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Ética nos Negócios

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Ética nos Ética nos Negócios Negócios

IESDE Brasil S.A.Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1482. CEP: 80730-200Batel - Curitiba - PR. 0800 708 88 88 www.iesde.com.br

9 7 8 8 5 7 6 3 8 7 9 1 6

Fundação Biblioteca NacionalISBN 978-85-7638-791-6

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Leila Mara Mello

1.ª edição

Ética nosNegócios

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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

IESDE Brasil S.A Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

M298 Mello, Leila Mara

Ética nos Negócios./Leila Mara Mello. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2007.

152 p.

ISBN: 978-85-7638-791-6

1. Ética comercial 2. Ética 3. Responsabilidade social I.Título

CDD 174.4

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Leila Mara MelloMestre em Ciência da Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco (UCB). Graduada em Pedagogia pela Universidade do estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora da Graduação e da Pós-Graduação da UCB. Tutora da Educa-ção a Distância do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam) e da UCB.

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Desmistifi cando ética 7

7 | Conceito de ética

10 | Diferença entre ética e moral

12 | A importância da ética na contemporaneidade

17 | Fundamentos da ética geral e profi ssional

Códigos de conduta profi ssional 27

27 | Considerações gerais

29 | Fundamentação legal da conduta profi ssional do administrador

51 | Os códigos de conduta profi ssional

O papel social da empresa 61

61 | Considerações gerais

68 | O conceito de empresa-cidadã

O conceito de Balanço Social 79

79 | Histórico do Balanço Social

84 | A importância do Balanço Social

87 | Os benefi ciários pelo Balanço Social

89 | Balanço Social e os benefícios para a sociedade

90 | Estruturação de um Balanço Social

97 | Demonstração do Valor Adicionado

Ética na Administração 105

105 | Evolução do conceito de Ética Empresarial

112 | Premissas para a empresa ser ética

113 | Ética e o capital humano

117 | Dilemas éticos nas tomadas de decisões

Glossário 137

Gabarito 139

Referências 147

Anotações 155

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Introdução Ética nos N

egóciosEsta disciplina tem como objetivo geral possi-bilitar a reflexão crítica dos futuros profissionais do curso de Administração em relação aos fun-damentos da ética no exercício profissional. Dessa forma, tentaremos enfocar os fundamen-tos básicos de ética, para que quando chegue ao mercado de trabalho o profissional tenha um comportamento pautado no diálogo, na justiça, na solidariedade e no respeito mútuo, a fim de tornar o ambiente de trabalho um local de par-ceria, com vistas tanto para o progresso profis-sional quanto para o da empresa.

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Ética na Administração

Evolução do conceito de Ética EmpresarialSe formos desvelar a evolução da história da Ética Empresarial, temos que

nos dar conta de que nas sociedades primitivas e antigas a atividade eco-nômica se baseava na troca de mercadorias, não existindo nesse período a idéia de lucro e nem de empresa. Portanto, a ética se restringia às relações de poder entre as partes e pelas eventuais necessidades presentes na obtenção de certos bens ou artigos (OURIVES, 2007).

O surgimento do conceito de lucro nas operações de natureza econômica trouxe certa dificuldade para a moral, posto que o lucro era originariamente considerado um acréscimo indevido, sob o ponto de vista da moralidade.

Somente no século XVIII o economista Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, citado por Moreira (1998, p. 28), “conseguiu demonstrar que o lucro não é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuição de renda e de promoção do bem-estar social, expondo pela primeira vez a compatibili-dade entre ética e atividade lucrativa.”

A doutrina no âmbito do Direito Empresarial tem conceituado a empresa como uma atividade econômica organizada pelo empresário, que se utiliza dos fatores da produção: a natureza, o capital e o trabalho, a fim de produzir um resultado, que pode ser um serviço, um bem ou um direito, para venda no mercado, com o objetivo final de lucro.

Moreira (1998, p. 28) esclarece que “a encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII”, foi “a primeira tentativa formal de impor um comportamento ético à empresa.”

Esse documento, feito pelo papa, trouxe no seu bojo princípios éticos aplicáveis nas relações entre a empresa e empregados, valorizando o respei-to aos direitos e à dignidade dos trabalhadores.

Dessa forma, surge nos Estados Unidos, no ano de 1890, a Lei Shelman Act, destinada “a proteger a sociedade contra os acordos entre empresas, contrários ou restritivos da livre concorrência.” (MOREIRA, 1998).

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O mesmo autor nos revela que no ano de 1972 realizou-se a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, Suécia, preparada pela Organização das Nações Unidas, cuja finalidade foi conscientizar todos os segmentos sociais, inclusive as empresas, sobre a necessidade de se preser-var o planeta.

Dando continuidade, o mesmo autor esclarece que após cinco anos o go-verno americano estabeleceu sobre a Ética Empresarial, através da edição da Lei Foreign Corrupt Practices Act, que proíbe e estabelece penalidades às pes-soas ou organizações que ofereçam subornos às autoridades estrangeiras, com a finalidade de obter negócios ou contratos.

Entretanto, no Brasil, a Lei 4.137/62, alterada pela Lei 8.884/94, foi edita-da a fim de reprimir o abuso do poder econômico e as práticas de concor-rências.

Em diversas outras áreas, como nas de proteção ao trabalho, do meio ambiente, do consumidor, existem leis específicas, tratando da questão da ética.

Perante essa preocupação mundial com a Ética Empresarial, pode-se afir-mar que estamos vivendo uma nova era nesse assunto.

Relativamente à evolução da ética na empresa societária, ao que se tem notícia, até o fim da primeira metade do século XX os conflitos associados eram solucionados na própria empresa, sendo poucas as demandas judiciais. Prevalecia o poder daquele que majoritariamente comandava a empresa. Esse período foi chamado de fase monárquica da sociedade comercial.

Aplicava-se a visão do banqueiro alemão ao qual se atribui à qualificação dos acionistas minoritários como sendo tolos e arrogantes. Tolos porque lhe entregavam o dinheiro e arrogantes, pois ainda pretendiam receber os dividendos (MARTINS, 1999, p. 31).

Paulatinamente, se cria nova consciência nessas relações, em que os con-troladores passam a buscar o consenso junto aos demais participantes da sociedade, isto é, entre empregados, minoritários etc.

No Brasil, a partir da metade do século XX, já há uma preocupação do direito brasileiro para com os direitos dos minoritários, possibilitando-lhes o recebimento dos dividendos, o recesso e responsabilizar os administradores e controladores da companhia.

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Para Wald apud Martins (1999, p. 40): “é o primeiro passo para a demo-cratização e moralização da empresa, mediante a criação de um sistema de liberdade com responsabilidade que sucedeu ao regime da mais completa irresponsabilidade.”

O artigo 115, da Lei 6.404/76, assim como a legislação do mundo intei-ro, tem reconhecido o poder do voto como ser exercido no interesse da sociedade.

Nesse sentido, o acionista exerce o direito de voto no interesse da compa-nhia; considerando abusivo o voto exercido com fim de causar dano à com-panhia ou a outros acionistas, de obter para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus, e de que resulte, ou possa resultar prejuízo para companhia ou para outros acionistas.

Conforme se vê, “a obediência à ética e aos bons costumes se impôs até aos acordos de acionistas, cujas cláusulas ilegais, abusivas ou imorais não podem ser consideradas vinculatórias para os seus signatários.” (MARTINS, 1999, p. 33).

Assim sendo, ao abordarmos sobre a evolução do conceito de ética nas empresas não podemos deixar de nos basear na declaração de Ourives (2007, p. 3):

A ética relaciona-se diretamente com os juízos morais. Há empresas que possuem seus códigos de conduta, numa demonstração à sociedade sobre seus pressupostos éticos. A finalidade da empresa, sob a ótica da teoria clássica é a maximização dos lucros. Modernamente, o escopo empresarial ancora-se, também, no conceito da exploração da atividade econômica, sob a ótica de que ela (empresa) é algo mais que um negócio. Além do interesse da empresa em si, há um interesse social a ser perseguido. A empresa que adota uma cultura ética, possivelmente, reduzirá seus custos de coordenação. [...] a cultura do conflito é mais cara que a cultura da cooperação. A empresa que não pugna por um comportamento ético, estará, fatalmente, fadada ao insucesso.

Percebemos que as empresas, atualmente, têm grande preocupação em relação à ética, não somente visando ao lucro, mas, concomitantemente, ao interesse social, como já abordamos no capítulo anterior.

Moreira (1999) define a Ética Empresarial como comportamento da empre-sa – entidade lucrativa – quando ela age em conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras éticas).

Assim sendo, a ética na atividade empresarial significa ter um olhar atento para o outro, sem o qual o eu não se humaniza, ou seja, essas atividades estão dirigidas para o outro. Logo, a atividade empresarial é eticamente fundada

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e orientada quando se cria emprego, proporciona habitação, alimentação, vestuário e educação, detendo os bens como quem os administra.

Para Denny (2001), não há distinção entre moral e ética, portanto, Ética Empresarial consiste na busca do interesse comum, ou seja, do empresário, do consumidor e do trabalhador. Dessa forma, toda empresa que não se preocupa com o capital humano é considerada imoral.

Segundo Martins (1999, p. 137)

o Brasil renasce das preocupações sobre a ética nos negócios. O grande desafio ético, diz ele, encontra-se na descoberta de como libertar o mundo da pobreza e opressão alarmante em que vive. Com certeza, a ética da solidariedade será o componente principal de qualquer solução: será o prenúncio da civilização do amor.

Moreira (1999) enfatiza que os conceitos éticos são extraídos da expe-riência e do conhecimento da humanidade. Baseado na lição de Henry R. Cheeseman (Contemporary Business Law, Prentice Halll, New Jersey, Estados Unidos da América, 1997), diz Moreira que “há pelo menos cinco teorias a respeito da formação dos conceitos éticos”, aos quais também denominam-se como preceitos, a saber:

a) teoria fundamentalista – propõe que os conceitos éticos sejam obtidos de uma fonte externa ao ser humano, a qual pode ser um livro (como a Bíblia), um conjunto de regras, ou até mesmo outro ser humano;

b) teoria utilitarista – sustentada nas idéias de Jeremy Bentham e John Stuart Mill, para os quais o conceito ético deve ser elaborado “no critério do maior bem para a sociedade como um todo”;

c) teoria kantiana – defendida por Emanuel Kant, propõe que o conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com princípios universais.

d) teoria contratualista – baseada nas idéias de John Locke e Jean Jacques Rousseau, parte do pressuposto de que o ser humano assumiu com seus semelhantes a obrigação de se comportar de acordo com as regras morais, para poder conviver em sociedade. Os conceitos éticos seriam extraídos, portanto, das regras morais que conduzissem à perpetuação da sociedade, da paz e da harmonia do grupo social;

e) teoria relativista – segundo a qual cada pessoa deveria decidir sobre o que é ou não ético, com base nas suas próprias convicções e na sua própria concepção sobre o bem e o mal. Assim sendo, o que é ético para um pode não o ser para outro.

Nessa esteira, advertimos para que os conceitos éticos levem em conta o estudo de todas as teorias citadas acima, entretanto, como já sabemos, não existem verdades absolutas ou exatas em matéria de ética, logo, a reflexão precisa ser permanente.

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Dessa forma, todo sistema que diminui a relevância da ética, tornando tal valor um desperdício, tende a não respaldar a reclamação da socieda-de. Conseqüentemente, torna o “estado” que produziu menos democrático, quando não totalitário, por conseguinte, sua duração se dá em tempo menor que os demais ordenamentos que a reconhecem.

Além de outros dispositivos constitucionais, cuja ética permeia, verifica-se no capítulo VII do título III da Constituição Federal (CF) de 1988, que ela se encontra de forma mais evidente, pois a necessidade da ética, no exercício da honrosa função de servir a sociedade, esse princípio se encontra dentre os mais importantes da Administração Pública, a saber: legalidade, impes-soalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Nessa ótica, na atividade empresarial, os princípios éticos que norteiam a Ordem Econômica e Financeira fundamentam-se na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa. Nesse sentido, reprimem o abuso do poder eco-nômico, incentivando a livre concorrência, dando tratamento preferencial às empresas de pequeno porte, proibindo a atuação do Estado na área especí-fica da iniciativa privada, a não ser em caráter excepcional, como segurança nacional ou relevante interesse coletivo.

O Parágrafo 4.º do artigo 173 da CF de 1988 estabelece as práticas que devem ser evitadas na exploração da atividade econômica, por ferir a Ética Empresarial, dispondo que: “a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.”

Arnold Wald apud Martins (1999, p. 198) exprime sobre a crescente im-portância da ética:

Evoluímos, assim, para uma sociedade em que alguns denominaram “pós-capitalista” e outros “neocapitalista” ou ainda “sociedade do saber”, caracterizada pela predominância do espírito empresarial e pelo exercício da função reguladora do direito. O Estado reduz-se a sua função de operador para tornar-se o catalisador das soluções, o regulador e o fiscal da aplicação da lei e a própria administração se desburocratiza. O espírito empresarial, por sua vez, cria parcerias que se substituem aos antigos conflitos de interesses que existiam, de modo latente ou ostensivo, entre empregados e empregadores, entre produtores e consumidores e entre o Poder Público e a iniciativa privada. A sociedade contemporânea apresenta um novo modelo para que a empresa possa progredir e o Estado evolua adequadamente, mediante a mobilização construtiva de todos os participantes, não só do plano político, pelo voto, mas também no campo econômico, mediante várias formas de parceria, com base na confiança e na lealdade que devem presidir as relações entre as partes.

Nesse contexto, notamos que a maioria das empresas está abandonando a organização hierarquizada utilizada por Taylor, Fayol e Ford para se apo-

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derar do mundo empresarial em que os valores são próprios, como inicia-tiva, responsabilidade, comunicação, transparência, qualidade, inovação e flexibilidade.

Assim, observa-se que várias empresas abandonam a estrutura originária, ou seja, cujo comando estava unicamente com os proprietários da empresa, para dar lugar a nova estratégia, oferecendo maior poder aos acionistas e empregados e até a própria sociedade civil.

Nessa ótica, as empresas passam a ter verdadeiros deveres, não só com os seus integrantes e acionistas, mas também com os seus consumidores, clientes e até com o meio ambiente.

A Lei 6.404/76, que disciplina as sociedades por ações, enumera de forma precisa e detalhada os deveres e responsabilidades dos administradores, com a função social da empresa. Orientando no sentido de que o adminis-trador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para conseguir os fins e o interesse da empresa, satisfeito as exigências do bem público e da função social da empresa (artigo 154).

É necessário ressaltar, que nos dias atuais no que tange à matéria con-tratual, não se aceita mais o tipo de comportamento do passado, ou seja, a prática comercial do dolus bonus, ao contrário, hoje o direito de contratação exige a completa boa fé, e, ainda, proporciona proteção, bem mais adequa-da, ao comerciante mais frágil.

Em relação à questão ambiental, ressaltamos o meio ambiente, que se transformou em um valor permanente para a sociedade, de forte conteúdo ético. Assim, protegê-lo tornou-se um imperativo para todos os habitantes do planeta Terra, exigindo que cada habitante se conscientize dessa grande ne-cessidade, requerendo esforço comum, em resposta aos desafios do futuro.

Exige-se, assim, que as empresas promovam o desenvolvimento susten-tável, conforme tem insistido a Câmara de Comércio Internacional.

Desse modo, preconiza Juan Chacon de Assis (MAXIMIANO, 1974, p. 104):

É preciso pensar e pensar rápido, com coragem e ousadia, numa nova ética para o desenvolvimento. Numa ética que transcenda a sociedade de mercadoria, da suposta generalização dos padrões de consumo dos países ricos para as sociedades periféricas – promessa irrealizável de certas correntes desenvolvimentistas do passado e dos neoliberais de hoje em dia. Tal promessa não passa de um jogo das contas de vidro, recheado de premissas falsas, devido a obstáculos políticos criados pelos países ricos (que brecam a generalização da riqueza) e as limitações impostas pela base de recursos naturais. Ou seja, as limitações ecológicas inviabilizam (devido ao efeito estufa, destruição

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da camada de ozônio, dilapidação das florestas tropicais etc.) a homogeneização para toda a humanidade dos padrões santuários do consumo.

Conforme reporta Denny (2001), atualmente, as grandes entidades finan-ceiras nacionais e estrangeiras só aprovam financiamentos para projetos que não afetem o meio ambiente.

Dentro desse contexto, é fundamental que a empresa adote os postulados éticos em suas relações. Logo, é necessário estabelecer as regras de conduta em um instrumento interno, ou seja, elaborar um Código de Ética que tenha a incumbência de “padronizar e formalizar o entendimento da organização empresarial em seus diversos relacionamentos e operações”. Acredita-se que evitaria que os julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação plena dos princípios, além de “poder constituir uma prova legal de determinação da administração da empresa, de seguir os preceitos nele refletidos.” (MOREIRA, 1999, p. 59).

Para Maximiano (1974, p. 294), “a interpretação de valores éticos pode ser absoluta ou relativa. A primeira baseia-se na premissa de que as normas de conduta são válidas em todas as situações, e a segunda, de que as normas dependem da situação.”

Para os orientais, no que tange a ética, os indivíduos precisam se dedicar inteiramente à empresa, assim como se constitui uma família, a qual perten-ce à vida de todos os trabalhadores. Já para os ocidentais, o entendimento é de que há diferença entre a vida pessoal e a vida profissional.

Assim, encerrado o horário normal do trabalho, o restante do tempo é do trabalhador, e não do patrão (MAXIMIANO, 1974).

Quanto à ética absoluta, parte-se do princípio de que determinadas con-dutas são, intrinsecamente, erradas ou certas, qualquer que seja a situação, e, dessa maneira, se apresentam e difundem como tal (MAXIMIANO, 1974).

Maximiano (1974) ressalta que um problema sério da ética absoluta é que a noção de certo e errado depende de opiniões. Cita como exemplo:

Os bancos suíços construíram uma reputação de confiabilidade com base na preservação do sigilo sobre suas contas secretas. Sob a perspectiva absoluta, para o banco, o correto é proteger a identidade e o patrimônio do cliente. Durante muito tempo, os bancos suíços foram admirados por essa ética, até ficar evidente que os clientes nem sempre eram respeitáveis. Traficantes de drogas, ditadores e nazistas haviam escondido nas famosas contas secretas muito dinheiro ganho de maneira ilícita. Os bancos continuaram insistindo em sua política, enquanto aumentavam as pressões internacionais, especialmente dos países interessados em rastrear a lavagem de dinheiro das drogas, ou recuperar o que

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havia sido roubado pelos ditadores e nazistas. Para as autoridades desses países, a ética absoluta dizia que o sigilo era intrinsecamente errado, uma vez que protegia dinheiro obtido de forma desonesta. Finalmente, as autoridades suíças concordaram em revelar a origem dos depósitos e iniciar negociações visando à devolução do dinheiro para os seus donos.

Premissas para a empresa ser éticaOurives (2007) esclarece que a maioria dos autores que estuda a ques-

tão da Ética Empresarial estabelece que o comportamento ético seja a única maneira de obter lucro com respaldo moral. A sociedade tem exigido que a empresa sempre batalhe pela ética nas relações com seus clientes, fornece-dores, competidores, empregados, governo e público em geral.

Denny (2001, p. 135) assevera que: “o comportamento ético dentro e fora da empresa permite às companhias inteligentes baratear os produtos, sem diminuir a qualidade e nem baixar os salários, porque uma cultura ética torna possível reduzir os custos de coordenação.”

Além dessas, outras razões podem ser invocadas como o não pagamento de subornos, compensações indevidas etc.

A empresa, ao agir com ética, estabelece normas de condutas, a fim de que seus dirigentes e empregados ajam com lealdade e dedicação.

Como expressa Moreira (1999, p. 31): “os procedimentos éticos facilitam e solidificam os laços de parceria empresarial, quer com clientes, com fornece-dores, quer, ainda, com sócios efetivos ou potenciais. Isso ocorre em função do respeito que um agente ético gera em seus parceiros.”

“A ética da empresa trata de mostrar, então, que optar por valores que humanizam é melhor para a empresa, entendida como um grupo humano, e para a sociedade em que ela opera.” (DENNY, 2001, p.135).

O mesmo autor dá continuidade, afirmando que a atividade empresarial não é só para ganhar dinheiro, mas é mais que um negócio: é antes de tudo um grupo humano que persegue um projeto, necessitando de um líder para levá-lo a cabo. Entretanto, precisa de um tempo para desenvolver todas as suas potencialidades. Logo, entendemos que a ética deve estar acima de tudo. Isso porque a empresa que age dentro dos postulados éticos aceitos pela sociedade só tende a prosperar; em contrapartida, quem não condiz

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com a mesma, predominando pela “esperteza e safadeza, dissuadem. O engano ensina ao cliente que basta uma vez. A falta de qualidade afunda a empresa.” (MOREIRA, 1999, p. 31).

Nesse sentido, percebemos que a questão ética vem se destacando em nosso país, sobretudo na última década. Entretanto, não só na esfera política, como também no campo empresarial, tendo em conta o porte de sua eco-nomia e em relação à opção estratégica adotada, ou seja, integrar o país em um mercado que se globaliza e exige relações profissionais e contratuais.

Notamos, então, a existência da cobrança cada vez maior por parte da sociedade, por transparência e honestidade, tanto no trato da coisa pública como no fornecimento de produtos e serviços ao mercado.

Para Ourives (2007), a legislação constitucional e a infraconstitucional têm possibilitado um acompanhamento mais rigoroso da matéria, permitin-do que os órgãos de fiscalização e a sociedade, em geral, adotem medidas judiciais necessárias para coibir os abusos cometidos pelas empresas.

Desse modo, é necessário que o mundo empresarial se conscientize cada vez mais de que a Ética Empresarial é imprescindível para o seu desenvolvi-mento e crescimento no campo dos negócios.

Ética e o capital humanoAfirmar que ética não é um conceito facilmente aplicável nas grandes

corporações é fidedigno. Isso porque o capital não consegue se multiplicar na velocidade que precisa, só se adotá-la como bandeira. Se assim o fizesse, a distribuição de renda seria diferente, as relações desumanas no trabalho teriam outra conotação, e os profissionais de valor seriam mais que um sim-ples número no quadro de empregados da organização (IÓRIO, 2004).

Notamos que todas as recomendações dos especialistas com as mais va-riadas teorias sobre a ética e o capital humano ressaltam que as empresas continuam fracassando abruptamente na condução dos negócios.

Isso é resultado do capital humano que nunca foi páreo para a ambição desmedida do lucro, cuja ambição ultrapassa os limites do razoável. A ética e o respeito aos indivíduos são literalmente derrubados pelo poder, que não conhece limites.

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Vários autores relatam sobre a necessidade de modificar as relações entre o capital e o trabalho, cujo objetivo é de proporcionar ambientes mais justos e fraternos, contudo, o abismo entre o discurso e a prática é incomensurável.

Um exemplo típico da imposição do poder é a sobrecarga de trabalho. A preferência pela diminuição da força de trabalho e a voracidade do capital pelo lucro em progressão geométrica eleva o custo social, sem pudor.

Iório (2004) ressalta que as empresas são feitas de pessoas, e as mesmas erram, porém, em uma sociedade extremamente competitiva, o mínimo erro torna-se imperdoável. Erros fazem parte do crescimento, mas no mundo corporativo atual, o erro será parte do crescimento em outra empresa, e não onde se cometeu o mesmo.

Sendo assim, não existe espaço para a redenção. O erro é a chance que as organizações esperam para descartar os indivíduos, a fim de elevar a produti-vidade e o lucro por empregado, importantes na divulgação dos resultados.

Devido às relações entre capital e trabalho serem absolutamente frias, conseqüentemente, as relações entre o administrador e os subordinados também o é. Isso acontece por ser mais cômodo exercer a pressão do que a liderança efetiva para se obter resultados.

As incertezas do mundo atual não permitem questionamentos nem espaço para diversidade, aliás, são poucos os líderes que conseguem convi-ver com as diferenças. Em princípio, estão voltados para o crescimento das organizações.

O mundo foi construído com base nas diferenças étnicas, religiosas e cul-turais. Diante de tal afirmação, Nelson Rodrigues afirmava que toda unanimi-dade é burra, mas poucos entendem essa máxima.

Por questão de sobrevivência, muitos profissionais se sujeitam a trabalhar em empresas de valores duvidosos, contrários às necessidades pessoais de cada um, cujo discurso vale apenas para a sociedade, e a ética restringe-se aos manuais da organização.

Não existe emprego ideal, mas existe trabalho ideal, caso contrário, o mundo seria cruel. O que nos leva para frente é a certeza de que existem pessoas de bem, apesar da nossa tendência inequívoca de pensar diferente.

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Parafraseando um dos executivos considerado dos mais sensatos no mundo profissional, afirma que “a ética é o freio da ambição”. Isso porque os seres humanos são capazes de coisas incríveis por dinheiro e poder, e, na maioria das vezes, a ambição é mais forte que a ética, para desespero dos menos favorecidos politicamente (MENDES, 2007).

Portanto, não se deve perder a esperança, jamais. As relações na vida pes-soal e profissional são difíceis, mas o mundo evolui rapidamente. Existem líderes, organizações sensatas e, portanto, os mesmos conseguem conciliar os interesses pois transcendem a ambição e o lucro, em nome daquilo que se convém chamar de ética, aliada ao respeito aos indivíduos.

Em razão de todo o exposto, Iório (2004, p. 1) afirma que precisamos con-fiar sempre na justiça divina, a despeito de toda falta de bom senso e tole-rância na face da Terra. Sendo assim, “deitar a cabeça no travesseiro com a sensação do dever cumprido, desprovido de culpas e mágoas, não é para homens comuns.”

Como diria Otto Lara Resende, devemos almejar firmemente a utopia, afinal, o mundo não precisa seguir permanentemente infeliz.

Nesse caso, os economistas formados nos últimos 50 anos, por influên-cia do importante livro de Irving Fischer (1910), em que o capital é definido como “todo e qualquer ativo que seja capaz de proporcionar um fluxo de rendimentos ao longo do tempo”, fizeram muitos empresários pensarem so-mente no lucro (MENDES 2007).

Assim sendo, a definição encampada pelos grandes teóricos da denomi-nada teoria do capital humano, como Theodore Schultz e Gary Becker, é a de que o capital pode ser desmembrado em três grandes blocos, a saber: o capital físico, o humano e o tecnológico, definidos, respectivamente, como o somatório dos investimentos em máquinas, equipamentos, construções e instalações, a soma do que se investiu em educação e saúde e os gastos aplicados em pesquisa.

A idéia é bastante simples: como o capital é um estoque, formado, portanto, por fluxos, o valor do capital corresponde ao valor descontado no tempo desses fluxos e, quanto mais intensos em quantidade, qualidade e melhor alocados forem esses gastos, maior a sua capacidade de gerar rendas durante a sua vida útil e, portanto, mais elevado é o valor do capital. Não é por outra razão, por exemplo, que um trabalhador com anos de estudo bem treinado, e bem nutrido, possui uma capacidade superior de auferir e de gerar rendimentos do que um outro sem estudo, sem treinamento e desnutrido. (IÓRIO, 2004, p. 5).

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Sob o ponto de vista estritamente econômico, portanto, a teoria do ca-pital humano permite-nos definir o próprio crescimento como um processo de acumulação generalizada de capital, ou seja, como uma sucessão inin-terrupta, ao longo do tempo, de investimentos em capital físico, humano e tecnológico, que produzirá o efeito de elevar a capacidade produtiva, ano após ano (SOUZA, 2005).

O mesmo autor afirma que existe uma quarta forma de capital, o moral, que não aparece nos artigos e livros especializados em teoria do crescimen-to econômico. Esta quarta dimensão do capital é desprezada, como um dos subprodutos do positivismo, pelas Ciências Sociais e pela maioria dos eco-nomistas. Contudo, tão ou mais importante que as tradicionais para expli-car porque muitas nações ou regiões conseguiram desenvolver suas eco-nomias, e outras não. Porém, não significa que é a única explicação, mas é importantíssima.

Dessa forma, explicar o que vem a ser o capital moral de uma sociedade que se resume em estoque de hábitos, tradições, usos, costumes, atitudes e ações, fruto da herança acumulada durante gerações na sociedade ociden-tal, do espírito que é a base de nossa civilização, e que o inestimável legado deixado pelo Antigo e pelo Novo Testamento, ainda, se encontra tão presen-tes nos dias atuais.

Mendes (2007) informa que é aquele conjunto de preceitos básicos que, em última instância, permite viver em sociedade, levando-nos a crer no res-peito e na solidariedade ao próximo. Assim sendo, é aceitável acatar os direi-tos consagrados pela lei natural, rejeitando os vícios como o da corrupção; acreditar que o trabalho duro é elemento edificante, no que diz respeito à nossa dignidade humana; a amar a vida antes e depois do nascimento e a ter espírito público.

As sociedades são formadas por três grandes sistemas: o da economia, o da política e o dos valores éticos e morais. Quando o último se vê ameaçado, sob intenso ataque, e os respeitos humanos aumentam, pelo medo às repre-sálias, o organismo social acaba sendo inteiramente contaminado.

Em síntese, a sociedade mundial está doente. Cabe aos que respeitam a tradição, lutar pela sua cura. Precisamos recuperar o estoque de capital moral, urgente, isto é, induzirmos a todos refletirem sobre a sua importância. Sem isso, o combate estará perdido.

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Dilemas éticos nas tomadas de decisõesÉ sabido que a discussão em torno do tema ética, nos mais diversos tipos

de profissão tem-se orientado, quer queiramos ou não, para a qualidade de vida enquanto pessoas, mas também enquanto profissionais, com repercus-sões no cotidiano subjetivo das organizações e objetivo das profissões.

Nesse sentido, o principal interesse reside na análise de alguns aspectos que se pensa serem significativos, dando especial ênfase à ética profissional e à importância que essa questão assume na construção de atitudes e com-portamentos profissionais das pessoas.

Assim, Argandoña Rámiz (1999, p. 59) concebe a questão da ética como “um fenômeno que parece estar na moda da política, da economia, da em-presa, da profissão, destacando que a ética está na moda pela falta de ética que observamos nesses campos. O autor dá conta de que produzir, competir e superar um mercado corrupto, com trabalhadores, competidores, direto-res, lutando com imoralidade, com vícios, não é tarefa fácil.”

Moreira (1996, p. 289) põe em destaque:

a importância de que a ética tem para a sociedade moderna e progressista. Por isso, não se surpreende que atitudes e comportamentos antiéticos ponham em jogo não só a qualidade, mas também uma sobrevivência sem reflexões sobre a ética no cotidiano da profissão moral, sem ética, sem valores, contribuindo para a instabilidade profissional e social.

Não é por acaso que as grandes épocas de reflexão sobre a ética foram grandes épocas de transição, em que se verificaram também a corrupção e a imoralidade. Atualmente, volta-se a falar da ética em todo o mundo pro-fissional, a fim de encontrar normas que inspirem o comportamento do ser humano, em geral, na sociedade; em particular, na empresa e na profissão que exerce.

Não se admira que a construção de uma ética na profissão envolva não só o trabalhador, a empresa, mas também a sociedade em seu conjunto. Para tal, é necessário inovar através de políticas que envolvam e confiram impor-tância a cada elemento, a cada pessoa, a cada trabalhador e sua contribuição para um objetivo pessoal, mas também comum.

De pouco servirão grandes estratégias se a coletividade não sentir uma consistência ética e moral nos procedimentos e comportamentos de cada

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indivíduo, sobretudo, daqueles que têm maior responsabilidade face às fun-ções e papéis que lhe são atribuídos.

Para Souza (2005), independentemente daquilo que se pense em relação à vivência da ética, temos de reconhecer que qualquer profissional que con-sidere os princípios éticos como o motor das suas escolhas, das suas ações e do seu agir, os resultados adquirem vivências, que moldam não só o com-portamento profissional, mas também conferem um modo de estar, que lhe proporciona uma forma diferente de entender o ser humano, alcançando uma salutar relação de grande qualidade, não apenas técnica, mas também humana.

Assim sendo, esta realidade assegura-lhe um conjunto de sinergias e êxitos que o levam a adquirir grande prazer naquilo que faz. Essa condição estende-se ao indivíduo, ao grupo profissional a que pertence, à empresa e ao bem comum da comunidade.

Os princípios éticos, quando relacionados com a profissão, não se limitam apenas ao bem pessoal, mas também ao envolvimento de todos os níveis organizacional, porque a profissão efetiva se faz com as pessoas, e não de qualquer outro modo, como, apenas, individual.

Nesta ordem de idéias, a coerência, o empenho, a verdade e a responsa-bilidade, individual e coletiva, têm sempre como objetivo integrar de forma harmoniosa os recursos humanos, técnicos e financeiros, de modo a otimizar os valores pessoais e sociais.

Para que aconteça o desenvolvimento integral do homem e das organi-zações, é fundamental que se reconheça ética, porque é ela a base de toda a atividade econômica (MEYNAUD, 1996).

Cabe aqui proceder à reflexão sobre a ética profissional, com o intuito de ter maior visibilidade a alguns pontos-chave que se apliquem com grande freqüência quando precisamos analisar ou opinar sobre os comportamen-tos profissionais, isto é, quando estão em jogo as responsabilidades pessoais com repercussões nas empresas e na comunidade.

Meynaud (1996) esclarece que embora a ética seja única, percebemos que as pessoas atuam profissionalmente em um emaranhado de relações, regras e costumes. Por isso, ser ético não é algo abstrato, uma vez que expõe a pessoa em situações concretas na empresa, segundo o papel e a função que desempenha.

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Uma das questões mais atuais é a fraqueza pessoal, devido às pressões empresariais e sociais serem tão fortes, a maioria das pessoas se comporta de forma pouco ética.

Nesse sentido, a questão da ética assume um papel fundamental no desempenho profissional. Portanto, todo profissional precisa ter consciên-cia de suas responsabilidades éticas, não ignorando que o profissionalismo é feito de comportamentos concretos, reais e humanos, fundamentado na prática da ética.

Por isso, os valores podem ser de satisfação, valores espirituais, culturais, de utilidade pessoal e social. Podem ser valores éticos de que só as pessoas são portadoras, que têm suportes reais, objetivos, com caráter de exigência imperativa e são universais (AVILA, 1969).

Assim sendo, os valores constituem normas ou critérios que afetam esfe-ras da atividade e da conduta humana. Portanto, têm um caráter normativo, oriundo das leis essenciais do ser, cujos valores não são metas e objetivos, no entanto, influenciam o indivíduo ou o grupo na escolha das suas decisões, conferindo um preço a determinados atos ou idéias.

Uma das principais características da ética assinaladas por Rego, Moreira e Sarrico (2003) é que não podemos ignorar o fato de a ética ser sempre o centro à pessoa humana, na sua dignidade e igualdade, no seu direito à realização e à felicidade, na sua vocação comunitária, que lhe dá o direito e o dever de ser protagonista no aperfeiçoamento da sociedade em que se insere.

Assim sendo, cada profissão abrange um estatuto, a fim de que todos se liguem mais ou menos no prestígio e no poder. Dessa forma, posições que se podem caracterizar com efeitos positivos, quando há um comportamen-to adequado, ou, pelo contrário, negativos, quando o prestígio e o poder são utilizados para fins pouco éticos e transparentes, trazendo problemas que a curto prazo afetam a empresa ou a organização e, a médio prazo, o próprio indivíduo que transgride, através das atitudes e comportamentos não-éticos.

Em sentido restrito, a profissão é um ofício que desfruta de condições de exercício prestigioso a todos os níveis na sociedade. O modelo das profissões liberais precisa ser exemplo dos mais clássicos. Essa distinção baseia-se mais em uma divisão acentuada entre trabalho manual e trabalho intelectual, que

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é posta em causa por certas formas de divisão do trabalho, caracterizadas pelos critérios de responsabilidade e condenação a todos os níveis do pro-cesso de produção (KENNETH, 1993).

Posto isso, a essência da profissão é constituída pelo exercício de um tipo de trabalho específico, que integra fundamentalmente um posto de traba-lho e uma função, onde é ditado certo comportamento ético específico para o desempenho daquele trabalho. Por conseguinte, há uma relação muito forte entre a ética e a profissão.

O trabalho abrange todas ou quase todas as atividades humanas; é uma atividade orientada para um fim, que exige compromisso, esforço e doação. Nas palavras de Reimão (2002), “o trabalho tem implicação no sistema eco-nômico e social, sendo percebido como uma ocupação individual que cada um desempenha na comunidade.”

Assim, o trabalho é importante para o indivíduo ou para a comunidade. O trabalho é um lugar, uma posição que corresponde a um papel fixado que comportam ordens, instruções em relação à colocação atribuída ou escolhi-da. Por um lado, o posto de trabalho relaciona-se com as tarefas, os objeti-vos em relação à organização interna ou à estrutura do sistema. Por outro lado, em qualquer profissão existe um objetivo a atingir, cuja realização dos postos de trabalho contribuem. Para tal, é preciso identificar as funções que o posto desempenha em um conjunto específico mais amplo para se atingi-rem os objetivos da respectiva profissão.

Nesse domínio, a ética desenvolveu-se a partir de um conjunto de pre-ceitos que regem os julgamentos, as ações e as atitudes no contexto de uma teoria elaborada a partir de normas que servem de guia para distinguir os comportamentos humanos bons dos maus. Assim, como de um sistema de valores, segundo o qual os efeitos desses comportamentos sejam também julgados bons ou maus, na profissão.

É por isso que a ética tem por base o critério do maior bem para a pessoa e para a sociedade como um todo. O ser humano tem um compromisso com os seus semelhantes, conduzindo à harmonia do grupo profissional. A ética na profissão incorre em uma prática de compensações que facilitam e soli-dificam os laços que são de valor incalculável para a pessoa que a pratica, e para a empresa onde exerce a profissão.

A prática da ética na profissão insere-se no rol dos deveres relativos à res-ponsabilidade que cada um tem no seu trabalho. A ética não é enganosa

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nem abusiva, não induz ao erro. Por isso, ferir a ética significa violar a lei dos deveres profissionais, não cumprir os compromissos assumidos por escrito ou verbalmente para com a profissão.

Portanto, a necessidade de agir em conformidade com a ética diz respeito a cada indivíduo, a cada grupo profissional com características específicas e aos grupos na sociedade em geral (VAZQUEZ, 1996, p. 1).

Desse modo, Vazquez (1996, p. 125) profere

opção por uma ética na profissão não deriva, nem pode derivar, consciente ou inconscientemente, de uma situação de vazio que é preciso preencher. Pelo contrário, ela deve derivar de uma vontade e autêntica conformidade entre pensamento e comportamento profissional.

Não será autêntica a nenhuma pessoa pensar de um modo e agir de outro. Essa consciência está essencialmente ligada à capacidade de relação objetiva do sujeito entre o que pensa e o que decide fazer. Isso é questão de coerência e de justiça. “A ética é o que de mais justo existe.” (MEGALE, 1989, p. 169).

Daqui resulta, fundamentalmente quem assume a profissão na sua es-sência ética, adquire experiências ativas, relacionando cada uma consigo mesma, com todo o seu eu, crescendo na profissão e nas relações profissio-nais, garantindo uma identidade que lhe é própria e uma contínua estabili-dade profissional.

Por conseguinte, o equilíbrio fundamental está em desempenhar uma profissão em nome da verdade, do entusiasmo, de pretensões positivas, au-sentando indiferenças, acomodamentos que se tornam prejudiciais para si, para a própria profissão e, sem dúvida, para o ambiente de trabalho.

Como refere Lima (1999, p. 59): “a ética é infinita”. Detenhamo-nos, então, um pouco mais no papel da ética na profissão.

A ética profissional insere-se na ética social, ou seja, na ciência das normas relativas à atuação moral, ordenada dentro das normas dos quadros sociais. Difere da ética individual ou ciência relativa às normas de ação individual como tal. A profissão exige determinados comportamentos que se dirigem por normas específicas.

Moreira (1999, p. 67), ao discutir a introdução, ou não, de um código ético nas empresas, diz que:

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a imposição de códigos de conduta só por si seria inútil, não garante que as empresas sejam éticas; isso só se consegue se as pessoas que as integram forem íntegras, ou seja, possuidoras das virtudes morais [...] julgamos as empresas e os seus responsáveis pelas suas ações, não por piedosas declarações de intenções.

Essa problemática prende-se com a própria natureza da concepção de ética, entendida como podemos acentuar na reconstituição de conjuntos, de preceitos e leis que regem as ações e as atitudes no âmbito da moralidade.

No fundo, trata-se de normas que servem de guia para distinguir os com-portamentos bons ou maus de um sistema de valores, a partir do qual os efei-tos desses comportamentos em geral são também julgados bons ou maus, em particular os comportamentos que se relacionam com a profissão.

Existe uma exigência que passa por uma conformação com a ética, que diz respeito não só à pessoa, mas a cada um dos grupos da sociedade, nos quais os indivíduos estão incluídos profissional e socialmente. Segundo Moreira (1999, p. 69), “um profissional pode ser perigosíssimo se o seu nível ético, por desconhecimento ou má fé, for reduzido.”

Assim sendo, a ética coloca-nos face à existência de uma relação de con-vergência entre as próprias escolhas na profissão, que envolvem todo o nosso ser, mente e ação, provocando um dinamismo de concentração po-sitiva incontornável entre a ética e a profissão. Por isso, a ética e a profis-são, duas palavras que se entrecruzam na vida profissional, sublinham por um lado uma grande liberdade de consciência

e, por outro, a construção da

identidade pessoal, para vir a ser o objeto reconhecido e refletido no exercí-cio da profissão.

Ora, a ética não se prende apenas com a competência requerida para o exercício e desempenho da profissão, há objetivos, inerências profundas, que assentam em dimensões valorativas, de responsabilidade, requeridas para o perfil profissional. É que, às vezes, pensa-se que os conhecimentos superam o conjunto completo das ações realizadas, da finalidade, da relação entre as pessoas que integram a organização.

Um dos dilemas éticos na profissão é a responsabilidade nas relações laborais, por isso não se admira que os autores Kitson e Camppbell (1996, p. 238) acentuem a importância da ética ao apontarem-na como “um instru-mento de ancoragem nas organizações.”

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Assim sendo, é imprescindível a percepção de conjunto e da coerência entre pensamento e comportamento ético para a realização do objetivo organizacional.

Para Reimão (2002, p. 3), “As relações no exercício profissional e na vida, em geral, dependem da extensão em que o indivíduo encontra saídas adequa-das para as suas aptidões, interesses, traços de personalidade e valores [...]” e continua, mais adiante: “na gestão participativa há muito mais confiança no grupo de trabalho nas tomadas de decisão [...] o que conduz ao envolvi-mento na organização.”

Percebemos que o desempenho, o envolvimento na organização e a ação profissional só são realizáveis e satisfatórias para o conjunto organizacional se cada indivíduo se munir de uma ética pessoal com repercussões diretas na própria profissão e indiretas na organização.

Sendo assim, Kitson e Camppbell (1996, p. 225) afirmam que

a prática profissional em todos os tipos de desenvolvimento da profissão exige, cotidiana-mente, tomada de decisão ética e moral. A conduta humana e moral nas organizações é questão de ética profissional e passa pela honestidade dos seus elementos.

Mesmo sabendo que os dilemas éticos aumentam de complexidade, à medida que a ciência e os conhecimentos intervêm no desempenho da pro-fissão, envolvendo relações diretas com os seres humanos e com a socieda-de, cada vez mais exigente, torna-se urgente tecer considerações que impli-quem sempre compromissos com os direitos humanos.

Nessa ótica, ressaltamos o quanto o ambiente de trabalho do indivíduo afeta o seu desenvolvimento, se os princípios éticos não estiverem presen-tes, o trabalho revelar-se-á, com efeito, muito pouco eficaz. Isso quer dizer que não podemos ignorar as responsabilidades que temos na profissão, seja ela de que tipo for, independente ou dependente, liberal ou outra.

Cada vez mais, as empresas de diversos setores reconhecem que o debate sobre a ética é uma oportunidade para que as organizações empresariais levem cabo os seus negócios, tendo como objetivo competir com êxito dentro de uma economia global concorrida e complexa (TIERNEY, 1999). Isso porque as empresas não existem sem pessoas, e são elas que as valorizam e dignificam.

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Em síntese, podemos dizer que qualquer profissão levanta questões morais e éticas, que podem ser favoráveis ou desfavoráveis no grupo, bene-ficiando ou lesando os direitos fundamentais das pessoas.

A ética expõe problemas que decorrem das exigências morais que podem entrar em conflito entre as pessoas nas organizações. Existe certo limite que todo e qualquer profissional não deve ultrapassar. Por exemplo: o desres-peito pelas pessoas, pelo direito de viver digna e humanamente, causando prejuízos aos demais, pois é imoral e eticamente inaceitável para as relações na profissão.

Em suma, as exigências da ética envolvem comportamentos que se radi-cam necessariamente na moralidade e nos valores. Muitos dos problemas fluem diretamente da ausência de valores e de princípios morais em que certos comportamentos são inaceitáveis.

É assim que as exigências da ética na profissão assentam sobre qualida-des atitudinais e valorativas, que resultam da responsabilidade, honestida-de, autenticidade e do sentido de justiça. Essas e muitas outras caracterís-ticas da ética permitem certos comportamentos, padrões de conduta, que fundamentam as escolhas das relações profissionais.

Finalmente, podemos evidenciar que a consistência da ética na profissão radica essencialmente na consciência e se concretiza nos critérios da justiça. Não é por acaso que a crescente atenção em relação aos temas da ética é, sobretudo, alimentada por problemas concretos de “justiça”, propostos pelas formas de experiências com referência à ética dos negócios e das profissões (KENNETH; PEALE, 1993).

Uma ética profissional, de tal gênero, contribui para o desenvolvimen-to da própria consciência “moral” do profissional; daquela consciência que exige dele, não apenas lesar os direitos dos outros, mas viver o próprio em-penhamento profissional, importante para a própria vida pessoal (KENNETH; PEALE, 1993).

É óbvio que a profissão de uma pessoa, mesmo qualificada, atualizada, não é suficiente. São necessárias regras éticas para viver de modo objetivo e se afirmar na profissão com a sua própria condição humana.

Hoje, precisamos de personalidades fortes e honestas em todos os cam-pos da vida social, econômica, política etc., personalidades com ética. Muitas pessoas estão à altura de responder quando as necessidades do sucesso se

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impõem, quando recebem estímulos para agir em um sério ethos profissio-nal e social.

Porém, alguns, esvaziam a nossa inteligência, nos esmagam através de processos inaceitáveis. A coragem, a força dos valores mais altos, leva-nos a perseverar, a ir à procura daquilo que nos eleva, e não daquilo que nos diminui. Agir em conformidade com os valores é essencial. Procurar uma an-coragem forte, segura e sólida, em uma consciência que não se deixa mano-brar por influências nada saudáveis nem gratificantes para o desempenho da profissão é fundamental.

Nesse sentido, nas tomadas de decisões, todo profissional precisa alçar a ética como referência à dignidade humana, que muitas vezes vem mani-pulada, fazendo com que a pessoa perca sua identidade pessoal e social. Por isso, é preciso uma orientação que se abra em princípios potencialmente positivos no que diz respeito à conscientização e sensibilidade, essenciais na profissão.

A questão da ética profissional é um fenômeno que precisa levar à inte-riorização de um conjunto de valores morais e sociais que disciplinam e pa-dronizam os comportamentos das pessoas nas organizações. Mas, por outro lado, leva à interiorização de um conjunto de expectativas racionais que im-plicam em contrapartidas padronizadas em um sistema de recompensas e de status.

Se pensarmos que a grande maioria dos membros de uma empresa passam suas vidas nos locais de trabalho, nessas condições, não é possível continuar a omitir comportamentos éticos como uma realidade que está fora da empresa. O seu caminho será de trilhar de forma saudável e perseve-rar nelas. Pautando sempre por uma linha de rigor, de verdade e de justiça, e não o contrário, embora por vezes os combates se tornem difíceis de gerir.

Mas, para separar muitas atitudes comportamentais não-éticas na profis-são, se faz importante o empenho de todos, não se pode pretender que um simples funcionário imprima à sua profissão valores morais e éticos, quando quem tem o poder não altera o seu comportamento menos ético.

É difícil, se não reconhecer o trabalho como mérito e a empresa não dispor de diversos meios para encorajar e favorecer as posições éticas e morais dos seus elementos. É importante criar na empresa um tipo de envolvimento

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que favoreça as tomadas de decisão ética e uma boa moral. Isso só será pos-sível quando todos adotarem condutas honestas, ouvir a voz da consciência e não se vender a qualquer preço.

Como refere Kenneth e Peale (1993, p. 90-91), “Os dirigentes devem criar um envolvimento positivo fundado sobre valores [...]. Exigem-se chefes com princípios éticos elevados.”

“A ética do líder da autoridade é importante para a qualidade da organi-zação.” (AGUILAR, 1994, p.117).

Não podemos deixar de levar em conta a necessidade de que quem domina os grupos profissionais abdique de certas prerrogativas e não faça presidir às suas estratégias, objetivos pessoais e irresponsabilidades, esque-cendo a empresa, as pessoas, os valores, os princípios e os critérios de rigor na aplicação das normas.

Acreditamos que somente a partir da convivência pela motivação profis-sional será conseguida não só para si próprio, mas também com melhores resultados para a organização. De fato, a ausência de motivação é uma rup-tura entre o indivíduo e a sua profissão. O trabalho não pode ser afetado, pondo em causa a identidade e a consciência do trabalhador, não lhe pro-porcionando satisfação.

A ética incita as pessoas a continuar em uma tenacidade, e até teimosia, permanente e duradoura, porque ela é muito útil, universal e, por isso, é pre-cioso para o desenvolvimento, crescimento e bem das pessoas, logo, não se deve desperdiçá-la ou deixá-la de fora.

Só assim, pela compreensão, concomitantemente, da ética e da profissão juntas, cada vez mais se reconhece que são altamente úteis as relações entre si, por isso andam sempre de mãos dadas (MOREIRA, 1999). Portanto, a ética é uma exigência do ser humano, porque ensina como passar do ser ao dever ser na profissão, do homem como é, ao homem como deve ser.

Na verdade, hoje, no mundo profissional, a condução da empresa funda-da em valores morais tem a ética como o primeiro elemento de qualidade de vida e do sucesso da empresa. Quando as pessoas se sentem maltrata-das, perdem todo o respeito para com a empresa e todos se saturam do seu trabalho, revelando-se o desinteresse, a falta de motivação, o que torna a empresa pouco eficiente e eficaz.

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Desse modo, compreende-se que é preciso continuar perseverante, man-ter-se igual a si mesmo, firme e invariável, seja qual for a posição que se tem na profissão, na empresa, num dado momento.

Para concluir esse ponto, sobre a perseverança na ética, não resistimos a corroborar com as palavras de Winston Churchill, retiradas da obra de Ken-neth e Peale (1993, p. 59-60), ao referirem-se a um dos cinco princípios da ética, a persistência:

Nunca me hei de esquecer do discurso que Winston Churchill fez, já no fim da vida, na escola preparatória que tinha freqüentado na Inglaterra. O diretor disse aos alunos: Este é um momento histórico. Winston Churchill é o maior orador de língua inglesa. Tomem nota de tudo o que ele disser. Vai fazer um discurso inesquecível. Quando se preparava para fazer o discurso, Churchill espreitou por cima dos óculos e disse: Nunca! Nunca! Nunca! Nunca desistam!

Certamente, não será em vão alertar que vivemos demasiado virados para nós próprios, obcecados por um “eu” que cultivamos em nossa vida, nas ações, o conceito esvaziado de verdade e de responsabilidade.

Notamos no dia-a-dia da maioria dos seres humanos, se alimentando do que vende, do que é bem pago, do que é mais fácil, ou seja, as premissas em destaque são o egoísmo e o individualismo, empobrecendo e defraudando os interesses da ética profissional. Atualmente, o significado do interesse comum, a empresa, a organização e a profissão muitas vezes são deixadas de lado, a fim de tirar partido em proveito próprio, sem se preocupar com o que isso possa representar para os demais.

No entanto, trata-se de um egoísmo bastante refinado, inadmissível, so-bretudo para os princípios básicos que fundamentam a profissão. Esse sen-timento indica que o homem é egoísta, superando a ética humana e esque-cendo com muita freqüência do dever ser, e não apenas do dever ter. É por isso que muitas vezes, por certas conveniências, o indivíduo passa ao lado da ética na profissão, abandonando valores fundamentais (ALBERONI, 1994).

Nas sociedades de hoje prevalecem o consumismo, o individualismo, a competitividade desonesta, o poder e o utilitarismo, em que se pensa no poder, na riqueza pessoal; por tudo isso expressado, percebemos o quanto a questão da ética na profissão é cada vez mais atual, mas também geradora de conflitos, pelo que não admira que um grande número de pessoas nas diversas áreas do saber – ciências médicas, teológicas, sociais e humanas – se dediquem à importância que a ética tem na dinâmica e ação laboral e em-presarial (VAZQUEZ, 1996).

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Não seria inoportuno interrogarmo-nos como é posta em prática a ética na profissão, pois, se não a exercitamos, definha-se, morre e esquecemo-nos que ela existe.

Muitas vezes, somos nós próprios, na nossa profissão, a furtarmo-nos a um bem tão precioso como é a ética no relacionamento com os outros. Con-tabilizamos as nossas expectativas sempre no intuito de obter ou reaver, sem qualquer forma desinteressada, o bem próprio. Cultivamos certo padrão de importância e pretendemos um trato especial, pensamos que a ética é um papel a executar, não por nós, mas pelos outros.

Geralmente é isso que acontece, mas de forma tão disfarçada que nem tomamos verdadeira consciência quando recorremos a subterfúgios para justificar e sutilizar a ética praticada na profissão, por nós mesmos. Esta apa-rece desmedida, destituída de códigos éticos e morais, porque se usam pre-textos que refletem atenção excessiva à própria pessoa, predominando os interesses pessoais.

Assim sendo, toda pessoa habituada a mentir na família e aos seus amigos, dificilmente será sincero na vida profissional. Muitas vezes, para ganhar di-nheiro, para conquistar poder, a pessoa está disposta a falsificar documen-tos, a faltar à palavra dada e provavelmente a praticar muitas outras irregula-ridades com o mesmo fim. Esses comportamentos, para atingir os fins, sem olhar aos meios, são reprováveis pela prática da ética.

Assim, passar ao lado da ética é patrimônio dos negócios, das empresas, das profissões e das pessoas para se obterem benefícios próprios.

Os dias atuais nos levam a viver em um ambiente competitivo, em uma aldeia global, por isso, temos que refletir e reconhecer os conflitos éticos como realidade nas organizações, mas que trazem implicações piores nas decisões e nos resultados (CORTINA, 1994).

A cultura nas organizações, muitas vezes, é demasiadamente resistente, como evidencia Drummond e Bain (1994, p. 39): “a conexão entre ética e cul-tura na organização está em crise”. Na verdade, a mudança cultural é essen-cial, mas muito difícil de realizar, no que diz respeito à moral e à ética.

Não tenhamos dúvidas que as empresas de sucesso são, de fato, aquelas nas quais se pratica uma moral excelente, ou seja, as que fazem mudança, em nível de comportamentos éticos, tirando vantagem em relação às que continuam incapazes de adaptação à mudança.

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Diversas influências podem, assim, afetar a ética, porque pressões podem colocar as necessidades acima de outras.

Como nos refere Tierney (1999, p. 3): “todos estamos sujeitos ao escrutínio público. Ninguém gosta de ser exposto, pondo em perigo o bom nome, ou a reputação, [...] perdendo benefícios.”

Há muitas pessoas cuja conduta é pouco ética, porque olham à sua volta e observam como muitos outros se saíram durante muitos anos. Vazquez (1996, p. 85) anuncia que “muitos citam com freqüência exemplos de com-portamentos detestáveis que conduzem ao êxito [...] de igual forma, aque-les que tiveram êxito utilizando práticas pouco éticas podem também sair impunes.”

As relações constroem-se sobre convicções, na credibilidade de parte a parte, quando se acredita que se diz a verdade e se assumem compromissos.

Claro que as experiências negativas, por questões éticas, na carreira de uma pessoa, podem ter intervenções futuras. A auto-estima diminui e ficam comprometidas novas relações e a insegurança manifesta-se nas relações de trabalho.

Há de se fazer aqui um parêntese para relatar o seguinte: o bom nome da empresa ou a suspeita de uma atuação incorreta, como a falta de ética, pode levar situações pouco benéficas, em muitos casos, irrecuperáveis.

Desse modo, os comportamentos éticos são oportunidades tanto para o trabalhador como para a própria instituição onde se trabalha. É por isso que nessa linha de pensamento, a confiança, a colaboração, a verdade e as responsabilidades mútuas permitem o êxito do trabalhador e da instituição no seu conjunto.

Percebemos que todos os recursos humanos da empresa têm papel de-cisivo, por isso é bom saber aproveitar as suas potencialidades, firmados em valores e princípios éticos no trabalho.

Devemos aceitar a condição dos outros com os quais trabalhamos, pois todas as atividades envolvem seres humanos e interações humanas, portan-to o respeito mútuo é condição que leva a profundas implicações na forma como desempenhamos o nosso papel na profissão.

Cada pessoa é um indivíduo único, logo, o caráter afeta a forma como o indivíduo se comporta eticamente na profissão. Por isso, a ética questiona-

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nos acerca dos compromissos assumidos na profissão, na empresa e na so-ciedade. Obviamente, teremos que refletir sobre essas questões e tirar as res-pectivas conclusões.

Em síntese, na prática de uma ética moral na vida profissional, todos co-lherão os seus frutos, porque quando as pessoas se vêem privadas de refe-rências surgem comportamentos ou condutas associais ou a “anomia”, como profere Émile Durkheim.

Ampliando seus conhecimentos

Reflexões sobre ética na Administração

A ética, a informação e a mídia

Fala-se muito hoje em dia sobre ética. Ética na política, ética no esporte, ética nas profissões e ética nas relações sociais. Fala-se tanto, a ponto de ba-nalizarem seus conceitos. A mídia, através dos meios de comunicação, não se farta de apresentar e incentivar debates sobre temas polêmicos que envolvam padrões de comportamento, conceitos e modos de vida de uma sociedade, ex-plorando, às vezes de maneira banal, fatos isolados, e obtendo, daí, preciosos dividendos. O poder da comunicação de massa materializa o “toque de Midas”, em um “toque de mídia”.

Os diversos veículos de comunicação, a todo o momento nos colocam em contato com acontecimentos inusitados da vida brasileira, alguns recheados de sensacionalismo, e que num dado momento acabam se transformando em fenômeno social, dada a exploração massificada de episódios da vida real pre-sentes no cotidiano de pessoas comuns.

O “caso Pedrinho” (o garoto roubado de uma família de classe média, numa maternidade em Brasília), por exemplo, poderia ter passado despercebido por todos. Afinal, seria mais um caso de criança desaparecida em maternidades no Brasil, como tantos que existem. No entanto, os meios de comunicação, a pretexto de fazerem jornalismo, usaram e abusaram da imagem do menino de rosto bonito. Focadas no senso comum, as pessoas condenaram veemen-temente o comportamento ético da mãe adotiva. Acendeu-se, assim, o esto-pim para novas investigações e novas descobertas em torno do assunto e, a

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vida daquela mulher se transformou, convertendo-a na mais terrível de todas as vilãs.

Diariamente, centenas de crianças são abandonadas pelas mães que, não tendo como cuidar de seus filhos, devido às dificuldades econômicas e sociais, deixam seus bebês renegados à própria sorte, nas calçadas, nas portas das casas, em latões de lixo. Muitas dessas mães são adolescentes, solteiras, sem trabalho: algumas dependentes de drogas. Vez ou outra, os meios de comu-nicação também exploram destes dramas, cujo final não é tão feliz quanto a história do menino Pedrinho, que após conhecer seus verdadeiros pais, tem agora a chance de iniciar uma nova vida e compartilhar ao lado deles, novas experiências.

Nas empresas, falências fraudulentas, falcatruas, sonegação, contrabando, irregularidades diversas, posturas antiéticas, entre outros, também repercu-tem e são mais ou menos explorados, ao gosto da mídia, preservando ou não os interesses das partes envolvidas. O crime organizado, a corrupção e a fome robustecem as pautas dos telejornais, que são preparados com todo o “cuida-do”, ou com o sensacionalismo peculiar, para prender a atenção dos expectado-res e elevar os picos de audiência.

Escândalos religiosos, crimes passionais, assassinatos e tantos outros dra-mas povoam jornais, revistas, rádios e TV; sem contar a internet, onde em geral a informação é mais importante que a fonte que a gerou. A vida de pessoas comuns transforma-se em um jogo real e às vezes inescrupuloso. Intimidades desveladas, privacidade ultrajada e muita gente querendo aparecer, fazem o “show da vida real”. Isso é fantástico.

Em nossa opinião, ética está ligada a atitude. Está relacionada com a aceita-ção pelo outro, de determinadas ações praticadas por um indivíduo ou grupos de indivíduos. A aceitação plena de outro parece-me algo utópico em socieda-des tão desiguais.

As guerras são o grande exemplo. Elas estão aí, como sempre estiveram, impregnadas nas mentes, corações e ações de pessoas inescrupulosas e prepo-tentes, que se acham donas da verdade, ignorando as diferenças, desrespeitan-do todos os princípios éticos que devem prevalecer nas relações entre povos. Existiria guerra ética? Fazem parte da história, as guerras santas. A guerra no Iraque, no Afeganistão, os ataques de 11 de setembro, entre outros episódios trágicos da história contemporânea, se fundamentaram em ideais, cujo propó-sito, ora religioso, ora econômico, garantia a paz. Que paz?

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Estamos assistindo no Brasil, país considerado pacífico, a várias “guerras”. A mídia divulga a todo o momento os números de guerra contra a fome, a injus-tiça social, o desemprego, o narcotráfico, a violência, entre outras. Talvez essas sejam guerras éticas. Várias guerras, que a meu ver são contra um mesmo inimi-go, oculto, perigoso e que às vezes se esconde em cada um de nós, fantasiado de hipocrisia, desamor e cobiça.

A ética nas organizações

Nas organizações, a grande competitividade coloca as pessoas em bata-lhas sem fim, disputando fatias de mercado, disputando posições de destaque dentro das empresas e fora delas. Na busca desenfreada pelo conhecimento, manutenção do status, prestígio, lucratividade e poder, muitas vezes a ética é deixada de lado. É a guerra da sobrevivência patrocinada pelo mercado.

Nesse cenário mercadológico, conciliar interesse pessoal com objetivos comuns, por vezes, exige do administrador um comportamento, sobretudo, ético, de respeito ao próximo, respeito à concorrência, ao cliente, às leis etc. Aí está o grande desafio do administrador. No entanto, há ética na Administração? O que é administrar? Qual é o objetivo da Administração? Há ética nas orga-nizações? Há ética no ensino da Administração? Em que momento somos ou deixamos de ser éticos, na sociedade moderna? Há ética na globalização?

Agir de forma proativa em prol dos interesses organizacionais, priorizá-los em detrimento das questões individuais e ao mesmo tempo ser honesto, res-peitar os clientes, a concorrência, ser cumpridor das leis e saber valorizar as pessoas são palavras de ordem nos Códigos de Ética das organizações. Quanto a ser e manter-se ético diante das circunstâncias, vai depender de cada indiví-duo, de cada administrador.

Entendo que o administrador, em seu processo de formação, é brindado com uma série de saberes sociológicos, filosóficos e humanos, que o creden-ciam a agir de maneira ética no exercício da profissão. Cabe ressaltar que as regras são postas e impostas pelo mercado, qualquer que seja o mercado. Ser fiel aos princípios de vida em sociedade, respeitar as opiniões divergentes, ser leal aos objetivos organizacionais, ser coerente e ter a consciência de que é preciso estar sempre procurando aprender mais.

O administrador, dentro e fora das organizações, deve ter perseverança e lutar pelo seu futuro e de sua família, fazendo sua parte enquanto cidadão para

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que tenhamos um mundo melhor, mais justo, onde todos tenham oportunida-des. É necessário, em minha opinião, que o administrador tenha sensibilidade e equilíbrio no momento de tomar decisões, e que trabalhe em prol de resulta-dos positivos para as organizações, sem esquecer que elas fazem parte de um sistema aberto; portanto não são um fim em si mesma. O administrador não pode se dar ao luxo de desconsiderar tais premissas.

O papel da escola

Vejo que as escolas, principalmente as instituições de nível superior, que têm o propósito de formar profissionais para o mercado de trabalho são fun-damentais nesse processo. Práticas pedagógicas e atitudes profissionais res-ponsáveis e coerentes com o que é ensinado são elementos facilitadores para a internalização de princípios éticos pelos acadêmicos.

Tenho acompanhado com certa preocupação a banalização do Ensino Supe-rior e sua mercantilização. A democratização do acesso ao Ensino Superior traz em seu bojo algo de perverso. Colocar à disposição do mercado pessoas com formação universitária, sem, no entanto, prepará-las para enfrentar a concor-rência, sem desenvolver nenhum programa de encaminhamento dessas pes-soas para o mercado de trabalho é adotar a política do “salve-se quem puder”. É contribuir para a formação de uma nova categoria de desempregados. O “de-sempregado intelectual”, ou “intelectualizado”.

Deve-se considerar que novos modelos de organizações estão surgindo na era do conhecimento, e os acadêmicos precisam estar cientes disso. Estará à espera dos novos profissionais um mercado disputadíssimo e volátil voltado para resultados. As palavras de ordem serão: competência, ambição, poder, profissionalismo, dinamismo, sucesso, garra, suspensão etc. Ou seja, “terás de matar um leão a cada dia”. O diferencial vai depender de cada um. Cada qual lutando e buscando seu espaço.

Muito do que se aprende sobre princípios e técnicas para uma boa Adminis-tração estão presentes nos livros estrangeiros, onde relatam casos de empresas de sucesso (grandes corporações) e seus modelos administrativos. A partir daí, a infinidade de bibliografias vai se somando, formando conceitos e padrões para uma boa Administração e fazendo da ciência da administração algo mera-mente mecanicista, ou melhor, um “livro de receitas”.

Muitas publicações brasileiras ligadas à administração de empresas são me-

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ramente repetidoras dos modelos teóricos importados, sem muita identifica-ção com a realidade da maioria das empresas brasileiras. Surgem os “gurus”, que vão se tornando cada vez mais populares, vendendo “fórmulas de sucesso”, a quem interessar possa.

Desenvolver nos estudantes uma mentalidade crítica, empreendedora, pro-ativa, focada em Responsabilidade Social é a sublime missão das instituições de ensino compromissadas com a educação. Só assim será possível continuar idealizando um perfil de profissional, que seja considerado ético e que saiba conduzir as organizações para os resultados pretendidos, mas, promovendo o equilíbrio, a justiça social e agindo em prol da melhoria das condições de vida das pessoas: cumprindo as leis e respeitando a natureza, o meio ambiente e, sobretudo, reconhecendo as diferenças individuais de cada ser humano.

(Orlando Barbosa Rodrigues, administrador de empresas, economiário, professor

universitário, Mestre em Ciências da Educação pela UCG.)

Atividades de aplicação1. Raphael é responsável em realizar entrevistas para selecionar candida-

tos para a empresa em que trabalha. Em um determinado dia, Raphael tinha dois candidatos para ocupar uma vaga no setor de Administra-ção. Assim que iniciou a entrevista, informou aos candidatos, o horário de trabalho, ou seja, das 7h às 16h. O primeiro entrevistado, ao tomar ciência do horário, com sua capacidade de expressão, informou que suas habilidades funcionam melhor depois das 8h. O segundo en-trevistado não reclamou do horário, mostrou-se interessado, porém avisou que tinha pouca experiência para o trabalho indicado. Raphael escolheu o primeiro candidato.

Em sua percepção, Raphael apresentou uma postura ética quanto à escolha do candidato? Justifique.

2. O Brasil é o país dos escândalos, principalmente em relação a subor-no e corrupção em várias empresas. Tanto que o presidente de uma empresa X já manda o contador separar certa quantia para ser distri-buída entre os vários fiscais que fiscalizam a empresa mensalmente.

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Tanto os fiscais quanto o presidente estão infringindo o Código de Ética? Explane a sua resposta.

3. Atualmente, as empresas de ponta tendem a valorizar a relação hu-mana mais que a técnica. Isso não configura que os funcionários não apresentem competências e habilidades para que aconteça a harmo-nia no trabalho.

Explique a afirmação acima, porém não se esqueça de relatar os con-ceitos primordiais para que realmente aconteça o esperado, e dê exemplos.

4. Na hora de uma negociação entre duas empresas, cite três tipos de comportamento ético que os negociadores devem apresentar para que a transação seja boa para ambas as partes.

5. A discussão sobre o conteúdo de Ética nos Negócios, pelo mundo, trouxe a tona, pelo menos, uma questão de consenso: é preciso incluir e aprofundar o ensino da ética na formação dos administradores? Jus-tifique a afirmativa.

Crie uma situação em que o empresário não use o Código de Ética na hora das negociações.

6. Valle (1996) afirma que “nas sociedades de hoje, prevalecem o con-sumismo, o individualismo, a competitividade desonesta, o poder, o utilitarismo, onde se pensa no poder, na riqueza pessoal. Por tudo expressado, percebemos o quanto a questão da ética na profissão é cada vez mais atual, mas também geradora de conflitos”. Justifique as palavras proferidas pelo autor.