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Universidade Candido Mendes. UCAM
Instituto Universitrio de Pesquisas do Estado do Rio
de Janeiro - IUPERJ
A ORDEM DOS ADVOGADOS E O ESTADO DEMOCRTICO NO BRASIL
DOUTORANDO: AURLIO WANDER BASTOS. ORIENTADOR: LUIZ WERNECK VIANNA
2007
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AURLIO WANDER BASTOS
A ORDEM DOS ADVOGADOS E O ESTADO DEMOCRTICO NO BRASIL
____________________________________ Csar Guimares (Presidente). _____________________________________ Luiz Werneck Vianna (Orientador). _____________________________________ Renato Boschi ______________________________________ Orides Mezzaroba. _______________________________________ Antonio Celso Pereira
Rio de Janeiro 2007
Tese de Doutorado apresentada ao Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessrios obteno do titulo de Doutor em Cincias Humanas: Cincia Poltica.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo muito especialmente aos Ex-presidentes do Conselho Federal da
OAB, Roberto Busato, pelo apoio ao desenvolvimento da pesquisa, nas suas horas mais
difceis e decisivas, e a Rubens Approbato Machado, que autorizou a pesquisa em suas
fontes primarias.
A realizao desta Tese deveu-se muito especialmente ao apoio de Candido
Mendes de Almeida, Reitor da Universidade Candido Mendes, que viabilizou o
desenvolvimento da pesquisa, compreendendo o seu alcance, bem como Agradeo a
Wanderley Guilherme dos Santos que nos ajudou a identificar o seu efetivo objeto.
Agradeo aos meus companheiros, conselheiros do Conselho Seccional da
AOB do Rio de Janeiro, que, no contexto das sees, compreenderam os meus esforos
para produzir um estudo sistemtico sobre a evoluo da OAB, simbolizados pela
dedicao corporativa e pelo exemplo profissional de Celso Fontenelle.
Por um compromisso de vida, e unidos nos nossos prprios ideais, agradeo aos
meus companheiros histricos do Colgio Brasileiro de Faculdades de Direito,
especialmente representados pelo seu Presidente lvaro Iglesias, que acompanharam a
avaliao e o desenvolvimento de muitas hipteses da pesquisa.
Agradeo aos membros da Banca Examinadora da Tese de Doutorado, que tive
a oportunidade de defender no IUPERJ, muito especialmente a Renato Boschi, que
contribuiu para a definio da metodologia da organizao da Tese e a Cesar Guimares,
Orides Mezzaroba da UFSC e a Antonio Celso Pereira pelas inestimveis contribuies
criticas.
Agradeo especialissimamente a Edson da Silva Augusta, companheiro
inseparvel na escavao e organizao das informaes e dados e a meus colegas de
Escritrio Nilton Campos Filho, Ariostho Faleiro e Flora Stronzenberg pela compreenso
de minhas ausncias e Marcela Mesquita que, com afinco e dedicao, trabalhou a
preparao dos originais.
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Em quadro especialssimo e diferenciado, pretendo que esta Tese simbolize os
meus agradecimentos aos mdicos Daniel Taback e Cludio Domenico que, na reta final da
Tese, ajudaram-me a confiar na recuperao e significado da prpria vida.
Os meus agradecimentos so tambm muito especiais para Rosalina Araujo,
Decana do Centro de Cincias Jurdicas e Polticas da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro UniRio, que no apenas acompanhou o cotidiano da pesquisa e redao,
como me incentivou a escrev-la, assim como, agradeo a Paulo Mendona, Diretor da
Escola de Cincias Jurdicas e a Luis Otavio, chefe do departamento de Estudos Jurdicos
Fundamentais.
Agradeo, finalmente, ao meu filho David Araujo Bastos, que, na ingenuidade
dos desafios futuros de sua prpria vida, transmitiu-me o sentimento de que era muito
importante que eu deixasse para meus colegas de advocacia e magistrio e a meus filhos
Andr e Ana Carmem Wander Bastos o exemplo da solidariedade e da dedicao como
pressuposto das difceis horas do destino.
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DEDICATRIA
Dedico esta Tese aos ex-Presidentes do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, Raymundo Faoro, Eduardo Seabra Fagundes, Jos Bernardo Cabral,
Hermann de Assis Baeta e ao Professor Doutor Luiz Werneck Vianna, que no mediram
esforos para fazerem de suas idias e de seu trabalho a base construtiva da democracia no
Brasil.
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INDICE GERAL
TTULO I A ADVOCACIA E O ESTADO PATRIMONIALISTA
SUMRIO -------------------------------------------------------------------------------------- 17 INTRODUO GERAL------------------------------------------------------------------------- 20
CAPTULO I O ESTADO BRASILEIRO E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 33 1 Preliminares Histricas----------------------------------------------------------------- 38
1.1. A Criao do Instituto dos Advogados Brasileiros IAB -------------------- 42
2 Ideologia e o Iderio Profissional dos Advogados---------------------------------- 45 2.1. Represso e Direito ---------------------------------------------------------------- 52 2.2. A Escola de Frankfurt e a Ideologia Jurdica----------------------------------- 56 2.3. Esperana e Utopia ---------------------------------------------------------------- 61
3 A Formao do Iderio Profissional -------------------------------------------------- 63
3.1. Periodizao e Ciclos Formativos da OAB------------------------------------- 63 3.2. Origens do Iderio Profissional -------------------------------------------------- 67 3.3. Advocacia e Estado de Direito --------------------------------------------------- 75
4 A Ordem dos Advogados e o Corporativismo Revolucionrio ------------------- 81
4.1. O Instituto da Ordem dos advogados do Brasil IOAB e a Revoluo de 1930 --------------------------------------------------------------------------------- 81 4.2. A Criao da OAB----------------------------------------------------------------- 92
4.2.1. Esclarecimentos preliminares sobre as Corporaes de Ofcio------- 92 4.2.2. Patrimonialismo e Anticorporativismo ---------------------------------- 98 4.2.3. A Instalao do Conselho Federal---------------------------------------- 110
4.3. Advocacia e Corporativismo ----------------------------------------------------- 112 4.4. Corporativismo e Estado Nacional ---------------------------------------------- 118 4.5. A Crise Constitucional e o Estado Novo---------------------------------------- 127
CONCLUSES PROSPECTIVAS --------------------------------------------------------------- 130
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CAPTULO II O REGULAMENTO DA OAB E A CRISE DO ESTADO NOVO
INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 135 1 Iderio Profissional dos Advogados e a Ordem Revolucionria de 1930 -------- 136
1.1. O IOAB e a Estrutura Organizativa da OAB----------------------------------- 146
2 A OAB e o Constitucionalismo Constituinte de 1933/34 -------------------------- 150 3 A Crise Poltica e a Renncia do Presidente Levi Carneiro ----------------------- 155 4 A OAB e a Segunda Guerra Mundial ------------------------------------------------ 162 5 A OAB e a Crise do Estado Novo ---------------------------------------------------- 167 CONCLUSO PROSPECTIVA------------------------------------------------------------------ 175
TTULO II A OAB E O ESTADO DE DIREITO
CAPTULO III A OAB E O LIBERALISMO DEMOCRTICO
INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 183 1 A Advocacia e o Liberalismo Ideolgico -------------------------------------------- 185 2 A Funo Poltico-Ideolgica das Conferncias da OAB-------------------------- 192
2.1. A Evoluo da Ideologia Jurdica e do Iderio Profissional------------------ 192 2.2. A Representao Ideolgica das Conferncias--------------------------------- 198
3 A Primeira Conferncia e o Profissionalismo Liberal ------------------------------ 202 3.1. Prembulo Republicano----------------------------------------------------------- 202
3.1.1. A Proto-Histria das Conferncias--------------------------------------- 204 3.2. O Dilema Liberal-Trabalhista ---------------------------------------------------- 208 3.3. A Instalao da Primeira Conferncia dos Advogados------------------------ 212 3.4. Retrica e Destino (da OAB)----------------------------------------------------- 220
4 A II Conferncia e a Misso do Advogado ------------------------------------------ 228 4.1. Misso e Profisso ----------------------------------------------------------------- 228
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4.2. Observaes Introdutrias Segunda Conferncia---------------------------- 233 4.3. A Segunda Conferncia e a Advocacia dos Tribunais ------------------------ 238
CONCLUSO PROSPECTIVA------------------------------------------------------------------ 249
CAPTULO IV A NOVA CAPITAL E AS RESISTNCIAS CORPORATIVAS DA OAB INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 255 1 Advocacia e Mudana da Capital Federal-------------------------------------------- 259 2 Braslia e a Crise das Elites no Poder------------------------------------------------- 273 3 A OAB e a Instalao dos Tribunais Superiores em Braslia---------------------- 283 4 A Ordem dos Advogados e as Polticas de Estado---------------------------------- 292 Concluso------------------------------------------------------------------------------------- 296
CAPTULO V O ESTATUTO DA OAB E O FIM DO ESTADO PATRIMONIALISTA
INTRODUO HISTRICA -------------------------------------------------------------------- 300 1 O Anteprojeto de Estatuto no Conselho Federal ------------------------------------- 303
1.1. Preliminares Histricas------------------------------------------------------------ 303 1.2. O Presidente da Repblica no Conselho Federal da OAB-------------------- 310
2 O Projeto de Estatuto da OAB na Cmara dos Deputados ------------------------ 318
2.1. Os Atos Formais Preliminares ao Projeto de Lei ------------------------------ 318 2.2. O Projeto n 1751, de 22 de agosto de 1956------------------------------------ 319
2.2.1. OAB: Corporao Profissional ou Corporao de Ofcio ------------- 320 2.2.2. A Advocacia: a Reao Anti-Patrimonialista
e as Incompatibilidades e Impedimentos ------------------------------- 330 2.2.2.1. Colocao Histrica do Problema------------------------------ 330 2.2.2.2. Advocacia e Formao do Novo Estado Brasileiro ---------- 336
2.2.3. Os Advogados e os Juzes ------------------------------------------------ 343 2.2.4. Rbulas e Solicitadores ---------------------------------------------------- 353
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2.2.4.1. A Agonia dos Rbulas e dos Velhos Solicitadores----------- 356
2.2.4.2. Os Solicitadores e os Estagirios ------------------------------- 361
2.2.4.3. Os Quadros Profissionais da OAB ----------------------------- 367
2.2.5. Advocacia e Disciplina Profissional ------------------------------------- 371 2.2.5.1. Origens do Iderio Disciplinar---------------------------------- 371 2.2.5.2. Novo Estatuto, Nova Poltica Disciplinar --------------------- 376
2.2.6. A Assistncia Judiciria e a Advocacia no Brasil ---------------------- 378
3 O Projeto de Estatuto da OAB no Senado Federal --------------------------------- 385 3.1. Tramitao Preliminar no Senado ----------------------------------------------- 385 3.2. Atos Privativos do Advogado na Administrao Pbica --------------------- 388
3.2.1. Histria e Futuro Remoto ------------------------------------------------- 396 3.3. As Incompatibilidades e Impedimentos como Reao
Antipatrimonialista ---------------------------------------------------------------- 401 3.3.1. Advocacia e Ministrio Pblico------------------------------------------------ 406 3.4. Honorrios de Advogados -------------------------------------------------------- 410 3.5. Tribunal de tica ------------------------------------------------------------------- 412
3.6. A Sano Presidencial do Novo Estatuto---------------------------------- 413
CONCLUSO ---------------------------------------------------------------------------------- 418
CAPTULO VI A OAB E A CRISE DA LIBERAL DEMOCRACIA INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 423 1 Preliminares Compreensivas----------------------------------------------------------- 424 2 A OAB e o Trabalhismo Getulista ---------------------------------------------------- 432
2.1. A OAB e a Crise da Renuncia---------------------------------------------------- 436 3 Novo Estatuto, Novos Rumos --------------------------------------------------------- 443 4 A OAB e o Golpe (Cvico) Militar (Revolucionrio) ------------------------------ 450 CONCLUSO ---------------------------------------------------------------------------------- 456
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TTULO III A OAB E O ESTADO DE SEGURANA NACIONAL
CAPTULO VII A OAB E O DILEMA IDEOLGICO DE 1968 INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 460 1 Preliminares Histricas ----------------------------------------------------------------- 461 2 Os Documentos sobre Direitos Humanos -------------------------------------------- 467
2.1. Recuperao Histrica------------------------------------------------------------- 467 2.1.1. A Carta das Naes Unidas ----------------------------------------------- 469
2.2. A Declarao Universal dos Direitos Humanos-------------------------------- 472 3 A OAB e o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana ---------------- 475 4 Os Direitos Humanos e a III Conferncia da OAB --------------------------------- 479
4.1. O Temrio da III Conferncia da OAB ----------------------------------------- 483
5 A Restaurao Conservadora Autoritria -------------------------------------------- 497 5.1. O Estado de Exceo -------------------------------------------------------------- 501
6 O Pacifismo Institucional -------------------------------------------------------------- 505
6.1. A Abertura da IV Conferencia --------------------------------------------------- 513 6.2. A Relao Direito e Desenvolvimento ------------------------------------------ 515 6.3. O Direito e o Desenvolvimento como Provocao Jurdica ------------------ 518
7 Os Pronunciamentos de So Paulo: contrastes e confrontos ----------------------- 524 CONCLUSO ---------------------------------------------------------------------------------- 532
CAPTULO VIII OS ADVOGADOS E OS DIREITOS HUMANOS NO ESTADO DE SEGURANA NACIONAL INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 534 1 Preliminares Histricas ----------------------------------------------------------------- 535
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1.1. A Eleio do Fidalgo -------------------------------------------------------------- 536 2 O Silncio do CDDPH------------------------------------------------------------------ 540 3 Eleio e Perseguio a Advogados -------------------------------------------------- 546 4 OAB e o Ministrio do Trabalho------------------------------------------------------ 550 5 Os Direitos dos Homens e a Advocacia ---------------------------------------------- 557 6 Direitos Humanos e Ideologia Jurdica----------------------------------------------- 561 7. Eleies: Moderao e Radicalizao ----------------------------------------------- 575
7.1. O Dilema da Vinculao ao Ministrio do Trabalho -------------------------- 577
8 A OAB e a Retomada da Dogmtica Jurdica --------------------------------------- 580
8.1. Dogmtica e Reforma do Direito Positivo-------------------------------------- 583
CONCLUSO ---------------------------------------------------------------------------------- 596
CAPTULO IX O ESTADO AUTORITRIO E A ABERTURA DEMOCRTICA INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 598 1 Preliminares Histricas ----------------------------------------------------------------- 599 2 A OAB e a Estratgia da Abertura---------------------------------------------------- 604 3 O Estado de Direito e a VII Conferncia--------------------------------------------- 612
3.1. Observaes Preliminares--------------------------------------------------------- 615 3.2. Legitimidade e Representatividade ---------------------------------------------- 618 3.3. A Gnese da Proteo Jurisdicional dos Direitos Humanos------------------ 620 3.4. Judicirio e Direitos Polticos ---------------------------------------------------- 626
4 A Carta de Curitiba --------------------------------------------------------------------- 632 5 - A OAB e a Anistia----------------------------------------------------------------------- 636 CONCLUSO ---------------------------------------------------------------------------------- 645
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TTULO IV A OAB E A REDEMOCRATIZAO
CAPTULO X A TRANSIO POLTICA E O TERROR PARAESTATAL
INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 648 1 Preliminares Eleitorais------------------------------------------------------------------ 650
1.1. As Eleies Presidenciais da Abertura ------------------------------------------ 654 2 A Liberdade: Fundamento da Democracia------------------------------------------- 656
2.1. O Ambiente Circunstancial da VIII Conferncia ------------------------------ 656 2.2. O Temrio da VIII Conferncia -------------------------------------------------- 661 2.3. A Carta de Manaus----------------------------------------------------------------- 687
3 A Marcha dos Atentados --------------------------------------------------------------- 693
3.1. A OAB na Mira do Terror -------------------------------------------------------- 697
3.2. A Criao da Comisso dos Direitos Humanos da OAB --------------------- 698
4 OAB: Eleio e Moderao ----------------------------------------------------------- 705
5 O Terror Paraestatal Confronta a Juventude ----------------------------------------- 709
6 A Justia Social: a frmula da conciliao------------------------------------------- 716
6.1. Preliminares Conjunturais -------------------------------------------------------- 716 6.2. Justia Social, o Dilema da Justia Formal ------------------------------------- 723
6.2.1. O Influxo dos Direitos Complexos--------------------------------------- 734
6.3. A Carta de Florianpolis ---------------------------------------------------------- 743
7 Eleies e o Caminho para a Esquerda ----------------------------------------------- 748
Concluso------------------------------------------------------------------------------------- 754
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CAPTULO XI O DILEMA DA ELEIO PRESIDENCIAL DIRETA E DA ASSEMBLIA CONSTITUINTE.
INTRODUO ------------------------------------------------------------------------------ 756
1. Recuperao Histrica ------------------------------------------------------------- 758
2 A OAB e as Eleies Diretas------------------------------------------------------- 763
2.1. Preliminares Conceituais Comparadas--------------------------------------- 763
2.2. A Emenda Constitucional das Diretas e a OAB ---------------------------- 769
3 A OAB e a Democratizao-------------------------------------------------------- 782
3.1. Legitimidade e Democracia na X Conferncia ----------------------------- 782
3.2. Democratizao e Interdisciplinaridade ------------------------------------- 788
4 Estado, Sociedade Civil e Nao--------------------------------------------------- 797
5 A OAB e as Reformas -------------------------------------------------------------- 803
6 Carta do Recife----------------------------------------------------------------------- 808
7 As Eleies Rumo Esquerda ----------------------------------------------------- 814
8 As Concluses Constituintes da OAB -------------------------------------------- 818
8.1. Preliminares Conjunturais -------------------------------------------------------- 819
8.2. O Conceito de Assemblia Constituinte ---------------------------------------- 824
8.2.1. Do Conceito----------------------------------------------------------------- 825 8.2.2. Da Constituinte na Histria Brasileira ----------------------------------- 826 8.2.3. Da Assemblia Constituinte Exclusiva ---------------------------------- 832 8.2.4. Da Constituinte Exclusiva e a Constituio de 1988 ------------------ 833
8.3. A Emenda Constitucional Constituinte------------------------------------------ 836
9 Constituio Novo Esquema Temtico -------------------------------------------- 849
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9.1. Organizao do Estado ------------------------------------------------------------ 857 9.1.1. O Poder e a Sociedade ----------------------------------------------------- 857 9.1.2. Federao e Organizao Tributria ------------------------------------- 858 9.1.3 Poder Judicirio ------------------------------------------------------------- 859
9.2. O Sistema de Propriedade--------------------------------------------------------- 861 9.2.1. Propriedade e Poder-------------------------------------------------------- 861 9.2.2. Reforma Agrria ------------------------------------------------------------ 862 9.2.3 Reforma Urbana------------------------------------------------------------- 862
9.3. Direitos do Homem ---------------------------------------------------------------- 866 9.3.1. Direitos da Pessoa Humana ----------------------------------------------- 866 9.3.2. Famlia, Educao, Sade e Cultura ------------------------------------- 866 9.3.3 Direitos do Trabalhador ---------------------------------------------------- 867
9.4. Teses Avulsas----------------------------------------------------------------------- 869 10 A Carta de Belm ---------------------------------------------------------------------- 874
11 Ata de Encerramento ------------------------------------------------------------------ 881
CONCLUSO ---------------------------------------------------------------------------------- 882
TTULO V A OAB E O ESTADO DEMOCRATICO DE DIREITO
CAPTULO XII A OAB E A CONSTITUIO DE 1988
INTRODUO---------------------------------------------------------------------------------- 887 1 O Sistema de Governo------------------------------------------------------------------ 891
1.1. Presidencialismo e Parlamentarismo -------------------------------------------- 891 1.2. A Democracia Representativa---------------------------------------------------- 894
1.2.1. Preliminares Histricas ---------------------------------------------------- 894 1.2.2. Novos Partidos, Velha Representao Poltica ------------------------- 897 1.2.3. A OAB e a Elegibilidade dos Juizes ------------------------------------- 900
2 A Organizao Federativa do Estado ------------------------------------------------- 902 2.1. Preliminares Histricas------------------------------------------------------------ 902 2.2. O Projeto Federativo da OAB ---------------------------------------------------- 906
2.2.1. A Questo das Regies Metropolitanas --------------------------------- 907 2.2.2. A Questo Tributaria------------------------------------------------------- 910
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3 A Organizao Judiciria--------------------------------------------------------------- 914 3.1. Preliminares Histricas------------------------------------------------------------ 914 3.2. O Poder Judicirio nas Propostas Constituintes da OAB --------------------- 917
3.2.1. A OAB e a Estruturao Judiciria -------------------------------------- 917 3.2.1.1. A OAB e a Corte Constitucional ------------------------------- 923 3.2.1.2. O Moderno Papel do Superior Tribunal de Justia----------- 925 3.2.1.3. O Tribunal do Jri ------------------------------------------------ 927
3.2.2. Justia Agrria -------------------------------------------------------------- 929 3.2.3. A OAB e o Acesso ao Judicirio ----------------------------------------- 933 3.2.4. Os Advogados nos Tribunais --------------------------------------------- 936
4 A Estrutura da Propriedade ------------------------------------------------------------ 941
4.1. Observaes Introdutrias -------------------------------------------------------- 941 4.2. A Reforma Agrria ---------------------------------------------------------------- 944
4.2.1. Terras Indgenas ------------------------------------------------------------ 948 4.2.2. reas Quilombolas --------------------------------------------------------- 950
4.3. A Reforma Urbana----------------------------------------------------------------- 950 4.4. O Abuso do Poder Econmico --------------------------------------------------- 953
5 A Proteo dos Interesses Difusos------------------------------------------------- 958
5.1. Origens--------------------------------------------------------------------------- 958
5.1.1. Revoluo Processual no Direito ------------------------------------- 963
5.2. O Direito de Terceira Gerao------------------------------------------------ 966
6 Os Direitos do Homem ----------------------------------------------------------------- 973 6.1. Recolocao Histrica------------------------------------------------------------- 973
7 Ideologia Jurdica e Direitos Humanos----------------------------------------------- 982 OBSERVAES CONCLUSIVAS -------------------------------------------------------------- 991
CAPTULO XIII A CONSTITUIO E A MUDANA SOCIAL
Diagnstico Introdutrio-------------------------------------------------------------------- 996
1 Contrio e Constituio --------------------------------------------------------------- 998
2 A OAB e a Nova Democracia Constitucional --------------------------------------- 1006
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2.1. A OAB e as Aberturas Discursivas ---------------------------------------------- 1013
3 A Crtica Sociolgica da Constituio ------------------------------------------------ 1016
3.1. A Organizao Temtica da XII Conferencia ---------------------------------- 1016
3.2. O Mestre e o Discpulo: crticas precursoras ----------------------------------- 1021
3.2.1. Os Socilogos e a OAB--------------------------------------------------- 1030
4 Novos Rumos, Novo Iderio----------------------------------------------------------- 1034 4.1. Os Advogados e o Direito Constitucional Processual------------------------- 1039 4.2. O Poder Judicirio e as suas Resistncias--------------------------------------- 1044
5 A Carta de Porto Alegre --------------------------------------------------------------- 1049 6 As Propostas Constitucionais e o Novo Estatuto de 1994 ------------------------- 1052
6.1. Advocacia e Constituio --------------------------------------------------------- 1054 6.1.1. Advocacia e Ideologia Jurdica Constitucional ------------------------ 1056 6.1.2. O Advogado no Estado --------------------------------------------------- 1059 6.1.3. Emendas Constitucionais e o Novo Judicirio------------------------- 1062
6.2. A Advocacia e o Novo Estatuto da OAB --------------------------------------- 1068 6.2.1. Preliminares Tericas ----------------------------------------------------- 1068 6.2.2. As Novas Dimenses Estatutrias --------------------------------------- 1072 6.2.3. O Novo Pacto Eleitoral Corporativo ------------------------------------ 1078
CONCLUSO ---------------------------------------------------------------------------------- 1081 CONCLUSO GERAL-------------------------------------------------------------------------- 1085 REFERNCIAS --------------------------------------------------------------------------------- 1106 FONTES PRIMRIAS -------------------------------------------------------------------------- 1122 NDICE REFERENCIAL DOS PALESTRANTES E PALESTRAS CITADAS --------------------- 1138 NDICE CRONOLGICO DAS CARTAS DE CONCLUSO DAS CONFERNCIAS ------------ 1151 OBRAS E ARTIGOS DO DOUTORANDO REFERENCIADOS NA TESE ----------------------- 1152 REFERENCIAL LEGISLATIVO ---------------------------------------------------------------- 1155 NDICE ONOMSTICO ------------------------------------------------------------------------
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SUMRIO
Esta Tese um estudo sobre a participao da Ordem dos Advogados do Brasil
na construo do Estado de Direito a partir de suas lutas contra o patrimonialismo estamental at a construo do Estado Democrtico de Direito. Para alcanar os resultados pretendidos, subdividimos a Tese em 5 (cinco) ttulos gerais, organizados em captulos, itens e subitens. Os diferentes ttulos evoluram da discusso sobre as origens histricas da OAB e da formao do seu iderio profissional, para em seguida identificar a sua criao como ato da Revoluo de 1930. Os seus primeiros regimentos, editados imediatamente aps, 1931, no apenas regulamentaram a sua estrutura disciplinar e de poder, como tambm contriburam para a desconstruo do Estado patrimonial e oligrquico brasileiro. As circunstncias histricas dos movimentos polticos introdutrios, que sucederam Constituio de 1937, aproximaram a evoluo da OAB de um projeto de construo de um Estado de Direito influenciado pela liberal-democracia, que decisivamente marcou o Estatuto de 1963 e a sua historia de confrontos e resistncias com o trabalhismo nacionalista e estatista, herdado dos anos trinta. Estas variantes histricas contriburam para aproximar a OAB de movimentos cvico-militares, entre 1964/69 influenciados por foras econmicas conservadoras ascendentes, que resistiam ao modelo desenvolvimentista-estatista implementado pelo Poder Executivo em crescente aliana com foras progressistas. Esta paradoxal aliana da OAB, que evoluiu para a construo do Estado de Segurana Nacional, uma variante do legitimismo autoritrio, deslocaram os seus rgidos compromissos com o liberalismo democrtico, aproximando-a de foras polticas conservadoras. Esta ruptura com a sua ideologia histrica, no contexto da ascenso de novas foras polticas e novas dimenses perceptivas do direito, levaram a OAB, no propriamente a se definir como uma entidade da sociedade civil, mas com um iderio poltico mais aberto comprometido com o projeto do Estado Democrtico de Direito, instrumento de viabilizao da temtica essencial de suas conferncias: o humanismo social liberal. Finalmente, aps a fundamentao bibliogrfica dos captulos introdutrios, desenvolvemos um significativo esforo de recuperao de fontes documentais primrias, base construtiva de toda a Tese, o que deu ao trabalho uma dimenso de originalidade e, inclusive, uma certa fora de compreenso prospectiva dos estudos crticos da nova Constituio (j) elaborada. Neste sentido, o esforo de pesquisa permitiu verificar, nas linhas conclusivas da Tese, as diferentes tendncias da atual Constituio brasileira (em vigncia) e as emergenciais propostas de mudana social, a partir da nova estrutura democrtica, a sua influncia sobre o novo iderio da advocacia e o papel social do novo Estatuto da OAB no contexto da nova ordem constitucional.
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ABSTRACT
This doctoral thesis consists on a study about the Brazilian Lawyers Order role regarding the construction of the rule of law taking as a start the fight against the stratified estatelism until getting to the construction of the so-called democratic rule of law. In order to achieve our goals, we divided this thesis in five general titles, organized in chapters, items and sub items. The different titles have been developed beginning from the discussion on the historical origins of the Brazilian Lawyers Order and the formation of its professional ideal, so that the following topic is the identification of its creation as an act of the 1930 Revolution. Its first regulations, edited immediately after 1931 its foundation, not only regulated its disciplinary and power structures, but also contributed to the deconstruction of the estatelist-oligarchic Brazilian state. The historical circumstances of the political movements after the Constitution of 1937 approached the development of the Order to the project of building a rule of law government influenced by liberal-democracy which has definitely marked the organic statute of 1963 and its history of confronting and resisting the statist and nationalist labor movement model of the thirties. These historical variants have contributed to bring the Order closer to civilian and military movements of 1964/69 influenced, on their turn, by economical ascending forces that resisted to the developmental-statist model implemented by the Executive Power in a growing alliance with progressive forces. This paradoxical alliance of the Order with conservative forces, that evolved to the construction of a National Security State, a variant of the authoritarian legitimism, have misplaced the rigid commitments of the institution with the liberal democracy. This rupture with its historical ideology, taken in the context of the ascent of new political forces and new perceptive dimensions in the law field, have led the institution not to define itself as an entity of the civilian society, but as one with a political ideal that is more open and committed with the project of the democratic rule of law, an instrument to make the essential theme in its conferences viable, namely, the social liberal humanism. In addition, the effort on researching has allowed us to verify, on the very conclusion of this thesis the different approaches of the Brazilian Constitution (in effect) and the emerging proposals of social change, from the democratic structure, its influence on the new ideal of working within the law filed and the social role of the new Orders organic statute taken into the context of the new constitutional order. Methodologically, after the bibliographical grounding of the introductory chapters, we have developed a significant effort of recovering primary documental sources, i.e., the constitutive basis of the whole work, what ended up giving this thesis its character of originality, as well as a certain force of prospective comprehension of the critical studies on the new Constitution (already) constructed.
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SOMMAIRE
Cette thse est une tude sur la participation de lOrdem dos Advogados do Brasil (OAB, Ordre des Avocats du Brsil) dans la construction de ltat de Droit, partir de ses luttes contre le patrimonialisme tatiste jusqu ldification de ltat de Droit Dmocratique. Pour objectiver les rsultats, la Thse a t divise en 5 (cinq) titres gnraux qui ont t organiss en chapitres, ceux-ci en articles et sous-articles. Les titres ont volus de la discussion sur les origines historiques de lOAB et de la formation de son rgime professionnel jusqu identifier, par la suite, sa cration en tant quacte de la Rvolution de 1930. Ses premiers rglements, dits immdiatement aprs, 1931, nont pas seulement rglementer sa structure disciplinaire et de pouvoir, mais ont aussi contribus pour la dconstruction de ltat patrimonial oligarchique brsilien. Les circonstances historiques des mouvements politiques introducteurs, aprs la Constitution de 1937, ont rapproch le dveloppement de lOAB dun projet de construction dun tat de Droit influenc par la dmocratie librale qui a dcisivement marqu le Statut de 1963 et son histoire de conflits et de rsistances avec le travaillisme nationaliste et tatiste hrit des annes trente. Ces variables historiques ont contribu pour rapprocher l`OAB des mouvements civico-militaires, de 1964/69, influencs par des forces conomiques ascendantes, qui rsistaient au modle de dveloppement-etatist implant par le Pouvoir Excutif en une croissante alliance avec les forces progressistes. Cette alliance paradoxale entre lOAB et les forces conservatrices qui volurent vers la construction de Ltat de Scurit Nationale, une variable de la lgitimation autoritaire, a dplac les engagements rigides de lOAB avec le libralisme dmocratique. Cette rupture avec son idologie historique, dans le contexte de lascension de nouvelles forces politiques et de nouvelles dimensions perceptives du droit, menrent lOAB, non pas exactement se dfinir en tant quune entit de la socit civile, mais avec un rgime politique plus ouvert, engages dans le projet de ltat de Droit Dmocratique, instrument pour rendre viable la thmatique essentielle de ses confrences : lhumanisme social liberal. Leffort de recherche a permis de vrifier, dans les lignes de conclusion de la Thse, les diffrentes tendances de la Constitution brsilienne actuelle (en vigueur) et les propositions de changements sociaux mergents, partir de la nouvelle structure dmocratique, de son influence sur le nouveau rgime professionnel du barreau et le rle social du nouveau Statut de lOAB dans le contexte du nouvel ordre constitutionnel.Finalment, aprs le fondement bibliographique des chapitres introducteurs, nous avons dvelopp un effort significatif de rcupration des sources de documents primaires, base de construction de toute la Thse, ce qui a donn au travail une dimension doriginalit et, aussi, une force de comprhension prospective des tudes critiques de la nouvelle Constitution.
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Introduo
Esta Tese um estudo sobre o papel da Ordem dos Advogados do Brasil
OAB na construo do Estado Democrtico de Direito no contexto dos desdobramentos
polticos do quadro evolutivo da histria brasileira contempornea. Para demonstrar esta
especial proposio dividimos o trabalho em cinco grandes Ttulos:
- A Advocacia e o Estado Patrimonialista;
- A OAB e o Estado de Direito;
- A OAB e o Estado de Segurana Nacional;
- A OAB e a Redemocratizao e, finalmente,
- A OAB e o Estado Democrtico de Direito
Os Ttulos esto subdivididos em diferentes captulos, com o objetivo de
demonstrar o papel da OAB na construo do Estado democrtico brasileiro, a partir da
desconstruo do Estado patrimonialista e da construo do Estado de Direito que foi
interrompido pela ao do Estado de Segurana Nacional. No contexto evolutivo dos
diferentes captulos esto concentrados os dados e informaes de pesquisa que
contriburam para a anlise e a comprovao da hiptese central da tese e subsidiaram as
linhas hipotticas complementares.
Os captulos dos diferentes ttulos, esto entre si articulados procurando evitar
que os argumentos dos captulos dos ttulos antecedentes indiquem qualquer ruptura
temtica com o ttulo anterior, evoluindo assim em linha de significativa coerncia. Desta
forma, procuramos fazer com que o cerne conclusivo de cada Captulo, viesse a se
desenvolver como pressuposto introdutrio dos captulos subseqentes, reforando sempre
as linhas de conexo histrica como resultado da pesquisa documental e bibliogrfica,
tomando tambm como referncia o saber de experincia feito no dizer de Cames na
clssica obra Os Lusadas.
Estes diferentes captulos esto tambm esquematicamente itenizados, o que
no era o propsito inicial da Tese, mas tornaram-se imprescindveis, no apenas para
ampliar as linhas de coerncia, evitando lacunas episdicas ou descritivas, mas, tambm,
para fortalecer os diagnsticos de recuperao histrico-documental. Neste sentido, a
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analise documental influenciou decisivamente no estudo do papel da OAB, na construo
do Estado de Direito e da democracia no Brasil, a partir de sua criao em 18 de novembro
de 1930 at a promulgao da Constituio brasileira de 5 de outubro de 1988, que definiu
que a Repblica Federativa do Brasil [art. 1], constitui-se em Estado Democrtico de
Direito (...).
Obedecendo esta sistemtica de organizao estrutural, o desenvolvimento
descritivo e analtico da obra ocorreu essencialmente a partir de pesquisa em fontes
primrias e, apenas, subsidiariamente, em fontes secundrias e bibliogrficas mesmo
porque, estas so parcas e dispersas, e, na sua maioria, guardadas as importantes excees,
os livros que tratam especificamente da OAB, seja histrica ou institucionalmente, so
livros ou artigos de leituras comprometidas com estudos de natureza retrica ou que no
evoluram de conjuntos documentais sistematizados ou de preocupaes essencialmente
experimentais o que no se lhes subtrai o mrito, mas pouco fortalece os objetivos
conclusivos desta Tese. Esta opo metodolgica no desconhece, todavia, a importncia
de qualquer outra fonte de informao e de dados, ou mesmo descritiva, mas, tendo em
vista os prprios objetivos da Tese, privilegiou documentos primrios como especial forma
de se demonstrar a sua importncia para a (re)construo terica compreensiva das
instituies polticas e jurdicas brasileiras, muitas vezes de fora demonstrativa
convincente alternativa s leituras tradicionais e, muito especialmente da OAB, cujas fontes
primrias sobreviviam infensas pesquisa e investigao, quando no, tambm
acadmica.
Esta Tese, por conseguinte, concentra um grande esforo de pesquisa em fontes
primrias, no apenas se dedicando ao grande volume de informaes quantitativas
concentradas nas atas das reunies ordinrias e extraordinrias do Conselho Federal da
OAB, mas, tambm, no grande volume de material qualitativo, especialmente concentrado
nos Anais das Conferncias dos Advogados entre 1958 e 1988, ano terminal referencial da
pesquisa. Esta opo de pesquisa permitiu, com certeza, que as hipteses e as suas
conseqentes anlises evolussem de informaes transcritas em atos oficiais, evidenciando
uma forte adeso comprovao fctica, principalmente porque, pela sua prpria natureza
de documentos de colegiados tm uma estrutura dialtica que permite alcanar, num a
mesma ata ou relatrio, posies controversas sobre um mesmo problema.
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Por estas razes, o conjunto da obra est metodologicamente apoiado na leitura
(dispersa) das Atas do Instituto dos Advogados Brasileiros IAB (1843/1889), do Instituto
da Ordem dos Advogados Brasileiros IOAB (1889/1930) e, predominantemente, da
Ordem dos Advogados do Brasil OAB, entre os anos de 1930 e 1988 e, tambm, nos
pronunciamentos no Parlamento Imperial entre os anos de 1851 e 1889; e na Assemblia
Constituinte 1933/34 e na Cmara dos Deputados entre 1934/37, bem como nos debates
constituintes de 1946 e de 1988. Por outro lado, apoiamo-nos nos textos das Constituies
brasileiras e num vasto repertorio legislativo, incluindo Leis, Decretos e todos os Estatutos,
Regulamentos e Regimentos da OAB entre 1931 e 1994, inclusive do perodo proto-
histrico da criao do IAB entre 1843 e 1888, que, principalmente, discutiram os projetos
de criao da OAB no Imprio e na Primeira Repblica.
Foram, tambm, consultados os relatrios e debates legislativos, que, de uma
forma, ou de outra, discutiram a criao da OAB a partir de 1957/58, essencialmente
concentrados na discusso do Anteprojeto da OAB, na Cmara dos Deputados e do Senado
Federal, que resultou no Estatuto da OAB de 1963, assinado pelo Presidente da Repblica
Joo Goulart. Para efeitos deste trabalho, tomamos, tambm, como fonte primria, os
depoimentos dos ex-presidentes do Conselho Federal da OAB consolidados no
documentrio A OAB na voz dos seus Presidentes, coordenado por Herman de Assis Baeta
e prefaciado por Rubens Approbato Machado, acentuadamente esclarecedor na
compreenso interna dos fatos.
Por estas razes, neste trabalho, as fontes histricas primrias so as bases
referenciais do mtodo de anlise, caminho que nos permite compreender e comparar,
conclusivamente, situaes antecedentes com situaes subseqentes, rastreando as
diferentes flutuaes ideolgicas dos atores e o fluxo de suas opes polticas. O
documento poltico, por conseguinte, ou mesmo o documento administrativo ou jurdico
(eles so), nesta pesquisa, referncias histricas no apenas pontuais, mas tambm, gerais.
Foi a partir da mtua correlao ou comparao documental que elaboramos as nossas
hipteses de pesquisa, de tal forma que podemos afirmar que os documentos no so a
Tese, mas foram o suporte para a construo da anlise poltica e ideolgica das hipteses
elaboradas com base na leitura compreensiva dos documentos. Por isto, para aumentar a
autenticidade analtica do trabalho procuramos evitar uma postura terica a priori, muito
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embora, sempre necessrio afirmar, que, no desenrolar do trabalho, impossvel manter
uma postura absolutamente neutra ou que despreze, devido mesmo fora documental das
evidncias conclusivas, posicionamento de valor, mas, de qualquer forma, esta no era a
regra.
Ressalte-se que a identificao das tendncias e de suas posies polticas e
ideolgicas da OAB, e, inclusive, as opes de orientao tcnica, foram essencialmente
colhidas nas palestras realizadas durante as Conferncias da OAB a partir de 1958 at 1988,
quando transcrevemos, como destaque relevante, o inteiro teor das cartas de concluso das
conferncias sempre relacionadas cidade de realizao do evento. Por outro lado, no
podemos, tambm, desconhecer que a legislao brasileira sobre organizao da OAB, bem
como a prpria legislao eleitoral e os tantos dispositivos constitucionais e as emendas
constitucionais, assim como os Atos Institucionais, foram a base referencial da
hermenutica poltica e sociolgica (inclusive muitas vezes jurdicas), que presidiu algumas
das principais linhas conclusivas da Tese.
No foi esquecido tambm, como fonte primria, as cartas de concluso das
conferencias, transcritas no seu inteiro teor realizadas em diferentes cidades brasileira,
possivelmente a fonte poltica mais esclarecedora dos destinos da OAB. As cartas foram
decisivamente marcantes para se reconhecer o diagnstico que a OAB produziu(ra) do
quadro poltico brasileiro, assim como as Conferncias, palestras e seminrios foram a base
essencial para se identificar as grandes tendncias do pensamento ideolgico, que no
tempo, se esvaziaram, ou se transformaram em propostas constituintes, ou se consolidaram,
mesmo em dispositivos constitucionais ou legislativos.
Os dados e informaes histricas, jurdicas ou polticas no foram, todavia,
tratados aleatoriamente, muito ao contrrio, fizemos um grande esforo de compreenso
analtica do material de pesquisa a partir da leitura e de pontos referenciais dos livros de
Raymundo Faoro, Os donos do poder; de Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto;
de Jos Honrio Rodrigues, Conciliao e reforma no Brasil; de Luis Werneck Vianna A
transio da Constituinte sucesso presidencial, e de Guilherme ODonnell (e outros)
Transies do regime autoritrio. Raymundo Faoro e Vitor Nunes Leal classificam-se
entre os autores que subsidiaram criticamente o reconhecimento e as linhas de construo
do Estado patrimonialista e, Jos Honrio Rodrigues, est entre aqueles que, pioneiramente,
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desenvolveram mecanismos tericos compreensivos da conciliao como estratgia para
alcanar reformas que tivessem efeitos de sustentao na sobrevivncia do Estado
conservador brasileiro, orientao subsidiada, nesta Tese, pelo estudo de Paulo Mercadante
em O pensamento conservador no Brasil. Luiz Werneck Vianna e Guilherme ODonnell
identificaram e avaliaram as estratgias de desconstruo do Estado de Segurana Nacional,
assim como Wanderlei Guilherme dos Santos, precursoramente contribuiu para se
definirem os novos fundamentos de legitimidade da moderna legalidade democrtica.
Todavia, a discusso sobre os fluxos e refluxos dos movimentos ideolgicos dos diferentes
perodos do Estado brasileiro o fizemos com base no desenvolvimento conceitual, das
abordagens gerais desenvolvidas por Leandro Konder, sem que se dispensasse a leitura de
alguns dos textos originais, que principalmente privilegiou a posio de Max Horkheimer.
De qualquer forma, pela natureza da produo da Tese, em muitas
circunstancias, mesmo que subsidiariamente, recuperamos artigos e livros que serviram
para (nossos) estudos acadmicos pessoais, procurando, desta forma, assegurar uma certa
continuidade intelectual no reconhecimento de temas que o tempo aproximou. Este esforo
recuperativo, todavia, teve a exclusiva preocupao de integrar Tese trabalhos dispersos,
que, pela sua modstia, poderiam se perder no tempo, mas foram teis, seno formulao
de hipteses, definio de pressupostos analticos ou metodolgicos, principalmente
servindo de apoio bibliogrfico, histrico ou jurdico.
Neste sentido, as principais hipteses do trabalho foram elaboradas no
propriamente, a partir de especulaes intelectuais, mas a partir do domnio organizado e
sistematizado dos documentos e fontes consultadas, sendo, todavia, importante observar
como j o fizemos, os autores supra-indicados e os seus textos referenciais citados nesta
Tese, assim como a bibliografia correlata, foram essencialmente utilizados na demarcao
terica do desenvolvimento analtico do conjunto documental, fctica e cronolgicamente.
Isto significa, que, no propriamente, os documentos foram utilizados para demonstrar as
hipteses, mas que procuramos nos esforar para que as hipteses evolussem da
compreenso terica destes prprios documentos, evitando, todavia, que nas tantas
situaes identificadas, os fatos ou os dados de informao, no fossem prejudicados na sua
fora reveladora pelo excessivo comprometimento terico. Assim, a Tese se desenvolveu
procurando incentivar as aberturas fcticas ou de informao a partir de posies tericas,
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e, tambm, evitando que as posies tericas no ficassem sensveis ao disclosere dos fatos
ou dos dados informativos.
Genericamente, tomando como referncia de partida o primeiro ttulo
Advocacia e o Estado patrimonialista, para alcanar os objetivos desejados, no primeiro
Captulo intitulado O Estado Brasileiro e a Ordem dos Advogados, procuramos estudar a
criao do Instituto dos Advogados Brasileiros em 1843 e os primrdios doutrinrios do
iderio estatutrio no contexto dominante dos estamentos burocrticos do Estado
patrimonialista. Posteriormente, no fluxo ascendente do corporativismo ideolgico, e da
Revoluo de 1930, marcado pelas lutas anti-oligarquicas, procuramos mostrar a criao da
OAB, no apenas como ato do Estado revolucionrio, mas tambm como reflexo do
corporativismo ideolgico, no tanto pelas suas causas, mas pelos efeitos constitucionais,
que durante o Imprio e a Primeira Repblica, impediram a criao da OAB. No Captulo
imediatamente subseqente, neste mesmo Ttulo, a partir da leitura analtica dos primeiros
estatutos, procuramos demonstrar a evoluo conflitiva interna na OAB entre o
corporativismo ideolgico, que adquiriu feies polticas nacionais, e o liberalismo jurdico
ascendente aps 1937/38, que contribuiu decisivamente para o desmonte do Estado Novo e,
concomitantemente, para a construo do estado liberal democrtico de 1946, com incisiva
participao da OAB e seus lideres, num quadro de incipiente influncia do movimento
comunista e das ideologias de defesa da civilizao ocidental.
Os captulos seguintes agrupados no Ttulo II A OAB e o Estado e Direito,
concentram-se, exatamente, os estudos sobre a influncia constitutiva do liberalismo como
ideologia da construo do Estado (formal) de Direito e, tambm, sua influencia sobre o
iderio profissional dos advogados. Neste contexto, a Tese procurar demonstrar, ainda no
Captulo III, conectando com os argumentos conclusivos dos captulos anteriores, a relao
entre ideologia (geral) com a ideologia jurdica e o iderio estatutrio (profissional), para,
finalmente, nos dois captulos seguintes, a partir das discusses sobre a construo e a
transferncia dos tribunais para Braslia e a resistncia corporativa da OAB, avaliar a
elaborao do novo Estatuto dos advogados e seus efeitos sobre o desmonte jurdico dos
resduos do Estado patrimonialista e a reprojeo das elites jurdicas no quadro de alianas
com os militares que resultou no movimento militar de 1964, politicamente aprofundado
em 1968, e na definitiva crise da liberal-democracia.
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A pesquisa, neste sentido, procurou demonstrar, tambm, os paradoxais
momentos histricos em que a Ordem dos Advogados, se desviou do projeto democrtico,
na expectativa de resguardar a prpria democracia, a democracia liberal. No h como
desconhecer esta realidade, que, em tudo, e por tudo, fica evidente no trabalho, assim como,
apesar dos esforos sucessivos de pesquisa, o liberalismo ideolgico a marca do iderio
profissional, que ronda os anseios e projetos dos advogados. Muitos, no so poucos os
momentos, inclusive, na reta final das decises constituintes de 1987/88, em que a tese
principal dos debates sobre as condies de sobrevivncia da advocacia excludo o
liberalismo como projeto constitucional.
Este contexto de preocupaes permitiu, principalmente a partir do estudo
detalhado das teses apresentadas nas Conferncias Nacionais da OAB, definir os padres
referenciais da evoluo da ideologia jurdica, imprescindvel ao iderio profissional,
inicialmente marcada pelo individualismo iluminista e pela defesa do Estado de Direito.
Neste sentido, antes de se iniciar no Ttulo III, procuramos no Captulo VI A OAB e a
Crise da Liberal Democracia, desmontar o seu dilema diante da presso trabalhista-
sindicalista e do projeto revolucionrio (cvico) militar que levou ao Estado de Segurana
Nacional. O enfrentamento do Estado autoritrio, que no ocorre exatamente aps a sua
instalao em 1968/69, mas, na verdade, a partir de 1974/76, como procuraremos
demonstrar, foi marcado, especialmente a partir da VII Conferncia, pelo desdobramento de
uma proposta mais aberta comprometida com os direitos humanos, enquanto expresso dos
novos direitos existenciais e dos direitos de cidadania coletiva e difusa, o que permitiu
demonstrar, por outro lado, as grandes dificuldades dos advogados com os projetos
ideolgicos, que, de uma forma ou de outra, podem influenciar transformaes sociais
estruturais.
Para demonstrar estas hipteses, os ttulos e captulos sucessivos da Tese
procuraro insistir no apenas na definio e no desenvolvimento do iderio estatutrio, e
nos regulamentos e regimentos, mas tambm na influncia dos projetos polticos e
ideolgicos sobre o seu prprio iderio profissional, sem se esquecer, claro, que o iderio
profissional em muitas ocasies funciona(va) como base referencial de segurana para a
ao dos advogados, e, em outros momentos, como base de resistncia ideolgica de
projetos de mudanas mais ousados ou mais avanados, que ameaassem a dinmica
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interna da evoluo dos institutos jurdicos. Alias, do ponto de vista poltico, e corporativo,
fica sempre demonstrado que o compromisso dos advogados com o direito institudo e,
com a sua mudana, apenas no espao possvel de transformao endgena. Tal posio,
pelo que se verifica do estudo que elaboramos, em tantas circunstncias, coloca os
advogados frente da ordem estabelecida, quando ela foge dos parmetros gerais da
ideologia jurdica, e, na sua retaguarda, quando, da perspectiva corporativa, a dinmica
ideolgica da vida poltica ameaa os institutos jurdicos consolidados.
Neste sentido, a parte mais substanciosa e robusta da Tese concentra-se nos
estudos do temrio das Conferncias, e nas cartas de encerramento dos respectivos
encontros, muito especialmente a partir de 1968, quando a OAB evolui da Carta
Constitucional de 1967, que procurava uma composio entre liberalismo e segurana
nacional, que sucumbiu com a Emenda n 1/69, para um projeto de abertura do liberalismo
para a defesa dos direitos humanos, atravs de uma participao mais ativa no Conselho de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana CDDPH, criado em 1964, e alterado em 1968. O
CDDPH no entanto, foi, finalmente, acuado e constrangido nos seus propsitos, ante o
escamoteamento das apuraes e dos atos que adquiriram dimenso processual e o
vertiginoso crescimento das aes paraestatais. O encerramento da fase de convivncia fez
das conferncias o grande palco de novas idias, o frum de construo de um novo projeto
de democracia para o Brasil.
As conferncias, no seu conjunto, evoluram, tematicamente, no grande espao
aberto das discusses sobre direitos humanos, a linha de convivncia entre o velho
liberalismo iluminista e o socialismo, mas que evoluiu para significativas reavaliaes do
iderio profissional com profundos efeitos sobre uma futura ideologia jurdica. As palestras
nas Conferncias, como mostraremos, procuram preservar o essencial dos institutos
jurdicos e polticos, neste momento, numa temtica restauradora do Estado de Direito,
presidido pelo humanismo solidarista, mais que liberal. No h como desconhecer, de
qualquer forma, que as discusses sobre os direitos humanos, reaproximaram os advogados,
os transformou, tambm, seno apenas em vitimas como profissionais limitados nos seus
direitos de ao, em vtimas polticas conduzidas de crcere em crcere, at que a prpria
OAB Federal viesse a ser includa na escalada do terror.
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Este quadro de enfrentamentos, todavia, no impediu, como mostraremos, que,
a OAB, constrangida, inclusive, nos seus direitos estatutrios, silenciada no CDDPH, e
submetida aos rgos de governo, por fora de decretos autoritrios, como aconteceu em
1974, na tentativa de subtrair sua autonomia, no encontrasse espao para forar a primeira
Lei de Anistia, em 1979, forando, tambm, a ruptura das leis autoritrias para viabilizar
seus novos projetos e idias. Neste perodo ampliaram-se as teses sobre a liberdade e a
justia social, mas, avolumaram-se as teses sobre o direito ambiental, os direitos das
minorias, os direitos difusos e coletivos e os direitos existenciais que vieram a fortalecer a
tese especialssima do Estado de Direito Democrtico, como inicialmente se denominou, o
que a Constituio de 1988 reconheceu como Estado Democrtico de Direito.
As crises institucionais internas neste perodo, exceto pontual e residualmente,
so transposies das crises de ordem poltica geral, sendo que, poucas, foram, as situaes
em que a OAB esteve mergulhada em crises, que dificultassem a sua atuao, ou o seu
posicionamento interno ou externo, evidenciando-se, todavia, que o radicalismo nunca foi a
regra de seus atos, que contra o autoritarismo e o terror, sempre foi reativo, gerando fatos
novos apenas nas propostas de novas idias ou nas indicaes constituintes. Alias, a Tese
ao longo de suas demonstraes deixa evidente a repulsa continuada ao radicalismo e a
qualquer projeto que fugisse da lgica possvel de mudar a ordem pela ordem.
Neste sentido, para demonstrar tais situaes, muito concentramos a nossa Tese
na crise provocada internamente pelo processo de transferncia da Capital Federal para
Braslia ainda na fase pr-revolucionria, que, aparentemente, era uma nova questo
geogrfica, mas, nos seus efeitos traduzia a ruptura do pacto possvel entre o liberalismo
udenista e o trabalhismo getulista, apoiado, em estranha frmula de composio com os
conselheiros pessedistas. A crise interna provocada posteriormente com a carta-bomba
dirigida ao Presidente do Conselho Federal, Eduardo Seabra que abrir a temporada da
resistncia institucional administrada pelo Presidente Bernardo Cabral, mais demonstrar a
imprescindvel e necessria cautela para se fazer dos mandatrios do regime autoritrio
instrumento para intimidar o desespero do terror paraestatal, da mquina repressiva em
desagregao.
O Conselho Federal se conduziu com habilidade nos tortuosos caminhos,
marcados pelo movimento das Diretas J, de iniciativa poltica e partidria, mas, que, no
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exatamente traduzia o seu projeto precursor da Assemblia Nacional com plenos poderes
constituintes. Este movimento poltico teve alto significado corporativo de grande
importncia e a decisiva presena na histria interna da OAB, especialmente porque
colocou em cheque a questo estatutria do envolvimento poltico e partidrio, mas, no
equilbrio das posies no provocou divises internas irreconciliveis, demonstrando, no
entanto, que a OAB no estava infensa s lutas ideolgicas nos graves momentos de
mudanas histricas.
De qualquer forma, a Tese efetivamente demonstra que a OAB nasceu como
instituio corporativa preocupada com a definio dos direitos e deveres do advogado,
mas que, nas diferentes condies histricas, evoluiu nos seus compromissos polticos e
ideolgicos para legitimar as mudanas e modificaes dos direitos e deveres dos
advogados, juridicamente institudos nos seus estatutos ou em norma de ordem geral, como
especial forma de resguardar a ordem jurdica instituda. Neste sentido, a Tese percorre um
amplo perodo histrico para demonstrar os fluxos e refluxos da vida profissional do
advogado, procurando identificar as razes das resistncias imperiais e republicanas
criao da OAB at o seu decisivo papel na convocao da Assemblia Constituinte de
1945/46, que elaborou a Constituio de 1946, que implantou o Estado de Direito e na
convocao da Assemblia Constituinte que elaborou a Constituio de 1988, criando o
Estado Democrtico de Direito.
No Ttulo IV A OAB e a Redemocratizao, depois de avaliar as
conseqncias da derrota das Diretas J, e seus efeitos sobre o Conselho Federal, assim
como as frustraes da convocao da Assemblia Constituinte, com poderes limitados,
convivendo, com fraes remanescentes do poder autoritrio, e com base na prpria
Constituio de 1967/69, mutilada pelas emendas de segurana nacional, procuramos
desenvolver, no Captulo X, o grande paradoxo da transio poltica na relao
concomitante entre a Lei de Anistia de 1979, que mostrava a disposio para a convivncia
poltica, e o terror paraestatal, que afetou os mais diferentes mbitos da vida poltica
brasileira, transformando, em verdade irrecusvel, o projeto constituinte que evoluiu
marcado pelo ideal de uma democracia econmica. No Captulo XI, que ainda se
constitui como parte integrante do Ttulo IV, procuramos analisar o dilema constituinte
frente ao projeto de eleies presidenciais diretas, que, se no teve sucesso enquanto tal,
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muito bem serviu para a tomada nacional de uma conscincia poltica radical e divergente
do modelo autoritrio. A Conferencia de Recife marcou o inicio destas novas posies,
permeadas por um certo radicalismo ideolgico que influenciar, de qualquer maneira, as
conferencias que seguiro at a Carta de Porto Alegre.
No Ttulo V A OAB e o Estado Democrtico de Direito a Tese
fundamentalmente se concentra, na sua primeira parte, no estudo comparado entre as
concluses constituintes da OAB e o Anteprojeto da Comisso Arinos, assim como alguns
aspectos essenciais do texto constitucional de 1988. Na verdade o Captulo XII uma
leitura poltica de textos constitucionais comparados, procurando identificar os pontos de
recuo e avano entre as diferentes propostas. Reconhecemos que este foi um dos aspectos,
da Tese, mais difceis de se desenvolver, mas de qualquer forma, ele permitiu um estudo
pioneiro entre o projeto da OAB, marcado por uma proposta de democracia econmica, e
o Projeto Arinos, de forte influencia social-liberal.
Na verdade, nos estudos finais procuramos demonstrar, que, evoluindo de sua
tradio liberal, clssica, o Projeto Constituinte da OAB, contribui para consolidar o Estado
Democrtico de Direito, mas no conseguiu avanar alm do humanismo social-liberal,
contrastando-se com as fraes que propunham uma democracia econmica desde a X
Conferncia, em Recife, e da XI Conferncia em Belm, transformada em ideologia crtica
da nova Constituio, na Conferncia e na Carta de Porto Alegre. A proposta constituinte
da OAB, de qualquer forma, foi marcante para a histria brasileira moderna e permitir que
os estudiosos do tema identifiquem, nas suas concluses, um grande esforo para provocar
reformas estruturais que rompessem com as matrizes do atraso e do desenvolvimento.
A Conferncia de Porto Alegre, neste sentido, foi um marco referencial na
histria da crtica ao constitucionalismo brasileiro de 1988, deixando transparecer que
estvamos evoluindo para duas linhas propositivas: o Estado Democrtico de Direito, como
parmetro institucional para alcanar novas mudanas sociais que expressassem as
expectativas da sociedade civil e, como instrumento para se alcanar as posies mais
radicais que viam, apenas, nos movimentos sociais, a fora suficiente para provocar
mudanas matriciais estruturais. Estas duas linhas de ao, que foram ressaltadas, no
apenas na Conferncia, mas na Carta de Porto Alegre, demonstram, que o pas promulgava
a sua nova Constituio mergulhado no dilema dos caminhos alternativos para a mudana,
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que demonstrou o tempo, mais evoluiu para desmontar a ordem econmica estatista da
Constituio e reestruturar a ordem econmica numa perspectiva neoliberal, que no estava
no quotidiano dos debates constituintes e nem muito menos estava imerso no projeto do
Estado Democrtico de Direito.
No podemos deixar de observar, todavia, que o estudo das conferncias e das
prprias atas das reunies do Conselho Federal da OAB, permitiram-nos identificar a elite
da representao poltica ou corporativa da vida jurdica brasileira, que, em geral, tambm
se reproduzia nos rgos do Poder Legislativo, do Poder Judicirio e do Poder Executivo.
No h tendncias predominantes, nem muito menos h evidncias de que a OAB tenha
sustentado posies de movimentao no cenrio poltico geral para as suas lideranas
internas, mas, de qualquer forma, no podemos desconhecer este fenmeno, assim como,
que, na OAB, estavam algumas das mais expressivas representaes do pensamento
jurdico, e, muitas vezes, da intelectualidade brasileira.
Finalmente, este trabalho permitir no apenas confirmar, seno absolutamente,
significativamente, as itemizaes das hipteses traduzidas no ndice geral, e de sua
conseqente leitura e anlise, mas tambm comprovar que a Ordem dos Advogados do
Brasil contribuiu, para resguardar, no tempo histrico, o Estado de Direito, mais
decisivamente para constitucionalizar o humanismo jurdico como objetivo fundamental do
Estado e pressuposto do Estado Democrtico de Direito, como projeto constitucional. Estes
novos parmetros democrticos presidiram a ltima das Conferncias que analisamos (XII),
que se encerrou na data de promulgao da nova Constituio brasileira, onde se teceram
algumas das mais precisas construes crticas das matrizes da sociedade, do Estado, do
direito e da democracia no Brasil, mas, ao mesmo tempo, no teve a eficcia poltica
necessria para transformar o Estado Democrtico de Direito em instrumento para
viabilizar o projeto de aprofundamento das mudanas sociais. Nos estudos conclusivos do
ltimo Captulo As Propostas Constitucionais e o Novo Estatuto de 1994 , assim como
na concluso geral da Tese, abordaremos as causas e os efeitos que repuseram a OAB no
projeto de mudana da ordem pela ordem e que viabilizaram, constitucionalmente, a mais
profunda, seno a nica, contra-revoluo institucional da ordem atravs da ordem.
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TTULO I
A ADVOCACIA E O ESTADO PATRIMONIALISTA
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Captulo I O ESTADO BRASILEIRO E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
Introduo
Raymundo Faoro, jurista e intelectual, ex-presidente do Conselho Federal da
OAB, no perodo difcil de marchas e contra marchas da abertura do regime autoritrio,
escreveu um dos mais importantes e significativos estudos da histria poltica e
institucional sobre as origens e a formao do Estado patrimonial brasileiro, especialmente
concentrando a sua anlise nos movimentos internos do estamento burocrtico governante,
a sua capacidade de reproduo e a sua fora hegemnica no Estado brasileiro: Os donos do
poder.1 Por outro lado, Victor Nunes Leal, jurista, intelectual e ex-ministro do Supremo
Tribunal Federal, que decisivamente influenciou na modernizao do seu processo de
deciso, ex-conselheiro do Conselho Federal da OAB, escreveu outro dos mais importantes
livros da histria poltica e institucional brasileira sobre as elites no poder e a fora de
dominao das oligarquias republicanas, atravs de mecanismos eleitorais (legais) e de fato,
intitulado: Coronelismo, enxada e voto.2
A compreenso estratgica da sobrevivncia do Estado patrimonialista,
originariamente patriarcalista e, posteriormente oligrquico, deveu-se, em muito, ao
meticuloso estudo de Jos Honrio Rodrigues sobre as polticas de conciliao como
polticas de composio entre as diferentes fraes que se acomodavam nos diferentes
segmentos do estamento burocrtico: Conciliao e reforma no Brasil3. O seu meticuloso
trabalho recupera, com clarividncia, este fenmeno por vasto perodo da histrica colonial
e imperial brasileira, procurando, de qualquer forma, demonstrar que a liderana
conciliatria no tinha, como prtica, desrespeitar o regime representativo, mesmo com
1 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formao do patronato poltico brasileiro. 3. ed. (revista). So Paulo: Globo, 2001. 2 LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o municpio e o regime representativo no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 3 RODRIGUES, Jos Honrio. Conciliao e reforma no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1965.
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suas fraudes e insuficincias legislativas, evitando, sempre, os excessos, atraia os liberais
exaltados, acalmava os radicais procurando diminuir os antagonismos sociais adiando os
conflitos de carter social. Estas prticas na arguta leitura de Jos Honrio impediam a
renovao do pas
no promovia as reformas tornava lento o processo histrico e o progresso que no respondesse aos interesses instamentais. A conciliao, que domina essencialmente toda a poltica brasileira (...) [tinha como pressuposto] acomodar para salvar o essencial, defendendo a grande propriedade (e a escravido) os grandes proprietrios, os potentados do interior como os viu Nabuco de Arajo, de um povo dominado por latifundirios s se poderia esperar a rejeio das reformas sociais e econmicas.4
O mesmo Jos Honrio analisando o fenmeno da conciliao no perodo
republicano consegue distinguir a fora impulsiva de Floriano Peixoto, que sucedeu a
Deodoro, preocupado em consolidar a Repblica, mesmo enfrentando o predomnio ingls
na economia brasileira e os republicanos histricos como Rodrigues Alves e o lcido
representante do esprito conciliador civilizado Rui Barbosa, dominado pelas preocupaes
urbanas e pelo intelectualismo jurdico. Apesar das posturas diferenciadas entre o
florianismo militarista intolerante e o intelectualismo jurdico conciliador de Rui Barbosa
fracassaram ambos ante a fora conciliadora do patrimonialismo estamental, que marca os
estudos essenciais deste Captulo.5
Estes autores marcaram os modernos estudos sobre a compreenso do estado
brasileiro, assim como definiram os limites imprescindveis sua modernizao. Da mesma
forma, em leitura aberta e genrica, identificaram os grandes limites do sistema estatal de
dominao poltica e, ao mesmo tempo, a natureza atvica do Estado comandado pelo
estamento burocrtico presidido pelos pactos do baronato imperial com o Poder Moderador
e pelos pactos dos coronis com o poder poltico controlado pela oligarquia, nas ambas 4 RODRIGUES, op. cit., p. 60 e 64. 5 Ver, tambm, p. 75 a 80, onde est que as polticas de conciliao de qualquer forma em muitos momentos estiveram ameaadas, mas sempre privilegiavam o processo de deciso do grupo poltico que melhor se conciliava com os grandes interesses econmicos latifundirios e cafeeiros. Neste contexto destaca-se a posio de Arthur Bernardes que para manter os pactos de conciliao reforou o poder de polcia, muito embora a sua reforma constitucional de 1926 viesse a demonstrar que o patrimonialismo oligrquico estava esgotado. Ver, tambm, Mauro Santayana. In: Coisas da Poltica. Jornal do Brasil, 9.3.07. p. A2. Sugerimos tambm a leitura de Frederico de S. (Pseudnimo de Eduardo Prado) Fastos da ditadura militar no Brasil. So Paulo: Martins Fontes, 2003, conjunto de artigos publicados na Europa (Portugal) sobre as dificuldades e os faustas do militarismo republicano no Brasil (1889/1891).
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dimenses comprometidos com a economia agrria exportadora e com os seus agentes
privados no exerccio de funes de interesse pblico.
Na verdade, o Estado patrimonialista, na histria poltica brasileira, foi o
herdeiro dos pactos privados no poder pblico que se projetou no tempo histrico como
uma rgida estrutura poltica insensvel dinmica da sociedade e s ideologias
compreensivas do Estado moderno, bem como ao conseqente iderio de fracionamento
das funes pblicas e privadas exercidas cumulativamente por rgos e agentes do Estado.
Esta especialssima postura tornou o Estado brasileiro, no apenas resistente
modernizao burocrtica, mas muito especialmente a qualquer projeto que procurasse
implementar mecanismos de funcionamento democrtico. Observa Raymundo Faoro que:
De Dom Joo I a Getlio Vargas, numa viagem de seis sculos, uma estrutura poltico-social resistiu a todas as transformaes fundamentais, aos desafios mais profundos, travessia dos oceanos largo. O capitalismo politicamente orientado o capitalismo poltico, ou pr-capitalismo , centro da aventura, da conquista e da colonizao moldou a realidade estatal, sobrevivendo e incorporando na sobrevivncia o capitalismo moderno, de ndole industrial, racional na tcnica e fundado na liberdade do individuo (...). A comunidade poltica conduz, comanda, supervisiona os negcios, como negcios privados seus, na origem, como negcios pblicos depois (...). Dessa realidade se projeta, em florescimento natural, a forma de poder, institucionalizada num tipo de domnio: o patrimonialismo, cuja legitimidade se assenta no tradicionalismo assim porque sempre foi.6
Por outro lado, Victor Nunes Leal, sem que especificamente se concentre no
estudo do Estado patrimonialista, mesmo (patriarcalismo do) poder dos (coronis) oligarcas
sobre os municpios, exponencializou, no apenas a sua representao federativa, mas a sua
fora no interior do Estado. Neste sentido, observa Victor Nunes, identificando a varivel
patrimonialista determinante:
O coronelismo apresenta-se, desde logo, como certa forma de incurso do poder privado no domnio poltico (...) significando o isolamento, ausncia ou rarefao do poder poltico. Da a tentao de o considerarmos puro legado ou sobrevivncia do perodo colonial, quando eram freqentes as manifestaes de hipertrofia do poder privado a disputar atribuies prprias do poder institudo (mas o coronelismo no um mero patriarcalismo colonial) que alcanou sua expresso mais aguda na primeira Repblica (...) chegamos assim ao ponto que nos parece nuclear para conceituao:
6 Op. cit., p. 819 e 820.
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este sistema poltico dominado por uma relao de compromisso entre o poder privado decadente e o poder pblico fortalecido.7
Foi exatamente neste contexto da dominao patriarcalista (imperial) e
oligrquica (republicana) do Estado patrimonialista que se desenvolveram as lutas pela
criao da OAB, primeiramente com a criao do Instituto Brasileiro dos Advogados
IAB, em 1843, que tinha como finalidade precpua a criao da Ordem dos Advogados,
como organizao disciplinar dos advogados e, posteriormente, a sua transformao (na
Repblica) em Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros IOAB, que evoluiu na crise
da oligarquia republicana para a criao da prpria Ordem dos Advogados dos Brasileiros
(do Brasil) OAB, por ato revolucionrio de Estado em 1930. O Regulamento de 1931,
construiu o primeiro catlogo do iderio disciplinar e os regulamentos sucessivos
definitivamente consolidados em 1933 definiram os postulados doutrinrios centrais do
iderio profissional dos advogados que viriam a presidir a sua histria: a advocacia como
exerccio privado de funo pblica relevante, a separao funcional entre o exerccio de
funes pblicas e o exerccio da advocacia, a definio do catlogo disciplinar de deveres
e prerrogativas profissionais, como compromisso de defesa daqueles que estivessem
privados ou ameaados de perder os seus direitos e, finalmente, a organizao da Ordem
dos Advogados, como servio pblico autnomo e independente.
A identificao destes postulados doutrinrios do iderio central dos advogados
permitiu que os itens centrais deste Captulo se concentrassem em importante e
indispensvel estudo sobre o conceito pragmtico de iderio profissional (dos advogados),
mas muito especialmente sobre a sua evoluo no contexto dinmico das ideologias
polticas que influenciam a vida poltica do Estado. Imprescindvel, para a efetiva
inteligncia, no apenas do Captulo, mas da Tese, embora no sendo este seu objetivo,
analisamos as principais vertentes modernas do conceito de ideologia e a sua adaptao aos
7 Op. cit., p. 275/6. Para maior elucidao ver tambm, recentemente reeditado, de VILAA, Marcos Vincios e ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de. Coronel, coronis: apogeu e declnio do coronelismo no nordeste. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. Os autores traam um lcido e interessante perfil dos coronis como especial figura da vida poltica e social nordestina (e brasileira), destacando sua ostensiva presena no comando das prestaes dos servios pblicos (p. 65), bem como a sua presena autocrtica e as suas decises autoritrias e passiva aceitas (p. 65). De qualquer forma, a compreenso prospectiva das oligarquias na histria brasileira pode ser medida pelo excepcional artigo de Furtado, Celso. De Loligarchie LEtat militaire, publicado em Les H Temps Modernes, Paris, out. 1967.
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documentos jurdicos essenciais como ideologia jurdica, que, em tantas circunstncias,
influem sobre o iderio profissional dos advogados e, em tantas outras, como
demonstramos, encontram resistncia no prprio iderio corporativo, num fluxo de tenses
que resultaram sempre em mudanas estatutrias.
Neste primeiro Captulo, a partir destes itens centrais, o objetivo da Tese foi
exatamente identificar o processo histrico das flutuaes de relacionamento entre o Estado
brasileiro e a Ordem dos Advogados, procurando, demonstrar, que, ao contrrio da
hermenutica parlamentar imperial, e republicana, que rejeitou os sucessivos projetos de
criao da OAB, inclusive o de Montezuma (Francisco G de Acayaba, 1794/1870),
primeiro e histrico presidente do IAB, os advogados no tinham qualquer resistncia
abolio das corporaes de ofcio e ao livre exerccio das profisses, mas, muito ao
contrrio, pretendiam criar uma organizao profissional corporativa com a finalidade de
disciplinar o livre exerccio profissional, para evitar desvios e compromissos esprios de
profissionais (bacharis e provisionados) e, ao mesmo tempo, impedir que agentes do poder
pblico, conselheiros de Estado, ministros de Estado, juzes e desembargadores,
promotores, procuradores, funcionrios do fisco e aduanas, delegados de polcia, o
estamento burocrtico do estado na linguagem de Raymundo Faoro, e, at mesmo
parlamentares, exercessem, cumulativamente, a advocacia ou se reservassem poderes para
provisionar rbulas e solicitadores.
Na verdade, a histria da criao da OAB, e seu desenvolvimento subseqente,
so a histria da luta contra o patrimonialismo estamental, no Imprio, dominado pelos
bares e muitos de seus quadros de elite originrios das prprias Academias de Direito de
So Paulo e Olinda/Recife, e, na Repblica, dominado pelos oligarcas representados,
(quase) sempre, pelos bacharis no poder (e na advocacia).8 Por isto, de certa forma, a tese,
que assumimos neste Captulo demonstra o ato de criao da OAB, em 1930, como ato
(revolucionrio) de Estado, como uma vitria contra o patrimonialismo oligrquico cujos
estamentos burocrticos resistiram (e impediram) a sua criao (ou transformao
8 Recente catlogo de dados biogrficos atualizado por Pedro J. X. Maltoso, sobre ex-ministros do Supremo Tribunal de Justia e Supremo Tribunal Federal (1828/2001), originariamente organizado por Laurnio Lago, prefaciado por Carlos Velloso, permite a elaborao de interessantes cruzamentos biogrficos sobre a origem e a formao dos ministros do Supremo, confirmando a tendncia desta afirmao. LAGO, Laurnio. Supremo Tribunal de Justia e Supremo Tribunal Federal. Braslia: STF, 2001.
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legislativa), atravs dos mais diferenciados mecanismos polticos e judiciosos, por mais de
100 (cem) anos. As circunstncias histricas que presidiram a Revoluo de 1930,
especialmente os seus desdobramentos dilemticos, no contexto da expanso do
corporativismo ideolgico e do autoritarismo getulista em visvel contradio com o
passado liberal iluminista das lutas dos advogados no IAB e no IOAB, e, tambm, no
Parlamento republicano, no deixaram de influir no ato histrico de criao da OAB e nos
primeiros anos de seu funcionamento. O fato, todavia, mais relevante, que prevaleceu na
sua histria a fora determinante do projeto, no apenas como projeto de criao de uma
corporao, que, disciplinando, o exerccio da advocacia, provocou (gradualmente) o mais
importante fenmeno do Estado brasileiro moderno: a desconstruo do patrimonialismo
estamental que interceptou, por anos sucessivos, o funcionamento do Estado de Direito e a
construo dos fundamentos democrticos do Estado brasileiro.
Finalmente, nos ltimos itens deste Captulo, procuramos, no apenas analisar a
crise do quadro revolucionrio que viabilizou a criao e instalao do Conselho Federal da
OAB, mas, tambm, procuramos, nas prprias concluses do Captulo, fazer uma releitura
da anlise desenvolvida para abrir os caminhos dos captulos subseqentes como espaos
de estudo do papel da OAB na construo do Estado de Direito e da Democracia no Brasil.
1 Preliminares Histricas
A moderna compreenso do papel da Ordem dos Advogados do Brasil na
sociedade brasileira exige a sua exata localizao no tempo histrico e a exata definio do
exerccio da advocacia como pressuposto da interligao entre os interesses individuais (e
sociais) e o funcionamento dos poderes de Estado, muito especialmente, do Poder
Judicirio. Por estas razes, a compreenso do papel que a OAB desempenhou na histria
brasileira depende da efetiva demonstrao da capacidade representativa dos advogados
enquanto procuradores de interesse e do seu exato papel na representao de interesses
conflitivos nas diferentes rbitas do poder pblico, o que forma a sua estrutura
extremamente sensvel aos efeitos (coercitivos) das ideologias sobre o seu iderio
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estatutrio e, ao mesmo tempo, por conseguinte, na prestao judicial dos servios jurdicos
sua hermenutica.
Para a localizao do papel da OAB, no tempo histrico, imprescindvel o
reconhecimento de duas especialssimas linhas de pesquisa sobre e as atividades dos
advogados e da prpria corporao: a influncia interna das experincias internacionais de
criao dos organismos corporativos de advogados e a evoluo institucional da advocacia
e dos seus institutos protetivos no Brasil, a partir da criao do Instituto dos Advogados
Brasileiros IAB, em 7 de agosto de 1843. A primeira linha de estudo est intimamente
associada influncia europia, acentuadamente marcada pela Ordem dos Advogados de
Paris, e, a segunda linha, est marcada pela evoluo de nossa prpria experincia interna, a
partir dos sucessivos projetos de lei que visaram organizar a Ordem dos Advogados do
Brasil como objetivo estatutrio do IAB.
No que se refere primeira linha, alguns estudos sobre as origens da OAB no
Brasil tendem a vincular a sua origem e evoluo ao Decreto Francs de 1810, promulgado
por Napoleo Bonaparte, que, aps sucessivas e tantas resistncias, onde enquadrou mesmo
os advogados como idelogos, restaurou a Ordem dos Advogados, e reconheceu a sua
importncia no contexto da defesa dos direitos e do funcionamento do Estado9. No
podemos, todavia, ser exatamente taxativos no reconhecimento da influncia do estatuto
napolenico sobre a construo da Ordem dos Advogados no Brasil, mesmo sobre as
incipientes experincias brasileiras, assim como a compreenso da segunda linha evolutiva
exige uma exata percepo do quadro constitucional e legislativo vigente entre os anos de
1824 (1843) e 1930.
Nenhuma leitura do texto legal (inaugural) francs pode indicar exatas
similaridades com os projetos legislativos brasileiros, mas, no de todo impossvel
afirmar que o projeto pioneiro de criao da OAB, elaborado por Francisco G Acayba de
Montezuma, primeiro presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, discutido no
Parlamento Imperial (......) teve como parmetro a organizao dos advogados de Paris,
especificamente o Dcret Imperial contentenant Rglement sur lexercice de la Profession
dAvocat, et la discipline du Barreau (Decreto Imperial contendo Regulamento sobre o
9 Bulletin des Lois, n 332. Dcret Imprial contenant Rglemente sur lexercice de la Profession dAvocat, et la discipline du Barreau (n 6177). Au palais des Tuileries, le 14 Dcembre 1810.
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exerccio da profisso do Advogado e a disciplina do Barreau) de 14 de dezembro de
1810.10 Muitos afirmavam, na Cmara dos Deputados, como o deputado Figueira de
Mello,11 que o projeto brasileiro12 era uma cpia do Decreto francs de 14 de dezembro de
1810,13 o que projeto legislativo de Montezuma no confirma. No Senado, afirmaes
semelhantes, tambm eram difundidas pelos senadores. O senador Dantas referindo-se ao
dispositivo que trata das medidas disciplinares, quando analisava a redao do 5 do art.
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