candido mendes - autores (r)

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    1/73

    ORDENAES

    FILIPINAS

    LIVRO

    I

    Nota

    de Apresentao

    MRIO

    uo

    DE ALMEIDA COSTA

    FUNDAO CALOUSTE GULBENKIAN

    i g i t i z e d

    yGoo

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    2/73

    Esta

    edio um a reproduo fac-simil

    da

    edio feita p or Candido Mendes de Almeida,

    Rio de

    Janeiro,

    1870.

    ,76

    R e s e r v a d o s t o d o s o s d i r e i t o s d e h a r m o n i a c o m a le i

    E d i o

    d a

    F u n d a o C a l o u s t e G u l b e n k i a n

    A v .

    d e

    B e r n a / L I S B O A

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    3/73

    N O T A D E A P R E S E N T A O

    Com estareedio das Ordenaese Leis do Reino de

    Portugal/Recopiladas

    per mandado do

    mvito

    alto

    catholico

    e

    poderoso Rei dom Philipe o Primeiro*('), d-se outro passo

    valioso na divulgao de textos histrico-juricos fundamen

    tais.

    Tambm

    agora

    se tomam

    necessrios alguns

    esclarecimen

    tos

    introdutrios.

    Antes de tudo, quanto inobservncia da linha

    cronol

    gica das

    fontes dahistria do

    direitoportugus.

    sabido que,

    para servir de complemento s Ordenaes Manuelinas, se

    aprovou,

    durante

    o

    reinado

    de D. Sebastio, nos

    comeos

    de

    569, uma colectnea da autoria de Duarte Nunes do

    Leo(

    2

    ), que reuniu, sob a forma de resumo ou excerto, leis

    extravagantes e assentos da Casa da Suplicao. Porm,

    merc

    do interesserelativoda

    referida

    obra e da compilao

    filipina,entendeu-seprefervelalterarasequnciada sua reedi

    o.

    Fica

    assim encerrado o trpticode Ordenaes que defi

    niu,

    sem mudanas radicais, o quadro do sistema jurdico

    nacional, desde asegundametade de quatrocentos at s codi

    ficaes

    modernas oitocentistas. No Brasil, essa substituio

    completaapenas

    se

    operaria

    com o Cdigo Civil de

    96.

    Faamosuma breve

    resenha

    sobreas OrdenaesFilipi

    nas^). Destina-se,

    essencialmente,

    aos

    leitores

    menos ligados

    histria dodireitoportugus.

    ( ' )

    o titulo da edio princeps, de 1603. No original, o

    c da palavra Ordenaes apresenta-se sem cedilha, assim

    como o til est colocado entre o e e o s.

    (

    J

    )

    O nome deste jurisconsulto aparece tambm com as

    variantes Duarte Nunes (ou Nunez) do (ou de) Lio (ou Liam).

    (

    3

    )

    Ver a nossa exposio sobre asOrdenaes, no

    Dicion

    rio deHistria dePortugal, dirigido por Joel Serro, vol. III, Lis

    boa, 1968, pgs. 205 e segs., e em

    Temas de

    Histria

    do Direito,

    i g i t i z e d

    y

    Google

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    4/73

    6

    Coimbra, 1970, pgs. 61 e segs. separata do vol. X L I V do

    Bole

    tim da Faculdade de Direitoda Universidade de Coimbra),e, poste

    riormente, Nuno

    J .

    Espinosa

    Gomes

    da Silva, Sobre

    os compilado

    res

    das

    Ordenaes Filipinas,

    Lisboa, 1977 separata do n. 264 do

    Boletim

    do

    Ministrio

    da Justia).

    i g i t i z e d y

    oogle

    A necessidade de reformadas Ordenaes Manuelinas

    vinha sendo cada vez maisimperiosa. Elas no realizaram a

    transformao jurdicaque o seu temporeclamava; e essa defi

    cincia congnita

    viu-se

    agravada

    peladinmicalegislativa, que

    a evoluo das ideias e dascircunstnciasacelerou.

    Chegaram-

    se a organizar duas colectneas particulares de leis extrava

    gantes posteriores a 1569. Portanto, a elaborao de novas

    Ordenaes constituiu um facto natural de FilipeI, em cujo

    reinado,alis, se tomaram outras providncias relevantes na

    esferadodireitoe da sua

    realizao. Recordemos

    asubstituio

    da Casa do Cvel, quefuncionavana cidade de Lisboa, pela

    Relao do Porto, a que o mesmo monarca

    concedeu regi

    mento, e a entrada em vigor de uma lei de

    reformao

    da

    justia.

    Tem-se mencionadoum possvelaproveitamentopohico

    da urgnciade

    coordenao

    e modernizao do corpo legisla

    tivo.O

    ensejo

    permitiria a FilipeI

    demonstrar

    pleno respeito

    pelasinstituies

    portuguesas

    eempenhoemactualiz-las

    den

    tro datradiojurdicado Pas.

    De qualquermodo, ostrabalhos preparatrios da compi

    lao filipina foram iniciados,segundo parece, entre 1583 e

    1585. Tambm existem dvidas sobreosjuristas

    intervenien

    tes. Apontam-se comocertosJorge de Cabedo, Afonso Vaz

    Tenreiro e Duarte Nunes do Leo. Talvez, no entanto,

    outros tenham

    colaborado.

    As novas Ordenaes

    estavam

    concludas em 1595,

    recebendoaprovao por Lei de 5 deJunho desse ano, mas

    qu enochegoua produzir

    efeito.

    S no reinado de

    Filipe

    II,

    atravsde Lei de 11 deJaneiro de 1603, iniciaram a sua

    vigncia a mais duradoura que um monumento legislativo

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    7

    i g i t i z e d y

    Google

    conseguiu

    em Portugal.Declararam-serevogadas

    todas

    as leis

    n oincludas na compilao, apenascom

    ressalva

    das transcri

    tas emlivro conservado na Casa da

    Suplicao,

    das Ordena

    es

    da Fazenda e dos Artigos das Sisas. Porm, muitos

    outros preceitos continuaram a receberaplicao prtica.

    Conserva-senas OrdenaesFilipinaso sistema

    tradi

    cionalde

    cinco

    livros, subdivididos em

    ttulos

    epargrafos.A

    distribuio bsica das matrias tambm no difere. E, pelo

    qu e

    toca ao contedo, patente que se

    trata,

    via de

    regra,

    de

    um apura

    reviso actualizadora

    das Ordenaes Manuelinas.

    A existncia de algumas normas de inspirao castelhana,

    designadamente

    derivadas

    das Leis de

    Toro, n o

    retirao

    tpico

    carcterportugusdas Ordenaes Filipinas.

    Apenas se

    procedeu,

    afinal,

    reunio,

    num

    nico

    corpo

    legislativo, dos dispositivos manuelinose dos muitos subse

    quentesqu ese mantinham emvigor. Squ eo trabalho nofoi

    realizado mediante uma reformulao adequada das normas,

    masaditandosimplesmente o novo ao antigo. Da,

    subsistirem

    preceitos revogados ou cados em desuso,

    verificarem-se

    fre

    quentes

    faltas

    de clareza e, at,

    contradies

    resultantes da

    incluso

    de disposies

    opostas

    a outras que no se

    eliminaram.

    A ausnciade originalidade e os restantes defeitos men

    cionados

    receberam,

    pelos fins dosculo

    xviii,

    adesignao de

    filipismos

    (*). E o termo

    ficou.

    Essas

    imperfeies

    encon

    tram difcilexplicaoforada perspectiva de um respeito pro

    positado

    pelo texto manuelino.No seestaria em poca mar

    canteda nossacultura jurdica. Contudo,

    bastar recordar

    os

    juristas que,seguramente,

    participaram

    nos trabalhos prepara

    trios para

    reconhecermos

    a sua capacidade de realizao de

    obra

    isenta,

    quando

    menos,

    de

    algunsdosgraves inconvenien

    tes

    assinalados.

    (* )

    Deve-se

    a Jos Virissimo Alvares da Silva, Introduc-

    o aoNovoCdigo, ou Dissertao Critica sobre a prinpal causa da

    obscuridade do nosso Cdigo Authentico, Lisboa, 1780, pg. 6.

    E n c o n t r a - s e nesta obra uma aguda crtica compilao filipina.

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    8

    (

    5

    ) Ver. G. B r a g a da Cruz, O direito

    subsidirio

    na histria

    do

    direito

    portugus, Coimbra, 1975, pgs. 251 e

    segs.

    separata do

    tomo XIV da

    Revista

    Portuguesa deHistria).

    (

    6

    )

    No rostodessa edio figura a grafia Crasbeeck.

    i g i t i z e d

    y

    Google

    Merece

    destaque um aspectorelativoao

    direito

    subsidi

    rio.

    Nenhuma

    modificao intrnseca

    se produziu nos

    critrios

    depreenchimento

    das lacunas da leiconsagrados pelas Orde

    naes

    Manuelinas. Em

    todo

    o caso, a matria que,

    tanto

    nestas como nas Ordenaes Afonsinas, se

    encontrava regu

    lada no

    livro

    II, passou

    agora

    ao

    livro

    III

    (ttulo LXIV).

    Isso

    significa que deixou de serdisciplinadaa

    propsito

    das relaes

    da

    Igreja

    com o Estado,

    deslocando-se

    parao

    mbito

    do

    direito

    processual.

    Braga

    da Cruz, argutamente, salientou que essa

    transposio representa a ruptura da ltima amarra que

    ligava

    a questo do

    direito

    subsidirio ideia de umconflito de

    jurisdies entre o poder temporal e o poder eclesistico.

    Tomou-se,

    em suma, um caracterstico problema jurdico,

    independente

    de qualquer conflito de

    jurisdies.

    Mudana

    dengulonofortuita,

    porquanto seinserianamentalidadeda

    poca(

    s

    ).

    Sobreviveram as Ordenaes Filipinas Revoluo de

    1640.

    D.

    Joo

    IV, nesse prprio ano, sancionou

    generica

    mente

    toda

    a

    legislao

    promulgada durante o governo caste

    lhano.

    Em Lei de 29

    deJaneiro

    de 1643procederia expressa

    confirmao

    e revalidao das Ordenaes. O

    monarca,

    po

    rm, manifestou

    o desgnio,

    nuncaconcretizado,

    dedeterminar

    a

    sua

    reforma,

    como era

    vontade

    das Cortes.

    As Ordenaes Filipinas

    tiveram mltiplas

    edies, o

    que

    no admira pela longa

    vigncia,

    j

    salientada,

    que

    conhe

    ceram

    em Portugal e no Brasil. O autor da

    Prefao,

    includa no prtico do

    livro

    I, recorda que o exclusivo da

    impresso das Ordenaes

    comeou

    por

    pertencer

    ao Mosteiro

    de

    S. Vicente de

    Fora,

    dos Cnegos Regrantes de Santo

    Agostinho. A primeira edio das Ordenaes Filipinas saiu

    daoficinade Pedro

    Craesbeeck

    6

    ), em Lisboa, com a

    data

    de

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    9

    1603. Houve ainda outras, antes de seconcedero mencionado

    privilgio Universidade de Coimbra, no Alvar de 16 de

    Dezembro

    de 773. A ltima destas, a chamada Edio

    Vicentina, por antonomsia, do tempo de D. Joo V e

    distingue-a uma apresentao mais aparatosa.Seguiram-se

    diversas ediesconimbricenses, de 1789 a 1865.

    Chega-se

    alturadejustificar o critrio que presidiu

    escolha

    do texto

    para

    fac-smile da

    presente

    reedio. Quanto

    s Ordenaes Afonsinas e s Ordenaes Manuelinas,

    utilizaram-se as edies da Imprensa da Universidade de

    Coimbra.

    Ora, as

    O rdenaesFilipinas

    reproduzem a que se

    deu

    estampa no Brasil, em 1870, por

    iniciativa

    de Cariado

    Mendes de AlmeidaC . Este eminentejurisconsulto

    informa

    ter consultado todas asedies anteriores, fixando o texto de

    acordocom a primeira, de 1603, e a

    nona,

    de 1824. No

    conjunto,trata-se da dcima quarta tiragem das Ordenaes

    Filipinas,mas foi aprimeiraimpressa no Brasil,

    numa

    data

    em quese

    encontravam,

    entrens, detodo revogadas.

    Razes pertinentes

    aconselharam

    a opo. Desde logo,

    estava assegurada a

    fidedignidade

    do texto, com o mrito de

    resultar doconfronto deedies.Soinmeras as

    notas

    filol

    gicas,

    histricas

    eexegticas.Procura-se descreverasorigens e

    aevoluo das instituies. A propsito dos versos preceitos,

    apontam-se as

    suas

    fontes. No faltam referncias aos plo-

    mos, portuguesese brasileiros, que at ento os modificaram

    ou

    revogaram,

    ao lado de

    remisses precisas

    de doutrina e de

    jurisprudncia.Em

    aditamento,transcreve-se

    a legislao res

    peitante aos

    temas disciplinados nosvrios livros.

    ( ' ) Importa no confundir tal edio com uma

    o u t r a ,

    da

    au t o r i a de Fernando H. Mendes de Almeida, OrdenaesFilipinas

    Ordenaes e leis do Reino de

    Portugal

    Recopiladaspor

    mandato

    d'el

    Rei D. Filipe, o Primeiro, So Paulo, vols. I

    ( 195 7) ,

    II

    ( 1 9 6 0 )

    e III

    ( 196 6 ) . Este trabalho, como se verifica, posterior promulgao

    do Cdigo Civil brasileiro, foi elaborado numa pura perspectiva

    histrico-jurdica, contendo tambm notas e remisses valiosas.

    Mas s abrange os trs primeiros livros da compilao filipina.

    i g i t i z e d b y

    Google

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    10

    (* )

    Cndido

    Mendes

    de Almeida nasceu no Maranho, a

    16 de Outubro de 1818, e faleceu no Rio de Janeiro, a 1 de

    Maro de 1881.

    Diplomado

    pela Faculdade de Direito de

    Olinda, desempenhou algunscargospblicos antes de se dedicar

    advocacia. Tinha uma vasta cultura, para alm da sua especia-

    i g i t i z e d yGoogle

    Os materiais utilizados e citados so extensos:

    Eles

    comprovam o cuidado investido nas anotaes compilao

    filipina.Patenteia-se ampla recolhade textos

    legislativos,

    de

    correspondentesextractos,ndices cronolgicosou alfabticos ou

    deconsagrados repertrios, de

    colectneas

    de jurisprudncia e

    de dicionrios jurdicos. Regista-se bibliografia de autores

    estrangeiros, mas digna de particular

    relevo

    a

    ateno

    pres

    tada aosreincolas, desdeosculoxvi Mencionam-se,

    inclu

    sive,

    publicaes

    peridicasespecializadas.

    Tais

    elementos,de to

    diversa

    natureza, acham-se nor

    malmente acompanhados

    de observaes em que Cndido

    Mendes

    revela o seu estudo meticuloso e sagaz. Levou cinco

    anos

    a

    coordenar

    os

    materiais reunidos

    para esta edio,que

    recebeu

    o

    ttulo

    de

    .Cdigo

    Philippino ouOrdenaese Leis

    do Reino de Portugal recopiladas por mandado D'El-Rey D.

    Philippe /.

    A obra visou, sobretudo, finalidades prticas.Na ver

    dade,

    se, em 1850, oBrasilteve um Cdigo

    Penalquesubsti

    tuiu o obsoleto livro V das Ordenaes,a promessa paralela

    da rpida elaborao de um Cdigo Civil, avanada pelo

    legis

    lador constituinte,protelou-se

    at 1916.

    Entretanto,

    vigoravam

    os preceitos filipinos, com alteraes profundas devidas a

    numerosos diplomas avulsos, mais ou menos dispersos.

    Tomara-seembaraoso e

    inseguro

    o conhecimento exacto do

    direito vigente. Impunha-se, pois, a sua

    coordenao

    com

    petente.

    Cndido Mendes de Almeidaconseguiu realiz-la.E s

    isso

    bastaria

    para que se reunisse a distintos jurisconsultos

    brasileiros que,pelos fins dosculo

    passado

    e incios do

    actual,

    formaram

    uma pliade assinalada^). Os seus comentrios

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    9/73

    muito

    influenciaram,

    sem dvida, a

    vida

    jurdica,

    tanto

    no

    plano doensinoe da doutrina, como no daactividade

    forense

    e

    judicial.

    Dobrados cento e quinze anos, as opinies histrico-

    -jurdicas de Cndido

    Mendes

    vem-seamidesuperadas.A

    exposio preambularque desenvolvesobrea

    evoluo

    das

    fon

    tes dodireitoportugusreflecteocunhometodolgico da poca

    e no resiste crtica moderna.Todavia, a deficincia apon

    tada no peminimamenteem causa as vantagens que esta

    edio

    das Ordenaes Filipinas leva a qualquer outra.

    Acompanha-a,alis, comoapndice,umAuxiliar

    Jurdico,

    datado de 1869 ('). Tambm

    nele

    se

    renem

    valiosos

    apoios

    da investigao histrico-jurdica. Muito esforode pesquisa e

    de

    consulta

    poupado aos

    estudiosos

    destes domnios.

    A tudo

    acresce

    a

    raridade

    daobrano nosso pas. E, alm

    disso, a presenteediopode assumir o

    significado

    de uma

    homenagems

    letras

    jurdicas brasileiras, que notavelmente

    lizao jurdica. Foi diversas vezes deputado, desde 1843, pas

    sando a senador em 1871. Consultar Augusto V.

    Alves S a c r a

    mento Blake,

    Diccionario Bibliographico Brazileiro,

    vol. II, Rio de

    J a n e i r o ,

    1893, pgs. 35 e segs., Antnio Carlos Villaa, O

    Sena

    dor Candido Mendes,Rio de janeiro, 1981, e vrios autores reuni

    dos na colectnea organizada por Aurlio Wander Bastos, Sena

    dor Canado

    Mendes

    Homenagem

    do Senado e da

    Inteligncia

    Brasileira,

    Rio de

    J a n e i r o ,

    1981.

    ( ' )

    A obra reproduzida em fac-smile consta, tal como se

    editou, dedois grossos volumes (in 4.). Um deles inclui o texto

    das Ordenaes Filipinas, abrangendo 1487 pgs., alm de 78

    pgs., com a introduo e as indicaes legislativas e bibliogr

    ficas do editor, e de mais 24 pgs. de suplemento a essas refe

    rncias. O outro, que corresponde ao Auxiliar

    Jurdico,

    tem 835

    pgs., antecedidas de 14 pgs. preliminares. Por motivos de

    comodidade de consulta, no

    r a r o

    encontrarem-se exemplares

    em que os encadernadores subdividiram aquele primeiro

    volume. O mesmo se fez na presente reedio. A fim de assegu

    ra r unidade coleco, procedeu-se montagem das Ordena

    es Filipinas em trs volumes e do

    AuxiliarJurdico

    em dois.

    i g i t i z e d b y

    Google

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    10/73

    12

    MARIO JLIO DE ALMEIDA COSTA

    Professor Catedrtico da Faculdade de

    Direito

    de Coimbra

    e da Universidade Catlica Portuguesa

    i g i t i z e d y

    Google

    conciliaram

    aspectos

    essenciais

    ia

    tradio

    europeiae portu

    guesa

    com as exignciasdos tempos modernos.Eis o pensa

    mento

    que surge

    no termodestaapresentao sucinta.

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    11/73

    DIGO PHILIPPIISTO

    ou

    i g i t i z e d b y oogle

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    12/73

    i g i t i z e d b y

    oo

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    D I G O P H I L I P P I N O

    o u

    O R D E N A E S

    E

    L E I S

    DO

    R E I N O DE P O R T U G A L

    RECOPILADAS POR MANDADO

    D E L - R E Y

    D. P H I L I P P E I.

    SEGUNDO A PRIMEIRA DE 1603, E ABONA DE

    COIMBRA

    DE UM.

    A D D I C I O N A D A

    CON

    D IV E R S A S M O T A S M 1 L O L 0 0 1 C A S , H I S T R I C A S

    L

    E I I G E T I C A S ,

    IM OUI SI

    IND1 C O

    AS

    B I F F E R K K A S E N T R E A Q U E L L A S E D I ES

    I A

    V I C E N T I N A

    DE

    1747,

    A

    O R 1 0 E M , D E S E N V O L V I M E N TO

    I

    E X T I N C O

    S I

    C A D A

    I N S T I T U I O , S O B R E T U D O

    AS

    D I S P O S I S l S

    IOJI IM

    D I S U S O

    I

    R K V O O A D A S ; A C O M P A N H A N D O

    C A D A

    P A R A G R A P U O

    SUA

    F O N T E , C O N F O R M I

    OS

    T R A B A L H O S

    DI M O N S I N H O R J O t O U I M I O I E

    D E C I M A Q U A R T A

    E D I O .

    F E R R E I R A U O M O

    I DOS

    D E S E M B A R G A D O R E S G A B R I E L P E R I I R A

    DE

    C A S T R O

    K J O l O

    F L b R O R I B E I R O ' ,

    K I M

    A D D 1 T A M E H T O

    A C A D A

    L I V R O

    A

    R E S P E C T I V A L E O I S I A C A O B B A Z I L I I I A

    C O N C E R N E H T E

    AS

    M A T E R I A S C O D I F I C A D A S E M

    C A D A UM,

    S U I D O

    Dt

    O U O T I D I A N A C O N S U L T A ,

    A L E M

    DA

    B I B L I O O R A P I I A D O S J U R I S C O N S U L T O S

    OUE TI M

    I S C R I P T O S O B R E

    AS

    M E S M A S O R D E N A E S D E S D E 1603

    AT I

    O f R I I A R T E .

    POR

    C A N D I D O

    M E N D E S D E A L M E I D A

    A D V O GA D O N I S T A C O R T E .

    R I O D E J A N E I R O

    TYPOGRAPHIA DO INSTITUTO PHILOMATHICO

    68 RUA SETE DE SETEMBRO 68

    4 8 T O

    i g i t i z e d b y

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    i g i t i z e d b y

    oo

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    AO LEITOR

    R M nmtm .

    0 nosso Legislador constituinte fez ao Paiz no art. 17 9 18 da Consti

    tuio a solemne promessa de, quanto antes, dota-lo comdous Cdigos,

    um Criminal, e outro Civil, fundados nas solidas bases da justia e equ i

    dade.

    A primeira parte desta obrigao foi logo satisfeita com a Lei de 16 de

    Dezembro de 1830 , que decretou o Cdigo Criminal vigente, o trabalho

    mais importante da primeira Legislatura.

    No obstante, no deixa de ser deficieutissimo, e exhibe em si a prova

    de que foi elaborado com pressa, e sem a madureza que taes commetti-

    mentos demando; maxime depois dos abalos por que o Paiz acabava de

    atravessar.

    Havia em verdade justificado motivo no aodamento do Legislador. Vi

    gorava ainda o Cdigo Penal do antigo regimen, a Ord. do liv. 5, cuja

    penalidade, sobre modo spera e anachronica, dava largas ensanchas ao ar

    btrio de Juiz; mas que ainda seria supportavel, se no fosse acompanhada

    do respectivo processo, inquisitorial , vexatrio, e avesso s doutrinas que

    a Constituio inaugurava.

    Aps vinte annos da promulgao deste Cdigo decretou a Lei n. 556

    de 25 de Ju nho de 1850 outro, referente s matrias de commercio.

    J era tempo para o estudo e organisao do Cdigo Civil, que 0 Legis

    lador constituinte promettra organisar quanto antes. A nova Sociedade

    educada nas doutrinas da Constituio reclamava-o com anciosa solicitude,

    despeito das difculdades vencer em obra de tanto vul to.

    No somos dos que acredilo que um Cdigo signifique o effeilo da

    decadncia das luzes e da sciencia do Direito, como j o disse algu m,

    respeito dos de Roma.

    Pensamos com outros que a palavra Cdigo implica uma ida de

    adiantamento, de progresso nos Povos; acred itamos que he a ordem que

    succede confuso, a civilisao ba rbaria.

    Acreditamos lambem, que um Cdigo, em qualquer ramo de Legislao,

    importa a fixao de uma epocha, em que se mostra a alte rao que tem

    havido nas idas, nos costumes e no modo de viver de qualquer Nao, de

    que a lei codificada he a melhor e a mais assignalada expresso.

    No desconhecemos as difculdades de um Cdigo Civil, especialmente

    na presente epocha; difculdades que no reputamos insuperveis. Mas

    tambm entendemos que a obra que merecer o cunho legal, deve revestir-

    se no s de sabedoria, mas de convenincia, opportunidade e madureza.

    E , para conseguirmos tal desideratum, he desculpvel a demora que t iver

    por fundamento o esforo de acer tar e de aperfeioar.

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    T l

    J ao sentido de dotar o Paiz de um Cdigo Civil assignalou-se um

    dos nossos mais distinctos Mestres do nosso Direito, que occupou a pasta da

    Justia, provocando com o Dec. n.

    2318^ de

    22 de Dezembro de 1858 o

    estudo e organisao de um tal t rabalho, que soube confiar a uma das

    eminncias da Jurisprudncia Patria.

    O projecto, por ella el aborado , j foi sujeito ao exame de uma douta

    Commisso, cujos estudos foro interrompidos por causas que o publico

    conhece.

    He de presumir que o Governo, tanto como a Nao, empe

    nhadoem levar ao fim to elevado commettimento faarecomea-los.

    O que nos legou o antigo regimen com este nome no passa em geral

    das Ords. dos livs.3 e 4* com o subsidio do Direito Romano, e as Leis o

    actos

    do Governo que se foro segu indo reclamo das circumstancias no

    espao

    de 267 annos, atravez de revolues politicas esociaes, que em

    to largoprazo tem succedido.

    Compulsar uma tal Legislao, que deve se r por todos conhecida, he

    de colossal difliculdade ainda para os que se dedico o seu estudo. He

    indispensvel muita tenacidade, e hercleo alento para conseg ui-lo. Um

    Governo desvelado e patritico, frente da Sociedade que dirige, deve es

    forar-se

    por minorar, seno extinguir este mal.

    Diz-se

    de Calgula, um dos tyrannos mais insensatos c engenhosos da

    antiga Roma, quepara evitar que os Cidados conhecessem as Leis, orde

    nava que as respectivas taboas fossem

    penduradas

    no ponto o mais al to.

    Leisconfusas e numerosas por colleccionar, ou imprimir, e ainda em

    Colleces

    difficeis de possuir e de consultar, satisfazem com mais efficacia

    o ideal daquelle monstro.

    Portanto, no estado cm que presentemente se acha nossa Leg islao

    Civil,

    atlentos os embaraos com que se luta para se levar bom termo,

    e em tempo curto o Cdigo que d esejamos ; pareceu-nos que, como

    remdio provisrio, no seria mal recebida pelos cultores d e . nossa

    Jurisprudncia uma edio das nossas Ordenaes, isenta de erros, e acom

    panhada

    em resumo e integ ra/mente da Legislao subsequente que alte

    rou, declarou ou alargou o circulo das suas disposies.

    Consultamos com esse propsito todas as edies das Ordenaes desde

    a

    primeira de 1603 at a ultima de 1865, demorando-nos no estudo das

    principaes a

    Vicentina

    de 17 47 , e a de Coimbra de 1824, organisada pelo

    D r. Jos Corra de Azevedo Morato, Lente substituto de

    Leis

    da mesma

    Universidade, o mais distinclo revisor daquel le Cdigo. Na compilao da

    Legislao extravagante recorremos as melhores Colleces, ainda que

    despendemos algum tempo com as outras,

    tendo

    s por alvoacertar.

    Para tornar menos afanoso o labor da consul ta e exame do respectivo

    texto,

    fizemos o empenho que nossas foras permitlio,

    tendo

    sempre em

    mira a juventude que cursa nas Faculdades de Direito, e que alis dispe

    era seu-tirocnio de to limitado tempo.

    Assim, alem das fontes prximas que se encontrar no fim de cada

    paragrapho, acharo os estudiosos, nos lugares competentes, notas phi-

    lologicas, histricas e exegeticas; e, como commentario, por extenso ou

    em resumo, o que expendero os nossos Ju ris tas discursando sobre cada

    um, segundo o que nos pareceu mais adaptado, e conveniente intelli-

    gencia daquelles paraquem nos disposemos trabalhar . Nessas notas se

    se acho concisa mas claramente enunciadas todas as obras, com indicao

    do tomo e pagina, dos Jurisconsultos antigos ou modernos que com o as

    sumpto mais ou menos se occuparo.

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    VII

    E is a razo desla publicao; e parece que s por si nos justificar aos

    olhos dos Juizes mais competentes e severos.

    M as dir-se-ha, se o Direito Civil das Ordenaes est encerrado nos

    livros 3* e 4% e em alguns titulos dos livros

    K

    e 2' , que utilidade haver

    na publicao de disposies revogadas, e em desuso ?

    A esta

    objeco

    respondemos, que uma obra truncada perde grande

    parte do seu merecimento ; acerescendo que as

    Leis

    obsoletas, em desuso,

    ou revogadas conservo ainda o valor histrico, servindo muitas vezes

    o seu conhecimento para a intel ligencia ainda das Leisque se acho em

    vigor, contendo algumas mui s doutrina,e excellentes princpios de Direito,

    teis de saber.

    No he portanto um estudo de simples erudio e de ornato, tem sua

    importncia como o do Direito Romano, e das

    Leis

    estranhas ao nosso Pa7,

    sobre tudo em relao ao mesmo Cdigo Philippino to difflcil de rompre-

    henso em muitos dos seus paragraphos.

    I I .

    - H i s t o r i e d a L e g i s l a o P o r t u g - u e z a , e d e s e u s C d i g o s a t

    a

    p o e n a d a I n d e p e n d n c i a . O D i r e i t o R o m a n o .

    O Direito Civil Porlugu ez encerrado nas Ordenaes Philippinas contem

    dous elementos, a Legislao

    nacional,

    frueto das idas, opinies, c cos

    tumes da populao em dTerentes epochas; e a

    Romana,

    considerada

    Direito Commum, tanto a que foi incorporada, como a que o Legislador

    considerou subsidiaria.

    No ser indifferenle ao estudo do Direito Ptrio dar neste lugar, ainda

    que perfunctoriamenle, uma ida da historia dessa Legislao que tanla

    influencia

    exerco, e ainda exe rce na dos Povos civilisados, afim de po

    dermos apreciar o modo, e a epocha em que veio influir e dominar no

    nosso Direito.

    Parece-nos

    entretanto escusado remonlarmo-nos, para apanhar o Tio

    dessa historia, aos primeiros sculos do Poder Romano, tempos quasi

    que inteiramente desconhecidos, ou sob a influencia da lege nda; de R

    mulo, fundao do regimen Consular : ainda que a historia, sob a f do

    JurisconsultoPomponio, aponte uma Compilao feita na epocha de Tar-

    uinio o Soberbo, pelo Pontfice mximo

    Sexto

    Papirio, denominado Jus

    ive Papirianum, commentado na epocha de Cicero pelo Jurisconsulto

    Granio Flvio.

    Tomamos o nosso ponto de partida do Cdigo chamado Leis das Doze

    Taboas,

    uma das conquistas do Povo Romano sobre o Patriciado depois

    da expulso dos

    Reys,

    no anno 300 da fundao de Roma.

    Sabe-se pela historia, ainda que hoje contestada pela critica moderna,

    que trez Patricios foro mandados Grcia para compilarem a respectiva

    Legislao,

    afim de se fazer a applicao em Roma. Esses enviados trouxe-

    ro uma cpia das

    Leis

    Atticas, e Hermdoro, desterrado de Epheso, para

    explica-las; por cujo servio uma estatu a lhe foi erigida na cidade eterna.

    Deste exemplo se v que a codificao de uma Legislao no he,

    como

    pretende certa esela, o effeito da decadncia das luzes, e da scien-

    c ia do Direito em uma Nao.

    A codificao da Legislao de qualquer Estado, como j notamos, re -

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    V IH

    presenta de ordinario uma pocba, em que se tem realizado uma revo

    luo

    nos costumes e ideas de um Povo.

    O primeiro Cdigo de que os. tempos histricos do noticia he o que

    Moyssescrevo no

    Sinai,

    os dez

    Natidamentos

    da Lei de

    Dos,

    dados

    no

    momento em que a tribu de Israel ia constituir um povo ; e ningum ou

    sar dizer que a codificao de uma tal Legislao significasse a decaden

    c ia das luzes e da sciencia do Direito.

    A s

    Leis

    de Minos, de Lycurg o e de Soln, que ero codificaes das

    Leis

    dos Povos da raa Hellenica no constituio uma pocha de decadencia

    dessa raa, depois to illustre na historia da humanidade.

    Depois

    que Roma fez a conquista de grande parle da It alia, consolidou-a,

    e poz-se a frente dos povos Latinos e Etruscos, a pocha azada para

    assimilar estas populaes sob o seu regimen foi quando mandou com

    pilar no estrangeiro as Leis chamadas das Doze Taboas, que impoz a essas

    populaes de origem e costumes differentes.

    F o i esta uma pocha no de decadencia, mas de progresso, de conso

    lidao de seu dominio.

    Augmentando este dominio com acquisio de territorios fra e

    dentro da Italia, o Cdigo dasDoze Taboas lornou-se insufficienle ; e em

    quanto durou o trabalho da conquista do Mundo Romano no tempo da Re-

    publica, e nos primeiros sculos do Imperio, difficil seno impossvel era

    uma codificao da Legislao, no obstante o largo estadio decorrido.

    Esse trabalho appareco logo que a paixo das conquistas cessou, e

    tratou-se de organisar e conservar o territorio conquistado, sujeitando-o

    uma s Legislao, e com uma lngua official, a Latina.

    F o i o Imperador Adriano quem comprehendo essa necessidade, tra

    ando os limites do Imperio, que elle julgou definitivos.

    Promulgou-se nessa pocha, pode-se dizer, o segundo Cdigo Romano o

    Edicto Perpetuo, obra do JurisconsultoSalvia Juliano.

    Comearoa ter valor asLeis ou decises do Prncipe (Constitutiones

    Principum) sem a dependencia da approvao do Senado ou do Povo ; c

    como consequncia desta revoluo em

    Legislao,

    o titulo, o privilegio de

    Cidado Romano foi conferido todos os habitantes do Imperio.

    He mesmo nessa pocha que comea.e termina embreve a idade de ouro

    chamada da Jurisprudencia Romana, em que florescero os Julianos, Pom-

    ponios, Caios ou Gaios, Papinianos, Ulpianos, Paulos, e Modestinos.

    Quasi todos escrevero obras de Jurisprudencia em rel ao ao famoso o

    Edicto perpetuo,

    sobre

    tudo

    Ulpiano.

    Desde que se passa o reinado de Alexandre Severo at Constantino,

    em que comea a decadencia do Imperio, e mesmo at Justiniano no sexto

    sculo,

    quando

    j grande parte do Occidente da Europa era preza dos

    povos Germnicos, Godos, Borgu inhes, e Francos, soffro a Leg islao

    muitas alteraes.

    Esse

    estado de couzas impunha a necessidade de uma codificao na

    Legislao, por isso se tinha feito importante revoluo nas idas, nos

    costumes e nas circumstancias do Paiz.

    Assim

    quando Diocleciano dividi o Imperio era quatro grandes par-

    cellas,

    regidas por dous Augustos edous Cezares, appareco o Cdigo Gre

    goriano,

    assim chamado do Jurisconsulto que organisou-o. E ra uma com

    pilaodas Constituies ou Leis dos Imperadores desde Adriano at Gal-

    lieno ou Diocleciano ; a qual foi ampliada por Hermgenes, ou Hermo-

    geniano at a pocha da asceno de Constantino, e pouco depois.

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    19/73

    IX

    Esles

    dousCdigos, ou antes compilaes no tinho o caracter de

    Leis,

    mas nem por isso deixaro de ter aulhoridade entre os que estudavo e

    praticavo a Jurisprudencia.

    A elevao de Constantino forma na historia do Imperio Romano, uma

    epocha de summa importancia, pela revoluo radical que houve nosprin

    cipiosdo Governo, ou antes na rel igio dos Imperantes, predominando o

    Christianismo, anteriormente perseguido, sobre o Paganismo, culto a t

    ento dominante e perseguidor.

    Estasimples alterao produzio, tanto nos costumes,como na Legislao,

    mudanas extraordinarias; mas os effeitos dessa reforma somente se sen

    tiro com mais

    eflicacia

    nos reinados que se seguiro.

    Assimno reinado de Theodosio II o Moo tornou-se necessrio codi

    ficar-se a Legislao. Estava completa a revoluo inaugurada por Cons

    tantino, o Mundo Romano em menos de 120 annos eslava christianisado ;

    o

    Imperio dividido tendo por capites Roma e Constantinopla; alm de

    que os accommeltimentos dos barbaros invasores tanto nas regies do Da

    nubio, como na Europa Occidental de que j se havio em grande parte

    apossado, alteraro toda a economia do Estado, e o modas

    vivendi

    das po

    pulaes. Era indispensvel no s codificar, mas harmonisar a legis lao,

    n'uma situao politica inteiramente nova.

    F oi em 429, que por um Edicto solemne dirigido ao Senado de Constan

    tinopla, se ordenou essa compilao, aulhentica, das Leis dos Imperadores

    desde Constantino at essa pocha, conhecida por Cdigo Theodosiano.

    Oito Jurisconsultos dos mais dislinctos , numero que foi depois

    elevado dezeseis, cuja frente brilhava Anliochus, personagem consular,

    que por suas luzes e experiencia no

    exerccio

    dos cargos de Queslor e de

    Pretor, oceupava em Constantinopla posio mui elevada.

    Nesta compilao pz-se de lado as Leis imperiaes anteriores pocha

    de Constantino, coleccionadas nos Cdigos e Gregoriano e Hermogenmno,

    por isso que o mesma Imperador abrogando as formulas e solemnidades an

    tigas dera Jurisprudencia novo aspecto, e inutilizara grande parte das

    anteriores instituies.

    O Cdigo Theodosiano, posto que comeasse organisar-se em 429,

    tevegrande interrupo em consequncia das desordens causadas pela he-

    rezia de Nestorio, e os deplorveis acontecimentos do Concilio de Epheso :

    mas recomeado o trabalho por influencia da Princeza Pulcheria, irm de

    TheodosioII , terminou no espao de trez annos em Fevereiro de 43 8,

    quandofoi promulgado para ter fora de Lei, como logo teve, nos dous Im

    perios do Oriente e do Occidente.

    Neste Cdigo, a que se foro additando Novlas, ou

    Leis

    extravagantes,

    sobresahem no poucos defeitos,como era natural ,sendo feito e co-ordenado

    cmespao de tempo to limitado. Notando-se, que a despeito de sua qualifi

    caode Cdigo aulhentico com fora de Lei, nem por isso deixaro as deci -

    soes

    dos Jurisconsultos

    (Responsa Prudentum)

    de continuar com o valor de

    oulr'ora

    ;0

    que no deixou de complicar para diante a Jurisprudencia, visto

    como, depois da separao de Roma, ou antes do Imperio do Occidente,

    bemdifficil era distinguir quaes ero os principios da Jur isprudencia

    cls

    sica em vigor, dos que no ero.

    No inlervallo que vai do reinado de Theodosio II ao de Justiniano, ou

    pocha da publicao do Corpus Jris no anuo de 534, isto he, depois de

    decorrido um sculo, mui importantes acontecimentos tinho alterado

    i g i t i z e d b yGoogle

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    20/73

    X

    a Legislao, tanto no Imprio Romano subsistente, como na parle oceu-

    pada

    pelos Brbaros vencedores.

    Theodorico,

    chefe dos Ostrogodos, apossando-se da Itlia promulgou ahi

    um Cdigo, que sujeitou tanto a populao Romana conquistada*, como

    a Gothica vencedora.

    Foi no anno de 500 que se publicou oEdicto de Theodorico, em cujas

    disposies abundavo as

    Sentenas

    de Paulo, considera las o Manual pra

    tico daquelles tempos.

    Poucos annos depois, em 506, os Visigodos que se havio apossado da

    Gallia Narboneza, e da Hespanha, paradireco da populao Romana sob

    seu domnio, promulgaro outroCdigo denominado Lex Romana, oconhe

    cido na historia por Hreviarinm Alaricinnum, ou Aniani, do nome do refe

    rendrio.

    O exemplar que chegou nossos dias hc dirigido pelo referendrio

    Anianus,ii Timotheo, um dos Condes do Reino.com o decreto do Rey Alari

    co

    II , ao Conde Palatino Goyarico, que se diz o anlhor da da, em rujo

    decreto senarratodo o histrico desse factum.

    He

    huma

    obra mais extensa, e mais importante que o

    Edicto

    de Theodo

    rico, no obstante comprehender sob sua jurisdico to somente a

    populao Romana, vencida.

    Sob

    o dominio dos Borguinhes, a mesma populao lambem alcanou

    hum Cdigo chamado Lei Gombelta, do Rey Gondebaud, ou Papiniuni lrs-

    ponsa, como o appellida Cujacio na edio que pulilcou em 1586. Ksle

    Cdigo inferior ao precedente, hecomludo melhor que oEdicto de Theodo

    rico

    ; mas todos mais ou menos apoiavo-se nos trabalhos dos antigos J u

    risconsul tos Romanos, e nos Cdigos Gregoriano e Hermogeniauo, e sobre

    tudo no Theodosiano; que he largamente aproveitado com as Xovellas de

    Theodosio II, e seus suecessores, at Severo, pelo hreviarium Aniani.

    Foi depois da promulgao desles Cdigos na Europa occidenlal, j no

    sujeita

    ao Poder Romano, que se fez a compilao .lustinianea.

    Deve-se ao celebre Jurisconsul to Triboniano, inni valido do Imperador

    Justiniano, a ida dessa famosa compilao, que hoje chamamos

    Corpus

    Jris Civilis.

    Nessa epocha nada restava no Oriente dos costumes originrios de

    Roma,diz um Jurisconsul to, seno algumas palavras, algumas recordaes,

    e muitos vicios- O Grego era a lingua geralmente fallada, o Lalim quasi

    inteiramente esquecido no uso vulgar.

    A

    sciencia do Direito em decadncia, e a abundncia das Leis con

    corria

    ainda mais para obscurec-las, era um chos.

    Para confeccionar essa obra monumental , e que s por si faz a gloria do

    reinado de Justiniano, escolheu Triboniano collaboradores eminentes nas

    Academias de Constantinopla, e na to cel ebre de

    Brvlo,

    na Phenicia,

    paizque j linha dadoao

    mundo

    lilpiano.

    O Cdigo

    [Codex]

    foi o trabalho que primeiro encetaro os Compilado

    res, cujo systema consislio em colligir todas as

    L e i s ,

    os decretos e res-

    criptos dos Imperadores, christos e pagos.

    A disposio das matrias fez-se de conformidade com o Edicto perpetuo

    de Adriano.

    O Codex, decretado em 528, foi concludo com extrema rapidez, e pro

    mulgado no mez de Abril do anno seguinte, 5 2 9 ; sendo ao mesmo tempo

    revogados os Cdigos Romanos precedentes.

    Seguio-seoDiqsto ou Pandertns, no anno de 533. Denominou-se assim

    i g i t i z e d

    y

    Google

    http://reino.com/http://reino.com/
  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    esta obra, distribuda em 50 livros e 422 ttulos, por que abraava toda

    a Jurisprudncia Romana; eDigestopor que as leis ero ahi classificadas ou

    dispostas com melhotlo

    Este

    predicado com razo lh'o contesta Isamberl na sua

    Historia de

    Jus

    tiniano,

    no lhe reconhecendo nem ordem, nem methodo ; dizendo que as

    decises ali compiladas, ora isoladas, ora approximadas, formo um chos

    de disposies, que ha dez sculos so o tormento dos Jurisconsultos de

    todos os paizes.

    So

    as

    Pandectas

    vasta compilao de leis anteriores, e decises de Juris

    consultos

    [Responsa Prudt>ntum),qae

    posteriormente fez esquecidas as fontes

    da Legislao Romana, laes como as

    Leis

    das Doze Taboas, o Edicto de

    Pretor, e os traballios de Papiniano, Ulpiano, Paulo, e outros.

    A obra das Institutos, modelada pelas que escreveu Gaio ou Caio, no

    interesse do ensino do Direito, foi confiada Trboniano,Theophilo e Doro-

    tbeo.

    Elias tornaro-se o compendio do estudo do Direito nas Academias

    Romanas, e o foro depois nas Universidades e Escolas de Direito da meia

    idade, e ainda nos tempos modernos.

    No anno de 534 fez-se liuma nova edio do

    Cdigo,

    a nica que chegou

    at nossos dias ; porquanto Justiniano, tendo at ento promulgado perlo

    de duzentas leis, exigio que fossem inscriptas e incorporadas no Cdigo,

    nos lugares convenientes.

    NoCdigoassim reformado, foro as matrias divididas em doze livros,

    e 106 lilu los, comprehendendo as Constituies ou leis de 56 Imperadores,

    desde Adriano.

    A promulgao deste Cdigo fez-se com a maior solemnidade possvel;

    publicando-se em todas as Igrejas do Imprio, e remel teiido-se a cada Ma

    gistrado hum exemplar.

    As

    leis posteriores este acto, promulgadas em todo o lempo que

    durouainda o reinado de Justiniano (27 annos), foro collgidas sob o titulo

    de Novellas ou Authenticas, em numero de 168, e viero a constituir o

    Direito novo (Jus novissimum).

    Foi

    este o ultimo Cdigo Romano, e de todos o mais importante, e

    mais celebrado.

    Savigny,

    na sua Historia do Direito Romano, na meia idade, emille sobre

    o

    Corpus

    Jris a seguinte opinio que compartilhamos :

    Se se comparti com as instituies barbaras as compilaes de Just i

    niano, no nos podemos guardar de certo sentimento de admirao; toda

    via, consideradas em si mesmas, merecerio ainda nossa estima e nosso

    reconhecimento.

    Semduvida a fora creadra foi recusada ao sculo de Justiniano ; os

    Jurisconsultos que trabalhavosob suas ordens, devero ainda procurar as

    fontes em numa litteratura culta, estranha de seu prprio Paiz

    [o Oriente).

    No meio de tantas circumstancias desfavorveis, sua escolha foi to

    feliz e to hbil, que depois de 1300 annos, apezar das lacuna da historia,

    suas compilaes represento quasi por si s o espirito do Direito Romano

    inteiro, que nenhum sculo livre de preveno poded'ora avante repellir a

    influencia deste excel lente e profundo desenvolvimento do Direito.

    Dir se-ha que essa escolha fora oeffeilodo acaso, e no do saber e da

    intelligencia

    ? Por nica resposta remello os Contradictores aos Cdigos que

    nos deixaro os Gdos e Borguinhes.

    No se pode sem contradizer a historia, objectar que o Cdigo

    Jusli-

    i g i t i z e d y

    Google

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    X I I

    nianeo he obra dos Romanos, e que os outros Cdigos so obra dos

    Brba

    ros ; porquanto no Imprio do Occidente, em Roma, e nas Gallias, as leis

    foro compiladas pelos Romanos, e no por Godos ou Borguinhes.

    Temos at aqui considerado o Direito de Just iniano em re lao

    sciencia,

    mas o seu fira era puramente pratico, e he sob este ponto de vista

    que se deve consideraras prprias Constituies de Justiniano.

    Sem

    duvida

    o seu mrito he desigu al; mas muitas apresento numa

    vista

    completa do assumpto, e correspondemjustamente ao seu fim.

    Quando ellas parecem revolver e demolir o antigo Direito, muitas vezes

    no so seno a expresso racional das mudanas.que por si mesmas se intro

    duziro sem a interveno do Legislador. Ainda aqui a comparao he em

    proveito de Justiniano. Em verdade suas Leis, maxime as do Cdigo, con

    frontadas com os Edictos do Cdigo Theodosiano, e sobre tudo as Novellas

    q ue o acompanho, so mui superiores na frma e no fundo.

    O plano de Justiniano consistia em encerrar em

    duas

    obras principaes,

    os fragmentos exirahidos dos Jurisconsultos e das Leis.

    A primeira, i. e., as Pandectas, devia, como he natural e de razo,

    conter as bases do Direito. Desde as

    Doze Taboas

    era esta a primeira obra

    que, s, independente de qualque r ouira, podia servir de centro commuui

    ao complexo da Legislao.

    Neste sentido, he permittido considerar, depois das Doze Taboas, as

    Pandectas como o nico Cdigo verdadeiramente completo, ainda que a

    Legislao ahi oceupe menos lug ar que o dogma, e a deciso dos casospar

    ticulares.

    Em vez das regras insufficientes de Valentiniano III , achamos ali, dis"

    postas por ordem de matrias extractos tirados litle ralmente dos escr ipto

    s

    de huma multido de Jurisconsultos.

    O Cdigo foi tambm organisado sob um plano mais vasto que os pre

    cedentes (refere-se tanto aos dos Brbaros, como aos dos Romanos).

    Justiniano tinha ali reunido os Edictos e os Rescriptos. O seu propsito

    estava preenchido com essas

    duas

    obras; no se deve pois considerar as

    Institutos

    como huma terceira compilao, independente daquellas

    duas

    (Digesto e Cdigo); mas como hum livro elementar destinado a lhes servir

    de introduco.

    Em summa as

    Novellas

    encerro complementos posteriores, addices

    isoladas ; e foro as circumstancias que impediro que no pparecesse no

    l im do reinado de Justiniano, uma terceira edio do Cdigo, em que se-

    rio por certo incorporadas as Novellas de permanente intere sse.

    Destas datas se v que tendo a Lusitnia, como as outras provncias

    daHespanha.passado ao domnio dos Brbaros desde o principio do 5 sculo

    ( 4 0 9 ) , no voltando mais ao Poder Romano, nunca o Cdigo Thsodo-

    siano,

    nem o

    Corpus Jris

    tivero fora de Lei ali; nem naquel las po-

    chas

    podio propagar-se o seu conhecimento e estudo.

    Na Lusitnia, os primeiros Brbaros de origem Germnica que ali se

    estabelecero por conquista foro os Alanos, que pouco se demo

    raro desbaratados por Wallia, Rey dos

    Visigodos,

    em 418, seguindo-se os

    Vndalos que passaro logo para Africa em 429, e depois os Suevos e

    Visigodos.

    O s

    Suevos commandados por Hermanerico, estabel ecero-se ali desde

    4 0 9 , e conservaro-se tanto na Lusitnia como na Galliza at 585,quando

    os Visigodos, que j se achavo de posse da maior parte da Hespanha os

    i g i t i z e d b yGoogle

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    XIII

    subjugaro no reinado de Leovigildo. Assim se conservou o paiz al

    a cpocha da conquista Sarracena em 7 11 .

    Portanto o Direito Romano que vigorava na antiga Lusitnia no con

    sistia, antes do

    Edicto Perpetuo,

    seno em differenles privilgios e direitos

    concedidos a diversas cidades, provavelmente Colnias Romanas, ou ele

    vadas esse gro, e posteriormente o mesmo Edicto, eos Cdigos Grego

    riano

    e

    Hermogeniano.

    Pelo que respeita au

    IluoiloxUina,

    promulgado depois da conquista dos

    Suevos, no teve entrada e fora de Lei no paiz, seno depois da con

    quista

    Yisigolhica

    em 58 5, no que se havia codificado e incorporado no

    Breoiariwn Aniani, que , como j vimos, somente aproveitava popula

    o Romana, ou no Sueva e Visigolhica.

    E bem que Jus tiniano no seu reinado rehouvesse pela espada victoriosa

    de seus generaes

    Belisrio

    e Narss.uma boa parle do Imprio do Occidente,

    arrancada aos Ostrogodos, Hrulos e Vndalos, a Itlia e Africa, nunca

    conseguio a He spanha; e por isso a sua Legislao manteve-se por algum

    tempo nesses paizes, e principalmente na Itlia meridional (Duas Sicilias),

    que os Normandos por ultimo foro conquistar ; o que em parle expl ica a

    legenda da descoberta em Amalli da sua compilao.

    E m outro lugar diremos c o m o n

    Curpus

    Juri* peneirou e influiu no

    nosso Direito.

    I I I .

    L e i a V l s i g o t h l e i M , o U i r e i i o C a n n i c o , e

    o

    C a t l l g o I M

    S*t *

    P a r t i d a s .

    No domnio Visigolhico na Pennsula Ibrica havioduasnaes, dous

    povos.

    O s conquisladores que e ro um composto de Alanos, Vndalos,

    Sue

    vos eVisigodos,e os conquistados em que entravo os indgenas Celliberios,

    Canlabrios, Lusitanos, e um mixlo dePhenicios, Carlhaginezes eRomanos;

    populao que se repulava

    Romana,

    porquanto de ha muito vivia e regia-se

    pela Legislao desse grande Povo.

    A conquista Visigolhica impz a estes um Cdigo que fez organisar, e

    que j conhecemos

    o B r e v i a r i u m A lar icianum

    ou

    Aniani;

    mas os conquis

    tadores regio-se por

    Leis

    peculiares, ou antes por seus uzos e costumes

    a l

    o reinado de Chindaswindo em 65 2, que revogando aquelle Cdigo,

    fez organisar outro denominado Fuero

    Jusgo,

    em Lalim Frum Judicum,

    a

    que sujeitou toda a populao dos seus Estados.

    Maistarde seu filho Receswindo completou esse tr abalho , acrescen-

    lando-lhe as leis promulgadas ou reformadas por seu antecessor Eurico

    a l E'giza, com fragmentos de Le gislao, cuja origem he desconhecida,

    exlrahidos provavelmente dos costumes das antigas tribus Germnicas.

    O

    Fuero Jusgo,

    assim reorganisado, foi distribudo em 12 livros e por

    ordem de matrias, comprehendendo 54 ttulos e 585 artigos ou paragra-

    phos. E para que se propagasse bem o seu conhecimento no se podia

    vender exemplar algum por mais de doze soldos, sob pena de cem aoutes,

    igualmenle applicados ao comprador, e ao vendedor.

    Devia ser importante, nessa epocha, semelhante quantia, hoje corre s

    pondente a 100 r s.paraqu e um exemplar desse Cdigo, em copia manus-

    crpla,

    pois no havia ainda Imprensa, podesse ser assim laxado.

    O

    Fuero

    Jusgo dominou na Hespanha christ por muitos sculos, pouco

    i g i t i z e d b y

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    24/73

    xiv

    importando para o nosso caso a Legislao Musulinana, nunca acceita e

    sempre repel lida pela populao ad versa; at a reforma da Legislao

    no reinado de Fernando III, o Santo, em 1250, um dos Prncipes mais

    eminentes que teve aque lle Paiz, por suas virtudes privadas, politicas e

    guerreiras.

    M as essa reforma, que produsio o Cdigo chamado das Siete Partidas,

    real isou-se no reinado seguinte de seu filho Affonso X, cognominado o

    Sabio, em 126 0.

    Segundo um escriptor, o Fwro Jusgo bem que abolisse expressamente

    o Direito Homano, assim como os antigos foros ou costumes, o complexo

    de suas disposies revela uma mo Romana.

    Mo pouca* Nozesos artigos so calcados sobre Edictos Imperiaes, e

    em vez de distinguir os povos segundo a sua origem, suas disposies

    applico-se totalidade do territrio.

    O s

    territrios Portuguezes.dependentes do Reino de Leo,logo que foro

    tomados aos Mouros, e recebio a populao enrista, ficavo naluralmente.e

    pelos antigos hbitos, sujeitos estaLegislao, inaxime ao Fnero de Leon,

    mandado

    observar em Portugal pelo Concilio de Coyana, e alguns privi

    lgios [fordes), que, por circumslancias especiaes, oblinho algumas po

    voaes importantes.

    Referindo-se ao

    Fuero Jusgo,

    diz Caetano do Amaral na sua Memoria

    sobre a Historia da Legislao, ecostumes de Portugal o segu inte:

    E ste Cdigo, que bem podemos chamar Romano-Gothico que

    primeira vista se nos affigura Romano j na lngua em que est escr iplo,

    e na sua mais geral diviso, j na sua mesma natureza do Cdigo Univer

    sa l

    do Imprio ao avesso do uso dos Brbaros, e em infinitas das suas

    disposies *mas que ao mesmo tempo na ndole da Legislao, e no

    gosto da escriplura bem deixa transluzir a barbaria do tempo e dos

    aulhores que o formaro.

    Este Cdigo de cujas ordenaes se aproveitaro ainda outras gent es ;

    que srvio de base aos Cdigos Hespanhes, de algum dos quaes em razo

    da visinhana assas depois participamos prefere-se ao das

    Sete Partidas);

    e que sobre tudo deixou muitas razes da Legislao no terreno de Por

    tugal , que em tantos lugares vege tou ; deve ser um digno objecto da

    nossa considerao.

    E em nota referindo as confirmaes que teve esta Legislao em diffe-

    renles reinados, depois de Pelayo, acerescenta :

    Garibay no liv. 11 cap. 22 do seu Compend io Histrico refere que

    El-Rey D. Affonso VI, filho de D. Fernando, o Magno, primeiro Rey de

    Castells,

    quandoganhou Toledo, entre os muitos privilgios, que deu

    esta Cidade, o primeiro, e principal foi, que os seus pleitos fossem

    jul

    gados pelas leis deste Livro.

    Quanto os Reys de Arago as observaro tambm e addiccionaro,

    se pde ver em Pedro Pilhou na Epistola dedicatria do Cdigo das

    Leis Visigolhicas.

    Depois de Villadiego, nas Advertncias previas ao

    Faero

    Jusgo,

    fazer

    meno de algumas das referidas confirmaes das Leis Golhicas pelos

    diversos Reys das Hespanhas, acerescenta :

    Y asi aun que en general se mandaron guardar estas Leyes en Espana

    por los Reyes restauradore s del ia en diversos tiempos : con todo eso en

    particu lar cada Provncia Ciudad asi como yba restaurando do poder

    de Mros, acostumbrava pedir, y procuraba g anar, por particu lar privile-

    i g i t i z e db y

    Google

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    X V

    gi o ymandado differentcs (ianquezas, y libertades

    (a que llamavan Fueros),

    y estos tenian por Leyes, confirmadas por tos Reyes, de quien recehian la

    raerced, co n que se governaban.

    Cousa se melhante se pode dizer de Portugal (como seu tempo mos

    traremos), mas com a differena, que em Portugal, depois de estabelecida

    a Monarchia, comearo a derogar aos Foraes particulares com

    Leis

    geraes,

    e no foro buscar para fundamento destas o Cdigo das

    Leis

    Visigolhicas

    (como succedo

    na

    Hespanha).

    A par do Fuero Jusgo, e do Direito consuetudinrio, exis tia o Direito Ca

    nnico,

    que se infiltrava, e juxlapunha a Legislao Civil, em vista da orga-

    nisao pecul iar dos Estados organisados depois da dissoluo do Im

    prio Romano. E nisto havia jus to fundamento; por que o elemento Ec-

    clesiastico, predominante por suas luzes, no se podia inspirar seno

    daquel le Direito, na direco que fora obrigado dar uma sociedade to

    rudimental , como era a da Europa no comeo da meia idade. .

    Desta

    sorte, como se achavo no Estado entrelaados e unidos o Civil e o

    Ecclesiastico,

    as decises dos Conclios Provinciaes H espanhes, maxime

    os de Toledo, ero observadas como se fossem promulgadas pelos

    dous

    Pod er es : nenhuma separao definida havia, seno a que resultava das

    funces peculiares que exercio o Clero, e o Rey.

    No Estado Visigolhico tornou-se isto mui saliente por impulso dos

    prprios Reys, no interesse de se conservarem por largo tempo e paci

    ficamente no throno. Dahi a grande importncia desses Conclios to cele

    brados na meia idade ; como bem o faz comprehende r um escriplor, que

    pela sua linguagem he insuspeito ao Poder Civil, e cujas palavras aqui re

    produzimos :

    Viro pois os Reys Godos que nada era mais capaz de segurar os

    seus interesses, que asdecises dos Conclios : que estes devio logo ser

    as suas Cortes, ou Estados Gera es: assim tem o maior cuidado em os con

    vocar j de toda a Nao, j de alguma Provncia : e sua vz e mando

    confesso os Bispos que foro congregados.

    Confesso assim ell es mesmos, como os

    Reys,

    que o motivo destas

    c nvocaes he muitas vezes, alem do interesse da Igreja, o do Es tad o: e

    assim o provo, mais efflcazmenle que as expresses, os mesmos factos :

    alli

    se prescrevem com effeito as

    Leis

    fundamenlaes para a successo do

    throno, e regimento dos -que e lle devem su bir : all i se confirmo de

    facto as deposies, e enthronisaes dos Reys, e se defende a sua vida e

    interesses -. alli se ordena, e reforma a Le gi sl a o: alli finalmente se

    conhece dos crimes mais gr ave s; e dos negcios, que influem tanto no

    Direito Publico, como no particular.

    Assistem de ordinrio os grandes da Corte, quem o Rey dirige ta m

    bm a pal avra; e por fim subscrevem os Decretos: assiste muitas vezes o

    R e y ; prope a matria, e com variedade de expresses commelle o que

    tem ou projectado, ou ordenado j ao ju zo e deciso, j modificao, c

    simples approvao dos Bispos: e estes da sua parle ora enuncio os

    Decretos, como de

    mandado

    do Rey, ora como determinao do Concilio ;

    e lhes procuro sempre a firmeza da Regia authoridade , a qual o Pr n

    cipe presta; ou seja com uma simples su bscrpo, ou como Lei conlir -

    matoria, que promulga, e em cuja sanco as vezes accummula s penas

    civisasecclesiastics;da mesma sorte que os Padres o fazem nos seus Decre

    tos . Eis aqui a imagem dos Conclios das Hespanhas no reinado dos Godos.

    No lhes chamem embora Cortes, os que por estas entendem Juntas

    i g i t i z e d b yGoogle

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    X V I

    regu lares dos Trez Estados do Re ino; pois que na realidade ero Juntas

    Ecclesiasticas dos Bispos, que sempre foro contados entre os Concilios, e

    a

    que se devio muitos Decretos dogmticos e disciplinares, cujo assumpto

    era o que na convocao principalmente se expressava: mas permil to

    que lhes doem aquelle nome os que com elle s querem significar, que os

    Reys Gdos se servio dos Concilios dos Bisposj>ara melhor estabelecerem

    muitas cousas; mais attenlos ao bom exilo das decises, que escrupulo

    sos

    na competncia do Tribunal. E que, ou obscurecidos pela ignorncia,

    os confins

    do Sacerdcio e do Impr io, ou

    confundidos

    pela convenincia,

    se accumulavo com effeito aqui osdous Poderes, e as matrias ell es

    sujeitas ' vindo a ser estes Concilios (e no s os Nacionaes, mas ainda os

    Provinciaes), numa das fontes assim do Direito Ecclesiastico das Hespanhas,

    como do Direito Civil dos Visigodos, de que tratamos.

    Mas,

    :

    ndependeiteda aco e influencia destes Concilios, a i portancia

    do Direito Cannico era grande na Pennsula Ibrica, j desde o

    4 Sculo,

    de que he testemunha o Concilio de Elvira do anno de 303 de nossa era,

    e outros congregados em Tarraiona, e em Braga.

    Esta

    importncia cresco com a publicao das

    Decretaes

    de Graciano nos

    fins do SculoX I I , de que ha muitos e notveis documentos em prova,

    desde o comeo da Monarchia Portugueza, que escusado seria aqui notar.

    Portanto, Portugal separando-se do Reino de Leo desde 1 1 3 9 , nem por

    isso

    deixou de observar a Legislao Visigolhica com as alteraes feitas na

    metrpole de que dependia, como o Fusro Real, a Leidei Estlo, o Fuero

    de

    Leon,

    e outras, que os successores de Affonso Henriques foro alterando

    em um ou outro ponto, conforme pedio as circumstancias.

    O Cdigo das Sete Partid-is, assim denominado da respectiva diviso,

    bem que fosse promulgado em Caslell a, tempo que Portugal era inden-

    pendente no reinado de D. Affonso II I , teve nesse Paiz fora de lei, no

    obstante a resisleucia que lhe fez a Cleresa, e se deprehende do art. 34 da

    respectiva Concordata com o Rey D. Pedro I , do anno de 1360.

    O Cdigo das Sete Partidas, era o contraposto do Fuero Jusgo, pois as-

    signalava a adopo completa do Direito Romano do

    Corpus

    Jris,

    que pela

    primeira vez penetrava com tanta vantagem no solo hispano. Dahi a re

    pugnncia que lhe linha o Clero em Portu gal.

    E posto que em tal Legislao se houvesse incorporado em suas dispo

    siesas Leis do

    Fuero

    Real e dos

    Estillos

    ou Direito Consuetudinrio,

    modificativos

    da legislao do Fuero Jusgo, o domnio das doutrinas do

    Corpus

    Jris era evid ent e; como bem demonstra um escriptor de nosso

    sculo,

    quando assegura que as disposies deste Cdigo ero no fundo

    mais Romanas que Hespanholas, sem embargo da lngua em que foi publi

    cado, sendo com just ia alcunhadas Leis Romanas traduzidas em Hes-

    panhol.

    Pois, accrascenta o mesmo escriptor, o que no dito Cdigo se propz El-

    R e y D. Fernando II I, oSanto, que, j o tinha lembrado, e encommendado,

    ainda que s fosse acabado no tempo de seu filho D. Affonso IX ou X ; foi

    traduzir,

    e fazer mais familiares as

    Leis,

    e Direito

    doCodigo,

    e

    Pandectas

    de

    Justiniano,

    de que, pela maior parle, e exactamente se compe, com mais

    algumas cousas tiradas dos Costumes, Ordenanas, e Foraes de Castella,

    em que lambem em parte terio infludo o Direito Ante-Justiniano, que

    nas Hespanhas se linha natural isado mais : com o que ficaro algumas das

    Justinianeas,

    modificadas e interpretadas, conforme o pedia a razo porque

    o

    mesmo Cdigo se formou ; e natural isadas fie sort e, que no inculcaro

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    b y

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    27/73

    XVII

    Unlo a sujeio do Imprio Romano, por cujo principio, diz Faria,

    aquelles Prncipes prohibiro o uso das ditas Leis.

    Mas a.

    repugnncia que sentio o Clero e a Nobreza pela Legislao deste

    Cdigo, era o maior incentivo para bem acolh-la o Poder

    Real,

    e os

    Ministros que o cercavo, enthusiastas do novo Direito, que se ensinava

    co m grande renome nas Universidades de Bolonha e de Pariz.

    O novo Direito alargava o poder e prerogalivas da aulhoridade Real; l

    se achava inscrip laa celebre mxima de Ulpiano,quod Principi placuit,

    Legis habet vigorem, queessas Legislaes cuidadosamente admittiro.

    A primeira Dynastia que reinou em Portugal era de origem Franceza,

    e os Ministros que mais influiro nos seus conselhos ero Juristas daquella

    nacionalidade, que foro Pennsula procurar fortuna. Alumnos da Uni

    versidade de Pariz ou de Bolonha, quasi lodos, aspiravo a demolira antiga

    Legislao impondo aos Povos modernos a que fora codificada por

    Triboniano.

    Travou-se a lula contra o antigo Direito, e contra todas as instituies

    que delle dimanavo. Na proscripo ero envolvidos o Direito Feudal, o Ca

    nnico, o Consuetudinrio consignado nos

    Foraes,

    e a Lei mui celebrada

    sob o nome de Avoenga, relativa ao direito de prelao, e de resciso na

    venda dos bens da famlia, direito sob outra forma ainda conservado na

    Ing late rra. Lula secul ar, mas mantida pelo PoderReale seus Juristas com

    a

    maior tenacidade, o que lhes assegurou o definitivo triumpho.

    No fim do sculo 43 e comeo do decimo quarto lavrava na Europa esse

    enlhusiasmo ou antes esse furor pelo Direito Romano, maxime em Frana,

    depois das lutas sustentadas pelos Papas contra os Imperadores da Caza da

    Suabia. ballida a hydra n'um ponto resurg ia em outro, e de onde era me

    nos esperadol

    D .

    Affonso I II , que vivera por muito tempo em Frana consorciado com

    a

    Condea de Boulogne, transportara para Portugal todas as tradices que

    al i bebra. Fcil em promessas, foi ainda mais fcil em recusar-se a cum

    pri-las, lutando contra uma excommunho que somente se submelteu a

    hora da morte.

    F oi no seu tempo que floresco o Mestre ou Dr.

    Jacobe

    das

    Leis

    [ex Le-

    gibus), famoso pelo compendio que organisou modo das Institutos, para

    o ensino e propagao do Direito Romano do Corpus

    Jris,

    escrito e coor

    denado no Portuguez daquellas ras; e bem assim D. Gomes.Dontor em Leis

    e Cnego de Zamora. Ero estes Jur isconsu ltos successores de oulros , to

    influentes como elle s nos cargos de Justi a que exercero nos precedentes

    reinados, como D.

    Joo

    Pecu liar e os Mestres Alberto, Leonardo e Vicente,

    Deode Lisboa, Domingos, Arcediago de Santarm, Pedro, Chancellcr-Mr,

    Fernando, e Paio, Chantre da S do Porto ; Francezes, Ita lianos, ou Hespa-

    nhes, formados em Pariz, Bolonha e Pdu a.

    ' Ero lodos propagandistas e enthu siastas do novo Direito, que j em

    Castella tinha lido to valioso triumpho no Cdigo ou Leis das Sete

    Partidas.

    No seguinte reinado de D. Diniz, as cousas no correro melhor: conti

    nuou a lula entre os

    dous

    elementos que se digladiavo.

    O Rey que tinha por progenitor a Affonso I I I , e pelo lado materno

    descendia do promulgador daquelle Cdigo, Affonso o Sabio ; augmentou

    ainda o empenho pela propagao do Direito do Corpus

    Jris.

    E para pou

    par aos Portuguezes o incommodo e despezas de viagens, bem custosas

    naquellas ras, fundou a Universidade de Lisboa

    ( 1 2 8 9 ) ,

    que depois passou

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    b y

    V J O C V

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    28/73

    XVIII

    para Coimbra ( 1 3 0 8 ) ; ordenando o ensino do mencionado Direito, e para

    esse

    liin mandou vir Professores das mais acreditadas

    Escolas.

    Inlluio no seu conselho l>. Domingos Jard o, formado in

    utroque jure,

    Chanceller-Mr, havendo occupado as mitras de Evora e Lisboa, 1).

    Joo

    Martins, Cnego de Coimbra, Martim Pires, Chantre de Evora, e o Mestre

    Joo dasLeis,

    to decantado neste re inado, como fora Mestre Jacobe, que

    j

    acima notamos.

    Este e outros Ju ris tas gozavo de tanta importancia que suas decises

    Unho fora igual s dos Romanos

    [Uesponsa Prudentum),

    nas epochas de

    Augusto e de Adriano.

    Koi neste reinado que o Cdigo ouLei das

    Sele

    Partidas

    foi traduzido

    em Portugu ez, em razo da grande nomeada que logo leve, e da

    fcil

    np-

    plicaoque podia ter, e com effeito teve em Portu gal.

    Porm, assevera um escriptor, nada concorreu mais para a grande ati-

    thoridade e uso que j linha, e continuou a ter o Direita

    de Justiniano,

    como

    a traduco que do Cdigo ou

    Leis

    das Partidas mandou fazer o

    mesmo Senhor Rey D. Diniz, sendo, como j esl dito acima pela maior

    parle formado do mesmo Direito.

    V.

    mais adiante arerescenta :

    Posta por tanto j a existencia da dita traduco, lembra natu ral

    mente , que o Senhor Rey D.Diniz, querendo e propondo-se augmentar

    a nossaLegislao, ainda ento diminuta, o enriquecer a nossa Lingua-,

    se lembrou, que sendo aquellas Leiscompostas pela maior parle do Direito

    Justinianeo,

    j mais escolhido, e accommodado aos costumes da Hes-

    panha, preenchio bem o seu fim.

    E daqui se segue o presumir-se, e achar-se com effeito, que o dito

    Cdigo pelas ditas qualidades mereco entre ns por aquelles lempos, e

    pelos seguintes a authoridade de

    subsidiario,

    e ser como tal observado ;

    de alt ribu ir-se com razo ao mesmo Senhor Rey o determina-lo assim

    expressame nte , e que por isso s>:- movesse mais a faz-lo traduzir na

    Lingua vulgar, em que quiz e determinou fossem dahi por diante escrip

    i a s

    todas as

    Leis

    do Re ino : entre as quaes, mesmo no dito Livro, e

    em alguns outros de I-eis e Posturas antigas, se acho escripias e tradu

    zidas algumas das mesmas Partidas, provavelmente anles da sua tradu c

    o

    geral.

    Estas

    asseres so reforadas com o facto do art. 24 da Concordia de

    Elvas

    de

    1 3 6 0 ,

    de que j fizemos meno ; bem

    como

    de uma Proviso de 13

    de Abril de 1361 dirigida Universidade de Coimbra pelo Rey D. Pedro 1,

    em que se determina ao respectivo Conservador que, no julgamento dos

    feitos entre os Estudantes e outras pessoas do Reino, se guiasse pelo

    Direito que aprendio nas Aulas, e no pelos livros e

    Leis das

    Partidas.

    O que no succederia, prenota ainda o mesmo escriptor, se as ditas

    Partidas

    no estivessem sendo a regra dos Ju izes em subsidio, na falia

    das

    Leis

    Patrias

    ainda com preferencia

    s Romanas, que em varias cousas

    interpretaro, modificaro, e ampliaro.

    He sem

    duvida

    porem, que o principio, e razo maior de

    tudo

    foi

    o

    grande credito, e authoridade do Direito de Justiniano, que com mais

    justia se fez transcendente as

    Leis

    das Partidas, em que elle fora, e se

    achava reduzido melhor, e mais proveitosa ordem.

    Conhecida a marcha que teve a Legislao Portugueza al a epocha

    em que reinou D.Diniz, e a fundao da Universidade de Coimbra, vejamos

    a

    direco que seguio at a organisao do primeiro Cdigo Portuguez.

    i g i t i z e d b y

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    X I X

    IV.

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    O a

    C a d i g o sP o r t u g u e s e s A i T o n s I n o , M a n o e l t n o , S e b o s t l a m i e o

    e

    P h l l i p p l n o .

    Do

    reinado de D. Diniz em diante continuaro as cousas no mesmo p

    em matria de Legislao, mas sempre crescendo de importncia o Direito

    Romano do

    Corpus

    Jris,

    e a influencia dos que el le se applicavo; ento

    j em crescido numero por haver na Patria uma Universidade.

    Nos reinados de D. AITonso IV e D. Pedro I , j se exigia expressa

    mente que, paraos cargos de Magistratura de cer ta importncia, fossem

    nomeados os kterados e entendudos, pois assim ero os Juristas conhe

    cidos.

    Havia ento abundncia de personagens desta classe letrada, e no Con

    selho do Re y ero poderosos e influentes. Os mais notveis, que havio

    adquirido honrosa nomeada, ero designados pelo gro, nome de baptismo

    e o appellido das

    Leis

    (ex Leg ibus). A historia no os commemra de outra

    sorte.

    Mestre

    ou

    Muglster

    Joo,

    Vicente, Pedro, Gonalo,

    Vasco

    das

    Leis,

    ou das

    Regras,

    e ex

    Regulis,

    appellido com que tanto se celebrisou no

    reinado de I).Joo I o Dr. Joo Fernandes de Argasou das Regras, ou

    MestreJoo ex Regulis.

    Figuraro nestes dous reinados como Chancel leres-mres os Mestres

    Joo, Vicente, e Gonalodas

    Leis,

    e por tanto mui considerados no Con

    selho do Rey.

    Na epocha de

    D .

    Fernando I o movimento foi ascend ente em pr das dou

    trinas do

    Corpus

    Jris.

    A Universidade Porlugu eza voltando de Coimbra

    paraLisboa, foi augmenlada com novos Professores, ou Ldores, mandados

    contractar no estrange iro. Parece que o

    padro

    dos estudos tinha baixado

    cm

    demasia,visto como os Portugu ezes.que podio faz-lo,preferio ir cur

    sar o Direito emoutras Universidades de incontestada celebridade como as

    dc Paris e de Bolonha, onde ensinava o famoso Bartholo, um dos orculos

    da sciencia, de quem

    Joo

    das Regras s ufanava de haver sido discpulo.

    No deixando este Prncipe herdeiro masculino,^ e havendo sua filha

    desposado um Prncipe de Casle lla, sua herana foi disputada por diffe-

    renles prelensores.

    D .

    Joo, Mestre da Ordem militar de Aviz, filho bastardo de D. Pedro I,

    pe-se frente de uma revoluo que lhe assegura a posse da Coroa,

    depois que a fortuna o secundara na batalha de Aljubarrota.

    Dous homens eminentes o auxilio efficazmente. No campo da batalha

    Nuno Alvares Pereira, e nas Cortes, e enlre o povo

    Joo

    das

    Regras,

    como

    a Historia o designa, Mestre

    Joo

    ex

    Regulis,

    com o seu saber, e com sua

    poderosa eloquncia.

    A ' luta das espadas e das lanas suecede a das let ras. Travou-se

    grande comball e entre os .Jurisconsultos leg itimistas, c os vencedores ;

    entrando lambem os Castelhanos na arena, em pr da filha de D. Fernando

    e de seu consorte.

    Estas questes exalto os nimos das populaes, excitadas sobretudo

    pelos Juristas, que ganhavo no Paiz elevada preeminncia.

    A independncia de Portugal dos Reinos visinhos de Leo e de Caslella

    ainda se no reputava completa, se a Legislao desses Paizes no fosse

    inteiramente abandonada, proscripla; organisando-se um Cdigo Nacional,

    puramente

    Porluguez,

    o ideal dos Juris tas patriotas ou revolucionrios.

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    X X

    Diz-se que a lembrana desse Cdigo foi toda de

    Joo

    das Regras,

    ento Chanceller-mr do Reino, com extrema preponderncia nos Conse

    lhos do Re y. Com esse propsito, assegura-se , que o eminente Jur iscon -

    sulto publicara uma traduco em lingua vulgar do

    Corpus

    Jris

    com as

    glossas de Accursio e deBarlholo, o qual, com o Direito Cannico, foi pre

    ferido ao do Cdigo O U Leis das Partidas.

    Essa

    traduco,

    cuja

    existncia alis alguns contesto, e outras obras

    que j havio, foro preparos para a organisao do

    Cdigo

    denominado Af-

    fonsino, por haver sido publicado no reinado de D. Alfonso V.

    Diz-se que a Nobresa e a Burguesia reunidas em Cortes o reclamaro com

    instancia, maxime o terceiro Estado, onde os Ju ris tas abundavo. Infeliz

    mente

    Joo

    das Regras, fallecendo em 1 4 0 4 , no pde levar a effeito o in

    lento, que outros execu taro com mais fortuna no reinado do neto de D.

    Joo I , sendo Regente do Reino de p. Pedro, Duque de Coimbra, em 1446

    ou 1447 , como parece mais presumvel.

    A obra foi commett idaao Dr. ou Mestre

    Joo

    Mendes.Corregedor da Corte,

    como

    se v no liv. 1 1 prefacio dessas Ordenaes, ignorando-se a data :

    assim como no se sabe quaes as Cortes em que os Fidalgos e Povos pediro

    por vezes a organisao do Cdigo; mas no ser destituda de fundamento

    apresumpo, de que o encargo foi confiado ao Dr.

    Joo

    Mendes, depois da

    morte de

    Joo

    das Regras em 1 4 0 4 ; podendo-se calcular que nessa primeira

    compilao

    gastou-se perto de quarenta annos pouco mais ou menos.ou de

    vinte a contar das Cortes de Lisboa de 1427, as penltimas convocadas

    por D.

    Joo

    I, fallecido em 14 33 ; por quanto foi por esses tempos ( 1 4 2 2 ) ,

    que se fez uma grande reforma em Portugal, a substituio da era de Cesar

    pela de Chrislo ; e uma reforma podia l er despertado ou animado outra de

    tanto alcance, e to necessria.

    Cumpre notar que o empenho de levar-se

    effeilo

    o Cdigo Nacional

    era de longa data, pois no prefacio das mesmas Ordenaes se diz, que

    s e ellas no foro acabadas em tempo de D.

    Joo

    I, a causa foro

    alguns empachos,

    que se

    seguirom.

    Fallecendo o Dr.

    Joo

    Mendes nos primeiros tempos do reinado de

    D .

    Duarte, escolho este Monarcha para continuar a obra encetada ao

    D r. Ruy Fernandes, pessoa mui competente, e que j figurava com dis-

    linco

    no seu Conselho. A este Jurisconsul to coube a honra de termina-la

    co m

    o auxilio do Dr. I.opo Vasques, Corregedor de Lisboa, e dos Dezem-

    bargadores do Pao Luiz Martins e Ferno Rodrigues.

    0 Cdigo Affonsino, publicado em 1446 ou 47 , lie por si s um acon

    tecimento notvel na Legislao dos Povos Chrislos. Foi um incontestvel

    progresso, e revela os adiantamentos que Portugal tinha feito em Juris

    prudncia, como outros respeitos.

    O

    padro

    ou modelo deste Cdigo foi em verdade.quanlo a doutrina,

    o

    Corpus

    Jris;

    e quanto ao methodo e disposio das matrias, asDe

    cretais do Papa Gregorio IX. E, posto que precedido de quasi dons sculos

    pela

    Lei das Partidas,

    he na opinio de abalisados Ju risconsultos, tra

    balho differente e muito superior.

    Considerada a epocha em que foi promulgado o Cdigo Affonsino, esle

    trabalho he um verdadeiro monumento. E he para lastimar que no fosse

    logo

    dado

    a estampa, d istando to pouco a sua publicao da epocha em

    que a arte divinal da imprensa fora descoberta, ou, em 1450, quando Gul-

    temberg e seus scios conseguiro pela primeira vez imprimir uma obra

    inteira.

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

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    X X I

    EsteCdigo no foi impresso seno em 1 7 9 9 , durando como lei apenas

    oespao de 65 a 70 annos,quando foi promulgado o Cdigo Manoelino.

    Tornou -se por tanto um documento pouco conhecido no Paiz, e inte i

    ramente ignorado no resto da Europa.

    A ' esta circunstancia se pode em parle altribuir o que diz Bentham no

    c a p . 31 da suaobra

    Vista

    geral de um Corpo completo de Legislao,

    quando

    assegura que o Cdigo mais antigo da Europa era o Dinamarquez

    de 1683, seguindo-se o

    Sueco

    de 17 34, o Frederico ou

    Prussiano

    de 17 51,

    e linalmente o

    Sardo

    de 17 70 .

    Estas indicaes moslro a ignorancia em que estava Bentham, e E.

    Dumont, o edicior de suas obras, acerca da prioridade dos Cdigos Eu ro

    peos,

    visto como, antes da publicao do Dinamarquez, j em Portugal se

    havia promulgado trez Cdigos completos.e um incompleto[o

    Sebastianico)

    de 1466 a 1603.

    A

    circunstancia de ser ou no completo, favorece ainda os Cdigos

    Porlug uezes, que o so tanto quanto o permitlio as luzes da epocha em

    que foro organisados, e o Philippino muito mais que o Dinamarquez, em

    vista da succinla apreciao que de suas materias fez Bentham.

    He certo que nenhum dos Cdigos Porluguezes contm a

    legislao

    fun

    damental de Estado, por que no a teve de principio, alm da Bulla-Mant-

    festis probatum do Papa Alexandre (II, publicada em 23 de Maio de 1179,

    confirmando em D. Affonso Henriques o Ululo de Rey de Portug al .

    Legislao oriunda das pretendidas

    CdresdeLa/nAjfo.heapocrypha;

    e

    sendo fabricada depois do Cdigo Affonsino, no podia ser ento codificada.

    Regiaal ento o Direito Consuetudinario de accordo com o Cannico, que

    era seguido e praticado em outros Estados da Pennsula.

    M as nos Cdigos Porlu guezes encontra-se a Legislao administrativa,

    fiscal,

    civil,

    commercial, criminal, militar, florestal, e al a municipal ;

    bem como a das relaes entre a Igrejae o Estado.

    Pela

    confuso que havia do administrativo co mo jud icial , no estavo

    descriminadas as funces dos empregados, mas nem por isso deixavo de

    estar definidas.

    Fallo em todos, formularios dos contractos, de disposies de bens, e

    dos differentes processos; mas existem disposies descrevendo as diversas

    formas por onde podia-se, com alguma segurana, redigir laes actos.

    O Cdigo Affonsino, como Cdigo completo, dispondo sobre quasi

    todas as materias da administrao de hum Estado, foi evidentemente o

    primeiro que se publicou na Europa, e assignala huma epocha importante.

    Neste Cdigo restringi-se a Legislao Feudal, e Consuetudinaria ;

    revogou-se a Lei chamadada

    Avocnga,

    de que j acima demos huma ida,

    e deu-se ganho de causa Legislao do Corpus Jris, que foi equiparada

    Cannica, que alis s podia prevalecer nas materias em que houvesse

    peccado.

    Esta Codificao he o ponto em que a Legislao Feudal teve de parar

    pela onda das novas idas, e reformas que emprehendia a Realeza para

    firmar o seu completo predominio.

    No ero decorr idos ainda sessenta annos, e reinando D. Manoel,

    assentou-se, mais no interesse da Realeza, do que no das outras institu i

    es,

    reformar-se aLegislao existente a pretexto de melhor codifica-la.

    No heexplicvela causa desta nova

    codificao

    em to limitado espao

    de tempo, seno no ardor dos Juristas em fazer predominar na Le gis lao

    aJurisprudencia do

    Corpus

    Jris, e no empenho do Poder

    Real

    em forta-

    i g i t i z e d

    b y

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  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    32/73

    XXII

    lecero regimen absolu to fazendo-o primar sobre as antigas liberdades do

    Povo Portuguez. O Rey D. Manoel deslumbrado pelas descober lasda ndia

    e da America, e com a felicidade que em

    tudo

    o acompanhava, entendeu

    que nada podia no futuro melhor ass ignal ar o seu reinado do que huma

    Legislao cunhada com o seu nome.

    F oi

    el le quem deu seno os ltimos, os mais decisivos golpes no Feu

    dalismo.

    He este o caracter da sua Legislao, e dos actos mais significativos do

    seu reinado.

    A

    organisao do novo Cdigo foi resolvida no anno de 1 305 , e levava

    por'pretexto reformar e reduzir melhor ordem o Cdigo de D. AITonso V.

    A Carla Regia de 0 de Fevereiro de 1506 encarregou desse commellimenlo

    ao Chancelle r-mr do Reino o Dr. Ruy

    Botto,

    com o Licenciado Ruy da

    Gra,

    Dezembargador do Pao, e o Bacharel

    Joo

    Cotrim, Corregedor do

    Civel da Corte, conhecidos como famosos Legislas, segundo o testemunho

    de Duarte Nunes de Leo.

    O trabalho destes compiladores foi terminado em breve praso; por

    quanto no anno de 1512 ou 13 sob a reviso de

    Blto,

    o Chancelle r-Mr,

    fo i a obra impressa em Lisboa por Joo de Kempis, com o addila-

    menlo das sentenas e Fores recommendado na Carla de 9 de Feverei ro

    supra mencionada. Em 1514 fez-se outra impresso mais correc ta e

    accrescentada.

    M as

    a compilao sendo feita com tanta pressa obrigou a novo exame,

    que foi confiado aos Dezembargadores

    Joo

    Cotrim, Pedro

    Jorge, Joo

    de

    Faria

    e Chrislovo Esteves. E o Cdigo, assim emendado, foi publicado em

    1 1 de Maro de 1521, ainda em vida do Rey que o authorisra; e he o

    Cdigo Manoelino que conhecemos, que depois alcanou mais duas edi

    es

    no reinado de D.

    Joo

    III em 1526 e

    1 5 3 3 ,

    e outra no de D. Sebastio

    em 1565.

    Este Cdigo no seu plano e distribuio geral das malerias segue o

    systema adoptado no precedente, de quem se afasta j omiltindo os nomes

    dosauthores das

    Leis,

    j alterando a ordem da collocao dos lilu los , e a

    distribuio dos artigos ou paragraphos, e de tal forma que pareco uma

    nova leg islao e no compilao systematisada de leis precedentes.

    M as o furor de leg islar ou codificar parece que invadi este sculo, em

    que tudo como que exigia reforma ou transformao. E assim, reinando

    D .

    Sebastio, mais uma codificao se levou

    effeito,

    para consummar o

    triumpho da Legislao do

    Corpus

    Jris, e do absolutismo Real.

    No pouco concorro para esta effervescencia a reforma da Universi

    dade de Coimbra no reinado de D.

    Joo

    I I I , em 1537, que para este fim

    fizera,

    como

    seus predecessores, convidar em outros Estados Professores

    de saber incontestado. Mas nesta epocha ainda predominavo na Juri s

    prudencia Romana as opinies de Barlholo e Accursio, e a importancia que

    depois adquiri a Escola Cujaciana ainda era desconhecida.

    A nova compilao do reinado daquel le Principe , que denominaremos

    Cdigo

    Sebastianico,

    no teve o alcance das primeiras.

    Duarte Nunes de

    Leo,

    Jurisconsu lto de nomeada e Dezembargador da

    Caza

    da Suppl icao, encarregado desse trabalho, colligio e recopilou to

    somente as

    Leis

    extravagantes posteriores ao Cdigo Manoelino.

    Este trabalho, revisto pelo Regedor Loureno da

    Silva

    e outros Juris

    consultos,

    foi approvado por Alvar de 14 de Fevereiro de 15 (19 , tendo

    fora de Lei. Foi o Cardeal D. Henrique, quando Regente do Reino, que

    i g i t i z e d b yGoogle

  • 7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)

    33/73

    XXIII

    ordenara a compilao, sendo o pretexto invocado a existncia de muit