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Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós- Graduação “Lato Sensu” em Gestão de Recursos Humanos” Celso Ferreira da Cunha Ribeiro Rio de Janeiro 2003

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Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes

como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Gestão de Recursos Humanos”

Celso Ferreira da Cunha Ribeiro

Rio de Janeiro

2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

COMUNICAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PUC - RJ

POR: Celso Ferreira da Cunha Ribeiro

Orientador

MARRYE SU

Rio de Janeiro

2003

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AGRADECIMENTOS

À todos os alunos, professores, ex-coordenador do Curso de

Administração de Empresas da Pontifícia Universidade Católica do Rio

de Janeiro, onde me graduei em Ciências Administrativa, que foram

importantíssimos no início, meio e conclusão desta despretensiosa

monografia.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia aos meus saudosos pais, que tanto se dedicaram

e empenharam na minha formação acadêmica. E aos meus filhos que

sempre me incentivaram na conclusão desse trabalho.

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SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................5

2 – PROBLEMA......................................................................................................5

3 – JUSTIFICATIVA..............................................................................................6

4 – OBJETIVOS......................................................................................................7

4.1 - Objetivo Geral e Específicos.....................................................................7

5 - RERENCIAL TEÓRICO..................................................................................8

5.1 – Educação......................................................................................................9

5.2 – Aprendizagem.............................................................................................9

5.3 - A Universidade...........................................................................................10

5.4 - O Professor.................................................................................................10

5.5 - A Crítica ao Ensino Superior Brasileiro..................................................11

5.6 - O Ensino em Administração.....................................................................12

5.7 - A necessidade de aprendizagem organizacional.....................................13

5.8 – Instrumentos da Administração a favor da aprendizagem

organizacional.............................................................................................14

5.9 – Aluno ou Cliente?....................................................................................15

5.10 - A Importância da Pesquisa nas Organizações....................................17

5.11 – Pesquisa - Ação nas Organizações.......................................................17

6 – METODOLOGIA..........................................................................................20

6.1 - Tipos de Pesquisa....................................................................................20

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6.2 - Técnicas de Pesquisa e Instrumentos de Coleta de

Dados..........................................................................................................21

6.3 – Organização, Análise e Interpretação dos Dados ...........................22

6.4 - Limitações e Dificuldades para a Realização das Pesquisas...........23

7 – CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO.......................................24

8 – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA.................................................25

9 – ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES COLETADAS................................29

9.1 – Identificando as Expectativas dos Alunos........................................30

9.2 – Outros Indicadores Importantes.......................................................35

9.2.1 – Ausência da Coordenação do Curso..........................................36

9.2.2 – Ausência do Diretório Acadêmico (D.A.)..................................36

9.2.3 – Professores e Disciplinas não Integrados..................................37

9.2.4 – Discrepância entre Prática e Teoria?........................................38

9.2.5 – Matérias Tratadas de Forma Superficial..................................38

9.2.6 – Indicadores Positivos...................................................................39

9.3 – Aluno, Cliente e “Insumo”................................................................41

9.3.1 – O Aluno enquanto aluno............................................................41

9.3.2 – O Aluno enquanto “Insumo”....................................................45

9.3.3 – O Aluno enquanto Cliente........................................................46

9.4 – Propondo Alternativas para Melhorias.........................................48

9.4.1 – Equilibrar as Expectativas.......................................................48

9.4.2 – Aumentar a Qualidade das Aulas...........................................49

9.4.3 – Marketing Interno e Marketing Interativo...........................50

9.4.4 – Voltar-se para o “Cliente”......................................................51

10 – CONCLUSÃO......................................................................................51

11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................53

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1 – INTRODUÇÃO

O objetivo principal do projeto foi identificar os pontos críticos de satisfação dos

alunos do curso de Administração de Empresas da PUC Rio, na intenção de se buscar

alternativas para melhorias contínuas que levem a uma maior satisfação destes com o seu

curso, a partir de uma análise do problema sob o ponto de vista das Ciências Gerenciais.

A escolha deste tema foi motivada principalmente pela percepção de um clima de

insatisfação generalizado com o curso, na medida em que nem sempre o que é proposto

pela Universidade como um ideal de ensino parece chegar ao seu ponto último: a sala de

aula.

A verdade é que essas suspeitas foram confirmadas, através da pesquisa realizada

junto aos alunos, professores e coordenação do curso. Entretanto, a complexidade de se

tratar o ensino superior acabou por mostrar que, além de Administração, diversas outras

áreas do conhecimento são envolvidas no sentido de se buscar melhorias no ensino.

O curso de Administração, voltado para a ação por sua própria natureza, trás em si

este complicador a mais, o que se reverte em mais cobrança por parte dos alunos e que,

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como foi demonstrado, não contempla toda a problemática em que está envolvido. Tratar o

aluno somente como "cliente" não é a solução, assim como tratá-lo somente como "aluno"

ou "produto" também não o é. A Universidade e o Ensino Superior trazem consigo

especificidades e complicadores que desafiam o trabalho do administrador.

2 – PROBLEMA

Tendo em vista um suposto clima de insatisfação com o curso de Administração de

Empresas da PUC Rio, por parte de seus alunos, e, observando-se o problema sob o campo

das Ciências Gerenciais, como as técnicas e habilidades administrativas podem contribuir

para a busca de alternativas para uma constante melhoria neste mesmo curso?

3 – JUSTIFICATIVA

A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro é uma das maiores instituições

de ensino do Brasil e tem como destaques a grande estrutura física e enorme quantidade de

alunos por todo o Estado. Destaca-se no Rio de Janeiro, principalmente, pelo

posicionamento como instituição particular, comunitária e confessional, de caráter público

não estatal, sem fins lucrativos, o que lhe permite proporcionar preços mais baixos aos seus

alunos.

Presente no Estado a mais de 60 anos, a PUC Rio conta com uma ótima estrutura

física , de 140 mil m2 de área. Oferece 113 salas, 2 auditórios com sistema informatizado

de apresentações e diversos laboratórios muito bem equipados que acomodam,

aproximadamente, 10200 alunos de graduação, 1500 em cursos de mestrado e doutorado,

além de mais de 4000 matrículas por ano em pós-graduação “lato sensu”. Distribuído em

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23 departamentos, seu quadro de funcionários conta com mais de 1000 professores, 20

auxiliares de Ensino e Pesquisa e mais de 800 entre pessoal administrativo, técnico e

operacional.

O curso de Administração de Empresas busca, segundo a proposta da universidade,

oferecer aos alunos uma visão abrangente do processo administrativo, enfocando tanto as

perspectivas das áreas funcionais de produção, finanças, marketing, recursos humanos, e

demais áreas. O projeto didático-pedagógico da unidade Rio tem a pretensão de contribuir

para o desenvolvimento econômico e o bem-estar social da cidade e da região,

concentrando-se em temas e linhas de pesquisa sobre Competitividade e Gestão de

Negócios.

Entretanto, tem-se observado que os objetivos propostos pela Universidade parecem que

nem sempre são alcançados quando este problema chega ao seu ponto último: a sala de

aula, onde acontece o convívio aluno-professor e onde se busca o processo que leva ao

ensino-aprendizagem.

Percebe-se, na maioria das vezes, uma insatisfação instaurada por parte dos alunos

com o seu curso, uma vez que o ato de ensinar, no decorrer do curso e, salvo exceções,

parece se reduzir a uma rotina burocrática para a qual não se exige maior competência e

dedicação por parte de professores e alunos.

Estes aspectos levam a críticas que não são exclusivas do curso de Administração de

Empresas da PUC Rio, mas observadas também em vários debates a respeito do assunto,

tais como as dúvidas: a descontinuidade e baixa integração entre disciplinas (o curso

enquanto uma "colcha de retalhos"); pragmatismo e empirismo excessivos; discrepância

entre prática e teoria; obsolescência rápida de conteúdos; perfil do profissional difuso e

risco de se formar um generalista com conhecimento superficial de uma ampla gama de

conhecimentos ("curso de variedades", "generalidades").

Sem desconsiderar a complexidade deste campo, o presente trabalho de pesquisa

tem a pretensão de buscar respostas práticas e próximas ao dia-a-dia do estudante de

administração de empresas da PUC Rio, na intenção de se observar estes problemas sob a

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óptica das Ciências Gerenciais e buscar indicadores que permitam propor alternativas para

melhorias neste mesmo curso. Portanto, por que não aplicar os conhecimentos do curso em

benefício do próprio curso?

4 – OBJETIVOS

Para analisar o problema levantado foi necessário traçar o que se pretendia realizar e

as etapas que deveriam ser seguidas e executadas para sua conclusão. Para isso, serão

descritos a seguir o objetivo geral e os objetivos específicos do projeto.

4.1 - Objetivo Geral e Específicos

• Identificar e diagnosticar o nível de satisfação dos alunos do curso de

Administração de Empresas;

• Obter as demandas dos alunos em relação a uma melhoria do curso;

• Obter o ponto de vista dos professores e suas demandas em relação aos problemas

enfrentados, estrutura do currículo, condições em sala de aula, materiais e recursos

didáticos disponíveis, entre outros;

• Levantar as propostas da Universidade em relação ao curso e verificar como estas

propostas chegam (e se chegam) na prática;

• Identificar os pontos críticos do curso e os fatores de sucesso na satisfação das

demandas dos alunos por ensino;

• Propor possíveis melhorias na intenção de se aumentar a satisfação dos alunos com

seu curso

5 - RERENCIAL TEÓRICO

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A Universidade é, antes de tudo, uma Organização. Como toda Organização ela tem

seus objetivos, seus recursos e também seus problemas e, onde há uma organização, há

campo de estudo e atuação para o administrador.

Para se discutir os problemas da Universidade, mesmo que sob a óptica das Ciências

Gerenciais, foi necessário passar pelos conceitos que permeiam o meio acadêmico de

ensino. Como toda prática empresarial, fez-se necessário um profundo trabalho de pesquisa

e estudos sobre o que se pretendeu analisar, sobre o campo da educação, suas práticas, seus

conceitos e sobre sua organização: a Universidade.

Sabendo-se da importância das informações do campo gerencial em geral e, de sua

organização em seu meio particular, o presente estudo buscou apresentar os principais

pontos que devem ser abordados e desenvolvidos para se partir em direção dos objetivos

propostos.

No entanto, neste momento se faz necessária uma ressalva: livros inteiros são escritos sobre

os temas abordados neste trabalho, entretanto, para os objetivos deste projeto, procurou-se

discutir o ponto principal de cada questão, buscando sim o entendimento e a clareza, sem

porém ter o descuido ou a pretensão de ser simplista.

5.1 – Educação

Pode-se definir educação como um processo que se baseia na reflexão sobre a

realidade e, simultaneamente, assimila suas necessidades e a crítica em suas

inconsistências, na intenção de atendê-la em ambos os aspectos (MARTINS, 1985).

O objetivo da educação, sob a perspectiva do ensino moderno segundo MIZUKAMI

(1986), não consiste na transmissão de verdades, informações, demonstrações, modelos

etc., e sim em que o aluno aprenda, por si próprio, a conquistar estas verdades. A educação

pode ser considerada como um processo de socialização que leva à autonomia intelectual,

desenvolvendo a personalidade e a aquisição de instrumentos lógico-racionais. Sendo

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assim, "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

produção ou a sua construção" (FREIRE, 1996).

5.2 – Aprendizagem

Diversas são as abordagens para este tema, passando pela definição do modelo

tradicional até os conceitos mais modernos a respeito. Para DEMO (1999), defensor de

modelos de ensino mais modernos, aprendizagem é definida como um esforço

reconstrutivo pessoal. Segundo ele, educação só é educação se vem de dentro para fora, se

é um movimento de autonomia, de crescimento do aluno, onde o professor é o guia, o

responsável por conduzir este processo.

Contrariamente, o modelo tradicional de ensino (que é o predominante no ensino atual e

alvo de inúmeras críticas), coloca a ênfase às situações de sala de aula, onde os alunos são

"instruídos" e "ensinados" pelo professor (MIZUKAMI, 1986). Neste modelo, evidencia-se

o caráter cumulativo do conhecimento humano, adquirido pelo indivíduo por meio de

transmissão, como aponta MIZUKAMI (1986, p.13): "Comumente, pois, subordina-se a

educação à instrução, considerando a aprendizagem do aluno como um fim em si mesmo:

os conteúdos e as informações têm de ser adquiridos, os modelos imitados".

5.3 - A Universidade

A Universidade é uma instituição que tem como matéria prima o conhecimento, e

existe para servir a sociedade e contribuir para o seu desenvolvimento. Constitui-se de uma

organização complexa, não só pela sua condição de instituição especializada, mas

principalmente pelo fato de executar tarefas múltiplas relacionadas a ensino, pesquisa e

extensão, onde cada tarefa tem uma metodologia de trabalho que lhe é própria, diferente

daquela desenvolvida pelas outras organizações (Zanella & Angeloni, 1999). Sua função

quanto ao seu relacionamento com a sociedade suscita posições polêmicas e antagônicas:

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tratar a atividade científica visando o desenvolvimento ou produzir conhecimento técnico

para o os setores produtivos simplesmente; exercer papel de educação superior voltada para

a preparação de indivíduos para o exercício de tarefas profissionais, determinadas pelas

políticas de desenvolvimento, ou à formação do homem para a vida social, dando-lhe

condições de responder às necessidades da sociedade (Zanella & Angeloni, 1999).

Segundo o magnífico reitor da PUC Rio, Pe. Jesus Hortal, o processo educativo é

parte da totalidade das relações sociais: não se forma ninguém para ter um diploma, mas

para a vida, para os desafios que vêm a partir daí. Segundo ele, a "Universidade é um

conjunto de saberes; um encontro entre ciência e fé; um lugar de encontro entre a

academia e a sociedade, entre a cultura, a ciência".

A Universidade vive assim, um constante desafio, ser fruto da sociedade e ao

mesmo tempo transformá-la (Zanella & Angeloni, 1999).

5.4 - O Professor

Afinal, qual o papel do professor? Muitas são as definições em torno dos elementos

que compõem o meio acadêmico, sobre educação, ensino, aprendizagem e sobre o papel do

professor. Para DEMO (1999), o professor deve ser o condutor do processo de

aprendizagem, na medida em que conduz a interação do aluno com o conhecimento, a

realidade e o processo científico. Ele afirma que o papel do professor não pode ficar

limitado ao ato de "dar aula", de apenas retransmitir verdades ditas como absolutas, num

processo "de fora para dentro". "O compromisso do professor é com o aluno, e não com a

teoria, que passa. (...) O professor deve ser condutor do processo que leva ao aluno a

independência, à autonomia, à reconstrução do conhecimento" (DEMO, 1999).

O educador democrático, segundo FREIRE (1996), não pode negar-se o dever de

reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. No aprender

criticamente, educador e educando são sujeitos do processo.

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5.5 - A Crítica ao Ensino Superior Brasileiro

A realidade do ensino superior brasileiro é alvo de críticas contundentes, como

aponta TEIXEIRA (1996), onde o conhecimento é meramente "transmitido", através de

uma cultura baseada no modelo tradicional de ensino, com professores "aulistas" e sem

comprometimento com o processo de aprendizagem.

"A Universidade do ano 2000 não pode continuar se limitando a depositar informações na

cabeça do aluno e checar sua recepção com provas periódicas. Informação se guarda em

livros, anotações, disquetes, não na cabeça. A Universidade tem que ensinar o aluno a

trabalhar com a informação, a lidar com ela. Tem que fixar o processo, não o produto".

(TEIXEIRA, 1996. p4).

O grande desafio é propor alternativas para a Universidade atual que, na maioria das

vezes, está fundada no modelo tradicional de ensino, através de programas minuciosos,

rígidos e coercitivos. Segundo MIZUKAMI (1986. pp. 17-18), neste modelo a escola é o

local da apropriação do conhecimento, onde a ênfase não é colocada no educando, mas sim

no professor, detentor do patrimônio cultural: "o indivíduo nada mais é do que um ser

passivo, um receptáculo de conhecimentos escolhidos e elaborados por outros para que ele

deles se aproprie".

5.6 - O Ensino em Administração

O ensino de administração tem sido um constante desafio para as Escolas de

Administração, com a preocupação pela qualidade da formação do administrador. Algumas

dificuldades no ensino de Administração estão relacionadas às especificidades do próprio

curso, como por exemplo, o caráter interdisciplinar e pragmático da profissão.

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Diversos problemas e críticas são observadas em vários debates a respeito do

assunto: a descontinuidade e baixa integração entre disciplinas, pragmatismo e empirismo

excessivos, discrepância entre prática e teoria, perfil do profissional difuso e aspecto

generalista com conhecimento superficial de uma ampla gama de conhecimentos

(TEIXEIRA, TEODÓSIO & ROSSI, 1996).

Segundo os mesmos autores, tais problemas não são exclusivos do campo de ensino

em Administração. Muitas vezes as iniciativas em prol de alternativas de ensino nesta área

não atingem o modelo de ensino como um todo, ficando limitado a discussões de

"Formação e Treinamento":

"Usualmente passa-se à discussão de temáticas variadas, dentre as quais currículos,

disciplinas, posição na grade curricular, conteúdos programáticos, práticas e recursos de

ensino e uma série de mecanismos que visam assegurar a qualidade da formação

profissional e a sua adequação à realidade de mercado. (...) o fato é que essa temática, por

todas as implicações que engendram na atividade de ensino, tem recebido atenção aquém

da sua importância" (TEIXEIRA, TEODÓSIO & ROSSI, 1996. p.1).

Segundo Zanella & Angeloni (1999), há um sólido consenso em torno da idéia de

que o ensino superior não está devidamente ajustado à realidade brasileira. Particularmente,

vários trabalhos ressaltam as deficiências do ensino ofertado pelas escolas de

Administração, na medida em que não conseguem acompanhar o ritmo das mudanças nas

empresas.

As mesmas autoras afirmam que o curso deve estar voltado não apenas para a praticidade,

mas também para ensinar as pessoas a pensar, a aprender, em um processo contínuo e

constante. Neste sentido, ainda muito se tem a fazer para atingir a excelência acadêmica

desejada a fim de se proporcionar o futuro administrador o conhecimento e a formação

necessários ao exercício de sua profissão.

5.7 - A necessidade de aprendizagem organizacional

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Segundo FOGUEL & SOUSA (1995), para compreender uma Organização, faz-se

também necessário tratá-la de forma individual, valorizando a sua unicidade, ao invés de

procurar enquadrá-la em teorias que não contemplam as peculiaridades que a

individualizam.

Neste sentido, a aprendizagem que cada organização acumula sobre si mesma é

fundamental para um crescimento constante. VILLARDI & LEITÃO (2000, pp. 57-59)

afirmam que:

"A aprendizagem deve ser definida como um processo, tanto intencional quanto

espontâneo, através do qual as organizações compreendem e administram suas

experiências. (...) a aprendizagem é um processo de detectar e corrigir erros (...) processo

pelo qual as organizações se dão conta das qualidades, padrões e conseqüências de suas

próprias experiências e desenvolvem modelos mentais para entender esta experiência".

Para DEMO (1999), a universidade moderna se define como uma instituição onde

se aprende a aprender, neste sentido, é lastimável que a universidade não pratique sua

ciência em benefício do ensino, em benefício de si mesma.

5.8 – Instrumentos da Administração a favor da aprendizagem

organizacional

Como foi mencionada, a proposta deste trabalho era observar onde é possível valer-

se de Administração em benefício deste mesmo curso. Para tanto, a partir deste momento,

desenvolvem-se alguns conceitos que se mostram importantes e, por que não (e com todo o

cuidado), iniciar-se pelo marketing?

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Segundo KOTLER (1994), em anos recentes, o marketing tronou-se um assunto de

interesse crescente para os gerentes das organizações que não visam o lucro, tanto públicas

como privadas. Os conceitos, instrumentos e modelos estão cada vez mais sendo adotados

em benefício destas organizações.

"Todas, basicamente, atendem a mercados específicos. Contudo, muitas ainda não se

deram conta da existência e da dependência que têm de seus mercados e respectivos

consumidores. Como toda organização que visa ao lucro, tais atividades envolvem

produtos ou serviços que, de uma forma ou de outra, satisfazem certos anseios e

necessidades de seus consumidores" (KOTLER, 1994. p11.)

Apesar da importância de estarem voltadas para seus públicos, poucas destas organizações,

salvo raras exceções, se preocupam em entender, identificar e mesmo comunicar-se com

seus vários mercados (e públicos) de forma organizada e previamente planejada (KOTLER,

1994).

Como então definir marketing para estas organizações? Pode-se dizer que "marketing é a

administração eficaz, por parte de uma Organização, de suas relações de troca com seus

vários mercados e públicos" (KOTLER, 1994. PP.13-14).

Segundo o mesmo autor, todas as organizações operam em um meio ambiente de um ou

mais mercados e públicos. Uma universidade, por exemplo, opera em um mercado de

estudantes, em um mercado de faculdades e em um mercado de opinião pública.

Apesar da relevância do assunto, KOTLER (1994) chama a atenção dizendo que esta

transposição dos conceitos aplicados às organizações que visam o lucro, para as

organizações que não visam o lucro, exige uma conceituação nova e criativa, configurando-

se como um grande desafio para a sua aplicação.

Com uma visão mais atual, TEODÓSIO (2000) também faz esta mesma

observação: diversos autores apontam para a necessidade de profissionalização dos

indivíduos que atuam em organizações do Terceiro Setor, sobretudo aqueles que atuam em

funções gerenciais. Vários são os benefícios da atuação de uma administração

profissionalizada neste setor. Entretanto, segundo o mesmo autor, "a transposição de

técnicas gerenciais oriundas da esfera privada não se dá de maneira linear e absoluta,

esbarrando nas especificidades da gestão social" (TEODÓSIO, 2000. p.12).

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5.9 – Aluno ou Cliente?

Como mencionado anteriormente, segundo SIQUEIRA (2000)3, a Universidade tem

o difícil papel de desenvolver simultaneamente o Treinamento Profissional (ensinar) e a

Formação de Cidadãos (educar), onde esta última se constitui a sua maior Missão. As

pressões exercidas pelo mercado, no sentido de se formar profissionais qualificados e, pelos

estudantes, no sentido de atender suas demandas de formação profissional, devem ser

ouvidas com certo cuidado, não reduzindo a universidade a agência de empregos eficiente.

Neste sentido, não se pode limitar este tema a discursos clientelistas, visto a sua

complexidade e a complexidade de sua Organização.

"A Universidade [é] uma Organização complexa não só pela sua condição de Instituição

especializada, mas principalmente pelo fato de executar tarefas múltiplas, onde cada tarefa

(relacionadas com ensino, pesquisa e extensão) tem uma metodologia de trabalho que lhe é

própria, diferente daquela desenvolvida pelas outras Organizações. (...) a Universidade

detém o duplo desafio: precisa comprovar-se tecnologicamente competente, quando menos

para corresponder ao futuro próximo e às Instituições das novas gerações, e precisa ser

casa de educação, na qual as pessoas encontrem condições formativas motivadoras, ou

seja, profissionais competentes e cidadãos ativos. A educação deve colocar-se como uma

alavanca central do desenvolvimento da sociedade e da economia, equilibrando os

desafios tecnológicos com os compromissos educacionais." (Zanella & Angeloni,1999,

pp.1-2)

Todavia, a Universidade é antes de tudo uma organização, e como toda organização, ela se

presta a executar serviços aos seus diversos públicos (alunos, sociedade, empresas, etc.).

Segundo KOTLER (1994), toda organização é uma aglutinação proposital de pessoas,

materiais e instalações, procurando alcançar algum propósito no mundo exterior.

Consciente destes aspectos, a discussão entre "aluno ou cliente" passa, neste instante, para

uma discussão sobre ponto-de-vista como uma forma de análise, e não mais uma discussão

de conceitos ao redor do tema.

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Neste sentido, leva-se a discussão sob o ponto-de-vista do marketing, que é uma área de

estudos em Administração de Empresas e que se mostra como uma ótima forma de se

entender este questão de aluno-cliente, visto sua contribuição para as Ciências Gerenciais

no que tange as relações de troca existentes entre uma Organização e seus diversos

públicos.

"A troca é o conceito central de marketing. Exige a oferta de valor a alguém, em troca de

valor. Através das trocas, várias unidades sociais – indivíduos, pequenos grupos,

organizações, nações inteiras – obtêm os insumos de que precisam. (...) Um profissional de

marketing é uma pessoa muito boa em compreender, planejar e controlar as trocas. Ele

sabe como pesquisar e compreender as necessidades da outra parte; sabe como projetar

uma oferta valiosa a fim de preencher essas necessidades; sabe como comunicar

eficazmente a oferta; e sabe como apresentá-la num bom lugar e dentro de circunstâncias

precisas de tempo." (KOTLER, 1994. p.20)

O marketing está voltado para o público da organização, no sentido de ouvir,

estudar e entender este público, transformando sua ação em relacionamentos produtivos e

duradouros de trocas, em seu sentido mais amplo. O marketing enfatiza sobremaneira a

mensuração das necessidades e desejos do mercado-alvo. Se a organização não fizer isso,

ou não o fizer muito bem, os clientes estarão propensos a serem mal servidos, o que é

prejudicial para ambos os lados. A apatia ou o moral baixo de muitos estudantes

universitários, por exemplo, provêm do fracasso de algumas universidades em serem

suficientemente sensíveis às suas necessidades e desejos (KOTLER, 1994).

5.10 - A Importância da Pesquisa nas Organizações

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Segundo MATTAR (1996), a forma mais adequada de reduzir riscos e identificar

pontos críticos em uma Organização é efetuar análises e tomar decisões com base no maior

conhecimento possível do comportamento das variáveis ambientais inerentes a esta

organização. Para tanto, a pesquisa é a principal forma de se obter as informações sobre o

ambiente interno e externo da organização.

Através da pesquisa, a organização se abre para o entendimento do ambiente em que está

inserida e se põe a disposição para ouvir as pessoas que fazem parte da organização:

clientes, funcionários, sociedade... Uma organização que não pratica a pesquisa como

forma de se verificar a sua atuação é uma organização fechada em si mesma, míope, que se

torna vulnerável a problemas tais como mudanças no ambiente, insatisfação de cientes,

insatisfação de funcionários... (KOTLER & ARMSTRONG, 1998).

5.11 – Pesquisa - Ação nas Organizações

Sabido da importância das relações entre a Organização e seus diversos públicos

(clientes, funcionários, colaboradores, comunidade, dirigentes, etc.), a teoria de pesquisa-

ação constitui-se também um relevante instrumento da Administração, em especial, para os

objetivos deste trabalho.

Segundo THIOLLENT (1997), a Pesquisa Ação consiste essencialmente em acoplar

pesquisa e ação em um processo no qual os atores implicados participam, junto com os

pesquisadores, para chegarem interativamente a elucidar a realidade em que estão inseridos,

identificando problemas coletivos, buscando e experimentando soluções em situação real.

Para tanto, o ponto de partida situa-se geralmente na demanda da organização-cliente,

sendo impossível realizar esse tipo de experiência à revelia dos membros da Organização.

A Pesquisa Ação é uma proposta que pertence aos métodos de pesquisa social aplicada.

Segundo THIOLLENT (1997), a pesquisa social voltada para a área de organização pode

ser conduzida de duas maneiras:

(a) pesquisa básica de tipo acadêmico;

(b) pesquisa aplicada centrada no "cliente" (aqui grifada por ir de encontro aos

propósitos deste trabalho).

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A Pesquisa Social Básica visa, segundo o mesmo autor, produzir conhecimento por

meio de conceitos, tipologias, verificação de hipóteses e elaboração de teorias que possuem

relevância na disciplina acadêmica e em função de determinadas escolas de pensamento.

Sua observação é utilizada como meio de comprovar hipóteses, sem preocupação de

resolução de problemas. Seus resultados são generalizáveis e expostos em livros e revistas,

submetidos à avaliação dos pares.

A Pesquisa Aplicada concentra-se em torno dos problemas presentes nas atividades

de instituições, organizações, grupos ou atores sociais, estando empenhada na elaboração

de diagnósticos, identificação de problemas e busca de soluções. Seus resultados são

práticos e desempenham função particularizante, respondem a uma demanda formulada

por "clientes", atores sociais ou instituições (THIOLLENT, 1997).

Neste caso, o processo de diagnóstico é interativo e não se limita a trazer informações, mas

também desenvolve os raciocínios que são propícios para a busca de soluções. O

diagnostico e a resolução de problemas práticos que são encontrados na situação são

efetuadas com base em diversos tipos de conhecimentos, advindos de todos os envolvidos

com o trabalho (THIOLLENT, 1997).

Segundo o mesmo autor, é importante ressaltar as condições que tornam possível e

eticamente sustentável o trabalho de pesquisa-ação:

• A iniciativa de pesquisa parte de uma demanda de pessoas ou grupos que não

ocupam as posições de topo do poder;

• Os objetivos são definidos com autonomia dos atores e com mínima interferência de

membros da estrutura formal;

• Todos os grupos sociais implicados no problema escolhido como assunto da

pesquisa são chamados para participar do projeto e de sua execução;

• Todos os grupos têm liberdade de expressão. Medidas são tomadas para evitar

censuras ou represálias;

• Todos os grupos são mantidos informados no desenrolar da pesquisa;

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• As possíveis ações decorrentes da pesquisa são negociadas entre os proponentes e

os membros da estrutura formal;

• Em geral, as equipes internas que promovem a pesquisa são auxiliadas por

consultores ou pesquisadores externos.

Indo de encontro aos objetivos deste trabalho, THIOLLENT (1997, p.24) chama a atenção

para os seguintes pontos:

"A realização de uma Pesquisa Ação é facilitada nas Organizações de cultura

democrática, quando já existe o reconhecimento e a participação de todos os grupos. É

também constatado que a pesquisa-ação é mais facilmente aceita em empresas ou

instituições públicas [ou do terceiro setor] que instituições privadas. Seja como for, no

‘espírito’ da Pesquisa Ação são valorizadas a interação e a busca de autonomia coletiva.

Isto é incompatível com o ‘espírito’ de competição individualista e também com o ‘espírito’

autoritário, burocrático ou centralizador." THIOLLENT (1997, p.24)

O mesmo autor faz algumas observações em relação às limitações deste tipo de trabalho: A

pesquisa-ação não pretende resolver conflitos sociais fundamentais que não têm soluções

no espaço ou no tempo de uma pesquisa localizada. Não se trata de mudar a sociedade (ou a

organização como um todo). O foco é dado a fatos mais delimitados, tais como problemas

de relacionamento entre as áreas da organização, redefinição de identidade, treinamento de

certas categorias do pessoal, mudanças no relacionamento hierárquico ou interpessoal,

negociação de transformações decorrentes de inovações tecnológicas, formulações de

reivindicações etc.

"O objetivo final não é a total libertação de todos os males que afligem a humanidade [ou

organização]. É apenas um esforço limitado de pesquisa para aumentar o conhecimento e

a consciência das pessoas e dos grupos envolvidos no processo, com delineamento de

ações concretas de curto e médio prazos." THIOLLENT (1997, p.27)

Estas considerações finais dão a base de sustentação mínima necessária sobre a qual foi

desenvolvido o presente trabalho, com foco no diagnostico dos problemas do curso de

Administração de Empresas da PUC Rio e na intenção de se indicar pontos críticos de

sucesso deste mesmo curso no atendimento às demandas de seus alunos por um ensino que

supere os problemas conjunturais no qual está inserido.

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6 - METODOLOGIA

A metodologia tem a função de determinar o caminho a que foi seguido para a

realização da pesquisa do presente projeto. Com o desenvolvimento desta pesquisa, foi

possível não somente identificar a opinião dos alunos em relação aos problemas de seu

curso, mas também obter uma "radiografia" destes problemas e diagnosticar os pontos onde

eles se originam e o que eles afetam.

Serão definidos, a seguir, os tipos e as técnicas de pesquisa, assim como os instrumentos de

coleta de dados utilizados.

6.1 - Tipos de Pesquisa

Foram utilizados os dois tipos de pesquisa considerados mais indicados para este

projeto: A Pesquisa Exploratória e a Pesquisa Descritiva.

Segundo MATTAR (1996), a pesquisa exploratória visa prover o pesquisador de um maior

conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva, sendo útil quando

ainda não se tem um conhecimento seguro sobre o tema em questão, proporcionando ao

pesquisador um maior aprofundamento e esclarecimento sobre o assunto. Principalmente

neste projeto, este tipo de pesquisa é extremamente relevante, pois uma universidade não se

trata de uma organização comum, de uma empresa "normal", mas sim de uma organização

extremamente complexa devido ao seu caráter de múltiplas tarefas (relacionadas com

ensino, pesquisa e extensão – ou, ensino e educação).

Ainda destacam-se, dentre outros, os seguintes objetivos de uma Pesquisa Exploratória:

- ajudar no desenvolvimento ou na criação de hipóteses;

- clarificar conceitos;

- ajudar no delineamento do projeto final da pesquisa;

- estabelecer prioridades para futuras pesquisas;

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Já a pesquisa descritiva, segundo o mesmo autor, tem a característica de possuir objetivos

bem definidos, procedimentos formais, ser bem estruturada e dirigida para a solução de

problemas ou a indicação de alternativas de ação.

Sua relevância para este projeto se deu pela necessidade de se descrever as características

dos alunos, dos professores e das relações entre as diversas variáveis que envolvem estes

atores no dia-a-dia do curso de administração. O autor ressalta que, para este tipo de

pesquisa, é muito importante que se tenha um planejamento rigoroso, sabendo-se, para o

problema em particular, quais são os dados relevantes a serem coletados. "O pesquisador

precisa saber exatamente o que pretende com a pesquisa, ou seja, quem (ou) o que deseja

medir, quando e onde o fará, como fará e por que deverá fazê-lo." (MATTAR, 1996. p.23).

6.2 - Técnicas de Pesquisa e Instrumentos de Coleta de Dados

Como indica MATTAR (1996), a pesquisa exploratória utiliza métodos bastante

amplos e versáteis. Neste trabalho, foram utilizadas técnicas como: levantamento em fontes

secundárias, levantamentos de experiências, estudo de caso e observação informal.

O Levantamento de Fontes Secundárias para este trabalho compreende:

a) levantamentos bibliográficos, que são uma das formas mais rápidas e

econômicas de amadurecer ou aprofundar um problema através de

conhecimentos de trabalhos já feitos por outros;

b) levantamentos documentais, através de informações contidas em documentos da

própria Organização;

c) levantamento de pesquisas efetuadas, o que facilita o trabalho na medida em que

se busca pesquisas já efetuadas sobre o tema em questão.

Ü Levantamento de Experiências é útil para se captar os conhecimentos que não estão

escritos e que, muitas vezes, estão acumulados nas pessoas da Organização por sua

experiência em determinados assuntos. Particularmente para este trabalho, foram

realizadas entrevistas individuais com o ex-coordenador do curso de administração.

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Ü Estudo de Caso, que compreende este próprio projeto, permite o maior aprofundamento

do estudo em um determinado caso específico.

Ü Finalmente a Observação Informal, porém dirigida, que permite centrar a observação

em objetos, comportamentos e fatos de interesse para o projeto. Este tipo de pesquisa é

baseado na capacidade natural do pesquisador em observar continuamente o ambiente

ao seu redor.

Os métodos da pesquisa descritiva que foram utilizados para este trabalho a seguir:

entrevistas pessoais, questionários pessoais e observação.

Entrevistas Pessoais, segundo MATTAR (1996), exigem grande habilidade para a sua

aplicação. O perfil de qualificações precisa ser elevado e deve estar perfeitamente

adaptado às características do público a ser pesquisado, sendo importante também

manter um processo de empatia entre entrevistador e entrevistado. Esta técnica de

pesquisa foi aplicada principalmente junto ao ex-coordenador do curso de

administração, na forma de entrevista semi-estruturada, apropriada nestes casos, pois

permite certa flexibilidade sem, no entanto, correr o risco de desviar-se de seus

objetivos.

Questionário, também chamado pelo mesmo autor de questionário autopreenchido,

constitui-se de um instrumento de coleta de dados lido e preenchido pelos próprios

pesquisados, não havendo a figura do entrevistador. Ao contrário das entrevistas

pessoais, o questionário exige pouca habilidade para a sua aplicação. Esta técnica de

pesquisa foi aplicada, principalmente, junto aos alunos do curso de administração,

devido a maior capacidade de se abranger uma grande quantidade de alunos do curso de

administração. Entretanto, também se tornou interessante buscar sua aplicação junto aos

professores do curso, visando uma posterior tabulação, mais objetiva e que completasse

e validasse os resultados das entrevistas.

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Por último, o método da Observação, segundo o mesmo autor, consiste no registro de

comportamentos, fatos e ações relacionados com o objetivo da pesquisa e sem que haja

comunicação com os pesquisados, não envolvendo questionamentos e respostas, orais

ou escritas. Neste trabalho foi utilizada a observação não estruturada

– que está mais relacionada à pesquisa exploratória – na intenção de se desenvolver

hipóteses de relações casuais, comportamentos e situações envolvendo alunos e

professores no meio acadêmico (e, quando possível, extra-acadêmico).

6.3 – Organização, Análise e Interpretação dos Dados

Após a coleta de dados, foi feita a Organização dos mesmos com o auxílio de

aplicativos computacionais adequados, constituindo-se de tabelas e gráficos que facilitaram

a visualização e os cálculos. Os dados coletados foram classificados, codificados e

tabulados sintetizando todas as informações para a realização da análise e interpretação.

A análise dos dados consiste na tentativa de evidenciar as relações existentes entre o

objeto estudado e os demais fatores. Neste momento o pesquisador busca detalhar os dados

quantitativos com o objetivo de conseguir respostas às perguntas e estabelecer as relações

destes com as hipóteses formuladas.

Posteriormente, realizou-se a interpretação dos dados, ou seja, foi dado um significado mais

amplo às respostas, relacionando-as com a teoria apresentada pelo presente estudo.

6.4 - Limitações e Dificuldades para a Realização das Pesquisas

A principal dificuldade encontrada para a realização das pesquisas propostas se

concentrou na fase de coleta de dados e informações, que necessitaram de tempo disponível

do entrevistador e dos entrevistados, o que muitas vezes demonstram-se incompatíveis.

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Um ponto que traz dificuldades para este trabalho refere-se à própria organização a

ser pesquisada, a universidade, pois não se trata de uma organização simples ou o que se

pode chamar de comum, de uma empresa "normal", mas sim de uma Organização

extremamente complexa devido ao seu caráter de múltiplas tarefas (relacionadas com

ensino, pesquisa e extensão – ou, ensino e educação).

Outra dificuldade encontrada foi a resistência dos professores do curso, uma vez que

a pesquisa necessariamente envolveu pontos polêmicos e controvertidos inerentes ao seu

próprio trabalho como docentes da Universidade.

Por causa desta complexidade, que envolveu uma gama de informações relativamente

grande, exigiu-se um tempo de dedicação igualmente extenso, configurando-se também

como uma limitação à este trabalho.

7 – CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO

Fundada em 1938, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro é a maior

instituição de ensino superior do Estado. Com uma mega infra-estrutura e seus atuais 60

anos de tradição, a PUC Rio se orgulha de seus valores cultivados desde sua formação,

onde se buscava na sua essência, segundo a instituição, a saúde física e mental das pessoas,

com o resgate dos pobres e com a justiça e os direitos fundamentais dos cidadãos.

No universo da PUC Rio convivem hoje cerca de 15 mil estudantes, 1.000

professores . Diante dessa magnitude tem-se uma idéia da complexidade organizacional a

qual está submetida. Principalmente no tocante à complexidade administrativa.

Em pleno ano 2001, e no contexto da revolução tecnológica, a PUC Rio cresceu e

modernizou, mas continua declarando não ter deixado de lado os ideais sociais os quais

leva em seu próprio nome.

Essa em si é a principal característica que delineia as atividades da instituição: o fim maior

social. Para tanto, uma de suas políticas principais é a de procurar praticar preços mais

acessíveis, visto que não se configura como uma instituição com fins lucrativos.

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Além do curso de Administração, PUC Rio oferece outros 10 cursos de graduação. Em

especial, o curso de Administração conta hoje com 519 alunos matriculados, onde

praticamente metade reside em Betim e os demais nas cidades vizinhas, principalmente na

capital.

8 – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Foram pesquisados 158 alunos do 4o. ao 10o. período, representando 30% do total

de 519 alunos do curso de Administração PUC Rio. Este número se mostrou mais do que

suficiente para a caracterização de uma amostra que se apresentasse representativa diante

do total de elementos.

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2

Além do bom número de alunos pesquisados, teve-se também a preocupação de

uma distribuição uniforme entre o número de alunos pesquisados por período (ver Gráfico-

1), o que garantiu um maior equilíbrio. Os 1o., 2o. e 3o. períodos não foram pesquisados por

se considerar que as opiniões a partir do 4o. período eram mais amadurecidas e com mais

embasamento, visto que o aluno já se encontra na instituição por um período mais longo e

já pôde ter maior contato com a realidade de seu curso.

Em relação à idade dos pesquisados, a maioria dos alunos (44%) se encontra na

faixa entre 22 a 25 anos (faixa considerada como a normal de passagem pela universidade).

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Entretanto, esses números levam a uma suposição muito importante: Praticamente metade

dos alunos (44%) tem idade superior a 25 anos, o que pode indicar um maior nível de

cobrança e expectativa em relação ao curso, visto que a maioria já se encontra no mercado

de trabalho (ver tabela 3), com considerável experiência e em contato com a realidade

empresarial e suas contradições – este fato pode elevar o nível de exigência em relação às

aulas (o que será melhor visto mais a diante). O Gráfico 2 mostra a distribuição dos alunos

por faixa etária.

As Tabelas 1 e 2 mostram a distribuição por Gênero e Estado Civil,

respectivamente. Pode-se perceber uma certa uniformidade entre a participação de homens

e mulheres no curso de administração, com uma pequena tendência a maioria masculina.

Estes dados vêm reforçar o interesse e a participação feminina na área gerencial. Já em

relação ao estado civil dos pesquisados, a grande maioria (72%) é solteira, o que pode

indicar a formação universitária como prioridade em suas vidas pessoais.

Tabela 1 – Distribuição por Gênero

Descrição No.absoluto Percentual

Masculino 81 51,3

Feminino 72 45,6

Fonte: Pesquisa

Tabela 2 – Distribuição por Estado Civil

Descrição No.Absoluto Percentual

Solteiro 114 72,2

Casado 39 24,7

Viúvo 0 -

Desquitado 1 0,6

Fonte: Pesquisa

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O Gráfico 3 apresenta a distribuição por cidade de residência dos alunos. Pode-se

observar que praticamente metade dos alunos do curso de Administração (49%) é da Zona

Sul, contra 30% da Zona Oeste, 12% da Zona Norte e 9% dos municípios próximos ao Rio.

Outras

ZonaOeste

ZonaNorte

ZonaSul

Outros

Bairros onde moram

A pesquisa também indica que a grande maioria (67%) cursou o ensino médio em

escola da rede pública de ensino.

Além disso, a pesquisa também aponta para um fato importante: essa é a primeira

geração que tem acesso ao ensino superior, onde 81% dos alunos pesquisados declararam

que seus pais não têm curso superior:

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Este fato aumenta a responsabilidade social da escola (onde se está formando a

primeira geração de graduados) e também as dificuldades no que se refere ao atendimento

às expectativas dos alunos, uma vez que estes dois fatores podem contribuir para elevar

ainda mais estas expectativas com o curso superior (novidade na família) e pago (onde se

exige mais qualidade).

Tabela 3 – Situação profissional do aluno

Descrição No.Absoluto Percentual

Trabalha 144 91,1

Procurando emprego 9 5,7

Só estuda 1 0,6

A grande maioria (91%) exerce alguma atividade profissional, o que demonstra

algumas suposições importantes: 1 – Já possuem alguma experiência profissional, seja na

própria área ou não, mas, de qualquer forma, já estão inseridos no mercado de trabalho,

tendo contato com o meio empresarial, suas práticas e suas contradições; 2 – A maioria dos

alunos paga seus estudos através de seu trabalho e/ou dependem de sua atividade

profissional para a conclusão do curso superior (este fato já foi mencionado anteriormente,

o que eleva as expectativas e as exigências com o ensino); 3 – Exercendo uma atividade

profissional (geralmente em período integral), sobra pouco tempo para estudos extras, o

que novamente influi no desempenho escolar e aumenta as expectativas por aulas

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autocontidas, ou seja, os alunos elevam suas expectativas em relação as atividades

desenvolvidas dentro de sala de aula (ver também os Gráficos 23 e 24).

Foi perguntado aos alunos também como eles pretendem complementar a sua

formação. A maioria (72%), declarou que pretende fazer pós-graduação, 12% fazendo

cursos diversos e 10% fazendo outro curso superior. Isso indica a intenção de continuidade

de estudos, o que pode ser influenciada pela necessidade de mercado e/ou a insuficiência do

curso superior.

9 – ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES COLETADAS

Além dos 158 alunos, também fizeram parte dessa pesquisa seis professores do

curso de Administração, além de entrevistas realizadas com o ex-coordenador do curso.

A pesquisa realizada junto aos alunos obteve um alto índice de retorno (praticamente

100%) e total aprovação, participação e empenho dos pesquisados. Visto que o resultado

seria em beneficio deles próprios, não hesitaram em colaborar – este fato merece muita

atenção, pois também pode revelar uma certa "carência" por parte dos alunos em serem

ouvidos, de expressarem suas demandas em relação ao seu curso.

Já a pesquisa realizada com os professores ficou extremamente limitada devido à

dificuldade de se submeter os mesmos ao questionário, visto a resistência natural de serem

avaliados, além da dificuldade de abordagem e de tempo para as respostas. Em vista disso,

foi elaborado um questionário mais simples e objetivo, com respostas rápidas e sem temas

polêmicos, onde se procurou obter um rápido perfil dos docentes, algumas percepções em

relação a PUC Rio e sobre seus alunos.

As entrevistas com o ex-coordenador do curso foram cruciais para uma melhor

análise e identificação da realidade do curso e suas dificuldades no atendimento às

expectativas dos alunos – um fato que merece destaque é a utilização do e-mail como forma

de troca de informações entre o pesquisador e o coordenador, o que contribuiu muito para

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interação e a troca de informações (uma ferramenta alternativa e atual utilizada pelo

pesquisador). Buscou-se também uma entrevista com o atual coordenador, entretanto,

devidos às suas atividades, houve uma extrema incompatibilidade de horários, o que

impossibilitou a realização da mesma.

Segundo o ex-coordenador, a PUC é uma instituição extremamente burocrática e

autoritária, características que dificultam muito iniciativas de democratização do discurso

acadêmico e a busca por relações mais participativas entre coordenação, professores e

alunos. Segundo ele, quando era coordenador, buscou implantar questionários e

ferramentas com as quais os alunos pudessem se expressar, entretanto, estas ferramentas

acabaram por serem transformadas em armas punitivas contra os professores, o que os

levou a boicotar a continuidade das ações.

Esta dificuldade apresentada já de início pelo ex-coordenador se configura como um grande

problema, visto a situação do curso sob a percepção dos alunos, que será apresentada a

seguir.

9.1 – Identificando as Expectativas dos Alunos

A pesquisa aponta que 77% dos alunos fizeram a escolha pelo curso por "escolha

pessoal / afinidade com a área". Além disso, 79% responderam que vão "procurar exercer

a profissão e dedicar-se a esta área", quando perguntados qual o objetivo com o curso.

Pode-se perceber que a grande maioria não está no curso por acaso, como acham alguns

professores, onde 50% consideram como principal causa de descontentamento dos alunos a

escolha errada ou não identificação com o curso (ver Gráfico 11).

Tabela 4 – Porque escolheu o curso de Administração

Descrição No.Absoluto Percentual

1 Opção pessoal / afinidade com a área 121 76,6

2 Influências / recomendações de terceiros 11 7,0

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3 Facilidades (perto de casa, vestib.fácil, preço, etc.) 13 8,2

4 Falta de outras opções mais interessantes 6 3,8

5 Outro. 7 4,4

Fonte: Pesquisa Tabela 5 – Qual o objetivo com o curso

Descrição No.Absoluto Percentual

1 Apenas diploma de curso superior 2 1,3

2 Adquirir conhecimentos gerais 20 12,7

3 Procurar exercer a profissão, me dedicando a esta área. 124 78,5

4 Outro 12 7,6

Fonte: Pesquisa

Entretanto, apesar de terem afinidade com a área e não estarem no curso por acaso,

a motivação dos alunos com o curso não se apresenta de forma contagiante. Quando

perguntados sobre seu nível de motivação dentro do curso de Administração, a grande

maioria (76%) declarou estar em um nível que vai de mediano a baixo.

Indo de encontro aos objetivos deste trabalho, a pesquisa buscou aprofundar esta

questão e ir aos motivos que levam a essa "apatia" dos alunos com seu curso, além de

indicadores paralelos. Para tanto, foi perguntado aos alunos se eles estavam satisfeitos com

o curso até o momento. A questão dividiu opiniões, e demonstrou que praticamente metade

dos alunos está insatisfeita com o curso. O Gráfico 7 demonstra esses números:

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Para reforçar e validar a questão, a mesma pergunta foi colocada de forma diferente.

Perguntou-se aos alunos se o curso estava atendendo às suas expectativas, e o resultado

veio a confirmar a questão anterior. Entre os alunos, 54% afirmaram que o curso não está

atendendo às suas expectativas:

Com o objetivo de se identificar os motivos dessa insatisfação, o questionário

procurou conduzir o aluno a uma resposta que demonstrasse a origem de seu

descontentamento. A origem foi apontada como sendo oriunda do próprio curso (92%)1,

através de "aulas fracas, desmotivadas, de conteúdo ou apresentação ruim", onde 70% dos

alunos apontaram com fator principal "professores mau preparados ou descompromissados

com a aprendizagem".

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Estes indicadores demonstram com clareza o que, segundo os alunos, é a principal

causa de descontentamento com o curso.

Entretanto, este fato parece não ser percebido pelos professores. A mesma questão foi

colocada para os professores, onde foi perguntado qual, segundo a opinião deles, era a

principal causa de descontentamento dos alunos com o curso, onde apenas 17% afirmaram

ser o mesmo motivo que os alunos. O Gráfico 11 demonstra esta questão:

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Este fato pode demonstrar uma certa "miopia" dos professores em relação às

demandas de seus alunos.

Apesar de parecer bem objetiva, esta questão não é tão simples assim. É preciso uma

análise mais apurada, para se identificar quais fatores levam a esta cobrança em relação às

aulas e em relação aos professores. É preciso determinar se esta cobrança em relação às

aulas tem origem nos professores, nos alunos, na condução do curso ou em múltiplos

aspectos.

Todavia, antes de entrar nesta questão, é importantes apresentar outros dados coletados na

pesquisa. O Gráfico 12 apresenta a opinião dos alunos em relação ao corpo docente de seu

curso.

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Percebe-se que 62% dos alunos consideram o corpo docente de seu curso como

sendo de regular a ruim. Este indicador vem reforçar e reafirmar a transferência de

responsabilidade para os professores.

A mesma questão foi colocada de forma diferente, na intenção de se validar as opiniões de

forma geral. Os Gráficos 13 e 14 demonstram a opinião dos alunos em relação às aulas e

novamente em relação aos professores. Estes dados reforçam o que já foi mencionado:

9.2 – Outros Indicadores Importantes

Mais uma vez, a pesquisa aponta as aulas e, conseqüentemente, os professores como

principais responsáveis pelo descontentamento dos alunos.

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Além destes indicadores, outros também foram levantados, para dar uma abrangência maior

à análise do problema

9.2.1 – Ausência da Coordenação do Curso

Segundo o ex-coordenador, a coordenação do curso é diretamente responsável pela

qualidade do curso, na medida em que deve coordenar os esforços e estar atenta às

demandas de alunos, professores e também da instituição. A coordenação tem a função de

garantir que os objetivos do curo sejam alcançados.

Foi perguntado aos alunos em que medida eles percebiam a

coordenação/administração do curso em relação ao atendimento de suas expectativas e na

manutenção da qualidade do curso. Segundo os alunos, existe uma ausência em relação à

coordenação do curso, o que pode ter influência direta com os dados apresentados

anteriormente, onde o curso deixa de atender às expectativas de praticamente metade dos

alunos. O Gráfico 15 demonstra os percentuais:

9.2.2 – Ausência do Diretório Acadêmico (D.A.)

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Outro indicador aponta para uma ausência também do D.A. no que se refere ao seu

papel de órgão defensor dos interesses dos alunos. Alguns comentários como "só faz

festas", "nem festas direito fazem" foram freqüentes.

9.2.3 – Professores e Disciplinas não Integrados

A pesquisa apontou também para outra questão importante: Há uma falha em

relação à integração dos professores uns com os outros e, conseqüentemente, entre as

disciplinas. Este fato veio a comprovar o que foi mencionado no referencial teórico, onde se

chamava a atenção para o risco de descontinuidade e baixa integração entre disciplinas (o

curso enquanto uma "colcha de retalhos").

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9.2.4 – Discrepância entre Prática e Teoria?

Segundo 68% dos alunos, teoria e prática se encontram distantes no decorrer do

curso. Entretanto, segundo o ex-coordenador do curso, este fato deve ser analisado com

cuidado. Segundo ele, há uma forte tendência de os alunos demandarem conhecimentos e

práticas aplicadas pelas empresas no momento, desconsiderando a importância da reflexão

e da análise de teorias mais arraigadas. Esta questão será melhor discutida mais adiante.

9.2.5 – Matérias Tratadas de Forma Superficial

Na intenção de se verificar o nível de aprofundamento das disciplinas, foi colocada

a questão para os alunos, onde a maioria (66%) declarou serem tratadas de forma

superficial. Além disso, foi colocada também uma questão referente ao nível de exigência

das aulas, onde também 66% dos alunos declararam como sendo, na maioria das vezes,

"aulas fracas e sem maiores desafios".

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9.2.6 – Indicadores Positivos

Alguns indicadores positivos foram apontados pelos alunos, como a Infraestrutura

da PUC Rio, onde 74% classificaram como sendo de boa a ótima. A mesma questão foi

colocada de forma diferente, e mais uma vez foi bem avaliada. Os professores também

avaliaram positivamente a Infraestrutura: 83% consideraram de boa a ótima. O que indica

que este não é um fator que influencia negativamente na qualidade do ensino na PUC Rio.

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A localização também foi outro fator bem avaliado pelos alunos, onde 70%

classificaram como sendo de boa a ótima. Já os professores, não consideraram boa a

localização (50%). Este fato pode ser explicado devido a boa parte dos professores não

residirem próximo, o que demanda deslocamento e, conseqüentemente, tempo e desgastes

para os professores.

Os serviços da secretaria também foram bem avaliados por 54% dos alunos, que

classificaram como sendo de bom a ótimo, outros 27% classificaram como regular e apenas

19% como ruim e péssimo. Quanto aos professores, 50% consideraram os serviços da

secretaria de bom a ótimo, 33% consideraram regular e 17% como ruim.

Já em relação aos recursos audiovisuais, tanto alunos quanto professores classificam

como regular (42% e 50%, respectivamente). Este fato pode indicar uma necessidade de

melhoria destes recursos, tanto por parte dos alunos quanto por parte dos professores.

Um indicador que merece destaque é o referente a preço. Pediu-se a opinião dos

alunos referente ao preço da mensalidade, onde 60% declararam como sendo de regular a

bom. Este fato é muito importante, pois indica que a política da PUC de praticar preços

mais acessíveis é percebida pelos alunos.

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9.3 – Aluno, Cliente e “Insumo”

Uma vez identificado o nível de satisfação dos alunos, o nível de atendimento às

suas expectativas e as origens de seus descontentamentos, passa-se agora para uma análise

mais aprofundada da questão.

Uma questão extremamente importante, que foi colocada desde início ainda no

referencial teórico, era a questão de "Aluno ou Cliente?". Baseando-se nas definições do

referencial e contrapondo com as declarações do ex-coordenador do curso, juntamente com

os dados levantados na pesquisa, pode-se tratar esta questão sob os seguintes aspectos: o

aluno é, ao mesmo tempo, aluno, cliente e "insumo". Estas definições podem ajudar na

análise e, necessariamente, têm influência direta sobre os dados apresentados

anteriormente.

9.3.1 – O Aluno enquanto aluno

Segundo o ex-coordenador do curso, o principal problema relativo à insatisfação

dos alunos está ligado a uma demanda que não é característica do ensino superior. Segundo

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ele, os alunos associam qualidade no ensino de administração a uma formação mais

próxima de um curso técnico. (Ensino Médio).

"Existe uma expectativa por um tipo de ensino que não é característico da formação

universitária, nem tampouco de uma boa formação profissional. (...) O conteúdo discutido

com os alunos deve ser sempre, segundo a visão deles, de aplicação imediata, muito

ferramental ou tecnicista e sempre relativo ao que algumas empresas estão adotando no

momento." (Relata o ex-coordenador)

Desta forma, o aluno é aluno porque deve se submeter à formação universitária, que vai

muito além do desenvolvimento de habilidades técnicas. Neste momento, seus medos,

dívidas e demandas profissionais devem dar lugar ao aluno, responsável por ouvir,

questionar, duvidar e reconstruir o conhecimento, onde o professor é o responsável por este

processo (DEMO, 1999).

"Na verdade, o ensino-aprendizagem é uma relação que se matura com o tempo. Algumas

coisas não são feitas para serem aprendidas como se consumíssemos cápsulas com

respostas rápidas. O ensino-aprendizagem envolve incerteza, insegurança, medo,

desconhecimento, dor e maturidade no longo-prazo." (Relata o ex-coordenador)

O ex-coordenador chama a atenção para a pressão que o mercado exerce sobre os alunos, o

que impacta diretamente na relação professor-aluno.

"O mercado de trabalho está altamente restritivo e isso impacta na relação professor-

aluno. O aluno traz para dentro de sala, e com razão, seus medos, inseguranças e dilemas.

Nesse contexto, projeta-se na universidade o papel de ‘salvadora’ de carreiras, quando na

verdade, ela é apenas um dos recursos, dentre vários outros, que um profissional deve

recorrer para ser bem sucedido na carreira" (Relata o ex-coordenador)

A pesquisa realizada também revelou fatos que completam essa questão. Pode-se

verificar que 91% dos alunos já estão inseridos no mercado de trabalho e,

conseqüentemente, sofrendo as influências e as pressões do mesmo (ver Tabela 3). Além

disso, outro dado muito importante foi coletado na pesquisa: Foi perguntado aos alunos

quanto tempo livre eles tinham para eventuais estudos extras, e quanto tempo eles

efetivamente dedicavam a estudos extras: 91% dos alunos pesquisados declararam ter

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pouco a praticamente nenhum tempo livre, e os mesmos 91% declararam que dedicam

igualmente pouco a praticamente nenhum tempo a estudos extras.

Este fato influi diretamente na relação professor-aluno, pois se elevam as

expectativas por aulas autocontidas, aulas auto-suficientes, extremamente produtivas (ver

Gráficos de 9 a 14).

Tal constatação se configura como um grande desafio a ser superado, uma vez que o

processo de ensino-aprendizagem envolve muita dedicação por parte dos alunos, e não

somente uma transmissão de conhecimentos através da figura do professor. Segundo

MIZUKAMI (1986), a educação pode ser considerada como um processo que leva a

autonomia intelectual. Para DEMO (1999), a aprendizagem exige um esforço reconstrutivo

pessoal onde o professor é o condutor deste processo.

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Segundo o ex-coordenador, existem também outros equívocos por parte dos alunos e que,

na maioria das vezes, também influi nesta questão:

"A universidade não é uma empresa, e não pode ser uma empresa. Cada um deve cumprir

seu papel. O aluno quer experiência profissional, deve buscar um bom estágio, por mais

difícil que seja. Na universidade o tempo de resposta é outro, a reflexão vem com a

maturação de uma idéia, com sua discussão exaustiva. Nas empresas a velocidade é a dos

modismos gerenciais que devem se suceder cada vem mais rápido. Na universidade deve

prevalecer o livre-pensar. Na empresa a liberdade de pensamento muitas vezes se restringe

a aprimorar o que já foi decidido." (Relata o ex-coordenador)

Pode-se perceber que as queixas dos alunos muitas vezes esbarram na falta de dedicação

por parte deles mesmos ou no desconhecimento destes fatores e, o que é mais preocupante,

parece que os próprios professores também não têm conhecimento referente ao excesso de

cobrança em relação às suas aulas, os motivos que levam a essa cobrança e às possíveis

ações para se tratar este problema – "as coisas são assim mesmo..." (ver Gráfico 11).

A pesquisa também apontou outro indicador importante: a questão da grade curricular, que

muitas vezes tem sido alvo de queixas dos alunos. Segundo a pesquisa realizada, 68% dos

alunos consideram a grade curricular do curso de regular a ruim. Este fato pode demonstrar

um certo desconhecimento em relação aos verdadeiros objetivos do curso e novamente em

relação à formação universitária.

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O ex-coordenador chama a atenção também para o fato de que, muitas vezes, os

alunos confundem sucesso profissional com sucesso em sua vida pessoal o que, segundo

ele, não necessariamente está correlacionado.

"Sucesso profissional não necessariamente é equivalente a sucesso na vida. Muitas vezes

disciplinas vistas como totalmente dispensáveis pelos alunos estão tentando discutir

caminhos para ter sucesso na vida, enquanto muitos alunos buscam na verdade sucesso

profissional, de preferência imediato. No entanto, quando chegar o momento de um

balanço na carreira, talvez muitos deles descubram que o que sempre buscaram foi

sucesso na vida, mas no entanto deixaram isso de lado, achando que o sucesso profissional

era equivalente a sucesso na vida ou que levaria a automaticamente a ele." (Relata o ex-

coordenador)

Segundo o ex-coordenador, o curso de Administração é um curso voltado necessariamente

para a ação pela própria natureza, e a formação universitária deve ser complementada desde

o início através de bons estágios e de esforços pessoais extras. Segundo ele, a universidade

tem a função de ajudar o aluno na sua formação reflexiva, tem a função de gerar dúvidas, e

não de respondê-las. O aluno deve busca sua própria síntese, juntado sua trajetória de vida,

sua experiência profissional e a capacidade crítica que a universidade lhe proporciona.

9.3.2 – O Aluno enquanto “Insumo”

O aluno é "insumo" na medida em que a universidade prepara não apenas uma

profissional para o mercado, mas também um cidadão, um indivíduo capaz de se posicionar

diante da sociedade. Neste momento, o "cliente" da universidade é a sociedade, e não o

aluno. (ZANELLA & ANGELONI, 1999. pp. 1-2)

Isso trás implicações diretas sobre as questões demandadas pelos alunos: a excessiva

cobrança dos alunos em relação ao curso recai justamente sobre a formação profissional

para o mercado, onde fica clara sua insatisfação. Os gráficos 26 e 27 demonstram

claramente estes dois lados da moeda: formação versos educação.

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Neste momento, percebe-se que o curso atinge seus objetivos, no tocante à

educação dos alunos e na preparação de indivíduos ativos na sociedade. Entretanto, o curso

deixa de executar sua outra função, a de formar profissionais qualificados para o mercado.

Apesar de todas as implicações referentes a esses dois conceitos já mencionadas

exaustivamente nos tópicos anteriores, a busca do equilíbrio se mostra como o ideal, ou

seja, formar profissionais para o mercado sem no entanto abrir mão da educação e da

reflexão mas aprofundada.

Desta forma, essa se torna uma questão fundamental, e que não é exclusiva do curso de

Administração da PUC Rio, mas também enfrentada em todo o ensino superior

(TEIXEIRA, TEODÓSIO & ROSSI, 1996. p.1).

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9.3.3 – O Aluno enquanto Cliente

Finalmente, chega-se ao ponto central desse trabalho: o aluno como cliente. Além

de aluno e "insumo", o aluno também é cliente, na medida em que contrata um serviço

(ensino superior) e tem suas necessidades e desejos (formação profissional de qualidade,

crescimento pessoal, satisfação pela utilização do serviço, etc.). Entretanto, como foi visto

até aqui, tratá-lo sob somente um desses aspectos (aluno, cliente ou produto) é tratar a

questão de uma forma simplista e míope.

Já mencionado anteriormente no referencial teórico, KOTLER (1994) chamava a atenção

para o fato de que a apatia e o moral baixo de muitos estudantes universitários era

proveniente da incapacidade de algumas universidades em serem sensíveis às suas

necessidades e desejos. Contudo, não se pode tratar o aluno exclusivamente sob a

perspectiva do marketing, como cliente. Já se pôde constatar que esta questão envolve uma

problemática muito mais complexa do que se aparenta, englobando diversas áreas do

conhecimento como Pedagogia, Sociologia, Psicologia e também Administração, com suas

áreas específicas, como Recursos Humanos, Planejamento Estratégico e, principalmente,

como é o foco deste trabalho, Marketing.

Sob o ponto de vista do marketing, percebe-se um grave problema dentro do curso,

onde praticamente metade dos clientes está insatisfeita (ver Gráficos 7 e 8). A pesquisa é

clara também ao apontar a origem desta insatisfação: as aulas e, conseqüentemente, os

professores (ver Gráficos 9, 10, 12, 13 e 14). Principalmente no tocante a formação

profissional, a qual o curso pretende oferecer (ver Gráficos 26 e 27).

O conceito de Marketing Social, segundo KOTLER & ARMSTRONG (1998), trata

a relação Organização-Cliente-Sociedade: A organização (no caso, a Universidade) procura

atingir seus objetivos (formação, educação e auto-sustentabilidade) e atender ao cliente (no

caso, o aluno), com suas necessidades e desejos – geralmente de curto-prazo (como, por

exemplo, formação profissional de qualidade que garanta sua empregabilidade) – e a

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sociedade busca benefícios advindos dessa relação – ligados a benefícios de longo-prazo

(como é o caso, cidadãos ativos, críticos e produtivos).

Como já pôde ser visto, negar que o aluno também seja cliente é negar os problemas que a

pesquisa apontou. É importante ter-se em evidência toda a complexidade desta questão,

mas é igualmente importante admitir que há falta de Administração, ou, que a

Administração pode e deve contribuir muito para as melhorias demandadas pelos alunos. A

Administração em sua função de gestora, com todas as suas áreas específicas (inclusive o

marketing), mas também com o importante apoio de áreas staff’s como a Pedagogia, por

exemplo.

9.4 – Propondo Alternativas para Melhorias

Como mencionado desde o início, o objetivo deste projeto era identificar e

diagnosticar os prontos críticos do curso no atendimento às expectativas dos alunos. Mais

do que isso, o objetivo era também propor alternativas para melhorias, a partir do ponto de

vista das ciências gerenciais.

Como foi visto, a Administração e suas áreas, sozinhas, não eram capazes de tratar

este problema – percebe-se também a influência e a necessidade de outras áreas do

conhecimento, com já mencionadas a Pedagogia, a Sociologia, a Psicologia... como áreas

staff’s à Administração.

Para tanto, apresenta-se neste momento algumas alternativas sugeridas, que podem servir

como ponto de partida para a busca por melhorias.

9.4.1 – Equilibrar as Expectativas

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Como já foi visto, existe um nível de expectativa muito elevado em relação ao curso

de Administração e, muitas vezes, uma expectativa equivocada.

Essa expectativa elevada tem origem, dentre outros: o mercado de trabalho restritivo; a

idade mais avançada dos estudantes, o que os torna mais exigentes; a história de vida

(primeira geração que tem acesso ao ensino superior; maioria vem do ensino médio

gratuito, e agora tem de pagar pela universidade; maioria absoluta já exerce alguma

atividade profissional e que, normalmente, sustenta sua formação; etc.).

A cobrança recai justamente sobre as aulas e, conseqüentemente, sobre os professores,

porque (dentre outros): a) os alunos muitas vezes não entendem os verdadeiros valores da

universidade; b) têm pouco tempo para estudar e não conseguem complementar sua

formação fora de sala de aula.

As expectativas são muitas vezes equivocadas porque, como já foi visto, os alunos

demandam uma formação mais técnica e imediatista, enquanto a universidade fornece uma

formação mais conceitual e abrangente.

Em vista disso, um ponto que pode ser tratado, para se atenuar este problema, é buscar

mecanismos que possibilitem equilibrar as expectativas dos alunos, ou seja, procurar

instruir e mostrar ao aluno o porque da formação universitária; qual a função da

universidade; como é o processo que leva ao ensino-aprendizagem; as vantagens de se

buscar um conhecimento que vá além dos modismos empresariais atuais; a importância da

formação crítica; a importância de matérias consideradas humanas e não técnicas; etc.

A questão foi colocada. Agora, o grande desafio é buscar um caminho para a

implementação dessa idéia, o que depende do contexto e dos mecanismos que serão

utilizados. Alguns indicadores já foram apontados nessa pesquisa, como por exemplo, a

ausência da coordenação do curso, que poderia ser a responsável por guiar este processo.

9.4.2 – Aumentar a Qualidade das Aulas

Foi visto até agora que, levando-se em consideração todos as implicações

apontadas, a cobrança dos alunos em relação às aulas é um fator chave.

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Os alunos estão insatisfeitos, e apontaram as aulas e os professores como responsáveis por

sua insatisfação. Os motivos desta cobrança já foram mencionados (falta de tempo para

estudos extras, pressões do mercado, etc...) e também as questões complicadoras (o aluno

enquanto aluno, "insumo" e cliente). Todos esses fatores levam à expectativa por aulas

autocontidas, ou seja, aulas extremamente produtivas e quase que auto-suficientes, visto

que não se tem tempo para exercer uma "atividade acadêmica adequada".

Em vista disso, é inegável a necessidade de se aumentar a qualidade das aulas, buscando ir

ao encontro das demandas dos alunos, seja através de didáticas mais modernas ou de

professores mais bem preparados e que, principalmente, entendam toda essa problemática

em que estão envolvidos.

O que se tem visto é que muitas vezes os professores não se dão conta de toda essa

complexidade em que estão envolvidos: alunos insatisfeitos, cobranças excessivas em cima

do desempenho das aulas; falta de tempo para atividades acadêmicas que complementem as

aulas dadas; expectativas equivocadas por parte dos alunos, na medida em que não

entendem os verdadeiros objetivos da formação universitária, etc.

A ausência da coordenação do curso e do D.A., apontada pela pesquisa, também pode ser

outro fator que contribui negativamente para este problema, na medida em que os

responsáveis por orientar o (e cobrar desempenho do) corpo docente também não estão a

par de toda a problemática.

Além disso, outros indicadores também foram importantes, como por exemplo: disciplinas

e professores não integrados; discrepância entre teoria e prática; matérias tratadas de forma

superficial; etc. Todos esses fatores indicam novamente uma necessidade de se buscar, seja

de uma forma ou de outra, uma melhoria da qualidade das aulas.

9.4.3 – Marketing Interno e Marketing Interativo

Marketing interno se refere ao tratamento dos próprios funcionários e personagens

internos à organização. Neste caso, se refere essencialmente aos professores, que são os

envolvidos diretamente com o problema apresentado.

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Assim como já mencionado no tópico anterior, existe uma necessidade de se orientar e

preparar o professor atuante no curso para a realidade que ele terá de enfrentar, ou seja, é

preciso colocar o professor a par de toda essa problemática que envolve a satisfação dos

alunos.

Além, é claro, de estar atento às demandas dos professores, o marketing interno deve

buscar orientar os mesmos no tratamento aos alunos. Isso, em serviços, chama-se marketing

interativo, ou seja, preparar o profissional para o tratamento com seu cliente (KOTLER &

ARMSTRONG,1998).

O professor também deve ser o responsável por, como já foi dito antes, equilibrar as

expectativas e aumentar a qualidade das aulas. Deve ser também o responsável por coletar

essas demandas dos alunos e buscar alternativas por melhorias (à luz, é claro, de uma

visão abrangente do problema).

9.4.4 – Voltar-se para o “Cliente”

É preciso fazer que iniciativas com essa pesquisa não se tornem peças isoladas ou

eventuais. É preciso que a universidade procure realmente "voltar-se para seu cliente", ou,

melhor dizendo, voltar-se para seu "aluno-insumo-cliente". A questão é complexa sim, mas

não incompreensível. É problemática, mas não insolúvel. Vontade, capacidade profissional

e empenho são fundamentais, não só dos professores ou coordenação, mas principalmente

da "alta gerência".

Voltar-se para o "cliente" significa estar atendo às suas necessidades e desejos; significa ir

em busca de sua satisfação; significa também instruí-lo de modo a que ele possa tirar o

melhor proveito de seus "serviços"... Voltar-se para o "cliente", para uma universidade, é

delicado, mas muito importante. Principalmente nos dias de hoje, onde as cobranças sobre

as instituições de ensino superior estão cada vez maiores (como o Provão, por exemplo), e

o mercado cada vez mais competitivo e fragmentado (através da abertura de inúmeras

faculdades, com perfis mais mercadológicos e preços mais competitivos).

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10 – CONCLUSÃO

A preocupação constante com a qualidade do ensino na formação do administrador

tem imposto diversos desafios para as Escolas de Administração. A complexidade do

ensino superior extrapola a uma visão tecnicista da questão. O curso de administração, por

sua própria natureza, é um curso voltado para a ação. O administrador é um homem de

ação. Por sua vez, os alunos de administração são igualmente sedentos por conhecimento

prático e, de preferência, aplicável imediatamente. Não menos que isso, o aluno de

administração tem uma inclinação natural a se autoproclamar "cliente" da universidade –

afinal, ao longo de toda a sua formação, lhe são mostrados os problemas organizacionais e

as suas possíveis soluções; em várias disciplinas, lhe é mostrado como é importante atender

bem a um cliente, como uma organização deve fazer de tudo para buscar a satisfação de

seus clientes (pois afinal, é através de seus clientes que uma organização se torna perene;

uma organização só faz sentido senão pelos seus clientes). Em vista disto, muitas vezes, o

aluno de administração tende a se questionar : por que a universidade não houve minhas

demandas (afinal sou cliente)? Por que o curso não aplica o que prega em benefício dele

mesmo? A verdade é que, em sua grande maioria, os alunos entram, passam pela faculdade

e saem, com esta mesma dúvida, sem que se tenha percebido, afinal, o verdadeiro sentido

de sua formação.

Uma universidade é sim, uma organização. Mas uma organização diferente,

complexa, muito diferente de uma empresa "comum". A universidade tem um papel que vai

além da simples formação de profissionais para o mercado. É claro que ela prepara o jovem

para exercer uma profissão e fazer jus aos seus rendimentos. Mais do que isso, porém, a

universidade tem o papel de formar cidadãos conscientes, questionadores, renovadores e até

mesmo, revolucionários da sociedade. Desfazer verdades absolutas e cultivar a dúvida é o

papel maior de uma universidade.

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Esse é o principal dilema vivido dentro do curso de Administração da PUC Rio e, por que

não, do ensino em administração como um todo. E também, por que não dizer, de tantos

outros cursos superiores voltados para áreas vizinhas ou semelhantes.

A verdade é que essa questão vem recebendo atenção aquém da sua importância.

Especificamente dentro do curso de Administração da PUC Rio, essa dicotomia se torna

ainda mais evidente, quando os próprios alunos declaram haver uma enorme distância entre

formação (no sentido de preparação para o mercado de trabalho) e educação (no sentido de

crescimento humano e pessoal). Esconder-se atrás da "grande organização" e negar-se a

ouvir, entender e atender o que os alunos demandam é negar o que se ensina no curso

durante longos cinco anos.

É ai que, finalmente, a Administração pode contribuir para essa difícil questão. Contribuir

sim pois, como foi visto, ela por si só não tem a capacidade de lidar com a extrema

complexidade do ensino (assim como também outras áreas isoladas não têm se mostrado

auto-suficientes, como a Pedagogia, por exemplo.). A Administração vem a contribuir com

sua capacidade de planejar, de coordenar, de liderar, de ser sensível ao mecanismo orgânico

da organização. Vem contribuir com sua técnica, com sua sensibilidade, com sua

perspicácia, com eficiência e sua eficácia. Vem contribuir com sua capacidade de atender

aos seus diversos públicos (clientes, funcionários, sociedade, gestores, sócios...) e, por fim,

com sua capacidade de administrar seus recursos humanos2, materiais, financeiros e

tecnológicos a fim de se alcançar os propósitos máximos da organização.

11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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