estÁgio supervisionado em gestÃo da educaÇÃo...

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1 ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GESTÃO DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: UMA EXPERIÊNCIA b Lucimar Azevedo Costa de Medeiros Nóbrega 1 Maria das Graças Ferreira 2 RESUMO: Este trabalho descreve a experiência no Estágio Supervisionado em Gestão da Educação Não Formal (disciplina 6EST616), componente da grade curricular do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina - UEL. Está composto de discussões referentes às atividades desenvolvidas e a reflexão sobre a importância do pedagogo nesses espaços. O principal objetivo foi vivenciar na prática os conceitos aprendidos em teoria, com a intenção de contribuir para a organização educacional nos espaços da Educação não Formal. Foram realizadas observações e coleta de dados por meio de diário de campo, o que possibilitou verificar a presença e atuação do pedagogo e dos demais educadores, bem como a rotina dos mesmos diante das diferentes situações pertinentes a este ambiente. Com base nas observações, intervenções e vivências do estágio pudemos afirmar que é possível oferecer ao público atendido uma proposta de aprendizado que se desenvolva de maneira díspar, com respeito ao espaço e a heterogeneidade dos vários lugares educativos e que a universidade tem condições de contribuir para uma mudança significativa onde esta for inserida. Foi possível comprovar por meio deste estágio que existem sim outros espaços de aprendizagem além da escola formal. PALAVRAS-CHAVE: Estágio Supervisionado; Educação Não Formal; Jovem Aprendiz INTRODUÇÃO A presente síntese tem como objetivo retratar a descrição do estágio obrigatório supervisionado em Gestão da Educação não formal, relatando as experiências, refletindo sobre a importância deste para a formação docente. O estágio foi realizado no período de 22/03/14 a 31/05/14 no NEIS, Núcleo Espírita Irmã Sheila, situado a Rua das Ameixeiras, 155 no Jardim Marabá Londrina, PR. Nesta síntese será encontrada a caracterização do campo de estágio, ou seja, o nome, lugar e fatos importantes sobre a instituição, bem como as metodologias utilizadas tanto nas observações e nas intervenções respaldadas em autores como: Brandão (2007), Gohn (2006), Silva e Perrude (2013), entre outros. Com base nesses autores pudemos compreender 1 Formanda do 5º ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina email: [email protected] 2 Docente do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina e mail [email protected]

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ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GESTÃO DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL:

UMA EXPERIÊNCIA

b

Lucimar Azevedo Costa de Medeiros Nóbrega1

Maria das Graças Ferreira2

RESUMO: Este trabalho descreve a experiência no Estágio Supervisionado em Gestão da Educação

Não Formal (disciplina 6EST616), componente da grade curricular do curso de Pedagogia da

Universidade Estadual de Londrina - UEL. Está composto de discussões referentes às atividades

desenvolvidas e a reflexão sobre a importância do pedagogo nesses espaços. O principal objetivo foi

vivenciar na prática os conceitos aprendidos em teoria, com a intenção de contribuir para a

organização educacional nos espaços da Educação não Formal. Foram realizadas observações e coleta

de dados por meio de diário de campo, o que possibilitou verificar a presença e atuação do pedagogo e

dos demais educadores, bem como a rotina dos mesmos diante das diferentes situações pertinentes a

este ambiente. Com base nas observações, intervenções e vivências do estágio pudemos afirmar que é

possível oferecer ao público atendido uma proposta de aprendizado que se desenvolva de maneira

díspar, com respeito ao espaço e a heterogeneidade dos vários lugares educativos e que a universidade

tem condições de contribuir para uma mudança significativa onde esta for inserida. Foi possível

comprovar por meio deste estágio que existem sim outros espaços de aprendizagem além da escola

formal.

PALAVRAS-CHAVE: Estágio Supervisionado; Educação Não Formal; Jovem Aprendiz

INTRODUÇÃO

A presente síntese tem como objetivo retratar a descrição do estágio obrigatório

supervisionado em Gestão da Educação não formal, relatando as experiências, refletindo

sobre a importância deste para a formação docente. O estágio foi realizado no período de

22/03/14 a 31/05/14 no NEIS, Núcleo Espírita Irmã Sheila, situado a Rua das Ameixeiras,

155 no Jardim Marabá – Londrina, PR.

Nesta síntese será encontrada a caracterização do campo de estágio, ou seja, o nome,

lugar e fatos importantes sobre a instituição, bem como as metodologias utilizadas tanto

nas observações e nas intervenções respaldadas em autores como: Brandão (2007), Gohn

(2006), Silva e Perrude (2013), entre outros. Com base nesses autores pudemos compreender

1 Formanda do 5º ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina – email:

[email protected] 2 Docente do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina – e mail [email protected]

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melhor as questões referentes ao estágio supervisionado em gestão da educação não formal.

Apresenta também o planejamento e o relatório das atividades realizadas.

CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO

O estágio teve início no mês de março e o término em junho de 2014, com carga

horária de 72 horas. Realizou-se aos sábados no horário das 08h00min às 12h00. A Instituição

foi criada por um professor da doutrina espírita que preocupado com as condições do lugar,

pesquisou no bairro entre os mais jovens buscando identificar quais suas carências. Com isso

surgiu à ideia de oferecer-lhes cursos que pudessem facilitar sua inserção no mercado de

trabalho. Deu início então aos cursos de marcenaria, datilografia e com a evolução

tecnológica passou a oferecer também informática. Com o tempo iniciou parcerias com

empresas enviando-lhes estes jovens com o intuito de capacitá-los (para o trabalho?). Seu

empenho era tanto que chegava a pagar os encargos sociais destes jovens por até três meses.

Esta Instituição já existe há 20 anos.

A média dos jovens atendidos aos sábados no período da manhã é de

aproximadamente 40, sendo que ocorrem também atendimentos a outros grupos de jovens

durante a semana. Os aprendizes podem permanecer no programa por no máximo dois

anos e quando este sai outro ocupa sua vaga.

São atendidos jovens da Região Leste, mais precisamente do Jardim Marabá, mas

devido à escassez de projetos que atendam ao programa Jovem Aprendiz esta Instituição abre

algumas exceções atendendo jovens de outras localidades.

A Instituição atende a crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade

social e visa a formação moral e ética destes tendo a missão de dar sua contribuição para a

transformação das comunidades situadas neste espaço geográfico. Com o trabalho realizado

tem a intenção de ser exemplo para o público atendido e outras instituições que oferecem

trabalhos similares, sempre em busca de melhores resultados. Com base nos relatos da

Pedagoga da Instituição, existe um tripé entre: formação moral, profissional e assistência

social, com o objetivo de fazer destes jovens “homens e mulheres de bem”.

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A Equipe Pedagógica é composta por cinco professoras, duas Assistentes Sociais, uma

Pedagoga e um Auxiliar Administrativo. Muitos dos que ajudam na instituição são

voluntários, dentre eles os professores de Educação Moral e as merendeiras.

O espaço onde funciona a Instituição é composto de departamento de pessoal, sala de

informática, biblioteca, berçário, dois auditórios, refeitórios, sanitários e quadra de esportes.

Tem também belos jardins que decoram o ambiente tornando-o mais agradável.

As salas de aula são arejadas, iluminadas de forma regular e em bom estado de

conservação. Fica a cargo do NEIS manter conservadas tais instalações.

Em todos os momentos de observações, pude perceber uma nítida preocupação por parte

da equipe pedagógica em orientar os jovens na questão de como se comportar no ambiente de

trabalho, considerando que muitos deles já estão engajados em empresas que mantém convênio

com o programa. Devido à imaturidade e a falta de vivência profissional muitos acabam perdendo

a vaga, pois a empresa pode vir a pedir a substituição do aprendiz, o que poderá prejudicá-lo.

Atitude como jogar no celular, acessar redes sociais e até mesmo conversas ao telefone os leva a

não cumprir as tarefas a eles destinadas causando o seu desligamento da empresa.

O compromisso do NEIS é dar prioridade à aprendizagem que possibilitará a estes

jovens oportunidades de emprego, propiciando a eles integrar -se à sociedade tendo como

alvo a valorização de seus conhecimentos e suas potencialidades.

Para que este trabalho se torne possível a Instituição constrói parcerias com empresas

interessadas em dar sua contribuição à sociedade valorizando a aprendizagem em busca de

uma sociedade mais humana e mais justa.

JOVEM APRENDIZ

Com a promulgação da lei do Jovem Aprendiz do Governo Federal de 1995,

foi possível proporcionar a estes jovens a oportunidade de adquirir capacitação para o mundo

do trabalho. Segundo Almeida e Penteado (2013),

[...] é com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9.394/96 - e a Lei de

Aprendizagem 10.097/2000, que se começa a desenhar uma política de juventude que busca

responder suas demandas. A nova lei da educação estabelece, no Artigo 69, que a união

deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de seus

orçamentos com a educação e o ensino público. Determina ainda que o ensino fundamental

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passe a ser obrigatório e gratuito (art. 4) e a educação infantil (creches e pré-escola) se torna

oficialmente a primeira etapa da educação básica. (p.503)

Esta lei prevê a realização de atividades teóricas e práticas, sempre sob o olhar

pedagógico da instituição, sendo esta com qualificação para a formação técnico- profissional

metódica, realizando atividades práticas tendo o empregado como coordenador. Almeida e

Penteado (2013) ainda complementam que,

a Lei da Aprendizagem nº. 10.097/2000, regulamentada pelo Decreto nº. 5.598/2005

determina que todas as empresas, obrigatoriamente, deverão contratar adolescentes e jovens

de 14 a 24 anos, variando a porcentagem de aprendizes a serem contratados de acordo com

a quantidade de funcionários adultos que compõe o quadro da empresa. (p. 503)

Após esta lei os cursos antes oferecidos tiveram que ser extintos e a instituição teve de

se adequar às novas normas. Em nova fase a Instituição realizou convênio com 50 empresas e

hoje presta atendimento a jovens menores de 18 anos que estão cursando o 9º ano do Ensino

Fundamental ou o Ensino Médio. Os requisitos necessários para seu ingresso no programa

são: prova cognitiva, que possa avaliar seu nível de aprendizagem. Se aprovado terá

avaliação no seu dia-a-dia e, conforme seu interesse dedicação e aprendizagem poderá ter a

chance de participação em uma entrevista de emprego. Se este jovem for dedicado em seus

estudos trazendo sempre seu boletim para verificação poder permanecer no programa.

Todo este trabalho é realizado aos sábados no período da manhã, onde é obrigatória a

presença dos jovens que já atuam em empresas como aprendizes em horários alternados com a

escola. A proposta da instituição é a mudança de conceitos e criação de perspectivas de futuro

para eles. Além das atividades oferecidas aos sábados por meio de oficinas de matemática e outras

eles também recebem orientações sobre Educação Moral, onde voluntários do projeto passam

ensinamentos utilizando para isto um tempo de sessenta minutos.

METODOLOGIA/PROCEDIMENTO OBJETIVOS

De acordo com a proposta do Estágio em Educação não Formal foram estabelecidos

alguns objetivos: contribuir para o processo de formação dos profissionais Pedagogos, fazendo a

relação entre teoria e prática; possibilitar a construção e reconstrução de práticas e saberes

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necessários à práxis pedagógica; proporcionar novas possibilidades de atuação para o Pedagogo;

conhecer a instituição de Educação não Formal; contribuir com esta através da intervenção.

A proposta de intervenção veio por meio de observação e conversa com a equipe

pedagógica e teve como objetivo promover uma reflexão junto aos jovens aprendizes sobre a

importância do trabalho em equipe e desenvolver comportamentos adequados no ambiente de

trabalho.

A metodologia utilizada deu-se por meio de dinâmicas desenvolvidas com o grupo,

voltadas à reflexão sobre a importância das Relações Interpessoais no Trabalho. A segunda

intervenção foi a Feira de Profissões, a qual consistiu em apresentar aos jovens cursos

técnicos profissionalizantes os quais poderiam escolher para atuar em diversas áreas. Foram

apresentados cursos gratuitos oferecidos por Escolas Públicas e também por Instituições

particulares. As atividades realizadas nas intervenções estão em anexo ao trabalho.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Sobre a finalidade do estágio, Pimenta e Lima (2004), dizem que:

O estágio é o eixo central na formação de professores, pois é através dele que o profissional

conhece os aspectos indispensáveis para a formação da construção da identidade e dos

saberes do dia-a-dia” e ainda complementam que “os estagiários ao entrarem em contato

com profissionais, são estimulados a estarem sempre inovando, buscando informações para

a realização de uma boa prática. (p.09)

Nesse sentido passo a refletir sobre o Estágio realizado e a oportunidade de

aprendizado proporcionado por essa experiência estabelecendo uma relação entre o Formal e

o não Formal no campo da profissionalização do pedagogo.

Considerando que o estágio foi desenvolvido numa instituição que atende jovens

aprendizes, apresento algumas considerações teóricas sobre o assunto.

Dando início a minha reflexão sobre educação não formal, quero conceitua-la e buscar

seu lugar em nossa sociedade, e o que a diferencia da educação formal existente nas

Instituições Educacionais. Para Gohn (2006),

A Educação Não-Formal apresenta como intencionalidade criar determinadas qualidades

e/ou objetivos em espaços não escolares articulando seus trabalhos em variadas

dimensões, objetivando a formação do indivíduo nos aspectos políticos, contribuindo para

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a conscientização dos sujeitos sobre seus direitos enquanto cidadãos, como também a

capacitação desses para o mundo do trabalho, seja por meio da aprendizagem de

habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades, capacitando os indivíduos a se

organizarem com objetivos comunitários, atentando ainda para o ensino- aprendizagem

diferenciado daquele que perpassa os conteúdos da escolarização formal.

Porque educação não formal? Porque ela não tem o formato da educação escolar

tradicional, que acontece na escola. "A educação não formal é aquela que se aprende “no

mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em

espaços e ações coletivas cotidianas" (GOHN, 2006, p.28).

E diferente da educação formal, que se desenvolve nas escolas, com conteúdos

previamente demarcados, a educação não formal apresenta algumas especificidades assim

definidas por Gohn (2006, p.30),

A educação não-formal tem outros atributos: ela não é organizada por séries/

idade/conteúdos; atua sobre aspectos subjetivos do grupo; trabalha e forma a cultura

política de um grupo. Desenvolve laços de pertencimento. Ajuda na construção da

identidade coletiva do grupo (este é um dos grandes destaques da educação não formal na

atualidade); ela pode colaborar para o desenvolvimento da autoestima e do empowerment

do grupo, criando o que alguns analistas denominam o capital social de um grupo.

Tendo verificado isto na prática ao discutir a importância do bom

relacionamento com o grupo de jovens, vi que é utilizando a educação como chave que

poderei, segundo Silva e Perrude (2013), “desenvolver a condição necessária para o

enfrentamento de novas relações societárias”. Por isso vi a importância de se

desenvolver nesses espaços não formais atividades que não são trabalhadas e não se adquirem

na educação formal.

Silva e Perrude (2013, p.48) definem que estes espaços,

[...] transcendem objetivos como a leitura e a escrita e se inserem num contexto mais

amplo, proporcionando a seus frequentadores oportunidades de aprendizagem diferenciada

das proporcionadas pelo ensino formal.

Algumas Instituições têm como objetivo preparar estes jovens e adolescentes para

encarar a vida e leva-los a entender que esta capacitação serve como um preparo para encarar

o mundo do trabalho, o que envolverá uma série de obstáculos a serem vencidos por eles. Para

isso cursos como: de artesanato, informática, dança, capoeira serão de grande serventia.

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Para Brandão (2006 apud Silva e Perrude, 2013, p.49)

[...] não há uma única forma nem um único modelo de educação; a escola não é o único

lugar em que acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática e o

professor profissional não é o seu único praticante.

Tendo em vista a boa formação destes jovens aprendizes, existe também a

preocupação do papel do pedagogo responsável pela instituição em questão, pois este se torna

um profissional de suma importância na concretização do projeto em si. Segundo Silva e

Perrude (2013, p.52) “Muitas vezes os próprios cursos de formação de professores, e em

especial os de pedagogia, não privilegiam em seus currículos uma fundamentação mínima que

ampare o profissional que irá atuar nesse campo”.

Desta forma, à medida que a sociedade destinou a escola como espaço de construção e

transmissão de conhecimentos e, consequentemente, de atuação do pedagogo, para entender

os processos de organização e gestão da educação atual, bem como seus espaços de ação

concreta é preciso que estes profissionais tenham condições para esta atuação.

Considero que a presença de um pedagogo nesses espaços é de extrema importância,

pois esse profissional, durante a sua formação é capacitado para atender as diferentes áreas da

educação, no entanto, parece que há uma falta desses profissionais nesses locais. Pois sua

atuação se torna necessária não somente nos espaços de educação formal, mas também em

espaços não formais. Sua tarefa é bem ampla, começando pelas atividades desenvolvidas por

ele na instituição. Ele atua também em espaços como: biblioteca e laboratórios de informática

favorecendo a inclusão digital. De acordo com Brandão,

[...] a educação existe onde não há escola e por toda a parte pode haver redes e estruturas

sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criado a

sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado. (BRANDÃO, 2007, p. 13)

Conforme diz a história, a educação é passada de gerações a gerações, de acordo com

os costumes de determinados lugares, tribos, cultos religiosos dentre outros. E ao contrário do

que se pensa nem sempre existiram espaços formais e exclusivos para que a educação

acontecesse.

Tratando da legislação na própria Lei maior que rege toda a educação a LDB 9.394/96,

tais formas ampliadas de educação são apreciadas já em seu artigo 1º: “a educação abrange os

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processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no

trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da

sociedade e nas manifestações culturais” (BRASIL, 1996).

É importante (re) lembrar que, de uma forma ou de outra todo sujeito é agente de um

ato educativo que independe de tempo e espaço:

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de

muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para

aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias

misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias Educações. (BRANDÃO,

1981, p. 07)

O pedagogo tem como meta principal nesses espaços de educação não formal,

propiciar ao sujeito a construção da sua identidade contribuindo para sua formação humana

por meio de projetos sociais e de promoção de cidadania, além de desenvolver trabalhos

contra a discriminação. Sendo um educador não formal o pedagogo aumenta as chances de

ensino ao oferecer outros lugares para aprendizagem, tendo assim maior flexibilidade com

relação a tempo, espaços e métodos.

Desta forma, fica claro que nesta instituição o trabalho desenvolvido pela pedagoga

não é limitado, mas se expande desde a formulação e prática de planejamentos,

como monitoramento e avaliação. Por esse viés percebe-se que o processo educativo de

educação não formal ocorre através de situações interativas construídas coletivamente

intermediadas pelo pedagogo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio me proporcionou a análise das situações do cotidiano da gestão não formal o

conhecimento de diferentes realidades em que o pedagogo poderá atuar e que o processo de

aprendizagem não ocorre apenas no espaço formal sistematizado, mas também no espaço

não formal.

Realizar o estágio no NEIS (Núcleo Espírita Irmã Sheila) me revelou uma

enorme diferença entre gestão formal e não formal. Pelas observações no campo de estágio foi

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possível perceber que no espaço não formal há um grande comprometimento com relação aos

educandos, a família e a comunidade. As ações são norteadas pelas Portarias do Ministério do

Trabalho e Emprego – MTE nº 723 de 23/04/2012 e MTE nº 1.005, de 01/07/2013, e seu

objetivo maior é o fortalecimento de vínculos.

Minha primeira intervenção realizada do dia 24/05/14 se tratava de dinâmica s

motivacionais em que os jovens demonstraram grande interesse tendo cem por cento de

participação ocorrendo de forma tranquila e muito proveitosa.

Na segunda intervenção realizamos uma feira de profissões com o objetivo de trazer a

estes jovens escolas que oferecem cursos profissionalizantes voltados ao interesse deles em se

profissionalizar em alguma área. Estiveram na Instituição profissionais do SENAI, UTFPR,

UNIFIL, IFPR. Além dos profissionais, os jovens puderam ainda orientar-se por meio de um

banner confeccionado pela equipe de estágio que ficou exposto na instituição, indicando

quais escolas públicas oferecem cursos profissionalizantes gratuitos.

Os resultados alcançados com meu trabalho foram muito bons e, dando-me a sensação

de dever cumprido tendo meus objetivos atingidos.

Foi gratificante ver o quanto estes jovens se interessaram pelos cursos demonstrados

pelos profissionais e o encantamento de cada um por determinadas áreas. E isto para mim

enquanto futura Pedagoga vem trazer uma dose a mais de ânimo, por ter descoberto

trabalhos como este realizado pelo NEIS destinados a comunidades carentes, além de

reforçar para mim da área de Educação esta vivência prática num espaço muitas vezes

desconhecido. Depois da experiência do estágio passei a admirar e compreender ainda mais o

trabalho realizado pelas entidades envolvidas.

Já que tenho que falar sobre minhas dificuldades no estágio, não posso deixar de

relatar minha apreensão em não coseguir horários na semana para a realização deste estágio

obrigatório, devido à falta de disponibilidade durante a semana em horário comercial. Desta

forma tive que começar meu estágio mais tarde que o normal. Porém fico feliz, pois todos

estes contratempos não impediram que o estágio fosse bem sucedido.

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Ivana Cristina Lima de; PENTEADO, Fabiane Prado. As políticas públicas brasileiras

pós-1995 para a formação profissional do jovem. XI Congresso Nacional de Educação, EDUCERE

2013

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense: 2007. (Coleção

Primeiros Passos).

Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional. Brasília: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1996. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso: 15 ago. 2010.

GOHN, Maria da Glória. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38,

jan./mar. 2006.

SILVA, Ana Lucia Ferreira da; PERRUDE, Marleide Rodrigues. Atuação do Pedagogo em espaços

não formais: algumas reflexões. Rev. Eletrônica Pro docência/UEL, v.1, n. 4, jul-dez. 2013.

PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. 2.ed. São Paulo:

Cortez, 2004.

ANEXOS

Organização do Projeto de Intervenção no Campo de Estágio – NEIS

Tema: Relações Interpessoais no Trabalho

Intervenção para 24/05 e 31/05

Objetivo Geral: Trabalhar Comportamentos Adequados no Ambiente de Trabalho.

Objetivos Específicos: Levar os aprendizes a perceber a importância do seu trabalho com

relação ao do outro; levar o aprendiz a ter atitudes colaborativas em grupo.

Justificativa: De acordo com sugestão da coordenadora da instituição que evidenciou a

necessidade de trabalhar com jovens o comportamento adequado dentro das empresas, é que

foi escolhido este tema para o projeto de intervenção.

Metodologia: Serão desenvolvidas duas dinâmicas que possibilitarão aos jovens, refletir e tomar

consciência sobre o comportamento necessário nas empresas, quando terão a possibilidade de

passar de estagiários à funcionários no encerramento do contrato de jovens aprendizes.

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24/05 – 1ª Intervenção

Desenvolvimento: No primeiro momento será realizado um quebra gelo, com o objetivo de

despertar os jovens para a realização das atividades que serão propostas, intitulado montanha

russa, onde os jovens ficarão de frente para os estagiários realizando uma sequência de

movimentos que simulam o comportamento em uma montanha russa, tendo como tempo

estimado 3 minutos.

Atividade 1: Dinâmica da teia.

Material: Um rolo de barbante e uma bexiga grande.

Tempo estimado: Trinta minutos.

Os jovens serão dispostos em circulo e ficarão em pé. Posteriormente será dado ao que inicia

a teia um rolo de barbante que deverá segurar a ponta do rolo, falar uma atitude que para ele é

importante no ambiente de trabalho. Após esta fala, ele amarra a ponta do barbante em seu

dedo e arremessa o rolo de barbante para outro colega, que também deverá expressar-se da

mesma forma. Esse processo deve se repetir até que todos os presentes tenham apresentado

uma atitude e estejam interligados formando uma teia.

Reflexão da atividade: Ao final das apresentações o coordenador do grupo solicita aos presentes

que comentem o que os colegas disseram. Destacar o que mais chamou atenção para os jovens

e realizar os comentários relacionados à união de uma equipe. Após essa reflexão, será colocado

sobre a teia um balão grande e cheio, e será orientado que o coordenador irá mencionar alguns

nomes que deverão sair da teia soltando o barbante, pois em uma empresa acontecem imprevistos

e situações como: atestados médicos, férias, falecimentos, transferências de setor, etc. que

fazem que com que pessoas se ausentem do trabalho.

Atividade 2: Dinâmica de equipe.

Material: bexigas e palitos de dente.

Tempo estimado, vinte minutos.

Os jovens serão dispostos em circulo, receberão uma bexiga cada um que, deverão enchê-la e

guardá-la e também um palito de dentre. Será dada a seguinte orientação: quem permanecer

com a bexiga cheia até o final da atividade, ganhará um ponto.

Reflexão da atividade: Por que vocês estouraram as bexigas dos amigos se, o intuito era de

manter a bexiga cheia? O que você entendeu com isso.

Vídeo Motivacional: Seja a mudança que você quer.

31/05 – 2ª Intervenção

Realização da feira das profissões, convidamos vários profissionais como: Massoterapeuta,

Esteticista, Gastronomia, Informática, Químico, etc., que ficarão a disposição dos jovens em

stands para dar informações sobre a prática profissional. Faremos também banners com a

listagem de escolas, localização, tempo de duração, probabilidade de salários, diferença do

curso integrado e subsequente, se é pago ou gratuito, como no quadro a seguir:

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Quadro 1 - Demonstrativo de cursos técnicos/formação de docentes (município de Londrina)

Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/londrina/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=155

REFERÊNCIAS

Disponível em: <http://posdidatica2010.blogspot.com.br/2010/09/dinamica-do-rolo-de-barbante-ou-

teia.html> Acesso em: 23 maio 2014.

Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/22969/dinamicas-para-

socializacao-e-apresentacao-vence-quem-tem-o-balao-cheio> Acesso em 23 maio 2014.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=NLsIduszWx0> Acesso em: 23 maio 2014.