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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS NATÂNIA SILVA FERREIRA ECONOMIA E SOCIEDADE DE UMA CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS: VARGINHA NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX Fonte: http://www.memoriasdevarginha.com/2010/11/fotos-antigas.html Varginha/MG 2014

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Page 1: Natânia Silva Ferreira - unifal-mg.edu.br · RESUMO Quando estudamos a formação econômica e capitalista do Brasil na transição do século XIX ... São Paulo porque essa região

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

NATÂNIA SILVA FERREIRA

ECONOMIA E SOCIEDADE DE UMA CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS:

VARGINHA NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX

Fonte: http://www.memoriasdevarginha.com/2010/11/fotos-antigas.html

Varginha/MG

2014

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NATÂNIA SILVA FERREIRA

ECONOMIA E SOCIEDADE DE UMA CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS:

VARGINHA NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da

Universidade Federal de Alfenas, como

requisito parcial à obtenção do título de

Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase

em Controladoria.

Orientador: Prof. Dr. Thiago Fontelas Rosado

Gambi

Varginha/MG

2014

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NATÂNIA SILVA FERREIRA

ECONOMIA E SOCIEDADE DE UMA CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS:

VARGINHA NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX

A Banca examinadora abaixo-assinada, aprova

a monografia apresentada como parte dos

requisitos para obtenção do título de Bacharel

em Ciências Econômicas com Ênfase em

Controladoria da Universidade Federal de

Alfenas.

Aprovada em: Varginha, 04 de FEVEREIRO de 2014

________________________________________________

Prof. Dr. Thiago Fontelas Rosado Gambi

_______________________________________________

Prof. Dr. Bruno Aidar Costa

________________________________________________

Prof. Ms. Roberto Pereira Silva

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“Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela

sempre esteve com ele. Ela existe antes de

todos os séculos.” (Eclo 1,1).

“A sabedoria foi criada antes de todas as

coisas, a inteligência prudente existe antes dos

séculos!” (Eclo 1,4).

Dedico este trabalho para minha mãe e minha

irmã

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus professores, Thiago Fontelas Rosado Gambi e Alexandre Macchione Saes,

por todos os conhecimentos que me passaram ao longo da graduação e pelo apoio e atenção

que me foram oferecidos durante a realização dessa pesquisa.

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RESUMO

Quando estudamos a formação econômica e capitalista do Brasil na transição do século XIX

para o XX, nos deparamos com muitos estudos que destacam a cidade e o estado de São Paulo

porque essa região foi a que melhor absorveu as consequências desse modo de produção,

sobretudo, devido à introdução da cultura cafeeira, que dinamizou a economia paulista por ter

auxiliado o nascimento de comércios, indústrias, ferrovias e bancos. Quando chegamos a

Minas Gerais, os estudos geralmente destacam a Zona da Mata porque foi essa região do

estado que melhor absorveu os efeitos da economia capitalista em fins do século XIX e início

do século XX, também, em grande parte, devido à cultura cafeeira no estado que, assim como

ocorreu em São Paulo, dinamizou a economia da zona da Mata na época, embora de forma

menos intensa como ocorreu no estado paulista. Entretanto, para o sul de Minas Gerais, os

estudos ainda são poucos e menos ainda para as cidades que compõem essa região. Assim

sendo, essa pesquisa procurou entender como ocorreu a formação da cidade de Varginha,

situada no sul de Minas Gerais, na passagem do século XIX para o século XX. Para

entendermos, então, como ocorreu a constituição da cidade, nós utilizamos de documentos

históricos, do período de 1881 a 1920 que mostraram, muito detalhadamente, como a cidade

nasceu e se desenvolveu. Antes de chegarmos à cidade de Varginha, primeiro procuramos

saber, através da historiografia, como aconteceu a formação do sul de Minas Gerais.

Posteriormente, escrevemos um pouco sobre a história e a economia da cidade de Varginha,

dando destaque para o café, o comércio, as indústrias, os bancos e as ferrovias, que são fatores

essenciais quando tratamos do modo de produção capitalista. Após essa etapa, estudamos

Varginha através da análise de inventários e, por fim, utilizamos a leitura das atas da Câmara

para entender como as decisões dos vereadores afetaram o desenvolvimento da cidade. Com a

análise dessas fontes primárias, nós vimos que muitas das decisões que foram tomadas

naquela época, tanto pela elite agrária, na forma de investir seu monte-mor, como pelos

vereadores em suas reuniões da Câmara, transformaram Varginha numa das mais importantes

cidades sul-mineiras, tanto naquele tempo como atualmente.

Palavras-Chave: Capitalismo. Sul de Minas Gerais. Varginha.

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ABSTRACT

When we study the capitalist and economic formation of Brazil in the transition from the

nineteenth to the twentieth century, we come across many studies that highlight the city and

state of São Paulo because this region was better absorbed the consequences of this mode of

production, especially because of the introduction of coffee culture, which has spurred the

state economy by having aided the birth of trades, industries, railroads and banks. When we

arrived in Minas Gerais, the studies generally highlight the zona da Mata region because it

was the region of state that best absorbed the effects of the capitalist economy in the late

nineteenth and early twentieth century, too, largely because of the culture coffee in the state,

which as well as occurred in São Paulo, dynamized the economy in the Zona da Mata at the

period, although less intense form how in the occurred state of São Paulo. However, to the

south of Minas Gerais, the studies are still few and even less for the cities that make up this

region. Thus, this research sought to understand how occurred the formation of the city of

Varginha, located in south of Minas Gerais, in the transition nineteenth to the twentieth

century. To understand, then, how occurred the constitution of the city, we use historical

documents from the period 1881 the 1920 that demonstrated, in great details, as the city was

born and developed. Before we get to the city of Varginha, first we tried to know through

history, as happened the formation of the south of Minas Gerais. Subsequently, we write a bit

about the history and economy of the city of Varginha, highlighting the coffee, commerce,

industries, banks and railroads, which are essential when treating the capitalist mode of

production. After this step, Varginha is studied through the analysis of inventories and,

finally, we used the reading of the Minutes of the Board for understand how the decisions of

aldermen affected the development of the city. With the analysis these primary sources, we

saw that many of the decisions that were made at that time, both by landed elite, in the form

of investing your lot chancel, as by aldermen at meetings of the Chamber, transformed

Varginha in a of the most important cities of southern -mining, both at the time as currently.

Keywords: Capitalism. South of Minas Gerais. Varginha.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Composição da Riqueza de Matheus Tavares da Silva..........................................28

Figura 2 - Composição da Riqueza de Antonio Justiniano dos Reis......................................29

Figura 3 - Dívidas Ativas e Passivas de Antonio Justiniano dos Reis e Matheus Tavares da

Silva..........................................................................................................................................32

Figura 4 - Alqueires de terras de Matheus Tavares da Silva e Antonio Justiniano dos Reis..33

Figura 5 - Divisão das terras de Matheus Tavares da Silva....................................................34

Figura 6 - Divisão das terras de Antonio Justiniano dos Reis.................................................35

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - População Varginhense (1890-1920).....................................................................19

Quadro 2 - Composição do Monte-Mor dos Inventariados......................................................28

Quadro 3 - Animais e Quantidades para cada Inventariado......................................................30

Quadro 4 - Divisão das Terras de cada Inventariado................................................................35

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10

2. A FORMAÇÃO DO SUL DE MINAS GERAIS............................................... 12

3. HISTÓRIA E ECONOMIA DA CIDADE DE VARGINHA............................. 16

3.1. Café, Comércio, Ferrovia, Indústrias e Bancos na transição do XIX para o XX.... 20

4. VARGINHA ATRAVÉS DE UM ESTUDO DOS INVENTÁRIOS POST MORTEM

(1881 / 1920)................................................................................................................... 25

4.1. Elite Agrária na Cidade de Varginha através da Análise de Inventários................ 25

5. ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE VARGINHA (1882 / 1920) – UMA

ANÁLISE........................................................................................................................ 41

5.1. As primeiras Reuniões e Determinações da Câmara de Varginha........................... 41

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 63

FONTES PRIMÁRIAS....................................................................................... 65

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1. INTRODUÇÃO

Quando observa-se a historiografia para o entendimento da economia brasileira na

transição do século XIX para o século XX, nos deparamos com muitos estudos que destacam

a cidade e o estado de São Paulo. Autores como Cano1, Cardoso

2, Dean

3 e Tosi

4 escreveram

sobre São Paulo na passagem de um século ao outro. Isso ocorre porque nessa época, São

Paulo foi o estado brasileiro que mais se desenvolveu economicamente - mesmo que o

capitalismo brasileiro seja considerado “tardio”5 - sobretudo devido à introdução da cultura

cafeeira no estado. Essa cultura possibilitou que em São Paulo – mais precisamente no vale do

rio Paranaíba - se desenvolvesse um “complexo cafeeiro”, que desencadeou as atividades do

comércio, da indústria, das ferrovias e dos bancos6. Isso não significa dizer que os

cafeicultores se tornaram, eles próprios, comerciantes, industriais ou banqueiros, mas o capital

gerado pela economia cafeeira, este sim, teve grande participação na dinamização da

economia de São Paulo.

Se pensarmos em Minas Gerais na transição do século XIX para o século XX,

observa-se que os autores destacam a região da zona da Mata porque esta, se comparada às

outras regiões do estado mineiro, foi a que mais se desenvolveu economicamente no período.

Esse desenvolvimento também se deve, especialmente, à cultura do café. Autores como

Lanna7, Lima

8 e Pires

9 mostram a importância do café para a zona da Mata mineira.

Quando chegamos ao sul de Minas Gerais, nota-se que os estudos para a região não

são muitos. Entretanto, podemos destacar, por exemplo, Martins e Saes10

, Gambi et al11

, e

1 CANO, Wilson. Raízes da Concentração Industrial em São Paulo. 1975. Tese (Doutorado em Ciências

Econômicas) - Universidade Estadual de Campinas. 2 CARDOSO, Fernando Henrique. Mudanças Sociais na América Latina. São Paulo: Brasiliense, 1969.

3 DEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo. 2 ed, São Paulo: Difel, 1977.

4 TOSI, Pedro Geraldo. FALEIROS, Rogério Naques. TEODORO, Rodrigo da Silva. Crédito e Pequena

Cafeicultura no Oeste Paulista: Franca/SP 1890-1914. RBE Rio de Janeiro v. 61 n. 3 / p. 405–426 Jul-Set

2007. 5 MELLO, João Manual Cardoso de. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Brasiliense, 1986.

6CANO, Wilson. Ensaios sobre a Formação Econômica Regional do Brasil. Campinas, São Paulo: Editora

Unicamp, 2002. 7 LANNA, Anna. A transformação do trabalho: a passagem para o trabalho livre na Zona da Mata

mineira: 1870-1920. 1985. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas. 8 LIMA, João Heraldo. Café e Indústria em Minas Gerais (1870-1920). 1977. Dissertação (Mestrado em

Economia) - Universidade Estadual de Campinas. 9 PIRES, Anderson. Café, Finanças e Bancos: Uma Análise do Sistema financeiro da zona da Mata de

Minas Gerais: 1889/1930. 2004. Tese (Doutorado em História Econômica) - Universidade de São Paulo. 10

MARTINS, Marcos Lobato e SAES, Alexandre Macchione. Org(s). Sul de Minas em Transição - A

Formação do Capitalismo na passagem para o século 20. São Paulo: EDUSC, 2012. 11

GAMBI, Thiago Fontelas Rosado et al. O processo de Urbanização no sul de Minas em transição. In: XV

Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina, Cedeplar: 2012.

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11

também Saes et al12

. Só que mesmo havendo esses estudos para o sul de Minas Gerais, ainda

há cidades sul-mineiras importantes para a região que não foram profundamente estudadas.

Dessa forma, este trabalho tem como meta, primeiramente, analisar como ocorreu a

formação da região sul de Minas Gerais na passagem do século XIX para o século XX. Isso

será feito para que se possa cumprir, depois, o principal objetivo desse estudo, que é entender

o papel da elite varginhense e dos membros da câmara Municipal de Varginha – cidade

situada na região sul de Minas Gerais - em seu desenvolvimento econômico e social.

Para tentar entender, então, como se formou a região sul-mineira, vamos utilizar textos

que foram escritos sobre essa região. No entanto, para escrevermos sobre a formação da

cidade de Varginha e seu desenvolvimento, com ênfase para o papel da elite e dos vereadores

varginhenses na evolução de capitalismo, utilizaremos materiais primários, que são

inventários post mortem e atas da Câmara Municipal, que vão do período de 1881 a 1920. Os

inventários se encontram no Arquivo Municipal da cidade a as atas, no Museu de Varginha. A

pesquisa com inventários se mostrou muito relevante para estudar o desenvolvimento da

cidade. De aproximadamente 300 documentos, selecionamos os dois que apresentavam os

inventariados com o maior monte-mor para que pudesse ser analisada a composição da

fortuna desses personagens e como eles influenciaram o processo de formação da cidade.

As atas da Câmara também foram muito relevantes, pois com a leitura e análise desse

material, conseguimos observar como as decisões tomadas pelos vereadores e pela sociedade

varginhense impactaram no desenvolvimento da economia e da sociedade do município.

Foram lidos, aproximadamente, 400 documentos. Esses documentos foram divididos em dois

grupos: o primeiro grupo foi formado por atas do período de 1882 a 1892, sendo essas atas

fielmente transcritas; já o segundo grupo foi composto pelas atas de 1893 a 1920 e foi feito

um resumo de cada uma das atas.

Podemos dizer, sem dúvida, que com os inventários post mortem e com as atas da

Câmara, temos a própria história da cidade nas mãos. São documentos primários, originais,

que traduzem fielmente os acontecimentos de Varginha na transição do século XIX para o

século XX.

12

SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na

passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar,

2010.

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12

2. A FORMAÇÃO DO SUL DE MINAS GERAIS

Desde 1737, estava devassado, oficialmente, o Sul de Minas. Oficialmente, em razão

do ato possessório de Cipriano José da Rocha, ouvidor da Comarca de São João d’El

Rei, quando de sua visita de represália aos quilombos e à deserção do precioso

minério, recambiado para São Paulo13

.

Embora existissem registros de que a região sul já havia sido visitada em 1737, foi, de

fato, 52 anos depois dessa data que ela se constituiu como região independente. A região do

sul de Minas Gerais foi emancipada da cidade de Campanha, que recebia o nome de

Campanha da Princesa, em 1789.

Localizada originalmente na Comarca do Rio das Mortes, que havia se emancipada

da região mineradora central com a fundação de sua sede em São João D’El Rey no

ano de 1713, Campanha tornar-se-ia, então, a sede da Comarca do Rio Sapucaí a

partir de 1833. Quase que naturalmente, a região que passou a formar a Comarca do

Rio Sapucaí teria suas fronteiras delimitadas no Norte pelo Rio Grande e no Sul e

Sudeste pelos contrafortes da Mantiqueira. Assim, o berço do Sul de Minas é

Campanha, cidade que seria desmembrada ainda na primeira metade dos oitocentos

nas cidades de Baependy (1814), Jacuhy (1814), Pouso Alegre (1831), Lavras

(1831), Jaguary (1840), Itajubá (1848) (...) Uma dinâmica regional que seria

afirmada ainda na primeira metade do século XIX, personificada nos movimentos

separatistas liderados pela cidade de Campanha nas últimas décadas do século XIX.

Região cujos determinantes avançam aos existentes na urbanização da região

mineradora: agricultura e comércio de abastecimento constroem sua identidade e

vocação14

.

A Comarca do Rio das Mortes já existia em Minas Gerais desde 1822, juntamente com

outras três comarcas: Vila Rica, Serro e Rio das Velhas. O nome “Rio das Mortes” deve-se ao

fato da comarca ter estado localizada junto a um rio deste nome, que já era conhecido desde o

século XVII.

Em 1874, o sul de Minas Gerais contava com oito comarcas. Eram elas Rio Verde,

Jaguary, Sapucahy, Cabo Verde, Baependy, Três Pontas, Itajubá e Jacuhy. A região também

contava com dezessete municípios.

Já na primeira metade do século XIX, a região do sul de Minas possuía relações

comerciais com o Império; na transição do XIX para o XX, as relações entre essa região e São

Paulo passariam a se intensificar mais. O sul passaria de uma região que produzia gêneros de

abastecimento para uma região voltada para a atividade exportadora, graças à cultura do café.

Foi no último quartel do século XIX que a estrada de ferro chegou à região,

juntamente com os bancos, que supriam apenas necessidades pequenas, pois os negócios

13

LEFORT, José Patrocínio do, 1950 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 90. 14

SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na

passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar,

2010, p. 14/15.

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13

maiores eram supridos por fontes governamentais ou por bancos do Rio de Janeiro e de São

Paulo. E foi nessa época que o capitalismo começou a se desenvolver na região, com o

surgimento de pequenas fábricas e a intensificação do setor comercial.

As cidades se caracterizavam por ser de médio porte, com populações entre vinte e

quarenta mil habitantes. A partir de 1890, podia ser observado o aumento do número das

cidades e a expansão da rede ferroviária. Isso fez com que se aumentasse a capacidade de

exportação da região para outros locais vizinhos, mas também ampliava a competição dos

mercados locais com produtos importados.

Através dos números, podemos observar o crescimento das cidades sul-mineiras. Entre

1872 e 1920, a região apresentava a maior taxa de crescimento do estado. Em 1920, era a

região com a maior população de Minas Gerais, contando com 20% da população mineira.

Em 1972, a região concentrava 260 mil habitantes, passando eles para 730 mil em 1907 e,

finalmente, para aproximadamente 1 milhão em 1920. Já na observação das cidades

individualmente, em 1920, nenhuma delas (considerando-as como núcleos urbanos)

apresentava mais de 20 mil habitantes15

.

A introdução no café na região, a partir do início do século XX, faria se desenvolver

novos municípios16

.

(...) juntamente com a ampliação da população (...) era nítido o crescimento do

número de cidades. Alfenas, Boa Esperança, Três Corações e Varginha, por

exemplo, faziam parte de uma primeira fase de emancipação de municípios, entre as

décadas de 1860 e 1880, como resultado da introdução do café na região17

.

No ano de 1911, os municípios sul-mineiros aumentariam, passando de 36 para 48.

Dessa forma, a região Sul passava a ser mais dinâmica, expandindo suas atividades

econômicas, se comparando com outras regiões do estado. Entretanto, desses 48 municípios,

apenas 5 apresentavam população entre sete e doze mil habitantes, outros 4 contavam com

uma população entre cinco e sete mil habitantes; e 3 apresentavam população entre quatro e

cinco mil habitantes18

.

Diferentemente da Zona da Mata com Juiz de Fora, da área central a partir da década

de 1920 com Belo Horizonte e de Teófilo Otoni para o Vale do Mucuri, a região do

Sul de Minas seria marcada por uma profunda fragmentação de sua população em

15

GAMBI, Thiago Fontelas Rosado et al. O processo de Urbanização no sul de Minas em transição. In: XV

Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina, Cedeplar: 2012. 16

WIRTH, J. D. O Fiel da Balança: Minas Gerais na Federação Brasileira (1889-1937). Rio de Janeiro: Paz

e terra, 1982. 17

SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na

passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar,

2010, p. 19. 18

GAMBI, Thiago Fontelas Rosado et al. O processo de Urbanização no sul de Minas em transição. In: XV

Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina, Cedeplar: 2012.

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14

cidades pequenas e medianas, sem um centro irradiador das atividades

econômicas19

.

As ferrovias no sul de Minas chegaram por volta de 1880, mas antes disso já haviam

chegado na zona da Mata e no oeste . Vieram por meio de quatro empresas: Estrada de Ferro

Rio Verde, que depois passou a ser chamada de Minas e Rio; Viação Férrea Sapucaí; Estrada

de Ferro Muzambinho; e Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, está originária de São

Paulo, chegou à região sul de Minas Gerais nos primeiros anos do século XX, para atender o

Triângulo e o sul. A falta de um centro irradiador para o transporte fez com que, a princípio,

na região do sul de Minas houvesse uma integração de suas ferrovias com mercados

exteriores, e não entre as próprias cidades da região.

Ainda que provisoriamente, é possível pensar que as ferrovias no Sul de Minas

Gerais começaram a se instalar para atender uma região dinâmica e promissora

voltada para o comércio de abastecimento do Rio de Janeiro e de São Paulo, e para o

plantio e exportação de café. E, mais importante, o que se observa é a constituição

do sistema ferroviário com interligação do Sul de Minas com os portos do Rio de

Janeiro e Santos, ou com os mercados dos Estados vizinhos, uma modernização do

transporte que poderia surgir como condição para fortalecer o mercado interno, mas

que ao que parece, surge para estreitar as relações, inclusive de dependência, com

outras regiões20.

Surgiram então, no sul de Minas Gerais as primeiras fábricas. Se comparadas com as

da zona da Mata e da região metalúrgica, eram mais precárias, geralmente ligadas ao

abastecimento ou à economia agrário-exportadora cafeeira e com uma média de quatro

funcionários por estabelecimento. Além disso, as indústrias sul-mineiras tinham por

característica os empreendimentos familiares, como artesanatos, e os voltados para o ramo

alimentício, sobretudo para o consumo local.

Pequenas e rudimentares manufaturas deviam concorrer com os produtos

importados de outros estados ou do exterior. A empresa se realiza como um

empreendimento familiar, arcaico, distante das características da moderna grande

indústria. Nesse sentido, o Sul de Minas tornou-se mais um caso específico dentro

do “mosaico” mineiro: uma região historicamente dinâmica, tanto por sua função de

abastecimento da corte imperial, como em transformação por causa da expansão das

lavouras de café na transição para o século XX, mas que não conseguiu se aproximar

do ritmo e da pujança econômica dos estados vizinhos, Rio de Janeiro e São Paulo21

.

Na década de 1920, a região sul passou a ampliar sua produção industrial, ficando em

segundo lugar nesse setor, pois a região metalúrgica estava na primeira posição. Isso ocorreu

devido à continuidade de uma estrutura industrial arcaica na metalúrgica e à maior

19

SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na

passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar,

2010, p. 19. 20

Idem, p. 22. 21

Idem, p. 17.

Page 16: Natânia Silva Ferreira - unifal-mg.edu.br · RESUMO Quando estudamos a formação econômica e capitalista do Brasil na transição do século XIX ... São Paulo porque essa região

15

representatividade da indústria do sul na economia industrial mineira. Entretanto – mesmo

tendo elevado sua produção industrial, revelando uma maior representatividade na produção

industrial mineira e estando em segundo lugar no setor industrial mineiro - a indústria sul-

mineira não havia deixado de ser arcaica, pois faltava um mercado consumidor maior e a

capacidade de acumulação era reduzida.

Em relação aos bancos da região, o desenvolvimento desse setor seguia o precário

desenvolvimento industrial: apesar de no período de 1910 a 1920 ter ocorrido uma

significativa expansão do número de bancos no sul de Minas, devido à cultura do café e ao

surgimento das ferrovias e das indústrias, o grosso das operações bancárias estava localizado

em bancos externos, em cidades como Juiz de Fora (banco de Crédito Real) e Belo Horizonte

(banco Hipotecário e Agrícola e banco Comércio e Indústria). Estes três bancos eram

responsáveis por aproximadamente 90% dos depósitos em conta corrente de Minas Gerais

entre 1920 e 1925. Os bancos do sul de Minas eram pequenos e destinados a atender a

comunidade local22

.

Embora o desenvolvimento da região sul do estado, na passagem do século XIX para o

XX, possa até ser considerado precário, foi nessa época que o capitalismo na região começou

a ganhar sua forma. É importante destacar que na transição do século XIX para o século XX,

apenas três regiões do estado mineiro passaram por uma transição para o sistema capitalista

de produção: o sul, a zona da Mata e o centro.

As transformações nas relações socioeconômicas pelas quais a região passou na

transição do XIX para o XX – crescimento e desenvolvimento de cidades, cultivo do café,

surgimento das indústrias, intensificação do comércio, desenvolvimento das ferrovias e dos

bancos – direcionavam a região para uma maior integralização com mercados externos,

fazendo crescer as relações capitalistas de produção23

.

E Varginha? No meio das cidades que surgiam no sul de Minas Gerais com a

expansão da cultura cafeeira na região, na passagem do século XIX para o XX, nasce, em

1881, Varginha, que primeiramente foi chamada de Espírito Santo das Catanduvas. E é do

desenvolvimento econômico e social varginhense e da formação de seu capitalismo, que

vamos tratar a partir de agora.

22

COSTA, Fernando Nogueira da. Bancos em Minas Gerais (1889-1964). 1978. Dissertação (Mestrado em

Economia) – Universidade Estadual de Campinas. 23

SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo

na passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina:

Cedeplar, 2010.

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16

3. HISTÓRIA E ECONOMIA DA CIDADE DE VARGINHA

Deu-se nascente povoado o nome de Catandubas ou Catanduvas que significa “Mato

Serrado”, muito encontrado naquela cidade. Em virtude do padroeiro da capela

passou a ser chamada de Espírito Santo das Catandubas. Em 1806 o arraial contava

com 1000 pessoas. Nesse mesmo ano foi feita a doação do território que constitui o

primitivo patrimônio do núcleo em desenvolvimento. Um ano depois foi oficializado

o povoado do Espírito Santo, possuindo uma pequena e modesta vila agrícola. Em

1850 foi elevado a freguesia (...) originando o bairro da Vargem situado a 1 km a

nordeste do arraial24

.

Espírito Santo das Catanduvas se transformaria no município de Espírito Santo da

Varginha, em 22/09/1881, pela Lei nº 278525

. Um município pode ser definido como uma

divisão administrativa de uma região, com autonomia administrativa, possuindo uma

Prefeitura e uma Câmara Municipal.

Para se constituir como município, a região precisa apresentar pelo menos 10.000

habitantes, sendo que dessa quantidade, 10% precisam ser eleitores 26

. O nome Varginha se

origina da situação topográfica da cidade, aproximando-se a uma elevada colina, a um vale

anguloso.

Em 07/10/1882, pela Lei nº 2950, o município passou a ser chamado de cidade27

. As

características de uma cidade são as seguintes:

Aglomeração humana de certa importância, localizada numa área geográfica

circunscrita e que tem numerosas casas, próximas entre si, destinadas a moradia e/ou

a atividades culturais, mercantis, industriais, financeiras, e a outras não relacionadas

com a exploração direta do solo28.

Sales29

fez um esquema sobre a evolução das categorias pelas quais passou Varginha:

1763? – 1807: Povoado – Lugar que reúne poucas pessoas, como um vilarejo ou uma

aldeia.

1807 – 1850: Curato – Aldeia ou freguesia com uma administração eclesiástica. Cura

era o pároco do lugar.

1850 – 1881: Paróquia (Freguesia) – Além de um maior número de pessoas, havia

também uma capela, uma paróquia.

1881 – 1882: Vila – É uma povoação superior a da aldeia, mas que não chega a ser a

população de uma cidade.

24

Varginha - História e Desenvolvimento. Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 9/10. 25

Revista Correio do Sul: 1882 – Espírito Santo das Catanduvas. Varginha, 1982. 26

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003. 27

Revista Correio do Sul: 1882 – Espírito Santo das Catanduvas. Varginha, 1982. 28

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p.

197. 29

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003.

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1881: Município – A região passa a ser uma divisão administrativa do estado, distrito

ou região. A partir daí, a localização pode contar com uma Prefeitura e uma Câmara

Municipal.

1882: Cidade – O município passa a ter uma área circunscrita, com numerosas casas,

próximas entre si, e lugares destinados a atividades culturais, industriais e sociais.

1890: Comarca – A comarca designa circunscrição judiciária. Dessa forma, a cidade

passa a ter um ou mais juízes de direito.

Muito antes de Varginha se tornar uma cidade e também um município, suas terras já

eram povoadas. Alguns anos antes de 1806, o casal Francisco Alves da Silva e Dona Tereza

Clara Rosa da Silva adquiriu as terras onde mais tarde se localizaria Varginha. Esse casal

vendeu essas terras ao alferes Manoel Francisco de Oliveira no ano de 1806 e mais tarde,

essas terras foram doadas a diocese da Campanha30

.

Em 1820, Varginha (ainda conhecida como Espírito Santo das Catanduvas) possuía “6

casas de telhas e alguns ranchos de capim, construídos todos próximo à capela, no local onde

hoje se vê a Avenida Rio Branco”31

. Já em 1870, Varginha contava com 213 casas. No

período de 1850 a 1881, foram construídas as primeiras obras destinadas ao serviço público,

como prédios para escolas32

. Em 1881, Varginha contava com 300 edificações, sendo algumas

de dois pavimentos33

.

Em 1890, houve a criação do primeiro jornal varginhense, a Gazeta de Varginha. Em

1892, a estrada de ferro que chegava a cidade: era a Estrada de Ferro Muzambinho, que

chegou ao município com a ajuda de investimentos financeiros do primeiro presidente da

Câmara, Matheus Tavares da Silva.

Em 1892, a cidade contava com 13 ruas, 6 praças, 2 edifícios públicos (sendo um para

funções do município, como a cadeia) e 3 igrejas (Matriz, São Sebastião e Rosário). Em 1896

foi fundado o Colégio Varginhense, somente destinado às moças, mas havia também uma

escola para rapazes.

No ano de 1899, Varginha contava com um crescente número de casas e, assim, se

iniciou o serviço de calçamento na cidade.

Em 1901, graças ao Maestro Marciliano Braga, foi fundada uma banda na cidade:

Banda Musical Santa Cruz, que animava as festas religiosas e acontecimentos sociais

30

Idem. 31

Idem, p. 219. 32

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003. 33

Revista Correio do Sul: 1882 – Espírito Santo das Catanduvas. Varginha, 1982.

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varginhenses. Em 1904, foi inaugurado o Theatro Municipal e, em 1913, a cidade já contava

com um sistema telefônico. A luz elétrica, como veremos mais à frente nas atas da Câmara,

surgiu em 1914 e o mercado municipal, no ano de 1915.

Esses acontecimentos mostram que a cidade tomava uma dinamização importante para

sua modernização. A criação de um jornal, a chegada da estrada de ferro, o aumento do

número de ruas e de casas, além da criação de estabelecimentos culturais e educacionais são

fatos que mostram avanço do município em seu desenvolvimento econômico e social.

Em 1915 foi criado o primeiro clube de futebol da cidade. Em 1918, a cidade contava

com 2.200 casas e aproximadamente 400 prédios. Nesse ano, o Colégio Marista se estabelecia

na cidade. Na década de 1920, foi construído o Hotel do Comércio. O primeiro cinema da

cidade foi o Cine Brasil.

Na época o cinema era mudo, e o motor que gerava o aparelho cinematográfico era o

óleo diesel, e fazia tanto fumaça na sala de projeção que entre uma parte e outra do

filme era preciso fazer um intervalo e jogar água na tela, para que a projeção ou a

luminosidade melhorasse34

.

Na década de 20 surge o Cinema Íris, um empreendimento de imigrantes italianos. Em

1923, foi fundado o Colégio dos Santos Anjos, por três religiosas. Em 1927, empreendido

também por italianos, se inaugurou o Teatro Capitólio. A construção demorou dois anos para

ficar pronta e foram gastos cerca de 403:000$000 (quatrocentos e três contos de réis)35

.

De estilo Toledino foi construído pelos irmãos Antônio e Celestino Pires, cuja planta

levantada pelo engenheiro Frizoti Agostini, foi modificada, à pedido da Empresa. Os

portões, grades e demais ferragens, foram fabricados na Indústria Navarra por Luiz

“Almofadinha”. A decoração da fachada e do interior é atribuída ao italiano

Alexandre Vallati36

.

Com o desenvolvimento cultural e social da cidade, também crescia sua população. Na

verdade, era a população que, com o passar do tempo só aumentava, demandava, cada vez

mais, produtos e serviços, fazendo com que Varginha se tornasse, aos poucos, uma importante

cidade para toda a região do sul de Minas Gerais.

No quadro abaixo, podemos observar o crescimento da sociedade varginhense,

considerando o período de 1890 a 1920:

34

História de Varginha. Disponível em:

<http://www.camaravarginha.mg.gov.br/downloads/historia_varginha.pdf>, p. 20. 35

História de Varginha. Disponível em:

<http://www.camaravarginha.mg.gov.br/downloads/historia_varginha.pdf>. 36

Idem, p. 23.

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Quadro 1: População Varginhense (1890-1920)

ANO POPULAÇÃO

1890 24.819

1900 29.322

1907 31.417

1908 31.728

1909 32.042

1910 32.359

1911 32.690

1912 20.690

1913 21.029

1914 21.237

1915 21.447

1916 21.659

1917 21.874

1918 22.080

1919 22.309

1920 22.457

Fonte: LEFORT, 1950, p. 130-131 apud SALES, 2003, p. 58

Podemos observer que de 1890 até 1911 a população varginhense aumentou bastante,

passando de 24.819 habitantes para 32.690 habitantes nesse período; embora até o ano 1911,

se incluísse na população de Varginha os moradores de Carmo da Cachoeira e Elói Mendes.

Após esse ano, Elói Mendes foi emancipada e, por isso a população varginhense diminuiu.

Carmo da Cachoeira se emancipou de Varginha apenas 37 anos depois da emancipação de

Elói Mendes, em 1938.

Aliás, veremos nas atas da Câmara Municipal que cidades e distritos vizinhos, além

das citadas Carmo da Cachoeira e Elói Mendes, eram em muitos momentos auxiliados por

Varginha. Podemos mencionar Três Pontas, Paraguaçu e Boa Esperança, que receberam

recursos varginhenses que ajudaram em seus processos de crescimento.

A partir de 1912, mesmo com a emancipação de Elói Mendes, vimos que a população

da cidade de Varginha foi sempre aumentando, embora a uma taxa menor da que se observava

anteriormente, até 1911. Todavia, nos dois períodos – de 1890 a 1911 e de 1912 a 1920 - , a

população da cidade nunca diminuiu, apenas cresceu.

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Varginha também contou, em fins do século XIX e início do século XX, com

elementos que podem ser considerados relevantes quando tratamos formação do modo

capitalista de produção em uma região.

Abaixo, vamos tratar um pouco sobre a importância desses fatores para a formação da

cidade de Varginha e para a evolução de seu capitalismo.

3.1. Café, Comércio, Ferrovia, Indústrias e Bancos na transição do XIX para o XX

Por volta do fim do século XIX, o mercado do café entrou a expandir-se mais

depressa. A procura nos Estados Unidos e na Europa crescia à medida que a

industrialização aumentava a produtividade; o café do Brasil, de qualidade inferior,

se apropriava ao consumo das massas. O transporte tornou-se mais barato e mais

seguro a proporção que os vapores de casco de ferro passaram a seguir as rotas

marítimas do Atlântico Sul. O sistema comercial foi-se tornando mais eficiente e

mais amplo à medida que se estendiam os cabos submarinos, se fundavam as casas

importadoras e se iniciavam as operações bancárias ultramarinas. São Paulo [o

Estado brasileiro que mais se beneficiou com modernização econômica que teve

início com a introdução do café no Brasil] passou a experimentar a mesma eufórica

prosperidade que se registrava simultaneamente em outras partes da América

Latina37.

Café, primeiramente, e comércio, indústrias, ferrovias e bancos são componentes

essenciais quando tratamos do processo de modernização e urbanização do Brasil, pois esses

elementos possibilitaram o desenvolvimento do capitalismo em nosso país.

No fundo, foi o café o grande responsável pelo processo de industrialização do Brasil

porque a maioria dos comércios, das indústrias e das construções de ferrovias, sobretudo no

estado de São Paulo, ocorreram devido à produção, comercialização interna e exportação do

café. O capital gerado pela economia cafeeira financiou muito de nosso processo de

crescimento. Além desses fatores, o trabalho assalariado também é condição importantíssima

para a sobrevivência do sistema capitalista em qualquer região.

Muitos autores, dentre eles Celso Furtado38

, Caio Prado Júnior39

, Werner Baer40

e

Sérgio Silva41

, estudaram o processo de formação do Brasil, destacando o café, as indústrias e

as ferrovias.

O comércio do café não gerou apenas a procura da produção industrial: custeou

também grande parte das despesas gerais, econômicas e sociais, necessárias a tornar

proveitosa a manufatura nacional. A construção de estradas de ferro proveio, toda

ela da expansão do café. As linhas foram construídas pelos próprios plantadores com

37

DEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo. 2 ed, São Paulo: Difel, 1977, p. 9. 38

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22 ed, São Paulo: Editora Nacional, 1987. 39

JÚNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. 43 ed, São Paulo: Brasiliense, 2012. 40

BAER, Werner. A Industrialização e o Desenvolvimento Econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação

Getúlio Vargas, 1966. 41

SILVA, Sérgio. Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil. 3ª reimpressão, São Paulo: Alfa

Omega, 1980.

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os seus lucros ou por estrangeiros seduzidos pela perspectiva do frete do café (...).

As primeiras fábricas também se viram incalculavelmente beneficiadas pela

transformação social já operada pelo café, em particular pela mão-de-obra, assim

imigrante como nativa, afeita à necessidade do trabalho constante (...). O surto do

café proporcionou o movimento (...) indispensável para que a industrialização se

processe e para que sejam superadas as resistências inerentes às economias

estagnadas42.

Também em Minas Gerais e no sul do estado mineiro, foram esses fatores – o café, o

comércio, as indústrias, as ferrovias, os bancos e o trabalho assalariado – que auxiliaram no

processo de modernização e urbanização da região. No caso de Varginha, os fatores citados

acima também tiveram sua importância no processo de formação do capitalismo na cidade.

A cultura do café foi introduzida no município por volta de 1870. Veremos agora o

que alguns escritores locais do século XX mencionavam sobre o café em Varginha:

As terras do município são ubérrimas e prestam-se a qualquer cultura. (...) O

município de Varginha é o verdadeiro Eldorado do Café do Sul de Minas, sendo

esta preciosa rubiácea muito conhecida e apreciada em todos os mercados –

nacionais e estrangeiros – pela sua excelente qualidade que igual não se encontra em

parte nenhuma43.

Sobre a ascensão da cultura:

O café constitui a principal fonte de riqueza do município. Depois (...) da Zona da

Mata, Varginha é o município do Estado de Minas que mais café exporta, com a

diferença que por sua qualidade, o Café “Varginha” é reputado único e excepcional

(...). O grau de desenvolvimento a que atingiu a lavoura do café neste próspero

município, deve-se à prodigiosa fertilidade da terra, cuja composição química mais

homogênea e resistente à vida do cafeeiro, faz que se avantaje até mesmo a terra

cafeeira por excelência, que é São Paulo44

.

O café foi, pelo que se vê com essas citações, a primeira grande riqueza de Varginha e

os elogios a cultura na cidade continuam:

O nosso café, de tão excelente qualidade, é superior a todo o congênere do Brasil,

café especialmente encomendado pelos mercados consumidores do velho

continente, ante a sua qualidade superlativa e seu aprimorado beneficiamento,

chegando ao requinte de alguns importadores de Gênova exigir café de Varginha e

da Fazenda tal, como acontece com o café tipo Emilio, da propriedade agrícola do

Cel. Emílio de Rezende (...) A cultura do café dilata-se por todo o município,

cultivada com esmero e ótimos resultados pecuniários, mantendo, em trabalho

permanente pelas fazendas, numerosas colônias, que fazem o operariado valoroso do

seu progredimento, refletindo-se, na ampliação da cidade e seu desenvolvimento,

como consequência da prosperidade agrícola45

.

42

DEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo. 2 ed, São Paulo: Difel, 1977, p. 14/15. 43

CAPRI, Roberto, 1918 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha:

Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 284. 44

Idem. 45

FONSECA & LIBERAL, 1920 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 285.

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22

Em 1893, se inaugurou no município a primeira máquina de beneficiar café. Aliás, o

desenvolvimento do café foi muito importante para a atividade comercial no município. Foi o

café o produto que deu forças para o nascente comércio da cidade, na transição do século XIX

para o século XX.

A atividade do comércio do café era intensa e, graças ao sucesso da cultura no

município, em 1920, Varginha já contava com 113 estabelecimentos de beneficiar café,

“tendo eles produzido 23.916 quintais, nos seus 4.394.000 pés de café”46

.

O café foi um produto de suma importância para Varginha, a primeira grande riqueza

da cidade. Porém, não era o único bem cultivado em Varginha. Na verdade, antes do café, já

se cultivava cana-de-açúcar município.

Bem cedo, no alvorecer de sua vida, os alcantis das serras e as depressões marginais

do Rio Verde revelaram o alto coeficiente da cana-de-açúcar. Eram os engenhos, dia

e noite trabalhando pelo braço escravo; eram os fazendeiros, enriquecendo-se com o

amanho da terra, ubertosa e fecunda; era a aurora de um grande dia, esparramando

sua luz benéfica no decurso da história varginhense47

.

Além do café e da cana-de-açúcar, em Varginha também se cultivavam outros cereais,

basicamente o milho e o feijão, para o consumo local.

Passando agora para o comércio, os estabelecimentos varginhenses serviam não

apenas a cidade de Varginha, mas também a outros municípios vizinhos.

O comércio de Varginha pode ser considerado o mais importante de todo o Sul de

Minas, pois importantes casas atacadistas servem as praças de Elói Mendes, Três

Pontas, Dores de Boa Esperança, Campos Gerais, Paraguaçu, Carmo da Cachoeira e

Vila Nepomuceno (...). O comércio de Varginha é representado por casas atacadistas

muito importantes. Pode-se afirmar, sem receio de exagero, que Varginha é o grande

empório comercial do sul-mineiro48

.

Os primeiros estabelecimentos comerciais vendiam artigos diversos. Um mesmo

estabelecimento vendia, por exemplo, farinha de trigo, cal, sal, querosene, açúcar, arroz,

arame farpado e outros produtos.

A cidade contava, também, com estabelecimentos comerciais diversos para a época:

eram farmácias, consultórios médicos, comércios de venda por atacado e varejo, salões de

barbeiros e cabeleireiros, alfaiatarias, hotéis, pensões, oficinas de sapateiros, selarias,

dentistas, açougues, relojoarias, depósitos de mobílias, atelier de fotografias e de costura.

Entretanto, essa diversidade não implicava grande quantidade desses estabelecimentos.

46

LEFORT, José Patrocínio do, 1950 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 285. 47

Idem, p. 286. 48

RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 277.

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23

A atividade da pecuária também merece ser lembrada, apesar de não ser tão relevante

como a agricultura e o comércio:

A indústria pastoril tem-se desenvolvido na inverna ou engorda de bois oriundos de

outros pontos do Estado, o triângulo mineiro preferente, sendo pouco desenvolvida a

criação vacum, que se faz ultimamente com seleção de raças, entre as quais

prevalecem o caracú e o zebú (...)49

.

Todavia, havia no município muitas fazendas que se dedicavam à criação de gado.

Dados da época mostram em números as criações50

:

Gado vacum (bois, vacas e touros): 22.000 cabeças.

Gado suíno (porcos domésticos): 45.000 cabeças.

Gado cavalar (cavalos): 8.400 cabeças.

Lanígero e caprino (ovelhas e cabras):10.000 cabeças.

Depois das atividades agropecuárias, destacamos o surgimento da ferrovia em

Varginha, que foi um marco muito importante para o desenvolvimento econômico da cidade e

da região sul de Minas Gerais.

É indubitável que a passagem da via férrea por Varginha contribuiu enormemente

para o desenvolvimento da cidade e da região. No entanto, a notícia da inauguração

recebeu apenas uma pequena nota, sem título, no Minas Gerais, órgão oficial dos

poderes do Estado, coluna “Várias Notícias’, em 30 de maio de 1892: “Foi

inaugurada a Estação da Varginha, da Companhia Muzambinho”51

.

Depois de vermos a importância da cultura cafeeira e do comércio para Varginha e

cidades vizinhas, além da chegada da ferrovia, passaremos às indústrias. A primeira indústria

varginhense surgiu em 1893: a fábrica de vinho produzia 5 pipas anualmente, sendo 300$000

(trezentos mil réis) cada uma. As 5 pipas produzidas por ano correspondiam a 2.486.000 litros

de vinho, que era consumido localmente. Além da fábrica de vinho, em 1893, Varginha

contava com uma fábrica de meias de lã.

O café, que era o principal produto de exportação do município, também estava

diretamente ligado a indústria. “Entre os principais estabelecimentos industriais, destacam-se

os destinados ao beneficiamento e rebeneficiamento do café, todos localizados em

proximidade da estação férrea de Varginha52

”.

49

FONSECA & LIBERAL, 1920 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 289. 50

RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 289. 51

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p.

180. 52

RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 280.

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24

Além desses estabelecimentos, se destacavam as indústrias de: aguardente, rapadura,

manteiga, e as oficinas mecânicas. Havia também fábricas de gelo, de balas e caramelos, de

bebidas, as serrarias e carpintarias; as máquinas de aluguel de beneficiar arroz, as oficinas de

ferreiros, as padarias e uma fábrica de banhas.

Fator também importantíssimo para o progresso de qualquer região é o

desenvolvimento das instituições bancárias. “Como elementos propulsionadores do grande

comércio varginhense, que se irradia por grande extensão do sul do Estado, de modo a dar-

lhes merecidamente a primazia comercial, conta a cidade dois magníficos

estabelecimentos”53

.

Em 1915, foi inaugurada na cidade uma agência do Banco Hypotecário e Agrícola do

Estado de Minas Geraes. Também foi inaugurada nessa época uma agência do Banco do

Brasil.

As necessidades crescentes de nossa lavoura, o movimento sempre em progressão

do nosso comércio, o lugar em destaque que gozava no Sul de Minas, Varginha,

como centro produtor e comercial do café, vinha de longa data exigindo um

estabelecimento de crédito nesta praça. É admirável, como pode esta cidade, com

uma pletora enorme de capitães, com um recorgitamento crescente de economias,

com um vai-vem contínuo de transações, sustentar toda uma enorme circulação

fiduciária sem uma casa bancária54

.

Vimos então, com a ajuda da historiografia, como Varginha passou de um arraial a

uma cidade na transição do século XIX para o século XIX, observando seu crescimento

urbano e modernização, com o aumento do número de ruas e casas, além da introdução e

importância do café para a cidade na época. Chegamos também a observar algumas

características dos comércios, das primeiras fábricas, a chegada da ferrovia e os bancos no

município.

A elite agrária da cidade também foi muito importante para seu progresso.

Fazendeiros, plantadores de café e negociantes ajudaram Varginha a fazer sua história. A

seguir, vamos analisar a fortuna dessa elite, mostrando no que ela investia seu dinheiro e

analisando a contribuição que ela forneceu para o progresso varginhense.

Depois, veremos alguns dos principais acontecimentos da cidade por meio das atas da

Câmara e entenderemos como os vereadores e a sociedade varginhense almejavam seu

crescimento e desenvolvimento econômico e social.

53

FONSECA & LIBERAL, 1920 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 281. 54

RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 281/282.

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25

4. VARGINHA ATRAVÉS DE UM ESTUDO DOS INVENTÁRIOS POST

MORTEM (1881 / 1920)

Os documentos históricos fornecem informações muito valiosas a respeito de uma

determinada região. As fontes primárias que utilizamos para reconstruir a história econômica

de Varginha na transição do século XIX para o XX - que são os inventários post mortem a as

atas da Câmara Municipal, do período de 1881 a 1920 – possuem muitos detalhes sobre o que

foi Varginha naquela época, além de nos auxiliar no entendimento do que vem a ser a cidade

atualmente.

A análise desses documentos serve para complementar o que já escrevemos sobre a

história e economia da cidade. De aproximadamente 300 inventários, selecionamos os dois

que possuíam o maior monte-mor, ou seja, a maior riqueza, sendo os inventariados então, os

moradores que formariam a elite varginhense da época. Com os inventários, que se encontram

depositados no Arquivo Municipal de Varginha, observa-se como as atividades

desempenhadas por essa elite contribuíram para a evolução do processo de modernização de

Varginha.

4.1. Elite Agrária na Cidade de Varginha através da Análise de Inventários

O desenvolvimento econômico da cidade de Varginha, a partir de 1881, pode ser

analisado através de importantes personagens da cidade, que foram responsáveis por algumas

das transformações econômicas e sociais do município.

Um inventário é um documento histórico que estrutura fatos sobre a vida e os bens do

inventariado. Quando o chefe ou a chefe de uma família falecia, os membros da família que

restavam – o marido ou a esposa, os filhos e netos ou outros parentes – geralmente requeriam

parte da herança deixada. Dessa forma, se estruturava um inventário55

. Esse documento é

composto por alguns elementos principais:

a) Título de Herdeiros: São listados, nessa parte, os nomes de todos os membros da

família que vão dividir a herança deixada pelo(a) falecido(a). Essa listagem ocorre de

uma forma bastante minuciosa na maioria dos inventários, pois além do nome do(a)

herdeiro(a), era descrito pelo escrivão a idade desses herdeiros, se eram casados ou

solteiros e onde residiam.

55

Para mais detalhes sobre e definição de um inventário, ver: PINSKY, Carla Bassanezi et al. Fontes Históricas.

3 ed, São Paulo: Contexto, 2011.

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26

b) Testamento: Em alguns inventários, não em todos, era descrito o Testamento deixado

pelo(a) inventariado(a).

c) Descrição dos Bens: Nessa parte, todos os bens do(a) inventariado(a) eram descritos,

com seus respectivos valores e quantidades. Os principais eram bens móveis, bens

imóveis, animais, escravos (que eram considerados como mercadorias), dívidas ativas

e passivas.

d) Soma dos Bens: Depois que eram descritos os bens, era feita uma soma de cada

categoria. Eram obtidos os valores totais dessas categorias e se obtinha o monte-mor,

que pode ser definido como a totalidade, em valores monetários, de todos os bens que

possuía o(a) inventariado(a). Compunham o monte-mor os bens móveis e imóveis,

além dos animais, os escravos e as dívidas ativas. Assim, o valor das dívidas passivas

era retirado do monte-mor, juntamente com os impostos e as “custas” com a morte

do(a) inventariado(a). O valor que sobrava se chamava monte-partível, que era o valor

real que seria dividido entre os familiares. Esse valor era dividido em duas partes

iguais, o que se denominava “meação”. A esposa, ou o esposo, ficavam com uma das

partes e a outra era dividida entre os demais herdeiros, cada um deles receberia então a

sua “legítima”. Caso o cônjuge já tivesse morrido, o valor do monte partível seria

diretamente dividido entre os herdeiros sem a necessidade da meação.

e) Divisão dos Bens: Depois da contagem a avaliação dos bens, estes eram divididos

entre os familiares. E novamente, se descrevia nos inventários, de forma muito

detalhada, que bens seriam destinados a cada um dos herdeiros.

Então, citados acima, foram os principais elementos que compõem um inventário. De

aproximadamente 300 inventários de Varginha para o período de 1882 a 1920, dois foram

selecionados e serviram para nos auxiliar a mostrar as transformações econômicas ocorridas

no município nesse período inicial do seu crescimento. O major Matheus Tavares da Silva e o

coronel Antonio Justiniano dos Reis foram pessoas importantes para sociedade varginhense.

Matheus Tavares da Silva foi o primeiro presidente da Câmara da cidade, logo em

1882. Varginhense, fazendeiro, comerciante e negociante, ele foi um dos primeiros

plantadores de café da região. Com a ajuda de seus investimentos, a primeira ferrovia foi

instalada em Varginha, no ano de 1892.

Matheus Tavares da Silva teve atitude contrária, ele não comente quis que a ferrovia

passasse por Varginha mas arrumou com recursos financeiros próprios a efetivação

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desse projeto (...). O projeto inicial da Rede Mineira de Viação, responsável pela

construção da ferrovia, não previa a passagem por Varginha56.

Como foi visto, a ferrovia passaria por outra cidade, se não fosse a ajuda financeira

oferecida por Matheus Tavares. O major investiu 100:000$000 (cem contos de réis) nas obras.

Ele possuía uma parte da ferrovia, já que ajudou financeiramente para que ela passasse pela

cidade. Uma parte de seu inventário continha a informação: “Declarou mais o inventariante

que o espólio possui uma cautela da Estrada Muzambinho”57

. Essa “cautela” da estrada

correspondia a 50:000$000 (cinquenta contos de réis).

Abaixo segue uma foto da chegada da ferrovia em Varginha, no ano de 1892:

Chegada do trem a Varginha, na inauguração da linha em 1892, pela Estrada de Ferro Muzambinho.

Como pode ser visto pela imagem, o número de pessoas que foi prestigiar a novidade na cidade era grande.

(http://www.blogdomadeira.com.br)

O monte-mor de Matheus Tavares da Silva correspondia a 443:079$264 (quatrocentos

e quarenta e três contos, setenta e nove mil e duzentos e sessenta e quatro réis). Ele faleceu

em Varginha, em 1905, deixando dois filhos e cinco netos. Como sua esposa também já havia

falecido, seu inventariante foi seu genro, o capitão Antonio Justiniano de Paiva.

Já Antonio Justiniano dos Reis era coronel e, com um monte-mor de 315:874$166

56

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p.

182. 57

Inventário de Matheus Tavares da Silva – 1905.

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28

(trezentos e quinze contos, oitocentos e setenta e quatro mil e cento e sessenta e seis réis) – a

segunda maior herança do município no período de 1881 a 1920 – foi importante fazendeiro

do município de Carmo da Cachoeira. Faleceu em 1918, deixando onze filhos e a esposa,

Dona Idalina Elisa da Costa Reis, que foi sua inventariante.

A composição do patrimônio dos dois personagens inventariados pode ser melhor

entendida no quadro e nas figuras apresentados abaixo, que contemplam as porcentagens e

valores dos bens:

Quadro 2 – Composição do Monte-Mor dos Inventariados

COMPONENTE Matheus Tavares da Silva % Antonio Justiniano dos Reis %

Bens Móveis 21:524$340 4,85 13:970$000 (incluindo animais) 4,42

Bens Imóveis 282:277$500 63,70 235:631$250 74,60

Animais 10:010$000 2,25 __________ ____

Dinheiro 70:786$670 16,00 __________ ____

Dívidas Ativas 58:480$754 13,20 66:272$916 20,98

Total (Monte-Mor) 443:079$264 100 315:874$166 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos Inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e

Antonio Justiniano dos Reis (1918)

A seguir, os gráficos dão uma ideia do que cada componente ou cada categoria de bens

representava dentro da riqueza total de cada um dos inventariados:

Figura 1 – Composição da Riqueza de Matheus Tavares da Silva

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos do inventário de Matheus Tavares da Silva (1905)

4,85% 2,25%

63,70%

16,00%

13,20% Bens Móveis

Animais

Bens Imóveis

Dinheiro

Dívidas Ativas

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Figura 2 – Composição da Riqueza de Antonio Justiniano dos Reis

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos do inventário de Antonio Justiniano dos Reis (1918)

Vamos agora observar o que se compreendia em cada componente do monte-mor dos

dois inventariados:

1. BENS MÓVEIS

Geralmente, compõem os bens móveis as mobílias de dentro das casas, como mesas,

cadeiras, sofás, bacias, tachos, pratos e talheres; além desses, joias, máquinas de beneficiar

café e carros de bois. Esses bens estavam presentes no inventário de Matheus Tavares da

Silva, entretanto, no inventário de Antonio Justiniano dos Reis, o único bem móvel descrito

era um carro de bois. Certamente, existiam outros bens móveis que não foram contabilizados

ou descritos no inventário, ou ainda, esses bens móveis podem ter sido contabilizados junto

com as casas do inventariado, que estão nos bens imóveis58

.

A porcentagem da fortuna dos dois inventariados aplicada em bens móveis era

parecida (4,85% para Matheus Tavares da Silva e 4,42% para Antonio Justiniano dos Reis),

58

O valor de 4,42% da riqueza de Antônio Justiniano dos Reis que se destinava aos bens móveis se deve,

principalmente, ao número e valor dos animais do inventariado já que o único bem móvel descrito no inventário

foi um carro de bois, que valia 50$000 (cinquenta mil réis). Entretanto, não podemos simplesmente retirar o

valor de 50$000 do bem móvel e dizer que o restante se deve aos animais porque o valor encontrado para esta

categoria no final do inventário, na página do monte-mor, era de 13:970$000 (treze contos, novecentos e setenta

mil réis), diferente do encontrado ao final da contabilização dos animais, quando foi feita a descrição, que era de

11:530$000 (onze contos, quinhentos e trinta mil réis). Mesmo que somássemos o valor do carro de bois no

valor total dos animais, o valor total não corresponderia ao final, de 13:970$000, e sim a 11:580$000 (onze

contos, quinhentos e oitenta mil réis). Alguns erros desse tipo são vistos em alguns inventários, quando a soma

do que estava descrito não corresponde fielmente a soma apresentada no final do inventário.

4,42%

74,60%

20,98% Bens Móveis(incluindoanimais)

Bens Imóveis

Dívidas Ativas

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todavia, no inventário de Antonio Justiniano dos Reis, os animais foram contabilizados

juntamente com os bens móveis. Como apenas um carro de bois foi contabilizado como bem

móvel no inventário do coronel, essa porcentagem foi parecida para os dois inventariados,

sobretudo devido o valor dos animais.

2. ANIMAIS

Os animais comuns aos dois inventariados eram: bois de carro, novilhos, vacas,

cavalos, touros e burros.

No quadro abaixo se torna mais fácil o entendimento das criações que possuíam os

dois inventariados:

Quadro 3 – Animais e Quantidades para cada Inventariado

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos Inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e

Antonio Justiniano dos Reis (1918)

Descrição dos

Animais

Quantidades

Matheus Tavares da

Silva

Antonio Justiniano

dos Reis

Bois de carro 58 24

Bois 0 1

Novilhos de carro 14 0

Novilhos (as) 20 0

Vacas 33 22

Novilhas e Vacas 0 24

Cavalos 10 07

Touros 4 1

Bezerros 0 56

Garrotes 0 50

Burros 6 2

Éguas 26 0

Porcos 18 0

Leitões 20 0

TOTAL 209 187

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Apenas 2,25% do monte-mor de Matheus Tavares da Silva estava aplicado em

animais. Para o caso de Antonio Justiniano dos Reis, como vimos, os animais foram

contabilizados juntamente com os bens móveis, sendo sua porcentagem de 4,42% da riqueza.

Alguns bens móveis de Antonio Justiniano dos Reis, como já dissemos, podem ter sido

contabilizados junto com as casas que a família possuía.

3. DINHEIRO

O dinheiro, que se apresenta apenas no inventário de Matheus Tavares da Silva,

correspondia a 16% de seu patrimônio, ou seja, 70:786$670 (setenta contos, setecentos e

oitenta e seis mil e seiscentos e setenta réis), um valor importante, se comparado com os

outros componentes do monte-mor. Estava em poder do inventariante, seu genro, e seria

dividido juntamente com os outros bens na partilha aos herdeiros. No inventário não havia

especificação sobre a espécie do dinheiro, mas acredita-se que seja papel-moeda.

Em alguns poucos inventários havia dinheiro disponível, que se encontrava com algum

outro membro da família e que passava a fazer parte do monte-mor para depois ser dividido

entre todos quando da partilha dos bens.

4. DÍVIDAS ATIVAS E PASSIVAS

As dívidas ativas de Matheus Tavares da Silva correspondiam a pouco mais de 13%

do seu monte-mor, mas não se viu no inventário, descrição dessas dívidas. Já as dívidas ativas

referentes ao coronel Antonio Justiniano dos Reis eram compostas por Apólices da Dívida

Pública, e correspondiam a quase 21% de seu monte-mor. As dívidas passivas não fazem

parte do monte-mor, e geralmente elas precisam ser pagas pela família do inventariado, antes

que seja dividida a herança. Do valor total do monte-mor, se subtraem as dívidas passivas, as

custas e alguns outros impostos. Assim se obtém o monte-partível, que é a herança a ser

dividida entre os familiares do requerido.

No inventário de Antonio Justiniano dos Reis não foi identificada nenhuma dívida

passiva, mas certamente elas existiam porque pela análise de seu inventário, retirando-se do

monte-mor as custas e os impostos, um valor de aproximadamente 61:000$000 (sessenta e um

contos de réis) ficava sem explicação. Esse valor, provavelmente, seria das dívidas passivas.

Já para Matheus Tavares da Silva, o valor correspondente às dívidas passivas era de

69:656$775 (sessenta e nove contos, seiscentos e cinquenta e seis mil e setecentos e setenta e

cinco réis). O valor dessas dívidas era pouca coisa menor que o valor do dinheiro que estava

em poder do inventariante, que correspondia a 70:786$670 (setenta contos, setecentos e oitenta

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e seis mil e seiscentos e setenta réis), e bastante maior que a riqueza de muitos moradores

varginhenses da época.

No gráfico abaixo podemos ver uma comparação entre as dívidas ativas e passivas de

cada inventariado59:

Figura 3 – Dívidas Ativas e Passivas de Antonio Justiniano dos Reis e Matheus Tavares

da Silva

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e

Antonio Justiniano dos Reis (1918)

No caso de Antonio Justiniano dos Reis, as dívidas ativas eram pouca coisa maior do

que as dívidas passivas. Já observando o caso de Matheus Tavares da Silva, vemos que as

dívidas passivas existem em quantidade maior que as dívidas ativas.

Esse gráfico serve para mostrar que, mesmo a elite da cidade de Varginha tendo

investido seu patrimônio, especialmente, em bens imóveis, ela mantinha dinheiro emprestado

a terceiros, mas também pedia emprestado a terceiros. Essa era uma forma de articulação da

riqueza desses personagens, pois mostra que havia preocupação em fazer com que o dinheiro

circulasse na economia, talvez até para fora de Varginha, rendendo juros para os inventariados

que mantinham esses empréstimos.

59

Assumimos, por hipótese, a partir da observação no inventário, que as dívidas passivas de Antonio Justiniano

dos Reis equivaliam a 61:000$000.

54,36%

47,93%

45,64%

52,07%

Matheus Tavares da Silva

Antonio Justiniano dosReis

40% 45% 50% 55% 60%

DÍVIDAS ATIVAS

DÍVIDAS PASSIVAS

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5. BENS IMÓVEIS

Deixamos por último os bens imóveis, por serem os que mais se destacam na

totalidade da fortuna dos dois inventariados. Dentre os bens imóveis dos inventariados estão

casas de morada (na zona rural e nas cidades, particularmente Varginha e Carmo da

Cachoeira), casas de empregados, terras virgens, terras com culturas e fazendas.

Mais detalhadamente, vamos analisar a composição desses bens imóveis. Matheus

Tavares da Silva investia 63,70% de sua riqueza nos bens imóveis, o que correspondia a

282:277$500 (duzentos e oitenta e dois contos, duzentos e setenta e sete mil e quinhentos réis)

de seu monte-mor e Antonio Justiniano dos Reis investia 74,60% de sua riqueza em bens

imóveis, o que representava 235:631$250 (duzentos e trinta e cinco contos, seiscentos e trinta

e um mil e duzentos e cinquenta réis) de seu patrimônio.

Matheus Tavares da Silva detinha uma extensão territorial de 1.413,50 alqueires de

terras e, Antonio Justiniano dos Reis, 1.369,75 alqueires de terras. Nos gráficos abaixo

poderemos compreender melhor o que continha nessas terras:

Figura 4 – Alqueires de terras de Matheus Tavares da Silva e Antonio Justiniano

dos Reis

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e

Antonio Justiniano dos Reis (1918)

O café, que foi o principal produto responsável pelo nascimento da cidade de

Varginha, não representava muito das terras dos inventariados. Entretanto, Matheus Tavares

1.300

1.330

1.360

1.390

1.420

EXTENSÃO TERRITORIAL (em milalqueires)

Matheus Tavares da Silva

Antonio Justiniano dos Reis

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da Silva possuía maior quantidade do produto do que Antonio Justiniano dos Reis.

Os documentos descreviam que os alqueires de terra que possuíam os inventariados

eram compostos por pastos, matos, campos, cerrados, capoeiras, terras virgens e culturas, mas

não havia a descrição de todas as culturas que eles possuíam. As que foram descritas eram de

cana-de-açúcar e café, mas em pequenas quantidades se comparadas com o restante das terras.

O café representava 12,23% do total das terras de Matheus Tavares da Silva, isso

correspondia a 173 dos 1.413,50 alqueires de terras que possuía o inventariado. Já a cana-de-

açúcar representava apenas 1,88% do total da extensão territorial, o que correspondia a 26,50

alqueires de terra do total. O restante, 85,89% das terras, era composto por pastos, matos,

outras culturas e terras virgens, o que correspondia a uma parcela de 1.214 do total das terras.

Abaixo observaremos como eram divididas as terras do inventariado:

Figura 5 – Divisão das terras de Matheus Tavares da Silva

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos do inventário de Matheus Tavares da Silva (1905)

Pela análise do inventário de Antonio Justiniano dos Reis, encontramos que o café

representava apenas 2,70% de suas terras. Dos 1.369,75 alqueires de terra que o inventariado

possuía, apenas 37 alqueires eram de café. O coronel não possuía cana-de-açúcar ou outra

cultura que foi descrita no documento. O restante das terras, 97,30%, ou 1.332,75 alqueires de

terras, eram pastos, matos, outras culturas, terras virgens, campos, cerrados e capoeiras.

Abaixo observamos a composição das terras de Antonio Justiniano dos Reis:

12,23% 1,88%

85,89%

Café

Cana-de-açúcar

Pastos, Matos, Outrasculturas, Terras virgens

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Figura 6 – Divisão das terras de Antonio Justiniano dos Reis

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos do inventário de Antonio Justiniano dos Reis (1918)

Talvez, nessas outras culturas que não tinham sido descritas nos inventários, estariam

presentes mais café e cana-de-açúcar, ou outro alimento, mas os documentos não

apresentavam descrição alguma. Com o quadro abaixo podemos comparar as diferenças

existentes entre os dois inventariados.

Quadro 4 – Divisão das Terras de cada Inventariado

Divisão da Terra

Matheus Tavares da Silva Antonio Justiniano dos

Reis

Alqueires % Alqueires %

Café 173 12,23 37 2,70

Cana-de-açúcar 26,50 1,88 0 0

Pasto, Mato, Outras culturas,

Terras virgens, Campo, Cerrado,

Capoeira

1.214

85,89

1.332,75

97,30

TOTAL 1.413,50 100 1.369,75 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e

Antonio Justiniano dos Reis (1918)

2,70%

97,30%

Café

Pastos, Matos, Outrasculturas, Terras virgens,Campos, Cerrados,Capoeiras

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Pela análise do inventário de Matheus Tavares da Silva, observamos também a

existência de 8 fazendas do inventariado, seus nomes eram: Posses, Figueira, Jacutinga, São

José, Limeira, Onça, Três Barras e Palestina. Já no inventário de Antonio Justiniano dos Reis,

não foi descrita a quantidade de fazendas que o inventariado possuía, nem seus nomes.

As casas eram em grande quantidade para Matheus Tavares da Silva, o major possuía

63 casas: 50 casas eram destinadas aos empregados e as outras 13 eram casas de morada da

família do inventariado; dessas 13 casas, o inventário mostrou que 4 se situavam na cidade de

Varginha e 8 na zona rural. Já Antonio Justiniano dos Reis possuía um total de 5 casas, sendo

3 delas casas “arruinadas” que, provavelmente, se destinavam aos empregados e as outras 2

eram as casas de morada do inventariado, que se localizavam em Carmo da Cachoeira.

Todos esses dados foram obtidos através de uma detalhada análise dos inventários.

Depois que se listavam todos os bens que o requerido possuía (bens móveis, bens imóveis,

animais, dívidas ativas, e dinheiro – esse último não em todos os casos), obtinha-se o monte-

mor, que era a riqueza total do inventariado. Do monte-mor, se reduziam as dívidas passivas,

os impostos e as custas (estas eram despesas com o funeral e o Testamento, por exemplo, se

houvesse); a partir daí se obtinha o monte-partível.

No caso de Matheus Tavares da Silva, o monte-partível foi de 357:715$048 (trezentos

e cinquenta e sete contos, setecentos e quinze mil e quarenta e oito réis) e no caso de Antonio

Justiniano dos Reis, o monte-partível foi de 249:601$250 (duzentos e quarenta e nove contos,

seiscentos e um mil e duzentos e cinquenta réis). O monte-partível era dividido em duas

partes, que era a meação. Uma parte era destinada a viúva do inventariado e a outra seria

dividida, igualmente, entre os outros herdeiros, que na maioria das vezes eram os filhos e

netos do inventariado.

A parte destinada aos herdeiros era chamada de legítimas. No caso de Matheus

Tavares da Silva, como sua esposa também havia falecido, não houve a meação, apenas as

legítimas, pois o monte-partível foi dividido igualmente entre os herdeiros. Já a esposa de

Antonio Justiniano dos Reis era ainda viva, e recebeu a metade da herança, tendo os outros

herdeiros dividido o restante.

Observando essa composição do monte-mor, se percebe que a maior parte da renda

dos inventariados estava aplicada em bens imóveis, não havendo uma maior diversificação

desse produto, que poderia ser aplicado, por exemplo, em atividades comerciais ou bancárias.

Abaixo segue uma imagem da página do inventário que contém o monte-mor. Em

nosso caso, pode ser considerada a principal página do documento por conter o valor total da

riqueza do inventariado:

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Fonte: Inventário de Teophila Ximenes (1908)

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Existem autores que afirmam, por exemplo, que Matheus Tavares da Silva era

negociante e comerciante60

além de fazendeiro, mas ainda assim, a maior parte do patrimônio

estava, principalmente, na terra.

Isso provavelmente ocorria porque tanto na época em que Matheus Tavares da Silva

faleceu, em 1905, como na época em que Antonio Justiniano dos Reis faleceu, em 1918,

Varginha ainda estava num período inicial de sua formação e é bem provável que seus

moradores preferissem depositar suas fortunas na terra, nos bens imóveis. Isso parecia dar

uma maior garantia às pessoas da época, de que o dinheiro que possuíam não seria perdido

facilmente, podendo ser repassado às gerações futuras.

Podemos fazer uma comparação com a cidade brasileira que se viu no modo de

produção capitalista antes de todas as outras: São Paulo. Observando-se a aplicação da

riqueza da cidade de São Paulo, para o período que mais se aproxima do que estudamos a elite

agrária de Varginha (1881-1920), Mello61

, nos mostra que, para o período de 1881 a 1887, a

maior parte da fortuna das pessoas mais ricas de São Paulo estava aplicada na categoria de

bens imóveis, utensílios, máquinas e plantações (60,84% da riqueza).

Observamos, então, que a maior parte dos patrimônios estavam aplicados na terra ou

em bens que estavam ligados à terra. O que era aplicado em dívidas ativas, correspondia a

15,09% das fortunas. O restante da riqueza estava aplicado em escravos, bens móveis e

animais.

Já de 1888 a 1895, os mais ricos de São Paulo mantinham sua fortuna, na maioria,

aplicada em dívidas ativas (39,40% da riqueza). Na categoria de bens imóveis, utensílios,

máquinas e plantações, se aplicava 34,50% do patrimônio. Isso quer dizer que foi com o

passar do tempo que os moradores da cidade foram evoluindo sobre o modo de investir suas

riquezas.

Quando a cidade está no início de sua formação, é importante que esteja assegurada na

terra, em um bem imóvel, o patrimônio existente. É através de casas, fazendas, de terrenos e

de plantações que os herdeiros ficarão, de certa forma, protegidos. Com o passar do tempo, as

famílias veem que é possível, então, investir não só apenas na terra, mas que podem investir,

por exemplo, em dívidas ativas, como ocorreu em São Paulo.

Mas de qualquer forma, a elite agrária da cidade de Varginha, no primeiro momento

de sua formação, contribuiu de forma relevante para o desenvolvimento econômico da região.

60

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003. 61

MELLO, Zélia Maria Cardoso de. Metamorfoses da Riqueza – São Paulo, 1845-1895. São Paulo: Editora

HUCITEC, 1985.

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39

Matheus Tavares da Silva, ao investir na ferrovia, fez um ato de muita importância não só

apenas para o município, mas também para a região sul de Minas Gerais. Uma ferrovia,

naquela época, significava modernização e desenvolvimento na cidade.

Além disso, vimos que a elite da cidade também aplicava sua fortuna em dívidas, tanto

ativas como passivas. Dessa forma, percebemos que, mesmo a maioria da riqueza sendo

aplicada nos bens imóveis, também havia diversificação do dinheiro já que esses

inventariados emprestavam dinheiro, mas também pediam dinheiro emprestado.

O dinheiro emprestado poderia estar, por exemplo, nas mãos de algum comerciante da

época, que se utilizou desse dinheiro para a expansão de seus negócios. E os nossos dois

inventariados, ao emprestar dinheiro, o faziam também certamente pensando nos juros que

iriam receber depois, juntamente com o recebimento do montante que haviam emprestado. Ou

ainda, o dinheiro que a elite pedia emprestado, poderia ser utilizado, também, em

investimentos, mesmo que fosse na aquisição ou manutenção de seus bens imóveis. O fato é

que com as dívidas ativas e passivas, vimos que o dinheiro de Antonio Justiniano dos Reis e

de Matheus Tavares da Silva circulava pela economia varginhense, ou de outras cidades e

distritos sul-mineiros na época.

A elite varginhense contribuiu, então, para o crescimento e desenvolvimento

econômico da cidade. Podemos dizer que essa contribuição ocorreu de três formas principais:

Primeiro: Ao investir seu patrimônio, sobretudo, em bens imóveis, essa elite permitia

que suas terras se tornassem algo produtivo. Mesmo que a cultura cafeeira - que foi a

principal responsável pelo surgimento da região sul de Minas Gerais e,

consequentemente, de Varginha no final do século XIX - representasse pouco do total

da extensão territorial dos dois inventariados (12,23% das terras de Matheus Tavares

da Silva e 2,70% das terras de Antonio Justiniano dos Reis), sabe-se lá o que era

compreendido na categoria “outras culturas” e que não foi descrito no inventário.

Essas “outras culturas” poderiam ser mais café, mais cana-de-açúcar, milho, feijão e,

finalmente, “outra cultura” que fosse comercializada localmente, abastecendo a cidade

de Varginha ou sendo enviada a municípios próximos.

Segundo: Matheus Tavares da Silva, o primeiro presidente da Câmara Municipal, ao

investir financeiramente para que a ferrovia passasse pela cidade, contribuiu de forma

muito relevante para a modernização de Varginha. Uma ferrovia, naquela época,

significava que as exportações e importações poderiam ocorrer de forma mais rápida.

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O deslocamento de bens e de pessoas seria maior no município, pois viagens que eram

feitas, provavelmente, nos carros de bois, poderiam ser feitas, depois do surgimento da

ferrovia, no trem, que encurtava a demora entre as idas e voltas.

Terceiro: Mesmo que em quantidade menor que os bens imóveis, as dívidas ativas e

passivas faziam parte do monte-mor dos inventariados. O fato desses moradores

possuírem essas dívidas, mostra que havia circulação de dinheiro pela economia

varginhense, ou até quem sabe, esse dinheiro poderia estar circulando por outras

cidades sul-mineiras. Assim, vemos que havia preocupação em emprestar um

montante e recebê-lo depois, com os devidos juros. E as dívidas passivas significam

que a elite também pedia emprestado e que esse dinheiro poderia estar sendo investido

em bens, mesmo que imóveis, como a aquisição ou a manutenção de suas fazendas.

Portanto, com a análise desses dois inventários, percebemos como a elite da cidade,

mesmo sendo agrária, ligada sobretudo à terra, contribuiu para o desenvolvimento econômico

de Varginha na transição do século XIX para o século XX. Seja com suas plantações, com os

esforços para a passagem da ferrovia ou, em menor parte, com a diversificação do dinheiro

nas dívidas ativas e passivas, essa elite teve um papel relevante na formação da cidade de

Varginha.

E não apenas a elite agrária de Varginha merece destaque quando o assunto é o

desenvolvimento do capitalismo na região. As decisões tomadas pelos vereadores e pela

sociedade da cidade também interferiram em sua formação.

A partir de agora, veremos quais foram as principais decisões dos vereadores da

Câmara Municipal de Varginha, também na transição do século XIX para o século XX, que

foram determinantes para a formação econômica e social do município. Destacaremos as

reuniões que trataram de assuntos relacionados ao desenvolvimento econômico e social do

município.

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5. ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE VARGINHA (1882 / 1920) –

UMA ANÁLISE

Na sessão anterior, com a pesquisa dos inventários, foram identificadas características

da elite varginhense que contribuíram para o desenvolvimento econômico e social da cidade.

O investimento do monte-mor dos inventariados, principalmente, em bens imóveis, além da

chegada da ferrovia e a diversificação do dinheiro desses inventariados em dívidas ativas e

passivas, foram ações importantes para a formação de Varginha na passagem do século XIX

para o XX.

As atas da Câmara Municipal de Varginha62

, do período de 1882 a 1920, estão

depositadas no Museu Municipal da cidade. Os aproximadamente 400 documentos foram

divididos de duas formas: as atas que iam de 1882 a 1892 foram, por nós, fielmente

transcritas; já as atas do período de 1893 a 1920 foram, também por nós, todas resumidas.

Esses documentos traduzem as decisões tomadas pelos vereadores para o crescimento

econômico e social do município, bem como as tentativas dos moradores da região em inserir

a cidade de forma mais ativa na história e economia sul-mineira.

5.1.As primeiras Reuniões e Determinações da Câmara de Varginha

Em dezessete de dezembro de 1882, deu-se início a primeira reunião da Câmara

Municipal da Vila do Espírito Santo da Varginha. Neste dia, estiveram presentes o major

Matheus Tavares da Silva – primeiro presidente da Câmara, tendo sido eleito neste dia

dezessete pelos outros -; José Maximiano Baptista – primeiro vice-presidente da Câmara, que

também foi eleito na primeira reunião e se tornaria anos mais tarde presidente da Câmara -;

Domingos Teixeira de Carvalho – que anos depois se tornaria vice-presidente da Câmara e,

posteriormente, presidente da mesma -; e Joaquim Antonio da Silva – vereador da Câmara.

Nesse ano de 1882 ocorreram apenas duas reuniões, em dezembro, sendo que em

1883 elas começaram a acontecer frequentemente.

Segue abaixo a imagem da primeira e da segunda ata de reunião, além da transcrição

da primeira ata da Câmara Municipal de Varginha, transcrita exatamente com a mesma grafia

que se apresentava no documento:

62

Para mais detalhes sobre atas de Câmara Municipal, ver: PINSKY, Carla Bassanezi et al. Fontes Históricas. 3

ed, São Paulo: Contexto, 2011.

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Atas da Câmara Municipal de Varginha - 17/12/1882 e 18/12/1882

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Sessão da Comarca Municipal da Villa do Espírito Santo da Varginha, do dia da installação e posse

da mesma Villa.

Aos dezecete dias do mez de dezembro de mil oitocentos e oitenta e dois, reunido no Paço da

Camara Municipal desta Villa, (...)63

Senhor Presidente da municipallidade da cidade de Três

Pontas (...) foi marcada para a installação e posse desta Villa os Senhores Vereadores José

Maximiano Baptista, Domingos Teixeira de Carvalho, João Alves de Govêa, Franscisco de Paula e

Silva, Matheus Tavares da Silva e Joaquim Antonio da Silva (...) pelo dito Presidente deferido

juramento na forma da Lei, aos Vereadores acima referidos, e tendo sido feita a leitura do aucto da

installação e posse desta Villa, pelo Secretário da Camara Municipal da cidade de Três-Pontas na

forma da lei, e assignado pelo Presidente da Comarca Municipal da mesma Cidade, e Vereadores

desta Camara, e cidadãos presentes. O Senhor Presidente installador da Villa, convidou o Senhor

Vereador Joaquim Antonio da Silva para ocupar a cadeira da presidencia, e presidir a eleição do

Presidente effectivo que tem de servir nesta Camara, pôr reconhecer ser ele o mais velho dos

vereadores presentes conforme precutira a lei a tal respeito, e em mediatamente, sendo posto em

votação, pôr escrutineo secreto a eleição do Presidente, foi eleito, o Senhor Matheus Tavares da

Silva, pôr quatro votos, qual o Senhor Presidente em mediatamente o convidou a tomar assento: o

que sendo feito foi pôr este posto em votação, por escrutineo secreto, a eleição de Vice Presidente

desta Camara pela qual verificou-se ter sido eleito o Senhor José Maximiano Baptista. Achando-se a

hora já bastante adiantada, e tendo de seguir-se as sollennidades religiosas, o Senhor Presidente

convidou os Senhores Vereadores a compareceram no Paço desta Camara, as dez horas do dia da

manhã, para tratar-se das nomeações de empregados, e o mais que ocorrer, e levantou a Sessão. E

para constar lavro a presente acta, em que assigna o Senhor Presidente e Vereadores. Eu José

Maximiano Baptista Vereador da Camara (...).

Matheus Tavares da Silva

Domingos Teixeira de Carvalho

Joaquim Antonio da Silva

José Maximiano Baptista

Ata completa de 17/12/1882.

Nos primeiros dez anos de reuniões, as decisões tomadas pelos vereadores eram mais

em relação à infraestrutura da cidade, como a organização das ruas, nomeação e calçamento

63

Algumas palavras eram difíceis de ser compreendidas. Mesmo com o contexto apresentado pelo documento,

algumas partes das transcrições ficaram com “(...)” para mostrar que ali havia uma palavra ou uma expressão que

não pôde ser identificada. Todavia, isso não prejudicava o entendimento do texto como um todo.

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das ruas e praças, a forma de confecção dos principais prédios públicos, organização dos

muros das casas e cuidados que os moradores da cidade deveriam ter com suas moradias. A

ata de 10 de janeiro de 1883 mostra um exemplo dessa preocupação:

Aos dez dias do mez de Janeiro de mil oitocentos e oitenta e trez nesta Cidade da Varginha no Paço

da Camara Municipal onde se achava o Senhor Presidente da mesma Camara Matheus Tavares da

Silva, e os Vereadores Baptista, Silva, e Carvalho; aberta a seção foi lida a acta do dia antecedente,

e posta em discução foi aprovada. Foi lido um officio do fabriqueiro desta cidade, Antonio Pinto de

Barros, pedindo instruções a Camara sobre as edificações de cazas e topumes de terreno do

patrimônio desta Cidade, posto em discução, deliberou a Camara que fosse nomeado uma comissão

para dar parecer a respeito, para a qual, o Presidente nomiou ao Reverendo Vigario, José Paulino

da Silva, o Cidadão José Alves Silva, e o Vereador Baptista, ordenando o Presidente que se oficiasse

aos nomiados, aos quaes se fornecesse copia do officio. Pelo Vereador Carvalho foi proposto que se

ordene ao Fiscal para obrigar aos Proprietarios desta Cidade, para com a máxima (...)

reconstruírem as ruas em frente das suas propriedades, com calçamentos e outras providencias que

fação disaparecer as ruinas das mesmas ruas, e que o mesmo Fiscal faça reconstrução nos

iscavamentos da Praça deste Edificio. Achando se adiantada a hora o Presidente levantou a seção

convidando aos Vereadores presentes a comparecerem amanhã as dez horas do dia, de que para

constar lavro a presente acta em assigna o Presidente e mais Vereadores, depois de lido pôr mim

Francisco Saturnino da Fonseca Secretario que o escrevy.

Matheus Tavares da Silva

Domingos Teixeira de Carvalho

Joaquim Antonio da Silva

José Maximiano Baptista

Ata completa de 10/01/1883.

Segue abaixo, parte de outra ata, que mostra a questão da organização das ruas:

Leo-se mais um officio do cidadão José Cornéllio de Oliveira Sobrinho,

apresentando uma proposta, e esta Camara, para numerar e pôr nomes nas ruas desta

Cidade. Pondo em discussão, a Camara não aceitou a proposta pôr não poder (...) em

quanto dispender dinheiro, que em outra ocasião (...) deliberarão a respeito64

.

Essa preocupação de querer organizar a cidade e investir em melhoramentos urbanos,

como o cuidado com ruas e praças e construções de prédios como escolas e teatros, se dava,

também, por conta do processo de modernização que o Brasil também passava na época. Na

64

Parte da ata de 16/01/1884.

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fase de expansão do capitalismo brasileiro, na transição do século XIX para o século XX, o

mundo passava pela Segunda Revolução Industrial, e o Brasil recebeu muitos investimentos

estrangeiros.

As transformações técnicas resultantes dessa Revolução fez com que se formasse no

país uma classe de pessoas que almejavam a modernização e urbanização das cidades, com a

implantação de serviços de infraestrutura, como as ferrovias, os portos e serviços urbanos

(transporte, energia, telefonia)65

. O Brasil desejava, e necessitava, de um processo de

evolução econômico e social.

A cidade de Varginha também acompanharia as modernidades que seriam implantadas

no Brasil, mas de uma forma mais limitada, pois as mudanças não chegaram em Varginha

com a mesma rapidez que chegaram, por exemplo, em São Paulo. O fato é que os vereadores

e a sociedade varginhense se esforçaram para a organização e evolução do município.

Dessa forma, a primeira medida a ser tomada para a absorção dessas transformações

seria a arrecadação de impostos para que os custos com as mudanças pudessem ser pagos.

Vemos, então, que logo no início de formação da cidade já se havia preocupação com a

cobrança dos impostos:

... que se cobre pôr cada um carro que atravessar o Municipio desta Cidade com

carregamentos para as estações da estrada de ferro de D. Pedro segundo, ou

mercados de qualquer ponto da Provincia, o imposto de dois mil reis pôr cada um, e

os que atravessarem o Municipio desta Cidade, com cargas de allugueis recebidos

nas estações da estrada de ferro de D. Pedro segundo, o imposto de quatro mil reis.

Excetuão se os carros deste Municipio, e aquelles que neste Municipio venderem

todo carregamento. E se marque o prazo de trinta dias aos proprietários de Eguas,

Cabras, e Cabritos para retirarem-os do Patrimonio desta Cidade66

.

Outra ata, do ano de 1887, dizia:

Havendo numero, o Presidente abrio a sessão; foi lida a acta do dia antecedente, e

posta em discução, foi aprovada. Pelo o Presidente, foi apresentada uma tabella de

impostos, para esta Camara, a qual, sendo sujeito a discrição de todas os vereadores,

foi julgada digna de aceitação, pôr isso, pelo mesmo Presidente, foi determinado que

o projecto de impostos, fosse apresentado a commissão de redação para dar seo

parecer na sessão de amanhã, e que, não se achando presente dois dos membros

dessa commissão, o senhor Ferreira de Carvalho, e Domingos de Resende, nomiava

para substituilos, durante a ausencia somente, os vereadores, Dias de Oliveira, e

Francisco Joaquim Silva 67

.

Esses impostos serviriam para a manutenção de obras necessárias ao desenvolvimento

da cidade, como a reforma de ruas e praças, a manutenção da cadeia pública e o pagamento de

65

SAES, Alexandre Macchione. Conflitos do Capital: Light versus CBEE na Formação do Capitalismo

Brasileiro (1898 – 1927). São Paulo: EDUSC, 2010. 66

Parte da ata de 11/01/1883. 67

Parte da ata de 13/01/1887.

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alguns funcionários da Câmara, como o Fiscal, o Procurador e o Secretário. Vejamos abaixo

parte de uma ata que trata de reformas nas ruas da cidade:

Havendo numero legal o Presidente abrio a sessão, foi lida a acta do dia antecedente,

posta em discução, foi aprovada. A Camara deliberou que, se officie ao Fiscal desta

Cidade para examinar as ruas e praças que necessitão de reformas, e obrigar os

proprietários a faserem os reparos necessários o mais (...) possivel, o que pondo em

discução, foi aprovado68

.

A ata de 09 de janeiro de 1888 continha uma parte dizendo que era preciso se

arrecadar impostos para que sua renda fosse aplicada em melhoras nas estradas e pontes da

região:

A Camara Municipal da Cidade da Varginha, de acordo com o artigo 194 do seo

actual codigo de Posturas, resolveo o seguinte: Artigo 1º - Fica fixado o imposto de

passagem para cada carro que transpuser este Municipio, com quaisquer

carregamentos, pôr ida e volta, em um mil reis. (Paragrapho 1º). A cobrança deste

imposto será effectuada por mais de agentes de livre nomeação do Presidente da

Camara. (Paragrapho 2º). Estes agentes entregarão mensalmente ao Fiscal desta

Cidade, as sommas arrecadadas, deduzida sua porcentagem que será de 15% quinse

por cento. (Paragrapho 3º). O Presidente da Camara, poderá encarregar da

arrecadação deste imposto aos respectivos Fiscaes. (Paragrapho 4º). Este imposto

será exigivel desde já e seo produto applicado em melhoramentos das estradas e

pontes do Municipio69

.

Outra ata, de 1912, já fala de prolongamentos e alargamentos de ruas da cidade, além

da aquisição de um prédio para a instalação do mercado municipal (que só foi inaugurado na

cidade 3 anos depois):

Em seguida o vereador Dr. Marcellino de Rezende foi apresentado um projeto de lei

autorizando o Agente Executivo a fazer os seguintes serviços (...) urgentes:

prolongar e alargar as ruas de S. José, dos Peixes, dos Commissarios, travessa de

Sta. Maria, travessa de S. Pedro, travessa da Rua Nova do Cruzeiro, becco do

Pretorio, até onde julgar conveniente (...) o largo do pretorio de accordo com as

rendas municipaes, adquirir o predio para o mercado e installal-o70

.

Para a melhor organização dos trabalhos dos vereadores, foi resolvido pelo então

presidente, Evaristo Gomes de Paiva, em 1886, que a Câmara contaria com comissões

permanentes, a fim de facilitar a realização das atividades:

Sessão do dia 8 de Janeiro de 1886

Aos oito dias do mez de Janeiro do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus

Christo de mil oitocentos e oitenta e sete, nesta Cidade da Varginha, no Paço da

Camara Municipal, achando-se presente os senhores Vereadores Justiniano de Paiva,

Pereira de Oliveira, Francisco Joaquim da Silva, Franco de Carvalho, Antonio

Naves, Teixeira de Resende, Reis Silva, e o Presidente Gomes de Paiva, havendo

numero, o Presidente abrio a sessão. O mesmo Presidente tomando a palavra, disse

68

Parte da ata de 13/01/1885. 69

Parte da ata de 09/01/1888. 70

Parte da ata de 12/01/1912.

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que para o bom desempenho do serviço da municipalidade, convinha que fossem

nomiadas commissões permanentes as quaes serião distribuidos os trabalhos da

mesma municipalidade relativos ao ministerio de cada uma dellas. Assim, foi

nomiada uma commissão de redação e pusturas composta dos Vereadores Ferreira

de Carvalho, Franco de Carvalho, e Domingos de Resende, uma outra comissão de

orçamentos e contas composta dos vereadores Ferreira de Carvalho, Dias de

Oliveira, e Justiniano de Paiva, uma outra comissão de obras publicas composta dos

Vereadores Domingos de Resende, Capitão Manoel dos Reis, e Franco de Carvalho,

e uma outra de saude e instrução publica composta dos vereadores Theodoro Naves,

Francisco Joaquim da Silva, e Dias de Oliveira, declarando que nenhuma

deliberação possa ser tomada pela a Camara relativo a economia e policia da

municipalidade sem que primeiro, sejão ouvido o parecer das respectivas

comissões71.

Com os exemplos das atas que foram dispostos acima podemos perceber a evolução da

formação de Varginha enquanto cidade, e como os vereadores trabalhavam para a

consolidação desse processo.

Essas questões estão, de certa forma, ligadas ao desenvolvimento da economia e da

sociedade varginhenses e, também, ligadas a formação do modo capitalista de produção na

cidade. Parte da ata que está descrita abaixo fala sobre a questão da instalação da luz elétrica

no município (que só foi inaugurada no ano de 1914):

Em seguida foi aprezentado um projeto de lei pelo o Agente Executivo para

contracctar com qualquer com qualquer empresa a installação da luz eletrica para a

cidade da Varginha, pelo espaço de vinte e cinco anos, e continha outras

disposições, sendo posta em discussão, em substituição do projeto; foi apresentado

um outro assignado pelos vereadores Coronel Olympio Liberal, Antonio Rotundo,

Domingos José Rodrigues, Capitão Antonio Justiniano de Paiva e Capitão Francisco

Horario Nogueira, de accordo com a autorisação approvada na acta anterior: Art.º.

Fica o Agente Executivo, o cidadao Manoel Joaquim da Silva Bittencourt autorizado

a levantar um emprestimo a juros de dez por cento ao anno para a installação eletrica

nesta cidade da Varginha (...) caso que seja possivel72

.

Numa sessão extraordinária de primeiro de fevereiro de 1912, mesmo não havendo

número legal de vereadores para a realização da reunião, foi-se discutido sobre as propostas

para a estreia da luz elétrica na cidade.

As discussões se estenderam até o ano de 1914, devido a escolha da melhor proposta,

dos materiais adequados e da quantidade de dinheiro necessária para a execução das obras.

Numa reunião extraordinária de 30 de março desse ano, houve a nomeação da

comissão que seria responsável pelo evento da inauguração da eletricidade. A ata da

instalação da luz dizia:

Acta da sessão especial da Camara Municipal da Cidade da Varginha em 12 de Abril de 1914.

71

Parte da ata de 08/01/1886. 72

Parte da ata de 02/08/1910.

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Presidente - Capitão Antonio Rabello da Cunha

Secretario – Evaristo de Paiva Junior

Aos doze dias do mez de Abril de mil novecentos e quatorze, as 18 horas (da tarde), no Theatro

Municipal, logar designado para esta sessão especial da Camara municipal da Cidade de Varginha,

presentes os Excelentissimos Senhores Doutores Wenceslau Braz Pereira Gomes, Delfim Moreira da

Costa Ribeiro e Dona Jovina de Figueiredo Frota, estes parágrafos: pelo Excelentissimo Senhor

Capitão Vice-Presidente da Câmara foi aberta a sessão, e convidou o Excelentissimo Senhor Doutor

Wenceslau Braz Pereira Gomes para tomar assento na presidencia, e disse que a Camara Municipal

de Varginha em homenagem aos Excelentissimos Senhores Doutores Wenceslau Braz Pereira Gomes

e Delfim Moreira da costa Ribeiro resolveu a dar o nome de Doutor Wenceslau Braz a Rua de São

Pedro e de Delfim Moreira a Rua Municipal. Em seguida declarou mais o Excelentissimo Senhor

Capitão Vice-Presidente que ia-se proceder a inauguração da luz elétrica. Tomou a presidencia o

Excelentissimo Senhor Doutor Wenceslau Braz Pereira Gomes e o Excelentissimo Senhor Doutor

Delfim Moreira da Costa ribeiro apertando o botão eletrico, fez-se a luz, orando nesta ocasião, em

nome da Camara, o Excelentissimo Senhor Doutor Walfrido Syborio (...). Eu Evaristo Paiva Junior

Secretario o escrevi.

Wenceslau Braz Pereira Gomes

Jovina Frota

Delfim Moreira

Antonio Rabello da Cunha

Francisco Horacio Nogueira

José Maximiano Baptista

(...)

(...)

Domingos de Figueiredo

Vivaldi (...)

Ata completa de 12/04/1914.

Na próxima página pode-se ver uma foto da Avenida Rio Branco, uma das principais

da cidade, com um poste de iluminação pública:

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Avenida Rio Branco no ano de 1918.

Nessa imagem, apesar da dificuldade de se observar, pode-se ver um poste de iluminação pública.

(http://www.varginhaonline.com.br/coluna/exibe_artigo.asp?codigo=1273)

Além dos assuntos de infraestrutura, a questão religiosa também merecia destaque em

algumas reuniões da Câmara: na reunião de 29 de outubro, se decidiu nomear uma comissão

de vereadores para fazer uma vistoria na Igreja da Matriz, a fim de serem observadas as partes

que necessitavam de melhorias. Em 17 de maio de 1920, outra vistoria seria feita na Igreja da

Matriz, em suas paredes, que se encontravam em “ruínas”. Abaixo segue uma foto da Igreja:

Igreja Matriz do Divino Espírito Santo no início de sua formação.

(http://www.portalcidade.com.br/sites/memoriadevarginha/arquitetura/index.htm)

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A sessão do dia 20 de abril de 1888 merece destaque por se tratar da questão dos

escravos na cidade no ano da abolição da escravatura, que é um assunto de suma importância

quando pensamos na constituição do sistema capitalista de produção. Na ata, a parte que

mencionava esse assunto dizia exatamente:

Pelo o Presidente, foi proposto que atendendo ao estado anormal em que se achão as

relações dos escravos para com os senhores e temendo um desastre para a lavoura,

em consequencia da imigração de escravos para os pontos em que são mais

protegidos na cenda da liberdade que buscão, esta Camara dirigisse a todos os

fasendeiros e passividores de escravos no municipio, um apello para uma reunião

nesta Cidade, no dia trez de Maio do corrente anno, afim de tratar-se da transsição

do trabalho servil ao livre, e que este apelo fosse publicado pela emprensa. Posta em

discução, a Camara aceita a presente proposta73.

Os estudos mostram que Varginha recebeu, primeiramente, apenas imigrantes

italianos, e em grande quantidade. Em 1888 as primeiras famílias de italianos chegaram a

Varginha. Já em 1920, além de italianos, compunham a população de Varginha alguns

alemães, argentinos, espanhóis e portugueses, além de um asiático, um austríaco, um francês e

um estadunidense74

.

Vimos as questões de organização e “embelezamento” da cidade, através da

arrecadação de impostos e da preocupação dos vereadores com as ruas e praças, o

alargamento e manutenção dessas ruas e a instalação da luz elétrica, ou seja, a cidade se

tornava moderna na época. A transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado

também quer dizer que Varginha caminhava rumo à consolidação de seu processo de

modernização. Além dessas questões citadas acima, as educacionais e culturais também

mereceram destaque nas reuniões da Câmara Municipal. Parte da ata de 21 de abril de 1884

afirmava:

Pelo Senhor Presidente foi proposto que se officiasse ao Inspector Geral da

Instrucção Publica da Provincia de Minas, agradecendo os livros que esta Camara

recebeo, para serem distribuídos com os alunnos pobres que frequentão as escolas

desta Municipio e para devolver a lista numero cento e cincoenta e cinco assignada,

foi aprovada75

.

A ata de 17 de outubro de 1887 também se referia a educação:

Recebeo-se um officio de Francisco Quintino da Costa e Silva, communicando a

esta Camara, que os exames do Collegio de Santa Cruz, dirigido por sua senhora,

73

Parte da ata de 20/04/1888. 74

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003. 75

Parte da ata de 21/04/1884.

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terão logar no dia vinte e dous do corrente, e tinha a honra de convidar a esta

Camara para assistir ... 76

.

Na reunião de 03 de agosto de 1891, foram lidos os seguintes ofícios:

2º Do Inspector Geral da Instrucção Publica do Estado pedindo providencias sobre a

irregularidade com que os professores publicos remethem os mapas de suas

escholas; 3º da mesma Inspectoria declarando que os exames das escholas comecem

no dia 1º de Dezembro do anno lectivo, havendo em seguida vinte dias de ferias,

ficando assim revogada a 1ª parte do art. 25 do (...) de 1º de Dezembro do anno

passado77

.

Em muitas reuniões se discutia sobre temas educacionais: na reunião de 13 de

setembro de 1912, por exemplo, foi criado um projeto autorizando o agente executivo a

despender anualmente a quantia de 400$000 (quatrocentos mil réis), sendo 100$000 (cem mil

réis) em cada fim de trimestre para a manutenção da Caixa Escolar de Varginha. O projeto

entraria em vigor a partir de 01/01/1913.

Já no dia 15 de julho de 1914, foi lido um requerimento propondo a subvenção para

uma escola noturna na cidade, com aulas de instrução primária. A Câmara liberaria 50$000

(cinquenta mil réis) mensais para o pagamento do professor. A proposta, sendo posta a votos,

foi aprovada em primeira discussão.

Na reunião do dia 02 de maio de 1918, o presidente da Câmara foi autorizado a fazer

doação de um terreno adquirido de um morador da cidade para a construção de um grupo

escolar. Já no dia 01 de agosto do mesmo ano de 1918, os próprios moradores do bairro

“Tacho” enviaram um requerimento aos vereadores pedindo a instalação de uma escola

municipal no bairro. Posto em discussão, resolveu a Câmara liberar a instalação. O professor

receberia pelos seus trabalhos a quantia de 500$000 (quinhentos mil réis) anuais.

Juntamente com os temas educacionais, os membros da Câmara também se atentavam

para assuntos culturais. Em 1901, com auxílio do Maestro Marciliano Braga, foi fundada uma

banda na cidade: Banda Musical Santa Cruz, que animava as festas religiosas e

acontecimentos sociais varginhenses. Em 1904, foi inaugurado o Theatro Municipal e em

1912, um Jardim Municipal.

Fica bem claro que Varginha se tornava uma cidade diversificada e movimentada. A

cidade tomava uma forma moderna e se urbanizava. Havia escolas, teatro, cinema, e até uma

banda musical. Pode-se observar que não só apenas o lado econômico era importante para os

vereadores, como a criação de impostos para a ampliação do município, mas também era de

grande relevância as questões sociais e culturais. Em 08 de outubro de 1917, o presidente da 76

Parte da ata de 17/10/1887. 77

Parte da ata de 03/08/1891.

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Câmara foi autorizado a despender até a quantia de 200$000 (duzentos mil réis) para o

aluguel de um campo para a cidade, o “Sport Club”. Abaixo segue uma imagem do campo:

Campo da Praça de Esportes.

(http://www.memoriasdevarginha.com/2010/10/fotos-varginha-antiga.html)

A proclamação da República, em 1889, mereceu especial atenção dos membros da

Câmara de vereadores varginhenses. No dia 22 de novembro de 1889, foi realizada uma

reunião extraordinária para registrar os fatos. Um trecho que revelou o entusiasmo da Câmara

para com a proclamação falava o seguinte:

O Cidadão prezidente, não havendo quem mais quizesse usar da palavra, ordenou ao

secretario que lesse em voz alta a proclamação dirigida por esta Camara aos seus

municipios, a qual é de teor seguinte: Concidadãos! Já devis ser conhecedores da

transformação pela qual passou, ao dia 15 do corrente, o Governo de nossa patria.

Esse acontecimento, que se deu sob a possivel ordem, (...) e tranquilidade (...) de

jubilo o mais grandiozo toda a (...). Foi mais uma prova do (...) espirito de

patriotismo do povo brazileiro que, tendo se mostrado vallente e (...) campos de

combate, tem (...) ao mundo que o contempla com assombro (...), que na (...) não

tem exemplo, de saber levar a efeito todas as revoluções e vencer todos os

obstaculos entrepostos ao seu engrandecimento é (...) não com o desonrrramento do

sangue (...). Salve, povo brazileiro! Diante deste facto estupendo, que só para ser

levado a effeito pelo povo que, mais que nenhum outro tem direito a gloria de (...) ao

mundo sabias e (...) lições; pelo povo (...) grandiozidade é ter grande (...) as florestas

de sua (...) como a vastidão de seus mares, (...) de vossos interesses, comporação (...)

Governo provizorio, cujos membros souberão, , com (...) que nos haviam sido (...)

concidadãos. A hora do perigo, passou. As palavras e (...) com que tem sido

recebida pela nação a noticia (...) tem sido (...) continuava a ser (...) pela (...)

distribuição da justiça, pela (...) a lei e pelo bem da pátria que o patriota Governo

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saberá prover. (...) pois, e num só (...) nossos sentimentos (...): Viva a

Republica Federal dos E. U. do Brazil! Viva o Estado de Minas Geraes! Viva o (...)!

Vivão os membros da (...)! E eu Totila Unser, secretario que o escrevi e assigno

(resta (...) pelos cidadãos Vereadores presentes e mais (...) e dos cidadãos que,

estando presentes, aderirão a (...). Encerrada a (...) de posse (...), o cidadão

prezidente levantou a sessão. No momento em que foi (...) para (...) a (...) foi coberta

de (...) o povo atirava sobre os (...). E nada mais havendo a se tratar, o Senhor

prezidente convida os Vereadores a comparecerem (...) na mesma sala para deliberar

de accordo com os (...) de (...) Republicano, sobre as providencias que (...) serem

tomadas. E foi, pelo mesmo prezidente, (...) suspensa a sessão, levantou novas ao

Governo Provizorio, Governador desde Estado (...). Eu Totila Unser, secretario a

escrevi78

.

Já no ano de 1890, a cidade foi elevada a sede de Comarca. Houve uma reunião com

vários representantes de cidades vizinhas. Apenas pequena parte da ata do dia pôde ser

compreendida, e dizia: “Acta da sessão solene da instituição da Comarca. Aos vinte dias do

mes de Maio de mil oitocentos e noventa, nesta cidade da Varginha, na salla do Edifício da

Intendencia, presentes os cidadãos: o Presidente e demais membros (...)”79

.

Varginha passava a ser responsável por assuntos que diziam respeito às cidades

vizinhas, como Carmo da Cachoeira, Nepomuceno, Paraguaçú, São Bento e Elói Mendes.

Uma das atas de 1912 afirmava: “Foi apresentado para segunda discussão o projecto

que autorisa o Presidente da Camara e Agente Executivo municipal a dispender mais a

quantia de um conto de reis no districto do Carmo da Cachoeira, foi aprovado”80

.

Numa outra reunião, no dia 13 de setembro de 1912, foi lido um requerimento do

senhor João Villela de Rezende, reclamando sobre o mau estado da estrada que passava do

Distrito do Carmo da Cachoeira até o povoado de São Bento. Pedia-se que fossem tomadas

providências para o melhoramento da estrada.

Ainda na reunião de 13 de setembro de 1912, foi lido um requerimento do Fiscal de

São Bento: “Foi presente a Camara um requerimento do Senhor Jose Virginio dos Reis,

Agente Fiscal de S. Bento, pedindo um auxilio para a construcção de uma pequena cadeia no

referido logar”81

.

Varginha crescia com o passar do tempo e, logo a sua história se constituía dentro da

região sul de Minas Gerais. De arraial, em 1806, para sede de comarca, em 1890, podemos

observar muitos acontecimentos importantes que contribuíram para a formação econômica na

cidade. Desde questões mais simples - como o calçamento e nomeação das ruas - até assuntos

de maior importância - como a criação de impostos, a instalação da luz elétrica e a criação de

escolas – se vê a cidade tomar uma nova forma e adquirindo os traços da modernidade. Um

78

Parte da ata de 22/11/1889. 79

Parte da ata de 20/05/1890. 80

Parte da ata de 31/07/1912. 81

Parte da ata de 13/09/1912.

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fato interessante, que esteve presente nas atas de Câmara, diz respeito à própria história da

cidade, quando escritores da época perceberam a necessidade de escrever sobre Varginha.

... o do Senhor Roque Rotundo, que autorizara o Senhor Presidente a conceder a

quantia de quinhentos mil reis, aos Senhores João Liberal e Sylvestre Fonseca como

auxilio para publicações de um Album deste Municipio, de accordo com a proposta

daquelles Senhores em seo officio de 28 de Julho deste anno82.

Em 1920, a Câmara resolveu adquirir exemplares do “Album”: “Foi posto em segunda

discussão o projecto que autorisa a acquisição de cem albuns da Varginha pela quantia de um

conto de reis, não havendo quem sobre o mesmo pedisse a palavra foi em seguida submetida a

votos sendo approvado”83

.

A transformação de Varginha numa importante cidade do sul de Minas Gerais é

claramente vista através das informações que estamos descrevendo. E não poderíamos deixar

de destacar a questão comercial na cidade através das atas da Câmara. Embora já tenhamos

mostrado que Varginha, ainda na transição do século XIX para o século XX, foi uma cidade

que conseguiu absorver, mesmo de forma um pouco limitada, os elementos necessários para a

formação de seu capitalismo – que são café, comércio, ferrovia, bancos, fábricas e transição

para o trabalho assalariado -, as atas da Câmara, em muitas reuniões, trouxeram discussões

acerca do comércio varginhense.

O que mais se notava nas reuniões, era a preocupação dos vereadores em relação à

coordenação dos estabelecimentos comerciais. Já em 1893, na reunião de 21 de agosto, os

vereadores decidiram que seria obrigação o fechamento das casas comerciais aos domingos e

dias santos às 16h. No dia 08 de setembro do mesmo ano, ficou decidido que ficariam isentos

dessa lei as farmácias, botequins, confeitarias, hotéis e bilhares. Os que descumprissem as leis

pagariam multa de 20$000 (vinte mil réis).

Essa resolução dos vereadores causou certa insatisfação na classe dos comerciantes,

que resolveu tomar providências. Dessa forma, na reunião de 26 de outubro de 1893, a ata

dizia:

Passando a tratar-se dos trabalhos ordinarios desse conselho, entrou em discussão a

resolução n:1 que determina o fechamento das portas, resolveu o conselho suspender

a execução desta medida até ulterior deliberação, em virtude do descontentamento

que a mesma medida causou á maioria dos comerciantes desta praça84

.

No ano de 1913, a Câmara voltou a tratar do assunto do fechamento das casas

comerciais em dias específicos e a determinação foi ainda mais rígida: os comerciantes

82

Parte da ata de 02/08/1917. 83

Parte da ata de 29/11/1920. 84

Parte da ata de 26/10/1893.

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deveriam fechar seus estabelecimentos às 13h nos dias deliberados pelos vereadores. Os

comerciantes, novamente, contestaram a medida:

Em seguida foi lido um requerimento do Senhor Jacintho Foresti apresentando

assignaturas de negociantes que protestam contra a lei que ordena fechar os

estabelecimentos commerciaes aos domingos a 1 hora, a Camara não o attendeu.

Pelo vereador Senhor Major Silva Bittencourt foi submettido a approvação da

Camara o seguinte projecto de lei: Lei nº do descanso municipal. Artº 1º. Em virtude

desta lei conservar-se-hão fechados aos domingos os estabelecimentos commerciaes

desta Cidade. Artº 2º. Exceptuam-se da presente lei os bares e confeitarias, que

poderão vender sómente as mercadorias constantes dos seus estabelecimentos,

mediante uma licença especial. Artº 3º. A licença de que trata o artº 2º sera requerida

a Camara annualmente. Artº 4º. Os bares e confeitarias que quiserem gozar os

beneficios do artº 2º pagarão annualmente 100$000 [cem mil réis] pela licença,

independene dos impostos a que estão sujeitos tais estabelecimentos. Artº 5º. Os

infratores da presente lei ficam sujeitos a multa de 50$000 [cinquenta mil réis] e ao

dobro na reincidencia. Artº 6º. As barbearias fecharão ao meio dia. §1º. Esta lei

entrará em vigor em Janeiro de 1914. Artº 7º. Revogam-se as disposições em

contrario. Tendo sido julgado objeto de deliberação foi posto em discussão foi

approvado em primeira85

.

Os comerciantes, mais uma vez, discordaram dessa decisão da Câmara Municipal e

protestaram, logo no início do ano de 1916:

Depois de feita a chamada verificou o Senhor Presidente haver numero legal

declarou aberta a sessão. Foi lido em expediente uma representação firmada por

quarenta e um negociantes pedindo para revogar a lei que ordena fechar as casas

commerciaes aos domingos a uma hora da tarde, a Camara tomou conhecimento do

mesmo86

.

Dessa forma, a Câmara resolveu o seguinte:

Depois do que o Senhor Presidente enviou a comissão de Legislação, justiça,

Redação das Leis, Commercio e Industria a representação dos negociantes lida em

expediente para dar parecer, tendo sido julgado deliberação foi apresentado pelo

vereador rotundo projecto seguinte: A Camara Municipal resolve: Artº 1º. As casas

commerciaes deste municipio deverão fechar as 14 ½ horas todos domingos e dias

santificados. Artº 2º. Fica tambem prohibida a venda de qualquer genero depois

dessa hora. Artº 3º. Ficará mantida a multa aos infratores desta lei a mesma que

regulava a anterior. Artº 4º. Revogam-se as disposições em contrario. Sendo posto

em discussão e em seguida a votos foi o mesmo approvado em primeira discussão

votando contra o vereador Major Silva Bittencourt por ter sido quem apresentou a

Camara outra acta o projecto convertido em lei que manda fechar o commercio aos

domingos as 13 horas87

.

Essa mudança em relação ao fechamento das casas comerciais não agradou a maioria

dos comerciantes da cidade e, mais uma vez, eles apresentaram uma reivindicação à Câmara,

já na reunião do dia 05 de janeiro de 1916:

85

Parte da ata de 23/12/1913. 86

Parte da ata de 04/01/1916. 87

Parte da ata de 04/01/1916.

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56

Depois de feita a chamada verificou o Senhor Presidente haver numero legal

declarou aberta a sessão. Foi lido em expediente uma petição protesto assignada por

57 negociantes e empregados contra a lei hontem posta em discussão que manda

fechar as casas commerciaes as 14 ½ horas todos os domingos e dias santificados,

foi a mesma enviada a comissão de Legislação, Justiça, Redação das Leis,

Commercio e Industria para dar parecer88

.

Parece que as discussões em relação ao horário do fechamento dos estabelecimentos

comerciais terminaram por ali, mas não se sabe ao certo se a Câmara concedeu ou não o que

foi pedido pela classe dos comerciantes. Entretanto, essas discussões mostram que a

sociedade organizada, desde aquela época, conseguia ser ouvida e fazia com que sua situação

melhorasse, pelo menos em partes.

Outra questão relacionada ao comércio que merece destaque, até maior que as

discussões sobre o horário que deveriam fechar as casas comerciais, é a criação do mercado

municipal. No ano de 1911, no dia 02 de janeiro, começaram as primeiras discussões sobre a

construção de um mercado municipal na cidade.

No final do mesmo ano, no dia 11 de novembro, foi oferecido para a Câmara o terreno

de um morador da cidade (Augusto Lopes de Vasconcellos), pelo valor de 3:000$000 (três

contos de réis), para a construção do mercado. Seria aceito em pagamento apólices a juros de

10% ao ano. Todavia, os vereadores resolveram não construir o mercado naquele momento.

As discussões sobre a construção do mercado voltaram a acontecer no ano de 1913,

quando no dia 27 de janeiro a Câmara resolveu nomear uma comissão que pudesse averiguar

onde se encontrava o melhor terreno para a construção do mercado municipal, pois o terreno

que havia sido oferecido, no final do ano de 1911, foi desconsiderado pela Câmara.

Assim, em 25 de junho de 1913: “Pelo vereador Capitão Rabello foi appresentado um

projecto que aucthoriza o Presidente da Camara a mandar levantar uma planta do mercado

sendo julgado objecto de deliberação foi approvado em primeira discussão”89

.

No dia 13 de outubro de 1914, as discussões sobre a construção do mercado municipal

já estavam adiantadas e numa reunião extraordinária, foi comentado sobre como seria a

captação de recursos para a execução do prédio. Segue abaixo a ata completa dessa reunião:

88

Parte da ata de 05/01/1916. 89

Parte da ata de 25/06/1913.

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57

Acta da sessão extraordinária de 13 de Outubro de 1914

Presidente – Evaristo de Souza Soares

Secretário – Evaristo de Paiva Júnior

Aos treze dias do mez de Outubro de 1914 em a sala da residencia de Dona Anna Marcellina

de Rezende, logar designado para as sessões da Camara Municipal da Cidade de Varginha, a

hora regimental, ahi presentes os vereadores Major Evaristo Soares, Capitão Antonio

Rabello da Cunha, Domingos Ribeiro de Rezende, Amaro Prado e José Maximiano Baptista,

faltando com causa participada o vereador Major Silva Bittencourt e sem ella os demais

vereadores. Depois de feita a chamada verificou o Senhor Presidente haver numero legal

declarou aberta a sessão, e disse que tinha convocado a presente sessão para se tratar de

contrahir um emprestimo para a construcção do mercado desta Cidade. Pelo Capitão

Antonio Rabello da Cunha foi apresentado o projecto que auctorisa o Presidente e Agente

Executivo a contrahir o emprestimo até a quantia de vinte contos (20:000$000), por meio de

escriptura publica a juros nunca superiores a 10% ao anno, para a construcção do edificio

do mercado publico na praça do mesmo nome, correndo as despesas pela verba deste

emprestimo, sendo julgado objecto de deliberação foi approvado em primeira discussão. Pelo

mesmo vereador Capitão Rabello da Cunha foi apresentado um outro projecto que auctoriza

o Presidente da Camara a pôr em haste publica a construção total e esgotando mercado

publico de conformidade com o orçamento apresentado, sendo julgado objecto de

deliberação foi approvado em primeira discussão. E nada mais havendo a tractar-se mandou

o Senhor Presidente lavrar a presente acta e convidou os Senhores vereadores para nova

sessão amanhã a fim de se prosseguir no mesmo assumpto. Eu Evaristo gomes de Paiva

Junior Secretario da Camara o escrevi.

Evaristo de Souza Soares

Antonio Rabello da Cunha

Amaro Prado

José Maximiano Baptista

Domingos Rabello Rezende

Ata completa de 13/10/1914.

No dia 14 de novembro de 1914, numa sessão extraordinária, o principal assunto da

reunião dizia respeito às propostas para a construção do mercado. A ata dizia o seguinte:

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58

Em seguida o Senhor Presidente disse que tinha convocado a presente reunião para

apresentar a Camara o parecer da Comissão de Obras Publicas sobre as propostas

para construção do mercado publico. Tendo a Camara estudado o referido parecer

foi approvado, ficando assim escolhida a do Senhor Antonio Ribeiro do mesmo

edifício90

.

Em 1915, no dia 13 de setembro, começou-se a elaborar a tabela de impostos do

mercado municipal, que entraria em vigor já assim que o mercado fosse inaugurado. Pelo que

se lê nas atas da Câmara, o início das atividades no mercado ocorreu no próprio ano de 1915.

Mas no ano de 1919, o mercado foi colocado venda.

Abaixo segue uma fotografia do mercado municipal, mostrando o primeiro prédio que

foi construído e o segundo, que conserva ainda suas características até os dias de hoje:

Mercado Municipal.

Na primeira foto, do ano de 1940, pode ser visto o primeiro prédio do mercado municipal, que foi

inaugurado em 1915 e demolido em meados de 1960. A segunda foto é do final da década de 60.

(http://www.blogdomadeira.com.br/memorias-de-varginha/memorias-de-varginha-mercado-municipal/)

A parte de fora do mercado municipal ainda se encontra praticamente como mostra a

segunda foto. Houve mudanças nas ruas e nas construções próximas ao mercado, mas ele

mesmo mudou pouco. A estrutura é a mesma. A maioria dos comerciantes que trabalham

90

Parte da ata de 14/11/1914.

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dentro do estabelecimento vende frutas e verduras, mas o local também conta com casas

artesanais, restaurante, lanchonete e salão de beleza.

Um mercado municipal naquela época de 1915 significava muito para Varginha. Era

sinônimo de modernização e avanço rumo ao crescimento econômico. Com a expansão da

cidade, o mercado ocupa hoje apenas um pequeno espaço do comércio varginhense, mas na

época, era muito mais que isso, era um empreendimento que mostrava a importância do

comércio varginhense para as cidades vizinhas.

As atas da Câmara, desde 1882 até 1920, possuem inúmeras informações, e bastante

detalhadas, sobre o desenvolvimento da economia varginhense. Todavia, destacamos aqui

apenas as principais e que acreditamos ter contribuído para o processo de desenvolvimento

do capitalismo na cidade, como a criação dos impostos para financiamento das obras de

infraestrutura e urbanização de Varginha, a abolição da escravatura, a instalação da luz

elétrica, as relações com outros municípios, e a questão comercial, com a criação do mercado

municipal.

Foram esses os fatores básicos, segundo a leitura das atas da Câmara, que fizeram com

que Varginha crescesse e avançasse em seu processo de modernização e urbanização. Abaixo,

observa-se uma foto de Varginha em 1930, uma cidade já mais dinamizada e movimentada:

Varginha – 1930.

Pela fotografia, da Avenida Presidente Antonio Carlos, pode ser observado o primitivo prédio do

Theatro Capitólio, que foi construído na cidade no ano de 1920. Vê-se que Varginha está mais urbanizada, com

um importante movimento de pessoas e de carros.

(http://www.blogdomadeira.com.br/memorias-de-varginha/memorias-de-varginha-1930/)

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já foi dito neste trabalho, os documentos históricos fornecem informações de

suma importância para a história de uma cidade. Sem essas informações não há história, não

há o que contar nem o que compreender acerca do nascimento e desenvolvimento de uma

região. A leitura desses documentos é muito rica, muito detalhista e com eles, é como se

tivéssemos, literalmente, a história da cidade em nossas mãos.

Nós utilizamos esses documentos para o melhor entendimento da formação da cidade

de Varginha, nos aspectos econômicos e sociais, na transição do século XIX para o século

XX. Dessa forma, tentamos absorver desses documentos os principais acontecimentos ligados

a economia – que está intimamente ligada a questão social – do município.

Com a análise dos inventários post mortem, observamos que a elite agrária da cidade

de Varginha forneceu condições importantes para que a cidade se expandisse rumo ao seu

processo de modernização econômica. Ao investir seu monte-mor, principalmente, nos bens

imóveis, a elite varginhense pensava, primeiramente, em manter riqueza guardada e assegurar

que seus herdeiros estivessem, de certa forma, bem amparados. Mas também, manter a

riqueza, sobretudo, nos bens imóveis, fazia com que as terras desses inventariados se

tornassem algo produtivo para a economia.

Mesmo que a cultura cafeeira – que teve importante contribuição para o surgimento da

região sul de Minas Gerais - representasse pouco do total da extensão territorial dos dois

inventariados, como já vimos, se observa também, nesses inventários, que havia muitas

plantações de culturas não identificadas. Essas “outras culturas” poderiam ser mais café, mais

cana-de-açúcar, milho, feijão ou outra mercadoria que fosse comercializada localmente, ou

ainda, que fosse enviada às cidades vizinhas, tornando a região mais dinamizada devido ao

comércio desses alimentos.

Vimos também como Matheus Tavares da Silva investiu para que a ferrovia passasse

pela cidade. As ferrovias são essenciais para a formação do sistema capitalista em uma região.

Sem elas, a economia caminha a passos muito lentos, se perde tempo e dinheiro. Uma ferrovia

significava maior dinamização para a sociedade varginhense, pois o transporte de mercadorias

ocorreria, a partir da chegada da estrada de ferro, de uma forma muito mais rápida. Com

certeza a chegada da ferrovia na cidade, já no ano de 1892, além de facilitar a situação da

economia varginhense, facilitou a de cidades vizinhas ao município.

Por último, podemos dizer que, mesmo que a quantidade dos bens imóveis se

sobressaia em relação a quantidade dos outros bens no total do monte mor dos inventariados,

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não se deve desconsiderar a existência das dívidas ativas e passivas na composição do

patrimônio dos inventariados. O fato desses moradores possuírem essas dívidas, mostra que

havia circulação de dinheiro pela economia varginhense, ou até quem sabe, por outras cidades

sul-mineiras. Assim, nota-se que havia certa preocupação em emprestar e receber dinheiro,

que rendiam juros para essa elite.

Dessa forma, com a análise mais detalhada dos inventários da elite de Varginha, nós

podemos perceber que esses moradores contribuíram para o desenvolvimento econômico de

Varginha na transição do século XIX para o século XX. Seja com suas plantações, com os

esforços para a passagem da ferrovia ou, em menor parte, com a diversificação do dinheiro

nas dívidas ativas e passivas, essa elite teve um papel acentuado na constituição de Varginha

como uma importante cidade para o sul mineiro.

As atas da Câmara Municipal forneceram, também, informações que foram muito

relevantes para nosso entendimento sobre a formação e evolução de Varginha. Desde o início

das reuniões da Câmara, vimos a preocupação dos vereadores e da sociedade varginhense em

manter uma cidade organizada e “embelezada”. As primeiras atas tratavam, basicamente, de

questões de infraestrutura. Era preciso calçar as ruas da cidade, colocar nomes nessas ruas,

arrumar os muros das casas, retirar animais das ruas, deixar Varginha com jeito de cidade.

Depois que a cidade já estava caminhando com as questões de infraestrutura sendo

resolvidas, era preciso tornar a cidade mais moderna, como ocorria com muitas das regiões

brasileiras. Dessa forma, era preciso arrecadar impostos que seriam convertidos em melhorias

locais. Varginha precisava de igrejas, de um cemitério municipal, de abolir a escravidão

(como ocorria no restante do país). Era necessário a construção de escolas, de um teatro, de

um prédio para sediar a Câmara Municipal. A nova cidade sul-mineira precisava também de

organizar suas estradas de terra e as pontes da região; mas com o passar dos anos, a chegada

da ferrovia também era preciso. Precisávamos de comércios, de fábricas, de um mercado

municipal. Modernidades que foram chegando à cidade conforme o tempo passava.

Essas e outras muitas questões, talvez menos relevantes, estão todas elas descritas nas

atas da Câmara Municipal. Todo o movimento que a cidade passou na transição do século

XIX para o século XX, especialmente do período de 1882 até 1920, foi captado por esses

documentos, que descrevem de uma forma muito detalhista cada decisão tomada pelos

vereadores varginhenses.

Tantos os inventários post mortem como as atas da Câmara Municipal forneceram

informações que nos ajudaram não só a entender o que foi a cidade de Varginha na passagem

do século XIX para o XX, mas também compreender o que a cidade representa hoje para a

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região sul de Minas Gerais. Se no período passado a cidade era considerada importante,

principalmente, na questão comercial, tendo se desenvolvido economicamente de forma muito

rápida se comparada, por exemplo, com suas vizinhas Campanha e Elói Mendes, hoje a

cidade também continua sendo importante para o sul do estado.

Varginha ainda atende as cidades vizinhas em muitos aspectos. Na questão de cultural,

contamos com os espetáculos que ocorrem no Teatro Capitólio, patrimônio da cidade desde

1927. Na questão educacional, a cidade oferece muitas escolas de nível fundamental e médio,

além de instituições de nível técnico, uma universidade federal e outras instituições de ensino

superior que beneficiam, além das cidades vizinhas, os próprios moradores varginhenses com

projetos sociais. Em relação ao comércio, Varginha exporta, principalmente café, tanto para

outras regiões de dentro do Brasil como para fora do país, e possui um comércio local intenso

para o tamanho da cidade, que possui atualmente aproximadamente 120 mil habitantes.

Através dos documentos históricos, entendemos o que foi Varginha na transição do

XIX para o XX: uma cidade que nasceu e foi tomando sua forma particular, se destacando,

sobretudo, com suas atividades comerciais. Mas que crescia em questões de infraestrutura, no

campo da educação, da cultura e dos serviços prestados às cidades vizinhas. Com esses

documentos, compreendemos ainda que muitas das decisões que foram tomadas naquela

época, tanto pela elite agrária, na forma de investir seu monte-mor, como pelos vereadores em

suas inúmeras reuniões, se refletem no que a cidade é atualmente e no que representa para o

sul de Minas Gerais: uma cidade moderna e dinamizada dentro da realidade sul-minera.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CARDOSO, Fernando Henrique. Mudanças Sociais na América Latina. São Paulo:

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COSTA, Fernando Nogueira da. Bancos em Minas Gerais (1889-1964). 1978. Dissertação

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FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22 ed, São Paulo: Editora Nacional,

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FONTES PRIMÁRIAS

Inventários depositados no Arquivo Municipal de Varginha:

Antonio Justiniano dos Reis (1919)

Matheus Tavares da Silva (1905)

Teophila Ximenes (1908)

Atas da Câmara depositadas no Museu Municipal de Varginha:

Período: 1882 a 1920