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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CONSTRUINDO POSSIBILIDADES COM PORTADORES DA SÍNDROME DE DOWN ATRAVÉS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS SILESIA NUNES DE MELO Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CONSTRUINDO POSSIBILIDADES COM PORTADORES DA

SÍNDROME DE DOWN ATRAVÉS DAS INTELIGÊNCIAS

MÚLTIPLAS

SILESIA NUNES DE MELO

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CONSTRUINDO POSSIBILIDADES COM PORTADORES DA

SÍNDROME DE DOWN ATRAVÉS DAS INTELIGÊNCIAS

MÚLTIPLAS

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre –

Universidade Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Silésia Nunes de Melo

AGRADECIMENTOS

....agradeço primeiramente a Deus, familiares,

amigos , professores e a todos que contribuíram

direto ou indiretamente para conclusão desse

curso.

DEDICATÓRIA

Dedico minha monografia a todos os portadores da Síndrome de Down. Ao meu marido e as minhas queridas filhas, pelo carinho e compreensão nas horas em que não estive presente, dedicando-me a estudar. Ao meu orientador, pela paciência e pela ajuda. Aos amigos, que com afetuosas palavras, não deixaram-me desistir de concluir este trabalho. E a todos que desejam o bem, que sonham e lutam por uma educação igualitária e de qualidade.

RESUMO

O presente trabalho visa abordar a educação dos portadores da

Síndrome de Down e das contribuições que a Teoria das Inteligências Múltiplas

pode oferecer. O objetivo foi abordar a Teoria das Inteligências Múltiplas como

veículo mediador do desenvolvimento das crianças normais e de todas as outras

portadoras de necessidades especiais, independente da diferença (deficiência)

ou patologia que as mesmas apresentassem. Diante da grande diversidade da

clientela da Educação Especial, incluindo os deficientes mentais, sensoriais,

físicos e portadores de condutas típicas, o estudo buscou especialmente,

informações e descobertas a respeito dos portadores da Síndrome de Down.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................07 CAPÍTULO I

Uma Reflexão sobre as Inteligências Múltiplas .........................09

CAPÍTULO II A Síndrome de Down ................................................................14

CAPÍTULO III As Inteligências Múltiplas e a Síndrome de Down ....................21

CONCLUSÃO .................................................................................29

BIBLIOGRAFIA ..............................................................................31

7

INTRODUÇÃO

Aprender, a gente aprende desde que nasce. As experiências do

dia-a-dia integram múltiplos saberes. Mas, ninguém pode aprender tudo o que

há para ser aprendido. E nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e

habilidades; nem todos aprendem da mesma maneira.

Trabalhando em uma escola que desenvolve um excelente trabalho

pedagógico fundamentado na Teoria das Inteligências Múltiplas, investigada e

desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner, deparei-me com

uma série de novas informações em que a criança - o centro de todas as

atenções – era compreendida e respeitada de forma individual, dentro de todos

os contextos sociais em que está inserida. Suas habilidades e seus interesses

são estimulados e desafiados através de atividades lúdicas e investigativas, e

suas descobertas e reações estão em evidência a todo instante.

O assunto abordado está disposto em três capítulos, desenvolvidos

com bases e aprofundamentos teóricos, apresentado através de uma leitura de

fácil compreensão.

O primeiro capítulo – Uma reflexão sobre as Inteligências Múltiplas

- descreve várias definições sobre O que é inteligência? desde o início dos

estudos sobre o Desenvolvimento Humano, dando maior ênfase à Teoria das

Inteligências Múltiplas, estudada por Gardner.

No segundo capítulo, toda a atenção é direcionada aos portadores

da Síndrome de Down, apresentando teóricos e estudos feitos desde o início do

século XX sobre suas possíveis causas, além de informações atualizadas sobre

o desenvolvimento surpreendente que os portadores da Síndrome de Down vem

apresentado nos diferentes setores da sociedade, e principalmente na

Educação.

O terceiro capítulo é de fato muito especial. Nele pode-se conjugar

os verbos estimular e integrar ao mesmo tempo, através da tentativa de criar

8

uma educação baseada na Teoria das Inteligências Múltiplas, atendendo ao

pleno desenvolvimento dos portadores da Síndrome de Down e dos demais

alunos tidos como normais, em classes regulares, em uma mesma escola.

O trabalho conclui que reconhecer e respeitar as diferenças na

inteligência de cada aluno é fundamental, e que baseando-se na Teoria das

Inteligências Múltiplas, o Psicopedagogo pode desenvolver um rico e proveitoso

trabalho com portadores de Síndrome de Down. Essa consciência pode motivar-

nos a buscar muitas outras maneiras de ensinar grupos diversos de crianças,

para que elas possam vir a ter oportunidades múltiplas e significativas em seu

desenvolvimento.

Todas as sugestões estão fundamentadas sobre o mesmo objetivo:

libertar o potencial de aprendizagem e a expressão criativa de cada aluno,

especialmente dos portadores da Síndrome de Down.

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CAPÍTULO I

UMA REFLEXÃO SOBRE AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Você é inteligente? O que é inteligência?

Poderia ser fácil responder essas questões, mas com o passar do

tempo, o conceito de inteligência vem sendo modificado, reconstruído. E ganha

novas interpretações nas diferentes áreas específicas do conhecimento.

Em busca de um significado, o Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa(2007) apresenta-a de forma generalizada:

“Inteligência- s.f.(a) 1- Capacidade de compreender relações;

capacidade de aprender, sem usar a experiência. 2- Manifestação

dessa capacidade; talento em ação. 3- Conhecimento profundo;

compreensão inteira. 4- Conluio; trama. 5- Habilidade; destreza. //

s. sc. (a). 6- Pessoa que tem essa capacidade- inteligente.”

A cada nova pergunta sobre “O que é inteligência?”, um novo

conceito será criado, demonstrando assim, que a multiplicidade de

interpretações e significações será infinita. De qualquer modo, é válido lembrar

que inúmeros estudos foram, e continuam sendo realizados para reexaminar o

conceito de Inteligência Humana.

E nessa busca, este estudo buscou novas informações, e novos

teóricos. Entre eles, o psicólogo norte-americano HOWARD GARDNER, também

professor de Educação na Universidade de Harvard, que vem conduzindo por

muitos anos uma pesquisa sobre o desenvolvimento das capacidades humanas.

Ele rompeu com a tradição comum da teoria da inteligência, que se apoia em

duas suposições fundamentais: a cognição humana é unitária, e os indivíduos

podem ser adequadamente descritos como donos de uma inteligência única e

quantificável.

10

Nos anos 80, em seus estudos das capacidades humanas,

GARDNER elaborou a Teoria das Inteligências Múltiplas . Ela sustenta que cada

indivíduo possui diversos tipos de inteligência, que em linguagem comum,

chamamos de dons, competências ou habilidades.

O pesquisador, acompanhando o desempenho profissional de

pessoas que foram “fracas” na escola, se surpreendeu com o sucesso obtido por

várias delas.

Passou então, a questionar a avaliação escolar onde os critérios

não incluem a análise de capacidades que, no entanto, são importantes na vida

das pessoas. Concluiu, que as formas convencionais de avaliação apenas

traduzem a concepção de inteligência vigente na escola, limitada à valorização

da competência lógico - matemática e da lingüística.

Gardner (1995),demonstrou porém, que as demais capacidades

também são produtos de processos mentais e que geralmente se considera

inteligência. Assim, segundo uma “visão pluralista da mente”, ampliou o conceito

de inteligência única para o campo da diversidade de capacidades que cada

indivíduo possui.

Surge, então, um novo conceito segundo Gardner: “inteligência é a

capacidade para resolver problemas ou elaborar projetos que sejam importantes

num determinado ambiente ou comunidade cultural.” Revista Unimed (1995

(p.09)

A definição de Gardner da Inteligência Humana ressalta a natureza

multicultural da sua teoria.

Para a Teoria das Inteligências Múltiplas, somente são tratadas

aquelas capacidades que são universais na espécie humana.

11

Como o próprio nome aponta, acredita-se que a competência

cognitiva humana é melhor descrita em termos de um conjunto de capacidades,

talentos ou habilidades mentais que chamaremos de “inteligências”. Todos os

indivíduos normais possuem cada uma dessas capacidades em certa medida.

Os indivíduos diferem no grau de capacidade e na natureza de sua combinação.

Os estudiosos e pesquisadores acreditam que a Teoria das

Inteligências Múltiplas é mais humana e verídica do que as visões alternativas

da inteligência, refletindo mais adequadamente os dados do comportamento

humano.

É importante salientar que nem todos os psicólogos e peritos no

assunto concordam com as idéias de Gardner.

“Não aceitamos as ‘Inteligências Múltiplas’ de Gardner. Mas sim, as diferentes formas de expressão da inteligência em seus aspectos: cognitivo, criativo e afetivo que estarão sempre presentes em qualquer produção de uma pessoa, pois pensamos que o criar, o conhecer e o sentir são diferentes expressões da inteligência humana.” (METTRAU,1998, P.104)

Mesmo diante de desaprovações, Gardner prosseguiu seus

estudos e investigações, elaborando a Teoria das Inteligências Múltiplas, com

base em estudos biológicos, na diversidade das capacidades humanas e nos

estímulos sócio - culturais.

Em sua obra “Inteligências Múltiplas – A teoria na prática,”o

psicólogo apresenta as sete inteligências propostas até agora: a espacial, a

corporal - cinestésica, a lógico - matemática, a lingüística, a musical, a

interpessoal e a intrapessoal. E na continuação de seus estudos, já investiga

outras duas competências, a inteligência naturalista e a existencial.

Gardner (1995), deixa claro que todos os indivíduos possuem

potenciais diferentes, mas todos nascem com capacidade para desenvolver

todas as inteligências, de forma natural. Deve-se considerar também que a

carga genética pode ser decisiva ao desenvolvimento de determinada

habilidade, assim como, o estímulo oferecido.

12

• A inteligência espacial permite que as pessoas perceberam as imagens

externas e internas, recrie, transforme ou modifique as imagens,

movimente a si mesma e aos objetos através do espaço e produza ou

decodifique informações gráficas.

• A inteligência corporal - cinestésica está relacionada ao controle dos

movimentos corporais. Permite que as pessoas manipulem objetos e

sintonize habilidades físicas.

• A inteligência lógico – matemática, freqüentemente rotulada como

pensamento científico, possibilita o processo de resolução de problemas

rapidamente, além de quantificar, considerar proposições e hipóteses e

realizar operações matemáticas complexas.

• A inteligência lingüística consiste na capacidade de pensar com palavras

e de usar a linguagem para expressar e avaliar significados complexos.

Manifesta – se na forma criativa de utilizar as palavras.

• A inteligência musical é evidente em indivíduos que possuem uma

sensibilidade para a entonação, a melodia, o ritmo e o tom. A música

desempenha papel importante na vida dos indivíduos, além de oferecer

um sistema simbólico acessível e lúdico.

• As inteligências intrapessoal e interpessoal são consideradas inteligências

do eu, pois tratam de sentimentos e das reações subjetivas dos

indivíduos. A inteligência intrapessoal está relacionada com como nós nos

vemos, nosso modelo viável e efetivo de nós mesmos. Nos permite

compreender – nos, e a trabalhar conosco, tendo acesso ao sentimento

da própria vida, às emoções, à capacidade de discriminar tais emoções e

orientar o próprio comportamento.

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A inteligência interpessoal refere-se a capacidade de compreender

as outras pessoas e interagir efetivamente com elas, percebendo seus estados

de ânimo, seu temperamento. Ela vem da habilidade de compreender as

motivações e as expectativas dos demais.

• A inteligência naturalista, ainda sendo investigada por GARDNER, refere-

se à habilidade humana de reconhecer objetos da natureza, é a

capacidade de distinguir plantas, animais, rochas.

• A inteligência existencial será responsável pela necessidade do homem

fazer perguntas sobre si mesmo, sua origem e seu fim. Está ainda em

estudo, sendo considerada uma meia inteligência, por preencher apenas

quatro dos oito requisitos avaliados para assegurar a existência de uma

inteligência.

Como seres humanos, temos várias capacidades para resolver

diferentes tipos de problemas. Não irei abordar “inteligência” como uma

faculdade humana edificada. Irei percorrer o caminho da Teoria das Inteligências

Múltiplas, de Howard Gardner, acreditando que cada indivíduo é bem sucedido

em determinada competência, e que ninguém pode ser considerado incapaz ou

não inteligente.

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CAPÍTULO II

A SÍNDROME DE DOWN

O que vem a ser a Síndrome de Down? Quando há possibilidade

de nascer um portador da Síndrome de Down? Existe um culpado? É uma

doença hereditária? Existe cura para a Síndrome de Down? Há um meio de

evitar a Síndrome de Down? Estas e muitas outras perguntas surgem quando o

assunto é a Síndrome de Down.

A primeira descrição da Síndrome de Down foi citada há mais de

um século, por cientistas médicos, que buscavam suas causas. No início do

século XX, alguns médicos acreditavam que a malformação dos bebês com a

síndrome acontecia no início da gestação, por influência do meio ambiente

durante os dois primeiros meses de gravidez. Outros acreditavam que aspectos

genéticos eram responsáveis. Outros ainda, elaboraram relatórios sem

fundamentos, onde o alcoolismo e a tuberculose eram as principais causas.

Entre estas, muitas outras hipóteses falsas foram citadas.

Em 1866, John Langdon Down, publicou um trabalho onde

descreveu algumas das características da síndrome, que hoje leva o seu nome.

Down mencionou: “O cabelo não é preto, como é o cabelo de um verdadeiro

mongol, mas é de cor castanha, liso e escasso. O rosto é achatado e largo. Os

olhos posicionados em linha oblíqua. O nariz é pequeno. Estas crianças têm um

poder considerável para a imitação.” (PUESCHEL, 1990,p.52)

Os indivíduos com Síndrome de Down apresentam certos traços

típicos, como: cabelo liso e fino, olhos com linha ascendente e dobras da pele

nos cantos internos (semelhantes aos orientais), nariz pequeno e um pouco

"achatado", rosto redondo, orelhas pequenas, baixa estatura, pescoço curto e

grosso, flacidez muscular, mãos pequenas com dedos curtos, prega palmar

única.

15

Down contribuiu consideravelmente para a medicina da época, mas

como muitos outros cientistas, também foi influenciado pela teoria da evolução

de Darwin, e caracterizou a síndrome como um regresso a um tipo racial

primitivo, e ainda criou o termo “mongolismo”, e chamou a condição,

inadequadamente de “idiota mongolóide”.

Hoje sabemos que as implicações raciais são incorretas, e que a

terminologia para a síndrome deve ser definitivamente evitada. Chamar uma

criança com Síndrome de Down de mongolóide não é apenas uma atitude

degradante à criança, mas também uma descrição incorreta da pessoa, que

embora portadora de uma deficiência mental, é, antes de mais nada, um ser

humano capaz de aprender, participar e interagir bem em sociedade.

No início dos anos 30, alguns médicos suspeitaram que a

Síndrome de Down poderia ser resultado de um problema cromossômico. Mas

apenas em 1959, Lejeune relatou que a criança portadora da síndrome tinha um

pequeno cromossomo extra. Ele observou 47 cromossomos em cada célula, ao

invés de 46 esperados e, ao invés dos dois cromossomos 21 comuns, encontrou

três cromossomos 21 em cada célula, o que levou a terminologia de trissomia

21. Tratando-se de um acidente genético que pode acontecer com qualquer

casal, em qualquer idade.

O nome Síndrome de Down, é uma homenagem feita por

LEJEUNE ao médico inglês LANGDON DOWN, o primeiro a fazer uma

descrição física e clínica tão completa, que é válida até hoje.

E Síndrome, o que quer dizer? “Síndrome é o conjunto de sinais e

de sintomas que caracterizam um determinado quadro clínico”. (WERNECK,

1993)

16

Falando em Síndrome de Down, um dos sintomas é a deficiência

mental, em razão do excesso de material genético, provocado pela anomalia

cromossômica, várias reações químicas, essenciais ao bom desempenho dos

sistemas do organismo, não se fazem de forma apropriada. Normalmente o

cérebro dessas crianças é menor e tem menos células nervosas, devido à

presença do cromossomo extra em todas as células, inclusive nas cerebrais, o

que provavelmente interfere no desenvolvimento normal do sistema nervoso e

das funções químicas do cérebro.

São caracterizados três tipos de cariótipos em pessoas com

Síndrome de Down, ou seja, três tipos diferentes de arrumação cromossômica.

Os sintomas são os mesmos, mas as causas são diferentes: trissomia simples,

trissomia por translocação e mosaicismo.

A trissomia simples, também conhecida por trissomia livre, é

responsável por cerca de 96% dos registros da síndrome. (WERNECK, 1993)

Ela caracteriza-se pela clara formação dos dois cromossomos (da

mãe e do pai) formando o par 21 e o terceiro, o causador da síndrome. Neste

caso, os pais têm cariótipo normal, e a ciência ainda não conseguiu provar que

fatores podem interferir na multiplicação celular do embrião.

Muitas hipóteses são levantadas em busca das causas da

síndrome, e um deles é a idade materna, mas alguns estudos provam que não,

mas após os 35 anos, os riscos aumentam consideravelmente. Ao contrário do

que acontece com a mulher, as células reprodutoras do homem se renovam a

cada 72 horas, e portanto, não deveriam envelhecer. Alguns pesquisadores já

afirmam que a trissomia pode ser de origem paterna (PUESCHEL, 1990)

A trissomia por translocação é correspondente por 2% dos casos

da síndrome, e caracteriza-se pelo cromossomo adicional estar montado sobre

um cromossomo de outro par, e não pareado a ele (WERNECK, 1993)

17

Quando há comprovação da síndrome por translocação, é

necessário fazer também o cariograma, ou seja, um exame que analise o

material cromossômico dos pais. Metade dos casos de translocação são

herdados de um dos pais, a outra metade ocorre durante a formação da criança.

Nos 2% restantes dos portadores da Síndrome de Down ocorre o

fenômeno do mosaicismo. São indivíduos que, ao contrário dos demais casos

em que todas as células são trissômicas, possuem células normais (com 46

cromossomos) e também, células trissômicas (com 47 cromossomos).

(WERNECK,1993)

Ainda não se conhece a causa dessa alteração genética, sabe-se

que não existe responsabilidade do pai ou da mãe para que ela ocorra. Sabe-se

também que problemas ocorridos durante a gravidez como fortes emoções,

quedas, uso de medicamentos ou drogas não são causadores da Síndrome de

Down, pois esta já está presente logo na união do espermatozóide (célula do

pai) com o óvulo (célula da mãe).

O desejo de gerar um bebê saudável e perfeito é comum a todos

os casais. Além dos exames de rotina do pré-natal, existem outros mais

específicos que permitem aos médicos uma avaliação minuciosa da saúde da

criança. Isto não significa que todas essas técnicas forneçam, necessariamente,

um diagnóstico da síndrome ou de outras doenças congênitas.

Após o nascimento do bebê, alguns sinais importantes, designam o

diagnóstico da Síndrome de Down. Segundo Amaral ( 1996 ), são eles: a

ausência de reflexos involuntários, hipotonia (flacidez) muscular generalizada,

face achatada, fenda oblíqua nas pálpebras, orelhas pequenas e implantadas de

forma anômala, pele abundante no pescoço, prega palmar e plantar transversal

única e hiper-elasticidade articular.

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A maioria dos portadores da Síndrome de Down têm má formação

congênita cardiovascular e deficiência mental.

A deficiência mental é um sintoma da Síndrome de Down, onde o

funcionamento do cérebro é afetado pela presença de material genético extra, e

na maioria das vezes só pode ser notado a partir dos seis meses. Este déficit

pode ser avaliado de diversas formas, direta ou indiretamente, através da

observação da capacidade dessas pessoas resolverem situações novas e

inesperadas, além da habilidade de se adaptar e interagir socialmente. De

acordo com o grau de comprometimento do indivíduo, o retardo mental pode ser

classificado em leve, moderado, severo e profundo.

Acredita-se que crianças com Síndrome de Down têm o

desenvolvimento intelectual limitado, sendo que a maioria apresenta retardo

mental leve ou moderado. A mesma variação notada na população normal,

também é observada na Síndrome de Down. Há crianças com Síndrome de

Down que, apesar de terem um desenvolvimento lento, não têm retardo mental.

Ao observar com atenção esta criança, veremos que seu

desenvolvimento é bem mais lento que o do bebê normal; porém, apesar de

mais dependente, este bebê estará, também, trilhando no seu dia-a-dia, ainda

que bem mais devagar que uma criança com desenvolvimento normal, as

diversas fases e etapas do seu desenvolvimento.

Devido ao amadurecimento constante do seu Sistema Nervoso

Central, esta criança se desenvolverá diariamente e, mesmo que este caminhar

seja bem mais vagaroso, evoluirá patentemente em inteligência e habilidades

até a idade adulta. Apesar de o desenvolvimento lento ser comum em todas as

crianças Down, existem diferenças marcantes entre elas: cada uma terá suas

graças, seu jeito de ser, de brincar, de se comunicar e também o seu tempo de

aprendizado, ficando a nosso encargo perceber a hora e a forma mais carinhosa

de nos aproximarmos dela.

Atualmente, mais e mais crianças com Síndrome de Down estão

envolvidas com programas de estimulação precoce, recebem educação e

treinamento vocacional apropriados, além de um excelente cuidado médico. Por

19

tudo isso, elas têm um desenvolvimento intelectual melhor estimulado e

questionador do que as nascidas há décadas.

O cérebro funciona como um todo e sempre que estivermos

estimulando uma área específica afetaremos toda a função cerebral; daí a

grande importância da estimulação de uma criança portadora da síndrome.

A estimulação, quando feita com estas crianças, deve ter início o mais cedo

possível.

Os pais e educadores devem ficar muito atentos para as diversas

propostas de estimulação aos portadores da Síndrome de Down. Ser estimulada

precocemente é fundamental para o desempenho futuro da criança, tenha ela ou

não Síndrome de Down. De nada adianta um estímulo feito sem prazer, sem

envolvimento.

Alguns profissionais especializados, com fisioterapeutas,

fonoaudiólogos, psicomotricistas e terapeutas ocupacionais, atuam como

facilitadores e mediadores de variadas reações corporais e cognitivas

apresentadas pelas crianças, colaborando ainda mais para seu

desenvolvimento.

Entretanto, o mais importante é não rotular a criança, respeitando

seus limites e valorizando suas capacidades. É preciso reconhecer que a

deficiência tem uma influência dupla no desenvolvimento: se, por um lado cria

obstáculos e dificuldades, por outro serve de estímulo para o aparecimento de

canais de compensação que podem levar da deficiência à constituição de uma

nova ordem.

Não seria uma outra forma de olharmos a singularidade de cada

um de nossos alunos?

Bem, este é um assunto amplo, que de forma curiosa nos faz

percorrer variados trajetos e refletir sobre nossas ações, e o único risco que

corremos é o de não querer sair do local de partida, e não sentir o prazer de ser

desafiado e de nos surpreendermos com as descobertas fascinantes.

20

No próximo capítulo, veremos uma proposta desafiadora, uma

abordagem educacional acerca das colaborações que a Teoria das Inteligências

Múltiplas podem oferecer aos portadores da Síndrome de Down.

21

CAPÍTULO III

AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E A SÍNDROME DE

DOWN

“Obtém-se interesse, exatamente, não se pensando e não se buscando conscientemente consegui-lo; mas, ao invés disto, promovendo as condições que o produzem. Se descobrirmos as necessidades e as forças vivas da criança, e se lhe pudermos dar um ambiente constituído de materiais, aparelhos e recursos – físicos, sociais e intelectuais - para dirigir a operação adequada daqueles impulsos e forças, não temos que pensar em interesse. Ele surgirá naturalmente. Porque então a mente se encontra com aquilo de que carece para vir a ser o que deve.” ( J. DEWEY)

Neste capítulo, será abordado a utilização das Inteligências

Múltiplas no estímulo ao desenvolvimento intelectual dos portadores da

Síndrome de Down.

Todas as definições de inteligência são moldadas pela época, lugar

e cultura em que elas evoluem. Embora essas definições possam diferir entre as

sociedades, acredita-se que a dinâmica por trás delas é influenciada pelos

domínios de conhecimento e valores necessários para a sobrevivência da

cultura e pelo sistema educacional que instrui e estimula as várias competências

do indivíduo.

A preocupação inicial era com a socialização das crianças com

a síndrome, mas percebe-se surpreendentemente a forma saudável com que

as mesmas estão sendo inseridas no contexto social.

Antigamente os pais procuravam esconder seus filhos tentando

protegê-los dos “curiosos”, agora estão em busca de experiências, de materiais

22

que possam de alguma forma colaborar para o esclarecimento de quaisquer

dúvidas.

As escolas, de um modo geral, ainda não estão preparadas para

recepcionar crianças portadoras de necessidades especiais. É preciso preparar

a escola para incluir nela o aluno especial, e não o contrário. E tal afirmativa é

feita no sentido do preparo dos profissionais envolvidos, que devem estar

sensibilizados em desenvolver um papel ativo e dispostos a se capacitarem cada

vez mais, e na formação da estrutura física e arquitetônica da Instituição.

E, estudando sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas, e seu

grande valor pedagógico, achei oportuno aliá-las de forma esclarecedora

colaborando para o desenvolvimento dos portadores da Síndrome de Down.

Segundo Gardner (1993), dentro da visão das Inteligências

Múltiplas, uma criança com sérios problemas de aprendizagem na leitura pode

estar num estágio típico de desenvolvimento do pensamento matemático,

musical ou interpessoal. Com o reconhecimento da existência de múltiplas

inteligências, é possível expandir o atendimento a alunos com Síndrome de

Down, tradicionalmente ignorados pelo sistema, seja porque necessitam de

currículos mais avançados, seja porque a desaceleração em determinadas áreas

é a única opção justa.

Tal colaboração percorre desde o desenvolvimento motor amplo e

fino, até ao desenvolvimento cognitivo.

Quando se fala em Síndrome de Down, fala-se em diminuição da

inteligência ao nascer, fala-se em deficiência mental, situação conceituada pela

Associação Americana de Desenvolvimento como “a condição na qual o cérebro

está impedido de atingir um desenvolvimento adequado, dificultando a

aprendizagem do indivíduo, privando-o de seu ajustamento social.” (UNICEF,

1997,S\P)

23

Para fins educacionais, esses indivíduos são considerados

treináveis, e não educáveis o que os limita as oportunidades de aprendizagem.

Mas esta é uma classificação bastante antiga, de uma época onde os portadores

da Síndrome de Down eram institucionalizadas e não tinham oportunidade de

receber estimulação capaz de favorecer seu desenvolvimento neuro-psico-

motor. Não eram submetidas a um trabalho escolar e acreditava-se que eram

totalmente desprovidos de inteligência.

Atualmente, através de muito trabalho e da luta de vários

educadores, pode-se ver portadores da Síndrome de Down atuando em níveis

muito mais elevados do que se acreditava anteriormente. Segundo Werneck,

(1993), não precisamos nos preocupar com rótulos, mas sim com o potencial de

cada um, procurando atendê-los de acordo com suas dificuldades, sempre

criando formas de realização educacional e profissional ao nível da capacidade

e possibilidade de cada um.

Se as habilidades intelectuais do aluno portador da Síndrome de

Down foram subestimadas no passado, estudos recentes indicam que muitas

destas crianças apresentam apenas deficiência mental leve e surpreendem com

a evolução de seu desenvolvimento.

Como Psicopedagogos, não devemos nos conformar em avaliar

habilidades, destrezas, conhecimentos que a criança tenha, ou em que medida

os terá. Precisamos nos fixar na evolução dos processos e não só nos produtos

ou resultados.

A educação da criança com Síndrome de Down intervém tanto na

família, na escola, como na sociedade e uma atividade que deve começar a

partir do nascimento, com uma estimulação capaz de integrá-la

progressivamente ao meio ambiente e à vida social.

24

A criança com Síndrome de Down tem boa memória e dificilmente

esquece o que aprende bem. Desenvolve mais rapidamente a memória visual do

que a auditiva, já que geralmente terá mais estímulos da primeira. Para estimular

a memória, o material utilizado deve ser graduado por ordem de dificuldade,

possibilitando a aprendizagem progressiva e facilitando o desenvolvimento da

memória seqüencial, auditiva, visual e tátil. A grande maioria delas consegue

manejar a abstração de alguns conceitos perceptivos (forma, cor, tamanho,

posição) para aplicá-los numa representação simbólica, chegando à

aprendizagem de símbolos gráficos como números e letras. Já que costumam

ser muito dispersivos, precisam de estímulos pedagógicos adequados, para

dominarem os conceitos de semelhança e diferença, meio pelo qual poderão

discriminar forma, cor, posição, estabelecendo igualdades e contrastes.

A atenção e memória visual constituem a capacidade de reter

informações recebidas pela visão. Como a criança Down tem dificuldades

relacionadas a essa habilidade, há necessidade de exercícios para que guarde,

lembre e reconheça mais prontamente o que já foi visto.

Para o estímulo da “atenção auditiva” podemos usar jogos, pois

essas atividades melhoram a concentração no som repetido. Junto ao trabalho

de esquema corporal, deve ser introduzido o ritmo de uma forma bem atraente, o

que auxiliará a memória e a atenção da criança. Pode-se, por exemplo, variar o

ritmo, usando batidas fortes e fracas, rápidas e lentas no tambor, para que a

criança marche devagar ou depressa; com outro tambor, ela pode, ainda, imitar

o ritmo das batidas.

As canções infantis, por sua simplicidade, devem ser usadas, em

andamento lento, com as palavras bem articuladas, para que sejam bem

compreendidas. Este tipo de música geralmente atrai as crianças, estimulando a

sua atenção e sua discriminação auditiva.

Devemos lembrar que é o nosso corpo, nas suas “relações com o

espaço” e com os objetos, que vai proporcionar as condições para o

aprendizado da leitura e da escrita

25

O aluno portador da Síndrome de Down tem capacidade para

aprender, dependendo da estimulação recebida. O desenvolvimento afetivo-

emocional também adquire papel importante na área da aprendizagem, onde é

fundamental a atuação do Psicopedagogo.

Quando voltamos a nossa atenção para um ambiente específico

como a escola, surge a pergunta de qual seria a melhor maneira de ajudar os

alunos com Síndrome de Down a se adaptarem e dominarem tal ambiente.

Seria preciso um esforço para considerar as condições específicas

do ambiente, variando da organização física às exigências das disciplinas

específicas. Deve-se também considerar as habilidades específicas que os

alunos trazem para as tarefas e o ambiente geral da escola, assim como os

meios pedagógicos para ajudar os alunos a desenvolverem ou alterarem suas

atuais capacidades e atitudes, para que estas sejam mais adequadas às

exigências do contexto escolar. Também será necessária a criação de uma série

de medidas que possa indicar a maneira pela qual serão atingidos os objetivos,

o estudo do perfil da clientela, capacitação de professores acerca das fontes e

da natureza das áreas do problema, planejamento de currículos ricos e

atraentes para adequar-se a todos e elaboração de esquemas adequados para

a avaliação.

Será uma pedagogia inspirada no conceito de Inteligências

Múltiplas que passa a perceber o aluno de forma mais integral e vai explorar

suas potencialidades nas várias áreas cognitivas, levando a um maior respeito

pelas diferenças pessoais.

Gardner(1992) propõe uma escola caracterizada por opções

múltiplas. Tal escola, baseada numa visão pluralista de inteligência, reconhecerá

toda a gama de capacidades e estilos individuais e oferecerá oportunidades para

o desenvolvimento pleno das diferentes áreas do saber.

Uma especial importância será dada ao desenvolvimento cognitivo

da etapa pré-operacional, apoiada nos estudos de Piaget (1899), trabalhando as

operações pré-lógicas de classificação e seriação para iniciá-los na noção de

número, onde as habilidades da inteligência lógico –matemática, da inteligência

26

espacial e ainda a inteligência corporal - cinestésica estarão sendo estimuladas

através de atividades concretas, iniciadas com o próprio corpo da criança.

Ações como empurrar, tirar, pesar, fazem com que a criança

conheça as propriedades do objeto, assim como as associações lógicas de

juntar, ordenar, corresponder, seriar, contribuem para que ela conheça as

diversas formas de manipular o objeto. A partir deste nível, as unidades de

trabalho vão se desenvolvendo com maior complexidade.

Os conceitos de tempo e espaço cotidianamente trabalhados vão

tomando por base as próprias crianças e a relação com o mundo que as rodeia.

Paralelamente, nessa fase em que já vão adquirindo o sentido de

responsabilidade, dá-se especial atenção à sociabilização. As tarefas escolares

passam a adquirir importância para as crianças, que começam a desenvolver

preferências sociais e a interação com os colegas traz uma experiência positiva.

Nessa construção do contato com o outro, as inteligências intrapessoal e

interpessoal estão sendo evidenciadas, partindo de experiências e atividades

coletivas e individuais, onde os alunos fortalecem sua auto-estima e identificam-

se com os demais participantes do grupo, portadores ou não da Síndrome de

Down. A competência começa a adquirir grande importância, e o esforço da

criança dependerá de seu grau de desenvolvimento e motivação para realizar as

atividades, estímulo que também deve vir de casa.

O equilíbrio e o ritmo serão trabalhados em relação à expressão

corporal da criança. Sua lateralidade e direcionalidade se desenvolvem por meio

de diferenças e semelhanças, onde a utilização da música exercerá grande

importância.

A inteligência musical está articulada com as demais inteligências,

e sugere atividades como construir e tocar instrumentos, cantar e tocar em

conjunto, oferecendo à criança desafios constantes, que a estimule a apreciar

sons cotidianos, além de poder expressar-se cinestesicamente, através de

gestos e da dança.

A inteligência lingüística dos indivíduos está involuntariamente

sendo estimulada desde o nascimento, através da fala, de histórias e diversas

27

outras formas. Mas a alfabetização é apenas o resultado de um amadurecimento

que se dá de dentro para fora, ou seja, uma criança só consegue aprender a ler

e a escrever quando ultrapassa etapas importantes de seu desenvolvimento

psíquico, físico e motor.

A educação deve ser centrada na criança, favorecendo ao máximo

as potencialidades de cada um, que demonstrará através de seu

desenvolvimento as habilidades que melhor domina, e que de fato será diferente

entre os demais indivíduos.

As crianças especiais exigem um pouco mais dos profissionais da

Educação, mas a idéia não é normalizar o deficiente, e sim dar a ele a

possibilidade do convívio e aprendizado.

Os pais que procuram por uma escola regular devem ser

informados sobre o projeto pedagógico. É importante que saibam que seus filhos

terão amigos diferentes e que ninguém é coitadinho, o tratamento é de igual

para igual. A recomendação de toda escola, porém, é a de que crianças

portadoras de necessidades especiais recebam acompanhamento extra-classe

de profissionais especializados, como Psicopedagogos e fonoaudiólogos, caso a

mesma não possa oferecer.

Os professores, administradores, psicopedagogos, pesquisadores

devem unir forças para implementar este novo projeto educacional, tendo como

meta principal a integração de portadores da Síndrome de Down em classes

regulares desde a Educação Infantil.

Os portadores da Síndrome de Down serão encorajados a

desenvolverem suas competências nos vários domínios, através de um currículo

multidisciplinar, elaborado por educadores dispostos a desafiarem a educação já

formalizada.

Nas inteligências em que o aluno se destaca, deverá continuar a

ser estimulado mais e mais. Nas que demonstrar pouca habilidade, deverá ser

estimulado de forma criativa e curiosa, onde a atuação do lúdico será

fundamental.

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A ênfase dada por Vygotsky (1991), aos processos interativos de

aprendizagem leva-nos a refletir sobre a forma como as práticas institucionais

são estruturadas, colaborando para a prática da Teoria das Inteligências, e

analisando a relação entre aprendizado e desenvolvimento, ela colabora e

impulsiona, fazendo emergir funções que estão em processo de

amadurecimento (nível de desenvolvimento potencial), expresso pela solução de

problemas pela criança, sob a orientação de um adulto ou de outro companheiro

mais experiente.

As práticas do ensino especial e do ensino regular devem ser

pensadas conjuntamente; envolvendo alunos, pais, professores, diretores e

profissionais como o psicopedagogo, enfim, todos aqueles que compartilham

daquele espaço social. Assim, a inclusão do aluno pode ser compreendida de

forma ampla, num questionamento às práticas desenvolvidas pela escola, que

acreditamos podem ser também transformadoras da realidade que vivemos.

Educar pela inteligência significa que o esforço pedagógico da

escola não visa à memorização ou à criação de hábitos, mas à estimulação da

curiosidade, da invenção, da descoberta, levando a criança, desde a tenra

idade, a adquirir iniciativa e progressiva autonomia.

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CONCLUSÃO

“Um sonho que se sonha só,

é só um sonho que se sonha só.

Um sonho que se sonha junto,

é a realidade.” R. SEIXAS

Este ensaio começou com o desejo de compreender mais sobre a

Teoria das Inteligências Múltiplas, no desenvolvimento cognitivo humano, e

evoluiu, ganhando dimensões que colaboram para o novo conceito de

inteligência que requer estruturas e instituições sociais que possibilitem o

desenvolvimento de crianças tidas como normais e as portadoras da Síndrome

de Down.

A linha de trabalho apresentado constrói-se no interior desta

proposta. Define-se como uma constante busca de entendimento do processo

de desenvolvimento global do indivíduo, mesmo caracterizado como diferente,

dentro de uma instituição regular de ensino, privilegiando suas habilidades e

capacidades, valorizando suas criações e transformações. E ainda, oferecendo

aos profissionais em Educação, a possibilidade de desafiar e ser desafiado

constantemente, abordando de forma alternativa os componentes já

padronizados no sistema educacional.

É tarefa difícil satisfazer a todas essas necessidades e aspirações.

Entretanto, se nós buscamos uma Educação justa para os indivíduos, e ao

mesmo tempo enriquecedoras para nós, psicopedagogos, precisamos

desenvolver práticas efetivas para indivíduos com diferentes perfis individuais.

Espera-se que a idéia das Inteligências Múltiplas se torne parte da

formação de professores. Embora a existência de diferenças entre alunos (e

entre professores!) seja aparentemente aceita, tem havido poucas tentativas

sistemáticas de elaborar as implicações educacionais dessas diferenças. Se a

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sensibilidade às diferentes inteligências ou estilos de aprendizagem se tornar

parte dos “modelos mentais” construídos pelos novos professores, a próxima

geração de professores provavelmente será muito mais capaz de atingir cada

aluno de maneira mais direta e afetiva.

Para compreender o assunto em questão, basta estar livre de

preconceitos e de idéias prontas. É preciso ser crítico, criativo, questionador e

curioso. Ser capaz de trocar experiências e ansiedades, ser ouvinte e ser

ouvido. É preciso estar vivo, e estar vivo é estar em conflito permanente,

produzindo dúvidas, certezas e indagações.

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BIBLIOGRAFIA

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