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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS FLÁVIO REZENDE CUNHA LUIS FELIPE PIGATTO MIRANDA SILVA Implicações ambientais dos depósitos tecnogênicos em Itapecerica – MG e Paulínia – SP. ALFENAS/MG 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

FLÁVIO REZENDE CUNHA

LUIS FELIPE PIGATTO MIRANDA SILVA

Implicações ambientais dos depósitos tecnogênicos em Itapecerica – MG e Paulínia –

SP.

ALFENAS/MG 2011

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FLÁVIO REZENDE CUNHA

LUIS FELIPE PIGATTO MIRANDA SILVA

Implicações ambientais dos depósitos

tecnogênicos em Itapecerica – MG e Paulínia – SP.

Relatório do Trabalho de

Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Geografia Bacharelado

na UNIFAL-MG, como parte dos

requisitos para graduação e

obtenção do título de geógrafo.

Orientador: Ronaldo Luiz Mincato

ALFENAS/MG 2011

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 3

2. JUSTIFICATIVAS 6

3. OBJETIVOS E ÁREA DE ESTUDO 8

4. MATERIAIS E METÓDOS 15

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 16

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 40

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

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1 INTRODUÇÃO

A sociedade com o decorrer dos tempos desenvolveu técnicas que através da

evolução se tornou algo movido pelo impulso, por interesses e também por

necessidades, no tempo e espaço do planeta Terra, onde, como conseqüência de

todo esse processo, resultou em alterações do equilíbrio dos sistemas naturais,

produzindo dessa forma os depósitos tecnogênicos. Estes, por sua vez, são os

resultados do acúmulo de todos os processos e dinâmicas em que temos a

apropriação do relevo como conseqüências na formação desses depósitos

superficiais do ambiente geológico, geomorfológico e geográfico.

No caso do Brasil não foi diferente, onde na segunda metade do século vinte

houve um acelerado processo de industrialização, sendo este caracterizado pela

falta de uma gestão territorial, gerando, conseqüentemente, uma urbanização

desordenada e promovendo a criação de um novo padrão sócio-espacial nas áreas

urbanas.

Conforme as palavras de Peloggia (1998), a atividade humana passa a ser

qualitativamente diferenciada da atividade biológica na modelagem da Biosfera,

desencadeando processos (tecnogênicos) cujas intensidades superam em muito os

processos naturais. Dessa maneira, a atividade humana sobre a natureza tem

conseqüências em três níveis: na modificação do relevo, na alteração da dinâmica

geomorfológica e na criação de depósitos correlativos comparáveis aos quaternários

(depósitos tecnogênicos) devido a um conjunto de ações denominadas

tecnogênese. Sendo assim, neste trabalho será abordado o homem enquanto

agente geológico e, assim, vetor principal da tecnogênese através de sua evolução

tecnológica e suas implicações ambientais.

O homem passa ser interpretado como um agente considerável na alteração

da natureza, sendo os depósitos tecnogênicos oriundos da ação antrópica e de

contexto diferencial na compreensão da escala do tempo geológico. Os depósitos

tecnogênicos de acordo com Fanning e Fanning (1989), apud Peloggia (1998),

são classificados nas seguintes quatro categorias: 1) materiais “úrbicos” (do inglês

urbic) relativos a detritos urbanos, materiais terrosos que contêm artefatos

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manufaturados pelo homem moderno, freqüentemente em fragmentos, como tijolo,

vidro, concreto, asfalto, pregos, plásticos, metais diversos, dentre outros; 2)

materiais “garbicos” (do inglês garbage) que são materiais detríticos como lixo

orgânico, de origem humana, e que, apesar de conterem artefatos em quantidades

muito menores que a dos materiais úrbicos, são ricos em matéria orgânica para

gerar metano em condições anaeróbias; 3) materiais “espólicos” (do inglês spoil),

que corresponde a materiais terrosos escavados e redepositados por operações de

terraplenagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras obras civis. Incluem-se os

depósitos de assoreamento causados por erosão acelerada; e 4) materiais

“dragados”, oriundos de dragagem de cursos d’água e, em geral, depositados em

diques, topograficamente alçados em relação a planície aluvial.

Vários tipos de classificação são sugeridos como a de Peloggia (1999), que

propõe: 1) depósitos de primeira ordem ou geração, a partir da sistemática geral

proposta por Oliveira (1990), que diferencia depósitos construídos (resultante da

ação humana direta; por exemplo, aterros), induzidos (resultantes de processos

naturais modificados, por exemplo, assoreamento produzido por erosão antrópica) e

modificados (depósitos naturais preexistentes, mas alterados, como solo

contaminado); e 2) de segunda ordem, depósitos remobilizados (por exemplo,

depósitos de fundos de vale, formados por escorregamentos de aterros) e

retrabalhados.

Concordando com as palavras de Nolasco (2002), temos outra classificação

quanto à formação dos depósitos tecnogênicos, em: 1) diretos: depósitos

construídos (realizados pelo homem, como aterro) e induzidos (realizados pela ação

humana com uso planejado de outro agente, como são os depósitos resultantes de

escorregamentos provocados em minerações); e 2) indiretos: resultantes da soma

de ações do agente homem, sem intencionalidade, com as de outros agentes (por

exemplo, leques de escorregamento de encosta em áreas urbanas por acúmulo de

lixo e peso de construções).

A alteração da dinâmica morfológica pelo homem e a formação de um novo

contexto geomorfológico alterado é o que será abordado, visando primeiramente

entender como a ação humana, tecnogênese, transforma e escultura o relevo.

Posteriormente, espera-se compreender melhor a gênese das novas formas de

relevo a partir da dinâmica de ocupação e de apropriação ou uso dos recursos

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naturais, as quais têm papel fundamental na morfogênese dos depósitos que tem

origem tecnogênica.

Por fim, para avaliar as conseqüências ambientais de tais feições, seus

impactos, propormos soluções para a redução destes, através da integralização de

dados sobre os depósitos tecnogênicos em dois municípios distintos.

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2 JUSTIFICATIVAS

Os depósitos tecnogênicos resultam das atividades antrópicas, as quais

através do desenvolvimento de técnicas que foram aprimoradas ao longo do tempo.

Consequentemente, a evolução de tais técnicas acaba influenciando na diversidade

de formas e intensidades da ação do homem no ambiente natural, onde todos esses

processos tecnógenos resultam na transformação de paisagens naturais em

paisagens culturais.

Além do conteúdo, a forma de ocorrência dos depósitos tecnogênicos

modernos está associada às técnicas de ocupação territorial, específico do seu atual

estágio de evolução, segundo as circunstâncias históricas específicas da região

considerada (OLIVEIRA, 1994).

Diante das formas presentemente adotadas de uso e ocupação do solo e

suas implicações no ambiente natural, não é mais possível estudar os processos

naturais do ambiente natural recentes desconhecendo as intensas e profundas

alterações provocadas pela ação antrópica; ou seja, o homem vem sendo assim o

mais recente e poderoso agente geológico do planeta.

Este processo teve início com as primeiras atividades que envolviam a

conquista das técnicas de produção de alimentos, (homem como produtor de

alimentos e não mais como coletor), sendo a agricultura a principal atividade de

origem nos processos tecnológicos do homem, onde a relação do poder de

conquista e dominação estabelece o conceito de que a ação antrópica exerce o

poder de transformar a natureza para atender seus interesses. E deste modo

segundo as menções de Suguio (2001), o homem age como um agente geológico

muito ativo, o qual homem tende a deixar com freqüência crescente vestígios de sua

presença em sedimentos, na geomorfologia e nos ambientes em geral.

A ação antrópica, conforme as palavras de Wilkinson (2005), tem uma maior

ordem de magnitude e importância em relação à movimentação de sedimentos, do

que a soma de todos os outros processos naturais atuantes na superfície do planeta.

Fato o qual se relaciona como é lembrado por Abreu (1985), que enquanto as

propriedades geoecológicas se originam de processos biológicos e morfodinâmicos

presididos pelas leis biológicas, físicas e geoquímicas, que cunham as formas e lhes

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conferem conteúdo plástico, as propriedades sócio-reprodutoras são definidas pelo

interesse imediato dos homens pelo relevo como recurso, face ao seu conteúdo

(solos, depósitos minerais etc.), ou como suporte de edificações de um espaço

construído.

Toda essa dinâmica influi na alteração da paisagem e somente a sociedade

tem tamanha influência na velocidade das mudanças que observamos no ambiente

natural, o qual interage com o homem, onde como resultado desta interação

acarreta em danos e impactos no ambiente natural que nunca foram antes mexidos,

que altera sua dinâmica natural existente há milhares de anos. Em determinadas

localidades, como nos municípios analisados, num período curto de tempo, tal

processo natural está quase irreconhecível, justificando a importância do estudo

deste que se mostra tão intenso na dinâmica superficial terrestre.

Em situações socioeconômicas diferentes como as que estão sendo

estudadas e relatadas, percebemos que independentemente do local, do tempo e

das estruturas sociais, as implicações ambientais geradas serão de alguma forma

semelhantes. Isso se deve ao fato de tais implicações serem advindas da atividade

antrópica. Os processos alterados podem até ser semelhantes, porém todas estas

modificações são geradas por ações/atividades distintas, as quais se determinam

pelos interesses unicamente econômicos e políticos, sem a consulta de opinião da

sociedade, a parte mais afetada.

Deste modo se faz necessário entender e analisar as atividades e efeitos

formadores, pois em cada local o depósito será presidido de uma ou mais ações

distintas ou consecutivas, para depois construir e/ou desenvolver técnicas de

prevenção e/ou remediação contra os efeitos danosos ao ambiente natural gerado

que afetam não somente a qualidade natural intacto e suas dinâmicas, como

também a sociedade em seus mais diversos escalões.

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3 OBJETIVOS E ÁREA DE ESTUDO

Os objetivos principais deste estudo são: caracterizar os principais depósitos

tecnogênicos e suas implicações nos ambientes instalados, que correspondem às

áreas dos municípios de Itapecerica – MG e Paulínia - SP, pois representam

testemunhos da ação humana nos ambientes natural, físico e biológico; identificando

artefatos manufaturados que permitem realizar a análise histórica da ocupação

humana nos territórios estudados e propor ações que reduzem ou previnem os

impactos resultantes dos depósitos tecnogênicos em ambos os municípios.

O município de Itapecerica situa-se na região centro-oeste do estado de

Minas Gerais, como pode ser verificado na Figura 01, entre as latitudes 20°38’21”S e

20°12’51”S, e longitudes 45°23’53”W e 45°52’8”W, co m altitude média de 840 m, e

segundo o IBGE (2010) e possui uma área territorial de 1.042 Km², com uma

população total de 21.377 habitantes, sendo a população urbana de 16.503 e a rural

4.874.

Figura 1: Localização de Itapecerica no estado de Minas Gerais e na região centro-oeste mineira. Organizada pelo autor.

Seguindo as palavras de Nunes et al. (2009), quanto à hidrografia Itapecerica

é o local da nascente do Ribeirão Vermelho, Rio Itapecerica, o qual nasce no Morro

do Calado que, após passar pelo todo sítio urbano de Itapecerica, na junção entre os

rios Gama e Santo Antônio, passa a ser conhecido por Rio Itapecerica. Suas águas

banham três municípios: Itapecerica, São Sebastião do Oeste e Divinópolis. Depois

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de percorrer parte da região centro-oeste de Minas, o Rio Itapecerica torna-se um

afluente do Rio Pará, que está localizado na Sub-Bacia do Rio Pará e na Bacia do

São Francisco. O município apresenta um clima tropical, marcado pela distinção de

duas estações, uma chuvosa, no verão e primavera, e outra seca, no inverno e

outono.

De acordo com Nunes et al. (2009), os solos encontrados no município são:

Latossolo Vermelho e o Amarelo, Cambissolo, ambos Distróficos, apresentando uma

textura argilosa e um relevo ondulado a suavemente ondulado. Os Latossolos

ocorrem sob relevos menos movimentados, geralmente, encostas suaves e topos de

morros, já os Cambissolos, ocorrem nas proximidades dos afloramentos em meia

encosta, estes são mais susceptíveis a erosão.

Em termos geológicos, Itapecerica está no sul do Cráton do São Francisco

que, localmente, constitui-se de rochas metamórficas de alto grau: ortognaisses,

granulitos, migmatitos e anfibolitos, com depósitos aluviais ao longo das calhas dos

rios. Sengundo Zacchi et al. (2007), a região esta compreendida particularmente no

domínio do complexo Campo Belo, sendo a porção meridional do Cráton do São

Francisco composta por terrenos granito-gnaissicos arqueanos, rochas

metassedimentares paleoproterozoicas e coberturas sedimentares plataformais

neoproterozoicas. Como pode ser observado na Figura 2.

O uso e a ocupação do solo da região tiveram como fator estimulante a

inconfidência mineira. De acordo com as palavras de Carrato (1968), logo após a

inconfidência mineira acelera-se o esgotamento das minas de ouro e ocorre um

movimento migratório inverso do ocorrido no auge da mineração aurífera, sendo tal

migração acarretada pelo surgimento de todos os tipos de perseguições aos

habitantes das cidades auríferas.

Ainda concordando com as menções de Carrato (1968), as cidades do ciclo

do ouro passaram por um processo de esvaziamento, em que os mineradores, os

clérigos e escravos se distanciaram das cidades buscando longínquas terras e deste

modo vão empurrando a linha divisória da Província de Minas. Os migrantes partiam

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Figura 2: Mapa Geológico da região de Itapecerica, obtido a partir da integração de dados aerogeofísicos e dados geológicos. ZACCHI et al. (2007).

em massa na busca de novas aventuras, encontrando imensas florestas e terras

desabitadas; às vezes ainda tentavam a mineração de ouro ou de gemas, mas

acabavam sem saídas e abriam currais, fazendas e pequenos negócios.

Começaram então a levantar as capelas, criaram freguesias ou vilas. Com isso, logo

após o dia 21 de abril de 1792, as imediações dos centros auríferos, ainda

inexplorados, começaram a ser ocupados, tendo como conseqüência a criação de

novos municípios, tais como: Itapecerica (1792), Formiga (1831), Piumi (1841) e

Pará de Minas (1848).

As principais atividades econômicas encontradas no município atualmente

são a extração mineral, a agropecuária, com destaque para as criações de bovinos e

aves juntamente com o plantio de eucaliptos, e principalmente o setor terciário.

A extração mineral causa grandes mudanças no relevo do município visto que

pode se encontrar extrações de areias clandestinas, pedreiras em plena atividade ou

já desativadas, como também a mineração da grafita que ocorre em grande escala.

Estas atividades são tidas como impactantes porque degradam o meio natural e têm

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conseqüências na transformação das formas de relevo, formando novas dinâmicas

nos processo exógenos.

Já o município de Paulínia está localizado (FIGURA 3) entre as latitudes

22°50’30’’ S e 22°38’46’’ S; e longitudes 47°17’42’ ’ W e 47°00’50’’ W, politicamente

dentro da RMC (Região Metropolitana de Campinas), geograficamente na região

centro-leste do estado de São Paulo e também está inserido na megalópole

brasileira que compreende as regiões metropolitanas de Campinas, Grande São

Paulo, Vale do Paraíba Paulista e Fluminense, Baixada Santista e Grande Rio de

Janeiro, com uma população estimada de mais de 43 milhões habitantes.

Ao norte (N) limita-se com os municípios de Cosmópolis e Holambra, a leste

(L) com Campinas e Jaguariúna, ao sul (S) com Campinas e Sumaré e a oeste (O)

com os municípios de Sumaré e Nova Odessa, como observado na Figura 03.

Figura 3: Localização de Paulínia no estado de São Paulo e na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Modificado pelo autor (2011). Fonte: IGC. Cidade Universitária. São Paulo, 2007.

Paulínia é uma das principais cidades da RMC, possui como principal

característica e um de seus atrativos ser a sede do maior Pólo Petroquímico da

América Latina, centrado na Refinaria de Paulínia (REPLAN), o qual está localizado

na região norte do município. Como conseqüência dessa intensa atividade industrial,

possui elevados índices de poluição atmosférica, sobretudo nos bairros de Betel e

na região do Pólo Petroquímico, onde se concentram as grandes empresas do setor

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químico e petroquímico o que resulta em boa parte da oferta de empregos no

município e do elevado Produto Interno Bruto (PIB).

O município de Paulínia conforme dados do IBGE (2010) ocupa uma área de

139 km2 e possui uma população de 82.146 habitantes. É banhado pelos rios Atibaia

e Jaguari, e pelos ribeirões do Quilombo e Anhumas.

Em termos geomorfológicos, está localizado na Depressão Periférica Paulista,

entre os planaltos ocidental e atlântico (Serra do Mar e Serra da Mantiqueira); e com

um território homogêneo, registrando-se declividades baixas, de no máximo 23%, e

pequenas variações de altitude, de até 115 metros, caracterizando um relevo suave

(CAMPOS; MATIAS, 2010).

Apresenta um solo também homogêneo e de boa qualidade na maior parte da

área do município, sendo caracterizados como latossolo vermelho-amarelo,

latossolo vermelho, em sua maioria, e argissolos vermelho-amarelo (FIGURA 4).

Para Prado (1997), os solos da área de estudo são originados de alteração de

soleiras diabásicas, rochas intrusivas básicas e arenitos da formação Itararé e Rio

Claro.

A geologia paulinense (FIGURA 5) é caracterizada por rochas de três grupos:

rochas sedimentares do Subgrupo Itararé, rochas intrusivas básicas da Formação

Serra Geral e por depósitos superficiais Cenozóicos, esse último subdividido em dois

subgrupos, a Formação Rio Claro caracterizada por sedimentos neocenozóicos e os

depósitos aluvionares (FULFARO; SUGUIO, 1968).

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Figura 4: Mapa pedológico da região de Paulínia. Fonte: OLIVEIRA, J.B et al.,1999.

O Subgrupo Itararé localiza-se mais na base e é constituído por uma grande

variedade de rochas, como arenitos, diamictitos, siltitos, lamitos e ritmitos. Na região

de Paulínia também se pode encontrar nesse grupo lentes de carvão. O grupo das

rochas Intrusivas Básicas é formado por rochas magmáticas intrusivas alcalinas, que

ocorrem sob a forma de soleiras e diabásios. Possuem em geral caráter toleítico e

são constituídas deaugitas, olivinas, pigeonitas e plagioclásios (COSTA; KIANG,

2003).

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Figura 05: Mapa geológico da região de Paulínia. (IG - INSTITUTO GEOLÓGICO –SP. 1999).

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

Na realização do trabalho foi analisada a maior quantidade de dados dos

acervos públicos dos municípios de Itapecerica – MG e Paulínia - SP, considerando

os aspectos históricos da dinâmica urbana, aspectos físicos (geológicos,

pedológicos e hidrográficos), sociais, econômicos e culturais.

Também foram estudados documentos cartográficos, como fotografias

aéreas, cartas topográficas, imagens de satélites e diversos tipos de mapeamentos,

englobando aspectos naturais e humanos. Além das práticas de campo, como foram

apresentadas e discutidas no referido trabalho através das figuras, e da elaboração

do mapa utilizando o SIG Ilwis.

Portanto, neste trabalho foram espacializados e classificados os principais

depósitos tecnogênicos oriundos dos usos e ocupações dos solos nos referidos

municípios. Estes depósitos são definidos e marcados por profundas alterações do

relevo e promovem, ainda, a criação, indução, intensificação ou alteração dos

processos geomorfológicos, sendo então geradores e formados por novas dinâmicas

externas.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A interferência antrópica, através de sua dinâmica que modifica de maneira

acelerada e intensa a superfície do Planeta, em especial pelo modo de organização

da sociedade atual, resulta em ações que possuem o poder de transformar e criar

novas paisagens; podemos então relacionar estes efeitos e/ou práticas nos objetos

de estudo, sendo os municípios de Itapecerica – MG e Paulínia – SP, para

efetivamente avaliar as alterações ambientais geradas e suas implicações.

O poder público em ambos os casos mostrou-se solícito em um primeiro

momento e atuou como meio para obtenção de informações. Porém no decorrer da

pesquisa em Itapecerica, muitas informações das quais foram passadas não eram

condizentes com a realidade, pois não foi encontrado no município, aterro sanitário

algum, apenas um lixão em que o lixo doméstico vai se amontoando diariamente em

grandes pilhas. Não existe nenhum tipo de tratamento e impermeabilização para o

chorume, o que torna a deposição de lixo doméstico no município um grande

problema a resolver.

No caso do município de Paulínia o poder público mostrou-se bastante

burocrático e desinteressado quanto ao fornecimento e disponibilização de

informações. Os planejadores que foi feito o contato não sabiam ou não

disponibilizavam materiais para o auxílio no estudo e compreensão da dinâmica do

município.

Os estudos mostram que o ser humano com sua atividade dotada técnica é

capaz de apropriar e alterar as características naturais do ambiente que vive em

curtos períodos de tempo, que são muito menores em comparação ao tempo

geológico e da maioria dos processos naturais. Os resultados obtidos pela

interpretação dos mapas e fotografias aéreas sobre as características físicas,

naturais e modificadas revelam a importância da realização de uma perspectiva

histórica no diagnóstico dos níveis de degradação ambiental já produzidos, devido

ao fato da atividade humana se expressar por feições que permanecem impressas

como marcas nas paisagens.

Portanto a identificação de feições importantes possibilitou o auxílio no

reconhecimento dos depósitos tecnogênicos, os quais se representam como locais

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em que houve a remoção da mata nativa e assim apresenta solo exposto, como

também foi evidenciado em reflorestamentos, culturas diversas e monoculturas

como o cultivo de eucalipto. A expansão urbana e intensa modificação como em

minerações, aterros de terraplanagem e lixões, intensificam também os processos

em áreas susceptíveis a depósitos de erosão, o que acarreta nas modificações

ambientais que alteram a dinâmica atual, como é evidenciado nos assoreamentos

provindos dos ravinamentos e erosão das áreas acima citadas.

Em Itapecerica – MG a ação antrópica mostrou-se como sendo o principal

vetor atuante na remoção da cobertura vegetal, na contaminação do solo e subsolo,

mananciais e lençol freático; também sendo atuante na aceleração de processos

como: erosões e ravinamentos, assoreamentos, degradação e intervenções em rios,

cortes de relevo para mineração e na deposição de objetos manufaturados, lixo

doméstico e de rejeitos minerários.

No município o problema encontrado com o assoreamento de seus rios é

preocupante, como o evidenciado na Figura 6, a qual nos mostra o assoreamento

causado pela atividade antrópica, devido à ocupação irregular do leito de seus rios,

a deposição de lixo no rio e também a falta de tratamento do esgoto urbano e rural o

que além de contaminar a qualidade da água, reduz a capacidade de carga e fluxo

do rio, gerando significativas implicações ambientais.

O assoreamento e a contaminação do Ribeirão Vermelho que é causada

pelas atividades econômicas e humanas é algo preocupante para o município,

devido ao fato do ribeirão ser um afluente indireto do Rio São Francisco e também

pela sua água ser usada no abastecimento de parte da população na cidade de

Divinópolis - MG.

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Figura 6: Ribeirão Vermelho, afluente da Sub-Bacia do Rio Pará. Depósito tecnogênico espólico induzido. Coordenadas: Latitude 20°28'19"S; Longitu de 45°07'27" W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

A conscientização da população é uma meta de extrema importância para a

recuperação da qualidade da água e vida do ribeirão, visto que sua remoção do

entorno é algo praticamente inviável; mas deveria haver também por parte do poder

público uma maior fiscalização das atividades poluidoras e responsabilização por

tais atos danosos, como também subsidiar o tratamento do esgoto doméstico.

Em Itapecerica a coleta e deposição dos resíduos sólidos ficam a cargo da

prefeitura, a qual ainda não possui um plano de gerenciamento de resíduos sólidos,

outro agravante é quanto a coleta e disposição dos entulhos, pois não existe

preocupação alguma com relação ao seu destino final. Grande parte da população

encontra dificuldades para eliminar parte de seu lixo e o abandona em terrenos

baldios na beira das rodovias (FIGURA 7).

A deposição inadequada destes rejeitos é capaz de mostrar o grau da

conscientização ambiental da população em geral, esta deposição provoca

alterações como contaminação do solo, e em locais com alto grau de declividade,

também induz ao processo de escorregamentos. A responsabilidade pela deposição

dos materiais úrbicos em lotes baldios é do proprietário, que deve sempre manter

seu lote limpo, e deveria ser fiscalizada pelo poder público, pois tal ato vai contra a

política ambiental do município.

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Figura 7: Depósito tecnogênico úrbico construído à beira da rodovia MG-260. Coordenadas: Latitude

20°28’09”S; Longitude 45°05’12”W. Fotografia realiz ada pelo autor no dia 22/06/2011.

Quanto à deposição final dos resíduos sólidos domésticos o município de

Itapecerica e seus distritos têm como destino final de tais um lixão (FIGURA 8). O

lixão tem inúmeros impactos ambientais negativos, devido a sua localização em um

topo de morro, no qual toda vegetação original foi removida o que provoca erosão

acelerada, que ocasiona ravinamentos e vossorocas (FIGURA 9), como também a

falta de coleta do chorume e dos gases gerados pelo acúmulo de lixo, o que garante

significativas implicações ambientais, pois estes resíduos causam contaminação dos

mananciais, das águas subterrâneas, e como também do solo da região.

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Figura 8: Lixão de Itapecerica, Depósito tecnogênico gárbico construído. Coordenadas: Latitude 20°24’79”S; Longitude 45°09’35”W. Fotografia realiz ada pelo autor no dia 18/06/2011.

Os lixões ainda são bastante encontrados nos municípios do país e apesar de

já existirem leis para a normalização da deposição dos resíduos sólidos domésticos,

a área do lixão em Itapecerica – MG deveria ser interditada, para sua recuperação e

descontaminação, pois não atende as normas básicas de um aterro sanitário e em

caráter de urgência deve-se elaborar um estudo de impacto ambiental (EIA) para

levantar possíveis locais em que a degradação ambiental gerada fosse menos

significativa e não apresentar risco para a população.

O solo quanto mais claro for, mais arenoso ele é, assim conseqüentemente

sua susceptibilidade a erosão e vossorocamentos, como podem ser observadas na

figura anterior, que devido ao uso inadequado do solo com monocultura de eucalipto

e pastagens, acelerou os processos de erosão e deposição, o que gerou uma

vossoroca como também pequenas feições erosivas.

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Figura 9: Vossoroca próxima ao lixão, causada pela erosão acelerada devido à retirada da cobertura vegetal. Coordenadas: Latitude 20°24’797”S; Longitu de 45°09’357”W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

As características do arcabouço geológico do município contribuem bastante

para as atividades econômicas exercidas em tal, as quais alteram de maneira

significativa a geologia e a geomorfologia, visto que a principal empresa do

município é uma mineração, de grafita, e além desta encontra-se várias outras do

mesmo ramo explorando rochas ornamentais e também um local de retirada

clandestina de areia.

Tais atividades minerarias implicam em alterações ambientais tecnogênicas,

pois para a mineração da grafita primeiramente tem-se a retirada da vegetação e

posteriormente remoção do solo gerando um depósito de rejeitos (FIGURA 10), um

depósito de materiais impróprios para o aproveitamento econômico, estéreis

(FIGURA 11), uma barragem de rejeitos (FIGURA 12), como também a gênese de

novas formas de relevo (FIGURA 13) devido à abertura da cava. E para a mineração

das rochas ornamentais são realizados cortes no relevo para a retirada de tais, o

que implica em alterações superficiais que causam assoreamento dos córregos e

contaminação do solo e recursos hídricos.

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Figura 10: Depósito tecnogênico espólico construído, formados por rejeitos, próximo à área de mineração. Coordenadas Latitude 20°26’26”S; Longitu de 45°09’28”W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

Figura 11: Materiais impróprios para o aproveitamento econômico, estéreis, oriundos da mineração da grafita e ao fundo uma pedreira desativada. Depósito tecnogênico construído espólico. Coordenadas Latitude 20°25’91”S; Longitude 45°09’03 ”W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

Os depósitos tecnogênicos construídos espólicos, como evidenciados nas

figuras anteriores são uma das principais características do processo de mineração,

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o qual exige em quase todos os casos a remobilização de significativa quantidade de

materiais, advindos da abertura e exploração da cava, o que irá gerar grandes

quantidades de rejeitos, como também grandes quantidades de materiais sem valor

econômico, estéreis, os quais são depositados de maneira controlada e deve-se

evitar e reduzir o fluxo de água em tais depósitos devido à facilidade dos sedimentos

serem erodidos e deste modo alterar a dinâmica do ambiente físico da região.

Figura 12: Barragem de rejeitos da mineração. Coordenadas: Latitude 20°26’05”S; Longitude 45°09’18”W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

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Figura 13: Cava de mineração, área alterada pela ação antrópica, com processos e dinâmicas alterados. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

Na cava de mineração encontrada nas redondezas da área urbana, as

dinâmicas externas não estão totalmente sendo controladas, porque há evidência de

processos erosivos e até ravinamentos em seu talude, possivelmente pelo uso dado

ao solo logo acima, o qual apresenta a monocultura de eucalipto intercalada com

pastagens, as quais são fatores que influem, alteram e aceleram o escoamento

superficial das águas e deste modo auxiliam nos processos erosivos e

assoreamento dos rios e da barragem.

A alteração intensa causada pela atividade antrópica no ambiente físico, pode

levar a barragem de rejeitos a um esgotamento de sua carga mais rápida que o

previsto, devido à cobertura vegetal do seu redor e a alteração dos processos da

cava.

Deste modo as atividades econômicas que se desenvolvem no município,

principalmente a mineração como pode ser verificado nas figuras anteriores e nas

Figura 14 e Figura 15, contribuem de forma significativa para a modificação das

características físicas e naturais, pois o homem na busca cada vez maior por novos

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recursos minerais, para a construção civil e fabricação de outros materiais,

encontrou em tal município um importante aliado, visto que importantes atividades

modificadoras da dinâmica natural, dos ambientes físico e biológico são

desenvolvidas, caracterizando assim um significativo local de alterações

tecnogênicas.

Figura 14: Área de extração de gnaisse em Itapecerica próxima a rodovia MG-164. Coordenadas: Latitude 20° 29’82”S; Longitude 45°07’95”W. Foto re alizada pelo autor dia 18/06/2011.

Esta área de mineração de gnaisse em atividade é regularizada dentro das

normas ambientais para funcionamento. O produto gerado é obtido através do

desmonte da rocha através de explosivos, técnica a qual tem implicações ambientais

como o barulho, a poeira e a obtenção de um grande número de sedimentos que

podem ser lançados a grandes distâncias que ocasiona o assoreamento dos riachos

localizados em altitudes menores da área minerada.

Na figura abaixo também se observa uma mineração de gnaisse que devido a

problemas de mercado e falta de incentivo econômico foi obrigada por optar em

suspender suas atividades minerarias, pois a qualidade do gnaisse era inferior e

alguns problemas ambientais surgiram após este abandono. Porque a suspensão

das atividades não culminou na recuperação da área ou em sua destinação para

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outros fins até a atualidade. A vegetação de todo o local não foi recomposta, por isso

encontram-se alguns escorregamentos, que são intensificados e provocados pelos

materiais gerados da atividade de mineração e sem interesse econômico, os quais

estão espalhados por toda a área, o que traz perigos quanto à possibilidade de

ocorrer escorregamentos e danos a terceiros.

Figura 15: Área de extração de gnaisses desativada por problemas econômicos e não recuperada, próxima a MG-164. Coordenadas: Latitude 20°26’14”S; Longitude 45°08’04”W. Foto realizada pelo autor dia 18/06/2011.

Outra evidência da atuação humana na natureza como agente geológico

modificador do relevo encontrou-se em uma propriedade rural localizada ao sul do

município, em que foi constatada uma intervenção na forma de uma barragem de

concreto (FIGURA 16), outra logo acima com sacos de areia e um desvio (FIGURA

17) para o aproveitamento da água da cachoeira, o que acarretou em um acúmulo

significativo de sedimentos arenosos no local (FIGURA 18), devida as barragens

criadas, os quais são dragados e retirados clandestinamente.

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Figura 16: Barragem de concreto, sobre gnaisse, construída em uma cachoeira próxima ao município. Coordenadas: Latitude 20°32’48”S; Longitude 45°08’1 9”W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

Figura 17 Barragem de sacos de areia que ocasiona acúmulo em excesso de sedimentos arenosos. Depósito tecnogênico espólico induzido. Coordenadas: Latitude 20° 32’ 48”S; Longitude 45°08’19”W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

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Figura 18: Sedimento acumulado ocasionado pelas barragens, local de retirada clandestina de areia, pouco dragada. Coordenadas: Latitude 20°32’48”S; Lo ngitude 45°08’19”W. Fotografia realizada pelo autor no dia 18/06/2011.

A barragem sobre o gnaisse e os desvios criados em tal curso d’água

interferiu significativamente para a alteração dos processos dos ambientes físico e

biológico, e assim intensificou o processo de assoreamento e na indução de criação

de depósitos de sedimentos, pela diminuição na capacidade de carreamento do rio.

Para solucionar, seria necessária uma inspeção do órgão competente, para avaliar e

quantificar o impacto e degradação ambiental do ambiente já alterado e deste modo

partir para uma regularização da obra realizada, estabilizar os processos existentes

e devolver ao rio sua capacidade de transportar seus sedimentos.

Nos municípios analisados, conforme a literatura especializada, os processos

modificados pelas ações antrópicas tem conseqüências que podem ser relacionadas

e abordagem, no que diz respeito a formas, processos, formações e depósitos

superficiais, especificamente, na alteração do relevo e nas modificações fisiográficas

da paisagem natural.

No município de Paulínia-SP em função da intensa ocupação antrópica aliada

à considerável atividade industrial, possibilitou o surgimento de características

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referentes e representativas no contexto do tecnógeno, as quais foram identificadas,

analisadas e estudadas as transformações e alterações pela atuação antrópica na

área do município de Paulínia.

A Figura 19 nos mostra as alterações que foram diagnosticadas, sendo

primeiramente na mudança da própria paisagem natural, onde a remoção da mata

ciliar nas margens do ribeirão Anhumas resultou no processo de erosão e

assoreamento da área, assim como observado na Figura 6, nota-se também que a

atividade agrícola na atualidade está dominando essa região, com destaque para a

monocultura de cana-de-açúcar no caso. Conseqüentemente também apresenta

alteração no solo do entorno da área impactada, mostrando que atividades agrícolas

também contribuem para os processos de alteração natural.

Isso pode ser compreendido como o avanço das atividades humanas sem

considerar a vulnerabilidade ambiental de determinada área, além disso, a jusante

do ribeirão apresenta alteração geoquímica da água do mesmo, pois o recurso

hídrico ali presente atravessa a região do Pólo Petroquímico estabelecido no

município, onde infelizmente grande parte dos resíduos é despejada, o que causa de

determinada maneira alguma alteração no recurso hídrico.

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Figura 19: Fotografia do Ribeirão Anhumas. Ribeirão Anhumas – Foto obtida em campo dia 06/06/2011. Coordenadas Geográficas: Latitude 22°45 ’56,1’’ S; Longitude 47° 06’01,9’’ W.

Através das fotografias na Figura 20 pode-se constatar o descarte clandestino

de lixo nas margens da estrada, sendo classificados como depósitos gárbicos,

úrbicos e espólicos, de acordo com Peloggia (1999); repetindo a exemplo de

Itapecerica como mostrado na Figura 7.

Tendo como características do solo local o latossolo vermelho, argiloso;

sendo este originário de rocha vulcânica, também presente na região do município,

como observado na figura; apesar desse tipo de solo ser de difícil infiltração fica a

precaução de qualquer tipo de contaminação do mesmo devido ao processo de

decomposição do material ali depositado, gerando alteração na geoquímica da

camada superficial e subsuperficial do solo, além da contaminação do lençol

freático, o que futuramente pode inviabilizar a utilização daquela área.

A necessidade de medidas de prevenção e/ou remediação para esta área

torna-se prioritária, e dessa maneira fica presente o descaso da sociedade com o

ambiente natural.

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Figura 20: Fotografia da área as margens da estrada Intermunicipal (Rhodia). Foto obtida em campo dia 06/06/2011. Coordenadas Geográficas: Latitude 22°45’40,5’’S; Longitude 47°07’00,3’’W.

Na Figura 21 percebe-se que as margens do rio estão descoberta da mata

ciliar, ou com vegetação de pouca relevância para proteção do recurso hídrico; mas

pode - se constatar através de observação visual alguma significativa mudança na

composição da água, isso é acarretado devido à proximidade do rio com as

indústrias presentes no Pólo Petroquímico.

Portanto, como citado na Figura 19, ocorre uma alteração geoquímica, seja

na água e/ou no solo próximo do rio, resultando aparentemente em alterações na

dinâmica natural.

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Figura 21: Fotografia do Rio Atibaia. Rodovia Professor Zeferino Vaz, entre Paulínia –SP e Cosmópolis –SP. Foto obtida em campo dia 06/06/2011. Coordenadas Geográficas: Latitude 22°44’42,9’’S; Longitude 47°09’34,5’’W.

A próxima área observada (FIGURA 22) nota-se nitidamente o processo de

assoreamento do recurso hídrico, sem vegetação ciliar, apresenta lixo depositado

nas margens e no curso d’ água (gárbico), composição química da água

visivelmente alterada, constata-se o processo de eutrofização, crescimento de

vegetação característica de poluição; e encontra-se um problema sócio-econômico

nas proximidades das margens, a presença de uma moradia clandestina, sendo

ocupado por cidadãos marginalizados, e/ou segregados da sociedade.

O que foi descrito, mostra o despreparo político que devidamente tem

obrigações por zelar, sobretudo quando se refere à população que abriga de

maneira precária a área relatada; onde um município que apresenta grandes

recursos financeiros devido às atividades industriais presentes, não se

responsabilizar pelos cidadãos que habitam, representa a má intenção social, e

conseqüentemente o ambiental sofrerá maiores impactos negativos.

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Figura 22: Córrego situado nas proximidades da Avenida Antonio Piva. Foto obtida em campo dia 06/06/2011. Coordenadas Geográficas: Latitude 22°46 ’12,3’’S; Longitude 47°09’51,6’’W.

O lago artificial (FIGURA 23) localizado em parque urbano encontra-se em

processo de depósito de assoreamento, eutrofização, alteração geoquímica da

água, contaminação com materiais oleosos, e apresenta o crescimento de

vegetação na superfície do lago.

Nesta área fica notável que o homem que desconhece a dinâmica natural,

desestabiliza toda a paisagem, onde técnicas simples de prevenção sobre impactos

são deixadas de lado; e, portanto o local que teria a finalidade de lazer e recreação

torna-se mais um incômodo para a gestão pública, gastos desnecessários e

possíveis danos ao ambiente natural que ali existia, ficou marcados por anos, até

que medidas de recuperação sejam postas em prática.

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Figura 23: Lago artificial localizado a montante do ponto anterior, sentido sul, aproximadamente 500 metros de distância. Foto obtida em campo dia 06/06/2011. Coordenadas Geográficas: Latitude 22°46’23,1’’S; Longitude 47°09’50,2’’W.

O último ponto de análise representado pelo córrego próximo a Estação de

Tratamento de Esgotos (ETE) Paulínia, e através da Figura 24 percebe-se o

assoreamento com eutrofização intensa no leito; a vegetação nas margens sendo

reflorestada.

Esta área transmite a idéia que está em processo de recuperação,

principalmente porque se situa ao lado da ETE de Paulínia, portanto a empresa de

saneamento que abastece o município parece se importar com a recuperação desta

área, sendo nada mais que obrigação da mesma; mas ainda como mostra a Figura

24, nas proximidades do córrego à presença da agricultura, no caso a monocultura

de Cana-de-açúcar, fortemente instalada na região do município, o que pode resultar

em implicações geoquímicas na área da micro-bacia.

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Figura 24: Córrego vizinho a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Paulínia. Foto obtida em campo dia 06/06/2011.Coordenadas Geográficas: Latitude 22°45’52,5’’S; Longitude 47°10’47,4’’W.

Em Itapecerica – MG uma cidade que se encontra estagnada

economicamente na atualidade, mas já teve seu auge por volta de uns 190 anos

atrás quando os migrantes saíram em busca de novos locais para minerar o ouro e

cogitaram a possibilidade de ser um bom local para tal atividade, enquanto uns

procuravam ouro nos rios, outros se ocupavam com as atividades como pecuária e

agricultura e ambos os grupos ocupavam as margens do Ribeirão Vermelho, ou

seja, estas são atividades que modificam profundamente a dinâmica existente e

assim provocam novas feições.

Na atualidade por volta de 1940 a atividade da mineração volta ao município

com a descoberta da grafita, também um pouco antes o gnaisse, atividades as quais

se estendem até hoje e são fatores fundamentais nas implicações ambientais e

depósitos encontrados, que são constituídos pela ação tecnogênica.

No caso de Paulínia – SP a ocupação de seu território foi acelerada nas

últimas décadas, por conta da instalação de grandes indústrias químicas, o que

contrasta com Itapecerica, e foi incentivada por sua localização geográfica, pois está

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perto de rodovias importantes, como também de centros de tecnologias e do

principal centro econômico do país, grande São Paulo.

Empresas se instalaram e foram cada vez mais atraídas pelo grande pólo

industrial que se formava, e deste modo resultou num significativo crescimento

acelerado através das dinâmicas socioeconômicas de um importante centro urbano

da RMC, e conseqüentemente apresenta um dos PIBs per capita mais significativos

do país.

A partir dos levantamentos realizados foram gerados dois mapas de

localização dos depósitos tecnogênicos, Figura 25 e Figura 26 cada uma do

referente município, o que possibilitou através das análises realizadas, desenvolver

reflexões sobre a tecnogênese e de suas implicações ambientais em diferentes

realidades.

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Figura 25: Mapa de localização dos depósitos e alterações diagnosticadas no estudo. Neste caso Itapecerica – MG. Elaborado pelo autor. Fonte: IBGE (2010) modificado.

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Figura 26: Mapa de localização dos depósitos e alterações diagnosticadas no estudo. Neste caso Paulínia-SP. Elaborado pelo autor. Fonte: IBGE (2010) modificado.

Tabela 1: Tabela referente aos depósitos encontrados nos respectivos municípios. Organizada pelos

autores.

De acordo com a Tabela 1, nota-se que os depósitos tecnogênicos não estão

relacionados a locais específicos; e neste caso verifica-se a semelhança dos tipos

de depósitos com exceção do depósito do tipo dragado, onde se distingue devido às

atividades de mineração, que apresentam maior destaque em Itapecerica, no caso

paulinense é de pouca expressão, mas de uma maneira geral os tipos de depósitos

se assemelham; o que nos significa os mesmos erros sendo praticado nas regiões

TIPOS DE DEPÓSITOS ITAPECERICA - MG PAULÍNIA - SP DRAGADOS 1 - ESPÓLICOS 3 3 GÁRBICOS 1 1 ÚRBICOS 2 2

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distintas, então se pode considerar que de modo geral a sociedade age de maneira

semelhante, ou seja, a falta de controle gerou esses depósitos.

Ao observar e analisar os mapas gerados nota-se em Itapecerica – MG que

os depósitos são profundamente determinados pelo arcabouço geológico, o qual

determina onde serão realizadas tais atividades econômicas. Sendo então as

implicações tecnogênicas e ambientais formadas pelas atividades minerarias, em

partes pelas atividades da população por falta de conscientização ambiental e pela

conivência do poder público para com a degradação ambiental.

E em Paulínia – SP as implicações ambientais e tecnogênicas estão ligadas

principalmente com as atividades industriais, porém neste caso as atividades

industriais atuam como poluidoras e geradoras de resíduos sólidos, os quais são

depositados nos rios e ribeirões ou em áreas inadequadas, e aliando as atividades

agrícolas também impactantes através do uso de técnicas inapropriadas; não

respeitando a exigências das leis ambientais em ambos os casos.

O que causa inúmeras implicações ambientais como a poluição de recursos

hídricos e solos de toda região do município, e como o município se localiza numa

das regiões mais povoadas do Brasil, e freqüentemente apresenta problemas no

abastecimento de água, este importante recurso esta sendo ainda mais limitado por

conta do descaso ambiental, recomenda-se com urgência programas que visem à

recuperação e a proteção dos recursos hídricos na região.

Segundo Chemekov (1982), as áreas contaminadas são também

classificadas como um depósito tecnogênico, só que modificado, e que se

caracterizam por depósitos naturais que foram alterados tecnologicamente através

da contaminação pela percolação de efluentes, que podem ser conseqüência da

disposição inadequada de resíduos industriais, atividade mineral, agricultura

(pesticidas/agrotóxicos), vazamento de combustíveis, chorume e outros poluentes

que venham a alterar as características naturais destes depósitos.

E para Oliveira (1994) as áreas submetidas à terraplanagem como

particularmente fornecedoras de sedimentos, dada a exposição de materiais

terrosos completamente desprotegidos e altamente vulneráveis à erosão.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foram reunidos dados e informações que depois de

analisados, resultaram nas conclusões que se seguem. A complexidade que envolve

a natureza, sendo o espaço natural onde ocorrem constantes transformações, e

tendo homem como principal agente alterador desta dinâmica natural, tendo este a

capacidade de transformar para se adaptar ao ambiente em que vive, para assim

atender às suas necessidades, resulta na relação sociedade-natureza.

O acompanhamento e entendimento desta dinâmica são essenciais para a

implantação de uma gestão territorial eficiente, cabendo aos órgãos públicos o

compromisso de guiar e assegurar a boa qualidade em todas as atividades que

gerem qualquer alteração no ambiente natural, através de profissionais competentes

e que abranjam esta grande diversidade de conhecimento, inter-relacionando os

espaços: natural, social e econômico; resultando no conceito de sustentabilidade;

assim como a população de fiscalizar tais modificações no município que residem.

Portanto, temos o homem como um recente agente geológico, que age de

maneira extremamente intensa e de modo acelerado, de forma com que a natureza

não se reestruture a tempo. Por isso, alguns especialistas dessa área da ciência,

como os citados anteriormente, consideram que o planeta Terra está passando por

um novo período geológico, chamado de tecnógeno, ou quinário, onde a

humanidade esta em completo predomínio sobre a superfície terrestre.

Como foi visto nas principais atividades econômicas encontradas nas

referidas cidades, muitos problemas ambientais são acarretados pela intervenção da

atividade humano no ambiente natural de modo a gerar alteração nos processos e

dinâmicas do ambiente físico. É importante então realizar alguns estudos sobre a

qualidade e o impacto ambiental de tais áreas onde se encontram os depósitos

tecnogênicos, para assim saber qual o tipo de recuperação a ser feita. Nos rios e

ribeirões analisados foi encontrado um grande grau de assoreamento, degradação e

contaminação, por efluentes domésticos e industriais, sendo necessária a realização

do tratamento desses recursos hídricos, uma vez que tais mananciais são de grande

importância para a sociedade.

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Outro fato agravante evidenciado é com relação à mineração, pois ocorrem

alguns problemas ambientais como a erosão de sedimentos, devido à abertura da

cava, e remoção de cobertura vegetal. Para estabilizar os processos erosivos em

áreas de mineração, é necessário a construção de canaletas para dinamizar o

escoamento superficial das águas e, deste modo, evitar maiores problemas como

grandes eventos como escorregamento.

Cabe ressaltar que não há locais específicos para ocorrência de tais

processos, pois os depósitos podem ser encontrados em fundos de vale, encostas,

planícies aluviais e também em topos de morro, ou seja, a ação humana dotada de

tecnologia, a ação tecnogênica, pode intervir e modificar qualquer ambiente natural.

Sendo necessário deste modo, um planejamento que abranja e seja adequado para

as atividades potencialmente degradantes, visto que tais interferem nas dinâmicas

dos recursos hídricos, solos e ar das localidades estudadas, produzindo assim

impactos negativos para as populações locais. A necessidade de controle, tendo a

prevenção e a recuperação de locais atingidos pela alteração tecnogênica é de

significativa importância. Vale ressaltar a obrigação e o dever da sociedade de exigir

das autoridades e dos responsáveis, ações para garantir o equilíbrio e/ou o mínimo

de alterações no ambiente natural.

Tudo isto está sendo refletido de maneira prejudicial tanto para a natureza,

quanto para o homem, pois a sociedade depende do espaço onde ela reside, e

como este está sendo alterado e conseqüentemente gerando impactos em sua

maioria negativos ao ambiente natural. A sociedade colherá os frutos desta

mudança, a qual pode confirmar alguns resultados agressivos para a relação

sociedade-natureza.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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