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    ndice

    TRANSPORTES 12

    ENERGIA

    O INTERVENCIONISMONOPETRLEOENAENERGIAELTRICA

    Adriano Pires

    MATRIADE CAPA

    A QUESTODASEGURANAJacy de Souza Mendona

    POLTICA

    NORDESTEDSINAISDEMUDANAPARA2014Alexandre Aleluia

    9

    15

    5

    DESTAQUE

    A LOGSTICADETRANSPORTESNOBRASILJovelino Pires

    O BOM, O MAUEO FEIOUma viso liberal do fato

    20ESPECIAL 19

    PORQUEME TORNEIUMLIBERAL CONSERVADOR

    Mario Guerreiro

    CONSELHODEADMINISTRAO

    Arthur Chagas DinizElcio Anibal de Lucca

    Alencar BurtiPaulo de Barros Stewart

    Jorge Gerdau JohannpeterJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Humberto Pires de ArajoRaul Leite LunaRicardo Yazbek

    Roberto Konder Bornhausen

    Romeu Chap Chap

    CONSELHO EDITORIAL

    Arthur Chagas Diniz - presidenteAlberto Oliva

    Alosio Teixeira GarciaAntonio Carlos Porto Gonalves

    Bruno MedeirosCndido Jos Mendes PrunesJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Luiz CarvalhoLuiz Alberto MachadoOctavio Amorim Neto

    Roberto FendtRodrigo Constantino

    William Ling

    Og Francisco Leme eUbiratan Borges de Macedo

    (in memoriam)

    DIRETOR / EDITOR

    Arthur Chagas Diniz

    JORNALISTARESPONSVEL

    Ligia FilgueirasRG n 16158 DRT - Rio, RJ

    PUBLICIDADE/ ASSINATURAS:

    E-mail: [email protected]: (21) 2539-1115 - r. 221

    FOTOSDECAPAE MIOLO

    Capa: Wikimedia (foto de Mateus Pereira)Miolo: Wikipedia e Photodisk.

    INSTITUTO LIBERAL

    Rua Maria Eugnia, 167 - Humait22261-080 - Rio de Janeiro - RJ

    Tel/Fax: (21) 2539-1115E-mail: [email protected]

    Internet: www.institutoliberal.org.br

    Think Tank - A Revista da Livre-Iniciativa

    Ano XVI - no 61 - Fev/Mar/Abr - 2013

    Expediente

    REALIZAO

    BANCODE IDIAS uma publicao doInstituto Liberal. permitida a reproduo

    de seu contedo editorial, desde quemencionada a fonte.

    LIVROS 26

    PRIVATIZE Jpor Joo Mauad

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    EditorialSua opinio da maior impor-

    tncia para ns. Escreva paraBanco de Idias.

    Leitores

    Envie as suas mensagens paraa rua Rua Maria Eugnia, 167 -Humait - Rio de Janeiro - RJ -22261-080, ou [email protected].

    N

    FEV/MAR/ABR - 2013 - N 61 4

    unca houve, no Brasil, um

    julgamento to importantequanto o referente aon 470, popularmente conhe-cida como o Mensalo.Foram julgados 34 rus e 25deles condenados, desdepenas pecunirias at penasde priso. O julgamento, quea juzo de um dos rus,Delbio Soares, deveria ser

    posteriormente qualificadocomo piada de salo, tor-nou-se um divisor de guasno Pas.

    O ex-presidente Lula que, naverdade, era o grande ru,acabou sendo condenado,moralmente, atravs de cadauma das sentenas distribudasaos seus mais diletos e diretoscolaboradores, como so oscasos de Jos Dirceu e JosGenono, ambos condenados priso em regime fechado.Assist ido, diar iamente, pormilhes de telespectadores, ojulgamento fez surgir no Brasiluma estrela de primeira gran-deza: o Relator do processo,o Ministro Joaquim Barbosa,que terminou o julgamento

    como presidente do STF. Aexpectativa de Lula de que,por serem indicaes suas,vrios juzes votariam pelaabsolvio dos rus, mostrou-se incorreta, e at mesmo suapresso sobre alguns dosmagistrados em especialGilmar Mendes mostrou-semais do que ineficiente,

    amoral. As penas impostas a

    antigos lderes, como JosDirceu, verdadeiramente sur-preenderam a Nao, j deh muito acostumada a en-xergar a priso como um lugardestinado exclusivamente apobres e desprotegidos.

    Um novo Brasil certamentesurgir do julgamento doMensalo. Ns esperamos

    que seja um Brasil menoscorruptvel e corrupto, ondevalores como integridade ejustia sejam vistos comoatributos, e corrupo e ine-ficincia no encontrem gua-rida na cabea dos brasileiros.

    Esperamos que o baixondice de qualificao edu-cacional da populao, emsua grande maioria, no sejaum fator impeditivo para adifuso de valores comomoral, eficincia e tica.Algumas interrupes no for-

    necimento de fora e luz po-pulao se chocam com apostura que o governo petistaassumiu quando ocorreramdurante o governo de FHC.

    Enquanto se prenuncia es-

    cassez de oferta, a Presidenteda Repblica antecipa redu-es nos preos aos consu-midores industriais e residen-ciais. Dilma, socialista, cujasconvices no cedem a evi-dncias contrrias, em plenacrise energtica, pretende bai-xar as contas de luz. Durma-se com um barulho desses.

    Encerrado o caso do Mensalo,

    julgados e condenados 25 rus,fica patenteado que a SupremaCorte do Brasil no pode serintegrada por pessoas poucopreparadas e testadas na vidapblica e/ou privada. Se preci-sssemos de outras evidncias, aparticipao de Dias Toffoli noplenrio da Suprema Cortemostrou-se deplorvel. Noapenas porque sua funo ali eraa de tentar absolver os rus daao n 470, mas porque suasintervenes foram pobres e noenriqueceram o debate. Levan-dowski, defensor dos mensaleiros,tentou defender rus polticoscomo Dirceu e Genono. Outraquesto relevante a aposen-tadoria compulsria aos 65 anosde idade. Na medida em que avida mdia aumenta, pessoascom 65 anos podem ainda estarno pice de suas carreiras.

    Wanda Loreiro SilvestreRondonpolis MT

    Prezada Leitora,

    A elevao do perodo de vidamdia e, alm disso, a preser-vao da capacidade mental tmevoludo simetricamente. O limiteetrio ao exerccio do cargo deministro do STF no maiscompatvel com a aposentadoriaforada dos magistrados aos 65anos, no auge da sua capacidadeintelectual. Na verdade, a solu-o norte-americana de preservaros juzes da Suprema Corte de

    Ju st ia at sua inab il ita o

    parece-me muito mais salutar queo modelo brasileiro e, mais doque isso, transforma os juzes emcidados com um patrimniointelectual e cultural a servio daNao, e no dos seus governos.

    O Editor

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    Poltica

    Nordeste d sinais de mudanapara 2014Alexandre Aleluia

    Empresrio e vencedor do Prmio Donald Stewart Jr.

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    cenrio que precedeu aseleies municipais de 2012

    no Nordeste indicava a tendncia

    de reproduo do alinhamentodas foras estaduais com oLulopetismo. O discurso decandidaturas aliadas ao poderfederal fora bem-sucedido emtoda a regio, no pleito de 2010.Os altos ndices de aprovao dogoverno do presidente LuizIncio Lula da Silva haviamsustentado o xito da estratgianaquela ocasio.

    A permanncia da avaliaopositiva da presidente Dilma

    Rousseff, ento, induziu os ob-servadores polticos a imaginaremque, em 2012, se repetiriam os

    resultados forjados na mesmamatriz do alinhamento poltico, emdetrimento de propostas e decandidatos. Seriam ungidos aopoder municipal aqueles quetivessem as bnos de Lula eDilma.

    Especulava-se que o caminhodas pedras para alcanar o xitoeleitoral estava revelado. Ocenrio favorecia o alinhamentoao governo federal e, assim,foram pautadas as principais cam-

    panhas do Lulopetismo no Nor-deste. As estrelas a brilhar eramas de Lula e Dilma. O importante

    era tirar fotos e fazer grava-es de programas para rdio etev com os imbatveis caboseleitorais.

    A premissa era estabeleceruma campanha de cunhoemocional. Ao eleitor no cabiainferir sobre as propostas e acapacidade de execuo docandidato. Com a explorao daboa f, sem o apelo da razo nodiscurso, buscou-se o convenci-mento pela caracterstica do

    O

    Aos 33 anos ACM Neto se elegeuprefeito de Salvador, a terceira

    maior cidade do Brasil.

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    Poltica

    candidato de pertencer a umalinhamento poltico que su-postamente lhe garantiria um bomgoverno.

    A questo, segundo o Lulo-petismo, no gravitava sobrequais propostas poderiam serdesenvolvidas, mas quem poderiadesenvolv-las melhor, consi-derando uma suposta capaci-dade financeira decorrente doalinhamento entre os governosfederal, estadual e municipal.Desprovido de razo, o eleitorseria emocionalmente atradopara um candidato de poucaexpresso poltica e sem histricosignificativo unicamente pelo fatode compor o time de Lula e,ainda, ser um suposto homemdo povo.

    Desse imaginrio surgiramcampanhas polticas que agre-diram valores fundamentais danao. A proposta pretendeu adestruio de princpios repu-blicanos. Afinal, por que umacidade, uma capital, somentepoderia desenvolver projetos epropostas a partir de um ideriotirano e unipartidarista?

    Pelo propsito Lulopetista, aadministrao pblica se afastariado princpio constitucional daimpessoalidade para atender adisputas comezinhas de poder,com o governo municipal sendoconfundido e equivocadamenteconcebido como uma ala deum partido.

    Imaginou-se que o jogo estavajogado antes de comear. A

    expectativa era de que as eleiesde 2012 ratificariam os resul-tados de 2010, com grandepossibilidade de crescimento doLulopetismo na Regio Nordeste.As metas principais eram con-quistar Salvador e Macei epreservar o PT no comando deRecife, Aracaju e Fortaleza.

    Porm, os resultados das urnasno corresponderam aos planosdo Lulopetismo. O apadrinha-mento da dupla de prceres

    claro avano no debate polticodo Nordeste. A jogada demarketing poltico de time de Lulae Dilma foi ineficaz em capitaisnordestinas, como Salvador eAracaju, e em cidades de mdioporte, a exemplo de Feira deSantana (BA), Mossor (RN) ePetrolina (PE). Na capital baianae em Feira de Santana o ex-presidente Luiz Incio Lula daSilva esteve presente pessoal-mente em comcios.

    Na cidade do interior baianoo candidato adversrio JosRonaldo, do Democratas, venceuas eleies no primeiro turno. EmSalvador, o pleito disputado emdois turnos contou com apresena de Lula duas vezes eainda da presidente DilmaRousseff, que pediram votos parao aliado petista Nlson Pelegrinoe tiveram suas imagens asso-ciadas ao aliado em todas aspeas de campanha.

    Apesar de ter sido vtima deuma intensa chantagem eleitoraldurante toda a campanha, feitapelo adversrio e ratificada por

    petistas no garantiu o sucessode candidaturas aliadas nordes-tinas. A estratgia fracassou.

    A explorao do conceito deluta de classes pelos candidatosdo Lulopetismo, tentando impingiraos adversrios o descom-promisso com o desenvolvimentosocial, por serem representantesdos ricos, e colocando-se nacondio de legtimos e nicosdefensores dos pobres, sob abandeira do programa socialBolsa Famlia, caiu por terra. Taisdogmas eleitorais foram desa-fiados pela racionalidade ederrotados.

    Equivocadamente o Lulo-petismo acreditou no resgate deiderios marxistas como propostade sucesso para uma campanhaeleitoral nos idos de 2012. Nohavia, entretanto, respaldo paraa prevalncia dessa antirracio-nalidade. O retrocesso de-corrente do discurso petista areencarnao de um discursoultrapassado e baseado naausncia de razo foi derrotadopela racionalidade humana, um

    A jogada de marketing poltico de time de Lula e Dilma foi ineficaz emalgumas capitais nordestinas.

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    Poltica

    Lula e Dilma em suas passagenspor Salvador, de que no teriacondio de gerir a cidade sem oapoio dos governos federal eestadual, sob o comando do PT,o democrata ACM Neto venceua eleio para prefeito comdiferena de quase 100 mil votos.

    Salvador, com a vitria de ACMNeto, um exemplo emblemticode que a razo prevaleceu na horade o eleitor decidir o voto em2012, no Nordeste. Houve apercepo de que o alinhamentopoltico das instncias de poderesfederal, estadual e municipalno d resultado espontneo,seno acompanhado de um bomprograma de governo e de umcandidato capaz de execut-lo.

    Ficou evidente a mensagem doeleitor nordestino de que dele odireito de escolher qual o melhorgovernante, cabendo aos can-didatos entenderem que o desejode governar deve ser inspirado navontade popular e em benefciodo progresso social. A ordem foidada: Eu escolho e vocsgovernam para a sociedade.

    A sabedoria popular suplantouo feeling dos marqueteirospolticos do PT. Na hora de decidirquais seriam os governantesmunicipais, entendeu-se anecessidade de ter, no comandodas cidades, pessoas comcapacidade de liderana, inde-pendncia, iniciativa e poder deinovar. No meros carimbadoresde decises partidrias tomadasa distncia, baseadas em qui-

    meras socialistas.Os resultados das eleiesmunicipais de 2012 no Nordesteextrapolaram as fronteiras re-gionais. Anunciaram para o Pasa consolidao da liderana dogovernador de Pernambuco,Eduardo Campos (PSB). Emboraseu partido integre a base doLulopetismo, no lhe faltouindependncia para divergir do PTnas disputas de Recife e Fortaleza,onde os candidatos do PSB

    acabaram derrotando os petistas.No se curvando vontade deLula e Dilma, Eduardo Camposemergiu de 2012 como um dosplayers para a sucesso presi-dencial de 2014. Embora aindabastante remota, no des-cartada a possibilidade de atmesmo ele iniciar o processo deconstruo de uma candidaturaindependente em confronto aopoder dominante.

    O mais provvel, no entanto, que o cacife poltico conquistadonas eleies de 2012 lhe abra asportas do Palcio do Planalto na

    condio de candidato a vice-presidente numa chapa comDilma Rousseff, desalojando oPMDB que, por muito tempo,esteve confortavelmente nessaposio. Entretanto, no se des-preza uma aliana de EduardoCampos com a oposio paraformao de uma chapa fora doespectro Lulopetista.

    O fato que o resultado daseleies de 2012 no Nordesteemitiu sinais claros de que o pleito

    em 2014 poder no ser umapacfica continuao do passado.Pesam, na dificuldade de ava-liao do cenrio, algunsingredientes, como as duasvitrias obtidas pelo Democratasem Salvador e Aracaju.

    Depois do ataque especulativo,patrocinado pelo Palcio doPlanalto, por intermdio do PSD,o Democratas, como a Fnix,ressurgiu das cinzas com ex-pressiva participao nas eleiesmunicipais do Nordeste. Apresena democrata nas pre-feituras das capitais nordestinasser maior do que a do PT a partirde 2013. Aos petistas restouapenas Joo Pessoa (PB), en-quanto Salvador e Aracaju setornaram capitais democratas.

    No cmputo geral das eleiesmunicipais das nove capitaisnordestinas, Democratas, PSDB(Teresina e Macei) e PSB(Fortaleza e Recife) se igualaramem vitrias, cada legenda ficoucom duas prefeituras. O PT ficouao lado do nanico PTC, queconquistou So Luiz (MA). A siglapetista que, nos ltimos pleitospresidenciais, teve no Nordesteum forte reduto, onde, em 2010,a ento candidata Dilma Rousseffimps uma diferena sobre JosSerra (PSDB) de quase 11 milhesde votos, perdeu espao paramostrar servio regio.

    O processo eleitoral de 2012evidenciou um projeto de re-novao dos quadros polticos doNordeste que no se restringiu

    apenas consolidao dogovernador Eduardo Camposcomo lder nacional. Inscreveu-sena lista dos novos lderes nor-destinos o deputado federal ACMNeto (DEM/BA).

    Aos 33 anos, depois de eleitopara trs legislaturas na CmaraFederal, com atuao de destaquee considerado um dos maisatuantes parlamentares doCongresso Nacional, ACM Netose elegeu prefeito da terceira

    Equivocadamente

    o Lulopetismoacreditou noresgate de

    iderios marxistascomo proposta desucesso para uma

    campanhaeleitoral nos idos

    de 2012. Nohavia, entretanto,

    respaldo paraa prevalncia

    dessa antirracio-nalidade.

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    Poltica

    maior cidade do Brasil. A vitriaem Salvador, numa aliana quereuniu Democratas, PSDB, PV, PTNe PV, foi indiscutivelmente a maissignificativa da oposio no Pas.

    Com pouco mais de um terodo tempo de rdio e tev doadversrio Nelson Pelegrino e sobuma intensa campanha chanta-gista, baseada na explorao doalinhamento poltico do candidatopetista com o governador JaquesWagner e com a presidente Dilma,ambos do PT, Neto reverteu asdesvantagens, apresentando

    propostas reais para os problemasda cidade. A estratgia evitou odesvio do debate para subjetivis-mos e irracionalismos eleitorais.

    Para desconstruir o discursodo oponente, ACM Neto expsos pssimos resultados para aBahia dos seis anos de gesto deJaques Wagner (PT) e 10 anosdo Lulopetismo no plano federal.O estado que protagonizava odesenvolvimento do Nordeste porser a maior economia, no perodo

    de domnio petista, s vem

    perdendo posies e oportu-nidades. O reflexo disso um

    crescimento abaixo da mdiaregional e graves problemas,como o aumento exponencial daviolncia no estado.

    inegvel ser ACM Neto umlder promissor. O desafio deadministrar e recuperar Salvador,que, nos ltimos anos, sofreubastante com a desastrosa gestodo prefeito Joo Henrique (PP) eo total descaso do governadorJaques Wagner, lhe servir decabedal para voos polticos muito

    mais altos. Embora no sejacandidato em 2014, ele passa aser um importante playerestaduale nacional no prximo pleito.

    Os partidos de oposio,principalmente Democratas ePSDB, devem trabalhar numprojeto alternativo para o futurodo Brasil. notrio o esgo-tamento do modelo atual, queestatiza por remendo a economianacional e procura administr-lapor meio de decretos e financia-

    mentos pblicos muitas vezes

    discutveis. No cabe presidenteda repblica escolher os vence-

    dores e aliados da economiabrasileira, j que o pas pretendese inserir entre os principais domundo.

    A apreenso toma conta dosobservadores internacionais,diante do irreversvel caminho daVenezuela a seguir a trilha dopopulismo de estado, comrestrio da liberdade, interven-cionismo econmico e controle daimprensa. Na mesma toada, apassos largos, parece avanar a

    Argenti na , onde os mesmosingredientes de estatizao,limitaes de liberdade e subor-dinao da imprensa fazem fervero caldeiro poltico da presidenteCristina Kirschner.

    No Brasil atual pairam descon-fianas de que haja um pedido deinscrio nesse clube. Basta ver oprocesso de destruio da Petro-bras e da Eletrobras, a intervenobranca nos bancos e a adminis-trao casustica do comrcio

    exterior. Alm disso, j apresentasinais de exausto o modelo dedinamizao econmica baseadono consumo, estimulado deforma artificial por meio de redu-o de impostos pontuais eexpanso de crdito.

    O resultado desfavorvel aoLulopetismo nas eleies munici-pais de 2012 no Nordeste, regioque tem concentrado a sua maiorfora eleitoral nos ltimos pleitos,no deixa dvida que a insatis-

    fao geral. Novos tempos seanunciam para 2014 e, pelo jeito,onde o Brasil nasceu ser o localem que a mudana vai seconsolidar, numa demonstraode que a evoluo no vir docandidato ou do partido A ou B,mas sim da sofisticao do debatepoltico. Portanto, os aconteci-mentos eleitorais nordestinos de2012 marcaram uma inflexoevolutiva na poltica regional.Eduardo Campos (PSB): liderana consolidada depois das eleies de 2012.

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    m 2012 o Governo Dilmadeu continuidade ao au-

    mento do intervencionismo naeconomia, iniciado no governoLula, utilizando-se das empresaspblicas, em particular daPetrobras e da Eletrobras, comoinstrumento de poltica eco-nmica, notadamente com oobjetivo de controle da inflao.O aprofundamento da inter-

    Energia

    O intervencionismonopetrleo

    enaenergiaeltricaAdriano Pires

    Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).

    veno do governo em setores deinfraestrutura vai na contramoda reconhecida necessidade de seatrair investimentores qualificadospara o Brasil. O prprio Governotem dado declaraes em quereconhece a importncia docapital privado para a resoluodos gargalos de infraestrutura. Noentanto, as mudanas no arca-bouo regulatrio tm sido

    feitas de forma improvisada eatrapalhada, criando incer-tezas e, com isso, aumentandoo risco Brasil.

    O setor de petrleo no Brasilj completa cinco anos deinstabilidade regulatria e in-terveno governamental naPetrobras. Essa era comeoucom o anncio da descoberta dopr-sal e se consolidou com a

    E

    O intervencionismonopetrleo

    enaenergiaeltrica

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    Energia

    aprovao do novo marcoregulatrio em 2010. A no-meao de Graa Foster para apresidncia da empresa, emsubstituio a Srgio Gabrielli,trouxe um alento, dado que odiscurso da nova presidente, bemcomo a nomeao da novaDiretoria Executiva, pareciacolocar a gesto da Petrobras norumo da eficincia e da lu-cratividade. No entanto, o go-verno, como acionista majoritrio,continuou sua polt ica deinterveno na administrao daestatal, cujo exemplo a ma-nuteno da poltica de defa-sagem de preos dos com-bustveis. A limitao na geraode caixa e deficincias de gestocausaram Petrobras o primeiroprejuzo, em mais de 10 anos, deR$ 1,35 bilho no segundotrimestre de 2012. At outubro de2012 a Petrobras acumulou umsaldo lquido negativo de aproxi-madamente R$ 14,6 bilhes emcusto de oportunidade de vendergasolina e diesel com defasagem

    de preos, e o prejuzo efetivo comimportao de combustveis foi deR$ 3,9 bilhes.

    Outra consequncia da ado-o de uma poltica que no temfoco na eficincia operacional a estagnao da produo depetrleo desde 2009 e a possvelqueda em 2012, em relao a2011. A produo nacionalmdia de petrleo em 2012,at setembro, registrou 2,151milhes de barris por dia (b/d),

    uma queda de 1,0% em relao produo mdia observada em2011, de 2,172 milhes de b/dno mesmo perodo. Segundodados da Petrobras, que re-presenta cerca de 92% daproduo de petrleo no pas, noms de outubro a mdia diria foide 1,940 milho de b/d, e, noano, a mdia diria de produofoi de 1,975 milho de b/d, umaqueda de 1,8% em relao aoperodo anterior. Caso no eleve

    sua produo no final do ano, aPetrobras corre risco de noalcanar a meta estabelecida pelaadministrao, de estabilidade deproduo (+/-2%). A estagnaose deve constante paralisaopara manuteno e atrasos naentrada em operao de novasunidades de produo; a pro-duo da Petrobras s voltar acrescer a partir de 2015, caso aempresa consiga recuperar a

    sua eficincia de produo naBacia de Campos e o crono-grama de entrega de equipa-

    mentos seja cumprido. bomlembrar que desde o incio dogoverno Lula a Petrobras s temcumprido 70% do Capex contidonos seus Planos de Negcios. Nocaso da Bacia de Campos aPetrobras lanou o PROEF, umprograma que visa recuperar aprodutividade dessa Bacia. Se aproduo de janeiro da bacia deCampos fosse mantida por todoo ano, a receita adicional daempresa seria de R$ 9,3 bilhes.

    A falta de licitaes de blocosexploratrios desde 2008 temreduzido drasticamente a rea deexplorao domstica. Segundo

    a ANP, no final de 2011 o pascontava com 320 mil km derea exploratria concedida, e em2012 a rea foi reduzida para105 mil km; caso no ocorranenhuma rodada de licitao, aofinal de 2013 a rea sobexplorao ser de 98 mil km.A falta de licitao afasta osinvestimentos das principaisempresas petrolferas do pas eprejudica, principalmente, asempresas privadas nacionais, queficam impedidas de diversificar eaumentar seu portflio. Para asgrandes empresas estrangeiras, aausncia de leiles fez com queos investimentos tomassem adireo dos EUA e de pases dafrica. Em 2012 estima-se queas chamadas majors do petrleotenham investido algo em tornode US$100 bilhes, e, dessemontante, praticamente nadano Brasil.

    O governo anunciou, paramaio de 2013, a 11 Rodadade Concesso e, para novembrode 2013, a primeira rodada delicitao no Pr-Sal sob o regimede partilha. Para a 11 Rodadade Concesso est prevista alicitao de blocos espalhadospor nove bacias, com destaquepara a regio conhecida comoMargem Equatorial Brasileira. Noentanto, a falta de consenso paraa distribuio dos royalties ainda

    um risco para a realizao dasrodadas em 2013. Em no-vembro, o Congresso aprovounovas regras de distribuio dosroyalties do petrleo. Porm, apresidente Dilma Rousseff vetouparcialmente o projeto e intro-duziu novas regras, atravs deuma Medida Provisria, abrindoespao para nova disputa noLegislativo, seja por apreciaodo veto ou alterao da MP. Nose sabe, ainda, se o Congresso

    Para as grandes

    empresasestrangeiras, aausncia de leiles

    fez com que osinvestimentos

    tomassem a direodos EUA e de pasesda frica. Em 2012estima-se que aschamadas majors

    do petrleo tenham

    investido algo emtorno de US$100bilhes, e, desse

    montante,praticamente

    nada no Brasil.

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    Energia

    apreciar a matria este ano.Alm dos le iles, o mercadoaguarda se haver a possibilidade

    de alterar a exigncia de aPetrobras possuir 30% de todos osblocos do pr-sal que venham aser leiloados e o monoplio naoperao desses blocos. Se ogoverno quiser, mesmo, recolocaro pas na rota dos grandesinvestimentos petrolferos seriatambm necessrio rever a atualpoltica de contedo local, bemcomo pr fim ao congelamentodos preos da gasolina e do diesel.

    A exemplo do que j vinha

    acontecendo no setor de petrleo,o Governo aumentou a suainterveno no setor eltrico coma publicao da MP 579 no inciode setembro. A MP 579, cujoobjetivo principal era a reduodas tarifas, de maneira autoritriae unilateral props a prorrogaodas concesses oferecendo umaindenizao e tarifas bem abaixodas esperadas pelo mercado. Issoprovocou uma perda enorme nosvalores das empresas, levando a

    um extraordinrio prejuzo paraos acionistas minoritrios. Asempresas estaduais Cesp, Cemig,

    Copel e Celesc no aderiram proposta do governo, e aresoluo da questo pode pararna justia, o que s leva aoaumento do risco regulatrio. Ogoverno esqueceu o pactofederativo e ignorou os Estadospara estruturar sua soluo.

    O governo se fechou entrequatro paredes e lanou aoconhecimento das empresas in-teressadas uma soluo atravsde uma Medida Provisria que

    define por si que o tema urgente, com prazos para im-plementao inexequveis e semque houvesse o pleno conhe-cimento do que estava sendoproposto. Depois de mais decinco anos de indefinies foiapresentada uma soluo paraser aceita em dias, sem qualquernegociao com as empresasafetadas.

    A soluo abrangeu somenteencargos, cuja aplicao sobre as

    contas de energia foi prolongadapelo prprio governo, dois anosatrs, no caso da RGR para outrosusos que no aquele queprecipuamente deveria ser aten-dido, o pagamento de ativos noamortizados. A soluo modificaa relao entre o Poder Con-cedente e o Concessionrio. Naverdade est havendo umareverso dos ativos antes do prazode concesso, sem remunerar osdireitos remanescentes e semindenizar corretamente os valoresno amortizados. A contrataosem concorrncia das mesmasempresas, antes concessionrias,como operadoras, percebendoum valor atribudo sem aferiopor concurso pblico, no prerrogativa prevista em lei. Asoluo cooptou a agnciareguladora, forando-a ab-dicao de seu papel de me-diadora entre o que querem ogoverno, as empresas e o con-sumidor, para se colocar vassalada deciso autoritria.

    A so luo foi in te rpretada

    como uma interveno dogoverno, indicando o incio deuma estatizao velada do setorno mdio prazo. A capacidade deinvestimentos das empresas sertotalmente zerada no momentoem que se pretende investir nosetor mais de R$ 200 bilhes.

    Esta mudana ocorre nummomento em que o setor estenfrentando interrupes nofornecimento de energia eltrica,inicialmente tratadas como fatos

    pontuais, que se tornaramfrequentes, provavelmente porconta de falhas na manuteno,na transmisso e na distribuiode energia eltrica. A reduo dacapacidade de investimento dasempresas, provocada pelareduo nas tarifas, aumenta orisco de diminuio da confia-bilidade do sistema e da qualidadedo servio, o que certamentese refletir no aumento dafrequncia dos apages.

    O Congresso aprovou novas regras de distribuio dos royalties do petrleo.A presidente Dilma Rousseff vetou parcialmente o projeto.

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    s vsperas do amanh de2013, o Governo acaba

    de baixar a MP 595, em 6 dedezembro de 2012, a poucosdias, portanto, das festas de fimde ano, do recesso nos trspoderes da Nao, das frias

    escolares e, na sequncia, docarnaval. Isso em nossa amadaterra do Brasil.

    Lgico que o pensamentoeconmico, a ao gover-namental no pode se dar ao luxode passar meses no remanso defrias (coletivas) das famlias ou defestejos natalinos. Todo dia diade trabalho. De qualquer forma,coincidncia ou no, as asso-ciaes privadas estavam desar-

    ticuladas, com seus encontrosfestivos, isso aps praticamentedois anos de intensas idas evindas em reunies e troca deinformaes com as reassuperiores do Governo Central eonde o marco da histria estava

    em torno da Lei n 8.630, de1993, conhecida como a Lei daModernizao dos Portos. Forammuitas as idas e vindas a Braslia,mas cada volta de um grupo deempresrios da Capital sur-preendia suas associaes eempresas com a frase: No seicomo vai ser a reforma. Ouve-se,fala-se, argumenta-se, mas nadaindica o norte das decises.Ass im, chegou finalmente aos

    empresrios de inmeras compa-nhias, mesmo aqueles queestavam no mtier dos estudos,o informe oficial de suas misses,ento colaborando com o Go-verno. Informe solene no Palciodo Planalto!!!

    Todos sabemos dos custoselevados de nossa logstica nodeslocamento das cargas pelocontinente Brasil. Comparar ocusto de colocar uma carga emum porto pblico com a mesmaoperao no exterior assustador.A soja que nos diga....

    A burocracia, a par dos tributosem cascata, a falta de boas viasterrestres, nossas rodovias classi-ficadas 60% abaixo do bom, sem

    A logsticadetransportesno Brasil

    Transportes

    Jovelino PiresProfessor, Mestre em ADM, Coordenador da Cmara de Logstica da Associao de Comrcio Exterior do Brasil AEB.

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    Transportes

    frota mercante, plano de ferrovias searrastando, quadro comparativo

    entre os pases do BRIC assustadorpara ns em termos de investi-mentos em transportes. Tnhamoso seguinte quadro em 2010:

    Este quadro sombrio estaria aser mudado por esforo da VALEC Engenharia, Construes eFerrovias, nova empresa doGoverno Federal, da centra-lizao (talvez) dos transportesem rgos especficos com aSEP Secretaria Especial dos

    Portos, vinculada Presidncia daRepblica.Enquanto isso, e at agora, os

    planos se sucedem e temos, porexemplo:

    - Plano Nacional de Logstica deTransportes a cargo do MT -Ministrio dos Transportes

    - Plano Nacional de LogsticaPorturia a cargo da SEP -Secretaria Especial dos Portos

    - Plano Nacional de Logstica

    Integrada a cargo da VALECDisso tudo nota-se um esforo

    para organizar a casa, hoje comnmero prximo a 40 ministrios,dentre eles o Ministrio doPlanejamento e Oramento eGesto e o Ministrio do Desen-

    volvimento, Indstria e ComrcioExterior. Temos o IPEA Instituto

    de Pesquisa Econmica Aplicada,que estuda a economia, e muitosoutros rgos oficiais envolvidosna eficincia do Pas, em reasque influenciam diretamente ostransportes e o comrcio exteriorbrasileiro. Enfim, quase umexrcito de decisores, todosbaixando normas e regulamentos.E os planos, se realizam?

    A histri a est cheia deexemplos de quanto o ordena-mento da estrutura governamental

    sofre com a multiplicao dergos decisores e a disputa depoder entre eles. A histriabrasileira, em especial, est cheiade exemplos, alguns que or-denaram mudanas radicais. Oregistro do que ocorreu nos idosde 1963 foi feito por Pires eGaspar1, ao escreverem em livroque em 1963 era criado, peloento Ministro ExtraordinrioAmaral Peixoto, ao amparo doDecreto n 52.256/63, o Sistema

    Federal de Planejamento e aSecretaria Executiva, diretamentesubordinada Presidncia e comcomisses nos ministrios. Oento Ministro Extraordinrio daCoordenao do PlanejamentoNacional, Celso Furtado, quandoda criao do citado novo rgo,teve suas funes esvaziadas, e oPlano Trienal deu no que deu.Mirava-se o crescimento do PIBem 7%, e o PIB, em 1963, evoluiuapenas 1,6%, foi um pibinho. A

    populao crescia praticamente odobro disso.Plano para funcionar tem que

    ser cumprido. Independentementede lembranas afeitas a cono-taes partidrias ou de con-cepo poltica, bom ler-se oexcelente trabalho de Alexia

    Salomo2, sob o ttulo GrandesNmeros, onde refora a

    posio de que as reformasestruturais do Estado e daeconomia so meios de gerarcrescimento. possvel, no artigocitado, concluir o sucesso doPlano de Ao Econmica doGoverno (PAEG), de 1964,com os militares simplesmentefazendo reformas e cumprindocronogramas e obras, muitosvindos da obra pretendida porCelso Furtado e no realizados at1963. No PAEG, projetos que

    eram bons foram implementados,o que no governo anterior adisputa poltica tinha sepultado.

    Nossa economia depende docomrcio exterior brasileiro, masembora sejamos a 7 economiamundial temos menos de 2% docomrcio internacional. Estamosna rabeira, ainda que o brasileiroseja competitivo na porta dafbrica ou na porteira da fazenda.O instinto animal do empresriobrasileiro est flor da pele, mas

    enjaulado pela infraestrutura delogstica do Pas.Portos? Todos os portos p-

    blicos, por regra, so presididospor indicao de Braslia, e seusdirigentes tm que aceitar anomeao de seus dirigentessubalternos, indicados pelospartidos da base do Governo, emoutras palavras, cargos politiza-dos. E onde ficam os tcnicos?

    As disputas internas, como anecessidade de apresentar tra-

    balho, caso no tenha um rumo,vo representar algo semelhante Torre de Babel, onde o certo ter que pagar mais um imposto,como no caso da Portaria SPU 24,que criou um tributo a maispelo uso do espelho dgua.O Governo Central baixou a MP

    1 PIRES, Jovelino & GASPAR, Walter Elementos de Administrao. Uma Abordagem Brasileira. Ed. Forense Universitria Rio, 1988.225 pgs. (esgotado).

    2 SALOMO, Alexia Revista Exame. Edio Especial de Aniversrio, n 24. Ed. Abril, SP, 05.12.2012.

    Investimentos emTransportes/PIB 2010

    Brasil = 0,36%

    Rssia = 7,00%

    ndia = 8,00%China = 10,06%

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    Transportes

    595, de 06.12.2012, na buscade solues para a regula-mentao dos portos pblicos eprivados. Dois anos de estudos e,no fim, algo perto do caos, muitosquestionamentos e possveisdemandas judiciais entre osconcessionrios e os autorizados explorao dos portos, quanto movimentao de suas cargase as de terceiros.

    De tudo que vir a acontecersobre a MP 595, com mais de640 proposies de emendas, emcurtssimo prazo (apenas algunsdias), creio que o problema maiorser o afastamento dos principaisinteressados no sucesso dos por-tos pblicos, ou seja, os conces-sionrios, os trabalhadores, osusurios, os governos estaduais emunicipais, da gesto corporativados portos. A impossibilidade dea sociedade ter voz nas decisesestratgicas por meio do Con-selho de Autoridades Porturias CAP, de cada porto, umdesastre, um retrocesso, com acentralizao no Governo Cen-tral, em Braslia.

    bom ressaltar que a medidaprovisria em questo atingefrontalmente a Lei n 8.630,chamada de Lei de Modernizaodos Portos, um marco nasquestes porturias brasileiras esujeita a avaliaes decorrentesde diversos pensamentos econ-micos e sociais.

    Entre os avanos ento ocor-ridos na Legislao Porturia,como o advento da Lei n 8.630/

    93, tivemos a implantao daGovernana Corporativa, atravsda criao dos Conselhos deAutoridades Porturias, objeto dosarts. 30, 31 e 32 daquela Lei, nosPortos Organizados.

    Como se viu, constitua-se ummodelo de gesto corporativa, noporto organizado ou no mbitode cada concesso, de forma,portanto, que tanto o poderpblico como os operadores

    porturios, os trabalhadores e osusurios dos servios porturios eafins desenvolvessem de formacolegiada a racionalizao e aotimizao do uso das instalaesporturias, fomentando a aoindustrial e comercial do Porto,zelando pelo cumprimento dasnormas de defesa de concorrncia(art. 30 1 - IV, V, VI, VII).

    bom lembrar ainda que oart. 30 2 da Lei n 8.630/ 93dispe que:

    2 - compete, ainda, aoConselho de Autoridade Porturia

    estabelecer normas visando oaumento da produtividade e areduo dos custos porturios,especialmente as de conti-neres e do sistema roll-on-roll-off (Lei n 8.630/ 93, aindano art. 30 2)

    Evitava-se, assim, o divrcioentre a propriedade e a gesto,pela presena dos stakeholders,nos CAPs, atentos ao eventualafastamento entre o objeto porto

    organizado e os interesses dasociedade, esta representada nosquatro Blocos dos CAPs (PoderPblico; Operadores Porturios,Classes de Trabalhadores eUsurios).

    As demandas e di scussesocorridas nos CAPs, ao longodesses anos, demonstram apujana desse verdadeiro instru-mento de controle da sociedadesob a gesto porturia, e noexatamente o contrrio. precisoque a sociedade esteja dentro decada porto organizado, com o fimde opinar, promover, zelar,homologar, aprovar os planos eaes da Autoridade Porturia(art. 13 da MP 595/ 12). Afastaressesstakeholders do processo deacompanhamento, posiciona-mento e controle encerrar agesto corporativa, cujo resultadoem todos os universos de gestoconfirma o avano da modernaprtica administrativa.

    No vai ser desta vez, afas-tando os principais agentes dasociedade da gesto porturia,como ocorreu no Governo deJango, em 1963, com a perda dafuno dos rgos tcnicos,ignorando e sepultando contri-buies como o Plano Trienal deCelso Furtado, que os portos irodeslanchar e o Brasil conquistar acompetitividade que os empre-srios e trabalhadores de-monstram.

    Certo que os trabalhadores,neste momento de festas, estose arregimentando para umagreve contra a MP 595. Asassociaes de classe se le-vantam da ceia de Natal ejuntam as mos com os tra-balhadores no por uma greve,mas para a unio em torno doque a nossa principal misso:servir nosso Pas com inteli-gncia, com a presena da-queles que constroem a riquezae a democracia que desejamospara o nosso Brasil.

    De tudo que vir aacontecer sobre a MP595, com mais de 640

    proposies deemendas, em

    curtssimo prazo(apenas alguns dias),creio que o problema

    maior ser oafastamento dos

    principais interessadosno sucesso dos portos

    pblicos, ou seja, osconcessionrios, ostrabalhadores, os

    usurios, os governosestaduais e municipais,da gesto corporativa

    dos portos.

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    A questodaseguranaJacy de Souza Mendona

    Livre-docente de Filosofia do Direito

    s grupos humanos se estru-turam a partir da finalidade

    buscada por seus integrantes;esta pode ter natureza religiosa,tica, esttica, cientfica, esportivaou econmica. A sociedadepoltica e a famlia so grupos quetm por objetivo proporcionar aseus membros a satisfao detodas essas finalidades, o queexige de seus lderes o desem-penho de determinadas funes.

    A Histria registra que, atravsdos tempos, no cumprimento desua finalidade ocupava-se oEstado essencialmente com asegurana externa proteocontra vizinhos e inimigos. Mas osadministradores polticos tiveramsempre que enfrentar os pertur-badores da ordem interna. Valedizer: a segurana interna foitambm, desde sempre, preocu-pao das comunidades polticas.

    Para isso, elas tiveram que montaratividades policiais e judicirias,exrcitos e diplomacia.

    Alm da segurana, o Estadomoderno assumiu aos poucosalgumas finalidades adicionais.Em primeiro lugar, por iniciativado prncipe prussiano Otto vonBismark, consagrada, aps aI Grande Guerra pela Constitui-o de Weimar, foram as relativas educao, sade e previdncia;

    O

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    Matria deCapa

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    mais tarde, aps a II GrandeGuerra, agora sob influncia dosregimes socialistas, outras quedizem respeito cincia e tecnologia, cultura e arte, aoesporte e ao lazer; mais recen-temente, tambm atividadeseconmicas. A funo correta doEstado sobre esses temas deveriaser apenas legislar (tarefa doPoder Legislativo), fiscalizar seucumprimento (tarefa do PoderExecutivo) e puniras infraes aelas (tarefa do Poder Judicirio);execut-las no lhe cabe.

    O Brasil, seguindo a tendncia

    internacional, assumiu gradati-vamente as finalidades secund-rias como se essenciais fossem, oque foi consagrado na Consti-tuio de 1988.

    Mas nenhum Estado nomundo teve ou tem condies dedesempenhar a contento essasfunes acessrias. S por razespolticas no as rejeita; cumpre-as na medida do possvel, ou seja,sempre de modo insatisfatrio.

    Todos os fins adicionais

    assumidos pelo Estado modernocorrespondem a inegveis neces-sidades dos cidados e, por isso,parecem caracterizar finalidadesessenciais dele. No verdade.Exatamente por serem impor-tantes para o cidado nodeveriam ser confiadas ao Estado,que e sempre foi mau admi-nistrador. o que ocorre com asade, a educao e a previ-dncia, hoje caticas; ele nuncacuidou tambm da cincia e da

    tecnologia, da cultura e da arte,do esporte e do lazer usou-asapenas como marketing poltico.Em especial, foi sempre umpssimo administrador eco-nmico. Correto seria que apenassupervisionasse essas atividades,desempenhadas pela iniciativaprivada.

    Como pretendeu absorv-las ecomo no seja possvel desem-penh-las a contento, tornou-se

    necessrio priorizar algumas edesprezar outras. Embora corretofosse priorizar a segurana, osadministradores preferiram quasesempre a atividade econmica,relegando exatamente a segu-rana interna ao ltimo lugar.Esbanjam-se recursos tributriosem investimentos econmicosfadados corrupo e aofracasso; finge-se atuao no

    mento em segurana no d lucroe at antiptico aos eleitores.

    A primeira consequncia dodescuido com a seguranainterna aparece no Poder Legis-lativo: escassas so as leis sobrea matria, totalmente defasadasda situao social, mas tratardelas desagradvel; por isso,preocupam-se os legisladoresmuito mais em proteger a pessoado delinquente enquanto ruou presidirio, o que maissimptico.

    As decises judiciais relativas ainfraes ordem interna so

    extremamente brandas e demo-radas. Culpa-se por isso o PoderJudicirio, ignorando-se que osjuzes s podem aplicar penasprevistas em lei e da forma nelaprevista, esquecendo-se de queeles so obrigados a seguir arotina processual tambm previstaem leis editadas sob a falsapreocupao de proteger o ru, eno percebendo que de toda equalquer deciso de um juiz cabeao menos um recurso, e que

    todos os processos podemtramitar at o STF, ou seja, dificil-mente chegam ao fim. verdadeque a tradio envolveu oprocesso e a sentena em umpreciosismo de aparncia e delinguagem, difceis de seremabandonados; mas o efeito dissono elenco causal da morosidadeprocessual representa um mnimoquase imperceptvel.

    Se o Poder Legislativo e o PoderJudicirio tm sua parcela de

    culpa no descalabro da segu-rana, mais intensa e mais grave a do Poder Executivo, dire-tamente responsvel pela funopolicial. Por assumir funesesprias, restam poucos recursospara a segurana, por isso orecrutamento de pessoal atingeapenas as camadas sociaismenos desenvolvidas; a remu-nerao baixa, principalmentecomparada ao poder econmico

    campo da cincia e da tecnologia,da cultura e da arte, do esportedo lazer; dota-se escassamente ocampo da sade, da educao e

    da previdncia, e quase nadaresta para a segurana.Esqueamos a temtica da

    segurana externa, que poderealmente ser descurada noBrasil atual.

    A razo da priorizao estem que a atividade econmicaproporciona aos detentores dopoder receita extra; as atividadesdenominadas sociais geramprestgio eleitoral; j o investi-

    A primeiraconsequncia do

    descuido com asegurana internaaparece no Poder

    Legislativo: escassasso as leis sobre amatria, totalmente

    defasadas da situaosocial, mas tratar delas

    desagradvel; porisso, preocupam-se oslegisladores muito mais

    em proteger a pessoado delinquente

    enquanto ru oupresidirio, o que

    mais simptico.

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    dos delinquentes; os equipa-mentos so ultrapassados; otreinamento insuficiente. Em ummundo caracterizado pelo poderda tecnologia, o servio deinteligncia policial precrio,quando existente.

    Da resulta que os policiais nose orgulham mais da farda quevestem. Ao contrrio, nem saems ruas com ela, seno quando

    obrigados, e ocultam ao mximoa funo que exercem, pois noquerem ser reconhecidos comopoliciais, at porque o vizinhopode ser um criminoso. Tanto opolicial quanto a sua fardaencontram-se em absolutodesprestgio, a tal ponto que, se aimprensa divulga um conflito entrepoliciais e civis, quase toda apopulao opta aprioristicamentepelos ltimos e suspeita dosprimeiros.

    frequente a corrupopolicial, gerada certamente pordeficincias de carter, masestimulada pelo desprestgiofuncional, a baixa remunerao ea proximidade com criminososque enriqueceram nas prticasantissociais. do conhecimentopblico que pequenas infraes,como as relativas ao trnsito e a

    regras administrativas, so, comfrequncia, resolvidas mediante opagamento de propina nonecessariamente vultosa. En-quanto honrosa parcela dosistema policial persegue comtodas as foras o trfico dedrogas e o jogo, outra selocupleta com eles. O jogo dobicho, contraveno penal (umabsurdo, pois a Caixa Econmica

    Federal o explora oficialmentesem qualquer restrio), s praticado graas dissimuladaproteo policial. Sem falar nosgrandes atos de corrupo queocorrem, em somas fabulosas, deforma inacreditvel, at no topoda pirmide administrativapblica. O fenmeno no novo.Em 1937 o escritor ingls G. K.Chesterton escreveu O Homemque foi Quinta-feira1, umaalegoria sobre o bem e o mal, naqual explora o conbio entrepoliciais e criminosos, susten-tando surpreendentemente quetodo criminoso um policialdisfarado e todo policial umcriminoso disfarado. mesmoalarmante a estatstica relativa adelitos nos quais esto envolvidospoliciais, exatamente aqueles quedeviam preveni-los e combat-los.

    Nada elogivel tambm o sistemaprisional brasileiro. Um conjuntode celas desumanas que pro-vocou, de um Ministro da Justia,a dramtica afirmao de quepreferia morrer a ser recolhido auma delas. Suas palavras forampoliticamente criticveis, pois a elecabe grande parcela da obriga-o de sanar o problema, masforam absolutamente realistas.

    No que queiramos presdiosluxuosos, mas que sejamhumanos. Se alguns privilegiadospodem cumprir penas em salasaconchegantes, com poltronas,televiso, refrigerador e cardpiode caros restaurantes, a quasetotalidade sobrevive em celasconstrudas para dez que abrigamcentenas, sem o mnimo confortohiginico. Os guardas e funcio-nrios, acumpliciados, nopercebem o uso, pelos prisio-neiros, de telefones celulares apartir dos quais comandam a altacriminalidade.

    No h vagas no sistemapenitencirio. necessrio quealgum presidirio morra ou fujapara que outro possa ocupar suacela. Por isso, milhares e milharesde mandados de priso, em todasas Comarcas, aguardam vaga

    1 CHESTERTON THE MAN WHO WAS THURSDAY (A Nightmare) Penguin Books Limited 1937.

    No h vagas no sistema penitencirio. necessrio que algum presidirio morra ou fuja para que outro possa ocupar sua cela.

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    para serem cumpridos... se apena no prescrever. Um cmicoprefeito encontrou uma soluo: proibido cometer crimes, oumelhor, proibido ser condenado priso. O Poder Judicirio, porsua vez, s pode aplicar penasleves, de curta durao. Ocondenado, conforme a gravi-dade, poder cumpri-la real-mente (sistema fechado), emparte (sistema semiaberto, noqual usa o presdio apenas comodormitrio) ou fingir que acumpre (sistema aberto). Mesmono sistema fechado, pode (a

    critrio do Juiz) gozar da pro-gresso da pena, que vai dorealmente fechado ao aberto,passando pelo semiaberto. Enfim,para minimizar a superpopulaocarcerria so utilizados aanistia, os indultos e as licenaspara ficar em casa durante asfestas de Natal e Pscoa (na espe-rana de que a tera parte noretorne). E assim se resolve o pro-blema do excesso de condenadose a carncia de presdios no

    Brasil: pela eliminao da pena!O cumprimento da pena depriso, como disse o Ministro daJustia, mais penoso do que amorte, mas essa tragdia mitigada pela permisso de falarhoras a fio em telefones celularese, atravs deles, exercer tran-quilamente o comando da crimi-nalidade; e tambm pela possi-bilidade de convidar parceirospara inacreditveis visitas ntimas,nas quais ingressam nos presdios

    no apenas o sexo e a doena,mas tambm as drogas e armas,os planos delituosos, as armase os telefones celulares. Para

    muitos, viver no presdio melhordo que no barraco.

    No mais tranquilizadora asituao dos menores infratores.H generalizada preocupaoem no usar as palavras prisoou deteno em referncia a eles,para sugerir que lhes asse-gurado tratamento diferenciado.Puro engodo. No h instituiesespecializadas em reencaminh-los. So levados a casas que dizemter essa finalidade, mas s dizem.Mesmo assim, so poucas, compoucas vagas e acmulo deabrigados. O tratamento asse-

    melhado aos dos presidirios, eeles saem dali ainda mais prepa-rados para a criminalidade.

    O problema do menor, alis,comea mais cedo. Os filmes aque assiste, os jogos eletrnicoscom que brinca, a literatura quelhe proporcionada, tudo valorizaa violncia: heri quem matamais, com mais rapidez e maiscrueldade. Cedo eles so ali-ciados por delinquentes maiores,que passam a abusar de sua

    irresponsabilidade penal, usando-os como proteo. Por isso absurdo pensar que a reduo damaioridade penal resolver asituao. Os delinquentes demaior idade passaro a valer-sede menores ainda menores,agravando e no resolvendo oproblema.

    Nem se pensa mais em re-cuperao social do presidirio,tema que povoava as obrascriminais do passado. Se no

    morrer, ele deixar sua celaamadurecido na arte de delinquir.Sem alternativa profissional,seu prximo passo ser neces-

    sariamente a reincidncia. Efeitodesse quadro catico a cons-cincia da impunidade. O de-linquente sabe que pode fazer oque quiser e pode at entregar-seao policial, porque sua vida futurano ser to penosa quantopensa o Ministro da Justia.Principalmente se tiver algunstrocados para brindar os admi-nistradores do presdio.

    Com a conscincia da impu-nidade, aumenta assustadora-mente a criminalidade, o que temtoda lgica. Cresce a revolta doscriminosos contra os policiais que

    dificultam suas atividades. Aassustadora quantidade dehomicdios contra policiais resultade revide do delinquente contraquem se intrometeu em seucaminho ou objetiva intimidar osdemais, a fim de que no ousemtal intromisso.

    O que se pode concluir dessedramtico exame que o Brasil o lugar onde habita um conjuntode anjos. Tantos milhes depessoas acotovelando-se todos os

    dias sem encontrar nenhumpolicial... a paz social quase ummilagre. As normas legais socumpridas de forma espontneapelos cidados que se atropelam,sem fiscalizao, porque o Estadono tem dinheiro para isso.

    A si tuao s comear amelhorar quando o Estado voltara priorizar a segurana, limitan-do-se, quanto ao restante, funo de legislar, fiscalizare punir. As questes sociais

    e econmicas, que devem serestimuladas pelo Poder Pblico,precisam ser deixadas aos parti-culares.

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    EspecialUma viso liberal do fato

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    julgamento da Ao Penaln 470, popularmente co-

    nhecida como o Mensalo,trouxe resultados inesperadospara a conscincia brasileira.Acostumada a ver a impunidade,no que respeita ao julgamento depolticos e poderosos, a Naoassistiu ao desenrolar de umahistria podre em contedo eforma. A quadrilha liderada porJos Dirceu foi mostrada em todaa sua sordidez. A corrupoenvolvia parlamentares que,posteriormente, se transformaramna base aliada do governopetista. O julgamento, concludocom energia e competncia pelorelator Joaquim Barbosa, revelouao Pas uma liderana moralde cuja falta todos ns nos ressen-tamos.

    O STF, com tranquilidadee energia, acusou e apenou os

    rus com sentenas variadas, emrazo de crimes que vo desdelavagem de dinheiro a peculato.Apesar de ter como revisor opetista Ricardo Levandowsky, emnenhum momento Barbosa fezconcesses.

    A condenao dos rus, quevo de multas pecunirias aoencarceramento, um formidvelaviso para quem se achava forado alcance da lei.

    os dois ltimos meses doano, no desenvolvimento da

    operao Porto Seguro, a PolciaFederal chegou a um conjunto defuncionrios de nvel mdio envol-vidos com o processo de comprae venda de pareceres em nvelfederal. Os irmos Vieira,tripulantes da ANA AgnciaNacional de guas, e da ANAC Agncia Nacional de AviaoCivil, vendiam pareceres, entre osquais se destacou um quefavorecia o ex-senador GilbertoMiranda.

    O mais chocante que aintermediria das operaes eraRosemary Nvoa, chefe dogabinete da Presidncia daRepblica em So Paulo enamorada de Lulla, integranteoficiosa de diversas comitivaspresidenciais em vrias viagensinternacionais do ex-presidente,

    quando Dona Marisa Letcia noo acompanhava.O processo perdeu dinmica

    dentro da PF porque o envol-vimento de Rose com Lullaconstrangeu as apuraes. Talcomo no caso do Mensalo,onde o responsvel Z Dirceu erao vice-rei, no caso em questotenta-se tratar o caso como umassunto pessoal de Lulla.

    que houve de pior no Brasilfoi o fraco desempenho da

    economia. Crescemos menos de1% em 2012, valor insuficientepara repor o PIB per capita doPas. Dilma Rousseff, cujascaractersticas fsicas se asse-melham s de uma gerentona,mostrou-se incapaz de atuarapenas em espaos mono-polsticos, pretendendo, na ver-dade, substituir o mercado por umMinistro da Fazenda da quali-dade intelectual de GuidoMantega, sabidamente umeconomista com poucos recursosintelectuais. Na impossibilidade dereduzir o nvel de tributaoexistente, dado o peso da m-quina pblica, Dilma apenasalterou a cronologia dos consu-midores ao reduzir, tempora-riamente, impostos sobre deter-minados produtos, como foi ocaso dos veculos automotores.O baixssimo nvel de inves-

    timentos em programas estatais,como energia eltrica, ferrovias,portos e estradas de rodagem,acabou retirando das atividadesinstaladas no Brasil sua principalvantagem competitiva: o custo demo de obra.

    Os principais episdios daeconomia brasileira se refletem,hoje, no risco energtico queestamos correndo. possvel queapages venham marcar osemestre corrente.

    O O N

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    Mario Guerreiro

    Por quemetorneium liberal

    conservadorDoutor em Filosofia pela UFRJ.

    Destaque

    iz o provrbio que o diabo,depois de velho, torna-se

    moralista. Acho que s vezes isso verdade. Mas nem sempre.Vejamos o caso do grande filsofoArthu r Schopenhauer (1788-

    1860). Quando jovem, ele gos-tava de farras e mulheres, e dosmesmos versinhos atribudos aJ.H. Voss e to apreciados porLutero:

    Wer liebt nicht Weib,Wein und GesangDer bleibt ein narr seinLebenslang.[Quem no gosta demulher, vinho e cano/Permanece um idiota

    por toda a vida].Mas quando Scho-

    penhauer ficou velho setornou um misantropo,vegetariano radical, poduro, ranzinza e passou anutrir verdadeiro horrorem relao s mulheres, aquem considerava seresde cabelos compridos eideias curtas. Quem hojedesdenha ontem queria...

    verdade que mu-damos nossos modos deser e de pensar com aidade, paralelamente com nossomundo circundante, que tambmmuda com o tempo. Desse modo,quando tentamos compreenderbem esse processo temos de levarem considerao o que mudouem ns e o que mudou no mundo.

    Quando era muito jovem agora j no sou muito eu era

    um anarquista, no no sentidofilosfico desse termo, mas sim nosentido popular de adepto doCarpe diem horaciano. Ou seja:Aproveite bem o dia de hoje,porque o passado no mais, o

    futuro ainda no e, espremidoentre ambos, o presente fugaz ese esvai como a fumaa...

    Como dizia um refro dapoca (por volta de 1970): Noacredite em ningum com maisde trinta anos. Assim, opos-tamente Velhinha de Taubat, euno acreditava em nada que os

    polticos diziam.Continuo no acreditandoneles, com a diferena de que

    hoje me preocupo com oque eles dizem e fazem,uma vez que tenho plenaconscincia de que elesno podem transformarminha vida num paraso,mas podem transform-lanum inferno.

    Eu no acreditava noEstado como benfeitor dos

    cidados, o Estado-PapaiNoel ou Estado-bab. Euno acreditava no Estado-empresrio, em prote-cionismo, em redistri-buio de renda, enfim,em tudo que os socialistasapregoavam e continuamapregoando. Com a dife-rena que, aps 1991,com a dissoluo da URSS,tornaram-se quase todossocialistas democrticos e

    adotaram a estratgia dehegemonia gramsciana.Redistribuio de renda?

    Como diz o vetusto provrbioportugus: Quem parte e repartee para si no tira a melhor parte, um tolo ou no partir no temarte. E foi justamente por isso queo saudoso Roberto Campos diziaque, na repartio do bolo, tudoo que importa quem o donoda faca (por suposto: o Estado).

    D

    Por sua vez, o mundo daminha juventude era o da utopiahippie, que vivia por antecipaoa Era de Aqurio, uma era desade, paz e amor... Make lovenot war, como pregavam osBeatles em plena guerra doVietn. E no auge da guerra fria.

    Mario Guerreiro

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    E continuo no acreditando,com a diferena de que anti-gamente eu era completamenteindiferente ao Estado, s igrejas,

    aos partidos polticos, aos gruposde intelectuais e a toda e qualquerinstituio humana.

    E hoje no posso mais dizerque sou indiferente a essas eoutras coisas assemelhadas,porque sei muito bem que elasexercem grande influncia na vidasocial, e eu no estou imune aosseus possveis malefcios.

    Tornei-me um ctico, umpessimista? Respondo com umvetusto provrbio chins: Espere

    sempre o melhor, prepare-se parao pior e aceite o que der e vier.Sou um pessimista light, sem

    amargura e mau humor, e umctico ma non troppo, se queposso dizer assim, sem causarespcie aos espritos sisudos ecompenetrados.

    Mas se digo que me tornei umliberal conservador no estareiincorrendo numa contradictio inadjectio (contradio em termos)?Logo eu que me considero um

    amante de Sophia e um servidorvoluntrio da lgica!No, contradio em termos

    o nome daquele partido polticomexicano, o PRI (Partido Revo-lucionrio Institucional), umasntese do Partido Comunistasovitico e do Partido Conservadorbritnico, ou seja: um autnticofilhote de jacar com cobradgua, como teria sido umpossvel filho do conbio de LeonTrotsky com Frida Kahlo.

    O PRI governou o Mxicodurante uns 70 anos, foi afastadodo poder pelo voto, mas agoravoltou pelo mesmo voto, aps 12anos de um laivo de sensatez dosmexicanos.

    Para a maioria das pessoas,um conservador um indivduoantiquado, defasado e que noquer mudar absolutamente nadaou que acredita que as coisas tmque mudar, para que continuem

    as mesmas, como o nobredecadente siciliano em O Leo-pardo, de Lampedusa. E um li-beral, ao contrrio, quer mudar

    tudo. um adepto do liberougeral, quase um libertino.Mas no so esses os sentidos

    corretos dos dois termos. Umliberal acredita no trabalho e nacriatividade dos indivduos, nacompetio leal sem favoreci-mentos, no mximo possvel de

    dado. H bons e maus costu-mes, boas e ms instituies.Devemos, portanto, mudar osmaus e conservar os bons, mas

    nunca perdendo a conscinciados limites de elasticidade daspossveis mudanas, uma vezque o conhecimento humano limitado, juntamente com seupoder de modificar as coisas.

    H mudanas que no devemser feitas, ao menos no momentoem que as desejamos. Muitasdelas so dependentes de outras,e s devem ser feitas aps essasoutras. Por exemplo: como fazeruma reforma poltica, tributria,

    previdenciria ou trabalhista semantes ter feito uma reformaadministrativa em que fiqueestabelecido o tamanho doEstado que desejamos?! Areforma administrativa condionecessria para todas as outras:a me de todas as reformas.

    Alm disso, o conservadorconcede grande importncia Histria e s tradies represen-tativas de um povo, pois temconscincia de que a verdadeira

    ordem no uma imposiovinda de fora e baixada sobre acabea das pessoas, mas sim algoemergente das mltiplas intera-es dos indivduos na sociedade,como props Ortega y Gasset,endossado posteriormente porF. Hayek.

    Creio que essas distores dostermos conservador e liberal,que os tornaram antitticos paraa maioria das pessoas, sedeveram aos dois principais

    partidos polticos antagnicos naEra Vitoriana: o Liberal Party,cujogrande lder foi Gladstone, e oConservative Party (Tory), cujogrande lder foi Disraeli.

    Com a criao do Labour Party(Partido Trabalhista), o LiberalParty passou a ocupar um lugarsecundrio s recentementevoltou a ter grande peso polticocom a eleio de Nick Cleggcomo vice Primeiro-Ministro e o

    liberdade com um mnimo neces-srio de restries. E eu acreditonessas e noutras coisas queconcorrem para a prosperidadedos indivduos e das naes.

    Um conservador quer mudaro que pode e deve ser mudado

    mediante reformas graduais, nomediante revolues. Sempresabemos como uma revoluocomea, mas nunca sabemoscomo acaba. Vide os exemploshistricos das revolues francesae russa que, feitas em nome daliberdade, descambaram emtiranias sangrentas.

    Mas o conservador noquer mudar o que no pode,nem o que no deve ser mu-

    Destaque

    Um conservadorquer mudar o que

    pode e deve sermudado mediante

    reformasgraduais, no

    medianterevolues.

    Sempre sabemoscomo umarevoluo

    comea, masnunca sabemoscomo acaba.

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    Joaquim Barbosa

    antagonismo passou a ser entreo Partido Conservador e o PartidoTrabalhista at hoje.

    O primeiro com uma orien-tao liberal tradicionalmentebritnica, proveniente de JohnLocke e Adam Smith, e o segundodefendendo o welfare state, omesmo Estado do bem-estar dospartidos social-democratas daZona do Euro, que cuidam doscidados paternalisticamente fromwomb to tomb (do tero aotmulo).

    importante assinalar que oReino Unido membro daComunidade Europia, mas noparticipa da Zona do Euro. Suamoeda continua sendo a libra.

    No Brasil, havia no SegundoImprio uma monarquia cons-titucional, com D. Pedro II exer-cendo o papel de poder mo-derador e dois partidos anta-gnicos: o Partido Conservadore o Partido Liberal.

    Este ltimo defendia mu-danas radicais, como a abolioda escravido, mas o primeiro

    no a desejava por temer asgraves consequncias para asgrandes lavouras levadas adiantepelo custo barato da abundanteda mo de obra escrava.

    Dos pontos de vista tico ejusnaturalista, a escravatura erauma aberrao inaceitvel, massua abolio da noite para o diacausaria um grave problemasocioeconmico para um pasagrrio, como o Brasil da poca.

    Sendo assim, os conser-

    vadores procuraram postergar omais que puderam a abolio,enquanto procuravam umasoluo para aquele impasse. OParlamento votou leis que ame-nizavam a crueldade da escra-vido, como a Lei do VentreLivre, segundo a qual filhos dosescravos no eram maisescravos, e A Lei do Sexagen-rio, segundo a qual ningumera mais escravo ao completarsessenta anos.

    O esprito dessas leis bas-tante simples de compreender:elas causariam inevitavelmente ofim da escravido gradativamente,no longo prazo.

    Desse modo, quando a Prin-cesa Isabel aboliu por decreto aescravido em 13 de maio de1888 o Brasil foi o ltimo pas domundo a tomar essa medida.Todos os escravos se tornaramhomens livres dos grilhes que osacorrentavam.

    Uma minoria deles aceitoutrabalhar para seus antigossenhores mediante pagamento desalrio. Mas a maioria deles serecusou a trabalhar como assa-lariado para seus antigos se-nhores ou novos empregadores.

    O esvaziamento das grandeslavouras foi uma consequncia toinevitvel quanto o grandeinchamento das populaes dasgrandes cidades, em que milhesde ex-escravos procuravamsobreviver como podiam.

    Como eram analfabetos e ssabiam trabalhar na lavoura,passaram a constituir um Lum-pemproletariat, i.e., proletariadolumpem, composto de mendigos,prostitutas de rua e indivduossem teto sobrevivendo de bicosaqui e ali.

    A crise socioeconmica s nofoi pior porque D. Pedro IIestimulou a migrao de cam-poneses europeus, principal-mente de italianos, para asgrandes lavouras, principalmenteas do caf, o mais importante

    produto brasileiro na poca.O comunista Darcy Ribeiro,que costumava escrever discursosincendirios para SalvadorAllende ex-presidente do Chileque queria transformar seu pasnuma Cuba sul-americana costumava tambm denegrirnosso ilustre imperador dizendoque o mesmo tomara amencionada medida porqueera racista e queria bran-quear o Brasil.

    Quando, na realidade, comsua medida oportuna ele evitouque o Brasil casse no abismo.No era somente uma aristo-cracia rural que estava ameaadacom a runa, mas sim a sustenta-bilidade socioecionmica do Pas.

    Antes de 1888, o Parlamentobrasileiro se via diante de umterrvel dilema entre tica e direito,por um lado, e sustentabilidadesocioeconmica, por outro. Secontinuasse mantendo a escra-vido, estaria perpetuando uminaceitvel cerceamento daliberdade individual. Mas se aabolisse, estaria produzindo umagrave crise. Se correr o bichopega, se ficar o bicho come verso popular de a escolha deSofia, um dilema destrutivo nalinguagem da filosofia.

    Os liberais da poca, comoJos do Patrocnio, optaram pelaliberdade dos escravos, mas os

    Destaque

    Hayek foi umdos grandes

    defensores doconservadorismo.

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    conservadores optaram pelamanuteno do status quo pelomaior tempo possvel.

    No por serem contrrios liberdade de todos, nem muitomenos porque eram racistas e pors estarem voltados para a defesados interesses de classe dosgrandes fazendeiros como osmarxistas vivem apregoando mas sim porque temiam umagrave crise socioeconmica parao Pas. E que louco desejaria talcoisa?! S os adeptos do irrespon-svel quanto pior, melhor.

    H momentos da Histria emque a orientao liberal se chocacom a conservadora, mas essesraros momentos no constituemuma incompatibilidade de prin-cpios entre ambas, de tal modoque no uma contradio nostermos algum se situar, polticae economicamente, como umliberal conservador.

    Geralmente os tratados defilosofia poltica apontam EdmundBurke (1729-1797) como ogrande defensor do conserva-dorismo. Ele foi um filsofoe membro da Casa dos Comunspelo Partido Conservador (umTory).

    Um de seus grandes mritos foitentar evitar a Revoluo Ame-ricana, que j estava se prenun-ciando. Geralmente conserva-dores fazem tudo para evitarrevolues por uma razo jassinalada: sempre sabemoscomo uma revoluo comea,mas nunca sabemos o rumo que

    ela tomar e como acabar.Por incrvel que parea,Adolf Hitler tinha uma aguadaconscincia disso, pois declarou:Comear uma guerra comoentrar num quarto escuro. Nuncasabemos o que vamos encontrarl dentro.

    Enquanto o compatriota deBurke, Thomas Paine (1737-1809), no s defendia a guerrade independncia das TrezeColnias como tambm chegou

    a participar da mesma com seulibelo, intitulado Senso Comum,Burke enviou um projeto de leipara a Casa dos Comuns em queas Treze Colnias passariam condio de Vice-Reino, tendorepresentao no ParlamentoBritnico.

    Ora, isso era tudo que osamericanos desejavam. Naqualidade de seu representantediplomtico, Benjamin Franklintinha feito trs viagens Inglaterrana tentativa de encontrar umacordo satisfatrio, e teria secontentado com o projeto deBurke, caso ele tivesse sido aceitopelo Parlamento.

    Mas este se mostrou intran-sigente, juntamente com um reidemente: Jorge III. E, desse modo,a Inglaterra acabou perdendo suacolnia mais promissora. Masno por culpa do conservadorEdmund Burke, um tory do mesmopartido de Margaret Thatcher, elaque foi sem sombra de dvida umPrimeiro-Ministro autenticamenteliberal conservador, como orepublicano Ronald Reagan o foinos EUA.

    O livro mais importante deBurke foi Reflexes sobre aRevoluo na Frana, publicadoum ano aps a RevoluoFrancesa de 1789, antes docontragolpe dos jacobinosliderados por Robespierre oRousseau com a guilhotina,segundo o embaixador MeiraPenna.

    Livro proftico, pois previu o

    banho de sangue do Reino doTerror de Robespierre, reeditadoposteriormente pelo Reino doTerror de Lenin. Burke s noconseguiu prever o triste destinoda douce France, que escapou datirania dos jacobinos para cairnas mos do tirnico NapoleoBonaparte.

    Numa passagem crucial dasReflexes, diz Burke: Possofelicitar esta mesma nao [aFrana] pela sua liberdade? Pelo

    fato de a liberdade, no seu sentidoabstrato, dever ser includa entreos bens do gnero humano,deverei seriamente cumprimentarum louco furioso, que tivesseescapado da protetora e salutarobscuridade de seu crcere, pelofato de ele ter recuperado a luz ea liberdade?

    Deverei cumprimentar umsalteador ou um assassino, quetivesse rompido seus grilhes,pelo fato de um e de outro teremrecuperado seu direito natural?Isto seria renovar a cena dosremadores das gals e de seuherico libertador: o metafsicoCavaleiro da Triste Figura. [E.Burke: op.cit. , 1790, citado porMario A.L. Guerreiro: Liberdadeou Igualdade? Porto Alegre,Edipucrs, 2002, p.202).

    O Cavaleiro da Triste Figurafoi um epteto dado por DomQuixote de La Mancha a elemesmo. Na passagem do grandelivro de Cervantes o mais lidono mundo depois da Bblia Dom

    Destaque

    Edmund Burke foi membro da Casa dosComuns pelo Partido Conservador.

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    Destaque

    Quixote se lana temerria ideiade libertar os remadores de umagal, criminosos da pior espcie,que se vendo livres de seusgrilhes se voltaram contra seubenfeitor e queriam comer seufgado.

    Essa personagem de fico fezo que o pensante neomarxistaMichel Foucault proporia que sefizesse na segunda metade dosculo XX.

    Aps crit icar asperamente obrilhante projeto de um presdiode segurana mxima feito pelofilsofo Jeremy Bentham (1748-1832), o Panopticon (i.e.visopanormica), ele props quefossem abertas as portas de todosos presdios e hospcios, porqueos que estavam l dentro erampobres vtimas da opressora erepressora sociedade capitalista.

    Como se no mundo comunistano houvesse presdios e hos-pcios, para onde eram man-dados no s criminosos e loucoscomo tambm dissidentes pol-ticos, como os do ArquiplagoGulag denunciado pelo escritorrusso Alexander Soljenitsin!!!

    No de causar espcie queum esquerdista to desvairadocomo esse encontrasse tantosseguidores e admiradores naAmrica Latina, incluindo muitosda Terra de Macunama, o herisem nenhum carter (o epteto de seu criador: Mario de An-drade).

    Diante de misturebas de mar-xismo, freudismo e anarquismo

    irresponsvel de frvolos pensantesfashionable parisienses, diante decasamentos de gays e de sistemade cotas reconhecidos por una-nimidade pelo STF, de projetosestendendo as cotas ao funcio-nalismo pblico, bolsa-famlia,bolsa-presidirio, projeto depresdios 5 estrelas aps acondenao dos bandidos men-saleiros... de projetos de ope-raes de mudana de sexofeitas pelo SUS, onde tem gente

    morrendo por falta de aten-dimento, de teologia da libertao,religies em que templo dinheiroe de outras sandices e excres-cncias desta ps-modernidadebrasileira...

    Ainda tem mais esta: eis o maisrecente projeto do Estatuto doPresidirio, da autoria de OlvioDutra (PT-RS), o bigodudo Nietzs-

    temos que mudar de men-talidade. Ou ento de povo.

    Direito a artigos de higiene ebeleza, tais como sabonete,xampu, creme hidratante, etc.Direito de visitar parentes adoen-tados com escolta policial.

    Se levarmos em consideraoa existncia de 500.000 presosneste pas, ser que h policiaissuficientes para as escoltas? Jno bastam as liberaes no Diadas Mes e no Natal, quandopoucos so os que retornam scelas por sua livre e espontneavontade?! E os poucos quevoltam, como no o fazempremidos por nenhuma coeroexterna, s podem fazer talcoisa movidos pelo imperativocategrico kantiano do Tu devesfazer isso.

    Direito comida de boaqualidade preparada por nutricio-nistas, coisa que a maioria doscidados honestos dos bolses depobreza do Brasil nem sonha ter.Atendimento mdi co de boaqualidade, juntamente com enfer-

    meiros, psiclogos, assistentessociais etc.Desse jeito, prefervel ser

    socorrido por profissionais dobem-estar nos presdios a morrernas filas do SUS por falta deatendimento ou de meios para aadequada medicao. (Osmdicos fazem tudo o que po-dem, mas so tambm vtimas dohorroroso Sistema nico deSade.)

    No est registrado nos mais

    de cem artigos do referidoEstatuto nenhum dever dos presi-dirios, mas sim deveres doscarcereiros e delegados. Levesleses corporais nos presos e 2a 3 anos de deteno para osresponsveis. As mesmas penali-dades para quem deixar defornecer xampu e creme hidra-tante para o upgrade esttico dosdetentos.

    Parece at que no estamosnum pas pobre como o Brasil,

    che dos Pampas que, entre outrosabsurdos, institui o Dia doPresidirio [a ser comemoradocom festanas nos presdios efora deles?].

    Esse Estatuto muito generosoem direitos, mas avarento emdeveres dos detentos. Eles terodireito a celas individuais, quandoas coletivas esto superlotadaspor no se construrem presdiossuficientes. Prometer constru-losno rende votos no Brasil, o que prejuzo certo na contabilidadedos polticos. E quem so osculpados? Eles ou os que oselegem e reelegem?! Noadianta mudar de governo,

    Se levarmos emconsiderao aexistncia de

    500.000 presosneste pas, ser que

    h policiaissuficientes para asescoltas? J no

    bastam asliberaes no Dia

    das Mes e no Natal,quando poucos soos que retornam scelas por sua livre

    e espontneavontade?!

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    Destaque

    com o 84o lugar no ranking de IDHmundial e a terceira cidade maisviolenta do mundo: Macei, mas

    sim num pas rico como a Suaou Luxemburgo, com seus ex-celentes IDH.

    E foi por essas e outrassandices e excrescncias queacabei me tornando um liberalconservador.

    Mas, pensando bem, no hincompatibilidade de princpiosentre o liberalismo e o con-servadorismo, porque eles so dedistinta natureza. O conser-vadorismo essencialmente uma

    orientao poltica concebendo aprxis poltica inseparvel da tica,tal como pensava Aristteles e atradio aristotlica.

    Como sabemos, para ele aatividade poltica nada mais eraque um prolongamento daconduta tica, algo que costu-mamos chamar hoje de ticapblica em distino tica daesfera privada. Devemos aMaquiavel o banimento da ticana atividade poltica, uma das

    lamentveis ndoas da mo-dernidade, tendo as mais graves

    consequncias. O Mensalo apenas a pontinha do iceberg.

    O conservadorismo noapresenta uma concepo eco-nmica prpria. No se encon-trar nada sobre o assunto nosescritos de Burke nem de qual-quer outro conservador. Mas omesmo no se pode dizer doliberalismo.

    Se aceitarmos que um dosprimeiros pensadores liberais foiAdam Smith, importante ficarsabendo que ele era professor detica na Universidade de Glasgow(Esccia).

    Alm de escreverUma Inves-tigao sobre A Natureza e AsCausas da Riqueza das Naes(1776) grande obra da EscolaClssica de Economia ele jtinha escrito uma Teoria dosSentimentos Morais (1759), emque compartilhava com seuconterrneo e contemporneo,David Hume, o conceito funda-mental de sympathy (i.e. com-paixo, solidariedade em ingls).

    Lamento no dispor de espao

    para mostrar que o pensamentoeconmico e o pensamento tico

    de Adam Smith no so mutua-mente exclusivos, mas simcomplementares. Alm disso, umconservador no ter nenhumadificuldade em incorporar ambosao seu pensamento e sua ao.

    Quanto ao Brasil, trata-serealmente do pas dos grandescontrastes, em que uma pujanteagroindstria contrasta com umaincompetente e corrupta classepoltica, em que Braslia, que noproduz quase nada, tem uma rendaper capita maior do que So Paulo,a cidade mais produtiva do Brasil.

    O 6o PIB do mundo contrastacom o 69o lugar no ranking dospases mais corruptos, 66o no deeducao superior, 88o node educao bsica, 99o node liberdade de expresso, 48olugar em economias competitivas,no 99o no de qualidade dasinstituies e 84o no IDH.

    Desculpe-me, Afonso Celsode Assis Figueiredo Junior,titulado pela Santa S CondeAfonso Celso e autor de Por QueMe Ufano do Meu Pas (1900),mas no posso me ufanar de umpas como este!

    Ligue para (21) 2539-1115, ou pea pelo site:www.institutoliberal.org.br

    Essas e outras obras esto a venda no IL.

    35,00cada

    Og Leme foi um grandeliberal, que lutou a boa luta,e deve ser lido por todos que

    valorizam a liberdade.Rodrigo Constantino

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    Livros

    Privatize JResenha do livro Privatize J, de Rodrigo Constantino. Ed. Leya, 2012.

    A

    porJoo MauadAdministrador de empresas

    FEV/MAR/ABR - 2013 - N 61 26

    verdade, deplorvel verdade, que o gosto pelas funes

    pblicas e o desejo de viver custados impostos no so, entre ns, umadoena particular de um partido: agrande e permanente enfermidadedemocrtica de nossa sociedade civile da centralizao excessiva de nossogoverno; esse o mal secreto quecorroeu todos os antigos poderes ecorroer igualmente todos os novos.

    (Alexis de Tocqueville Lembranas de 1848; As jornadas

    Revolucionrias em Paris)

    Aos 36 anos , o prof ic ienteeconomista Rodrigo Constantinoacaba de lanar o seu stimo livroe, no por acaso, mais uma obracujo pano de fundo a incansveldefesa da liberdade. Privatize J -Editora Leya, 2012, 399 pginas - o resultado de uma extensapesquisa sobre o tema das

    privatizaes, no s no Brasil comono mundo inteiro. Embora repletode dados empricos que compro-vam o sucesso das polt icasprivativistas, onde quer que elastenham sido implementadas, o livroest longe de ser uma leituramontona. Pelo contrrio: divididoem cinco partes e 30 captulos, olivro explica, de forma instigante,as vantagens da privatizao ecomo a sua implementao,durante o Governo FHC, melhorouo Brasil e como ainda poderiamelhorar muito mais, caso aideologia estatizante, a mesma deque falava Tocqueville, j no Sculo

    XIX, possa ser derrubada.Privatize J justamente um

    libelo contra essa ideologiaestatizante que vem corroendo asentranhas da sociedade brasileira.De acordo com o prprio Cons-tantino, uma pesquisa de 2007feita pelo Instituto Ipsos e en-comendada pelo jornal O Estadode So Paulo mostrou que mais de

    60% dos entrevistados so contraa privatizao de servios p-blicos. Alm disso, mais da metadeda populao condenaria umahipottica venda do Banco doBrasil, da Caixa Econmica ou daPetrobras. Tal ideologia majoritria alimentada, segundo Cons-tantino, por uma srie de falcias,disseminadas de forma sistemticapor aqueles que tm interesse namanuteno dostatus quo.

    Editado no mesmo padrobem-sucedido de outros livros daEditora Leya, Privatize J intercalacaptulos longos com pequenasinseres que contam histriasinteressantes sobre o tema. Nestecaso, Constantino utilizou de formamagistral as chamadas pginasde fundo preto para demonstrarcomo a propriedade privada muito mais eficiente, no apenasem termos econmicos e sociais,mas at mesmo ecologicamente.Nessas pginas Constantino ex-plica, por exemplo, porque asbaleias correm srios riscos deextino, enquanto as vacas soimunes a eles. Ou como apropriedade privada fez disparar o

    nmero de elefantes no Zimbbue,enquanto a propriedade pblica osdizimava no Qunia. H aindahistrias impagveis, como a dofabricante sovitico que produziasomente um tamanho de sapatos.

    Constantino reserva a ltimaparte do livro para denunciar aquiloque ele, muito apropriadamente,chama de privataria petista, ouseja, a submisso do Estado aosinteresses do partido no poder. Essaprivataria vai desde a profusode cargos concedidos aos apa-drinhados do partido em empresasestatais, passa pela chamada orgiadas ONGs, que de no gover-namentais s tm mesmo o nome,j que vivem basicamente dodinheiro pblico, em geral des-tinado quelas entidades cujasimbiose poltica e ideolgica como partido latente, passa tambmpela concesso de volumosasverbas publicitrias para empresas

    de mdia chapas-brancas, atchegar ao loteamento das agnciasreguladoras, transformadas emverdadeiros balces de negcios.Sem esquecer, claro, do me-canismo facistide de troca defavores com o empresariado bemcomportado, que tem no BNDESseu brao mais importante.

    Enfim, como muito bem resumiuConstantino, est na hora... dedebater o tema da privatizao semdeixar as paixes cegarem a razo.O Estado pode ter um importante

    papel como regulador, masinevitavelmente fracassa comoempresrio. No se trata de msorte, e sim da sua prpria natureza.Se cada um souber o seu lugaradequado, ento ns, brasileiros, steremos a ganhar com isso.

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    FEV/MAR/ABR - 2013 - N 61 27

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