universidade do vale do itajaÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/elias souza.pdf ·...

136
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALMENTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – PMGPP ESTUDO DE CASO – MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE PISCICULTURA INTEGRADA – PRINCIPAIS ATORES E AÇÕES PARA O SETOR ELIAS SOUZA ITAJAÍ (SC), 2007

Upload: dinhdiep

Post on 18-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALMENTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – PMGPP

ESTUDO DE CASO – MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE PISCICULTURA INTEGRADA – PRINCIPAIS ATORES E AÇÕES PARA O SETOR

ELIAS SOUZA

ITAJAÍ (SC), 2007

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALMENTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – PMGPP

ESTUDO DE CASO – MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE PISCICULTURA INTEGRADA – PRINCIPAIS ATORES E AÇÕES PARA O SETOR

ELIAS SOUZA

Projeto de Dissertação apresentado à Banca Examinadora no Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, sob a orientação da Prof. Dra. Adriana Marques Rossetto como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas/Profissionalizante.

ITAJAÍ (SC), 2007

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

SUMÁRIO

RESUMO 6

ABSTRACT 7

LISTA DE MAPAS 8

LISTA DE TABELAS 8

LISTA DE QUADROS 8

LISTA DE FIGURAS 9

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 10

1.1 JUSTIFICATIVA 12

1.2 OBJETIVOS 14

1.3 METODOLOGIA 14

1.3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA 14

1.3.2 COLETA DE DADOS 15

1.3.3 INVESTIGAÇÃO DOCUMENTAL 15

1.3.4 INVESTIGAÇÃO DE CAMPO E AMÓSTRAS 16

CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS TEORICOS 18

2.1 O ESTADO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS 18

2.1.1 O QUE AVALIAR EM POLÍTICA PÚBLICA? EFICÁCIA, IMPACTO,

PERTINÊNCIA E EFICIÊNCIA

20

2.1.2 O MECANISMO DE AÇÃO E CONTEXTO/AVALIAÇÃO 22

2.2 A PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA NA SOCIOLOGIA AMBI ENTAL 22

2.3 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E AS APPs NO BRASIL 26

2.3.1 DELIMITAÇÃO DAS APPs 28

2.3.1.1 Delimitação das APPs em topo de morros e montanhas 28

2.3.1.2 Delimitação das APPs ao longo das linhas de cumeada 29

2.3.1.3 Delimitação das APPs ao redor de nascentes ou olhos d’água 29

2.3.1.4 Delimitação das APPs ao longo do rio ou de qualquer curso d’água 30

2.3.1.5 Delimitação das APPs em áreas de banhado 30

2.4 O ASSOCIATIVISMO NO BRASIL 31

2.5 HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DA PISCICULTURA 32

2.5.1 ORIGENS DA PISCICULTURA 32

2.5.2 CARACTERIZAÇÃO DA PISCICULTURA 33

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

2.5.3 A PISCICULTURA NO BRASIL 36

2.5.4 A PISCICULTURA EM SANTA CATARINA 36

CAPÍTULO III – HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍ PIOS

DO ALTO VALE DO ITAJAÍ

40

3.1 ALTO VALE DO ITAJAÍ: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO

TERITÓRIO

40

3.1.1 DADOS FÍSICOS 42

3.1.2 POPULAÇÃO E CONDIÇÃO SOCIAL 43

3.2 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ 44

3.2.1 DOS ÍNDIOS A CHEGADA DOS PRIMEIROS COLONIZADORES

EUROPEUS

44

3.3 ESTRUTURA FUNDIÁRIA 46

3.4 AS PRINCIPAIS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS 47

3.4.1 ATIVIDADES AGRÍCOLAS 48

3.4.1.1 Mandioca 49

3.4.1.2 Milho 50

3.4.1.3 Arroz em casca 50

3.4.1.4 Cebola 51

3.4.1.5 Feijão 51

3.4.1.6 Fumo 52

3.4.2 ATIVIDADES PECUÁRIAS 52

3.4.2.1 Bovinos 53

3.4.2.2 Aves 54

3.4.2.3 Suínos 54

CAPÍTULO IV – CONTEXTO QUE ANTECEDEU A FORMULAÇÃO E

IMPLEMENTAÇÃO DO MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE

PISCICULTURA INTEGRADA

56

4.1 DENÚNCIA CONTRA O SISTEMA DE PISCICULTURA INTEG RADA 56

4.1.1 EPAGRI – ACUSADA DE AGREDIR O MEIO AMBIENTE ENTRA EM

DEFESA E NA ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES

59

4.1.2 APREMAVI, EPAGRI E PISCICULTORES ENTREM EM COLISÃO 62

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

CAPÍTULO V – O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO MAVIPI –

“MODELO ALTO VALE DE PISCICULTURA INTEGRADA

68

5.1 EPAGRI E PISCICULTORES BUSCAM UMA SOLUÇÃO 68

5.1.1 CARACTERÍSTICAS DO “MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE

PISCICULTURA INTEGRADA

71

5.1.2 OPERAÇÕES DO SISTEMA MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE

PISCICULTURA INTEGRADA

73

5.2 PRINCIPAIS ATORES E SUAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A

IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO MAVIPI

78

5.2.1 EPAGRI – EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO

RURAL DE SANTA CATARINA

78

5.2.2 BANCO MUNDIAL E O MICROBACIAS 86

5.2.3 PRONAF – PROGRAMA NACIONAL DE APOIO A AGRICULTURA

FAMILIAR

89

5.2.4 POLÍCIA AMBIENTAL 91

5.2.5 PREFEITURAS MUNICIPAIS E SECRETARIAS MUNICIPAIS DE

AGRICULTURA

92

5.2.6 FATMA – FUNDAÇÃO DE AMPARO AO MEIO AMBIENTE 93

5.2.7 13ª SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL –

SEDE ITUPORANGA

95

CAPÍTULO VI – PERCEPÇÃO DOS PISCICULTORES E TÉCNICO S 98

6.1 PERFIL DOS PISCICULTORES ENTREVISTADOS/PROPRIEDADES 98

6.2 PERCEPÇÃO DOS PISCICULTORES 100

6.3 PERCEPÇÃO DOS TÉCNICOS DO PROGRAMA MAVIPI 106

CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 114

7.1 CONCLUSÃO 114

7.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS 116

REFERÊNCIAS 119

APÊNDICES 123

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO COM PISCICULTORES DO ALTO

VALE DO ITAJAÍ

124

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO COM OS TÉCNICOS DA EPAGRI ,

FATMA, SEBRAE, SDR/MICROBACIAS

126

ANEXOS 129

ANEXO 1 – LEI N° 4.771, DE 15 DE SETEMBRO DE 1965 (CÓDIGO

FLORESTAL)

130

ANEXO 2 – RESOLUÇÃO N° 302, DE 20 DE MARÇO DE 2002 (CONAMA) 131

ANEXO 3 – RESOLUÇÃO N° 303, DE 20 DE MARÇO DE 2002 (CONAMA) 132

ANEXO 4 – LEI N° 6.766, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1979 (LEI LEHMAN) 133

ANEXO 5 – RECOMENDAÇÕES DA MISSÃO DO GRUPO

MULTIDISCIPLINAR DO PROGRAMA DE COOPERAÇÃO DO BANCO

MUNDIAL

134

ANEXO 6 – AÇÕES DA EPAGRI POR SUGESTÃO DA MISSÃO DO

BANCO MUNDIAL

135

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

RESUMO

O presente trabalho é um Estudo de Caso do Programa MAVIPI – Modelo Alto Vale

de Piscicultura Integrada, implantado pela necessidade de regulamentação da atividade

consorciada peixe – suíno, após denúncias da APREMAVI – Associação de Preservação do

Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí, que está prática estava agredindo o meio ambiente e

causando a proliferação de borrachudos na região. As denúncias colocaram em colisão,

APREMAVI – Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí,

EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina e

Piscicultores, envolvendo outros Atores no processo. Todos os Atores envolvidos tiveram

papel fundamental para a implantação e desenvolvimento do MAVIPI – Modelo Alto Vale de

Piscicultura Integrada, destacando-se a EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e

Extensão Rural de Santa Cantarina que através de seus técnicos buscaram caminhos para

superar os problemas surgidos e criar condições para nossos piscicultores produzirem dentro

dos padrões técnicos necessários conforme exigências da Legislação Ambiental Brasileira.

Entre todas as dificuldades encontradas para a prática do MAVIPI – Modelo Alto Vale de

Piscicultura Integrada, está na conquista da Licença Ambiental, diante da estrutura física das

propriedades produtoras da região, pequenas e de médio portes (em média 20ha) e geralmente

cortadas por rios, riachos, valos, olhos d’água e etc..., complicando a construção de viveiros

de acordo com o Código Florestal Brasileiro que exige o respeito das APP’S – Áreas de

Preservação Permanente de 30 metros de cursos d’águas com matas nativas. O estudo foi

realizado através de pesquisas bibliográficas e pesquisa de campo entre os piscicultores que

praticam o MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada e demais atores envolvidos

no setor. O processo evoluiu, hoje são 204 produtores cadastrados e produzindo dentro dos

padrões do MAVIPI – Modelo Alto Vale do Itajaí.

Palavras chave: Piscicultura Integrada; Atores; Políticas Públicas.

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

CASE STUDY – MAVIPI – ALTO VALE MODEL OF INTEGRATE D FISH FARMING – PRINCIPAL ACTORS AND ACTIONS FOR THE SECT OR

ELIAS SOUZA

ABSTRACT

The present work is a Case Study of the MAVIPI Program – Alto Vale Model of

Integrated Fish Farming, implemented due to the need to regulate the cooperative fish farming

and hog raising activity following accusations from APREMAVI – the Association for

Environmental Preservation of the Alto Vale do Itajaí region - that this practice was harming

the environment and causing the proliferation of black flies in the region. The accusations led

to a confrontation between the APREMAVI – Association for Environmental Preservation of

the Alto Vale do Itajaí region, and EPAGRI – Farming and Rural Extension of Santa Catarina

and Fish Farmers, with other actors becoming involved in the process. All the actors involved

played a fundamental role in the implementation and development of the MAVIPI – Alto

Vale Model of Integrated Fish Farming, and the EPAGRI – Agriculture Research and Rural

Extension of Santa Catarina was highlighted which, through its technicians, searches for ways

of overcoming the problems that arise and creating conditions for our fish farmers to produce

within the technical standards required, according to the requirements of the Brazilian

Environmental Legislation. Among all the difficulties facing the practice of the MAVIPI –

Alto Vale Model of Integrated Fish Farming, is the difficulty of gaining Environmental

Licensing, owing to the physical structure of the farms in the region, which are small to

medium size (average 20ha) and generally transected by rivers, streams, springs etc,

complicating the construction of fish hatcheries according to the Brazilian Forestry Code,

which stipulates that an EPA (Environmental Preservation Area) of 30 meters be respected for

water courses in native forests. The study was carried through bibliographical research and

field research among fish farmers who use the MAVIPI – Alto Vale Model of Integrated Fish

Farming, and other actors involved in the sector. The process evolved, and today there are 204

registered producers, producing within the standards of the MAVIPI – Alto Vale do Itajaí

Model.

Key words: Integrated Fish Farming; Actors; Public policies.

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

LISTA DE MAPAS

MAPA 1. Municípios da Região do Alto Vale do Itajaí destacando os escolhidos

para pesquisa de campo

17

MAPA 2. Mapa de Santa Catarina com destaque para a Região do Alto Vale do

Itajaí

41

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. Produção de peixes de água doce e morna em Santa Catarina – 1983 a

1996

38

TABELA 2. População urbana, rural e total e índice de exclusão social dos

Municípios do Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina, 2000

43

TABELA 3. Valor bruto da Produção Agropecuária (VBP) em Santa Catarina e Alto

Vale do Itajaí e a relação percentual entre ambas, 1997 – (mil R$)

47

TABELA 4. Área plantada dos principais produtos agrícolas dos municípios do Alto

Vale do Itajaí, Santa Catarina, 2003

48

TABELA 5. Efetivo dos principais rebanhos dos municípios do Alto Vale do Itajaí,

Santa Catarina, 2003

52

TABELA 6. Levantamento da produção de peixes comercializados: safra junho

2005 / junho 2006 – Região do Alto Vale do Itajaí

110

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1. % de atores entrevistados 16

QUADRO 2. Tarefas chaves na construção dos problemas ambientais 25

QUADRO 3. Municípios associados à AMAVI 40

QUADRO 4. Características das propriedades 98

QUADRO 5. Mão de obra utilizada 99

QUADRO 6. Produção principal na propriedade 100

QUADRO 7. Início da Atividade de Piscicultura Integrada 100

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

QUADRO 8. Percepção da Piscicultura Integrada na propriedade 101

QUADRO 9. Principais dificuldades para Prática da Piscicultura Integrada –

MAVIPI

102

QUADRO 10. Vantagens e facilidades para prática da Piscicultura Integrada –

MAVIPI

103

QUADRO 11. Vantagens na organização em associação 104

QUADRO 12. Principais parceiros 105

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada 70

FIGURA 2. MAVIPI – Consórcio (peixe/suíno) 70

FIGURA 3. Princípios Básicos do Funcionamento do Modelo Alto Vale de

Piscicultura Integrada.

73

FIGURA 4. Planejamento e Capacitação dos Piscicultores 75

FIGURA 5. Construção de viveiros – Modelo MAVIPI 76

FIGURA 6. Construção de granjas – Modelo MAVIPI 76

FIGURA 7. Aeração para oxigenar os viveiros – Modelo MAVIPI 77

FIGURA 8. Despesca – Modelo MAVIPI 77

FIGURA 9. Mão de obra familiar utilizada no MAVIPI 99

FIGURA 10. Construção de viveiros respeitando as APP’s (dificuldades pelas

características das propriedades)

103

FIGURA 11. Tilápias – Espécie com maior produção no sistema MAVIPI 109

FIGURA 12. Associativismo e Cooperação Mútua, fundamental para MAVIPI 113

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

O setor agropecuário sempre foi estratégico para a intervenção do poder público,

podendo ser classificado como um assunto de Estado pelo fato de produzir alimento e gerar

significativa quantidade de postos de trabalho, considerando todos os segmentos envolvidos

nas cadeias econômicas dos diferentes produtos. No Brasil, as políticas públicas tiveram um

papel fundamental no processo de transformação da base tecnológica da agricultura entre os

anos 60 e 70 e, desde a década de 80, dependendo dos compromissos assumidos por

governos, federal, estadual ou municipal, também foram implementadas políticas que tiveram

como objetivo a criação de atividades econômicas alternativas para os agricultores excluídos

do citado processo de transformação, que se caracterizou como uma modernização

conservadora. Entre essas atividades alternativas inclui-se a piscicultura. As políticas públicas

implementadas para o desenvolvimento das atividades econômicas consideradas alternativas,

sobretudo a piscicultura, ainda não tiveram uma avaliação quanto aos instrumentos e

mecanismos utilizados para a sua implantação e os efeitos que produziram. (EPAGRI, 2000)

Entre os profissionais que atuam no setor agropecuário, normalmente surgem muitas

dúvidas sobre os fatores que agem como determinantes do desenvolvimento de uma atividade

como a piscicultura, pelo fato de serem insuficientes os trabalhos científicos que têm por

objetivo os elucidar. Essa lacuna do conhecimento se deve ao fato de que os esforços dos

pesquisadores na área de piscicultura foram direcionados, principalmente, para a investigação

de aspectos biológicos das diferentes espécies de peixes, para resolução de problemas de

ordem zootécnica e, mais recentemente, para a compreensão do desempenho econômico de

diferentes sistemas de criação. Além disso, nos estudos realizados, a piscicultura é tratada em

bloco, junto com outras atividades de diferentes naturezas, sem que tenham sido feitas

análises detalhadas de sua evolução e dos fatores específicos que determinaram o seu estado

atual. Entre esses fatores situam-se as políticas públicas.

Os sistemas de criação de peixes adotados em cada região variam de acordo com um

conjunto de fatores como situação socioeconômica e hábito alimentar dos consumidores,

recursos naturais, humanos e tecnológicos, nível de desenvolvimento de setores da iniciativa

privada, sistemas de produção1 mais comuns e das políticas públicas implantadas,

principalmente no que se refere ao financiamento da atividade e à atuação dos órgãos de

1 Sistema de produção é a combinação das produções e dos fatores de produção na exploração agropecuária.

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

11

pesquisa e extensão. A hipótese do presente trabalho fundamenta-se no fato de que esses

serviços públicos, em interação com fatores socioeconômicos endógenos, ou a sua ausência

deliberada, determinaram a capacidade de inovação tecnológica e organizacional da atividade,

definindo os resultados obtidos pelos produtores em nossa região consideradas ao longo do

tempo.

Dentro desse princípio, e na concepção da sociologia ambiental construtivista, que

propõe um enfoque centrado sobre os processos sociais, políticos e culturais, nos quais as

condições ambientais são construídas de negociações sociais, apresento neste trabalho um

“Estudo de Caso” destacando dentro desta cadeia produtiva o papel dos principais Atores e

suas Políticas Públicas que permitiram a implantação e o desenvolvimento da Piscicultura

Integrada “Modelo Alto Vale”, na Região do Alto Vale do Itajaí – SC.

O trabalho está dividido em 07 capítulos para melhor compreensão, sendo que:

a) O capítulo I é composto pela introdução, justificativa, objetivos e a metodologia;

b) No capítulo II aparecem os Pressupostos Teóricos, com temas que nos permitam

o entendimento do caso MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, através da

análise da perspectiva construtivista da sociologia ambiental de Hanningan, da Legislação

Ambiental em especial das Resoluções 302 e 303 do CONAMA (anexos 2 e 3) um breve

histórico sobre o associativismo no Brasil e a história e caracterização da Piscicultura;

c) No capítulo III destaco a história e a caracterização dos Municípios do Alto Vale

do Itajaí;

d) No capítulo IV relato o contexto que antecedeu a formulação e implantação do

MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, analisando as denúncias da

APREMAVI contra o sistema de Piscicultura Integrada e os conflitos entre EPAGRI,

APREMAVI e Piscicultores;

e) O capítulo V identifico os principais Atores e suas Políticas Públicas que

permitiram o surgimento de programas e atividades para a implantação e desenvolvimento do

MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada;

f) O capítulo VI produzido através de pesquisa de campo, trás o perfil e

características das propriedades pesquisadas e a percepção dos piscicultores e dos técnicos do

Programa MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada destacando as facilidades e

dificuldades para implantação e desenvolvimento.

g) Por fim o capítulo VII trás minhas conclusões e considerações finais após a

realização de pesquisas bibliográficas e a pesquisa de campo.

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

12

Procurei organizar o trabalho de forma clara e objetiva, permitindo seu fácil

entendimento.

1.1 JUSTIFICATIVA

A cada dia as pequenas e médias cidades brasileiras perdem seus jovens habitantes

com expressiva migração para centros maiores. A falta de oportunidades e o desemprego dos

pequenos e médios produtores rurais têm sido uma das grandes causas dessa migração do

campo para as grandes cidades.

A agricultura familiar é carente de políticas públicas que permitam o

desenvolvimento agrário, melhoria das propriedades rurais e geração de emprego e renda no

campo capaz de segurar o jovem nas atividades rurais.

O abandono acelerado do campo na ilusão de vida melhor nos grandes centros

tornou-se um dos maiores problemas sociais das grandes metrópoles, onde o crescimento

populacional é maior que o crescimento econômico gerando muitas vezes um caos social em

muitas cidades brasileiras.

Santa Catarina é um Estado com excelente potencial agropecuário, tanto para o

mercado interno como externo, destacando-se em algumas áreas, em especial no setor

pecuário onde alcançou o título de Área Livre de Febre Aftosa, coroando o trabalho de vários

anos do Governo do Estado que implantou Políticas Públicas e diversas ações em favor do

campo (EPAGRI, 2007).

Mesmo sendo um Estado com vocação agropecuária, enfrentamos muitos problemas

no campo, por falta de Políticas Públicas eficazes que consigam garantir aos produtores rurais

condições mínimas de produção e comercialização (EPAGRI, 2007).

Os Governos tanto nas esferas Federal, Estadual e Municipal, precisam cada vez

mais implantar Políticas Públicas para o setor agropecuário capazes de garantir a permanência

do homem no campo com geração de emprego e renda, e qualidade de vida no interior. Esta

ação seria um dos caminhos para diminuir os problemas sociais nos grandes centros urbanos.

O campo pode ser tornar em solução para muitos problemas brasileiros: desemprego, fome,

favelas, violência, prostituição infantil entre outros, surgidos nos aglomerados humanos por

falta de oportunidades.

A natureza é generosa com a nossa Nação, nos dando condições climáticas, solo

fértil, espaço rico em matérias primas, só falta o homem fazer a sua parte, ou seja, implantar

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

13

Políticas Públicas que permitam os nossos produtores rurais plantar, criar e agregar valores

com qualidades, e condições mínimas de comercializar com segurança e lucratividade

garantindo condições dignas de vida no campo.

Esta relação homem e meio ambiente, a necessidade de produção do homem e a

conservação do meio em que vive gera conflitos, problemas, mas também gera caminhos e

soluções, como é o caso do MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, que

surgiu em virtude da necessidade de regularização de uma cadeia produtiva denunciada de

agressora do meio ambiente.

O campo pode ser a grande fonte de emprego e renda proporcionando a qualidade de

vida, para isso precisa de oportunidades, ou seja, políticas públicas eficazes para o setor.

Neste sentido o presente trabalho realiza um Estudo de Caso da implantação e

evolução da Piscicultura Integrada “Modelo Alto Vale” (MAVIPI) destacando os principais

atores e suas ações que contribuíram para sua implantação e evolução.

Para melhor entendimento entre os pressupostos teóricos utilizados, destaco o

Estado e as Políticas Públicas na visão de Bucci (2002), que define as Políticas Públicas como

um conjunto de programas e ações governamentais visando coordenar os meios a disposição

do Estado e as atividades privadas para a realização de objetivos socialmente relevantes e

politicamente determinados. Dentro destes pressupostos teóricos, Guéneau (2001), destaca a

importância de se avaliar em Política Pública a eficácia, impacto, pertinência e eficiência.

A perspectiva construtivista na Sociologia Ambiental de Hanningan (1995) propõe

um enfoque centrado sobre os processos sociais, políticos e culturais, nas quais as condições

ambientais são definidas como sendo de riscos inaceitáveis e, portanto passíveis de conflito,

onde “O homem e suas relações com o meio ambiente”, produz mercadorias indesejáveis,

frutos da estrutura produtiva considerados desafios do modelo de desenvolvimento: alimentos

deteriorados, automóveis poluidores, sub-lotações, lixões, dejetos em gerais nos permitindo

entender a colisão entre APREMAVI, EPAGRI e Piscicultores.

Um breve histórico sobre o novo Associativismo no Brasil, segundo Baierle (2000),

surgindo como uma solução de organização de sociedade civil em torno das necessidades

básicas de vida, configurando-se como uma forma de ação coletiva que se volta para questões

de primeira necessidade de vida e de bens materiais, nos permitem entender a necessidade de

organização dos Piscicultores no Alto Vale do Itajaí, para a forma coletiva superarem

obstáculos surgidos.

Através de análise da Legislação Ambiental Brasileira, em especial nas delimitações

da APP’s (Áreas de Preservação Permanentes), encontramos os motivos das dificuldades dos

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

14

piscicultores do Alto Vale do Itajaí em se adaptar as exigências da Lei, diante das

características físicas das propriedades que na sua grande maioria são de pequeno e médio

porte, dificultando a prática da piscicultura integrada, o que levou muitos produtores a

abandonar a atividade.

Diante dos diversos caminhos possíveis de estudos, o presente trabalho/pesquisa se

limita á caracterização dos aspectos históricos, geográficos e socioeconômicos do Alto Vale

do Itajaí, á identificação dos principais atores e suas ações para o setor, e a forma de

associativismo dos piscicultores na nossa região (MAVIPI).

1.2 OBJETIVOS

Geral: Analisar o desenvolvimento regional da piscicultura integrada “Modelo Alto

Vale” (MAVIPI) na região do Alto Vale do Itajaí – SC, destacando os principais atores e suas

ações para o setor, evidenciando os fatores relativos à realidade local que contribuíram para

os resultados do processo.

Específicos:

• Caracterizar a Região do Alto Vale do Itajaí – SC, nos seus aspectos históricos,

geográficos e sócio-econômicos;

• Descrever o processo MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada;

• Relacionar e analisar os principais Atores e as suas ações para implantação e a

evolução da Piscicultura Integrada “Modelo Alto Vale” (MAVIPI) da região do

Alto Vale do Itajaí – SC.

1.3 METODOLOGIA.

1.3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA.

Segundo Labes (1998), a pesquisa apresentada pode ser classificada de acordo com

os seguintes pontos de vista:

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

15

a) Do ponto de vista da sua natureza foi uma Pesquisa Aplicada, com o objetivo de gerar

conhecimentos para aplicação prática, dirigidos á solução de problemas específicos de

interesses locais.

b) Do ponto de vista da forma de abordagem do problema foi uma Pesquisa Qualitativa,

com entrevistas dentro do ambiente natural do processo, e a avaliação será ex-post,

por ser realizada após a implantação da política, e tem como objetivos a apreciação da

durabilidade do seu impacto sobre as condições que se desejava mudar. Com base nas

informações da avaliação pode-se, ainda, tomar a decisão de continuar ou não a

implementar o tipo de projeto avaliado e, em caso positivo, utilizando os mesmos

mecanismos ou definindo outros.

c) Do ponto de vista dos objetivos foi uma Pesquisa Exploratória para maior

familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses.

(pesquisa bibliográfica, entrevista com pessoas envolvidas, análise de exemplos que

estimulem a compreensão do problema).

d) Do ponto de vista dos procedimentos técnicos foi um Estudo de Caso, com estudo

profundo do problema nos permitindo seu amplo e detalhado conhecimento.

1.3.2 COLETA DE DADOS.

Os dados de campo foram coletados basicamente entre os meses de outubro 2006 a

abril 2007. Foram realizadas investigações documentais e de campo. A seguir, há o

detalhamento das atividades realizadas.

1.3.3 INVESTIGAÇÃO DOCUMENTAL.

Na investigação documental foram utilizados documentos oficiais, publicações,

relatórios, livros, artigos científicos, matérias e artigos jornalísticos pertencentes a arquivos

pessoais de pesquisadores e produtores. As informações que foram coletadas sobre os

territórios relacionam-se ao ambiente, condições socioeconômicas das populações por cidade,

principais políticas públicas de desenvolvimento agrícola implementadas, culturas vegetais e

animais mais importantes e distribuição fundiária. Sobre a piscicultura, foram buscadas

informações relacionadas à sua evolução tecnológica, referências técnicas externas na

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

16

construção da atividade e políticas públicas direcionadas para o seu desenvolvimento no

Estado de Santa Catarina e, especificamente, para o Alto Vale do Itajaí.

1.3.4 INVESTIGAÇÃO DE CAMPO E AMOSTRAS.

A investigação de campo foi constituída por entrevistas através de questionários

aplicados em pessoas-chave que participaram da elaboração e implementação de políticas

públicas ou de eventos importantes na construção da piscicultura integrada, ou seja, com

produtores dos Municípios de Ituporanga, Aurora, Agrolândia, Atalanta, Trombudo Central,

Presidente Getúlio e Taió, técnicos da EPAGRI, Técnicos da Fátma, Consultor do SEBRAE,

coordenadores do programa piscicultura integrada “Modelo Alto Vale” e técnicos da

Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional (SDR), conforme amostragens no Quadro

01.

Quadro 01 - % de Atores entrevistados

ENTREVISTADOS QUANTIDADE DE

ENTREVISTAS

TOTAL DO

GRUPO % DO TOTAL

Piscicultores 20 204 10 %

Técnicos EPAGRI 05 05 100 %

Técnicos da Fátma 01 02 50%

Técnicos SDR/Microbacias 01 01 100%

Consultor SEBRAE 02 02 100 %

Coordenadores do Programa

(Técnicos EPAGRI)

02 02 100%

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

17

Mapa 01 – Municípios da Região do Alto vale do Itajaí, destacando os escolhidos para a

pesquisa.

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

18

CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1 O ESTADO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

A ação do Estado, implementada pelos governos que conduzem as suas instâncias e

organizações, expressa-se pelas políticas públicas, que lhe permite realizar intervenções sobre

as dinâmicas econômicas e sociais, seus atores e instituições. Desde a sua origem, o Estado

tem a atribuição de aumentar e de controlar as riquezas de seu território (LOSCH et al., 1997).

As políticas públicas são um conjunto de programas de ação governamental visando

coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de

objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados (BUCCI, 2002).

Porém, em função do projeto coletivo que o governo representa, ele mobiliza os

instrumentos necessários e articula os segmentos sociais comprometidos com a sua execução

para obter os resultados socioeconômicos planejados. Esse processo não é livre de disputas,

visto que a sociedade é integrada por diferentes segmentos que possuem os mais variados

interesses e reivindicações, que são processados na esfera política.

Para Baptista e Peixoto (1999), o termo políticas públicas refere-se a um conjunto de

decisões formalizadas sobre um assunto de interesse coletivo, que é considerado importante e

prioritário para o desenvolvimento social. É a expressão formalizada de diversos interesses

processados. As políticas públicas emanam do poder público que as formaliza, legitima e

controla.

Os termos programa e política pública, apesar de serem freqüentemente utilizados

como referências às ações governamentais, apresentam diferenças que não são somente de

ordem semântica, mas sobretudo de concepção. O primeiro termo, refere-se a uma sequência

de ações limitadas no tempo em que os meios para a sua execução e os seus objetivos são bem

definidos. O segundo, a uma totalidade complexa de programas e procedimentos que têm o

mesmo objetivo geral. Política Pública é uma ação governamental em um setor da sociedade

situado em determinado espaço geográfico. O mesmo autor considera que uma política

pública é constituída por uma totalidade de medidas concretas que se inscreve em um quadro

geral de ação, o que permite a distinguir de uma ação isolada. Afirma ainda que a política

pública tem um público definido, isto é, grupos ou organizações cuja situação é afetada pelas

ações, que obrigatoriamente têm objetivos a alcançar (BUCCI, 2002).

Segundo Bucci (2002), a avaliação de programas e políticas públicas tem como base

a pesquisa em ciências sociais aplicada ao estudo das políticas e seus efeitos sobre a

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

19

sociedade, porém, a avaliação é mais ampla do que esta e tem por objetivo fazer com que os

resultados e conhecimentos produzidos construam um julgamento de valor para que os

governantes e a população tenham referências sobre os fatores que determinaram o sucesso ou

o insucesso de determinada ação e possam interferir nos processos para corrigir

procedimentos e/ou elaborar novas políticas e programas.

A avaliação pode ser implementada para atividades, serviços, organismos,

programas e políticas, sendo mais comum para os dois últimos casos. Segundo Bucci (2002)

na maioria dos países predomina a avaliação de programas e não de políticas. De forma geral,

a avaliação parece ser mais fácil de ser encaminhada quando se trata de um programa, pois

sendo uma ação simplificada, os instrumentos e mecanismos para a sua execução e os seus

resultados são mais visíveis. No entanto, a opção em avaliar um programa pode provocar um

negligenciamento da compreensão das influências de outras ações públicas que,

eventualmente, ocorrem ou ocorreram simultaneamente e que foram implementadas no

mesmo território e para a mesma população. Os efeitos dos programas implantados

anteriormente, também podem influenciar os resultados de ações públicas em curso. Portanto,

a abordagem histórica da intervenção governamental e seus efeitos, da trajetória da população

e das transformações na ocupação dos territórios, é de grande importância na avaliação de

programas e políticas direcionadas para o desenvolvimento rural.

A avaliação pode ser realizada em diferentes momentos do ciclo de vida da política,

sendo denominada ex-ante, quando o estudo tem caráter prospectivo quanto a sua viabilidade

e impacto. Proporciona a geração de informações para decidir se a política deve ser

implementada ou não. Portanto, é realizada na fase de elaboração da política. A avaliação

concomitante é feita simultaneamente à execução das ações e tem por objetivo fazer correções

durante as etapas em curso e a avaliação ex-post, (que será utilizada neste trabalho) é

realizada após a implantação da política, ocorrendo alguns casos em que é feita muito tempo

após o seu fim e tem como objetivos a apreciação da durabilidade do seu impacto sobre as

condições que se desejava mudar. Com base nas informações da avaliação pode-se, ainda,

tomar a decisão de continuar ou não a implementar o tipo de projeto avaliado e, em caso

positivo, utilizando os mesmos mecanismos ou definindo outros (COHEN; FRANCO, 1993).

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

20

2.1.1 O QUE AVALIAR EM UMA POLÍTICA PÚBLICA? EFICÁCIA, IMPACTO,

PERTINÊNCIA E EFICIÊNCIA.

O Estado desenvolve diversas Políticas Públicas assegurados na Constituição

Federal de 1988 visando o bem estar da sociedade brasileira, sendo que, seus resultados

precisam ser avaliados constantemente na sua eficácia, impacto, pertinência e eficiência

(GUÉNEAU, 2001).

a) Eficácia

Analisar a eficácia das políticas públicas consiste em comparar os objetivos traçados

e os resultados alcançados, identificando as diferenças entre o que foi realizado e o que estava

previsto. Dessa forma, a eficácia é medida de acordo com os efeitos próprios da política. Essa

análise se apóia sobre a focalização dos fatores suscetíveis de explicar a capacidade da

política em agir sobre o sistema de exploração local. Portanto, a eficácia é o resultado da

interação entre uma intervenção exógena e uma dinâmica social endógena. Uma política pode

apresentar resultados diferentes quando aplicada em locais diferentes, visto que as diferenças

entre as características sócio-demográficas dos beneficiários, dinâmicas sócio-econômicas

locais, organização das instituições públicas, formação dos funcionários públicos,

instrumentos de ação e competência da direção política da intervenção, podem estabelecer

interações entre si e influenciar os resultados.

Em diversas situações, a realização desse estudo torna-se difícil pelo fato de muitas

ações públicas não terem os objetivos bem definidos ou mesmo não haver registro dos

resultados alcançados. Há dificuldade em conduzir um estudo de eficácia se não existe a

possibilidade de relacionar os resultados obtidos e os objetivos de partida da ação.

No entanto, o mais importante é compreender as mudanças que a política produziu

na sociedade. A principal pergunta a ser respondida é: o que teria ocorrido se a política não

tivesse sido implantada? ou, ainda, a política implementada transformou as condições de vida

do público alvo? Para responder a essas questões, deve-se identificar a relação de causa entre

uma política e os efeitos sociais que produziu (GUÉNEAU, 2001).

b) Impacto

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

21

Os efeitos de uma política sobre a sociedade não se limitam àqueles que foram

previstos e são esperados ou, pelo menos, desejados, de acordo com os seus objetivos. A

avaliação deve considerar os efeitos colaterais, sejam eles positivos ou negativos, que a

política pode acarretar. Analisar o impacto, é apreciar todos os efeitos que foram produzidos

com a ação, sejam eles técnicos, econômicos, político, ambiental e social (GUÉNEAU, 2001).

A análise de impacto das políticas públicas deve ser ampla e considerar os seus

efeitos sobre os homens e os territórios que eles ocupam, pois elas são direcionadas para um

sistema complexo, aquele que constitui o sistema e o seu ambiente (LOUÉ et al., 1998).

c) Pertinência

A primeira condição de sucesso de uma política é que ela responda corretamente às

necessidades que se manifestam. Durante a elaboração das políticas de desenvolvimento rural,

deve-se determinar da forma mais precisa possível os fatores e mecanismos responsáveis pela

ocupação e transformação dos territórios para que as ações sejam direcionadas ao apoio das

atividades capazes de minimizar ou colocar fim aos problemas detectados. Além de

considerar o exposto, a análise de pertinência considera também até que ponto uma política,

por sua filosofia e por seus métodos, é suscetível de alcançar ou não os objetivos que foram

fixados (LOUÉ et al., 1998).

d) Eficiência

Analisar a eficiência do ponto de vista do custo/benefício é comparar os resultados

alcançados com os custos da execução de determinada política. Constitui-se em calcular o

custo/benefício considerando os recursos do Estado e também aqueles de origem das

comunidades, ou seja, os recursos próprios. (GUÉNEAU, 2001).

A análise da eficiência no sentido custo-eficácia consiste em comparar os custos

necessários para alcançar um certo nível de resultado para diferentes políticas. Esse cálculo

pode também ser denominado custo de oportunidade de uma política pública, ou seja, é a

análise dos resultados que poderiam ser obtidos com a implementação de uma outra política

com os mesmos recursos (GUÉNEAU, 2001).

Ambas as análises são difíceis de serem realizadas pelo fato de muitos governos não

realizarem um efetivo controle dos gastos durante a implantação das ações ou não deixarem

em seus arquivos os registros realizados, o que prejudica a avaliação ex-post. Portanto, é mais

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

22

comum que seja realizada a análise de eficácia. Por outro lado, a análise do custo/benefício de

algumas políticas torna-se impossível quando o resultado é algo que é imensurável, como a

vida humana, por exemplo (GUÉNEAU, 2001).

2.1.2 O MECANISMO DE AÇÃO E CONTEXTO/AVALIAÇÃO

O procedimento de avaliação das políticas públicas não deve considerar somente os

recursos humanos e econômicos mobilizados para sua implantação, limitando-se às análises

de confrontação dos resultados com os objetivos do projeto, pois transformaria as políticas em

verdadeiras “caixas-pretas” e se conheceria somente os procedimentos para sua elaboração,

que seriam as entradas, e os efeitos dos seus resultados, as saídas. Portanto, o conhecimento

do conteúdo de tais “caixas”, ou seja, os mecanismos internos da ação não seriam conhecidos.

Da mesma forma que deve-se concentrar esforços para ter conhecimento dos mecanismos de

ação, a influência dos fatores contextuais nos resultados das políticas implementadas deve ser

igualmente conhecida, pois existem interações destes fatores com os aspectos locais que

podem definir os seus resultados (GUÉNEAU, 2001).

2.2 A PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA NA SOCIOLOGIA AMBI ENTAL

O homem como ser gregário necessita da aglomeração, da convivência em sociedade

e da vida coletiva. Dessa vida pública emerge a necessidade da apropriação do espaço pelo

homem através da dominação da natureza à sua volta. Entretanto, compreender a dinâmica da

natureza para não ocorrer a degradação do ambiente no qual se instala é o desafio, fazendo

ainda a interface com outras relações conflitantes de interesses, desejos e necessidades dos

usuários dos espaços. A luta cotidiana na busca pela apropriação justa do espaço entra em

conflito com a busca pelo capital às custas, quase sempre, de uma subjugação da natureza

produzindo “mercadorias indesejáveis” (HANNINGAN, 1995).

A perspectiva construtivista na sociologia ambiental tem como preocupação entender

o modo como os problemas ambientais são definidos, articulados e acionados pelos atores

sociais.

Segundo Hanningan (1995), a sociologia ambiental construtivista propõe um enfoque

centrado sobre os processos sociais, políticos e culturais, nos quais as condições ambientais

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

23

são definidas como sendo de riscos inaceitáveis e portanto passíveis de conflito. Ou seja, na

perspectiva social construtivista o meio ambiente não resulta de condições objetivamente

dadas, nas quais os problemas poderiam ser evidenciados apenas a partir das estimativas dos

peritos, mas é construído através de negociações sociais.

Além disto, considera-se que o próprio debate sobre questões ambientais, mesmo sob

o ponto de vista técnico, revela haver mais incertezas e contradições, inclusive com

convicções científicas irreconciliáveis, do que certezas, tanto nas suas estimativas, como nas

soluções propostas. Contudo, isto não significa que numa abordagem construtivista haja uma

negação da realidade objetiva dos problemas e riscos ambientais, nem da independência dos

fatores causais da natureza sobre eles. Mas a sua legitimidade, relevância e ordem de

importância são construídos pelos atores, em diferentes arenas (espaços sociais construídos

pelos atores), da mesma forma que os problemas sociais. Isto é importante para se

compreender como são estabelecidas as agendas dos debates e das políticas ambientais. Numa

abordagem social construtivista, ao invés de se focalizar a análise das agendas e políticas

ambientais exclusivamente sobre o discurso público, estes são compreendidos como sendo

produtos finais de um processo social dinâmico de definições, negociações e legitimações

(HANNINGAN, 1995:31).

O construtivismo social não constitui apenas uma interpretação teórica, mas é também

um instrumento de análise bastante útil para se abordar concretamente os problemas

ambientais. Há uma similaridade entre problemas sociais e problemas ambientais. Os

problemas sociais podem ser enfocados a partir de três aspectos: qual a natureza das

reivindicações, quem são os produtores de reivindicações e como é o processo de produção

das reivindicações. Este último envolve três sub-processos interligados: a animação do

problema, a sua legitimação e a sua demonstração, a qual deve se dar através da constituição

de uma arena pública em torno do problema social. A arena pública é o ponto de partida para

a avaliação do problema (HANNINGAN, 1995).

Contudo, os problemas ambientais têm algumas diferenças com os problemas sociais,

como por exemplo o fato dos problemas ambientais sofrerem uma maior imposição das bases

físicas do que os problemas sociais, os quais estão mais enraizados em problemas pessoais

que se converteram em questões públicas. Mesmo assim, algumas questões ambientais estão

mais relacionadas com a construção social de conhecimento ambiental do que uma reflexão

fiel da realidade biofísica, tal como a questão da mudança global, depleção da camada de

ozônio, aquecimento global, dentre outros. Isto ocorre porque não há uma comprovação

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

24

científica socialmente aceita sobre a natureza física de tais problemas, nem entre os próprios

cientistas.

Hanningan (1995: 40-51) expõe um interessante esquema para a análise do processo

de construção social de um problema ambiental. Este processo envolve três tarefas chaves. A

primeira é a montagem de uma reivindicação ambiental. Parte da descoberta inicial e a

elaboração ainda incipiente de um problema. Nesta fase é necessário: nomear o problema,

distinguir de outros similares, determinar as bases científicas, técnicas, morais e legais da

reivindicação, e atribuir quem é responsável por tomar ações para solucioná-lo. Na pesquisa

sobre as origens da reivindicação é importante para o pesquisador saber de onde vem a

reivindicação, quem a detém ou a administra, quais os interesses econômicos e políticos que

os produtores da reivindicação representam, e que tipo de recursos eles trazem para o

processo de produção da reivindicação. Embora os problemas ambientais freqüentemente se

originem no campo científico, deve-se considerar a importância dos pesquisadores práticos,

observadores e conhecedores locais, para se conhecer como as reivindicações são construídas

(HANNINGAN, 1995).

Uma segunda tarefa no processo de construção de um problema ambiental é a

apresentação da reivindicação. Uma reivindicação ambiental precisa tanto chamar a atenção

como também legitimá-la. Há diversos modos de chamar a atenção, como o uso de gráficos,

imagens verbais e visuais, exemplos fortes como acidentes. Também é possível provocar uma

questão ambiental através de um evento. Um evento é capaz de provocar uma questão

ambiental quando preenche alguns requisitos: 1) provoca a atenção da mídia; 2) envolve

algum setor do governo; 3) demanda decisão governamental; 4) a sua ocorrência não é

descrita para o público como sendo uma extravagância; 5) diz respeito ao interesse pessoal de

um número significativo de cidadãos. O seu sucesso depende também da exploração do

evento pelos promotores. Mas chamar a atenção não é suficiente para se obter uma nova

questão ambiental na agenda dos debates públicos. Para isso um problema ambiental

emergente deve ser legitimado em múltiplas arenas: a mídia, o governo, a ciência, o público

(HANNINGAN, 1995).

Mesmo quando um problema ambiental é legitimado, isto não significa que uma ação

positiva será tomada. Diversos fatores podem contribuir para que uma questão ambiental seja

esquecida no momento da tomada de decisão ou ação, principalmente quando exige a

relocação de recursos, e as suas metas estão distantes dos interesses do grande capital e da

burocracia estatal. A implementação de uma proposição ambiental requer então uma terceira

tarefa que é a disputa política, não somente para aprová-la legislativamente, mas também para

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

25

uma proposta política sobreviver, ela deve satisfazer alguns critérios: os legisladores devem

ser convencidos que a proposta é tecnicamente viável, e deve ser compatível com os valores

dos formuladores das orientações políticas. Para uma reivindicação ambiental ter sucesso na

arena política é preciso um compósito de fatores que envolve conhecimento, oportunidade e

acaso, o que muitas vezes é contingente e não depende necessariamente do seu mérito, como é

o caso quando ocorre uma catástrofe ou acidente. No quadro 02 é apresentado de forma

esquemática as tarefas necessárias para o processo de construção de um problema ambiental.

Quadro 02 - Tarefas chaves na construção dos problemas ambientais.

Tarefas

Montagem Apresentação Disputa

Atividades Primárias - descoberta do problema

- nomear o problema

- determinar bases da

reivindicação

- estabelecer parâmetros

- chamar a atenção

- legitimar a reivindicação

- invocar a ação

- mobilizar apoio

- defender a posse

Fórum Central Ciência Mídia Política

Evidência predominante Científica Moral Legal

Papel científico

Predominante

- direcionar tendências

- análise teórica

Comunicador Analista de política aplicada

Armadilhas potenciais - falta de clareza

- ambigüidade

- evidência de conflito

científico

- baixa visibilidade

- declínio da novidade

- cooptação

- esgotamento da questão

- reivindicações

contrabalançadoras

Estratégias para o

sucesso

- criação de um foco

experimental

- simplificação do

conhecimento da

reivindicação

- divisão do trabalho

científico

- tornar acessível para a

população as causas e

questões

- utilizar imagens verbais e

visuais dramáticas

- táticas e estratégias

retóricas

- trabalho em rede

- desenvolvimento de perícia

técnica

- abrir janelas políticas

Fonte: Hanningan (1995:53)

Hanningan (1995:54) apresenta ainda os fatores necessários para que a construção

de um problema ambiental tenha sucesso. São eles: 1) deve haver uma autoridade científica

para validar as reivindicações do problema ambiental; 2) é importante a existência de

popularizadores que transformam os conhecimentos técnicos e científicos em reivindicações

ambientais num sentido pró-ativo; 3) a mídia deve projetá-lo como algo novo e importante; 4)

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

26

deve ser dramatizado em termos simbólicos e visuais; 5) os incentivos econômicos devem ser

visíveis para se tomar ações positivas; 6) deve haver um patrocinador institucional

responsável por assegurar a sua legitimidade e continuidade. Como se pode notar, a

perspectiva construtivista na sociologia ambiental abre um leque de possibilidades para se

estudar as relações sociedade/meio ambiente, principalmente no que se refere à emergência

de problemas ambientais. Ao reconhecer a natureza heterogênea de que é feito um problema

ambiental, evita que se caia num reducionismo, ou sociológico, ou de natureza biofísica, para

explicá-los. Ao mesmo tempo em que parte do pressuposto que os problemas e questões

ambientais são construídos e negociados socialmente, não deixa de reconhecer a importância

da sua natureza biofísica e das avaliações técnicas para as análises da sua causalidade e

significância.

A Sociologia Ambiental de Hanningan (1995) nos permite analisar o conflito gerado

pela prática da piscicultura integrada, consórcio peixe-suíno, com o impacto ambiental

denunciado pela APREMAVI no Vale do Itajaí, SC.

2.3 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E AS APPs NO BRASIL

A conservação e preservação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) é

regulada por um conjunto de normas permeado por conflitos em função das diferentes

restrições de uso impostas por legislações distintas - Código Florestal Lei 4771 de 1965

(anexo 1), Resoluções CONAMA 302/2002 (anexo 2), e Resolução CONAMA 303/2002

(anexo 3), Lei Lehman 6766 de 1979 (Lei Lehman, anexo 4) e regulamentações específicas de

uso e ocupação do solo municipais. O excesso de restrições impostas na legislação ambiental

que regulamenta a proteção das APPs mostrou-se ineficaz no controle do uso do solo,

principalmente em contextos urbanos, nos quais a dinâmica da paisagem é constante,

ocasionando diversos conflitos. Tais conflitos ocorrem então em conseqüência das novas

funções recriadas para estes espaços, que não atendem mais o objetivo preservacionista das

legislações protetoras, criadoras das áreas de preservação permanente.

Em vista do quadro levantado buscou-se realizar um levantamento bibliográfico que

fornecesse subsídios á uma análise comparativa entre a trajetória de elaboração e

implementação da legislação protetora das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e a

dinâmica de expansão urbana, para melhor compreender os conflitos existentes na aplicação

da referida lei.

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

27

As áreas de preservação permanentes, na forma como foram criadas, são

consideradas como instrumentos utilizados pelo Poder Público para proteger uma parte do

território, segundo objetivos específicos de preservação ambiental. A princípio tinha-se como

objetivo preservar recursos naturais, solos férteis e florestas nativas remanescentes, que

atualmente nem existem mais na grande maioria das APPs, mas que na legislação devem ser

protegidos.

Os objetivos de proteção então esperados, nos processos iniciais de elaboração das

legislações protetoras, foram delineados por agrônomos e engenheiros florestais, excluindo a

existência do homem e sua influência na dinâmica da paisagem na qual as APPs estão

inseridas.

Porém, desde as primeiras legislações protetoras, como o Código Florestal, as

estruturas espaciais das paisagens nas margens dos rios urbanos vêm sendo alteradas em

função da dinâmica de ocupação e uso do solo. Tal processo alterou profundamente os

processos ecológicos que ocorrem nas várzeas, fazendo com que a preservação das mesmas,

conforme consta nas leis através de restrições específicas, gere conflitos de diversos tipos e

intensidades. O que se pretendia proteger e preservar não existe mais em função do alto grau

de degradação e alterações realizadas nas margens e nos próprios cursos d´água urbanos.

Apesar da alteração da paisagem, e conseqüentemente do objeto de preservação, é

necessário ressaltar a importância de se ter as áreas de preservação permanente, seja pela sua

função ambiental, que engloba a preservação dos recursos hídricos, da paisagem, da

estabilidade geológica, da biodiversidade, do fluxo gênico de fauna e flora, para a proteção do

solo, quer seja pelos benefícios promotores do bem estar das populações humanas

(BRANDÃO; LIMA, 2002:46).

O crescimento desordenado dos municípios vem provocando profundas

modificações nos ambientes, enfraquecendo continuamente os sistemas naturais que

asseguram a vida na Terra.

Desde a Revolução Industrial vive-se um modelo socioeconômico no qual a natureza

deve ser transformada para dar lugar às obras humanas e gerar lucro direto e imediato. Neste

sistema de valores não cogita-se a importância da natureza como componente fundamental

para a vida e nem mesmo o aproveitamento de seus serviços e benefícios para a satisfação das

necessidades humanas fisiológicas e psicológicas.

Entre os principais fatores relacionados com o aumento de degradação ambiental

estão as freqüentes alterações não-planejadas no uso da terra, acima da capacidade de suporte

do solo (BRANDÃO; LIMA, 2002:46).

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

28

A constituição brasileira de 1988 declara no seu artigo 225: “Todos têm direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

De acordo com o artigo citado, os cuidados com o planeta Terra dependem das

convicções do homem e do seu compromisso com essas convicções, assim como das ações

governamentais. A legislação federal de recursos hídricos estabelece que as áreas de úmidas

pertencem às águas públicas e são áreas que devem ser preservadas.

O uso sustentável de áreas úmidas implica no conhecimento das bases científicas

para o manejo desses ecossistemas, tais como a biodiversidade e dinâmica hidrológica, e na

cooperação entre diferentes segmentos da sociedade. Nos últimos anos, o processo de

urbanização é acompanhado por profundas alterações no uso e ocupação do solo, que

resultam em impactos ambientais nas bacias hidrográficas. As transformações sofridas pelas

bacias em fase de urbanização podem ocorrer muito rapidamente, gerando transformações na

qualidade da paisagem, degradação ambiental, ocupação irregular e falta de planejamento na

gestão urbana. As técnicas convencionais, quando aplicadas para monitorar a expansão urbana

e a ocupação de áreas de bacias hidrográficas, não têm conseguido acompanhar a velocidade

com que o fenômeno se processa. Sendo assim, deve-se alertar para a necessidade da busca de

novos métodos, empregando tecnologias mais adequadas, para detectar, em tempo real, a

expansão urbana e as alterações ambientais decorrentes (RIBEIRO, et al, 2002).

2.3.1 DELIMITAÇÃO DAS APPs

2.3.1.1 Delimitação das APPs em topo de morros e montanhas

O artigo 2° da lei N°4.771 do código florestal brasileiro, considera de preservação

permanente, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas no topo de morros,

montes, montanhas e serras.

O CONAMA adota, em sua Resolução n° 303 (anexo 3), as seguintes definições:

• Morro - elevação de terreno com cota do topo em relação à base entre 50 m e 300

m e encostas com declividade superior a 30% na linha de maior declividade.

• Montanha – elevação de terreno com cota do topo em relação à base superior a

300m.

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

29

Seguindo a metodologia descrita por Ribeiro et al. (2002), foram selecionados os

morros com altitude entre 50 m e 300 m e com declividade majoritariamente superior a 30%.

Para delimitar as áreas de preservação situadas apenas nos topos do morro, calculou-se a

relação entre a altura e a altura do topo do morro em relação à base. Esse procedimento

objetivou identificar todas as células que possuíam relação igual ou superior a 2/3.

2.3.1.2 Delimitação das APPs ao longo das linhas de cumeada2

Considerando a resolução N° 303 do CONAMA (anexo 3), em seu artigo 2° inciso

VII, o qual define linha cumeada, como sendo a linha que une os pontos mais altos de uma

seqüência de morros ou de montanhas, constituindo no divisor de águas. O artigo 3°, inciso

VI da mesma resolução delimita a área a partir da curva de nível para cada segmento da linha

de cumeada equivalente a mil metros.

Em parágrafo único a resolução N° 303 do CONAMA (anexo 3) define que na

ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas cujos cumes estejam separados entre si por

distâncias inferiores a quinhentos metros, a Área de Preservação Permanente abrangerá o

conjunto de morros ou montanhas, delimitada a partir da curva de nível correspondente a dois

terços da altura em relação à base do morro ou montanha de menor altura do conjunto,

aplicando-se o que segue:

I - agrupam-se os morros ou montanhas cuja proximidade seja de até quinhentos

metros entre seus topos;

II - identifica-se o menor morro ou montanha;

III - traça-se uma linha na curva de nível correspondente a dois terços deste; e

IV - considera-se de preservação permanente toda a área acima deste nível.

2.3.1.3 Delimitação das APPs ao redor de nascentes ou olhos d’água

A resolução N° 303, de 20 de março de 2002 do CONAMA (anexo 3), a qual dispõe

sobre parâmetros, definições e limites de áreas de preservação permanente. Em seu artigo 2°,

2 Série de cumes de montanhas (ponto mais alto de uma montanha).

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

30

inciso II, adota a seguinte definição para nascentes ou olho d’água, como sendo um local onde

aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água subterrânea.

O artigo 3°, inciso II define os limites a serem preservados ao redor de nascentes ou

olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros de tal forma que

proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica constituinte. Delimitou-se esta classe em

conformidade com as definições descritas acima.

2.3.1.4 Delimitação das APPs ao longo do rio ou de qualquer curso d'água

Em conformidade com o artigo 2° da lei N°4.771 do código florestal brasileiro,

foram também consideradas áreas de preservação permanente as florestas e demais formas de

vegetação natural situadas ao longo do rio ou de outro qualquer curso d'água. A resolução N°

303 do CONAMA (anexo 3), define os limites para os cursos d’água, a qual estabelece um

faixa marginal cuja largura mínima será de trinta metros para o curso d’água com menos de

dez metros de largura; cinqüenta metros, para curso d’água com dez a cinqüenta metros de

largura.

2.3.1.5 Delimitação das APPs em áreas de banhado

Em conformidade com o Código Florestal Lei 4771 (anexo 1), os banhados são

áreas alagadas permanente ou temporariamente, conhecidos na maior parte do país como

brejos. São também denominados de pântanos, pantanal, charcos, varjões e alagados, entre

outros. É necessário esclarecer que, o termo banhado corresponde a apenas um dos tipos de

ambientes incluídos na categoria áreas úmidas ou zonas úmidas (do inglês “wetlands”). As

definições e os termos relacionados às áreas úmidas são muitos e, em sua maioria, confusos.

Como as características das áreas úmidas situam-se num contínuo entre as de ambientes

aquáticos e terrestres, as definições tendem a ser arbitrárias (RIBEIRO, et al, 2002).

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

31

2.4 O ASSOCIATIVISMO NO BRASIL

Em 1610, com a chegada dos jesuítas, deu-se início à idéia de uma forma associativa

de produção agrícola, já comum entre os índios brasileiros. Por quase 200 anos este sistema

prevaleceu, baseado no trabalho solidário e coletivo e fundamentado pela ética religiosa e no

mutualismo, praticado pelos portugueses e transposto para o Brasil. A idéia colonialista e o

reacionarismo puseram fim a estas primeiras experiências associativistas (BAIERLE, 2000).

A noção de um associativismo forte e articulado no Brasil ainda é algo que vem se

constituindo, mesmo que de forma tardia. O diagnóstico acerca deste fato, estabelecido por

Baierle (2000), parte da análise de uma debilidade do associativismo latino-americano em

uma perspectiva histórica. Este diagnóstico ressalta que, desde a época colonial, as práticas

associativas estiveram atreladas a bases homogeneizantes – religiosas e até mesmo raciais - e

não partiram de uma incorporação da pluralidade social a priori.

No entanto, o aumento da população de imigrantes e o decréscimo da população

escrava em muito contribuíram para o desenvolvimento de relações societárias distintas.

Logo, a possibilidade de se integrar, mesmo que de forma incipiente, identidades e culturas

diferenciadas dentro da ação coletiva começou a se esboçar a partir da formação dos Estados-

Nação:

Ante a análise da formação do Estado e da sociedade brasileiros e de suas

transformações nas formas de se organizar a ação coletiva, podemos constatar a

enorme diversidade cultural presente no seio da sociedade civil. O processo de

sedimentação de uma identidade nacional brasileira se valeu, então, das afirmações

das identidades regionais que, por sua vez, também foram constituídas a partir de

uma base pluralística (BAIERLE,2000).

Na primeira metade do século XX, o componente trabalhista/sindical,

paralelamente ao religioso, também foi fator que contribuiu para a debilidade

associativa, na medida em que recuperava princípios homogeneizantes. O sentido

de se solapar a diversidade veio de um ideal corporativo que tangia a ação coletiva

e a submetia ao controle estatal. Logo, a noção de autonomia frente ao Estado ou a

partidos políticos vieram se afirmar posteriormente, com o que se denominou por

“novo associativismo” (BAIERLE,2000).

Essas transformações possibilitaram uma significativa gama de inovações no campo

associativo e a sua continuidade até uma reformulação nas formas de se organizar a sociedade

civil - flagrante, no Brasil, no final da década de 70. O período de redemocratização no Brasil,

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

32

que se iniciou na década de 80, trouxe intrínseco ao seu processo a emergência de novas

práticas associativas. A chamada “terceira onda de democratização” trouxe consigo, no Brasil

em fins da década de 70, o afloramento de atores políticos dispostos a limitar e controlar as

ações do Estado. Criou-se uma sociedade civil mais autônoma e incorporou-se a noção de

“direito” no processo de democratização. Os produtos decantados de tais processos ocorridos

na cena de redemocratização brasileira foram o fortalecimento da sociedade civil e a

necessidade da reforma de instituições formais para a absorção do novo excedente social e o

suprimento do crescente déficit democrático.

O novo associativismo no Brasil, como salienta Baierle (2000), surge com potencial

de luta pelo acesso às cidades e à cidadania e impulsionam o Brasil à abertura de um cânone

democrático e participativo. Ele surge como uma solução de organização da sociedade civil

em torno de necessidades básicas da vida nas cidades. Logo, configura-se como uma forma de

ação coletiva urbana que se volta para questões de primeira necessidade de vida e de bens

materiais.

A trajetória do associativismo no Brasil, portanto, parte de uma base

homogeneizante religiosa ou econômico-social, passa pelo corporativismo, dentro de um

regime populista, até a configuração de novas práticas associativas pluralistas ou pelo “novo

associativismo”.

A visão do novo associativismo no Brasil de Baierle (2000), nos dá sustentação para

melhor entendimento da necessidade de organização em associações dos piscicultores do

Alto Vale do Itajaí, como uma necessidade de vida e de conquistas de bens matérias.

2.5 HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DA PISCICULTURA.

2.5.1 ORIGENS DA PISCICULTURA

Segundo Silva (2005), a piscicultura originou-se na China há cerca de quatro mil

anos atrás, quando a partir da observação dos peixes no seu ambiente natural construíram-se

viveiros para criá-los. Mais tarde, os chineses passaram a criar peixes de forma consorciada

com outros animais, utilizando os seus dejetos para melhorar as fontes de alimentação dos

peixes. Tratava-se já da prática da piscicultura orgânica, em parte responsável pelo sucesso da

piscicultura na China, e atualmente utilizada em quase todo o mundo. Desenhos egípcios

antigos já representavam atividades de pesca e conservação de peixes em tanques. No

ocidente os primeiros registros sobre piscicultura foram feitos com os romanos, no início da

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

33

era cristã. Falavam de "piscinas", nas quais eram armazenados os peixes capturados no mar

para serem consumidos na época em que determinadas espécies não estivessem disponíveis.

A criação mesma de peixes na Europa só foi registrada a partir do século XIV,

quando monges passaram a criar carpas no interior do continente para serem consumidas nos

períodos de abstinência, evitando com isto o transporte de longas distâncias de peixes do mar.

Isto se alterou a partir do século XIX, quando em algumas regiões houve melhoras nas

condições gerais da alimentação diminuindo o consumo das carpas enquanto em outras,

particularmente na Europa Central e Oriental, houve um novo impulso devido à modernização

dos métodos de cultivo, à introdução e uso geral de fertilizantes, e ao uso de comida artificial.

A descoberta da reprodução artificial de "salmonideos" (salmões e trutas) e o cultivo em

fazendas em escala industrial deu início ao desenvolvimento de uma nova atividade,

passando, mais tarde, a ser um ramo especializado das ciências agrárias. A atividade também

foi motivada pela necessidade de repovoamento de rios e lagos, cujas populações de peixes

haviam sido afetadas pela ação do homem (pesca indiscriminada, poluição, navegação, etc).

Entretanto, mais recentemente, a ênfase do cultivo de peixes na Europa voltou-se para

produção visando o consumo. Na América do Sul o primeiro país a introduzir a piscicultura

foi a Argentina, importando, em 1870, os primeiros reprodutores de Carpa comum (Cyprinus

carpio) e Carpa espelho (Cyprinus carpic). Mais tarde foi introduzida, na região de Bariloche,

a Truta arco-íris (Salmo irideus), (SILVA, 2005).

2.5.2 CARACTERIZAÇÃO DA PISCICULTURA

Foi após a Segunda Guerra Mundial que se criaram as condições para o

desenvolvimento e difusão do cultivo de peixes pelo mundo todo. Essas condições foram:

a) a facilidade dos transportes à longa distância, através do avião, e o uso de

oxigênio em caixas de polietileno hermeticamente fechadas, com adição, quando necessário,

de tranqüilizantes na água. Isto permitiu o transporte rápido e seguro tanto de ovos e alevinos,

como de peixes jovens e até mesmo adultos, ou seja, garantiu a durabilidade e mobilidade do

cultivo de peixes, possibilitando que algumas espécies, as mais cultivadas atualmente, fossem

dispersas por todo o mundo;

b) a reprodução artificial de peixes em fazendas, através da fecundação artificial e

incubação, garantindo o sucesso da reprodução. Esta prática já era utilizada para salmonídeos,

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

34

quando foi generalizada para outras espécies foi possível introduzi-las em muitos locais, em

quase todo mundo;

c) o desenvolvimento do uso de alimentos artificiais, com base em concentrados em

forma granulada. Isto facilitou o preparo, a conservação e distribuição, podendo ser preparada

em condições bastante econômicas. Inicialmente era utilizada apenas para trutas, depois

generalizou-se para as demais espécies (SOUZA, 1985).

Estes três fatores podem ser considerados como que o "móvel imutável" da

piscicultura mundial, pois permitiu sua expansão (e de algumas espécies) em quase todo o

mundo, com uma tecnologia confiável, facilmente replicável e relativamente adaptável em

qualquer lugar. Obviamente que essa adaptação requereria uma série de amarrações às redes

locais e regionais para o seu sucesso, sem as quais ela poderia fracassar (SOUZA, 1985).

O que caracteriza a piscicultura é a criação de peixes de uma forma planejada e

controlada. A produção de peixes na natureza se distingue da piscicultura porque nesta há o

controle do crescimento e da reprodução, da quantidade e da qualidade dos produtos,

constituindo-se assim numa atividade técnico-econômica. A principal forma de cultivo é em

viveiros (às vezes também chamados tanques, lagoas, açudes, etc), os quais se caracterizam

por possuir uma pequena quantidade de água doce disponível, porém capaz de uma alta

produtividade. Mas há também o cultivo de peixes para repovoamento, onde se produz

alevinos (filhotes de peixe) ou peixes jovens, para soltá-los na natureza, podendo visar tanto o

retorno econômico (pesca posterior), como para fins recreativos (pesca desportiva) (SOUZA,

1985).

A criação de peixes também pode ser classificada em extensiva, semi-intensiva ou

intensiva. Quando se usa alimento natural, obtendo-se uma quantidade de peixes equivalente a

uma produtividade natural, classifica-se como extensiva; quando se usa alimento artificial e se

produz uma quantidade máxima com um mínimo de área, classifica-se como intensiva. O

cultivo pode ser feito com uma única espécie (monocultivo) ou com duas, ou mais, espécies

(policultivo), onde utilizam-se espécies de hábitos alimentares diferentes, sendo que algumas

espécies podem atuar no controle da reprodução de outras.

Segundo Souza (1985) para que uma determinada espécie de peixe cumpra o seu

papel na piscicultura ela deve preencher algumas condições. Estas condições são:

a) a adaptação ao clima: alguns peixes se desenvolvem em águas frias (por exemplo:

trutas e salmões), enquanto outros em águas mornas (tilápias e carpas). Isto estabelece limites

climático-regionais para a criação de diferentes espécies de peixes, a menos que se promova

condições artificiais, em geral difíceis de serem viabilizadas;

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

35

b) razão de crescimento alta: quando um peixe se destina para a alimentação, deve

ter um crescimento rápido e de preferência uma cadeia alimentar curta, evitando assim perdas

energéticas na passagem entre um elo e outro da cadeia alimentar. São preferíveis peixes

herbívoros, comedores de pláncton, micrófagos e comedores de detritos. Seu tamanho

também deve ser relativamente grande;

c) reprodução com sucesso nas condições de cultivo: para que haja um fácil e rápido

suprimento de filhotes. Porém o excesso de reprodução também é prejudicial ao cultivo, como

é o caso da tilápia, quando sua reprodução não é controlada artificialmente;

d) aptidão para a alimentação artificial: a espécie deve aceitar bem, ou ser

condicionada a aceitar, a alimentação artificial, garantindo assim uma alta razão de produção;

e) sabor do peixe: o peixe deve ter um sabor apreciado pelo consumidor. Em alguns

casos foi possível identificar as causas do sabor desagradável e eliminá-las através de técnicas

de manejo ou tratamentos, tornando a espécie viável economicamente;

f) suportar altas concentrações populacionais nos viveiros: preferencialmente

espécies sociais e gregárias e;

g) resistência: os peixes devem ser resistentes às doenças, fáceis de serem

manipulados e transportados. Muito poucas espécies preenchem estas condições. Mas não se

trata simplesmente de escolher quais estariam aptas para a piscicultura. A eleição de uma

espécie também compreende um longo e complexo processo de juntar às suas características

naturais potenciais um conjunto de tecnologias, equipamentos e materiais, perícias, práticas e

hábitos culturais, recursos, enfim, os mais variados elementos que permitiriam torná-la apta à

piscicultura.

Embora a maior parte da piscicultura destine-se à alimentação, segundo Souza

(1985), cultiva-se peixes para as mais diversas finalidades:

a) para fins sanitários, como inimigo de larvas de mosquitos ou moluscos

transmissores de doenças, e mesmo, em alguns casos, como despoluidores de determinados

ambientes aquáticos;

b) para fins biológicos: para estudos genéticos e testes laboratoriais;

c) para fins ornamentais;

d) para fins esportivos: em muitos países (incluindo o Brasil) parte do crescimento

da piscicultura está associada ao crescimento da pesca esportiva, no caso do Brasil através dos

pesque-pagues, como uma forma de lazer direcionado para o interior;

e) para fins de povoamento e repovoamento: para restabelecer o equilíbrio ecológico

e mesmo para a pesca;

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

36

f) para fins de consumo: como fonte de proteína animal, considerada como mais

saudável do que, por exemplo, as carnes vermelhas, produzida a um custo relativamente

baixo; representando uma atividade econômica rentável financeiramente e uma alternativa de

diversificação da atividade rural, principalmente familiar;

g) para fins industriais: utilização da pele, fabricação de rações, retirada das

hipófises para aproveitamento de hormônios, etc;

A piscicultura também se distingue de outras atividades agrícolas devido à

complexidade do ambiente aquático, à sua especialidade tridimensional e ao fato da

piscicultura ter que se distinguir da captura, o que muitas vezes exige, para os agricultores,

uma mudança na sua percepção cultural: uma mudança de um recurso natural para um bem

produzido.

2.5.3 A PISCICULTURA NO BRASIL

No Brasil houve alguma iniciativa por volta de 1904, mas foi somente a partir de

1927 que foram feitos os primeiros estudos, liderados por Rodolfo von Ihering, sobre peixes

dos rios Mogiguaçu e Piracicaba, em São Paulo, onde foi utilizada pela primeira vez hipófise

para provocar a desova de Dourados (Salminus maxillosus). Em 1932 a piscicultura foi

oficializada pela primeira vez através da "Comissão Técnica de Piscicultura do Ceará",

visando o povoamento e a produção de alimentos dada a pobreza existente naquela região. Em

1939 surgiu a primeira Estação de Piscicultura do pais em Pirassununga, São Paulo (SILVA,

2005).

2.5.4 A PISCICULTURA EM SANTA CATARINA

Em Santa Catarina a piscicultura já era praticada de forma extensiva no início do

século nas regiões de colonização germânica (no Vale do Itajaí). Mas somente com a

fundação da ACARPESC - Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa Catarina,

em 1968, tem início a primeira atividade sistemática de assistência técnica e extensão do pais

visando o desenvolvimento da atividade. Já a partir da década de 70 a piscicultura começou a

ser difundida e organizar-se, passando em alguns anos a ser destaque no cenário nacional

(EPAGRI, 2001)

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

37

Para Tamassia3 (2007), ao longo desses 30 (trinta) anos a produção apresentava

muitas vezes aspectos folclóricos, com lagoas e chiqueiros sem nenhum acompanhamento

técnico, e a piscicultura foi estimulada principalmente por duas razões: a multifuncional, ou

seja, aumentar a oportunidade das pessoas que residem no interior de ter acesso a alimentação

de alta qualidade, e a econômica, que visa aumentar a renda dos pequenos e médios

produtores rurais através da venda de peixes, usando a mão-de-obra familiar.

Segundo o Instituto CEPA (2002), desde 1970 havia por parte do Governo do

Estado interesse em estimular a atividade da piscicultura, mas apenas em 1980 é que elas

tiveram um impacto expressivo, principalmente pelas condições locais favoráveis para seu

desenvolvimento. O trabalho da ACARPESC sobre piscicultura, surtiu efeito e ele foi

amplamente disseminado em Santa Catarina, levando à construção de açudes em diversas

propriedades rurais.

Em 1985 a ACARPESC liderou junto aos produtores catarinenses a formação da

APAq (Associação de Produtores de Aqüicultura). Em 1987 houve um grande

redirecionamento da assistência técnica governamental concentrando esforços nos

agricultores que tinham a piscicultura como uma atividade para aumentar a renda, levando à

redução do número de agricultores assistidos e o aumento da produção (Instituto CEPA,

2002).

Nos anos 90, diante da redução da assistência técnica por parte do Governo do

Estado, o setor apresentou um crescimento autônomo acima dos níveis médios da

agropecuária catarinense (Instituto CEPA, 2002).

Em 1991, em função de reformas administrativas ocorridas no Governo Estadual, a

ACARPESC, foi fundida junto a duas outras empresas, formando a EPAGRI, este fato

resultou na redução drástica de técnicos que trabalhavam na extensão, promovendo a

piscicultura, levando a EPAGRI a redimensionar os trabalhos para treinamentos de

agricultores através de cursos especialmente planejados e de curta duração.

Quanto à produção de peixes de água doce no Estado, entre 1990 e 1995, ela

quintuplicou, com um incremento médio de 43% (quarenta e três por cento) ao ano (Tabela

1). Os dados da Tabela 1 refletem parcialmente a realidade da piscicultura catarinense, já que

a assistência técnica não é realizada em todos os municípios do Estado. Algumas das

oscilações numéricas ainda podem ser conseqüência das alterações na metodologia de

acompanhamento da produção ocorridas após a fusão em 1991, com a criação da EPAGRI.

3 Sérgio Tamassia – Técnico da Epagri em entrevista dia 02/03/2007

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

38

Tabela 1 – Produção de peixes de água doce e morna em Santa Catarina – 1983 a 1996 ANO PISCICULTORES

ASSISTIDOS N. DE VIVEIROS

ÁREA (ha)

PRODUÇÃO (kg)

MUNICÍPIOS ASSISTIDOS

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

4768 4241 6317 6948 7062 5980 6295 6431 6700 4111 4918 7725 16054 17032

3259 4413 7696 8595 9482 7200 7600 8100 8300 6595 7937 11685 26062 28964

624 835 1561 1595 1748 1540 1610 1630 1670 1270 2563 3883 6494 7554

63824 113470 207000 286100 351518 520000 890000 1521000 1680000 1961500 3355509 4978427 6700930 8946323

28 50 69 80 88 97 100 132 134 128 121 212 211 242

Fonte: Instituto Cepa, 2002. As principais razões para este desempenho foram: a estrutura fundiária agrícola

baseada na pequena propriedade e mão-de-obra familiar; o desenvolvimento de um sistema de

produção de peixes adaptado à realidade dos produtores catarinenses; a construção de

milhares de açudes nas regiões Oeste e Meio-Oeste para diminuição do impacto negativo de

períodos de estiagem; o domínio da prática do policultivo; o programa de profissionalização

dos produtores desenvolvido pelo serviço de extensão; o domínio pela iniciativa privada do

processo de produção de alevinos; a ampliação do mercado de pescado de água doce através

dos pesque-pague, agregando valor ao produto na propriedade e a instalação, no Estado de

indústrias produtoras de insumos para a atividade.

Com a produtividade em franco crescimento, desenvolveu-se no Estado dois tipos de

piscicultura de água doce: a piscicultura de águas frias, como o cultivo de trutas (truticultura),

nas partes altas e frias (planalto serrano), e a piscicultura de águas mornas, cujo o principal

sistema de produção é o policultivo com a utilização de adubo orgânico (peixe consorciado

com frango, marreco ou suíno), (Instituto CEPA, 2002).

Para a EPAGRI aproximadamente 20 mil produtores rurais desenvolvem alguma

forma de piscicultura em Santa Catarina. A prioridade da assistência técnica á para os

produtores comerciais, que são aqueles que visam à comercialização de sua produção para

obter uma renda adicional para a família. Esses formam um grupo de 4.575 produtores. A

maior parte deles foi profissionalizada e recebe assistência técnica contínua da EPAGRI. Uma

parte significativa destes produtores está organizada em associações. Este grupo é responsável

por 68% da produção de peixes de água doce cultivados no estado.

A piscicultura de águas mornas é responsável por 95% da produção total de peixes

cultivados no Estado. O sistema de produção de peixes predominante é o semi-intensivo em

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

39

policultivo de espécies com hábitos alimentares diferentes. A produção de alimento natural é

estimulada nos viveiros, adicionando-se pequenas quantidades de adubos orgânicos. Os

dejetos de suínos são os subprodutos mais usados pelos produtores em função da

disponibilidade e, sobretudo, pelo baixo custo e resultados de produção, embora algumas

propriedades utilizem os dejetos de aves.

De fato, o baixo custo de produção – possível pela utilização de subprodutos da

propriedade rural – é o principal fator de competitividade da piscicultura catarinense com

relação a outros estado produtores.

A piscicultura de águas mornas ocorre em todas as regiões do Estado, especialmente

no Oeste, Meio-Oeste, Vale do Itajaí e Litoral Norte. Simultaneamente, indústrias de

beneficiamento de pescado estão sendo criadas. Sua instalação está acontecendo onde os

produtores estão mais organizados, como no Alto Vale do Itajaí e no Oeste. Nestas regiões

existem mais de vinte associações municipais de piscicultores, as quais promovem encontros

entre eles e diversos envolvidos com a atividade (fabricante de insumos, pesquisadores),

motivando-os e atualizando-os.

A piscicultura de água doce em Santa Catarina é praticada essencialmente em

pequenas propriedades agrícolas. Cerca de 65% (sessenta e cinco por cento) das propriedades

envolvidas na atividade possuem área total igual ou inferior a 25 hectares e cerca de 90%

(noventa por cento) possuem área menor que 50 há (EPAGRI, 2000).

A produção da psicicultura é comercializada de diversas formas e não existe um

controle sistemático de seu destino. Grande parte dos produtores comercializa em feiras de

pescado ou na propriedade – no momento da despesca ou em pesque-pague. Estes últimos

agem como intermediários, levando a produção para centros de lazer no Estado e,

principalmente, para o Paraná e São Paulo.

Um fato decisivo para a consolidação da atividade – e que é o principal fator de

competitividade da psicicultura catarinense com relação à praticada em outros estados

produtores – foi o sistema de produção utilizado pelos produtores, conhecido como

“consórcio peixe-suíno”, no qual eles podem utilizar seus produtos da propriedade rural,

como alimento suplementar para a produção de peixes. Desse modo, não dependem de

insumos externos e barateiam seus custos de produção. Além disso, a mão-de-obra utilizada é

a familiar (Instituto CEPA, 2002).

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

40

CAPÍTULO III – HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍ PIOS DO ALTO

VALE DO ITAJAÍ

3.1 ALTO VALE DO ITAJAÍ: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO TERRITÓRIO.

O objeto do presente estudo é o Alto Vale do Itajaí, composto por 28 municípios, área

de 6.715,7 km². Situa-se entre os paralelos 26° 52’ 53’’ e 27° 35’ 26’’ de latitude sul e os

meridianos 49° 18’’ 45’ e 50° 31’’ 10’ de longitude oeste de Greewich (IBGE, 2005). A

principal via de acesso para a região é a BR 470, que estende-se no sentido leste-oeste,

estabelecendo a ligação com as rodovias BR-376, BR-101, BR-116 e BR-282. As principais

cidades são Rio do Sul, Ituporanga e Ibirama, por serem as mais populosas e os centros

políticos e industrial, ou seja, sede das Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional.

Quadro 3 – Municípios Associados à AMAVI

Agrolândia José Boiteux Rio do Sul

Agronômica Laurentino Salete

Atalanta Lontras Santa Terezinha

Aurora Mirim Doce Taió

Braço do Trombudo Petrolândia Trombudo Central

Chapadão do Lageado Pouso Redondo Vidal Ramos

Dona Emma Presidente Getúlio Vitor Meireles

Ibirama Presidente Nereu Witmarsum

Imbuia Rio do Campo

Ituporanga Rio do Oeste

Fonte: AMAVI

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

41

Mapa 2 – Mapa de Santa Catarina com destaque para a Região do Alto Vale do Itajaí

Fonte: www.sc.gov.br

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

42

3.1.1 DADOS FÍSICOS

a) Clima

Segundo a classificação de Koeppen, o Alto Vale do Itajaí apresenta clima Cfa,

definido como subtropical úmido com verões quentes. A exceção é o clima de alguns

municípios que possuem maior altitude, onde há uma transição entre o Cfa e o Cfb,

classificado como mesotérmico úmido. Esse caso é registrado em Petrolândia, Atalanta,

Agrolândia, Rio do Campo, Imbuia, Vidal Ramos, Taió, Mirim Doce e Chapadão do

Lageado. A temperatura média anual é de 20°C. Os meses mais quentes do ano são dezembro,

janeiro e fevereiro, com 28°C de média mensal das temperaturas máximas. Os meses mais

frios são junho, julho e agosto, quando a média das temperaturas mínimas é inferior a 10°C.

Anualmente ocorre pelo menos uma geada em junho e julho. No entanto, podem ocorrer

geadas em maio, agosto e setembro. A precipitação pluvial anual varia entre 1.600 e 1.800

mm (EPAGRI, 1997).

b) Morfologia, topografia e solo.

O relevo do Alto Vale do Itajaí apresenta grande variação, situando-se entre as cotas

150 e 1.200 m. Há vales profundos com encostas íngremes. Existem relevos com patamares e

relevos residuais de topo plano, limitados por escarpas, formando vales estruturais. Há, ainda,

áreas planas, sujeitas a inundações periódicas, correspondendo às planícies e várzeas. Os

cambissolos distróficos e álicos que, via de regra, são ácidos e têm baixa fertilidade, ocorrem

em mais de 70% (setenta por cento) da região. Os outros tipos de solos mais encontrados são

os cambissolos húmicos álicos, que apresentam elevados teores de alumínio trocável e estão

situados em Rio do Campo, Salete e Taió, assim como os solos litólicos eutróficos, que têm

alta fertilidade e não apresentam problemas com acidez. No entanto, esses últimos ocorrem

somente em Rio do Campo e Taió em áreas de relevo fortemente ondulado ou montanhosas e

possuem superfície montanhosa (EPAGRI, 1997).

Quanto à aptidão dos solos para a prática agrícola, Thomé (1999), citado em EPAGRI

(2001), coloca que a classe predominante no Alto Vale do Itajaí, com 35,8% (trinta e cinco

vírgula oito por cento) da área total, é para a agricultura com restrições para a fruticultura e

aptidão regular para pastagem e reflorestamento, tendo como fator limitante a declividade.

Uma outra classe com boa freqüência, ocorrendo em 29,4% (vinte e nove vírgula quatro por

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

43

cento) da área, tem aptidão para a agricultura com restrições para culturas anuais

climaticamente adaptadas devido a declividade acentuada. Uma terceira classe é encontrada

em 18,1% (dezoito vírgula um por cento) da área total, apresentando aptidão regular para

culturas anuais, sendo os fatores limitantes a declividade e fertilidade. Para a EPAGRI (1997),

considerando a diversidade de fatores ambientais, o Alto Vale do Itajaí tem aptidão para

atividades agropecuárias diversificadas.

3.1.2 POPULAÇÃO E CONDIÇÃO SOCIAL

O território estudado possuía 233.770 habitantes em 2000 (IBGE, 2004). Os

proprietários rurais são, majoritariamente, descendentes de alemães e italianos. Há, também,

descendentes de portugueses e de outras regiões do Brasil, porém, em pequena quantidade. A

mão-de-obra é essencialmente familiar.

Para melhor compreensão da condição socioeconômica da população, utilizou-se o

Índice de Exclusão Social, elaborado por Pochmann e Amorim (2003) para os 5.507

municípios brasileiros. No conjunto, a população do Alto Vale do Itajaí tem um nível

significativo de inclusão social, ver Tabela 2.

Tabela 2 – População urbana, rural e total e índice de exclusão social dos Municípios do

Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina, 2000.

Município População

Urbana

População

rural

População

total

Índice de

exclusão social

Posição no ranking entre

5.507 municípios

Agrolândia 4.634 3.176 7.810 0,542 781

Agronômica 872 3.385 4.257 0,676 24

Atalanta 1.133 2.296 3.429 0,526 1.046

Aurora 1.482 3.992 5.474 0,548 703

Braço do

Trombudo

1.622 1.565 3.187 0,569 458

Chapadão do

Lageado

289 2.272 2.561 0,504 1.467

Dona Emma 1.368 1.941 3.309 0,529 995

Ibirama 13.115 2.687 15.802 0,593 263

Imbuia 1.955 3.291 5.246 0,520 1.150

Ituporanga 11.664 7.828 19.492 0,543 764

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

44

Município População

Urbana

População

rural

População

total

Índice de

exclusão social

Posição no ranking entre

5.507 municípios

José Boiteux 1.466 3.128 4.594 0,493 1.687

Laurentino 3.238 1.824 5.062 0,577 380

Lontras 5.309 3.072 8.381 0,526 1.038

Mirim Doce 1.158 1.595 2.753 0,505 1.448

Petrolândia 1.811 4.595 6.406 0,505 1.442

Pouso Redondo 6.368 5.835 12.203 0,514 1.258

Presidente

Getúlio

7.867 4.466 12.333 0,593 267

Presidente

Nereu

776 1.529 2.305 0,474 2.094

Rio do Campo 2.288 4.234 6.522 0,494 1.675

Município População

Urbana

População

rural

População

total

Índice de

exclusão social

Posição no ranking entre

5.507 municípios

Rio do Oeste 2.626 4.104 6.730 0,578 369

Rio do Sul 48.418 3.232 51.650 0,632 88

Salete 4.583 2.580 7.163 0,565 500

Taió 7.887 8.370 16.257 0,565 496

Trombudo

Central

3.154 2.641 5.795 0,573 415

Vidal Ramos 1.497 4.782 6.279 0,512 1.294

Vitor Meireles 1.098 4.421 5.519 0,482 1.926

Witmarsum 612 2.639 3.251 0,509 1.361

Total 138.290 95.480 233.770 - -

Fonte: IBGE (2004).

3.2 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ

3.2.1 DOS ÍNDIOS À CHEGADA DOS PRIMEIROS COLONIZADORES EUROPEUS

Antes da chegada dos europeus no Século XVI, a região onde se situa o estado de

Santa Catarina era habitado por três grandes grupos indígenas. No Litoral viviam os tupis-

guaranis; no Oeste, os Kaingang e entre o Litoral e o Planalto, na região onde se encontra o

Vale do Itajaí, os Kokleng. A colonização começou pelo Litoral e os índios passaram a ser

utilizados como mão-de-obra escrava e pouco a pouco foram dizimados por doenças

introduzidas, como a gripe, pneumonia e a tuberculose. Na medida em que os europeus

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

45

avançavam em direção ao interior no processo de ocupação, mais se aproximavam dos índios

Kokleng. Esse grupo não aceitou facilmente o contato com os brancos. Nômades, viviam da

caça e da coleta de alimentos vegetais para a sobrevivência. Essas características favoreceram

a fuga nas matas e mesmo a atacar os invasores. No entanto, os índios não resistiam aos

ataques feitos pelos seus caçadores, denominados “bugreiros”, que, em grupos de oito a dez,

exterminavam os índios. As críticas e denúncias feitas por intelectuais nacionalistas sobre esse

extermínio e a repercussão que tiveram no exterior, fizeram com que em 1910 fosse criado o

Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Foi iniciado um processo de pacificação das relações

entre brancos e índios e instalado um posto de atração de índios em Ibirama. Em 1965 foi

demarcada a reserva indígena com 14.156 ha e grande parte do território se situava no

município de José Boiteux (SANTOS, 2001).

Os problemas enfrentados pelos índios iniciaram com o processo de ocupação de

Santa Catarina, que foi motivado pela necessidade de Portugal em povoar a região sul do

Brasil devido a política expansionista dos espanhóis. Em 1793, em todo o estado não havia

mais do que 20.000 habitantes, localizados sobretudo no litoral. Por outro lado, eram grandes

as dificuldades sócio-econônicas dos países europeus, como a Alemanha. Em 1829, foi

fundada a Colônia de São Pedro de Alcântara, que não está localizada no Vale do Itajaí, com a

maioria dos habitantes alemães originários de Bremen. No ano seguinte, 1830, havia 154

famílias de alemães em Santa Catarina. Em 1836, foi fundada a Colônia Itajaí, em 1845 criou-

se a Colônia Belga de Ilhota e, em 1850, a Colônia Blumenau. Havia em curso um processo

de troca, pelo Império, da mão-de-obra escrava pelos imigrantes europeus. A ocupação das

terras eram tratadas com as companhias de imigração. Inicialmente, o governo de Santa

Catarina incentivava a ocupação do território por meio de construção de estradas de rodagem.

Era estabelecido um contrato entre o governo e um empresa que construía a estrada. O

pagamento era feito em dinheiro, um terço do valor da empreitada e dois terços em terras

devolutas para serem colonizadas.

Assim, surgiram os municípios de Rio do Sul e Ibirama. Esse último, inicialmente

denominado Hamônia, com a ação da Sociedade Colonizadora Hanseática, que recebeu as

concessões dadas pelo governo à Sociedade Colonizadora Hamburguesa. Em 1899, chegaram

os primeiros colonos vindos da Alemanha. Porém, colonos europeus também foram trazidos

de outras regiões do estado para os municípios que eram criados, como Taió, Ituporanga e

Agrolândia. Nesse processo, os próprios colonos compravam o lote das empresas

colonizadoras, que eram áreas com cerca de 20 ha. Os italianos e poloneses também chegaram

ao Alto Vale do Itajaí. Considerando somente Ibirama, em 1946 a produção agrícola era

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

46

baseada no alho, batata inglesa, cebola, fumo, feijão, centeio, mandioca, milho e arroz

(SILVA, 2005). As principais atividades agrícolas do Alto Vale do Itajaí foram introduzidas

pelos imigrantes.

Para Silva (2005), a ocupação da região sul com os europeus, foi uma ação que

envolveu significativos recursos públicos, assegurando aos colonos o pagamento de

transporte, facilidades de instalação e concessão de terras. Afirma que essas condições nunca

foram oferecidas a populações caipiras brasileiras que estavam marginalizadas pelo latifúndio.

Assim, havia também, na colonização da região sul iniciada no período imperial, a intenção

de trazer para o Brasil uma população alva, que fosse “eugenicamente” melhor que os índios,

negros e mestiços brasileiros. Segundo o autor, regiões como o Alto Vale do Itajaí são bolsões

culturais gringos com grande uniformidade social no seu modo de vida. Afirma ainda que,

apesar da possibilidade de distinção das subáreas alemãs ou italianas, “as uniformidades

sociais decorrem essencialmente da forma de constituição das colônias, pela concessão de

terras em pequenas propriedades de exploração familiar e pela habilitação profissional que

trouxeram os imigrantes para a prática de uma agricultura intensiva de granjeiros” .

3.3 ESTRUTURA FUNDIÁRIA.

Segundo o IBGE, dados compilados pela EPAGRI (2001), o Alto Vale do Itajaí

possui 22.543 estabelecimentos agropecuários, sendo que 21.051, 93,38% com até 50 ha de

área. O número de propriedades da região corresponde a 10,2% do número de propriedades

do estado e ocupam 7,7% da área ocupada pelas propriedades rurais em todo o estado.

Segundo a EPAGRI (2001), o tamanho médio das propriedades influenciou no tipo

de exploração agropecuária que foi realizado. Assim, a região não possui condições para

cultivar soja, cana, trigo, que dependem de grandes áreas para que tenham um caráter

comercial. A aptidão das propriedades do Alto Vale do Itajaí é, principalmente, para a

exploração animal, como suinocultura, pecuária leiteira ou agricultura que proporcione alto

rendimento econômico em pequenas áreas. Foi nessas pequenas propriedades que a

piscicultura surgiu como inovação com base na integração com outras espécies animais,

notadamente a suinocultura.

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

47

3.4 AS PRINCIPAIS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

As principais atividades agrícolas do Alto Vale do Itajaí são os cultivos do fumo,

cebola, milho, arroz e mandioca. As explorações animais mais siginificativas são a

bovinocultura, suinocultura e avicultura. Essa conclusão foi elaborada com base no Valor

Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 1996 (ICEPA, 1997), citado pela EPAGRI (2001)

(Tabela 3). Esses dados revelam que em 1996 a piscicultura ainda não era considerada no

VBP de Santa Catarina, apesar de ser praticada. Esse ano, 1996, antecedeu aquele que é um

divisor na dinâmica de desenvolvimento da piscicultura no Alto Vale do Itajaí, 1997, quando

se instalou a controvérsia ambiental entre suinopiscicultores e uma ONG e, posteriormente,

houve uma definição das técnicas de criação de peixes. Nesse quadro, o cultivo do fumo era o

mais representativo economicamente, seguido, respectivamente, pela cultura da cebola,

mandioca, suínos, bovinos de leite e suínos. Em relação ao VBP do estado de Santa Catarina,

a cebola é que tem maior representação, sendo o Alto Vale do Itajaí responsável por 70,3%

do valor total gerado pela atividade.

Tabela 3 – Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em Santa Catarina e Alto

Vale do Itajaí e a relação percentual entre ambas, 1997 – (mil R$)

Atividade/Produto VBP - SC VBP - AVI VBP SC / VBP AVI Participação no total do AVI

Arroz 98.409 8.935 9,08 4,53

Batata 24.843 864 3,48 0,44

Cebola 35.824 25.184 70,30 12,77

Feijão 101.059 2.298 2,27 1,16

Fumo 313.337 73.526 23,46 37,28

Mandioca 68.413 7.453 10,89 3,78

Milho 312.052 19.729 6,32 10,00

Tomate 22.570 432 1,91 0,22

Soja 87.837 17 - 0,01

Trigo 7.340 0 - -

Alho 15.330 15 0,10 0,01

Banana 51.668 211 0,41 0,11

Maçã 114.072 3 - -

Uva 8.990 270 3,00 0,14

Cana-de-Açúcar 31.512 2.418 7,67 1,23

Bovinos 107.220 5.393 5,03 2,73

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

48

Atividade/Produto VBP - SC VBP - AVI VBP SC / VBP AVI Participação no total do AVI

Suínos 596.348 19.297 3,23 9,79

Frangos 524.244 10.835 2,07 5,49

Leite 201.116 20.324 10,11 10,31

Total 2.722.184 197.204 7,24 100,00

Fonte: ICEPA (1997) citado por EPAGRI (2001)

As atividades agropecuárias mais representativas economicamente foram escolhidas

para uma abordagem mais detalhada para o conhecimento do território em que a piscicultura

emergiu. Utilizaram-se informações produzidas pelo IBGE em 2003, como a área plantada e

efetivo dos rebanhos e, ainda, a análise sobre a evolução dessas atividades, realizada pela

EPAGRI (2001), com base nos Censos Agropecuários do IBGE de 1975, 1985 e 1995.

3.4.1 ATIVIDADES AGRÍCOLAS.

A Tabela 4 mostra as áreas plantadas das atividades agrícolas consideradas mais

importantes do Alto Vale do Itajaí.

Tabela 4. Área plantada dos principais produtos agrícolas dos municípios do Alto Vale

do Itajaí, Santa Catarina, 2003

Produtos

Municípios Arroz em casca

(ha)

Cebola

(ha)

Feijão

(ha)

Fumo em folha

(ha)

Mandioca

(ha)

Milho

(ha)

Agrolândia 253 250 170 617 450 2.700

Agronômica 376 250 300 1.440 250 2.950

Atalanta 3 750 110 762 35 1.100

Aurora 8 2.000 300 730 90 2.630

Braço do Trombudo 69 55 100 59 310 520

Chapadão do Lageado 5 850 300 865 75 850

Dona Emma 5 - 100 844 100 520

Ibirama 70 25 35 410 125 550

Imbuia 2 1.800 180 1.068 25 2.100

Ituporanga 5 6.300 1.650 2.471 50 7.600

José Boiteux 2 2 20 1.258 65 390

Laurentino 70 45 170 650 75 750

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

49

Produtos

Municípios Arroz em casca

(ha)

Cebola

(ha)

Feijão

(ha)

Fumo em folha

(ha)

Mandioca

(ha)

Milho

(ha)

Lontras 135 440 180 418 170 1.300

Mirim Doce 1.980 3 10 62 20 100

Petrolândia 15 1.100 600 1.487 200 3.000

Pouso Redondo 3.200 100 75 1.416 300 2.500

Presidente Getúlio 70 10 120 1.425 120 2.500

Presidente Nereu 2 50 60 1.023 30 550

Rio do Campo 1.140 60 150 1.653 150 1.950

Rio do Oeste 1.500 20 250 1.491 250 2.000

Rio do Sul 270 130 40 292 90 1.300

Salete 110 30 20 912 50 1.000

Taió 2.150 50 100 2.029 500 3.500

Trombudo Central 77 60 100 265 1.000 1.300

Vidal Ramos 10 1.070 390 3.040 100 2.100

Vitor Meireles 43 75 110 2.017 200 2.050

Witmarsum 17 8 37 1.133 100 1.200

Total 11.587 15.533 5.677 29.837 4.930 49.010

Fonte: Pesquisa Agrícola Municipal, IBGE (2005).

3.4.1.1 Mandioca.

Os municípios que possuem as maiores áreas plantadas de mandioca são Trombudo

Central, Taió, Agrolândia e Pouso Redondo. A produção é comercializada quase em sua

totalidade para fecularias. Chesné, (2004) afirma que a cultura da mandioca começou a ter

importância na região a partir de 1930, ano em que se instalou em Trombudo Central uma

filial da fecularia de Hans Lorenz. A mandioca foi plantada em áreas onde a floresta foi

derrubada e a madeira vendida, principalmente, para os EUA e Europa e a indústria

financiava os colonos para a compra de terras, implementos e insumos. Na década de 50 havia

55 fecularias em todo o Alto Vale do Itajaí. Em EPAGRI (2001) consta que o auge dessa

cultura no Alto Vale do Itajaí foi na década de 70. Entre as décadas de 80 e 90 o cultivo da

mandioca passou a experimentar um significativo declínio devido aos baixos preços pagos aos

produtores, por seu ciclo ser considerado longo, dois anos, e pelo fato de demandar trabalho

pesado. Com base nos Censos Agropecuários do IBGE, a empresa afirma que em 1975 havia

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

50

12.249 produtores no Alto Vale do Itajaí com área colhida de 16.621 ha. Em 1995 havia 8.135

produtores com 7.466 ha de área colhida. Chesné, (2004) relaciona esse declínio ao fato do

Brasil ter passado a enfrentar a concorrência dos países asiáticos no mercado internacional de

fécula e perder clientes importantes, como os EUA, que em 1976 compraram do Brasil 8.500

toneladas do produto e, posteriormente, cessaram as compras. A utilização das áreas que eram

utilizadas para a produção de mandioca com outras culturas, favoreceu uma maior

diversificação das atividades agrícolas.

3.4.1.2 Milho.

Silva (2005) afirma que o milho sempre esteve presente na vida dos colonos do Alto

Vale do Itajaí. Na década de 50, quase a totalidade da produção era utilizada para consumo

humano e dos animais. A cultura do milho é a que ocupa a maior área plantada dentre todas,

com 49.010 ha. Os maiores produtores são Ituporanga, Taió, Petrolândia, Agronômica e

Agrolândia. Em EPAGRI (2001) consta que o milho continua sendo um produto de consumo

nas propriedades rurais. A tecnologia de cultivo não é desenvolvida e a produtividade média é

baixa.

3.4.1.3 Arroz em casca.

A rizicultura irrigada foi introduzida no Brasil por colonos italianos no Vale do

Itajaí, com o aproveitamento de brejos por meio de canais (SILVA, 2005).

Atualmente, a produção de arroz do Alto Vale do Itajaí é feita, principalmente, em

áreas irrigadas. No entanto, a área total cultivada, 11.587 ha, inclui, também, a produção do

arroz de sequeiro. Os municípios que se destacam na produção de arroz são Mirim Doce,

Pouso Redondo, Rio do Campo, Rio do Oeste e Taió. Em EPAGRI (2001), com

fundamentação nos dados dos Censos Agropecuários do IBGE de 1975 e 1985, consta que o

número de produtores de arroz foi reduzido em 80%, de 8.611 para 1.739. Esse fato deveu-se

às baixas produtividades do arroz de sequeiro, mão-de-obra escassa para conduzir a atividade

e popularização da comercialização do arroz irrigado, facilitando o seu acesso sem que

houvesse necessidade de cultivá-lo para consumo próprio. No entanto, a área colhida variou

pouco, de 8.863 ha em 1975 para 8.255 ha em 1995. Entre os citados anos, a produção foi

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

51

crescente, de 19.796 toneladas para 46.877 toneladas, assim como a produtividade, de 44,7

sacos de 50 kg/ha para 113,6 sacos/ha. Assim, houve incorporação de áreas irrigadas ao

cultivo do arroz. A produção é comercializada, principalmente, para a indústria de

processamento.

3.4.1.4 Cebola.

O cultivo de cebola é realizado, principalmente, em Ituporanga, Aurora, Petrolândia

e Vidal Ramos. Em EPAGRI (2001), com base nos Censos Agropecuários do IBGE, há a

informação de que essa cultura foi a que mais cresceu em todo Alto Vale do Itajaí nos últimos

anos. O número de produtores aumentou em 149% entre 1975 e 1985, de 2.648 para 6.599, e

18% entre 1985 e 1995, indo de 6.599 para 7.802. Muniz, (2003), estudando a cadeia

produtiva da cebola no estado de Santa Catarina, afirma que a sua comercialização pelos

produtores é feita para atacadistas que a adquirem in natura. Estes comerciantes estão

instalados, principalmente, nos municípios do Alto Vale do Itajaí e são responsáveis pela

comercialização de 70% da produção de todo o Estado. Há ainda a comercialização para a

indústria de processamento, principalmente para uma unidade localizada em Ituporanga.

3.4.1.5 Feijão.

Os municípios que têm as maiores áreas plantadas de feijão são Ituporanga,

Petrolândia e Vidal Ramos. Em EPAGRI (2001), de acordo com os dados do IBGE, consta

que houve, entre as décadas de 80 e 90, uma redução significativa da área plantada e do

número de produtores e, conseqüentemente, da produção. Em 1985 havia 20.076 produtores e

em 1995, 7.322. Esse fato ocorreu devido ao alto risco da atividade, baixos preços pagos ao

produtor e baixas produtividades. Em 1995, 77% da produção era comercializada e 23% era

utilizada para consumo próprio.

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

52

3.4.1.6 Fumo.

Segundo Silva, (2005), o cultivo do fumo sempre foi praticada no Vale do Itajaí

pelas colônias de imigrantes alemães de Blumenau e Brusque. Santos e Silveira, (2001)

afirmam que desde o início do Século XX a Companhia de Cigarros Souza Cruz, integrante

do conglomerado British American Tobacco, atua em vastas áreas da região sul do país,

incluindo o Alto Vale do Itajaí, como uma estratégia de concentrar as atividades produtivas

em um território. No início da década de 50 foi inaugurada em Blumenau uma usina para

beneficiamento e embalagem de fumo, o que deu um grande incentivo à atividade. Desde o

início das suas atividades, a indústria financiava para os agricultores a construção de estufas,

agrotóxicos, adubo e fornecia arados e assistência técnica. Essa cultura é praticada, ainda

hoje, em regime de integração dos produtores à indústria, que financia todos os insumos

necessários ao cultivo e orientação técnica para o cultivo de acordo com as suas necessidades.

Os produtores ficam comprometidos a comercializar toda a produção para a indústria pelo

preço que esta estabelece. As maiores áreas plantadas ocorrem, principalmente, em Vidal

Ramos, Ituporanga, Taió, Vitor Meireles, Petrolândia e Agronômica. No entanto, entre os 27

municípios considerados, 21 têm áreas plantadas acima de 500 ha e 14 acima de 1.000 ha.

Esses dados mostram a importância da cultura para os produtores do Alto Vale do Itajaí.

3.4.2 ATIVIDADES PECUÁRIAS.

A Tabela 5 mostra as atividades pecuárias mais importantes do Alto Vale do Itajaí.

Tabela 5 – Efetivo dos principais rebanhos dos municípios do Alto Vale do Itajaí, Santa

Catarina, 2003.

Efetivo dos rebanhos

(Número de cabeças) Municípios

Aves Bovino Suíno

Agrolândia 62.100 8.500 16.000

Agronômica 16.600 3.550 5.570

Atalanta 60.500 5.100 7.950

Aurora 56.350 8.100 7.500

Braço do Trombudo 55.500 5.200 1.850

Chapadão do Lagedo 16.220 5.000 5.000

Dona Emma 16.750 7.300 2.600

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

53

Efetivo dos rebanhos

(Número de cabeças) Municípios

Aves Bovino Suíno

Ibirama 13.500 5.000 3.350

Imbuia 33.260 5.850 3.350

Ituporanga 85.250 11.800 17.700

José Boiteux 14.000 3.800 2.400

Laurentino 41.800 3.950 5.550

Lontras 32.000 6.200 2.520

Mirim Doce 132.200 6.208 9.108

Petrolândia 45.500 12.000 6.200

Pouso Redondo 575.350 15.515 7.300

Presidente Getúlio 32.000 14.300 16.550

Presidente Nereu 25.000 5.000 3.760

Rio do Campo 131.000 11.000 6.200

Rio do Oeste 23.100 11.900 12.000

Rio do Sul 21.500 7.500 10.550

Salete 433.500 8.200 7.400

Taió 825.105 22.000 24.400

Trombudo Central 43.100 4.200 13.100

Vidal Ramos 38.900 8.500 5.000

Vitor Meireles 25.650 6.200 4.150

Witmarsum 25.600 8.100 3.350

Total 2.881.335 219.973 210.408

Fonte: Pesquisa Agropecuária Municipal – IBGE (2005)

3.4.2.1 Bovinos

A bovinocultura praticada na região é, sobretudo, para a produção de leite. Para a

EPAGRI (2001), não existe uma tradição de criação de bovinos de corte devido a topografia e

estrutura fundiária. Afirma, ainda, que mais da metade da produção de leite é comercializada

e o restante é utilizado para consumo nas propriedades. Os municípios que têm maior

concentração de bovinos são Taió, Pouso Redondo, Petrolândia e Rio do Oeste.

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

54

3.4.2.2 Aves

A avicultura brasileira desenvolveu-se a partir da década de 70, principalmente na

região sul do Brasil, com a introdução de pacotes tecnológicos pelas indústrias, que foram

financiados pelo pode público. Essa ação integra o processo de modernização da agropecuária

brasileira (SANTOS; SILVEIRA, 2001).

No Alto Vale do Itajaí, a avicultura é praticada principalmente em Taió e Pouso

Redondo, com destaque para a avicultura de corte. Esse fato deve-se à integração de

produtores com a empresa Perdigão. O produtor investe nas instalações e equipamentos e a

empresa integradora fornece os insumos e a assistência técnica. A produção é totalmente

destinada à empresa, que estabelece os preços pagos aos produtores. A integração

desenvolveu-se, principalmente, entre o final da década de 70 e início da década de 80 com a

aplicação de recursos públicos para o desenvolvimento desse setor (BELATO, 1985).

3.4.2.3 Suínos

A suinocultura catarinense é fundamentada na indústria. Segundo Silva, (2005), a

Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina (ACARESC), órgão estadual

responsável pela assistência técnica e extensão rural no estado, desempenhou um importante

papel no desenvolvimento do sistema industrial da suinocultura. Na década de 70, foram

destacados 30 técnicos especializados nessa área, que atuaram em parceria com a Associação

Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) e o sistema financeiro estadual. Em 1970, havia

1.700 matrizes registradas na ACSS e em 1980 havia 16.066. Houve a introdução do porco

tipo carne e melhorias das técnicas de criação. A partir da década de 80 as principais

indústrias criaram o seu próprio corpo técnico, a exemplo da indústria fumageira, como

estratégia para aumento dos lucros e garantia de matéria prima de boa qualidade para atender,

principalmente, o mercado externo.

Os municípios do Alto Vale do Itajaí que têm maior quantidade de cabeças de suínos

são Taió, Ituporanga, Presidente Getúlio, Agrolândia e Trombudo Central. Segundo a

EPAGRI (2001), com base em dados dos Censos Agropecuários do IBGE, a prática de

integração com a empresa denominada Pamplona deu-se a partir da metade da década de 80 e

foi responsável pelo aumento da produção em 132% entre 1985 e 1995 e provocou uma

redução no efetivo de animais na região pela eliminação de pequenas criações não integradas.

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

55

Houve, ainda, a redução do abate nas propriedades, que representou 62% em 1975, em

relação à venda do animal vivo. Em 1985 foi de 42% e em 1995, 11%. Na integração, os

produtores arcam com os investimentos em instalações e a integradora fornece os leitões com

22 kg de peso vivo, insumos e assistência técnica. A produção deve ser destinada

integralmente à integradora que estabelece o preço pago ao produtor. No entanto, a integração

é um tipo de relação estabelecida entre o Pamplona e os suinocultores, havendo outros. A

empresa controla ou influencia toda a produção de suínos no Alto Vale do Itajaí. A

compreensão das relações existentes na suinocultura é de fundamental importância para o

entendimento dos limites e oportunidades da suinopiscicultura, visto que o modelo de criação

de peixes mais praticado no Alto Vale do Itajaí é fundamentado na utilização de esterco suíno

para a fertilização de viveiros. A Pamplona controla quase toda a produção de suínos na

região, seja a montante ou a jusante do processo. Existem os suinocultores denominados

parceiros da empresa e aqueles que são integrados. Os primeiros tem um pouco mais de

independência em relação à empresa, por poderem fabricar a própria ração e comercializarem

leitões para outros suinocultores e integrarem suinocultores que remuneram somente com a

cessão do esterco para a fertilização de viveiros. Os integrados têm total dependência do

Pamplona. Mesmo os suinocultores que produzem leitões e suínos com 100 kg de peso e que

não adquirem nenhum insumo do Pamplona, acabam comercializando a produção para a

empresa. A suinopiscicultura é praticada com os suínos na fase de terminação, ou seja, na

etapa de criação em que o animal está com peso entre 22 e 100 kg. Essa prática é

conseqüência da forma mais comum de como é feita a consorciação, com os abrigos de suínos

construídos sobre os viveiros de piscicultura. Além de ser um abrigo mais adequado,

tecnicamente, para suínos a partir de 22 kg, o órgão ambiental licencia somente esse tipo de

suinopiscicultura, visto que há controle da quantidade de matéria orgânica introduzida no

ambiente, em comparação com a outra forma de consorciação, que é carrear para os viveiros

de peixes toda a matéria orgânica de um abrigo de suínos localizado distante da piscicultura.

Page 57: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

56

CAPÍTULO IV – CONTEXTO QUE ANTECEDEU A FORMULAÇÃO E

IMPLEMENTAÇÃO DO MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE PISCI CULTURA

INTEGRADA

4.1 DENÚNCIAS CONTRA O SISTEMA DE PISCICULTURA INTE GRADA

O principal sistema de produção de peixes da região do Alto Vale do Itajaí incorpora

o uso, como suplemento alimentar, de dejetos suínos, sobretudo porque este subproduto é de

fácil disponibilidade e tem um custo baixo, o que tornou a atividade bastante atraente para os

produtores, que não tiveram muitas dificuldades em aderir a este sistema de produção. Desse

modo, ela expandiu-se rapidamente nos últimos anos.

Contudo, tal sistema de produção acabou levantando uma série de questionamentos

de uma ONG - a APREMAVI – ASSOCIAÇÃO DE PRESERVAÇÃO DO MEIO

AMBIENTE DO ALTO VALE DO ITAJAÍ, sobre os impactos ambientais como: a

proliferação do mosquito borrachudo, o aumento da poluição das águas no Alto Vale do Itajaí

e, ainda, o fato de a maior parte dos viveiros nos quais os peixes eram produzidos estarem

localizados em áreas de preservação permanente (APP’s).

A APREMAVI acabou fazendo uma denúncia formal junto ao Ministério Público,

afirmando que a criação integrada de peixes com dejetos suínos era uma das principais

responsáveis pelos problemas mencionados, ao mesmo tempo em que solicitou providências

dos poderes públicos e da iniciativa privada.

Segundo a APREMAVI, até o início dos anos 90 ninguém sabia na região o que era

borrachudo.

Em 1994, a APREMAVI fez uma experiência piloto, realizando mutirões de limpeza

em rios localizados na Microbacia Alto Dona Luíza (sede da APREMAVI, em Atalanta),

junto com a população. No primeiro mutirão ficou estabelecido que para se combater o

borrachudo dever-se-iam adotar algumas atitudes: não se poderia mais jogar lixo nos rios,

manter a mata ciliar e desativar todas as fontes de alimentação dos borrachudos.

A maior parte das propriedades que tinham chiqueiros em cima de açudes deixaram

de adotar esta tecnologia. Em 1995 foi feito o segundo mutirão. Nessa época, o borrachudo já

estava sob controle.

Em 1996, no terceiro mutirão, agricultores informaram a APREMAVI que alguns

técnicos da EPAGRI haviam oferecido recursos financeiros para colocarem porcos em seus

Page 58: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

57

açudes, isso gerou reação imediata da APREMAVI, surgindo as primeiras manifestações

sobre este sistema.

Assim, em novembro de 1996 a APREMAVI lançou dois documentos enviados a

diversos órgãos, alertando para o problema do aumento da poluição da águas do Alto Vale do

Itajaí por dejetos suínos e sua relação direta com a proliferação de borrachudos, e a

construção de viveiros em APP's. Eles afirmavam que na década de 80 o governo de Santa

Catarina, através da ACARESC (atual EPAGRI), trouxe para a região a tecnologia da criação

integrada de peixes com dejetos suínos como sendo mais uma opção de renda para o produtor

rural. Segundo eles, esta tecnologia vem trazendo mais prejuízos do que benefícios para a

população como um todo, isto porque ela é uma das principais causas dos problemas acima

apontados: aumento de poluição ambiental e proliferação de borrachudos.

Nestes dois documentos, a APREMAVI solicita providências dos poderes públicos e

da iniciativa privada na solução dos problemas colocados. Ela afirma que o borrachudo é uma

praga que acelera o êxodo rural e pode até matar quando causa choque anaflático em pessoas

alérgicas à sua picada.

Na primeira audiência junto ao Ministério Público, enquanto a APREMAVI tentava

provar que a atividade era poluidora, a EPAGRI tentava mostrar que ela é viável. Como nesta

época ainda não existiam dados concretos sobre a atividade na região, tudo ficou muito no

"achismo" e não foi possível tirar conclusões e estabelecer procedimentos mais definitivos.

Quando surgiram estas denúncias no Alto Vale do Itajaí, o Projeto Microbacias

estava atuando na região. Como um dos seus principais objetivos era a adoção de práticas

sustentáveis de manejo e conservação do solo e da água pelos agricultores, ele acabou sendo

acusado pela APREMAVI de estar incentivando a criação de peixes com dejetos animais.

As denúncias chegaram ao conhecimento do Banco Mundial, da Secretaria

Executiva e técnicos do projeto, durante uma visita à região, especificamente na microbacia

de Ribeirão das Pedras (considerada modelo pelo Projeto Microbacias), onde foi informado

que havia saído nos jornais daquele dia a denúncia da APREMAVI, ou seja, o assunto veio à

tona naquele lugar.

... na época foi entendido como uma coisa armada. Nós mostrando uma coisa e os

jornais mostrando fotos, dizendo coisas diferentes. Ficou uma situação

constrangedora e difícil. Os agricultores ficaram revoltados, queriam uma

retratação (Técnico EPAGRI).

Page 59: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

58

Estas denúncias foram acatadas pelo Projeto Microbacias - através do Banco

Mundial - que desencadeou uma série de ações no sentido de diagnosticar a realidade e propor

alternativas e/ou medidas mitigadoras do problema.

... a APREMAVI mandou um e-mail para diversas entidades espalhadas pelo

mundo denunciando que o Projeto Microbacias estava estimulando tecnologias

prejudiciais ao meio ambiente. A partir daí, o Bando Mundial teve que tomar

posição com relação ao assunto (Técnico EPAGRI).

É necessário ressaltar que até aquele momento, o Projeto Microbacias não

apresentava nenhum componente relacionado à piscicultura. O projeto não incentivava a

atividade porque não era um de seus objetivos. Quem estava fazendo isso eram os técnicos da

piscicultura da EPAGRI.

... era uma atividade da empresa, não do Projeto Microbacias, embora alguns

técnicos do microbacias achassem que o projeto estava apoiando sim. Se alguns

não seguem as diretrizes do projeto, ou até as diretrizes da empresa, o projeto não

pode ser culpado por isso (Técnico EPAGRI).

No entendimento da administração do Projeto Microbacias, a denúncia envolvendo o

projeto foi indevida, porque o destino dos dejetos na visão do projeto era as esterqueiras e dali

esse esterco voltaria para as lavouras na forma de adubo orgânico. No momento da elaboração

do planejamento interno da propriedade, o técnico não ignorava a piscicultura orgânica,

quando esta existia. Mas ele não a estimulava porque não era meta do projeto. O projeto

começou em 1990; nesta época, as pesquisas sobre a atividade não eram tão boas.

A própria APREMAVI acabou concordando com isso. Ao que parece, o nome do

projeto foi utilizado apenas como forma de chamar a atenção para o problema, visto que o

Banco Mundial o estava patrocinando, o que o tornava conhecido e respeitado mundialmente.

Foi uma estratégia utilizada para a APREMAVI ser ouvida, porque eles já tinham tentado de

outras formas sem sucesso e acabaram conseguindo.

... o programa de piscicultura da EPAGRI não tem nada a ver com o Projeto

Microbacias. Em set/97, sentamos junto com a APREMAVI, onde foi questionada

a participação do projeto na questão, e seu representante disse que o projeto não

tinha nada a ver, mas sim a EPAGRI... Posteriormente reconheceram que não era o

Page 60: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

59

projeto em si, 'mas tinha técnicos do projeto que recomendavam a atividade' - seus

representantes falaram (Representante Projeto Microbacias).

4.1.1 EPAGRI – ACUSADA DE AGREDIR O MEIO AMBIENTE ENTRA EM DEFESA E

NA ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES

Segundo Sérgio Tamassia (2007), as denúncias contribuíram para melhorar

significativamente diversos aspectos ligados aos produtores e suas produções, levaram

produtores e técnicos a profundas reflexões. As principais evoluções, que serão tratadas mais

detalhadamente na seqüência, foram: aumentou e melhorou a organização dos produtores;

eles passaram a se preocupar mais com o impacto ambiental de suas atividades e por isto têm

como principal preocupação obedecer à legislação ambiental e licenciar suas atividades junto

aos órgãos competentes; começaram a adotar novas tecnologias, as quais visam sobretudo

reduzir o impacto ambiental da piscicultura; estão trabalhando mais em parcerias tanto com

outros produtores, como também com outros integrantes da cadeia produtiva.

Quando surgiram as denúncias, os produtores ficaram desconfiados, preocupados,

sem saber em quem acreditar. Muitos já haviam realizado investimentos dirigidos a esse

modelo de produção de peixes e não tinham como voltar atrás.

Houve grande preocupação por parte da indústria pesqueira em relação à

continuidade do sistema produtivo, pois ela havia feito um investimento bastante elevado e a

APREMAVI usou muito a questão de que o peixe não tinha a qualidade e poderia provocar

doenças aos consumidores.

Os produtores e a Associação Regional de Piscicultura se sentiram ofendidos pela

APREMAVI, porque sequer foram consultados sobre suas atividades antes das denúncias. Em

função disso, o relacionamento dos produtores com a APREMAVI ficou bastante

prejudicado.

... após as denúncias nós Piscicultores ficamos muito assustados, diminuímos

bastante a produção na região, pois ficamos com medo do que iria acontecer

(piscicultor).

... graças a Deus, a EPAGRI ficou do nosso lado e abraçou a causa, caso contrário

todos teriam abandonado a Piscicultura, pois nós produtores não sabíamos quais os

caminhos a tomar, como brigar e como buscar recursos. Posso afirmar que a

Page 61: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

60

EPAGRI foi o nosso anjo da guarda nos defendendo das denúncias da

APREMAVI (piscicultor).

... ficamos muito tristes com a APREMAVI, pois suas denúncias nos trataram

como bandidos, verdadeiros depredadores do meio ambiente, nos só queríamos

produzir e garantir o nosso sustento (piscicultor).

Os piscicultores admitem que existem alguns companheiros que não seguem as

recomendações técnicas para desenvolver suas atividades, mas esses são exceções: “O todo

não pode pagar por um que fez errado.” Segundo eles, hoje a EPAGRI continua dando suas

orientações - como sempre fez - e os produtores, por sua vez, agora aceitam mais o que se diz

e usam com mais critério os dejetos.

Antes das denúncias, as associações de piscicultores existentes eram pouco ativas.

Com a denúncia diminuiu o valor de seus produtos; como eles já tinham feito muitos

investimentos, tiveram que se defender. O trabalho foi intensificado, fortalecendo essas

organizações e criando outras - hoje são 10 associações de municípios organizadas, Aurora,

Agrolândia, Atalanta, Ituporanga, Mirim Doce, Pouso Redondo, Presidente Getúlio,

Petrolândia, Taió e Trombudo Central e a união dessas associações criou uma associação

regional, congregando todas as associações municipais para defender os interesses dos

piscicultores.

... as denúncias da APREMAVI, deram mais força para as associações que

procuraram se organizar cada vez mais, solicitando auxílio da EPAGRI na busca

de uma técnica melhor para essa atividade. Aí surgiu a associação regional

(Associação Regional de Piscicultores).

Os piscicultores começaram a participar das pesquisas desenvolvidas sobre a

piscicultura. Eles estão interessados no licenciamento ambiental de sua atividade, que é um

dos grandes objetivos de sua organização e é atualmente a maior preocupação deles. Para isso

eles têm um trabalho de parceria com a EPAGRI, através do qual ela vem analisando seus

viveiros de cultivo para que os piscicultores possam saber com certeza o que de fato polui o

meio ambiente.

A organização deles não foi só no sentido de enfrentar as denúncias. Eles se

organizaram também visando à comercialização de seus produtos. Hoje, em nível de

agricultura, os piscicultores são os mais organizados. A instalação do Frigorífico Pompéia

Page 62: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

61

(Pamplona) em 1996 na cidade de Rio do Sul já é um indicativo de que eles estavam se

organizando para melhorar a comercialização.

Em todos os encontros que houve nas associações de piscicultores após as

denúncias, a preocupação com o impacto ambiental da atividade passou a ser um dos

principais temas discutidos. Eles concordaram que a atividade estava desordenada, mas

tiveram segurança para continuar suas atividades porque em todos os momentos a EPAGRI

defendeu esse modelo de cultivo, ao mesmo tempo em que intensificou os trabalhos de

pesquisa (qualidade dos efluentes e da carne produzida por esse sistema orgânico de

produção).

Os produtores defendem esse modelo de produção. Estão sendo introduzidas novas

técnicas, que já foram testadas e aprovadas pelas associações de piscicultores e pela EPAGRI

para reduzir e até eliminar o impacto ambiental que ela poderia causar. Também defendem

que o licenciamento seja feito apenas para aqueles profissionalizados. A associação regional

passou a exigir projeto técnico dos produtores.

Para agilizar o licenciamento, a Associação Regional de Piscicultores propôs a

formação de uma parceria entre as associações municipais, a Fatma e as prefeituras. As

associações ficariam responsáveis pelos projetos, contratando técnicos para elaborá-los. Para

tanto ficariam com 70% (setenta por cento) dos recursos destinados ao licenciamento. Após

concluídos os projetos, eles seriam encaminhados à Fatma, que poderia então licenciá-los.

Segundo Fert Neto (2001), os piscicultores hoje já têm a percepção de que trabalhar em

conjunto traz muitas vantagens. Eles sabem que o sucesso e os benefícios que a atividade

pode proporcionar somente acontecerão se eles estiverem organizados e forem os

protagonistas de seu próprio desenvolvimento. A instalação do pólo na região do Vale do

Itajaí, e a conseqüente criação da Câmara Setorial, é uma demonstração de que União, Estado

e municípios reconhecem a organização deste setor produtivo.

A Câmara Setorial era uma reivindicação dos piscicultores. Ela deu mais força e

respaldo à atividade. A partir daí também foi aberto um canal direto de diálogo com a Fatma.

Isto tem sido fundamental na condução dos trabalhos visando ao licenciamento da

piscicultura.

Os desafios colocados, que a princípio pareciam uma ameaça ao processo produtivo,

tiveram seu lado positivo, pois serviram para organizar os produtores e conscientizá-los de

que a solução para seus problemas vai além dos limites de sua propriedade e requer também

ações de longo prazo.

Page 63: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

62

Técnicos da Fatma afirmaram que o órgão tem conhecimento de que existe a

preocupação por parte dos produtores de se fazer a atividade dentro de técnicas adequadas.

Eles sabem que as associações de piscicultores são contra aqueles indivíduos que não são

profissionais e fazem a atividade de maneira errada.

Eles também acreditam que hoje a piscicultura é o segmento mais organizado e é o

único que está buscando licenciamento, não esperando que a Fatma multe a atividade. Isto

acontece porque, segundo técnicos da Fatma, os piscicultores possuem uma visão de futuro,

ou seja, a partir do momento que eles têm um produto licenciado, é possível buscar para este

produto o "selo verde" (produto gerado sem agredir o meio ambiente), o que facilita muito sua

comercialização.

(...) esta atitude por parte dos piscicultores é louvável. ... A piscicultura é uma

atividade nova e promissora. Ela pode fixar o homem no campo. Não exige do

produtor que ele trabalhe em tempo integral, como outras culturas. A situação que

existe hoje foi decorrente da necessidade de uma alternativa de renda para os

produtores e também das pessoas que estão a frente do processo, que tem visão

proativa, e até por uma necessidade da EPAGRI de dar uma nova atividade para o

produtor se manter (Técnico da Fatma)

Por ser uma atividade nova, que não tem vícios, está sendo possível dar ênfase na

organização dos produtores para que eles possam produzir melhor. A piscicultura está até

mesmo servindo de modelo para outras atividades, que, ao ver o que os piscicultores estão

conseguindo fazer juntos, estão se organizando nos mesmo moldes.

(...) o produtor tem que ser o protagonista do processo e não um ator, organizando

um projeto a partir das necessidades dele. Aí são mostradas as oportunidades de

negócio dentro da piscicultura, inclusive outros elos da cadeia produtiva. A idéia é

despertar o empresário que existe dentro dele e aí buscar dinheiro para isso. Dentro

da piscicultura está sendo fácil fazer isso porque é uma atividade nova (Técnico da

EPAGRI).

4.1.2 APREMAVI, EPAGRI E PISCICULTORES ENTRAM EM COLISÃO.

Após as denúncias, a APREMAVI deu uma coletiva de imprensa para informar que

os integrantes da diretoria envolvidos com a questão receberam diversas ameaças, visando

Page 64: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

63

intimidá-los. Tais ameaças aconteceram durante uma visita realizada à Câmara de Vereadores

de Rio do Sul, a convite da mesma. O objetivo da reunião era prestar alguns esclarecimentos

aos vereadores sobre a matéria referente às denúncias do problema do borrachudo, a qual foi

publicada em um jornal local.

(...) com a publicação das denúncias nos jornais, fomos intimados a dar

esclarecimentos na Câmara de Vereadores de Agrolândia, pois se acharam

ofendidos com as nossas denúncias, foi uma sessão muito tensa, parecia um

tribunal de Inquisição (Técnicos da APREMAVI).

Participaram desta reunião, além da APREMAVI e dos vereadores, integrantes do

Poder Executivo de Agrolândia, empresários, agricultores, técnicos da EPAGRI, entre outros

convidados, onde esta reunião foi gravada e encaminhada a Procuradoria da República em

Florianópolis.

(...) a APREMAVI faz muito sensacionalismo, veio para a reunião com o mesmo

discurso, cheia de razão, filmaram tudo e ainda tentaram colocar a população

contra os Piscicultores com um abaixo assinado de mais de 2.000 assinaturas

(Técnico da EPAGRI).

(...) muitos Piscicultores estavam completamente revoltados, querendo partir para

a violência contra os técnicos da APREMAVI. (Técnico da EPAGRI)

As ameaças e hostilizações também ocorreram em outros locais, até mesmo através

da imprensa, e acabaram criando um clima de insegurança e apreensão por parte dos

dirigentes da APREMAVI, seus familiares e amigos.

Através da coletiva de imprensa a APREMAVI afirmou ser uma instituição que está

prestando serviços à natureza e à comunidade há dez anos e que seus objetivos são a

preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida de toda a população. Para

eles, toda a comunidade do Alto Vale do Itajaí estava sofrendo com o aparecimento e

proliferação descontrolada do borrachudo, ocasionada pelos dejetos suínos jogados nas águas

da região, um desequilíbrio ambiental provocado pelo próprio homem.

(...) a solução se faz necessária e urgente, o sol não pode ser tapado com peneira. A

APREMAVI não quer apenas polêmica e ameaças, quer a participação de todos na

busca de soluções (APREMAVI).

Page 65: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

64

Um dirigente da APREMAVI fez questão de ressaltar durante seu depoimento, bem

como em documentos fornecidos pela ONG, que muitas das decisões e acordos feitos acabam

não sendo cumpridos. Cita o exemplo das diversas reuniões realizadas visando ao

ordenamento e à legalização da atividade, além das pesquisas para verificar a qualidade da

água e da carne dos peixes, para as quais a APREMAVI não foi convidada a participar,

quando havia sido acertado que ela estaria presente para poder dar a sua colaboração. A

APREMAVI não concorda com a metodologia estabelecida pela EPAGRI para a coleta da

água a ser analisada.

(...) foi definido que diversas ações fossem feitas em conjunto por todos os órgãos

envolvidos, mas muitas atividades foram feitas sem transparências pela EPAGRI,

outras não aconteceram como foi acordado e outras acontecem apenas de forma

camuflada, como é o caso do monitoramento da água que está sendo realizada

(Representante da APREMAVI).

Para a APREMAVI os técnicos da EPAGRI querem que ela aceite a piscicultura

integrada desde que esta seja feita de acordo com as normas e padrões que a EPAGRI

divulga.

Como foi o Governo do Estado que trouxe esta tecnologia, e como ela vai se

difundindo por efeito-demonstração, a APREMAVI acredita que o governo é o responsável

por ela, tanto pelos que a usam bem quanto pelos que não o fazem de maneira adequada.

Mesmo com as recomendações específicas feitas pelas missões do BIRD e pelo

grupo multidisciplinar, de acordo com a APREMAVI estas não foram devidamente seguidas

pela EPAGRI e a Fatma no que se refere ao licenciamento. Para ela, o encaminhamento dado

pela EPAGRI demonstra que foram usados apenas os pontos favoráveis aos piscicultores que

estavam na proposta da APREMAVI e foi elaborado um documento, enviado ao Ibama,

solicitando a aprovação. Para a APREMAVI, se este documento for aprovado, tudo

permanecerá como está, ou seja, os piscicultores continuarão ocupando irregularmente as

áreas de preservação permanente e jogando dejetos suínos nos cursos d'água.

A partir da divulgação dos pareceres dos especialistas que compunham o grupo

multidisciplinar e das recomendações da missão, todas as acusações feitas pela APREMAVI

passaram por uma análise, inclusive do ponto de vista ambiental. A crítica mais objetiva

confirmada foi a de que 90% (noventa por cento) dos empreendimentos da piscicultura

orgânica estão em APP's. E, o pior, é que este problema ainda persiste. Diversos órgãos

Page 66: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

65

(Prefeituras, CIDASC e empresas particulares) continuam construindo viveiros em cima de

APP's, sem observar a legislação ambiental, sobretudo essas APP's.

Tal fato foi constatado em uma visita feita ao Alto Vale do Itajaí no final de 1998 -

da qual participaram a APREMAVI, a EPAGRI, a missão do Banco Mundial, a Secretaria da

Agricultura, prefeitos e outras ONG's. Ou seja, novos criadores de peixe que utilizam dejetos

suínos estavam surgindo constantemente, todos sem licenciamento ambiental e sem cumprir

as exigências feitas pelo grupo de especialistas do BIRD.

Para a APREMAVI muitos produtores estavam em desacordo com a legislação em

algum ponto, e mesmo aqueles que estão completamente de acordo com a legislação em todos

os pontos, não possuem licenciamento. Só que o licenciamento em si não interessa à

APREMAVI. O que interessa a ela é a parte ambiental. É a ocupação de APP’s. O uso

inadequado e a poluição da água é que são os principais crimes ambientais que os produtores

podem estar cometendo.

Desta maneira a APREMAVI elaborou um documento baseado no relatório para

definição de procedimentos a serem adotados no licenciamento da atividade de piscicultura de

água doce em Santa Catarina, onde fez uma série de comentários acerca da questão.

Neste mesmo documento a APREMAVI fez algumas sugestões com relação à forma

de regularizar e licenciar os criadores de peixe já implantados, bem como quais deveriam ser

as medidas compensatórias a ser adotadas pelos ocupantes de áreas de preservação

permanente. O Banco Mundial concordou com essas medidas.

Cada especialista participante do Grupo Multidisciplinar fez uma série de

constatações acerca das atividades segundo sua especialidade, a partir das quais elaboraram

algumas recomendações. As principais áreas para as quais foram feitas recomendações são:

poluição das águas, aspectos de saúde pública, alteração da paisagem e saturação ambiental e

controle do borrachudo, entre outras.

As medidas compensatórias propostas estão relacionadas com a ocupação de áreas

de preservação permanente e são colocadas como requisitos mínimos para licenciar a

atividade, entre elas destacam-se as seguintes: proibição total de usar dejetos animais como

suplemento alimentar dos peixes, para o caso de viveiros construídos com barramento de

riachos e rios; implantação e averbação da reserva legal 20% (vinte por cento) do imóvel,

recuperação das APP's, ocupadas por outras atividades ou não ocupadas pela piscicultura;

reflorestamento de área equivalente a pelo menos o dobro da faixa de preservação permanente

ocupada pela piscicultura, em outra área do imóvel e sua averbação como reserva legal ou

Page 67: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

66

reserva particular do patrimônio natural e adoção de medidas para impedir o rompimento do

viveiro.

Depois disso a APREMAVI entrou em contato com a EPAGRI diversas vezes. Mas

quando foi feita a reunião decisiva para se discutir o reenquadramento da atividade, a

APREMAVI não foi chamada. A questão foi discutida entre a EPAGRI, os produtores e a

Fatma. A APREMAVI também não concorda com o reenquadramento da criação de peixes

consorciada com suínos da forma como está sendo proposto, pois isso, segundo ela, viria a

camuflar a gravidade do problema e permitiria que tudo permanecesse como está, sem as

devidas soluções.

A APREMAVI diz que já existe um reenquadramento e que este deve ser aplicado.

Ela acredita que a EPAGRI está fugindo da responsabilidade no que diz respeito aos

empreendimentos já existentes e quer deixar as coisas como estão. "Propõem um

reenquadramento da atividade para deixar as coisas como estão."

Houve no final de 1997 uma proposta discutida entre o Banco Mundial, a EPAGRI e

a Fatma, na qual se sugere que o licenciamento da atividade somente ocorra mediante a

observação de critérios técnicos mínimos a serem estabelecidos, a observação criteriosa da

legislação que trata da poluição e a aplicação de medidas compensatórias para aquelas regras

legais impossíveis de serem cumpridas, como, por exemplo, os empreendimentos já instalados

nas APP's.

Assim, o licenciamento para as atividades implantadas até 31.12.97 seria concedido

desde que fossem atendidas as exigências mínimas, e as medidas compensatórias seriam um

ônus a ser arcado pelo proprietário para poder continuar com a atividade. Segundo a

APREMAVI, este critério parece justo e não revoltaria os novos pretendentes a instalar a

atividade, que só poderão fazê-lo mediante total observância da legislação e licenciamento

prévio. Ao final fazem um alerta: "para que este trabalho atinja seus objetivos é necessário

que os órgãos envolvidos passem a fazer um discurso único e claro, sinalizando para a

sociedade que a legislação existe e que vai ser aplicada, com as respectivas punições aos

infratores.”

A APREMAVI afirmou que as denúncias encaminhadas à Procuradoria Pública,

sugeriram dois caminhos possíveis. O primeiro seria o caminho administrativo, no qual o

Governo do Estado teria de assumir o seu papel e encaminhar o problema de forma

administrativa. Neste caminho se levaria de um a três anos para orientar as pessoas onde se

quer chegar. A dificuldade seria resolver a situação daqueles que já estavam instalados,

porque existem as leis e estas devem ser aplicadas.

Page 68: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

67

O segundo caminho é processar todos os atores envolvidos: CIDASC, EPAGRI,

FATMA, Polícia Ambiental.

A APREMAVI4 afirma não ser contra a criação de peixes, nem contra a de suínos,

desde que sejam desenvolvidas de forma sustentável, sem comprometer os recursos naturais, e

sem causar danos à saúde e ao bem-estar da comunidade em geral. Ela é contra a criação

consorciada de peixes e suínos, por acreditar que tal tipo de criação causa poluição das águas,

é responsável pela proliferação do borrachudo e porque existem outras tecnologias de criação

de suínos e peixes - sem que haja consorciação direta, as quais são muito mais antigas e que

não causam estes tipos de danos ao ambiente e à população, ressalta ainda que não se exime

das suas responsabilidades e tem interesse em resolver o problema, desejando, inclusive,

participar de sua solução, através de ações concretas.

4 APREMAVI – ASSOCIAÇÃO DE PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO VALE DO ITAJAÍ, É formada pela Assembléia Geral composta pelos 300 sócios. Possuem direito a voto aqueles que estão em dia com suas contribuições sociais. Os sócios não recebem quaisquer contribuições ou remuneração financeira por suas atividades na instituição. O Conselho Fiscal é formado por três integrantes titulares e três suplentes, é responsável por examinar a prestação de contas, fiscalizar a situação financeira, econômica e contábil e acompanhar e fiscalizar os trabalhos, projetos e programas da Associação, emitindo os pareceres e relatórios que julgar oportunos. Os membros do conselho não são remunerados pelos serviços que prestam à instituição.Conselho Consultivo é formado por até 10 pessoas, escolhidas e eleitas pela Assembléia Geral, com mandato de dois anos, coincidente com o mandato da Diretoria Executiva. São pessoas com conhecimento técnico e científico ou com notório saber sobre meio ambiente. Este conselho apresenta sugestões à Assembléia Geral e à Diretoria Executiva.Diretoria Executiva É composta por seis integrantes, escolhidos pela Assembléia Geral através de votação, com mandato de dois anos. É responsável por dirigir os trabalhos da Apremavi. Os membros da Diretoria Executiva não são remunerados pelos serviços de direção da instituição mas podem ser contratados para exercerem serviços técnicos ou administrativos de acordo com a Lei do Terceiro Setor. O escritório se encontra na cidade de Rio do Sul (cerca de 80 km da cidade de Blumenau), e o viveiro na cidade de Atalanta (a 20 km de Rio do Sul). Tem por objetivos:a) Promover, estimular e apoiar ações e trabalhos em defesa, conservação, preservação e recuperação do meio ambiente, do patrimônio paisagístico e dos bens e valores culturais, prioritariamente no âmbito da Mata Atlântica e Ecossistemas Associados; b) Promover, incentivar e apoiar a divulgação do patrimônio natural, paisagístico e cultural; c) Editar, apoiar e incentivar a publicação de revistas, informativos, jornais, audiovisuais, vídeos, DVD's ou qualquer outra forma de publicação sobre assuntos relativos a meio ambiente, turismo ecologicamente sustentável e assuntos culturais; d) Realizar, incentivar ou custear pesquisas sobre preservação, conservação, uso e manejo sustentável dos recursos naturais, incluindo fauna, flora, água, solo e ar; e) Estimular e exigir das autoridades federais, estaduais e municipais, instituições públicas e privadas, pessoas físicas e jurídicas, a adoção de medidas práticas que visem a preservação, conservação, recuperação e manejo sustentável dos recursos naturais e do meio ambiente, bem como o controle de todas as formas de poluição e degradação; f) Realizar e divulgar pesquisas e estudos realizados no país e no exterior, referentes à preservação, conservação, recuperação e manejo sustentável dos recursos naturais e do meio ambiente; g) Promover cursos, seminários, workshops, dias de campo, palestras e outras formas de ensino, junto às comunidades, escolas, empresas, órgãos públicos ou outras organizações da sociedade, para criar uma consciência de preservação, conservação, recuperação e manejo sustentável do meio ambiente; h) Promover, apoiar e estimular atividades culturais e educacionais, estimulando a cooperação, união e solidariedade entre as pessoas, incentivando o desenvolvimento comunitário e regional; i) Promover, apoiar e estimular atividades de agricultura sustentável, ecoturismo e manejo sustentável dos recursos florestais; j) Fazer uso dos meios judiciais e extrajudiciais previstos na legislação brasileira para responsabilizar administrativa, civil, ou penalmente todo aquele que causar danos ao meio ambiente, seja agredindo, destruindo, poluindo, exterminando ou fazendo uso de outra forma ou meio de comprometimento do equilíbrio ecológico.

Page 69: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

68

CAPÍTULO V – O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO MAVIPI – MODELO ALTO

VALE DE PISCICULTURA INTEGRADA

5.1 – EPAGRI E PISCICULTORES BUSCAM UMA SOLUÇÃO.

A piscicultura tomou grande impulso na década de 90, em grande parte do território

catarinense em especial no Oeste, Planalto e Alto Vale do Itajaí. A EPAGRI viu a necessidade

de orientar bem como organizar a produção para evitar problemas futuros, em especial com o

meio ambiente (TAMASSIA; SCHAPPO, 2007).

Segundo os técnicos da EPAGRI Sérgio Tamassia5 e Claudemir Schappo6 (2007), a

falta de orientação e a produção de peixes sem uma definição e orientação técnica levaram os

piscicultores do Alto Vale do Itajaí a criarem peixes de diversos sistemas diferentes, de acordo

com o interesse de cada produtor, e com os interesses e interferência da política regional,

necessitando de medidas urgentes para resolver problemas com o Ministério Público, ligadas

ao meio ambiente.

Em 1997 o então presidente da EPAGRI, Rogério Mendonça7, por ser engenheiro

agrônomo e ex-prefeito de Ituporanga, tinha conhecimento da causa e tomou a decisão

arrojada de colocarem técnicos em campo, buscar soluções, organizar a produção. Coube aos

técnicos da EPAGRI Claudemir Schappo, Nilton Zimermann, Vitor Kniss (in memorian), e

mais tarde Sérgio Tamassia e Mário Volter, um trabalho junto aos produtores, para buscar

caminhos que atendessem às exigências das Leis Ambientais, que fossem aplicáveis e

lucrativas, bem como servisse como sugestão para outras aplicações (TAMASSIA, 2007).

Segundo Sérgio Tamassia (2007), o trabalho dos técnicos da EPAGRI, foi facilitado

com a liberação em 1997 de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), do FAT – Fundo de Amparo

ao Trabalho, que através de convênio entre a Associação de Produtores de Agrolândia e o

CETRAG – Centro de Treinamento Agropecuário de Agronômica, permitiu a realização de

diversos cursos de qualificação dos produtores, bem como, estudos técnicos por parte da

EPAGRI sobre o sistema de produção ideal para a região.

Mário Volter, um dos técnicos da EPAGRI que trabalhava na organização da

produção e dos próprios produtores, chegou a mexer com os brios dos piscicultores, afinal

“onde chegar?”, “como chegar?” e “o que seria possível fazer?”, Mário Volter, pode-se

5 Sérgio Tamassia – Técnico da EPAGRI em entrevista dia 02/03/2007 6 Claudemir Schappo – Técnico da EPAGRI em entrevista dia 02/03/2007 7 Rogério Mendonça – Ex-presidente da EPAGRI, contato telefônico 06/04/2007

Page 70: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

69

afirmar despertou os piscicultores para a necessidade de qualificação e unificação da

produção, e a necessidade de organização dos produtores (TAMASSIA, 2007).

Apesar do interesse crescente, o valor comercial dos peixes produzidos no Estado era

baixo e os custos elevados, visto que os sistemas de produção utilizados recomendavam o uso

de altas densidades de povoamento aliadas à prática de arraçoamento com ração formulada. A

inexperiência dos técnicos com este tipo de sistema, o baixo valor comercial das espécies

produzidas em Santa Catarina e a resistência dos produtores rurais em utilizar um sistema de

produção altamente dependente de insumos externos à propriedade, levou a psicicultura à

resultados frustrantes. Era necessário desenvolver um sistema adaptado à realidade geográfica,

climática e socio-econômica do produtor local. Isso veio a ocorrer no final da década de 80.

Nesse período, além da carpa comum e tilápia, espécies de peixes tradicionalmente presentes

nos cultivos catarinenses, foram introduzidas novas espécies, como por exemplo, o grupo de

carpas chinesas (carpa capim, carpa cabeça grande e carpa prateada). Essas espécies

apresentam distintas preferências alimentares e permitem obtenção de resultados sinérgicos de

produção quando cultivadas em conjunto, ou seja, no policultivo. Além disso, possuem a

habilidade de extrair do ambiente natural grande parte do alimento necessário ao seu

crescimento, desde que a produtividade natural nos viveiros seja estimulada através de adição

de nutrientes. A grande disponibilidade de estercos animais, notadamente de suínos,

apresentou-se como alternativa ideal para cumprir este papel.

Além de rico em nutrientes, o esterco de suínos contém macropartículas de

componentes alimentares mal digeridos, os quais são consumidos diretamente pelos peixes,

enriquecendo a dieta. Os dejetos de suínos, portanto, disponíveis a “custo zero” atendiam

perfeitamente os anseios dos pequenos e médios produtores, desejosos da independência de

insumos caros e externos às suas propriedades.

Após muitos estudos, pesquisas, cursos, palestras, organização, chegaram a

definição de um Programa de Produção para a Piscicultura Integrada “Peixe-Suíno”, o

“MAVIPI” – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integra da.

As figuras 1 e 2 demonstram um panorama do MAVIPI – Modelo Alto Vale de

Piscicultura de Integrada, destacando a instalação de viveiros dentro das orientações técnicas,

de acordo com a legislação ambiental e uma visão do consórcio peixe/suíno.

Page 71: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

70

Figura 1 – MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada

Figura 2 – MAVIPI – Consórcio (peixe/suíno)

Page 72: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

71

5.1.1 CARACTERÍSTICAS DO “MAVIPI” – MODELO ALTO VALE DE PISCICULTURA

INTEGRADA

O modelo MAVIPI implantado na Região do Alto Vale do Itajaí consiste no

policultivo em viveiros de terra sem renovação de água, com aeração, com exploração de

alimentação natural (fito e zooplâncton) e alimentação suplementar (ração) durante a parte

final do ciclo.

No policultivo, geralmente a tilápia é utilizada como espécie principal, sendo que a

carpa comum pode ser utilizada como uma segunda alternativa. As outras espécies utilizadas

são: a carpa prateada, a capim e a cabeça grande. Adicionalmente a estas, é inserida no sistema

uma espécie carnívora, como por exemplo: o bagre africano, jundiá ou a traíra. O objetivo

desta introdução é que sejam consumidos eventuais peixes mortos, evitando que estes animais

em decomposição sejam fonte de doenças nos viveiros. Outra função seria a de se evitar a

proliferação exagerada de alevinos de tilápia que podem ser acidentalmente produzidos

durante o ciclo de produção. A proporção de alevinos utilizada é de 80% (oitenta por cento)

para a espécie principal e de 20% (vinte por cento) para as demais espécies. (EPAGRI, 2007)

A base da alimentação dos peixes nos primeiros dois terços do ciclo é o alimento

natural produzido no viveiro. Para que haja a produção deste alimento, utilizam-se os

subprodutos da suinocultura como fonte primária de nutrientes, principalmente o esterco e os

restos de ração. O nitrogênio e fósforo liberados por esta matéria orgânica são utilizados pela

microflora (fitoplâncton) e pal microfauna (zooplâncton) que constituem o alimento natural do

viveiro. Estudos científicos indicam que a carne dos peixes produzidos a partir deste sistema

orgânico de produção, desde que o sistema seja bem conduzido e os peixes processados de

forma adequada, apresenta índices de sanidade dentro dos padrões exigidos por lei (EPAGRI,

2007).

O alimento natural, porém, é suficiente para sustentar o crescimento dos peixes até

uma determinada biomassa. A partir de então, torna-se necessário a utilização de ração

suplementar e de aeração para que este crescimento não seja cessado. A aeração tem um papel

importante não somente pela incorporação de oxigênio dissolvido (OD) na água, mas também

pela movimentação da água dos viveiros. A luz e o calor se propagam na coluna d’água a

partir da incidência da radiação solar em sua superfície. Como a densidade da água varia com

a temperatura, geralmente observa-se o fenômeno da estratificação térmica. Em viveiros, a

estratificação térmica acontece em duas camadas e tem um caráter diuturno. Durante o dia a

camada superficial (mais quente, iluminada, rica em fitoplâncton e OD) pode se separar da

Page 73: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

72

camada mais profunda (fria, escura, pobre em OD, porém, rica em matéria orgânica e em

carbonatos) por gradiente de temperatura e densidade (EPAGRI, 2007).

A movimentação da água quebra a estratificação destas camadas, levando o OD para

a camada mais profunda impedindo a degradação anaeróbica da matéria orgânica, nela forma-

se metano e outros compostos indesejáveis. Os carbonatos são deslocados para as camadas

superiores, minimizando as variações do Ph da água e evitando a transformação de amônio

(não tóxico para os peixes) em amônia tóxica NH3. O controle dos parâmetros de qualidade da

água neste sistema é muito importante, uma vez que praticamente não há renovação de água

durante todo o ciclo produtivo. Trata-se, portanto, de um sistema de baixo impacto ambiental

(Figura 3). Este é um dos motivos pelos quais o sistema de produção do Alto Vale do Itajaí já

está devidamente regulamentado pelo órgão ambiental do Estado de Santa Catarina. A licença

ambiental é um dos requisitos para que sejam liberadas pelos bancos as linhas de crédito de

financiamento de projetos de investimentos em piscicultura neste Estado (EPAGRI, 2007).

A construção dos viveiros também é outro importante item para o sucesso do

sistema. Eles possuem uma profundidade de 1,2 a 1,5 m na parte mais rasa, e 1,8 a 2,0 m na

parte mais profunda, onde se localiza a saída d’água. O projeto do viveiro é elaborado de

forma que facilite o processo de despesca e permita o acesso seguro de caminhões para o

transporte da produção dos peixes. Em alguns casos, os taludes são reforçados para evitar

desbarrancamentos devido a ação das ondas formadas por ventos e aeradores. Os aeradores

estão localizados na parte mais profunda e direcionados para a parte mais rasa, onde se

encontra a granja dos suínos. Esta granja em geral, é especialmente dimensionada e construída

sobre o viveiro para uma lotação de 60 a 80 suínos por hectare de lâmina d’água. Durante o

processo de despesca é feito o esvaziamento parcial do viveiro a fim de facilitar o manuseio

dos peixes. É importante frisar que esta água descartada está dentro dos parâmetros de

qualidade exigidos para efluentes.

Em geral, o uso da ração e aeração é iniciado no último terço do ciclo de produção, a

fase de terminação. Na região tem-se obtido produtividade média próxima a 8000kg/ha/ciclo,

de 1 ao ano e 3 ciclos de produção em 2 anos. As tilápias iniciam o ciclo com cerca de 10 g e

têm sido despescadas com peso médio entre 350 a 450 g, dependendo do mercado a ser

atendido. As carpas são vendidas com peso variando de 600 a 1500 g dependendo da espécie.

Page 74: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

73

Figura 3 – Princípios Básicos do Funcionamento do Modelo Alto Vale de Piscicultura

Integrada.

Fonte: EPAGRI, Ituporanga, 2007.

5.1.2 OPERAÇÕES DO SISTEMA MAVIPI – MODELO ALTO VALE DE

PISCICULTURA INTEGRADA

Segundo o técnico da EPAGRI Claudemir Schappo (2007) existem procedimentos

técnicos necessários para a correta implantação do Sistema Produtivo MAVIPI, conforme

passos abaixo:

• Planejar é operação realizada pelo proprietário e um técnico especializado no

assunto e consistem em verificar disponibilidade de água, condições físicoquímico

do solo, enquadramento na legislação ambiental, coleta de amostras de água e solo,

de dados para elaboração do projeto e disponibilidade de mercado para

comercialização da produção.

Page 75: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

74

• Obter licença ambiental é operação normalmente desempenhado por técnico.

Simultaneamente à elaboração do projeto são mantidos contatos junto ao órgão

ambiental para obtenção de licenças para iniciar as providências, executar o projeto

e operar a atividade uma vez implantada.

• Capacitar produtor é operação onde o produtor é capacitado a operar a atividade

de tal forma a lhe permitir alcançar o planejado tanto em termos técnicos como

econômicos. Esta capacitação do produtor é realizada em curso profissionalizante de

uma semana de duração e é requisito para o produtor ter acesso à assistência técnica

necessária e aos benefícios da associação de produtores.

• Construir viveiros é operação que consiste de diversas tarefas de modo a deixar o

viveiro pronto e em condições de receber adubação e demais procedimentos

prépeixamento. Dentre as tarefas principais desta operação pode-se citar: escavar e

compactar terreno, adequar sistema de abastecimento e drenagem, acessos

(estradas). Esta operação normalmente é contratada de terceiros e é paga conforme

horas máquina utilizadas.

• Plantar grama batatais é operação que consiste em plantar grama no talude

(terreno inclinado) para prevenir contra erosão causada pelas águas pluviais.

• Construir granja de suínos é operação que abrange todas as tarefas necessárias

para construir a granja de suínos nas condições que o sistema de produção requer.

• Acompanhar construções é operação em que o técnico vistoria as construções

para que sejam executadas de acordo com as necessidades do sistema produtivo.

• Calcarear é operação que, de acordo com análise da água e do solo, normalmente

aplica-se calcário a lanço (operação manual). Costumeiramente este corretivo é

transportado em micro-trator e carreta (operação mecânica).

• Incorporar calcário é operação realizada com trator e grade em que o calcário é

incorporado no fundo do viveiro.

• Manejar água inicial é operação que consiste em abastecer de águas os viveiros

deixando-os em condições de receber os peixes.

• Povoar é operação normalmente executada pelo piscicultor e consiste em buscar

os alevinos no fornecedor e colocá-los nos viveiros onde serão criados.

• Avaliar produção é operação que consiste em capturar uma amostra de peixes

para através de ictiometria avaliar o seu desenvolvimento para orientar o manejo.

Page 76: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

75

• Limpar e reparar é operação que consiste em manter os viveiros e arredores

limpos e efetuar os reparos necessários ao perfeito desenvolvimento da atividade.

• Arraçoar e vistoriar é operação que consiste em distribuir manualmente a ração

e verificar se a atividade está sendo conduzida dentro da normalidade ou se necessita

de alguma intervenção ou correção.

• Aerar é operação executado por aerador quando as condições da água oxigênio,

estratificação ou outras características físico-químicas assim o exigem.

• Despescar é operação que consiste em retirar os peixe do viveiro para

comercialização e é efetuada manualmente com rebaixamento parcial do nível da

água. Esta tarefa normalmente é realizada, em média por cinco a 10 pessoas e

funciona também como fator de intercâmbio de experiências, idéias e técnicas entre

produtores e técnicos.

• Participar de associação é operação em que o produtor participa de atividades

relacionadas com associação tais como: reuniões, análise de resultados, compra e

venda solidária, uso comum de equipamentos, etc...

Figura 4 – Planejamento e Capacitação dos Piscicultores

Page 77: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

76

Figura 5 – Construção de viveiros – Modelo MAVIPI Figura 6 – Construção de granjas – Modelo MAVIPI

Page 78: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

77

Figura 7 – Aeração para oxigenar os viveiros – Modelo MAVIPI

Figura 8 – Despesca – Modelo MAVIPI

Page 79: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

78

5.2 PRINCIPAIS ATORES E SUAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO MAVIPI 5.2.1 EPAGRI - EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTA CATARINA

A EPAGRI - presta serviços de Extensão Rural e Assistência Técnica nos 293

Municípios do Estado de Santa Catarina, implantou diversas ações para o Setor Agropecuário

Catarinense, com destaque para os seguintes programas e atividades:

• orientações sobre produção agropecuária;

• orientações pós-colheita e comercialização;

• orientação sobre administração rural, organização dos produtores e conquistas de

créditos;

• orientações sobre economia do lar, receitas alimentares e organização das

mulheres e dos jovens no campo;

• serviços de Pesquisas gerando conhecimento e tecnologias que vão sendo

incorporados à produção catarinense;

• serviços de Análises e Diagnósticos a partir de seus laboratórios;

• Através de seu Centro de Informações Ambientais são fornecidas Informações

Meteorológicas;

• serviços que levam conhecimento técnico como os Cursos e Treinamentos;

• atendimento especial à Agricultura Ecológica apoiando os produtores

agroecológicos e ajudando a gerar produtos mais saudáveis. Assim também presta

orientação a produtores de Produtos Artesanais tendo em vista que há um espaço

reservado para este tipo de produção;

• coordenação do Programa Microbacias;

• educação ambiental e educação sanitária.

Pode-se afirmar que direta ou indiretamente todos os catarinenses utilizam os

serviços da EPAGRI. Onde quer que um catarinense coloque um alimento na sua boca,

produzido no Estado, ou ele se beneficia da melhor qualidade ou do melhor preço resultantes

de tecnologias mais modernas e adequadas que a EPAGRI ajuda a produzir e incorporar.

(EPAGRI, 2007).

Diante dos inúmeros Programas e Atividades desenvolvidos pela EPAGRI, para o

setor Agropecuário, ela tornou-se o principal ator parceiro para a implantação e

Page 80: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

79

desenvolvimento do MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada no Alto Vale do

Itajaí, implantando diversas atividades que permitiram a consolidação desta cadeia produtiva,

como pode ser comprovado no decorrer deste trabalho.

Logo após as denúncias da APREMAVI houve uma grande revolta por parte de

muitos técnicos da EPAGRI, interpretando como problema pessoal, isso se estendeu a todos

os piscicultores da região causando um grande mau estar com a APREMAVI.

(...)nós da EPAGRI nos esforçamos para superar o mau estar surgido com as

denúncias da APREMAVI, os momentos de tensão veio de opiniões de alguns

técnicos que se sentiram ofendidos e seu orgulho ferido, pois não foram

procurados pela APREMAVI para conversas antes das denúnicas (Técnico

EPAGRI).

(...) a APREMAVI agiu de forma desonestas pelas nossas costas. Armou tudo, um

dia antes da visita a Micro Bacia de Ribeirão das Pedras, o nosso gerente regional

estava na APREMAVI e um jornalista apareceu, um membro da APREMAVI

disse que tinha um grande furo de reportagem, mas a notícia tinha que sair no dia

seguinte, o que ia coincidir com a visita na Micro Bacia. Eles usam denúncias

como instrumento, é postura deles, adoram aparecer na mídia (Técnico da

EPAGRI).

Segundo um funcionário da EPAGRI, três razões indignaram o corpo técnico da

empresa: a primeira, porque ela não consultou os técnicos da EPAGRI para ver o que se

estava fazendo com relação à atividade; a APREMAVI simplesmente a denunciou como

sendo responsável por poluição das águas e pela proliferação dos borrachudos. Em segundo

lugar, porque ao fazer a denúncia ela generalizou o comportamento de todos os piscicultores,

intitulando-os de poluidores. E, na verdade, muitos deles manejavam a atividade de maneira

correta; ao fazer isso, não estavam poluindo o ambiente e acabaram sendo injustamente

considerados culpados, e a terceira porque quando se fez a denúncia, a piscicultura foi à única

atividade citada como estando ocupando APP's.

Alguns técnicos defendem que a EPAGRI deveria ter pedido uma retratação da

APREMAVI com relação ao que foi denunciado: "A APREMAVI não tinha provas para

aquilo de que ela acusou a empresa." Alguns técnicos também não gostam da maneira como

a APREMAVI atua - “marketing muito agressivo” - e não aceitam que a EPAGRI reveja suas

posições aceitando as solicitações da APREMAVI.

Page 81: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

80

Para os técnicos da EPAGRI, o problema do borrachudo é anterior ao crescimento

da piscicultura. A APREMAVI já havia tentado fazer alguma coisa para diminuir esse

problema, apelou para os meios de comunicação, denunciando o Frigorífico Pamplona, "pois

onde eles tem as suas granjas o problema do borrachudo realmente é bastante sério."

A partir da divulgação das recomendações do Grupo Multidisciplinar, a EPAGRI

desencadeou algumas ações. Todos os técnicos da equipe do Projeto Microbacias e os da

piscicultura receberam orientações com base nos documentos elaborados por aquele grupo,

além de outros documentos posteriores. As ações que mais se destacam são as seguintes:

• intensificação das pesquisas para avaliar a qualidade dos efluentes da piscicultura e

a carne do pescado;

• reformulação dos cursos profissionalizantes, incorporando as questões ambientais;

• intensificação dos trabalhos da assistência técnica junto às associações de

piscicultores visando conscientizá-los da necessidade de um planejamento adequado

de suas atividades.

Os cursos de profissionalização em piscicultura se destacam como um dos trabalhos

importantes da extensão e que os piscicultores reconhecem como bastante útil. Tais cursos

têm contribuído para capacitá-los nas técnicas mais modernas de piscicultura orgânica

sustentável.

Os técnicos da EPAGRI - sozinhos ou em parceria com os produtores ou outros

órgãos – começaram a promover diversos eventos para motivar os produtores a desenvolver a

piscicultura "economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente correta", ou ainda,

visando dar outros fins como: estabelecer estratégias de ação para correção de rumos da

atividade, avaliar a eficiência e os impactos da piscicultura sobre os recursos produtivos da

região, capacitar e treinar técnicos e líderes das associações de piscicultores em aspectos

básicos da questão ambiental e legislação pertinente e até mesmo oferecer cursos visando a

capacitar e treinar líderes das associações de piscicultores em técnicas de organização.

Outra mudança ocorrida após as denúncias foi que desde então os técnicos da

EPAGRI somente atendem/incentivam novos projetos de piscicultura que sejam

ambientalmente corretos. É considerado piscicultor somente aquela pessoa que tem condições

de controlar a entrada e saída de água de seu viveiro, bem como tenha feito o curso de

profissionalização da EPAGRI. Se não obedecer a esses pré-requisitos, a EPAGRI

desestimula a pessoa a cultivar peixes e não dá assistência técnica. Por isso muitos estão

Page 82: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

81

desistindo da atividade. Desse modo, a EPAGRI espera que futuramente só permaneçam

cultivando peixes, neste modelo, aqueles considerados profissionais.

... trabalhamos só com os piscicultores. Ter um reservatório de água com alguns

peixes dentro não caracteriza a pessoa como sendo um piscicultor. Assim como

uma pessoa ter 3 pés de laranja não é um fruticultor. Nossa opinião é que ele

largue mão da atividade. Só que nós não podemos proibir que ele continue com a

atividade, não podemos interferir, não podemos proibir práticas, só incentivar

aquelas que achamos corretas. Muitos estão desistindo da atividade, esse é o nosso

objetivo: ficar só com aqueles que produzem dentro de condições adequadas.

Queremos conseguir um diferencial de mercado, agregar valor para os produtores,

mas com parâmetros técnicos (Técnico da EPAGRI).

Para a EPAGRI a diversificação das atividades da propriedade rural é uma

alternativa para reverter o atual quadro de êxodo rural existente em Santa Catarina. Dentro

dessa visão ela está desenvolvendo o Projeto de Otimização da Tecnologia de Cultivo de

Peixes de Água Doce para o Aproveitamento de Subprodutos nas Pequenas Propriedades

Rurais, o qual vem a ser "fundamental para viabilizar a sustentabilidade ambiental,

econômica e social, permitindo o aproveitamento de áreas subutilizadas, definindo novas

alternativas ao pequeno produtor e contribuindo para a fixação de sua família no meio

rural". Além disso, este projeto também vem atender à crescente demanda mundial por

alimentos, produzidos sem comprometer a integridade dos ecossistemas. (EPAGRI, 1998).

Diante das denúncias, a EPAGRI transferiu um técnico especialista no assunto para

a região do Alto Vale do Itajaí exclusivamente para avaliar os reflexos da piscicultura

orgânica na qualidade da água. Até o momento, os resultados têm sido favoráveis à atividade

e por isso esse técnico a defende, afirmando que se o Projeto Microbacias quer conservar o

meio ambiente, a piscicultura orgânica é uma opção adequada.

Em parceria com a APREMAVI foi feito um vídeo sobre água e APP's, que servirá

para capacitar técnicos e produtores rurais estimulando-os a respeitar os recursos hídricos

como forma de melhorar a qualidade de vida (EPAGRI, 1998). Com as associações de

piscicultores também existe uma parceria no desenvolvimento de diversos programas.

A EPAGRI começou a promover seminários sobre normas técnicas e ambientais

para a construção de viveiros, principalmente voltados para secretários municipais de

Agricultura, técnicos da CIDASC e empresas particulares, que são os responsáveis pela

Page 83: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

82

construção dos mesmos, a fim de diminuir ou até mesmo acabar com a implantação de

viveiros fora da adequação da legislação ambiental.

(... ) a maior dificuldade que houve foi conciliar os interesses dos técnicos com os

da APREMAVI, porque no início havia uma posição radical dos dois lados. Os

técnicos então passaram a visitar a APREMAVI a fim de mostrar que eles estavam

com boa vontade. Mostrar que todos queriam fazer a coisa certa. Desse modo o

relacionamento entre as duas partes foi melhorando, "só que o papel deles, de fazer

alvoroço, continua." (Técnico da EPAGRI).

(...) após as denúncias, a empresa sempre buscou dialogar com a APREMAVI

sobre a questão. Sempre que o Projeto Microbacias se envolvia nessa questão, ela

era contatada para buscar em conjunto uma solução. A equipe técnica da

piscicultura às vezes não a convidava, até porque não cabia, visto que estava se

seguindo a proposta do Grupo Multidisciplinar (Técnicos da EPAGRI).

Na avaliação dos técnicos da EPAGRI, o que cabia à empresa executar ela o fez,

embora nem sempre tenha cumprido os prazos estabelecidos, muitas vezes em conseqüência

de atrasos nas ações de outros órgãos, das quais eles dependiam. Já outras ações não foram

implementadas antes por falta de recursos (como exemplo foi citado o monitoramento da

qualidade da água, que acabou sendo iniciado apenas a partir de fevereiro/99) ou, ainda,

porque alguns técnicos não aceitavam abrir mão de suas opiniões pessoais.

(....) a EPAGRI fez tudo o que era possível fazer para resolver o problema e

continuar com o sistema de produção de piscicultura integrada, se alguma coisa

não aconteceu como devia é porque alguns técnicos e produtores não aceitavam

abrir mão de suas opiniões pessoais (Técnico da EPAGRI)

Os técnicos da EPAGRI defendem a transparência, a seriedade e a objetividade com

que as organizações envolvidas diretamente com a questão - EPAGRI, APREMAVI, BIRD,

Associações de Produtores, Fatma - vêm trabalhando, porque somente assim acreditam que

será possível alcançar resultados práticos, aplicáveis e respeitados por todos.

O que se pôde perceber é que existem por parte dos extensionistas e pesquisadores

da EPAGRI, que atuam nesta área, uma preocupação com a conservação do meio ambiente,

sobretudo os recursos hídricos. Eles acreditam que existe uma demanda crescente por

alimentos saudáveis e de alto valor nutricional, e que por isso o pescado tem sido bastante

procurado pelos consumidores, o que estaria contribuindo para a grande expansão da

Page 84: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

83

aqüicultura em nível mundial e no Brasil (Tamassia et al., 1998). Também defendem a

adequação da piscicultura à legislação ambiental com base nos conceitos de desenvolvimento

sustentável e de conservação ambiental. Para tanto, estão desenvolvendo diversas ações.

Atualmente, o setor responsável pela piscicultura é um dos que têm maior

preocupação com as questões ambientais, e vem atuando neste sentido.

... os trabalhos da EPAGRI foram redirecionados a partir das recomendações do

relatório (referindo-se às recomendações feitas pelo Grupo Multidisciplinar).

Agora a questão do meio-ambiente é obrigatória quando se fala em piscicultura.

Inclusive para outras atividades da empresa a questão ambiental passou a ser

considerada (Técnico da EPAGRI).

Nos últimos anos, apesar de a prioridade dada aos aspectos ambientais, os técnicos

têm a consciência de que os aspectos econômicos também são cruciais para a sustentabilidade

da atividade.

A maior parte dos técnicos da EPAGRI, envolvidos com a atividade, avalia que,

apesar de as denúncias terem ocorrido de uma maneira não muito adequada - especialmente a

forma como elas foram feitas e como eles ficaram sabendo das mesmas, o resultado foi

bastante positivo, porque a EPAGRI pôde fazer pesquisas sobre a atividade e seus respectivos

impactos, o que permitiu que ela passasse a fomentá-la de uma maneira mais correta e em

harmonia com o meio-ambiente. Com tudo isso foi possível definir-se melhor o modelo de

cultivo de peixes. Hoje existem também os cursos de profissionalização dos agricultores, que

foram remodelados a fim de atender às questões ambientais. Contribuiu também para um

aperfeiçoamento dos técnicos da área, por colocar a atividade em evidência e melhorou a

organização dos produtores - porque viram que precisavam estar unidos para enfrentar o

problema.

A denúncia também foi útil para diferenciar a piscicultura da suinocultura, o que é

um piscicultor e o que é um suinocultor, que são atividades bem diferentes. Segundo um

técnico da EPAGRI "a piscicultura não tem nada a ver com a suinocultura. Ela poderia usar

outras matérias orgânicas como ração, mato, etc." A piscicultura orgânica, que utiliza dejetos

animais, deve fazê-lo dentro de normas e padrões técnicos adequados. Além disso, existe uma

diferença também entre açudes (que são represamentos de água) e viveiros (que são uma

estrutura com condições de manejo apropriadas para a piscicultura), que é o que a EPAGRI

Page 85: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

84

está divulgando para os piscicultores. Dentro desses viveiros ela recomenda uma determinada

quantidade de suínos para produzir uma quantidade também determinada de peixes.

Um técnico da EPAGRI, entrevistado, disse que sempre acreditou que "sem bater de

frente", com o tempo tudo se resolveria. Logo após as denúncias havia opiniões inflexíveis de

todos os lados: "A hora que a coisa bate de frente o pessoal se fecha. Por isso precisa passar

um tempo para sair do quente do momento."

A EPAGRI vem realizando estudos em parceria com diversas instituições que tratam

da avaliação do impacto ambiental de diferentes sistemas de produção de peixes de água doce,

desde a quantidade e qualidade de seus efluentes, até a avaliação bacteriológica da carne do

pescado produzido.

Mesmo com o resultado das pesquisas da EPAGRI feitas sobre a qualidade dos

efluentes da piscicultura, terem mostrados pontos bastante positivos, a APREMAVI continua

questionando por desconhecer a metodologia utilizada.

(...) a EPAGRI chegou a apresentar alguns resultados da pesquisa no início, que a

qualidade da água que entra no açude é bem pior do que a qualidade da água que

sai com seus efluentes, esse resultado deve ser uma piada, não podemos aceitar

(Representante APREMAVI).

Para a APREMAVI, faltou profissionalismo da EPAGRI sobre o assunto, poderia

ter-se chegado as mesmas conclusões com muitos menos desgaste entre os órgãos envolvidos.

Foi o Ministério Público que sugeriu que se levasse as questões das ameaças para a Polícia.

(...) nossa intenção jamais foi fazer barulho pela imprensa muito, menos ir a

Polícia tratar da questão das ameaças, nós queríamos apenas resolver o problema

da agressão ao meio ambiente (Representante APREMAVI).

Para a APREMAVI a EPAGRI deveria após a divulgação dos pareceres do grupo

multidisciplinar orientar os produtores para agirem de acordo com a legislação, necessitando

que os técnicos tivessem respaldo de seus superiores, Para APREMAVI o Governo do Estado

através da EPAGRIM ainda não assumiu esta orientação e continua desrespeitando a Lei e

construindo viveiros em áreas de Preservação Permanente.

(...) a grande dificuldade de cumprir a legislação federal quanto a área de

preservação permanente, é o formato geográfico das propriedades da nossa região

Page 86: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

85

que praticamente inviabiliza respeitar os trinta metros exigidos de preservação de

rios, córregos e nascentes, nossas propriedades são diferentes da região norte e

nordeste que não possuem problemas de extensão em suas propriedades (Técnico

da EPAGRI)

Mesmo com tantos conflitos, a APREMAVI considera positiva a iniciativa da

EPAGRI em promover seminários que orientem sobre a construção adequada de viveiros,

visto que as construções irregulares ainda persistem. Ela acredita que essa reorientação é o

melhor para todos, pois não tem custos e surte grandes resultados. Sugere que as medidas

preventivas – como, por exemplo, vídeos sobre educação ambiental, nos moldes do vídeo 'A

gota d'água' - não são tão caros, não trazem tanto desgaste político e o agricultor aceita.

Os piscicultores avaliam a atuação da EPAGRI como fundamental para que a

atividade tivesse continuidade, foi o parceiro que eles consideram mais importante, pois,

assumiu o problema através de seus técnicos, que gostam do que fazem e se envolveram na

busca de soluções. Sem a EPAGRI, eles não sabem se estariam no ponto onde estão

(Associação Regional de Piscicultores).

Segundo técnicos da FATMA a EPAGRI deu uma contribuição muito boa,

subsidiando-a com os elementos necessários para a tomada de decisões. Segundo uma técnica

entrevistada, naquele momento o que ainda estava pendente era o cadastro dos piscicultores

instalados; ela tinha dúvidas se a EPAGRI a possuía. Este cadastro é um requisito

fundamental para se deslanchar o processo de licenciamento.

A FATMA reconhece a preocupação da EPAGRI quanto aos dejetos e a qualidade

da carne e do peixe acreditando que ela esta desenvolvendo pesquisas neste sentido. A

EPAGRI também mostrou boa vontade, convidando a Fatma para falar sobre meio ambiente

em alguns eventos, mas segundo técnicos da Fatma, é necessário que estejam presentes em

todos os eventos de profissionalização dos piscicultores e dos treinamentos dos extensionistas

para falar sobre as questões ambientas. Os Técnicos da FATMA criticam a EPAGRI alegando

que a mesma fala sobre meio ambiente aos produtores, mas quando surgem problemas ela não

assume. A FATMA solicita agilidade da EPAGRI no cadastramento dos empreendimentos já

existentes, pois ai concentra-se os maiores problemas, haja vista que foram construídos na

grande maioria desrespeitando as áreas de preservação permanente. (Técnico da FATMA).

(...) teremos grandes dificuldades em equacionar os problemas quanto aos viveiros

construídos fora das normas, sabemos que é um problema sério, temos que

Page 87: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

86

encontrar uma solução viável e impedir que novos empreendimentos sejam

realizados fora das normas exigidas (Técnico da FATMA).

5.2.2 BANCO MUNDIAL E O MICROBACIAS

O Banco Mundial8 é um organismo internacional multilateral, isto é, que tem como

donos os governos de muitos países. O Banco é parte do sistema das Nações Unidas, e busca

ajudar os países a reduzir a pobreza e a promover o desenvolvimento social e econômico.

Embora seja tradicionalmente chamado de “banco”, a instituição pode ser vista como uma

cooperativa que busca apoiar os seus membros.

O Banco Mundial ajuda governos em países em desenvolvimento a reduzir a

pobreza por meio de empréstimos e experiência técnica para projetos em diversas áreas –

como a construção de escolas, hospitais, estradas e o desenvolvimento de projetos que ajudam

a melhorar a qualidade de vida das pessoas.

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional foram criados conjuntamente

em 1944 para ajudar a sustentar a ordem econômica e financeira mundial. Os organismos são

conhecidos como as Instituições de Bretton Woods, o vilarejo nos EUA onde aconteceu a

convenção de 44 países (inclusive o Brasil) que os criou. A diferença fundamental é que o

Banco Mundial é uma instituição que promove o desenvolvimento econômico e social e a

redução da pobreza, enquanto o Fundo Monetário Internacional busca manter um sistema

ordenado de pagamentos entre as nações. Os projetos financiados pelo Banco normalmente

têm objetivos claros e bem definidos em áreas como infra-estrutura, educação e meio

ambiente. Além dos recursos financeiros, o Banco traz também o seu conhecimento

internacional para apoiar os países. Os recursos do Fundo são usados em situações de

desequilíbrio da balança de pagamentos e para apoiar programas de ajuste. O Fundo

Monetário Internacional oferece apoio financeiro para qualquer um de seus países-membros

quando necessário. Já o estatuto do Banco Mundial determina que apenas os países em

desenvolvimento têm acesso aos seus serviços.

Os países-membros do Banco Mundial elegem um representante e um adjunto para a

Junta de Governadores, normalmente um ministro de estado, para um mandato de cinco anos.

A Junta de Governadores é o principal órgão do Banco e se reúne uma vez por ano nas

Reuniões Anuais do Banco Mundial, para elaborar as políticas gerais da instituição, tratar de

8 Fonte: http//wwwbancomundial.org.br

Page 88: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

87

questões dos membros e outros assuntos não delegados aos Diretores Executivos. Uma

Diretoria de 24 Diretores Executivos acompanha o trabalho do Banco no dia-a-dia. Eles se

reúnem duas vezes por semana em Washington para aprovar projetos e revisar as operações e

as políticas do Banco. A maior parte dos diretores representa diversos países. Os governos

podem eleger diretores a cada dois anos. O Estatuto Constitutivo do Banco determina que

cinco desses diretores representarão os países com maior número de ações no Banco.

Atualmente, esses países são: Alemanha, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido. Os

outros 19 diretores executivos representam grupos de países; cada qual é eleito por um país ou

um grupo de países a cada dois anos. É costume que as regras da eleição assegurem que um

equilíbrio geográfico amplo seja mantido na Diretoria. Os diretores executivos e o Presidente

do Banco Mundial – que também serve como Presidente da Diretoria Executiva – são

responsáveis pela condução das atividades gerais do Banco e por executar suas funções com

os poderes delegados pela Junta de Governadores.

O Banco Mundial9 é parceiro do Brasil, há mais de 50 anos, apoiando o

desenvolvimento social e econômico, com vistas a promover a redução da pobreza e o

crescimento sustentável do País. Com uma perspectiva de longo prazo, o Banco Mundial tem

estado presente através de programas de gestão econômica, investimento no capital humano,

desenvolvimento de áreas urbanas e rurais, construção de infra-estrutura e preservação dos

recursos naturais.

Essa assistência implica investir nas pessoas (através de saúde, educação, melhores

serviços públicos e transferências de recursos), promover a inclusão social (mediante o

estímulo à participação e ao aprimoramento dos mecanismos de direcionamento dos

programas), a administração dos recursos naturais, o aumento da produtividade e a

estabilização da economia, em Santa Catarina, destaque para o Projeto Microbacias10

gerenciado pela EPAGRI. Com investimentos na ordem de U$ 107,5 milhões, sendo 59%

financiado pelo BIRD e 41% de contrapartida do Estado de Santa Catarina, no período de 06

anos, ou seja de 2002 a 2008.

O Projeto é desenvolvido em todo Estado de Santa Catarina, devendo

atingir 879 microbacias hidrográficas, o que representa 52% das existentes, incluindo a região

do Alto Vale do Itajaí.

9 Fonte: http://bancomundial.org.br 10 Fonte: http://microbacias.sc.gov.br

Page 89: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

88

O Microbacias atende prioritariamente, os pequenos agricultores familiares com

renda de até dois salários mínimos por mês, empregados rurais e populações indígenas,

totalizando 105 mil famílias residentes nas microbacias.

O Projeto Microbacias possui como principal objetivo contribuir para a melhoria da

qualidade de vida da população rural de Santa Catarina, através da preservação, recuperação e

conservação dos recursos naturais, do aumento da renda, das condições de moradia e

estimulando uma maior organização e participação no planejamento, gestão e execução das

ações, implantando Políticas Públicas para o setor agropecuário, que beneficiaram a

implantação e desenvolvimento do MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada no

Vale do Itajaí – SC, destacando-se os seguintes programas e ações:

a) - políticas de manejo e conservação dos recursos naturais como:

- implantação de estrutura de gestão em bacias hidrográficas;

- implantação de corredores ecológicos;

- implantação de sistemas de coleta de dejetos animais;

- formas de conservação do solo e água;

- implantação de mata ciliar.

b) - implantação do Programa de Educação Ambiental em escolas rurais, atingindo

agricultores, professores e alunos;

c) - implantação de políticas de agregação de valores aos produtos agropecuários e

melhoria do sistema de produção;

d) - implantação e aquisição de insumos e serviços;

e) - implantação de sistemas de captação, armazenamento e distribuição de água;

f) - reforma de moradias e destinação adequada de efluentes domésticos.

O ponto mais marcante das ações do Projeto Microbacias em relação à Piscicultura

Integrada (MAVIPI) no Alto Vale do Itajaí foi á constituição de um grupo multidisciplinar,

em setembro de 1997, para avaliação da piscicultura na região do Alto Vale do Itajaí. Este

grupo - formado por técnicos de diversas instituições - visitou propriedades na região,

entrevistou piscicultores, industriais, ONG’s ambientalistas, pesquisadores, técnicos e outros.

Suas principais constatações e recomendações estão no Relatório de Ajuda à Memória da

Missão do Banco Mundial – de setembro de 1997 - o qual é a base do processo de

redirecionamento que a piscicultura de água doce vem passando nos últimos anos no Estado.

O trabalho desenvolvido pelo grupo também deu início a muitas ações conjuntas entre os

diferentes atores do processo com a entidade denunciante (EPAGRI, 1998).

Page 90: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

89

O Banco Mundial foi e está sendo fundamental na resolução desse problema.

Trabalhou de forma conciliadora, incentivando o diálogo e a formação de parcerias entre

todos atores envolvidos para por fim a polêmica e buscar soluções.

Através do Banco Mundial foi possível formar um grupo multidisciplinar entre os

atores envolvidos, diminuindo desconfianças e agressões, e iniciando um trabalho conjunto

para atender as recomendações do Banco Mundial após várias visitas na região do Alto Vale

do Itajaí e verificação in loco do problema (Anexo 5).

O projeto de Microbacias entrou como co-participante, o projeto é financiado pelo

Banco Mundial e tem como prioridade a melhoria das propriedades rurais e a busca de renda

para o agricultor, e esses dois programas “Microbacias e Piscicultura Integrada” são

executados pelos técnicos da EPAGRI, ficando difícil ou quase impossível separá-los.

(...) nós do Microbacias não somos os responsáveis pelo sistema de produção

integrado peixe-suíno, mas se pudermos ajudar a resolver o problema estamos a

disposição, pois o objetivo é o mesmo, produzir sem agredir (Técnico

Microbacias).

5.2.3 PRONAF – PROGRAMA NACIONAL DE APOIO A AGRICULTURA FAMILIAR

O PRONAF - Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar11, com o objetivo

de buscar o desenvolvimento rural a partir do fortalecimento da agricultura familiar como

segmento gerador de postos de trabalho e renda. O Programa é executado de forma

descentralizada e tem como protagonistas os agricultores familiares e suas organizações.

Segundo o Ministério da Agricultura a Agricultura Familiar não significa pobreza. É

uma forma de produção em que o núcleo de decisões, gerência, trabalho e capital é controlado

pela família. É o sistema predominante no mundo inteiro. No Brasil, são cerca de 4,5 milhões

de estabelecimentos (80% do número de estabelecimentos agrícolas), dos quais 50% no

Nordeste. O segmento detém 20% das terras e responde por 30% da produção nacional. Em

alguns produtos básicos da dieta do brasileiro - como o feijão, arroz, milho, hortaliças,

mandioca e pequenos animais - chega a ser responsável por 60% da produção. Em geral, são

agricultores com baixo nível de escolaridade que diversificam os produtos cultivados para

diluir custos, aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de oferta ambiental e

11 Fonte:http://pronaf.gov.br

Page 91: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

90

disponibilidade de mão-de-obra. Por ser diversificada, a agricultura familiar traz benefícios

agro-sócioeconômicos e ambientais.Este segmento tem um papel crucial na economia das

pequenas cidades, pois, 4.928 municípios têm menos de 50 mil habitantes. Destes, mais de

quatro mil têm menos de 20 mil habitantes. Estes produtores e seus familiares são

responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas pequenas

cidades. A melhoria de renda deste segmento, por meio de sua maior inserção no mercado,

tem impacto importante no interior do país e, por conseqüência, nas grandes metrópoles.Para

possibilitar esse incremento na renda, é necessário que agricultores que trabalham sob regime

familiar tenham acesso a mais tecnologia. E precisam modernizar seus sistemas gerenciais e

organizativos, verticalizar a produção, descobrir nichos de mercado e desenvolver atividades

não-agrícolas, para complementação de renda. Por isso, a preocupação da pesquisa em

apresentar alternativas tecnológicas, gerenciais e organizativas, que possam ser utilizadas

pelos diferentes estratos da agricultura familiar, nas diversas regiões do país. Entre os

benefícios, está a inserção da produção das famílias em mercados de importantes centros

consumidores, garantindo sua viabilidade econômica e social. A agricultura familiar é uma

forma de produção onde predomina a interação entre gestão e trabalho; são os agricultores

familiares que dirigem o processo produtivo, dando ênfase na diversificação e utilizando o

trabalho familiar, eventualmente complementado pelo trabalho assalariado.

São parceiros no PRONAF:

a)- Município: a Prefeitura, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural

Sustentável - CMDRS, os agricultores familiares, as organizações de agricultores

familiares, e outros órgãos e entidades municipais, públicas ou privadas.

b)- Estado: o Governo Estadual, o Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural

Sustentável - CEDRS, a Secretaria Executiva Estadual do Pronaf, as

Superintendências Regionais do Incra, e outros órgãos e entidades estaduais públicas

ou privadas.

c)- União: o Governo Federal, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural

Sustentável - CNDRS, a Secretaria da Agricultura Familiar, e outros órgãos e

entidades públicas ou privadas.

O objetivo do PRONAF é construir um padrão de desenvolvimento sustentável para

os agricultores familiares e suas famílias, visando o aumento e a diversificação da produção,

com o conseqüente crescimento dos níveis de emprego e renda, proporcionando bem-estar

social e qualidade de vida.

Page 92: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

91

O PRONAF desenvolve várias Atividades para a Agricultura Familiar, como:

a)- Atuar em função de demandas estabelecidas pelos agricultores familiares e suas

organizações;

b)- Estabelecer compromissos negociados, como forma de obter apoio e fomentar

processos autenticamente participativos e descentralizados;

c)- Viabilizar a produção, a industrialização e a comercialização de produtos

gerados na agricultura familiar, mediante o acesso ao crédito, pesquisas, novas

tecnologias, assistência técnica e extensão rural, profissionalização, dentre outros

fatores;

d)- Possibilitar a implantação, ampliação, modernização e racionalização da infra-

estrutura produtiva e social no meio rural;

e)- Agilizar os processos de trabalho, para que os benefícios do Programa sejam

rapidamente apropriados pelos agricultores familiares e suas organizações;

f)- Buscar a participação dos agricultores familiares e suas organizações em

colegiados, assegurando-lhes o protagonismo nas iniciativas do Programa;

g)- Promover parcerias entre os poderes públicos e o setor privado.para o

desenvolvimento das ações previstas;

h)- Estimular e potencializar experiências de desenvolvimento nas ações de

educação, formação, pesquisa, produção, entre outras, que estão sendo executadas

pelos agricultores familiares e suas organizações;

i)- Garantir aos agricultores familiares a conquista da cidadania.

No caso MAVIPI - Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, o PRONAF tem

papel fundamental através de Políticas de créditos, permitindo o financiamento com juros

subsidiados para a implantação e desenvolvimento desta cadeia produtiva, bem como para

implantação, ampliação, modernização e racionalização da infra-estrutura produtiva e social

no meio rural.

5.2.4 POLÍCIA AMBIENTAL

A Polícia Ambiental no caso MAVIPI – Modelo Alto vale de Piscicultura Integrada,

desenvolveu ações no sentido de conscientizar e orientar os piscicultores, não partindo para

Page 93: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

92

aplicação de penalidades com multas. O viveiros que fossem construídos em áreas de

preservação permanente (APP’s), não conseguiram licenciamento ambiental para funcionar, e

daí sim, se o piscicultor persistisse na prática sofreria as penalidades da Lei.

(...) se a polícia ambiental tivesse metido a caneta em nós, teria acabado com a

atividade na região, graças a Deus, usaram o bom senso e a conscientização

(Piscicultor 01).

(...) ainda bem que a Polícia Ambiental não foi na conversa da APREMAVI, sentiu

nossa preocupação e aflição, graças a Deus não nos trataram como bandidos,

viram que muitos de nós não tínhamos condições de fazer tudo o que a Lei pedia,

nossas propriedades são pequenas e quase todas são cortadas por valos ou riachos,

como atender no pé da letra a exigência de respeitar áreas de preservação

permanente? (Piscicultor01).

5.2.5 PREFEITURAS MUNICIPAIS E SECRETARIAS MUNICIPAIS DE

AGRICULTURA

Como os municípios que compõe o Alto Vale do Itajaí, na sua grande maioria são de

pequeno e médio porte, tendo como base econômica o setor agropecuário, as Prefeituras

Municipais buscam através de suas Secretarias Municipais de agricultura desenvolver

Políticas Públicas capazes de melhorar a qualidade de vida e aumentar a produção no campo,

com os seguintes programas e atividades:

a)- auxílio para a construção de depósitos, galpões, estufas, silos e poços artesianos;

b)- construção de açudes/viveiros;

c)- acesso às propriedades;

d)- assistência técnica especializada;

e)- serviços de veterinária e inspeção em geral;

f)- organização comunitária.

No caso MAVIPI – Modelo Alto Vale do Itajaí, pós as denúncias da APREMAVI,

as Prefeituras Municipais da região do Alto Vale começaram a rever suas ações, pois corriam

o risco de serem penalizadas, e os políticos até cassados. As Prefeituras Municipais agiam

muitas vezes com interesse Político Partidário, em especial na construção de açudes sem

Page 94: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

93

qualquer orientação técnica desrespeitando a Legislação Ambiental. O grande interesse era

deixar os agricultores felizes e comprometidos com o voto da família. Com as denúncias da

APREMAVI, as Prefeituras Municipais sentiram-se obrigados a mudar a forma de ação, onde

as secretarias municipais de Agricultura passaram a participar dos diversos eventos sobre o

assunto, bem como promover junto a seus produtores palestras sobre a necessidade do

respeito à questão ambiental. Houve um grande amadurecimento das Prefeituras que passaram

a executar somente programas que não agredissem o meio ambiente. (Técnico da EPAGRI).

5.2.6 – FATMA – FUNDAÇÃO DE AMPARO AO MEIO AMBIENTE

A FATMA é o órgão ambiental da esfera Estadual do Governo de Santa Catarina.

Atua com uma sede administrativa, localizada em Florianópolis, e oito coordenadorias

regionais, e um Posto Avançado de controle Ambiental (PACAM), no Estado. Criada em

1975, a Fatma tem como missão maior garantir a preservação dos recursos naturais do Estado,

buscado através de diversas Políticas Públicas como:

a)- da gestão de oito Unidades de Conservação Estaduais, onde a natureza original é

preservada e pesquisada;

b)- da Fiscalização, que busca evitar que recursos naturais como florestas, animais

selvagens, rios e todo tipo de mananciais de água, dunas, areia e argila, entre outros, sejam

degradados ou explorados irracionalmente até a extinção;

c)- do Licenciamento Ambiental, que garante a conformidade de obras - como

rodovias, usinas hidrelétricas, redes de transmissão de energia, gasodutos e oleodutos,

estações de tratamento de água, esgoto e efluentes industriais, condomínios, loteamentos e

empreendimentos turístico-imobiliários - com as legislações ambientais federal, estadual e

municipal;

d)- do Programa de Prevenção e Atendimento a Acidentes com Cargas Perigosas,

que em conjunto com a Defesa Civil de Santa Catarina fiscaliza o transporte de produtos

tóxicos pelo estado, atende com equipe técnica especializada os acidentes com este tipo de

carga, evitando danos maiores ao meio ambiente e às comunidades envolvidas, e ainda

habilita os motoristas destes veículos a agir com segurança no transporte e nos acidentes;

e)- do Geoprocessamento, que realizando o levantamento e processamento de

informações sobre o território catarinense (tipos de rocha, solos, relevo, recursos hídricos e

Page 95: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

94

cobertura vegetal) obtidas através de imagens de satélite, permite conhecer suas

características e monitorar o meio ambiente. Isso inclui o acompanhamento de invasões de

áreas de preservação, desmatamentos e derramamentos de óleo no mar;

f)- de Estudos e Pesquisas Ambientais, em que biólogos, geólogos, geógrafos e

outros especialistas desenvolvem pesquisas sobre as condições originais e atuais da flora e

fauna catarinense, tornando-as de conhecimento público através de publicações técnicas

distribuídas a cientistas da área, instituições ambientais de todo país, bibliotecas, prefeituras,

escolas e ONG’s (Organizações Não-Governamentais);

g)- da pesquisa da balneabilidade, um monitoramento da qualidade das águas do mar

para o banho humano que a FATMA realiza desde 1976 em todo litoral catarinense,

semanalmente durante a temporada de Verão e mensalmente durante o resto do ano. Seguindo

critérios da Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), os técnicos

avaliam os pontos que estão poluídos e, portanto, impróprios para o banho, e a Fatma

disponibiliza boletins com os resultados à imprensa, prefeituras do litoral, população e

turistas.

h) programa de Proteção e Recuperação Ambiental por Bacias Hidrográficas, no

início da década de 80, a FATMA realizou um extenso levantamento das principais fontes

poluidoras do Estado e concluiu que a poluição hídrica era o ponto mais grave a ser

combatido. Para reverter o quadro, buscou as experiências seculares e vitoriosas da França e

Alemanha na área, trazendo para Santa Catarina o conceito de gestão por bacias hidrográficas.

Entre 1987 e 1995, foram lançados 5 (cinco) Programas de Proteção e Recuperação

Ambiental envolvendo as Bacias Hidrográficas:

• do Rio do Peixe (região Meio-Oeste);

• da Baía da Babitonga (Norte);

• do Rio Itajaí-Açú (Vale do Itajaí);

• do Rio Itapocu (Norte);

• do Rio Tubarão e Complexo Lagunar (Sul);

Em média, eles atingiram ou estão perto da média estabelecida pela FATMA, de

redução de pelo menos 80% (oitenta por cento) da carga poluidora lançada nos rios sem

tratamento. Nestes dez anos, as cerca de 200 empresas que participam dos programas

investiram mais de US$ 200 milhões para implantar sistemas e equipamentos de controle da

poluição, dentro deste que é o mais moderno conceito de gestão ambiental - ao mesmo tempo

global, integrado, regionalizado e participativo.

Page 96: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

95

No caso MAVIPI - Modelo Alto vale do Itajaí, a FATMA mostrou resistência inicial

para buscar a solução dos problemas, se considerou excluída do processo por não ter

conhecimento prévio das denúncias da APREMAVI e por não ter sido convidada a participar

do grupo multidisciplinar, foram apenas lembrados quando todas as visitas e relatórios

estavam prontos. O convite por parte da EPAGRI para a FATMA participar de reuniões de

análises dos relatórios criou desconforto, mas acabaram participando.

Segundo técnicos da Fatma o relatório da missão do Banco Mundial trazia algumas

ações sob a responsabilidade da Fatma, em especial no que tange a liberação do licenciamento

ambiental da piscicultura, a FATMA se recusou a agir antes da manifestação do IBAMA –

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente.

O problema foi levado ao conhecimento do CONAMA – Conselho Nacional do

Meio Ambiente, resultando na reformulação da Portaria Intersetorial 01/92 que trata das

atividades consideradas potencialmente causadora da degradação ambiental através Portaria

Intersetorial 01/99 publicada no Diário Oficial de Santa Catarina nº. 16.184 – pg. 3, de

11/06/1999, onde foi incluído um item específico para a piscicultura de água doce permitindo

que a FATMA firmasse convênio com municípios e entidades para adequada aplicação dos

processos de licenciamento ambiental para prática da piscicultura de água doce.

A partir deste momento a FATMA intermediou negociações junto ao Ministério

Público para ajuste de condutas e medidas compensatórias dos piscicultores que possuíam

viveiros instalados em áreas de preservação permanente, e não seria mais licenciado nenhum

empreendimento que não estivesse dentro das normas necessárias para obter licenciamento

ambiental.

5.2.7 13ª SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL – SEDE –

ITUPORANGA

As Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional criadas com a Reforma

Administrativa do Governo do Estado de Santa Catarina através da Lei Estadual 284/2003,

tem como objetivo promover a transformação da realidade para a melhoria da qualidade de

vida e bem estar social da população numa dada região ou território, bem como a conservação

do meio ambiente e através da participação ativa, organizada e democrática da sociedade. É

um processo articulado, que promove uma adequação do desenvolvimento econômico com o

social, com base na solidariedade e sustentabilidade para as atuais e futuras gerações.

Page 97: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

96

Para que o modelo de desenvolvimento, voltado para que as oportunidades e os

benefícios do desenvolvimento econômico, social e cultural possam ser compartilhados por

todos os segmentos sociais, devemos respeitar as diversidades sócio-culturais e disponibilizar,

democraticamente, o acesso aos serviços públicos oferecidos a toda a população, com saúde,

educação, moradias, lazer entre outros.

As Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional dentro do princípio da

Reforma Administrativa tem como missão maior desenvolver e coordenar Políticas Públicas

com programas e atividades voltadas para:

• A melhoria dos recursos humanos;

• A organização autônoma, democrática e participativa da sociedade;

• A gestão social do bem comum, com base técnico-profissional, ética e política

qualificadas;

• O empreendedorismo, com responsabilidade social e sustentabilidade ambiental;

• A capacidade e na qualidade de articulação entre os atores sociais, públicos e

privados;

• A integração com o Governo e as Secretarias Centrais;

• O planejamento democrático, continuado e participativo;

• A criação de projetos de desenvolvimento;

• A articulação e integração regional e internacional;

• A cooperação e fortalecimento de parcerias público-privadas.

No Caso MAVIPI – Modelo Alto Vale do Itajaí de Piscicultura Integrada, a

Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional, com sede em Ituporanga – SC, buscando

caminhos para o desenvolvimento sustentável da região com alternativas de renda para o

pequeno e médio produtor rural, contratou em 2005 o SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio

as Micro e Pequenas Empresas, para executar o “Programa de Competitividade Setorial –

Piscicultura”, que compreendia a execução das seguintes atividades:

Módulo I: Aplicação de indicadores de desempenho empresarial no início e final do

programa.

Módulo II: Criação de normas para estabelecer os parâmetros da qualidade e

consultoria para o sistema de gestão da informação – 500h.

Módulo III: Desenvolvimento de novos produtos da piscicultura – 2.000h.

Módulo IV: Consultoria em Melhoria de Processos e Produtos da Piscicultura –

10.000h.

Page 98: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

97

Módulo V: Capacitação em gestão do agronegócio (finanças, contabilidade,

administração, marketing) – 2.000h.

Módulo VI: Capacitação em tecnologia de produção – 2.000h.

Módulo VII: Estudo de mercado, logística e viabilidade dos negócios – 2.500h.

(... ) esse programa vai profissionalizar o setor. Os piscicultores serão preparados

para produzirem sem medo, com segurança e com perspectivas de futuro

(SCHAPPO 2007, Técnico EPAGRI).

(...) os cursos do SEBRAE estão me fazendo mudar a forma de fazer as coisas, é

melhor fazer certo para não se incomodar depois (Piscicultor02).

Todos os atores tiveram papel importante para o desenvolvimento do programa

MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, foi a soma de esforços que permitiu o

crescimento do setor.

A EPAGRI apresentou um rol de atividades e ações que trouxe tranqüilidade aos

piscicultores em especial na conquista das liberações do licenciamento ambiental.

Os piscicultores tomaram consciência da necessidade de cada vez mais organizar a

produção, sendo muito facilitado pela organização dos mesmos em associações.

Page 99: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

98

CAPÍTULO VI – PERCEPÇÃO DOS PISCICULTORES E TÉCNICO S

Neste capítulo analiso o resultado da pesquisa de campo realizada entre os

piscicultores que praticam o MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, de um

total de 204 propriedades rurais, a pesquisa foi aplicada para 20 produtores, correspondendo a

10% da cadeia produtiva, 5 Técnicos da EPAGRI correspondendo a 100%, 1 Técnico da

FATMA correspondendo a 50%, 1 Técnico da SDR/Microbacias correspondendo a 100%, 2

consultores do SEBRAE correspondendo a 100% e 2 coordenadores do programa (Técnicos

da Epagri) correspondendo a 100%.

6.1 PERFIL DOS PISCICULTORES ENTREVISTADOS/PROPRIEDADES

O setor agropecuário catarinense é composto na sua grande maioria por propriedades

de pequeno e médio porte e com a utilização de mão de obra familiar, conforme podemos

comprovar nos quadros 4, 5 e 6.

Quadro 4 – Características das Propriedades

Pequena – até 20

hectares

Média – até 30

hectares

Grande – acima de

30 hectares Total

6 12 2 20

30% 60% 10% 100%

O quadro Nº. 4 nos apresenta as dimensões físicas das propriedades utilizadas na

prática da piscicultura integrada, modelo – MAVIPI.

Considerando propriedades de pequeno porte às que possuem até 20 hectares de

extensão, representam 30% do total das propriedades que praticam o MAVIPI, as

propriedades de médio porte considerando até 30 hectares, temos 60% das propriedades que

praticam o MAVIPI, e apenas 10% de propriedades de grande porte, ou seja acima de 30

hectares de extensão.

(...) as propriedades rurais em nossa região possuem estas características, não

importando a atividade desenvolvida, é marca em nosso estado as propriedades

rurais de pequeno e médio porte até 25 hectares (Técnico EPAGRI).

Page 100: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

99

Quadro 5 – Mão de Obra Utilizada

Familiar Contratado Família/Contratada Total

16 04 - 20

80% 20% 100%

O quadro Nº. 5 caracteriza o tipo de mão-de-obra utilizada na prática da piscicultura

integrada – MAVIPI.

Em 80% das propriedades a mão-de-obra é totalmente familiar, constituindo em

média 04 (quatro) pessoas da família.

Em apenas 20% das propriedades é utilizada mão-de-obra contratada, pelo

desinteresse dos filhos pela atividade.

(...) meus filhos foram pra cidade estudar, não querem sofrer como o pai, não

querem ficar na roça (Piscicultor03).

.(.. ) hoje é mais fácil pagar uma faculdade pros filhos que tomar nossas

propriedades produtivas sem garantia de retorno (Piscicultor03).

(...) graças a Deus meu filho estudou e ficou comigo, essas coisas modernas tem

que estudar pra sobreviver no campo. (Piscicultor03).

Figura 9 – Mão de obra familiar utilizada no MAVIPI

Page 101: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

100

Quadro 6 – Produção principal na propriedade

Piscicultura

Integrada Cebola Fumo Suíno Outros Total

10 04 04 01 01 20

50% 20% 20% 5% 5% 100%

O quadro Nº. 6 nos apresenta as características da produção nas propriedades.

Entre os entrevistados 50% possuem na piscicultura integrada – MAVIPI a principal

fonte de renda da propriedade, é seguido pela cebola e o fumo com 20% cada, 10% tem a

suinocultura como renda principal, e 10% das propriedades praticam como fonte principal

outros produtos como leite, feijão, milho, verduras e etc.

6.2 PERCEPÇÃO DOS PISCICULTORES

O MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada transformou-se em real

oportunidade de renda e aproveitamento das propriedades para os produtores rurais da região

cujas as principais características, vantagens e desvantagens deste sistema produtivo,

podemos analisar de acordo com a visão dos piscicultores e dos técnicos envolvidos no

programa de acordo com as características e constatações a seguir, nos quadros 7 à 12.

Quadro 7 –Como iniciou a Atividade de Piscicultura Integrada

Orientação técnicos

EPAGRI

Conheceu em outra

propriedade

Leu a respeito Total

12 06 02 20

60% 30% 10% 100%

O quadro Nº. 7 dá um parâmetro de como os piscicultores conheceram a MAVIPI

Modelo do Alto Vale do Itajaí de Piscicultura Integrada, com grande destaque para orientação

dos técnicos da EPAGRI, que atingem 60% dos entrevistados, enquanto 30% dos piscicultores

conheceram a atividade em outra propriedade, gostaram e começaram a praticar, 20% dos

piscicultores passaram a praticar a atividade após leitura sobre o sistema, ou por sugestão de

Page 102: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

101

amigos, ou por falta de opção de atividade mais lucrativa, ou forma de aproveitar a

propriedade.

Quadro 8 – Porque iniciou a Piscicultura Integrada na Propriedade

Melhor Aproveitamento

de Propriedade

Alternativa

de Renda

Renda

principal

Outros Total

12 04 02 02 20

60% 20% 10% 10% 100%

No quadro Nº. 8 temos a razão pela qual foi iniciada a prática do MAVIPI – modelo

Alto Vale de Piscicultura Integrada nas propriedades rurais.

Para 60% dos entrevistados esta atividade favorece um melhor aproveitamento das

propriedades que apresentam características propícias para a Piscicultura Integrada.

(... )o nosso grande problema as vezes está na lei ambiental, ela exige 30 metros de

APPs, se fosse do rio tudo bem, mas exige de todo valinho que passe na

propriedade, por isso as vezes temos que passar a perna neles (piscicultor04).

Para 20% dos entrevistados a piscicultura integrada se apresenta como uma excelente

fonte de renda alternativa.

(...) é uma atividade boa de se fazer, da um bom dinheirinho e com lazer pra

família e os amigos que gostam de pescar e comer um peixe da hora

(piscicultor05) .

Para 10% dos entrevistados a piscicultura integrada representa a renda principal da

propriedade.

(...) hoje na roça tudo ta muito difícil, já plantei fumo, cebola, feijão e só colhi

dívidas, agora com a criação dos peixes pago minhas dívidas e sobra um dinheirinho,

e o serviço é menos judiado pra família (piscicultor06)

Para 10% dos entrevistados a piscicultura integrada representa uma forma de ganhar

dinheiro através de esporte e do lazer, ou caminho para a qualidade de vida da família,

valorização da propriedade.

Page 103: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

102

Quadro 9 – Principais Dificuldades para Prática da Piscicultura Integrada – MAVIPI

Financiamentos Licença Ambiental Alto custo produção Outros Total

08 06 04 02 20

40% 30% 20% 10% 100%

No quadro Nº. 9, apresentamos as principais dificuldades encontradas pelos

produtores para prática da piscicultura integrada.

Para 40% dos entrevistados o maior problema consiste em conseguir financiamentos

para a produção.

(... ) existe tanta propaganda na televisão do PRONAF da facilidade de dinheiro

para agricultura e quando a gente precisa é um inferno, desanimador

(Piscicultor07).

(...) é difícil a gente conseguir dinheiro pra financiar a produção e muitas vezes

quando se consegue não financia tudo que precisa, se o governo quer ajudar a

gente tem que financiar o tanto que precisa (Piscicultor07).

(...) a falta de acesso fácil de financiamentos é realmente um grande entrave para a

atividade, muitas vezes o valor financiado não cobre todas as etapas de

implantação que o MAVIPI – Modelo Alto Vale do Itajaí de Piscicultura Integrada

exige para se adequar a legislação em especial a ambiental (Técnico EPAGRI).

Para 30% dos entrevistados o maior problema está no “Licenciamento Ambiental”, é

muito exigente em especial na preservação as APP’s (áreas de preservação permanente).

(...) a legislação ambiental é uma questão federal, isso nos traz grandes problemas

para implantar o MAVIPI diante da realidade de nossas propriedades de pequeno e

médio porte, geralmente cortadas por pequenos córregos ou riachos, inviabiliza

muitos investimentos (Técnico EPAGRI).

(...) pra mim conseguir a licença ambiental para construir meus viveiros tive que

acabar com uma linda nascente de água e aterrar um valo na minha propriedade

antes da visita dos técnicos da Fatma, isso é ridículo (Piscicultor08).

Page 104: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

103

Para 20% dos entrevistados o alto custo de produção e a baixa lucratividade são os

principais gargalos para a produção, enquanto 10% dos entrevistados alegam outros motivos,

entre eles a dificuldade de comercialização e a falta de organização dos produtores.

Figura 10 – Construção de viveiros respeitando as APP’s (dificuldades pelas características

das propriedades)

Quadro 10 – Vantagens e facilidades para prática da Piscicultura Integrada – MAVIPI

Assistência

Técnica

Aproveitamento

propriedade Outros

Facilidade

comercialização Total

08 07 03 02 20

40% 35% 15% 10% 100%

No quadro Nº. 10 estão destacadas as principais vantagens e facilidades para prática

do MAVIPI.

Para 40% dos entrevistados a maior facilidade da atividade da piscicultura integrada

(MAVIPI) está na assistência técnica, em especial através dos técnicos da EPAGRI.

Page 105: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

104

(... ) o Schappo (técnico da EPAGRI) não sei se é um técnico ou um grande amigo

(Piscicultor09).

(...) os técnicos da EPAGRI estão sempre junto com a gente, eles se preocupam

com nossa produção, fazem bastante curso para melhorar nosso trabalho

(Piscicultor10).

(...) a EPAGRI está de parabéns, ela está mesmo preocupada em melhorar nosso

trabalho e a nossa vida (Piscicultor10).

Para 35% dos entrevistados a maior facilidade da prática do MAVIPI está no

aproveitamento da propriedade.

(...) nem sempre nossas terras dão para plantar, mais fica fácil construir viveiros e

criar peixes (Piscicultor11).

(...) minha família não queria mais trabalhar na roça, é muito judiado, então

conversei com os moços da EPAGRI e comecei a criar peixe, assim aproveito

minha propriedade e dou emprego pros meus filhos (Piscicultor12).

Para 25% dos entrevistados a facilidade de comercialização, a boa lucratividade, a

água para irrigação são os principais fatores que facilitam a prática da piscicultura integrada

(MAVIPI).

Quadro 11 – Vantagens na organização em associação

Credibilidade Evita êxodo rural Comprar insumos

e equipamentos

Outros Total

10 06 02 02 20

50% 30% 10% 10% 100%

O quadro Nº. 11 demonstra a percepção das vantagens na organização dos

piscicultores em associações municipais e regionais.

Para 50% dos entrevistados a maior vantagem está na credibilidade e no bom

relacionamento com os Órgãos Públicos e Privados, facilita a abertura e contatos.

Page 106: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

105

(...) a gente organizada em Associações não é mais tratado como um colono

tolinho do mato, somos respeitados (Piscicultor13).

(...) pra um colono sozinho todo mundo torce o nariz, mas para uma associação a

coisa é diferente (Pisciculto13).

(...) a gente reunido em associação fica mais fácil pra lutar e conseguir apoio

(Piscicultor13).

Para 30% dos entrevistados a organização dos piscicultores em associações, facilitou

a geração de empregos na família, evitando o êxito rural. Muitos cursos foram conquistados e

muitos filhos que tinham abandonado a propriedade acabaram voltando.

(...) meu filho estudou na Escola Agrotécnica em Rio do Sul e agora voltou pra

casa, ele não gostava da roça, mas de piscicultura ele gosta (Piscicultor14).

Para 20% dos entrevistados a grande vantagem na organização em associações está

na facilidade para compras de insumos e equipamentos, barateando a produção pelas

quantidades adquiridas, na participação de eventos técnicos e na conquista de recursos para o

setor.

(...) quando compramos os insumos para todos os produtores em nome da

Associação, pagamos até 25% mais barato (Piscicultor15).

(...) os fornecedores tem mais segurança para vender através da Associação

(Piscicultor16).

Quadro 12 – Principais parceiros

EPAGRI Outros

20 -

100% 0%

O quadro Nº. 12 relaciona os principais parceiros para implantação e produção

dentro dos padrões do MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada.

Entre os entrevistados 100% ou seja, foi unânime a escolha da EPAGRI como

principal parceiro dos Piscicultores.

Page 107: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

106

Mesmo reconhecendo o valor dos demais parceiros, a EPAGRI é reconhecida como

grande aliada, como a instituição que sempre esteve ao lado do produtor, sempre buscou

melhorar a qualidade da produção e padrão de vida dos produtores rurais.

(...) graças a EPAGRI estou produzindo, eles ajudam a gente em tudo e se

importam com a gente (Piscicultor17).

(...) a EPAGRI se mostrou grande parceira, principalmente após denúncias da

APREMAVI culpando a piscicultura pela proliferação do borrachudo, a nossa

sorte foi a EPAGRI que ficou do nosso lado (Piscicultor18)

Entre os piscicultores entrevistados, 80% não foram atingidos pelas denúncias da

APREMAVI, pois ocorreu entre 1996 e 1997, e eles estão na atividade a menos de 08 anos, a

partir de 1999, onde todos já se enquadraram dentro dos padrões do MAVIPI, ou seja, com

tudo dentro da Lei.

Apenas 20% dos piscicultores entrevistados em especial de Agrolândia, Trombudo

Central e Atalanta, foram prejudicados pelas denúncias, pois já tinham seus viveiros

construídos dentro das áreas de preservação permanentes e sem controle dos efluentes.

(...) a nossa associação já teve mais de 70 sócios, como não conseguiram legalizar

suas atividades após as denúncias da APREMAVI, abandonaram a piscicultura,

hoje somos apenas 7 sócios (Piscicultor19).

(...) a APREMAVI ferrou com muitos companheiros em Agrolândia e Trombudo

Central, essa conversa de borrachudo fez muita gente sair da piscicultura

(Piscicultor20).

(...) depois das denúncias o Ministério Público exigia ajuste de conduta, queria que

a gente se adaptasse as exigências da Lei, mas como se os viveiros já estavam

construídos fora dos padrões exigidos, foi mais fácil partir pra outra

(Piscicultor20).

6.3 PERCEPÇÃO DOS TÉCNICOS DO PROGRAMA MAVIPI

Para os técnicos da EPAGRI e SEBRAE, as principais características dos

piscicultores e das suas propriedades no Alto Vale do Itajaí de uma maneira geral são:

Page 108: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

107

• são pequenos piscicultores, com área geralmente menor que 3O ha;

• com predominância de atividade como pessoa física, sendo poucos os casos de

firmas ou pessoas jurídicas;

• a piscicultura passou a ter um peso significante na composição da renda;

• a grande maioria está entrando na atividade recentemente (menos que 8 anos);

• tem um perfil diferente do tradicional dono de reservatório de água com peixe

dentro, e estão usando áreas nobres da propriedade ao invés dos tradicionais

"brejos";

• a construção do viveiro e da unidade produtiva é de fundamental importância, e

assim sendo não pode ser adaptada ou se dar um jeitinho.

(...) tomo como definição de piscicultor aquele indivíduo que pratica a piscicultura com objetivos comerciais plenos, ou seja, praticam um modelo de produção definido, investem tempo e recursos na operação das unidades produtivas e comercializam o pescado regularmente, independente da época do ano e adicionalmente devem ter controle da entrada e saída da água, uma das condições necessárias para se obter o licenciamento ambiental (Tamassia, Técnico da Epagi, 2007).

(...) os piscicultores são pequenos e médios produtores rurais que vivem em pequenas e médias propriedades e tem na piscicultura uma atividade de diversificação de atividade e renda...são minorias as propriedades que tem na piscicultura integrada sua atividade principal, normalmente é secundária (Schappo, Técnico EPAGRI, 2007).

Para Tamassia (2007) os piscicultores estão organizados em associações municipais,

as quais foram o suporte para a fase do MAVIPI 1, ou seja, para definir, implantar,

desenvolver e consolidar o Modelo de Produção. Elas deram suporte para os processos intra-

porteira onde estava o foco gerador do problema do tipo ameaça (causado por outros, no caso

a ONG) que estava presente em determinada época. E num determinado momento se

reuniram em uma Associação Regional para enfrentar a questão ambiental.

(...) percebeu-se que o coletivo tem mais significação que o individuo, especialmente em relação a lei, ou seja, se um está errado, ele é o errado e a lei correta, ao passo que, se muitos começam e estar em desacordo com a lei, abre-se a possibilidade da lei estar assíncrônica e portanto passível de nova interpretação ou redação. (Tamassia, 2007, Técnico da EPAGRI)

Com o aumento da produção e oferta de pescado, nem nível local, regional, nacional

e mesmo internacional, é previsível que os preços caiam, como de fato já está ocorrendo

Page 109: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

108

localmente. A manutenção da remuneração que hoje está sendo bastante atrativa vai depender

do produtor se dedicar com grande afinco a pelo menos duas classes de atividades:

• De gerenciamento da produção (intra-porteira), apenas aumentos de produtividade

não garantem melhores apropriações das riquezas produzidas pelos agricultores.

Melhores retornos serão viabilizados se os produtores trouxeram para sua

responsabilidade ações e/ou atividades dos elos processamento e distribuição.

• Atividades pós-porteira. Para atuar neste segmento o volume requerido de

produção para garantir a viabilidade econômica do empreendimento é elevada.

Nenhum dos piscicultores atuais tem este volume individualmente, assim sendo, a

opção que se apresenta é a de organização regional para obtenção do volume.

(...) esta é a razão de ter-se definido como desafio atual o problema perda de oportunidade, ou se ocupa o espaço que se apresenta ou este será ocupado por alguém, e ai será muito mais difícil ou praticamente impossível. E aqui que se insere e está o objetivo do projeto atual de capacitação dos piscicultores, em que se busca desenvolver as habilidades de empreendedorismo e assim se adequar para os desafios dos novos tempos e lucrar com eles (Tamassia, 2007 Técnico da EPAGRI).

Schappo (2007) assegura que os proprietários estão organizados em associações

municipais, que realizam reuniões mensais onde são discutidos todos os assuntos da

piscicultura, do ponto de vista técnico, econômico, social e ambiental.

(...) o objetivo maior é organizar a produção e a comercialização, onde o produtor pode se apropriar do lucro pós-porteira (Schappo, 2007 Técnico da EPAGRI). (...) produzir dentro do Modelo Mavipi é muito fácil, vender a produção é um pouco menos fácil, ganhar dinheiro com a produção é mais difícil, por isso é necessário organizar cada vez mais a comercialização (Schappo, Técnico da EPAGRI, 2007).

Schappo (2007), assegura que a demanda ainda é muito menor que o mercado

precisa, podendo aumentar a produção em quatro ou cinco vezes no Alto Vale. Hoje são

produzidos em torno de 1.500 toneladas/safra, tendo por principais mercados consumidores

50% os pesque-pagues da região do vale do Itajaí, de São Paulo e do Paraná, e 50% das

indústrias de processamentos do Sul do Brasil.

Os investimentos necessários para prática do MAVIPI em cada hectare transformado

em viveiros fica em torno de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais), exigindo um custeio

médio de produção de aproximadamente R$ 8.000,00 (oito mil reais), gerando uma renda

Page 110: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

109

bruta variável em torno de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), sobrando uma receita líquida para

o produtor em torno de R$ 7.000,00 (sete mil reais ano) (SCHAPPO, 2007).

A tabela 6 mostra os números da produção, principais espécies produzidas e

principais mercados consumidores da piscicultura integrada, o Modelo Mavipi no Alto vale

do Itajaí.

Figura 11 – Tilápias – Espécie com maior produção no sistema MAVIPI

Page 111: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

110 110 Tabela 6 – Levantamento da produção de peixes comercializados: safra junho 2005/junho 2006 – Região do Alto Vale do Itajaí.

ESPÉCIES DESTINO DA PRODUÇÃO

MUNICÍPIO VIV Nº

Área (ha) Dias de Cultivo

Tilápia Carpa Húngara

Carpa Cabeça Grande

Carpa Prateada

Outras Espécies

Industria Pesque Pague

Propriedade Total de Kgs

ITUPORANGA 37 21,75 M/407 122.755 25.058 18.605 2.026 4.860 43.305 116.193 13.806 173.304

AURORA 43 26,70 M/336 165.361 32.131 17.696 1.356 1.424 29.729 184.498 3.741 217.968

ATALANTA 17 11,10 M/337 93.507 12.435 9.845 276 39 63.110 45.318 7.674 116.102

PETROLANDIA 11 4,95 M/325 40.956 5.415 3.820 - - 19.712 30.479 - 50.191

AGROLANDIA 84 37,60 M/365 190.800 47.700 26.500 - - 95.400 169.600 - 265.000

TROMB. CENTRAL 104 30,10 M/365 112.200 39.600 13.200 - - 67.320 97.680 - 165.000

MIRIM DOCE 21 7,78 M/365 60.000 12.000 8.000 - - 20.000 60.000 - 80.000

PRES. GETÚLIO 60 21,00 M/365 94.500 17.000 14.500 - - 35.000 91.000 - 126.000

POUSO REDONDO 22 15,00 M/365 70.000 6.000 4.000 - - 15.000 65.000 - 80.000

TAIÓ 45 32,00 M/365 85.000 6.600 4.400 - - 25.000 71.000 - 96.000

RIO DO SUL 01 1,00 M/425 6.600 2.200 1.200 - - 6.600 3.400 - 10.000

PRES. NEREU 07 3,55 M/425 19.938 4.261 1.363 - - - 24.284 1.278 25.562

CHAP. LAGEADO 05 1,95 M/415 11.400 2.100 1.500 - - 11.400 3.600 - 15.000

TOTAL 457 214,48 M/374 1.073.017 212.500 124.629 3.658 6.323 431.576 962.052 26.499 1.420.127

FONTE: Escritório EPAGRI Ituporanga – 2007.

Page 112: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

111

Para Claudemir Schappo e Sérgio Tamasia (2007), os produtores foram sentindo a

necessidade de organização da produção diante dos desafios dos novos tempos, tornando

evidente a operacionalização de dois conceitos:

• Impossível sobreviver isoladamente: especialmente no mundo econômico. Isto

implica que pessoas devem atuar, agir e interagir entre si com intensidade crescente.

A maneira de colocar estas pessoas em contato, "remando" para o mesmo lado, é

através de processos gerenciais ou organizacionais. Quando se deseja que pequenas

propriedades produtoras não se transformem em meras unidades de fornecimento de

matéria prima, uma das formas organizacionais mais conhecidas são as Associações

de Produtores.

• Delegação de responsabilidades: cada vez mais as responsabilidades pelo sucesso

do dia a dia estão sendo transferidas aos interessados, que deixam de ser simples

atores e passam a ser protagonistas das ações. Dentro desta perspectiva se

aproximam o planejamento, o gerenciamento e a execução. Se manifesta através das

descentralizações governamentais e parcerias entre os vários componentes da

estrutura social.

Nesta nova tendência e através das associações (em suas várias formas jurídicas)

torna possível aos produtores:

• Operacionalizarem o importante papel que é hoje o estabelecimento de parcerias;

• Habilita/ajuda aos produtores pleitearem e administrarem recursos necessários

para administrar o desenvolvimento coletivo;

• Ter acesso a informações de produção e comercialização de maneira igual á todos;

• Comprarem insumos e equipamentos de forma coletiva;

• Realizarem despesas em forma de mutirão de associados;

• Adquirirem credibilidade para reivindicar e exigir novas políticas públicas para o

setor.

Para Claudemir Shappo e Sérgio Tamassia (2007), as principais dificuldades

encontradas pelos técnicos na implantação do MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura

Integrada, evoluem com o tempo e dizem basicamente respeito ao desenvolvimento do

Modelo de Produção e a ampliação da base produtiva:

• Inicialmente centrava-se na falta de organização e na falta de um modelo de

produção que atendesse aos requisitos ambientais, tivesse significação

Page 113: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

112

socioeconômica e viabilizasse apropriação atrativa de lucros pelos produtores que a

praticassem;

• Depois foram as tratativas necessárias para se convencer os órgãos públicos (MP e

ambiental) de que a atividade praticada daquela maneira era ambientalmente

tolerável e portanto passível de licenciamento ambiental;

• Após o licenciamento para as unidade novas, a dificuldade ainda hoje é o

licenciamento das unidades antigas, que atendem aos requisitos relacionados com o

controle da entrada/saída de água mas localizam-se em APPs;

• Concomitantemente ao desenrolar da questão licenciamento para unidades antigas,

está a questão da liberação do credito. Apesar do governo federal todo ano anunciar

a disponibilização de volumes expressivos de recursos, muito pouco é liberado em

função das exigências/garantias requeridas o que praticamente inviabiliza a captação

pelos produtores típicos da região - pequenos produtores;

• Falta de pessoas atuando na extensão para que se pudesse atender um maior

número de municípios;

• Deficiência nossa, como técnicos, que induz atuarmos mais intensamente como

"difusionistas" ao invés de "construtivistas". Tal fato cria vínculos muito forte de

"dependência" dos produtores aos técnicos o que dificulta aos piscicultores

caminharem pelas suas pernas, reduzindo assim a capacidade de atuação criativa e

com universo mais amplo do técnico, ou seja, é um ciclo vicioso que exige cada vez

mais técnicos para conduzir coisas que depois de conhecidas, deveriam ser

praticadas regularmente pelos produtores;

• Produtores muito acostumados e muito dependentes do paternalismo Estatal, sendo

uma das possíveis causas do relacionado no item anterior;

• Desinteresse ou dificuldade em entender a grande importância da prática de

registros e informações para o gerenciamento e sucesso do negócio. Quem anota é

apenas o técnico. Também talvez conseqüência do descrito nos dois itens anteriores;

• Dificuldade em convencer os produtores a continuarem a praticar o modelo

acordado inicialmente e que foi passível de licenciamento ambiental sob pena de

perda do licenciamento.

Segundo técnicos da EPAGRI, as denúncias da APREMAVI sobre a polêmica dos

borrachudos acabou lançando um problema tipo ameaça que se transformou em uma

Page 114: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

113

oportunidade. Desta forma, a ameaça que ela disponibilizou teve um papel fundamental e

importantíssimo para a definição, desenvolvimento e prática do MAVIPI.

(...) num primeiro momento a APREMAVI se apresentou como uma ONG que só olhava os aspecto ambiental, esquecendo-se do técnico, do econômico e principalmente do social. Num segundo momento ela foi importante pois nos mostrou um outro lado, o da preservação do meio ambiente e impacto ambiental gerado pela atividade, e que tinha uma legislação que deveria ser cumprida (técnico EPAGRI). (...) essas denúncias nos permitiu definir o perfil das propriedades e dos piscicultores, isso significa dizer que a piscicultura não é para todos, e sim aos interessados que se enquadram dentro do que preconiza a Legislação em especial a Ambiental e os padrões do sistema Mavipi (técnico EPAGRI).

Figura 12 – Associativismo e Cooperação Mútua, fundamental para MAVIPI

Page 115: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

114

CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 CONCLUSÃO

Ao finalizar este trabalho entendo como Políticas Públicas, um conjunto de

programas e ações governamentais visando coordenar os meios a disposição do Estado e as

atividades privadas para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente

determinados.

O setor agropecuário apresenta-se como espaço onde o Estado procura implantar

diversas Políticas Públicas visando a melhoria da qualidade de vida e de produção no meio

rural.

O homem em suas relações com o Meio-Ambiente, acaba produzindo “mercadorias

indesejáveis” que são considerados desvio do modelo de desenvolvimento, gerando conflitos,

como foi o caso da Piscicultura Integrada no Alto Vale do Itajaí, colocando em colisão

APREMAVI, EPAGRI e Piscicultores.

A perspectiva construtivista na Sociologia Ambiental de Hanningan (1995), é

adequada para analisar processos deste tipo, uma vez que propõe um enfoque centrado sobre

os processos sociais, políticos e culturais, nas quais as condições ambientais são definidas

como sendo de riscos inaceitáveis e portanto passíveis de conflitos, construídos através de

negociações sociais.

O Associativismo foi o caminho encontrado pela EPAGRI para a organização dos

Piscicultores no Alto Vale do Itajaí, fortalecendo a classe e permitindo a solução dos conflitos

denunciados contra o setor da piscicultura integrada.

Com a prática da piscicultura integrada, consórcio peixe-suíno, sem uma orientação

técnica adequada, foi alvo de denúncias da APREMAVI – Associação de Preservação do

Meio Ambiente como agressora do meio ambiente através dos dejetos dos açudes soltos nos

rios, desrespeito às APPs, e a proliferação dos borrachudos.

Estas denúncias colocaram em colisão APREMAVI, EPAGRI e Piscicultores,

envolvendo outros atores no processo.

Entre os diversos atores que implantaram ações para beneficiar a implantação e

desenvolvimento do MAVIPI, merece destaque para EPAGRI, que reconhecidamente o

principal parceiro (Ator) desta cadeia produtiva, com diversas ações destinadas a

qualificação, treinamento, pesquisas, assistência técnica, orientações para linhas de créditos e

Page 116: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

115

licenciamento ambiental bem como na organização dos piscicultores, dando suporte para a

continuidade da piscicultura integrada após as denúncias da APREMAVI.

Entre os demais Atores que desenvolvem ações que permitiram a implantação e a

contínua evolução do MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, destacam-se o

Banco Mundial através do Projeto Microbacias, o PRONAF, a Polícia Ambiental, as

Prefeituras Municipais através de suas secretarias municipais de Agricultura, a FATMA, e a

13ª Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional em parceria com o SEBRAE.

A assistência técnica é ponto marcante e fundamental para a implantação de

programas e ações que buscam a melhoria da qualidade de produção e de vida no campo,

muitas vezes ameaçadas pelo interesse político partidário onde o político muitas vezes deseja

resultados imediatos não analisando as conseqüências futuras.

O MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, representa para 50% dos

entrevistados a atividade econômica principal da propriedade.

Para 60% dos entrevistados a orientação técnica da EPAGRI levou-os a prática do

MAVIPI, enquanto 20% conheceram o programa em outra propriedade e 10% leu a respeito

da cadeia produtiva.

Entre as principais dificuldades apontadas pelos piscicultores na prática do MAVIPI,

40% reclama das políticas de financiamento e linhas de créditos, 30% aponta as dificuldades

para licenciamento ambiental para produção como o maior problema do sistema de produção,

enquanto 20% dos produtores reclamam o alto custo de produção no MAVIPI – Modelo Alto

Vale de Piscicultura Integrada.

Entre as principais vantagens da prática do MAVIPI 40% dos entrevistados apontam

a assistência técnica através da EPAGRI como vantagem maior, enquanto 35% dos

entrevistados entende que o melhor aproveitamento da propriedade é a principal vantagem do

sistema e para 25% aponta outras vantagens, entre elas a facilidade de comercialização.

Os piscicultores estimulados pela EPAGRI se organizaram em Associações

Municipais, e uma Regional, onde 50% dos entrevistados asseguram como maior vantagem

do Associativismo a credibilidade conquistada pelos produtores, já 30% dos entrevistados

compreendem que a organizados foi mais fácil evitar o êxito rural, e 20% dos entrevistados

relacionam diversas vantagens, com destaque a compra de insumos e equipamentos através

das associações.

O ponto mais marcante da entrevista é que 100% dos piscicultores entrevistados

apontaram a EPAGRI como principal parceira, com ações para o setor.

Page 117: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

116

Para os técnicos da EPAGRI as denúncias da APREMAVI tiveram seu ponto

positivo, forçaram a busca de soluções para prática da piscicultura integrada fora dos padrões

exigidos por lei, em especial em desacordo com a Legislação Ambiental, estes estudos,

pesquisas e ações, levaram o surgimento do MAVIPI.

Claudemir Schappo e Sérgio Tamassia (Técnicos da EPAGRI,2007) asseguram que

os produtores sentiram a necessidade de se organizarem em associações para terem condições

de enfrentar os novos desafios dos novos tempos, em especial na regulamentação da

produção.

Entre os principais gargalos desta cadeia produtiva está a dificuldade de

licenciamento ambiental em virtude da formação das nossas propriedades rurais, pequenos e

médios portes, geralmente cortadas por alguns cursos de água corrente, Rios Riachos, Valos,

Nascentes, etc, dificultando o respeito das APPs – Áreas de Preservação Permanente,

chegando a levar alguns piscicultores a atitudes ilícitas, como por exemplo aterro de nascentes

d’água e pequenos valos para conseguirem a licença ambiental para a prática do MAVIPI.

Foi difícil convencer os piscicultores da necessidade de mudanças diante do ciclo

vicioso de produção.

Atualmente os 204 produtores devidamente cadastrados e associados na Associação

Regional de Piscicultores são adeptos do MAVIPI a pouco mais de 7 anos, todos dentro dos

padrões técnicos necessários e as exigências da legislação ambiental. Nenhum piscicultor

recebe orientação por parte da EPAGRI para a prática da piscicultura integrada senão estiver

rigorosamente planejado dentro dos padrões do MAVIPI.

O MAVIPI – Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, é a demonstração que

quando o Setor Público implanta Políticas Públicas com programas dentro das realidades

Regionais, buscando as parcerias corretas, o resultado é positivo em favor da sociedade.

7.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando optei em freqüentar um Curso de Mestrado Profissionalizante, buscava

inicialmente um título de “Mestre”, mas felizmente no decorrer do curso senti a possibilidade

de algo mais, a minha qualificação como profissional e homem público.

O nosso país é imenso, rico, com uma diversidade natural invejável a nível mundial,

não se pode admitir e se omitir aos contrastes sociais apresentados por nossa Nação.

Page 118: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

117

No decorrer do curso, fui percebendo que muitos problemas dentro do seio de nossa

sociedade estão atrelados a falta de oportunidades, recursos públicos mal empregados,

interesses individuais prevalecendo aos coletivos, políticos e agentes públicos despreparados,

muita corrupção, falta de planejamento e de políticas públicas eficazes.

Neste contexto meu interesse inicial de apenas buscar mais um “título” se

transformou em oportunidade de ser mais útil à sociedade.

Muitos foram os debates, muitas teorias, discordâncias, discussões calorosas diante

do bom nível de nossos mestres/doutores e colegas mestrandos.

Entre as linhas de pesquisas, optei pela de Desenvolvimento Regional Sustentável,

buscando dentro de minha realidade regional uma forma de ser útil.

Após muitas conversas com lideranças e representantes dos meios produtivos da

região, optei por uma atividade no meio-rural com reais perspectivas de crescimento e opção

de renda para os nossos produtores rurais.

O MAVIPI – Modelo Alto Vale do Itajaí de Piscicultura Integrada, é um programa

desenvolvido pelos técnicos da EPAGRI de nossa região, que mereceu minha atenção

especial, daí a escolha do tema para um “Estudo de Caso”, procurando caracterizar a região,

conhecer e analisar as ações dos principais atores do sistema de produção e analisar os

principais impactos ambientais, políticos, econômicos e sociais.

O MAVIPI surgiu da necessidade de aperfeiçoamento da produção, evoluindo de

algumas lagoas construídas nos brejos das propriedades, com pequenos chiqueiros, sem

nenhum acompanhamento técnico, para um programa tecnicamente planejado através da

construção de viveiros para implantação do consórcio “peixe-suíno” uma alternativa de renda

viável para nossa região.

As denúncias da APREMAVI em 1996 acusando a piscicultura como grande

responsável pela proliferação do “Borrachudo” na região, ironicamente chamado de

“porcochudo”, causou uma grande crise no sistema, resistindo graças a ação forte da

EPAGRI, que teve que mudar sua filosofia, pois antes só atendia produtores rurais e diante do

fato e de alguns piscicultores serem empresários, necessitava também serem treinados e

preparados para prática correta através do MAVIPI.

As pesquisas bibliográficas foram fáceis diante do farto material cedido por todos os

atores envolvidos, já as entrevistas com produtores, técnicos e demais atores, trouxe um

desconforto em especial na questão APREMAVI X EPAGRI, onde muitos se recusaram a se

identificar temendo represálias.

Page 119: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

118

Sinto-me realizado pelo trabalho desenvolvido, agradecido por todos aqueles que

estiveram juntos nesta caminhada e feliz por ter buscado e conseguido qualidade profissional

e de vida através deste Mestrado.

Page 120: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

119

REFERÊNCIAS AMAVI – Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí. Plano Diretor Regional.

Amavi (2005). <www.amavi.org.br>.

AMAVI – Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí. Potencialidades e

oportunidades de investimentos no Alto Vale do Itajaí. Revista Amavi 40 anos. (2004)

APREMAVI – Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí.

Disponível no site < www.apremavi.com.br > acesso período janeiro/06 a maio/07.

BAIERLE, Sérgio G. – A explosão da experiência – emergência de um novo princípio

ético-político nos movimentos populares urbanos. In: ALVAEZ, Sônia, DAGNINO,

Evelina e ESOBAR, Arturo – Cultura e política nos movimentos sociais latino-

americanos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.

BANCO MUNDIAL – História, composição e evolução. Disponível no site

http://wwwbancomundial.org.br acesso dia 15/02/2007.

BAPTISTA, N.; PEIXOTO, E. Gestão de políticas públicas. In: Programa de formação de

lideranças e técnicos em desenvolvimento local sustentável. Brasília: CONTAG 1999.

Sem paginação. (Módulo III).

BELATO, D. Os camponeses integrados. Campinas, 443 p. Dissertação (Mestrado em

História) – Universidade Estadual de Campinas, 1985.

BRANDÃO, Sélis, Luiz; LIMA, Samuel do Carmo. Diagnóstico Ambiental das Áreas de

Preservação Permanente (APP), Margem Esquerda do Rio Uberabinha, em Uberlândia

(MG). Revista Caminhos de Geografia. Programa de Pós-Graduação em Geografia.

Instituto de Geografia – Ufu – Minas Gerais. (7), pg. 41, Out/ 2002.

BUCCI, M.P.D. Direito administrativo e políticas públicas. São Paulo: Saraiva. 2002. 298

p.

BUTTEL, F. A sociologia e o meio ambiente: um caminho tortuoso rumo à ecologia

humana. In: Perspectivas, São Paulo. 1992.

CASACA, J.M.: TOMAZELLI JR. Planejamento da piscicultura no município. Chapecó:

EPAGRI. 1997. 61 p.

CHESNÉ, D. Rôle de I’intégration pisciculture/production porcine dans la place et la

dynamique de la pisciculture dês municípios de Trombudo Central et Agrolândia,

Haute Vallée d’Itajaí – Santa Catarina – Brésil. Mémoire de fin d’études, Groupe ISAB

Agriculture et CIRAD. 2004. 120 pages.

Page 121: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

120

COHEN, E.; FRANCO, R. Avaliação de projetos sociais. 5 ed. Petrópolis: Vozes 2002.

1993.

EPAGRI – Relatórios de Produção Agropecuária do Alto Vale do Itajaí . 1997 a 2006.

Extação Experimental – Ituporanga – SC.

FERT NETO, J. Problemas ambientais rurais e mudanças sócio técnicas. A trajetória da

piscicultura orgânica em Santa Catarina. Florianópolis. Tese (Doutorado Interdiciplinar

em ciências humanas-sociedade e meio ambiente). Centro de Filosofia e Ciências

Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina. 2001.

GUÉNEAU, M-C. Lê Suivi-évaluation. p. 125-159. IN : MERCOIRET, M.R. L’appui aux

producteurs ruraux. Nouvelle edition. Paris : Karthala. 2001. 463 p.

HANNINGAN, J. (1995. Enviromenmental sociology: A social constructionist perspective.

London: Routledge.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em

<http.:/www.ibge.gov.br> acesso em 10/05/2006.

INSTITUTO CEPA/SC. Análise Orientações da Missão no Alto Vale do Itajaí pelo Banco

Mundial. 1998.

INSTITUTO CEPA/SC. Relatório Visita do Banco Mundial ao Alto Vale do Itajaí. 1997.

INSTITUTO CEPA/SC. Revisão do Estudo Setorial da Aqüicultura no Estado de Santa

Catarina – Brasil. Florianópolis. 1993 à 2002.

LABES, E. M. Questionário : do planejamento a aplicação da pesquisa. Grifus. Chapecó.

1998.

LOSCH, B. Et. al. Politiques publiques et agriculture: Une mise em perspectivedes cãs

mexicain, camerounais et indonésien. Montpellier: CIRAD. 1997. 166 p.

LOUÉ, S. ; DAUCÉ, P. ; LAPLANA, R. Eléments pour I’évaluation de I’impact dês

politiques agricoles à I’échelon de deux cantons aquitains. Economie Rural. N. 247.

1998. p. 31 – 38.

MAPA – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO.

Políticas para a Agricultura Familiar. Disponível no site http://wwwagricultura.gov.br

acesso dia 27/02/2007.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (1997) “Diretrizes Ambientais para o Setor

Pesqueiro” – Pesca Marítima, Aqüicultura e Pesca Continental.

MUNIZ, A.W. Caracterização e análise de cadeias produtivas. O caso da cadeia da cebola

do Estado de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Page 122: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

121

Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis. 2003. 90 p.

PORCHMANN, M., AMORIM, R. Atlas da Exclusão Social. São Paulo: Cortez Editora

2003. 221p.

PRONAF – PROGRAMA NACIONAL DE AGRICULTURA FAMILIAR . Disponível no

site < http:wwwpronaf.gov.br > acesso dia 08/02/2007

PUTNAM, D. R. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 3. ed. Rio

de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. 2002. 260 p.

RIBEIRO, C. A. A. S.; OLIVEIRA, M. J.; SOARES, V. P.; PINTO, F. A. C., Delimitação

automáticas de áreas de preservação permanente em topos de morros e em linhas de

cumeada: Metodologia e estudo de caso. In: Seminário de Atualização em Sensoriamento

Remoto e Sistemas de Informações Geográficas Aplicadas à Engenharia Florestal, 5,

2002, Curitiba, Paraná. Anais, 7 – 18 p.

SANTOS, M. SILVEIRA, M. L. O Brasil território e sociedade no início do século XXI.

Rio de Janeiro. Record, 2001.

SCHAPPO, C. L.; TAMASSIA, S. T. J. Relatório de Produção da Piscicultura Integrada –

MAVIPI. 1998 a 2006. Ituporanga – SC. 2007.

SILVA, Newton J. R. Dinâmicas de Desenvolvimento da Piscicultura e Políticas Públicas

no Vale do Ribeira/SP. Tese de doutorado. 2005.

SOUZA, E.C.P.M. de. Piscicultura Fundamental, São Paulo, Nobel: Companhia Agrícola

Imobiliária e Colonizadora. 1985.

SOUZA FILHO, J.; SCHAPPO, C.L.; TAMASSIA, S.T.J. Estudo de competitividade da

piscicultura no Alto Vale do Itajaí. Florianópolis: Instituto CEPA/SC, EPAGRI, 2002.

73 p.

SOUZA FILHO, J.; SCHAPPO, CL.; TAMASSIA, S.T.J. Custo de produção de peixes de

água doce: modelo Alto Vale do Itajaí. Florianópolis: Instituto CEPA/SC, EPAGRI,

2002b, 40 p.

TAMASSIA, S. T. J.; KNIESS, V. Três modelos de sistemas de produção de peixe

baseados no policultivo e alimentação artificial, praticados na região do Alto Vale do

Itajaí (SC) – Estudo de caso. Aspectos econômicos e organizacionais. Rio do Sul:

EPAGRI 1998b.14 p. (apostila)

TAMASSIA, S. T. J.; KNIESS, V.; SCHAPPO, C. Piscicultura sustentável do Alto Vale do

Itajaí. Plano sintético. Rio do Sul: EPAGRI, 1998. 17 p.

Page 123: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

122

TAMASSIA, S.T.J. Piscicultura Sustentável do Alto Vale do Itajaí: Plano de Ação

Sintético. Rio do Sul: Associação Regional de Aqüicultores do Alto Vale do Itajaí. 1998.

TOMAZELLI JR., O., CASACA, J.M. Policultivo de Peixes em Santa Catarina. Panorama

da aqüicultura. Edição 63. 2001.

Page 124: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

123

APÊNDICES

Page 125: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

124

APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO COM PISCICULTORES DO ALTO VALE DO ITAJ AÍ MESTRADO PROFESSOR ELIAS SOUZA/MAIO 2007.

1) Características de sua propriedade: ( ) pequena ( ) média ( ) grande ___________________hectares.

2) Mão de obra utilizada na propriedade: ( ) familiar ( ) contratada ( ) familiar e contratada ________________pessoas.

3) Produção principal na propriedade:

( ) piscicultura integrada ( ) cebola ( ) milho ( ) fumo ( ) leite ( ) reflorestamentos ( ) suínos ( ) outros__________________________________

4) Como iniciou a atividade de piscicultura integrada?

( ) por sugestão de amigos ( ) conheceu em outra propriedade e gostou ( ) orientação dos técnicos da EPAGRI ( ) leu a respeito ( ) outro _______________________________________________________________

5) O que representa a piscicultura integrada em sua propriedade?

( ) renda principal ( ) alternativa de renda ( ) esporte/lazer ( ) busca de qualidade de vida ( ) melhor aproveitamento da propriedade ( ) outro_______________________________________________________________

6) Quais as maiores dificuldades para a prática da piscicultura integrada? ( ) dificuldades para financiamentos ( ) falta de orientação técnica ( ) dificuldades para o licenciamento ambiental ( ) alto custo de produção ( ) falta de mercado consumidor ( ) falta de organização dos produtores ( ) outros _____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 7) Quais as maiores vantagens e facilidades com a prática da piscicultura integrada?

( ) financiamentos ( ) facilidade de implantação ( ) lucratividade ( ) assistência técnica ( ) aproveitamento da propriedade ( ) facilidade de comercialização ( ) outras __________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8) Quais as vantagens com a organização em associações de Produtores? ( ) compra de insumos e equipamentos em nome da associação. ( ) comercialização e a busca de novas alternativas de mercado. ( ) conquistas de recursos para o setor produtivo ( ) participação em eventos técnicos e pesquisas. ( ) aumentar a receita e melhorar a qualidade de vida da família. ( ) evitar o êxodo rural ( ) credibilidade e bom relacionamento com órgãos Públicos e Privados.

Page 126: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

125

( ) Outras_______________________________________________________________ 9) Qual a sua visão sobre a APREMAVI e as denúncias na questão do borrachudo? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10) Entre todos os atores do setor Produtivo qual o mais importante e o melhor parceiro com Políticas Públicas em favor dos piscicultores? ( ) Banco Mundial e Microbacias ( ) Fatma ( ) Ibama ( ) EPAGRI ( ) CIDASC ( ) Prefeituras Municipais ( ) Polícia Ambiental ( ) 13 Secretaria de Estado do desenvolvimento Regional/ SEBRAE ( ) outros ______________________________________________________ Justifique_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Obrigado pela colaboração. Ituporanga, abril 2007.

Page 127: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

126

APÊNDICE B

QUESTIONÁRIO COM OS TÉCNICOS DA EPAGRI, FATMA, SEBR AE, SDR/MICROBACIAS - MAVIPI (MODELO ALTO VALE DO ITAJA Í DE

PISCICULTURA INTEGRADA). MESTRANDO PROFESSOR ELIAS SOUZA/MAIO 2007.

1)-Quais as principais características dos piscicultores e das suas propriedades no Alto Vale do Itajaí? R-_________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2) Como estão organizados? R_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3) Quais os principais mercados compradores? Qual a demanda? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4) Qual a produção em kg/ha/ciclo? E quanto está sendo produzindo por ano? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 128: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

127

5) Quais as principais espécies produzidas ? Quanto é produzido por ano? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6) O que gera de receita bruta e receita líquida por hectare/ano? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7) Qual o custo entre investimentos e custeio para produzir por hectare/ano? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8) Quais as principais vantagens da Organização dos Produtores em Associações? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9) Quais as principais dificuldades encontradas pelos técnicos para a implantação do sistema MAVIPI? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 129: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

128

10) Como você avalia o papel da APREMAVI em especial referente as denúncias da questão dos borrachudos? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Obrigado pela colaboração, maio 2007.

Page 130: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

129

ANEXOS

Page 131: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

130

ANEXO 1

Page 132: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

131

ANEXO 2

Page 133: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

132

ANEXO 3

Page 134: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

133

ANEXO 4

Page 135: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

134

ANEXO 5

Page 136: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Elias Souza.pdf · Vale do Itajaí- UNIVALI, ... 1.3.2 COLETA DE DADOS 15 ... de acordo com o Código

135

ANEXO 6