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    ndice

    SOCIEDADE 19

    MATRIADE CAPA

    O DESENVOLVIMENTOBRASILEIRO:PORQUE PERDEMOS PRIORIDADE...?

    Roberto Fendt

    TRANSPORTES

    A LOGSTICADO TRANSPORTE PORTURIOJovelino Pires

    DESTAQUE

    A CONSCINCIADOSDIREITOSDO HOMEM

    Selvino Antonio Malfatti

    15

    21

    5

    LIVROS

    A SOCIEDADEDADESCONFIANAMarcel Domingos Solimeo

    AS CAUSASDO DEBILITAMENTODO LIBERALISMONO SC. XXOg Leme

    26LIBERALISMO 23

    TORREDE BABELpor Rodrigo Constantino

    CONSELHODEADMINISTRAO

    Arthur Chagas DinizElcio Anibal de Lucca

    Alencar BurtiPaulo de Barros Stewart

    Jorge Gerdau JohannpeterJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Humberto Pires de ArajoRaul Leite LunaRicardo Yazbek

    Roberto Konder BornhausenRomeu Chap Chap

    CONSELHO EDITORIAL

    Arthur Chagas Diniz - presidenteAlberto Oliva

    Alosio Teixeira GarciaAntonio Carlos Porto Gonalves

    Bruno MedeirosCndido Jos Mendes PrunesJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Luiz CarvalhoLuiz Alberto MachadoOctavio Amorim Neto

    Roberto Fendt

    Rodrigo ConstantinoWilliam Ling

    Og Francisco Leme eUbiratan Borges de Macedo

    (in memoriam)

    DIRETOR / EDITOR

    Arthur Chagas Diniz

    JORNALISTARESPONSVEL

    Ligia FilgueirasRG n 16158 DRT - Rio, RJ

    PUBLICIDADE/ ASSINATURAS:

    E-mail: [email protected]: (21) 2539-1115 - r. 221

    FOTOSDE CAPAE MIOLO

    Capa: Wikimedia, Wikipedia e Bankphoto.

    INSTITUTO LIBERAL

    Rua Maria Eugnia, 167 - Humait22261-080 - Rio de Janeiro - RJ

    Tel/Fax: (21) 2539-1115E-mail: [email protected]

    Internet: www.institutoliberal.org.br

    Think Tank - A Revista da Livre-Iniciativa

    Ano XVII - no 62 - Mai/Jun/Jul - 2013

    Expediente

    REALIZAO

    BANCODE IDIAS uma publicao do Instituto Liberal. permitida a reproduo

    de seu contedo editorial, desde que mencionada a fonte.

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    EditorialSua opinio da maior impor-

    tncia para ns. Escreva paraBanco de Idias.

    Leitores

    Envie as suas mensagens paraa rua Rua Maria Eugnia, 167 -Humait - Rio de Janeiro - RJ -22261-080, ou [email protected].

    MAI/JUN/JUL - 2013 - N 62 4

    principal marca do perodo

    parece ser a tentativa, emmarcha no Congresso, para sub-meter, mesmo que parcialmente,o Poder Judicirio. A origem desseesforo se deve, sem dvida, aoimpacto causado nas hostespetistas pelo julgamento doepisdio que, popularmente, conhecido como O Mensalo.A condenao especialmente deJos Dirceu e Jos Genono aocumprimento de pena em prisorevoltou os petistas, que gostam

    de alcunhar Dirceu de heri dopovo brasileiro.Esforos dos governantes

    esto voltados para evitar que osresponsveis (exceto Lula) sejamlevados a cumprir sentenas.Embora o judicirio seja o poderconstitucionalmente encarregadodesse julgamento, os partidos dabase aliada, em especial o PT,lutam para evitar esse desenlace.

    Continuamos a lamentar ainexistncia de uma poltica pe-

    trolfera mais ampla. No governoDilma, at agora, no foi reali-zada pela ANP Agncia Na-cional de Petrleo nenhuma li-citao para prospeco depetrleo. A ausncia de licitaesno se deve a uma mudana noque respeita matria. A Petro-bras se ressente de uma polticamais definida, e a importao degasolina s tende a aumentar, casoo Brasil volte a crescer a taxas maisrelevantes que as atuais.

    Atravs da histria emergiuum conjunto de valores denomi-nados direitos relativos ao homemcomo ser individual que, con-forme a poca, recebeu as maisdiversas denominaes, taiscomo direitos naturais, direitosfundamentais, direitos do homem,direitos humanos ou declaraouniversal dos direitos do homem,entre outras. Este o temado artigo de Selvino AntonioMalfatti, professor da Univer-

    sidade de Santa Maria, no Rio

    Grande do Sul.O economista e mestre pelaUniversidade de Chicago, Ro-berto Fendt, examina as razes daperda de prioridade do Brasil emrelao a investidores externos e,em especial, quais so os fatoresdeterminantes do investimento eo que define sua rentabilidade.Entre outras questes, o autordiscute os fatores que inibiram asrecentes taxas de crescimento doBrasil. Operando tecnicamente

    prximo a uma situao de plenoemprego, a taxa de crescimentodeveria ser mais elevada.

    O tema abordado peloeconomista Marcel DomingosSolimeo se refere a uma questoque atormenta aqueles queacreditam que a locomotiva dodesenvolvimento deva ser ainiciativa privada. A sanhaintervencionista que tem carac-terizado o governo em suas trsesferas, nomeadamente Execu-

    tivo, Legislativo e quase sempreo Judicirio, faz com que cadavez mais se procure tudo regu-lamentar. Segundo o autor,estamos nos constituindo rapi-damente em uma Sociedade daDesconfiana.

    Estamos reproduzindo nestaedio um artigo do saudosoProfessor Og Leme. As causas dodebilitamento do liberalismono sculo XX dependem essen-cialmente de instituies que

    tornem eficazes os direitoshumanos.Jovelino Pires, coordenador

    da Cmara de Logstica daAssociao de Comrcio Exteriordo Brasil, examina a situao dostransportes martimos no Brasil.O panorama devastador.

    Encerra esta edio a re-senha do livro Tower of Babble,de Dore Gold, efetuada peloeconomista e escritor RodrigoConstantino.

    ASenhor Editor,

    Acompanho as resenhas diriasdo Instituto Liberal h muitos anos.Noto que vocs tm uma pre-disposio relativa presidenteDilma, bem como a seus principaisministros. Entre eles, os da Fazendae da Educao, Alosio Merca-dante. Quase todos os dias algumdeles ridicularizado ou, namelhor das hipteses, criticado.Concordo que j tivemos PT demaisno poder, embora Lula pretendacomandar direta ou indireta-mente a poltica durante vinteanos, e j se passaram dez. verdade que o Brasil no cresceumuito nas administraes petistas,mas a alternativa de elegerum candidato tucano mudariao quadro?

    Maria da Gloria PrazeresGuaianases SP

    Prezada leitora,

    Os projetos polticos da maioriados partidos no Brasil tratam daexpanso dos poderes do Estado.No h campanha eleitoral com

    promessas de reduo da cargafiscal, uma das mais altas domundo. O Custo Brasil cada vezmais elevado, sem que a elecorrespondam benefcios comoocorre nos pases escandinavos.

    Acho ex tr em amen te di fci l areduo do Custo Brasil, pois issoimplicaria em uma menor intro-misso do governo na vida doscidados. Creio que o maior be-nefcio que teramos de uma trocano comando do pas seria umareviso crtica de processos hojej cristalizados, sem qualquer

    avaliao nos caminhos da dema-gogia. A rotatividade no poder saudvel e traria benefcios Nao. Um candidato tucano teriaque se eleger a partir de um projetomuito semelhante ao do PT.

    O Editor

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    INTRODUO

    objetivo do presente artigo refletir como o ser humanotomou conscincia dos Direitos doHomem enquanto valores. Issoocorreu nos grandes momentoshistricos com seus respectivospensadores. No pretendemoselaborar uma pesquisa, nemapresentar algo novo, mas tosomente evidenciar a paulatinaexplicitao desses direitos comovalores ticos inerentes pessoahumana ao longo da Histria.

    Com efeito, atravs da Histriaemergiu um conjunto de valores

    denominados direitos, relativos aohomem como ser individual, que,conforme a poca, recebeu asmais diversas denominaes, taiscomo: direitos naturais, direitosfundamentais, direitos do homem,direitos humanos ou DeclaraoUniversal dos Direitos do Homeme outras. Esses direitos ou valoresno se explicitaram de imediato,mas o foram paulatinamentedurante a histria. Tambm nosurgiram num s local ou com

    um determinado povo, mas aemergncia se deu difusamente,e apenas no sculo XX o homemtomou conscincia de sua uni-versalidade.1

    O processo em direo universalidade teve incio naIdade Moderna, aps a ReformaProtestante. At ento essesvalores ou direitos estavamvinculados a um povo ou auma poca ou religio. Com aReforma tornou-se imperativoencontrar valores consensuaiscom base social. Esses direitos

    Selvino Antonio MalfattiUniversidade Federal de Santa Maria UFSM Brasil

    Destaque

    A conscincia dos direitosdo homem

    O

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    ou valores em cada poca e socie-dade tiveram uma justificativaprpria, uma sustentao pr-pria. A cultura hebraica seapoiava em Jav, os gregos narazo, os medievais na igreja ata modernidade, que encontrou asustentao no consenso social.

    A conscincia o processofinal do ato de conhecer. Pode serdedutivo, indutivo e mesmointuitivo. Ao tomar conscincia ohomem conhece. A conscincia o ato da alma que se contemplaa si mesma, e nela est presenteo objeto. A conscincia oprprio conhecimento. E nomomento em que o homemreflete, encontra na conscinciao conhecimento adquirido. Nesteato ele se descobre, e aodescobrir-se toma conscincia.Nesse processo se insere oconhecimento moral caracte-rizado como valor. A conscinciados Direitos do Homem foi oreconhecimento desses valoresque, embora sempre tenhamexistido ao longo da histria, pelatomada de conscincia foram seexplicitando e sendo reco-nhecidos como tais a partirda Idade Moderna como consen-suais.

    Com efeito, o sculo XX passoupor duas guerras mundiais,experimentou trs formas detotalitarismo, sem falarmos decentenas de ditaduras ou go-vernos autoritrios para os quaisos direitos do homem pouco ou

    nada valiam. Milhes de pessoasforam torturadas moral efisicamente, foram assassinadascomo vermes, cadveres ex-postos ou enterrados em valascomuns.

    Outros milhes foram privadosda liberdade, jogados emmasmorras ou em campos deconcentrao. A conscinciamesma foi invadida e aniquilada,no totalitarismo russo.

    O JUDASMO

    Na doutrina judaica o homemse relaciona com Algumtranscendente. No judasmo ohomem se relaciona com um Serque O conhece indiretamente epor meio da informao. O pontode partida e de chegada sempreaquele Ser invisvel, mas existentee presente. Este Deus, Jav, ao

    Foi nesse momento que adoutrina judaica consagra aconcepo do homem compostode corpo e alma. O corpo seiguala aos demais seres vivos douniverso. Tem aparncia terrestre,corrutvel, sede de tentaes ede pecado. Por outro lado, a alma,que em outros seres princpiovital, no homem no s vital,mas tambm espiritual. Nadoutrina judaica a vida do homemse originou de um ato criativoespecfico de Deus. E como addiva da vida de naturezadivina e no natural, por issoningum tem direito sobre ela,nem o prprio homem. O suicdio terminantemente condenado.

    Da narrativa bblica sobre acriao, trs aspectos se tornaramconscientes.

    1. A existncia de um sersuperior como origem de tudo;

    2. Os seres criados no seidentificam com a divindade;

    3. O apogeu da Criao acriao da espcie humana,constituda de homem e mulher,iguais em dignidade perante oCriador.

    tambm nesse momento queemerge a conscincia de LeiNatural, constituda numa crenade que o Criador gravou in-delevelmente no homem o sumoe primeiro direito: a vida humana.A graa da vida para o homem,conforme a Bblia, supera orestante da Criao. Enquanto osdemais seres esto submetidos s

    leis do instinto, o homem foidotado de outra faculdadenatural, a razo, e por ela estacima dos demais seres. Ohomem recebeu tambm em suanatureza a liberdade. Este osegundo maior direito individual.Com esta faculdade diferencia-sede todos os demais seres.

    O terceiro direito individual, jpresente no meio cultural hebreu, a igualdade. No Livro Sagrado

    qual o homem obedece semv-lo, sem senti-lo ou ouvi-lo.

    Aps a fuga do Egito, e sob aliderana de Moiss, o povohebraico perambula durantequarenta anos pelo deserto. nesse perodo que a maior parteda legislao elaborada,principalmente no que tange aum conjunto de direitos per-tinentes individualidade, talcomo a propriedade, a vida, aconscincia, a liberdade e outros,os quais foram sintetizados noDeclogo.

    Destaque

    Atravs da Histriaemergiu um conjunto

    de valoresdenominados direitos,relativos ao homemcomo ser individual,

    que, conforme apoca, recebeu as

    mais diversasdenominaes, tais

    como: direitosnaturais, direitos

    fundamentais, direitosdo homem, direitos

    humanos ouDeclarao Universal

    dos Direitos doHomem e outras.

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    a conceituao da igualdaderestringe-se relao do homemcom Deus. Os homens so iguaisperante o seu Criador. Deusproclama que nada pode igual-Lo. Ele no faz distino dehomens. Por isso, na relaohierrquica vertical de Deus-Homem, Deus inigualvel, masna relao horizontal homem-homem e Deus os homens soiguais. E por que so iguaisconforme a argumentao b-blica? Porque Deus os criou atodos, porque os fez todos domesmo sangue, porque Deus quera salvao de todos, porque todosso chamados Vida Eterna.

    Entre os israelitas a pro-priedade privada era consideradaum direito dado por Deus aoHomem. Dependendo da situa-o histrica, o que variava era aforma de propriedade. Comonmades, propriedades eram asmoradias e o gado. Quandoagricultores, propriedades eramas terras. A prpria conquista deCana foi sobre a ideia depropriedade: a Terra prometida

    por Jav. Disso decorreu que entreos israelitas o proprietrio ltimoda terra era Deus.2

    GREGOSE ROMANOS

    A discusso dos direi tos dohomem entre os gregos e romanosdeixou de se apoiar em argu-mentos divinos. Em seu lugar foichamada a razo, que procurouno prprio meio circundante ajustificativa para um conjunto devalores que fossem o guia daconvivncia social. Da que a ideiade um direito natural, isto , umanorma moral inerente natureza

    humana e, portanto, independentee superior lei positiva reguladora,encontrou a mais coerenteformulao. O problema levan-tado pelos sofistas de que as leisno passam de convenes, e porisso so artificiais, havia merecidode Scrates a contraproposta daracionalidade.

    Os direitos do Homem estavampresentes na cultura grega,mormente na ateniense, como

    testemunham diversos camposdo saber: Filosofia, Cincias,Artes e Religio. Cada uma, aseu modo, contm os elementosdesses direitos. Como exemplopode-se tomar o Discurso F-nebre de Pricles, narrado pelohistoriador Tucdides.3

    Conforme narra este autor, osatenienses costumavam celebraros ritos fnebres das vtimas daguerra. Os ossos ficavam ex-postos em lugar pblico durantetrs dias, e o povo trazia ofe-rendas para seus parentes. Noltimo dia traziam atades, umpara cada tribo, e os ossos erampostos no atade de sua tribo.Havia, ainda, um atade vaziodestinado aos soldados desa-parecidos. A esta cerimniatodos podiam comparecer:cidados, estrangeiros e asmulheres das famlias dosdefuntos. No mausolu dosubrbio mais belo da cidadeeram enterrados os mortos daguerra. Aps o sepultamento, umcidado, escolhido pelos seuspares, ficava encarregado dediscorrer sobre os mortos comofez Pricles naquela ocasio.

    Diz ele que o ato supremo deum cidado consiste em acharmelhor defender-se e morrer queceder e salvar-se. Nesse instante,o cidado joga na ao o que eletem de mais precioso em si, que sua vida. Em todo o discurso,no entanto, Pricles enfatiza quea vida, por mais belo dom que

    fosse, sem a honra e a liberdadede nada vale. O incio de seuelogio principia mostrando queeles, os atenienses, receberamaquele imprio dos antepassadoscomo homens livres e que, porisso, agora muitos esto dandosua mais preciosa ddiva, a vida.Pricles nunca deixa de associarvida e liberdade. Alm disso, essavida livre se organiza politi-camente sob um regime demo-

    Destaque

    Na doutrina judaica o homem se relaciona com algum transcendente.

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    crtico, isto , de igualdade entreos cidados. Perante a lei todosso iguais, e a ascenso aospostos de mando no se d porpertencer a esta ou quela classe,mas pelo mrito. Por outro lado,a pobreza no motivo paraalgum no prestar servios a suacidade. Todos os cidados par-ticipam do governo da cidadecomo homens pblicos, noimportando sua condio pri-vada. Os atenienses, conformediz Pricles, convivem em li-berdade e igualdade. Alm disso,procuram melhorar suas pro-priedades para que elas deemmais conforto e alegria. A riquezano usada para alguns sevangloriarem, mas como oportu-nidade de agir e melhorar. Apobreza no uma desonra, masse torna quando no se tentaevit-la.

    Os gregos, principalmente osatenienses, orgulhavam-se deno se submeterem a ningum,a no ser s leis que eles prprioscriaram, descobrindo-as nanatureza pela razo, ou rece-beram dos deuses. As leis quedescobriram na natureza pelarazo chamavam-nas de leisnaturais, porque deveriam serobjeto de consenso. s que rece-beram dos deuses eles deveriamse submeter sem discuti-las.

    Os gregos inturam que aliberdade era o bem maior. Asimples distino entre os gregos livres, e demais povos brbarosou escravos revela o senso deliberdade presente na culturagrega. Evidentemente esse valormximo nem sempre e nem emtoda parte foi unnime. Cadacidade tinha sua ideia-mestrasobre a liberdade. Os espartanos,por exemplo, prezavam aindependncia e a autonomia desua cidade. Por isso a vidapblica e a vida privada con-fundiam-se, de tal sorte que olimite da liberdade individual era

    o interesse coletivo, que muitasvezes se confundia com aaristocracia. Em Atenas era dife-rente: cada um podia fazer o quequisesse, e o debate pblico eraaberto a qualquer cidado livre.

    Entre os romanos um dosmaiores tericos foi Ccero, queviveu a confluncia da passagemda Repblica para o Imprio emRoma. Na Repblica havia umconjunto de instituies que, decerto modo, salvaguardavamalguns princpios ticos e moraisextensivos a todos os cidados,mormente entre a aristocracia eo povo. O equilbrio estava sendoatingido paulatinamente. Haviainstituies que defendiam o povoe havia as aristocrticas. Os tri-bunos do povo eram uma forta-leza contra as pretenses da aris-tocracia. Com isso, procurava-sepossibilitar uma margem deliberdade, a qual poderia garantiros demais direitos, tais como avida, a propriedade e a igualdade.

    Ccero se destaca na defesada lei natural, universal, pela qualo mundo era governado porDeus, e atravs da naturezaracional o homem se torna umparente da divindade.4 Atravsdesse princpio advogava aigualdade universal dos homens.Desde o momento em que oshomens seriam iguais, todos osdemais direitos adviriam poracrscimo. Com isso procuravaisolar uma esfera de consensopela qual se garantiria umrespeito aos direitos fun-damentais.

    O CRISTIANISMO

    Dois nomes sedestacam na re-flexo da IdadeMdia: SantoAgostinho, noincio, e SantoToms, nofinal.

    Santo Agostinho

    Santo Agostinho concebe aHumanidade dividida em duas

    categorias: a terrena e a celeste.At mesmo na organizaopoltico-social Agostinho v adicotomia entre o bem e o mal.Os membros da cidade terrenaamam-se a si mesmos e des-prezam a Deus. Os membros dacidade celeste desprezam-se a simesmos e amam a Deus.5Consideram-se em exlio aqui naterra, vivendo imiscudos com osda cidade terrestre. Sendo oobjetivo do amor o parmetropara se diferenciar os terrenos eos celestes, os primeiros amam osbens terrenos, e os segundos,apenas os celestiais. Estes ltimosconstituem a grei da Igreja.

    Quanto questo dos Direitosdo Homem, no somente nosofrer quebra de continuidadeda cultura judaica e grega parao cristianismo como recebernovo alento e maior aprofun-damento.

    Destaque

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    Entre osromanos umdos maiorestericos foi

    Ccero.

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    Santo Agostinho, em relaoaos Direitos do Homem, apre-sentou uma viso radical, poisopunha dicotomicamente o beme o mal, a Cidade de Deus e aCidade Mundana. Ele, aps terpassado por vrias experinciasde f, ao abraar o Cristianismoexcluiu as demais. Para ele, onico valor que conferia aohomem a dignidade de serhumano era ser cristo. Os queestivessem foram dessa categoriaestariam em situao de pecado.Nem mesmo os reis escapavamde sua classificao entre bons emaus. Da que vida, liberdade(livre arbtrio), igualdade e bensterrenos tinham uma inter-pretaosui generis, ou limitada.Estes direitos, ou valores, somentefaziam sentido na f crist. Aelaborao das diversas cate-gorias de leis ir inspirar osfilsofos e telogos durantetoda a Idade Mdia, e inclusiveo prprio Santo Toms deAquino, mil anos depois, ir seinspirar nela.6

    Santo Toms

    Um dos aspectos funda-mentais em Santo Toms aquesto da justia, qual segueAristteles, pois afeta diretamenteo entendimento dos Direitos doHomem. Aristteles havia distin-guido a justia comutativa, a dastrocas dos iguais, e a justiadistributiva, aquela dos desiguais.Toms de Aquino acrescenta mais

    uma: a justia legal. Ela significaa relao do todo com as partes. o outro lado da justiadistributiva. O que os indivduosfaro para o todo, sociedade eEstado? E aqui existem obriga-es desiguais. Se o Estado tratadiversamente o bom cidado domau, em compensao esperadeles retribuies tambm di-ferentes. isto que Toms deAquino entende por justia legal,a qual ns chamaramos atual-

    mente de justia social. A justiacomo virtude objetiva, emoposio a outras virtudes, queso subjetivas, pois no necessa-riamente envolvem outras pes-soas. A justia, por isso, tem um

    carter bilateral.

    7

    Os Direitos do Homem emSanto Toms esto inseridosdentro do contexto de suadoutrina. A viso cosmolgica doUniverso do Aquinate engloba atotalidade dos seres, incluindoDeus, Anjos, homens, animais,seres vivos e inanimados. Estesseres esto hierarquizados a partirde Deus at o mais nfimo dosseres. natureza do homemSanto Toms reserva uma posio

    privilegiada. O homem nosomente um ser corporal, masracional e espiritual, destinadolivremente a compartilhar comDeus. Sobre esses princpios erigea doutrina da dignidade da pessoahumana, isto , o homem comoum valor em si, sem necessidadede referncias externas. Pelarazo e espiritualidade todos oshomens recebem em si a leinatural, pela qual podem escolherentre o bem e o mal. Se o homem

    peca no pode invocar igno-rncia, pois a lei natural lhe diz ocerto e o errado. Mas para que ohomem tenha mrito ao escolhero bem, ele dotado de livrearbtrio, isto , o homem um serlivre. O direito de propriedade defendido por Toms de Aquinocomo uma consequncia dadignidade do trabalho humano.Atravs do trabalho o homemimita a Deus no seu ato criador.Os bens particulares, individuaisou privados, o homem deveutilizar para seu prprio aper-feioamento pessoal e de suacomunidade. A propriedade,porm, no ilimitada em SantoToms. Deve obedecer aos

    princpios comutativos e distri-butivos. Pelo primeiro, procuraatingir a justia atravs daigualdade de vantagens e des-vantagens nas relaes de troca,e pelo segundo a justia se obtmao distribu-la na medida dacolaborao de cada um. SantoToms pretende, atravs dapropriedade, livrar o indivduo dadependncia total do Estado. Napropriedade o indivduo estarianuma esfera autnoma, podendo

    Destaque

    Dois nomes se destacam na reflexo da Idade Mdia: Santo Agostinho e Santo Toms.

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    assim exercitar sua liberdade. Poroutro lado, o prprio poder deacesso propriedade iguala osindivduos na liberdade de possuir.

    A SISTEMATIZAODOSDIREITOSDO HOMEM

    Na Idade Moderna tornou-sehegemnica uma ideia-eixo queimantou em torno de si pensa-dores polt icos de diversastendncias ideolgicas. Trata-se docontratualismo, que concre-tamente propugnava a queda doAbsolutismo, diviso e limitaodo poder e instituio de umgoverno de origem popular. Ocontratualismo, porm, no sdizia respeito a questes degoverno relaes entre gover-nantes e governados mastambm associao dos cida-dos, participao dos bens, submisso s mesmas leis e,principalmente, ao esforo desalvaguardar o indivduo peranteo poder.

    Precisamente na concepo de

    lei que se estabelecer o divisorideolgico dos contratualistas.

    Neste particular a diviso que seestabeleceu foi entre os partidriosdo jusnaturalisrno e os partidriosdo convencionalismo. Entre osprimeiros podem ser alocadosThomas Hobbes, Samuel Pufen-dorf, culminando com John Locke.Entre os segundos poderiamser enumerados Franois-VincentToussaint, Claude-Adrien Hel-vetius, Franois-Marie Arouet,Denis Diderot, Paul Henri Dietrich,culminando com Jean-JacquesRousseau. Os primeiros propug-nam pelos direitos naturais, e ossegundos pelos direitos estabe-lecidos pelos cidados.

    O Jusnaturalismo

    O mais acabado jusnaturalistada Idade Moderna, da vertenteliberal, foi John Locke. Ele conse-guiu reunir os diversos fragmentosda doutrina liberal, esparsa nastradies e leis do Reino Britnico.Deu-lhe coerncia e sistema-tizao, buscou fundamentosfilosficos e justificou sua prtica.Insere-se dentro da grandetradio da Lei natural, quevinha de Scrates, Aristteles eCcero, bem como da doutrinaestoica, no perodo da Antigui-dade. Na Idade Mdia a vertentefoi retomada principalmente comSanto Toms. E, na Idade Mo-derna, sintetiza as diversasmanifestaes liberais surgidasna Europa. Ningum, comoLocke, procura salvaguardar oindivduo de possveis ataquesda maioria, do Estado e dasminorias. O homem, para ele, um valor em si, que nonecessita de referncias paramostrar sua dignidade.8

    A pr imei ra pe rgunta queLocke se faz ao estudar o poderpoltico: como eram os homensnaturalmente. Para ele era umestado de perfeita liberdade paraordenar as prprias aes, paradispor sobre suas pessoas epossesses como achasse mais

    proveitoso para si mesmo, dentrodos limites da lei natural, semnecessitar de pedir autorizao aquem quer que seja ou dependerde alguma vontade alheia. Nesteestado todos eram iguais, porqueo poder era igual para todos eningum possua nada mais queoutro. Pensa Locke que isso evidente por si, pois criaturas damesma espcie, gozando detodas das vantagens da natureza,todas usando as mesmas fa-culdades, no estado de nenhumasoberania a mais numa pessoaque na outra. Isso, porm, que o estado de liberdade e igualdadepela lei natural, no abso-lutamente um estado de licen-ciosidade. O estado de naturezapossui uma lei natural, qualtodos esto submetidos e cujatransgresso acarreta a reaode todos os demais sobre ele.Alis, os prprios transgressoresreconhecem que merecem re-parar os danos causados aoutrem na mesma proporo desua ofensa. Locke cita a pas-sagem bblica na qual Caimreconhecia que qualquer umpodia mat-lo, pois ele haviamatado seu irmo. Isso para eleseria o racional. A lei naturalguiava os homens em estado denatureza.

    Em decorrncia do princpiode liberdade e de igualdade,Locke institui o princpio da vida.Este o nico direito natural emque o homem limitado para simesmo e no pode disp-la comoos demais direitos. Em estado deliberdade, e observada a leinatural, o homem pode fazer oque bem entender. Da mesmaforma, no precisa se submetera nenhuma vontade. Mas, no quediz respeito vida, o homem temum limite: no pode tirar aprpria vida, porque esta no foidada ao homem, apenas em-prestada. O verdadeiro pro-prietrio dela Deus, isto , o seuautor. O direito vida tambm

    Destaque

    John Locke

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    o nico em que Locke lana mode argumento externo razo.

    O quarto direito do homem,o de propriedade, Locke o justificadizendo que o mundo e anatureza foram dados por Deusaos homens em comum, con-forme ele, por isso no o autorda propriedade e no por estarazo que ela se justifica. A terra,com tudo o que ela produz,pertence ao gnero humano emcomum naquilo que ela natu-ralmente gera de seu seio. Se aterra, juntamente com aquilo queproduz, foi dada em comum aohomem, donde deriva a pro-priedade? Locke responde quevem do trabalho, e com issoamplia o sentido de propriedade,isto , vai alm da exclusivamentefundiria. Embora a terra e osanimais inferiores pertenam atodos em comum, cada homempossui em sua pessoa umapropriedade. Esta no comum,mas privada, individual, indivisvele intransfervel. Ningum possuiqualquer direito sobre ela. Estapropriedade, a prpria pessoa,ao entrar em ao produz algo.A ao humana chama-setrabalho, e o resultado disto umbem, o qual, com justia, per-tence a quem o produziu. Emoutras palavras, o direito depropriedade nasce do trabalhodo homem, quer seja manual,quer seja intelectual. Dessamaneira cada homem podetransformar algo que em princpio de todos em propriedade suapelo trabalho. Mas, somenteaquilo que ainda no pertence aalgum individualmente, e nessecaso deve ter o seu consentimentopara poder ser proprietrio, ouque ainda no seja comum detodos, e nesse caso j umapropriedade pblica.

    O homem, que nasceu livre eigual, por natureza no somentedeve defender sua vida, sualiberdade e sua propriedade, masencontrar meios eficazes para

    prevenir-se de quem quer que sejaque possa prejudic-lo nos seusdireitos. E como de todos os bens,maior e primeiro sua prpria

    pessoa, isto , sua propriedadematricial, os homens instituem asociedade civil para preservarseus direitos.9

    O objetivo que levou oshomens a abandonarem oestado de natureza em troca deuma sociedade civil a defesa da

    O Convencionalismo

    O contratualismo gerou avertente de concepo conven-cionalista dos direitos individuais.Eles no nascem com o homem,mas do poder poltico, o Estado.O prottipo desta teoria Jean-Jacques Rousseau.

    A sociedade no natural,mas decorrente da necessidadede sobrevivncia. Se as dificul-dades para a sobrevivncia noadviessem, o homem natural-mente quereria viver livre ou nosocial. Se a sociedade no natural, o que ser ela paraRousseau? Um conjunto ousistema de convenes. A socie-dade, portanto, uma criaoartificial dos homens para po-derem subsistir. Tudo o que esta so meras criaes do grupohegemnico e em favor do grupohegemnico ou de grupos quedetm ou detiveram o podereconmico e poltico. De posse dopoder poltico os grupos legis-laram em causa prpria.10

    Mas, no momento que seinstitui a nova realidade, isto , asociedade, esta situao diferequantitativamente da vida na-tural. Enquanto nesta cadaindivduo sua unidade integral,no estado convencional cadaindivduo no passa de umaparcela do todo. Diz Rousseauque a alienao de cada um aotodo e sendo um ato coletivoe ad aeternum ningum termais interesse em explorar os

    demais.11

    Para Rousseau, ao se instituira sociedade os homens abremmo de seus direitos individuaispara entreg-los vontade docoletivo. Para explicar melhor suaideia Rousseau lana mo daalegoria do organismo. Osmembros compem o corpo, eseparados dele no fazemsentido. A perda da autonomia,porm, compensada pelainsero numa unidade maior, da

    propriedade. Com efeito, nestaque o homem pe a salvo suaindividualidade e sua liberdade.

    Para tanto, faz-se necessrio queo poder poltico seja controladopelos proprietrios, consideradosresponsveis diante dos prpriosinteresses. Desse modo, Locketransfere para os proprietrios aincumbncia de representar todaa sociedade. A eles, como fullmembers, cabe dirigir o poderpoltico, para que avance at olimite da propriedade, o queconstitui o patamar do estado denatureza.

    Destaque

    Em decorrnciado princpio deliberdade e de

    igualdade, Lockeinstitui o princpioda vida. Este o

    nico direito naturalem que o homem

    limitado para simesmo e no podedisp-la como os

    demais direitos. Em

    estado de liberdade,e observada a leinatural, o homempode fazer o que

    bem entender.

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    qual se tornam parte indis-pensvel. O eu individual ex-tingue-se, nascendo uma novarealidade, o eu comum. Este um corpo moral e coletivo,conforme ele. Uma pessoa p-blica, uma repblica ou umcorpo poltico. Este poder podesimplesmente ser inerte e, porisso, Estado Passivo; podeexercer ao e, portanto, EstadoSoberano; pode relacionar-secom outros Estados, da, EstadoPotncia. Os associados docorpo poltico, coletivamente, sodenominados povo e, particu-

    larmente, so cidados, en-quanto partcipes da soberania,e sditos se consideradossubmetidos lei.12

    OS DIREITOSDO HOMEMNAS REVOLUESAMERICANA

    E FRANCESA

    Carta de Direitos daRevoluo Americana

    Os Representantes das 13

    colnias, nos Estados Unidos, sereuniram em Filadlfia em 4 dejunho de 1776, em CongressoContinental, e anunciaram afamosa Declarao de Indepen-dncia. Nela j se expressariam osprincpios filosficos que iriamnortear a futura Constituio.Primeiramente se estabelecem osprincpios dos Direitos do Homem,tais como a igualdade, a vida, aliberdade e a busca da felicidade.Estes direitos so considerados

    inalienveis e originrios donascimento como ser humano.Esses princpios so self-evident.No dizer de Jefferson, a De-clarao no inventava nada,seguindo o senso comum, isto ,o consentimento. Mas ao citarexpressamente os ensinamentosde Aristteles, Ccero, Locke eSidney, identificou-se com umafilosofia que considerava osDireitos do Homem provenientesda lei natural.

    Na questo da organizao doEstado, surgiram duas ten-dncias: uma queria praticamenteuma soberania para cada ex-colnia, eram os antifederalistas,e outra queria uma amplaautonomia para os estados, massem a soberania. Eram osfederalistas. Na Convenoencarregada de elaborar umaConstituio, de 17 de setembrode 1787, os delegados houverampor bem silenciar sobre a questodos Direitos do Homem, mere-cendo diversas crticas posteriores.No entanto, em 15 de Dezembrode 1791 10 artigos so aditados Constituio, devidamenteratificados pelos legislativosestaduais.

    O princpio que norteou aCarta de Direitos foi o jusna-turalismo. Estabeleceu-se que,para os Estados, tudo o que noest reservado est concedido,mas para o Governo geral tudoo que no est concedido, estreservado. Da que a Carta, emseus 10 artigos, sintetiza osprincipais direitos do homemperante o governo central. OCongresso no pode fazer leissobre religio e comrcio, nopode restringir a liberdade deimprensa e a palavra. Proibir opovo de reunir-se. O povo podepossuir e portar armas. Probe-seo alojamento de soldados emcasas, sem o consentimento doproprietrio. Ao povo garantidoo direito de integridade pessoal,patrimnio e documentao. Os

    mandatos de busca e apreensodevem ter descries porme-norizadas de locais, pessoas eobjetos. Todo processo que vise vida, propriedade e liberdadedeve ter amparo legal, sem falarno direito de defesa e dejulgamento pblico e imparcial,incidindo somente sobre crimesidentificados. Em processos queexcedam vinte dlares, apsjulgado por um jri, no pode serjulgado por outro tribunal, seno

    de acordo com lei comum. Nohaver fianas e multas exces-sivas, ou castigos cruis e ex-traordinrios. A enumeraodesses direitos no elimina outrosque esto na posse do povo. Ospoderes que no foram delegadosao governo central, nem proibidosaos estados, permanecem nosestados e no povo.13

    Os Direitos do Homem naRevoluo Francesa

    Na noite de 4 de agosto de1789 a Assembleia da Franaaboliu os dzimos, as obrigaesfeudais dos camponeses, aservido foi extinta, caram osprivilgios de caa dos nobres, aiseno de impostos e osmonoplios. Este foi o primeiropasso, fazertabula rasa de todasas classes e nveis sociais,igualando todos perante a lei.Aps serem removidos os en-tulhos, inicia-se a obra dereconstruo.

    De imediato faz-se a De-clarao dos Direitos do Homemcomo precauo contra a antigaordem. A Declarao dos Direitosdo Homem e do Cidado traz umobjetivo universalista. A Cartaamericana referia-se somente aseus habitantes. A francesaobjetiva todo o homem, primei-ramente porque a fundamen-tao dos Direitos do Homem seinspirou na razo. E em segundolugar j se iniciava uma cons-cincia da universalidade desses

    direitos. A Assembleia j estavalegislando para toda a huma-nidade.

    Embora se fale em direitosnaturais, na verdade soabstraes de situaes concretas.Quem descobriu os direitosnaturais foi a razo, sendo elesvlidos uniformemente para todosos homens, de todos os tempos eem qualquer situao. Os direitosconsagrados na Declarao sode liberdade, igualdade, pro-

    Destaque

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    priedade, segurana e resistncia opresso. A soberania, deacordo com a doutrina con-tratualista, depositada nanao. Alm disso, todos tm

    direito pblica e ampla defesaquando acusados. garantida aliberdade de expresso, podendopara tanto falar, escrever eimprimir suas ideias. institudauma fora pblica para garantiros direitos do homem. Este artigoevidencia o carter estatal econvencionalista dos direitospresentes na revoluo francesa.A defesa dos direitos necessita deuma fora, enquanto a ideia dedireitos naturais deter a fora

    perante esses direitos. Com issoo poder se arroga o rbitro dosdireitos, ideia estranha doutrinajusnaturalista.14

    A DECLARAO UNIVERSALDOS DIREITOSDO HOMEM

    A Declarao Universal dosDireitos do Homem a supremaconscincia alcanada at agora.Nela esto presentes tanto osdireitos provenientes da razo, os

    convencionalistas, como osnaturais, jusnaturalistas. Ocarter racionalista dos Direitosdo Homem parece predominar naCarta das Naes Unidas em

    1948, atravs da DeclaraoUniversal dos Direitos do Homem.No entanto, todos os direitos dojusnaturalismo tambm estopresentes, o que d a entenderque esses direitos esto acima dosEstados e governos, os quaisdevemreconhec-los. Possui umprembulo e 30 artigos. Noprimeiro, atravs dos con-siderandos se estabelecem osgrandes princpios da con-vivncia humana, tais como a

    dignidade humana, o idealdemocrtico, a resistncia opresso e outros. A Carta divideos direitos em individuais esociais. Entre os pr imeirosconstam os quatro grandesdirei tos do homem: v ida,liberdade, igualdade e pro-priedade. Mas outros foramacrescidos, como naciona-lidade, asilo, intimidade, famlia,ir e vir, participao poltica eoutros. Quanto aos segundos

    consta a segurana, trabalho,seguridade, educao e cultura.J o artigo 29 estabelece osdeveres perante a comunidade,e, f inalmente, o ar t igo 30determina que a interpretaoseja sempre em benefcio daverdade.15

    CONCLUSO

    Pudemos constatar que umconjunto de direitos afetos individualidade do homem,tambm denominados direitos dohomem, evidenciou-se comoconscincia deles, nas diversasexperincias do Ocidente. Atravs

    de contnuas assimilaes delegados de povos diversos e emtempos histricos diferentes, aconscincia dos Direitos doHomem constitui hoje uma con-fluncia cultural, fazendo parte devalores da pessoa humana.Atualmente esses direitos ocupamum lugar privilegiado entre asinstituies polticas, pois foramconsiderados pela Organizaodas Naes Unidas um Patri-mnio da Humanidade.

    Em 1789, a Assembleia da Frana aboliu os dzimos, as obrigaes feudais dos camponeses, a servido foi extinta, caram osprivilgios de caa dos nobres, a iseno de impostos e os monoplios.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    1 Jacques Maritain. Os Direitos do

    Homem e a Lei Natural. Rio deJaneiro: Jos Olmpio, 1967.p.57-68.

    2Bblia: Gn1 e 2. Dt15,15. Ex14,30. Ecl, 15.Jr27,5. At,17,26.

    3 Tucdides. Histria da Guerra doPeloponeso. 3 ed., traduo deMaria da Gama Kury. Braslia:Universidade de Braslia, p.96-l02.

    4 Leo Strauss e Joseph Cropsey.Historia de la Filosofia Politica.Mxico: Fondo de CulturaEconmica, l993, p.171-l72.

    5 Santo Agostinho. De Civitate Dei.1, 14, cap. XXVIII.

    6

    Michele Federico Sciacca. Histriada Filosofia. I - Antiguidade e IdadeMdia. So Paulo: Mestre Jou,1962, p. 169-228.

    7 Santo Toms. Summa Theologica.1a, 2a, q. 5 , art. l.

    8 John Locke. Segundo Tratadosobre o Governo. So Paulo:IBRASA.1963,cap. V.

    9 William Ebenstein. Great PoliticalThinkers. 3 ed., New York: Holt,l960, p. 393-403.

    10 Jean-Jacques Rousseau. Discursosobre as Cincias e as Artes e sobrea Origem da Desigualdade. Porto

    Alegre: Globo, 1958. L. I, cap. VI.

    11Do Contrato Social, op. cit. L., I,cap. VI.

    12Ibid.13

    Hamilton, Madison e Jay. Sobrea

    Constituio dos Estados Unidos.Trad. de E. Jacy Monteiro. SoPaulo: IBRASA. 1964, p. 159-164.

    14 Franois Furet e Richet Denis. LaRevoluzione Francese. V. I, Trad. DiSilvia Brilli Cattarini. Paris: Librairie

    Arthme, 1973, Captulo IV , p. 131-144.

    15Carta das Naes Unidas, Estatutoda Corte Internacional de Justia,Declarao Universal dos Direitosdo Homem. 2. Ed. Porto Alegre:Sulina, 1968.

    BIBLIOGRAFIABSICA

    BBLIA: Gn1 e 2. Dt15,15. Ex14,30. Ecl, 15.Jr27,5. At,17,26.

    CARTA DAS NAES UNIDAS,ESTATUTO DA CORTE INTERNA-CIONAL DE JUSTIA, DECLARAOUNIVERSAL DOS DIREITOS DOHOMEM. 2. Ed. Porto Alegre:Sulina, 1968.

    EBENSTEIN, William. GreatPolitical Thinkers. 3 ed., New York:Holt, l960.

    FURET, Franois e DENIS, Richet.

    La Revoluzione Francese. V. I, Trad.

    Destaque

    Di Silvia Brilli Cattarini. Paris: LibrairieArthme, 1973, Captulo IV.

    HAMILTON, MADISON E JAY.

    Sobrea

    Constituio dos EstadosUnidos.Trad. de E. Jacy Monteiro. SoPaulo: IBRASA. 1964.

    LOCKE, John. Segundo Tratadosob re o Governo. So Paulo:IBRASA.1963, cap. V.

    MARITAIN, Jacques. Os Direitos doHomem e a Lei Natural . Rio deJaneiro: Jos Olmpio, 1967.

    ROUSSEAU, Jean-Jacques.Discurso sobre as Cincias e as Artese sobre a Origem da Desigualdade.Porto Alegre: Globo, 1958. L. I,cap. VI.

    ______. Do Contrato Social, op.

    cit. L., I, cap. VI.STRAUSS, Leo e CROPSEY, Joseph.Historia de la Filosofia Politica. Mxico:Fondo de Cultura Econmica, l993.

    SCIACCA, Michele Federico.Histria da Filosofia. I - Antiguidade eIdade Mdia. So Paulo: Mestre Jou,1962.

    SANTO AGOSTINHO. De CivitateDei. 1, 14, cap. XXVIII.

    SANTO TOMS. SummaTheologica. 1a, 2a, q. 5 , art. l.

    TUCDIDES. Histria da Guerra doPeloponeso. 3 ed., traduo de Mariada Gama Kury. Braslia: Universidade

    de Braslia.

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    valorizam a liberdade.Rodrigo Constantino

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    OS FATOS

    staremos perdendo a priori-dade na deciso de investir

    dos agentes econmicos exter-nos? Muitos respondem afirma-tivamente pergunta, emboranem todos concordem que o Brasilse tornou secundrio no radar dosinvestidores internacionais.

    Alguns nmero s so lem-brados pelos que entendem quecontinuamos prioritrios comodestinao dos investimentosexternos. No ano passadoingressaram US$ 65,3 bilhes emInvestimento Estrangeiro Direto(IED). Esse valor correspondeu a16% da Formao Bruta deCapital Fixo (FBCF) o total dos

    investimentos em mquinas,equipamentos e construo civil.

    No se trata simplesmente deum percentual elevado. A parti-cipao dos recursos externos naformao de capital da economiano ano passado foi a maior desde2004. Ultrapassou tambm opercentual observado em 2011,quando os recursos externos

    E

    O desenvolvimento brasileiro:

    Por que perdemos prioridade em relaoa investidores externos?

    Matria deCapa

    Roberto FendtEconomista

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    Matria de Capa

    aportaram 14% do acrscimo aoestoque de capital da economia esomaram US$ 66 bilhes, depois

    de terem crescido 4,7% comrelao ao ano interior.Para este ano, o mercado

    projeta investimentos externosdiretos de US 60 bilhes, proje-tando o mesmo valor de ingressotambm para 2014, valor 8%inferior ao obtido em 2012.Como o ano mal comea, essevalor est sujeito a grandeoscilao.1

    Dados da Sociedade Brasileirade Estudos de Empresas Transna-cionais e da Globalizao Eco-nmica (SOBEET) mostram que51,9% dos investimentos estran-geiros diretos (IED) em 2012 sedirecionaram ao setor deservios, notadamente em se-guros, planos de sade, comrcioe imobilirio, beneficiados pelacontinuidade do processo deaumento e melhor distribuio darenda no pas.

    Vale a pena destacar algumas

    caractersticas do IED. Primeiro,aumentou a disperso dos setoresa que se dirigiram os inves-timentos. De acordo com aSOBEET, esse fato torna osingressos menos dependentes dasfases dos ciclos econmicos - osaportes com valor superior a US$1 bilho totalizaram apenas15,7% do total investido, e osinvestimentos com valor inferior aUS$ 50 milhes passaram de12,6% para 15,9% em 2012.

    Para os que argumentam queno h razes para preocupaes,esses fatos seriam suficientes parademonstrar que h um excesso depessimismo naqueles que sepreocupam com a perda deatratividade do Pas como destinode investimentos estrangeiros.

    Na contramo desses argu-mentos, baseados nos nmerosde 2012, aponta-se que oingresso de capitais externos emjaneiro mostra o pior resultado

    para o ms da histria. A ten-dncia do saldo em contacorrente do balano de pa-

    gamentos de forte deteriorao,com o saldo do ms situando-seem US$ 11,4 bilhes. Em grandeparte esse resultado dependeu dosaldo negativo da balanacomercial e do aumento dasremessas ao exterior.

    Desinteresse ou no dosinvestidores estrangeiros, osresultados de janeiro podemmostrar uma mudana de ten-dncia com relao atrao decapitais externos. Se assim for,diversas causas explicariam essedesinteresse.

    OS DETERMINANTESDOINVESTIMENTO

    Descartados outros fatores, adeciso de investimento calca-seem dois determinantes: o retornoesperado da aplicao e o riscodo principal e do retorno.

    O retorno esperado, por seu

    turno, depende em ltimainstncia do comportamento daeconomia no horizonte temporaldo investimento. Se as percepesdos agentes econmicos foremde que a economia retomar umritmo de crescimento que jus-tifique esperar um volume sufi-ciente de vendas e lucros queviabilizem o capital investido, emcondies baixas de risco, oinvestimento ser realizado.

    As condies de risco referem-

    se a vrias dimenses. H umrisco interno ao projeto, noclculo de sua rentabilidade e nasua execuo, que est sob ocontrole da empresa investidora.Mas h outros riscos que estofora do controle da empresainvestidora e so tanto denatureza macro como microeco-nmica.

    Os riscos de natureza ma-croeconmica referem-se volatividade da poltica eco-

    nmica em geral. Inflaes altase variveis tornam difcil o clculoeconmico. Polticas fiscais do tipo

    stop and go tornam tambmcomplexa a avaliao do com-portamento do mercado no futuroe da demanda pelo produto daempresa nesse mercado, emparticular.

    Os riscos de natureza micro-econmica se referem principal-mente estabilidade da regulaoeconmica e interfernciaerrtica, ou no, do governo naregulao. Mudanas bruscas naregulao existente afetamdireitos de propriedade e alteram,muitas vezes de maneira signi-ficativa, os retornos esperadosdos investimentos. Tambm fazemparte dos riscos de naturezamicroeconmica violaes diretasdo direito de propriedade, comodesapropriaes de ativos comindenizao por valores inferioresaos de mercado ou sem indeni-zao. Neles se incluem depre-daes da propriedade e ameaas

    fsicas a executivos ou acionistas.Para agravar o quadro de riscodo investimento, trata-se aquimais de percepes de riscos quede suas medidas facilmentemensurveis. Quando se trata depercepes transcendemos orisco para entrarmos no campoda incerteza algo no passvelde mensurao e fortementeinfluenciado por fatores psicol-gicos dos agentes.

    OSDETERMINANTESDORETORNO

    Os principais determinantesda rentabilidade do investimentoso a evoluo da receita daempresa e a evoluo de seuscustos ao longo do tempo.Desconhecido o futuro, o em-preendedor formula expectativasa respeito da evoluo futuradessas variveis.

    Os determinantes macro-econmicos da rentabilidade se

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    Matria de Capa

    deterioraram de maneira signi-ficativa em 2012 e no incio de2013. Em artigo recente, o

    professor Antonio Delfim Nettoapontou que a situao fiscal daeconomia brasileira e o seuequilbrio externo apresentamalguns sinais nebulosos, nadaque possa ser consideradoameaador no curto prazo, mascuja evoluo exige cuidado. Nocaso brasileiro, se a crise noacarretou o aumento da relaodvida/PIB, o seu valor altocomparado com o de outrospases emergentes, e a quartamais alta do mundo. 2 Esse fatocria dvidas na cabea dosinvestidores com relao solvncia fiscal do Pas.

    Para alguns a situao aindapior. Armando Castelar Pinheiropublicou recentemente artigo emque aponta que estaramosvivenciando uma situao deestagflao. Para ele, embora sejaexagerado afirmar que vivemosem 2012 uma estagflao essa

    combinao perversa de inflaoem alta com o crescimento do PIBem baixa os nmeros do anotalvez justifiquem o uso daexpresso para caracterizar oestado atual da economia.3

    O fato que algo mudou naeconomia do incio de 2012 para2013. No relatrio de inflao doBanco Central de maro de 2012as previses eram de umcrescimento de 3,5% do PIB euma inflao anual de 4,5% -

    exatamente no centro da meta deinflao. Essas previses tomavampor base que tanto a taxa Seliccomo a taxa de cmbio perma-neceriam nos nveis de marco de2012. Os fatos, infelizmente,vieram desmentir o cenriootimista do relatrio de inflao.O PIB cresceu muito pouco e ainflao se acelerou.

    Para o governo e parte dosanalistas de mercado h fatoresdeterminantes conhecidos para o

    baixo crescimento do PIB. Pri-meiro, a quebra da safra agrcola,em decorrncia de condies

    climticas adversas em vriasregies do Pas; a queda naproduo de nibus e caminhes;o ajuste de estoques na indstria,que fez a produo cair, enquantoas vendas iam bem; e a criseinternacional, em especial naEuropa, que levou retrao dosinvestimentos.4

    efeito estatstico de se compararo PIB de 2013 com a baseestagnada do PIB de 2012.

    A essa viso heterodoxa, quev a desacelerao do cresci-mento da economia e a ace-lerao da inflao como umfenmeno conjuntural, supervelno curto prazo, ope-se uma visoortodoxa, compartilhada porCastelar Pinheiro.

    Nessa viso, as causas dofraco desempenho do PIB em2012 so internas. Fossemexternas, teriam afetado o cres-cimento de alguns de nossosvizinhos na Amrica do Sul, o queno ocorreu.

    A desacelerao do cresci -mento brasileiro se deu em largamedida pela queda do inves-timento. Essa queda foi causadapelo crescente intervencionismoestatal, com mudanas regula-trias importantes e polticas decontrole de preos; e pelo stopand go da polt ica cambial,notadamente em relao

    entrada do capital estrangeiro nopas. Tambm pesaram a maiortolerncia com a inflao, a perdade transparncia da poltica fiscale a presso sobre os bancosprivados, que derrubou a alta docrdito ao consumidor, que j seressentia do elevado endivida-mento das famlias. Por fim, masno menos importante, a di-ficuldade em deslanchar o in-vestimento governamental e asconcesses na infraestrutura.5

    Adicione-se aos fatore smencionados o forte aquecimentodo mercado de trabalho, ope-rando tecnicamente prximo auma situao de pleno emprego. essa situao particular domercado de trabalho que imperestries ao crescimento semafetar o nvel da taxa atual deinflao. A persistir o plenoemprego, haver um trade-offentre inflao e crescimento.Cada uma dessas vises tem uma

    Se, de fato, esses foram osdeterminantes do baixo desem-

    penho do PIB, seria de se esperaruma forte recuperao do PIB jno incio de 2013, em razo daretomada da produo agrcolae da produo de nibus ecaminhes, do fim do ciclo deajuste dos estoques da indstriae da estabilizao da situaoeconmica nas regies proble-mticas, como a periferia da zonado euro. Por todos esses fatores,2013 deveria sinalizar forterecuperao - mais no fosse pelo

    Algo mudou na

    economia do inciode 2012 para 2013.No relatrio do BancoCentral de maro de2012 as previses

    eram de umcrescimento de 3,5%do PIB e uma inflao

    anual de 4,5% -exatamente no centroda meta de inflao.

    Essas previsestomavam por baseque tanto a taxa

    Selic como a taxade cmbio

    permaneceriamnos nveis de

    marco de 2012.

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    Matria de Capa

    receita distinta e oposta para osestados das polticas monetria efiscal. De acordo com a viso

    heterodoxa encampada pelogoverno, o problema dedemanda insuficiente. O remdio um aumento keynesiano dademanda, seja pelo ativismoexpansionista fiscal, seja pelaexpanso monetria e do crdito.

    A viso ortodoxa, ao contrrio,parte da premissa de que oproblema de crescimentoexcessivo da demanda relati-vamente expanso da oferta. Aterapia dessa viso o oposto daterapia da viso anterior: controleda expanso fiscal e apertomonetrio para conter o excessode demanda que vaza ou para obalano de pagamentos ou paraa inflao.

    De qualquer forma e indepen-dentemente de quem est certo,a percepo do investidor externono positiva. A falta de consensoquanto aos rumos da polticaeconmica aumenta a incerteza

    e o custo de investir no Pas.Finalmente, a antecipao dacampanha eleitoral de 2014tornou mais difcil a tarefa deavaliar a rentabilidade deinvestimentos prospectivos. Nosurpreendem as anlises queapontam que o tempo deortodoxia na poltica econmicaj passou. De agora em diante, oobjetivo principal ganhar aseleies, utilizando todos osinstrumentos disponveis para esse

    fim. Mais uma vez, a dificuldadede antecipar se o crescimentoser retomado na modalidadestop and go do segundo semestredeste ano ao primeiro semestre de2015 dificulta a anlise racionalde viabilidade de muitos projetosde investimento.

    Enquanto isso ocorre por aqui,outros pases com inflao maisbaixa e melhores perspectivas decrescimento a curto prazo esto

    exercendo uma atrao irresistvelsobre os fluxos de capital externos,em detrimento dos fluxos poten-

    ciais de capital que poderiamestar se dirigindo ao Pas.

    A INSTABILIDADE INSTITUCIONAL

    Pases cujos governos sopositivamente considerados, deacordo com diversos indicadoresda qualidade das instituies,tendem a se sair melhor naatrao de investimento externodireto. Estudos empricos mos-tram que diferentes aspectos daqualidade das instituies de umpas (corrupo, proteo dedireitos de propriedade, pol-ticas relativas facilidade oudificuldade de abrir e fechar umnegcio etc.) so quase sempresignificativos na explicao dasdiferenas dos fluxos de capitalexterno.6

    As frequentes mudanas deregras que regem os contratos naeconomia brasileira aumentam o

    risco do investimento e contribuemnegativamente para o aumento doaporte de investimentos externos economia.

    Aps um longo perodo de fla-grante desrespeito manutenodos termos dos contratos, comcongelamentos de tarifas edesapropriaes por interessesocial, passamos um longoperodo de estabilidade nostermos dos contratos.

    Mais recentemente, a esta-

    bilidade institucional foi que-brada. O exemplo mais emble-mtico foi o das mudanas nasregras que regem o setor eltricointroduzidas a partir de agosto doano passado, mas inmerasoutras mudanas poderiamtambm ser citadas.

    Por fim, o Pas se ressente daefetiva ausncia de garantiaefetiva dos direitos de proprie-dade. No se trata de algo novo,

    j que a ausncia de garantia dosdireitos de propriedade no campovem de longa data. Mas esses

    problemas no encontraramainda soluo, e aumentam orisco do investimento externodireto economia brasileira.

    GUISADE CONCLUSO

    O investimento externo diretoocorre onde so boas asperspectivas de rentabilidade ebaixos os riscos associados aoinvestimento. O Pas poderiaaumentar esses fluxos casodispusesse de maior estabilidademacroeconmica e tivesse insti-tuies mais slidas, especial-mente no que diz respeito estabilidade do marco regulatrioe garantia dos direitos depropriedade.

    1 Banco Central do Brasil. BoletimFocus. Publicado em 26 de abrilde 2013.

    2 Antonio Delfim Netto, Situaofiscal e cambial. Valor Eco-nmico, 30 de abril de 2013.

    3 Armando Castelar Pinheiro,Duas vises da estagflao de2012". Valor Econmico, 5 deabril de 2013.

    4 Armando Castelar Pinheiro,op.cit.

    5 Castelar Pinheiro, op. cit.6 Brindusa Anghel, Do InstitutionsAffect Foreign Direct Investment?

    Universidad Autnoma deBarcelona, 2005.

    Notas e Referncias

    Bibliogrficas

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    A sociedade da desconfianaMarcel Domingos Solimeo

    Economista do Instituto de Economia da Associao Comercial de So Paulo

    socilogo francs AlanPeyrefitte, historiador, diplo-

    mata, poltico, onze vezes ministrode Estado, membro do parla-mento francs, escreveu o impor-

    tante livro A Soc iedade deConfiana, no qual, seguindo alinha de Adam Smith, procuraidentificar as causas da Riquezadas Naes. Esse livro, definidopor Olavo de Carvalho como umestudo sobre as condiesculturais de desenvolvimentoeconmico, foi editado no Brasilpelo Instituto Liberal e contou comuma sntese muito bem feita peloento economista do Instituto,Roberto Fendt. Com base em

    exaustiva anlise histrica,Peyrefitte destaca o papel decisivodo fator mental no desenvol-vimento econmico, e manifestaa convico de que o elo social

    mais forte e mais fecundo, queconduz ao progresso, aqueleque tem por base a confiana.

    Estas consideraes somotivadas pela aprovao, porparte do Congresso Nacional, daEmenda Constitucional 72, queestende ao empregado domsticoos direitos trabalhistas assegu-rados pela Constituio aostrabalhadores das empresas, sema devida considerao dassignificativas diferenas existentes

    entre as duas categorias. Oprincpio constitucional de tratarigualmente os iguais tem comocontrapartida a de que devem sertratados desigualmente os desi-

    guais. Exemplo o tratamentodiferenciado e mais favorecido smicro e pequenas empresas, peloreconhecimento de que elas nopossuem as mesmas condiesque as grandes para atender asexigncias da burocracia e datributao.

    No emprego domstico, almde no se visar a uma finalidadeeconmica, o relacionamento ,regra geral, pessoal, na base daconfiana, pois para o empre-

    O

    Sociedade

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    A sanhaintervencionista

    que temcaracterizadoo governo em

    suas trs esferas,incluindo executivo,

    legislativo emuitas vezes at

    o judicirio,especialmente na

    Justia do Trabalho,faz com que cada

    vez mais se procureregulamentar no

    apenas asatividades dasempresas, mas

    tambm a vida doscidados.

    Sociedade

    gador importante confiar napessoa que trabalha em sua casae que, muitas vezes, cuida de seus

    filhos ou parentes idosos ou comproblemas de sade. As con-dies de trabalho so ajustadasentre as partes, visando possi-bilitar o atendimento as neces-sidades da famlia, mas, tambm,as condies de quem presta oservio.

    A sanha intervencionista quetem caracterizado o governo emsuas trs esferas, incluindoexecutivo, legislativo e muitasvezes at o judicirio, espe-

    cialmente na Justia do Trabalho,faz com que cada vez mais seprocure regulamentar noapenas as atividades das em-presas, mas tambm a vida doscidados. So constantes asintervenes legislativas e dergos pblicos sobre o que oindivduo pode fazer, seja comer,beber, fumar, comprar determi-nados medicamentos, a idadeideal para mandar os filhos escola, o patrulhamento do

    politicamente correto, em queno se pode dizer o que se pensasem risco de incorrer em crime.Agora uma relao de confianaacaba de se tornar uma fonte depotencial atrito e de desconfiana,alm de atribuir ao cidadoexigncias burocrticas incom-patveis com suas condies deatendimento.

    Pouca gente atentou para aextenso da medida aprovadapelo Congresso, certamente nem

    a maioria dos parlamentares quea aprovaram, tanto assim quej se procura abrandar algumasdas exigncias estabelecidas naPEC 72, embora no se possaalter-la como seria necessriosem nova emenda constitucional.A cart ilha elaborada peloMinistrio do Trabalho mostracomo ser difcil conciliar odisposto na PEC com a realidadedo trabalho domstico, que

    engloba, alm da tradicionalempregada, motoristas, caseiros,babs, atendentes de doentes e

    ouras modalidades distintas,tratadas como se fossem coisasiguais, e iguais tambm aostrabalhadores das empresas.Como o noticirio tem seconcentrado mais no pagamentodo FGTS e na questo das horas

    Quando o que o pas necessita de uma reviso da CLT, que com-pletou 70 anos, mas que j nas-

    ceu desatualizada por resultar deum modelo corporativista que jestava ultrapassado em sua ori-gem, para que a indstria bra-sileira possa melhorar suas con-dies de competir com os pro-dutos importados, o Congresso,insensvel a essa realidade, nadafaz nesse sentido e, para piorar,estende essa legislao ao traba-lhador domstico sem as necessriasadaptaes e sem avaliar as con-sequncias dessa medida.

    de se esperar que pelomenos o Congresso aprove umasimplificao das exignciasburocrticas e a reduo do custodos encargos, mas, de qualquerforma, transformou-se um re-lacionamento de confiana emuma relao contratual detalhista,de difcil aplicao integral, e queacaba sendo estimuladora deconflitos, aumentando o jabsurdo volume de aes quetransitam na justia do trabalho.

    Provavelmente teremos umareduo da oferta de empregosdomsticos com carteira assinada,substituda por diaristas ouempresas que ofeream osservios mesmo com custos maiscaros, mas que eliminam opassivo trabalhista potencial . Omercado acabar se ajustando,mas difcil saber o custo queempregadores e empregadosdomsticos pagaro at que issoocorra. Talvez o maior problema

    seja a tendncia que se vemobservando nos legisladores, detransformarem o pas em umasociedade da desconfiana que,como alertava Peyrefitte, umasociedade temerosa, ganha-perde, onde a vida comum umjogo cujo resultado nulo, ou atnegativo, uma sociedade propcia luta de classes, inveja social,ao fechamento, agressividadeda vigilncia mtua.

    extras, pouca ateno se d sexigncias de seguro de acidentesdo trabalho, creches e muitasoutras que resultaram em umacartilha de oito pginas. Quanto

    ao pagamento do FGTS, inde-pendente do seu custo e daburocracia necessria para seupagamento, cria-se um absurdopassivo trabalhista potencial coma multa de 40%, que desestimulaque se mantenha o trabalhadorpor muito tempo, pois isso podeacarretar srios problemas para asfamlias que tenham que demitirum empregado por estar emdificuldades financeiras.

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    A logstica do transporte porturioJovelino PiresCoordenador da Cmara de Logstica Integrada da AEB - Associao de Comrcio Exterior do Brasil

    Transportes

    arece incrvel que a funomais importante dentro de

    uma organizao, o Planeja-

    mento, esteja sendo alijada dasentidades governamentais outalvez transformada em ficocientfica. Como relatam os estu-diosos da administrao (lem-bremo-nos de Koontz & ODonnel)planejar decidir antecipa-damente o que fazer. Veja que oautor no recente, mas pareceque tal afirmativa ainda no foidescoberta por algumas cabeascoroadas de Braslia.

    Feito o desabafo de um bra-sileiro, vamos aos fatos que temoshoje em dia em relao logstica

    de transportes neste giganteterritorial que o Brasil e seusefeitos na Balana Comercial denosso Pas.

    A tcnica denominada Ora-mento Programa foi definidano mbito Federal pelo Decreto-Lei n 200, de 23 de fevereiro de1967 (l se vo 46 anos). O queseria cumprido se constituaatravs do desmembramento doplanejamento estratgico, em

    planos tticos e operacionais.O Oramento Programa iden-tificava projetos e atividades, com

    os valores que seriam gastos noperodo anual, mais do que,ento, a viso de se contabilizaro que foi gasto. Garantia obje-tividade e transparncia na aogovernamental. O Oramentoautorizativo se revestia da visooperacional do Governo, co-brando-se a eficincia ou aineficcia da ao pblica emrelao ao perodo cursado.Coisa sria.

    P

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    Quantificar metas em relaos suas ocupaes pblicas responsabilidade do Governo, noque a Constituio lhe atribui naorganizao do Estado. Alm datransparncia sobre seus atos hque se ter, alm das justificativas,a ao corretiva imediata.Corrige-se o Plano Estratgico, oTtico e o Operacional. Tudo paraque o cidado no pague pelo queno beneficia nem ele nem suacomunidade. Veja-se que isso,Planejamentos dando origens abens e servios como prometido,j aconteceu neste Pas. Isso

    representa avanos na sociedadee no todo do Brasil.O quadro de hoje apresenta a

    complexidade de uma MP 595,baixada em 6 de dezembro de2012 e que, no obstante ter sidopublicada s vsperas das festasjuninas, ainda assim teve mais de600 emendas apresentadas noscinco dias permitidos no Con-gresso. Somente isso j deverialevar os doutos do Governo arepensar sobre a matria, vez que

    a MP atingiu uma lei chamadade Lei de Modernizao dosPortos (L 8.630/93) que, entreseus mritos, tinha o fato de queh mais de dez anos no ocorriagreve de porturios nos portospblicos e as pendncias eramanalisadas pelos stakeholdersde cada porto, constitudos emConselhos de Autoridade Por-turia, com representao doGoverno, nos seus trs estgios(Federal, Estadual e Municipal),dos concessionrios, dos usuriose dos trabalhadores.

    Ao fazer tabula rasa da Lein 8.630/03 praticamente oGoverno abandonou tambma figura do Estado Repblica.Tudo concentrado no GovernoCentral.

    A prtica recente de plane-jamento do Governo Centralpode ser vista no quadro seguinte:

    PNLT Plano Nacional deLogstica de Transporte: de-senvolvido recentemente peloMinistrio dos Transportes, masao longo desses anos no atingiusuas metas.

    PNLP Plano Nacional deLogstica Porturia: criado recen-temente pela Secretaria de Portosda Presidncia da Repblica,voltado para o planejamento dalogstica porturia nacional.

    PNLI Plano Nacional deLogstica Integrada: trata deprojetos para a situao do fluxodo comrcio exterior brasileiro,

    envolvendo, portanto, acessosrodovirios, ferrovirios etc.Lanados h poucas semanas.

    Pode-se adicionar, s nestecampo a participao no IIRSA,que tem apoio do BID e do qual oBrasil faz parte em face daintegrao rodoferrovirio para aAmrica do Sul;

    Em outras palavras, planosno faltam (o papel aceitatudo), falta a ao.

    Entende-se dessa forma

    que a multiplicidade de rgospblicos (s Ministrios so 39),com forte conotao poltico-partidria, acabam produzindomais papel do que solues. Vejaque estamos falando de um pascontinental e que compete compases fortemente desenvolvidos epossuidores de infraestruturainvejvel, ferrovias, rodovias,portos. Navios, dentre outrosmodais, fazem a ponte entre oprodutor e a porta de sada e deentrada das mercadorias denosso comrcio exterior. No dpara produzir mais um plano nopapel sem fixar claramente o que,por que, como e por quantovamos desenvolver a ao.

    Resta uma lembrana ain-da tirada de um ditado doshomens do mar: para quemno sabe para onde vai, todovento ruim.

    Transportes

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    Liberalismo

    As causas do debilitamento

    do liberalismo no sculo XXOg LemeEconomista, com Mestrado pela Universidade de Chicago

    comum, no final das minhaspalestras sobre liberalismo e

    as virtudes da ordem liberal, quealgum me pergunte: Muitobem, ento por que a ordem libe-ral do sculo XIX, que perdurou ata 1 Guerra Mundial, foi progres-

    sivamente substituda, em grausdiferentes e em praticamente to-dos os pases, por diferentes tiposde estatismo? Se o liberalismo erato bom, como se explica suasubstituio pelo Estado-Leviat?Foram vrios os motivos, confor-me passo a relalar.

    O primeiro deles ocorreu eainda persiste em boa dose nocampo das idias, conforme ob-servao pertinente de Hayek, e

    se refere prtica de um racio-nalismo exacerbado. De acordocom ela, o que no pode ser ex-plicado racionalmente ou nodecorre da ao inteligente pro-positada do homem no merececrdito. Como a ordem liberal se

    fundamenta em considervel me-dida em instituies e prticas so-ciais espontneas originrias daao humana no deliberada como so a linguagem, o dinhei-ro, o mercado, o direito consue-tudinrio, os usos, costumes e tra-dies ela passou a ser questio-nada e substituda por equivalen-tes sucedneos sintticos, forjadospropositadamente nas pranchetasdos engenheiros-sociais. O

    Esperanto foi proposto comoidioma universal, e os nossosimortais da Academia Brasileira deLetras no se cansam de proporregras gramaticais que engessemdefinitivamente o nosso belo emutante idioma. So ridculos os

    acordos Brasil-Portugal sobrenormatizao e controle da nos-sa escrita e da nossa fala, cadavez menos dispostas a aceitar asideias com que so ameaadaspor esses puristas ingnuos.

    A economia de mercado temsofrido mais, muitssimo mais, doque a linguagem espontnea quefalamos e modificamos no nossocotidiano. Durante o sculo XX,vrias formas e graus de planeja-

    O estado de guerra uma situao excepcionalque coloca direitos individuais de quarentena eprivilegia os propsitos do Estado.

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    mento econmico tentaram ocu-par o lugar at ento exercido poragentes individuais livres, motiva-dos por interesses pessoais e

    guiados pelos preos relativos dosbens e servios. E o mais espan-toso que isso tenha ocorridomesmo aps Mises e Hayek teremdemonstrado, nos anos 20, a im-possibilidade do clculo econmi-co numa economia centralmenteplanejada. Em outras palavras, osdois grandes economistas aus-tracos previram o fracasso inevi-tvel de economias conduzidaspor autoridades estatais carentesde preos de mercado para gui-

    las. Acertaram em todos os casosonde esse tipo de interveno eco-nmica governamental teve lugar.

    O liberalismo floresceu muitomais nos pases onde prevaleciao direito consuetudinrio do queem pases ligados ao positivismojurdico, como ocorre com o Bra-sil. O direito espontneo consue-tudinrio gestado, na realidade,pela livre interao dos membrosde uma sociedade, atravs dotempo; ele emerge dos usos, cos-

    tumes e tradies, e desco-berto e no criado pelos ju-zes e legisladores que o transfor-mam em leis e o sistematizam.

    Contrariamente, o direito positivoacabou se convertendo na prti-ca viciosa de considerar lei aquiloque as assemblias legislativasproduzem e sancionado pelopresidente do pas. Os leitores in-teressados no assunto podem lero excelente livro de Bruno Leoni jurista italiano j falecido Lawand Freedom , edio do LibertyFund, Indianpolis, USA.

    O destino do dinheiro no foimais feliz. Ele foi criado para di-

    minuir aquilo que os economistaschamam de custos de transao.Ele serve de meio de troca, unida-de de conta e de meio deentesouramento. Sua vignciadepende sobretudo de crdito,isto , ele vige enquanto os usu-rios acreditarem nele, de formaque ele aceito corriqueiramentenas transaes dirias no merca-do. O dinheiro pode ter credi-bilidade sem ter sido criado pelogoverno; a histria se encarrega

    de mostrar a viabilidade do di-nheiro privado. Por outro lado,o fato de ser fruto do monoplioestatal no assegura a suacredibilidade. Existe hoje um n-mero crescente de economistasliberais simpatizantes da priva-tizao do dinheiro. Os leitoresinteressados no problema podemler o livro de Hayek,A Privatizaodo Dinheiro, editado pelo Insti-tuto Liberal do Rio de Janeiro. Emsntese, a crtica liberal indaga:

    Por que manter monoplio esta-tal do suprimento de dinheiro?Procurei dar aos leitores alguns

    exemplos de perverso no uso doracionalismo. Pretendo, a seguir,mostrar-lhes a malignidade deoutro tipo de deformao intelec-tual prevalescente no sculo XX, oholismo-animista , complementodo racionalismo exacerbado, for-mando com ele uma dupla letal.O holismo-animista trata os mem-bros individuais de uma comuni-

    dade como se fossem um agre-gado, um todo. Pior ainda, umtodo com atributos humanos:memria, honra, propsitos etc.

    No holismo-animista os indiv-duos so substitudos por uma en-tidade abstrata o pas que ad-quire concretude e virtudes huma-nas, entre as quais a capacidadede ter propsitos, prprios e maisimportantes do que os dos mem-bros individuais da comunidade.Resulta da uma sociedade, pare-cida com a dos animais gregrios,na qual os cidados esto a ser-vio do pas e, portanto, diferen-temente de uma ordem social

    onde os governantes estejam aservio dos cidados. Em sntese,o holismo-animista gera socieda-des no liberais, nas quais oscidados so sufocados pelos in-teresses do pas: Deutshlandber Alles! A crtica liberal alertacontra os fantasmas holistas-animistas que tanto sofrimentocausaram durante o sculo XX.

    Mas no foram apenas o exa-gero racionalista e o surrealismoholista-animista que comprome-

    Liberalismo

    F. A. Hayek

    Ludwig von Mises

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    teram a prtica liberal no sculoXX. Houve pelo menos trs fen-menos histricos que igualmentealimentaram o estatismo: as guer-

    ras, as crises econmicas e o idealdo desenvolvimento econmico.Bem, guerra guerra, como

    clamava aquela velhinha de umaanedota bem conhecida, reivindi-cando seus direitos! O estadode guerra uma situao excep-cional que coloca direitos indivi-duais de quarentena e privilegiaos propsitos do Estado. o cal-do de cultura, o gar-gar doholismo-animista, que faz crescero governo custa da liberdade

    dos cidados. No h ordem li-beral que resista a uma situaode guerra. E o sculo XX teve mui-tas, de vrias escalas e durao,diferentes lugares e os maisvariados motivos. Como guerra eliberalismo no so compatveis,sobrou o pior, no sculo XX, parao liberalismo.

    Alm das guerras do sculo XX,houve a Grande Depresso de1929 para conspirar contra o li-beralismo. A idia subversiva o

    adjetivo me pareceu apropriado que surgiu na chamada Crise dosAnos 30 foi a de que o merca-do, deixado livre, acabava crian-do sua prpria runa. Assim sen-do, a ao deliberada e racionaldas autoridades era reclamadapara disciplinar o mercado, evi-tando as suas impropriedades. Omercado falhava devido, em par-te, falta de poderes do FRS (Fe-deral Reserve System), o bancocentral americano, para enfrentar

    os ciclos econmicos.Alm de uma suposta falha demercado, associada supostafalta de poderes por parte do FRSque conjuntamente responderiampela Crise de 29, criou-se a ideiapara sair da crise se fazia neces-sria uma ao estatal mais enr-gica no mercado, para reanimara debilitada demanda agregada.A soluo seria o aumento dosgastos pblicos, ideia Keynesianaassimilada pelo Presidente Roo-

    sevelt e que serviu de fundamentode poltica econmica para o NewDeal. (Sobre o assunto recomen-dado a leitura do captulo sobre a

    grande depresso Free toChoose de Milton Friedman.)Foi exatamente em meados

    dos anos 30 que surgiu o que hojese conhece como macroe-conomia, de inspirao Keyne-siana, formulada na base de re-

    portncia na expanso doestatismo: a busca deliberada dodesenvolvimento econmico. Paraos liberais, o processo econmi-

    co gerador de prosperidade ma-terial decorre da livre ao dosagentes econmicos; umsubproduto espontneo, no de-liberado da busca, pelos agentesindividuais, de seus prprios inte-resses particulares. Essa ideia docarter no propositado do de-senvolvimento econmico estexposta no livro A Riqueza daNaes (1776), do escocs AdamSmith.

    Durante o sculo XX, especial-

    mente aps a II Guerra Mundiale da experincia sovitica em pla-nejamento econmico, prolifera-ram os esforos dos economistaspara analisar e entender o fen-meno da prosperidade. Simulta-neamente, acumularam-se pro-gressivamente as tentativas de cri-ao de instrumentos tcnicospara a ao deliberada do gover-no na gerao e na conduo dodesenvolvimento econmico, des-de matrizes de insumo-produto a

    modelos matemticos extrema-mente sofisticados de planejamen-to econmico. Na realidade, tra-tou-se de enorme desperdcio detempo, talento e dinheiro: a his-tria se encarregou de mostrarque Adam Smith estava certo: ariqueza das naes decorre daao individual autnoma numambiente social respeitador dosdireitos de propriedade e dos con-tratos livremente firmados entrecidados livres. A evidncia

    emprica disponvel clara: amelhoria das condies materiaisde vida dos povos depende daexistncia da liberdade, especial-mente da liberdade econmica.Esta, por sua vez, depende de ins-tituies que tornem eficazes osdireitos humanos, especialmentea liberdade, os direitos de pro-priedade e a busca individual dafelicidade. Essas instituies so oEstado de direito e a economiade livre mercado.

    Liberalismo

    A evidncia empricadisponvel clara: a

    melhoria das condiesmateriais de vida dospovos depende da

    existncia da liberdade,especialmente da

    liberdade econmica.Esta, por sua vez,

    depende de instituiesque tornem eficazes os

    direitos humanos,

    especialmente a liber-dade, os direitos de

    propriedade e a buscaindividual da felicidade.

    laes funcionais entre grandesagregados, consumo (C), investi-mento (I), poupana (S) e rendanacional (Y). Como esses agrega-dos so, conforme o nome suge-

    re, somas de consumo, investi-mentos e poupanas individuais,surge o problema de saber quemseria o sujeito da ao. No di-fcil concluir que em matria depoltica econmica seria o gover-no, uma concluso inteiramentecompatvel com a ideia doholismo-animista que fundamen-ta as polticas anticclicas domi-nantes no sculo XX.

    No campo econmico houveoutro fenmeno de enorme im-

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    Livros

    TorredeBabelResenha do livro Tower of Babble, de Dore Gold. Ed. Crown Forum, 2004.

    A

    porRodrigo ConstantinoEconomista e escritor

    MAI/JUN/JUL - 2013 - N 62 26

    Organizao das NaesUnidas, herdeira da falecida

    Liga das Naes, foi criada com amelhor das intenes: servir comoum instrumento em busca da pazmundial aps a Segunda Guerra.Ser que ela atendeu aos anseiosoriginais de seus criadores? Serque o legado da ONU tem sidopositivo?

    A resposta do israelense DoreGold, que atuou em diversas fun-es diplomticas, um retumbanteno. Em seu livro Tower of Babble,ele argumenta que a ONU foicompletamente desvirtuada, eacabou contribuindo para instigaro caos global. O histrico da ONU,especialmente o mais recente, apso trmino da Guerra Fria, umasucesso de fiascos: Bsnia,Ruanda, Somlia. Por qu?

    De forma bastante resumida, ofracasso da ONU se deve perdade sua claridade moral, presente nasua origem. Em um mundo dico-tmico, com os aliados de um ladoe os fascistas do outro, era mais fcildefender o certo e o errado deforma objetiva. Tal clareza foi subs-tituda, com o tempo, pelo atualrelativismo moral exacerbado,onde, em nome da imparciali-dade, ningum mais deve tomarpartido.

    Agressor e agredido viraramconceitos muito elsticos, confusos,

    e o cinza absorveu qualquer chancede diviso entre preto e branco. AONU adotou um discurso acovar-dado, politicamente correto, inca-paz de julgar evidentes agressores.Ela no se mostrou altura dodesafio de combater o terrorismoislmico, por exemplo, pois lhe faltaconvico sobre a prpria existnciado inimigo.

    A democracia direta em nvelglobal seria, hoje, transferir poder

    dos americanos para chineses eindianos. Sem slidos pilares institu-cionais e culturais, a simples escolhada maioria pode representar atirania sobre a minoria numrica. Emparte, foi justamente isso queaconteceu com a ONU. Ela foi cap-turada por pases do TerceiroMundo, e os Estados Unidos foramperdendo poder dentro da insti-tuio.

    por isso que pases sob regimesautoritrios ocuparam o Conselhode Direitos Humanos da ONU,esvaziando-o de qualquer sentido.

    por isso tambm que o pequenoIsrael tem sido alvo da maioria dasresolues da ONU, recebendocrticas absurdamente despropor-cionais. Tiranos massacram seuspovos, rasgam qualquer acordo dedireitos humanos, mas Israel quesofre condenaes constantes daONU. No Cuba, no o Ir, tam-pouco a China, mas Israel, a grandeameaa paz mundial, segundouma desmoralizada ONU.

    Palco para muitos discursosinflamados e poucas aes efetivas,a ONU se tornou o paraso dosburocratas e polticos populistas.Uma espcie de governo mundialsem responsabilidade, sem eleiespopulares. O poder sem rosto. Parapiorar, a inoperncia no tem sidopunida, mas premiada! Vide aprpria trajetria de Koffi Annan.

    Com tal mecanismo de incentivos,a escalada da corrupo dentro doorganismo foi inevitvel.

    So vrios escndalos, comoaquele do programa Petrleo porComida, que teria desviado US$10 bilhes dos petrodlaresiraquianos de Saddam Hussein eenvolvia gente importante da Rssiae da Frana (talvez isso explique areao de ambos guerra quederrubou o ditador). H ainda casosde participao dos funcionrios daONU em uma rede mundial detrfico sexual, como retratado nofilme A Informante, com RachelWeisz.

    Com essa postura de equiva-lncia moral entre agressores eagredidos, tomada pela maiorianumrica de pases antiamericanose antissemitas, e envolta em escn-dalos de corrupo, como encarara ONU como uma esperana pelapaz? E, sabendo disso tudo, comocondenar pases como EstadosUnidos, Israel e Inglaterra, que

    precisam, muitas vezes, ignorar aONU para sobreviver?Dore Gold est certo: aquilo virou

    uma Torre de Babel, uma cacofoniaonde acaba sobressaindo o visantiamericano acima de tudo. AONU fracassou em sua misso.

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    MAI/JUN/JUL - 2013 - N 62 27

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