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NATALIA GIROTTO
INCIDÊNCIA DE LESÕES EM JOGADORES DE HANDEBOL: UM ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVO
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
UNICID
SÃO PAULO
2012
Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID G527i
Girotto, Natalia. Incidência de lesões em jogadores de handebol: um estudo de coorte prospectivo. / Natalia Girotto. --- São Paulo, 2012. 85 p. Bibliografia Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo - Orientador: Prof. Dr. 1. Traumatismos em atletas. 2. Esportes. 3. Epidemiologia. 4. Fisioterapia. I. Título.
CDD 615.82
NATALIA GIROTTO
INCIDÊNCIA DE LESÕES EM JOGADORES DE HANDEBOL: UM ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVO
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Fisioterapia da
Universidade Cidade de São Paulo
como requisito exigido para obtenção
do título de mestre sob orientação do
Prof. Dr. Alexandre Dias Lopes e co-
orientação da Profª Ms. Maria Rita
Cardoso Gomes.
Área de concentração: Avaliação, Intervenção e Prevenção em Fisioterapia.
COMISSÃO JULGADORA:
Prof. Dr. Alexandre Dias Lopes ______________________
Universidade Cidade de São Paulo (UNICID)
Prof. Dr. Alberto de Castro Pochini ______________________
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Prof. Dr. Richard Eloin Liebano ______________________
Universidade Cidade de São Paulo (UNICID)
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: Contextualização ......................................................................... 8
1.1 Introdução ....................................................................................................... 9
1.2 Apresentação dos estudos envolvidos na dissertação ................................... 13
1.3 Referências ..................................................................................................... 14
CAPÍTULO 2: Incidência de lesões em jogadores de handebol durante o Campeonato Paulista 2011: um estudo de coorte prospectivo ..................... 16
2.1 Resumo............................................................................................................18
2.2 Abstract............................................................................................................ 20
2.3 Introdução........................................................................................................ 21
2.4 Métodos........................................................................................................... 22
2.5 Resultados....................................................................................................... 25
2.6 Discussão........................................................................................................ 32
2.7 Conclusão........................................................................................................ 36
2.8 Referências...................................................................................................... 37
Anexo..................................................................................................................... 40
CAPÍTULO 3: Incidência de lesões em jogadores de handebol durante o Campeonato da Liga Nacional 2011: um estudo de coorte prospectivo........ 44
3.1 Resumo............................................................................................................46
3.2 Introdução........................................................................................................ 48
3.3 Métodos........................................................................................................... 49
3.4 Resultados....................................................................................................... 51
3.5 Discussão........................................................................................................ 58
3.6 Conclusão........................................................................................................ 61
3.7 Referências...................................................................................................... 62
Anexos................................................................................................................... 65
CAPÍTULO 4: Considerações Finais.................................................................. 69
4.1 Importância dos resultados e implicações para pesquisas futuras................. 71
Material Suplementar...........................................................................................72
Instruções aos autores – Revista Brasileira de Medicina do Esporte (RBME)...... 73
Deferimento do Comitê de Ética em Pesquisa...................................................... 85
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente as pessoas mais importantes da minha vida, minha
família, não tenho palavras para descrever o amor, o carinho, e a gratidão que sinto
por vocês. Vocês são meu alicerce e digo-lhes que sem vocês nada disso seria
possível. Mãe e Pai a distância que existe entre nós nunca influenciou e nunca
influenciará em nossas vidas. Obrigada por acreditarem no meu potencial e estarem
sempre presentes, me apoiando com suas palavras amigas. Amo vocês
eternamente.
Mah, você é a melhor irmã do mundo, esta conquista também pertence a
você. Obrigada pelas tardes de sábado em São Paulo, estar ao seu lado é alegria
garantida, te amo muito.
Família Tavares, vocês me proporcionaram durante estes anos a melhor
hospedagem de São Paulo. Não somos irmãs de sangue, mas tenho uma
consideração por vocês inexplicável, amo cada uma de vocês, Débora, Lilica,
Angela, Daiana, e é claro que não poderia esquecer da “minha mãe” Cida e o “meu
pai” Tatá.
Tia Ana, sou eternamente grata por você, pelo seu carinho, preocupação,
amor, por sua ajuda, independente da hora e do dia. Pelo aconchego da sua casa e
cama quentinha. Obrigada por tudo que você me proporcionou, te amo.
Agradeço a todos os professores do Programa de Mestrado da Universidade
Cidade de São Paulo, pelo conhecimento em todas as áreas. Em especial ao
professor, orientador e amigo Dr. Alexandre Dias Lopes, por ter acreditado no meu
potencial e não medir esforços para me ajudar. Alê sou eternamente grata a você.
Obrigada de coração.
Agradeço ao grupo “SPRunIG” pelo apoio de todas as manhãs de quinta-feira,
com ricas discussões de artigos e também pela alegria e companhia. Em especial ao
um grande amigo, Luiz Carlos Hespanhol Junior, te admiro muito. Obrigada por tudo,
tudo mesmo. Desejo a você muito sucesso.
Gostaria de agradecer a minha co-orientadora profª. Ms. Maria Rita Cardoso
Gomes, obrigada por abrir as portas “do handebol” para a realização da nossa
pesquisa.
Por fim tenho que agradecer essa conquista a Deus, obrigada por estar ao
meu lado em todo momento.
8
- CAPÍTULO 1 -
CONTEXTUALIZAÇÃO
9
1.1 INTRODUÇÃO
A Dinamarca, Alemanha e Suécia são considerados os pioneiros do handebol.
Em 1917, Max Heiser formulou as regras oficiais de handebol feminino. Dois anos
mais tarde, Karl Schelenz acrescentou e propôs as regras para os homens1. Nos
anos 20 do século passado, após a I Grande Guerra Mundial, o handebol chegou no
Brasil trazido por imigrantes alemães. No estado de São Paulo o esporte obteve seu
maior desenvolvimento. Em 1940 foi fundada a Federação Paulista de Handebol2,
primeira federação estadual criada no país.
O handebol é um jogo que permite o contato físico entre os atletas. Os principais
movimentos são os dribles, os passes e arremessos. É jogado em recinto fechado
por ambos os gêneros3. Um jogo de handebol é caracterizado por repetidos
movimentos de corrida com acelerações, arrancadas, saltos e rápidas mudanças de
direção4.
Vários autores analisaram a incidência de lesões no handebol, porém para a
maioria dos autores os resultados são difíceis de serem comparados porque os
estudos são muito heterogêneos, pois utilizam diferentes definições de lesões, além
de períodos de acompanhamento e diferentes tipos de atletas (por exemplo, estudos
com atletas recreacionais e estudos com atletas profissionais)5-8.
Em 1988 foi realizado um dos primeiros estudos prospectivos sobre o handebol.
Neste estudo os pesquisadores avaliaram jogadores de equipes dinamarquesas,
com idade entre 7 e 18 anos, observando a incidência de 10 lesões/1000 horas de
jogo9. Outro estudo realizado com jogadores de handebol no ano 1996, também em
equipes dinamarquesas avaliaram retrospectivamente jovens jogadores com idade
de 16 a 18 anos e constataram uma alta incidência de 41 lesões/1000 horas de
jogo7.
10
Em 1997, foi realizado um estudo prospectivo que acompanhou por duas
temporadas atletas de handebol noruegueses de três diferentes divisões10. Foi
mensurada a incidência das lesões do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) e
Ligamento Cruzado Posterior (LCP) em ambos os gêneros. Foi observado uma alta
taxa de incidência entre os atletas da 1ª divisão quando comparados aos atletas das
outras duas divisões. Foram registradas 93 lesões (87 lesões do LCA e 6 lesões do
LCP). O gênero feminino obteve uma maior taxa de incidência de lesões (63%)
quando comparado com as taxas nos homens (37%). Nesse estudo o risco de lesão
foi registrado por 1000 horas de jogos e treinos. As atletas da 1ª divisão obtiveram
uma taxa de lesão de 1,62/1000 horas, na 2ª divisão uma taxa de 1,82/1000 horas e
0,72/1000 horas na 3ª divisão. Entre os homens foi observado uma taxa de lesão de
0,54/1000 horas para os atletas da 1ª divisão, 0,84/1000 horas para os atletas da 2ª
divisão e 0,27/1000 horas para os jogadores da 3ª divisão10.
No estudo realizado por Olsen e col. (2006), teve o objetivo de verificar o padrão
de lesões em equipes jovens de ambos os gêneros de handebol na Noruega, foi
realizado um estudo de coorte prospectivo com dois métodos diferentes de registro.
Um método de registro foi feito durante as partidas realizado pelo delegado da
partida após colher informações com os técnicos das equipes participantes. O 2º
método foi feito pela comissão técnica das equipes participantes, com o objetivo de
reportar todas as lesões que ocorreram durante os treinos e jogos durante uma
temporada11. O método de registro de partidas observou que das 50 lesões
referidas, 49 foram lesões agudas e apenas uma lesão foi por sobrecarga. Não se
observou diferenças na taxa de lesão entre gêneros. A metade das lesões ocorreu
nas articulações dos joelhos e tornozelos (29% e 21% respectivamente). Os tipos de
lesão mais comumente relatadas foram a entorse (35%), seguido pela contusão
11
(33%). O método de registro técnico, realizado pela comissão técnica verificou 118
lesões, sendo que 93 (79%) lesões foram relatas como agudas e 25 (21%) por
sobrecarga. O principal local acometido foi a região do joelho (15 lesões durante os
jogos e nove durante os treinos). O tipo mais comum de lesão foi a entorse 38%,
seguido pela contusão 16%. A incidência de lesões agudas foi de 2,3/1000 horas de
exposição (2,4/1000 horas para mulheres e 1,9/1000 horas para os homens)11.
Outro estudo prospectivo realizado na Noruega em 1998, verificou a incidência
de lesões entre os gêneros de atletas de equipes amadoras ou semi-profissionais
durante três temporadas12. Foi verificado 28 lesões do LCA, sendo que 23 lesões
ocorreram nas mulheres (0,31/1000horas) e cinco ocorreram em homens
(0,06/1000horas). O mecanismo da lesão de 25 lesões ocorreu sem contato físico
com outros atletas e apenas três lesões ocorreram após o contato físico. A
incidência de lesões foi cinco vezes maior no gênero feminino, assim como as
lesões ocorreram em um número 30 vezes maior em jogos do que em treinos12.
Um estudo realizado na Alemanha em 1998, acompanhou prospectivamente 16
equipes amadoras e semi-profissionais por um ano. Os autores desse estudo
relataram que das 91 lesões observadas, 70 lesões ocorreram em jogos (77%) e 21
lesões em treinos (23%). A taxa de incidência observada foi de 14,3/1000 horas para
jogos e 0,6/1000 horas para treinos. As lesões ocorreram 24 vezes mais em jogos
do que em treinamentos. O principal tipo de lesão foi entorse com 46%, e o local
mais acometido foi o joelho, de 18 (19,8%) das 91 lesões. A média de afastamento
dos jogadores devido à lesão foi de três semanas13.
Um estudo retrospectivo de handebol realizado por Tsigilis e Hatzimanouil
(2005), realizado com jogadores de equipes gregas do gênero masculino, reportou
dados referentes à três divisões. Os autores observaram as taxas de incidência de
12
lesão de 216 equipes (72 equipes da 1ª divisão, 72 equipes da 2ª divisão e 72
equipes que participaram somente de campeonatos locais). Os jogos realizados na
1ª divisão apresentaram taxa de lesão 0,96 lesões/1000 horas, na 2ª divisão taxas
de 1,02 lesões/1000 horas de jogos e 1,44 lesões/1000 horas de jogos para
campeonatos locais. Os resultados deste estudo mostram que a porcentagem dos
jogadores lesionados foi elevada (42,6%)14.
Até o momento não são encontrados estudos prospectivos realizado com
praticantes brasileiros de handebol. Essa dissertação tem como objetivos: 1)
Identificar a incidência de lesões musculoesqueléticas em jogadores de elite
handebol. 2) Traçar o perfil das lesões musculoesqueléticas.
13
1.2 APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS ENVOLVIDOS NA DISSERTAÇÃO
O capítulo 2 e o capítulo 3 desta dissertação apresentam um estudo de coorte
prospectivo realizado durante os dois principais campeonatos brasileiros da
temporada de 2011. O capítulo 2 refere-se a um estudo com acompanhamento do
Campeonato Paulista de Handebol. Esse estudo foi submetido para a Revista
Brasileira de Medicina do Esporte (RBME) (normas para submissão na seção
“material suplementar” desta dissertação). O capítulo 3 refere-se a um estudo com
acompanhamento durante o Campeonato da Liga Nacional. Este estudo está em
fase de preparação para submissão. As considerações finais da dissertação,
enfatizando e discutindo os principais resultados encontrados nos estudos
relacionados à esta dissertação estão no Capítulo 4, que também procurou discorrer
sobre a importância dos resultados observados nessa dissertação, além de
implicações para futuras pesquisas.
14
1.3 REFERÊNCIAS
1. Federação Internacional de Handebol. 2012. (Accessed 2012, at
http://www.ihf.info/.)
2. Confederação Brasileira de Handebol. 2012. (Accessed 2012, at
http://www.brasilhandebol.com.br/.)
3. Vlak T, Pivalica D. Handball: the beauty or the beast. Croatian medical journal
2004;45:526-30.
4. Ronglan LT, Raastad T, Borgesen A. Neuromuscular fatigue and recovery in
elite female handball players. Scandinavian journal of medicine & science in sports
2006;16:267-73.
5. Langevoort G, Myklebust G, Dvorak J, Junge A. Handball injuries during major
international tournaments. Scandinavian journal of medicine & science in sports
2007;17:400-7.
6. Seil R, Rupp S, Tempelhof S, Kohn D. [Injuries during handball. A
comparative, retrospective study between regional and upper league teams].
Sportverletzung Sportschaden : Organ der Gesellschaft fur Orthopadisch-
Traumatologische Sportmedizin 1997;11:58-62.
7. Wedderkopp N, Kaltoft M, Lundgaard B, Rosendahl M, Froberg K. Injuries in
young female players in European team handball. Scandinavian journal of medicine
& science in sports 1997;7:342-7.
8. Yde J, Nielsen AB. Sports injuries in adolescents' ball games: soccer, handball
and basketball. British journal of sports medicine 1990;24:51-4.
9. Nielsen AB, Yde J. An epidemiologic and traumatologic study of injuries in
handball. International journal of sports medicine 1988;9:341-4.
10. Myklebust G, Maehlum S, Engebretsen L, Strand T, Solheim E. Registration of
cruciate ligament injuries in Norwegian top level team handball. A prospective study
covering two seasons. Scandinavian journal of medicine & science in sports
1997;7:289-92.
11. Olsen OE, Myklebust G, Engebretsen L, Bahr R. Injury pattern in youth team
handball: a comparison of two prospective registration methods. Scandinavian
journal of medicine & science in sports 2006;16:426-32.
15
12. Myklebust G, Maehlum S, Holm I, Bahr R. A prospective cohort study of
anterior cruciate ligament injuries in elite Norwegian team handball. Scandinavian
journal of medicine & science in sports 1998;8:149-53.
13. Seil R, Rupp S, Tempelhof S, Kohn D. Sports injuries in team handball. A one-
year prospective study of sixteen men's senior teams of a superior nonprofessional
level. The American journal of sports medicine 1998;26:681-7.
14. Tsigilis N, Hatzimanouil D. Injuries in handball: Examination of the risk factors.
European Journal of Sport Science 2005;5:137-42.
16
- CAPÍTULO 2 -
INCIDÊNCIA DE LESÕES EM JOGADORES DE
HANDEBOL DO CAMPEONATO PAULISTA 2011: UM
ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVO
17
INCIDÊNCIA DE LESÕES EM JOGADORES DE HANDEBOL DURANTE O
CAMPEONATO PAULISTA 2011: UM ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVO
Natalia Girotto1, Luiz Carlos Hespanhol Junior1, Maria Rita Cardoso Gomes2,
Alexandre Dias Lopes1
1- Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo
(UNICID), São Paulo - SP
2- Professora Mestre dos Cursos de Saúde Coletiva e Medicina da Universidade
Cidade de São Paulo (UNICID), São Paulo - SP
NOME E ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Natalia Girotto tel.: (11) 982916524
Rua Cesário Galeno, 448/475 – São Paulo, SP – CEP: 03071-000
18
2.1 RESUMO
Introdução: O handebol é um esporte com grande solicitação do aparelho
musculoesquelético com frequentes contatos físicos entre os jogadores. Assim, pode
ser esperada uma considerável taxa de incidência de lesões. Objetivo: Identificar a
incidência de lesões musculoesqueléticas em jogadores de elite de handebol
participantes do Campeonato Paulista durante a temporada de 2011, e traçar o perfil
destas lesões. Métodos: Oito equipes participaram do estudo, sendo cinco equipes
femininas (n=79) e três equipes masculinas (n=46). No total, 125 atletas foram
acompanhados durante a participação do Campeonato Paulista 2011, realizado
entre maio e novembro. Semanalmente as equipes foram contatadas para informar
os dados referentes ao volume de treinamento, número de jogos e informações
sobre as lesões musculoesqueléticas ocorridas no período. Resultados: Durante a
temporada foi constatado um total de 99 lesões em 61 jogadores com uma
incidência de 48,8% ou 4,7 lesões/1000 horas de exposição. As lesões mais
comumente relatadas entre as equipes femininas e masculinas foram as entorses
(27,3%, n=27). O membro inferior foi o principal segmento corporal que apresentou
lesão, sendo a articulação do tornozelo o principal local acometido com 19,2%
(n=19) das lesões. A maioria das lesões ocorreram devido ao contato físico com os
adversários (41,4%, n=41). As lesões tiveram uma taxa de 2,8/1000 horas de treino
e 34,1/1000 horas de jogo entre as mulheres e 2,0/1000 horas de treino e 40,0/1000
horas de jogo entre os homens. Conclusão: A incidência de lesões foi de 48,8%
(n=61) e o número de lesões por 1000 horas durante os jogos foi mais alta em
comparação com as lesões ocorridas durante os treinos. As principais lesões
ocorreram na extremidade inferior, principalmente na articulação do tornozelo, e o
tipo de lesão que prevaleceu foi a entorse.
19
Palavras-Chave: Epidemiologia, Lesões Esportivas, Fisioterapia.
20
2.2 ABSTRACT
Introduction: Handball leads to a high load in the musculoskeletal tissues. Physical
contact between players is common in this sport that contribute to this high load.
Therefore, there is a high incidence of injuries in handball players. Objective: To
describe the musculoskeletal injuries in the elite handball players participating of the
Paulista Championship during the 2011 season. Methods: Eight teams participated
in this prospective cohort study: five female teams (n=79) and three male teams
(n=46). Overall, 125 athletes were followed during the Paulista Championship 2011
held between May and November. The teams were contacted to report data relating
to the volume of training, games and information on injuries each week during the
season. Results: During the season 99 injuries were recorded in 61 handball players
with the incidence of 48,8% or 4,7 injuries/1000 hours of exposure. The most
common type of injuries recorded in male and female teams were sprains (27,3%,
n=27). The most common anatomic location affected by the injuries was the ankle
(19,2%, n=19). The majority of injuries occurred due to physical contact with the
opponents (41,4%, n=41). The incidence rate of injury in games was 34,1
injuries/1000 hours of exposure for women and 40 injuries/1000 hours of exposure
for men. Conclusion: The incidence of injuries was 48,8% (n=61) and injuries were
higher during games than during training. The majority of injuries occurred at the
lower limb, especially in ankle. The major type of injury was sprain.
Keywords: Epidemiology, Sports Injuries, Physiotherapy.
21
2.3 INTRODUÇÃO
O handebol é um dos esportes mais populares na Europa após o futebol,
voleibol e basquetebol1. O potencial de lesões nesta modalidade está relacionado às
constantes colisões entre os jogadores e repetidos saltos. Além do fato, das regras
do handebol permitirem um contato físico significativo, em comparação a outros
esportes2,3. Alguns estudos foram feitos com o objetivo de se verificar a incidência
das lesões no handebol2,4-7. Grande parte dos estudos sobre handebol foram
realizados em países escandinavos5,6,8-12, o que limita a extrapolação dos resultados
observados nesses estudos para a população de países que apresentam
características muito distintas dos países nórdicos.
A criação de um projeto que vise a prevenção de lesões esportivas necessita
primeiramente estabelecer quais são as principais lesões da modalidade e qual é a
extensão da lesão. Após determinada as principais lesões para a população em
questão, é necessário estabelecer a etiologia e o mecanismo das lesões, para então
propor medidas preventivas, assim como avaliar a eficácia das medidas preventivas
propostas13. O estudo proposto é o primeiro estudo de coorte prospectivo realizado
no Brasil na modalidade de handebol, cujo objetivo foi o de estabelecer quais são as
principais lesões musculoesqueléticas dos jogadores de handebol de elite
brasileiros.
22
2.4 MÉTODOS
Das 16 equipes inscritas (8 equipes femininas e 8 masculinas) no
Campeonato Paulista adulto, oito equipes participaram do estudo (5 equipes
femininas, n= 79; e 3 equipes masculinas, n= 46). No total, 125 atletas foram
acompanhados durante a participação do Campeonato Paulista 2011, que foi
realizado entre maio e novembro de 2011 (aproximadamente sete meses). Três
equipes se recusaram a participar do estudo e outras cinco equipes não foram
elegíveis para participarem do estudo, pois estavam participando de outros
campeonatos simultaneamente ao período de realização deste estudo. Esse estudo
foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Cidade de São Paulo (protocolo
13577680), assim como autorizado pela Federação Paulista de Handebol (FPHb).
O primeiro contato foi feito pessoalmente com os membros da comissão
técnica (fisioterapeutas, técnicos e/ou auxiliares técnicos), com o objetivo de explicar
como a pesquisa seria conduzida. Posteriormente se obteve através dos
pesquisadores do estudo ou por membros da comissão técnica, os dados pessoais
de cada atleta e objetivou coletar (nome, idade, altura, peso, membro dominante e
as informações sobre lesões pregressas em até seis meses antes do início do
estudo).
Para o registro de exposição de treinos e jogos os membros da comissão
técnica das equipes participantes receberam uma planilha e foram orientados a
preencher semanalmente essa planilha com as informações referentes ao volume de
treinamentos e jogos (carga horária dos treinamentos e jogos, número de treinos,
treinos de musculação e treinos físicos assim como o número de jogos). Também
foram registradas pelos membros da comissão técnica (fisioterapeutas, técnicos e/ou
auxiliares técnicos) todas as lesões que ocorreram durante as sessões de
23
treinamento ou durante as partidas de handebol, a descrição da localização
anatômica e classificação do tipo da lesão14. Informações adicionais sobre a
característica das lesões referidas no período foram adquiridas, como o registro da
posição do jogador, o tipo de piso onde ocorreu a lesão, o mecanismo da lesão (com
contato físico, sem contato ou por sobrecarga), a situação da lesão (treino ou jogo) e
se houve ou não recorrência desta lesão (até dois meses, de dois a 12 meses ou
acima de um ano). Semanalmente entrávamos em contato através de ligações
telefônicas ou por e-mail com os responsáveis de cada equipe, com intuito de
registrar o tempo de exposições de treinos e jogos, além do registro das lesões que
ocorreram nesse período. A definição de lesão recorrente e outras definições
pertinentes ao estudo estão descritas na tabela 1.
Análise Estatística
Foram realizadas análises descritivas das características pessoais e do
treinamento dos jogadores, da localização anatômica e do tipo de lesões referidas
pelos fisioterapeutas, técnicos e/ou auxiliares técnicos). A normalidade dos dados
contínuos foi realizada pela inspeção visual dos histogramas. Os dados que tiveram
distribuição normal foram apresentados por média e desvio padrão, e os que
apresentaram uma distribuição normal foram apresentados por mediana e intervalo
interquartil. A taxa de incidência de lesões foi calculada em função do número de
lesões ocorridas durante o estudo dividido pela soma das horas de exposição em
treinos, jogos ou total (treinos e jogos), sendo expressa em quantidade de lesões por
1000 horas de exposição. Foi calculado o risco relativo das características das
lesões (lesão em treino, lesão em jogo, tipo de piso, mecanismo da lesão e lesão
24
prévia referida) em função do gênero. Todas as análises foram realizadas pelo
software SPSS versão 17.0.
25
2.5 RESULTADOS
Foram registradas ao todo 99 lesões, em 61 atletas (48,8%) dos 125
jogadores participantes do estudo, sendo 41 mulheres (67,2%) e 20 homens
(32,8%). A prevalência de lesão musculoesquelética relacionada à prática do
handebol nos últimos seis meses que antecederam o estudo foi de 54,4% (n = 68). A
descrição dos indivíduos que participaram do estudo está descrita em detalhes na
tabela 2.
Tabela 1. Definições de termos utilizados no estudo População Jogadores (masculino e feminino) que participam do Campeonato
Paulista de handebol no ano de 2011.
Lesão musculoesquelética Dor de origem musculoesquelética relacionada à prática de handebol que levou a interrupção ou a perda de treino ou jogo; ou que levou o atleta a procurar por atendimento médico15.
Lesão por sobrecarga Lesão causada por sobrecarga repetida sem a existência de um evento responsável pelo início da lesão6.
Lesão com contato Lesão resultante de um evento específico associada a um trauma direto6.
Lesão sem contato Lesão resultante de um evento específico não associada a um trauma direto.
Gravidade da lesão Tempo de afastamento do atleta causado pela lesão. Lesões Leves (0 a 1 dia), Moderadas (2 a 7 dias) ou Lesões Graves (acima de 7 dias).
Recorrência da lesão Repetição de uma lesão como a mesma característica de uma lesão observada anteriormente no mesmo local anatômico. A lesão recorrente foi divida em três períodos: de 0 a 2 meses, 2 a 12 meses, ou mais de 12 meses.
Lesões prévias Lesão anterior ao início do estudo que levou o jogador a interrupção ou a perda de jogo ou treino de handebol até seis meses antes de iniciar o estudo 9.
26
Tabela 2. Descrição das características dos jogadores de handebol durante o
período de acompanhamento do estudo (sete meses)
Total Mulheres Homens (n = 125) (n = 79) (n = 46) Idade (anos) 21,0 (19,0) 21,0 (19,0) 20,0 (20,0) Peso (kg) 73,8 (12,5) 67,1 (7,4) 85,2 (11,2) Altura (m) 1,75 (9,2) 1,70 (5,3) 1,84 (7,4) IMC (Kg/cm²) 23,3 (2,5) 22,6 (2) 24,5 (2,7) Membro Dominante Destro 86,4% (108) 91,1% (72) 78,3% (36) Canhoto 13,6% (17) 8,9% (7) 21,7% (10) Lesão durante o acompanhamento Sim 48,8% (61) 51,9% (41) 43,5% (20) Não 51,2% (64) 48,1% (38) 56,5% (26) Lesão prévia (6 meses) Sim 54,4% (68) 43,0% (34) 73,9% (34) Não 45,6% (57) 57,0% (45) 26,1% (12) Todos os dados contínuos estão expressos em média e desvio padrão, exceto a idade que está
expressa por mediana e intervalo interquartil. Todos os dados categóricos estão expressos em
porcentagem e frequência.
A tabela 3 descreve as características das lesões apresentadas pelos
jogadores durante os treinamentos e/ou jogos no período de realização do
acompanhamento. Foi verificado que das 99 lesões observadas no estudo, 20 foram
lesões recorrentes em ambos os gêneros.
A tabela 4 descreve os principais locais acometidos durante o campeonato
nos jogadores de elite. A tabela 5 descreve os principais tipos de lesões que
acometeram os jogadores durante o período de acompanhamento do estudo. A
tabela 6 refere-se à porcentagem das lesões para cada posição de jogo. Na tabela 7
é possível observar o número de lesões, tempo de exposição e taxa de lesão a cada
1000 horas dos jogadores participantes do estudo. Na tabela 8 é possível verificar o
risco relativo das características das lesões em ambos os gêneros.
27
Tabela 3. Descrição das características das lesões nos jogadores de handebol durante o período de acompanhamento do estudo.
Total Mulheres Homens Gravidade da lesão (n = 99) (n = 70) (n = 29) 0 a 1 dia (leve) 35,3% (35) 41,4% (29) 20,7% (6) 2 a 7 dias (moderada) 39,4% (39) 35,7% (25) 48,3% (14) > 7 dias (grave) 25,3% (25) 22,9% (16) 31,0% (9) Tipo de piso Cimento 64,7% (64) 74,3% (52) 41,4% (12) Madeira 24,2% (24) 17,1% (12) 41,4% (12) Sintético/emborrachado 11,1% (11) 8,6% (6) 17,2% (5) Situação da lesão Treino 50,5% (50) 51,4% (36) 48,3% (14) Inicio 26,0% (13) 22,2% (8) 35,7% (5) Meio 28,0% (14) 30,6% (11) 21,4% (3) Final 46,0% (23) 47,2% (17) 42,9% (6) Jogo 49,5% (49) 48,6% (34) 51,7% (15) 1º tempo 32,6% (16) 32,4% (11) 33,3% (5) 2º tempo 67,4% (33) 67,6% (23) 66,7% (10) Mecanismo de lesão Contato 41,4% (41) 38,6% (27) 48,3% (14) Sem contato 38,4% (38) 40,0% (28) 34,5% (10) Sobrecarga 20,2% (20) 21,4% (15) 17,2% (5) Posição do jogador Armação 51,6% (51) 57,2% (40) 37,9% (11) Ponta 22,2% (22) 17,1% (12) 34,5% (10) Goleiro 17,2% (17) 17,1% (12) 17,2% (5) Pivô 9,0% (9) 8,6% (6) 10,4% (3) Recorrência de lesão Total (n=20) Mulheres (n=13) Homens (n=7) Nos últimos 2 meses 25% (5) 23,1% (3) 28,6% (2) 2 a 12 meses 60% (12) 61,5% (8) 57,1% (4) > 12 meses 15% (3) 15,4% (2) 14,3% (1) Os dados estão apresentados com porcentagem e frequência. As lesões ocorridas na Situação de Treino estão categorizadas em Início (1/3 inicial do treino), Meio (2/3 médio do treino) e Final (3/3 final do treino). As lesões recorrentes possui um “N” diferente devido a não ter ocorrido com todos os jogadores do estudo.
28
Tabela 4. Descrição do local anatômico das lesões observadas no estudo.
Os dados estão apresentados com porcentagem e frequência.
Local Anatômico Total (n=99) Mulheres (n=70) Homens (n=29) Face 2,0% (2) 2,9% (2) Cabeça 2,0% (2) 2,9% (2) Coluna lombar 7,1% (7) 7,1% (7) 6,9% (2) Pelve 1,0% (1) 1,4% (1) Membro Superior Ombro/clavícula 15,2% (15) 15,7% (11) 13,8% (4) Cotovelo 1,0% (1) 3,4% (1) Punho 2,0% (2) 2,9% (2) Mão 1,0% (1) 1,4% (1) Dedos 11,1% (11) 11,3% (8) 10,4% (3) Polegar 7,1% (7) 5,7% (4) 10,4% (3) Membro Inferior Região inguinal 2,0% (2) 2,9% (2) Coxa 10,1% (10) 10,0% (7) 10,4% (3) Joelho 14,2% (14) 18,6% (13) 3,4% (1) Perna 3,0% (3) 2,9% (2) 3,4% (1) Tendão calcâneo 1,0% (1) 1,4% (1) Tornozelo 19,2% (19) 12,9% (9) 34,5% (10) Pé/dedos 1,0% (1) 3,4% (1)
29
Tabela 5. Descrição dos tipos de lesões observadas no estudo. Tipo de Lesão Total (n = 99) Mulheres (n = 70) Homens (n = 29)
Entorse 27,3% (27) 22,9% (16) 37,9% (11) Joelho 5,1% (5) 7,1% (5) Tornozelo 19,2% (19) 12,9% (9) 34,5% (10) Contusão/hematoma/equimose 18,2% (18) 21,4% (15) 10,4% (3) MMSS 10,1% (10) 12,9% (9) 3,4% (1) MMII 6,1% (6) 7,1% (5) 3,4% (1) Tendinopatia 16,2% (16) 15,7% (11) 17,2% (5) Ombro 9,1% (9) 7,1% (5) 13,8% (4) Joelho 5,1% (5) 7,1% (5) Lesão Muscular§ 15,1% (15) 15,7% (11) 13,8% (4) Luxação/subluxação 7,1% (7) 4,3% (3) 13,8% (4) Fratura 7,1% (7) 7,1% (5) 6,9% (2) Câimbra ou espasmos 3,0% (3) 4,3% (3) Pinçamento/impacto 2,0% (2) 2,9% (2) Concussão 2,0% (2) 2,9% (2) Ruptura ligamentar# 1,0% (1) 1,4% (1) Laceração/abrasão/lesão pele 1,0% (1) 1,4% (1) Os dados estão apresentados com porcentagem e frequência. # A lesão de ruptura ligamentar referida está
relacionada à lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) observada no estudo. § Lesão muscular:
distensões/ruptura muscular/estiramento
30
Tabela 6. Porcentagens de lesões para cada posição. Mulheres Homens Armação Ponta Pivô Goleiro Armação Ponta Pivô Goleiro Entorse Joelho 1,4% (1) 5,7% (4) Tornozelo 7,1% (5) 2,9% (2) 1,4% (1) 13,8% (4) 17,2% (5) 7,0% (2) Contusão/hematoma/equimose MMSS 10,0% (7) 2,9% (2) 3,5% (1) MMII 5,7% (4) 1,4% (1) 3,5% (1) Tendinopatia Ombro 2,9% (2) 1,4% (1) 2,9% (2) 3,5% (1) 3,5% (1) 7,0% (2) Joelho 5,7% (4) 1,4% (1) Lesão muscular* 7,1% (5) 4,3% (3) 2,9% (2) 7,0% (2) 7,0% (2) 3,5% (1)
31
Tabela 7. Número de lesões, tempo de exposição e taxa de lesão por 1000 horas de
exposição dos jogadores participantes do estudo.
Numero de lesões
Exposição horas
Taxa de lesão*
Mulheres Total número de lesões 70 13867 5,0 Lesões em jogos 34 997,5 34,1 Lesões em treinos 36 12869,5 2,8 Homens Total número de lesões 29 7279,25 4,0 Lesões em jogos 15 375,25 40,0 Lesões em treinos 14 6904 2,0 *A taxa da lesão é expressa em número de lesões por 1000 horas de exposição.
Tabela 8. Risco relativo das características das lesões Mulheres
RR (IC 95%) Homens
RR (IC 95%) Lesões prévias 1,76 (0,96 a 3,22) 2,00 (0,70 a 5,63) Lesões em treinos 1,03 (0,80 a 1,33) 0,91 (0,49 a 1,68)
1/3 inicial 0,81 (0,50 a 1,29) 1,58 (0,64 a 3,85) 2/3 médio 1,13 (0,79 a 1,60) 0,70 (0,22 a 2,14)
3/3 final 1,05 (0,74 a 1,48) 0,88 (0,35 a 2,16) Lesões em jogos 0,96 (0,74 a 1,24) 1,09 (0,59 a 2,01)
1º tempo 0,98 (0,66 a 1,47) 1,03 (0,42 a 2,51) 2º tempo 1,01 (0,67 a 1,51) 0,96 (0,39 a 2,36)
Tipo do piso Madeira 0,64 (0,42 a 0,98)* 2,20 (1,23 a 3,93)*
Sintético/emborrachado 0,75 (0,43 a 1,30) 1,66 (0,80 a 3,46) Cimento 1,57 (1,12 a 2,22)* 0,38 (0,20 a 0,71)*
Mecanismo da lesão Contato 0,88 (0,67 a 1,16) 1,32 (0,71 a 2,42)
Sem contato 1,07 (0,83 a 1,37) 0,84 (0,44 a 1,61) Sobrecarga 1,07 (0,80 a 1,44) 0,82 (0,35 a 1,88)
RR: risco relativo. IC 95%: intervalo de confiança a 95%. O risco relativo da variável “lesões prévias” foi calculado pelo total de participantes. O risco relativo para as outras variáveis foi calculado entre os gêneros. *Risco Relativo estatisticamente significante.
32
2.6 DISCUSSÃO
As principais lesões ocorreram na extremidade inferior, principalmente na
articulação do tornozelo para o gênero masculino e articulação do joelho para o
gênero feminino. O principal tipo de lesão foi a entorse para ambos os gêneros. A
taxa de lesão observada foi muito maior nos jogos do que as taxas de lesão
ocorridas em treinamentos. O principal mecanismo de lesão relatado foi o contato do
atleta com o adversário para ambos os gêneros. A posição do jogador em que mais
foram observadas as lesões foi a de armador tanto para o gênero feminino, quanto
para o masculino.
As taxas de lesões em jogos foram consideravelmente mais elevadas do que
as taxas de lesão referidas em treino, assim como diversos outros também
observaram em estudos sobre lesões no handebol 2,4,9,10,16-18. Acreditamos que o
maior número de lesões observadas em jogos possa ser atribuído a uma maior
solicitação e estresse do jogador, principalmente do sistema musculoesquelético,
quando comparada as demandas do aparelho locomotor durante uma sessão de
treinamento. Outro fator importante que pode se observar é que durante os jogos há
uma maior quantidade de movimentos em que ocorre o contato físico dos
jogadores2.
A região do tornozelo foi a região com o maior número de lesões observadas
durante o período de acompanhamento do estudo para o gênero masculino, e a
região do joelho foi a região onde se observou mais lesões para o gênero feminino.
Grande parte dos estudos sobre handebol relatam que o joelho e tornozelo são os
locais anatômicos mais acometidos entre os praticantes de handebol1,2,4-6,9. Foi
observada em nosso estudo elevadas taxas de entorse de tornozelo em ambos os
gêneros, assim como em outros estudos sobre o handebol, que relatam que a
33
principal lesão observada foi a entorse de tornozelo 5,7 Todas as lesões relatadas em
nosso estudo na região do tornozelo ocorreram devido à entorse. Como os gestos
esportivos do handebol exigem constantes mudanças de direções, movimentos
rápidos de giros, movimentos de aceleração, parada brusca, saltos e aterrissagens
com apenas um pé19, acreditamos que esses gestos possam contribuir para as
elevadas taxas de entorse de tornozelo observadas no estudo.
A principal lesão registrada foi a entorse, porém as lesões referidas como
contusões também foram significantes neste estudo. Dois estudos sobre handebol
registraram a contusão como principal tipo de lesão1,20. Acreditamos que estas
lesões ocorreram principalmente pelo frequente contato físico entre os adversários2.
As lesões referidas como tendinopatia ocorreram principalmente na região do ombro
e joelho, acreditamos que estas lesões ocorreram principalmente devido a um
excesso de repetições de gestos esportivos21, como arremessos e aterrissagens. As
lesões por sobrecarga representou aproximadamente um terço de todas as lesões
observadas em estudo sobre fatores de risco em praticantes de handebol9. As
lesões musculares obtiveram uma alta incidência no nosso estudo, acreditamos que
estas lesões ocorrem normalmente devido aos jogadores desenvolverem fadiga
neuromuscular durante um período de cinco dias de treinamentos consecutivos ou
até mesmo durante torneios de alto nível22 .
Grande parte das lesões observadas na nossa pesquisa ocorreram na
superfície de cimento, diferente do que foi observado em outro estudo realizado com
jogadores de handebol europeu, que verificou que as lesões ocorreram mais nas
superfícies artificiais (pisos emborrachados)23. A diferença observada pode ser
explicada pelo fato que o estudo em questão é norueguês, país onde há um enorme
34
predomínio de quadras sintéticas, diferentemente das superfícies das quadras de
handebol do estado de São Paulo, que na sua maioria são de cimento.
A posição que apresentou mais lesões foi a posição de armação. As
principais lesões dos armadores foram entorses de tornozelo e as contusões nos
membros superiores. Um estudo realizado sobre os principais gestos esportivos
executados por jogadores de handebol registrou que a posição da armação foi a que
realizou o maior número de gestos esportivos (recepções, passes, arremessos e
fintas) durante os jogos21, o que pode acarretar maior sobrecarga do aparelho
musculoesquelético dos armadores.
Foi observado que as jogadoras que treinavam ou jogavam em superfície de
cimento apresentaram maior risco de lesão. Para o gênero masculino o piso de
madeira apresentou maior risco de lesão. Acreditamos que houve essa
diferenciação de tipo de piso para ocorrência de lesões se deva ao fato que o
gênero masculino as superfícies de madeira são mais predominantes,
diferentemente das equipes femininas, cujo o piso predominante observado foi o de
cimento.
Quantas as limitações desse estudo, apontamos o restrito número de equipes
participantes, não verificamos se os jogadores utilizavam órteses no decorrer dos
treinamentos e jogos. Sugerimos que futuros estudos possam investigar os fatores
de risco de lesões em uma população maior. Acreditamos que os resultados deste
estudo possa contribuir para um melhor entendimento de quais são os principais
locais anatômicos acometidos e principais tipos de lesões de jogadores de handebol
de elite brasileiros. Vale ressaltar que o acompanhamento das equipes e dos seus
respectivos atletas foi realizado semanalmente, com o intuito de diminuir o risco de
35
viés de memorização, proporcionado assim uma melhor qualidade das informações
reportadas pelas equipes24.
36
2.7 CONCLUSÃO
Durante o período de realização do estudo foi possível observar uma elevada
taxa de incidência de lesões relacionada à prática do handebol durante os jogos. O
principal local acometido foi o tornozelo para o gênero masculino e o joelho para o
gênero feminino, e o principal tipo de lesão observado foi a entorse para ambos os
gêneros. As lesões ocorreram principalmente após contato físico para ambos os
gêneros, o principal tipo de piso que mais ocorreram às lesões foi o piso de cimento
para ambos os gêneros, e a posição do jogador que mais referiu lesão foi a armação
também para ambos os gêneros.
.
37
2.8 REFERÊNCIAS
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international tournaments. Scandinavian journal of medicine & science in sports
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cruciate ligament injuries in Norwegian top level team handball. A prospective study
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38
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goal? A four-year prospective investigation of sports injuries among physical
education students. The American journal of sports medicine 1996;24:528-34.
40
ANEXO 1 – AUTORIZAÇÃO DA FEDERAÇÃO PAULISTA DE HANDEBOL
41
ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO DA COLETA DE DADOS
Questionário da Linha de Base
Questionário das Informações Semanais de Treinos e Jogos
Nome Idade Altura Peso Membro dominante História da lesão
Direito Esquerdo Local anatômico Tipo de lesão
1 ( ) ( )
2 ( ) ( )
3 ( ) ( )
4 ( ) ( )
5 ( ) ( )
6 ( ) ( )
7 ( ) ( )
8 ( ) ( )
9 ( ) ( )
10 ( ) ( )
Nº de treinos Duração do
treino Musculação Nº de jogos Duração do jogo
vezes/semana Horas dias/semana vezes/semana Jogou mais
Jogou menos
Não Jogou
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
42
Questionário das Incidências das Lesões
Tipo de piso Local anatômico Tipo de lesão Mecanismo de lesão
Madeira Sintético Cimento Contato Sem contato Sobrecarga
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
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( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Gravidade da lesão Houve recorrência de lesão?
0 dias 2 - 7 dias > 7 dias < 2 meses 2 - 12 meses >12 meses
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
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( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Nome
Posição de jogo
Data da lesão
Situação da lesão Lesão em jogo Lesão em treino
Treino Jogo 1º
Tempo 2º
Tempo Início Meio Final
1 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
2 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
3 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
4 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
5 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
6 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
7 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
8 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
9 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
10 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
43
ANEXO 3 – TABELA DE CLASSIFICAÇÃO E CÓDIGOS DE LESÃO
Para Lesões
Parte do Corpo Lesionada - Localização da Lesão
Cabeça e Tronco Membro Superior Membro Inferior
1 face (incluindo olhos, orelha e nariz) 11 ombro / clavícula 21 quadril
2 cabeça 12 braço (anterior/posterior) 22 região inguinal
3 pescoço / coluna cervical 13 cotovelo (anterior/posterior) 23 coxa (anterior/posterior)
4 coluna torácica 13 cotovelo (medial/lateral) 24 joelho (anterior/posterior)
5 esterno / costelas 14 ante-braço (anterior/posterior) 24 joelho (medial/lateral)
6 coluna lombar 15 punho (anterior/posterior) 25 perna (anterior/posterior)
7 abdômen 16 mão (anterior/posterior) 26 tendão calcâneo
8 pelve / sacro / nádega 17 dedos (anterior/posterior) 27 tornozelo (medial/lateral)
18 polegar (anterior/posterior) 28 pé/dedos (anterior/posterior)
Tipo de Lesão – Diagnóstico
1 concussão (independente da perda de consciência) 11 contusão / hematoma / equimose
2 fratura (traumática) 12 tendinopatia
3 fratura por estresse (sobrecarga) 13 artrite / sinovite / bursite
4 outras lesões ósseas 14 fascite / lesão aponeurótica
5 luxação, subluxação 15 pinçamento/ impacto
6 ruptura tendinosa 16 laceração / abrasão / lesão pele
7 ruptura ligamentar 17 avulsão dental / fratura dental
8 entorse (lesão da articulação e/ou ligamentos) 18 lesão nervosa / lesão medular
9 lesão de meniscos ou cartilagem 19 câimbra ou espasmos
10 distensões / ruptura muscular / estiramento 20 outros
44
- CAPÍTULO 3 -
INCIDÊNCIA DE LESÕES EM JOGADORES DE
HANDEBOL DO CAMPEONATO LIGA NACIONAL
2011: UM ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVO
45
INCIDÊNCIA DE LESÕES EM JOGADORES DE HANDEBOL DO CAMPEONATO
DA LIGA NACIONAL 2011: UM ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVO
Natalia Girotto1, Luiz Carlos Hespanhol Junior1, Maria Rita Cardoso Gomes2,
Alexandre Dias Lopes1
1- Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo
(UNICID), São Paulo – SP
2- Professora Mestre dos Cursos de Saúde Coletiva e Medicina da Universidade
Cidade de São Paulo (UNICID), São Paulo - SP
46
3.1 RESUMO
Introdução: A dinâmica e o desenvolvimento do handebol ao longo do tempo
aumentou a solicitação do aparelho musculoesquelético, consecutivamente
aumentou o interesse de técnicos e fisioterapeutas de se conhecer as principais
lesões que acometem os praticantes deste esporte Objetivo: Identificar a incidência
de lesões musculoesqueléticas em jogadores de handebol de elite, e traçar o perfil
destas lesões. Métodos: Treze equipes de handebol da Liga Nacional participaram
da pesquisa (n=215 atletas). Primeiramente foram coletados os dados pessoais e de
lesões prévias nos últimos 6 meses para compor a linha de base do estudo. Os
atletas foram acompanhados durante a temporada de 2011 (junho a novembro) e
semanalmente foram coletados dados referentes a volume de treinos e jogos, e
ainda dados referentes a lesões musculoesqueléticas e suas características (tipo e
localização). Resultados: Durante a temporada foi constatado um total de 208
lesões em 138 atletas. As lesões mais comumente relatadas entre todas as equipes
femininas e masculinas foram as distensões, rupturas ou estiramentos musculares
(25%, n=52), as tendinopatias (19,7%, n=41) e as entorses (15,4%, n=32). Os locais
anatômicos mais frequentemente afetados foram o joelho (17,8%, n=37), o ombro ou
clavícula (17,3%, n=36) e o tornozelo (12,1%, n=25), sendo que estas lesões
ocorreram em sua maioria devido ao contato com os adversários (41,8%, n=87).
Conclusão: A incidência de lesões musculoesqueléticas nos jogadores de handebol
de elite foi de 64,2% ou 4,4 lesões /1000 horas de exposição. As principais lesões
ocorreram nas articulações do joelho, ombro e tornozelo. A lesão muscular foi a
principal lesão acometendo ¼ de todas as lesões, seguida pela tendinopatia e
entorse. Foi verificado que a incidência da taxa de lesão em jogos foi mais alta
quando comparada com a taxa de lesão em treinamentos.
47
Palavras-chave: Lesões no esporte, Epidemiologia, Fisioterapia
48
3.2 INTRODUÇÃO
O handebol foi jogado pela primeira vez no final do século XIX, sendo
introduzido nas Olimpíadas em 1936. Atualmente, o handebol é um dos esportes
mais populares na Europa, praticado por homens, mulheres e crianças de todas as
idades1, assim como milhares de praticantes no Brasil2. O potencial de lesões
durante a prática do handebol é causado pelas constantes colisões entre os
jogadores, mudanças constantes de direção e repetidos saltos3.
Diversos autores analisaram a incidência das lesões no handebol em
jogadores de diversos países, porém os resultados são difíceis de serem
comparados devido aos diferentes delineamentos de estudos utilizados. Geralmente
os estudos apresentam definições de lesão distintas, além de realizarem um período
de acompanhamento também diferente4-7.
Até o momento não são encontrados na literatura estudos prospectivos que
foram realizados com atletas brasileiros de handebol, portanto, até o momento não
sabemos quais são as principais lesões que acometem os praticantes de handebol
brasileiros de elite. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é o de identificar a
incidência das lesões musculoesqueléticas em praticantes de handebol de elite e
traçar o perfil das lesões.
49
3.3 MÉTODOS
Quatorze equipes brasileiras foram inscritas no Campeonato da Liga Nacional
de Handebol. Treze equipes decidiram participar deste estudo. Das 13 equipes
participantes, sete são equipes femininas e seis são equipes masculinas, totalizando
215 atletas. Os atletas foram acompanhados semanalmente por um período de
aproximadamente seis meses (junho à novembro) durante a temporada de 2011.
Esse estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Cidade de São Paulo
(protocolo 13577680) e autorizado pela Confederação Brasileira de Handebol
(CBHb).
O primeiro contato foi feito pessoalmente com os membros da comissão
técnica (fisioterapeutas, técnicos e/ou auxiliares técnicos), com o objetivo de explicar
como a pesquisa seria conduzida. Posteriormente se obteve através dos
pesquisadores do estudo ou por membros da comissão técnica, os dados pessoais
de cada atleta e objetivou coletar (nome, idade, altura, peso, membro dominante e
as informações sobre lesões pregressas em até seis meses antes do início do
estudo).
Para o registro de exposição de treinos e jogos os membros da comissão
técnica das equipes participantes receberam uma planilha e foram orientados a
preencher semanalmente essa planilha com as informações referentes ao volume de
treinamentos e jogos (carga horária dos treinamentos e jogos, número de treinos,
treinos de musculação e treinos físicos assim como o número de jogos). Também
foram registradas pelos membros da comissão técnica (fisioterapeutas, técnicos e/ou
auxiliares técnicos) todas as lesões que ocorreram durante as sessões de
treinamento ou durante as partidas de handebol, a descrição da localização
anatômica e classificação do tipo da lesão8. Informações adicionais sobre a
50
característica das lesões referidas no período foram adquiridas, como o registro da
posição do jogador, o tipo de piso onde ocorreu a lesão, o mecanismo da lesão (com
contato físico, sem contato ou por sobrecarga), a situação da lesão (treino ou jogo) e
se houve ou não recorrência desta lesão (até dois meses, de dois a 12 meses ou
acima de um ano). Semanalmente entrávamos em contato através de ligações
telefônicas ou por e-mail com os responsáveis de cada equipe, com intuito de
registrar o tempo de exposições de treinos e jogos, além do registro das lesões que
ocorreram nesse período. A definição de lesão recorrente e outras definições
pertinentes ao estudo estão descritas na tabela 1.
Análise Estatística
Foram realizadas análises descritivas das características pessoais e do
treinamento dos jogadores, da localização anatômica e do tipo de lesões referidas
pelos fisioterapeutas, técnicos e/ou auxiliares técnicos). A normalidade dos dados
contínuos foi realizada pela inspeção visual dos histogramas. Os dados que tiveram
distribuição normal foram apresentados por média e desvio padrão, e os que
apresentaram uma distribuição normal foram apresentados por mediana e intervalo
interquartil. A taxa de incidência de lesões foi calculada em função do número de
lesões ocorridas durante o estudo dividido pela soma das horas de exposição em
treinos, jogos ou total (treinos e jogos), sendo expressa em quantidade de lesões por
1000 horas de exposição. Foi calculado o risco relativo das características das
lesões (lesão em treino, lesão em jogo, tipo de piso, mecanismo da lesão e lesão
prévia referida) em função do gênero. Todas as análises foram realizadas pelo
software SPSS versão 17.0.
51
3.4 RESULTADOS
Foram coletados os dados de 13 equipes do principal campeonato brasileiro
de handebol (Liga Nacional). As equipes participantes do estudo totalizaram uma
amostra de 215 atletas (104 mulheres e 111 homens). A tabela 2 descreve os dados
pessoais dos atletas participantes, o número de jogadores que obtiveram lesões
prévias (até seis meses antes de iniciar o estudo) e o número de jogadores
lesionados durante o período de acompanhamento deste estudo.
Tabela 1. Definições utilizadas no estudo População Jogadores de elite que participam da principal competição
nacional da modalidade de handebol.
Lesão musculoesquelética
Dor de origem musculoesquelética relacionada à prática de handebol que levou a interrupção de treino ou jogo; ou a perda de no mínimo um treino ou jogo; ou situações em que foi necessária a procura por atendimento médico.
Lesão por sobrecarga Uma lesão causada por repetidos micro traumas sem ocorrer um único, identificável evento responsável pela lesão9.
Lesão com contato Uma lesão resultante de um identificado e especificado evento o qual está associado um trauma direto9.
Lesão sem contato Uma lesão resultante de um identificado e especificado evento o qual não está associado um trauma direto.
Gravidade da lesão Tempo de afastamento o qual o atleta ficou devido a existência da lesão, o qual foi dividida em lesões leves (0 a 1 dia), moderadas (2 a 7 dias) ou lesões graves (acima de 7 dias)1.
Recorrência da lesão Ocorrência de uma repetição de lesão, levando em consideração o mesmo tipo e local anatômico da lesão anterior. A lesão recorrente foi divida: de 0 a 2 meses, 2 a 12 meses, ou mais de 12 meses1.
Lesões prévias Jogador que obteve alguma lesão até seis meses antes de iniciar o estudo1.
52
Tabela 2. Descrição das características dos jogadores de handebol de elite. Total Mulheres Homens (n =215) (n = 104) (n = 111) Idade (anos) 23 (21,0) 22 (20,2) 24 (21,0) Peso (Kg) 78,4 (13,9) 67,5 (8,0) 88,6 (10,0) Altura (m) 1,78 (10,1) 1,70 (6,5) 1,85 (6,5) IMC (Kg/cm²) 23,9 (2,5) 22,7 (2,0) 25,1 (2,3) Membro Dominante
Destro 83,3% (179) 86,5% (90) 80,2% (89) Canhoto 16,7% (36) 13,5% (14) 19,8% (22)
Lesão prévia (6 meses) Sim 43,7% (94) 51% (53) 36,9% (41) Não 56,3% (121) 49% (51) 63,1% (70)
Lesão durante o acompanhamento*
Sim 64,2% (138) 61,5% (64) 66,7% (74) Não 35,8% (77) 38,5% (40) 33,3% (37)
*O tempo de acompanhamento deste estudo foi de junho a novembro de 2011.
Todos os dados contínuos estão expressos em média e desvio padrão, exceto a idade que está
expressa por mediana e intervalo interquartil. Todos os dados categóricos estão expressos em
porcentagem e frequência.
Durante o período da coleta dos dados registrou-se um total de 208 lesões,
sendo que 138 atletas (64,2%) obtiveram pelo menos uma lesão (64 mulheres e 74
homens). A tabela 3 descreve as variáveis relacionadas às lesões adquiridas no
decorrer do estudo, o qual foi verificado a gravidade da lesão, tipo de piso, situação
da lesão (treino ou jogo), mecanismo da lesão, recorrência de lesão e a posição do
jogador.
53
Tabela 3. Descrição das características das lesões nos jogadores de handebol de elite. Total Mulheres Homens Gravidade da lesão (n = 208) (n = 99) (n = 109) 0 a 1 dia (leve) 25,5% (53) 39,4% (39) 12,8% (14) 2 a 7 dias (moderada) 37,5% (78) 35,4% (35) 39,4% (43) > 7 dias (grave) 37% (77) 25,2% (25) 47,7% (52) Tipo de piso Madeira 66,3% (138) 73,7% (73) 59,6% (65) Sintético/emborrachado 22,6% (47) 19,2% (19) 25,7% (28) Cimento 11,1% (23) 7,1% (7) 14,7 (16) Situação da lesão Treino 52,4% (109) 58,6% (58) 46,8% (51)
Início 16,6% (18) 19% (11) 13,7% (7) Meio 34,8% (38) 38% (22) 31,4% (16) Final 48,6% (53) 43% (25) 54,9% (28)
Jogo 47,6% (99) 41,4% (41) 53,2% (58) 1º tempo 37,4% (37) 36,6% (15) 37,9% (22) 2º tempo 62,6% (62) 63,4% (26) 62,1% (36)
Mecanismo de lesão Contato 41,8% (87) 41,4% (41) 42,2% (46) Sem contato 35,6% (74) 34,3% (34) 36,7% (40) Sobrecarga 22,6% (47) 24,3% (24) 21,1% (23) Posição do jogador Armação central 16,3% (34) 15,2% (15) 17,4% (19) Armação esquerda 16,3% (34) 15,2% (15) 17,4% (19) Pivô 15,9% (33) 16,1% (16) 15,6% (17) Goleiro 14,5% (30) 20,2% (20) 9,2% (10) Ponta direita 13,0% (27) 10,1% (10) 15,6% (17) Armação direita 12,0% (25) 10,1% (10) 13,8% (15) Ponta esquerda 12,0% (25) 13,1% (13) 11,0% (12) Recorrência da lesão Total (n=63) Mulheres (n=34) Homens (n=29) < 2 meses 25,4% (16) 47,1% (16) - 2 a 12 meses 58,7% (37) 38,2%(13) 82,8% (24) > 12 meses 15,9% (10) 14,7% (5) 17,2% (5) Os dados estão apresentados com porcentagem e frequência. As lesões de treino estão categorizadas em início (1/3 inicial do treino), meio (2/3 médio do treino) e final (3/3 final do treino). As lesões recorrentes possui um “N” (número) diferente devido a não ter ocorrido com todos os jogadores do estudo.
A tabela 4 descreve os principais locais acometidos das lesões no decorrer da
temporada nos participantes do estudo. A tabela 5 descreve os principais tipos de
lesão que acometeram os jogadores durante o período de acompanhamento do
estudo. Na tabela 6 é possível observar o número de lesões, tempo de exposição e
54
taxa de lesão dos jogadores participantes através dos mecanismos de lesão
(contato, sem contato ou sobrecarga).
Tabela 4. Descrição do local anatômico em jogadores de handebol de elite.
Os dados estão apresentados com porcentagem e frequência. #Todas as lesões no tornozelo
referidas estão relacionadas à lesão do tipo entorse. Exceto uma lesão no gênero masculino que
referiu lesão ligamentar.
Local Anatômico Total Mulheres Homens (n = 208) (n = 99) (n = 109) Coluna lombar 6,7% (14) 5,1% (5) 8,3% (9) Cabeça 1,4% (3) 2,0% (2) 0,9% (1) Face 1,4% (3) 1,0% (1) 1,8% (2) Pescoço/coluna cervical 0,9% (2) 1,8% (2) Coluna torácica 0,9% (2) 1,8% (2) Pelve 0,5% (1) 1,0% (1) Membro Superior Ombro/clavícula 17,3% (36) 21,2% (21) 13,8% (15) Cotovelo 4,9% (10) 4,0% (4) 5,5% (6) Dedos 4,9% (10) 6,1% (6) 3,8% (4) Polegar 3,9% (8) 5,1% (5) 2,8% (3) Punho 0,9% (2) 1,8% (2) Mão 0,5% (1) 1,0% (1) Ante-braço 0,5% (1) 0,9% (1) Membro Inferior Joelho 17,8% (37) 23,2% (23) 12,8% (14) Tornozelo# 12,1% (25) 15,2% (15) 9,2% (10) Coxa 8,7% (18) 1,0% (1) 15,6% (17) Região inguinal 7,2% (15) 8,1% (8) 6,4% (7) Perna 6,7% (14) 4,0% (4) 9,2% (10) Quadril 1,4% (3) 2,0% (2) 0,9% (1) Tendão calcâneo 0,9% (2) 1,8% (2) Pé/dedos 0,5% (1) 0,9% (1)
55
Tabela 5. Descrição do tipo de lesão em jogadores de handebol de elite.
Tipo de Lesão Total Mulheres Homens (n = 208) (n = 99) (n = 109) Distensões / ruptura muscular / estiramento 25,0% (52) 19,2% (19) 30,3% (33) Tendinopatia 19,7% (41) 23,2% (23) 15,6% (17) Entorse (articulação e/ou ligamento) 15,4% (32) 20,2% (20) 11,0% (12) Contusão / hematoma / equimose 13,5% (28) 13,1% (13) 13,8% (15) Luxação / subluxação 7,2% (15) 7,1% (7) 7,3% (8) Menisco ou cartilagem 4,3% (9) 3,1% (3) 4,6% (5) Ruptura ligamentar# 4,3% (9) 7,1% (7) 3,7% (4) Câimbra ou espasmos 1,9% (4) 3,7% (4) Fratura (traumática) 1,4% (3) 1,0% (1) 1,8% (2) Fratura por estresse (sobrecarga) 1,4% (3) 2,8% (3) Pinçamento / impacto 1,4% (3) 1,0% (1) 1,8% (2) Outras lesões ósseas 0,9% (2) 1,0% (1) 0,9% (1) Concussão 0,9% (2) 2,0% (2) Laceração / abrasão / lesão pele 0,6% (1) 0,9% (1) Ruptura tendinosa 0,9% (2) 1,0% (1) 0,9% (1) Avulsão dental / fratura dental 0,6% (1) 1,0% (1) Artrite / sinovite / bursite 0,6% (1) 0,9% (1) Os dados estão apresentados com porcentagem e frequência. # Todas as rupturas ligamentares referidas estão relacionadas à lesão do Ligamento Cruzado Anterior
(LCA), Exceto uma lesão no gênero feminino que ocorreu na região da mão (dedos) e uma no gênero
masculino que ocorreu na região do tornozelo.
56
Tabela 6 Taxa de incidência de lesões em jogadores de handebol de elite entre os gêneros Numero de
lesões Exposição
horas Taxa lesão*
Mulheres Total número de lesões 99 22727,5 4,4 Lesões em jogos 41 1332,0 30,9 Contato 23 1332,0 17,3 Sem Contato 12 1332,0 9,0 Sobrecarga 6 1332,0 4,5 Lesões em treinos 58 21395,5 2,7 Contato 18 21395,5 0,8 Sem Contato 22 21395,5 1,0 Sobrecarga 18 21395,5 0,8 Homens Total número de lesões 109 24547,0 4,4 Lesões em jogos 58 1048,0 55,3 Contato 30 1048,0 28,6 Sem Contato 21 1048,0 20,0 Sobrecarga 7 1048,0 6,7 Lesões em treinos 51 23499,0 2,2 Contato 16 23499,0 0,7 Sem Contato 19 23499,0 0,8 Sobrecarga 16 23499,0 0,7 *Taxa de lesão por 1000 horas de exposição.
Para algumas variáveis descritas neste estudo foi realizado o risco relativo
podendo ser visto na tabela 7, e na tabela 8 foi verificado o risco relativo dos treinos
e jogos de todos participantes do estudo.
57
Tabela 7. Risco Relativo das variáveis relacionadas a lesão em jogadores de handebol de elite. Mulheres
RR (IC 95%) Homens
RR (IC 95%) Lesões Prévias 1,40 (1,02 a 1,93)* 1,16 (0,89 a 1,50) Lesões em treinos 1,28 (0,95 a 1,72) 0,79 (0,61 a 1,03) 1/3 inicial 1,18 (0,77 a 1,79) 0,80 (0,43 a 1,49) 2/3 médio 1,14 (0,80 a 1,62) 0,85 (0,54 a 1,32) 3/3 final 0,80 (0,55 a 1,14) 1,28 (0,85 a 1,92) Lesões em jogos 0,77 (0,58 a 1,04) 1,25 (0,96 a 1,62) 1º tempo 0,96 (0,59 a 1,57) 1,02 (0,72 a 1,43) 2º tempo 1,03 (0,63 a 1,68) 0,97 (0,69 a 1,37) Lesões no tipo de piso Madeira 1,42 (1,01 a 2,00)* 0,74 (0,58 a 0,96)* Sintético/emborrachado 0,73 (0,50 a 1,06) 1,33 (1,00 a 1,77)* Cimento 0,61 (0,32 a 1,15) 1,17 (0,83 a 1,66) Mecanismo de Lesão Contato 0,98 (0,73 a 1,31) 1,01 (0,78 a 1, 31) Sem contato 0,94 (0,69 a 1,28) 1,04 (0,80 a 1,37) Sobrecarga 1,09 (0,79 a 1,51) 0,91 (0,66 a 1,26) RR: risco relativo. IC 95%: intervalo de confiança a 95%. O risco relativo da variável lesões prévias foi
calculado pelo total de participantes. O risco relativo para as outras variáveis foi calculado entre os
gêneros. *risco relativo estatisticamente significantes.
Tabela 8. Risco Relativo das variáveis treinos e jogos Mulheres Homens RR (IC 95%) RR (IC 95%) Treinos Treinos > 8,75 horas/sem 1,12 (0,83 a 1,52) > 7,6 horas/sem 0,94 (0,68 a 1,31) < 8,75 horas/sem 0,88 (0,65 a 1,19) < 7,6 horas/sem 1,05 (0,75 a 1,46) Jogos Jogos
> 30 min/sem 1,69 (1,21 a 2,35)* > 30 min/sem 1,59 (1,25 a 2,03)* < 30 min/sem 0,59 (0,42 a 0,82)* < 30 min/sem 0,62 (0,49 a 0,79)*
RR: risco relativo. IC 95%: intervalo de confiança a 95%. O risco relativo das variáveis treinos e jogos
foi calculado pelo tempo de exposição associado ao número total de participantes. *Risco Relativo
estatisticamente significante.
58
3.5 DISCUSSÃO Este foi o primeiro estudo de coorte prospectivo brasileiro, sendo possível
verificar que a incidência de lesões em jogadores de handebol de elite foi de 64,2%
(n=138) ou 4,4 lesões por 1000 horas de exposição. As lesões musculares
(distensões, estiramentos ou rupturas) foi o tipo mais comum de lesões
musculoesqueléticas, e o joelho e ombro foram as regiões anatômicas mais
afetadas. Obteve-se uma maior ocorrência de lesões no piso de madeira, e o
principal mecanismo de lesão foi devido ao contato com o adversário.
A incidência das taxas de lesões em jogos e treinos pode variar
consideravelmente, as taxas de lesões em jogos foram maiores em ambos os
gêneros quando comparadas as taxas de lesões em treinamentos. Estudos
confirmam estes achados1,6,7,10-13. Acreditamos que as lesões ocorrem mais em
jogos por ser mais intenso e rápido em comparação aos treinamentos, resultando
em situações de contato físico mais frequente com os adversário10,12,14,15 Devido a
este fator normalmente as lesões ocorrem nos membros inferiores10,12,16-18.
Verificamos que o joelho foi o principal local acometido, nossos resultados foram
semelhantes a outros estudos1,9,10. As lesões mais graves no joelho necessitaram de
intervenção cirúrgica, seis lesões de Ligamento Cruzado Anterior (LCA) foram
referidas no gênero feminino e três no gênero masculino.
As lesões musculares como distensões, estiramentos ou rupturas foram as
mais evidenciadas neste estudo acometendo ¼ de todas as lesões. Estes dados
contradizem alguns estudos os quais os resultados evidenciam o principal tipo de
lesão sendo a entorse1,6,7,10,19. Seil e col (1998) relatou em seu estudo que a maioria
das lesões musculares ocorreu no membro inferior afetando principalmente a coxa e
a perna. Nossos resultados coincidem com este estudo. Acreditamos que há uma
59
maior predisposição a lesão, devido os jogadores durante os treinamentos e jogos
de handebol desenvolver graus de fadiga, especialmente no músculo da perna20.
As lesões ocorrem no handebol na maioria das vezes por contato com o
adversário4,9,13,21. Muitas vezes este contato é intenso o bastante para afastar os
jogadores da prática esportiva por um período de tempo até estar recuperado
novamente, isto se dá o fato da gravidade da lesão. Infelizmente não existe um
consenso entre os pesquisadores para categorizar o período de afastamento das
lesões1,7,9,10,19,22-24. Verificamos que as lesões moderadas (2 a 7 dias) foram as
predominantes neste estudo.
No decorrer da temporada verificamos que as posições de jogo mais
predispostas as lesões foram as armações e as pontas, autores corroboram com
estes resultados, o qual Jorgensen e col. (1984) relatou que a armação foi a posição
mais acometida13. E Seil e col. (1997) refere-se uma maior incidência na posição das
pontas5. Acreditamos que há uma maior incidência nestas posições por haver uma
maior solicitação de gestos esportivos por estes jogadores, que podem ser um fator
desencadeante de lesão devido ao tempo de exposição. Hespanhol Junior e col.
(2012) relataram que a armação central, armação esquerda, armação direita foram
as principais posições que realizaram gestos desportivos como arremessos, passes,
recepções, saltos e fintas25.
Foi realizado o Risco Relativo (RR) para as características das lesões
utilizando somente os jogadores lesionados, verificamos que o risco relativo foi
maior durante jogos ou treinos realizados no piso de madeira para o gênero
feminino, e o piso sintético/emborrachado para o gênero masculino. Foi realizado o
RR das variáveis treinos e jogos para todos os participantes do estudo, foi verificado
se o tempo de exposição influencia para predisposição à lesão, pode-se verificar
60
para variável jogo que as mulheres e homens que jogam mais que 30 minutos por
semana estão mais predispostos a lesões do que os que jogam menos que 30
minutos por semana.
Quanto às limitações do nosso estudo podemos citar o registro das lesões,
uma vez que as informações sobre a lesão não necessariamente nos foi repassada
por profissionais habituados a trabalharem com lesão esportiva. Sugerimos que
futuros estudos possam investigar a eficácia de programas preventivos para a
modalidade. Acreditamos que os resultados deste estudo poderão auxiliar
principalmente os profissionais que trabalham com o handebol a esclarecerem
questões sobre os fatores associados ao surgimento de lesões durante a prática da
modalidade.
61
3.6 CONCLUSÃO
A incidência de lesões musculoesqueléticas em jogadores de handebol de
elite foi de 64,2% ou 4,4 lesões /1000 horas de exposição. As principais lesões
ocorreram na extremidade inferior, principalmente nas articulações do joelho,
tornozelo e o ombro no membro superior. As distensões, estiramentos ou rupturas
musculares e tendinopatias foram os principais tipos de lesões relatados. Os
resultados indicam que a incidência da taxa de lesão em jogos foi mais alta quando
comparada com a taxa de lesão em treinamentos.
62
3.7 REFERÊNCIAS
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youth and senior elite handball using a new SMS text messages approach. British
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2. Confederação Brasileira de Handebol. 2012. (Accessed 2012, at
http://www.brasilhandebol.com.br/.)
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science in sports 1998;8:33-41.
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and basketball. British journal of sports medicine 1990;24:51-4.
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young female players in European team handball. Scandinavian journal of medicine
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Sports injuries surveillance during the 2007 IAAF World Athletics Championships.
Clinical journal of sport medicine : official journal of the Canadian Academy of Sport
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handball: a comparison of two prospective registration methods. Scandinavian
journal of medicine & science in sports 2006;16:426-32.
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year prospective study of sixteen men's senior teams of a superior nonprofessional
level. The American journal of sports medicine 1998;26:681-7.
63
11. Myklebust G, Maehlum S, Engebretsen L, Strand T, Solheim E. Registration of
cruciate ligament injuries in Norwegian top level team handball. A prospective study
covering two seasons. Scandinavian journal of medicine & science in sports
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12. Nielsen AB, Yde J. An epidemiologic and traumatologic study of injuries in
handball. International journal of sports medicine 1988;9:341-4.
13. Jorgensen U. Epidemiology of injuries in typical Scandinavian team sports.
British journal of sports medicine 1984;18:59-63.
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injuries. A three-year prospective study of a Swedish elite ice hockey team. The
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16. Dirx M, Bouter LM, de Geus GH. Aetiology of handball injuries: a case--control
study. British journal of sports medicine 1992;26:121-4.
17. Hoeberigs JH, van Galen WC, Philipsen H. Pattern of injury in handball and
comparison of injured versus noninjured handball players. International journal of
sports medicine 1986;7:333-7.
18. Andren-Sandberg A, Lindstrand A. Injuries sustained in junior league handball.
A prospective study of validity in the registration of sports injuries. Scandinavian
journal of social medicine 1982;10:101-4.
19. Olsen OE, Myklebust G, Engebretsen L, Holme I, Bahr R. Exercises to prevent
lower limb injuries in youth sports: cluster randomised controlled trial. BMJ
2005;330:449.
20. Ronglan LT, Raastad T, Borgesen A. Neuromuscular fatigue and recovery in
elite female handball players. Scandinavian journal of medicine & science in sports
2006;16:267-73.
21. Asembo JM, Wekesa M. Injury pattern during team handball competition in
east Africa. East African medical journal 1998;75:113-6.
22. Wedderkopp N, Kaltoft M, Lundgaard B, Rosendahl M, Froberg K. Prevention
of injuries in young female players in European team handball. A prospective
intervention study. Scandinavian journal of medicine & science in sports 1999;9:41-7.
64
23. Soligard T, Myklebust G, Steffen K, Holme I, Silvers H, Bizzini M, et al.
Comprehensive warm-up programme to prevent injuries in young female footballers:
cluster randomised controlled trial. BMJ 2008;337:a2469.
24. Engebretsen AH, Myklebust G, Holme I, Engebretsen L, Bahr R. Intrinsic risk
factors for acute knee injuries among male football players: a prospective cohort
study. Scandinavian journal of medicine & science in sports 2011;21:645-52.
25. Hespanhol Junior LC, Girotto N, Alencar TN, AD L. Principais gestos
esportivos executados por jogadores de handebol. Revista Brasileira de Ciências do
Esporte 2012;34:727-39.
65
ANEXO 1 – AUTORIZAÇÃO DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
HANDEBOL
66
ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO DA COLETA DE DADOS
Questionário da Linha de Base
Questionário das Informações Semanais de Treinos e Jogos
Nome Idade Altura Peso Membro dominante História da lesão
Direito Esquerdo Local anatômico Tipo de lesão
1 ( ) ( )
2 ( ) ( )
3 ( ) ( )
4 ( ) ( )
5 ( ) ( )
6 ( ) ( )
7 ( ) ( )
8 ( ) ( )
9 ( ) ( )
10 ( ) ( )
Nº de treinos Duração do
treino Musculação Nº de jogos Duração do jogo
vezes/semana Horas dias/semana vezes/semana Jogou mais
Jogou menos
Não Jogou
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )
67
Questionário das Incidências das Lesões
Tipo de piso Local anatômico Tipo de lesão Mecanismo de lesão
Madeira Sintético Cimento Contato Sem contato Sobrecarga
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Gravidade da lesão Houve recorrência de lesão?
0 dias 2 - 7 dias > 7 dias < 2 meses 2 - 12 meses >12 meses
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Nome
Posição de jogo
Data da lesão
Situação da lesão Lesão em jogo Lesão em treino
Treino Jogo 1º
Tempo 2º
Tempo Início Meio Final
1 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
2 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
3 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
4 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
5 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
6 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
7 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
8 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
9 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
10 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
68
ANEXO 3 – TABELA DE CLASSIFICAÇÃO E CÓDIGOS DE LESÃO
Para Lesões
Parte do Corpo Lesionada - Localização da Lesão
Cabeça e Tronco Membro Superior Membro Inferior
1 face (incluindo olhos, orelha e nariz) 11 ombro / clavícula 21 quadril
2 cabeça 12 braço (anterior/posterior) 22 região inguinal
3 pescoço / coluna cervical 13 cotovelo (anterior/posterior) 23 coxa (anterior/posterior)
4 coluna torácica 13 cotovelo (medial/lateral) 24 joelho (anterior/posterior)
5 esterno / costelas 14 ante-braço (anterior/posterior) 24 joelho (medial/lateral)
6 coluna lombar 15 punho (anterior/posterior) 25 perna (anterior/posterior)
7 abdômen 16 mão (anterior/posterior) 26 tendão calcâneo
8 pelve / sacro / nádega 17 dedos (anterior/posterior) 27 tornozelo (medial/lateral)
18 polegar (anterior/posterior) 28 pé/dedos (anterior/posterior)
Tipo de Lesão – Diagnóstico
1 concussão (independente da perda de consciência) 11 contusão / hematoma / equimose
2 fratura (traumática) 12 tendinopatia
3 fratura por estresse (sobrecarga) 13 artrite / sinovite / bursite
4 outras lesões ósseas 14 fascite / lesão aponeurótica
5 luxação, subluxação 15 pinçamento/ impacto
6 ruptura tendinosa 16 laceração / abrasão / lesão pele
7 ruptura ligamentar 17 avulsão dental / fratura dental
8 entorse (lesão da articulação e/ou ligamentos) 18 lesão nervosa / lesão medular
9 lesão de meniscos ou cartilagem 19 câimbra ou espasmos
10 distensões / ruptura muscular / estiramento 20 outros
69
- CAPÍTULO 4 -
CONSIDERAÇÕES FINAIS
70
Os principais tipos de lesão observados durante o Campeonato Paulista
foram as entorses de tornozelo, principalmente devido aos movimentos de
constantes de aterrissagens com apenas uma perna de apoio após o salto. No
decorrer do Campeonato da Liga Nacional as lesões musculares
(distensões/estiramentos/rupturas) foram as mais predominantes, acometendo
principalmente os membros inferiores, provavelmente causadas pela intensa carga
de treinamentos e jogos. A maioria das lesões ocorreu após contato físico em ambos
os campeonatos.
As jogadoras participantes do Campeonato Paulista apresentaram um risco
relativo maior durante jogos ou treinos realizados em quadra com o piso de cimento.
Na Liga Nacional as mulheres apresentaram maior risco relativo no piso de madeira.
Os homens apresentaram maior risco relativo durante o Campeonato Paulista em
atividades no piso de madeira e na Liga Nacional o piso sintético a superfície que
apresentou maior risco relativo. As taxas de lesões em jogos foram muito mais altas
que as taxas observadas em treinamentos.
71
4.1 IMPORTÂNCIA DOS RESULTADOS E IMPLICAÇÕES PARA PESQUISAS
FUTURAS
O desenvolvimento dessas pesquisas auxiliará principalmente os profissionais
que trabalham com o handebol a esclarecerem questões sobre as características
das lesões, no propósito de se conhecer as principais lesões que acometem os
jogadores brasileiros. A partir das informações e dos resultados obtidos por esta
dissertação os profissionais da saúde que atuam com a modalidade podem propor o
desenvolvimento e a implementação de programas de prevenção de lesões
musculoesqueléticas no handebol, afim diminuírem o número de lesões nos
jogadores durante os treinos e jogos. Sugerimos que mais estudos sejam realizados
com o propósito de verificar a influência de outros fatores que podem estar
associados às lesões e estudos que averíguem estratégias de prevenção para a
população brasileira.
72
- MATERIAL SUPLEMENTAR -
73
INSTRUÇÕES AOS AUTORES – REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DO
ESPORTE (RBME)
ESCOPO E POLÍTICA
A Revista Brasileira de Medicina do Esporte (RBME) é o órgão oficial da
Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBME), com
publicação bimestral. A missão da RBME é disseminar a produção científica nas
áreas de ciências do exercício e do esporte, através da publicação de resultados de
pesquisas originais e de outras formas de documentos que contribuam para o
conhecimento fundamental e aplicado em atividade física, exercício e esporte no
âmbito das ciências biológicas e da medicina.
Serão considerados para publicação artigos originais, artigos de opinião,
artigos de revisão, relatos de experiência, relatos de casos ou cartas ao editor, sobre
assuntos relacionados com as áreas de Medicina e Ciências do Exercício e do
Esporte. Ser membro da SBME não representa um pré-requisito para publicação na
RBME, nem influencia a decisão do Conselho Editorial. Serão aceitos artigos
escritos na língua portuguesa e, a critério do Conselho Editorial, autores e grupos
estrangeiros poderão publicar artigos escritos em inglês. Todos os artigos serão
publicados na íntegra, sendo responsabilidade da RBME a produção das versões
estrangeiras.
A RBME adota as regras de preparação de manuscritos da Uniform
Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (International
Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts
submitted to biomedical journals. Ann Intern Med 1997;126:36-47), cuja última
atualização, realizada em 2010, está disponível na internet (http://www.icmje.org).
74
Dupla Submissão: Os artigos submetidos à RBME serão considerados para
publicação somente com a condição de que não tenham sido publicados ou não
estejam em processo de avaliação para publicação em outro periódico, seja na sua
versão integral ou em parte. A RBME não considerará para publicação artigos cujos
dados tenham sido disponibilizados na internet para acesso público. Se houver no
artigo submetido algum material em figuras ou tabelas já publicado em outro local, a
submissão do artigo deverá ser acompanhada de cópia do material original e da
permissão por escrito para reprodução do material.
Conflitos de interesse: Os autores deverão explicitar, através de formulário próprio
(Divulgação de potencial conflito de interesses), qualquer potencial conflito de
interesse relacionado ao artigo submetido, conforme determinação da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (RDC 102/ 2000) e do Conselho Federal de
Medicina (Resolução nº 1.595/2000). Esta exigência visa informar os editores,
revisores e leitores sobre relações profissionais e/ou financeiras (como patrocínios e
participação societária) com agentes financeiros relacionados aos produtos
farmacêuticos ou equipamentos envolvidos no trabalho, os quais podem
teoricamente influenciar as interpretações e conclusões do mesmo. A existência ou
não de conflito de interesse declarado estarão ao final de todos os artigos
publicados.
Bioética de experimentos com seres humanos: A realização de experimentos
envolvendo seres humanos deve seguir a resolução específica do Conselho
Nacional de Saúde (nº 196/96) disponível na internet
(http://conselho.saude.gov.br/docs/Resolucoes/Reso196de96.doc), incluindo a
assinatura de um termo de consentimento informado e a proteção da privacidade
dos voluntários.
75
Bioética de experimentos com animais: A realização de experimentos envolvendo
animais deve seguir resoluções específicas (Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e
Decreto nº 24.645 de 10 de julho de 1934).
Ensaios clínicos: Os artigos contendo resultados de ensaios clínicos deverão
disponibilizar todas as informações necessárias à sua adequada avaliação,
conforme previamente estabelecido. Os autores deverão referir-se ao "CONSORT"
(www.consort-statement.org).
Revisão pelos pares: Todos os artigos submetidos serão avaliados, por revisores
com experiência e competência profissional na respectiva área do trabalho e que
emitirão parecer fundamentado, os quais serão utilizados pelos Editores para decidir
sobre a aceitação do mesmo. Os critérios de avaliação dos artigos incluem:
originalidade, contribuição para corpo de conhecimento da área, adequação
metodológica, clareza e atualidade. Considerando o crescente número de
submissões à RBME, artigos serão também avaliados quanto à sua relevância no
que tange à contribuição para o conhecimento específico na área. Assim, artigos
com adequação metodológica e resultados condizentes poderão não ser aceitos
para publicação quando julgados como de baixa relevância pelos Editores. Tal
decisão de recusa não estará sujeita a recurso ou contestação por parte dos
autores. Os artigos aceitos para publicação poderão sofrer revisões editoriais para
facilitar sua clareza e entendimento sem alterar seu conteúdo.
Correção de provas gráficas: Logo que prontas, as provas gráficas (layout) em
formato eletrônico serão enviadas, por e-mail, para o autor responsável pelo artigo.
Os autores deverão devolver, também por e-mail, a prova gráfica (layout) com as
devidas correções em, no máximo, 48 horas após o seu recebimento. O envio e o
76
retorno das provas gráficas por correio eletrônico visa agilizar o processo de revisão
e posterior publicação das mesmas.
Direitos autorais: Todas as declarações publicadas nos artigos são de inteira
responsabilidade dos autores. Entretanto, todo material publicado torna-se
propriedade da SBME, que passa a reservar os direitos autorais. Portanto, nenhum
material publicado na RBME poderá ser reproduzido sem a permissão por escrito da
SBME. Todos os autores de artigos submetidos à RBME deverão assinar um Termo
de Transferência de Direitos Autorais (a seguir), que entrará em vigor a partir da
data de aceite do trabalho. O autor responsável pelo artigo receberá, sem custos, a
separata eletrônica da publicação (em formato PDF).
Endereço para correspondência: Revista Brasileira de Medicina do Esporte –
SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO EXERCÍCIO E DO ESPORTE –
Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 278 – 6º andar –01318-901 – São Paulo, SP –
Tel./fax: (11) 3106 7544 / Fax: (11) 3106 8611 – E-mail:
FORMAS E PREPARAÇÃO DE MANUSCRITOS
O artigo submetido deve ser digitado em espaço duplo, fonte arial 12, papel
tamanho A4 ou ofício, com margens de 2,5cm, sem numerar linhas ou parágrafos, e
numerando as páginas no canto superior direito. Gráficos e tabelas devem ser
apresentados no final do artigo em páginas separadas, assim como as legendas das
figuras. As figuras devem ser incluídas em arquivos individuais. No corpo do texto
deve-se informar os locais para inserção dos gráficos, tabelas ou figuras. Os
manuscritos que não estiverem de acordo com as instruções a seguir em relação ao
estilo e formato serão devolvidos sem revisão pelo Conselho Editorial.
77
Formato dos arquivos:
• Para o texto, usar editor de texto do tipo Microsoft Word para Windows ou
equivalente
• Não enviar arquivos em formato PDF • As figuras deverão estar nos formatos jpg
ou tif. Deverão estar incluídas no arquivo Word, mas também devem ser enviadas
separadamente (anexadas durante a submissão do artigo como documento
suplementar).
Artigo original: Um artigo original deve conter no máximo 30 (trinta) referências e
20 (vinte) páginas incluindo referências, figuras e tabelas, e ser estruturado com os
seguintes itens, cada um começando por uma página diferente:
Página título: deve conter (1) o título do artigo, que deve ser objetivo, mas
informativo; (2) nomes completos dos autores; áreas de formação dos autores;
instituição(ões) de origem, com cidade, estado e país, se fora do Brasil; (3) nome do
autor correspondente, com endereço completo e e-mail. A titulação dos autores não
deve ser incluída.
Resumo: deve conter (1) o resumo em português, com não mais do que 300
palavras, estruturado de forma a conter: introdução e objetivo, métodos, resultados e
conclusão; (2) três a cinco palavras-chave, que não constem no título do artigo. Usar
obrigatoriamente termos do Medical Subject Headings, do Index
Medicus (http://www.nlm.nih.gov/mesh/); (3) o resumo em inglês (abstract),
representando a versão do resumo para a língua inglesa; (4) três a cinco palavras-
chave em inglês (keywords).
Introdução: deve conter (1) justificativa objetiva para o estudo, com referências
pertinentes ao assunto, sem realizar uma revisão extensa; (2) objetivo do artigo.
78
Métodos: deve conter (1) descrição clara da amostra utilizada; (2) termo de
consentimento para estudos experimentais envolvendo humanos; (3) identificação
dos métodos, aparelhos (fabricantes e endereço entre parênteses) e procedimentos
utilizados de modo suficientemente detalhado, de forma a permitir a reprodução dos
resultados pelos leitores; (4) descrição breve e referências de métodos publicados,
mas não amplamente conhecidos; (5) descrição de métodos novos ou modificados;
(6) quando pertinente, incluir a análise estatística utilizada, bem como os programas
utilizados. No texto, números menores que 10 são escritos por extenso, enquanto
que números de 10 em diante são expressos em algarismos arábicos.
Resultados: deve conter (1) apresentação dos resultados em sequência lógica, em
forma de texto, tabelas e ilustrações; evitar repetição excessiva de dados em tabelas
ou ilustrações e no texto; (2) enfatizar somente observações importantes.
Discussão: deve conter (1) ênfase nos aspectos originais e importantes do estudo,
evitando repetir em detalhes dados já apresentados na Introdução e nos Resultados;
(2) relevância e limitações dos achados, confrontando com os dados da literatura,
incluindo implicações para futuros estudos; (3) ligação das conclusões com os
objetivos do estudo; (4) conclusões que podem ser tiradas a partir do estudo;
recomendações podem ser incluídas, quando relevantes.
Agradecimentos: deve conter (1) contribuições que justificam agradecimentos, mas
não autoria; (2) fontes de financiamento e apoio de uma forma geral. Referências: as
referências bibliográficas devem ser numeradas na sequência em que aparecem no
texto, em formato sobrescrito entre parênteses. As referências citadas somente em
legendas de tabelas ou figuras devem ser numeradas de acordo com uma
sequência estabelecida pela primeira menção da tabela ou da figura no texto.
79
O estilo das referências bibliográficas deve seguir as regras do Uniform
Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (International
Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts
submitted to biomedical journals. Ann Intern Med 1997;126:36-
47; http://www.icmje.org). Alguns exemplos mais comuns são mostrados abaixo.
Para os casos não mostrados aqui, consultar a referência acima. Os títulos dos
periódicos devem ser abreviados de acordo com o Index Medicus (List of Journals
Indexed:http://www.nlm.nih.gov/tsd/serials/lji.html). Se o periódico não constar dessa
lista, deve-se utilizar a abreviatura sugerida pelo próprio periódico. Deve-se evitar
utilizar "comunicações pessoais" ou "observações não publicadas" como referências.
Um resumo apresentado deve ser utilizado somente se for a única fonte de
informação.
Exemplos:
1) Artigo padrão em periódico (deve-se listar todos os autores; se o número
ultrapassar seis, colocar os seis primeiros, seguidos por et al): You CH, Lee KY,
Chey RY, Mrnguy R. Electrocardiographic study of patients with unexplained nausea,
bloating and vomiting. Gastroenterology 1980;79:311-4. Goate AM, Haynes AR,
Owen MJ, Farrall M, James LA, Lai LY, et al. Predisposing locus for Alzheimer’s
disease on chromosome 21. Lancet 1989;1:352-5.
2) Autor institucional: The Royal Marsden Hospital Bone-Marrow Transplantation
Team. Failure of syngeneic bone-marrow graft without preconditioning in post-
hepatitis marrow aplasia. Lancet 1977;2:742-4.
3) Livro com autor(es) responsáveis por todo o conteúdo: Colson JH, Armour WJ.
Sports injuries and their treatment. 2 nd rev. ed. London: S. Paul, 1986.
80
4) Livro com editor(es) como autor(es): Diener HC, Wilkinson M, editors. Drug-
induced headache. New York: Springer-Verlag, 1988.
5) Capítulo de livro: Weinstein L, Swartz MN. Pathologic properties of invading
microorganisms. In: Sodeman WA Jr, Sodeman WA, editors. Pathologic physiology:
mechanisms of disease. Philadelphia: Saunders, 1974;457-72.
Tabelas: As tabelas devem ser elaboradas em espaço 1,5, devendo ser planejadas
para ter como largura uma (8,7cm) ou duas colunas (18cm). Cada tabela deve
possuir um título sucinto; itens explicativos devem estar ao pé da tabela. A tabela
deve conter médias e medidas de dispersão (DP, EPM etc.), não devendo conter
casas decimais irrelevantes. As abreviaturas devem estar de acordo com as
utilizadas no texto e nas figuras. Os códigos de identificação de itens da tabela
devem estar listados na ordem de surgimento no sentido horizontal e devem ser
identificados pelos símbolos padrão.
Figuras: Serão aceitas fotos ou figuras em preto-e-branco. Figuras coloridas
poderão ser publicadas quando forem essenciais para o conteúdo científico do
artigo. Nestes casos, os custos serão arcados pelos autores. Para detalhes sobre
ilustrações coloridas, solicitamos contactar diretamente a Atha Editora
([email protected]). Figuras coloridas poderão ser incluídas na versão
eletrônica do artigo sem custo adicional para os autores. Os desenhos das figuras
devem ser consistentes e tão simples quanto possível. Não utilizar tons de cinza.
Todas as linhas devem ser sólidas. Para gráficos de barra, por exemplo, utilizar
barras brancas, pretas, com linhas diagonais nas duas direções, linhas em xadrez,
linhas horizontais e verticais. A RBME desestimula fortemente o envio de fotografias
de equipamentos e animais. As figuras devem ser impressas com bom contraste e
largura de uma coluna (8,7cm) no total. Utilizar fontes de no mínimo 10 pontos para
81
letras, números e símbolos, com espaçamento e alinhamento adequados. Quando a
figura representar uma radiografia ou fotografia sugerimos incluir a escala de
tamanho quando pertinente.
Artigos de revisão: Os artigos de revisão são habitualmente encomendados pelo
Editor a autores com experiência comprovada na área. Artigos de revisão deverão
abordar temas específicos com o objetivo de atualizar os menos familiarizados com
assuntos, tópicos ou questões específicas nas áreas de Medicina e Ciências do
Exercício e do Esporte. O Conselho Editorial avaliará a qualidade do artigo, a
relevância do tema escolhido e o comprovado destaque dos autores na área
específica abordada. A inadequação de qualquer um dos itens acima acarretará na
recusa do artigo pelos editores, sem que o mesmo seja enviado para o processo de
revisão pelos pares. O artigo de revisão deve ter, no máximo, 30 (trinta) páginas e
100 (cem) referências.
Revisão sistemática: A RBME encoraja os autores a submeterem artigos de
revisão sistemática da literatura nas áreas de Medicina e Ciências do Exercício e do
Esporte. O Conselho Editorial avaliará a qualidade do artigo, a relevância do tema
escolhido, o procedimento de busca e os critérios para inclusão dos artigos. A
inadequação de qualquer um dos itens acima acarretará na recusa do artigo pelos
editores, sem que o mesmo seja enviado para o processo de revisão pelos pares. O
artigo de revisão sistemática deve ter, no máximo, 30 (trinta) páginas e 100 (cem)
referências.
Meta-análise: A RBME encoraja os autores a submeterem artigos de análise meta-
analítica nas áreas de Medicina e Ciências do Exercício e do Esporte. O Conselho
Editorial avaliará a qualidade do artigo, a relevância do tema escolhido, o
procedimento de busca de artigos, os critérios para inclusão dos artigos e o
82
tratamento estatístico utilizado. A inadequação de qualquer um dos itens acima
acarretará na recusa do artigo pelos editores, sem que o mesmo seja enviado para o
processo de revisão pelos pares. O artigo de meta-análise deve ter, no máximo, 30
(trinta) páginas e 100 (cem) referências.
Artigos de opinião: Serão encomendados pelo Conselho Editorial a indivíduos de
notório saber nas áreas de Medicina do Exercício e do Esporte e das Ciências do
Esporte, que emitirão sua opinião pessoal sobre assuntos de particular interesse. O
artigo de opinião deve ter, no máximo, 20 (vinte) páginas e 20 (vinte) referências.
Relatos de experiência: A RBME estimula profissionais que possuam uma
experiência relevante em algum aspecto especial, original ou inovador em Medicina
do Exercício e do Esporte ou das Ciências do Esporte a partilhá-la, sob a forma de
um Relato de Experiência. A inadequação de qualquer um dos itens acima
acarretará na recusa do artigo pelos editores, sem que o mesmo seja enviado para o
processo de revisão pelos pares. O relato de experiência deve ter, no máximo, 15
(quinze) páginas e 15 (quinze) referências.
Relato de caso: A RBME pode aceitar artigos de relato de caso, descrevendo casos
clínicos específicos que tragam informações relevantes e ilustrativas sobre
diagnóstico ou tratamento de um caso particular que seja raro na Medicina do
Exercício e do Esporte. Os artigos devem ser objetivos e precisos, contendo os
seguintes itens: 1) Um Resumo e um Abstract contendo as implicações clínicas; 2)
Uma Introdução com comentários sobre o problema clínico que será abordado,
utilizando o caso como exemplo. É importante documentar a concordância do
paciente em utilizar os seus dados clínicos; 3) Um Relato objetivo contendo a
história, o exame físico e os achados de exames complementares, bem como o
tratamento e o acompanhamento; 4) Uma Discussão explicando em detalhes as
83
implicações clínicas do caso em questão, e confrontando com dados da literatura,
incluindo casos semelhantes relatados na literatura; 5) Referências bibliográficas. O
relato de caso deve ter, no máximo, 20 (vinte) páginas e 30 (trinta) referências.
Carta ao editor: Cartas endereçadas ao Editor-Chefe da RBME serão consideradas
para publicação se promoverem discussão intelectual sobre um determinado artigo
recentemente publicado. As cartas devem conter um título informativo e seguir as
instruções acima para publicação. As cartas devem ter não mais do que 500
palavras. Se aceita, uma cópia será enviada ao autor do artigo original que suscitou
a discussão, com um convite para submeter uma réplica que será publicada junto
com a carta.
Livros para revisão: A RBME estimula as editoras a submeterem livros para
apreciação pelo Conselho Editorial. Devem ser enviadas duas cópias do livro ao
Editor-Chefe (vide o endereço acima), as quais não serão devolvidas. O envio dos
livros não garante a sua apreciação. Contudo, os livros recebidos e não apreciados
serão listados no último número de cada ano da Revista. Os livros selecionados
para apreciação serão encaminhados para revisores com experiência e competência
profissional na respectiva área do livro, cujos pareceres deverão ser emitidos em até
três meses e poderão ser adaptados pelos Editores da Revista, sem qualquer
interferência das editoras dos livros apreciados. O resultado da apreciação será
publicado na Revista juntamente com as informações editoriais do livro.
ENVIO DE MANUSCRITOS
Todos os artigos deverão ser submetidos diretamente no
site http://submission.scielo.br/index.php/rbme. Na submissão eletrônica do artigo,
os autores deverão anexar como Documento Suplementar:
84
• Termo de Divulgação de Potencial Conflito de Interesses
• Termo de Transferência de Direitos Autorais (a seguir) Não serão aceitas
submissões por e-mail, correios ou quaisquer outras vias que não a
submissão eletrônica no site supramencionado.
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DEFERIMENTO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA