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ÂNGELO TADEU VIEIRA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZADO A PARTIR DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID SÃO PAULO

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ÂNGELO TADEU VIEIRA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE

APRENDIZADO A PARTIR DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID

SÃO PAULO

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2011

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ÂNGELO TADEU VIEIRA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UM ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZADO A PARTIR DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Educação, na Universidade Cidade de São Paulo, sob a orientação da professora Dra. Ecleide Cunico Furlanetto

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2011

 

 

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_____________________________________Profa. Dra. Ecleide C. Furnaletto - UNICID

____________________________________ Prof. Dr. Jair Militão da Silva - UNICID

_____________________________________Prof. Dr. Fábio Cascino - SENAC

COMISSÃO JULGADORA

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Dedicatória Dedico esta dissertação a minha esposa Maria Assunção Gonçalves Reis pela

dedicação, firmeza, admirável competência e discernimento que me deram

confiança para continuar. A minha filha Fernanda Gonçalves Vieira pela ternura

que trouxe conforto nos momentos difíceis e aos meus pais Angelo Vicente

Vieira e Geraldina Soares da Silva Vieira, por alimentarem meus sonhos

mostrado o caminho da honestidade.

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Agradecimentos

Agradeço a Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto pela orientação, dedicação e

paciência durante a pesquisa, ao Prof. Dr. Jair Militão da Silva por inicializar-me

na prática da pesquisa em educação, valorizando o meu trabalho e ao Prof.

Dr.Fabio Cascino por acreditar no meu trabalho e, com seu notável

conhecimento, dar a ele a credibilidade de pesquisa acadêmica, ao corpo

diretor do Colégio Passionista São Paulo da Cruz por proporcionar a

experiência de um projeto inovador na educação e em minha carreira.

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Epígrafe

Toda prática

educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende,

outro que, aprendendo ensina.

(Paulo Freire)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 05 1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................ 12 1.1 Perspectiva Histórica .............................................................................. 12 1.1.1 Década de 60............................................................................................. 15 1.1.2 Década de 70............................................................................................. 18 1.1.3 Década de 80............................................................................................. 23 1.1.4 Década de 90............................................................................................. 25 1.1.4.1 Agenda 21 .............................................................................................. 25 1.1.5 Século XXI ................................................................................................. 27 1.1.6 A Educação Ambiental na atualidade ........................................................ 28 1.2 Fundamentos da Educação Ambiental .................................................. 30 1.3 Educação Ambiental no Brasil ............................................................... 31 1.4-Tratado de educação ambiental................................................................ 32 1.4.1-A importância do Tratado de Educação Ambiental para o projeto da ONG Educológico............................................................................................. 33 1.5 Perspectiva para a Educação Ambiental.................................................. 34 2 MINHA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL ................................................... 37 2.1 Entre a memória e a História .................................................................. 37 3 A FORMAÇÃO DA ONG E A MINHA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO... 53 3.1 Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental. Espaço para a prática da Educação Ambiental ................................................................... 69 3.2 O Sistema Organizacional do EDUCOLÓGICO........................................ 78 3.2.1 O terceiro setor .......................................................................................... 81 3.2.2 O movimento ambientalista ....................................................................... 82 3.2.3 Educação Ambiental .................................................................................. 82 3.2.3.1 Construção de projetos .......................................................................... 82 4 A RELAÇÃO DO TRABALHO DA ONG EDUCOLÓGICO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................ 84 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 94

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RESUMO A presente dissertação tem como objetivo principal investigar novas

possibilidades de promover a Educação Ambiental em escolas de Educação

Básica através de projetos. Para isso, investigou-se o trabalho realizado em

uma ONG, denominada “Educológico”, idealizada por professores e alunos do

Colégio Passionista São Paulo da Cruz em São Paulo. Essa ONG realiza um

duplo trabalho: a Educação Ambiental no âmbito da instituição e a iniciação dos

integrantes em atividades relacionadas a movimentos sociais. A pesquisa

pauta-se no Estudo de Caso, o qual não se considera aqui um método, mas a

escolha de um fenômeno a ser estudado com vistas a produzir conhecimentos

com base em experiências realizadas. Os instrumentos de coleta de dados

foram a análise de documentos e observação. O produto da pesquisa consiste

em uma descrição densa e análise do fenômeno estudado com vistas a

contribuir com novos elementos para o desenvolvimento de projetos de

Educação Ambiental. Os achados da pesquisa consideram que o desafio de

ensinar outros jovens criou motivação para aprender, recebendo a

responsabilidade de ser protagonista de projetos ambientais.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Ambientalismo, Projeto Escolar.

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ABSTRACT

The present dissertation aims to investigate new possibilities to provide

Environmental Education in schools for Basic Education through projects. For

so, it investigated the work done by the NGO named Educológico which was

idealized by teachers and students from Passionista São Paulo da Cruz School

in São Paulo. This NGO makes a double job: The Environmental Education,

regarding to the institution itself, as well as the introducing of its members in

activities related to social movements. The research regards to a Case Study

which is not being considered as a method in this instance, but the choice of

something to be studied, aiming to produce knowledge based on previous

experiences. The tools for data collecting were the documents analysis and

observation. The final production of the research consists in a detailed

description and the analysis of the case studied, aiming to contribute with new

elements for the development of Environmental Education projects. The

findings of the research consider that the challenge of teaching other young

people has created motivation to learn, getting the responsibility of being

protagonist in Environmental Projects.

 

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INTRODUÇÃO

Essa dissertação é fruto do desassossego de um professor de Biologia

do Ensino Médio, preocupado com as questões ambientais e que se questiona

a respeito do papel do professor. Será que o professor assume o Magistério

sabendo qual é o seu papel?

O início da carreira de muitos professores é motivado pela confiança que

dominar o conteúdo de sua disciplina ter vontade de transmiti-lo é suficiente

para o exercício da docência. Nesse momento ainda está distante das

necessidades dos alunos que nem mesmo conhece. Nessa perspectiva

acredita que ser professor é ser um especialista competente.

Um dos primeiros desafios que enfrenta diz respeito ao desinteresse do

aluno. Neste instante, é plantada a primeira semente de desilusão: “como os

alunos podem ficar indiferentes diante de um assunto tão relevante?”. Diante

dessa constatação, o que fazer?

A primeira lição que o jovem professor especialista aprende é que nem

todos se encantam com os conteúdos ensinados, com a escola ou mesmo com

o professor. Descobre que alguns até são esforçados, mas não entendem o

conteúdo ensinado. Neste momento descobre que necessita prestar atenção

aos alunos se quiser que eles aprendam. É hora de mudar de estratégia e para

isso é preciso pensar sobre suas experiências e uni-las aos conhecimentos

pedagógicos que já possui.

A primeira função do jovem professor especialista é encontrar significado

para certo vazio profissional, resultante de experiências nem sempre bem

sucedidas. A vivenciar esse processo constrói sua identidade de professo que

não se constrói de uma hora para outra.

Olhando a sua volta, depara-se com colegas que também estão

vivenciando processos de construção identitária profissional. Ouvem-se

afirmações semelhantes a essa: eu não estudei tanto para aguentar isso!!

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Muitos são os significados que essa frase pode conter: se alguém,

apesar de ter estudado tanto, não é capaz de situar na escola é porque sua

formação ainda não foi suficiente.

O professor iniciante, após um curso superior de quatro anos em média,

volta para a escola e não a encontra da mesma forma que a deixou. A

“estrutura da escola” preserva-se, assim como parte da organização do

trabalho docente. No entanto, a atitude dos alunos não é mais a mesma.

O aluno “experiente” observa o professor “inexperiente”, estudando

seu comportamento e testando seu conhecimento e seus limites como docente,

ou seja, verificando situações nas quais ainda não tem uma estratégia de

conduta pronta, apresentando “insegurança no agir”.

A insegurança sobre aquilo que se pode fazer dentro de uma sala de

aula em situações de conflito desequilibra o professor experiente, quanto mais

um professor iniciante. Ele pode se remeter aos modelos de seus próprios

professores, mas descobre que eles não são suficientes. O professor e os

alunos já não são os mesmos.

Então, na ausência de referenciais, recorre-se ao improviso, à tentativa,

à criatividade, provocando erros e expondo o trabalho e, até mesmo a

instituição. O que fazer? Recorrer aos mais experientes e expor a situação?

Observar o comportamento e a conversa deles para buscar subsídios

metodológicos? Ambos os recursos são úteis, mas também não são

suficientes. Para FERRY (2006), o sujeito se forma sozinho e por seus próprios

meios, porém, questiono se é o meio adequado, pois estamos aprendendo

enquanto trabalhamos com pessoas. Nesse momento o professor se encontra

só e cabe a ele assumir sua formação.

O toque final à sensação de solidão pedagógica se dá pela rotina

estressante de trabalho, dividida em várias salas de aula e muitas vezes

distribuídas em escolas com administrações e componentes curriculares

diferentes.

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No dia a dia aprendemos a construir nossa prática docente e assim

abrimos um caminho próprio no processo de formação, descobrindo junto com

os alunos aquilo que podemos e o que não podemos fazer.

Não se tem apenas um referencial para orientar todo um processo de

formação profissional, mas sim, uma coleção deles que julgamos eficiente para

um desempenho bem sucedido das tarefas.

Aos poucos nossa experiência vai tornando o trabalho mais tranquilo, a

tensão dá lugar ao conforto à medida que nossas próprias habilidades são

desenvolvidas.

Muitas vezes não temos clareza de nossos procedimentos, tamanha a

força que eles exercem em nossa rotina. Muitos de nós ficam aprisionados a

elas e desistem de inovar e criar. Repetem seus modelos e criticam seus

alunos por não se comportarem como os de “antigamente”. Meu objetivo não é

investigar a situação do aluno, mas o amadurecimento do professor diante de

uma situação inédita de trabalho onde é necessário tomar decisões.

É importante ressaltar que, nos primeiros momentos do trabalho

docente, o professor se dá conta de sua autonomia, da complexidade de sua

função e de certa liberdade na tomada de decisões. Liberdade, por assim dizer,

acompanhada de incertezas pela falta de respaldo da instituição ou de

satisfações pela presença de apoio da mesma. Todo o acompanhamento que

possa ser feito, porém, tem um limite: a porta da sala de aula. Aprendemos que

muitos confrontos e dificuldades devem ser resolvidos entre “quatro paredes”,

sem a intervenção de agentes escolares, coordenadores, diretores, pois podem

causar prejuízos à imagem do professor.

O jovem aprendiz, nômade ou andarilho (não importa a maneira

direcionada a este profissional), perambulando de escola em escola possui em

sua concepção a melhor maneira de trabalhar aliada às próprias experiências.

Abandona “a crença do saber” da maneira científica como suficiente para ser

um bom professor e agrega “outros saberes” essenciais no percurso de sua

formação (atuação),

A segurança do “ser” profissional competente se dá do “ter”

reconhecimento dos alunos, dos superiores e dos colegas de categoria à

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medida que os “saberes” que nos trouxeram para a escola foram

enriquecidos pelos “saberes” adquiridos pela prática. Saber transformar o

conhecimento em ação motivadora do aprendizado equivale saber utilizar as

estratégias na contribuição de um aprendizado interessante e dinâmico.

Mesmo sem ter a oportunidade de compartilhar experiências com os

colegas, o professor aprende a ensinar ensinando.

Como professor de Ensino Fundamental e Médio, percorri caminho

semelhante Durante o processo de reflexão, deparei-me com situações que

desafiaram e me fizeram pensar em outras possibilidades de organizar a

prática pedagógica.

Nesse contexto surgiu um projeto de trabalho que envolvia a formação de

crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, realizada por alunos do

Ensino Fundamental II e Ensino Médio que por sua vez também se formavam

ao formar. A necessidade de registrar e analisar esse projeto de Educação

Ambiental estimulou-me a realizar a presente dissertação.

Objetivo de pesquisa Nessa perspectiva, a pesquisa assume como objetivo principal: analisar o

Projeto Educacional da ONG Educológico, realizado no Colégio Passionista

São Paulo da Cruz, com vistas a contribuir para o desenvolvimento da

Educação Ambiental.

Traçado metodológico A pesquisa pauta-se na abordagem qualitativa O caminho metodológico

percorrido aproxima-se do Estudo de Caso, considerando que se trata de uma

pesquisa de mestrado com um tempo determinado, nem todas as etapas dessa

modalidade de pesquisa puderam ser percorridas. Segundo André (2005) o

estudo de caso não pode ser considerado um método, mas a escolha de um

fenômeno a ser estudado com vistas a produzir conhecimentos com base em

experiências realizadas. Os instrumentos de coleta de dados utilizados na

pesquisa foram a análise de documentos e observação. O produto da pesquisa

consistirá em uma descrição densa e analítica do fenômeno estudado com

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vistas a contribuir com novos elementos para o desenvolvimento de projetos de

Educação Ambiental.

A escolha metodológica levou em conta o estudo de uma situação ou grupo

em ação onde o conhecimento gerado tem valor dentro da prática de Educação

Ambiental

Minha proposta é a exploração dos dados e o estabelecimento de suas

relações com o contexto dos movimentos que culminaram no que hoje

conhecemos como Educação Ambiental. Segundo Merrian (1988), o

conhecimento gerado por um estudo de caso difere do conhecimento gerado

por outras pesquisas e, no caso da ONG Educológico, configura-se como um

conhecimento que encontra resposta em nossa experiência.

O estudo de caso permite a interpretação do leitor de acordo com suas

experiências e compreensões, permitindo a inclusão de novos dados e a

generalização para outros grupos de alunos, dando à pesquisa a aplicabilidade

fora do ambiente que ela descreve.

Outra característica que a pesquisa traz, através da descrição em forma de

palavras e imagens é a descoberta de novos significados e a confirmação das

relações que ainda estão imersas.

No caso dessa dissertação, por se tratar do trabalho de um grupo de alunos

por mim coordenado, em um colégio em que também leciono, aproxima-se

muito do que, Stake (1995) diz tratar-se de um estudo de caso intrínseco. A

partir desse foco, busco trazer o entendimento dos modos de apropriação da

Educação Ambiental para outros atores escolares, ou seja, a preocupação com

a prática educativa.

Para tornar claros os motivos que me iniciaram na pesquisa e ao mesmo

tempo torná-la fiel aos acontecimentos que eu mesmo presenciei, recorri à

narrativa, onde a minha trajetória profissional e minha concepção sobre a

formação de um educador estão presentes.

O contexto da pesquisa O Colégio Passionista São Paulo da Cruz fica no bairro do Tucuruvi, desde

dois de fevereiro de 1934, então com 64 alunos. Naquela época a instituição

era Educandário São Paulo da Cruz e passou por um rápido crescimento

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como, por exemplo, entre os anos de 1964 e 1969, época em que sofreu

muitas modificações.

Em 1972, começou a funcionar a 5ª série do 1º Grau, hoje Ensino

Fundamental, com 32 alunos matriculados. No dia 24 de junho é realizada a

cerimônia de lançamento da pedra fundamental do novo prédio escolar,

efetuada pelo Pe. João Batista.

Em 1996 a compra de uma propriedade, localizada no município de

Mairiporã, o Recanto Paulo da Cruz. Um espaço natural para auxiliar no

processo formativo dos educandos e para servir também a toda comunidade

educativa.

Em 1999, por uma iniciativa dos próprios educandos, o Educológico, um

grupo que luta em defesa do meio ambiente e pelo exercício da cidadania em

busca de uma melhor qualidade de vida, torna-se uma ONG - Organização

Não-Governamental.

Em 2000 o Recanto Paulo da Cruz, agora com instalações ampliadas -

alojamento e vestiários - tornou-se também um Centro de Educação Ambiental,

onde serão desenvolvidos variados projetos e pesquisas relacionados à

melhoria da qualidade de vida e obtenção de recursos naturais que não

agridam o meio ambiente.

O objeto da pesquisa é a ONG Educológico – Grupo Estudantil Passionista

em Defesa da Vida e sua atividade a partir da época em que iniciei o trabalho

de coordenação do grupo.

O capítulo 1 é teórico e nele faço um histórico da Educação Ambiental de

forma a refletir sobre os fatos políticos e sociais envolvidos em cada

movimento, tomando-se como referência, os movimentos da década de

sessenta, principalmente a partir da publicação do livro “Primavera

silenciosa”,ou "Silent Spring”, da bióloga norte-americana Rachel Carson, que

provocou uma revolução mundial contra a produção de DDT e de forma

crescente, trouxe à luz o problema da poluição química e acirrou a rejeição de

cidadãos e governos contra o uso indiscriminado de defensivos agrícolas,

dando origem ao movimento ambientalista.

O capítulo de Educação Ambiental também relata os principais eventos e

documentos oficiais com suas recomendações.

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O segundo capítulo relata a minha trajetória profissional, onde, através de

um exercício de narrativa, descrevo fatos que considero relevantes em minha

escolha profissional. Ao fazer tal imersão em minha memória, resgatei fatos

que se revelaram de grande valor pra o entendimento de minhas atitudes no

projeto que se tornou o objeto da pesquisa.

Ao remontar a minha vida através do exercício do relato de minha história,

tomei consciência da importância dos fatos descritos na minha postura

profissional, motivando-me a escrever uma reflexão sobre o trabalho docente,

onde procurei expor a minha condição de docente frente às dificuldades do

cotidiano na dinâmica da escola, o que considero pertinente diante da minha

formação profissional e da estrutura do projeto que passei a coordenar e as

dificuldades que encontrei pelo fato de o mesmo oferecer uma proposta

diferente da rotina escolar.

No capítulo três descrevo a formação da ONG e minha participação casual

no projeto, justificando a decisão de trabalhar com a proposta de Educação

Ambiental que ocorre atualmente. Trata também do trabalho da ONG, que se

propõe a ser o principal descritivo da dissertação, uma vez que se revela a

dinâmica das atividades dos alunos envolvidos no projeto, para depois, a partir

da descrição, analiso os fatos à luz das recomendações da Educação

Ambiental. No mesmo capitulo descrevi o Recanto Paulo da Cruz, um Centro

de Educação Ambiental que faz parte do projeto de educação do Colégio

Passionista São Paulo da Cruz e que se integra com as atividades da ONG

Educológico.

No capitulo quatro, organizei as recomendações dos documentos oficiais

em cinco eixos e a partir deles analisei o trabalho da ONG Educológico,

buscando revelar verdadeiros elementos de Educação Ambiental na rotina da

ONG.

Por se tratar de um projeto de Educação Ambiental, o capítulo teórico, com

a sequência histórica desta modalidade de ação, até finalmente ser

regulamentada e implementada no universo da Educação formal, deu suporte

para a análise do trabalho da ONG. A partir daí descrevo os dois projetos

permanentes criados pelo Colégio Passionista e minha relação com os

mesmos, para que, por fim, analisá-los perfazendo uma triangulação entre

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Educação Ambiental, o trabalho da ONG Educológico e as reflexões dos

teóricos citados ao longo do texto.

E à guisa das reflexões propostas, apresento em minhas considerações

finais, algumas características do projeto que limitaram a conquista dos

objetivos idealizados e pontos positivos que vão de encontro com os

referenciais de Educação Ambiental construídos ao longo da História.

 

1 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1.1 – Perspectiva Histórica

Poderia tomar como marco inicial dos problemas ambientais a

necessidade do ser humano em viver agrupado em famílias e aldeias,

originando as primeiras cidades, como afirmou o biólogo Samuel Murgel

Branco, ou mesmo com o domínio do fogo. Porém, a característica dessa

pesquisa não é o aprofundamento nas origens da Educação Ambiental, mas a

justificativa de sua existência como tema transversal nas escolas.

Diante desta limitação de contexto, quero delimitar o presente histórico

em algumas etapas como, por exemplo, para o professor doutor em serviço

social, Loreiro (2003), a partir do período de 1501 a 1760, quando se deu a

grande expansão das colônias européias, incluindo o Brasil, com a exploração

desenfreada da madeira e o início do capitalismo agrário.

No início deste período, Américo Vespúcio constata que o Brasil não era

uma ilha, e sim, parte de um continente. Constata também a abundância de

pau-brasil, madeira de grande utilidade na Europa. Tem-se ai o “desembarque”

do capitalismo.

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A educação implantada no Brasil foi a jesuítica, da Companhia de Jesus,

chefiada pelo padre Manoel da Nóbrega e com a missão de catequizar índios e

educar colonos.

No ano de 1759 o ministro do rei Dom José I, marquês de Pombal

decretou a expulsão dos jesuítas, fechou instituições e mudou os estatutos dos

colégios e das missões, impondo direções leigas e professores mal

preparados, nomeados em cargos vitalícios para trabalhar pelo interesse do

Estado. Cito este fato para situar o desenvolvimento da educação no Brasil e

sua relação com as necessidades da sociedade.

No período de 1760 a 1945 houve o crescimento desorganizado da

indústria, urbanização na Europa e as evidências de extinção das espécies

causadas pelo homem. Trata-se de um período onde os problemas ambientais

se desenvolvem sem gerar preocupações visíveis ao senso crítico, mas

demonstram uma tendência de se transformar a fauna, flora e os seres

humanos em mercadorias, com geração de lucro e concentração de poder.

Tudo isto aconteceu em pleno período pombalino, em que a educação

estava a mercê de professores despreparados, que regiam aulas

desarticuladas e eram mal pagos, demonstrando uma profunda desconexão

entre educação e progresso.

O Século XVIII foi marcado pela liberdade de pensamento típico do

iluminismo, uma filosofia que se libertou das escrituras sagradas e ofereceu às

pessoas o conhecimento espalhado pelo mundo, condensado nas

enciclopédias de forma relativamente democrática a todos que podiam ter

acesso a elas e podiam discernir suas linguagens.

Nesse período ocorreu a revolução industrial, trazendo uma capacidade

de transformação de matéria prima tão acelerada que marcou definitivamente o

mundo a partir da Inglaterra. A primeira fase da Revolução Industrial trouxe a

marca das emissões de gases poluentes e a referência de “Inglaterra verde” e

“Inglaterra cinza” (antes e depois da revolução).

Na ciência, o nascimento da Química moderna se dá com o trabalho de

Antonie Laurent de Lavoisier (1743 – 1794) em seu livro Traité élémentaire de

chimie. Enquanto enriquecia com suas atividades de locador de terras e

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arrecadador de impostos para o estado, Lavoisier tinha tempo de sobra para

dedicar-se ao laboratório.

O pensamento livre da época do iluminismo trouxe uma intensa

movimentação em torno do conhecimento e um retorno à natureza motivado

pela percepção das belezas naturais.

O crescimento das cidades e a conseqüente aglomeração humana

tornaram cada vez mais importante o contato com a natureza, como forma de

fuga das situações estressantes, passando a ser um lugar de relações

humanas, e descanso.

Mudanças nos meios de transporte náutico trazidos pelo

desenvolvimento tecnológico possibilitaram o acesso às áreas naturais antes

desconhecidas, fato que, segundo o Pedagogo Fabio Cascino, constituiu o

esboço da mentalidade ambientalista.

Na literatura, o Arcadismo inspirou as pessoas para a volta a uma vida

equilibrada, como bem exemplifica a composição a seguir:

Quero Quero ver o sol atrás do muro

Quero um refúgio que seja seguro

Uma nuvem branca sem pó nem fumaça

Quero um mundo feito sem porta ou vidraça

Quero uma estrada que leve à verdade

Quero a floresta em lugar da cidade

Uma estrela pura de ar respirável

Quero um lago limpo de água potável

Quero voar de mãos dadas com você

Ganhar o espaço em bolhas de sabão

Escorregar pelas cachoeiras

Pintar o mundo de arco-íris

Quero rodar nas asas do girassol

Fazer cristais com gotas de orvalho

Cobrir de flores os campos de aço

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Beijar de leve a face da lua (Thomas Roth)

A segunda onda da Revolução Industrial veio no final do século XIX com

a utilização dos derivados do petróleo e veículos com motores de combustão.

No final do período, em 1945 ocorreu o fim da Segunda Guerra Mundial

e a conseqüente formação dos dois blocos dominantes no mundo, o

capitalismo liderado pelos Estados Unidos da América e o socialismo liderado

pela extinta União Soviética delimitaram um período de intensificação de

mudanças tecnológicas que trouxeram evoluções nas áreas de serviço,

comunicações e informações, foi o período pós-industrial. Cascino (cit.) assim

se refere ao período: Os anos que separam o final da Primeira Guerra (1918) do final da Segunda (1945) são amos de profunda transformação para a humanidade. Hobsbawm chega a afirmar que esse período não foi de duas guerras; foi de um único período, que o autor chama de “guerra mundial de 31 anos” (CASCINO, 2000, p.26).

O ritmo das descobertas científicas foi incrivelmente acelerado,

chegando a somar cerca de oitenta por cento (mais de dois terços) de toda a

produção ocorreram após a segunda guerra, dentre os produtos desta

revolução de produção científica, uma enorme variedade de produtos químicos

sintéticos revolucionou a produção agrícola, lançando uma geração de

produtos com cerca de 100 mil substâncias de uso agrícola (adubos e

pesticidas) que potencializavam o solo acelerando a produção e, no caso dos

pesticidas, a capacidade de interagir com o mais variado número de estruturas

biológicas, espalhando-se por grandes extensões por meio de águas

superficiais, subterrâneas e pelo ar.

Particularmente sobre a natureza, o desenvolvimento industrial do pós-

guerra trouxe ao mercado uma nova geração de produtos químicos capazes de

alterar os ecossistemas de forma radical. Ainda hoje há diversos desses

produtos em utilização no mundo todo, com poucos estudos de impactos

negativos e muitos benefícios a produção de alimentos para atender ao

crescimento populacional.

1.1.1 Década de 60

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16 

 

Uma onda muito fecunda de movimentos ambientais marcou esta que é

considerada a década do nascimento do movimento ambientalista, iniciado

sem a participação das instituições educacionais, mas com caráter de

movimento social.

Nos países desenvolvidos como os Estados Unidos são aspergidos

vários tipos de pesticidas que podem ser levados pelo vento, água e animais e

se espalhar por diversas regiões indiretamente ligadas aquela onde o produto

está sendo usado. Um dos mais conhecidos pesticidas do mundo é o DDT

(Dicloro-Difenil-Tricloroetano), largamente usado após a segunda guerra para

combater mosquitos causadores de doenças tropicais e demais insetos,

principalmente os que atacavam lavouras. Seus efeitos sobre os demais seres

vivos já foi estudado e atualmente é um pesticida controlado em alguns países

e proibido em outros, mas para que isto ocorresse foi necessário uma luta

solitária de uma mulher que iniciou o movimento de Educação Ambiental, trata-

se da bióloga norte americasa Rachel Carson e a publicação do livro “Silent

Spring” (Primavera Silenciosa) escrito por ela em 1962. Em seu capítulo mais

provocador, “uma fábula para o amanhã” descreve uma cidade americana onde

uma grande quantidade de seres vivos e até crianças tinham sido silenciadas

pelos efeitos do DDT, o mais poderoso pesticida que o mundo já conheceu. Então uma estranha praga se infiltrou naquela região e tudo começou a mudar. Algum tipo de feitiço maléfico se instalou na comunidade: misteriosas doenças atacaram as galinhas, o gado e os carneiros adoeceram e morreram. Por toda parte pairava a sombra da morte. Os fazendeiros falavam de muitas doenças em suas famílias. Na cidade, os médicos ficavam cada vez mais intrigados com os novos tipos de doenças que apareciam em seus pacientes. Houve muitas mortes súbitas e não explicadas, não apenas entre adultos, mas também entre crianças, subitamente acometidas pela doença enquanto brincavam e morriam em poucas horas (CARSON 2010, p. 20).

Apesar da resistência da indústria de pesticidas, cientistas eminentes

apoiaram o conteúdo da obra e o presidente dos Estados Unidos John

Kennedy ordenou uma investigação e constatou a veracidade das informações,

levando a proibição do DDT e trazendo ao debate público a importância da

influência humana na natureza.

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17 

 

O movimento ambientalista não se concentrou apenas nos Estados

Unidos e uma grande discussão internacional iniciou-se a partir da obra de

Rachel Carson; em março de 1965 aconteceu a Conferência de Keele na Grã-

Bretanha onde educadores concordaram que a Educação Ambiental deveria

ser abordada imediatamente na escola, fazendo parte da educação de todos os

cidadãos, sugerindo desta forma a expressão Educação Ambiental (EA).

Na Europa, em maio de 1968 os estudantes de Paris manifestaram-se

por “um planeta mais azul”. A importância do movimento conhecido como “maio

de 68” foi despertar o ser humano para a necessidade de não se sentir parte de

uma totalidade, representada pelo Estado ou por um partido.

Este fato me remete a década de 40 e as imagens do Partido Nazista,

com suas manifestações monumentais que inspiravam organização mostrada

ao mundo por suas fileiras humanas absolutamente simétricas, onde cada

indivíduo só tinha valor para ele mesmo e para o Estado enquanto fizesse parte

do grupo, pois fora dele, poderia sentir-se insignificante.

Voltando ao ano de 1968 vemos que houve um movimento de libertação

do indivíduo, como menciona o pedagogo e professor de pós-graduação em

Educação Ambiental do SENAC, Fábio Cascino: “... é preciso resgatar o

indivíduo e tirar o indivíduo da massa, da totalidade, do conjunto

descaracterizado” (CASCINO, 2000, p. 31).

No mundo todo, uma série de movimentos sociais colocou a prova os

modelos políticos e econômicos e começaram a revelar uma nova ética, onde

as manifestações individuais pela liberdade firmaram uma cultura de

questionamentos.

No Brasil, vivia-se um clima político de regime militar em pleno AI-5 (Ato

Institucional de número 5), com guerrilhas, greves e um forte movimento

acadêmico e de contra cultura oficial.

Foi nesse ambiente dinâmico que surgiu o ambientalismo, que segundo

o autor americano Jonh Mc Corminck é resultado da convergência de outros

movimentos, sendo a Ecologia, enquanto ciência, absorvida pelos adversários

e, fornecendo, atualmente, elementos para defesa do ambientalismo.

Alguns dos fatores que motivaram de forma direta ou indireta o

movimento ambiental estão representados no esquema a seguir:

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Nasce o Conselho para Educação Ambiental no Reino Unido e o Clube

de Roma, fundado em abril de 1968 por Aurelio Paccei, um empresário italiano

e composto por cientistas, economistas, empresários, líderes de estados da

ativa e ex-líderes que pautam suas atividades nos problemas que põem em

risco o futuro da humanidade.

1.1.2 Década de 70

Em 1970 a Sociedade Audubon publicou “Um lugar para viver”, manual

para professores que incorporou a Educação Ambiental em atividades

curriculares. Em 1972 o Clube de Roma publicou o relatório: “Os limites do

crescimento econômico”, concluindo que o colapso da humanidade será

causado pelo crescimento do consumo levando-se em conta o crescimento

populacional, examinando o contexto que envolve os povos de todas as

nações: pobreza em meio à abundância, deterioração do meio ambiente, perda

de confiança nas instituições, expansão urbana descontrolada, segurança e

desemprego, alienação da juventude, rejeição dos valores tradicionais, inflação

e outros problemas monetários.

18 

 

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O sociólogo Franz Josef Brüseke destaca em sua participação na obra

Desenvolvimento e Natureza, as teses e conclusões do grupo de estudo

coordenado por Dennis Meadows (1972, p. 20):

1. Se as atuais tendências de crescimento da população mundial- industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais – continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia durante os próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial.

2. É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade econômica que se possa manter até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual.

3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-lo, maiores serão as possibilidades de êxito (BRÜSEKE, 1998, p. 30).

O relatório Limites do Crescimento vendeu mais de 30 milhões de cópias

com cerca de 30 traduções, conferindo-o o status de obra mais vendida do

mundo sobre o tema ambiental.

Outro relatório oficial do Clube de Roma foi “Humanidade no ponto de

giro”, caracterizada por usar ferramentas técnicas para análise mais refinada

dos dados coletados em diversas regiões do mundo. Na verdade, o segundo

relatório ofereceu uma visão mais otimista do primeiro, colocando nas mãos da

humanidade a opção de interferir positivamente no que parecia inevitável.

A ONU (Organização das Nações Unidas) promoveu a Conferência da

ONU sobre Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972

onde ficou recomendada a criação de um Programa Internacional de Educação

Ambiental (PIEA).

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Surge na conferência da ONU, conhecida como PIEA a incorporação do

tema ambiental com a necessidade de compatibilização da economia com o

manejo sustentável.

A Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano é o

documento oficial do encontro, nele está proclamado que o homem é ao

mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, revelando um

vínculo harmônico entre o campo humano e natural, desta forma, a proteção e

o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental.

Não há uma restrição as características humanas de progresso,

desenvolvimento tecnológico e científico, mas desde que haja constante

avaliação.

Há uma orientação aos países desenvolvidos para que dirijam esforços

na colaboração que os emergentes superem seus problemas ambientais.

Em 1974, uma reunião entre a UNCTAD (Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio-Desenvolvimento) e a UNEP (Programa de Meio

Ambiente das Nações Unidas) discutiu desenvolvimento e meio ambiente e

destacou, na Declaração de Cocoyok:

a) O crescimento populacional descontrolado tem como uma

de suas causas a falta de recursos de qualquer tipo; pobreza e

desequilíbrio populacional estão diretamente relacionados;

b) A destruição ambiental na América Latina, África e Ásia é

resultado da pobreza que leva a população carente à superutilização do

solo e dos recursos vegetais;

c) O nível exagerado de consumo dos países industrializados

contribui para os problemas do subdesenvolvimento.

A Declaração de Cocoyok indica que existe um máximo de recursos

naturais que o indivíduo deve usufruir para o seu bem estar, regulando o

processo de industrialização das nações mais consumidoras.

A Educação Ambiental nasceu na Conferência de Estocolmo através do

PIEA, mas os princípios norteadores deste plano foram elaborados em 1975,

em Belgrado, Iugoslávia onde os países se reuniram e formularam os princípios

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e orientações para o PIEA, fazendo acontecer em 1977 a Primeira Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi), realizada pela

UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura) e PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Foi através da Tbilisi que a Educação Ambiental ganhou a identidade de

ação capaz de envolver a sociedade dentro e fora da escola, considerando o

ambiente em sua totalidade e, de forma contínua, examinar questões

ambientais das mais diversas, sejam locai ou globais.

Recomendações de Tbilisi:

1- Finalidade da Educação Ambiental

a) promover a interdependência econômica, social, política e

ecológica entre as zonas urbanas e rurais;

b) possibilitar o conhecimento, valores e atitudes necessárias

a proteção e melhoria ambiental;

c) induzir novas condutas sociais a respeito do meio

ambiente.

2- Categorias de objetivos da Educação Ambiental

a) Conhecimento

Diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio

ambiente e seus problemas.

b) Conscientização

Sensibilização pelas questões ambientais através da conscientização.

c) Comportamento

Buscar o comprometimento social com a causa ambiental.

d) Habilidades

É fundamental ao indivíduo e a sociedade as habilidades para resolver

problemas ambientais.

e) Participação

Os grupos sociais e o indivíduo devem ter a possibilidade de

participarem das ações ligadas ao meio ambiente.

3- Princípios básicos da Educação Ambiental

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a) Considerar o meio ambiente em sua totalidade.

b) Ser contínua e permanente.

c) Aplicar um enfoque interdisciplinar.

d) Examinar as principais questões ambientais.

e) Ajudar a diagnosticar problemas ambientais.

f) Revelar a amplitude dos problemas ambientais.

g) Diversificar ambientes educativos e métodos.

Devo abrir um parêntese para justificar pela natureza das resoluções da

Tbilisi a necessidade de se diferenciar Educação Ambiental de Ecologia, pois

esta última tem sido, desde o início, vinculada de forma equivocada no Brasil

como se fosse uma das recomendações da conferência.

Foi um caminho longo até que a Educação Ambiental estivesse presente

no cotidiano das comunidades e escolas por se tratar de uma abordagem nova

e interdisciplinar que, apesar de não se enquadrar como disciplina escolar foi

frequentemente considerada como tal; disfarçada de Educação Ambiental o

ensino de Ecologia deu a muitos professores a falsa idéia de “missão

cumprida”, mas na realidade não estavam conscientizando os estudantes, pois

a Ecologia é uma ciência, com seu pensamento rigoroso e seus métodos.

Reconhecê-la como Educação Ambiental que é uma prática só leva ao

sentimento de culpa e impotência.

As conferências de Estocolmo e Belgrado nasceram de uma urgência

social e lançaram a Educação Ambiental como ação, consolidada através de

políticas governamentais.

Foi nessa conferência que a Educação Ambiental teve sua amplitude

definida, ou seja, que deveria considerar o meio ambiente em sua totalidade,

ser contínua, ocorrer dentro e fora do espaço escolar e abranger todas as

idades.

Aqui no Brasil, alguns órgãos estaduais ligados ao meio ambiente já

incluíram o tema Educação Ambiental em suas agendas após o Encontro de

Belgrado, já nos setores educacionais houve uma movimentação em prol da

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Ecologia, o que constitui um equivoco, já que a Educação Ambiental é mais

abrangente, envolvendo não apenas o estudo das relações estabelecidas entre

os seres vivos e destes com o ambiente, mas também as dimensões

socioeconômicas, política, cultural e histórica.

1.1.3 Década de 80

Em 1987, 300 especialistas de 100 países reuniram-se em Moscou para

o Congresso Internacional de Formação e Educação Ambiental onde foram

discutidas as dificuldades e os progressos das nações na área de Educação

Ambiental.

Deste encontro foram estabelecidas prioridades e estratégias para o

desenvolvimento da Educação e Formação Ambientais, aumentando os

esforços para o treinamento de profissionais.

Recomendações do Congresso Internacional de Educação e Formação

Ambientais:

a) O reconhecimento das recomendações da Tbilisi como

bases da Educação Ambiental.

b) Os indivíduos e a comunidade devem tomar consciência do

seu meio ambiente, através de um processo permanente de Educação

Ambiental e viabilizando o conhecimento, a aquisição de valores,

habilidades, experiências e a capacidade de decisão que os tornem

aptos a agir de forma individual ou coletiva para resolver problemas

ambientais atuais e futuros.

c) As realidades sociais e econômicas de uma sociedade

devem ser consideradas para se definir os objetivos da Educação

Ambiental, bem como as metas de desenvolvimento planejadas.

d) A Educação Ambiental deve dar ênfase à abordagem de

resolução de problemas ambientais da comunidade.

e) A abordagem da Educação Ambiental deve ser

interdisciplinar.

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f) A Educação Ambiental é uma prática educacional em plena

sintonia com a sociedade.

Até o Congresso Internacional de Educação e Formação Ambientais, em

Moscou, Rússia, as publicações de Ecologia rotuladas de Educação Ambiental

eram o único tipo de material teórico para se trabalhar nas escolas. Os

professores também sofriam pela falta de referenciais em formação apropriada.

A Constituição da República Federativa do Brasil garantiu no artigo 225,

item VI que o Poder Público tem o dever de promover a Educação Ambiental

em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para um

desenvolvimento sustentável.

Em 1988, na cidade de Buenos Aires, Argentina, realizou-se o Seminário

Latino-Americano de Educação Ambiental, promovido pela UNESCO-PNUMA.

Neste encontro foram formuladas as recomendações específicas para os

países latino-americanos, respeitando suas necessidades e avaliando as

políticas de desenvolvimentos locais que nada mais são do que modelos

adotados de países desenvolvidos e, portanto, geradores de desigualdade

social à custa de degradação ambiental.

Recomendações do Seminário Latino-Americano de Educação

Ambiental

a) Os países Latino-Americanos devem adotar a Educação

Ambiental como parte da política ambiental.

b) A Educação Ambiental deve se basear nas características

culturais próprias das populações envolvidas no processo educativo.

c) Deve-se levar em conta o contexto local de

subdesenvolvimento nos países da América do Sul e contribuir para a

integração entre estas nações.

d) O papel que a mulher desempenha na família, na

sociedade e no desenvolvimento deve estar presente na Educação

Ambiental.

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e) A Educação Ambiental deve promover a reformulação da

educação formal e não-formal para uma concepção ambientalista.

f) A Educação Ambiental deve favorecer um novo estilo de

relações entre o homem e o ambiente, de forma mais fraterna e justa,

com respeito ao patrimônio natural e a conservação.

2.1.4 Década de 90

A Assessoria de Educação Ambiental criada pelo MEC iniciou a Política

Nacional de Educação Ambiental em 1990.

Em 1992, realizou-se a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Rio 92), tendo como foco o Desenvolvimento Sustentável

(uso planejado dos recursos naturais para garanti-los as gerações futuras).

Pode-se considerar que a Política Nacional de Educação Ambiental está

ancorada nas recomendações da Tbilisi, que define a Educação Ambiental

como uma dimensão dada ao conteúdo e a prática da educação, orientada

para a resolução de problemas concretos do meio ambiente através de

enfoques interdisciplinares e de participação ativa e responsável de cada

indivíduo e da coletividade.

Como se vê, trata-se de uma ação e não de uma ciência, ultrapassando

os muros da escola e envolvendo toda a sociedade. Temos aí um ponto

fundamental de apoio a esta pesquisa, baseando-se na convicção de que a

Educação Ambiental não é um componente curricular

De fato, se a Educação Ambiental tem que garantir a união dos seres

humanos com o ambiente local e global, deve-se fazer com que ocorra essa

integração.

O tema Meio Ambiente é debatido por 170 países, agora com o

componente Desenvolvimento Sustentável sob a bandeira questionável de

Eco-92, um equívoco na concepção do nome ao lembrar Ecologia, limitando a

visão da sociedade ao considerar a ciência como o único norte de reflexão

sobre os problemas ambientais.

Recomendações da Rio-92:

a) O desenvolvimento sustentável deve orientar a educação.

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b) A busca de maior conscientização popular.

c) Treinamento de profissionais.

d) Reconhecimento do analfabetismo ambiental.

1.1.4.1 Agenda 21

Trata-se de documento que estabelece um compromisso para a

preservação e melhoria da qualidade ambiental na Terra firmada durante a Rio-

92. Esse programa de ação estabelece um padrão de desenvolvimento aliando

métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica

preparando uma nova sociedade para o século 21.

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: de acordo com a

declaração, os Estados devem colaborar para a conservação, proteção e

restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre e da

erradicação da pobreza.

26 

 

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Convenção Sobre Mudanças Climáticas: um documento que estabeleceu

metas internacionais para a redução de gases causadores do aquecimento

global a fim de permitir aos ecossistemas condições de regulação natural.

Protocolo de Kyoto – 1977: o Protocolo de Kyoto deu continuidade a

Convenção sobre Mudanças Climáticas realizadas na Rio-92, firmado por 157

países é um acordo internacional independente, mas ligado à Convenção sobre

Mudanças Climáticas.

A meta do protocolo é reduzir em 5,2% a emissão de gases causadores

do efeito estufa até o ano de 2012, tendo como referência os índices de 1990.

Os dez maiores emitentes de CO2 são:

1º EUA; 2º China; 3º Rússia; 4º Japão; 5º Alemanha; 6º Índia; 7º Grã-Bretanha;

8º Canadá; 9º Itália; 10º Coréia.

Os países mais emissores de CO2 do ranking não se comprometeram

com o protocolo de Kyoto.

1.1.5 Século XXI

Rio+10 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável –

Johanesburgo 2002: A conferência Rio + 10 foi realizada de 26 de agosto a 4

de setembro de 2002 com o intuito de buscar um consenso entre os

participantes na avaliação geral das condições atuais e nas ações futuras

prioritárias, principalmente no setor ambiental e nas áreas de economia, novas

tecnologias e globalização a fim de reforçar os compromissos de todas as

partes para que os objetivos da Agenda 21 e do Plano de Ação Global adotado

por cerca de 170 países durante a Rio-92 sejam alcançados.

Desde a década de 60 até os dias de hoje a Educação Ambiental tem

evoluído em sua abrangência conceitual, inclusive associando-se ao conceito

de Desenvolvimento Sustentável, principalmente a partir da Rio-92, onde

podemos identificar, até pela própria proposta da conferência (meio ambiente e

desenvolvimento), uma associação entre os dois campos. Nota-se, entretanto

que a essência da Educação Ambiental está um tanto desprestigiada em

detrimento do Desenvolvimento Sustentável, este último com sua abrangência

política e econômica.

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Os últimos encontros internacionais que trataram da questão ambiental

se consolidaram como reuniões de política econômica dos países mais ricos,

como o G8 ou dos países emergentes, como o G20, onde temos a falsa noção

de que a sustentabilidade é um objetivo a ser perseguido apenas pelos países

pobres, enquanto os países ricos não cumprem os compromissos assumidos

na Rio-92 de redução do consumo e impacto sobre os recursos naturais e o

meio ambiente. Mesmo a disponibilização de recursos financeiros para a

Agenda 21 está sendo negligenciada.

1.1.6 A Educação Ambiental na atualidade

Alguns pesquisadores (autores) analisam a Educação Ambiental

segundo suas variáveis históricas, desenvolvimento e possibilidades. A

socióloga Maria Lúcia A. Leonardi, pesquisadora do NEPAM (Núcleo de

Estudos e Pesquisas Ambientais) da UNICAMP faz uma interessante

classificação da Educação Ambiental em modalidades que considero oportuna

para iniciar esta fase do trabalho:

Modalidade

Ambiente

Organização

Exemplo

Formal Escolar

Conteúdos

Métodos

Avaliações

Planejamento

Dia do

Meio Ambiente

Estudo do

Meio

Dia da

árvore

Não-formal ONG´s

Sindicatos

Empresas

Poucos

registros

Métodos e

objetivos pouco

definidos

Atividades

desenvolvidas em

parques

Cursos

livres

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29 

 

Igrejas Menos

estruturada

Pesquisas

Atividades

financeiras

Informal Outros

espaços da vida

social

Não possui

compromisso

com continuidade

Programas

de televisão

Tal organização não é totalmente rigorosa, porém importante para

entender como alguns setores da sociedade tem desenvolvido atividades em

Educação Ambiental.

Nas escolas, o reconhecimento das fragilidades dos ambientes naturais

tem regido o discurso nas salas de aula, observando nos movimentos

ambientais razões para o desenvolvimento de currículos próprios ao ambiente

escolar (eco pedagogia ou educação para o meio ambiente).

O fato que dificulta a prática de uma Educação Ambiental modificadora

do comportamento humano é a sua natureza conservacionista, ou seja, os

aspectos naturais estudados em sala de aula em divergência com o meio

humano criando um obstáculo difícil de transpor uma vez que não se considera

o ambiente onde vivemos como um lugar que merece ser conservado, mas sim

os ambientes naturais que estão cada vez mais distantes. O conceito de Meio

Ambiente limitado aos aspectos naturais impossibilitou a percepção social do

problema.

Para aproximar o ser humano do ambiente há uma orientação

pedagógica para que a educação conservacionista traga ensinamentos para o

uso racional de recursos, ou seja, mudança de hábitos. Uma forma de se

preservar os recursos que estão distantes mesmo sem sair da região em que

se vive.

Em 1997, por ocasião da I Conferência Nacional de Educação

Ambiental, realizada em Brasília, os Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e

Educação (MEC) divulgaram um levantamento de projetos escolares em

Educação Ambiental onde o lixo e reciclagem aparecem com freqüência,

revelando uma preocupação com problemas urbanos.

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Outro fato importante revelado pelo estudo vem por parte dos

questionamentos feitos aos educadores que revelam uma necessidade urgente

de uma prática que dê respostas rápidas, porém, com poucas referências a

metodologia, avaliação de projetos, interdisciplinaridade, políticas

governamentais de desenvolvimento sustentável e divulgação da Agenda 21.

Parece que a Educação Ambiental está nas escolas como uma atividade tão

diferente que se quer passa pelos métodos habituais de orientação

pedagógica.

Quanto aos alunos do Ensino Fundamental e Médio as questões

ambientais são apresentadas de maneira confusa, tornando apenas efetivo o

entendimento de que se deve preservar o ambiente.

1.2 – Fundamentos da Educação Ambiental

A trajetória da Educação Ambiental nos ajuda a compreender seus

fundamentos sociais, políticos e, portanto, voltados aos valores éticos e

atitudinais que vão além do valoroso conhecimento científico da Ecologia.

A obra da psicóloga e doutora em educação da UFRGS, Isabel Cristina

de Moura Carvalho me traz a reflexão os valores da Ecologia em comparação

com a Educação Ambiental ao classificar a última como ação educativa

mediadora entre a esfera educacional e o campo educacional.

Da escola como base de sustentação dos movimentos sociais ou

ecologismo, a autora faz uma interessante transição do mundo do

conhecimento para o mundo das lutas sociais que, ao meu entendimento,

podem ser representadas da seguinte forma:

Ecologia Ecologismo Educação

Ambiental

Ciência Movimento

social

Ação

educativa

De acordo com Leila da Costa Ferreira, professora Livre-Docente de

Sociologia na Universidade Estadual de Campinas, a preocupação pública pela

deterioração ambiental que avançou da década de 60 até a década de 80 pela

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31 

 

Europa e Ásia fez surgir organizações governamentais e grupos comunitários

dedicados a luta pela proteção ambiental.

Eficiência e uso racional eram objetivos de uma grande quantidade de

pessoas, de diversas áreas da atividade humana, compondo um movimento

ambientalista global multissetorial.

A autora distingue três abordagens teóricas que analisam o

ambientalismo: o grupo de interesse, o novo movimento social e o movimento

histórico.

Grupo de

interesse

Novo

ambientalismo

Ambientalismo

histórico

Mecanismos

reguladores do sistema

político, motivados pelo

problema da produção

industrial – é

considerada elitista.

Setores radicais

(ecologismo)

formadores de partidos,

contraposto ao grupo

de interesse.

Consistia em

considerar que a

civilização contemporânea

é insustentável no médio e

longo prazo.

Hector Ricardo Leis, Cientista político e professor da UFSC e o

psicólogo e escritor ambientalista José Luis D’Amato concordam também

quanto à existência de um ambientalismo interno ao sistema político e,

portanto, normativo. Um ambientalismo crítico identificado como uma forma

alternativa e um terceiro que considera o modelo de desenvolvimento

insustentável, sendo este último o mais adequado para a leitura do

ambientalismo mundial.

1.3 – Educação Ambiental no Brasil

Assim, como pude perceber, chega-se ao amadurecimento do tema.

Tenho agora um objetivo de analisar a Educação Ambiental no Brasil,

considerando que o debate ambiental a antecedeu e em 1973, um decreto

criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), voltada para a educação

do povo através do esclarecimento para o uso adequado dos recursos naturais.

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32 

 

De acordo com Carvalho (2006), as principais políticas públicas para a

Educação Ambiental desde os anos 80 foram:

1984 – Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea)

1988 – Inclusão da Educação Ambiental como direito de todos e dever

do Estado no capítulo de meio ambiente da Constituição.

1992 – Criação dos Núcleos de Educação Ambiental pelo Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e

dos Centros de Educação Ambiental pelo Ministério da Educação (MEC).

1994 – Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea)

pelo MEC e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

1997 – Elaboração dos Parâmetros Curriculares definidos pela

Secretaria de Ensino Fundamental do MEC, em que “meio ambiente” é incluído

como um dos temas transversais.

1999 – Aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental pela Lei

9.795.

2001 – Inplementação do Programa Parâmetros em Ação: meio

ambiente na escola, pelo MEC.

2002- Regulamentação da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei

9.795) pelo decreto 4.281.

2003- Criação do Órgão Gestor de Política Nacional de Educação

Ambiental reunindo MEC e MMA.

Um evento não governamental importante foi o Fórum Global, realizado

durante a Conferência Rio 92 que produziu o Tratado de Educação Ambiental

para sociedades sustentáveis, referência política para o projeto pedagógico da

Educação Ambiental.

1.4-Tratado de educação ambiental O Tratado é, sem dúvida, um documento que favoreceu a reflexão a as

modificações necessárias a partir de então, reconhecendo a Educação

Ambiental como “vetor” das ações sociais onde o envolvimento pessoal e dos

grupos sociais criam ações sustentáveis.

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Aqui se inicia um diálogo entre o desenvolvimento e a natureza, transpondo o

patamar do reconhecimento do patrimônio natural a título de preservação e

reconhecendo a importância de tais recursos para o bem estar humano, sem

criar dicotomia entre homem e natureza, mas admitindo que o modelo de

desenvolvimento humano não é justo por não ser equitativo.

Sociedades justas e equilibradas são frutos de uma transformação humana e

social que respeite as interações ecológicas, pois o conhecimento da natureza

como sistema é fundamental para a preparação às mudanças necessárias.

O desprestigio de valores básicos e a alienação prejudica a construção de um

futuro, dificultando a aceitação de políticas vigentes.

A Educação Ambiental deve gerar mudanças na qualidade de vida, na

consciência, conduta pessoal, harmonia entre os seres humanos e destes com

as demais formas de vida.

Os princípios fundamentais do documento incluem o seguinte: em qualquer que

seja a dimensão da Educação Ambiental (formal, informal e não-formal) ela

deve ser crítica e inovadora, individual e coletiva, pois é local e planetária com

caráter ideológico.

Em outro aspecto, a Educação faz parte do plano de ação do documento como

forma de transformação social através de ações educativas e suas

metodologias, assim tornar a ação, o que se faz, a partir do que se pensa tendo

como panorama uma sociedade que trabalha para erradicar as diferenças

sociais como racismo, sexismo e outros preconceitos até mesmo culturais.

1.4.1-A importância do Tratado de Educação Ambiental para o projeto da ONG

Educológico.

A modalidade de trabalho da ONG Educológico foi relacionada, juntamente

com as campanhas realizadas por outros movimentos sociais, como formas de

difundir e promover o Tratado de Educação Ambiental que sugere inclusive a

criação de ONGs com esta finalidade.

O incentivo a criação de ONGs como forma de sistema de coordenação,

monitoramento e avaliação do cumprimento das diretrizes do documento tem

um fator diferencial em relação à ONG Educológico; o fato de ser formada por

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estudantes de uma única instituição e em ambiente escolar, o que facilita a

ação educativa do grupo que se confunde com a escola.

1.5-Perspectivas para a Educação Ambiental

Toda a reflexão em relação à história da Educação Ambiental, seus fundamentos e orientações mostram o caminho de equilíbrio e bem estar humano em relação ao ambiente a partir do equivalente entre as partes, pressupondo uma justiça social que só é alcançada com o enfrentamento dos problemas que afetam as sociedades considerando-os como ambientais. Uma Educação Ambiental com compromisso social que vai alem da clássica função moral de socialização entre homem e natureza e parte para uma função ideológica de reprodução das condições sociais para assumir o papel de mudança social.

Uma nova leitura para o fazer educativo talvez atenda as necessidades sociais que se manifestaram desde a década de 60 e a tentativa de dissociar o indivíduo do coletivo, mas sem torná-lo um individualista, e sim, capaz de tomar decisões próprias com responsabilidade coletiva.

A Educação Ambiental pode agir pedagogicamente neste sentido usando de uma intencionalidade que vai desde a mera retratação da sociedade até mesmo sua transformação.

No entanto, para que se tenha a real noção de que problema se está enfrentando e suas reais proporções, uma interessante observação pode ser feita: os problemas ambientais são mais severos na população mais pobre, pois a elas restam as áreas mais desvalorizadas, gerando o risco ambiental que se tornou um fator de conflito nas cidades, portanto a simples observação desse fato corriqueiro nas cidades brasileiras nos faz refletir sobre uma nova perspectiva alem do embate entre os moradores das áreas de risco e as autoridades administrativas, confronto este que parece um ciclo inconclusivo que se repete há décadas e não se vê solução.

Qualquer análise mais demorada revela a essência das grandes tragédias: a invasão do homem ao ambiente natural sem respeitar seus limites pelo simples fato de não entendê-los. Uma questão econômica e política, sendo a primeira responsável pela produção e a segunda, pela distribuição e nem sempre se vê uma identidade coesa entre ambas.

Quando se coloca os desafios da Educação Ambiental no âmbito social há de se enfrentar as desigualdades em sua dimensão ambiental e não apenas econômica. Parece ser esse o caminho para uma verdadeira justiça social.

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Então, podemos entender a complexidade da Educação Ambiental que dialoga com as questões ambientais.

“Fazer educação ambiental com compromisso social significa reestruturar a compreensão de educação ambiental, para estabelecer a conexão entre a justiça ambiental, desigualdade e transformação social. Justiça e desigualdade ambiental despontam como conceitos centrais para a educação ambiental com compromisso social, são elementos que permitem ver com clareza a conexão entre as questões sociais e ambientais”. (Layrargues, 2009. Pg.27).

O mundo contemporâneo e o desenvolvimento sustentável se encontram no reconhecimento do desafio de desenvolver potencialidades humanas em um caminho que não é exatamente aquele que nos faz reconhecer nesse momento nossas fragilidades e ter que decidir entre continuar pelo mesmo caminho ou escolher outro; ter que aceitar algo diferente, talvez mais ameno, no qual possamos realizar o nosso desejo de ter, agora o verbo no sentido material, (possuir, consumir).

“O desenvolvimento do ambientalismo supõe, estritamente, a continuidade do processo de mudança de mentalidade e comportamento ético num sentido mais qualitativo e complexo; supõe a necessidade imediata de uma presença mais significativa dentro do ambientalismo de valores e práticas espirituais interagindo fortemente com os elementos restantes do universo ambientalista descrito”. (Cavalcanti,1995; pg81)

Humanizar a sociedade é uma tarefa que a Educação Ambiental vai enfrentar para quebrar a visão de cidadãos-consumidores ideologizados pelo consumo que fazem da aquisição de bens um pulso vital para o seu bem estar, ultrapassando o próprio valor da existência do bem em questão, que vem assumindo um status de símbolo de qualidade de vida que contribui para as desigualdades sociais, pois, como afirma Zacarias (2009) “uma parcela muito pequena da humanidade tem acesso à chamada sociedade do consumo”.

Em síntese, a mercadoria ou bem de consumo é um objeto que vale mais do que a sua utilidade, pois alem de atender às necessidades humanas sustentando a economia e o meio de produção, revelando um valor de uso e de troca, porém, sem fazer a ligação com a sua origem e ignorando a finitude dos recursos naturais.

A mudança dessa cultura de sociedade do consumo para uma sociedade sustentável leva em conta, segundo Krause, ex-ministro do Meio Ambiente: elementos como uma sólida consciência social em relação ao direito a um

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ambiente saudável e produtivo e elevação da qualidade de vida e a inclusão social.

                                                                

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2-MINHA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL 2.1 – Entre a memória e a História

A reflexão sobre a minha trajetória profissional fez emergir um mosaico

de experiências vividas que têm direta ou indiretamente participação na gênese

de minha pesquisa.

Todos os relatos têm significado na formação de minha identidade

profissional e, portanto, na revelação do sujeito que há por traz da pesquisa.

A minha carreira, como professor, e a minha aptidão pelas Ciências

Biológicas (entendo que seja convenientemente privilegiar o meu

encantamento pela investigação científica) nasceu de uma maneira informal,

quando ainda era criança.

Minha curiosidade pelos seres vivos manifestou-se como brincadeira; a

mesma que se observa em desmontar brinquedos ou aparelhos velhos sem

mais nenhuma serventia, para satisfazer a um único questionamento: “O que

será que há por dentro?” No meu caso, é claro, parecia ainda mais esquisito,

porque para entender como tais “mecanismos” funcionavam por dentro,

precisavam estar mortos. Como eu não os matava, vivia procurando algum

animal sem vida para analisá-lo.

Essa mania tornou-se mais evidente, quando comecei a colecionar

borboletas. Na época, a novela “O Bem Amado” fazia um grande sucesso e o

personagem Dirceu, colecionador de borboletas, instigou-me o interesse por

tais insetos. Reparei, então, que a casa vizinha, abandonada, possuía, em seu

grande quintal de terra, um jardim de diversas espécies de flores naturais,

criadouro de vários tipos de borboletas. Minhas aventuras de meninice, nesse

período, consistiam em expedições à procura de recolher aqueles bichinhos

mortos de cores e desenhos diferentes, para observá-los, não tão distantes dos

olhos de minha mãe.

Esta é a lembrança mais remota do nascimento de minha paixão pela

Biologia, mesmo sem saber da existência de uma ciência com esse nome.

Certa vez brincava na rua ainda não asfaltada, quando um amigo me

chamou para ver algo, prontamente dizendo que ia gostar. Segui-o algumas

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casas abaixo de onde morava e deparei com um rato morto. Sim, um rato

morto! Não era como outros tantos ratos mortos que gostava de ver. Estava

cheio de vermes, consumindo o seu corpo de forma intensa, deixando-me

intrigado com a origem de tantas espécies. De onde surgiram? O que fariam,

quando a carne terminasse?

Depois de algum tempo, um novo interesse científico surgiu em minha

vida. Como gostava demais de seres vivos, sempre convivi com animais, sendo

um deles um peixinho.

Cuidava do “danadinho” com tanto carinho que, certa feita, ao vê-lo boiar

em suas águas, sem vida, fiquei profundamente triste. Apesar do desânimo,

comecei a observá-lo em cada detalhe.

No lugar do luto, veio à mente uma ideia “deslumbrante”, pelo menos

para mim. Procurei uma lâmina de barbear e (sem conter em minhas entranhas

o maquiavelismo – isso nunca!) retirei o pequenino nadador para abri-lo.

Consistia ali a vontade de verificar o seu ventre. Alguém, não sei

exatamente quem, comentou sobre a existência de um balão de ar dentro

daqueles seres de água, fazendo-os nadar. Aqui, também sem ter

conhecimento da ciência, fiz pela primeira vez uma dissecação e constatei a tal

“bexiga natatória”, o real nome do órgão. Entretanto os falatórios de minha mãe

ressaltaram o acontecido, pois por dias insisti em guardar o “bichano” no

refrigerador de casa.

Minhas brincadeiras eram iguais aos dos outros garotos, mas minhas

esquisitices eram únicas. Minhas experiências davam sempre erradas, com

exceção a do peixe, completamente distantes dos filmes de ficção, exibidos na

televisão, em que equipamentos sofisticados e cientistas dotados de

extraordinária inteligência uniam com muito sucesso ciência e magia.

A minha intensa vontade de ser pesquisador cobria minha mente com

incessantes indagações, quase sem respostas: “Como conseguem e eu não

consigo?”

Creio que, muitos jovens na fase do Ensino Fundamental, o Ginásio da

época, pensavam em descobrir o mundo por conta própria. Eu,

particularmente, provocava uma distância incômoda, principalmente para os

meus pais, entre o mundo da imaginação e o mundo real.

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Por que os meus pensamentos “lunáticos” ao invés de me ajudar em

meus estudos surtiam efeito contrário?

Após um curso Primário, bastante sofrido e frequentador de todas as

recuperações possíveis e imagináveis, iniciei em 1980, na Escola Municipal de

Primeiro Grau Professora Joaninha Grassi Fagundes, a quinta série ginasial.

Vivi, neste ano, situações muito significativas e determinantes, talvez, para a

minha transformação de estudante “reles” para “exemplar”.

Num determinado dia, minha mãe chegou a casa com o material escolar,

mas dois componentes me chamaram a atenção e não se desligaram da minha

memória até hoje: um compasso e uma caixa de doze lápis de cor. O

compasso representou para mim um instrumento de “alta tecnologia”, daquela

somente vista na TV, já que até a quarta série nem se quer manuseava caneta

esferográfica. Quanto aos lápis coloridos, todos sextavados, perfeitamente

enfileirados, compunham harmoniosamente a caixa de acrílico azul com tampa

transparente. Um “luxo” para quem até então recebia material da APM

(Associação de Pais e Mestres) – entidade que doava material aos alunos sem

possibilidades de comprá-lo.

Todo esse investimento veio acompanhado de um discurso da minha

mãe: “Nós estamos fazendo um sacrifício, mas confiamos que você vai fazer

valer à pena esse gasto”.

Assim comecei o Curso Ginasial com uma motivação familiar da maior

importância, aliada ao fato de uma organização curricular mais interessante.

Cada matéria passava a ter um professor especialista. Isso foi fantástico! Um

curso que me fez sentir mais adulto, além do meu próprio compasso e da

minha “super” caixa de lápis de cor.

Particularmente, gostava de receber o conhecimento na forma de

disciplina escolar, mas algo ainda não me completava plenamente e gerava

ansiedade: a vontade de participar de processos de descobertas.

A partir daí, passei a construir uma nova identidade de estudante. Era

um aluno admirado por meus professores e colegas de sala. Os meus pais

trabalhavam fora e minha prima ia às reuniões de Pais e Mestres ouvir elogios.

Foram tempos incríveis!

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Quando passei para a sexta série, a minha classe era a mais adiantada.

Naquela época a escola formava turmas por classificação de rendimento

escolar. Fui um aluno de destaque.

Certa vez fiz uma redação na aula de Português e o meu tema foi

Medicina Ortopédica, baseado nos avanços da construção de próteses

metálicas. A liberdade no desenvolvimento temático permitiu que cada aluno

escrevesse o que era de seu maior interesse. No meu caso, sofri influências

das leituras que já realizava na época. Minha produção de texto foi admirada

pela professora e pelos colegas, superada apenas por uma ficção.

A escola passou a ter um significado bem diferente do que havia sido

antes. Dedicava-me intensamente a todas as atividades relacionadas a ela,

mesmo quando estava em casa. Era o meu trabalho. De certa forma encontrei

uma maneira de me sentir útil, uma referência de inclusão na sociedade,

exatamente quando vivia um processo de auto-afirmação, característicos do

início da adolescência.

Desenvolvi uma boa capacidade de abstratamente aprender, através da

atenção auditiva, e continuei com dificuldades nas atividades práticas que, por

sinal, foram poucas, mas me fizeram falta mais tarde, quando já lecionava,

transformando-se num desafio a ser superado, principalmente nos dez

primeiros anos de minha carreira docente. Dos dez anos posteriores até os

dias atuais, o meu pensamento mudou. Já não luto tanto para superar as

limitações das aulas práticas, pois percebi que, as mesmas, dependem de uma

estrutura física e material, não disponíveis nas escolas, ao menos nas que

trabalhei.

Acho essencial relatar esses fatos de forma antecipada, pois sinto que

têm importância em algumas decisões tomadas no transcorrer de minha

carreira e passo a relatar, a partir deste momento, o seu início.

Um dia, em uma reunião de Pais e Mestres, Dona Celina, uma vizinha,

ouviu da professora que o filho, matriculado na quarta série do primeiro grau na

mesma escola em que eu estudava, precisava de um acompanhamento

particular em Matemática, já que os pais não tinham muito jeito “com a tal

Matemática Moderna”.

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Como já era conhecido pela vizinhança, como um aluno aplicado e com

boas notas, fui procurado por ela para dar aulas particulares ao seu filho.

Concordei em ajudá-lo nas tarefas e assim, pela primeira vez, sem saber,

exerci o ofício de professor.

Durante a minha convivência com ele, entendi que não havia a

necessidade de ser conhecedor profundo da disciplina, pois cursava a sexta

série na época e já tinha maturidade para identificar as propriedades básicas

envolvidas nas operações ao ver os exemplos dados em sala.

Aos poucos percebi que bastava criar uma estratégia para ajudar o

menino a superar as dificuldades e assim o fiz, foi então que aprendi a

importância do ensinar.

O bom desempenho do meu aluno me encheu de orgulho e, num dia em

que estava no portão de minha casa, esperando minha prima para ajudar a

carregar as compras, vi a vizinha, mãe do meu aluno, chegando da feira. Ela

me viu e me chamou. Agradeceu-me, contando da melhora que havia

percebido no filho e do recado positivo da professora.

A mãe do garoto deu-me como pagamento o troco da feira e, neste

exato instante, senti-me um profissional.

Outras famílias me procuraram para administrar aulas particulares e isso

aconteceu até completar quatorze anos, até o dia em que meus pais me

disseram: “Não dá mais pra segurar, o jeito é você ir trabalhar!”

Terminando a oitava série, consegui um emprego de contínuo no centro

de São Paulo, numa construtora e transferi-me para o período noturno. Foi um

choque de realidades. Deixei de dar aulas particulares para enfrentar um

mundo absolutamente diferente, desinteressante e cruel. Fechou-se um ciclo

para iniciar outro.

Minhas notas na escola tornaram-se muito baixas e fiquei na

recuperação pela primeira vez, desde que começara o Ensino Fundamental II.

Assim era o mundo real, distante de todo sonho de menino e próximo de

uma realidade incerta e, ao mesmo tempo, comum de pessoas que de tão

envolvidas com a sua rotina, deixam de enfrentar desafios.

O impacto negativo, causado pelo trabalho nos meus estudos já estava

superado, quando iniciei o e Ensino Médio, na Escola Estadual Zuleica de

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Barros Martins Ferreira, situada na zona Oeste de São Paulo. A expectativa de

uma nova fase reacendeu as possibilidades de uma profissão relacionada à

pesquisa, principalmente pelas relações entre conhecimento (teoria) e

realidade (prática), estabelecida pelos professores das disciplinas. Não tão

erudito e intocável, mas uma alternativa de caminho a ser percorrido conforme

a aptidão do aluno, uma vez que o curso era noturno e todos trabalhavam.

Alguns de meus colegas estavam entusiasmados e totalmente

comprometidos com o trabalho desempenhado durante o dia. Para eles a

escola representava apenas uma obrigação, a ser cobrada pelo patrão mais

cedo ou mais tarde.

Eu me encontrava num grupo menor de estudantes que via na escola

uma chance profissional diretamente relacionada com os conteúdos ensinados,

ou seja, a aprendizagem era significativa para a construção de uma carreira.

Estava decepcionado com o meu serviço e o meu patrão não apostava muito

em mim, pois havia percebido o meu interesse pelas Ciências Naturais.

Certo dia a contadora da firma falou a ele de investir em um curso

técnico para me capacitar na área de Contabilidade. Sua negação foi enfática,

justificando que este não era o meu objetivo na vida e, na primeira

oportunidade, deixaria a empresa para ser feliz. Como deduziu isso?

No primeiro dia de serviço, questionei-o da permissão de estudar um

pouco durante o expediente. Sua afirmativa acompanhou o seguinte conselho:

“... desde que nada houvesse para fazer.”

Pelas horas de estudo dedicadas durante o trabalho, mereceu a minha

gratidão aquele homem, mas não sei se me prejudicou durante os sete anos

que ali estive ou se me ajudou a definir a minha vocação.

Ir à escola possuía um significado muito especial, ou seja, apagava

todas as tristezas acumuladas durante o dia e voltava, para casa, aliviado e

envolvido com as questões escolares.

Sempre tive bem definido, através das minhas experiências, o ofício de

professor, como uma razão própria de existência, esteve em minha vida, como

uma definição de profissão. Hoje eu sei, não obstante a minha formação, seria

professor com as mesmas características. O papel de educador desenvolveu-

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se em minha vida antes mesmo de minha condição acadêmica. Tive o privilégio

de sê-lo antes mesmo de ter a formação para isso.

É claro que dentro do contexto escolar surgiram os meus referenciais de

profissão e de profissional, isto é, aqueles que demonstravam, em suas

atitudes e em seus conhecimentos, o modelo de ética, compatíveis a um

educador por excelência.

Três professores foram personalidades determinantes na minha opção

de carreira. Duas passaram tão rapidamente pela minha vida que nem se quer

lembro os seus nomes.

A primeira, ainda estudante, com uma forma descontraída de ensinar,

trazia impregnado em si o conhecimento acadêmico. Esse “tempero” mostrava

o brilho de seu entusiasmo pelas matérias científicas.

A outra professora, já formada e experiente, lecionou apenas por duas

semanas e afastou-se para fazer Doutorado. Sua decisão marcou-me pelo

comprometimento com a aquisição de conhecimento. Deu-me a transmissão de

um tom de status com a pesquisa.

O terceiro profissional foi o Professor Miguel, de saber enciclopédico e

muito preparado para as atividades práticas. A sua segurança e a sua

competência foram relevantes para a descoberta da minha futura formação

universitária. Abandonou o Magistério para se dedicar à pesquisa e isso me fez

pensar sobre a sua essência na formação profissional e pessoal de um

professor.

Os exemplos inspiravam-me e vislumbravam-me uma atividade decente

e valorosa, legalizando feitos passados e desabrochando o desejo existente

em meu ser. Traziam à tona o retorno da minha origem, quando lecionava

aulas particulares antes de trabalhar para ajudar a família. Naquela época, eu

não enxergava uma profissão naquilo que desenvolvi ainda criança e deixada

por dificuldades financeiras.

Um longo período passou-se até que voltasse a ser professor

novamente, porém, desta vez, de direito e de fato.

O novo na verdade era um retorno. Fazer faculdade simbolizava a

realização incontida de criança. O trabalho no escritório de Construção Civil

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representava para mim o que a Idade Média representou para a Humanidade –

as trevas.

Quando estava no terceiro ano do Ensino Médio, sabia exatamente o

que fazer: Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas. Com isso, seria

um especialista e teria uma profissão “estável”. Significava a perfeita união

entre uma paixão pelo estudo dos seres vivos e uma experiência gratificante da

infância.

Enfim, veio a alegria de passar no Vestibular e, com tal conquista, uma

nova perspectiva de vida: o desconhecido.

Era o sonho de muitos jovens, na década de oitenta, mas alcançados

por poucos. Lá estava na Universidade São Judas Tadeu, Faculdade de

Ciências Biológicas, em meio a um sonho e a uma realidade cruel – trabalhava

ainda no mesmo lugar e freqüentava o curso noturno. O abismo crescia entre

as realizações dos professores no campo da pesquisa e as constantes

interrogações do meu patrão sobre o meu curso, logo esquecidas. Se fosse

Economia ou Contabilidade o seu procedimento seria mais eficaz.

A incrível distância entre a realidade da minha vida e a expectativa de

meus sonhos proporcionava um labirinto entre o mercado de trabalho e o curso

acadêmico.

Da oitava série do Ginásio até o segundo ano do Curso de Ciências

Biológicas, trabalhei como contínuo, cobrador de agiota e motorista particular.

Um dia, durante uma aula de Química, o Professor Moacyr comentou sobre a

escassez de mão-de-obra nas escolas estaduais. Apesar da necessidade de

preencher o quadro docente, as Delegacias de Ensino não conseguiam

profissionais para completá-lo.

Já estava acostumado com a perda de status de professor que havia

conquistado na juventude quando vi uma possibilidade de voltar a exercer o

ofício, porém, desta vez, motivado pela formação universitária. Tive a

consciência de que não foi uma forma muito honrosa de ingresso, pois as

escolas públicas, em meados da década de oitenta, clamavam por professores

estudantes, uma modalidade extinta. Entretanto, devo a este difícil momento, o

meu ingresso no Magistério.

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Fiz a minha inscrição na 12ª Delegacia de Ensino, como “professor

aluno”, termo usado para identificar aqueles que ainda não haviam concluído o

curso superior.

No dia da atribuição, diante de tanta indiferença, uma professora

aposentada tranqüilizou-me e orientou-me no processo de escolha de escolas

e aulas, fato que incomodou as supervisoras. Numa determinada hora, esta

professora aproximou-se da bancada e uma das organizadoras do evento

interpelou-a com o dizer: “Quando eu me aposentar, não vou querer saber mais

de escola!” A veterana prontamente lhe respondeu: “Você é que pensa!”

Palavras de quem entendia muito bem do que significava viver do Magistério.

Iniciei meu trabalho em três escolas estaduais: Canuto do Val (Barra

Funda, Zona Oeste), Osmar Bastos (Vila Brasilândia, Zona Norte) e Romeu de

Moraes (Vila Ipojuca, Zona Oeste), lecionando Matemática e Ciências Físicas e

Biológicas. Nesse período, questionei muito o meu Curso de Licenciatura e a

falta de objetividade de seu programa. Sofri de solidão pedagógica, estudando

e descobrindo por meu próprio esforço como realizar meu trabalho de maneira

satisfatória para mim e para a sociedade.

Participei de movimentos em prol de melhores condições de trabalho e

salário. Fiquei seis meses sem receber os meus proventos. Vivi, portanto, a

insegurança de não saber ao certo todos os meus direitos e deveres. Foi um

momento muito preocupante.

Abandonei um trabalho de sete anos para entrar na carreira do

Magistério, justamente durante uma das maiores greves do professorado.

Apesar da desconfortável situação, valeu a convivência com outros professores

nas manifestações públicas, acontecidas muitas vezes na Praça da República,

em frente da Secretaria de Educação.

Durante a paralisação, como não havia previsão para a regularização

dos meus vencimentos, recebi ajuda de custo da APM (Associação de Pais e

Mestres) da Escola Estadual Romeu de Moraes.

Deu para entender claramente, através do meu desdobramento para

exercer minha atividade nas diferentes instituições escolares localizadas em

cada região paulistana e do não recebimento salarial, a dura realidade do

Magistério que me aguardava.

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Como não me sentia plenamente satisfeito com as minhas atribuições de

professor, procurei algum estágio ou mesmo trabalho fora do Magistério. Diante

de tal impasse, meu primo Gerson indicou-me ao Dr. Maspes, responsável pelo

Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Nove de Julho.

Ao chegar ao laboratório, com os meus diários de classe em mãos, os

funcionários observaram-me com ar de desconfiança. Como suspeitavam ser

uma ameaça ao emprego de alguns, um deles me questionou se era técnico de

laboratório ou se era formado em alguma especialidade. Respondi-lhe que era

professor e estudante universitário. Recordo que o deixei confuso.

Ao mesmo tempo em que conhecia as dependências e os equipamentos

do laboratório, o Dr. Maspes conversava comigo sobre o trabalho, fazendo

perguntas e comentando da confiabilidade que depositava em mim e da minha

capacidade de aprendizagem. Tudo na presença de seu sócio, alheio aos

acontecimentos.

Mencionou que o trabalho no laboratório seria o meu principal emprego,

sendo assim as escolas seriam um complemento que, curiosamente, me

renderiam mais.

No dia seguinte, mediante tal situação, recebi, felizmente ou

infelizmente, o resultado como insatisfatório, perdendo a minha primeira

oportunidade efetiva de ingressar numa área de pesquisa biológica.

Enfrentei, com dedicação, o ofício de professor e me vi cada vez mais

distante da pesquisa à medida que o tempo passava. Fiquei envolvido com a

rotina e tornei-me um funcionário competente e responsável.

Foram muitas escolas, muitas participações em greves, muitas

manifestações por melhores salários e condições de trabalho, muitas

frustrações e o distanciamento do meio acadêmico.

Procurei emprego em escolas particulares. A primeira foi o Colégio de

Primeiro Grau Olga Ferraz, também conhecido como Associação Cívica

Feminina, antiga escola para filhas de militares da Revolução

Constitucionalista. Encontrei um modelo diferente de escola, com um perfil

autoritário de direção e uma organização que permitia mais tranquilidade para

trabalhar. Realizei muitos projetos e evolui como educador.

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Naquela época esforçava-me para executar o método prático das aulas

de Ciências, trabalhando muitas horas em casa na elaboração de atividades

experimentais que relacionassem as aulas teóricas com as demonstrações,

talvez numa busca incessante de compensar a dificuldade de realizar

experimentos, conforme relatei anteriormente. Também porque em minhas

aulas de Química Laboratorial na Universidade, o Professor Moacyr fez

questão de ensinar a fazer pequenos instrumentos alternativos de laboratório,

para que, segundo ele, enfrentássemos os obstáculos das escolas públicas.

Eu me sentia um monge saindo de um mosteiro para pregar meus

ensinamentos pelo mundo e convencer as pessoas sobre uma nova

perspectiva de vida. O problema foi a falta de estrutura das escolas, por

exemplo, na Associação Cívica Feminina havia uma sala de laboratório

abandonada no andar térreo do prédio. Esta usada por um Laboratório de

Análises Clínicas anos antes do meu ingresso na instituição e preparado com

bancadas, mas sem nenhum material para trabalho. Insisti em aulas práticas

naquele espaço e mesmo em sala de aula, assim chamei a atenção de todos,

principalmente da diretora, Sra. Neuza, que me deu muito apoio. Não

conseguimos progredir muito, pois o colégio era mantido por pessoas que não

tinham motivos para investir, naquele momento, diante de uma situação

financeira nada otimista.

O meu trabalho na Associação Cívica Feminina despertou o

reconhecimento da diretora que me convidou a trabalhar no extinto Colégio

Piratininga onde desempenhava a função de coordenadora pedagógica.

O Colégio Piratininga proporcionou-me experiências boas e ruins.

Trabalhei inicialmente no curso de Ensino Médio, vivenciando uma das piores

experiências que um professor possa ter, dada a indisciplina dos alunos,

gerada pela falta de organização e de projeto pedagógico da instituição,

deixando claro o seu objetivo meramente financeiro.

Entretanto, recebi o convite para lecionar no curso de Auxiliar de

Farmácia e, assim, agradavelmente, conheci outra estrutura dentro do mesmo

ambiente educacional, esta, porém, mais estruturada e com um alunado adulto

e determinado.

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Lecionei Noções Básicas de Saúde e Parasitologia Humana. Fiquei tão

motivado que ingressei num programa de especialização em Análises Clínicas

da Universidade São Judas Tadeu, com o objetivo de melhorar minhas aulas

após a obtenção de mais conhecimento. Trabalhava, nessa época, em três

escolas, sendo uma estadual: Escola Estadual de Primeiro Grau Canuto do Val

e duas particulares: Associação Cívica Feminina e o Colégio Piratininga.

Logo surgiu a quarta escola, indicada pela Professora Marilda Aparecida

Fonseca, do Canuto do Val, que precisava de um substituto em sua licença

maternidade, no Colégio Comercial Álvares Penteado. A mesma professora já

havia me ajudado no estágio.

O contato que tive com professores mais experientes me fez

amadurecer muito em minha postura diante da sala de aula e das instituições

educacionais. Essa convivência com profissionais mais experientes me fez

definir ou delinear a profissão de professor com mais precisão, dando sentido e

personalidade ao meu trabalho. O Colégio Álvares Penteado também me

proporcionou a oportunidade de trabalhar pela primeira vez com um

Coordenador de Área: o Professor Walter Eduardo Sardinha.

Trabalhar sob a orientação de um profissional de área foi muito bom,

principalmente por ser uma escola grande e de ensino técnico. A disciplina de

Ciências Físicas e Biológicas, fazendo parte de um Núcleo Comum, não tinha o

mesmo atrativo de um Componente Específico, como: Contabilidade, Desenho

Publicitário, Processamento de Dados etc.

Apesar de meu trabalho ser considerado pelos alunos como um “mal

necessário”, eles me fizeram perceber uma boa dimensão de meu perfil

profissional. Pareceu-me que certos professores do Ensino Técnico não se

comportavam como “Profissionais de Educação”, geralmente se apresentavam

como “Profissionais de Empresas”, com a intenção de ensinar como se

trabalha e como se mantém no emprego. Isso era o que os jovens de 15 ou 16

anos buscavam naquela renomada instituição tradicional, porém faltava um

“clima” escolar, que, segundo eles, eu era um professor que agia como tal e os

fazia sentir alunos.

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É curioso saber que muitos educandos procuram a escola técnica para

fugir dos desafios que enfrentam na regular e, quando estão onde querem,

sentem falta do modelo tradicional.

O fato de ser considerado um bom professor por meus alunos dos

cursos de: Contabilidade, Administração, Publicidade, Processamento de

Dados e Secretariado fez-me acreditar que foi referencial para eles a minha

conduta de professor e não aquilo que ensinei.

Até 1998 trabalhei no Colégio Álvares Penteado, antes já havia

abandonado a rede pública por incompatibilidade de horário.

Em virtude de atrasos salariais constantes, no mesmo ano, deixei de

lecionar no “Colégio Piratininga”.

Apesar de alguns percalços no cotidiano de um professor, como a

instabilidade financeira, certamente estava encantado, com as possibilidades

oferecidas pelas escolas particulares, ou seja, o comportamento dos alunos e

os diversos interesses desses estabelecimentos educacionais.

No mesmo ano fui trabalhar no Colégio Stella Rodrigues, com proposta

pedagógica do Sistema Anglo de Ensino, portanto, “conteúdista”. Na época

trabalhei com a primeira turma do Ensino Médio, mas permaneci por apenas

um ano.

O Colégio Stella Rodrigues, segundo colégio particular, em que exerci

minha profissão sem ser apresentado por alguém, adquiri experiência de como

trabalhar com uma diretora autoritária de visão empresarial. Conduzia a escola

com olhar atento às expectativas dos alunos e das famílias que depositavam

na instituição a confiança de uma educação conservadora e eficiente para a

classe média. Um sistema de ensino terceirizado que neutralizava qualquer

projeto pedagógico, qualquer tentativa de demonstração de pensamento

próprio por parte dos professores, deles apenas se esperava a competência de

cumprir rigorosamente o cronograma, elaborado pelo sistema educacional

contratado.

Com relação ao Colégio Piratininga, os alunos pagavam para obter a

aprovação, enquanto que os alunos do Colégio Stella Rodrigues pagavam para

receber o conteúdo.

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Na mesma ocasião (1998), fui trabalhar no Educandário São Paulo da

Cruz, instituição católica confessional, comandada por Irmãs Passionistas, hoje

Colégio São Paulo da Cruz, convidado por meu ex-coordenador Professor

Walter Eduardo Sardinha. Iniciei minhas atividades em agosto, mas devido ao

pouco tempo disponível de transitar até o Colégio Stella Rodriguez, no final do

ano letivo, tive que deixar este último.

Optei pelo Colégio São Paulo da Cruz pela sua proposta pedagógica

humanista, ou seja, o sujeito, privilegiado em suas possibilidades de

aprendizado, se convence de que este é o meio de se preparar para a vida.

Mais um convite interessante surgiu em 1998, o de trabalhar numa

empresa que desenvolvia projetos para cursos de extensão, denominada NPG

(Núcleo de Pós Graduação). Durante dois anos, exerci prazerosamente uma

atividade ligada a pesquisas educacionais, voltadas ao desenvolvimento

técnico de profissionais da Área de Nutrição e de Controle de Qualidade nas

Indústrias de Análises de Alimentos.

Paralelamente aos projetos previstos pelo Núcleo de Pós Graduação,

coordenado pelo Professor José Camargo, despertei minha atenção para uma

área de propriedade do Colégio Passionista São Paulo da Cruz pelas possíveis

atividades que poderiam ser realizadas na Área de Ciências da Natureza.

Pensei em conversar com a direção sobre a perspectiva de desenvolver

projetos ambientais naquele lugar. Elaborei algumas propostas, mas antes de

apresentá-las, fui surpreendido pela iniciativa da própria entidade escolar, que

decidiu transformar o sítio num Centro de Educação Ambiental e Reserva

Particular de Proteção Natural (RPPN). Para viabilizar o projeto, a escola

contratou a empresa CPTI (Cooperativa de Serviços e Pesquisas Tecnológicas

e Industriais) que realizou, de dezembro de 1999 a janeiro de 2000, um estudo

sobre o local e o seu potencial para desenvolver a Educação Ambiental.

Logo após o término do trabalho dos profissionais da CPTI, o Colégio

Passionista determinou que, os professores do Ensino Médio não deveriam

trabalhar no Ensino Fundamental, para que os mesmos pudessem se dedicar

com mais intensidade aos seus projetos. Foi quando deixei as aulas na então

sétima série do Ensino Fundamental, para me dedicar ao Ensino Médio,

ficando sem três aulas após essa mudança. Estava aguardando o momento de

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assinar a minha redução de aulas, ao ser surpreendido, durante uma reunião

pedagógica, pela notícia de que as três aulas de Ciências seriam compensadas

com um trabalho de pesquisa e implantação do Centro de Educação Ambiental,

denominado Recanto Paulo da Cruz, iniciando assim o meu trabalho em

projetos no Colégio Passionista São Paulo da Cruz.

No ano de 2002, participei do primeiro concurso público e ingressei no

cargo de Professor de Ciências Físicas e Biológica na Prefeitura Municipal de

São Paulo, para maior estabilidade financeira.

Nessa época, trabalhava na EMEF Plínio Ayrosa, durante quatro dias da

semana no período da tarde e um dia dedicado ao projeto de Educação

Ambiental.

Minha tarefa, no Centro de Educação Ambiental, consistia em pôr em

prática o Plano Diretor, homologado para o local, analisando os documentos,

realizando pesquisas de equipamentos científicos relacionados à medição

ambiental (pluviômetros, termômetros, barômetros etc.), elaborando

subprojetos de implantação de atividades de manejo orgânico e de otimização

de energia entre outros. Bem, todas estas tarefas tornaram as tardes de

quartas-feiras, as mais esperadas da semana, seja pela convivência com

técnicos e pesquisadores como pelo conhecimento de tecnologias e

equipamentos.

Com o passar do tempo o grau de maturidade das atividades de

pesquisa e da implantação dos projetos ambientais chegaram a um problema:

Como atender a demanda de serviços e responder às expectativas da escola,

trabalhando apenas uma tarde por semana?

O Centro de Educação Ambiental incentivou-me a fazer leituras de obras

especializadas para entender o potencial daquela área de reserva natural.

Resolvi investir num programa universitário da USP, para suprir a minha falta

de referenciais na área de pesquisa educacional, deixada pela rotina exaustiva

de sala de aula.

Com mais embasamento teórico e com certa estagnação de projetos,

devido ao meu pouco tempo de dedicação, justificável pela dupla jornada de

trabalho, surge uma nova proposta: a ONG Educológico.

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No final de 2008, a direção do Colégio Passionista São Paulo da Cruz

ofereceu-me a oportunidade de ampliar o meu período dentro do projeto de

Educação Ambiental. Com isso, ao mesmo tempo, deixei o cargo de Professor

de Ciências, na Rede Municipal de São Paulo, para empreender com mais

determinação à pesquisa ambiental, e ingressei no Programa de Mestrado da

UNICID (Universidade Cidade de São Paulo).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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3 - A FORMAÇÃO DA ONG E MINHA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO

Em dezembro de 1999, a ONG EDUCOLÓGICO- grupo estudantil em

defesa da vida- foi inaugurada pela então, diretora do Colégio Passionista São

Paulo da Cruz, Irmã Mirtes. Eram apenas três alunas que desejavam formar

um grupo para conscientizar outros estudantes da escola sobre o cuidado com

o meio ambiente. A aluna Nádia Oliver Doro, 16 anos, presidente da entidade

na época, coordenou o primeiro trabalho do grupo: o combate à sujeira,

deixada pelos alunos, no pátio durante os intervalos. ”Filmamos o lugar antes,

durante e depois do recreio. O pessoal ficou um pouco assustado e hoje a

limpeza melhorou bastante”

De blusa amarela a aluna Nádia Oliver Doro.

Na mesma época, iniciou-se, como já mencionado na minha trajetória

profissional, o processo de formação de uma RPPA (Reserva Particular de

Proteção Ambiental), ou seja, um conjunto de ações voltadas à tendência de

conservação e preservação do planeta, praticadas pelo colégio, que já se

preparava para a formação dos alunos nos conceitos e práticas sustentáveis,

na propriedade denominada Recanto Paulo da Cruz, situado em Mairiporã.

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Com o intuito de envolver os alunos em atividades educativas

ambientais, a ONG Educológico atua no terceiro setor e viabiliza o

funcionamento do Centro de Educação Ambiental.

Durante o surgimento de tantas novidades pedagógicas, a diretora Irmã

Mirtes ofertou-me, além da função de professor de Biologia, a de pesquisador,

dedicando-me ao projeto de implantação do Plano Diretor na área de

preservação dentro de um universo administrativo e distante de uma ação

educativa direta, durante o meu tempo extra.

A ONG ficou a cargo do professor de Geografia, Silvio Tamoyo que

participou dos procedimentos de sua formação e a coordenou juntamente com

o Professor Jaime Antônio, também geógrafo. Sendo assim, a escola tinha dois

projetos ambientais: o Centro de Educação Ambiental, coordenado por mim, e

a ONG Educológico, coordenada pelos colegas de profissão Silvio e Jaime.

Algum tempo depois, o Professor Jaime saiu da instituição e permaneceu na

ONG apenas como colaborador.

De 1999 até 2005, não tive nenhuma participação na ONG e os dois

projetos da escola caminhavam paralelamente. Somente em 2006 iniciei meus

trabalhos de participação como colaborador, uma vez que o Professor Silvio

estava doente e não tinha condições de cumprir alguns compromissos. Iniciei

uma espécie de estágio, conhecendo a rotina e o tipo de trabalho desenvolvido

pelos alunos integrantes da ONG.

Naquela ocasião, a ONG Educológico não trabalhava com o princípio de

formação escolar, apenas visava a vivência dos alunos numa ONG, onde os

mesmos assumiam as tarefas de Presidente, Vice-Presidente, Secretário,

Tesoureiro e todas as demais funções pertinentes a uma organização desse

nível. Havia, entretanto, um impedimento legal de exercer tais atividades frente

à sociedade civil, porque todos eram menores de 18 anos. Para responder,

portanto, legalmente pela ONG Educológico existia outro corpo diretor, formado

pelos professores responsáveis e pela diretora do colégio.

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Alunos do primeiro grupo do Educológico trabalhando em campanha de limpeza na Avenida Tucuruvi

Participei de algumas atividades extraescolares, realizadas pelo

Educológico, notando que eram de cunho ambientalista, mesmo sob a

coordenação do educador Silvio, durante todo o tempo os alunos permaneciam

envolvidos num ambiente atípico ao escolar, mas não menos importante. O

trabalho baseava-se na fomentação de ações sociais, colocando os alunos

frente a interessantes problemáticas vindouras da falta de planejamento e da

consequência da prática humana no ambiente, no entanto distantes de

referenciais pedagógicos.

Foi este contato com o universo de ambientalistas, ativistas, empresários

e representantes do Estado que me fizeram entender a função social da ONG

Educológico, como espaço de vivência muito rico para a inclusão dos jovens na

sociedade.

Por duas ou três vezes o Professor Silvio disse-me que seria bom se eu

participasse da ONG Educológico, porém sempre recusei, em virtude das

atribuições do trabalho docente e do Centro de Educação Ambiental ocupar

todo o tempo, além do trabalho na escola municipal.

Durante esse período, poucas vezes me envolvi nas atividades da ONG

Educológico, uma das razões, na verdade, repercutia em não entender o

porquê do Professor Silvio não assumir certas responsabilidades e deixar a

cargo do alunado o desenvolvimento das tarefas. Então, o mesmo me fez

entender que o objetivo consistia em deixar os alunos tomarem atitudes e

aprenderem, através da prática e da avaliação dos resultados.

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Assim antes de compreender que o grupo Educológico era uma

organização estudantil, estranhei, por muitas vezes, dos professores Silvio e

Jaime não assumirem a coordenação das ações do grupo, mas entendi, após

as devidas explicações, que exerciam talvez uma função mais difícil, a

coordenação de ações, como mediadores. Cabia a eles orientar, opinar e

responder frente à sociedade pelas obrigações sociais, em virtude da ONG

Educológico não ser um apêndice do Colégio São Paulo da Cruz.

Aos poucos, os dois projetos do Colégio Passionista foram se

aproximando. Ambos tinham, em comum, a intenção da instituição em atuar de

forma significativa no campo da sustentabilidade. A aproximação, porém, não

foi muito fácil. A ONG Educológico estava cada vez mais centralizada no

Professor Silvio de forma que, qualquer participação externa nos assuntos da

organização, passava pelo crivo do coordenador. Essa situação evoluiu até o

ponto em que o grupo estudantil ser confundido com “o grupo do Silvio”.

Nesse período, no Colégio, trabalhávamos trimestralmente, com temas

geradores e, um deles, foi Meio Ambiente e Sustentabilidade, com proposta de

estudo do meio, em Cananéia, Ilha do Cardoso e Mairiporã. Este último local

de trabalho foi dividido em dois sub-grupos: um deles trabalharia no Recanto

Paulo da Cruz e o outro na cidade de Mairiporã. Não tínhamos, porém, um

roteiro de atividades para desenvolver naquela cidade. Foi, então, que a

coordenadora, Dona Ivone, pediu-me para desenvolvê-lo. Resolvi ir até a

prefeitura e pedir informações na Secretaria de Meio Ambiente e Turismo que,

na época, formavam uma única pasta.

Atendido pela secretária de gabinete, Senhora Sueli, demonstrou

interesse pelo projeto e escreveu uma proposta de roteiro para a cidade que,

entre outros, incluía a visita à Pedreira Holcim, uma mineradora suíça,

exploradora de granito naquele lugar. Ao conhecê-la, aproveitei a oportunidade

para questionar, se existia algum esforço no sentido de estabelecer parcerias.

A resposta foi positiva e combinamos um encontro para apresentação do

projeto. Ao chegar a São Paulo, organizei-o, mas não o encaminhei.

Na data da visitação dos alunos, o Professor Silvio nos acompanhou e

eu comentei sobre o patrocínio, oferecido pelos representantes da empresa.

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Este, muito entusiasmado, assumiu pessoalmente as negociações em nome da

ONG Educológico.

Passei a participar das reuniões, com o Silvio e a Sueli, representante da

prefeitura, para elaborar o projeto de parceria, mas não houve muito progresso.

De um lado, estava ansioso para captar recursos para o Recanto Paulo da

Cruz; por outro lado, os projetos necessitavam de investimento em

equipamentos e mão de obra. A empresa, naturalmente, necessitava de um

resultado imediato sem o envolvimento de investimentos permanentes. Então,

decepcionado, abandonei o processo e os outros participantes desenvolveram

um projeto adequado às necessidades da empresa, denominado “Teatro na

Trilha”, com o intuito de levar aos estudantes o contato com a Mata Atlântica,

de uma forma lúdica. Os alunos da ONG Educológico ensaiaram uma peça

teatral ao ar livre. Os personagens ATAM (senhor da mata), Líquen vermelho e

Samambaiaçú, elementos da trilha, existentes no Recanto Paulo da Cruz, eram

por eles representados e ganhavam vida para conversar com os visitantes.

Apresentavam a Natureza, aliada à importância e à conservação de cada

elemento naquele ecossistema, tornando a caminhada pela trilha uma

experiência interativa.

O personagem ATAM durante o projeto Teatro na Trilha

Após a aprovação do projeto pela empresa, os alunos da ONG

Educológico passaram a executá-lo para as crianças de Educação Infantil e

Fundamental I das escolas públicas de Mairiporã. De todas as atividades,

57 

 

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desenvolvidas pela ONG Educológico, sob a coordenação do Professor Silvio,

esta é a mais próxima na Área de Educação, no meu ponto de vista.

O objetivo era participar da ONG, como movimento social organizado,

inserindo os alunos na prática do ambientalismo, no entanto, os participantes

do Educológico estavam assumindo a função de educadores.

Em 2007, com o falecimento do Professor Silvio Tamoyo, passei a

coordenar a ONG Educológico e o Centro de Educação Ambiental, num

momento em que a principal atividade desenvolvida da ONG Educológico era

no Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental: o Teatro na Trilha.

Minha participação no projeto Teatro na Trilha.

Um ano mais tarde, o projeto acabou. Decidi mudar a forma de atuação

da ONG Educológico. Contemplava, até então, apenas os alunos integrantes

da ONG, oferecendo a eles oportunidades de participar de eventos, idealizados

por outras ONG´s, num trabalho de parceria. Oferecia um intercâmbio de

experiências muito interessantes, porém os alunos não tinham poder de

decisão, seguindo as regras estabelecidas por outros. Conduzi a ONG

Educológico, com base na produção de seus próprios projetos, tornando os

alunos pesquisadores, produtores de estratégias, comunicadores e

administradores das ações, no próprio colégio, como alternativa de viabilização

da Educação Ambiental. Esta iniciativa trouxe à tona o trabalho da Educação

Ambiental, democratizando a produção dos alunos da ONG Educológico a

todos os educandos e educadores do colégio, numa verdadeira teia de 58 

 

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informações para a construção do aprendizado, trazendo para o cotidiano

escolar as questões emergentes da sociedade e, não apenas, exportando tais

projetos a outros grupos sociais.

Com minha experiência no Magistério, direcionei os projetos para o

campo educacional e ambientalista, envolvendo a escola, nas atividades da

ONG Educológico, e, não apenas, envolvendo os alunos da ONG, nos

movimentos socioambientais.

A minha vivência no projeto Teatro na Trilha foi fundamental para decidir

por este caminho, pois, nele, os integrantes da ONG estudavam um conteúdo

disciplinar tradicional, estratégias de ensino e abordagem para crianças. Um

percurso muito envolvente para tornar alunos protagonistas de uma ação

educativa, ou seja, de uma ação que envolve o mecanismo de

retroalimentação. Concluí, portanto, que quanto mais se constatava o

comprometimento das crianças para as quais o projeto era elaborado, mais se

constatava o resultado satisfatório.

Não assumi a responsabilidade da ONG Educológico sozinho,

compartilhando a coordenação da mesma, estava também a Professora

Roseclair de Cássia Monteiro, geógrafa, que já participava da organização,

quando a mesma era representada pelo Professor Silvio.

Grupo Educológico com os professores Angelo e Roseclair.

Enquanto trabalhava apenas em prol do Recanto Paulo da Cruz,

elaborei o projeto “Nossa Nave”, que se refere, por analogia, ao Planeta Terra

59 

 

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(condutor da humanidade – eleito com status de além “casa”) e a sua viagem

pelo espaço.

“Nossa Nave” é, portanto, o primeiro projeto, realizado até hoje pela

ONG Educológico, sob a minha coordenação e da Professora Roseclair. Está

organizado em etapas, com várias atividades humanas, como: consumo de

água, utilização do solo e produção de alimentos. Cada assunto foi distribuído

em fases diferentes e, até o ano de 2009, realizamos a primeira, com a minha

participação juntamente com a dos alunos do Ensino Fundamental e Ensino

Médio, tendo como tema o uso racional de água.

Sala de aula preparada para apresentação

A partir de reflexões sobre a importância da água em situações

cotidianas, publicada na edição número 17, em junho de 2004, na revista “Guia

Prático para Professoras de Educação Infantil”, organizei a proposta inicial da

primeira fase do Projeto “Nossa Nave” e, posteriormente, feitas transformações

necessárias pelos alunos da ONG Educológico.

A abordagem da temática sugeriu diversas questões, como: O que

precisamos para escovar os dentes? Onde vivem os peixes? O que é preciso

para lavar as roupas? Você gosta de nadar? De que precisamos ao tomar

banho? O que a mamãe utiliza para lavar louça? Qual o líquido indispensável à

vida? Que ambiente, além da terra, alguns animais vivem?

Logicamente a resposta deve ser água, mas a criança poderá emitir

outros dizeres inerentes aos desejados. Considerando tal premissa, o efeito

provocará novas indagações em busca do real intento. Por exemplo, na

primeira interrogação, se a devolutiva for creme ou escova dental, segue-se 60 

 

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adiante. Na próxima, também o resultado girará sobre rio, mar, lagos etc.,

obviamente o jeito será prosseguir até que os alunos cheguem à conclusão da

água, como núcleo comum de todo o questionário.

Apresentação do projeto Nossa Nave

Com a descoberta do enigma, o discurso centralizará sobre os

conhecimentos e as relações, com os seres humanos, os animais e o planeta,

do assunto, sob a ótica da criançada. Aproveita-se a ocasião para tecer os

comentários sobre as diferentes maneiras de obtenção da água dentro do

contexto natural (mar, rios, lagos, chuvas...) e artificial (torneira, descarga,

chuveiro, filtro...). Dentro de um clima efusivo, devido à interatividade, interpela-

se sobre se sabem de onde as águas vêm e para onde vão.

As explicações sobre os tipos de água, neste momento, se fazem ideais

para o aprendizado. Quanto às chuvas, a retórica consiste que, as águas dos

rios, mares e lagos se evaporam e sobem para o céu em forma de minúsculas

gotas. Estas se unem e formam uma nuvem que, carregada de água, chove.

Consequentemente, as crianças, em instantes, vislumbrarão outras questões,

como: O que é vapor?

Com a aquisição do novo conteúdo, a prática experimental tornar-se-á

mais eficiente e interessante.

Para o momento, algumas atividades delinear-se-ão. Como primeira

etapa, o aluno construirá seu próprio pluviômetro para medição da quantidade

de chuva. O material consistirá numa garrafa de plástico vazia e cortada na

parte de cima, uma tesoura, um recipiente (balde) cheio de terra e uma régua

61 

 

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de 30 centímetros. Depois da reunião dos utensílios, a criança fará um encaixe

da parte de cima, virada de cabeça para baixo, na de baixo da garrafa. Em

seguida, a garrafa ficará ereta no recipiente com terra. A execução do

instrumento despertará o interesse de medir os milímetros de chuva. Com o

pluviômetro montado, deverá ser acomodado do lado de fora de casa, o mais

longe possível das árvores e das construções.

Na sequência, a segunda atividade, por estimular a produção de vapor,

deve ser realizada pelo(s) organizador (es) da oficina para não provocar

queimaduras nas crianças. O experimento refere-se à fervura de água numa

leiteira ou panela com tampa. Ao levá-la para a sala e retirar a tampa, a

criançada perceberá as gotículas formadas nela, provenientes do vapor.

Pluviômetro e panela para produção de vapor

Em seguida, como terceira atividade, cada aluno produzirá o seu próprio

vapor, ao soltá-lo pela boca na superfície de um espelho, para embaçá-lo.

Antes de o vidro ficar limpo, um desenho ou letra bem rápido deve ser

elaborado pelos pequenos estudantes. É evidente que o “encantamento” da

tarefa reproduzirá a dúvida de como tal fato ocorreu e, portanto, há a

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necessidade de mostrar as diferentes temperaturas (quente – ar expirado/frio –

espelho). Exatamente, está aqui uma boa oportunidade, para expor a

evaporação e a condensação, por intermédio também do embaçar dos vidros

de veículos e de copos e garrafas geladas.

Far-se-á, neste instante neste instante as explicitações de mais dois

estados da água: sólido e líquido, já que o gasoso veio antes. Para demonstrar

os outros, apresentar-se-ão cubos de gelo sobre uma bandeja, para depois de

algum tempo as crianças observarem o seu derretimento em água.

A partir do estado líquido, provocar-se-ão as reflexões: Por que a água

doce tem esse nome? Será que contém açúcar?

Aproveitar as dúvidas e esclarecer que a água recebe o nome de doce

para ser diferenciada da salgada e está presente nos rios, lagos, além das

torneiras de nossas casas. Expandindo o conhecimento, expor que tanto a

água da chuva como a água presente no centro da Terra (lugar formador de

pequenas nascentes possíveis de se tornarem grandes rios) também são

doces. Salienta-se que, nos rios e lagos, vários tipos de seres vivos (peixes,

por exemplo) não sobrevivem sem água doce, ou seja, a mesma utilizada em

nossa higiene pessoal/ambiental e no saciar de nossa sede.

Demonstração de água salgada

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Dedica-se agora um tempo para o entendimento da passagem da água

retirada da Natureza, percorrida por estações de tratamento, até chegar às

torneiras de nossas casas para o consumo. Através de ilustrações, os alunos

atentos caminham com olhar a trajetória da água das estações até a

distribuição à população através de tubulações. Ainda com os olhos fixos no

painel, observam um grande reservatório (caixa d’água) existente não só em

residências, mas em escolas, hospitais, escritórios e demais lugares, em que

as águas se armazenam, provindas do encanamento.

A dinâmica completa-se com a informação de que, em locais sem

saneamento básico, as pessoas perfuram poços com grandes máquinas para

tirar água do subsolo. Por não ser uma água tratada, deve ser fervida ou

filtrada, antes de usá-la para beber ou fazer comida.

No encerramento desta fase do Projeto “Nossa Nave” exibe-se dois

tipos de máscaras, como elementos compostos de grande quantidade de água,

o tomate (fruto) e a melancia (fruta). Após rápidas intervenções explicativas

para se diferenciar o fruto da fruta, a criançada escolhe a sua máscara (modelo

vienense) para pintá-la e brincar ao estilo de um elegante baile carnavalesco, à

moda antiga.

Alunos do Ensino Fundamental I usando as máscaras de melancia e tomate

A finalidade da construção do Projeto Nossa Nave foi de promover a

conscientização dos alunos dos anos iniciais do Colégio Passionista São Paulo

da Cruz quanto à importância da água para a humanidade e da informação e

da ação individual para obtenção de um resultado global. A partir dos

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estudantes, queríamos atingir as famílias e provocar uma ação social

transcendente aos limites físicos da escola, através do conhecimento científico.

Escolhemos como metodologia de trabalho, encaminhar o Educológico

para projetos participativos, ou seja, construídos com base no empenho e na

participação ativa dos alunos, a partir de um tema gerador. De fato, a primeira

etapa da “Nossa Nave” foi aos poucos desenvolvida pelos alunos, sem a

interferência direta da coordenação, tanto no momento da preparação da

equipe quanto da comunicação com o infantil público estudantil.

Os alunos veteranos assumiram a coautoria do projeto, uma vez que,

através das experiências obtidas nas apresentações, puderam observar o

comportamento das crianças e avaliá-lo, propondo alterações criadas por eles

mesmos e registrando-as no projeto original.

A partir deste projeto, dois procedimentos impulsionaram esta etapa: o

envolvimento das crianças, que a partir das apresentações feitas, inicialmente,

por mim e depois pelos alunos, reagiram de maneira entusiástica, na

identificação de fatores relacionados aos problemas de consumo inadequado

de água em suas casas e à interação com os familiares, passando-lhes

informações e demonstrando-lhes atitudes de reflexão e ação, articuladas com

o conhecimento adquirido.

Interagir nos anos iniciais do Colégio Passionista e fazer um trabalho

capaz de ensinar aos educandos de forma que se sentissem aptos a

compartilhar do processo de ensino-aprendizagem, apresentou-se, a princípio,

insuperável, devido ao fato da necessidade dos alunos do Educológico se

incorporarem como educadores, prontos a motivar os estudantes mirins a

integrar conhecimento à atitude.

Para alcançar este status, os alunos da ONG Educológico necessitaram

cumprir um ritual de amadurecimento. O desafio começou com o de conhecer o

projeto, através da leitura, para depois de estudado e entendido como um todo,

organizar a teoria em dinâmica para a apresentação, preparar os materiais

(músicas, vídeos, imagens, experimentos), distribuir as falas entre os

integrantes do grupo e determinar o que cada um iria fazer.

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Após todo o preparo, veio uma demonstração para os professores-

coordenadores do grupo, em que foram feitas as orientações para o ajuste e

depois ocorreu a apresentação propriamente dita.

No caso do Projeto “Nossa Nave”, a primeira etapa foi o sub-tema água.

A primeira aula inaugural foi tensa, pode-se assim dizer, como a estréia de uma

peça teatral. Posteriormente o grupo tornou-se mais seguro e passou até

mesmo a improvisar. Nesta fase passaram a se preocupar menos com o

desempenho pessoal e mais com o comportamento das crianças em relação

ao aprendizado, ou seja, se a fala estava adequada, se o material usado foi

suficiente para que compreendessem etc. O grupo já estava se autoavaliando,

ao perceber que, apesar de todo o cuidado, existiam falhas, necessitando ser

corrigidas, como, por exemplo, trocar uma história em quadrinhos por uma foto,

quando as crianças eram maiores; usar um discurso mais “adulto” no quarto

ano, pois se interessavam mais por fatos científicos do que por contos de fada.

As novas experiências eram registradas no projeto original, tornando-os

coautores do mesmo.

Ao assumir responsabilidades no aprendizado das crianças, os jovens

educadores enfrentaram dificuldades de serem agentes sociais, levando-os a

refletir sobre o que e como ensinavam, deparando-se com as dificuldades de

quem quer uma mudança de atitude, através do ensino aprendizagem.

Segundo alguns relatos das professoras do Ensino Infantil e Ensino

Fundamental I do Colégio Passionista São Paulo da Cruz, as crianças

revelaram encantamento ao saber do que os alunos da ONG Educológico são

capazes de fazer. Tal posicionamento deve-se ao fato de existir toda uma

produção feita exclusivamente por pessoas não participantes do cotidiano de

sala de aula dessa criançada (a minha presença, num primeiro momento, e

depois dos alunos da mesma escola) para a transmissão das informações do

projeto.

Obviamente uma apresentação, com dinâmicas variadas, realizada por

pessoas que não são do nosso convívio, num determinado espaço fora do

ambiente, acostumadas a frequentar diariamente, causa um envolvimento

maior de integração entre estudantes infanto-aprendizes/conteúdo do estudo/

estudantes jovens orientadores. Realmente esta estrutura operacional

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explorada por nós, direcionada a um público especial, provoca uma reação

interessante comparada a um discurso, por mais excepcional que seja de um

renomado palestrante.

Todos estes fatores trouxeram um bom resultado em relação às atitudes

das crianças aprendizes e nos chamaram a atenção sobre uma nova

perspectiva de aprendizado, que se baseava, inicialmente, apenas no

encantamento daquelas pequenas criaturas. Depois de algumas exibições,

percebemos a preocupação dos integrantes da ONG Educológico em relação

ao aprimoramento das aulas expostas por eles, seja na estética como na

linguagem e na validade das informações. Tais atitudes deram aos

participantes da nossa ONG uma sensação de domínio do projeto, uma forma

de coautoria que, apesar de não ser plenamente reconhecida pelos mesmos, é

uma forma de aprendizado. Uma conquista de aprendizagem adquirida, através

da resolução de problemas detectados durante a prática do projeto, na

tentativa de fazê-lo alcançar seus objetivos.

Nesta perspectiva de espaço alternativo do conhecimento, percebemos

uma interessante possibilidade da evolução do projeto, porém não

conseguíamos deixar de pensar na sua eficácia para a instituição, como um

resultado mensurável, justificador de toda a ação. Estivemos atentos, para que

a ONG Educológico não fosse considerada pela escola um problema a mais na

gestão, ao invés de um procedimento educacional inédito e digno de

aperfeiçoamentos e não de críticas.

Ao assumir a coordenação da ONG Educológico, eu juntamente com a

minha colega de profissão, Professora Roseclair, ficamos muito preocupados

com o futuro da organização. Não tínhamos a real noção do que ela

representava para o colégio. De certa forma percebíamos, em alguns

momentos, certo desânimo por parte da diretora Irmã Mercedes Scortegagna,

em relação a sua sustentabilidade, mas por jamais cogitar a possibilidade de

encerrá-la, deixou-nos claro a grande expectativa nutrida em relação ao nosso

trabalho.

Fato relevante que contribuiu para a escolha da ação a ser colocada em

prática, a partir do instante em que assumimos o projeto. Decidimos explorar as

nossas aptidões, ao invés de continuar uma linha de trabalho, iniciada por outro

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profissional em gestão anterior. Então, resolvemos trabalhar com educação

formal, abrindo caminhos para a Educação Ambiental.

Atualmente estamos seguros de que a atitude tomada tornou-se marco

importante tanto para o Colégio Passionista São Paulo da Cruz como para a

ONG Educológico. A primeira instituição conta com projeto de Educação

Ambiental permanente e não seriado, priorizando a participação de diversos

alunos de estágios diferenciados de formação numa mesma atividade. A

segunda atua como movimento ambientalista, a partir da Educação Ambiental,

sendo então única e não correndo o risco de se dissolver dentre as tantas

ONG´s existentes.

Percebe-se que, independente do objetivo, há uma tendência de

incorporar o ambientalismo na ação educativa das escolas católicas, ou seja, o

princípio de uma educação formal alicerçada na compreensão de que fazemos

parte da Natureza. Enfrentamos, porém, o problema de tratar a Educação

Ambiental como sendo a análise dos problemas ambientais e a relação dos

fenômenos naturais, enfrentados pelos humanos, submetidos ao campo óptico

exclusivo da ciência.

Há de se desenvolver, portanto, uma Educação Ambiental preventiva e

não curativa, sem pressa de mostrar resultados; só assim, poderemos revelar a

multidisciplinaridade, associada a este processo educativo.

Segundo Figueiredo em um ensaio publicado na Revista Diálogo: É essencial formular escolhas apropriadas para inserir a essencialidade dos processos de ambientalização. Nessa imprescindível “nova tradição”, educar implica em “desafiar” o outro a se superar diante dos obstáculos. Potencializar atos-limite, ampliar a abrangência, problematizar, possibilitar a sistematização é parcela dessa jornada Ítaca – numa referência à viagem de Homero-, na busca de sonhos e desejos (FIGUEIREDO, 2010, página 32).

O aprendizado conquistado, nos trabalhos da ONG Educológico, só é

realmente reconhecido, quando os alunos são questionados sobre o que

aprenderam. Esta é uma característica intrigante.

Aprender em um espaço de formação, como a ONG Educológico, é um

processo que necessita do reconhecimento dos próprios alunos. Fato só

ocorrido ao serem orientados pelos professores coordenadores à reflexão,

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caso contrário, acreditam só obter o conhecimento em ambientes formais da

escola, principalmente na sala de aula.

Eis aqui um paradigma que precisamos ajudar a romper. Sendo a ONG

Educológico um projeto, idealizado pelo colégio e funcionando dentro de suas

dependências, o desenvolvimento de suas atividades nem sempre são

consideradas, como dirigidas ao aprendizado, mas, como atividades

recreativas ou socializantes, sem levar-se em conta de que, em situações

diferentes daquelas que a organização escolar tradicional proporciona, há

manifestações do conhecimento.

Fazer o aluno participante reconhecer que está aprendendo, durante as

atividades, é uma das etapas essenciais para a consolidação da ONG

Educológico, como espaço formativo.

Convencer os alunos de que a ONG Educológico proporciona condições

para a capacitação de uma formação educacional, não constituiu numa tarefa

fácil, principalmente por se desenvolver dentro de uma instituição de ensino

oficial, o Colégio Passionista São Paulo da Cruz, em que a prática diária das

aulas reforça aos estudantes o ensino-aprendizagem dentro de uma sala.

Não estamos culpando o colégio, visto que, a maioria dos

estabelecimentos de ensino ainda proporciona tal espaço de aprendizagem.

Não objetivamos, de maneira nenhuma, criticar ou analisar a eficácia da

herança tradicional e ainda disposta nos dias de hoje, mas sim verificar a

validade de um espaço alternativo.

A constante atitude avaliativa conduziu os alunos a uma reflexão sobre a

essência de cada um dentro de uma ação social e de um contexto escolar,

levando-os, portanto, a compreender a ONG Educológico, como uma

alternativa de aprendizagem em Educação Ambiental, dentro da própria escola

em que estão inseridos.

 

3.1- Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental - Espaço para

a prática da Educação Ambiental

O Recanto São Paulo da Cruz – Centro de Educação Ambiental faz

parte do projeto pedagógico do Colégio Passionista São Paulo da Cruz. A

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mesma instituição de ensino criou, em 1999, o Grupo Estudantil Educológico,

uma ONG, formada por estudantes e professores, atuantes em defesa da vida

e da conservação ambiental. O projeto de Educação Ambiental abrange

inúmeros fatores modificadores do Meio Ambiente e, consequentemente, da

vida saudável das gerações futuras.

A partir de janeiro de 2000, iniciaram-se os estudos para a formação do

Centro de Educação Ambiental, mo sítio, denominado Recanto Paulo da Cruz

que, a partir de então, passou a receber o adjetivo Centro de Educação

Ambiental, com a finalidade de propagar informações sobre Ecologia à

população local e aos visitantes de outras regiões.

O Educológico, por sua vez, além de trabalhar em projetos

desenvolvidos no Colégio Passionista São Paulo da Cruz, também atua na

criação e monitoria de atividades no Recanto Paulo da Cruz-Centro de

Educação Ambiental. A visita ao Centro de Educação Ambiental proporcionará

uma visão geral da Natureza, com suas características ecológicas e com seu

ambiente transformado pela Humanidade, a partir de suas tecnologias e sua

diversidade cultural, à medida que se percorre os espaços, como se estivesse

visitando uma exposição.

Em outras palavras, o Centro de Educação Ambiental pretende implantar

uma estrutura de integração entre um espaço natural de floresta tropical (trilha

da natureza) e um espaço de estudos ambientais equipado com tecnologias de

meteorologia, energias alternativas, reciclagem orgânica / inorgânica e viveiros

de mudas (trilha do homem). A área prevista para o desenvolvimento do projeto

poderá ser usada em atividades relacionadas à formação em Meio Ambiente

de qualquer natureza e grau (educadores, técnicos, ambientalistas,

administradores públicos e privados,...) e contribuirá diretamente na construção

de uma educação direcionada à preservação e valorização dos recursos

naturais.

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(Foto 1: Visão aérea do Recanto São Paulo da Cruz – Centro de Educação Ambiental)

O Centro de Educação Ambiental do Recanto São Paulo da Cruz,

localiza-se na Estrada Municipal - Bairro da Capoavinha, município de

Mairiporã, Estado de São Paulo. Abrange uma área de aproximadamente 200

000 metros quadrados.

O acesso é feito pela Rodovia Fernão Dias. Tomando-se a estrada no

sentido São Paulo - Mairiporã, após passar o Túnel da Mata Fria, percorre-se

4,7 Km e, então, entra-se à direita na Estrada Municipal (asfaltada). Após 2 km,

entra-se na Estrada do Capoavinha (de terra) e 200 metros adiante se chega

ao primeiro portão do Centro de Educação Ambiental .

A área, localizada na Serra da Cantareira, dispõe de uma formação

natural de Mata Atlântica e de mais uma área útil, com as construções das

estações de observação e estudos científicos nas áreas de reciclagem

orgânica, inorgânica, meteorologia e energia. Mapa do Recanto Paulo da Cruz- Centro de Educação Ambiental

71 

 

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De acordo com o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera Atlântica e

a UNESCO, todo o Município está dentro do perímetro da reserva da Biosfera

do Cinturão Verde da cidade de São Paulo. A área específica de localização

do Centro encontra-se no limite de duas zonas deste perímetro: Zona Núcleo-

conservação da biodiversidade e Zona de Amortecimento ou Tampão -

desenvolvimento sustentável.

Atualmente restam somente 8% da sua área original, em sua maior parte

localizada no Sudeste, na Serra do Mar, na porção oriental da Serra da

Mantiqueira e em pequenos fragmentos, como este em Mairiporã, onde está

situado o Centro.

Uma das principais características deste tipo de floresta é a grande

diversidade de flora e fauna. Apesar da devastação, a mata continua

extremamente rica: só em espécies vegetais são 20 000, ou seja, 7% de tudo

que existe no mundo.

Diante dos dados acima apresentados tornam-se necessárias ações de

revigoramento da região e conscientização da população local frente aos

desafios do Desenvolvimento Sustentável.

Entende-se que a área verde “pertencente” ao Recanto, assim como

toda a região de Mairiporã, deve ser conservada, segundo os princípios do

Desenvolvimento Sustentável, com um Plano Diretor, para organizar a

ocupação que vem sendo desordenada desde a formação da Represa Paiva

Castro, administrada pela SABESP.

A formação do lago submergiu antigas propriedades destinadas à olaria

às margens do Rio Juqueri, forçando o município a uma mudança de atividade

econômica, ou seja, passando de produção de tijolos para especulação

imobiliária. Desde então o crescimento urbano tem sido orgânico e danoso

para a floresta e para a manutenção da qualidade da água do Rio Juqueri.

É importante reconhecer que ali está a maior floresta urbana do mundo e

a população, que lá vive, dedica-se basicamente a prestação de serviços.

O objetivo fundamental do Centro é o de despertar o conhecimento do

Meio Ambiente e a necessidade de sua preservação de forma sustentável, de

modo a viabilizar a vida atual e futura da Terra.

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A principal função do trabalho como tema Meio Ambiente é contribuir

para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na

realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem

estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que,

mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com

atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de

habilidades e procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação.

Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do

dia-a-dia na escola.

Para desenvolver a atividade educacional, o Centro de Educação

Ambiental receberá alunos de outras instituições educacionais e demais

interessados que serão monitorados por educadores e alunos do Colégio

Passionista São Paulo da Cruz, contribuindo com a Educação Ambiental de

forma efetiva, através de estratégias de utilização de recursos naturais de

forma sustentável. Também entre a orientação à população encontra-se a

importância da água e a preservação das fontes, uma vez que o Recanto situa-

se numa microbacia, com cinco fontes de água em seu perímetro.

Para atingir os objetivos educacionais, o Recanto Paulo da Cruz - Centro

de Educação Ambiental, de acordo com o Plano Diretor para a implantação,

executará três ações:

1.ª ação - Utilizar todos os recursos disponíveis na área do Centro e da

região para criar situações práticas de ensino e consequentemente de

aprendizado. Para alcançar nossos objetivos, o espaço foi dividido em duas

trilhas: a Trilha da Natureza (percurso na mata) e a Trilha do Homem (ao

redor da casa sede com alojamentos, sala de treinamento e palestras, estação

meteorológica, sala para exposições e laboratório).

2.ª ação - Criação de Cenários Evolutivos do Meio Ambiente e do Homem. Os cenários, preparados pelos alunos do Colégio Passionista São

Paulo da Cruz, transformados em quadros ou painéis, dispostos em sequência

temporal que permitirão a criação de um espaço, com a função de um

Corredor do tempo. 3.ª ação – Criar no Centro, uma infra-estrutura de apoio às atividades de

Educação Ambiental desenvolvidas nas trilhas, isto é, Neste sentido, um

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Galpão de Recepção aos visitantes que também servirá para outras

atividades, tanto ambientais como de lazer. Próximo ao galpão construir-se-á uma Oficina de Trabalho, composta

de três laboratórios, para o desenvolvimento de trabalhos práticos

complementares às trilhas:

Trilha da Natureza

74 

 

• Visita ao interior da mata existente nas encostas.

• Observação dos fenômenos da natureza

• Coleta de materiais em pontos ambientalmente significativos

A Trilha da Natureza, composta por um percurso já aberto pela mata,

podendo ser realizado em até uma hora e vinte minutos, está organizada de

modo a não oferecer dificuldades aos visitantes, para que os mesmos possam

observar tranquilamente, durante a caminhada ou nas dez paradas, os

componentes da floresta.

Trilha do Homem

A Trilha do Homem compor-se-á de um laboratório multidisciplinar na

antiga casa sede do sítio. Em torno, em fase de montagem, três estações:

Energia, Ambiente e Meteorológica.

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Estação Energia

A Estação Energia é parte da Trilha do Homem. O aluno/visitante, que

fizer esta trilha, deverá ter a oportunidade, ao passar pela estação, de

conhecer e testar alguns artefatos utilizados pelo homem para gerar energia,

como estufa solar, aquecedor solar e moinho de vento, a partir de fontes

renováveis. Como não é possível instalar nesta estação, um exemplo de cada

fonte de energia utilizada pelo homem, serão priorizadas as formas mais

viáveis para o aproveitamento de energia diante da situação energética atual e

perspectivas futuras: solar e eólica.

Entende-se que o homem, ao longo de sua trajetória histórica no

planeta, dentre tantos desafios enfrentados, sempre procurou fontes de energia

para suprir as suas necessidades. Descobrir, dominar e utilizar as fontes

energéticas não foi tarefa fácil.

Atualmente, vivenciando uma crise energética, leva-nos ao esforço

comum de preservar as reservas hídricas e racionalizar o uso de energia,

retomando alternativas energéticas pouco incentivadas até então.

Tudo isso nos leva o esforço de proporcionar aos estudantes de

Educação Infantil ao Ensino Médio e demais interessados uma “Estação

Energia”, experiências relacionadas às diversas formas de obtenção de

energia, das quais obviamente, a energia solar estará presente, a fim de

promover a economia de eletricidade.

Estação Ambiente

Entender a importância da recuperação das matérias orgânica e

inorgânica e as possibilidades de recuperação do ambiente natural, através de

técnicas, imitando a Natureza na produção de substâncias orgânicas, com

tecnologias de pouco impacto ambiental.

As estratégias utilizadas serão: reciclagem inorgânica, com separação

de resíduos resultantes da atividade do próprio Centro de Educação Ambiental;

produção de húmus, através de vermicomposto produzido no minhocário e

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manutenção de um viveiro/berçário de mudas para o repovoamento das áreas

desmatadas do próprio Centro de Educação Ambiental.

A Estação Ambiente realizará um ciclo de matéria, a fim de manter o

controle ambiental, considerando o Centro de educação ambiental, como um

ecossistema equilibrado.

Estação meteorológica

A visita ao posto meteorológico permitirá o conhecimento do

funcionamento de uma estação, através dos parâmetros de direção do vento,

temperatura e umidade do ar e demais recursos; importantes para o

desenvolvimento das atividades humanas.

Atividades extras O objetivo da Trilha do Homem é realizar, através de um passeio pelas

instalações do Centro, uma visualização de como o Meio Ambiente sofreu

modificações pelo homem para sua sobrevivência, subsistência, trabalho e

lazer.

Além das estações implantadas já descritas anteriormente, esta trilha

apresenta:

- Plantio de mudas na horta e pomar que se originarão de experimentos

de germinação, previamente realizados

- Coleta e entendimento da nascente, captação e caixa d’água com

distribuição. O percurso do aluno permitirá acompanhar o trajeto da água para

o uso do homem e desenvolver atividades relacionadas à sua importância e

preservação.

- Cenários evolutivos – O objetivo é despertar uma visão global ao

longo do tempo e do espaço, direcionando a ação pedagógica para os

assuntos de preservação ambiental. Para tanto os cenários evolutivos estarão

distribuídos na forma de painéis, que dispostos em um espaço físico do Centro,

numa seqüência temporal, comporão um Corredor do tempo da seguinte

forma:

a) Evolução do planeta, através da história evolutiva do Meio Físico

(Geologia) e do Meio Biótico (Flora e Fauna).

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b) Evolução histórica do Brasil e da região de Mairiporã, principais

marcos da humanidade.

c) Problemas Ambientais da atualidade.

Os problemas ambientais da atualidade deverão ser apresentados em

três níveis:

GLOBAL- abordagem de problemas prejudiciais ao mundo como um

todo: efeito estufa, camada de ozônio, poluição dos mares, rejeito nuclear, etc.;

REGIONAL – foco de problemas de poluição dos rios, poluição do ar,

lixo em São Paulo, etc.;

LOCAL - destaque para os problemas ambientais do Município de

Mairiporã.

A partir de uma “viagem”, através dos cenários, o visitante entenderá o

que é e como evoluiu o meio ambiente.

Os projetos pedagógicos proporcionarão a expansão para a formação de

professores multiplicadores por abranger o conteúdo de Ensino Fundamental I

e II, além do Ensino Médio. Assim sendo, o conjunto de atividades

desenvolvidas no Recanto pode ser explorado em todas as disciplinas.

Alguns projetos compõem as ações de curto prazo que podem ser

aplicadas à população, como:

1- Terra Viva – Proporciona uma vivência e uma valorização

dos componentes de um meio físico e vivo do ecossistema, atendendo

às necessidades do programa curricular do 6º ano do Ensino

Fundamental II.

Relaciona as características geológicas, atmosféricas

ambientais, a fim de conhecer a ação de preservação, reconhecendo o ciclo de

vida e a interferência do Homem, como agente mantenedor de sua saúde

social e ambiental, como bens individuais e da coletividade que devem ser

conservados para as gerações futuras.

2- Investigando a Natureza – Proporciona uma vivência dos

métodos científicos de investigação dos elementos que integram um

ecossistema. Está de acordo com os conteúdos do 7º ano do Ensino

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Fundamental II, a fim de manter presente, para o educando, a noção de

uma natureza única, indissociável e interativa.

Incentivar o educando a olhar ao seu redor, observando e investigando

os seres vivos que ocorrem no ambiente da região de Mairiporã.

Favorecer a construção coletiva de idéias, incentivando o trabalho em

grupo.

3- Nossa Nave – Proporciona uma análise real do processo de

desenvolvimento das cidades e tem como objetivo desenvolver uma

análise crítica à luz do conceito de desenvolvimento sustentável.

4- História do Homem através da Arte – Conduz o estudante ao

passado Pré- Histórico e permite que o mesmo faça uma imersão na História

da Humanidade e sua relação com algumas formas de manifestação artística.

5- Herbário Fotográfico – Desenvolve os conceitos de Botânica,

Química, Literatura e Educação Física para estudantes do Ensino Médio.

6- Reciclagem Orgânica por Compostagem – Apresenta a técnica de

produção de fertilizante através da atividade das minhocas a fim de

conscientizar as pessoas sobre a importância das minhocas para o meio

ambiente e como o homem pode explorar a criação de minhocas para

beneficiar o solo e obter benefícios econômicos através de uma Biotecnologia.

Sendo a área de localização do Recanto Paulo da Cruz contemplada por

uma fatia de floresta tropical remanescente da Mata Atlântica e de acordo com

sua importância em relação à fauna brasileira e mundial, pretende-se, com

todas as atividades desenvolvidas nessa área, mudar a relação da população

com o ambiente natural disponível, fazendo com que a vida seja melhorada de

forma significativa e o ambiente siga por uma trajetória de recuperação de

áreas degradadas até chegar a mudanças administrativas no Plano de Ação do

Poder Legislativo e Executivo local.

3.2 O Sistema Organizacional do EDUCOLÓGICO

A Organização Não-Governamental EDUCOLÓGICO, sendo uma

entidade civil de caráter ambientalista, busca desenvolver uma aprendizagem

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dentro de um ambiente diferenciado, numa perspectiva pedagógico-

democrática.

Não podemos nos esquecer de que, segundo a ONU, ONGs, por serem

entidades civis sem fins lucrativos, de direito privado, realizam trabalhos em

prol de uma coletividade.

Em seu estatuto social, o EDUCOLÓGICO apresenta-se como ONG

sócio-ambientalista e educacional e seus objetivos principais são:

• Estimular e desenvolver o pleno exercício da cidadania, através

da educação ambiental, para melhorar a qualidade de vida da população, a

partir de sua realidade estudantil.

• Defender e proteger o meio ambiente e os recursos, através da

conscientização estudantil e de ações ecológicas que atinjam a comunidade

ao seu redor.

• Estimular a transformação do Recanto Paulo da Cruz numa

RESERVA PARTICULAR DO PATRIMONIO NATURAL; conseguido este

objetivo, promover projetos que visem a sua preservação, uma vez que se

situa numa micro bacia.

• Atuar na implantação, desenvolvimento e atualização do

CENTRO DE EDUCAÇAO AMBIENTAL PAULO DA CRUZ, em Mairiporã,

atuando como agentes de seus objetivos educativos e ambientais.

• Pesquisar, estudar e divulgar as causas dos problemas

ambientais e as possíveis soluções, visando o desenvolvimento

ecologicamente sustentável, a partir de sua realidade.

• Promover assistência social beneficente nas áreas de meio

ambiente em que estiverem atuando.

• Difundir atividades educativas, culturais e científicas, realizando

pesquisas, treinamentos, editando publicações, vídeos, processando dados,

assessoria técnica nos campos ambiental, educacional e sócio-cultural, bem

como comercialização de publicações, vídeos, serviços e assessoria,

programas de informática, camisetas, adesivos, materiais destinados à

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divulgação e informação sobre os objetivos do EDUCOLÓGICO, desde que o

produto desta comercialização reverta integralmente para a realização desses

objetivos.

Todas as atribuições acima mencionadas não representam a totalidade

daquilo que confere ao EDUCOLÓGICO, mas já são suficientes para justificar a

importância do projeto em minha pesquisa. De um lado, uma instituição educacional com toda a estrutura voltada à excelência no ensino e de

outro, uma ONG com missão sócio-ambiental educativa. Os objetivos do EDUCOLÓGICO, sendo uma Organização Não-

Governamental Ambientalista dentro de uma instituição de educação, são: 1º)

ensinar aos alunos participantes a Educação Ambiental de forma prática

(educar para a vida); 2º) ter atuação de fato e de direito nas questões

ambientais e 3º) ensinar a dinâmica do terceiro setor juntamente com todas as

atribuições que competem a uma ONG: “O bom clima pedagógico-democrático

é o em que o educando vai aprendendo à custa de sua prática mesma que sua

curiosidade como sua liberdade deve estar sujeita a limites, mas em

permanente exercício (Ibid., p.85)

É necessário esclarecer que, a Educação Ambiental, como processo

social, não envolve apenas a divulgação científica em torno do meio ambiente,

seus componentes e problemas, mas também a relação existente com a

sociedade e seu comportamento, orientando quanto à necessidade de

conscientização da responsabilidade individual em relação aos problemas

ambientais.

O terceiro setor, organização civil em torno de um objetivo e com

personalidade jurídica própria, vem se tornando uma forma eficaz de

participação popular na tomada de decisões governamentais, fiscalizações e

realizações independentes. Por isso, considero extremamente funcional a

existência de uma ONG Ambiental numa instituição de ensino: Afinal, o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente “lido”, interpretado, “escrito” e “reescrito”. Nesse sentido, quanto mais solidariedade exista entre o educador e educandos no “trato” deste espaço, tanto mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem na escola (Ibid., 2009, p. 97).

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Sendo assim, a ONG EDUCOLÓGICO pode desenvolver múltiplas

funções educativas, num ambiente escolar, e estas são as possibilidades:

Terceiro Setor (instituição)

Funcionamento da ONG

. Movimento Ambientalista

Entender Construção de Projetos

81 

 

Educação Ambiental Integração de conteúdos

Funcionamento da ONG EDUCOLÓGICO

3.2.1 – Terceiro Setor

Para o entendimento da composição e do funcionamento do terceiro

setor é necessário ter uma visão da organização da sociedade em setores, ou

seja, o primeiro setor - público de interesse comum, o segundo setor- privado

de interesse particular e, finalmente, o terceiro setor- formado por organizações

privadas sem fins lucrativos (nem público, nem privado).

Apesar de não substituírem o primeiro setor, nos países em

desenvolvimento, como o Brasil, as ONGs desenvolvem trabalhos importantes,

em que o Estado mostra-se ausente.

O aprendizado sobre o terceiro setor proporciona uma experiência

relevante para a inclusão no mercado de trabalho, pois evoca valores de

cidadania, conhecimentos de organização institucional, noções de legislação e

responsabilidade civil.

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3.2.2 Movimento ambientalista

Para a compreensão do movimento ambientalista, o estudante

necessariamente avança em direção ao estudo dos movimentos sociais e

sistemas políticos, avaliando a questão ecológica num contexto de prática. A

aplicação dos conhecimentos das ciências da natureza e ciências sociais nas

questões emergentes da atualidade. O ambientalismo entendido como movimento social significa que a questão ecológica é tratada de forma crítica e alternativa em relação à ordem existente, sendo contextualizada de um modo fortemente normativo (tal como acontece com as questões do pacifismo e do feminismo) (LEIS e D’AMATO, 1998, p.78).

O estudante avalia o atual modelo de desenvolvimento e verifica sua

insustentabilidade e a necessidade de reavaliação do comportamento da

sociedade.

3.2.3 – Educação Ambiental

3.2.3.1 Construção de projetos

É importante aqui tratar o projeto como exercício de pensar em ações

coordenadas, planejamentos e organizações, para o futuro, ou seja, nas

estratégias para alcançar os objetivos.

Uma das características agradáveis, na realização de projetos com os

alunos, é, a cada experiência, eles se mostram mais seguros e capazes de

interagir com o problema proposto, tendo plena liberdade de alterar o

esquematizado anteriormente e aos poucos, confiantes, para criar um projeto,

a partir de suas próprias observações. Podemos pensar que um caminho possível para se trabalhar os processos de ensino e de aprendizagem no âmbito das instituições escolares pode ser por meio de projetos, concebidos como estratégias para a construção dos conhecimentos (ARAÚJO, 2003, p.67).

A forma mais viável de realizar os projetos, envolvendo o convencimento

de outras pessoas em relação ao comportamento é o trabalho em equipe.

Cada aluno traz de seus “mundos” familiares e escolares uma importante

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experiência específica dos problemas ambientais, mas que ao ser

compartilhado com outro, forma a base de conhecimento que sensibiliza e

integra uma pesquisa mais aprofundada.

As múltiplas tarefas possíveis de serem realizadas pelo grupo agilizam o

desenrolar da prática, diminuindo a ansiedade e mostrando resultados a tempo

de viabilizar correções ao longo do processo.

Outros fatores como, pontualidade, responsabilidade, comando e

tomada de decisões democráticas são aprendidas durante a pesquisa,

estruturação, execução e avaliação dos projetos.

 

 

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4 - A RELAÇÃO DO TRABALHO DA ONG EDUCOLÓGICO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Este capítulo estabelece algumas relações entre as orientações oficiais dos

documentos de Educação Ambiental que norteiam as práticas no mundo com

as atividades da ONG Educológico à luz dos teóricos da educação já

mencionados nessa pesquisa. O objetivo é confrontar o conhecimento teórico

acumulado ao longo da história da Educação Ambiental com os aspectos da

realidade do trabalho realizado na ONG Educológico a fim de tornar evidente o

conhecimento que se pode obter a partir da análise.

A fim de tornar a análise mais objetiva, algumas das determinações e

orientações que serviram de base para a Educação Ambiental foram

organizadas em eixos de acordo com a pertinência em relação ao trabalho da

ONG.

Para proporcionar às pessoas a vivência dos cinco eixos, temos que

observar alguns princípios ou ações necessárias para se trilhar a Educação

Ambiental de forma segura, contribuindo para a sua consolidação e evolução.

84 

 

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O desenvolvimento do projeto Nossa Nave seguiu as seguintes etapas

A – Apresentação do conteúdo

B – Escolha das tarefas

C – Orientações para apresentação

D – Apresentação

E – Avaliação e adaptação

Analisando algumas situações ocorridas durante a realização do projeto

Nossa Nave é possível avaliar se a dinâmica atendeu, ao menos em alguns

aspectos, as orientações sobre Educação Ambiental.

Eixo I – proporcionar conhecimento sobre problemas ambientais

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Este eixo pode ser analisado a partir da primeira etapa do projeto (A), pois a

leitura do roteiro e sua interpretação trazem ao aluno uma quantidade de

informações que foram organizadas de forma didática, para que eles

interpretem e avaliem o grau de dificuldade em usar tal informação na dinâmica

com as crianças.

Ao ler o roteiro e avaliar o conteúdo a partir de sua própria capacidade de

interpretação, estão vivendo uma situação que propicia conhecimento sobre

problemas ambientais, porém, motivados por uma situação diferente da

convencionalmente oferecida em sala de aula, agora, é preciso entender o que

está no roteiro para depois, ensinar. Tal situação atende ao princípio 6 da

Educação Ambiental: “utilizar diversos ambientes educativos e métodos sobre

a Educação Ambiental”.

O conhecimento não se restringe apenas a este momento, as etapas

seguintes são importantes para a consolidação desse processo. Após a leitura

do texto é feita a divisão das tarefas ou, a fase B, onde cada educando escolhe

a tarefa que quer fazer na dinâmica.

Reunião para leitura e avaliação do roteiro.

Eixo II – proporcionar conscientização do meio ambiente global

Este eixo, apesar de basicamente teórico, passa a ser enriquecido a partir

da fase C e principalmente na fase D, quando se cria condições para que os

alunos apresentem a dinâmica para os colegas e educadores e depois com as

86 

 

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crianças, revelando, principalmente na fase D, o conhecimento que as crianças

têm de sua vivência, revelados de forma inesperada durante as apresentações

criaram situações desafiadoras para os alunos da ONG Educológico,

desafiando a responsabilidade de dominar cada vez mais o conteúdo.

As diversas experiências relatadas pelas crianças revelaram um pouco dos

problemas ambientais vividos em famílias distintas e em comunidades de

diversas realidades sociais, como quando o grupo se apresentou para crianças

carentes na Escola Estadual “Oswaldo Catalano” e no CEU Jaçanã. Tais

experiências expandiram a noção de problemas ambientais, atendendo ao

princípio 3 da Educação Ambiental.

Apresentação do projeto Nossa Nave para crianças de creche durante um evento na E. E. ”Oswaldo Catalano”

Eixo III – Comportamento – comprometimento, participação

Ao tornar a ONG Educológico uma organização de voluntariado como, aliás,

reza seu documento de razão social, fez com que os alunos que lá

permanecessem mesmo sem ter atribuição de notas e outros novos membros

chegassem demonstra por si a presença de valores e atitudes pessoais que

viabilizaram a missão de promover a Educação Ambiental. Trata-se de uma

iniciativa que a meu ver tem o apoio em Freire (2009, p. 87): “Quanto mais a

curiosidade espontânea se intensifica, mas, sobretudo, se ‘rigoriza’ tanto mais

epistemológica ela vai se tornando”.

87 

 

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Eixo IV – Habilidades – para resolver problemas

A Lei número 9.795/99 em seu Artigo 1º. Relaciona Educação Ambiental

com processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem

valores sociais, conhecimentos, habilidades. Quando verificamos que durante o

processo de organização das atividades os alunos resolviam problemas de

distribuição de responsabilidades e permitiam o afloramento de lideranças com

liberdade de escolher o que mais agradava fazer e, aos poucos, interagir com

outros setores. A não obrigatoriedade de agir de maneira uniforme vai de

encontro ao pensamento de Perrenoud, que vê a progressão para todos no

mesmo ritmo como um dos problemas dificultadores do ensino.

Isto se observa pela própria configuração do grupo, que tem alunos desde o

sexto ano no Ensino Fundamental até o terceiro ano do Ensino Médio, numa

colaboração mútua entre grupos, cada qual exercendo sua parcela de trabalho

de acordo com as habilidades pessoais e assumindo responsabilidades

espontaneamente em respeito à autoconfiança, conforme Zaballa (2005), a

aprendizagem é uma construção pessoal que depende de seu interesse e

disponibilidade. Aqui se verificam os princípios 4, 5 e 7: “desenvolver o senso

crítico”; “desenvolver habilidades para resolver problemas”; dar ênfase às

habilidades práticas e individuais”.

Eixo V – Participação – nas tarefas que objetivam resolver problemas

Se considerarmos a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente

Humano onde se proclama que o homem é ao mesmo tempo obra e construtor

do meio ambiente que o cerca e relacionarmos com a iniciativa da ONG

Educológico em proporcionar aos estudantes a conscientização e a prática

educativa como agentes transmissores e formadores, podemos entender este

como um instrumento viável de Educação Ambiental.

Neste ponto vale lembrar Freire (2009, p. 69), “... toda prática educativa

demanda a existência de sujeitos, um que ensinando, aprende, outro que,

aprendendo ensina.”

No mesmo documento internacional lemos que o homem deve fazer

constante avaliação de sua experiência e continuar descobrindo, inventando,

criando e progredindo. Aí podemos estabelecer a relação de transição do

Projeto Nossa Nave em que a equipe de 2008 herdou o “projeto água” e

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realizou modificações em sua apresentação com livre arbítrio para decidir o

que ficaria melhor, de acordo com as expectativas pessoais a prática,

rompendo com a idéia de reprodução fiel do roteiro inicial, tal fato ocorreu na

etapa E do projeto. Assim como Freire (2009, p. 42): “A aprendizagem da

assunção do sujeito é incompatível com o treinamento pragmático ou com um

elitismo autoritário...”

Relação do trabalho da ONG Educológico com a Educação Ambiental

Aqui se pode visualizar as relações entre os cinco eixos e as etapas do trabalho com os projetos.

Eixos

I – Proporcionar conhecimento sobre problemas ambientais.

II – Proporcionar conscientização do meio ambiente global.

III – Comportamento – comprometimento, participação.

IV – Habilidades para resolver problemas.

V - Participação nas tarefas que objetivam resolver problemas.

Etapas Eixo I Eixo II Eixo III Eixo IV Eixo V

A - Apresentação X

B - Escolha das etapas X X X

C- Orientações para apresentação X

D- Apresentação X X

E- Avaliação X X

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Considerações finais

Uma das finalidades da Educação Ambiental que posso reconhecer no

Educológico é o que recomenda a Primeira Conferência Intergovernamental sobre

a Educação Ambiental (Tbilisi): possibilitar o conhecimento, valores e atitudes

necessárias a proteção e melhoria ambiental e induzir novas condutas sociais a

respeito do meio ambiente.

O congresso internacional de Educação e Formação Ambientais realizado em

Moscou (1987) teve como uma das recomendações que a Educação Ambiental é

considerada um processo permanente onde os indivíduos tomam consciência do

meio ambiente e adquirem conhecimento, valores... Aqui deparamos com a

dinâmica da ONG Educológico, onde sua própria existência já configura um

projeto permanente, com sua rotina de reuniões que tem o objetivo de refletir

sempre um problema e as possíveis soluções, envolvendo assim um aprendizado.

A possibilidade de participação na construção de novas estratégias nas dinâmicas

se dá a partir do momento que o aluno tem confiança sobre o aprendizado e,

assim, demonstra mais do que um saber conceitual, como cita Minc (2005, p.

26)... ”Não basta conhecer a fotossíntese para entender por que se usam milhões

de toneladas de agrotóxicos no Brasil, quais são as alternativas para eles e o que

se pode fazer para viabilizá-las”.

O desafio de ensinar criou uma motivação para aprender. Uma vez aprendido o

conteúdo, cria-se uma confiança suficiente para sugerir adaptações a fim de

melhorar o desempenho do projeto, tudo depende da experiência.

Quando pela primeira vez o grupo de 2008 revelou a vontade de sugerir

modificações no projeto Nossa Nave, eu me senti absolutamente incapaz de dizer

não, pois raramente tinha a oportunidade de acompanhá-las durante as

apresentações, apenas assistia a fragmentos dos mesmos, pois estava sempre

envolvido com outros afazeres juntamente com o restante da equipe. A confiança

que depositei naquele grupo veio da própria postura que tinham durante os

afazeres rotineiros, sempre organizadas e compenetradas nas atividades;

inclusive em sala de aula.

Esse marco referencial na dinâmica de construção, avaliação e ajuste das

atividades vai ao encontro de Freire (2009), a prática educativo-crítica propicia

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condições para que o educando possa assumir-se como ser social, transformador

e criador. Contribuem para esse fato a boa relação dos educandos entre si e com

os educadores.

Já uma das recomendações do Seminário Latino-Americano de Educação

Ambiental realizado na Argentina em 1988 é que a Educação Ambietal deve

promover a reformulação da educação formal e não-formal para uma concepção

ambientalista, ou seja, considerando as dimensões sociais e ambientais. Tal

recomendação também remete ao modelo organizacional do Educológico quando

se presta a revelar aos alunos conhecimento sobre o movimento ambientalista.

Por ocasião da Rio-92, Organizações Não-Governamentais de todo o mundo

estiveram reunidas no Fórum Global, onde nasceu o Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis, conforme a tendência da Conferência

realizada no Rio de Janeiro, onde, entre outros princípios ficou registrado que:

somos todos aprendizes e educadores.

Outros princípios da Educação Ambiental para a Sustentabilidade e

Responsabilidade Global merecem observações ao menos em alguns de seus

fragmentos. Quando, por exemplo, se escreveu que a Educação Ambiental deve

basear-se em pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo e lugar.

Temos aí uma característica identificável no Educológico, pois, ao lançar as

responsabilidades das ações para os estudantes gera insegurança no início, mas

esta inquietação leva a reflexão e a tentativa de novas alternativas. Muitas vezes os

alunos não atingem o mesmo grau de conhecimento, mas acho improdutivo querer

que isto ocorra, pois mesmo em sala de aula é reconhecível a disparidade no

aprendizado individual.

Ao mesmo tempo, quando o mesmo documento indica que a Educação Ambiental

deve se desenrolar em qualquer tempo e lugar, em seus modos formal, não formal e

informal como já foi descrito antes, reconhece mais um ponto de convergência nas

ações do Educológico.

Quando se afirma que a Educação Ambiental é individual e coletiva se verifica que é

legítima a escolha de alguns alunos que não assumem certas responsabilidades

porque não se julgam preparados para tal. No entanto, a presença desse aluno

sempre é necessária, pois, qualquer que seja sua ajuda, dá segurança e alivia os

afazeres daqueles que assumem mais tarefas.

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Evidentemente que em um ambiente de Educação Ambiental Não-formal que é a

ONG, existe uma tolerância para tais diferenças pessoais. No entanto, não se deve

deixar de considerar que tudo isso ocorre dentro de uma instituição Formal de

educação onde se trabalha sempre com grupos grandes de alunos, e as orientações

mencionadas pelo Fórum Global foram formuladas por representantes de ONG’s.

Durante o ano de 2011 a freqüência de alunos esteve em torno de 13, sendo a

maioria do Ensino Fundamental II até o oitavo ano.

A participação dos alunos de Ensino Médio, apesar de menor em quantidade tem

maior impacto nas ações. Naturalmente os alunos mais jovens não têm, na maioria

das vezes, a mesma fluência para estabelecer a comunicação com as crianças,

ficando mais tranqüilos quando a atividade é “braçal”, como preparação de materiais

para apresentação.

Obviamente como educador tal fato me leva a pensar sobre a validade deste

comportamento em termos de aprendizado, mas levando-se em conta o ponto de

unidade em torno do qual todos estão ligados, é de extrema importância o que cada

um pode fazer pelo sucesso do projeto, pois o fazer seja usando da capacidade de

comunicação ou de colaboração nos bastidores faz com que se aprenda algo em

torno do assunto sem que se exerça uma pressão. Talvez aí esteja ao menos um

dos fatores que leva o aluno a continuar no projeto, pois toda a pressão para que se

faça algo vem acompanhado de algum tipo de pagamento, ou seja, nota.

A ONG Educológico gira em torno dela mesma não em torno do colégio já que não

exerce nenhuma interferência direta nos conteúdos programáticos em termos de

nota. Já a influência do trabalho da ONG tem gerado, mesmo timidamente, algum

interesse por parte de alguns professores que desenvolvem conteúdos que se

relacionam com a questão ambiental, neste sentido, a ONG tem recebido doações

de trabalhos desenvolvidos na área de Geografia, por exemplo, como herbários e

coleções de rochas.

Por parte das educadoras do Maternal ao quinto ano do Ensino Fundamental I já

podemos perceber uma associação mais íntima entre a atividade em sala de aula e

as nossas dinâmicas.

Esperamos que mesmo os alunos mais tímidos venham a assumir funções de maior

dinamismo nos projetos, porém em nenhum momento passamos algum tipo de

ansiedade a eles.

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O que nos anima bastante diante da nossa proposta de trabalho é saber que os

alunos que se envolvem de alguma forma com a dinâmica apresentada revelam

comportamentos de ponderação diante das questões ambientais envolvidas no dia a

dia. De tanto ensinar desenvolvem um controle interno sobre suas próprias

condutas.

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