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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AÇÃO MONITÓRIA, PROCEDIMENTO MONITÓRIO.
Por: Ivo de Paula Ribeiro Filho.
Orientador
Prof. Ms. Jean Alves Pereira Almeida.
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AÇÃO MONITÓRIA, PROCEDIMENTO MONITÓRIO.
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Processual Civil.
Por: Ivo de Paula Ribeiro Filho.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Nosso Pai
Celestial, aos meus amigos e parentes,
colegas, clientes, enfim, todos os que
contribuíram para a subida de mais um
pequeno degrau em minha vida, ou
seja, agradeço a todos que ajudaram a
tornar possível a realização deste
momento.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha mãe Benita,
Vanessa e minha querida Júlia, por me
trazerem sempre alegria e me
incentivarem e pela ajuda que esses
magníficos seres me fornecem sem
medidas.
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RESUMO
RIBEIRO FILHO, Ivo de Paula, Ação Monitória, Procedimento Monitório,
2009.48fls.Monografia(Pós-Graduação em Direito Processual Civil)–
Universidade Candido Mendes, Projeto A Vez do Mestre, Rio de Janeiro, 2009.
Monografia de revisão bibliográfica, estuda o conceito, a natureza
jurídica, as espécies de procedimento monitório, os procedimentos monitórios
conhecidos e o procedimento monitório utilizado no Brasil, o provimento inicial,
o mandado monitório, os embargos, a sentença, os recursos e a coisa julgada,
a execução, bem como sua ocorrência e o seu cabimento tendo como base à
prova escrita sem eficácia de título executivo, objetivando o pagamento em
dinheiro, entrega de coisa fungível ou entrega de determinado bem móvel.
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METODOLOGIA
O principal método utilizado para a criação do presente trabalho
consistiu na pesquisa bibliográfica de obras escritas por renomados
doutrinadores pátrios e estrangeiros, grandes nomes do Direito Processual
Civil, como: Piero Calamandrei, Candido Rangel Dinamarco, Vicente Greco
Filho, Alexandre Freitas Câmara, José Eduardo Carreira Alvim, Nelson Nery
Junior, Antônio Carlos Marcato, Schonke Adolf, Eduardo Talamine e Ovídio
Batista, os quais por intermédio de sua argumentação lógica e debates nos
levam a aprendizagem e o debate sobre a Ação Monitória, Procedimento
Monitório, debates que em muitos casos até esgotam determinados assuntos
sobre o tema.
A fim de se ter uma visão mais realista e reduzir ao máximo a
quantidade brechas que sombreiam o conhecimento sobre o tema proposto,
necessário se fez conceituar o que é Ação Monitória, estudando e se
aprofundando em seu cabimento, sua natureza Jurídica, chegando até
mencionar seus efeitos, e, seu aspecto prático abordando-se, desde o início do
procedimento, até a fase de execução, para tanto, a base fundamental e
método utilizado, foi a pesquisa das obras dos grandes autores já citados
acima.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E CABIMENTO
1.1 – Conceito 12
1.2 – Natureza Jurídica 13
1.3 – Cabimento 17
CAPÍTULO II - ESPÉCIES DE PROCEDIMENTO MONITÓRIO
2.1 – Procedimento Monitório 19
2.2 – Procedimento Monitório Puro 21
2.3 – Procedimento Monitório Documental 23
CAPÍTULO III – PETIÇÃO INICIAL, PROVIMENTO INICIAL E MANDADO
MONITÓRIO
3.1 – Petição Inicial 25
3.2 – Provimento Inicial 26
3.3 – Mandado Monitório 27
CAPITULO IV – EMBARGOS, SENTENÇA, COISA JULGADA E EXECUÇÃO
4.1 – Embargos 31
4.2 – Sentença 34
4.3 – Coisa Julgada 37
4.5 – Execução 38
CONCLUSÃO 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42
ÍNDICE 46
FOLHA DE AVALIAÇÃO 48
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INTRODUÇÃO
O procedimento monitório foi instituido no moderno direito
Brasileiro pelo mode números 1,102a, 1.102b e 1.102c. Tais artigos regulam
aquilo que a lei processual chamou de “ação monitória”, mas que, em verdade,
deve ser chamado de procedimento monitório.
O procedimento monitório remonta ao direito pré-codificado
italiano da alta idade média, ou seja, tem sua origem no Direito Medieval
Italiano. Nesse meio de numerosas transações comerciais surgiu a
necessidade de regular um procedimento simples, ágil e eficaz, que fosse
capaz de superar a extrema lentidão e onerosidade do procedimento ordinário,
que se revelava especialmente inoperante quando se tratava de reclamar
dívidas de escassa quantia. Naquele momento histórico estabeleceu-se que
para. determinados créditos, não seria citado o devedor, obtendo o credor
diretamente do juiz a ordem de prestação que ensejava a execução, isto é, o
mandatum ou praeceptum de solvendo. Esse mandatum era acompanhado e
justificado pela cláusula de que, se o devedor se propusesse alegar exceções,
poderia opô-las dentro de certo prazo, cláusula esta que ficou conhecida como
cláusula justificativa, e que assim dizia: “Si senserit se gravatum”; ou “nisi se
opponant”. O mandatum de solvendo cum cláusula iustificativa difere do
mandatum de solvendo do processus executivus e documental, então
existente, porque este se expedia com prévia citação do devedor e tinha a
execução pronta, ou seja, prosseguia a despeito da oposição, sendo então
conhecido como mandatum de solvendo sine clausula.O Mandatum de
solvendo cum clausula iustificativa encontrava similar no Direito Germânico,
onde havia o indiculus commonitorius do processo franco.
O procedimento monitório brasileiro tem, porém um ancestral mais
próximo, no próprio Direito Luso-brasileiro: “a ação de assinação de dez dias”,
ou “ação decendiária”. Esta tinha origem nas ordenações manoelinas (Livro III,
Título LXVI), passando por nova ordem do juízo do Rei D. João III, de 5 de
junho de 1526, e da do Rei D. Sebastião, de 18 de novembro de 1577. Nas
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Ordenações Filipinas, vinha a “ação de assinação de dez dias” regulada no
livro III, Título XXV, e era definida pela doutrina da época como “a causa
sumária, pela qual se ajuízam obrigações, a que é devida pronta execução e
que por si fazem prova legal” (PEREIRA E SOUZA, 1907, p.405). Importante
doutrinador brasileiro do tempo do império (quando ainda vigoravam entre nós
as Ordenações do Reino Português) definia a “ação de assinação de dez dias”
como “aquela pela qual se ajuízam as obrigações, que devem ser prontamente
cumpridas, assinando-se ao Réu dez dias para pagar, ou dentro deles alegar e
provar os embargos que tiver” (RAMALHO, 1869, p. 414). Regulado pelos
artigos 246 e seguintes do Regulamento N° 737, de 1850, e por alguns
Códigos Estaduais de Processo (como por exemplo, o Código de Processo da
Bahia, que regulava a ação de assinação de dez dias” em seus artigos 340 a
355) desapareceu o instituto do Direito Brasileiro com a entrada em vigor do
Código de Processo Civil de 1939. Também o CPC de 1973, ao entrar em
vigor, ignorou o instituto, não o regulando. A lei 9.079/95, porém o fez
renascer, com moderna roupagem, através da regulamentação do
procedimento monitório, conforme os artigos 1.102a, 1.102b e 1.102c, in
verbis:
Art. 1.102a. A ação monitória compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel. Art. 1.102b. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento ou entrega da coisa no prazo de quinze (15) dias.
Art. 1.102c. No prazo previsto no artigo anterior, poderá o réu oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos, constituir-se-á de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em mandado executivo e prosseguindo-se na forma prevista no Livro II, Título II, Capítulo II e IV.
§1° Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de custas e honorários advocatícios.
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§2° Os embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos próprios autos, pelo procedimento ordinário. §3° Rejeitados os embargos, constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, intimando-se o devedor e prosseguindo-se na forma prevista no Livro II, Título II, Capítulo II e IV.
O objetivo geral do estudo é analisar a possibilidade e o cabimento, da
Ação Monitória ou do Procedimento Monitório, conforme fatos e os
documentos pertencentes ao possível requerente da prestação jurisdicional.
Tem, ainda, como objetivos específicos: conceituar a ação monitória, o
procedimento monitório, definir a natureza jurídica da ação monitória, verificar
seu cabimento, bem como estudar o procedimento, o mandado inicial, os
embargos, a sentença, a coisa julgada e a execução. Visando desenvolver os
objetivos propostos, esta monografia pretende investigar e debater uma
questão básica: como o detentor de um direito subjetivo, baseado em prova
escrita, sem eficácia de título executivo, pode utilizar-se desta prova para
receber o que lhe é devido?
Tem como questões específicas:
O que é ação monitória?
Qual o procedimento utilizado na ação monitória?
Qual a resposta do réu em ação monitória?
Qual o recurso cabível?
Como se ajuizar a ação de execução, baseada no título executivo
judicial decorrente de sentença em ação monitória?
As questões propostas serão analisadas no decorrer da presente
monografia, com base nas publicações científicas de
pesquisadores/estudiosos do tema. Após a explanação das idéias, das
discussões e demonstrações, no decorrer de todos os capítulos da monografia,
apresentam-se as considerações finais, bem como a conclusão.
Esta monografia estrutura-se em quatro capítulos: o capítulo I analisa o
conceito, a natureza jurídica e o cabimento da ação monitória, procedimento
monitório, bem como a nomenclatura da referida ação e o tipo de
procedimento apontado pelos diversos estudiosos do tema; o capítulo II
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apresenta o procedimento monitório, bem como suas espécies. Determinado
qual utilizado pelo Brasil e o porque de tal utilização; o capitulo III aborda a
questão da petição, do provimento inicial e do mandato monitório, sendo que a
partir desse capitulo pode- se verificar a pratica forense na ação monitória; o
capitulo IV apresenta a resposta do réu em ação monitória, que são embargos,
a sentença, a coisa julgada e a execução do titulo judicial decorrente da coisa
julgada, ou exemplificando, a execução da sentença transitada em julgado na
ação monitória.
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CAPÍTULO I
CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E CABIMENTO
1.1 – CONCEITO.
O procedimento monitório consiste, com base no brilhante estudo de
Piero Calamandrei, “em um procedimento de cognição sumária, em forma
especial de processo de conhecimento abreviado com natureza de ação
condenatória”(CALAMANDREI, 1953, p.267).
O ilustre processualista Alexandre Freitas Câmara também conceitua a
ação monitória ou procedimento monitório no seguinte sentido: “pode-se
conceituar o procedimento monitório como o procedimento especial destinado
a permitir a rápida formação do titulo executivo judicial”(CÂMARA, 2003,
p.519). Com está interpretação, verifica- se que não se pode dar inicio à
atividade executiva sem que se tenha título executivo. Isto se deve ao fato de
que o titulo executivo é o ato jurídico apto a permitir a incidência da
responsabilidade patrimonial, ou seja, o titulo executivo é o ato jurídico capaz
de produzir o efeito de tornar possível a sujeição de um patrimônio, com o fim
de satisfazer um direito de crédito. Assim, sendo não existindo título executivo,
não se pode obter a tutela jurisdicional executiva.
Cabe esclarecer que a conceituação passa pela determinação do
assunto supra, ou seja, título executivo pois a ação monitória tem como um
dos objetivos a rápida formação do citado titulo, conforme já exposto acima.
Considerou o legislador que em alguns casos dever-se-ia facilitar o acesso ao
título executivo daquele credor que não tem e, portal razão, precisa se utilizar o
processo de conhecimento. Então desta forma é criado um procedimento
concentrado, rápido, que permite a formação célere do título executivo. Este
procedimento é o procedimento monitório, através do qual, conforme exposto
anteriormente, se consegue rapidamente a formação do título executivo pois
nele “predomina sobre a função de declaração de certeza a função de
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declaração de certeza a função de preparação de certeza a função de
preparação do título executivo”(CALAMANDREI, 1946, p.24).
Dinamarco, também teceu importantes comentários quanto à
conceituação da ação monitória, procedimento monitório:
Sob a denominação de ação monitória, a Lei 7.079 de 14 de julho de 1995, incluiu no Livro do Código de Processo Civil destinado aos Procedimento especiais uma modalidade de processo inteiramente nova em nossa ordem jurídica- processual, que ‘o processo monitório. Não se enquadra na figura do processo de conhecimento nem na figura do processo executivo e muito menos na figura do processo cautelar. É um processo que com exterma celeridade propicia um título executivo ao autor munido de documentos idôneos, prosseguindo desde logo, sem a instauração de novo processo, com a execução fundada nele. A inércia do réu, não opondo embargosinstituídos na lei com a finalidade de suspender a eficácia desse título (mandado de pagamento), tem uma consequência muito mais gravosa que o efeito da revelia, no processo de conhecimento, porque nesse caso passa-se a fase executiva sem que o juiz tenha oportunidade de julgar sobre a existência do direito do autor.(DINAMARCO, 1997, p.229)
Assim, no entendimento dos autores analisados pode-se chegar ao
conceito de ação monitória ou procedimento monitório, como sendo a ação a
ser proposta para quem pretender, com base escrita sem eficácia de título
executivo, pagamento de soma em dinheiro. entrega de coisa fungível ou de
determinado bem móvel. Sendo a presente ação, objeto deste estudo
monográfico, regulada através de um procedimento especial.
1.2 – NATUREZA JURÍDICA
A natureza jurídica da ação monitória ou do procedimento monitório. é
muito controvertida.
Alguns processualistas antigos (Austríacos – Menger e Pollak)
consideravam o procedimento monitório como um procedimento de jurisdição
voluntária, pois haveria cognição, decidindo juiz com base nas afirmações do
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credor, que não precisaria comprovar, o fundamento das mesmas. Faltaria a
contenciosidade, tendo em vista que a ordem de pagamento a ser expedida
contém a presunção que o réu não irá oferecer qualquer oposição. Caso fosse
oposta a defesa, o procedimento monitório esgotaria sua função, pois a ordem
de pagamento (mandado de pagamento, mandado monitório, mandado inicial)
ficaria sem efeito. Portanto o procedimento monitório, segunda esta teoria
serviria apenas para criar um título executivo baseado no acordo entre o credor
e o devedor.
Porém, esta concepção, nos dias atuais está completamente
abandonada, pois a jurisdição voluntária se caracteriza pela pretensão
manifestada pelo demandante, que é de integração de um negócio jurídico e
não é isto que se tem no procedimento monitório, pois na ação monitória a
pretensão manifestada pelo demandante é de obtenção de título executivo
judicial (a mesma pretensão de qualquer demanda condenatória), não
importando o procedimento que irá reger tal demanda, o que demonstra com
clareza a natureza contenciosa da ação monitória.
Três correntes doutrinárias determinam a natureza jurídica da ação
monitória, procedimento monitório: existem autores que consideram um
procedimento do processo de execução; outros autores afirmam tratar-se de
um quarto tipo de processo ao lado dos três tradicionais (cognitivo, executivo,
cautelar); e por fim e mais aceito pelos grandes processualistas brasileiros
entendem o procedimento monitório como sendo o procedimento especial do
processo de conhecimento.
A primeira corrente (minoritária) entende o procedimento monitório como
tendo a natureza de processo de execução. O principal defensor desta
corrente se pronunciou o seguinte sentido:
A ação monitória é um misto de ação executiva em sentido de lato e cognição, predominando, porém, a força executiva. Assim, apesar de conteciosa, sua compreensão, assim como a solução dos problemas práticos que apresenta, somente será possível se for tratada como se fosse processo de execução, ou seja, como uma espécie de execução por título extra judicial em que em vez de mandado de citação para pagamento em vinte e quatro
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horas, sob pena de penhora, há a citação com a ordem de pagamento ou de entrega de coisa móvel.(GRECO FILHO, 1999, p.49/50)
Quanto à teoria apresentada acima, vale esclarecer que a mesma não é
adotada pelos processualistas atuais, tendo em vista que o procedimento
monitório, conforme previsão legal, somente é adequado para quem não tem
título executivo, sendo certo que o processo de execução somente é a via
adequada para o demandante que possua título executivo eficaz. (certeza,
liquidez, exigibilidade). Ademais, a finalidade do processo de execução é a
satisfação de um crédito, enquanto que o objeto da ação monitória,
procedimento monitório é a constituição de um título executivo de forma rápida
e célere. Portanto, conforme já exposto, não vale considerar a ação monitora,
procedimento monitório como sendo um procedimento de natureza executiva.
Conforme exposto anteriormente, existe uma segunda corrente
doutrinária que entende a ação monitória, procedimento monitório, como sendo
um novo tipo de processo, o qual ficaria ao lado dos outros três tipos já
existentes (cognitivo, executivo e cautela). Tal entendimento ocorre, pelo fato
do mandado de pagamento (mandado monitório, mandado inicial, mandado de
citação), assemelha- se à citação no processo de execução, para pagar em
vinte e quatro horas ou nomear bens a penhora. (artigo 652 CPC).
Essa teoria, defendendo a tese de que o procedimento monitório é uma
forma de processo de execução, ou mesmo um começo de execução, esbarra
frontalmente com o princípio nulla executio sine titulo, identificado no artigo 583
do CPC. Esse princípio estabelece de forma clara a divisão entre o processo
de conhecimento e o processo de execução. O título é o ponto de contato e ao
mesmo tempo o ponto de separação entre as duas fases do processo. Todo
procedimento anterior à formação do título executivo é processo de cognição
de natureza condenatória, o restante após a formação do título é a fase de
execução. Entender que a ação monitória, procedimento monitório, é um mero
começo de execução é considerar o mesmo a respeito da ação ordinária
condenatória. Este também conduz a formação de um título executivo.
Portanto, conforme demonstrado esta segunda corrente também nos convence
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de que a ação monitória, procedimento monitório seja um quarto tipo de
processo.
A terceira corrente doutrinária, majoritária e mais aceita, entende que a
ação monitória, procedimento monitório, consiste, com base no brilhante
estudo de Calamandrei ”em um procedimento de cognição sumária, uma forma
especial de processo de conhecimento abreviado com natureza
condenatória”(CALAMANDRE, 1953, p.60). O objetivo de tal procedimento é a
rápida constituição de título executivo judicial. O autor no procedimento
monitório deve possuir prova escrita que tenha grande probabilidade de não
ser contestada pelo devedor, evitando, assim percorrer um longo caminho,
com a perda de tempo e dinheiro.
O procedimento monitório tem natureza de processo de conhecimento
condenatório, pois visa a constituição de título executivo. Não se busca a
execução de um título, o que o autor ainda não possui, mas sim a constituição
rápida de um título executivo judicial. Desse título é que se seguirá a execução.
Neste sentido o processualista Alexandre Freitas Câmara afirma o
seguinte:
Verifica-se, que o procedimento monitório é de natureza cognitiva, destinando-se a proporcionar o mesmo resultado que se alcançaria pelo procedimento comum: a obtenção do título executivo judicial. Encerra-se, o procedimento monitório com a formação título executivo, quando se tratar de obrigação pecuniária, ou com a efetiva satisfação do direito do credor, quando se tratar de obrigação de entrega de coisa móvel, já que neste último caso a execução é fase complementar da atividade cognitiva (CÂMARA, 2003, p.519).
Portanto, após citar e analisar as afirmações dos doutrinadores
estudiosos da matéria objeto da presente monografia, pode-se verificar a
natureza jurídica da ação monitória como sendo um procedimento especial do
processo de conhecimento.
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1.3 – CABIMENTO.
Conforme determina o artigo 1.102a a ação monitória “compete a
quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo,
pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado
bem móvel”.
O verbo “compete” neste caso, está no sentido de adequar, ou seja, a
ação monitória é a ação adequada a ser proposta quando o demandante
possui prova escrita sem eficácia de um título executivo, objetivando o
pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado
bem móvel.
Primeiramente se faz necessária a prova escrita, destituída da eficácia
executiva, conforme exposto acima, para que possa ser utilizado o
procedimento monitório.
Porém, não se admite, qualquer prova documental, apenas a prova
escrita. Assim, sendo, podem ser utilizados como provas escritas, hábeis a
tornar adequadas a ação monitória, o procedimento monitório, os títulos de
crédito que já perderam a eficácia executiva; bem como documentos
assinados pelo devedor que não estão subscritos por duas testemunhas; a
duplicata sem aceite, acompanhada de nota fiscal e do instrumento de
protesto; a sentença meramente condenatória da existência de crédito (pois
falta o conteúdo condenatório); fotocópia de cheque devolvido por insuficiência
de fundos; bilhete de rifa, entre outros documentos.
A respeito da prova escrita, afirma, ainda, Carreira Alvin:
Embora a lei não conceitue a prova escrita, para fins monitórios, inexiste dúvida de que tal prova somente pode ser considerada a escrita stricto sensu, quer dizer a grafada.(...) Ficam excluídas, assim, do âmbito da ação monitória a prova documental lato sensu, como tal, a gravada em fita cassete, videotape, enfim todo sistema visual ou auditivo, ou produto da combinação de ambos, que faça prova em favor do titular do direito. Todas as provas que o Código de processo Civil reputa “começo de prova por
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escrito” só podem instruir ação ordinária, não um pedido monitório.(CARREIRA ALVIM, 1999, p. 42)
Ensina Amaral Santos, com apoio na mais autorizada doutrina
(Chiovenda, Liebman, Micheli, Ugo Rocco, Battaglin, Echandia, Pontes de
Miranda), que:
Por começo de prova escrita se entende, em suma, o escrito que emanado da pessoa contra quem se faz o pedido, ou de quem a represente, o torna verossímil ou suficientemente provável e possível. No entanto, a certeza ou convicção relativas ao contrato dependerá de provas subsidiárias ou complementares, que poderão constituir na produzida por testemunha. Com outras palavras, a certeza em relação ao contrato dependerá do começo da prova escrita e da testemunhal que a completa, e, como o procedimento injuncional não admite, na primeira fase, instrução nem contraditório, somente em sede ordinária terá o autor condições de provar o direito.(CARREIRA ALVIM, 1999, p.38)
Nelson Nery Junior dá exemplos de documentos escritos que servem à
ação monitória:
Qualquer documento escrito que não se revista das características de título executivo é hábil para ensejar a ação monitória, como por exemplo: a) cheque prescrito; b) duplicata sem aceite; c) carta comprovando a aprovação do valor do orçamento e a execução de serviços; d) carta agradecendo ao destinatário o empréstimo em dinheiro; e) telegrama; f) fax. (NERY JUNIOR, 1996, p.228)
Portanto, após analise dos estudiosos processualistas, constata-se que
a prova escrita pode ser considerada como sendo todo documento escrito que
mereça fé quanto à autenticidade e tenha eficácia probatória do fato
constitutivo do direito. Quanto à prova escrita, vale acrescentar ainda, que é
livre o critério de avaliação pelo juiz, ele é quem avaliará se ela é suficiente
para que possa presumir a existência do fato constitutivo do direito.
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CAPÍTULO II
ESPÉCIES DE PROCEDIMENTO MONITÓRIO.
2.1 – Procedimento Monitório.
O procedimento monitório foi introduzido no ordenamento jurídico
brasileiro pela Lei n° 9.079, de 14 de julho de 1995, inserindo, acrescentando,
um novo procedimento especial de jurisdição contenciosa, dentro do Código de
Processo Civil.
A ação monitória, ou procedimento monitório consiste na pretensão do
autor, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, de
pagamento de soma em dinheiro, de entrega de coisa fungível ou de
determinado bem móvel. Verificando o juiz estar devidamente instruída a
petição inicial, deferirá de plano, a expedição do mandado de pagamento ou
de entrega de coisa no prazo máximo de 15 dias.
O réu cumprindo o referido mandado ficará isento de custas e
honorários advocatícios. O objetivo destas isenções é incentivar o réu ao
cumprimento do mandado, evitando, assim, o longo processo de conhecimento
que sabe, o réu ter grande probabilidade de que venha a perder.
No prazo de 15 (quinze) dias para manifestação do réu, poderá, o
mesmo, oferecer embargos (os quais não dependem da segurança do juízo –
veremos este ponto a frente), que suspenderão a eficácia do mandado
monitório ou mandado inicial. Caso os embargos não forem opostos, constituir-
se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado
inicial ou mandado monitório em mandado executivo e prosseguindo-se na
forma executiva.
Vale acrescentar que o procedimento monitório surgiu pela
necessidade de oferecer um procedimento rápido e eficaz, que fosse capaz de
superar a morosidade e a onerosidade do procedimento ordinário, que em
várias situações se mostrava inoperante, quando se tratava de pequenos
valores.
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Causava desânimo ao credor o fato de possuir um documento válido e
transparente, e mesmo assim, saber que o réu, devedor, não teria defesa a lhe
opor e, mesmo assim, ter de enfrentar toda a complexidade do processo de
conhecimento para somente depois dele, obter os meios para executar o
inadimplemento.
Inicia-se o procedimento monitório, com a apresentação em juízo de
uma petição inicial (normalmente distribuída no protocolo geral). A referida
petição inicial deverá conter todos os requisitos exigidos nas petições iniciais
de maneira geral, conforme artigo 282 do Código de Processo Civil. Ademais
deve a petição inicial estar acompanhada de prova escrita que comprove o
requerimento pela prestação jurisdicional, porém sem estar revestida de
eficácia de título executivo, o que vem a ser o título monitório.
O juiz neste momento, verificará as condições da ação, bem como os
pressupostos processuais. Posteriormente, não encontrando qualquer
empecilho e tendo o juiz se convencido da probabilidade de existência do
direito de crédito, o mesmo deferirá a expedição do mandado monitório
(também chamado de mandado inicial, mandado de pagamento ou mandado
de entrega de coisa).
A citação do réu, devedor, é fundamental, devendo tal citação ocorrer
no momento da entrega ao réu do mandado monitório. A citação pode ser feita
por via postal, como pode também ser efetuada através do oficial de justiça.
Porém a citação por edital ou por hora certa, não tem um entendimento
pacífico em nossos tribunais, nem tão pouco em nossa doutrina.
Tendo sido citado regulamente o demandado, na ação monitória,
procedimento monitório, o mesmo terá o prazo de 15 (quinze0 dias para adotar
uma das três alternativas possíveis: cumprir o mandado, permanecer sem se
manifestar (revel) ou oferecer embargos.
No caso do demandado cumprir o mandado monitório, dentro dos
quinze dias, ficará o mesmo isento do pagamento das custas processuais e
dos honorários advocatícios.
Caso o demandado permanecer contumaz (sem se manifestar), não
cumprindo o mandado monitório, nem opondo embargos, o provimento inicial
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do juiz se converterá, de pleno direito, em título executivo judicial, conforme
artigo 1.102c do Código de Processo Civil.
Vale salientar ainda, que a conversão do provimento inicial em titulo
executivo judicial, ocorre nos termos da Lei, não necessitando da decisão
judicial no sentido de ser declarado constituído o referido título. Neste sentido
pode- se verificar o entendimento Antonio Carlos Marcato:
No processo monitório, pautado pela exigência da prévia apresentação da prova documental e caracterizado, como tantas vezes dito, pela técnica do deslocamento da efetividade do contraditório, a inércia do réu acarreta, de pleno direito, a conversão do mandado em título executivo judicial, vedado ao juiz qualquer pronunciamento sobre a procedência da pretensão deduzida pelo autor (MARCATO, 1998, p.215).
A terceira alternativa do demandado é optar pelo oferecimento de
embargos. (que não são os embargos à execução). Os referidos embargos
serão apensados aos próprios autos da ação monitória, procedimento
monitório, não sendo exigido pela lei a garantia do juízo para o seu
oferecimento. Vale ressaltar que com o oferecimento dos embargos, a ação
monitória prosseguira conforme o procedimento ordinário, ou seja, será
instaurado um juízo de cognição sendo lícito ao juiz examinar, em toda extenso
e profundidade, as alegações de ambas as partes.
Portanto, acreditamos que grande objetivo da ação monitória,
procedimento monitório é desburocratizar e agilizar o processo civil, e sua
finalidade, é abreviar de forma inteligente e hábil, o Ca minho para a formação
do título executivo, controlando geralmente o demorado e caro processo
ordinário.
2.2 - PROCEDIMENTO MONITÓRIO PURO
Existem dois tipos de procedimento monitório no processo moderno, o
procedimento monitório simples (puro), que exige mera alegação do autor; e o
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procedimento monitório documental, que exige prova escrita para fundamentar
o crédito do Autor. Vale informar que o Direito Brasileiro adotou e adota
somente a segunda espécie, ou seja, o Direito Brasileiro só recepcionou o
procedimento monitório documental, conforme veremos a seguir:
O procedimento monitório puro, conforme exposto acima, não foi
recepcionado pelo Direito Brasileiro, porém apenas como forma de
apresentação e para subsidiar o entendimento monitório documental far- se-á
uma breve explanação sobre o referido procedimento.
O procedimento monitório puro tem inicio com base em demanda que
não necessita de qualquer prova documental para acompanhar as ditas
alegações do demandante. Para citar um exemplo, pode-se citar a Alemanha,
onde o direito Alemão adota um procedimento monitório puro (O
Mahnverfahren), conforme ensina um dos mais conceituados processualistas
Alemães de todas as épocas, Adolf Schonke (ADOLF, 1950, p.363).
Tal procedimento tem por objeto proporcionar um título executivo ao titular de um crédito que presumivelmente não será discutido, sem necessidade de debate, com base em uma afirmação unilateral e sem prova, quando se trata de certas demandas, que permitem ao juiz ditar um mandado de pagamento.
Neste sentido, estando a petição em termos, expede- se (com base
nas alegações efetuadas pelo demandante) um mandado de pagamento.
Poderá o demandado, então optar por uma das três condutas: Pode o
demandado cumprir a obrigação constante no mandado de pagamento; pode o
demandante oferecer defesa, caso em que o mandado de pagamento é
convertido em um simples mandado de citação, seguindo- se a partir deste
instante o procedimento ordinário; ou pode, ainda o demandado, permanecer
contumaz, não cumprindo o mandado de pagamento, nem oferecendo defesa,
caso em que se forma o título executivo, expedindo- se o mandado executivo
(o qual tem a mesma eficácia de uma sentença proferida em procedimento
comum, no qual o demandado tenha permanecido revel).
23
Vale acrescentar que o procedimento monitório puro
(não adotado no Brasil) assemelha- se muito ao procedimento monitório
documental (adotado no Brasil), sendo a distinção feita através da
obrigatoriedade no procedimento monitório documental, das alegações do
demandante serem apresentadas através de documentos.
2.3- PROCEDIMENTO MONITÓRIO DOCUMENTAL
Conforme exposto anteriormente procedimento monitório documental
exige que as alegações do demandante sejam apresentadas em juízo através
de documentos, não bastando as simples alegações do mesmo. O mandado
de pagamento terá sua expedição determinada com base no exame de
alegações e principalmente nas provas acostadas aos autos. O demandado
sendo citado terá as mesmas tr6es opções expostas acima.
Porém, existem autores que entendem que o procedimento monitório
documental o oferecimento de resposta do demandado não converte o
mandado de pagamento em simples citação como se dá no procedimento
monitório puro, conforme a seguir exposto (CALAMANDREI, 1946, p.30).
No procedimento documental o oferecimento de resposta tem como efeito suspender a eficácia do mandado de pagamento, impedindo a prática de atos executivos até que se examine a defesa oferecida pelo Réu. Converte- se o procedimento monitório documental, com o oferecimento de resposta, em procedimento ordinário, observando- se, daí em diante, as regras desse rito.
Após analise tanto da matéria, como dos doutrinadores, pode- se
chegar à conclusão que a distinção apresentada entre o procedimento
monitório puro e o procedimento monitório documental é despida de valor
científico, tendo em vista serem os dois procedimentos rigorosamente idênticos
e tendo os dois procedimentos os rito iguais.
A grande diferença é mesmo quanto à apresentação de documento ou
não por parte do demandante, visto que a resposta do réu transforma o
24
mandado de pagamento em mandado de citação e o procedimento monitório
transforma- se em procedimento ordinário, tanto no procedimento monitório
puro, quanto no procedimento monitório documental.
Vale esclarecer ainda, que conforme exposto anteriormente, o Brasil
somente adota o procedimento monitório documental, portanto necessitando
de prova documental para a propositura da referida ação monitória.
25
CAPÍTULO III
PETIÇÃO INICIAL, PROVIMENTO INICIAL E MANDADO
MONITÓRIO
3.1- PETIÇÃO INICIAL.
A petição inicial no procedimento monitório deve conter os mesmos
dados exigidos no procedimento ordinário, diferindo o pedido, que se solicita o
mandado de pagamento, que contém tanto a citação como a injunção para
cumprir a obrigação. Por isso deve-se satisfazer os requisitos dos artigos 282 e
283 do Código de Processo Civil e mais os requisitos específicos exigidos pelo
artigo 1.102a do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 282. A petição inicial indicará: I- o juiz ou tribunal, a que é dirigida; II- os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; III- o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV- o pedido, com suas especificações; V- o valor da causa; VI- as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII- o requerimento para a citação do réu. Art. 283 – A petição inicial será instruída com documentos indispensáveis a propositura da ação. Art 1.102a – A ação monitória compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.
Conforme exposto acima, inicia-se o procedimento monitório com a
apresentação em juízo de uma petição inicial. Esta deverá preencher todos os
requisitos exigidos das petições iniciais em geral. Porém existem certas
peculiaridade que o demandante deverá obedecer na distribuição da referida
peça inicial no procedimento monitório. Uma das mais importantes é com
relação à prova.
26
A petição inicial no procedimento monitório deverá vir acompanhada de
prova escrita, do direito subjetivo do demandante, desprovida de eficácia
executiva, que constitui em uma analise mais detalhada do título monitório.
O demandante deverá narrar os fatos e fundamentos que sustentam o
crédito pretendido, pois estes irão fundamentar a expedição da monitória com
a prova escrita, sob pena de indeferimento da petição inicial. A falta de devida
fundamentação da petição inicial dificulta a apreciação da prova pelo juiz, além
de impossibilitar a defesa do réu. Como já ressaltado, a inicial do procedimento
monitório deve conter os mesmos requisitos exigidos no rito ordinário.
Tendo o juiz, com base na análise das provas acostadas aos autos, se
convencido da probabilidade de existência do direito de crédito, deverá o
mesmo deferir a expedição do mandado monitório (ou mandado de
pagamento, ou mandado de entrega da coisa).
3.2 – PROVIMENTO INICIAL.
Após a distribuição da petição inicial, com os requisitos já expostos no
item anterior, o juiz deverá verificar as condições da ação e os pressupostos
processuais, bem como analisar as provas acostadas aos autos, para que seja
prolatado o provimento inicial. Desde a edição da Lei n° 9.079/95, tem-se
afirmado que o provimento preambular do procedimento monitório tem
natureza de “sentença liminar.”(CÂMARA, 1996, p.210)
Um dos conceitos mais aceitos de sentença liminar, no processo civil
brasileiro atual, pode ser encontrado na obra do ilustre jurista gaúcho Ovídio
Baptista da Silva, que define tal espécie de pronunciamento judicial como “o
provimento que emitido antes do momento propício para a prolação de
sentença final, resolve o mérito da causa.”(SILVA, 1991, p.61).
Trata-se de ato cujo conteúdo é análogo aos que normalmente se
encontram em sentenças. Não há no provimento inicial no procedimento
monitório, conteúdo declaratório, já que não determina nenhum, acertamento
da existência ou inexistência do direito substancial.
27
Porém pode-se verificar a presença do conteúdo condenatório, a
permitir a produção de feitos executivos, levando a possibilidade de
instauração de processo de execução forçada.
Não se trata, porém de sentença, por não ser um ato capaz de por fim
ao ofício de julgar do magistrado (que poderá ser chamado a julgar atos deste
mesmo processo).
O provimento inicial no procedimento monitório também não pode ser
considerado uma decisão interlocutória, pois não está resolvendo um incidente
processual ou fático (um acontecimento capaz de provocar um desvio no
procedimento, rito).
Da mesma forma não se pode considerar o provimento inicial no
procedimento monitório como sendo uma sentença parcial, tendo em vista a
possibilidade de que não ocorra outra sentença no decorrer da lide.
Portanto após análise dos juristas e doutrinadores sobre a matéria
objeto deste estudo, nos parece adequado definir a natureza jurídica do
provimento preambular, como sendo uma sentença liminar, ou seja, a natureza
jurídica do provimento inicial do procedimento monit;orio trata-se de ato
judicial, que antes do momento próprio para a prolação da sentença, resolve o
mérito da causa.
3.3 – MANDADO MONITÓRIO
O mandado monitório, ou mandado de pagamento ou ainda mandado
de entrega da coisa, pode ser considerado como sendo uma advertência, um
conselho do juiz para que o devedor pague a dívida ou entregue a coisa, objeto
do litígio. Cumprindo o mandado, o devedor será beneficiado com a isenção
das custas e honorários, conforme determina o parágrafo primeiro do artigo
1.102c do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 1.102c (...). §1º. Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de
custas e honorários advocatícios.
28
O demandado poderá também apresentar embargos que suspenderão
a eficácia do mandado até seu julgamento. Ou ainda, poderá o réu abster-se.
Neste caso o procedimento monitório continua com a conversão do mandado
monitório em mandado de citação em ação de execução, tendo em vista que a
partir deste momento o demandante possuirá um título executivo judicial,
conforme determina o artigo 1.102c, caput, in verbis:
Art. 1.102c – No prazo previsto no artigo anterior, poderá o réu oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos, constituir-se-á de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em mandado executivo e prosseguindo-se na forma prevista no Livro II, Título II, Capítulo II e IV.
O grande debate acerca do mandado de pagamento gira em torno de
sua natureza jurídica, principalmente quando este se constitui título executivo
judicial, sem que haja embargos. Vale acrescentar ainda, deve –se analisar o
mandado de pagamento tendo em vista o procedimento monitório como um
todo, ou seja, o mandado de pagamento deve ser analisado dentro do
procedimento monitório.
O procedimento monitório tem uma íntima afinidade com o processo
contumacial, pela simples razão que ambos se fundam nas alegações
unilaterais do autor, devido à rebeldia (revelia) do réu. Essa identidade entre os
dois institutos se traduz no caráter condicional que tem o mandado de
pagamento durante o prazo para embargos.
O processo constumacial ordinário segue uma ordem lógica, segundo a
qual somente após ocorrer a preclusão será permitido ao juiz julgar
antecipadamente a lide, tendo em vista somente as alegações do autor. Se o
julgador se convencer de que as afirmações unilaterais do autor são
suficientes para demonstrar a constituição do crédito, prolatará sentença
condenatória contra o réu revel. Ao passo que essa ordem natural é invertida
no procedimento monitório, pois o juiz prolata a sentença Condenatória antes
da ocorrência da preclusão.
29
Entretanto, assinala Calamandrei:
Essa inversão é meramente aparente, porque, no período entre a expedição da ordem de pagamento à verificação efetiva da preclusão, essa ordem não tem nenhuma eficácia, nem sequer uma eficácia condicionada. Eficácia é conseqüência tão somente do transcurso do prazo. A situação é, pois, substancialmente idêntica ao processo ordinário: a ordem de pagamento é emanada formalmente antes da preclusão. Não obstante, na realidade, é somente depois de ocorrer a preclusão que se começa a sentir seus efeitos (CALAMANDREI, 1953, p. 78).
Diante deste entendimento o julgador emite a injunção, ou imposição,
em juízo meramente hipotético de que o mandado de pagamento não será
embargado. Antes de terminado o prazo de embargar, o mandado de
pagamento não tem força alguma, ficando condicionada à não oposição do
demandado, ou, havendo embargos, que sejam julgados improcedentes.
A verificação de qualquer das situações acima expostas, torna o
mandado de pagamento, de pleno direito, título executivo judicial.
Por todos os motivos já expostos, e ainda seguindo o que leciona o
sábio doutrinador, Calamandrei, pode- se chegar à conclusão que o mandado
de pagamento tem natureza de sentença contumancial suspensiva
condicionada, ou seja, tem natureza de uma sentença condicionada à rebeldia
(revelia) do demandado ou a improcedência dos embargos.
Tendo em vista que este capítulo presta a tecer comentários e firmar
tese sobre o procedimento monitório, no que diz respeito mais especificamente
ao mandado monitório, mandado de pagamento e sabendo–se ainda que o
mandado monitório pode ser considerado um mandado de citação, cabe
esclarecer que não obstante o silêncio da lei, é fundamental a citação do
demandado, devendo tal citação ocorrer no mesmo momento (e sem, que haja
nisso qualquer vício, através do mesmo mandado) da entrega, ao réu do
mandado monitório.
30
A citação pode ser feita (e esta será regra geral) por via postal. Cabe
informar que é também admitida a citação através de oficial de justiça.
Porém a citação ficta, por edital ou com hora certa é discutível no
procedimento monitório, não sendo pacífico o aceite em nossos tribunais estas
formas de citação.
31
CAPITULO IV
EMBARGOS, SENTENÇA, COISA JULGADA E
EXECUÇÃO
4.1- EMBARGOS
conforme exposto anteriormente, proposta a ação monitória, o juiz, após
a verificação de que a petição inicial está devidamente instruída, emitirá
mandado de pagamento. O referido mandado de pagamento conterá uma
ordem de pagamento ou entrega da coisa ou, ainda, estipulará um prazo de
quinze dias para o oferecimento de embargos. Com o oferecimento de
embargos, que seguem o rito ordinário, abre- se oportunidade para amplo
contraditório, conforme parágrafo segundo do artigo 1.102c do Código de
Processo Civil Brasileiro, in verbis:
Art.1.102c No prazo previsto no atrigo anterior, poderá o réu oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do mandado inicial... §2º. Os embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos próprios autos, pelo procedimento ordinário.
A defesa do demandado na ação monitória é feita por meio dos
embargos. Não se fala contestação porque o mandado de citação (mandado
de pagamento) não o convida a defender- se. A convocação do demandado é
feita, de forma injuntiva, visando compeli- lo a realizar, desde logo, o
pagamento da dívida em prazo que lhe é liminarmente assinado. A instauração
do contraditório é eventual, e parte do devedor citado para satisfazer o crédito
do autor. Daí a denominação de embargos aplicada à resposta do demandado,
na espécie.
32
Como o credor não dispõe ainda de título executivo, o réu não precisa
garantir o juízo, para embargar a ação monitória, conforme já demosntrado
acima. (Artigo 1.102c, parágrafo segundo CPC).
Manifestado os embargos dentro de quinze dias previstos no artigo
1.102b, in verbis:
Art.1.102b. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento ou da entrega da coisa no prazo de quinze dias.
O mandado de pagamento fica suspenso, e a matéria de defesa
argüível pelo devedor é a mais ampla possível. Toda exceção, material ou
processual, que tiver pertinência com uma ação de cobrança, poderá ser
levantada na resposta à ação monitória, procedimento monitório.
Ao contrário do que ocorre na execução, os embargos no procedimento
monitório, não são autuados a parte. São processados nos próprios autos,
como a contestação no procedimento ordinário, conforme demonstrado na
página anterior. (artigo 1.102c, parágrafo segundo do CPC).
Acolhidos os embargos, revogado estará o mandado inicial de
pagamento e extinto será todo o processo. Se o acolhimento for apenas
parcial, a execução terá curso sobre o remanescente do pedido do autor não
alcançado pela sentença.
A doutrina não é pacifica quanto à natureza dos embargos à monitória,
alguns se inclinando em admiti-la como ação incidental (autônoma), outros
como contestação (resposta do demandado), e outros ainda como recurso.
Este tema tem gerado bastante controvérsia, esta divergência, porém
não tem apenas interesse acadêmico, sendo relevante, também na prática.
A primeira corrente doutrinária afirma que os embargos têm natureza de
demanda autônoma. Entendem os defensores desta primeira corrente que o
ajuizado dos embargos dá vida a um processo, de conhecimento, incidente
ao procedimento monitório.
Talamini, um dos doutrinadores que sustentam esta primeira corrente,
defende o seguinte entendimento sobre a matéria:
33
A nossa legislação sobre monitória estabeleceu que o mandado ficará suspenso, quando forem interpostos embargos (art.1.102c, caput do CPC). Previu também que, julgados improcedentes os embargos, o mandadado inicial vai se converter de pleno direito em título executivo (art. 1.102c, parágrafo terceiro do CPC), independentemente de sentença final. Isso basta para descartar que os embargos do art. 1.102c sejam considerados contestação. Constituem nitidamente, forma incindental de desconstituição do provimento inicial e/ou de reconhecimento da inexistência do crédito- o que no sistema processual brasileiro, é feito através de nova demanda, geradora de outro processo (TALAMINE, 1997, p.133).
Esta corrente sustenta que os embargos são tratados pelo código como
demanda autônoma, e prova disso seriam as afirmações contidas na lei
processual, de que os embargos tramitam nos mesmos autos do
procedimento monitório, pelo procedimento ordinário, e não dependem de
segurança do juízo.
Porém esta tese não merece ser adotada pó nós, isto porque o fato de
os embargos se processarem nos mesmos autos não é capaz de permitir
que se determine sua natureza jurídica. Por exemplo, existem processos
autônomos que tramitam nos mesmos autos ( ex. processo de liquidação de
sentença), e incidentes que, embora não dêem a origem a processo
autônomo, levam à formação de autos apartados (ex. impugnação ao valor
da causa). Quanto à afirmação de que os embargos seguem o procedimento
ordinário, é preciso saber que o verdadeiro sentido da norma é o de afirmar
que, com o oferecimento dos embargos, o procedimento monitório se
converte em ordinário.
Quanto à regra segundo a qual os embargos independem de prévia
garantia do juízo, parece ser esta norma destinada a evitar confusão entre os
embargos ao mandado e os embargos do executado, desta forma
determinado a norma que o procedimento monitório na tem natureza
executiva.
Portanto esta primeira corrente que entende possuir os embargos ao
mandado de pagamento (mandado monitório) natureza de ação autônoma,
34
deve ser afastada por nós em nosso estudo, pelos motivos já demonstrados
acima.
Existe uma segunda corrente a qual defende os embargos como tendo a
natureza de recurso. Esta corrente é a menos aceita entre os doutrinadores,
tendo em vista o princípio da taxatividade dos recursos, segundo o qual some
pode ser considerado recurso àquilo que recebe da lei tal natureza. Ora não
havendo qualquer norma que atribua aos embargos ao mandado natureza
recursal, fica nítido ser inadequada a tese que afirma terem os embargos
essa natureza.
Por fim, a terceira e mais aceita corrente doutrinária (Theodoro Junior,
Nery Junior, Carreira Alvin, Ada Pellegrine, Freitas Câmara) consideram “os
embargos como resposta do demandado, de natureza idêntica a contestação,
sem que tal impugnação dê origem a um novo processo.”
Portanto, após demonstrar e analisar as três correntes existentes
optamos por seguir a terceira e mais aceita corrente exposta no presente
estudo, ou seja, considerar os embargos ao mandado de pagamento
(mandado monitório) como tendo a natureza de contestação, pois os
embargos não dão origem a um novo processo, mas somente convertem o
procedimento monitório em ordinário.
4.2- SENTENÇA.
O procedimento monitório se caracteriza pela prolatação de uma
sentença liminar, de conteúdo condenatório, desprovida do momento
declaratório consistente no ato de acertamento da existência do direito. Tal
declaração somente poderá ser proferida se o demandado tomar iniciativa de
provocar o contraditório, o que faz com o oferecimento de embargos, capazes
de transformar o procedimento monitório em ordinário. Neste caso, então o
procedimento seguirá em direção a uma sentença de mérito.
35
Veremos agora duas hipóteses de sentença procedimento monitório, no
qual foram opostos embargos.
A partir deste momento é necessário distinguir estas duas hipóteses
para que sejam melhor compreendidas: a sentença que julga a pretensão do
demandante procedente (ou na linguagem inadequada do CPC- “regeita os
embargos”) e, de outro lado, a sentença que “acolhe os embargos”).
Inicia- se o exame da matéria pela sentença que “acolhe os embargos”,
ou seja, pela sentença que rejeita a demanda monitória. Esta é uma sentença
meramente declaratória, como são as sentenças de improcedência. Limita-
se tal sentença a tornar certa a inexistência do direito afirmado pelo
demandante, autor da ação monitória.
Neste sentido se manifesta Talamini: “Quando julgar procedentes os
embargos, a sentença declarará a inexistência do parcial ou total do crédito
e/ou invalidade do processo principal”(TALAMINE, 1937, p.139). É de
afirmar, porém, que o jurista citado sustenta terem os embargos ao mandado
natureza de demanda autônoma, diferentemente da conclusão que
chegamos em nosso presente estudo que entende ser os embargos de
natureza de contestação. Assim sendo, discordamos da afirmação de que
sentença de improcedência da demanda monitória.
De outro lado, a sentença que julga procedente a demanda monitória
(“rejeita os embargos”), é também, meramente declaratória. Limita- se tal
sentença a tornar certa existência do direito afirmado pelo demandante,
conforme afirma o processualista Dinamarco com habitual precisão:
Integra- se com a sentença que rejeita os embargos de mérito, o primeiro momento lógico das sentenças condenatórias, que o mandado monitório não tem. Com ele, vem a certeza da existência do direito, que é substrato ético em que se apóia toda execução forçada. Mas repete- se: Isso não acrescenta eficácia executiva alguma ao mandado monitório, o qual para legitimar a execução, tem eficácia própria- aquela eficácia que estava apenas suspensa pela pendência dos embargos (DINAMARCO, 1997, p.244).
36
Vale ressaltar, conforme exposto anteriormente, que a sentença liminar
no procedimento monitório, proferida pela inércia do demandado, continha
condenação, mas não declaração, pois não havia ali, qualquer elemento do
direito (nem poderia mesmo haver, já que a sentença liminar é expedida com
base em cognição sumária, juízo de probabilidade, enquanto todo ato de
acertamento exige cognição exauriente, ou seja juízo de certeza). Não há
razão assim, para que se profira, ao final do procedimento, nova condenação.
Basta que a sentença tenha conteúdo declaratório da existência do direito para
que a condenação contida na sentença liminar (cuja eficácia estava suspensa
pelo oferecimento dos embargos) passe a produzir seus efeitos.
Assim sendo, após a exposição da três hipótese de sentença, pode- se
chegar a conclusão que a prolatação da sentença- meramente declaratória da
existência do direito do demandante ( procedência da demanda monitória, ou
ainda, “rejeição dos embargos”)- constitui- se de pleno direito o título judicial,
que vem ser a sentença liminar, de natureza condenatória, proferida no inicio
do procedimento monitório, e cuja eficácia fora suspensa pelos embargos
oferecidos pelo demandado.
Cumpre fazer uma pequena exposição sobre o recurso cabível das
sentenças em procedimento monitório, apenas para deixar o presente estudo o
mais completo possível, isto porque a matéria é controvertida e poderíamos
fugir ao objeto da presente monografia.
Contra sentença, qualquer que seja seu conteúdo, caberá apelação, com
fulcro no artigo 513 do Código de Processo Civil.
A apelação contra a sentença que “acolhe os embargos”, ou seja, a
apelação contra sentença que rejeita a demanda monitória, tem efeito
suspensivo e devolutivo.
Porém a sentença que julga procedente a demanda monitória (“rejeita os
embargos”) tem somente o efeito devolutivo, não possuindo o efeito
suspensivo.
O fundamento para o recebimento da apelação somente no efeito
devolutivo e /ou a ausência do efeito suspensivo decorre do disposto no
parágrafo terceiro do artigo 1.102c do Código de Processo Civil.
37
Nos termos do citado dispositivo, “rejeitados os embargos”, intimam- se o
devedor, “prosseguindo- se” com a execução. Afirma ainda, o dispositivo, que
a execução se inicia logo após a “rejeição dos embargos”, bastando, assim, a
prolatação de sentença para que se inicie a produção dos efeitos da sentença
liminar que determinou a expedição do mandado monitório, não exigindo a lei
processual que se aguarde o julgamento da apelação para que aquela eficácia
comece a se manifestar.
4.3 – COISA JULGADA
Na ação monitória forma- se a coisa julgada material em torno do direito
do autor, de duas maneiras: pela revelia do demandado, quando deixa de opor
embargos no prazo que lhe foi assinado no mandado inicial de pagamento
(mandado monitório); ou pela sentença que julga o mérito dos embargos
tempestivamente manifestados pelo réu. Cria- se, destarte, o título executivo
judicial, para que o credor que afora a ação monitória nas duas apontadas
situações. (Art.1.102c, caput e §3º).
Diversamente do que passa no direito italiano, para que o mandado
injuntivo, no direito brasileiro, se torne executivo e se revista da autoridade de
título executivo judicial, não há nenhum ato especial decisório. A conversão
opera de pleno direito, Isto é, como conseqüência automática da falta de
embargos no tempo devido ou da rejeição daquelas que foram oportunamente
manifestados.
Tendo em vista a intima relação do procedimento monitório com o
processo contumancial, há de se ressaltar que o efeito de ambos institutos é o
mesmo: o de produzir coisa julgada material. O procedimento monitório,
apesar de não haver contraditório, formará título executivo, que em nada
diferirá de uma sentença definitiva de mérito pronunciada em processo de
conhecimento de rito ordinário passada em julgado.
A técnica do procedimento monitório, na verdade, elimina previamente a
necessidade de percorrer a via longa e dispendiosa do contraditório de um
38
normal juízo de cognição na hipótese de ocorrer a revelia total do réu. Assim, o
autor obterá de forma mais rápida o mesmo provimento que alcançaria,
contudo sem ter que percorrer inutilmente o rito ordinário.
Portanto, face ao exposto, pode- se concluir que não seria possível iniciar
uma execução forçada, como afirma o artigo 1.102c do Código de Processo
Civil, sem a existência prévia de um título executivo judicial, este somente se
estabelece com a sentença judicial transitada em julgado. Antes somente há
de se falar em execução provisória.
4.4 – EXECUÇÃO.
Rejeitado os embargos, a execução terá início, pois a sentença
transformará a ação monitória em execução de título judicial. O devedor será
intimado para pagar o juízo e a execução prosseguirá dentro de marcha
prevista para as obrigações de quantia certa ou entrega de coisa.(Livro II,
Título II, Capítulos II e IV, do CPC).
Acolhidos os embargos, revogado estará o mandado inicial de pagamento
e extinto será todo o processo. Se o acolhimento for apenas parcial, a
execução terá curso sobre o remanescente do pedido do autor não alcançado
pela sentença.
Conforme exposto acima, formado o titulo executivo, pelo decurso do
prazo, sem que seja oferecida a oposição de do demandado (embargos ao
mandado), ou por ter sido proferida a sentença de procedência da demanda
monitória, afirma o Código de Processo Civil (Art.1.102c,§3º) que se deve
prosseguir na execução na forma prevista no Livro II, Título II, Capítulos II e IV.
Ou seja, formado o titulo executivo, pode- se dar inicio à execução para
entrega da coisa ou à execução por quantia contra o devedor solvente.
Apenas para manter o presente trabalho o mais completo possível,
passaremos a expor agora o recurso cabível para interposição do processo de
execução decorrente da ação monitória ou procedimento monitório.
Instaurado o processo executivo, será cabível o oferecimento de
embargos do executado. Tendo sido oferecido embargos ao mandado, os
39
embargos do executado ficarão limitados ao disposto no artigo 741 do Código
de Processo Civil, somente se podendo admitir que o juiz conheça das
matérias ali elencadas.
Dúvida surge, porém, quanto a haver ou não tal restrição aos embargos
no caso de se ter formado o titulo executivo no procedimento monitório sem
que o demandado tenha oposto embargos ao mandado. Existem autores que
admitem que os embargos do executado sejam opostos na forma do artigo 745
do Código de Processo Civil, não obstante o caráter judicial do titulo executivo.
Tendo em vista o já exposto no presente trabalho, pode- se chegar a
conclusão que o entendimento anterior, nos parece incompatível com a
afirmação de que surge coisa julgada material quando, expedida a sentença
liminar, o réu não oferece embargos ao mandado.
Portanto, cumpre reafirmar que só se pode alegar em embargos do
executado (tenham sido ou não oferecidos os embargos ao mandado) as
matérias constantes daquele dispositivo legal. Esta é a única tese capaz de
evitar que se contrarie o disposto nos artigos 741 (segundo o qual nos
embargos à execução fundada em titulo judicial só se pode alegar as matérias
ali enumeradas), 745 (que afirma ser possível à alegação, em sede de
embargos, de qualquer matéria que poderia ter sido deduzida como defesa no
processo de conhecimento, quando a execução for fundada em título
extrajudicial) e 1.102c, segundo o qual o titulo executivo que se forma no caso
de o réu do procedimento monitório não oferecer embargos tem natureza de
titulo judicial. Aplica- se, à hipótese, o disposto no artigo 741 do Código de
Processo Civil, e não a norma do artigo 745 do mesmo diploma legal.
40
CONCLUSÃO
Feita a revisão bibliográfica, com as citações, as análises e as
demonstrações, à luz das questões de estudos, pode-se agora, apresentar a
síntese das principais contribuições desse trabalho e as considerações finais.
Diante das razões expostas anteriormente o procedimento monitório é
um processo de conhecimento de natureza condenatória, destinado a criar de
forma célere um título executivo, invertendo-se a iniciativa do contraditório para
o devedor, utilizando-se como motivo de declaração de certeza do crédito a
falta de reação por parte do devedor dentro de um prazo estabelecido por
norma processual.
Para tanto, a petição inicial deve conter os mesmos fundamentos e
dados exigidos no rito ordinário. O código requer, ainda, que a petição inicial
venha instruída com prova escrita sem eficácia de título executivo. Surge,
então, o procedimento monitório como opção do credor que possua alguma
prova escrita para instruir a ação, daí o caráter facultativo do seu uso.
Por se tratar de processo de conhecimento, o procedimento monitório
pode ser utilizado, entre outras obrigações, para a cobrança de títulos de
crédito sem força executiva, como é o caso do cheque prescrito. Não se trata
de processo de execução ou mero começo de execução, por isso não se
estará restabelecendo a sua executividade. O cheque prescrito representa
somente prova de crédito hábil a instruir o procedimento monitório. Desta
forma pode-se utilizar o contrato que perdeu sua eficácia de título executivo por
não ter assinatura de 2 (duas) testemunhas.
Portanto devido ao estudo da Natureza jurídica do procedimento
monitório, pode-se ter presente a possibilidade de sua utilização para a
cobrança de cheque prescrito. O credor de cheque impago tem a opção de
cobrar por meio de procedimento monitório, por se tratar de processo de
conhecimento para a formação célere de um título executivo judicial. O cheque
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se traduzirá como prova que irá fundamentar a referida ação monitória ou
procedimento monitório.
Vale acrescentar ainda, que tal procedimento também poderá ser
utilizado para quem pretende, fundamentado em prova escrita, sem, eficácia
de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível
ou determinado bem móvel.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ADOLF, Shonke. Derecho processal civil. trad. esp. Leonardo Prietro Castro.
Barcelona: Bosch, 1950.
CALAMANDREI, Piero. El Procedimento Monitório. 2ª Edição, Trad. Santiago
Sentis Medendo. Buenos Aires: ediciones jurídicas Europa- América, 1953.
CÂMARA, Freitas, Alexandre. Lições de direito processual civil. 5ª Ed. Rio de
Janeiro: Lúmen Júris, 2003.
CARREIRA ALVIM, José Eduardo. Ação Monitória e temas polêmicos da
reforma processual. 3ª Ed, Belo Horizonte, Del Rey, 1999.
DINAMARCO, Candido Rangel. A reforma do código de processo civil. 4ª Ed,
São Paulo: Malheiros, 1997.
GRECO FILHO, Vicente. Comentários ao procedimento sumário, ao agravo e a
ação monitória, 4ª Ed, São Paulo: Saraiva, 1999.
MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. 8ª Ed, São Paulo:
Malheiros, 1998.
NERY JUNIOR, Nelson. Atualidades Sobre o Processo Civil: a reforma do
Código de Processo Civil Brasileiro de 1994 e de 1995. 2ª Ed, São Paulo: RT,
1996.
PEREIRA E SOUZA, J.J. Caetano. Primeiras Linhas sobre Processo Civil,
acomodadas ao foro do Brasil, por Augusto Teixeira Freitas. Rio de Janeiro:
Garnier, 1907.
43
RAMALHO, Joaquim Ignácio. Praxe Brasileira. São Paulo Typografia do
Ypiranga, 1869.
SILVA, O Baptista. Decisões Interlocutórias e Sentenças Liminares. Revista de
Processo, São Paulo: RT, 1991.
TALAMINE, Eduardo. Tutela Monitória. 2ª Ed, São Paulo: RT, 1997.
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BIBLIOGRAFIA CITADA
1- ADOLF, Shonke. Derecho processal civil. trad. esp. Leonardo Prietro
Castro. Barcelona: Bosch, 1950.
2- CALAMANDREI, Piero. El Procedimento Monitório. 2ª Edição, Trad.
Santiago Sentis Medendo. Buenos Aires: ediciones jurídicas Europa- América,
1953.
3- CÂMARA, Freitas, Alexandre. Lições de direito processual civil. 5ª Ed. Rio
de Janeiro: Lúmen Júris, 2003.
4- CARREIRA ALVIM, José Eduardo. Ação Monitória e temas polêmicos da
reforma processual. 3ª Ed, Belo Horizonte, Del Rey, 1999.
5- DINAMARCO, Candido Rangel. A reforma do código de processo civil. 4ª
Ed, São Paulo: Malheiros, 1997.
6- GRECO FILHO, Vicente. Comentários ao procedimento sumário, ao agravo
e a ação monitória, 4ª Ed, São Paulo: Saraiva, 1999.
7- MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. 8ª Ed, São Paulo:
Malheiros, 1998.
8- NERY JUNIOR, Nelson. Atualidades Sobre o Processo Civil: a reforma do
Código de Processo Civil Brasileiro de 1994 e de 1995. 2ª Ed, São Paulo: RT,
1996.
9- PEREIRA E SOUZA, J.J. Caetano. Primeiras Linhas sobre Processo Civil,
acomodadas ao foro do Brasil, por Augusto Teixeira Freitas. Rio de Janeiro:
Garnier, 1907.
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10- RAMALHO, Joaquim Ignácio. Praxe Brasileira. São Paulo Typografia do
Ypiranga, 1869.
11- SILVA, O Baptista. Decisões Interlocutórias e Sentenças Liminares.
Revista de Processo, São Paulo: RT, 1991.
12- TALAMINE, Eduardo. Tutela Monitória. 2ª Ed, São Paulo: RT, 1997.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 12
CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E CABIMENTO
1.1- Conceito 12
1.2- Natureza Jurídica 13
1.3- Cabimento 17
CAPÍTULO II 19
ESPÉCIES DE PROCEDIMENTO MONITÓRIO
2.1- Procedimento Monitório 19
2.2- Procedimento Monitório Puro 21
2.3- Procedimento Monitório Documental 23
CAPÍTULO III 25
PETIÇÃO INICIAL, PROCEDIMENTO INICIAL E MANDADO MONITÓRIO
3.1- Petição Inicial 25
3.2- Provimento Inicial 26
3.3- Mandado Monitório 27
CAPÍTULO IV 31
EMBARGOS, SENTENÇA, COISA JULGADA E EXECUÇÃO
4.1- Embargos 31
47
4.2- Sentença 34
4.3- Coisa Julgada 37
4,4 – Execução 38
CONCLUSÃO 40
BIBLIOGRAFIA CITADA 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44
ÍNDICE 46
48
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes - IAVM
Título da Monografia: AÇÃO MONITÓRIA, PROCEDIMENTO MONITÖRIO
Autor: Ivo de Paula Ribeiro Filho
Data da entrega: 28 de setembro de 2009
Avaliado por:JEAN ALVES PEREIRA DE ALMEIDA Conceito: