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PEDRO BRAGA GOMES A BIOÉTICA NO ENSINO MÉDIO: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO DE PRÁTICAS DE HUMANIZAÇÃO DO SUJEITO UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2010

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PEDRO BRAGA GOMES

A BIOÉTICA NO ENSINO MÉDIO: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO DE PRÁTICAS DE HUMANIZAÇÃO DO SUJEITO

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2010

PEDRO BRAGA GOMES

A BIOÉTICA NO ENSINO MÉDIO: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO DE PRÁTICAS DE HUMANIZAÇÃO DO SUJEITO

Dissertação apresentada como exigência

parcial da obtenção do título de Mestre, ao

Programa de Mestrado em Educação, da

Universidade Cidade de São Paulo, sob a

orientação da Profa. Dra. Margaréte May

Berkenbrock Rosito.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2010

COMISSÃO JULGADORA

______________________________

______________________________

______________________________

DEDICO

À Sueli

AGRADECIMENTOS

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a elaboração desta

Dissertação, especialmente, aos professores e funcionários do Programa Mestrado

em Educação da Universidade Cidade de São Paulo.

À Profª. Drª. Margaréte May Berkenbrock-Rosito, orientadora desta pesquisa.

Aos professores Prof. Dr. Potiguara Acácio Pereira e Luís Carlos Dallier Saldanha,

pelas valiosas contribuições no exame de qualificação.

À Província de Santa Cruz da Ordem dos Frades Menores (OFM), que me

ensinaram, por mais de duas décadas, a indelével convivência fraterna da Paz e do

Bem.

À minha querida mãe, que, gentilmente, me acolheu na vida e no mundo.

RESUMO

O presente estudo focaliza a presença da Bioética, como eixo temático, da disciplina

de Filosofia para o Ensino Médio, a partir da implementação da proposta curricular

da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, 2008. No estudo, propõe-se,

como hipótese, que a presença da Bioética, na proposta curricular do Estado de São

Paulo, é um modo de educar para a responsabilidade, na esteira da revolução social

e biotecnológica. Aponta-se, aqui, a necessidade de princípios éticos em relação à

vida, para não converter a vida humana em mercadoria, nas mãos de cientistas ou

grupos econômicos. A partir de um estudo documental, procura-se discutir a

proposta curricular implementada na Rede Estadual do Ensino Público Paulista, no

ano de 2008, baseado no conteúdo dos princípios Bioéticos, na disciplina de

Filosofia, a partir do referencial teórico com base em Dussel (2002), Freire (1994;

1996) e Heidegger (2000). Adota-se a abordagem hermenêutica, para este estudo,

na perspectiva de Gadamer (1999), busca-se interpretar os significados explícitos ou

implícitos no documento, a construção de sentidos, a partir de inferências. O estudo

aponta que a presença da Bioética contribui para a reflexão do sujeito (Bio)ético,

como ser pessoa e ser sujeito, revelando o cuidado como valor no modo de educar

para a responsabilidade.

Palavras chave: Educação. Ensino da Bioética. Proposta Curricular. Direitos

Humanos

ABSTRACT

This study focuses on the presence of bioethics as subject of the discipline of

Philosophy for High School through the implementation of the curriculum

proposal the Secretary of State for Education of São Paulo, 2008. The study is

proposed as a hypothesis that the presence of Bioethics in the curriculum of the

State of São Paulo is a way of educating for responsibility in the wake of social

revolution and biotechnology, highlights the need for ethical standards in

relation to life, not to convert human life into a commodity in the hands of

scientists or economic groups. From a documentary study seeks to discuss the

proposed curriculum implemented in the state system of public education St.

Paul in 2008, based on the content of Bioethical principles in the discipline of

philosophy, from the theoretical basis of Dussel (2002), Freire (1994, 1996) and

Heidegger (2000). It adopts the hermeneutic approach to this study in view of

Gadamer (1999), we seek to interpret the meanings expressed or implied in the

document, the construction of meaning from inferences. The study indicates

that the presence of Bioethics contributes to the reflection of the subject (Bio)

ethics, as being a person and be subject, revealing how the care value in the

way of teaching responsibility.

Keywords: Education. Teaching of Bioethics . Proposed Curriculum. Human

Rights.

LISTA DE ABREVIATURAS

CONAE............Conferência Nacional de Educação ONU.................Organização das Nações Unidas

PCESP ............Proposta Curricular do Governo do Estado de São Paulo

UFLA ...............Universidade Federal de Lavras

UNESCO .........Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO__________________________________________________ 1 1. A EDUCAÇÃO EM BIOÉTICA: AS QUESTÕES E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS. __________________________________________ 18 1.1 - Contextos e perspectivas da Bioética. __________________________ 18 1.2 - Aspectos filosóficos. ________________________________________ 23 1.3 - Considerações pedagógicas. _________________________________ 30 1.4 Educar na contemporaneidade._________________________________ 39 2. A BIOÉTICA: UM DESAFIO PARA O SISTEMA DE ENSINO MÉDIO. ___ 42 2.1 A educação bioética: um modismo ou uma necessidade no sistema de Ensino Médio? _________________________________________________ 42 2.2 As relações entre a Filosofia e a Bioética. ________________________ 50 2.3 O corpo: um elo entre a Bioética e a Filosofia._____________________ 54 2.4 As reflexões (bio) éticas: a prática educacional e a formação de professores. ___________________________________________________ 57 3. A PROPOSTA CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO DO ESTADO DE SÃO PAULO: FUNDAMENTOS DO SUJEITO (BIO) ÉTICO. _________________ 77 3.1 A Bioética: o desempenho entre ser pessoa e ser sujeito aprendente. __ 77 3.2 O sujeito (bio) ético: a construção de valores na escola e na vida. _____ 85 3.3 Os aspectos valorativos da formação do sujeito (bio) ético. ___________ 89 3.3.1 Os dois lados da realidade: a relacional e a comportamental. ________ 89 3.3.2 A equidade, a justiça e a autonomia. ___________________________ 90 3.3.3 O cultivo da identidade na alteridade. __________________________ 91 3.3.4 O cultivo do senso do mistério e da capacidade de admirar. ________ 92 3.3.5 A avaliação das perdas e dos ganhos, do bem e do mal. ___________ 93 CONSIDERAÇÕES FINAIS_______________________________________ 95 REFERÊNCIAS _______________________________________________ 102 ANEXOS ______________________________ Erro! Indicador não definido.

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INTRODUÇÃO

Cursei Filosofia na Pontifícia Universidade São João de Latrão, Roma -

Itália. Minha licenciatura foi concluída na Faculdade Nossa Senhora da

Assunção, da Arquidiocese de São Paulo. Meu trabalho de conclusão de curso

foi uma abordagem de temas referentes ao Cuidado, em Martin Heidegger.

Neste percurso investigativo, surgiu a convicção de que a formação do cidadão

passa, necessariamente, pela reflexão filosófica.

No curso de especialização sobre Bioética, realizado na Universidade

Federal de Lavras/MG, houve a constatação de que o olhar bioético é sempre

voltado à saúde, à ciência ou aos aspectos jurídicos e ambientais. Geralmente,

este olhar não está voltado para o homem que, indiscutivelmente, deveria ser o

objeto do Cuidado e da educação.

Sou professor de Filosofia, no Ensino Médio, na escola pública,

vinculada à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Aqui, reflito

sobre o sentido do pensamento filosófico. Percebo que temas, como o Cuidado

do ser humano, diante do conhecimento produzido, tanto local como universal,

revela-se no ponto de encontro entre o pensar e o fazer dos cientistas, filósofos

e artistas de todos os tempos. Estes profissionais sempre inauguram formas de

compreender o homem, sua natureza e cultura. Esta compreensão traz à tona

o sentido do educar para a responsabilidade, visando à garantia da qualidade

de vida das pessoas e sujeitos.

Essas são as principais razões que me levaram a desenvolver um

estudo sobre o trabalho com Bioética e a sua inclusão, como eixo temático, na

Proposta Curricular do Estado de São Paulo, visando ao ensino de Filosofia,

para alunos do Ensino Médio. Leva-se em consideração a concepção de que a

filosofia é um questionamento intelectual, onde qualquer tema pode ser

desafiado, investigado e criticado. Neste processo, cria-se o ambiente

apropriado para o encontro educacional, de busca constante, conforme se

concebe a educação, como processo contínuo de aprendizagem e reflexão.

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No Brasil, a Constituição de 1988 incluiu a Educação, no Capítulo III do

Título VIII. De acordo com o Art. 205 da Constituição, a educação é “um direito

de todos e dever do Estado e da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento

da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o

trabalho”.

A LDB 9394/96, em diferentes Títulos e Capítulos, reforça a visão de

que a Educação deverá, em todos os momentos, visar ao pleno

desenvolvimento do indivíduo, seu preparo para a cidadania e sua qualificação

para o trabalho.

No Título II, “Dos Princípios e Fins da Educação Nacional”, afirma-se:

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos

princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por

finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício

da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Lei 9394/96. Diretrizes e

Bases da Educação Nacional. Governo do Estado de São Paulo. Editora do

Brasil S/A p. 1).

No Título V, “Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino”, no

Capítulo II, “Da Educação Básica”, Seção I, “Das Disposições Gerais”, afirma-

se:

Art. 22. A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando,

assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania

e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (Lei

9394/96. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Governo do Estado de São

Paulo. Editora do Brasil S/A. p. 9).

Quando a LDB9394/96 estipula os objetivos para o Ensino Médio, a

ênfase recai, entre outros itens, sobre a formação do cidadão, a preparação

básica para o trabalho, o aprimoramento do educando como pessoa humana,

incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico.

Em todos os níveis, as finalidades da educação abrangem o pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho

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Em 2008, ocorreu a introdução da Bioética, como eixo temático, dentro

do campo da ética, vinculada à disciplina Filosofia, na Proposta Curricular do

Estado de São Paulo para o Ensino Médio.

Neste trabalho, estabelece-se, como objetivo principal, a reflexão e,

posteriormente, a demonstração de que a introdução da Bioética foi benéfica,

para que se cumpram as finalidades da educação e os objetivos para o Ensino

Básico e o Ensino Médio, estabelecidos, na Constituição de 1988 e na LDB

9394/96.

A introdução da Bioética, vinculada ao ensino da Filosofia, é relevante,

se houver a percepção de que uma reflexão profunda, sobre o seu campo de

atuação, conduz ao aprimoramento das relações e dos valores humanos.

Ainda, a presença da Bioética, nas propostas curriculares, é compatível com a

pedagogia libertadora e com a capacidade do próprio sujeito para se

humanizar.

As reflexões sobre o papel da Bioética ajudarão o aluno do Ensino

Médio a estar vigilante contra as práticas de desumanização. Elas contribuirão,

ainda, para a necessidade de uma leitura crítica das verdadeiras causas da

degradação humana.

A inserção da Bioética, nas propostas curriculares, não está voltada para

o ensino da virtude, na sociedade do conhecimento, mas para o

desenvolvimento das competências para ser virtuoso, para viver e conviver

com solidariedade.

A inserção da Bioética opõe-se à educação que privilegia o ensino

tecnicista e que desconsidera o valor da formação humana. Agora, é possível

que se direcione a educação para a sensibilidade e para o pensamento

reflexivo, crítico e criativo.

Propõe-se, como hipótese, que a presença da Bioética, na Proposta

Curricular do Estado de São Paulo, é um modo de educar para a

responsabilidade, na esteira da revolução social e biotecnológica. Aponta-se a

necessidade de critérios éticos, em relação à vida humana, para que ela não

seja convertida em mercadoria, nas mãos de cientistas ou grupos econômicos.

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Uma das metas, neste estudo, é o registro das razões pelas quais a

presença da Bioética, nas Propostas Curriculares para o Ensino Médio, no

Estado de São Paulo, contribui para a reflexão do sujeito (bio)ético, como ser

pessoa e ser sujeito, revelando o Cuidado como valor, no modo de educar

para a responsabilidade.

Apesar de a Bioética ter sido, inicialmente, objeto de estudos das

Ciências Biológicas e Médicas, é possível que se perceba uma forte referência

à Bioética, na perspectiva ontológica do Cuidado. Foucault (2006) ao abordar o

“cuidado de si”, na perspectiva ontológica, contextualiza a construção histórica

do conceito de Cuidado, nos diálogos entre Sócrates e Alcebíades, aparecem

as idéias desenvolvidas relativas ao Cuidado de si, na obra de Platão.

Na perspectiva de Foucault, o texto de Platão apresenta Alcebíades, um

jovem ateniense que almeja governar a cidade, recebendo o conselho de

Sócrates: “cuida de ti mesmo” para bem governar os outros. O cuidado de si

aparece como o primeiro despertar, e o conhecer-se a si mesmo era o buscar o

Eu que se deve cuidar para bem governar os outros.

No século 5º a.C., Hipócrates, contra a crença milenar, afirma que as

doenças não são castigo dos deuses, mas fenômenos naturais. Ele define a

Medicina como ciência, cujo objetivo é a cura, baseada no conhecimento

filosófico, sobretudo, na ética, que envolve o respeito à vida, ao paciente e à

sua família.

A Bioética, é, hoje, um tema presente em todas as áreas do

conhecimento. No século XXI, mais que em outras épocas, é preciso aprender

a conviver e a aprender a Ser e, como adverte Heidegger, não esquecer o Ser.

A reflexão sobre a importância da Bioética propicia discussões sobre

valores, incentivando o diálogo a respeito de questões sobre a vida, a dor, a

morte, a desigualdade social e outros temas advindos dos cenários compostos

pela contemporaneidade. Estas questões discutidas e divulgadas atualmente,

estendidas a contextos sociais os mais diversos, estão entretecidas na vida

cotidiana.

A relevância desse estudo decorre da presença de um contexto, em

meio a um tempo de grande e acelerado avanço tecnológico. Não significa

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parar o avanço científico, a questão central é, quando a vida se torna

mercadoria. Esse contexto histórico situa a necessidade de compreender a

qualidade da formação da juventude e do docente e o que contribui para essa

formação. É adequado, nas circunstâncias da contemporaneidade, que esta

formação seja apropriada para desenvolver e sustentar a relação

humanizadora, contemplando os princípios norteadores de uma atitude de

respeito e responsabilidade, na área da educação.

Adota-se a abordagem hermenêutica para este estudo, que se enquadra

na perspectiva da pesquisa qualitativa. Busca-se interpretar os significados

explícitos ou implícitos de um documento. Não se pretende a busca de alguma

verdade ou de informações específicas do texto, mas a construção de sentidos,

a partir de inferências.

Devechi e Trevisan (2010, p. 148), ao sublinhar as diferenças

epistemológicas entre as abordagens dialética, hermenêutica e positivista,

salienta que todas essas investigações se utilizam de procedimentos, tais

como: questionário, entrevista, observação participante, narração, História de

Vida, estudo de caso, etnografia, pesquisa participante e pesquisa ação.

Em Amaral (1994, p. 09), afirma-se que Schleiermacher, Dilthey,

Heidegger e Gadamer contribuíram para que a hermenêutica se tornasse uma

corrente filosófica e, não mais, apenas um método para o “correto acesso aos

textos, com o modo adequado de interpretar esses textos”.

Schleiermacher foi o primeiro a acentuar a genuína dimensão filosófica da hermenêutica na medida em que ele salientou o problema da correta compreensão e interpretação, não somente para os textos da tradição escrita, mas também de uma ampliação da tarefa hermenêutica para todas as formas de comunicação, especialmente o diálogo vivo. (AMARAL, 1994:10)

Assim, a partir de Schleiermacher, a hermenêutica é utilizada, não

apenas, para a interpretação dos textos bíblicos ou dos textos da tradição

escrita, mas ela é utilizada, em outras formas de comunicação que carregam

as marcas de um determinado contexto histórico.

A partir de um estudo documental, procura-se discutir a proposta

curricular implementada, na Rede Estadual do Ensino Público Paulista, no ano

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de 2008, baseando-se, no conteúdo dos princípios Bioéticos, na disciplina de

Filosofia, a partir do referencial teórico com base em Dussel, Freire e

Heidegger.

Na perspectiva de Gadamer (1999), compreensão não significa,

necessariamente, estar de acordo com o que ou quem se compreende.

Significa, porém, refletir sobre o que o outro pensa, sendo o “outro”, aqui,

aplicado aos autores e teóricos da educação e do campo da Bioética. O estudo

desdobra-se em explicitações de conceitos, interpretações e apreensões,

constituindo-se o movimento dialógico da construção de sentidos.

A compreensão, para Gadamer (1999), é um processo de abertura de

horizontes, para se permitir encontrar, no texto, algo que diz por si mesmo.

Para esse autor, toda a compreensão tem caráter de aplicação, isto é, há uma

pergunta que o texto quer responder. Os conteúdos de sentido se apresentam

como algo presente, no texto da Proposta Curricular do Estado de São Paulo,

que necessita ser descoberto.

O pensar hermenêutico não desconsidera as tendenciosidades

ideológicas do texto, a crença de que não existe conhecimento puro. Para

SEVERINO (1997, p.65), “a lei conceitua, mas não obriga, não assegura seu

próprio cumprimento. Assim, tudo passa a depender das medidas que os

gestores do sistema venham a tomar.”

O processo exige o comando do intérprete que assume a subjetividade fundante de sentido, a interpretação (hermenêutica) dos fenômenos, recuperando os significados, o sentido ou vários sentidos (polissemia) dentro de seus contextos de significados. (Horizontes de compreensão) (GAMBOA, 1995, p.94).

São próprias do enfoque da hermenêutica filosófica, a análise e a

interpretação cuidadosa. A concepção positivista só admite como verdadeiro o,

empiricamente, verificável, enquanto a hermenêutica aponta para a

compreensão da verdade, levando em consideração o conhecimento do

sentido e do valor que há em contextos historicamente situados.

O tema da Bioética, como eixo temático na disciplina de Filosofia, no

Ensino Médio, na rede estadual de São Paulo, neste momento histórico, se

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supõe necessário ser compreendido à luz das teorias e práticas da área da

educação e, em contextos do processo ensino aprendizagem dessa formação.

Esse ponto de vista orienta a investigação, voltada para a Proposta

Curricular do Estado de São Paulo como diretrizes do Ensino Médio.

Surgem questões, tais como: Como o conceito de Bioética é

compreendido pelos teóricos e autores aqui apresentados? Como os

conteúdos essenciais para o Ensino Médio se relacionam com todo o processo

de educar? Como ocorre a formação docente para sustentar as ações que

envolvem a Bioética? O que significa a formação do sujeito Bioético para o

Ensino Médio?

O presente estudo apresenta a seguinte estrutura.

No primeiro capítulo, apresenta-se uma reflexão sobre o papel da

Bioética no mundo contemporâneo. Sobre as marcas da contemporaneidade,

com indivíduos envolvidos com o avanço científico e tecnológico. A reflexão

sobre a importância da Bioética envolve discussões sobre valores, o diálogo a

respeito de questões sobre a vida, a dor, a morte, a desigualdade social e

outros temas advindos dos cenários compostos pela contemporaneidade.

No segundo capítulo, estabelece-se os vínculos entre a Bioética e a

educação, mais especificamente, a educação do Ensino Médio. Pelo prisma da

Bioética, os temas relacionados às consequências do avanço científico e do

avanço tecnológico, necessitam ser considerados na educação. A discussão

sobre estes temas são fundamentais, nos procedimentos de formação de

professores e de alunos, pela relevância que possuem.

No terceiro capítulo, a partir de um estudo documental procurou-se

discutir a proposta curricular implementada, na rede estadual do ensino público

paulista. As fundamentações desta reflexão recaem sobre o conteúdo dos

princípios bioéticos, na disciplina de Filosofia, a partir do referencial teórico com

base em Dussel, Freire e Heidegger.

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1. A EDUCAÇÃO EM BIOÉTICA: AS QUESTÕES E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS. 1.1 - Contextos e perspectivas da Bioética.

Na década de 70, o norte-americano, Van Rensselaer Potter, tornou-se

pioneiro na área da Bioética, com a obra “Uma Ponte para o Futuro”, cujo título

original é Bioethics: bridge to the future. A Bioética foi definida como sendo a

“ciência da sobrevivência humana”, a metáfora contida na palavra “ponte” –

aponta para a comunicação entre ciência biológica e ética.

O termo Bioética, etimologicamente, deriva do grego bios, vida e ethos,

ética, que significa Ética da Vida. Bios representa o conhecimento biológico, a

ciência dos sistemas viventes, e ethos o conhecimento dos valores humanos

(PESSINI 2006, p.21-22), evidenciando a amplitude que toma este saber, em

sua abrangência. Para MOSER (2006), a Bioética emergiu, no contexto da

necessidade de uma “ciência da sobrevivência”, diante dos avanços da

biotecnologia.

A Bioética, como campo de estudo, emergiu após a segunda metade do

século XX. Os avanços científicos e tecnológicos trouxeram uma necessária

tomada de consciência da responsabilidade com o poder suscitado pela

revolução social e biotecnológica. Os desdobramentos se encontram nas

“viradas históricas”, entre contextos sociais e culturais, trazidos pela Segunda

Guerra Mundial. Aqui, as questões sobre a vida e a morte, a saúde e a doença,

o sofrimento e a dor, e a qualidade de vida colocam-se, com características

culturais específicas da contemporaneidade: a velocidade das transformações

e a importância de suas repercussões para o ethos da vida humana.

Os temas, suscitados pela Bioética, estão presentes e integram o

cotidiano das pessoas de um país, que são atraídas para as reflexões que

devem ser realizadas. Estas reflexões abrangem as importantes descobertas

científicas e os modos de produzir ciência, que interferem no modo de vida de

cada ser humano, tais como: manipulação genética e transhumanismo;

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transgenia e transsexualidade; reprodução assistida; clonagem reprodutora;

eutanásia; distanásia; cuidado paliativo; pesquisa com seres humanos;

transplantes de órgãos, aborto; pena de morte; meio ambiente.

Fatos surpreendentes como os transplantes de órgãos e tecidos, a

fertilização in vitro, diversos tipos de intervenções no corpo humano através de

técnicas e máquinas, a clonagem da ovelha Dolly, atestam que a humanidade

não é mais a mesma. É evidente que estamos vivenciando uma grande virada

histórica, há mais de três décadas. A vocação da Bioética se estabelece para

dialogar com as ciências aplicadas nos laboratórios, zelando pelo humanum da

humanidade.

Surgem necessidades diante de novas demandas: Comitês de Ética

para as pesquisas, o Biodireito e a Biossegurança, tratando de temas que

emergem a todo momento, entre outros, o início e fim da vida, que se

desdobram em temas polêmicos, tais como aborto, prolongamento da vida,

sofrimento, genoma, embriões congelados em laboratórios, pesquisas com

células tronco e outros tantos ligados ao corpo humano físico.

Foi criado, na década de 1970, o Instituto Kennedy de Bioética. A partir

daí, foram sendo delineados princípios, importantes, marcos de cunho

intelectual e reflexivo da Bioética: justiça, autonomia, beneficência ou não

maleficência. São princípios de uma nova consciência que, para decidir o

presente e o futuro, compreende a necessidade de critérios éticos,

esforçando-se para não deixar a vida humana ser transformada em

mercadoria, ficando nas mãos de alguns cientistas ou grupos econômicos.

Na visão de Beauchamp e Childress (2002), sobre a égide do

principialismo, se dá o desenvolvimento da bioética, a partir de eixos

norteadores de caráter (de) ontológico: não maleficência e a justiça e de

caráter (tele) ológico: beneficência e autonomia. Não sendo absolutos, do

ponto de vista filosófico, foram rapidamente difundidos, passando a ser parte

integrante e ferramentas utilizadas, na mediação e na solução dos conflitos

morais, pertinentes às temáticas bioéticas.

Há algumas vertentes teóricas, também denominadas linhas ou

paradigmas, para abordagens de questões, apresentando perspectivas

20

Bioéticas. O principialismo é uma linha de pensar a bioética, ou uma das

linguagens bioéticas. A contextualização é condição, sine qua non, para

possibilitar o processo do desenvolvimento dos princípios bioéticos, pois a

singularidade de cada caso deve ser analisada, sob o foco da dignidade

humana singular e particular, dentro do contexto social, econômico e cultural.

A vertente “libertária” apresenta, como valor central, a autonomia e o

individuo. Seu principal autor é TRISTAM ENGELHART (1998), que defende os

direitos e propriedades do individuo.

No paradigma das virtudes, reagindo à perspectiva individualista dos

modelos precedentes, apresenta-se o modelo da virtude defendido por

(EDMUNDO PELLEGRINO e DAVID THOMASMA, 1991).

Este modelo coloca a tônica no agente, particularmente, nos

profissionais de saúde, integrando o paciente em seu processo de decisão. O

paradigma casuístico, defendido por Albert Jonsen e Stephen Toulmin, em The

abuse of casuistry, incentiva a análise, caso por caso, num plano analógico. Os

paradigmas fenomenológico e hermenêutico enfatizam a necessidade de

reconhecer que toda experiência está sujeita à interpretação. Existem sempre

duas dimensões, em cada situação: uma subjetiva e outra objetiva.

A linha narrativa fornece outro caminho para abordar a experiência

humana e os dilemas morais que a caracterizam. O paradigma do Cuidado é

defendido por Carol Gilligan em In a different voice; parte da psicologia

evolutiva é mais de cunho psicológico do que filosófico. O paradigma do direito

natural, apresentado por Jonh Finnis (2007), estabelece a existência de alguns

bens fundamentais em si mesmos: o conhecimento, a vida, a vida estética, a

vida lúdica, a racionalidade prática, a religiosidade, a amizade. Estes são bens,

em si mesmos, fins e não meios, que não supõem nenhuma organização

hierárquica entre si.

O paradigma contratualista apresentado por Veatch (2006) tem, como

ponto de partida, a denúncia das insuficiências de fundo que a ética hipocrática

apresenta. Defende um triplo contato: entre médico e pacientes, entre médicos

e a sociedade, e um contato mais amplo com os princípios norteadores da

relação médico-paciente.

21

Nesta breve contextualização, pode-se acrescentar o paradigma

antropológico personalista, com vários autores que discutem a necessidade de

uma fundamentação antropológica para dar suporte às questões bioéticas.

Entre os autores, encontram-se E. Sgreccia, D. Tettamanzini, S. Leone, J.F.

Malherbe, C. Viafora, S. Spinsanti. Trata o sujeito em sua globalidade

(PESSINI; BERCHIFONTAINE, 2000).

No Brasil, a Bioética, como campo de estudos, adquire uma perspectiva

acadêmica, a partir dos anos 90. Tem se preocupado com a reflexão, com a

compreensão e com o tratamento dos desafios trazidos pela tecnociência, no

mundo da saúde humana, envolvendo ainda, o tratamento dos problemas

persistentes, advindos da desigualdade e da exclusão social. Estes problemas

são emergentes e afetam a vida das pessoas, em contextos latino-americanos.

Garrafa (2002) denominou “bioética dura” esta vertente teórica, em que há a

necessidade de intervenções práticas para os problemas sociais do entorno

comunitário.

Ségre e Cohen (1994) apresentam um prisma à “reflexão autônoma”,

sustentando que a prática da Bioética precisa vir de dentro para fora. Para

mudar o outro, preciso mudar o meu eu, o que implica em disposição interior

para aceitar mudanças. Neste ponto, já se desenham perspectivas

educacionais da bioética para a prática do magistério: a visão do professor que

compreende a necessidade de “olhar para si mesmo” e, a partir daí e a partir

de então, trazer as “contribuições necessárias para o mundo exterior”

(MONTAIGNE 2009, p. 101).

Pessini e Barchifontaine (2000) destacam as similitudes e as diferenças

entre vários modelos para trabalhar a Bioética, tendo em vista que as

dimensões morais da experiência humana não podem ser capturadas por uma

única perspectiva. Este é um apontar para a importância do diálogo necessário

entre as ciências, para que os avanços não sejam apenas técnicos, mas

profundamente humanos. Torna-se evidente o compromisso mais amplo da

Bioética com as relações humanas, envolvendo os ecossistemas e a vida do

planeta.

22

No Brasil, devido à extensão territorial e às desigualdades sociais, são

feitas adaptações adequadas aos contextos e às realidades aqui encontradas.

O paradigma tradicional ou principialista dos EUA é praticado, na maioria dos

dilemas a serem resolvidos. Os profissionais, principalmente da área de ciência

da saúde, têm seus pilares nos princípios básicos para as tomadas de

decisões, muitas vezes, de conflitos morais.

Temos a Bioética feminista, defendida por grupos, em Minas Gerais e

Distrito Federal, cujos movimentos a favor do aborto e da saúde preventiva

tomam proporções consideráveis. O paradigma anti-racista também se

apresenta como movimento social, com presença constante de militantes em

eventos nacionais e internacionais, em especial o Fórum Social Mundial e

Brasileiro, realizado em Belo Horizonte, em 2003.

O paradigma casuístico tem muitos seguidores no país e privilegia não

só a autonomia da vontade, como também a participação de pacientes e

familiares, na tomada de decisões terapêuticas, bem como a recusa da mesma

pelo paciente. Em 2002, no Congresso Mundial de Bioética, realizado na

capital federal, o seu presidente Professor Volnei Garrafa, disse o que se

denomina de “Bioética Dura”, contexto no qual o cidadão precisa agir mais, em

função dos problemas sociais apresentados e deixar um pouco a academia,

em outras palavras, partir para a prática.

Pessini e Barchifontaine (2000) concordam com a necessidade de

diferenças entre vários modelos para trabalhar a Bioética, entendendo que as

dimensões morais da experiência humana não podem ser capturadas por uma

única perspectiva. O que se pode constatar é que, os problemas bioéticos são

numerosos e complexos.

Durand (2007) salienta que entre os desdobramentos se encontra a

fragmentação da vida, priorizando os aspectos científicos, técnicos e

tecnológicos, em detrimento dos aspectos humanos. Esses avanços colocam

em pauta a reinvenção dos direitos humanos.

O enfoque peculiar da Bioética é a visão de interdisciplinaridade,

propondo desta forma integrar as disciplinas que compõem o conhecimento

humano. Desde que ela surgiu, há a pretensão de olhar para a vida, para todas

23

as áreas do conhecimento que, de uma forma ou de outra, têm implicações

sobre a vida, não podendo ficar restrita às Ciências da Saúde.

Quanto maior é a interferência no mundo, por meio do conhecimento,

tanto maior é a responsabilidade sobre as intervenções, na realidade do ser

humano, propriamente dito, e do meio ambiente. A urgência de uma ética para

o conhecimento situa os estudos da Bioética, delineando perspectivas por sua

proposta interdisciplinar. Neste sentido, a bioética se apresenta como reação

cultural ao conhecimento fracionado e reducionista especialmente no que se

refere ao ser humano.

1.2 - Aspectos filosóficos.

A Bioética ao propor uma reflexão sobre a vida, com seus princípios de

alteridade, justiça e beneficência, remete-nos ao Cuidado do “estar com”, de

Heidegger, na alteridade, condição humana para a construção do homem e de

uma morada mais justa, porque a participação que envolve, compromete e

oportuniza o exercício da responsabilidade. O homem, em seu mundo

indivisível, é o próprio responsável pelo rumo da sua raça, isto é, sua análise e

reflexão são: o problema e a solução. Ambas, a beneficência e a maleficência

são condições de escolhas inerentes do Ser e acarretam repercussões para a

manutenção da vida.

A civilização humana, historicamente, passou os séculos travando lutas

internas e externas, entre o poder técnico e o político, passando por culturas

que se diferenciam em costumes e valores como a Oriental e a Judaico-Cristã.

Refletindo sobre o cotidiano da sociedade atual, temos as pessoas dividas em:

clubes, times, símbolos, marcas, diferenças, disciplinas, diretor, professor,

aluno, partidos, etc. São divisões que nos confrontam e nos mantêm isolados.

O movimento do “Ser”, porém, pode acolher princípios éticos de “respeito e

justiça”, virtudes necessárias para os laços de amizade que garantem a

sobrevivência da raça humana.

Os meios do exercício do respeito e justiça somente podem ser

desenvolvidos pelos homens através do Diálogo, Cuidado e Compaixão. A

Bioética, como ciência (POTTER, 1970), estuda a moralidade da conduta

24

humana, no campo da ciência da vida. Assim, pela combinação do campo da

Biologia e da Ética, estabelecem-se elos entre ciência e política, tendo como

eixo central, para as tomadas de decisões, movimentos internos do Ser,

manifestados no respeito e na justiça.

O desenvolvimento tecnológico, os avanços em todas as áreas do

conhecimento e a informação veiculada, em tempo real, trazem aos homens,

como tarefa, a urgência de ações e o convívio com criatividade diante das

situações, como forma de garantir a sobrevivência.

Heidegger, pensador do existencialismo, traz à reflexão a questão da

imanência, isto é, nada existe, acima do humano, com que o homem possa

contar para ordenar e orientar suas ações no mundo. É somente à frente de si

mesmo, que o homem pode construir critérios e suas justificativas.

Sartre (1943) apresenta a concepção de que a existência vem antes da

essência. Isto significa dizer que o “o homem é condenado a ser livre”. O

homem é condenado a tomar decisões, fazer escolhas e opções. Como

enfrentar sem critérios absolutos de discernimento e de escolhas? A busca da

reflexão constante entre o bem e o mal, torna-se limitado entre o erro e o

acerto, que classifica e julga, é na consciência do respeito, na alteridade que o

Ser se constitui em Sujeito que, para cada ato em particular, desenvolve os

princípios de justiça e respeito.

A estética da sensibilidade vem substituir a repetição e a padronização,

a práticas hegemônicas. A criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo

novo, a afetividade que valoriza a leveza das relações, o acolhimento do outro

e o pensar sutil para conviver com o diferente, é superar os desafios

inquietantes da sociedade. O prazer da descoberta do fazer com o outro. Esta

estética não convive com as formas de exclusão, intolerância e intransigência.

Busca o aprimoramento do Ser, promovendo a critica contra a vulgarização e

embrutecimento das pessoas e dos inter-relacionamentos.

Essa reflexão convida-nos a pensar as relações com equidade, respeito

ao bem comum ao uso do senso de responsabilidade, forma de lidar com o

público e o privado e permitir possibilidades de “aprender a aprender”,

Identidade que substitui padrões morais abstratos, mas reconcilia o coração

25

humano, nas contradições entre o mundo moral e o mundo material, o corpo e

a mente, o publico e o privado, todos sujeitos a serem escolhidos pelo homem,

a partir dos fundamentos estéticos e políticos. Educar sob a inspiração da ética

não é transmitir valores morais, mas criar as condições para que as identidades

se “constituam pelo desenvolvimento da sensibilidade e pelo reconhecimento

do direito a igualdade” (DCEM/SP).

Para Dalai Lama (2000, p. 45) “criamos uma sociedade em que as

pessoas acham, cada vez mais difícil, demonstrar o mínimo de afeto aos

outros’. Em vez da noção de fazer parte, do sentimento de pertencer a um

grupo, encontramos um alto grau de solidão, pela perda de laços afetivos. Os

discursos contemporâneos reforçam uma noção de crescimento e

desenvolvimento econômico, que levam as pessoas, de modo intenso, à

competitividade e às disputas, fonte de problemas, tensões e infelicidade.

Estas questões implicam na perda da dignidade humana, apresentada sob

diversas formas.

Nunes (2002, p. 47) entende ser decorrente da dignidade, o principio da

intimidade, da vida privada, da honra e da imagem da pessoa humana. Para

ele, a dignidade é, inclusive, preceito norteador da solução de conflitos entre os

diversos direitos fundamentais tutelados na Carta Magna de 1988, concluindo-

se que “a estrela máxima do universo principio lógico, é a dignidade da pessoa

humana”.

O ser humano, como substância individual de natureza intelectual, é

uma pessoa; portanto, é capaz de agir por si e ser senhor dos seus atos. Com

o desenvolvimento contemporâneo da ciência, as fronteiras encobertas do

mistério humano, como sua reprodução e funcionamento biológico, são

desvendadas pelos avanços das pesquisas tecnocientíficas. São descobertas

sobre o corpo que facilitam a compreensão e o funcionamento dos órgãos,

revelações das pesquisas biológicas, como a fecundação in vitro, por exemplo,

e outras situações, antes,obscuras para o homem.

Há um mundo de criação e mistério, sobre o funcionamento da máquina,

chamada corpo. Assim, a pessoa, que é mais do que seu corpo, confronta-se

com este mundo, implicando cisões que geram crise de valores.

26

O termo grego para crise é “Krinein”, que significa: separar, crivar,

escolher; num sentido mais lato: julgar, ajuizar, avaliar, decidir. Todas essas

possíveis significações estão relacionadas à sua raiz “sânscrita, onde o termo

indica limpar e purificar” (BOLLNOW, 1971, p.43).

Avaliar, escolher, purificar e limpar, são ações que a sociedade do

século XXI é chamada a fazer, como tarefa necessária para pensar a vida, sob

a ótica de dignidade e equidade para todos os cidadãos, a partir do respeito e

direito de todos os Seres Vivos, de viverem. Os indivíduos, em coma

prolongado, ainda são pessoas humanas ou são seres vegetativos? A criança

existe como pessoa, no ovo, no estado de blástula, no momento da formação

do embrião, no terceiro mês, no sexto ou no nascimento? Perguntas como

estas podem ser respondidas pela ciência? Sob quais condições? Como serão

os critérios para nortear as respostas?

Ao lado destas indagações, surgem outras: que ser humano é desejado

e que ser humano dever ser evitado? Até em que momento os pais devem

decidir sobre como devem ser os filhos? Com a manipulação genética,

apresenta-se um outro problema Bioético, a respeito de como devem ser os

filhos? Como podem ou devem ser “metamorfoseados?”. Não foi discutida,

historicamente, a eugenia como sonho de raça perfeita e pura, em que a

imperfeição não tem lugar?

O saber da ciência e o ser humano se confrontam, pois, de fato, se

reconhece que foram criadas possibilidades de morte e de vida e, para superar

esta crise, a substância pensante deverá ter como premissa da ação humana,

o pensar, o ponderar, o escolher. Tomas de Aquino (apud CAMPOS, 1989,

pag. 61) ilumina a questão apontando “que a substância capaz de pensar é o

que chamamos de pessoa”. Para ele, “a riqueza, profundidade e beleza da

natureza humana se revelam de modo diferente em cada individuo, assim, na

multiplicidade dos indivíduos aparece a infinita riqueza e beleza da sempre

idêntica natureza humana”. Este ponto se torna balizador, tendo no

conhecimento e nas experiências do passado, pontos de reflexão para novas

abordagens, centradas na pessoa e no valor da vida, nas tomadas de

decisões.

27

A polêmica toma forma contundente, quando se remete ao conceito de

pessoa. Os diferentes enfoques de pessoa se originam de diferentes

interesses, desde o corpo como uma mercadoria, um produto de desejos ou

circunstâncias que possam definir condições de vida ou de morte. É possível

ou, não, considerar que “existe uma moralidade secular que justifica a compra

e venda de partes do corpo”?

Na perspectiva de Engelhardt (1998) e adeptos, sim. Na concepção de

autores como Andorno (1997, p.35), não, pois “a relação do sujeito com seu

corpo surge na realidade da ordem da natureza e não da ordem do direito”.

Ainda segundo este mesmo autor, a primeira posição “conduz a uma atitude

indiferente diante dos homens mais fracos”, ou seja, “o respeito dirige-se aqui

apenas a um número restrito de sujeitos, aqueles que têm chances de possuir

certas qualidades julgadas ‘essenciais”. Quanto à segunda posição, o autor

caracteriza como aquela que “conduz a uma atitude de respeito diante de todo

indivíduo, qualquer que seja sua idade ou seu estado de saúde”.

O saber da Bioética exige atenção para que seja problematizado,

metodologicamente. Pensar a Bioética dentro de uma definição cientifica com a

mesma lógica das ciências exatas é fragmentar a vida, porque ela pensa e

reflete a vida. Seu enfoque esta no campo da filosofia e refletir é atributo do

homem, da pessoa, do Ser, na complexidade do corpo e da sua subjetividade.

Husserl denomina “crise das ciências”, a toda forma de fazer ciência, tanto a

teórica como a prática, abandonando a importância total do Ser e, assim,

abordou a questão, em 1935, em uma conferencia em Le Nouvel Observateur:

Mas o cientista que estuda a natureza não percebe claramente que o fundamento permanente de seu trabalho subjetivo de pensamento é o mundo da vida; ele é que constantemente pressuposto como o terreno, o campo de trabalho sobre o qual apenas suas questões, seus métodos de pensamento adquirem sentido (1935, apud MOZER, 2004 p.12).

Para Husserl, o “pensamento adquire sentido”, porque ele não é uma

ciência, mas uma reflexão sobre os saberes disponíveis, interrogado pela

filosofia, interrogando internamente sobre os pensamentos dos outros, sobre o

mundo, a sociedade. Ela é uma dimensão constitutiva da existência humana,

28

seus objetivos são incontáveis, porque nada do que é humano ou verdadeiro

lhe é estranho.

Pensar filosoficamente é pensar adiante do tempo, explorar mais do

que sabemos, com a finalidade de manifestar, na corporeidade como morada,

a preservação, a dignidade e o respeito pela condição humana de si e do outro. Pensar filosoficamente sobre os aspectos que dignificam a vida, está entre os

temas mais significativos para a sociedade atual. Para Gianotti (2002 p.34) as

“Crises sucessivas e a perda dos referenciais levaram as sociedades à

cobrança moral e ética a partir de valores e compromissos considerados

válidos”. Assim, o debate sobre a ética tem sido um dos campos mais férteis da

filosofia, estendendo-se ao campo da saúde.

A valorização da reflexão ética encontra motivação ou justificativa na

mutabilidade dos valores. Os debates sobre ética são norteadores para as

ações humanas. A questão central da ética é sobre quais são os argumentos

que sustentam este ou aquele código moral, aceito como código de conduta.

Qual o sentido deste ou daquele valor? A ética quer compreender os fins e os

meios da ação humana, por isso, nas reflexões sobre a ética, faz-se a analise

reflexiva das ações práticas e particulares, das escolhas e das relações

construídas pelos seres humanos. É uma especificidade que exige do homem

investigação, vontade e decisão.

Dussel (2002) propõe que a vida humana não pode ser entendida de

forma abstrata, mas em sua materialidade externa. Materialidade esta situada

dentro da história, cultura, povo, língua, tempo e espaço. As circunstâncias

desta materialidade – a vida ou a morte dependem do corpo físico, da sua

história, do tempo histórico e cultural e das condições necessárias para o viver

com dignidade.

Para Vazquez (1997, p. 5-23), ética significa, analogamente, “modo de

ser” ou “caráter”, enquanto forma de vida também adquirida ou conquistada

pelo homem. Caráter e costume assentam-se em um modo de comportamento

que não corresponde a uma disposição natural, mas que é adquirido ou

conquistado, culturalmente, através de hábitos.

29

O esforço de superar a dualidade corpo e mente, ciência e filosofia,

parece ser o caminho da Bioética pelo seu transitar em diversos campos do

conhecimento humano. A tentativa de buscar o todo, o consenso, o ‘holos’,

perdido pela fragmentação do método cartesiano, são características da

bioética. Para Mozer (2006, pag.56), precisamos nos orientar para:

pensar a complexidade das relações sem, contudo, cair na doença

do intelecto, do idealismo, ou na doença do puro empirismo, que por sua vez cai na doença degenerativa da racionalidade instrumental, que propõe reduzir tudo e a todos a um processo tecnoburocrático.”

A Bioética ultrapassa o fundamentar-se em regras ou códigos de

conduta. Propicia, antes de tudo, o pensar a vida através de exercícios

filosóficos, questionando e investigando, até que ponto, os avanços científicos

têm o direito de afetar a vida, quais seus limites, o que significam condições

dignas para todas as pessoas.

Suas indagações se movem sobre temáticas relativas à conduta

humana, diante do poder tecnológico, sobre questões de direitos sobre o

corpo, seja em estado de vida ou de morte, se é justo manipular a vida e até

onde isto pode ser feito e sobre as responsabilidades de quem faz e de quem

recebe serviços que envolvem a vida humana. Em todos os questionamentos,

próprios da bioética, não se pode esperar por respostas fechadas, exatas, mas,

sim, por pistas que são sinalizadores para pensamentos e condutas

ponderadas e prudentes.

Segundo Hottois (2008 p. 612), a função do filósofo e da filosofia, dentro

de todas estas temáticas, não é a de “tomar posição em favor de uma

convicção moral determinada”. Ao filósofo, cabe o “esclarecimento do debate e

a explicitação dos valores e princípios em jogo”, colocando sob foco “os

pressupostos, análise dos argumentos e dos contra-argumentos”. Para ele, a

função filosófica é “velar pela ética da discussão, que exige que os pontos de

vista dos diferentes interessados possam expressar-se livremente e sem

pressão”, possibilitando que todos os argumentos sejam apreciados e

debatidos.

30

1.3 - Considerações pedagógicas.

A Educação é um termo cheio de significados que pode expressar

conteúdos, conceitos e aspectos culturais. Na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, educação é direito, desenvolvimento de competências,

aprendizagem para a formação do homem integral, a fim de prepará-lo para o

mundo do trabalho. Esta questão pode se apresentar como discussão Bioética:

a educação como processo de desenvolvimento de conteúdos, conceitos,

competências, habilidades, compreensão de mundo, é suficiente para formar o

homem?

O processo educacional é soma de todas as formas de aprendizagem

formal, informal e de valores humanos que se desenvolvem e se constroem

nas relações humanas, constituindo-se na moral e na dignidade da pessoa.

Desta forma, professores e alunos são aprendizes, pessoas em transformação,

participantes da condição humana do estar no mundo.

O Brasil e países vizinhos sofrem as conseqüências, no presente, do

processo de formação e colonização de suas nações e estão, na atualidade,

através de políticas públicas, buscando efetuar resgates sociais e de cidadania.

Para que as pessoas se tornem cidadãos com dignidade, é fundamental as

escolhas éticas. Torna-se necessário tratar problemas tais como a fome, o

analfabetismo, saneamento básico, moradia. Sem a possibilidade de voltar

para casa e ter um lugar digno para viver, poder construir hábitos e costumes

saudáveis, ter entendimento para fazer escolhas e ações preventivas de

saúde, o indivíduo é furtado em sua dignidade. Problemas como a prostituição

e o aborto, como opções puramente econômicas, doenças que levam as

pessoas a situações de exclusão, a morte em condições indignas, são algumas

das questões que esperam decisões e conhecimentos técnicos para serem

tratados.

A Lei Federal nº 9.394 LDBEN/1996 surge para a superação das

condições apresentadas acima e propõe-se estar em conformidade com o

projeto de uma educação que esteja à altura dos desafios contemporâneos. A

sociedade do século XXI é caracterizada pelo uso intensivo do conhecimento,

31

mas é preciso que o conhecimento não esteja dissociado do compromisso

ético, HEGEL (1844, apud MARX, 1974):

pedagogia é a arte de fazer ético os homens; considera o homem como natural e lhe mostra o caminho para nascer de novo, para converter sua primeira natureza em segunda natureza espiritual, de tal maneira que o espiritual se conversa em hábito.

Esta consideração sobre pedagogia nos auxilia a sintetizar a

interpretação do caráter flexível e reflexível da LDBEN de 1996. A Proposta

Curricular do Estado de São Paulo (2008) foi pensada na LDB e suas diretrizes

para o estado “laico”. Aqui se insere uma questão da Bioética, implicando a

necessidade de reflexões existenciais, amparadas por filósofos tais como,

Sartre, Heidegger e os da escola critica de Frankfurt, já que a relação do eu

com o próprio corpo não deixa de ser um dos pressupostos da subjetividade

contemporânea.

O processo educativo é essencial para o homem. Os cuidados, desde

seu inicio da vida, fazem parte do seu processo de desenvolvimento humano.

A educação começa de maneira informal, as relações pessoais de acolhimento

e afeto, no ambiente familiar, marcam as primeiras impressões sobre a vida.

Vamos buscar conhecer as definições da palavra “afeto” e da sua importância

para a vida, para o Filólogo HOLANDA FERREIRA (1994, p.154-155), affectuar

(afetar, tocar). Partindo desta definição, o outro já assume importância, na troca

entre pessoas, demonstra a disposição de ser afetado e tocado.

O termo “afeto” assume importância na educação formal e vem sendo

pesquisado e estudado nas teorias educacionais: como a de Skinner, Bruner,

Papert e Paulo Freire e também nas teorias das aprendizagens: Como

cognitivismo e construtivismo, a definição psicológica, nos dá dimensão da

importância deste verbete para a vida: “fenômenos psíquicos que se

manifestam em sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão

de dor, insatisfação, de agrado e desagrado, de alegria ou tristeza”.

O estudo da psicologia relaciona a afetividade à formação das pessoas

felizes, éticas, seguras e capazes de conviver com o mundo. O processo

educacional tende a ser compreendido como preparação para a sociedade,

32

para a vida adulta, para o trabalho ou para ir seguindo adquirindo cultura,

quando, antes de qualquer coisa, como afirma BRUNER (1997, p.31), “é uma

forma de viver a cultura. O saber adquirido, nas relações familiares e na escola

prepara a pessoa para se manifestar diante da realidade social, e de toda a

herança cultural recebida dentro do seu desenvolvimento humano.

O processo educacional seja ele formal ou informal é cada vez mais

complexo na medida em que a vida torna-se mais complexa. Podemos concluir

que a expressão oral, corporal e visual e, mais, a comunicação com o mundo e

com o outro, precisam da atividade que caracteriza o ser humano: a

racionalidade e a linguagem expressa e manifesta no diálogo.

Vivemos, hoje, em uma sociedade informacional; isto requer uma

formação intercultural e global quanto aos conhecimentos e valores. A

Educação na sociedade da informação e do conhecimento deve basear-se na

utilização de habilidades comunicativas, de modo a capacitar a pessoa a

participar de forma critica e reflexiva, elaborando argumentos e formas de

interagir na sociedade.

Para Santos (2000) “a competitividade é a ausência da compaixão”. Esta

afirmação desafia a compreensão para perceber a educação formal mais do

que o preparo das pessoas, para serem consumidoras e competitivas, além de

entenderem a necessidade da relação humana, na compaixão, para superar a

globalização perversa.

Outro elemento relevante, hoje, para o sentido da educação é a

complexidade da ambiência cultural, das dimensões sociais, econômicas e

políticas, a presença maciça de produtos científicos e tecnológicos e a

multiplicidade de linguagens no cotidiano. Apropriar-se ou não desses

conhecimentos pode ser um instrumento da ampliação das liberdades ou mais

um fator de exclusão.

A educação não é neutra, mas política, e a decisão de acabar com a

exclusão das pessoas é devolver, antes de tudo, a dignidade humana negada.

Faz-se necessário reparar a dívida histórica da exclusão e da desigualdade

social, que fez vitimas, em um sistema construído sobre os interesses

econômicos e sociais. A Educação Nacional, através da Lei de Diretrizes e

33

Bases e o sistema educacional do Estado de São Paulo têm o objetivo de

implantar uma consciência reflexiva, que incorpore como práxis o

“reconhecimento do outro numa relação de seres naturais e necessitados, e

este reconhecimento não pode excluir ninguém” (DUSSEL, 2002, p. 530). Isto

se torna significativo para as políticas públicas.

Dussel (2002) traça concepções educacionais que implicam em tomar a

história como objeto de reflexão. A história, não como fatos ou dados

narrativos, mas como um processo importante de ponto de partida, para o

resgate histórico das conseqüências sociais e humanas de ações contra a vida

de todos aqueles que eram diferentes, ou melhor, desrespeitados na sua

condição de pessoa.

Dussel (2002) tece o seu pensamento não só pelas idéias, mas também

“pelas coisas em si”, coisas do concreto, da sua observação. É, na observação

da educação, de suas práticas pedagógicas e, na reflexão sobre os conceitos

pessoais dos seus atores, que se apresentam implicações Bioéticas enquanto

respeito à vida, à pessoa e à construção de relações humanas. Pensar o

conhecimento, pensar disciplinas integradas, e não compartimentadas, pode

indicar um sentido novo para a construção do sujeito que se modifica

constantemente e que, da mesma forma, pode transformar o processo

educacional em uma cultura de prazer.

A concepção de educação de Paulo Freire é pedagogia libertadora e

atribui ao sujeito a responsabilidade de modificar-se, capacidade para se

humanizar e conscientizar-se de que é um Ser em evolução e que é, através

do “Pensar Certo”, que se alcança a humanização. Esta fundamentação

coerente com a defesa da vida é debatida na Bioética. Chama para a vida

ideias, com finalidades de manter o olhar para o outro, com o desejo e o

respeito de contribuir, através da educação, para a preservação de ações e

concepções, ligadas à formação da consciência humana, coerente com a

concepção de vida existencial.

Freire (1967) afirma que é importante, na educação nacional assim

como na mundial, alguns princípios e práticas desenvolvidas, na educação de

adultos e nas camadas populares. Tais princípios abrangem mais do que a

34

redução ao aspecto marcado pela natureza política do seu pensamento. Ele

adverte para a necessidade de que se assuma uma postura vigilante, contra

todas as práticas de desumanização. Para tal, o saber da auto-reflexão crítica

e o saber-ser da sabedoria, exercitada permanentemente, de ajudar a fazer a

necessária leitura crítica das verdadeiras causas da degradação humana e da

razão de ser do discurso fatalista da globalização.

A proposta de Freire não é tratada como método ou, até mesmo, como

uma técnica de ensino. O objetivo inicial é a conscientização. A elevação social

e a transformação da realidade dos homens e das mulheres visando à

consecução da sua humanização. Aprende-se com Freire a esperança; a lutar

e a não desacreditar das possibilidades de mudanças na educação, como uma

atitude ética.

A Educação, como proposta pedagógica viva, clama por uma nova

ordem econômica e por solidariedade, a fim de que a humanidade se

conscientize de que o objetivo primeiro de toda a evolução não é o acúmulo

dos bens e da sua concentração, mas a da distribuição, e que todos usufruam

dos frutos do esforço e do progresso humano.

Para Morin, (2003, p.11) “Apesar da longa história da humanidade

“ainda não existe uma sociedade civil mundial e a consciência de que somos

cidadãos da Terra Pátria”. Este pensamento está disperso, “embrionário”.

Convencido da necessidade e da importância de construir uma concidadania

planetária, o autor sinaliza quais devem ser as cinco grandes finalidades

educativas: “a cabeça bem-feita que nos dê a aptidão para organizar o

conhecimento, o ensino da condição humana, a aprendizagem do viver, a

aprendizagem da incerteza, a educação cidadã” (MORIN 2003 p. 103).

As concepções da educação, no século XXI, e as concepções bioéticas

têm, na vida e na condição humana, o seu foco de atenção. Os avanços da

tecnologia que aproximam os homens também os colocam na condição de

fragilidade. Morin (2002), dentro das finalidades da educação, ressalta o

“ensino da condição humana”. Este conceito se alinha com a educação bioética

que se apresenta para somar e acrescentar, às discussões e reflexões

problemáticas, oriundas do avanço da ciência, tornados visíveis por uma mídia

35

que comunica, fartamente, as realidades das pessoas. Entre os temas sempre

presentes, encontram-se os assuntos sobre a saúde, posicionamento a favor

ou contra o aborto, gravidez indesejada, manipulação de órgãos, o aborto, a

violência - especialmente no meio escolar - denominada bullying. Há, ainda,

temas como células troncos, projeto genoma, alimentos transgênicos, entre

outros. São assuntos pertencentes à condição humana e são desafiadores por

sua complexidade, necessitando conhecimento e esclarecimentos para a

formação de opinião e decisão de escolhas do sujeito.

O avanço dos instrumentos de comunicação e informação, notadamente

a internet, que trazem, em tempo real, o problema, resulta na urgência de que

a escola cumpra o seu papel. Este papel supõe a participação, em tempo real,

da problematização, com a proposta de contribuir para a elaboração do

pensamento do educando, com autonomia, liberdade e responsabilidade, nas

discussões que, outrora, não eram feitas na escola. Todavia, hoje os temas

que se referem à vida, seja ela biológica, psicológica, social ou cultural, pela

relevância que possuem para a existência das pessoas, necessitam ser

discutidos e aprofundados.

A formação do homem foi, desde os tempos remotos, motivo de reflexão

e incertezas. Aristóteles (1965) nos ajuda a compreender a dificuldade de

escolhas para a aprendizagem e formação humana. Ele aborda os

questionamentos de escolha:

Fica claro, portanto que a legislação deve regular a educação e que essa deve ser obra da cidade não se deve deixar no esquecimento qual deve ser a educação e como se há de educar. Nos tempos modernos as opiniões sobre este tema se diferem, não há acordo sobre que os jovens devem aprender e nem no que se refere a virtude, e nem quanto ao necessário para uma vida melhor. Tampouco esta claro se a educação deveria se preocupar mais com a formação do intelecto do que do caráter. Do ponto de vista do sistema atual a investigação é confusa, e não há certeza alguma se devem ser aplicadas as disciplinas úteis para a vida ou as que detem a virtude ou as que se sobressaem do ordinário (pois todas elas tem seus partidários). No que diz respeito aos meios que conduzem a virtude não há acordo nenhum (de fato não honram, todos a mesma virtude de modo que diferem logicamente sobre seu exercício).

36

Escolher entre “a virtude e o necessário para a vida”, segundo o autor, é

uma disposição adquirida de fazer o bem. A Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, quando enfatiza a formação integral manifesta,

subjetivamente, a crença que é competência da educação fazer com que o

jovem adquira a virtude. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles, afirma que as

virtudes se aperfeiçoam com o hábito.

Também em Sócrates, encontramos argumentos que referenciam a

escola, como espaço de construção de conhecimento e virtude, e possibilidade

de ensino. SHATTUCK (1998 p.20) apresenta o pensamento socrático, para

quem "tudo é conhecimento, inclusive a justiça, a temperança e a coragem - o

que tende a demonstrar que certamente é possível ensinar a virtude.”

Para Boff (2000 p.45), a exigência de superar a dicotomia entre corpo e

mente se realiza pela compreensão de que “o ser humano é a um só tempo

físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico.” Nesta compreensão, o

homem passa a ser o todo, e não há divisões nem escolhas que possam ser

priorizadas. Isto justifica a necessidade de instrução e educação formal que se

componha para explicar, ensinar e resolver problemas que se apresentam no

contexto da vida. As disciplinas, vistas como compartimentos, não podem

formar este todo, porque se apresentam, em fragmentos, com conceitos

descontextualizados, não representando o todo que permite a leitura de mundo

mais ampla e real.

Os debates e temas sobre valores reúnem-se em torno de um ser

humano inteiro, que vive e convive, portanto, são aspectos da existência que

se ligam e se amoldam, para responder e argumentar as mudanças, sejam elas

no campo das ciências medicas, das ciências sociais ou no campo filosófico.

Não se trata de ensinar virtude, na sociedade do conhecimento, mas de

desenvolver as competências para ser virtuoso, para viver e conviver com

solidariedade. A proposta da Bioética propõe a reflexão sobre o respeito e a

dignidade a todos os seres vivos, porque a existência, por si só, é condição de

respeito.

Pensar que as condições externas impõem as escolhas, sem que se

leve em conta os movimentos internos do sujeito, é diminuir o ser humano, sua

37

criatividade, sua autonomia e sua liberdade. O significado de escolher, na

sociedade do conhecimento, aponta para o pensar bioético, na educação, e se

apresenta como “esperança de que professor e aluno juntos podem aprender

e ensinar, inquietar-nos, produzirem juntos” (FREIRE, 1996 p.130).

Assim a esperança freireana é que se tragam possibilidades para o

conhecimento gerar e preservar condições de vida justa. Há, igualmente,

condição para reflexões e para o entendimento das conseqüências de todo o

pensar e do agir, que dependerá do contexto e das abordagens, nos aspectos

vitais. Como a educação pode, ao mesmo tempo, refletir a esperança e a

desesperança? Segundo Freire (1996) “o homem é um ser da esperança que,

por “n” razões, se tornou desesperançado”. E como pensar com esperança,

sem a reflexão e o comprometimento das escolhas, para a construção da

dignidade humana?

Voltaire, em uma carta a Frederico, o grande, em 1737, escreveu que "a

virtude, o estudo e a alegria são três irmãos que não devem ser separados”.

Encontramos, em autores como Voltaire, FREIRE (1996) e ASSMANN, (1998)

pontos de vista que ultrapassam conceitos técnicos ou científicos. Podemos

observar palavras que manifestam a disposição para caracterizar movimentos

internos de motivação, prazer e crença. Observamos, em seus escritos que é

possível acreditar, ter compromisso, pensar e agir dentro de processos de vida

e de ideal. Estas condições garantem que a educação faça parte da formação

para a vida. Constata-se também que, se na auto-educação há construções

que são elaboradas, através do pensar e do experimentar cotidiano, propiciado

em todos os espaços educacionais, configurando espaços de formação e de

escolhas de valores.

No Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século

XXI (UNESCO, 1998), afirma-se: em relação aos aspectos de formação e

educação contemporânea, elege os pilares: aprender a ser, aprender a

conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver. São importantes e difíceis de

serem abordados o aprender a ser e o aprender a conviver. São densos de

significados e desafiam a cada pessoa. Refletem o querer da vontade e dos

propósitos e exigem o conhecimento de ser dos sujeitos. Implicam viver a

38

“regra de ouro”, já enunciada por Confúcio (551 a.c - 489 a.c) "aquilo que não

desejas para ti, também não o faças às outras pessoas”.

Esta norma de conduta surge em épocas diferentes e culturas

diferentes, mas se constitui como um principio humano, simples, mas difícil

porque envolve a vontade e a humildade. A Bioética, ligando ética e vida,

aponta para a sensibilidade e Cuidado com o Ser. Diante de cenários de

intolerância e indignidade, aprender a ser e a conviver são desafios

permanentes para a educação. Ter uma visão para o bem, decidir para o bem

e conviver com respeito para com as diferenças é, nesta concepção, uma

proposta pedagógica imprescindível para que Educação Bioética seja uma

educação para a vida.

As crises do mundo moderno podem ser observadas pelos contrastes

que se desdobram, em formas de desrespeito à dignidade humana, afetando

desequilíbrios de muitas ordens. As questões que ameaçam a paz e a

sobrevivência humana ferem, igualmente, a dignidade do ser humano.

Verificam-se problemáticas na área da saúde, pouca importância dada às

questões educacionais, as condições indignas de moradia que apresentam

riscos à saúde, condições sociais que privilegiam uns em detrimento de outros

que não conseguem ter suas necessidades básicas atendidas.

Esses são temas de permanente inquietação, alvo de investigação e

reflexão (bio) ética. Nesta perspectiva, o Concílio Vaticano II, da Igreja Católica

sintetiza esses contrastes e dilemas que são também desafios da Educação a

serem enfrentados, a saber:

Ao longo da história o Gênero Humano, nunca se dispôs de tantas riquezas e possibilidades. O que se observa, com muita evidência que ainda uma boa parte padece de fome e muitos outros ainda são semi-alfabetizados. Os homens nunca tiveram um sentido de liberdade tão agudo como nos novos tempos, mas ao tempo surgem novas formas de escravidão social e psíquica. Enquanto o mundo percebe tão vivamente sua unidade e mútua dependência de todos numa necessária solidariedade, ei-lo, contudo dividido em partidos opostos por forças que lutam entre si. Com efeito, agudas distinções políticas, sociais, econômicas, raciais e ideológicas ainda continuam. E nem falta o perigo de uma guerra capaz de destruir tudo. Enquanto aumenta a comunicação de idéias, as próprias palavras, que exprimem conceitos de grande importância, revestem-se de sentidos bastante diversos segundo a variedade de ideologias. Enfim, procura-se com afã uma organização temporal mais perfeita sem que o

39

crescimento espiritual progrida ao mesmo tempo (Vaticano II Gaudium Spes 4, apud,FIORENZA 2001).

O que se pode apontar como contribuição da Bioética, para a construção

educacional de forma integral do ser humano? No esforço de buscar respostas,

esclarecendo conceitos e propondo caminhos, este saber apresenta seu papel

educacional instigando a reflexão e desenvolvendo a capacidade crítica.

1.4 Educar na contemporaneidade.

Educar, na contemporaneidade, é uma tarefa que apresenta

peculiaridades. Para se pensar a tarefa de formação, necessita-se de uma

onde haja a reflexão constante. Além de disposição e habilidade especiais.

Para refletir sobre a educação para a responsabilidade, é preciso que se

compreenda a sociedade contemporânea. As particularidades culturais

específicas do ethos da sociedade de nosso tempo, tais como a velocidade das

transformações provocadas pelo poder hegemônico das tecnologias e suas

repercussões para a vida humana, no presente e no futuro, pedem novas

formas de educação.

Uma das marcas do mundo contemporâneo é a “obsessão pela

produção desenfreada de novidades” (TELLES, 2007, p. 328). Essa atitude

leva ao modismo e, consequentemente, ao princípio de que tudo é transitório.

Porque são consumidos, vorazmente, os objetos artísticos e as mercadorias

têm curta duração. A movimentação desenfreada da tecnologia provoca a

rápida mudança de valores, causando a sensação de fragmentação: há a

fragmentação do homem – uma conseqüência da movimentação ininterrupta

dos fenômenos vinculados à ciência.

Inegáveis benefícios à humanidade foram proporcionados pelo

desenvolvimento tecnológico, que se inicia na Revolução Industrial,

fundamentada na ciência positivista. Entretanto, este novo momento suscita

uma contradição: a euforia provocada pela crença no progresso leva a uma

crise, provoca o surgimento dos grandes centros urbanos e provoca a indução

à fantasia do paraíso material e do consumismo, da produção em massa dos

40

objetos. Nesses centros urbanos, embora haja a exposição de riqueza e

agitação, há também a exposição de aglomerados humanos repletos de

miséria e de desrespeito à dignidade do homem.

O homem, devido à tomada de consciência dessa sua carência, é

levado à descrença, ao desalento. Além disso, tais circunstâncias fazem com

que o homem assuma uma postura de desprezo, em relação a tudo que lembra

o mundo burguês da luta, da operosidade, da conquista. Há um desconforto

com o mundo grosseiro e hostil.

Com as peculiaridades e as diversidades da vida moderna, além de

suas inadequações, surgem fenômenos como a vacuidade das relações

humanas, o tédio, a incomunicabilidade, a solidão, o exílio, o isolamento, o

abandono, a privação, a exclusão.

Segundo Telles (2007, p. 330), em sua crítica literária, Octavio Paz

analisa a obra de Baudelaire, um poeta francês. Baudelaire caracteriza o

homem moderno como um homem caído e uma alma dividida. Octavio Paz

afirma que a história do Ocidente pode ser vista como a história de um erro, um

extravio: o homem se distanciou de si mesmo e se perdeu no mundo.

Comenta, ainda sobre a contemporaneidade:

(...) ao extirpar a noção de divindade, o racionalismo reduz o homem. Nos liberta de Deus, mas nos encerra em um sistema ainda mais férreo. A imaginação humilhada se vinga e do cadáver de Deus brotam fetiches atrozes: na Rússia e em outros países, a divinização do chefe, o culto à letra das escrituras, a deificação do partido; entre nós, a idolatria do próprio eu. Ser um mesmo é condenar-se à mutilação, pois o homem é apetite perpétuo de ser outro. A idolatria do eu conduz à idolatria da propriedade; o verdadeiro Deus da sociedade cristã ocidental chama-se domínio sobre os outros. Concebe o mundo e os homens como minhas coisas. (PAZ, apud TELLES, 2007, p. 330)

O individualismo significa, ainda, a transição para uma nova ética e uma

nova política, descentrada, liberta do coletivo, em que o homem vale por si

mesmo, e não pelo estatuto que a comunidade lhe outorga. Emancipar implica

individualizar, desprender o homem das malhas do todo social.

41

Partindo das considerações acima, pode-se concluir que alunos e

professores, hoje, inserem-se em um contexto, onde há grandes desafios para

que a educação se concretize.. Nestas mudanças paradigmáticas, necessita-

se redescobrir os lugares da autonomia e da emancipação dos sujeitos, como

um uso peculiar da razão e da sensibilidade e uma ética comprometida com a

responsabilidade, perante o poder e o alcance das tecnologias.

A formação para a autonomia encontra o desafio que vem do contexto

cultural em que vivemos, onde o importante não são os compromissos e as

responsabilidades perante o mundo e a vida. A educação privilegia o ensino

tecnicista que desconsidera o valor da formação humana, voltada para a

sensibilidade e para o pensamento reflexivo, crítico e criativo.

O papel da educação é fundamental, quando se busca o pleno

desenvolvimento do indivíduo e das sociedades. No século XXI, amplia-se a

relevância do papel da educação, que aponta para a necessidade de

construção de uma escola voltada para a formação do sujeito.

42

2. A BIOÉTICA: UM DESAFIO PARA O SISTEMA DE ENSINO MÉDIO.

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo inseriu a Bioética,

como eixo temático, na disciplina de Filosofia. Tal medida proporciona o

aprimoramento de capacidades reflexivas que, ao lado do desenvolvimento de

capacidades técnicas, facilitam a introdução de discussões e de reflexões

necessárias para uma formação humanizadora.

2.1 A educação bioética: um modismo ou uma necessidade no sistema de Ensino Médio?

A defesa da vida é o foco da Bioética. Ela deve levar em consideração

a formação, pautada na reflexão que deve ultrapassar as considerações

mercadológicas e os valores culturais.

Um dos fundamentos que a escola pública deve desenvolver para a

construção da democracia cidadã é a compreensão de valores seculares ou

laicos, reconhecendo a importância de uma visão crítica, em relação ao mundo.

Ela reconhece, ainda, a importância da afirmação da liberdade humana,

porque, na democracia, os pressupostos básicos são a igualdade, em meio à

pluralidade e a liberdade. Da mesma forma que a liberdade religiosa deve ser

respeitada, a secularização do Estado deve ser reforçada.

A importância da Bioética se dá, justamente, na medida em que ela

imputa valores vitais, críticos e responsáveis sobre a vida, sobre a dor e sobre

a morte. Os tratamentos desses temas, na educação básica, veem, como uma

necessidade, que precisa ser considerada, como um dos fatores de formação.

Existem, na legislação federal e na estadual, princípios que direcionam a

reflexão para a importância da formação voltada para a humanização e para a

cidadania.

A base dessa discussão deve assentar-se em valores de liberdade e

igualdade, na pluralidade para a defesa da vida. Surge o problema: como

43

defender a vida e, ao mesmo tempo, defender a liberdade, a igualdade na

pluralidade? Para o estado secular, a defesa da vida deve estar ligada à

ciência e à reflexão crítica. A informação deve ser norteadora da liberdade, isto

é, quanto mais conhecimento as pessoas tiverem, terão maior liberdade, para

tomar decisões com autonomia e responsabilidade, para poder lutar pela

igualdade.

As dinâmicas dos avanços da biotecnologia e da crise do positivismo

contribuíram para o fortalecimento da proposta da Bioética em resgatar

parâmetros éticos e utilizar-se dos princípios basilares para resolver os dilemas

morais decorrentes do progresso cientifico, com vistas a torná-lo humanizado

(GAMA, 2003).

O primeiro, por ressaltar a importância da interpretação nas relações

subjetivas e por aceitar de forma democrática a existência do outro. O

segundo, por pretender praticar o humanismo na forma mais integral possível,

ao compreender o homem em todas as suas dimensões.

Os avanços científicos, nas áreas da saúde, não encerram apenas o

tratamento da saúde ou da conservação da mesma. Eles procuram chegar na

“melhoria” da condição física, psicológica ou, meramente, estética. A

engenharia genética não apenas produz células-tronco, mas também

desenvolve tratamento embrionário para que um indivíduo possa superar seus

possíveis “defeitos” genéticos. Já nos primeiros dias de gestação, é possível,

pôr diversos elementos nas células embrionárias, a fim de fazer com que o

novo ser que surgirá seja adequado à vontade dos genitores e, muitas vezes,

seguindo um padrão social muito restrito.

Essas produções de conhecimentos científicos podem ser dinamizadas,

para que o aluno do Ensino Médio saiba, através do debate interdisciplinar,

transformar as informações em objetos de análise e de compreensão, na

formação da sua opinião crítica, sobre os avanços da biotecnologia. Esta

discussão pode ser intermediada pelo professor de filosofia, trabalhando a

partir dos princípios da Bioética principialista e personalista, elevando assim a

capacidade de síntese e autonomia de escolhas do futuro cidadão.

44

A beneficência ou maleficência e os demais pressupostos da Bioética

principialista, dentro da tradição filosófica moral, quer dizer fazer o bem. É uma

manifestação da benevolência. Toda ação, na área de saúde, deve espelhar

esse principio que objetiva o bem da pessoa, evitando, portanto, danos

corporais e mentais. Na educação, é preciso que este princípio seja

reconhecido como um valor moral, tanto pelo aluno como pelo professor.

Remetendo à tradição hipocrática, reconhece-se o valor moral do outro,

considerando-se que maximizar o bem do outro supõe diminuir o mal.

A beneficência e não-maleficência devem ser entendidas tal como no

relatório de Belmonte, um único principio com dupla obrigação: a de maximizar

benefícios e minimizar malefícios. Na educação, como maximizar os

comportamentos e as atitudes dos personagens que se relacionam, no

quadrante escolar.

A autonomia na educação do aluno de Ensino Médio deve ser motivo de

preocupação. Este aluno deve saber gerenciar a sua vida de forma

responsável, usando o seu livre arbítrio nas ações e na convivência,

construindo regras para si, com base na razão. Assim, esse princípio poderá

ser objeto de trabalho para a capacidade de se autogovernar, avaliar sem

restrições internas e externas para fazer a escolha que lhe parecer mais

correta. Logo, a construção do sujeito (bio) ético é um desafio para a educação

básica que deve dar sua colaboração para o entendimento livre de coação, e

de fraude, de induzimento ou instigação.

Assim o principio da autonomia é legalmente concretizado com a

expressão do consentimento informado pela bioética, pois o Sujeito capaz,

legalmente, ou relativamente incapaz, terá a sua vontade, a sua

autodeterminação respeitada, conforme o seu discernimento.

Gama (2003) “lembra que o principio da justiça embora fosse visto como

parte da consciência da cidadania e luta pelo direito à saúde e à educação na

linha mais liberal do pensamento Bioético, tem sido desprestigiada”. Contudo,

adverte que os três princípios devem ser sempre considerados conjuntamente,

sob a ameaça de, não observado exclusivamente o principio da justiça, a

bioética se transforma na própria caricatura nas mãos da burocracia estatal.

45

Consagrado, na Constituição de 1988, o direito à vida é inviolável, não

podendo a legislação afastar-se dos postulados que garantem o pleno

exercício do viver, sob pena de serem destruídas as bases da convivência

humana.

A Bioética, conforme o artigo 205 dessa constituição, assim como a

LDB de 1996, o ECA de 1990 e o Plano de Desenvolvimento para Educação

Nacional (PDE, 2007), representam prioridades e critérios importantes para a

formação integral do Homem, o respeito aos princípios de cidadania e os

valores éticos e morais. Todos esses objetivos legais estão contemplados no

enfoque da discussão da Bioética. O direito à vida é o mais fundamental de

todos os direitos, já que sem ele, a existência, como afirma (Heidegger, 2000),

dos outros seria em vão.

Consagrado na Constituição de 1988, o direito à vida é inviolável, não

podendo a legislação afastar-se dos postulados que garantem o pleno

exercício do viver, sob pena de serem destruídas as bases da convivência

humana.

Os progressos da biotecnologia e a crise do paradigma positivista

contribuíram para o fortalecimento da proposta da Bioética, como resgate de

parâmetros éticos e uso de princípios basilares,como forma de tratar dilemas

morais e humanizar procedimentos, desafios decorrentes do progresso

cientifico. (Gama, 2003). Neste resgate, pode-se compreender a importância da

(Bio)ética, ao colocar em evidência o lugar das relações subjetivas de

aceitação do outro, de pratica de ações humanas democráticas e integrais,

considerando o ser humano em suas muitas dimensões.

Estes temas e problemáticas, estudados pela Bioética, podem ser

tratados em sala de aula, para o aluno do Ensino Médio. Estas produções do

conhecimento científico, como foco de estudos, têm, como objetivo,

proporcionar, a compreensão e a capacidade de análise. Os avanços

tecnocientíficos, principalmente, no campo da biomedicina, têm acarretado

inúmeros dilemas para a vida das pessoas.

Tornou-se imprescindível à educação, proporcionar espaços de debates

interdisciplinares que esclareçam conceitos e estimulem consistentemente o

46

desenvolvimento da capacidade critica diante de significativas questões. Para

Lolas (2005 p. 10) a bioética busca “formular, analisar e quem sabe atenuar os

dilemas que a pesquisa médica e biológica moderna suscita”. Para o autor, é

necessário que se gere a convicção de que todos compartilhem

responsabilidades pelo que acontece e acontecerá. E isto significa preparo

educacional para que os cidadãos interfiram nos debates e decisões pois, o

princípio de responsabilidade comum e comunitário é pressuposto Bioético.

De acordo com Junges (2006 p. 11) a Bioética se apresenta como um

“fórum de discussão pública numa sociedade democrática e pluralista”. As

problemáticas da Bioética, fecundas para debates filosóficos, intermediados

pelo professor de Filosofia, podem ser trabalhadas, a partir de princípios deste

saber elevando assim a capacidade de síntese e autonomia em escolhas

presentes e futuras do cidadão em formação.

Há, na atualidade, amplo consenso entre os estudiosos da Bioética, em

reconhecer os princípios de beneficência, responsabilidade, justiça e

autonomia como princípios bioéticos. O respeito à vida implica na visão de que

o ser humano seja tratado, assegurando o seu bem estar e sua autonomia.

Pretende-se que possua direitos e deveres, considerados justos.

A beneficência ou não- maleficência, assim como os demais

pressupostos da bioética principialista, dentro da tradição filosófica moral, quer

dizer fazer o bem. É a manifestação da benevolência. Toda ação na área de

saúde deve espelhar esse principio que objetiva o bem da pessoa, evitando,

portanto, danos corporais, emocionais e mentais. Isto implica o princípio de

responsabilidade. É preciso ter entendimento sobre a repercussão das ações,

evitando o dano; ponderando e avaliando, ao máximo possível, as

conseqüências que derivam das decisões e ações. O princípio de justiça

coloca em evidência a questão de administrar quem deve receber benefícios

diante de situações em que haja necessidade de repartir recursos.

É imprescindível que estes princípios sejam reconhecidos como valor

moral, tanto pelo aluno como pelo professor. Remetendo à tradição hipocrática,

reconhece-se o valor moral do outro, considerando-se que maximizar o bem do

outro supõe diminuir o mal. A beneficência ou não-maleficência, conforme

47

formulado no relatório Belmont (1978, apud CORTINA; MARTINEZ, 2005),

apresenta-se como dupla obrigação: a de maximizar benefícios e minimizar

malefícios. Este relatório foi elaborado em 1978, nos Estados Unidos, pela

Comissão Nacional para a proteção de pessoas que participavam de

experimentação biomédica (CORTINA, 2005)

Na educação, refletir sobre inter-relacionamentos, no contexto escolar, e

sobre a repercussão das atitudes e comportamentos no ambiente, na auto-

estima das pessoas, na participação comunitária, são aplicações importantes

destes princípios para o professor e para o educando.

Um ponto importante para a discussão bioética, dentro do princípio de

autonomia, é o termo de consentimento informado. O Sujeito capaz,

legalmente, ou aquele que possui sua autonomia reduzida precisa ser alvo de

proteção especial, em situações de participação, em pesquisa medica. Isto

supõe conhecimento e desenvolvimento educacional e incide na questão da

compreensão de que o indivíduo pode decidir, com responsabilidade, sobre o

que melhor lhe convém, tendo sua vontade, a sua autodeterminação

respeitada, conforme o seu discernimento, e sua dignidade considerada na

íntegra.

Gama (2003) afirma que o princípio de justiça é visto como parte da

consciência da cidadania e da luta pelo direito à saúde. Todavia, ainda falta,

por parte da linha mais liberal da bioética, maior consideração pela área da

educação.

Para este autor, os princípios da bioética não devem ser considerados

isoladamente, pois, fora de perspectiva, correm o risco de se perderem de

objetivos mais profundos e legítimos, transformando-se em caricatura nas

mãos da burocracia estatal.

A globalização e a sociedade altamente tecnológica trouxeram uma

visão de poder, de controle e conforto que desafiam o sistema educacional. O

mundo virtual configurou um novo modelo de vida, minimizando a importância

da reflexão e banalizando questões ontológicas fundamentais para o ser

humano. Isto tem exigido a compreensão de conceitos que necessitam ser

48

explicitados, imprescindíveis para uma educação que suporte as futuras ações

profissionais de cidadãos éticos e comprometidos com a comunidade humana.

Observa-se a realidade que Freire (1996) já apontava sobre o aprender

que está para além do acúmulo de conhecimentos, pois as informações são

voláteis. Verifica-se, facilmente, na contemporaneidade, o fenômeno da

abundância e da velocidade de informações. Ao lado disto, como seres

inacabados, há uma nova demanda: aprender com sentido, tendo como fio

condutor para a reflexão e para o debate, o diálogo, apontado como dimensão

bioética fundamental para resgatar o respeito para com as diferenças, a

autonomia e a liberdade intelectual.

Para Dussel (2002), a ética é sustentada por três princípios: reprodução,

manutenção e desenvolvimento da vida. Nessa perspectiva, cabe ao agente

educacional se perguntar: Vou reproduzir? Vou manter? Como estou

desenvolvendo as possibilidades da vida?

É preciso que o ensino superior receba uma formação reflexiva,

filosófica e social, para que a prática pedagógica se torne criadora de situações

de aprendizagens que desenvolvam as potencialidades, competências e

habilidades de aprender. Para Josso (2008, p. 35),

a experiência formadora na perspectiva da pesquisa/formação

singular-plural requer a pesquisa de nossa própria trajetória, na busca dos momentos que proporcionaram uma transformação. A tomada de consciência sobre a mudança de referenciais de vida são experiências formadoras constituintes de nossas identidades na reflexão sobre o que e como aprendeu.

As contradições e polarizações entre o bem e o mal, o certo e o errado

exigem preparo para pensar, argumentar e agir, para que os princípios

bioéticos de autonomia e justiça se tornem realidade.

O pensar bioético reconhece os avanços do conhecimento científico,

mas não perde de vista os fatores humanos e éticos, para a tomada de

consciência e decisão, em favor da vida, em uma ética de dimensões

planetárias.

49

A análise da formação dos professores, da realidade da escola, das

diretrizes oficiais e do currículo possibilita compreender o complexo mundo

educacional e sua relação com a ética e a bioética

Para Dussel, mais do que uma ética, é preciso princípios de respeito à

vida e à condição humana, responsabilidade e cuidado com a Terra, morada

de toda a humanidade, e com o próprio Ser.

O corpo é a materialidade, a parte visível do Ser. A consciência do

próprio corpo propicia acesso ao Ser inteiro [...], pois o corpo e espírito,

psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser,

mas a sua própria unidade (Bertherat,1997). Toda pessoa, dotada de

liberdade, naturalmente se descobre um ser de escolhas. A consciência desta

condição emerge dos processos neurofisiológicos e das relações entre

indivíduo e sociedade e nos diferencia dos demais seres.

Impondo assim e a todos o dever moral de assumir – se como pessoa

que precisa construir uma trajetória de vida pessoal e coletiva, afinada com os

princípios éticos e as leis que regem a vida em sociedade. O corpo é a expressão dos diversos estágios evolutivos. A linguagem

corporal permite ao homem identificar aspectos das emoções do Ser e decifrar

quem é o Ser que habita a morada do corpo.

Cabe à escola realizar a Paidéia, ou seja, educar para transformar e

superar o paradigma do positivismo, que fragmenta o ser e o conhecimento.

Na visão da Bioética, o bem comum depende das ações individuais e

coletivas, todas elas com conseqüências para o indivíduo e para os outros.

A vida não é apenas função orgânica, mas relação, sensibilidade,

criatividade, racionalidade e espiritualidade. Todos os fatores e direitos, como

honra, igualdade e identidade, estruturam-se a partir da dignidade fundamental

da pessoa humana.

50

2.2 As relações entre a Filosofia e a Bioética.

A Filosofia, como disciplina reflexiva, voltou oficialmente ao currículo, a

partir de 2005. A inserção da Bioética, como eixo temático de Filosofia, ocorreu

em 2008.

É uma questão, com repercussões pedagógicas importantes, onde se

discutem temas sobre os avanços da medicina e pesquisas que afetam a vida

humana. Estes assuntos não são exclusividades da área da saúde, pertencem

à humanidade, na sua condição existencial, e cabe a cada ser humano,

conhecer, refletir para fazer escolhas conscientes, levando em conta o princípio

do bem para si e para o outro. Os princípios de justiça e alteridade se mostram

como elementos pedagógicos fundamentais, para construir uma humanidade

consciente e que propicie a continuidade do planeta, como morada de todos

nós.

Isso significa uma aposta para que os alunos possam ter discernimento,

quando tomam decisões e que sejam tolerantes porque compreendem a

origem das diversidades, conforme documento final do Conselho Nacional de

Educação (CONAE 2010).

A importância da Filosofia está em ensinar a refletir metodicamente

sobre os fundamentos, a essência e a razão de ser das coisas, como expõe

Hegel (1988, p.85):

Só a Filosofia, em seu conjunto, nos dá o conhecimento do universo

como totalidade orgânica, totalidade que se desenvolve a partir de seu conceito e que sem nada perder do que dela faz um conjunto, um todo, no qual todas as partes estão ligadas umas às outras pela necessidade entra em si mesma e, nessa união com ela mesma, forma o mundo da verdade.

A história do ocidente nasce, a partir da aprendizagem, com os gregos,

sobre a vida e as normas da polis e a formação dos seus cidadãos. O homem

toma consciência de sua historicidade, percebendo que o passado e o futuro

estão implícitos no presente, aquele em forma de memória, este em forma de

preocupação e de projeto.

51

O objetivo da Filosofia não é a definição de normas e o disciplinamento

de condutas, visando à proteção de direitos individuais. Como afirma Sève

(1994 p.78), “uma real formação ética exige, antes de tudo, a sensibilização

pessoal para os problemas, o debate pluralista das questões, a

experimentação das noções e dos princípios sobre casos concretos”. Assim, a

bioética tem como objetivo empenhar-se em um projeto coletivo e social de

discussão sobre a vida, o homem e suas mais diversas expressões.

Para o autor, a Bioética deve ser um projeto coletivo, com

responsabilidades compartilhadas por todos, com “iniciativas transformadoras”,

não “disposições regulamentares”, o que configura a “antropoiética”, ou seja,

uma ética que se constrói a partir do mundo do homem, “uma ética da pessoa

compreendida como societária do gênero humano” que, pautada pelas

iniciativas civilizatórias, produz um “novo rosto da política. Ela vai da eticidade

– à eticização da cidade”.

Assim, a Filosofia constitui-se em um espaço privilegiado para o estudo,

a discussão e os projetos para a ação em prol da corporeidade, da vida e da

condição humana.

No final do século XIV, Bacon, prevendo o iminente salto tecnológico,

afirma que os gregos e romanos já tinham feito tudo pela elevação do espírito.

Faltava à ação, a aplicação do intelecto às coisas concretas, ao progresso da

indústria e melhoria de vida das pessoas.

Através de uma nova lógica de assimilação tecnológica, entre as formas

de vida míticas, mecânicas, cibernéticas e sintéticas, é criada uma nova

posição subjetiva e atua como uma prática rebelde na formação de novos

corpos.

Em um curto período do final do século XX, surgiram vários termos com

o objetivo de significar a expansão do humano, sobretudo devido à mistura

com algo de natureza não biológica. Porém, toda a condição para o surgimento

da necessidade de termos mais precisos para definir esse “novo” humano

estava posta.

Taylor, na Filadélfia, e Ford, em Detroit, propõem a especialização dos

trabalhadores pela repetição exaustiva de movimentos elementares; a

52

padronização dos produtos e dos processos de produção em série, a

sincronização e a coordenação das tarefas, até reduzir a fábrica a um imenso

relógio, no qual os homens e as máquinas desempenham o papel de

engrenagens programadas.

A ideologia impõe que o agora seja o mesmo sempre, aniquilando o

outro que se revela como sempre outro. A dialética do senhor e do escravo

ainda não é possível, pois o possível escravo desaparece do horizonte: morre.

É a totalidade impondo a injustiça, muitas vezes, institucionalizada.

Para Dussel (2002), o massacre ideológico oculta a dominação, não

permitindo ao outro ser distinto, exigindo o eterno retorno do mesmo. O ethos

do dominador tem conotação imperial, pernóstica e perversa.

A transformação dos espaços do conhecimento exige a participação e

o envolvimento de todos: empresários, comunicadores, formadores de opinião,

políticos, religiosos e outros. É preciso conscientizar-se de que os problemas

substantivos não serão enfrentados, enquanto não forem definidas as

propostas de articulação institucional. A vida não é uma sombra do mundo das

idéias, como quer Platão, mas é a ação da própria pessoa que caminha neste

mundo.

Para Dias (2002, p. 45), a reflexão bioética deve partir de alguns

princípios:

o princípio da autonomia (o respeito à vontade, crenças e valores morais das pessoas); o princípio da beneficência (a atenção aos riscos e benefícios, assegurando o bem-estar ou minorando o mal-estar das pessoas); o princípio da justiça (a exigência da eqüidade na distribuição de bens e benefícios.

Como questões Bioéticas na educação, o autor aponta: a) o desporto

competição, a partir de “uma lógica de projetos criadores de modelos de

preparação biológica e treinos, nem sempre, reveladores da verdade, da

lealdade e da solidariedade”; b) o uso de medicamentos e produtos hormonais

com efeitos energéticos e plásticos; c) a tolerância, “com a prática de não-

profissionais em diversos de seus setores no exercício direto com as pessoas,

oferecendo riscos e ameaças no âmbito da vida e da saúde humana”. O

53

Conselho Profissional, regido por “Princípios Bioéticos”, poderia contribuir para

a discussão e superação desses problemas.

Para o autor, as pesquisas que trabalham com a vida devem ter

posturas éticas, ou seja, ao escolher uma linha teórica para analisar o ser

humano, a vida, a saúde, o ambiente, estamos fazendo uma opção ontológica

e ética. A Bioética deve ser uma referência para o rigor científico, pois.

interessa a todos e é responsabilidade da sociedade em que vivemos como cidadãos socialmente inseridos na comunidade científica como membros da categoria profissional da Educação (Dias, 2002, p.53).

Na visão de Engelhardt (1998), para uma Bioética fundamentada apenas

em princípios norteadores, seria necessário que todos tivessem as mesmas

concepções morais de bem e de justiça. Nesse caso, a Bioética existiria

apenas naquelas comunidades que partilham a mesma moralidade. Como a

maioria das controvérsias e dilemas tem origem no conflito de diferentes

concepções morais, pautar a Bioética pelos princípios de autonomia,

beneficência e justiça é submetê-la a um fracasso anunciado.

A Bioética é a reflexão crítica sobre os comportamentos e ações que

envolvem a vida, a partir de juízos de valor. É teoria, investigação ou

explicação de um tipo de ação ou comportamentos que têm como foco a vida,

em suas múltiplas manifestações.

Já a moralidade tem como base a ação individual, procurando

estabelecer como se deve agir corretamente. O que fazer em cada situação

concreta é um problema moral, não Bioético. Assim, estabelecer normas de

comportamento para resolver ações individuais não é uma tarefa da Bioética e,

sim, da moral.

Quando as normas se referem a um grupo profissional específico,

configuram uma deontologia profissional, não tendo como objetivo resolver

problemas bioéticos, mas estabelecer regras para exercício da profissão.

Assim, parece que o Conselho Profissional não pode constituir-se em

referência bioética, porque se pauta em concepções morais específicas de um

grupo profissional, permeado de moralidades diferentes e, muitas vezes,

divergentes.

54

Para os gregos, o fundamento da ética é a natureza, à qual o homem se

vincula. Para Vasquez (2001, p. 61-82), a função da ética.

é a mesma de toda teoria: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando conceitos correspondentes. Por isso, a ética é signatária do contexto social, histórico e político, pois é a teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento do homem, o da moral, considerado, porém, na sua totalidade, diversidade e variedade.

O valor da ética está naquilo que explica, não em prescrever ou

recomendar ações ou comportamentos. Todos os temas éticos são

ontológicos, mas nem todos os ontológicos são éticos. É neste cenário de

disputas que a Filosofia deveria estar imersa, já que é uma área do

conhecimento que lida com o corpo e a vida.

2.3 O corpo: um elo entre a Bioética e a Filosofia.

Podemos identificar o corpo como elo entre a Filosofia e Bioética. A

condução do aluno ao questionamento e à crítica das diretrizes e ações dos

poderes instituídos, que chegam prontos e acabados é a proposta da Bioética.

A Bioética enfatiza a alteridade, o respeito à vida, a dignidade do ser para uma

convivência harmoniosa. O indivíduo que vive em uma ilha deserta não tem

necessidade de Ética ou Bioética. É ele que decide tudo, a seu modo,

buscando sobreviver, sem preocupar-se com os demais ou com a continuidade

da espécie.

A dimensão corporal da existência humana é o concreto, a

corporeidade, que, para Assmann (1998, p.70) “é uma categoria estratégica

para re-propor, sempre de novo, o ponto de partida das prioridades, nas mais

diferentes esferas da atividade humana”. A Filosofia, adotando os princípios e

pressupostos da ciência, procurando transformar-se em uma ciência autônoma

para adquirir legitimidade social ou pela dependência que estabeleceu com

outras áreas da ciência, deixou de lado o compromisso com a discussão e o

debate ético.

A cientifização da Filosofia deixou “marcas”, como a transformação do

corpo e do movimento em objetos epistemológicos, manipulados e

55

decompostos pela ciência; a desfiguração do corpo por um ordenamento

universal; a opção por uma cultura que entende o corpo como um ente vivo a

ser cultivado. Como denuncia BOIS (2008), ocorre a preocupação com a

“forma” do corpo e, nos últimos anos, sobretudo, com uma “fórmula”.

Na modernidade, o corpo se tornou alvo da pesquisa metafísica dos

filósofos e do estudo anatômico dos biólogos, sujeito a regulamentos e normas

em instituições, como o exército, o hospital e a família.

As denúncias de manipulação e exploração corporal são inúmeras e a

escola não tem apresentado soluções ou subsídios à sociedade para enfrentar

o problema.

Nesse contexto, é necessário não se submeter aos princípios e

pressupostos da racionalidade científica, instrumentalizar a sociedade com um

conjunto de saberes sobre a corporeidade humana e não se restringir a

produzir normatizações morais e éticas, de caráter genérico.

Bois (2008) propõe buscar a “sabedoria do corpo”, ampliar os

conhecimentos a seu respeito, para além dos saberes físico-químicos,

entendendo-o como um espaço de infinitas capacidades expressivas e

cognitivas. O autor, jogador de futebol, fisioterapeuta, cinesioterapeuta e

osteopata, relata como criou seu método:

Vivi, então, uma experiência extraordinária: no silêncio, durante um trabalho de interiorização que realizava na época, em torno de 10 horas por dia, descobri coisas extraordinárias. No início, não tive outra intenção a não ser a de aperfeiçoar meu gesto terapêutico. E eis que, numa noite às nove horas, toda a matéria do meu corpo fora estimulada por um movimento, um movimento de extrema lentidão! Não conseguia chegar a diferenciar o movimento determinado em mim do movimento indeterminado do que se nomeia o universo. Sentia-me presente em mim mesmo e percebia uma luz azul. Sou, antes de mais nada, de natureza pragmática e, entretanto, no dia seguinte, minhas mãos desencadeavam este mesmo movimento em meus pacientes ( Bois, 2006).

O Movimento Interno tornou-se conhecido como

somatopsicopedagogia, que inclui a terapia manual (fasciaterapia), a terapia

gestual (esquemas associativos, a harmonização gestual da ginástica

sensorial) e a pedagogia.

56

A somatopsicopedagogia (2008) procura responder às questões:

Estamos dispostos a reencontrar a parte sensível de nosso ser? A partir desse

reencontro estamos dispostos a modificar nossa concepção de mundo da qual

emergem nossas escolhas de vida? Estamos prontos a mudar a relação que

temos na nossa vida a partir do retorno ao nosso corpo?

Nesse sentido, o corpo está diretamente vinculado ao conceito de

pessoa, ou seja, a pessoa é corpo e à pessoa é que são dirigidos todos os

discursos e ações.

Seve (1994, p. 34-35) comenta: o termo pessoa é

estranhamente uno e duplo, ou seja, é uma proposição estranhamente ambígua, pois, ao mesmo tempo em que se mostra enquanto realidade e valor, com aspectos, muitas vezes, heterogêneos e discordantes, em sua plena acepção, a pessoa humana inclui manifestamente os dois.

Para o autor, “o indivíduo faz parte dos conceitos da ciência biológica; a

pessoa não. (...) Aquilo que visamos no ser humano, ao nomeá-lo pessoa, é de

ordem incorporal” (p. 35).

Engelhardt (1998) defende que somente a pessoa pode ser o sujeito de

preocupações éticas e bioéticas. Para Sève (1994), tal concepção reduz a

pessoa a uma característica “atribuída – e é aí que está a sua arbitrariedade”,

pois “não há pessoa “de direito” sem pessoa de “fato”.

A pessoa só se constrói, quando for, ao mesmo tempo, substância e

relação, produto das práticas individuais e coletivas e da experiência

compartilhada, em constante processo de evolução, adquirindo valor como

realidade humana. Para Sève (1994, p.34), pessoa é,

na sua acepção ética, a única em que a palavra não é substituível por nenhuma outra, a pessoa é a forma – valor igualmente escrita a todos os indivíduos, na sua qualidade de pertencentes ao gênero humano.

Nesse contexto, o corpo é o elemento que vincula e compromete a

Filosofia e a Bioética com a pessoa como forma-valor e referência de análise.

57

2.4 As reflexões (bio) éticas: a prática educacional e a formação de professores.

No século XXI, o interesse volta-se para o viver que envolva o diálogo

como desafio à cultura vigente, buscando a alteridade como forma de

transformar comportamentos e confrontar a hegemonia de normas e regras que

não respondem mais às necessidades dos novos tempos. Há necessidade de

normas, não com status de dogma, mas como um guia que possa conduzir a

caminhada humana.

A Proposta Curricular para os educadores envolve compreender o

desenvolvimento humano e sua relação com práticas e exemplos de vida, onde

o afeto e o seu mistério constituem-se em elementos de liga, na formação com

sentido para o viver com valores.

A história humana registra o esforço de muitos pensadores, ao longo do

processo de construção da civilização e da conquista da condição de cidadão.

O mover do ser humano, para encontrar respostas, se apresenta como

movimento de construção de conhecimento sobre questões naturais, sobre a

condição humana, sobre a morte e a vida. A existência do homem no mundo

complexo exige consciência de si e do outro, para a tomada de posição. Neste

processo os educadores, como participantes do mundo, têm como papel

existencial formar sujeitos éticos e responsáveis. É um chamado em termos de

abertura e responsabilidade para uma nova visão que reconhece e ouve a

surpreendente diversidade de vozes culturais.

O respeito pela dignidade do ser humano e a defesa da vida são

aspectos que se constituem em elos entre o processo educacional e a

bioética. Isto envolve questões como a preservação da natureza, o cuidado

com a vida que se manifesta no cotidiano, seja este cotidiano a manutenção

da visa física ou como, no caso da educação, a liberdade e a dignidade das

decisões. A morte pode significar situações de “morte simbólica” expressão

usada por Berkenbrock-Rosito (2008), para definir a perda da criatividade e a

perda da responsabilidade, por parte dos agentes educacionais que participam

58

do processo de formação. Neste sentido, se tornam pessoas não identificadas,

tornando-se anônimos no conjunto lembrados como “professores”.

Fazenda, (1984 p. 43) afirma que “a abertura provocada pelo dialogo

entre as disciplinas só pode ocorrer sob uma atitude interdisciplinar”. Para

refletir sobre a proposta educacional da Bioética, pode-se salientar o termo

“atitude”, pois é o homem que pode ter atitude. O conhecimento pode dialogar

através dos homens, em atitudes de inter-relações, com o objetivo de construir

estradas no meio das incertezas e inseguranças do viver no mundo. As

disciplinas são partes de um todo, e sozinhas não nos possibilitam dar um

passo no processo de libertação do mito do “porto seguro” das verdades que

são ditas, sem a possibilidade de questionamento, porque se apresentam

fragmentadas. A educação em bioética, pelo seu caráter interdisciplinar, se

apresenta como uma linguagem da transformação e não de conformismo.

Capra (2001) e Boff (2005) defendem a idéia de que o mundo atual está

passando por uma mudança de paradigma, na qual a visão de mundo

fragmentada de Descartes, ou seja, fragmentação do homem com o meio em

que vive, mente e corpo, estão sendo substituídos por uma visão holística, de

totalidade e de interconectividade entre tudo o que existe no universo.

No Brasil, as questões são complexas e interligadas com problemas

educacionais históricos. Na colonização, com objetivos de exploração, a

catequização cultural e interesses políticos de poder, os relacionamentos foram

construídos, pautados em lucro e desrespeito à cultura dos povos que aqui

viviam. Ao pensar esta situação histórica, com o olhar bioético do princípio de

justiça, pode-se perceber que o respeito pela vida não fez parte dos interesses

e decisões tomadas. Isto configura problemáticas educacionais que exigem

atenção e estudos específicos.

A Bioética, embora seja uma área do conhecimento bastante jovem, já

apresenta uma produção teórica bastante consistente e que possibilita

vislumbrar estudos e vertentes teóricas para temáticas em contextos sociais e

educacionais brasileiros. Pela produção existente, já é possível constatar que a

Bioética “não é, nem pode ser, monolítica” e que deve se construir respeitando

59

fundamentos morais e culturais encontrados em diferentes lugares (Engelhardt

apud, GARRAFA 1998, p. 42).

Existem posturas teóricas, muitas vezes contraditórias, mas os conflitos

tocam em diferentes perspectivas para as questões. Autores como Tristam

Engelhardt, Paul Singer, Helga Kuhse e Michael Lockwood, para citar alguns,

orientam estudos que defendem o pluralismo moral, baseado na diversidade

cultural e social. Nesse sentido, buscam preservar as diferenças culturais,

considerando-as, portanto, diferenças morais, que devem ser sustentadas para

que as identidades sejam mantidas. Por isso, advogam não a existência de

uma Bioética – no singular –, mas de Bioéticas – “substantivo plural” – que

compreendem esta diversidade cultural e moral.

Frente ao surgimento de conflitos decorrentes da pluralidade moral,

estes seriam resolvidos, através de duas possibilidades: o estabelecimento de

uma autoridade moral, cuja tarefa seria “resolver a falta de clareza (...) seja

com relação aos dados da situação, seja por causa da escuridão dos próprios

princípios morais”; ou a utilização do mercado como o mecanismo preferível

para a resolução de enigmas advindos da pluralidade moral.

Podemos citar autores como Volnei Garrafa, Giovanni Berlinguer, Jean

Bernard, Axel Kahn e Lucien Sève, para quem é possível se falar em “uma”

Bioética, no singular, ou, conforme este último autor, numa bioética pública,

que seja construída ao “redor de atitudes éticas fortes” e que busque as razões

dos conflitos no sentido de sua “real ultrapassagem”. Para realizar esta tarefa,

seria necessário, segundo Sève (1994), “compreender-se a ética, no triplo

sentido do verbo: a reciprocidade da escuta, o enriquecimento da competência,

a autenticidade do acordo” , questões educacionais da maior relevância.

O autor acredita que é possível um acordo público a respeito de conflitos

éticos e bioéticos concretos, sem necessariamente haver uma perda da

identidade cultural dos grupos sociais que participam deste consenso. Para ele,

as “divergências sobre o sagrado não impedem muitas vezes de concordarem

sobre o profano”. Além disso, a “universalização não é uniformização (...) pelo

contrário, é a emergência de equivalências, numa pluralidade mantida de

formas”. Neste sentido, a universalização é a partilha de valores, o que não

60

impede que se estabeleça um entendimento a respeito das obrigações da

humanidade em comum.

No campo da Bioética, se coloca em relevo os termos ser humano,

liberdade, dignidade, pessoa. São relevantes para a compreensão de

significados educacionais, pesquisas e produções do conhecimento. A

importância da compreensão de ser humano é referencial para investigações e

ações , e preciso explicá-lo, entender sua complexidade física, psíquica em

suas formas de relações educacionais, políticas e sociais.

O conceito de liberdade, no sentido ético, é o direito de escolha, em um

sentido mais amplo podemos questionar sobre seu sentido absoluto, dado os

condicionamentos que os limitam. A liberdade implica a condição de ser

responsável. Em uma perspectiva existencialista, Sartre, postula que “o homem

é livre, porque ele é aquilo que faz do que fizeram a ele”. Neste sentido, é

necessário a compreensão educacional das escolhas individuais e o

entendimento da aprendizagem autônoma sobre as questões do entorno

humano. Nesta questão de liberdade, de escolhas e de responsabilidade,

pode-se observar:

A diferença básica entre a responsabilidade e as outras posturas é que ela não se orienta somente, por princípios, mas principalmente pelo contexto e pelos efeitos que podem causar as nossas ações (JUNG, 1995 p. 50).

Dignidade é um conceito importante de ser entendido, na educação em

Bioética, como inerente e essencial a todos os seres humanos, pela condição

de existir. “Expressa uma condição que é exigência de nunca permitir que o ser

humano seja ou sirva de instrumentos, ou seja, a “não instrumentalização”. O

paciente assim chamado, dentro da visão da área médica, o aluno dentro da

visão da escola, não é mais "um caso" do qual deve se ocupar, mas, em

verdade, uma "pessoa", vale dizer, um ser único e valioso que precisa ser

ajudado e acompanhado, em sua enfermidade ou no seu processo de

desenvolvimento pessoal de formação. Na área médica ou na área

educacional, há um Sujeito, decidindo, com liberdade e responsabilidade.

61

A noção de dignidade humana desempenha o papel de ideia diretriz da

ética médica, quando usada na saúde e ética de direitos constitucionais,

quando a remetemos à educação. A dignidade humana necessita de noções

mais concretas, habitualmente, formuladas empregando-se a terminologia dos

“direitos”: “consentimento informado”, “integridade física”, “confidencialidade”,

“não descriminação”, entre outras. (Roberto Andorno – Instituto de Ética

Biomédica da Universidade de Zurique – Suíça). “O Ser Humano é uma

existência”, corpo espiritualizado, relacional, racional e singular, único. Estas

características definem um Ser no mundo, a pessoa. Assim, a pessoa que vive,

que existe é como que uma maravilhosa conexão entre o universal e o

particular.

Refletir sobre defender a vida é entender a singularidade da pessoa que

vive, que se desenvolve, que enfrentará a morte, porque esta também é a

certeza da existência humana. Mas a dignidade e a liberdade devem ser

princípios considerados como direitos. O homem deve ter as condições

objetivas e subjetivas, expressas através da liberdade de definir-se e formar-se

enquanto sujeito. Neste sentido, o núcleo de pesquisa da UNICID Pedagogia

do Sujeito compreende:

no espaço e no tempo todas as coisas mudam. Transformam-se. Nada tem forma permanente. A única forma permanente é a impermanência. Modificar-se é o inicio da sabedoria. O sujeito é quem sabe, logo, é ele quem se modifica. Saber, para mim, tem conotação mais forte do que conhecer. E digo isto, por-que o homem não tem monopólio da aprendizagem. Contudo, não há nenhuma outra forma de vida ou coisa artificial que tenha capacidade de aprendizagem comparável à capacidade humana (PEREIRA, 2007, p.191-192).

A racionalidade capacita o homem a apreender e a desenvolver sua

autonomia É Sujeito e assume o poder de, com sua racionalidade, modificar-

se, Por isso, a ênfase no “modificar-se”, quando da referência a Claret, alusão

clara à necessidade que temos, todos, de nos construir e nos reconstruir

sujeitos.

A revisão bibliográfica realizada sobre trabalhos desenvolvidos com o

enfoque da educação bioética, no Brasil, demonstra que este campo de saber

62

está em desenvolvimento e tem sido construído com a contribuição de um

numero crescente de pesquisas. Entre estas, encontramos o trabalho de Méri

Rosane Santos da Silva (2003): Universidade Federal do Rio Grande do Sul:

Educação Física e Bioética uma união necessária. Trabalho apresentado no

Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Caxambu/MG.

Telma Hussni Messias (2007): Tema de Mestrado - Centro Universitário

São Camilo: Bioética no ensino médio: uma análise sobre espaços da Bioética

no projeto educacional da escola Estadual Joaquim Ribeiro Rio Claro/SP.

Maria Luiza Santos Ribeiro (2008): Bioética e o ensino da Filosofia na

Educação Infantil. Estudo sobre a Contribuição do Ensino de Filosofia para

Crianças na Educação em Bioética.

Dumaresq (2009): Bioética a partir dos Parâmetros Curriculares

Nacionais e LDB, trabalho apresentado no fórum educacional ULBRA

TORRES.

Todas as pesquisas apresentadas convergem para a certeza da

importância da Bioética, como um saber instigador e formador dos valores

éticos, da sua importância para a natureza humana e da sua relação com o

planeta. A discussão cientifica e as pesquisas constatam a importância da

Bioética, na educação e na vida, conforme se percebe, como cenário de fundo,

na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional de 1999, no Estatuto do Menor e do Adolescente de 1990 e no

Estatuto do Idoso de 2005, entre outros documentos. O legal e o pensado,

convergindo para um encontro cultural onde a vida é a instância prioritária.

Pode-se apropriar da citação bíblica “a letra mata, o espírito vivifica”,

para apontar esta necessidade de ir para além do legal, ir para aquilo que

privilegia a vida das pessoas. Para Freire (1996) “escola é gente”, é um convite

à compreensão do conhecimento, como movimento de pessoas, em direção ao

pensar, ao mesmo tempo, em que esta direção se encontra com a vida

concreta, no mundo ao redor. O ser humano manifesta a vida, o espaço é vivo

pelo movimento e pelas ações das pessoas e isto não pode ficar perdido como

conhecimento estático, como “letra” somente.

63

Dallari (2004 p. 14) aponta que é “preciso ter sempre em conta que

todas as pessoas nascem com os mesmos direitos fundamentais. A vida é a

categoria de valor máximo. Não importa se é homem ou mulher, não importa

onde a pessoa nasceu nem a cor da sua pele, não importa se a pessoa é rica

ou pobre, como também não são importantes o nome da família, a profissão, a

preferência política, sexual ou a crença religiosa”. Como podemos observar os

direitos fundamentais são os mesmos para todos os seres humanos.

Neste sentido, a educação, formal e informal, dentro do espaço

denominado escola, se constitui em um ambiente rico em oportunidades para o

desenvolvimento do convívio humano e da consciência ambiental Os princípios

bioéticos precisam ser descobertos e discutidos em sua concepção cientifica,

no cotidiano educacional, para serem destacados e incorporados na vida de

sujeitos. Na educação, o agente que pode dar vida aos princípios e a

interiorização dos princípios, para poder não só ensiná-los, mas exemplificá-los

através da sua identidade, enquanto ser e pessoa, é o professor. A

preocupação de se dar vida existencial para a Bioética passa pelo

compromisso do professor que, segundo Oliveira (1997, p.123-124) deve:

Assegurar informações capazes de ajudar no exercício pleno da cidadania em tempos de DNA e a compreensão da relevância da Bioética para a Saúde publica, no próximo milênio tem incentivado os debates nos sentido de estruturar, implantar e implementar programas de educação em Bioética – em caráter formal e informal (...) Uma proposta de Bioética precisa ser examinada e debatida junto á sociedade, cientistas e sobretudo com os professores. É necessário estimular os debates entre os professores. (...) se o conhecimento recebido/transmitido é instrumental capaz, adequado e suficiente para iniciação das reflexões bioéticas.

A formação de professores é tão urgente quanto a de todos os

indivíduos comprometidos com a formação de seres humanos para a vida. A

formação bioética não se reduz a uma disciplina conceitual e técnica. De

acordo com OLIVEIRA (1997) e SGRECCIA (1980) deve se constituir em um

projeto de formação a todos os indivíduos. O professor, como elemento

importante para o processo educacional, deve fazer parte deste projeto,

compreendendo que a informação precisa envolver a formação de valores e

64

novas leituras de vida e de mundo, a partir de suas próprias disciplinas. Para

Sgreccia (1980, p. 95)

a partir do momento que a tutela da vida e da saúde depende em grande parte do comportamento dos indivíduos e não somente da medicina e da economia torna-se urgente uma transição da informação e da formação bioética no âmbito da educação, família, na escola e nos chamadas agencias educativas, ali compreendidas os meios de educação social.

Refletir é tarefa, não só do professor de filosofia, mas de todos que

compreendem a idéia de interdisciplinaridade. Os professores de todas as

áreas do conhecimento podem se relacionar com a Bioética, interagindo

através dos seus conceitos disciplinares, em dialogo com as concepções

bioéticas, envolvendo-se com seus pares para construir uma relação com o

saber que, segundo Dominicé (1986, apud NÓVOA, 2002, p.31) “encontra-se

no cerne da sua identidade pessoal.”

É importante que o professor faça a reflexão fluir na direção de sua

interação entre as dimensões pessoais e profissionais e que essas se

reencontrem no seu Ser. “O professor é a pessoa”. “E uma parte importante da

pessoa é o professor” NIAS, (1991, apud NOVOA, 2000 p.31). É impossível

que a Bioética possa contribuir para a vida, sua condição existencial, seus

propósitos, sem que haja interações vivenciais, relações inter pessoais. É o

tudo do todo. E a volta das disciplinas para estabelecer novas relações entre si.

O prefixo chave é o “In”, de integrar, interagir, interdisciplinar, intenção e por

ultimo interiorizar valores que são bens inerentes a todos os humanos.

A educação no Brasil tem três grandes desafios: o primeiro, histórico, é

eliminar o analfabetismo. O segundo é colocar gente dentro da universidade,

pois o acesso é precário. “E o terceiro é o Ensino Médio, que sempre foi o

primo pobre, encostado no Superior e no Fundamental.”, na análise (GADOTTI

1997, p. 76)

“Eu sou eu, mais as minhas circunstâncias”, afirmou o filósofo espanhol

Ortega y Gasset,(1929, apud Kujawski,1994 p.17). Entre as circunstâncias que

influenciam o indivíduo, na identidade pessoal, coletiva e profissional, estão as

do meio sócio-ambiental e as do sistema econômico em que vivemos, um

65

sistema em que se prioriza, cada vez mais, o distanciamento entre os

humanos, o desperdício com a “res-publica”. Os professores, em sua pratica

educacional, têm sido desafiados a mudar a postura de ensinar, para assumir a

condição de mediar. Esta mudança implica em transformações e reflexões das

ações e resultados obtidos em suas práticas. O professor que ensinava dentro

da educação conteudista e os alunos que, passivamente, aprendiam, fazem

parte de circunstâncias que estão mudando para outro modelo de sociedade,

que pede aprendizagens significativas, contextualizadas impossíveis de serem

alcançadas com a fragmentação disciplinar.

O conhecimento, o homem, a vida não se fragmentam, porque estão

interligados. Na medicina se busca a homeopatia, se busca a causa da

doença, não se trata a doença, mas o Ser. Na educação, os conceitos

disciplinares não dão conta de explicar os acontecimentos, é preciso,

compreender as causas. Os alunos não se interessam pelas partes, mas o todo

e o que podemos refletir sobre esse “todo”, O seu contexto de vida, sua

finalidade, sua capacidade de ler o mundo através do olhar da observação, do

ouvir, enfim estar capacitado para decifrar esta sociedade, suas linguagens e

seus símbolos. Ai reside o prazer libertador em aprender.

A identidade e a autonomia são aspectos relevantes da cidadania e

também parte dos princípios da Bioética, mas somente se edificarão se

construídos por um constante pensar existencial significativo e responsável,

pois ser é ético, é ser “responsável” (Berkenbrock-Rosito 2005). Atitudes e atos

impensados afetam a totalidade. A “responsabilidade pela vida do outro”,

expressão de Lévinas, na sua obra A Humanidade de outro Homem,

apropriada por Dussel (2002) oferece reflexões significativas sobre garantir a

possibilidade a toda humanidade de seres humanos.

Para Berkenbrock-Rosito (2005; 2007) a ética, como estudo crítico da

moralidade e da conduta humana, pode abarcar toda a atividade humana,

buscando conduzir o homem e levá-lo na direção de alvos adequados à sua

própria natureza, por meios adequados à sua própria natureza, adequando-os

para esses fins.

66

Muitas questões do nosso tempo são objetos de discussões éticas

relevantes para as práticas educacionais, para o aprender a ser: os direitos

humanos, e a retomada histórica da Declaração Universal, que emergiu dos

conflitos oriundos da Segunda Guerra Mundial, o racismo existente em muitos

países, a exploração das nações mais desenvolvidas, a corrida pelo

armamento bélico, que se prolifera no mundo, o aquecimento global, e tantos

outros temas que só serão compreendidos e mudados por meio de reflexões

que envolvam a alteridade, conduzindo o pensamento a olhar cada ser

humano – o outro, e vê-lo, como se visse a si mesmo.

O problema da fome, da saúde, deve ser alvo das reflexões em

educação. A escola esta sendo desafiada a mudar suas práticas, trabalhando

com textos sociais, significativos e praticas de leitura que possam dar

condições de enfrentamento da alienação que ocorre pela perda de autonomia

para o ato de pensar. As reflexões bioéticas podem contribuir para todos

aqueles que estão na condição de conhecer, de decidir, de pesquisar. Elas

contribuem, ainda, para as pessoas em formação, intelectualmente capazes e

responsáveis, que têm a possibilidade de intervir na realidade, criando novas

situações, para superar preconceitos que são empecilhos para a completude

da dignidade humana.

A frase bíblica, “aquele que muito sabe a este maior parcela lhe será

cobrada”, pode oferecer subsídios para a reflexão de todos: profissionais da

saúde ou profissionais da educação. Esta reflexão ocorre, diante de situações

que envolvem compromissos de vida, que implicam responsabilidades, diante

do conhecimento. O compromisso é ético, mas é bioético porque, todos os

dias, ao desempenhar a profissão, a oportunidade de decisão se faz presente:

vida ou morte; manter ou transformar, envolver-se com a vida ou alienar-se,

cuidado ou indiferença?

O ocidente recebeu a influência religiosa da ética judaico-cristã. A ética

judaica foi reinterpretada pela ética cristã e poderia ter construído uma norma

desejável, se não fosse pela intolerância.

A ética permanece sem alterações, na sua natureza, num duplo aspecto:

vertical e horizontal. Na vertical, ela vai em direção do divino, que deve ser

67

amado e desejado, acima de todas as coisas. No segundo aspecto, o

horizontal, ela encontra a expressão da igualdade, nas relações humanas de

uma convivência de Koinnonia (grego) “comunhão de eus” na perspectiva de

Buber, em que cada “eu” se afirma sem abafar ou usar ou outro “eu”.

É uma necessidade humana, que faz parte da busca de alguns,

estarmos envolvidos com a busca do divino. A atenção sobre a vida merece

exame constante em relação às respostas que nos são apresentadas pelas

ações individuais ou coletivas. Algumas destas respostas acabam tornando-se,

hábitos, princípios e valores que se pautam, na manutenção de formas

arbitrarias de determinadas sociedades. Tais formas, se permanecerem

reproduzidas mecanicamente, sem que haja o instante de parada e reflexão,

sobre a ação e na ação, terão sua continuidade por tempos suficientes para

afastarem o homem da responsabilidade que ele tem, enquanto ser racional,

que pensa na própria formação e na formação do outro.

Formar cidadãos, nos tempos modernos, requer a ação de repensar, os

novos desafios da contemporaneidade, os padrões educacionais, refletindo a

partir de fundamentos de cuidado e sensibilidade. A condição humana de

Cuidado com o outro é desencadeadora de motivação, afeto e experiências

importantes elementos do processo educacional.

Importantes aspectos educacionais foram trazidos do pragmatismo

norte-americano de Dewey (1945 apud SAVIANI, 1989, p.83). Suas teorias se

fundamentaram no empirismo de Bacon, onde a ética e as outras disciplinas

chamadas humanistas progrediam muito pouco, pois eram empregadas com

metodologias “envelhecidas”. Com este teórico, cresceu a ética individualista,

privilegiando-se assim as experiências educacionais gerando autonomia da

pessoa.

Dussel (2002) afirma que a inspiração para a educação libertaria,

“requer que se afirme e reconheça o homem como sujeito livre e centro do seu

mundo em permanente processo de construção e reconstrução”. Este é um dos

pressupostos bioéticos. Isto é fundamento educacional, considerando-se fonte

de inspiração para uma perspectiva latino-americana, onde é necessário tecer

algumas considerações a respeito da onde estamos falando e nos situamos

68

neste cenário. Autor da Ética da Libertação, Dussel considera o continente da

esperança. Mesmo marcado pela exclusão, pela morte, pela marginalização e

situações ultrajantes para a existência humana, podemos apontar para esta

esperança, ao pensarmos no papel critico e reflexivo, transformador da

realidade que a Bioética pode desempenhar na educação.

A Proposta Curricular do Estado de São Paulo tem o objetivo de inserir

discussões sociais e filosóficas para formar os alunos para uma cidadania

consciente e participativa. A Bioética na educação envolve esta perspectiva da

libertação, configurando as situações de aprendizagem de forma dialética, de

aulas dialogadas, colocando o educador como mediador e o educando em

situações de alteridade, de construção de identidades possíveis de agir com

autonomia dentro dos princípios de autonomia, responsabilidade e justiça.

A CONAE (2010), em seu documento base, que recentemente foi

divulgado, propõe as seguintes orientações: como função social, cabe

reconhecer o papel estratégico das instituições da Educação Básica e

Superior, na construção de uma nova ética, centrada na vida, no mundo do

trabalho e numa cultura da paz, superando as práticas opressoras. Isto

incluiria, efetivamente, os grupos historicamente excluídos: negros (as),

quilombolas, pessoas com deficiências, povos indígenas, trabalhadores do

campo, mulheres, LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, e transexuais),

entre outros.

Com este viés, a proposta da CONAE (2010) conclama a uma nova

ética centrada na vida. Para atender a esta proposta, é preciso que os cursos

de formação de profissionais e, especificamente, as licenciaturas de formação

de professores em primeiro lugar, superem a visão fragmentada do

conhecimento, em segundo lugar, que os cursos de formação convidem a

descobrir “Como nasce um professor?” FURLANETTO (2003) afirma que, para

que os professores possam se identificar, como em seu processo de

individuação, foi se dando a apropriação das concepções do que significa ser

professor, identificando e conhecendo-se como pessoa e como professor.

A Bioética, como campo de saber, parece ainda desconhecida dos

professores, da educação e em particular da educação básica, A visão

69

fragmentada não permite vislumbrar a Vida como construção humana, que

todos os conhecimentos se dão para a vida e pela vida. As publicações são

entendidas como um assunto exclusivo do campo da saúde e da medicina.

Os cursos de formação para professores da Educação Básica deverão

passar por uma séria analise com relação à formação humana de seus

profissionais porque, no caso do Estado de São Paulo, os eixos temáticos e as

disciplinas, dentro da proposta, exigem um conhecimento sobre aspectos

filosóficos e psicológicos e sobre sua importância no desenvolvimento da

prática pedagógica.

A introdução da Bioética na educação vem de encontro às necessidades

que se apresentam, ao professor, de tomadas de decisões conscientes e

éticas. Nas decisões que se apresentam, na gestão da sala de aula, ou na

escolha de formas de aprendizagem, que atendam a todos os aprendentes,

nas suas especificidades, a Bioética será útil. No posicionamento diante de

temas que exigem do professor uma visão humanista e interdisciplinar para o

desempenho de sua função de transformador e colaborador da sociedade do

conhecimento, há também a imprescindibilidade da Bioética.

A formação do professor pode parecer possuir uma conotação de uma

formação pontual, que se finaliza e se conclui ao término de uma graduação.

Quando inserimos a palavra “pensar”, logo surge a questão que requisitos que

são importantes para o processo de aquisição do pensamento crítico. Isto não

é uma decorrência só de conhecimentos conceituais ou de técnicas e

procedimentos pedagógicos. Com este olhar, é preciso dividir a formação em

dois momentos: a formação inicial e a formação contínua.

Refletir é, na atualidade, a palavra mais utilizada, nos cursos de

graduação, licenciaturas e capacitações, em todos os espaços que se propõem

a preparar professores. Schõn (2000, apud NÓVOA p. 54) propõem que

“formação de professores orientada para a indagação, reflexão –na –ação, o

professor como controlador de si mesmo”.

Para o professor reflexivo e as ações de formação, “o mero

conhecimento dos métodos não basta, pois é preciso que exista o desejo e a

vontade de empregá-los” (SAVIANI, 1989, p. 83). Se a vontade e o desejo são

70

importantes, os dois se manifestarão em atitudes que, para (SAVIANI, 1989, p.

43), é o tripé de sustentação para o processo de ensino através da reflexão. A

primeira atitude: mentalidade aberta, sem preconceitos e hábitos que limitem a

mente, disposição de escutar e acolher. A segunda atitude: Responsabilidade

“Ser intelectualmente responsável quer dizer considerar as conseqüências de

um passo projetado assegura a integridade, isto é coerência e harmonia

naquilo que se defende” (SAVIANI, 1989 p. 44) E a última atitude é o

entusiasmo, vontade de afrontar as incertezas com curiosidade, energia,

capacidade de renovação e luta contra rotina.

Até aqui, aparecem os movimentos internos da pessoa. Estes exigem o

pensar e a mobilização da atenção para tornar conscientes as indagações e

reflexões sobre si mesmo e sobre as suas ações. A palavra reflexão, assim,

assume um destaque conceitual. Sobre os níveis de reflexão, Zeichner & Liston

(1987) estabelecem a existência de três níveis diferentes: “reflexão técnica,

reflexão prática, reflexão critica”.

Refletir tecnicamente significa observar as ações explicitas que estão

acontecendo no presente. Os verbos se apresentam sempre no infinitivo como:

andar, fazer perguntas, motivar, olhar, escutar, etc. O segundo nível implica o

pensar no que se vai fazer; a intenção ao fazer e o que já foi feito. Destaca-se

aqui o caráter didático, seria pensar no conhecimento que se desenvolveu,

empiricamente - a prática. Uma palavra é usada por (Zeichner & Liston, 1987),

para definir esta forma de agir: planejamento. A reflexão critica, passa pelas

considerações éticas ou políticas da própria prática, suas repercussões no

contexto em que a prática foi desenvolvida. Este nível “traz a consciência sobre

as possibilidades de ação e as limitações de ordem social, cultural e ideológica

do sistema educativo” (Gimeno, 1990).

A formação inicial dos professores passa, assim, a ter dois aspectos

importantes a serem pensados: suas atitudes e como entende e pensa as

práticas educacionais, como são as representações sobre o que significa ser

professor. Os autores Piconez, (1991); Pimenta, (1994); Leite, (1995) nos

trazem dados importantes, para a analise do que significa “o distanciamento do

currículo formal com conteúdos e atividades distanciados da realidade das

71

escolas”. Os formandos, em sua grande maioria, por estar longe da realidade

da escola e do público, com quem vão desempenhar a profissão de professor,

recebem, na sua formação inicial, uma concepção que já os coloca em

desvantagem em relação ao novo paradigma, da “Era digital e da informação”.

Este novo pensar estabelece que o conhecimento seja uma construção

“coletiva feita pelos estudantes e o professor, os estudantes são ativos, tomam

decisões, transformam e o professor é aquele que sabe que ensinar é

complexo e requer considerável formação” (FERRETI, 1996, p.75). Os

objetivos do professor no paradigma antigo, da era industrial de avaliar para

classificar, selecionar, não mais atendem às necessidades porque o aluno tem

direito de apreender.

As contradições presentes, na gestão da sala de aula e na prática

pedagógica, são desafiadoras e angustiantes. É preciso saber lidar com o

imprevisto, com a curiosidade, mas também com a apatia, são desafios que

necessitam de conhecimentos que adentram ao campo da psicologia e

precisam ser explorados e desvendados aos graduandos da educação.

Para Assmann (1996, p. 67), o que entra em jogo nesta busca é a “auto-

estima do viver docente”. A renovação pedagógica, que privilegia as

experiências de aprendizagem e a oferta de utilização de práticas,

humanamente, prazerosas, são os objetivos que motivam a formação.

Entretanto, é preciso urgência na resposta de como fazê-las e alcançá-las. A

atitude do “entusiasmo” que Dewey (apud SAVIANI, 1989) usar para a palavra

curiosidade, a capacidade de inovar, são requisitos para a formação continua,

porque ela é objeto do prazer pelo conhecimento que se constitui como matéria

prima da profissão professor.

A busca em fazer o certo, o empurra para a formação contínua, um

processo de desenvolver as habilidades, procedimentos, atitudes e valores,

que venham acrescentar eficiência ao seu trabalho. A sua identidade como

profissional da educação, é o princípio do comprometimento com o outro, com

responsabilidade e beneficência. Esta é uma ação que “refere-se a uma ação

realizada em beneficio de outros” (BEAUCHAMP, CHILDRESS, 2002).

72

Compromete-se com a vida, seus saberes e sua habilidade para viver a

realidade de agente de construção e transformação.

A beneficência assim assume para o professor um caráter de ideal. O

ideal que o mantém, mesmo que inconscientemente, se construindo enquanto

Ser, porque sua existência é significativa. É pouco provável que a afirmação de

Giddens (2002, p. 16) se apresente para esta pessoa que é o professor “a falta

de sentido pessoal, a sensação de que a vida não tem nada a oferecer, torna-

se um problema psíquico fundamental na contemporaneidade”.

A reflexão, na realidade das ações pedagógicas, a analise dos

comportamentos, atitudes, chamadas reflexão na ação e sobre a ação, têm, na

não maleficência, sua intenção de achar respostas às formas de formar,

ensinar e com o seu agir não causar danos, ao outro. Sua intencionalidade e

compromisso é com a moral, seu instrumento é a consciência. A pesquisa

conceitual é uma exigência para a formação do professor, é principio da

autoformação, comprometida com a formação do outro. A reflexão sobre a

ação é um momento de infusão, conceito de Santo Agostinho (1984) para

meditar, avaliar, pensar e se construir na solidão - que segundo SAUTET,

(1992) é a Ágora.

O significado do conhecimento, na sociedade contemporânea, passa

pela percepção da relação entre conhecimento e vida. Na sociedade do

conhecimento, o significado pode estar entre possibilidade de vida ou de morte.

Os saberes pedagógicos, a desarticulação entre o processo ensino e

aprendizagem, as implicações de relacionamento professor/aluno e a

fragmentação das disciplinas, podem comprometer a formação do aluno.

Para Assmann (1998, p 27) “é preciso (re) encantar a educação”. O (re)

encantamento do educador e do educando, dentro dos processos cognitivos e

processos vitais, que significam pensar as experiências da vida na

corporeidade viva e situada. A redefinição significativa do conceito de vida, nas

biociências e na informática, não consegue ultrapassar o aspecto fundamental,

que nunca a humanidade deverá deixar de entender “é que toda vida só é vida

enquanto é uma cadeia ininterrupta de aprendizagens” (ASSMANN, 1998 p.

27).

73

A equidade, igualdade, inclusão e direitos, são comportamentos que o

professor precisa manifestar perante seus alunos e, neste momento, o princípio

da justiça é o alvo da formação contínua, envolvendo a disposição de acolher,

a humildade em descobrir-se e perceber-se nas suas relações pessoais,

profissionais, valores, pré-conceitos e representações adquiridas, no seu

percurso humano. É exigência legal, moral e humana ser justo. Ter justiça é

tratar com igualdade a todos, é como pensar, ao mesmo tempo, em direitos

iguais, entre aqueles que não são iguais, por condições econômicas, sociais,

morais, físicas ou biológicas.

Moreira Filho (2003, p.45) afirma que a resposta para a exigência

formativa é “o principio da justiça”, que “propõe, a imparcialidade na

distribuição dos riscos e dos benefícios, levando-se em conta as desigualdades

entre as pessoas, a dignidade da pessoa humana e a recusa total a qualquer

tipo de violência”. Podemos concluir que a justiça na educação assim como na

Bioética esta relacionada a critérios de comportamentos morais e éticos: a

imparcialidade, o respeito às diferenças e a dignidade humana, são ações de

justiça no sentido de coerência com o outro enquanto ser humano.

Santo Agostinho (1984) coloca o pensar e agir pelo respeito do mundo

e, em especial, respeito ao “Ser” (M. Heidegger). Pensar é o ingrediente, o

desafio diário para a continuidade da formação do professor. A curiosidade

diante da vida, E o que significa pensar a Vida para os professores? Que

profissão é esta que, de maneira subjetiva, pode definir a morte ou a vida e a

sua qualidade para aqueles que dela dependem?

Existem atitudes que exigem espírito de aventura, para acompanhar a

trajetória humana na terra. Para Morin (2002), esta trajetória não é mais

teleguiada por deus, pela ciência, pela razão ou até mesmo pela lei da História.

Faz-nos digredir o sentido grego da palavra: astro errante. Para os gregos estar

vivo significava estar vendo, e não perder a honra, para o período medieval

estar vivo significava não perder a alma e no século XXI, qual é a

representação de vida?

Pensar em formação de professores é refletir sob a perspectiva humana

individual, pessoal, suas concepções de vida, seu ideal enquanto sujeito

74

participante na sociedade, sua relação com os demais seres humanos, sua

saúde.

A visão do ser total que é o professor, suas competências, suas

habilidades, é importante para determinar um perfil adequado ao público alvo.

Esta visão está, no foco de buscar despertar, no futuro professor, a premissa

de se conhecer a si mesmo, de observar sua interação com a vida e, por

conseqüências, suas esperanças e sonhos.

A educação na visão de Candau (1995, p. 46) é “ter uma formação

sólida em ciências sociais e humanas.” Isto é importante, porem, cabe recortar

e entender o que significa uma “sólida formação.” Envolve conhecimento e

atualização para contextualizar argumentos, desenvolver a

interdisciplinaridade, mas esta sólida formação deve ter como intencionalidade,

compreender a sua participação, seu envolvimento e seu olhar para a vida que

tem aspectos sociais e humanos, que são também histórias de vida (Josso,

2008). A formação do professor bioético abrange a compreensão de que a

sólida formação e os conhecimentos, são como meio de realização para o

principal fim de todos os seres humanos: a qualidade de vida. Para CANDAU

(1995, p.47) trata de uma visão em que:

A educação é vista como uma prática social em intima conexão como sistema político-econômico vigente. Somente a partir deste pode ser compreendida e analisada. Portanto, o educador deve possuir uma sólida formação em ciências sociais e humanas. Sua prática não é jamais neutra. Está a serviço da manutenção do Status Quo ou da transformação social. Analisar e propor, a partir das condições concretas da realidade, uma prática educativa transformadora constitui uma questão fundamental. Questão esta que somente pode ser trabalhada na interpretação da teoria e prática, que devem ser consideradas como uma unidade. Esta dinâmica deve estar presente em todo o processo formativo. Só a partir desse tipo de análise é que se adquire sentido e preocupação com as dimensões do processo educativo. (...) A educação de fato é um processo multidimensional.

Vemos que o autor apresenta dimensões humanas, técnicas e a

dimensão político – social. As dimensões não podem ser visualizadas, como

partes que se justapõem ou que são acrescidas, umas às outras, sem

guardarem entre si uma articulação dinâmica e coerente.

75

Rubem Alves (apud BRANDÃO, 1982 p.18) trata, em sua obra,

“Educador: vida e morte”, da formação dos professores como uma necessária

transformação. As novas tecnologias, e as relações dos alunos com a

informação desafiam a formação dos professores a assumir o compromisso de

transformar os procedimentos e o enfoque do processo de ensino e

aprendizagem, sob pena de se extinguir. A formação do professor passa pelo

entendimento de sua profissão, como mediador. Aquele que, intencionalmente,

promove situações de aprendizagem, situações problemas, portanto, desloca o

foco do ensino, para o enfoque, apreender.

Freire (1996, p. 96) pondera que é possível ser professor sem que “haja

uma aproximação cada vez maior entre o que eu digo e o que eu faço entre o

que pareço ser e o que realmente estou sendo.”

Segundo Freire (1996, p. 67), “não podemos exercê-la mal, a prática

pedagógica, não posso (dês) amá-la.” A reflexão é acordar a mágica e o prazer

para a profissão professor porque “não é possível ficar nela e aviltá-la, com o

desdém de mim mesmo e dos educandos” Freire, (1996, p. 67).

Piaget ao tratar a questão da autonomia, destaca que ela não é possível

sem a democracia, pois, para ele, as relações sociais baseadas na cooperação

- intercâmbio de pontos de vista são imprescindíveis para a construção da

autonomia. ( apud BRANDÃO DA LUZ, 1994)

Aliado à vivência da cooperação e do respeito mútuo, o exercício do

autogoverno possibilita, para esse autor, a construção de personalidades

autônomas, aptas a viver e fazer democracia. Nessa perspectiva, a autonomia

é, então, a constituição de uma razão, intelectual e/ou moral para

Estabelecer suas certezas, liberando-se do que a tradição procura

pura e simplesmente impor às diversas consciências. (...) O ‘herói’ piagetiano é, portanto, aquele que pode dizer ‘não’ quando o resto da sociedade, possível refém das tradições, diz ‘sim’ (DE LA TAILLE, DANTAS & OLIVEIRA, 1991, p. 63).

Assim, a constituição da autonomia se dá numa perspectiva piagetiana,

na interação com o outro. Entretanto, essa interação efetiva-se, com vistas a

uma mudança, nas estruturas cognitivas do sujeito, a uma maturação biológica

76

e uma equilibração das estruturas mentais do indivíduo. Nesse sentido, a

construção da autonomia pressupõe que o conteúdo, seja ele intelectual ético

ou moral, "tenha sido obtido por um comportamento ativo da razão e que a

própria razão esteja em condições de controlar o acordo ou o desacordo de

seus julgamentos com a realidade" (BRANDÃO DA LUZ, 1994 p.298). Ou seja,

é preciso que ele tenha sido incorporado pelo sujeito e que ele faça parte

efetiva da razão. Essa abordagem compreende autonomia como um estágio de

desenvolvimento da moralidade, o que a restringe a processos individuais

muito mais relacionados à constituição da "personalidade". Entretanto, o estudo

sobre autonomia não pode ficar limitado a essa dimensão, sob pena de

restringir autonomia ao desenvolvimento do juízo moral do indivíduo.

Para Freire (1996) há que se reconhecer a autonomia na relação com as

experiências coletivas. São as vivências, as iniciativas, as decisões,

oportunizadas pelos contextos sociais nos quais se inserem, assim como as

relações que se estabelecem nesses contextos, que vão permitindo a

constituição de práticas mais, ou menos, autônomas. Coragem é autonomia,

autonomia coerente, com a formação de valores humanos e técnicos.

A formação do educador passa pela aprendizagem da tomada de

decisão, da expressão das idéias, coerentes com princípios desenvolvidos na

sua formação contínua. Passa, ainda, pela busca do bem formar o outro, de

intencionalmente não o prejudicar, seja no falar, no agir, na disposição de

acolher as diferenças e de ser justo. Passa, ainda, pelo conhecimento das

linguagens do agir professoral, que estará exposto ao aluno, demonstrando

como enxerga a profissão, a vida e sua existência.

A autonomia nunca será total, todos nós sofremos limitações, mas elas

não podem ser mecanismos de imobilidade diante da vida, das situações que

se apresentam, exigindo o posicionamento de cada pessoa ou profissional.

Pode a autonomia ajudar a divergir sem concordar, o humano aceitando o

outro humano, com o dialogo, diferencial do ser vivo, homem e sua

racionalidade.

77

3. A PROPOSTA CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO DO ESTADO DE SÃO PAULO: FUNDAMENTOS DO SUJEITO (BIO) ÉTICO.

Neste capítulo focaliza-se a inclusão da Bioética, como eixo temático, no

ensino de filosofia, conforme sugestão da Proposta Curricular do Ensino Médio

do Estado de São Paulo. A educação é concebida, como processo contínuo de

aprendizagem e reflexão, na busca dos princípios e dos fundamentos do

sujeito (bio) ético.

Os fundamentos estéticos, políticos e éticos das Diretrizes Curriculares

do Ensino Médio pedem a reflexão, em todas as esferas de organização,

sejam administrativas ou pedagógicas ou as formas de convivência no âmbito

escolar. Os valores estéticos, políticos e éticos inspiram a Constituição de 1988

e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e são organizados de forma a

desenvolver: a sensibilidade, a igualdade e a identidade.

3.1 A Bioética: o desempenho entre ser pessoa e ser sujeito aprendente.

A Proposta Curricular do Estado de São Paulo, 2008, é reflexiva e

filosófica, porque busca a materialidade do pensamento e da prática

pedagógica. O sujeito, a corporeidade HEIDEGGER (2000), o desenvolvimento

cognitivo, suas relações e interações com o meio são priorizadas na totalidade

das ações pedagógicas. A capacidade de ler para a construção da cidadania é

o pilar da libertação, da condição de vitimas, dentro do sistema globalizado,

indecifrável para a camada mais pobre da sociedade. O interesse

governamental é incluir esta camada, conduzindo-a à participação, na

sociedade globalizada, como cidadãos, através da democratização do ensino.

O homem é fruto da evolução que produziu a vida, da qual ele é

expressão consciente e inteligente, criador de cultura.

Por natureza, o homem é um ser biologicamente carente, sendo

obrigado a conquistar o seu sustento, modificando o meio e criando seu próprio

hábitat.

78

O Homo Erectus, surgido na África, há, aproximadamente, 7 milhões de

anos, pôs-se a conquistar o espaço, começando pela Eurásia, passando pela

Ásia e América até à Oceania. Com o crescimento do seu crânio, evoluiu para

o Homo Habilis, aproximadamente, há 2,4 milhões anos atrás, ampliando ainda

mais sua capacidade de conquista.

Com o desenvolvimento da linguagem, a principal atividade humana

para a formação do mundo cultural, este homem passa a estabelecer, através

da palavra, ideias que podem tornar presentes os objetos que estão distantes.

Assim, há o estabelecimento, através do convívio e da troca de experiências,

de possibilidades de conquistas representativas, que racionalmente se

desenvolvem e ganham uma dimensão universal.

Como um ser inteiro, mas inacabado (não é um defeito, mas uma

marca), o paradigma da conquista pertence à (auto) compreensão do ser

humano, que nomeia caracteriza e forma consciência de si e de sua história.

Descartes, Locke, Hume e outros, no século XVII, enfatizando a razão,

criam o dualismo psicofísico, ou seja, a separação corpo-mente. O corpo é uma

realidade física, sujeita às leis deterministas da natureza, objeto de estudo da

ciência e a mente é objeto da reflexão filosófica.

A questão metafísica foi posta em questão, reiteradas vezes, por várias

razões, a saber: pelos céticos, em virtude da sua desconfiança da capacidade

cognoscitiva do homem; pelos empiristas, pela redução da consciência à

experiência sensitiva; pelos positivistas, materialistas e marxistas, pela

redução de toda realidade à ordem material.

Neste sentido, a reflexão filosófica, como uma questão epistemológica,

vem dando importante contribuição ao estudo sobre os métodos científicos e,

sem dúvida, essa contribuição é ainda mais necessária na atual fase de

aprimoramento da pesquisa educacional em “face dos riscos de tecnicismos”

(GAMBOA, SANTOS FILHO 2000, p. 65).

O Ser sujeito é único, singular e autônomo, mas o ser pessoa constrói-

se na interação com o meio ambiente, comum a todos, a Terra. O Ser Sujeito é

um ser de relações: ele existe como pessoa, torna-se pessoa, à medida que se

relaciona consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com a dimensão

79

transcendente da vida. Como ser inacabado e em construção, a possibilidade

de errar e acertar é condição de estar no mundo.

A partir do movimento interno o ser reconhece seus atos e assume a

responsabilidade, condição de transformação e mudança. Classificar ou

condenar é exercício de respeito. Para Dussel (2002), a vítima não é apenas o

outro, mas também o Eu, quando lhe falta justiça e responsabilidade. Para

Heidegger, o Cuidado não é viver “para os outros”, mas estar “com o outro”, o

que configura a atitude libertadora.

É necessário conviver com diferentes culturas, formas de pensar a

vida, escolhas pessoais que divergem da “normalidade”, relações de hierarquia

e aspectos institucionais. O respeito acolhe o outro e suas características,

sendo necessária a disposição para estar com.

Para Buber (2001), “tudo passa pelo outro, fora dele não há solução

nem salvação para a humanidade”. No outro, está a possibilidade de agir

eticamente, reconhecer-se e, segundo Freire (2006), o desafio de “Ser Mais”.

A EDUCAÇÃO é permanente não porque certa linha ideológica ou certa posição política ou certo interesse econômico o exijam. A EDUCAÇÃO é permanente razão, de um lado da finitude do ser humano do outro, da consciência que ele tem de sua finitude. Mais ainda, pelo fato de, ao longo da História, ter incorporado à sua natureza não saber que vivia, mas saber que sabia e, assim, saber que podia saber mais. A EDUCAÇÃO e a formação permanente se fundem (...), o ser humano jamais pára de Educar-se (...). A melhora na qualidade da EDUCAÇÃO implica na formação permanente dos Educadores. E a formação permanente se funde na prática de analisar a prática. É pensando a sua prática que, naturalmente com a presença de pessoal altamente qualificado, que é possível perceber embutida na prática uma teoria não percebida ainda, pouco percebida ou já percebida, mas pouco assumida ( GADOTTI, 1997).

É nesse contexto, que a Proposta Curricular do Governo do Estado de

São Paulo (2008) – PCE-SP estabelece as competências indispensáveis ao

enfrentamento dos desafios sociais, culturais e profissionais dos jovens em

formação para a cidadania do século XXI, o que aponta a importância do

80

pensamento filosófico, assim como o retorno das disciplinas chamadas

“ciências humanas”.

A PCE-SP (2008) entende o desenvolvimento pessoal do aluno como

um processo de aprimoramento das “capacidades de agir e pensar, atuar sobre

o mundo e lidar com a influência do mundo, assim como atribuir significados,

situar-se e pertencer” (Proposta Pedagógica Filosofia, 2008, p 8). Um tempo de

discussões e esse tempo sendo compreendido como o momento único,

gerador de novos significados e mudanças de idéias e de pensamento nas

preocupações oficiais da educação publica, com a liberdade, com a tolerância,

com a sabedoria, no convívio com o diferente e na adversidade.

A educação deve possibilitar, ao jovem, a aquisição da competência

necessária para se conduzir como Ser humano pensante, criador, capaz de

escolhas conscientes e coerentes.

Como política pública, propõe-se a contribuir para a formação integral do

jovem, entendendo o processo educacional, não como mera transmissão de

conhecimentos, mas aprendizagem de diferentes formas de leitura de mundo,

para a compreensão da sociedade e de suas relações.

As Diretrizes Curriculares do Estado de São Paulo do Ensino Médio em

Filosofia, no item Competência e Habilidades Específicas, dispõem:

O professor de Filosofia deverá possuir, também, competências técnico-cientìficas, éticas-políticas, sócio-educativas contextualizadas que permitam: (...) gerenciar o processo de trabalho na Filosofia com princípios de Ética e de Bioética, com resolutividade tanto em nível individual como coletivo em todos os âmbitos de atuação profissional.

Para Arendt (2004), é preciso “pensar e agir pelo amor do mundo”, o que

é possível pelas situações de aprendizagem de Filosofia e o eixo temático

Bioética, que privilegiam o diálogo e a linguagem.

Nas Situações de Aprendizagem I, II e III, as estratégias de ensino

levam em consideração a reflexão e o diálogo. A sensibilização, através de

recursos, como filmes, músicas e situações-problema, tem o objetivo de

provocar o pensamento filosófico e a formação de valores éticos e morais.

A Situação de Aprendizagem I introduz a Bioética, discutindo os temas:

saúde pública, conceito de vida humana, meio ambiente, ética médica,

81

medicalização da existência e planejamento familiar, evitando o senso comum

ou o julgamento pelas opções religiosas das pessoas. As matrizes teóricas das

reflexões existenciais estão em Sartre, Foucault, Heidegger e a Escola de

Frankfurt, com ênfase em Adorno.

A Bioética, como eixo temático, nesta situação de aprendizagem, parece

fragmentada, pois propõe reflexões existenciais juntamente com problemas

relacionados à medicina e à mercantilização do corpo, o que é difícil cumprir

em apenas quatro horas-aula mês com uma duração de cinqüenta minutos

cada. Estando na contradição da garantia de uma justa possibilidade da

liberdade humana, colocando a fronteira do tempo com empecilho para que

todos possam usufruir com um mínimo de dignidade e decência no pensar,

inferir e julgar.

A aula dialogada, a exposição, o encadeamento das idéias e as

evidências lógicas e empíricas não são suficientes para desenvolver o

raciocínio argumentativo sobre os problemas da condição humana e sua

relação com a vida.

Na Situação de Aprendizagem II, a aula expositiva, com duração de

quatro horas/aulas, introduz o debate sobre a tecnologia e sua relação com as

pessoas, a partir da pergunta: Para que serve a tecnologia? O texto Razão

Instrumental (Adorno, 1986) enfatiza a racionalidade para atingir o progresso.

Com base em Heidegger, no Caderno do Professor (p. 22), a pergunta o

que é? visa levar o aluno ao encontro com o misterioso Ser presente em todos

os entes e desenvolver estas competências e habilidades:

compreender a importância da bioética na condução das pesquisas cientificas, compreender a estreita relação entre medicina e política, exercitar o raciocínio argumentativo sobre problema em esfera pública e democrática, além de apresentar reflexões sobre a condição humana. (p. 18). Apresentar um conceito altamente crítico em relação à sociedade tecnológica, apresentar um conceito altamente abstrato e interessante do ponto de vista existencial. (p. 26).

Na Situação de Aprendizagem III, propõe-se discutir A condição humana

e a banalidade do mal (quatro aulas), a partir de Arendt, com os procedimentos

de sensibilização, diálogo e leitura.

82

Os debates e reflexão enfocam o labor, os prazeres biológicos, bulimia,

anorexia, anabolizantes, a sobrevivência, o mal, o tráfico de drogas, a falta de

segurança e de hospitais, professores mal pagos, empresas que adulteram

remédios e alimentos, cadeias superlotadas, o risco de morrer e outros

problemas, visando desenvolver as competências:

refletir sobre o mal e reconhecer a importância da teoria política em

Hanna Arendt, obter uma visão geral discutidos sobre a obra de Arendt e compreender a vitória do labor em Arendt ( PCE-SP 2008. P. 30).

A Educação no Estado de São Paulo (2008), através do seu documento

curricular insere a disciplina Filosofia, que acolhe a Bioética como eixo

temático, no 2º Ano do Ensino Médio, estabelecendo uma aula por semana. O

documento aponta a necessidade de preparar os seus alunos para enfrentar e

conviver com os desafios da sociedade do conhecimento. Encontramos a

definição de escola, como espaço da cultura e de articulação de competências

e habilidades. Tal concepção pedagógica se fundamenta no direito de o aluno

apreender. Desloca o foco para a aprendizagem, coloca a educação a serviço

do desenvolvimento, que deve coincidir com a construção da identidade, da

autonomia e da liberdade.

Para alcançar este objetivo, propõe procedimentos pedagógicos de

aproximação cultural, diálogo e resoluções de problemas e o agir de forma

solidária e cooperativa. As políticas educacionais propostas pelo governo do

estado de São Paulo reconhecem a “Educação Básica para a vida”, a

quantidade e a qualidade do conhecimento devem ser determinadas por sua

relevância para a vida.

O Caderno IV apresenta questões e temas bioéticos, sem aprofundar e

detalhar os conceitos necessários para a discussão dos problemas. O Caderno

do Professor é insuficiente, obrigando a recorrer a outros meios para

complementar e esclarecer dúvidas.

Em 2005, a Secretaria da Educação desenvolveu o projeto Pós-

Graduação “Filosofia e Vida”, com aulas presenciais, videoconferências e

ambiente virtual Teleduc, para os professores de Filosofia da rede estadual de

83

ensino. Em que pese a boa intenção, o projeto configurou-se como um

instrumental inócuo, pois é impossível ensinar Filosofia sem um texto filosófico,

tempo e diálogo para passar da consciência ingênua, do senso comum para a

consciência conceitual, que pode “desenvolver a consciência crítica”,

importante para a construção da autonomia e da identidade.

Não basta promover um debate sobre questões da Bioética. Cabe à

filosofia exercitar a reflexão crítica sobre a vida, o ser e sua dignidade. Assim,

é necessário despertar e desenvolver a consciência crítica dos professores de

Filosofia, para que contribuam para o aperfeiçoamento da PCE-SP pela análise

dos objetivos, temas, vocabulário, carga horária, metodologia, validade,

adequação e condições de trabalho em sua disciplina.

As discussões devem ocorrer com distanciamento crítico para a

construção dos valores, competências e habilidades em cada situação de

aprendizagem.

A reflexão, a consciência coletiva, a integração, solidariedade,

cooperação e colaboração entre as pessoas e o diálogo entre as disciplinas

são essenciais para organizar e decifrar o todo e o holo. Como afirma

SANTOS (2000) criar uma nova globalização, já que o processo é irreversível,

só não será perverso “com a consciência humana de ações humanizadas”.

Com a atitude, o jovem vai entender o seu papel na história e saber que ele

pode ser um agente transformador na sociedade, para que, de maneira

autônoma, possa tomar parte nesta construção para identificar, pensar e julgar.

FINNIS (2007, P. 134) aponta:

a existência de alguns bens fundamentais em si mesmos: o

conhecimento, a vida, a vida estética, a vida lúdica, a racionalidade prática, a religiosidade, a amizade, bens em si mesmos, fins e não meios, que não supõem nenhuma organização hierárquica entre si.

No PCE-SP, os princípios não são explicitados para orientar o

planejamento, ocorre a compartimentalização das disciplinas, os cadernos

levam à ação isolada, a grade curricular privilegia saberes, colocando as

disciplinas reflexivas em desvantagem, com apenas uma aula semanal.

84

Assim, parece que a PCE- SP 2008 é insuficiente para a compreensão e

debate dos desafios éticos, da condição humana e escolhas conscientes do

cidadão do século XXI, o que mostra, segundo Adolfo Lima (1915 Apud

NÓVOA 1992, p. 360), que “o poder público é , por definição, incompetente

para exercer a função educadora e tratar de assuntos doutra técnica que não

seja a política”.

É preciso salvaguardar a autonomia da prática docente, como afirma

Tamagnini (1930, apud NÓVOA, 1992 p.94):

O Estado organiza o plano geral dos estudos, formula os objetivos a

realiza, mas aos professores e só a eles compete a organização dos programas dos cursos, isto é, a seleção das matérias, a concretização dos exemplos e a escolha dos métodos e processos adequados à realização dos fins que se têm em vista.

Para Rogers (1976, p.192), “a ciência apenas existe nas pessoas”. O

projeto científico tem o seu impulso criador, o seu processo e fim provisório

numa pessoa ou em várias pessoas.

É imprescindível que cada um de nós se construa e se reconheça

sujeito. Construir-se sujeito nada mais é do que se construir em todas as suas

dimensões. Reconhecer-se sujeito é ser autônomo, livre e responsável, em

todas as suas ações. Sobre a dimensão do sujeito é preciso considerar uma

interioridade e uma exterioridade. Interioridade: os aspectos psíquicos relativos

ao conhecer/saber, ao fazer, ao sentir e ao querer. Exterioridade: o que diz

respeito ao corpo, à família, à sociedade e ao espiritual (o se voltar para um ser

superior, não necessariamente religioso). Daí as dimensões do sujeito: a

psicocorporal, a psicofamiliar, a psicosocial e a psicoespiritual. Há algumas

funções do dinamismo psicológico, consideradas importantíssimas, na sala de

aula. São elas a introspecção, a extrospecção, a atenção, a memória, o

pensamento, a linguagem, a imaginação, a percepção, a intuição, dentre

outras. Observa-se que os aspectos psíquicos interpenetram-se entre si, como

se interpenetram os aspectos constituintes da exterioridade. E ambas, a

interioridade e a exterioridade, interpenetram-se entre si. É então por esse viés,

que se considera a formação de professores em nova perspectiva, isto é, numa

real e radical perspectiva interdisciplinar na condução de suas pesquisas e na

85

maneira de encarar, principalmente, seus alunos como sujeitos, isto é,

colocando-os frente à realidade, teórica e praticamente, elevando-os, cada um,

a se construir e a se reconhecer sujeitos (PEREIRA, 2007 p.193).

3.2 O sujeito (bio) ético: a construção de valores na escola e na vida.

O ensino da Bioética deve contribuir para o desenvolvimento da

cidadania, que é uma preocupação da educação mundial. Para que os

estudantes possam aprender e assumir os princípios bioéticos, são

necessários pelos menos dois fatores: 1) que os princípios se expressem em

situações reais, que possam ter experiências e possam conviver e colocá-las

em prática; 2) desenvolver sua capacidade de autonomia moral, isto é,

capacidade de analisar e eleger valores para si, consciente e livremente.

Os sujeitos da aprendizagem, estudantes e docentes, interpretam e

conferem sentido aos conteúdos com que convivem na escola, a partir de seus

valores previamente construídos e de seus sentimentos e emoções. Tal

premissa está de acordo com a visão bioética de que os valores e princípios

éticos são construídos, a partir do diálogo, na interação estabelecida entre

pessoas imbuídas de razão e emoções e um mundo constituído de pessoas,

objetos e relações multiformes, díspares e conflitantes.

A promoção de uma educação com valores e princípios bioéticos deve

partir de temáticas significativas do ponto de vista ético, propiciando condições

para que os alunos desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem consciência

de seus próprios sentimentos e emoções (e dos sentimentos das demais

pessoas) e desenvolvam a capacidade autônoma de tomada de decisão em

situações conflitantes do ponto de vista ético/moral.

A melhor forma de ensinar é estimular reflexões e vivências. Mais do que

os discursos, são a prática, o exemplo, a convivência e a reflexão, em

situações reais, que farão com que os alunos desenvolvam atitudes coerentes

em relação aos valores que queremos ensinar.

O convívio escolar é um elemento-chave na formação ética dos

estudantes, o instrumento mais poderoso que a escola tem para cumprir sua

tarefa educativa. Daí a necessidade de os adultos reverem o ambiente escolar

86

e o convívio social que ali se expressa, a partir das próprias relações que

estabelecem entre si e com os estudantes, buscando a construção de

ambientes mais democráticos.

É, também necessário considerar o acolhimento dos estudantes – de

suas diferenças, potencialidades e dificuldades – e o papel reservado a eles na

instituição. O cuidado e a atenção com suas questões e problemáticas de vida

precisam concretizar o respeito mútuo, o diálogo, a justiça, a beneficência e a

não maleficência que queremos ensinar.

Os eixos temáticos e conteúdos da bioética devem perpassar as ações

cotidianas nas salas de aula e nos demais espaços e tempos dos quadrantes

escolares.

No livro, “Educação: um tesouro a descobrir”, UNESCO (1999)

destacam-se algumas idéias que ajudam a compreender o papel da bioética na

educação. Pela leitura, vê-se a relevância do papel da Bioética na construção

da democracia e da cidadania, à luz do que está sendo discutido até aqui, a

educação surge como um triunfo indispensável da humanidade, na construção

dos ideais de paz, liberdade e justiça social. Com a educação pode-se fazer

frente à exclusão social, às incompreensões, às opressões e às guerras:

• Escolas em que são evocados princípios como respeito mútuo, solidariedade, justiça e diálogo e em que os alunos e as alunas se apropriam de canais de participação na vida escolar e são incentivados pelos educadores a fazê-lo são aquelas em que se cria um espaço democrático, do qual emergem as características de uma cidadania plena. • Os educadores devem sempre estar atentos à coerência entre o discurso e a ação: respeitar para ser respeitado, assumir e cumprir suas responsabilidades, como forma de ensinar aos estudantes a importância da responsabilidade. • A participação dos estudantes na escola e na comunidade ajuda a formar seu caráter como cidadão e como cidadã. Em particular, a participação dos diferentes atores da comunidade educativa nas tomadas de decisão é uma prática cívica – uma atuação no espaço público democrático – que possibilita um conhecimento prático dos processos que caracterizam a vida cívica e política na comunidade. A participação nas decisões vai de simples contribuições à manutenção e à organização do espaço, por exemplo, possível desde a mais tenra idade, até a participação em decisões gerenciais e acadêmicas, por meio dos Conselhos de Escola e das Assembléias Escolares. • A disposição para a mudança e para a transformação da escola (incluindo formação de docentes, trabalho com os estudantes, participação dos demais funcionários e articulação com a comunidade) potencializa a capacidade de atuação e fortalece todo o

87

trabalho educativo escolar. A escola tem mais força para atingir suas metas educativas com os estudantes, o que reforça a própria instituição e produz um efeito cumulativo, proporcionando transformações cada vez mais profundas e duradouras.

A Bioética, como eixo temático da disciplina de Filosofia, deve trabalhar

por meio de situações e resolução de conflitos, visando preparar os alunos

para a vida, nas dimensões cognitivas e afetivas, para conhecerem-se a si

mesmos e aos colegas, as causas e conseqüências das ações e escolhas da

vida.

Como se vê, a educação pulsa no coração da cada um dos princípios,

que se constituem o Paradigma do Desenvolvimento Humano. À medida que

este compromisso avança e se fortalece, a educação deixará de ser vista

apenas como uma política setorial e ser assumida pelas nações como força

estratégica da qual dependerá, cada dia mais, o desenvolvimento econômico,

social e político dos povos do século XXI.

Nesse contexto, a PCE-SP – 2008 propõe quatro eixos temáticos: ética,

convivência democrática, direitos humanos e inclusão social.

A cidadania como conceito expressa um conjunto de direitos e de

deveres dos cidadãos, como votar e ser votado, exercer funções públicas e

participar da elaboração das leis e sobretudo lutar por condições que garantam

uma vida digna às pessoas.

Não se pode reduzir a cidadania às relações sociais e políticas, dada a

multidimensionalidade e complexidade do mundo e do ser que o habita, o que

envolve a cultura, a ideologia, a ciência e muitos outros aspectos.

A educação deve visar ao desenvolvimento de competências para lidar

com a diversidade e conflitos, sentimentos e emoções nas relações do sujeito

consigo mesmo e com o mundo.

À escola cabe ensinar não apenas matérias ou disciplinas, como Língua

Pátria, Matemática, História, Física, Geografia, Artes e outras, mas também

proporcionar formação ética e moral, para construir o cidadão participante e

crítico, o que exige que seja democrática, inclusiva e de qualidade, para todos,

não só para uns poucos eleitos.

88

Valores não se ensinam nem são inatos, mas construídos pelo sujeito,

nas interações, situações e ações do dia a dia, tendo o professor como

mediador.

Na Filosofia, o campo que se ocupa da reflexão sobre a moralidade

recebe a denominação de ética. Os dois termos, ética e moral, têm significados

próximos, indicando o conjunto de princípios ou padrões de conduta que

regulam as relações dos seres humanos com o mundo em que vivem.

Entre esses princípios, Beuchamp e Childress (2002) colocam a

beneficência, a não-maleficência, a justiça e a autonomia, a partir dos quais

pode-se iniciar a reflexão e análise crítica da realidade e das normas sócio

morais, visando propor e implementar formas mais justas e adequadas de

convivência.

Para Cortina (2003), a educação deve levar em conta a dimensão

comunitária, os projetos e responsabilidades pessoais e a universalização, a

fim de contribuir na construção do melhor mundo possível. Puig (1998) entende que uma escola democrática define-se pela

participação do aluno e do professor no trabalho, na convivência, nas

atividades de integração. A participação deve ser baseada no diálogo Sègre, e

Cohen (1994), com acordos e projetos coletivos, esforçando-se para entender

e intervir.

Pelo diálogo, um dos pilares da bioética, e participação nas atividades

curriculares e não-curriculares, estudantes, docentes e gestores tornam-se

atores da construção da cidadania participativa.

De acordo com Tugenback (1999, p.362), Dallari (2004, p.14), ao que

considera como razoável quanto ao respeito aos diretos fundamentais dos

seres humanos que comportamento moral e ético consiste em reconhecer que

todos, independentemente de suas peculiaridades e papéis específicos na

sociedade, têm direitos simplesmente porque são seres humanos. Tais direitos,

segundo Benevides (2004), são universais, naturais e históricos.

Em 1948, a Organização das Nações Unidas – ONU – promulgou a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, que envolve as liberdades

individuais, os direitos sociais e os direitos coletivos, tornando-se uma

89

referência para a análise e elaboração de programas de defesa e

conscientização de valores bioéticos.

De acordo com Barth, (1990, p. 514-515), as diferenças representam

grandes oportunidades de aprendizado. Para Stainback (1999), a inclusão de

pessoas diferentes facilita o desenvolvimento do respeito e de apoio mútuo.

Para a construção de sociedades e escolas inclusivas, abertas às

diferenças, à igualdade e à justiça, é preciso garantir melhores condições de

vida e oportunidades para todos. Cabe aos educadores trabalhar a convivência

democrática, os direitos humanos e a inclusão social a partir das diferenças.

3.3 Os aspectos valorativos da formação do sujeito (bio) ético. 3.3.1 Os dois lados da realidade: a relacional e a comportamental.

Em um contexto de grandes e profundas transformações, a perspectiva

ética resgata valores que podem parecer obsoletos, mas que adquirem

importância e significado: responsabilidade para com o presente e para com o

futuro; aprender a conviver com o diferente; não sonhar com soluções fáceis

para problemas difíceis; não ter medo do novo, mas não esquecer os

ensinamentos do passado; estabelecer limites; democratizar os benefícios e

outros. (MOSER, 2004 p. 347).

Na mesma linha, a PCE – SP propõe a equidade, justiça e autonomia,

como eixos temáticos na disciplina Filosofia: o cultivo da identidade na

alteridade; a redescoberta do senso do mistério e da capacidade de admirar; o

desenvolvimento do senso crítico: avaliando perdas e ganhos e o bem e o mal, buscando, uma forma de se alcançar a justiça social e do aprendizado da

participação cidadã nos destinos da sociedade.

90

3.3.2 A equidade, a justiça e a autonomia.

Para Demo (2002, p. 85), a aquisição da autonomia passa pelos

processos de aprender a aprender, questionar de modo crítico e criativo. O

treinamento pode oferecer ao aprendiz ferramentas para aprender mais

eficazmente e tornar-se autônomo e independente. Para o autor,

“independência vai além de uma visão simplista de liberdade de estudar

quando e onde o sujeito desejar, desconsiderando a interação”

A autonomia não deve ser confundida com o autodidatismo, onde a

pessoa seleciona os conteúdos, sem uma proposta pedagógica. Já na

modalidade à distância, a pessoa decide sobre o espaço e tempo para o

estudo, porém, com uma proposta, conteúdos, atividades e orientações.

A escola é o espaço ideal para produção de conhecimento e cultura,

privilegiando os valores humanos, fornecendo contextos e saberes para tornar

o aluno autônomo e capaz de obter e interpretar a informação em outras fontes

e lugares.

A autonomia representa perda para quem está no poder, como detentor

do saber e das decisões. Na relação pedagógica, significa reconhecer no outro

sua capacidade de ser, participar, decidir, oferecer e partilhar; assumir sua

própria formação.

Contribui para alcançar a autonomia o suporte técnico, a competência

técnica do aprendiz e do professor, responsabilizar-se pelo próprio

desenvolvimento, metodologias e estratégias de interação apropriadas,

atenção ou sensibilidade para detectar os obstáculos psicológicos, sociais e

técnicos do processo ensino-aprendizagem.

Não existem receitas, fórmulas prontas que garantam o sucesso. Deve-

se levar em consideração que professor e aluno trazem consigo experiências

educacionais que não proporcionaram a autonomia. Os alunos esperam ser

ensinados e os professores esperam ensinar. É no próprio processo de

participação que se aprende a participar.

A autonomia e a autoaprendizagem supõem a capacidade de

91

autoeducar-se, sem recorrer, a todo instante, a um superior. Se o professor

encara a si próprio como “quem ensina” no sentido instrucionista, dificilmente,

conseguirá ajudar o aluno a emancipar-se. Como Libâneo (1995, p. 36) alerta:

“a tarefa de ensinar a pensar (aprender a aprender) requer dos professores o

conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias

competências de pensar”. 3.3.3 O cultivo da identidade na alteridade.

Os acontecimentos particulares tendem a repercutir no contexto global,

o que aponta que tudo deve ser pensado em termos macro. Daí a importância

de orientar as pessoas, para que não se percam na massa nem cedam à

ditadura do pensamento único. Num mundo que tende à massificação, cultivar

a identidade pessoal é um grande desafio.

As experiências de laboratório manipulam genes, criando seres

transgênicos, modificados, visando a maior beleza, produtividade, resistência e

produtividade. A clonagem já é um fato no mundo científico, restrita, ainda, ao

mundo animal e vegetal. No mundo dos homens, já se propõe a clonagem

terapêutica, para suprir a sempre maior demanda de órgãos para transplantes,

o que coloca grandes interrogações para todos que vêem o ser humano como

algo único, irrepetível, sagrado, isto é, não manipulável. Toda clonagem remete

à idéia de intervenção radical, “cópia”, padronização e produção em série. Já

sofremos a padronização operada pelos tratores das culturas dominantes, que

roubam a originalidade das culturas consideradas mais fracas. Surge, agora, a

tentativa de uniformização do pensamento, sentimentos e dos corpos.

Criado em laboratório, o “homem máquina” aponta que caminhamos a

passos largos para a robotização de todos os seres, conjugada com a

padronização e o que ela significa em termos de mercado (OLIVEIRA, 2003).

No mercado da biotecnologia, quanto mais se padroniza, mais se vende.

O alerta é que as mesmas empresas que manipulam a genética animal

poderão vir a explorar corpo humano. O tráfico de órgãos é uma pequena

92

amostra daquilo que poderá acontecer. Claro que o que se tem a temer não é a

tecnologia, nem a biotecnologia, mas a ideologia perversa que as comanda.

No quadro das espécies, os seres, apesar de semelhantes, mantêm uma

irredutível originalidade. Assim, para enfrentar os novos desafios, é preciso

cultivar a alteridade e atentar para a originalidade das pessoas, aí inclusas as

culturas, as religiões e a biodiversidade. Nada justifica a anulação daquilo que

é próprio de cada um. A busca da comunhão só será verdadeira na medida em

que forem mantidas as diferenças para que todos sejam o que são e o que

querem ser.

Nesse sentido, o ethos da ética propõe engajar-se na luta pela

emancipação e autonomia, ouvir o outro, não repetir irracionalmente os

costumes, mas buscar caminhos novos. Como afirma Dussel (2002) a ética da

alteridade entende a libertação como condição para a transformação.

3.3.4 O cultivo do senso do mistério e da capacidade de admirar.

Para Heidegger (2000), no instante em que os seres humanos passam a

ter maior conhecimento da realidade e capacidade para modificá-la, começa o

processo de dessacralização e secularização. Entretanto, até o advento da

biotecnologia de ponta, sobrava um reduto cercado de mistérios. O Projeto

Genoma Humano e seus desdobramentos rasgaram essa última cortina do

santuário da vida, esquadrinhando tecidos e órgãos por sofisticados

aparelhos.

O deslumbramento diante do belo e inefável e o prazer da surpresa

podem desaparecer. Os pais, hoje, podem escolher o sexo, traços e

características para seus filhos. A biotecnologia mergulha tão profundamente

no mundo das emoções, que já se fala em inteligência emocional e inteligência

artificial (LÉVY, 1994; GOLEMAN,1995; GUITTA, 1992; LEDOUX, 1998).

É claro que nem a inteligência nem as emoções remetem simplesmente

aos genes. Contudo, quando as máquinas, mais do que instrumentos, passam

a ser modelos de ação, os riscos se tornam evidentes.

93

O homem está perdendo a capacidade de admirar e prostrar-se diante

do mistério. Segundo Assman (1998), o desafio não consiste em re-encantar a

educação, mas redescobrir as maravilhas que se escondem por trás das

manifestações da vida. Francis Collins, diretor do projeto Genoma Humano,

afirma: “É para mim motivo de humildade e admiração perceber que captamos

o primeiro vislumbre de nosso livro de instruções, antes só conhecido por

Deus”. E o presidente Clinton arrematava: “Hoje estamos aprendendo a

linguagem em que Deus criou a vida. Estamos cada vez mais admirados diante

da complexidade, beleza e maravilha do dom mais divino e sagrado de Deus”.

(DAVIES, 2001, p. 361).

3.3.5 A avaliação das perdas e dos ganhos, do bem e do mal.

As experiências no campo da biotecnologia, noticiadas com entusiasmo,

levam a um extremado otimismo ou pessimismo. É preciso ser realista, saber

avaliar com isenção, por todos os ângulos, levando em consideração os

mecanismos sociais e seu impacto sobre a consciência e a personalidade. Daí

a necessidade da dúvida metódica, do questionamento e análise.

A partir dos anos 1960, no contexto da ditadura militar, surgem

conceitos e chaves de leitura para se fazer um levantamento adequado da

realidade, uma avaliação à luz de valores fundamentais. Movimentos de

conscientização levam as massas, até há pouco, alienadas, a entender o

contexto social e político e assumir atitudes para reverter a situação

(AGOSTINI, 1990).

Tais movimentos, porque incomodavam, acabaram sendo abafados.

Hoje, parece mais necessário do que nunca, despertar a consciência

adormecida em setores vitais, como educação, sociedade e política,

dispensando maior vigilância no campo das manipulações e experiências da

biotecnologia. É preciso impedir que um pequeno grupo decida pelo presente e

futuro da humanidade no silêncio dos laboratórios. Alterar os mecanismos vitais

significa anular processos evolutivos que demoraram milhões de anos para

chegar aonde estão. O senso crítico saberá acolher aquilo que poderá

94

beneficiar a todos e detectar as investidas do biopoder, para evitar a criação

de bioentes (MOSER, 2006). Quem detém o biopoder poderá dominar a

agroindústria, a farmacologia, a economia e outros setores vitais, uma ditadura

mais danosa que a militar.

95

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No percurso de elaboração deste trabalho, foi possível cumprir os

objetivos propostos. Demonstrou-se que a introdução da Bioética, em 2008,

como eixo temático, dentro do campo da ética, vinculada à disciplina Filosofia,

na Proposta Curricular do Estado de São Paulo para o Ensino Médio, foi

benéfica. Os benefícios que adviriam da introdução da Bioética, no currículo do

Ensino Médio, estão circunscritos ao âmbito das possibilidades do

cumprimento das finalidades da educação e dos objetivos para o Ensino

Básico e o Ensino Médio, estabelecidos, na Constituição de 1988 e na LDB

9394/96.

Na Constituição de 1988, preconiza-se que a educação deve visar ao

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e

sua qualificação para o trabalho.

A LDB 9394/96, em diferentes Títulos e Capítulos, reforça estas

finalidades da educação. Tanto na estipulação dos objetivos para a Educação

Básica, em geral, como, especificamente, para o Ensino Médio, a ênfase recai

sobre o exercício da cidadania, a preparação para o trabalho e o

aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética

e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.

Assim, estabeleceu-se como uma das metas, neste estudo, o registro

das razões pelas quais a presença da Bioética, nas Propostas Curriculares

para o Ensino Médio, no Estado de São Paulo, contribui para a reflexão sobre

a formação do sujeito (bio) ético. Sem dúvida, a formação do sujeito (bio) ético

é de suma importância, porque há a necessidade de critérios éticos, em

relação à vida humana, para que ela não seja convertida em mercadoria, nas

mãos de cientistas ou grupos econômicos.

Pesquisas minuciosas sobre as questões contemporâneas; sobre as

relações entre a Bioética e a Educação; sobre os processos de formação dos

professores e sobre a Proposta Curricular do Ensino Médio, no Estado de São

Paulo, foram realizadas. Estas pesquisas buscaram, sempre, a constatação da

96

relevância da inserção da Bioética, em 2008, como eixo temático, dentro do

campo da ética, na disciplina Filosofia, na Proposta Curricular do Estado de

São Paulo para o Ensino Médio, no sentido de formar o ser humano integral.

Refletiu-se, minuciosamente, sobre a hipótese proposta. Concluiu-se

que, com a presença da Bioética, na Proposta Curricular do Estado de São

Paulo para o Ensino Médio, é possível que se aprimore a reflexão, no sentido

de buscar a educação, voltada para atitudes responsáveis, na esteira da

revolução social e da revolução biotecnológica.

Existem empecilhos burocráticos e conjunturais para que haja

transformações significativas, no ensino público do Estado de São Paulo.

Entre esses empecilhos, alegou-se, neste estudo, que, em 2008, a

inserção da disciplina Filosofia, que acolhe a Bioética como eixo temático, no

2º Ano do Ensino Médio, estabeleceu, para esta disciplina, apenas uma aula

por semana. O documento apontou a necessidade da preparação dos alunos

para enfrentar e conviver com os desafios da sociedade do conhecimento,

mesmo contando com um tempo tão exíguo.

Define-se a escola como sendo o espaço da cultura e da articulação de

competências e habilidades. Tal concepção pedagógica se fundamenta no

direito de o aluno aprender. Há o deslocamento da aprendizagem: a educação

é colocada a serviço do desenvolvimento, que deve coincidir com a construção

da identidade, da autonomia e da liberdade.

No documento, propõe-se, para alcançar este objetivo, procedimentos

pedagógicos de aproximação cultural, diálogo e resoluções de problemas e a

ação, de forma solidária e cooperativa. As políticas educacionais propostas

pelo governo do Estado de São Paulo reconhecem a “Educação Básica para a

vida”, a quantidade e a qualidade do conhecimento devem ser determinadas

por sua relevância para a vida.

O professor pôde recorrer a cadernos, como subsídios para as aulas de

Bioética. Em um desses cadernos, apresentaram-se questões e temas

bioéticos, sem aprofundar e detalhar os conceitos necessários para a

discussão dos problemas. O Caderno do Professor é insuficiente; assim, é

97

necessário que se recorra a outros meios para complementar e esclarecer

dúvidas.

Além disso, houve instrumentos ineficientes, no processo de formação

de professores. Em 2005, a Secretaria da Educação desenvolveu o projeto de

Pós-Graduação “Filosofia e Vida”, com aulas presenciais, videoconferências e

ambiente virtual Teleduc, para os professores de Filosofia da rede estadual de

ensino. Apesar da tentativa bem intencionada, o projeto configurou-se como

um instrumental quase inócuo, pois é impossível ensinar Filosofia sem um texto

filosófico, sem tempo e sem diálogos suficientes para proporcionar o trânsito da

consciência ingênua, do senso comum, para a consciência conceitual, que

pode desenvolver a consciência crítica, importante para a construção da

autonomia e da identidade.

Apenas a promoção de um debate sobre questões da Bioética é

insuficiente. Cabe à filosofia exercitar a reflexão crítica sobre a vida, o ser e sua

dignidade. Assim, é necessário despertar e desenvolver a consciência crítica

dos professores de Filosofia, para que contribuam para o aperfeiçoamento da

PCE-SP, pela análise dos objetivos, temas, linguagem, carga horária,

metodologia, validade, adequação e condições de trabalho em sua disciplina.

As discussões deveriam ocorrer com distanciamento crítico para a

construção dos valores, competências e habilidades em cada situação de

aprendizagem.

Entre as dificuldades encontradas pelos professores de Filosofia da rede

pública estadual, nota-se que, na PCE-SP, os princípios não são explicitados

para orientar o planejamento. Ainda ocorre a compartimentalização das

disciplinas, os cadernos levam à ação isolada, a grade curricular privilegia

saberes científicos, colocando as disciplinas reflexivas, em desvantagem.

Isto faz com que as sugestões, contidas, na PCE- SP, 2008, pareçam

insuficientes para a compreensão e para o debate dos desafios éticos, da

condição humana e escolhas conscientes do cidadão do século XXI.

Apesar de tais empecilhos, há resultados satisfatórios

provenientes da inserção da Bioética. Eles se vinculam à possibilidade da

percepção da necessidade de que haja uma reflexão profunda, sobre o seu

98

campo de atuação. Esta reflexão conduz ao aprimoramento das relações e dos

valores humanos. Ainda, a presença da Bioética, nas propostas curriculares, é

compatível com a pedagogia libertadora e com a capacidade do próprio sujeito

para se humanizar.

No decorrer deste estudo, foi possível perceber que as reflexões sobre o

papel da Bioética, no Ensino Médio, contribuem para que o aluno esteja

vigilante, contra as práticas de desumanização. Tais reflexões contribuem,

ainda, para a necessidade de uma leitura crítica das verdadeiras causas da

degradação humana.

Percebeu-se também que a inserção da Bioética, nas propostas

curriculares, não se volta para o ensino da virtude, na sociedade do

conhecimento, mas para o desenvolvimento das competências para ser

virtuoso, para viver e conviver com solidariedade.

Foi, ainda, possível, no percurso desta reflexão, concluir que a inserção

da Bioética opõe-se à educação que privilegia o ensino tecnicista e que

desconsidera o valor da formação humana. Com esta nova proposta é possível

que se direcione a educação para a sensibilidade e para o pensamento

reflexivo, crítico e criativo.

Este trabalho é constituído por três capítulos: A educação em Bioética:

as questões e os desafios contemporâneos; A Bioética: um desafio para o

sistema de Ensino Médio; A proposta Curricular do Ensino Médio: os

fundamentos do sujeito (bio) ético.

No primeiro capítulo, reflete-se sobre o papel da Bioética. No mundo

contemporâneo, considerando-se que, hoje, ela um tema presente em todas as

áreas do conhecimento. No século XXI, mais que em outras épocas, é preciso

aprender a conviver e a aprender a Ser.

Neste capítulo, estabeleceu-se uma reflexão sobre as marcas da

contemporaneidade, com indivíduos que se submetem ao avanço científico e

tecnológico e que, em função dessa nova conjuntura, adquirem hábitos que

seriam impensados em outras épocas.

A reflexão sobre a importância da Bioética propiciou discussões sobre

valores, incentivou o diálogo a respeito de questões sobre a vida, a dor, a

99

morte, a desigualdade social e outros temas advindos dos cenários compostos

pela contemporaneidade. Estas questões são discutidas e divulgadas. Conclui-

se que, atualmente, elas são estendidas, aos mais diversos contextos sociais,

e estão entretecidas na vida cotidiana.

No segundo capítulo, estabeleceram-se os vínculos entre a Bioética e a

educação, mais especificamente, a educação do Ensino Médio.

Pelo prisma da Bioética, os temas relacionados às consequências do

avanço científico e do avanço tecnológico, necessitam ser considerados na

educação. A discussão sobre estes temas são fundamentais, nos

procedimentos de formação de professores e de alunos, pela relevância que

possuem.

A relevância desse estudo reforça-se dentro de um contexto, em meio a

um tempo de grande e acelerado avanço tecnológico. Não significa parar o

avanço científico, a questão central é quando a vida se torna mercadoria.

Nesse contexto histórico, percebe-se a necessidade de compreender a

qualidade da formação do aluno e do docente, visando à adequação desta

educação, no desenvolvimento e na sustentação de uma relação

humanizadora.

No terceiro capítulo, a partir de um estudo documental procurou-se

discutir a proposta curricular implementada, na rede estadual do ensino público

paulista. As fundamentações desta reflexão recaem sobre o conteúdo dos

princípios bioéticos, na disciplina de Filosofia, a partir do referencial teórico com

base em Dussel, Freire e Heidegger.

No percurso de elaboração deste trabalho, adotou-se uma abordagem

hermenêutica, que se enquadra na perspectiva da pesquisa qualitativa, pois

não está voltado para a busca e análise de caráter positivista, como a

verificação de regularidade e previsibilidade, por processos técnicos de

mensuração. Buscou-se interpretar os significados explícitos ou implícitos de

um documento, a partir do qual não se pretende a busca de alguma verdade ou

de informações específicas do texto, mas a construção de sentidos, a partir de

inferências.

100

No processo de realização do trabalho, contou-se com um apoio teórico

bastante diversificado. Entre os teóricos estudados, estão:

Devechi e Trevisan, que sublinham as diferenças epistemológicas entre

as abordagens dialética, hermenêutica e positivista, enfatizando que todas

essas investigações se utilizam de procedimentos, tais como: questionário,

entrevista, observação participante, narração, História de Vida, estudo de caso,

etnografia, pesquisa participante e pesquisa ação.

Amaral, onde é possível que se compreenda que Schleiermacher,

Dilthey, Heidegger e Gadamer contribuíram para que a hermenêutica se

tornasse uma corrente filosófica e não, apenas, um método para o correto

acesso aos textos, com o modo adequado de interpretar esses textos.

Gadamer afirma que a compreensão não significa, necessariamente,

estar de acordo com o que ou quem se compreende. Significa, porém, refletir

sobre o que o outro pensa. Aqui, o “outro” refere-se aos autores e teóricos da

educação e do campo da Bioética. Assim, neste trabalho, o estudo desdobrou-

se em explicitações de conceitos, interpretações e apreensões, constituindo-se

o movimento dialógico da construção de sentidos.

Severino, que conduz o leitor à percepção de que o pensar

hermenêutico não desconsidera as tendenciosidades ideológicas do texto, a

crença de que não existe conhecimento puro e que a lei conceitua, mas não

obriga, não assegura seu próprio cumprimento.

Gamboa que sugere que o processo de leitura exige o comando do

intérprete que assume a subjetividade fundante de sentido. A hermenêutica, ou

seja, a interpretação dos fenômenos, recuperando os significados, o sentido ou

os vários sentidos dos textos polissêmicos, conta com a participação do sujeito,

receptor da mensagem.

A inserção da Bioética é um apoio, para a efetivação da construção do

sujeito, no âmbito da educação. O ser humano deve reconhecer-se como

sujeito. Isto envolve a autonomia, a liberdade e a responsabilidade, na prática

das ações cotidianas.

Portanto, é por esse viés, que se considera a formação de professores

em nova perspectiva, isto é, numa real e radical perspectiva interdisciplinar, na

101

condução de suas pesquisas e na maneira de encarar, principalmente, seus

alunos como sujeitos, isto é, colocando-os frente à realidade, teórica e

praticamente, elevando-os, cada um, a se construir e a se reconhecer sujeitos.

A promoção de uma educação com valores e princípios bioéticos deve

partir de temáticas significativas do ponto de vista ético. Isto propicia condições

para que os alunos desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem consciência

de seus próprios sentimentos e emoções, além da percepção dos sentimentos

e emoções do outro. Assim, alunos e professores desenvolvem a capacidade

autônoma de tomada de decisão, em situações conflitantes, do ponto de vista

ético/moral.

Através da reflexão sobre a Bioética, há o estímulo a reflexões e

vivências. Mais do que os discursos, a prática, o exemplo, a convivência e a

reflexão, em situações reais, conduzirão os participantes do processo

educativo desenvolvimento de atitudes coerentes em relação aos valores,

sobre os quais se reflete. Os valores não podem ser ensinados. Também não

são inatos. Eles podem ser construídos pelo sujeito, nas interações, situações

e ações do dia a dia, tendo o professor como mediador.

102

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