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2014 Nuno Albuquerque Daniel Paraíso Ferreira Mendes 17-11-2014 RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR DA INSOLVÊNCIA (art.º 155.º CIRE) Tribunal da Comarca do Porto Santo Tirso Inst. Central 1.ª Secção do Comércio J2 Processo n.º 4297/14.0TBVNG

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2014

Nuno Albuquerque

Daniel Paraíso Ferreira Mendes

17-11-2014

RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR DA INSOLVÊNCIA (art.º 155.º CIRE)

Tribunal da Comarca do Porto

Santo Tirso – Inst. Central

1.ª Secção do Comércio – J2

Processo n.º 4297/14.0TBVNG

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 3

2. IDENTIFICAÇÃO E APRESENTAÇÃO GERAL DO INSOLVENTE ................................................. 4

2.1. IDENTIFICAÇÃO DO INSOLVENTE ................................................................... 4

2.2. COMISSÃO DE CREDORES ................................................................................ 4

2.3. ADMINISTRADOR DE INSOLVÊNCIA ............................................................... 4

2.4. DATAS DO PROCESSO ........................................................................................ 4

3. ANÁLISE DOS ELEMENTOS INCLUÍDOS NO DOCUMENTO REFERIDO NA ALÍNEA C) DO N.º 1

DO ARTIGO 24ª ............................................................................................................................. 5

3.1. DOCUMENTOS DISPONIBILIZADOS ................................................................ 5

3.2. EXPLICITAÇÃO DA ACTIVIDADE DO INSOLVENTE NOS ÚLTIMOS TRÊS

ANOS .................................................................................................................................. 5

3.3. CAUSAS DA INSOLVÊNCIA ............................................................................... 6

4. CONTABILIDADE, DOCUMENTOS DE PRESTAÇÃO DE CONTAS E DE INFORMAÇÃO

FINANCEIRA ................................................................................................................................. 7

5. PERSPECTIVAS DE MANUTENÇÃO DA EMPRESA ................................................................. 9

6. CENÁRIOS POSSÍVEIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA OS CREDORES ................................... 9

7. OUTROS ELEMENTOS IMPORTANTES PARA A TRAMITAÇÃO ULTERIOR DO PROCESSO ....... 11

7.1. DO INCIDENTE DE QUALIFICAÇÃO DA INSOLVÊNCIA .......................... 13

7.2. DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE ......................... 14

8. INVENTÁRIO (ART.S 153.º E 155º CIRE) ............................................................................. 23

9. RELAÇÃO PROVISÓRIA DE CREDORES (ART. 154º CIRE) ..................................... 23

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1. INTRODUÇÃO

Pelos credores Ana Maria de Sousa Gomes e António Marques Torrão, foi

requerida a insolvência do devedor Daniel Paraíso Ferreira Mendes, tendo

sido proferida sentença em 26 de Agosto de 2014.

Nos termos do art.º 155.º do CIRE, o administrador da insolvência deve

elaborar um relatório contendo:

a) A análise dos elementos incluídos no documento referido na alínea c)

do n.º 1 do artigo 24.º;

b) A análise do estado da contabilidade do devedor e a sua opinião

sobre os documentos de prestação de contas e de informação

financeira juntos aos autos pelo devedor;

c) A indicação das perspectivas de manutenção da empresa do

devedor, no todo ou em parte, da conveniência de se aprovar um

plano de insolvência, e das consequências decorrentes para os

credores nos diversos cenários figuráveis;

d) Sempre que se lhe afigure conveniente a aprovação de um plano de

insolvência, a remuneração que se propõe auferir pela elaboração do

mesmo;

e) Todos os elementos que no seu entender possam ser importantes para

a tramitação ulterior do processo.

Ao relatório devem ser anexados o inventário e a lista provisória de credores.

Assim, nos termos do art.º 155.º do CIRE, vem o administrador apresentar o

seu relatório.

O Administrador da insolvência

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2. IDENTIFICAÇÃO E APRESENTAÇÃO GERAL DO INSOLVENTE

2.1. IDENTIFICAÇÃO DO INSOLVENTE

Nome Daniel Paraíso Ferreira Mendes

NIF 109 521 072

Morada Rua Dom Frei Gonçalo Pais, nº 65, 3.º Dto Frente,

4465-646 Leça do Balio, Matosinhos

Estado Civil Casado no regime de separação de bens com

Anabela de Sousa Brito.

2.2. COMISSÃO DE CREDORES

Não nomeada

2.3. ADMINISTRADOR DE INSOLVÊNCIA

Nuno Carlos Lamas de Albuquerque

NIF/NIPC: 188049924

Rua Bernardo Sequeira, 78, 1.º - Apartado 3033 – 4710-358 Braga

Telef: 253 609310 – 253 609330 – 917049565 - 962678733

E-mail: [email protected]

2.4. DATAS DO PROCESSO

Data e hora da prolação da sentença: 26-08-2014 pelas 18h00m

Publicado no portal Citius – 1 de Outubro de 2014

Fixado em 15 dias o prazo para reclamação de créditos

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3. ANÁLISE DOS ELEMENTOS INCLUÍDOS NO DOCUMENTO REFERIDO NA ALÍNEA C) DO N.º 1 DO ARTIGO 24ª

3.1. DOCUMENTOS DISPONIBILIZADOS

Dispõe a al ínea c) do n.º 1 do artigo 24ª do CIRE que o devedor

deve juntar, entre outros, documento em que se expl icita a

actividade ou actividades a que se tenha dedicado nos úl timos

três anos e os estabelecimentos de que seja titular, bem como o

que entenda serem as causas da situação em que se encontra.

O devedor e a requerente procederam, de acordo com o

disposto no nº 1 do artigo 24º do CIRE, à junção dos seguintes

documentos:

a) Notif icação da Agente de execução que informa a inclusão

do insolvente na l ista públ ica de execuções;

b) Conta final da Agente de Execução;

c) Comprovativo do recebimento de pensão por velhice;

d) Notif icação no âmbito do processo de execução fiscal

quanto à conta final da Agente de Execução;

e) Acordo de revogação do contrato de trabalho.

3.2. EXPLICITAÇÃO DA ACTIVIDADE DO INSOLVENTE NOS

ÚLTIMOS TRÊS ANOS

O insolvente encontra-se reformado, auferindo a pensão de

velhice no valor de € 410,73 .

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3.3. CAUSAS DA INSOLVÊNCIA

As conclusões que infra se enunciam sobre as causas da

insolvência resultam da anál ise efectuada à informação

colocada à disposição do Administrador de Insolvência (petição

inicial e documentos fornecidos), bem como das dil igências

efectuadas por este.

Deste modo, indicam-se os motivos justif icativos da actual

situação de insolvência do devedor:

O insolvente foi judicialmente condenado a pagar aos

requerentes as quantias de Esc: 1.600.000$00 e Esc:

100.000$00, acrescidas de juros de mora, legais (10% até

16/04/1999, e 7%. desde 17/04/1999), desde a citaç ão do

referido processo, relativamente ao montante de Esc:

100.000800 e desde o trânsito em julgado da sentença em

relação a Esc: 1.600.000$00. Após o trânsito em julgado

desta decisão, instauraram contra o insolvente uma acção

executiva para cobrança de tal dívida;

Contudo, no conseguiram cobrar tal divida, pelo que, e m

Outubro de 2013, foi o insolvente notif icado, na qual idade

de executado, pela agente de execução do processo de

que se encontrava ainda em dívida no montante de.

€10.560,53, notificação essa prévia à inclusão do nome do

executado na l ista públ ica de execuções, nos termos e para

os efeitos do disposto no artigo 3° n.º3 da Portaria 313/2009

de 30/03.

O devedor não pagou, tendo, por isso, sido inserido no Lista

Públ ica de Execuções;

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Posteriormente, o processo de execução foi encerrado por

inexistência de bens;

Não possui patr imónio suficiente para garantir , nos termos

gerais, o pagamento das dívidas vencidas, sendo que a

úl tima viatura automóvel que deteve esteve em sua posse

até 2009;

O Insolvente foi sócio gerente da empresa Reis, Rocha &

Malheiro – NIPC 500229627 - que foi declarada insolvente a

pedido de um credor no dia 04/06/2009 – Processo n.º

1191/08.8TYLSB do 4.º Juízo do Tribunal de Comércio de

Lisboa;

Cessou quaisquer funções laborais em 31/08/2011, tendo

usufruído até 22-12-2012 do subsídio de desemprego;

Desde o dia 23/12/2012, encontra-se reformado, auferindo a

pensão de velhice no valor de € 410,73.

A conjugação destes fatores levou a que o devedor se visse

totalmente impossibil i tado de cumprir com as suas obrigações.

4. CONTABILIDADE, DOCUMENTOS DE PRESTAÇÃO DE CONTAS E DE INFORMAÇÃO FINANCEIRA

No relatório apresentado ao abrigo do art.º 155.º do CIRE, deve o

Administrador da insolvência efectuar uma anál ise do estado da

contabil idade do devedor e a sua opinião sobre os documentos

de prestação de contas e de informação financeira juntos pelo

devedor.

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Contudo, o presente dispositivo não tem apl icação porquanto

não sendo o insolvente comerciante, não está obrigado

legalmente a ter contabil idade organizada.

No que se refere à informação financeira , não foram entregues as

declarações de IRS dos últimos três anos, pelo que não é possível

efectuar qualquer anál ise a este nível .

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5. PERSPECTIVAS DE MANUTENÇÃO DA EMPRESA

Tendo em conta o supra referido, designadamente, a

circunstância de o insolvente não ser no momento comerciante,

não se referenciou qualquer empresa de que aquela seja ti tular,

não tendo, por isso, apl icabil idade o presente dispositivo.

6. CENÁRIOS POSSÍVEIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA OS CREDORES

A assembleia de credores de apreciação do relatório del ibera

sobre o encerramento ou prosseguimento do processo de

Insolvência.

Decorre do artigo 1.º do CIRE, que o processo de insolvência tem

como escopo a l iquidação do património de um devedor

insolvente e a repartição do produto obtido pelos credores.

Estão sujeitos a apreensão no processo de insolvência todos os

bens integrantes da massa insolvente, a qual abrange todo o

património do devedor à data da declaração de insolvência,

bem como os bens e direitos que ela adquira na pendência do

processo.

Como referem Carvalho Fernandes e João Labareda [ ] , da

conjugação dos n.ºs 1 e 2 do art. 46.º resul ta que, em rigor, a

massa não abrange a total idade dos bens do devedor

susceptíveis de aval iação pecuniária, mas tão só os que forem

penhoráveis e não excluídos por disposição especial em

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contrário, acrescidos dos que, não sendo embora penhoráveis ,

sejam voluntariamente oferecidos pelo devedor, quanto a

impenhorabil idade não seja absoluta.

São absolutamente impenhoráveis “os bens imprescindíveis a

qualquer economia doméstica que se encontrem na residência

permanente do executado (…)”.

O signatário encetou dil igências no sentido de averiguar a

existência de bens no património do insolvente, nomeadamente

junto da Conservatória do Registo Predial e Automóvel e

Repartição de Finanças, não tendo sido local izados quaisquer

bens.

O cenário possível que se apresenta para os credores é, pois, no

sentido do encerramento.

Assim, considerando que:

1. É notória a situação de insolvência e a insuficiência de

valores activos face ao Passivo acumulado;

2. Não havendo Plano de Pagamentos;

O Administrador da Insolvência propõe que se del ibere no sentido

do encerramento por insuficiência de bens da massa insolvente

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7. OUTROS ELEMENTOS IMPORTANTES PARA A TRAMITAÇÃO ULTERIOR DO PROCESSO

7.1. DA APREENSÃO DO VENCIMENTO

No relatório apresentado nos termos do disposto no artigo 155.º

do CIRE, deve ser feita menção quanto à apreensão (montante

apreendido) ou não do vencimento dos insolventes pessoas

singulares e, no caso de não apreensão, deverá constar, de

forma sucinta, a justificação para a não apreensão.

O vencimento deve ser apreendido com destino à satisfação dos

credores dos insolventes, fazendo parte da massa insolvente que

abrange todo o património do devedor e os bens e direitos que

ele adquira na pendência do processo (art.º 46.º, n.º 1, do CIRE).

Na execução singular (art. 824ºdo C.P.C.) determina -se que a

impenhorabil idade estabelecida no n .º 1 do preceito (2/3 dos

vencimentos, salários ou prestações de natureza semelhante

auferidos pelo devedor e bem assim das prestações periódicas

auferidas a tí tulo de aposentação ou qualquer outra regal ia

social) tem como l imite máximo o montante equivalente a três

salários mínimos nacionais à data de cada apreensão e, como

l imite mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento

(e o crédito exequendo não seja de al imentos), o montante

equivalente ao salário mínimo nacional.

Na execução universal em que a insolvência se traduz, e no caso

particular em que é requerida a exoneração do passivo restante,

estabelece a lei o princípio de que todos os rendimentos que

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advenham ao devedor consti tuem rendimento disponível , a ser

afecto às f inal idades previstas no art. 241º do C.I .R.E.

(cumprimento das obrigações do devedor), excluindo porém

desse rendimento disponível – e logo dessa afectação do

património do devedor ao cumprimento das obrigações para

com os seus credores – o razoavelmente necessário para o

sustento minimamente digno do devedor e do seu agregado

famil iar, não devendo essa exclusão exceder, salvo decisão

fundamentada do juiz em contrário, três vezes o salário mínimo

nacional.

Uma diferença entre os dois regimes é de realçar, desde logo o

facto da norma do C.I .R.E. não mencionar qualquer l imite

mínimo objectivo, aludindo antes a um conceito indeterminado –

o razoavelmente necessário para o sustento minimamente digno

do devedor e seu agregado.

Assim, considera-se adequado dever interpretar-se o art. 239º, nº

3, b), i) do C.I .R.E. no sentido de que a exclusão aí prevista tem

como l imite mínimo o que seja razoavelmente necessário para

garantir e salvaguardar o sustento minimamente digno do

devedor e seu agregado famil iar.

Ora, verifica-se que, in casu, o insolvente encontra-se

reformado, auferindo a pensão de velhice no valor de € 410,73 .

Face ao entendimento supra manifestado e ao valor auferido

pelo insolvente, considera-se não dever ser aprendido qualquer

montante do salário auferido por aquela, pois que o mesmo é

imprescindível para o respectivo sustento condigno.

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7.2. DO INCIDENTE DE QUALIFICAÇÃO DA INSOLVÊNCIA

Caso disponha de elementos que just ifiquem a abertura do

incidente de qual ificação da insolvência, na sentença que

declarar a insolvência, o juiz declara aberto o incidente de

qual ificação, com carácter pleno ou l imitado – cfr. al . i) do art.º

36.º do CIRE.

Nos presentes autos a sentença que decretou a insolvência não

declarou aberto aquele incidente.

Para o efeito, regista-se, desde já a inexistência de indícios que

fossem do conhecimento do administrador e passíveis de

determinar a qualificação da insolvência como culposa.

Assim, nos termos do n.º 1 do art.º 188.º do CIRE, até 15 dias após

a real ização da assembleia de apreciação do relatório, o

administrador da insolvência ou qualquer interessado deverá

alegar, fundamentadamente, por escrito, em requerimento

autuado por apenso, o que tiver por conveniente para efeito da

qual ificação da insolvência como culposa e indicar as pessoas

que devem ser afectadas por tal qual ificação, cabendo ao juiz

conhecer dos factos alegados e, se o considerar oportuno,

declarar aberto o incidente de qual ificação da insolvência, nos

10 dias subsequentes.

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7.3. DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE

O insolvente veio requerer a exoneração do passivo restante,

nos termos do disposto no art.º 235. ess do CIRE.

Deve, nos termos do n.º 4 do art.º236.º do CIRE, o administrador

da insolvência pronunciar -se sobre o requerimento.

É possível del inear a seguinte factual idade com interesse para a

emissão do presente parecer, face aos elementos documentais

constantes do processo (petição inicial e informaç ões prestadas

pelo Requerente, sentença que decretou a insolvência bem

como a relação provisória de credores apresentada nos term os

dos artºs 154.º e 155º CIRE):

1. O insolvente foi judicialmente condenado a pagar aos

requerentes as quantias de Esc: 1.600.000$00 e Esc:

100.000$00, acrescidas de juros de mora, legais (10% até

16/04/1999, e 7%. desde 17/04/1999), desde a citaç ão do

refer ido processo, relativamente ao montante de Esc:

100.000800 e desde o trânsito em julgado da sentença em

relação a Esc: 1.600.000$00. Após o trânsito em julgado

desta decisão, instauraram contra o insolvente uma acção

executiva para cobrança de tal dívida;

2. Contudo, no conseguiram cobrar tal divida, pelo que, e m

Outubro de 2013, foi o insolvente notif icado, na qual idade

de executado, pela agente de execução do processo de

que se encontrava ainda em dívida no montante de.

€10.560,53, notificação essa prévia à inclusão do nome do

executado na l ista públ ica de execuções, nos termos e para

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os efeitos do disposto no artigo 3° n.º3 da Portaria 313/2009

de 30/03.

3. O devedor não pagou, tendo, por isso, sido inserido no Lista

Públ ica de Execuções.

4. Posteriormente, o processo de execução foi encerrado por

inexistência de bens;

5. Não possui patr imónio suficiente para garantir , nos termos

gerais, o pagamento das dívidas vencidas , sendo que a

úl tima viatura automóvel que deteve esteve em sua posse

até 2009;

6. O Insolvente foi sócio gerente da empresa Reis, Rocha &

Malheiro – NIPC 500229627 - que foi declarada insolvente a

pedido de um credor no dia 04/06/2009 – Processo n.º

1191/08.8TYLSB do 4.º Juízo do Tribunal de Comércio de

Lisboa;

7. Cessou quaisquer funções laborais em 31/08/2011, tendo

usufruído até 22-12-2012 do subsídio de desemprego;

8. Desde o dia 23/12/2012, encontra-se reformado, auferindo a

pensão de velhice no valor de € 410,73.

9. Os seus credores e respectivos créditos são os seguintes:

Credor Fundamento Montante Data

Constituição

Data

Vencimento

Ana Maria de Sousa

Gomes e António

Marques Torrão

NIFs 172 908 264 e 172

908 272

Sentença condenatória 1.875,00 15-10-1996 29-04-2000

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Ana Maria de Sousa

Gomes e António

Marques Torrão

NIFs 172 908 264 e 172

908 272

Sentença condenatória 5.625,00 15-10-1996 29-04-2000

Autoridade Trbutária

e Aduaneira -

Ministério Público de

Santo Tirso

IUC vencido em

16/10/2013 41,00 01-01-2009 16-10-2013

Autoridade Trbutária

e Aduaneira -

Ministério Público de

Santo Tirso

Custas processuais 34,74 01-01-2009 16-10-2013

10. A insolvência foi requerida em 2 de Julho de 2014, a qual

foi decretada por sentença proferida no dia 26 de Agosto.

*-*

Isto dito:

Dispõe o disposto no art.º 235º do CIRE, que ”se o devedor for

uma pessoa singular, pode ser -lhe concedida a exoneração dos

créditos sobre a insolvência que não forem integralmente pagos

no processo de insolvência ou nos cinco anos posteriores no

encerramento deste”.

Os cri térios de apl icação deste instituto estão previstos nos art .ºs

237.ºsegs. do CIRE. Não sendo aprovado e homologado na

assembleia de apreciação do relatório qualquer plano de

insolvência, cumprir -se-á dessa forma o requisi to da al ínea c) do

art.º 237.º.

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Quanto aos requisitos estabelecidos no art.º 238º (apl icáveis por

força do art.º 237º., al ínea a) do CIRE), o pedido foi deduzido

conjuntamente com a apresentação à insolvência, pelo que nos

termos do art.º 236, n.º 1, ele mostra-se tempestivo.

Nada consta nos autos ou foi apurado pelo administrador de

insolvência quanto a ter o devedor fornecido informações falsas a

que se refere a al ínea b) ou ter beneficiado anteriormente desta

exoneração do passivo restante (al ínea c)).

A apl icação do disposto na al ínea d) do nº 1 do artigo 238.º do

CIRE pressupõe a verificação de uma das seguintes situações:

o devedor não cumprir o dever de apresentação à

insolvência, com prejuízo para os credores,

ou se não existi r esse dever, se se tiver abstido dessa

apresentação nos seis meses seguintes à verificação da

situação de insolvência, com prejuízo para os credores e

sabendo, ou não podendo ignorar sem culpa grave, não

existi r qualquer perspectiva séria de melhoria da sua

situação económica.

Estando em apreciação um pedido que foi formulado por pessoa

singular, não estáo insolvente obrigado a apresentar-se à

insolvência no prazo estabelecido no art. 18, nº 1 do CIRE, tal

como flui do nº 2 deste mesmo preceito, pelo que não se cuida

de verif icar a verificação em concreto da parte inicial da al ínea

d).

No que se reporta aos demais requisi tos desta al ínea d), de

preenchimento cumulativo, são os seguintes:

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que devedor/requerente não se apresente à insolvência

nos seis meses seguintes à verif icação da situação de

insolvência;

que desse atraso resul te um prejuízo para os credores;

que o devedor soubesse, ou pelo menos não pudesse

ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspectiva

séria de melhoria da sua situação económica.

Carvalho Fernandes e João Labareda sobre esta matéria

escrevem que “para além da não apresentação à insolvência, a

relevância deste comportamento do devedor, para efeito de

indeferimento l iminar, depende ainda, em qualquer destas

hipóteses, de haver prejuízo para os credores e de o devedor

saber ou não poder ignorar, sem culpa grave, que não existe

«qualquer perspectiva séria da melhoria da sua situação

económica».

Está aqui em causa apurar se a não apresentação do devedor à

insolvência se pode justificar por eles estarem razoavelmente

convictos de a sua situação económica poder melhorar em

termos de não se tornar necessária a declaração de

insolvência”[…]

Ora, o conceito de prejuízo pressuposto na al ínea d) do nº 1 do

artigo 238 do CIRE consiste num prejuízo diverso do simples

vencimento dos juros, que são consequência normal do

incumprimento gerador da insolvência, tratando-se assim dum

prejuízo de outra ordem, projectado na esfera jurídica do credor

em consequência da inércia do insolvente (consistindo, por

exemplo, no abandono, degradação ou dissipação de bens no

período que dispunha para se apresentar à insolvência).

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Entende-se que o simples acumular do montante de juros não

integra o conceito de “prejuízo” a que se refere o art. 238, nº 1,

al. d) do CIRE. [ ].

Com efeito, a mora resul tante do atraso no pagamento, em

abstracto, contr ibui sempre para o avolumar da dívida,

designadamente em virtude dos juros que lhe estão associados,

em especial quando estamos perante dívidas a instituições

financeiras.

Ora, sendo a insolvência uma situação de impossibil idade de

cumprimento de obrigações vencidas (cfr. art. 3, nº 1 do CIRE),

lógica é a constatação de que estas vencem juros (cfr. arts. 804 e

segs. do Cód. Civil ), o que se traduz no aumento quantitativo do

passivo do devedor.

Não pode, pois, considerar -se que o conceito normativo de

prejuízo previsto na al ínea d) do nº 1 do art. 238 do CIRE inclua no

seu âmbito o típico, normal e necessário aumento do passivo em

decorrência do vencimento dos juros incidentes sobre o crédito

de capital , sob pena de se estar a esvaziar de sent ido úti l a

referência legal a tal requis ito (prejuízo de credores).

É que se tivesse sido essa a f inal idade da lei, bastaria ter

estabelecido o indeferimento l iminar do pedido de exoneração

do passivo restante quando o devedor se abstivesse de se

apresentar à insolvência no período de seis meses posterior à

verificação dessa situação.

Terá, assim, que se entender que o simples decurso do tempo (seis

meses após a verificação da situação de insolvência) não é

suficiente para se poder considerar preenchido o requisi to aqui

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em anál ise, uma vez que tal representaria, estar a valorizar -se um

prejuízo que sempre estaria ínsito nesse decurso e que seria

comum a todas as situações de insolvência, o que não se mostra

compatível com o estabelecimento do prejuízo dos credores

como requisito autónomo do indeferimento l iminar do incidente.

Tratando-se o prejuízo dos credores de um requis ito autónomo

deste indeferimento l iminar, acrescerá o mesmo aos demais

requisi tos, surgindo, por isso, como um pressuposto adicional, que

traz exigências distintas das pressupostas pelos outros, não

podendo considerar-se preenchido por circunstâncias que já

estão contidas num desses outros requisitos.

Neste contexto, terá que se dar ênfase particular à conduta d o

devedor, devendo apurar-se se esta se pautou pela l icitude,

honestidade, transparência e boa-fé, no que respeita à sua

situação económica, só se justif icando o indeferimento l iminar

caso se conclua pela negativa.

Ao estabelecer, como pressuposto do indeferimento l iminar do

pedido de exoneração, que a apresentação extemporânea d o

devedor à insolvência haja causado prejuízo aos credores, a lei

visa os comportamentos que façam diminuir o acervo patrimonial

do devedor, que onerem o seu património ou mesmo aqueles que

originem novos débitos, a acrescer aos que integravam o passivo

que estava já impossibil i tado de satisfazer. São estes

comportamentos desconformes ao proceder honesto, l ícito,

transparente e de boa-fé, os quais, a verif icarem-se na conduta

do devedor, impedem que a este seja reconhecida a

possibil idade, preenchidos os demais requisi tos do preceito, de se

l ibertar de algumas das suas dívidas, para dessa forma lograr a

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sua reabil itação económica. Como tal , o que se sanciona são os

comportamentos que impossibil i tem, dif icultem ou diminuam a

possibil idade de os credores obterem a satisfação dos seus

créditos, nos termos em que essa satisfação seria conseguida

caso tais comportamentos não ocorressem.

Face à matéria fáctica que atrás se considerou relevante, nada

foi apurado no sentido que aponte para que o insolvente não

tenha adoptado uma atitude de l icitude, honestidade,

transparência e boa-fé no que respeita à sua situação

económica.

Por outro lado, igualmente não foi trazido aos autos qualquer

elemento que aponte no sentido da cul pa do devedor na criação

ou agravamento da situação de insolvência – está também

preenchida a al ínea e) do art.º 238.º.

Não consta, ainda, que o devedor tivesse s ido condenado por

sentença transitada em julgado por algum dos crimes previstos e

punidos nos artigos 227.º a 229.º do Código Penal nos 10 anos

anteriores à data da entrada em juízo do pedido de declaração

da insolvência ou posteriormente a esta data – al ínea f) do n.º 1

do artº 238.º do CIRE.

Por último, não resulta que o devedor tenha violado qualquer dos

deveres de informação, apresentação ou colaboração previstos

no CIRE – al íneas i) e g) do artº 238.º

Os pressupostos formais previstos no CIRE estão preenchidos e não

há elementos que levem o signatário a emitir parecer que

pudesse concluir pelo indeferimento do pedido.

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Assim sendo, tendo em conta que nada há que aponte no sentido

de ter mantido uma conduta contrária ao Direito, emite -se

parecer no sentido que deve ser concedido ao insolvente a

possibil idade de após o período de cinco anos previsto no artº.

239, n.º 2 do CIRE, se exonerar dos compromissos que até então

não lhe seja possível saldar.

Cap

ítu

lo: I

NV

ENTÁ

RIO

(Art

.s 1

53

.º e

15

CIR

E)

23

1. INVENTÁRIO(ART.S 153.º E 155º CIRE)

O signatário não logrou local izar bens móveis ou imóveis

pertencentes à insolvente.

2. RELAÇÃO PROVISÓRIA DE CREDORES (ART. 154º CIRE)

Em anexo