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DIVERSIDADE CULTURAL E ANÁLISE REGIONAL DO ARTESANATO NO BRASIL SOB A ÓTICA DA ECONOMIA CRIATIVA Patricia Carvalho do Val, Ieda Kanashiro Makiya, Marcus Vinicius Fantucci Cunha (FCA-UNICAMP) Resumo: A economia criativa é um estímulo à desmarginalização das comunidades periféricas, que realizam artesanato como modo de aumentar renda. A teoria, segundo Toledo & Toledo (2013), é aplicada sobre a visão de aproveitar a cultura do território como fonte geradora de renda, fazendo com que a haja motivação dentro da comunidade melhorando os negócios e condições de trabalho. Trata-se do capital intelectual que contempla a criação humana, a cultura, as artes, o artesanato. Neste contexto, segundo United Nations Conference on Trade and Development - UNCTAD (2010).a formulação de novas idéias para a produção cultural pode envolver funcionalidade e inovação tecnológica, importantes para o empreendedorismo, aumentando a produtividade e promovendo o crescimento econômico de um determinado território. Dessa forma, esse artigo procura abordar a riqueza cultural brasileira como ponto de partida de alto valor para o desenvolvimento regional, e as especificidades das atividades realizadas sob essa perspectiva. Palavras-chaves: diversidade cultural, artesanato, desenvolvimento econômico ISSN 1984-9354

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DIVERSIDADE CULTURAL E ANÁLISE REGIONAL DO ARTESANATO NO BRASIL SOB A ÓTICA DA ECONOMIA CRIATIVA

Patricia Carvalho do Val, Ieda Kanashiro Makiya, Marcus Vinicius Fantucci Cunha

(FCA-UNICAMP)

Resumo: A economia criativa é um estímulo à desmarginalização das comunidades periféricas, que realizam artesanato como modo de aumentar renda. A teoria, segundo Toledo & Toledo (2013), é aplicada sobre a visão de aproveitar a cultura do território como fonte geradora de renda, fazendo com que a haja motivação dentro da comunidade melhorando os negócios e condições de trabalho. Trata-se do capital intelectual que contempla a criação humana, a cultura, as artes, o artesanato. Neste contexto, segundo United Nations Conference on Trade and Development - UNCTAD (2010).a formulação de novas idéias para a produção cultural pode envolver funcionalidade e inovação tecnológica, importantes para o empreendedorismo, aumentando a produtividade e promovendo o crescimento econômico de um determinado território. Dessa forma, esse artigo procura abordar a riqueza cultural brasileira como ponto de partida de alto valor para o desenvolvimento regional, e as especificidades das atividades realizadas sob essa perspectiva.

Palavras-chaves: diversidade cultural, artesanato, desenvolvimento econômico

ISSN 1984-9354

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1. Introdução Na economia do século XXI e de acordo com seu novo paradigma, o conhecimento, a

cultura e a criatividade serão fundamentais para os negócios. Os símbolos passarão a definir o

valor e se verificará uma tendência de deslocamento dos bens físicos para os intangíveis.

Permeando essa mudança, a economia criativa desempenhará papel central (SEBRAE, 2012).

No âmbito dessa mudança o setor de serviços ganha relevância, consumindo a grande parte

da força de trabalho e sendo responsável pela geração de uma parcela importante da renda.

(FIRJAN, 2011). Nesse contexto, novas formas e alternativas para o desenvolvimento são

colocadas a partir de uma série de fatores (Boisier; 2004): Novas formas de produzir e

comercializar bens e serviços por meio de organizações globais e suas respectivas cadeias

produtivas; maior grau de homogeneização de padrões culturais de consumo, reforçando a

demanda por grupos de produtos em escala global, mas por outro lado criando preocupações com

a identidade cultural em nível regional.

Permeando tais formas de desenvolvimento, pode-se perceber que a partir da década de

1990 a economia se tornou mais rápida e volátil. As empresas – os núcleos de organização mais

básicos da economia – estão se dissolvendo e as fronteiras entre a economia e outros campos

sociais estão mais porosas. (Berndt; 2012). Observa-se uma convergência entre artes, negócios e

tecnologia. (Bendassoli et al, 2009). Tal fenômeno já havia sido observado pela escola crítica de

Frankfurt, criadores do termo indústria cultural (Adorno e Horkheimer, 1985) que ressaltavam

estar em curso uma mercantilização das expressões culturais e absorção das mesmas pela lógica de

produção massificada capitalista.

2. Criatividade na Economia Atual

As ligações entre os diferentes campos e setores, indústria, comércio e serviços nesse

momento de passagem para a economia pós-industrial fazem uso dessas novas formas de

relacionamento por meio da criatividade, de mudanças, das rupturas e da inovação. (Howkins;

2001). A indústria criativa, portanto, faz uso de bens culturais, simbólicos e imateriais para

geração de valor.

Pode-se entender criatividade como um fenômeno expresso em diferentes campos da

cognição humana (UNCTAD, 2008) como: criatividade artística, cujo cerne está na imaginação e

novas formas de gerar idéias e caminhos alternativos para interpretar o mundo. Criatividade

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cientifica que envolve a curiosidade e a experimentação bem como a realização de novas conexões

para a resolução de problemas e criatividade econômica, um processo dinâmico voltado para a

geração de inovação em tecnologia, negócios, marketing e vantagens econômicas.

Todas essas três formas citadas coexistem e envolvem a criatividade tecnológica como

mostrado na figura 1:

Figura 1: criatividade na economia atual. Fonte: KEA European Affairs (2006). As interações e a criatividade fazem com que as fronteiras entre o setor da indústria e de serviços

fiquem mais próximas, havendo uma interdependência entre ambas. É nesse contexto de

transformações econômicas e sociais que se insere a indústria criativa. (FIRJAN, 2008)

Sua definição se estende sobre os seguintes pontos: trata-se de um conceito em evolução

baseado em recursos criativos com potencial para geração de crescimento econômico e

desenvolvimento. Pode fomentar geração de renda, criação exportação de ganhos enquanto

promove inclusão social e desenvolvimento humano.

Ademais, o conceito abarca os aspectos econômicos, sociais e culturais de interação com a

tecnologia, propriedade intelectual e turismo. É um conceito baseado em atividades econômicas

que envolvem conhecimento. (UNCTAD, 2008)

3. O novo mercado de consumo

O alto consumo de bens e serviços vem aumentando a cada dia a exploração das unidades

produtivas e levando a exaustão alguns mercados. A nova geração consumidora não se interessa

mais por esses produtos feitos em massa, padronizados e sem valor agregado. A nova classe

Criatividade Científica

Criatividade Econômica

Criatividade Tecnológica

Criatividade Cultural

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consumidora, segundo Bendassolli et al (2009), a cada dia, busca produtos personalizados,

inovadores, que não agridam o meio ambiente e que traduzam da melhor maneira seu estilo de

vida.

Nesse contexto de mudança, a economia criativa torna-se relevante, tendo como base a

criatividade e inovação oferecida pelas indústrias criativas. Esta mudança sugere uma nova forma

de abordagem do capitalismo, ou seja, agora há uma preocupação com a qualidade de vida,

abertura as diferenças, aversão à rotina e a dependência. Essa nova classe criativa, segundo Florida

(2002), vem ganhando espaço no mercado e na sociedade mostrando ser uma alternativa para a

robotização da economia

A ascensão da economia criativa ocorreu na Austrália em 1990 e posteriormente

desenvolvida na Inglaterra. Considerado por muitos pesquisadores e empresários uma evolução do

capitalismo, a economia criativa abrange empresas que fazem o uso da criatividade, habilidade e

talento para monetizar suas atividades. A produção dessa nova indústria (Blythe, 2001) além de

promover o desenvolvimento da economia, realiza mudanças politicas, sociais e culturais na

região onde se encontram

O que se observa é que a economia criativa é um fator relevante para ser utilizada como

estratégia para o desenvolvimento econômico local, regional e até de países. Para isso, torna-se

necessário investigar a demanda de cada território para potencializar suas necessidades e junto

com a criatividade oferecer bens e serviços que supram tais necessidades.

4. Relevância do Artesanato

Segundo Toledo & Toledo (2013), a economia criativa é um estímulo à desmarginalização

das comunidades periféricas, que realizam artesanato como modo de aumentar renda. A teoria é

aplicada sobre a visão de aproveitar a cultura do território como fonte geradora de renda, fazendo

com que a haja motivação dentro da comunidade melhorando os negócios e condições de trabalho.

Ainda, segundo os mesmos autores, na economia tradicional prevalece a lei da oferta e

demanda, isso implica no valor do produto. Na economia criativa predomina a criatividade e não a

escassez, leva em conta também a sustentabilidade. Portanto, tratam-se do capital intelectual que

contempla a criação humana, a cultura, as artes, o artesanato etc.

Neste contexto, a formulação de novas idéias para a produção cultural pode envolver

funcionalidade e inovação tecnológica, importantes para o empreendedorismo, aumentando a

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produtividade e promovendo o crescimento econômico de um determinado território (UNCTAD,

2010).

A chave para entender a estrutura econômica da criatividade e seus efeitos estão nos 3Ts

da teoria do desenvolvimento econômico: tecnologia, talento e tolerância (Suciu, 2010), para

promover a inclusão produtiva e social da população como geração de renda. Para isso é

necessário fazer um levantamento de qual local será realizado o trabalho a fim de identificar as

características e futuras potencialidades da região (Albagli, 2006).

5. Artesanato brasileiro

A riqueza cultural brasileira é um ponto de partida de alto valor para o desenvolvimento da

indústria criativa, e devem ser estruturados planos de negócios adequados à demanda de

profissionais preparados para explorar as oportunidades que movimentam esta nova perspectiva.

Segundo Diniz & Diniz (2007) são expressões em diferentes formas, algumas com caráter

inovador e com qualidades singulares, não aparecendo em outras regiões. O artesanato é um

exemplo disso, e de acordo com Santos (2013) se expressa de acordo com aspectos peculiares do

local, com especificidades da tradição e hábitos locais.

O artesanato é umas das formas de manifestação da vida comunitário sendo um tipo de

produção voluntária e pessoal, portanto, conceitos de artesanato e tradição caminham juntos

(Oliveira, 2007). No cenário atual, vem ocorrendo uma busca crescente por produtos diferenciados

e originais, e o artesanato emerge como um contraponto à massificação e uniformização da

produção.

A literatura sobre o assunto ainda é pouca, comparado ao número de empresas criativas

que existam no Brasil. Segundo SEBRAE (2014), inovação e tecnologia no artesanato surgem da

necessidade de aproveitar materiais, inserir ferramentas e métodos de trabalho diferenciados com

o objetivo de ampliar as oportunidades de ganhos e seguir padrões de qualidade e produtividade.

De acordo com o Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), o artesanato tem por objetivo

desenvolver ações que valorizem o artesão brasileiro, elevando o seu nível cultural, social e

econômico, e, ainda, promovendo o artesanato e a empresa artesanal. O Programa promove o

aproveitamento das vocações regionais, levando à preservação das culturas locais, estimulando a

mentalidade empreendedora, por meio da preparação das organizações e de seus artesãos para o

mercado competitivo. Para tanto, o PAB vem implementando o projeto de fortalecimento do

segmento artesanal brasileiro, fundamentado em três pilares: Organização, Gestão e Produção,

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com foco no empreendedorismo.

O Brasil possui um grande arcabouço cultural e diversidade regional como importantes

propulsores de desenvolvimento local, tanto que algumas regiões conseguiram a Indicação

Geográfica de seus produtos. Bons exemplos podem ser citados, como o Estado do Espírito Santo

com as paneleiras de Goiabeiras, na cidade de Vitória e a cidade do Jalapão no Estado de

Tocantins, com a fabricação de produtos oriundos do capim dourado. A indicação geográfica é um

índice protegido pela Lei nº9.279/96 do Instituto da Propriedade Intelectual e são classificadas em

Indicações de Procedência e Denominação de Origem. Distingue-se por ter caráter particular e

qualidade de produção (Caldas et al, 2007). A figura 2 apresenta as paneleiras de Goiabeiras.

Figura 2 – Paneleiras de Goiabeiras. Fonte: Rotas Capixaba (2012)

A Associação de Paneleiras de Goiabeiras (APG), em 2002, foi registrada no Livro do

Conhecimento - Ofício Paneleiras como parte do Patrimônio Cultural do Brasil, e agraciada com o

Prêmio Top 100 de Artesanato, em 2006, pelo SEBRAE. Em 2010, ganhou reconhecimento

internacional, através do certificado 2010 Best Practices - Dubai International Award for Best

Practices to Improve the Living Environment, Dubai, dos Emirados Árabes Unidos, e da

Organização das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-HABITAT). (Oakes,

2011)

 

Figura 3: Inauguração do Galpão das Paneleiras de Goiabeiras em 2011. Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória (2013)

Para manter viva a tradição da cultura capixaba, as Paneleiras de Goiabeiras receberam um

novo galpão em novembro de 2011, construído pela Prefeitura Municipal de Vitória com repasse

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de verba federal do Ministério do Turismo. O galpão tem 32 cabines, todas com bancada, armário

e prateleiras individuais. O espaço é arejado e bem iluminado naturalmente. No segundo piso,

existe uma lanchonete e uma área que permite aos visitantes visualizarem todo o trabalho nas

cabines e ainda proporciona uma visão incrível para o mangue. Houve poucas mudanças na

produção das panelas de barro em mais de 400 anos. A feitura artesanal da panela de barro é uma

das maiores expressões da cultura popular de Vitória e do Espírito Santo. A fabricação é

predominantemente feminina e familiar, é um saber passado de mãe para filha há muitas gerações.

(Prefeitura de Vitória, 2013).

Outra região que recebeu a Indicação Geográfica foi o município de Jalapão no Estado de

Tocantins com a confecção de produtos a base do capim dourado, como demonstra a figura 4.

 

Figura 4: Produtos a base do capim dourado. Fonte: Trilhas do Capim Dourado (2014)

Toda a região do Jalapão trabalha com o Capim Dourado, fazendo deste artesanato a

principal fonte de renda de suas famílias. O artesanato é exportado para o mundo inteiro,

preservando o meio ambiente, e as belezas naturais, juntamente com o Capim Dourado, principal

fonte de renda das famílias, respeitando leis e normas de plantio, cultivo e colheita. São

produzidos acessórios, bijuterias, bolsas, brindes, lembrancinhas e artigos para decoração. (Capim

Dourado Jalapão, 2014).

5.1. Artesanato nas cinco regiões brasileiras 

A. Região Norte

Cooperativa de Porto Velho-RO foi fundada em 2003 e trabalha com peças artesanais de

biojóias, utilizando como matéria-prima sementes, casca de coco, ossos, pena e madeira. A

cooperativa conta com 15 artesãs e seus produtos etão atingindo o mercado europeu com peças

como colares com flores de tecido, pulseiras, brincos e chaveiros compedras naturais.

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Município do Jalapão-To recebeu Indicação Geográfica (IG) pela produção artesanal de

produtos feitos com capim dourado como bolsas, fruteiras, porta-jóias. Com a IG, a

comercialização ficou mais justa para o artesão e a tendencia é de aumento. Atualmente 23,9% da

produção são comercializadas em lojas das associações de artesãos e 14,8%, em feiras nacionais

ou estaduais.

No Pará, há o artesanato indígena ameríndio, onde várias tribos indígenas são responsáveis por

essa produção. São cerâmicas, cestarias, tecelagem de redes empregando as fibras de tucum e

algodão, arcos, flecha e arte plumária.

Santarém-PA também existe uma cooperativa dos indios tapajós que trabalham com cerâmica.

É uma cultura milenar que inclui tradições dos seculos 1.000 a 1.500 d.C.

Na Ilha de Marajó-PA há um trabalho dos índios também com cerâmica, a cerâmica marajoara

que surgiu durante o período pré-colonial de 400 a 1400 D.C. Os artesãos usam o barro colhido

nas margens dos igarapés da região, modelam, à mão ou em tornos-de-pé, réplicas, peças

utilitárias e decorativas, queimam em rústicos fornos a lenha, decoram com engobes, e usam a

técnica de brunir.

Artesãos da região do Bico do Papagaio, em Tocantins trabalham como coco de babaçu na

transformação de acessórios femininos, almofadas, fruteiras dentre outros produtos. Hoje são

cerca de 150 mulheres que fazem parte do Projeto de Artesanato da Amazônia Legal Tocantinense

(Artenorte), iniciado em 2006.

B. Região Nordeste

Oito estados se destacam nas atividades artesanais segundo o SEBRAE (2014).

A partir da palha de carnaúba, uma associação de 25 artesães no Piauí, produz mais de 5 mil peças

para outros estados. Produtos como cestas decorativas, jogos americanos, vasos etc.

Em Alagoas, o filé alagoano, um tipo de boradado, mantém cerca de 70% dos artesães do

estado e estão pleiteando o IG para seus produtos.

Em Sergipe, a renda irlandesa ganhou o título de patrimonio cultural imaterial do Brasil e

garante a renda das mulheres artesãs.

Na Bahia os artesãos tiram da piaçava (espécie de palha) os mais variados objetos. Produzem

bolsas, tapetes, jogos americanos, carteiras, chapéus e acessórios diversos. Depois de conquistar o

Brasil elas querem investir ainda mais nas vendas fora do país. Há também na Bahia, artesanatos

feitos de barro. Próxima a Salvador, existem cerca de 150 olarias onde são produzidos mais de 5

mil peças de barro.

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C. Região Centro-Oeste

Nesta região os estados de Mato grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal são destaques

no artesanato. Mato Grosso do Sul e Mato Grosso se destaca com o artesanto indígena oriundo da

argila e também do couro que vem criação pecuaria na região. Desse couro são feitos bolsas,

pastas, e chaveiros.

No Distrito Federal são elaboradas bijouterias com as sementes da variada flora da região. Sõ

feitos colares, pulseiras, brincos.

D. Região Sudeste

Artesanato típico e peculiar com matéria-prima fornecida pela floresta tropical, resíduos das

diversas indústrias na região.

Vale do Ribeira é conhecido por sua cerâmica rústica, Vale do Parnaíba com os trançados de

fibras vegetais, entalhes de madeira e cerâmica de origem silvícola.

No litoral, o artesanato indígena guarani que produzem cestas de cipó, bambu e taboa.

Também confeccionam artefatos de caça e pesca adorno e instrumentos musicais.

Na baixada Fluminense, há produção de cestas, porta-copo e jogos americanos feitos de

piaçava. As artesãs atendem a uma rede de supermercado e pensa em ampliar a produção para o

setor da moda.

Pato de minas predomina a casca de coco, palha de milho e fibras de diversas árvores para a

produção de peças decorativas como imagens religiosas e presépios.

Espírito Santo existe a associação das paneleiras de goiabeiras que ganharam o selo de

Identificação Geográfica, o que coloca a região como certificadora de seus produtos.

E. Região Sul

Na região Sul utiliza-se muito materiais oriundos da natureza, reciclagem de papel, resíduos

têxteis, madeira, gesso, escama de peixe e reaproveitamento do malote dos correios.

Santa Catarina: Broto do galho para a fabricação de luminárias, ave de papel. Reciclagem

de papel na confecção de cadernos, blocos e agendas. Tecidos para produção de jogos americanos,

guardanapos, saches, tolhas e tecelagem. Olaria, renda de Bilro, palha de trigo, madeira, gesso, e

escama de peixe na confecção de flores.

Paraná: artesãs reutilizam os malotes dos correios para a confecção de bolsas e mochilas.

6. Considerações finais

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O artesanato contribui para o desenvolvimento de uma região, agregando valor a essa nova

perspectiva econômica, valorizando as especificidades culturais, recursos locais, e ampliando as

diversidades como fontes de inspiração de novas formas de consumo.

Existe uma grande oportunidade em todo o território brasileiro para se propor atividades

artesanais utilizando resíduos industriais e naturais para geração de renda de comunidades

carentes.

De acordo com o SEBRAE (2014), o artesanato nordestino tem ocorrência registrada em

mais de 600 municípios da região, possuindo 11 tipologias e 57 segmentações. Contempla

produtos como imagens sacras, esculturas, jarros, mobiliário, tapetes, acessórios do vestuário,

calçados, brinquedos, instrumentos musicais, utilitários do lar, entre muitos outros.

Na Região Centro-Sul a valorização do artesanato indígena prevalece com a argila e o

couro e as sementes de flores na confecção de adornos femininos.

Na região norte prevalece a utilização de recursos naturais, mantendo a identidade da

população local. De acordo com a tipologia, estão inseridos em Artesanato indígena que são

objetos produzidos no seio da comunidade, por seus próprios integrantes. É, em sua maioria,

resultante de uma produção coletiva, incorporada ao cotidiano da vida tribal, que prescinde da

figura do artista ou do autor.

Muitas iniciativas têm sido realizadas na promoção de atividades empreendedoras,

alternativas de geração de renda em comunidades carentes, aplicação de tecnologias sociais para

diversas regiões. Portanto, é essencial fomentar o maior número possível de alternativas para o

desenvolvimento local, ressaltando também as parcerias publico-privadas no auxílio à otimização

de recursos, tanto humanos quanto materiais.

7. Referencias Bibliográficas

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