universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu … · 2 universidade candido mendes...

41
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DA GESTÃO DE PESSOAS NA CONSTRUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL Autora: Sabrina Kauati Salgado Orientador: Marcelo Saldanha da Gama Rio de Janeiro 2007

Upload: trannhan

Post on 17-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DA GESTÃO DE PESSOAS NA CONSTRUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

Autora: Sabrina Kauati Salgado Orientador: Marcelo Saldanha da Gama

Rio de Janeiro

2007

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DA GESTÃO DE PESSOAS NA CONSTRUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

Monografia apresentada à Universidade Cândido

Mendes, como exigência parcial para a

conclusão do curso de Pós-Graduação de

Gestão de Recursos Humanos.

Rio de Janeiro 2007

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

3

AGRADECIMENTOS

Aos mestres, minha família e amigos da turma de

Gestão de Pessoas que, direta ou indiretamente,

me ajudaram na realização deste trabalho.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

4

DEDICATÓRIA

Dedico esta obra ao meu pai, minha mãe e irmã

que me apóiam em todos os momentos da vida.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

5

RESUMO

As empresas enfrentam, crescentemente, novos desafios impostos pelas

exigências dos consumidores, pela pressão de grupos da sociedade organizada e

por legislações e regras comerciais que demandam, por exemplo, proteção

ambiental, o cumprimento de normas éticas e etc.

No contexto atual das organizações, a questão da responsabilidade social

está sendo amplamente discutida pelo meio acadêmico, organizações não

governamentais, poder público e empresas. E o grande desafio do gestor de RH,

nas organizações, é desenvolver políticas de gestão que tenham como foco o

desenvolvimento do ser humano como pessoa, profissional e cidadão.

Assim sendo, o presente trabalho objetivou investigar o papel da Gestão de

Pessoas na construção da Responsabilidade Social e identificar qual o

posicionamento destes profissionais diante desta nova lógica

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização desta monografia foi a

observação do tema nas empresas nas quais trabalhei, minha experiência

profissional, pesquisas bibliográficas e coleta de informações em livros, revistas,

teses e sites da Internet.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................................8

CAPÍTULO I – GESTÃO DE PESSOAS .....................................................................10

1.1. Conceito de Gestão de Pessoas ................................................................10 1.2. Histórico da Gestão de Pessoas ................................................................12 1.3. Papel do Gestor de RH ...............................................................................14 1.4. Desafios para os Gestores de RH ..............................................................15

CAPÍTULO II – RESPONSABILIDADE SOCIAL ........................................................19

2.1. Conceito de Responsabilidade Social ........................................................19 2.2. Histórico da Responsabilidade Social ........................................................24 2.3. Indicadores Usados para Medir Responsabilidade Social .........................27

CAPÍTULO III - A GESTÃO DE PESSOAS NA CONSTRUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL .........................................................33 CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................38 BIBIOGRAFIA ..............................................................................................................41

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

8

INTRODUÇÃO

No contexto atual das organizações, a questão da responsabilidade social

está sendo amplamente discutida pelo meio acadêmico, organizações não

governamentais, poder público e empresas. A literatura especializada vem

procurando abordar essa nova tendência. Os estudos geralmente se direcionam a

investigar as razões que levam as organizações a desenvolverem ações

socialmente responsáveis visando seus diversos públicos: interno, comunidade,

clientes, fornecedores e acionistas.

Cada vez mais, as empresas enfrentam, crescentemente, novos desafios

impostos pelas exigências dos consumidores, pela pressão de grupos da

sociedade organizada e por legislações e regras comerciais que demandam, por

exemplo, proteção ambiental, o cumprimento de normas éticas e etc. Assim, as

instituições são impulsionadas a adotar novas posturas diante de questões ligadas

à ética e à qualidade da relação empresas-sociedade. Estas questões vêm

influenciando, e em muitos casos impondo, mudanças nas dinâmicas de mercado

e no padrão de concorrência e de competitividade, a exemplo das preocupações

ligadas ao meio ambiente.

O desafio do gestor de RH nas organizações é desenvolver políticas de

gestão que tenham como foco o desenvolvimento do ser humano como pessoa,

profissional e cidadão, visando assim sua melhor qualidade de vida. Desta forma,

sua inserção tem um caráter estratégico para a organização, na medida que deve

ter uma visão sistêmica da mesma, considerando não somente o corpo funcional,

mas todas as relações que a empresa estabelece com a sociedade,

consumidores, fornecedores e acionistas.

Assim sendo, o presente trabalho tem como objetivo investigar o papel dos

gestores de recursos humanos, tendo como pano de fundo a responsabilidade

social. Identificar qual o posicionamento destes profissionais diante desta nova

lógica e como poderão contribuir para o aprimoramento da gestão da

responsabilidade social nas empresas.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

9

Aprofundando um pouco mais a importância deste estudo, deve-se salientar

que o comportamento socialmente responsável por parte das empresas não

representa apenas um fortalecimento da imagem da empresa perante os

acionistas e os consumidores, mas também um diferencial relevante na retenção

e contratação de novos talentos, além de outros fatores que serão abordados ao

longo deste trabalho.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

10

CAPÍTULO I

GESTÃO DE PESSOAS

1.1- Conceito de Gestão de Pessoas

Finalmente, as pessoas estão sendo valorizadas por seus conhecimentos e

habilidades e reconhecidas como elementos essenciais nas organizações, e por

outro lado, as pessoas começam a reconhecer a organização como o lugar onde

elas podem atingir seus objetivos profissionais e também, os pessoais. Segundo

Chiavenato (1999:5), “Sem organizações e sem pessoas certamente não haveria

Gestão de Pessoas”.

Na concepção da Gestão de Pessoas, as pessoas que trabalham nas

organizações são vistas como verdadeiros parceiros do negócio. Acionistas,

investidores, empregados, clientes e fornecedores, todos atuam de

conjuntamente, contribuindo com algum recurso na expectativa de obter um

retorno justo pela sua contribuição e a organização por sua vez, consegue, desta

forma, todos os recursos necessários para alcançar seus resultados.

“A Gestão de Pessoas se baseia em três aspectos fundamentais, a saber:

as pessoas como seres humanos, as pessoas como ativadores inteligentes de

recursos organizacionais e ainda, como parceiros da organização” (Chiavenato,

1999:7). A falta de capital foi, por muitos anos, vista como o principal obstáculo ao

desenvolvimento das empresas. Entretanto, acredita-se hoje que o principal

determinante para a empresa chegar ao resultado desejado está diretamente

relacionado a sua competência em recrutar e manter a força de trabalho.

As organizações bem sucedidas estão percebendo que somente podem

crescer e manter sua continuidade se forem capazes de otimizar o retorno sobre

os investimentos de todos os parceiros, principalmente dos funcionários da

empresa. Quando uma organização está voltada para as pessoas, a sua filosofia

e a sua cultura refletem essa crença.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

11

Sendo assim, conclui-se que o conceito básico da Gestão de Pessoas é

administrar com as pessoas e não mais as pessoas, de forma que elas façam dos

objetivos e metas da empresa, o seus também. Empresários e colaboradores em

busca de um mesmo resultado que após alcançado reflete em ganhos para ambas

as partes.

O objetivo central da Gestão de Pessoas é proporcionar meios que

possibilitem à empresa atingir os resultados esperados, com eficácia a partir da

atuação eficaz das pessoas que nela trabalham.

Então, o profissional desta área deve ser o responsável por alocar as

pessoas certas no lugar certo centro das empresas, mantê-las e ajustá-las da

maneira mais adequada às necessidades da organização para atingir os objetivos

e metas traçados. E tudo isso sem deixar de atender as necessidades de

satisfação e auto-realização dos colaboradores.

As atividades de Gestão de Pessoas são basicamente as mesmas nestes

últimos 30 anos, tais como: recrutamento e seleção, segurança no trabalho,

análise e descrição de cargos, etc. Assim como a antiga Administração de

Recursos Humanos refere-se às políticas e práticas necessárias para administrar

o trabalho das pessoas.

Na nova visão, utiliza-se dessas atividades para levantar e manter os

colaboradores dentro da empresa, conscientes e comprometidos com as metas

estabelecidas, bem como com a visão e missão do negócio, dentro de uma

abordagem sistêmica contrária à antiga departamentalização, numa organização

em rede, onde as equipes estão voltadas para processos.

Atualmente, a empresa deve ser vista como um todo e os objetivos não

devem mais ser atingidos por cada departamento isoladamente. Ou seja, todas as

áreas, inclusive Gestão de Pessoas, devem estar interligadas e focadas num

mesmo objetivo que é, na realidade o objetivo da organização. Cada vez mais

exige-se que a organização mantenha seu foco nos processos e não nas tarefas.

De acordo com Chiavenato “os seis processos básicos da Gestão de

Pessoas são os seguintes: agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, manter e

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

12

monitorar pessoas” (1999:12). Estes processos se inter-relacionam e se

influenciam mutuamente e quando ocorre alguma falha, esta irá refletir no

processo seguinte, além do que, eles são desenvolvidos de acordos com o que

exige as influências externas (ambiente) e internas (organização). Isto reafirma

que nenhum desses processos pode ser desenvolvido ou aplicado isoladamente.

1.2 – Histórico da Gestão de Pessoas

A evolução do Departamento Pessoal em RH Estratégico é apresentado

abaixo, resumidamente, através dos principais pontos deste desenvolvimento,

abordando-o em suas quatro fases.

⇒ Fase 1 - Gestão de Pessoas como Departamento Pessoal

As atividades de pessoal eram executadas por um contador (isto ainda

ocorre em micros e pequenas empresas) e se resumiam à admissão, ao

pagamento e à demissão. As leis não existiam e predominava o poder do

empregador. Com o tempo, passou-se a exigir dos empregados algumas

referências de trabalhos anteriores, alguma documentação, alguma habilitação.

No "Estudo de Tempos e Movimentos", de F.W. Taylor (1856-1915) que

analisava os movimentos e o tempo que os empregados levavam para realizar

suas tarefas, baseado apenas no rendimento, o qual tornou desumano o trabalho,

mecanizando o homem, fez com que tivesse o mérito de indicar o caminho do

desenvolvimento da área de Recursos Humanos.

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

13

⇒ Fase 2 - Gestão de Pessoas como Gestão do Comportamento Humano

No Brasil, ela data de 1930, quando surgiram as primeiras leis trabalhistas.

A partir desta fase, passa a existir a figura do "Chefe de Pessoal". Dele esperava-

se o conhecimento da legislação trabalhista, pois mantinha atualizados os

registros, os quadros e as relações exigidas por lei, visando evitar problemas para

o empregador. Nesta época, achava-se que o homem ideal para a área de RH era

o bacharel em Direito. Nos anos de 60 e 70, predominou a escola de relações

humanas, onde reconheceu a importância de levar o gerente de linha a exercer

adequadamente seu papel constituindo a principal preocupação, da então, área de

Recursos Humanos.

⇒ Fase 3 - Modelo Estratégico de Gestão de Pessoas

Nas décadas de 70 e 80, o foco do RH passou a ser o caráter estratégico.

Os planos estratégicos dos vários processos de gestão de Recursos Humanos

seriam derivados das estratégias corporativas da empresa. A principal

responsabilidade da Gestão de Recursos Humanos era integrar suas áreas entre

si e com a estratégia corporativa da empresa.

⇒ Fase 4 - Gestão de Pessoas como Vantagem Competitiva

A partir de então, a área de RH passa a fazer referência à questão da

competitividade e da agregação de valor para o negócio e os clientes. Segundo

Porter (1989), a gerência de Recursos Humanos afeta a vantagem competitiva em

qualquer empresa, chegando em algumas indústrias a ser a chave para a

vantagem competitiva.

Podemos perceber que os quatro modelos ainda se apresentam nos dias

atuais, levando em consideração a diversificação dos ramos das atividades das

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

14

empresas, seu poderio econômico, atividades fins e setores nas quais estão

inseridas. Portanto, o profissional de DP passa a ter um papel secundário nas

grandes empresas que passam a administrar o RH como estratégico. Contudo,

nas micros e pequenas empresas, o DP ainda possui papel de fundamental

importância, pois continua sendo o "RH".

1.3 - Papel do Gestor de RH

Segundo Ulrich (2000) para criar valor e obter resultados os profissionais de

RH precisam começar não pelo foco nas atividades, mas pela definição das

metas, as quais garantem os resultados de seu trabalho. Com as metas definidas,

podem-se estimular os papéis dos gestores de RH. Os profissionais precisam

aprender a ser ao mesmo tempo estratégicos e operacionais, concentrando-se no

longo e no curto prazo. As atividades se estendem da administração de processos

(ferramentas e sistemas de RH) à administração de pessoal. Esses dois eixos

delineiam quatro papéis principais de RH: administração de estratégias de

recursos humanos; administração da infra-estrutura da empresa; administração da

transformação e da mudança.

Para compreender estes papéis devem ser considerados os seguintes

pontos: os resultados a serem atingidos desempenhando cada papel, a metáfora

característica ou imagem visual que acompanha cada papel e as atividades que

os profissionais de RH deve executar para desempenhar cada papel.

Ulrich (2000) salienta que na administração estratégica de recursos

humanos deve-se ajustar as estratégias e práticas de RH à estratégia empresarial.

Ao desempenhar este papel o profissional de RH torna-se um parceiro estratégico,

ajudando a garantir o sucesso e a aumentar a capacidade de suas empresas

atingir seus objetivos. Sobre o enfoque da infra-estrutura organizacional cabe

salientar que este tem sido um papel tradicional de RH. Isso exige que os

profissionais concebam e desenvolvam processos eficientes para contratar,

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

15

treinar, avaliar, premiar, promover e, além disso, gerir o fluxo de funcionários na

organização. Como “zeladores da infra-estrutura”, eles asseguram que esses

processos organizacionais sejam concebidos e desenvolvidos com eficiência.

Embora esse papel tenha sido minimizado e até repudiado com a passagem para

um foco estratégico, sua realização bem sucedida continua a adicionar valor para

a empresa.

Na administração da contribuição dos funcionários (Defensor dos

Funcionários) Ulrich (2000), os profissionais de RH se envolvem nos problemas,

preocupações e necessidades cotidianas dos empregados. Como ativos

defensores dos funcionários que compreendam suas necessidades e garantam

que elas sejam atendidas. Segundo o autor, através deste papel, os profissionais

de RH podem adicionar valor a uma empresa e gerir a transformação e a

mudança. Transformação acarreta modificações na cultura; os profissionais de RH

que administram a transformação tornam-se guardiões e catalisadores culturais.

Mudança refere-se à capacidade de uma organização de melhorar a concepção e

a implementação de iniciativas e de reduzir o tempo de ciclo de todas as

atividades organizacionais; os profissionais de RH ajudam a identificar e

implementar os processos para mudança. Neste processo os profissionais atuam

como parceiros empresariais por ajudarem os funcionários a se livrarem da antiga

cultura e se adaptarem a uma nova. Como agentes da mudança, os executivos de

RH ajudam as organizações identificarem um processo para administrar a

mudança.

1.4 - Desafios para os Gestores de RH

Gil (2000) classifica os desafios enfrentados pelos gestores de recursos em

ambientais, organizacionais e individuais. Os desafios ambientais são forças

externas às organizações que influenciam seu desempenho. No tange aos

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

16

desafios ambientais, merece destaque no contexto deste trabalho o desafio da

responsabilidade social.

Segundo Gil (2000), a essência do capitalismo é o lucro. Ainda existe um

tendência em acreditar que a responsabilidade da empresa consista

exclusivamente em maximizar o lucro de seus acionistas. Verifica-se, no entanto,

um forte movimento no sentido de admitir que as empresas devem assumir

valores éticos, respeitar seus funcionários, proteger o meio ambiente e

comprometer-se com as comunidades. Funcionários, comunidade e clientes estão

sendo vistos como uma nova espécie de sócios do negócio, prontos para

compartilhar resultados. O autor ainda salienta que responsabilidade social passa

a fazer parte da agenda das empresas que desejam sobreviver.

Quanto aos desafios organizacionais, Gil (2000) salienta que decorrem de

problemas internos das organizações. Eles podem ser considerados subprodutos

das forças ambientais, pois nenhuma empresa opera no vácuo. Estão

relacionados aos avanços tecnológicos, competitividade, downsizing, auto-

gerenciamento de equipes, cultura organizacional dentre outros.

Quanto aos desafios individuais, Gil (2000) coloca que encontram-se

relacionados as posturas adotadas pelas empresas em relação aos empregados.

Estão diretamente relacionados aos desafios organizacionais, constituindo, muitas

vezes, reflexos do que ocorre com a empresa inteira. A maneira como a empresa

trata seus empregados pode afetar o impacto dos desafios organizacionais.

Segundo o autor, os desafios individuais são importantes para que uma empresa

possa identificar seu estágio de gestão de pessoas. Os mais evidentes são

identificação dos funcionários com a empresa, ética, produtividade, segurança no

emprego, empowerment, qualidade de vida e evasão de talentos.

Estes desafios estão intimamente relacionados a responsabilidade social

empresarial, principalmente, a ética e a qualidade de vida. A conduta ética refere-

se ao comportamento das empresas perante seus fornecedores, consumidores,

concorrentes e empregados. Segundo o autor, fala-se não apenas em qualidade

no trabalho, mas também em qualidade de vida dos empregados. Isso significa

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

17

que os empregados precisam ser felizes. Para que sejam produtivos, devem sentir

que o trabalho que executam é adequado as suas habilidades e que são tratados

como pessoas. Não se pode esquecer que parte significativa da vida das pessoas

é dedicada ao trabalho e que para muitos o trabalho constitui-se a maior fonte de

identificação pessoal.

Bartlett & Ghoshal (2000) salientam que os gestores devem trabalhar o

propósito da organização. Isso significa criar uma organização com a qual seus

integrantes podem se identificar, na qual compartilham um sentimento de orgulho

e com a qual estão dispostos a se comprometer. Neste sentido, amplia-se a

atuação do gestor de RH que deve atuar no sentido de capturar a atenção e o

interesse dos funcionários, envolver a organização, construir valores essenciais e

transmitir a mensagem comprometendo as pessoas com os objetivos

organizacionais. No entanto, deve-se considerar que este é um caminho de mão

dupla, na qual os gestores devem reconhecer a contribuição dos funcionários e os

tratar como ativos valiosos. Isto pode ser realizado através do reconhecimento das

realizações pessoais, do comprometimento com o desenvolvimento dos

funcionários e incentivando as iniciativas individuais.

Os mesmos autores complementam que existe uma diferença fundamental

entre os gestores que se vêem como projetistas da estratégia corporativa dos que

definem de forma mais ampla suas tarefas como a de formar o propósito

institucional. Os elaboradores de estratégias vêem as empresas que lideram

como entidades maximizadoras de lucros, com um papel estreitamente definitivo

em um grande e complexo ambiente social. Dentro desta concepção, empresas

são simplesmente agentes de troca econômica em um mercado mais abrangente.

São dependentes de seus acionistas, clientes, funcionários e comunidades, e o

propósito da estratégia é gerenciar essas dependências freqüentemente

conflitantes, para delas obter o benefício máximo para a empresa.

Esta definição minimalista, passiva e egoísta subestima a realidade de

forma grosseira. Bartlett & Ghoshal (2000) explicam que as empresas são,

atualmente, importantes instituições da sociedade moderna. Uma empresa hoje é

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

18

mais que apenas um negócio. Como importantes depósitos de recursos e

conhecimentos, empresas carregam uma enorme responsabilidade de gerar

riqueza por meio da melhoria contínua de sua produtividade e competitividade.

Além disso, sua responsabilidade pela definição, criação e distribuição de valor faz

das empresas os principais agentes da sociedade para a mudança social. As

empresas são, no mínimo, fóruns importantes de interação social e realização

pessoal.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

19

CAPÍTULO II

RESPONSABILIDADE SOCIAL

2.1 - Conceito de Responsabilidade Social

Para iniciarmos o assunto, cabe conhecermos a definição da palavra

responsabilidade, separadamente da palavra social, a qual segundo Aurélio

Buarque de Holanda Ferreira, Dicionário Aurélio, responsabilidade significa "

capacidade de entendimento ético - jurídico e determinação volitiva, adequada,

que constitui pressuposto penal...". Por sua vez, a palavra social, é definida na

mesma obra como "que interessa à sociedade" (pp.1.236, 1977).

Sociedade é onde estamos inseridos, agindo e participando das práticas

comuns que buscam o atendimento a todos. Cria-se a dependência de uns com

outros para a decisão do conjunto, mas o interesse comum prevalece e o objetivo

é o bem-estar de todos, portanto somos responsáveis pela conseqüência de

nossos atos, de acordo com Pilão (2001).

Segundo Srour (2000:295) a responsabilidade social diz respeito ao

comprometimento entre clientes e fornecedores para que haja satisfação dos

consumidores, por adquirir produtos de qualidade e este contribuir para o

desenvolvimento da comunidade, através de questões como: conservação do

meio ambiente, investimento em pesquisa tecnológica e também com questões

ligadas ao crescimento profissional e respeito pelas leis trabalhistas. "... a

responsabilidade social, remete, em síntese, à constituição de uma cidadania

organizacional no âmbito interno da empresa e à implementação de direitos

sociais no âmbito externo."

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

20

O autor vai além ao dizer:

"... a empresa capitalista, embora se mova num contexto onde impera os

códigos morais, só passa a comportar-se de modo socialmente responsável

quando sua continuidade está em risco, quando enfrenta a intervenção organizada

das contrapartes com as quais lida ... sem contrapartes ativas, a maximização do

lucro leva a melhor ".

Conforme (Nash, 2001), Responsabilidade Social, está ligada a ética

empresarial, no qual trata da capacidade de interagir os valores pessoais com as

preocupações gerênciais. Esta união de culturas, de idéias e de objetivos

diferentes, traz conflitos; a ética nos negócios ajuda o indivíduo a respeitar,

conhecer seu papel e cumprir seu dever na empresa, mesmo que não aceite

pessoalmente determinada tarefa. "Ética nos negócios é o estudo da forma pelo

qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa

comercial, não se trata de um padrão moral separado, mas de um estudo de como

o contexto dos negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral

que atua como um gerente desse sistema." (NASH, 2001:06)

Para a autora, através da abertura do mercado na década de noventa e o

cenário atual de uma economia globalizada, as empresas passaram por

mudanças significativas, foi preciso um esforço maior para se adequar às

exigências do mercado mundial, houve uma iniciativa de buscar soluções junto

aos seus empregados, fornecedores e parceiros para atuarem no mercado de

maneira segura e com perspectiva de retorno para todas as partes envolvidas.

Uma das soluções encontradas para as organizações se consolidarem,

conforme Barbiere (2001), foi a inserção dos Programas de Qualidade no Brasil,

devido a ausência de protecionismo por parte do Governo para as empresas, que

antes não sofriam a concorrência dos produtos importados com melhor preço e

melhor tecnologia, fica claro que houve uma luta das organizações para à sua

sobrevivência e desde então passou-se a incentivar os desempenhos de seus

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

21

colaboradores para conseguirem atender uma demanda de consumidores cheios

de opções, não só de preços e de qualidade mas no atendimento ao cliente, "...

até 1990 não se encontrava bibliografias, sobre a questão da implementação da

qualidade total nas empresas, com a recente abertura do mercado, nuca se ouviu

falar tanto ..."

"... atualmente todas as metodologias dos Programas de Qualidade nas

empresas preconizam que os programas sociais são parte indispensável do

processo de melhoria, já que os novos conceitos de mercado não aceitam mais

desvincular o resultado institucional do papel social que a empresa desempenha

no contexto onde ela se insere." (Bodstein, 2001)

A responsabilidade social pode ser conceituada através da sua atuação, ou

da sua forma inserida na sociedade, ou seja, a responsabilidade social é a

maneira pela qual a sociedade, empresas, ONG’s, Instituições e Governo, têm de

desenvolver atitudes perante a comunidade a qual está inserida, com o intuito de

alcançar o bem estar social, não só externamente, por meio de boas condições de

trabalho, como também internamente, através da realização profissional. Isto é

visivelmente verificado através de incentivos que empresas dão aos funcionários,

como auxílio estudo, pagando uma parte ou integralmente os estudos dos

funcionários, criando escolas para filhos de funcionários, entre outros incentivos.

Alguns projetos sociais são criados constantemente por diversas empresas com o

intuito de promover a integração social dos cidadãos, pois através delas pode-se

oferecer treinamento profissional e condições de trabalho adaptadas às

dificuldades individuais de cada um, levando assim ao desenvolvimento de uma

atividade produtiva, conquistando, no entanto dignidade e respeito próprio, além

da inserção social. Estas pessoas em desvantagem, ou seja, indivíduos com

menos possibilidades na sociedade, necessitam constantemente de ONG´S que

promovam incentivos para que não apenas elas desenvolvam seu potencial

profissional e intelectual, mais também promovam o crescimento econômico do

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

22

país, pois com isto diminui-se o número de analfabetos, drogados, alcoólatras,

entre outros.

Primeiramente analisando a empresa, ela tem que apresentar um bom

desempenho econômico para que seus custos possam ser cobertos e o acumulo

de capital possa gerar novos empregos, causando uma boa imagem perante a

sociedade. Esta boa imagem é associada a programas culturais, filantrópicos de

interesse da comunidade, tornando, portanto indispensável o comprometimento

amplo das organizações com as questões sociais. Este compromisso amplia-se

atingindo não apenas a relação empregado-empregador, mas os problemas de

forma geral, que afligem a sociedade. Esta nova postura, que algumas empresas

já são adeptas, visa resgatar princípios éticos e morais, podendo até relatar que

eficiência não é só fazer as coisas bem, mas fazer as coisas boas, isto segundo

princípios éticos. Estas "coisas boas" são investimentos da própria empresa em

educação, que leva ao progresso de seus funcionários, na saúde, na alimentação,

enfim, através de trabalhos que a empresa possa futuramente colher mais

produtividade, compromisso e dedicação.

A empresa socialmente responsável consegue criar métodos, planos e

incentivos para que interna e externamente ela seja identificada e destacada como

uma empresa-cidadã e isto são perceptíveis através dos consumidores, ou seja,

através da comunidade onde a dada Empresa situa-se, pois muitos adquirem

produtos onde a fornecedora esteja engajada no processo de responsabilidade

social, mais se isto não for aspirado pela Instituição ou Empresa promotora deste

processo, corre-se o risco de criar uma situação de animosidade entre o

consumidor e a referida Empresa, ocasionando ponto negativo no mercado

competitivo em que a referida organização está devidamente inserida. O domínio

da responsabilidade Social da Empresa situa-se além de suas responsabilidades

legais. Mas não basta ir além da obrigação legal para se ter um comportamento

socialmente responsável. Uma empresa pode ter diferentes posturas em

diferentes áreas e ocasiões. Por exemplo:

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

23

Pode ater-se estritamente à lei no tocante ao relacionamento com os

fornecedores, ao mesmo tempo em que adota uma atitude negligente quanto à

segurança de seus produtos;

Pode ter uma atitude socialmente responsável no trato com os empregados e

adotar práticas fraudulentas no faturamento, prejudicando os interesses coletivos.

A doutrina da responsabilidade da empresa funda-se numa nova visão da

realidade econômica. Uma nova filosofia, um novo modo de conceber as relações

entre os fatores de produção, particularmente entre o capital e o trabalho, donde

decorre uma nova concepção da empresa de seu papel social. A doutrina da

responsabilidade social da empresa, se bem entendida e posta em prática,

representa um ponto de partida para a humanização da economia. Como em

tantos outros aspectos, também no campo da responsabilidade social da empresa

não é fácil a questão da definição das responsabilidades específicas de uma

empresa. Obviamente não existe critério-padrão para tanto. Como noutros

aspectos das atividades gerenciais, pode-se partir do esquema tradicional:

• Analise do ambiente;

• Definição de prioridades;

• Planejamento;

• Organização;

• Implementação;

• Controle;

• Avaliação de resultados.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

24

2.2 - Histórico da Responsabilidade Social

As primeiras manifestações desta idéia surgiram no inicio do século, em

trabalhos de:

• Charles Eliot (1906);

• Arthur Hakley (1907);

• John Clark (1916).

Tais idéias, porém, não teve maior aceitação nos meios acadêmicos e

empresariais, onde deviam soar, considerada a época como heresias socialistas.

O mesmo aconteceu às idéias do inglês Oliver Sheldon que, em 1923, defendeu a

inclusão entre as preocupações da empresa, de outros objetivos além do lucro dos

acionistas. Vinte anos mais tarde, em 1942, a idéia aparecia num manifesto

subscrito por 120 industriais ingleses.

Entretanto foi somente em 1953 que surgiu nos Estados Unidos o primeiro

livro analisando o tema em extensão e profundidade: Social Responsabilities of

the Basinessman, de Howard Bowen. A obra alcançou grande repercussão nos

meios acadêmicos e empresariais, sendo logo traduzida para vários idiomas,

inclusive o português. Na mesma década, o assunto difunde-se pelos meios

empresariais e acadêmicos norte-americanos e incluídos por algumas

universidades, como tema de seminários e cursos, objetos de encontros,

simpósios e cursos de atualização para executivos.

No inicio dos anos 60, começa a popularização do tema com uma série de

programas de televisão, levados ao ar pela Pacific Northwest, sob a direção de

Joseph McGuire. Desta série, resulta o livro Business and Society, lançado em

1963.

A idéia de responsabilidade social da empresa ganha terreno. Inúmeros

artigos aparecem nos jornais e revistas especializadas. Aumentam os cursos,

simpósios e debates. Atendendo a demanda de literatura especializada, surgem

diversas obras para estudo universitário e atualização dos administradores.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

25

Com o apoio da American Academy of Colegiate Schools of Business, o

assunto deixa se ser uma simples curiosidade acadêmica para tornar-se tema

comum nos currículos universitários de administração, a partir da década de 70.

Surgem associações de profissionais interessados em devolver um novo campo

de estudos, destacando-se entre elas: American Accouting Association, American

Institute of Certified Public Accountants. Criam-se publicações periódicas

específicas, ao mesmo tempo em que o assunto ganha espaço nas revistas

especializadas e nos grandes magazines, como:

• Fortune;

• Business Week.

Desenvolvem-se métodos e técnicas específicas de avaliação de

desempenho. Multiplicam-se as pesquisas sob o patrocínio de renomadas

instituições. Na década presente, continua o interesse pelo tema. No campo

teórico, nota-se ênfase nos estudos relacionados com a ética empresarial e com a

qualidade de vida no trabalho. No campo prático, continua o esforço para o

aperfeiçoamento e criação de modelos de avaliação do desempenho da empresa

no campo social.

O movimento ganhou força mesmo a partir de 1994, com a criação de um

organismo chamado Business for Social Responsibility, nos Estados Unidos (tem

sede em San Francisco). Parafraseando Robert Dunn, presidente da BSR, “Ser

socialmente responsável é obter sucesso comercial em formas que respeitem

valores éticos, pessoas, comunidades e o meio ambiente. É, portanto, mais que

apoiar uma causa, ou criar uma fundação, ou fazer uma parceria com uma

organização social. Engloba todos estes pontos, em diferentes níveis e graduações,

e valoriza o funcionário, apoiando-o e a sua família, criando um ambiente de

trabalho saudável e respeitoso, preservando os recursos naturais, não utilizando

mão de obra infantil, estabelecendo com fornecedores, e governo, relações éticas -

e cobrando deles uma postura ética - mudando o status quo, quando este for

injusto, equivocado, torpe”.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

26

No Brasil, apesar de algumas propostas anteriores, o debate em torno do

Balanço Social alcançou maior projeção somente a partir de campanha lançada

em 1997 pelo IBASE, liderada à época por seu então presidente, o sociólogo

Herbert de Souza (Betinho). Esta campanha visava, principalmente, sensibilizar e

estimular a noção de co-responsabilidade das empresas na busca de soluções

para os profundos desequilíbrios da estrutura social do país. A fim de propiciar a

maior visibilidade desta participação para o conjunto da sociedade, o IBASE

elaborou um modelo de Balanço Social. A campanha contou ainda com o apoio do

jornal Gazeta Mercantil - que, à época, ofereceu a gratuidade do serviço de

publicação para as empresas interessadas - e de várias empresas e associações,

que promoveram encontros e fóruns de discussão em torno das principais

questões envolvidas e das contribuições para o aprimoramento da proposta inicial.

No mesmo ano, o tema passou a ser objeto do Projeto de Lei nº 3.116 de autoria

das deputadas federais Marta Suplicy, Maria da Conceição Tavares e Sandra

Starling, estabelecendo a obrigatoriedade da publicação do Balanço Social para

as empresas privadas com mais de 100 funcionários e para todas as empresas

públicas, concessionárias e permissionárias de serviços públicos. Atualmente, o

projeto tramita no Congresso Nacional após arquivamento temporário por conta do

final das legislaturas passadas, tendo sido reapresentado pelo deputado Paulo

Rocha. Paralelamente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apresentou, em

audiência pública, proposta de inclusão do Balanço Social nas demonstrações

financeiras já exigidas das empresas de capital aberto, não tendo havido

consenso na época quanto ao encaminhamento da matéria. No momento, a CVM

vem elaborando um Projeto de Lei que prevê alterações e inovações nas

informações contábeis divulgadas pelas sociedades anônimas e limitadas. Dentre

estas, destaca-se a obrigatoriedade da divulgação do Balanço Social por

empresas de grande porte, que tenham faturamento anual superior a R$ 150

milhões e ativos de mais de R$ 120 milhões, mesmo que não tenham capital

aberto. Duas iniciativas municipais relativas ao tema se destacam: as de São

Paulo e de Porto Alegre. Em São Paulo, foi aprovada a Resolução 05/98, de

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

27

autoria da vereadora Aldaiza Sposati, que institui o Dia da Empresa Cidadã e o

Selo Empresa Cidadã com o objetivo de estimular e reconhecer as empresas que

apresentarem qualidade em seu Balanço Social. O documento elaborado resultou

de amplo processo de discussão com organizações representativas, e distingue-

se do Projeto de lei federal pela substituição da obrigatoriedade da apresentação

pela espontaneidade associada ao incentivo. Em Porto Alegre também se instituiu

o Selo da Cidadania, sendo obrigatório para as empresas com sede na cidade e

com mais de 20 funcionários a publicação de Balanço Social.

2.3 - Indicadores Usados para Medir Responsabilidade Social

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social criada para

sensibilizar e ajudar as empresas que desejam se engajar numa boa causa, os

indicadores, utilizados por eles, para medir as ações da responsabilidade social

nas empresas são:

Valores e Transparências

" Valores e princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa,

orientando sua conduta e fundamentando sua missão social. A noção de

responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação das

empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade,

propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os

parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores." (p.13)

Deixar claro para todos que se relacionam com a empresa, seus valores,

sua cultura e suas estratégias utilizadas para alcançarem suas metas, colabora

para integridade dos relacionamentos envolvidos. É importante a presença de uma

declaração com as normas e compromissos preservados pela empresa. Isto é

possível através do código de ética:

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

28

Código de ética é um recurso que está sendo utilizado pelas empresas,

para divulgar sua conduta, e seus interesses, a fim de beneficiar tanto o público

interno da organização, os funcionários, que terão o código de ética como guia, na

busca dos resultados esperados pela sua organização, como ao público externo,

os clientes, os fornecedores, os acionistas e a própria sociedade, que terá acesso

a conduta daquela empresa e como ela interage socialmente, com as questões

ambientais e compromissos sociais. (Ethos :2000) "O código de ética ou de

compromisso social é um instrumento de realização da visão e da missão da

empresa, orienta suas ações e explicita sua postura social a todos com quem

mantêm relações... a formalização dos compromissos éticos da empresa é

importante para que ela possa se comunicar de forma consistente com todos os

parceiros... é necessário criar mecanismos de atualização do código de ética e

promover a participação de todos os envolvidos." (p.13)

Para a empresa, ter seus princípios éticos de forma clara e pública, pode

lhe trazer confiabilidade e credibilidade no mercado, o balanço social é um bom

instrumento para expor de fato as ações da organização à comunidade, como por

exemplo, os custos e investimentos realizados nesta área e, assim o grau de

importância da empresa com seu papel social. Atualmente o balanço social vem

recebendo bastante evidência, por favorecer a empresa na hora da tomada de

decisão pelos seus acionistas, fornecedores, consumidores e investidores,

segundo Souza (1997) .

"...o balanço social da empresa deve explicitar as iniciativas de caráter

social, resultados atingidos e investimentos realizados. O monitoramento de seus

resultados por meio de indicadores pode ser complementado por auditorias feitas

por entidades da sociedade (ONGs e outras instituições), agregando uma

perspectiva externa à avaliação da própria empresa." (Ethos, 2000:13)

A esse respeito, Toldo (UNESC), o balanço social mostra os resultados

financeiros e investimentos que a empresa fez aos seus colaboradores em relação

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

29

a custos com treinamento, bolsa de estudos, salários, etc., "Apresenta ainda seu

faturamento bruto, lucro operacional, ... encargos sociais, tributos pagos e outros,

especificando cada um. E como e quanto investiu na comunidade e no meio -

ambiente". (p.6)

A vantagem, conforme Toldo, vai desde a segurança que os empregados

tem de seus direitos e se beneficiam também, por fazerem parte da comunidade

recebem as ações sociais a ela destinada, o diferencial na tomada de decisão dos

consumidores, que buscam qualidade, preço e o como a sua compra pode

favorecer a sociedade, até aos investidores pela seriedade dos projetos sociais

assumidos pela empresa, "...quando a empresa pratica a responsabilidade social a

divulgação dos resultados torna-se importante, pois mostra através de números e

objetivos as ações realizadas junto aos seus públicos" (p. 6)

Público Interno

Assumir apenas obrigações ou compromissos legais, tais como: vale

transporte, vale refeição, creche para os filhos dos funcionários, etc, não significa

ser uma empresa adepta a responsabilidade social, mas que cumpre com os

benefícios oferecidos pela legislação trabalhista.

"A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os direitos

dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos padrões da OIT

(Organização Internacional do Trabalho), ainda que esse seja um pressuposto

indispensável. Mas a empresa deve ir além e investir no desenvolvimento pessoal

e profissional de seus empregados, bem como na melhoria das condições de

trabalho ..." ( Ethos: 2000,15)

Fornecedores

A escolha do fornecedor precisa ser rigorosa, pois sua participação e

comprometimento implica no cumprimento de prazos, de matéria prima ou

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

30

serviços de qualidade, seu cuidado com o meio ambiente, no relacionamento com

seus empregados, além, de uma importante questão, a do trabalho infantil, que

não deve ser incentivada ou esquecida pelas organizações.

"A empresa que tem compromisso com a responsabilidade social envolve-

se com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos estabelecidos e

trabalhando pelo aprimoramento de suas relações de parceria. Cabe à empresa

transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes de sua

cadeia de fornecedores, tomando-o como orientador em casos de conflitos de

interesse..." ( Ethos: 2000,20)

Consumidores / Clientes

Conforme Ethos (2000), a empresa está ligada com a produção de modas e

deve se tomar cuidado com a publicidade, para que não faltem informações

importantes do produto como: seu uso, benefícios e seus respectivos riscos, "...

clientes e consumidores exigem da empresa o investimento permanente no

desenvolvimento de produtos e serviços confiáveis, que minimizem os riscos de

danos à saúde dos usuários..." (p.21) No que concerne, o Akatu (2001) revela

dentre os diferentes modos de consumo, o consumo responsável, no qual, ao

adquirir um produto ou serviço o consumidor valoriza as questões sociais e o meio

ambiente, "...o consumidor reflete sobre os impactos positivos e negativos do ato

de consumo, ...faz uso de seu consumo para colaborar e motivar empresas e

outros ... para que atuem com o compromisso social." (p.3)

Comunidade

Este indicador, trata da contribuição da empresa, de infra-estrutura que

proporcionam uma melhoria da qualidade de vida na comunidade e conservação

dos recursos naturais, para o Ethos (2000) "...a comunidade em que a empresa

está inserida fornece-lhe infra-estrutura e o capital social representado por seus

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

31

empregados e parceiros, contribuindo decisivamente para a viabilização de seus

negócios." (p.21)

Trabalho Voluntário

O Trabalho voluntário, através de estimulo dos meios de comunicação,

recebeu e vem recebendo atenção especial, atualmente passou a ser um novo

requisito na lista das exigências na seleção dos recursos humanos das empresas,

que possuem responsabilidade social.

"O trabalho voluntário tem sido considerado um fator de motivação e

satisfação das pessoas em seu ambiente profissional. A empresa pode incentivar

essas atividades, liberando seus empregados em parte de seu horário de

expediente para ajudar organizações da comunidade ou dando incentivos aos

empregados que participam de projetos de caráter social."(p.23)

Governo e Sociedade

De acordo com Ethos (2000), deve haver transparência política para a

permanência do caráter ético na atuação da empresa, onde deve ter um

compromisso formal no combate a corrupção e propina, no recebimento ou oferta,

aos parceiros comerciais, além do determinado em contrato, conforme citações

abaixo:

"A empresa deve relacionar-se de forma ética e responsável com os

poderes públicos, cumprindo as leis e mantendo interações dinâmicas com seus

representantes, visando a constante melhoria das condições sociais e políticas do

país. O comportamento ético pressupõe que as relações entre s empresas e o

governo sejam transparentes para a sociedade, acionistas, empregados, clientes,

fornecedores e distribuidores. Cabe à empresa manter uma atuação política

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

32

coerente com seus princípios éticos e que evidencie seu alinhamento com os

interesses da sociedade." (p.24)

"... as empresas devem ir além da obrigação de recolher corretamente

impostos e tributos, as empresas podem contribuir com projetos e ações

governamentais, devendo privilegiar as iniciativas voltadas para o

aperfeiçoamento de políticas públicas na área social." (p.24)

Todos esses indicadores são ferramentas, para que as empresas,

colaboradores e comunidades se guiem a uma atuação única, ou seja, na mesma

direção, para que, desta forma, a soma dos esforços possam favorecer toda a

sociedade.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

33

CAPÍTULO III

A GESTÃO DE PESSOAS NA CONSTRUÇÃO DA

RESPONSABILIDADE SOCIAL

O Instituto Ethos tem uma definição simples sobre o chamado terceiro

setor: "Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da empresa

de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social.

A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os

interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço,

fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e conseguir

incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às

demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários".

Nem sempre o conceito de Responsabilidade Social, citado acima, é claro

para as empresas, e muitas acreditam que ao estruturar um programa os

funcionários se tornem socialmente responsáveis. A questão da Responsabilidade

Social é bem mais ampla, pois envolve além de uma postura ética diante de seus

vários públicos, um compromisso com a promoção de mudanças que façam a

diferença na comunidade.

Gerir uma organização empresarial de modo socialmente responsável, não

implica, como pensam os mais radicais, em abandonar os objetivos econômicos,

mas sim em agregar valores sociais a essa gestão, como pensar os impactos na

comunidade, na geração de emprego e renda dos funcionários, no financiamento

de sua educação e adoção de políticas ambientalmente compatíveis.

Os tipos de ações e estratégias que uma empresa consegue articular diante

dos desafios, define e caracteriza seu estágio de desenvolvimento e capacidade

de lidar com as mudanças. Segundo Costa e Duarte (2002), as empresas passam

por um primeiro estágio, de gerência de impacto, na qual apenas corrigem e

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

34

gerenciam, atendendo às demandas e impactos sociais negativos. Num segundo

estágio, o da gerência de risco, a empresa já identifica os riscos e interesses aos

stakeholders, evitando, assim, possíveis efeitos negativos na sua imagem e nos

processos estratégicos.

Finalmente, num terceiro estágio, a organização enxerga não só os riscos,

mas também as oportunidades que se detenham nesse novo cenário, trabalhando

com uma gerência estratégica, ampliando sua percepção da responsabilidade

social e da sustentabilidade.

GIL (2000) descreve os papéis desempenhados pelos gestores de RH,

dentre os quais, é possível identificar os que estão relacionados com o

desenvolvimento da responsabilidade social. São eles: o papel de comunicador,

líder, motivador, negociador e coach. Para atuar no campo da responsabilidade

social constata-se que os gestores enfatizam estes papéis. No entanto, a

descrição que mais se apropria, considerando-se o contexto atual das

organizações é a de ULRICH (2001). Este autor coloca que não existe um único

papel, mas sim múltiplos papéis que podem ser percebidos através das seguintes

metáforas: “Parceiro Estratégico”, “Especialista administrativo”, “Defensor dos

funcionários” e “Agente de Mudanças”. Neste caso, as metáforas funcionam como

imagens que caracterizam o gestor de RH em cada um de seus papéis.

Fica evidente que a gestão da responsabilidade social envolve o

alinhamento das práticas de RH com a estratégia da empresa. Este alinhamento

repercute na imagem da organização perante a sociedade e seu corpo funcional.

No entanto, para que esta prática seja efetiva é necessário que o gestor esteja

atento a questão estrutural que envolve as atividades de contratação, treinamento,

avaliação, promoção e desligamento, entre outras.

Como “agente de mudanças”, ULRICH (2001) coloca que o gestor de RH é

considerado um parceiro empresarial que ajuda os empregados a se adaptar a

implementação de novos processos, tecnologias e por conseqüência mudanças

culturais nas organizações. Este também está relacionado à gestão da

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

35

responsabilidade interna na medida que as empresas necessitam implantar

processos produtivos que não agridam o meio ambiente. Para serem implantados

e gerar benefícios efetivos necessitam da participação dos empregados e, muitas

vezes, mudanças nos seus comportamentos.

O programa de Responsabilidade Social deve ser tratado como qualquer

outro projeto da empresa. Para tanto seria adequado um planejamento que

estabeleça os objetivos e metas, a previsão de recursos financeiros, físicos e/ou

materiais. É importante também conhecer o real valor da atividade social a ser

desempenhada. A empresa tem de atuar em projetos que tenham a ver com o seu

negócio e contratar organizações não governamentais (ONGs) especializadas no

ramo de atividade que quer atuar socialmente.

Este planejamento deve contar com apoio e envolvimento da diretoria, bem

como ser elaborado por todos os envolvidos. E neste momento, cabe à área de

RH um papel de assessoria na implantação dos programas, garantindo o

engajamento das pessoas e o efetivo comprometimento com o que vai ser

buscado. Não adianta a área de RH tentar lutar sozinha nesse processo, que

acabará sendo visto como mais um projeto que não gera lucros efetivos para a

organização, ao passo que, respaldadas pela decisão do presidente, as ações de

RH podem ser muito mais efetivas. Uma parte fundamental do papel do RH é não

deixar que as ações sejam meramente assistencialistas, e sim implementar

projetos que tragam efetivo retorno para a sociedade.

A responsabilidade social nas empresas caminha, cada vez mais, para um

olhar estratégico, que deve estar incorporado à gestão da organização: seus

valores, sua missão, visão e processos. Trata-se, portanto, de uma consciência e

atitude corporativa, envolvendo a política de Recursos Humanos como área chave

para mobilizar e sensibilizar toda a estrutura empresarial. Segundo Young (2003),

as empresas já sabem a importância de se incorporar esses valores, mas este é

um processo de longo prazo e não depende apenas da boa vontade, depende,

principalmente, da preparação desses recursos humanos.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

36

O grande desafio é desenvolver uma gestão que trabalhe a comunidade

interna de forma a desenvolvê-la no âmbito profissional, pessoal e como cidadãos.

A empresa deve valorizar e estimular o que tem de diferencial neste intenso

cenário competitivo: o capital humano e intelectual que possui. Desta forma, suas

ações devem ter uma visão sistêmica, considerando não só o corpo funcional,

mas um modelo sustentável de responsabilidade social, incorporando também o

relacionamento com seus stakeholders.

É necessário que o RH trabalhe para engajar os seus colaboradores como

voluntários em iniciativas de cidadania e responsabilidade social, apoiando os

voluntários e criando espaços para trocas de idéias, pois consideram que o

trabalho voluntário também é um caminho para o desenvolvimento de

competências importantes nos profissionais e fator importante para o aumento da

auto-estima das pessoas envolvidas no processo.

A responsabilidade social faz parte da cultura da empresa e por isso deve

estar claramente embutida em sua visão, missão e valores, assim como descrita

em manuais de ética dos empregados e nos processos de comunicação. Segundo

Borger (2001), “O desenvolvimento da missão social implica compartilhar uma

visão que vai além da maximização dos lucros, mas também de princípios e

valores éticos que definirão as relações com os diversos stakeholders”. No

entanto, a missão não é suficiente para criar o clima favorável à gestão

responsável, ela apenas fornece a filosofia de administração a ser tomada. A

sustentação desta filosofia se dará mediante os processos organizacionais que

transformarão este discurso em prática.

Neste sentido, a área de RH, historicamente, tem facilidade no trato com

pessoas e poderá ser o principal responsável pela conscientização de cada setor

na busca por uma atividade ética e comprometida com o consumidor e a

comunidade. Permeando os vários setores da organização, a prática socialmente

responsável será o resultado do esforço sistemático em atingir as metas sociais

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

37

definidas pelos processos e práticas definidas na estratégica do negócio. A área

de marketing deve estar atenta a vender o produto e/ou serviço de forma não

enganosa; a assessoria de imprensa, por exemplo, deve comunicar de forma

transparente e estando disponível para o diálogo; a área trabalhista deve manter

boa relação com sindicatos e setores governamentais, dando liberdade para que

os funcionários também se manifestem quanto às suas políticas, e assim por

diante. É a cidadania empresarial fundamentada no comprometimento

organizacional.

É preciso estar atento para algumas questões que muitas vezes são

ignoradas no momento da implementação de um programa de Responsabilidade

Social. Qualquer que seja a ação de uma empresa se faz necessário o

engajamento dos funcionários dela. Literalmente, eles têm que “vestir” a idéia. E

como se entregar a uma atividade voluntária, se o funcionário não consegue

enxergar nenhum programa de atendimento ou beneficio que seja pra ele e sua

família? Vejamos um exemplo simples: numa determinada campanha de

lançamento de produto, a empresa faz uma campanha de arrecadação de

alimentos para ser revertida a tal instituição filantrópica, pois bem, só que o próprio

funcionário da empresa que irá fazer a "ação social" está passando por

dificuldades, porém, nada foi feito pelo RH da empresa. Não tem credibilidade,

entende?

Também é necessário que seja feita uma avaliação do clima interno da

empresa. Isto porque, muitas vezes o momento não é adequado para a

estruturação do programa de voluntariado. Fatores como demissões, definição de

dissídio, fusões, aquisições e mudança física da empresa podem tomar a atenção

dos funcionários de maneira a desestimulá-los à adesão a um programa

estruturado de trabalho voluntário.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

38

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cada vez mais, é necessário uma reformulação do papel das empresas e

organizações no que diz respeito à responsabilidade social. É da maior

importância o papel que as mesmas podem absorver como agentes de educação

de recursos humanos e de transformação positiva da sociedade em que estão

inseridas.

Essas organizações terão de estar aptas a se ajustarem às exigências do

seu tempo, às velozes mudanças que estão ocorrendo. Será necessária muita

acuidade mental por parte de empresários e dirigentes de empresas para que

suas organizações continuem a desenvolver este papel, além de conscientizar as

demais empresas a exercerem cidadania. Estão caminhando no sentido de

devolver a conscientização humana e a dignidade solidária, não se esquecendo

obviamente do marketing social adquirido com isso.

O exercício de Responsabilidade Social representa o resultado de ações as

quais beneficiam pessoas e sociedade, na medida em que educam, desenvolvem,

permite-lhes o crescimento e contribuem para transformações efetivas cujos

reflexos são visíveis e satisfatórios para todos. Responsabilidade Social é também

construir coletivamente, relacionamentos amistosos e respeitosos os quais criem

espaço para a criatividade, a produtividade, as competências; o desempenho e as

iniciativas transformadoras.

Assim, posicionada em sua missão, crenças e valores, a organização

investe na mudança de suas pessoas, para torná-las agentes dos processos,

multiplicadoras das ações e formadoras de novas consciências e valores. Ser uma

organização responsável é divulgar a marca e cumprir a grande tarefa a que toda

empresa está legada, desde que a sociedade passou a valorizar referenciais de

integridade, solidariedade, seriedade e qualidade para guardar em suas mentes e

corações.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

39

E como foi percebido ao longo do trabalho, é indispensável a presença de

uma política de Gestão de Pessoas preparada para a grande tarefa, que é educar

e desenvolver pessoas, visando às mudanças com resultados e metas cumpridos,

efetivamente. É necessário estruturar as ações a serem desenvolvidas, de

maneira que estejam dentro de um contexto maior da organização, para assim,

pode facilitar vários processos de mudanças, em que o modelo de gestão pode

ser mais participativo e as relações pensadas de maneira mais ética.

Além de ser um “parceiro estratégico” para o desenvolvimento da

responsabilidade social, o gestor de RH pode (e deve) atuar como “agente de

mudanças” em sua organização, abordando questões relacionadas ao

comportamento socialmente responsável. É comum que certos assuntos sejam

pouco discutidos no meio empresarial como, por exemplo, a igualdade de

oportunidades. Sabe-se da existência de uma lei que assegura aos portadores de

necessidades especiais acesso ao mercado de trabalho. No entanto, esta

discussão é muito mais ampla, envolvendo também questões de gênero e de raça.

No contexto atual, as ações que vem sendo desenvolvidas são insuficientes e

merecem uma atenção especial por parte dos dirigentes das empresas, pois estão

intrinsecamente relacionadas com a diminuição das desigualdades sociais.

Neste sentido, trabalhar a diversidade nas empresas significa realizar

profundas mudanças culturais. ULRICH (2000) considera que mudanças culturais

permeiam a alma e a mente da organização. É preciso mudar a forma como a

organização pensa e percebe a si mesma. Administrando as diferenças, gerindo a

diversidade a empresa pode vir a tornar-se um forte embrião de mudança na

sociedade consolidando a sua atuação no campo da responsabilidade social.

Desenvolver um trabalho neste sentido representa agregar valor a

organização e a sociedade, na medida que a diversidade ou igualdade de

oportunidades representa um princípio básico de cidadania, que visa assegurar a

cada um condições de pleno desenvolvimento de seus talentos e potencialidades.

A valorização da diversidade e do pluralismo no mundo contemporâneo é

decorrência do reconhecimento cada vez maior da democracia como fator para o

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

40

aprimoramento das sociedades e da busca de novos padrões de convivência

assentados em relações socialmente mais justas (INSTITUTO, 2001).

Por fim, deve-se explicitar que os gestores de RH são partes ativas da

gestão da responsabilidade social, desempenhando a função a partir de uma visão

do conjunto (empresa, comunidade, fornecedores e acionistas). Portanto, devem

utilizar seus conhecimentos, seus erros e acertos para a formulação de um

modelo de gestão baseado nos princípios do comportamento socialmente

responsável, sempre visualizando que as empresas estão inseridas numa unidade

maior, que é a sociedade. Com isso, o gestor de RH deve atuar no sentido de

capturar a atenção e o interesse dos funcionários, envolver a organização,

construir valores essenciais e transmitir uma mensagem de comprometimento,

não esquecendo que é um caminho de dupla mão, na qual os gestores devem

reconhecer a contribuição dos funcionários e os tratar como ativos valiosos.

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … · 2 universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo latu senso projeto a vez do mestre o papel da gestÃo de pessoas na construÇÃo

41

BIBLIOGRAFIA

BARTLETT, Christopher; GOSCHAL, Sumantra. Mudando o papel da alta gerência: indo além da estratégia para alcançar o propósito. In: ULRICH, Dave. Recursos humanos estratégico. São Paulo: Futura, 2000. BORGER, F. Responsabilidade Social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese de Doutorado (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), Universidade de São Paulo, São Paulo, agosto/2001. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Campus, 1999. COSTA, A; DUARTE, C. A Responsabilidade Social das Empresas. Belo Horizonte: Modus Faciendi, 2002. DUARTE, Gleuso Damasceno; DIAS, José Maria. Responsabilidade social: a empresa hoje. Rio de janeiro: S A, 1985.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Dicionário Aurélio. 1977.

GIL, Antônio Carlos. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais, São Paulo: Atlas, 2000. INSTITUTO Ethos empresas e responsabilidades social. Como as empresas podem (e devem) valorizar a diversidade. São Paulo, 2001.

NASH, Laura L. Ética nas Empresas: Guia prático para Soluções de Problemas Éticos nas Empresas. São Paulo: Makron Books,2001.

SOUR, Robert Henry. Ética empresarial. Rio de Janeiro:Campos, 5 ed., 2000. ULRICH, Dave. Os campeões de recursos humanos: inovando para obter os melhores resultados. São Paulo: Futura, 4 ed., 2000. YOUNG, R. Muito Além do Produto. Revista Empreendedor. São Paulo, julho/2003. Sites Consultados: www.rh.com.br www.ethos.org.br