea começar a formar a sua própria opinião.

Mesmo com o avanço da Internet, ainfluência que a televisão exerce na vida daspessoas na atualidade ainda é muito forte. Dadosda Secretaria de Comunicação Social daPresidência da República mostram que ela ainda éo meio predominante nas casas brasileiras e que

tem forte influência na vida das pessoas. Osdados são da Pesquisa Brasileira de Mídia,divulgada em fevereiro deste ano para revelar oshábitos de consumo de mídia pela populaçãobrasileira. A pesquisa mostrou que quase todos osentrevistados (97%) afirmaram ver televisão. Umaação que independe de gênero, idade, renda, níveleducacional ou localização geográfica. É nestecenário que as crianças crescem. O hábito deassistir televisão é passado entre as gerações, porisso que o cuidado com o tipo de informaçãoveiculada neste meio deve ser estudado.

O papel que a mídia exerce na construçãoda subjetividade, principalmente das crianças ejovens, é muito importante. Os estudos derecepção já publicados mostram exatamente essainfluência, de diferentes formas. Segundo Silva(2010), as formas que a mídia exerce algum tipode influência são no comportamento e no cotidianodos envolvidos, já que, por causa da pouca idade,estão em processo de formação de valores e daprópria personalidade. Ele ainda afirma que, desdeos primeiros dias da infância, os meios de

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comunicação estão presentes de forma marcantee crescente em suas vidas.

Para o autor, a mídia é uma grande forma emeio para reforçar tendências da grande massa,além de ser eficiente e conseguir moldarcomportamentos e ideias de crianças e jovens. Porisso, é necessário analisar criticamente e a fundoos efeitos da recepção televisiva, e não banir a TVdo cotidiano das crianças. O conteúdo pode serrepensado e, sua recepção, melhor estudada.

O presente trabalho resolveu, portanto,verificar se a programação infantil, no caso, oprograma Quintal da Cultura contribui para odesenvolvimento crítico das crianças de cincoanos.

O corpus escolhido para o estudo foramcrianças de cinco anos da Escola Maxwell,localizada no Guará I, no Distrito Federal, quedurante duas semanas assistiram ao programaQuintal da Cultura e foram, nesse período,observadas, além de participarem de dinâmicas degrupo para uma análise se de fato o programainfluencia no dia-a-dia dessas crianças, ou podeinfluenciar. Para melhor avaliar o impacto daexibição do programa, voltei uma semana após aexibição e apresentação do programa.

A instituição de ensino foi escolhida pelointeresse que mostrou quando a proposta depesquisa lhes foi apresentada e pela proximidadecom a faculdade.

A escolha deste tema foi pensada porque aatual programação televisiva não oferece àscrianças uma programação adequada. Não há, emsua maioria, programas com cunho jornalístico oueducativo. Uma das exceções é, justamente, oprograma Quintal da Cultura, exibido pela TVCultura. Com isso, a hipótese é que o programacontribua positivamente no desenvolvimento dascrianças, educando e ensinando a elas coisasnovas.

Justificativa

A televisão não representa apenas opassado, mas o presente e o futuro, mesmo comdiscussões sobre a força da TV e o medo delaperder espaço para os outros meios decomunicação. Por isso, é cada vez maisimportante pensar em um conteúdo diferenciadopara os telespectadores. É preciso pensar nopúblico-alvo e não em programas para atingir atodos, sem direcionar, como é na atualidade.

Infelizmente, há um déficit na programaçãotelevisiva infantil. Pouco se vê em relação aprogramas voltados para o público infantil e, comisso, as crianças crescem sem ter na televisãoconteúdo educativo suficiente e são, muitas vezes,obrigadas a ver uma programação não indicadapara a sua idade, sendo obrigadas a pular várias

fases e aprendendo coisas fora do tempo. Ospoucos programas que lutam para ajudar naformação crítica da criança merecem destaque.

Embora o campo sobre o estudo dainfluência da televisão na vida da sociedade sejaalgo amplamente discutido, há algumas lacunas aserem preenchidas. Os estudos estão semprepreocupados em explicar a emissão do conteúdo,com o fazer, e se esquecem da importância de setrabalhar a recepção, sobre como é vista ainformação do outro lado, no caso, da criança.

Esta pesquisa busca, justamente, estudar ooutro lado, mostrar como o público-alvo enxerga opapel do comunicador e se o objetivo de mudar,educar e transformar as crianças está realmentesendo cumprido. Escutar as crianças é dar voz aelas. É entender como deve ser feito um programaque as motive e eduque.

Referencial Teórico

Crianças

Antes de buscar explicações sobre oimpacto dos programas televisivos na construçãodo saber infantil, é preciso definir bem o que écriança e seus direitos.

Segundo o Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA), que corresponde à lei 8.069,criada em julho de 1990, considera-se criança apessoa que tenha até 12 anos incompletos. O ECAgarante todos os direitos comuns a todos, comosaúde, educação, alimentação, esporte, lazer,liberdade e cultura. E, na parte que envolve osmeios de comunicação, garante também que casoa criança venha a cometer algum ato infracional,seus dados como idade, nome completo e suaimagem não sejam veiculados em qualquer tipo demeio de comunicação. O seu descumprimentocabe pena e até mesmo a apreensão dapublicação.

O último censo demográfico divulgado peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), o Censo 2010, declarou que mais de 20%de toda a população brasileira é formada porcrianças. Em número, isso significa mais de 39milhões de pessoas. A região com o maior númerode crianças é a região Norte (27%), seguidos doNordeste (18%), Centro-Oeste (21%) e dasregiões Sul e Sudeste com 18% de crianças emcada região. Em relação ao sexo, há quase umaigualdade, 50,98% das crianças são meninos e asoutras 49,08%, meninas.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância(UNICEF), que está presente no Brasil desde1950, levanta outra questão importante para nossaanálise. Segundo a instituição, uma em cadaquatro crianças de 4 a 6 anos não vai à escoladurante a primeira infância e esse perfil é maisfácil de acontecer com as crianças pobres. O

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número de crianças pobres que não frequentam aescola nessa idade passa da metade, chegando a64%.

Para Cohn (2010), chega a ser difícil definiro que é criança, ser criança e como elas vivem epensam. Segundo a autora, a maior dificuldadeestá em reconhecer a criança como um objetolegítimo de estudo. Em várias esferas conhecidasda sociedade, as crianças são vistas como seresincompletos, mas Cohn garante que isso vemmudando nos últimos anos e as criançaspassaram a ter legitimidade e ganharam espaçonos estudos. Ela diz que, para entendê-las, énecessário pensar no mundo a partir do ponto devista delas e estudar a recepção que elas têm doconteúdo veiculado dos meios de comunicação,em especial, a televisão.

Sobre o que pensam e como se dá odesenvolvimento infantil, Piaget (ApudCAVICCHIA, 2010, p. 4.) divide-o em várias fases,mas todas com funções importantes para ajudarna construção do saber. O primeiro estágio, dainteligência sensório-motora, de 0 a 2 anos, éfundamental para o desenvolvimento cognitivo.Nessa fase começa-se a desenvolver o raciocínio,pensamento, linguagem, memória, atenção, entreoutras funções. O segundo estágio, pré-operatórioou simbólico, que corresponde dos 2 aos 7 anos,traz mudanças lentas e sucessivas. Aqui a criançaé capaz de raciocinar mentalmente tudo que lhe éensinado, aprende a se comunicar, ainda que nãocompreenda todas as funções de linguagem,consegue entender o significado das coisas. Oúltimo estágio que envolve as crianças, ooperatório concreto, dos 7 aos 12 anos, além dasfunções cognitivas definidas, desenvolve asquestões representativas, como noção decomprimento, de distâncias, peso, volume, etc. Apartir daí a criança já absorveu tudo que viu eouviu ao longo de sua infância.

Televisão

Rodrigues (2013) explica bem o processode construção que a televisão proporcionou àhumanidade. Para ele, é importante lembrar deonde veio este meio que hoje é tão presente navida da sociedade. O termo televisão, que vem dogrego tele (distante) e do latim visione (visão) é, deforma simples, um sistema eletrônico dereprodução instantânea de som e imagem e surgiude um longo processo científico e técnico. Muito seestudou e se experimentou até que chegasse aoproduto final que conhecemos. Rodrigues (Idem)lembra que uma das primeiras grandestransmissões foi a dos Jogos Olímpicos de Berlimde 1936, mas que o seu uso só ficou mais populardepois da Segunda Guerra Mundial, graças aosavanços tecnológicos que a guerra impôs aomundo.

A popularização do uso da TV para muitos,segundo Rodrigues (2013), veio como um

fenômeno. Isso porque as pessoas estavamacostumadas com o rádio, que já era muitopróximo, mas mesmo assim houve aceitaçãoimediata. Assim como todas as invenções, atelevisão também tinha seu propósito. O meio veiopara atender o público de uma forma geral,trazendo uma comunicação em massa. Issogarantiu o interesse comercial das empresasdesde o início, já que poderiam, por meio datelevisão, atingir um grande público e, mais do queisso, um público comprador.

Silva (2008) traz a ideia de que hoje tudo édivulgado pela televisão. É possível saberinformações do mundo todo em questão desegundos, pois a notícia, graças a TV, está aoalcance dos olhos e ouvidos da população.Segundo a autora, um ponto importante é que asmensagens audiovisuais exigem pouco esforço dequem está assistindo. As cenas curtas, comlinguagem concreta e o ritmo acelerado, sãoescolhas feitas visando mexer com a imaginaçãodo receptor. “São essas características quemarcam substancialmente a diferença doaudiovisual com a linguagem escrita, quedesenvolve mais o rigor, a organização e a análiselógica”. (SILVA, 2008, s.p.)

Para Silva (Idem), a televisão, de algumaforma, substitui a função materna, pois ocupa umlugar de destaque dentro das casas e um ponto dereferência na organização da família. A qualquermomento está ali, à disposição, oferecendocompanhia até mesmo quando todos foram dormirou trabalhar. É um refúgio para momentos deangústia ou de tristeza, e, para melhorar, nãoexige nada em troca.

Tiburi (2007) traz uma reflexão atual sobre atelevisão. Ela acredita que quem se posta emfrente à TV é capaz de experimentar umasensação antiga e nova ao mesmo tempo: “Quemquer assistir à guerra, à violência, à miséria, quertambém que seu insano desejo de ver estejaprotegido e que seu corpo não esteja ameaçado.Espera ver algo real, mas protegido pelo comose fosse real” (TIBURI, 2007. s.p.). Isso faz comque a televisão exija um olhar cuidadoso, com umângulo próprio capaz de mostrar a sua verdade.

Programas televisivos infantis

Para Maria (2000), a televisão é um veículode comunicação que está na casa de praticamente99% dos brasileiros. Por isso a importância de seestudar e entender esse meio e a trajetória que aprogramação infantil traçou. O segmento quepensa em atingir as crianças, segundo a autora,integra uma história independente dentro dasemissoras que conhecemos nos canais abertos detelevisão, e mesmo que o público-alvo geral dasemissoras não seja o público infantil, todas têm emsua programação os programas destinados a estepúblico.

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O primeiro programa infantil de televisãomundial a ensinar conceitos e divertir, segundoCarneiro (s. d.), foi criado em 1969 e exibido nosEstados Unidos. O Sesame Street (Vila Sésamo)tinha como formato quadros ou módulos de curtaduração que se repetiam em ritmo acelerado.Cada módulo do programa tinha um objetivopedagógico específico e o formato era inspiradonas técnicas da publicidade. “Tornou-se umareferência cultural mundializada de série infantileducativa de televisão. Seus princípios constituemindicações observadas por produtores erealizadores de programas educativosinovadores”, (CARNEIRO, s.d., p. 31.)

Maria (2000) também afirma que asproduções realizadas para o público infantiloferecem diversidade em sua proposta, apesar deser possível identificar muita repetição entre osprogramas. A autora lembra que, no Brasil, a TVTupi foi a primeira emissora do país e desde seuinício já pensava na programação infantil, mascom os moldes dos programas para adultos, comoteleteatro e telenovelas.

A TV brasileira teve seu estágio inicial nadécada de 50, segundo Colvara (2007), e contavaapenas com dois canais: TV Tupi (1950) e TVRecord (1952) com programação infantilsignificante, porém os desenhos não tiveramgrande força.

A partir disso, Mattos (2002, apudCOLVARA, 2007, p.2.) considera que a televisãopassou por fases de desenvolvimento. Uma delasfoi o período inicial, em que o televisor era artigode luxo e que apenas a elite brasileira tinhaacesso, porque o preço do aparelho custava trêsvezes mais do que o do rádio mais caro da época.Para se ter uma ideia, segundo Mattos (Idem), eratão caro que seu valor chegava perto de um carro.

Colvara (2007) levanta o fato de que nadécada de 50 havia cerca de 30 programas, dosquais 17 representavam significância em relação atransmissão de programas direcionados ao públicoinfantil, inclusive na exibição de desenhosanimados.

Como herança do rádio, Maria (2000),salienta que muitos programas à época eram deauditório, como o caso de um dos primeirosprogramas infantis, o “Gurilândia”, uma versãopara TV baseado no programa infantil de rádio“Clube do Papai Noel”. A partir disso, muitosprogramas se desenvolveram e passaram a fazerparte da programação diária da televisão, como oprograma “Os Melhores da Semana”. A autorafinaliza dizendo que o circo teve grandeimportância nesse início e que também foi na TVTupi que os programas baseados no modelocircense ganharam espaço, como foi o caso de“Fuzarca e Torresmo” e “Cirquinho Bom-Bril”.

Barros Filho (2011) indica que por causa dagrande velocidade com que os conteúdos

televisivos são apresentados aos espectadores, ospais podem ver na TV uma forma de entreter ofilho: “pode fazer com que os pais atribuam àprogramação infantil a função de passatempoagradável para a criança, destinando poucareflexão a respeito dos conteúdos nela veiculados”(BARROS FILHO, 2011, p. 2).

Brito (2005, apud MOURA, s. d.) descreveas mudanças que a programação infantil sofreu apartir dos anos 80. Para ele, os programascomeçaram a ter, como apresentadores, pessoasmais marcantes, que entre uma brincadeira eoutra, davam dicas às crianças, como ensinar aescovar os dentes ou até mesmo a amarrar ocadarço dos sapatos. Porém, para Moura, essaforma lúdica de ensinar estava diretamente ligadaà participação de um patrocinador: “Músicas,brincadeiras, gincanas, tudo isso fazia parte de umconvite recorrente, insistente e irrecusável doconsumo de alimentos, produtos, marcas ouadoção de comportamentos”. (MOURA, s. d.)

Já na década de 1990, explica Colvara(2007), as emissoras de TV e Rádio tiveramautorização para transmitir programasestrangeiros, fato que ainda não foi estudado parasaber o impacto causado nas crianças brasileiras.Em relação aos programas infantis, a autoraconsidera que houve uma redução brusca deprogramação: “Crianças de 04 a 09 anos não têmespaço, uma vez que a programação atualmentetem se voltado para uma camada até então poucoexplorada, os pré-adolescentes”. (COLVARA,2007, p. 15.).

O programa infantil escolhido para tratarneste trabalho foi o programa Quintal da Cultura,exibido pela TV Cultura. A emissora, segundoCOUTINHO, JESUS e TOSTA (2013), teve seuauge a partir da inauguração da Fundação PadreAnchieta (FPA), que mantinha a TV Cultura de SãoPaulo. Desde então, a ideia de TV Pública ficouconhecida no Brasil. A missão no serviço público,nessa época, era conseguir produzir um programaeducativo, mas, ao mesmo tempo, popular. A TVCultura, antes chamada de TV Educativa, tinha amaior produção e foi bem implantada.

Os autores mostram que com o passar dosanos a emissora foi mudando o seu perfil, naverdade, se adequando às novas exigências dopúblico. Nessa transição, os programas infantiscomeçaram a ganhar força e espaço na emissora.

Maurício (2008) ainda salienta que as TVseducativas do Brasil têm muito que melhorar, poissão vistas como uma coisa chata, educativaapenas no sentido de uma aula desinteressante,nada que seja diferente e desperte a curiosidadeda criança e que, possivelmente, apenas a TVCultura fuja desta linha.

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A influência da televisão na educação

Porto e Santos (2005) garantem que umaforma mais fácil, prática e divertida de ensinar ascrianças é unir a televisão, a escola e os pais.Ainda é preciso entender que a criança não nascecom uma visão de mundo, é um processo decriação ao longo dos anos que ela vai adquirindoaos poucos e o contato com a televisão e com osproblemas e fatos reais ajudam na construção decidadãos de opinião.

As autoras ainda afirmam que com a ajudade alguns programas televisivos esse processopode ser acelerado e mais fácil. Por meio danarração de fatos históricos, mitológicos, contosde fadas e atualidades, os programas conseguemajudar a criança a se desenvolver.

Silva (2008) alerta que os adultos devemconversar com a criança durante a programação,para estimular a aprendizagem, pois a criançasozinha assistindo televisão perde a interação e aTV torna-se nociva.

Nas escolas, a autora acredita que não émais possível deixar de lado as mídias. Por isso,cabe ao professor ensinar as crianças os seusdireitos e educá-las usando a TV como sua aliada,já que o que se vê na atualidade é a televisãoensinando as crianças a ler e a reconhecer asformas.

Portanto, segundo Silva (2008), a saídapara manter as crianças estimuladas econhecendo as coisas do mundo na escola é levara TV para a sala de aula. Falar e fazer televisãocom os alunos, ou seja, para os educadores quebuscam formar cidadãos, a melhor escolha não édesligar e fingir que esse meio de comunicaçãonão existe, a solução é refletir junto com osestudantes sobre o que eles assistem diariamente.

Souza (2000) complementa explicando queos programas educativos influenciampositivamente o desenvolvimento das crianças queos assistem com regularidade.

O Center for Research on the Influencesof Television on Children (CRITC), daUniversidade do Texas-Austin, testou noinício da década de 80 o impacto deSesame Street (programa de televisãoeducacional para crianças, produzido nosEstados Unidos)entre crianças de 3 e 5anos, concluindo que o ato de assistirfrequentemente ao programa aumenta ovocabulário dos espectadores (HUSTONe WRIGHT, IN JORDAN e JAMIESON,1998, apud SOUZA 2000, p. 71.).

Esse estudo ainda foi repetido na década de90, segundo Souza (2000), com os adolescentesque assistiam ao Vila Sésamo na infância econstatou que eles tiveram notas melhores nasdisciplinas de Inglês, Matemática e Ciências doque outros jovens que não assistiram ao programacom frequência.

Estudos de recepção

Ruótolo (1998), explica que as perspectivasde recepção existem para entender o queacontece depois da exposição emitida pelosmeios. Analisar os números da audiência, o que éconsiderado uma rotina; uma prática social que foiaprendida como tantas outras. O autor aindalembra que os teóricos da recepção consideramque a televisão traz conteúdos que muitas vezessão contrários aos interesses do receptor, masmesmo assim é um meio muito popular eapreciado.

O autor consegue diferenciar que já que aexposição é algo praticamente automática, o focoda recepção é a construção subjetiva designificados, que deve ser analisado a partir deuma decodificação. O maior interesse é,justamente, essa reconstrução dos significadosfeita pelos receptores, ou seja, a interpretaçãodada por quem assiste aos conteúdos.

Segundo Barbero (1995, apud LAURINDO,LEAL, 2008), a recepção não é apenas uma etapano processo de comunicação ou um ponto dechegada da mensagem concluída, com significadopronto, é preciso ver quem recebe essamensagem como um ponto que sofre mediação.Para ele, os jovens mudaram muito graças aoadvento das novas tecnologias e até mesmo dosnovos modos de relacionamento.

Outro ponto importante, segundo Barbero(1995), é a exclusão cultural, que divide em trêsvertentes. A primeira seria de que tudo o queagrada o gosto popular seria de mau gosto e citaas novelas e lutas livres. Já o segundo é adeslegitimação da cultura em que se fabricam osfilmes que atraem pessoas ignorantes para vê-los.E por último, a deslegitimação dos modospopulares de recepção, que se envolvem muitocom o que veem.

Para Barbero (idem), isso não dá liberdadetotal ao receptor, não permite que ele faça o quetenha vontade, mas permite que ele consigadiferenciar o que deseja ver na avalanche deinformações que tem acesso. E finaliza dizendoque a concentração da recepção não deve seranalisada apenas na mensagem, mas também emcomo ela foi recebida pelo receptor e como omesmo interage com o meio.

Porto (2003) garante que as formas comoos indivíduos atendem e processam a informaçãoque recebem dos meios de comunicação sãocomplexas e variadas, mas apesar dessacomplexidade ainda é possível identificarcaracterísticas comuns nos estudos já conhecidose publicados. Segundo o autor, antes da décadade 1980 os acadêmicos adotavam teorias críticase se esqueciam de ver os processos de recepçãoque as mensagens causavam. Só a partir dadécada de 1980 é que os estudiosos começaram adesenvolver as pesquisas que tinham como

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fundamento analisar as audiências da mídia nesteperíodo.

O estudo de recepção passou a ser,segundo o autor, um novo paradigma queenfatizava disputas ideológicas e que utilizavamétodos qualitativos, como entrevistas abertas egrupos focais, sem deixar de tratar a audiênciacomo um medidor ativo do conteúdo veiculado namídia.

Azambuja e Rocha (2012) acreditam queestejamos passando por um processo detransição. De uma fase com uma difusão massivapara uma fase pós-massiva de transição, ou seja,estamos deixando de ter uma televisão ligada aoentretenimento para um contexto de pós-televisão.Por isso, alertam para a importância de pensar emquem está diante da tela e o que o sujeito faz como que vê. O telespectador, para as autoras, estádeixando de ser um sujeito-audiência, que só ligapara os programas populares e destinados àmassa para se tornar um sujeito-rede, maisinterativo e com um intelecto avançado.

Gómez (2006, apud AZAMBUJA, ROCHA,2002) coloca mudanças estruturais muitoimportantes. Para ele, é preciso ainda maisescutar o consumidor, perguntar o que ele escutae oferecer o que ele vai gostar, além de estaratento a todos os outros meios de comunicaçãopara saber tudo sobre as preferências do público.

O autor também comenta que os vínculosmudaram, as relações pessoais estão cada vezmais individuais. Praticamente não existem maisvizinhos conversando nas ruas, praças comcrianças brincando, encontros pessoais. O que sevê são pessoas reféns de suas tecnologias,interagindo e conversando apenas por estes novosmeios.

Por último, Gómez (2006) afirma que aaudiência tem um novo sentido e passa porreconfigurações. O que remete à ideia de que oconsumo permite a essa audiência um lugar ondese vê e se encontra essas gratificações.

E, de acordo com Jenkins (2008, apudAZAMBUJA, ROCHA, 2002), os consumidorestambém mudaram, são ativos, conectados,barulhentos e pouco fiéis aos meios decomunicação. Isso pode gerar dificuldade deentender a quantidade e o tipo de participação quepodem ter nos meios e nas redes. Principalmentequando se fala do público mais jovem, que estáem processo de construção do saber.

Porto (1995), ao entrevistar Gutiérrez,questiona os valores dos jovens frente aos meios,principalmente a relação com a televisão e obtémcomo resposta que apesar da vida real serdiferente da TV, esse meio está completamentedentro da vida das pessoas e que, por isso, deve-se pensar, nas escolas, em um novo jeito delecionar. Envolver o que se vê na televisão é

primordial, inclusive pautar o que se passa nastelenovelas, pois há temáticas importantes ali.Porém, o entrevistado aponta que as escolastradicionais estão fechadas para esse tipo detroca, o que dificulta essa aproximação. Osprofessores, ao entrar em sala de aula, esquecemque também assistem televisão e não passamnada sobre isso para os alunos, acreditando quenão cabe ou não é o certo. Para Gutiérrez isso temque mudar, já que a informação não está somentena escola e sim na vida, nos meios, nas relaçõespessoais e nos conflitos diários.

Duarte, Leite e Migliora (2006) afirmam queo receptor infantil ao ver televisão participa daprodução para construir significados. E que, apartir da audiência dos programas televisivos, épossível produzir consumo, que são mediadospela escola, família, igreja, etc.

Por meio de toda base teórica adquirida apartir de diversos livros, artigos científicos, comopiniões de diferentes autores, é possível ter, cadavez mais, um melhor entendimento a respeito dopoder da recepção dos programas televisivos nascrianças. Com isso, a elaboração dodesenvolvimento deste trabalho se realizou demaneira muito mais sólida.

Critérios Éticos:

Para realizar as atividades presenciaiscom os alunos, tomei todas as precauçõesrelacionadas aos direitos da criança, inclusivepreservando o anonimato. Além da solicitação aoComitê de Ética para a realização da pesquisa, foipedida ainda autorização à Direção da escola parao desenvolvimento das atividades.

Amostra:

A pesquisa foi realizada com um grupofocal de 23 crianças na faixa de cinco anos daescola Maxwell, no Guará I, Brasília – DF.

Procedimentos metodológicos:

Para a realização desta pesquisa,trabalhei em várias frentes, a saber: pesquisabibliográfica, estudo documental e de caso,aplicação de questionários, observaçãoparticipante e estudos de recepção.

Severino (2007) explica que a pesquisabibliográfica é aquela que se realiza a partir doregistro que já existe e que se originou depesquisas anteriores, em documentos impressoscomo livros, teses e artigos. “Utiliza-se de dadosou de categorias teóricas já trabalhadas por outrospesquisadores e devidamente registrados”(SEVERINO, 2007, p. 122).

No presente trabalho, a base para suaconstrução foram livros e artigos. Foi a partir daleitura de obras já publicadas que construímosnovas ideias com o apoio do conhecimentoadquirido por meio das pesquisas.

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Laville e Dionne (1999) apontam aimportância da pesquisa documental para aconstrução do saber. Para os autores, qualquertipo de documento é fonte de informação e nãoapenas os documentos impressos, mas tudoaquilo que se pode extrair dos recursosaudiovisuais e em tudo que o homem já fez eproduziu.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, aConstituição Federal e instituições como o InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística foramutilizados como referências, já que trazem àsociedade conhecimento dos seus direitos edeveres e estudos que ajudam a entenderdiversos temas sociais.

Para Severino (2007), estudo de caso équando a pesquisa se concentra em estudar eanalisar apenas um caso particular, levando emconsideração o seu grau de significância. O casoescolhido para elaborar a pesquisa deve serrepresentativo, de modo a ser apto a comparar efundamentar outros casos que, embora possuaorigens diferentes, desenvolva as mesmasfunções. Laville e Dionne (1999), ainda apontam avantagem mais marcante dessa vertente: a suapossibilidade de aprofundar no assunto, já que oestudo não está submetido às restrições nosentido de comparação com outros casossemelhantes.

Sobre a pesquisa participante, Severino(2007) considera que seja aquela na qual opesquisador usa para fazer a observação dosfenômenos. Isto significa que ele deve participarde forma ativa nas atividades do que estiver sendopesquisado. Ao longo do projeto, o mentor deveestar presente de forma sistemática e permanente.

Por isso, a ideia foi analisar, de formageral, o que as crianças sentem ao ver oprograma, talvez, pela primeira vez e, também,acompanhá-las durante três semanas para ver oprogresso e o verdadeiro impacto do conteúdo nascrianças. Nas duas primeiras semanas, apresenteio programa e analisei as reações e, em umsegundo momento, retornei para comprovar serealmente foi ou não absorvido algum conteúdo doprograma televisivo.

Os encontros com as crianças foram feitosem forma de dinâmica. A ideia foi promover ummomento diferente e descontraído. Trabalhou-secom uma linguagem bem simples e em forma deconversa, evitando a entrevista formal. Nosprimeiros encontros, a intenção foi entender avisão que aquelas crianças têm de mundo e comosão as rotinas fora da escola de cada um. Depois,ao apresentar o programa, pedi, ao final, para osenvolvidos desenharem o que entenderam egostaram. Rodas de conversa também foramutilizadas, para verificar o quanto as crianças selembravam das atividades passadas.

Aos professores, foi aplicado umquestionário para entender como eles, que ajudamna formação da criança, enxergam a ligação entretelevisão e educação dos dias de hoje.

A análise foi feita após as duas semanasde estudo de caso com as crianças. Para maioreficácia, as crianças desenharam, a pedido destapesquisadora, o que entenderam nos programastelevisivos apresentados.

Análise Estatística:

O grupo de estudo focal é formado por 23alunos dentro da sala, 12 meninos e 11meninas.

Nove professoras da instituiçãoresponderam aos questionários. Dessas, cincoclassificaram o atual cenário da educação comorazoável, enquanto quatro classificaram-no comobom. Quando perguntadas se os meios decomunicação interferem no conteúdo dado emsala de aula, apenas uma respondeu que não.Todas concordaram que a televisão dita moda ecomportamento nas crianças. Outra respostaunânime foi sobre a ausência de programasvoltados para o público infantil, todas disseramsim, que faltam programas. Sobre a televisãocontinuar influenciando a educação dos pequenos,as nove professoras disseram acreditar que sim.

Retorno aos Avaliados:

O retorno dos resultados da pesquisa aosvoluntários será realizado de modo opcional, ouseja, se solicitado pelos mesmos.

No momento em que os questionários dosprofessores e os desenhos dos alunos foramrecolhidos para análise, foi perguntado aosvoluntários se os mesmos gostariam de obter umretorno. Aos que responderam de modo positivo,receberão via e-mail ou, se preferirem, poderãopegar o resultado com o próprio educador.

Análise:

Neste espaço serão analisadas seisatividades dentre as mais de 170 que foram feitaspelos alunos, em que serão expostas as principaisdificuldades que as crianças encontraram, alémdos pontos positivos e das expectativas.

No primeiro contato com os alunos, veio aexplicação de que seriam aplicados a eles,diariamente, vídeos (um por dia) de um mesmo

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programa. A curiosidade surgiu em forma deperguntas: Que vídeo? É desenho? Um filme? Enão somente sobre a atividade. Primeiro, ascrianças demonstraram interesse pessoal sobre oque motivou essa análise e só após essa troca deinformações foi possível ganhar confiança e acumplicidade delas.

A escolha do primeiro vídeo teve a ideia deser simples, leve, divertido e próximo das crianças.Mostra os personagens de uma forma bemdescontraída, cantando um medley das músicas“Dona Aranha/Chove Chuva/A Sorrir”. As criançasse mostram encantadas com a narrativa, as corese até mesmo o jeito de falar dos personagens doprograma produzido pela TV Cultura que, atéentão, muitos sequer conheciam.

O vídeo prende a atenção das crianças, quedesde o primeiro momento tentam desvendar qualé a música. Ao escutar os versos, muitospercebem que já conhecem parte da música e elacomeça a ser cantada e não somente ouvida. Oorgulho em mostrar que a conheciam ficou visívelaos gritos de “Tia, eu sei”, “É a música da aranha,tia”. Neste momento, apenas uma aluna comentouque já conhecia o programa e o assistia em casa,com o irmão. Os demais, ao serem perguntados,afirmaram que não conheciam.

O pedido de passar para o papel o que elescompreenderam do vídeo gerou intimidade e, apartir daí, foi possível ver a forma como oconteúdo dos produtos televisivos consegue agircom as crianças, instigando a interpretação edesenvolvendo-os por meio de desenhos.

Nessa atividade todas as criançasconseguiram entender a música, as palavras e oconjunto de ideias que ela trouxe, assim como asua história, mas na hora de passar para o papel,quase 40% não desenhou a aranha e sepreocupou apenas em desenhar os personagens.Outro ponto que merece destaque é que algunsalunos conseguiram desenhar o personagemprincipal da música, a aranha, e também ospersonagens do vídeo com seus instrumentos ecaracterísticas específicas.

As crianças se entregaram de tal forma que,mesmo enquanto estavam desenhando, elasvoltavam a cantar a música, sem que euprecisasse puxar ou pedir. Isso se repetiuenquanto voltávamos para a sala de aula, com osalunos em fila.

A segunda análise da atividade, chamadade quadrado, foi baseada no vídeo “De olho noOsório: Desenho quadrangular”. Para estaatividade, tive que cortar moldes da formageométrica quadrado. No vídeo o personagemOsório ensina a fazer um desenho usando o moldede quadrado. A ideia é fazer um boneco e no lugardo rosto redondo, como estamos acostumados,usar o molde para desenhar um rostoquadrangular.

Antes de colocar o vídeo, fiz uma breveexplicação de que eles deveriam prestar bastanteatenção no vídeo, pois o Osório os ensinaria afazer um novo desenho. E mostrei o molde, a fimde perguntar o nome da figura geométrica. Todosacertaram.

Durante o vídeo, as crianças seimpressionaram com o desenho que o Osório feze, quando o vídeo terminou, tiveram medo de nãoconseguir fazer igual. Tive que acalmá-los eexplicar que não havia a necessidade de copiar,mas teriam que se basear usando o molde e criaro seu.

Apenas uma criança não conseguiudesempenhar bem a atividade, apesar de entendero que foi passado no vídeo, não conseguiu seexpressar muito bem na hora de desenhar. Todosos outros fizeram excelentes desenhos usando afigura geométrica.

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A terceira atividade, sobre o Rio Tietê,trouxe conhecimento e história para as crianças.Na apresentação antes do vídeo, perguntei o queera o Rio Tietê, os alunos responderam que eraum rio com sujeiras e muito poluído, mas quandoperguntei onde ficava, eles não conseguiramacertar. Associaram a sujeira e falavam que o Tietêficava no lixão, no espaço, arriscaram algunspaíses fora do Brasil, mas ninguém falou SãoPaulo.

O vídeo mostra a história do Tietê, contacomo ele era antes e o que aconteceu para quehoje ele seja tão poluído. As crianças, no decorrerda apresentação, ficaram curiosas e perguntandovárias coisas. Esperei que acabassem e fiz umasérie de perguntas em relação ao que foiapresentado. A qualidade das respostas, graçasao conteúdo do vídeo, melhorou bastante emrelação à primeira pergunta sobre onde ficava oTietê.

As crianças mostraram que entenderam opapel do homem em cuidar da natureza e na horade desenhar esbanjaram imaginação, com super-heróis limpando e salvando o rio; algunsdesenharam como ele está hoje e como era noinício, limpo. Alguns alunos, inclusive, falaram quequando fossem a São Paulo pediriam aos paispara conhecer o lugar.

O quarto contato escolhido foi a atividade dacharada. No vídeo “Chá com charadas”, ospersonagens começam cantando e simulando queestão bebendo chá. É um quadro fixo do programaonde cada personagem tira um papel de dentro daxícara e os outros tentam adivinhar qual é oenigma.

Ao observar as crianças, percebi que o níveldas perguntas apresentadas no programa foidifícil. No decorrer, enquanto os personagens liamas charadas e as crianças tentavam acertar, elesnão conseguiam, mas não deixaram de tentar eprestar atenção no que eles diziam.

Foi uma atividade que os deixou muitoelétricos por, justamente, trabalhar com aadivinhação e despertou a lembrança deles, paraassociar as dicas aos objetos da charada.

Para facilitar a atividade, fiz cinco charadasfáceis, todas eram dicas para chegar ao nome dealgum animal. Como as crianças estão no jardimII, elas leem pouco e com certa dificuldade. Porisso, li os cinco tipos de charadas antes e pedipara que elas identificassem o que eu li, antes dedesenhar. Desse método, a atividade fluiu e elesconseguiram desempenhar a atividade muito bem.A quinta análise é sobre o vídeo “Letras”, que trazuma sala de aula. Essa atividade mostrou osalunos muito interessados. Talvez por se tratar domesmo ambiente escolar que o deles, foi possívelouvir as risadas e perceber o interesse deles.

O vídeo coloca cada personagem tendo queir ao quadro para adivinhar o nome do objeto e

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colocar a primeira letra. Ao final, forma-se apalavra Quintal e todos participam da atividade. Nodecorrer do vídeo, os alunos também respondiamaos personagens de forma a ter uma trocasignificativa entre televisão e realidade.

Novamente, fiz cinco palavras e entregueias folhas de forma a dividir a turma e o colega aolado não ficar com o mesmo desenho. A atividadefoi bem fácil e os alunos adoraram fazer. Foirápido e eficaz. Apenas uma aluna fugiu um poucodo tema ao desenhar em cima dos desenhospropostos, mas ainda assim conseguiu acertar asua palavra.

A última análise foi sobre o vídeo “Pintor:Jean-Marc Côté”, que mostra uma ilustração doséculo XIX do autor de mesmo nome, que tentavaadivinhar como seria o futuro. Na atividade ospersonagens do Quintal também imaginam comoserá o futuro daqui há 100, 200 anos.

As crianças se encantaram com ailustração, mas, na hora de passar para o papel,demonstraram não saber muito sobre o assunto.Muitos disseram não saber como será o mundo nofuturo, enquanto outros disseram que seria igualao de hoje. Uma parcela da turma representou ofuturo como um desejo, sobre o que elesgostariam que acontecesse em suas vidas.Meninas desenhavam elas próprias adultas, comnamorado, marido e filhos. Os meninosimaginavam-se super-heróis, com muita guerra.Com esse resultado, percebe-se que o que eles

imaginam como futuro é, muitas vezes, o que elesenxergam na própria família ou o que éapresentado a eles na televisão, nos filmes e nashistórias.

Considerações finais

No início deste trabalho, foi levantada ahipótese de que o programa Quintal da Culturacontribui positivamente no desenvolvimento dascrianças, educando e ensinando a elas coisasnovas. Depois de três semanas convivendo eparticipando de atividades com as criançasrelacionadas ao programa e analisando osresultados, não há dúvidas de que a televisão,através de programas educativos infantis, é umapoderosa ferramenta de entretenimento eensinamento. A hipótese, portanto, foi confirmada.

Antes de aprofundar nos resultados finais éimportante registrar que este trabalho foi mais umpequeno passo na longa caminhada da vida. Foide grande valia para o processo contínuo decrescimento como estudante, jornalista e,principalmente, como pessoa.

A televisão, desde a sua invenção, semprefez parte da vida das pessoas. Até aquelas quenão tinham o aparelho, buscavam o vizinho, oparente mais próximo para ver o que passava natelevisão. Esse hábito é passado de pai para filho,ou seja, as crianças cresceram acostumadas comesse meio de comunicação e, indiretamente,dependentes do mesmo. Aprenderam a seinteressar pelo conteúdo e, de uma certa forma, ase viciar nele. “A sociedade do espetáculo, de que

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falava Guy Debord, implantou-se definitivamente apartir dos anos 60 e a televisão, esse lugar mágicoa frente do qual se reuniam as famílias, tornou-seo referencial pelo que se começou a guiar napolítica”. (SOBRAL, 2004, apud SAMPAIO, 2011,s.p.)

Além do costume que a sociedade adquiriude ver televisão, é importante entender o universoem que as crianças estão inseridas. “A atualgeração de crianças já nasceu on-line, conectada24 horas por dia em um mundo sem fronteiras elimites”. (MOURA, s.d., s.p.) Esse pensamentodeixa clara a importância de se pensar noconteúdo que vai ser veiculado nos meios decomunicação, principalmente, para o universoinfantil que está atento, curioso e ligado em tudoque acontece.

O programa Quintal da Cultura se preocupacom esse universo e com as mudanças que aglobalização exigiu dos meios de comunicação.Seus quadros contêm assuntos da atualidade, sãodinâmicos e preocupados com questões desustentabilidade, história do país, respeito com osoutros e, claro, sempre incentivando as crianças apensar e a produzir com suas próprias mãos.

Os resultados obtidos não podem sertomados como verdade absoluta, isso porque setratou de um estudo de caso em apenas umainstituição de ensino, escolhida pela facilidade deacesso e pela demonstração de interesse napesquisa, porém pode-se considerar que otrabalho é válido, já que mesmo com essaspeculiaridades, o resultado dessa pesquisa trouxecontribuições práticas e teóricas quanto àsatisfação do objeto proposto, já que indicou arecepção positiva que os alunos tiveram emrelação ao programa escolhido.

Uma das lacunas que foram preenchidaspor esta pesquisa mostra o nível da relação queexiste entre o conteúdo do programa e a formaque as crianças entendem aquilo que lhes foiapresentado. Por exemplo, os quadros queabordam assuntos complexos, como a história doRio Tietê, mas de uma forma simples. As crianças,que antes não sabiam a localização do rio,passam a saber da sua história, seus problemas ecomeçam, inclusive, a propor soluções para olocal.

Neste trabalho, uma das dificuldades foicompreender o que as crianças queriam dizer, pormeio de desenhos, logo após serem expostas aoprograma. Às vezes elas demonstravam receio denão conseguir passar para o papel tudo aquilo queestavam imaginando e contando nas rodas deconversa.

Um fator importante foi perceber que amaioria dos alunos não estava acostumada com asituação de “estudar” e “aprender” com a televisão,pois o meio, para eles, era apenas uma fonte de

desenhos, e não uma ferramenta deconhecimento.

O questionário aplicado aos educadorestambém foi muito importante. Por ele, foi possívelver que os professores concordam que a televisãointerfere sim no conteúdo dado em sala de aula e,por isso, precisa ser estudado. Para eles, além deinterferir, a TV dita moda e comportamento entreas crianças e para que seja saudável, é precisocontrolar o tempo que a criança fica exposta aomeio já que, muitas vezes, não há um conteúdoadequado e construtivo para aquela idade.

É importante que com os conhecimentosadquiridos e passados nessa pesquisa, o assuntonão se encerre por aqui. Precisa-se de umacompanhamento constante para verificar, de fato,o poder que a televisão exerce sobre as pessoas eas consequências disso para a formação crítica deuma sociedade.

Por fim, pode-se concluir, com base nasobservações realizadas no âmbito deste trabalho,que o conteúdo televisivo pode sim ajudar odesenvolvimento das crianças, instigando-as apensar e a conhecer coisas novas.

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