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1 A PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL NA PERSPECTIVA DO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - CREAS: FUNÇÕES E EFETIVAÇÃO DE DIREITOS Luana Castilho 1 Cilmara Cristina dos Santos2 2 RESUMO: O objetivo deste artigo é trazer ao público leitor informações sobre a trajetória histórica da Política Pública de Assistência Social e esclarecer quais são as funções do Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, apresentando quais profissionais atuam nesse espaço, de que maneira são realizados os atendimentos, a qual público se destina os serviços e como os cidadãos poderão acessá-los. Posteriormente, destacam-se também as contribuições sobre esta proposta da política pública de proteção social especial de média e alta complexidade para o fortalecimento da garantia de direitos dos cidadãos brasileiros. A pesquisa de campo será realizada no CREAS do município de Chopinzinho-PR e em seguida esses dados serão analisados e verificar-se- á se cumpre os preceitos estabelecidos na Norma Operacional Básica (NOB/SUAS) que rege o Sistema único de Assistência Social SUAS. PALAVRAS-CHAVE: Proteção Social Especial; Política Pública de Assistência Social; CREAS. INTRODUÇÃO Neste artigo serão apresentados os conceitos de proteção social, mas será dada ênfase na Proteção Social Especial, enfatizando o CREAS (Centro de Referência de Assistência Social) que é uma unidade pública e estatal, sendo especializado e responsável pelos atendimentos de famílias e indivíduos em situação de risco e que tiveram seus direitos violados. Após o marco constitucional de 1988 e pela nova regulamentação da Lei Orgânica da Assistência Social LOAS, como política pública, a seguridade social é dividida em três partes, assim representada pelo triângulo que consta a previdência, a saúde e a Assistência Social. A política pública de assistência social vem frisar a necessidade de efetivar estes direitos constitucionais, direitos sociais que provêem à garantia de serviços e benefícios para o enfrentamento à exclusão social, à pobreza, enfim as desigualdades e as injustiças sociais justapostas pelo sistema capitalista. Uma das categorias de seguridade social que está 1 Acadêmica do 1º ano do Curso de Bacharelado em Serviço Social Faculdade Unilagos. 2 Professora Orientadora. Graduação em Serviço Social (UNICENTRO); Mestranda em Desenvolvimento Regional UTFPR Campus Pato Branco.

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1

A PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL NA PERSPECTIVA DO CENTRO DE

REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - CREAS:

FUNÇÕES E EFETIVAÇÃO DE DIREITOS

Luana Castilho1

Cilmara Cristina dos Santos22

RESUMO: O objetivo deste artigo é trazer ao público leitor informações sobre a trajetória histórica da

Política Pública de Assistência Social e esclarecer quais são as funções do Centro de Referência

Especializado de Assistência Social - CREAS, apresentando quais profissionais atuam nesse espaço,

de que maneira são realizados os atendimentos, a qual público se destina os serviços e como os

cidadãos poderão acessá-los. Posteriormente, destacam-se também as contribuições sobre esta

proposta da política pública de proteção social especial de média e alta complexidade para o

fortalecimento da garantia de direitos dos cidadãos brasileiros. A pesquisa de campo será realizada no

CREAS do município de Chopinzinho-PR e em seguida esses dados serão analisados e verificar-se- á

se cumpre os preceitos estabelecidos na Norma Operacional Básica (NOB/SUAS) que rege o Sistema

único de Assistência Social – SUAS.

PALAVRAS-CHAVE: Proteção Social Especial; Política Pública de Assistência Social; CREAS.

INTRODUÇÃO

Neste artigo serão apresentados os conceitos de proteção social, mas será dada ênfase

na Proteção Social Especial, enfatizando o CREAS (Centro de Referência de Assistência

Social) que é uma unidade pública e estatal, sendo especializado e responsável pelos

atendimentos de famílias e indivíduos em situação de risco e que tiveram seus direitos

violados.

Após o marco constitucional de 1988 e pela nova regulamentação da Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS, como política pública, a seguridade social é dividida em três

partes, assim representada pelo triângulo que consta a previdência, a saúde e a Assistência

Social. A política pública de assistência social vem frisar a necessidade de efetivar estes

direitos constitucionais, direitos sociais que provêem à garantia de serviços e benefícios para

o enfrentamento à exclusão social, à pobreza, enfim as desigualdades e as injustiças sociais

justapostas pelo sistema capitalista. Uma das categorias de seguridade social que está

1 Acadêmica do 1º ano do Curso de Bacharelado em Serviço Social – Faculdade Unilagos.

2 Professora Orientadora. Graduação em Serviço Social (UNICENTRO); Mestranda em Desenvolvimento

Regional – UTFPR – Campus Pato Branco.

2

interligada com diversas Políticas Públicas Sociais é a Proteção Social, onde constitui

programas e projetos, sendo assim, os benefícios são conceituados como de proteção social

básica e proteção social especial de média e alta complexidade, com o objetivo de fortalecer a

garantia de direitos dos cidadãos brasileiros.

Dessa forma, este artigo traz informações sobre a trajetória histórica da Política

Pública de Assistência Social na perspectiva do seu Sistema de Proteção Social, com elevada

ênfase na proteção social especial. Os dados sobre as funções e atividades executadas nos

CREAS foram coletados no município de Chopinzinho – Pr e analisados se cumprem os

princípios normativos estabelecidos na Política Nacional de Assistência Social/2004.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é expor quais são as funções do Centro de Referência

Especializado de Assistência Social - CREAS, apresentando qual a equipe profissional que

atua nesse espaço, a qual público se destina os serviços e como os mesmos poderão acessá-

los. Objetiva também apresentar as contribuições sobre esta proposta da política pública de

proteção social especial de média e alta complexidade. Verificar se o CREAS do município de

Chopinzinho-pr cumpre os preceitos estabelecidos na Norma Operacional Básica

(NOB/SUAS).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Contexto histórico da Assistência Social no Brasil

Os desafios da política da assistência social são complexos. Mas para termos um

melhor entendimento é importante e necessário expor a estrutura histórica desde o século

passado quando surge a profissão. Em meio a uma sociedade dividida em dominantes, na sua

maioria, detentores do poder, denominados burgueses, e do outro lado, a maioria, os

proletariados que vendem sua mão de obra e insatisfeitos passam a mobilizarem-se contra esta

opressão e para “amenizar” as injustiças sociais insere-se o assistente social, visto que a classe

dominante visava o controle da maciça população trabalhadora, que não poderia se rebelar

(MARTINELLI, 2008).

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É uma profissão que nasce articulada com um projeto de hegemonia do poder burguês,

gestada sob o manto de uma grande contradição que impregnou suas entranhas, pois

produzida pelo capitalismo industrial, nele imersa e com ele identifica “como a criança no

seio materno” (Hegel, 1978 APUD Martinelli, 2008).

No Brasil, esta prática profissional surge no século passado, na década de 30. A

origem da profissão acontece no grande movimento social onde a Igreja Católica teve

importante participação, sendo seu objetivo na época recristianizar a população fazendo assim

crescer sua hegemonia perante a sociedade.

Neste período havia um processo de amplo desenvolvimento da indústria ocorrendo

também um crescimento da população operária nas áreas urbanas, as relações sociais

capitalistas tornaram-se mais fortes e o expressivo desenvolvimento do País destacando a

questão econômica, política, social e cultural. Neste sentido se estabelece em litígio, a

chamada Questão Social, onde se pode ressaltar a importância que os fatores ‘Trabalho e

Capital’ trazem para essa problemática, pois dependerá das relações sociais entre esses dois

conceitos, para que gere um efeito sobre o individuo trabalhador, ressaltando a injustiça social

e a exploração como “essência” da Questão Social. (BULLA,

2003, p.2)

O crescimento das indústrias, como também o da urbanização, foram dois dos fatores

decisivos na pressão exercida junto à sociedade e ao E´stado para melhorias na qualidade

de vida, através de benefícios e/ou concessões. Nesta correlação de forças a protagonista

desta luta foi a emergente classe trabalhadora do incipiente setor industrial que começa a se

formar no país, principalmente em São Paulo (Oliveira e Pinto, 2005.p.48-49)

Nesta mesma década de 30, a sociedade ainda confundia a Assistência Social com o

assistencialismo, pois os primeiros passos da profissão eram baseados na solidariedade,

caridade, filantropia e benesse. Neste sentido uma a frase de Estevão (2006, p.6) chama a

atenção, “Assistente social é aquela moça boazinha que o governo paga para ter dó dos

pobres.” Esta frase representa genericamente um resumo dos primeiros passos da profissão.

Cria-se na década de 40 a Legião Brasileira de Assistência (LBA), fundado pela

primeira-dama Darcy Vargas e o objetivo que se tinha eram de proporcionar atendimentos as

famílias dos soldados que foram enviados para o combate da Segunda Guerra Mundial. Ao

terminar a guerra a LBA continuou sendo dirigida pelas primeiras-damas, dando continuidade

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aos atendimentos as famílias em vulnerabilidade. Em 1991 a mesma foi extinta em pleno

Governo de Fernando Collor.

Na década de 60 mudanças políticas ocorreram no cotidiano social brasileiro, na sua

economia, na política e em sua cultura, assim Belfiore et al (1985, p.83) analisam a questão da

ditadura militar no Brasil:

A partir de 1964, substituiu-se a ideologia desenvolvimentista pela ideologia de

modernização, criando-se desta forma condições propícias à ação do capital estrangeiro. A

concepção de desenvolvimento econômico acelerado, no sentindo da criação de infra-

estrutura econômica como base de desenvolvimento.

Ou seja, primeiro era necessário “deixar o bolo crescer para depois dividi-lo”. Este é

um pensamento tecnocrata onde separa desenvolvimento social com o desenvolvimento

econômico. Desta maneira, todas as áreas de assistência social eram vistas na época, como

sujeito de constante modernização (OLIVEIRA E PINTO, 2005, p.50).

Os direitos sociais sempre estiveram intercalados com os interesses da elite brasileira,

os direitos eram construídos com base em benefícios em que a classe dominante obtinha,

assim Fiuza (2005) coloca em questão a cidadania junto ao Estado novo com referência no

que disse Santos:

Com o Estado novo, instaura-se ao regime ditatorial e acentua-se o caráter autoritário,

centralizador e antidemocrático do Estado, portanto, nesse contexto, não havia espaço

para a cidadania que depende do processo democrático para sua efetivação. Com o fim do

Estado novo e retomada do Estado de direito, emerge a ordem “democrática limitada”,

usando os termos de Santos (1994), ou seja, o trabalhador urbano tem seus direitos sociais

estabelecidos através da legislação trabalhista onde o Estado reconheceu e normatizou

alguns direitos dos trabalhadores urbanos, os demais ficaram a margem da cobertura social.

Com isso, o Estado manteve, junto a essa classe uma relação de domínio e autoridade

apaziguada pela figura do seu líder, o presidente da República, que passou a ser o

representante oficial dos trabalhadores principalmente via o populismo [...] tratava de

administrar uma ordem relativamente democrática, em termos políticos, em um contexto

social e econômico extensamente regulado. (SANTOS apud FIUZA, 2005. P.44)

No entanto, a partir da Constituição Federal de 1988 se fez marco histórico da

assistência Social onde ela se classifica como uma política de seguridade social. Vejamos o

Art. 194 da Constituição Federal:

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes

Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e

à assistência social.

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Parágrafo único - Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade

social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II -uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III -seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV -irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI -diversidade da base de

financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da

comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados.

Neste capítulo da Constituição Federal de 1988 cita-se que no Brasil o esquema do

tripé da seguridade social apresenta-se como saúde, previdência e assistência social. As leis da

regulamentação de 1988 tinham um prazo máximo para a sua implementação ser adotada,

sendo até 3 de abril de 1989, onde o poder executivo não havendo encaminhado propostas

para a Lei Orgânica de Assistência Social, em 1989 quem tomou a iniciativa apresentando um

projeto de lei n° 3039/89 foi o poder legislativo e que posteriormente foi aprovado pelo

Senado. Mas no mesmo ano o presidente da republica Fernando Collor afastou de cogitação a

Lei Orgânica de Assistência Social (CAPACITAÇÃO REGIONAL DE CONSELHEIROS,

2000).

Em 1991, o deputado Geraldo Alckmim apresentou a matéria como um projeto de lei.

Após o 1° Seminário Nacional de Assistência Social que aconteceu em 1991 na capital brasileira

surgiu então a chamada “comissão da LOAS”, que fez posteriormente surgir um novo projeto de

lei n°3154 que foi rescindido por vários deputados da época. O poder executivo subordinou o

projeto da LOAS ao CNAS (conselho nacional de assistência social). Este projeto foi

encaminhado a várias mãos do poder político até então ser aprovado em 1993 pela câmara e mais

tarde, em novembro pelo Senado. Pela lei n° 8742 de 07/12/1993, a LOAS foi instituída com o

comprometimento de gerar cidadania, onde o Estado era também responsável, pois se trata de

uma política de seguridade social, sendo não contributiva, mas o dever era proporcionar a garantia

para que fossem supridas as necessidades básicas da sociedade.

Com a Lei Orgânica de Assistência Social -LOAS,foram definidos os princípios, as

diretrizes, as competências, a gestão e o financiamento da política de Assistência Social,

fato revelador de avanços a que nos referimos, posto que construída numa conjuntura

adversa à expansão da Assistência Social como política pública. Contudo a sua

implementação revelou uma acentuada tendência a focalização, seletividade e

fragmentação, comprometendo o princípio de universalidade, continuidade e

sistematicidade das ações (MOTA, 2008, p. 186)

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Dessa forma, Yasbek afirma que a Política Social Pública (2004, p. 13) “inicia seu

trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da

responsabilidade estatal”. Esse processo marca historicamente e juridicamente a trajetória na

conquista dos direitos sociais para os cidadãos brasileiros. No entanto, essa materialização na

prática ainda necessita de uma efetivação concreta, ou seja, cumprir no cotidiano das

instituições o que preconiza a Lei.

Para materializar o disposto na referida Lei, em 2004, na IV Conferência Nacional de

Assistência Social foi aprovada a Política Nacional de Assistência Social.

Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004

Um longo caminho foi percorrido para a efetivação da Lei Orgânica de Assistência

Social –LOAS, desde sua aprovação, sendo que inúmeras discussões ocorreram em razão de

um processo de reestruturação da política pública de Assistência Social, surgindo a construção

de um novo modelo de gestão da Política de Assistência Social na perspectiva de um novo

sistema denominado Sistema Único da Assistência Social –SUAS.

A PNAS foi aprovada em 22 de setembro de 2004 em reunião descentralizada e ampliada

do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, buscando a materialização do conteúdo da

Assistência Social enquanto política pública na perspectiva da LOAS como um pilar do Sistema

de Proteção Social Brasileiro no campo da Seguridade Social (SANTOS, 2006).

Diante desse novo contexto situacional é válido ressaltar essa na PNAS traz para a

área “uma nova discussão, concepção e operacionalização da rede prestadora de serviços

assistenciais, que propõe a superação de ações isoladas, fragmentadas e paralelas,

tradicionalmente desenvolvidas pela Assistência Social” (FIUZA, 2005, p. 71).

Essa nova política traz as proteções sociais afiançadas, assim divididas:

Proteção social básica

Os serviços de proteção social básica são executados no Centro de Referência da

Assistência Social – CRAS, sendo uma unidade pública estatal que executa, organiza e

coordena a rede de serviços sócio-assistenciais locais da política pública de assistência social.

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É responsável pelo Programa de Atenção Integral às Famílias – PAIF em que valorizam as

particularidades de cada grupo familiar, as diferentes culturas para que haja um fortalecimento

dos vínculos familiares e comunitários. A equipe do CRAS também tem compromisso de

prestar informações e orientar a população no que se refere aos direitos de cidadania.

O objetivo da proteção social básica é de prevenir as situações de risco, mediada pelo

desenvolvimento de potencialidades e aquisições, para o fortalecimento de vínculos familiares

e comunitários, destinados aos indivíduos em vulnerabilidade social decorrente de alguma das

expressões da Questão Social, devendo também ser incluídas e organizadas na rede em ações

ofertadas as pessoas com deficiência. Conforme a situação apresentada de vulnerabilidade

será previstos os serviços, programas e projetos locais para que haja um fortalecimento da

socialização de indivíduos e familiares.

Os serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica deverão se articular

com as demais políticas públicas locais, de forma a garantir a sustentabilidade das ações

desenvolvidas e o protagonismo das famílias e indivíduos atendidos, de forma que a superar

as condições de vulnerabilidade e a prevenir as situações que indicam risco potencial.

Deverão, ainda, se articular aos serviços de proteção especial, garantindo a efetivação dos

encaminhamentos. (BRASIL, 2005, p.34-35).

Desse modo, a Proteção Social Básica preconiza o seu serviço ao Programa de atenção

integral à família (PAIF), que consiste em um trabalho social com objetivo de fortalecer

vínculos de função protetiva as famílias. Consistem também em serviço a domicílio para

todas as pessoas com deficiência e também pessoas idosas. O foco principal é prevenir a

ruptura dos vínculos para que o desafio da autonomia do usuário no usufruto de seus direitos

venha contribuir na melhoria da qualidade de vida.

3.2.2 PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL

Uma nova Tipificação no Brasil em termos de Serviços Socioassistenciais, trouxe a

proteção social especial, com atendimentos especializados a famílias e indivíduos (PAEFI).

A Proteção Social Especial – PSE trabalha no intuito do fortalecimento da proteção dos

indivíduos à frente de um conjunto de condições que as tornam vulneráveis, assim ficam sujeitas a

situações de risco tanto pessoal quanto social, sendo por maus tratos físicos e psíquicos,

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cumprimento de medidas sócio educativas, situação de rua, ocorrência de abandono, situação de

trabalho infantil, abuso sexual, entre outras situações de risco. Desta forma a PSE preconiza os

serviços de apoio como encaminhamentos e orientação as famílias ou com um dos membros da

família que esteja em situação de violação dos direitos e/ou ameaça, onde esses

acompanhamentos consistem na preservação e fortalecimento a promoção dos direitos sociais.

[...] famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de efetividade, pertencimento e

sociabilidade; ciclos de vida; identidade estigmatizas em termos étnico, cultural e sexual,

desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e,ou, no acesso às demais

políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violências advinda do

núcleo familiar, grupos ou indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho

formal ou informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivências que podem

representar risco pessoal e social. (CNAS, 2004, p.18-19)

A PNAS na perspectiva do SUAS organiza e conceitua em dois os níveis de Proteção

Social Especial sendo a Média Complexidade, que oferta serviços às famílias e indivíduos em

situação emergencial, tendo assim os direitos violados, cujos vínculos familiares e

comunitários, embora ameaçados, ainda não foram rompidos. Como se torna uma intervenção

mais complexa, neste sentido requer uma estrutura mais articuladas para a oferta de

atendimento especializado, personalizado e contínuo, de certo modo o CREAS é uma das

unidades que ofertam serviços de média complexidade. Sendo que a Proteção Social Especial

de Alta Complexidade oferta serviços às famílias e indivíduos que se encontram em situação

de ameaça, necessitando assim de proteção integral fora de seu núcleo familiar e ou

comunitário. Esses serviços constituem a uma rede de acolhimento como abrigos

institucionais, casas lares, famílias acolhedoras e repúblicas.

O CREAS é caracterizado como uma unidade pública estatal, onde oferta serviços

especializados e continuados as famílias e indivíduos que por estarem diante de um conjunto

de condições que as tornam vulneráveis, se colocam ou se submetem em situações de ameaça

e violação de direitos.

O Centro de Referência Especializado da Assistência Social deve conter um pólo de

referência, coordenada e articulada para a Proteção Social Especial de Média Complexidade.

Dessa forma, os CREAS deveram cumprir no em seu cotidiano o que preconiza a lei,

cumprindo todas as exigências e no que se refere a prestação de serviços de qualidade e com

equipe de profissionais de referências, conforme apresentada abaixo:

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CENTROS DE REFERÊNCIA DA ASSISÊNCIA SOCIAL – CREAS Municípios em Gestão Inicial e

Básica Municípios em Gestão Plena e Estados com Serviços Regionais

Capacidade de atendimento de 50

pessoas/indivíduos

Capacidade de atendimento de 80

pessoas/indivíduos

1 coordenador 1 coordenador

1 assistente social 2 assistentes sociais

1 psicólogo 2 psicólogos

1 advogado 1 advogado

2 profissionais de nível superior ou médio (abordagem

dos usuários)

4 profissionais de nível superior ou médio (abordagem

dos usuários)

1 auxiliar administrativo 2 auxiliares administrativos

Já para atendimentos de Proteção Social Especial de Alta Complexidade é necessária

uma equipe de referência para atendimento direto e se realiza com pequenos grupos ex: casa-

lar, casa de passagem e abrigo institucional.

PROFISSIONAL/FUNÇÃO ESCOLARIDADE QUANTIDADE

Coordenador Nível superior ou médio

1 profissional referenciado para até

20 usuários acolhidos em, no

máximo, 2 equipamentos.

Cuidador Nível médio e

qualificação específica

1 profissional para até 10 usuários,

por turno.

A quantidade de cuidador por

usuário deverá ser aumentada

quando houver usuários que

demandem atenção específica (com

deficiência, com necessidades

específicas de saúde, pessoas

soropositivas, idade inferior a um

ano, pessoa idosa com Grau de

Dependência II ou III, dentre

outros).

Para tanto, deverá ser adotada a

seguinte relação:

a) 1 cuidador para cada 8 usuários,

quando houver 1 usuário com

demandas específicas;

b) 1 cuidador para cada 6 usuários,

quando houver 2 ou mais usuários

com demandas específicas..

Auxiliar de Cuidador Nìvel fundamental e

qualificação específica

1 profissional para até 10 usuários,

por turno.

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A quantidade de cuidador por

usuário deverá ser aumentada

quando houver usuários que

demandem atenção específica (com

deficiência, com necessidades

específicas de saúde, pessoas

soropositivas, idade inferior a um

ano, pessoa idosa com Grau de

Dependência II ou III, dentre

outros).

Para tanto, deverá ser adotada a

seguinte relação:

a) 1 auxiliar de cuidador para cada

8 usuários, quando houver 1

usuário com demandas específicas;

b) 1 auxiliar de cuidador para cada

6 usuários, quando houver 2 ou

mais usuários com demandas

específicas.

Para a construção desta pesquisa foram utilizadas a pesquisa bibliográfica e aplicada

entrevista com uma das profissionais que compõe a equipe de referência do CREAS com

questionário previamente elaborado.

No que se refere à pesquisa bibliográfica Gil afirme que,

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos [...] A principal vantagem da pesquisa bibliográfica

reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais

ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (GIL, 1999, p.65).

Segundo Gil a entrevista:

Pode-se definir entrevista como uma técnica em que o investigador se apresenta ao

investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção de dados que interessam a

investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais

especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar

dados e a outra se apresenta como fonte de informação (GIL,1999, p.117).

Dentro deste contexto, destaca-se a importância de elencar os resultados obtidos

através da realização da entrevista, mediante análise da entrevista, correlacionando e

comparando aos parâmetros estabelecidos pela Política Nacional de Assistência Social.

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RESULTADOS

Os dados foram coletados no Município de Chopinzinho - PR que conta com uma

população de 19.673 habitantes, assim contados até dia 1° de agosto de 2010, segundo dados

do IBGE.

Para atender as novas exigências da Política Pública de Assistência Social foi

implantado em agosto de 2010 o Centro de Referência Especializado de Assistência Social.

O quadro de funcionários do CREAS de Chopinzinho é composto por: 1 Assistente

Social, 1 Psicóloga com curso superior específico da área e uma atendente com Ensino Médio

Completo. Essa equipe de referência não atende o que preconiza a NOB-RH/SUAS, conforme

a tabela citada anteriormente. Dessa forma, percebe-se que não contem uma equipe total de

profissionais.

Conforme entrevista realizada com uma das profissionais de nível superior quando

questionada sobre os projetos e ações desenvolvidos no CREAS, a mesma afirmou:

“Atendimento Psicossocial, Relatórios e encaminhamentos p/ Conselho Tutelar e Fórum,

Atendimento Psicológico, Atendimento Social, Visitas a domicílio, Palestras são

atividades, ações e projetos que são frequentemente desenvolvidos no CREAS, sendo que

os casos que chegam ao CREAS são por encaminhamentos da Rede ou por denúncia”.

Diante do exposto pela entrevistada pode-se afirmar que as ações desenvolvidas

cumprem as exigências da PNAS/2004, mas de acordo com a própria entrevistada estas ações

muitas vezes não efetivam direitos “porque atende-se e encaminha e muitas vezes a rede de

proteção não tem efetivação”. Assim, podemos perceber que a efetividade das ações

socioassistenciais ainda é um desafio a ser enfrentado, ou seja, é um processo em construção.

Quando questionada se há mudanças que acredita serem necessárias no

desenvolvimento de ações e projetos para o CREAS de Chopinzinho, a mesma afirmou que

“sempre deve haver mudanças. Penso que em primeiro lugar o CREAS deve ser mais

divulgado e também, existir mais estrutura para outros profissionais que exige-se a Lei”.

Assim, constata-se que mesmo com inúmeros avanços no campo jurídico da Política

Pública de Assistência Social a sua implementação na prática está constantemente em um

processo de construção com inúmeros desafios na área da gestão e execução dos serviços

socioassistenciais.

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CONCLUSÃO

A consolidação da Assistência Social como Política Pública e direito social exige o

enfrentamento de importantes desafios. Não depende somente da criação de Leis, mas de sua

efetivação na prática.

Neste âmbito, o município de Chopinzinho já cumpre as exigências preconizadas em

Lei, no que se refere à criação de centros de referências para a população usuária da Política

Pública de Assistência Social em prol de seus direitos. No entanto, a efetividade das ações

ainda é um importante desafio enfrentado cotidianamente no interior dessas instituições.

No município pesquisado, especificadamente no CREAS, detectou-se que os serviços

prestados atendem somente a proteção social especial de média complexidade, demonstrando

concretamente o constante processo em construção dessa política, sendo que, os serviços de

alta complexidade ainda não se efetivam na prática, mas integram o planejamento da equipe

de profissionais e gestores.

Com a implementação da PNAS/2004 na perspectiva do SUAS, a política de assistência

social ganhou mais visibilidade, sustentabilidade e eficiência enquanto política pública de direitos

do cidadão na prática das ações do cotidiano institucional, com repasse de recursos voltados

obrigatoriamente para esta área e profissionais capacitados e qualificados para atender e

compreender os usuários desse sistema enquanto cidadãos e sujeitos de direitos.

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