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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Pós-graduação “Latu Sensu” Instituto A Vez do Mestre MOTIVAÇÃO Luciene Fabiano Azevedo Docência do Ensino Superior Orientador: Marcelo Saldanha 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Pós-graduação “Latu Sensu”

Instituto A Vez do Mestre

MOTIVAÇÃO

Luciene Fabiano Azevedo Docência do Ensino Superior

Orientador: Marcelo Saldanha

2010

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Motivação: Um imperativo à educação do ensino superior “Na educação a motivação pode se traduzir como o elemento capaz de transformar a aula em um delicioso momento de aprendizagem.” Egídio Romanelli

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AGRADECIMENTO

Agradeço, antes de tudo e sobretudo, a Deus por conduzir a minha vida com tanto amor e permitir mais uma oportunidade de crescimento profissional. A Carlos Flavio, meu noivo, pelo incentivo e apoio durante essa jornada. Em especial a Rita, Fátima e Sheila, minhas amigas beneditinas, pelo incentivo para ingressar no curso, pela proximidade em nossas relações e pelos maravilhosos momentos de descontração ao longo do ano. “... Com o tempo você aprende que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. E que o que importa não é o que você tem na vida e sim quem você tem na vida.”

(W. Shkespeare)

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DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todo alunado jovem que acredita e aspira, como eu, pela continuidade na formação acadêmica como possibilidade de alçar novos voos e construir uma sociedade mais justa.

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METODOLOGIA

Esta monografia utilizará como recurso metodológico pesquisa bibliográfica em livros e revistas acadêmicas da área baseada nos principais autores: Sandra Azzi, C. W. Bergamini, P. Bourdieu, Marilena Chauí, J. C. Oliveira, José Carlos Libâneo, Selma Garrido Pimenta entre outros.

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RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar e refletir sobre as variáveis que influenciam o processo motivacional para aprender de jovens estudantes que aspiram à formação de nível superior, vivendo em uma sociedade em vias de desenvolvimento. É de suma importância conhecer o nível de escolaridade e sócio-econômico dos estudantes, o ambiente motivacional do lar a qual pertencem e a cultura a que têm acesso, garantindo, assim, meios para uma aprendizagem efetiva e significativa que tenha como enfoque de atuação: a mobilização, a organização e a articulação das condições materiais e humanas em busca de uma educação e formação de qualidade. Deve-se partir da realidade atual existente para redefinir o papel do docente universitário, reconfigurando as práticas no auxílio a este alunado jovem e criando, dessa forma, um ambiente de efervescência pela procura do “triângulo do conhecimento”: a educação, a investigação e a inovação. Nesse sentido, faz-se pertinente parafrasear George Leonard:

“Toda criança, toda pessoa, pode se deleitar na aprendizagem. Todo educador pode compartilhar deste encantamento.”

(PILETTI, Didática Geral, 1984, p. 241)

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SUMÁRIO

Introdução .................................................................. Pág. 08 Capítulo I .................................................................... Pág. 10 Capítulo II ................................................................... Pág. 14 Capítulo III .................................................................. Pág. 18 Conclusão .................................................................. Pág. 22 Bibliografia ................................................................. Pág. 25

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho remete a uma reflexão sobre Motivação: Um imperativo à educação do ensino superior.

Algumas questões permeiam a reflexão e análise desse

trabalho no sentido de entender como minimizar o distanciamento dos jovens com relação à educação do ensino superior, diagnosticar os entraves da desmotivação que emperram o sucesso do discente, a relevância do papel do docente para a motivação do discente que aspira à formação superior, a relação entre motivação e rendimento e, por fim, quais as competências necessárias ao docente universitário diante da diversidade do alunado jovem, a pluralidade de seus interesses e as decorrentes necessidades de aprendizagem para o mercado de trabalho.

Essa variedade de aspectos apresenta dados relevantes para

o entendimento da motivação no que diz respeito ao ensino superior no Brasil.

A palavra motivação origina-se do latim “motivus”, relativo a

movimento, coisa móvel. Quem motiva uma pessoa, isto é, quem lhe causa motivação, provoca nela um novo ânimo, e esta começa a agir em busca de novos horizontes, de novas conquista.

No âmbito escolar as aulas precisam de momentos mágicos,

no falar e agir por parte do docente pesquisador sobre a educação e no ouvir e participar do discente pela influência no aprendizado. Dessa forma, os dois lados precisam estar afinados para se ter uma boa aula e, nesta visão, a palavra que melhor exprime este comportamento é inovação.

As origens histórico-epistemológicas deste conceito devem

ser criteriosamente revisadas quando do seu uso na educação superior. A inovação na área educacional consiste em propor e praticar novos caminhos e estratégias no ensinar uma arte ou estudar uma ciência.

A motivação está diretamente ligada ao momento de estímulo,

iniciativa, positivismo do indivíduo, Istoé, um estado mental propício a uma interatividade intensa. Portanto, a motivação advém das necessidades humanas, neste caso, o docente e o discente.

Dentro desta perspectiva o discente acompanhado pelo

docente e por prática eficazes de ensino, tende a despertar a

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motivação intrínseca, mais duradoura, atendendo aos requisitos pedagógicos de sua formação.

São, portanto, objetivos desta monografia refletir sobre as

competências fundamentais ao docente universitário para motivar o discente e averiguar os melhores meios de aperfeiçoar o esforço do docente e a dedicação do discente na captação, retenção e multiplicação eficiente do conhecimento.

Veremos que a motivação do discente para os estudos é

considerada um fator de suma importância para êxito na formação do ensino superior.

Tendo em vista que a atividade acadêmica se realiza de forma

coletiva e em um contexto social, o docente deve criar um “ambiente motivador” e desenvolver situações de aprendizagens em que o discente tenha papel ativo na construção do conhecimento, proporcionando, assim, atividades desafiadoras que despertem a curiosidade.

O professor é, por excelência, o principal agente motivador.

Ele precisa estar motivado, ter compromisso social com a educação, demonstrar dedicação, entusiasmo, amor e prazer no que faz.

A qualidade das relações estabelecidas no interior da sala de

aula tem implicações na motivação do discente e é capaz de mobilizar a energia interna de ambos.

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CAPÍTULO I

RELAÇÃO ENTRE MOTIVAÇÃO E RENDIMENTO

A origem etimológica da palavra motivação vem do verbo latino movere, cujo tempo supino motum e o substantivo motivum, do latim tardio, deram origem ao nosso termo semanticamente aproximado, que é motivo. Assim, a motivação ou o motivo é a força que coloca a pessoa em ação e que acorda sua disponibilidade de se transformar. É aquilo que nos move que nos leva a agir e a realizar alguma coisa. Logo, podemos dizer que motivar significa predispor-se com um comportamento desejado para determinado fim.

Os motivos ativam o organismo na tentativa de satisfazer e

dirigem o comportamento para um objetivo que suprirá uma ou mais necessidades. Através da motivação, o aluno escolhe, procura disparar sua energia, capacidade, competência, inteligência, instiga, planeja metas e concretiza objetivos. É, portanto, essencial à aprendizagem e ao crescimento, mas por que não se mantém, que elementos a desmoronam?

Em instituições de ensino superior, os professores

desempenham um papel importante no desenvolvimento da motivação nos alunos a lutar por graus mais elevados. Sua orientação, sugestões e participação em atividades ajudarão as instituições de ensino a atingir seus objetivos de realização e prestígio enquanto instituições.

A Literatura psicológica sobre motivação aplicada a diferentes

contextos educacionais vem se expandindo consideravelmente nos últimos anos, principalmente pelo fato de que para que qualquer aprendiz seja bem sucedido é preciso que saiba utilizar de forma auto-regulada, auto dirigida e ativa estratégias para gerenciar tanto a motivação como o comportamento e a aprendizagem, ou seja, que seja capaz de aprender a aprender.

Segundo Travis (1996) e Dembo (2000), no contexto

universitário isto constitui uma tarefa bastante complexa já que, neste, as contingências são bastante diferentes daquelas do ensino fundamental ou médio, em que a motivação tem sido mais estudada (Ruiz, 2001).

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Analisando os métodos instrucionais utilizados particularmente no caso do ensino superior, Masetto (op.cit.) explica que a ênfase sempre foi e continua sendo dada no processo de ensino (centrado no professor), mais que no processo de aprendizagem (centrado no aluno). Entretanto, ele defende que os tempos atuais exigem a complementaridade dos dois processos, com predominância de aprendizagem, para o que faz uma série de sugestões de estratégias a serem usadas pelos professores.

Os efeitos das interações entre o método instrucional utilizado

pelo professor (direto/não-direto), o nível conceitual atingido pelos alunos (alto/baixo) e a motivação para aprender conteúdos acadêmicos foram investigados por Flowers e outros (1999), os quais verificaram que não houve diferença estatística significativa entre os métodos instrucionais sobre o nível conceitual atingido na aprendizagem do conteúdo, mas houve efeitos estatisticamente significativos sobre a motivação, sendo que o método não-diretivo resultou em Maior nível de motivação para aprender.

Quanto às metas individuais de universitários, Dembo (2000)

afirma que muitos ainda não as definiram e não têm certeza de por que estão na faculdade, enquanto outros que sustentam a família ou que voltam a estudar depois de algum tempo de ausência parecem tê-las mais claras.

É relevante que se considere sobre isto o fato, cada vez mais

frequente, de estudantes mais maduros recorrerem ao ensino superior, premidos pelos mais diversos tipos de motivações, dentre as quais as relacionadas ao mercado de trabalho, à educação permanente e, ou, à chamada “doença do diploma”. Por isso, a faixa etária de que se compõe a população de universitários é cada vez mais ampla, incluindo uma parcela considerável de adultos mais maduros, que trabalham durante o dia e estudam à noite.

È importante salientar que a presença de outros sujeitos com

nível superior de escolaridade no lar (pai, mãe, esposo, esposa) parece desempenhar papel relevante nas condições desse ambiente motivacional, favorecendo a proximidade dos indivíduos criados neste contexto com o modelo de cultura menor, o mesmo ocorrendo quando o sujeito vive em cidades maiores e mais desenvolvidas ou possui renda familiar mais elevada.

Todos os fatores que influenciam a motivação do estudante

ressaltam que os sentimentos, percepções, necessidades e metas são importantes na determinação, tanto quanto do seu desempenho acadêmico. Com relação a isto, constatou-se que os docentes e os

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próprios universitários centralizam nestes últimos a maior parcela de responsabilidade pela aprendizagem. Isto indica não só a importância de o aluno exercer sua autonomia, mas também de o professor utilizar estratégias eficientes para estimulá-la.

“A motivação é resultante de pulsões internas,

de desejos, de necessidades individuais que

cada pessoa como ser único busca concretizar.

O meio externo, as organizações não são

origem da motivação. A organização,

enquanto meio social, poderá facilitar ou

barrar a realização dos desejos e a satisfação

das necessidades”. (BERGAMINI, 1997). A motivação é inerente ao funcionamento mental saudável.

O mundo é repleto de desafios, em todos os sentidos. Viver significa a todo o momento, estar diante de situações as quais velhos conhecimentos não são suficientes para responder ou resolver. Ou seja, um conhecimento até então eficiente para diversas situações deixa de funcionar. O aprender, portanto, refere-se a esse processo de transformação, cujo resultado é algo novo, por mais simples ou elementar que tal novidade possa ser.

A grande maioria dos teóricos educacionais reconhece a

motivação como fator fundamental para que a aprendizagem ocorra. Os enfoques variam dependendo da linha psicológica adotada, mas é reconhecido que a pessoa predisposta a aprender o faz com muito maior facilidade e significado.

Como se constata, são muitos os fatores que afetam a

motivação na universidade. Sua multiplicidade e a complexidade da interrelação entre eles impõem a conclusão que, neste campo, as generalizações são no mínimo, imprudentes.

O ideal seria analisar toda a constelação de fatores

motivacionais que, em cada aprendiz, pode concorrer para que aprenda mais e melhor, o que é uma tarefa praticamente inviável, considerando-se as condições de oferta dos cursos superiores.

Próximo a este ideal, no entanto encontram-se indicações

claras da necessidade da utilização, pelos docentes, de estratégias mais apropriadas para modelar e regular a aprendizagem e a motivação de estudantes universitários, levando-se em conta suas características próprias, enquanto grupo.

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Este é um desafio possível de ser alcançado, já que as novas

concepções pedagógicas propõem que pensemos a aprendizagem como um processo interativo no qual as trocas feitas pelos sujeitos são determinantes na construção ou reconstrução do conhecimento.

CAPÍTULO II

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A DESMOTIVAÇÃO DO DISCENTE

Todo ser humano e qualquer profissional, em especial o de

educação, vivencia e, ou, vivenciou em sua práxis, a falta de motivação tanto intrínseca quanto extrínseca. Ambos interferindo de alguma maneira no processo de ensino-aprendizagem. A primeira, aparentemente, por acontecer de forma encoberta onde as necessidades são internas, muitas vezes esquecidas ou adormecidas em virtude do ritmo de vida que temos; acabam sendo desconsideradas diante da presença de alteração do comportamento humano.

A segunda, embora como o próprio nome diz, são aquelas

necessidades exteriores, nos permitindo reações diferenciadas das normais, por ser geralmente, em particular, caso isolados, quase sempre fechamos os nossos olhos. Talvez por comodidade ou por falta de competências essenciais a fim de minimizar essas questões empíricas e significativas que podem contribuir para o sucesso do sistema educacional.

Quando a motivação é inteiramente extrínseca, não importa

quão árduo foi o estudo, pois se pode prever que a retenção, a compreensão e a transferência ocorrerão em muito menor grau que quando a aprendizagem ocorre em função do interesse do aluno.

Mas descobrir as causas da desmotivação e como recuperar

esse fato imprescindível para que ocorra a aprendizagem é a nossa meta. Para analisar tais questões, partimos do pressuposto de que a desmotivação do aluno tem origem numa prática de escola tradicional, centrada apenas na transmissão de conteúdos escolares, sem nenhuma significação para ele e, por esse motivo, não ativam seus sistemas cognitivos para atribuírem significados às informações recebidas.

Esse histórico da escola tradicional interfere na aprendizagem

do aluno porque suas estruturas cognitivas não foram estimuladas para reestruturar essas informações recebidas, e assim, tenha condições de construir seus próprios conhecimentos.

A maturação constitui um fator essencial para a

aprendizagem. Se o aprendiz não está maduro para executar uma atividade, evidentemente não poderá aprendê-la, porque não disporá de condições para a sua realização.

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Portanto, fica claro que a insistência na prática tradicional, só fará com que o discente cada vez mais perca o prazer pelo estudo, pois não ocorrendo aprendizagem, sua auto-estima fica em baixa e, será mais um discente desmotivado, entre tantos na universidade.

E a desmotivação é a ausência de desafio e de motivo

espontâneo, frequentemente agravada pela frustração de não se ter alcançado sucesso ao longo da vida escolar ou experiências anteriores negativas.

Stipek (1998) ilustra a importância de tais fatores, afirmando

que estudantes que limitam seu envolvimento ou esforço a uma disciplina em particular não são, necessariamente, “preguiçosos” ou “desmotivados”. Ao contrário, podem estar motivados a participar de diferentes atividades atléticas, sociais, familiares ou de relacionamento com colegas. De maneira semelhante, destaca Dembo (2000) que universitários não desenvolvem um interesse pessoal ou valorizam da mesma forma todos os cursos ou disciplinas.

Ainda sobre a questão dos interesses, Robinson (1970) afirma

que uma maneira de elucidar o problema da motivação de universitários é examinar as razões pelas quais estes não se interessam pelas atividades acadêmicas. Dentre estas razões aponta: 1- a real preferência por realizar outras atividades, em vez de frequentar a faculdade; 2- frequentar a faculdade como um fim em si mesmo e não para aprender; 3- problemas pessoais (de saúde, psicológicos, financeiros, etc.); 4- preguiça; 5- falta de escolha vocacional e 6- valores continuamente imaturos.

Teorizações e pesquisas recentes têm sugerido, que a

motivação para aprender se relaciona com as crenças dos estudantes sobre a natureza da inteligência e do conhecimento. Foi verificado que aqueles com crenças mais “sofisticadas” a esse respeito (que acreditam, por exemplo, que a inteligência é uma capacidade que pode ser desenvolvida, em vez de uma “entidade” fixa) tendem a se engajar em estratégias mais variadas de aprendizagem auto-regulada.

Os interesses e a percepção do valor de uma atividade ou

tarefa acadêmica são outros fatores internos que influenciam a motivação de estudantes de 3º grau, já que podem afetar o grau de esforço e persistência que a elas dedicam.

Uma característica comum em estudantes ansiosos, segundo

Dembo (2000), é a tendência para agir de formas impróprias (fazer

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tarefas pela metade, conversar com colegas enquanto deveriam estar prestando atenção ou fazendo uma atividade, fazê-la depressa para poderem sair rapidamente da sala de aula ou adiarem sua realização). Este último aspecto diz respeito à procrastinação que é uma das estratégias de proteção do ego contra a possibilidade de fracasso (teoria da “autoconsideração”) e é uma tendência que aumenta com a idade.

A criatividade é outro elemento relacionado à redução da

previsibilidade, ao gerar surpresa, novidade, curiosidade e suspense. Avaliar a efetividade do engajamento de universitários em atividades criativas sobre um tópico de aprendizagem, no sentido de encorajar um envolvimento cognitivo ativo com o mesmo, foi o objetivo de outra pesquisa, na qual se verificou que, de fato, tal estratégia leva não só a aumentar a criatividade do aluno, mas também a aumentar sua motivação intrínseca e a retenção do conteúdo a longo prazo.

“O estilo convencional de aulas, geralmente igual para todas as matérias, a falta de entusiasmo do professor, a dificuldade de tratar os conteúdos de uma forma viva e dinâmica contribui para tornar o estudo uma atividade enfadonha, rotineira, levando os alunos a se desinteressarem e a perderem o gosto pela escola.”

(LIBÂNEO, José Carlos, Didática, 1994, p.106)

A verdadeira aprendizagem é consequência da atividade

mental dos alunos, não querendo dispensar a aula expositiva nem priorizar o trabalho individual. Não existe possibilidade de atividade mental sem o conhecimento teórico da matéria, sem a explicação da matéria pelo professor. O importante é a combinação da explicação com o movimento interno que acontece na mente do aluno, de modo que o conteúdo, a pergunta, o problema se convertam em conteúdo, pergunta e problema na cabeça do aluno. Assegura-se, então, a profundidade e a solidez na assimilação dos conhecimentos e habilidades com exercícios de consolidação, recordação e aplicação da matéria.

“... numa proposta curricular que desafia o aluno a realizar ações que relacionem a teoria e a prática dede o início do processo, o engajamento no curso torna-se mais possível, mediante a

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inclusão de situações sistemáticas de ensino que mobilizem a reflexão em torno das ações pretendidas, com um chamamento contínuo ao eu dos sujeitos alunos e professores para que despertem para os problemas presentes em nosso cotidiano mundial, em busca de superar a alienação presente na formação discente.”

(PIMENTA, Selma Garrido, Docência no ensino superior, 2002, p.236)

CAPÍTILO III

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A RELEVÂNCIA DO PAPEL DO DOCENTE

É imperativo que o docente conheça o alunado jovem, a

pluralidade de seus interesses, suas aspirações e as decorrentes necessidades de aprendizagens com relação ao ensino superior.

Motivar os alunos não é tarefa fácil. Muitas vezes o professor

conhece as teorias e técnicas de motivação da aprendizagem, mas ele próprio, não está motivado para ensinar. Os alunos percebem esta desmotivação e, apesar das técnicas e dos métodos de ensino utilizados, não demonstram maior entusiasmo pela matéria.

Outras vezes, a falta de motivação para aprender pode ter

origem na não satisfação de necessidades que antecedem a necessidade de conhecimentos.

A motivação é um fator essencial para que ocorra a

aprendizagem, mas esta vontade tem que vir de dentro. Portanto, não adianta o professor levar para sala diferentes materiais didáticos, não adianta ter computador na escola, se o aluno não se sentir motivado a usá-lo e, a partir daí, construir conhecimentos. No início, os alunos poderão até se entusiasmar por ser uma novidade, mas com o tempo esse uso se tornará mecânico e cairá na mesmice de sempre.

O professor deve sempre estimular os alunos para a descoberta, desafiando-os sempre a buscarem seus conhecimentos. O fato é que a escola, hoje, não provoca o aluno de modo que ele se sinta motivado a construir novos conhecimentos a partir destes desafios.

Sendo assim, ele passa a ter uma nova proposição

metodológica, pois se torna o articulador do processo pedagógico, atuando em parceria com o aluno, provocando situações desafiadoras, instigando-o a buscar e a investigar novos caminhos. Um dos eixos para essa mudança na educação passa por sua transformação em um processo de comunicação autêntica e aberta entre professores e alunos.

Hoje, não basta ao professor ser apenas um bom docente, ele

tem que ser um diagnosticador, um comunicador, um companheiro e um solucionador. O professor deve ser um aliado, um cúmplice do aluno. Sua interferência no processo de aprendizagem deve ser sutil e, estritamente, no sentido de orientar, com muita cautela e segurança. Pois, o aluno não deve ser induzido em suas conclusões, mas orientado no sentido de viabilização de suas

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buscas e seleção das informações encontradas, dessa forma estará contribuindo para a construção de seus conhecimentos.

Aproximar o aluno de seus recursos intelectuais cria

oportunidades para que o próprio aluno administre seus erros e acertos. A postura do professor deve ser sempre a de mediador das diversas situações criadas em sala de aula.

Segundo Libâneo (1994), a motivação influi na aprendizagem e

a aprendizagem influi na motivação. O estilo motivacional do professor, promotor da autonomia de

seus alunos, deve estar presente em todas as situações de ensino, como por exemplo, nas propostas e organização de tarefas, pois, assim, possibilitam sua autodeterminação e percepção de competência. A liberdade de expressão é uma prática que reforça no aluno a conquista de sua autonomia, aprimora seu senso crítico, visualiza a realidade sob vários ângulos, adaptando seus conhecimentos a valores e comportamentos.

Nessa perspectiva, é preciso que o professor tenha autonomia

para vivenciar a dialética da própria aprendizagem e da aprendizagem de seus alunos e reconstrua continuamente teorias, em um processo de preparação que se desenvolve segundo o ciclo descrição-execução-reflexão-depuração. Isso exigirá, com certeza, do professor, uma maior qualificação.

Por isso, é necessária a formação continuada dos professores

para atuarem de forma competente e integrada com os alunos, pois ensinando o professor também aprende e se sente motivado a levar os seus alunos a construírem novos conhecimentos a partir de uma nova abordagem.

A deterioração da imagem, do status social e do estatuto profissional da profissão docente, resultado de uma construção histórica, é fato presente de modo difuso, mas significativo na consciência social e nas determinações efetivas das políticas educacionais, das administrações públicas e privadas, das políticas de financiamento e da universidade, manifestando-se, outrossim, no sentimento dos próprios docentes.

Tal fato se expressa nos baixos salários

dos professores, na desqualificação do ensino em favor do prestígio atribuído à pesquisa – como se ambos constituíssem atividades

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dicotômicas -, na identificação da profissão docente com sexo feminino e suas pseudocaracterísticas próprias e na baixa auto-estima manifestada por professores dos diferentes níveis de ensino.

(CODO, Wanderley (Coord.). Educação:

carinho e trabalho,1999. In: PIMENTA, Selma Garrido. Docência no Ensino Superior,

2002,p.177)

O docente deve ser aquele que estabelece uma relação de afetividade com o aluno, que busca mobilizar a energia interna dele.

É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial

no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação, pois é nesta interação afetiva que se desenvolve os sentimentos positivamente ou negativamente e constrói-se a auto-imagem.

De acordo com o Dicionário Brasileiro Globo (Fernandes, Luft

e Guimarães, 1990), afetividade é “sentimento de inclinação para alguém; simpatia; afeição; (...); dedicado; afeiçoado; entregue; pendente”.

É, principalmente, no sentido de o aluno estar entregue

envolvido e mobilizado com todos os seus esquemas para aprender algo que falamos de afetividade, visto que ele não estará envolvido somente intelectualmente, mentalmente, mas sim, ele inteiro estará envolvido neste processo.

Entretanto, é preciso deixar claro que afetividade no sentido

de “simpatia, afeição” é importante no processo do ensino-aprendizagem, pois se o aluno não se envolve de forma afetiva com o professor, dificilmente se envolverá em um projeto, por exemplo, em que o professor seja o coordenador, pois neste processo, o docente não é mero facilitador, mas tem um papel crucial do conhecimento pelos alunos.

Observa-se nas salas de aula, que professores que interagem

com os alunos de uma forma mais próxima e afetiva, são os que mais contribuem para construção de conhecimentos nos alunos, portanto isto nos fornece um indício de que a relação afetiva tem importância relevante para a construção do conhecimento e o interesse por aprender.

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O professor deve empenhar-se em cativar o aluno, tal qual a raposa de “O Pequeno Príncipe” (Saint-Exupéry, 1967), depois basta sedimentar os laços de afetividade que são insubstituíveis e não podem estar ausentes no processo de ensino-aprendizagem, seja qual for a faixa etária dos alunos.

Considerando a afetividade o combustível para o sistema

intelectual funcionar, tanto ele implicará num maior envolvimento do sujeito com o objeto de estudo, como, também, na relação com os seus pares e com o professor.

De fato, a afetividade é de estrema importância na vida do

aluno, pois diz respeito aos interesses, motivações, afetos, facilidades e esforço. A afetividade é o motor das condutas, mas não é a causa suficiente para a formação das estruturas cognitivas, visto que ninguém se esforça para resolver um problema de matemática, por exemplo, se não estiver interessado em absoluto por tal disciplina.

Segundo Libâneo (1994), estar o aluno motivado para o estudo

não depende, portanto, apenas da sua capacidade individual, por que, para sabermos do que cada um é capaz, é preciso verificar, antes, as condições reais de vida que se sobrepõem à individualidade. (...) A seriedade profissional do professor se manifesta quando compreende o seu papel de instrumentalizar os alunos para conquista dos conhecimentos e sua aplicação na vida prática; incute-lhes a importância do estudo na superação das suas condições de vida; mostra-lhes a importância do conhecimento das lutas dos trabalhadores; orienta-os positivamente para as tarefas da vida adulta.

CONCLUSÃO

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A motivação dos alunos para a aprendizagem é o centro das atenções no processo educacional, já que este reconhece que a aprendizagem é um processo pessoal, reflexivo e sistemático que depende do despertar das potencialidades do educando, de forma intrínseca ou com a ajuda do educador.

Durante muito tempo acreditávamos que conhecer era

acumular conhecimentos apenas através da aprendizagem de conteúdos. Atualmente, a questão está voltada em interpretar e selecionar informações na busca de soluções de problemas ou daquilo que desejamos aprender. O desafio para o educador é coordenar o ensino de conceitos e proporcionar um ambiente efetivo de aprendizagem. Dessa forma, os educadores se deparam com o problema da ausência de motivação nos alunos para a aprendizagem.

A motivação para a aprendizagem tornou-se um grande problema em educação, onde a sua ausência representa queda de qualidade na aprendizagem.

Para motivar alunos é imprescindível analisar as formas de pensar e aprender, para assim, desenvolver estratégias de ensino que partam das suas condições reais, inserindo-os no processo histórico como agentes. Os educandos devem sentir-se estimulados a aplicar seus esquemas cognitivos e a refletir sobre suas próprias percepções nos processos educacionais, a fim de avançarem em seus conhecimentos e em suas formas de pensar e perceber a realidade. É preciso ir além do cognitivo e avaliar a afetividade, pois à medida que o educando adere às propostas feitas, acontecerá uma mudança de comportamento, o que pressupõe aprendizagem.

Neste contexto, Perrenoud (2000) enfoca a questão da

competência do professor em relação à formação profissional, afirmando que é importantíssimo saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível, e apresenta dez habilidades necessárias ao professor. Dentre elas: organizar e dirigir situações de aprendizagem, administrar a progressão das aprendizagens, trabalhar em equipe e utilizar novas tecnologias.

Para aprender, uma pessoa necessita estar em condições de

fazer um investimento pessoal em direção ao conhecimento. Esse investimento está diretamente relacionado aos recursos pessoais e as possibilidades sócio-afetivas. É essencial que o docente conheça os fundamentos da aprendizagem e as principais teorias sobre motivação, pois só sabe

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motivar para a aprendizagem quem conhece como os discentes aprendem. A formação do professor e a sua visão social são determinantes, aliado às suas atitudes em sala de aula e à organização do ensino. Cabe ressaltar que o professor não gerencia conhecimento, ele repassa informações, que cada discente aproveitará segundo sua capacidade de aprender, de interpretar dados e informações e transformá-los em conhecimentos. A gestão do conhecimento é individual e própria. Sabe-se que o ser humano aprende, à medida que vivencia experiências e desenvolve o pensamento. O pensamento é a forma da inteligência se expressar, portanto, é no pensamento, que reside a aprendizagem. A cada mudança do pensamento, o aprendente produz o seu próprio conhecimento. As inter-relações em sala de aula, em torno dos objetivos comuns, são as que mais favorecem a aprendizagem de conteúdos e de comportamentos sócio-afetivos e morais. A interação grupal fortalece a auto-estima do discente, a convivência solidária e a visão de mundo que ele constrói. Sabe-se que o ensino superior é, em qualquer sociedade moderna, um dos motores do desenvolvimento econômico, sendo, igualmente, o instrumento principal de transmissão da experiência cultural e científica acumulada pela humanidade. Dado o papel crescente desempenhado pelo saber científico e tecnológico na sociedade atual, é extremamente importante que as instituições de ensino superior mantenham um potencial de investigação de alto nível nas suas áreas de competência. Devido à inovação e ao progresso tecnológico, as economias exigem cada vez mais profissionais competentes, habilitados com estudos de nível superior. Pretende-se que o ensino superior promova o estudante a níveis de formação de grande qualidade, compatíveis com as exigências do mercado de trabalho e, simultaneamente, num quadro de grande mobilidade, lhes confira capacidades competitivas internas e externas. Um melhor rendimento acadêmico no ensino superior exige uma identificação, uma compreensão e uma qualificação de todos os fatores intervenientes, sejam eles internos ou externos às universidades. Cerca de metade dos estudantes de ensino superior não consegue concluir os seus cursos no tempo previsto. Existem

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inúmeras causas para esta situação, dentre as quais se destacam a má preparação nos ciclos de ensino anteriores, a falta de articulação entre o ensino secundário e o ensino superior, a deficiente qualificação pedagógica de muitos docentes, as lacunas nos acervos bibliográficos, o acesso a novas tecnologias de informação e de comunicação no espaço universitário. É necessário que as instituições reinventem novas formas de ensinar e aprender. Práticas pedagógicas modernas adotam modelos de ensino diversificado para fomentar os níveis de rendimento dos alunos do ensino superior. Estes modelos baseiam-se em metodologias de ensino-aprendizagem centradas no aluno, denominados de participação ativa. Dessa forma, a transmissão de conhecimentos é diversificada, as atividades formais de aprendizagem são apelativas para os alunos, havendo seminários e trabalhos de grupo; projetos de estudo, de investigação ou campo; tempo adequado para o trabalho individual e de grupo; pesquisa e utilização crítica da informação, na perspectiva da resolução de problemas; sistemas de tutores; facilidade de crédito para aquisição de material de informática; estrutura curricular flexível e diversificada, incentivo e recompensas para o melhor desempenho pedagógico. A literatura recente indica que o caminho para o sucesso passa por estas novas práticas de ensino-aprendizagem com estratégias diversificadas e diferentes modelos de acesso ao conhecimento, onde coabitam ambientes formais e informais de ensino e aprendizagem.

É preciso que o estudo se converta numa necessidade para o aluno e que seja um estímulo suficiente para canalizar a sua necessidade de atividade. Trata-se da conjugação de condições internas dos alunos e de condições externas expressas pelas exigências, expectativas e incentivos do professor. Mesmo que o professor estabeleça ótimos objetivos, selecione conteúdos significativos e empregue uma variedade de métodos e técnicas, se não conseguir suscitar no aluno o desejo de aprender, nada disso funcionará. O aluno se empenha quando percebe a necessidade e importância do estudo, quando sente que está progredindo, quando as tarefas escolares lhe dão satisfação.

(LIBÂNEO,José Carlos. Didática, 1994, p.108) BIBLIOGRAFIA

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• AZZI, Sandra. Trabalho Docente: autonomia didática e construção do saber pedagógico. In: Pimenta, Selma G., Saberes pedagógicos e atividade docente, São Paulo, Cortez, 1999.

• BERGAMINI, C.W. Psicologia Aplicada à Administração de Empresas: Psicologia do Comportamento Organizacional, São Paulo, Atlas, 2006.

• BOURDIEU, P. O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand,

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