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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO MARCELI VITURI MARQUES A CONCEPÇÃO DE PESQUISA NO CURSO DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2013

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

MARCELI VITURI MARQUES

A CONCEPÇÃO DE PESQUISA

NO CURSO DE ENFERMAGEM

DA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2013

MARCELI VITURI MARQUES

A CONCEPÇÃO DE PESQUISA

NO CURSO DE ENFERMAGEM

DA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito parcial exigido para obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação do Prof° Dr° Potiguara Acácio Pereira.

SÃO PAULO 2013

MARCELI VITURI MARQUES

A CONCEPÇÃO DE PESQUISA

NO CURSO DE ENFERMAGEM

DA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito parcial exigido para obtenção do título de Mestre em Educação.

Área de Concentração: Educação - Sujeito, formação e aprendizagem.

BANCA EXAMINADORA:

Prof° Dr° Potiguara Acácio Pereira _____________________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Prof° Dr° Denis Donaire ____________________________________________

Profª Drª Margaréte May Berkenbrock Rosito _______________________________

Universidade Cidade de São Paulo

SÃO PAULO

2013

Dedico este trabalho à minha família.

Aos meus pais Ademir e Márcia, minha irmã Mariane Vituri,

meus sobrinhos Giulia e José; para minha avó Mercedes

Menon de Godoy e, especialmente, para meu filho Arthur e

meu esposo Sérgio, amores da minha vida.

AGRADECIMENTOS

São inúmeros os motivos que me levam a agradecer tantas pessoas que, de uma

forma ou de outra, contribuíram para que fosse possível concluir o Mestrado, com

todas as exigências que lhe são inerentes. Escrever uma dissertação não é algo

singular e próprio do autor; pelo contrário, é necessária a contribuição e a ajuda de

muitas pessoas que compartilham ideias e ajudam no esclarecimento de dúvidas. A

vocês, os meus sinceros agradecimentos.

Em especial, ao professor Potiguara, assim conhecido na Pós-Graduação da

Universidade Cidade de São Paulo, por me aceitar como orientanda e me conduzir

no desenvolvimento pessoal e profissional, como educadora.

Aos participantes deste estudo, pela inestimável colaboração para que este trabalho

pudesse tornar-se realidade.

À Comissão de Pós-Graduação da Universidade Cidade de São Paulo, pela

oportunidade.

A todos os Professores, pela contribuição dada no exame de qualificação e pelo

incentivo.

Às Secretárias da Pós Graduação, pela dedicação e orientação no cumprimento das

normas do Mestrado em Educação.

Ao Serviço de Biblioteca e Documentação da Universidade Cidade de São Paulo,

pelo empréstimo de bibliografia e orientação na busca das informações.

À direção da Universidade Cidade de São Paulo, por conceder bolsa e incentivar o

aprimoramento do educador que trabalha na Instituição.

Aos Professores da Graduação em Enfermagem, amigos que acreditaram em meu

potencial e me auxiliaram ao me substituírem nas aulas em campo de estágio, para

cumprimento dos créditos.

À Diretora do Curso de Graduação de Enfermagem, Professora Wana Paranhos, por

planejar meus horários de aula para que eu pudesse frequentar as disciplinas

obrigatórias do curso.

Aos meus amigos enfermeiros e ex-chefes do Hospital Villa Lobos e Hospital Cema,

por acreditarem em mim e sempre me receberem de portas abertas nas instituições.

Ao meu amigo Marcos Antônio da Eira Frias, que, com suas ideias, ajudou muito na

elaboração deste trabalho.

Aos meus colegas de classe do Mestrado, que, com certeza, me incentivaram muito

e contribuíram com suas ideias e trocas de bibliografias.

A todos os meus familiares e amigos, que torceram pelo meu sucesso.

RESUMO

Este estudo reflete a preocupação que a pesquisadora manifesta acerca da pesquisa acadêmico-científica no Curso de Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo. Para tanto, valeu-se da Análise documental, que serviu também como técnica de coleta de dados, complementada por questionário com questões abertas, com o objetivo de identificar a concepção de pesquisa na visão de professores e alunos do curso. Considerar estas concepções permitiu identificar a situação atual da pesquisa no curso, bem como a preparação para exercê-la e as condições e estímulos para a sua realização e desenvolvimento. Destaca-se a importância de estimular e incentivar a pesquisa na formação inicial para contribuir com a produção de trabalhos acadêmicos no Curso e ampliar o contingente de pesquisadores na área.

Palavras-chave: Pesquisa científica; Pesquisa acadêmico-científica, Curso de enfermagem.

ABSTRACT

This study reflects the researcher's concern about academic and scientific research in the Nursery College, at Universidade Cidade de São Paulo. To do so, she took advantage of Document Analysis, which also served as data collection technique, supplemented by a questionnaire with open questions, in order to identify the research design in the view of teachers and students of the course. Considering these conceptions helped to identify the status of research in the course, as well as the preparation to do it and the conditions and stimuli for their achievement and development. It highlights the importance of stimulating and encouraging research in the initial training, in order to contribute to the production of academic papers in the course and expand the number of researchers in the area. Keywords: Scientific research, Academic and scientific research, nursing program.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a.C. Antes de Cristo

CEP Comissão de ética e Pesquisa

CEPEN Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem

CES Câmara da Educação Superior

CNE Conselho Nacional Educação

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Consepe Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão

Copesq Comitê de Apoio a Pesquisa

COREN Conselho Regional de Enfermagem

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

FZL Faculdades Zona Leste

IC Iniciação Científica

LATO SENSU A denominação lato sensu é aplicada a cursos de Pós-Graduação, geralmente aos de especialização.

PIBIC Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica

PIIC Programa Institucional de Iniciação Científica

PPI Projeto Pedagógico Institucional

STICTO SENSU Utilizado para se referir aos cursos de Pós-Graduação, aos cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, com maior profundidade e duração que os de especialização.

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UNICID Universidade Cidade de São Paulo

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Descrição do conceito de pesquisa acadêmico-científica pelos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID ......................................... 63 Tabela 02: Frequência dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID em disciplina para realização do TCC ....................................................................... 65 Tabela 03: Disciplinas norteadoras para realização do TCC..................................... 65 Tabela 04: Observações realizadas pelos Graduandos de Enfermagem do 8°semestre da UNICID, ao frequentar a disciplina de Metodologia da Pesquisa ...... 67 TABELA 05: Realização de outras pesquisas pelos Graduandos de Enfermagem do 8º semestre da UNICID ............................................................................................. 68 Tabela 06. Concepção de Ciência pelos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID ................................................................................................. 69 Tabela 07. Visão dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID sobre a importância da pesquisa para o desenvolvimento profissional............................... 70 Tabela 08. Descrição do conceito de pesquisa acadêmico-científica pelos Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID ............................................................. 71 Tabela 09. Formação do Docente de Enfermagem do 8°semestre da UNICID para trabalhar com pesquisa no Curso de Enfermagem ................................................... 73 Tabela 10. Relação do conhecimento dos programas oferecidos pela Universidade para desenvolver a pesquisa..................................................................................... 74 Tabela 11. Programas conhecidos pelos Docentes de Enfermagem do 8°semestre da UNICID que auxiliam no desenvolvimento da pesquisa ....................................... 74 Tabela 12. Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID que estão desenvolvendo Pesquisa Científica ........................................................................... 76 Tabela 13. Motivos da realização da Pesquisa Científica pelos Docentes de Enfermagem do 8°semestre da UNICID ................................................................... 76 Tabela 14. Concepção de Ciência pelos Docentes de Enfermagem do

8°semestre da UNICID .............................................................................................. 77

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Diferenças entre a Ciência Moderna e a Pós-Moderna ............................ 21

Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID

M357p

Marques, Marceli Vituri.

A concepção de pesquisa no Curso de

Enfermagem da Universidade Cidade de São

Paulo. / Marceli Vituri Marques. --- São Paulo,

2013.

96 p.; anexos

Bibliografia

Dissertação (Mestrado) - Universidade Cidade

de São Paulo. Orientador Prof. Potiguara Acácio

Pereira.

1. Pesquisa científica - Enfermagem. I. Pereira,

Potiguara Acácio, orient. II. Título.

CDD 610.7

SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................. 12

Capítulo 1- Pesquisa Filosófica e Científica .............................................................. 17

Capítulo 2 - Criação da Universidade ........................................................................ 30

Capítulo 3 - A pesquisa como subsídio para a formação do enfermeiro ................... 43

Resultados e Discussões .......................................................................................... 61

Conclusão ................................................................................................................. 79

Referências ............................................................................................................... 82

Apêndice ................................................................................................................... 90

12

INTRODUÇÃO

Pesquisa é uma palavra que veio do espanhol. Este por sua vez herdou-se do latim. Havia em latim o verbo perquiro, que significava “procurar”, buscar com cuidado; procurar por toda a parte, informar-se, adquirir-se, inquirir, perguntar, indagar bem, aprofundar na busca”. O particípio passado desse verbo latino era perquisitum. Por alguma lei da fonética histórica, o primeiro r se transformou em s na passagem do latim para o espanhol, dando o verbo pesquisar que conhecemos hoje.

(BAGNO, 2009, p.17)

O resgate da minha trajetória profissional fez-me refletir sobre quais seriam as

minhas atribuições dentro da Universidade Cidade de São Paulo, no Curso de

Enfermagem, a partir das descobertas e esclarecimentos encontrados com os

resultados desta pesquisa.

Após três anos de prática assistencial hospitalar como enfermeira, ingressei

na carreira acadêmica, no curso de Enfermagem, em 2003. Na época, a instituição

era outra e a disciplina era a de Estágio Supervisionado em Administração

Hospitalar.

No começo, pensava que, para ser uma boa educadora, bastavam as

habilidades técnicas da profissão e, como já trabalhava na área assistencial, minhas

dificuldades seriam supridas à medida que eu desenvolvesse tais rotinas e

procedimentos da enfermagem.

A falta de vivência prática e também de formação específica em licenciatura

levaram-me a considerar como referência, para o desenvolvimento da atividade de

docente, alguns dos professores com os quais tive contato durante o período de

formação e os professores com os quais eu trabalhava.

Foi com o passar do tempo que algumas dúvidas e dificuldades de ordem

pedagógica fizeram despertar o interesse por participar dos encontros e reuniões de

professores, fóruns, colegiados, encontros científicos, entre outros, a fim de suprir e

aprimorar as atribuições do professor, na universidade e na pesquisa.

Exercer a docência em campo prático permite que ocorra a aproximação da

educação com a prática assistencial da profissão de Enfermagem, o que me traz

muita satisfação, mas também desperta inquietações por não favorecer a

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participação em alguns projetos exercidos dentro da própria Instituição. Como o local

de ensino é outro – fora da Universidade –, o professor, muitas vezes, desconhece

algumas políticas próprias da instituição, o que promove uma distância entre as

atividades teóricas e as atividades práticas.

Diante desta situação de despreparo pedagógico, caminho em busca da

minha formação como docente. Cursei a especialização em Ensino Superior e agora

o Mestrado em Educação.

A minha formação na Graduação, se deu no ano de 2000 como enfermeira

generalista. Em 2006, cursei minha primeira especialização em Administração

Hospitalar e em 2009, aqui mesmo na UNICID, a de Docência no Ensino Superior.

De 2003 até os dias de hoje, continuo lecionando. Transitei por diferentes

disciplinas no Estágio Supervisionado: Centro Cirúrgico, Central de Material

Esterilizado, Clínica Médica e Cirúrgica, Pronto Socorro, Unidade de Terapia

Intensiva, Gestão e, atualmente, em Saúde Coletiva.

De 2001 a 2011, atuei também como enfermeira assistencial e membro de

diferentes Comissões Hospitalares - Infecção Hospitalar, Curativo e Ética. Foi com a

participação em encontros e eventos que surgiu a oportunidade de conhecer a

pesquisa científica para o ensino e para a profissão.

A experiência educacional e hospitalar mostrou-me, por meio de relatos,

discussões e reuniões com outros enfermeiros, que muitos são os profissionais e

alunos que apresentam dificuldades em pesquisar científicamente.

Em 2011, no Mestrado, depois da Graduação e das duas especializações,

entendi a real finalidade da pesquisa acadêmico-científica. Fica difícil de

compreender por que somente neste nível de ensino é que ocorre maior iniciativa

em desenvolver o comportamento científico e investigativo.

Uma das realizações conquistadas no desenvolver do curso de Mestrado é

questionar-me quanto à ideia que tenho sobre pesquisa. Pude perceber, ao

participar das aulas, que, para escrever um trabalho ou desenvolver uma pesquisa

científica, aspectos organizadores devem ser definidos pelo pesquisador.

14

Um dos primeiros passos do pesquisador é identificar qual a concepção de

ciência que ele tem. Para ter um pensamento científico, é necessário que o autor

seja capaz de examinar os problemas a partir de diferentes perspectivas, para

buscar explicações plausíveis após análises críticas e constantes. Desde então,

deverão ser definidos o tema (o ideal é que o assunto abordado tenha afinidade com

o autor e o orientador), o problema de pesquisa (proveniente de questões

norteadoras), a relevância social e pessoal e o caminho metodológico.

Até o presente momento, o conteúdo científico é o que validou e valida minha

atuação tanto como enfermeira, quanto como docente, mas quando compreendi de

fato o que era a Ciência foi que passei a discutir o meu papel na Educação.

Posso perceber, no exercício das minhas atividades diárias e junto ao grupo

de professores e alunos, que, em grande medida, a pesquisa de cunho científico é

mais “consumida” do que “produzida” dentro do curso de Enfermagem da

Universidade Cidade de São Paulo. Sua utilização ocorre por meio da leitura e das

buscas e discussões que fortalecem e fundamentam o ensino, mas, neste momento,

a atividade que mais se aproxima de sua prática e produção é a realização do

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Por outro lado, o método científico é imprescindível no universo da

Enfermagem. Sua aplicação é uma questão de coerência e segurança na

concretização dos objetivos da profissão. A partir do embasamento na literatura

nacional e internacional, o enfermeiro fortalece – e constroem novas – condutas.

As Diretrizes Curriculares do Curso de Enfermagem, estabelecidas pelo

Ministério da Educação, afirmam que o TCC consiste em uma pesquisa individual,

com exposição crítica e de contribuição pessoal do autor sobre um único tema

relativo à área de conhecimento da Enfermagem. É orientado por um professor e

apresentado sob a forma de pesquisa bibliográfica ou pesquisa de campo.

Contudo, uma verificação, mesmo que superficial, dos trabalhos produzidos

nestes últimos três anos, identifica deficiências de cunho conceitual do que seja

pesquisa científica, o que se deve, notadamente, à fragilidade do conhecimento, por

parte dos alunos, de seus aspectos organizadores. Outro fator contribuinte é o fato

de que muitas foram as modificações implementadas ao método científico, no

15

sentido de atender as necessidades de diferentes disciplinas e manter o rigor para

aceitação do novo conhecimento construído.

Nestes últimos dez anos, houve uma expansão na abertura de cursos de

Enfermagem no Brasil e, ainda, são poucas as publicações de artigos, dissertações

e teses realizadas nas universidades no Curso de Enfermagem.

Para melhorar a qualidade no ensino, nestes dois últimos anos, o Conselho

Regional de Enfermagem (COREN) exigiu que o enfermeiro docente cursasse a

Especialização em Licenciatura, com o intuito de desenvolver competências e

habilidades pedagógicas.

Atualmente, os enfermeiros, pouco a pouco, ingressam no cenário nacional e

internacional com suas pesquisas. Acredito que, se a pesquisa científica for iniciada,

ensinada e desenvolvida na Graduação, poderá muito contribuir para o

desenvolvimento de enfermeiros/as pesquisadores/as para o país, além de estimular

a abertura de campos destinados ao seu aprimoramento e, consequentemente, um

avanço intelectual para a profissão.

Quando iniciei este trabalho, meu objetivo foi de dar partida a um processo de

busca e transformação da minha própria prática como docente e contribuir, por meio

dos resultados obtidos, para a melhoria da Pesquisa Científica no Curso de

Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo.

Ao considerar as concepções de pesquisa na visão dos alunos e dos

professores, foi possível identificar a situação atual da pesquisa no Curso, bem

como a preparação para o seu exercício, as condições e os estímulos para a sua

realização e desenvolvimento e as implicações no currículo e na profissão.

A relevância desta pesquisa consiste em estimular e incentivar o contingente

de pesquisadores na área a partir da Graduação, pois nos cursos de Enfermagem,

apesar de estar inserida em seus currículos a Pesquisa, o foco está na

Profissionalização, e a pesquisa acadêmico-científica, geralmente, acaba por ser

descoberta na realização do Mestrado e do Doutorado.

Como professora no Curso de Enfermagem da Universidade Cidade de São

Paulo, ao participar como membro de banca na apresentação dos Trabalhos de

16

Conclusão de Curso, percebi que, na maioria dos trabalhos, existe uma

preocupação por parte dos alunos em descrever os assuntos escolhidos e

apresentá-los de acordo com as normas metodológicas. Dessa forma, é possível

considerar as reflexões acimas citadas, pois nas conclusões dos trabalhos é notável

o déficit dos alunos em assumirem posições de defesas, ataques ou confronto com

hipóteses e situações sociais.

Com o intuito da compreensão do que é pesquisa acadêmico-científica,

importantes considerações adicionais, com base na revisão da literatura, foram

acrescidas ao trabalho. O procedimento metodológico adotado é o de Análise

documental, com base em diferentes exemplares, os quais, após organizados e

interpretados, permitiram fundamentar e articular a investigação proposta.

Como técnica de coleta de dados, vali-me da análise documental e da

aplicação de questionários, para “ouvir” de professores e alunos o que pensavam

sobre a pesquisa.

Os questionários foram compostos por questões abertas, com distinção de

perguntas para docentes e discentes, e a coleta de dados ocorreu em maio de 2012,

quando professores e alunos encontravam-se reunidos para comemorar a Semana

de Enfermagem. Como parte do evento, os Trabalhos de Conclusão de Curso foram

apresentados oralmente e em forma de pôsteres.

Os dados dos questionários foram analisados com base nos pontos de

divergências e eventuais pontos de convergência, com elaboração de tabelas para

facilitar a redação e o entendimento.

A fim de “ouvir” dos professores o que sugeririam para melhorar a pesquisa

no curso, colhi informações em um debate no colegiado. Por serem familiares à

pesquisadora, os sujeitos participantes foram os mesmos que responderam ao

questionário.

Como conclusão, foram apresentadas algumas reflexões acerca da situação

atual da pesquisa no Curso de Enfermagem da UNICID.

17

CAPÍTULO 1

A PESQUISA FILOSÓFICA E CIENTÍFICA

Neste capítulo, abordo e reflito criticamente sobre a concepção do que é

conhecer. Para melhor entendimento, o assunto será redigido em quatro subitens,

dos quais o primeiro discute o processo de conhecer, os diferentes tipos de

conhecimentos e a História da Ciência; o segundo compara as características da

Ciência Moderna com as da Ciência Pós-Moderna; o terceiro discute as ideias de

diferentes filósofos no período conhecido como Revolução Científica para validar os

conhecimentos; o quarto é uma introdução para segundo capítulo, com a descrição

da origem da universidade e sua relação com a pesquisa científica.

Vale dizer, de início, que o homem detém vários tipos de conhecimentos,

desde o mais simples, comum a todas as pessoas, até aquele mais complexo, não

comum a todos. O conhecimento não é proveniente somente dos documentos,

bases de dados, escolas, sistemas de informação ou universidades, mas também

das experiências e práticas dos sujeitos.

Existem vários tipos de conhecimentos e, certamente, sua forma mais básica,

para os homens e também para os animais é o conhecimento popular ou senso

comum.

Do ponto de vista que constitui o foco deste trabalho, o conhecimento

discutido neste capítulo foi o intelectivo, próprio da Ciência, com valorização no rigor

no discurso.

Aires (2003, s/p) afirma que “não existe uma definição satisfatória de

conhecimento”; entretanto, quatro elementos são necessários para que ele ocorra:

a) o sujeito b) o objeto; c) a operação própria do conhecimento e; d) o resultado

obtido. Para Pereira, sujeito é aquele que quer conhecer ou investigar um objeto por

meio de uma operação própria do conhecimento – modo de agir – para se alcançar

um resultado (2004, p.23).

Pode-se dizer que "conhecer é elaborar um modelo de realidade", é "projetar

ordem onde havia caos" (CYRINO; PENHA, 1992, p.13), é incorporar um conceito

novo, ou original, sobre um fato ou fenômeno qualquer. Para os autores, o termo

18

“caos”, é utilizado de forma positiva para descrever o imprevisível; já o termo

“realidade”, originário do latim “realitas”, tem o sentido de "coisa”, de ” tudo o que

existe" ou “de tudo que nos cerca”, de que se pode concluir que, para haver

conhecimento, é necessária a relação do homem com a sua realidade.

Para Pereira (2004, p.33), “o homem, ao fazer ciência, nada mais faz do que

interpretar as suas próprias ações e realidade que o cerca". Trata-se de um desejo

de superação daquilo que lhe causa admiração.

De acordo com Severino (2007), Pereira (2004) e Gewandsznajder (1989), a

maneira espontânea por meio da qual o homem entende e atua sobre a realidade

para adquirir o conhecimento pode ser guiada por Senso Comum, Arte, Teologia,

Filosofia e Ciência.

O conhecimento obtido pelo Senso Comum é aquele adquirido

espontaneamente, por meio de opiniões, ditos populares e crenças. São as

experiências do dia a dia, que podem ser transmitidas de geração a geração, sem se

ater a estudos comprobatórios. O obtido pela Arte é aquele produzido pela

imaginação, que pode ser visualizado, sentido, ouvido ou percebido instintivamente.

O conhecimento teológico é aquele relacionado com a fé divina ou com a crença

religiosa, que não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. O filosófico é

proveniente da reflexão, tem uma visão crítica e busca investigar as causas e os

efeitos. O proveniente da Ciência, o mais explorado neste texto, sofreu mudanças

em sua concepção conforme sua trajetória.

A Ciência não teve sempre a mesma concepção que lhe atribuímos hoje; seu

desenvolvimento aconteceu, na cultura ocidental, em duas grandes perspectivas: a

primeira, conhecida como Ciência Moderna, é caracterizada pelo método

experimental; e a segunda, a Pós Moderna, é determinada pela superação das

dicotomias.

A Ciência Moderna, também conhecida como empírica, é conceituada como

um conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto,

obtidos mediante a observação e a experimentação.

19

Vale ressaltar que, no século XIX, experiências começaram a ser realizadas

em laboratório. Este dado deve ser claro para que não se confunda o termo

experiência, de empírico, relacionado com a ideia de “vivência”, com os

experimentos executados em laboratório.

A Ciência Pós-Moderna interpreta a realidade de modo racional, provisório e

capaz de ser corrigido e questionado. Não é a representação completa e perfeita de

fenômenos, diretamente observáveis, mas uma reconstrução idealizada e parcial da

realidade.

Desde a época da antiga Grécia, os indivíduos, por se sentirem perplexos

com a realidade vivida, começaram a interrogar sobre ela, em busca de uma razão

para tudo o que existia. A busca do saber e da compreensão encontrava-se nas

coisas da natureza e do homem, e os estudos eram fundamentados na análise do

pensamento, em experiências práticas e da mente, na lógica e na análise conceitual

(LAMPERT, 2010; RUIZ, 2008; CYRINO, 1992).

As respostas, a princípio, não eram de cunho científico, e sim de caráter

religioso e mítico. Estas explicações, apesar de não se sustentarem por

comprovação, tinham grande valor, pois além de responder à curiosidade dos seres

humanos, serviam como conduta moral.

Do ponto de vista teórico, pensadores da região começaram a questionar e a

apresentar diferentes teorias para afastar as concepções míticas. Talvez tenha sido

essa vontade de discutir racionalmente as ideias, em vez de limitar-se a aceitá-las,

que fez que a ciência se desenvolvesse (LAMPERT, 2010; ROSAS, 2008; CYRINO,

1992).

Com o declínio do mundo grego, o espaço cultural foi ocupado pelo Império

Romano, e a ciência medieval a partir de então, era baseada na sabedoria divina. A

doutrinação religiosa era o que influenciava a sociedade, o meio econômico,

artístico, cultural e político. A Igreja era também a responsável pela formação da

juventude em escolas e conventos cristãos.

20

Embora outras formas de conhecimento só fossem aceitas se não se

opusessem aos dogmas religiosos, certos pensadores sentiam a necessidade da

fundamentação teórica; como consequência desta iniciativa e atitude intelectual, o

modo de pensar se associou a um novo método, conhecido por indução

experimental.

Com o Renascimento, - no final da Idade Média e início da Idade Moderna –,

novos modos de vida surgiram e provocaram a contestação das velhas tradições. O

processo científico foi retomado e muitos foram os historiadores que, com o objetivo

de alcançar respostas para suas dúvidas, determinaram os critérios na produção dos

conhecimentos.

Nos séculos XVI/XVII, surge a Ciência Moderna, caracterizada pela

experiência e pela descrição do fenômeno, capaz de dissociar a ciência da religião.

Empírico foi o nome dado para descrever o estado das coisas por meio da

experiência. Conhecido também como método indutivo ou método experimental, é

definido por Aires (2003) como um “conjunto de procedimentos científicos que

incorporam sistematicamente a experimentação como forma de estabelecer a

verdade/falsidade de certa hipótese científica”. Suas etapas são: a) investigação -

observação e formulação de uma hipótese; b) experimentação e; c) generalização.

Para Matheus, Fugita e Sá (2006, p.22), a observação significa “trazer o

mundo para dentro de nós”, “percebê-lo para entendê-lo”. Cada tipo de observação

depende da situação que se quer estudar e da pessoa que observa, conforme sua

concepção de mundo, de homem, de valores e de experiências de vida.

Com a experimentação, hipóteses de um fenômeno eram verificadas e, se

confirmadas, transformavam-se em leis aplicáveis a todos os fenômenos do mesmo

tipo. O termo “fenômeno” passou a ser utilizado para designar um processo ou uma

ação cabível de esclarecimentos. As hipóteses enunciavam a solução estabelecida

de um problema e toda hipótese deveria ser enunciada em proposição ao verificável

para se tornar científica – posta à prova para serem aprovadas ou reprovadas

(AIRES, 2003).

21

Com o passar do tempo, a ciência passou a ter um aspecto mais público, as

conferências e os livros científicos tornaram-se mais populares e tinham o propósito

de mostrar às pessoas a importância do conhecimento na vida diária. Pereira

(2004, p.54) afirma que “foi no século XX que as descobertas científicas se

aceleraram, e um número maior de cientistas, passou a trabalhar em prol da

ciência”.

A comunidade científica era a responsável pela contínua evolução das teorias

científicas, com criação de testes e hipóteses para explicar certos fenômenos e

observações. Nesse contexto, foi possível identificar dúvidas e necessidades na

elaboração e na construção de respostas para se obterem os esclarecimentos

que geraram transformações nos modos de produção do conhecimento .

Quadro 01: Diferenças entre a Ciência Moderna e a Pós Moderna

CIÊNCIA MODERNA CIÊNCIA PÓS-MODERNA

Empírica Empírica / teórica

Objetiva Objetiva / subjetiva

Quantitativa Quantitativa / qualitativa

Descritiva Descritiva / interpretativa

Disciplinar Disciplinar / interdisciplinar

Previsível Previsível / probabilística

Linguagem matemática Matemática e outras

Fonte: Dados do orientador e do autor

O quadro acima apresenta as características predominantes na ciência

moderna e na pós-moderna. Pode-se perceber que as condições iniciais da ciência

moderna eram caracterizadas por certa falta de flexibilidade, impondo com rigor à

sociedade e à comunidade acadêmica as correntes dos pensamentos gerados. Já

na ciência pós-moderna, essa flexibilidade começa a surgir e o conhecimento de um

dado fenômeno abrange uma multiplicidade de enunciados, inclusive aqueles

incompatíveis entre si, que possibilitam a discussão e o questionamento entre as

práticas, instrumentos, hipóteses e teorias. A ciência pós-moderna não se limita a

descrever a experiência, mas explana e comenta os seus resultados.

A objetividade e a subjetividade consistem em reconhecer que o

conhecimento não repousa na imparcialidade de cada indivíduo, mas na disposição

dele em formular e publicar hipóteses para que essas possam ser testadas e

22

controladas por outros cientistas. Portanto, qualquer pesquisador tem atrás de si um

conjunto de teorias, fruto de pesquisa de outros estudiosos.

Na ciência moderna, as pesquisas eram quantitativas, relacionadas à

mensuração de um fenômeno, nas quais geralmente o pesquisador utilizava a

observação para fazer inferências e julgamentos. Já na ciência pós-moderna, as

pesquisas podem ser quantitativas e qualitativas; nelas, o pesquisador não se

envolve com o evento estudado, mas registra, descreve e discute seus aspectos

significativos.

Demo (2001, p.54) afirma que o “conhecimento científico transcende, produz

e explica os fatos novos criados. O trabalho de investigação se baseia no

conhecimento anterior e, em particular, nos fundamentos confirmados”. Para ele, a

investigação ocorre de acordo com regras e técnicas que se revelaram eficazes no

passado, mas que são aperfeiçoadas continuamente no presente.

Conforme Barbosa (2010, p.37), foi em 1920 que cientistas de diversas áreas

de investigação começaram a questionar as teorias científicas. A tentativa de

unificar o saber científico e elaborar um método científico comum a todas as ciências

iniciou-se na Escola de Viena nas duas primeiras décadas do século XX.

As teorias, conforme Aires (2003, s/p) são “um conjunto de proposições

estruturadas entre si que visam resolver um problema ou explicar um fenômeno”. Se

uma teoria não resolve os problemas que se propõe a resolver, ou não explica o que

se propõe a explicar, é inadequada. Qualquer teoria é permanentemente

confrontada com os fatos científicos e deve evoluir em virtude da descoberta de

novos dados.

A seguir, serão apresentadas as ideias de quatro dos principais filósofos que

formularam teorias para validar a investigação científica: Karl Popper, Thomas Khun,

Imre Lakatos e Paul Feyerabend.

Karl Popper foi o grande defensor da democracia liberal. Ficou conhecido por

explanar o falsificacionismo – critério de demarcação entre a ciência e a não ciência;

Thomas Kuhn se tornou conhecido por ter seu lado intelectual voltado para a

História e a Filosofia da Ciência, em que procurou descrever quais deveriam ser as

23

condições para validar uma teoria científica, ao apontar que os momentos da prova

de tal teoria serviriam como critério de sua qualificação; Imre Lakatos foi seguidor de

Popper durante grande parte de sua carreira filosófica, cujo ponto central foi a prova

e a refutação das ideias do pai do falsificacionismo; Paul Feyerabend tornou-se

figura influente na Filosofia da Ciência e na Sociologia do Conhecimento Científico

por defender a inexistência do método cientifico, pois não acreditava na existência

de princípios firmes e inalteráveis, uma vez que eles poderiam infringidos em

diferentes ocasiões (JOAQUIM, 2009, p.35).

Karl Popper (Áustria, 1902 – Londres, 1994) foi um dos filósofos mais

importantes do século XX. Estudou na Universidade de Viena e realizou o Doutorado

em Filosofia em 1928. No ano de 1937, por conta do nazismo, emigrou para a Nova

Zelândia, onde lecionou Filosofia no Canterbury University College. Em 1946,

mudou-se para a Inglaterra, naturalizando-se britânico. Foi assistente de ensino na

disciplina de Lógica e de Método Científico e professor (1949) na London School of

Economics (LOPES, 2001, p.56).

Sua obra de destaque foi A Lógica da Pesquisa Científica, na qual defende

que o critério de demarcação da Ciência não é a verificação – utilizada para

identificar se uma teoria possuía caráter empírico ou científico –, e sim o

falseamento.

Sua proposta para o saber científico era o critério da não refutabilidade ou

falseabilidade, de acordo com o qual o método das ciências deveria tentar achar

possíveis soluções para os problemas, em vez de somente gerar ou caracterizar o

conhecimento pela observação ou coleta de dados.

Para Santos (s/d, p.65) o que interessa na Filosofia das Ciências de Popper

“não é saber como uma teoria científica foi descoberta e sim como era avaliada, pois

quanto maior a sua resistência a provas criteriosas e severas maior seria a sua

validade e qualidade”. Se uma teoria, ao ser testada empiricamente, tivesse

resultados positivos, ela continuava a ser desenvolvida, mas, se falhasse, era

falsificada e consequentemente abandonada. Quanto maior fosse o grau de

falseabilidade, melhor seria a teoria, pois quanto mais previsões fizessem, maiores

seriam os riscos de refutação.

24

Thomas Kuhn (1922-1996) começou sua carreira acadêmica como físico

teórico e se interessou por história da ciência. Para ele, a concepção de ciência

tradicional não se ajustava ao modo pelo qual a ciência real nascia e se desenvolvia

ao longo do tempo. Foi o filósofo que se contrapôs à teoria de Karl Popper (KUHN,

2010, p.10).

Essa percepção o conduziu a desenvolver a sua própria teoria, não vista

como um processo linear e evolutivo, mas como uma sucessão de paradigmas

(modelos) que se confrontavam entre si. Nela, Kuhn define paradigma como

"'modelo ou padrão aceito"; em outras palavras, aquilo que os membros de uma

comunidade científica partilham e discutem.

Para uma melhor compreensão desta teoria, Kuhn (2010, p.77) afirma que “as

noções envolvidas na cadeia evolutiva da ciência que percorre o critério de

demarcação proposto para substituir os critérios do falsificacionismo”.

A fase pré-paradigmática, período no qual reinava uma ampla divergência

entre os pesquisadores, discute quais são os fenômenos que devem ser estudados

e explicados e se define pela utilização dos princípios teóricos, das regras, dos

métodos e dos valores para direcionar na busca, assim como a descrição,

classificação e explicação sobre as técnicas e instrumentos utilizados.

Para uma disciplina alcançar o estatuto de científica e se tornar uma “ciência

normal”, era preciso chegar a um paradigma, encerrando a fase pré-paradigmática.

A decisão de rechaçar ou de aceitar um paradigma, como um juízo que conduzia a

decisão, envolvia sempre a comparação entre paradigmas anteriores.

Sua obra de destaque foi Estrutura das Revoluções Científicas, com defesa

da ideia de que a ciência apresentava longos períodos de acumulação de

conhecimentos, chamada de "ciência normal". Os períodos de ciência normal eram

intercalados por breves períodos de ciência extraordinária, que, devido à descoberta

de sérias anomalias no paradigma dominante, faziam surgir as crises e os

questionamentos nas Revoluções Científicas.

As revoluções científicas consistiam basicamente na mudança de paradigma,

"nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um

25

novo, incompatível com o anterior”. Um paradigma deixava de ser adequado quando

algo decorrente de sua natureza deixava de funcionar, ou quando uma comunidade

científica o repudiava ou renunciava a ele (KUHN, 2010, p.85).

A proximidade entre Popper e Kuhn está no fato de admitirem um

desenvolvimento possível para o conhecimento epistemológico da realidade. No

entanto, os princípios de superação e revolução das teorias científicas e paradigmas

existentes se diferenciam quanto ao critério de demarcação entre as ciências

empíricas e a metafísica. Para Kuhn (2010, p.89), "a ciência é o resultado de um

processo sucessivo e em constante evolução, onde neste processo convergem

diferentes fenômenos, que enfrentam os cientistas enquanto resolvem enigmas".

Outro filósofo que contribuiu para os critérios de validação dos

conhecimentos foi Imre Lakatos. Nascido na Hungria em 1922 foi graduado

em Matemática, Física e Filosofia na Universidade de Debrecen. Seu nome de

nascimento era Imre Lipschitz, alterado para Imre Molnár para evitar a perseguição

nazista. Por ser um comunista ativo durante a Segunda Guerra Mundial, mais uma

vez teve que alterar seu sobrenome para Lakatos - em honra de Géza Lakatos,

general da Hungria durante o período da guerra. Após a Segunda Guerra, fez

doutorado e retornou à Hungria para trabalhar como oficial sênior no Ministério da

Educação do país (LAKATOS, 2007, p. 60).

Esteve preso entre os anos de 1950 e 1953, por motivos políticos. Após sair

da prisão, regressou à vida acadêmica e passou a pesquisar Matemática. Por conta

da invasão russa, deixou a Hungria em novembro de 1956 e seguiu para Viena. Foi

na Inglaterra, na Universidade de Cambridge, que se doutorou em Filosofia no ano

de 1961.

Em 1960, ingressou na London School of Economics, onde trabalhou com

Filosofia da Matemática e Filosofia da Ciência. Permaneceu na London School of

Economics até morrer, em 1974.

Vale lembrar que Karl Popper foi quem mais influenciou seus pensamentos,

com a ideia de distinção entre ciência e pseudociência. Para responder este

problema, Popper dizia que as teorias científicas se distinguiam das

pseudocientíficas em virtude de serem refutáveis. Para seguir e desenvolver as

26

ideias de Popper, a fim de superar as críticas de Kuhn, Lakatos propôs a “falseação

ingênua” (LAKATOS, 2007, p. 80).

Esta teoria afirmava que nenhum teorema era perfeito ou portador da verdade

absoluta, não por ter encontrado contraexemplos ou falhas, mas porque algo em

suas premissas poderia estar equivocado. Assim, a teoria poderia ser sustentada

por uma nova hipótese auxiliar ou por uma revisão que a adequasse às suas

condições iniciais.

Sua epistemologia era baseada na Metodologia dos Programas de Pesquisa

Científica, de acordo com a qual uma teoria, para se tornar científica, deveria

apresentar progressividade e inter-relação com outras teorias.

A definição de “programa” para Lakatos é dada pela distinção de heurística

negativa e heurística positiva. A primeira é composta pela parte de uma pesquisa e

contém posicionamentos básicos e estruturais, os quais dificilmente mudam;

basicamente, é não-falseável por convenção da comunidade científica. Já a segunda

é o conteúdo da investigação do programa, composto por um rol de instruções que

permite saber como trabalhar o programa de investigação concretamente. É nesta

parte que se indica ao pesquisador como se deve desenvolver corretamente o

programa ou como mudar seu ponto de vista a respeito de uma teoria. Se um

determinado programa de pesquisa apresenta novas predições corroboradas pelos

experimentos, ele é progressivo; já aquele que não apresenta novos fatos é

degenerativo (LAKATOS, 2007, p.90).

Em síntese, para o pesquisador (2007, p.100), "as críticas racionais são

importantes para que os programas progridam e a ciência avance na sua

metodologia de programas de investigação científica". Pode-se observar que esta

teoria teve o mérito de analisar as deficiências nas tentativas anteriores de soluções

para alguns dos problemas colocados por Karl Popper e Thomas Kuhn.

Paul Karl Feyerabend também adotou estratégias próprias para conceber a

ciência. Nasceu em Viena, em 1924, e morreu em 1994, morando em diversos

países como Reino Unido, Estados Unidos, Nova Zelândia, Itália e Suíça.

27

Escreveu obras como Against Method (1975), Science in a Free

Society (1978), e Farewell to Reason. Teve, ainda, uma coleção de artigos

publicados em 1987 e tornou-se famoso por sua suposta rejeição à existência de

regras metodológicas universais e por identificar falhas em outras teorias. Para ele,

a sociedade perfeita era aquela capaz de expressar, pensar, explorar e investigar

livremente e de forma imparcial, sem influência de ideologias impostas.

Feyerabend acreditava que a verdade estava na força do argumento, não

apenas em seu aspecto racional, mediante a apresentação de resultados conferidos

em testes e experiências, mas também no modo como os resultados eram descritos

e apresentados, levando em consideração outros pontos de vista sem distinção ou

pré-julgamentos. Sua posição, na época, foi vista como radical e rejeitada por alguns

cientistas.

Defendia a tese de que não existia nenhuma metodologia eficaz para todas as

situações, já que no campo da Ciência são inúmeras as ocasiões para se explorar o

Conhecimento Científico. Afirmava que a utilização de um método único poderia,

em um determinado momento, falhar justamente pelo excesso de regras e também

pela sua grande abrangência.

Fez duas observações contrapondo as ideias anteriores: a primeira dizia que

os cientistas sempre renovavam suas formas de pesquisar sem depender da

prescrição dos filósofos e a outra se referia a uma "atitude humanitária" de acordo

com a qual os seres humanos deveriam ter o direito da liberdade de escolha, seja

ela pela Ciência, ou por outras formas de conhecimento.

O que se pode perceber após a leitura e o desenvolvimento da História da

Ciência é que uma série de problemas relativos a uma definição precisa foi e é

existente ainda, a começar pela dificuldade em estabelecer uma comparação formal

entre as teorias, no tocante à elaboração de critérios que validem se uma teoria é

melhor que a outra.

Convém dizer que as concepções e práticas de pesquisa sempre foram

condicionadas pelos interesses dos pesquisadores no contexto social da época.

Sucintamente, o que quis discutir foram as diferentes posições e implicações das

teorias na evolução da Ciência, seja por valorização do conhecimento científico

28

sobre os demais tipos de conhecimento, seja pela busca de métodos para validar as

teorias.

Para a primazia do conhecimento, ideias são discutidas por uma comunidade

de estudiosos que a ela aderem por convencimento após as argumentações. Quanto

maiores os avanços alcançados pelo conhecimento científico, maior é a ousadia em

se aproveitar as contradições existentes para descobrir ou superar conquistas para a

ciência.

Pereira (2004, p.28) atrela o vocábulo “ciência”, cunhado no século XIX, a um

conhecimento ou um saber que se adquire pela leitura e pela meditação, sendo

tomada como um conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado

objeto, especialmente os obtidos mediante a observação e a experimentação. É

uma soma atual dos conhecimentos científicos, uma atividade de pesquisa, ou ainda

um método de aquisição do saber que está vinculado à escola e à universidade.

Para completar, pode-se dizer que a Ciência, ao longo de sua história,

passou a ter uma importância fundamental, como se o que não fosse científico não

correspondesse à verdade.

Para Ruiz (2008), Severino (2007) e Gewandsznajder (1989) a ciência pode

ser concebida como a) conhecimento certo do real pelas suas causas; b) conjunto

orgânico de conclusões certas e gerais metodicamente demonstradas e

relacionadas com objeto determinado; c) atividade que se propõe a demonstrar a

verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas; d) conhecimento

sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que os regem, obtido através da

investigação pelo raciocínio e pela experimentação intensiva; e) estudo de

problemas solúveis, mediante método científico.

Para Ruiz (2008, p.78) “a pesquisa científica é a realização concreta de uma

investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da

metodologia consagradas pela ciência”.

Em suma, o Conhecimento Científico é o que satisfaz a curiosidade. Em uma

visão mais tradicional, seria “verdadeiro” aquilo que se pudesse comprovar por meio

29

de experiências; em uma visão mais atual, é algo em transformação, que interage

com a cultura e com a sociedade.

30

CAPÍTULO 2

CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE

“A universidade foi instrumento da criação do novo saber para o mundo”,

que “a partir do século VI A.C., o pensamento começou a fazer uma

transição do mítico para a racionalidade”.

Buarque (2000)

A educação sempre foi um dos meios pelos quais os grupos humanos

asseguraram a sobrevivência. Para Lampert (2010, p.13), “desde a Antiguidade,

muitos foram os esforços para contribuir com o desenvolvimento escolar”. Na

sociedade primitiva, não existiam instituições educacionais e a educação acontecia

de modo espontâneo e integral, com a realização de tarefas vitais, trabalhos, ritos,

cerimônias, ou no curso dos dias.

A educação grega foi marcada pelo ensino de música, canto, dança e

atletismo. Já a educação na idade Média ficou conhecida como Escolástica cujo

objetivo era aperfeiçoar as técnicas para aquisição do poder. Na transição da Idade

Média para a Moderna, questionamentos por parte dos estudiosos sobre o vínculo

da ciência com a religião começaram a surgir e, na Idade Contemporânea, o ensino

foi dividido em formação clássica e instrução técnica voltada para a empregabilidade

industrial (BUARQUE, 2000, p.30).

O capítulo descreve a ação dos efeitos históricos sobre a educação atual,

desde a concepção das escolas até a origem das primeiras Universidades, que

gradualmente foram assumindo o papel de centralizadoras na produção dos

conhecimentos científicos, com influência sobre o mundo acadêmico e a sociedade.

Para Le Goff (2011, p.7), “o ponto de partida para a origem das instituições

universitárias, foi o surgimento do homem intelectual”.

A palavra Intelectual é utilizada no intuito de “deslocar a atenção das instituições para os homens, das ideias para as estruturas sociais, as práticas e as mentalidades, de situar o fenômeno universitário medieval numa visão de longa duração”, e o termo que melhor exprime a realidade ideológica da cidade é o de universitas (corporação), onde a coletividade é

formada pelos habitantes.

31

A Renascença Carolíngia foi o período em que grande parte da Europa

Ocidental e Central, durante o século IX, foi comandada pelo Imperador Carlos

Magno (742-814), o qual estabeleceu seu reinado por meio da literatura e da arte.

Houve uma grande expansão das composições musicais e a base da literatura era a

poesia cortês, na qual a mulher aparecia como um ser “todo-poderoso”, servida pelo

trovador.

Vaghetti et al. (2011, p. 87), ao citar Abramson, Gurevitch, Kroletinistski

(1978) e Arruda (1981), afirma que, nessa época, “a cultura era monopolizada pela

Igreja e a produção artística acontecia nos mosteiros e nas cortes, com autoria

dos monges ou dos clérigos”. As pinturas medievais representavam a vida de

santos, quadros da Bíblia e mostravam situações apocalípticas, que provocavam

nas pessoas um profundo temor da morte e do inferno.

Entre os séculos IX e XII, os mesmos autores reconhecem que na época

medieval foram diversos os ataques e as invasões provocadas por germanos,

eslavos, tártaros e mongóis ao Império Romano. Estes movimentos provocavam

estagnação na economia, na saúde e na educação, originando na sociedade muitos

leigos e analfabetos (2011, p. 88).

Diante deste quadro, surgiu a necessidade do empreendimento de ações que

promovessem a educação, protegessem e recuperassem a saúde da população,

além de outras medidas que freassem os distúrbios que abalavam a sociedade.

Segundo Vaghetti et al. (2011, p.89) “foram os monastérios, na figura da

Igreja, os responsáveis pela manutenção de ações voltadas para religião, educação,

e saúde” . Os monastérios era o lugar onde viviam os elementos do clero regular, e

podiam assumir momentaneamente a figura de professores, eruditos ou escritores e

estudavam teologia, filosofia, literatura e os eventos naturais sob o ponto de vista da

religião.

Como as precauções sanitárias não eram conhecidas houve a necessidade

da construção de um local para abrigar e cuidar das pessoas doentes. A Igreja

ocupou-se da edificação de grandes hospitais, onde os monges-militares e

cavaleiros feudais eram os responsáveis por atender os enfermos. Vários eram os

fatores relacionados à saúde, desde soldados feridos até epidemias, doenças

32

nutricionais que ocorriam pela baixa ingesta de alimentos, calamidades naturais,

como seca, que prejudicavam a colheita e causavam morte do gado e condições de

higiene precárias.

Conforme Vaghetti et al. (2011) ao citar Fremantle (1965) e Perry (2002),

afirma que o “comércio tornou-se a força principal do desenvolvimento econômico,

fazendo surgir então as corporações”, que, organizadas por níveis hierárquicos –

mestres, oficiais e aprendizes –, tinham o propósito de regulamentar o processo

produtivo e artesanal das cidades.

A direção da Igreja Católica pertencia – como ainda pertence – ao Papa e aos

Bispos; cada Bispo era responsável pela administração de um território denominado

Diocese – esta formada por várias paróquias.

Coube também à Igreja a organização do processo educacional. No texto do

mesmo autor, as escolas Paroquiais limitavam-se à formação de eclesiásticos e o

primeiro ensino eram os salmos, as lições das Escrituras e a educação cristã,

ministrados por qualquer sacerdote encarregado de uma paróquia.

As Escolas Monásticas, a princípio, visavam à formação de futuros monges

com regime de internato e, mais tarde, a formação de leigos cultos – filhos dos Reis

e dos servidores. Seu programa de ensino incluía aprender a ler e escrever,

conhecimento da Bíblia, canto e um pouco de aritmética. Seu conteúdo foi

enriquecido com latim, gramática, retórica e dialética.

As Escolas Palatinas foram fundadas pelo Imperador da época, junto à sua

corte e no seu próprio palácio. Seus professores eram clérigos e lecionavam as sete

artes liberais: trivium, ou ensino literário – gramática, retórica e dialética – e o

quadrivium, ou ensino científico – aritmética, geometria, astronomia e música.

As Escolas Catedrais, originadas das antigas escolas monásticas, foram as

que mais evoluíram no modo de ensinar e passaram a ser mantidas pela criação de

benefícios para a remuneração dos mestres.

Professores e alunos começaram a se reunir, em corporações chamadas de

“universitas”, para discutirem seus interesses e diferentes modos de pensar. Não se

sabem ao certo as origens das corporações universitárias, mas sua organização foi

33

lenta e à custa de conquistas sucessivas. A organização dessas reuniões, bem

como a representação dos mestres perante a Igreja, fez surgir à ideia da

reestruturação do processo educacional em algumas escolas, resultando na figura

do Reitor e na ideia de Universidade.

As universidades, conhecidas por ex privilegio, fundadas por autoridades (reis

ou papas), recebiam da Igreja Católica o título de studium generale, o que indicava a

Instituição como um estabelecimento de excelência internacional; já as que evoluíam

de escolas, eram chamadas por ex consuetudine. (LE GOFF, 2011, p.35)

Os acadêmicos destes Institutos de Excelência eram encorajados a ministrar

cursos em outros Institutos para partilhar e divulgar os documentos elaborados. A

preocupação era o domínio dos saberes dispostos em livros, com textos soberanos

e de verdades absolutas.

Os magníficos manuscritos da época são obras de luxo. O tempo que se gasta para escrevê-los, com um belo traço – a caligrafia é um sinal, ainda mais expressivo que a caco grafia, de uma época inculta na qual a demanda de livros é mínima. Os livros não são feitos para serem lidos. Vão engordar os tesouros das igrejas, dos ricos particulares. Constituem um bem mais econômico do que intelectual. Alguns de seus autores, recopiando as frases dos antigos Padres da igreja, afirmam com clareza a superioridade do valor do conteúdo espiritual (LE GOFF, 2011, p.79).

A evolução destas corporações esteve associada ao surgimento do

“intelectual” do século XII, cujas características se resumiam a um profissional, na

atividade de professor ou erudito, portador de materiais e técnicas que auxiliavam

no ofício de escrever ou ensinar.

Foi no Chartres, o grande centro cientifico da época, influenciado por traços

da cultura greco-arábe, que outras características como clareza do raciocínio, o

cuidado da exatidão científica, a fé e a inteligência começaram a se desenvolver.

Houve a necessidade da utilização de uma linguagem em que as palavras

deveriam ser utilizadas para significar a realidade. Foi então que se começou a

reivindicação da aliança entre razão e fé.

Para Le Goff (2011, p.40), “o intelectual do século XII foi aquele que se

afirmou como um artesão da ciência e do conhecimento, responsável em

transformar e criar em cooperação a criação Divina e da Natureza”. Sua função

34

estava no ensino das artes liberais, o que não implicava apenas o conhecimento,

mas também uma produção que se originasse da razão.

Nessa perspectiva, o quadro escolar composto pelas sete artes liberais sofreu

alterações e novas disciplinas – Física e Ética - foram introduzidas para completar a

formação do homem.

O século XIII foi marcado pelo começo do divórcio entre a fé e a razão e uma

dupla burocracia entre leigos e eclesiásticos começou a surgir. As universidades do

século XIII continuaram a progredir conforme o contexto do século. O Reitor perdeu

o seu poder de decisão sobre a universidade, que se tornou independente do clero.

Conquistas e novos privilégios começaram a fazer parte da identidade da

universidade, dentre eles a autonomia jurisdicional, o direito de greve e de secessão

e o monopólio da atribuição dos graus universitários.

Os primeiros centros criados foram em Paris e Bolonha, de onde se

estenderam para Espanha e Polônia. Cada uma das universidades possuía seu

método organizacional de conteúdos, horários de aula, divisão de classes e níveis

de seleção dos alunos e professores, que variavam de acordo com as influências do

momento histórico, social, político, econômico e cultural.

As indicações a respeito da idade dos estudantes e da duração dos cursos,

em consulta às bibliografias, apareceram de formas imprecisas e muitas vezes

contraditórias, Para Goff (2011) e Sleutjes (2006) o ensino tinha a seguinte

organização: entre quatorze e vinte anos, era o de base composto pelas artes

liberais com formação em duas etapas, o Bacharelado (baccalauréat) e o

Doutoramento (doctorat); entre vinte e vinte e cinco anos os cursos eram de

Medicina e Direito, com duração de seis anos e um dos critérios para se conseguir a

titulação era o mestrado em artes; a Teologia, com duração de oito anos de estudo,

atendia os estudantes com faixa etária mínima de trinta e cinco anos e seu

referencial teórico era a Bíblia.

O método de ensino consistia em leituras de textos e discussão do tema

proposto pelos mestres. Para o jovem concluir sua formação e obter os graus,

precisava realizar exames criteriosos que se modificavam constantemente.

35

Para Le Goff, (2011, p.107)

Antes do exame provado o candidato era apresentado ao Reitor, ao qual jurava obedecer aos estatutos e não tentar corromper os examinadores. Na manhã do exame, depois de ouvida a missa, o candidato comparecia diante de um colegiado de doutores que lhe entregavam dois trechos de textos para comentar. Em seguida, vinha o exame público. Conduzido com pompa a Catedral, o licenciado fazia um discurso e lia uma tese sobre um assunto de Direito que defendia contra estudantes que o atacavam, representando pela primeira vez o papel de mestre numa disputa universitária. Aprovado, recebia as insígnias de sua função: um anel de ouro, um gorro simbólico etc. Parte do cerimonial deste doutoramento subsiste na Universidade até

os dias de hoje.

Outros instrumentos para apoiar o ensino foram descobertos, dentre eles

estavam à escrivaninha, a lâmpada noturna, a lanterna, a cadeira, o quadro negro, a

pena, a tinta entre outros.

O livro se tornou a base para a aprendizagem e seu formato sofreu

alterações: as consultas poderiam ser constantes e o seu transporte de um lugar a

outro agora era permitido.

Com o progresso do século, muitas foram às contradições de ideias entre os

universitários, o que gerou diversas crises dentro das universidades, onde, das

conciliações mais difíceis, estavam àquelas referentes aos salários dos mestres, as

relações entre a razão e a experiência e entre a teoria e a prática.

A fome, as pestes e as guerras ocorridas no século XIV aceleraram a

decadência do Feudalismo e o fim da Idade Média na Europa Ocidental que

refletiram no funcionamento das universidades e das escolas medievais.

Foi com o movimento intelectual entre os séculos XIV e XVI, chamado de

Humanismo Renascentista, que se conseguiu reformar a educação na Europa, com

uma educação voltada para a prática, em que o indivíduo fosse capaz de interpretar

as ideias e as ações realizadas por outras pessoas.

O século XVIII foi chamado de Século das Luzes ou do Iluminismo, pela ideia

de relação com o esclarecimento, pois até então os homens da sociedade do antigo

regime viviam submissos às ideias da Igreja.

Primon (2000, p. 40) afirma que a “universidade moderna teve seu marco

histórico com a fundação da Universidade de Berlim”, em 1810, por Wilhelm Von

36

Humboldt, com enfoque na formação pela ciência. Contrapondo Primon (2000),

Barbosa (2010, p. 69) declara que “os passos iniciais para o desenvolvimento da

ideia da formação pela ciência haviam sidos iniciados em Jena, no final do século

XVIII, e serviram de experimentos para a Universidade de Berlim”.

Conhecida também como “a universidade da pesquisa”, sua prioridade estava

na produção e fundamentação de novos conhecimentos, que dependiam do esforço

do indivíduo e do acesso à estrutura e ao financiamento. O projeto da universidade

moderna se estruturou de forma que fosse diferente de tudo o que se constituía

como universidade até aquele momento. Suas tarefas eram em prol do

desenvolvimento máximo da ciência e de produção do conteúdo responsável pela

formação intelectual.

Pereira (2009), apoiado na obra de Dréze e Debelle (1983), alega que as

características da universidade moderna vinculavam-se a duas correntes principais:

a dos idealistas – defensores de que a formação pela ciência deveria contar com um

corpo docente e discente criador e integrado para promover o desenvolvimento do

intelecto – e funcionalistas – com propósitos voltados para as necessidades sociais,

com a função de servir a nação e ser de utilidade coletiva, sociopolítica e

socioeconômica –, modelo de universidade napoleônico, inglês, norte-americano e

socialista, descrito adiante.

Apesar de ser uma forte referência, o modelo alemão não foi o único entre as

universidades; a evolução do sistema educativo foi marcada, ao longo dos anos, por

diferentes modelos, ora voltados para a pesquisa, ora para o papel do Estado, ora,

ainda, enfatizando o pluralismo, a autonomia e a cultura, os quais, por sua vez,

assumiram diferentes papéis ao longo da história.

A história das universidades nos revela que a cultura da adoção de modelos

se sustentou a partir de padrões tradicionais, os quais, agrupados, formam uma

identidade própria. O mesmo autor define “modelos” como “representações da

realidade” e a sua utilização por diferentes instâncias pode se manifestar por

diversos motivos (FELIX, 2008; PEREIRA, 2009).

A importância desta reflexão está em conhecer como a pesquisa emergiu e se

desenvolveu dentro das universidades, bem como características de outros

37

modelos, a fim de perceber como influenciaram e influenciam a universidade

brasileira. Dentre os modelos principais, Rossato (2005) cita: o napoleônico –

voltado para o monopólio estatal e a divisão de faculdades em compartimentos; o

inglês – baseado em regime de internato e com preferência para o sexo masculino,

de formação voltada para a personalidade e o caráter moral; norte-americano –

atendendo a um público diverso e com finalidade de formação técnica e

profissionalizante; e socialista – voltado aos interesses do Estado.

Nesse cenário, surgiu o Brasil, que, como colônia de Portugal, permaneceu

inexpressivo nesse desenvolvimento. A criação de universidades foi proibida pela

metrópole, sendo oferecidas, em seu lugar, bolsas de estudos em Coimbra, para

alguns dos filhos de colonos. Felix (2008) e Cunha (1989) afirmam que, foi em 1800

que D. João VI criou cátedras isoladas de ensino superior para a formação de

profissionais.

A universidade brasileira é jovem e se tornou realidade no início do século XX.

Passou por várias etapas e a cada uma delas correspondeu a um modelo: a

universidade dos anos 50 e 60, voltada para a pesquisa dentro e fora das

instituições, a dos anos 70, fruto da massificação do ensino superior e com ênfase

na formação para o mercado de trabalho; a dos anos 80, com destaque para as

parcerias entre universidades públicas e empresas privadas e a dos anos 90 em

diante, voltada para a gestão de seus recursos, para a avaliação de desempenho,

com indicadores de eficiência, eficácia e efetividade, a exemplo dos critérios

utilizados no mercado.

O primeiro Estatuto das Universidades Brasileiras surgiu em 1931 e

determinava que só fosse concedido o status universitário à instituição que reunisse

três das quatro unidades seguintes: Faculdade de Medicina; Escola de Engenharia;

Faculdade de Direito e Faculdade de Educação, Ciências e Letras (RUIZ, 2008;

ROSSATO, 2005; CUNHA, 1989).

Nos textos dos autores foi em 1937, no Estado Novo, que a universidade,

através de decreto, passou a chamar-se Universidade do Brasil, sendo os diretores

das unidades designados pelo Presidente da República.

38

As normas de organização e funcionamento do Ensino Superior têm

suas funções delineadas por meio de medidas legislativas, complementadas por

portarias, pareceres, planos e mecanismos administrativos.

Em 1968, surge a Lei 5.540, denominada Lei da Reforma Universitária, que,

embora reconhecesse a autonomia didático-científica, disciplinar, administrativa e

financeira das universidades, limitava-as, entretanto, peias intervenções

governamentais. Com esta lei, afirma Cunha, foi extinto o regime de cátedras, sendo

substituído pelo regime departamental, que propiciou o crescimento do número de

docentes e a expansão de matrículas universitárias.

A reforma universitária de 1968 foi inspirada em modelos estrangeiros, que

propunham as seguintes introduções: regime de créditos, cursos de curta duração,

regime departamental, Pós-Graduação, "taylorismo" na organização do trabalho,

campus universitário segregado da cidade e outras inovações.

O que caracteriza a universidade brasileira é a articulação entre ensino e

pesquisa, com características semelhantes às utilizadas nas universidades de

modelo alemão, e a extensão, fruto da influência do modelo universitário norte-

americano. Este tripé foi aprovado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional No 9.394/96.

Acontece que, ao longo dos últimos anos, alterações na organização

universitária desestabilizaram o modelo que acolhia os conhecimentos e os utilizava

para um bem social, sendo substituído por novos modelos que atendessem a

emergência sócio-politico-econômica.

Apesar do tripé, Pereira (2009) afirma que, “no Brasil, são poucas hoje as

instituições universitárias voltadas para ensino e pesquisa”. Essa vinculação é

defendida por universidades que não têm como finalidade o atendimento às

necessidades do mercado ou da sociedade.

Hoje, no Ensino Superior, existe uma diferenciação das funções da

universidade, que se dividem entre educação geral, educação profissionalizante e

educação de elite. A ênfase na pesquisa científica encontra-se predominantemente

39

na Pós-Graduação, e é importante distinguir o tipo de pesquisa que é realizado na

Pós-Graduação acadêmica daquele que se faz na Pós-Graduação profissional.

Como já visto, o conhecimento pode exercer influência no comportamento das

pessoas e, atualmente, o que se vê é que os conhecimentos produzidos nas

universidades são pouco difundidos e utilizados pela sociedade.

Santos (2011, p.45) faz um adendo sobre a transição do conhecimento

universitário para o conhecimento pluriversitário:

O primeiro também conhecido como conhecimento científico, geralmente era produzido nas universidades, e os investigadores eram quem determinavam os problemas científicos a resolver, sua relevância e metodologias de pesquisa. O conhecimento pluriversitário é um conhecimento contextual, à medida que o princípio organizador da sua produção é a aplicação que lhe pode ser dada, a iniciativa da formulação dos problemas que se pretende resolver e a determinação dos critérios de relevância é o resultado de uma partilha entre pesquisadores e utilizadores. Assim a sociedade deixa de ser um objeto das interpelações da ciência para ser ela própria sujeita de interpelações a ciência.

Atualmente, muito se questiona se realmente a universidade tem realizado

pesquisa científica. Nessa perspectiva, vale lembrar que o estudante universitário

não é um cientista, já formado e integrante de uma equipe de pesquisadores que

trabalham para e pela ciência, movidos no objetivo de descoberta capaz de

aumentar o conhecimento e o domínio da humanidade. Para se engajar na Ciência,

ele deve treinar seus caminhos, assumir uma mentalidade científica e aprender com

o rigor de acordo com as normas da metodologia.

A Metodologia Científica, geralmente ministrada nos primeiros semestres de

um curso, é a disciplina que esclarece a maneira mais adequada, econômica e

eficiente de condução dos estudos. Ela indica também o caminho certo na procura

do saber para desenvolver hábitos de estudo e técnicas de trabalho.

O que distingue a classe dos cientistas da classe dos estudantes é o fato de

que o primeiro grupo dispõe de recursos e condições de trabalho que favorecem a

justificativa e relevância no progresso da ciência, enquanto o segundo, ao realizar

pesquisas dentro dos princípios estabelecidos pela metodologia científica,

reconhecem as etapas do caminho percorrido pelos cientistas e suas conclusões.

Apesar do cenário, a universidade continua a ter um papel fundamental para a

emergência desse novo modo de produção do conhecimento. A universidade, para

40

retomar seu “status” e se manter viva como utilidade social, científico-tecnológica, de

produção e disseminação do conhecimento, deve manter uma estrutura

administrativa e pedagógica flexível, em que a consulta e a participação coletiva

sejam uma premissa.

Severino (2007, p. 24-25), ao conceituar “pesquisa”, define também o que

significa “produzir conhecimento”:

O conhecimento se dá como construção do objeto que se conhece, ou seja, mediante nossa capacidade de reconstituição simbólica dos dados de nossa experiência, apreendemos os nexos pelos quais os objetos manifestam sentido para nós, sujeitos cognoscentes... Trata-se, pois, de redimensionar o próprio processo cognoscitivo, até porque, em nossa tradição cultural e filosófica, estamos condicionados a entender o conhecimento como mera representação mental, mas esta não é o ponto de partida do conhecimento, e sim o ponto de chegada, o término de um complexo processo de constituição e reconstituição do sentido do objeto que foi dado à nossa experiência externa e interna.

Marques et al. (2008, p.17), fazem uma reflexão sobre o papel da pesquisa

dentro da universidade, onde, na maioria das vezes, é entendida como o domínio de

um conjunto de procedimentos e de técnicas adquiridos, geralmente na disciplina de

Metodologia da Pesquisa. Para o autor, no ambiente acadêmico, existe uma grande

preocupação em seguir as normas das academias, com ênfase na metodologia do

trabalho, e não no comportamento científico diante da produção de conhecimento

novo.

Para muitos a metodologia é apenas um conjunto de procedimentos técnicos, que visa, prescritivamente, a uniformização de padrões na execução e apresentação de produtos acadêmicos. Procedimentos que, na prática cotidiana, poderiam ser dispensados como meras formalidades em prol da “simplicidade” e do “ganho de tempo”. Pensar metodologia deste modo seria primeiro, desconsiderar um dos principais pressupostos do saber científico, o fato do conhecimento não só possuir conteúdo, mas também forma; depois, prescindir de dois pré-requisitos deste conhecimento específico: a clareza e a distinção. (MARQUES, et al. 2008, p. 17),

Diante da bibliografia dos autores, Augusto (1990), Demo (2001) e Bagno

(2009), os possíveis fatores que aumentam as dificuldades para realizar a pesquisa

científicamente são os diferentes conceitos do que seja pesquisar – a realização da

pesquisa depende do objetivo que se quer alcançar, seja para o ensino,

aprendizagem ou investigação –, a posição da Universidade para a prática da

pesquisa acadêmico-científica, a concepção de ciência e sua percepção social, as

barreiras existentes no sistema educacional – no qual a pesquisa científica deveria

ter uma abordagem em todos os níveis e as barreiras existentes no sistema de

pesquisa – impossibilidade de apoio, em nível nacional e internacional, nas

41

atividades voltadas ao conhecimento, mecanismos de atualização aos professores

engajados na educação científica e financiamentos.

Experiências importantes têm surgido no sentido de buscar caminhos para

amenizar a falta de mediações entre universidade e sociedade, com a produção de

conhecimento voltada à resolução dos problemas sociais.

Buarque (2000, p.162) enuncia que:

As universidades podem ser fundadas por príncipes, cardeais, presidentes, alunos, professores, mas elas só podem ser inventadas ao longo do tempo pela própria comunidade acadêmica, em sua convivência com o mundo inteiro e com a sociedade onde se situa.

Logo, uma universidade não é a simples inauguração de um prédio, mas sim

a influência dos atores sociais, por meio de geração de professores e alunos,

colaboração de funcionários reagindo sobre o meio onde está situada, de acordo

com as exigências de cada momento.

A universidade continuará a ser um instrumento de transição – sua história e

os avanços construídos demonstram a formulação de novos modelos. Os problemas

atuais não persistirão, novos problemas aparecerão e consequentemente novos

modelos serão construídos, de maneira inovadora, estabelecidos por meio de sua

trajetória e experiências.

Os criadores das primeiras universidades não foram gerentes, foram

pensadores, intelectuais insatisfeitos e rebeldes diante do ensino tradicional limitado

a convenções e dogmas.

A universidade brasileira, quando surgiu, teve sua organização e função

baseada nos modelos estrangeiros dos países desenvolvidos – Estados Unidos e

Europa. Sua evolução, tanto em relação à expansão quanto em relação ao modelo,

sempre atendeu a necessidades de ordem econômica, social e política.

Para Buarque (2000, p. 92):

O desafio da Universidade é situar-se, portanto, no contexto da sociedade brasileira, colaborando na criação de um pensamento capaz de ajudar na construção de uma idéia de nação que conquiste sua soberania, que organize sua sociedade de forma eficiente e que caminhe para uma integração de uma crescente igualdade entre seus habitantes.

42

Para finalizar, vale ressaltar que o processo de construção e crescimento das

universidades não se deu – e não se dá – de modo harmonioso e unilateral. O

sistema não é mantido por um “modelo único” e imutável, a importação de modelos

continua até os dias de hoje e contribui com orientações às necessidades reais de

cada país.

Assim, a universidade continua sendo um espaço que contribui, por meio das

pesquisas, para a produção de conhecimento e para a socialização do saber no

País.

43

CAPÍTULO 3

A PESQUISA COMO SUBSÍDIO PARA A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO

A pesquisa em enfermagem, tanto para a profissão quanto para a sociedade, é de grande relevância, sendo necessária para legitimar práticas e serviços existentes e para prover evidências. Em outras palavras, consolida a enfermagem como profissão e ciência. Porém nem sempre a pesquisa em enfermagem teve impacto, por ser historicamente recente. NOGUEIRA (1982).

É na universidade que o aluno inicia sua marcha para o caminho acadêmico

superior, o que implica mudanças na forma como professores e alunos conduzirão o

processo de ensino e aprendizagem.

Sabe-se que muitos alunos chegam ao Ensino Superior com diferentes níveis

de preparação, não apenas no que diz respeito aos saberes científicos e

acadêmicos, mas também aos aspectos sociais. Alguns apresentam dificuldades de

compreensão de textos e deficiências de escrita e leitura por não haver, nos níveis

escolares anteriores, ações que garantissem os mecanismos para enfrentar e

cumprir as exigências da Graduação.

Torna-se importante identificar o perfil dos ingressantes para que suas

habilidades e competências sejam adequadamente avaliadas e para que lhes sejam

oferecidas, ao longo do curso superior, atividades preventivas e remediadoras que

possibilitem não só o necessário desenvolvimento cognitivo, como também o

desejável desenvolvimento pessoal e profissional.

Este capítulo descreve a trajetória da pesquisa em enfermagem e faz uma

análise sobre a sua importância para a formação do enfermeiro. Discute também a

perspectiva da universidade a respeito da pesquisa científica no curso de

Enfermagem e traz uma reflexão sobre o comportamento esperado para seu

desenvolvimento na Graduação.

Os primeiros parágrafos sinalizam as mudanças e dificuldades encontradas

pelo aluno, assim que ingressa na universidade. Isto implica que as atribuições da

universidade sejam aquelas inerentes às necessidades dos alunos, com ensino de

conteúdos, habilidades e atitudes, que sanem os problemas referentes à sua área

de formação.

44

A educação superior tem uma tríplice finalidade: profissionalizar, iniciar a

prática científica e formar a consciência político-social do estudante; para dar conta

desse compromisso, a universidade tem como funções atividades específicas –

ensino, pesquisa e extensão – que devem ser articuladas entre si. (SEVERINO,

2007, p.22)

A tradição cultural brasileira privilegia a condição da universidade como lugar

de ensino, que pratica e transmite o conhecimento para instrução, educação e

profissionalização. Apesar da importância dessa função, não se pode esquecer que,

além de transmitir, a universidade também deve produzir o conhecimento. Deve ser

entendida como uma instituição que articula o ensino e a pesquisa, como fonte de

transformação da sociedade, diferenciada do ensino escolar pela forma de lidar com

o conhecimento.

A pesquisa em enfermagem é um mecanismo de propulsão, um instrumento de

redirecionamento e redimensionamento do saber, sendo a investigação científica

uma prática social e um ato político, pelo qual a enfermagem obtém ferramentas

para se fortalecer como ciência e melhorar a qualidade de vida do ser humano

(KLETEMBERG et al., 2011, p.317) apud (SERVO; OLIVEIRA, 2005).

Os projetos pedagógicos instituídos nas escolas de Enfermagem atendem às

exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de Graduação em

Enfermagem, aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação – Câmara de

Educação Superior –, por meio da Resolução CNE/CES 3/2001, publicada no Diário

Oficial da União em 09 de novembro de 2001.

As DCNs trazem a perspectiva de assegurar a flexibilidade, a diversidade e a

qualidade da formação oferecida aos estudantes e visam a direcionar as instituições

de ensino superior para a formação de competências e habilidades gerais dos

profissionais de saúde na atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação,

liderança, administração, gerenciamento e educação permanente.

O curso de enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), em

seu Projeto Pedagógico, propõe-se a dar ao aluno condições de desenvolver

investigação de cunho científico – empírico ou experimental –, para que ele

reconheça a construção e a sustentação do conhecimento na área.

45

Nas condições universitárias brasileiras, em que a grande maioria dos

estudantes de enfermagem não dispõe de tempo integral para o curso e se

enquadra na classe dos alunos trabalhadores, são muitos os que priorizam o

aspecto assistencial e desconhecem as normas envolvidas na Pesquisa Acadêmica

Científica, tais como desenvolvimento e estrutura do trabalho, padrões de redação,

seleção e organização da leitura das obras, construção de citações, bem como seu

propósito e importância para a profissão.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da Educação tem como proposta fazer que

os egressos tornem-se críticos, reflexivos, dinâmicos, ativos diante das demandas

do mercado de trabalho, aptos a “aprender a aprender”, a assumir os direitos de

liberdade e cidadania, a fim de compreender as tendências do mundo atual e as

necessidades de desenvolvimento do país.

A prática científica na universidade exige mediações curriculares que

articulem uma legitimação político-educacional de conhecimento. Segundo Martins

(2010),

Este fim é proposto pelas políticas de pesquisa, que visam consolidar uma cultura de

pesquisa dentro da Universidade, por meios do a) incentivo e apoio a criação ou

fortalecimento de grupos, núcleos, laboratórios e centros de pesquisas; b) estímulo à

ampliação de projetos, produções e publicações de artigos em revistas, livros

científicos e c) participações em congressos, seminários, simpósios entre outros.

São essas políticas que determinam quais devem ser as condutas

institucionais na perspectiva da indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e

Extensão. De acordo com o Projeto Pedagógico Institucional (PPI), as políticas de

pesquisa da UNICID são propostas e apoiadas pelo Comitê de Apoio à Pesquisa

(COPesq) administrado pela Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, cujas

principais atribuições foram criadas pela Resolução Consepe (Conselho Superior de

Ensino, Pesquisa e Extensão) nº 05, de 18/06/2008, e que tem por objetivos:

a) efetuar levantamento anual junto das diretorias de cursos e

coordenadorias, com o fim de identificar as linhas de pesquisa existentes,

seus respectivos responsáveis e os projetos de pesquisa que se encontra

em andamento na Universidade;

46

b) identificar e avaliar periodicamente o desempenho dos distintos grupos de

pesquisa registrados no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico);

c) registrar, avaliar e divulgar projetos de pesquisa a serem desenvolvidos,

organizando um sistema de informações sobre os assuntos relacionados

com a pesquisa;

d) publicar normas para o desenvolvimento de trabalhos acadêmico-

científicos, visando propiciar homogeneidade na sua produção;

e) coordenar e aperfeiçoar formas de divulgação dos resultados de pesquisas

realizadas no âmbito da UNICID;

f) auxiliar o pesquisador na obtenção de recursos nas agências de fomento;

g) acompanhar as atividades de pesquisas ligadas aos programas de

Iniciação Científica – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação

Científica (PIBIC);

h) publicar relatórios periódicos com informações sobre as pesquisas

realizadas, trabalhos apresentados e produção científica publicada;

i) organizar anualmente a semana científica da UNICID, onde serão

divulgados os principais trabalhos realizados e em andamento.

Para Pádua (1998, p.35) “as funções da Universidade (ensino, pesquisa e

extensão) se articulam e se implicam mutuamente, isto é cada uma destas funções

só se legitima pela vinculação direta às outras duas, e as três são igualmente

substantivas e relevantes”. Não haveria o que ensinar, nem haveria ensino válido, se

o conhecimento a ser ensinado e socializado não fosse construído mediante a

pesquisa, mas não haveria sentido em pesquisar, em construir o conhecimento

novo, se não se tivesse em vista o beneficio social que ele poderia acarretar.

Não se trata de transformar a universidade em um instituto de pesquisa, mas

de refletir sobre o seu papel e sobre a importância da atividade de ensino ser

vinculada à atitude de investigação.

47

Uma universidade comprometida com a proposta de pesquisa não pode

deixar de investir na formação continuada de seus docentes como pesquisadores e

não poderá deixar de colocar os meios necessários – condições de infraestrutura

técnica, física e financeira – para atingir esse fim.

Pereira (2004), ao citar Fourez (1995), revela que:

A ciência possui um lado material e um lado intelectual. O primeiro inclui as bibliotecas, os laboratórios, as revistas especializadas etc.. O segundo, toda uma organização mental que pode ser consciente ou não e que serve para classificar o mundo e sua abordagem.

A aquisição do conhecimento pode se dar de maneira diversificada, por meio

de serviços bibliotecários, assinaturas de periódicos científicos, aquisição de

material bibliográfico, assinatura de bases de dados e pelo estímulo da universidade

à participação de seus alunos e professores em eventos nacionais e internacionais,

ou realização de estágio e intercâmbio, entre outros.

O ambiente científico são os locais onde estas atividades podem acontecer; é

provido de características científicas e organizacionais que influenciam e contribuem

para a formação dos valores próprios de uma instituição acadêmica.

A “comunidade científica”, “comunidade de pesquisa”, “comunidade

acadêmica”, “comunidade de conhecimento” ou “disciplinares”, integra um ambiente

restrito que, por sua vez, pode ser entendido como o agrupamento de pessoas que

compartilham de um tópico de estudo, desenvolvem pesquisas e dominam um

campo de conhecimento (SEVERINO, 2007; WANDERLEY, 2003; COSTA, 1999).

Um exemplo de comunidade científica são os grupos de pesquisa, que se

dedicam aos portais de informação científica, sítios pessoais de pesquisadores

renomados, bases de dados com referenciais e textos completos, listas de

discussões, fontes de financiamento e cooperação técnico-científica, calendários de

eventos internacionais, entre outros.

Nesse cenário, a UNICID está em busca de oferecer melhores condições para

restabelecer a tradicional pesquisa na Instituição, com o apoio na formação de seus

docentes e a criação de instâncias internas com participação em programas e

grupos.

48

Sua biblioteca oferece recursos por meio de sistema computadorizado para

que seja possível realizar buscas de fontes ou consultas interbibliotecas; conta

também com revistas de enfermagem indexadas, que podem ser consultadas no

CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature) e no MEDLINE

(Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), inclusos no International

Nursing Index.

Pereira (2004, p.33) relata que:

A metodologia da pesquisa tem de possibilitar aqueles que dela se valem entender o porquê de as ciências serem qualificadas de rigorosas. A questão do rigor da ciência tem consequências importantes para a metodologia da pesquisa, uma vez que por ela é que os pesquisadores terão de aprender muito bem a diferença entre a construção de uma interpretação científica em vista de uma determinada situação, e a construção de uma interpretação a partir de uma situação qualquer.

O acadêmico não deve ser aquele que vai à universidade apenas para se

fazer presente ou receber conhecimento da instituição, mas aquele que, consciente

da sua função e formação, deve assumir uma postura científica com o intuito de

conhecer e praticar os métodos de investigação para aprimorar as técnicas de

trabalho.

A pesquisa científica exige que o aluno tenha clareza e respeito às regras e

linguagens por ela exigidas. Para isso, torna-se necessário assumir um

comportamento – ético, de escrita e de leitura – de modo que, ao longo do curso, o

aluno estude, frequente a biblioteca, faça pesquisas, participe das aulas práticas

com um objetivo investigativo. Este tipo de postura não é inato em uma pessoa; ao

contrário, é forjado ao longo da vida e à custa de muito esforço e exercício.

A postura científica é uma atitude ou uma disposição subjetiva do pesquisador

que busca soluções sérias, com métodos adequados para o problema que enfrenta;

na prática, é a expressão de uma consciência crítica, objetiva e racional

(CIANCIARULLO, 2008; PÁDUA, 1998).

É crítica no sentido de impedir a aceitação do que é fácil e superficial, pois

leva o pesquisador a aperfeiçoar seu julgamento e a desenvolver discernimento

sobre uma teoria. Torna-o capaz de distinguir, discernir, analisar e avaliar os

49

elementos componentes da questão. O crítico só admite o que é suscetível de

prova. É objetiva e racional para provocar o rompimento com as posições subjetivas,

pessoais e mal fundamentadas do conhecimento vulgar. A postura científica se

traduz no senso de observação, no gosto pela precisão e pelas ideias claras, na

imaginação ousada, na necessidade da prova, na curiosidade que leva a aprofundar

o conhecimento sobre os problemas, na sagacidade e no poder de discernimento.

Barros (2002, p. 500) afirma que “não há nada que diferencia a pesquisa em

enfermagem da pesquisa em outras áreas, pois o conhecimento e as habilidades

necessárias para a pesquisa são similares”. A diferença está nos conhecimentos

específicos de cada área; para a enfermagem, é necessário conhecer a perspectiva

holística da pessoa, o processo “saúde versus doença”, teorias que servem de base

e a própria prática assistencial.

A investigação em enfermagem, tal como nos outros ramos da ciência, parte

sempre da formulação de um problema de investigação, que é definir o fenômeno

em estudo por meio de uma progressão lógica de elementos, de relações, de

argumentos e de fatos.

Os órgãos responsáveis pela profissão já discutem e descrevem, em artigos e

entrevistas, uma preocupação no sentido de preparar estudantes, professores e

enfermeiros para a realização pesquisas em enfermagem no século XXI.

Kletemberg et al. (2011, p. 317), ao citarem Alcântara (1964), anunciam que

as primeiras questões ligadas ao desenvolvimento da pesquisa em enfermagem

foram contempladas no temário oficial do XVI Congresso Brasileiro de Enfermagem,

em 1964, realizado em Salvador (BA). Neste congresso, foi ressaltada a

importância de se ter um corpo de conhecimento científico sistematizado que,

constituído de teorias, servisse de base para generalizações, a fim de prosseguir

com novas investigações, novos conhecimentos e consequentemente com a

renovação e atualização da pratica profissional.

Os mesmos autores, ao citar Angerami e Mendes (1998), atestam que foram

estas importantes reflexões que resultaram em recomendações, tanto para a

Associação Brasileira de Enfermagem, como para as professoras de escolas de

enfermagem e chefes dos serviços, no preparo para a realização de pesquisas.

50

Reside aqui a importância de a atividade de pesquisa ser iniciada nas

primeiras séries da Graduação. Para isso, torna-se necessário identificar como as

Diretrizes Curriculares Nacionais, a universidade e o corpo docente enxergam isso.

Cianciarullo (2008), ao citar Pádua (1998), reconhece que “no Ensino Superior, os

bons resultados do ensino e da aprendizagem vão depender em muito empenho

pessoal do aluno no cumprimento das atividades acadêmicas, aproveitando bem os

subsídios trazidos pela intervenção dos professores”.

Para a autora os domínios da investigação científica podem ser estimulados

no aluno por meio de atividades que o façam: a) aprender pela descoberta; b)

identificar e analisar uma situação problema; c) medir as circunstâncias em que se

desenvolve o problema; d) propor soluções pautadas na ciência e; e) analisar,

avaliar e criticar as informações provenientes de diferentes origens para “formar a

sua opinião”.

A pesquisa oportunizará ao aluno na reconstrução de suas concepções sobre

o objeto que lhe foi foco de discussão e unificarão atitudes de responsabilidade,

autonomia, ética, análise, o que motivará o futuro trabalhador a ampliar o seu olhar

sobre as situações que se apresentarem na sua vida profissional.

Seganfredo (2010), Padoin (2009) e Augusto (1990) consideram que as

qualidades necessárias para se adquirir uma postura investigativa são: a)

curiosidade; b) habilidade para questionar a situação existente; c) habilidade para

enxergar a realidade de diferentes perspectivas; d) mente aberta, flexibilidade; e)

segurança própria e no seu trabalho; f) habilidade para expressar e para escrever; g)

desejo de aprender; h) capacidade de raciocínio; i) habilidade para seguir uma linha

de raciocínio; j) tenacidade; k) capacidade para verificar o todo e o detalhe; l)

entusiasmo; m) objetividade; n) capacidade para aceitar as responsabilidades; o)

capacidade para aceitar as críticas; e p)capacidade para se autojulgar

objetivamente.

Importante ressaltar que para se tornar um pesquisador não é necessário ter

todos os requisitos, o importante é saber utilizar uma metodologia rigorosa, participar

de grupos de pesquisas e acompanhar as pesquisas que estão em andamento. Para

51

tanto, é importante que o aluno de Enfermagem adquira hábitos apropriados e

eficazes na condução da sua vida acadêmica.

A Metodologia Científica é a disciplina que geralmente abordará as principais

regras da produção científica para os alunos dos cursos de Graduação e poderá

auxiliar na melhoria da produtividade e da qualidade das suas produções

(SEVERINO, 2007, p.15).

O mesmo autor afirma que, mais do que auxiliar o aluno a elaborar projetos, a

desenvolver um trabalho monográfico ou um artigo científico como requisito final e

conclusivo de um curso acadêmico, essa disciplina visa também a ensinar ao aluno

como se comunicar de forma correta, inteligível, demonstrando um pensamento

estruturado, por meio de regras que facilitam e estimulam a criatividade na seleção

da bibliografia, na prática da leitura de forma organizada, na ousadia e no rigor na

abordagem do assunto, na análise e interpretação de textos e, consequentemente,

na formação de juízo de valor, além de ensiná-los a seguir certas normas de

redação e apresentação do texto final.

Pode-se dizer que, na Graduação, a leitura, a escrita, a linguagem, a ética e a

publicação podem ser direcionados por professores, grupos de pesquisas ou por

programas oferecidos pela universidade.

A leitura se dá por meio de consultas e seleção de fontes de informação; ela

fornece argumentos teóricos e gera um bom aproveitamento nos estudos

acadêmicos. O aluno deverá documentar e destacar as ideias principais para somá-

las a novas informações.

A escrita acadêmica deverá obedecer às orientações e normas da

Associação Brasileira de Normas Técnicas ou dos Conselhos Editoriais dos

periódicos. Nesse caso, o uso da linguagem é claro, objetivo e correto. O aluno

deverá ser estimulado a consultar dicionários bons e atuais, com uso de

nomenclatura particular para a Enfermagem.

Torna-se necessário que os alunos conheçam as normas e diretrizes das

Comissões de Ética para garantia dos direitos dos indivíduos envolvidos nas

pesquisas que envolvam experimentação.

52

A publicação científica é o meio gráfico em que se veicula e aprimora o

conhecimento da comunidade científica. É responsável também por dar

acessibilidade ao uso do conhecimento produzido. Como consequência desta

publicação, ocorrerá o enriquecimento do currículo acadêmico.

Os meios mais utilizados para divulgação dos resultados das pesquisas

científicas em Enfermagem são os Congressos, os Encontros e as Revistas de

cunho científico. Alguns Hospitais e Escolas também criaram, por meio de boletins

informativos, um espaço para expor os trabalhos que estão sendo desenvolvidos

pela equipe que trabalha ou estuda no local. Outras formas de publicação são

periódicos nacionais, capítulos de livros, manuais, compêndios, entre outros. No

meio acadêmico, as pesquisas se fazem conhecer por meio de Jornadas Científicas

e comemorações da Semana de Enfermagem.

Para Barros (2002, p. 484), a pesquisa em enfermagem é o “processo

científico que valida e define o conhecimento existente e gera novos conhecimentos

que, direta ou indiretamente, poderão influenciar na prática de enfermagem”. Seus

objetivos são responder perguntas e dúvidas oriundas de necessidades práticas ou

de simples curiosidade.

Foi com a implantação dos cursos de Pós-Graduação stricto sensu que a

pesquisa em Enfermagem começou a ser valorizada no Brasil. Santos e Gomes

(2007) observam que a Revista Brasileira de Enfermagem – criada em 1932 e, à

época, intitulada ANNAES de Enfermagem – representa o primeiro espaço no Brasil,

em que as enfermeiras tornaram visível a divulgação de seus enunciados e que,

junto com os Congressos Nacionais de Enfermagem – iniciados em 1946 –, formam

os primeiros ambientes intelectuais utilizados pelas pesquisadoras.

As mesmas autoras afirmam que o desenvolvimento da pesquisa científica

obteve maior respaldo com o Parecer 77/69 do Conselho Federal de Enfermagem, o

qual incentivou principalmente os docentes a defenderem suas teses de Doutorado

e Livre Docência.

Por meio da evolução histórica da Enfermagem, é possível perceber o avanço

na pesquisa, que deve continuar em busca por melhores espaços, com

reconhecimento pautado na ciência pelo tripé ensino-pesquisa-extensão.

53

Durante muito tempo, a prática de enfermagem foi determinada por estruturas

de conhecimento do cotidiano, ou apoiada na colaboração de pesquisas médicas ou

de bibliografias escritas e publicadas por enfermeiras americanas.

Em quase metade dos tempos medievais, os cuidados de enfermagem eram

realizados por pessoas do sexo masculino, pois era considerado impróprio o cuidado

prestado pelas mulheres a um paciente homem que não fosse seu parente próximo.

Com o passar dos tempos, homens e mulheres passaram a ter igualdade no

exercício das atividades de cuidados, mas rapidamente as mulheres se tornaram

essenciais por possuírem características maternas e habilidade no manuseio dos

remédios e cuidado nos ferimentos (VAGHETTI, et al. 2011, p.93 apud Russel,

1993).

De acordo com as referências dos mesmos autores, para a função do cuidar,

as mulheres eram escolhidas pelo clero e ordenadas pelo Bispo. Usavam trajes

normais, moravam em suas próprias casas e possuíam riquezas herdadas.

Deveriam ser virgens ou monjas, cujo principal objetivo era ajudar os pobres e os

enfermos. O cuidado realizado não estava orientado pelo conhecimento cientifico,

mas sim pela prática vivenciada no dia a dia, influenciada pela espiritualidade e por

sentimentos de caridade.

Nesses locais os cuidados eram simples, como cobrir os pacientes, dispor pedras quentes em seu abdômen, colocar sal e vinagre nos pés, aplicar panos frios com água de rosas para aclamar a febre, oferecer leite com açúcar de violetas para favorecer a digestão e usar suco de romã para refrescar a boca, entre outros procedimentos de conforto. (Molina, 1973, apud VAGHETTI, 2011).

O parto e o nascimento, por muito tempo, foram considerados procedimentos

“sujos”, realizados por parteiras, geralmente eram mulheres de meia idade que

utilizavam sua experiência nessa prática. Os médicos só atendiam casos de partos

especiais, nos quais as parturientes eram mulheres de família nobre ou amantes de

um rei.

Por todo o período medieval, as ações de cuidar e curar eram vistas pelo

Cristianismo como ato de caridade. O termo “hospital” nem sempre esteve ligado a

esta instituição, como nos dias de hoje.

54

Durante muito tempo, existiram somente os Monastérios, sob o comando dos

Bispos e Monges, para o cuidado dos doentes, sendo eles os precursores de

famosos hospitais.

Até o século XVII, os hospitais funcionavam como hospedarias, locais de

repouso para mendigos, doentes e pessoas que não tinham para onde ir. Eles

atendiam as misérias humanas, em decorrência das guerras, das epidemias e do

desemprego.

O médico não permanecia no hospital, só quando o chamado atendesse a

interesses políticos. Foi com os avanços da medicina que aconteceu uma

reorganização nos hospitais, que passaram a desenvolver o papel de empresas

produtoras de serviços de saúde.

Foi no século XIII que os hospitais, por meio das mulheres religiosas,

introduziram a enfermagem, com atividades de organização, higiene, alimentação,

conforto, entre outras. Entre os séculos XVII e XVIII, nasceu a figura da mulher

encarregada pelas enfermarias e foi a partir do século XIX que pesquisas

começaram a comprovar que a falta de técnicas assépticas, cuidados nos período

perioperatórios e curativos, levavam os casos a evoluírem com prognósticos ruins

(VAGHETTI et al., 2011 e PAIXÃO, 1979).

O diagnóstico médico deixou de ser sustentado por uma prática médica

religiosa para se assentar em resultados pautados pelo conhecimento cientifico.

Esses acontecimentos marcaram o nascimento da enfermagem moderna e de novos

modos de cuidar da saúde humana.

A enfermagem moderna surge durante a Guerra da Criméia, com a atuação

de Florence Nightingale (Florença, 1820 - Londres, 1910). Esse confronto aconteceu

entre a Turquia e a Rússia, no ano de 1854, e Nightingale foi encarregada de cuidar

do hospital militar em Scútari, com tarefas relacionadas à organização e à limpeza

do local. Florence Nightingale ficou conhecida como “A dama da lâmpada”, por

utilizar uma pequena lamparina para rondar os locais onde os enfermos se

encontravam. Junto de suas devotas, cuidavam dos soldados e escreviam cartas às

suas famílias para informar sobre o seu estado de saúde.

55

Foi na década de 1860 que Florence criou a primeira escola, denominada

Nightingale, no Hospital St. Thomas, em Londres, com a finalidade de preparar

pessoas para o serviço de enfermagem, o qual se constituiu como profissão na

última metade do século XIX, na Inglaterra, atendendo as necessidades da

sociedade, bem como a nova concepção de hospital que se criava. Nesse período, a

medicina e a enfermagem se encontravam no hospital.

A Enfermagem, na época era dividida em duas categorias: a lady nurse –

composta por pessoas para executar o ensino e a supervisão das tarefas

assistenciais – e a nurse, constituída por pessoas para realizar a assistência aos

doentes.

Nesse cenário, surgiu o Brasil, que, como colônia de Portugal, permaneceu

inexpressivo nesse desenvolvimento. Durante quase trezentos anos, as práticas de

saúde eram empíricas e desenvolvidas somente por pessoas leigas, o que

caracterizava um atraso em relação ao que já acontecia na Europa.

A enfermagem no Brasil remonta ao período colonial, com os Jesuítas

responsáveis por catequizar os índios brasileiros. Nessa época, houve epidemias e

endemias de doenças e os próprios índios foram os primeiros a cuidar dos

enfermos. Com a colonização, outras pessoas assumiram essa responsabilidade,

dentre eles jesuítas, voluntários, leigos, escravos, entre outros.

Esta enfermagem empírica perdurou por alguns anos e também foi dividida

entre duas categorias. Os escravos e voluntários eram os responsáveis na

prestação dos cuidados, enquanto os religiosos e cristãos faziam a supervisão na

enfermaria.

Amante et al. (2011, p.171), ao citar Schmidt (2005), certificam que, nas

últimas décadas do século XIX, o papel das mulheres na sociedade começou a

mudar e que alguns movimentos surgiram, reivindicando o direito ao estudo, ao voto

e ao divórcio.

Com base nas referências dos mesmos autores, foi neste contexto que

nasceu Anna Justina Ferreira (Salvador, 1814). Proveniente de uma família de nível

56

social elevado se casou em 1838, com Isidoro Antonio Néri, passando a ser

chamada de Anna Justina Ferreira Néri.

Em 1844 ficou viúva e em 1865 embarcou para os campos de batalha da Guerra do Paraguai. Recebeu suas lições de enfermagem, no Rio Grande do Sul, com as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. Trabalhou no hospital de Corrientes, depois se deslocou para Salto, Humaitá e Assunção. Nessa ultima cidade, ocupada pelo Exército Brasileiro, montou uma enfermaria modelo com recursos de sua herança familiar. Por serviços prestados na Guerra recebeu o titulo de ”Mães dos Brasileiros" conferido pelos soldados, foi homenageada com o diploma de sócia honorária da Sociedade dos Socorros, em Corrientes, e o de sócia instaladora da sociedade Beneficência Portuguesa, em Assunção (CARDOSO E MIRANDA,1999).

Seu nome foi escolhido para batizar a primeira Escola de Enfermagem

Moderna no Brasil, em 1922, mas foi em 1949 que a Escola de Enfermagem Anna

Neri foi incorporada à Universidade do Brasil.

Nas décadas de 60 e 90, tanto no panorama mundial como no brasileiro,

ocorreram transformações políticas, econômicas e sociais. No Brasil, as principais

foram a instauração da ditadura com o golpe militar de 1964, o auge do crescimento

econômico, seguido da crise econômica e social, e a redemocratização política. Na

saúde, a reforma sanitária e os movimentos sociais em busca de assistência com

qualidade influenciaram a Constituição Federal de 1988, que, no artigo 196, traz a

garantia à saúde como um direito de todos e um dever do Estado.

Kletemberg et al. (2011, p.290) afirmam que o avanço científico do século XIX

promoveu o desenvolvimento nas pesquisas científicas, voltadas para o tratamento

da saúde. Podem-se destacar as descobertas de a) Pasteur, referentes à anestesia,

controle das infecções em ambientes hospitalares, vacinas e o uso da Penicilina; b)

Darwin, com sua teoria da evolução das espécies e; c) Mendel, com a teoria da

Genética.

Os mesmos autores (2011, p. 299), ao citarem Porter (2001), completam que

outras descobertas importantes foram as relacionadas ao combate das epidemias –

malária, tuberculose, poliomielite e varíola –, às invenções, como os tanques de

oxigênio e as estufas, ao desenvolvimento de técnicas cirúrgicas, transplantes de

órgãos, tratamentos para o câncer, pílulas contraceptivas, laser e o primeiro bebê de

proveta.

57

Para se tornar científica, a enfermagem se aproximou do saber médico.

Assim, princípios científicos de anatomia, fisiologia, microbiologia, farmacologia e

química, entre outras áreas do conhecimento, começaram respaldar as ações e

procedimentos da enfermagem.

O entusiasmo e a confiança na ciência e nas tecnologias trouxeram vários

benefícios para a profissão de enfermagem, como a expansão no mercado de

trabalho, a atualização na legislação para o exercício profissional, o aprimoramento

na assistência ao paciente, a qualificação no ensino por meio do desenvolvimento

de cursos de Pós-Graduação e o incentivo a pesquisa científica.

Santos e Gomes (2007, p. 93) afirmam que:

Ao final da década de 60, a universidade brasileira foi submetida a uma reforma administrativa, num contexto de repressão política; foi plantado um modelo inspirado no sistema americano de institutos centralizados, de organização departamental, bem como os cursos de Pós-Graduação stricto sensu, estabelecendo os princípios de articulação obrigatória entre ensino e pesquisa e entre ensino superior e Pós-Graduação. Tais mudanças ensejaram a necessidade de implantar cursos de Pós-Graduação em enfermagem stricto sensu, mediante a busca de equilíbrio entre a obtenção do capital cultural institucionalizado, que oficializa a competência técnico científica, e o desenvolvimento da capacidade de critica social e autocrítica profissional.

Para as autoras, o investimento das enfermeiras brasileiras no aprimoramento

profissional mediante cursos de Pós-Graduação teve seu início já na década de 20,

quando cerca de dezessete enfermeiras diplomadas pela Escola de Enfermagem

Anna Nery realizaram cursos de Pós-Graduação nos Estados Unidos, com bolsas de

estudos. Também nos anos 40 e 50, o espectro das brasileiras em cursos de Pós-

Graduação no exterior foi amplo.

A escola de Enfermagem Anna Nery promoveu, a partir de 1947, o primeiro

curso denominado “post-graduado”, para a formação de professores; em 1948, o

ensino de especialidades como Obstetrícia e Saúde Pública passou a ser ministrado

com o nome de especialização.

A Pós-Graduação stricto sensu teve seu início em 1972, com a criação do

curso de Mestrado da Escola de Enfermagem Anna Nery, no qual os esforços

individuais na realização da atividade de pesquisa eram o requisito necessário para

a obtenção da titulação requerida, caracterizando assim o vínculo entre a Pós-

Graduação e o desenvolvimento da pesquisa em Enfermagem no Brasil.

58

Foi na década de 1950, com o número de profissionais formados e com os

fundos governamentais, que a pesquisa começou a florescer. Kletemberg et al.

(2011, p.317), ao citarem Sena e Gonçalves (2000), afirmam que enfermeiras

brasileiras dedicadas a pesquisa durante o século XX, foram classificadas como

“pioneiras” (década de 50); “autodidatas” (60), “geração da elaboração acadêmica

individual” (70); e “geração da produção sistemática e coletiva” (80/90) .

Com a consolidação e o fortalecimento da pesquisa, ocorreu a criação dos

cursos de Doutorado e o financiamento pelos órgãos de fomento, entre os quais a

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Foi com o aumento de publicações e periódicos que a pesquisa em

Enfermagem ganhou subsídios, com leis que aprovaram o Código de Ética para os

Profissionais e os respaldaram para a atividade.

Padoin (2009, p.913) afirma:

Que as primeiras pesquisas de enfermagem foram anteriores aos

anos de 1990 e utilizavam predominantemente, o método quantitativo

para discutir o cotidiano profissional, com destaque aos estudos

experimentais. Valorizavam-se a repetição, a observação dos fatos, a

busca de explicações e causas, as técnicas de análise baseadas em

números, a mensuração, a utilização de testes estatísticos e a

linguagem matemática.

Para a autora, foi em meados de 1990 que as pesquisas em Enfermagem

mostraram uma tendência qualitativa, nas quais a relação entre o pesquisador e o

sujeito da pesquisa permitia construir, por meio do método científico, conhecimentos

que auxiliassem na compreensão do ser humano. Atualmente, tanto a abordagem

quantitativa quanto a qualitativa têm sido empregadas na busca de respostas para a

complexidade do cotidiano assistencial.

Com o objetivo de promover e incentivar a pesquisa na área, nas décadas de

70 e 80, foi criado o Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem - CEPEN.

Houve também a expansão de bancos de dados para a divulgação das pesquisas

realizadas.

Seganfredo e Almeida (2010, p.125) afirmam que algumas questões recebem

especial atenção dos autores das pesquisas, tais como:

59

A inserção e o uso de cuidados de enfermagem no cotidiano das instituições de saúde e de ensino do país, a necessidade de desenvolvimento de conhecimento próprio para justificá-la como ciência; o uso de classificações padronizadas para mensurar as mudanças no estado de saúde do paciente, o uso da classificação de diagnósticos de enfermagem, a utilização de sistemas informatizados para dar visibilidade a enfermagem nas instituições de saúde, efetividade das intervenções do enfermeiro através da identificação de resultados, entre outros.

Como na História da Ciência, alguns questionamentos e discussões

começaram a surgir por parte dos profissionais da saúde, pacientes e familiares,

sobre as formas de se desenvolver o conhecimento específico do cuidar em

Enfermagem.

O desenvolvimento das primeiras teorias de Enfermagem não tem marco

definido na literatura, mas de acordo com as obras consultadas, sua origem se deu

entre as décadas de 50 e 60, por meio de pesquisas de enfermeiras norte-

americanas com o objetivo de construir e justificar o conhecimento na área.

Florence Nightingale, com suas escritas e publicações, foi quem serviu de

base para a maioria dos modelos conceituais e teorias de enfermagem que são

utilizadas e reconhecidas no meio científico até os dias de hoje.

A enfermagem, ao delimitar seu campo de atuação, necessita explicitar suas

formas de conhecer, produzir e validar o conhecimento, para consolidar-se como

disciplina e profissão que se organizam e se expressam socialmente, com

identidade singular, em um complexo campo de conhecimento.

É ressaltada aqui a teoria de Faye Glenn Abdellah (1960), enfermeira,

pesquisadora e professora, que defendeu que a prestação de cuidados de

enfermagem deve se basear na arte e na ciência, modelando atitudes, competência

intelectual e técnicas profissionais, com o objetivo de atender os indivíduos de modo

que se preencham suas necessidades físicas, emocionais, intelectuais, sociais e

espirituais.

Sua teoria defende que, por meio da pesquisa, é possível produzir,

desenvolver e aprofundar os conhecimentos científicos, o que, consequentemente,

acarretará melhor qualidade no desempenho do enfermeiro em prol do paciente.

A Enfermagem, enquanto campo de atividade relacionada com a Ciência,

ainda embasa sua prática em diversas fontes e aceita interferências alheias porque

sua própria produção é mais voltada para os aspectos internos da profissão, com

60

poucos estudos que retratam a Enfermagem como prática social, à luz do

dinamismo da sociedade.

A formação inicial é o que estimula a pesquisa e contribui não apenas para a

promoção da saúde e de seu aspecto preventivo, mas também influencia a formação

profissional, pois afeta profundamente a qualidade do cuidado em saúde e

representa chave fundamental para a resolução de importantes problemas da

realidade.

É valido lembrar que a Enfermagem tem sido proclamada por seus

exercedores como uma ciência e uma arte, que depende de um saber construído

cientificamente, do qual os profissionais são os próprios autores, produtores e

consumidores.

Os resultados adquiridos por meio das pesquisas são empregados em

intervenções diárias e podem estar associados ao meio acadêmico ou assistencial,

na prevenção ou na promoção da saúde, com finalidade curativa ou de reabilitação,

para proporcionar o bem-estar do ser humano.

Para finalizar, Portugal (2002) diz que "no século da produtividade há que

haver a todo o nível maiores exigências profissionais na educação para que a

formação universitária conduza a oferta para a investigação, além da

profissionalização".

61

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como já descrito na introdução, o procedimento metodológico adotado foi o

de análise documental, que de acordo com Severino (2007, p. 122)

Tem-se como fonte documentos no sentido amplo, não só os documentos impressos, mas, sobretudo outros tipos de documentos, tais como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais e questionários, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação e análise.

No período da coleta de dados, a instituição contava com uma única turma do

8° semestre, composta de trinta e cinco alunos e dez professores. Três alunos foram

excluídos por motivos de pendências em outras disciplinas e um docente foi

eliminado por estar ausente no dia, totalizando respectivamente a participação de

trinta e dois discentes e nove professores.

A coleta de dados, como já descrito na Introdução, foi realizada em dia e

horário pré-estabelecidos pela Diretora do Curso e pela pesquisadora, em um

evento Comemorativo para a Profissão.

Para a coleta de dados, foi solicitada autorização por escrito à Comissão de

Ética e Pesquisa (CEP) da Plataforma Brasil. De acordo com a determinação da

CEP, junto com este pedido foram encaminhadas cópias do projeto de pesquisa e

do Curriculum Lattes da pesquisadora, o termo de consentimento informado, a

análise crítica de riscos e benefícios envolvidos e o cadastro na Plataforma Brasil.

Os documentos foram preenchidos conforme orientação da CEP.

Antes da entrega do instrumento de coleta, a pesquisadora instruiu os

participantes sobre seus direitos na pesquisa (conforme determinação da CEP).

Foram também feitas orientações para o preenchimento do questionário e do termo

de consentimento informado, sendo aberto espaço para esclarecimento de dúvidas.

A instituição escolhida é a Universidade Cidade de São Paulo, criada em mil

novecentos e setenta e dois (1972) por um grupo de educadores liderados pelo

professor Remo Rinaldi. Nessa época, era conhecida como Faculdade da Zona

Leste de São Paulo (FZL). No ano de 1992, foi reconhecida como universidade e

passou a se chamar Universidade Cidade de São Paulo – UNICID.

62

A UNICID tem como missão contribuir para a formação integral do homem.

Deve torná-lo um empreendedor crítico, habilitado e credenciado para o exercício

profissional, mediante o ensino, pesquisa e extensão. Deve oferecer a comunidade

local e nacional serviços educacionais, profissionais e produtos científicos.

No ano de 2012, a Universidade Cidade de São Paulo foi integrada ao grupo

Cruzeiro do Sul Educacional, por meio de um aporte financeiro do grupo estrangeiro

ACTIS.

O curso de Enfermagem foi um dos primeiros a ser oferecidos pela

Universidade e, de acordo com a Proposta Pedagógica atual, deve preparar o aluno

com conhecimentos científicos e tecnológicos para o desempenho das atividades

profissionais, em consonância com as necessidades sociais, de caráter clínico

educativo, generalista, com visão humanística, em busca de uma postura

profissional com responsabilidade com o indivíduo e o coletivo.

O curso fornece bases para o desenvolvimento de competências e

habilidades que visam ao desenvolvimento do raciocínio crítico e clínico, o que

engloba os aspectos éticos, legais, políticos, administrativos e do relacionamento

humano. Visa também a desenvolver as competências potenciais em educação e

saúde, assistência, política, gerenciamento, avaliação, tomada de decisão e

investigação, bem como as habilidades cognitivas, motora e atitudinal. Fomenta o

desenvolvimento da criatividade, do trabalho em equipe e da liderança, além de

estimular o aluno na busca e na produção do conhecimento científico e do raciocínio

crítico para o exercício profissional.

Entre as competências e as habilidades gerais do enfermeiro estão: a)

atenção à saúde – prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto

individual quanto coletiva; b) tomada de decisões; c) comunicação; d) liderança; d)

administração e gerenciamento; e) educação permanente – aprendizado contínuo,

tanto na formação quanto na prática; f) conhecimento dos problemas de saúde e

proposição de soluções; g) educação em saúde; h) assistência de enfermagem

direta e no contexto situacional e geral; i) investigação de cunho científico - empírico

ou experimental – j) construção e sustentação do conhecimento na área de

enfermagem.

63

Os objetivos da pesquisa no curso de Enfermagem são: proporcionar ao

aluno condições para desenvolver habilidades como criatividade, atitude

investigativa e comunicação, bem como aprimorar o conhecimento científico

adquirido durante o curso e estimular a produção científica na área.

Importante salientar que nas questões 01 e 06, mais de um dos discentes

optaram por mais de uma resposta.

Tabela 01: Descrição do conceito de Pesquisa Acadêmico-Científica pelos

Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID

TOTAL

Refere-se à pesquisa realizada na Graduação. 02

Não visa o empírico. 01

Refere-se à pesquisa com fundamentação teórica baseada em dados de outros pesquisadores ou comprovação de resultados pela experiência

13

É aquela aceita pela Comunidade Científica. 02

Cita a metodologia. 02

Atualização de conhecimento verdadeiro sobre um determinado tema. 05

Valoriza o sujeito pesquisador. Refere-se à pesquisa partindo do que sabe, coletam-se novos dados e cria um conhecimento novo.

05

Aprimora o conhecimento do pesquisador para atuar na sua área profissional.

08

A Universidade prepara e ensina o aluno a realizar a pesquisa acadêmico-científica.

02

Fonte: Dados do autor

O Trabalho de Conclusão de Curso é uma produção acadêmica realizada

pelo aluno, com orientação de um professor, e que deve ser apresentado até o

término do curso de Graduação. O TCC deve ter seu início no sétimo semestre e

conclusão até o fim do oitavo semestre.

Os temas devem abordar uma ou mais situações vivenciadas nos diferentes

cenários de ensino-aprendizagem e, preferencialmente, enquadrar-se na linha de

pesquisa do docente orientador. Os orientadores marcam encontros com seus

orientados em datas e horários possíveis para ambos, na Universidade ou fora dela,

com periodicidade mínima quinzenal.

64

Os trabalhos deverão ser entregues ao orientador 15 (quinze) dias antes do

término do ano letivo para avaliação. Cabe ao orientador e ao orientando a decisão

de enviar uma cópia encadernada para a biblioteca da Universidade.

De acordo com os dados coletados, é ampla e diferenciada a concepção dos

alunos sobre Pesquisa Acadêmico-Científica. Em uma somatória de respostas, a

definição de pesquisa pelo grupo de alunos poderia ser:

“A Pesquisa Acadêmico Científica, é aquela ensinada e realizada na

Graduação, para investigar de forma sistemática um determinado tema. Segue uma

metodologia e é aceita pela Comunidade Científica, sendo capaz de proporcionar no

pesquisador uma atualização e um aprimoramento no conhecimento para atuar na

área profissional”.

A Graduação da UNICID exige oito períodos acadêmicos e o aluno é exposto

à pesquisa desde o início do currículo, ocasião em que se apropria de conteúdos

que o irão instrumentalizar para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso,

com emprego da metodologia científica. É neste momento que o aluno consegue

perceber e praticar que o processo de pesquisa envolve etapas previamente

definidas, as quais se iniciam com a escolha do tema a ser investigado.

Dos trinta e dois alunos, treze destacaram que uma pesquisa, para se tornar

científica, necessita da fundamentação teórica baseada em dados de outros

pesquisadores, ou comprovação de resultados pela experiência. Os achados

revelados confirmam que os alunos apresentam uma preocupação com a definição

do método de pesquisa de acordo com o objeto de estudo.

Apesar de as investigações não mencionarem tão claramente, ao

correlacionar o objeto de estudo com a prática docente, o planejamento e a

elaboração de pesquisa no Trabalho de Conclusão de Curso ainda são fatores que

geram estresse e ansiedade nos alunos.

Isso pode ser ocasionado por que a busca de evidências que comprovem as

hipóteses formuladas exige dos alunos a habilidade de investigar, ler e organizar as

obras, conhecer as normas de elaboração de um texto científico, os padrões de

redação e os procedimentos de citação diretas e indiretas.

65

Com este estudo, houve também a oportunidade de conhecer a perspectiva

da pesquisa na formação profissional. Oito dos trinta e dois alunos mencionaram a

importância da pesquisa na atuação profissional, perspectiva que consolida a

Enfermagem como ciência; na verdade, é o conhecimento produzido e criado pela

pesquisa científica que validará as ações do enfermeiro.

Entende-se que a pesquisa deva fazer parte do dia-a-dia do enfermeiro,

resultando na disseminação, aplicação, validação e incorporação dos

conhecimentos na prática da enfermagem. Entretanto, eles não devem ser utilizados

somente com instrumento de aperfeiçoamento da prática diária; devem também

servir como avanço e valorização da profissão na sociedade.

Tabela 02: Frequência dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da

UNICID em disciplina para realização do TCC

TOTAL

Sim, frequentaram uma disciplina para realização do TCC. 29

Não frequentaram uma disciplina para realização do TCC. 03

Fonte: Dados do autor

Tabela 03. Disciplinas norteadoras para realização do TCC

Dos 29 alunos que responderam sim, as disciplinas foram: TOTAL

Construção do conhecimento científico. 04

Metodologia da Pesquisa. 20

Iniciação Científica não configura disciplina, mas foi citada. 02

Orientação Individual do Professor. 03

Fonte: Dados do autor

Na UNICID, os conteúdos de pesquisa para esta turma foram oferecidos no

primeiro semestre, na disciplina de Construção do Conhecimento Científico, e no

sexto semestre, na disciplina de Metodologia Científica, ministrada por docentes,

Mestres e Doutores, da área de Enfermagem.

A estrutura acadêmica e de ensino da Universidade também oferece, aos

alunos dos cursos de Graduação, possibilidades de desenvolvimento e de

66

integração aos processos acadêmicos e à vida profissional. Nessa realidade, a

inserção da pesquisa no curso de Enfermagem pode contar com o auxílio de alguns

programas.

A Iniciação Científica é um programa oferecido pela Universidade e visa a

contribuir para sistematização e institucionalização da pesquisa e a estimular os

alunos e professores ao desenvolvimento do conhecimento científico. Sua equipe é

formada por professores da Universidade, nas diferentes áreas do conhecimento,

que têm como responsabilidade o processo de seleção dos projetos de alunos, bem

como acompanhar e avaliar o programa. Os alunos participantes recebem bolsas de

estudo da própria Universidade. O acompanhamento é feito por relatórios

semestrais, que são analisados pela comissão e apresentados ao final de cada

atividade em forma de painel e de comunicação oral, com evento organizado na

própria Instituição.

Dos trinta e dois alunos respondentes, somente dois alunos relataram que

conheciam o Programa de Iniciação Científica e participaram dele, índice

considerado muito baixo, já que a participação dos alunos no Programa oferece

vantagens que aprimoram o desempenho acadêmico.

Dentre as vantagens, podem-se considerar o desenvolvimento da vocação

científica, o contato direto com a pesquisa acadêmico-científica, a possibilidade de

recebimento de bolsa de estudos e descontos, o enriquecimento do currículo para o

mercado de trabalho, o bônus na pontuação de seleções para programas de Pós-

Graduação e a dispensa de carga horária em cadeiras eletivas.

A Diretora do curso, Profª. Ms. Wana Yeda Paranhos, justificou a pouca

participação dos alunos no Programa, apontando a dificuldade de aprovação em

alguns critérios estabelecidos. Grande parte dos alunos de enfermagem da UNICID,

cerca de 80% do total de frequentadores do curso, participam de Organizações Não

Governamentais e têm vínculos empregatícios, fatores que impedem a inserção no

programa.

A importância de compreender a percepção de graduandos em enfermagem

sobre o preparo para a investigação científica está no reflexo da realidade do que

acontece e é transmitido, o que pode levantar questionamentos sobre a importância

67

da pesquisa científica na formação e no exercício da atividade do enfermeiro em

nosso meio. Por meio dela é que se pode refletir sobre o amadurecimento do que

precisa ser melhorado.

Tabela 04: Observações realizadas pelos Graduandos de Enfermagem do

8°semestre da UNICID ao frequentar a disciplina de Metodologia da Pesquisa

Dos 20 alunos que responderam Metodologia da Pesquisa 13 fizeram a seguinte observação:

TOTAL

A disciplina auxiliou na realização do TCC. 15

A disciplina não auxiliou na realização do TCC. 05

Sugerem proximidade da disciplina no semestre da realização do TCC. 02

Dos 03 alunos que responderam que não frequentaram uma disciplina que os orientasse na realização do TCC

TOTAL

Não responderam a questão. 03

Fonte: Dados do autor

Pode-se verificar que vinte e dois dos trinta e dois respondentes reconhecem

que participaram de disciplinas que os auxiliaram na elaboração do TCC e dois

alunos sugeriram uma aproximação entre o momento em que se ministra a disciplina

e a execução do Trabalho de Conclusão de Curso, a fim de facilitar o resgate dos

conteúdos já ministrados e se introduzirem os conteúdos referentes ao planejamento

da pesquisa, à produção de dados, à análise e interpretação de resultados e à

elaboração de um relatório.

Um dado relevante está na resposta de três alunos, ao não mencionarem a

relação entre as disciplinas, que são obrigatórias e fazem parte do currículo, e o

processo de desenvolvimento do TCC e da postura investigativa.

Conforme o Projeto Pedagógico do curso, a Construção do Conhecimento na

área da Enfermagem visa a desenvolver estratégias didáticas e pedagógicas para

possibilitar ao aluno o conhecimento das características do Método Científico. Tem

também como objetivos capacitar o aluno para o estudo de textos, assim como para

a reflexão sobre a importância da fundamentação científica na prática da profissão.

Seu conteúdo é composto por a) aquisição do conhecimento; b) tipos de

conhecimentos; c) características do conhecimento científico; d) diferenças entre

ciência e senso comum; e) uso do conhecimento científico na enfermagem; f)

68

consumo da ciência – como ler e estudar artigos científicos nas bases de dados na

área da saúde e como produzir um trabalho acadêmico científico.

A Metodologia de Pesquisa explicita as diferentes abordagens teórico-

metodológicas que fundamentam uma pesquisa – técnicas de coleta de dados e as

etapas do processo de investigação. Faz também uma análise crítica da pesquisa

em Enfermagem e apresenta os princípios éticos e legais em sua realização e

divulgação de resultados.

A disciplina visa a possibilitar ao discente a compreensão da importância da

pesquisa em enfermagem, bem como a reflexão sobre a amplitude do papel do

enfermeiro como pesquisador, a identificação dos passos da metodologia científica,

o desenvolvimento de projetos de investigação científica e a análise de artigos

científicos de forma crítica.

Seu conteúdo é composto por a) aspectos e tipos de pesquisa; b) elaboração

de um projeto de pesquisa; c) elementos de um projeto de pesquisa; d) diferentes

técnicas de coleta de dados; e) ética em pesquisa; f) comunicação científica; g)

pesquisa bibliográfica; h) método quantitativo e método qualitativo.

A expectativa desta análise consistiu em identificar se a metodologia de

ensino utilizada no curso é percebida pelo aluno, no sentido de torná-lo capaz de

formular e executar uma Pesquisa Acadêmico-Científica, que contribua para a sua

formação. Pode-se perceber também se as disciplinas ministradas serviram como

referência para a realização dos Trabalhos de Conclusão de Curso.

Tabela 05: Realização de outras pesquisas pelos Graduandos de Enfermagem

durante o curso

TOTAL

Realizaram pesquisas acadêmicas para realização de trabalhos, estudos de casos, busca de informações, seminários, relatórios, entre outros.

30

Realizam pesquisas acadêmicas científicas, cujo relatório foi transformado em trabalho científico escrito.

02

Fonte: Dados do autor

Ao analisar a Tabela 05, trinta dos alunos respondentes afirmaram que

praticaram e desenvolveram pesquisas acadêmicas durante o curso, com a

69

finalidade de conhecer ou explorar um assunto exigido para a realização de

trabalhos ou para obter conhecimento na área. As pesquisas de cunho científico

foram realizadas somente por dois dos alunos da Graduação, provavelmente os

participantes do Programa de Iniciação Científica da Universidade.

O que se pode perceber é que a Universidade e o currículo do curso

apresentam uma consideração pela Ciência, que devem ser mais divulgadas,

desenvolvidas e aprimoradas no ensino de Graduação.

O contato dos alunos com o conhecimento científico se dá mais na forma de

consumo do que de produção. Apesar dessa tendência, é determinado, por parte

dos professores do curso – conforme normas discutidas durante as reuniões de

colegiado – que os conteúdos utilizados nas pesquisas acadêmicas sejam de fontes

científicas.

Os objetivos para tal ação visam a estimular a adoção de uma postura que

incorpore os métodos e o rigor científico para a elaboração de conceitos, ideias,

formulação de questionamentos e crítica aplicados na prática profissional.

As atividades de pesquisa devem ser fortalecidas e vistas como procedimento

formativo – não só na Pós-Graduação, mas também na Graduação –, com o

exercício de criação do conhecimento, passíveis de utilização para o

desenvolvimento econômico, social e cultural da região e do país. Ao analisar a

trajetória da pesquisa em Enfermagem no Brasil, descrita no capítulo 3, vale

relembrar que seu impulso ocorreu a partir da criação dos cursos de Pós-Graduação

stricto sensu, e que é ainda fortemente neste nível de ensino que é promovida e

desenvolvida. No entanto, este cenário vem sofrendo modificações, que

paulatinamente preveem e oportunizam a iniciação científica do aluno de

Graduação.

Tabela 06: Concepção de Ciência pelos Graduandos de Enfermagem do

8° semestre da UNICID

TOTAL

A resposta não tem definição. Descreve a ciência como oportunidade de atualização e aumento de conhecimentos.

12

Necessita de tempo, dedicação e gosto em pesquisar. 04

70

A ciência é mutável, variável e instável. 04

Não é empírica é verdadeira. 01

Para ser verdadeira necessita de experiências práticas. 03

É a evolução de uma teoria antiga. 01

Tipo de conhecimento. 01

Não responderam. 04

Importante para a Enfermagem. 02

Fonte: Dados do autor

Tabela 07: Visão dos Graduandos de Enfermagem do 8° semestre da UNICID

sobre a importância da pesquisa para o desenvolvimento profissional

TOTAL

Desempenho Profissional baseado no conhecimento científico. 18

Desempenho profissional baseado no conhecimento de diversos temas e pontos de vista.

02

Atualização e aprimoramento. 09

Saber selecionar informações relevantes para melhor desempenho profissional.

02

Não respondeu. 01

Fonte: Dados do autor

A maneira como cada aluno percebe a ciência deve ser levada em conta. A

consciência dessa percepção favorece a formulação de estratégias e políticas de

desenvolvimento de ações dentro da Universidade e do Curso. Os acadêmicos

acreditam que haja necessidade de pesquisa para sua formação e atuação prática

na vida profissional e que a pesquisa sirva de alicerce para a ciência da

enfermagem.

Pode-se observar que aproximadamente trinta dos respondentes associam a

ciência com o empenho profissional, ou seja, quanto mais conhecimento científico se

tiver, melhor será a assistência de enfermagem prestada.

Pode-se considerar a proposição acima como assertiva; o que não se pode é

limitar a ciência como contribuinte para o aprimoramento ou aprofundamento de

conhecimentos na área. Ela deve também ser incentivadora de estudos e

descobertas que contribuam para a consolidação da enfermagem.

Apesar de a Universidade e o curso oferecem ferramentas para o

desenvolvimento da postura investigativa em prol da ciência, muitos dos alunos

71

desconhecem os subsídios oferecidos e, menos ainda, participam deles. É possível

afirmar que, para os acadêmicos, a formação deve contemplar de forma abrangente

a profissionalização.

O profissional enfermeiro, por meio da sua formação generalista, humanística,

crítica e reflexiva, deve reconhecer as diferentes vertentes que sustentam o

pensamento, a produção científica e tecnológica e a ação nos diferentes níveis e

formas de sua inserção na sociedade.

O conhecimento está em constante transformação. O que se ensina hoje,

certamente, não terá a mesma validade amanhã. Portanto, mais importante do que

aprender conteúdo é preparar o aluno para aprender a aprender, para garantir a

capacitação de profissionais com autonomia e discernimento, a fim de assegurar a

integralidade da atenção, a qualidade e a humanização no atendimento a indivíduos,

família e comunidade.

No questionário respondido pelos docentes do 8° semestre do curso de

Enfermagem, a finalidade foi identificar a relação do professor com a pesquisa

acadêmico-científica, em conexão com o seu aprimoramento para desempenhar

esta função dentro da Universidade.

Importante salientar que nas questões 01, 02 e 06, mais de um professor

optaram por mais de uma resposta.

Tabela 08: Descrição do conceito de pesquisa acadêmico-científica pelos

Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID

TOTAL

Projeto desenvolvido por um professor com ou sem a participação de alunos.

01

Investigação científica utilizando um método adequado, utilizando-se as fases do processo metodológico.

02

Forma sistematizada de construção do conhecimento e validação de conceitos novos.

03

Pesquisa realizada em Instituição de Ensino orientada por Docentes inseridos na organização, seguindo os princípios e fundamentos científicos.

03

Fonte: Dados do autor

72

O professor continua a representar um papel chave para a sociedade. Como

visto nos capítulos anteriores, desde séculos passados, o professor é visto como

aquele que expressa à verdade e a ele foi atribuída a missão para atuar na formação

e na socialização dos indivíduos.

É importante entender qual a concepção de pesquisa dos docentes, para

estimular e fundamentar a sua importância para o curso e para a profissão. Os

enfoques apontados fortalecem a constatação de que cabe ao professor formador

possuir um “corpus teórico”, que lhe permita orientar a análise e a reflexão sobre a

prática pedagógica.

Para favorecer a pesquisa, é preciso que ela esteja na proposta curricular do

curso e seja assumida como parte importante dela. Deve ser claro seu propósito,

para que o educador promova ao aluno o processo de pesquisar, para combater a

mera reprodução de modelos e fomentar a iniciativa própria do pesquisador-

discente.

A Universidade não deve ser vista como um depósito de conhecimento; antes,

deverá ser também sua produtora. À medida que os alunos são motivados pelos

professores para trabalhar com a pesquisa, ocorrem a familiarização e o

envolvimento com a atividade.

Para isso, torna-se importante existir um ambiente favorável à participação, à

interação e à comunicação fácil. O aluno não deve assumir posição passiva e

subalterna, daquele que comparece à Universidade apenas para escutar, tomar

notas, fazer provas e ser aprovado.

O papel da Universidade, por meio da atuação dos professores, é o de

facilitar, orientar, problematizar, questionar e motivar a aprendizagem, além de,

através da mediação, conduzir o aluno a perceber os motivos e as finalidades pelos

quais é importante aprender determinados conteúdos.

73

Tabela 09: Formação do Docente de Enfermagem do 8°semestre da UNICID

para trabalhar com pesquisa no Curso de Enfermagem

TOTAL

Experiência profissional. 01

Participação em grupos de pesquisa. 01

Horário coletivo. 01

Lato sensu – Especialização. 02

Mestrado e Doutorado. 07

Cursos de capacitação para orientação de Trabalho Científico. 01

Fonte: Dados do autor

Para nove dos docentes, durante a sua formação, a Universidade, em seus

cursos de Graduação e Pós-Graduação, mais as experiências acumuladas ao longo

da vida e da carreira como professor, foram apontadas como as principais instâncias

para atuar com a pesquisa. Os cursos de Mestrado e de Doutorado foram apontados

por sete dos nove respondentes como os caminhos que mais favorecem a formação

para a pesquisa.

Apesar de o dado não aparecer em formato de tabela, quatro dos docentes

que apontaram o stricto sensu como instância formadora e capacitadora para a

pesquisa, justificam que o Mestrado e o Doutorado favorecem o manejo da pesquisa

como princípio científico, ao fazerem que seus frequentadores participem de

comunidades e publicações científicas. Tais tarefas exigem do participante um

comportamento e uma postura que atendam ao rigor científico e despertam também

o lócus de formação, com qualidade formal, para a produção de conhecimento.

Outro dado comentado por quatro dos docentes foram as limitações em

termos de cursos de preparação para atuar com a pesquisa dentro das

universidades. Em um retrospecto da História da Ciência, no caso da Enfermagem,

há muitos anos o Mestrado e o Doutorado já eram as fontes incentivadoras da

pesquisa e, em cinquenta anos, apesar dos avanços, poucas ainda são as

instâncias que proporcionam este preparo.

Dos docentes participantes, sete são Mestres, quatro destes Mestres

atualmente são Doutorandos e os dois Especialistas são Mestrandos. Conforme a

discussão sobre pesquisa em uma reunião de colegiado, de um modo geral, os

professores apresentam dúvidas quanto a um modelo ideal para a formação

74

necessária para trabalhar com a pesquisa, mas acreditam que é necessária a

definição de uma metodologia investigativa comum a todos, que os familiarizem com

habilidades, para que ocorra a operacionalização durante o curso.

A formação e o desenvolvimento de habilidades investigativas deverão ser um

processo construído em múltiplas vias, com constante reflexão sobre os pontos

importantes que os professores deverão dominar para atuar na formação do futuro

enfermeiro. O melhor seria que os professores participassem mais dos grupos de

pesquisa presentes nas universidades e que reuniões para discutir a necessidade

dos alunos e dos professores frente à pesquisa científica fossem mais frequentes.

Como toda e qualquer profissão, esta tem se apresentado em fase de

construção. A prática pedagógica do professor enfermeiro encontra-se em

construção e depende de vários fatores que se relacionam entre si, como o contexto

pessoal, o da enfermagem e saúde e o das próprias instituições formadoras.

A pesquisa, aliada à formação profissional, representa um dos componentes

estratégicos para o desenvolvimento profissional do docente.

Tabela 10: Relação do conhecimento dos programas oferecidos pela Universidade para desenvolver a pesquisa

TOTAL

Sim, conhecem os programas que a Universidade oferece para o desenvolvimento da pesquisa.

08

Não conhecem os programas que a Universidade oferece para o desenvolvimento da pesquisa.

01

Fonte: Dados do autor

Tabela 11: Programas conhecidos pelos Docentes de Enfermagem do 8°semestre da UNICID que auxiliam no desenvolvimento da pesquisa

PROGRAMAS CITADOS TOTAL

PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. 04

PIIC – Programa Institucional de Iniciação Científica – extinto no ano de 2012

05

Fonte: Dados do autor

75

De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem em vigor no

em 2008, os programas oferecidos pela Universidade que incentivam a participação

e o desenvolvimento na Pesquisa Acadêmico-Científica eram:

PIBIC – voltado para a iniciação à pesquisa de alunos de Graduação

universitária, tem como objetivos contribuir para a formação de recursos

humanos para a pesquisa, de forma que se reduza o tempo médio de

permanência dos alunos na Pós-Graduação.

PIIC – extinto em 2012 – compreendia todas as ações que possibilitavam

aos alunos familiarizarem-se com os processos e procedimentos de

investigação dos objetos de estudo inerentes aos campos do saber de

seus cursos, que se concretizavam em projetos de pesquisa estruturados,

conforme a especificidade e a complexidade dos níveis de abordagem,

próprios da investigação.

Fórum de Educação - responsabilidade da Pró-Reitoria Adjunta de

Ensino, é um colegiado de discussão sobre as temáticas educacionais

que envolvem o Ensino Superior, propiciando trocas de experiências e

práticas pedagógicas que visam enriquecer o trabalho docente.

Mostra de trabalhos acadêmicos – evento que tem por finalidade

divulgar o resultado dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos no programa

de práticas investigativas.

Núcleo docente estruturante – espaço de formação do professor no

curso que atua. Trata-se de um momento coletivo (semanal ou quinzenal)

organizado pelos cursos de Graduação com vistas à reflexão, atualização,

gestão e acompanhamento dos projetos pedagógicos.

Curso de especialização em Docência no Ensino Superior e Docência

no Cenário do Ensino para Compreensão – promovido pela Pró-Reitoria

Adjunta de Ensino, é disponibilizado aos professores dos cursos de

Graduação.

76

Torna-se importante o conhecimento e a participação por partes dos

professores nestes programas, para estimular, entender e divulgar para os

estudantes da Graduação universitária o seu funcionamento.

A participação dos professores no PIBIIC, em 2012, foi escassa, pois um dos

critérios de aprovação exigia que o professor fosse Doutor e, no nosso grupo de

docentes, somente 02 tinham a titulação, embora outros estejam a caminho da

certificação. Para 2013, os requisitos, compromissos e direitos do professor-

orientador foram repensados, e a titulação mínima exigida é a de Mestre.

Tabela 12: Docentes de Enfermagem do 8° semestre da UNICID que estão

desenvolvendo Pesquisa Científica

TOTAL

Sim, estão realizando Pesquisa Científica. 08

Não estão realizando Pesquisa Científica. 01

Fonte: Dados do autor

Tabela 13: Motivos da realização da Pesquisa Científica pelos Docentes de

Enfermagem do 8°semestre da UNICID

TOTAL

Pesquisa para Mestrado ou Doutorado. 07

Trabalho Conclusão de Curso – orientação de alunos na Graduação. 02

Iniciação Científica – orientação de alunos na Graduação. 03

Fonte: Dados do autor

No que diz respeito ao componente “pesquisa”, é possível perceber, na

discussão do colegiado, a prevalência, entre os docentes enfermeiros, de uma

temática mais voltada para a área da saúde do que para a educação, com

relevância científica para a Enfermagem.

Mesmo assim, aspectos positivos são desenvolvidos com este exercício; o

docente, ao realizar a pesquisa, independente da temática e da existência de

coautores, saberá conceber e descrever a sua importância para a prática

pedagógica.

77

Severino (2007, p. 63) contribui, ao escrever que "na universidade, ensino,

pesquisa e extensão efetivamente se articulam, e é por meio da pesquisa que se

aprende, se ensina e se prestam serviços à comunidade”.

Dessa forma, o professor precisa da prática da pesquisa, para ensinar

eficazmente; o aluno precisa dela, para aprender eficaz e significativamente; a

comunidade precisa da pesquisa, para poder dispor de produtos do conhecimento; e

a universidade precisa da pesquisa, para ser mediadora da educação.

Tabela 14: Concepção de Ciência pelos Docentes de Enfermagem do

8°semestre da UNICID

TOTAL

Busca direcionada para o saber. 01

Quem faz a ciência é o próprio pesquisador. 01

Envolve todas as áreas do conhecimento. 01

Conhecimento validado por meio do rigor da metodologia científica. 08

Algo importante para a profissão 01

Fonte: Dados do autor

Sobre a imagem da ciência, diferentes concepções são descritas pelos

professores, desde aquelas que a definem como algo importante e imprescindível,

até as que a descrevem como legitimidade no alcance dos conhecimentos, que

devem ser validados pelo rigor da metodologia científica.

A questão da importância da ciência para a pesquisa vem há muito tempo

sendo discutida, e o que se pode perceber é que, no universo educacional, uma

série de concepções são apresentadas, de modo que ora antagonizam e ora se

completam.

A concepção de ciência ainda é muito ancorada ao rigor da metodologia

científica e, para a Enfermagem, ainda está muito vinculada ao desenvolvimento do

conhecimento sobre a prática, na possibilidade de o profissional realizar suas

atividades com embasamento científico.

Apesar das diferentes concepções oferecidas pelos docentes acerca da

ciência, é preciso reconhecer que palavras-chave vão ao encontro da literatura.

78

Talvez estas concepções pudessem ser mais aprimoradas, no sentido de se

reconhecer a história e a evolução da ciência, com o objetivo de contribuir para a

realização das pesquisas no curso.

79

CONCLUSÃO

O maior desafio da presente pesquisa foi responder a um questionamento

pessoal sobre a minha própria prática como docente e contribuir, por meio dos

resultados obtidos, para a melhoria da Pesquisa Científica no Curso de Enfermagem

da Universidade Cidade de São Paulo.

Ao final deste trabalho, a partir da visão de professores e alunos do curso de

Enfermagem da UNICID, é possível considerar que a Pesquisa Acadêmico-Científica

seja um princípio educativo e científico, que permeia a formação e a prática

profissional.

Para os docentes, é tida como um instrumento fundamental para a prática

pedagógica, e para os alunos, como uma ferramenta valiosa que aprimora as

qualidades desejadas em um profissional de nível superior.

O curso de Enfermagem da UNICID, em seu Projeto Pedagógico, se propõe a

desenvolver no aluno o interesse pela investigação de cunho científico – empírico ou

experimental –, para que ele reconheça a construção e a sustentação do

conhecimento na área, visto que a Enfermagem é considerada uma ciência.

A formação inicial é o que estimula a pesquisa e contribui não apenas para a

promoção da saúde e de seu aspecto preventivo, mas também influencia a formação

profissional, pois afeta profundamente a qualidade do cuidado em saúde e

representa chave fundamental para a resolução de importantes problemas da

realidade.

Atualmente, na UNICID a Pesquisa Acadêmico-Científica na Graduação em

Enfermagem é realizada nos dois últimos semestres, na execução do Trabalho de

Conclusão de Curso. Os objetivos da pesquisa no curso de Enfermagem são:

proporcionar ao aluno condições para desenvolver habilidades como criatividade,

atitude investigativa e comunicação, bem como aprimorar o conhecimento científico

adquirido durante o curso e estimular a produção científica na área.

80

É valido lembrar que a Enfermagem tem sido proclamada por seus

exercedores como uma ciência e uma arte, que depende de um saber construído

cientificamente, do qual os profissionais são os próprios autores, produtores e

consumidores, onde os resultados adquiridos são empregados em intervenções

diárias e podem estar associados ao meio acadêmico ou assistencial, na prevenção

ou na promoção da saúde, com finalidade curativa ou de reabilitação, para

proporcionar o bem-estar do ser humano.

O Curso de Enfermagem compreende a indissociabilidade entre ensino,

pesquisa e extensão como eixo fundamental da universidade e tem investido em

atividades que possibilitem a articulação destas funções para incrementar a

construção do conhecimento nos estudantes, visto que a pesquisa ainda é uma

atividade que deve ser mais praticada e desenvolvida.

Perante a retrospectiva histórica da criação das universidades e sua relação

com a Pesquisa e a Ciência, o que se pode perceber é que a tradição cultural

brasileira privilegia a condição da universidade como lugar de ensino, com uma

preocupação com o mercado de trabalho, e a realização da Pesquisa Acadêmico

Científica torna-se mais presente e praticável nos cursos de Pós-Graduação, um

fator que fica fortalecido devido à história da investigação científica em Enfermagem

no Brasil ter se originado nos cursos de Mestrado e Doutorado.

Diante destas reflexões que associadas ao perfil do aluno de Enfermagem da

UNICID e os resultados obtidos com o questionário, é possível afirmar que os

discentes tendem a se preocupar mais em adquirir conhecimentos e habilidades

para os auxiliarem na prática profissional do que com a realização de pesquisas.

Quero aqui ressaltar que este trabalho foi pensado, elaborado e redigido com

um espírito de criticismo amigável, com a preocupação de que os professores e

alunos dialoguem mais sobre o assunto, a fim de buscar a expansão, o

fortalecimento da produção intelectual e a prática para o curso.

Os resultados encontrados reforçam o conceito fundamental da iniciativa do

trabalho. Tomando como verdadeira a concepção de Pesquisa Acadêmico-Científica

como investigação de algo que ainda não foi pensado e nem dito, que nos alcança

na interrogação, que nos pede reflexão, crítica e enfrentamento com o instituído,

81

como ação civilizatória em prol da sociedade, do meio político, tecnológico e

econômico, torna-se evidente que a pesquisa no curso de enfermagem não é tão

operacional.

Como sugestão dos professores, algumas alternativas são apresentadas para

reforçar e estimular a pesquisa dentro do Curso de Enfermagem da UNICID, dentre

elas: a) oferecer ao professor e aos alunos a oportunidade de contato com

pesquisas e pesquisadores, por indicação e intermédio da própria Universidade; b)

elaboração de oficinas de pesquisa, com o objetivo de divulgar as políticas e

programas de pesquisa Acadêmico-Científica da universidade, explicar sobre a

importância social e para o currículo e possibilitar o conhecimento sobre as bases

teóricas da pesquisa e da ciência; c) reuniões com a colaboração de diretores de

curso, entidades públicas, associações privadas, organizações, professores e alunos

para discutir, aperfeiçoar e divulgar as políticas de pesquisa da Universidade; d)

organização de eventos e jornadas na Universidade; e) incentivo e patrocínio

financeiro para que as pesquisas realizadas na Universidade sejam publicadas e

apresentadas em ambientes acadêmicos; f) divulgação em murais para acesso às

produções científicas realizadas na Universidade; g) incentivo ao Mestrado e

Doutorado.

Não seria algo que nunca tenha sido pensado e também não haveria nada de

revolucionário em seu conteúdo. Tal ação serviria para reconhecer que a pesquisa

dentro na Universidade, na Graduação, tem um enorme potencial, que só será

atingido se seus desequilíbrios forem superados por meio de estratégias.

Para se adaptar às exigências do mercado, a Universidade alterou seus

currículos, programas e atividades para garantir a inserção profissional dos

estudantes no mercado de trabalho, separando cada vez mais o ensino e pesquisa.

Apesar da importância dessa função, não se pode esquecer que, além de

transmitir, a Universidade também deve produzir o conhecimento. Deve ser

entendida como uma instituição que articula o ensino e a pesquisa, como fonte de

transformação da sociedade, por meio da qual, no Curso Superior, a forma de lidar

com o conhecimento seria um diferencial do ensino escolar.

82

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ANEXOS